jup março 2011

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Parabéns! Este ano a Universidade do Porto está de parabéns. São 100 anos de existência. É um século de investigação, de estudo, de progresso, de descobertas. É a recordação e revivalismo de histórias que os anos foram guardando. É um marco que promete um futuro cada vez mais luminoso para toda a sociedade académica. Na verdade, o Centenário é apenas uma das muitas razões que os membros da UP têm para festejar… PARÊNTESIS / P 2 - 3 Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita direcção Aline Flor e Dalila Teixeira | chefe de redação Susana Campos | director de arte Sergio Alves Partimos com as expectativas num nível bastante elevado, tamanho é o burburinho que envolve as conversas sobre o evento. Surgiam- nos dúvidas, questões e até mesmo algum cepticismo face à questão: o que é que um encontro de escritores na Póvoa de Varzim pode ter de tão especial? A verdade é que regressamos transformados. Descubra como e porquê. És daqueles(as) que os últimos jeans que comprou foi no primeiro ano de faculdade, que o único par de calçado que tens são aqueles ténis que a tua madrinha te ofereceu na Páscoa de há 5 anos atrás e que se recusa a comprar umas meias novas para substituir aquelas que a tua avó já remendou 500 vezes só para poupar uns trocos para viajar?! Então foi mesmo para ti que seleccionamos alguns destinos da Europa a um preço invejável. Agora já podes comprar um par de peúgas novas! Os bolseiros que estudam no ensino superior há mais de um ano já estavam habituados aos atrasos da atribuição de bolsas no início de cada ano lectivo. Mas, se antes a situação era complicada, este ano foram ultrapassados todos os limites: no último dia do ano de 2011 ainda não havia uma única lista publicada. MARÇO 2011 EDUCAÇÃO / P 8 SOCIEDADE / P 13 DESTAQUE / P 4 - 7 OKUPAS Squatting, ocupações, casas ocupadas, ou simplesmente okupas, existem desde sempre, mas só nos últimos anos surgiu como um estilo de vida. O JUP ficou curioso e foi espreitar como um edifício aparentemente abandonado e destruído por fora, na realidade pode estar a fervilhar de vida por dentro. SOCIEDADE / P 12 BOLSAS EM ATRASO CORRENTES D'ESCRITAS FUGAS LOW- COST

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita direcção Aline Flor e Dalila Teixeira | chefe de redação Susana Campos | director de arte Sergio Alves

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Page 1: JUP Março 2011

Parabéns! Este ano a Universidade do Porto está de parabéns. São 100 anos de existência. É um século de investigação, de estudo, de progresso, de descobertas. É a recordação e revivalismo de histórias que os anos foram guardando. É um marco que promete um futuro cada vez mais luminoso para toda a sociedade académica. Na verdade, o Centenário é apenas uma das muitas razões que os membros da UP têm para festejar…

PARÊNTESIS / P 2 - 3

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Partimos com as expectativas num nível bastante elevado, tamanho é o burburinho que envolve as conversas sobre o evento. Surgiam-nos dúvidas, questões e até mesmo algum cepticismo face à questão: o que é que um encontro de escritores na Póvoa de Varzim pode ter de tão especial? A verdade é que regressamos transformados. Descubra como e porquê.

És daqueles(as) que os últimos jeans que comprou foi no primeiro ano de faculdade, que o único par de calçado que tens são aqueles ténis que a tua madrinha te ofereceu na Páscoa de há 5 anos atrás e que se recusa a comprar umas meias novas para substituir aquelas que a tua avó já remendou 500 vezes só para poupar uns trocos para viajar?! Então foi mesmo para ti que seleccionamos alguns destinos da Europa a um preço invejável. Agora já podes comprar um par de peúgas novas!

Os bolseiros que estudam no ensino superior há mais de um ano já estavam habituados aos atrasos da atribuição de bolsas no início de cada ano lectivo. Mas, se antes a situação era complicada, este ano foram ultrapassados todos os limites: no último dia do ano de 2011 ainda não havia uma única lista publicada.

MARÇ

O 2011

EDUCAÇÃO / P 8

SOCIEDADE / P 13

DESTAQUE / P 4 - 7

OKUPASSquatting, ocupações, casas ocupadas, ou simplesmente okupas, existem desde sempre, mas só nos últimos anos surgiu como um estilo de vida. O JUP ficou curioso e foi espreitar como um edifício aparentemente abandonado e destruído por fora, na realidade pode estar a fervilhar de vida por dentro.

SOCIEDADE / P 12

BOLSAS EM ATRASO

CORRENTES D'ESCRITAS

FUGASLOW-COST

Page 2: JUP Março 2011

EDITORIAL E OPINIÃO02 JUP — MARÇO 2011

EDITORIAL

-> “Desde 1987 que o Jornal Universitário do Porto (JUP) se assume como um jornal plural e independente, orientando o seu trabalho pelos valores éticos e deontológicos do Jornalismo no sentido de apresentar aos seus leitores uma informação isenta, transparente, diversificada e de qualida-de, almejando contribuir, desta forma, para a formação de uma opinião pública livre e para uma Academia bem informada e esclarecida”. Pare-cia-nos um bom início para o editorial deste mês, não fosse a dureza e respeitabilidade que as palavras imperam. Pensámos, por isso, trazer-vos um pouco de nós, da forma como vemos o mundo e da vontade que temos de mudar…

Por estes dias parece ser comum ouvir, aqui e ali, apelidarem-nos de “Geração Rasca” mas, para quem tão delicadamente o gosta de chamar, gostaríamos de dizer que, apesar do rótulo, não somos, com toda a certe-za, “mansos” como tão bem alguém empregou o termo em plena Assem-bleia da República. E porque não somos “mansos”, mas sim uma geração que grita pela mudança decidimos, também nós, mudar os ares à casa!

Já outrora o poeta dizia: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vonta-des/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades”. De facto, o mundo mu-dou, nós mudámos, e o JUP pede-nos, edição após edição, um tratamento que acompanhe estas mudanças. Hoje, quer-se um jornal activo, dinâmi-co, rápido, curto e conciso.

Somos uma geração de coisas práticas onde já quase apenas guardamos lugar para uma comunicação sem rodeios – hoje, tudo tem de ser muito directo e com objectivos muito claros.

É assim que o JUP se pretende afirmar: como uma plataforma de in-formação credível, séria, respeitável e sem rodeios. Porém, não podemos deixar de parte o “tratamento estético” que a altura sugere. Comunicamos para gente jovem, moderna, urbana. É imperativo que façamos um jornal à altura do nosso leitor!

Como todos sabemos, o design tem uma importância cada vez maior no mercado da comunicação, na medida em que esse universo vai perceben-do que a organização estética da informação é fundamental para a trans-missão da mensagem. Convictos de que no universo editorial o design gráfico é parte absolutamente fundamental, pois estrutura e dá personali-dade a uma publicação, qualquer elemento que sirva como código visual de identificação assume, para nós, uma nova importância. São eles que exprimem a personalidade do JUP e revelam a singularidade do projecto.

Assim, e percebendo que, não apenas os conteúdos mas também o de-sign visual pode tornar o JUP num diferencial, procedeu-se a um rebran-ding da marca tendo como objectivo principal aproximar o jornal do seu público-alvo através da mudança. A personalidade física e os conteúdos foram totalmente renovados e a personalidade psicológica reponderada face ao novo posicionamento pretendido para o jornal.

Seguindo esta nova política, o JUP pretende encontrar mais colabora-dores, trazer uma lufada de ar fresco à casa e diversificar os seus focos de acção. Não se esqueçam que o JUP é feito por estudantes e para estudan-tes, que é um espaço onde todos cabem e que está aberto à pluralidade de opiniões e de estilos. Queremos saber tudo: desde o desporto à arte con-temporânea, passando pelas letras, abraçando as ciências e culminando nas tecnologias. O JUP não é constituído apenas por jornalistas, nem tão pouco construído só com pessoal de letras!

Não deixes que te apelidem de “rasca”, grita a mudança e contribui para lhes provar que “rasca” não é sinónimo de “à rasca”! •

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

À rasca, mas nada parvo.

C omentários políticos sobre um acto de irreverência é, na maior parte das vezes, um

exercício interessante de analisar.Em 1993 (se não estou em erro) en-

quanto o Ministro da Educação, Couto dos Santos, falava no Centro Cultural de Belém, quatro estudantes do Ensi-no Superior mostraram-lhe todo o seu descontentamento com a tentativa de impôr propinas: NA-O -PA-GO (Não Pago), nas nádegas dos respectivos ra-bos. Esse episódio e outro parecido, à frente da Assembleia da República, resultaram no apadrinhamento dessa mesma geração como “Geração Rasca”, cortesia de Vicente Jorge Silva (VJS), na altura director do jornal “Público”.

Entretanto, a bancada de Cavaco Silva e a “sua” opinião pública apro-veitáva-se do apelido e utilizava-o como vazia justificação política. Do outro lado os estudantes pegavam na “Talvez Foder” do Pedro Abrunhosa e conjugavam correctamente o verbo.

O apelido de “Geração Rasca” acompanha, há quase duas décadas, gerações seguidas e continua na car-tilha de justificação do paternalismo para com os jovens, sejam eles estu-dantes, trabalhadores, “assim assim” ou nenhum dos anteriores.

Recentemente ganhámos novos apelidos, e a diversão das pessoas que se enchem de autoridade moral (seja lá o que isso for) para falar dos jovens e da precariedade, tem sido um espec-táculo de circo.

Somos a Geração Parva. A música dos “Deolinda”, e, mais importante, a letra, causou as reacções mais diver-sas. Por um lado, a lógica identificação de centenas de milhares de pessoas precárias. Por outro lado, os amantes e

as amantes da flexibilidade e os solu-cionadores do costume.

Claro, VJS, padrinho da Rasca fez o favor de voltar a público para re-clamar duas ou três palavras a dizer sobre a Parva, concordando com o apelido, mas, por todas as razões que não as que a letra da música ironi-za. Luís Nazaré, membro do Governo que na altura regulamentou a lei das propinas que Cavaco Silva não con-seguiu, prossegue entre catalogações de “pequena-burguesia” e “perda de perspectiva analítica das coisas” para dizer que “licenciaturas para a escravi-dão, trabalho sem remuneração e ou-tras tiradas quejandas não passam de estereótipos urbanos para radical ver”. Demonstrou a óbvia falta de contacto com a realidade quando compara o seu primeiro salário com um supos-to actual salário de recém-licenciado que ele coloca nos 1000€. É caso para se dizer: engana-me que eu sou parvo.

Os Luís Nazaré’s de Portugal dizem que o Ensino não está adaptado às necessidades das empresas, quando foram as empresas que fazem prolife-rar a precariedade. Indignam-se com o termo escravidão quando não há outro nome tão perfeito para classifi-car estágios não remunerados. Dizem que protestos, greves e sindicatos não servem para nada, explicando a inu-tilidade de “tantos” direitos laborais para nossa protecção. Vão mais longe: Emprego é um dever e não um direito, que o problema está na lei que protege em demasiada as pessoas e, chegando ao fim, dizem (nem sempre com todas as letras) que a solução está em gene-ralizar (ainda mais?) a precariedade. O grande final é de VJS: "A preservação da liberdade paga-se também com a

precariedade". Está ditada a sentença. Que parvo que devo ser.

Todos os dias a culpa é nossa ou dos nossos pais, seja falta de proactividade ou sentido de aventura, de termos si-dos muito mimados, por não sermos empreendedores. Para cada esporá-dica presença pública de um precário respondem com 10 exemplos de em-preendedorismo, debaixo das pedras da calçada, para contrapor a inegável realidade. Lá no fundo, todos dizem: seja feita a vontade do (tal) mercado. Nenhum é minimamente honesto para admitir que o problema da precarieda-de foi criado por esse e para esse mes-mo mercado.

Sou da geração "eu já não posso mais!"Que esta situação dura há tempo demaisE parva não sou.A solução é política e não de terra

queimada. A culpa não é dos nossos pais ou será dos nossos filhos. Será sempre geral enquanto esta realidade for o imperativo da estafada treta da chantagem chamada “responsabili-dade”. Querem-nos precários e pre-cárias, sendo que isso para nós não tem qualquer vantagem a não ser, por exemplo, correr o risco de despedi-mento por doença ou por engravidar. Estamos à rasca, mas parvos e parvas não somos.

Sei conjugar correctamente, a quem me quer parvo, o tal verbo da música do Pedro Abrunhosa. E, pessoalmen-te, o 12 de Março é exactamente isso.• Nuno Moniz

DIRECÇÃO NJAP/JUP

presidente Ricardo Sá Ferreiravice-presidente Catarina Cruzvogal JUP Nuno Monizvogal galerias Henrique Guedes

DIRECÇÃO JUP

direccção Aline Flor e Dalila Teixeiradirector de arte Sergio Alveschefe de redacção Susana Campos

EDITORES

educação Júlia Rochasociedade Aline Flor e Dalila Teixeiradesporto Vera Covêlo Tavarescultura Liliana Pinhointernacional e economia Aline Flor e Dalila Teixieraopinião Nuno Moniz

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Alexandre João, Aline Flor, Amarilis Felizes, António Gonçalves, Catarina Cruz, Ieva Balodel, Ilídio Marques, Irina Ribeiro, Janine Mouta, Jessica Martinez, Jolanta Sermã, Júlia Rocha, Leonor Camarinho Figueiredo, Liliana Pinho, Luís Pedro Ferreira, Marta Portocarrero, Nádia Leal Cruz, Nuno Matos, Nuno Moniz, Paulo Alcino, Paulo Pereira, Pedro Ferreira, Sandra Mesquita, Soraia Barros, Sunamita Cohen, Susana Campos, Teresa Castro Viana, Tiago Reis e Vera Covêlo Tavares

ilustradores — Ana Moreira, Eurico Sá Fernandes, José Dias e Mariana Lobão

imagem de capa Arquivo Reitoria da U.P.depósito legal nº 23502/88tiragem 10.000 exemplaresdesign sergio-alves.comtipografia Trump Gothic by Canada Type e Mafra by DSType

pré-impressão Jornal de Notícias, S.A.impressão Nave-printer - Indústria Gráfica, S.A.propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitárioredacção e administração Rua Miguel Bombarda, nº 187 - R/C e Cave | 4050-381 Porto, Portugaltlf 222 039 041e-mail [email protected]

APOIOS

Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude

Page 3: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011 03EDITORIAL E OPINIÃOJUPBOX

Alexandre Fonseca| 28 anosEstudante de Som e Imagem

Nunca provei, mas como não sou grande apreciador de vegetais acho que não vou experimentar. Gosto bastante de francesinha, e visto ser um prato típico do Porto acho que as pessoas preferem a sua confecção normal. Quanto à francesinha vegetariana como já disse nunca experimentei, não conheço ninguém que tenha experimentado e nem sabia que existia, no entanto para quem não gosta de carne penso ser uma boa opção. •

Nuno Matos | 38 anosEstudante de Ciencias da Comunicação

A minha experiência com francesinhas vegetarianas é escassa e pouco positiva. A única que comi até hoje tinha mais água que molho. De resto acho que é a democracia no seu melhor. Isso e uma boa oportunidade para mais umas piadas e trocadilhos duvidosos. •

Inês Soares | 23 anosEstudante de Teatro

Experimentei uma vez e gostei. Achei engraçado terem adaptado uma receita típica do Porto para todos os gostos e para quem quer comer uma francesinha mais leve. Não sabia bem o que esperar, mas fiquei bastante surpreendida.A francesinha vegetariana acaba por ser mais saudável do que a dita ‘normal’, porque não tem qualquer tipo de carne. Para além disso é uma excelente opção para que quer sentir o sabor da francesinha sem ter que comer a verdadeira francesinha! •

Daniel Mota | 25 anosEstudante de Enfermagem

Sinceramente nunca provei a francesinha vegetariana, mas acredito que possa vir a ter sucesso visto que cada vez mais as pessoas têm tendência a comer comidas saudáveis e rápidas. A francesinha tem imenso sucesso aqui no Porto, e as pessoas estão também cada vez mais receptivas a novas experiências, por isso acredito que, com a publicidade certa as pessoas comecem a experimentar e adiram. •

por Susana Campos

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04 JUP — MARÇO 2011DESTAQUE DESTAQUE

PARABÉNS! A UNIVERSIDADE DO PORTO COMEMORA EM 2011 O SEU CENTENÁRIO. É UM SÉCULO DE INVESTIGAÇÃO, DE ESTUDO, DE PROGRESSO, DE DESCOBERTAS, DE HISTÓRIAS QUE CULMINAM AGORA E PROMETEM UM FUTURO LUMINOSO PARA TODA A SOCIEDADE ACADÉMICA. O CENTENÁRIO É APENAS UMA DAS MUITAS RAZÕES QUE OS MEMBROS DA UP TÊM PARA FESTEJAR.

texto António Gonçalves e Soraia Barros

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JUP — MARÇO 2011 05DESTAQUEDESTAQUE

T oda esta comunidade de ensino começou a ser edificada no século XVIII com a cria-ção da “Aula Naútica” durante o reinado de

D.José I, e surgiu para responder à necessidade de formar profissionais qualificados que asseguras-sem a defesa marítima da Cidade Invicta. Este é um momento de especial interesse para a cidade, pois simboliza o inicio do ensino Público no Porto.

Em 1825 é construída a primeira escola médi-ca, aclamada Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1836.Também neste ano é formada a Acade-mia Portuense de Belas Artes. No ano seguinte, com o objectivo de promover a formação indus-trial, surge a Academia Politécnica do Porto que resultou de uma reformulação da Academia Real da Marinha e Comércio já existente na cidade.

A união da Escola Médico-Cirúrgica e da Aca-demia Politécnica do Porto iria resultar na fun-dação da Universidade do Porto há precisamente 100 anos. A 22 de Março de 1911 surgia aquela que viria a ser uma das universidades mais res-peitadas no panorama nacional, que na altura, era somente formada pela Faculdades de Ciên-cias e Medicina. A 16 de Julho do mesmo ano a jovem Academia foi oficialmente inaugurada sob a presidência do ministro do interior, António José de Almeida, considerado o “Pai” da Univer-sidade. Também neste mesmo dia aconteceu a eleição do 1º Reitor. •

E m 1911 surgia o embrião do que viria a ser a maior universidade portuguesa. De facto, a Academia não se ficou pelas 2 faculdades iniciais; cresceu até as actuais 14, as quais oferecem actualmente cerca de 700 cursos.

Ao longo destes 100 anos foram várias as faculdades que se formaram no seio da Univer-sidade (ver cronologia), mas também surgiram as unidades de investigação cientifica, que totalizam actualmente 69 unidades, que ao todo fazem da UP a maior produtora de Ciência do País. Para além de espaço de investigação a uni-versidade é também um campo de preservação e educação cultural e desta forma, foram criados 12 museus, principalmente na área das Ci-ências Naturais. É também importante referir a existência de 30 biblio-tecas e uma vasta rede de ligação à internet gratuita de forma a auxiliar todos os mais de 30 mil estudantes da universidade.

A Universidade impõe-se na cidade também como um universo cul-tural e social, onde as Artes, os Movimentos Associativos e o Desporto se conjugam e oferecem aos estudantes um espaço de confraternização, de divertimento, de partilha de ideias e de descoberta. O Orfeão, as várias Tunas, o Teatro da Universidade do Porto, o Centro Desportivo Universitá-rio e muitos mais grupos e associações que se formaram ao longo destes 100 anos, congregam estudantes com interesses comuns e evidenciam o espírito de inovação e valores como a união, a partilha de conhecimento, a entreajuda e até mesmo a amizade no seio dos estudantes

Com 100 anos de desenvolvimento a Universidade representa actual-mente um dos principais centros de investigação, formação e educação do nosso país, algo que é comprovado pelas posições conseguidas em rankings internacionais (começa 2011 en-tre as melhores 200 universidades do mundo e 50 universidades da Europa). •F rancisco Gomes Teixeira é o nome do pri-

meiro “homem do Leme” da Universida-de do Porto.

Nascido a 28 de Março de 1851 veio a tornar-se o primeiro Reitor da Academia, abrindo um cami-nho que já conta com um século de existência. Após a formação em Matemática pela Universi-dade de Coimbra, com avaliação final de 20 va-lores, Gomes Teixeira transferiu-se para o Porto, onde leccionou Cálculo Diferencial e Integral na antiga Academia Politécnica (actual FCUP). Mas a sua prontidão levou a que se tornasse director desta escola, cargo que desempenhou até 1911. Nesse mesmo ano é nomeado o primeiro Reitor da Universidade do Porto. Assim, foi pioneiro na arte de equacionar o fu-turo dos alunos da UP.

Para além de ter de-sempenhado este ilustre cargo, publicou vários trabalhos científicos, participando igualmente em congressos interna-cionais, sendo por isso membro de sociedades científicas.

Faleceu a 8 de Feve-reiro de 1933 depois de ter sido aclamado um dos mais brilhantes ma-temáticos da Península Ibérica. •

> COMO COMEÇOU A UP?

> PRIMEIRO REITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

> UM SÉCULO DE CRESCIMENTO

É impossível falar da Universidade sem referir a maior festa dos estudantes universitários do Por-to. Esta pode não contar com 100 anos de História, mas certamente marca a vida da cidade, da academia e dos muitos estudantes que por aqui passaram.

A origem da tão aclamada Queima das Fitas do Porto remonta à “Festa da Pasta”, evento festejado essencialmente por alunos de Medicina a partir de 1920.

Os futuros médicos que terminavam o curso, passavam, através deste acontecimento, a pasta aos alunos que frequentariam no ano lectivo seguinte o último ano do Curso.

Como era de esperar, esta comemoração espalhou-se pelas demais faculdades integrantes da Uni-versidade do Porto, ao ponto de cada faculdade ter a sua própria festa.

Em 1943, as várias festas culminaram numa só, a ainda hoje especial Queima das Fitas. No ano se-guinte, 1944, passou a celebrar-se igualmente a missa da “Bênção das Pastas”.

