unidades de conservacao

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  • CURITIBA - VERO DE 2006

  • UNIDADES DE CONSERVAOAES PARA VALORIZAO DA BIODIVERSIDADE

    Uma publicao do Instituto Ambiental do Paran(c) 2005 Governo do Paran - IAP

    permitida a reproduo para fins no-comerciais, desde que citada a fonte.

    SUPERVISO EDITORIAL E REVISOMarlise de Cssia Bassfeld

    CAPA E PROJETO GRFICOIzabel Portugal

    EDITORAODaphine de Oliveira Mattos

    CRDITOS FOTOGRFICOSHarvey F. Schlenker

    Arquivo GEEP-AunguiAndr Jean Deberdt

    Magno Vicente SegallaSlvia R. Ziller

    Pedro Scherer NetoArquivo SPVSClaudia Sonda

    Maria ngela DalcomuneWillians R. de MendonaOdete T. Bertol Carpanezzi

    Instituto Ambiental do Paran - IAPRua Engenheiros Rebouas, 1206

    CEP 80.215-100 - Curitiba - Paran - BrasilTel: (41) 3213-3700

    IMPRESSO NO BRASILPrinted in Brazil

    Dados internacionais de catalogao na publicaoBibliotecria responsvel: Mara Rejane Vicente Teixeira

  • 7

    Atualmente o Estado do Paran conta com 61 Unidades deConservao (UCs) sob sua administrao. Apesar de representarsomente um pequeno percentual em relao s reas originais dos diversosbiomas ocorrentes no Estado, essas UCs so as maiores depositrias dabiodiversidade do Estado e constituem laboratrios naturais parapesquisas e desenvolvimento de atividades para conservao dabiodiversidade.

    Recente diagnstico indicou que as UCs do Paran apresentamproblemas que podem acarretar a perda da variabilidade natural dasespcies, da diversidade gentica, dos ecossistemas e dos processosnaturais. As principais causas apontadas para a perda darepresentatividade dessas UCs esto relacionadas ao intenso processode fragmentao, perda de conectividade, degradao de ecossistemas,invaso de espcies exticas e outras.

    Diante de tais constataes, o Estado do Paran, por intermdio daSecretaria de Estado de Meio Ambiente e Instituto Ambiental do Paran(IAP) delineou e implementa a poltica estadual de conservao dabiodiversidade aliceradas em duas premissas: i) ampliao fsica dasreas protegidas e criao de novas UCs e ii) aumento da expressividadedas UCs j estabelecidas.

    Esta obra uma contribuio do Estado do Paran sociedadebrasileira, de modo que antev a necessidade de otimizar a conservaoda biodiversidade in situ e propiciar maior representatividade eestabilidade dessas UCs como indispensveis para a busca dasustentabilidade da vida no Planeta.

    Boa leitura e bom proveito!

    Lindsley da Silva Rasca RodriguesLuiz Eduardo Cheida

    Secretrio de Estado doMeio Ambiente e Recursos Hdricos

    Diretor-Presidente doInstituto Ambiental do Paran

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    Esta obra nasce de sementes simbolicamente germinadas no cursoPreparando as Unidades de Conservao do Paran no contexto daconservao da biodiversidade.

    Promovido pelo Instituto Ambiental do Paran, em Curitiba, de 28 a30 de outubro de 2004, o curso teve como principal interesse ampliar acapacitao de profissionais na gerncia das Unidades de Conservao(UCs) paranaenses.

    Compuseram os contedos daquele trabalho palestras sobre assuntostcnicos e administrativos para o gerenciamento das UCs e, ainda, adiscusso acerca dos temas abordados, que serviram de subsdios paraesta publicao.

    Nunca demais refletir sobre a importncia das UCs, razo pela qualconvidamos outros pesquisadores para acrescentar conhecimentos eexperincias a esta iniciativa, enriquecendo-a.

    Apesar de nosso esforo em contemplar o mximo possvel aperspectiva de pluralidade que envolve as Unidades de Conservao,reconhecemos as lacunas que permanecem.

    Como poltica pblica assumida, oferecemos subsdios para as aesdos gerentes, quanto conservao, recuperao, estruturao,manuteno, parcerias, entre outras questes, a fim de que intensifiquema expressividade desses patrimnios pblicos naturais.

    A maioria das referncias aqui publicadas so relativas ao Estado doParan. Esperamos, contudo, que os conceitos e aes expostos possamser de algum modo aproveitados em todos os ecossistemas onde avalorizao da vida seja um constante desafio.

    Joo Batista CamposMrcia de Guadalupe Pires Tossulino

    Carolina Regina Cury Mller

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    Sistema ou conjunto de Unidades de Conservao?Joo Batista Campos; Lysias Vellozo da Costa Filho............................................17

    A Recuperao de reas degradadas em Unidades de ConservaoGisele C. Sessegolo ........................................................................25

    Espcies exticas da flora invasoras em Unidades de ConservaoSlvia R. Ziller .......................................................................................................34

    A fauna de espcies exticas no Paran: contexto nacional e situaoatualMauro de Moura Britto e Dennis Nogarolli M. Patrocnio....................................53

    Biodiversidade e introduo de espcies de peixes: Unidades deConservaoAngelo A. Agostinho; Fernando M. Pelicice; Horcio F. Jlio Jr.............................95

    Opinio: espcies exticas em Unidades de ConservaoTom Grando...............................................................................118

    Eliminao de espcies exticas nas Unidades de Conservao estadualdo Paran.Joo Batista Campos; Lindsley da Silva Rasca Rodrigues...................................120

    A questo dos cips (lianas) em fragmentos florestaisJos Marcelo D. Torezan; Joo Batista Campos...................................................126

    Reintroduo de fauna em Unidades de Conservao: principios ecuidadosPedro Scherer Neto ..............................................................................................130

    O impacto dos incndios florestais nas Unidades de ConservaobrasileirasOtvio Bezerra Sampaio .................................................................138

  • 12

    O papel das Unidades de Conservao no Combate s MudanasClimticas e as oportunidades geradasAndr Rocha Ferreti..............................................................................................153

    A fragmentao de ecossistemas, efeitos decorrentes e corredores debiodiversidadeJoo Batista Campos..............................................................................................165

    Reserva Legal: bem de interesse comum a todos os habitantes do PasGilberto Sentinelo..................................................................................................174

    A questo da apropriao e degradao de reas estratgicas para aconservao da biodiversidadeJoo Batista Campos............................................................................................187

    Sistema de Manuteno, Recuperao e Proteo da Reserva FlorestalLegal e reas de Preservao Permanente - SISLEG: seu papel naconservao da naturezaOdete T. Bertol Carpanezzi; Junia H. Woehl; Mariese C. Muchailh....................193

    Importncia da comunidade planctnica na conservao dabiodiversidadeLuzia C. Rodrigues; Cludia C. Bonecker; Luiz Felipe Machado Velho; Fbio AmodoLansac Tha..........................................................................................................202

    Conservao do Patrimnio EspeleolgicoFlavia Fernanda de Lima......................................................................................211

    O ICMS Ecolgico como instrumento de gesto das Unidades deConservaoWilson Loureiro......................................................................................................215

    RPPN - A contribuio da sociedade civil, a conservao da biodiversidadee o papel dos poderes pblicos: o caso do ParanWilson Loureiro.....................................................................................................229

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    Comunidades rurais tradicionais e utilizao de recursos vegetaissilvestres: um estudo de caso da APA Estadual de GuaratubaClaudia Sonda, Yoshiko S. Kuniyoshi, Franklin Galvo.........................................240

    A importncia do correto enquadramento das Unidades de Conservaopara a sua efetividadeMrcia de Guadalupe Pires Tossulino; Mariese Cargnim Muchailh; Joo BatistaCampos..................................................................................................................259

    O perfil dos gerentes de Unidades de ConservaoGuadalupe Vivekananda........................................................................................278

    Programas de educao e interpretao ambiental no manejo de reasnaturais protegidasLiz Buck Silva.........................................................................................................282

    A importncia da pesquisa para as Unidades de Conservao: o caso doParque Estadual Vila Rica do Esprito Santo, Fnix - PRSandra Bos Mikich.................................................................................................286

    O Voluntariado e as Unidades de ConservaoMaria ngela Dalcomune......................................................................................302

    Sinalizao em Unidades de ConservaoWillians Rubens de Mendona.................................................................................306

    A Importncia da limnologia no monitoramento da qualidade ambientalde Unidades de ConservaoSidinei Magela Thomaz, Luis Mauricio Bini...........................................................313

    Monitoramento em Unidades de Conservao: imperativos para aexcelncia da gestoHelder Henrique de Faria......................................................................................326

    Sobre os autores.............................................................................................. 345

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  • 17

    O processo de criao de Unidades de Conservao (UCs) no Estadodo Paran no divergiu da maioria dos estados da Federao. Embora asprimeiras iniciativas para a criao de UCs datem de 1876, quando oengenheiro Andr Rebouas propugnava pela instituio de parquesnacionais na Ilha do Bananal e em Sete Quedas, o primeiro parquebrasileiro, Parque Nacional de Itatiaia, foi criado somente em 1937. Damesma forma, no Estado do Paran, o Parque Nacional do Iguau tevesua criao propugnada por Santos Dumont, em 1916, vindo a serinstitudo somente em 1939, por decreto do presidente da RepblicaGetulio Vargas.

    Em 1942, outro atributo da natureza, de reconhecimento mundial,sensibilizou o governo paranaense, levando-o a declarar de utilidadepblica, para fins de desapropriao (Decreto Lei 86/42), os imveisLagoa Dourada e Vila Velha, que abrigavam os monumentos Itacueretaba- A extinta cidade de pedra -, antigo nome do que hoje conhecemoscomo Vila Velha.

    Decorridos onze anos, somente no dia 12 de outubro de 1953, pelaLei Estadual n. 1292, foi criado o Parque Estadual de Vila Velha, formadopelos imveis j mencionados, para a conservao da flora e da faunanativas, para o cultivo de espcimes preciosos e para o estmulo doturismo em suas diferentes regies.

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  • 18

    Outro marco importante data do ano 1948, quando a AssembliaLegislativa do Estado do Paran decretou e sancionou a Lei n. 33 quereservava, como patrimnio inalienvel do Estado, as reas mnimas de121 hectares de terras devolutas nas regies onde estavam situados osremanescentes das primitivas redues jesuticas de Vila Rica, So Tom,Arcangelo, Santo Antonio, Encarnao, So Miguel, Loreto, Santo Incio,Jesus Maria e Guara. Dessas reas, remanesceu apenas a de Vila Ricado Esprito Santo, onde hoje existe o Parque Estadual de Vila Rica doEsprito Santo, no municpio de Fnix.

