análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ÉRICA POSSIDÔNEA PEREIRA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA TUBERCULOSE EM INDIVÍDUOS COM HIV/AIDS EM GOIÁS GOIÂNIA, 2012.

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Page 1: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ÉRICA POSSIDÔNEA PEREIRA

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA TUBERCULOSE EM INDIVÍDUOS COM HIV/AIDS EM GOIÁS

GOIÂNIA, 2012.

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ÉRICA POSSIDÔNEA PEREIRA

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA TUBERCULOSE EM INDIVÍDUOS COM HIV/AIDS EM GOIÁS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Área de concentração: A Enfermagem no Cuidado à Saúde Humana

Linha de pesquisa: Prevenção, Controle e Epidemiologia das Infecções Associadas

aos Cuidados em Saúde e das Doenças Transmissíveis

Orientadora: Profa Dra Sandra Maria Brunini de Souza

GOIÂNIA, 2012.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)

Pereira, Érica Possidônea.

Análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com HIV/Aids em Goiás [manuscrito] / Érica Possidônea Pereira. - 2012.

xv, 88 f.: il., figs, tabs. Orientadora: Profª. Drª. Sandra Maria Brunini de Souza Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,

Faculdade de Enfermagem, 2012. Bibliografia.

Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas. Apêndices. Anexos.

Page 5: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

FOLHA DE APROVAÇÃO

ÉRICA POSSIDÔNEA PEREIRA

ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DA TUBERCULOSE EM INDIVÍDUOS COM HIV/AIDS EM GOIÁS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em _____ de ___________________ de 2012.

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________ Profa Dra Sandra Maria Brunini de Souza – Presidente da Banca

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

___________________________________________________________ Profa Dra Maria Aparecida da Silva Vieira – Membro Efetivo, Externo ao Programa

de Enfermagem – Universidade

___________________________________________________________ Profa Dra Márcia Maria de Souza – Membro Efetivo

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

___________________________________________________________ Profa Dra Ruth Minamisava – Membro Suplente, Externo ao Programa

de Enfermagem – Universidade

___________________________________________________________ Profa Dra Lilian Varanda Pereira – Membro Suplente

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

Page 6: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

DEDICATÓRIA

Ao meu esposo, Renan Stivi, pelo incentivo e

encorajamento. Aos meus pais, Cloves e

Almira que sempre incentivaram os estudos

e a formação acima de tudo. E,

especialmente, à minha pequenininha

Mélanny, amada filha, que participou de

alguma forma da fase mais complicada para

a conclusão.

Page 7: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

AGRADECIMENTOS

A Deus, nosso Pai Todo Poderoso, que nos confiou a vida, e muitas outras

bênçãos que a cada dia me proporcionam realização pessoal e profissional.

Ao meu esposo Renan Stivi pelo incentivo, parceria e compreensão. Obrigada por

ajuda inúmeras e companheirismo.

À minha família que sempre valorizou a formação pessoal, profissional e interior,

proporcionando sempre incentivo e amor incondicional. Obrigada pelas orações e

estímulo.

À minha orientadora Profª Drª Sandra Maria Brunini de Souza pelo ensinamento e

oportunidade de crescimento. Obrigada pelos tantos conselhos e por me ensinar

que a vida tem valor inigualável e vai muito além daquele designado por nós.

Meus sinceros agradecimentos pela consideração, amizade, carinho e confiança.

A você muita admiração e respeito.

À Profª Drª Ruth Minamisava que contribuiu significativamente para orientação

deste estudo. Obrigada pelas sugestões e apontamentos que colaboraram no

desenvolvimento deste trabalho.

À Profa. Dra. Maria Alves Barbosa, que gentilmente aceitou participar da Banca de

Qualificação e muito contribuiu para a melhoria deste manuscrito.

À todas integrantes do NUCLAIDS - Núcleo de Ações Interdisciplinares em

DST/HIV/aids que contribuíram para a realização deste trabalho, Christiane, Dalila,

Janine, Letícia Dogackuchi, Lara e Letícia Rejane. Obrigada pelo apoio,

participação na coleta de dados e cumprimento de metas. Todas fazem parte

dessa conquista. Obrigada por tudo.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Mestrado e Doutorado pela

possibilidade de crescimento. A todos os professores do Programa, pelos

ensinamentos prestados e por tantos momentos de crescimento pessoal e

profissional. É uma honra aprender com vocês.

Aos secretários do Programa de Pós-Graduação, Gabriel e Jossane, sempre

disponíveis. Obrigado pela atenção e paciência.

Page 8: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

A todos, agradeço de coração, essa vitória é um pouquinho de cada um de vocês.

Às minhas amigas Adriana, Nathália e Pollyanna que me agraciaram com

momentos inesquecíveis. Obrigada por tantas alegrias, pelo apoio, conselho e a

companhia.

À minha turma do mestrado: Alyne, Cynthia, Dayana Clênia, Dayane de Melo,

Dayane Xavier, Efraim, Fernanda, Kamilla, Leonora, Liwcy, Luana Cássia, Myrian

Karla, Nara Elizia, Nayla Cecília, Patrícia Moraes, Patrícia Vasconcelos, Roberta,

Thatianny, Wilzianne. Tenho orgulho de ter dividido meu crescimento com todos.

Aos funcionários da Faculdade de Enfermagem. Vocês dão toque especial a essa

faculdade. Obrigada pelo cuidado e disponibilidade.

À direção e funcionários do Hospital de Doenças Tropicais pela cooperação e

disponibilização dos registros.

À Secretaria de Saúde do Estado de Goiás pela colaboração e disponibilização

dos bancos de dados.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) pelo apoio

financeiro.

Page 9: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

“Creio nos milagres da ciência e na

descoberta de profilaxia futura dos erros e

violências do presente.”

Cora Coralina

Page 10: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE TABELAS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

RESUMO

ABSTRACT

RESUMEN

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 19

1.1. Biologia do Mycobacterium ............................................................................. 21

1.2. Biologia do HIV ................................................................................................ 21

1.3. O ciclo de vida do Mycobacterium tuberculosis .............................................. 19

1.4. A tuberculose .................................................................................................. 24

1.5. Patogenia e formas clínicas da Tuberculose .................................................. 25

1.6. Infecção latente por Mycobacterium tuberculosis ........................................... 31

1.7. Diagnóstico da tuberculose ............................................................................. 31

1.8. Coinfecção tuberculose e HIV ......................................................................... 33

1.9. Tratamento da tuberculose e coinfecção HIV/aids/TB .................................... 38

1.10. Importância epidemiológica ........................................................................... 41

1.11. Vigilância Epidemiológica .............................................................................. 43

1.12. A Enfermagem e o controle da tuberculose...................................................44

2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 47

3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 48

3.1. Geral ................................................................................................................ 48

3.2. Específicos ...................................................................................................... 48

4. METODOLOGIA ................................................................................................. 49

4.1. Desenho do estudo ......................................................................................... 49

4.2. População e local do estudo ........................................................................... 49

4.3. Fontes de informação ...................................................................................... 49

Page 11: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

4.4. Critérios de elegibilidade e de exclusão dos registros .................................... 51

4.5. Coleta dos dados ............................................................................................ 51

4.5.1. Local e período da coleta dos dados............................................................51

4.5.2 Coleta de dados nos prontuários ..................................................................51

4.6. Variáveis do estudo ....................................................................................... 552

4.6.1. Variável de desfecho .................................................................................... 52

4.6.2. Variáveis de exposição ................................................................................ 53

4.7. Análise estatística dos dados .......................................................................... 56

4.8. Mecanismos gerenciais de execução ............................................................. 56

4.9. Aspectos éticos ............................................................................................... 57

5. RESULTADOS ................................................................................................... 58

5.1. Descrição inicial dos dados.............................................................................55

5.2. A coinfecção HIV/TB........................................................................................56

5.3. Descrição da população do estudo segundo o desfecho tuberculose.............60

6. DISCUSSÃO.......................................................................................................62

7. CONCLUSÃO.....................................................................................................67

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................68

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 69

APÊNDICES ........................................................................................................... 82

ANEXOS .............................................................................................................. 896

Page 12: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Taxas de incidência estimada de TB, 2010 ...........................................45

Figura 2. Fluxograma de seleção dos indivíduos do estudo .................................56

Figura 3. Tempo para o diagnóstico de tuberculose em coorte de infectados pelo

HIV atendidos em uma unidade de referência de Goiás, no período de 2003-2009.

Goiânia, 2012 .........................................................................................................58

Quadro 1. Contagem semi-quantitativa de baciloscopia de escarro .....................22

Quadro 2. Indicações para tratamento da TBL de acordo com a enduração do TT

e com o grupo de risco . .........................................................................................32

Quadro 3. Recomendações terapêuticas para paciente HIV+ com tuberculose...40

Page 13: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de prontuários excluídos segundo ano e motivo, no período de

2003 a 2009. Goiânia, 2012 ...................................................................................55

Tabela 2. Tempo decorrido entre o diagnóstico de infecção pelo HIV e o

diagnóstico de tuberculose, entre indivíduos atendidos em uma unidade de

referência de Goiás, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012 .............................57

Tabela 3. Características de indivíduos coinfectados atendidos em uma unidade

de referência de Goiânia, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012 ....................59

Tabela 4. Características sóciodemográficas de indivíduos com infecção pelo HIV

atendidos em uma unidade de referência de Goiânia, segundo a presença ou não

de tuberculose, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012 .....................................61

Page 14: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Aids – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

BAAR – Bacilo álcool ácidorresistente

BCG – Bacillus Calmette-Guérin

BDR – Banco de dados relacionado

BK – Bacilo de Koch

CDC – Centers of Disease Control

DOTS (Directly Observed Treatment Short Course) – Tratamento Diretamente

Observado de Curta Duração

E – Etambutol

ELISA – Enzyme Linked Immunosorbent Assay

H – Isoniazida

HAART – Terapia antirretroviral

HAART – Terapia antirretroviral altamente ativa

HDT – Hospital de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad

HIV – Vírus da imunodeficiência humana

HTLV-III – Vírus III do linfomaleucemia de células T humanas

IDH – Índice de desenvolvimento humano

IFI – Imunofluorescência indireta

IP – Inibidores da protease

ITRNN – Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa

LAV – Vírus associado à linfadenopatia

MBNT – Micobactérias não tuberculosas

MBT – Mycobacterium tuberculosis

MDR – Multidroga resistente

MOTT – Mycobacteria Other Than Tuberculosis

MS – Ministério da Saúde

MS/FNS – Ministério da Saúde/ Fundação Nacional de Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde

PNCT – Política Nacional de Controle da Tuberculose

Page 15: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

PN-DST/AIDS – Política Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/aids

PPD – Derivado protéico purificado

R – Rifampicina

RNA – Ácido ribonucleico

SAME – Serviço de Arquivo Médico e Estatística

SBPT – Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisologia

SES/SP – Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo

SICLOM – Sistema de Controle Logístico de Medicamentos

SI-CTA – Sistema de Informação dos Centros de Testagem e Aconselhamento

SIM – Sistema de Informação de Mortalidade

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SINAN-TB – Base de dados dos casos de TB notificados no SINAN de Goiás

SINAN-TB – Sistema de Informação de Agravos de Notificação Tuberculose

SISCEL – Sistema de Controle de Exames Laboratoriais

SUS – Sistema Único de Saúde

SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde

T – Terizidona

TB – Tuberculose

TBL – Tuberculose latente

TBMDR – Tuberculose multi-droga resistente

TBXDR – Tuberculose superressitente ou extremamente resistente

TEP – Tuberculose extrapulmonar

TT – Teste tuberculínico

WHO – World Health Organization

Z – Pirazinamida

Page 16: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

RESUMO

Pereira EP. Análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com HIV/aids em Goiás [dissertação]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2012. 88p. A tuberculose é problema de saúde pública em todo mundo e a pandemia da infecção pelo HIV/aids foi grande responsável pelo aumento da morbimortalidade em indivíduos coinfectados. O objetivo deste estudo foi Investigar o perfil clínico e epidemiológico da coinfecção HIV/TB em indivíduos atendidos no único hospital de referência para tratamento de doenças infecciosas no Estado de Goiás. Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva (2003-2009) com dados de prontuários e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Calculou-se o RR e respectivos intervalos de 95% de confiança em análise univariada, usando a tuberculose como desfecho. Foram arrolados 2.941 sujeitos que atenderam aos critérios de elegibilidade do estudo. Dentre os indivíduos incluídos, 262 apresentaram tuberculose em algum momento do arrolamento. O diagnóstico de tuberculose precedeu o de HIV em 14,4%; 58,5% em até seis meses; 38,2% foram diagnosticados simultaneamente ou até 30 dias; 27,1% desenvolveram a doença após seis meses do diagnóstico de HIV. A incidência de coinfecção HIV/TB foi de 7,7%. A idade variou de 16 a 65 anos com média de 35, 42 anos (dp:10,32); predomínio de indivíduos do sexo masculino (76,1%); 82,9% apresentou primeira contagem de linfócitos T-CD4+ < 350 células/mm3; 40,0% dos casos foi tuberculose extrapulmonar e forma mista; a baciloscopia do escarro foi realizada em 86,3% e o PPD em 43,4%; os esquemas de tratamento mais utilizados foram os I (85,1%), I - Reforçado (7,7%); tempo de tratamento da tuberculose inferior a seis meses foi observado em mais de 53,0% dos casos; 40,3% dos indivíduos com TB obituaram. Estiveram estatisticamente associados à coinfecção o sexo masculino (RR: 2,01; p<0,00); a baixa escolaridade (RR; 1,32;p=0,05); a primeira contagem de linfócitos T-CD4+menor que 350 cel/mm3 (RR:3,15; p<0,00); ter feito baciloscopia de escarro no primeiro atendimento (RR: 12,30; p<0,00); ter feito PPD também no primeiro atendimento (RR:1,37; p<0,01) e mortalidade (RR:1,86;p<0,00). A incidência de tuberculose segundo o ano do diagnóstico de HIV mostrou-se estável ao longo do período do estudo (p>0,05). Evidencia-se que indivíduos com HIV são mais vulnerável à tuberculose sendo responsável por grande morbimortalidade dessa parcela da população. Diante dessa dimensão, a realização de estudos sobre a coinfecção são importantes para fornecer informações sobre os fatores de risco desta coinfecção e contribuir para o planejamento de ações e estratégias voltadas às políticas públicas de controle da coinfecção. Palavras-chaves: Coinfecção; Tuberculose; HIV/aids; Coorte

Page 17: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

ABSTRACT

Pereira EP. Epidemiological analysis of tuberculosis in individuals with HIV/AIDS in Goiás [dissertation]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG; 2012. 88p. Tuberculosis is a public health problem worldwide and the pandemic of HIV / AIDS was largely responsible for the increased morbidity and mortality in coinfected individuals. The aim of this study was to investigate the clinical and epidemiological profile of coinfection HIV / TB patients seen only referral hospital for treatment of infectious diseases in the state of Goiás This is a retrospective cohort study (2003-2009) with data of charts and Sistema de Informação de Agravos de Notificação. We calculated the RR and respective 95% confidence in univariate analysis, using TB as the outcome. We enrolled 2941 subjects who met the eligibility criteria of the study. Of the subjects enrolled, 262 had tuberculosis sometime in enrollment. The diagnosis of tuberculosis in HIV preceded that of 14.4%, 58.5% within six months, 38.2% were diagnosed simultaneously or within 30 days, 27.1% developed the disease after 6 months of HIV diagnosis. The incidence of co-infection HIV / TB was 7.7%. Ages ranged from 16 to 65 years with a mean of 35, 42 years (SD: 10.32); predominance of males (76.1%), 82.9% presented first count of T-CD4+ lymphocytes <350 cells/mm3, 40.0% of cases were extrapulmonary tuberculosis and mixed form, the sputum smear microscopy was performed in 86.3% and 43.4% in PPD; treatment regimens were the most used I (85.1% ), IR (7.7%), duration of tuberculosis treatment less than six months was seen in more than 53.0% of the cases, 40.3% of individuals with tuberculosis deaths. Coinfection were statistically associated with male gender (RR 2.01, p<0.00), low education (RR 1.32, p=0.05), the first T-lymphocyte count than CD4 + <350 cells/mm3 (RR: 3.15, p <0.00); having done sputum smear microscopy in primary care (RR 12.30, p<0.00); PPD have done well in primary care (RR 1.37, p<0.01) and mortality (RR 1.86, p<0.00). The incidence of tuberculosis by year of diagnosis of HIV was stable throughout the study period (p>0.05). It is evident that individuals with HIV are more vulnerable to tuberculosis being responsible for high morbidity and mortality of this portion of the population. Given this dimension, conducting studies on coinfection are important to provide information on risk factors that coinfection and contribute to the planning of actions and strategies to control public policies coinfection. Keywords: Coinfection; Tuberculosis; HIV/aids; Cohort