Devido ao período político conturbado pré-revolucionário, a Queima das Fitas foi reprimida em 1971, reaparecendo somente em 1978, na altura alcunhada por “Mini-Queima”, evoluindo no ano se-guinte, atingindo a forma que ainda hoje vigora.

A emoção que envolve a maior festa académica do país deixou de contagiar apenas os estudantes da Universidade do Porto, passando a envolver a cidade e o próprio país. Presentemente a Queima das Fitas é organizada pela FAP ( Federação Académica do Porto). •

> QUEIMA DAS FITAS

p 1972‚ Edifício da Praça Gomes Teixeira —Actual Reitoria da Universidade

x Francisco Gomes Teixeira

q 1952, Queima das Fitas - carro do 3º ano de Ciàncias Biológicas

u

Page 6: JUP Março 2011

06 JUP — MARÇO 2011DESTAQUE DESTAQUE

O Porto Académico é um dos an-tecessores do JUP. Publicado a partir de 6 de Novembro de 1922,

foi a principal via de comunicação da As-sociação de Estudantes do Porto com a comunidade académica, entidade que foi abolida pelo governo em 1932.

Este Jornal da nossa Academia foi res-tituído em 1937, aquando das comemo-rações do centenário da Academia Poli-técnica e da Escola Médico-cirúrgica do Porto, para uma publicação única, orga-nizada por Perry Garcia e Zeferino Moura.

Um outro acontecimento, que propor-cionou o reaparecimento do Porto Aca-démico, centrou-se na comemoração da 2ª festa de Confraternização dos Antigos Alunos da Universidade do Porto, em Ju-nho de 1938. Número, igualmente único e organizado também por Perry Garcia e Zeferino Moura.

A história deste periódico findou a Março de 1962, quando Zeferino Mou-ra publicou a derradeira edição do Porto Académico, edição comemorativa dos cinquenta anos de existência da Univer-sidade do Porto e do Orfeão Académico. •

> PORTO ACADÉMICO

C om quase sessenta e três anos de existên-cia, o Teatro Universitário do Porto, ainda tem como objectivo principal a aposta

na vertente formativa. Tudo começou em 1948, quando um grupo de alunos da Universidade do Porto, sobre a direcção do Dr. Hernâni Monteiro, professor na Universidade de Medicina, se jun-tou, para pequenas encenações. Estas, rapida-mente se tornaram em algo mais sério e o TUP é, hoje em dia, uma das actividades extra-curricu-lares mais concorridas na nossa Academia.

O cariz universitário pelo qual se rege o TUP influenciou e contribuiu para a formação do tea-tro Independente da cidade Invicta.

A qualidade que primazia o TUP faz com que este aporte várias participações em Festivais e ofereça à nossa Universidade uma grande quan-tidade de prémios. •

> TUP - TEATRO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

F undada acerca de vinte e dois anos, a FAP, intitula-se como sendo “o interlocutor re-presentativo da maior academia do país”.

Actualmente constituída por mais de 26 associa-ções, o objectivo fundamental da FAP é “salva-guardar os interesses daqueles que representa”. As três áreas em que opera (académica, política e social), faz com que una os quatro tipos de en-sino superior existentes no nosso país: Univer-sitário Público, Politécnico Público, Ensino Par-ticular e Cooperativo e Ensino Concordatário. A FAP é também, uma organização que visa a pro-moção de eventos culturais e desportivos, contri-buindo por isso, para uma ainda maior qualidade da Universidade do Porto. •

> FAP – FEDERAÇÃO ACADÉMICA DO PORTO

U m ano após a fundação da UP, foi criado o Orfeão da Universidade do Porto, por um grupo de jovens estudantes com um

interesse em comum: a música. Inicialmente dirigido por Fernando Montinho, Futuro Barroso e Clemente Ramos, o OUP atinge somente nos anos 20, uma grande popularidade a nível nacio-nal e também na nossa vizinha Espanha.

Em 1937, ano em que se assinalaram as come-morações do centenário da Fundação da Acade-mia Politécnica e da Escola Médica Cirúrgica do

Porto, o Orfeão, desta vez sobre a direcção do Maestro Afonso Va-lentim assume, pela primeira vez, membros femininos no elenco, tornando ainda mais encantadores os seus espectáculos. Hoje em dia o Orfeão tem o seu próprio espaço (junto à FDUP) e é constituído por 200 estudantes que entregram três distintas vertentes que consti-tuem este grupo: a ver-tente Coral, a vertente Etnográfica e a vertente Académica. •

> ORFEÃO

UP em números

t 1922, Fundadores do Porto Académico

x 1945‚ Digressão do Orfeão Universitário a Viseu. À direita (sem capa) o Maestro Afonso Valentim e a esposa

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Page 7: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011 07DESTAQUEDESTAQUE

A Universidade do Porto foi formalmente constituida a 22 de Março de 1911, por de-creto do Governo Provisório da Repúbli-

ca. No entanto, as suas origens remetem ao sécu-lo XVIII, mais precisamente a 1762 aquando do desenvolvimento da Aula Náutica, por D. José I.

Passados cinquenta e oito anos desta data, com a formação das escolas Aula de Debuxo e Desenho (1779), Academia Real da Marinha e Comércio (1803) e Academia Politécnica (1837), são satisfeitas parte das necessidades no que toca à qualificação de pessoal na Indústria Naval, no Comércio e também nas Artes.

Só em 1825 é construída a primeira escola mé-dica do Porto, aclamada Régia Escola de Cirurgia em 1836 (actualmente a faculdade de Medicina da UP). Também neste ano é formada a Acade-mia Portuense de Belas Artes que actualmente se transformou nas faculdades de Arquitectura e Belas Artes.

Durante o século XX formam-se, ainda duran-te a primeira república, outras faculdades.

Em 1915 surge a Faculdade Técnica, actual Fa-culdade de Engenharia, em 1919 a Faculdade de Letras e em 1925 surge a Faculdade de Farmácia.

A Faculdade de Letras é em 1928 extinta devi-do ao regime ditatorial instaurado em Portu-gal, sendo só em 1961 recuperada. É também perto deste período, em 1953, formada a Facul-dade de Economia.

O crescimento da Universidade do Porto dá-se definitivamen-te após a revolução de Abril (1974). Procedeu--se à criação de mais oito faculdades, Insti-tuto de Ciências Bio-médicas Abel Salazar e Faculdade de Despor-to, ambas em 1975. Em 1977 surge a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Dois anos mais tarde, renova-se a Academia de Belas Ar-tes e forma-se a Facul-dade de Arquitectura. Em 1989, forma-se a Faculdade de Medicina Dentária e renova-se a Faculdade de Desporto, e em 1992 procede-se a formação da Faculda-de de Belas Artes, bem como da Faculdade de Ciências da Nutrição (pertencente à UP apenas em 1999). A mais re-cente faculdade foi criada em 1994, e correspon-de a uma instituição de ensino de Direito.

A Universidade do Porto também aporta uma escola de pós-graduação desde 1988, renomeada Escola de Negócios da Universidade do Porto em 2008. •

> CRONOLOGIA

Sofia Santos 1.º Ano de Medicina, ICBAS

01/Para mim, trata-se de uma Universidade Portuguesa com uma longa história e que gran-jeia de uma merecida imagem de prestígio no contexto nacional e internacional. Alem de se tratar de uma instituição de ensino e investiga-ção de renome, sinto-a também (embora seja apenas caloira!), pelas vivências que já expe-rienciei, como uma comunidade fantástica si-multaneamente unida e aberta à diversidade, dotada de uma contagiante dinâmica não só de cariz científico como também humano!02/Dinamismo

Rui Pereira 2.º Ano Licenciatura em Economia, FEP

01/Universidade de excelência, minha primeira e única preferência. Exigência, rigor, docentes al-tamente qualificados e abertura de horizontes foi sempre o que a UP me proporcionou.02/Futuro!

Rita Raínho 1.º Ano de Psicologia, FPCEUP

01/A Universidade do Porto é, não só a maior instituição de ensino e investigação científica em Portugal, como a academia que escolhi para ini-ciar a construção do meu futuro, no qual deposi-to muita esperança e orgulho.02/Magnificente

Luís Moreira Gonçalves Aluno de Doutoramento em Química

01/A UP não é apenas um meio de transmissão de conhecimento aos estudantes, é também um local de criação de redes de saber que são cada vez mais relevantes e mais internacionais. Além disso, dentro do contexto científico, a UP é tam-bém um notável instrumento de descoberta do futuro. 02/Multidisciplinar

Inês Moreira1.º Ano de Medicina Dentária, FMDUP

01/Para mim a UP significa oportunidade. Uma oportunidade para eu ficar mais próxima daquilo que eu quero ser. Dá-me a chance de construir todos os dias, um bocadinho mais de mim.02/Inovação

testemunhos01. O que é para ti a UP?

02. Descreve a UP numa só palavra

Escola / Faculdade AnoAula Náutica 1762

Aula de Debuxo e Desenho 1779

Real Academia de Marinha

e Comércio da Cidade do Porto 1803

Régia Escola de Cirurgia do Porto 1825

Escola de Farmácia 1836

Escola Médico-Cirúrgica do Porto 1836

Academia Portuense de Belas Artes 1836

Academia Politécnica 1837

Faculdade AnoFaculdade de Medicina 1911

Faculdade de Ciências 1911

Faculdade Técnica (Actual FEUP) 1915

Faculdade de Letras 1919

Faculdade de Farmácia 1921

Faculdade de Engenharia 1926

Extinção da Faculdade de Letras 1928

Faculdade de Economia 1953

Restauração da Faculdade de Letras 1961

Instituto de Ciências

Biomédicas Abel Salazar 1975

Faculdade de Psicologia

e Ciências da Educação 1977

Faculdade de Arquitectura 1979

Escola de Gestão do Porto 1988

Faculdade de Medicina Dentária

e Faculdade de Desporto 1989

Faculdade de Belas Artes 1992

Faculdade de Direito 1994

Faculdade de Ciências

da Nutrição e Alimentação 1999

Escola de Negócios da UP (renomeação da Escola de Gestão do Porto) 2008

Ô Numa primeira fase

Ò Após a formação da Universidade do Porto (22 de Março de 1911)

n

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08 JUP — MARÇO 2011EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO

Atrasos nas bolsas adiam vidas académicas

BOLSAS INDEFERIDAS POR EXCESSO DE CAPITAÇÃO, POR FALTA DE APROVEITAMENTO OU SIMPLESMENTE POR FALTA DE DOCUMENTOS ESTÃO A COLOCAR MUITOS ESTUDANTES NUMA SITUAÇÃO PRECÁRIA

texto Júlia Rocha e Irina Ribeiro

Os bolseiros que já estudam no Ensino Superior há mais de um ano sabem que é normal a atribuição de bolsas atrasar-se, no início de cada ano lectivo. Contudo, este ano, a maior

parte dos estudantes passou todo o primeiro se-mestre sem saber sequer se tinha direito ou não a qualquer tipo de apoio por parte do Estado.

As bolsas de estudo atribuídas aos alunos do Ensino Superior são, muitas vezes, o único meio que os estes têm de se sustentarem. Porém, este ano lectivo, os estudantes foram obrigados a ar-ranjar outras formas de suportar os encargos, uma vez que houve atrasos na atribuição das bolsas e, em alguns casos, algumas ainda não foram atribu-ídas nem há previsões de quando serão. Por isso, muitos não souberam como pagar as propinas.

> REGULAMENTO POLÉMICOUma das causas destes atrasos foi a implemen-tação, no início do ano lectivo, do novo “regu-lamento de atribuição de bolsas de estudo a estudantes do Ensino Superior”, concluído com a colaboração entre o Ministério da Ciência, Tec-nologia e Ensino Superior, o Conselho de Reito-res das Universidades Portuguesas, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécni-cos e associações de estudantes.

Na divulgação do novo documento é muitas vezes advogado o facto de este reforçar os apoios aos alunos mais carenciados, porém isto pode também significar que os outros bolseiros vão ter mais restrições na atribuição dos apoios.

No regulamento são estabelecidos princípios fundamentais em que se baseia “o sistema de bol-sas de estudo”. Entre eles está presente o princípio da “garantia de recursos” principalmente aos alu-nos com “condições de carência económica com-provada”, de forma a garantir a “igualdade mate-rial de oportunidades” a todos os estudantes. Para além disso, existe o princípio da “confiança mú-tua” que estabelece o dever da “responsabilidade de desempenho académico” por parte do aluno.

> ESTUDANTES SEM RECURSOSDe acordo com o jornal “Público”, no Instituto Politécnico do Porto (IPP) 40% dos alunos vão perder o direito à bolsa de estudo. Por outro lado, os números em relação a quem continua a ter direito ao apoio também não são muito anima-dores. Segundo o mesmo jornal, o valor da bolsa vai sofrer uma quebra de 15% na Universidade do Porto e no IPP.

Dentro do mundo académico, a atribuição de bolsas de estudo tem sido um tema constante. Alguns alunos queixam-se da demora, outros da diminuição que o apoio sofreu em relação ao ano passado. Há muitos exemplos disto mesmo. Gran-de parte dos candidatos a bolseiros – os que rece-bia bolsa no ano anterior e que cumpriam alguns requisitos mínimos – recebeu adiantamentos; ou-tros viram as suas bolsas serem cortadas por falta de aproveitamento. Alguns alunos defendem-se com a mudança de regras: o número de créditos a concluir aumentou, sem que fossem devida-mente informados. A realidade é que há mesmo

pessoas que “lutam” por uma bolsa há dois anos.É o caso de André Gonçalves, madeirense, es-

tudante do 2º ano de Ciências da Comunicação da UP. André justifica o facto de não ter bolsa com o aumento de vagas e a redução do número de bolsas atribuídas. Não há dinheiro para tantas pessoas. André já não pensa em pedir bolsa no-vamente: “se no ano passado não tive bolsa de estudo, também não via com grande esperança tê-la neste ano com o aumento de estudantes e redução do número de bolsas. Pois bem, sendo assim, para quê pensar numa bolsa no próximo ano lectivo?”

As complicações começaram logo na vinda para o Porto, por-que, tendo em conta que tinha de esperar até Feve-reiro para consul-tar a lista definitiva de atribuição de bolsas, André teve de pagar as duas primeiras presta-ções das propinas na totalidade. É complicado, tendo em conta que se encontra tão longe de casa, “é difícil viver sem bolsa. É um esforço mui-to grande, meu e dos meus pais, para que eu possa ter condições para prosseguir os es-tudos. É uma ago-nia quando chega a altura de pagar as propinas”. Nem mesmo com docu-mentos bancários

a comprovar a situação familiar André Gonçalves recebeu bolsa. A grande dificuldade, segundo os estudantes bolseiros, é a excessiva burocracia, com necessidade de apresentar vários papéis e comprovativos que tornam o processo moroso.

Depois dos obstáculos burocráticos e de várias deslocações aos SASUP, Sofia Santos do 1º ano da Faculdade de Medicina da Universidade do Por-to, também viu a bolsa ser-lhe negada. “No ini-cio do ano concorri à bolsa de estudo, pois, após conversa com os meus pais, achámos pertinente apresentar um pedido de bolsa. Tenho um irmão no 3º ciclo, pelo que os gastos orçamentais men-sais da família com a educação ainda são signi-ficativos. Além disso, atendendo a que estou a cerca de 200Km de casa, os encargos com o alo-jamento e com os transportes também pesam!”

Ao longo do processo Sofia, verificou como os critérios de atribuição de bolsas foram seriamente “apertados” este ano lectivo. Apesar de não consi-derar o seu caso como um dos piores, a estudan-te de medicina não deixa de reflectir no assunto: “com a extensão das medidas de austeridade à atribuição de bolsas, muitos colegas universitários por todo o país enfrentarão, com certeza, situa-ções mais delicadas do que a minha. Claro que em tempo de crise, há que ‘apertar o cinto’, mas acho lamentável que os jovens fiquem de tal for-ma desapoiados, que se chegue a casos de risco

de abandono da faculdade... A formação dos ci-dadãos e, em última análise, o progresso da nação e o seu desenvolvimento futuro não dependem, afinal, de um bom acesso ao ensino?”

Outro caso semelhante é o de Rute Azevedo, do 1º ano de Ciências da Comunicação, também da UP. Com uma mãe doente, com necessidade de com-prar determinados medicamentos, e outro irmão a estudar, Rute não teve direito a bolsa. Novamente por causa dos novos critérios, apesar de ter usufru-ído de subsídios ao longo da restante escolaridade. Rute gasta cerca de 30 euros por mês em transpor-tes, valor que podia duplicar caso não existisse o desconto de 50% para estudantes universitário

> A QUESTÃO DO APROVEITAMENTONo dia 15 de Fevereiro, foi emitido um despacho orientador por parte do Ministério da Ciência, Tec-nologia e Ensino Superior. Nele tenta-se esclarecer algumas questões e, ao que parece, algumas mu-danças numa questão que está longe de “arrefe-cer”: o número de créditos obrigatórios passa a 30, alunos transferidos com bolsa continuam a ter di-reito à mesma e o cálculo de atribuição é feito so-bre 85% do rendimento familiar. Este despacho foi emitido depois de alguns esforços da FAP no sen-tido de melhorar as condições no Ensino Superior.

Segundo dados fornecidos pela FAP, cerca de 602 alunos da Universidade do Porto ficaram sem bolsa por excesso de capitação e 959 por falta de aproveitamento.

Mónica Mota, 20 anos, é um dos casos da falta de aproveitamento. Estudante de Ciências Far-macêuticas, não apresentou 50% dos créditos concluídos no ano anterior, por uma diferença muito pequena. Como a legislação mudou entre a data de submissão e a data de avaliação, Móni-ca vai tentar concluir este ano lectivo apesar das dificuldades. “Ter ficado sem bolsa afecta imen-so a minha progressão no curso, uma vez que só estudava porque tinha bolsa. É um custo enorme para os meus pais suportarem o facto de eu estu-dar longe, e é praticamente impossível continuar

sem a bolsa. Fiz um requerimento no qual justi-fiquei o facto de não ter completado os créditos e agora estou a espera do resultado”, declarou a estudante de Ciências Farmacêuticas. Muitos ca-sos ainda se encontram em consideração.

> REFEIÇÕES E ALOJAMENTONo que toca às cantinas, a FAP exigiu algumas medidas para compensar a iminente subida de preços. A subida do IVA e o facto de não ter ha-vido subidas nos últimos dois anos tem de ser compensada, segundo a Federação Académica. Exige-se a melhoria da qualidade do serviço e aumento das porções servidas, assim como a

adequação de ho-rários à realidade do quotidiano estu-dantil (das 19h30 às 21h30). Apesar de o alojamento dos SA-SUP estar em boas condições, não tem hipóteses de aloja-mento para todos os estudantes. Há quem se veja obri-gado a morar em quartos ou aparta-mentos, muitas ve-zes pagando rendas altas e pouco supor-táveis. Muitos são os casos que temos vindo a conhecer,

mas nem todos os estudantes portu-

gueses já tiveram os seus pedidos aprovados ou deferidos. Quantas mais vidas vão ser adiadas?

» EXIGE-SE A MELHORIA DA QUALIDADE DO SERVIÇO E AUMENTO DAS PORÇÕES SERVIDAS, ASSIM COMO A ADEQUAÇÃO DE HORÁRIOS À REALIDADE DO QUOTIDIANO ESTUDANTIL

É DIFÍCIL VIVER SEM BOLSA. É UM ESFORÇO MUITO GRANDE, MEU E DOS MEUS PAIS, PARA QUE EU POSSA TER CONDIÇÕES PARA PROSSEGUIR OS ESTUDOS. É UMA AGONIA QUANDO CHEGA A ALTURA DE PAGAR AS PROPINAS.ANDRÉ GONÇALVES

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JUP — MARÇO 2011 09EDUCAÇÃOEDUCAÇÃO

“Não basta ser útil, é preciso que as pessoas saibam que a FAP é útil”

Já fazias parte da anterior direcção da FAP?Sim, era vogal da direcção do Ricardo Morgado, estive um ano na direcção da FAP e apresentei a candidatura. O meu papel era essencialmente acom-panhar o Ricardo nas suas funções e apoiá-lo em tudo o que fosse possível, trabalhar com ele a parte da política educativa e da representação externa.

Onde é que se notam as diferenças?Em termos de políticas, esta direcção é uma direcção de continuidade. Mas é também uma direcção de ruptura por-que entram sete pessoas novas numa direcção que tem um total de nove. A chegada de muita gente nova permite mudar muita coisa, inovar. Estamos a apostar em toda uma estratégia de comunicação pensada do início ao fim, e não apenas tentar resolver os problemas à medida que eles vão sur-gindo. Não basta ser útil, é preciso que as pessoas saibam que a FAP é útil, é preciso dar a conhecer o que faz. Que-remos apostar em fazer dois ou três es-tudos fundamentais. Um sobre o insu-cesso escolar e o abandono escolar, são dados que não são actualmente muito monitorizados. Faz muita confusão que o Ministério invista tantos milhões de euros no Ensino Superior e depois acabe por não querer saber porque é que os estudantes desistem. Queremos fazer também um estudo sobre os cus-tos de vida dos estudantes, quais são os padrões e variáveis que existem em termos de gastos do estudante.

E o que é que começaram já a fazer?A principal preocupação neste arran-que do mandato é a questão da Acção Social, estamos em contacto perma-nente com os estudantes bolseiros, com os Serviços de Acção Social, com as reitorias e presidência do Politéc-nico, com o Ministério tem sido um contacto quase permanente. E mais algumas actividades que vão mudar um bocadinho, vamos arrancar com as noites de recepção da Academia do Porto, que é um evento que até ago-ra não existia, num formato bastante diferente da Queima, e que a nível recreativo é a nossa principal aposta para este ano.

Vocês vão remodelar o site da FAP e vão lançar mais três subdomínios. Para quando pretendem fazer isso?Já estamos em reuniões com algumas empresas para a reestruturação do site. Esta é uma aposta fundamental da FAP para este mandato, o site é a cara da FAP. Muita gente conhece o edifício, muita gente conhece o grilo, mas em qualquer lugar do mundo, se querem saber alguma coisa, vão ao site. O site tem que ser capaz de agra-dar às pessoas, agarrá-las e depois fa-zer com que elas voltem. Queremos que a passagem pelo site da FAP seja feita de forma regular, e não tenha pi-cos apenas na altura da Queima. Pre-tendemos que seja antes de Setembro, mas não queremos estar agora a lançar nada em concreto.