    O processo da colonizao do Paran deixou registros importantesno desenvolvimento das UCs, os quais poderiam ter sido melhores sefossem atendidos os propsitos que se pretendiam poca. Dentre eles,destaca-se o fato de que nos ttulos de terras, expedidos para alienar oulegitimar imveis devolutos, constava que seus proprietrios deveriam,de forma resolutiva, deixar 25% do imvel como reserva, semexplorao. Esse fato foi vencido e nunca cumprido, sendo novamenteresgatado com o advento da Lei de Terras 7005/78. Outro destaque foique, em muitos dos processos de demarcao das glebas destinadas colonizao, reservaram-se reas com diferentes finalidades. O queremanesceu delas originou algumas das atuais UCs paranaenses.

    Todo esse patrimnio (UCs) esteve durante um interregno de tempoadministrado por diversas instituies que as usavam para diferentesfinalidades, tais como: pesquisa agronmica, viveiro de produo demudas, horto florestal, ocupao por terceiros.

    Em 1977, foi criado o Departamento de Parques e Reservas noInstituto de Terras e Cartografia, com a finalidade de administrar osParques e Reservas do Estado do Paran. Esse fato representa ummomento importante, pois demarca o ato em que o estado iniciou seuintento de promover uma poltica para seus Parques e Reservas, ou pelomenos de organizar o quadro que se afigurava, ou seja, cada uma dassituaes citadas anteriormente encontrava-se ligada a uma instituio etinham as mais diversas finalidades, menos a de conservao dabiodiversidade. Quando esse objetivo ocorria era por mero acaso,normalmente vinculado ao interesse individual de pessoas que sededicavam a esse mister.

    A esse momento pode, tambm, ser atribudo um dos pontos demudana na poltica estadual de preservao da natureza relativamentes UCs, no porque tenham ocorrido grandes incrementos de reas,mas por ter sido o incio da organizao e do direcionamento de bens

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    at ento somente tratados como Parques e Reservas do Estado. Essemomento teve seu ponto culminante com a realizao de um diagnsticopara indicar o norte para as UCs, quanto necessidade de categoriz-las adequadamente bem como de analisar sua expressividade.

    Esse diagnstico foi elaborado com uma base tcnico-cientfica bem-sustentada e j indicava a tentativa de idealizar um sistema de reasprotegidas, ainda que no houvesse nenhum arcabouo legal para institu-lo formalmente.

    Assim, o processo de escolha dos locais para a criao de UCs noParan tradicionalmente decorrente de critrios como reasremanescentes de processos de regularizao fundiria e outrasoportunidades legais, integridade fsica e estado de conservao, belezacnica, rea sem interesse para atividades agrcolas, reas marginais aoprocesso de explorao econmica; enfim, reas que sobraram doprocesso de ocupao e expanso da fronteira agrcola do Estado.

    Como salientado por Machado e colaboradores (2004), tais critriospodem at ser importantes quando se analisa cada Unidade deConservao isoladamente, mas a aplicao destes resulta num conjuntode reas protegidas e no um sistema de reas protegidas.

    A diferena entre os dois termos que no primeiro as UCs surgemdo acaso e no segundo elas surgem com o objetivo explcito de formaruma estrutura organizada, complementar e integrada.

    De fato, a situao das Unidades de Conservao no Paran esta:temos um conjunto de reas protegidas e necessrio desenvolver eimplementar um sistema de reas protegidas.

    Devido a sua localizao e caractersticas fisiogrficas, no Estadodo Paran ocorre uma grande diversidade de ambientes e ecossistemas.Com a colonizao e a expanso das fronteiras agrcolas, esses ambientese ecossistemas foram gradativamente eliminados e substitudos,remanescendo poucas reas naturais (prximo de 8% de remanescentesnaturais).

    Conforme j mencionado, a histria de criao de UCs no Estado doParan sempre esteve ligada a reas remanescentes do processo decolonizao e ocupao do seu territrio, observando poucasistematizao para levar a termo a proteo de seus diferentesecossistemas.

    Esse fato resultou no quadro atual e demonstra uma baixa

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    representatividade das ecorregies em termos de UCs de Proteo Inte-gral (Tabela 1).

    Alm de representar somente um pequeno percentual em relao sreas originais dos diversos biomas ocorrentes no Estado, essas UCsapresentam uma reduzida extenso e esto isoladas, o que pode acarretargrandes problemas para o futuro no que diz respeito manuteno davariabilidade natural das espcies, da diversidade gentica, dosecossistemas e dos processos naturais. Assim, a criao, oestabelecimento, o manejo e a gesto de UCs no Paran devem evoluirpara uma sistematizao que possa atender correo dessas indicaes,como tambm incrementar a participao da sociedade nessas aes.

    Apesar do quadro atual ser desolador e pessimistas serem asperspectivas para a preservar a biodiversidade no Estado do Paran,sob o foco da biologia da conservao, no h que se desanimar e muitomenos se omitir frente a essa problemtica.

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    Tabela 1 - Distribuio das Unidades de Conservao nos biomas emrelao rea do Estado do Paran

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    Atualmente no se pode escolher muito as reas importantes paraestabelecer novas UCs (lacunas), ou melhor, est fcil de escolh-las.Existem to poucas remanescentes que todas as reas naturais do Estadoso estratgicas para a conservao da biodiversidade. Vamos alm: naverdade, preciso muita recuperao para que requisitos mnimosindicados pela cincia da biologia da conservao sejam atendidos.

    Passos tm de ser dados. Primeiramente, h a necessidade de otimizara conservao da biodiversidade in situ, nas UCs j existentes, o quedemanda uma gama de aes e de projetos que produzam resultados noaumento da expressividade e na busca de maior estabilidade dessasUCs.

    Deve ser realizado um reenquadramento das UCs para adequ-lasaos preceitos do Sistema Nacional de Unidades de Conservao (Snuc),tanto em relao aos aspectos do correto enquadramento nas categoriasde manejo quanto - principalmente - s funes que elas devemdesempenhar no processo de conservao da biodiversidade.

    Deve-se buscar a eficincia no planejamento dessas Unidades,procurar corrigir distores em sua utilizao e gesto, instituir sistemasde incentivo a parceiros (prefeituras municipais, ONGs, universidades,particulares e outros) para iniciativas de criao de novas reas eimplementao das UCs e outras atividades que estejam aliceradas,basicamente, em duas vertentes: i) aumento da expressividade (latosensu) das UCs j estabelecidas e ii) ampliao das reas protegidas.

    O alerta de Kenton Miller (1997)3 em seu discurso de abertura noCongresso Latino-Americano de Parques Nacionais e reas Protegidas,realizado na Colmbia, ainda ecoa e importante relembrar: somente oestabelecimento de UCs no garante a efetiva proteo da biodiversidade.A cincia da Biologia da Conservao adverte que a proteo de grandesreas selvagens representativas importante, mas insuficiente. Hoje omanejo da conservao requer a aplicao da cincia da biologiapopulacional para assegurar que as espcies da regio e a variaogentica sejam mantidas em quantidade e qualidade suficientes. A cinciademonstra tambm que a manuteno da biodiversidade , realmente,um esforo atuante, e no simplesmente passivo.

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    As Unidades de Conservao representam uma das melhoresestratgias de proteo do patrimnio natural. Nestas reas, a fauna e aflora so conservadas assim como os processos ecolgicos que regemos ecossistemas, garantindo a manuteno do estoque da biodiversidade(Ibama,2003).

    Conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (Snuc),entende-se Unidade de Conservao como o espao territorial e seusrecursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticasnaturais relevantes, legalmente institudo pelo poder Pblico, comobjetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial deadministrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo (MMA,2002).

    Entre os objetivos do Snuc, destacam-se:

    A degradao de uma rea ocorre quando a vegetao nativa e afauna so destrudas, removidas ou expulsas; a camada frtil do solo

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    I - contribuir para a manuteno da diversidade biolgicae dos recursos genticos no territrio nacional e nas guasjurisdicionais; III - contribuir para a preservao e arestaurao da diversidade de ecossistemas naturais; eIX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados.

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    perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e o regime de vazo dosistema hdrico for alterado. A degradao ambiental ocorre quando hperda de adaptao s caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas e inviabilizado o desenvolvimento socioeconmico (Ibama, 1990).

    Por outro lado, ainda conforme a mesma fonte, recuperao significaque o stio degradado ser retornado a uma forma de utilizao de acordocom um plano pr-estabelecido para o uso do solo. Implica que umacondio estvel ser obtida em conformidade com os valores ambientais,estticos e sociais da circunvizinhana. Significa tambm que o stiodegradado ter condies mnimas de estabelecer um novo equilbriodinmico, desenvolvendo um novo solo e uma nova paisagem (Ibama,1990).

    O Snuc (MMA, 2002), definiu recuperao como:

    Conforme o grupo de Unidades de proteo integral ou Unidades deuso sustentvel, e suas respectivas categorias, diferentes objetivos ounveis de recomposio ambiental podem ser estabelecidos, promovendo-se a restaurao ou a recuperao ambiental das reas degradadas.

    Por outro lado, considerando-se os objetivos do Sistema Nacionalde Unidades de Conservao, e sua funo e importncia para toda asociedade, o objetivo final da recuperao de reas degradadas nas UCsdeve o de ser restaurar os ecossistemas o mais prximo possvel dassuas condies originais.

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    Nas diversas categorias de Unidades de Conservao podem serencontrados contextos diferenciados de degradao ambiental, os quaispodem ser classificados conforme apresentado a seguir:

    a) com profunda alterao da paisagem e do solo: passivos ambientaisoriundos de usos muitas vezes anteriores criao da UC, como antigasjazidas ou minas, depsitos de estreis, reas de emprstimo para obrasde infra-estrutura, depsitos de lixo ou de resduos diversos, grandesreas erodidas, entre outros;

    (...) a restituio de um ecossistema ou de uma populaosilvestre degradada a uma condio no degradada, quepode ser diferente de sua condio original. E restauraocomo a restituio de um ecossistema ou de umapopulao silvestre degradada o mais prximo possvelda sua condio original.

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    b) com pequena alterao/remoo do solo: pequenas trilhas eacessos, reas com construes, entre outros;

    c) com as caractersticas originais de relevo, mas solo degradado:antigas lavouras, reas cobertas com povoamentos de espcies exticasou espcies invasoras tpicas de pastagens abandonadas, etc;

    d) com vegetao nativa, mas em estgio inicial de regeneraosecundria: o solo se encontra coberto e protegido, j h espciesherbceas e/ou arbustivas nativas indicando um processo de sucessoinicial, mas, a depender do nvel de degradao ocorrido no local, poderono existir condies de que o ambiente alcance a autosustentabilidadedesejada, a curto ou mdio prazo.

    e) com vegetao nativa, mas em estgio mdio de regeneraosecundria: j apresenta espcies arbreas caractersticas de estgiosmais avanados, mas pode ainda no possuir em sua regenerao espciescaractersticas de ambientes mais avanados ou clmaxes.

    Para alguns autores rea degradada aquela que teve eliminado osseus meios de regenerao natural, apresentando baixa resilincia,portanto exigindo a ao antrpica para sua recuperao (Carpanezzi, etal., 1990; Kageyama, Reis & Carpanezzi, 1992).