Page 18: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

RESUMEN

Pereira EP. El análisis epidemiológico de la tuberculosis en personas con VIH/SIDA en Goiás [disertación]. Goiânia: Faculdade de Enfermagem/UFG, 2012. 88p. La tuberculosis es un problema de salud pública a nivel mundial y la pandemia del VIH / SIDA fue en gran parte responsable del aumento de la morbilidad y la mortalidad en individuos coinfectados. El objetivo de este estudio fue investigar las características clínicas y epidemiológicas de la coinfección por VIH / enfermos de tuberculosis visto solo hospital de referencia para el tratamiento de enfermedades infecciosas en el estado de Goiás Se trata de un estudio de cohortes retrospectivo (2003-2009) con los datos de gráficos y sistema de información para enfermedades de declaración obligatoria. Se calculó el RR y la confianza respectivo del 95% en el análisis univariable, usando la tuberculosis como el resultado. Se incluyó a 2.941 pacientes que cumplían con los criterios de elegibilidad del estudio. De los sujetos inscritos, 262 tenían tuberculosis en algún momento de la inscripción. El diagnóstico de la tuberculosis en personas VIH precedió a la de 14,4%, 58,5% a los seis meses, el 38,2% fueron diagnosticados de forma simultánea o dentro de 30 días, el 27,1% desarrolló la enfermedad después de seis meses del diagnóstico de VIH. La incidencia de la coinfección VIH / TB fue del 7,7%. Las edades oscilaron entre 16 y 65 años con una media de 35, 42 años (DE: 10,32); predominó el sexo masculino (76,1%), el 82,9% presentaba primer recuento de linfocitos T CD4 + <350 células/mm3, el 40,0% de los casos fueron la tuberculosis extrapulmonar y forma mixta, la microscopía de frotis de esputo se realizó en el 86,3% y el 43,4% en el PPD, los regímenes de tratamiento fueron las más utilizadas I (85,1% ), I - Reforzados (7,7%), la duración del tratamiento antituberculoso menos de seis meses se ha visto en más de 53,0% de los casos, el 40,3% de los individuos con obituaram TB. La coinfección se asociaron significativamente con el sexo masculino (RR: 2,01, p <0,00), el bajo nivel educativo (RR, 1,32, p = 0,05), el primer recuento de linfocitos T CD4 + inferior a 350 células/mm3 (RR: 3,15, p <0,00), microscopía de esputo de haber realizado en atención primaria (RR: 12.30, p <0,00); PPD han hecho bien en atención primaria (RR: 1,37, p <0,01) y la mortalidad (RR: 1,86, p <0,00). La incidencia de tuberculosis por año de diagnóstico del VIH se mantuvo estable durante todo el período de estudio (p> 0,05). Es evidente que los individuos con VIH son más vulnerables a la tuberculosis es responsable de una elevada morbilidad y mortalidad de esta porción de la población. Teniendo en cuenta esta dimensión, la realización de estudios sobre la coinfección son importantes para proporcionar información sobre los factores de riesgo que la coinfección y contribuir a la planificación de acciones y estrategias para el control de la coinfección por las políticas públicas.

Palabras-claves: Coinfección; Tuberculosis; VIH/SIDA; Cohortes

Page 19: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

19

1. INTRODUÇÃO

A tuberculose (TB), cujo agente etiológico é o Mycobacterium tuberculosis

(MBT) (FIUZA DE MELO et al., 2005), é uma das doenças transmissíveis mais

antigas do mundo (CONDE; SOUZA, 2002; DUCATI et al.,2006). Nas Américas, a

disseminação iniciou após a colonização, com a vinda de imigrantes europeus

(ROSEN, 1994; LEITE; TELAROLLI JR, 1997).

Nos dias atuais é considerada um grave problema de saúde pública,

sendo a principal causa mundial de morte por um único agente infeccioso

(HORNES et al., 2010). A TB também é exemplo clássico de produção social de

enfermidade. Está associada a determinantes socioeconômicos como desnutrição

e deficiência de micronutrientes (KOYANAGI et al, 2004); aumento dos casos de

aids (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida); má distribuição de renda

e pobreza; precárias condições de vida, trabalho, transporte e habitação; difícil

acesso a serviços de saúde e processo de urbanização acelerado (VENDRAMI et

al, 2005; SANTOS et al., 2007). Apresenta ainda como fatores de vulnerabilidade,

o alcoolismo e o baixo índice de desenvolvimento humano (SEVERO et al., 2007;

LINDOSO; LINDOSO, 2009).

Nos países desenvolvidos, os grupos mais afetados pela TB são os

idosos, minorias étnicas e imigrantes, enquanto que nos países em

desenvolvimento, a população mais afetada é a economicamente ativa, ou seja,

com idade entre 15 e 54 anos, onde homens apresentam duas vezes mais risco

que as mulheres (BATES; FENTON; GRUBER, 2004). Nos países em

desenvolvimento, a tuberculose é uma doença endêmica e a principal causa de

morbimortalidade em pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana

adquirida (HIV) (NARAIN; LO, 2004; SHARMA; MOHAN; KADHIRAVAN, 2005;

WHO, 2011a).

A infecção pelo HIV foi um dos principais fatores que contribuiu para o

ressurgimento da TB (MUNIZ et al., 2006) impactando fortemente a epidemiologia,

a história natural e a evolução clínica dessa morbidade (DALEY et al., 1992;

YOUNG; WORER, 1994; CORBETT et al., 2003).

Page 20: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

20

A coinfecção HIV/TB é responsável pelo aumento da incidência,

prevalência e mortalidade por TB globalmente e, em particular, pode ser

evidenciada no continente africano, que compreende um terço dos casos de TB no

mundo (CHAISSON; MARTISSON, 2008; KARIM et al, 2009) e na América Latina

(VILLARROEL, 2008).

Em relação à morbidade da infecção simultânea HIV/TB evidencia-se que

indivíduos infectados pelo HIV apresentam risco de adoecimento aumentado em

20 a 37 vezes quando comparados à população em geral (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2011b). Ademais o indivíduo imunocompetente quando

infectado pelo MBT possui 10% de probabilidade de desenvolver a TB ao longo da

vida enquanto que para o indivíduo imunocomprometido o risco é de 10% ao ano

(DALEY et al., 1992; SWAMINATHAN et al., 2000).

Adicionalmente, a infecção pelo HIV influencia na resistência aos

medicamentos antituberculostáticos por meio de mecanismos comportamentais e

ambientais ou biológicos, a partir da premissa que a resistência a essas drogas

pode ser inicial, para aqueles sem tratamento anterior para TB, ou adquirida, para

aqueles que já foram tratados anteriormente (AZIZ; WRIGHT; LASZLO, 2006).

Os indivíduos com TB são acompanhados por uma equipe

multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem,

odontólogos, agente comunitário de saúde, psicólogos, assistente social entre

outros, em centros de referência especializados com participação ativa da unidade

de atenção básica, principalmente no que diz respeito à observação da tomada de

medicamentos (VILLA et al., 2008).

Os profissionais de saúde e os estudantes da área de saúde tem maior

risco de infecção e adoecimento por TB. A enfermagem está entre as categorias

de profissionais de saúde mais vulneráveis quanto ao risco de infecção por TB em

comparação à população em geral, cerca de três a vinte vezes maior (LOPES et

al., 2008; MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE,

2011).

Page 21: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

21

O enfermeiro realiza várias atividades na assistência direta, prevenção,

promoção e reabilitação do indivíduo com TB, considerado profissional importante

e essencial no controle da TB.

1.1. Biologia do Mycobacterium

O MBT, também conhecido como Bacilo de Koch (BK), pertence ao

gênero Mycobacterium, único da família Mycobacteriaceae, da ordem

Actinomycetales e é um dos componentes do complexo Mycobacterium

(PALOMINO; LEÃO, 2007). Trata-se de um bacilo reto ou ligeiramente curvo com

dimensões que variam entre 0,2 e 0,6 µ por 1 a 10 µ, imóvel e não formador de

esporos. Estritamente aeróbio, duplica sua população em 18 a 48 horas,

dependendo da oferta de oxigênio, do pH do meio e acesso a nutrientes; infecta

os pulmões preferencialmente, e aí se localiza, facilitando sua multiplicação e

transmissão (RANGEL, 2004).

Trata-se de um bacilo álcool ácidorresistente (BAAR), ou seja, uma vez

exposto à fucsina fenicada e ao calor por cinco minutos, adquire coloração

vermelha que não desaparece pela ação da mistura de álcool e ácido clorídrico -

técnica de Ziehl-Neelsen. Sua cápsula bacteriana apresenta alto teor de lipídios

que corresponde a cerca de 40% do peso seco da célula. É resistente a agentes

químicos, mas, facilmente destruído por agentes físicos como calor, raios

ultravioletas da luz solar e radiações ionizantes (ALTERTHUM; TRABULSI, 2008).

O MBT não se apresenta livre na natureza. É um parasita intracelular

facultativo dependendo do homem para sobreviver (PALOMINO; LEÃO, 2007;

LAWN; ZUMLA, 2011). Não produz nenhuma toxina, razão pela qual não

consegue romper a barreira epitelial íntegra e infectar o interior do hospedeiro às

suas próprias custas (RANGEL, 2004). Pode apresentar variação de virulência e

sensibilidade a antibióticos por determinismo genético (FILHO, 2006).

1.2. Biologia do HIV

O HIV é um retrovírus humano, pertencente à família Retroviridae do

gênero Lentivírus (CLAVEL et AL, 1986; ICTV, 2010). Existem dois tipos do vírus,

Page 22: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

22

o HIV-1 e HIV-2, ambos causadores da aids. O HIV-1 é o mais prevalente entre os

humanos (MARLINK et al., 1994; LEVER, 2005). O HIV-2 mostrou-se difundido na

África Ocidental, principalmente nos países de língua portuguesa (EHOLIE,

ANGLARET, 2006).

Os vírus dessa família se caracterizam por apresentarem curso crônico da

doença, longo período de latência clínica, replicação viral persistente e

envolvimento do sistema nervoso central e replicação em células T-CD4+ (LOMAR

et al., 2006). Possui RNA de fita simples que se integra ao genoma de células

infectadas do hospedeiro (MARQUES; MASUR, 2005).

Medindo aproximadamente 100 nm de diâmetro, o HIV possui em sua

superfície externa uma membrana lipídica e glicoproteínas (gp41 e gp120)

formando um envelope. A proteína gp120 possui sítio de ligação para os

receptores celulares. Logo abaixo dessa membrana existe uma capa protéica,

composta pela proteína p17 e o capsídeo viral formado pela proteína p24

(SIERRA, KUPFER, KAISER, 2005). Dentro do capsídeo viral são encontradas as

duas moléculas de RNA associadas às enzimas: transcriptase reversa, integrase e

protease, como também as proteínas p9 e p6 (BARRÉ-SINOUSSI, 1996;

GROTTO, PARDINI, 2006).

1.3. O ciclo de vida do Mycobacterium tuberculosis

A infecção com MBT segue um padrão de eventos que foram

estabelecidos através de pesquisas em animais e observações da tuberculose

humana (FLYNN; CHAN, 2005; RUSSELL, 2007).

Através das vias aéreas, os bacilos infecciosos são exalados para a

atmosfera como gotículas. Dessas gotículas, as mais pesadas depositam-se

rapidamente, e as mais leves permanecem suspensas no ar. E, apenas essas

últimas com características aerodinâmicas semelhantes aos gases, ressecam-se e

formam a partícula núcleo de Wells. Estes, com diâmetro de dois a 10 micras, e

bacilos viáveis chegam até os alvéolos. Denominada fase simbiótica, caracteriza a

chegada dos bacilos aos alvéolos e crescimento livre até serem fagocitados pelos

macrófagos (AFIUNE, 2006).

Page 23: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

23

Algumas partículas não se ressecam e formam grumos de bacilos que se

depositam no trajeto da árvore brônquica e são, posteriormente, eliminadas pelo

sistema mucociliar ou digeridas e eliminadas pelo sistema digestivo (WAARD;

ROBLEDO, 2007). A fonte da infecção mais importante é o portador da forma

pulmonar da doença com o bacilo detectável no escarro por meio da baciloscopia

direta.

Os macrófagos são as primeiras células de defesa ativadas contra o

patógeno que através do processo fagocitário (ligação da bactéria ao macrófago;

internalização dentro do fagossoma; morte ou inibição do crescimento do bacilo)

será o responsável pela resposta inicial do organismo que, se efetivo, eliminará

completamente a ameaça em associação a outros mecanismos na interação de

linfócitos e citocinas (KAUFMANN, 2005). Como mecanismo de defesa e escape

desenvolvido pelo MBT, a estrutura de sua parede bacteriana produz amônia que,

alcaliniza o conteúdo dos lisossomas impedindo sua ligação com o fagossoma,

que por sua vez, permite seu crescimento livre dentro do macrófago (parasitismo

intracelular facultativo); inibe a fusão lisossomal e impede novas fagocitoses

(SMITH et al, 2009).

No pulmão, as bactérias são fagocitadas por macrófagos alveolares, que

então invadem a camada epitelial. Essa resposta inflamatória localizada leva ao

recrutamento de mais células mononucleares do sangue, que, posteriormente se

tornarão células hospedeiras do bacilo para a expansão da população bacteriana.

A partir dessas células será formado também o granuloma, característica

patológica que define a doença. Inicialmente, o granuloma é uma massa amorfa

de macrófagos, monócitos e neutrófilos (KAUFMANN, 2005).

Com o desenvolvimento da resposta imune adquirida, e com a chegada de

linfócitos, o granuloma adquire uma estrutura mais organizada, estratificada. O

centro fica rico em macrófagos e torna-se rodeado por um manto de linfócitos de

característica fibrosa que marca a periferia da estrutura (FLYNN; CHAN, 2001;

FLYNN; CHAN; LIN, 2011). O aparecimento de linfócitos específicos para o MBT

ocorre aproximadamente por volta de 2-3 semanas após infecção, marcando o fim

da fase de replicação bacteriana e o início de um estado de "contenção",

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24

caracterizada por relativa estabilidade do número de bactérias (FLYNN; CHAN,

2001; FLYNN; CHAN; LIN, 2011). Nesta fase, o granuloma é amplamente

vascularizado e mais células são recrutadas para o local da infecção. Nos

granulomas que exibem a patologia associada à progressão da doença, a bainha

fibrosa torna-se mais acentuada com uma diminuição no número de vasos

sanguíneos que penetram a estrutura (DANNENBERG, 1991; SAUNDERS;

COOPER, 2000; ULRICHS; KAUFMANN, 2006; MINISTÉRIO DA SAÚDE;

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010).

Há também um aumento no número de macrófagos que são responsáveis

pelo aumento do centro do granuloma formando o caseum (cáseo) (RUSSELL et

al., 2009). Nessa fase tardia, a porção caseosa do granuloma torna-se hipóxica

(VIA et. al., 2008), condição que pode induzir um estado de não replicativo na

persistência do MBT em cultura.

