alem da lideranca - leo peracini

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Alem Da Lideranca - Leo Peracini

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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudivel a venda, aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo

    Sobre ns:

    O Le Livros e seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico e propriedadeintelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao devemser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nossosite: LeLivros.link ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."

  • Alm da Liderana:

    Devaneios de uma gesto

    Leonardo Peracini

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Para meus pais, Michel e Maria Antnia Peracini, meu irmo, Leandro Peracini,

    que, pelo amor incondicional, ensinaram-me mais do que qualquer livro que eu

    j tenha lido. Entregaram-me o que mais precisava para chegar at aqui, o meu

    carter.

    minha linda esposa, Cristiane Peracini, que escolheu viver intensamente ao

    meu lado. Sempre compreensiva e amorosa em todas as situaes. Seu amor

    um presente que encontrei na trilha da minha existncia.

    E a todos os meus amigos de trabalho, que, sem eles, esta obra no teria sentido.

    3

    Leonardo Peracini

    Em cada chegada, eu sou uma partida.

    Friedrich Wilhelm Nietzsche

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Sumrio

    Introduo ......................................................................................................................... 9

    Antes de comear a liderar, entenda primeiro o que fizeram de voc ............................ 31

    Voc tiraria a sua prpria vida pela empresa em que trabalha? ..................................... 36

    Sementes ideolgicas da liderana ................................................................................. 47

    Liderando a inrcia ......................................................................................................... 56

  • Lder ou artista? .............................................................................................................. 62

    A crise de identidade nas empresas ................................................................................ 69

    Falta de vida nas empresas ............................................................................................. 77

    Lder? Profeta? Ou Professor? ........................................................................................ 83

    A sobrevivncia pelo prazer ........................................................................................... 87

    A materializao do amor como alimento da vida ......................................................... 92

    Felicidade efmera .......................................................................................................... 99

    Bibliografia ................................................................................................................... 108

    5

    Leonardo Peracini

    Prefcio

    Aprendi com meu pai que a autoridade pode ser conquistada pela firmeza

    na fala, com minha me que a mansido gera segurana e estabelece vnculos de

    confiana, com minha primeira professora que a tolerncia uma das mais belas

    virtudes, eu aprendi...

    Fazendo retrica em nossa biografia, vamos perceber que, ao longo dela,

    construmos os prprios modelos de liderana sob a influncia do que vimos,

    experimentamos ou percebemos em outras pessoas ou situaes, da vem a

    pergunta: que tipo de influncia forjou as maiores convices? Alm da Liderana

    convida, de maneira provocativa e prazerosa, a mergulhar em nossa mais profunda

    essncia e a descobrir que a ausncia de respostas no sentido da vida e das coisas

    s existe na falta das perguntas certas.

    ...Quando julguei que tinha encontrado todas as respostas, veio a vida e mudou as

    perguntas! (Trecho do livro).

  • As melhores questes so aquelas que nos desarrumam. Para construir algo

    melhor, necessrio antes destruir. Talvez seja essa a maior razo para evitarmos

    certos questionamentos.

    Muitas vezes, nos apegamos tanto s nossas verdades, que fica praticamente

    impossvel abrir caminho para perguntas que as confrontem, pois colocamos

    crenas sob os pilares de nossos valores, que so verdades profundas. Quando

    aceitamos nossas concepes, estabelecemos crenas ou limites, tanto que

    comum, quando algum fere o que acreditamos, a gente dizer: Agora voc passou

    dos limites!.

    O problema que, querendo ou no, em algum momento, verdades sero

    confrontadas, e, quando isso acontecer, teremos de estar preparados para

    mudanas, e elas podem significar romper limites. S mudamos quando nos

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    incomodamos, talvez o conforto que tanto buscamos seja nosso maior crcere, que

    nos priva de conhecer o sabor da sabedoria no desconhecido, fazendo de ns

    pessoas inertes a mudanas e ao crescimento.

    Agora, se por um lado encontramos pessoas resistentes a transformaes,

    por outro, h aqueles que, na busca pelo crescimento, se perdem em meio s

    modificaes. Quem muda constantemente est sempre no comeo. Na nsia de

    chegar ao topo, renuncia a base. E, por no a conhecer, est despreparado para

    alcanar o cume. Quando consegue, est frgil e cai rapidamente.

    Como liderar em meio a tantas diferenas de valores, geraes e mudanas

    rpidas? Como chefiar em um mundo de modismos, onde conceitos e regras so

    apresentados como enlatados, partindo do princpio que o ser humano tem um

  • padro lgico?

    Vivemos um paradoxo: determinada gerao busca seu espao em um

    mundo de mudanas constantes e outra no aceita permanecer em um emprego ou

    atividade por mais de trs meses sem que haja crescimento rpido.

    Tempos atrs, as pessoas se orgulhavam de ter estabilidade no trabalho.

    Hoje, comum encontrar jovens com mais de sete registros na Carteira de

    Trabalho e Previdncia Social (CTPS), e, pasmem, este documento possui espao

    para dez registros.

    Por querer bastante, abrimos mo do pouco e esquecemos de que o muito

    a soma de vrias coisas pequenas. Corremos para ganhar o mundo e deixamos para

    trs a essncia. Conquistamos grandes negcios, mas perdemos batalhas no campo

    emocional e descobrimos que atravessamos a vida, e no permitimos que ela

    passasse por ns.

    Nesta obra, que soma um valioso acervo literrio a experincias prprias,

    com a beleza da poesia, inspirao e filosofia, Leonardo Peracini nos envolve,

    promovendo uma leitura que, alm de ser prazerosa, riqussima em contedo

    intelectual, comportamental e emocional, despertando em ns um lder e ser

    humano ainda melhor.

    7

    Leonardo Peracini

    Deixe seus valores, conceitos e paradigmas em uma paralela e tente

    experimentar se conhecer por intermdio das pginas deste livro. Isso ampliar sua

    viso, descortinando o que h ALM DA LIDERANA.

    Daniel G. Ferreira

  • Empresrio, administrador Multi-Business, consultor empresarial, especialista em marketing,

    coach, palestrante, terapeuta comportamental e instrutor licenciado pela Escola de Negcios

    Master Mind no Brasil, ligado a The Napoleon Hill Foundation Indiana/USA.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Introduo

    Elimine primeiro o impossvel, o resto que sobrar, o que teremos para

    trabalhar. Neste ponto, que se tecer a verdadeira meta, o percurso para o

    prximo enigma.

    Neste livro voc no encontrar teorias, mtodos, nmeros, pesquisas e

    frmulas de sucesso. Contudo, poder achar respostas, dvidas, provocaes,

    desiluses, iluses, crticas, observaes, liberdade e poesias brotando no trajeto

    da obra, o prazer e a alegria de reencontrar consigo mesmo e com algum que ainda

    no conhece. Um dia, perguntaram para o dr. Sigmund Freud: O que a vida?.

    Ele respondeu: Talvez seria trocar uma iluso pela outra. Penso que ser lder de

    valor ou uma pessoa importante para outras aprender a administrar, superar e

    danar com as iluses e desiluses da vida. aprender a no se calar quando o

    corao est gritando, mesmo no usando palavras.

    Este livro inacabado, no existe fim. Ele at pode comear a ser lido pelo

    final. Fique vontade, meu caro leitor, sirva-se. No h comeo. No existem

    problemas em ler os textos separados, at porque este livro no tem histria, conto.

    So fragmentos, retalhos, devaneios literrios, como a mente, que se desenvolve

    na forma de um palimpsesto.

    O ser humano cresce por subtrao, e gostoso mesmo saborear e

    experimentar o novo, aquilo que ainda no foi degustado, imprimido na alma

  • humana, no importa por onde esse movimento comea, nem sua temtica. O que

    importa a experincia, que, para voc, esta obra pode ser novidade, ou no,

    apenas um fragmento ou uma provocao que evidenciar ainda mais seus

    9

    Leonardo Peracini

    defeitos, defeitos esses que podem tambm serem os pilares que o levaram ao um

    mergulho nas profundezas obscuras e arrebatadoras do mundo interno, dos

    fantasmas que se manifestam na conscincia como defeitos, falhas, moral, ticas

    confusas, culpas e mazelas humanas ainda no experenciadas, ao qual devem ser

    reconstrudas, reelaboradas, construdas em algo que consiga sustentar o edifico

    inteiro, que aps essas provocaes, pode ficar ainda maior, mais pesado, potente,

    firme, simtrico.

    Uma fruta, mesmo sendo da mesma qualidade, cada uma cria diferentes

    experincias, sabores, momentos. Herclito, filsofo pr-socrtico, marcou a

    humanidade, e entre essas marcas, um de seus famosos pensamentos era dizer que:

    Nenhum homem se banha duas vezes no mesmo rio. Em quantas ocasies eu e

    voc, lendo uma obra novamente, sentimos que o sabor est diferente? Quantas

    vezes sentimos que estamos mudando, ficando diferentes? Ser humano muda de

    sabor, como essa obra, como o planeta, como tudo que se conecta, somos seres de

    mudanas, de demasiados sabores. Voc pode estar, agora, se sentido distante, que

    tambm normal, pois ainda nem deu tempo de se provocar pelas pginas deste

    livro, porm, sabemos que todo ser humano, muitas vezes, antes de ficar prximo,

    primeiro preciso ficar longe.

    No h ordem para comear. At porque j comeou. O importante estar

  • presente, quase sonhando todos pensamentos. Se voc se sentir encantado por

    algum texto, no se preocupe, deguste-o, pois estar encantado com voc, no om

    os pensamentos, eles ficam vivos quando voc os evocam, quando consegue

    mistura-los com aquilo que existe gravado em seus personagens internos. Contudo,

    para comer chocolate, o bom mesmo se lambuzar. Se entregue de forma simples,

    porque todo trabalho, toda transformao no complexa, necessrio

    descomplicar para construir. Estar alm da liderana, conseguir construir algo

    que no parea uma priso ao ar livre, algo inacabvel, aquilo que constante, que

    existe vida, vontade, verdade, sendo personagem da prpria estria. Um dos

    objetivos tambm desta obra, ser buscar fazer com que aquela lagrima que est

    fixada em seu rosto, por vezes, possa descer. Outro objetivo, sentir algo parecido

    com o de iniciar um projeto, relacionamento, viagem para lugar que ainda no foi

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    visitado, escutar msica no tocada at o momento, conhecer novas pessoas,

    experimentar sentimentos diferentes e lambuzar-se com si mesmo.

    O comeo e o fim so apenas meios de chegar ao sentido. Porm, o final

    que d sentido ao incio. O fim nos convida para o futuro. O comeo, para o

    presente. Observe a morte. ela que d estmulo vida. Se no existisse, a

    existncia no teria finalidade. As pessoas iriam adiar seus comeos, propsitos,

    sonhos, vontades. Imagine agora se voc tivesse apenas 24 horas de vida, o que

    faria? Voc correria primeiro para qual lugar? Quem seriam as pessoas que

    gostaria de encontrar? O que diria para seus pais? Como seria seu olhar quando

    atravessasse os olhares de seus filhos? O que diria pra eles? Como seria seus

    ltimos minutos? Pensamentos? Qual marca deixou? Que sabor teve seu rastro? E

  • voc, se tornou quem?

