04 março 2011

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04/03/2011 40 XIX

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Landercy Hemerson

O comércio de canhões de serpentina, confete e papel meta-lizados, cujas embalagens não alertem sobre as formas seguras de manuseio e os riscos, está proibido em todo o estado. A determina-ção partiu ontem do promotor da área de produtos do Procon-MG, Amaury Artimos da Matta. Duas decisões administrativas cautelares que tratam da questão foram adotadas no começo da noite pelo órgão mineiro e devem ser publicadas hoje no Diário Oficial do estado, como forma de evitar que se repita a tragédia do pré-canaval de Bandeira do Sul, no Sul de Minas, onde 15 pessoas foram eletrocutadas e 50 ficaram feridas, no domingo, depois que cabos da rede elétrica se romperam, devido a curto-circuito causa-do por serpentinas metalizadas.

Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, um projeto de lei que proíbe a venda e distribuição dos rojões de serpentina meta-lizada e artigos similares começou a tramitar ontem. Em Brasília, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados en-caminhou ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedindo a proibição do comércio desses produtos em todo o país. Na terça-feira, a prefeitura de Poços de Caldas, cidade vizinha a Bandeira do Sul, proibiu a comercialização, por meio de decreto municipal. Ontem, os municípios de Muzambinho, Alfenas e São

Lourenço, na mesma região, seguiram caminho idêntico. CAUTELAR

O promotor Amaury Artimos, do Procon-MG, explicou que fiscais de órgãos de defesa do consumidor, agentes da defesa so-cial, policiais militares e bombeiros já estão atentos aos canhões de serpentina e confetes que não trazem informações sobre os riscos e o manuseio correto. De acordo com Artimos, a primeira decisão administrativa cautelar obriga fabricantes a retirarem do mercado todos os produtos do gênero, cujas embalagens não tragam essas instruções ou que apresentem essas informações apenas em língua estrangeira. Quem não acatar a determinação vai incorrer em cri-me contra a segurança do consumidor, conforme previsto nos arti-gos 8º e 9º da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).

A outra decisão administrativa cautelar adotada pelo Procon proíbe que os rojões de serpentinas e confetes metalizados sejam detonados de cima de trios elétricos ou próximos à rede de ener-gia. As pessoas que desobedecerem serão autuadas em flagrante e vão responder criminalmente por colocar em risco a segurança de outros. A partir de hoje, donos de carros de som que promoverão desfiles de carnaval serão orientados sobre estas normas, por meio dos agentes estaduais e municipais da defesa do consumidor e por militares do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

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RAPHAEL RAMOS E GABRIELA SALESO Procon Estadual de Minas Gerais (Procon-MG) proibiu

a comercialização de canhões de serpentina, confete e papel metalizados que não tiverem registradas em suas embalagens o modo de uso. Revendedores dos produtos também estão obri-gados a retirar das lojas aqueles que não contiverem as ins-truções de uso. A medida cautelar é do promotor da área de produtos, Amaury Artimos da Matta, e deve ser publicada hoje no Diário Oficial do Estado, quando passa a valer.

A decisão é uma consequência do acidente, no último do-mingo, em Bandeira do Sul, no Sul de Minas, onde 15 pessoas morreram e 56 ficaram feridas após serem atingidas por fios da rede elétrica. O curto-circuito teria sido provocado por uma serpentina metalizada que atingiu a rede elétrica. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

De acordo com a medida do Procon-MG, estourar rojões de serpentina desse tipo de cima de trios elétricos também está proibido. O órgão informou que a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e fiscais de defesa de consumidor já estão sendo orientados a fiscalizar possíveis irregularidades. Quem infringir a regra poderá até mesmo ser responsabilizado criminalmente.

Legislação. Após a tragédia, as prefeituras de Bandeira do Sul, Campestre, Muzambinho e Poços de Caldas, proibiram a venda da serpentina metalizada. Pelo menos três projetos de lei em tramitação na Câmara Municipal de Belo Horizonte, na Assembleia Legislativa de Minas e na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), pedem a proibição definitiva do uso e da co-mercialização do produto.

A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara

dos Deputados encaminhou ontem um ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, solicitando a proibição. O de-putado Geraldo Thadeu (PPS-MG) levou o assunto à comissão e disse que a suspensão do produto é uma medida preventiva.

A vereadora Maria Lúcia Scarpelli (PCdoB), que apresen-tou, também ontem, um projeto de lei semelhante na capital, avalia que a medida deverá ser conciliada com campanhas edu-cativas.

A deputada Liza Prado (PSB) ressalta que o produto é fa-bricado na China e as advertências no rótulo são apresentadas na língua inglesa, o que contraria o Código de Defesa do Con-sumidor. “Isso fere a segurança da população, que não sabe o que está comprando e nem como utilizar”, salientou a parla-mentar.

o TEmPo - P. 37 - 04.03.2011

metalizada

Procon restringe a venda de serpentinaMais municípios do Sul de Minas, onde curto-circuito matou 15 pessoas e feriu 50 em festa de rua, vetam comércio do produto

Norma.Revendedores estão obrigados a retirar das lojas produtos que não contiverem as instruções de uso

Procon-MG limita serpentinaMaterial não poderá ser usado nos trios elétricos; medida vale a partir de hoje

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Ezequiel Fagundes

Denunciado pelo desvio de milhões de reais em recursos públicos, o ex-prefeito de Juiz de Fora Alberto Bejani (PTB), preso em 2008 duran-te a Operação Pasárgada da Polícia Federal (PF), entrou ontem com um pedido de aposentadoria vitalícia de R$ 2.434,34 por mês. A solicitação foi feita nos termos da Lei Municipal 5.073 de agos-to de 1976. Como renunciou no meio do segun-do mandato, em meio ao escândalo da chamada máfia do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Bejani sustenta o pedido com base na sua primeira passagem pela administração local, de 1989 a 1992, a qual cumpriu integralmente.

O ex-prefeito tem pressa, pois tramita na Câmara Municipal da cidade, na Zona da Mata mineira, projeto do vereador Isauro Calais (PMN) que promete acabar com a farra da concessão de aposentadorias vitalícias para ex-prefeitos, mas estabelecendo que a lei só deve alcançar pedidos posteriores à sua sanção.

Como ela ainda está em discussão nas co-missões temáticas da Casa, Bejani deverá receber o benefício. Seu pedido já está no departamento jurídico da prefeitura para avaliação. Pela legisla-ção em vigor, o prefeito Custódio Mattos (PSDB) tem 15 dias de prazo para analisar a legalidade da solicitação.

Nesse meio tempo, o projeto de lei contra o recebimento do benefício até pode ser votado pelos vereadores de Juiz Fora. Mais uma vez, no entanto, vai depender da boa vontade política da Câmara, já que pelo menos seis dos 15 atuais ve-readores são considerados bejanistas.

O benefício é concedido para prefeitos com mais de 60 anos e que tenha terminado ao menos um mandato inteiro. Alberto Bejani completou 60 anos em setembro de 2010.

Notório personagem da Operação Pasárga-da, que desmantelou uma organização criminosa responsável pelo desvio de mais de R$ 200 mi-lhões do FPM, Bejani ficou mais de 30 dias en-carcerado na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem. Em imagens gra-vadas pelos federais, apareceu manipulando saco-las com dinheiro vivo, fruto de propina cobrada de empresários do setor de transporte. No dia da prisão, a PF encontrou R$ 1,2 milhão em espé-cie em sua casa, além de um arsenal de armas de fogo, algumas delas de uso exclusivo das Forças Armadas.