Vocês não querem que a FAP seja vis-ta só como organizadora da Queima das Fitas. Como é que vão mostrar isso até Maio?Se a médio prazo as pessoas virem que a FAP efectivamente trabalha e mostra o trabalho que faz deixarão de encarar a FAP como o sítio onde vão comprar bilhetes para a Queima ou um dos meios organizadores da Queima. Não é essa, de facto, a nossa principal pre-ocupação ou o nosso principal traba-lho ao longo do ano. A FAP tem uma forte intervenção social, por exemplo, com o recente arranque do programa FAP no bairro. Queremos que as pes-soas percebam que a Queima e todas as actividades recreativas são muito importantes mas não são o que nos move e não são, naturalmente, o nosso principal objectivo.

A anterior direcção não aderiu à ma-nifestação nacional de estudantes porque estava a conseguir alguns avanços pela via negocial. Esta direc-ção vai seguir a mesma política?No ano passado a via negocial era a que fazia todo o sentido, as coisas ainda estavam a ser definidas, o que fazia sentido era dialogar com a tutela para tentar orientar as decisões para o interesse dos estudantes. Durante esse processo algumas sugestões do movimento associativo foram acei-tes, outras não. Começaram a sair os resultados das normas técnicas, e na-turalmente que se todas as sugestões

fossem aceites a situação seria neste momento bastante melhor. Já conse-guimos alterar algumas coias, como a questão do aproveitamento escolar, os complementos do alojamento, e a questão dos rendimentos, de as pres-tações sociais contarem apenas 85%. Houve moção proposta pela FAP no último Encontro Nacional de Direcções Associativas (ENDA), com mais algu-mas exigências. Se essas exigências não forem cumpridas, naturalmente que a FAP ponderará outros meios de reivindicação. Não pomos de parte, mas também não iremos para a rua no momento em que apenas a direcção da FAP quiser, mas no momento em que os estudantes assim o demonstrarem.

O preço da refeição vai subir? Quando?Estamos a trabalhar com o Ministério, e ele ficou de nos dar uma resposta a breve prazo sobre possibilidade de congelar nos € 2,15. Há Serviços de Ac-ção Social que já estão a aplicar €2,40 desde Outubro, outros que estão a apli-car €2,30. O que nos foi dito pelos Ser-viços de Acção Social da Universidade do Porto (SASUP) foi que era impossí-vel manter a qualidade da refeição com o preço de €2,15. Nesse sentido, as as-sociações de estudantes disseram que apenas aceitariam um aumento se esse implicasse a manutenção da qualidade nalguns sítios e a melhoria da quali-dade noutros sítios onde ela é franca-mente má. O ideal seria a manutenção do preço, mas não queremos com isso perder ainda mais qualidade.

E em termos de alojamento, a que problemas vocês se referem no vosso programa?Não é indissociável a questão da refei-ção social e do alojamento, acredita-mos que se um preço for congelado o outro também o será. O preço do alo-jamento preocupa-nos também, mas de uma forma diferente, porque os bol-seiros recebem complemento de alo-jamento de igual valor ao que pagam por ele. Preocupa-nos essencialmente a grande pressão imobiliária que existe no Porto e a escalada de preços que se verifica. Há preços que não correspon-dem à realidade ou à devida procura, e há quartos pelos quais os estudan-tes pagam e que não têm a mínima qualidade. Apresentamos também no ENDA uma moção no sentido da cria-ção de um regime de arrendamento ou de um certificado de habitabilidade que garantisse um selo de qualidade ao quarto ou ao apartamento para arren-damento para estudantes. • Aline Flor

Erasmus period in o Porto is amazing, every day you meet new people and actually you meet new part of yourself, you can develop yourself in so many ways, that sometimes you get scared, but fear is just a part of mind, so it’s not the obstruction to enjoy your time here.

This program [Erasmus] is really good opportunity to learn as much as possible in so short time. I am really happy about possibility to know better this culture, which is different from my home country, Latvia, because here people are more open to others, they are more interested in communication with others, and it’s really nice to know something more about Portugal from Portuguese people.

I would be really happy if by the end of my Erasmus studies I could speak and understand the Portuguese language; it would be a really good reason to come back and stay for a longer time, because this place is amazing for making photos and to enjoy the cultural life.

It’s only my first month here, but I already feel like I have been living here for a long time, like for some years. The only problem at this moment is the language and it will take time to learn it, because it’s slightly difficult for me, but I will do the best I can. • Jolanta Sermā

My Erasmus exchange started really quickly and is passing very fast. It really feels just like a moment.

I am still adjusting to the Portuguese culture and language and although I take pride that I can manage to do certain things with the help of My Portuguese skills, I sometimes catch myself to spend more time to listen to the language and simply marvel in it than trying to guess what it means. It is such a beautiful language! I don't care HOW much time it takes, but I am going to learn it!

The positive side of Erasmus is not only the studies you can do here different, but also test of yourself - communication, getting along, another lifestyle and all sorts of every-day experiences that are NOT similar to the ones I was having back home. It is all about getting out of your comfort zone and creating a new one... and up on until now I would say I am doing GREAT! It is not easy, but then again - if it would - it wouldn't be as exciting, right?

I am so thankful to all the people I have met here, because without them Portuguese culture AND language would be just another culture and just another unknown language... now it is one of the most beautiful things in my life. • Ieva Balode (Erasmus student from Latvia)

O meu período de Erasmus no Porto tem sido fantástico. Todos os dias conheces pessoas novas e inclusivamente conheces uma nova parte de ti e desenvolves-te de várias maneiras. Às vezes, até isso assusta, mas o medo faz parte da mente, por isso, não impede, nem condiciona o di-vertimento. Este programa (Erasmus) é uma óptima oportunidade para aprendes o máximo possível, num curto período de tempo. Estou bas-tante feliz com a possibilidade de conhecer melhor esta cultura e este pais, tão diferente to meu, a Letónia. É muito bom conhecer melhor Portugal e os portugueses. Aqui, as pessoas são mais comunicativas e mais abertas. Ficaria feliz, se no final da minha estadia, conseguisse falar e compreender português; seria uma boa razão para regressar e, ficar mais tempo. Aqui há óptimos locais para fotografar e a vida cul-tural é muito boa. Só estou aqui há um mês, mas sinto que já vivo aqui há anos. O meu único problema é realmente a língua. Vai demorar um pouco a aprender, mas vou fazer o meu melhor. •

O meu Erasmus começou muito rápido e está a passar muito depressa. Parece mesmo que é só um minuto. Ainda me estou a ajustar à cultura portuguesa e orgulho-me de já me desenrascar com as minhas “capa-cidades” portuguesas. Às vezes dou por mim a ouvir a língua portu-guesa, a mergulhar nela e a tentar perceber o que é dito. É uma língua tão bonita! Não me importa quanto tempo vai demorar, mas eu vou aprendê-la! A melhor parte do programam Erasmus é, além dos estu-dos, o facto de nos podermos testar: comunicação, experimentar outro estilo de vida, e ter novas experiências, tão diferentes do que eu vivia na Letónia. Basta sair da nossa zona de conforto e criar uma nova, e até agora, estou a dar-me muito bem! Não é fácil, mas, para dizer a verda-de, é isso que torna a experiência tão excitante. Estou muito agradecida a todas as pessoas que já conheci no Porto, porque sem elas, a cultura e a língua portuguesas seria apenas mais uma incógnita para mim; agora é uma das melhores coisas da minha vida. • tradução por Vera Covêlo Tavares

LUÍS REBELO É O NOVO PRESIDENTE DA FAP. O ELO QUE PERMANECE DA DIRECÇÃO ANTERIOR, DENTRO DE UMA EQUIPA QUASE TODA RENOVADA, FALA DA POLÍTICA DE CONTINUIDADE COM UMA APOSTA NA COMUNICAÇÃO.

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JUP — MARÇO 2011EDUCAÇÃO10 EDUCAÇÃOSOCIEDADE

Sociedade de Ficção Científica e Fantasia: “You cannot miss it!”

Como ser um bom estagiário (e não acabar a tirar cafés)

A ideia foi importada de Not-tingham. Rita Machado, estu-dante de Línguas Aplicadas,

que esteve de Erasmus naquela cida-de inglesa, foi assim inspirada pelas inúmeras “sociedades” de lá. Por cá, o amigo André, do mesmo curso, ado-rou a sugestão e não se perdeu mais tempo: no segundo semestre do ano passado surgiu a Sociedade de Fic-ção Científica na Faculdade de Letras (FLUP), que se reúne quinzenalmen-te, às quintas-feiras, com o intuito de verem filmes do género. A ideia é simplesmente o convívio e passarem tempo juntos. Não há aquela obrigato-riedade de verem um filme, e já houve vezes até, em que acabaram por passar o tempo a ver diversos vídeos na Inter-net. O processo da escolha dos filmes, como todo o funcionamento desta sociedade, é também muito livre. “O que quer que as pessoas queiram ver, trazem”, afirma Rita. Claro que difi-cilmente será um filme que agradará a todos, pois sob a alçada, quer de Ficção Científica, quer de Fantasia, há inú-meros géneros de filmes, e cada qual tem a liberdade de, durante a sessão,

assistir ou não. Ninguém levará a mal se alguém optar por dedicar-se a outra actividade durante a sessão de cine-ma. Para já, entre dez a quinze pesso-as frequentam a Sociedade de Ficção Científica e Fantasia, mais graças ao “passa-a-palavra”, pois até então a divulgação não foi muita. “Nerds” ou “geeks”, os membros não se impor-tam com rótulos, achando-os até “fo-finhos”, mas cada qual é “geek” à sua maneira. Uns são mais pelas banda--desenhadas, outros pelas séries, ou-tros pelos jogos, ou até pelos filmes. Para o futuro está prevista uma maior acção de divulgação até para envolver gente de mais faculdades. Espera-se também o alargamento de actividades organizadas por esta sociedade: além de filmes, promover também torneios de jogos, por exemplo. Ou até ir mais longe, e organizar uma palestra so-bre como “sobreviver a um ataque de zombies." • Vera Covêlo Tavares

R eputado médico legista e professor universitário, José Eduardo Pinto da Costa apre-

senta-nos algumas das suas opiniões relativamente ao ensino das ciências forenses em Portugal. Falamos espe-cificamente da medicina legal. Actu-almente assistimos a um fenómeno característico da globalização e cul-turalização: a influência de séries de ficção relacionadas com o tema leva bastantes jovens a seguir esta via no ensino superior. Desde a medicina legal até às análises laboratoriais e psicologia criminal, tem havido uma procura crescente. Pinto da Costa considera que muitas vezes, estes es-tudantes pensam que vão fazer o que se faz lá fora quando saírem do curso. Mas isso não acontece, porque “não há mecanismos legais que permitam isso. Actualmente apenas permite irem trabalhar para a Polícia Judiciá-ria, para a PSP, GNR ou para os servi-ços Médico-Legais.” O professor pres-supõe ainda que sejam abertas vagas para todas estas pessoas. Nos últimos anos lectivos tem-se assistido a uma grande procura de cursos que se in-siram na área das Ciências Forenses. Segundo José Eduardo Pinto da Costa, há uma oferta mais variada, “há cur-sos mais especializados: há a licencia-tura em Ciências Forenses e Criminais acessíveis a um aluno que saia do 12º ano. As perspectivas são diferentes, a

metodologia pedagógica e didáctica é diferente.”. Ainda assim, especifican-do o caso da medicina legal, há ain-da mudanças a fazer. Pinto da Costa defende a inclusão desta ciência nos cursos de direito, o que se torna com-plicado, visto que nem sequer todos os cursos de medicina englobam a medi-cina legal no currículo obrigatório. “O único sítio em Portugal em que é obri-gatória uma cadeira de Medicina Legal é na Universidade Portucalense In-fante D. Henrique. E acabou o ensino obrigatório a nível de cursos de direito. Não faz sentido: uma dimensão que é tão importante”, refere o professor.

Apesar da grande procura no en-sino superior, ainda se verifica uma falta de profissionais na área. Por isso mesmo, assistimos a um conjunto de situações ridículas e perfeitamente evitáveis, segundo nos disse José Edu-ardo Pinto da Costa. No que toca por exemplo, a casos de violação, há víti-mas que são obrigadas a esperar por técnicos especializados para recolher provas (saliva, exames genitais). Uma situação bastante desconfortável para as vítimas que Pinto da Costa critica: “é uma questão de orgânica: porque, se tudo estivesse estruturado no que toca à responsabilidade administrati-va nos hospitais, o próprio resolveria a situação. Não estaria dependente de funcionários externos aos serviços normais.”.

Este ano lectivo, o curso de Criminolo-gia da Faculdade de Direito da Univer-sidade do Porto, foi o mais procurado na instituição. Situações semelhantes verificaram-se noutras instituições da cidade e do país. O professor Pinto da Costa refere que será necessária uma reestruturação das leis em vigor rela-tivas a esta área, quando houver um excesso de criminologistas em Por-tugal. O professor considera difícil e complicado aconselhar os jovens es-tudantes a prosseguirem estudos neste campo. Portugal já esteve em melho-res condições, e não progrediu tanto como outros países estrangeiros. “As perspectivas de realização em relação ao que se passa no estrangeiro são mí-nimas. Nos anos 40 e 50 nós fazíamos o que se fazia lá fora. A Europa estava no pós-guerra, (…) estávamos todos ao mesmo nível. Actualmente não pode-mos dizer o mesmo, porque os outros progrediram muito: nos recursos hu-manos, nos meios técnicos, no diag-nóstico. De maneira que aconselhar a ir para este ramo era uma traição, julgo eu.” Contudo, aquele que é considera-do o maior especialista português na área da medicina legal pensa que há vários estudantes vocacionados para a área, que não devem desperdiçar as oportunidades que existem actual-mente, mais específicas do que há uns anos. • Júlia Rocha

O ENSINO DA MEDICINA LEGAL EM PORTUGAL E O FASCÍNIO PELAS CIÊNCIAS FORENSES É O QUE TEM MOVIDO MUITOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR ULTIMAMENTE. MAS SERÁ QUE HÁ ESPAÇO PARA TODOS?

DO DIREITO À ARQUITECTURA, PASSANDO PELO JORNALISMO E BIOMECÂNICA, FOMOS SABER QUAL A POSTURA A TOMAR POR QUEM QUER FAZER A DIFERENÇA DURANTE O SEU ESTÁGIO.

SEMANALMENTE REÚNEM-SE PARA VER FILMES DE FICÇÃO CIENTÍFICA OU FANTASIA. OU ENTÃO NÃO, POR VEZES, POR ALGUMA RAZÃO ACABAM POR APENAS PASSAR UM BOM BOCADO JUNTOS, NEM QUE SEJA APENAS A VER VÍDEOS ALEATÓRIOS. INFORMAL, DESCONTRAÍDA E DIVERTIDA, É ASSIM A SOCIEDADE DE FICÇÃO CIENTÍFICA DA FLUP.

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O principal ingrediente parece ser consensual: proactivida-de. Ficar parado à espera que

o trabalho venha ter connosco é um risco… ele pode ser coxo e demorar tempo demais a chegar!

Emanuel Teixeira, sócio de um escri-tório de advogados, explica que “o es-tágio será aquilo que o estagiário quiser que seja”. Para o advogado, o estagiário “tem que ir atrás da bola. É como no futebol, não se pode estar sempre à es-pera que lhe passem a bola”.

Também Denise Soares, doutoranda em Biomecânica na FADEUP, assume que o estagiário “se deve mostrar inte-ressado e participativo”. Mas proacti-vidade é muito mais que simplesmen-te ser interessado e participativo; ser proactivo é também antever cenários e apresentar possíveis soluções. Para a investigadora, essa ” é uma caracterís-tica muito valorizada”. Denise Soares considera que “é muito importante que o estagiário não espere que os problemas aconteçam para que outras pessoas os tentem solucionar”.

Segundo Denise, outro dos ingre-dientes para o sucesso é saber assumir compromissos. Para a Investigadora,

ser pontual e assíduo é um bom co-meço, mas “ser pontual não reflecte apenas cumprir horários, mas sim en-tregar as tarefas que foram solicitadas dentro do prazo estipulado”, explica. Também Rui Barros Silva, arquitecto, considera esta componente importan-te já que julga ser fulcral “saber com o que se pode contar” para que se possa incluir com segurança o estagiário nas rotinas e projectos do gabinete. “Se ele de vez em quando resolve não apare-cer, já sabemos que não lhe podemos entregar algumas tarefas importan-tes”, ilustra o arquitecto.

Rui Barros Silva defende ainda que o estagiário “tem que ter noção de que ainda vem aprender”. O arquitecto ex-plica que “tem que haver humildade” alertando, porém, que isso não é sinó-nimo de subserviência. A ideia é refor-çada pelo advogado Emanuel Teixeira que clarifica que “o estagiário não é criado de ninguém”.

Um outro factor essencial é a com-petência. Nuno Noronha, licenciado em Ciências da Comunicação na UP, estagiou no jornal Público, em Lisboa, e ainda como correspondente do JPN em Madrid. O recém-licenciado expli-

ca que, para além de ser preciso “tra-balhar muito”, é também necessário “ trabalhar bem”. Ou seja, no caso es-pecífico do jornalismo, “escrever com rigor é essencial”, explica.

› DETERMINAÇÃO, MOTIVAÇÃOEstás no último ano de curso, a poucos dias do teu estágio e ainda não sabes o que queres ser quando fores grande? Então estás mesmo em maus lençóis…

Segundo Denise Soares, “pessoas com objectivos definidos são mais pro-dutivas” e por isso deixa o alerta: “o estagiário deve ter em mente quais os objectivos do estágio e o que pretende melhorar com esta oportunidade”.

Não existe um “factor X”, mas a fór-mula para que o estagiário deixe defi-nitivamente a sua marca na empresa passa pelas suas qualidades pessoais. Nuno Noronha remata a receita do su-cesso: “é preciso inovar, estar sempre ao corrente e interagir sempre com os outros”. • Aline Flor

Para os que gostam de se queixar da vida, o JUP preparou uma receita para o Insucesso: inércia+subserviência +arrogância+indisciplina+inconstância

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Sociedade de Ficção Científica e Fantasia>Quando: Quintas-Feiras das 19.30 às 22.00>Onde: sala 205 ou 408 (ainda por decidir) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

entrevista p/04.05

Jorge Pinto

destaque p/02.03

Correntesd'escritas"Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participar"valter hugo mãe }

nº01março 2011

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

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Fantas Porto'11

As artes plásticas vieram ao Fantas. Sobre o tema "Manual de Sobrivivência do Artista Português" }

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Correntes de afectos, Correntes d’Escritas

Correntes d'escritas

O 12º ENCONTRO DE ESCRITORES DE EXPRESSÃO IBÉRICA – O CORRENTES D’ESCRITAS – ACONTECEU NO FIM DE FEVEREIRO, ENTRE OS DIAS 23 E 26. O JUP PASSOU TRÊS DIAS NO “MAIOR FESTIVAL LITERÁRIO DE PORTUGAL”, COMO O CLASSIFICAM OS PARTICIPANTES ILUSTRES QUE TODOS OS ANOS VISITAM A PÓVOA DE VARZIM.

O Correntes d’Escritas 2011 aparece-nos, antes de mais, como um espaço de partilha. Partilha de realizações, de feitos, de opiniões, de senti-mentos, de paixões. Tudo isto guiado por um ba-ter, uma pulsação literária e poética que parece harmonizar todos os membros da família: desde os escritores e editores até aos organizadores e ao público. Todos separados por diferenças es-tilísticas, ideológicas, linguísticas. Todos unidos no seu amor pela literatura. Todos movidos por um desejo comum de dar voz ao ritmo poético que uns produzem e outros abraçam. Todos jun-tos impedindo que as obras passadas se diluam e que as futuras nunca cheguem a existir.

Nas palavras do escritor Rui Zink, o Correntes d’Escritas “é o festival mais profissional e ao mes-mo tempo é o mais cordial, é uma festa do livro e do leitor, onde toda a gente está à vontade”. Aida Gomes, na apresentação do seu livro “Os Pretos de Pousaflores”, vai mais longe ao descrever o sentimento que encerra o encontro: o Correntes d’Escritas “são ventos amenos de afectos”.

Correntes para todos?Luís Catarino é editor da Deriva e trouxe este ano o escritor argentino Ricardo Romero. Para o editor, o Correntes d’Escritas é uma “festa” onde editores trazem os escritores por ser um lugar onde “eles se sentem bem”. Apesar de ser aberto a qualquer pessoa, “cada vez mais é um encontro para a co-munidade literária, mas há uma relação com o público do Correntes, que vem cá todos os anos”.

Mal entramos no edifício do Auditório Muni-cipal da Póvoa de Varzim, somos recebidos pela organização com um caloroso “bem-vinda ao Correntes d’Escritas”. E tudo aqui é assim, quen-te e acolhedor. O escritor (e ilustrador e músico e mais mil e uma coisas) valter hugo mãe relem-bra mesmo que “a organização recebe muito bem não só os escritores, mas todas as pessoas”. Enfim, por todos os lados encontramos pessoas dispostas a partilhar ideias e sorrisos. “A maior parte dos convidados acaba por ter uma postura aberta e inteligível para todo o tipo de públicos. Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participar”, explica valter hugo mãe.

mentos pessoais e profissionais, riem, emocio-nam-se. Fazem projectos para o futuro e relem-bram com carinho acontecimentos e pessoas do passado. Como uma grande família.

Pois bem. Isto é o Correntes d’Escritas e este clã é composto pelos seus intervenientes. En-quanto iniciativa aberta, todos nós somos convi-dados a fazer parte desta comunidade, a partilhar experiências, a usufruir de momentos de puro deleite intelectual e artístico.