A histologia dos tecidos infectados de pacientes imunocompetentes com a

tuberculose ativa revela granulomas em todos os estados de desenvolvimento da

contenção ativa da doença, o que implica que o destino de cada um dos

granulomas é determinado localmente, não sistêmico. Granulomas da patologia

ativa apresentam-se extensos e por último, pode ocorrer rupturas desses e

liberação de milhares de bacilos viáveis e infecciosos nas vias aéreas (KAPLAN,

2003), resultando no desenvolvimento de tosse produtiva, o que facilita a

propagação dos bacilos de aerossóis infecciosos.

1.4. A tuberculose

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa que apresenta uma clínica

ampla decorrente de variações exercidas em seu processo de desenvolvimento

em escalas e influência de eventos imunoalérgicos resultado da resposta

imunológica que o organismo afetado sofre frente ao microrganismo infectante,

identificado como MBT ou BK (FILHO, 2006).

O desenvolvimento da infecção/doença depende da quantidade de

microrganismos agressores e da sua virulência. Por outro lado, existe também a

capacidade do hospedeiro desenvolver resposta imune eficaz ou reações de

Page 25: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

25

hipersensibilidade retardada ao produto liberado pelo agente infeccioso. Assim,

ocorrem dois processos simultâneos: a resposta inflamatória e a agressão tecidual

na formação do tubérculo (AFIUNE, 2006).

A transmissão do bacilo ocorre através da via respiratória, por meio da

inalação de partículas infectantes (KRITSKI et al., 2005; MINISTÉRIO DA SAÚDE,

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). Os condicionantes para o

contágio direto são a forma pulmonar da fonte de infecção, infectividade e

viabilidade do bacilo e o vigor da tosse. Ademais, fatores como contato próximo

com o hospedeiro, condições de ventilação do ambiente, tempo de contato com o

indivíduo hospedeiro e vulnerabilidade imunológica são fatores determinantes para

viabilidade do contágio (FIUZA DE MELO et al., 2005).

A baciloscopia do escarro fornece resultados que permitem classificar os

indivíduos em bacilíferos positivos, paucibacilares e bacilíferos negativos. O

indivíduo é considerado bacilífero positivo quando sua baciloscopia apresenta

mais de 5.000 bacilos por mililitro de escarro. Aqueles que eliminam quantidade de

bacilos inferiores ao estipulado são considerados paucibacilares e a ausência de

bacilos no escarro determina a baciloscopia negativa (FILHO, 2006).

Resultado da baciloscopia do escarro também pode ser apresentado na

forma semi-quantitativa e, nesse caso, a leitura da lâmina pode ser interpretada de

acordo com o quadro de resposta abaixo (Quadro 1).

Quadro 1. Contagem semi-quantitativa de baciloscopia de escarro

BAAR por campo microscópico Resultado

Nenhum bacilo em 100 campos observados Negativo

Menos de 01 bacilo por campo, em 100 campos observados +

De 01 a 10 bacilos por campo, em 50 campos observados ++

Mais de 10 bacilos por campo, em 20 campos observados +++

Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde (Brasil), Fundação Nacional de Saúde. Centro de Referência Prof. Hélio Fraga, Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço. FUNASA/CRPHF/SBPT: Rio de Janeiro, 2002. p. 236.

Page 26: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

26

A propagação do bacilo da TB relaciona-se com a comunicabilidade do

bacilo entre o foco transmissor e seus contatos, sendo que, a maior

transmissibilidade do foco se relaciona à doença pulmonar ou laríngea; à presença

de cavidades que são comuns nas formas de reativação e à maior carga de

bacilos no escarro (FIUZA DE MELO et al., 2005). Entretanto, indivíduos com

baciloscopia de escarro negativa podem apresentar cultura positiva de escarro e

apesar de não serem considerados importantes fontes de infecção comunitária

podem constituir-se foco de transmissão àqueles com baixa imunidade, como os

doentes de aids (FILHO, 2006; FIUZA DE MELO, 2010).

Em função dos determinantes socioeconômicos a TB tende a proliferar-se

em áreas de grande concentração humana com serviços de infraestrutura urbana

precários, coexistindo com a fome e a miséria e baixo nível de escolaridade

(ALBUQUERQUE et al., 2007; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008; SILVEIRA;

ADORNO; FONTANA, 2007; SANTOS et al., 2009). Tais fatores contribuem para

uma maior incidência de TB dentre as populações habitantes nas periferias das

grandes cidades e regiões metropolitanas, assim como as que vivem em áreas

rurais (NGOWI et al., 2008). A comunicabilidade pode ser afetada por

características da tosse como a quantidade e vigor; pelo melhor estado geral e

nutricional do foco que apresenta tosse mais vigorosa e escarro mais fluido, e

liberação de maior quantidade de partículas infectantes (SELIG et al., 2004; FIUZA

DE MELO et al., 2005).

Nem todas as pessoas expostas ao bacilo da TB se infectam, assim como nem

todas as pessoas infectadas desenvolvem a doença. A probabilidade de que a TB

seja transmitida depende do potencial de contágio do doente bacilífero, da

concentração de bacilos no ar contaminado, da duração da exposição e da

suscetibilidade genética ou predisposição imunológica dos contatos (PALOMINO;

LEÃO; RITACCO, 2007; MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE ATENÇÃO

EM SAÚDE, 2008b). A definição do risco exposição do contato com um portador

de TB, sem proteção ambiental e individual, não está bem estabelecida na

literatura, podendo ser interpretada como períodos de exposição entre 4h e 12h,

em ambientes fechados, sem ventilação (TELLES; KRITSKI, 2007; JOSHI, et al.,

Page 27: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

27

2006) em um mesmo ambiente por ao menos uma semana (LAWN; ZUMLA,

2011).

A intensidade do contato é uma das condições facilitadoras da

transmissão da TB e é tanto maior quanto maior a proximidade e continuidade do

contato. Presença de ambiente com pouca ventilação e aglomeração de pessoas

compartilhando o mesmo espaço físico, implementa as condições de

transmissibilidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE; FUNDAÇÃO NACIONAL DE

SAÚDE, 2002).

Hospitais e serviços ambulatoriais que realizam atendimento aos

portadores de TB também são considerados ambientes de risco, especialmente

para populações de indivíduos imunodeprimidos e profissionais de saúde,

necessitando o estabelecimento de medidas especiais de proteção e controle

específicos para TB (AFIUNE, 2006; LOPES et al., 2008).

O risco de adoecimento por TB aumenta nas situações em que o sistema

imunológico encontra-se imaturo, como em crianças, ou debilitado como nos

idosos, nos usuários de drogas imunossupressoras, em portadores de diabetes,

neoplasias, doenças renais crônicas, desnutrição proteicocalórica e infecção pelo

HIV (PALOMINO; LEÃO; RITACCO, 2007; DOMINGOS; CAIAFFA; COLOSIMO,

2008). Entre de 5 e 10% dos indivíduos que são infectados pelo bacilo da TB irão

desenvolver a doença em algum momento de suas vidas, sendo o maior risco nos

dois primeiros anos (HUSSAIN, 2007).

A busca abrangente do caso índice propicia maior detecção de novos

casos entre os comunicantes e instituição rápida e eficiente do tratamento,

favorecendo a cura e a quebra da cadeia de transmissão. Essa busca baseia-se

na identificação de indivíduos considerados “sintomáticos respiratórios”, os

portadores de tosse com expectoração há pelo menos duas semanas; de contatos

de casos de TB; do rastreamento em populações de risco, sobretudo os

residentes em comunidades fechadas como presídios, manicômios, abrigos e

asilos; usuários de drogas; moradores de rua e trabalhadores de saúde

(MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010;

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28

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISOLOGIA, 2009;

MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011 ).

1.5. Patogenia da tuberculose

Em indivíduos com integridade do sistema imunológico há um acúmulo de

células de defesa composto por macrófagos e linfócitos T ativados no granuloma,

que são responsáveis por conter a disseminação da bactéria (ADEREM;

UNDERHILL, 1999; FLYNN; CHAN; LIN, 2011). Com a falha desses mecanismos

de defesa iniciais na contenção do patógeno, a célula infectada rompe-se e libera

os bacilos. Assim, ocorre a formação da lesão inicial, também chamada de cancro

de inoculação (FIUZA DE MELO et al., 2005).

Na primoinfecção a carga bacilar é pequena e, na maioria das vezes, o

organismo é capaz de conter os bacilos no local de implantação, principalmente

após a sensibilização do sistema de imunidade de base celular. Entretanto, caso

não ocorra ou se houver desequilíbrio entre a imunidade e o bacilo, no local da

implantação ou sistematicamente, é originado a condição básica para o

adoecimento e desenvolvimento da doença (ADEREM; UNDERHILL, 1999;

FLYNN et al., 2011). Isso é o que acontece com pacientes com HIV/aids, a TB tem

curso rápido e progressivo, e, freqüentemente, evolui para formas mais

disseminadas e com carga bacteriana maior, o que confere maior mortalidade e

maior risco de transmissão para a comunidade, sendo importante o

monitoramento constante da sistema imune, particularmente células T-CD4+, em

longo prazo após infecção tuberculose primária e mesmo nos tecidos, que podem

persistir por anos a possibilidade da reativação dos bacilos (BALCELLS, 2009).

As formas de tuberculose primária, contemporâneas ao complexo

primário, podem ser apenas ganglionares, ou envolverem gânglios e pulmão

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). O

comprometimento pulmonar pode assumir diferentes formas clínico-radiológicas:

pneumônicas, bronco-pneumônicas, cavitárias ou atelectásicas. Uma das formas

mais graves de tuberculose primária é a forma miliar, conseqüente à disseminação

hematogênica, e que apresenta lesões granulomatosas muito pequenas e difusas,

Page 29: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

29

que atingem não apenas os pulmões, mas muitos órgãos. Outra é a

meningoencefalite tuberculosa, que acomete o sistema nervoso central. Essas

duas formas clínicas representam risco de morte elevado (CAMPOS, 2006). A

tuberculose primária é observada mais em crianças que apresentam febre baixa,

sudorese noturna, perda de peso e inapetência (KRITSKI, et al., 2005), e pode

regredir espontaneamente após semanas ou meses, sobretudo quando realizado

tratamento específico (LEE et al, 1993).

A infecção pós-primária restringe-se aos pulmões e geralmente acomete

adultos imunocompetentes. É responsável por 80% de todos os casos clínicos e

quase 100% de transmissão da infecção. Seu desenvolvimento começa como

uma pneumonia lipídica acompanhado por obstrução brônquica em que a infecção

é restrita a macrófagos alveolares (HUNTER, 2011).

Caso o macrófago alveolar não seja capaz de deter o MBT por

desconhecimento imunológico do bacilo ou por depressão imunitária, ocorrerá

multiplicação bacilar, destruição celular e tecidual com uma resposta inespecífica,

tendo acúmulo local de polimorfonucleares que fagocitarão estes bacilos e

retornarão à corrente sanguínea, procedendo assim a disseminação

hematogênica primária (HOUBEN, NGUYEN, PIETERS, 2006) . Este processo é

prevenido pela vacinação com o Bacillus Calmette-Guérin (BCG) que protege

contra as manifestações graves da primoinfecção pelo MBT através do estímulo

de mecanismos imunológicos (CONDE et al., 2009).

Portanto, com a resposta imunológica ineficaz, ocorre disseminação do

bacilo para a corrente linfática até os linfonodos regionais (linfonodos hilares),

estes se enfartam, constituindo o complexo primário tuberculoso composto pelo

cancro de inoculação, pela linfagite e pela adenomegalia hilar. Nesta fase, o teste

tuberculínico positivo é o único indício da infecção bem sucedida, podendo ser

inaparente clínica e radiologicamente pelo RX (FILHO, 2006).

Em indivíduos com resposta imune eficaz, o MBT é contido e

desenvolverão uma forma clínica de infecção caracterizada como infecção latente,

na qual os bacilos permanecerão nesse estado por tempo indeterminado (anos ou

Page 30: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

30

décadas), justificando o aparecimento da TB pulmonar a partir de uma reativação

de foco primário contido em seu início (FIUZA DE MELO et al., 2005).

Caso a disseminação ocorra após a primoinfecção, sua intensidade é

inversamente proporcional à queda da resistência, condicionada à características

passageira ou definitiva da imunodeficiência, os bacilos voltam a se multiplicar e

reinicia então o processo inflamatório com origem da TB pósprimária ou

secundária. Esse processo conhecido como reativação endógena, pode ocorrer

também a partir de uma nova infecção - reinfecção exógena. O processo

inflamatório específico prossegue com necrose do granuloma, coalescência de

vários granulomas adjacentes e formação de grandes conglomerados (AFIUNE,

2006).

Portanto, depois de penetrar no organismo pela via respiratória, o MBT

pode se disseminar e instalar em qualquer órgão com manifestações clínicas

graves (OLIVEIRA et al., 2006). Isso pode acontecer durante a primoinfecção,

quando a imunidade específica ainda não está desenvolvida, e após a

primoinfecção a qualquer momento caso a capacidade do hospedeiro em conter o

bacilo no sítio primário diminua.

A multiplicação bacilar ocorre lentamente dentro do macrófago que de

duas a 12 semanas desencadeia, simultânea e independentemente, a resposta

imunológica mediada por células (imunidade celular) e a hipersensibilidade

retardada – conversão tuberculínica, detectada pela positividade do teste cutâneo

(FIUZA DE MELO et al., 2005; FILHO, 2006).

• Tuberculose Pulmonar

A forma pulmonar é a mais comum da apresentação secundária, acomete

adultos e, raramente, pode haver evolução para disseminação hematogênica com

comprometimento de outros órgãos como pleura, pericárdio, peritôneo ou

meninges (BURRILL et al., 2007). Manifesta-se com tosse, perda de peso,

sudorese noturna, febre e astenia. A hemoptise ocorre, geralmente, em menos de

25% dos pacientes. Em exame radiológico pode-se observar o típico infiltrado em

lobo superior, cavitação, derrame pleural e, raramente, padrão miliar (KRITSKI et

Page 31: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

31

al., 2005; MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE,

2010).

• Tuberculose Extrapulmonar (TEP)

A disseminação da TEP pode ocorrer pela via linfoematogênica

responsável pela maioria das formas extrapulmonares devido ao caminho normal

que o bacilo percorre (TB Ganglionar, Renal, Adrenal, Óssea, Sistema Nervoso

Central, Ganglionar Intrabdominal e Genital Feminina); hematogênica com a

ruptura da lesão diretamente no vaso(formas disseminadas agudas - Miliar); por

contiguidade responsável pelas formas pleural, pericárdica a partir dos gânglios

mediastinais, peritoneal a partir de gânglios mesentéricos, alças intestinais ou

trompas por ruptura de pequenos divertículos e, algumas formas de tuberculose

cutânea periorificial a partir de focos ósseos; e intracanalicular com

comprometimento das vias aéreas altas a partir do pulmão, trato urinário inferior e

sistema genital masculino a partir do rim, e, do endométrio e peritônio a partir das

trompas (FIUZA DE MELO et al., 2005; WAARD; ROBLEDO, 2007).

Sobretudo, as localizações mais importantes pela freqüência de TEP são

a pleura, alcançada por contiguidade a partir dos focos primários pulmonares, e o

sistema linfático, caminho natural do bacilo, após sua entrada no pulmão

(CAMPOS, 2006).

Devido à dificuldade que o bacilo encontra em se multiplicar em condições

diferentes das observadas no pulmão, a TEP apresenta tendência na curva

epidemiológica constante, principalmente em países desenvolvidos,

correspondendo sua incidência em pessoas já infectadas no passado (FIUZA DE

MELO et al., 2005; WAARD; ROBLEDO, 2007).

1.6. Infecção latente por Mycobacterium tuberculosis

A infecção latente por MBT ou TBL caracteriza o período entre a

penetração do bacilo no organismo e o aparecimento da TB doença, podendo ser

adotado medidas medicamentosas na prevenção da infecção e sua disseminação,

hoje denominado tratamento da TBL em substituição ao termo utilizado

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anteriormente como quimioprofilaxia (CONDE et al., 2009; MINISTÉRIO DA

SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011), mostrando-se eficaz.