Mesmo sendo denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) por vários crimes, os processos contra Bejani estão empacados no Judi-ciário. Enquanto isso, ele continua desfrutando de vida privilegiada. Não raro é flagrado nas ruas de Juiz de Fora desfilando em uma Mitsubishi Pajero blindada, avaliada em mais de R$ 200 mil. Nos fins de semana, Bejani passa em sua confortável fazenda na cidade vizinha de Ewbank da Câmara. Em sua rotina em Juiz de Fora, ele mora em uma mansão, localizada no Bairro Aeroporto, um dos mais requintados da cidade.

Dono da Recolher Construções, que faz ca-sas populares para o governo federal, Bejani de-clarou ontem para o Estado de Minas que pediu o benefício porque está com dificuldades financei-ras. “Vou usar o dinheiro para sustentar a minha família.”

EsTAdo dE minAs - P. 5 - 04.03.2011Aposentadoria

Ex-prefeito suspeito quer pensão vitalíciaAlberto Bejani, que foi preso na Operação Pasárgada por desvio de verba,

entrou com pedido do benefício, no valor de R$ 2.434. Ele justificou afirmando que está em dificuldades financeiras

HoJE Em diA - P. 22 - 04.03.2011

Seis dias após a publicação da ma-téria que mostrava possíveis irregula-ridades em um con-curso público na Câmara de Sarze-do, o presidente da Casa, Rodrigo Fer-reti (PR), resolveu se pronunciar. Ele afirma que o projeto de lei, de 2009, que reajustava o salá-rio dos funcionários em 150%, apontado como uma possível irregularidade pelo Ministério Público, nunca foi aprovado. Segundo ele, o pro-jeto previa reajuste de 112%, mas a Casa foi contra o aumento. Ferreti foi procurado pela reportagem de O TEMPO na época, mas não atendeu à reportagem.

Câmara de sarzedo

Presidente fala sobre aumento

o TEmPo - P. 2 04.03.2011A PARTE

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o TEmPo - P. 3 - 04.03.2011

Defesa do governador Antonio Anastasia apresentou pedido ao TSE

O governador de Minas, Antonio Anastasia, pediu, ontem, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que intime o governo federal e a Caixa Econômica para que apresentem os documentos referentes aos convênios feitos entre eles e as prefeituras mineiras. O pedido faz parte da defesa do governador Anastasia na ação que tramita no TSE movida pelo candidato derrotado ao governo de Minas no ano passa-do, Hélio Costa (PMDB). A ação questiona os convênios assinados no primeiro semestre do ano passado pelo governo de Minas e 70 municípios do Estado. A defesa de Anastasia foi elaborada pelo PSDB de Minas.

Segundo o pedido de intimação enviado pelo partido ao TSE,

a Caixa teria sido responsável pela assinatura de 42 convênios com prefeituras mineiras 48 horas antes da votação do segundo turno pre-sidencial, em solenidade realizada em Varginha. Na ocasião, segundo o partido, os convênios somaram R$ 27 milhões, destinados a compra de equipamentos, máquinas, construção cobertura de ginásios, esco-las, quadras esportivas, reformas em geral e pavimentação asfáltica.

A legislação eleitoral veda a assinatura de convênios durante o período eleitoral.

O PSDB justifica que, diferente do governo federal, “os convê-nios firmados pelo Estado seguiram a rotina administrativa e foram interrompidos no dia 03 de julho, respeitando o prazo estipulado pela Justiça Eleitoral, enquanto o governo federal manteve inalterada a ro-tina de assinaturas de convênios”.

o TEmPo - P. 6 - 04.03.2011 Convênios

Anastasia pede que Justiça intime União e Caixa

Anastasia abriga ficha suja na AdemgVereador cassado, que teve a candidatura para a Assembleia impugnada pela Justiça terá salário bruto de R$ 7 mil

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RODRIGO FREITASA legislação ambiental de Minas Gerais pode

passar por modificações estruturais em breve. Nos bastidores, o governo do Estado se prepara para apresentar projeto de lei que vai sistematizar toda a legislação do setor, unificando procedimentos como a emissão de licenças ambientais. A justi-ficativa do governo é agilizar e desburocratizar os processos. O primeiro passo nesse sentido foi dado, nesta semana, com a apresentação de uma proposta que funde três órgãos do setor ambiental em apenas um.

A fusão do Instituto Estadual de Florestas (IEF) com o Instituto de Gestão das Águas de Mi-nas Gerais (Igam) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) foi discutida anteontem pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindus-trial da Assembleia Legislativa. O governo não deve ter dificuldades para concretizar a ação, se-gundo o presidente da comissão, deputado Antô-nio Carlos Arantes (PSC). “Concordo com a pos-sibilidade de termos todos os órgãos funcionando em um só e falando a mesma língua”, disse.

No entanto, a possibilidade de outras modifi-cações na legislação é tratada com cuidado pelos deputados. O maior medo é que as modificações que o governo deve propor causem “rebuliço” entre os movimentos ligados ao setor ambiental. “Vamos tratar tudo isso com muita calma, até porque meio ambiente não é brincadeira. Acre-dito que os projetos serão bons, mas precisamos vê-los primeiro para discutir com a sociedade depois”, afirma um deputado da base governista, que pediu anonimato.PARECER

O presidente da Comissão de Meio Ambien-te e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia, deputado Célio Moreira (PSDB), não confirma oficialmente o envio do projeto pelo Executivo, mas já se posiciona a favor das eventuais propo-sições. “Eu prefiro não opinar, neste momento, porque ainda não sei do conteúdo. Mas digo que, se for facilitar a vida do cidadão, é bom”, diz o parlamentar.

Projeto aguarda aprovação

de Código FlorestalO governo do Estado, segundo deputados da

o TEmPo - P. 6 - 04.03.2011Proposta.A ideia é desburocratizar procedimentos administrativos

Projeto deverá unificar e sistematizar leis ambientaisA iniciativa será o próximo passo após a fusão do IEF com Igam e Feam

base, ainda aguarda para apresentar os projetos de reestruturação do setor ambiental em Minas. A informação é que o Executivo quer esperar a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro (CFB).

“Nossa ação ainda é muito limitada porque precisamos de avanços na legislação federal, o que só vamos conseguir com a aprovação do CFB. Portanto, ainda dependemos dos deputados federais para que possamos fazer as alterações necessárias para desburocratizar a vida do cidadão brasileiro”, afirma o presidente da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assem-bleia, deputado Antônio Carlos Arantes (PSC).

Os governistas destacam ainda que a única manobra possível de ser feita, neste momento, é a já anunciada fusão dos órgãos am-bientais em apenas um. (RF)

HoJE Em diA - P. 2 - 04.03.2011

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Pedro Ferreira

Dois militares do Batalhão Rotam se recusaram ontem a prestar declarações à Polícia Civil que apu-ra o o assassinato de dois moradores do Aglome-rado da Serra, na Região Centro-Sul de BH no dia 19. Um terceiro soldado suspeito, Adelmo Felipe de Paula Zuccheratte, que havia falado em inquérito da PM, sustentou que não estava no aglomerado.

O delegado Fernando Miranda precisou se deslocar do Departamento de Investigações até à Corregedoria da PM, no Centro, para tentar ouvir os três PMs. O advogado Ricardo Gil de Oliveira Guimarães, defensor dos soldados Jason Ferreira Paschoalino e Jonas David Rosa, disse que os clien-tes só vão falar em juízo. Informou já ter pedido à Justiça Militar a revogação da prisão dos soldados, que tem também prisão decretada pelo 1º Tribunal do Júri.

