3. manejo e conservacao de solo e agua 46p

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    MANUAL TCNICO, 20 ISSN 1983-5671

    Jos Ronaldo de MacedoClaudio Lucas Capeche

    Adoildo da Silva Melo

    20

    Niteri-RJabril de 2009

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    MANUAL TCNICO, 20 ISSN 1983-5671

    Jos Ronaldo de MacedoClaudio Lucas Capeche

    Adoildo da Silva Melo

    20

    Niteri-RJabril de 2009

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    PROGRAMA RIO RURALSecretaria de Estado de Agricultura, Pecuria, Pesca e AbastecimentoSuperintendncia de Desenvolvimento Sustentvel

    Alameda So Boaventura, 770 - Fonseca - 24120-191 - Niteri - RJTelefones : (21) 2625-8184 e (21) 2299-9520E-mail: [email protected]

    Governador do Estado do Rio de Janeiro

    Srgio Cabral

    Secretrio de Estado de Agricultura,Pecuria,Pesca e Abastecimento

    Christino ureo da Silva

    Superintendente deDesenvolvimento Sustentvel

    Nelson Teixeira Alves Filho

    Macedo, Jos Ronaldo de.

    Recomendao de manejo e conservao de solo e gua / Jos Ronaldo

    de Macedo, Cludio Lucas Capeche, Adoildo da Silva Melo. -- Niteri :Programa Rio Rural, 2009.

    45 p. ; 30 cm. -- (Programa Rio Rural. Manual Tcnico ; 20)

    Programa de Desenvolvimento Rural Sustentvel em MicrobaciasHidrogrficas do Estado do Rio de Janeiro. Secretaria de Agricultura,Pecuria, Pesca e Abastecimento.

    Projeto: Gerenciamento Integrado de Agroecossistemas em MicrobaciasHidrogrficas do Norte-Noroeste Fluminense.

    ISSN 1983-5671

    1. Conservao do solo. 2. Conservao da gua. I. Capeche, CludioLucas. II. Melo, Adoildo da Silva. III. Srie. IV. Ttulo.

    CDD 631.4

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    Sumrio

    1. Apresentao.............................................................................5

    2. Introduo.................................................................................6

    3. Conceitos de eroso dos solos......................................................6

    4. Sistemas de cultivo...................................................................10

    5. Preparo do solo.........................................................................12

    6. Manejo e conservao dos recursos naturais................................14

    7. Adio de matria orgnica.........................................................36

    8. Rotao de culturas...................................................................42

    9. Locao de estradas e caminhos..................................................43

    10. Referncias bibliogrficas..........................................................44

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    Recomendaes de manejo econservao de solo e gua

    Jos Ronaldo de Macedo1

    Claudio Lucas Capeche2

    Adoildo da Silva Melo3

    1. Apresentao

    Esta publicao rene conceitos e instrues sobre prticas edficas nasreas de manejo e conservao de solo e gua e pretende contribuir para oentendimento dos processos de eroso e de como ela pode ser evitada emitigada, agregando informaes necessrias para permitir o crescimento daagropecuria brasileira em bases sustentveis.

    Para que haja o engajamento da populao rural na preveno e mitigaodos processos erosivos do solo, necessrio que mudanas significativasocorram quanto compreenso sobre o que conservao de solo e gua,encarando que a eroso acelerada do solo e o assoreamento dos mananciais

    hdricos consequncia ecolgica do uso ou manejo inadequado das terras. preciso entender que as complexidades das interaes existentes nasreas rurais, entre o meio ambiente, a economia e os fatores humanos, exigemmudana de atitude de todos os atores envolvidos, sejam eles produtores,extensionistas, pesquisadores e agentes de financiamentos agropecurios. Faz-senecessria a construo participativa entre esses atores para a consolidao dospilares para o sucesso na conservao do solo e da gua.

    necessrio, ainda, considerar os pontos de vistas dos agricultores, dostcnicos em conservao e da comunidade local, associando-os aosconhecimentos tcnico-cientficos atuais e disponveis, visando ao planejamento

    da propriedade e ao sucesso da adoo das prticas vegetativas e mecnicas naconservao do solo e da gua, sem afetar a produtividade e a rentabilidade dosempreendimentos agropecurios.

    Com essa motivao, o presente documento foi elaborado pela EmbrapaSolos, em parceria com a Superintendncia de Desenvolvimento Sustentvel daSecretaria Estadual de Agricultura, Pecuria, Pesca e Abastecimento (SEAPPA),com recursos do Global Environment Facility por meio do projeto ManejoSustentvel de Recursos Naturais em Microbacias do Norte-Noroeste Fluminense,denominado Projeto Rio Rural-GEF.

    1

    Eng. Agr., PhD, Pesquisador da Embrapa Solos. Rua Jardim Botnico,1024 - Jardim Botnico -22460-000 - Rio de Janeiro-RJ.2Eng. Agr., M.Sc., Pesquisador da Embrapa Solos.3Eng. Agr., Pesquisador da Embrapa Solos.

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    2. Introduo

    A eroso dos solos um processo geolgico, porm o seu agravamentoem solos agrcolas se deve quebra do equilbrio natural entre o solo e oambiente, geralmente promovida e acelerada pelo homem. A eroso,

    principalmente a antrpica, vem preocupando os agrnomos, tcnicos e rgosgovernamentais e no governamentais, sendo uma das maiores ameaas agricultura e ao meio ambiente, devido utilizao inadequada e intensiva desserecurso natural no renovvel.

    A velocidade do processo est diretamente associada aos fatoresextrnsecos e intrnsecos do solo. Os seus efeitos negativos so sentidos,progressivamente, devido perda das camadas mais frteis do solo, tendo comoconsequncia a perda de produtividade das culturas e o aumento dos custos deproduo, com a demanda de mais insumos para poder manter a mesmaprodutividade anterior. Finalmente, tem-se o esgotamento total do solo e seu

    posterior abandono. O problema da eroso assume propores alarmantes emmuitas regies do pas e tende a se agravar, sendo observadas variadas formas,desde a eroso laminar, imperceptvel nos seus estgios iniciais, at os grandesvoorocamentos.

    Diante desse fenmeno desolador, ou se protege devidamente o solo,manejando-o adequadamente dentro das suas potencialidades, ou, em breve,restaro apenas terras improdutivas.

    Para se comear a proteger o solo devidamente, tem-se de criar umamentalidade conservacionista. Por isso, torna-se vital ter em mente os princpiosbsicos da conservao do solo. Principalmente em reas agrcolas, devem-se

    considerar os seguintes pontos: em primeiro lugar, procurar manter o solocoberto o mximo de tempo possvel durante o ciclo das culturas e aps acolheita, com o objetivo de minimizar e/ou impedir o impacto direto da gota dachuva sobre o solo, que causa a destruio dos agregados do solo, oentupimento dos poros e a formao de crosta superficial. Essa crosta, alm dedificultar a germinao das sementes, reduz a infiltrao da gua no solo econtribui para a formao de enxurradas. Em segundo lugar, devem-se adotarprticas agrcolas que mantenham e/ou elevem a capacidade de infiltrao dagua no solo e reduzam o escorrimento superficial e a formao de enxurradas,outro agente muito importante que acelera a eroso (BERTOLINI; LOMBARDI

    NETO, 1993).Para que esses princpios bsicos possam ser seguidos, uma srie de

    tcnicas agrcolas deve ser utilizada por todos que lidam com as atividades ruraisa fim de se alcanar o perfeito controle da eroso.

    3. Conceitos de eroso dos solos

    Eroso significa desgaste e ela a responsvel pela formao dos solos,sendo chamada de eroso geolgica ou natural (CURI et al., 1993). No aspectofsico, a eroso a realizao de uma quantidade de trabalho no desprendimentodo material de solo e no seu transporte (BAHIA et al., 1992). Porm, o problema

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    ocorre quando o processo acelerado pela ao antrpica e atinge nveisdanosos ao meio ambiente. Com o incremento das atividades agropecurias,houve o aumento de presso pelo uso do solo, que tem sido feito de formainadequada, gerando o que se pode chamar de eroso agrcola dos solos, que oprocesso de desagregao e arrastamento das partculas de solo produzido pelaao da gua das chuvas ou do vento. Com a eroso dos solos, alm doempobrecimento pela perda de nutrientes e matria orgnica e do prprio solo,ocorre, tambm, a contaminao dos recursos hdricos.

    Eroso e qualidade do solo

    A qualidade do solo, que definida por valores relativos sua capacidadede cumprir uma funo especfica, afetada diretamente pelos processoserosivos e pode ser determinada para diferentes escalas: campo, propriedadeagrcola, ecossistema e regio.

    Tipos de degradao dos solos Eroso hdrica: perda de horizontes superficiais, deformao do terreno,movimento de massa, deposio.

    Eroso elica: perda de horizontes superficiais, deformao do terreno,movimento de massa, deposio.

    Qumica: perda de nutrientes e/ou matria orgnica, desbalano de nutrientes,salinizao, acidificao, poluio.

    Fsica: compactao, selamento ou encrostamento superficial, inundao,aerao deficiente, excesso ou falta de gua.

    Biolgica: reduo da biomassa, reduo da biodiversidade (HERNANI et al.,2002).

    Vale ressaltar que, em ambientes tropicais e subtropicais, a principal causada degradao do solo a eroso hdrica e as atividades que contribuem para oaumento das perdas do solo. De acordo com estudos do ISRIC/UNEP, emparceria com a Embrapa Solos, 15% das terras do planeta j foram severamentedegradados por atividades humanas. Dentre as formas mais comuns dedegradao, destacam-se a perda da camada superficial (70%), a deformao doterreno (13%), a perda de nutrientes (6,9%) e a salinizao (3,9) (HERNANI et

    al., 2002).

    Principais agentes de eroso nas regies tropicais

    Hdrica - a eroso provocada pela ao da gua. Ela faz parte do ecossistemae est relacionada com o escoamento superficial, que uma das fases do ciclohidrolgico, correspondente ao conjunto de guas que, sob a ao da gravidade,movimenta-se na superfcie do solo no sentido da sua pendente. A forma e aintensidade da eroso hdrica, embora estejam relacionadas com atributosintrnsecos do solo, so mais influenciadas pelas caractersticas das chuvas, da

    topografia, da cobertura vegetal e do manejo da terra, ocorrendo a interao detodos esses fatores.

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    As caractersticas das chuvas determinam o seu potencial erosivo, isto , acapacidade de causar eroso. O potencial erosivo avaliado em termos deerosividade, que a medida dos efeitos de impacto, salpico e turbulnciaprovocados pela queda das gotas de chuva sobre o solo, combinados com os daenxurrada, que transportam as partculas do solo (EMBRAPA, 1980).