    Pense e veja quanto de sentido essa reflexo traz para sua matria humana

    experimentar. Ela poderosa, porque limita o tempo. Brinca com o comeo, fim e

    sentido da vida. Nela, 24 horas so o fim, a vida o comeo, o que est entre o

    comeo e o fim o que poderamos nomear como carter de sentido da vida. Estar

    alm da liderana, de maneira alguma estar com a mente no futuro, na verdade,

    conseguir entender o entre, aquilo inconsciente que se torna consciente,

    transformando em algo que ele o patamar humano.

    Com efeito, ver o comeo fcil, mas enxergar o final exige distanciamento.

    Perceber o fim ter sensao de calma e sabedoria nas horas mais turbulentas. As

    melhores decises so tomadas quando o fim visto, e o entre que est entre o

    comeo e fim, que se manifesta na conscincia atravs de sentido o que leva as

    decises alm do que se projetam ou esto atualmente. aquele insight, ou melhor,

    um pensamento que sai do mundo interno, se projeta ao mundo externo, e

    modifica os dois. Existimos porque existe objetos externos, e internos, sem eles,

    no existiramos, no haveria qualquer conexo, no teria o porqu decidir, se

    transformar. No haveria ou porque ou para que continuar.

    Escrever esta obra, mesmo sem saber no que iria se transformar, sabia que

    seria um encontro com minhas angustias, com minhas verdades inventadas, com o

    sentido da minha vida. Sempre tive a sensao de que a transformao estava alm

    11

    Leonardo Peracini

    do presente, sempre senti, at porque, entender isso no seria uma questo de

    inteligncia, mas de sentido. Demorei algum tempo para concluir trechos,

  • organizar esquemas, ler sobre outros pontos de vista, pensamentos e reas de

    estudo. Encontrei-me pessoalmente com muita gente. Portanto, apesar de tentar

    organizar toda a minha forma de pensar, maneira essa que muda a cada minuto,

    busquei exprimir e escrever com meu prprio sangue. Mas meu corpo, limitado,

    por vrias vezes lutava contra tudo e todos. Queria mudar reflexes, pensamentos,

    misturas, cores e sabores. Quando percebia, j havia modificado. Olhava para o

    cho e via apenas a casca, olhava para cima e via cu, porm, quando olhava a

    frente, sentia que j estava voando. Quando olhava para dentro, enxergava a

    transformao. Por isso o sentimento de angstia, porque no suportava o que

    poderia me tornar a vir a ser. Essa dor psquica, se manifestava pelos julgamentos,

    metodologias, pensamentos no suportados, que com efeito, parecia verdade e

    fantasia ao mesmo tempo, mas que me fez entender que deveria seguir adiante,

    porque o que se passava l fora, mesmo no entendendo, no me interessava,

    porque o que eu queria era mesmo transformar o que se passava dentro.

    A capa deste livro fala por si. Ela ilustra a vida, mostra que tudo nela so

    momentos de transformaes. Sejam elas por meio do sofrimento ou do amor.

    Todos efmeros. Este livro, como o amor e dio, no tem garantias. Se oferecesse

    garantia de que esta obra iria funcionar para tal fim desejado, seria como se

    conseguisse ensinar aqueles e aquelas que leem, a pular a prpria sombra. Como

    a ilustrao, viramos borboletas todos os dias. Seja biologicamente, trocando

    milhares de clulas, ou de forma transcendente, explorando novos vcios, virtudes

    e vidas. Porm, no se desespere, nunca conseguiremos dizer quem somos, porque

    quando tentamos dizer o que somos, excorporamos nossa matria humana, e em

    um momento de reflexo, no somos mais aquele que acreditvamos ser.

  • Avio

    Quem aprendeu a viver

    No aprendeu a se conservar.

    Viver desequilibrar, desgastar.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Quem se conserva se conserva fechado.

    Quem se gasta se gasta porque aberto.

    A escurido fechada.

    A luz aberta.

    O avio no aeroporto est fechado, confinado.

    No sendo avio...

    Nos cus,

    Ele est aberto, voando, em algum sentindo,

    Mas voando, como faz um avio.

    A vida aprender, no a viver,

    Mas a voar no escuro,

    Em alguma direo.

    Voos abertos,

    Sem muito a se preocupar em manter os ps no cho.

    Talvez assim que se faz,

    Como faz, quando levanta voo um avio.

    Penso que a literatura, a arte, a msica, as poesias, a psicanlise e a filosofia

    sempre foram os melhores amigos e maneiras de aprender como encontrar

    fragmentos de sentido da vida. Por isso, nesta obra iremos pular de uma rea para

  • outra, buscando encontrar simetria nas temticas desenvolvidas ao longo desta

    trajetria. Contudo, no minha pretenso esgotar qualquer tema que seja, at

    porque, so inesgotveis. E o percurso da liderana, ou melhor, o percurso da vida

    incurvel, porm tratvel. Seguir neste percurso, entrar em um jogo de apertos,

    aos quais, aprenderemos a apertar ns essenciais, que sustentam a rede, as malhas

    da liderana. Desenvolveremos tambm estmulos para que aprendemos a olhar

    para todas situaes de maneira extraordinria e no ordinria, pensando acima do

    pensamentos, enxergando aquilo que no se v, sabendo o que a maioria no

    13

    Leonardo Peracini

    sabem, mudando ngulos, vrtices, tornando-nos diferentes frente a demasiadas

    situaes, como nos ensina a estupenda poetisa Clarice Lispector Se juntarem

    para falar mal de mim, me chamem, sei coisas terrveis ao meu respeito. E se me

    acharem esquisita, respeite tambm, at eu fui obrigada a me respeitar.

    O conceito de beleza e esttica para os gregos representava o profundo do

    ser. O saber excorporar. Observe a etimologia da palavra entusiasmo, que,

    naquela poca, significava um Deus dentro de si, uma chama que estava acesa

    dentro daqueles que eram loucos pela vida, otimistas de espirito. Ela era tambm

    utilizada para classificar pessoas inquietas, alegres, com talentos artsticos,

    retricos e que se diferenciavam. Nos dias de hoje, traduzimos o conceito de

    pessoas entusiasmadas como aquelas e aquelas que aprenderam a suportar a vida,

    suas mazelas, as verdades pessoais, que suportam a si mesmos, que vivem

    buscando algo de extraordinrio, que contenha um grandioso proposito.

    Entretanto, algumas pessoas, distorcem esses conceitos, remodelando-os em

  • discursos onde tudo possvel, onde aquilo que na vida no deu certo, agora pode

    dar, como a felicidade, a salvao, a absolvio de culpas e sofrimentos, prometem

    a outros a cura para tudo, o que por sua vez, tcnicas ou teorias, com aspectos

    lights, se perfazem como anestesias, que apenas sublimam aquilo que no

    conseguiu ser transformado em produtos que parecem ser vendidos em prateleiras

    de free shop.

    O modelo de liderana comercializado no mundo capitalista impe que o

    indivduo seja saudvel, sarado, agressivo, firme, fale bem e use roupas da moda.

    Ele est fora se for generoso, acima do peso, com dificuldades retricas, tmido e

    antiquado. preciso estar no formato do lder politicamente correto. O descarte

    tambm importante, pois lder politicamente correto, aquele que quando

    descartado no se posiciona, pois precisa manter a aparncia para o prximo

    trabalho, onde a carta de referncia importante. E assim, a ciranda gira, cada

    hora, como cada qual, est em uma posio. Como um relgio, que eternamente

    ir dar voltas e chegar no mesmo lugar, claro, que mais desgastado, mais velho,

    porm, com o mesmo sentido.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Apoio-me s vezes nos conceitos da filosofia dos gregos, pois nunca

    morrero. Vo e voltam, como reflexes poderosas, sem modismos. Os gregos

    tinham a clareza de que a beleza no se reduzia apenas forma biolgica. Sua

    dimenso era algo que transcendia. Estava entre o cu e a terra. Eles entendiam

    muito bem sobre o entre que falamos anteriormente. Esse entre que no era

    um deus, nem um homem. Era o que chamamos de amor. Eles tinham viso

    idealista, humanista, afetiva. Entretanto, hoje, o amor esttico se vende pela TV,

  • por e-mail, em cursos nas empresas e em falas sem sentido, corrompidas pelo

    capitalismo, penso melhor, amor que nada, mas sim, perverso seria mais

    adequado, porque amor no se vende, isto , tudo aquilo que est no entre no

    se deixa agarrar. Essas perverses so traduzidas para explorao do

    individualismo e para a autoafirmao de egos e da dominao do poder, talvez,

    analisando profundamente, encontraremos demasiadas feridas narcisistas.

    Contudo, neste vai e vem, a vida passa a ser assistida e traduzida como um jogo,

    um perde enquanto o outro ganha, ou melhor, o auge seria o modelo da loteria,

    enquanto um ganha, milhes perdem.

  • JogoLutar, lutar, lutar, lutar.

    Vencer, vencer, vencer, vencer.

    Fracassar, fracassar, fracassar, fracassar.

    Crescer, crescer, crescer, crescer.

    Viver, viver, viver, oh, viver!

    Fui entendido?

    Aceito?

    Morrer.

    esse o jogo da vida?

    Ou a vida do jogo?

    Vida, Seres humanos,

    15

    Leonardo Peracini

    O que queres de mim?

    Nem eu sei o que a vida, nem o Ser Humano!

    Imagina se saberei dizer o que queres, e porque queres?

    Para conseguir desamarrar um n, preciso entender como ele foi feito. No

    se pode forar, arrebentar, esticar e fazer presso. Desat-lo exige estratgia,

    tcnica, leveza, saber empregar a fora adequada, compreender de que forma foi

    realizado, quem o fez e porque foi feito. Na maioria das vezes somos ns, os

    costureiros, os criadores de ns, tanto para o sofrimento, quanto para alegria. A

    vida um n pedindo para ser desfeito. Ser lder aprender a afrouxar os ns de

  • seus liderados, entender como eles foram feitos, e porque foram feitos, dissecar

    cada modelo ou material que sustenta cada ligao, cada conexo que liga a outro

    n, ao emaranhado de vnculos, as vezes, o melhor no desamarr-los por

    completo, apenas apertar e refazer alguma ligao, fortalecendo aquilo que j

    existe, que deve ser sutilmente modificado, reelaborado, fazendo aquele

    movimento descrito no incio de nossa temtica, desafixar as lgrimas para que

    escorram ao rosto, para que este liderado olhe para trs e veja que ainda

    necessrio continuar a lutar veementemente, que nesta luta que se encontra sua

    beleza, aquilo que se busca toda a vida.

