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ISSN 1519-0412 vol. XVII nº 62 jan./abr. 2015 Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito

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ISSN 1519-0412

vol. XVII nº 62 jan./abr. 2015

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos

O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas

O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres

Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa

Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

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Ficha catalográfica

P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-. - Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-.

Quadrimestral ISSN 1519-0412 1.Contabilidade. I.Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

CDU – 657

Josir Simeone Gomes (Rio de Janeiro – RJ)EditorPós-doutor em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e Professor da UNIGRANRIOAdriano Rodrigues (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ, Professor da área de Contabilidade e Finanças da UFRJ, dos Programas de Pós-Graduação da FACC e COPPEAD UniverCidade e Professora da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da UniverCidade, do MBA de Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido MendesAntônio Ranha da Silva (Rio de Janeiro – RJ) Mestre em Economia Empresarial pela UCAM, Bacharel em Ciências Contábeis pela UGF, Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense, Professor da FGV Management, Membro do IBRACON, Membro da Academia de Ciências Contábeis do Estado do RJ - ACERJ, Conselheiro de Administração da HAGA SAEmma Taliani Castelló (Espanha)Professora titular da Universidad AlcaláErnesto Lopes-Valeiras Sampedro (Espanha)Professor Depto. Economia Financeira e Contabilidade de Vigo Francisco José dos Santos Alves (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, Professor da UNISUAM, Professor e Coordenadordo PPGCC da UERJHector Jaime Correa Pinzon (Colômbia)Contador Público da Universidade de Manizales, Membro do Conselho Permanente para Evolução da Normas Internacionais de Contabilidade na Colômbia, Membro e Presidente da Comissão de Administração e Finanças da Associação Interamericana de Contabilidade, Membro do Instituto Nacional de Contadores Públicos de Colômbia, Presidente da Federação de Contadores Públicos da Colômbia - FedecopJorge Ribeiro dos Passos Rosa (Rio de Janeiro – RJ)Contador, Administrador, pós-graduado em Didática de Ensino Superior. Livre docente em Contabilidade Financeira pela UGF, professor com dedicação exclusiva em Contabilidade Gerencial da UFF. Atua nos MBAS de Controladoria e Finanças; Contabilidade e Auditoria; Gestão Contábil e Tributária da UFFJosé Alonso Borba (Florianópolis – SC)Doutor em Contabilidade pela USP e Professor da UFSCMagno Tarcísio de Sá ( Rio de Janeiro – RJ) Contador, Especialização em Contas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professor Assistente da Faculdade Béthencourt da Silva e Supervisor de Auditoria da Auditoria Geral do Estado – Secretaria de Estado e Fazenda (RJ) Maria Thereza Pompa Antunes (São Paulo – SP)Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP e Professora Adjunta da Universidade PresbiterianaMackenzie/FAAPNahor Plácido Lisboa (São Paulo – SP)Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFIOscar Diaz Becerra (Perú)Mestre em Contabilidade e Gestão pela UNMSM. Professor honorário da Universidade Nacional Santiago Antúnez de Mayolo, Patrícia Gonzalez Gonzalez (Colômbia)Graduada em Contadoria pública pela Universidade Del Valle, Especialização em Finanças e Gerência em Impostos pela Universidade Del Valle, Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP. Chefe do Programa em Finanças da Universidade Del Valle. Sandra Maria dos Santos (Fortaleza – CE)Pós-Doutora em Economia Regional e Urbana pela UFPE/PIMES, Doutora em Economia Industrial pelaUFPE/PIMES e Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e GestãoVicente Mateo Ripoll-Feliu (Espanha), Doutor em Contabilidade pela Universidade de Valencia, Professor Titular da Universidade de Valencia (Espanha)Waldir Jorge Ladeira dos Santos (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ, Mestre em Contabilidade Financeira pelaUERJ, Professor da UERJ, Professor Adjunto da FACC/UFRJ e Professor da EPGE da FGV Management

Consultores Ad Hoc Adolfo Henrique Coutinho e Silva (Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Adjunto da FAF/UERJ), Andre Carlos Busanelli de Aquino (Doutor em Ciências Contábeis - FEA/USP, Professor Associado da FEA-RP/USP), André Paula Osório Duque (Doutora em Ciência da Informação pela UFF), Aracéli Cristina de Sousa Ferreira (Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professora Titular da UFRJ), Francisco Antônio Bezerra (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Permanente no PPGCC/Furb), Jorge Vieira da Costa Junior (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP), Jose Augusto Veiga da Costa Marques (Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Associado da FACC/UFRJ), José Maria Dias Filho (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA), Marcelo Coletto Pohlmann (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da PUC-RS), Miguel Ângelo Caçoilo Gonçalves (Doutorando em Contabilidade da Universidade do Minho) Natan Szuster (Doutor em Contabilidade pela USP, Pós-Doutor pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Professor da FACC/UFRJ), Poueri do Carmo Mario (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto do Departamento de Ciências Contábeis da UFMG), Ricardo Lopes Cardoso (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto da EBAPE/FGV e da FAF/UERJ, Pesquisador Produtividade CNPQ nível 2), Simone Silva da Cunha Vieira (Doutora em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professora Adjunta da UERJ),Vinícius Aversari Martins (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Doutor da FEA-RP/USP)

Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJCEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2216-9607www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] de impressão: abril/2015Tiragem: 2.000 exemplares

ISSN 1519-0412Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)Atendimento ao assinante •tel.: (21) 2216-9602

ExpedienteConselho Diretor do CRCRJ

Vitória Maria da SilvaPresidente

Francisco José dos Santos AlvesVice-presidente

Waldir Jorge Ladeira dos SantosVP de Desenvolvimento Profissional

Josir Simeone GomesVP de Pesquisa e Estudos Técnicos

Samir Ferreira Barbosa NehmeVP Operacional

Gil Marques MendesVP de Registro Profissional

Márcia Tavares Sobral de SousaVP de Fiscalização, Ética e Disciplina

Irany Onofre RodriguesVP de Interior

Antonio Ranha da SilvaVP de Controle Interno

CONCEITO QUALIS/CAPES: B3Esta revista está indexada em www.atena.org.br, www.latindex.org e www.sumarios.org.

Corpo Editorial

Produção Editorial e Design: Cajá Comunicação Jornalista responsável: Bruno Chuairi (Mtb15963/97/79) Impressão: Gráfica SumaúmaApoio administrativo: Beatriz Rodrigues Fernandes e Patrícia Silva

“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.”

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

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Editorial

Sumário Summary

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de CustosGeovane Camilo dos Santos

O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras InternacionalizadasMariana Pereira Bonfim

Fernando Padovani

Andréa Paula Osório Duque

O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres Cláudio Roberto Caríssimo

Ricardo Rodrigues Barbosa

Ivam Ricardo Peleias

Márcia Athayde Moreira

Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do SulClaudio Stern da Cunha Filho

Ângela Rozane Leal de Souza

Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespaIeda Margarete Oro

Roberto Carlos Klann

Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de CréditoCristian Baú dal Magro

Vanessa Edy Dagnoni Mondini

Nelson Hein

Bibliometric Analysis of Articles Published as a Bibliometric Study in the History of the Brazilian Congress of CostsGeovane Camilo dos Santos

The Impact of the Exchange on The Shares of Brazilian Internationalized CompaniesMariana Pereira Bonfim

Fernando Padovani

Andréa Paula Osório Duque

The Consulting System of TJMG Website as a Disclosure of Companies Evaluation Methodologies in the Inventory of Assets ProceduresCláudio Roberto Caríssimo

Ricardo Rodrigues Barbosa

Ivam Ricardo Peleias

Márcia Athayde Moreira

Analysis of the Costs Involved in the Construction of Housing Units Linked to the Minha Casa Minha Vida (Mcmv): Study of a Real Estate Project in the Metropolitan Region of the State of Rio Grande do SulClaudio Stern da Cunha Filho

Ângela Rozane Leal de Souza

Required Disclosure of Intangible Assets of Companies Listed at Bm&FBovespa Corporate Governance LevelsIeda Margarete Oro

Roberto Carlos Klann

Risk Management Credit Default of Makers: a Study in a Cooperative CreditCristian Baú dal Magro

Vanessa Edy Dagnoni Mondini

Nelson Hein

É com grande satisfação que apresentamos mais uma edição da nossa Revista Pensar Contábil. A grande notícia é que ela foi selecionada pela EBSCO, uma base de dados de grande prestígio internacional, para fazer parte da lista de periódicos internacionais de grande re-levância. A EBSCO integra a comunidade internacional de tecnologia da informação, que se dedica a ajudar as bibliotecas a apoiar os usuários finais e melhorar o aces-so à informação.

Os artigos publicados nesta edição foram seleciona-dos por nossos renomados avaliadores, por meio do pro-cesso de double blind review, e oferecem ao leitor temas da mais alta relevância para a área contábil.

O primeiro trabalho apresenta um levantamento bi-bliométrico sobre os artigos publicados pelo Congresso Brasileiro de Custos. O segundo artigo aborda o impacto do câmbio sobre o processo de internacionalização de

empresas brasileiras. O terceiro trabalho discute o sistema de consulta do site TJMG como evidenciação das metodo-logias de avaliação de empresas.

O quarto artigo analisa os custos envolvidos na cons-trução de unidades habitacionais vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida. O quinto trabalho enfoca a ques-tão do disclosure obrigatório de ativos intangíveis das com-panhias listadas nos níveis de governança corporativa da BM&FBovespa. Finalmente, o sexto artigo discorre sobre a gestão de riscos de inadimplência dos tomadores de crédi-to em uma cooperativa de crédito.

Agradecendo a preferência de todos por nossa revista, desejamos uma boa leitura.

Cordiais saudações,

Josir Simeone GomesEditor

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Geovane Camilo dos Santos Patos de Minas - MGEspecialista em Planejamento e Gestão Tributária pelo UNIPAM1 Professor Substituto da UFU2 [email protected]

Resumo O presente artigo teve por escopo apresentar uma aná-

lise dos artigos publicados como estudos bibliométricos no Congresso Brasileiro de Custos (CBC). Para a elaboração deste artigo fez-se uso de uma metodologia descritiva, quantitativa, bibliográfica e documental, além de ser ca-racterizado como um estudo bibliométrico. Os resultados demonstraram que foram publicados 55 artigos no CBC, sendo o primeiro publicado em 2007 e o ano de 2013 foi o com maior quantidade de trabalhos (13). Houve predomi-nância de autores do sexo masculino, o autor mais prolífero foi Carlos Alberto Pereira com três artigos aprovados para publicação nos anais do CBC e verificou 16 autores com dois artigos publicados cada um. Constatou também que a forma mais comum de se escrever artigos para o Congresso Brasileiro de Custos é em parceria, com o número máxi-mo de autores permitido pelo Congresso, cinco autores. A abordagem usada foi quantitativa, verificada em 20 artigos. A instituição de ensino mais prolixa foi a Universidade Fede-ral de Santa Catarina, com 25 autores vinculados, seguida pela Universidade Federal de Uberlândia (20) e Universida-de do Estado de São Paulo (18) e o trecho Sul-Sudeste é o que mais publica. O trabalho apresentou que os 55 artigos estudados tiveram 1.449 referências, o artigo com menos referências teve 9 e com mais 65, sendo a média de referên-cias por artigos de 26. As referências nacionais são as mais usuais: 72% contra 28% das internacionais. E as fontes de pesquisas mais usadas são as revistas, com 585 referên-cias, seguidas dos livros com 457.

Palavras-chave: Bibliometria, Congresso Brasileiro de Cus-tos, Artigos

1 UNIPAM – Centro Universitário de Patos de Minas – Cep 38702-054 – Patos de Minas – MG

2 UFU – Universidade Federal de Uberlândia – CEP 38408-100– Uberlândia – MG

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos

AbstractThe scope of this article was to present an analysis of

published articles as bibliometric studies in the Brazilian Congress of costs (BCC). For the preparation of this article was made use of a descriptive, quantitative methodology literature and documents, as well as being featured as a bibliometric study. The results showed that 55 articles were published in the CBC, the first being published in 2007 and the year 2013 was the largest amount of work with (13). There was a predominance of male authors, the most prolific author was Carlos Alberto Pereira to three articles approved for publication in the proceedings of the CBC and found 16 authors published two articles each. Also found that the most common form of writing articles for the Brazilian Congress of costs is in partnership with the maximum number of authors permitted by Congress, five authors. A quantitative approach was used, found 20 articles. The institution of education was more verbose the Federal University of Santa Catarina, with 25 authors linked, then the Federal University of Uberlândia (20) and University of São Paulo (18th) and the South-East section is what most public. The work showed that the 55 articles studied had 1,449 references, the references under Article 9 and had over 65, and the average references per articles 26 National references are the more usual 72% versus 28% international. And most of the sources used are research journals, with 585 references, followed with 457 books.

Key words: Bibliometrics, Brazilian Congress of Costs, Articles

1. IntroduçãoO ser humano busca constantemente o conhecimento,

sendo este precípuo para ele se comunicar com eficácia com as outras pessoas. Segundo Slomski et al (2013) para a pro-dução do conhecimento ser eficaz é preciso ter a qualidade formal sob pena de esvaziar o seu potencial transformador.

Uma forma dos autores melhorarem seus conhecimentos é verificar uma pesquisa produzida em seu domínio de conhe-cimento: avaliando artigos submetidos a revista ou congresso científico, participando de bancas para avaliação de disserta-ção e mestrado ou teses de doutorados. (SLOMSKI et al, 2013).

Artigo recebido em 22/09/2014 e aceito em 06/03/2015.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 4 - 13, jan./abr. 2015

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A publicação nos periódicos é importante pois eles têm uma função precípua na concepção da qualidade da pesquisa e incremento do conhecimento. Para Lorocca, Rosso e Souza (2005), na análise da qualidade formal e do progresso do conhe-cimento científico são considerados dois aspectos essenciais: avaliação constante e comunicação da produção científica.

A pesquisa científica em Contabilidade possibilita o es-clarecimento sobre todos os campos de estudos disponíveis nessa ciência. Nesse sentido, a produção científica no ramo contábil possibilita apresentar pesquisas válidas que podem ser divulgadas às pessoas que buscam o conhecimento. (FERRARI et al, 2012; CUNHA; KREMER, 2013).

Os estudos que analisam a produção científica são co-nhecidos em todas as áreas da pesquisa. Os estudos que buscam essa análise são importantes, pois apresentam a fundamentação da ideia de ser imprescindível aos pesqui-sadores estarem atentos para a forma que o conhecimento foi gerado no seu campo de estudo.

As principais formas de análises destes estudos são as pesquisas bibliométricas, que elaboram levantamentos so-bre estudos publicados anteriormente.

Segundo Slomski et al (2013), na Contabilidade os pes-quisadores são mais voltados para os aspectos quantita-tivos desta modalidade de pesquisa. Martins e Theóphilo (2008) afirmam que a maioria dos trabalhos encontrados são orientadas pela bibliometria, que faz parte da avaliação quantitativa das referências encontradas em artigos, papers, relatórios científicos, etc.

Os trabalhos publicados em revistas, em anais de con-gressos, as dissertações e monografias de trabalhos e outras formas de trabalhos publicados devem de período em período passar por algum estudo, com a finalidade de verificar os principais pontos em destaque, no cenário de sua publicação. Nesse sentido, o presente artigo tem como problema verificar o perfil dos artigos bibliométricos publi-cados no CBC?

O objetivo geral do presente artigo é verificar o perfil dos artigos bibliométricos publicados no CBC.

O presente artigo possui como objetivos específicos os seguintes itens: (i) analisar a quantidade de artigos publi-cados no CBC; (ii) analisar o sexo dos autores; (iii) verificar os autores mais prolíferos; (iv) encontrar a quantidade de autores por artigo; (v) verificar a abordagem mais usual, (vi) constatar a instituição de ensino mais prolixa, (vii) apresen-tar a quantidade de referências dos artigos por ano; (viii) apresentar a nacionalidade das referências e (ix) determinar as fontes das referências.

Faria et al (2013) afirmam que as produções científicas contribuem para a produção e divulgação do conhecimento científico em diversas áreas do conhecimento. Para Lima, Diniz e Silva (2012), os estudos bibliométricos estão ganhan-do proeminência entre os pesquisadores de todas as áreas do Brasil, e uma destas é a área contábil. Logo, o trabalho se justifica por ser uma forma que mede o interesse dos au-tores em escrever artigos bibliométricos para o Congresso Brasileiro de Custos.

O estudo é dividido em cinco partes: introdução, revisão teó-rica, metodologia, análise dos resultados e considerações finais.

2. Referencial TeóricoEste tópico apresenta o referencial do presente artigo, com

a finalidade de atenuar os leitores sobre o tema estudado.

2.1. História dos Estudos BibliométricosSegundo Faria et al (2013), os estudos bibliométricos

já existem desde 1829 na Rússia. E, para Schmidaier apud Faria et al (2013), a primeira pesquisa bibliométrica foi publi-cada no ano de 1917, por Cole e Eales, que se dedicaram aos estudos das publicações compreendidas entre 1550 e 1860.

Para Araújo (2006), a bibliometria teve início no século XX como uma “ferramenta” para acompanhar o crescimento e desenvolvimento das diferentes áreas da ciência. O termo statistical bibliography é usado para aplicar as técnicas es-tatísticas e matemáticas para descrever os meios de comu-nicação (análise quantitativa da informação).

As publicações na área contábil visam analisar de forma específica periódicos científicos nacionais e internacionais e suas publicações englobando diferentes critérios e variáveis.

No Brasil, os pioneiros na área de bibliometria contábil foram Riccio, Carastan e Sakata (1999), que estudaram as pes-quisas contábeis nas universidades brasileiras entre o período de 1962 a 1999. Após este estudo, vários autores brasileiros se dedicaram às pesquisas bibliométricas na área contábil.

2.2. Estudo BibliométricoPara Oliveira et al (2013), o uso da pesquisa bibliométrica

é um recurso precípuo para transmissão da produção cien-tífica e a sua finalidade é alcançada mediante a aplicação de uma técnica capaz de medir a influência dos pesquisadores ou periódicos, permitindo traçar o perfil e suas tendências, além de evidenciar áreas temáticas. De opinião parecida encontra-se Moraes (2013), que afirma ser a pesquisa bi-bliométrica uma análise para as produções científicas, o que permite a sustentação para a produção de novos trabalhos.

A palavra da bibliometria é oriunda da fusão do sufixo “metria” e de bibliografia, informação, ciência e biblioteca, sendo respectivamente análogos ou próximos de sua natu-reza, objetivos e aplicações. A bibliometria é um estudo que avalia os textos científicos de áreas específicas de produção científica já pesquisada. (SILVA et al, 2012).

Para Spinak (1998, p.142), os principais aspectos da bi-bliometria são:

a. Disciplina com alcance multidisciplinar que analisa os aspectos mais relevantes e objetivos da comunidade impressa;

b. Estudo das organizações e de seus setores científi-cos e tecnológicos a partir das fontes bibliográficas e patentes para identificar os autores, suas relações, suas tendências;

c. Estudo quantitativo das unidades físicas publicadas, ou das unidades bibliográficas ou de seus substitu-tos;

d. Aplicação de métodos matemático e estatístico ao estudo do uso que se faz dos livros e outros meios dentro e nos sistemas de bibliotecas;

e. Estudo quantitativo da produção de documentos como se reflete nas bibliografias.

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 4 - 13, jan./abr. 2015

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A aplicação dos estudos bibliométricos apresenta como principal vantagem a padronização de procedimentos, que facilitam a mensuração dos dados coletados. Este estudo revela informações das produções científicas realizadas até o momento, dos aspectos importantes já tratados e agre-gando conhecimento para novas publicações, que buscam conhecer os assuntos ainda não explorados (MACHADO; BARBOSA; QUINTANA, 2011).

De acordo com Santos e Rausch (2009), os principais adi-tamentos oriundos do uso da bibliometria são: avaliação da informação registrada e servir como ferramenta para análise de dados gerenciais, gerando subsídios para o monitoramento.

Para Oliveira et al (2009), os estudos bibliométricos são usados para quantificar os processos de comunicação es-crita e o uso de indicadores bibliométricos para medir a pro-dução científica. Ainda para Oliveira (2001), esta pesquisa é aplicada para medir a produção científica.

A bibliometria é uma ferramenta estatística que mapeia e gera diferentes indicadores de tratamento de gestão da informação e do conhecimento. (GUEDES; BORSCHIVER, 2005). As técnicas estatísticas e matemáticas aplicadas nas pesquisas bibliométricas são usadas para descrever aspectos da literatura e de outros meios de comunicação. (ARAÚJO, 2006).

Para Thanuskodi (2011) as técnicas bibliométricas são usadas para estudar detalhadamente as características bi-bliográficas dos artigos e das análises das citações.

2.3. Leis BibliométricasDe acordo com Guedes e Borschiver (2005) a bibliometria

possui várias leis e princípios empíricos que usam métodos ma-temáticos e estatísticos, que estabelecem diretrizes de busca e classificação na pesquisa científica sobre Ciência da Informação.

As leis mais utilizadas são de Bradford (trata da produti-vidade dos periódicos); Lotka (trata da produtividade cien-tífica dos autores); e Zipf (trata da frequência das palavras).

A Lei de Bradford, também conhecida como Lei da Dis-persão, relaciona a dispersão da produção, o que permite estabelecer um núcleo e das áreas de dispersão e auxilia no desenvolvimento de políticas de aquisição e descarte de periódicos sobre determinados assuntos. (VANTI, 2002; GUEDES; BORSCHIVER, 2005).

Para Silva et al (2012) e Ribeiro, esta lei apresenta que à medida que assuntos novos são escritos, eles são submeti-dos a uma pequena filtragem, por periódicos, relacionados, quando aceitos. E logo, estes periódicos atraem mais arti-gos, naquela área.

A Lei de Lotka ou Lei dos Quadrados Inversos é respon-sável por estudar a produtividade dos autores mediante a identificação de uma frequência de publicações. (VANTI, 2002; SILVEIRA, 2012).

Para Silva et al (2012), a Lei de Lotka foi criada em 1926 após um estudo sobre a operosidade de cientistas, em que se descobriu que grande parte da literatura científica é produzida por um número pequeno de autores, e que os considerados “pequenos” autores igualam à produção, ao pequeno número de “grandes” autores.

A fórmula da Lei dos Quadrados Inversos é: Yx = 6/p2xa, onde: Yx é igual a frequência dos autores publicando; x é

igual número de trabalhos e a é igual a um valor constante para cada campo científico. (grifo nosso).

Para Alvarado (2002), “até dezembro de 2000, mais de 200 trabalhos, entre artigos, monografias, capítulos de li-vros, comunicações a congressos e literatura gris (cinzenta), tinham sido produzidos tentando criticar, replicar e/ou refor-mular esta lei bibliométrica.”.

Esta lei, quando verifica a produtividade, auxilia na identifi-cação dos centros de pesquisas mais desenvolvidos sobre o assunto e verifica a solidez de uma determinada área científica.

E a Lei de Zipf ou do Mínimo Esforço é relacionada a quantidade de vezes que palavras aparecem em um texto, sendo que mede e gera uma lista de termos de alta e baixa frequência. (VANTI, 2002).

A Lei de Zipf foi criada no ano de 1949 com a finalidade de descrever a relação e ordem de série das palavras num texto suficientemente grande. Zipf constatou que num texto longo existe uma relação entre a frequência que uma palavra ocor-ria e sua posição na lista de palavras ordenadas, de acordo com a quantidade de ocorrências. A lista era confeccionada de acordo com a frequência decrescentes de ocorrências, e sua posição nesta lista recebe o nome de ordem de série ou rank. Logo, a palavra com maior constância de ocorrência recebe a ordem de série 1 e a próxima recebe série 2, assim sucessivamente. (SILVA et al, 2012).

O uso destas três leis é oriundo de três pesquisadores, que se destacaram por significativas descobertas, e logo, cada lei tem o próprio nome de seu pesquisador.

O uso da aplicação das técnicas bibliométricas por vá-rios autores brasileiros nas diversas áreas do conhecimento, incluindo os pesquisadores da área de negócio (administra-ção, economia e contábil). (SILVA et al, 2012).

3. MetodologiaNa presente pesquisa verifica-se que a metodologia

usada para os procedimentos foi caracterizada como bi-bliográfica e documental, para os objetivos foi descritiva e a abordagem foi quantitativa, além de ser caracterizado como um estudo bibliométrico.

Para Marconi e Lakatos (2001), a pesquisa bibliográfica é o levantamento de toda bibliografia já publicada sobre deter-minado tema, principalmente, em livros, revistas, entre outros, e o objetivo desta pesquisa é colocar o leitor em contato di-reto com materiais escrito sobre o assunto. Para Rodrigues (2006), a fonte desta forma de pesquisa é secundária.

A pesquisa documental é aquela que trata de materiais que ainda não sofreram tratos, ou seja, são as fontes primárias de pesquisas. (MARCONI; LAKATOS, 2001; RODRIGUES, 2006).

A pesquisa descritiva tem a função de tratar de aspectos gerais e amplos de um contexto social, permitindo desen-volver uma análise que identifique as diferentes formas dos fenômenos. (OLIVEIRA, 1999).

Em relação à abordagem do artigo verifica que a pesqui-sa se caracteriza como quantitativa. De acordo com Beuren (2003, p. 92), “a abordagem quantitativa caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quan-to no tratamento dos dados”.

Para Rodrigues (2006), esta pesquisa tem a função de quantificar opiniões, dados, nas formas de coleta de in-

Geovane Camilo dos Santos

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 4 - 13, jan./abr. 2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

7

formações, com a aplicação da estatística. E para Oliveira (1999) esta forma de pesquisa é mais usada em trabalhos que abordam pesquisas descritivas, para classificar a rela-ção entre as variáveis.

Foram analisados todos os artigos publicados nos anais do Congresso Brasileiro de Custos – 3.525, desde 1994 e apenas 55 artigos foram classificados como estudos biblio-métricos. Os dados necessários para a realização do pre-sente trabalho foram coletados no CD-ROM do Congresso Brasileiro de Custos e transportados para o software Excel, onde sofreram tratamento científico necessário para se ade-quarem aos objetivos da pesquisa.

Para a coleta dos dados referentes ao sexo dos autores e das faculdades que eles estão vinculados procedeu a análise da referência sobre estes, que aparecem após o título dos arti-gos. É precípuo lembrar que no nome dos autores que possu-íam mais de uma faculdade, considerou-se apenas a primeira.

Na parte relacionada ao levantamento da metodologia dos artigos publicados no CBC, inicialmente emanou a leitu-ra dos resumos, e nos artigos que não mencionaram a abor-dagem no resumo procedeu-se a leitura dos procedimentos metodológicos.

Para análise das referências foi analisado o tópico refe-rências ao final do trabalho.

4. Análise dos ResultadosOs resultados do presente trabalho são apresentados

em tabelas.

Tabela 1: Quantidade de artigos publicados por ano

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total

Artigos 1 4 3 10 13 7 17 55

Fonte: Elaborado pelo autor

Na presente pesquisa constatou que o primeiro artigo pu-blicado como bibliometria foi no ano de 2007. O trabalho foi escrito por Reina et al – o trabalho teve o objetivo geral de “[...] explorar a produção científica sobre Capital Intelectual (CI) produzida e publicada pela área contábil, no período específi-co compreendido entre os anos de 1996 e 2006.” (REINA et al, 2007, p. 1). Verifica-se também que o ano com mais trabalhos publicados foi 2013, com 17 artigos, e o total de artigos publi-cados como pesquisa bibliométrica foi de 55 artigos.

Por meio da tabela 1, constata-se que existe oscilação entre os artigos publicados no Congresso Brasileiro de Cus-tos, como estudos bibliométricos, pois em 2007 teve apenas 1, por outro lado, no ano seguinte foram 4. Em 2009 houve queda passando para 3 artigos, já em 2010 ocorreu um au-mento no número de artigos publicados que passou para 10. No ano de 2011 a quantidade publicada aumentou para 13 artigos, em 2012 houve queda novamente, passando para 7 e no último ano a quantidade publicada foi de 17 artigos.

Neste sentido, percebe-se que a publicação de trabalhos com esta temática não segue uma sequência no Congres-so Brasileiro de Custos. Verificou-se também que gastou

aproximadamente 8 anos após a iniciação do CBC para que fosse publicado um artigo com foco em bibliometria.

4.1. AutoresEsta seção apresenta os resultados do presente traba-

lho, no que tange aos estudos dos autores.

4.1.1. Sexo

Tabela 2: Sexo dos autores

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Tota

l

Per

cent

ual

Méd

ia

Des

vio

Pad

rão

M. 1 9 5 24 23 11 27 100 53% 14,28571 7,785714286

F. 3 6 6 15 16 15 27 88 47% 12,57143 5,678571429

Total 4 15 11 39 39 26 54 188 100% 26,85714 12,85714286

Fonte: Elaborado pelo autor

No trato dos autores verificou que a maioria dos autores é do sexo masculino (100) contra 88 do sexo feminino. Em 3 anos - 2008, 2010 e 2011, constatou que houve predominância de autores do sexo masculino, sendo que em 2008 foram 9 para o sexo masculino e 6 para o feminino, no ano de 2010 foram 24 e 15, para masculino e feminino, respectivamente e em 2011 foram 23 e 16, respectivamente para masculino e feminino. Nos anos de 2007, 2009 e 2012 a predominância do sexo dos auto-res ficaram para o feminino, sendo que no primeiro ano ocorreu 3 para o sexo feminino e 1 para o masculino, no segundo ano foram 6 e 5, respectivamente para feminino e masculino e no último ano foram 15 para feminino e 11 para masculino. E em 2013 houve a ocorrência de empate entre a quantidade de au-tores, sendo 27 autores para cada um.

A média de autores do sexo masculino ao longo do perí-odo foi de 14,28571 com o desvio padrão de 7,785714286 e a média de autoras foi de 12,57143, com desvio padrão de 5,678571429.

O presente trabalho corrobora com os estudos de Vey et al (2008), Santos e Rausch (2009), Cruz et al (2009), Sales et al (2010), Ferrari et al (2012) e Santos (2013), que também encontraram em seus estudos a predominância de autores do sexo masculino.

4.1.2. Autores Mais Prolíferos

Tabela 3: Autores mais prolixos

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Tota

l

Carlos Alberto Pereira 0 0 0 1 1 0 1 3

Sandra Rolim Ensslin 1 0 0 0 0 0 1 2

Reiner Alves Botinha 0 0 0 0 1 0 1 2

Vidigal Fernandes Martins 0 0 0 0 1 1 0 2

Débora Gomes Machado 0 0 0 0 2 0 0 2

Antônio Cézar Bornia 0 0 0 0 1 1 0 2

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos

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8

Ilse Maria Beuren 0 0 0 0 2 0 0 2

Marcia Zanievicz Silva 0 0 0 0 1 0 1 2

Maria Naiula Monteiro Pessoa 0 0 0 0 0 1 1 2

Sandra Maria dos Santos 0 0 0 0 0 1 1 2

Augusto Cézar Aquino Cabral 0 0 0 0 0 1 1 2

Reinaldo Rodrigues Camacho 0 0 0 0 0 1 1 2

Evandir Megliorini 0 0 0 1 0 0 1 2Isabelle Carlos Campos Rezende

0 0 0 1 0 0 1 2

Roseane Patrícia Araújo Silva 0 0 0 0 0 0 2 2

Ananias Francisco dos Santos 0 0 1 0 0 0 1 2

Fernando Richartz 0 0 0 0 0 1 1 2

Outros autores 3 15 10 37 30 19 39 153

Fonte: Elaborado pelo autor

Verifica-se por meio da tabela 3, que dos 188 autores dos 55 artigos com o foco em estudo bibliométricos para o Congresso Brasileiro de Custos, apenas 9,04% dos au-tores escreveram 18,61% dos artigos, ou seja, que dos 188 autores 17 autores escreveram ou tiveram 35 parti-cipações nos artigos. Logo, constata-se o uso da Lei de Lotka, que os considerados “grandes autores” escrevem mais que os “pequenos autores”.

É possível constatar como autor mais prolífero Carlos Al-berto Pereira que escreveu 3 artigos, após ele, encontra-se 16 autores que escreveram 2 artigos cada um.