    As principais formas de expresso da eroso hdrica so a laminar, emsulcos e em voorocas. Sendo a eroso hdrica o agente mais importante emregies tropicais, a ela ser dada maior nfase nesta publicao.

    Elica - a eroso provocada pela ao dos ventos. No Brasil, no a formamais grave de degradao. Porm, em algumas regies especficas do pas,ocorre processo acelerado de desertificao, principalmente nas regies Nordestee Sul.

    A eroso elica provocada pela ao do vento e ser mais intensa quantomaior a sua velocidade e a rea livre de vegetao ou obstculos naturais. Aeroso elica est mais relacionada s grandes plancies sem cobertura vegetal.

    Nessas regies, a energia cintica do vento desloca as partculas do solo.Dependendo da fora e da velocidade do vento, so removidas as partculas maisfinas (argila e silte) e, posteriormente, as partculas mais grosseiras (areia). Adistncia de deposio est diretamente relacionada intensidade e duraodo processo.

    Etapas do processo de eroso hdrica

    Segundo Bahia et al. (1992), a eroso hdrica um processo complexoque ocorre em quatro fases: impacto das gotas de chuva; desagregao departculas do solo; transporte e deposio.

    Impacto - as gostas de chuva que golpeiam o solo contribuem para a eroso,pois desprendem as partculas do solo no local do impacto; transportam, porsalpicamento, as partculas desprendidas e imprimem energia em forma deturbulncia gua da superfcie.

    Desagregao - a precipitao que atinge a superfcie do solo, inicialmenteprovoca o umedecimento dos agregados, reduzindo suas foras coesivas. Com acontinuidade da chuva e o impacto das gotas, os agregados so desintegradosem partculas menores e ocorre o processo de salpicamento. A quantidade deagregados desintegrados em partculas menores e salpicados cresce com o

    aumento da energia cintica da precipitao, que funo da intensidade, davelocidade e do tamanho das gotas da chuva.

    Transporte - s ocorre a partir do momento em que a intensidade da precipitaoexcede a taxa de infiltrao, que tende a decrescer com o tempo, tanto peloumedecimento do solo como pelo efeito decorrente do selamento ouencrostamento superficial. Uma vez estabelecido o escoamento, a enxurrada semove no sentido da declividade (morro abaixo), podendo concentrar-se empequenas depresses, mas sempre ganhar velocidade medida que o volumeda suspenso e a declividade do terreno aumentarem. Com isso, a sua

    capacidade de gerar atrito e desagregao se amplia.Deposio - ocorre quando a carga de sedimentos maior do que a capacidadede transporte da enxurrada.

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    Formas de eroso hdrica

    Eroso por salpicamento: deve-se ao impacto das gotas de chuva sobre osagregados instveis num solo desnudo. Produzem-se pequenos buracos devidoao impacto da gota da chuva com a liberao de partculas de solo. O processode salpicamento pode ocasionar o selamento/encrostamento da superfcie dosolo, reduzindo ou eliminando a infiltrao da gua. As partculas de deslocam,no mximo, 150cm, sendo mais afetados os solos constitudos de areias finas.No h muita perda de material, pois as partculas no atingem grandesdistncias e, tambm, porque o processo ocorre em todas as direes. Quando oprocesso ocorre numa pendente, produz-se movimento lento e repetitivo, comtrajetria no formato de serra (PORTA et al., 1999).

    Vista lateral Vista superior

    Eroso laminar:consiste na perda de camada superficial de forma uniformedo solo em terreno com certa declividade. Afeta as partculas liberadas porsalpicamento. um processo pouco aparente, s se identificando pela faixa do

    solo em que, depois de uma chuva, os elementos grossos na superfcie aparecemlimpos. Esse tipo de eroso pode ser facilmente eliminado com a utilizao deequipamentos agrcolas adequados. Caracteriza-se pela remoo de camadasdelgadas do solo em toda a rea. Nesse caso, no h concentrao da gua.

    Eroso por sulcos, ravinas e voorocas: caracteriza-se pela formao decanais (sulcos) de diferentes profundidades e comprimentos na superfcie dosolo. Ocorre a concentrao das guas das chuvas nesses canais, aumentando,assim, o poder erosivo devido ao ganho de energia cintica pelo volume evelocidade da enxurrada.

    Sucessivamente, a eroso passa de laminar para sulcos, ravinas e, logo

    em seguida, para o estgio chamado de voorocas. As suas dimenses e aextenso dos danos que podem causar esto intimamente relacionadas com oclima, com a topografia do terreno, sua geologia, tipo de solo e forma de manejo(ALVES, 1978).

    As voorocas so classificadas pela sua profundidade e pela rea decontribuio de sua bacia. Ireland (1934), citado por Bertoni e Lombardi (1985),afirma que as voorocas so profundas quando tm mais de cinco metros deprofundidade; mdias, quando tm de um a cinco metros de profundidade epequenas, quando tm menos de um metro de profundidade. Pela rea decontribuio da bacia, as voorocas so consideradas pequenas quando a rea dedrenagem menor do que dois hectares; mdias, quando tm de dois a vintehectares e grandes, quando tm mais de vinte hectares.

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    Eroso por solapamento e deslocamento ou escorregamento: soformas de eroso caractersticas de reas declivosas ou de que o processo deeroso por voorocamento continua ativo.

    As ravinas e voorocas podem produzir movimento de massa em suasparedes pela liberao brusca de partculas, fazendo aumentar os efeitos da guaquando passa pelo canal. Se o horizonte subsuperficial for siltoso, pode haverremoo preferencial deste material, provocando o desbarrancamento, ou ainda,caso a mineralogia da argila for de atividade alta, os processos de expanso econtrao fazem com que o material na borda do talude se fragmente e acelere oprocesso de eroso.

    4. Sistemas de cultivoO sistema de cultivo tem grande importncia nas perdas de solo, pois

    interfere diretamente na cobertura vegetal e nas caractersticas fsicas ebiolgicas do solo.O preparo do solo uma prtica agrcola que tem como objetivo oferecer

    condies ideais para a semeadura, germinao, emergncia das plntulas,desenvolvimento e produtividade das culturas. De forma geral, pode ser divididoem trs categorias:

    Preparo primrio: refere-se s operaes mais profundas e grosseiras quevisam, principalmente, eliminar e enterrar as ervas daninhas estabelecidas,enterrar os restos da cultura anterior e, tambm, tornar o solo mais frivel.Exemplo: arao, escarificao etc.

    Preparo secundrio: so todas as operaes subsequentes ao preparoprimrio, como o nivelamento do terreno, destorroamento, incorporao deherbicidas e fertilizantes, e eliminao de ervas daninhas no incio de seudesenvolvimento, produzindo ambiente favorvel ao desenvolvimento inicial dacultura implantada. Exemplo: gradagem, operao com enxada rotativa etc.

    Cultivo do solo aps o plantio: utilizao de prticas aps a cultura serimplantada visando, basicamente, eliminar as ervas daninhas, fazer amontoaetc. Exemplo: capina mecnica etc.

    O preparo do solo resulta, geralmente, na diminuio do tamanho dosagregados, aumento temporrio do espao poroso e da atividade microbiana,alm da incorporao dos resduos, deixando o solo descoberto. Com o passar dotempo, ocorre a diminuio do contedo de matria orgnica e,consequentemente, do nmero de micro-organismos, resultando na reduo daagregao promovida por eles. Isso faz com que haja maior suscetibilidade desagregao e ao transporte, ou seja, maior suscetibilidade eroso. Almdisso, o peso das mquinas e implementos pode imprimir a aproximao das

    partculas, decorrendo na formao de camadas compactadas. Em funo dessasalteraes fsicas, o preparo a prtica que mais induz eroso do solo naagricultura.

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    Portanto, os implementos de preparo do solo devem se adaptar scondies e tipos de solo, visando, principalmente, preservao dascaractersticas fsicas e biolgicas na camada de preparo, evitando adesagregao excessiva, aumentando a infiltrao e, consequentemente,diminuindo as perdas de solo.

    Condies de umidade no solo

    As alteraes que ocorrem no solo por ocasio do preparo sodeterminadas, em grande parte, pelo tipo de implemento utilizado, mas ocontedo de umidade no momento da realizao da prtica tambm importante.

    As foras de atrao entre as partculas so a coeso, quando na ausnciade umidade, e a adeso, na presena de gua.

    Deve-se efetuar o preparo do solo num ponto de umidade onde eleapresenta a menor atrao entre as partculas, dada pelo somatrio das forasde coeso e de adeso. Isso ocorre quando o solo se encontra mido, ou seja,com teor de umidade que possibilite fcil esboroamento dos agregados, que acondio de friabilidade (Fig.1).

    seco ligeiramentemido

    mido muitomido

    saturado

    Contedo de gua

    Dureza F

    riabilidade

    Platicidade

    Pegajosidade

    Fluidez

    Grau

    de

    consistncia

    Figura 1 - Relao entre as foras de coeso e de adeso que atuamno solo sob diferentes condies de umidade.

    Fonte:Kohnke (1968), adaptado pelos autores.

    Se o solo estiver muito mido no momento do preparo, haver maiorconsumo de energia e ocorrer compactao, j que o solo se molda comfacilidade (carter denominado de plasticidade). Se estiver muito seco, tambmhaver maior consumo de energia, devido maior necessidade de potncia do

    maquinrio utilizado, bem como a formao de torres sem, no entanto,ocorrerem significativos prejuzos estrutura.

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    Sentido de preparo do solo

    Alm da umidade, outro aspecto a ser considerado a realizao dopreparo do solo em contorno, ou seja, transversal ao sentido do declive. Asimples adoo dessa prtica representa reduo de at 50% nas perdas de solo.O preparo do solo morro abaixo sempre deve ser evitado, pois, nessascondies, a eroso intensificada, o que promove perda de nutrientes, matriaorgnica e sementes, alm de assorear rios e audes e de formar voorocas.

    5. Preparo do soloO efeito do preparo do solo sobre suas propriedades qumicas, fsicas e

    biolgicas no depende apenas do implemento empregado, mas, tambm, daforma e intensidade de seu uso. Em muitas ocasies, o efeito benfico de

    determinado implemento pode ser anulado pelo uso inadequado. Sob o ponto devista da conservao, o melhor preparo aquele que envolve menor nmero deoperaes e deixa o mximo de resduos culturais na superfcie, de forma aproteger os agregados do solo do impacto direto das gotas de chuva. Deve-seconsiderar, no entanto, que nenhum implemento de preparo promove melhoriasna estrutura do solo. Isso s conseguido atravs de atividade biolgica (macroe micro-organismos e sistema radicular).