O promotor Rodrigo Filgueira, designado pela Procuradoria de Justiça para acompanhar as duas investigações, não acredita em rixa entre po-liciais. Segundo ele, o delegado ouviu os presos na corregedoria por praticidade, pois a Polícia Civil queria ouvir testemunhas que já estavam na Corre-gedoria da PM.

moRTEs nA sERRA

Polícia Civil tenta ouvir os três PMs

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EsTAdo dE minAs - P. 26 - 04.03.2011

Luciane Evans

Por trás da placa que anuncia a conclu-são rápida do ensino médio e fundamental, um curso supletivo no Centro de Belo Hori-zonte escondia um suspeito esquema de ven-das de diplomas falsos. Depois de denúncia de uma aluna, que não conseguiu ingressar numa faculdade da capital por causa do cer-tificado ilegal, a Polícia Civil chegou até a instituição. Ontem, oito policiais e uma equi-pe da Secretaria Municipal de Educação esti-veram no local e confirmaram uma possível fraude. Segundo a polícia, o dono do cursi-nho, o empresário Mauro Dinápoli, já havia feito o mesmo esquema no Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, onde foi in-diciado por estelionato e formação de qua-drilha. Em BH, ele também pode responder a inquérito pelos mesmos delitos, com pena de um a cinco anos de reclusão. Se for com-provado que alunos sabiam da ilegalidade e usaram isso para conseguir o certificado, eles também serão indiciados. O supletivo foi fe-chado e o dono vai ser processado.

Sem fachada e localizado em um pré-dio na Rua São Paulo, onde funcionava no sexto andar, a escola com nome de Supletivo Centro Carioca de Ensino Superior e também Centro Educacional Carioca, segundo inves-tigação policial, mudava de razão social para dificultar o flagrante de fraude. Em 2009, a Polícia Civil começou investigação em que constava outros nomes do supletivo. Somente há três meses, quando uma aluna denunciou o curso, policiais perceberam que se tratava do mesmo esquema. “A estudante chegou a usar

o diploma em uma faculdade, mas, quando o entregou a outra universidade, foi avisada de que ele era falso”, conta o chefe do De-partamento de Investigação de Crimes contra Patrimônio, delegado Islande Batista.

De acordo com o policial, o certificado custava de R$ 600 a R$ 700. “O valor de-pendia do nível escolar que o estudante pre-cisava. Muitas faculdades não têm habilidade para identificar um diploma falso e, muitas vezes, na preocupação de ter mais alunos, não conferem a legalidade dos documentos”, alerta Islande. Segundo ele, os atestados não eram reconhecidos pela Secretaria de Estado de Educação. “Vamos apurar há quanto tem-po o curso funcionava em BH. Já estimamos que haja cerca de 1 mil pessoas envolvidas.” Ele alerta que, se for comprovado que alu-nos agiram de má-fé, sabendo da fraude, eles podem responder por uso de documentos fal-sos. sEm AULAs

Quando a polícia chegou ao cursinho, por volta das 10h, não havia no local sequer professores e a única sala de aula estava va-zia. Somente três mulheres, que disseram ser atendentes, estavam na recepção e foram inti-madas a prestar depoimentos. “Vários fatores nos chamaram a atenção. A ausência de um educador é um indício. Pedimos os livros de registros para saber quem são os alunos ma-triculados, mas, segundo nos informaram, o dono do estabelecimento recolhe e guarda os documentos”, comentou a inspetora escolar Eunice Nonato, acrescentando que havia di-plomas com cargas horárias e datas irregula-res. “Há certificado em que o aluno concluiu

em poucos dias 800 horas-aula. Os carimbos dos diplomas são do Rio de Janeiro”, disse, lembrando ainda que 1º e 2º grau, como anun-cia a placa do supletivo, não é mais usado, sendo correto ensino fundamental e médio.

A notícia de que o curso era ilegal as-sustou aposentada Josefa Vieira, de 69 anos, que ontem foi ao local para buscar o diploma da neta Jéssica, que, segundo ela, estudou no cursinho e precisava do certificado para o novo emprego, em Portugal. “Ela está mo-rando naquele país e me pediu para buscar. Vou ter de avisá-la do ocorrido”, afirmou Josefa. Escondidas na cozinha do supletivo, três mulheres que trabalham no curso conta-ram a versão delas sobre o estabelecimento. “Os alunos chegavam aqui para fazer o curso de preparação. O valor é de R$ 600. O dono agendava aulas de reforço com professores freelancers, por isso, não há nenhum aqui. Quando o estudante estava preparado, ele marcava a prova em uma escola credencia-da no Centro de Estudos Supletivos (Cesu) e, se aprovado, tirava o certificado. Somente em janeiro, tivemos 30 alunos matriculados”, explicou a recepcionista, que diz ser pedago-ga e preferiu não se identificar.

A Secretaria de Estado de Educação in-formou que o supletivo não tinha autorização para funcionar e que somente as escolas auto-rizadas são fiscalizadas. As demais recebem inspetores educacionais somente em caso de denúncias. Para saber se o local de ensino é legalizado, a secretaria orienta estudantes a procurar a superintendência regional de en-sino de cada região. Denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800-9701212.

ESTELITA HASS CARAZZAI - NATÁLIA CANCIAN - DE SÃO PAULO

Às vésperas do Carnaval, os policiais civis da Bahia decidi-ram ontem entrar em greve por tempo indeterminado.

Apesar de a mobilização ter sido considerada ilegal pela Jus-tiça, a categoria promete continuar paralisada, mantendo apenas 30% dos servidores na ativa.

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia, por meio de sua assessoria, informou ser “muito pouco provável” que a greve con-tinue, já que a Justiça determinou multa de R$ 100 mil por dia ao sindicato em caso de desobediência à ordem judicial.

“Ilegal é essa raça ruim que está aí”, reagiu o presidente do sindicato dos policiais, Carlos Lima, referindo-se ao comando-ge-ral da corporação no Estado. “Eles é que são incompetentes, não sabem gerir.” A categoria, que fez uma passeata em Salvador com cerca de 700 pessoas ontem, protesta contra a morte do policial civil Valmir Gomes, que era investigado por uma denúncia de ex-torsão e, durante a operação, foi alvejado por outros policiais civis. O incidente ocorreu anteontem à noite, em Salvador.

A Secretaria de Segurança afirma que Gomes reagiu à abor-dagem policial e trocou tiros com os colegas. Já o sindicato diz que ele foi morto “covardemente, com quatro tiros nas costas”, nas palavras do vice-presidente Marcos Maurício, e que sua arma nem sequer foi usada.

“Foi um extremo abuso de autoridade. A regra é investigar, averiguar, e não executar sumariamente, sem apuração das cir-cunstâncias”, declarou, em nota, o sindicato dos policiais.EsToPim

Segundo Maurício, a morte de Gomes foi o “estopim” para a greve, já que a categoria vinha discutindo a possibilidade de pa-ralisação. “Estamos saturados de tantos problemas”, diz. Entre as reclamações dos policiais, estão o excesso de carga horária, a falta de reajuste em promoções e horas extras e prisões “ilegais” de policiais. O sindicato informa que a greve dura até que os policiais que atiraram em Gomes se entreguem à polícia e respondam por homicídio.

A Polícia Civil informou que está investigando a morte de Gomes e afirma que haverá policiamento suficiente no Estado no Carnaval.