    A biodiversidade tem sido considerada a maior riqueza dosecossistemas tropicais, portanto a restaurao dos que esto degradadosdeve considerar essa diversidade, na tentativa de reconstruir taisecossistemas, de modo que se resgate um mnimo da forma e funoque lhes so inerentes (Kageyama & Gandara, 2002).

    Considerando as caractersticas e dificuldades desse processo,porm, a restaurao no deve ter a pretenso de refazer uma florestaou ecossistema exatamente igual ao que existia antes, mas sim colocarno campo uma composio de espcies, de forma tal que forneacondies para que essa nova comunidade tenha maior probabilidade dese desenvolver e se autorenovar, ou que tenha maior probabilidade deser sustentvel (Engel, 2000 - adaptado). Convm ressaltar a importnciada sucesso secundria, que o mecanismo pelo qual as florestastropicais se auto-renovam, pela cicatrizao de locais perturbados.

    Conforme a condio de cada rea degradada, os procedimentospara a recuperao sero diferenciados, como sugerido a seguir.

    a) Com profunda alterao da paisagem e do solo.Em muitos casos, no ser mais possvel recompor a topografia e a

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    paisagem, mas tentar recompor o ambiente com suas caractersticas omais prximo possvel do original. O principal limitante neste caso que no h horizonte de solo orgnico, muitas vezes o material quaseinerte, dificultando em muito a recomposio. Ser necessrio, ento,iniciar a recomposio buscando criar um novo solo, capaz de suportaros ecossistemas originais.

    Tambm pode haver necessidade de aes de descompactao, demodo a reduzir o risco de limitao ao desenvolvimento das espciesvegetais de interesse. Sua integrao paisagem local ser mais lenta edifcil.

    b) Com pequena alterao/remoo do solo.Neste caso a diferena topogrfica tender a ficar pouco perceptvel,

    mas haver a necessidade normalmente de realizar a descompactaodo solo e implantar medidas que visem melhoria das condies de solode modo que este suporte os ambientes originais.

    c) Com as caractersticas originais de relevo, mas solo degradado.Neste caso, muitas vezes podero no serem necessrias aes

    intensivas de melhoria das condies nutricionais do solo, mas simcorrigir problemas de acidez ou relativo limitao de matria orgnica.Pode requerer, entretanto, conforme o contexto, que se faa o controledo banco de sementes de espcies exticas, bem como de espciesinvasoras, entre outras aes.

    d) Com vegetao nativa, mas em estgio inicial de regeneraosecundria.

    Em geral, no ser mais necessrio recompor o solo, mas pode serpreciso plantar espcies pioneiras ou secundrias do ambiente de interesse,como forma de acelerar a regenerao. J no caso de reas com histricode degradao mais acentuada, que apresentam as caractersticas de sucessoinicial h muito tempo, ou seja, que se encontram estagnadas, poder sernecessrio adotar tambm medidas mais intensivas de recomposio desolo.

    e) Com vegetao nativa, mas em estgio mdio de regeneraosecundria.

    Neste contexto, seria importante verificar a composio florstica ea regenerao no sub-bosque para identificar a ocorrncia ou no deespcies secundrias ou climcicas especficas, e caso necessrio, serempromovidos plantios de adensamento das espcies desejadas.

    Para todos os casos citados anteriormente, a revegetao a tcnicamais empregada como etapa primordial para a recuperao ambiental.

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    Em geral, utiliza-se espcies herbceas e arbreas.Em reas com menor grau de degradao, tem sido recomendado o

    uso de serapilheira do entorno, visando proteo, adubao e at comomedida de agregao de sementes de espcies nativas no solo. No casode reas com maior grau de degradao, so necessrias aes maisintensivas e complexas, envolvendo a coleta de amostras, a anlise decaractersticas fsico-qumicas dos solos e a promoo da correoespecfica para cada caso.

    A germinao e o crescimento das plantas dependem doestabelecimento de condies apropriadas, definidas por tcnicasagronmicas. A aplicao de formulados base de nitrognio-fsforo-potssio (NPK) e de um suplemento adequado de micronutrientes, nacomposio e proporo indicada por uma anlise qumica do material aser recoberto pela revegetao, garantem o desenvolvimento adequadodas plantas (Williams, 1991).

    O uso de espcies forrageiras (pastagens), para recuperar reasdegradadas, tem sido motivo de diversos estudos. Nesses trabalhos,demonstra-se que as forrageiras so uma forma racional de conservaoe recuperao dos solos degradados, pois proporcionam rpida e amplacobertura do solo, protegem-no contra o impacto da chuva, evitam adesagregao superficial e atenuam o fenmeno da eroso. Alm disso, oestabelecimento das razes aumenta a porosidade da subsuperficie do solo,o que contribui para a infiltrao da gua (Lucchesi et al.,1992).

    Vale destacar que as gramneas so de extrema importncia no controleinicial da eroso, devido ao rpido crescimento e sistema radicularabundante. A falta de sementes e ausncia de conhecimentos sobre aadequao das espcies, entretanto, alm dos problemas de germinao,tm desencorajado o uso das gramneas nativas. Apesar de mais exigentesquanto fertilidade, sobretudo em elementos como clcio e fsforo, asespcies leguminosas so recomendadas devido capacidade em fixar onitrognio da atmosfera (Williams, op. cit.).

    Alm da melhoria da condio fsica, as espcies forrageiras interferemem aspectos qumicos dos solos degradados. Lucchesi et al. (1992) citamtrabalhos por meio dos quais foram observados aumentos nos teores dematria orgnica dos solos cultivados com pastagens. Citam ainda aimportncia do uso de consrcios de gramneas e leguminosas, sendoque a funo das primeiras promover uma rpida e densa cobertura dosolo, e das segundas manter a suplementao adequada de nitrognio nosolo, disponibilizando-o s plantas com as quais esto consorciadas.

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    Considerando a necessidade de recompor um ambiente degradadoem UCs, onde seja preciso usar a cobertura de forrageiras, deve-sepriorizar as espcies nativas ou, no mximo, espcies forrageiras anuaisque no sejam to agressivas, para que no haja competio com asarbreas nativas a serem implantadas posteriormente e com a prpriaregenerao natural. O uso de braquiria Braquiaria spp e do capimgordura Melinis minuflora, por exemplo, espcies com grandecapacidade para colonizar solos degradados, incorporam grandequantidade de matria orgnica; mas, devido ao seu crescimentoagressivo, impedem a instalao de espcies arbreas, inviabilizam oprocesso de sucesso secundria, alm de atrarem o fogo nas pocasde seca.

    Dependendo das condies dos locais a serem recuperados, pode-serealizar a semeadura a lano de um coquetel de sementes de gramnease leguminosas, junto com arbreas pioneiras, de preferncia leguminosas.A introduo de leguminosas arbreas um passo fundamental devido fixao de nitrognio no solo e incorporao de uma grande quantidadede matria orgnica, pela deposio de folhas e ramos.

    Para Davide (1994), a recuperao de reas degradadas, a partir dasemeadura de uma mistura de sementes de gramneas, leguminosas eoutras espcies herbceas, arbustivas e arbreas, constitui uma alternativaque poderia trazer resultados satisfatrios.

    O ideal seria aps o estabelecimento destas espcies, realizar umprograma contnuo de enriquecimento com espcies florestais nativascaractersticas de fases sucessionais mais avanadas, de modo a tentarreproduzir os processos de sucesso ecolgica, entendida como oacrscimo ou substituio seqencial de espcies de uma comunidade,acompanhada de alteraes na abundncia das espcies antes presentese nas condies ambientais locais.

    Para tal, tem sido utilizada a concepo metodolgica da sucessosecundria de matas tropicais (Budowiscky, 1965), cujo princpio implantar mosaicos de mudas de espcies vegetais arbreas nativas,pertencentes a estgios sucessionais distintos, manejadas para instituiruma dinmica da sucesso natural, em que espcies pioneiras - de rpidocrescimento - germinam e se desenvolvem a pleno sol e produzem demodo precoce muitas sementes pequenas e com alta dormncia.

    Alm disso, tais espcies pioneiras se dispersam predominantementepor animais, de maneira que exercero o devido sombreamento -tutoramento natural - sobre espcies dos estgios subseqentes

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    denominadas secundrias, espcies de crescimento intermedirio, queproduzem sementes capazes de germinar sombra mas que necessitamde sol para seu desenvolvimento; grande nmero de espcies com baixonmero de indivduos por rea de ocupao.

    Por fim, surgem as climcicas, espcies de crescimento lento, quegerminam e se desenvolvem meia sombra, produzem sementes grandes,sem dormncia e tm baixa densidade por rea. So espcies finais nasubstituio seqencial.

    Este modelo metodolgico considera que incrementar odesenvolvimento vegetativo das mudas implantadas implica, em grandeparte, o manejo do fator luz, sendo este o princpio da auto-renovaoe auto-regenerao das matas tropicais. O pleno desenvolvimento dessesvegetais fornecer ganhos significativos s condies do solo, presenado banco de sementes, ao banco de plntulas, ao ressurgimento eestabelecimento da interao fauna-flora - abrigo e alimentao versusdisperso de sementes - ao microclima, ao equilbrio hidrolgico, entreoutros fatores.

    Em sntese, algumas consideraes devem ser feitas para a seleodas espcies mais adequadas (Williams, 1991):

    - objetivos a curto e longo prazo;- condies qumicas e fsicas dos locais de plantio;- regio fitogeogrfica onde se encontra a rea degradada;- microclima;- viabilidade das sementes;- tamanho e variabilidade de mudas das espcies arbreas;- taxa e forma de crescimento das plantas;- compatibilidade com outras espcies a serem plantadas no local;- tipo de metodologia selecionada.Convm destacar que a recuperao da rea degradada dever

    considerar o conhecimento disponvel sobre aspectos florsticos efitossociolgicos do ambiente a ser restaurado, os quais devero norteara seleo das espcies a serem utilizadas.

    A fim de atender a estas condicionantes na recomposio das reasdegradadas, ser necessrio definir, em resumo:

    - a composio e a distribuio das espcies (forrageiras, pioneiras,secundrias iniciais, secundrias tardias e climcicas);

    - o espaamento entre as mudas;- os tratos de conduo e manuteno relativos a adubaes adicionais,

    poda, coroamento, cuidados com formigas e doenas, implantao e

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    manuteno de aceiros, implantao de cercas protetoras etc.;- outros aspectos pertinentes, como o controle de espcies invasoras,

    adensamento, instalao de formas adicionais para abrigar e atrair afauna etc..

    O Snuc define diversidade biolgica como a variabilidade deorganismos vivos de todas as origens. Compreende, entre outros,os ecossistemas terrestres, marinhos e outros aquticos e oscomplexos ecolgicos de que fazem parte; compreende ainda adiversidade dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas.