Encontra-se que apenas as autoras Ilse Maria Beuren, Débora Gomes Machado e Roseane Patrícia Araújo Silva escreveram 2 artigos numa mesma edição de Congresso, sendo Beuren e Machado no ano de 2011 e Silva em 2013.

4.1.3. Quantidade de Autores

Tabela 4: Quantidade de autores

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Tota

l

Um autor 0 0 0 0 1 0 1 2

Dois autores 0 1 1 1 4 1 5 13

Três autores 0 1 0 2 4 2 4 13

Quatro autores 1 0 1 3 2 2 4 13

Cinco autores 0 2 1 4 2 2 3 14

Total 1 4 3 10 13 7 17 55

Fonte: Elaborado pelo autor

Em conformidade aos resultados apresentados na tabela 4, verifica que o mais usual é escrever artigos em conjunto. Nesta pesquisa, constatou que o uso de cinco autores, o máximo permitido pelas normas do Congresso Brasileiro de Custos, é o mais comum, uma vez que apareceram em 14 artigos.

Escrever em dois, três e quatro autores tiveram empates, pois em cada uma destas formas foram escritos 13 artigos.

Averiguou que escrever artigo individualmente praticamente não é usado pelos autores para o CBC, pois somente 2 foram escritos desta forma, sendo um em 2011 e outro em 2013.

O presente trabalho não corrobora com os estudos de Santos e Rausch (2009) e Passos et al (2010), pois foram encontrados pelos autores como mais usual escrever artigos individualmente.

Os trabalhos que não corroboram com o presente artigo, no sentido de mesmo serem escritos em conjunto não se-rem cinco autores são: Cruz et al (2009), Salles et al (2010), Machado, Silva e Beuren (2011), Marques e Santos (2011), Silva et al (2012), Duarte et al (2013), Nascimento et al (2013) e Girioli e Asbahr (2013) que encontraram em seus estudos como mais usual é escrever artigos com 2 autores. Nos es-tudos de Moraes Júnior, Araújo e Rezende (2010), Botinha et al (2011), Custódio, Machado e Gibbon (2011), Cruz, Pereira e Espejo (2011), Germano et al (2012), Lima, Diniz e Silva (2012), Santos (2013), Moraes et al (2013), Santana, Afonso e Fagundes (2013) e Faria et al (2013) a forma mais usada de se escrever artigos é em 3 pessoas.

4.2. Abordagem Mais UsualNesta seção apresenta os resultados da pesquisa no que

se refere a metodologia.

Tabela 5: Abordagem mais usual

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Tota

l

Qualitativa 0 0 0 0 4 1 2 7

Quantitativa 0 2 2 4 5 4 3 20

Quant-qualit 1 0 0 0 3 0 9 13

Não mencionada 0 2 1 6 1 2 3 15

Total 1 4 3 10 13 17 17 55

Fonte: Elaborado pelo autor

Neste estudo, encontra-se que a abordagem mais usual pelos autores é a quantitativa, encontrada em 20 trabalhos, conforme é possível verificar na Tabela 5. Esse fato aconte-ce, devido os estudos bibliométricos serem caracterizados pela utilização de técnicas quantitativas. (ARAÚJO, 2006; MACIAS-CHAPULA, 1998).

Verifica-se também, que existem 15 trabalhos, que não possuem a abordagem mencionada. Após verificar 13 arti-gos, com abordagem quantitativo-qualitativa e apenas com abordagem qualitativa encontra-se 7 artigos.

O presente trabalho corrobora com os estudos de Ferrari et al (2012) que também encontraram em seus estudos que a abordagem mais usual é a quantitativa. Por outro lado, Moraes Júnior, Araújo e Rezende (2010), Sales et al (2010), Oliveira e Aragão (2011), Lima, Diniz e Silva (2012), Moraes et al (2013), Santana, Afonso e Fagundes (2013), Oliveira et al (2013) e Nascimento et al (2013) verificaram em seus estu-dos que a abordagem mais usual é a qualitativa.

4.3. Universidades Mais ProlíferasNesta seção apresenta os resultados da pesquisa no que

tange as universidades.

Geovane Camilo dos Santos

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Tabela 6: Universidades prolixas

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total

UFSC 4 5 0 3 4 5 4 25

UFU 0 0 0 0 4 6 10 20

USP 0 3 0 7 2 0 6 18

FURB 0 2 2 2 7 0 2 15

UFC 0 0 0 0 0 5 4 9

UEM 0 0 0 0 0 5 4 9

UFRJ 0 0 9 0 0 0 0 9

UnB 0 0 0 5 2 0 0 7

FECAP 0 0 0 4 0 0 3 7

UEPB 0 0 0 0 0 0 7 7

UFPR 0 0 0 5 1 0 0 6

PUC-PR 0 0 0 6 0 0 0 6

UFMG 0 0 0 0 5 0 0 5

Fonte: Elaborado pelo autor

O presente trabalho apresenta que a faculdade mais proli-xa foi a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com 25 publicações, sendo que apenas em 2009 esta instituição de ensino não teve nenhum autor vinculado a ela. A segunda universidade com mais publicações foi a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com 20 autores vinculados, seguida da Universidade de São Paulo (USP), com 18 autores vinculados a ela. Portanto, verifica por meio destas três universidades a predominância de autores do eixo Sul-Sudeste.

O presente trabalho não corrobora com os estudos de Cruz et al (2009), que encontraram em seus estudos como a universidade mais prolixa a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nos estudos de Rocha et al (2010), Macha-do, Silva e Beuren (2011), Marques e Santos (2011), Santos (2013), Nascimento et al (2013) e Moraes et al (2013) foram encontrados como a faculdade mais prolífera a USP. Mo-raes Júnior, Araújo e Rezende (2010) e Botinha et al (2011) encontraram como faculdade mais prolífera a Universidade Regional de Blumenau (FURB). Nos estudos de Germano et al (2012), Lima, Diniz e Silva (2012) e Santana, Afonso e Fagundes (2013) a faculdade mais prolífera foi Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E a Universidade Presbi-teriana Mackenzie foi encontrada como a mais prolífera por Valandro, Silva e Silva (2012).

4.4. ReferênciasNesta seção apresenta os resultados da pesquisa no que

tange as referências.

4.4.1. Quantidade de Referências

Tabela 7: Quantidade de referências

Quantidades referências

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total

17 77 67 266 346 191 485 1.449

Fonte: Elaborado pelo autor

No presente trabalho constatou que o total de referên-cias usadas nos 55 artigos publicados com a abordagem de “estudo bibliométrico” no Congresso Brasileiro de Custos foram 1.449, sendo o ano de 2013 com o maior número, num total de 485, mas vale destacar que este é o ano com mais artigos publicados nos anais do Congresso Brasileiro de Custos.

Usando por base a tabela 8, com a aplicação de estatísti-ca descritiva nas referências, encontrou-se que o artigo com menos referência apresentou 9, no ano de 2009, e o artigo com mais referências foi em 2013, que teve 65 referências. Verificou também que a média de referências por artigo foi de 26. Constatou-se também que a moda, ou seja, a quan-tidade de referências mais usual são 23, o mesmo valor foi encontrado para a mediana.

Tabela 8: Estatística descritiva das referências

Estatística Quantidade

Mínimo 9

Média 26

Máximo 65

Moda 23

Mediana 23

Fonte: Elaborado pelo autor

4.4.2. Nacionalidade das Referências

Tabela 9: Referências – Nacionalidade

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Tota

l

Per

cent

agem

Nacional 15 62 61 176 247 139 339 1.039 72%

Internacional 2 15 6 90 99 52 146 410 28%

Total 17 77 67 266 346 191 485 1.449 100%

Fonte: Elaborado pelo autor

Nos estudos das referências citadas nos artigos, rea-lizou-se uma análise dessa variável, constatando que os artigos publicados nos anais têm maior parte das referên-cias nacionais, 1.039 (72%) contra 410 (28%) internacionais, conforme apresentado na tabela 9.

O presente trabalho corrobora com os estudos de Rocha et al (2010), Ferrari et al (2012), Silva et al (2012) e Santana, Afonso e Fagundes (2013), que também encontraram em seus estudos como mais comum usar referências nacionais.

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos

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4.4.3. Fonte das Referências

Tabela 10: Fontes das referências

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total

Revistas 4 30 19 117 137 90 188 585

Livro 7 26 27 81 96 52 168 457

Anais Congressos

5 9 12 32 82 25 78 243

Outros 1 6 7 13 18 5 30 80

Dissertações 0 6 2 23 13 19 21 84

Total 17 77 67 266 346 191 485 1.449

Fonte: Elaborado pelo autor

Verifica-se, por meio da tabela 10, que a fonte de refe-rências mais comum é das revistas, com 585 referências. A segunda referência mais usada é de livro, que teve 457, após os anais de congressos, com 243 artigos, as dissertações e monografias foram citadas 84 vezes e outras referências (principalmente leis) totalizaram 80.

As revistas foram mais citadas nos anos de 2008, 2010, 2011, 2012 e 2013, e os livros em 2007 e 2009.

O presente artigo não corrobora com os estudos de Santos e Rausch (2009), Silva et al (2012), Cunha e Kremer (2013) e Santos (2013), que encontram em seus estudos como fonte de pesquisa mais citadas os livros.

5. Considerações FinaisO presente artigo teve por objetivo geral verificar o perfil

dos artigos bibliométricos publicados no Congresso Brasi-leiro de Custos. Os objetivos específicos usados na presente pesquisa foram: a análise da quantidade de artigos publica-dos no CBC, o sexo dos autores, os autores mais prolíferos, a quantidade de autores por artigo, a abordagem mais usual, a instituição de ensino mais prolíferas, a quantidade de refe-rências dos artigos por ano, a nacionalidade das referências e as fontes das referências.

Os resultados foram apresentados em tabelas, consta-tou que o primeiro artigo publicado no CBC, como estudo bibliométrico, foi no ano de 2007, sendo esse o ano que menos teve publicações, e o ano de 2013 foi o com maior publicação, num total de 17, e averiguou que de 2007 a 2013 foram publicados 55 artigos.

No trato dos autores, verificou que a maior parte dos autores é do sexo masculino (100), contra 88 do sexo femi-nino. Constatou que a minoria de autores escreve a maior parte dos artigos, e o autor mais prolífero foi Carlos Alberto Pereira, com 3 publicações ao longo do CBC, com a temá-tica estudos bibliométricos. Foi possível encontrar que a forma mais corriqueira de se escrever artigos é em conjunto, e atingindo o ápice permitido pelas normas do Congresso Brasileiro de Custos, 5 autores.

No trato da metodologia verificou-se que a abordagem mais usual foi a quantitativa, com 20 artigos. Os artigos que não men-cionaram a abordagem foram 15 e a abordagem quantitativo--qualitativa teve 13 artigos e a apenas a qualitativa teve 7 artigos.

A faculdade mais prolixa foi a UFSC, que teve 25 autores vin-culados a esta instituição de ensino. Após apareceu a UFU com 20 autores vinculados e a próxima foi a USP, com 18 autores. Verificou, portanto, que o eixo Sul-Sudeste foi o mais produtivo.

No trabalho encontrou que o total de referências foi de 1.449, e o ano mais produtivo foi 2013, com 485 menções. A média foi de 26 referências por artigos, sendo que o artigo com menos referências apresentou 9 e com mais 65. No trato da na-cionalidade das referências, percebe-se que 72% dos artigos possuem origem nacional e apenas 28% são de origem inter-nacional. As fontes mais usadas nas referências foram revistas, que tiveram 585, seguida dos livros com 457 referências.

Portanto, a presente pesquisa foi de suma importância, pois apresentou um perfil dos artigos publicados como es-tudo bibliométrico, e logo servirá de base para futuros traba-lhos, classificados como estudos bibliométricos.

Para futuras pesquisas recomenda-se um estudo biblio-métrico que abranja todos os artigos publicados no Con-gresso Brasileiro de Custos, como também avaliar outros congressos e revistas e fazer uma comparação.

Referências

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Geovane Camilo dos Santos

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 4 - 13, jan./abr. 2015

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Mariana Pereira BonfimRio de Janeiro – RJCRCRJ-11753/O-3 Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ1

[email protected]

Fernando PadovaniRio de Janeiro – RJ Doutor em Sociologia pela USP2

[email protected]

Andréa Paula Osório DuqueRio de Janeiro – RJ Doutora em Ciência da Informação pela UFF3

[email protected]

ResumoEste estudo tem como objetivo analisar estatisticamente

o impacto das variações cambiais no retorno das ações das principais empresas brasileiras internacionalizadas, segundo o ranking realizado pela Fundação Dom Cabral, no período entre 2000 e 2012. Procurou-se, também, expor o processo inicial de internacionalização dessas empresas. Para isso, foi realizada uma pesquisa descritiva e quantitativa, por meio da utilização do método estatístico de regressão linear múltipla. Verificou-se que não existe correlação, nas 28 companhias analisadas, entre o retorno das ações das empresas internacionalizadas e nas taxas de câmbio, mostrando assim, que, possivelmente, outras variáveis causam o impacto necessário no retorno dessas ações. Verificou-se, ainda, que a maior parte das empresas brasileiras inicia seu processo de internacionalização por meio da instalação de linhas de produção no exterior.

Palavras-chave: Internacionalização, Taxa de Câmbio, Investimento Estrangeiro.

AbstractThis research has as its main goal to analyze the impact

of the exchange rate fluctuations on stock returns of main Brazilian international corporations (classified according

1 UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro – CEP 20050-013 – Rio de Janeiro – RJ

2 USP – Universidade de São Paulo – CEP 05508-900 – São Paulo – SP3 UFF – Universidade Federal Fluminense – CEP 24220-900 – Niterói – RJ

O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas

to the Dom Cabral Foundation annual ranking), covering the period between 2000 and 2012. In addition, this work intended to describe the internationalization process itself of those companies. For this, it was structured a descriptive and quantitative research, using the statistical method of linear regression. Among the main research findings, it can be mentioned the non-existent correlation between the fluctuations in exchange rates and the variation in the shares returns of the 28 most internationalized Brazilian companies analyzed. It was also verified that most of the Brazilian companies has begun their internationalization process by investing on production chains abroad, what it is not usual.

Key words: Internationalization, Exchange Rate, Foreign Investment.

1. IntroduçãoA economia mundial apresenta um período de grandes

mudanças, principalmente no que se refere à internacionali-zação das companhias e na propagação de cadeias produ-tivas globais, afetando diretamente a política e a economia das sociedades modernas.

A globalização produtiva atinge diretamente não só as nações, como também as empresas, pois modifica os pi-lares sobre os quais, nos últimos 50 anos, a sociedade se organizou (BASSI, 1999). O processo inicia-se com duas grandes forças: a primeira é o governo, através de políticas públicas e reformas institucionais; a segunda são as forças independentes que avançaram no campo tecnológico, prin-cipalmente as áreas de comunicação, tecnologia da infor-mação e transporte.

A relevância do presente estudo prende-se, justamente, a esse contexto marcado pelas transformações contem-porâneas, ligadas à recente crise mundial, mas também a outras dinâmicas, como a tendência de “financeirização” da economia internacional; de reorganização das dinâmicas de produção da riqueza internacional e/ou, ainda, de interliga-ção produtiva das empresas em âmbito global, processos que estimulam uma aceleração da internacionalização das empresas em todo o mundo. Dessa maneira, a gestão fi-

Artigo recebido em 19/09/2014 e aceito em 06/03/2015.

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nanceira das empresas começa a demandar uma maior atenção na gestão cotidiana dos projetos corporativos, principalmente quando considerados os impactos cambiais implícitos nas operações financeiras.

Essa nova tendência dialoga com os tradicionais mo-tivadores da tomada de decisão para a internacionaliza-ção das empresas, já bastante difundidos em economias desenvolvidas. Dessa forma, nas economias emergen-tes, se torna importante verificar os motivadores ligados às taxas de câmbio.

De outra forma, as variações cambiais se apresentam como um estímulo competitivo a internacionalização: quan-do a moeda local está valorizada, os ativos internacionais tendem a ficar mais baratos, fazendo com que os investi-dores injetem mais recursos em projetos internacionais. O contrário também acontece: quando a moeda está desva-lorizada, os ativos estrangeiros ficam mais caros, fazendo com que os investidores injetem menos recursos em proje-tos internacionais.

Como hipótese inicial de trabalho, presume-se que a variação do retorno das ações das empresas internacio-nalizadas deveria acompanhar a variação do câmbio, pois situações de valorização da moeda nacional aumentariam o poder de compra dos investimentos e vice-versa. Dessa ma-neira, a percepção dos investidores, traduzida em termos de valorização da cotação das ações em bolsa, deveria acom-panhar os movimentos do câmbio, que podem provocar alterações significativas nas condições de competitividade das empresas internacionalizadas.

Dessa forma, através da utilização do modelo estatís-tico de regressão linear presente nos trabalhos de Faria (2010), Unfer (2010) e Feldman (2010), este estudo busca responder ao seguinte problema de pesquisa: As variações cambiais impactam o retorno das ações das principais empresas brasileiras internacionalizadas, que compõem o ranking realizado pela Fundação Dom Cabral, no período entre 2000 e 2012?

O pico de investimento direto brasileiro que ocorreu em 2006 foi determinante na escolha do período da pesquisa. Esse acontecimento histórico na economia brasileira se deu quando as empresas brasileiras investiram mais no exterior do que as empresas estrangeiras em nosso país. Através desse marco brasileiro no investimento estrangeiro, chegou--se ao intervalo de tempo escolhido, seis anos antes e seis anos depois.

Dessa forma o objetivo dessa pesquisa é o de anali-sar estatisticamente o impacto das variações cambiais no retorno das ações das principais empresas brasileiras in-ternacionalizadas, segundo o ranking elaborado pela Fun-dação Dom Cabral, no período compreendido entre janeiro de 2000 a dezembro de 2012. Posteriormente, buscou-se também descrever o processo inicial de internacionali-zação das principais empresas brasileiras internaciona-lizadas, segundo o ranking realizado pela Fundação Dom Cabral. Este artigo deriva-se da dissertação de mestrado apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com o mesmo título.

2. Marco Teórico

Esta seção divide-se em: formas de atuação no exterior; internacionalização de empresas brasileiras; incentivo, ris-cos e oportunidade na internacionalização.

2.1. Formas de Atuação no ExteriorDiante das diversas formas de atuação no mercado inter-

nacional, destacam-se: exportação; greenfield/brownfield; joint-ventures; fusões e aquisições; licenciamento; alianças estratégicas e, mais recentemente, o fenômeno das born globals. Essas formas de atuação são descritas por Ribeiro (2012) e Pinto e Gomes (2010) da seguinte maneira:

A exportação é a principal forma no processo de interna-cionalização, sua característica é a saída de bens ou serviços do país de origem para outro. Ela pode ser feita pela própria empresa, de forma direta, ou utilizando-se intermediários para realizar a transação, como cooperativa, trading company ou consórcio de exportação, sendo assim de forma indireta.

Denomina-se greenfield os projetos que se encontram na planta, ou seja, que a sua construção ainda não foi inicia-da. Sendo assim, os recursos são injetados na construção necessária para a operação e com a possibilidade da utiliza-ção da marca da empresa já existente no mercado. Por outro lado, temos o brownfield, onde os recursos são injetados em uma estrutura preexistente.

No caso de joint-venture, as empresas se associam para explorar um negócio específico, mantendo suas personali-dades jurídicas. Em relação a internacionalização, essa as-sociação é feita por uma empresa nacional e uma empresa estrangeira com o intuito de realizar um investimento em co-mum. Alguns fatores podem motivar a criação de uma joint--venture: político (a fim de minimizar impactos causados por legislações locais), estratégico (facilitando o acesso a novas tecnologias) e econômico (reduzindo custos de produção e neutralizando os efeitos do câmbio).

Outras formas de internacionalização também merecem destaque, tais como: fusões e aquisições de companhias do exterior; alianças e parcerias estratégicas; e licenciamento de produtos estrangeiros.

Há também o fenômeno das “born globals”, que são empresas que já nascem ou com poucos anos de vida já es-tabelecem seus negócios no exterior. “Elas podem assumir negócios no mercado internacional, às vezes sem nenhuma experiência no mercado doméstico, simultaneamente [...] ou pouco tempo depois das operações domésticas serem estabelecidas” (RIBEIRO, 2012).

2.2. Internacionalização de Empresas BrasileirasA internacionalização no Brasil começou com o que foi

chamado de primeira onda de internacionalização de em-presas, ocorrida entre as décadas de 1950 e 1960; a Pe-trobras e Companhia Vale do Rio Doce foram as pioneiras no mercado estrangeiro. No mercado nacional, houve uma atração das multinacionais estrangeiras, com destaque para o setor automobilístico. Porém, esse período foi marcado pelo foco no mercado nacional e intensificação do processo de substituição de importações (FLEURY; FLEURY, 2007).

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Durante as décadas de 1960 e 1980, ocorreu a segun-da onda de internacionalização no Brasil. Esse período foi marcado pela predominância que fez o país atingir o topo do ranking de investimento estrangeiro direto dos países em desenvolvimento (COUTINHO; HIRATUKA; SABATINI, 2008). Mais uma vez, o setor petrolífero se destacou e abriu espaço para outros setores como construção civil, engenharia e financeiro – este último em busca de captação de empréstimos internacionais. Apesar de terem sido fundamentais para o alcance dessa marca, os valores investidos internacionalmente foram pouco expressivos em comparação com os investimen-tos domésticos (RIBEIRO, 2012).

Após um longo período de ascensão, a internacionaliza-ção de empresas brasileiras foi negativamente afetada por uma série de eventos ocorridos entre a década de 1980 e meados de 1990, tais como: inflação, sucessivas desvalori-zações cambiais, graves crises econômicas internas de ba-lança de pagamentos, taxas de juros domésticas elevadas e instabilidade política no país (COUTINHO; HIRATUKA; SABATINI, 2008).

A partir de meados da década de 1990, houve uma re-estruturação da indústria nacional e um aumento da com-petitividade. Isso se deu devido a abertura da economia, privatizações de empresas públicas, desregulamentação e estabilidade de preções a partir da implantação do Plano Real. Esses fatos acarretaram não só um grande incremen-to do investimento brasileiro direto (IBD) no exterior como também um grande receptor de investimento estrangeiro, em diversos setores.

Com a chegada dos anos 2000, deu início a chamada terceira onda de internacionalização, caracterizada pelo crescimento do comércio mundial aliado à apreciação do câmbio (ALEM, 2010) e o surgimento das empresas denomi-nadas born globals. Em virtude da melhoria nos preços das commodities, o Brasil está sendo favoravelmente inserido nesse contexto, em que possui forte competitividade, princi-palmente por parte de grandes empresas brasileiras no ex-terior (RIBEIRO, 2012). Com isso, o IBD passou a representar um dos principais fatores de mudança estrutural do setor privado nacional (COUTINHO; HIRATUKA; SABATINI, 2008).

O Brasil vem se destacando como o principal investidor na América Latina, passando de US$1 bilhão entre 1991 e 2000, para US$28 bilhões em 2006, segundo dados da UNCTAD (2010). Mesmo com a crise mundial, em 2009 o estoque de investimento brasileiro direto no exterior chegou a patamares de US$158 bilhões, quase três vezes maior que o apresentado em 2003.

2.3. Riscos e Oportunidades na Internacionalização de Empresas

Para enfrentar o aumento da competitividade e uma glo-balização cada vez maior dos mercados, as empresas estão apostando na internacionalização de suas operações. Po-rém, esse processo apresenta riscos e oportunidades que não devem ser desconsiderados no plano estratégico de entrada nos mercados internacionais.

Dentre as oportunidades inerentes à internacionalização das empresas, encontram-se:

[...] a internacionalização permite às firmas, ainda, prote-ção contra taxas cambiais desfavoráveis; diluição de riscos pela diversificação de mercados; acesso facilitado aos sis-temas de comercialização de países receptores do investi-mento – melhor conhecimento do atacado e varejo local -; acesso a capital de baixo custo (ou menor custo que no país de origem); menor dependência do mercado interno; rápida adaptação aos produtos ofertados a mercados específicos; maior disponibilidade financeira para reinvestimentos na produção e na inovação (BRASIL, 2009, grifo nosso).

Mesmo com tantos benefícios, deve-se levar em conta a criação de postos de trabalho, tanto no país de destino dos investimentos (no caso de instalação de fábricas) quanto no país de origem, onde será necessária uma especialização da mão de obra para a expansão do negócio.

Outra oportunidade que merece destaque é a proteção contra taxas cambiais desfavoráveis, uma vez que as em-presas podem escolher determinados países para iniciar o processo de internacionalização por causa da taxa de câm-bio favorável encontrada nesses países em relação a outros, ou ainda “fugir” do câmbio desfavorável do seu país de ori-gem, o que atrapalharia a manutenção de suas atividades.

Como todo processo de mudança envolve riscos, as empresas investidoras devem ficar atentas, pois na visão de Anthony e Govindarajan (2008), as diferenças culturais, o preço da transferência e as taxas de câmbio configuram obstáculos na internacionalização de empresas. Entre as três variáveis citadas acima, a mais importante delas é a das diferenças culturais, influenciando o controle gerencial den-tro de uma companhia internacionalizada. Pois, em quanto mais países a organização estiver inserida, mais exposta estará a empresa às diferenças culturais. Também deve ser analisado o custo da transferência na internacionalização, baseando-se na tributação, regulamentações governamen-tais, tarifas, controle de divisas, entre outros fatores.

As taxas de câmbio, por sua vez, têm um potencial significativo para influenciar os resultados das empresas globais, visto que a variação de valor das diferentes moe-das, nos diferentes momentos das operações internacio-nais, pode, por si só, ocasionar significativas variações na competitividade e nos resultados dessas operações. Maior a dependência de cada empresa internacionalizada, seja no nível das receitas, dos custos e preços dos insumos, do endividamento ou do acesso ao financiamento, maior será a exposição dessas empresas ao risco do tipo cambial, e mais condicionados estarão, em tese, os seus resultados econômicos a essa variação do câmbio. Valorizações ou desvalorizações na moeda de origem podem provocar va-riações no poder de compra dos investimentos estrangei-ros diretos. As companhias internacionalizadas enfrentam exposições a este risco econômico e, com o intuito de minimizar esses riscos, elas optam por realizar estratégias de hedging cambial.

O impacto da exposição cambial no retorno das ações brasileiras foi estudado por diversos autores, tais como Fa-ria, Unfer e Feldman (2010). Empresas como Vale, Petrobras e Gerdau tiveram seus dados coletados e, após uma análise, concluiu-se que essas companhias sofrem algum tipo de

Mariana Pereira Bonfim - Fernando Padovani - Andréa Paula Osório Duque

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impacto nas suas operações em virtude da valorização ou desvalorização do câmbio.

Silva (2010), em uma pesquisa em busca de diagnosticar as dificuldades encontradas pelas empresas internacionali-zadas, analisou duas organizações distintas e concluiu que os maiores problemas se referem às diferenças culturais, o que gerava conflitos dentro da organização.

Já no estudo de Pinto e Gomes (2010) ao analisar o iní-cio das atividades dos restaurantes Spoleto e China in Box no México, constatou-se que ambas as empresas iniciaram suas atividades internacionais através de parcerias com ou-tras empresas. Em relação as dificuldades, o Spoleto alegou problemas no controle das operações; já o China in Box indicou escassez de matérias-primas e problemas no ajuste do cardápio a fim de atender aos hábitos locais.

Em uma comparação entre empresas internacionalizadas do Brasil, Canadá, Irã e Líbano, Silva (2012) verificou que, nas empresas brasileiras, os componentes que mais afetaram o desempenho foram as variáveis cultura e clima organizacional.

Ao estudar mil empresas de base tecnológica (EBT´s), Ribeiro (2012) observou que o que melhor discrimina a inter-nacionalização das EBT´s Born globals, nos dias de hoje, é a integração em cadeias produtivas globais.

A Fundação Dom Cabral, através de sua pesquisa com as empresas internacionalizadas, concluiu que 45,5% dos participantes apresentaram riscos políticos e econômicos, sendo as principais dificuldades na internacionalização das empresas, o que pode ser observado na figura 1:

Figura 1: Principais desafios da internacionalização

Dificuldades e/ou custos de coordenação e governança

Riscos políticos e ecônomicos

Desvantagens do recém-chegado

Desvantagens de ser estrangeira

13,6%18,2%

22,7%

45,5%

Fonte: Fundação Dom Cabral, 2012, p. 17 No processo de internacionalização, vantagens e des-

vantagens são apresentadas especificamente por cada companhia. Porém, Pinto e Gomes (2010) nos mostra que a estrutura, o preço de transferência, a assimetria interna-cional, a distância e o câmbio são dificuldades que devem ser levadas em consideração, conforme apresentado no quadro abaixo:

Quadro 1: Dificuldades apresentadas por Merchant no controle gerencial das organizações internacionalizadas

Dificuldades Motivos

Estrutura

A organização apresenta três dimensões: funcionais, por linha de produto e geográfica. A dimensão geográfica requer adaptação do controle gerencial à cultura do país, enquanto a funcional admite mudanças na forma como a empresa atua, e a dimensão por linha de produto sugere mudanças aos produtos considerando o novo mercado de atuação.

Preço de transferência

A organização pode apresentar dificuldades ao elaborar o preço de transferência, ocasionada pela taxa de câmbio e fatores administrativos.

Assimetria internacional

Ocorre entre a matriz e as filiais internacionalizadas. A administração central pode “engessar” as filiais internacionalizadas, limitando ações.

DistânciaDistância, língua e o fuso horário entre a matriz e as filiais internacionalizadas dificultam a visita e a comunicação da administração central.

CâmbioO câmbio dificulta a avaliação dos negócios internacionalizados.

Fonte: PINTO; Gomes, 2010, p. 70

Ao analisar o Quadro 1, deve-se destacar o câmbio, devido a sua interferência direta nos resultados não só das filiais, como no resultado consolidado das matrizes, gerando dificuldades na avaliação dos negócios.

2.4. Incentivos à Internacionalização no BrasilPode-se definir como a principal contribuição para a

competitividade de empresas brasileiras no exterior as refor-mas introduzidas no Brasil na década de 1990. Dentre elas a estabilização dos preços a partir da implantação do Plano Real, a abertura da economia, a privatização de empresas públicas e a ancoragem cambial, com a apreciação do câm-bio gerando certa vantagem frente à produção estrangeira.

Uma série de ações importantes por parte do governo também foi adotada, complementando as reformas que in-centivaram as companhias brasileiras a se internacionaliza-rem. Tais ações foram o programa de formação de agentes de comércio exterior, os encontros de comércio exterior, as linhas de financiamento para as exportações, a simplificação de procedimentos de operações de comércio exterior, o pro-grama Alerta Exportador do Inmetro e o programa de inteli-gência comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior da Apex-Brasil (TEIXEIRA, 2006, p. 4).

Vale ressaltar que a criação de políticas públicas de in-centivo tem sido motivada pela forte participação do inves-timento brasileiro no exterior - porém elas não estão sendo direcionadas apenas para a exportação (forma mais tradi-cional de internacionalização), mas também ao incentivo de novas parcerias, fusões e aquisições entre empresas.

Com a reformulação das condições de financiamento dessas companhias, o Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) tem sido um aliado da internacionalização de empresas brasileiras, principalmente após a criação do Programa de Apoio a Investimentos de Empresas Brasileiras de Capital Nacional no Exterior, em 2002, cujo objetivo era financiar investimentos nas áreas de logística, comercializa-ção, apoio a exportações, infraestrutura de serviços, insta-lação de unidades produtivas no exterior e na formação de joint-ventures. O programa exigiu mudança no estatuto do BNDES (IGLESIAS; VEIGA, 2002).

A criação da Resolução BNDES nº 1.189, de 19 de julho de 2005, constituiu um marco no estímulo de políticas públi-cas na internacionalização de empresas de capital nacional. Essa resolução teve como objetivo “estimular a inserção e o fortalecimento de empresas de capital nacional no mercado internacional, [...], através do apoio a investimentos ou pro-

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jetos a serem realizados no exterior, sempre que contribuam para promover as exportações brasileiras”.

