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Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro vol. XVIII nº 66 • maio/ago. 2016 Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências Contábeis no Distrito Federal Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um estudo de caso em cobrança terceirizada Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ISSN 1519-0412

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Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

vol. XVIII nº 66 • maio/ago. 2016

Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências Contábeis no Distrito Federal

Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um estudo de caso em cobrança terceirizada

Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ISSN 1519-0412

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2

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

ExpedienteConselho Diretor do CRCRJ

Vitória Maria da SilvaPresidente

Márcia Tavares Sobral de SousaVice-presidente

Waldir Jorge Ladeira dos SantosVP de Desenvolvimento Profi ssional

Francisco José dos Santos AlvesVP de Pesquisa e Estudos Técnicos

Samir Ferreira Barbosa NehmeVP Operacional

Marcelo dos Santos de OliveiraVP de Registro Profi ssional

Gil Marques MendesVP de Fiscalização, Ética e Disciplina

Cezar Augusto Carneiro StagiVP de Interior

Antonio Ranha da SilvaVP de Controle Interno

Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJCEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2216-9607

www.crc.org.br

Envio de artigos e assinatura: [email protected] de impressão: agosto/2016Tiragem: 2.000 exemplaresISSN 1519-0412Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)Atendimento ao assinante • tel.: (21) 2216-9602

Produção Editorial e Design: MC&G DESIGN EDITORIAL

Impressão: Triunfal Gráfi ca e Editora

Apoio administrativo: Beatriz Rodrigues Fernandes e Patrícia Silva

CONCEITO QUALIS/CAPES: B3Esta revista está indexada em www.atena.org.br, www.latindex.org e www.sumarios.org.

“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.”

Corpo EditorialFrancisco José dos Santos Alves (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, Professor da UNISUAM, Professor e Coordenador Adjunto do PPGCC da UERJAdriano Rodrigues (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ, Professor da área de Contabilidade e Finanças da UFRJ, dos Programas de Pós-Graduação da FACC e COPPEAD UniverCidade e Professor da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da UniverCidade, do MBA de Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido MendesAntônio Ranha da Silva (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Administração de Negócios pela FCU-Flórida/USA, Mestre em Economia Empresarial pela UCAM, Bacharel em Ciências Contábeis pela UGF, Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense, Professor da FGV Management, Membro do IBRACON, Membro da Academia de Ciências Contábeis do Estado do RJ - ACERJ, Conselheiro de Administração da HAGA SAEmma Taliani Castelló (Espanha) Professora titular da Universidad Alcalá Ernesto Lopes-Valeiras Sampedro (Espanha) Professor Depto. Economia Financeira e Contabilidade de VigoHector Jaime Correa Pinzon (Colômbia) Contador Público da Universidade de Manizales, Membro do Conselho Permanente para Evolução da Normas Internacionais de Contabilidade na Colômbia, Membro e Presidente da Comissão de Administração e Finanças da Associação Interamericana de Contabilidade, Membro do Instituto Nacional de Contadores Públicos de Colômbia, Presidente da Federação de Contadores Públicos da Colômbia – FedecopJorge Ribeiro dos Passos Rosa (Rio de Janeiro – RJ) Contador, Administrador, pós-graduado em Didática de Ensino Superior. Livre docente em Contabilidade Financeira pela UGF, professor com dedicação exclusiva em Contabilidade Gerencial da UFF. Atua nos MBAS de Controladoria e Finanças; Contabilidade e Auditoria; Gestão Contábil e Tributária da UFFJosé Alonso Borba (Florianópolis – SC) Doutor em Contabilidade pela USP e Professor da UFSCJosir Simeone Gomes (Rio de Janeiro – RJ) Pós-doutor em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e Professor da UNIGRANRIOMagno Tarcísio de Sá ( Rio de Janeiro – RJ)Contador, Especialização em Contas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professor Assistente da Faculdade Béthencourt da Silva e Supervisor de Auditoria da Auditoria Geral do Estado – Secretaria de Estado e Fazenda (RJ)Maria Thereza Pompa Antunes (São Paulo – SP) Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP e Professora Adjunta da Universidade Presbiteriana Mackenzie/FAAPNahor Plácido Lisboa (São Paulo – SP)Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFIOscar Diaz Becerra (Perú) Mestre em Contabilidade e Gestão pela UNMSM. Professor honorário da Universidade Nacional Santiago Antúnez de MayoloPatrícia Gonzalez Gonzalez (Colômbia) Graduada em Contadoria Pública pela Universidade Del Valle, Especialização em Finanças e Gerência em Impostos pela Universidade Del Valle, Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP. Chefe do Programa em Finanças da Universidade Del ValleSandra Maria dos Santos (Fortaleza – CE) Pós-Doutora em Economia Regional e Urbana pela UFPE/PIMES, Doutora em Economia Industrial pela UFPE/PIMES e Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e GestãoVicente Mateo Ripoll-Feliu (Espanha)Doutor em Contabilidade pela Universidade de Valencia, Professor Titular da Universidade de Valencia (Espanha)Waldir Jorge Ladeira dos Santos (Rio de Janeiro – RJ) Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ, Mestre em Contabilidade Financeira pela UERJ, Professor da UERJ, Professor Adjunto da FACC/UFRJ e Professor da EPGE da FGV Management

Consultores Ad HocAdolfo Henrique Coutinho e Silva (Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Adjunto da FAF/UERJ), Andre Carlos Busanelli de Aquino (Doutor em Ciências Contábeis – FEA/USP, Professor Associado da FEA-RP/USP), André Paula Osório Duque (Doutora em Ciência da Informação pela UFF), Aracéli Cristina de Sousa Ferreira (Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professora Titular da UFRJ), Francisco Antônio Bezerra (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Permanente no PPGCC/Furb), Jorge Vieira da Costa Junior (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP), José Augusto Veiga da Costa Marques (Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Associado da FACC/UFRJ), José Maria Dias Filho (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA), Marcelo Coletto Pohlmann (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da PUC-RS), Miguel Ângelo Caçoilo Gonçalves (Doutorando em Contabilidade da Universidade do Minho) Natan Szuster (Doutor em Contabilidade pela USP, Pós-Doutor pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Professor da FACC/UFRJ), Poueri do Carmo Mario (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto do Departamento de Ciências Contábeis da UFMG), Ricardo Lopes Cardoso (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto da EBAPE/FGV e da FAF/UERJ, Pesquisador Produtividade CNPQ nível 2), Simone Silva da Cunha Vieira (Doutora em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professora Adjunta da UERJ), Vinícius Aversari Martins (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Doutor da FEA-RP/USP)

Ficha catalográfi ca

P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-- Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-.

QuadrimestralISSN 1519-0412

1.Contabilidade. I.Conselho Regional deContabilidade do Estado do Rio de Janeiro

CDU – 657

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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 3, maio/ago. 2016 3

Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Editorial

Prezados leitores,

A revista Pensar Contábil tornou-se referência para publicações científicas na área. Grande parte deste sucesso deve-se aos leitores que cultivam a chama acesa para receber as informações relativas às pesquisas contábeis e as novidades que surgem a todo instante.

Assim sendo, o primeiro artigo “Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências Contábeis no Distrito Federal” aborda a alta carga tributária, a complexa legislação vigente no Brasil e a necessidade de formar profissionais mais bem preparados. Este trabalho compara a percepção de alunos, iniciantes e concluintes, do curso de Ciências Contábeis em relação à carga tributária no Brasil.

O segundo artigo “Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil”, tem como objetivo verificar se houve redução dos custos em duas empresas analisadas do segmento da construção civil.

O terceiro artigo “A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um estudo de caso em cobrança terceirizada”, o artigo analisa o comportamento da inadimplência de empresas gaúchas em duas instituições bancárias que terceirizam a cobrança.

O quarto artigo “Perícia Contábil sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura” o objetivo de mensurar e analisar, através da perícia contábil, os impactos causados pela implantação da “desoneração da folha de pagamento”.

Concluímos com o artigo “Reporting Empresarial: A Inclusão de Previsões na Informação Financeira”, a preparação e avaliação da informação financeira prospetiva representa o abandono do conservadorismo contabilístico, umbilicalmente ligado ao passado, e permite o aparecimento de novas tendências da contabilidade ligadas às previsões, orçamentos e demonstrações pro forma. Neste tipo de informação são explicitados os objetivos que a organização pretende atingir.

Francisco José dos Santos Alves Editor

Sumário Summary

Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências Contábeis no Distrito Federal

4

Elaine Santos da Silva, Danielle Montenegro Salamone Nunes, Cláudio Moreira Santana

Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

14

Manoel Júnior Ludwig, Dr. Altair Borgert, Aline Willemann, Ma.

A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

24

Gisele Patricia Becker, Rosane Maria Seibert, Berenice Beatriz Rossner Wbatuba, Neusa Maria da Costa Gonçalves Salla

Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

36

Idalberto José das Neves Júnior, Claudiomar Macêdo Fernandes, Marcelo Daia Barreto

Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira

50

Bruno José Machado de Almeida

Tax Burdenin Brazil: Perception of Accountancy Students in the Federal District

4

Elaine Santos da Silva, Danielle Montenegro Salamone Nunes, Cláudio Moreira Santana

Exemption of Payroll and Behavior of the Costs in Construction Company

14

Manoel Júnior Ludwig, Dr. Altair Borgert, Aline Willemann, Ma.

The Corporate Default in Banking Institutions: a Case Study on Outsourced Collection

24

Gisele Patricia Becker, Rosane Maria Seibert, Berenice Beatriz Rossner Wbatuba, Neusa Maria da Costa Gonçalves Salla

Expertise Accounting on The Payroll Relief: Case in Business Infrastructure Works Construction

36

Idalberto José das Neves Júnior, Claudiomar Macêdo Fernandes, Marcelo Daia Barreto

Corporate Reporting: the Inclusion of Forecast in the Financial Statement

50

Bruno José Machado de Almeida

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Elaine Santos da Silva Danielle Montenegro Salamone Nunes Cláudio Moreira Santana

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 4-13, maio/ago. 20164

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências Contábeis no Distrito Federal

Elaine Santos da SilvaGraduada em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília (UnB)1

[email protected]

Danielle Montenegro Salamone NunesProfessora Assistente do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília (UnB)1

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Administração daUniversidade de Brasília (PPGA – UnB)1

[email protected]

Cláudio Moreira SantanaProfessor Assistente do curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Goiás (FACE - UFG)2

[email protected]

ResumoTendo em conta a alta carga tributária, a complexa

legislação tributária vigente no Brasil e a necessidade de formar profi ssionais mais bem preparados para o mercado de trabalho, este trabalho compara a percepção de alunos, iniciantes e concluintes, do curso de Ciências Contábeis em relação à carga tributária no Brasil. Para atingir o obje-tivo deste trabalho foi utilizado como instrumento de coleta de dados questionário desenvolvido por Curcino, Ávila e Malaquias (2013) com adaptações. Ele foi aplicado em três Instituições de Ensino Superior do Distrito Federal. Para fi ns de comparação, realizou-se o teste Qui-quadrado, buscando identifi car possíveis diferenças estatisticamente signifi cativas entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes em cada instituição. Como resultado quanto aos conhecimentos específi cos têm-se duas instituições que apresentaram poucas diferenças signifi cativas entre alunos iniciantes e concluintes, e uma instituição que apresentou diferenças signifi cativas na maioria de suas

respostas. Percebe-se que as duas instituições que apresentaram poucas diferenças signifi cativas em suas respostas têm uma quantidade maior de alunos que traba-lham desde o início do curso e que estão numa faixa etária maior quando comparado a instituição em que houve mais diferenças signifi cativas. Essa, por sua vez, tem poucos alunos trabalhando no início do curso e estes estão numa faixa etária menor, o que pode contribuir para explicar o resultado, pois verifi cou-se que os alunos mais novos, e que não trabalhavam no início do curso, tiveram tendência a serem indiferentes nas suas respostas.Palavras-chave: Carga Tributária; Ensino de contabilidade tributária; Instituições de ensino superior.

AbstractConsidering the high tax burden, the complex tax legis-

lation in Brazil, and the need to qualify professionals for the labor market, this study aims to compare the accounting students’ perceptions, freshmen and graduates, in relation to the Brazilian tax burden. To achieve this objective, a questionnaire adapted from Curcino, Ávila and Malaquias (2013) was applied in three Higher Education Institutions located in the Brazilian Federal District. The chi-square test was used in order to assess differences between the freshmen’s and graduates’ responses of each institution. Regarding the specifi c knowledge, there were two institu-tions that freshmen’s and graduates’ responses showed few signifi cant differences and one institution that fresh-men’s and graduates’ responses showed most signifi cant differences. A greater number of students of the former institutions work since the beginning of the course and are in a higher age group if compared to the students of the institution in which signifi cant differences were found. This contributed to the results, since it was found that younger beginner students who do not work had a tendency to be indifferent in their responses. Finally, regarding the respondents’ perception about the tax burden in Brazil, the students of the three institutions showed a negative view. Keywords: Tax burden; Tax accounting education; Higher education institutions.

1 UNB – Universidade de Brasília - CEP  70910-900 - Brasília - DF.

2 FACE/UFG – Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Goiás - CEP 74001-970 - Goiânia - GO.

Artigo recebido em 13/12/2015 e aceito em 17/08/2016

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Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências contábeis no Distrito Federal

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 4-13, maio/ago. 2016 5

Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

ResumenDada la elevada presión tributaria, la legislación fiscal

compleja en vigor en Brasil y la necesidad de formar pro-fesionales mejor preparados para el mercado laboral, en este trabajo se compara la percepción de los estudiantes, los principiantes y los graduados, el curso en Contabilidad en relación con carga tributaria en Brasil. Para lograr el objetivo de este trabajo se utilizó como instrumento de recolección de datos del cuestionario desarrollado por Curcino, Ávila y Malaquias (2013) con adaptaciones. Se aplicó en tres instituciones de educación superior en el Distrito Federal. Para la comparación, se produjo la prueba de chi cuadrado, con el objetivo de identificar las diferencias estadísticamente significativas entre las re-spuestas de los estudiantes principiantes y graduados en cada institución. Como resultado de ello gran parte de la experiencia, tienen dos instituciones que tenían algunas diferencias significativas entre los estudiantes principi-antes y graduados, y una institución que mostraron difer-encias significativas en la mayoría de sus respuestas. Se notó que las dos instituciones tenido algunas diferencias significativas en las respuestas tienen un mayor número de estudiantes que trabajan desde el inicio del curso y que están en un grupo de edad mayor en comparación a la institución en la que había diferencias más significativas. Esto, a su vez, tiene pocos estudiantes que trabajan en el inicio del curso y son un rango de edad, lo que puede ayudar a explicar el resultado, ya que se encontró que los estudiantes más jóvenes y los que no trabajaban al inicio del curso tendido ser indiferente en sus respuestas.

Palabras-clave: Presión tributaria; Educación en contabi-lidad e fi scalidad; Instituciones de educación superior.

1. IntroduçãoO Estado, no exercício de seu poder, carece de meios

materiais e pessoas para alcançar seus objetivos institu-cionais, garantindo assim, a ordem jurídica, a segurança, a defesa, a saúde pública e o bem-estar social de todos (OLIVEIRA, 2009). Fabretti (2009) acrescenta que “[...] para o Estado realizar ações próprias como: defesa do território nacional, acesso de todos à justiça, saúde, habitação, educação, saneamento básico etc., o Estado necessita de recursos financeiros.”. Para atingir esses objetivos, que têm valor econômico e social, o Estado, por meio de sua atividade financeira, precisa obter, gerir e aplicar os recursos indispensáveis às necessidades que assumiu ou cometeu àquelas outras pessoas jurídicas de Direito Público (OLIVEIRA, 2009). Nesse sentido, o Estado necessita de recursos para financiar suas despesas, e uma das principais fontes desses recursos é a receita tributária, advinda dos tributos cobrados pelo Estado.

Amaro (2009) afi rma que “[...] o tributo resulta de uma exigência do Estado, que, nos primórdios da história fi scal, decorria da vontade do soberano, então identifi cada com a lei, e hoje se funda na lei, como expressão da vontade coletiva”. Oliveira et al. (2012) afi rmam ainda que é por meio dos impostos que o Estado efetivamente arrecada recursos para gerir a Administração Pública, investir em obras públicas e direcionar o comportamento da eco-nomia. Nesse sentido, conforme Oliveira (2009), “[...] no

capitalismo moderno, as receitas relativas à arrecadação de tributos representam a fonte de recursos de maior complexidade e relevância, seja como instrumento de circulação de riqueza, seja como modalidade para ratear o custo de viver em sociedade.”.

Entretanto, se de um lado há a necessidade do Estado, de outro há quem o fi nancie, ou “quem paga a conta”, sejam pessoas físicas ou jurídicas e que, no Brasil, tem de arcar com uma carga tributária considerada alta e lidar legislação fi scal complexa, que se traduz também em constantes mudanças, pois, conforme Oliveira (1997), a legislação tributária e os procedimentos contábeis mu-daram signifi cativamente nos últimos trinta anos. Assim, Santiago (2006) afi rma que “[...] a contabilidade tributária, uma das áreas que o profi ssional contábil pode exercer, é crucial para a vida fi nanceira de qualquer empresa, pois os tributos refl etem na organização como um limitador de crescimento [...]”. Pode-se dizer, então, que há um au-mento da exigência para que o contador detenha conheci-mentos mais profundos acerca de contabilidade tributária, ao mesmo tempo em que a contratação de um contador tributarista e a elaboração do planejamento tributário se tornaram essenciais na gestão de uma empresa. Essas duas medidas têm como fi nalidade reduzir, por meios legais, o pagamento de tributos e atender as exigências e mudanças ocorridas na legislação vigente.

Todavia, para execução do planejamento tributário é necessário que o profi ssional tenha conhecimento su-fi ciente sobre os negócios da empresa e da legislação tributária. Diante disso, observa-se a relevância do estudo da legislação tributária já nos primórdios da formação profi ssional, ou seja, ainda na graduação do curso de Ciências Contábeis e, de maneira semelhante, conforme Curcino, Ávila e Malaquias (2013, p. 67) “[...] espera-se que (em média) aqueles alunos que estejam mais próximos da conclusão do curso conheçam melhor os aspectos relacio-nados a tributos do que aqueles alunos iniciantes.” Uma vez que aqueles têm contato com disciplinas voltadas à área aqui citada.

A fi m de observar a evolução dos alunos no decorrer do curso e o papel da instituição em sua formação, espe-cialmente na área fi scal, este trabalho busca responder a seguinte questão: Qual a diferença entre a percepção dos alunos ingressantes e concluintes do curso de Ciências Contábeis em relação à carga tributária no Brasil? Assim, o presente trabalho tem como objetivo comparar a per-cepção de alunos, iniciantes e concluintes, do curso de Ciências Contábeis em relação à carga tributária no Brasil.

2. Tributação no Brasil e Carga TributáriaO Código Tributário Nacional (CTN) defi ne em seu artigo

3.º que “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.”, a partir daí, Oliveira et al. (2012) explicam que essa defi nição apresenta as seguintes características para tributos:

a) Prestação pecuniária: signifi ca que o tributo deve ser pago em unidades de moeda corrente, inexistindo pagamento in natura ou in labore, ou

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Elaine Santos da Silva Danielle Montenegro Salamone Nunes Cláudio Moreira Santana

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 4-13, maio/ago. 20166

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

seja, o que é pago em bens ou em trabalho ou prestação de serviço;

b) Compulsória: obrigação independente da vontade do contribuinte;

c) Em moeda ou cujo valor se possa exprimir: os tributos são expressos em moeda corrente nacional (reais) ou por meio de indexadores;

d) Que não constitua sanção de ato ilícito: as penalidades pecuniárias ou multas não se incluem no conceito de tributo; assim, o pagamento de tributo não decorre de infração de determinada norma ou descumprimento de lei;

e) Instituída em lei: só existe a obrigação de pagar o tributo se uma norma jurídica com força de lei estabelecer essa obrigação;

f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada: a autoridade não possui liberdade para escolher a melhor oportunidade de cobrar o tributo; a lei já estabelece todos os passos a serem seguidos.