“A Póvoa é um estado de espírito, onde todos já estivemos desassossegados, mas onde voltamos sempre”. As palavras são de Maria Manuel Viana, condensando numa única frase todo o sentimento de uma semana inesquecível. Para os escritores, para os leitores e para a Póvoa de Varzim.

“É o melhor festival literário de Portugal”Parte da programação do Correntes é passada em mesas de troca de ideias, onde vários escritores dão a sua perspectiva sobre um mote. Este ano, os versos foram retirados de cada uma das obras finalistas do Prémio Literário Casino da Póvoa, trazendo temas desde a criação artística à im-portância das palavras, passando pela magia da poesia e pela própria maneira de ver o tempo e o mundo. O resto do tempo, longe das mesas, é passado em conversas à porta, no pátio, ao almo-ço, nos sofás dos hotéis.

O JUP partiu para o Cor-rentes d’Escritas com as expectativas num nível bastante elevado, dado o burburinho que en-volve as conversas sobre

o evento. Surgiam-nos dúvidas, questões e até mesmo algum cepticismo face à questão: O que é que um encontro de escritores na Póvoa de Var-zim pode ter de tão especial?

À chegada ao Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, não salta à vista nenhum indício da mag-nitude que o evento prometia. No entanto, basta aproximar mais um pouco para ir reconhecendo livros e pessoas, do nosso lado, à nossa frente, à distância de uma palavra, para começar a mer-gulhar no verdadeiro ambiente do Correntes.

É preciso imaginar uma grande família. Ou melhor: um clã. Os seus membros vivem sepa-rados: por ruas, por rios, por cidades, por mares, por oceanos. As suas vidas são atribuladas e, por vezes, uma comunicação que se quereria diária torna-se escassa e difícil.

Porém, os membros deste clã fazem questão de se encontrar uma vez por ano. No espaço de tempo em que se encontram, partilham. Contam histórias, falam dos mais recentes desenvolvi-

texto Aline Flor, Catarina Cruz e Sunamita Cohenfotografia Pedro Ferreira

›O Correntes d’Escritas 2011 aparece-nos, antes de mais, como um espaço de partilha. Partilha de realizações, de feitos, de opiniões, de sentimentos, de paixões.

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Correntes aconchegantesO jornalista e escritor Carlos Vaz Marques, co-nhecido pelo programa de entrevista “Pessoal e… Transmissível”, explica que “todos nos tor-namos poveiros durante esta semana de Cor-rentes d’Escritas”. Mas a intensidade com que se vive o Correntes d’Escritas foi cativando o público aos poucos. Numa 12ª edição con-sagrada com auditórios cheios com leitores de todo o país – para além de convidados de todo o mundo – alguns par-ticipantes relembram como foram os pri-meiros anos. “Há um crescendo enorme, no início era um encon-tro muito pequeno em que mesmo o públi-co tardou um pouco a chegar”, recorda valter hugo mãe. Quanto às pessoas que regressam a cada edição, acrescenta que, “se olharmos para a plateia ao longo dos anos, há muitas caras que se repetem de pessoas daqui”.

Rui Zink conta que vem “desde o segundo ano… desde 2000?” Confessa que hoje fica es-pantado porque “não há praticamente sessão que não esteja cheia. Nos primeiros anos era di-fícil motivar as pessoas”. E continua, lembrando que o bom ambiente faz com que as pessoas ve-nham e tragam amigos e experimentem a magia de poder conviver com os escritores.

Pedro Loureiro é fotógrafo da revista LER e está pelo segundo ano consecutivo no Correntes, de-pois de ter estado cá alguns anos atrás. Para Pe-dro, “é o ambiente que faz com que as pessoas voltem, e a descontracção com que podem estar aqui a conversar umas com as outras”. O fotógra-

fo considera que “o facto de até ser fora de um grande centro ajuda as pessoas a estarem mais juntas. E nestes três dias estão mesmo, e conver-sam, discutem ideias, falam sobre os seus livros… é único.” O encontro de escritores de expressão ibérica “é um espaço para [os leitores] ouvirem os escritores que lêem durante todo o ano”, arre-mata Pedro Loureiro.

Esta ideia traz-nos de volta à conversa com valter hugo mãe: “Já ouvi coisas incríveis, sessões, palestras mui-to interessantes e gosta-ria de as repetir. A cada ano há sempre mais uma coisa memorável”, assume o escritor. Não só nas mesas onde as ideias correm soltas, mas todo o encontro é um espaço para parti-lhar vivências e afec-tos entre pessoas com interesses em comum. “Há sempre casos in-críveis que as pessoas contam, muitos convi-

dados que cá vêm têm experiências únicas e são pessoas com mentes brilhantes e coisas incríveis para dizer às pessoas”, sublinha valter hugo mãe.

Episódios que se guardamCada um vive o Correntes à sua maneira. valter hugo mãe conta que aproveita estes dias para “caçar autógrafos, ver pessoas que admira muito, que influíram na sua formação enquanto escritor e enquanto ser humano”.

João Paulo Cuenca é um escritor brasileiro, autor de best-sellers e com dois livros publi-cados em Portugal. Sente um carinho especial pelo Correntes d’Escritas, “pelos amigos que se fazem, as relações que se criam, pelos whiskies que tomamos ontem no hotel”. Numa das mesas, confidenciou que ficou maravilhado quando veio ao encontro pela primeira vez: “e fiquei falando meses por causa do Correntes d’Escritas”.

O editor Luís Catarino relembra encontros que tiveram consequências para além do Correntes. “O último livro editado do Ricardo [Romero]

nasceu aqui. Chegou ao pé de mim uma tradu-tora, a Patrícia, que disse "é o editor que eu espe-rava encontrar para propor dois escritores argen-tinos”, conta-nos. Para Luís Catarino, o encontro é também especial pelas “conversas que para lá das mesas existem aqui e ali”.

Uma semana únicaO escritor argentino, Ricardo Romero, resume estes dias: “que linda é esta vida!” Estivemos lá e comprovamos: são dias únicos, estes que levam as pessoas a enraizarem-se na Póvoa e quererem voltar todos os anos, para rever amigos, aprender mais e levar um pouco disso tudo para a sua vida no resto do ano.O fotógrafo Pedro Loureiro acompanha as activi-dades e os escritores durante o encontro, e sen-te também esse efeito. “Fala-se o ano inteiro da semana que vai haver do Correntes d’Escritas”, explica, “foi incrível o que eu me lembrei disto o ano inteiro!”

O natural fenómeno da intertextualidade aparece assim potenciado: aquele que escre-ve, escreve também (e sempre) aquilo que leu. Quem participa no Correntes ouve e lê. Aprende e reflecte. Toda a produção que se seguirá estará contagiada pelo ambiente que se viveu no even-to: não só as ideias globais das conferências ou as conversas internacionais dos corredores, mas também a pronúncia do norte e o cheiro ao mar da Póvoa do Varzim.

Imperativo aparece, então, recomendar este evento aos leitores. Manuel Rui, na sua participa-ção no dia do encerramento, usou uma expressão, noutro contexto, que parece fazer todo o sentido em relação ao Correntes d’Escritas: "gaivotas que faziam de branco entre o azul do mar e o azul do céu". O Correntes, no panorama cultural literário português, parece desempenhar o papel destas mesmas gaivotas, destacando-se por uma bran-cura e um brilho que se entranham e se tornam familiares, que nos fazem querer mergulhar no mar, sem nunca tirar os olhos do céu. }

Quem gostar de livros, de ouvir pessoas a falar e a contar histórias, vai gostar de participarvalter hugo mãe

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04/entrevista

“Os actores são como as putas”

JorgePinto

DUETO PARA UM, PARA STEPHANIE ABRAHAMS, UMA VIOLINISTA FAMOSA, QUE SE VÊ CONFINADA A UMA CADEIRA DE RODAS DEVIDO À ESCLEROSE MÚLTIPLA. MAS DR. FELDMANN TEM A SEU CARGO A

EXTENUANTE MISSÃO DE A AJUDAR CLINICAMENTE A ULTRAPASSAR A REVOLTA E A IMPOTÊNCIA. NO PALCO, O PSIQUIATRA É JORGE PINTO.

NESTE DUETO, O ACTOR EXPLORA A RELAÇÃO DO ARTISTA COM A ARTE AO LADO DE EMÍLIA SILVESTRE.

*

entrevista Marta Portocarrero

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2011 março jup parêntesis } entrevista/04.05

(P) Como foi interpretar Dr. Feldmann?(R)Quando se lê a peça percebe-se que é escolhida porque tem um papel extraordinário para uma mulher. E o Dr. Feldmann é pre-ciso para essa mulher fazer o seu trabalho.

Quando eu e a Emília dissemos: “Vamos fazer”, eu vi que era um papel menor, mas era muito importante, era uma mais-valia.

É essa a nossa postura. Eu vou fazer um papel que é de suporte, então vamos fazer o melhor que pode ser, porque temos de dar o melhor suporte possível.

As pessoas consideram extremamente importante que o Dr. Feldmann seja tratado com muito cuidado para que a gente possa acompanhar aquela mulher. Porquê? Porque ele acaba por ser um bocado a consciência do senso comum.

Está noutro plano, numa zona onde pode ajudar, mas que não é dela. Portanto, eles não comunicam quase nada, não contracenam muito.

Até o ter estudado, eu não sabia a importância que tinha o psi-quiatra para o público perceber o complexo da doença e da impo-tência daquela mulher face à única coisa que ela tinha na vida, a música. E só existe uma forma no teatro que é fazê-lo profunda-mente, estudá-lo e ser totalmente verdadeiro e, depois, nós próprios vamos descobrir até que ponto é muito importante o Feldmann.

Nós estudámos junto dos psicólogos do SPEM (Sociedade Portu-guesa de Esclerose Múltipla) e percebemos que, de facto, o papel de psiquiatra numa pessoa que está a definir o que vai ser a sua vida emocional é extremamente im-portante e pode contribuir para a consciência que a gente tem sobre o que é aquele mundo.

(P) A peça não fala exclusivamente de música nem da esclerose múltipla…(R)Não, fala do artista e do sentido da vida. E de uma pessoa que tem como sentido único da sua vida a música.

A música transporta-a para outro mundo, que o pai tentou negar, mas ela lutou e ficou naquele mundo.

Quando a mãe morreu, o seu grande suporte musical, ela podia ter desistido da música, mas teve força para lu-tar contra o pai e para ganhar.

Quando, depois, as circunstâncias da doença lhe tiraram isso, ela considera que não vale a pena viver. Esse é que é o tema da peça. Uma pessoa que tem num propósito de vida e vai perder tudo.

(P) Uma vez que a sua profissão lhe permite ter uma relação tão próxima com a arte, acha que consegue perceber melhor o sofri-mento de Stephanie? (R)Claro, claro. Pode considerar-se uma facilidade e ao mesmo tempo uma aproximação de uma dor real. Porque o que se tem hoje é o que se pode perder amanhã.

Ou a vida é construtiva e temos uma bonita memória que estamos a construir ou, no caso de uma doença destas, vive-se de memórias, que é uma coisa que a Stephanie não tem. O que é que fazemos?

Quando perdemos em definitivo é bem mais complicado. A Stephanie vai ter de viver com isso. Aquilo não é terminal,

aquilo é crónico. Portanto, pode degradar-se muito ou pouco, mas não interessa, ela já não pode tocar violino porque deixa cair o arco sem saber quando. (…)

Um actor tem um risco parecido, e o que é violento é que se per-guntarmos à Emília se trocaria de profissão, ela diz-nos que não. Talvez tivesse que trocar, mas seria a pessoa mais infeliz do mundo…

Este exercício também toca a dor, mas convenhamos que o actor é um exorcista. Eu não estou a dizer: “Ai, coitadinho do actor que está a fazer uma coisa que até dói.” Não, se calhar, está a fazer um exorcismo. Se calhar, até está a cantar os seus males. Quem canta seus males espanta, lida com eles.

(P) Stephanie, revoltada com a sua condição física, pondera o suicídio… (R) Sim, pondera no início, no meio e no fim. Está sempre presente.

(P) Como é abordar um assunto tão delicado como este?(R) Eu não tenho uma resposta exacta para isso. Tenho algumas respostas. Uma delas, muito verdadeira, é que é um exorcismo.

Todas as noites, não é a Emília que eu vejo, não é a Stephanie, não é ninguém. É uma abstracção de uma profunda infelicidade. Isso é muito doloroso para mim. Não quer dizer que eu, depois, de manhã, quando me levanto, transporto essa dor. Se calhar exorcizei um bocadinho.

Hoje, a psicologia e a psiquiatria estão bastante mais melhoradas com benefício para o paciente, não necessariamente com solução… Temos um conheci-mento melhor para acompanhar uma pessoa e con-tinuamos a não saber se o melhor é dizer assim: “Pronto, mate-se lá”. Mas como também não está na natureza humana o atentado à

vida, essa luta existe no sentido de a preservar e de a melhorar.

(P) Que mensagem é que esta produção pre-tende transmitir ao público?(R) Não há uma moral da história, no entanto, a peça é moral por todos os lados. A moral tem de ser a nossa.

As pessoas quando saem dali devem ter di-reito a nunca mais penar naquilo ou, mais tar-de, ouvir uma coisa paralela e pensar em con-formidade, porque, se calhar, na altura, foram sentimentalmente informados pelo que viram. São alimentos para a nossa espiritualidade, não vão contribuir para o meu PIB, mas alimentam.

O que nós queremos dar ao público é um capital, não uma informação sobre comporta-mento humano.

(P) É arriscado representar uma peça que se debruça sobre a complexidade da mente hu-mana e por isso uma maior sensibilidade por parte do público?(R) O tema propriamente dito é um risco sem-pre. Há pessoas que dizem assim: “Vocês têm muita coragem”.

Coragem quer dizer que são duas pessoas que estão totalmente expostas naquele sítio? Será por isso? Tudo bem, ainda bem.

Mas há cuidado, há investigação, há procura de pessoas que es-tejam acima de qualquer suspeita, mas que podem falhar porque são artistas. Um acto artístico pode falhar e aí devemos fazer o má-ximo e correr o risco… ir um bocadinho mais além, experimentar isto, aprofundar esta verdade.

(P) Carlos Pimenta, o encenador, diz que Feldmann com uma arma cada vez mais esquecida: “saber ouvir”. Como foi “saber ouvir” Emília Silvestre?(R) Eu quando vou fazer a minha primeira experiência de impro-visação já sei o que ela me vai dizer. O talento do actores é conse-guir transportar-se para um plano de verdade, é olhar a Emília nos olhos e ouvir aquela frase como se fosse a primeira vez.

O saber ouvir é apenas um pormenor. Eu, muitas das vezes, se a Emília disser uma palavra diferente, actuo em conformidade, por-que estou a ouvir o que ela me está a dizer. Isto não acontece em permanência no espectáculo porque nós não estamos em transe. Nós somos como as putas. Nós fazemos o exercício, tentamos ven-der as emoções, os sentimentos, mas temos um pé atrás, somos actores. Não somos nós, são personagens.

Quando a mulher faz uma coisa que me incomoda, eu, que es-tou ali e não me posso mexer, tenho de respirar, porque se eu ficar

ÓÖ Jorge Pinto como "Dr. Fieldman" em Dueto Para UmÕÓ Depois de um ensaio

sem respiração a olhar para ela, sou capaz de ir às lágrimas. Tenho de respirar para ter a certeza que não me comovo e que o Feld-mann é aquele homem que já ouviu aquilo centenas de vezes. (P) Para Stephanie o violino é como uma extensão do seu corpo. A música não é o seu modo de vida, mas a sua vida. Sente o mes-mo em relação ao teatro?(R) Sim, sim, e ela (Emília Silvestre) também. Para nós artistas é onde a gente se projecta.

Agora não pensem que eu não tenho uma vida. Se me virem a jardinar ou a conduzir, eu estou desligado do teatro, mas quando começa o cheirinho dos meus alunos ou de uma conversa destas, eu transformo-me. Este é o meu instrumento, é a minha música, portanto isso é verdade.

(P) Como está o estado do teatro e da cultura na cidade do Porto?(R) Alínea A: dinheiro. Está todo lixado.

Alínea B: qualidade. Extraordinária, fantástica.Em quarenta anos de profissional, nunca tive à minha dispo-

sição tantas ideias sobre teatro e praticadas nesta cidade. Temos apostas que eram impensáveis aqui há uns anos e estão cá para a gente ver. (…) As escolas andaram um bocadinho para trás, devido a questões financeiras, mas têm-se alimentado. Hoje tenho condi-ções para ensinar miúdos que não tinha na altura que me ensina-ram a mim, portanto isto tem de ser bom.

A Europa não está a apostar na educação e na cultura, o S. João cada vez tem menos dinheiro. e está a fazer de teatro nacional e de municipal, portanto, pela parte da autarquia, é um desas-tre total para o teatro e para as outras artes per-formativas.

Vamos concentrar-nos então na maior ri-queza que temos, que é muito mais qualidade técnica de pessoas que eu vi voltarem de fora e que são actores fantásticos. O que eu vejo agora no teatro do Porto é esse capital.

A autarquia está contra nós e nós temos de lutar contra isso, mas só podemos lutar quando tivermos respeito pela qualidade dos agentes culturais. Eles é que mereciam que esta autar-quia fosse substituída por alguém com mais sensibilidade.

(P) Como está o estado do teatro e da cultura na cidade do Porto?(R) O teatro nunca teve muita gente, mas, mui-to depois do 25 de Abril, milhares e milhares de pessoas começaram a entrar [no teatro], parti-cularmente gente nova.

Se vai menos gente do que há seis anos, é porque há menos dinheiro. Nota-se mais essa quebra no cinema e no teatro musical do que em nós, o que me obriga a pensar: “que tipo de

espectáculo vai trazer as pessoas? É o chamado populista ou é o que tem qualidade?”. Se calhar não é o populista que vai resolver o pro-blema, se calhar é a qualidade.

Nos últimos trinta anos, isto subiu, subiu, subiu. Claro que há perdas, diminuições, cortes orçamentais, mas há um capital que se ganhou e eu vejo condições para esse capital se continuar a cul-tivar, mesmo em crise. }

O ACTOR É UM EXORCISTA.

NÓS SOMOS COMO AS PUTAS. TENTAMOS VENDER AS EMOÇÕES, MAS TEMOS UM PÉ ATRÁS.

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AS ARTES PLÁSTICAS VIERAM AO FANTAS. SOBRE O TEMA “MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DO ARTISTA PORTUGUÊS” DEBATERAM RITA CASTRO NEVES, PEDRO TUDELA E AUGUSTO CADETE. FALOU-SE DA CAPACIDADE DE INICIATIVA DOS ARTISTAS, DA IMPORTÂNCIA DA COMUNIDADE DE PARES, DA CRÍTICA E DIVULGAÇÃO ENTRE ARTISTAS. JÁ EM TERMOS MAIS ABRANGENTES A DISCUSSÃO PASSOU POR TEMAS COMO A NECESSIDADE DE PÔR AS PESSOAS EM CONTACTO COM AS ARTES PLÁSTICAS E A PROCURA DE APOIOS.E PORQUE NAS ARTES É PRECISO INICIATIVA, DECORREU EM PARALELO E PROLONGOU-SE ATÉ TARDE UMA AULA DE PINTURA DADA POR CATARINA MACHADO. ABERTO AOS INTERESSADOS, UM GRUPO REUNIU-SE À VOLTA DAS TELAS E EXPERIMENTOU COM TINTAS E PINCÉIS, JOGOU COM FORMAS E CORES. OS RESULTADOS, ORA MAIS ABSTRACTOS, ORA MAIS FÁCEIS DE INTERPRETAR, SÃO MELHOR DESCRITOS PELAS IMAGENS DO MOMENTO.}

Porto

texto e fotografia Paulo Alcino

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{ parêntesis jup março 201108/brevesCULTURA

A cidade do Porto prepara-se para receber, já este ano, o projecto ‘Porto 2.0’ cujo principal objectivo é transformar a zona

histórica num “centro nevrálgico de criação, de cultura e de renovação de energia”. As palavras são de Vladimiro Feliz, vereador do Turismo, Inovação e Lazer da Câmara Municipal do Por-to, responsável pela apresentação da iniciativa numa conferência de imprensa que teve lugar no Hard Club, no passado dia 2 de Fevereiro.

O ‘Porto 2.0’ parte da empresa Porto La-zer, após a aprovação, em 2010, da candidatura ao ‘Sistema de Apoio ao Cluster de Indústrias Criativas’, concurso promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, na categoria ‘Grandes Eventos. Com um financiamento suportado em 70% pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), e pela Porto Lazer nos restantes 30%, prevê-se um investimento de dois milhões de euros neste projecto cujas iniciativas terão acesso totalmente livre e gratuito.

Com este programa, pretende-se potenciar, de forma transversal, a vertente cultural da In-victa, partindo daquilo que ela tem de melhor: o património histórico, concentrado na baixa da cidade, as tradições e as pessoas. “A ideal passa por acrescentar criatividade a esta preexistên-cia, conferindo narrativa, visibilidade, e coesão a toda esta área”, explica Vladimiro Feliz.

Sem uma lógica de candidaturas, a Porto Lazer irá destacar uma equipa responsável por encon-trar projectos, de forma quase orgânica, galgan-do os lugares mais tradicionais, numa promoção ‘cara-a-cara’, de ‘boca em boca’, onde as ideias surgirão naturalmente. “Interessa ir às pessoas, às associações, e chamá-las para trabalhar con-nosco”, reforça o responsável pelo projecto. Aci-ma de tudo, é “um processo de prospecção e pro-ximidade com as várias comunidades existentes no centro historio, de olhar para os vários activos existentes e criar um efeito alavanca”, explica ainda Vladimiro.

Agentes culturais e económicos vão colocar-se lado a lado, sendo o conceito de sinergia a unir as possíveis “parcerias” a formar-se, e que a equipa de promoção tem a função de ajudar a estabele-cer. E não há limites estéticos ou culturais defi-nidos: os intervenientes decidem, e os projectos podem surgir de formas muito diferentes. Vladi-mirou Feliz exemplificou com “um restaurante ou bar a ser complementado com a performance de um artista” e “um músico a trabalhar com um cozinheiro”.