Todos os indivíduos devem ser avaliados com o teste tuberculínico (TT)

no momento do diagnóstico da infecção pelo HIV, independentemente dos fatores

de risco. A medicação de escolha nesta profilaxia é a isoniazida, devendo ser

utilizada principalmente em pacientes infectados pelo HIV onde reduz

significativamente o risco de reativação da TB (AKOLO et al., 2010).

O antígeno usado para o TT é o derivado proteico purificado (purified

protein derivative, PPD), sendo utilizado no Brasil a cepa denominada RT23 e

aplicado na dose de duas unidades tuberculina (2UT), via intradérmica, na face

ventral do antebraço esquerdo (FIUZA DE MELO et al., 2005). O resultado do

teste é a medida do maior eixo transversal da enduração cutânea formada em

milímetros, desprezando-se o eritema ao redor.

O tamanho do nódulo do TT com o PPD orienta a necessidade de

tratamento da TBL conforme apresentado o Quadro 2 apresentado pela SBPT

(2009). Considera-se que contatos recentes com idade ≥ 12 anos, HIV negativos e

com TT ≥ 5 mm tem um risco seis vezes maior de apresentar TBL do que contatos

com TT < 5 mm, considerando o ponto de corte do TT de 5 mm.

O tratamento da TBL preconizado pela SBPT (2009) é indicado para os

grupos apresentados no Quadro 2, assintomáticos e com Rx de tórax normal, com

isoniazida (H) na dose diária de 5-10 mg/kg de peso, máximo 300 mg/dia, por 6

meses. Apesar das reações adversas serem pouco frequentes, pode ocorrer

raramente hepatopatia, queixas gástricas, urticária, prejuízo da memória,

dificuldades no aprendizado, sonolência excessiva, insônia, alterações na

caligrafia, bem como não há risco de seleção de cepas resistentes durante o

tratamento (CONDE et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011).

Apesar de ser recomendado pelo Ministério da Saúde e ser uma das

Diretrizes da SBPT, o PPD (TT) em indivíduos infectados com HIV ainda não é

realizado como rotina, provavelmente devido suas limitações (HARRIES; MAHER;

GRAHAM, 2004; CONDE et al., 2009). A sensibilidade do TT é significantemente

Page 33: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

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reduzido na presença de imunossupressão celular, apresentando linfócitos T-

CD4+ inferior a 100 células/mm3 (FISK et al., 2003).

Quadro 2. Indicações para tratamento da TBL de acordo com o tamanho do halo

de enduração do TT e com o grupo de risco.

TT ≥ 5 mm Infectados com HIV Contatos recentes (< 2 anos) de TB pulmonar vacinados com a BCG há mais de 2 anos Indivíduos não tratados para TB e portadores de lesões sequelares na radiografia de tórax Pacientes candidatos a transplantes ou transplantados Imunossuprimidos por outras razões (uso de prednisona ≥ 15 mg/dia ou equivalente por tempo superior a 1 mês ou candidatos ao uso de bloqueadores de TNF-α)

Viragem tuberculínica Trabalhadores do sistema prisional, cuidadores de idosos Pessoal de laboratórios de micobactérias Profissionais da área da saúde Contatos recentes de TB pulmonar de qualquer idade

TT ≥ 10 mm Contatos recentes (< 2 anos) de TB pulmonar vacinados com a BCG há 2 anos ou menos Usuários de drogas injetáveis Pacientes com depressão da imunidade por diabetes mellitus insulinodependente, silicose, linfomas, neoplasias de cabeça, pescoço e pulmão ou procedimentos como gastrectomia, hemodiálise, by-pass gastrointestinal Populações indígenas

Independente do TT Indivíduos HIV positivos com história de contato recente (< 2 anos) com TB pulmonar bacilífera ou apresentando imagem radiográfica de sequela de TB pulmonar sem história prévia de tratamento para TB, independente do valor do TT (mesmo com TT < 5 mm)

Fonte: (SVS, 2010a). TT= teste tuberculínico.

Além disso, a vacinação prévia com BCG pode levar à reação cruzada

com antígenos do TT, particularmente, se a vacina foi administrada anteriormente

(WANG et al., 2002; KANG et al., 2005). Da mesma forma, um teste de PPD

podem ser falsamente positivos devido à reação cruzada com proteínas presentes

no M. avium ou outras micobactérias não tuberculose, que atinge também a

especificidade do TT (FARHAT et al., 2006).

Page 34: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

34

1.7. Diagnóstico da tuberculose

A TB é diagnosticada por meio da detecção do complexo bacilar do MBT

em amostra do trato respiratório na TB pulmonar, ou ainda em outros locais do

organismo em se tratando da TEP.

Embora atualmente exista vários métodos diagnóstico baseado na

identificação molecular, a baciloscopia direta do escarro (pesquisa de BAAR) e a

cultura em meio de Löwenstein-Jesen são consideradas ainda o “padrão ouro”

para o diagnóstico da TB ativa, especialmente nos países em desenvolvimento

com recursos limitados (WAARD; ROBLEDO, 2007).

A baciloscopia direta do escarro é um meio rápido, barato e útil na

identificação do bacilo por meio de uma amostra do escarro em pacientes que se

apresentam altamente contagiosos (TB pulmonar), também utilizada para

monitorar a eficácia do tratamento e determinar quando um paciente torna-se

menos infeccioso. Deve ser solicitado a todo paciente com tosse há mais de duas

semanas, ao que apresenta lesões radiológicas compatíveis com a doença

pulmonar ou de etiologia indefinida, e ainda aos pacientes com doença pulmonar

infecciosa com resposta insatisfatória ao tratamento (AFIUNE, 2006). Deve ser

realizado em pelo menos duas amostras de escarro coletadas para exame

bacteriológico, ao menos uma amostra coletada pela manhã (CONDE et al.,

2009).

Porém, a pesquisa de BAAR apresenta limitações como a baixa

sensibilidade (40 a 60%), chegando a 20% na presença de infecção pelo HIV

(BALCELLS M, 2009), diminuída 60-70% nas crianças bem como nos países em

desenvolvimento (STARKE, 2003; ZAR et al., 2005), sendo que sua utilidade é

condicionada à qualidade da amostra de escarro e do desempenho do laboratório.

A cultura é utilizada em casos com baixa carga da micobactéria como

também nos casos de suspeita de resistência a medicamentos

antibuberculostáticos para teste de sensibilidade ou identificação de outro gênero

do Mycobacterium (WAARD; ROBLEDO, 2007), é automatizada com sensibilidade

alta, mas apresenta uma demora do resultado de 2 a 3 semanas (BALCELLS,

2009).

Page 35: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

35

Recomendações da “III Diretrizes para TB da SBTP” (2009) considera que

indivíduo sintomático respiratório com radiografia de tórax sugestiva de TB deve

realizar a cultura para TB com teste de sensibilidade e baciloscopia em pelo

menos uma amostra de escarro sempre que possível, sendo que, paciente com

suspeita de TB na radiografia de tórax sem expectoração espontânea deve ser

submetido à indução de escarro.

No Brasil, atualmente não existe nenhum outro método diagnóstico para

TB validado para uso na rotina (CONDE et al., 2009), mas em outros países,

principalmente nos desenvolvidos, são utilizados com mais complexidades e custo

a fim de otimizar a detecção precoce da tuberculose (BONNET et al., 2008).

Dentre eles, a microscopia de fluorescência apresenta-se 10% mais

sensível que o esfregaço convencional, embora mantenha mesma especificidade

(STEINGART et al., 2006a). Sobretudo, na presença da infecção pelo HIV, sua

sensibilidade dobra em relação à microscopia convencional com especificidade

semelhante à cultura (KIVIHYA-NDUGGA et al., 2003). Outra técnica alternativa

utilizada, baseada na física e química que utiliza a concentração de bacilos na

amostra antes da coloração, apresenta sensibilidade aumentada de 13 a 33% em

comparação com a cultura (STEINGART et al., 2006b).

Testes moleculares também são utilizados. Estes identificam rapidamente

a presença de micobactérias na amostra clínica, porém requerer tecnologia de alto

custo e especialização em seu desenvolvimento, sendo de difícil disponibilidade

na maioria dos países com necessidades de aprimoramentos diagnósticos para

TB.

Estes testes (amplificação de ácidos nucléicos - NASC) consistem em

identificar e amplificar regiões específicas do DNA das micobactérias diretamente

das amostras tendo o resultado em menos de sete horas após seu

processamento, sensibilidade equivalente à cultura, embora um percentual maior

de amostras respiratórias apresentam falsos negativos, incluindo o líquido pleural

e líquor, limitando-se sua utilidade em tais casos (BONNET et al., 2008). Essa

ferramenta também permite discriminar o Mycobacterium tuberculosis do M. não

Page 36: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

36

tuberculosa, o que facilita a identificação de infecções por micobactérias atípicas e

comuns (GRECO et al., 2006).

1.8. Coinfecção tuberculose e HIV

A TB e a aids são as duas principais causas de doenças infecciosas

associadas a mortalidade no mundo, e estão indissoluvelmente juntas desde o

início da epidemia HIV/aids, sendo um dos maiores desafios para o controle da

tuberculose (FRIEDLAND et al., 2007; LAWN; ZUMLA, 2011). A imunossupressão

aumenta o risco da reativação da infecção latente e a rápida progressão para a TB

ativa (AARON et al, 2004). A tuberculose é comum entre os infectados pelo HIV

principalmente entre aqueles com baixos níveis de células TCD4+ (JARYAL et al,

2011).

A coinfecção entre o MBT e o HIV constitui agravo importante na saúde

pública e tem contribuído para o aumento dos índices de morbimortalidade por TB

(ALBUQUERQUE et al., 2007; DYE; BASSILI; BIERRENBACH, 2008; PACHECO

et al., 2008; GETAHUN et al., 2010) mais do que a infecção isolada pelo HIV

(OLIVEIRA; MARÍN-LEÓNA; CARDOSO, 2004). E, sobretudo, ainda é alto o

número de indivíduos com TB que não realizam a sorologia para o HIV (LINS et

al., 2012).

Até 1993, distinguiam-se duas apresentações clínicas da coinfecção: TB

no paciente infectado pelo HIV e sem aids e TB associada à aids (BARNES et al.,

1999). Os CDC consideram a TB pulmonar como uma das patologias definidoras

de aids nos infectados pelo HIV (CANTWELL et al., 1994; CDC, 2008). Entretanto,

no Brasil, esse critério não é utilizado devido à elevada prevalência da tuberculose

pulmonar no país (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

A coinfecção é favorecida pela progressiva disfunção do sistema imune

causada pelo HIV que compromete a imunidade celular mediada pelos linfócitos T-

CD4+, tornando estas células incompetentes na defesa contra o MBT. A

tuberculose por sua vez, acelera a replicação viral por meio de vários mecanismos

dentre os quais a produção do Fator de Necrose Tumoral (GUPTA; STREET;

MACRAE, 2008; KWAN; ERNST, 2011; NANICHE et al., 2011).

Page 37: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

37

Apesar dos indivíduos infectados pelo HIV poderem apresentar sintomas

clássicos da TB como febre, sudorese noturna e perda de peso, na maioria dos

casos a doença é oligossintomática ou assintomática, especialmente nos países

em desenvolvimento, onde existe uma elevada carga de infecção por HIV e TB.

Pacientes HIV positivos com TB são menos propensos a ter a doença

pulmonar cavitária do que os não infectados pelo HIV, sendo que 22% dos

coinfectados portadores de TB pulmonar apresentam radiografia de tórax normal.

Ainda, pessoas infectadas com HIV são mais propensas a desenvolver a forma

extrapulmonar da doença e 40% a 80% destas têm a TB extrapulmonar em

comparação com as não infectadas (10%a 20%) (STERLING, PHAM, CHAISSON,

2010).

A radiografia de tórax nos indivíduos com contagem de linfócitos T-CD4+ ≤

a 200 células/mm3 pode apresentar vários padrões e a TB pode ser classificada

como TB primária evolutiva, TB pósprimária e TB miliar. São encontradas

alterações mínimas em até 5% dos casos e resultados com padrão radiológico

normal em até 14% dos casos. Nos pacientes com T-CD4+ < 200 células/mm3 a

forma primária evolutiva é a predominante assim como a radiografia de tórax

normal. A forma pós-primária acontece mais freqüentemente nos pacientes com T-

CD4+ > 200 células/mm3 (GREENBERG et al., 1994; GENG et al, 2005).

Na coinfecção, o diagnóstico da TB é realizado normalmente utilizando-se

os mesmos meios diagnósticos (radiografia de tórax e baciloscopia de escarro).

Acrescenta-se apenas a cultura para micobactérias no sangue e na urina para

identificação de micobactérias, assim como os bacilos resistentes e MDRs, mais

prevalentes nos pacientes soropositivos para HIV, havendo necessidade de

determinar a sensibilidade das drogas (CONDE et al., 2009).

Em relação ao manejo terapêutico dos portadores da coinfecção, sabe-se

que a disponibilidade da HAART tem contribuído significativamente para a

prevenção de infecções oportunistas e de modo especial para a prevenção da TB

(PALOMINO, 2012). A sobrevida dos pacientes coinfectados tem aumentado ao

longo dos anos e pode ser atribuída a melhorias nos tratamentos antiretrovirais e

antituberculose, que são indispensáveis na gestão desses pacientes. No entanto,

Page 38: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

38

importantes interações farmacocinéticas ocorrem entre a rifampicina, componente

do tratamento antituberculose e alguns antiretrovirais, especialmente, os inibidores

da protease e os não-nucleosídeos da transcriptase reversa.

O tratamento na coinfecção HIV/TB tem sua particularidade devido ao uso

concomitante da rifampicina com a HAART apresentando interações com

frequência (ARBEX et al., 2010). Por sua vez, a HAART aumenta a resposta ao

teste PPD e reduz a incidência e mortalidade por TB, constatando que os níveis

de T-CD4+ antes do tratamento e seis meses após o início são os fatores

determinantes (LAWN; BEKKER; WOOD, 2005).

Os princípios fundamentais subjacentes ao tratamento da coinfecção são:

a) o tratamento da TB sempre tem precedência sobre o tratamento da infecção; b)

em pacientes que já estão em HAART, o mesmo tem que ser continuado com as

modificações apropriadas e c) em pacientes que não estão recebendo HAART, a

necessidade e o momento de início da HAART deve ser decidido após avaliação

do risco de progressão da doença a curto prazo e morte, com base na contagem

de T-CD4 + e do tipo de TB.

1.9. Tratamento da tuberculose e coinfecção HIV/aids/TB

No Brasil, desde 1979, o tratamento da tuberculose é padronizado pelo

Ministério da Saúde (MS) por meio de normas técnicas que regulamentam a

dispensação da medicação a qual também é disponibilizada gratuitamente

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). A

terapêutica baseia-se na associação de drogas quimioterápicas empregadas de

acordo com a localização do bacilo e o seu comportamento metabólico. Os

esquemas terapêuticos antituberculose objetivam ter atividade bactericida

precoce; capacidade de prevenir a emergência de bacilos resistentes e ter

atividade esterilizante (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006). Assim, existe

um conjunto de drogas que compõem o esquema básico e outras que são

prescritas em situações especiais.

De 2002 até outubro de 2009 prevaleceu um sistema de tratamento

organizado em esquemas de composição de drogas, numerados em algarismos

Page 39: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

39

romanos de I a III e recomendados de acordo com a forma clinica da tuberculose

ou a condição de seguimento do tratamento (abandono, retratamento ou recidiva)

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010).