A primeira empresa a ser beneficiada pela Resolução BNDES nº 1.189 foi o frigorífico Friboi S.A., que adquiriu 85,3% da empresa argentina Swift Armour (líder no seg-mento de carnes e embutidos naquele país), graças a um financiamento de US$ 80 milhões. Outra que também obte-ve financiamento, mas em uma operação de menor vulto, foi a Cooperativa Agroindustrial Lar, visando a construção de uma unidade de beneficiamento de grãos no Paraguai.

O governo brasileiro também mostrou seu apoio em 2005 com a participação de 15 mil empresas brasileiras em 550 eventos internacionais, graças a Apex-Brasil, onde foi gerado aproximadamente US$ 20 bilhões em negócios, especialmente com países árabes. Outro importante investi-mento foi a criação de Centros de Distribuição de Produtos Brasileiros no Exterior, o primeiro deles na cidade de Miami, nos Estados Unidos. Tais centros facilitam a inserção de empresas brasileiras que estejam iniciando suas atividades naquele país, por meio de apoio para liberação de mercado-rias, depósito, sala de reuniões e assessoria para contrata-ção de serviços locais.

Com todos esses incentivos por parte do governo brasi-leiro, a entrada e saída de investimento direto têm elevado o fluxo de investimentos brasileiros a níveis bastante expres-sivos. O fluxo de capitais brasileiros no exterior em 2010 foi o terceiro maior desde 1994, conforme apresentado abaixo no Gráfico 1:

Gráfico 1: Brasil: fluxos de investimentos diretos

Em m

ilhõe

s de

US$

Investimento Brasileiro Direto no Exterior (IBD)Investimento Estrangeiro Direto no Brasil (IED)Linear (Investimento Brasileiro Direto no Exterior (IBD))Linear (Investimento Estrangeiro Direto no Brasil (IED))

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0

-10.000

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Fonte: Fundação Dom Cabral, 2011, p. 2

Já o investimento brasileiro direto no exterior ultrapassou US$ 48 bilhões, atingindo seu número recorde desde 1994. Através da análise do gráfico acima, é possível verificar tam-bém que não só os fluxos de capital brasileiro, como também os investimentos estrangeiros no Brasil, tendem a manter um crescimento acentuado nos próximos anos. Ao mesmo tem-po, é possível observar concordância entre os movimentos de IED e IBD ao longo do período. Os crescentes valores de in-vestimentos no exterior mostram que as empresas brasileiras incorporam a competição em nível global às suas estratégias de longo prazo (FUNDAÇÃO DOM CABRAL, 2011).

Interessante notar também que tanto o comportamen-to do investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil como o comportamento do investimento brasileiro direto (IBD) no exterior seguem o mesmo padrão verificado não só nas economias emergentes, como também na economia mundial como um todo - com picos em 1997, queda ao redor de 2001, recuperação a partir de 2003, novo pico em 2008, acentuada retração em 2009 e discreta recu-peração a partir de 2010 (UNCTAD, 2010), o que pode ser verificado no Gráfico 2:

Gráfico 2: IED entrada no Brasil e no mundo (US$ milhões)

Brasil, eixo esquerdoMundo, eixo direito

50.000

45.000

40.000

35.000

30.000

25.000

20.000

15.000

10.000

5.000

0

2.250.000

2.000.000

1.750.000

1.500.000

1.250.000

1.000.000

750.000

500.000

250.000

019

70

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

Fonte: GONÇALVES, 2011, p. 12

No Gráfico 3, encontra-se a relação existente flutuações no índice Ibovespa e flutuações nas taxas de câmbio:

Gráfico 3: Relação entre Ibovespa e câmbio

2002 2004 2006 2008 2010 2012

100k

80k

60k

40k

20k

0k

3,5

3

2,5

2

1,5

1

IbovespaCâmbio

Fonte: www.dadosdabolsa.com

Através da análise do Gráfico 3, é possível verificar a cor-relação negativa existente entre o Ibovespa e o câmbio: to-das as vezes em que o Ibovespa alcança marcas mais altas, como em 2008, o câmbio, por sua vez, alcança patamares mais baixos. E o inverso também acontece, o que indica que há uma correlação negativa entre esses dois índices.

No Gráfico 4, é possível verificar a relação entre as flutu-ações cambiais, o investimento estrangeiro direto e o inves-timento brasileiro direto no exterior:

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Gráfico 4: Relação entre câmbio, IED e IBD

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

6

5

4

3

2

1

0

-1

-2

CâmbioIEDIBD

Fonte: Dados da Fundação Dom Cabral, 2011, p. 2

Como pode ser verificado no Gráfico 4, ocorreu uma retração dos investimentos estrangeiros no Brasil entre os anos 2000 e 2003, seguindo uma tendência da economia mundial, devido a instabilidades na própria economia e na política. No Brasil, essa tendência também foi verificada com menos investimentos estrangeiros diretos, o que pode ter sido acentuado pelas incertezas geradas pela sucessão eleitoral e de possível mudança de governo (fim do mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso e início da era Lula da Silva).

Em 2006, observou-se um aumento acentuado do inves-timento brasileiro direto no exterior: fato histórico na eco-nomia brasileira onde, pela primeira vez, os investimentos brasileiros superam os investimentos estrangeiros.

Através da análise do Gráfico 2, percebe-se que o câm-bio não mantém uma relação direta com o IED, mas apenas com o IBD, pois em períodos que o câmbio se aprecia no Brasil, especialmente entre 2003 e 2008, os investimentos aumentam, tanto IED como IBD.

A hipótese inicial desse estudo parece se sustentar, visto que haveria correlação entre aumento do investimento brasi-leiro no exterior e flutuações nas taxas de câmbio.

3. MetodologiaSegundo Silva (2003), o problema que está sendo in-

vestigado e os objetivos mencionados na pesquisa influen-ciam na escolha da metodologia. Gil (2002) destaca que a classificação das pesquisas deve ser baseada em seus objetivos adotando três diferentes formas: exploratórias, descritivas e explicativas.

Sendo assim, pode-se caracterizar essa pesquisa como descritiva, pois, segundo Gil (2002), “pesquisas descritivas são aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis”. Também afirmado por Vergara (2007, p. 47), “a pesquisa descritiva expõe carac-terísticas de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza”.

Com esse estudo, busca-se analisar estatisticamente, nas empresas brasileiras internacionalizadas, se há correla-ção entre as variáveis retorno da ação da empresa, retorno do mercado e variação do câmbio.

Quanto a abordagem do problema, as pesquisas podem ser classificadas em qualitativas e quantitativas. De acordo com Diehl (2004), quantitativa é a pesquisa que pode ser traduzida em números, utilizando-se métodos estatísticos. Já a pesquisa qualitativa busca uma relação entre a realida-de e o objeto de estudo, possibilitando o entendimento das mudanças nos indivíduos.

Nesse estudo, será utilizada a abordagem quantitativa, por meio de métodos estatísticos de análise de correlação e análise de regressão linear múltipla, uma vez que o motivo para se conduzir uma pesquisa quantitativa é descobrir quan-tas pessoas de uma determinada população compartilham uma característica ou um grupo de características (LAKATOS; MARCONI, 2003). Nessa pesquisa, busca-se verificar se de-terminada variação na taxa de câmbio impacta no retorno das ações das empresas brasileiras internacionalizadas.

3.1. Hipótese de PesquisaSendo questões testáveis, supostas e prováveis, as hi-

póteses de pesquisa devem ser verificadas a ponto de res-ponder a questão da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 1991; GIL, 2002).

Desse modo, sustentado pelo referencial teórico e cor-relacionado ao objetivo da pesquisa, que busca analisar o impacto da variação cambial sobre o retorno das ações das principais empresas brasileiras internacionalizadas, as se-guintes hipóteses foram levantadas:

H0 (hipótese nula): Variações na taxa de câmbio não afetam o retorno das ações das empresas brasileiras inter-nacionalizadas.

H1 (hipótese alternativa 1): Variações na taxa de câmbio afetam o retorno das ações das empresas brasileiras inter-nacionalizadas.

3.2. População e AmostragemA fim de atingir o objetivo da pesquisa, foram selecio-

nadas as 47 empresas mais transnacionais brasileiras que compõem o ranking da Fundação Dom Cabral (FDC), publi-cado em 2012. Do total, 3 foram excluídas por se tratarem de instituições financeiras e 16 por não serem empresas de capital aberto, o que dificulta a obtenção dos seus dados.

Por fim, o trabalho foi conduzido por meio da análise das 28 empresas: JBS Friboi, Gerdau, Metalfrio, Marfrig, Magnesita, Suzano Papel e Celulose, Vale, Weg, Embraer, Marcopolo, Natura, Cia Providência, América Latina Logís-tica, Petrobras, Minerva, Bematech, Ultrapar, Gol, Randon, Totvs, DHB, Porto Seguro, Oi, Tegma, Cemig, Portobello, Eletrobras e M. Dias Branco.

A maior parte das empresas selecionadas para o estudo faz parte dos setores de alimentos, serviços, transporte e lo-gística, máquinas e equipamentos, extração mineral, energia elétrica, aeronaves, comunicação e informática.

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3.3. Desenho da PesquisaFoi utilizado o modelo de regressão linear múltipla descrito

nos trabalhos de Faria (2010), Unfer (2010) e Feldman (2010) para verificar o impacto da volatilidade do câmbio no retorno das ações das empresas brasileiras internacionalizadas.

rt = 0 + 0Rt + 0St + (1)rt = retorno das ações das empresas brasileiras internacionalizadas; Rt = retorno do índice Ibovespa (mercado); St = desvalorização cambial no período; = termo aleatório.

Foi escolhido o índice Ibovespa de maneira complemen-tar na análise das ações das empresas brasileiras interna-cionalizadas: além de verificar o impacto do câmbio nas ações dessas empresas, a regressão linear também anali-sará o comportamento da Bolsa de Valores nessas ações, com o objetivo de perceber se flutuações gerais do mercado estariam influenciando as empresas individualizadas.

Os dados referentes as ações das empresas internacio-nalizadas, índice Ibovespa e desvalorização cambial foram coletados no banco de dados Economática, na forma de fechamento mensal, no período compreendido em janeiro de 2000 a dezembro de 2012.

Para a variável retorno real das ações das empresas brasileiras internacionalizadas (rt), foi calculado o seu lo-garitmo natural e utilizado o Índice de Preços ao Consumi-dor Amplo (IPCA) como índice de inflação, como disposto na equação abaixo:

rt = LN (Pt / It) – LN (Pt-1 / It-1) (2)Pt = é o preço da ação na data t;It = IPCA.

Já para o cálculo da variável independente retorno real do mercado Rt, quando foi utilizado o índice Ibovespa como índice de mercado, tem a seguinte fórmula:

Rt = LN (Ibovespat / It) – LN (Ibovespat-1 / It-1) (3)Ibovespat = índice Ibovespa na data t;It = IPCA.

A variável independente referente à variação cambial ∆St foi calculada em função da primeira diferença do logaritmo natural. Foi utilizado tanto o logaritmo natural das taxas de câmbio quanto das paridades cambiais, apresentando am-bas, o mesmo resultado.

4. Resultados e DiscussãoDentre as 47 empresas que compunha o ranking reali-

zado pela Fundação Dom Cabral em 2012, foram selecio-nadas 28 para a realização desta pesquisa, dada que as demais não possuem divulgação de seus relatórios. Os dados encontrados através da aplicação da regressão nas empresas brasileiras internacionalizadas estão descritos no Quadro 2, a seguir:

Quadro 2: Análise de regressão das empresas internacionalizadas

Empresas R² F de sigp-valor

Ibovespap-valor

Câmbio

Friboi 12% 0,00 0,002 0,531

Gerdau 56% 0,00 0,000 0,518

Metalfrio 5% 0,02 0,013 0,556

Marfrig 10% 0,00 0,006 0,602

Magnesita 15% 0,00 0,001 0,349

Suzano 25% 0,00 0,000 0,102

Vale 38% 0,00 0,000 0,000

Weg 7% 0,01 0,011 0,984

Embraer 30% 0,00 0,000 0,000

Marcopolo 19% 0,00 0,000 0,220

Natura 11% 0,00 0,000 0,638

Cia Providência 8% 0,00 0,008 0,890

ALL 9% 0,00 0,001 0,606

Petrobras 52% 0,00 0,000 0,664

Minerva 13% 0,00 0,002 0,468

Bematech 6% 0,01 0,010 0,607

Ultrapar 3% 0,13 0,046 0,310

Gol 12% 0,00 0,002 0,537

Randon 28% 0,00 0,000 0,934

Totvs 6% 0,01 0,005 0,411

DHB 1% 0,59 0,315 0,621

Porto Seguro 20% 0,00 0,000 0,236

Oi 32% 0,00 0,000 0,423

Tegma 14% 0,00 0,004 0,216

Cemig 36% 0,00 0,000 0,980

Portobello 5% 0,02 0,007 0,393

Eletrobras 27% 0,00 0,000 0,220

M. Dias Branco 8% 0,00 0,003 0,739

Fonte: A autora, 2014

Realizando a análise de regressão, verificou-se que das 28 empresas brasileiras internacionalizadas, apenas as em-presas Gerdau e Petrobras apresentaram um R-quadrado superior a 50%: 56% na primeira, e 52% na segunda.

Utilizado como uma medida de ajuste, o R-quadrado é a proporção da variação amostral da variável depen-dente pelas variáveis independentes. Todavia, nem sem-pre deverá ser levado em conta o R-quadrado, já que os modelos econométricos utilizados devem ser avaliados (WOOLDRIDGE, 2003).

Na regressão linear múltipla, deve-se analisar a signifi-cância do modelo estatístico proposto. Este é definido pelo F de significação (Fávero et al. 2009).

De todas as empresas analisadas, apenas a Ultrapar e a DHB apresentaram um F de significação superior ao nível de significância de 5%, podendo-se afirmar que tanto as varia-ções nas taxas de câmbio quanto às variações no mercado não influenciam o retorno das ações dessas empresas.

Nas demais empresas, o valor-p encontrado em cada uma delas foi inferior ao nível de significância de 5%. Com

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isso verificou-se que o retorno do mercado afeta o retorno das ações das empresas.

Com relação ao câmbio, apenas nas empresas Vale e Embraer verificou-se que tanto valorizações quanto des-valorizações cambiais afetam o retorno das ações dessas companhias.

4.1. Início da Internacionalização das Empresas Brasileiras

Analisando o início do processo de internacionalização das empresas brasileiras internacionalizadas que compõem o ranking realizado pela Fundação Dom Cabral em 2012, verificou-se que a maior parte dessas companhias inicia sua internacionalização instalando linhas de produção no exte-rior, como pode ser verificado no Gráfico 5:

Gráfico 5: Início da internacionalização das empresas brasileiras

Fusões eaquisições21%

Exportação29%

Aliançasestratégicas7%

Joint-venture11%

Instalação de linhas deprodução32%

Fonte: Os autores, 2014

Verifica-se que 32% das empresas brasileiras internacio-nalizadas pesquisadas iniciam seu processo de internacio-nalização através da instalação de linhas de produção no exterior; seguida de 29% através de exportações; 21% de-las iniciam por meio de fusões e aquisições com empresas estrangeiras; 11% através de joint-venture e 7% delas por meio de alianças ou parcerias estratégicas com empresas estrangeiras.

5. Considerações FinaisEste estudo buscou analisar a importância da variação

cambial das empresas brasileiras internacionalizadas e tam-bém a variação no retorno das ações dessas companhias.

A presente pesquisa teve como objetivo principal verifi-car se existe ou não correlação entre as variáveis: variação do câmbio e variação das ações das empresas brasileiras internacionalizadas. Para isso, utilizou-se o modelo estatísti-co de regressão linear descrito nos trabalhos de Faria (2010), Unfer (2010) e Feldman (2010) e dados das empresas brasi-leiras internacionalizadas, presente no ranking da Fundação Dom Cabral, de 2012.

Por meio da regressão realizada nas 28 empresas brasi-leiras internacionalizadas, verificou-se que somente as em-presas Petrobras e Gerdau apresentaram um R-quadrado superior a 50%: 52% na primeira e 56% na segunda.

Como afirma Wooldridge (2003), o R-quadrado é a pro-porção da variação amostral da variável dependente pelas variáveis independentes, e é utilizada como uma medida de ajuste. Contudo, nem sempre deverá ser dada importância demasiada ao R-quadrado, pois devem ser avaliados os mo-delos econométricos utilizados (WOOLDRIDGE, 2003).

Dessa maneira, como afirmam Fávero et al. (2009), na regressão linear múltipla, se torna necessário verificar a significância do modelo estatístico proposto, que é definido pelo F de significação.

Nas empresas analisadas, apenas duas possuíam o F de significação superior ao nível de significância de 5%, Ultrapar e DHB, podendo-se afirmar assim que as variáveis retorno do mercado e câmbio não são capazes de explicar variações no retorno das ações dessas companhias.

Em todas as demais, o retorno do mercado afetou o re-torno das ações das companhias, já que o valor-p de cada uma delas foi inferior ao nível de significância de 5%.

No que diz respeito ao câmbio, somente as empresas Vale e Embraer apresentaram um resultado que indicava que flutuações cambiais impactaram no retorno das ações dessas empresas.

Ao contrário do que se concluiu nas pesquisas de Faria (2010), Unfer (2010) e Feldman (2010) – nas quais foram ana-lisadas as companhias Vale, Petrobras e Gerdau, respectiva-mente, e foi verificada correlação entre a variação do câmbio e o retorno das ações –, neste estudo o mesmo não pôde ser verificado, mesmo realizando um desdobramento com essas três empresas, utilizando as mesmas variáveis.

Essa diferença nos resultados encontrados entre as pes-quisas pode estar relacionada ao período de tempo utilizado: essa pesquisa utiliza os anos entre 2000 e 2012, enquanto as outras iniciam em 1995, período em que a internacionali-zação era pequena e se limitava a poucos casos. Utilizando um universo maior de análise, 28 empresas ao contrário de 3, pode-se supor que outras variáveis também influenciem na decisão dos investidores. De qualquer maneira, os resul-tados obtidos nessa pesquisa podem apenas indicar se há ou não correlação entre as variáveis no período de tempo pesquisado.

Dessa maneira, o objetivo de pesquisa foi alcançado, pois foi analisado estatisticamente o impacto das variações cambiais no retorno das ações das principais empresas bra-sileiras internacionalizadas, no período entre 2000 e 2012.

Dessa forma, pode-se deduzir que, possivelmente, ou-tras variáveis causariam um impacto mais determinante na variação no retorno das ações das companhias internacio-nalizadas, especialmente aquelas ligadas à dimensão estra-tégica, como apontado pelo levantamento de percepção de oportunidades efetuado pela Fundação Dom Cabral junto aos decisores brasileiros, tais como: aumento do valor da marca da empresa, aproximação e associação às redes pro-dutivas globais, posicionamento estratégico em mercados consumidores, ganho de competitividade em relação aos consumidores locais, aumento da capacidade de acesso a tecnologias e inovação ou ainda redução de riscos através da diversificação geográfica.

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Ao mesmo tempo, o comportamento das empresas brasileiras internacionalizadas parece acompanhar as flutu-ações que acontecem no mercado em geral, independente-mente das estratégias individualizadas nas companhias ou das variações cambiais.

Dentre os objetivos específicos, buscou-se descrever o início do processo de internacionalização das empresas, nos quais averiguou-se que a maior parte das empresas bra-sileiras internacionalizadas, 32% delas, inicia seu processo de internacionalização por meio da instalação de linhas de produção no exterior; 29% através de exportações; 21%

delas através de fusões e aquisições com empresas inter-nacionais.

Futuras pesquisas podem aumentar o levantamento rea-lizado por esse estudo, seja acrescentando mais empresas ou outras variáveis no modelo de regressão proposto ou ainda aumentando o período de tempo pesquisado.

Outras pesquisas podem também realizar um estudo se-melhante, porém com uma metodologia diferenciada: com a aplicação de questionários nas empresas brasileiras interna-cionalizadas, com o objetivo de verificar quais foram as reais oportunidades, riscos e motivadores da internacionalização.

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Cláudio Roberto Caríssimo Belo Horizonte – MG Mestre em Ciências Contábeis pelo CEPCON/FACE/UFMG1

[email protected]

Ricardo Rodrigues Barbosa Belo Horizonte – MGPh.D em Administração e Professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG1

[email protected]

Ivam Ricardo Peleias São Paulo – SPDoutor em Controladoria e Contabilidade pelo PPGCC – FEA/USP2

Professor do Centro Universitário FECAP3 e da PUC-SP4

[email protected]

Márcia Athayde Moreira Belo Horizonte – MG Doutora em Controladoria e Contabilidade pelo PPGCC – FEA/USP2

Professora da FACE/UFMG1

[email protected]

1 CEPCOM/FACE/UFMG – Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Contabilidade e Controladoria do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Minas Gerais – CEP 31270-901 – Belo Horizonte – MG

2 PPCG/FEA/USP – Programa de Pós Graduação em Controladoria e Contabilidade (PPGCC) do Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – CEP 05508-010 – São Paulo – SP

3 FECAP – Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - CEP 01502-001 – São Paulo – SP

4 PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – CEP 06414-0007 – Barueri – SP

O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres

ResumoEste artigo teve como objetivo evidenciar, através da aná-

lise de conteúdo dos acórdãos disponíveis, as metodologias que têm sido utilizadas nos processos judiciais que requeiram os procedimentos de apuração de haveres e em que contexto estão sendo informadas. Abordou-se a avaliação de empre-sas realizada em processos judiciais de apuração de haveres. O referencial teórico apoiou-se na transcrição dos métodos de avaliação, sendo destacado o valor patrimonial/contábil, o fluxo de caixa descontado, o balanço de determinação e o goodwill. Foram consultados 196 espelhos de acórdãos dis-ponibilizados pelo site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) no período de 01/11/2007 a 01/11/2012, sendo que 53 se mostraram alinhados com os termos designados para a pesquisa. Esta pesquisa descritiva utilizou a análise de con-teúdo através de palavras-chave e sua frequência (Avaliação de empresas (10,76%), Balanço de determinação (62,66%), Goodwill (6,33%), Metodologia (2,53%), Método (9,49%) e Fluxo de Caixa (8,23%)) e três categorias pré-definidas: in-dicação de procedimento, determinação de procedimento e esclarecimento de procedimento. Constatou-se que as principais categorias utilizadas foram as de indicação e deter-minação de procedimento, observando-se certa preferência ou consagração do Balanço de Determinação pelo judiciário mineiro, contudo, não se consegue evidenciar nos acórdãos se em tal procedimento está inserida a mensuração dos ati-vos intangíveis e/ou do goodwill.

Palavras-chave: Apuração de Haveres, Avaliação de Em-presas, Balanço de Determinação.

Artigo recebido em 01/10/2014 e aceito em 06/03/2015

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AbstractThis article aimed to highlight through the analysis of

content of the judgments available, the methodologies that have been used in court cases that require the procedures for verification of assets and in that context are being informed. He approached the valuation carried out in legal proceedings of verification of assets. The theoretical reference relied on transcription of valuation methods, being assigned the book value/accounting, discounted cash flows, the special balance sheet and goodwill. 196 judgments mirrors were consulted provided by the website of the Court of Justice of Minas Gerais (TJMG) in the period from 11/1/2007 to 11/1/2012, of which 53 were aligned with the terms designated for research. This research used descriptive content analysis through Key words and their frequency (Valuation (10.76 %), Special Balance Sheet (62.66%), Goodwill (6.33%), Methodology (2.53%) method (9.49%) and cash flow (8.23%) and three predefined categories: indication of procedure, procedure determination and clarification of procedure. It was noted that the major categories used were those of indication and determination of procedure, observing a certain preference or consecration of special balance sheet by judicial mineiro, however, cannot stand in the judgments in such a procedure is inserted into the measurement of intangible assets and/or goodwill.

Key words: Inventory of Assets, Valuation, Special Balance Sheet

1. IntroduçãoMatéria complexa e rica em abordagens como também

de elementos condicionantes, a avaliação de empresas es-sencialmente busca mensurar o valor do empreendimento da melhor forma possível. Em situações consensuadas, a figura do valor justo surge em decorrência da definição da natureza e contexto da transação econômica, buscando a melhor base para a mensuração, levando ainda em consi-deração as condições justas da negociação, o equilíbrio das informações e a não ocorrência de venda forçada (LOPES e MARTINS, 2010).

Contudo, quando não há consenso entre as partes da negociação, a avaliação pode ser um instrumento tanto para motivar discussões judiciais, quanto para elucidar as partes e o magistrado quanto ao valor justo do empreendimento. Nesse contexto, sendo a discussão motivada, por exemplo, pela metodologia aplicada na avaliação, ou até mesmo o va-lor justo apurado, as partes requerem a tutela do Poder Judi-ciário para julgar os questionamentos e/ou direitos arguidos.

Nesses tipos de demandas, a análise técnica se faz através de perícias judiciais com o nome de apuração de haveres. Nesse aspecto, um ponto interessante se destaca: enquanto avaliações de empresas motivadas por proces-sos de fusões, aquisições ou incorporações têm o olhar do avaliador para o futuro, conforme as bases da teoria de finanças, nas avaliações em processos judiciais, por outro prisma nas avaliações decorrentes de retirada de sócios, as premissas de avaliação devem se apoiar na mensuração dos ativos a valor de mercado e na capacidade de gerar lucros acima do normal, não sendo pertinente estimar acréscimos

patrimoniais posteriores à retirada/óbito do sócio, uma vez que o futuro da organização não pertence ao sócio retirante (ORNELAS, 2001). A avaliação de empresas nos processos judiciais se apresenta com o nome de apuração de haveres, que tem como objetivo apurar o valor das quotas societárias de sócio dissidente, excluído ou morto (ORNELAS, 2003).

Como forma de conhecer os estudos e evidenciações sobre as decisões concernentes a demandas relaciona-das a este tema, pode ser utilizada a jurisprudência. Essa, conforme Reale (2002), representa o conjunto de suces-sivas decisões harmônicas dos tribunais. Dessa forma, é possível observar em que sentido os magistrados indicam a avaliação de empresas como base para a apuração de haveres. Para tal fim, realizam-se consultas às decisões dos tribunais estaduais, através de acórdãos exarados por essas instituições. Procurando uma melhor explicação, conhecimento do conteúdo, evidenciação da finalidade e sentido das mensagens, entre outros fins, pode-se utilizar como ferramenta a análise de conteúdo. De forma mais específica ainda, pode-se realizar este trabalho através de técnicas de análise categórica ou temática, investigando, conforme Minayo (2000), núcleos de sentido em grupos classificados contidos na mensagem, ordenados por pala-vras-chave inerentes ao tema a ser investigado.

Assim, tendo como ponto de discussão as metodologias utilizadas para avaliação de empresas em apuração de ha-veres e a possibilidade de analisar com base nas decisões emanadas dos tribunais, se estabelece a questão que norteia esta pesquisa: é possível identificar quais metodologias de avaliação de empresas, como também núcleos de sentido de palavras-chave ligadas a esse tipo de procedimento, estão sendo utilizadas em processos que requeiram a apu-ração de haveres?

Admite-se que a escolha tanto pode ter sido motivada em nível profissional, no que o avaliador busca, por meio de benchmarking, adotar um parâmetro para comparação de seus métodos utilizados, ou ainda seguir uma tendência dominante ou até mesmo requerida pelos tribunais.

Assim, como objetivo geral deste artigo, busca-se evidenciar através da análise de conteúdo dos acórdãos emanados pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), quais foram as metodologias utilizadas nos pro-cessos judiciais que requeiram os procedimentos de apu-ração de haveres e em que contexto foram informadas, com vistas a compreender melhor o fenômeno e dessa forma estabelecer novos parâmetros de análise para os profissionais que atuam na área.

2. Referencial Teórico

2.1. Avaliação de Empresas em Processos de Apuração de Haveres

A avaliação de empresas é o um procedimento técnico que busca mensurar o valor justo de um empreendimento, que pode ser estabelecido, por exemplo, considerando a potencialidade do negócio em gerar resultados futuros, en-tre outras abordagens, sendo realizada no meio empresarial em processos de compra e venda de empresas, fusão/cisão ou incorporação e dissolução parcial de sociedades, dentre

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outros (MARTELANC, PASIN, PEREIRA, 2010; MARTINS et al., 2001; PAULO et al., 2006). Assim também como bens móveis e imóveis são passíveis de avaliação para determina-ção de valor e haver o procedimento da fração que caberá a cada herdeiro ou cônjuge meeiro, em processos de inventá-rio ou em dissoluções de sociedade, por exemplo, também não é incomum a avaliação de empresas.

Perez e Famá (2004, p. 102) destacam que, dependendo de uma série de circunstâncias e pressupostos, pode-se apurar “valores” distintos, numérica e conceitualmente, para as empresas, dependendo dos métodos de avaliação. São exemplos:• Valor Contábil ou Book Value• Valor de Mercado da Empresa em Bolsa de Valores• Valor Econômico, entre outros.

Nos processos judiciais e extrajudiciais a avaliação de empresas se apresenta com o nome de apuração de have-res. Ornelas (2003) esclarece que a apuração de haveres é o procedimento judicial que tem como objetivo apurar o valor das quotas societárias de sócio dissidente, excluído ou morto, sendo que o trabalho de avaliação destas é feito por um perito contador. De acordo com Sá (2004, p. 95), na apuração de haveres, o que se busca conhecer são: Os créditos e débitos dos sócios (devidamente atualizados);

O valor do patrimônio líquido real;As expectativas de lucros da sociedade, estando em

processo de continuidade;As expectativas de realização de ativos para empresas

em processos de descontinuidade.No que se refere à apuração de haveres em processos

judiciais, apesar de não haver muitas publicações, constate--se trabalhos que versam desde a qualidade na formação do perito avaliador, perspectivas do mercado, convergência às bases da Teoria de Finanças e falhas observadas em laudos periciais analisados. Entre essas pesquisas, citamos:

Gilbertson e Preston (2005) constataram uma evolução e tendência no que se refere à necessidade de serviços de avaliação mais criteriosos em todo o mundo, visualizando um futuro promissor para a avaliação de empresas em função dessa dinâmica do mercado e como contribuição na solução de litígios. Apontam como um desafio o desenvolvimento de uma classe profissional de avaliadores nas economias emer-gentes, como também, a título de interesse público, que os governos deveriam cuidar para que os processos de avaliação (nesse caso apuração de haveres) sejam de boa qualidade em todos os foros, pois em tais ações os peritos avaliadores têm um papel importante na defesa do usuário da informação.

Mondandon, Siqueira e Ohayon (2008) analisaram a propriedade e adequação das técnicas mais usuais de avaliação de empresas utilizadas em perícias contábeis mediante o estudo de cinco laudos periciais. Esses pes-quisadores encontraram diversas falhas na elaboração dos laudos que vão contra as bases teóricas de finanças e concluíram que há ainda muito a pesquisar e oferecer ao meio profissional, como forma de melhorar a qualidade dos trabalhos apresentados.

Perez e Famá (2004) realizaram um trabalho sobre os métodos de avaliação de empresas, embasados na literatura de finanças, abordando as principais metodologias, dando

ênfase ao processo de avaliação através do fluxo de caixa descontado e analisando o Balanço de Determinação face às premissas da Teoria de Finanças. Esses autores reco-nhecem o avanço na jurisprudência no reconhecimento do goodwill, valorizando assim a importância da metodologia de apuração de haveres, mesmo que pelo Balanço de Deter-minação, posto que, na visão desses citados autores, corri-ge algumas limitações básicas da contabilidade societária.

Ornelas (2000) destaca a Teoria da Avaliação Patri-monial e do Lucro como norteamento para avaliação de sociedades em marcha, condicionando as avaliações em função de características patrimoniais da entidade e de sua capacidade em gerar lucros acima do que pode ser con-siderando normal. Iudícibus (2000) e Martins et al. (2001) complementam ao considerar que os ativos da sociedade podem ser avaliados tendo como princípio básico os bens patrimoniais, ou seja, a valores de entrada ou por valores de saída, ressaltando que sociedades em descontinuidade e sem perspectivas futuras devem ser avaliadas pelo seu valor de liquidação, ao passo que, ocorrendo a continui-dade, a base para a avaliação é a capacidade do empre-endimento em gerar benefícios futuros à empresa. Dessa forma, com base nas considerações desses autores, pode--se inferir sobre a interdisciplinariedade entre finanças e contabilidade no processo de apuração de haveres.