Os idealistas desta onda de cultura que pre-tende espalhar-se pela baixa do Porto querem transformá-la na “maior acção integrada de cul-tura e inovação com impacto sustentado no de-senvolvimento regional do Norte de Portugal”. A par do incentivo à cultura, dinamizar o turismo e a economia é um dos grandes fins deste projecto, afinal, “todas as acções que vierem a ser realiza-das terão sempre uma componente de financia-mento privado”, podendo até “triplicar o valor inicial” do investimento.

Vladimiro Feliz avançou os nomes de algumas entidades envolvidas no ‘Porto 2.0’, destacando--se a Universidade do Porto, a ESMAE – Esco-la Superior de Música e Artes do Espectáculo, a ESAP – Cooperativa de Ensino Superior Artístico do Porto, a Fábrica Social – Fundação José Rodri-gues e o FITEI – Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Serão também intervenien-tes-chave o próprio Hard Club, o Maus Hábitos, o Plano B, a Casa da Música e a Addict - Agência para o Desenvolvimento de Indústrias Criativas.

E o ‘Porto 2.0’ poderá ser, exactamente, um pólo de indústrias criativas, constituído no e Por-to e para o Porto, a “aculturar” gentes até Janeiro de 2013, mas tendo como pontos altos os meses de Setembro de 2011 e 2012.

Vladimiro Feliz, o responsável pelo ‘Porto 2.0’ promete “trazer o futuro à cidade, cativando o passado”. Resta esperar para ver. } Nádia Leal Cruz

R obert Murdoch, responsável pelo pro-jecto, descreve o The Daily como uma empresa pioneira digital e o projecto

mais entusiasmante da empresa, que revela uma nova categoria no consumo da informação.

Numa altura em que a leitura de jornais em pa-pel cai drasticamente, este jornal mutimédia tem como principal objectivo a união de texto, foto-grafia, vídeo em alta definição, infografia e áudio com a interacção proporcionada pelo gadget.

Os leitores do The Daily podem contar com imagens em 360º, páginas de conteúdo infor-mativo generalista, de entretenimento, opinião, desporto, actualidade e uma infinidade de outros temas, a opção de salvar artigos para ler depois, comentários escritos ou áudio, meteorologia e li-gação às redes sociais.

Este projecto representará um investimento de cerca de 22 milhões de euros e contará com o en-volvimento de jornalistas e cerca de dez técnicos.

Prevê-se que o jornal multimédia terá o acessível custo de 0,99 cêntimos de dólar por semana. Se-gundo Murdoch, também dono da cadeia Fox e dos jornais “The Times” e “The Wall Street Journal”, o The Daily precisa de atingir os 800 mil leitores para se tornar economicamente viável. } Liliana Pinho

Três dias, dois minutos, uma curta

“Noites do Rivoli” trazem a música de volta à Cidade

F á-las Curtas! destina-se a encontrar novos talentos na área do cinema. O concurso conta com a participação de 16 equipas

compostas por um realizador e um argumentista. A equipa de produção disponibiliza os meios téc-nicos, o guarda-roupa, os adereços e os décors. “Pretende-se que os locais sejam interessantes quer a nível temático, quer a nível visual”, afir-ma Rute Vale, produtora do programa.

Lançado o mote para a história, as duplas têm 3 dias para escrever o argumento, realizar e edi-tar o filme. No final de cada episódio, as curtas são avaliadas por Joaquim Leitão e João Garção Borges. O filme vencedor passa à fase seguinte.

A apresentação do Fá-las Curtas! está entre-gue a Filomena Cautela, que garante que “é um dos programas mais estimulantes” que viu no pequeno ecrã. A apresentadora acrescenta ainda que a equipa de produção e “a altíssima qualida-de dos actores” são grandes oportunidades para os participantes.

Miguel Rodrigues é um dos concorrentes se-leccionados para a fase seguinte. O filme “Re-denção” valeu à dupla Miguel Rodrigues e André Luís a passagem para a próxima etapa. Miguel conta que tem sido uma óptima experiência e confessa que a curta ficou melhor do que espera-vam. “Foi electrizante vê-la a passar na televisão como se se tratasse de um trabalho de alguém com obra feita”, conta.

No final do concurso, a dupla vencedora ganha 10 mil euros para produzir e realizar uma curta--metragem de 10 minutos para a RTP2. } Castro Viana

E sta iniciativa cultural que antecede a 31ª Edição do Fantasporto, prometeu trazer ao Teatro Municipal Rivoli mais de uma

dezena de espectáculos. O programa deste even-to contou com uma diversa selecção musical. Do rock ao jazz, passando pela melhor música por-tuguesa, teve como objectivo o agrado de públi-cos com características diversas.

Além da música, estes espectáculos incluíram também sessões de humor e de “stand up come-dy”. Segundo Mário Dorminsky, director do Fan-tasporto, em declarações à Agência Lusa, o pro-grama do evento é “interessante e dividido em três áreas destinadas a públicos diferenciados”.

O cartaz das “Noites do Rivoli” foi inaugurado no dia 3 de Fevereiro com “Mão Morta no país do fantástico”. Na categoria “Rock n’Rivoli” estive-ram presentes ainda nomes como Moonspell, Mind Da Gap e Teratron.

Mas os espectáculos musicais não se ficaram por aqui. Vozes como a de Mafalda Veiga, Maria João, José Mário Branco marcaram presença e re-presentaram a música portuguesa a partir do dia 8 de Fevereiro.

Neste evento, foi dado destaque ao Festival de Humor 2011 – “Rir é o melhor remédio”, de Her-man José e ao espectáculo de teatro “Produto” da companhia Assédio e aos conhecidos Quim Roscas e Zeca Estacionâncio, em que o objectivo foi trazer junto do público boa –disposição e uma forma diferente de se fazer humor.

Esta iniciativa cultural, que conjuga música, teatro e humor trouxe ao Porto, “um palco para a cultura.” } Sandra Mesquita

White Stripes anunciam o fim

O s músicos fizeram questão de assegurar que “não é por divergências artísticas ou falta de vontade para continuar, nem por

quaisquer problemas de saúde”, é por “uma mi-ríade de razões, principalmente para preservar o que é belo e especial na banda e mantê-la assim”.

A dupla de rock norte-americana aproveitou também para agradecer o apoio que recebeu “ao longo dos mais de 13 anos da carreira intensa e incrível dos White Stripes”. Jack e Meg White esperam “que esta decisão não seja vista pelos fãs com tristeza, mas como algo positivo feito por respeito à arte e à música que a banda criou”. No comunicado podia também ler-se: "The White Stripes do not belong to Meg and Jack anymore. The White Stripes belong to you now and you can do with it whatever you want” [Os White Stripes não pertencem mais à Meg e ao Jack. Os Whi-te Stripes pertencem agora a vocês e pode fazer com eles o que quiserem].

A banda, que alcançou o reconhecimento mundial com sucessos como "Fell in Love with a Girl", "The Hardest Button To Button", "Seven Na-tion Army" e "Icky Thump", deixa assim um lega-do de seis álbuns de estúdio e um registo ao vivo. Segundo o site da loja online Amazon, as vendas dos álbuns "White Blood Cells", "Elephant" e do disco ao vivo "Under Great White Norther Lights" dispararam nos dias após o comunicado que chocou os fãs.

Entretanto, Jack White vai continuar como membro dos Raconteurs, Dead Weather e líder da editora Third Man Records, que promete edi-tar músicas ao vivo e inéditos dos White Stripes. Para além disso, encontra-se também a trabalhar no novo grupo Rome, com Norah Jones e Dan-ger Mouse, num álbum com estreia prevista para Maio deste ano. } Janine Mouta

The Daily é o novo jornal exclusivo para iPAD

A RTP2 TEM UM NOVO CONCURSO. TODOS OS SÁBADOS, ÀS 21H, FÁ-LAS CURTAS!

ESTA É A PRIMEIRA VEZ QUE UM JORNAL É FEITO EXCLUSIVAMENTE PARA UMA MARCA E QUE NÃO TERÁ VERSÃO EM PAPEL. DESENVOLVIDO PELA APPLE E A NEWS CORPORATION, DEVERÁ ESTAR DISPONÍVEL JÁ NO ANO QUE VEM.

APÓS TREZE ANOS JUNTOS, JACK E MEG WHITE ANUN-CIARAM O FIM DA SUA CARREIRA ENQUANTO BANDA. EM COMUNICADO DIVULGADO PELO SITE OFICIAL DOS WHITE STRIPES, A DUPLA ANUNCIOU QUE NÃO VOLTARÁ A DAR

CONCERTOS OU A LANÇAR DISCOS NOVOS.

ENTRE OS DIAS 3 E 18 DE FEVEREIRO A CIDADE DO PORTO RECEBEU, UMA VEZ MAIS, “AS NOITES DO RIVOLI”.

É JÁ A PARTIR DE 2010 QUE A INICIATIVA DA PORTO LAZER PROMETE DINAMIZAR A BAIXA DA CIDADE, PARTINDO DO PASSADO PARA LANÇAR O FUTURO.

‘Porto 2.0’: mais cultura numa nova versão da cidade

Page 19: JUP Março 2011

2011 março jup parêntesis } roteiro/09

Livraria Académica

Livraria Vieira

Livraria Lumiére

-> Rua Mártires da Liberdade, nº10

Fundada em 1912, por Guedes da Silva, come-mora 100 anos no próximo ano. Nuno Canavês já cuida da Académica há 63 anos e fez dela um excelente espaço para se procurar de tudo um pouco. É vocacionada especialmente para os amantes de literatura de autores portugueses, mas passando também pela História, pela Arte e muitos outros temas.

Os preços vão desde os cinco euros aos cinco mil, tais as raridades.

Com muitas histórias para contar - inclusive a de um determinado senhor que durante dez anos observou as montras, tomou apontamentos e nunca entrou - a Livraria Académica é um mun-do onde inclusive há livros perdidos que nem Nuno sabe por onde param.

Um excelente sítio para se encontrarem pe-chinchas de grande autores e enciclopédias úni-cas com cheiro a raridade de oitocentos. Entrar na Livraria Académica é quase uma viagem no tempo onde se aprende e se cresce. }

-> Rua das Oliveiras, nº14

Quase a chegar aos Leões, em frente ao Teatro Carlos Alberto, a Livraria Vieira dá sinais de si com cestinhos de livros à porta com preços convidati-vos e títulos que falam por si. Manuel Vieira é o ac-tual proprietário de uma livraria que data de 1984 e desde sempre permaneceu na mesma família.

De um euro a quinhentos, é possível encontrar um bocadinho de tudo. Mais uma vez, a oferta é gigantesca, com especial predilecção pela poesia.

Mas foi “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco que encantou “um belo dia” um rapazi-nho, como conta Fernanda Vieira. O livro cus-tava vinte euros e ele só tinha dez, mas “estava apaixonado pelo livro. Queria levá-lo para o pai, porque ele queria muito lê-lo”. E ela deixou-o ir, com uma dívida de dez euros que nem sabia se ele voltava para pagar. Voltou. Muito tempo de-pois, mas voltou.

Isso é o que se espera de quem visita a Livraria Vieira - que volte. E não é difícil, porque a boa disposição e a decoração caricata que reinam no cantinho da Rua das Oliveiras são um convite ir-recusável. }

-> Travessa de Cedofeita, nº64

A Livraria Lumiére é ainda um bebé perto dos restantes alfarrabistas da cidade, mas nem as-sim fica atrás em qualidade. Nascida em 2001, foi bem recebida pelas restantes. Cláudia Ribei-ro, a proprietária, diz que a concorrência entre alfarrabistas “é leal” e que os livreiros se com-plementam.

Também aqui a variedade de temas é imensa, desde fotografia e teatro a filosofia ou história, passando pela literatura portuguesa. Os preços são mais acessíveis, dos 0,50 cêntimos a algu-mas centenas de euros, que nem Carla sabe bem quanto.

Destaca-se essencialmente pelas caras jovens que a representam, contrastando com o cheiro a antigo e a decoração conservadora. E se fores apreciador do ambiente acolhedor, junta-te a David - um cliente fiel que visita a Livraria todos os dias - e serve-te de um cafezinho da máquina de café disponível, dispensado algum tempo de qualidade em busca das variadas raridades que a mostra oferece, todos os dias das 09:30h às 19:00h. }

Em época de crise, quem gosta de ler tem muitas vezes de abdicar dos livros em prol de outras coisas, mesmo que muitos os considerem como bens necessários. Os Alfarrabistas do Porto são a melhor solução para quem procura obras de todos os tempos e boa literatura a preços modestos. Assim como raridades para coleccionadores.

por Liliana Pinho

Page 20: JUP Março 2011

{ parêntesis jup março 201110/gadgetsTECNOLOGIAS

Garmin eTrex Venture HC

Pico

Eee Slate EP121iPad

Quando falamos em GPS a primeira coisa que normalmente nos vem à mente são aparelhos montados no tablier de automóveis que nos indi-cam o caminho a seguir. No entanto, sendo o GPS um sistema de localização, as suas capacidades podem ser usadas para outros fins como È o caso deste GPS pedonal.

Pensado para quem anda a pé, e em particular para quem faz caminhadas fora da estrada, este receptor de GPS foi feito para ser usado apenas com uma mão. Estando 5 botıes na parte lateral do Venture HC este pode ser facilmente maneja-do sem obstruir a parte frontal, que contém um ecrã a cores com cerca de 3x4cm.

Sendo direccionado para quem faz percursos fora da estrada, o Venture HC traz um mapa de terreno com indicações das principais florestas, lagos, etc. … possível expandir as suas capacida-des com mapas adicionais fornecidos no site da Garmin mas estes são pagos. Para além disso a localização È feita através da tecnologia WAAS que permite uma elevada sensibilidade, com uma precisão de 5 metros, e que assegura a cap-tação de um bom sinal, seja sob vegetação densa ou rodeado de edifícios altos.

Juntamente com as caminhadas de floresta ou montanha vêem muitas vezes acompanhados de percursos de orientação. Não é pois de estranhar que o Venture HC ofereça a possibilidade de gra-var trajectos com vários pontos a ser percorridos. Acresce ainda a funcionalidade de registar o ca-minho percorrido para consulta futura.

Pesando apenas 150g mas custando cerca de 150€ este aparelho não interessa a todos. Apesar disso, quem gosta de se aventurar pelo desco-nhecido mas prefere não se perder tem nele um bom companheiro.

www.garmin.com

030402

01

O Pico, da Samsung, é um projector com um conceito diferente. O facto de caber na palma de uma mπo (mede 7x7x3.75cm) nπo deixa mar-gem para dúvidas. Ao contrário da maior parte dos projectores, pensados para estarem numa sala de apresentações, de preferência num su-porte fixo, as palavras-chave quando se fala do Pico são portabilidade e independência.

Este projector foi tem essencialmente duas vertentes, apresentações e entretenimento. Por um lado permite a um orador que tenha que se deslocar a algum lado fazer-se acompanhar de uma apresentação, facilitando a comunicação. Por outro, dado que inclui memória interna, um leitor de cartões SD adicional e um pequeno al-tifalante, pode ser usado para, por exemplo, ver um filme na parede de um quarto de hotel.

Dadas as suas pequenas dimensões, não é de esperar que as características técnicas do Pico se afigurem como algum tipo de marco. Ainda assim sπo bastante boas: as projeções têm o for-mato 16:9, sendo a resolução de 854x400; a me-mória interna é de 1GB; tem um brilho máximo de 30 lúmenes o que, apesar de não ser muito e ser facilmente afectado pela luz ambiente, chega para ver numa sala com pouca luz; pesa 300g e a bateria dura algo menos que 2 horas. Aspectos menos positivos do Pico sπo a impossibilidade de ajustar a imagem para compensar uma even-tual inclinação do projector e a inexistência de um telecomando, útil para apresentações.

Com tudo isto o Pico é um projector diferen-te que cumpre aquilo a que se propõe. Com um preço de 319€ certo é que muitos o acharão uma aquisição interessante.

www.samsung.com

Em 2010 a Apple lançou o iPad e este foi, em boa medida, o primeiro tablet a ter um sucesso junto de um público alargado. Por trás deste sucesso está o facto de o iPad ser vocacionado para o en-tretenimento e não para a produtividade.

Como produto de lazer que é, o iPad oferece capacidades de leitura de livros electrónicos a cores, visualização de vídeos, reprodução de mú-sica, navegação na Internet, e-mail e jogos, entre outras. A introdução de texto é feita através de um teclado virtual, que funciona bem mas que não é muito prático para escrita prolongada.

Se o design do iPad faz lembrar o do iPhone, alguns minutos de utilização acentuam ainda mais as semelhanças. É que, de facto, ambos partilham o mesmo sistema operativo, o iOS, o que traz tanto vantagens como inconvenientes. Por um lado é um sistema fácil e intuitivo de utilizar, sendo rápido o acesso αs principais fun-cionalidades e simples instalar novas aplicações através da App Store. Por outro lado não é pos-sível utilizar programas disponíveis para compu-tadores tradicionais. Alguns existem em versões adaptadas para iOS através da App Store, outros não. Aqui há a realçar a falta de suporte para con-teúdos flash na Internet.

O iPad não é, nem tenta ser, um substituto de um PC. É antes dirigido a quem quer aceder a conteúdos de entretenimento, escrever um e--mail ou tomar uma nota de forma rápida. No entanto, com preços a começar nos 500€, é ca-paz de desiludir os que esperavam um produto mais versátil (particularmente para trabalhar), sendo provavelmente os principais compradores pessoas que querem um produto com estas ca-pacidades e estão dispostas a pagar por ele.

www.apple.com

Lançado no início deste ano, o Eee Slate da Asus encontra-se na ponta oposta do espectro de ta-blet PCs em relação ao iPad da Apple. É grande, tem uma bateria que apenas dura entre 3 a 4 ho-ras, traz Windows 7 instalado e usa uma interface táctil tanto de toque como de caneta. Com estas características é leíítimo perguntar para que é que serve este tablet. A resposta mais simples é: "Para fazer o que um tablet de entretenimento não faz."

Se é verdade que o recente mercado de tablets se estabeleceu com base em ecrãs tácteis amigá-veis de utilizar, a falta de uma caneta torna pra-ticamente impossível a realização de algumas tarefas, nomeadamente escrever e desenhar. O Eee Slate é apontado ao nicho de mercado que procura estas funcionalidades.

O Slate vem equipado com um processador poderoso e bastante memória RAM, pelo que lida com um sistema operativo pesado como o Win-dows 7 com facilidade. A presença do Windows 7, por sua vez, permite a instalação de programas mais completos do que os geralmente encontra-dos numa App Store, em particular software de trabalho. Aqui destacam-se por exemplo a uti-lização de Photoshop por artistas gráficos (que beneficiam da caneta com sensor de pressão) e de OneNote para tirar apontamentos (útil em reuniões, aulas, etc.).