O Esquema I ou Esquema Básico, aplicado aos casos novos de

tuberculose pulmonar ou extrapulmonar, exceto meningoencefalite, continha

rifampicina (R), isoniazida (H) e pirazinamida (Z) utilizadas em duas fases. A

primeira, com duração de dois meses, empregava as três drogas e a segunda,

com duração de quatro meses, empregava a R e a H. Esse esquema com suas

drogas, fases e duração era representado graficamente pela sigla 2RHZ/4RH

(MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2009a).

O Esquema I Reforçado constituía uma opção para os casos de

retratamento e acrescentava na segunda fase o Etambutol (E). Sua representação

ficava assim: 2RHZE/4RHE. A forma meningoencefálica era tratada segundo o

Esquema II, cujo diferencial era a ampliação do tempo de duração do tratamento

de seis meses para nove meses, com as mesmas drogas usadas no Esquema I e

representadas pela sigla 2RHZ/7RH. Finalmente, o Esquema III, indicado para os

casos de falência do tratamento tinha duração de 12 meses e utilizava outros

grupo de drogas para falência terapêutica (estreptomicina, etionamida, etambutol

e pirazinamida) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

A partir de outubro de 2009, os esquemas terapêuticos foram alterados

por norma técnica indicando tratamento para todos os casos de tuberculose

pulmonar e extrapulmonar, bem como para casos de recidiva e de retorno após

abandono.

Foi preconizado a utilização de quatro drogas em um único comprimido

com dose fixa na fase intensiva combinada por rifampicina (R), isoniazida (H),

pirazinamida (Z) e etambutol (E), nos dois primeiros meses, e manutenção com

isoniazida e rifampicina nos quatro meses subsequentes (2RHEZ/4RH),

compondo assim o esquema básico para indivíduos com idade ≥ 10 anos (CONDE

et al., 2009).

Page 40: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

40

Nos casos de meningoencefalite por tuberculose preconiza-se além do

esquema inicial, estender a segunda fase por sete meses associando-se um

corticosteróide no primeiro mês de tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009a).

Os indivíduos portadores de bacilos resistentes a isoniazida e rifampicina,

ou bacilos resistentes a isoniazida, rifampicina e outro fármaco de primeira linha

ou que apresentam falência ao esquema básico constituem o grupo classificado

como portadores de tuberculose multirresistente (TBMDR). Para esses casos, é

proposto o esquema constituído por estreptomicina (S), etambutol (E), terizidona

(T), pirazinamida (Z) e um quinolona (levofloxacina ou ofloxacina). Na

impossibilidade de se utilizar estreptomicina, essa é substituída por amicacina.

Os portadores de tuberculose extensivamente resistente (TBXDR -

extensively drug resistant) devem ser acompanhados em centros de referência

terciários com a utilização de esquemas individualizados compostos por fármacos

de reserva que podem incluem capreomicina, moxifloxacina, ácido para-

aminossalicílico e etionamida (CONDE et al., 2009). Pode ocorrer também

particularidades em casos de intolerância a uma das drogas de primeira linha e

outras situações clínicas como as hepatopatias sendo contemplado também com

outras propostas de tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010).

Sobretudo, ainda é recomendação da “III Diretrizes para TB da SBPT”

(2009) a supervisão direta de todos os esquemas de tratamento para TB

utilizando-se a estratégia de tratamento diretamente observado (TDO)

(EVANGELISTA; DE ASSIS; GOMES, 2010), bem como, oferta do teste anti-HIV a

todos os indivíduos com TB, realização do TT por todo indivíduo HIV positivo sem

diagnóstico de TB doença tratamento instituído aos pacientes com

imunodepressão grave e suspeita de TB enquanto aguarda resultado de exames

laboratoriais, e, realização de cultura com teste de sensibilidade do escarro aos

pacientes com HIV/TB positivo.

O tratamento da TB em pacientes HIV positivos está associado a questões

complexas. A infecção pelo HIV prejudica na absorção de alguns medicamentos

antibuberculostáticos com ocorrência de interações medicamentosas (SCHMALTZ

Page 41: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

41

et al., 2009), reações adversas e risco elevado de toxicidade (KANT et al., 2010).

Portanto, a coinfecção está relacionada à interrupção do tratamento, à resistência

medicamentosa (BURMAN; JONES, 2001; BRITO et al., 2004), bem como falência

terapêutica (ALBUQUERQUE et al., 2007), e óbito antes mesmo de concluir o

tratamento da TB (MARUZA; XIMENES; LACERDA, 2008; LACERDA et al., 2009).

Esses fatores são compensados pelo efeito benéfico do acesso à terapia

antiretroviral altamente ativa (HAART) sobre o alto risco de mortalidade entre os

pacientes infectados com HIV e tratados para TB.

No Brasil, a introdução da HAART apresentou impacto importante na

diminuição do número de casos da coinfecção HIV/TB. O fornecimento gratuito

dos medicamentos antirretrovirais promoveu o acesso ao tratamento e contribuiu

para redução na incidência de TB na população soropositiva para o HIV

(MIRANDA et al., 2007) corroborando assim, na diminuição da mortalidade pela

infecção simultânea (SCHMALTZ et al., 2009). Esta medida associada ao

fornecimento de terapia preventiva para indivíduos com testes positivos ao

derivado protéico purificado (PPD), e ainda a ampliação da testagem para o HIV

em indivíduos com infecção pelo MBT são estratégias recomendadas pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) para o controle da tuberculose bem

estruturado. (ROLLA et al., 2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009;

JAHDALI et al., 2010).

No entanto, o tratamento tuberculostático na vigência do HAART é

dificultado por altos índices de intolerância e interações medicamentosas com a

sobreposição/potencialização de eventos adversos que aumentam assim a

dificuldade de se identificar qual fármaco está associado a uma possível

toxicidade. Portanto, em face da interação da rifampicina com os inibidores da

protease (IP) e, com menor freqüência, com os inibidores não nucleosídeos da

transcriptase reversa (ITRNN), o tratamento da coinfecção tuberculose e HIV

apresenta algumas ressalvas que geram problemas que, de forma geral, é

recomendado o início de HAART nas pessoas com indicação em torno de 30 dias

após o início do tratamento para tuberculose, onde o início mais tardio é associado

Page 42: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

42

a uma maior letalidade por TB ou HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA

DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010).

A rifampicina deve preferencialmente fazer parte do esquema de

tratamento da TB apresentando uma maior eficácia terapêutica, incide na

negativação da baciloscopia e diminui a duração da terapia, apresentando

menores taxas de recidiva, falência e de letalidade (BLUMBERG et al., 2003).

Sobretudo, esquemas antirretrovirais compostos por dois ITRN + efavirenz

constituem a opção de primeira escolha de HAART para pacientes em uso de

rifampicina com disposição de outros esquemas indicados conforme Quadro 3.

A TBMDR é um problema clínico observado mundialmente, onde cepas do

MBT apresentam-se resistentes à RH. A prevalência da TBMDR varia de 0,7% em

Madagascar e 3,9% em Ruanda. Em Botswana, em pacientes virgens de

tratamento, a prevalência da resistência a uma medicação foi de 10,4% e de MDR,

0,8%. Já nos pacientes com tratamento prévio essas porcentagens aumentaram

para 22,8% e 10,4%, respectivamente (ANDREWS et al, 2007; NELSON et al.,

2005).

No Brasil, essas taxas aumentam. Num estudo realizado com 217

pacientes internados com TB em hospital de referência na Bahia, 15 destes

pacientes positivos para HIV e 202 negativos, 7% apresentaram resistência

primária, 43,1% resistência adquirida, com 4,2% de cepas com MDR primária e

34,7% de MDR adquirida (MATOS et al., 2007).

Além disso, há alguns países que já identificaram também a TB

extensivamente resistente (Extensively Drug-Resistant, TBXDR), observada na

África do Sul, onde 5,6% dos casos de TBMDR foram identificados como sendo

TBXDR, tornando fatal a associação HIV/TB como demonstrado no surto ocorrido

em Kuala Natal, África do Sul (GANDHI et al., 2006). A TBXDR apresenta cepas

do MBT resistente a RH e fluoroquinolona, associada à resistência a um dos três

fármacos injetáveis de segunda linha (amicacina, canamicina e capreomicina)

(CONDE et al., 2009). A TBXDR tornou-se uma emergência mundial que desafia

os órgãos sanitários no seu combate e controle (KRITSKI, 2010).

Page 43: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

43

Quadro 3. Recomendações terapêuticas para paciente HIV+ com tuberculose*.

SITUAÇÃO RECOMENDAÇÃO

Paciente com TB cavitária e virgem de tratamento para tuberculose e para HIV

Tratar TB por seis meses com Esquema Básico. Determinar a contagem de linfócitos T CD4+ e carga viral para monitoramento clínico. Iniciar HAART com um dos seguintes esquemas:

• 2 ITRN + EFZ (preferencial) • 3 ITRN (alternativo)

Paciente com TB pulmonar não cavitária ou formas extrapulmonares (exceto meningoencefálica) e virgem de tratamento para tuberculose e para HIV

Tratar TB com Esquema Básico e iniciar HAART a partir de 30 dias de tratamento antituberculose. Iniciar HAART com um dos seguintes esquemas:

• 2 ITRN + EFZ (preferencial) • 3 ITRN (alternativo)

Pacientes com Tuberculose (casos novos e retratamento por recidiva ou retorno após abandono, exceto meningoencefálica, experimentados em terapia antirretroviral

Tratar TB por seis meses com Esquema Básico – caso necessário, adequar HAART, individualizando a avaliação conforme histórico de uso de ARV e falhas terapêuticas anteriores, substituindo drogas incompatíveis com o uso de rifampicina, considerando um dos seguintes esquemas:

• 2 ITRN + EFZ • 2 ITRN + SQV/RTV • 3 ITRN

Meningoencefalite tuberculosa Tratar TB por nove meses com Esquema para meningoencefalite + corticoterapia. Iniciar ou substituir a HAART por esquemas compatíveis com uso concomitante de rifampicina:

• 2 ITRN + EFZ • 2 ITRN + SQV/RTV • 3 ITRN

Suspeita de Tuberculose multirresistente ou falência ao esquema básico

Solicitar cultura, identificação e teste de sensibilidade. Manter o esquema básico até o recebimento do teste de sensibilidade. Encaminhar aos serviços de referência em tuberculose, para avaliação de especialista e avaliação da necessidade do esquema para multirresistência ou outros esquemas especiais

Intolerância a dois ou mais fármacos antituberculose do esquema básico

Discutir o caso ou encaminhar para unidade de referência do programa de tuberculose para avaliar o esquema a ser introduzido

Fonte: adaptado do Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. Ministério da Saúde: Brasília/DF, 2010; * excluídas as recomendações referentes às exceções previstas no tratamento.

Em Goiânia, Estado de Goiás, foi relatado um caso de TBXDR secundária

em 2008. As cepas do MBT foi resistente à rifampicina, isoniazida, etambutol,

etionamida, ofloxacina e amicacina, e teve como desfecho óbito com falência

Page 44: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

44

múltipla de órgãos devido a septicemia secundária a pneumonia bacteriana

(ARAÚJO-FILHO et al., 2008).

1.10. Importância epidemiológica do HIV/aids/TB

Segundo estimativas do Ministério da Saúde (2011a), a incidência global

da TB em 2010 (Figura 1) foi de 8,8 milhões de casos novos (8,5-9,2 milhões). O

Sudeste Asiático e a África concentram a maioria dos casos com 59% e 26%

respectivamente, proporções menores são encontradas nas regiões do

Mediterrâneo Oriental (7%), Européia (5%) e Américas (3%).

A Índia e a China estão entre os cinco países com as maiores taxas de

incidência, sendo que a Índia sozinha responde por 26% do total de casos no

mundo e juntos contabilizam 38% dos casos (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2011a). Estima-se que na Índia 60% a 70% dos indivíduos HIV positivo irão

desenvolver tuberculose ao longo de sua vida (JARYAL, 2011).

Nas Américas, o Brasil e Peru contribuem com 50% dos casos estimados

de TB (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011a). No Brasil, na última década,

foram diagnosticados entre 80 a 90 mil casos novos ao ano, constituindo-se assim

a nona causa de internação por doenças infecciosas e a quarta causa de

mortalidade por doenças infecciosas (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE,

2009; HIJJAR et al., 2005).

Page 45: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

45

Figura 1. Taxas de incidência estimada de TB, 2010 Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011a

A incidência da TB está significativamente relacionada à alta prevalência

da infecção pelo HIV. Aproximadamente 30% dos 33,4 milhões de indivíduos

infectados com HIV em 2008, tinham TB latente ou ativa (KWAN, ERNST, 2011).

Ainda, estima-se que 13% dos novos casos de tuberculose incidiram sob

indivíduos coinfectados com o HIV (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011a). A

região africana, mais uma vez, detém o maior percentual de coinfectados, com

82% dos casos de TB entre as pessoas que vivem com HIV (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2011a).

A testagem para o HIV entre os pacientes diagnosticados com TB é um

importante indicador epidemiológico para o monitoramento dessa morbidade.

Idealmente espera-se que todos os indivíduos adultos diagnosticados com TB

sejam testados para o HIV (MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2009b). Na África, em 2010, 44% dos indivíduos com

TB testados para o HIV eram soropositivos (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2011a). Apesar da recomendação a realização de testagem para o HIV em todos

Page 46: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

46

os pacientes com tuberculose ainda não ocorre efetivamente (SRIKANTIAH et al.,

2007; GETAHUN et al., 2010).

No Brasil, em 2004, a proporção de casos novos de TB testados para o

HIV era cerca de 40%. Esse percentual vem aumentando ao longo dos anos

chegando a 63% em 2007 (JAMAL; MOHERDAUI, 2007).

Segundo o Ministério da Saúde (2009b) foram notificados no país 83.977

casos novos de TB sendo que 7.557 estavam coinfectados pelo HIV (9%) e os

Estados com maiores percentagens foram Santa Catarina (20,25 %), Rio Grande

do Sul (19,9 %), e São Paulo (15,6 %). Para os indivíduos vivendo com HIV/aids

no Brasil, estima-se que 18% deles sofram de TB sendo uma das três principais

causas de morte por doença infecciosa nestes indivíduos .

A taxa de incidência da TB por regiões varia de 30 casos por 100 mil

habitantes nas regiões Sul e Centro- Oeste para 50 casos por 100 mil habitantes

nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

PNEUMOLOGIA E TISOLOGIA, 2009). A letalidade da tuberculose em indivíduos

infectados pelo HIV é explicada pela combinação de fatores associados a

coinfecção com o HIV. Dentre estes, observa-se a rápida progressão da doença

devido à falta de respostas imunes para restringir o crescimento de

Mycobacterium tuberculosis; diagnóstico tardio e tratamento da infecção

tuberculosa devido a apresentação atípica e baixas taxas de positividade

baciloscópica. Ainda, retardo no diagnóstico da infecção pelo HIV; e atraso no

início ou, dificuldade de acesso à HAART, além de taxas elevadas de bacilos de

TB multidrogas resistentes (ANDREWS, 2007; KWAN; ERNST, 2011).

1.11. Vigilância Epidemiológica

O objetivo da vigilância epidemiológica é conhecer a magnitude da doença

a partir dos dados de morbimortalidade, fatores de risco, distribuição e tendência

temporal, fornecendo subsídios para ações de controle eficazes. Para isso,

diversos Sistemas de Informação em Saúde são utilizados, os quais compõe-se

de adequados mecanismos de coleta de dados, processamento, análise e

transmissão de informação, necessárias ao planejamento, organização,

Page 47: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

47

operacionalização e avaliação dos serviços de saúde (WORLD HEALTH

ORGANIZATION, 2009).

No Brasil, a vigilância epidemiológica da aids e da TB utiliza o Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sistema esse que permite a

notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista

nacional de doenças de notificação compulsória, e que fornece subsídios para

explicações causais dos agravos de notificação compulsória, além de indicar

riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a

identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007b).