    Portanto, devemos ressaltar que a restaurao de reasdegradadas deve ter o objetivo no somente de resgatar umarepresentatividade das espcies que existiam naquele ecossistemaa ser reconstrudo mas tambm a diversidade gentica dentro daspopulaes dessas espcies. Essa variao gentica a forma deassegurar que as espcies introduzidas na restaurao tenham ummnimo de condies de atender a uma possvel diversidade decondies ambientais, edficas e de clima (Kageyama e Gandara,2002).

    Assim, devem ser levados em considerao aspectos dadiversidade de espcies, de sua reproduo e da sucesso ecolgicanatural, alm de inserir a recomposio na paisagem onde se insere.Dessa forma, incorporar na restaurao os conceitos defragmentao, permeabilidade da matriz, conectividade da paisagem,corredores ecolgicos, fluxo gnico e de organismos, permite oavano da viso de restaurao e amplia os horizontes das nossasaes em reas degradadas (Kageyama e Gandara, op.cit.).

    Alm disso, no podemos esquecer que a capacidade reprodutivae a sobrevivncia de muitas espcies vegetais dependem das relaesco-evolutivas com espcies animais, incluindo seus dispersores desementes, polinizadores, protetores contra predadores e outrasinteraes naturais. A fauna um dos componentes do ambiente,um dos responsveis por sua configurao. De fato, a fauna tempapel fundamental na pedognese e recuperao dos solos, seja nareciclagem de nutrientes ou no revolvimento de suas camadas. Porisso, deve ser lembrada tambm quando da recomposio de reasdegradadas.

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    Apesar de ter sido cunhada no livro Invases Biolgicas de Animaise Plantas, de Charles Elton em 1958, a cincia das invases biolgicastem emergido com amplitude no Brasil apenas desde 2003, graas presena de algumas poucas espcies que tm causado estragos aatividades humanas, em todo o Brasil. Trata-se do mexilho douradoLimnoperma fortunei e do caramujo-gigante-africano, Achatina fulica.

    A lacuna de um levantamento nacional sobre espcies exticasinvasoras e do reconhecimento oficial de quais seriam as espciesexistentes e potenciais dificultou at hoje a realizao de esforos deconservao e a efetividade de manejo em Unidades de Conservao.Esta lacuna est sendo suprida com a finalizao do primeiro InformeNacional sobre Espcies Exticas Invasoras para o Brasil em 2005,realizado pelo Instituto Hrus, The Nature Conservancy, Universidadede So Paulo, Universidade Federal de Viosa, Fundao Oswaldo Cruze Embrapa com o Ministrio do Meio Ambiente.

    O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (Snuc, 2000) preva remoo de espcies exticas de reas protegidas, porm a falta dereconhecimento do problema e de conhecimento tcnico-cientfico sobreo assunto resultam com freqncia na conservao de plantas e animaisque no fazem parte dos ecossistemas sob proteo, assim como na

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    dificuldade de seleo de prioridades para erradicao e controle.Espcies exticas so aquelas que ocorrem numa rea fora de seu

    limite natural historicamente conhecido, como resultado de dispersoacidental ou intencional por atividades humanas (Instituto de RecursosMundiais; Unio Mundial para a Natureza; Programa das Naes Unidaspara o Meio Ambiente, 1992). O conceito refere-se ocupao deespaos fora de seu ambiente natural, independentemente de divisaspolticas de pases ou estados; ou seja, espcies brasileiras de umambiente tambm so exticas em outros, ainda que dentro das mesmasfronteiras polticas. Tratando-se de organismos aquticos, os limitesso ainda mais estreitos, sendo necessrio considerar bacias oumicrobacias como unidades menores dentro de ecossistemas. O fatoda espcie ser extica no implica, necessariamente, que haja dano.

    Espcies exticas invasoras, por outro lado, so aquelas que, umavez introduzidas a partir de outros ambientes, adaptam-se e sereproduzem a ponto de substituir espcies nativas e alterar processosecolgicos naturais, tornando-se dominantes aps um perodo maisou menos longo, requerido para sua adaptao (Ziller, 2000). Trata-sedas espcies que, em novos territrios, proliferam, dispersam-se epersistem em detrimento de espcies e ecossistemas nativos (Mack etal., 2000).

    Invaso biolgica o processo de introduo e adaptao de espciesque no fazem parte naturalmente de um dado ecossistema, mas quese estabelecem e passam a provocar mudanas em seu funcionamento,em geral quebrando cadeias ecolgicas. A introduo pode ser realizadaintencional ou acidentalmente, geralmente por vias humanas (Ziller,2000).

    Ao contrrio de muitos problemas ambientais que se amenizamcom o tempo, como por exemplo a poluio qumica, invasesbiolgicas se multiplicam, se espalham e causam problemas de longoprazo que se agravam com o passar do tempo e no permitem que osecossistemas afetados se recuperem naturalmente (Westbrooks, 1998).

    A capacidade invasora de uma espcie representada por uma sriede variveis que potencializam o sucesso de seu estabelecimento,disperso, persistncia e dominncia num novo ambiente (Ziller, 2000).

    A suscetibilidade de uma comunidade vegetal invaso por espciesexticas representa a fragilidade de um ambiente. Depende decaractersticas da prpria comunidade e das espcies invasoras emcada situao (Ziller, 2000).

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    As primeiras translocaes de espcies de uma regio a outra doplaneta foram intencionais e buscavam, basicamente, suprir necessidadesagrcolas, florestais e outras de uso direto. Em pocas mais recentes, opropsito das introdues de espcies voltou-se significativamente parafins ornamentais, sendo que o nmero dessas espcies que se tornouinvasora com o passar do tempo de quase a metade dos casosregistrados em ambientes terrestres (Binggeli, 2000).

    A maior parte das introdues de espcies exticas invasoras emambientes marinhos ocorre de forma acidental, estando em geralassociadas gua de lastro e cascos de embarcaes.

    Entre a gama de motivos que levam introduo proposital de espciesexticas ao redor do mundo, os mais evidentes referem-se necessidadee ao desejo de cultivar produtos alimentares diversos, por razeseconmicas. Segue o gosto pelo cultivo de plantas ornamentais, o usode espcies para produo florestal, controle de eroso, experimentaocientfica, camuflagem de instalaes militares e usos medicinais ereligiosos.

    Outro motivo comum o desejo de povos imigrantes de recriar apaisagem de suas terras de origem que, na frica do Sul, levou a extensosplantios de conferas exticas na Montanha da Mesa, pano de fundo daCidade do Cabo, visando a melhorar a esttica do lugar (Wells et al.,1986; Richardson; Higgins, 1998; Binggeli, 2000).

    O Brasil repete hoje ainda o histrico de introduo de espcies exticasinvasoras sem preocupaes ambientais, intensificado a partir da dcadade sessenta. Espcies exticas so recomendadas para cultivo em diversasregies do pas como solues econmicas falta de prtica no uso dabiodiversidade nativa. Embora agncias governamentais recomendem ocultivo de espcies exticas invasoras em mltiplas situaes, no fazemnenhuma meno necessidade de controle da disperso de espciesinvasoras. Este o caso de nim Azadirachta indica, algaroba Prosopisjuliflora e P. pallida, do gnero Pinus, accia-negra Acacia mearnsii einmeras outras espcies, inclusive de peixes e crustceos empregadosna aquacultura.

    A Nova Zelndia conta hoje aproximadamente 24.539 espciesintroduzidas, mais de 70% com propsitos ornamentais, 12% para cultivoagrcola, horticultura e produo florestal e apenas 11% de formaacidental (Department of Conservation, 1998; Braithwaite; Timmins,1999). Tambm h registro de plantios em reas subalpinas e montanas

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    erodidas para fins de conservao de solos, reduo de escorrimentosuperficial e assoreamento de cursos dgua e estabilizao de encostas(Hunter; Douglas, 1984). Os dados oficiais so de que cerca de 240espcies j naturalizadas constituem problemas como invasoras, comuma a taxa de aumento de quatro espcies por ano (Department ofConservation, 1997; Braithwaite; Timmins, 1999).

    Estima-se que, entre as plantas vasculares naquele pas, haja 2.057espcies nativas, 2.100 naturalizadas e outras 22.520 introduzidas masainda no naturalizadas. Assim, o nmero de plantas introduzidasnaturalizadas atualmente superior ao de espcies nativas (Owen;Timmins; Stephens, 2000). Os nmeros para as plantas de gua doceso 59 espcies nativas, 52 introduzidas e naturalizadas e outras 139introduzidas e no naturalizadas (Department of Conservation, 1998).O potencial de invaso futuro , portanto, de difcil mensurao naatualidade, sendo porm as perspectivas ambientais bastante negativas.

    Os impactos da contaminao biolgica constituem as principaisameaas sobrevivncia de 61 espcies ameaadas de extino na NovaZelndia, alm de afetar outras 16 em funo de exercerem gradativadominncia sobre reas naturais. A previso de que 575.000 hectaresde reas naturais protegidas estejam sob risco de invaso nos prximosdez a quinze anos (Department of Conservation, 1998; Owen; Timmins;Stephens, 2000).

    Observa-se que, desde 1940, h um aumento marcante na dispersode espcies exticas arbreas como resultado de pastoreio menosintensivo em pastagens no melhoradas e restries a queimadas (Langer,1993; Hunter; Douglas, 1984), ambos fatores que apresentam efeito decontrole de mudas em disperso natural.

    Na Austrlia, estima-se que 31% das espcies atualmente listadascomo invasoras na legislao estadual ou federal foram introduzidascomo ornamentais, 18% de forma acidental, 15% para usos diversos e36% para fins desconhecidos (Agriculture and Resource ManagementCouncil of Australia and New Zealand et al., 1999).

    Os estados dos Estados Unidos com maior nmero de plantas exticasque se tornaram invasoras so os que tm climas mais amenos, ou seja,o Hava, a Flrida e a Califrnia. Na Flrida, sabe-se que 45% das plantasconsideradas invasoras pelo Florida Exotic Pest Plant Council foramintroduzidas para fins ornamentais, havendo indcios de que esse nmeropode chegar a 60% (Gordon; Thomas, 1994; Doria Gordon, com.pessoal, 2000). Num inventrio realizado em 1988 no mesmo estado

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    para definir a extenso de reas de gua doce invadidas por exticasdetectou-se 137 espcies aquticas numa rea de 175.000 hectares.Destas, 22 eram exticas e cobriam 26% dessa rea, dos quais 62%correspondiam infestao de Hydrilla verticillata (Westbrooks, 1998).Vale citar tambm a ocupao do Parque Nacional de Everglades porSchinus therebinthifolius aroeira, nativa do Brasil.