Face ao actual mercado de tablets o Eee Slate nπo apresenta propriamente concorrência mas antes alternativa. Preenche um segmento de funcionalidade que não é coberto pelos restan-tes, tendo como público-alvo quem precisa dele para trabalhar. O preço de lançamento nos Esta-dos Unidos foi de $1000, não havendo ainda um preço definido para a Europa.

www.asus.com

Paul

o A

lcin

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Page 21: JUP Março 2011

2011 março jup parêntesis } crítica/11

Uma vida de poeta

CRÍTICA

cinema

música

livros

Taxi Driver

O Que Faz Falta

Cimo da Vila

The Fighter The King's Speech

Open Water Let England Shake

O Anjo Branco

Saiu à rua num dia de greve geral em Portugal e trouxe à lembrança as músicas do mais notável compositor de música de intervenção, num dos mais agitados períodos da história recente em Portugal.Zeca Sempre é um projecto que conta com a participa-ção de Olavo Bilac (Santos & Pecadores), Nuno Guerrei-ro (Ala dos Namorados) e Tozé Santos (Per7ume) e cuja produção esteve a cargo de Vítor Silva. De entre os onze temas, recuperados nesta homenagem, destacam-se “O Que Faz Falta”, “Venham Mais Cinco” e “Que o Amor não me engana” que tal como outrora, apelam à intervenção, mas desta vez, através de “uma linguagem musical ainda mais próxima da sonoridade de hoje”. A tão especial tro-va, entoada também pelas sentimentais vozes das nossas tunas, “Traz Outro Amigo Também”, faz igualmente par-te desta colectânea demonstrando “a vontade de trazer à actualidade as canções que expressam a intemporalida-de da história”. Embora nos tenha deixado em 1987, José Afonso ficou para sempre associado à queda da ditadura em Portugal. Num esforço de recordar aquele que para Portugal foi tão importante, Zeca Sempre é considerado um dos melhores tributos a uma figura tão mediática como foi o autor de Grândola Vila Morena. } Soraia Barros

Um sucesso que rapidamente esgotou a primeira edição, num país onde a ilustração ainda tantas vezes, mal, se confunde com o livro infanto-juvenil e onde os hábitos de leitura só recentemente descobriram as qualidades de projectos deste género, este projecto ousa quebrar com esses preconceitos. Manuela Bacelar, artista plás-tica, mais que reconhecida pelo seu já extenso percurso na ilustração (Os Ovos Misteriosos, Tobias, O Meu Avô, O Dinossauro, Sebastião, Bernardino…), ilustra “Cimo de Vila” em diálogo perfeito com os textos inéditos de Car-los Tê também sobejamente conhecido como escritor e letrista, em particular na parceria com Rui Veloso mas também com os Clã ou os Trovante.“Cimo de Vila” é uma viagem pelo Porto de outros tem-pos, pelo Porto que ainda permanece, os pormenores das vivências, dos quotidianos, dos vícios e qualidades e da arquitectura desta cidade. Remete-nos para uma viagem em jeito de guia por uma cidade que nem sem-pre se percebe ao primeiro olhar. Um livro com exce-lente cuidado gráfico em todos os pormenores da edição “embrulhado” numa capa a imitar o histórico papel de mercearia. } Pedro Ferreira

Mark Wahlberg interpreta Micky Ward, um promissor lutador de boxe que acaba por ver a carreira desmoro-nar ao permitir que a família a controlasse: tem o irmão mais velho Dicky Eklund (Christian Bale), viciado em crack, como treinador, a mãe como manager (que vê nele o sustento da família depois de o filho mais ve-lho ter largado essa função pelo vício do crack), e uma carrada de irmãs que são uma extensão da mãe e que parecem estar ali apenas para fazer número - ficando a ideia de que o único requisito no casting era serem feias e terem um sotaque condizente com a história.Depois “boy meets girl”, ela endireita-o com a ajuda do padrasto (a única pessoa sã na família) e do xerife local e acontece a redenção habitual das personagens e ficam todos “amiguinhos” no fim.É um filme bom. Entretém. Mas não passa disso. Para a memória fica a interpretação de Christian Bale (com uma muito justa nomeação para o Óscar de melhor Ac-tor Secundário) que rouba cena atrás de cena à persona-gem central da história, chegando ao ponto de ficarmos divididos se o grande feito do irmão mais novo é o título mundial ou a reabilitação indirecta do irmão mais ve-lho. } Luís Pedro Ferreira

Acima de tudo, muito bem filmado. Tom Hooper deu uma grande demonstração de classe, numa categoria bem tratada este ano (O. Russel, Aronofsky e o incrivel-mente esquecido Chris Nolan), e guia-nos pel'O Discur-so do Rei num sem número de planos, enquadramentos e momentos belíssimos, sempre aliados a uma excelen-te cinematografia. O argumento é bom - a história do improvável rei Jorge VI de Inglaterra, monarca durante a 2ª Grande Guerra, e do terapeuta que curou a sua profunda gaguez -, mas é ofuscado pela consistência das interpretações: Colin Firth voltou a provar que é um dos maiores da actuali-dade e saca uma performance de um nível muito alto, poderosa, genuína e convincente, do plano emocional ao mais técnico.Geoffrey Rush é um grande secundário, uma daquelas personagens eminentemente cativantes e quase glamo-rosas, mas teve o azar de, este ano, ter um Chris Bale num daqueles papéis-ícone, em The Fighter. Bonham Carter encaixa, como sempre. A banda sonora também não desilude.É um dos grandes de 2010, e um justo vencedor do Ós-car para Melhor Filme. } Paulo Pereira

Há filmes perfeitos? Há: aqueles que por serem tão bons, nos tiram a vontade de lhes ver defeitos. Como Taxi Driver. Perfeito. Seminal, referência geracional, uma obra-prima. Tão à frente da sua época, que podia ter sido feito hoje.É um filme desconfortável, violento e em constante ameaça de nos surpreender com algo sangrento. Essa tensão permanece com o espectador desde que vemos o táxi de Travis Bickle (Robert De Niro) saindo do fumo das sarjetas de Nova Iorque. Scorcese sempre assumiu a sua admiração pelos mestres da sétima arte. Em Taxi Driver há a inquietude de Hitchcock, que não nos larga um só minuto.E há De Niro, na que é, provavelmente, a sua melhor interpretação. Raramente terá o cinema apresentado um psicopata tão perigoso e, no entanto, tão próximo do espectador. O filme fica para a história por ser um compêndio de todas as regras para se fazer uma obra--prima. Taxi Driver marcou as carreiras de Scorcese e De Niro e ditou as regras para muito do cinema que se faz hoje. } Nuno Matos

Há uma Detroit que vive entre os tons cinzentos da ou-trora industrializada cidade do Barreiro. Essa Detroit portuguesa, sustentada pela Hey Pachuco Records, colorida pela tonalidade 60s garage-rock do seu dono Nick Nicotine, vive como peixe saudável em águas con-taminadas. Poucos meses depois de Ghosts And Spirits, Nicotine’s Orchestra não se deixa cair no esquecimento e regressa. Open Water funde rock’n’roll, soul, acid-folk e blues em doses certas. O tema-título recolhe todo o flow necessário à sobrevivência de Carlos ‘Nicotine’ Ra-mos e traduz-se em passos de dança sobre a água. Po-dem fazê-lo sozinhos ou acompanhados. Se o fizerem acompanhados, não se esqueçam de rodopiar bastante nas baladas ao piano crescente como é o caso de “Love And Science” e cantarem em uníssono «Hold My Hand With Pride!». Porquê? Porque o rock’n’roll, além de cor-po e alma, é amor. E o Tio Nick sabe como falar dessa aberração necessária. E fá-lo tão dinamicamente em soul-rock como em folk ácido de “Caroline”. Open Wa-ter é amor gratuito e legal no sítio oficial de Nicotine’s Orchestra. Act-Up! } Ilídio Marques

O livro nasce da exposição na Biblioteca Nacional de Portugal, ultrapassa a categoria de catálogo e materializa em livro o prolongamento da doação feita a esta mesma Biblioteca pela família. Esta última prenda que Sophia de Mello Breyner deixa, são materiais que estavam guarda-dos em dois escritórios e em cerca de 80 caixotes. Fica este livro para ver depois de ver a exposição e para mais tarde recordar pormenores guardados da escritora, poeti-sa que entra no nosso imaginário de vida desde cedo - na escola passamos pela “Fada Oriana” ou pelo “Cavaleiro da Dinamarca”.A parte mais volumosa deste espólio é constituída por manuscritos de textos publicados e inéditos, de poesia e de prosa, inacabados ou em mais de uma versão, e por reflexões sobre poética ou sobre a experiência de escre-ver. A destacar, a escassez de inéditos, dos quais muitos não são mais do que esboços, inícios de qualquer coisa que não surgiu, ou até simples apontamentos de ideias. Não por falta de produção da autora mas porque Sophia escreveu sempre para o mundo e dele nada escondia. } Pedro Ferreira

Nestas duas décadas de Polly Jean, nunca a meni-na esteve tão próxima da ‘progenitora’ Patti Smith no que toca à intervenção e à crítica social como está ao seu oitavo álbum de estúdio. Let England Shake é um disco assumidamente anti-militarista. Uma chapada punk sem ter que se ligar à corrente, pisar a distorção e sequenciar acordes com extrema velocidade. Can-ções minimalistas e letras politicamente marcantes. Paralelo na suavidade das composições a White Chalk de 2007, mas oposto em todo o seu conteúdo. Gravado em cinco semanas numa igreja do Séc. XIX no sudoeste da Inglaterra, demorou três anos a ser composto e obri-gou a cantautora a uma pesquisa intensa sobre conflitos bélicos. O resultado está inteiramente em temas como “Last Living Rose”, “The Glorious Land” ou “The Wor-ds That Maketh Murder” e conta, mais uma vez, com a genialidade de Mick Harvey. A abertura de consciência anti-guerra de Pj Harvey é uma mais-valia no mundo em que vivemos. Let England Shake é, muito provavel-mente, um dos discos do ano. } Ilídio Marques

O último romance de José Rodrigues dos Santos intitula--se “O Anjo Branco” e conta-nos a vida de José Branco, um médico português que parte para Moçambique para lá exercer a sua vocação. No entanto, a sua experiência não é tão calma e pacífica quanto pudemos imaginar pois tudo isto se sucede durante o Estado Novo e a Guer-ra Colonial. De certa forma senti que José Rodrigues dos Santos ficou aquém daquilo a que nos tem habituado. A narrativa prolonga-se demasiado em episódios pouco interessantes da vida do médico e em situações exage-radamente descritivas de cariz erótico. Ainda assim, é um óptimo livro com uma história muito interessante. O autor consegue descrever com qualidade o Portugal antiquado do Estado Novo e o atraso civilizacional vi-vido nas colónias. Para além disso, une e mistura re-alidade e ficção com grande mestria, fazendo com que o livro simultaneamente entretenha e eduque. A obra tem uma nota positiva, e tem ainda um ponto de espe-cial interesse para os alunos da Universidade do Porto, pois a personagem principal estuda Medicina no Porto, e uma parte da história passa-se entre o café “Piolho” e o Hospital Santo António, passando pelas montras de Cedofeita. } António Gonçalves

Zeca Sempre

de Martin Scorcese de David O. Russell de Tom Hooper

de Carlos Tê com ilustração de Manuela Bacelar de Teresa Amado e Paula Mourão José Rodrigues dos Santos

Nicotine’s Orchestra PJ Harvey

críticas de Pedro FerreiraPedro Ferreira | António Gonçalves

Page 22: JUP Março 2011

{ parêntesis jup março 2011

3 QUINTA-FEIRAPORTO HARD CLUB Watain + Shining + Niklas Kvaforth + Aosoth 18€

CASA DA MÚSICANicolai Luganski19:30h – 25€

9 QUARTA-FEIRACOLISEU DO PORTO Gogol Bordello + Che Sudaka21H - A PARTIR DE 23€

13 DOMINGOCOLISEU DO PORTOKatie Melua21H - A PARTIR DE 30€

CASA DA MÚSICADavid Fonseca21H30, 17,50€

31 QUINTA-FEIRACASA DA MÚSICAExpensive Soul22h - 10€

12/cardápio

emMÚSICA TEATRO EVENTOSEXPOSIÇÕES

3 - 12TEATRO CARLOS ALBERTOFilme do Desassossego

17 DE MAR A 17 ABRTEATRO NACIONAL DE SÃO JOÃOExactamente Antunes

25 DE MAR A 3 DE ABRTEATRO CARLOS ALBERTOGlória ou como Penélope morreu de tédio

8 A 17 DE ABRTEATRO CARLOS ALBERTOAzul longe nas colinas

27 DOMINGOCASA DA MÚSICAA Febre

ATÉ 31 DE MARFUNDAÇÃO DE SERRALVESConferência Arte, Política, GlobalizaçãoTERÇA A DOMINGO - 10H00 ÀS 22H00

ATÉ 30 DE JUNFUNDAÇÃO DE SERRALVES Conferência O Imaterial: Os Novos Paradigmas da ContemporaneidadeQUINTA - 21H30 ÀS 23H005€

13 DOMINGOCLUBE LITERÁRIO DO PORTOSessão Mantra10H00

Lançamento do livro «Da Valsa ao Rock’n’Rol»17H00

9 - 13TEATRO HELENA SÁ DA COSTASemana Aberta da ESMAESEGUNDA A SEXTA - 17H30

ATÉ 29 DE MARBIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL DO PORTOTeatro de SombrasTERÇAS-FEIRAS, 11H

PERMANENTEMUSEU NACIONAL DA IMPRENSAPortoCartoon: O Riso do MundoTODOS OS DIAS DAS 15H00 ÀS 20H00

PERMANENTEMUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕESO Automóvel no Espaço e no TempoTERÇA A SEXTA - 10H00 ÀS 18H00SÁBADO, DOMINGO - 15H00 ÀS 19H003€

PERMANENTEMUSEU NACIONAL DA IMPRENSAMemórias Vivas da ImprensaTODOS OS DIAS DAS 15H00 ÀS 20H002€ TODOS; 1€ ESTUDANTES E REFORMADOS

ATÉ DIA 10GALERIA POR AMOR À ARTEEsculturas no ParqueQUARTA, QUINTA E SEXTA - 15H00 ÀS 19H00SÁBADO - 15H00 ÀS 23H00

ATÉ 17 JULJARDIM BOTÂNICO DO PORTOA Evolução de DarwinTERÇA A SEXTA DAS 10H00 ÀS 18H00SÁBADO E DOMINGO - 10H00 ÀS 19H004€ (COM DESCONTOS)

ATÉ DIA 20KUBIK GALLERYWelcome to YourselfQUINTA E SEXTA - 17H00 ÀS 20H00SÁBADO - 16H00 ÀS 20H00

Page 23: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011

AGENDA

14 a 17 DE MARÇOXI PORTO DE EMPREGOFaculdade de Economia da U.Porto (FEP)Inscrições: 7 a 25 de MarçoMais informações: http://www.portodeemprego.pt; [email protected]

17 a 20 DE MARÇO9.ª MOSTRA DE CIÊNCIA, ENSINO E INOVAÇÃO DA U.PORTOPavilhão Rosa Mota (Palácio de Cristal)Dias 17 e 18: das 10h às 19h; Dia 19: das 11h às 23h; Dia 20: das 11h às 19hEntrada livreMais informações em http://mostra.up.pt

22 DE MARÇODIA DA UNIVERSIDADE DO PORTOSerenata Monumental, Praça Gomes Teixeira, 00h01Sessão Solene, Salão Nobre do Edifício Histórico da Universidade / Reitoria, 16h Concerto de Música Sinfónica portuguesa, Coliseu do Porto, 21hMais informações em http://centenario.up.pt/

23 e 24 DE MARÇOCONFERÊNCIA DO CENTENÁRIO: “PREPARAR O FUTURO”Auditório da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP)Pré-inscrição (gratuita) até dia 15 de Março para [email protected] informações: em http://centenario.up.pt/

29 a 31 DE MARÇOFEUP FIRST JOB 2011Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP)Inscrições: 7 a 25 de MarçoMais informações: http://paginas.fe.up.pt/~firstjob/pt/; [email protected]

U.PORTO 11U.PORTO

U.Porto Mostra 100 anos de inovação à cidade9.ª MOSTRA DE CIÊNCIA, ENSINO E INOVAÇÃO DA U.PORTO CHEGA AO PAVILHÃO ROSA MOTA DE 17 A 20 DE MARÇO. EVENTO SERVE DE “APERITIVO” PARA O DIA DA UNIVERSIDADE.

Novo recorde de estudantes estrangeiros

E stão abertas até 25 de Março as candida-turas à segunda edição do concurso de ideias de negócio iUP25K, promovido

pela Universidade do Porto. Visando incentivar e distinguir iniciativas empreendedoras geradas no seio da Universidade (mas não só), este con-curso propõe um valor acumulado de prémios de 25.000 euros, o que perfaz um dos maiores prémios do género no país.

Reunir ideias para produtos e/ou serviços ino-vadores e com elevado potencial para desenvol-vimento é então o desafio lançado por esta ini-ciativa pioneira da U.Porto. À espera da melhor ideia existe um Prémio de 15.000 euros. A con-curso estão também dois prémios de 5.000 euros para as melhores ideias provenientes de equipas compostas, maioritariamente, por elementos do sexo feminino ("Empreendedorismo Feminino")

e estudantes do primeiro ciclo da U.Porto ("Em-preendedorismo Jovem"). Haverá ainda uma Menção Honrosa para a ideia mais votada pelo público durante a Etapa Final do iUP25k, que terá lugar na Reitoria da U.Porto, a 12 de Maio.

Para chegarem a esse momento final, as equi-pas participantes terão que ultrapassar uma Etapa Geral, na qual um painel de peritos vai seleccionar as 10 melhores ideia. Pelo meio, os 10 finalistas vão participar numa acção na EGP--UPBS, onde vão preparar o exercício de “eleva-tor pitch” - o Pitch me UP – que será apresentado na sessão final.

O regulamento e os formulários do concurso estão disponíveis no site http://iup25k.up.pt/. Pelo menos um elemento de cada equipa deve ser estudante ou antigo estudante de um curso de graduação ou pós-graduação da U.Porto. Arrisca! •

S ó em 2010/2011, mais de 1552 estudantes es-trangeiros estudaram ou vão estudar na Uni-versidade do Porto ao abrigo de programas

internacionais de mobilidade no Ensino Superior. Junte-se-lhes os 1229 que estão a realizar cursos completos nas 14 faculdades da U.Porto e o núme-ro sobe para 2781, o que constitui um novo máxi-mo na história da maior universidade portuguesa.

Relativamente aos estudantes de mobilidade, e num momento em que a contagem ainda não está finalizada, os números deste ano traduzem já um aumento de quase 12 % face a 2009/2010, ano em que a U.Porto recebeu 1390 estudantes ao abrigo dos mais diversos protocolos de coopera-ção. Trata-se de um valor que espelha o constante esforço de internacionalização desenvolvido pela Universidade e traduzido, não só no aumento do número de estudantes, mas também na posição de liderança assumida pela Universidade em vá-rios consórcios internacionais e na subida regista-da nos principais rankings de universidades.Confirmando a tendência verificada nos últi-mos anos, o Brasil é o país que mais estudantes

(681)"exporta" para a U.Porto em 2011. Seguem--se países como Espanha (232), Itália (128), Poló-nia (71), República Checa (64), Turquia (47) e Ale-manha (39), clientes habituais da Universidade através do programa Erasmus. Entre as 57 nacio-nalidades representadas encontram-se ainda paí-ses como Nicarágua, Vietname, Japão, Índia, Cos-ta do Marfim, Estados Unidos, Togo, entre muitos outros onde a marca “U.Porto” já é reconhecida.

Reflectidos no ambiente multicultural e cos-mopolita que se “respira” hoje no campus da U.Porto, os números agora divulgados ganham então ainda maior expressão se forem considera-dos os 1.229 estudantes estrangeiros que estão a realizar cursos completos (licenciatura, mestra-do ou doutoramento) nas 14 faculdades da Uni-versidade. Todos juntos representam já mais de 8% do número total de estudantes da instituição.

A U.Porto oferece actualmente uma vasta gama de serviços de apoio aos estudantes estran-geiros, cuja qualidade é reconhecida internacio-nalmente. Isso mesmo ficou patente na sessão que a Universidade organizou no passado dia 4 de Março, no edifício da Reitoria, como forma de dar as boas-vindas aos estudantes de mobilida-de que ali chegam no segundo semestre. Como é habitual, o evento serviu como uma primeira apresentação da cidade e do país e marcou o início do programa de recepção e integração or-ganizado pela ESN – Erasmus Student Network (ESN-Porto), organização composta por estu-dantes que já participaram em programas de in-tercâmbio internacionais. •

De 17 a 20 de Março, centenas de estudantes, investigadores, do-centes e colaboradores da Uni-versidade do Porto vão estar no Pavilhão Rosa Mota (Palácio de Cristal) para abrir as portas da

Ciência e do Conhecimento à sociedade. Assim se lança a 9.ª Mostra de Ciência, Ensino e Inova-ção da U.Porto, o evento que se prepara para ani-mar o centro da cidade, tendo como pano de fun-do as celebrações do Centenário da instituição.

Com entrada totalmente gratuita, a Mostra des-te ano será um local privilegiado para a recolha de informação sobre os mais de 50 cursos de licen-ciatura e de mestrado integrado oferecidos pelas 14 faculdades da U.Porto. À espera dos visitantes estarão quatro dias de informação e descoberta num espaço pensado para receber estudantes de todas as idades, famílias ou meros curiosos.

Para além das actividades e experiências pre-sentes nos stands elaboradas por estudantes da U.Porto, 9.ª Mostra da U.Porto apresenta várias novidades ao longo dos quatro dias de exposi-ção. Inserido nas comemorações do Ano Inter-nacional da Química, o espectáculo “Química à Mostra” reproduzirá algumas experiências que marcam a história daquela disciplina. No segun-do dia, a Mostra viaja “Da Floresta para a Mesa” com o chef Hélio Loureiro que vai preparar 3 pratos com ingredientes de origem florestal. Já a 19 de Março, tem lugar a Final do concurso de pontes de esparguete promovido pela Faculdade de Engenharia. “O dia em que as pontes caíram” terminará com a destruição das estruturas cria-das pelos estudantes.

A Mostra da U.Porto é ainda ocasião para co-nhecer as últimas novidades geradas na maior universidade portuguesa. É isso que vai poder ser feito na companhia de Yago de Quay, estu-dante do mestrado em Multimédia da FEUP que vai mostrar as potencialidades da ligação entre movimento e expressão sonora utilizando um fato com sensores que, pelo seu movimento, provocará sinfonias electrónicas no computador. Presente estará também a Universidade Júnior, o projecto que dá a milhares de alunos do ensino

básico e secundário a oportunidade de experien-ciarem, ao longo do Verão, as vivências dos estu-dantes da U.Porto.

A 9.ª edição da Mostra da U.Porto está aberta nos dias 17 e 18 de Março, quinta e sexta-feira, das 10 às 19 horas; sábado das 11 às 23 horas; e domingo das 11 às 19 horas. Para mais informa-ções visita http://mostra.up.pt.

› UNIVERSIDADE EM FESTAInserida nas comemorações do Centenário da U.Porto, a Mostra 2011 constitui a rampa de lan-çamento para o Dia da Universidade, a celebrar no dia 22 de Março. Na data em que assinalam os cem anos sobre o decreto que criou a U.Porto, caberá aos estudantes lembrar a efeméride logo nos primeiros minutos do dia, em plena Praça dos Leões, ao som da “Serenata Monumental”. Horas mais tarde, o Presidente da República, o Reitor da U.Porto e outras personalidades da vida académica e pública de todo o país vão juntar--se no Salão Nobre da Reitoria para a Sessão So-lene do Dia da Universidade. A sessão deste ano terá como orador convidado o filósofo Eduardo Lourenço. Em representação dos estudantes da U.Porto falará Luís Rebelo, estudante da FEUP e actual presidente da Federação Académica do Porto (FAP). Pela noite, os festejos convidam a cidade a rumar ao Coliseu do Porto, palco de um concerto de música sinfónica portuguesa, a cargo da Orquestra do Norte.

Depois do Dia da Universidade, as celebrações do Centenário prosseguem nessa mesma sema-na, com mais um evento que promete mobilizar toda a comunidade. Reunindo pensadores por-tugueses e estrangeiros ligados às várias áreas do Conhecimento, a Conferência do Centenário (23 e 24 de Março) será ocasião para avaliar o passa-do e “PREPARAR o FUTURO” da maior universi-dade portuguesa.

Para mais informações sobre as iniciativas in-tegradas nas celebrações do Centenário, visita o site http://centenario.up.pt. •

iUP25k: Atreve-te!

textos Tiago Reis/ Gabinete de Comunicação da Reitoria da U.P.

Page 24: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011SOCIEDADE12

Are you short on cash?TRY SQUATTING!

texto Ieva Balodetradução Aline Flor

So…you are traveling and have decided to stay in one place for a longer period of time, maybe find a job, but you have little money and your bohemian soul doesn’t let you stay at a hostel. You are a free,

roaming soul that needs a roof over your head... what to do? Well - try squatting!