Apesar do esforço no monitoramento e na detecção precoce de casos, o

controle da TB ainda enfrenta algumas dificuldades, principalmente pelas altas

taxas de óbito entre os portadores de HIV sob tratamento da TB. A maior

dificuldade se deve ao fato de a política de controle da TB estar atrelada ao nível

básico de atenção à saúde, e a de assistência à aids aos níveis secundário e

terciário. Diante da dimensão da comorbidade e do impacto que a TB e o HIV

juntos configuram para a saúde pública, faz-se necessário pesquisas que

contemplem conhecer o perfil epidemiológico dos doentes coinfectados (SANTOS

et al., 2009).

1.12. A Enfermagem e o controle da tuberculose

O profissional de enfermagem desenvolve importante papel no

enfrentamento do problema da TB desde as dimensões políticas e operativas do

trabalho, bem como, no ensino e na produção científica, contribuindo para gerar

novos conhecimentos sobre os determinantes sociais e políticos, especialmente

na compreensão de aspectos relacionados ao doente, à família e aos serviços de

saúde (VILLA et al., 2006; VILLA, 2007; LOPES et al., 2008).

Como objetivos do milênio, o Ministério da Saúde estabeleceu metas para

o controle das doenças negligenciadas, sobretudo a TB, com o desenvolvimento

de novas estratégias para o alcance destas (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2011a). E, a enfermagem brasileira segue as diretrizes do Plano Global para o

Page 48: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

48

STOP TB na pesquisa e na assistência, sendo que os recursos humanos

emergem como um dos grandes desafios para a expansão da estratégia DOTS

(Directly Observed Treatment Short Course - Tratamento Diretamente Observado

de Curta Duração) (VILLA et al., 2008).

No Brasil, a estratégia DOTS é levada aos lares com a finalidade de

satisfazer as necessidades sociais, culturais, econômicas e facilitar o acesso do

paciente e sua família a diferentes níveis e serviços do sistema de saúde

(BERTOLOZZI, 2005; CARDOZO GONZALES et al., 2008).

Os profissionais de enfermagem, pela característica do trabalho que

desenvolvem, têm oportunidade de atuarem mais proximamente dos clientes, nos

diversos níveis de atenção. Isso contribui para aumento do tempo de exposição a

diversos patógenos, dentre os quais o MBT. O risco aumenta quando existem

condições insuficientes de proteção individual e coletiva, políticas de trabalho

ineficientes, desorganização dos trabalhadores da saúde e baixa qualificação

técnica do pessoal de saúde (LOPES et al., 2008; MACIEL et al., 2009).

Na atenção direta ao paciente, a assistência de enfermagem baseia-se na

promoção da saúde, prevenção da TB com vacinas e medidas de biossegurança;

valorização e cuidado integral do paciente e família; reinserção social;

empoderamento e educação crítica para a participação popular (OBLITAS et al.,

2010). Além de que, administrativamente, o enfermeiro participa da elaboração

das políticas públicas, normas e guias de atendimento e gestão do cuidado direto

(OBLITAS et al., 2010).

Sobretudo, há condições de vulnerabilidade para a enfermagem que

trabalha diretamente com a TB, e que o conhecimento assim como a quantidade

de tempo de exposição no serviço tem papel fundamental (BERTAZONE; GIR;

HAYASHIDA, 2005; SOUZA; BERTOLOZZI, 2005). Aos profissionais de saúde,

especialmente a enfermagem, deve-se considerar o risco da TB laboral tanto na

assistência ambulatorial, domiciliar e hospitalar (LOPES et al., 2008; PRADO et

al., 2008).

A produção científica da enfermagem na TB está relacionada à produção

de conhecimentos essenciais e prioritários para a saúde pública com inovações no

Page 49: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

49

processo de atenção à saúde, como o DOTS e referencial teórico de conceitos

vulnerabilidade, humanização, adesão/abandono (BERTOLLOZI, 2005;

CARDOZO GONZALES et al., 2008). Também são abordadas aspectos de gestão

do processo de atenção à TB (WILLIAMS et al., 2008) inserida no sistema de

atenção primária a saúde (VILLA et al., 2008).

Na pesquisa, a Enfermagem também se destaca na coordenação de

projetos em TB, com a formação da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose

– (REDE TB) (CARDOZO GONZALES et al., 2008) e a Rede Latino Americana de

Enfermería em TB (VILLA et al., 2006; VILLA et al., 2008).

Na docência, contribui com a formação de novos recursos humanos na

enfermagem, ofertando cursos de capacitação no atendimento de portadores de

tuberculose, enfatizando a iniquidade, desvantagens sociais, solidariedade,

cidadania, direitos humanos, orçamento participativo; capacitação de

colaboradores ou pessoal de enfermagem; educação sanitária crítica;

autoformação; bem como produção de estudos sobre o ensino da TB em cursos

de graduação em enfermagem no Brasil (VILLA et al., 2006).

Portanto, a enfermagem viabiliza a construção de competências

investigativas de forma integrada às práticas de saúde nos diversos cenários da

TB, posibilitando avanços na qualificação de recursos humanos, pesquisadores e

mesmo na produção de conhecimentos que contribuem para atenção à TB no

Brasil.

Page 50: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

50

2. JUSTIFICATIVA

A TB é uma das principais doenças relacionadas com a infecção pelo HIV

e responsável por alta mortalidade em todo o mundo. No Brasil, desde 2004, estão

sendo desenvolvidas novas tentativas para a incorporação da coinfecção HIV/TB

nas políticas de controle da TB. No entanto, a debilidade na comunicação entre o

Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) e o Programa Nacional de

Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS (PN-DST/ AIDS) representam um

grande desafio para o controle da coinfecção. Uma vez que a política de controle

da TB está atrelada ao nível básico de atenção à saúde e o da assistência à AIDS

aos níveis secundário e terciário (SANTOS et al., 2009).

Em Goiás, a taxa de incidência de TB é de 8,6 por 100.000 habitantes

(MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2009) e a

incidência da aids é de 13,5 para a Região Centro-Oeste (MINISTÉRIO DA

SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). No entanto, as taxas

da coinfecção e do óbito são desconhecidos. E, diante da dimensão da

comorbidade e do impacto que o HIV e a TB juntos configuram para a saúde

pública, faz-se necessário pesquisar e conhecer o perfil epidemiológico desses

indivíduos coinfectados.

Profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, devem estar atentos e

corresponsabilizarem-se pelo monitoramento e avaliação das transformações

epidemiológicas ocorridas no curso da coinfecção, tendo em vista sempre, o

trabalho multidisciplinar que o enfrentamento desse agravo pressupõe.

A produção de investigações científicas evidenciam contextos

sociodemográficos e epidemiológicos que permitem a análise do comportamento

da doença. A avaliação dos possíveis riscos e fatores de impacto de uma doença

sobre a outra poderão contribuir na melhor compreensão da coinfecção HIV/TB no

estado de Goiás. Assim, este trabalho contribuirá no planejamento das ações e

estratégias voltadas às políticas públicas no controle e tratamento da coinfecção

HIV/TB no estado de Goiás.

Page 51: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

51

3. OBJETIVOS 3.1. Geral

• Analisar o perfil clínico e epidemiológico da coinfecção HIV/TB em pacientes

atendidos no único hospital de referência para tratamento de doenças

infecciosas no Estado de Goiás.

3.2. Específicos

1. Verificar a incidência global de tuberculose entre os portadores de infecção

pelo HIV atendidos no hospital de referência;

2. Descrever o tempo de desenvolvimento para a tuberculose a partir do

diagnóstico de infecção pelo HIV;

3. Descrever as características sociodemográficas e clínicas dos portadores

da coinfecção HIV/TB;

4. Analisar os fatores de risco para desenvolver tuberculose nos indivíduos

infectados com HIV atendidos nessa unidade de saúde, comparando os

indivíduos coinfectados com aqueles não infectados pela tuberculose.

Page 52: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

52

4. METODOLOGIA 4.1. Desenho do estudo

Trata-se de um estudo de coorte retrospectiva e dinâmica. Esse tipo de

estudo epidemiológico é constituído por um grupo de indivíduos sem o agravo em

estudo, com características diferentes quanto a uma determinada condição, mas

com alguma característica em comum que os defina como uma coorte (FLETCHER,

FLETCHER, 2006) e que serão observados por um período de tempo a fim de se

identificar e analisar o desfecho esperado. Assim, parte-se da exposição em direção

ao desfecho com a garantia que os membros do grupo em estudo não tenham

sofrido o desfecho antes do recrutamento (NETO; LOTUFO, 2005).

4.2. População e local do estudo

A população do estudo foi constituída por registros nos prontuários dos

indivíduos com diagnóstico de infecção pelo HIV firmado no período de 01/01/2003 a

31/12/2009, atendidos no Hospital de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT)

nesse mesmo período. O HDT é uma instituição pública estadual que atende

usuários do Sistema Único de Saúde sendo considerado o único hospital de

referência para o atendimento de pessoas vivendo com HIV/aids em Goiás.

- Definição de caso de HIV: considerou-se caso de infecção pelo HIV o

indivíduo que apresentasse em seu prontuário registro de testes laboratoriais de

triagem e confirmatórios, positivos para o HIV, de acordo com algoritimo preconizado

pelo Ministério da Saúde (MS, 2008a). O teste de triagem utilizado é o Enzyme

Linked Immunosorbent Assay (ELISA) que permite a detecção de anticorpos

específicos no plasma sanguineo enquanto os testes confirmatórios são o

Imunofluorescência Indireta ou Western Blot.

4.3. Fontes de informação

Nessa pesquisa as fontes de informação foram constituídas pelos registros

de prontuários do hospital de referência e pela base de dados do SINAN-TB de

Goiás, fornecida pela Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. As variáveis do

SINAN-TB utilizadas para complementar os dados do banco do HDT foram: tipo de

Page 53: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

53

entrada (caso novo, recidiva, reingresso após abandono, transferência); teste

tuberculínico (não reator, reator fraco, reator forte, não realizado); forma clínica

(pulmonar, extrapulmonar, pulmonar + extrapulmonar); localização da TB

extrapulmonar; baciloscopia de escarro (positiva, negativa, não realizada); data de

início de tratamento para TB e esquema terapêutico utilizado.

Essa base de dados foi linkada ao banco da pesquisa (HDT) para identificar os

casos de tuberculose e também para complementar os dados obtidos nos

prontuários. Para esse processo criou-se em ambos os bancos a variável

“nome_modificado” que foi preparada no Excel. Nesse processo algumas

padronizações foram adotadas, tais como transformação de todos os caracteres

para caixa alta, eliminação de “espaços” em branco antes do nome e excedentes

entre os nomes. Realizou-se então uma rotina de substituições de alguns

componentes dos nomes, conforme descrita por Silva (2011), em seguimento ao

trabalho anterior da autora supracitada, quem iniciou o tratamento deste banco de

dados. Por isso, a importância de manter-se neste trabalho a mesma rotina de

padronização dos nomes aplicada no banco de dados. Um processo de

deduplicação foi executado para a verificação da existência de casos duplicados,

sendo assim comparados e excluídos quando confirmados.

Os casos suspeitos de duplicidade foram comparados por meio de três

varreduras: análise de pares de nomes (paciente e mãe), análise dos pares de data

de nascimento e análise de pares dos nomes modificados. Considerou-se como

duplicidades verdadeiras aquelas que possuíam as variáveis nome do paciente,

nome da mãe e data de nascimento, idênticas ou, aquelas com algum erro de grafia

no nome do paciente, mas com as duas outras variáveis iguais. Os casos

identificados como duplicados foram excluídos.

Efetuou-se a conferência manual, caso a caso, dos sujeitos duplicados nos

quais os critérios anteriormente citados não foram suficientes para identificar a

duplicidade com segurança. Confirmada a existência de dois ou mais registros de

uma mesma pessoa conservou-se o registro com diagnóstico de HIV mais antigo.

Dados inexistentes no registro mais antigo foram recuperados de registros

posteriores quando disponíveis.

Page 54: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

54

4.4. Critérios de elegibilidade e de exclusão dos registros

Foram elegíveis os prontuários de indivíduos atendidos no HDT com

diagnóstico sorológico de infecção pelo HIV firmado no período de 01/01/2003 a

31/12/2009, idade igual ou superior a 13 anos no momento do diagnóstico sorológico

de HIV; sem história de tratamento antiretroviral prévio no momento da primeira

visita clínica ao hospital; com ou sem manifestação clínica de aids no momento do

diagnóstico. Foram excluídos aqueles com diagnóstico confirmado de TB anteriormente

ao diagnóstico de infecção pelo HIV.

4.5. Coleta dos dados 4.5.1. Local e Período da coleta de dados

Os dados foram coletados no Serviço de Arquivo Médico e Estatística

(SAME) do HDT no período de novembro de 2010 e agosto de 2011.

4.5.2. Coleta de dados nos prontuários

No HDT, os prontuários dos pacientes com diagnóstico de infecção pelo HIV

são arquivados no SAME em caixas especificas, por ano de abertura do prontuário,

tendo sua numeração fixada na parte externa das caixas. Sendo assim, o auxiliar de

pesquisa responsável pela coleta dos dados, dirigia-se ao SAME nos dias e horários

previamente acordados, separava as caixas por ano e iniciava a leitura dos

prontuários consecutivamente. Os mesmos eram lidos, analisados e transcritos para

os instrumentos padronizados.

Foram utilizados dois instrumentos para a coleta dos dados. O primeiro, para

a coleta nos prontuários (Apêndice A), no qual foram transcritos os dados

sóciodemográficos, comportamentais, clínico-laboratoriais, terapia antirretroviral,

terapia anti-tuberculose e seguimento terapêutico. Nesse instrumento, os dados de

identificação dos sujeitos foram registrados com as iniciais do nome do paciente e de

sua mãe, juntamente com o número do prontuário. No segundo instrumento

(Apêndice B) foram registrados os nomes completos do paciente e da mãe,

juntamente com o número do prontuário.

Page 55: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

55

Os instrumentos foram transportados para o Núcleo de Pesquisa

(NUCLAIDS) da Faculdade de Enfermagem da UFG, em envelopes separados e por

auxiliares de pesquisa distintos, em tempos também distintos. Os dados de cada

banco foram digitados separadamente. Posteriormente, os bancos foram reunidos

pelo pesquisador responsável (orientador). A utilização de dois instrumentos

separados teve como finalidade garantir o sigilo dos sujeitos da pesquisa e a

confidencialidade dos dados, evitando-se a identificação dos mesmos por ocasião

da digitação do banco.

A coleta dos dados foi realizada por uma equipe composta por duas

auxiliares de pesquisa, uma aluna de iniciação cientifica e três alunas de pós-

graduação. Todas as participantes eram enfermeiras ou acadêmicas de enfermagem

e foram orientadas quanto ao sigilo das informações coletadas e treinadas para a

execução do trabalho proposto.

4.6. Variáveis do estudo 4.6.1. Variável de desfecho: Tuberculose e óbito

Neste estudo foram considerados casos de tuberculose aqueles confirmados

segundo critérios adotados pelo MS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002), notificados ao

SINAN e firmados após o diagnóstico de infecção pelo HIV ou simultaneamente a

ele. Assim, foram incluidos os casos confirmados, conforme definição a seguir:

a) Segundo critério clínico-laboratorial - Tuberculose pulmonar bacilífera: paciente com duas baciloscopias diretas

positivas ou uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva ou uma baciloscopia

direta positiva e imagem radiológica sugestiva de tuberculose.

- Tuberculose pulmonar escarro negativo (BK): paciente com duas

baciloscopias negativas, com imagem radiológica sugestiva e achados clínicos ou

outros exames complementares que permitam efetivar o diagnóstico de tuberculose.

- Tuberculose extrapulmonar: paciente com evidências clínicas e achados

laboratoriais, inclusive histopatológicos, compatíveis com tuberculose extrapulmonar

ativa, tratados com esquema específico; ou paciente com, pelo menos, uma cultura

positiva para M. tuberculosis, de material proveniente de uma localização

extrapulmonar.