Tiburcio Silva (2008) destaca ainda, atitudes que o perito contador ou o avaliador deve manter na elaboração dos lau-dos de avaliação de empresas, tais como a completa neutra-lidade, a verificabilidade dos cálculos e procedimentos efe-tuados, como também minimizar da melhor forma possível a assimetria de informação para com as partes do processo judicial, como também para com o juiz.

2.2. Métodos de AvaliaçãoEmpresas são avaliadas tanto para processos de compra,

venda, incorporação ou cisão, quanto para fins judiciais, como por exemplo, processos de inventários, recuperação judicial e liquidação parcial de sociedades, sendo que o objetivo desse procedimento é mensurar o valor da organização de acordo com determinadas características da empresa, que serão de-terminantes para a escolha do método pertinente à avaliação, tais como a continuidade do empreendimento, qualidade dos ativos, negociações semelhantes, entre outras.

Cornell (1994) expõe que, basicamente, os modelos de avaliação de empresas mais difundidos são a avaliação pelo valor contábil ajustado; a avaliação de ações e dívidas; a avaliação por múltiplos de mercado; a avaliação pelo fluxo de caixa descontado e a avaliação por opções reais. Entre-tanto, para Damodaram (1997), não existe um método me-lhor para avaliação de empresas. A escolha dependerá do cenário específico e de uma variedade de características do ativo ou empresa avaliada. Nesse mesmo raciocínio, Martins et al.(2001) acrescentam que também não existe uma fór-mula absoluta.

Tiburcio Silva (2008) apresenta uma série de métodos que podem ser utilizadas em processos de apuração de haveres, tais como: Nova Iorque, Hatfield, Método de De-laware e múltiplo de venda, e os apresentados por Ornelas, Moschini e Scotti, Pellegrino.

Cláudio Roberto Caríssimo - Ricardo Rodrigues Barbosa - Ivam Ricardo Peleias - Márcia Athayde Moreira

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Por outro lado, mas não dicotomicamente, Martelanc, Pasin e Pereira (2010) apontam que as metodologias de avaliação de empresas mais utilizadas são: método contábil/patrimonial; método do fluxo de caixa descontado; método dos múltiplos ou avaliação relativa; método de EVA/MVA. Contudo, acrescentam os autores, que entre todos esses, os bancos de investimento e as empresas de consultoria têm maior preferência pelo método do fluxo de caixa descontado.

Dentre as abordagens pertinentes à de avaliação de empresas existentes e disponíveis na literatura, para fins do presente estudo serão considerados dois métodos e dois procedimentos complementares, sendo que o goodwill complementa a abordagem do balanço de determinação:a) Avaliação pelo valor contábil/patrimonial;b) Avaliação pelo método do fluxo de caixa descontado;c) Balanço de determinação;d) Goodwill.

2.2.1.Avaliação pelo Valor Contábil/PatrimonialDe acordo com Martins et al. (2001), nesse método de

avaliação os ativos serão avaliados por valores de entrada, como também em algumas situações por valores de saída. Dessa forma, a avaliação patrimonial embasa-se pelo custo histórico, custo corrente ou custo de reposição futuro. As avaliações pelo valor contábil atendem ao princípio do custo como base de valor, todavia, deixam a desejar em muitas si-tuações perante o usuário da informação contábil. Martins et al. (2001) destacam ainda que sua utilização é mais prática, sem subjetividade e de fácil evidenciação, pois se verifica o valor do item patrimonial através dos documentos contá-beis, tornando inclusive sua comprovação imediata.

Contudo, essas avaliações com base no valor contábil/pa-trimonial não levam em consideração a capacidade de gerar receita dos ativos avaliados e nem da entidade. Dessa forma, em uma perícia de apuração de haveres, o uso desse método será pertinente para entidades sem perspectivas futuras ou em processo de liquidação, posto que desconsidera a capa-cidade dos ativos em gerar recursos para o empreendimento.

2.2.2. Avaliação pelo Método do Fluxo de Caixa Descontado

O método do fluxo de caixa descontado é um dos méto-dos mais utilizados para a avaliação de empresas. O valor da empresa é determinado com base em seus fluxos futuros de caixa que são projetados e descontados a uma taxa que re-presenta o risco do negócio mais o valor do dinheiro no tempo (MARTELANC; PASIN; PEREIRA; 2010). Martins et al. (2001) destacam que esse é um método essencialmente financeiro.

Para Cunha (2011), a avaliação pelo fluxo de caixa des-contado leva em conta premissas básicas nos processos de avaliação de empresas, tais como a estimação dos fluxos de caixa futuros, a avaliação do risco e a taxa de desconto.

A aplicação desse método oferece condições de mensu-rar os ativos com base em sua capacidade de gerar recursos para a empresa. Corroborando essa observação, pode-se buscar como fundamentação o CPC 46 (Mensuração do Valor Justo) que apresenta, entre as técnicas de mensura-ção do valor justo, a abordagem da receita através de fluxos futuros de caixa descontados e trazidos a valor presente.

2.2.3. Balanço de Determinação O balanço de determinação não é um método de avaliação

de empresas, porém tem como função evidenciar a posição patrimonial da empresa, com os ajustes e procedimentos em consonância com a Teoria da Avaliação Patrimonial e do Lucro, na data base para a avaliação. É considerado um “balanço patrimonial elaborado para a data do evento, na qual os ele-mentos patrimoniais são avaliados e consignados a valores de mercado. É utilizado para determinar o montante dos haveres do sócio retirante ou falecido” (ORNELAS, 2003, p. 83).

Perez e Famá (2004) apontam a súmula 265 do Supre-mo Tribunal Federal (STF), na qual consta: “Na apuração de haveres, não prevalece o balanço não aprovado pelo sócio falecido ou que se retirou”. Desta forma, segundo esses autores e Ornelas (2003), nos processos de apuração de haveres é levantado um Balanço de Determinação com base na situação patrimonial na data do evento, suportado por in-ventário físico e contábil, sendo considerado ainda os ativos intangíveis e todo o passivo.

Santos (2011) aponta que a diferença fundamental entre o balanço de determinação e o balanço patrimonial reside no critério para a mensuração dos elementos patrimoniais. Conforme o autor, no balanço de determinação as contas não são avaliadas a valores históricos e sim por valor cor-rente, valor presente, valor de mercado e valor de reposição, entre outros. Também o patrimônio líquido é “representado pela rubrica - situação líquida, apurada por diferença entre o ativo e o passivo” (SANTOS, 2011 p. 134).

2.2.4. GoodwillO goodwill representa “o resíduo existente entre a soma

dos itens patrimoniais mensurados individualmente e o valor global da empresa” (MARTINS et al., 2001).

Esse intangível está ligado à continuidade da empresa, derivado da mais valia entre o valor da empresa, comparado ao valor dos ativos (ORNELAS, 2003). Dessa forma, o goo-dwill resulta da diferença positiva entre o valor econômico da sociedade, descontado o valor de seus ativos, mesmo avaliados a valor de mercado. Martins et al. (2001), salien-tam que a determinação do goodwill também se embasa em expectativas de lucros futuros.

Considerando a tendência do judiciário em determinar que os ativos devem ser avaliados a valor de mercado, con-forme apontado por Ornelas (2000) e que o empreendimento tem seu valor na sua capacidade de gerar retorno ao inves-tidor, a evidenciação do goodwill nas perícias de apuração de haveres, de acordo com as contribuições de Martins et al. (2001), poderá ser mensurada pela diferença entre a empresa avaliada como um todo e seus ativos avaliados ao valor de mercado, apurando assim a mais valia do empreen-dimento. Poderão ainda ser aplicadas fórmulas específicas, como também método específico conforme apresentado e proposto por Ornelas (2000; 2003).

Dessa forma, o procedimento de apuração de haveres, fundamentado nas bases interdisciplinares da teoria da con-tabilidade e da teoria de finanças, oferece ao magistrado, como também às partes do processo, a apuração do valor justo do empreendimento, gerando assim informação útil para a tomada de decisão, nesse caso a sentença do juiz.

O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres

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2.3. Jurisprudência e AcórdãosNum sentido estrito, jurisprudência expressa a revelação

do direito no exercício jurisdicional através de sucessivas decisões harmônicas dos tribunais (REALE, 2002). A função da jurisprudência se faz importante porque, enquanto as leis da física e matemática têm um rigor em sua estrutura e não dão lugar a interpretações conflitantes, as leis jurídicas têm um comportamento distinto, pois advém da vida e experiên-cia humana, exigindo um esforço no seu entendimento, que deve estar consonante às exigências da sociedade, depen-dendo do momento e lugar (REALE, 2002).

Desta forma, conforme Diniz (2006, p.295) jurispru-dência é “o conjunto de decisões uniformes e constantes dos tribunais, resultantes da aplicação de normas e casos semelhantes, constituindo uma norma geral aplicável a todas as hipóteses similares ou idênticas”, ou ainda, sin-tetizando sua definição, Magalhães e Magalhães (2007, p. 685) a definem como “o conjunto de decisões judiciais a respeito de um determinado assunto”. Passos e Barros (2009) destacam ainda que a característica pública da jurisprudência e sua produção derivam da habitualidade, uniformidade e constância.

O artigo 163 do Código de Processo Civil (CPC) estabe-lece que os julgamentos proferidos pelos tribunais são de-nominados Acórdãos. Geralmente, um tribunal é solicitado em manifestar-se devido à insatisfação da parte vencida em uma decisão de instância inferior. Dessa forma, a parte in-conformada solicita nova apreciação da questão, recorren-do ao tribunal imediatamente superior (GUIMARÃES, 2004). Como consequência dessa ação, o tribunal poderá manter ou reformar parcial ou totalmente a sentença proferida, ob-jeto da irresignação da parte requerente.

3. MetodologiaEsta pesquisa quanto aos seus objetivos apresenta-se

como descritiva. Para Beuren (2003), esse tipo de pesquisa observa, registra e analisa os fenômenos, sem a interferên-cia do pesquisador.

O procedimento usado foi a análise de conteúdo. Para Bardin (1977) a análise de conteúdo busca uma explicitação sistematizada expressa do conteúdo das mensagens, com a finalidade de se efetuarem deduções lógicas e justificadas.

Quanto a sua abordagem, esta pesquisa será quanti--qualitativa, com predominância quantitativa. Essas aborda-gens não se excluem, podendo se complementar (MICHEL, 2009), posto que, enquanto a pesquisa quantitativa coleta, tabula, codifica os dados, eentre outros procedimentos, a pesquisa qualitativa organiza os dados evidenciados e as-sim realiza análises críticas e interpretativas.

A instrumentalização da análise de conteúdo seguiu as fases e termos apontados por Oliveira (2008), na qual a análise empírica levantou as unidades de registro como uma segmentação do conjunto do texto para análise, construção de categorias através da uma classificação dos elementos participantes do texto, análise das categorias considerando a totalidade do texto na análise e realizando a classificação e quantificação dos termos e por fim a inferência dos dados colhidos, como evidenciação do conhecimento ou mensa-gem expressa no texto.

A técnica para análise de conteúdo escolhida para este trabalho foi a análise categorial ou temática. Essa análi-se, segundo Minayo (2000), busca evidenciar núcleos de sentido contidos na comunicação cuja presença ou fre-quência signifiquem algo para o objetivo analítico visado. Este tipo de análise se apoia em procedimentos estatís-ticos, interpretativos ou ambos. Neste trabalho, a análise categorial foi dividida em três núcleos de sentido. Desta forma, além das unidades de registro, consubstanciadas pelas palavras-chave escolhidas, complementa-se a aná-lise com a contextualização nos sentidos de indicação, determinação ou de esclarecimento de procedimentos. Assim, para efeitos desta pesquisa, considera-se indica-tivo de procedimento a citação das palavras-chave, em contexto de indicação, mostrando o procedimento que foi realizado. Determinação de procedimento foi caracteriza-do como ordenamentos pelo Tribunal ou pelo Magistrado, impondo ao perito ou às partes qual o procedimento que deveria ser realizado. Por fim, esclarecimento de proce-dimento caracteriza-se como função de elucidar sobre aspectos técnicos ou motivações da realização de deter-minado procedimento.

As consultas sobre as jurisprudências foram realizadas por meio do site do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG), no período de 01 de novembro de 2007 a 01 de novembro de 2012, especificamente a processos que demandaram a apuração de haveres.

4. Coleta e Análise dos Dados

4.1. Consulta ao Site do TJMGA primeira parte desta pesquisa consistiu em acessar o

site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (http://www.tjmg.jus.br/portal), utilizando a opção Jurisprudência que oferece consulta ao sistema de acórdãos exarados por esse tribunal.

Um relevante e delimitador para a consulta ao site foram as palavras-chave “apuração” e “haveres”. Em razão de limita-ções do sistema, a consulta foi realizada ano por ano, gerando um total de 196 espelhos para cinco anos. Os espelhos são os resumos que contém o número do processo e os principais temas que tratam os acórdãos. Destaca-se que, para esta pesquisa, o que se busca é a constatação dos métodos de avaliação de empresas relacionados à apuração de haveres.

Desses 196 espelhos de acórdãos, nem todos versavam sobre discussões envolvendo questionamentos sobre a apu-ração de haveres, no que se refere à mensuração do valor do empreendimento objeto da lide. Muitos deles relacionavam--se a questionamentos sobre honorários periciais, data em que configurava o encerramento do negócio ou a dissolução parcial, assistência judiciária gratuita, apresentação de con-traproposta de sócio, arrolamento de bens, entre outros.

Assim, de acordo com o propósito dessa questão de pesquisa e em função do especificado acima, 53 acórdãos versavam sobre questionamentos quanto à apuração de ha-veres e a avaliação do valor do empreendimento.

4.2. Tratamento dos DadosForam analisados os cinquenta e três acórdãos que

versavam sobre questionamentos quanto à apuração de

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haveres e a avaliação do valor do empreendimento. Na lei-tura dos acórdãos, procurou-se evidenciar palavras-chave, escolhidas previamente e categorizadas, que se relacionam ao processo de mensuração do valor das empresas. As pa-lavras escolhidas foram:

Quadro 1: Palavras-chave da análise de conteúdo

Palavra Justificativa Fontes consultadas

Metodologia

Para realizar a avaliação do valor da empresa, são utilizadas diversas metodologias tais como Fluxo de caixa descontado, Método Anglo-Saxão, Múltiplos de faturamento, dentre outros.

Neiva (1997); Martinez (1999); Ornelas (2000, 2003); Martins et al. (2001); Perez e Famá (2004); Tiburcio Silva (2008)

Avaliação de Empresa

O termo avaliação de empresa, por si só já sinaliza sobre mensuração de valor do empreendimento.

Damodaram (1997); Martinez (1999); Martins et al. (2001); Devaney (2003); Perez e Famá (2004); Gilbertson e Preston (2005); PAULO et al. (2006); ; Mondandon, Siqueira e Ohayon (2008); Tiburcio Silva (2008)

Método

O perito-contador pode utilizar os termos metodologia ou método, para reportar à forma como realizou a mensuração.

Damodaram (1997); Ornelas (2000, 2003); Martins et al. (2001); Perez e Famá (2004); Tiburcio Silva (2008)

Balanço de Determinação

É utilizado para determinar o montante dos haveres do sócio retirante ou falecido.

Ornelas (2000, 2003); Perez e Famá (2004); PAULO et al. (2006); Tiburcio Silva (2008); Santos (2011).

GoodwillRefere-se aos atributos intangíveis da empresa.

Ornelas (2000, 2003); Martins et al. (2001); Perez e Famá (2004); PAULO et al. (2006); Tiburcio Silva (2008)

Fluxo de Caixa

Método de avaliação de empresa.

Martinez (1999) Martins et al. (2001); Devaney (2003); Perez e Famá (2004); Tiburcio Silva (2008); Martelanc; Pasin; Pereira (2010); Cunha (2011).

Fonte: Elaborado pelos autores

O Quadro 1 – Palavras-chave da análise de conteúdo - apresenta as palavras escolhidas para a análise de con-teúdo. Essas palavras foram escolhidas em razão de faze-rem parte do vocabulário inerente ao tema de avaliação de empresas e apuração de haveres, estando corroboradas as suas citações nas obras apresentadas nesse quadro, como fontes de consulta.

4.3. Análise da Frequência e Conteúdo dos Termos

Tendo sido feito os levantamentos dos acórdãos que versavam sobre questionamentos quanto à apuração de haveres e a avaliação do valor do empreendimento, foi feita a ordenação e cômputo da frequência das palavras-chave que se relacionam com o processo de apuração de haveres.

Na leitura dos acórdãos procurou-se evidenciar, com es-sas palavras-chave já pré-definidas, como se relacionavam ao processo de mensuração do valor das empresas, neste caso em liquidações parciais, na qual o pleito é à saída de algum sócio, resultando na discussão do pagamento do va-lor de suas quotas.

Tabela 1: Abordagem na apuração de haveres

Ab

ord

agem

na

Ap

uraç

ão d

e H

aver

es

Freq

uênc

ia %

Ind

icaç

ão d

e p

roce

dim

ento

Det

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inaç

ão d

e p

roce

dim

ento

Esc

lare

cim

ento

de

pro

ced

imen

to

Metodologia 4 2,53% 4 0 0

Avaliação de empresa 17 10,76% 9 1 7

Método 15 9,49% 8 0 7

Balanço de determinação

99 62,66% 52 27 20

Goodwill 10 6,33% 8 0 2

Fluxo de caixa 13 8,23% 10 0 3

Totais 158 100% 91 28 39

Fonte: Elaborado pelos autores

De acordo com a Tabela 1 – Abordagem na apuração de haveres – em termos de distribuição de frequência, evi-dencia-se que a menção do termo Avaliação de empresas ocorreu em 17 vezes (10,76%), Balanço de determinação 99 vezes (62,66%), Goodwill 10 (6,33%), Metodologia 4 (2,53%), Método 15 (9,49%) e Fluxo de Caixa 13 (8,23%).

A menção do termo Metodologia ocorreu quatro vezes (2,53%), sendo que em todas elas referindo-se como indi-cação de procedimento, ou seja, foi mencionado somente o termo como indicação do procedimento a ser feito. O termo Método, por sua vez, ocorreu 15 vezes (9,49%), expressan-do indicações de procedimento (8 vezes) e esclarecimento de procedimento (7 vezes).

A menção do termo Avaliação de Empresas ocorreu 17 vezes (10,76%), expressando o objetivo do laudo pericial em avaliar a empresa e em alguns casos que essa tarefa era pertinente ao perito-contador. Nove menções referiam-se a indicativo de procedimento, ou seja, foi mencionado somen-te o termo como indicação do procedimento a ser ou que foi feito. Outras 7 vezes foram expressas como esclarecimento de procedimento, caracterizado pelo perito-contador escla-recendo aspectos pertinentes à avaliação da empresa que foi feita. Um único procedimento foi determinado pelo Juiz

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ou Tribunal, determinando especificamente que se fizesse a avaliação da empresa objeto da ação.

A menção do termo Balanço de determinação apresen-tou hegemonia em relação a todos os demais termos esco-lhidos, mencionado noventa e nove vezes (62,66%). Como indicativo de procedimento, foi expresso 52 vezes, eviden-ciando assim que o procedimento realizado foi o balanço de determinação conforme norteia a própria jurisprudência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Vinte e sete vezes apresentou-se como determinação de procedimento, ou seja, os juízes, o Tribunal ou o ordenamento legal (art. 1031 do Código Civil) determinaram que esse fosse o procedimento para a apura-ção de haveres do processo em questão. Essa determinação se deu com frases como, por exemplo: “determinando-se a realização do balanço especial de determinação, conside-rando as contas do autor”. Vinte vezes o termo relacionou-se a esclarecimento de procedimentos relativos ao balanço de determinação quanto à apuração de haveres.

A menção do termo goodwill ocorreu em 13 vezes (8,23%), sendo que em 10 vezes representou indicativo de procedimento e três vezes como esclarecimento de procedimento. Com relação aos termos constatados relacionados a esclarecimento de procedimento, foram encontradas menções como o perito esclarecendo que para a apuração dos haveres foi utilizado o método do fluxo da renda. Em relação aos termos destacados como indicativo de procedimento, evidenciou-se, por exemplo: “soma do valor patrimonial das empresas com o valor do goodwill apurado pelo método de “fluxo de caixa descon-tado”, incorreu em bis in idem, superfaturando as empre-sas”. O termo latino “bis in idem”, conforme Mascarenhas (2009), refere-se a dupla punição ou incidência repetida de um mesmo encargo.

A menção do termo fluxo de caixa ocorreu em 10 vezes (6,33%), sendo que em oito vezes representou indicativo de procedimento, derivando de menções, como, por exemplo, indicação de que para mensurar o valor da empresa utilizou--se o fluxo de caixa, ou ainda, para mensurar o goodwill, foi também utilizado esse método.

Não obstante, as evidenciações de terminologias decor-rentes de procedimentos de apuração de haveres e a análise de conteúdo desses termos em razão dos procedimentos indicados constata que o balanço de determinação apresen-ta frequência com superioridade absoluta sobre os demais métodos, apesar de ainda constatar-se menções ao fluxo de caixa e a apuração do goodwill.

Assim, destaca-se a evidenciação em 99 vezes, repre-sentando uma frequência de 62,66% dos termos esco-lhidos, do balanço de determinação como instrumento de mensuração de valor da sociedade como um todo e como determinação de procedimento exarado pelos juízes e pelo TJMG. Dessa constatação infere-se que tal procedimento encontra-se como o preferido ou consagrado pelo poder judiciário mineiro. Contudo, não é exposto nesses acórdãos se nessa mensuração está incluído a quantificação do in-tangível da empresa, expresso na literatura contábil como goodwill. O Quadro 2 expõe os trechos das palavras-chave inseridas nos acórdãos:

Quadro 2: Trechos das palavras-chave inseridas nos acórdãos:

Palavra-chave Trecho do Acórdão Abordagem conforme pesquisa

Metodologia

“A metodologia utilizada pelo Perito Oficial torna inaceitáveis as conclusões obtidas com a perícia técnica”.

Indicativo de procedimento

“Constando no laudo pericial judicial acostado aos autos a metodologia utilizada na apuração dos haveres da sociedade dissolvida; a planilha de cálculo; as respostas a todos os quesitos...”

Indicativo de procedimento

“Constando no laudo pericial judicial acostado aos autos a metodologia utilizada na apuração dos haveres da sociedade dissolvida”

Indicativo de procedimento

Avaliação de Empresa

“Para a correta avaliação do patrimônio da empresa, cujo objeto social é “a participação em outras empresas”, torna-se necessário que o trabalho do perito se estenda à documentação dessas “outras empresas” participadas”.

Determinação de procedimento

“Certo que a avaliação deste patrimônio, para fins de dissolução parcial, deve ser feita de forma total, para evitar enriquecimento ilícito de uma das partes.”

Indicativo de procedimento

“Atacam os agravantes a avaliação da empresa levada a efeito pelo liquidante nomeado para tal mister (f. 926 e seguintes) ”.

Indicativo de procedimento

“O liquidante fez uma análise mais abrangente, baseando sua avaliação em outros critérios, tal como na classe de concessão da rádio (A) e nos equipamentos utilizados pela empresa”.

Esclarecimento de procedimento

Método

“Não há nulidade na sentença que determina método inadequado de apuração de haveres, quando expressamente pedido pelas partes a adoção de outro método”.

Esclarecimento de procedimento

“Insurge-se a 1ª Apelante [...]contra o método da apuração de haveres”...

Indicativo de procedimento

“Quanto ao método da apuração contábil, é de se observar que a apuração de haveres, conforme a jurisprudência, deve ser feita por levantamento do Balanço de Determinação, na data do evento”.

Determinação de procedimento

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Balanço de Determinação

“Determinando-se a realização do balanço especial de determinação, considerando as contas do autor...”

Indicativo de procedimento

“Mesmo quando a liquidação da quota deriva do falecimento de sócio minoritário, deve ser realizado mediante a elaboração de balanço especial”.

Indicativo de procedimento

“In casu, ao exame do contrato social, verifica-se que, em tal instrumento, não há previsão acerca do procedimento a ser seguido em caso de dissolução da sociedade, e, assim sendo, impõe-se a realização de balanço, consoante disposto no art. 1.031 do CC/02”

Indicativo de procedimento

“Como é sabido, a adequada apuração dos haveres do sócio dissente pressupõe a realização de balanço de determinação, também denominado balanço especial, visando a estabelecer o real valor de suas quotas na data da retirada”

Esclarecimento de procedimento

Goodwill

“O goodwill constitui a parte do valor de mercado de uma empresa que não esteja diretamente indicada nos seus ativos ou passivos. É considerado o principal ativo intangível de uma empresa, sendo incluídos nesta espécie de valores: marca, imagem de mercado, clientela, tradição, know how, patentes...”

Esclarecimento de procedimento

“Conclui-se que inexiste afronta à coisa julgada na apuração do goodwill das sociedades, devendo este ser considerado no levantamento da quota social do agravado, seja porque constitui elemento patrimonial das empresas”

Indicativo de procedimento

Fluxo de Caixa

“Afirma o Agravante que deveria ter sido usado o método de valor econômico, através do fluxo de caixa descontado”...

Indicativo de procedimento

“Contudo, afirma a douta perita às fls. 216 que não foi possível a aplicação do método do Fluxo de Caixa Descontado, “tendo em vista a impossibilidade de determinação da taxa ideal ou adequada para efeito de desconto”

Esclarecimento de procedimento

“[...] método de fluxo de caixa descontado, utilizado pela perícia para apuração do goodwill, foi previsto na cláusula 11 dos contratos sociais [...]”

Esclarecimento de procedimento

Fonte: Elaborado pelos autores

O Quadro 2 sintetiza e dá uma visão com a qual eviden-cia-se com maior clareza a contextualização nos sentidos de indicação, determinação ou de esclarecimento de pro-cedimentos. Assim, torna-se claro o sentido de indicativo de procedimento da palavra “metodologia” empregada nos acórdãos, conforme as frases transcritas no quadro.

Na categoria de determinação de procedimento, pode--se evidenciar o termo “Balanço de Determinação”, explici-tando em seu sentido a ação do judiciário, conforme trechos retirados dos acórdãos, em determinar ao perito-contador ou às partes que se faça a apuração de haveres através do Balanço de Determinação.

Na categoria esclarecimento de procedimento, nota-se o sentido de elucidar as partes ou o Juízo as razões pela apli-cação de determinado procedimento, método ou atributo, utilizados pelo perito na apuração de haveres.

5. Considerações FinaisEste artigo buscou evidenciar, através da análise de

conteúdo dos acórdãos disponíveis, quais foram as meto-dologias de avaliação de empresas que têm sido utilizadas nos processos judiciais que requeiram os procedimentos de apuração de haveres e em que contexto estão sendo infor-madas. Para o levantamento dos acórdãos base para a pes-quisa, o processo de consulta ao site do TJMG mostrou-se eficaz, oferecendo condições rápidas e de entendimento. Destaca-se que dos 196 espelhos de acórdãos disponibili-zados pelo site, 53 se mostraram alinhados com os termos designados para a pesquisa.

Na análise de conteúdo desses acórdãos, evidenciou--se a seguinte distribuição de frequência com relação aos termos propostos: Avaliação de empresas ocorreu 17 vezes (10,76%), Balanço de determinação 99 vezes (62,66%), goo-dwill 10 vezes (6,33%), metodologia 4 vezes (2,53%), mé-todo 15 vezes (9,49%) e fluxo de Caixa 13 (8,23%). A cate-gorização dos termos foi divida em três núcleos de sentido, quais sejam, a indicação de procedimento, determinação de procedimento e esclarecimento de procedimento. Essa divi-são mostrou que a categoria que apresentou maior frequên-cia relacionava-se com as indicações de procedimento. Os termos relacionados com a determinação de procedimento se apresentaram com maior grau quando se referiam ao ba-lanço de determinação.

No que tange a constatação das determinações de procedimento se concentrarem no Balanço de Determi-nação, infere-se pela preferência ou consagração desse procedimento de avaliação pelo judiciário mineiro, quan-do analisados os acórdãos pertinentes a metodologias de avaliação de empresa em processos judiciais de apu-ração de haveres.

Os termos Goodwill e Fluxo de Caixa se apresentaram em sua maioria relacionados a um indicativo de procedimen-to, sendo referidos pelos peritos como procedimentos perti-nentes para a mensuração do valor de mercado da empresa e que, para mensurá-lo, deve-se utilizar o Fluxo de Caixa Descontado. Entretanto, a utilização desses métodos, mes-mo somados (fluxo de caixa representou 8,23% e o goodwill 6,33%) ainda tiveram frequência bem inferior às do Balanço de Determinação (62,66%).

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Assim, de forma geral, as informações que foram eviden-ciadas sobre modelos de avaliação de empresas através dos acórdãos relacionados à apuração de haveres disponibiliza-dos no site do TJMG, mostraram principalmente a utilização do Balanço de Determinação como instrumento consagrado pelo judiciário mineiro para esse tipo de lide, apesar do uso em poucos processos do Fluxo de Caixa Descontado e do Goo-dwill. Essa pouca incidência desses métodos respaldados pela Teoria de Finanças nos acórdãos analisados pode advir de sua eficácia como instrumento de prova e apuração de haveres dos sócios, e assim gerarem pouca apelação quanto à avaliação apresentada pelo perito; ou os profissionais po-dem não estar se valendo desses modelos, que têm como característica principal a mensuração do valor econômico da empresa pela sua capacidade de gerar resultados futuros.

Por outro lado, constata-se nas frases que continham o termo Balanço de Determinação, que representaram a maior parte das frequências apuradas, a utilização pelos peritos-contadores por tal procedimento, posto que a maior parte das citações se deu por indicativo de procedimento (52 vezes), sendo referendada sua utilização pelo judiciário, quando expressa a ordem para a elaboração da avaliação com base neste procedimento, contatado conforme frases tendo o sentido de determinação de procedimento (27 ve-zes). Acrescenta-se ainda que a elaboração do Balanço de Determinação encontra respaldo na jurisprudência tanto em nível do tribunal estadual, quanto federal através do STJ.

Desta forma, pode-se concluir que o Balanço de Deter-minação é a principal metodologia de avaliação de empresas utilizada em Minas Gerais, e que, apesar de apresentarem frequência inferior, constatou-se a menção das palavras--chave Fluxo de Caixa e Goodwill sinalizando principalmente a ação de indicar e esclarecer a sua utilização. Noutro ponto, evidencia-se a hegemonia da aplicação e uso do Balanço

de Determinação, seja por deliberação do perito-contador, indicando seu uso, ou até mesmo sendo citado no sentido da indicação no texto do acórdão, ou ainda, através das de-terminações de procedimento emanadas de ordenamento do judiciário conforme acórdãos.

Essas evidenciações confirmam as conclusões tecidas por Perez e Famá (2004); Gilbertson e Preston (2005); Mon-dandon, Siqueira e Ohayon (2008), quanto ao desafio do de-senvolvimento de uma classe profissional de avaliadores nas economias emergentes e sua importância na defesa do usuá-rio da informação, como também o avanço na jurisprudência no reconhecimento do goodwill, ainda que em pequena pro-porção, ou ainda, consagrando o Balanço de Determinação que traz em sua construção a fundamentação obtida através da Teoria da Avaliação Patrimonial e do Lucro, a qual conjuga a evidenciação dos ativos pelo custo corrente e capacidade de gerar lucros acima do normal ou resultados futuros.

Esses aspectos teóricos valorizam a importância da me-todologia que oferece embasamento para a incorporação das características tangíveis e intangíveis dos ativos a ser empregadas para a mensuração do valor econômico do empreendimento. Todavia, em razão dessa variedade de procedimentos e abordagens que podem ser aplicadas na avaliação de sociedades em processos judiciais de apura-ção de haveres, confirma-se a necessidade de muito ainda a ser pesquisado para, assim, oferecer ao meio profissional instrumentos que sejam capazes de melhorar a qualidade dos trabalhos apresentados e discutir a fundamentação da utilização de determinados procedimentos.