    Tirar as amarras de um ser humano possvel, mas se houver complemento.

    Como duas partes se provocando. Duas bocas alimentando-se de um nico corpo.

    Como o beb que encontra o seio materno e se deleita em pleno sentido. Um lder

    s um lder porque algum dia faltou um lder. O conceito de complemento quer

    dizer que, se no houvesse uma parte, a outra no existiria, nem se sustentaria, pois

    no haveria sentido existir. Para construir um n, antes necessrio precisar fazer

    esse n, depois que preciso ter a linha e algum para faz-lo. Em nosso caso, o

    liderado a linha; o lder, o costureiro, e o n representa as ausncias, faltas, aquilo

    que deve ser feito, preenchido, o desejo sendo realizado.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    O amor uma tima opo para ilustrar esse conceito. Scrates dizia que o

    amor no . E que ele no existe se no houver ausncia. Que a gente s ama

    porque falta. A busca no pelo amor, mas pela ausncia, pelo que ainda no

    existe, acreditando que um dia ser preenchido, completo. A gente s ama porque

    perde. E ama mais quem sofre mais. Scrates tambm deixava evidente que o amor

  • carncia. Que ele no poder, pelo contrrio, ser dominado. Que o amor

    fogo que arde sem se ver. No divino nem humano. Que ele tem natureza divina

    e humana. Que nos deixa alucinados, delirando. E que, ao mesmo tempo, inspira

    as maiores virtudes. O amor est nas entrelinhas. Parafraseando, no seria isso o

    que os lderes andam buscando nas empresas, inspirao? Provocar incndios nos

    talentos de seus colaboradores? Alucinar de paixo as pessoas que esto sua

    volta? Inflamar o que existe de grande dentro de cada um? Passar por sofrimentos,

    desiluses, frustraes com tranquilidade? Quebrar paradigmas e vcios? Criar

    vnculos afetivos? Ser seguido por seus liderados alucinadamente? Da me

    pergunto: Ser que um dos maiores erros nas empresas est na execuo? Na

    comunicao? Na falta ou excesso de planejamento? Na quantidade de capital a

    ser investido? Na estrutura estratgica? Na falta de mo de obra? No mercado? Nas

    campanhas de marketing? Em manter um controle financeiro rgido? Na falta de

    tecnologias? Na rea comercial?

    Um incndio interior, inflamado, no se faz com processos, estratgias ou

    controles. Do mesmo modo, tambm amplificando, podemos nos defender de

    todos ataques pessoais, mas nunca de um elogio. Os conceitos de administrao

    ainda no conseguiu produzir estratgias tranquilizadoras, que resolvem todos

    problemas, porm, as pessoas com poucas palavras conseguem evitar pequenos

    problemas. Ns no tropeamos em montanhas. Tropeamos naquilo que

    pequeno, que muitas vezes to pequeno que se torna invisvel. As pessoas, como

    as empresas tropeam no invisvel. Henry Ford certa vez disse aos seus

    concorrentes, homens poderosos que queriam leva-lo as ruinas, que todos eles

    poderiam retirar suas fabricas, maquinas e dinheiro, mas que nunca iria permitir

  • retirar seus homens, porque com eles reconstruiria tudo novamente. Henry Ford,

    no sculo XIV j sabia que o invisvel era o segredo que movia tudo e todos. Era

    17

    Leonardo Peracini

    o que levava os sonhos a se realizar, os desejos a serem desejados, o triunfo

    coletivo. Este invisvel est disfarado na representatividade da inveja, dio, ego,

    feridas narcisistas, traumas, vnculos pessoas afetivos cindidos, sentimentos

    ambivalentes, arrogncia, inseguranas, ansiedades, culpa e medo. Qualquer um

    desses, quando amplificado coletivamente, destri qualquer empresa, qualquer

    cidade, qualquer nao. As pessoas so o nico meio que um lder tem para

    dominar e controlar esses instintos.

    Onde estou?

    Olho-me no espelho

    E me vejo.

    Mas no me sinto um ser humano.

    Vejo-me.

    Mas estou vazio,

    Invisvel.

    Onde estou?

    Invisvel sou?

    O invisvel me consome.

    Consome o mundo,

    Que come e some.

    Onde Estou?

  • O que no vejo?

    O mundo ou o que sou?

    Prefiro in-visivel,

    Ser visto pelo lado de dentro,

    Pelo mundo adentro.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Que me consome,

    Que o espelho no traduz.

    Onde estou?

    Em dor ou prximo do amor?

    Para aqueles, que pensa que o desafio movimentar o capital, simples.

    Para pr o dinheiro em circulao, devemos dar mobilidade a quem lida com ele,

    ou seja, s pessoas que o produzem. Do mesmo modo que no existe parque sem

    crianas, no existe dinheiro sem pessoas. O desafio desta verdade entender

    como ela se representa, como se manifesta. Pessoas querem dinheiro, mas no

    querem se aprofundar no desenvolvimento humano. Apenas pessoas so capazes

    de produzirem dinheiro, e quanto mais preparadas, mais dinheiro se produz. Um

    ser humano angustiado no produz nada. Um invejoso destri tudo a sua volta. O

    inseguro se fecha na sua improdutividade e inercia do dia a dia. O egosta no

    consegue trabalhar em equipe. Um muito generoso descontrola a organizao. O

    vitimado no trabalha, reclama. E assim por diante. A busca no deve ser pelo

    dinheiro, o dinheiro o fim. Dinheiro so para os fracos, poder para os fortes.

    Contudo, no estou dizendo para usar da organizao como Igreja ou qualquer que

    seja a instituio de caridade. Estou tentando dizer que o foco da liderana deve

  • ser pelo vrtice humano. Pela via que desafia a capacidade dos pensamentos mais

    sofisticados, aqueles que dedilham a movimentao humana, seus enigmas e

    segredos. No seriado americano House of Cards, o protagonista que ambiciona o

    cargo de vice-presidente do EUA, em uma cena diz para Raymond, empresrio

    bilionrio "Voc no pode comprar lealdade, Raymond. No o tipo que eu tenho

    em mente. Se voc deseja merecer minha lealdade, voc precisa me oferecer a

    sua."

  • O Corpo

    19

    Leonardo Peracini

    No quero mais tratar do corpo.

    Podem vocs ficar com ele.

    Mas deixem a alma para mim.

    O corpo de vocs, para vocs.

    A alma minha!

    Essa,

    Eu no abro mo.

    Quero tratar da alma.

    Conviver com o sofrimento,

    Que seja o do outro.

    Quem pensa que feliz

    No me interessa.

    Quero os infelizes,

    Os insatisfeitos,

    Inquietos,

    Os sensveis.

    Quero aqueles que sofrem da bile negra.

    Quero as almas que esto morrendo de fome de liberdade.

    Quero me deixar contaminar pela aura delas.

    Essa sim,

  • Ser a alma do meu negcio.

    Ser a felicidade o problema? Talvez, ela nos deixa preguiosos, parados,

    curtindo os momentos, inertes como gatos. Uma pessoa criativa, sensvel, produz

    mais do que algum alegre, percebam os poetas. Seus manifestos saem de impulsos

    que saltam a barreira de contato mental, so pinados em devaneios, em

    alucinaes que transcrevem alguma verdade pessoal. Como estmulos pela sua

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    produtividade, fazem de tudo e suportam situaes inimaginveis. Seu corao

    sempre est batendo acelerado, como o de uma ave presa em desespero, mas no

    pela dor, e sim, pela sua infinita condio humana, que se evidencia maior do que

    ele mesmo. Entretanto, cuidado, no estou dizendo para alimentar situaes que

    deixem as pessoas infelizes, mas sim, com um sentido de vida, com uma fome

    carinhosa de insatisfao por aquilo que se espera viver, construir, transformar.

    Ser que a felicidade aumenta a produtividade? O filosofo alemo, Friedrich

    Nietzsche, que faleceu no ano de 1900, descreveu em sua obra prima, Assim Falou

    Zaratustra, que (...) todo o meu bem e meu mal se puseram a gritar em mim num

    s grito. O mnimo, precisamente, o mais tnue, o mais leve, um roar de lagartixa,

    um sopro, um piscar de olhos... de bem pouco feita a essncia da melhor

    felicidade. Silncio! Como complementa Nietzsche, no mais simples gesto, nos

    detalhes, de maneira fina e polida, como em um belo piscar de olhos. Grandes

    lideres, pessoas que esto no patamar da interdependncia j aprenderam que esses

    detalhes, esses mistrios que se vestem como pequenos, quase invisveis, geram

    chaves que abrem portas afetivas, com o propsitos de engajar Neste espectro, os

    detalhes finos, elegantes, como por exemplo, os elogios que saem da boca daqueles

  • lideres, diferenciados, com envergaduras abissais, que soam no apenas como sons

    e palavras, mas como obras de arte, como tambm, os gestos acolhedores,

    misturados com falas fortes, inflamadas de entusiasmos e otimismo. Conflitos que

    se resolvem com gentilezas, tenses com autocontrole invejveis. Antes de retomar

    a pergunta, se felicidade aumenta a produtividade, necessrio introduzir esses

    pensamentos, pois eles vem antes da felicidade, como do mesmo modo, o piscar

    de olhos, antes dele, existem uma cadeia de estmulos autnomos, estmulos

    conduzidos por processos elaborados, classificados, condicionados a um fim, que

    finaliza da execuo do piscar de olhos, de maneira que seja voluntaria ou

    involuntria. A resposta para essa pergunta parece simples, e seria sim, a felicidade

    aumenta a produtividade, porm, a complexidade esquenta, quando adicionamos

    o como, isto , como aumentar a produtividade atravs da felicidade? A

    complexidade aumenta ainda mais, porque cada ser humano sente se feliz de uma

    forma, cada um tem seu modo de ser feliz, de sentir, de perceber aquilo que est a

    21

    Leonardo Peracini

    sua volta, de gravar e conectar com determinados objetos, mistrios e sonhos.

    Enfim, penso que talvez, essa obra poderia ser o incio para comearmos a se

    aprofundar nesta temtica, com uma viso estratgica atemporal, objetivando

    gestar novas potencias.

    Lembro-me tambm de Joo Signorelli, ator brasileiro que, em suas

    apresentaes por todo o pas, interpreta Mohandas Karamchand Gandhi, que me

    fez lembrar o significado do porqu Gandhi recebeu o nome de Mahatma Gandhi,

    que significa A Grande Alma". Nomeao, penso eu, apoiada em um

  • existencialismo, em ideias perfeitas, mas que permitem o ser humano nomear, e

    pensar, mas que servem como pontes de significados, aos quais, representam

    demasiadas reflexes, como por exemplo, tambm, a ideia de mundo e Deus.