Page 56: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

56

b) Segundo critério clínico-epidemiológico Casos confirmados clinico-epidemiologicamente, em situações em que o

diagnóstico laboratorial não pode ser realizado principalmente quando de história de

contato com doentes de tuberculose, fator de importância primordial para a

suspeição diagnóstica.

Tempo de seguimento para observação do desfecho: propôs-se um

seguimento mínimo de 365 dias. Assim, indivíduos atendidos em 31 de dezembro de

2009 foram seguidos até 31 de dezembro de 2010.

4.6.2. Variáveis de exposição

• Variáveis sócio-demográficas: sexo, idade, escolaridade, cor.

• Variáveis clínicas e laboratoriais: data do primeiro teste anti-HIV reagente,

data e valor da primeira contagem de linfócitos T-CD4+, data do diagnóstico de

tuberculose; data do início do tratamento para TB; apresentação clínica da TB;

realização e data de teste tuberculínico; datas das baciloscopias do escarro;

esquema terapêutico indicado para TB; data da conclusão do tratamento; óbito.

4.7. Análise estatística dos dados

Primeiramente, as variáveis foram analisadas de forma descritiva por meio

de freqüências absolutas e relativas. As variáveis numéricas foram expressas em

valores mínimos e máximos, média, desvio-padrão, mediana e intervalo interquartil

(IIQ). Diferenças entre as proporções foram verificadas pelos testes estatísticos x²

para tendência. A medida de associação utilizada na análise univariada foi o Risco

Relativo (RR) com Intervalo de Confiança de 95% (IC 95%). Os dados foram

analisados utilizando-se o software Statistical Package Social Science (SPSS)

versão 15.0 para Windows.

4.8. Mecanismos gerenciais de execução

Este projeto contou com o apoio financeiro da FAPEG (Fundação de Amparo

à Pesquisa do Estado de Goiás) e integra a “Rede Goiana de Pesquisa em Agravos

Transmissíveis com Ênfase em seus Aspectos Epidemiológicos, Preventivos e

Diagnósticos”- REAT, do Núcleo de Ações Interdisciplinares de DST/HIV/aids

(NUCLAIDS/FEN/UFG). Envolve a parceria com a Secretaria de Saúde do Estado de

Page 57: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

57

Goiás (SES-GO) por meio da Superintendência de Políticas de Atenção Integral a

Saúde (SPAIS) que congrega a Gerência de Vigilância Epidemiológica e a Gerência

de Desenvolvimento das Ações e do Sistema de Saúde de Goiás, em especial a

Coordenação Estadual de DST/HIV/aids; a Gerência de Vigilância Epidemiológica da

Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia e o Núcleo de Epidemiologia Hospitalar

do HDT.

4.9. Aspectos éticos relacionados ao projeto

Este estudo é um componente do projeto “Observatório de mulheres vivendo

com HIV/aids: análise de incidência e de sobrevivência”, mas por apresentar

objetivos diferentes, o sub-projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa

do Hospital de Doenças Tropicais de Goiás e aprovado sob o protocolo número

004/2011 (Anexo 1).

Page 58: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

58

5. RESULTADOS

5.1 Descrição inicial dos dados

Foram atendidos pela primeira vez no serviço de referência, durante o

período determinado na pesquisa, 4.515 indivíduos os quais tiveram seus

prontuários lidos e avaliados. Desses, foram excluídos 1.538 (34,1%) registros que

não atendiam aos critérios de elegibilidade. Os motivos da exclusão são mostrados

na Tabela 1. Dos registros excluídos, 40,0% (615) eram de indivíduos menores de

13 anos, nos quais se incluem crianças expostas ao HIV por transmissão vertical e,

23,0% (354) eram de indivíduos com diagnóstico de HIV estabelecido fora do

período determinado para o estudo.

Tabela 1. Número de prontuários excluídos segundo ano e motivo, no período de 2003 a 2009. Goiânia, 2012

Motivos da exclusão 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 A.M Total

< 13 anos de idade 93 78 79 83 113 67 84 18 615

TARV* anterior 44 36 39 82 07 01 88 74 371

Diagnóstico fora do período do estudo

84 45 43 48 46 36 07 45 354

Dados insuficientes 18 14 16 23 28 19 28 17 163

Data diagnóstico infecção HIV não confirmada

01 04 06 06 10 03 - 05 35

Total 240 177 183 242 204 126 207 159 1538

TARV: Terapia antiretroviral; A.M: Arquivo Morto

Finalmente, foram arrolados 2.977 sujeitos que atenderam aos critérios de

elegibilidade do estudo (Figura 2).

Page 59: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

59

Figura 2. Fluxograma de seleção dos indivíduos do estudo

5.2 A coinfecção HIV/TB

Dentre os indivíduos incluídos no estudo, 262 apresentaram tuberculose em

algum momento do arrolamento. Em mais de 14% dos sujeitos, o diagnóstico de

tuberculose precedeu o de HIV. A maioria dos casos de TB (58,5%) ocorreu em até

no máximo seis meses após o diagnóstico da infecção do HIV sendo que 38,2%

foram diagnosticados simultaneamente ou em até 30 dias depois da infecção pelo

HIV. Entretanto, 27,1% desenvolveram a doença após seis meses do diagnóstico de

HIV (Tabela 2).

Page 60: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

60

Tabela 2. Tempo decorrido entre o diagnóstico de infecção pelo HIV e o diagnóstico de tuberculose, entre indivíduos atendidos em uma unidade de referência de Goiás, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012

Tempo entre o diagnóstico de HIV e TB n % > 30 dias antes 18 7,2

1 a 30 dias antes 18 7,2

Simultâneo 15 6,0

1 a 30 dias depois 82 32,2

31 a 90 dias depois 40 15,5

91 a 180 dias depois 12 4,8

181 a 364 dias depois 15 5,6

>364 dias depois 62 21,5

Total 262 100,0

Para análise da coinfecção foram excluídos os indivíduos com diagnóstico

de TB anterior ao do HIV, restando um total de 2.941 sujeitos.

A incidência global de coinfecção HIV/TB nessa coorte foi de 7,7%

(226/2.94; IC 95%: 6,8 – 8,7).

Excluídos os casos de TB anteriores ao diagnóstico de HIV (36 casos),

recalculou-se o tempo decorrido em meses para o diagnóstico de TB. O tempo

variou de zero mês, que são aqueles casos cujo diagnóstico foi simultâneo ao do

HIV, até 85 meses, com mediana de um mês e IIIQ=13 meses (Figura 3).

Page 61: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

61

Figura 3. Tempo para o diagnóstico de tuberculose em coorte de infectados pelo HIV atendidos em uma unidade de referência de Goiás, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012

As características sóciodemográficas e clínicas dos indivíduos coinfectados

são apresentadas na Tabela 3. A idade variou de 16 a 65 anos com média de 35,42

anos (dp: 10,32), e predomínio de indivíduos do sexo masculino (76,1%). Em

relação à primeira contagem de linfócitos T-CD4+, a maioria apresentou valores

inferiores a 350 células/mm3 (82,9%).

As formas clínicas de tuberculose foram agrupadas em três categorias:

pulmonar, extrapulmonar e, pulmonar + extrapulmonar. A tuberculose extrapulmonar

e a forma mista, juntas, foram responsáveis por mais de 40,0% dos casos (85/206;

IC 95%: 37,7 - 48,1). A tuberculose ganglionar periférica foi a forma extrapulmonar

mais importante (42,5%; 25/60; IC 95%: 29,7 – 59,4) seguida da tuberculose

90

84

78

72

66

60

54

48

42

36

30

24

18

12

6

0

Tem

po e

ntre

dia

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tico

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IV e

Tub

ercu

lose

(mes

es)

Page 62: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

62

meningoencefálica (16,6%; 10/60; IC 95%: 8,8 – 27,7), óssea (15%; 9/60; IC 95%:

7,6 – 25,7) e disseminada (10,0%; 6/60; IC 95%: 4,1 – 19,6).

A baciloscopia direta do escarro foi realizada em 195 indivíduos (86,3%), já o

teste tuberculínico (PPD) em apenas 98 (43,4%).

Tabela 3. Características de indivíduos coinfectados atendidos em uma unidade de referência de Goiânia, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012

PPD: Derivado Proteico Purificado; *Exame realizado no momento do primeiro atendimento.

Características n %

Idade (média: 35,42; dp: 10,32) ≤ 19 04 1,8 20 -39 135 59,7 40 - 59 84 37,2 >=60 03 1,3

Sexo Masculino 172 76,1 Feminino 54 23,9

Primeiro CD4+ < 350 121 82,9 >= 350 25 17,1 Não informado (80)

Tipo Pulmonar 121 58,8 Extrapulmonar 60 29,1 Pulmonar+extrapulmonar 25 12,1 Não informado (20) Baciloscopia de escarro1 Sim 195 86,3 Não 31 13,7 PPD1 Sim 98 43,4 Não 128 56,6 Esquema de tratamento I 188 85,1 I - Reforçado 17 7,7 I - Modificado 01 0,4 II 06 2,7 III 02 0,9 Alternativo 03 1,4 Isoniazida 04 1,8 Não informado (05) Tempo de tratamento de TB < 1 mês 49 22,7 1 a 5 meses 67 31,0 ≥ 6 meses 100 46,3 Não informado (10) Óbito Sim 91 40,3 Não 135 59,7

Page 63: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

63

Os esquemas de tratamento mais utilizados foram os Esquemas I (85,1%) e

I - Reforçado (7,7%). Os Esquemas I-Modificado, IIII, e Alternativo, utilizados nos

casos de falência de tratamento, multidrogaresistência e intolerância a Rifampicina,

respectivamente, contribuíram com 2,7% das indicações terapêuticas. A Isoniazida

foi utilizada como droga única em 1,4% dos casos.

Tempo de tratamento da tuberculose inferior a seis meses foi observado em

mais de 53,0% dos casos.

Mais de 40,0% dos indivíduos diagnosticados com TB obituaram durante o

período do estudo.

5.3 Descrição da população do estudo segundo o desfecho tuberculose

A população do estudo foi dividida em dois grupos: com e sem tuberculose,

para fins da avaliação de possíveis fatores de risco relacionados à coinfecção.

A Tabela 4 apresenta a análise univariada das características

sociodemográficas e clínicas relacionadas ao desenvolvimento da tuberculose nos

indivíduos HIV-positivos arrolados nesta coorte. Estiveram estatisticamente

associados à coinfecção o sexo masculino (RR: 2,01; p<0,00); a baixa escolaridade

(RR; 1,32;p=0,05); a primeira contagem de linfócitos T-CD4+menor que 350 cel/mm3

(RR:3,15; p<0,00); ter feito baciloscopia de escarro no primeiro atendimento (RR:

12,30; p<0,00); ter feito PPD também no primeiro atendimento (RR:1,37; p<0,01).

A incidência de tuberculose segundo o ano do diagnóstico de HIV mostrou-

se estável ao longo do período do estudo (p>0,05). Nessa análise o ano de 2009 foi

excluído para não enviesar o resultado em função do tempo de contribuição menor

desse ano em relação aos demais (365 dias de acompanhamento).

Page 64: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

64

Tabela 4. Características sóciodemográficas de indivíduos com infecção pelo HIV atendidos em uma unidade de referência de Goiânia, segundo a presença ou não de tuberculose, no período de 2003-2009. Goiânia, 2012

Características Com TB (226) Sem TB (2.715) TOTAL (2.941) RR (IC 95%) p n % n % n %

Idade Media (dp) 35,42 (10,32) 35,45 (10,81) Mediana 34 34 < 34 107 47,3 1.310 48,3 1.417 48,3 0,96 (0,75 – 1,24) >0,05 ≥ 34 119 52,7 1.400 51,7 1.519 51,7

Total 226 100,0 2.710 100,0 2.936 100,0 Sexo

Masculino 172 76,1 1.632 60,1 1.804 61,4 2,01 (1,49 – 2,70) <0,00 Feminino 54 23,9 1.083 39,9 1.137 38,6

Total 226 100,0 2.715 100,0 2.941 100,0 Anos de estudo

< 8 anos 108 58,1 1.093 50,7 1.201 51,3 1,32 (1,00 – 1,74) 0,05 >= 8 anos 78 41,9 1.063 49,3 1.141 48,7

Total 186 100,0 2.156 100,0 2.342 100,0 Cor Negra / Parda 154 85,1 1.659 81,3 1.813 81,6 1,29 (0,87 – 1,91) >0,05 Branca 27 14,9 382 18,7 409 18,4 Total 181 100,0 2.041 100,0 2.222 100,0 Ano diagnóstico HIV

2003 35 15,5 365 13,3 396 13,3 2,277C >0,05 2004 45 19,9 368 13,4 411 13,8 2005 32 14,1 421 15,4 453 15,2 2006 39 17,2 427 15,6 473 15,9 2007 27 12,0 432 15,8 461 15,5 2008 30 13,3 332 12,1 365 12,3 2009a 18 8,0 396 14,4 415 14,0

Total 226 100,0 2.741 100,0 2.974 100,0 Primeiro CD4

< 350 121 82,9 1.160 58,9 1.281 60,6 3,15 (2,06 – 4,80) <0,00 >= 350 25 17,1 808 41,1 833 39,4

Total 146 100,0 1.968 100,0 2.114 100,0 Baciloscopia escarrob Sim 195 86,3 800 29,5 995 33,8 12,30 (8,48–17,82) <0,00 Não 31 13,7 1.914 70,5 1.945 66,2 Total 226 100,0 2.714 100,0 2.940 100,0 PPDb Sim 98 43,4 955 35,2 1.053 35,8 1,37 (1,07-1,76) <0,01 Não 128 56,6 1.758 64,8 1.886 64,2 Total 226 100,0 2.713 100,0 2.939 100,0

a: excluído do cálculo do qui-quadrado para tendência; b: Exame realizado no momento do primeiro atendimento; c: qui-quadrado para tendência

Em relação ao óbito, observou-se que dentre os indivíduos coinfectados a

proporção foi de 40,3% enquanto que nos sem tuberculose foi de 25,3%,

representando um RR= 1,6; IC 95%: 1,3 – 1,9; p<0,000) e ainda uma diferença de

risco igual a 14,98% (IC 95%: 8,3 – 21,6).

Page 65: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

65

6. DISCUSSÃO

A epidemia do HIV/aids mudou a evolução e o prognóstico da TB no mundo.

A TB pode acometer a pessoa com HIV em qualquer momento do curso de sua

doença, porém quando existe imunossupressão severa a TB pode apresentar-se de

formas incomuns, subclinicamente ou com exames normais. Pacientes coinfectados

com HIV/TB tendem a apresentar piores condições clínicas e laboratoriais que os

doentes de TB com sorologia negativa para o HIV (CORBETT et al., 2003; MUGUSI

et al., 2009; BENDAYAN et al,. 2010; VAN RIE et al., 2011).

Neste estudo a maioria dos casos de TB (58,5%) ocorreu até 180 dias após

o diagnóstico da infecção do HIV. Sendo que a maior parte dos casos (38,2%) foi

detectada até 30 dias depois da infecção pelo HIV. Outros estudos mostram também

a manifestação da TB ocorrendo simultaneamente (KRYVANOS; GRINEVICH,

2009), em intervalo de até 30 dias e até um ano do diagnóstico da infecção pelo HIV

(CHEADE et al., 2009). Isso implica que está sendo realizada a busca ativa do

diagnóstico da tuberculose nos indivíduos HIV+ no serviço (WILLIAMS et al., 2008a)

recomendado no momento do diagnóstico da infecção pelo HIV, antes do início da

TARV e em intervalos regulares durante o seguimento clínico (WORDL HEALTH

ORGANIZATION, 2011b). Ao mesmo tempo, reforça a necessidade da realização de

aconselhamento para a realização do teste de HIV em caráter voluntário em

indivíduos com tuberculose na busca do diagnóstico precoce dessa infecção como

recomendação do Ministério da Saúde e Secretaria de Vigilância em Saúde (2011).