O CTN, em seu art. 5º, expõe que “[...] os tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria”. Entretanto, a Constituição Federal de 1988 elenca outras espécies de imposições pecuniárias e, conforme Oliveira (2009), apesar da Constituição Federal defi nir em seu artigo 145 as três es-pécies tributárias mencionadas pelo CTN, ela incluiu outras fi guras tributárias que se enquadram na defi nição de tributo e são aceitas pela corrente doutrinária e jurisprudencial dominante, são elas: empréstimos compulsórios e as con-tribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profi ssionais ou econômicas.

Já para Amaro (2009), a Constituição Federal não se preocupou em defi nir as espécies de tributo nem em clas-sifi cá-las, limitando-se a arrolar em: a) imposto, b) taxas, c) contribuição de melhoria, d) pedágio, e) empréstimo com-pulsório, f) contribuições sociais, g) contribuições de inter-venção no domínio econômico, h) contribuições de interesse

das categorias profi ssionais ou econômicas, i) contribuição para custeio do regime previdenciário e j) contribuição para custeio do serviço de iluminação pública.

Ao listar as espécies tributárias, observa-se que tri-buto e imposto não são sinônimos, visto que o primeiro abrange todas as espécies tributárias e o segundo cor-responde apenas a uma parte dos tributos. Entretanto, é comum ver essas duas expressões serem usadas de forma equivalentes.

O artigo 16 do Código Tributário Nacional defi ne impos-to como “[...] tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específi ca, relativa ao contribuinte”. Fabretti (2009) defi ne que o imposto “[...] uma vez instituído por lei, é devido, in-dependentemente de qualquer atividade estatal em relação ao contribuinte, dessa forma, não está vinculada a nenhu-ma prestação especifi ca do Estado”. Amaro (2009) ainda acrescenta dizendo que o imposto tem como fato gerador uma situação, como por exemplo, a aquisição de renda, a prestação de serviço, entre outros, que não supõe nem se conecta com nenhuma atividade do Estado especifi camente dirigida ao contribuinte.

De acordo com Casseone (2009) “[...] a inexistência de contraprestação, por parte do Estado (U-E-DF-M), em favor da pessoa obrigada ao pagamento do imposto, é o aspecto que distingue o imposto das outras espécies tributárias”. Oliveira (2009, p. 53) acrescenta que “ [...] a receita arrecadada não pode estar vinculada por lei a nenhuma despesa específica, fundo ou órgão predeter-minado, isto é, precisa está vinculada ao “bolo orçamen-tário”, de onde será repartida, segundo os critérios da lei orçamentária anual.”.

A Constituição Federal defi ne que o imposto é de com-petência privativa da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, assim, somente esses entes políticos podem legislar sobre a criação e/ou alteração de impostos. A Constituição Federal também se encarrega de defi nir a competência de cada imposto, apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1: Competência estatal para legislar sobre impostos

Categoria Ente federativo Imposto

Comércio Exterior UniãoImposto sobre Importação (II)

Imposto sobre Exportação (IE)

Produção e Circulação

UniãoImposto sobre Produto Industrializado (IPÌ)

Imposto sobre Operações fi nanceiras (IOF)

Estados e DF Imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços (ICMS)

Municípios Imposto sobre Serviço (ISS)

Patrimônio e Renda

União

Imposto de Renda (IR)

Imposto sobre a propriedade Territorial e rural (ITR)

Imposto sobre Grandes fortunas (IGF)

Estados e DFImposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA)

Imposto sobre Transmissão Causa Mortis ou Doação (ITCD)

MunicípiosImposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

Imposto sobre a Transmissão Inter Vivos (ITBI)

Fonte: Oliveira (2009).

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Carga Tributária no Brasil: Percepção de Alunos de Ciências contábeis no Distrito Federal

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Dentre as várias classificações possíveis dos tributos, destaca-se a que os divide em diretos e indiretos. Para Fabretti (2009), essa é uma classificação mais econômica do que jurídica, mas muito importante para o estudo e avaliação dos impactos dos tributos no patrimônio e nas etapas econômicas da produção, circulação e consumo. O autor acrescenta ainda que os tributos considerados in-diretos são aqueles repassados para o preço do produto, mercadoria ou serviço a cada etapa econômica, técnica essa denominada de repercussão, sendo exemplos des-ses tributos o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviços de qualquer Natureza (ISS). Fabretti (2009) explica que repercutir é transferir o ônus tributário para o consumidor, embutindo-o no preço do produto ou do serviço. Chimenti (2007, p. 65) complementa ao afirmar que:

[...] impostos indiretos, ou que “repercutem”, são aqueles cuja carga financeira é suportada não pelo contribuinte (contribuinte de direito), mas por terceira pessoa, que não realizou o fato imponível (contribuinte de fato). Normalmente essa terceira pessoa é o consumidor final, que, ao adquirir a mercadoria, verá embutido no seu preço final o quantum do imposto.

Já para os tributos diretos “[...] recaem defi nitivamen-te sobre o contribuinte que está direta e pessoalmente ligado ao fato gerador.”, sendo exemplos desses tributos o Imposto de Renda (IR), o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). (FABRETTI, 2009).

Outra classificação dos tributos é em função de sua finalidade. Oliveira (2009) mostra que “[...] os tributos vêm sendo criados e utilizados com funções não arrecadató-rias, sobretudo de intervenção na economia privada.”. O autor acrescenta que o sistema tributário brasileiro possui diversos exemplos em que tributos são usados

não apenas para fomentar atividades econômicas, mas para reduzir desigualdades sociais. Dessa forma, para (OLIVEIRA, p. 74, 2009), os tributos podem ser divididos em três tipos:

a) Tributos Fiscais: possuem função meramente arrecadatória, visando ao fi nanciamento das atividades do Estado para garantir o aporte de recursos necessários ao exercício de suas atividades; como, por exemplo, o IR, IPVA, ICMS, ISS, etc.

b) Tributos Parafi scais: possuem função meramente arrecadatória; contudo a receita arrecadada destina-se ao cumprimento de funções paralelas às funções típicas de Estado. Ex.: contribuições previdenciárias (PIS, COFINS, INSS, extinta CPMF).

c) Tributos Extrafi scais: não são instituídos com função arrecadatória, mas para que o Estado cumpra a função de controle da economia. Ex.: II, IE, IPI, IOF, ITR.

O conjunto de tributos que pesam sobre a sociedade indica não apenas a arrecadação de recursos pelo Estado, mas também , por outro lado, a carga tributária imposta. Carga tributária é um indicador que expressa a relação entre o volume de recursos que o Estado extrai da socie-dade, sob a forma de impostos, taxas e contribuições para fi nanciar as atividades que se encontram sob sua respon-sabilidade, e o Produto Interno Bruto (PIB).

De acordo com estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), entre os anos de 2005 a 2014 houve uma sequência de recordes na arrecadação de impostos, pois a carga tributária brasileira que era de 33,80% em 2005, chegou a 35,42% do PIB em 2014, e exceto por dois anos naquele período (2009 e 2012) houve sempre o aumento da carga tributária. Quadro 2 apresenta a evolução da carga tributária brasileira no período de 2005 a 2014.

Quadro 2: Evolução da carga tributária de 2005 a 2014 (em R$ milhões)

Ano PIB* Total de Arrecadação % s/ PIB Evolução

2005 2.171.736 734.108 33,80% 0,61 P.P.

2006 2.409.803 817.052 33,91% 0,10 P.P.

2007 2.718.032 923.585 33,98% 0,07 P.P

2008 3.107.531 1.059.731 34,10% 0,12 P.P.

2009 3.328.174 1.102.954 33,14% (0,96) P.P

2010 3.886.835 1.312.257 33,76% 0,62 P.P

2011 4.374.765 1.527.156 34,91% 1,15 P.P

2012 4.713.096 1.631.433 34,61% (0,30) P.P

2013 5.157.569 1.807.054 35,04% 0,42 P.P

2014 5.521.256 1.955.804 35,42% 0,39 P.P.

Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), 2015

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Observa-se, a partir dos números apresentados no Quadro 2, que mesmo com as medidas do Governo de desoneração de alguns tributos para incentivar a econo-mia, ocorrida diversas vezes no período de 2005 a 2014, o montante arrecadado e a carga tributária brasileira vem crescendo.

A título de exemplo, vale lembrar que de 2009 a 2013 o Governo Federal decidiu incentivar a economia do país por meio da desoneração do IPI sobre automóveis, deixando de arrecadar R$ 6,1 bilhões em tributos (IBPT, 2015). Contudo, apesar dessa medida, a arrecadação não diminuiu, pois nesse mesmo período houve um incremento de R$11,8 bilhões na arrecadação prove-nientes dos tributos PIS e COFINS sobre a venda de

automóveis e veículos leves. Assim, o aumento da arre-cadação do ICMS se deu também pelas desonerações feitas por meio do IPI, pois ao baixar esse imposto para bens de consumo como veículos, artigos da linha branca e móveis, o governo estava deixando de arrecadar um imposto, mas estimulando as pessoas a comprar mais, o que teria reflexos no ICMS.

3. Procedimentos MetodológicosEste trabalho é do tipo descritivo e as análises dos

dados foram realizadas por meio das óticas qualitativa e quantitativa. Para atingir o objetivo proposto foram coleta-dos dados em três Instituições de Ensino Superior (IES) do Distrito Federal.

Quadro 3: Características gerais das instituições de ensino superior (IES) pesquisadas

Variável observada

Instituição A Instituição B Instituição C

Grade curricular Fechada Aberta Aberta

Turno Noturno Noturno Diurno e noturno

Disciplinas obrigatórias na matriz curricular

Legislação tributária e Contab. fi scal e tributária

Direito tributário e Contabilidade tributária

Legislação tributária e Contabilidade fi scal

Oferta da disciplinas

3º e 5º semestres 3º e 5º semestre5º e 7º semestre (d)8º e 9º semestre (n)

Nota Enade 2012 3 3 4

O questionário utilizado foi uma adaptação do instrumen-to de pesquisa elaborado por Curcino, Ávila e Malaquias (2013). As adaptações realizadas se restringiram ao perfi l

dos respondentes, nos demais blocos não houve alteração. No Quadro 3 é apresentado um resumo das questões abor-dadas no questionário.

Quadro 4: Questões abordadas no questionário

Bloco de perguntas Finalidade Ponto abordado

1Conhecer o perfi l dos

respondentes

Gênero Semestre

Faixa etária Atual posição no mercado

Se já cursou alguma disciplina relacionada a tributos

2Verifi car conhecimentos

específi cos

Objetivos e destinação dos tributos

Regras sobre IPI, ICMS, PIS, COFINS, CSLL, IR

Composição da carga tributária

3Identifi car a percepção do

respondente

Carga tributária no Brasil

Sonegação de tributos no Brasil

Aplicação dos tributos arrecadados

Fonte: Adaptado de Curcino, Ávila e Malaquias (2013).

No primeiro bloco do questionário buscou-se conhecer o perfil do respondente para traçar as características de cada grupo. O segundo bloco, composto por treze afirma-tivas, verificou-se o conhecimento específico dos alunos em relação a tributos. Já no terceiro bloco, composto por

oito afirmativas, procurou-se identificar a percepção dos respondentes quanto a carga tributária brasileira.

O questionário foi elaborado utilizando uma escala Likert de cinco pontos, onde era solicitado ao respondente marcar uma das seguintes respostas para cada uma das afi rmativas:

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Na IES A observa-se que a maior parte da amostra, tanto para iniciantes (60,41%) como para concluintes (67,5%) é feminina e, como esperado, a faixa etária dos iniciantes é menor do que a dos alunos concluintes. Com relação ao trabalho, a maior parte dos alunos trabalha independente de serem iniciantes ou concluintes. Observa-se, ainda, que 60,97% dos alunos iniciantes não estão exercendo suas ati-vidades na área contábil. Entretanto, esse quadro se modifi -ca no grupo de concluintes, pois 57,89% trabalham na área contábil e 42,11% trabalham em outras áreas, isso mostra

que conforme o desenvolver do curso os alunos tendem a ter uma melhor alocação no mercado de trabalho na área contábil. Com relação às disciplinas que abordaram ques-tões de tributos, apenas cinco alunos iniciantes cursaram alguma matéria que aborda o conteúdo, sendo que a maio-ria, aproximadamente 90%, dos iniciantes não cursaram. Já com relação aos alunos do fi nal do curso, 100% dos alunos concluintes já cursaram disciplina que abordam o conteúdo.

No caso da IES B, é possível observar um equilíbrio entre o número de mulheres e homens tanto no grupo

discordo plenamente, discordo, nem discordo nem con-cordo, concordo ou concordo plenamente. A amostra da pesquisa abrange os alunos iniciantes e concluintes dos cursos de ciências contábeis, sendo considerados como iniciantes os alunos do 1º e 2º semestres e como concluin-tes os alunos do 7º semestre em diante. Os questionários respondidos por alunos do 3º ao 6º semestre foram descon-siderados, assim como os questionários não preenchidos por completo, assim, foram descartados 28 questionários.

Na comparação entre o grupo de alunos iniciantes e o grupo de alunos concluintes do curso de Ciências Contábeis foi realizado o teste qui-quadrado. As hipóte-ses utilizadas para o teste Qui-quadrado foram:

• H0: existe diferença signifi cativa entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes.

• H1: não existe diferença signifi cativa entre as res-postas dos alunos iniciantes e concluintes.

Bruni (2009) acrescenta que o teste qui-quadrado analisa a hipótese nula de não existir discrepância entre as frequências observadas e as frequências esperadas de determinado evento, já a hipótese alternativa de-monstra a existência de discrepância entre frequências observadas e esperadas. A significância estabelecida foi de 5% e os cálculos foram realizados com o auxílio do software estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

4. Análise e Discussão dos Resultados Obtidos

4.1 Perfi l da AmostraNa Tabela 1 é apresentado o perfi l da amostra para cada

instituição de ensino pesquisada.

Tabela 1: Perfi l dos respondentes das IES A, B e C

Variável observada Valor assumidoInstituição A Instituição B Instituição C Total

I C I C I C I C

GêneroFeminino 29 27 12 21 58 39 99 87

Masculino 19 13 14 19 36 41 69 73

Faixa etária

Até 18 anos 8 - 9 - 65 - 82 -

De 19 a 25 27 20 13 21 26 67 66 108

De 26 a 33 9 16 0 13 3 8 12 37

De 33 a 38 4 4 3 2 - 4 7 10

Acima de 39 - - 1 4 - 1 1 5

Trabalha?Sim 41 38 17 34 20 62 78 134

Não 7 2 9 6 74 18 90 26

É na área contábil?Sim 16 22 7 21 6 29 29 72

Não 25 16 10 13 14 33 49 62

Cursou matérias que abordam a questão de tributos?

Sim 5 40 16 40 5 80 26 160

Não 43 - 10 - 89 - 142 -

Total de respondentes 32848 40 26 40 94 80 168 160

88 66 174 328

Fonte: Elaboração Própria.I – Iniciantes e C - Concluintes

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de iniciantes quanto no de concluintes. A faixa etária dos iniciantes é menor do que a faixa etária dos alunos concluintes. Com relação ao trabalho, a maioria dos estudantes trabalha, sendo esse percentual de 65,38% entre os iniciantes e 85% entre os concluintes. Quanto ao fato de exercerem sua profissão na área contábil, vê-se a mesma situação da instituição A, ou seja, os alunos ini-ciantes que estão inseridos em outras áreas (não contábil) representam 58,82%, mas no final do curso esse percen-tual diminui, reduzindo para 38,24% dos alunos, frente a 61,76% que trabalham na área contábil. Nesta instituição ocorreu um fato diferente das demais instituições, já que grande parte dos alunos iniciantes (61,54%) já cursou alguma disciplina que aborda a questão de tributos, isso pode ser decorrente do fato de a instituição ter a grade curricular aberta. Dessa forma, espera-se que o resultado dessa instituição seja diferente das demais.

Finalmente, em relação à IES C, os alunos iniciantes são, na maioria, do sexo feminino (61,70%), entretanto, para os alunos concluintes esse percentual se equilibra, sendo 51,20% do sexo masculino e 48,80% do sexo fe-minino. A faixa etária segue a mesma lógica das demais, já que os alunos iniciantes estão concentrados em uma faixa etária menor do que os alunos concluintes. A única diferença observada é que nesta instituição os alunos iniciantes são mais novos do que nas demais instituições, sendo que 69,15% dos iniciantes têm até 18 anos. Uma possível hipótese para essa situação é o fato da Instituição C ter programas diferenciados de ingresso. O fato de a faixa etária ser menor atinge diretamente o número de alunos que possuem alguma ocupação remunerada, pois apenas uma pequena parcela (21,28%) trabalha no início do curso. Para os alunos que estão no final do curso a situação é diferente, pois 77,5% trabalham. Outro dife-rencial em relação às duas primeiras instituições está no fato dos alunos concluintes, em sua maioria, não estarem trabalhando na área contábil. Somente 46,8% trabalham na área contábil frente a 53,2% que estão em outras áreas. Uma possível explicação é que como os alunos das outras instituições já estão no mercado de trabalho quando da escolha do curso, a escolha pode ser mais consciente do que os alunos da Instituição C em sua maioria nunca trabalharam. Quanto à realização de disci-plinas que abordam a questão de tributos, a maioria dos iniciantes (95%) não o fez. E, da mesma maneira que nas demais instituições, 100% dos concluintes já cursaram disciplinas que abordam o assunto.

4.2 Resultados Sobre Conhecimentos Específi cosApós traçar o perfi l dos respondentes, foram analisadas

as respostas do segundo bloco de perguntas referente aos conhecimentos sobre tributos. A seguir são apresentados os resultados dos percentuais e dos testes Qui-quadrado. É importante destacar que as afi rmativas desse bloco são todas verdadeiras, ou seja, a resposta adequada deveria ser a opção 5 – “concordo plenamente”.

Ao analisar as respostas de cada grupo, verificou-se que, nas instituições A e B, a maior parte, tanto dos ini-ciantes como dos concluintes, respondeu que “concorda” ou que “concorda plenamente” com as afirmativas. Na

instituição A, por exemplo, verificou-se entre os inician-tes que das treze questões, oito foram respondidas em maior porcentagem com a opção “concordo”, são elas: questões 2, 4, 5, 7, 9, 10, 11 e 12. Para os concluintes ob-serva-se um resultado semelhante, pois das 13 questões, 7 foram respondidas em maior porcentagem com a opção “concordo”, são elas: 1, 3, 4, 5, 7, 9 e 10. Na instituição B, o resultado não foi diferente, pois entre os iniciantes, verificou-se que das treze questões sete foram respon-didas em maior porcentagem com a opção “concordo” ou “concordo plenamente”, são elas: questões 1, 3, 4, 5, 10, 11 e 12. Entre os concluintes também foi observado um resultado semelhante, pois das 13 questões 9 foram respondidas em maior porcentagem com a opção “con-cordo” ou “concordo plenamente”, são elas: 1, 2, 3, 4, 5, 9, 10, 11 e 12.