    Mais de 4.600 espcies exticas foram introduzidas s ilhas havaianasnos ltimos duzentos anos. Destas, 200 esto naturalizadas e 86 setornaram invasoras (Smith, 1985), entre as quais Psidium cattleianumara, nativo do Brasil. Outros autores argumentam que mais de 20.000plantas j foram introduzidas ao Hava para uso agrcola e ornamental,porm a maior parte no apresenta problemas como invasoras. De acordocom a fonte de informao mais aceita acerca da flora das ilhas, oManual for the Flowering Plants of Hawaii (Wagner; Herbst; Sohmer,1990), de um total de 1817 espcies, 956 so nativas e 861 exticas jnaturalizadas, perfazendo 47,4% da flora atual. Esses nmeros tem umamargem de variao em funo de espcies novas, redescobertas ouextintas (John M. Randall, com. pess., 2000; Westbrooks, 1998). Estima-se que 200 espcies endmicas estejam extintas e que outras 800 estejamameaadas de extino. A maior parte dos ambientes a altitudes inferioresa 500 metros e diversos outros a altitudes maiores esto completamentedominados por espcies exticas invasoras (Vitousek, 1988).

    Dentre os estados continentais dos Estados Unidos, Nova Iorquetem o maior percentual de espcies exticas, somando 36% (Rejmnek;Randall, 1994; Randall; Marinelli, 1996). Na Califrnia, que contm umaflora de mais de 5000 espcies de plantas vasculares, 30% das quaisso endmicas e 10% das quais esto extintas ou ameaadas de extino(Mooney, 1988), atualmente 17,7% das plantas so exticas, estimando-se a existncia de 1045 espcies introduzidas e 4850 nativas. Estima-seque a maior parte tenha se estabelecido nos ltimos 150 anos, emborahaja registros de introduo de espcies desde o final do sculo XVIII(Randall; Rejmnek; Hunter, 1998).

    Estima-se que a ocorrncia de plantas invasoras estenda-se hoje por3,5 milhes de hectares, ou 31%, dos parques nacionais estadunidenses,o que levou concepo de 448 projetos de controle at o ano de 1998.As prticas de controle de Melaleuca quinquenervia, de origemaustraliana, na Flrida, custaram ao servio de parques nacionais a quantiade 2,4 milhes de dlares, entre 1988 e 1998, para a remoo de 4,3milhes de caules da planta numa rea de quase quarenta mil hectares.No Parque Nacional de Yellowstone, o mais antigo do pas, aes de

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    controle tm contado com trabalho voluntrio e so concentradas em24 das 164 espcies exticas existentes (Westbrooks, 1998). Essa espcie empregada sem maiores preocupaes como planta ornamental emdiversas regies do Brasil.

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    Tamanho o potencial de espcies exticas de modificar sistemasnaturais que as plantas invasoras so atualmente consideradas a segundamaior ameaa biodiversidade. Perdem apenas para a destruio dehabitats e a explorao humana direta e constituem um problemasubestimado (DAntonio; Vitousek, 1992; Randall, 1996; Hughes, 1994;IUCN, 2000).

    Dada a escala em que se encontram diversas reas invadidas e a faltade polticas de preveno ao problema, a contaminao biolgica seequipara converso de ambientes para uso humano e a mudanasclimticas como um dos mais importantes agentes de mudana globalpor causa antrpica (Mack et al., 2000; Westbrooks, 1998; Rejmnek,1996; DAntonio; Vitousek, 1992). Alm disso, as mesmas espciesexticas so invasoras de diversos pases e sua dominncia tende alevar homogeneizao da flora mundial (Lugo, 1988).

    Plantas invasoras podem produzir alteraes em propriedadesecolgicas essenciais tais como ciclagem de nutrientes e produtividadevegetal, cadeias trficas, estrutura, dominncia, distribuio e funesde espcies num dado ecossistema, distribuio de biomassa, densidadede espcies, porte da vegetao, ndice de rea foliar, queda deserrapilheira (que faz aumentar o risco de incndios), taxas dedecomposio, processos evolutivos e relaes entre polinizadores eplantas. Podem mudar a adequao do hbitat para espcies animais,alterar caractersticas fsicas do ecossistema como eroso, sedimentaoe mudanas no ciclo hidrolgico, no regime de incndios e no balanoenergtico e reduzir o valor econmico da terra e o valor esttico dapaisagem, comprometendo seu potencial turstico. Podem ainda produzirhbridos ao cruzar com espcies nativas e eliminar gentipos originais,ocupar o espao de plantas nativas, levando-as a diminuir em abundnciae extenso geogrfica, aumentando os riscos de extino de populaese de espcies. Os efeitos agregados de invases potencializadas poratividades antrpicas pem em risco esforos para a conservao dabiodiversidade, a manuteno da produtividade de sistemas agrcolas, a

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    funcionalidade de ecossistemas naturais e a sade humana (Breytenbach,1986; Versfeld; van Wilgen, 1986; Rapoport, 1991; DAntonio; Vitousek,1992; Westbrooks, 1998; Ledgard; Langer, 1999; Richardson, 1999;Higgins; Richardson; Cowling; Trinder-Smith, 1999; Mack et al., 2000).

    Espcies invasoras de maior porte do que a vegetao nativa produzemfortes impactos em funo da alterao das relaes de dominncia dessascomunidades. Isso tende a levar ao desaparecimento de espcies helifilasnativas e modificar a fisionomia da formao em funo da entrada denovas formas de vida. Decorrem alteraes na composio, fisionomiae estrutura dessas comunidades vegetais. A biomassa de povoamentosflorestais em reas campestres pode ser de 70 a 100 vezes superior original (Versfeld; van Wilgen, 1986), o que certamente implica consumodiferenciado dos recursos naturais disponveis no sistema (Breytenbach,1986). Povoamentos oriundos de disperso natural so semelhantes emmuitos aspectos a plantios comerciais e causam essencialmente osmesmos impactos (Richardson, 1999). O ecossistema original ficatotalmente modificado com o passar do tempo (Richardson; Higgins,1998).

    A introduo de espcies de Pinus pode mudar o nvel de acidez dosolo, com conseqentes alteraes na microfauna e microflora, einviabilizar a sobrevivncia de espcies de vertebrados e invertebrados(Rapoport, 1991). Outros impactos so a reduo na diversidadeestrutural, o que reduz o valor da comunidade como hbitat para a vidaselvagem; o aumento de biomassa, que implica aumento na intercepoe na perda de gua por transpirao e conseqente reduo no fluxohdrico, alm de acmulo de material combustvel; alterao na dinmicada comunidade, em especial no tocante ao regime de incndios peridicostpico de comunidades campestres e savancolas; e alteraes na ciclagemde nutrientes em funo de enriquecimento do solo com nutrientes (emsolos pobres da Austrlia e Nova Zelndia), mudanas nos nveis totaisde fsforo e nitratos reativos, densidade reduzida de organismosdecompositores e reduo da taxa de decomposio.

    Na Argentina, as espcies invasoras de origem europia representamhoje 25% da flora da Terra do Fogo e equivalem a uma coberturaaproximada de 28% da vegetao florestal e 31% da Estepe. No noroestepatagnico, h registro de cerca de trezentas espcies exticas invasoras(Rapoport, 1991).

    A bacia do Mediterrneo cobre um territrio de mais de dois milhesde quilmetros quadrados e estima-se que compreenda cerca de 25 mil

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    espcies de plantas, sendo aproximadamente a metade endmica. Dentre2879 espcies endmicas a pases mediterrneos (excluindo Sria, Lbano,Turquia e as ilhas atlnticas), 1529 esto enquadradas como raras ouameaadas de extino. Incluindo as ilhas atlnticas Aores, Madeira eCanrias, esses nmeros sobem para 3583 espcies endmicas e 1968raras ou ameaadas (Mooney, 1988).

    H registros de perda de diversidade na frica do Sul em reasinvadidas e dominadas por Pinus radiata. Aps 35 anos de plantio, onmero mdio de espcies por amostra de 0,1 m2 era de 1,8 contra umamdia original de 8,5 espcies. Constatou-se a reduo da cobertura davegetao original de 74 para 19% e da densidade de 260 para 78 plantas/m2,sendo que algumas formas de vida se mostraram mais resistentes invaso (MacDonald; Richardson, 1986). A situao atual indica 750espcies como ameaadas de extino nesse ambiente, listadas no RedData Book da IUCN, em funo das invases por espcies exticas(Hughes, 1994).

    Levantamentos areos na regio de Stellenboschberg, tambm nafrica do Sul, permitiram quantificar o aumento na cobertura de invasesdensas de Pinus pinaster, com mais de cinqenta plantas por quilmetroquadrado, de 4% em 1938 para 36% em 1977. A rea invadida porespcies dos gneros Hakea e Pinus em 1985 no ambiente de fynbosera de 7592 quilmetros quadrados (MacDonald; Richardson, 1988).

    Em reas de captao de gua no mesmo pas, realizaram-secomparaes volumtricas de vazo entre vegetao a herbceo-arbustivaoriginal e reas invadidas por exticas arbreas. Constatou-se reduode volume de 52% (de 750 para 360 mm) em rea de Pinus patula com29 anos de idade e de 100% (de 250 para 0) em rea de Eucalyptusgrandis com cinco anos (Versfeld; van Wilgen, 1986).

    Por meio de um estudo de modelagem, estima-se que a extensodessas invases pode resultar uma reduo mdia na produo hdricadas bacias no ambiente de fynbos de 347 cm3/ha/ano durante cem anos,o que implica uma perda de mais de 30% do fornecimento de gua paraa Cidade do Cabo (Richardson, 1999).

    Os impactos constatados em ambiente de fynbos so marcantes,pois a maior parte das espcies nativas intolerante sombra, perdevigor e morre medida que suplantada em altura pelas rvores invasoras.A recorrncia de queimadas nesses ambientes favorece a disperso eproliferao das invasoras pela reduo da competio com a vegetaonativa (MacDonald; Richardson, 1986).

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    Na falta de aes de controle, essas rvores tendem a se tornarelementos permanentes da paisagem e os efeitos de agrupamentos no-manejados sobre o meio so equivalentes aos causados por povoamentoshomogneos maduros (Versfeld; van Wilgen, 1986).

    Foram verificadas mudanas significativas na estrutura decomunidades de pequenos mamferos, a partir da substituio davegetao de fynbos por plantaes de Pinus radiata. Animais herbvorose especialmente granvoros desaparecem, alguns no perodo de cinco aoito anos aps o estabelecimento dos povoamentos; algumas aves saemdo sistema, podendo resultar alteraes em processos de polinizao edisperso de sementes, em especial em ecossistemas onde muda o tipodominante de forma de vida; ou seja, quando espcies arbreas invademvegetao herbceo-arbustiva (Breytenbach, 1986).

    Os mesmos impactos se aplicam aos campos gerais planlticos doParan, onde a vegetao herbceo-arbustiva sofre invaso a partir depovoamentos florestais de Pinus taeda e P. elliotii, formas arbreasnum ecossistema essencialmente herbceo-arbustivo.

    At mesmo as operaes de controle de plantas invasoras produzemimpactos sobre o ambiente que podem ser significativos, devendo-sepesar estratgias com cautela de forma a no simplesmente erradicar asinvasoras, mas tambm reduzir ao mnimo os impactos ao ecossistemaafetado (Breytenbach, 1986).