FoLHA dE sP - on LinE - 04.03.2011Policiais civis da Bahia entram em greve após morte de colega

Secretaria diz que agente morto por policiais reagiu à abordagem

EsTELionATo

Central de diploma falso

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MAGALI SIMONEDois vereadores de Belo Horizonte foram parar em de-

legacias, ontem, depois de se envolverem em ocorrências policiais. Em uma delas, o Cabo Júlio (PMDB) foi acusado de agredir a ex-mulher durante uma discussão. Já Adriano Ventura (PT) foi detido por causa de uma briga de trânsito com uma pedagoga. Em ambos os casos, os vereadores ne-gam serem os agressores. Eles disseram ter apanhado das duas mulheres.

A delegada de Mulheres, Claúdia Couri, que recebeu a ocorrência contra Cabo Júlio não quis comentar o caso. Segundo a policial, o ex-casal foi ouvido e cada um deu sua versão sobre a história.

A empresária Márcia Chamom, 40, que foi casada com o vereador por sete anos, pediu que Cabo Júlio seja punido com base na Lei Maria da Penha, já o vereador deu queixa contra a ex por calúnia. “Estamos separados há dois anos. Hoje (ontem), ela tentou agredir minha namorada. Não dei-xei. Entrei com uma representação. Pretendo processá-la por calúnia, difamação e danos morais”, afirmou o vereador que, na delegacia, retirou a camisa para mostrar as marcas das unhadas que, segundo ele, foram dadas pela ex, Márcia Chamom.

A empresária nega que tenha batido no vereador. Ela disse que foi à casa do ex para checar uma suspeita de ar-rombamento e ao chegar na residência encontrou Cabo Júlio acompanhado da atual namorada, uma delegada que não teve o nome revelado. Foi nesse momento, segundo Márcia, que teve início a discussão. “Ele (Cabo Júlio) me jogou contra uma mesa de vidro, me bateu e me arrastou pelos cabelos”.

A empresária negou que estivesse separada do vereador há dois anos. Segundo ela, os encontros dos dois acontece-ram até um mês atrás, mas terminaram devido às constantes traições do parlamentar. Na delegacia, ela mostrou aos jor-nalistas as mensagens de celular que teriam sido enviadas pelo ex com frases de amor.

Trânsito. No caso do vereador Adriano Ventura, a briga também envolveu policiais. A pedagoga Fernanda Moreira, 32, mulher de um militar, acusa o vereador de agredi-la du-rante uma briga de trânsito. Fernanda disse que o parlamen-tar a empurrou quando ela reclamou por ele ter estacionado perto da garagem dela.

Já o vereador afirma que a mulher rasgou a blusa dele. Ele também reclama que foi vítima de abuso de autoridade por parte de policiais que o teriam levado à delegacia. Ven-tura entrou com representação junto à corregedoria da PM.

Vida pública

Polêmica, afastamento e condenação por fraude

Essa não é a primeira vez em que o Cabo Júlio se envol-

ve em polêmicas. Em fevereiro do ano passado, o vereador ficou afastado de suas atividades da Câmara Municipal após ter sido encontrado desmaiado em uma calçada, na região do Barreiro. Inconsciente, ele precisou ser carregado por poli-ciais e por um irmão.

Na época, a assessoria do vereador alegou que o afasta-mento foi uma recomendação médica e que o político teria sofrido uma queda brusca de pressão devido ao uso de remé-dios para combater uma gastrite.

Entre os colegas de Câmara, porém, o comentário era de que o vereador sofria uma crise de depressão a assessoria nega a informação. Os problemas de saúde teriam surgido em 2009, quando Cabo Júlio foi condenado pelo envolvi-mento na Máfia dos Sanguessugas esquema de fraudes para liberação de verbas públicas. Em agosto de 2009, o vereador foi condenado a devolver R$ 143 mil aos cofres públicos, além do pagamento de multas. (Da Redação)

PM nega acusações de abuso de poder

O assessor de imprensa da Polícia Militar, tenente-coro-nel Alberto Luiz Alves, negou a versão do vereador Adriano Ventura (PT) que acusou a pedagoga Fernanda Moreira de ter usado do fato de ser casada com um oficial militar para intimidá-lo.

Ventura disse ter sido cercado por três viaturas e levado à delegacia para depor. Indignado, o parlamentar denunciou o caso à Corregedoria da Polícia Militar. A pedagoga o te-ria agredido, chegando a arrancar os botões de sua camisa. “Não houve abuso de autoridade. Ele (vereador) empurrou a mulher depois de ter estacionado em local proibido. Fugiu antes da chegada da viatura que faria o boletim de ocorrên-cia. Fizemos o que fazemos sempre quando uma mulher é agredida e o agressor foge antes da chegada da polícia”, afir-mou o policial.

Documento. Além disso, segundo o assessor da corpo-ração, o carro do vereador foi apreendido porque ele estaria portando Documento Único de Transferência (DUT) venci-do. O documento é liberado com o pagamento de taxas como IPVA. “O DUT dele era de 2009, pela legislação deveria ser de 2010”, afirmou o assessor. (MSi)

Histórico1997. Cabo Júlio fica conhecido em todo o país após

liderar a greve da Polícia Militar por melhores salários. Em seguida, ele entra para a política

1998. Após uma campanha que explorou sua atuação na greve, ele foi eleito deputado federal, com 158 mil votos

2002. O peemedebista é reeleito deputado federal2006. O então deputado se envolve em um escândalo

de desvio de dinheiro público. Suspeito de participação na Máfia dos Sanguessugas, não consegue se reeleger

2008. Cabo Júlio é eleito vereador da capital

o TEmPo - P. 35 - 04.03.2011Queixa.Cabo Júlio e Adriano Ventura são acusados de agredir mulheres; um dos casos foi discussão de trânsito

Briga de vereador na políciaOs dois dizem que apanharam; Cabo Júlio mostrou unhadas nas costas

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HoJE Em diA - P. 32 - 04.03.2011

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EsTAdo dE minAs - P. 25 - 04.03.2011

Pedro Ferreira

Um dia depois da execução na Avenida Afonso Pena, um travesti foi baleado no Bairro Santa Branca, Região da Pampulha, em Belo Horizonte. A vítima, Jorge da Conceição de Lima, de 36 anos, foi atingida no abdômen e teve órgãos internos perfurados. De acordo com testemunhas, ele foi atacado por outros três travestis, na noite de quarta-feira, e socorrido no Hospital de Pronto-Socorro Risole-ta Neves, em Venda Nova, onde foi submetido a cirurgia durante a madrugada. Pela manhã, Jorge foi encaminhado ao centro de terapia intensiva (CTI), em coma induzido. O estado de saúde dele era grave, porém estável.

A Polícia Militar não sabe se a tentativa de homicídio tem liga-ção com o assassinato da madrugada anterior, no Bairro Funcionários. No entanto, a PM dispõe de informação segundo a qual os suspeitos de atirar em Jorge também se prostituem na Afonso Pena.

Segundo informações do 49º Batalhão da PM, os agressores passaram em um Siena prata pela Rua Teles de Menezes e um de-les disparou contra a vítima. Dois suspeitos foram identificados por testemunhas apenas como “Carol” e “Gordete”. Há informações de que eles haviam brigado com Jorge dois dias antes, numa boate da Savassi, Região Centro-Sul. A ação será apurada pela Polícia Civil. Imagens de uma câmera de segurança podem auxiliar na localização dos suspeitos.