Como sugestão para pesquisas futuras, pode-se indi-car a consulta aos acórdãos exarados pelo STJ sobre este tema, ou ainda a consulta em outros Tribunais de Justiça, para assim evidenciar os procedimentos dos profissionais em outras unidades da federação.

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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 24 - 33, jan./abr. 2015

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Claudio Stern da Cunha FilhoPorto Alegre – RSGraduando em Ciências Contábeis na UFRGS1

[email protected]

Ângela Rozane Leal de SouzaPorto Alegre - RS CRCRS 52.107Professora Adjunta da UFRGS1

Mestre em Ciências Contábeis pela Unisinos2

[email protected]

ResumoO mercado de compra e venda de imóveis no Brasil, por

força das metas políticas do Governo em diminuir o déficit habitacional, principalmente através do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), leva as empresas construtoras a profissionalizarem-se para se sustentarem financeiramente. Nesse ambiente, verifica-se que as formas de gestão de custos utilizadas por algumas construtoras, muitas vezes, não estão apoiadas em métodos embasados na literatura acadêmica. O presente artigo tem como objetivo geral estimar os custos e a rentabilidade final de um empreendimento

1 UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – CEP 90040-000 – Porto Alegre – RS

2 Unisinos – Universidade do Vale do Rio dos Sinos – CEP 93022-000 – São Leopoldo – RS

Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

imobiliário vinculado ao PMCMV, de uma construtora renomada na região metropolitana de Porto Alegre, através de análise conjunta das receitas de vendas de imóveis e dos custos envolvidos na sua construção. Escolheu-se como metodologia a custo padrão corrente, por ser esta uma técnica auxiliar de predeterminação de custos eficaz para se planejar e controlar os custos, apresentando utilidade para fins gerenciais de programação, acompanhamento dos custos e averiguação de eventuais divergências nas quantidades e valores orçados. Por fim, observa-se que o controle de custos possibilita o conhecimento especializado dos desembolsos e da correção de eventuais desvios durante a execução das obras, diminuindo o risco de prejuízos quanto a, por exemplo, altos gastos com materiais de construção e mão de obra. Tal análise poderá auxiliar empresas construtoras a permanecerem lucrativas, alinhado-as ao princípio contábil da continuidade.

Palavras-chave: Mercado Imobiliário, Construtoras, Custos, Resultados

Artigo recebido em 30/09/2014 e aceito em 06/03/2015.

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AbstractThe market for buying and selling real estate in Brazil, under

the policy goals of the Government to reduce the housing deficit, mainly through Minha Casa Minha Vida (MCMV), leading construction companies to professionalize in order to support themselves financially. Considering this environment, it is found that the forms of cost management used by some builders often are not supported in costing methods theoretically grounded in academic literature. The following research aims at analyzing the costs and ultimate profitability of a real estate project, linked to MCMV, from a renowned builder in the metropolitan region of Porto Alegre through joint analysis of property sales revenues and costs involved in its construction. The chosen methodology is the current standard cost, since this is an auxiliary technique effective for planning and controlling costs, also presenting managerial usefulness for programming purposes, costs monitoring and investigation of differences in quantities and budgeted values. Finally, it is observed that the cost control expertise enables disbursements and correction of any deviations during execution of works, lessening the risk of losses as, for example, higher spending on building materials and labor. Such analysis may help construction companies to remain profitable, aligning them to the accounting principle of continuity.

Key words: Housing Market, Builders, Costs, Results

1. IntroduçãoO mercado imobiliário brasileiro, desde 2009, tem estado

bastante aquecido e proporcionou a realização da aspiração da aquisição da casa própria a milhões de brasileiros, assim como tem estendido a prosperidade à economia brasileira como um todo, pois a geração de empregos em todas as áreas envolvidas e a concomitante facilitação do acesso ao crédito proporcionou o aumento do consumo. Ao mesmo tempo, houve o consequente aumento na quantidade de grandes empresas de construção civil, o que também gerou maior concorrência e redução nas margens de lucro das mesmas.

Devido à concorrência acirrada entre as construtoras, o mercado forçou a redução no valor final do produto acabado, porém, para isso, foi necessária a profissionalização do ramo e a busca de novos métodos construtivos mais rápidos e com uma redução de custos para a consequente manutenção de margem de lucro razoável mínima. No entanto, os problemas decorrentes da falta de qualidade que vieram à tona com as ações judiciais dos proponentes contra as construtoras devido a falhas nos produtos. Diante disso, o Ministério das Cidades decidiu impor regras mais rígidas nos empreendimentos considerados populares, com a intenção de proteger os consumidores, o que acarretou aumento nos custos de produção de unidades habitacionais. Dessa forma, as construtoras se viram diante de obrigatoriedades às quais deveriam se adequar, caso houvesse o interesse de continuar operando no ramo em questão. Em virtude das referidas exigências legais, que tratam de segurança, infraestrutura básica, lazer e qualidade na construção, a sobrevivência dessas empresas mostrou-se ameaçada. Dessa maneira, a solução foi utilizar métodos de gestão e controle que proporcionassem maior razoabilidade à tomada de decisões.

Para isso, verificação de empreendimentos semelhantes na mesma região, pesquisas à população-alvo, tendências do mercado imobiliário, aplicação de métodos de mensuração e de retorno do investimento se fizeram necessários. Assim, a partir deste pré-diagnóstico, a construtora elabora o projeto e, então, parte para sua execução.

Ressalta-se, neste ponto, que uma contabilidade atuante de forma associada à administração mostra-se extremamente importante nos processos decisórios das empresas, pois pode diagnosticar deficiências não percebidas quando das decisões empíricas, sendo que, na construção civil, os custos avaliados têm como produto final o orçamento da obra, o acompanhamento e o controle dos gastos no decorrer da sua execução. Em virtude da necessidade de tempestividade, eficiência e eficácia nas decisões, os gerentes de empreendimentos devem agregar também os conhecimentos técnicos contábeis, administrativos e econômicos. Assim, o mercado da construção civil de empreendimentos vinculados ao PMCMV têm obrigado as construtoras a serem ainda mais estruturadas e concisas em seus investimentos, sob pena de, futuramente, virem a prejudicar a própria população, em virtude de falhas na produção ou, até mesmo, de prejuízos financeiros.

Dessa forma, faz-se necessária uma análise individual para cada empreendimento que se pretenda realizar, o que nos remete a analisar e embasar as decisões com base em análises de custos das obras, em fase anterior, no decorrer e posteriormente á sua execução.

Nesse cenário, este estudo tem como objetivo geral estimar, pelo sistema de predeterminação do custo padrão corrente, os custos de um empreendimento imobiliário de uma construtora que atua na região metropolitana de Porto Alegre, para avaliar a pertinência do empreendimento em questão e acompanhar sua execução financeira. O custo padrão propiciará a empresa, posteriormente, o acompanhamento dos seus custos, servindo como base de comparação entre os custos projetados e os realmente ocorridos. Salienta-se que o empreendimento estudado neste artigo possui diversos imóveis vinculados ao PMCMV, destinados às famílias enquadradas em rendas de mais de três e até dez salários mínimos.

Assim, este trabalho preocupa-se, dentre os objetivos específicos, em analisar o atual cenário habitacional no Brasil; apontar os aspectos financeiros envolvidos durante a fase de projeto e de elaboração de orçamento de um grande empreendimento habitacional; estimar os custos da obra e verificar a margem de lucro do empreendedor, com base nos aspectos técnicos, de interesse do seu público-alvo e da construtora, principalmente quanto às regras de qualidade dos materiais exigidos pelo governo e os objetivos financeiros da empresa.

2. Cenário Habitacional no BrasilEste tópico tem como objetivo fornecer alguns detalhes

acerca do Sistema Financeiro de Habitação, das políticas de habitação no Brasil e dos principais parâmetros do PMCMV, objeto deste estudo.

Já há algumas décadas, o Brasil desponta como um dos países mais populosos do mundo e com enorme

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índice de desruralização, porém, até a poucos anos, sem uma política habitacional de urbanização eficaz que promovesse a diminuição do déficit habitacional. Embora o Banco Nacional da Habitação (BNH) tenha agido de 1964 a 1986 com grande importância, no qual o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) financiou a construção de 4,3 milhões de novas unidades e considerando um total de 6,5 milhões até 2000 (SFH continuou funcionando após extinção do BNH, em 1986), teve-se entre 1950 a 2000, um crescimento de 11 milhões para 125 milhões na população urbana vivente em cidades com mais de 20 mil habitantes (BONDUKI, 2008).

Verifica-se, nesse período, que o Brasil não possuía políticas públicas que organizassem o crescimento habitacional de forma ordenada e eficaz. A fim de reverter esta situação e promover uma diminuição no déficit habitacional, o governo brasileiro facilitou os mercados privados de habitação para que eles colocassem em prática a renovação do mercado imobiliário e, consequentemente, da economia brasileira como um todo. Da mesma forma, a Agência das Nações Unidas para Assentamentos Humanos – UN-Habitat (Cities in a Globalizing World – Global Report on Human Settlements, 2001, United Nations Centre for Human Settlements - Habitat) entende que essa atribuição não precisa ser exercida exclusivamente pelo Estado, mas deve haver uma sinergia deste com a iniciativa privada, como base para tentar solucionar a questão habitacional.

É fato, porém, de acordo com o Relatório Técnico elaborado, em 2007, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) ao Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), que trata do déficit habitacional no Brasil, estima-se que de 2001 a 2006, houve aumento no déficit absoluto, um decréscimo no déficit relativo quando observado o período de 1993 a 2007, mas este com grande aceleração na diminuição a partir de 2007, após as mudanças nas políticas públicas habitacionais.

Até o início de 2009, o prazo dos financiamentos, as taxas de juros disponíveis, a falta de subsídio aos consumidores e, em conjunto, a falta de grandes empreendimentos imobiliários que conseguissem baratear os valores dos imóveis acabaram por não promover a vasta procura por imóveis e financiamentos da forma que hoje ocorre.

Atualmente, há o financiamento à produção como incentivo às grandes, médias e pequenas construtoras, o que enseja que principalmente as grandes empresas desenvolvam projetos robustos e que assim consigam agregar baixos custos diretos e indiretos no valor de venda unitário dos móveis, ao mesmo tempo em que mantenham sua margem líquida de lucro.

Desse modo, o sucesso do PMCMV está vinculado diretamente à mão de obra advinda das grandes construtoras, porém, a baixa margem de lucro para estas empresas nos empreendimentos vinculados ao PMCMV, que é compensada pela produção em escala, podem incorrer problemas quando da disponibilização de produtos de má qualidade. Sendo assim, o Ministério das Cidades estabeleceu novas regras para o Programa, através da MP 514/10 impondo a necessidade de

haver estrutura mínima aceitável para os moradores através das seguintes exigências junto às construtoras: infraestrutura básica, segurança, lazer e qualidade na construção (BRASIL, 2010). Por outro lado, o presidente da Associação Brasileira de Defesa dos Corretores de Imóveis, Francisco Zagari Neto, afirmou que tais medidas iriam aumentar os custos de construção, o que consequentemente acarretaria aumento no valor unitário habitacional (BRASIL, 2011).

Quanto ao número médio de moradores por domicílio, os resultados da pesquisa realizada pela PNAD (2011) apontam que este item apresentou queda de 3,3, para 3,2 moradores em média, entre 2009 e 2011. A pesquisa aponta os domicílios com quantidade de até três moradores têm diminuído (de 2009 a 2011 aumentaram em 2,6% do total), ao passo que domicílios com mais de quatro moradores têm sido cada vez mais difíceis de encontrar. A partir dos dados apresentados, supõe-se que o estímulo à compra do primeiro imóvel tem funcionado.

2.1. O Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV

O Governo Federal instituiu, em 07 de julho de 2009, a Lei Federal n.º 11.977, o denominado Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, o qual criou formas de melhor viabilização de produção, aquisição e reforma de unidades habitacionais para famílias com renda bruta mensal de até 10 SM, como podem ser verificadas nos Quadros 1 e 2 a seguir.

Quadro 1: Parâmetros público-alvo comprador

Renda familiar bruta

De R$ 465,00 a R$ 5.000,00

Municípios integrantes de regiões metropolitanas ou equivalentes; ou

Municípios-sede de capitais estaduais; ou

Municípios com população igual ou superior a 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes.

De R$ 465,00 a R$ 4.300,00

Demais municípios.

Possuir idoneidade cadastral;

Possuir capacidade econômico-financeira para arcar com o encargo mensal;

Ter capacidade civil – maioridade ou menor emancipado com 16 anos completos;

Ser brasileiro nato ou naturalizado;

Se for estrangeiro, ser detentor de visto permanente no país;

Para proponente impossibilitado de assinar o instrumento contratual, é exigida procuração por instrumento público, com menos de 1 ano da data do traslado, em via original do traslado;

Expresso consentimento do(s) descendente(s) e cônjuge(s) do(s) alienante(s), conforme regime de casamento, e respectiva anuência no contrato de financiamento que envolver venda de imóvel pelo(s) ascendente(s) ao(s) descendente(s).

Fonte: Adaptado de Caixa Econômica Federal (2013)

As regras dispostas no Quadro 1 delimitam um público--alvo especificamente focado na Nova Classe Média, ou

Claudio Stern da Cunha Filho - Ângela Rozane Leal de Souza

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seja, na classe social em que tem havido grande aumento de poder aquisitivo e também de consumo nos últimos anos.

Da mesma forma que o governo federal estimula determinada classe social à aquisição da primeira casa própria e, consequentemente, a realização de um sonho, há a preocupação com a adimplência dos financiamentos concedidos, como se verifica na exigência de capacidade econômico-financeira e idoneidade cadastral.

O Quadro 2 nos remete à preocupação com a retidão dos vendedores dos imóveis, assim como dos próprios imóveis envolvidos, pois, além da preocupação de que a garantia seja compatível com o valor de financiamento que o banco concederá a seus clientes, há o cuidado do governo federal quanto à qualidade de vida que o imóvel proporcionará à sociedade como um todo, sendo pela qua-lidade construtiva e também pelo acesso ao saneamento e aos demais itens de infraestrutura básicos.

Quadro 2: Parâmetros público-alvo vendedor/construtora

i) Vendedor - Exigências:

Capacidade civil se pessoa física, capacidade jurídica se pessoa jurídica, comprovação do estado civil se pessoa física e legitimidade da representação se pessoa jurídica.

ii) Imóvel - Exigências:

Estar devidamente regularizado, livre e desimpedido de quaisquer ônus;

Destinado à residência do proponente;

Situado no município onde o proponente trabalha ou reside, ou ainda, no município onde pretende trabalhar e/ou residir;

Ser aceito como garantia;

Localizado na malha urbana;

Condições mínimas do imóvel conforme determinações legais;

Pode ser aceito como garantia o imóvel:

Com parte de área edificada não averbada, desde que não haja comprometimento da garantia sob os aspectos físicos ou de mercado;

Com parte de área de uso comercial – imóvel misto, exclusivamente para casos permitidos pelas posturas municipais, desde que o financiamento seja destinado somente à área residencial;

Em madeira, casa pré-fabricada ou proveniente de outras tecnologias construtivas;

A ser construído em terreno sob regime de enfiteuse;

Financiado em outro agente ou na CEF, desde que nunca habitadas, e observadas as condições e impedimentos previstos, bem como a adimplência do contrato;

Com valor venal nos limites dispostos no Quadro 3.

Fonte: Adaptado de Caixa Econômica Federal (2013)

A seguir, o Quadro 3 expõe os parâmetros dos limites de valores de concessão de financiamento habitacional para o PMCMV de acordo com a cidade em que o imóvel se situar.

Quadro 3: Enquadramento de valor dos imóveis para o PMCMV

Valor Venal Localização

Até R$ 190.000,00

Distrito Federal

Municípios integrantes das regiões metropolitanas ou equivalentes dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo;

Até R$ 170.000,00

Municípios com população igual ou superior a 1.000.000 (um milhão) de habitantes;

Municípios-sede de capitais estaduais, não especificados acima;

Até R$ 145.000,00

Municípios com população igual ou superior a 250.000 (duzentos e cinquenta mil habitantes);

Municípios integrantes de regiões metropolitanas ou equivalentes, inclusive aqueles integrantes da Região Integrada do Distrito Federal e Entorno – RIDE;

Até R$ 115.000,00 Municípios com população igual ou superior a 50.000 (cinquenta mil) habitantes;

Até R$ 90.000,00 Demais municípios.

Fonte: Adaptado de Caixa Econômica Federal (2013)

Há ainda o incentivo direto do governo federal às famílias sob a forma de subsídio quando da compra do imóvel, o denominado PMCMV, o qual estabelece regras especiais para atender as famílias com renda mensal bruta de até três salários mínimos, mas também proporciona benefícios às famílias com renda mensal bruta de mais de 3 e até 10 SM, os quais são o público-alvo do empreendimento apresenta-do neste trabalho.

Conforme Agência Câmara de Notícias (2011), a par-tir de dados da PNAD 2008, utilizados pelo Ministério das Cidades, mais de 5,5 milhões de moradias precisariam ser construídas em todo o país para acabar com o déficit habi-tacional. Dessa forma, o lançamento do PMCMV em 2009 e ampliado em 2010 pretende construir ou reformar três mi-lhões de moradias até 2014 para famílias com renda mensal bruta de até 10 SM.

2.2. O Custo Padrão e os Métodos de CusteioO objetivo deste tópico é explicitar a base teórica da téc-

nica de predeterminação de custos utilizada neste estudo e expor alguns dos principais métodos de custeio que pode-rão ser utilizados para acompanhamento do custo padrão, sem, entretanto, esgotar o assunto e sem abordar todos os métodos de custeio existentes atualmente.

2.2. 1. Custo PadrãoO custo padrão tem como finalidade estabelecer uma

avaliação planejada que será usada para compará-la com os custos reais, com o intuito de revelar possíveis desvios que serão analisados e, se necessário, corrigidos. Esse sis-tema de predeterminação de custos estabelece as medidas físicas e monetárias relativas às informações de receitas e dos custos das atividades que, precisariam ser alcançados a partir de condições preestabelecidas.

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De acordo com Machado e Souza (2006, p.46):Como formas de predeterminar e antecipar a informação de custos dos produtos, para con-trole e tomada de decisões, tem-se o custo--padrão e o custo-meta [...].O custo-padrão é elaborado por um conjunto de setores que envolvem desde o planejamento até a fabri-cação propriamente dita e tem como base as informações de consumo de matérias-primas, mão de obra, materiais secundários e outros custos, para cada produto elaborado. Repre-senta, para fins da gestão organizacional, as opções e políticas adotadas pela empresa quanto aos meios e formas de realizar suas operações de produção [...]. Já o custo-meta, é um processo de planejamento de lucros, preços e custos, que parte do preço de venda para chegar ao custo [...]. O custo-meta é uma parte do planejamento estratégico do lucro, pois considera a concorrência e as necessi-dades do cliente. Em contrapartida, o custo--padrão é um instrumento de controle no nível operacional interno.

Machado e Souza (2006) apud Sakurai (1997), o custo--meta (target costing) é realizado por ocasião do planeja-mento e desenho do produto ou serviço; enquanto o custo--padrão é aplicado quando da produção efetiva.

Dessa forma, em razão da empresa de estudo já estar em franco processo de construção de diversos empreendimen-tos, neste estudo optou-se pelo custo padrão como parâmetro de projeção dos custos das referidas unidades habitacionais do PMCMV. Parametrizando-se as quantidades de materiais e os valores correspondentes com base nas atividades plane-jadas para as construções no período estabelecido.

Assim, algumas particularidades do custo padrão são:a) Predeterminação de seu valor, com base nas metas a

serem alcançadas pela empresa;b) Pode ser utilizado pela contabilidade, desde que

feitos os devidos ajustes periódicos da sua variação para acompanhar seu valor real (pelo método do cus-to por absorção);

c) Facilita a apuração de balancetes, sendo muito utilizado nas empresas que precisam de grande agilidade de dados contábeis.

Por seu turno, o custo padrão ideal é um custo mais res-trito, com base em estudos minuciosos de tempos e movi-mentos, mas que não considera a capacidade oscilante e as perdas de matéria-prima. Deste modo, este estudo utiliza o custo padrão corrente, por ser este determinado sob ajustes e condições reais, considerando o que pode realmente ser alcançado. Ou seja, incluem-se algumas ineficiências na pro-dução, excluindo-se somente as que podem ser eliminadas.

Vale ressaltar que o objetivo do custo padrão é fixar uma base de comparação entre o que ocorreu de custo e o que deveria ter ocorrido, não sendo, portanto, um mé-todo de custeio de contabilização de custos (tais como: o custeio por absorção, o variável, o custeio ABC, etc.), mas uma técnica auxiliar. Aliás, a sua implantação somente pode ser bem-sucedida onde exista um bom sistema/método de

custeio e pessoas responsáveis pela análise das diferenças entre o padrão e o real (MARTINS, 2010).

2.2.2. Método de Custeio VariávelNo custeio variável ou direto exclusivamente os custos

variáveis são alocados aos produtos ou aos serviços. Este método procura amenizar as distorções existentes nos cri-térios de rateios, alocando os custos fixos diretamente no resultado, sendo estes tratados como despesas. Ou seja, os custos fixos serão considerados como despesas corren-tes e debitados diretamente nos resultados, podendo este método ser utilizado somente na apuração de resultados gerenciais (PADOVEZE, 2000).

Destaca-se, também, que o conceito de margem de contribuição está diretamente conectado aos conceitos do custeio variável. Martins (2010) salienta que a margem de contribuição é a diferença entre o preço de venda e os cus-tos e despesas variáveis de cada produto, sendo uma fer-ramenta de gerencial que permite ao gestor tomar decisões para maximizar o lucro. Assim, a empresa de estudo poderá optar em fazer o acompanhamento gerencial do custo pa-drão tendo como base o método de custeio variável.

Padoveze (2000) salienta, após a avaliação entre os métodos de custeio variável e o custeio por absorção, que não existe o melhor método de custeio. Para o autor, as informações originadas podem ser complementares, pois pelo custeio por absorção a empresa estaria atendendo os princípios contábeis e a legislação fiscal. Já pelo custeio va-riável, a empresa teria informações relevantes para tomadas de decisão, como no emprego da margem de contribuição em relatórios gerenciais internos.

2.2.3 Método de Custeio por AbsorçãoMartins (2010) ressalta que a decisão sobre qual método

de custeio utilizar depende de quem será o usuário e o que fará com as informações. Para tanto, é necessário que se defina, junto ao usuário da informação, o que ele necessita, explicando o que pode ou o que não pode prover o método.

Nessa perspectiva, Nakagawa (1991, p. 15) comple-menta destacando que:

Os sistemas de custeio tradicionais foram desenvolvidos para a avaliação de inven-tários, tendo em vista a necessidade de se elaborar demonstrações contábeis e fiscais, e tem sido continuamente aperfeiçoados através do tempo. Entretanto, tais sistemas já não estão sendo utilizados para propor-cionar aos gerentes a busca da eficiência das operações de suas áreas funcionais com as informações precisas e oportunas de que eles necessitam para a gestão de mensuração de custos e desempenhos de atividades em um ambiente de mudanças, tanto no âmbito interno como externo.

Percebe-se, com o comentário do autor, que as empre-sas se embasavam nos eventos passados, porém a percep-ção de que a eficiência já era tão grande no atual mercado forçou a necessidade da aplicação de gestão de mensura-ção de custos e atividades.

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Segundo Martins (2010), o custeio por absorção con-siste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, mas só os de produção; todos os gas-tos relativos ao esforço de produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos. Assim, temos custos fixos, variáveis, diretos ou indiretos, todos apropriados à produção. Assim, no tipo de empreendimento tratado neste artigo, o custeio por absorção se aplica perfeita-mente, em virtude das suas peculiaridades e por se tratar de empreendimento único, com somente dois tipos de imóveis (um e dois dormitórios, com variação apenas na metragem dos imóveis), o que faz com que este método possa ser utilizado também para fins gerenciais e de pro-jeções comparativas de custos. Nesses casos, os rateios tornam-se menos arbitrários, por serem de fácil visualiza-ção e aplicação em virtude de os objetos de custeio não serem diversificados.

Isso se dá em razão de o custeio por absorção possuir características, como, por exemplo: nos momentos em que houver mais de um produto no processo de produção, faz-se necessário estabelecer critérios de rateio para apropriar os custos fixos, que independem da quantidade produzida. Desse modo, da mesma forma que ocorre com as empresas constru-toras, o resultado é influenciado diretamente pelo volume de produção, já que os custos só são reconhecidos no resultado quando o produto ou serviço produzido forem vendidos.

Um dos grandes motivos pelos quais o custeio por absorção é vastamente utilizado é por atender aos Prin-cípios Fundamentais de Contabilidade e pelas legislações fiscais e comerciais brasileiras, principalmente por estar de acordo com o Princípio da Competência ao apresen-tar os custos fixos, sendo absorvidos pela produção e somente reconhecidos como despesa quando da venda dos produtos. Porém, embora bastante criticado quanto ao aspecto gerencial, alguns estudos citam esse método também como útil aos propósitos gerenciais. Por exem-plo, um estudo de Silva (1998) revela que o custeio por absorção pode ser utilizado para fins gerenciais. Esse estudo apresenta, inicialmente, discussão sobre a não utilização do custeio por absorção com a referida fina-lidade, em razão de promover distorções nas decisões devido à arbitrariedade dos rateios e de incentivar a su-perprodução, aspecto enfatizado pela bibliografia da área de contabilidade gerencial. Porém, ao final, demonstra que tal sistema de custeio pode ser utilizado no processo decisório, dependendo do tipo de atividade da empresa e desde que considerados critérios adequados na mensu-ração desses aspectos.

No ramo objeto deste estudo, um artigo de Pereira e Dutra (2011) teve o objetivo de avaliar o custeio por absorção na formação do preço de venda em uma em-presa distribuidora de material para a construção civil. Através deste estudo, os autores evidenciam que este método contribuiu para a compreensão e utilização de sistema de formação de preço de venda na construção civil, sendo sua análise compatível com a realidade dos negócios da empresa com vistas ao fornecimento de informações adequadas à sua gestão dos empreendi-mentos da construção civil.

2.2.4. Método de Custeio ABC (Activity Based Costing)

O Custeio Baseado em Atividades (ABC, na sigla em inglês) fornece uma visão mais precisa do custo do pro-duto, e as bases de alocação usadas no custeio baseado em atividades são diferentes dos utilizados nos métodos de custeio tradicionais. O ABC determina que todos os custos das atividades associadas à produção de um item ou serviço sejam atribuídos a uma atividade específica. Esses custos atribuídos às atividades são, então, lan-çados aos produtos que requerem a atividades para a produção (COOPER e KAPLAN, 1992).

É importante salientar que uma maior precisão dos custos é o principal benefício do custeio ABC. Outras van-tagens desse método de custeio incluem uma interpreta-ção fácil dos custos para a gestão interna da empresa, a capacidade de ativar o benchmarking e uma maior com-preensão dos custos gerais. Porém, vale ressaltar, que a implementação desse método custeio requer recursos substanciais. Isso pode ser uma desvantagem para as empresas com recursos limitados. Assim, a empresa de estudo deverá avaliar a sua pertinência, tendo como base o custo/benefício da sua implementação para o acompanha-mento posterior do custo padrão realizado.

3. MetodologiaComo instrumento de coleta de dados utilizou-se en-

trevistas semiestruturadas, realizadas junto à empresa de estudo para obtenção das informações quanto às quanti-dades e valores necessários para a análise dos custos das unidades habitacionais a serem empreendidas pela cons-trutora situada na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.

Com base nos dados coletados, aplicou-se como metodologia de análise o custo padrão corrente. Assim, esta pesquisa se classifica como quantitativa, porque teve o tratamento numérico dos dados relativos ao em-preendimento em questão.

O trabalho gira em torno do estudo de caso que envolve um empreendimento habitacional residencial, vinculado ao PMCMV, para famílias de renda bruta mensal de três a dez salários mínimos nacionais. O estudo analisou os custos de construção de um empre-endimento habitacional com dois tipos de imóveis (um e dois dormitórios), através um estudo específico em empresa selecionada pelos autores em razão da facili-dade de obtenção de dados, por tratar-se de empresa conhecida pelos autores.

O estudo deu-se a partir do exame de documentos da empresa (análise documental) e através da análise das en-trevistas realizadas junto ao engenheiro e ao responsável pela contabilidade, ambos empregados na empresa do empreendimento estudado. Assim, foi possível elucidar e analisar as informações da área de engenharia e contábil, com base na experiência de ambos nesse ramo de ativida-de. Porém, ressalta-se que foram efetuados exames dos documentos e de dados comprováveis, passíveis de avalia-ção dos pesquisadores.

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Em um primeiro momento, houve a compilação dos dados obtidos e, em um segundo momento, procedeu-se à aplicação dos cálculos do custo padrão efetuando-se a estimação dos custos e da margem de lucro final do projeto realizado pela empresa.

4. Estudo de Caso dos Custos de Construção das Unidades Habitacionais Vinculadas ao PMCMV

Com base em dados obtidos junto à construtora, rela-tivas ao ano 2012, o Quadro 4 apresenta a discriminação dos custos atribuídos a cada unidade e a soma de todos os custos de produção divididos pela quantidade de unidades construídas, de forma proporcional à metragem dos seis tipos de unidades disponíveis.

Quadro 4: Detalhamento dos custos envolvidos na construção de unidades habitacionais do PMCMV

Custo com Infraestrutura

Os custos com infraestrutura se relacionam com o que for necessário para a disponibilização de rede de esgoto, de rede de água potável, de rede de drenagem, de pavimentação de ruas e calçadas e paisagismo, de terraplenagem e de energia elétrica e iluminação pública ao empreendimento como um todo.

Custo com Habitação

Custo de complementos

Os custos com complementos são relativos aos de contêineres, de canteiro de obras, de instalações provisórias, de transportes de equipamentos, etc.

Custo do material

Os custos com material são relativos às microestacas, às esquadrias e aos materiais necessários para a construção das unidades habitacionais, geralmente mensurados em unidades.

Custo da mão de obra

Os custos com mão de obra são relativos aos produtos que sejam negociados sem o seu valor de instalação ou elaboração. Para tanto, há a cobrança de valor adicional, geralmente mensurado em horas trabalhadas.

Custos Indiretos e Administração da Obra

Os custos indiretos e de administração da obra são considerados pela construtora como as despesas operacionais, as despesas administrativas e as despesas para comercialização.

Fonte: Elaborado pelos autores (2013)

O Quadro 4 detalha os custos envolvidos na construção das unidades habitacionais vinculadas ao PMCMV, de forma que agreguem qualidade de vida à população residente após a efetivação das construções. O item de custos com infraes-trutura é extremamente importante nesses tipos de empreen-dimentos, pois engloba necessidades básicas do ser humano, que são exigidas pelo governo federal e por seus agentes de políticas públicas junto às empresas da construção civil.

A construtora em análise realiza a aquisição de terrenos geralmente sob duas formas: compra um terreno em local que pressupõe de grande valorização para, por exemplo, nos próximos dez anos, construir; ou negocia junto ao ven-dedor do terreno a cessão deste mesmo em troca de uni-

dades a serem construídas. Esta última forma de negocia-ção faz com que a empresa construtora não necessite se descapitalizar através da aquisição do terreno à vista ou a prazo. Já os custos com habitação são relacionados àque-les que envolvem a construção da unidade habitacional no tocante à sua estrutura construtiva, sendo esta extrema-mente importante na consideração dos custos envolvidos, pois a falta de controle de estoques ou a má qualidade de material de obra poderá proporcionar prejuízos à empresa construtora (PEYERL, 2007).

Os custos indiretos e com a administração da obra também são componentes da elaboração do orçamento de obra e proporcionalmente importantes, pois nestes são consideradas as despesas operacionais, as despesas ad-ministrativas e as despesas para comercialização, ou seja, custos que, se desconsiderados em virtude da eventual falta de conhecimento da sua importância, comprometem o resultado operacional do empreendimento. Nesse con-texto, a Tabela 1 evidencia as necessidades de insumos e os valores unitários e totais necessários às habitações com metragens de 30 m2 e 40m2.