    Plantas invasoras comumente causam impactos sobre reas deproduo econmica, no sendo poucos os esforos para realizar seucontrole, tampouco baixos os custos para sua efetivao. Essas plantascompetem por luz, gua e nutrientes e por vezes produzem toxinas queinibem o crescimento de outras espcies, por alelopatia, limitam as opesde rotao de culturas e prticas culturais, induzem perdas de qualidadeem plantas cultivadas em funo da contaminao de colheitas, levandoa perdas econmicas, agem como vetores de outras pragas, interferemnos processos de colheita, geram necessidades adicionais de limpeza eprocessamento de colheitas, aumentam o consumo de gua em culturasirrigadas, aumentam custos de produo e transporte e reduzem o valorda terra. Alm desses fatores, algumas plantas invasoras j adquiriramresistncia a herbicidas, processo que tende a se intensificar com opassar do tempo, em especial onde h uso constante de grupos deprodutos txicos com ao similar, dificultando o controle (Westbrooks,1998).

    Jardins e quintais constituem fontes importantes de espcies invasoras,

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    em funo das prticas de cultivo e de troca de plantas entre apreciadores. grande a lista de espcies que se tornou invasora a partir dessesambientes, atingindo mais de 300 delas somente nos Estados Unidos.Embora a maior parte das plantas ornamentais no sobreviva semcuidados de cultivo, plantas em vasos e estoques de mudas so potenciaisfontes de invasoras, em especial porque quase inexiste regulamentaoque limite o uso de espcies potencialmente problemticas. Alm disso,as sementes comercializadas com fins ornamentais costumam conterimpurezas nas quais se incluem sementes de plantas daninhas(Westbrooks, 1998).

    Estradas de rodagem, de ferro e outras vias funcionam como rotasde disperso de espcies exticas invasoras. So reas de fcil colonizaotanto pela disponibilidade lumnica como pelo elevado nvel de perturbaodevido s obras de estruturao e uso de invasoras para estabilizao deleitos.

    Plantas invasoras aumentam os custos de manuteno dessas vias,pois podem atrapalhar a viso dos usurios e obstruir o acesso manuteno de linhas de gs ou de energia eltrica. O prprio trabalhode conservao das reas marginais benfico disperso de novassementes, constituindo um ciclo de difcil interrupo e controle(Westbrooks, 1998). Alm disso, diversas espcies herbceas provocamqueimadas e aumentam o custo de manuteno tanto pela destruio desinais de trnsito como pela necessidade de limpezas e roadas freqentesdevidas ao crescimento rpido.

    Estima-se que 2300 hectares de campos naturais sejam diariamenteperdidos para plantas exticas no oeste dos Estados Unidos, num totalprevisto de 16 milhes de hectares dominados por invasoras no ano2000. Plantas invasoras em pastagens podem afetar a vegetao nativade forma a aumentar o escorrimento superficial e a eroso do solo,sobretudo em regies de clima seco, assim como modificar a ciclagemde nutrientes e produzir efeitos negativos na flora e fauna do solo(Westbrooks, 1998).

    No Hava, um dos estados dos Estados Unidos mais seriamenteafetados pela contaminao biolgica, gramneas exticas alteraram oregime de incndios naturais pelo acmulo de material combustvel.Isso afeta gravemente as comunidades vegetais nativas, que no tmresistncia ao fogo.

    Ainda, porcos asselvajados abrem clareiras em florestas que ficamsuscetveis invaso, basicamente pelo revolvimento do solo e

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    conseqente eroso (Westbrooks, 1998), o que favorece a germinaoe o estabelecimento de invasoras. Dentre as espcies invasoras no local,pode-se citar ara Psidium cattleianum, aroeira Schinus terebinthifolius,lrio-do-brejo Hedychium gardnerianum e goiaba Psidium guajava(Smith, 1985), a ltima originria da Amrica Central, tambm cominvases estabelecidas no Brasil. O mesmo tipo de problema comdisperso de Psidium guajava por animais observado nas ilhasGalpagos, utilizada como alimento pelo gado (Vitousek, 1988).

    Em desertos, a invaso de espcies exticas afeta sistemas altamenteespecializados de flora e fauna e tem se intensificado devido a prticasde irrigao e fertilizao. Um dos impactos mais freqentes o acmulode material combustvel, que aumenta a intensidade de incndios nessasreas (Westbrooks, 1998).

    reas midas, nascentes e cursos dgua so igualmente afetadaspor plantas invasoras, que podem reduzir o volume de gua disponvel,reduzir a vazo e aumentar a taxa de evaporao, prejudicar a navegao,danificar usinas de gerao de energia e eliminar plantas e animais nativosem funo das modificaes provocadas ao meio, uma das quais areduo de luminosidade no meio aqutico, que pode afetar os recursospesqueiros (Westbrooks, 1998). Um dos exemplos mais comuns deespcies aquticas invasoras aguap Eicchornia crassipes, originrioda regio norte e do Pantanal no Brasil, que mesmo em outras regiesdo pas consome recursos para controle e erradicao.

    Com relao aos efeitos de plantas exticas sobre propriedades dossolos, estudos em regio de Savana em Minas Gerais, sobre LatossoloVermelho-Amarelo, compararam os efeitos de diferentes coberturasvegetais sobre a disponibilidade de nutrientes entre zero e 40cm deprofundidade. Dentre as coberturas, de Pinus elliottii, Eucalyptus grandis,fase secundria de Savana e capim-gordura Melinis minutiflora, o menorteor de matria orgnica foi registrado para os plantios de Pinus elliotii,provavelmente em funo da menor taxa de decomposio da mantaorgnica na superfcie do solo. Ainda, considerando a soma de basestrocveis do solo, a menor fertilidade tambm foi medida sob Pinuselliotii, fato reforado pela maior saturao de alumnio sob a mesmacobertura (Cser et al., 1990).

    De fato, h problemas de mesma magnitude e gravidade em inmerospases que ainda no despertaram para a questo e que carecem tantode registros como de medidas de preveno, erradicao e controle. ocaso do Brasil.

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    Apesar de haver um nvel de relevncia evidente no tratamentoprioritrio de invases biolgicas em Unidades de Conservao, importante esclarecer que no efetivo realizar operaes pontuais decontrole. Invases biolgicas so fenmenos ilimitados por fronteiraspolticas ou fundirias, mal restritos a fronteiras ambientais e queconstituem processos de impacto que s aumentam ao longo do tempo,no se resolvendo sem interferncia humana persistente. Por isso a visonecessria soluo de problemas envolve medidas de preveno,controle, manejo e erradicao, precisando ser julgadas caso a caso, deacordo com cada situao e com cada espcie. No caso de Unidades deConservao, crucial envolver ao menos a zona de amortecimento nocombate a problemas de invaso e, em caso de espcies de interesseeconmico, implementar regulamentao para uso ou restrio ao usodessas espcies, sob o princpio poluidor-pagador: quem polui precisalimpar, ou ao menos pagar a conta, desde que o Estado possa executara ao.

    Em princpio, Unidades de Conservao foram criadas como locaisonde o isolamento de atividades humanas seria suficiente para aconservao da biodiversidade, exceo de reas degradadas a seremrestauradas ao longo do tempo. O manejo dessas Unidades precisa serrevisto perante a ameaa de espcies que as invadem e passam afuncionar como mecanismos gradativos de perda de biodiversidade eimpactos negativos no funcionamento dos sistemas naturais.

    Concepes errneas em processos de restaurao de reasdegradadas com uso de espcies exticas invasoras em dcadas passadase ainda nos dias de hoje so oportunidades para o avano de invasesbiolgicas em reas sob proteo legal como florestas ciliares e margensde rodovias.

    Em muitos casos, espcies exticas instaladas em Unidades deConservao para fins diversos ainda persistem e existem fatores desdeo desconhecimento do assunto at a hesitao em executar a remoopor parte tanto dos responsveis pelo manejo no campo quanto pelosrgos ambientais que fazem o licenciamento e coordenam essasatividades.

    A viso de que cortar rvores uma atitude ecologicamente incorretaprecisa ser substituda pelo manejo adequado e voltado preveno,deteco precoce de invases e ao imediata para evitar o

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    desenvolvimento de problemas extensos e de difcil e onerosa soluo.O licenciamento para remoo de espcies exticas invasoras precisa

    ser livre de empecilhos legais e para tanto preciso desenvolver a visodos responsveis pela gesto das Unidades e dos rgos ambientaisresponsveis. Pode ser igualmente necessria a reviso de marcos legaisque, concebidos para viabilizar a proteo da natureza, hoje atravancaminiciativas de conservao da biodiversidade, tanto pela m interpretaoda lei quanto pela falta de distino entre espcies nativas e exticas.

    Em se tratando de espcies exticas invasoras, a restaurao daintegridade ecolgica dos ecossistemas e das Unidades de Conservaodepende estritamente de interveno humana. Invases biolgicas noso mitigadas ao longo do tempo. Pelo contrrio, aumentamprogressivamente e de forma exponencial na ausncia de controle,quebram a resilincia dos ecossistemas e levam perda de biodiversidade.

    Espcies que no so nativas de um ecossistema tendem a causargrandes danos ao ambiente ao se tornarem invasoras. Acumulamimpactos negativos em longo prazo, ainda que em curto prazo possamcomputar algum benefcio (Working for Water, 2000). Essa relao no diferente no mundo da produo rural, em que os impactos negativosem longo prazo atingem muito mais pessoas do que os benefciosimediatos. O resultado comum que poucos ganham e muitos perdem.

    A recomendao tcnica mais freqente em nvel mundial deremoo imediata de qualquer espcie que apresente risco de invaso,ainda que haja avaliao de aparentes benefcios a processos de sucessovegetal ou alimentao da fauna. Muitas das espcies exticas invasorashoje encontradas no Brasil esto igualmente presentes em outros pasesonde h experincia de longo tempo em controle e pesquisa. Asreferncias tcnicas so abundantes na Internet; h excelentes sitesdedicados ao assunto e informao facilmente disponvel por meio demecanismos de busca como o Google.

    A experincia de outros pases, em particular da Nova Zelndia, a Austrlia,a frica do Sul e os Estados Unidos, deve ser usada como base para ao emtermos de tcnicas de preveno, controle, manejo e erradicao. Algumasboas referncias podem ser encontradas no site do Instituto Hrus, assimcomo links para outros sites relevantes.

    A polmica que hoje se observa quanto capacidade de invaso de espciesexticas em caso de histrico de invaso em outros locais do planeta precisaser substituda pela lgica da precauo, que o ponto de partida da Convenosobre Diversidade Biolgica e da lei ambiental no Brasil.