Flávia Ayer e Thobias Almeida A Polícia Militar trata o assassinato de um travesti, na ma-

drugada de quarta-feira, em plena Rua Piauí, na esquina com a Avenida Afonso Pena, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, como um fato pontual, em uma interpretação que evidencia o des-compasso entre ação policial e sentimento da comunidade de uma das áreas mais nobres da capital. Enquanto moradores sentem-se ilhados nas próprias casas – de onde relatam testemunhar cenas de sexo, brigas, tráfico de drogas e afronta às leis do silêncio e de trânsito – no chamado Alto da Afonso Pena, trecho entre a Avenida Brasil e a Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, a PM garante que a região não é violenta. Mesmo assim, em resposta à execu-ção do travesti, o comando da corporação prometeu intensificar, a partir da noite de ontem, o policiamento na avenida. O reforço, porém, se limita a uma viatura, além das naturalmente estariam empenhadas no patrulhamento da área.

O presidente da União das Associações de Bairro da Zona Sul, Marcelo Marinho Franco, queixa-se de que ações ocasionais da PM não resolvem o problema. “Quando para, volta tudo. Essas medidas têm que ser permanentes. Os moradores estão com medo, afinal, veem tiroteio e tráfico de drogas na porta de casa. Pagamos um dos IPTUs mais caros da cidade e é essa a qualidade de vida que temos”, afirma Franco, que, apesar da crítica, ainda confia no comando da polícia.

Morador das imediações da Avenida Afonso Pena, o assessor jurídico Reinaldo Matta Machado avalia a estratégia que tem sido adotada pela PM como insuficiente para coibir a rotina de atentado ao pudor, tráfico e outros delitos. “Vejo a polícia subindo e descen-do a avenida, mas não observo operações que abordem as garotas de programa. Geralmente é só um carro, o que não é suficiente”, critica. Obrigado a instalar câmeras e refletores para coibir os pro-gramas em frente ao prédio onde mora, ele revela que a população se sente temerosa em denunciar. “Até porque, entre os que fre-quentam esse mercado, há pessoas muito influentes”, sustenta.

A indignação em relação às madrugadas sem lei na Afonso Pena levou moradores a divulgar carta aberta, em que relatam a rotina com que convivem. No texto, pedem ação mais enérgica por parte da polícia, além da instalação de câmeras do sistema Olho Vivo da PM (veja trechos abaixo) para coibir os crimes. Em-bora não apresente estatísticas, a PM garante que não há aumento da criminalidade na Zona Sul de BH e assegura que a morte do travesti Gustavo Brandão de Aguilar, de 22 anos, é fato isolado. “Estamos atuando ali e a área é tranquila. Não há disputa ou briga por pontos de tráfico”, alega o tenente-coronel Márcio Cassavari, comandante do 1º Batalhão da PM.

O oficial debita na conta de Fernando Túlio Miranda Lages, de 24 anos, o Pimpolho, um dos acusados de assassinar o travesti, todos os distúrbios graves que ocorreram nos últimos meses ao longo da avenida, cenário de três homicídios desde setembro do ano passado. “Ele é suspeito de todos os homicídios que aconte-ceram ali”, sustenta o tenente-coronel. De acordo com a Polícia Civil, que investiga a execução ocorrida quarta-feira e suspeita de que ela tenha relação com o tráfico de drogas, a Justiça deferiu ontem pedido de prisão preventiva de Pimpolho.

O tenente-coronel Cassavari também anunciou medidas com o objetivo de dissipar o que a PM classifica como “sensação de insegurança”, permitindo que os moradores voltem a ter tranqui-lidade. “A partir das 21h de hoje (ontem) já teremos uma viatura exclusiva na Afonso Pena, somente para o trabalho de prevenção”, adianta o tenente-coronel. Ele garante que motoristas de todos os carros que trafeguem em busca de programas na avenida serão parados e cadastrados, além do risco de ser multados, em caso de infrações de trânsito. Sobre a questão do tráfico de drogas, o comandante diz que apenas os criminosos pegos em flagrante são de responsabilidade da PM e que a Polícia Civil é a responsável pela investigação e o desmantelamento da suposta rede montada ao longo da avenida. dEsConFiAnÇA

O discurso não convence quem convive diariamente com o problema e alimenta desconfiança em relação à ação da PM. As cenas de atentado ao pudor em frente ao lugar em que morava, na Rua Inconfidentes, levaram a cabeleireira Sinaia Veiga Pereira, de 34 anos, a mudar de apartamento. A gota d’água foi quando flagrou três homens em cenas de sexo em frente ao prédio. No trabalho, Sinaia, dona de um salão na Afonso Pena, também teve que tomar providências. “Precisei instalar uma grade, porque todo dia era muita sujeira na escada do salão. Tinha que limpar urina, fezes e camisinhas todos os dias”, conta a cabeleireira, que não vê policiamento eficaz da área. Relatos de vários moradores dão conta de que não é raro ver viaturas paradas na avenida e policiais conversando com as prostitutas.

Há mais de 18 anos com comércio da Afonso Pena e cansado da baderna noturna, o empresário Vinícius Baeza, de 35, critica a ação da polícia. “Já assinei mais de 18 abaixo-assinados e nunca se resolveu nada. É impressionante. Fica a impressão de que fazem vista grossa. Já cansei de chegar à loja e encontrar vidros com restos de cocaína aqui”, afirma, observando que a relação entre mercado do sexo e tráfico de droga é íntima. “Para aguentar essa vida, tem que estar envolvido com droga mesmo.”

BH sem lei

Abusos na Afonso Pena opõem PM A moradoresEnquanto comunidade da mais famosa avenida de BH denuncia vários tipos de crimes, constrangimento e desrespeito, corporação entende que região não é violenta e vê execução de travesti como episódio isolado

Mais um travesti baleado

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Ernesto Braga A cada ano, aumenta o número de me-

nores em conflito com a lei apreendidos em Belo Horizonte e encaminhados aos centros de internação. A restrição da liberdade, que varia de seis meses a três anos, é a medida socioeducativa mais severa prevista no Es-tatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Dos 9.650 jovens com menos de 18 anos detidos na capital em 2009, 1.728 (18%) foram parar atrás das grades. No ano pas-sado, o índice de internação entre os 9.864 menores apreendidos foi de 23%, ou 2.268. A maioria fica acautelada provisoriamente, o que gera grande rotatividade nas unida-des de internação.

Os números constam no relatório esta-tístico 2010 do Setor de Pesquisa Infracio-nal (Sepi) da Vara Infracional da Infância e da Juventude da capital, divulgado ontem com exclusividade pelo Estado de Minas. “Temos atualmente cerca de 320 adoles-centes internados em BH. Sabemos que 10% são irrecuperáveis, por serem porta-dores de psicopatias graves, que não têm tratamento. Mas 90% têm recuperação”, afirmou a juíza Valéria da Silva Rodrigues,

coordenadora da Vara Infracional da Infân-cia e da Juventude da capital. Ela divulgou os dados do relatório na manhã de ontem.

Dos menores encaminhados em 2010 ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional de Belo Horizonte (CIA-BH), no Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul, 2.182 foram de-tidos por tráfico de drogas (27,2%) e 1.483 por uso de entorpecentes (18,5%), o equi-valente a 45,7% das ocorrências. Foram 855 apreensões por furto (10,7%) e 619 por roubo (7,7%). O envolvimento em outros crimes violentos permaneceram em baixos patamares: 32 apreensões por homicídio (0,41%) e 24 por tentativa de assassinato (0,3%). Os dados apontam uma migração da criminalidade violenta para os delitos relacionados às drogas, tendência acompa-nhada pelo CIA-BH desde 2005.

A reincidência dos adolescentes no crime também aumentou nos últimos dois anos, passando de 2.732 casos, em 2009, para 3.104, em 2010. Ela é maior nos cri-mes de tráfico e uso de entorpecentes. “Quando o menor é aprendido com droga, ele é obrigado pelo traficante a restituir

esse carregamento. Fica devendo R$ 2 mil, R$ 3 mil, e é ameaçado com a família pelo traficante. Como que o menor vai pagar? Trabalhando novamente para o tráfico. Vira um círculo vicioso”, ressaltou a juíza.