    Baseado no tipo de implemento e na intensidade de seu uso, podem seridentificados trs tipos bsicos de preparo do solo:

    Convencional - envolve uma ou mais araes e duas ou mais gradagens.

    Reduzido- o principal aspecto desse sistema de preparo o reduzido nmerode operaes.

    Plantio direto - pode ser definido como a tcnica de colocao da semente oumuda em sulco ou cova no solo no revolvido, com largura e profundidadesuficientes para obter a adequada cobertura e o adequado contato da sementeou muda com a terra. As entrelinhas permanecem cobertas pela resteva deculturas anteriores ou de plantas cultivadas especialmente com essa finalidade.Segundo esses preceitos, o solo permanece com no mnimo 50% da cobertura eo revolvimento mximo para a abertura do sulco ou cova de 25 a 30% da rea

    total.Alguns resultados de pesquisa vislumbram as diferenas entre os mtodos

    de preparo de solo e suas vantagens e desvantagens. Em trabalhos efetuadosem Campos de Lages, com sete lavouras de alho sob preparo com subsolagem +arao + duas gradagens + enxada rotativa, Bertol (1989) observou que,passados apenas seis anos de preparo, houve aumento da densidade global dosolo, da resistncia penetrao de razes e da microporosidade. Tambm houveformao de camada compactada subsuperficial, acompanhada de reduo damacroporosidade, da porosidade total e da infiltrao de gua no solo.

    Nas figuras a seguir, podem ser observados os efeitos do preparo do solocom arado de disco tracionado por trator morro abaixo (Fig.2) e arado de aivecacom trao animal em nvel (Fig.3). Observa-se, na figura 3, maior densidade e

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    aprofundamento das razes. Alm disso, os dados de penetrmetro indicamadensamento do perfil do solo, que pode ser constatado na figura 2, pelo aspectomacio e pela linha de p de arado.

    Camada compactada

    Figura 2 -Aspecto visual do perfil de solo preparado com aradode disco tracionado por trator, sentido morro abaixo (Paty doAlferes-RJ, 1995).

    Figura 3 - Aspecto visual do perfil de solo preparado com aradode aiveca com trao animal (Paty do Alferes-RJ, 1995).

    Wnsche e Denardin (1980) compararam dois manejos da palhada compreparo convencional nas culturas de soja e trigo em Passo Fundo-RS,observando que a perda de solo quando houve a incorporao da palhada foi desomente 30% em relao perda verificada quando foi feito o manejo comqueima dos restos culturais (Tabela 1).

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    Tabela 1 -Perda mdia de solo por eroso em dois anos agrcolas, sob chuvanatural, nas culturas de trigo e soja em Latossolo Vermelho-Escuro.

    TratamentoPerda de solo

    (t/ha)

    Preparo convencional (1 arao + 2 gradagens)

    com queima de palhada12,8

    Preparo convencional (1 arao + 2 gradagens)com incorporao da palhada

    3,7

    Esses resultados foram atribudos incorporao da palhada ao contrrioda queima, aumentando a quantidade de matria orgnica no solo, com reflexospositivos na melhoria da estrutura, o que proporcionou o aumento da infiltraode gua no solo.

    A queima dos restos vegetais deve ser feita apenas por medidasfitossanitrias, quando, ento, os restos devero ser amontoados e enleirados

    para a queima.

    6. Manejo e conservao dos recursos naturais

    Planejamento conservacionista

    O planejamento conservacionista essencial para se obterem melhoresrendimentos na explorao das culturas, visando obter o mximo rendimento da

    terra por unidade de rea plantada, proporcionando o desenvolvimentosocioeconmico do produtor rural e sua famlia, assim como a conservao dosrecursos naturais da propriedade agrcola (Fig.4). A caracterizao ambiental e oplanejamento de uso das terras da propriedade devem ser feitos por tcnicosatuantes na rea agrcola.

    Figura 4 - Viso panormica de uma propriedade no

    municpio de Lagoa Dourada-MG, com planejamentoconservacionista. Terraos ao fundo associados comcapineira protegendo o curral (nov./95).

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    necessrio ter em mente que a propriedade no constituda somentepor um tipo de solo e este no ocorre em apenas um tipo de relevo. Via de regra,a propriedade rural dotada de terras planas, inclinadas, grotas, brejos etc. Porisso, a distribuio dos cultivos na propriedade o ponto chave no planejamentoconservacionista. Em consonncia com a adequada distribuio dos cultivos,devem-se associar outras tcnicas vegetativas e mecnicas, pois o planejamentoconservacionista no composto de tcnicas isoladas, mas sim integradas.

    Embora possa parecer que as terras possuam caractersticas pedolgicassemelhantes, certo que essas caractersticas podem variar de rea para rea,dentro da mesma propriedade. Nesse caso, necessrio identificar essasdiferentes reas. O planejamento determinar as reas mais apropriadas para oplantio de culturas anuais, perenes, pastagem e reflorestamento, entre outras edeterminar as medidas de controle eroso a serem adotadas. Cada tipo desolo tem sua aptido (RAMALHO; BEEK, 1994), isto , os solos devem ser usadoscom culturas mais adequadas a sua capacidade de uso.

    A caracterizao ambiental consiste, essencialmente, em:

    - reconhecimento e levantamento topogrfico da rea a ser explorada;

    - levantamento e anotaes das informaes bsicas a respeito dascaractersticas principais dos solos e hidrologia;

    - reconhecimento das caractersticas da flora para preserv-la em locais a seremestudados em funo dos levantamentos anteriores;

    - mapeamento da rea.

    As principais caractersticas dos solos que devem ser levantadas so:profundidade efetiva, textura, permeabilidade, reao do solo (alcalinidade ou

    acidez), teor de matria orgnica, inclinao, grau de eroso e uso atual.

    Mtodos de controle da eroso

    Os dois fatores que concorrem diretamente para a eroso do solo so adeclividade do terreno e o volume e intensidade da precipitao. Os diversosmtodos de conservao do solo visam reduzir/evitar a ao da gua da chuvasobre o terreno.

    Nivelamento, clculo da declividade e determinao das curvas de nvel

    O nivelamento de uma vertente imprescindvel em trabalhos deconservao do solo, pois, atravs dele, podem-se determinar as diferenas dealtitude entre dois ou mais pontos consecutivos, o que permitir o clculo dainclinao ou pendente (declividade) do terreno. Determina-se a pendenteatravs de mtodos expeditos ou por processos de preciso.

    Os nivelamentos expeditos podem ser feitos com rgua e nvel depedreiro; esquadros e nvel de mangueira.

    Os nivelamentos de preciso podem ser feitos com clinmetro, teodolito,nvel de preciso, nivelamento composto e interpretao aerofotogramtrica.

    Nivelamento utilizando rgua e nvel de pedreiro: o tipo de nivelamentomais rudimentar. Deve-se construir uma rgua de madeira aparelhada, medindo4,00m de comprimento por 0,08m de largura e 0,03m de espessura. No meio da

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    rgua, instala-se um nvel de pedreiro. No campo, coloca-se a rgua em nvel nosentido do alinhamento do declive, procedendo leitura da altura (h) com umatrena metlica de bolso. Essa altura vai da base da rgua at a superfcie do solo(Fig.5). Anotam-se todas as leituras no campo para depois, no escritrio, seremfeitos os clculos necessrios.

    Figura 5 - Determinao da declividade com nvel rgua.

    Fonte:Seixas (1984)

    V-se na figura 5:

    DH = distncia horizontal = ABDV = distncia vertical = AA = E (ab+cd+ef+gh+...+xy)E = SomatrioI = Inclinao (%)

    Logo, se para uma distncia horizontal (DH) existe uma diferena de nvel(DV), para uma distncia horizontal de 100, ser obtido o desnvel I.

    IEDV

    EDH 100

    %100*

    EDH

    EDV

    I =

    Exemplo: DH = 180,00m I = 45 . 100 = 25%DV = 45,00m 180

    Outro modo de operao consiste em se colocar a ripa horizontalmente,com uma das pontas apoiada sobre o terreno e o restante na direo da linha demaior declive. Levanta-se a outra ponta at que o nvel de bolha, colocado nocentro da ripa, acuse que a mesma est em nvel; dispe-se a rgua graduadana posio vertical e mede-se a distncia que vai do terreno at a ripa. Anota-se

    essa leitura e marca-se esse ponto do terreno. Desloca-se a ripa at que umadas pontas fique novamente na posio horizontal e efetua-se nova leitura dargua. Se a ripa de 4m de comprimento, realizam-se cinco leituras de diferena

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    de altura (vertical) para atingir os 20m. Somando-se estas leituras emultiplicando por cinco, obtm-se a porcentagem da declividade.

    Exemplo: Usando-se uma ripa de 4m, so efetuadas as seguintes leiturasde diferena de altura: 25, 23, 28, 24 e 16cm. Logo, a soma ser de 116cm.Essa a diferena obtida para uma distncia de 20 metros. Logo, fazendo umaregra de trs, tem-se que, para uma distncia de 100 metros, sero obtidos 5,80metros. Portanto, a declividade desse terreno ser de 5,8% que, na prtica,sero aproximados para 6%.

    116 cm ---------------- 2.000 cm, assim comoX ---------------------- 100 m

    X = 5,80 %

    Nivelamento com esquadros: os esquadros so equipamentos bastantesimples e de fcil construo que, na forma triangular, retangular ou trapezoidal,funcionam com o auxlio de um fio de prumo, no primeiro caso, e com o auxlio

    de um nvel pedreiro nos dois ltimos (Fig.6, 7 e 8) (SEIXAS, 1984).Procede-se ao nivelamento de modo semelhante ao da rgua, tomando-se

    as ordenadas verticais com o auxlio de trena de bolso ou rgua graduada. Asdistncias ou ordenadas verticais se referem ao comprimento do p do trapzio,que fica suspenso quando o mesmo est em nvel e superfcie do terreno. Asdistncias horizontais parciais so dadas pelas medidas entre os ps do esquadro(Fig.9 e 10).

    DV = (ab+cd+ef+...+xy).DH= N x distncia entre os ps do esquadro.

    onde:

    DV= somatrio da diferena vertical;DH= somatrio da diferena horizontal;N = nmero de leituras.

    Figura 6 -Tringulo

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    Figura 7 -Esquadro

    Figura 8 -Trapzio

    Figuras 6, 7 e 8 - Instrumentos expeditos para clculo de nivelamento,declividade e marcao de curvas de nvel.

    Figura 9 -Determinao de declividade com trapzioFonte:Seixas (1984)

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    Figura 10 -Determinao da declividade com tringuloFonte:Seixas (1984)

    Em funo da diferena de nvel obtida, calcula-se a inclinao pelo mesmoprocesso descrito para a rgua.