Já na instituição C verificou-se uma situação diferente das demais instituições, pois enquanto as respostas dos alunos concluintes se concentraram na opção “concor-do”, as respostas dos iniciantes se concentraram na opção “nem concordo, nem discordo”. As respostas das questões 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 e 10, por exemplo, se concentraram na opção “nem concordo, nem discordo”, demonstrando assim uma maior imparcialidade por parte dos alunos, possivelmente decorrente da falta de conhecimento sobre o assunto. Percebe-se também que o grupo dos alunos concluintes da instituição C foram os que apresentaram menor concentração de respostas na opção “nem concordo, nem discordo”, se comparados aos alunos concluintes das outras instituições. Enquanto as Instituições A e B apresentaram três questões com maior concentração na opção 3 — nem concordo, nem discordo — a Instituição C apresentou apenas uma ques-tão nessa mesma situação.

Diante dos resultados apresentados, realizou-se o teste Qui-quadrado para verifi car se existe ou não diferenças sig-nifi cativas entre as respostas dos dois grupos (iniciantes e concluintes). Conforme a Tabela 2, na instituição A, não foi possível encontrar diferenças signifi cativas na maior parte das questões, com exceção da questão de número 12 que afi rma que os tributos são importantes para educação, saú-de e assistência social. Assim, entende-se que apenas uma afi rmativa demonstrou, signifi cativamente, que os alunos concluintes têm uma melhor percepção sobre a questão de tributos do que os alunos iniciantes, representando assim 7,69% do total de questões. Dessa forma, é possível afi rmar que, de forma geral, na instituição A não foi possível encon-trar diferenças signifi cativas entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes no que tange o conhecimento sobre a carga tributária do país, uma vez que estar no fi nal do curso não signifi cou obter maior nível de acertos em relação aos estudantes de início de curso.

Na instituição B, apenas três questões apresentaram diferenças significativas, representando 23,07% das afirmativas, são elas: questões 1, 9 e 10. Diante dos resultados obtidos com o teste Qui-quadrado é possível afirmar que existem diferenças significativas entre as res-postas dos alunos iniciantes e concluintes da Instituição B, mas de forma contida, pois para a maioria das ques-tões (76,93%) não foi possível rejeitar a hipótese nula de

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que não existe diferença significativa entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes. Assim, para a maior parte das questões, estar no final do curso também não significou obter maior nível de acertos em relação aos estudantes de início de curso.

A instituição C apresentou um resultado diferente, pois onze questões apresentaram diferenças significa-tivas, o que representa 84,61% do total. Dessa forma, é possível afirmar que nessa instituição há diferenças significativas entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes no que tange o conhecimento sobre tributos e que estar no final do curso significou obter maior nível de acertos em relação aos estudantes de início de curso, conforme Tabela 2.

Conforme mencionado anteriormente essa situação difere das demais instituições, pois grande parte das

respostas dos iniciantes foram na opção “nem concordo, nem discordo”, isso contribuiu para o resultado apresen-tado, pois enquanto os alunos iniciantes foram imparciais nas respostas, os alunos concluintes tiveram uma po-sição diferente, concordando ou não com as questões. Vale ressaltar que nas demais instituições não houve essa concentração na opção “nem concordo, nem discordo” por parte dos alunos iniciantes. É importante destacar que o fato dos alunos iniciantes da instituição C serem mais novos e não trabalharem no início do curso pode ter contribuído para as respostas encontradas.

Outro ponto que vale destacar é que na questão treze, as respostas de quase todos os grupos se concentraram nas opções “discordo plenamente” ou “discordo”. Apenas os alunos concluintes da Instituição C concordaram plena-mente com a afi rmativa.

Tabela 2: Qui-quadrado e diferenças signifi cativas do 2º bloco – IES A, B e C

Conhecimentos tributáriosIES A IES B IES C

x2 Sig x2 Sig x2 Sig

1. O objetivo fi nanceiro 8,910 0,063 15,65 0,004 26,354 0,000

2. O objetivo econômico 5,201 0,267 1,507 0,825 11,902 0,018

3. O objetivo social 4,201 0,379 3,171 0,530 11,063 0,026

4. Folha de pagamento 2,003 0,735 6,768 0,149 16,268 0,003

5. Incidência do IPI 7,823 0,098 1,266 0,867 17,073 0,002

6. A arrecadação do PIS/PASEP 1,800 0,772 4,002 0,406 8,093 0,088

7. A arrecadação da COFINS 3,545 0,471 6,490 0,165 23,283 0,000

8. A arrecadação da CSLL 3,219 0,522 3,653 0,455 26,594 0,000

9. A arrecadação do IR 1,492 0,828 11,94 0,018 7,308 0,120

10. A arrecadação do ICMS 7,119 0,130 11,302 0,023 40,782 0,000

11. Espécies tributárias 7,502 0,112 7,117 0,130 33,358 0,000

12. Importância dos tributos 20,61 0,000 0,584 0,965 25,145 0,000

13. Destinação dos impostos 8,087 0,088 5,284 0,259 29,012 0,000

Fonte: Elaboração própria.

Assim, os resultados obtidos com a pesquisa de-monstraram poucas diferenças significativas entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes das instituições A e B, ou seja, para essas duas institui-ções, o fato de ser concluinte do curso não significa necessariamente que o aluno tenha maior conhecimen-to sobre tributos do que o iniciante. No entanto, não se pode dizer que os alunos concluintes não tenham conhecimento sobre o assunto, tendo em vista o alto percentual de respostas corretas tanto entre os inician-tes quanto entre os concluintes. Em outras palavras, os resultados apontam no sentido de que o curso de ciencias contábeis das instituições A e B, no que se refere aos temas aqui tratados, não fazem diferença no conjunto de conhecimentos apresentados pelos alunos

iniciantes e concluintes, o que pode ser fruto do perfil de alunos que estudam nessas instituições.

Na IES C, observou-se que para a maior parte das ques-tões houve diferenças signifi cantes entre as respostas dos iniciantes e as respostas dos concluintes. Esse resultado se deve ao fato das respostas dos alunos iniciantes estarem concentradas na opção “nem concordo, nem discordo” enquanto a dos alunos concluintes estarem concentradas nas opções “concordo” e “concordo plenamente”.

Uma hipótese para o fato dos alunos iniciantes da IES C terem sido o grupo com maior concentração de respostas na opção “nem concordo, nem discordo” está relacionada ao fato deles serem mais novos e não trabalharem no iní-cio do curso e, consequentemente, não possuírem muitos conhecimentos sobre o assunto.

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4.3 Percepção com relação à carga tributáriaNo terceiro bloco de perguntas buscou-se analisar a

percepção dos respondentes em relação a carga tributá-ria no Brasil. De modo geral, observou-se que em todas as instituições as respostas se concentram em torno das opções “concordo” e “concordo plenamente” tanto para os alunos iniciantes com para os alunos concluintes. No entanto, observa-se uma maior tendência dos alunos concluintes em concordar com as afirmativas.

Na instituição A, por exemplo, na questão 1, 85,4% dos alunos iniciantes frente a 92,5% dos concluintes concordaram em algum grau com a afirmativa de que “O Brasil é um dos países que mais arrecadam tributos”,

essa mesma situação é observada nas questões 2, 4, 5, 6 e 7. Na instituição B, da mesma forma, pois na ques-tão 1, 90% dos alunos concluintes frente a 76,90% dos iniciantes concordaram em algum grau com a afirmati-va. Assim ocorre também nas demais questões dessa instituição.

Vale destacar que, ao contrário das demais questões, na questão 8 as respostas dos alunos de todas as ins-tituições se concentraram nas opções “discordo plena-mente” e “discordo”. Isso ocorre pelo fato da afirmativa possuir um caráter positivo sobre a tributação no Brasil, enquanto as demais afirmativas possuem um caráter negativo.

Tabela 3: Qui-quadrado e diferenças signifi cativas do 3º bloco – IES A, B e C

Percepção em relação à carga tributáriaIES A IES B IES C

x2 Sig x2 Sig x2 Sig

1. O Brasil é um dos países que mais arrecadam tributos;

6,539 0,162 2,680 0,613 7,146 0,128

2. Os tributos são necessários para a manutenção do país;

6,251 0,181 4,778 0,311 5,175 0,159

3. A arrecadação de tributos no Brasil acontece com base na renda da população;

2,734 0,603 3,24 0,518 3,353 0,501

4. No Brasil, a carga tributária é abusiva; 4,308 0,366 14,118 0,007 3,234 0,519

5. A aplicação de recursos acontece desigualmente no país;

7,754 0,101 6,574 0,160 3,186 0,527

6. A sonegação de tributos no Brasil prejudica o crescimento do país;

11,884 0,018 2,462 0,651 22,972 0,000

7. A sonegação de tributos no Brasil interfere na composição da distribuição da renda;

16,079 0,003 9,586 0,048 10,844 0,028

8. A aplicação dos tributos arrecadados é coerente com as necessidades da população.

4,142 0,387 12,914 0,012 19,51 0,001

Fonte: Elaboração própria.

Na Tabela 3 é possível verificar que, nas instituições A e B, duas questões apresentaram diferenças signifi-cativas, já a instituição C, apresentaram três diferenças significativas entre as respostas dos iniciantes e dos concluintes. Assim, observa-se que há diferenças signi-ficativas em relação à percepção dos alunos iniciantes e concluintes, mas de forma contida. Destaca-se que essas diferenças apareceram nas últimas três questões, que tratam das relações entre temas econômicos e carga tributária, o que pode indicar que a formação profissional esteja fazendo diferença para os estudantes, sobretudo os conhecimentos de economia, entretanto, isto merece uma maior investigação. Também foi possível observar uma visão mais crítica dos alunos que estão no final do curso, pois estes tiveram maior grau de concordância

nas sentenças que tratam a questão tributária de forma negativa e um maior grau de discordância na sentença que trata a questão tributária de forma positiva.

Destaca-se que os resultados aqui encontrados são semelhantes aos de Curcino, Ávila e Malaquias (2013), para o caso das instituições A e B, mas não para o caso da Instituição C. Isto indica que o perfil dos estudantes desta última, dado que é diferente das demais e da estudada por Curcino, Ávila e Malaquias (2013), pode ser o fator de maior influência nas análises aqui empreendidas, de outro lado, indicam que as instituições de ensino precisam es-tar atentas na identificação do perfil de seus estudantes para que os cursos oferecidos “façam diferença” na vida de seus egressos, o que parece não acontecer para o tema aqui tratado.

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5. Considerações FinaisNo que diz respeito à percepção dos respondentes

quanto à carga tributária no Brasil os resultados foram semelhantes nas três instituições de ensino e mostraram uma visão negativa por parte dos respondentes com re-lação à carga tributária. Ainda, verificou-se que há uma maior tendência dos alunos concluintes em concordar com as afirmativas. Assim, foi possível identificar uma visão mais crítica dos alunos que estão no final do curso.

Observou-se nessa pesquisa que há poucas diferenças significativas entre as respostas dos alunos iniciantes e concluintes das instituições A e B, ou seja, para essas duas instituições, o fato de ser concluinte do curso não significa necessariamente que o aluno tenha maior conhecimento sobre tributos do que o iniciante, o que pode tanto ser uma questão relacionada ao perfil dos res-pondentes quanto à formação proporcionada naquelas instituições.

Na IES C, observou-se que para a maior parte das questões houve diferenças signifi cantes entre as respos-tas dos iniciantes e as respostas dos concluintes. Esse resultado se deve ao fato das respostas dos alunos ini-ciantes estarem concentradas na opção “nem concordo,

nem discordo” enquanto a dos alunos concluintes esta-rem concentradas nas opções “concordo” e “concordo plenamente”. Possivelmente, isso se deve ao fato deles serem mais novos e não trabalharem no início do curso e, consequentemente, não possuírem muitos conhecimentos sobre o assunto.

É importante ressaltar que, em nenhum momento, este estudo buscou encontrar a causa e o efeito dos resultados, menos ainda avaliar a qualidade de ensino das instituições. Esse estudo limitou-se apenas a comparar a percepção dos alunos iniciantes e concluintes quanto à carga tributá-ria no Brasil dentro das IES do Distrito Federal.

Como sugestão para futuras pesquisas, pode-se am-pliar o escopo do presente, aplicando o questionário em instituições de ensino de outros estados e a estudantes de cursos afi ns, como administração e economia. Ainda, sugere-se aplicar os questionários para a população em geral e comparar a percepção quanto à carga tributária dos respondentes das diferentes regiões do país com o montan-te de recursos gastos pelo Governo em saúde, educação e em programas como o programa Bolsa Família, no intuito de verifi car se existe relação entre o montante gasto e a percepção da população.

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Manoel Júnior Ludwig Dr. Altair Borgert Aline Willemann Kremer, Ma.

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Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

Manoel Júnior LudwigFlorianópolis SC

Aluno de Graduação e Supervisor Administrativo da UFSC1

[email protected]

Dr. Altair BorgertFlorianópolis-SC

Professor Efetivo do Departamento de Ciências Contábeis da UFSC1

[email protected]

Aline Willemann Kremer, Ma.Contadora CRC/SC: 036.529/O-1

Universidade Federal de Santa Catarina da UFSC1

Departamento de Ciências Contábeis da UFSC1

[email protected]

ResumoDiante do cenário de baixa competividade das empresas

nacionais, o governo promoveu a desoneração da folha de pagamento em determinados setores a fi m de reduzir os custos com previdência, impulsionar a economia e aumen-tar a formalização do mercado de trabalho. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é verifi car se houve redução dos custos em duas empresas analisadas do segmento da construção civil, num período equitativo antes (nov. 12 a out. 13) e depois (nov. 13 a out. 14) da desoneração. Para tanto, buscou-se os dados reais das empresas nos relatórios e demonstrativos contábeis e, dentro da ótica comportamental dos custos, verifi cou-se a empregabili-dade, além dos impactos nos custos com previdência e mão de obra por meio de um comparativo da contribuição previdenciária conforme o cálculo atual da desoneração, o antigo cálculo da contribuição patronal e uma estimativa conforme as alíquotas estabelecidas na Lei n.º 13.161/15. E, por fi m, a relação temporal comparativa dos custos totais com mão de obra e a lucratividade perante a receita

líquida. Os resultados evidenciaram que a empresa que utiliza mão de obra própria obteve benefícios com a alte-ração da legislação, entre eles a redução do valor pago a previdência, enquanto que na empresa que detém mão de obra terceirizada os benefícios não foram verifi cados, nem de modo indireto.Palavras-chave: Comportamento dos custos. Desoneração da folha de pagamento. Construção civil.

AbstractIn face of the scenario of low competitiveness of national

enterprises, the government promoted the exemption of pay-roll in some segments in order to reduce the foresight’s costs, to push the economy and enhance the formalization of labour market. In this way, this paper aims to verify if a reduction of costs in two analyzed enterprises of construction industry happened, in an equitable period before (Nov. 2012 to Oct. 2013) and after (Nov. 2013 to Oct. 2014) the exemption. For this purpose, the real data of the enterprises were taken in the accountings reports and statements that, under the be-havioural cost perspective, were verifi ed the employability, beyond the impacts in the foresight’s costs and labour force by means of a foresight’s comparative contribution according to current exemption’s calculation, the former calculation of employer’s contribution and an estimate according to the aliquots proposed by Law n.º 13,161/15 and, fi nally, the comparative temporal relation of total costs and profi tability in front of net income. The outcomes showed that the en-terprise that uses its own labour force had benefi ts with the law’s change, among these benefi ts are the reduction of the amount paid to the foresight, while that, at the enterprise that has labour force outsourced, the benefi ts weren’t verifi ed, neither in an indirect mode. Keywords: Cost behavior. Payroll tax relief. Construction.

1. IntroduçãoO cenário econômico brasileiro passa por momentos di-

fíceis, especialmente quando comparado à competitividade internacional. Isso contribui para o chamado Custo Brasil que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) (1995, p. 9), é o “conjunto de inefi ciências e distorções que

1 UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina - CEP 88040-900 - Florianópolis - SC.

Artigo recebido em 28/12/2015 e aceito em 17/08/2016

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Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

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prejudica a competividade do setor produtivo”. O referido contexto despertou no governo brasileiro a necessidade de criar novas políticas para alavancar o crescimento da indústria nacional, que opera em desaceleração, com índi-ces de crescimento abaixo do aumento do PIB. No que se refere à construção civil, observa-se a mesma tendência (MDIC, 2014; IBGE, 2014).

Aliado a isso, Oliveira (2000) e Kertzman (2012) desta-cam que os custos trabalhistas e tributários representam uma inefi ciência macroeconômica importante. Nesta mes-ma linha, Bortotto (2011) mensura a responsabilidade dos encargos tributários da folha de pagamento, que podem chegar a um terço dos custos totais. Diante desse cenário, o governo instituiu o Plano Brasil Maior, o qual é composto por diversas medidas que objetivam fortalecer e aumentar a competitividade das empresas nos níveis nacional e internacional, além de amenizar os custos trabalhistas, especialmente no nível operacional e, ainda, impulsionar o crescimento e a formalização das categorias (MDIC, 2014).

Dentre tais medidas, tem-se a Lei n.º 12.546/11 que, em consonância com as Emendas Constitucionais n.º 20/1998 e n.º 42/2003, apresenta a desoneração da folha de pagamento, que determina a substituição da base de cálculo da contribuição patronal de 20% sobre o mon-tante da folha de pagamento para 1,5% a 2,5% sobre o faturamento das empresas, de acordo com o setor de atuação. Inicialmente, contemplava apenas os setores de vestuário (indústria têxtil) e serviços (tecnologia da informação).

Ademais, observado a intenção do governo em reduzir os custos de produção de toda a indústria, a medida ex-pandiu-se para outros segmentos, entre eles o setor da construção civil, contemplado pela publicação da Lei n.º 12.844/13, uma vez que o referido setor possui relação extensiva com a mão de obra e seus respectivos custos ultrapassam os 30% no total dos custos da construção e 24,7% sobre a receita bruta, conforme afirma o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2012).

Tal relação extensiva de mão de obra no setor da cons-trução civil é verificada com a consulta dos dados sobre empregabilidade na região sul do Brasil: são praticamen-te quatrocentas mil pessoas empregadas em vinte e sete mil empresas do ramo, com uma média anual de gasto com mão de obra em R$ 26 mil por funcionário, no qual a previdência social é responsável por 15% dos custos totais (IBGE, 2012).

Nesse contexto, apresenta-se a questão problema que norteia este estudo: Como se comportam os custos das empresas de construção civil após a desoneração da folha de pagamento?

Pautado na importância da mensuração dos custos como sistema de informação e de apoio ao processo de-cisório, o estudo evidencia sua contribuição ao verificar o real impacto da nova política econômica desenvolvida pelo governo para as empresas do setor da construção civil. E, justifica-se pela visibilidade e importância do tema para a área, visto que as informações sobre os custos são relevantes para fundamentar a tomada de decisão, além de impactar nos resultados da organização (MELVIN, 1988; MEDEIROS; COSTA; SILVA, 2005).

2. Referencial Teórico

2.1 Comportamento dos CustosOs dados passados sobre custos são a base da teoria

que visa à análise do comportamento, além de permitir traçar uma projeção para o futuro. Uma projeção ade-quada deve considerar fatores internos (mudanças na empresa) e externos (mudanças no ambiente) (MELVIN, 1988). Conforme Hansen e Mowen (2001) afirmam, o mo-delo para definir o comportamento dos custos pauta-se em levantar as modificações que os custos sofrem e o impacto causado no nível de produção diante destas.