Tabela 1: Planilha resumo da predeterminação dos custos para a construção das 222 unidades habitacionais do PMCMV

DESCRIÇÃO QTDES CUSTOS DIRETOS

VALORES TOTAIS % TOTAL

1 CUSTOS INDIRETOSNFRAESTRUTURA 84.551,14 0,70%

1.1 TERRAPLENAGEM 40.000,00 0,33%

Muro de Contenção 1 40.000,00 0,33%

1.2 REDE CLOACAL 44.551,14 0,37%

Caixa de calçada 222 44.551,14 0,37%

2 CUSTOS INDIRETOS - TERRENO 1.404.000,00 11,67%

3 CUSTOS - HABITAÇÃO 10.547.112,21 87,63%

3.1 CUSTOS INDIRETOS - COMPLEMENTOS 375.500,08 3,12%

Acompanhamento de Concreto 1 3.500,00 0,03%

Instalações Provisórias 1 45.000,00 0,37%

Canteiro de Obras 1 100.000,00 0,83%

Contêineres 15 24.000,00 0,20%

Transporte de Equipamentos 1 3.500,00 0,03%

Apoio à Produção 15 199.500,08 1,66%

3.2 CUSTOS DIRETOS

3.2.1 CASA MODELO A1 DORM - 30,00 M2 88 40.905,69 3.599.700,86 29,91%

Microestacas 1.886 65.541,66 0,55%

Esquadrias de Alumínio 203.893,80 1,69%

Materiais de construção * 2.206.300,83 18,33%

Mão de obra 164.848h 1.123.964,57 9,34%

3.2.1 CASA MODELO B2 DORM. 40,00 M2 116 48.961,21 5.679.500,65 47,19%

Microestacas 3.038 105.589,88 0,88%

Esquadrias de Alumínio 358.358,80 2,98%

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Materiais de construção * 3.455.303,18 28,71%

Mão de obra 258.170h 1.760.248,79 14,62%

3.2.3 CASA MODELO C2 DORM. 40,00 M2 2 50.505,86 101.011,72 0,84%

Microestacas 52,38 1.820,48 0,02%

Esquadrias de Alumínio 6.178,60 0,05%

Materiais de construção * 61.620,87 0,51%

Mão de obra 4.600 h 31.391,77 0,26%

3.2.4 CASA MODELO D1 DORM. 30,00 M2 2 42.450,34 84.900,68 0,71%

Microestacas 42,86 1489 0,01%

Esquadrias de Alumínio 4.633,95 0,04%

Materiais de construção * 52.189,86 0,43%

Mão de obra 4.000 h 26.587,29 0,22%

3.2.5 CASA MODELO E2 DORM. 40,00 M2 8 50.505,86 404.046,91 3,36%

Microestacas 209,5 7.281,93 0,06%

Esquadrias de Alumínio 24.714,40 0,21%

Materiais de construção * 246.483,51 2,05%

Mão de obra 18.420 h 125.567,07 1,04%

3.2.6 CASA MODELO F2 DORM. 40,00 M2 6 50.408,55 302.451,31 2,51%

Microestacas 157,1 5.461,45 0,05%

Esquadrias de Alumínio 18.535,80 0,15%

Materiais de construção * 184.475,81 1,53%

Mão de obra 13.600 h 92.585,97 0,77%

TOTAL 12.035.663,34 100,00%

Fonte: Elaborado pelos autores (2013)*ver Quadro 5, a seguir.

Bancada de pia branca 2,00 m x 0,60 x 0,02 m.

Placa de gesso liso 0,60 x 0,60 m.

Oito vidros lisos transparentes 4 mm colocado com massa.

Dois galões (3,6L) de tinta látex PVA.

Emulsão asfáltica impermeabilizante.

Fios de cobre antichama, isolamento 750 V, # 2,5 mm².

Disjuntor tripolar 70 A.

Bacia sanitária branca com caixa acoplada.

Registro de pressão cromado

Tubos de ferro galvanizado com costura - 2 1/2”

Tubos de PVC-R rígido reforçado para esgoto - 150 mm

Chapa compensado plastificado 18 mm 2,20 x 1,10 m

Aço CA-50 - 10 mm.

Concreto MPa abatimento 5±1 cm,.br. 1 e 2 pré-dosado.

Cimento CP-32 II.

Areia média

Brita n° 02.

Bloco cerâmico para alvenaria de vedação 9 cm x 19 cm x 19 cm.

Bloco de concreto sem função estrutural 19 x 19 x 39 cm.

Telha fibrocimento ondulada 6 mm 2,44 x 1,10 m.

Fonte: Dados do estudo (2013)

O cálculo realizado para a obtenção dos custos unitários diretos individualizados para as casas de 30m² e de 40m² obedeceram à proporcionalidade de custo de cada modelo de casa (de A a F), assim como a quantidade de unidades destinadas a cada um desses modelos. Como se observa na Tabela 1, os custos direcionados a construção das habi-tações comprometeram 87,67 % do custo total da obra, ao passo que os custos indiretos de infraestrutura e aquisição do terreno 12,37%.

5. Análises dos Custos e DiscussõesNeste tópico apresentam-se os resultados alcançados

com a obtenção dos custos predeterminados, estimados do estudo de caso em pauta. As Tabelas 1 a 4, os cál-culos realizados quanto aos gastos com infraestrutura, individualizando-se os valores de acordo com cada tipo de unidade. Na Tabela 2, evidenciam-se tais individualizações conforme suas quantidades estimadas e a necessidade de infraestrutura de muros e calçadas.

Tabela 2: Proporção dos custos padrão com infraestrutura individualizada para cada tipo de unidadeInsumos Valores Totais Proporção Custos/Unidades (R$ e %)

Descrição TOTAL 30m2 40m2

1 Infraestrutura R$ 84.551,85 R$ 28.607,60 33,83% R$ 55.943,75 66,17 %

Fonte: Elaborado pelos autores (2013)

A Tabela 2 indica que as unidades de 40m2 se apro-priam de maior parte percentual dos custos de infraes-trutura, o que transmite à empresa construtora a possibi-lidade de organizar seus fluxos de caixa de acordo com o cronograma da obra sem ter que dispor de mais recursos financeiros em caixa, de forma intempestiva, pela eventu-al falta desse controle.

O Quadro 5, a seguir, lista os materiais de construção (valo-rados na Tabela 1) por etapa da obra e listados por lote básico.

Quadro 5: Gastos com materiais e percentuais de custos da construção da unidades habitacionais do PMCMV

Materiais de construção com percentuais de custos:

Alvenaria estrutural + laje 35%

Cobertura 8%

Instalações elétricas e hidráulicas 22%

Esquadrias 11%

Acabamentos 24%

Total 100%

Materiais - Lote básico

Quatro esquadrias de tamanho 2,00 x 1,40 m, em 4 folhas (2 de correr), sem básculas, em alumínio.

Quadro janelas de tamanho 1,20 m x 1,20 m em 2 folhas, em perfil de chapa de ferro dobrada

Quatro portas com fechaduras para portas internas, tráfego moderado, tipo IV (55 mm), em ferro cromado.

Pisos cerâmicos, piso em laminado de madeira ou piso em manta vinílica (a escolher).

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Num segundo momento, evidencia-se na Tabela 3 o cál-culo das despesas de acordo com cada item. São eles:

Tabela 3: Predeterminação das despesas administrativas e comerciais (padrão)

Descrição Valores Base

Despesas Administrativas R$ 10.000,00 $ por unidade

Despesas Comerciais 5,15% % do PV

Imposto (ITBI) 1% por unid

Fonte: Elaborado pelos autores (2013)

Dessa forma, para um cálculo mais preciso, foi neces-sário especificar as despesas para unidade de 1 dormitório e para unidade de dois dormitórios, respectivamente 30m2 e 40m2. Quanto as despesas administrativas, não há dife-renciação significativa para as unidades. Já para as des-pesas comerciais, a composição é de 4,15% de despesas com comissões, 0,5% de plantões e despesas comerciais e 0,5% de despesas com cobrança de prestações de clientes, resultando em um total de 5,15% sobre o valor de venda do imóvel. Do mesmo modo o ITBI (Imposto sobre a Transmis-são de Bens Imóveis) é calculado conforme o valor de venda.

No seguimento, a Tabela 4 evidencia os custos diretos e indiretos deste empreendimento. Os custos indiretos com-preendem entre 15% (dois dormitórios) e 17% (um dormi-tório) do custo total, ou seja, reflexo reduzido no custo das unidades. Assim, percebe-se que os custos indiretos deste empreendimento são relativamente baixos em virtude de controle de gastos realizado pela empresa analisada.

Tabela 4: Custos de produção – Custos padrão estimados (totais e unitários)Descrição 2 dormitórios % 1 dormitórios %

Custos diretos R$ 6.487.010,58 85% R$ 3.684.601,55 83%

Custos indiretos - complementos R$ 1.056.325,88 R$ 723.173,49

Custos indiretos - infraestrutura 50.498,43 34.053,42

Custos indiretos - totais R$ 1.106.824,31 15% R$ 757.226,91 17%

Custo total R$ 7.593.834,89 R$ 4.441.828,46

Custo médio total unitário R$ 57.529,05 R$ 49.353,65

Fonte: Elaborado pelos autores (2013)

O resultado operacional do empreendimento é eviden-ciado na Tabela 5. Com base nos preços de venda de R$ 95 mil para as 132 unidades de dois dormitórios e R$ 83 mil para as 90 unidades de um dormitório, tem-se uma receita bruta de vendas de R$ 20.010.000 e uma margem de lucro operacional em torno de 22%. Esse percentual se situa aci-ma dos 20% que a construtora determina como necessários para construir um empreendimento civil.

Tabela 5: Demonstração do Resultado Projetada do Empreendimento (com base no custo padrão)

2 dormitórios (padrão)

1 dormitório (padrão) Total

+ Receita Bruta de Vendas R$ 12.540.000,00 R$ 7.470.000,00 R$ 20.010.000,00

- Impostos diretos -R$ 125.400,00 -R$ 74.700,00 -R$ 200.100,00

= Receita Líquida de Vendas R$ 12.414.600,00 R$ 7.395.300,00 R$ 19.809.900,00

-Custo dos Produtos Vendidos

-R$ 7.593.834,89 -R$ 4.441.828,46 -R$ 12.035.663,35

= Lucro Bruto R$ 4.820.765,11 R$ 2.953.471,54 R$ 7.774.236,65

- Despesas Administrativas -R$ 1.320.000,00 -R$ 900.000,00 -R$ 2.220.000,00

- Despesas Comerciais -R$ 645.810,00 -R$ 384.705,00 -R$ 1.030.515,00

= Resultado Operacional R$ 2.854.955,11 R$ 1.668.766,54 R$ 4.523.721,65

= % Resultado Operacional 22,77% 22,34% 22,61%

Fonte: Elaborado pelos autores

Ao considerarem-se valores monetários, tem-se que o resultado operacional das unidades de um e dois dormitórios proporcionam retornos semelhantes à empresa. Isso é rele-vante, pois as construtoras civis necessitam trabalhar com diferentes tipos de imóveis para que abranjam maior parte do mercado ao disponibilizarem mais opções de compra, para que consigam aproveitar ao máximo as metragens dos terrenos em que constroem e também para se adequarem às obrigatoriedades do governo federal, o qual determina que as construtoras devam trabalhar através de um padrão.

No presente estudo observou-se que o Resultado Operacional (22,61%), um valor muito bom como retorno, comparado, por exemplo, com o rendimento de aplicações financeiras no mercado brasileiro no ano de estudo (2012). Conforme o jornal O Globo Economia, em 2012, o rendi-mento médio das aplicações em CDB foi de 7%, o Iboves-pa - mais importante indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo - fechou o ano em 7,40% e os fundos multimercados, as aplicações tiveram o maior rendimento no ano, renderam uma média de 14,35% (GLOBO, 2012).

De acordo com consulta realizada junto ao engenheiro responsável pelo empreendimento em questão, obteve-se a informação de que o projeto seria colocado em prática, ou seja, as unidades seriam construídas, se o resultado operacional fosse superior a 20%. Assim, este estudo auxiliou na avaliação da empresa, pois, após análise dos custos e despesas ante os valores de venda, chegou-se à conclusão de que o empreendimento tem viabilidade, tanto para unidades de um dormitório quanto para as uni-dades de dois dormitórios.

Por meio da utilização do custo padrão, verificou-se que os custos diretos de construção das unidades giram em torno 85%, e desse total, 66,25% se referem a material e 33,75% a mão de obra. Para tanto, faz-se necessário contro-le rigoroso quanto ao material de obra, para evitar desperdí-cios, pois este item, se não bem administrado e controlado,

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pode gerar grandes prejuízos às construtoras em virtude de, por exemplo, furto, falta ou sobra de estoques de materiais de construção. No mesmo sentido, há também a necessi-dade de que o andamento das obras seja fiscalizado por funcionários de confiança, para que os prazos não sejam extrapolados e os custos de mão de obra não encareçam o empreendimento. Cabe destacar aqui que existe a ligação entre custos e o orçamento, ligação esta feita pelo controle de custos, que, ao aferir os custos das operações, permite a comparação com orçamento original com o efetivamen-te realizado (MARTINS, 1996, apud PEYERL, 2007). Esse procedimento de acompanhamento deverá ser realizado pela empresa de estudo, através de comparação entre o padrão e o real, com base no método de custeio utilizado pela mesma, avaliando as variações nas quantidades, nos preços e mistas. Atualmente a empresa utiliza o custeio por absorção, porém está avaliando a possível implantação do custeio ABC.

Através da análise dos custos da construtora civil reali-zada neste estudo, observa-se que a empresa segue uma linha de raciocínio coerente ao ratear os custos indiretos às unidades, atribuindo valores com base nas suas metragens e especificidades da construção.

O estudo dos custos envolvidos em empreendimentos imobiliários se faz importante para a verificação dos reflexos no custo unitário quando, por exemplo, do aumento de valo-res de matéria prima, de mão de obra (por força de acordos coletivos de trabalho) ou em virtude de eventuais mudanças nos níveis de qualidade exigidos pelo governo federal, fato este que tem estado em discussão com as construtoras pela sua relevância no custo unitário final.

5. Considerações FinaisOs empreendimentos de construção civil possuem um

nível significativo de complexidade no tocante à quantidade de variáveis às quais são suscetíveis. Assim, estimar custos nesse ramo de negócio torna-se uma tarefa primordial para a previsão, análise e controle. Nesse contexto, o custo padrão, tomado como base no presente estudo indica o custo que precisará ser alcançado, servindo de embasamento para a construtora avaliar a eficiência da produção e ponderar as diferenças entre o real e o estimado.

Desse modo, entende-se que o controle de custos é imprescindível para as empresas do ramo da construção civil, bem como para outros ramos de negócios, como en-fatiza Martins (2010): controlar significa avaliar a realidade, compará-la com o que se esperava, localizar divergências e similaridades, adotar medidas tendo em vista sua correção. O controle deve ser implantado de acordo com a estrutura organizacional empresarial, que pode ser por departamen-tos, por células de manufatura, etc.

Enfim, todas as empresas devem possuir uma forma de controle. Porém, é necessário que esta forma seja compatível com sua estrutura, até para que não venha a haver despesas desproporcionais superiores às suas reais necessidades. Preceito este que aplica-se perfeita-mente à indústria da construção civil. É fato que o setor de construção guarda peculiaridades próprias quanto ao rateio e à apropriação de suas despesas indiretas sobre

sua carteira de obras, especialmente porque as obras, normalmente, podem ser bastante distintas quanto à de-manda, como é o caso do PMCMV. Assim, no caso desse tipo de empreendimento, o custo padrão, pode-se ser perfeitamente aplicado para fins gerenciais.

Destaca-se que esse programa do governo federal, de grande impacto econômico-social amplamente divulgado no Brasil, atraiu grande interesse da população, devido ao aumento do poder aquisitivo dos brasileiros e ao acesso ao crédito por parte de parcela significativa da população. Este cenário tem atraído também a iniciativa privada, sobretudo empresas do ramo da construção civil, maiores interessadas na execução das obras proporcionadas pelo programa.

Como o programa tem várias fases de implementação (“MCMV 1” e “MCMV 2”), a busca desse mercado da edifica-ção de unidades habitacionais, direcionadas para a popula-ção com renda mensal de até dez salários mínimos, pode ser uma oportunidade comercial atrativa para as construtoras, desde que estas atinjam suas expectativas de retorno sobre o investimento na construção dentro dos fins propostos pelo PMCMV. Assim, torna-se necessário analisar os custos de construção desses empreendimentos, pois se trata de um programa com regras e padrões específicos. Desse modo, esta análise pode propiciar controles e auxiliar na avaliação de redução de gastos desnecessários que impactem direta-mente na margem de lucro.

Nesse contexto, este estudo atingiu o seu objetivo, es-timando pelo sistema de predeterminação do custo padrão corrente, os custos desse empreendimento imobiliário vin-culado ao PMCMV. O custo padrão predeterminado confir-mou a pertinência econômica do empreendimento frente a sua receita de vendas estimada, e possibilitará à empresa acompanhar sua execução financeira, propiciando a compa-ração e o acompanhamento dos seus gastos econômicos, de quantidades de materiais e horas de mão de obra efetiva-mente incorridos no decorrer da construção.

Dessa maneira, espera-se que este estudo incentive a pesquisa acerca da contabilidade de custos aplicada às em-presas de construção civil, sempre com o objetivo de propor-cionar melhorias contínuas nas organizações, despertando nos graduandos e, consequentemente, nos empresários o interesse pelos instrumentos de gestão de custos na tomada de decisão e controle das operações empresariais.

Sugere-se que futuros estudos sejam realizados para analisar os valores e quantidades efetivamente realizados com o padrão, através de um método de custeio com pro-pósitos gerenciais, tal como o custeio ABC ou o custeio variável, aplicados à construção civil dos projetos como o Minha Cada Minha Vida, bem como a outros tipos de obras.

Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

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Referências

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Claudio Stern da Cunha Filho - Ângela Rozane Leal de Souza

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 34 - 44, jan./abr. 2015

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Ieda Margarete OroBlumenau – SC Doutora em Ciências Contábeis e Administração pela FURB1

Professora do Mestrado Profissional em Administração da Unoesc 2

[email protected]

Roberto Carlos KlannBlumenau – SC Doutor em Ciências Contábeis e Administração pela FURB1

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da FURB1

[email protected]

ResumoO objetivo deste artigo é verificar a conformidade do

disclosure obrigatório dos ativos intangíveis indicados no CPC 04 (2010) nas empresas pertencentes aos Níveis de Governança Corporativa da BM&FBovespa referente ao ano de 2011. A amostra integrou 80 empresas. A pesquisa do-cumental consultou as demonstrações financeiras e Notas Explicativas. A análise de conteúdo envolveu a menção direta ou indireta aos 17 itens de avaliação em três dimensões: vida útil, amortização e reavaliação/teste de impairment. Os re-sultados indicam que na análise dos dados pela metodologia de maximum difference scaling, que identifica os melhores e piores (Best-Worst), nesse caso, os itens da dimensão da vida útil e amortização apresentam melhores níveis de disclo-sure com base no Índice de Importância Atribuído em relação à dimensão do teste de impairment. Contudo, não existem diferenças significativas nos três níveis de governança corpo-rativa, ou seja, o Índice de Importância Atribuído apresentou semelhanças, evidenciando que não permite indicar que um dos níveis possui melhor evidenciação obrigatória do CPC 04 (2010) que caracteriza o ativo intangível.

1 FURB – Universidade Regional de Blumenau – CEP89012-900 – Blumenau – SC2 UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina – CEP 89600-000 –

Joaçaba – SC

Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa

Palavras-chave: Disclosure Obrigatório, Ativos Intangíveis, Governança Corporativa

AbstractThe objective of this article is verify the accordance of

the required disclosure of intangible assets indicated in CPC 04 (2010) in the companies belonging to the BM&FBovespa Corporate Governance Levels relative to the year of 2011. The sample integrated 80 companies. The documental research consulted the financial statements and Explanatory Notes. The content analysis involved the direct or indirect mention to the 17 assessment items in three dimensions: useful life, amortization and revaluation/impairment test. The results indicate that in the data analysis by the maximum difference scaling methodology that identifies the best and worst (Best-Worst), in this case, the dimension items of useful life and amortization present better disclosure levels basis of the Emphasis Index in relation to the impairment test dimension. However, there aren’t significant differences in the three levels corporate governance, that is, the Emphasis Index showed similarities, evidencing that is not allowed to indicate that one of the levels has better required disclosure of CPC 04 (2010) that features the intangible assets.

Key words: Required Disclosure, Intangible Assets, Corporate Governance

Artigo recebido em 18/07/2014 e aceito em 06/03/2015

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. XVII, n. 62, p. 45 - 54, jan./abr. 2015

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1. IntroduçãoNas últimas décadas ocorreram diversas mudanças no

cenário contábil mundial com a finalidade de promover a harmonização das normas e regras que regem a contabilida-de e diminuir as divergências contábeis existentes entre os países. Entre estas mudanças estão àquelas relacionadas à evidenciação de informações geradas pela contabilidade e divulgadas aos credores, investidores e demais usuários. Neste contexto, as demonstrações financeiras funcionam como um report da empresa ao mercado. Na concepção de Sunder (2002), as demonstrações materializam a teoria do conhecimento comum.

O nível adequado de coerência das informações contábeis só pode ser fornecido por um conjunto estabelecido de normas que integram requisitos de regulamentação das várias bolsas de valo-res e os critérios detalhados necessários para fins de elaboração e divulgação dos relatórios anuais (MANSFIELD; LORENZ, 2004). A convergência das normas contábeis brasileiras às Interna-tional Financial Reporting Standards (IFRS), introduzida no Brasil a partir das Leis no. 11.638/2007 e 11941/2009 e pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), reforçam “a importância dos instrumentos preconizados na gestão das organizações” (COLAUTO et al., 2008, p.1).

Em 2010, o CPC 04(2010) normatizou o reconhecimento, a mensuração e a divulgação dos ativos intangíveis para se aproximar dos padrões internacionais. A partir de então, as empresas brasileiras têm passado por um processo de adaptação para se adequarem às novas normas. Os intangí-veis são considerados ativos incorpóreos, muitas vezes de natureza subjetiva, portanto, trata-se de um assunto polê-mico. Martins (1972, p. 53) indicava a “inexistência de uma definição clara para intangíveis”. Essa característica dificulta a identificação e avaliação desses itens pelos profissionais da área contábil. No entanto, assume um papel cada vez mais importante, proporcionam vantagens competitivas e são considerados propulsores de desenvolvimento e valori-zação das organizações.

A utilização de procedimentos adequados para o re-conhecimento, a mensuração e a evidenciação dos ativos intangíveis pode refletir na qualidade da informação contábil. O fato de uma empresa adotar boas práticas de governança corporativa pode influenciar diretamente na qualidade das informações evidenciadas ao mercado. Essas práticas têm como objetivo garantir maior transparência nas decisões tomadas pelos gestores, a fim de dar maior proteção aos investidores. Entretanto, práticas de governança corporativa variam amplamente entre países e entre empresas. Boas práticas de governança permitem às empresas acesso ao mercado de capital sob melhores condições, tornando-se vantajoso para as empresas que captam recursos (DOIDGE; KAROLYIB; STULZ, 2007; IUDÍCIBUS et al. 2010).

As empresas frequentemente investem recursos ou contraem obrigações com a aquisição, o desenvolvimento, a manutenção ou aprimoramento de recursos intangíveis, normalmente servem as entidades como formas de pro-mover o desenvolvimento, com o objetivo de obter benefí-cios econômicos decorrentes destes investimentos. Neste sentido, empresas que divulgam informações com mais transparência geram mais confiança para os investidores.

Conforme Bushman, Piotroski e Smith (2004) empresas que divulgam informações relevantes e confiáveis com relação ao desempenho operacional e financeiro, investi-mento, governança, valores e risco são propensas a terem melhor transparência corporativa.

Percebe-se então uma estreita ligação dos ativos intan-gíveis com a governança corporativa, tal como observado por Machado e Famá (2011, p. 02), que “entre os fatores determinantes da continuidade das companhias, podem ser destacados os ativos intangíveis e as práticas de governan-ça corporativa”.

Considerando que o processo de convergência das nor-mas contábeis brasileiras ao cenário contábil internacional foi um dos acontecimentos mais importantes nos últimos anos para a contabilidade brasileira, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: Entre os itens que compõe o CPC 04 (2010) relacionados aos ativos intangíveis, que apresentam melhor conformidade de disclosure nas empresas brasilei-ras pertencentes aos Níveis de Governança Corporativa da BM&FBovespa referente ao ano de 2011?

Em decorrência do questionamento proposto, o objetivo deste artigo é verificar a conformidade do disclosure obriga-tório dos ativos intangíveis indicados no CPC 04 (2010) nas empresas brasileiras pertencentes aos Níveis de Governan-ça Corporativa da BM&FBovespa referente ao ano de 2011.

Estudos acadêmicos demonstram a conformidade e aderência das normas contábeis com informações são importantes para o mercado de capitais quando divulga-das nas demonstrações contábeis e nelas estão incluídas as notas explicativas (MAGALHÃES et al., 2011). Iudícibus et al. (2010) afirmam que a qualidade da informação con-tábil aumenta substancialmente com a inclusão do grupo do Ativo Intangível, contribuindo para o desenvolvimento do mercado de capitais e também reduzindo custos de captação. Entretanto, “no Brasil, a orientação para conta-bilização de ativos intangíveis sempre foi escassa” (COS-TA; SANTOS, 2009, p. 373).

A partir da emissão do CPC 04 (2010), foram estabeleci-das as diretrizes para identificação, reconhecimento, conta-bilização e divulgação dos intangíveis gerados internamente, dos adquiridos separadamente e dos adquiridos em combi-nação de negócios. Na concepção de Morris et al. (2014), os benefícios da implementação de normas internacionais só podem agora ser examinada efetivamente à medida que os países adotem as IFRS. Notadamente, a divulgação das boas práticas é fundamental para as empresas pertencentes aos níveis de governança corporativa. Na concepção de Kent e Stewart (2008) incluem a conformidade e adesão às IFRS e podem contribuir de maneira concreta para o cumprimento das regulamentações contábeis, que envolvem o reconheci-mento, mensuração e divulgação dos ativos intangíveis.

Considerando que estudos sobre os ativos intangíveis e nível de evidenciação interessam a todos os usuários da informação contábil. Este estudo busca contribuir para estu-dos empíricos relacionados a conformidade das normas de ativos intangíveis e aspectos objetivos (disclosure obrigató-rio) da contabilidade.

Além desta introdução, o estudo está dividido em mais quatro partes. A seção 2 apresenta o referencial teórico do

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trabalho; a seção 3 descreve estudos correlatos. A seção 4, os procedimentos metodológicos; a seção 5 apresenta os resultados do estudo e, por fim, as considerações fi-nais da pesquisa.

2. Caracterização dos Ativos Intangíveis Com o passar dos anos é evidente e crescente o aumento

da diferença do valor econômico das empresas em relação ao seu valor contábil. Martins (1972) salienta que a caracte-rística mais comum do ativo intangível é o elevado grau de incerteza existente na avaliação dos resultados futuros que podem ser proporcionados por eles.

O grupo dos ativos intangíveis é componente relevante nos balanços patrimoniais das entidades, consequência do avan-ço tecnológico que fez crescer as possibilidades de ativos intangíveis no meio empresarial. “Os ativos intangíveis são sem sombra de dúvidas, muito importantes para as empresas no cenário atual. Em muitos casos, os ativos intangíveis são mais relevantes e mais significativos para a empresa do que as máquinas, móveis e imóveis” (COELHO; LINS, 2010, p. 65).

De acordo com o CPC 04 (2010, p. 6), “ativo intangível é um ativo não monetário identificável sem substância física”. Para ser considerado um ativo como intangível, esse deverá atender a alguns critérios fundamentados no CPC 04 (2010), o qual define o tratamento contábil dos ativos intangíveis, exigindo também divulgações específicas sobre esses ativos.

Ressalta-se também que ativos intangíveis que possuem grande notoriedade são aqueles resultantes de fatores tec-nológicos. Colauto et al. (2010, p. 4) mencionam que “um dos ativos intangíveis discutidos com maior intensidade na literatura mundial é o desenvolvimento tecnológico”.

Com relação às características dos ativos intangíveis, se-gundo Perez e Famá (2005), é de que são de natureza perma-nente, sem existência física, à disposição e controlados pela empresa e que tenham a capacidade de gerar benefício futuro. Lemes e Carvalho (2010, p. 195) indicam que o enquadramen-to do intangível se deve a “três condições: identificabilidade, controle e geração de benefícios econômicos”. Esses autores ainda afirmam que para ser um ativo intangível, os gastos sobre o mesmo devem ser separadamente identificados, podendo ser distinguidos de outros ativos intangíveis. Dessa forma, para atender o critério de identificabilidade, o ativo:

a) Pode ser separado da entidade e vendido, transferi-do, licenciado, alugado ou trocado, individualmente ou em conjunto com um ativo, um contrato ou um passivo relacionado;

b) Surge por meio de um contrato ou de outros direi-tos legais, mesmo que tais direitos não possam ser transferidos ou separados da entidade ou de outros direitos e obrigações (LEMES; CARVALHO, 2010, p. 196).

Outra característica dos intangíveis trata-se do contro-le. O controle de uma ativo é determinado pelo poder de obter benefícios futuros que fluam do recurso subjacente e de restringir o acesso de terceiros a esses benefícios (SAN-TOS; COSTA, 2009). Mormente, o direito legal advém de transações legais que ocorrem entre as partes, gerando o controle sobre determinados ativos, entretanto, a existência de direitos legais sobre um ativo não é condição necessária

para o seu controle, pois a entidade talvez possa de algum outro modo controlar os benefícios econômicos futuros.

A característica do benefício econômico futuro não inclui so-mente a receita de vendas, mas a redução do custo ou de outros benefícios resultantes do uso do ativo intangível. Pode-se desta-car que a empresa tem controle, quando lhe é assegurada, por lei, o direito sobre o ativo intangível, como por exemplo, direitos autorais sobre determinada marca (SANTOS; COSTA, 2010).

Belém e Marques (2012, p. 4) afirmam que a característica mais comum dos ativos intangíveis é o grau de incerteza exis-tente na “avaliação dos futuros resultados que poderão ser pro-porcionados por eles, porém a dificuldade da mensuração não é restrição para uma definição”. Consequentemente, para serem “reconhecidos eles precisam atender a definição de ativos, que é principalmente ter expectativa de geração de benefícios eco-nômicos futuros em favor da entidade e serem mensurados com confiabilidade” (BELÉM; MARQUES, 2012, p. 1).

O CPC 04 (2010) orienta que, quando um ativo possuir ele-mentos tangíveis e intangíveis, o mesmo deverá levar em consi-deração qual é mais relevante e significativo, para classificá-lo como imobilizado ou intangível. Neste caso, a entidade deve divulgar as seguintes informações para cada classe de ativos intangíveis: (a) com vida útil indefinida ou definida e, se defini-da, os prazos de vida útil ou as taxas de amortização utilizados; (b) os métodos de amortização utilizados para ativos intangí-veis com vida útil definida; (c) o valor contábil bruto e eventual amortização acumulada (mais as perdas acumuladas no valor recuperável) no início e no final do período; (d) a(s) rubrica(s) da demonstração do resultado em que qualquer amortização de ativos intangíveis for incluída; (e) a reconciliação do valor contábil no início e no final do período.

3. Estudos Correlatos

Ressalta-se a importância de estudos científicos que foram desenvolvidos relacionados ao tema. Na sequência, uma breve descrição dos estudos.

Rolim (2009) investigou o nível de evidenciação dos ati-vos intangíveis de acordo com IAS 38 pertencente ao FTSE 100 da bolsa de Londres em 2006. Os resultados assina-lam que apenas 18,6% das empresas da amostra atingiram 100% de evidenciação dos ativos intangíveis, mesmo que estivessem obrigadas legalmente a fazê-las.