    Nivelamento com nvel de mangueira: o nvel de mangueira pode serformado por duas rguas de madeira com 2,00m de altura por 0,015m deespessura e 0,07m de largura. As rguas so graduadas em centmetros eprovidas de um p retangular para apoio no solo. As duas rguas so conectadasa uma mangueira plstica, transparente, com 1/2 de dimetro e cujocomprimento pode variar de 10 a 20 metros. As extremidades da mangueira

    coincidem com a graduao superior de cada rgua e a parte da mangueira quecoincide com cada uma das rguas vai nela fixada. Enche a mangueira comgua, tendo-se o cuidado de extrair as bolhas de ar. O mtodo baseia-se noprincipio dos vasos comunicantes.

    Obtm-se a diferena de nvel, para o clculo da declividade, esticando-sea mangueira horizontalmente no sentido da inclinao, sendo que a diferena denvel relacionada com a distncia horizontal parcial (que o comprimento damangueira) determinada pela expresso: DN = , onde: DN =diferena de nvel; L = comprimento da mangueira e h = altura.

    Lh /*100

    Nivelamento com clinmetro: sabendo-se a distncia horizontal DH entre doispontos quaisquer, A e B, por exemplo, e com o auxlio de um clinmetro, mede-se o ngulo de inclinao entre o ponto A de visada (onde o aparelho encontra-se localizado) e o ponto B, estando este na mesma altura de referncia. Se oaparelho estiver a 1,70m de altura (altura dos olhos do observador), o pontovisado dever ter obrigatoriamente a mesma altura.

    Nivelamento com nvel de preciso: atravs desse mtodo possvel oestudo do perfil topogrfico. O nvel instalado em uma ponta da linha a sernivelada ou fora dela. Dessa posio, so lidas as cotas de todas as estacas

    possveis, acima e abaixo do local onde est instalado o aparelho. A diferena denvel entre os pontos ser obtida pela soma algbrica das diferenas parciais denvel (Fig.11 e 12).

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    Figura 11 - Nivelamento simples com nvel pticoFonte: Seixas (1984)

    Figura 12 -Nivelamento composto com nvel pticoFonte:Seixas (1984)

    medida que se procede ao nivelamento, preenche-se uma caderneta decampo, como no exemplo a seguir:

    LeituraEstacaPositiva Negativa

    01 0,85

    2 1,52

    3 0,40

    4 0,90

    DN diferena de nvel

    DN = 0,85 + 1,52 (0,40 + 0,90) * DN = 2,37 - 1,30 * DN = 1.07

    Nivelamento composto: aplica-se esse processo quando o desnvel superior

    altura da mira (4,00m), porque vai ser necessria a mudana do aparelho emuma sequncia de nivelamentos simples. Para tanto, deve-se ter em mente osseguintes conceitos:

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    - altura do aparelho: (I) refere-se altura do fio mdio da luneta com relao aoplano de referncia, estando o aparelho nivelado.

    - referncia de nvel: (RN) pode ser uma cota arbitrria, atribuindo-se a ela umvalor elevado (100 ou 1.000m), de tal sorte que no decorrer da operao noexistam contas negativas. Quando o plano de referncia o nvel do mar, a

    referncia de nvel o zero.- visada r: ao se comear o nivelamento, o nvel de preciso instalado emum determinado pontol, sobre ou ao lado da linha a ser nivelada. Por conveno,a visada feita sobre a primeira estao chama-se visada r.

    - visada vante: as leituras da mira, feitas a partir da 1 visada, so chamadasde visadas vante, de tal sorte que, para cada trecho de uma estao, tem-seum a visada r e uma ou mais visadas vante. Elas podem ser denominadasde Pontos Intermedirios (PI) e Pontos de Mudana (PM). Os pontosintermedirios so determinados pelas visadas de vante, at a penltima estacaa ser vista de uma estao com o nvel. A ltima estaca possvel de ser

    focalizada antes de se mudar o aparelho chama-se ponto de mudana.No andamento do servio, preenche-se a seguinte caderneta de campo:

    Estacas R Ai PI PM Cotas

    0 2,50 102,50 - - 100,00

    1 - - 1,00 - 101,50

    2 3,00 105,00 - 0,50 102,00

    3 - - 0,80 - 104,20

    4 - - 2,70 - 102,30

    5 - - - 3,10 101,90

    As cotas adicionadas s visadas r do a altura do aparelho. Os pontosintermedirios e os pontos de mudana do aparelho fornecem as cotas.

    Locao das curvas de nvel

    As curvas de nvel podem ser locadas em campo por meio de instrumentalrudimentar ou com aparelhos de preciso. Os processos mais utilizados so:locao com esquadros; locao com nvel de mangueira; locao com nvel depreciso; e locao com teodolito.

    Locao com esquadros: o trabalho inicia calculando-se a declividade doterreno por um dos mtodos citados anteriormente. Uma vez determinada ainclinao, calcula-se o espaamento das niveladas ou linhas mestras com oauxlio de tabela prpria, seja para a locao de estruturas mecnicas ouvegetativas. A demarcao deve ser iniciada a partir da parte mais elevada davertente, consistindo na alternncia de posies do trapzio ou do tringulo, nosentido transversal linha de declive. Os pontos da mesma cota so obtidos pelacentralizao da bolha no nvel de pedreiro ou pela verticalidade dada pelo fio deprumo, verificada pela referncia a um indicador no meio exato do travesso do

    esquadro triangular. Nos pontos nivelados, colocam-se piquetes (Fig. 13 e 14)(SEIXAS, 1984).

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    Figura 13 -Locao das curvas de nvel com trapzio

    Figura 14 -Locao das curvas de nvel com tringulo.

    Locao com nvel de mangueira: o processo consiste em se alternar asrguas graduadas, com a mangueira esticada, procurando os pontos da mesmaaltitude que so dados pela coincidncia dos nveis de gua em cada uma dasrguas graduadas, colocando-se varas para a orientao dos trabalhosmecanizados (Fig.15).

    Figura 15 -Locao das curvas de nvel com nvel de mangueira.Fonte:Seixas (1984)

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    Locao com nvel de preciso ou teodolito: o processo que fornece maiorpreciso. Calculada a declividade por meio de nivelamento simples ou composto,tomada das distncias horizontais, e obtido o espaamento entre as niveladas, otrabalho tem incio a partir da parte superior da vertente. Instala-se o aparelhono ponto inicial da linha de nvel a ser locada, podendo-se instal-la acima ouabaixo desse ponto, segundo a convenincia. Visando-se uma baliza, coloca-seuma referncia na altura correspondente visada, efetuada com o fio mdio daluneta. Para a marcao dos pontos subsequentes, o balizeiro caminha de 20 a30 metros, sempre no sentido perpendicular ao declive, at que o fio mdio daluneta do aparelho coincida com a marca feita na baliza (Fig.16).

    Figura 16 -Locao das curvas de nvel com nvel ptico.Fonte:Seixas (1984)

    Dessa forma, marcam-se com piquetes quantos pontos sejam alcanadospela luneta, sendo que no ltimo ponto o aparelho ser transferido e reinstalado,podendo a baliza receber nova marca de referncia ou continuar com a mesma.

    Locao de curvas com gradiente (curvas em desnvel): curvas comgradientes tm as caractersticas de apresentarem declividades uniformes ouvariveis, de acordo com a sua finalidade. O seu gradiente ou pendente varivel, podendo ser de 1/oo (um por mil) a at 5/oo (cinco por mil). Tendo-se a direo predeterminada, basta encontrar diretamente no campo osdesnveis requeridos, utilizando-se de nvel de preciso, com mira.

    Exemplo: Locar uma curva em desnvel com 0,5% (5/oo) para seconstruir um canal em contorno, sendo o estaqueamento de 20 em 20 metros.

    DN = DH . dDN = 20 * 0,005DN = 0,01 metro

    Onde:

    DN = diferena de nvelDH = distncia horizontald = desnvel desejado

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    - Procedimento em campo: a partir do ponto A, com determinada leitura da mira,marcam-se 20 metros e procura-se um ponto sobre este raio que proporcioneuma visada de 0,01m (ou 1cm) maior, uma vez que o terreno est em declive.De 20 em 20m, como no caso de exemplo, vo sendo feitas visadas semprecumulativas, ou seja: a 2avisada com 2cm, a 3acom 3cm e assim por diante,at que se atinja o ponto final. Quando uma leitura no puder ser feita porultrapassar a altura da mira, muda-se o aparelho para outra estao,recomeando-se o trabalho do ltimo ponto lido.

    Um processo expedito consiste no uso do esquadro retangular outrapezoidal, com um dos ps ajustveis. Por exemplo: com distncia de 3 metrosentre os ps e desejando-se locar uma linha com 3/oo de declive, basta abaixarno p ajustvel uma distncia de 0,009m (0,9 cm). Com esse desnvel, a bolhater de estar nivelada.

    Terraceamento

    Para se controlar o escorrimento superficial, nem sempre so suficientesas tcnicas de aumento da cobertura vegetal e da infiltrao, principalmentequando ocorrem chuvas de grande intensidade, havendo necessidade deprocedimentos para reduzir a velocidade e a capacidade de transporte atravs debarreiras mecncias e, s vezes, at obras de engenharia, como terraos, canaisescoadouros ou divergentes, bacias de captao de guas pluviais, barragensetc. (BERTOLINI; LOMBARDI NETO, 1994).

    Terraceamento um dos mtodos de conservao do solo mais antigos e,tambm, dos mais utilizados, que visa reduzir a velocidade da gua das chuvaserosivas que escorrem sobre o terreno. um mtodo mecnico, que visa formar

    obstculos fsicos e parcelar o comprimento de rampa, possibilitando, assim, areduo da velocidade e subdividindo o volume do deflvio superficial,aumentando a infiltrao da gua no solo. Os terraos visam, tambm,disciplinar o escoamento das guas at um leito estvel de drenagem natural ouartificial.

    As figuras 17 e 18 mostram o detalhe de um terrao e o uso de umconjunto de terraos projetados e construdos, segundo as condies locais, paracontrolar a eroso de determinada rea.

    Figura 17 -Representao esquemtica de um terrao em perfil, mostrando:A - faixa de movimentao de terra, B - Camalho ou dique e C - o canal.

    Fonte:Lombardi Neto et al. (1994).

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    Figura 18 -Representao esquemtica de um terraceamento mostrandoa reteno das guas da enxurrada e o parcelamento do declive.Fonte:Lombardi Neto et al. (1994).