Acrescenta-se que o entendimento da teoria e da prática sobre o comportamento dos custos por parte dos gestores, administradores e investidores é essencial para apoiar o processo decisório (PERVAN; PERVAN, 2012). Por outro lado, o processo decisório pode ser compro-metido quando não há o domínio integral dos custos incorridos, além de averiguar a sua variação perante o nível da atividade (GARRISSON; NOREEN, 2011).

Nessa perspectiva, Richartz (2013) define compor-tamento dos custos como a representação empírica da variação dos custos, em função do nível das atividades, volume de vendas e estrutura operacional, com influência dos fatores ambientais, sociais e econômicos.

Inicialmente, em pesquisas que contemplavam o tema comportamento dos custos, Smith e Mason (1996) já abordaram que a formulação de modelos estatísticos é uma estratégia necessária para determinar o comporta-mento dos custos, no qual questionaram, por meio da regressão, a modelagem de provisionar custos assim como, o seu desempenho, estabilidade e facilidade. Na linha prática, o estudo realizado por Richartz et al. (2012) verificou que as organizações brasileiras com capital negociado na BM&FBOVESPA, que possuem menores receitas, apresentam menor representatividade de custos em relação as receitas líquidas.

Melvin (1988) verificou o comportamento dos custos do item horas aula por meio de variáveis independentes relacionadas a volume, decisão e ambiente, com apli-cação em programas de formação em bacharelado de enfermagem. A conclusão define que variáveis de volume e decisão têm maior impacto do que variáveis ambientais.

Oliveira, Lustosa e Sales (2007) e Ferrari, Kremer e Pinheiro (2013) desenvolveram estudos sobre o compor-tamento “antes e depois” de um fato. O estudo de 2007 teve como evento determinante a privatização, o qual, devido à legislação trabalhista, faz com que os custos de mão de obra tenham uma parcela fixa. Além disso, com o advento da privatização, os custos operacionais variáveis sofreram redução, concretizado, dessa maneira, como uma medida adequada, sob a ótica de redução de custos. O estudo de 2013 trouxe a influência das mudanças re-gulatórias nos custos nas empresas de telecomunicações entre 1995 e 2012. A conclusão afirma que os custos são afetados conforme a regulamentação no segmento.

O estudo de Richartz et al. (2011), que abordou as empresas do segmento de fi os e tecidos listadas na BM&FBOVESPA, nos anos de 1998 a 2010, concluiu que 78,88% das receitas líquidas de vendas eram consumidas

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pelos custos de produção (CPV). De maneira convergente e em estudo semelhante, Richartz et al. (2012) encontraram 78% para a relação custos/receita.

2.2 Desoneração da Folha de PagamentoA desoneração da folha de pagamento, inicialmente

instituída pela Lei n.º 12.546/2011, abrangia apenas os se-tores de vestuário (indústria têxtil) e serviços (tecnologia da informação). Posteriormente, com a promulgação da Lei n.º 12.844/2013, a medida passou a contemplar, também, o setor da construção civil, especifi camente nas empresas dos códigos CNAE 2.0: 412 – Construção de edifícios; 432 – Instalações elétricas, hidráulicas e outras instalações em construções; 433 – Obras de acabamento e 439 – Outros serviços especializados para construção.

O setor da construção oferece, ainda, certa complexi-dade, pois determinadas obras são de longo prazo. Em resumo, as obras matriculadas no Cadastro Específico do INSS – CEI, até 31 de março de 2013, deveriam continuar, obrigatoriamente, a recolher a contribuição previdenciária nos moldes antigos, enquanto que as obras, a partir des-sa data, deveriam aplicar os moldes definidos na medida da desoneração.

Posteriormente, a Lei n.º 13.043/14 modifi cou o artigo sétimo da Lei n.º 12.546/11, quando alterou a contribuição sobre a receita bruta, deduzida das vendas canceladas e dos descontos incondicionais, para 2% em substituição ás contribuições previstas nos incisos I e III do caput do artigo 22 da Lei n.º 8.212/91. Adiciona-se que a empresa contra-tante de um serviço, cuja contratada fi zer uso da cessão de mão de obra e estiver contemplada pelas medidas da desoneração, deve realizar a retenção de 3,5% do valor bruto da nota fi scal ou da fatura de prestação de serviços, em substituição a alíquota de 11%.

Mais recentemente, o governo anunciou a Lei n.º 13.161/15 que, em essência, alterava as alíquotas de contribuição, substituído o percentual de 1% para 2,5% e o percentual de 2% para 4,5%, além de revogar o caráter de obrigatoriedade da aplicação. Tal alteração, conforme reportagem do periódico Valor Econômico (2015) visa equili-brar as contas nacionais, já que, em 2014, o governo deixou de arrecadar R$ 21,568 bilhões com a aplicação da medida da desoneração.

Em suma, pode-se demonstrar matematicamente o acréscimo ou o decréscimo nos custos da empresa em função da legislação proposta pela Lei n.º 13.043/14 para

as empresas de construção civil:1.º observação: Para verifi car se a desoneração da folha

de pagamento tornou-se uma medida positiva em termos fi nanceiros, quando analisado apenas o montante global da contribuição previdenciária:• Nas empresas do Lucro Real ou Lucro Presumido -

o faturamento bruto não pode ser maior do que dez vezes o montante total da folha de pagamento dos funcionários.

• Nas empresas do Simples Nacional (Anexo IV) - o fa-turamento bruto não pode ser maior do que 10,4 (dez inteiros e quatro décimos) vezes o montante total da folha de pagamento dos funcionários.

2.º observação: Para verifi car o acréscimo ou o de-créscimo que a transição para o regime de tributação da contribuição previdenciária sobre o faturamento causará na empresa, utiliza-se a seguinte expressão matemática.

Equação 1: Expressão matemática para cálculo do efeito da desoneração

Contribuição pelo regime da desoneração

Contribuição pelo regime antes da desoneração1) ) * (-1)

Por meio dos resultados obtidos na equação, sintetiza-se o efeito fi nanceiro da contribuição previdenciária na fi gura abaixo:

Gráfi co 1: Esquema do efeito da expressão matemática

redução dos custos com INSS aumento dos custos com INSS

-0,2 0,2-0,1 0,10

Fonte: Elaborado pelos autores.

Quadro 1: Alíquotas da Contribuição Previdenciária

Contribuição Patronal Risco Acidente de Trabalho (RAT) Outras Entidades

Empresas optantes pelo Lucro Presumido/Lucro Real, sem aplicação da desoneração.

20% sobre a folha de pagamento.

3% sobre a folha de pagamento (alíquota padrão)

5,8% sobre a folha de pagamento.

Empresas optantes pelo Simples Nacional (Anexo IV), sem aplicação da desoneração.

20% sobre a folha de pagamento.

3% sobre a folha de pagamento (alíquota padrão)

Não tem incidência.

Empresas optantes pelo Lucro Presumido/Lucro Real, com aplicação da desoneração.

2% sobre o faturamento bruto 3% sobre a folha de pagamento (alíquota padrão)

5,8% sobre a folha de pagamento.

Empresas optantes pelo Simples Nacional (Anexo IV), com aplicação da desoneração.

2% sobre o faturamento bruto 3% sobre a folha de pagamento (alíquota padrão)

Não tem incidência.

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

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Ressalta-se, ainda, que a grandeza dos encargos so-ciais compromete a ampliação dos empregos, além de reduzir a formalização, conforme afirma Oliveira (2011), que Pochmann (2008) dedica ao vício histórico de um desenvolvimento industrial tardio, visto a economia brasileira como periférica. No intuito de amenizar as limitações econômicas e aumentar a competividade das empresas em nível internacional, o Plano Brasil Maior (2013) trouxe a desoneração da folha de pagamento, a qual não é estritamente uma medida de redução do tributo, uma vez que também é capaz de contribuir para o aumento do crédito das empresas, além de estimular a adequação tecnológica, injetar recursos de terceiros por meio dos financiamentos e expandir suas atividades para a exportação.

Entretanto, nem todos os empresários afirmam sofrer a redução tributária (PORTAL DA CLASSE CONTÁBIL, 2013). Segundo Oliveira (2011), há ramos de negócio que necessitam de extensiva mão de obra, outros menos, e ambos podem ter um faturamento semelhante, em que se comprometem, dessa forma, os resultados de cada empresa e os propostos pela medida.

Por outro lado, Oliveira (2011) ressalta que a incidên-cia dos encargos previdenciários sobre o faturamento bruto é uma maneira de amenizar o impacto tributário dos setores intensivos em mão de obra, em que, de certa maneira, constitui uma medida de justiça tributária.

No que se refere às pesquisas já realizadas sobre a desoneração da folha de pagamento e o respectivo impacto nos custos, observa-se o de Eckert et al. (2013) que, por meio de um estudo de caso, aferiu a consequên-cia da desoneração para uma empresa de metalurgia de Caxias do Sul (RS). Já, o estudo de Bertini e Wünsch (2014) seguiu a mesma linha de objetivos, entretanto, utilizou indústrias calçadistas do Vale do Paranhana para construir os seus apontamentos. Em ambos os estudos, os resultados foram positivos na perspectiva financeira, visto a ótica da redução de custos.

Em outra linha de pesquisa, Dias (2013) utilizou uma empresa de construção civil de Criciúma (SC), a qual tinha sua mão de obra terceirizada. A conclusão foi que não houve redução nos custos e que a vantagem competitiva criada pela medida da desoneração acon-tece somente para as empresas que têm mão de obra própria.

O estudo de Ferrari, Kremer e Silva (2014) concluiu que as medidas de desoneração provocaram alterações nos custos dos produtos vendidos e nos custos totais das empresas do setor têxtil de Santa Catarina listadas na BM&FBOVESPA. Entretanto, nesse mesmo estudo, não foi encontrado evidências que pudessem afirmar que a margem de lucro sofreu interferência da desoneração.

3. Procedimentos MetodológicosA pesquisa contempla duas empresas da construção

civil de Florianópolis (SC), em que uma é optante pelo Lucro Presumido e detêm 100% de mão de obra tercei-rizada, nomeada ficticiamente de empresa Onerada, e outra optante pelo Simples Nacional com mão de obra própria, nomeada ficticiamente de empresa Desonerada.

A empresa Onerada não sofre aplicação direta da deso-neração, entretanto, a empresa terceirizada de constru-ção, a qual presta os serviços para a empresa Onerada, teve sua contribuição previdenciária alterada com a nova legislação e, portanto, espera-se uma redução de seus custos. A empresa Desonerada é contemplada com a medida da desoneração.

A pesquisa concentra-se na obtenção de dados de duas empresas do ramo de construção civil, por um período de vinte e quatro meses, em que se selecionou uma quantidade de meses equitativa para o período antes e após a aplicabilidade da regulamentação da de-soneração, possibilitada, dessa maneira, a comparação entre os dados e os resultados, assim como mensurar os impactos sobre o total de custos com a mão de obra, os custos totais e o lucro. As referidas empresas foram selecionadas pela acessibilidade e transparência das informações.

A coleta de dados é feita nos demonstrativos e docu-mentos contábeis das empresas analisadas, via escri-tório de contabilidade e sistema próprio. São coletadas informações sobre a receita bruta, custos detalhados da mão de obra, própria e terceirizada, custos totais e lucratividade.

Inicialmente, buscaram-se os dados do setor pessoal, como o número de funcionários em cada período e as respectivas folhas salariais para verificar a contribuição da medida em relação à empregabilidade.

Calculou-se o valor da contribuição previdenciária da empresa Desonerada pelo modelo da desoneração atual, pela antiga contribuição patronal e, ainda, uma projeção das novas contribuições com o advento da Lei n.º 13.161/15 a fim de comparar, unilateralmente, e pelo aspecto financeiro, o benefício da medida para a empresa. Ainda, calculou-se o custo da mão de obra para a empresa Onerada pelo valor do metro quadrado construído, para verificar se a medida refletiu no preço praticado pela mão de obra terceirizada.

Por fim, analisam-se as relações entre o custo total da mão de obra direta (MOD) e a lucratividade (LL) com a receita líquida de venda (RLV), para apontar se o impac-to foi unicamente no custo da previdência ou se houve reflexo nos demais resultados da empresa.

Admitem-se os custos e margem de lucro como hipó-teses de pesquisa e utiliza-se o teste T de Student para sustentar os resultados encontrados referentes à diferen-ça das médias que, em termos estatísticos, tende-se a observar se os resultados encontrados anteriormente a medida da desoneração são diferentes dos encontrados após a medida:

• H0 – Os resultados encontrados antes e depois da

medida de desoneração não sofreram alterações decorrentes da aplicação da medida.

• H1 – Os resultados encontrados antes e depois da medida de desoneração sofreram alterações decorrentes da aplicação da medida.

Para isso, o presente estudo fez uso da ferramenta do Excel para auxiliar na análise dos resultados.

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4. Apresentação dos DadosO presente artigo objetiva a identificação dos impac-

tos causados pela medida de desoneração em duas empresas de construção civil. A análise concentra-se na comparação do desempenho que as empresas obtiveram em um período anual antes da desoneração e outro após a desoneração.

4.1 EmpregabilidadeDentre um dos objetivos da medida de desoneração,

está a formalização e criação de novos empregos. Para tanto, analisa-se o quadro de funcionários e salários para verifi car se houve interferência da medida governamental nesse aspecto.

Tabela 1: Comparativo dos Dados Salariais

Empresa Desonerada Empresa Onerada

Antes Desoneração

Depois Desoneração

Evolução (%)

Antes Desoneração

Depois Desoneração

Evolução (%)

Média de Funcionários 28 38 35,7% 15 10 -33,3%

Média da Folha Salarial R$ 33.259,65 R$ 52.377,40 57,5% R$ 33.206,40 R$ 30.457,14 -8,3%

Média Salarial por Funcionário R$ 1.177,34 R$ 1.389,06 18,0% R$ 2.286,57 R$ 3.030,46 32,5%

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Inicialmente, percebe-se que na empresa Desonerada houve o aumento de funcionários, assim como o aumento da média salarial foi superior ao dissídio da categoria (7%), que corrobora, diante dos resultados nessa empresa, com o objetivo da medida em relação à formalização e criação de novos empregos.

Já, a empresa Onerada, que não sofre aplicação direta da medida da desoneração, teve redução no quantitativo de funcionários, assim como na sua folha salarial, visto a adoção da nova política da empresa – terceirização da mão de obra.

Tabela 2: Teste T para Comparativo de Dados Salariais

Média Funcionários Média Folha Salarial Total Média Folha Salarial Unitária

Antes Depois Antes Depois Antes Depois

Média 28 37,75 33259,65 52377,40 1177,34 1389,06

Variância 82,182 10,932 141269723 26967952 4925,85 9266,32

Observações 12 12 12 12 12 12

Correlação de Pearson 0,3397   0,6571   0,7331

Hipótese da diferença de média 0   0   0

Gl 11   11   11

P(T<=t) bi-caudal 0,00223   0,000002   2,3511

t crítico bi-caudal 2,2010   2,2010   2,2010  

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Quando comparado o número de funcionários e a folha salarial, percebe-se uma diferença na variância, a qual permite em conjunto com o teste t, em um nível de significância de 5%, rejeitar a hipótese nula e sustentar a constatação de influência da medida governamental na criação de novos empregos na empresa Desonerada. Entretanto, quando analisado a formalização dos empre-gos por meio da média da folha salarial unitária, não se encontra evidências que permitem auferir se medida foi benéfica nesse aspecto.

4.2 Comparativo INSS por Desoneração e INSS Patronal

A empresa Desonerada recolheu os encargos sociais no período (nov. 13-out. 14) pelo cálculo da desone-ração. Este presente tópico, em termos comparativos, visa aferir qual seria o valor que teria sido contribuído para a previdência se tivesse sido usado à aplicação antiga do cálculo (INSS Patronal) e, também, simulou-se o valor que seria recolhido, caso a Lei n.º 13.161/15 já estivesse em vigor.

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Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

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Tabela 3: Comparativo INSS – Empresa Desonerada

Período INSS Patronal INSS por desoneração Evolução (%) INSS por desoneração Lei n.º 13.161/15 Evolução (%)

nov.13 R$ 9.460,29 R$ 3.712,51 -60,8% R$ 6.796,03 -28,2%

dez.13 R$ 8.491,98 R$ 3.640,69 -57,1% R$ 6.640,69 -21,8%

jan. 14 R$ 9.415,77 R$ 3.561,19 -62,2% R$ 6.311,19 -33,0%

fev. 14 R$ 9.444,47 R$ 3.564,93 -62,3% R$ 6.314,93 -33,1%

mar.14 R$ 11.192,17 R$ 4.149,06 -62,9% R$ 7.211,73 -35,6%

abr.14 R$ 9.919,79 R$ 3.983,06 -59,8% R$ 7.045,72 -29,0%

maio 14 R$ 10.496,95 R$ 4.059,67 -61,3% R$ 7.124,00 -32,1%

jun. 14 R$ 10.539,52 R$ 3.813,76 -63,8% R$ 6.563,76 -37,7%

jul. 14 R$ 10.577,80 R$ 3.997,30 -62,2% R$ 6.997,30 -33,8%

ago.14 R$ 9.836,84 R$ 3.717,76 -62,2% R$ 6.517,76 -33,7%

set.14 R$ 11.030,60 R$ 4.633,47 -58,0% R$ 8.383,47 -24,0%

out. 14 R$ 10.704,77 R$ 3.760,40 -64,9% R$ 6.472,20 -39,5%

TOTAL R$ 121.110,95 R$ 46.593,82 -61,5% R$ 82.378,78 -32,0%

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Observa-se que o metro quadrado da mão de obra para a empresa Onerada custou no período anterior à desoneração o valor médio de R$ 330,58. Após a aplicação da medida da desoneração, o m² médio custou R$ 431,99. Pautado nesses resultados, nota-se que não houve o repasse do be-nefício fi scal e, pelo contrário, houve um aumento superior aos 20% somado ao dissídio da categoria de 7%.

4.4 Relação Custo MOD e Receita Líquida de Venda

Nesse tópico, avalia-se a relação do custo total com a mão de obra e a receita líquida. No presente gráfi co, de-monstra-se a margem da receita líquida atribuída aos cus-tos com mão de obra. Utiliza-se a linha de tendência para sustentar os resultados.

Tabela 4: Custo da Mão de Obra Terceirizada – Empresa Onerada

Antes desoneração Depois desoneração Evolução (%)

Média Mensal de Metragem Executada de Obra 329,56m² 461,05m² 39,9%

Valor Médio Mensal Desembolsado R$ 114.695,07 R$ 199.475,98 73,9%

Valor Médio do m² Construído R$ 330,58 R$ 431,99 30,7%

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

No primeiro cenário, o qual evidencia a realidade, a em-presa Desonerada teve redução real em seus custos com INSS patronal em 61,5%, no período de um ano, o qual se verifi cou que a medida promoveu uma economia direta superior aos R$ 74 mil, a qual representa 5,92% da receita líquida da empresa.

Já, no segundo cenário, o qual se simula os da-dos conforme a normatização proposta pela Lei n.º 13.161/15, que altera a alíquota de contribuição patro-nal, verifica-se uma redução de R$ 38,7 mil em relação à antiga contribuição patronal (base de cálculo era a folha

de pagamento), em que representa 32% de redução, embora a nova medida aumente em praticamente 80% o custo direto atual com INSS.