    Entretanto, um ser humano, com essa significncia, nomeado de Grande Alma

    por outros seres humanos, remete, que talvez, sua moral, tica, necessidade interior

    de refletir, est alm do tempo que se vive, que seus pensamentos servem como

    rotas, pontes, caminhos a serem seguidos, tanto , que ficou conhecido

    mundialmente pelo seu modo de pensar, se posicionar e agir. Gandhi j dizia que

    a guerra externa inicia no interior. Impressionante como esse pensamento

    poderoso, que vive em ebulio durante sculos porque se aproxima da verdade

    humana, vive como se um pensador passasse o basto para outro. Neste prisma,

    todos os fatos, sejam aes contra a tica, a moral ou seguidas de culpa, comeam,

    segundo Gandhi, comea com a luta interior, independente da moral seguida, da

    tica empregada. Tanto para Gandhi, como para os maiores pensadores, como

    Kant, Nietzsche, Descartes, o ser humano deve sempre se aprimorar, superando a

    si mesmo, se construindo, mesmo que seja necessrio desconstruir algo, a fim de

    reconstruir melhor, buscando viver sempre para alm de seu tempo. E nesta linha

    de pensamento, que detalhada, invisvel que se encontra a felicidade, felicidade

    esta nomeada por cada um, mas que constri, modifica, transforma. E mais adiante,

    tentando pensar modelos para a felicidade, para que ela acontea, sabemos que

    antes de sentir seu prazer, seu sabor, necessrio atritos, construes,

    desconstrues, movimento interno humano, disciplina, o que sem dvida,

    poderamos seguir o que Gandhi nomeou como guerras interiores. Aqui, no estou

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

  • fazendo apologia a guerras, confrontos, conflitos ou qualquer modo primitivo de

    pensar. Nesta narrativa, estamos tentando ficar alm dos instintos, em um

    patamares do pensamento mais evolutivo, com funes do pensar diferenciadas.

    Afinal, a maior ferramenta de um lder suas funes mentais, lder que no pensa,

    no lidera, sofre, vive angustiado.

    O escritor brasileiro, Rubem Alves, que faz brilhantes metforas, consegue

    descomplicar o que est muitas vezes sublimado, em seu livro, intitulado, Rubem

    Alves e Moacyr Scliar, citam a metfora de um toca-discos que se comovia com a

    prpria msica que tocava. Ele conta, que quando ela comeava a tocar, o toca-

    discos disparava a chorar e se desligava, com isso, a msica era interrompida, pois

    ele, naquele deleite, se dissolvia de tanta emoo. Como este toca-discos, vive um

    grande lder, que se emociona com a prpria msica, que sabe que se a msica no

    tocar, o salo de festas no enche, e que na verdade, esse salo, o seu salo

    interno, onde tudo acontece, todos encontros e desencontros, ele tambm, sempre

    neste movimento de reflexo, se questiona o porqu est tocando determinado

    estilo de msica, qual o tom, ritmo e volume a ser equalizado. Estar alm da

    liderana isso! se afetar com a prpria msica, afetando e ajudando tambm os

    liderados a descobrirem seu repertorio, suas mais belas sinfonias.

    A posio na empresa, o cargo que ocupamos, o ambiente de trabalho, as

    ferramentas gerenciais, nosso corpo so apenas instrumentos para tocar a msica.

    O que acontece que, em alguns momentos, os instrumentos se dissolvem, como

    o toca-discos. No conseguimos ser fortes o suficiente para aguentar tocar a

    msica, nossa carcaa humana no acompanha o ritmo, a sincronia, a magnitude

    do sentido empregado. Do mesmo modo muitas mentes pequenas buscam

  • retaliaes por no suportarem o impacto das transformaes sinalizadas pelo

    lder, por aquele que est alm dos outros, que pensa de uma maneira singular,

    talvez, abstrata, mas estrategicamente racional, produtiva. E para que esse patamar

    seja atingido a falta de paixo por liderar inadmissvel quando se trata de tarefas

    colossais. A quebra do campo simblico dos liderados a misso mais importante

    que um lder tem, sua empreitada ajustar, reconfigurar os significados de seu

    grupo, transformando suas preconcepes em concepes, ideias em pensamentos,

    23

    Leonardo Peracini

    estratgias em realizaes. O risco desta ressignificao, que tanto os liderados

    quanto o lder, podem caminhar inconscientemente para os dois lados, o da

    construo demasiada de prazer ou desprazer, isso vai depender da elaborao das

    ideias, dos significados e concepes ambicionadas. Nesta ebulio, uma mo

    sobre o corpo pode causar muito desprazer. Tudo depende no do estmulo ou

    excitao enquanto coisa fsica, mas do sentido simblico que est carregando.

    Meus caros leitores, espero que o seu mundo seja parecido com o meu. Que

    se sintam atrados. E, quem sabe, no se apaixonem um pelo outro. Entrelaando

    e tornando um s. Almejo tambm que o meu ponto de vista e o seu se tornem

    outro. Algo alm do que se nota. Mesmo vivendo trocando uma coisa pela outra,

    trocando iluses, como havia dito Freud, penso que o que ns queremos no

    vender ideias, marcas, produtos, empresas. O que pretendemos vender so nossas

    estrias, nosso prprio mundo. As experincias. O nosso ser. Talvez, seja aqui

    nesse ponto que inicia o desafio. Como negociar estrias ainda no contadas? Que

    muda a cada minuto? E como vender algo que, quando se entende, no se

  • compreende mais porque j mudou? Como suportar as estrias de outros seres

    humanos?

    Queremos comercializar um mundo desconhecido, inconsciente, um mundo

    escrito atravs da arte e msica. Estar alm da liderana conseguir produzi-las

    por meio de si mesmo e dos outros. Ser lder saber danar. Sentir. Elaborar

    concepes. Entender que "Decises baseadas em emoo no so decises. So

    instintos. Que podem ter valor. O racional e o irracional se complementam.

    Isolados, eles so bem menos poderosos." E para alm de homem, a existncia

    passa ser a tentativa da vida de saciar de forma cabal nossas faltas, que so

    constitutivas, porm criadas pelos desejos frustrados, que quando vivos, nos

    impulsionam a dor essencial, a paixo delirante de sermos melhores do que somos,

    mesmo sabendo que nunca seremos o que idealizamos, alguns pela dor e amor aos

    delrios da vida se aproximam de suas fantasias, que sero sempre inacabadas,

    faltas faltantes. Entre esses esto alguns como Ludwig van Beethoven, Fernando

    Antnio Nogueira Pessoa, Albert Einstein, Carlos Drummond de Andrade, Ayrton

    Senna, Tim Maia, Viktor Frankl, Leonardo da Vinci, Friedrich Nietzsche, Plato,

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Scrates, Michel Foucault, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, Rubem

    Alves, Santo Agostinho, Paul Jackson Pollock, Sigmund Freud, Leonardo Boff,

    Jesus de Nazar, Vincent van Gogh, Pablo Picasso, Adlia Prado, Clarice

    Lispector, Claude Monet, Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Sebastian Bach,

    Carl Gustav Jung, Alfred Adler, Jean-Paul Charles Aymard Sartre, Nelson

    Mandela, Arthur Schopenhauer, Ren Descartes, Santo Ambrsio, Jean-Jacques

    Rousseau, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Mrio Quintana, Lo Tarcsio

  • Gonalves Pereira - Pe. Lo, Napoleon Hill, Thomas Edison, Alexandre, o Grande,

    Csar Nunes, Luiz Henrique Milan Novaes, Alcides Souza, Renato Mezan,

    Jacques Lacan, Melanie Klein, Wilfred Bion, voc e centenas, milhares de seres

    humanos. Todos conseguimos acessar o que h de mais profundo e inconsciente.

    Basta desejar suportar a si mesmo. Alguns chegam a um ponto de transformao

    que conseguem impactar a humanidade. Entram sem pedir licena na vida de

    muitas pessoas.

  • Homem VampiroO meu sangue me mantm

    Vivo,

    Quando eu escrevo sinto

    Que estou vivo,

    Quando eu escrevo com meu prprio sangue,

    Sinto

    Que no sou eu.

    Entretanto,

    Quando leio um bom livro,

    Sinto que sou eu,

    Um vampiro,

    Bebendo o sangue de outro homem.

    25

    Leonardo Peracini

    Alimento-me no de sangue,

    Mas do esprito dos homens

    Que um dia doaram no o sangue

    Mas o seu ser.

    Atualmente, assistimos a muitos seres se devorando por tentar vender o seu

    mundo. Mas o que acontece que aquilo que est venda conhecido, uma cpia

    que no sustenta e gera pouco sentido de vida. Uma grande multido est se

    esforando para colocar na prateleira seu universo. Uns fazem at promoes,

  • ferindo o carter e as leis. Usam-se as melhores tcnicas, embalagens, cheiros e

    meios de seduo. a feira do mundo que j passou. Est venda o que no

    exprimido, mas seres humanos piratas.

    Mas quem faz da sua vida e do seu trabalho uma poesia, obra de arte,

    msica, esse sim tem um mundo pela frente. Ele no vive em um mundinho,

    como dito no senso comum. Esse ser est sendo. Se construindo a cada momento.

    Ele sente instantes de quase morte e tambm de vida. No coloca anos em sua

    existncia. Pe vida em seus anos. Ganha o presente.

  • PresenteEu no gosto tanto de ganhar presente

    Comparado quanto eu gosto do presente.

    O que eu gosto mesmo,

    de ganhar o presente.

    Ter presente bom,

    Mas ser presente melhor ainda.

    Que presente

    Ganhar um presente,

    De um ser presente!

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Isso sim

    ganhar um presente,

    Ganhar o presente

    Do presente.

    mais fcil ganhar presente

    Do que dar presente.

    Difcil mesmo

    ser presente,

    O presente,

    No presente.

    Um dia,

    Estarei embrulhado para presente,

  • Deixando o presente

    Sem levar presentes.

    Serei levado

    Pelo presente,

    Tornando-me ausente.

    Ser esse

    Um presente?

    Como havia dito, em alguns trechos, por ansiedade, tentei fazer um artigo e

    no consegui. Saram, ento, pedaos menores, poesias e versos. So devaneios,

    meios que encontrei para me comunicar. Sinto-me mais vontade deixando fluir

    naturalmente. Ainda bem que existem pessoas como Adlia Prado, que nos

    provoca e ao mesmo tempo nos conforta: " Quando julguei que tinha encontrado

    todas as respostas, veio a vida e mudou as perguntas! . Estou tambm confortvel

    para responder com uma escrita diferente.

    27

    Leonardo Peracini

    A publicao deste livro, Alm da Liderana: Devaneios de uma Gesto,

    uma tentativa de provocar o potencial daquele que o l. Estimulando o amor por

    liderar, mesmo que seja por meio do sofrimento. um convite para afirmar a

    existncia como vida, assumindo toda e qualquer responsabilidade por ela.