    Devido ao custo relativamente alto de construo e manuteno dosistema de terraceamento, deve-se fazer estudo criterioso das condies locaisde clima, solo, sistema de cultivo, culturas a serem implantadas, declividade doterreno e equipamentos disponveis, para que se tenha segurana e eficincia nocontrole da eroso.

    O terraceamento indicado para terrenos com declividade entre 6 e 12%,porm pode ser usado, com sucesso, em declives maiores, como tambm podeser necessria a sua indicao em encostas menos ngrimes, dependendo daintensidade das chuvas e da suscetibilidade do solo eroso.

    importante ressaltar que essa prtica deve, obrigatoriamente, estarassociada a outras prticas conservacionistas, como plantio em curva de nvel,plantio em faixas de reteno, rotao de culturas, cordes vegetados,alternncia de capinas, manuteno da cobertura morta etc. (Fig.19).

    Figura 19 - Associao de prticas conservacionistas emLagoa Dourada-MG. Terraos com gradiente e plantio demilho em curvas de nvel (abril/96).

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    De acordo com a topografia da regio, recomenda-se que os terraossigam os seguintes padres:

    - at 12%, indicado o uso do terrao de base larga, mesmo em rea que,futuramente, seja transformada em pastagens, construdo com lmina terraceadora.

    - de 12 a 15%, indicado o uso do terrao do tipobase estreita, construdo com

    o arado terraceador de discos ou com lmina terraceadora.- acima de 15%, recomenda-se o uso de terraos com faixa viva.

    Espaamento entre terraos: em funo das caractersticas de solo,topografia, condies climticas, cultura a ser implantada, sistema de cultivo edisponibilidade de maquinrio, define-se o tipo de terrao que melhor atender acada gleba, buscando-se eficiente controle da eroso, sem causar transtornos aoagricultor durante as operaes agrcolas.

    As caractersticas fsicas do solo, a declividade e a intensidade daprecipitao determinam se o terrao ser de infiltrao (em nvel) ou com

    gradiente (em desnvel).A declividade do terreno fator determinante na largura da faixa de

    movimentao de terra (terrao de base estreita, mdia ou larga) e na definiose o terrao ser do tipo comum ou patamar (acima de 18% de declividade,recomenda-se a construo de terrao do tipo patamar).

    A quantidade, intensidade e distribuio das chuvas so fatoresfundamentais no volume do deflvio superficial, que por sua vez deve ser levadoem considerao no dimensionamento da capacidade de reteno e conduo degua, assim como no espaamento entre terraos.

    As culturas e o sistema de cultivo se relacionam diretamente com a

    intensidade de mecanizao, que orientar na escolha do terrao de baseestreita, mdia ou larga.

    As mquinas e implementos disponveis, assim como a situao financeirado agricultor, condicionam o tipo de terrao em funo da maior ou menorcapacidade de movimentao de terra.

    importante que o terrao seja construdo com capacidade e seguranapara reter o excedente das guas pluviais, para posteriormente ela se infiltrar ouna conduo disciplinada das guas do deflvio superficial, independente da suaforma. Os terraos devem receber manuteno peridica, como a limpeza docanal e do camalho.

    Para que o sistema de terraceamento funcione com plena eficincia, necessrio o correto dimensionamento, tanto no que diz respeito aoespaamento entre terraos, como em relao a sua seo transversal. Oespaamento entre terraos calculado em funo da capacidade de infiltraode gua pelos solos, da resistncia que o solo oferece eroso, do uso e manejodo solo, enquanto a seo transversal deve ser dimensionada em funo dovolume de gua possvel de ser escoada pela superfcie do terreno situadaimediatamente acima do terrao. Das guas pluviais que caem na superfcie dosolo, parte se infiltra e o excedente escoa pela superfcie, sendo recolhida peloterrao. Se em nvel, este dever reter todo o volume de gua escorrida paraposterior infiltrao. Quando em desnvel, dever dar vazo ao escorrimentosuperficial de forma disciplinada, sem causar eroso em seu interior (Fig.20).

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    Figura 20 - Detalhe de terrao comgradiente construdo com arado de disco -Prados-MG (out/95).

    Mesmo o terrao sendo a prtica conservacionista mais difundida entre osprodutores, ainda existe muita eroso nas reas terraceadas, sendo as seguintesas principais causas diagnosticadas:

    Utilizao do terrao como prtica conservacionista isolada, o que diminui asua eficincia.

    Dimensionamento do espaamento entre terraos utilizando tabelas empricasou adaptadas de outros pases, com nmero pequeno e insuficiente deinformaes que no levam em conta as classes de solos identificadas emlevantamentos pedolgicos mais recentes.

    Maioria dos terraos construdos em nvel sem considerar o tipo de solo. Dessaforma, nos solos menos permeveis, principalmente aqueles com horizonte Btextural ou que sejam rasos (profundidade menor do que 50cm), ocorremfracassos, pois o fundo do canal do terrao pode vir a se localizar no horizonte B,que se caracteriza por ter baixa taxa de infiltrao, ou no prprio substratorochoso. Como consequncia, a gua acumula-se no canal at transbordar,quando rompe o camalho do terrao que construdo predominantemente commaterial mais arenoso do horizonte A.

    Nos solos com horizonte B latosslico, principalmente o Latossolo Roxo, o uso

    intensivo e inadequado de mquinas e implementos pesados tem ocasionado aformao de camada compactada e pouco permevel, profundidade de 10 a20cm. Essa camada diminui a infiltrao da gua da chuva, aumenta o volumeda enxurrada e contribui para o rompimento dos terraos devido aotransbordamento de gua sobre os camalhes.

    As tabelas em uso no fazem distino entre tipos de uso da terra, alm deculturas anuais ou permanentes, embora as pesquisas tenham mostrado quediferentes culturas anuais e permanentes oferecem diferentes protees ao solono processo de eroso.

    As tabelas em uso tambm no levam em considerao o sistema de preparo

    do solo e o manejo dos restos culturais. Dados recentes de pesquisascomprovam que diferentes sistemas de preparo do solo e manejos de restosculturais possibilitam perdas de solo e gua diferenciadas.

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    Frequentemente, o terrao construdo com seo transversal menor que onecessrio (ao redor de 0,60cm2 a 0,70cm2), fazendo com que, em solospermeveis, no tenham capacidade suficiente para reter toda a gua das chuvas.

    Novas tabelas para o clculo do espaamento dos terraos foramdesenvolvidas em funo do efetivo controle da eroso, representando avano

    por estarem apoiadas em dados de pesquisas sobre perdas por eroso de solo egua. As novas tabelas consideram a cobertura vegetal proporcionada pelapoca de ocorrncia das chuvas (incio ou fim do cultivo), os sistemas de preparodo solo e o manejo de restos culturais, alm da erodibilidade de classes de solosidentificadas em levantamentos pedolgicos recentes (BERTOLINI, et al., 1994).

    Clculo do espaamento entre terraos: a equao usada para determinar oespaamento vertical entre terraos :

    EV = 0,4518 * K * D 0,58* ( )2

    mu +

    Onde:

    EV = espaamento vertical entre terraos, em metros;

    D = declive do terreno, em porcentagem;

    K = ndice varivel para cada tipo de solo;

    u = fator de uso do solo;

    m = fator de manejo do solo (preparo do solo e manejo dos restos culturais).

    Para a organizao da tabela de espaamento de terraos utilizando a

    equao apresentada, foram adotados critrios referentes ao solo, uso da terra,

    preparo do solo e manejo dos restos culturais e declividade, que serodetalhados a seguir.

    Solos

    Estabeleceram-se quatro grupos de solos, de acordo com qualidades e

    caractersticas (Quadro 1), com respectivos ndices a serem utilizados na frmula

    para a determinao do espaamento entre terraos.

    Quadro 1 -Agrupamento de solos segundo suas qualidades, caractersticas e resistncia eroso e seus respectivos ndices.

    Principais CaractersticasGrupo de

    resistncia eroso Profundidade Permeabilidade Textura

    RazoTextural*

    GrandesGrupos de

    Solos

    ndicek

    Aalto

    muito profundo(>2,0m) ouprofundo (1 a2m)

    rpida/rpidamoderada/rpida

    mdia/mdiam. arg. /m. arg.argilosa/arg

    < 1,2LR, LE, LV, LH,LVr, LVt, Lea eLVa

    1,25

    Bmoderado

    profundorpida/rpidarpida/moderada

    arenosa/mdiaarenosa/argilosamdia/argilosaargil./m. argilosa

    1,2 a 1,5PLn, TE, PVls,R, RPV, RLV,Lea***e LVa***

    1,10

    Cbaixo

    profundomoderadamenteprofundo

    lenta/rpidalenta/moderadarpida/moderada

    arenosa/mdia**

    mdia/argilosa**

    arenosa/argilosaarenosa/m. arg.

    >1,5Pml, PVp, PVls,PC e M.

    0,90

    Dmuito baixo

    moderadamenteprofundo

    Rpida/moderadaou lenta/lenta

    muito varivelmuito

    varivel

    Li-b, Li-ag, gr,Li-fi, Li-ac, e

    PVp (rasos)

    0,75

    *Mdia da porcentagem de argila do horizonte B (excluindo B3) sobre a mdia da porcentagem de argila de todohorizonte. ** Somente com mudana textural abrupta entre os horizontes A e B. *** Somente aqueles comhorizonte A arenoso.

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    Uso da terra

    Resultados de pesquisas tm mostrado que as diferentes culturas anuaisapresentam efeitos diversos nas perdas de solo e gua por eroso. Issodemonstra que cada cultura, devido densidade de cobertura vegetal e dosistema radicular, influi diretamente no processo erosivo.

    Com base nos dados de pesquisa relativos intensidade de perdas de soloe gua, as principais culturas foram reunidas em sete grupos, recebendo cadagrupo um ndice a ser utilizado como fator de uso da terra na equao (Quadro 2).

    Quadro 2 -Grupo de culturas e seus respectivos ndices.

    Grupo Culturasndice

    U

    1 feijo, mandioca e mamona 0,50

    2 amendoim, algodo, arroz alho, cebola, girassol e fumo 0,75

    3 soja, batatinha, melancia, abbora, melo e leguminosaspara adubao verde

    1,00

    4milho, sorgo, cana-de-acar, trigo, aveia, centeio, cevada,outras culturas de inverno e frutferas de ciclo curto, como oabacaxi

    1,25

    5banana, caf, citros e frutferas permanentes banana, caf,citros e frutferas permanentes

    1,50

    6 pastagens e/ou capineiras 1,75

    7 reflorestamento, cacau e seringueira 2,00

    Outras culturas, no citadas no Quadro 2, devero ser enquadradas nosgrupos em funo da semelhana da intensidade de cobertura vegetal do sistemaradicular.