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    O manejo de Unidades de Conservao deve estar focado nofuncionamento ecossistmico e no equilbrio natural, restaurando-sefontes de alimento e abrigo para a fauna pelo uso de biodiversidadenativa e substituio de espcies exticas invasoras. Discusses sobre acapacidade alimentar de espcies exticas invasoras para a fauna precisamser compreendidas sob a tica de que o nmero de espcies prejudicadaspor uma espcie extica invasora sempre muito menor do que o deespcies beneficiadas, e que o benefcio de algumas poucas espciestende a levar ao aumento da invasora e ao desequilbrio populacional dafauna por favorecimento, assim como da flora, pois os animaisbeneficiados ajudam a estender a rea invadida fazendo a disperso desementes.

    A disperso de muitas espcies de plantas por animais no passvelde controle, de forma que devem ser eliminadas de imediato para evitara ampla disperso e a necessidade de patrulhas de campo para realizaopermanente de controle.

    Espcies de plantas que se enquadram nesta problemtica so, noestado do Paran, a uva-do-japo Hovenia dulcis, a nspera Eryobotryajaponica e o cinamomo Melia azedarach, nas formaes com araucriae Floresta Estacional no sul do Brasil, pau-incenso Pittosporum undulatumnas florestas com araucria no planalto paranaense, a accia-negra Acaciamearnsii, o tojo Ulex europaeus em campos e reas desmatadas, espciesdo gnero Pinus, gramneas diversas, especialmente do gneroBrachiaria, o capim-gordura Melinis minutiflora e o capim-annoniEragrostis plana, entre outras.

    Entre as plantas ornamentais, so comuns o lrio-do-brejo Hedychiumcoronarium, o beijo Impatiens walleriana, a trapoeraba-roxa Trades-cantia zebrina, as bananeiras ornamentais Musa ornata e M. rosacea(Instituto Hrus; The Nature Conservancy, 2004).

    relevante a necessidade de resolver o problema de invaso o maiscedo possvel, quanto menor a rea afetada. Permitir que o tempo passee relegar-se a estabelecer processos de monitoramento da dinmica deinvaso no so solues apropriadas por permitirem o avano da invasoa ponto de difcil reverso. Implica perder a oportunidade de resolverproblemas srios enquanto so suficientemente pequenos, assim comoabalos na integridade ecolgica dos sistemas que se busca proteger, emgeral a altos custos econmicos e ambientais.

    Outro ponto ainda polmico do manejo de reas protegidas est noemprego de tcnicas cientficas e tecnicamente adequadas ao controle

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    de cada espcie invasora. Em muitos casos, o controle mecnico suficiente e ideal, porm em outros h necessidade de lanar mo douso de herbicidas como ferramentas para a conservao, com aplicaolocal em geral direta sobre cada planta invasora. A relutncia no usocombinado de produtos qumicos pode pr a perder reas de grandevalor para a diversidade biolgica.

    Tal viso requer uma mudana cultural num pas onde o esforoconservacionista rechaa por princpio o uso de qumicos que, no casode espcies exticas invasoras, constituem fortes aliados da conservaoda biodiversidade (Sigg, 1999). A cincia das invases biolgicas acatouo uso de certos produtos como soluo prtica para grandes problemas,sendo que bons resultados podem ser verificados em diversos pasesdo mundo. preciso lembrar que, enquanto invases biolgicas soproblemas que evoluem sempre em escala progressiva, qualquer outrotipo de impacto fsico ou mesmo qumico diludo ao longo do tempoe desaparece.

    Igualmente, o sacrifcio de animais exticos invasores, ainda que deforma tica e com mnimo sofrimento, uma medida necessria paraviabilizar a manuteno da integridade ecolgica dos ecossistemas e nopor a perder a funo bsica das Unidades de Conservao.

    A definio de prioridades no combate a espcies exticas invasorasdeve estar focada nas menores populaes com maior potencial deinvaso, pois a chance de erradic-las maior do que aps grandespopulaes j estarem estabelecidas. Nossas tecnologias atuais paracombater espcies exticas invasoras so rudimentares e poucas: controlepor agentes biolgicos, erradicao manual, remoo mecnica, fogo,herbicidas, caa, apanha, envenenamento. Todos tm limitaes: todosso essenciais (Sigg, 1999).

    Entre as espcies animais, vale citar o javali Sus scrofa, o caramujo-

    Seguramente, aqueles que valorizam a biodiversidade comseriedade suficiente para doar boa parte de suas vidas aesforos de conservao consideram o uso de herbicidasindispensvel (para o controle de espcies exticasinvasoras). Alm do custo-benefcio e da economia detempo, o emprego de herbicidas tem a considervelvantagem de no criar perturbaes no solo, que ativamo banco de sementes das invasoras e favorece seuestabelecimento sobre espcies nativas (Sigg, 1999).

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    gigante-africano Achatina fulica, a r-touro Rana catesbeiana, atartaruga-de-orelha-vermelha Trachemys scrypta elegans, ces Ca-nis familiaris e gatos Felis catus asselvajados.

    importante ressaltar tambm inmeras espcies de peixes degua doce que escaparam de estruturas de cultivo, como tilpiasOreochromis mossambicus. O. machrochir e O. niloticus, carpasCyprinus carpio e o bagre-africano Clarias gariepinus, entre outros.Particularmente, no Parque Nacional de Fernando de Noronha, ocorreo lagarto tei Tupinambis merianae, introduzido de propsito nadcada de 1950 para controlar ratos na ilha. De hbito diurno,enquanto os ratos tm hbito noturno, o tei passou a predar ninhosde aves marinhas para alimentar-se dos ovos, com impacto sobre aspopulaes locais.

    Embora as sociedades protetoras dos animais possam rechaariniciativas de controle de animais, fundamental que isso acontea. preciso lembrar que a eliminao de espcies exticas invasorasnada mais gera do que a viabilidade da perpetuao de espcies nativas,que no tm condio de realizar esta tarefa por conta prpria ou,simplesmente, de competir com ou defender-se de espciesintroduzidas.

    Nesses casos, que podem ser polmicos por falta deconhecimento, preciso trabalhar em paralelo com campanhas deconscientizao e esclarecimento pblico para diminuir os aspectosaparentemente negativos. O acompanhamento de populaes deespcies nativas da fauna tende a facilitar o trabalho, pois os nmerosde aumento ou recuperao dessas populaes vm demonstrar osucesso das empreitas e a relevncia de sua execuo.

    O manejo efetivo de Unidades de Conservao precisa incluir umsistema permanente de preveno e deteco precoce da chegada deespcies exticas, assim como um bom diagnstico de espcies jexistentes. A deteco precoce e a ao imediata constituem as formasmais eficientes e de mais baixo custo para combater espcies exticasinvasoras e manter um trabalho de preveno a novas invases. Aindaassim, o controle essencial. No se pode jamais desistir de faz-lo:a batalha jamais est perdida, e controlar espcies invasoras omnimo que se pode fazer, buscando sempre prticas de alta eficinciae baixo custo que, em muitos casos, so alcanadas com prtica eexperincia, ao longo do tempo.

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    Os dados compilados pelo Instituto Hrus e a The Nature Conser-vancy sobre espcies exticas invasoras no Brasil desde 2003 estodisponveis no site do Instituto Hrus, em www.institutohorus.org.br.Est em construo um banco de imagens, com vistas a facilitar aidentificao de espcies exticas invasoras.

    Solicitamos a colaborao de todos na construo desse mapa deinvases biolgicas no Brasil. Por favor, envie registros de observaesde campo ou outros casos constatados para [email protected] cada espcie que integra o banco de dados de espcies exticasinvasoras do Brasil se monta um conjunto de dados disponvel no sitedo Instituto, sempre vinculado fonte de informao. Essas informaesenvolvem dados de descrio e caractersticas da espcie, origem eambiente natural, ambientes preferenciais para invaso, impactosecolgicos, econmicos, sociais e sobre a sade humana, histrico deintroduo, vetores e rotas de disperso, medidas preventivas, mtodosde controle e referncias bibliogrficas, entre outras.

    Para colaborar, envie seus dados de contato, nome das espcies,ambientes de ocorrncia, localidade, municpio e estado, assim comooutros dados de que possa dispor. O envio de imagens igualmentebem vindo.

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    Em funo dos diversos casos j constatados de introduo indevidae invaso, podemos relacionar alguns mecanismos pelos quais socausadas perdas e conseqentes prejuzos ambientais resultantes.

    Alguns so processos ecolgicos comuns como predao ecompetio com espcies nativas. Outros so mais sutis, porm de ex-trema gravidade como introduo de doenas. Tambm ocorre queindivduos da espcie invasora cruzem com a espcie nativa maisaparentada, trocando seus genes com ela e criando indivduos hbridos,assim modificando-a de tal maneira que ela no possa mais serreconhecida como a mesma espcie (Fernandez, 2004), ocasionando asupresso de uma ou mais espcies endmicas.

    Finalmente, cerca de 18% das extines com causas conhecidasdesde 1600 foram devidas introduo de espcies exticas (Pit &Avelar, 1995), cujos problemas nossa fauna ocorrem h dcadas sem,no entanto, termos tido oportunidade real de nos posicionarmos comrelao a estratgias eficazes de resoluo de vrias situaes com quenos defrontamos atualmente.

    Em outubro de 1990, o Conselho Regional de Biologia da 3. Regio(RS, PR e SC), juntamente com vrias Instituies de Ensino Superior

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    (IES) e Organizaes No-Governamentais (ONGs), promoveu um ciclode debates sobre O problema das espcies exticas (UFRGS, 1990),que tinha como alvo a tentativa de criao em cativeiro, no estado doRio Grande do Sul da espcie crocodilo-africano Crocodylus niloticus.

    No respectivo documento, h vrias consideraes sobre aimportncia e inquestionvel utilidade da introduo de muitas espciesvegetais e animais de outros continentes, mas tambm havia oreconhecimento de que muitas dessas introdues resultaram emevidentes prejuzos para a qualidade ambiental, a diversidade bitica, opatrimnio gentico, a qualidade das colheitas e para a sade humana noBrasil.

    No pretendemos, com este artigo, esgotar o assunto, mas retratar asituao atual nas Unidades de Conservao (UCs) paranaenses, almde apresentar um histrico e um quadro das espcies exticas atualmentedistribudas no Paran, de forma independente de sua relao com algumaUC, no deixando de abordar sobre as espcies invasoras cosmopolitase algumas importantes para o Brasil.

    Pretendemos tambm estabelecer, a partir de alguns conceitos bsicos,uma linha de raciocnio a respeito do assunto que facilite a compreensodas diversas nuances existentes. A inteno dar destaque a algumasdas muitas espcies invasoras do ambiente em funo de estarem maisdiretamente ligadas a algum tipo de impacto direto ou indireto em biomase UCs do Paran.

    A preocupao com a invaso das Unidades de Conservao estaduaise reas protegidas, vem aumentando de alguns anos para c.Especificamente com relao fauna, algumas medidas para eliminardeterminados problemas em algumas UCs foram providenciadas, sem,no entanto, resultar em soluo dos problemas existentes.