    Enxergar e sentir intensamente cada momento e sabor nos movimentos mais

    profundos da liderana. Aprender a eternizar, como pensou Adlia Prado: Aquilo

    que o corao amou fica eterno . Como tambm escreveu em seu livro, A

    Psicoterapia na Prtica, o psicanalista dr. Viktor Frankl, que afirmou que o

  • homem s se torna homem e completamente ele mesmo quando fica absorvido

    pela dedicao a uma tarefa e se esquece de si mesmo a servio de uma causa, ou

    no amor a uma pessoa. como o olho, que s pode cumprir sua funo de ver o

    mundo enquanto no observa a si mesmo. O sentido tem um carter objetivo de

    exigncia e est no mundo, no no sujeito que o experincia.

    Entretanto, com efeito, caso seu universo seja diferente do meu, espero que

    eu consiga causar sabor durante a leitura. Como disse o filsofo alemo, Friedrich

    Nietzsche: A mente um estmago. Digerir ou ter indigesto. O processo

    natural, fisiolgico. Mas, mesmo assim, insisto com o convite. Poderamos at

    completar e parafrasear com as Escrituras Sagradas, em Apocalipse 3:16 "Seja

    quente ou frio. No seja morno, seno te vomito". O processo assim. Mesmo para

    essa leitura, ele deve ser quente ou frio, mas no morno, pois cada um est em um

    tempo. Em um estgio. Quem sabe, caso a leitura no desa hoje, poder fazer

    isso em outro momento. Ou como Rubem Alves nos convida a olhar diferente, o

    prazer engravida, o sofrimento faz nascer. Embora a leitura esteja sofrida, alguma

    reflexo ou crtica valer a pena. Algo ir dar prazer ou nascer dentro de voc.

    Lembre-se de que este livro e voc sero uma mistura. Se no sair coisas boas,

    que ns, misturados, resultamos em algo indigesto.

    O nosso corpo assim, um centro de batalhas. Lutamos diariamente contra

    os modelos e mapas emocionais que criamos ou que foram implantados pela

    natureza do homem. Tem hora que preciso se esquecer do homem velho e se

    vestir do homem novo. Claro, no se esquecendo do passado, mas sim tentar

    compreend-lo, entend-lo, aproveit-lo.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

  • PassadoNo me importa mais o passado,

    Ele j passou.

    Mas hoje

    Estou passado,

    Porque o passado voltou,

    Virou presente.

    Ser que o passado se imortalizou?

    Estou passado,

    Parece-me que o passado,

    No passou.

    Hoje imploro,

    Para que esse sentimento seja passageiro.

    Serei eu

    O passageiro do passado?

    Estou passado!

    Sou passado?

    Antes do passado,

    Eu no era ningum.

    Depois do passado,

    Eu me tornei algum.

    Mas o que me importa hoje

    No o passado.

  • o passageiro,

    O algum.

    29

    Leonardo Peracini

    Caro leitor, peo licena para continuar e iniciar as paradas programadas

    para essa viagem. Caso queira continuar, terei a alegria de ser seu mais novo amigo

    livro. Desejo-lhe que, ao longo destas paradas ou fragmentos literrios, voc tenha

    uma bela experincia de quase morte e reflita sobre o que est fazendo para se

    superar. Como j dizia Friedrich Nietzsche: preciso haver morte para superar a

    si mesmo. preciso ter um caos dentro de si para dar luz uma estrela danarina.

    E, com os teus venenos, preparar o teu balsamo.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Antes de comear a liderar, entenda primeiro o que fizeram de voc

    Nenhum olho brilha se a alma antes no brilhar.

    Voc j se deparou com situaes nas quais as decepes dominam suas

    expectativas? Freud dizia que o homem um ser frustrado. Sempre que estamos

    envolvidos com algo grandioso, as frustraes tendem a ser maiores. Pensando e

    concordando com Freud, qual seria o primeiro passo para realinhar as esperanas

    e modificar as rotas, para tentar, mais uma vez, oxigenar a alma e continuar a

    liderar com sentido? Como manter o famoso brilho nos olhos? Quando descrevo

    a palavra brilho, lembro-me por que as pessoas dizem que as almas so brancas

    e iluminadas. Nenhum olho brilha se a alma no se iluminar. Nas Escrituras

    Sagradas est escrito que os olhos so as janelas da alma. Para eles brilharem de

    alegria, a alma deve estar inundada de sentido.

  • O filsofo Jean-Paul Sartre afirmava que primeiro preciso descobrir o que

    fizeram de ns para depois entender o que nos tornamos. Entretanto, o mais

    importante decidir o que vai ser feito com o que fizeram de ns. Isso sim mais

    relevante. parar, pensar e assumir a responsabilidade pela prpria vida, pensando

    em seu valor e tempo desperdiado. Sartre complementa dizendo que, cada

    instante que passa, no um minuto a mais de existncia, mas sim de morte. Parece

    angustiante essa reflexo, mas ela um grito de desespero a favor do sentido da

    vida. Nenhum lder consegue chefiar se no houver objetivo. Deve-se tambm

    31

    Leonardo Peracini

    pensar sobre o que foi e o que a verdade em nosso entendimento, se que ela

    existe.

    Para sentir o poder da liderana agindo, aconselhvel resgatar as verdades

    mais profundas, buscar as razes, crenas e a cultura. Entender o que foi formado

    durante esses anos. Pergunte para voc mesmo. Quais foram os valores e crenas

    que constru at aqui? Como foi formado o meu carter? O que preciso para dar o

    maior salto de todos? Imagine se o relgio da sua vida parasse em 24 horas. O que

    voc faria nesse tempo? O que falaria e para quem? Que falta voc faria? Essas

    provocaes servem para exprimir as mais variadas essncias humanas, mas no

    so suficientes para o total entendimento. Portanto, por que utiliz-las? Porque

    nenhum lder consegue liderar ningum se antes no entender a si mesmo.

    Compreender seu estilo, mtodo, perfil, valores e carter. Quando ouvimos

    que o lder precisa inspirar seus colaboradores, na realidade, essa afirmativa est

    tentando dizer que ele tem como misso provocar a essncia de cada liderado,

  • como se este fosse uma ferida e o lder aquele que coloca o pus para fora, curando-

    o. O objetivo principal libertar em seus liderados todo o potencial puro represado.

    Entretanto, nuca tente libertar seus colaboradores se no sentir que voc est livre.

    Caso contrrio, o veneno toma a forma de julgamentos, crticas, angstias,

    ressentimentos, noites mal dormidas e perda do sentido de viver. Seria como tentar

    expulsar o pus da ferida, mas, em vez de ele sair, aumenta pela presso imposta,

    inflamando ainda mais. Com isso, a alma no fica limpa, escurece e apaga o brilho

    dos olhos. Esse movimento no mundo corporativo est associado com a perda de

    grandes competncias essenciais ou talentos humanos. Se este captulo j passou

    pela sua vida, seja como lder ou liderado, saboreie cada momento, porque neles

    que aperfeioamos nossas foras e redescobrimos valores e virtudes adormecidos,

    represados at ento.

    Descubra qual o seu limite, respeite as leis fisiolgicas, tente entender que

    no podemos viver do passado e que no conseguimos mudar o futuro de uma hora

    para outra. Tudo tem seu tempo. Cuide do que voc tem de mais precioso dentro

    de si mesmo. Sua essncia. Oh, Fernando Pessoa, que dizia: Posso ter defeitos,

    viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas no esqueo de que minha vida

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    a maior empresa do mundo e que posso evitar que ela v falncia. Ser feliz

    reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreenses e

    perodos de crise. Ser feliz deixar de ser vtima dos problemas e se tornar um

    autor da prpria histria. atravessar desertos, mas ser capaz de encontrar um

    osis no recndito da sua alma. Ser feliz no ter medo dos prprios sentimentos.

    Saber falar de si mesmo. Ter coragem para ouvir um no! E segurana para receber

  • uma crtica, at mesmo injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia, vou

    construir um castelo.

    No deixe os problemas acabarem com voc. E no queira ser um super-

    homem. Tente descobrir como super-los de forma grandiosa, sem causar impactos

    em voc e no que est ao seu redor. Problemas e preocupaes sempre vo existir.

    Olhe para dentro e descubra quanto ainda pode ser criado. As pessoas no foram

    criadas para as empresas, mas sim as organizaes, para elas. Respire...

    Respirao

    Eu inspiro

    Para me provocar.

    Eu expiro

    Para no me entediar.

    Eu inspiro, eu expiro,

    Eu expiro, eu inspiro,

    No final,

    Eu respiro

    Para continuar a caminhar.

    Imagine voc, hoje, com 20% a mais de determinao, disciplina, empatia,

    alegria e amor. Pense em seus colaboradores com esses 20% a mais. Como seria?

    33

    Leonardo Peracini

    So pensamentos assim que esto Alm da Liderana. Eles tm sua base em

    propsitos e no sentido da vida. um caminho que alimenta e que gera valor

    compartilhado. No fcil, pode apostar. Mas diferente, gratificante e deixa a

  • alma sempre branca e iluminada. No se esquea de que, depois de entender quem

    voc , a prxima misso exprimir o que existe de mais valioso em seus liderados.

    dar sequncia ao movimento da roda que voc iniciou ou que vem ajudando a

    girar. se embebedar de beleza todos os dias.

  • BelezaCansei,

    Sem mais delongas!

    No quero mais fazer limonadas,

    To pouco chupar os limes.

    Estou me desviando

    Do que no belo.

    Quero encontrar a beleza,

    Mesmo me desencontrando dela.

    Queria eu ter nascido quadro

    Para viver vestido dela.

    Queria eu ter nascido toca-discos

    Para me derreter ouvindo-a.

    Queria eu ter nascido pgina em branco

    Para viajar com ela.

    Queria eu ter nascido panela,

    Para no deixar de sentir seus vrios sabores.

    Queria eu ter nascido corao,

    Para passar a vida inteira bombardeado de incompreenso.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Beleza eu

    Nunca teria nascido.

    Mas me sinto confortado e consentido

  • De apenas me sentir perseguido.

    35

    Leonardo Peracini

    Voc tiraria a sua prpria vida pela empresa em que trabalha?

    Todo mundo tem a necessidade de ser especial. Toda defesa uma forma

    de salvar o indivduo.

    Houve um tempo em que s se cobrava de um lder conhecimentos,

    habilidades e atitudes. O famoso CHA, estudado e inserido no mundo corporativo

    pela escola de Harvard. Esse conceito apresentado em quase 100% das palestras

    ou cursos de gesto. Os gestores mais experientes no aguentam mais ouvi-lo.

    Alguns j at inovaram e acrescentaram letras, como VE, que agora chamado de

    CHAVE. O conceito melhorou, porque temos a letra V, que trs o significado da

    palavra valores e o E de entorno. Ou seja, o ser humano passa a ser colocado

    em xeque de uma forma ampla. bom. Mas isso no significa que essas duas letras

    vo transformar algo. Como se diz no senso comum, o negcio mais embaixo.