4.3 Custo da Mão de Obra TerceirizadaA empresa Onerada concentra-se sua mão de obra

na política da terceirização. Dessa maneira, não sofre aplicação direta da medida da desoneração, entretanto, sua empreiteira está obrigada à aplicação da medida e, portanto, o presente tópico busca identificar se houve reflexo nos preços pagos pela empresa Onerada.

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Diante da linha de tendência linear, observa-se que a empresa Desonerada reduz o percentual de comprometi-mento com o custo da mão de obra em relação à receita líquida, ao longo do período, visto que nos doze meses antecessores a aplicação da medida da desoneração ob-teve uma média de 73,29% da receita líquida destinada ao custo total da mão de obra direta, enquanto nos dozes me-ses sucessores a medida, essa média reduziu 13,37 p.p.

Entretanto, a empresa Onerada aufere constantemente aumentos do percentual da relação, em que passou de um comprometimento médio de 15,27% no período anterior a desoneração para 32,94% no período posterior a deso-neração. Em termos percentuais, representa um aumento superior aos 100% com gastos atribuídos a mão de obra.

Tabela 5: Teste T para Comparativo de Custo de MOD/RLV

Empresa Desonerada Empresa Onerada

Antes Depois Antes Depois

Média 0,7329 0,5992 0,1527 0,3294

Variância 0,0476 0,0099 0,0060 0,0645

Observações 12 12 12 12

Correlação de Pearson 0,1119   -0,2349

Hipótese da diferença de média 0   0

Gl 11   11

P(T<=t) bi-caudal 0,0687   0,0530

t crítico bi-caudal 2,2010   2,2010  

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Embora a empresa Desonerada tenha diminuído a mar-gem com custo de MOD, o teste T permite, ao nível de signifi cância de 5%, que a hipótese nula não seja rejeitada nas duas empresas, pois não existem evidências sufi cien-tes ou diferenças representativas entre os dois períodos analisados que comprovem a efetividade da medida.

Dessa maneira, a redução verifi cada na empresa Desonerada não necessariamente é atribuída somente à redução com os custos de INSS, enquanto na empresa Onerada o aumento na relação do custo total de MOD não teve suas alterações diretamente relacionadas com a política de desoneração.

4.5 Relação Lucro Líquido e Receita Líquida de Venda

Com o objetivo de examinar o impacto da desonera-ção na empresa como um todo, verifica-se a mutação da margem de lucratividade no período anterior e posterior á aplicação da desoneração.

Por fim, em termos de lucratividade, obteve-se um aumento no desempenho na empresa Desonerada, em que passou de uma média de 18,09% no período ante-rior para 34,76% no período posterior a desoneração. Em contrapartida, a empresa Onerada teve lucratividade média de 21,18% no período anterior, e apurou prejuí-zos médios de 22,91% no período após a aplicação da desoneração.

Gráfi co 2: Relação Custo MOD/Receita Líquida de Venda

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Gráfi co 3: Relação Lucro Líquido/Receita Líquida de Venda

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

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Tabela 6: Teste T para Comparativo de Lucro Líquido/RLV

Empresa Desonerada Empresa Onerada

Antes Depois Antes Depois

Média 0,1809 0,3476 0,2118 -0,2291

Variância 0,0678 0,0111 0,1428 1,0561

Observações 12 12 12 12

Correlação de Pearson 0,0870   -0,0528

Hipótese da diferença de média 0   0

Gl 11   11

P(T<=t) bi-caudal 0,0575   0,1974

t crítico bi-caudal 2,2010   2,2010

Fonte: Dados da pesquisa – Elaborado pelos autores.

Por meio do teste T, a hipótese nula não é rejeitada, ou seja, não há evidências que permitem justificar a diferen-ça de médias. Além disso, as diferenças encontradas po-dem ser oriundas de outras alterações ou novas políticas adotadas, tais como a variação de preços ou aumento dos salários.

5. Discussão dos ResultadosSob a perspectiva dos custos empresariais, o presente

estudo buscou verifi car o impacto da desoneração da folha de pagamento em uma empresa de construção civil, exten-siva em mão de obra, a qual é contemplada diretamente pela legislação, comparativamente a outra que possui mão de obra terceirizada e, portanto, tem infl uência indireta da nova legislação. Os dados utilizados para possibilitar a compreensão dos efeitos da desoneração foram de vinte e quatro meses, divididos em um período equitativo para o período anterior e posterior a aplicação da desoneração.

Na análise das mutações sobre a empregabilidade e folha salarial, observa-se um impacto positivo para a empresa Desonerada, a qual teve aumento médio no número de funcionários e de sua folha salarial indivi-dual. Não se pode afirmar totalmente que essa evolu-ção na empregabilidade é atribuída somente à medida da desoneração. É possível que ela tenha exercido alguma contribuição, conforme aplicação do teste T, mas existem outros fatores como, por exemplo, quanti-dade de obras e cumprimento de prazos de construção que podem ter influenciado na alteração do quadro de funcionários.

O estudo de Bertini e Wünsch (2014) constatou impac-tos positivos nas indústrias calçadistas com a aplicação direta da desoneração. Em linhas mais específicas, no aspecto setorial, Lahm, Lahm e Dornelles (2014) atribuí-ram uma economia de 50% para as empresas de constru-ção civil com mão de obra própria com a nova medida. O presente estudo verificou uma redução nos custos com previdência de 61,5% da empresa Desonerada. Dessa maneira, tal medida, no aspecto conclusivo, quando aplicada nas empresas de construção civil, tende a trazer

benefícios econômicos no custo da previdência, mas, no presente estudo, não foram encontradas evidências que a desoneração seja a responsável pela redução dos custos com MOD e aumento da margem de lucratividade na empresa Desonerada.

Entretanto, quando há a terceirização, a desoneração, de maneira indireta, não se tornou uma medida que trouxe amplos benefícios, visto que no presente trabalho examinou-se um aumento percentual superior ao dissídio da categoria nos custos da empresa Onerada com a mão de obra terceirizada. Os resultados aqui encontrados apoiam os resultados encontrados por Dias (2013) e Santos, Brinckmann e Camargo (2014), ambos conclusi-vos que a terceirização não traz redução dos custos com previdência, a qual, em alguns casos, pode até onerar as empresas.

Quando da análise da infl uência no custo total da MOD e nos índices de lucratividade, a empresa Desonerada obteve um melhor desempenho. Verifi cou-se o compro-metimento médio com custos diretos com mão de obra auferidos em 59,92% nos doze meses de aplicação da desoneração, alcançado assim, uma redução de 18,2%. A margem de lucratividade média aumentou de 18,1% para 34,8%. O cenário na empresa Onerada foi inverso, em que se constatou um aumento superior aos 100% com custo de MOD, e um lucro anteriormente apurado transformou-se num prejuízo médio de 22,91% após a desoneração.

Contudo, o governo anunciou recentemente uma nova proposta para a desoneração, que por meio da Lei n.º 13.161/15 altera as alíquotas de contribuição, num au-mento superior aos 100%, já que passa de 2% para 4,5% sobre o faturamento. Observa-se na simulação de dados da contribuição da empresa Desonerada que ainda é uma medida vantajosa, sob a ótica de redução dos custos com previdência social, embora possa comprometer os objeti-vos iniciais da medida, entre eles, o aumento da compe-tividade das empresas e da produção e a formalização e criação de empregos.

Diante da realidade do mercado, em que cada organização tem suas especifi cidades, os resultados aqui encontrados,

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corroborado com outras constatações, formam uma ideia para o setor da construção civil. Entretanto, não pode ser visto como verdade absoluta, pois cada organização exerce abordagens diferenciadas, tais como, localidade, escassez de mão de obra, preços e outras práticas executadas que podem distorcer as conclusões.

Em suma, o presente trabalho contribuiu à medida que retomou o estudo da desoneração, que influencia

diretamente nos custos das empresas, pois tinha adesão obrigatória, o qual se constatou os impactos nos custos e na lucratividade de duas empresas do ramo de constru-ção civil. Por fim, sugere-se para futuros estudos verificar o impacto nos resultados e na formalização do emprego com a alteração da alíquota e os efeitos da aplicação opcional advindos da Lei n.º 13.161/15 no setor da cons-trução civil, ou expandir para outros segmentos.

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Desoneração da Folha de Pagamento e Comportamento dos Custos em Empresas de Construção Civil

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Gisele Patricia Becker Rosane Maria Seibert Berenice Beatriz Rossner Wbatuba Neusa Maria da Costa Gonçalves Salla

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 24-35, maio/ago. 2016

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

Gisele Patricia Becker Especialista em Finanças Empresariais e Controladoria pela URI1

[email protected]

Rosane Maria Seibert Doutoranda em Ciências Contábeis pela UNISINOS2 Professora do PPG Mestrado Profi ssional em Gestão Estratégica das Organizações e dos Cursos de Graduação de Ciências Contábeis e de Administração da URI1

[email protected]

Berenice Beatriz Rossner Wbatuba Doutoranda em Desenvolvimento Regional pela UNISC3

Professora do PPG Mestrado Profi ssional em Gestão Estratégica das Organizações e dos Cursos de Graduação de Ciências Contábeis e de Administração da URI1

[email protected]

Neusa Maria da Costa Gonçalves SallaDoutora em Administração e Contabilidade pela FURB4 Professora do PPG Mestrado Profi ssional em Gestão Estratégica das Organizações e dos Cursos de Graduação de Ciências Contábeis e de Administração da URI1

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ResumoO artigo analisa o comportamento da inadimplência de

empresas gaúchas em duas instituições bancárias que terceirizam a cobrança. A teoria sugere confl ito de agência entre devedores e credores e necessidade de respeitar uma hierarquia e um trade-off entre as fontes de fi nanciamento, para assegurar a sustentabilidade econômica e fi nanceira, porém, a restrição fi nanceira dessas organizações sugere violação desses princípios. Os dados foram coletados em documentos e tratados com estatística descritiva e análi-se de conteúdo. As empresas em cobrança no primeiro

semestre de 2013 foram analisadas. Elas foram classifi -cadas por setor econômico, tempo inadimplente e tipo de operação inadimplente. Os resultados revelam políticas diferenciadas de cobrança entre os bancos pelas disparida-des na concentração da inadimplência ao longo do tempo. Os maiores índices de inadimplência foram observados nos setores do comércio e indústria de transformação, e quanto ao tipo de operação pendente, os fi nanciamentos de capital de giro foram os mais expressivos.Palavras-chave: Análise de Crédito; cobrança terceirizada; inadimplência; restrição fi nanceira, tipos de fi nanciamentos.

AbstractThe article analyzes the behavior of the default of local

companies in two banks that outsource the collection. The theory suggests agency confl ict between debtors and cre-ditors and the need to respect a hierarchy and a trade-off between funding sources to ensure the economic and fi nan-cial sustainability, however, the fi nancial constraint of these organizations suggests violation of these principles. The data were collected from documents and treated which descriptive statistics and content analysis. The companies in collection in the fi rst half of 2013 were analyzed. They were classifi ed by economic sector, default time and default type of operation. The results reveal different charging policies between banks, by differences in the concentration of defaults over time. The higher default rates were observed in the sectors of trade and manufacturing, and the type of pending operation, fi nancing working capital were the most expressive. Keywords: Credit Analysis; outsourced collecting; default; fi nancial constraint, types of fi nancing.

1. IntroduçãoEstabelecer-se no mercado, atuar efi cientemente, con-

quistar clientes, vender produtos e serviços com o intuito de resultados econômicos e fi nanceiros positivos, é prova-velmente, o objetivo principal da maioria das organizações.

1 URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - CEP 99709-980 - Fátima, Erechim - RS  2  UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos - CEP 93022-000 - São Leopoldo RS 3  UNISC – Universidade da Santa Cruz do Sul - CEP 95555-000 - Capão da Canoa - RS 4  FURB – Universidade Regional de Blumenau - CEP 89012-900 - Blumenau - SC

Artigo recebido em 07/05/2016 e aceito em 17/08/2016

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

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Contudo, este processo muitas vezes requer recursos que não se encontram facilmente disponível, nem dentro e nem fora das organizações. Nesse sentido, quando da busca por fontes de fi nanciamento para os investimentos, se faz neces-sário observar o que preconizam as teorias de pecking order que sugere uma hierarquização nas fontes de fi nanciamento (MYERS, 1984; MYERS E MAJLUF, 1984) e do trade-off que sugere um ponto de corte entre as fontes de capital próprio e de terceiros (KRAUS e LITZENBERGER, 1973) para evitar problemas futuros de restrições fi nanceiras.

Quando a organização não tem recursos para as suas oportunidades de investimento, o crédito bancário se apresenta como forte aliado para o desenvolvimento orga-nizacional sendo ofertado sob várias modalidades dentro do mercado fi nanceiro. Nesta perspectiva, as instituições fi nan-ciadoras podem ser abordadas por todos os tipos de toma-dores de crédito. Para a instituição fi nanceira, a concessão de crédito tem o risco do não cumprimento das obrigações assumidas pelo tomador, ora por motivos de ordem interna da organização ora por variáveis externas que se refl etem sobre as condições do devedor, que não conseguem cumprir os contratos assumidos gerando índices de inadimplência a serem gerenciados. Uma forma de gestão da inadimplência dos clientes das instituições fi nanceiras é por meio da tercei-rização dos serviços de cobrança.

Neste contexto, vislumbrou-se a necessidade de analisar o comportamento da inadimplência por parte de clientes da carteira pessoa jurídica de duas instituições bancárias atuantes no estado do Rio Grande do Sul, doravante de-nominadas instituições A e B, que terceirizam a cobrança dessa carteira para uma mesma assessoria. As informações necessárias para a realização do estudo estão limitadas ao banco de dados da assessoria de cobrança terceirizada, especializada na recuperação extrajudicial de ativos. Vale acrescentar, que é prática muito comum no setor bancário a terceirização das dívidas para cobrança em empresas especializadas. Considerando-se o primeiro semestre de ano de 2013 o estudo visa verifi car os níveis de inadimplên-cia empresarial por setor econômico, região geográfi ca de atuação, tipo de operação em débito bem como pelo tempo de inadimplemento.

Na sequência esse artigo aborda alguns fundamentos teóricos, a metodologia empregada na pesquisa, os re-sultados e as discussões sobre eles, fi nalizando com as considerações fi nais e as referências utilizadas na pesquisa.

2. Revisão da literaturaSegundo a teoria de pecking order (MYERS, 1984; MYERS;

MAJLUF, 1984) as empresas deveriam preferir fontes internas de fi nanciamento, como a retenção de lucros e se precisassem de fontes externas de fi nanciamento para os seus investi-mentos, deveriam preferir emitir dívidas do que buscar novos sócios. A informação emitida pela empresa quando da busca por dívidas poderia sinalizar positivamente ao mercado, como oportunidade de crescimento identifi cada e capacidade de fi nanciamento. Essa teoria é bastante conservadora ao sugerir investimentos planejados a partir, primeiro da retenção dos resultados da própria empresa, considerando que a emissão de novas dívidas e ou novos sócios, pode ser arriscado para a estrutura patrimonial da empresa.

A teoria de trade-off (KRAUS e LITZENBERGER, 1973) busca a estrutura ótima de capital das organizações que é alcançada quando a vantagem tributária advinda do pa-gamento de juros dos financiamentos é balanceada com a margem de lucro das empresas, ou seja, há um ponto de reversão na tomada de decisão econômica nas fontes de financiamento, que é aquele em que o percentual dos juros passa a ser maior do que o percentual do retorno dos proprietários. Outra decisão a considerar para a estrutura de capital é relativa ao ponto de corte onde a empresa não entra em situação de restrição financeira. Isso signi-fica que a gestão de alocação dos recursos deve ser feita eficientemente para não comprometer a continuidade das empresas (WURGLER, 2000). A alavancagem financeira é benéfica somente até certo ponto (FAULKENDER e PETERSEN, 2006).

Outro princípio importante a considerar na relação do fornecedor e do tomador de recursos fi nanceiros é o confl ito de interesses que pode advir dessa relação, gerando custos de agência (JENSEN e MECKLING, 1976). Certamente o emprestador que ter garantido os seus direitos de receber o recurso mais os juros cobrados, enquanto o tomador do empréstimo quer manter a liberdade de gestão sobre os seus negócios, mesmo que isso signifi que mais risco para o emprestador. Esse confl ito pode ser minimizado por meio de mecanismos de controle do emprestador com cláusulas contratuais restritivas. As fricções, como a assimetria da in-formação e os confl itos de agência entre o tomador e o em-prestador, podem gerar tanto aumento dos custos dos fun-dos externos, em relação aos fundos gerados internamente, como podem levar ao racionamento de crédito (STIGLITZ e WEISS, 1981), o que caracterizaria as organizações como em restrição fi nanceira (PORTAL, ZANI e SILVA, 2012).

Os princípios dessas teorias deveriam ser considerados por empresas de qualquer tamanho e em qualquer ramo de atividade, assim como pelas instituições fi nanceiras. A seguir discute-se a teoria mais específi ca utilizada na pesquisa.

2.1 O CréditoO crédito é um instrumento da política fi nanceira a ser

utilizado por empresas e bancos comerciais na venda de seus produtos, como por exemplo, na concessão de em-préstimos, fi nanciamentos ou fi anças (PEREIRA, 2000). O crédito refere-se à troca de um valor presente por uma promessa de pagamento futuro, não certo, devido ao fator de risco (SANTOS, 2011),

O crédito tem a função de captar recursos junto a agen-tes econômicos com posição orçamentária superavitária para suprir as necessidades de fi nanciamento dos agentes com posição defi citária. Desta forma, se faz necessária à análise da capacidade de pagamento do tomador para assegurar ao depositante o retorno dos recursos e, nesse caso a assimetria da informação pode ser um complicador nas transações (WILLIAMSON, 1985). Esta intermediação fi nanceira é a principal atividade de um banco, pois empres-tar dinheiro e fi nanciar a aquisição de bens é a sua principal fonte de renda (SILVA, 2008).

A política de crédito adotada por uma empresa refl ete as necessidades ou sobras de recursos, funcionando como um mecanismo de crédito comercial (FABBRI e MENECHINI,

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2010). Desta forma, conforme evidenciado por Jesus et al. (2011), o crédito infl uencia diretamente a economia de um país, pois devido à fl exibilização da oferta da moeda regula-se seu consumo tanto no nível de empresas, pessoas físicas e também governo. Através do crédito pode-se estimar o cres-cimento da economia, se sua oferta for sem parâmetros pode prejudicar o desenvolvimento, porém quando usado de forma adequada pode alavancar o crescimento e desenvolvimento da economia.

Quando se fala em crédito bancário para pessoa jurídica, percebe-se divisão em três tipos (MAIA, 2007). Primeiramente tem-se o crédito para cobertura de liquidez, operações que são veiculadas ao overnight, caracterizadas pelo curtíssimo prazo como o hot-money. Por conseguinte, observa-se o crédito para operações comerciais propriamente ditas, para fi nanciamento de operações cíclicas da empresa carac-terizadas pelo curto e médio prazo como as operações de capital de giro. Já o crédito para investimentos voltado ao fi nanciamento de ativos fi xos e caracterizado pelo médio e longo prazos e necessidade permanente de capital de giro.

2.2 Análise de CréditoRemonta à revolução industrial a atuação dos bancos

como intermediários fi nanceiros, sendo que a massifi ca-ção de empréstimos os levou a padronizarem as análises exigindo dos tomadores demonstrativos fi nanceiros que comprovassem sua capacidade de pagamento (JESUS et al., 2011), no intuito de minimizar a assimetria da informação na análise de crédito.