Colauto et al. (2008) analisaram o conteúdo da eviden-ciação de ativos intangíveis não adquiridos nos Relatórios da Administração (RA) das companhias abertas brasileiras no ano de 2006. A coleta de dados utilizou como população alvo as empresas dos três níveis de governança corporativa da BMF&Bovespa. A amostra foi composta por 80 empresas que apresentaram RA do Exercício de 2006. A partir do R.A. foi re-alizada análise de conteúdo à menção (ou não) de 39 caracte-rísticas intangíveis relacionadas à Estrutura Externa, Estrutura Interna, e Competência Individual. As correlações paramétricas e não paramétricas denotaram ser pouco substanciais, embo-ra mais expressiva para as empresas do Novo Mercado.

Moura (2011) estudou a conformidade do disclosure obri-gatório dos ativos intangíveis e práticas de governança corpo-rativa considerando as maiores empresas nos setores no ano de 2009. Entre os intangíveis evidenciados, destacaram-se os softwares e o ágio sobre investimentos. Em relação à qua-

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lidade das práticas de governança, encontrou-se um índice médio de 55% e quanto ao nível de evidenciação de infor-mações sobre intangíveis, um índice médio de 75%. Foram encontradas diferenças significativas entre os setores quanto aos índices que se demonstraram superiores nos setores com maiores proporções de intangíveis.

Ritta, Eisllein e Ronchi (2010), que analisaram informações evidenciadas sobre os Ativos Intangíveis nas demonstrações financeiras das empresas brasileiras que apresentaram infor-mações financeiras à BM&FBovespa e à NYSE nos anos de 2006 e 2007. Os resultados apontam que: (i) ágio (73,94%), software (15%) e direitos contratuais (8,66%) foram os ele-mentos de AIs mais evidenciados pelas empresas; (ii) a maior participação dos AIs em relação o ativo patrimonial total foi da empresa Ambev correspondendo a mais 49% nos dois anos, e a menor participação dos AIs foi da empresa TAM com percentual inferior 0,20%; (iii) as companhias divulgaram seus relatórios financeiros no Brasil e nos Estados Unidos em conformidade com as normas vigentes; e, (iv) a empresa Co-pel foi a empresa que divulgou nos relatórios apresentados para a BM&FBovespa os itens comuns às normas nacionais e internacionais, no que tange à divulgação dos AIs.

Moura et al. (2011) analisaram as boas práticas de governança corporativa e evidenciação obrigatória dos ativos intangíveis. Em relação ao índice de conformidade com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis - CPC 04, encontrou-se um índice médio de 61% e quanto à adoção de boas práticas de governança corporativa captadas de acordo com o índice elaborado por Silveira, Barros e Famá (2004), obteve-se um índice médio de 70%, ambos bastante distantes de 100%. Os dados também demons-traram que entre as maiores empresas brasileiras lista-das nos diversos setores econômicos da BM&FBovespa, aquelas com maior conformidade quanto ao disclosure obrigatório dos ativos intangíveis e com maior proporção de tais ativos em seu ativo fixo foram as que apresentaram melhores práticas de governança corporativa.

4. Método e Procedimentos de Pesquisa Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva e docu-

mental, utilizando fontes secundárias para execução sua execução. A abordagem do problema é quantitativa, com a utilização da estatística descritiva e da metodologia de ma-ximum difference scaling.

Na coleta de dados, foi estabelecido como população-alvo as empresas que integram os três níveis de governança cor-porativa (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado) da BM&FBovespa. Entende-se que a seleção dos três níveis são importantes, em função destas empresas adotarem melhores práticas de go-vernança corporativa e, pressupõe-se que evidenciam mais informações relacionadas aos ativos intangíveis.

Na determinação da amostra, selecionaram-se empresas que apresentavam valores no Balanço Patrimonial, grupo do Ativo Não Circulante e subgrupo Intangível nas demonstra-ções publicadas no ano de 2012, ano base de 2011. Para fins deste estudo, excluíram-se as empresas que tinham valo-res no intangível menores que R$ 100 mil, de modo a obter maior uniformidade na amostra. Outro critério foi verificar se elas apresentavam informações nas Notas Explicativas so-

bre intangíveis. Desta forma, esse estudo atende aos parâ-metros de amostra não probabilística. A Tabela 1 apresenta a amostra da pesquisa.

Tabela 1: Amostra da pesquisa

Níveis de Governança Corporativa N° Empresas % da amostra

Nível 1 12 15%

Nível 2 08 10%

Novo Mercado 60 75%

Total de Empresas 80 100%

Fonte: Dados da pesquisa.

Verifica-se que existe uma diferença significativa nas quantidades de cada um dos grupos, no entanto, presume--se que não invalida o estudo. Após a seleção da amostra, foram coletadas na homepage da BM&FBovespa, mais especificamente nas Notas Explicativas, as informações do Quadro 1. Foram consultadas, com base na técnica de análise de conteúdo, as informações obrigatórias es-tabelecidas por meio de 17 itens relacionados pelo CPC 04 (2010), relativos às características de intangíveis em três dimensões: Vida Útil, Amortização e Reavaliação/Teste de Impairment.

É importante ressaltar que além da análise de conteúdo, empregou-se também a análise de discurso, ou seja, bus-cando identificar nos textos as menções feitas diretamente pelo item do conteúdo evidenciado, assim como o que es-tava nas entrelinhas, mas se referia ao conteúdo da análise. Bardin (1977, p. 34) afirma que “a descrição analítica fun-ciona segundo procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. A análise de dis-curso interage com os textos e ações. Phillips et al. (2004) indicam que a comunicação formal possui incorporada a presença de discursos implícitos e explícitos. Nesse sen-tido, elaborou-se um constructo a partir do CPC 04 (2010) e de Moura (2011). O Quadro 1 apresenta as informações necessárias à pesquisa.

Quadro 1: Informações obrigatórias a serem divulgadas sobre ativo intangível (CPC 04, 2010)

Dimensão deAtivosIntangíveis

Variáveis observadas

Vida Útil

1Vida útil do ativo intangível é definida ou indefinida

2Motivos que justificam a definição da vida útil definida ou indefinida do intangível

3Tempo de vida útil ou as taxas de amortização do ativo intangível

4Valor contábil bruto e amortização acumulada no início do período

5Valor contábil bruto e amortização acumulada no fim do período

6Existência e os valores contábeis de ativos intangíveis oferecidas como garantia de obrigações

7Valor dos compromissos contratuais advindos da aquisição de ativos intangíveis

Ieda Margarete Oro - Roberto Carlos Klann

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Amortização

8Valor contábil da amortização acumulada no início do período

9 Valor contábil da amortização do período

10Valor contábil da amortização acumulada no final do período

11Métodos de amortização utilizados para ativos intangíveis com vida útil definida

12Rubrica da demonstração de resultado em que qualquer amortização de ativo intangível foi incluída

Reavaliação/Teste deImpairment

13 Data efetiva da reavaliação do intangível

14Saldo da reavaliação, relacionada aos ativos intangíveis, no início e no final do período

15Informações sobre a realização ou não do teste de impairment (CPC 01)

16Valor das provisões de perdas, reconhecidas no resultado do período, de acordo com o CPC 01

17Valor das reversões de perdas, reconhecidas no resultado do período, de acordo com o CPC 01

Fonte: Adaptado do CPC 04 (2010) e de Moura (2011)

Para cada item do Quadro 1 atribuiu-se três notas (5, 3, 1), conforme pode-se visualizar no Quadro 2, com base em modelo utilizado por Boff, Beuren e Hein (2009).

Quadro 2: Categorias de qualidade da informação

Categorias Nota Posição Significado

IC 5Informação completa

A informação prevista encontra-se presente e completa nas notas explicativas.

II 3Informação incompleta

A informação encontra-se nas notas explicativas, mas encontra-se incompleta.

IA 1Informação Ausente

A informação prevista não se encontra nas notas explicativas.

Fonte: Adaptado de Boff, Beuren e Hein (2009, p. 253)

Para análise e interpretação dos dados foi utilizado o software Excel 2007, por meio do qual foram elaborados gráficos, quadros e tabelas para verificar o valor mone-tário dos ativos intangíveis e identificar as classes de intangíveis evidenciados pelas empresas pesquisadas. Para enriquecer a pesquisa, também foram utilizados dados estatísticos como média, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo.

A análise dos resultados foi realizada por meio da esca-la comparativa Best-Worst, consistindo na identificação do grau de importância atribuído pela conformidade dos itens relacionados no Quadro 1 e Quadro 2. A abordagem de melhores e piores (Best-Worts), também conhecida como maximum difference scaling, foi desenvolvida por Louvie-re e Woodworth (1990) e publicado pela primeira vez em 1992 por Finn e Louviere (GOODMAN; LOCKING; COHEN, 2005). Os autores relatam ainda que o grau de importância representa as combinações entre os valores atribuídos aos itens analisados, pode não ser observado diretamente, no

entanto, é possível extrair essa informação por meio da diferença entre o par Best-Worst, conforme representação a seguir:

Wt=frequência “best” - frequência “worst” + N 2N

Onde:Frequência “best” = número total de vezes que o item foi

evidenciado;Frequência “worst” = número total de vezes que o item foi

evidenciado;n = é o número de itens; 2 N = é a frequência do aparecimento de cada item.

Na sequência, apresenta-se o esquema de interpretação da escala Best-Worst:

Figura 1: Esquema de interpretação da escala Best-Worts

Best<Worst

Best<WorstBestWorst

0 0,5 1

Fonte: Becker e Rausch (2012)

Becker e Rausch (2012, p. 11) mencionam que “a leitura do esquema demonstra que quanto maior o índice encon-trado, ou seja, mais próximo de 1, maior é a importância atribuída a este fator”. Ou seja, quanto maior o nível de con-formidade obtido com a qualificação das informações, maior é o índice de importância atribuído.

5. Descrição e Análise dos ResultadosApresenta-se nesta seção a estatística descritiva dos da-

dos e a escala Best-Worst a partir do check list do Quadro 1.

5.1. Estatística Descritiva do Ativo IntangívelPrimeiramente, apresentam-se as estatísticas descriti-

vas dos valores do ativo intangível e da representatividade monetária do ativo intangível em relação ao ativo total nas empresas pesquisadas. A Tabela 1 apresenta os valores dos ativos intangíveis no Balanço Patrimonial das empresas no ano de 2011.

Tabela 1: Representatividade monetária dos ativos intangíveis (em milhares de reais) em 2011Níveis de governança Corporativa

No Média MedianaDesvio Padrão

Mínimo Máximo

N1 12 2.727.584 2.735.322 5.733.394 132.117 19.752.321

N2 8 1.584.926 613.188 1.927.673 129.260 5.873.314

NM 60 2.379.887 835.408 3.494.259 109.513 20.141.677

Totais 80 2.230.799 835.408 1.912.739 109.513 20.141.677

Fonte: Dados da pesquisa

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O volume total de ativos intangíveis nas empresas pes-quisadas, representam, em média, mais de 2 milhões de reais. As empresas que fazem parte do Nível 1 apresen-taram a maior discrepância entre os valores apresentados na média. Observa-se que o valor do desvio padrão foi superior à média nas empresas do Nível 1, indicando a variabilidade dos dados, ou seja, há uma heterogeneidade da amostra, provavelmente pela discrepância dos valores que podem afetar as médias.

De forma geral, a estrutura patrimonial (Lei no. 11638/2007) criou oficialmente o grupo de intangíveis, embora as empresas já estivessem fazendo uso desse grupo na elaboração de suas demonstrações contábeis. Destaca-se, que antes da Medida Provisória no. 449/2008, que posteriormente se tornou a Lei no. 11.941/2009, parte dos ativos intangíveis eram alocados no ativo diferido, que foi extinto em 2009 pela referida lei. Nesse contexto, o CPC 04 (2010) foi emitido com o objetivo de definir o tratamento contábil do ativo intangível (IUDÍCIBUS et al., 2010). Com o intuito de apresentar a representatividade dos ativos intangíveis no ativo total, a Tabela 2 evidencia os respectivos percentuais.

Tabela 2: Representatividade dos ativos intangíveis no ativo total Níveis de governança Corporativa

No Média

(%)Mediana

(%)

Desvio Padrão

(%)Mín. (%) Máx. (%)

N1 12 11,31 9,89 6,32 1,45 21,05

N2 8 26,20 17,92 24,27 4,64 70,68

NM 60 28,85 25,37 20,59 2,41 79,88

Total 80 22,12 17,92 9,48 1,45 79,88

Fonte: Dados da pesquisa

Analisando-se os mínimos e máximos da amostra, pode-se observar que se comparados às médias da amostra, existem valores distantes do padrão, distância mais significativa evidenciada nas empresas que compõe o Nível 2. A média indicou 11, 31% no Nível 1, 26,20% no Nível 2 e 28,85% no Novo Mercado. No que tange ao des-vio padrão, também ficou evidente que há maior heteroge-neidade nas empresas do Nível 2 representando 24,27%.

A Tabela 3 apresenta a classificação dos ativos intangí-veis evidenciados nas demonstrações financeiras, nas em-presas pertencentes da amostra.

Tabela 3: Classificação dos Ativos Intangíveis

Intangíveis evidenciados na amostra pesquisada

Total de Empresas Amostra

No de Empresas que apresentam o Intangível

Percentual de empresas que apresentam o intangível

Ágio 80 64 80%

Softwares 80 58 73%

Marcas e patentes 80 37 46%

Direitos de uso 80 31 39%

Carteira de cliente 80 21 26%

Contratos de concessão

80 19 24%

Pesquisa desenvolvimento 80 15 19%

Ponto comercial 80 6 7%

Fundo comércio 80 5 6%

Fonte: Dados da pesquisa

O ágio é recorrente em 80% das empresas pesquisa-das, enquanto software é evidenciado por 58 empresas, representando 73% das empresas. Marcas e patentes re-presentam 46%, evidenciadas em 37 empresas. Cita-se, também, a ocorrência das classes de intangível denomi-nadas direitos de uso e carteira de cliente, equivalentes a 39% e 26% respectivamente.

De acordo com as notas explicativas consultadas, constata-se a maior ocorrência de ágio em função da combinação de negócios, decorrente da diferença entre o valor da transação e o valor justo dos ativos líquidos das empresas negociadas, resultando no goodwill. Em seguida, a conta software representa o maior investi-mento das empresas em tecnologia, sistemas para maior produção, bem como qualidade de informação para a tomada de decisão.

Os resultados desta pesquisa corroboram com os resultados evidenciados por Ritta, Ensslin e Ronchi (2010), que indicaram que os ativos intangíveis mais evidenciados pelas empresas foram o ágio e software, 74,0% e 15%, em 2006 e 2007, respectivamente. Os in-tangíveis goodwill, software, marcas e patentes também foram mencionados com maior ocorrência por Santos et al. (2012), em termos de frequência nas empresas da BM&FBovespa nos anos de 2007, 2008 e 2009. Da mesma forma, no estudo de Moura (2011), a maioria das empresas pesquisadas demonstrou a classe de intangí-vel software com mais ocorrência. Em seguida, ágios e contratos de concessão.

5.2. Escala Best-Worst Com o objetivo de analisar numa escala aproximativa,

observou-se o constructo de itens do CPC 04 (2010) (Qua-dro 1) a partir da categorização da informação contábil, qualificadas pelos valores atribuídos conforme apresenta-do no Quadro 2. Essa metodologia de análise, segundo Au-ger, Devinney e Louviere (2004) revela graus de importância para determinados atributos que o investigador deseja me-dir. A grande vantagem deste método, segundo Goodman, Lockshin e Cohen (2005), é a simplicidade de análise, que produz um coeficiente para cada escolha, seja uma marca, categoria ou um atributo.

Os resultados evidenciados pela análise da conformida-de do CPC 04 (2010) e indicados na Tabela 4 relacionaram 17 itens em três dimensões: “vida útil”, “amortização”, e “re-avaliação/teste de impairment”.

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Tabela 4: Conformidade dos itens do CPC 04 (2010) categorizados na escala Best-Worst

Dimensões Variáveis

Qua

ntid

ade

de

Cla

ssifi

caçõ

es“B

ES

T”

Qua

ntid

ade

de

Cla

ssifi

caçõ

es“W

OR

ST

Índ

ice

Imp

ort

ânci

aA

trib

uíd

a

Vid

a Ú

til

1 Vida útil do ativo intangível é definida ou indefinida 57 3 0,8375

2Motivos que justificam a definição da vida útil definida ou indefinida do intangível

50 5 0,7813

3Tempo de vida útil ou as taxas de amortização do ativo intangível

62 9 0,8313

4Valor contábil bruto e amortização acumulada no início do período

55 18 0,7313

5Valor contábil bruto e amortização acumulada no fim do período

55 20 0,7188

6

Existência dos valores contábeis de ativos intangíveis oferecidas como garantia de obrigações

12 64 0,1750

7

Valor dos compromissos contratuais advindos da aquisição de ativos intangíveis

5 70 0,0938

Am

ort

izaç

ão

8Valor contábil da amortização acumulada no início do período

66 13 0,8313

9 Valor contábil da amortização do período 64 6 0,8625

10Valor contábil da amortização acumulada no final do período

72 6 0,9125

11

Métodos de amortização utilizados para ativos intangíveis com vida útil definida

73 2 0,9438

12

Rubrica da demonstração de resultado qualquer amortização de ativo intangível foi incluída

33 37 0,4750

Test

e Im

par

mit

13 Data efetiva da reavaliação do intangível 37 28 0,5563

14

Saldo da reavaliação, relacionada aos ativos intangíveis, no início e no final do período

12 64 0,1750

15Informações sobre a realização ou não do teste de impairment (CPC 01)

54 20 0,7125

16

Valor das provisões de perdas, reconhecidas no resultado do período, de acordo CPC 01

10 68 0,1375

17

Valor das reversões de perdas, reconhecidas no resultado do período, de acordo CPC 01

5 75 0,0625

Total de observações 80 80

Fonte: Notas explicativas das empresas pesquisadas

Conforme indicado na Tabela 4, os índices que obtiveram um número maior de classificações na coluna “Best” em re-lação ao número constante na coluna “Worst” apresentam um índice de importância mais próximo de um (1), ou seja, possuem maior número de observações com relação à con-formidade do item analisado nas notas explicativas.

Constatou-se que do conjunto de itens das três dimen-sões de análise, os que receberam maiores índices de im-portância foram aqueles que obtiveram valores acima de 0,5 (melhor pela escala Best-Worst). Em relação à primeira dimensão (vida útil), os resultados indicam que o primeiro item (1) vida útil do ativo é definida ou indefinida (0,8375) e o terceiro (3) Tempo de vida útil ou as taxas de amortização do ativo intangível (0,8313) apresentaram os melhores índices de importância atribuída.

Com relação à segunda dimensão, que trata da confor-midade da amortização. De acordo com o CPC (04), uma entidade avaliará a vida útil de um ativo intangível somo sendo definida ou indefinida, e sua duração, ou número de unidades de produção, ou unidades similares que consti-tuem essa vida útil. Os itens de maior destaque são: (11) Métodos de amortização utilizados para ativos intangíveis com vida útil definida, com índice de 0,9438; e (10) Valor contábil da amortização acumulada no final do período, com 0,9125. Na terceira posição da escala encontra-se o item nove: (9) Valor contábil da amortização acumulada no início do período, com 0,8625.

Na terceira dimensão, que se refere ao Teste de Impair-ment, o índice de maior importância na escala (BW) é o item (15) Informações sobre a realização ou não do teste de impairment (CPC 01), com 0,7125. Quanto aos índices de importância atribuídos que ficaram abaixo de 0,5, percebe--se que 6 itens estão relacionados. Na primeira dimensão, da vida útil, dois itens: o item (6) Existência dos valores contábeis de ativos intangíveis oferecidos como garantia de obrigações; e o item (7), que indica o valor dos compromis-sos contratuais advindos da aquisição de ativos intangíveis.

Na dimensão Amortização, apenas um item apresentou escala worst: (12) rubrica da demonstração de resultado em que qualquer amortização de ativo intangível foi incluída. Na última dimensão, Teste de Impairment, três itens foram me-nos evidenciados: item (14) valor das reversões de perdas, reconhecidas no resultado do período, de acordo CPC 01; item (16) que trata do valor das provisões de perdas, reco-nhecidas no resultado do período, de acordo CPC 01; e por último, o item (17), o saldo da reavaliação, relacionada aos ativos intangíveis, no início e no final do período.

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Na sequência, a Tabela 5 apresenta a escala Best-Worst com relação aos níveis de governança corporativa.

Tabela 5: Conformidade dos itens do CPC 04 (2010) categorizados na escala Best-Worst nos níveis de governança corporativa

Nível 1 Nível 2 Novo Mercado

Qua

nt. d

e cl

assi

f.

Qua

nt. d

e cl

assi

f.

Índ

ice

de

Imp

ort

.

Qua

nt. d

e cl

assi

f

Qua

nt.d

e cl

assi

f.

Índ

ice

de

Imp

ort

.

Qua

nt. d

e cl

assi

f.

Qua

nt. d

e cl

assi

f.

Índ

ice

de

imp

ort

.

“BE

ST

“WO

RS

T”

Atr

ibuí

da

“BE

ST

“WO

RS

T”

Atr

ibuí

da

“BE

ST

“WO

RS

T”

Atr

ibuí

da

Vid

a Ú

til

1 11 0 0,9583 7 0 0,9375 39 3 0,9583

2 7 1 0,7500 7 0 0,9375 20 3 0,7500

3 10 2 0,8333 8 0 1,0000 25 3 0,8333

4 7 5 0,5833 8 0 1,0000 25 2 0,5833

5 7 5 0,5833 8 0 1,0000 26 3 0,5833

6 3 9 0,2500 4 4 0,5000 3 27 0,2500

7 0 12 0,0000 0 6 0,1250 2 30 0,0000

Am

ort

izaç

ão

8 11 1 0,9167 7 1 0,8750 28 5 0,9167

9 8 1 0,7917 7 0 0,9375 28 1 0,7917

10 11 1 0,9167 8 0 1,0000 30 2 0,9167

11 11 1 0,9167 8 0 1,0000 33 1 0,9167

12 5 7 0,4167 3 5 0,3750 13 14 0,4167

Rea

valia

ção

/Tes

te

Imp

arm

it

13 9 1 0,8333 6 1 0,8125 14 15 0,8333

14 4 8 0,3333 1 7 0,1250 5 27 0,3333

15 8 4 0,6667 3 4 0,4375 22 9 0,6667

16 3 9 0,2500 1 7 0,1250 4 28 0,2500

17 3 9 0,2500 0 8 0,0000 2 32 0,2500

Total 12 12 8 8 60 60

Fonte: Dados da pesquisa

Na Tabela 5 apresenta-se o disclosure obrigatório do ati-vo intangível na escala Best-Worst nos níveis de governança corporativa. Percebe-se que não existem diferenças significa-tivas nos três níveis, ou seja, o Índice de Importância Atribuída apresentou semelhanças, evidenciando que não permite indi-car que um dos níveis possui melhor evidenciação obrigatória do CPC 04 (2010) que caracteriza o ativo intangível.

6. ConclusõesEste artigo consistiu em verificar a conformidade do dis-

closure obrigatório dos ativos intangíveis indicados no CPC 04 (2010) nas empresas brasileiras pertencentes aos Níveis de Governança Corporativa da BM&FBovespa. A pesquisa

caracteriza-se como descritiva com abordagem quantitati-va. A amostra foi composta por 80 empresas e foram con-sultadas as Demonstrações Financeiras e Notas Explicativas referente ao ano base de 2011 das empresas pesquisadas.

Os resultados indicam que em termos de valores mo-netários, as empresas que fazem parte do Nível 1 apresen-taram a maior discrepância entre os valores em relação à média. Além disso, o valor do desvio padrão neste segmento foi superior à média, indicando a variabilidade dos dados e uma heterogeneidade da amostra, provavelmente pela dis-crepância dos valores que podem afetar as médias.

Com relação à representatividade do ativo intangível em relação ao ativo total, na análise dos mínimos e máximos, pode-se observar que se comparados às médias da amos-tra, existem valores distantes do padrão, as distâncias mais significativas evidenciadas estão caracterizadas nas empre-sas que compõe o Nível 2. No que tange ao desvio padrão, também ficou evidente que há maior heterogeneidade nas empresas do nível 2.

Na classificação dos ativos intangíveis, os resultados corroboram com outros estudos (RITTA; ENSSLIN; RON-CHI, 2010; MOURA et al., 2011, SANTOS et al., 2012), que demonstraram que a classe de intangível de ágio e software possui maior ocorrência dentro do grupo de ativos intangí-veis das empresas, seguida pelos contratos de concessão.

Na metodologia maximum difference scaling, que iden-tifica a escala aproximativa Best-Worst verificou-se a con-formidade do CPC 04 (2010) nas empresas da amostra. Constatou-se que as dimensões Vida Útil e Amortização apresentaram melhor nível de evidenciação em relação à Reavaliação/Teste de Impairment.

Com relação aos níveis de governança, não se constata-ram diferenças significativas que permitam concluir que um dos níveis possua melhor nível de disclosure obrigatório do que os outros dois analisados.

Conclui-se que a conformidade do disclosure obrigatório dos ativos intangíveis indicados no CPC 04 (2010) nas em-presas brasileiras pertencentes aos Níveis de Governança Corporativa da BM&FBovespa demonstra melhor nível de conformidade nas dimensões vida útil e amortização do que em relação a reavaliação/teste de impairment.

Os resultados deste estudo despertam interesse em de-senvolver novas pesquisas sobre ativos intangíveis. Desta forma, sugere-se avaliar o nível de conformidade das infor-mações divulgadas sobre ativos intangíveis com o desempe-nho econômico-financeiro das empresas pertencentes aos níveis de governança corporativa. Recomenda-se estudar empresas que integram os níveis de governança corporativa em estudos longitudinais para avaliar a evolução do nível de conformidade quanto ao disclosure dos ativos intangíveis e qualidade das práticas de governança corporativa.

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Ieda Margarete Oro - Roberto Carlos Klann

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Cristian Baú dal Magro Blumenau - SCDoutorando em Ciências Contábeis e Administração na FURB1

[email protected] Vanessa Edy Dagnoni MondiniBlumenau - SCDoutoranda em Ciências Contábeis e Administração na FURB1

[email protected]

Nelson HeinBlumenau - SCDoutor em Engenharia da Produção pela UFSC2

Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da FURB1

[email protected]

ResumoA expansão da concessão de crédito vem exigindo que as

instituições financeiras adotem métodos que auxiliem na ges-tão dos riscos. Por interferir fortemente na liquidez e no capital próprio das organizações, a inadimplência representa um dos riscos mais preocupantes. Diante do exposto, torna-se relevan-te estudar os aspectos envolvidos na gestão da inadimplência dos tomadores de crédito. Desta forma, este artigo tem como objetivo identificar o perfil de clientes que apresentam maior probabilidade para inadimplência em operações de crédito pessoal. Para isso, realizou-se uma pesquisa de abordagem quantitativa, com uma amostra composta por 150 clientes que possuem operações de crédito pessoal em uma cooperativa de crédito de livre admissão, localizada na região oeste de Santa Catarina. Os resultados indicaram que a inadimplência está associada a clientes do gênero masculino, jovens, solteiros e/ou divorciados, com profissões de nível operacional e renda mensal baixa.

1 FURB – Universidade Regional de Blumenau – CEP89012-900 – Blumenau – SC

2 UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina – CEP 88040-900 – Florianópolis – SC

Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito

Palavras-chave: Cooperativa de Crédito, Inadimplência, Perfil de Clientes, Gestão do Risco de Crédito

Abstract The expansion of lending has been demanding that financial

institutions adopt methods that assist in managing risks. By interfering heavily on liquidity and own capital of organizations, the default is one of the most worrisome risks. Given the above, it becomes important to study the issues involved in the management of default by borrowers. Thus, this article aims to identify the profile of customers who are more likely to default on personal loans. For this, we carried out a quantitative research approach with a sample of 150 customers who have personal loans in a cooperative credit free admission, located in the western region of Santa Catarina. The results indicated that delinquency is associated with male clients, young, single and / or divorced, with professions of operational level and low monthly income.

Key words: Credit Union, Default, Client Profile, Management of Credit Risk

1. IntroduçãoA expansão da concessão de crédito vem exigindo das ins-

tituições financeiras a adoção de ferramentas de gestão de ris-cos cada vez mais sofisticadas. Deste modo, um dos principais riscos envolvidos em operações de crédito é a inadimplência, pois interfere na liquidez dos bancos e resulta na diminuição do capital próprio (RUTH, 1991).

Contudo, gerenciar o risco de inadimplência implica na análise do perfil dos candidatos a tomadores de crédito, a fim de avaliar suas condições de endividamento e liquidez (ALES et al. 2009). Estudos vêm se propondo a apresentar instrumentos, modelos e técnicas capazes de explicar a probabilidade da inadimplência em operações de crédito (DUTRA, 2010; ABDOU, POINTON, 2011; CAMARGOS, CAMARGOS; ARAUJO, 2012; FRANCISCO; AMARAL; BERTUCCI, 2013; XIAO, YAO, 2014).

Artigo recebido em 24/09/2014 e aceito em 06/03/2015

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Os modelos estatísticos estão entre as opções mais utilizadas para análise do perfil de inadimplência dos can-didatos ao crédito. Além disso, esses modelos têm agiliza-do a avaliação das propostas para liberação de crédito e passaram a ser empregados como instrumentos de apoio à decisão, minimizando prejuízos financeiros ocasionados pela inadimplência (GONÇALVES, 2005).

Assim como os bancos comerciais, as cooperativas de crédito têm como função básica a intermediação financeira, da qual a concessão de crédito representa a principal fonte de receita. No entanto, no caso específico das cooperativas, as perdas ocasionadas pela inadimplência, além de refletirem na sua rentabilidade, refletem também na rentabilidade de todos os cooperados. Desta maneira, estratégias que se propo-nham a diminuir o risco de não retorno dos recursos liberados são fundamentais para a sustentabilidade dessas instituições (FRANCISCO, AMARAL, BERTUCCI, 2013).

Sob esta perspectiva, este estudo apresenta a seguinte questão de pesquisa: Qual o perfil de clientes com maior proba-bilidade para inadimplência em operações de crédito pessoal? Por isso, tem-se como objetivo identificar o perfil desse cliente. Sabe-se que a oferta de crédito, por impulsionar a geração de emprego, renda e consumo, é fundamental para o crescimen-to econômico de um país (ASSAF NETO, 2009). Desta forma, técnicas que se proponham a colaborar para a tomada de deci-sões mais assertivas a respeito da concessão ou não de crédito se mostram fundamentais para a sobrevivência das instituições bancárias. Conforme Steiner et al. (2005), concessões de crédi-to sem critérios rigorosos poderão resultar em prejuízos supe-riores aos lucros obtidos em várias operações bem-sucedidas.

O texto está estruturado em cinco partes: na introdução são apresentadas a contextualização do trabalho, a problematiza-ção, o objetivo e a justificativa da pesquisa; em seguida, será apresentado o referencial teórico que servirá de base para a discussão dos resultados; a terceira parte contém os aspectos metodológicos e a caracterização do objeto de pesquisa; as etapas quatro e cinco, contêm a discussão de resultados e as considerações finais, respectivamente.

2. Gestão dos Riscos de CréditoA função básica das instituições financeiras é prover recur-

sos, a curto e médio prazo, ao comércio, à indústria, às empre-sas prestadoras de serviços, às pessoas físicas e a terceiros em geral (BRASIL, 1994). O financiamento pelos bancos figura como o principal instrumento de suporte ao desenvolvimento do país (CAMARGOS, CAMARGOS; ARAUJO, 2012). Assim, conceder crédito implica no empréstimo de uma quantia em dinheiro, mediante o compromisso de pagamento futuro (GUI-MARÃES; CHAVES NETO, 2002).

Atualmente, o Brasil vem adotando um modelo de cres-cimento baseado na expansão da oferta de crédito e forte estímulo ao consumo (CAMPELO JR, 2014). Este incentivo ao crédito, promovido pelo Estado, embora aumente o volume de negócios, torna as instituições financeiras mais vulneráveis e propensas a riscos (BARROS; ALMEIDA JÚNIOR, 1997).

O risco de crédito incorrido pelos bancos se refere à pos-sibilidade de o tomador do empréstimo descumprir suas obri-gações contratuais, tornando a operação problemática e cus-tosa para a instituição (CAPELLETTO, CORRAR, 2008). Deste modo, a inadimplência é um dos maiores transtornos à atuação

eficiente das organizações, independente do seu tamanho ou faturamento (SEHN; CARLINI JR., 2007).