    Se voc ainda no conhece o conceito CHAVE, vale a pena estud-lo. Pelo menos,

    passa a impresso de que uma nova porta pode se abrir. Tenho esperana que

    movimentos como esses sejam frequentes e ajudem a sensibilizar todos que

    acreditam na liderana como meio de transformao do indivduo. Eis uma das

    chaves para tentativa de mudana. Mudar para uns no possvel, para outros

    fcil, ambos esto errados possvel sim mudar, mas no fcil e muito difcil.

    Muito est se falando em motivar as pessoas, criar um ambiente agradvel,

    pagar incentivos monetrios, pregar que todos devem pensar de forma positiva e

    solidria. Mas pouco se fala dentro das empresas sobre como aumentar a

  • motivao e fundir grandes sentidos. A palavra motivao est sendo bastante

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    usada de modo figurado. Alguns at se esqueceram de que, para estar motivado,

    preciso ter uma razo. Algo em que se apegar. Que gere valor, ao e sentido.

    Ningum faz nada se no houver um motivo. O lder precisa descobrir com seus

    colaboradores quais so seus verdadeiros motivos e ansiedades. O que os fazem

    estar ali trabalhando? Seus para qus? Essa dinmica individual uma atuao da

    dinmica em grupo. Indivduos so nicos, como grupos tambm, seu modo de

    funcionar oscilatrio, varia de acordo com o meio externo e percepo dos

    desafios pelo grupo. Grupos sentem, como sentem uma pessoa, ficam ressentidos,

    fortalecem sentimentos invejosos, alucinam como bebs. Neste contexto, aquele

    que tem o desafio de conduzir, deve estar preparado para lidar com emoes fortes,

    reaes inesperadas e se preparar para administrar dentro de si suas inseguranas,

    porque liderar lidar com incertezas. As vezes muitos tentam at prever o que

    pode acontecer, possvel, porm, isso para poucos, para aqueles que j

    acumularam grandes experincias, presenciaram situaes que se tornaram parte

    de sua prpria personalidade, que hoje, ao estar frente, conseguem no liderar

    um grupo s com inteligncia e lucidez, mas sim, suportar realidades, verdades,

    conseguem elaborar ataques, ameaas, fatos imprevisveis.

    Atrai-me muito comprar o modelo materno com a organizao, com base

    nas reaes emocionais das pessoas, onde o beb, para sobreviver, cem por centro

    dependente de sua me, acorda porque tem um interesse, que simplesmente

    resolver uma frustrao, algo que est incomodando e que no aguenta resolver

    sozinho, como por exemplo, fome, uma fralda molhada de urina, clica, inmeras

  • outras situaes poderamos descrever. Contudo, o que importa a capacidade da

    me em saber lidar com a frustrao de seu beb. Do mesmo modo um lder,

    precisa ser suficientemente bom para lidar com a frustrao do grupo, de cada

    indivduo, e consigo mesmo. Quando o beb encontra o seio, a me, que resolve

    sua frustrao, ele se sente em paz, satisfeito, pronto para degustar o prazer. Com

    o lder no diferente, quando a vitria chega, uma meta atingida, um propsito

    edificado, o grupo sente como o beb, satisfeito com prazer de trabalhar, de

    seguir adiante, de que valeu a pena superar tais frustraes. Aprofundando mais, o

    lder tem o papel de suportar aquilo que o grupo no consegue, elaborar o contedo

    37

    Leonardo Peracini

    latente, e devolver na intensidade adequada para o grupo, onde todos, devem

    entender e elaborar cada movimento angustiante, de medo ou ansiedade.

    Se existe um caminho, seria compreender se as expectativas dos liderados

    esto alinhadas com as da organizao. Lembre-se de que motivo mais ao igual

    motivao. E, para obt-la, necessrio enxergar o fim, o sentido. Ter um ato de

    f de que aquilo que est sendo feito verdade, far bem para si e para os demais.

    Motivao tem de gerar esperana. A razo pode estar no passado, mas o

    objetivo de ter um motivo o futuro. No para isso que trabalhamos? Para ter

    um futuro melhor? Mas nada ir acontecer se todos no estiverem engajados. O

    caminho para isso motivar os liderados a ter esperanas. Rubem Alves escreveu:

    Se eu souber onde mora a minha esperana, terei razes para viver e morrer. E a

    vida ficar bela mesmo no meio das lutas. Sei muito bem em que minha esperana

    no est.

  • Ter expectativa nas empresas saber projetar um futuro que gere motivos,

    motivao. Mostrar que possvel fazer com que todos lutem pela mesma causa.

    alinhar as razes aos laos emocionais profundos e inconscientes, criando

    vnculos saudveis, subjetivos. fazer pontes, exprimindo sentidos. O dr. Freud

    afirmava que existem dois tipos de laos emocionais: Um a ligao com aquilo

    que amado, e o outro surge do senso de aproximao e de pertencer. Se existir

    significativa similaridade e senso comum entre as pessoas, possvel conexo

    emocional. E ela um suporte poderoso da sociedade humana" . O lder aquele

    que faz a ponte entre o indivduo e seu propsito. Ele leva seus liderados beira

    do rio, mas diz, que atravessar, s depende de cada um. Ele traduz desamparo em

    segurana, desespero em lucidez, ansiedades em resultados, rigidez mental em

    mudana. Ele tem o papel de perguntar para sua equipe, se j tornaram aquilo que

    deveriam? Se j conseguiram nascer!?

    Aquele que busca uma liderana, busca outro, outro que no seja a si

    mesmo, busca algum a se inspirar, algum que satisfaa suas imperfeies, que

    complete o que falta, que sonhe junto, que busque ideais que esto acima daquilo

    que se , que seja diferente, novo naquilo que j experienciou, est sempre atrs de

    um discurso melhor do que o seu, est cansado, insatisfeito por ter que martelar na

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    mesma matria todos os dias, de ter que viver escravo de si, da mesma coisa que

    se tornou. Este, caminhante do nada, da busca do outro pela busca de si mesmo,

    quer se consumir, consumindo o prprio consumo, solicita desesperadamente a

    compreenso de outro, de algum que possa responder suas perguntas, que possa

    entregar alguma migalha de verdade, que consiga anestesiar por algum tempo suas

  • angustias e faltas, que maximize a fora dos seus desejos, desejos esses, jamais

    realizados. Ele busca outro que o faa compreender que desejos j realizados, no

    so mais desejos, so fragmentos de passado, de representaes simblicas,

    transformados em objetos internos, coisas-em-si, podendo serem recondicionados

    a fontes de novos desejos. A busca pelo outro est amarrada na ideia de que algum

    ser o salvador, aquele que consiga ajudar na sustentao de quem se no mundo,

    que guie os instintos, personalidade, natureza daquilo que representado no

    cosmos. Na verdade, aquele que busca, busca chegar em algum lugar; busca se

    aproximar de si, daquilo que tem que ser. Ningum muda, todos se aproximam

    daquilo que possam vir a ser. Cada natureza tem um caminho a ser percorrido, uma

    fonte em que beber, um proposito, um sentido a buscar na vida. A possibilidade de

    encontrar algum que oferte ajuda, possibilidades para se chegar naquilo que se ,

    tentador, ao ponto, de estar sempre embasado no aparelho de pensar pensamentos

    o que realmente esta verdade tentadora. Pelo vrtice da anlise da verdade, a

    tentao vem das emoes, sensaes, sentimentos que se extrai do mundo, a

    verdade em si dor, angustia, insatisfatria, insuportvel. O que se busca sentir

    sentimentos verdadeiros, isto , sentimentos com fragmentos de verdade, no se

    busca sentir verdades e nem s sentimentos, a mistura que a formula que provoca

    o vcio, que cria as necessidades dos desejos, das perguntas, das respostas

    incompletas, dos smbolos no simbolizados como se deveria, da vida ainda no

    vivida.

    O discurso, o que temos para existir no mundo, ele se transveste em

    fantasias, ideologias, lgicas, verdades, sentimentos. Quando se transpe a ser

    conduzido pelo discurso do outro, se abre mo daquilo que , contudo, deve-se

  • propor para si mesmo, que para seguir adiante, necessrio deixar se conduzir,

    no pelo outro, mas por si mesmo atravs do outro. Esse movimento entre

    39

    Leonardo Peracini

    conduo e ser conduzido, deixa aquele que busca, parecido consigo mesmo.

    inevitvel no navegarmos no discurso de outro, quando mal percebemos somos

    atordoados por ideias, ideais, formas novas de pensar, sentir. Isso acontece, porque

    existe uma surdez imaginria, que impede que representaes com contedo

    pujantes, de campos simblicos slidos, se manifestem ao ponto de criarem

    experincias que force a prpria experimentao, ou seja, o consumo de si mesmo.

    Toda essa agressividade interna bombeada, no pelo dio, amor ou

    conhecimento, mas pela carncia de sobrevivncia, de manifestar a singularidade

    da natureza interna, das sonatas ainda no tocadas.

    Outro motivo de busca, de apego, pela surdez do pensamento, daquele que

    tem dificuldades de gerenciar seu aparelho de pensar pensamentos, daquele que

    vive pela e a favor de suas emoes, que falha quando deve buscar maneiras mais

    evoludas de se colocar no mundo, de tomar decises assertivas, de viver lucido

    em meio ao caos, de no negar a sua existncia, lutando para que esta surdez do

    pensamento no se torne, uma surdez completa do real, da realidade, do consumo

    de verdades, da negao do tempo, daquilo que se viveu, vive, e est por viver.

    Pense quanto as organizaes falham em direcionar seus colaboradores e

    provocar suas singularidades, seus motivos, parece que existe um baile em que

    dana apenas alguns, por isso, que para muitos, melhor no ir ao baile do que

    estar l. A sensao de quando o discurso da empresa est indo em conjunto com

  • o propsito do grupo, do lder, daquele que est frente tentando prover alguma

    resposta, algum fragmento de verdade, manifestao daquele fenmeno, de que,

    quando muitos esto voltando da festa animados, entusiasmados, cansados,

    exaustos de terem danado a noite inteira, de no dormirem, sentem que esto

    vivos. Faa apenas um teste. Pergunte para seus liderados se esto felizes com seu

    trabalho? Se sentem motivados a enfrentarem desafios maiores? Se esto dispostos

    a mudarem, sentirem mais dor? Pergunte porque ele est ali? Onde quer chegar em

    sua vida? O que ainda deseja? E como foi realizar seus desejos? Quem ele agora,

    depois de ter entrado em contato por algum tempo com a proposta da empresa? Se

    sente que est se divertindo em um baile? Faa isso, perguntas so poderosas, so

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    meios para retirarem o silencio do grupo, de descobrir qual o prximo movimento

    que est por vir, para onde deve-se seguir em maio ao caos.