Essencial às instituições fi nanceiras a análise de crédito possibilita avaliar os riscos das operações, a capacidade de pagamento do tomador e verifi car a melhor linha de crédito para cada demanda. Logo, o objetivo da análise é chegar a uma decisão a partir de uma avaliação das informações. A confi abilidade na concessão do crédito dependerá da qua-lidade e detalhamento das informações bem como de sua avaliação no contexto econômico em constante mutação (JESUS et al., 2011).

Santos (2011) afi rma que as informações necessárias para a análise subjetiva da capacidade fi nanceira dos tomadores de crédito relacionam-se através dos “Cs” do Crédito: caráter, capacidade, capital, colateral e condições. O caráter refere-se à idoneidade do cliente no mercado de crédito. Desta forma é essencial que o analista tenha infor-mações históricas internas e externas do tomador de cré-dito. Enquanto informações internas entendem-se registros de pontualidade, atrasos, renegociações entre outros. Já as informações externas, referem-se a cheques devolvidos, protestos, falências requeridas entre outros. A capacidade refere-se à habilidade de converter negócios em receita. O capital é medido pela situação fi nanceira do cliente, onde os recursos estão aplicados, como foram fi nanciados. Para o C de colateral tem-se as garantias que o cliente pode oferecer como fator de inibição da inadimplência. Por último, as con-dições relacionam-se à sensibilidade sobre a capacidade de pagamento do tomador de crédito tendo em vista ocorrên-cias adversas externas como crises econômicas, aumento nas taxas de juros, entre outras.

Cada instituição tem liberdade na criação de normas para a análise de crédito. Silva (2008) repassa uma relação

com exemplos de documentos que podem compor o pro-cesso de crédito, entre eles: contrato social e alterações; fi cha cadastral; demonstrações fi nanceiras; planilhas de análise contendo relatório com indicadores fi nanceiros, evolução do patrimônio líquido, fl uxo de caixa, entre outros; relatório da análise de crédito feita internamente; pesquisa de restrições; e projeto de investimento: que caracteriza o negócio proposto, bem como informações das operações pré-existentes.

2.3 Risco de CréditoA cada empréstimo ou fi nanciamento que um banco con-

cede está assumindo o risco de não receber. As razões que levam o cliente ao não cumprimento do contrato assumido pode estar relacionado com seu caráter, sua capacidade de gerir o próprio negócio, ou ainda a fatores externos ad-versos. A boa qualidade da carteira de crédito do banco é um fator de segurança para seus acionistas e depositantes (SILVA, 2008). Muiambo (2011) alerta que o risco de crédito está presente para credores e devedores nas mais diversas situações, elevando a necessidade de gestão de maneira que não prejudique os resultados futuros.

O maior desafi o de um profi ssional que comanda a área de risco de crédito é ajustar a política de fi nanciamento unindo ferramentas estatísticas e computacionais, particularidades regionais e metas de venda ou cobrança. Apesar da difi cul-dade de criar e controlar, quanto mais ajustada à realidade da instituição for a política de crédito mais efi ciente será na manutenção da carteira de clientes e na minimização da inadimplência (BIASOLI, 2013, p. 52).

No mercado de crédito bancário, o Banco Central do Brasil criou uma classificação preventiva dos clientes em nove níveis através da Resolução n.º 2682. Esta escala de risco vai de AA, com 0,00% de provisionamento, ou seja, clientes de baixíssimo risco, até H que se refere a pior ex-posição ao risco, ou seja créditos não recebidos mesmo com todos os esforços de cobrança. O objetivo do Banco Central é contribuir com as instituições para a seleção de clientes de baixo risco, possibilitando a cobrança de juros compatíveis ao nível de risco assumido (SANTOS, 2011).

Na avaliação do risco o analista precisa considerar fatores internos e externos. Os principais riscos de or-dem interna à organização podem ser a existência de profissionais desqualificados, controles inadequados para medir o risco, ausência de modelos estatísticos e concentração de crédito em grupos de clientes com alto risco. Já os fatores externos são de natureza ma-croeconômica, diretamente ligada com a capacidade de pagamento das empresas no mercado de crédito. Fatores como concorrência, carga tributária, inflação, taxa de ju-ros e paridade cambial são de ordem econômica e estão diretamente relacionados com a liquidez das empresas. (MAIA, 2007; SANTOS, 2011). Outros fatores climáticos e assuntos ligados à ecologia, variáveis políticas como segurança pública, políticas de privatização e estatiza-ção e políticas de relações externas, além de variáveis psicossociais como a moda, nível de alfabetização e escolaridade, hábitos culturais e variáveis tecnológicas também podem aumentar o risco na concessão de crédi-to (MAIA, op. cit.). Através desta extensa lista conclui-se

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

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que quanto mais tópicos forem considerados na análise de crédito maiores são a possibilidade de minimização da assimetria da informação e consequentemente, do risco de crédito. Finalizando Biasoli (2013) afirma que existem várias ferramentas estatísticas consolidadas no mercado para diminuir o risco de crédito, mas cada instituição precisa ajustá-la a sua necessidade o que exige além de profissionais habilitados, conhecimento do público alvo da instituição e o histórico de inadimplência da mesma.

2.4 A Inadimplência e a CobrançaA inadimplência consiste no descumprimento de um

contrato por parte do devedor que acarrete alteração do montante (quanto) ou do momento (quando) em que o pagamento é (eventualmente) feito ao credor (CIA, 2010). Logo, um título é considerado inadimplente quando não há pagamento do valor total ou dos juros, quando o pagamento é feito após o vencimento, ou a empresa devedora pede concordata ou tem sua falência decretada.

Biasoli (op. cit.) descreve em seu estudo o quão facili-tado tem sido obter crédito no atual momento econômico brasileiro, tanto em instituições financeiras quanto em lojas de varejo, sendo a oferta divulgada em larga escala. Souza et al. (2013) argumentam que o Brasil passou re-centemente por um grande período de estabilidade finan-ceira que vem auxiliando o desenvolvimento da economia e aprofundando relações mercadológicas. Considerando o exposto pelos autores pode-se visualizar um cenário positivista que viabiliza investimentos que vislumbram desenvolvimento.

Como ao conceder crédito o fi nanciador é exposto ao risco da inadimplência e aos prejuízos oriundos do não pagamento das dívidas por parte de seus clientes Santos (2011) orienta que a partir da concessão do crédito haja o

monitoramento do comportamento do cliente. Este moni-toramento deverá realizar averiguações constantes no am-biente interno e externo em busca de verifi car se ocorreram atrasos, restrições, protestos que imitam sinais de risco que possam tornar clientes idôneos em inadimplentes, ou seja, o processo de cobrança se inicia logo após a concessão de crédito (JONES, 2012).

A política de crédito da instituição credora, a situação fi -nanceira dos clientes e a efi ciência dos serviços de cobran-ça são fatores determinantes para o recebimento de valores em crédito (IUDICIBUS, 2010). Para tanto, se faz necessário que uma carteira de crédito tenha políticas de cobrança bem defi nidas e administradas adequadamente incorporan-do procedimentos para a recuperação do crédito, incluindo o acionamento do avalista e ou cobranças judiciais, se necessário (LEMES JÚNIOR et al., 2002; SANTOS, 2011).

Sabe-se que mesmo o crédito tendo sido concedido cer-cado de precauções e análise minuciosa, o inadimplemento pode ocorrer. Faz-se necessário então o estudo que verifi -que os fatores causadores da inadimplência bem como a melhor maneira de solucionar o problema. Para Blatt (1999) todas as instituições têm clientes problemáticos, tanto o que se apresenta como pagador lento, como o outro que passa por difi culdades fi nanceiras e tem problemas para solucionar seu inadimplemento. Ser empático com o cliente inadimplente é fundamental para conduzir qualquer nego-ciação. A cobrança bem aplicada facilita a relação entre credor e devedor e agiliza o adimplemento que garante o retorno do capital ao mercado, condição necessária para a efi ciência do ciclo de intermediação fi nanceira.

2.5 Alguns Estudos Empíricos A seguir apresenta-se alguns estudos realizados sobre a

inadimplência no Brasil.

Quadro 1: Estudos empíricos sobre inadimplência no Brasil

Autores / Ano Objetivo da Pesquisa Principais Resultados

OREIRO, PAULA, SILVA e ONO, 2006

Aprofundar a discussão sobre a determinação do spread bancário, demonstrando a

importância dos fatores macroeconômicos

A elevada volatilidade da taxa de juros e seu nível são os determinantes macroeconômicos principais do elevado spread,

não permitindo o crescimento do crédito bancário no Brasil.

CAPELLETTO e CORRAR, 2008.

Desenvolver índices de risco sistêmico com variáveis contábeis e de risco para mensurar o

risco sistêmico bancário.

Os indicadores mais relevantes foram a volatilidade da inadimplência, da rentabilidade e da taxa de juros e a média da rentabilidade de do

risco de crédito.

ANNIBAL, 2009.Analisar o comportamento dos índices de

inadimplência bancária no Brasil.A conclusão do estudo é que o indicador mais adequado para medir

a inadimplência stricto sensu é o obtido com base no número de operações em atraso.

CAMARGOS, CAMARGOS, SILVA, SANTOS e RODRIGUES, 2010

Identifi car e analisar os fatores condicionantes da inadimplência nos processos de

fi nanciamento concedidos pelo BDMG no programa GERAMINAS.

Os principais determinantes foram: Tamanho, oportunidades no mercado, setor de atividade, idade, uso dos recursos como capital de

giro, experiência dos sócios, dentre outros.

SILVA, 2013.

Analisar o comportamento da inadimplência no período de 2002 a 2012 em relação à carteira

de crédito das vinte maiores instituições fi nanceiras do Sistema Financeiro Nacional.

Foi demonstrado que o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal estão com os menores índices de inadimplência. Os índices mais altos

foram encontrados no Santander e Itaú-Unibanco.

PINTO e CORONEL, 2013.Verifi car o atual nível de endividamento e inadimplência nas capitais brasileiras, no

período de 2010 a 2012.

Os resultados indicaram que há oscilação no nível de endividamento e tendências de redução entre os níveis de super endividamento e

inadimplência.

continua

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3. Procedimentos MetodológicosPara esse estudo propôs-se realizar uma pesquisa

quantitativa e qualitativa mediante análise documental junto a uma empresa de assessoria de cobrança bancária. A metodologia da pesquisa empregada segue a tipologia de Vergara (2011), que a classifica: • Quanto aos fins a pesquisa foi descritiva, pois se

descreveu as características das empresas gaúchas inadimplentes. A pesquisa foi aplicada, pois abordou a cobrança terceirizada de duas instituições financeiras em uma empresa de assessoria de cobrança. Também foi exploratória pois explorou-se os tipos de crédito, os prazos de inadimplemento, bem como os setores da economia mais inadimplentes, sem aprofundar as razões desse inadimplemento por parte das empresas.

• Quanto aos meios: tratou-se de pesquisa, ao mesmo tempo, de investigação documental, bibliográfi ca e estudo de caso. Documental porque foi feito uso de documentos e relatórios não disponíveis ao público em geral por serem ferramentas de trabalho próprios das assessorias de cobranças desta natureza, mas disponibilizados à pesquisadora. Bibliográfi ca, pois se utilizou livros, revistas, artigos e outros materiais necessários para a revisão da literatura necessária para a sustentação da pesquisa. E, estudo de caso, porque esta pesquisa foi direcionada somente aos clientes pessoa jurídica de duas instituições bancárias atuantes no estado do Rio Grande do Sul com cobrança terceirizada numa empresa específi ca de assessoria de cobrança.

Para este estudo, as características da população fo-ram clientes, pessoas jurídicas, com cadastro no banco de dados da assessoria de cobrança, correntistas dos bancos A e B no estado do Rio Grande do Sul. Foi feita a opção pelo censo para responder a problemática do estudo, logo todos os clientes pessoas jurídicas dos ban-cos A e B em cobrança terceirizada foram considerados. Vale acrescentar, a afirmação de Malhotra et al. (2008) onde o autor observa que o censo elimina os erros de amostragem.

Após coletados, os dados foram analisados por meio de análise de conteúdo (BARDIN, 1977) e de estatística descritiva (YAMAMOTO; 2009) através da construção de

quadros e gráficos que demonstram o comportamento das empresas inadimplentes integrantes do estudo. A população de cada região foi classificada quanto à atividade econômica exercida, usando para tanto a no-menclatura do Código Nacional de Atividade Econômica, quanto ao tipo de operação em débito: financiamentos, operações de capital de giro, antecipação de recebíveis e outros, referindo-se a cartões de crédito empresa-riais, limites e taxas bancárias utilizadas pelo usuário, e tempo inadimplente. Vale acrescentar, que a realização da presente pesquisa se limitou a análise do comporta-mento da inadimplência dos clientes pessoas jurídicas dos Bancos A e B em cobrança numa única empresa de assessoria.

4. Apresentação e Análise dos Resultados A inadimplência tem sua ocorrência determinada por inú-

meros fatores de ordem micro e macroeconômicos. Deste modo a frequência com que ocorre difere considerando-se características regionais. O presente trabalho ao objetivar o estudo da inadimplência das empresas no estado do Rio Grande do Sul com base nos dados coletados junto à carteira inadimplente de dois bancos demonstrou diferentes percentuais de ocorrência da inadimplência nas diversas regiões. O Gráfi co 1 faz referência ao Banco A:

Gráfi co 1: Distribuição Geográfi ca da Inadimplência no Banco A

Cap

ital e

Reg

ião

30,94%

15,49%

8,78% 9,17% 8,40%

15,01%

Reg

ião

Sul

Reg

ião

Nor

te

Reg

ião

Cen

tral

12,21%

Ser

ra G

aúch

a

Reg

ião

Nor

oest

e

Val

e d

os S

inos

Fonte: Dados da pesquisa.

Autores / Ano Objetivo da Pesquisa Principais Resultados

S. SILVA, 2013.Analisar a inadimplência dentro do setor de

vestuário na cidade de Piumhi, Minas Gerais.O estudo concluiu a necessidade do trabalho conjunto entre

empresas e órgãos de proteção de crédito e planejar um roteiro de cobrança que seja rigorosamente seguido.

HERLING, MORITZ, SANTOS, SOARES e BACK, 2013.

Pesquisar quais os fatores que condicionam o aumento da inadimplência estudantil em uma

instituição de ensino superior privada.

Constatou-se que a inadimplência tem relação com fatores pessoais, socioeconômicos, acadêmicos e institucionais. A inadimplência

estudantil não está pautada exclusivamente em fatores fi nanceiros.

FONSECA, FRANCISCO, AMARAL, BERTUCCI, 2013.

Identifi car quais os fatores que determinam a inadimplência no setor comercial do

município de Lagoa Dourada.

Maior risco de inadimplência para: sexo feminino, idade entre 18 e 30 anos, renda entre R$300,00 e R$1.000,00, dívida carnê, créditos

para bens de consumo, fi nanciamento ou consórcio. Maior risco para empresas com idade entre 6 e 20 anos, faturamento entre

R$30.000,00 e R$40.000,00, e mais de 20 anos, com faturamento superior a R$20.000,00.

Fonte: Diversos autores.

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

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Observa-se que a maior concentração de inadim-plência é visualizada na capital gaúcha e respectiva região metropolitana o que também ocorre no Banco B, demonstrado no Gráfico 2. O menor percentual inadim-plente para o Banco A é registrado no noroeste gaúcho enquanto para o Banco B é localizado na região serrana do estado.

Gráfi co 2: Distribuição Geográfi ca da Inadimplência Banco B

Cap

ital e

Reg

ião

Reg

ião

Sul

Reg

ião

Nor

te

Reg

ião

Cen

tral

Ser

ra G

aúch

a

Reg

ião

Nor

oest

e

Val

e d

os S

inos

12,19%

5,79%

12,07%14,97%

13,13%11,52%

30,33%

Fonte: Dados da pesquisa.

Quadro 2: Percentual de inadimplência nos bancos A e B, por região gaúcha

Região do Estado do RS Metropolitana Norte Noroeste Serra Gaúcha Vale dos Sinos Central Sul

Banco A B A B A B A B A B A B A B

ATI

VID

AD

E EC

ON

ÔM

ICA

/ IN

AD

IMP

LÊN

CIA

Agricultura, Pecuária, Produção Florestal e Pesca

0.16% 0.00% 1.58% 0.37% 0.00% 0.97% 1.10% 0.00%

Indústrias de Transformação

12.48% 7.52% 16.32% 18.96% 17.24% 15.21% 21.74% 25.96% 36.33% 26.03% 9.97% 12.08% 12.09% 7.63%

Construção 1.87% 2.39% 2.11% 6.32% 3.45% 1.38% 6.72% 4.81% 3.22% 0.00% 2.80% 2.42% 2.20% 0.42%

Comércio; Reparação de Veículos

Automotores

56.79% 65.50% 70.00% 62.45% 50.57% 62.67% 53.75% 54.81% 42.12% 65.75% 68.22% 63.29% 68.68% 77.97%

Transporte, Armazenagem e

Correio

7.49% 1.65% 3.16% 5.20% 16.67% 6.45% 4.35% 0.96% 2.57% 0.00% 3.74% 1.93% 7.69% 3.39%

Alojamento e Alimentação

5.30% 6.79% 3.16% 3.35% 5.17% 9.22% 6.32% 3.85% 2.57% 2.74% 9.03% 8.70% 5.49% 6.78%

Informação e Comunicação

0.31% 1.83% 1.05% 0.00% 0.40% 0.00% 4.50% 0.91% 0.31% 0.00% 0.55% 1.27%

Atividades Financeiras,

Seguros e Serviços Relacionados

0.00% 0.18%

Atividades Imobiliárias

0.31% 0.00% 0.00% 0.37%

Atividades Profissionais, Científicas e

Técnicas

2.18% 3.30% 0.00% 0.37% 2.30% 0.00% 0.79% 1.92% 1.29% 1.37% 0.93% 0.97%

Atividades Administrativas

e Serviços Complementares

2.34% 3.30% 0.00% 0.74% 3.45% 3.23% 2.37% 5.77% 2.25% 1.83% 0.31% 1.93% 0.55% 0.85%

continua

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4.1 A Inadimplência nas Diversas Regiões GaúchasNesse tópico trata-se da inadimplência relativa a cada

região geográfica do estado do Rio Grande do Sul.Com relação às empresas inadimplentes da região

metropolitana observa-se que os setores que apresen-tam maior participação no montante inadimplente no Banco A é o comércio (56,79%) seguido pelas indústrias de transformação (12,48%) e transportes (7,49%). Já no Banco B visualiza-se concentração acentuada tam-bém no comércio (65,50%), indústria de transformação (7,52%) e alojamento e alimentação (6,79%). Em ambos os bancos as operações de capital de giro prevaleceram com maior percentual inadimplente, 66,05% e 72,61%, respectivamente. Quanto ao tempo inadimplente o Banco A possui maior percentual de endividamento no período de até sessenta dias de atraso (6,55%) em relação ao Banco B, no qual essa faixa não representa 3% do total inadimplente. Observa-se que no Banco A a inadimplência no período compreendido entre 181 a 360

dias é de aproximadamente 63% vindo a diminuir para menos de 25% após o período de um ano o que sugere a efetividade da recuperação de valores neste período. Situação esta que não se observa para o Banco B pois ele apresenta menos de 15% de inadimplência no período entre 181 a 360 dias, porém para período superior a 361 dias apresenta 75,41% do total inadimplente o que leva a interpretação de que ao longo do tempo as atividades de recuperação de crédito não foram efetivas gerando um grande número de clientes inadimplentes neste período.