Para coibir esses problemas, as instituições financeiras desenvolvem políticas de gestão do risco de crédito com o objetivo de preservar o capital e investi-lo em oportunida-des lucrativas (AMARAL Jr; TAVORA Jr, 2010). A efetividade dessas políticas, no entanto, está atrelada à capacidade de classificação das informações sobre o perfil dos clientes, que venham a ser relevantes para a identificação da propensão à inadimplência. Políticas de crédito propensas ao risco em nome da ampliação da lucratividade tornam as operações incertas. O ideal é identificar o risco relacionado ao perfil de cada cliente, para que a instituição financeira opere dentro de uma margem calculada (MIURA; DAVI, 2000).

A mensuração dos riscos geralmente se baseia em critérios como: o montante do crédito concedido, o perfil econômico financeiro do candidato ao empréstimo, o destino do recurso, o prazo da operação e as garantias oferecidas (BESSIS, 1998).

2.1. Modelos de Avaliação de Riscos de CréditoPara operacionalizar a gestão do risco de crédito, as ins-

tituições financeiras vêm se apoiando em uma infinidade de técnicas, visando minimizar suas perdas. Essas práticas envol-vem desde investimentos em treinamento de especialistas, até a utilização de modelos estatísticos que garantam maior con-fiabilidade e eficácia na análise dos candidatos a empréstimos (CAUOETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 1998). Assim, quanto mais avançarem os estudos sobre as variáveis que possam ser úteis aos modelos de avaliação dos riscos, mais precisas as de-cisões e menores as perdas para as instituições (DUTRA, 2010).

Acompanhando essa tendência, pesquisadores acadêmi-cos têm se dedicado a estudar maneiras de contribuir para o desenvolvimento de metodologias que auxiliem na classifica-ção de clientes em prováveis adimplentes ou inadimplentes em relação à tomada de crédito. Lemos, Steiner e Nievola (2005) analisaram registros históricos de 339 clientes (pes-soas jurídicas) de uma agência bancária, por meio de duas das ferramentas de Data Mining: Redes Neurais e Árvores de Decisão. Essas técnicas permitiram o reconhecimento de padrões de inadimplência e também a classificação de novos casos. Os resultados demonstraram que, para esse proble-ma específico, as Redes Neurais apresentaram uma taxa de classificação correta maior do que a das Árvores de Decisão.

Steiner et al. (2007) também obtiveram resultados positi-vos ao utilizar as Redes Neurais. Ao analisarem um conjunto de dados de crédito, obtiveram mais de 80% de acertos na indicação de concessão (ou não) de crédito bancário em to-das as simulações efetuadas. Já, Ales et al. (2009) utilizaram o Support Vector Machine (SVM) para verificar sua contri-buição no gerenciamento das decisões sobre a concessão de crédito, e possibilidade de redução da inadimplência por meio do reconhecimento e classificação dos inadimplentes. Para isso, analisaram o cadastro de 199 clientes empresa-riais de um banco paranaense. Os resultados demonstra-ram que, para esse caso específico, o método se mostrou apropriado, resultando em taxas de erros de classificação pequenas e superfícies de separação robustas.

Ferreira et al. (2011) buscaram definir o perfil de clientes inadimplentes ou propensos à inadimplência nas relações de empréstimo pessoal em bancos de varejo. Para isso, re-

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alizaram uma pesquisa quantitativa, com o uso da análise logística, baseada em informações de 158 clientes de uma agência bancária mineira. Após a análise dos dados, verifica-ram que as variáveis renda, natureza ocupacional e idade não foram significativas na determinação do risco de crédito dos clientes. Por outro lado, o gênero se apresentou como uma variável bastante significativa, indicando que os homens são mais propensos à inadimplência do que as mulheres.

Camargos, Camargos e Araujo (2012) propuseram um modelo econométrico para calcular o risco de inadimplência em financiamentos concedidos por bancos do estado de Mi-nas Gerais. Na construção do modelo, utilizaram dados de 9.232 empresas com processos de financiamento. Por meio da análise de regressão logística hierárquica, definiram a qua-lidade de crédito como variável dependente e 22 variáveis in-dependentes, referentes ao contrato, à empresa e aos sócios/avalistas. Destas, cinco variáveis se mostraram relevantes na previsão da inadimplência, classificando corretamente 88,5% das empresas. Como conclusão, perceberam que o valor financiado e a proporção dessa quantia consumida com o fi-nanciamento são condicionantes da inadimplência, enquanto o valor dos bens do avalista em relação ao financiamento, o valor dos investimentos fixos e o tempo de atividade da em-presa atuam em favor da adimplência.

Ferreira, Celso e Barbosa Neto (2012) escolheram anali-sar 74 operações bancárias para mensurar o risco de crédito aplicando o modelo Logit em um banco. Os resultados apon-taram uma alta capacidade de predição do modelo (91,9%). As principais variáveis condicionantes que afetaram positi-vamente o risco foram a renda, o tempo de relacionamento com o banco e o limite de cheque especial. Entre as variáveis negativamente associadas, destacaram-se a idade e o grau de instrução. Segundo os autores, considerando que todos os fatores são controláveis, o modelo ratifica a contribuição das técnicas estatísticas para a predição e gestão do risco de crédito em instituições financeiras.

Francisco, Amaral e Bertucci (2013) procuraram analisar em uma cooperativa de crédito as operações com maior capacidade de gerar riscos de inadimplência. Tendo como base o perfil dos cooperados, os autores verificaram que os modelos mais adequados para essa análise são os modelos de Credit Scoring e o Credit Bureau, nos quais, através de técnicas estatísticas como a análise discriminante e regres-são logística, evidenciaram-se as características de créditos considerados mais arriscados. A análise procurou identificar o “pior cliente”, por gerar o maior risco de inadimplência e im-pactar na gestão financeira. Concluíram que a renda mensal bruta e o valor liberado na concessão de crédito foram as va-riáveis mais relevantes para a identificação dos inadimplentes.

Xiao e Yao (2014) buscaram documentar os índices de inadimplência da dívida de acordo com o período em que os clientes se encontram no ciclo de vida familiar. Para isso, utilizaram dados representativos de famílias americanas. Por meio de regressões logísticas múltiplas foram identificados os perfis mais prováveis de se tornarem inadimplentes. As variáveis analisadas levaram em conta a renda, os ativos financeiros, as dívidas e vários outros dados demográficos e socioeconômicos. Os autores concluíram que, entre as 15 categorias do ciclo de vida das famílias, aqueles com maior probabilidade de serem inadimplentes são os casais jovens

com crianças a partir de sete anos, e solteiros de meia-idade com crianças menores de 15 anos. O Quadro 1 apresenta uma síntese destes estudos mencionados:

Quadro 1: Síntese dos estudos sobre a inadimplência em operações de crédito

AUTORES MÉTODO CONCLUSÃO

Lemos, Steiner e Nievola (2005).

Data Mining: Redes Neurais e Árvores de Decisão.

As Redes Neurais apresentaram uma taxa de classificação correta maior do que a das Árvores de Decisão.

Steiner et al. (2007) Redes Neurais

As Redes Neurais apresentaram mais de 80% de acertos na indicação de concessão (ou não) de crédito bancário em todas as simulações efetuadas.

Ales et al. (2009)

Support Vector Machine (SVM)

O método se mostrou apropriado, resultando em taxas de erros de classificação pequenas e superfícies de separação generalizadas e robustas.

Dutra (2010)

Regressão Logística

Os resultados obtidos não foram satisfatórios para predizer a probabilidade de inadimplência desses clientes.

Ferreira et al (2011)

Análise logística

As variáveis renda, natureza ocupacional e idade não foram significativas na determinação do risco de crédito dos clientes. Por outro lado, o gênero se apresentou como uma variável bastante significativa, indicando que os homens se mostraram mais propensos à inadimplência do que as mulheres.

Camargos, Camargos e Araujo (2012).

Análise de Regressão Logística Hierárquica

O valor financiado e a proporção dessa quantia consumida com o financiamento são condicionantes da inadimplência. O valor dos bens do avalista em relação ao financiamento, o valor dos investimentos fixos e o tempo de atividade da empresa atuam a favor da adimplência.

Ferreira, Celso e Barbosa Neto (2012).

Logit

Alta capacidade de predição do modelo (91,9%). As variáveis que afetam positivamente o risco: renda, tempo de relacionamento com o banco e limite de cheque especial. Variáveis negativamente associadas ao risco: idade e grau de instrução.

Francisco, Amaral e Bertucci (2013)

Análise discriminante e Regressão logística.

A renda mensal bruta e o valor liberado na concessão de crédito foram as variáveis mais relevantes para a identificação dos inadimplentes.

Xiao e Yao (2014)

Regressões logísticas múltiplas.

Dentre as 15 categorias do ciclo de vida das famílias, aqueles com maior probabilidade de serem inadimplentes são os casais jovens, com crianças a partir de sete anos, e solteiros de meia-idade com crianças menores de 15 anos.

Fonte: Dados da pesquisa

Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito

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De maneira geral, pode-se verificar no Quadro 1 que são inúmeras as variáveis com capacidade de interferir na predição de clientes inadimplentes ou não. Segundo Abdou e Pointon (2011), realizadores de uma extensa revisão de 214 artigos, livros e teses relacionadas a aplicações de pontuação de cré-dito, não é possível indicar uma única técnica estatística que seja superior às outras e sirva para todas as circunstâncias.

3. Metodologia da PesquisaEsta pesquisa se caracteriza como exploratória em fun-

ção do aprofundamento sobre o assunto: gestão dos riscos de crédito. Neste caso específico, o tema será estudado por meio da análise da carteira de clientes de uma cooperativa de crédito a fim de identificar o perfil que apresenta maior probabilidade para inadimplência em operações de emprés-timo pessoal. Hair Jr. et al. (2005) explicam que a pesquisa exploratória tem o objetivo de aproximar-se do fenômeno ou obter sobre ele nova compreensão.

Em relação aos procedimentos, a pesquisa baseou-se em análise documental, por valer-se de materiais com da-dos brutos, não analisados em profundidade, fornecidos pela cooperativa de crédito em questão. Para Silva e Grigolo (2002), esse tipo de análise busca atribuir valor a materiais ainda não analisados e extrair deles alguma contribuição.

Quanto ao método, a pesquisa possui abordagem quan-titativa empregando técnicas estatísticas no tratamento dos dados. Essa abordagem, segundo Creswel (2007), pode também ser caracterizada como dedutiva, na qual o pesqui-sador busca a verificação de uma teoria por meio de hipóte-ses que contenham as variáveis de estudo.

A coleta dos dados foi realizada em maio de 2014, jun-to a uma cooperativa de crédito situada na região oeste do estado de Santa Catarina. A cooperativa em questão dis-ponibilizou os dados cadastrais de 150 clientes (pessoas físicas) que possuem operações de crédito ativas, sendo os mesmos determinados como a amostra da pesquisa.

Dentre os dados contidos nos documentos, foram reti-radas informações que deram origem às seguintes variáveis da pesquisa: inadimplência, idade, gênero, estado civil, profissão, renda média mensal e bairro de residência. Para aplicação das técnicas estatísticas, estas variáveis foram categorizadas, conforme indicado no Quadro 2:

Quadro 2: Categorização das variáveis da pesquisa

Variáveis Categorização não métrica

Categorização métrica

INADIMPLÊNCIAAdimplente 01

Inadimplente 02

IDADE

Até 22 anos 01

De 23 a 28 anos 02

De 29 a 34 anos 03

De 35 a 43 anos 04

De 44 a 55 anos 05

Acima de 55 anos 06

GÊNEROMasculino 01

Feminino 02

ESTADO CIVIL

Casado 01

Solteiro 02

União Estável 03

Divorciado 04

Viúvo 05

PROFISSÃO

Produtor Agropecuário 01

Professor 02

Diretor Empresa 03

Auxiliar Serviç. Alimentação 04

Pedreiro 05

Mecânico 06

Chapeador 07

Aposentado 08

Serviços Gerais 09

Empregada Doméstica 10

Enfermeiro 11

Contador 12

Agente de Saúde 13

Operador 14

Assistente Social 15

Assist. Administrativo/Escritório 16

Farmacêutico/Balconista Farmácia 17

Motorista 18

Vereador 19

Desenhista 20

Costureiro 21

Arquiteto 22

Carregador 23

Repositor/embalador 24

Advogado 25

Cabeleireiro 26

Confeiteiro 27

Supervisor 28

Policial Militar 29

Vendedor 30

Escrevente 31

Leiturista 32

Zelador 33

RENDA MÉDIA MENSAL

Até R$ 1.000,00 01

R$ 1.000,01 – R$ 2.000,00 02

R$ 2.000,01 – R$ 3.000,00 03

R$ 3.000,01 – R$ 4.000,00 04

R$ 4.000,01 – R$ 5.000,00 05

R$ 5.001,00 – R$ 7.000,00 06

Acima de 7.000,01 07

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BAIRRO

Cristo Rei 01

Centro 02

Bela Vista 03

Interior 04

São Cristóvão 05

Nova Esperança 06

Santa Inês 07

ASEHAQ 08

Cooper 09

Três Pinheiros 10

Nossa Senhora Aparecida 11

Fonte: Dados da pesquisa

Observa-se no Quadro 2 que na primeira coluna estão des-critas as variáveis que foram determinadas de acordo com os dados disponibilizados pela cooperativa de crédito. Do mesmo modo, na segunda coluna está determinada a categorização não métrica e, na terceira coluna, a categorização métrica das variáveis em estudo. Ambas as categorizações foram elabora-das de acordo com as informações contidas em cada variável da carteira dos 150 clientes analisados.

Diante do exposto, foi determinado que a primeira variável, “inadimplência”, continha dois grupos de categorização não métrica (adimplentes e inadimplentes) e a categorização métri-ca foi determinada, respectivamente, de acordo com categoria não métrica (01 para adimplentes e 02 para inadimplentes).

A variável “idade” foi agrupada em seis categorias não mé-tricas (clientes até 22 anos; de 23 a 28 anos; de 29 a 34 anos; de 35 a 43 anos; de 44 a 55 anos; acima de 55 anos) e categorias métricas, respectivamente (01, 02, 03, 04, 05, 06).

Na sequência tem-se a variável “gênero” que foi separada em dois grupos de categorização não métrica (masculino e fe-minino) e métrica, respectivamente, (01 e 02).

Na variável “estado civil”, os 150 clientes foram agrupados em cinco grupos de categorização não métrica (casado; soltei-ro, união estável; divorciado e viúvo) e de categorização métri-ca, respectivamente, (01, 02, 03, 04 e 05).

A variável “profissão” foi separada em 33 categorias não métricas (produtor agropecuário, professor, diretor de empresa, auxiliar de serviços de alimentação, pedreiro, mecânico, cha-peador, aposentado, serviços gerais, empregada doméstica, enfermeiro, contador, agente de saúde, operador, assistente social, assistente administrativo/escritório, farmacêutico/balco-nista de farmácia, motorista, vereador, desenhista, costureiro, arquiteto, carregador, repositor/embalador, advogado, cabelei-reiro, confeiteiro, supervisor, policial militar, vendedor, escreven-te, leiturista e zelador) e, respectivamente, categorizações mé-tricas (01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32 e 33).

Na variável “renda média mensal” os clientes foram se-parados em sete grupos, categorizados de forma não mé-trica como (renda de até R$ 1.000,00; de R$ 1.000,01 a R$ 2.000,00; de R$ 2.000,01 a 3.000,00; de 3.000,01 a 4.000,00; de R$ 4.000,01 à R$ 5.000,00; de 5.000,01 a 7.000,00; e aci-ma de R$ 7.000,00) e, respectivamente, categorização métri-ca como (01, 02, 03, 04, 05, 06, 07).

Por fim, a variável “bairro” continha clientes residentes em 11 bairros diferentes que receberam categorização não métrica (Cristo Rei; Centro; Bela Vista; Interior; São Cristóvão; Nova Es-perança; Santa Inês; ASEHAQ; Cooper; Três Pinheiros; Nossa Senhora Aparecida) e, respectivamente, categorização métrica (01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08, 09, 10, 11).

Inicialmente, os dados foram analisados de forma bivariada para verificar o relacionamento/associação existente entre as variáveis estudadas, principalmente as demais variáveis (bairro, renda média mensal, gênero, estado civil e idade) em relação à variável inadimplência. Neste caso, foi efetuada a análise de cor-relação com o uso do software SPSS. De acordo com Pestana e Gageiro (2000, p. 174), “a intensidade das relações pode ser medida através de medidas de associação, concordância ou correlação. Os vários tipos de medidas dependem da natureza das variáveis”. Assim, o coeficiente de correlação utilizado foi o de Spearman, recomendado para a mensuração da intensidade da relação entre variáveis nominais e ordinais.

Já para identificar o perfil de clientes com maior probabili-dade para inadimplência em operações de crédito pessoal, foi aplicada a análise de dados multivariada por meio da análise de correspondência múltipla, também com o uso do software SPSS. Contudo, para aplicação do teste foram excluídas as variáveis que não apresentaram associação significativa com a variável inadimplência na análise de correlação. O procedi-mento adotado para efetuar a análise de correspondência foi o HOMALS (Análise de Homogeneidade), técnica aplicada quan-do se pretende verificar a relação entre duas ou mais variáveis nominais ou ordinais (PESTANA; GAGEIRO, 2000).

4. Análise dos ResultadosA análise dos resultados foi estruturada em três seções.

Na primeira, serão apresentadas algumas características re-ferentes às cooperativas de crédito, objeto desta pesquisa. Em seguida, será exposta a análise de associação entre as variáveis por meio da correlação de Spearman, visando à ex-clusão de variáveis que não possuem associação significativa com a variável inadimplência. Por fim, serão apresentadas as variáveis com associação significativa, utilizadas na análise de homogeneidade pela aplicação da técnica de correspondên-cia múltipla (HOMALS), visando identificar o perfil de clientes que apresentam maior probabilidade para inadimplência em operações de crédito pessoal.

4.1. Caracterização do Objeto de PesquisaAs cooperativas de crédito se equiparam aos bancos co-

merciais, conforme ordena a Resolução 2193, de 31/08/1995. Assim como os bancos comerciais, as cooperativas de crédito se constituem sob a forma de sociedade anônima fechada, devendo a sua denominação contar com a expressão “Banco Cooperativo”. Sua área de atuação se restringe aos estados onde se situam as sedes das pessoas jurídicas controladoras, de acordo com a Resolução 2193, de 31/08/1995 (FRANCISCO, AMARAL, BERTUCCI, 2013).

Fundamentalmente, cabe às cooperativas de crédito ofere-cer serviços financeiros de maneira mais simplificada e vantajo-sa aos seus associados, permitindo o acesso ao crédito e a ou-tros serviços financeiros. Algumas características diferenciam as cooperativas dos bancos comerciais, como a possibilidade

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de os próprios associados assumirem a sua direção e controle, bem como se favorecerem com o retorno de possíveis sobras ou excedentes (PINHEIRO, 2008).

4.2. Análise de Associação pela Correlação de Spearman

Em uma análise preliminar à aplicação da técnica de Análise de Correspondência Múltipla (HOMALS), o estudo buscou ve-rificar o grau de independência e associação entre as variáveis. Deste modo, realizou-se uma análise exploratória dos dados mediante o teste de correlação (Spearman). O teste buscou identificar a associação entre as variáveis estudadas, e, princi-palmente, a associação das variáveis de perfil dos clientes (ida-de, gênero, estado civil, profissão, renda e bairro) com a variável inadimplência. A Tabela 1 fornece a medida de associação entre as variáveis:

Tabela 1: Medida de associação entre as variáveis

Inad

imp

.

Idad

e

Gên

ero

Est

ado

Civ

.

Pro

fissã

o

Ren

da

Bai

rro

Inad

imp

. Coeficiente Correlação 1,000 -,285** -,365** ,163* ,262** -,302** ,026

Sig. ,000 ,000 ,047 ,001 ,000 ,755

Idad

e

Coeficiente Correlação 1,000 ,006 -,308** -,391** ,526** -,016

Sig. ,939 ,000 ,000 ,000 ,844

Gên

ero Coeficiente

Correlação 1,000 ,056 ,225** -,105 -,141

Sig. ,493 ,006 ,201 ,084

Est

adoC

iv. Coeficiente

Correlação 1,000 ,151 -,257** -,029

Sig. ,065 ,002 ,725

Pro

fissã

o Coeficiente Correlação 1,000 -,599** -,283**

Sig. ,000 ,000

Ren

da

Coeficiente Correlação 1,000 ,178*

Sig. ,029

Bai

rro

Coeficiente correlação 1,000

Sig.

* nível de significância de 95% ** nível de significância de 99%

Fonte: Dados da pesquisa

Verifica-se na Tabela 1 que os valores de “sig”, inferiores a 0,05, realçam a dependência entre pares de variáveis. Assim, observa-se que os resultados do teste de correlação (Spear-man) permitem predizer que existe associação significativa entre a variável inadimplência e a variável idade (-,285**), gênero (-,365**), estado civil (,163*), profissão (,262**) e renda (-,302**).

O resultado da correlação indica que os clientes com ren-da de até 1.000,00, do gênero masculino, solteiros, com idade entre 23 e 28 anos e profissões como: desenhista, repositor/

embalador, chapeador, pedreiro, carregador, e mecânico apre-sentam maior probabilidade para inadimplência.

Por outro lado, os clientes com idade média entre 35 e 43 anos, com renda entre 3.000,01 e 5.000,00, do gênero femini-no, casados e/ou em união estável, com profissão de auxiliar serviços gerais, assistente administrativo/escritório, professor, empregada doméstica, serviços gerais e agente de saúde, pos-suem maior probabilidade para adimplência.

De maneira geral, a inadimplência possui associação com pessoas de faixa etária baixa (jovens), do gênero masculino, solteiros e/ou divorciados, com profissões relacionadas ao nível operacional e renda média mensal mais baixa.

Com relação ao gênero, este resultado é corroborado pela pesquisa de Ferreira et al. (2011). Ao buscaram definir o perfil de clientes inadimplentes ou propensos à inadimplência nas relações de empréstimo pessoal em bancos de varejo, os au-tores também verificaram que os homens se mostraram mais propensos à inadimplência do que as mulheres.

Quanto à renda mensal, assim como neste estudo, essa também foi uma das variáveis relevantes para a identificação dos inadimplentes nos estudos de Francisco, Amaral e Bertucci (2013). Da mesma forma, Ferreira, Celso e Barbosa Neto (2012), ao analisarem operações bancárias para mensurar o risco de crédito, identificaram que a renda do indivíduo é uma das prin-cipais variáveis a afetar positivamente o risco de inadimplência.

Por outro lado, tanto no estudo de Ferreira et al. (2011), quanto na pesquisa de Ferreira, Celso e Barbosa Neto (2012), a variável idade se mostrou negativamente associada à inadim-plência, contrariando os resultados aqui encontrados.

Assim como nesta pesquisa, o estado civil também se mos-trou influente na determinação da inadimplência nos estudos de Xiao e Yao (2014). No entanto, ao contrário de solteiros e jovens, estes autores verificaram que solteiros de meia-idade com crianças e casais jovens com crianças possuem maior probabilidade de serem inadimplentes.

Além de atender ao objetivo proposto - identificar o perfil de clientes que apresentam maior probabilidade para inadim-plência em operações de crédito pessoal- foi possível também, verificar outras associações.

A variável idade, por exemplo, possui associação signifi-cante com o estado civil, profissão e renda, permitindo afirmar que clientes com idade mais avançada são casados, com pro-fissões de maior status e maior nível médio de renda.

Observa-se também que o gênero está associado signi-ficativamente com a profissão, indicando que os clientes do gênero feminino possuem profissões de nível mais baixo. Já o estado civil possui associação significativa com a renda, indicando que clientes solteiros/divorciados/aposentados possuem menor nível de renda média mensal. Por fim, veri-fica-se que a profissão apresentou associação significativa com a renda, indicando, coerentemente, que as profissões de nível mais baixo estão associadas a níveis menores de renda média mensal.

Observa-se que a variável “bairro” foi a única a não apre-sentar associação com a variável inadimplência. Dessa forma, a observação permitiu excluir essa variável da análise e da aplicação da técnica de Análise de Correspondência Múltipla (HOMALS), devido à sua independência em relação à variável inadimplência e ao modelo estudado. A Figura 1, a seguir, apre-senta as correlações significativas que foram identificadas:

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Figura 1: Correlações entre o perfil dos clientes e inadimplência

Inadimplência

Idade

Renda Bairro

Gênero

Profissão

Estado Civil

Fonte: Dados da pesquisa

Observa-se na Figura 1 que o teste de correlação apontou

a existência de associação entre a inadimplência e a maioria das variáveis de perfil dos clientes (idade, gênero, estado civil, profissão e renda). No entanto, a variável inadimplência não apresentou associação com a variável “bairro”. Assim, mesmo que a variável bairro tenha apresentado associação com a pro-fissão e a renda, foi excluída do modelo pelo fato de não atender ao objetivo do estudo, que é a associação das variáveis de perfil com a inadimplência.

4.3. Análise de Homogeneidade pela Técnica de Análise de Correspondência Múltipla (Homals)

Na sequência, os dados foram tabulados em planilha eletrô-nica para a aplicação da Análise de Correspondência Múltipla (HOMALS) com o uso do software SPSS. A partir da aplicação da técnica de análise de correspondência foi observado que a dimensão 1 possui eigenvalues (autovalores) de 0,514 e a di-mensão 2 apresentou o valor de 0,375. Os valores permitem identificar a desagregação nítida das diferentes categorias, discriminando cada variável e levando, portanto, à formação de grupos diferentes de categorias de variáveis.

A Tabela 2 indica as medidas de discriminação da Análise de Correspondência Múltipla (HOMALS):

Tabela 2: Medidas de discriminação

VariáveisDimensão

1 2

Inadimplência ,376 ,132

Idade ,616 ,147

Gênero ,040 ,611

Estado Civil ,654 ,109

Profissão ,749 ,814

Renda ,651 ,439

Fonte: Dados da pesquisa

Observa-se na Tabela 2 que as medidas de discriminação apontam para a alocação das variáveis inadimplência (,376), idade (,616), estado civil (,654) e renda (,651) na dimensão 1 e gênero (,611) e profissão (,814) na dimensão 2. Para complemen-tar a análise das medidas de discriminação e mostrar de forma gráfica a proximidade das variáveis, foi gerado o Gráfico 1:

Gráfico 1: Medidas de discriminação

1,0

0,8

0,6

0,4

0,2

0,0

Dim

ensã

o 2

Dimensão 2

0,80,60,40,20,0

Gênero

Profissão

Renda

Inadimplência Idade

Estado Civil

Fonte: Dados da pesquisa

O Gráfico 1 permite dizer que as principais variáveis que dis-criminam o grupo pesquisado são a inadimplência, a idade, o estado civil e a renda. Pode-se concluir, confirmando os pressu-postos básicos iniciais da pesquisa, que a idade, o estado civil e a renda determinam a inadimplência ou adimplência dos clien-tes nas operações de crédito da agência financeira em estudo.

Por fim, são apresentadas as relações de correspondência entre as categorias das variáveis inadimplência, idade, gêne-ro, estado civil, profissão e renda média mensal. É importante salientar que as categorias que constam no gráfico 2 foram geradas de acordo com a categorização não métrica/métrica que foram pré-estabelecidas na metodologia da pesquisa e apresentadas no Quadro 2. Assim, o Gráfico 2 demonstra a distribuição de correspondência das categorias da pesquisa:

Gráfico 2 : Distribuição de correspondência das categorias da pesquisa

2

1

-4

-3

-2

-1

0

Dim

ensã

o 2

0-2 -1 1 2 3

Dimensão 2

Escrevente

Zelador Advag.

Agente Saúde Contador

Emp. Doméstica

ProfesorRenda 4Assist. Adm/escr. Renda 3

Renda 5 35-43

Adimplente Auxiliar Serv. Aliment.AposentadoCasado

Viúvo 44-55

Acima 55

Renda 7

Produtor Agrop.

Policial

Motorista

Renda 6

Vereador MasculinoPedreiro

Carregador

ChapeadorInadimplenteDiretor Emp.

Repos./Embal.

23-28Renda 1

DesenhistaMecânico

Solt. até 2229-34Amas.Renda 2Enferm.

Arquiteto

Assistente Social

Superv.

Cabel.Fem.

Leiturista

Serviços GeraisFarmac, Vendedor

CostureiroOperador

Confeit.

Profissão

Inadimplência

Estado Civil

Idade

Renda

Gênero

Fonte: Dados da pesquisa

Verifica-se no Gráfico 2 a apresentação de informações que permitem inferir considerações relevantes sobre os determinan-tes da inadimplência.

Os resultados apontam que clientes com profissão de dese-nhista, repositor/embalador, chapeador, pedreiro, carregador e me-cânico são os que apresentam maior probabilidade para inadim-

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plência. Esses resultados corroboram os achados apontados pela correlação de Spearman, que associam os clientes de profissões de nível médio e/ou baixo à tendência para inadimplência.

Além disso, clientes que possuem renda 1 (até 1.000,00) são os que apresentam maior probabilidade para inadimplên-cia, confirmando os resultados da correlação em que, geral-mente, clientes com tendência para inadimplência possuem menor renda média mensal.

Quanto ao gênero, os clientes do gênero masculino apre-sentam maior tendência à inadimplência, confirmando os acha-dos apontados pela correlação.

Verifica-se também que, em relação ao estado civil, os clientes que solteiros tendem a ser mais inadimplentes em relação aos demais, corroborando os achados apresentados pela análise de correlação.

Por fim, clientes com idades entre 23 e 28 anos possuem maior tendência à inadimplência se comparados a clientes de outras fai-xas etárias. Este resultado concorda com os achados da análise de correlação que apontou maior tendência à inadimplência por parte de clientes pertencentes a faixas etárias mais baixas (jovens).

Por outro lado, os clientes com maior probabilidade para adimplência são os que possuem idade média de 35 aos 43 anos, renda 4 (3.000,01 a 4.000,00) e renda 5 (4.000,01 a 5.000,00), do gênero feminino, estado civil (casado ou em união estável) e profissão (auxiliar serviços gerais, assistente admi-nistrativo/escritório, professor, empregada doméstica, serviços gerais e agente de saúde).

5. Conclusões, Limitações e RecomendaçõesNeste estudo, partiu-se da premissa de que o Brasil vem

adotando um modelo de expansão econômica baseado na am-

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pliação da oferta de crédito. Essa postura, apesar de importante para o crescimento econômico do país, torna as instituições financeiras mais vulneráveis e propensas a riscos de inadim-plência, evidenciando a importância da adoção de métodos de análise de risco de crédito. Sob essa perspectiva, este estudo se propôs a identificar o perfil de clientes com maior probabili-dade para inadimplência em operações de crédito pessoal.

Os resultados encontrados permitiram concluir que a inadimplência na agência da cooperativa de crédito analisada está associada a pessoas mais jovens, do gênero masculino, solteiros e/ou divorciados, com rendimento mensal baixo e profissões relacionadas ao nível operacional. Esses achados pressupõem que a idade, o gênero, o estado civil, a profissão e a renda são os fatores que mais determinam a ocorrência de inadimplência ou adimplência de clientes em operações de crédito. Esses resultados encontraram respaldo nos estudos de Francisco, Amaral e Bertucci (2013) e Ferreira, Celso e Barbosa Neto (2012), que também identificaram a associação entre as variáveis gênero e renda mensal com a adimplência/inadim-plência; e Xiao e Yao (2014), que encontraram associação entre a idade e o estado civil e a adimplência/inadimplência.

A limitadação desta pesquisa apresenta-se pela dificul-dade de generalização dos resultados, em função de ter-se analisado apenas uma agência da cooperativa de crédito. Além disso, o número restrito de clientes com determinadas características não métricas que caracterizaram as variáveis de estudo podem ter influenciado os resultados.

Assim, a aplicação de um estudo mais abrangente, utilizan-do um número maior de variáveis, clientes e agências, poderá contribuir para a ampliação dos achados e colaborar com as pesquisas relacionadas à gestão dos riscos de inadimplência.

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