A sorologia para o HIV em indivíduos com TB é importante devido à alta

prevalência da coinfecção MBT/HIV e por não ser conclusiva a identificação dos

coinfectados baseando-se apenas na história clínica (WILLIAMS et al., 2008a).

Sobretudo, recomenda-se o diagnóstico precoce da coinfecção, devido à interação

sinérgica do HIV com o Mycobacterium tuberculosis, um acentua a progressão do

outro, e às implicações terapêuticas do tratamento de tuberculose e de HIV/AIDS,

predispondo ao agravamento clínico (SANTOS; BECK, 2009).

A faixa etária predominante foi de 20 a 39 anos (59,7%), concordando com

estudos anteriores (CHEADE et al., 2009; MORIMOTO et al., 2005), bem como com

os dados do SINAN (MINISTÉRIO DA SAÚDE; SISTEMA NACIONAL DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011). Esta corresponde a uma faixa etária em que o

Page 66: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

66

indivíduo está em plena atividade laboral e de produtividade, o que prejudica social e

economicamente o indivíduo, a família e toda a sociedade.

Os achados deste estudo foram condizentes com a literatura quanto à

predominância do sexo masculino entre os indivíduos coinfectados HIV/TB

(CHEADE et al., 2009; LACERDA et al., 2009; LINS et al., 2012). Em um estudo

internacional também foi confirmado maior frequência do sexo masculino entre os

casos de TB nos indivíduos HIV+ (NAKANJAKO et al., 2010). Essa tendência da

masculinização entre os casos de TB, possivelmente, pode ser explicada pela maior

exposição dos homens à doença, produto das próprias características

comportamentais do homem, e/ou pela maior dificuldade de adesão ao tratamento.

No estudo considerou-se para análise a primeira contagem de células T-

CD4+ dos indivíduos HIV+ atendidos no serviço de referência. No grupo de

coinfectados com exames disponíveis, os níveis de linfócitos T-CD4+ da maioria

apresentaram menor que 350 células/mm3, e aproximadamente 17% tinham CD4

maior que 350 células/mm3. Quanto menor os níveis de linfócitos T-CD4+, maior a

susceptibilidade à TB doença em indivíduos coinfectados, maior a ocorrência de TB

extrapulmonar, e maior a mortalidade (DIEDRICH; FLYNN, 2011; LINS et al., 2012).

A primeira contagem de células T-CD4+ abaixo de 350 células/mm3 está também

relacionada com o diagnóstico tardio de infecção pelo HIV (DELPIERRE et al., 2007;

SILVA et al., 2009; AJAYI; AJAYI; FASAKIN, 2009; LEE et al., 2010; ANTINORI et

al., 2011), e fator de risco para TB (VAN RIE et al., 2011).

Neste estudo, nos indivíduos coinfectados a forma clínica pulmonar foi

predominante (58,8%), depois extrapulmonar (29,1%) e mistas (12,1%), condizentes

com outros estudos (LINS et al., 2012; IFEBUNANDU; UKWAJA; OBI, 2012). A TB

sob a forma pulmonar apresenta-se com maior contagiosidade, estando o indivíduo

imunocompetente mais exposto. A TB doença pode se tornar ativa em qualquer fase

da evolução da infecção por HIV, e nos indivíduos com estado avançado de

comprometimento imunológico, a forma de apresentação mais comum é a

extrapulmonar em comparação aos indivíduos apenas com TB (LEE et al., 2009;

LEE et al., 2010). A disseminação da TB com a infecção HIV está diretamente

relacionada com maior frequência de óbitos (KLAUTAU; KUSCHNAROFF, 2005;

CLEVENBERGH et al., 2010; PRADO et al., 2011).

Indivíduos HIV+ com TB em geral apresentam formas extrapulmonares e a

doença mais grave com a diminuição do tempo de vida (KWAN; ERNEST, 2011).

Page 67: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

67

Em indivíduos infectados pelo HIV a apresentação clínica da TB é

influenciada pelo grau de imunossupressão e é sabidamente mais difícil de ser

diagnosticada. Mas, de maneira geral, a investigação diagnóstica da TB na

coinfecção é semelhante à investigação na população em geral (MINISTÉRIO DA

SAÚDE; SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011). Nos achados deste

estudo, 86,3% dos casos de coinfecção realizaram a baciloscopia direta do escarro e

cerca de 13% não a realizaram. No Brasil, a realização deste exame é considerado

importante na coinfecção para confirmar a presença de TB ativa, realizar o

diagnóstico diferencial com outros agravos e conhecer o perfil de sensibilidade aos

medicamentos para TB, devendo ser parte integrante do protocolo de atendimento

do sujeito HIV-positivo (CONDE et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE;

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011). Entretanto, um percentual

elevado dos casos de TB com a baciloscopia de escarro negativa pode ser

encontrado em portadores do HIV (BALCELLS, 2009), sendo necessária realização

da cultura para micobactérias no diagnóstico de TB nesse grupo (CASTELO FILHO

et al., 2004).

O PPD deve ser realizado anualmente no indivíduo com infecção HIV/aids,

segundo orientações do Ministério da Saúde e recomendações internacionais

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008b; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).

Porém, nosso estudo apontou que foi realizado em apenas 98 indivíduos da coorte

(43,4%). Além disso, recomenda-se que diante de um teste positivo a

quimioprofilaxia seja instituída imediatamente, que foi utilizado em apenas quatro

indivíduos (1,6%) (CONDE et al., 2009).

A TB, quando tratada adequadamente, apresenta índice de cura de

aproximadamente 99% (CONDE et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE,

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). Até 2008, o tratamento da TB no

Brasil era composto pelo esquema I (2RHZ/4RH), indicado para os casos novos de

TB; esquema IM (modificado) quando reação adversa grave ao esquema usual;

esquema IR, reforçado, (2RHZE/4RHE) indicado para o retratamento; esquema II

(2RHZ/7RH) indicado para meningoencefalite; e esquema III para falência

terapêutica (CONDE et al., 2009; MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE

VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2010). A partir de 2009, foi associado o etambutol, na fase

intensiva, e ao esquema tríplice anteriormente vigente. Isso ocorreu devido ao

aumento do número de casos resistentes à isoniazida (de 4,4 para 6%) segundo o

Page 68: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

68

Ministério da Saúde (2010). Tratando-se do tratamento utilizado até 2008, neste

estudo confirma a preferência do esquema I no tratamento da TB com um total de

206 indivíduos da coorte (93,2%).

O tempo de tratamento preconizado para a TB é, impreterivelmente, 180

dias (seis meses) para qualquer forma clínica, sendo que na presença da infecção

pelo HIV, deve ser em regime supervisionado e instituído o mais breve possível na

suspeita da doença e imunodepressão grave (CONDE et al., 2009). Neste estudo,

30,6% dos indivíduos da coorte realizaram o tratamento por menos de 60 dias (2

meses) e 44,4% ultrapassaram os 180 dias, considerando o índice elevado de óbito

(40,3%), e mesmo a prorrogação do tratamento por falência de tratamento (LINS et

al., 2012; IFEBUNANDU; UKWAJA; OBI, 2012). Esses dados justificam a opção do

Brasil na adesão e utilização da estratégia DOTS em busca da garantia da

continuidade do tratamento para a TB (CONDE et al., 2009; ALEXANDRE;

CORDEIRO; RAMOS, 2009; PUNGRASSAMI et al., 2010).

Comparando os indivíduos HIV+ sem TB e com TB, houve diferenças

significativas quanto ao sexo e a escolaridade. Este estudo mostrou uma razão de 3

homens para cada mulher (3:1) entre os coinfectados e de 1,5 homens para cada

mulher (1,5:1) no grupo de HIV sem TB, ambos com escolaridade menor que oito

anos, respectivamente 58,1% e 50,7%. O predomínio do sexo masculino (RR 2,01;

IC95% 1,49 – 2,70) já apontado em outros estudos (LEE et al., 2010; ZENTENO-

CUEVAS et al., 2011; KANTIPONG et al., 2012), acompanha a tendência dessa

doença em todo o mundo. A população masculina mostra-se mais vulnerável e

prevalente para coinfecção por HIV e Mycobacterium tuberculosis.

A baixa escolaridade foi um importante fator de influência no número de

casos nos dois grupos da coorte (RR 1,32; IC95% 0,99 – 1,74). A epidemia da

HIV/aids vem atingindo novos grupos populacionais e cidades onde a doença não

havia sido relatada anteriormente, afetando os segmentos sociais menos

privilegiados do país (SILVEIRA et al., 2006). Historicamente, essas populações têm

sido flageladas por altas taxas de TB; portanto, a introdução da epidemia do

HIV/aids piorou o problema da TB. Utilizando a baixa escolaridade como uma

medida substituta da pobreza, pode-se sugerir que os pacientes com HIV/TB são

mais pobres do que aqueles somente com HIV/aids. As áreas pobres surgem a partir

de um contexto sociopolítico baseado no acesso diferenciado a poder político e a

recursos. Nesse contexto, a pobreza se associa a pouco ou nenhum poder político,

Page 69: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

69

assim como a recursos extremamente limitados. Consequentemente, a pobreza

aumenta o risco de HIV/AIDS e TB por promover maior exposição e vulnerabilidade

às infecções (DAVID et al., 2007). Uma vez infectados, os indivíduos que fazem

parte de populações mais pobres têm uma capacidade diminuída para lidar com as

consequências da doença em razão da deficiência de acesso a serviços preventivos,

diagnósticos e curativos (DAVID et al., 2007).

Em relação à primeira contagem de linfócitos T-CD4+, a maioria dos

resultados disponíveis apresentavam valores inferiores a 350 células/mm3 e

mostraram-se significantes entre o grupo de indivíduos com HIV e de coinfectados

(RR 3,15; IC 2,06 – 4,80). Esse dado mostra que o diagnóstico da infecção pelo HIV

está sendo realizada tardiamente (ANTINORI et al., 2011). Isto ocorre

freqüentemente e tem sido constatado em outros estados e países (SILVA et al.,

2009; DELPIERRE et al., 2007; AJAYI, AJAYI, FASAKIN, 2009; LEE et al., 2010;

ZENTENO-CUEVAS et al., 2011).

A contagem de células T-CD4+ abaixo de 350 células/mm3 no momento do

diagnóstico tem sido um preditor para a apresentação concomitante de doenças

oportunistas e TB pulmonar (AJAYI, AJAYI, FASAKIN, 2009; PEREIRA et al., 2011;

KANTIPONG et al., 2012).

A realização da baciloscopia direta do escarro e o PPD também se

mostraram significantes na análise univariada com, respectivamente, RR 12,30

(IC95% 8,48 – 17,82) e 1,37 (IC95% 1,07 – 1,76). A investigação bacteriológica no

escarro permite conhecer o perfil da doença quanto ao contágio e orienta quanto ao

tratamento efetivo, bem como a leitura do PPD (MINISTÉRIO DA SAÚDE;

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2011).

Quanto ao óbito, houve diferença significativa entre os grupos de

coinfectados com HIV/TB e o HIV+ (RR 1,6; IC 95% 1,3 – 1,9). A tuberculose é uma

doença grave e principal causa de morbimortalidade para pessoas que vivem com o

HIV (AKKSILP et al., 2007; KINGKAEW et al., 2009; KANTIPONG et al., 2012). Além

da TB, indivíduos com o HIV podem morrer de uma série de outras doenças

(NISSAPATORN, 2008; MOOLPHATE et al., 2011). Neste estudo observa que os

indivíduos com HIV apresentavam TB e imunossupressão avançada (T-CD4+ <350

células/mm3), o que pode ter contribuído para o incremento de óbitos naquele grupo.

Page 70: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

70

7. CONCLUSÃO

1. A incidência global de coinfecção na população do estudo foi de 7,7%;

2. O tempo entre o diagnóstico de infecção pelo HIV e o aparecimento de

tuberculose variou de zero mês até 85 meses, com mediana de um mês e

IIQ=13 meses;

3. Os indivíduos coinfectados possuíam média de idade de 35,42 anos (dp:

10,32); em sua maioria eram homens (76,1%) e 82,9% apresentaram valores

do primeiro T-CD4+ inferiores a 350 células/mm3. A tuberculose extrapulmonar

e a forma mista foram responsáveis por mais de 40,0% dos casos. A

tuberculose ganglionar periférica foi a forma extrapulmonar mais importante

(42,5%) seguida da tuberculose meningoencefálica (16,6%), óssea (15%) e

disseminada (10,0%). Pacientes coinfectados que realizaram a baciloscopia de

escarro no primeiro atendimento corresponderam a 86,3% dos casos e com

PPD, 43,4%. Quanto aos esquemas terapêuticos, os mais prescritos foram o

Esquema I. Entretanto, esquemas para falência, retratamento,

multidrogaresistência contribuíram com 2,7% das indicações terapêuticas. Mais

de 53,0% dos pacientes coinfectados não completaram o esquema de

tratamento mínimo preconizado pelo Ministério da Saúde que é de seis meses.

Ainda, observou-se alta taxa de mortalidade (40,0%) entre os coinfectados.

4. Na análise univariada estiveram associados à coinfecção: ser do sexo

masculino (RR 2,01; p<0,00); possuir baixa escolaridade (RR 1,32; p=0,05); ter

apresentado a primeira contagem de linfócitos T-CD4+ menor que 350 cel/mm3

(RR 3,15; p<0,00); ter feito baciloscopia de escarro no primeiro atendimento

(RR 12,30; p<0,00); ter feito PPD também no primeiro atendimento (RR 1,37;

p<0,01).

5. O risco de morrer entre os coinfectados foi maior (RR 1,6; p<0,00).

Page 71: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

71

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada permitiu melhor compreensão da dinâmica da

infecção pelo HIV, pois agregou informações e aumentou a confiabilidade destas.

Contudo, o estudo possui as limitações e fragilidades decorrentes do uso de bases

de dados secundários e também por ter como referência uma população atendida

em serviços especializados do Estado.

A importância e a necessidade do diagnóstico precoce da infecção pelo HIV

devem ser considerados na prática dos serviços de saúde e nas políticas públicas

que estimulem testagem e aconselhamento, as quais acreditamos devam ser

implementados na atenção básica. Ainda, no momento do diagnóstico da infecção

do HIV implementar a solicitação da baciloscopia de escarro e teste tuberculínico,

bem como o acompanhamento da viragem sorológica anualmente. Tais medidas

podem contribuir para o diagnóstico precoce e tratamento de TB latente nesses

pacientes.

A não implementação dessas medidas pode perpetuar a condição

atualmente observada em nossa região e no país, de diagnósticos de infecção pelo

HIV tardios e/ou simultâneos com o diagnóstico de TB. De tal modo que os

indivíduos pouco se beneficiam dos recursos tecnológicos disponíveis para o

seguimento clínico e laboratorial da doença além do impacto negativo na sobrevida

dos coinfectados.

A análise do perfil epidemiológico dos indivíduos coinfectados com HIV/TB

em nossa região permitiu verificar que a despeito da existência de recursos para

diagnóstico laboratorial e garantia constitucional do acesso a eles, mais de 80% dos

indivíduos apresentavam contagem de células T-CD4+ < 350, no momento do

diagnóstico, indicando diagnóstico tardio da infecção pelo HIV.

Sugere-se uma reestruturação da rede de atenção estruturada a esse

agravo, incluindo a capacitação e sensibilização da equipe multidisciplinar para um

atendimento mais adequado aos coinfectados, que necessitam de maior atenção do

sistema de saúde face à sua gravidade e potencial letalidade.

Page 72: análise epidemiológica da tuberculose em indivíduos com hiv/aids

72

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APÊNDICES

Apêndice A – Instrumento de Coleta de Dados.

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Apêndice B – Instrumento de Coleta de Dados

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ANEXOS

Anexo 1 – Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Doenças Tropicais.

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Anexo 2 – Ficha de Notificação Tuberculose

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Anexo 3 – Comprovante do artigo para publicação em avaliação.