O quadro a seguir apresenta o percentual de empre-sas que, por setor econômico, tipo de operação e tempo inadimplente compõe o montante de inadimplência nos bancos A e B, para cada região gaúcha na empresa de cobrança terceirizada.

Como já observado na região metropolitana, na região central o setor econômico com maior concentração de inadimplência também é o comércio, com 68,22% no Banco A e 63,29% no Banco B. Em ambas as instituições

Região do Estado do RS Metropolitana Norte Noroeste Serra Gaúcha Vale dos Sinos Central Sul

Banco A B A B A B A B A B A B A B

ATI

VID

AD

E EC

ON

ÔM

ICA

/ IN

AD

IMP

LÊN

CIA Artes, Cultura,

Esporte e Recreação

1.56% 1.65% 0.00% 0.37% 2.49% 0.97%

Educação 0.00% 1.87% 0.40% 0.00%

Saúde Humana e Servços Sociais

0.94% 1.65% 1.98% 0.00% 0.96% 0.46% 0.00% 0.48% 1.65% 0.00%

Outras Atividades de Serviços

6.40% 4.22% 2.63% 1.49% 1.15% 1.84% 1.19% 1.92% 4.18% 0.46% 2.18% 6.28% 0.00% 1.69%

Serviços Domésticos

0.00% 0.46%

TIP

O D

E O

PER

ÃO

Financiamentos 9.68% 4.03% 12.63% 6.52% 18.97% 10.59% 10.67% 17.25% 7.72% 8.03% 13.04% 9.03% 15.38% 7.56%

Operações de Capital de Giro

66.05% 72.61% 68.42% 68.43% 73.33% 59.42% 74.70% 63.25% 71.70% 61.42% 68.22% 75.04% 60.99% 81.02%

Antecipação de Recebíveis

3.99% 8.04% 6.32% 1.98% 6.32% 12.05% 3.16% 2.07% 4.18% 6.14% 4.05% 8.02% 2.20% 0.96%

Outras Modalidades de

Crédito

20.28% 15.32% 12.63% 23.07% 11.38% 17.94% 11.46% 17.43% 16.40% 24.41% 14.33% 7.91% 21.43% 10.46%

TEM

PO

INA

DIM

PLE

NTE

Até 60 dias em Atraso

6.55% 2.75% 8.38% 3.72% 4.60% 1.38% 8.70% 5.77% 2.89% 3.65% 11.84% 13.04% 4.95% 5.08%

De 61 a 180 Dias em Atraso

6.71% 7.71% 7.33% 5.58% 0.57% 9.22% 5.53% 10.58% 5.47% 11.87% 6.54% 13.53% 13.19% 15.68%

De 181 a 360 Dias em Atraso

62.71% 14.13% 57.07% 17.10% 64.37% 20.74% 55.34% 8.65% 64.95% 15.07% 58.26% 34.30% 58.24% 21.19%

Mais de 360 Dias em Atraso

24.02% 75.41% 27.23% 73.61% 30.46% 68.66% 30.43% 75.00% 26.69% 69.41% 23.36% 39.13% 23.63% 58.05%

Fonte: Dados da pesquisa.

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

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as maiores concentrações subsequentes são observadas na indústria de transformação e no setor de alojamento e alimentação. Na região central as operações de capital de giro lideram a posição de inadimplência seguido pelos fi nanciamentos que também apresentam relevante con-centração nesta região. Quanto ao tempo inadimplente, ambos os bancos apresentam mais de 10% da concentra-ção da inadimplência no período de até sessenta dias de atraso, percentual este que diminui signifi cativamente para o período subsequente no Banco A (6,54%) e mantêm-se para o Banco B. Pode-se ainda observar que o percentual de concentração da inadimplência em função do tempo para o Banco A tem características parecidas em relação a capital gaúcha e região metropolitana o que não se ob-serva no Banco B onde as respectivas regiões diferem na caracterização do tempo inadimplente. Esta diferenciação possivelmente se justifi que por políticas diferenciadas utilizadas pelo Banco B nas duas regiões, uma vez que se pode afi rmar que a análise de crédito seja mais efetiva pelas agências da capital e região metropolitana.

A região Sul também tem a maior concentração de inadimplência junto às empresas atuantes no comércio apresentando índices de 68,68% no Banco A e 77,97% no Banco B. Quanto ao tipo de operação as de capital de giro são as que apresentam graus mais significativos tan-to em A (60,99%) quanto em B (81,02%). No Banco A po-de-se também observar que 15,38% das operações são financiamentos sendo que no Banco B somente 7,56% referem-se a esta modalidade de operação. Quanto ao tempo inadimplente vislumbra-se no Banco A um cenário de maior concentração de pendências entre 180 e 360 dias de atraso, sendo que em B a situação inversa se apresenta ocorrendo maior concentração para períodos superiores a um ano, seguindo a tendência apresentada também nas demais regiões. Pode-se inferir que essa distribuição, em função do tempo, sofra interferências originadas pelas políticas de terceirização de cada uma das instituições bancárias ou ainda das estratégias de cobrança utilizadas que sugerem maior ou menor recu-peração de valores.

A região norte possui, entre as atividades econômicas com maior concentração de inadimplência no Banco A, o setor de comércio (70,00%), indústria de transformação (16,32%), e ainda com pequena participação pode-se citar a construção civil, transportes e alimentação e hospedagem. Quanto ao tempo inadimplente a maior concentração de inadimplência ocorre entre 181 e 361 dias e o tipo de operação com maior ocorrência são as relacionadas com financiamento de capital de giro. No Banco B, encontra-se concordância em relação a A na participação da inadimplência nas atividades econômicas de comércio (62,45%), indústria (18,96%), seguidos pela construção civil, transportes e alojamento e alimentação. Entre os tipos de operação o capital de giro apresenta-se mais expressivamente na concentração da inadimplência seguido pelos débitos com limites de contas e cartões empresariais que chegaram a 23,07% de participação. Enquanto que, em relação ao tempo inadimplente, o Banco A possui expressiva concentração no período de até 60 dias de atraso e entre 181 a 360 dias. Em B

verifica-se grande concentração da inadimplência no período superior a 360 dias (73,61%).

Já na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul, o Banco A apresenta como atividades econômicas com maior grau inadimplente, o comércio (50,57%), indústria de transformação (17,24%) e transporte (16,67%). No Banco B repete-se a concentração da inadimplência no comércio (62,67%) e indústria (15,21%), mas o setor de alojamento e alimentação demonstrou expressiva participação com 9,22%. Quanto ao tempo inadimplente nota-se que em A é quase nula a inadimplência encon-trada entre 61 e 180 dias o que deverá ter reflexos nos períodos futuros de inadimplemento para este banco nesta região. Também em B o percentual inadimplente no período de até sessenta dias é relativamente baixo (1,38%) o que também refletirá futuramente no inadim-plemento do banco nesta região. Quanto ao tipo de ope-ração verifica-se que a região noroeste tem expressivo grau de inadimplência em operações de financiamento totalizando 18,97% para o Banco A e 10,59% para o Banco B. Muito embora, as operações de capital de giro estejam à frente com maior grau de inadimplência a exemplo do que ocorre em todas as demais regiões.

A Serra Gaúcha tem demonstrado elevado grau de inadimplência nas atividades econômicas do comércio, indústria, construção civil e alojamento e alimentação em ambos os bancos. Quanto ao tipo de operação prepon-deram as operações de capital de giro que para o banco A apresentam quase 75% de participação e no Banco B 63,25% do total inadimplente. Ainda, no Banco A se tem maior grau de inadimplência entre 181 e 360 dias sendo que no Banco B a maior concentração está em períodos superiores a um ano.

A região do Vale dos Sinos, com sua expressiva indústria calçadista apresenta participação do grau de inadimplência deste setor na ordem de 36,33% para o Banco A e 26,03% para o Banco B. Cabe ressaltar que é a região com maior participação da inadimplência no setor de indústrias de transformação. Como já observado anteriormente o setor do comércio lidera os índices de inadimplência acompanhado pelas operações de capital de giro que percentualmente representam 71,70% das operações pendentes no Banco A e 61,42% no Banco B. Quanto ao tipo de operação as classi-fi cadas como outras modalidades de crédito, que englobam limites e tarifas bancárias e cartões de crédito empresariais, são expressivas tanto em A (16,40%) como em B (24,41%). Em relação ao tempo inadimplente no Banco A as operações até 180 dias vencidas correspondem a pouco mais de 8% do total inadimplente o que pressupõe que ao longo do tempo haverá diminuição dos níveis de inadimplência. Já no Banco B as operações pendentes com até 360 dias de atraso cor-respondem a menos de 30% da inadimplência o que também revela diminuição da inadimplência ao longo do tempo por possuir grande concentração de dívidas antigas.

4.2 Recuperação de Valores InadimplentesA recuperação de ativos, no contexto de terceiriza-

ção de dívidas bancárias e prestação de serviços de cobranças extrajudiciais, envolve inúmeros fatores que determinam maior ou menor grau de sucesso no

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desempenho da atividade. O serviço terceirizado é su-bordinado a políticas, procedimentos e metas estabele-cidos pela instituição contratante. Estratégias internas também são definidas construindo prioridades na exe-cução das tarefas. Além disso, encontram-se fatores externos que influenciam na efetiva recuperação dos valores pendentes. As pressões internas das empresas inadimplentes, como dificuldades financeiras, falências e concordatas, bem como influências da concorrência, ou do mercado em recessão para uma atividade econô-mica específica podem tardar ou mesmo impossibilitar a cobrança.

Analisando-se o período em questão tem-se como resultados obtidos pela assessoria de cobrança, foco do estudo, uma distribuição percentual da recuperação de ativos apresentada pelos gráficos a seguir. O Gráfico 3 demonstra a recuperação atingida para o Banco A. Percebe-se que a região com maior resposta as ativida-des de cobrança é a região central do estado com 9,75% do total inadimplente, seguido pela capital e região metropolitana com 7,25% e região noroeste com 5,25% de sucesso. Os índices menos satisfatórios estão locali-zados nas regiões norte e serrana onde menos de 1% do total em atraso foi recuperado.

Gráfi co 3: Percentual Recuperado por Região Banco A

Cap

ital e

Reg

ião

Reg

ião

Sul

Reg

ião

Nor

te

Reg

ião

Cen

tral

Ser

ra G

aúch

a

Reg

ião

Nor

oest

e

Val

e d

os S

inos

2,50%

0,75%1,75%

9,75%

0,25%

7,25%

5,25%

Fonte: Dados da pesquisa.

Já para o Banco B a recuperação, conforme demons-trado no Gráfi co 4, foi mais expressiva nas regiões sul (21,00%), serra gaúcha (19,00%) e região norte (18,75%). A região com menor recuperação foi a região central (2,25%). Em um contexto geral pode-se concluir que somente 3,93% do total inadimplente no Banco A foi recuperado, enquanto para o Banco B 14,68% dos valores em débitos foram resgatados.

Gráfi co 4: Percentual Recuperado por Região Banco B

Cap

ital e

Reg

ião

Reg

ião

Sul

Reg

ião

Nor

te

Reg

ião

Cen

tral

Ser

ra G

aúch

a

Reg

ião

Nor

oest

e

Val

e d

os S

inos

12,75%

19,00%21,00%

2,25%

18,75%17,25%

11,75%

Fonte: Dados da pesquisa.

Por conseguinte, o quadro abaixo demonstra o percen-tual recuperado em função do tempo em atraso em cada região. Nota-se que para o Banco A, a faixa de tempo em que ocorreu maior recuperação do total inadimplente no período foi entre 61 e 180 dias com expressiva concen-tração nas regiões central e metropolitana. No Banco B os maiores percentuais de recuperação podem ser obser-vados no período inferior a sessenta dias de atraso aonde regiões como o sul rio-grandense chegaram a índices de 50% de recuperação.

Quadro 3: Recuperação Percentual por Região em Função do Tempo Inadimplente

Período de Atraso em Dias >= 60 >61<180 >181<360 >360 >= 60 >61<180 >181<360 >360

Capital e Região Metropolitana

9% 15% 1% 4% 20% 38% 9% 2%

Região Central 8% 27% 1% 3% 0% 0% 4% 5%

Região Sul 0% 6% 1% 0% 50% 27% 6% 1%

Região Norte 0% 0% 1% 0% 30% 11% 28% 6%

Região Noroeste 12% 0% 7% 2% 0% 34% 12% 1%

Serra Gaúcha 0% 0% 0% 3% 17% 25% 34% 0%

Vale dos Sinos 0% 7% 3% 0% 25% 9% 12% 5%

Fonte: Dados da pesquisa.

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

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Enfim, discutir a recuperação de créditos obtida en-volve inúmeras variáveis a serem consideradas. O êxito na negociação com o cliente inadimplente depende entre outros fatores das políticas de crédito e cobrança das instituições financiadoras e da profissionalização do agente intermediário de cobrança. Muito além de uma atividade mecânica, o processo de cobrança envolve conhecimentos, habilidades e atitudes que permitem ao cobrador identificar o comportamento do cliente em um contexto socioeconômico que o aproxima da realidade da empresa inadimplente contribuindo para um desfecho positivo para ambos.

4.3 Discussão dos resultados da PesquisaConforme pode ser observado, em todas as regiões

analisadas certas tendências de inadimplência foram se repetindo. Quanto ao setor econômico a maior concen-tração da inadimplência está em empresas que executam atividades de comércio e indústria, bem como as opera-ções de capital de giro foram as que apresentaram maior participação na inadimplência. Pendências no prazo de até 180 dias são menos expressivas sendo que prevale-cem dívidas com mais de 6 meses de atraso.

Ao se tratar de fatores relacionados às possíveis causas da inadimplência pode-se relacionar algumas hipóteses:a) Análise de crédito deficiente exercida pelas instituições

bancárias;b) Elevação das taxas de juros e inflação;c) Índices de desemprego e elevação descontrolada

do comprometimento da renda com empréstimos e financiamentos;

d) Políticas de relações externas e balança comercial.

Para relacionar esses fatores com o grau de ina-dimplência no período de estudo seria necessária uma análise mais aprofundada do comportamento de cada um destes com as peculiaridades de cada atividade eco-nômica, realidade regional e posicionamento interno das empresas com déficits para compreensão do que motivou o inadimplemento. Sendo assim, abre-se a possibilidade de novas pesquisas que testem a comprovação destes fatores de influência.

Como salientado por diversos autores (JESUS et al., 2011; SANTOS, 2008) a análise para a concessão de cré-dito precisa ser criteriosa para minimizar o risco de ina-dimplemento. Por outro lado, o risco de inadimplemento é característica normal desse tipo de transação (MUIAMBO, 2011), principalmente devido a assimetria de informação nas transações contratuais (WILLIAMSON, 1985). Oque as instituições financeiras precisam é de uma política de crédito e cobrança efetiva (BIASOLI, 2013), incluindo des-de a análise de concessão do crédito até a terceirização dos serviços de cobrança, o que leva a recuperação de dívidas.

Em contrapartida, constata-se que essas empresas, por alguma razão, entraram em dificuldades financeiras (FABRI e MENECHINI, 2010) ou já estariam antes da rea-lização da dívida, porém, sem ter havido a constatação quando da concessão do crédito. Salienta-se que a situa-ção de restrição financeira fere as teorias pecking order

e trade off (MYERS, 1984; MYERS e MAJLUF, 1984). Pecking order porque esta teoria recomenda, dentre ou-tras coisas, cautela nos investimentos, começando por usar os recursos gerados internamente e só seguir para os externos, quando houver garantias de sucesso a ponto de sustentar os pagamentos do principal mais os juros. Em relação a teoria de trade off, empresa inadimplente tende a estar gerando mais pagamento de juros do que os benefícios fiscais possíveis advindos desses pagamentos, o que leva, além da inadimplência, a prejuízos crescentes. Essa constatação está em sintonia com a manutenção do inadimplemento de muitas empresas observadas nos resultados apresentados acima.

5. Considerações FinaisEste artigo teve foco na inadimplência de crédito

empresarial propondo-se a analisar suas características em um determinado período de tempo no estado do Rio Grande do Sul. Deste modo, puderam-se observar inúme-ras variações e desenvolver hipóteses que possam estar relacionadas à inadimplência no período.

Conforme demonstrado através da análise de resulta-dos em todo o estado gaúcho a atividade econômica que apresentou maior inadimplência no período foi o setor de comércio e indústria de transformação. Como se sabe os efeitos positivos e negativos em um destes setores acaba se refletindo no outro em uma relação de interde-pendência entre eles. Também pôde ser observado que a maior concentração da inadimplência ocorreu em período maior a 181 dias de atraso, porém com comportamento diferenciado entre os bancos A e B. Logo, pode-se supor que a inadimplência está diretamente relacionada com dificuldades financeiras sofridas pelas empresas uma vez que as características apresentadas por um pagador lento teriam possibilitado que a recuperação fosse alcan-çada em espaço de tempo menor não gerando grandes montantes após o período de 180 dias.

Considerando o tipo de operação pendente observou-se que as operações de capital de giro destinadas a suprir necessidades de liquidez das empresas foram as que mais se destacaram com grandes percentuais de participação na inadimplência. Quanto à recuperação verificou-se que os maiores percentuais foram no período de até 180 dias para ambos os bancos o que pressupõe mais facilidade em recuperar valores de pendência mais recente. Isto porque, ao longo do tempo os juros inerentes aos atrasos tendem a tornar as operações mais onerosas dificultando sua liquidação.

Verificou-se ainda que as políticas de cobrança podem ser diferenciadas entre os bancos A e B, uma vez que os percentuais de inadimplência diferem entre bancos para setores e prazos. Enquanto em A pôde-se observar um alto grau de inadimplência entre 181 e 360 dias para todas as regiões o percentual de concentração diminuiu significativamente para períodos superiores a 360 dias o que pressupõe facilidades negociais repassadas ao cliente ou ainda efeitos da retomada imediata das ope-rações pendentes não recuperadas até este momento em cobrança extrajudicial. Já no Banco B vislumbrou-se uma situação contrária visto que a tendência apresentada

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para todas as regiões de sua atuação apresenta grande concentração da inadimplência para períodos maiores a 360 dias de atraso, sendo que esta característica pode tanto originar-se das políticas de recuperação de crédito adotadas pelo banco como também refletir a concentra-ção de pendências antigas não recuperadas ao longo dos anos.

Deste modo, os objetivos estabelecidos para o pre-sente estudo foram satisfeitos ao longo da narrativa. A inadimplência empresarial foi analisada no estado do Rio Grande do Sul observando-se o banco de dados da assessoria de cobrança terceirizada, em relação aos bancos A e B. Classificou-se, para tanto, a inadimplên-cia quanto a região geográfica de atuação da empresa inadimplente, atividade econômica, tipo de operação em débito e tempo inadimplente consoante a análise comparativa entre a população dos dois bancos e levan-tamento de possíveis fatores de interferência nos índices apresentados.

Vários pontos interessantes podem ser propostos para pesquisas futuras sobre o tema. Entre eles, propõe-se um estudo interno nas assessorias de cobrança tercei-rizada que possa demonstrar melhorias nos métodos de execução da cobrança, contribuindo para maior êxito de suas atividades. Outro tópico que constitui possível ob-jeto de pesquisa refere-se ao teste da influência micro e

macroeconômica que possa estar relacionada aos índices de inadimplência. Como observado a presente pesquisa visou somente à identificação de possíveis fatores que pudessem se relacionar com a inadimplência. Tem-se ainda a possibilidade de comparar períodos de tempo entre si visando verificar as evoluções da inadimplência bem como sua relação com o ambiente.