„Squatting” means occupying empty buldings and what you do in them, while you occupy them, is up to you! The most interesting part is that squating is not illegal – as long as you don’t do any

damage and look after it there is no way you will get arrested. But you DO have to

be smart about it – don’t let anyone in, always stay

in the place or m a k e

sure that someone from your friends is there, because then the police can’t legally get in, but also be sure that one day you might get evicted.

Sometimes the owners of abandoned houses are the persons most interested in having someone in the house to look after, take care of it and maybe repair some damages there.

Sebastian* and his friends live in a squat in Barcelona for almost a year now. They were lucky, because they met the right people at the right time. After having slept on the park benches for several nights, they met a buch of cool people that were moving out of their „home”. They gave the set of keys to Sebastian and gave not only the address of the place, but also some basic instructions how to use the water and electricity. Although it is not the right way – use electricity from the street and „borrow” the water from your neighbours, it does work for 4 people.

The really smart thing is to do a research about the laws of the specific country you are staying in and on the owners – sometimes a building is unoccupied, because of selling the property

or changing the owners, maybe a license to build is awaited, but sometimes they

are in such a bad shape that nor the owner, nor the City wants to take care

of it and they let it be.Squating for Sebastian, Gill, Juliet and

Mark is not only a life necessity, but also a lifestyle now. The girls took care of the

„atmosphere” of the place – painted walls, took in some old, broken TV’s to

make more artistic and comfortable view of the site, while re-build the

stairs, windows and some places of the floor. As Sebastian says:

„You can get everything you need either on the streets, if you

know where to look or arrange it as a „payment” after some

short-term work you have done. It really isn’t that

bad – nothing too fancy either, but you can live!”

And asked about what squating means to

him, he answered that it basicaly is only

a „second-hand house that needs

to be re-used, not to let it crash...”

I wouldn’t

› TRADUÇÃO

B em… estás a viajar e resolves ficar nalgum sítio por um tempo mais longo, talvez en-contrar um trabalho, mas tens pouco di-

nheiro e a tua alma boémia não te permite ficar num hostel. És uma alma viajante que precisa de um telhado sobre a cabeça? Bem… experimenta o squatting!

“Squatting” significa ocupar edifícios abando-nados, e o que tu fazes neles, enquanto os ocupas, está por tua conta! A parte mais interessante é que estas ocupações não são ilegais – desde que não causes nenhum dano e que cuides do espaço, não é por isso que vais preso. Mas TENS que ser es-perto: não deixes ninguém entrar, fica sempre no sítio ocupado ou assegura-te que algum dos teus amigos fica por lá, porque nesse caso a polícia não consegue entrar legalmente, mas podes contar que um dia podes ser expulso.

Por vezes, os donos das casas abandonadas são as pessoas com maior interesse em ter al-guém que tome conta do edifício ou até conserte alguns danos.

dare to speak about concrete streets, as I am pretty sure that somebody wouldn’t appreciate the true nature of squating and would expel the people consuming the space, but there are loads of buildings like mine in Porto, Lisabon and other cities of Portugal. Sometimes it is the best place where to meet not only new friends, but also learn a lot of new things – how to fix a drawer just with a knife, learn about the arts of music and literature as mostly people living in this kind of houses are a bit alternative in their thinking, but it is also a place without judgement”.

Probably it is unnecessary to say that usually the owners of the house are not aware of the events happening at their property or simply don’t care. House squating is very common in south countries like France, Spain and Portugal, because it is warm enough and it is impossible to drag lots of attention as there are so many empty buildings. But it is getting more popular in other European countries as well... Please, don’t misunderstand – squatting actually has been here all along, but as a lifestyle person chooses – only on the last couple of years. And guess what – maybe the empty looking, wrecked building from outside you pass every day actually is boiling over with life inside. You never know!

-> Names are changed in this article.

"Júlio" e os amigos vivem numa ocupação em Bar-celona há quase um ano. Tiveram sorte, porque conheceram as pessoas certas na hora certa. De-pois de terem dormido em bancos de jardim por algumas noites, conheceram um grupo de gente porreira que estava a mudar-se da sua “casa”. Eles deram as chaves ao Júlio e deram-lhes não só a morada do sítio, mas também algumas instruções básicas sobre como usar a água e a electricidade. Apesar de não ser a atitude correcta – usar a elec-tricidade da rua e “pedir emprestado” a água dos vizinhos – funcionou para estas quatro pessoas.

O melhor a fazer é pesquisar sobre as leis do país onde estás e também sobre os próprios donos da casa – por vezes um edifício está abandonado porque está à venda ou a mudar de mãos, talvez à espera de alguma licença para obras, mas por ve-zes é por estarem em tão mau estado que nem o dono nem a Câmara querem resolver o problema e simplesmente deixam-no estar.

A ocupação não é só uma necessidade para Jú-lio, Gustavo, Joana e Mário, mas hoje em dia é tam-bém um estilo de vida. As raparigas encarregam--se da “atmosfera” do lugar – pintaram as paredes, trouxeram umas televisões velhas e partidas para criar uma vista mais artistic dolugar, além de re-construírem as escadas, janelas e alguns pontos do chão. Como diz Júlio, “podes ter tudo o que precisas na rua, se souberes para onde olhar ou souberes negociar isso como um ‘pagamento’ por algum trabalho de curta duração. Não é assim tão mau – nem muito extravagante, também, mas dá para viver!” E, perguntado sobre o que o squatting significa para si, responde que é basicamente uma “casa em segunda-mão que precisa ser reutiliza-da, e não transformada em ruínas”.

“Não me atrevo a citar ruas em concreto, por-que tenho a certeza que algumas pessoas não vão gostar muito da real natureza das ocupações e ex-pulsariam as pessoas consumindo o espaço, mas existem imensos edifícios como o meu no Porto, Lisboa e outras cidades de Portugal. Às vezes é o melhor lugar não só para fazer novos amigos, mas também aprender um monte de coisas novas – como consertar uma gaveta só com uma faca, aprender sobre artes como música e literatura, já que muitas das pessoas que vivem neste tipo de casas são um pouco alternativas na sua maneira de pensar, mas é também um lugar livre de jul-gamentos”.

Provavelmente é desnecessário dizer que, por norma, os donos da casa não têm conhecimento do que acontece na sua propriedade, ou simples-mente não se importam. As ocupações são muito comuns em países do Sul, como a França, Espa-nha e Portugal, porque são mais quentes e não se chama muito a atenção porque existe uma série de edifícios abandonados. Mas está a tornar-se mais popular em outros países da Europa…

Por favor, não interpretes mal – as ocupações acontecem desde sempre, mas só nos últimos anos surgiu como um estilo de vida. E, quem sabe, talvez o edifício aparentemente abandonado e destruído por fora, por onde passas todos os dias, na realidade esteja a fervilhar de vida por dentro. Nunca se sabe!

-> Os nomes neste artigo são fictícios.

Page 25: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011 SOCIEDADESOCIEDADE 13

Fugas low-cost pós-examesSÃO MUITOS OS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR QUE APROVEITAM OS POUCOS DIAS DE FÉRIAS PARA DESCOBRIR A EUROPA A BAIXO CUSTO.

Aeroporto Sá Carneiro (Porto)

Emanuel Boavista"Contava gastar menos dinheiro",diz-nos , aluno da Universidade do Mi-nho, acerca da sua fuga para Londres no fim da época de exames. Optou por viajar em low-cost por razões óbvias. Nos dias que correm são muitos os que dispensam o luxo e o conforto das companhias aéreas tradicionais. Ema-nuel já tinha viajado a baixo custo. No entanto, foi a pressão do ensino supe-rior (frequenta o 1º ano da licenciatura em Ciências da Comunicação) que o levou a escolher a época de pós-exa-mes, o único espaço de tempo onde está “realmente de férias”.

Uma viagem deste género, com es-tadia de cinco noites, ronda, em mé-dia, os 150€. Isto se optar por ficar em hostels. O que acontece na maioria dos casos, pois quem viaja em low-cost quer dispender o mínimo de dinheiro possível. Outra das opções é o Projecto CouchSurfing, “um serviço de hospi-talidade com base na Internet”. Ainda assim, a alternativa mais barata, e um dos motivos fortes para ter sido Lon-dres o destino escolhido por Emanuel, é ficar alojado em casa de conhecidos não tendo qualquer gasto.

Bruno SenraFoi também por poder usufruir de via-gem e alojamento gratuitos que Bruno Senra, estudante de Direito da Facul-dade de Coimbra, viajou até Paris na mesma altura. Apesar de não se poder optar, quando é oferecido tudo se tor-na menos complicado. Ou talvez não. Bruno não estava realmente de férias e foi convocado para uma avaliação oral na semana da viagem. Este caricato, mas infeliz episódio, levou à antecipa-ção da viagem de regresso.

Ana BritoMais experiente nesta área, chegou a trabalhar em part-times para poder viajar. “Já viajei pela Ryanair para Lon-dres, no verão de 2009. Saiu um boca-do mais caro por ser época alta mas, em contrapartida, não tinha despesas de faculdade”, conta-nos a aluna da FLUP.

Este ano optou por viajar, sempre em low-cost, no fim de Fevereiro. A mudança deveu-se ao facto de nesta época os hostels serem mais baratos e haver menos confusão. O destino esco-lhido foi Madrid e, por ser substancial-mente mais perto, as viagens ficaram mais baratas. O objectivo da viagem é visitar a ARCO (Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid), o que não seria possível se esta não se reali-zasse no período pós-exames. •

BarcelonaEmbora não seja capital, Barce-lona, em Espanha, é também um dos destinos mais procurados pelos estudantes portugueses. Não só pela curta distância, e, consequentemente, pelos preços irrisórios, mas também pelo mo-vimento cultural e juvenil que a cidade está a viver.

Continuando na onda das promoções, HelloBCN é uma óptima escolha para quem quer passar algumas noites na capital catalã. Embora não seja um dos hostels mais bem localizados, é um dos mais seguros e, neste momento, um dos mais baratos, sendo que € 11 é o suficiente para uma noite. O preço da viagem é equivalente ao preço da viagem para Madrid, ou seja, € 7.

LondresPor pouco mais de € 18 pode partir do Porto com destino a Londres (Gatwick), também pela Ryanair. Para aterrar em Londres (Stansted) terás que pagar um pouco mais. Se não tiveres onde ficar alojado nos próximos tem-pos na capital inglesa, podes e deves aproveitar a promoção de um dos mais conceituados hos-tels londrinos, localizado perto do London Eye e do Big Ben, o The Walrus Waterloo. Duran-te esta promoção os preços do hostel para dormidas em quartos partilhados rondarão os € 14. Se não chegares a tempo da promo-ção, podes sempre optar pelo St. Christopher’s Inn, localizado em Camden e direccionado para os jovens. A tabela de preços não se distancia da dos anteriores.

André MotaTambém estudante da FLUP, nunca teve oportunidade de viajar, nem de andar de avião. Encontra nos low-cost a opor-tunidade de o fazer, segundo o mesmo, “pelos preços praticados”. Não tem destinos de eleição embora lhe agra-dem em especial as capitais europeias. Como a maior parte dos estudantes.

A maioria dos jovens vê nas viagens a custo baixo a única possibilidade de conhecer além-fronteiras, preten-dendo, essencialmente, a partir delas fazer turismo cultural, aproveitando ainda a noite das principais capitais europeias para se divertirem e rela-xarem depois do stress dos exames. Para além disso, existe a vantagem de os preços serem ainda mais baixos do que nas épocas altas.

“Destinos específicos não tenho, embora haja a natural (e penso que co-mum) admiração pelas principais capi-tais e o interesse máximo em conhecer novas e distintas culturas. Portanto, o tipo é o menos. É o que a vontade, o tempo e o dinheiro permitam”, conclui.

PARA QUEM ESTÁ A PENSAR FUGIR, O JUP DEIXA DICAS COM BASE NA RELAÇÃO DE QUALIDADE-PREÇO E ALGUNS CONSELHOS SOBRE AS CIDADES MAIS PROCURADAS PELOS JOVENS ESTUDANTES.

MadridEm Madrid, perto dos mais im-portantes museus da cidade, encontra-se o MadHostel. Cons-tituído apenas por quartos parti-lhados, é um dos mais bem pon-tuados nos rankings cibernéticos. O preço de € 13 por noite é único. É possível viajar a partir do Porto até à capital espanhola por cerca de € 7, sem taxas, pela compa-nhia aérea inglesa Ryanair.

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por Alexandra João

Page 26: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011INTERNACIONAL E ECONOMIA INTERNACIONAL14

Ensino enfrenta travessia no deserto

Energias Renováveis

11

Ir ao fundo com o Fundo

O FMI é uma organiza-ção que foi criada logo após a segunda guerra mundial (1945) num acordo entre alguns

países com o desígnio de servir para monitorizar o sistema de câmbios e o sistema financeiro mundial.

A sua acção centra-se em duas ac-tividades: assistência técnica (emissão de pareceres e lançamento de infor-mação económica e financeira) e as-sistência financeira (concede emprés-timos aos países).

› ONDE ACTUA O FMIQuanto aos pareceres que emite, há que salientar que, antes da recente crise financeira, os economistas do FMI optaram por uma atitude negli-gente, baseando-se em teorias eco-nómicas que negam a existência de bolhas especulativas e defendem que a regulação é um entrave à eficiência

económica; como aliás admitiram recentemente os responsáveis pelo Independente Evaluation Office, ins-tituto pertencente ao FMI que é res-ponsável por monitorizar e avaliar a instituição: por preconceito ideológico a instituição ignorou os vários sinais e indícios que apontavam para o crash.

Quanto aos resgates (assistência fi-nanceira), qualquer país membro do FMI que esteja com extremas dificul-dades em termos de dívida pública ou balança de pagamentos (dívida ex-terna) pode pedir um empréstimo ao FMI: o que acarreta sempre contrapar-tidas para os países resgatados.

São estas contrapartidas exigi-das que se traduzem em políticas de austeridade (que têm o objectivo de reduzir a dívida pública) das quais resultam recessão económica, desem-prego, desinvestimento nos serviços públicos e aumento da pobreza e das desigualdades sociais.

› AJUDAS QUE NÃO AJUDAMBasta observarmos o que está a acon-tecer na Grécia e na Irlanda para cons-tatar que as suas economias não estão a recuperar após o empréstimo con-traído ao FMI. Isto porque, além das políticas proclíticas impostas, os paí-ses têm ainda de pagar juros elevados ao FMI e ainda continuam a ser pena-lizadas quando querem vender dívida pública no mercado financeiro. Os in-vestidores e especuladores têm-se re-velado insensíveis mesmo perante as medidas extremas do FMI: as agências de rating americanas continuam em roda livre perante a apatia das institui-ções europeias que tardam na criação de uma agência de rating europeia, que não seja financiada pelos mesmos interesses que beneficiam da atribui-ção de más classificações.

No caso português, é interessante tentar perceber o discurso de Sócra-tes que, depois de ter implementado as políticas de austeridade traduzidas nos PEC I, II e III, tem-se apresentado como o defensor da soberania demo-crática, do estado social e dos funcio-nários públicos contra o FMI. Parece que o governo não quer o ónus de ter entregue o destino das políticas eco-nómicas nacionais a uma instituição cada vez mais descredibilizada, es-pecialmente aquelas que se lembram das duas intervenções que o Fundo já teve no país.

› MUDA A EMBALAGEM, O CONTEÚDO É O MESMOMas, a verdade é que, estamos numa situação em que é como se o FMI já cá estivesse. Portugal tem andado a prestar contas do seu endividamento à Comissão Europeia e as negociações sobre o Fundo Europeu de Estabiliza-ção têm sido duras. As exigências da Comissão Europeia são as mesmas do FMI e resultarão no mesmo impacto económico e social: compressão da

massa sa-larial, faci-lidade nos d e s p e d i -m e n t o s , imposição constitucio-nal de um tecto para o défice, pri-v a t i z a ç ã o s e r v i ç o s

públicos, etc. Ou seja, muda a emba-lagem, o conteúdo é o mesmo.Contu-do o governo tem-se debatido contra a posição da Alemanha e contra o que estava previsto: uma actuação conjun-ta do Fundo Europeu e do FMI.

Isto porque os governos dos estados periféricos encontram na comissão europeia um “peixe” mais fácil de vender do que o FMI. A transferência de poder político para as instituições europeias acaba por ser mais fácil de aceitar, resultado do longo consenso gerado pela construção europeia - e pela sua extraordinária propaganda.

Há quem diga que é inevitável (de-vemos sempre questionar com muita atenção as inevitabilidades), há quem diga que é necessário (resta saber, para quê?), há quem diga que o governo é incapaz de disciplinar as finanças pú-blicas (e não haverá mais ninguém se-não o FMI?).

O certo é os países da periferia pare-cem estar condenados às políticas de austeridade, ao desemprego, incerteza laboral, salários mais baixos, diminui-ção das bolsas de estudo e outros de-sastres, só que desta vez não é o FMI (ou pelo menos não será só ele) o res-ponsável directo.

É pois urgente que surjam alterna-tivas políticas – constata-se é que os consensos de Bruxelas não as têm en-contrado. • Amarílis Felizes

O impacto da crise económica na sociedade portuguesa re-flecte-se também e com parti-

cular gravidade no ensino superior. São cada vez mais evidentes diversos tipos de problemas como sejam a crescente dificuldade de acesso e continuidade no mesmo, a atribuição de bolsas, a frequência de estágios e o ingresso no mercado de trabalho compatível com a formação obtida. Este último ponto merece particular atenção.

Existe uma desadequação de muitas licenciaturas em relação às necessida-des do mercado de trabalho, mas tam-bém uma pouca dinâmica empresarial (as empresas ainda não conseguem absorver os recursos que as faculdades estão a formar) e ainda outros factores que se relacionam com as actuais ca-racterísticas do mercado de trabalho. De acordo com Carlos Firmino Costa, formado na área de gestão, “a econo-mia terá de crescer dentro de um in-tervalo entre 2% e 3% para que haja uma crescente absorção dos procura-dores de emprego, o que não se veri-fica actualmente e, provavelmente, não se verificará dentro dos próximos 3 anos”. Ainda assim, o mesmo acre-

dita que não se pode falar num pro-blema específico de empregabilidade com os jovens licenciados, mas antes um problema de dinamismo que não possibilita à economia real absorver a totalidade da população activa, o que afecta inevitavelmente os licenciados. Estes, numa situação de retoma, esta-rão naturalmente em melhor situação.

Para além destes desencontros, há que realçar a tão actual questão dos empregos precários. Nas palavras de Carlos Firmino Costa, “a questão tem de ser vista na seguinte perspectiva: se isso significa que, com a finaliza-ção de um curso, seria de esperar um emprego imediato e com todas as con-dições de segurança e previsibilidade, tal cenário já não existe nas socieda-des modernas, caracterizadas por uma economia de mercado e em constante competição num mundo globaliza-do”. Segundo o mesmo, numa fase inicial de carreira, é de esperar que os jovens se encontrem numa situação de afirmação profissional caracteriza-da por trabalhos que não correspon-dam de imediato às suas expectativas, nomeadamente a remuneração. Por isso torna-se imperativo, nesse caso,

uma aposta na evolução que corres-ponda às exigências, sendo que cada vez mais o nível de qualificação do in-divíduo será determinante. Neste con-texto, os estágios não remunerados proporcionam uma mais probabilida-de de emprego, dando competências e mantendo os jovens em contacto com o mundo real do trabalho. Espera-se que isso os ajude a entrar no merca-do de trabalho mais rapidamente, mas é preciso ter em conta que num am-biente pouco gerador de emprego são os que tentam entrar neste mercado que mais dificuldades sentem em re-lação aos que nele já estão inseridos.

Só no longo prazo se pode esperar que a situação económico-financeira nacional melhore, mas até lá a solu-ção passa por uma aposta na formação profissional que vá de acordo às neces-sidades de mercado e que seja cons-tante, porque num contexto em que existem “sete cães a um osso”, serão os mais aptos que conseguirão encontrar emprego e realizar-se. • Jessica Martinez

D e acordo com o “Portal Ener-gia” em 2011 cada consumi-dor pagará 171 euros em subsí-

dios dedicados às energias renováveis, ou seja, pouco mais do que 14 euros mensalmente. Este valor aumentou em relação ao observado em 2010 e, dado o cenário económico que nos ro-deia, é bem possível que nos próximos anos o consumidor veja ainda mais di-nheiro sair-lhe do bolso através de um sobrecusto nas facturas mensais.

E tudo isto está enquadrado na po-lítica de incentivos à Produção em Regime Especial (PRE) que se desti-na à promoção do aproveitamento de energias renováveis. Contudo no con-texto actual em que Portugal se en-contra, será que estamos perante um bom investimento? Isto é, será que as energias renováveis são assim tão po-sitivas e rentáveis que peçam um cus-to tão astronomicamente elevado que valha a pena?

Dado que produzir energias reno-váveis constitui um processo bastante caro (principalmente pelos investi-mentos e infra-estruturas que pede) é de reflectir se estas valem verdadeira-

mente a pena e se são o futuro como tanto se apregoa. Em tempos de crise talvez seja insensato uma forte apos-ta nestas fontes energéticas que, para serem implementadas, elas próprias poluem devido à construção das infra--estruturas necessárias.

Tendo estes aspectos em considera-ção, acrescente-se o facto de serem as grandes empresas a lucrarem com a si-tuação e aí teremos uma resposta mais clara às questões que se colocam, uma vez que são elas que conseguem as li-cenças para os projectos de grande en-vergadura. Como consequência acres-cente-se ainda, naturalmente, o facto de essas mesmas empresas deterem monopólios na produção de energia….

Mas a questão central continua: apesar da relação negativa custo--benefício para o consumidor (a curto prazo) falamos de um investimento que se tornará benéfico a nível colec-tivo e não uma máquina gigante de fa-zer dinheiro? • Jessica Martinez

MUITO SE FALA SOBRE A POSSÍVEL ENTRADA DO FMI EM PORTUGAL. O JUP EXPPLICA O QUE É, O QUE FAZ E O QUE PODE ACONTECER NO NOSSO PAÍS COM A SUA INTERVENÇÃO.