    O outro da empresa seu colaborador, e vice-versa, ambos, entram no

    discurso do outro, como uma simbiose, que prov metamorfoses naqueles que

    esto dispostos a se entregarem a sua natureza. Jamais a natureza de uma empresa

    exclusivamente ganhar dinheiro. Dinheiro e metas s servem para marcarem

    placar. A natureza de uma empresa sobreviver. Observem quantas empresas

    multimilionrias falem de um dia para o outro devido a mudanas de mercado,

    corrupes internas, crises. Do mesmo modo, a natureza daquele que segue a

    empresa se realizar, buscar se aproximar de sua natureza, transpor sua matria a

    realidade, fazer com que seus desejos sejam realizados, provocando novos desejos,

    suportando a si e aos seus outros que buscou, at que se consiga olhar para trs e

    tentar esboar algo que signifique, simbolize seu chamado legado, sua

  • existncia, que tente dizer para si, que sua vida no foi jogada fora, que valeu a

    pena apesar de tudo, que teve significado para si e para outros, que no foi apenas

    mais um existindo em meio a tantos outros. Se tanto a empresa, quanto o indivduo

    olharem para trs e verem que existem significados grandiosos, que deram sentido

    s suas vidas, a dor, certamente, no ser a escolha de vida de ambos, ser parceira

    de trabalho. Com esse movimento, no existir para o lder, quanto para empresa,

    limites para se pensar, construiro, juntos, seus objetivos, sonhos, ideias e ideais;

    realizaro suas inspiraes, e se complementaro no mais breve e profundo suspiro

    de que mais uma etapa foi superada, aperfeioada, reconhecida e provocada pela

    aquela fagulha, que certo dia, invadiu seus coraes e mentes, entrou, sem pedir

    licena, se transformando em um modelo que possibilitou mais um passo na

    evoluo, entre Eus e Outros, mas tambm, que sempre existiu, vivia adormecida,

    e agora, se lanou no abismo, possibilitando sua manifestao, sua existncia

    singular, subjetiva ou axiolgica, sua natureza em si, contagiada pela existncia

    primaveril, segue pulsante, imortal, seguindo os seguintes. Da mesma maneira,

    como nenhuma carta poder sair de um baralho sem que antes nele estivesse,

    tambm toda dinmica da produo, xito, sonoridade clara de trabalho, depende

    da parceria entre empresa e empresrios, lderes e liderados, discurso do eu e do

    41

    Leonardo Peracini

    outro, do envolvimento vitalcio daqueles que se comprometem a existirem de

    verdade. Logo, todos, completam-se em uma s unidade, se repartem, com a

    possibilidade de extrarem do nada, pontes que abrem novas perspectivas,

    minimizao de dores e fracassos, seguindo, incansavelmente, construindo novas

  • narrativas, perspectivas, esperanas, novos desejos, individuais e coletivos, na

    busca imperfeita de transformarem desertos em oceanos, morte em vida, nada em

    + nada.

    Muitos dizem que o problema est na comunicao entre o topo da pirmide

    (nvel estratgico) e a base (operacional). No se iluda. Essa afirmativa apenas a

    ponta do iceberg. Voc deve estar se questionando, como pode os meios de

    comunicao avanar tanto e o problema maior ser ela? Que paradoxo esse?

    Entretanto, no compartilho da mesma f de se apegar apenas a conceitos

    estratgicos. Muitos servem para diminuir a ansiedade, inseguranas, criar

    esperanas e levar a zonas de conforto. Outros acham que os processos e

    procedimentos precisam ser melhorados. Com isso, investem e criam mais tipos

    deles. Esse mais um verniz que o mundo corporativo passa para fugir da

    humanizao. E o curioso que todos esto vendo isso acontecer diariamente, mas

    no querem enxergar. Convenhamos que no existam processos para motivao.

    Ela gerada por meio da transformao contnua do sentido do ser. quando h

    um clima saudvel, de vida, com a liberdade e a responsabilidade andando juntas.

  • LiberdadeEsforcei-me para ter liberdade.

    Quando a conquistei

    Assustei-me.

    No sabia o que fazer.

    Novamente,

    Voltei a me prender.

    A correr atrs da verdade.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    O lder no entrega o sentido vida de ningum, seria at injusto pensar

    assim. Toda existncia tem seu sentido. O que ele faz provocar seus liderados

    para descobrirem suas vontades profundas. Se voc lidera, no entregue algo

    pronto ou modelado. Evite os padres. O engajamento s acontece quando os

    colaboradores descobrem os porqus e para qus. Sentindo que sua existncia est

    dentro da empresa, e no fora dela. Eles tm de pensar que esto vivendo como um

    nico ser, e no em funo do lugar social ou econmico, elogios, ou qualquer tipo

    de categoria social.

  • SerTentei ser algum

    E acabei me tornando ningum.

    Hoje sou ningum.

    Levo comigo a angstia, o medo,

    A ansiedade,

    O vazio e a confuso.

    Descobri em que fracassei:

    Tentei ser algum,

    E esqueci-me apenas de ser.

    Como a fnix,

    Retorno ao p,

    E a chorar

    Pela vontade de vida.

    Espero eu

    Que minhas lgrimas

    43

    Leonardo Peracini

    Faam renascer a vida,

    Como um dia fez a fnix.

    No quero mais tentar,

    Ser algum.

    Quero ser.

  • Apenas,

    Ser sendo.

    Vou lhes dar um pensamento do filsofo alemo Friedrich Nietzsche,

    expressado em uma das cenas do filme Quando Nietzsche Chorou, baseado no

    livro homnimo de Irvin D. Yalom: Se voc tivesse de viver inmeras vezes. Sua

    prpria vida j vivida. Sem haver nada de novo nela. Cada dia, dor e alegria iriam

    se repetir, retornando para voc mesmo, na mesma sequncia, do mesmo jeito.

    Vrias vezes. Imagine o infinito. Onde cada ato escolhido seria para sempre. E

    toda vida no vivida permaneceria dentro de voc, pela eternidade. Como seria?

    Gosta dessa ideia? . Essa uma pista para encontrar o engajamento mais

    profundo. O lao entre o sentido e o motivo.

    Como havia dito anteriormente, os processos no so suficientes para

    transformar as pessoas e organizaes. Deixo claro que no tenho nada contra. Eles

    so fundamentais para a sobrevivncia de qualquer organizao. Mas reforo: a

    ateno deve sempre estar nos indivduos. Sem direo de propsito, nada

    acontece. Sem motivo, a chama no acende. O leo continua a dormir.

    E voc, se sente inspirado, direcionado e motivado? Quais so suas

    expectativas? Tem claro e sabe o que precisa ser feito? Seus liderados entendem

    por que esto ali? Convido voc a se perguntar por que um homem explode o

    prprio corpo em prol de uma causa? Deixando na maioria das vezes esposa e

    filhos. O que faz um ser humano acreditar tanto em algo? Que motivo seria esse?

    Que captulo ainda no foi inserido no planejamento estratgico de muitas

    empresas? Que conhecimento no foi difundido para as equipes? Qual habilidade

    no foi desenvolvida? Que nvel de engajamento esse? Est valendo a pena gastar

  • Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    a sua vida na organizao em que trabalha? Se sim, parabns, aproveite ao mximo

    cada sabor, pois a busca eterna! Com certeza, voc e sua empresa esto tendo

    grandes motivos para se deleitarem.

    No venda sua vida para lderes ou empresas que no tm motivos. No vale

    a pena. Essa escolha no possui razes. Alm de correr o risco de se contaminar e

    passar para o grupo que conhecido como desmotivados. Voc no assume a

    responsabilidade pela sua vida.

  • Vida

    Quero embriagar minha vida

    Com alegria.

    Quero escrever sobre ela,

    Para ela.

    Quero tentar entender

    A vida,

    Mesmo no a compreendendo.

    Morrer est muito fcil.

    Viver que est difcil.

    Viver ento com vida,

    Quase impossvel.

    Mas j est decidido,

    Eu s quero escrever sobre a vida.

    No quero escrever sobre tcnicas,

    Para isso, necessrio tcnica.

    Escrever sobre a vida

    Vai ser um belo desafio.

    Vou ter de tentar viver

    45

    Leonardo Peracini

    Duas vezes

    E acreditar

  • Que, aps o parto,

    Existe vida.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Sementes ideolgicas da liderana

    Prazer muito prazeroso loucura.

    Tentar idealizar uma liderana mais uma chance de refletir sobre como

    chegar perfeio da administrao dos movimentos ou mudanas geradas pela

    transmutao das pessoas e do mercado. Esse sempre ser o papel de um lder,

    pensar para transformar. impossvel fantasiar uma liderana baseada em lderes

    fortes se no usarmos um machado para arrancar, pelas razes, os paradigmas

    encontrados atualmente na sociedade e nos modelos de gesto oferecidos pelo

    mercado. Observem a enxurrada de conceitos que a todo momento confundem e

    engessam as lideranas. Mais uma vez, muitos tentando ganhar dinheiro e poder

    com as famosas frmulas mgicas. Antes assim do que tentar novamente criar uma

    raa superior, como a ariana. Ou impor verdades que no existem.

    impressionante como esses conceitos de criar padres, frmulas e fugas da

    realidade so superficiais e servem apenas de anestsicos. Eles alimentam e

    conservam as lideranas fracas. Congelam e destroem o que um lder tem de mais

    poderoso, sua autenticidade e originalidade. Depois, muitos se perguntam por que

    existem tantos lderes inseguros. Por que as pessoas esto mais frgeis e tristes no

    ambiente de trabalho. A resposta simples. Elas no esto sendo o que so. Foram

    seduzidas pelo modelo de sucesso que o capitalismo imps. Como uma droga que

    encanta, seduz e diminui as transformaes, foras e vontades de se superar. So

    frmulas que prometem manter o controle de tudo. Como um alimento no micro-

  • ondas, que, em segundos, fica pronto. O mercado est dizendo: Quer liderar?

    simples. s seguir as dez regras X ou Y. Meu caro amigo, preciso

    47

    Leonardo Peracini

    urgentemente quebrar essas tbuas que prometem os mandamentos da verdade. No

    Prefcio do livro Em Busca de Sentido, escrito pelo dr. Viktor Frankl, ele diz: No

    procurem o sucesso. Quanto mais o buscarem e o transformarem num alvo, mais

    vo errar. Porque o sucesso, como a felicidade, no pode ser perseguido; ele deve

    acontecer e s tem lugar como efeito colateral de uma dedicao pessoal a uma

    causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendio pessoal a outro ser.

    Quero que escutem o que sua conscincia diz que devem fazer e coloquem em

    prtica da melhor maneira possvel. E ento vero que, em longo prazo - estou

    dizendo em longo prazo! -, o sucesso vai persegui-los, precisamente porque se

    esqueceram de pensar nele .

    Liderar, novamente, entender os porqus e para qus. Ajudar as pessoas a

    se auto superarem. Provocar e estimular a transformao dos valores humanos.

    Lutar pelo conhecimento e originalidade. Ser autntico escapar do rebanho,

    tornando se um lder que vai alm da sua liderana.