    Pretende-se, doravante, que o estabelecimento de critrios bsicospara aes preventivas venha a contribuir para solues em alguns doscasos constatados em vrias das nossas UCs.

    Por fim, sero explanadas algumas propostas para encaminhamento,com base em problemas ocorrentes levantados e acompanhados nosltimos anos, alm de sugestes de conduo dos problemas,equipamentos e procedimentos.

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    necessrio que se defina o que consideramos espcies exticas etambm quando uma espcie nativa pode ser extica, a fim de podermos

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    direcionar o que pretendemos discutir e sob quais parmetros. Asmedidas a serem tomadas variaro para cada caso e os cuidadosdevero ser diferenciados de acordo com a espcie e com a situaovigente na UC.

    Uma espcie nativa tambm pode ser extica a uma determinadaregio, como enfatizado anteriormente. Com base nesta situao, deve-se definir o que se entende por fauna silvestre nativa, como um txonnativo e restrito a uma determinada rea geogrfica.

    Para melhor entendimento, pode ser separado convenientementeem fauna autctone, quando formado in situ, ou originrio do prpriolocal de sua ocorrncia atual e fauna alctone, a qual no originriada regio, que veio de outra regio distante. Todas estas definiesesto baseadas em So Paulo (1997).

    Como um dos nossos maiores enfoques est relacionado faunadomstica - tambm extica -, esclarecemos que domesticao oprocesso de adaptao de plantas e animais para viver em associaocom o homem. Deste modo, quando abordamos sobre fauna domstica,referimo-nos a todas as espcies que, por processos tradicionais demanejo, tornaram-se domsticas, ou seja, possuem caractersticasbiolgicas e comportamentais em estreita dependncia do homem.

    Definimos como fauna asselvajada as espcies da fauna domsticaque se tornam selvagens ou que voltam a viver em ambientes naturais.Indivduos destas espcies tambm so popularmente conhecidos comoanimais alongados.

    Exemplo disso o caso conhecido do porco-monteiro, Sus scrofascrofa no pantanal mato-grossense, que hoje ocorre em populaesconsiderveis. Diz-se tambm que se encontra em estado feral. Oporco-monteiro atualmente bastante usado como caa, no havendoinformaes claras de seu impacto sobre outras espcies de ecologiasemelhante (Alho, 1984).

    A preocupao com estas definies reside no fato de que, quandoaplicadas em carter de abrangncia nacional possam servir comoorientao aos tcnicos de vrias reas e ao pblico leigo, pois algumasespcies invasoras so espcies da fauna nativa em outros biomas dopas e esta informao deve estar disponvel para que no se estimulemmedidas precipitadas de erradicao, de forma inconveniente, ou seja,em ambientes onde a espcie ocorre naturalmente, orientandocorretamente a todos os interessados, desde o pblico leigo, tcnicose at aos meios de comunicao de uma forma geral.

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    Duas das principais espcies envolvidas nesta discusso so o gato eo co domsticos e suas vrias raas. Com relao ao gato-domsticoFelis catus, sabe-se que provavelmente originrio do gato-selvagemFelis silvestris grupo lybica (Nowell & Jackson, 1996), ocorrente naregio que se estende da frica ao Oriente Mdio, com exceo dafrica Ocidental onde existem florestas midas (Nowak & Paradiso,1983). F. s. lybica pode ter sido freqente em cidades da Palestina h7000 anos.

    Nowak & Paradiso (1983) e Ronan (1987) afirmam que a realdomesticao com indcios mais evidentes remontam ao antigo Egitoem 1600 a.C. e entre 4000 e 3000 a.C.. Albuquerque (2004) e Chassot(2004) informam que foi domesticado h cerca de 9500 anos,provavelmente capturados da vida selvagem nos primeiros estgios daagricultura, quando o homem deixava de ser caador e coletor e tornava-se agricultor (Leakey & Lewin, 1980).

    O co-domstico Canis familiaris originrio do lobo-cinzentoCanis lupus, cuja distribuio compreende a Amrica do Norte e a Eursia,tendo-se adaptado a diferentes habitats, no sendo encontrado apenasnas florestas midas e desertos (Nowak & Paradiso, 1983). a espcieque possui a distribuio natural mais ampla entre os mamferos terrestresvivos, depois do homem (Nowak & Paradiso, 1983).

    Estima-se que os humanos iniciaram a domesticao do co entre12.000 e 50.000 anos atrs. Pesquisas recentes, porm, sugerem queesta domesticao possa ter iniciado muito antes, h cerca de 100.000anos! Tal processo de domesticao pode tambm ter acontecido noapenas uma vez, mas vrias vezes e simultaneamente em muitas partesdo mundo, onde ocorresse a espcie selvagem - neste caso, Amrica doNorte e a Eursia (Zgurski [s.d.]).B?C

    Introduo a soltura de indivduos de uma espcie em uma rea emque tal espcie no ocorre naturalmente. Pode ser relativa a espcies nativas- brasileiras e alctones - ou exticas, de outro pas. Muitos problemas queexistem atualmente so frutos deste tipo de soltura indevida, muitas vezesde forma proposital, mesmo que a inteno no seja causar danos, mas selivrar de animais que se tornaram um problema, seja por falta de recursos,tcnicas adequadas de criao ou impossibilidade de lucro imediato.

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    O objetivo deste tpico relatar os principais problemas de introduode espcies exticas em continentes e ilhas, que ocorreram no mundo,no Brasil e no Paran, a fim de que se tenha uma idia genrica sobrecomo se procedeu a introduo, abordar sobre as espcies introduzidase quo problemticas podem se tornar.

    Muitas introdues, mesmo bem-sucedidas, nunca tiveram umasoluo adequada e, na maioria das vezes, acarretaram variadosproblemas. Assim sendo, espcies introduzidas so aquelas como plantascultivadas e animais domsticos e exticos transportados pelo homemao longo do tempo.

    H espcies distribudas por todos os continentes com suascaractersticas prprias. Mas a crescente explorao dessas reas, oexcesso da caa e o desenvolvimento humano as limitaram. Agricultura,pastagens, estradas e cidades so alguns exemplos de como se d atransformao de floresta contnua em pequenos mosaicos.

    Hoje, h uma distribuio fragmentada, em reas muitas vezes noprotegidas por lei, povoadas por pequenas populaes. Desta forma, adisperso das espcies nativas impedida por barreiras impostas pelohomem, prejudicando o deslocamento para novas reas. Verifica-se queno h interao gentica com outras populaes de flora e fauna,ocasionando a deriva gnica e o possvel endocruzamento, alm de muitosoutros pontos negativos.

    A disperso por causa do homem dependeu muito da expanso dedeterminados povos ou das principais vias de comunicao estabelecidasao longo dos sculos.

    As espcies nativas de pases sul-americanos chegaram Europapor meio de viajantes e exploradores, e despertavam a curiosidade einteresse do povo europeu, de modo que logo comearam a ser expostose comercializados nas ruas formando rotas de trfico.

    Passaram a ser cobiados para criao como animais de estimao.No sculo XVI, j eram encontrados primatas e outros grupos sul-americanos nas residncias inglesas, como tambm era comum encontr-

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    los nas residncias espalhadas pela Frana (RENCTAS, [s.d.]). Com oincremento das viagens intercontinentais, muitas espcies se dispersavamjunto com as especiarias e no desembarque eram introduzidas em umnovo ambiente.

    Podemos citar algumas espcies favorecidas pelo homem que soos ratos conhecidos como ratazana e rato-de-paiol Rattus norvegicus eR. rattus, os ratos-caseiros Mus musculus e os pardais Passer domesticus,que chegaram a ser cosmopolitas graas atividade humana.

    Nossa inteno enfatizar o caso de animais domsticos, como cese gatos, introduzidos em UCs. Comeamos pela citao de Lacerda (2002)apud Faraco & Lacerda (2004), que relatam como a presena de cesdomsticos no Parque Nacional de Braslia tem diminudo a reaefetivamente protegida para duas espcies ameaadas de extino: olobo-guar Chrysocyon brachyurus e o tamandu-bandeiraMyrmecophaga tridactyla, esclarecendo que a ocorrncia dessas espciesfoi maior em reas internas (maior que 3 km da borda), onde os cesno estavam presentes. O parque citado possui cerca de 28.000 ha.Constata-se, com este efeito de borda causado pelos ces domsticos,o quanto a rea-ncleo e o design da rea da UC so importantes para asua definio e conservao.

    Outra constatao ocorreu no Parque Nacional do Serengueti,Tanznia, onde pelo menos 25% dos lees Panthera leo foram mortospor cinomose e parvovirose, doenas contradas a partir dos cerca de30.000 ces-domsticos viventes ao redor da reserva (Packer et al.,1999 apud Faraco & Lacerda, 2004).

    Tambm tm sido introduzidas muitas espcies de rpteis e anfbios.O sapo-gigante da Amrica do Sul, Bufo marinus, foi introduzidointencionalmente em Cuba, Haiti, Austrlia Oriental e Nova Guin, comoforma de controle de insetos (Muller, 1979).

    Como bom exemplo temos o fato ocorrido na ilha de Guam no oceanoPacfico, que at meados do sculo XX possua uma rica fauna devertebrados nativos, incluindo 13 espcies de aves florestais, nove noflorestais, trs de morcegos e dez de lagartos.

    A partir de 1960, percebeu-se que estavam se extinguindo uma auma as espcies nativas da ilha. Desde ento, somente em 1983 descobriu-se que havia uma cobra na Nova Guin, que l chegou em automveisda segunda guerra mundial, que se tratava da brown tree snake, Boigairregularis, uma cobra peonhenta e de hbitos noturnos que

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    provavelmente havia causado a perda de dois teros de todas as espciesnativas de vertebrados em Guam (Fernandez, 2004).

    H vrios casos de introduo de espcies exticas com resultadonegativo. De acordo com Mller (1979), temos tambm os exemplosda truta comum, exclusiva da Eursia oriental, introduzida por razeseconmicas na Amrica do Norte, Chile, Argentina, frica austral eoriental, Madagascar, Austrlia e Nova Zelndia. Da mesma forma, aostra Ostrea edulis foi distribuda fora de sua rea original, o Mediterrneo,pelas mesmas razes.

    No somente no Brasil que ocorrem introdues indevidas,logicamente. Entre os animais europeus, o javali Sus scrofa scrofa alebre-europia Lepus europaeus e o estorninho Sturnus vulgaris, foramlevados para a Amrica do Norte.

    Por outro lado, dentre as espcies de origem norte-americana queconseguiram estabelecer-se na Europa, esto o escaravelho-da-batata,Leptinotarsa decemlineata, o rato-almiscarado, Ondatra zibethicus e oesquilo-cinzento, Sciurus carolinensis (Dorst, 1973). Comentamos entoa introduo do rato-almiscarado, O. zibethicus, animal do tamanho deum coelho Oryctolagus cuniculus cujos hbitos lembram vag