Valéria Rodrigues destacou que na fai-xa etária de 12 aos 15 anos, os percentuais de adolescentes do sexo feminino envolvi-das no crime são maiores do que do mascu-lino. “Isso está relacionado à prostituição casada com a venda de drogas”, avaliou. O CIA-BH registrou 18 ocorrências de estu-pro em 2010, crime que não apareceu nas estatísticas de 2009. “Todos são casos de menores que estão descobrindo a sexuali-dade e são encontrados por familiares em atos libidinosos, mas sem o uso de violên-cia”, afirmou.

A magistrada ressaltou que os relató-rios feitos pelo CIA-BH desde 2005 servem de embasamento para a criação de políticas públicas voltadas para os menores. “Eles reclamam que faltam iniciativas públicas dessa natureza. A criminalidade está pre-sente em todas as classes sociais, embora só os adolescentes dos aglomerados che-guem até a Justiça.”

EsTAdo dE minAs - P. 26 - 04.03.2011

DE SÃO PAULO - Candidato único, o desembargador José Roberto Bedran foi eleito ontem, com 288 votos, presidente do Tribunal de Justiça de SP.

Bedran vai assumir o cargo até o início de 2012, por conta da morte do presidente eleito para o biênio 2010/2011, Antonio Carlos Viana Santos, e a aposentadoria do vice-presidente e do corregedor do TJ. Bedran tem 68 anos e nasceu na cidade de Ta-quaritinga (SP). Formou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP) em 1967.

Começou a carreira na comarca de Barretos em 1969. Foi juiz em Piratininga, Itanhaém e varas da capital, e chegou ao cargo de desembargador do TJ em 1992.

Para a vice-presidência do tribunal, ocorrerá um segundo turno entre os desembargadores David Eduardo Jorge Haddad e José Santana. O cargo de corregedor-geral da instituição ficou para Maurício da Costa Carvalho Vidigal, com 196 votos. Ele concor-reu com João Alfredo de Oliveira Santos e José Damião Pinheiro Machado Cogan.

FoLHA dE sP - on LinE - 04.03.2011

VERA MAGALHÃES - ENVIADA ES-PECIAL A BRASÍLIA

O sentimento preponderante entre os mi-nistros do STF (Supremo Tribunal Federal) na posse de Luiz Fux, ontem, era de alívio.

Com a composição completa, a corte pode retomar julgamentos importantes e definir im-passes como o da Lei da Ficha Limpa, cujo jul-gamento terminou num constrangedor empate.

O presidente do Supremo, ministro Cezar Peluso, conversou com Fux antes da posse e perguntou se ele se sentiria à vontade de par-ticipar o quanto antes de sessões de casos mais rumorosos. Fux respondeu que precisaria ape-nas saber da pauta com a antecedência de uma semana para poder estudar. O novo integrante da mais alta corte do país é efusivo, falante e muito assertivo. Difere, portanto, de certo dis-tanciamento olímpico que costuma caracterizar

o perfil dos ministros do STF. É de se esperar que, agora investido da função, seja mais dis-creto.

Outra característica rara é o raro consenso que existe em torno de seu nome. Políticos de diferentes partidos, advogados e juízes costu-mam ressaltar a “consistência” jurídica do esco-lhido de Dilma Rousseff.

Por isso a escolha foi comemorada, a des-peito de seu nome não ter figurado nunca na lis-ta de favoritos ao posto.

A primeira nomeação de Dilma para o STF marca, também, a mudança no campo de influência: sai Marcio Thomaz Bastos, que in-fluenciou em praticamente todas as escolhas da era Lula, e entram novos interlocutores, como o onipresente Antonio Palocci, que, juntamente com o governador Sérgio Cabral, trabalhou por Fux.

Dilma terá, ainda, pelo menos mais duas nomeações no STF, pois tanto Peluso quanto Carlos Ayres Britto terão de sair porque farão 70 anos e cairão na chamada “expulsória”.

Completa, a corte se debruçará sobre casos polêmicos. Além da Ficha Limpa, devem entrar na pauta a novela da extradição de Cesare Bat-tisti e a ação apresentada pela oposição contra o dispositivo ao governo que permite fixar por decreto o valor do salário mínimo nos próximos quatro anos. Mais à frente, irão à análise dos ministros casos como o mensalão, a permissão para aborto em caso de anencefalia e a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

O primeiro efeito da posse de Fux, portan-to, é permitir que o STF possa voltar a funcio-nar plenamente e a dar respostas a questões de impacto na vida política, econômica e social do país.

FoLHA dE sP - on LinE - 04.03.2011

inFRAToREs - Aumenta internação de menores

JUdiCiÁRio

José Roberto Bedran é eleito presidente do TJ de São Paulo

AnÁLisE

Com time completo, STF pode retomar questões polêmicas

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FLAVIO FERREIRA DE SÃO PAULO

O TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo inaugura hoje um centro de solução de conflitos para viabilizar o fecha-mento de acordos principalmente em processos sobre rela-ções de consumo.

O centro cuidará de cau- sas relacionadas a bancos, convênios médicos, administradoras de cartões de crédito, operadoras de telefonia, empresas de financiamento habita-cional e associações de estabelecimentos de en- sino, entre outras.

As atividades de tentativa de conciliação abrangerão processos que já tiveram uma sentença em primeira instância e agora estão no tribunal, após a apre- sentação de recursos.

Empresas que possuem muitas causas no TJ pode- rão indicar ao centro processos nos quais há maiores chances de solução ami- gável entre as partes.

Segundo a assessoria do tribunal, essa medida já foi tes-tada no ano passado e levou a um percentual de acordos de 40% nas ações. Em média o índice de conciliações em cau-sas do Tribunal de Justiça é de 25%.

Metade da produção do centro será pautada pela cha-mada Meta 2 do Judiciário nacional, que prevê um esforço para a solução de todas as causas que tenham começado até o final de 2005.

A meta do tribunal é que o novo órgão realize cerca de

5.000 audiências de conciliação por mês.O setor contará com uma equipe de 20 conciliadores, 20

escreventes e mais um grupo de estagiários. O atendimento ocorrerá de segunda a sexta-feira das 9h às 19h no Fórum João Mendes Jr., no centro de São Paulo.

A criação do órgão ocorre em cumprimento à Resolução nº 125 de 2010 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que determina a estru- turação de setores de con- ciliação judi-cional nos tri- bunais do país.

O centro criado pelo TJ de São Paulo é o primeiro do país organizado em atendimento à resolução.

PEsQUisAUma pesquisa divulgada anteontem pela Escola de Di-

reito de São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas) mos-tra a necessidade de criação de meios para facilitar a solução de litígios entre consumidores e empresas.

O levantamento realizado pela instituição em sete Esta-dos entre outubro e dezembro do ano passado apontou que 25% das 1.570 pessoas entrevistadas apontaram já ter sofrido cobranças indevidas decorrentes de relações de consumo.

Segundo a professora Luciana Gross Cunha, coorde-nadora da pesquisa, será muito difícil conter a demanda de causas desse tipo nos próximos anos. Para ela, além de medidas na esfera judicial, é preciso fortalecer as instâncias administrativas de solução desses conflitos.