    Preparo do solo e manejo dos restos culturais

    A tabela antiga utilizada para determinao do espaamento entre terraosno considerava o sistema de preparo do solo e o manejo dos restos culturais,sendo, conforme j ressaltado, uma das principais causas do insucesso nautilizao do terraceamento.

    Os diferentes tipos de manejo de restos culturais e os equipamentos maiscomuns usados na agricultura foram reunidos em cinco grupos, recebendo, cadaum, um ndice que ser utilizado como fator de uso do solo e manejo dos restosculturais na equao de espaamento de terraos (Quadro 3).

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    Quadro 3 -Grupo de preparo do solo e manejo de restos culturais e seus ndices.

    GruposPreparoprimrio

    Preparosecundrio

    Restos culturais ndices

    1Grade aradora(ou pesada) ou

    enxada rotativa

    Grade niveladoraIncorporados ou

    queimados

    0,50

    2 Arado de disco ouaiveca

    Grade niveladora Incorporados ouqueimados

    0,75

    3 Grade leve Grade niveladora

    Parcialmenteincorporados comou sem rotao deculturas

    1,00

    4Aradoescarificador

    Grade niveladora

    Parcialmenteincorporados comou sem rotao de

    culturas

    1,50

    5 Inexistente

    Plantio semrevolvimento dosolo, roadeirarolo-faca,herbicidas (plantiodireto)

    Superfcie doterreno

    2,00

    Obs.: caso o tipo de preparo do solo e manejo dos restos culturais no tenha sidomencionado, procurar enquadr-lo no grupo mais semelhante.

    Declividade do Terreno

    Para que os terraos sejam viveis de implantao e permitam o trabalhoeficiente das mquinas agrcolas, o espaamento horizontal mnimo entre elesdeve ser em torno de 12 metros. Espaamentos menores tornam-seantieconmicos, pois dificultam a construo e a manuteno dos terraos, assimcomo os cultivos mecnicos.

    Alm da limitao mecnica na construo e manuteno dos terraos ecultivos, as declividades mximas em que se recomenda a adoo doterraceamento variam em funo do tipo de solo (Quadro 4).

    Quadro 4 -Limitaes para uso do terreno em funoda declividade nos diferentes grupos de solos.

    Grupo de solo*Declividade mxima

    (%)

    A 16

    B 14

    C 12

    D 12

    * Ver Quadro 1.

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    Organizao das tabelas para determinao do espaamento entreterraos

    A organizao da tabela para determinar os espaamentos vertical ehorizontal foi feita com base na equao 1:

    EV = 0,4518 * K * D

    0,58

    * ( 2

    mu+

    )

    O espaamento horizontal dado pela equao 2:

    EH = 100 . EVD

    Onde:EH = espaamento horizontal; EV = espaamento vertical; D = Declividade (%)

    Procedendo-se aos clculos para as variveis de solo e declividade doterreno das equaes 1 e 2, construiu-se a Tabela 2 para valores de (u + m)/2

    igual a 1,00 (tabela unitria).Uso da tabela

    A Tabela 2 permite estabelecer os espaamentos vertical e horizontal entreos terraos rapidamente, dispensando o clculo da equao 1, que leva emconsiderao o solo e a declividade, mantendo os fatores de uso e manejoconstante iguais a 1,00.

    Aplicando-se valores de uso e manejo (Quadros 3 e 4) na expresso (u +m)/2, obtm-se o ndice que ser multiplicado pelo valor da declividadeencontrado na Tabela 2 para estabelecer o espaamento entre os terraos de

    cada gleba, com uso e manejo predefinidos, em que o espaamento determinado em funo do solo, declividade e uso da terra.

    Tabela 2 -Espaamento entre terraos para valores de (u + m)/2 igual a 1,00(tabela unitria).

    TERRAOS EM NVEL TERRAOS EM DESNVEL

    Solo A Solo B Solo C Solo DDeclive(%) EH EV EH EV EH EV EH EV

    Declive(%)

    1 56,50 0,56 49,70 0,50 40,70 0,41 33,90 0,34 12 42,20 0,84 37,20 0,74 30,40 0,61 25,30 0,51 2

    3 35,60 1,07 31,30 0,94 25,60 0,77 21,40 0,64 34 31,60 1,26 27,80 1,11 22,70 0,91 18,90 0,76 45 28,70 1,44 25,30 1,26 20,70 1,03 17,20 0,86 56 26,60 1,60 23,40 1,40 19,20 1,15 16,00 0,96 67 24,90 1,75 22,00 1,54 18,00 1,26 15,00 1,05 78 23,60 1,89 20,80 1,66 17,00 1,36 14,20 1,13 89 22,40 2,02 19,80 1,78 16,20 1,45 13,50 1,21 910 21,50 2,15 18,90 1,89 15,50 1,55 12,90 1,29 1011 20,60 2,27 18,20 2,00 14,90 1,63 12,40 1,36 1112 19,90 2,39 17,50 2,10 14,30 1,72 11,90 1,43 1213 19,20 2,50 16,90 2,20 1314 18,60 2,61 16,40 2,30 14

    15 18,10 2,72 1516 17,60 2,82 16

    EH Espaamento horizontal EV Espaamento vertical

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    Exemplo 1 - Deseja-se terracear uma gleba com solo Latossolo Vermelho-Escuro,fase arenosa ou, segundo mapas mais recentes, Latossolo Vermelho-Escurodistrfico, A moderado, textura mdia, com declividade mdia de 7%, a sercultivado com algodo continuamente, com preparo do solo feito com arado dediscos e grade niveladora, em que os restos da cultura anterior sero queimados.

    Pelas caractersticas descritas, esse solo enquadra-se no grupo A (Quadro1); a cultura do algodo tem como ndice de uso 0,75 (Quadro 2) e o manejodescrito enquadra-se no grupo 2, com ndice de 0,75 (Quadro 3).

    Aplicando-se esses valores na expresso (u + m)/2, tem-se:

    0,75 + 0,75 = 0,752

    A Tabela 2 para o solo do grupo A, com declividade de 7%, apresenta ovalor EV = 1,75 e EH = 24,90; como o valor de uso e manejo de 0,75, ter-se-:

    EV = 1,75 x 0,75 = 1,31m.

    EH = 24,90 x 0,75 = 18,70m.Para essas condies de uso e manejo, o espaamento vertical entre

    terraos ser de 1,31m e o espaamento horizontal de 18,70m.No mesmo caso, porm, se o agricultor adotar o preparo de solo com

    arado escarificador, grade leve e restos culturais parcialmente incorporados,tem-se:

    u + m = 0,75 + 1,50 = 1,1252 2

    Nesse caso, o espaamento vertical ser:

    EV = 1,75 x 1,125 = 1,97m.EH = 24,90 x 1,125 = 28,15m.

    Portanto, o espaamento horizontal ser de 28,15m.

    Exemplo 2 - Deseja-se terracear uma gleba com solo Latossolo Roxo, comdeclividade mdia de 8%, a ser cultivada com soja no vero, sendo o preparo dosolo feito com arado de disco, queimando-se os restos da cultura anterior; noinverno, com trigo, sendo o preparo do solo com grade pesada, incorporando osrestos de cultura da soja.

    O Quadro 2 apresenta os ndices de uso para as culturas: soja = 1,00;trigo = 1,25O valor dos ndices de uso ser:

    (1,00 + 1,25) = 2,25 = 1,1252 2

    O Quadro 3 apresenta os valores de preparo e manejo de restos culturais.

    - grade aradora, restos incorporados = 0,50- arado de disco, restos queimados = 0,75

    O valor do ndice de manejo ser:(0,50 + 0,75) = 1,25 = 0,625

    2 2

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    Os ndices de uso e manejo para entrar na tabela sero:

    (1,125 + 0,0625) = 1,750 = 0,8752 2

    O espaamento entre terraos ser:

    EV= 1,89 x 0,875 = 1,65m.No mesmo caso, porm, se o agricultor adotar para a soja o plantio direto

    e para o trigo o arado escarificador, o valor do ndice de manejo ser:

    m = 2,0 + 1,50 = 3,50 = 1,7502 2

    O ndice de uso e manejo para entrar na tabela ser:

    (1,125 + 1,750) = 2,875 = 1,4382 2

    O espaamento vertical ser de:EV = 1,89 x 1,438 = 2,72m.

    importante ressaltar que esse sistema para determinao doespaamento dos terraos est basicamente assentado sobre resultados depesquisas, que mostram que o preparo do solo, o manejo de restos culturais e ascaractersticas fsicas do solo dadas por levantamentos pedolgicos recentes soda maior importncia quando aliados declividade e textura da camadasuperficial do solo. Isoladamente, os dois ltimos fatores, como eram usados nastabelas anteriores, no transmitem o que est sendo realizado em termos de

    movimentao do solo.Nota-se que o maior nmero de variveis possvel a ser aplicado no novosistema torna-o mais condizente com a realidade, permitindo melhorplanejamento das prticas conservacionistas a serem adotadas em cada gleba.Alm de conferir maior segurana no uso do terraceamento, proporciona aoagricultor opes de alterao do espaamento em funo de diferentes manejosde restos culturais, usos e preparo do solo.

    importante ressaltar que, atualmente, como os produtores esto fazendomais de um cultivo por ano e em sistema de rotao de culturas, o clculo doespaamento dos terraos deve usar como critrio a cultura que ser plantada no

    perodo de maior intensidade pluviomtrica.

    Cobertura vegetal/cobertura morta

    O fator isolado mais importante que influi sobre a eroso ou perdas desolo por enxurrada a cobertura do solo, seja ela com plantas em crescimento(cobertura viva) ou com a palhada dessas plantas (Fig.21).

    A cobertura do solo pode ser alcanada com um rpido crescimento dacultura, que permitir a proteo contra as gotas da chuva. O rpido crescimentodas culturas proporcionado por adequadas caractersticas fsicas, qumicas e

    biolgicas do solo. Ao contrrio, prejudicada pela baixa fertilidade,compactao (p de grade), drenagem imperfeita etc.

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    O conhecimento do estado nutricional do solo, ou seja, do nvel de macro emicronutrientes disponveis cultura, atravs da anlise qumica, de grandeimportncia, pois permitir ao produtor programar a calagem e as adubaesminerais, verde e orgnica, que permitiro o rpido crescimento das plantas e acobertura de toda a rea de plantio. Isso reduzir o risco potencial de eroso epermitir que maior quantidade de massa vegetal seja devolvida ao solo,promovendo melhor proteo aps a colheita, mantendo e aumentando o teor dematria orgnica.

    Figura 21 - Cobertura morta de mucuna protegendo osolo contra a eroso.