Page 27: JUP Março 2011

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JUP — MARÇO 201116 DESPORTO DESPORTO

Espaços desportivos da UP ainda são uma fragilidade

A ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO CONSEGUIU UMA PARCERIA PARA QUE OS SEUS ESTUDANTES POSSAM ALUGAR UM PAVILHÃO DESPORTIVO DE FORMA GRATUITA. A INICIATIVA É ACTUALMENTE ÚNICA NA UNIVERSIDADE DO PORTO, QUE AINDA TEM UMA OFERTA DE ESPAÇOS DESPORTIVOS REDUZIDA.

A parceria com a Arena Futsal sur-giu das negociações relativas ao aluguer do espaço para a edição deste ano lectivo da liga Futsal. Já havia ideia de “comprar” mais horas para disponibilizar a

um preço reduzido para os estudantes. Contudo, quando foi pedida à Direcção da Faculdade de Engenharia para apoiar financeiramente a ideia, só fazia sentido que o pavilhão pudesse ser utili-zado a custo zero por parte dos estudantes.

Apesar de só ter sido implementada desde o final de Janeiro, desde Outubro que a AEFEUP tem vindo a trabalhar no projecto “tivemos de analisar todos os prós e contras para convencer a direcção da FEUP”, afirma Ricardo Costa. Por imposição da FEUP, para já o contrato será válido até 21 de Julho. Se, após uma análise, se verificar que esta iniciativa correr bem e se der continui-dade ao projecto, esta começaria desde o início do próximo ano lectivo.

texto Francisco Motafotografia Vera Covêlo Tavares

Só a comunidade da FEUP (incluindo estudan-tes, docentes e funcionário) podem alugar o pavilhão agora conhecido como AEFEUP Futsal Arena. Para o fazerem basta preencher o termo de responsabilidade e deixá-lo na secretaria da AEFEUP juntamente com uma caução no valor de de 10 euros que será devolvida no final caso não tenha havido qualquer dano no pavilhão. As reservas estão limitadas a uma hora por estudan-te e sujeitas a marcação.

Ricardo Costa reconhece que ainda é cedo para se fazerem comentários em relação à adesão por parte da comunidade da Faculdade da Engenha-ria. Além de estar em funcionamento apenas há cerca de um mês, a AEFEUP Futsal Arena abriu em altura de exames.

Para o presidente da AEFEUP, uma parceria do género só seria possível para as faculdades com maior número de estudante:” Acho que esta ac-tividade, vendo os factores que condicionaram a decisão da nossa parte e por parte da Direcção da FEUP, isto só fazia resultado numa associação com um elevado número de associados. Acredito que Faculdades como Letras, Ciências ou o ISEP, mas há pequenas associações em que não seja tão simples convencer a direcções da sua faculdade.”

Francisco Mota, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras (AEFLUP), conta que a AEFLUP está também a trabalhar no

sentido de “satisfazer as necessidades desporti-vas dos estudantes, bem como da selecção”, já que por agora estão a pagar 32 euros por hora ao CDUP para o aluguer de um espaço onde a sua selecção possa treinar.

O presidente da AEFLUP considera que a fal-ta de espaços desportivos é uma grande lacuna da Universidade do Porto, acentuada pelo facto das faculdades estarem dispersas pela cidade, não havendo um “campus” único. Apesar disso, Francisco Mota não se sente prejudicado por se encontrar no pólo do Campo Alegre, dizendo até que “se o diferendo com o CDUP fosse resolvi-do estaríamos até em situação privilegiada e o CDUP teria todas as condições para satisfazer as necessidades dos estudantes daquele pólo”, já que o estádio universitário se encontra naquela zona. Francisco Costa refere ainda que a Facul-dade de desporto também já não é uma boa op-ção para o aluguer dos espaços por se encontrar com imensa gente e os próprios estudantes de lá terem dificuldades em encontrar vagas para os seus treinos.

> E O PAPEL DO GADUP?Bruno Almeida, director do Gabinete de Activi-dades Desportivas da Universidade do Porto (GA-DUP) quando questionado sobre a possibilidade de também realizar uma parceria do género para toda a comunidade UP (já que para já apenas a comunidade da FEUP pode beneficiar da AEFEUP Futsal Arena) referiu que há cerca de 4 anos foi feita uma iniciativa do género (apesar de não ser totalmente gratuita) num pavilhão desportivo no Viso e “ a experiência não foi boa”, refere, dizen-do por isso, que aguarda com expectativa para ver como corre a experiência da AEFEUP.

Bruno Almeida descarta a ideia que o GADUP seja a “entidade máxima do Desporto da UP, mas sim o “promotor da actividade física para a co-munidade da universidade, tentando que eles tenham as melhores condições possíveis.” Mas o director do GADUP não deixa de congratular esta iniciativa: “Tudo que as associações de estu-dantes fizerem e conseguiram que promova mais a actividade física é bom. Não podemos ser nós os únicos detentores da promoção da actividade física na universidade”. Acrescenta ainda que “a proximidade das associações de estudantes com o seu público-alvo é muito maior que a nossa”.

Mas para Ricardo Costa, da AEFEUP, como Francisco Mota da AEFLUP a falta de comuni-cação existente entre o GADUP e as associações de estudantes e a falta de cooperação entre essas entidades continua a ser um problema. O presi-dente da AEFLUP destaca a falta de interesse nas actividades das selecções universitárias, em prol dos campeonatos universitários. Bruno Almeida refere que a o principal problema no que diz res-peito à comunicação com as associações se deve à rotatividade entre membros das associações, não havendo muitas vezes a passagem de infor-mação. Ambos os estudantes concordam que a solução passaria pelo uso da Federação Acadé-mica do Porto (FAP), como intermediário entre o GADUP e as Associações.

Bruno Almeida confessa que, para já o princi-pal local para a prática do desporto entre a comu-nidade da Universidade do Porto é unicamente a FADEUP, mas na tentativa de colmatar essa falha o GADUP tenta fazer parcerias com instituições desportivas privadas, de forma a obter preços mais baixos para os estudantes. O director do GADUP concorda também que a resolução da questão do CDUP seria uma mais-valia para o UP. Para o futuro fica ainda ao desejo de ver cada pólo dotado de infra-estruturas desportivas

Por enquanto Ricardo Costa, da AEFEUP, sente-se satisfeito com este objectivo alcançado “Sabemos o que queremos oferecer aos alunos independentemente do que eles possam ter lá fora”. Já Francisco Mota, da AEFLUP, vai se focar na procura de alternativas. •

FADEUP continua a a ser a opção mais viável para a prática de desporto na UP

Page 29: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011 DESPORTODESPORTO 17

UP sagra-se bi-campeã nacional universitária de Atletismo em Pista Coberta

Março repleto de competições desportivas

GADUP com página informativa

C om 13 medalhas nas provas in-dividuais (quatro de ouro, seis de prata e três de bronze), a

delegação da U.Porto trouxe para casa mais dois recordes nacionais universi-tários no Salto em Altura e na prova de estafeta 4x200m no masculino. Brilho extra para Marisa Anselmo Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) que fixou o recorde do Salto em Altura em 1,75m, e para o quarte-to composto por Raúl Segador, Pedro e Daniel Soares da FADEUP e ainda Francisco Cordeiro da Faculdade de engenharia (FEUP), vencedor nos 4x200m com um tempo recorde de 1m35,33segundos.

No que toca às restantes conquis-tas da UP, Emanuel Neves, da FEUP sagrou-se campeão nacional univer-sitário nos 400m planos, modalidade em que Diogo Santos, estudante da

Faculdade de Desporto conquistou a medalha de prata.

Ainda nas provas de corrida, Luís Sá, da Faculdade de Medicina da Universi-dade do Porto (FMUP) foi vice-cam-peão nacional nos 60m barreiras, com o tempo de 8,20 segundos. Prata tam-bém para a estafeta feminina, compos-ta por Adília Fernandes da Faculdade de Arquitectura (FAUP), Diana Relvas da FADEUP, Daniela Ferreira e Sara Martins, ambas estudantes da FMUP.

Já Edgar Batista, estudante também na FADEUP conquistou o bronze nos 60m planos. Paulo Lopes, da FMUP, também chegou ao terceiro lugar, desta vez nos 3000m com 8 minutos e 38,48 segundos, falhando o segundo lugar por apenas 47 centésimos de segundo.Nas provas técnicas, Isaac Lopes da FADEUP conquistou mais um ouro no Salto à Vara com a marca de 4,40m.

Por sua vez, na prova feminina, Dia-na Carqueijo da FADEUP foi segunda com 3,60m. No Salto em Altura mas-culino, Óscar Vilaça, da mesma fa-culdade, foi terceiro com 1,98m e, no feminino, Daniela Ferreira também de Desporto foi medalha de prata.

Finalmente, no Lançamento de Peso, Maria Teresa Ribeiro da FADEUP, lançou 10.14 metros, alcançando as-sim a medalha de bronze.

Para a conquista deste o segundo tí-tulo consecutivo de Campeão Nacional Universitário em Pista Coberta contri-buíram 29 estudantes / atletas da Uni-versidade. • GADUP e Vera Covêlo Tavares

J á no dia 6 de Março vai se reali-zar em em Lisboa o Campeonato Nacional Universitário (CNU) de

Judo, e a 12 de Março Vila Nova da Bar-quinha (distrito de Santarém) recebe o CNU de Corta-Mato. No fim de se-mana de 26 e 27 de Março, a praia da Fonte da Telha vai ser o palco para o CNU de Bodyboard.

No âmbito da celebração dos 100 anos da Universidade do Porto, a 23 de Março vai-se realizar o X Open de Té-

nis, o X Open de Voleibol de Praia e o Torneio de Basquetebol 3x3. Vai-se também realizar a segunda fase dos Torneios de Apuramento das seguintes modalidades: Basquetebol feminino e masculino a 2 e 3 de Mar-ço em Aveiro, Andebol feminino, nos dias 17 e 18 de Março (Braga), Rugby 7 masculino a 22 de Março em Évora e, finalmente, hóquei em Patins mascu-lino nos dias 23 e 24 de Março, tam-bém em Braga. • Vera Covêlo Tavares

N a tentativa de se aproximar mais da comunidade acadé-mica, o Gabinete de Apoio ao

Desporto da U.Porto (GADUP) lançou a Sport News, uma página informativa com todas as novidades do desporto na Universidade do Porto. A Sport-News terá periodicidade quinzenal e assume-se, de acordo com Bruno Al-meida, director do GADUP, como um “meio de informação privilegiado do gabinete”.

Responsável pela gestão de toda a actividade desportiva da U.Porto des-de 2004, o GADUP tem vindo a ganhar cada vez mais espaço entre os estu-dantes. Consciente do longo caminho

a percorrer, Bruno Almeida afirma que o Gabinete tem utilizado todas as ferra-mentas necessárias para chegar aos jo-vens estudantes da U.Porto: "depois do resultado positivo da abertura da nossa conta nas redes sociais, nomeadamen-te Facebook, sentimos a necessidade de sermos mais pró-activos e lançar-mos um sítio online onde é actualizada toda a nossa informação", esclarece.

O lançamento da Sport News foi na quarta-feira, dia 9 de Fevereiro… • GA-

DUP/Vera Covêlo Tavares

ENTRE FINAIS DE CAMPEONATOS NACIONAIS UNIVERSITÁRIOS, TORNEIROS DE APURAMENTO E ACTIVIDADES DESPORTIVAS NO ÂMBITO DO CENTENÁRIO DA UP, O MÊS DE MARÇO SERÁ UM MÊS DEDICADO ÀS PROVAS DESPORTIVAS.

PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO A UNIVERSIDADE DO PORTO FOI CAMPEÃ NACIONAL UNIVERSITÁRIA DE ATLETISMO EM PISTA COBERTA. A PROVA FOI DISPUTADA NO DIA 19 DE FEVEREIRO EM POMBAL

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JUP — MARÇO 2011CRÓNICAS CRÓNICAS18

Mariana, a Miserável

… ser mergulhador

COLHER.NET

CONTA-ME COMO É…

Colher é uma plataforma de divulgação do Design Gráfico Português que pode ser acompanhada on-line em www.colher.net. Ao longo de cada número do JUP vamos dar a conhecer um estudante universitário do Porto a frequentar a área do design gráfico.

Para inaugurar este nosso pequeno espaço convidamos "Mariana, A Miserável", jovem que quando criança sonhava ser florista e alter-ego de Mariana Santos actualmente aluna do Mestrado de Design Gráfico e Projectos Editoriais na FBAUP. Para além de entrevista este é também um encontro entre a Mariana e Mariana.

Bom dia "Mariana, A Miserável", Como está o tempo hoje pelo Porto?Bom dia!Hoje serve-se aquela tempe-ratura à moda do Porto que convida a usar casacos em cima de casacos e a beber chá quentinho.

Quem é, e porquê, "Mariana, A Miserável"?A miserável é alguém muito mais cool do que eu, é esta identidade que hoje me acompanha, não é algo pensado e planeado desde o inicio. É um con-junto de (in)felizes coincidências que, vendo os meus desenhos, a transpi-rar o sarcasmo e a bizarrice (os meus companheiros de trabalho), acabam por fazer sentido. Deixo de ser a Ma-riana Santos para passar a ser alguém com uma história própria, com muito azar no jogo e no amor, a quem acon-tecem as coisas mais improváveis no momento menos oportuno, e que, o fim, celebra aquilo tudo que é a tragé-dia da sua vida (e dos que a rodeiam).

Actualmente estás a frequentar o Mestrado de Design Gráfico e Pro-jectos Editoriais na FBAUP. Estando tão dentro da ilustração porque não escolheste fazeres um mestrado mais direccionado para essa área?Embora não inclua ilustração no seu nome, o mestrado que estou a frequen-tar abarca quatro vertentes inter-de-pendentes e inter-relacionadas, a tipo-grafia, a infografia, o design editorial e a ilustração, depois cabe a cada aluno direccionar os trabalhos e o seu projec-to ou dissertação final para a área com a qual mais se identifica. É isso que te-nho feito e às vezes corre bem.

Com isso vamos ter a oportunidade de ver o teu trabalho não só como ilustradora brevemente ou preferes guardar para ti?Claro que sim, embora me agrade a ideia de ser a mariana, a miserável até ter cataratas nos olhos. E fazer apenas disso a minha vida.

És natural de Leiria, estudante nas Caldas da Rainha, passaste por Bar-celona, Lisboa e agora estas no Porto, como encaras todas estas mudanças?Estas mudanças fazem parte do atri-bulado mas comum percurso de um licenciado pós-bolonha, transitar entre o estudo e as oportunidades de traba-lho, definir o que se quer ou não fazer. Cada cidade teve e tem o seu significa-do, todas elas fizeram sentido no mo-mento e acrescentaram algo de novo.

Como é que normalmente recebes as tuas propostas de trabalho?Normalmente recebo através do e--mail, do facebook ou do meu blog.

Fala-me um pouco do teu blog, por-que o começaste? O que é que ele

representa para ti?Começou como espaço de

partilha dos trabalhos que fazia durante a licenciatura

e depois teve um papel muito importante na divulgação das minhas

ilustrações quando dei-xei de escondê-las debaixo da cama e dentro de gavetas. É um registo online daquilo que vou

fazendo sempre com anotações mais pessoais. É importante na medida em que tem sido através

dele que conheço pessoas que me cedem cantinhos nas suas casas,

galerias, lojas, agendas, livros, revis-tas, sites e que, depois, acabam por

tornar-se minhas amigas, cúmplices, amantes.

Descreve-nos a tua secretária ou lo-cal de trabalho.A minha secretária é composta por um tampo grande de madeira em cima de quatro pernas vermelhas e varia consoante o meu estado de es-pírito e os trabalhos que tenho para fazer. Nas férias, incrivelmente arru-mada, na altura das entregas dos tra-balhos, transborda caos.

O que fazes quando não tens ideias?Ainda não descobri a fórmula, nor-malmente entro em pânico.

Tens alguma ilustração que te tenha dado um pessoal gozo?Talvez a série de serigrafias baseadas em piropos.

M ichael Larrivee is 35 years old and is a student teacher at University of Memphis, U.S.A.

Growing up on the seacost of New England and helping out at a store owned by parents of a friend, he made the bond between himself and the “water world”. Since the age of 15 Mike learned not only how to use the equipment for scuba diving, but also learned the most essential things necessary for divers.

As for other reasons, let him tell you himself: “I was blown away the first time I took a breath underwater. Looking around under the sea is like stepping into another world. Although I grew up on the ocean, it still feels like traveling to a different planet every time I dive. Every dive is different, because underwater is a world that is in constant motion.”

Although it wasn’t a conscious decision to take upon lessons of scuba diving, Mike is glad he did it. Now he is a proud owner of SSI (“Scuba Schools International”) “Advanced Open Water

Diver” certificate, which means that he can “do night diving, dive deeper than less advanced divers and do penetration dives where you can enter the hulls of sunken ships and caves”. And for Mike it means loads of fun! “It is totally worth it! I took 4 – 5 lessons and a check off dive in the sea to get it”.

If compared to other sports activities “diving is as any other outdoor activity – as long as you follow some basic rules -you always need to pay attention to the life support system on your back and look out for your diving buddy, as well as check out the surroundings and what is going on around you.”

“The only people I wouldn’t recommend diving are klausterphobic people or people who give in easily into panic or paranoia, because too many things can go wrong either for you or somebody else, if you freak out underwater.” That IS serious. “But for those who have a lust for life – you are missing out, if you still haven’t tried diving!”

Up until now Mike has dived on all three U.S. coasts, most of MesoAmerica that includes Mexico, Belize, Costa Rica, Honduras and Panama, as well as on several islands in the Carribean and Bahamas. Belize over the years has stayed his favourite, because of “caves that I have dived in depth of 50 meters. In the Great Blue Hole, The Elbow and The Aquarium are pristine beautiful wall dives, where you can meet” Whale Sharks, Eagle Rays, Sea Turtles, Moray Eals and all sorts of other wonderful and beautiful things that are very common there.”

The best dive for Michael is the one he did off the coast of Florida – Oriskany – an aircraft carrier, intentionally sunk offshore as an artificial reef – huge, like a city underwater. And as they passed over the control tower and looked down they saw “two four-meter Bull Sharks dancing with one another. One of the most amazing times in my life!” says Mike. Another time his regulator was smacked out of his mouth by

a woken up Nurse Shark’s tail. And on a night dive in Mexico somebody was watching Mike – a little octopus swaying in his den trying to figure out who the hell Mike was. “They are really smart - we just sat and stared at each other, as he was trying to understand what kind of creature is shining the light on him”.

If there would be a person willing to offer him a job as a divemaster, he considers himself stupid not to take it, because “it is hard to refuse something you love to do and also get payed, not to mention the other benefits – swiming, sunshine and pretty tourist girls everyday. How can you say no to that?” Mike laughs.• Ieva Balode

Como te vês daqui a uns anos?Um bocadinho mais miserável mas com a mesma vontade de domi-nar o mundo.

Conta-nos a tua primeira visita ao Porto?Foi uma semana intensiva de Porto com o meu pai que propavelmente me con-tagiou com o carinho que sente pela ci-dade desde a altura em que cá estudou. Comecei então a sonhar em ter uma casinha alugada com jardim no bolhão, foi isso que acabou por acontecer.

Recta final: Qual é a tua opinião acer-ca do Colher?É um bom rapaz, eu gosto dele e ele de mim.

Antes de mais muito obrigado às duas por esta entrevista. Esta é a par-te dos beijinhos ou da frase que fica no ouvido. Quais são as tuas ultimas palavras?Agradecemos a quem leu esta en-trevista até ao fim e desejamos que comprem os nossos trabalhos porque temos uma casinha no bolhão para mobilar.

entrevista Eurico Sá Fernandes (via e-mail)ilustrações Mariana, A Miserável

Page 31: JUP Março 2011

JUP — MARÇO 2011 DEVANEIOSDEVANEIOS 19

Encontrei uma criança na rua.

Uma criança suja,

Coberta de óleo,

De olhos encovados

e cabelo desgrenhado.

Vestia-se de trapos de passado,

E nos pés levava apenas insustento.

Falou-me,

Mas não a quis ouvir.

Eventualmente,

Alguém se preocuparia

E se encarregaria de lhe dar atenção

Ou de a colocar no respectivo sitio.

Falou-me novamente,

E novamente me recusei a ouvi-la.

Empreendeu todas as manobras

De possível espalhafato,

Gritando-me,

Enfiando-me agulhas nos calcanhares,

Puxando-me os pelos,

Beliscando-me a barriga,

Encostando-se a mim,

Para que a sentisse.

Virei costas.

Agarrou-se à minha perna

E não me largou mais.

Cada vez mais suja,

Cada vez mais fria,

Cada vez maior,

Fui-a deixando ficar.

Chamei-lhe Angústia.

Agora segue-me

Para onde quer que vá,

Agarrada ao meu casaco,

Desalinhando-me e

Fazendo-me tropeçar.

Agora,

Todas as noites se deita comigo,

E, todas as noites,

Com o mesmo quente sadismo,

Durante horas a fio me fere,

Me destrói, me desfaz,

Me arranca todos os membros

Voltando a coser-mos depois

Apenas para os poder arrancar de novo.

Quero esbofeteá-la,

Quero matá-la,

Afogá-la na banheira,

Cobri-la de veneno e atear-lhe fogo depois.

Quero dizer-lhe que se cale,

Que não é bem-vinda,

Que nem é merecedora de um nome,

Que me arrependo de não ter mudado de rumo

Antes de me cruzar com ela pela primeira vez.

Mas, ao fim do dia,

já não é só ela que se deita ao meu lado.

Também eu me deito ao lado dela,

na habituação de quem a quer abraçar,

com doce raiva,

leve desespero

doloroso carinho.

E a minha cama,

já não a conheço de outra forma,

já não tem espaço só para mim.

por Leonor Camarinho Figueiredo

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Page 32: JUP Março 2011

RUA MIGUEL BOMBARDA, 187 PORTO

PÁGINAS DE MIM

DE ANDRÉ SANTOS

19 DE MARÇO A 2 DE ABRIL

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