FoLHA dE sP - P. B5 - 03.03.2011TJ paulista cria centro de conciliação

Setor cuidará de ações sobre relações de consumo com bancos, convênios médicos, cartões de crédito, entre outros Serão atendidos casos que já estejam na segunda instância; meta é realizar 5.000 audiências por mês

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DE BELO HORIZONTE DE SÃO PAULO

Manifestantes ligados à Via Campesina e ao MST (Mo-vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) bloquearam uma rodovia em São Paulo e outra em Minas na manhã de ontem.

A BR-050, uma das principais ligações entre os Estados do Sudeste e o Distrito Federal, ficou fechada por três horas em Uberaba (MG).

Cerca de 90 mulheres, de acordo com a Polícia Rodovi-ária Federal, fecharam os dois sentidos da rodovia. O trânsi-to só foi liberado ao meio-dia, quando já havia mais de 6 km de congestionamento em cada sentido.

Os sem-terra também invadiram uma fazenda na região.

Quando saíram da pista, arrancaram pés de soja de uma la-voura às margens da rodovia, de acordo com a polícia rodo-viária.

Maria do Rosário Pereira, que participou da manifes-tação, disse à Folha que o objetivo do movimento é alertar para o uso de agrotóxicos na região e lembrar o Dia Interna-cional da Mulher, comemorado em 8 de março.

Em Cubatão, no litoral de São Paulo, 600 mulheres blo-quearam por uma hora o trânsito na rodovia Cônego Domê-nico Rangoni. Na região estão localizadas diversas empresas produtoras de fertilizantes e defensivos agrícolas.

Ao longo da semana, grupos de mulheres ligados à Via Campesina invadiram a sede do Incra em Recife (PE), uma unidade da Braskem no Rio Grande do Sul e uma fazenda na Bahia.

Sem-terra bloqueiam rodovias em MG e SP e invadem fazenda Via Campesina e MST fazem protestos para lembrar Dia da Mulher

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É um falso escândalo a nomeação de um réu do mensalão, o depu-tado João Paulo Cunha, para presidir a Comissão de Constituição e Jus-tiça (CCJ), a mais importante da Casa, assim como a de um parlamentar, o palhaço Tiririca, que precisou provar não ser iletrado para assumir o mandato, como integrante da Comissão de Educação e Cultura, e a do atleta Romário, que no primeiro dia útil do ano legislativo assinou o ponto e foi jogar futevôlei na praia, para a vice-presidência da Comissão de Turismo e Desporto.

É também um falso escândalo a participação na comissão especial de reforma política da Câmara, de um punhado de figuras carimbadas como Paulo Maluf, na lista de procurados da Interpol; Valdemar Costa Neto, que renunciou para não ser cassado por envolvimento com o men-salão; Eduardo Azeredo, pivô do mensalão mineiro; e José Guimarães, um assessor do qual foi preso com US$ 100 mil na cueca. A partir do momento em que foram diplomados pela Justiça Eleitoral, por terem merecido suficientes sufrágios populares, quando não votações consa-gradoras, para chegar (ou ficar) lá, eles se tornaram parlamentares por inteiro, com os mesmos direitos e oportunidades dos seus demais cole-gas.Além de não existirem meios mandatários, nenhum dos nomes que o noticiário de ontem tratou como se fossem a essência do Congresso Nacional - a instituição que os brasileiros provavelmente mais apreciam depreciar - se autonomeou para as funções que passaram a desempenhar. O petista João Paulo Cunha, por exemplo, não foi nomeado titular da CCJ, mas eleito. Recebeu para tanto 54 votos de seus pares. No discurso de posse, teve ao menos o decoro de não varrer para debaixo do tapete a sua condição de acusado no STF por lavagem de dinheiro, corrupção e peculato. Como não poderia deixar de ser se disse “muito atormenta-do” pelo processo que teria mudado a sua vida e que, “em breve, nós o resolveremos por completo”.

Ah, mas os políticos, em respeito à opinião pública, deveriam ter o pudor de não premiar com papéis de relevo na cena parlamentar colegas

cujos currículos lembram antes folhas corridas, nem aqueles que são escancaradamente jejunos nas questões de alçada das comissões para as quais foram escolhidos. O argumento peca pela base. Respeito por respeito à sociedade, pergunte-se aos eleitores dos indigitados se acham que os seus preferidos deveriam ser “menos iguais” do que os outros ali em Brasília.

E os que pregam a moralização da política pela mudança do siste-ma eleitoral - como se disso, aquilo derivasse necessariamente - talvez devessem se dar conta de que a substituição do modelo proporcional pelo “distritão” (elegem-se os mais votados em cada Estado) ou pelo fatiamento dos Estados em distritos, para o mesmo fim, não reduzirá em nada as chances de sucesso de ídolos populares e populistas notórios. Talvez elas até aumentem. O problema do processo de reforma política, aliás, não está na presença de Maluf e alguns congêneres no colegiado de 41 deputados dela incumbidos.

Está no fato de Senado e Câmara terem sido incapazes, por rivali-dades pueris e o personalismo de seus dirigentes, de criar uma comissão conjunta para cuidar do assunto. Formaram-se duas, com procedimentos e prazos próprios. No caso do Senado, 45 dias. Na Câmara, 180. Escân-dalo é isso, pelo que os partidários autênticos da reforma podem esperar de tamanho absurdo - uma irrelevância ou um monstrengo. Escândalo maior, sem dúvida, é o da morosidade do Judiciário. O mensalão foi ex-posto em 2005, a denúncia acolhida em 2007 e só este ano o STF deverá iniciar o julgamento de seus 40 réus.

A mesma Alta Corte não se empenhou o bastante para chegar a um acordo sobre a validade da Lei da Ficha Limpa já para as eleições de outubro passado. Nos votos, foram 5 pelo sim e 5 pelo não - e a matéria empacou à espera da posse do undécimo ministro, Luiz Fux, que assu-miu ontem. Funcionasse a Justiça como o País demanda, os Malufs ou teriam sido alijados do Congresso ou neles teriam assento de inequívoca legitimidade.

Carlos Lindenberg

Esse incipiente movimento das oposições mineiras, que se unem alegadamente em defesa de investimentos federais no estado e para exercitar o mandato que lhes deram os eleitores, mostra que ganhou corpo o bloco PT-PMDB-PC do B e PRB encastelado na Assembleia Legislativa. É bem verdade que até agora há mais fumaça do que fogo, mas os encontros que as bancadas estadual e federal realizam para manter acesa a chama da oposição, é indicador de que o governo poderá ter algum trabalho no legislativo mineiro, ainda que senhor de maioria absoluta dos votos na casa.

O alvo da ação não é necessariamente o governador Antonio Anastasia. O foco é o senador Aécio Neves, eleito tanto pelo PT como pelo PMDB e pelo PC do B e PRB como seu adversário natural, tanto na disputa pelo governo do estado como pela presidência da Repúbli-ca. A estratégia não causa surpresa, a começar pelo movimento fei-to pelo governador Anastasia na montagem do secretariado, quando isolou o PT e seus aliados na Assembleia, tentou puxar sem êxito o PMDB para o seu bloco e, com isso, provocou a união das quatro legendas. O que não se esperava que a ação no legislativo mineiro chegasse às respectivas bancadas federais, o que acabou acontecendo, e com a adesão do senador recém-empossado Clésio Andrade, que havia anunciado sua disposição de não fechar com Aécio e Itamar.

Clésio estava na reunião dos deputados federais e estaduais com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, por sinal do partido dele, o PR. Nessa reunião, os parlamentares reivindicaram do governo federal a paternidade de obras que possam ser feitas pela União em Minas, como a duplicação da Br-381. A alegação é de que o governo do estado acaba se apoderando das obras, em detrimento dos parla-mentares que tem o ônus de apoiar o governo em votações por vezes pouco populares, como no caso do salário-mínimo. Aécio e Anastasia

não passaram recibo, cabendo ao senador apenas dizer “tanto melhor” se conseguirem as obras prometidas.