    Quando determinadas culturas no fornecerem adequada cobertura dosolo, o plantio consorciado com outras culturas deve ser efetuado. Os resduosdas culturas no devem ser queimados, mas sim preservados sobre a superfciedo solo, evitando-se a sua incorporao, a no ser por medidas fitossanitrias,quando, ento, devero ser amontoados para a queima.

    A permanncia dos restos culturais ou de qualquer outro tipo de palhada fundamental para a proteo dos solos contra a ao da chuva, do sol e dovento. Alm disso, a palhada ajuda a manter a umidade do solo, oferecendo sculturas melhores condies para resistirem, por maior tempo, a perodos de

    seca. A palhada tambm atenua a variao brusca da temperatura, mantendo-aadequada para o desenvolvimento dos macro e micro-organismos do solo, toimportantes para a manuteno de suas caractersticas fsicas, qumicas ebiolgicas.

    Em solos desnudos ou sem cobertura, por exemplo, a temperatura podefacilmente atingir 60 a 65C durante o dia. Nessas condies, as bactrias quefixam nitrognio no sistema radicular das leguminosas, como o feijoeiro e a soja,tm sua sobrevivncia comprometida. A palhada ainda reduz a incidncia deervas daninhas, diminuindo a necessidade da capinas e, consequentemente, aexposio do solo ao dos agentes erosivos (SATURNINO; LANDERS, 1997).

    Outras formas de se manter o solo coberto e protegido durante o ciclo dalavoura e aps a colheita adotar o sistema de plantio direto, cultivo mnimo ou,simplesmente, roar o mato, em vez de capinar.

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    Quebra-ventos ou cortinas vegetais

    Existe uma forma de eroso, muitas vezes pouco perceptvel ouvalorizada, que a eroso elica (ao dos ventos). Alm da eroso, os ventosfortes so extremamente prejudiciais s culturas, desidratando, queimando eacamando as plantas.

    Uma das principais tcnicas utilizadas para minimizar os efeitos nocivosdos ventos sobre os solos e culturas o uso de cortinas vegetais. Elas podem serplantadas sobre a crista dos camalhes ou mesmo em linhas, demarcando ostalhes que estaro protegidos.

    A regra bsica a ser observada na instalao de quebra-ventos aproporo entre a altura da cortina vegetal e a rea protegida. Normalmente,considera-se 1 metro de altura de quebra-vento para 10 metros de proteo.

    Os vegetais mais usados para esse fim so o capim camerun (capimelefante), capim cidreira, feijo guandu, eucalipto, grevilea, cedrinho, accianegra e outros.

    Cordo vegetal

    uma prtica simples, recomendada para a pequena e mdia propriedade,em reas que no possibilitam a construo de terraos devido declividade, ounas quais a mecanizao realizada por trao animal.

    Consiste no plantio de espcies que apresentem rpido crescimento dosistema radicular e da parte area, possibilitando segurar a terra e no deixarque a gua da chuva, correndo morro abaixo, provoque eroso.

    Para se formar o cordo vegetal, abrem-se dois ou trs sulcos com aradode trao animal, numa faixa de at um metro, plantando-se as mudas dasespcies recomendadas.

    Algumas espcies usadas so a cana-de-acar, capim camerun ano(elefante ano), capim cidreira e capim vetiver, entre outras, que podem serplantadas em nvel ou desnvel, dependendo das caractersticas do solo. Oespaamento entre um cordo e outro no deve ser menor que 10 metros.

    O cordo vegetal funciona como barreira fsica, evitando que a gua dachuva que no se infiltrar ganhe velocidade e provoque eroso. Portanto, considerada uma prtica conservacionista complementar. Alm disso, bom

    salientar, que algumas espcies utilizadas para formar o cordo vegetal podemser usadas na alimentao animal, humana ou na industrializao caseira,aumentando a renda familiar.

    Cordo de pedra

    tambm uma prtica adaptada pequena propriedade, logicamentenaquelas localizadas em reas com pedras soltas aflorando superfcie. Alm deajudar no controle da eroso, reduz a velocidade de escoamento das guas daschuvas e possibilita o aproveitamento da rea, antes cheia de pedras. Sua

    construo consiste na abertura de um canal, geralmente em nvel, onde aspedras vo sendo empilhadas.

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    7. Adio de matria orgnica

    A adio de matria orgnica ao solo tem por objetivo melhorar suascondies fsicas, qumicas e biolgicas, permitindo o adequado crescimento dasculturas. Esse aporte de matria orgnica pode ser feito de vrias maneiras,

    atravs da adubao verde, adubao com esterco de animais (boi, sunos etc),restos de culturas, composto orgnico e hmus de minhocas, entre outras.Entretanto, o agricultor nem sempre tem a chance de encontrar com facilidade oesterco de animais (seja pela disponibilidade do produto, seja pelo custo) ou defazer a adubao verde. Uma forma de conseguir adubo orgnico de boaqualidade atravs do composto.

    Adubao verde

    A adubao verde pode ser conceituada como o manejo de plantas visando

    melhoria ou manuteno da capacidade produtiva do solo. Esse conceitoabrange a tradicional prtica de incorporao de leguminosas, como tambm autilizao de outras espcies vegetais, em rotao ou no, para cobertura do soloou incorporao. Quando a rotao feita utilizando-se leguminosas comocultura principal ou na forma de adubo verde, consegue-se, ainda, incorporarnitrognio ao sistema de plantio, reduzindo os custos com fertilizantesnitrogenados. As gramneas, com seu sistema radicular abundante, contribuempara estruturar o solo ao mesmo tempo em que aumenta o aporte de matriaorgnica abaixo da superfcie (SANTA CATARINA, 1994).

    Atualmente, o conceito de adubao verde no se resume, apenas, na

    incorporao da massa produzida, j que considerada, tambm, comoparticipante do processo de conservao de solo, atravs da prtica de rotaode cultura, sucesso ou consorciao, sendo deixada na superfcie do solo, semincorporao. Desse modo visa-se proteger o solo contra as variaes detemperatura, impacto direto da gota da chuva e ao dos ventos. Nessecontexto, a adubao verde entra no planejamento conservacionista dapropriedade.

    Benefcios da adubao verde

    Proteo da camada superficial do solo contra as chuvas de alta intensidade,

    sol e vento.

    Manuteno de elevadas taxas de infiltrao de gua pelo efeito combinado dosistema radicular e da cobertura vegetal. As razes, aps sua decomposio,deixam canais no solo, enquanto a cobertura evita a desagregao e o selamentosuperficial, reduzindo a velocidade do escoamento superficial.

    Promove grande e contnuo aporte de massa vegetal ao solo, mantendo ou atmesmo elevando, ao longo dos anos, o teor de matria orgnica.

    Atenua a amplitude trmica e diminui a evaporao, aumentando a

    disponibilidade de gua para as culturas comerciais. O sistema radicular rompe camadas adensadas e promove a aerao e aestruturao das partculas, induzindo ao preparo biolgico do solo.

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    Promove a reciclagem de nutrientes. O sistema radicular bem desenvolvido demuitos adubos verdes tem a capacidade de translocar os nutrientes que seencontram em camadas profundas para as camadas superficiais, tornando-osnovamente disponveis para as culturas de sucesso.

    Diminui a lixiviao de nutrientes. A adubao verde, por reter os nutrientes na

    fitomassa e liber-los de forma gradual durante a decomposio do tecidovegetal, atenua esse problema.

    Promove a adio de nitrognio ao solo atravs da fixao biolgica por partedas leguminosas, podendo representar importante economia desse nutriente naadubao das culturas comerciais, alm de melhorar o balano de nitrognio nosolo.

    Reduz a populao de ervas daninhas atravs do efeito supressor e/oualeloptico, devido ao rpido crescimento inicial e exuberante desenvolvimentoda massa vegetal.

    O crescimento vegetal dos adubos verdes e sua decomposio ativam o ciclode muitas espcies de macro-organismos e, principalmente, micro-organismosdo solo, cuja atividade melhora a dinmica fsica e qumica do solo.

    Apresenta mltiplos usos na propriedade. Alguns adubos verdes possuemelevada qualidade nutritiva, podendo ser utilizados na alimentao animal (aveia,ervilhaca, guandu e lab-lab), na alimentao humana (tremoo e guandu) oucomo fonte de madeira e lenha (leucena e sabi).

    Caractersticas importantes para a escolha dos adubos verdes

    Apresentar rpido crescimento inicial e eficiente cobertura do solo.Produo de elevadas quantidades de fitomassa (massa verde e seca).

    Capacidade de reciclagem de nutrientes, apresentando elevadas quantidadesde nutrientes na fitomassa.

    Facilidade de implantao e conduo a campo.

    Apresentar baixo nvel de ataque de pragas e doenas, no se comportandocomo planta hospedeira.

    Apresentar sistema radicular profundo e bem desenvolvido.

    As espcies devem ser de fcil manejo (incorporao ou acamamento) paraimplantao dos cultivos de sucesso.

    Apresentar potencial para mltipla utilizao na propriedade.

    Apresentar tolerncia ou resistncia seca e geada.

    Apresentar tolerncia baixa fertilidade e facilidade de adaptao a solosdegradados.

    Produo de elevadas quantidades de sementes.

    No devem comportar-se como invasoras, dificultando o cultivo de culturas desucesso.

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    Modalidades de adubao verde

    Adubao verde de primavera/vero: consiste no plantio de adubos verdesno perodo de outubro a janeiro. As principais espcies utilizadas so: mucuna,feijo-de-porco, guandu e crotalrias. As principais vantagens so: grandeproduo de massa vegetal, elevada quantidade de N fixado biologicamente ecobertura do solo durante o perodo de chuvas de alta intensidade. O maiorincoveniente a ocupao do solo durante o perodo em que so cultivadas asprincipais culturas. Para atenuar o problema, recomenda-se subdividir apropriedade em glebas e utilizar a adubao verde de forma escalonada.

    Adubao verde de outono/inverno: prev a utilizao desses adubos noinverno, geralmente na entressafra das principais culturas comerciais. Asprincipais espcies utilizadas so: aveia preta, ervilha forrageira, ervilhaca,espgula ou gorga, xinxo e nabo forrageiro. As principais vantagens so:proteo de reas agrcolas na entressafra para o controle da eroso, diminuio

    da infestao de ervas daninhas, reduo das perdas de nutrientes por lixiviao,aporte de nitrognio, possibilidade de utilizao na alimentao animal ecobertura morta para preparos conservacionistas do solo.

    Adubao verde intercalar com culturas: o adubo verde semeado naentrelinha da cultura comercial. especialmente adaptada a situaes em que osolo deve ser utilizado da forma mais intensiva possvel (Fig.22).

    Figura 22 - Consrcio da cultura de maracuj com feijo-de-porco no municpio de Capito Poo-PA (novembro de 1992).