    Um grande amigo, certa vez, em uma de nossas trocas de e-mails, sobre o

    tema liderana, presenteou-me com uma reflexo que dizia: Voc est no controle

    quando no est nele. Os movimentos devem acontecer sem que precise estar

    controlando. Estimule seus colaboradores a criar e d liberdade. Se errarem, estar

    apreendendo .

    Essas provocaes reforaram ainda mais em mim que o sentido ou

  • significado de controle uma iluso. Controlar ns mesmos j impossvel,

    imagine fazer isso com os outros. Penso que esta uma semente que deve ser

    plantada e regada pelas novas guas da liderana. Acredito que sentir que est no

    controle tem a ver com o alinhamento das foras ou movimentos gerados de forma

    harmnica. Como na Nona Sinfonia de Beethoven. Imagine se uma nota for

    alterada. Apenas uma pequena modificao. A sensao que teramos que algo

    saiu errado, que perdeu o controle, que o maestro no conseguiu articular ou

    realizar. Agora pense na mesma orquestra tocando sem Beethoven, usando as

    partituras feitas por ele. Se todos conseguirem executar o que est escrito, o

    resultado ser perfeito. Observe que Beethoven no est no controle, mas, de certa

    forma, est. Ao mesmo tempo, compartilho da f de que necessrio buscar esse

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    controle, que tambm no tem a ver com harmonia, mas sim com o movimento

    contnuo, o qual gera fora e aumenta a potncia do sentido. Essa potncia amplia

    a vontade de movimento e transformao, gerando mais fora. Isso no se controla,

    se administra. A maior frustrao querer controlar o que vir na sequncia.

    Ficamos inconformados quando algo sai do nosso controle. A prpria palavra

    inconformado diz: ficamos internamente sem forma ou precisamos mudar a

    forma, como um camaleo que troca sua cor para continuar a sobreviver. Que

    controle seria esse? Por que estamos sempre buscando isso, j que no estamos no

    controle? Algumas pessoas, com efeito, transferem esse tal controle de tudo para

    a metafsica. Eu no compartilho desta f. Ningum est no controle e no sabe o

    que a verdade. Os homens querem continuamente colocar cabrestos nos outros,

    impondo suas verdades. Por isso importante que todos exercitem a tolerncia.

  • terrvel quando algum lder tenta colocar goela abaixo suas verdades,

    estabelecendo as regras do seu jogo. Esse tipo de situao no passa de tentativas

    de dominar e ter a totalidade do controle. O poder sempre estar em xeque. No

    me lembro de qual filsofo disse: No tente dominar o mundo, mas sim os

    homens, pois so eles que mandam. Esse pensamento reduz a capacidade do ser

    humano de estar alm do que se . O universo j no aguenta mais tanta

    representao.

    Representao

    Morreu algum fora de mim.

    Esse foi o ltimo homem

    Que representei.

    Agora tenho que continuar

    Sem esse homem

    Que um dia,

    E por vrias vezes

    Foi programado.

    49

    Leonardo Peracini

    Sei tambm

    Que eles querem me reprogramar.

    Atualizar o programa.

    No!

    Seguirei firme,

    Pelo nico caminho,

  • Saboreando minha nica opo.

    O sabor da dvida, do mistrio,

    Da complexidade e da liberdade.

    O caminho do esforo.

    Vou ter que aprender a reprimir

    Desejos e vontades.

    Chega de comprar e vender valores.

    No quero mais ser guiado, programado, engessado

    E continuar achando que estou sendo valorizado.

    As cortinas se abriram

    E as luzes se acenderam. Que alegria

    Ao ver que era a verdade que estava no palco,

    Declamando,

    E me dizendo que eu estava sendo enganado,

    Ludibriado, manipulado,

    Despersonalizado.

    Ela dizia em seus versos

    Para ter coragem e combater o medo.

    Ser generoso para lutar contra o egosmo.

    Ser justo,

    Combatendo a indiferena, a crueldade e a desgraa alheia.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Disse-me para aprender novos caminhos e mtodos,

    Para serem utilizados contra o caos interior.

  • Ser trabalhador,

    Para impedir que a preguia cresa.

    Mesmo eu no conseguido ser virtuoso,

    Como disse a verdade.

    Penso eu,

    Que esta ser a minha pequena grande apresentao.

    Mesmo levando comigo

    O medo da reprogramao.

    Para enxergar, encontrar pistas e desenhar o futuro da liderana, preciso

    ensinar as pessoas a viver ao mximo o presente. Lembro-me do meu querido

    professor e filsofo Csar Nunes, quando ele dizia: As pessoas visualizam metas

    e, quando as realizam, descobrem que elas no trouxeram felicidade. Ento,

    continuam avanando e inventam outras, que tambm no as tornam contentes.

    Vivem esperando o dia em que alcanaro algo que as deixaro felizes. Esquecem

    que a felicidade construda todos os dias. E no vai conquist-la fora de voc.

    Ela vive dentro do seu corao.

    Que belo! Eu me entusiasmo toda vez que saboreio essa reflexo, pois

    compartilho da mesma verdade. Ele ainda, de forma honrosa, refora e finaliza

    com Fernando Pessoa: Sossega, corao! No desesperes! Talvez um dia, para

    alm dos dias, encontres o que queres porque o queres. Ento, livre de falsas

    nostalgias, atingirs a perfeio de seres. Mas pobre sonho o que s quer no t-

    lo! Pobre esperana a de existir somente! Como quem passa a mo pelo cabelo e

    em si mesmo se sente diferente. Como faz mal ao sonho o conceb-lo! No quero

    rosas, desde que haja rosas. Quero-as s quando no as possa haver. Que hei de

  • fazer das coisas que qualquer mo pode colher? No quero a noite seno quando a

    51

    Leonardo Peracini

    aurora a fez em ouro e azul se diluir. O que a minha alma ignora isso que quero

    possuir. Para qu? ... Se o soubesse, no faria versos para dizer que inda o no sei .

    Magnfico! No de arrepiar? As sementes da liderana devem ser regadas

    com o prprio sangue do lder. Somente quem "d o sangue" em suas vivncias e

    experimenta a prpria vida que pode falar de "sentido" e de liderana. Se voc

    tivesse apenas o seu sangue como tinta, quais seriam os ltimos cinco litros que

    escreveria? Se ao final da ltima gota voc morresse, o que escreveria?

  • A vida que segue

    Sinto que estou sangrando

    Por dentro e por fora.

    Por fora, sai na forma de lgrimas.

    Por dentro, sinto que o sal das lgrimas.

    Fazem meu corao arder

    Por no conseguirem sair.

    Olho para a minha caneta, e no vejo tinta,

    Vejo sangue.

    Ser que a vida como essa caneta?

    Ando me machucando,

    Por muito estar escutando.

    Queria cantar como Davi,

    E se deleitar na surdez,

    Como fez Beethoven.

    Estou com fome,

    Fraco,

    Comeria toda a terra,

    Beberia todo o mar.

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Preciso urgente,

    Alimentar-me,

    Para continuar a caminhar...

  • Seja duro consigo mesmo para no virar mercadoria, para no ser massa,

    mais um. Ser autntico e original necessrio para crescer e se tornar um lder

    forte. S assim vai saber se posicionar com leveza diante dos ambientes mais

    hostis, no se deixando contaminar pelo local. Liderar tentar estar alm da

    liderana. Se preparar para a vida, com vontade de mais vida, e despertar foras e

    vontades no encontradas em todos que queiram viver mais. ter autodisciplina e

    usar os obstculos como meios de desenvolvimento contnuo para a auto

    superao, tornando-se, cada vez mais, quem se . Lembre-se: no existe frmula.

    Trabalhe com o corao e com o que h de mais profundo em voc e encontrar

    todos os caminhos a percorrer. Os medos e inseguranas sero menores. Liderar

    passar a ser como construir verdadeiras e diversas obras de arte, relembrando

    sempre o que disse Fernando Pessoa: O essencial da arte exprimir; o que se

    exprime no interessa. Ter essa sensao, por mais que seja efmera, sentir que

    o mundo foi conquistado.

  • O MundoO mundo so lugares.

    Perto e longe.

    Feito de formas,

    Grandes e pequenas,

    Com sabores e dissabores.

    De lembranas e esperanas.

    De luta e paz.

    De vida e morte.

    53

    Leonardo Peracini

    O corpo so lugares.

    Perto e longe.

    Feito de formas,

    Grandes e pequenas,

    Com sabores e dissabores.

    De lembranas e esperanas.

    De luta e paz.

    De vida e morte.

    Ser que o mundo o corpo?

    Ou o corpo o mundo?

    Muitos,

    Escutam-se falando.

  • Veem-se vendo.

    Sentem-se sentindo.

    Outros,

    Alm do seu corpo,

    Escutam, veem e sentem outros

    Corpos.

    Ser o mundo um nico corpo?

    Um ser movente,

    Que move

    E tem poderes de

    Mover e se

    Mover?

    Um ambiente habitado e habitvel?

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    Visvel e invisvel?

    Um mundo a descobrir seus mistrios?

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    Leonardo Peracini

    Liderando a inrcia

    O grande homem aquele que chega na vida sofrendo e sa

    sofrendo diferente.

    notvel que, em qualquer empresa ou relacionamento, a tendncia

    diminuir os movimentos e cair na rotina, na mesmice. Um bom lder fica sempre

    de olho na inrcia, pois ele sabe que lider-la fundamental para a sade da

  • empresa. Como os exerccios fsicos, que so necessrios para manter o corpo forte

    e saudvel. No d para ficar caminhando na mesma velocidade a vida inteira.

    Lutar contra a inrcia aumentar a velocidade da caminhada de forma gradativa e

    consciente. imprimir as foras corretas para o objetivo desejado, sentindo os

    msculos queimando quando a intensidade dos exerccios aumenta. Sentir dores

    musculares no outro dia. Nenhum organismo fica mais forte e saudvel se for

    aplicado o mesmo estmulo.

    Dentro das empresas, a inrcia atrofia os desafios, motivao, inovao,

    relacionamentos, crescimento pessoal, atravanca as oportunidades. As pessoas

    ficam paralisadas. Com medo de voar, achando que vo cair, mesmo sabendo que

    tm asas. As respostas a esses estmulos so o aumento das conversas improdutivas

    em reunies e corredores, ampliao da quantidade de colaboradores

    descomprometidos com as metas e tarefas. Muitos no aguentam e trocam de

    empresa. Ou melhor, tentam mudar de relacionamentos e de liderana. Quem troca

    de organizao est alterando sonhos e relacionamentos, essa a inteno.

    A quebra da inrcia pode causar inseguranas, medos, dores e desconfortos,

    como no exerccio fsico. Entretanto, ela provoca a transformao do ser humano

    Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto

    por meio do movimento, o qual entre o corpo e o estmulo oferecido pelo meio

    externo. Cada um reage de uma forma frente s adversidades. Esse mo