Mas toda essa movimentação, mesmo que tenha sua utilidade, vai esbarrar na prefeitura de Belo Horizonte. Nessa disputa estarão o PT, o PMDB, o PSB, o PC do B, todos da base do governo Dilma, mas que não se sabe exatamente que caminhos tomarão. Para não falar no PSDDB, que acaba sendo o alvo dos outros, à exceção talvez do PSB. O problema é que de alguma forma todos dependem do movimento de Marcio Lacerda, um híbrido, digamos, da fusão dos desejos do PT e do PSDB em 2008. Nessa estratégia para 2014, que passa por 2012, Márcio é a pedra de toque. De alguma forma, tudo vai depender dele - ou melhor, as estratégias dos outros dependerão da estratégia dele.

E Marcio faz de conta que não está nem aí para a aflição dos outros. E com razão, claro. Se ele não precisa se definir agora, por que o faria? Recentemente diante de uma ação por improbidade que o PMDB tentou patrocinar na Câmara Municipal, o prefeito não perdeu um minuto de sono. Primeiro, porque tem maioria absoluta na Câma-ra; segundo porque a oposição a ele, aqui, é como a oposição a Dilma, em Brasília - isto é, sem foco definido - e por último porque ele não se sente pressionado, daí ter reagido com uma simples expressão: - vamos deixar a eleição para 2012.

Não é o que pensam o PT, PMDB, PRB e PC do B. Para eles, que são oposição aqui, é importante começar desde já o embate polí-tico, deixando para 2012 o debate político. Foi o que demonstraram, nesta semana em Brasília, quando os deputados federais e estaduais, além do senador Clésio Andrade, consolidaram a frente de oposição a Anastasia e a Aécio, tendo como argumento a reivindicação das obras federais no estado, mas como pano de fundo o novo desenho político em que Anastasia não pode mais se candidatar e em que Aécio tenta espaço para disputar contra Dilma ou Lula, no caso de volta do ex-presidente - uma hipótese remota, mas não inteiramente descartável.

Oposição começa a se armar em Minas HoJE Em diA - P. 2 - 04.03.2011

Não há meio deputado

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SARGENTO RODRIGUES Deputado estadual (PDT-MG)

Minas Gerais vive uma transformação na segurança pú-blica. Como em toda mudança, é necessário tempo e ajustes para obter os resultados desejados. Até 2002 todos que go-vernaram o Estado, ao anunciar melhorias no setor, chama-vam a imprensa, estacionavam novas viaturas na praça da Liberdade e apresentavam investimento de tantos milhões na renovação da frota e contratação de mais mil policiais.

A partir de 2003, o governo deu novo rumo a essa de-manda social e a segurança pública passou a ser adminis-trada com mais inteligência, aperfeiçoando as ferramentas existentes e investindo em novas formas.

Iniciou-se um processo de integração das forças poli-ciais jamais visto na história de nossas corporações. Para entender melhor, a Polícia Militar, que faz o policiamento ostensivo e preventivo, não acessava o banco de registro de dados da Polícia Civil. Na prática, a PM abordava um ci-dadão e não havia como saber, imediatamente, se era um criminoso, foragido e com mandado de prisão. Isso ocor-ria porque as cúpulas não trocavam informações na área de inteligência ou não planejavam, conjuntamente, suas ações. Isso não acontece mais!

A integração é imprescindível ao avanço das forças po-liciais, mas não fica apenas no banco de dados comum! A

base territorial de uma delegacia passou a coincidir com a de uma companhia da PM para que as chefias possam planejar e executar as ações coordenadamente, buscando a redução da criminalidade. Aliado a isso, implementou-se o Cinturão de Segurança (I, II e III), viabilizando investimentos nas uni-dades policiais fronteiriças com outros Estados, próximas a rodovias e sedes de comarcas.

O sistema prisional foi revitalizado e contratado pes-soal qualificado para cuidar dos presídios e penitenciárias, liberando policiais civis e militares da custódia de presos para retorná-los a suas atividades principais. Temos, ainda, maior empenho do governo na repressão qualificada, capa-citando os efetivos policiais. Pela primeira vez em Minas, há investimentos reais na prevenção social, em programas como o Fica Vivo, Proerd, Vozes do Morro, Talentos de Mi-nas e outros.

Apesar dos avanços, ainda não temos treinamento anual para as forças de segurança, incluído o Corpo de Bombeiros. Não se pode economizar recursos com esse serviço público. É preciso também vincular a receita das taxas de segurança pública - hoje remetida ao caixa único do Estado - para a execução da política de segurança.

Finalmente, para continuarmos avançando, é impres-cindível estabelecer uma política salarial justa e condizente com a função exercida por esses profissionais.

DURVAL ÂNGELO - Deputado estadual (PT-MG)

Discutir um modelo de segurança pública requer uma visão sistêmica que leve em conta todo um con-junto de fatores que influenciam a segurança e preci-sam ser tratados por diversos setores do poder público e da sociedade, e não somente pelas forças policiais.

Ou seja, o sistema de segurança pública não en-globa apenas a atividade policial, mas relaciona-se a problemas de outras esferas que direta ou indiretamen-te, podem influenciar a violência e a criminalidade, a exemplo da miséria, desemprego, baixos salários, educação, falta de moradia, terra para plantar, assis-tência à saúde, lazer e cultura.

Nesse sentido, não se verificam grandes avanços no modelo de segurança adotado hoje em Minas, vis-to que os investimentos sociais do governo são mí-nimos. Há uma crise estrutural na saúde, a qualidade do ensino público é questionável, temos grande déficit habitacional, o modelo prisional não socializa e ainda são elevados os índices de desemprego, dentre outros problemas.

Especificamente no que se refere às polícias, tam-bém não vejo melhorias significativas no atual mode-lo. A tão alardeada integração das polícias Militar e Civil permanece no papel. Houve desvalorização da polícia judiciária à PC, agravada por ausência de con-

curso público, baixos salários e perda de identidade. Sem contar que há uma confusão de papéis, com a PM assumindo funções precípuas da polícia judiciá-ria, como investigações, busca e apreensão e até escu-tas telefônicas. A irregularidade é tão evidente que a Justiça tem derrubado provas produzidas nesse desvio de função. Os criminosos agradecem.

Outro problema é que o modelo de Corregedoria de Polícia não possibilita a devida punição de crimes e desvios praticados por policiais da PM, dando mar-gem a interpretações de que existem grupos “intocá-veis” na corporação. Dados divulgados por ocasião do assassinato de dois moradores do aglomerado da Ser-ra, em Belo Horizonte, comprovam isso. Por sua vez, a Justiça Militar parece existir somente para punir pra-ças, sendo raras as condenações de oficiais, conforme denunciam entidades representativas.

O Estado não assume um modelo definido de po-liciamento, mantendo duas linhas que entram em cho-que. De um lado, o modelo de polícia comunitária, de-mocrática, preparada para trabalhar nas comunidades e objetivando os interesses da população. De outro, uma polícia ostensiva, de repressão, nos moldes do Rotam, treinada para combater inimigos e que carrega as ideologias do período da ditadura militar.

Que modelo de polícia queremos? Essa é uma discussão que deve pautar o debate público.

o TEmPo - P. 29 - 04.03.2011

Novo rumo desde 2003

Para além da ação policial

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