    Adubao verde perene em reas de pousio: a utilizao de adubos verdesem reas degradadas pelo manejo, ou para controlar a eroso, como cordes devegetao, ou ainda em reas que temporariamente no esto sendo cultivadaspode ser uma prtica vivel. As principais espcies utilizadas so: guandu,indigfera, leucena e tefrsia. Essas plantas, por possurem sistema radicular

    profundo e elevada produo de fitomasssa, apresentam as vantagens derecuperao das caractersticas do solo e possibilidade de utilizao naalimentao animal.

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    Alguns resultados de pesquisa indicam que, em geral, o efeito daintercalao da mucuna excelente em solos com cultivos contnuos, porm oefeito em solos em pousio pequeno e varivel com o ano.

    Numa avaliao de leguminosas anuais no perodo de cinco anos, foiobservado que a mucuna intercalada ao milho promoveu aumento de 21% naproduo de gros em relao testemunha (4.440kg/ha), seguindo-se o feijo-de-porco (14%) e a ervilhaca (10%).

    Compostagem

    Os resduos de origem vegetal e animal contm apreciveis quantidadesde nutrientes, que podem ser aproveitados atravs de processamento simples,como a compostagem, possvel de ser realizada pelo produtor na propriedade.

    A compostagem o processo de decomposio aerbia dos resduosorgnicos em hmus, relativamente estvel. Os dejetos animais, ricos emnitrognio, podem ser compostados de forma exclusiva ou combinada comoutros materiais de elevada relao carbono/nitrogrnio, como palhadas,bagaos de frutas, serragem etc.

    As principais condies para a decomposio efetiva so a qualidade e otamanho das partculas do material usado, o teor de umidade, a temperatura, apresena de oxignio, nitrognio e carbono em propores adequadas e pH.

    Qualidade e tamanho das partculas do material

    A relao carbono/nitrognio deve propiciar o crescimento e atividade dosmicro-organismos envolvidos. A variao da relao C/N pode ser de 30 a 50,

    sendo ideal no mximo de 30. Quando a relao inferior a 20 e 25, ocorre aamonificao, ocasionando perdas de nitrognio do material. Relao superior a50 provoca o retardamento do incio da compostagem, sendo o tempo deprocessamento 50% maior, gerando um produto menos estvel e de menorqualidade (Quadro 1).

    Quando os resduos agrcolas apresentam-se em partes inteiras (colmo epalha de milho, cana e arroz), recomenda-se a fragmentao em pedaosmenores. Estercos de animais geralmente apresentam relaes C/N inferiores a25 e sua compostagem exclusiva acarreta perdas de nitrognio em forma deamnia. Essas perdas podem ser reduzidas pela incorporao de superfosfatos

    ou termofosfatos razo de 7 a 12kg/t de resduo compostado.A concentrao final de nitrognio do composto fica em torno de 2,5 a

    3,0%, sendo que, desse total, 50 a 70% se apresentam em forma prontamenteassimilvel pelas plantas.

    Teor de umidade

    O nvel adequado de umidade no composto entre 40 e 60%. A intensaatividade do processo provoca altas temperaturas, que tendem a secar omaterial, prejudicando o processo. O excesso de gua tende a provocar

    condies anaerbias com consequente liberao de odores desagradveis. Emcasos de falta dgua, ela pode ser regada uniformemente sobre o material emcompostagem. Em caso de excesso de gua, materiais absorventes, como palhas

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    e serragem, devem ser incorporados at a adequao do teor de umidade. Anecessidade de rega verifica-se pela temperatura do composto; sua elevaodemasiada exige umedecimento.

    Aerao do composto

    A quantidade de oxignio de vital importncia para a eficiente oxidaoda matria orgnica. O adequado suprimento de oxignio atingido pelorevolvimento do material em compostagem em intervalos de duas semanas.

    Temperatura e pH

    A temperatura e o pH variam de modo interdependente de acordo com oestgio da compostagem. O monitoramento da temperatura pode ser realizadomantendo-se introduzidos no composto, at o fundo, alguns pedaos de barrasde ferro. Retirando-se essas barras e tocando-as com a mo, podem ocorrer trssituaes:

    - o contato suportvel indica que o processo de fermentao est normal;

    - o contato insuportvel indica demasiada elevao da temperatura, devendo-secompactar o material, se mido, ou regar uniformemente com gua, se estiverseco;

    - o contato frio ou levemente morno, indicando necessidade de revolvimentoou ainda que o processo de compostagem j est no final. Se aps a aerao, atemperatura se mantiver baixa, o produto est pronto, podendo ser utilizado.

    O material pronto apresenta-se quebradio quando seco e moldvel

    quando mido. O composto pronto no atrai moscas, no oferece condies parasua multiplicao e no tem cheiro.

    Preparo da meda ou leira

    O preparo do composto requer local prprio e prximo do local de suautilizao e de fonte de gua. O local deve ser plano ou ter pequeno caimento.

    A pilha deve ter 3 a 4m de largura por 1,5 a 1,8m de altura para facilitar omanuseio. Seu comprimento pode variar de acordo com a quantidade dematerial disponvel e com o espao para revolvimento. O local das pilhas deveser protegido das enxurradas, contornado com valas de escoamento da gua dechuva. A compostagem deve obedecer proporo de trs partes de resduosvegetais para uma parte de dejetos animais (Fig.23).

    Inicia-se a construo da pilha de composto distribuindo-seuniformemente uma camada de resduos vegetais, de 15 a 25 cm de espessura,de preferncia bem fragmentados. Quando os resduos dessa primeira camada seconstiturem por partes de plantas inteiras, devem ser molhados e, aps,comprimidos por meio de varas, como se fosse bater feijo. Por cima dessacamada, espalha-se uma camada de 5 a 7cm de esterco de curral, molhando-senovamente o material. Segue-se essa sequncia at completar a altura desejada.

    A ltima camada deve ser de resduos vegetais, sobre a qual se depositar aindauma camada de sap ou outro capim para proteo contra a chuva eevaporao. O tempo de durao , normalmente, de oito a dez semanas.

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    Figura 23 -Montagem da meda de compostagem.Fonte:Oliveira Filho et al. (1987)

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    Utilizao do composto

    Quanto mais rpida a utilizao composto, melhor. Entretanto, quando nofor possvel, o composto deve ser armazenado em local protegido do sol e dachuva, de preferncia coberto com lona de polietileno ou sacos velhos de fibra.

    As concentraes dos elementos fertilizantes dos compostos orgnicosvariam, sendo normalmente de 1 a 2% de N e de 0,5 a 1% de P e K, alm dosmicronutrientes. Uma boa adubao exige dosagens de 15 a 30 toneladas decomposto por hectare. A utilizao do fertilizante orgnico pode ser combinadacom a adubao mineral. No caso da associao, a adubao mineral dever seraplicada alguns dias aps a distribuio do composto orgnico. No se devemisturar o composto com calcrio, pois esse processo provocaria perdas de N, oque poder ser percebido pelo cheiro de amnia.

    Outro mtodo de produo de matria orgnica de boa qualidade avermicompostagem, que consiste na decomposio de restos orgnicos porminhocas.

    8. Rotao de culturas

    Entende-se por rotao de culturas a sequncia ordenada de diferentesculturas, no tempo e no espao. A condio ideal do sistema de rotao deculturas a que adiciona matria orgnica ao solo de forma contnua.

    A rotao de culturas fundamentada:

    no fato de uma cultura extrair do solo maiores quantidades de determinados

    nutrientes do que outros;nos diferentes sistemas radiculares que exploram profundidades variveis dosolo;

    nos diferentes tipos de cobertura do solo;

    na adio de materiais orgnicos de qualidade diferenciada;

    no controle de pragas e doenas.

    Principais vantagens da rotao:

    otimiza a fertilidade do solo;

    diminui a incidncia de pragas e doenas; melhores resultados econmicos, atravs do adequado planejamento dasculturas;

    controla ervas daninhas com o mnimo de despesas.

    Em relao ao sistema de rotao de culturas, duas situaes devem serconsideradas:

    Mdias e grandes propriedades rurais, nas quais, pela disponibilidade derea, possvel adotar um sistema de rotao para culturas econmicas.

    Pequenas propriedades rurais, que no dispem de rea suficiente para um

    programa de rotao das culturas econmicas, necessitando, muitas vezes, detoda a rea disponvel para determinada cultura, cuja produo ser utilizada naprpria propriedade (exemplo: milho x suno).

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    Com vistas pequena propriedade, recomenda-se que o tcnico orientediretamente os agricultores para:

    adotar sistemas de consrcio visando ao melhor aproveitamento das reas emaior resultado econmico;

    utilizar culturas de inverno para adubao verde e/ou pastagem;

    utilizar leguminosas de vero nas reas de milho solteiro, como o caso damucuna;

    intercalar culturas que permitam o mximo de rendimentos por efeitospositivos de alelopatia e/ou incorporao de nutrientes para a cultura seguinte(leguminosa x gramnea);

    procurar fazer rotao mesmo nas culturas mais sujeitas a doenas, caso dofeijo, tomate e pimento.

    Quando da adoo de programa de rotao de culturas, desejvel que:

    a cultura anterior beneficie a posterior; haja o completo aproveitamento do adubo aplicado, plantando-se, depreferncia, uma cultura aproveitadora aps uma exigente;

    os implementos agrcolas sirvam para as diferentes culturas;

    as culturas mantenham o solo sempre coberto;

    as culturas conservem a bioestrutura do solo;

    haja controle de doenas, pragas e invasoras;

    as culturas tenham mercado compensador e/ou possam ser utilizadas napropriedade.

    9. Locao de estradas e caminhos

    Um dos principais fatores causadores de eroso nas reas agrcolas so asestradas vicinais, to importantes no escoamento da produo.

    A m locao dessas estradas responsvel, muitas vezes, pelos maisgraves problemas de eroso, pois faz com que a gua da enxurrada acumule emdeterminados pontos e em grande volume, ganhando velocidade, o que aumentao seu potencial erosivo.

    As estradas devem ser localizadas procurando acompanhar os espiges ouser construdas de maneira a ficarem com declives suaves. No caso deconstruo perpendicular aos espiges, os terraos (quando existirem) devemser respeitados, acompanhando as elevaes dos camalhes.

    de fundamental importncia, ainda, a construo de caixas de reteno(ou bacias de captao de gua) laterais, que tm a funo de segurar a guaque escorre na estrada.

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    SECRETARIA DEAGRICULTURA, PECURIA,PESCA E ABASTECIMENTO

    SUPERINTENDNCIA

    DE DESENVOLVIMENTOSUSTENTVEL