As contribuições dessa pesquisa ficam por conta de salientar a importância da análise aprofundada na con-cessão de crédito, devido a assimetria de informação existente entre o tomador e o emprestador. Também evidencia que existe a necessidade de mecanismos de controle para minimizar os conflitos de interesse entre o tomador e o emprestador de recursos, que podem ser cláusulas contratuais restritivas às empresas. Ainda, contribui para a percepção de que muitas empresas não consideram as teorias de pecking order e trade off quan-do gerenciam a sua estrutura de capital.

Enfim, o estudo da inadimplência é um tema de grande interesse de vários públicos. Presente em todos os seto-res econômicos e refletindo tanto sobre o desempenho de empresas como sobre as finanças de pessoas físicas. Esse tema estará sempre, em maior ou menor escala, presente em todas as instituições que oferecem finan-ciamentos independentemente da qualidade da análise e concessão de crédito.

Referências Bibliográfi cas

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A Inadimplência Empresarial em Instituições Bancárias: um Estudo de Caso em Cobrança Terceirizada

35Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 24-35, maio/ago. 2016

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Idalberto José das Neves Júnior Claudiomar Macêdo Fernandes Marcelo Daia Barreto

36 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 36-49, maio/ago. 2016

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

ResumoÉ evidente a prerrogativa da perícia contábil como ins-

trumento técnico e científi co de analisar determinado ato específi co ligado ao patrimônio das entidades, com a capa-cidade de apresentar resultados objetivos para as instâncias decisórias em qualquer âmbito, não só na esfera judicial, como comumente é aplicada, mas também em ambientes extrajudiciais na assistência à administração empresarial. Por esta razão, a partir da vigência da legislação denomi-nada “desoneração da folha de pagamento” proveniente da

Medida Provisória 540, de 2 de agosto de 2011, convertida na Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, na qual, altera a incidência das contribuições previdenciárias devi-das pelas empresas, ampliada por alterações posteriores, enquadrando as empresas de construção de obras de in-fraestrutura, de forma permanente e em caráter impositivo. Tem este estudo o objetivo de mensurar e analisar, através da perícia contábil, os impactos causados pela implan-tação da “desoneração da folha de pagamento” em uma empresa deste setor, para tanto, a pesquisa com fi nalidade exploratória teve como método o estudo de caso e princípio na triangulação de dados, com abordagem quantitativa e descritiva do problema, demonstrando os encargos previ-denciários antes e após a exigência legal, comparando-os em períodos iguais consecutivos, na qual se identifi cou que a nova aplicação legal onerou os custos da empresa analisada em R$ 142.634,32; no entanto, quando do cruza-mento comparativo das exigências legais nos períodos com projeções de cálculos, os resultados apresentam à efetiva desoneração, no período anterior a medida legal vantagem de R$ 254.948,13; no período após a medida vantagem de R$ 187.749,99; portanto o benefício legal foi real para a empresa avaliada, apresentando qualidade na tática de validade externa. Considerando as medidas de ajustes fi s-cais oriundos do governo federal torna-se imprescindível a replicação futura para reavaliar os resultados.Palavras-chave: Processo decisório. Reforma Tributária. Previdência Social. Construção Civil.

AbstractThe prerogative of accounting expertise is evident

as technical and scientific instrument to analyze certain specific act on the assets of the entities with the ability to present objective results to decision-makers at any level, not only in court, as commonly applied, but also in extra-judicial environments in assistance to business

Idalberto José das Neves JúniorTaguatinga – DFDiretoria de Controladoria do Banco do BrasilUniversidade Católica de Brasília (UCB)1

Cursos & Pós-Graduação e Faculdade Mauá (ITCP)2

Doutorando em EducaçãoMestrado em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informaçã[email protected].

Claudiomar Macêdo FernandesItaboraí – RJEspecialista em Perícia Judicial e Extrajudicial e Práticas Atuariais com Docência em Ensino SuperiorCursos & Pós-Graduação e Faculdade Mauá (ITCP)2

[email protected].

Marcelo Daia BarretoBrasília – DFEspecialista em Controladoria, Auditoria e Perícia ContábilCursos & Pós-Graduação e Faculdade Mauá (ITCP)2

Perito [email protected]

1 UCB - Universidade Castelo Branco - CEP 20050-030 - Rio de Janeiro - RJ.

2 ITCP - Instituto Tecnológico de Ciência e Pesquisa - CEP 70331-535 - Brasília - DF.

Artigo recebido em 02/04/2016 e aceito em 17/08/2016

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

administration. For this reason, from the validity of so-called law “payroll tax relief” from the Provisional Measure 540, of august 2, 2011, converted into Law n.º 12.546, of december 14, 2011, which amends the incidence social security contributions payable by companies, expanded by later changes, framing of infrastructure construction companies, permanently and imposing character. Has this study in order to measure and analyze, through forensic accounting, the impacts caused by the implementation of “payroll tax relief” in a company of this sector, therefore, the research exploratory purpose was as a method of case study and principle in triangulation of data, quantitative and descriptive approach to the problem, demonstrating the social security charges before and after the legal re-quirement, comparing them in consecutive equal periods, where it was identified that the new legal application encumbered company costs analyzed in R$ 142.634,32; however, when the comparative cross the legal requi-rements in periods projections calculations, the results showed the effective relief, in the period before the mea-sure cool advantage of R$ 254.948,13; the period after the measure benefit of R$ 187.749,99; therefore the legal benefit was real for the evaluated company, with quality in external validity tactic. Considering the measures of tax adjustments arising from the federal government beco-mes essential to future replication to evaluate results. Keywords: Decision making process. Tax Reform. Social Security. Construction.

1. IntroduçãoÉ notório o peso da carga tributária para a sociedade

brasileira, evidenciada quando comparada a outras eco-nomias mundiais, especificamente em relação à carga tributária sobre a contratação de mão de obra, dados do projeto concluído em dezembro de 2013 Doing Business do World Bank Group, em que se mostrou o valor dos impostos e das contribuições obrigatórias sobre o traba-lho pago pelas empresas, como um percentual dos lucros comerciais, em 189 países pesquisados, o Brasil ocupa o 6.º lugar com maior carga em 40,30%.

Com o intuito de aliviar esta carga, não são recentes as discussões sobre uma maneira de desonerar os custos patronais sobre a folha de pagamentos dos em-pregados. As tentativas iniciais de redução se deram a partir 1.º de janeiro de 1997 com a instituição do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte — SIMPLES, na qual o pagamento da contribuição para seguridade social, a cargo da pessoa jurídica, compõe o pagamento mensal unifi cado de impostos e contribuições sobre a receita bruta mensal auferida, no entanto esta me-dida não fora abrangente e sufi ciente para desonerar todos os setores da economia.

Em 02 de agosto de 2011 o governo federal lançou o Plano Brasil Maior (PBM), uma política industrial, tecnológica e de comércio exterior, reunindo um conjunto articulado de medi-das de apoio à competitividade do setor produtivo brasileiro, na qual entre essas medidas, um dos eixos fundamentais, é a redução dos custos de produção, buscando atenuar os dis-pêndios associados aos fatores trabalho e capital por meio

da diminuição dos encargos previdenciários incidentes sobre a folha de pagamentos devidos pelas empresas.

Em termos práticos, somente com a criação de um novo tributo, a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), é que efetivamente dar-se inicio a denominada “desoneração da folha de pagamento”, por intermédio da Medida Provisória 540, de 2 de agosto de 2011, convertida na Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, ampliada por alterações posteriores, consistindo na substituição da base de incidência da Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) sobre a folha de pagamentos, prevista no inciso I do artigo 22 da Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991, por uma incidência sobre a receita bruta.

A nova forma de contribuição consiste na aplicação de uma alíquota, 1% ou 2%, sobre a receita bruta au-ferida mensalmente, a depender da atividade, do setor econômico e do produto fabricado, por parte da empresa contribuinte enquadrada na “desoneração”, em substitui-ção aos 20% incidentes sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título na folha de pagamentos mensal.

Em virtude das alterações trazidas pelo artigo 13 da Lei n.º 12.844, de 19 de julho de 2013, que incluiu na “desoneração da folha de pagamento” as empresas de construção de obras de infraestrutura, enquadradas nos grupos 421, 422, 429 e 431 da Classifi cação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), com vigência a partir de 1.º de janeiro de 2014.

Os grupos incluídos compreendem as empresas de construção de autoestradas, vias urbanas, pontes, túneis, ferrovias, metrôs, pistas de aeroportos, portos e redes de abastecimento de água, sistemas de irrigação, sistemas de esgoto, instalações industriais, redes de transporte por dutos (gasodutos, minerodutos, oleodutos) e linhas de eletricidade, instalações esportivas; as reformas, manutenções correntes, complementações e alterações; construção de estruturas pré-fabricadas in loco para fins diversos, de natureza permanente ou temporária; exe-cutadas por empreitada ou subempreitada; bem como as atividades especializadas na preparação dos locais destinados à construção e à mineração.

Tendo em vista a relevância do setor, uma vez que para o desenvolvimento da economia de um país a infraestrutu-ra é fundamental em todos os aspectos, seja diretamente para a população ou por possibilitar a expansão de outras atividades econômicas, quais são os impactos causados pela implantação, obrigatória, da “desoneração da folha de pagamento”?

Para a Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) que realiza a mensuração do impacto fiscal da “desonera-ção”, por força de lei regulamentada, de janeiro a maio de 2014 a renúncia fiscal, calculada como a diferença entre o valor da CPP que deveria ser recolhida caso não hou-vesse “desoneração”, deduzidos os pagamentos em GPS (Guia de Previdência Social) que continuam obrigatórios, e o valor da CPRB efetivamente recolhida por meio de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF), para o setor de obras de infraestrutura, foi em média de R$ 103,43 milhões, ou seja, segundo este levantamento de fato houve desoneração nos custos para 1.852 empre-sas contribuintes, em média, no mesmo período.

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Idalberto José das Neves Júnior Claudiomar Macêdo Fernandes Marcelo Daia Barreto

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Como um dos objetivos da “desoneração” é propor-cionar, com a redução de custos, a geração de um maior número de empregos formais, neste mesmo relatório, a RFB apresenta através de tabelas a quantidade mensal de vínculos, ou seja, o número de trabalhadores vincula-dos às empresas avaliadas, no setor em questão, entre janeiro a maio de 2014 houve um aumento de 1.014.640 novas contratações, de 32.357 para 1.046.997, em ter-mos percentuais um aumento de 3.136%.

Estudo realizado na análise do impacto da “desone-ração” para empresa metalúrgica do setor de autopeças na cidade de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, apresentou resultado vantajoso, com redução, apro-ximada, de 50% nos custos da folha de pagamento frente ao faturamento líquido, no período analisado, no entanto não houve aumento no número de vínculos empregatícios (ECKERT; MECCA; BIASIO; SILVEIRA, 2013).

O presente estudo tem o objetivo de mensurar e ana-lisar o impacto causado por esta obrigação legal, com o diferencial da avaliação específica, escolheu-se como procedimento técnico o estudo de caso em uma empresa, com principal atuação no Estado do Rio de Janeiro, cujo objeto social é a construção e recuperação de obras de arte especiais e correntes, tais como pontes, viadutos, elevados, passarelas, bueiros celulares e mirantes, com enquadramento no grupo 421 da CNAE, na classe e subclasse 4212-0/00, para responder a seguinte questão: houve ou não desoneração dos custos previdenciários patronais sobre a folha de pagamentos?

Para tanto será demonstrado os encargos previdenciá-rios pagos pela empresa antes e após a obrigação legal de enquadramento na “desoneração da folha de paga-mento”, por um período de tempo igual e consecutivo, para que haja possibilidade comparativa, com projeção de cálculos, caso houvesse “desoneração”, no período anterior a exigência, e projeção após caso não houvesse, bem como demonstrar o número de trabalhadores diretos vinculados nos períodos.

2. Referencial Teórico

2.1 Da Perícia ContábilA tomada de decisão é um processo inevitável, dia-

riamente isto ocorre para todos, seja para as pessoas físicas, quanto indivíduo, como para as jurídicas, quanto organizações empresariais ou não. Chiavenato (2003, p. 348) destaca a importância deste processo:

A organização é um sistema de decisões em que cada pessoa participa consciente e racionalmen-te, escolhendo e decidindo entre alternativas mais ou menos racionais que são apresentadas de acordo com sua personalidade, motivações e atitudes. Os processos de percepção das situa-ções e o raciocínio são básicos para a explicação do comportamento humano nas organizações: o que uma pessoa aprecia e deseja influencia o que se vê e interpreta, assim como o que vê e interpreta influencia o que aprecia e deseja. Em outros termos, a pessoa decide em função de sua percepção das situações. Em resumo, as pessoas

são processadores de informação, criadoras de opinião e tomadoras de decisão.

Sendo assim, para tomar-se uma decisão sobre algo é preciso que aja uma ou mais opiniões sobre os fatos ligados a questão, para que se faça uma alternativa, mas para criar a opinião é imprescindível que se tenha informações e da-dos sobre a questão.

De acordo com Sá (2011), quando alguém interessado precisa de uma opinião válida, obter prova competente para que se decida, precisa de um entendedor experiente, um perito que ensejará opinião sobre verifi cação feita.

Entre as principais fi nalidades do resultado do trabalho do perito, que é a prova pericial, segundo Sá (op. cit.), são as de matéria pré-judicial, na abertura de processos, as judiciais, regimentais, para decisões administrativas, para decisões de âmbito social e para fi nalidades fi scais.

No âmbito das decisões administrativas relacionadas ao patrimônio das entidades, cabe a perícia contábil a verifi ca-ção, como conceitua Sá (2011, p. 3):

Perícia contábil é a verifi cação de fatos ligados ao patrimônio individualizado visando oferecer opinião, mediante questão proposta. Para tal opinião reali-zam-se exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações, arbitramentos, em suma todo e qualquer procedimento necessário à opinião.

O reforço conceitual vem do Conselho Federal de Contabilidade, na Norma Brasileira de Contabilidade Técnica NBC-TP 01 — Perícia Contábil, Resolução CFC n.º 1.243, de 10 de dezembro de 2009, item 2, que:

A perícia contábil constitui o conjunto de proce-dimentos técnico-científi cos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profi ssionais, e a legislação específi ca no que for pertinente.

(BRASIL, 2009)

Portanto, é indiscutível o papel da perícia contábil como elemento confi ável e útil para a decisão, alerta Sá (op. cit.) desde que como prova se baseie em elementos verdadeiros e competentes, visando à confi abilidade da opinião que deverá ser para terceiros.

2.2 Da Perícia Contábil ExtrajudicialA perícia extrajudicial ocorre fora do poder judiciário, de

acordo com Alberto (2012), pode-se dividir segundo suas fi nalidades: demonstrativas, cujo intuito é demonstrar a ve-racidade ou não do fato ou coisa previamente especifi cada na consulta; discriminativas, colocar nos justos termos ou interesses de cada um dos envolvidos na matéria duvido-sa; e por fi m as comprobatórias, que visam à comprovação das manifestações patológicas da matéria periciada, como fraudes, desvios, simulações e outras.

Para Alberto Filho (2011), perícia sendo a diligência realizada como meio de prova para apurar tecnicamen-te um fato com o principal escopo de instrução de um

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

procedimento, na qual deve inquirir de maneira minuciosa o fato e sobre o mesmo concluir, dentro da especialidade do analisador.

Logo, a perícia contábil extrajudicial é a prova técnica administrativa como melhor método, não se confundindo com o da auditoria, uma vez que sua metodologia básica é analítica e com amplo domínio para averiguar o fato contábil na exterioridade da esfera judicial (SÁ, 2011).

2.3 Do Perito ContábilA defi nição apresentada por Alberto Filho (op. cit.) é

inequívoca ao esclarecer que perito é todo homem que tiver comprovada habilitação técnica especializada, com autorização profi ssional para elucidar um fato objeto, seja judicial ou administrativa, desde que amparado por conhe-cimentos científi cos específi cos.

Por esta razão, ao tratar da qualidade da perícia contábil Sá (op. cit.) caracteriza a capacidade profi ssional, além da capacidade legal, do perito contábil por: conhecimento teórico da contabilidade; conhecimento prático das tec-nologias contábeis; experiência em perícias; perspicácia; perseverança; sagacidade; conhecimento geral de ciên-cias afi ns à Contabilidade e; índole criativa e intuitiva. Sem esquecer-se das virtudes morais e éticas.

Com base nestas características e ainda com a ajuda de Alberto Filho (op. cit.), podem-se listar os requisitos indispensáveis no exercício do trabalho pericial:

1) o perito não se deixar infl uenciar por terceiros, ou informações que não tenham materialidade e consistências;

2) realizar a diligência pertinente ao objeto da perícia;3) apurar todos os fatos que envolvem o bem periciado;4) realizar as pesquisas indispensáveis para força

probante da perícia;5) aplicar a mais adequada técnica para com sua

conclusão atingir o resultado fi nal perseguido;6) existência de precisa conexão entre a diligência, os

fatos colecionados e a conclusão técnica.

Para empreender, pois, o seu papel com efi ciência, re-força Hoog (2010), que o perito contábil deverá observar os princípios contábeis, base para estabelecer os relatórios em que atestará veracidade do que propõe.

2.4 Contribuição Patronal Previdenciária (CPP)A Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, Carta Magna Brasileira, tem como fundamentos, entre outros, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, constituindo entre seus objetivos a promoção do bem-estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Garantindo, através do Estado Democrático de Direito, os direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.

Para assegurar os direitos relativos à saúde, à previ-dência e à assistência social, a Carta Magna Brasileira,

determina um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade que compreende a seguridade social, cujo fi nanciamento é defi nido pelo artigo 195, que se lê:

Art. 195. A seguridade social será fi nanciada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamen-tos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do traba-lho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

(BRASIL, 1988)

A Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991, cria a Lei Orgânica da Seguridade Social, dispondo sobre a organização da seguridade social, instituindo plano de custeio e outras providências, no título VI que trata “do fi nanciamento da seguridade social”, especifi ca os contribuintes, entre eles a empresa, defi nida pelo artigo 15:

Art. 15. Considera-se:I — empresa — a fi rma individual ou sociedade que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural, com fi ns lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da administração pública direta, indireta e fundacional;

(BRASIL, 1991)

A contribuição a cargo da empresa, destinada à seguri-dade social, constante do inciso I, artigo 22 da referida lei, defi ne:

vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adianta-mentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de ser-viços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.

(BRASIL, 1991)

Portanto, o tributo devido pela empresa, denominado Contribuição Patronal Previdenciária (CPP), é de 20% sobre as remunerações pagas em folha de pagamento mensal, cujo resultado é destinado à Previdência Social e sua arrecadação administrada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), conforme regulamen-tado pela Instrução Normativa RFB n.º 971, de 13 de novembro de 2009.

A forma de constituição do crédito tributário à Previdência Social, relativo à Contribuição Patronal Previdenciária (CPP), se dá pela apresentação mensal do documento

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Idalberto José das Neves Júnior Claudiomar Macêdo Fernandes Marcelo Daia Barreto

40 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 36-49, maio/ago. 2016

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

declaratório da obrigação, a Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), conforme artigos 456 e 460 da mesma Instrução Normativa. O recolhimento por meio de Guia da Previdência Social (GPS) na rede arrecadadora, conforme artigo 395 do referido regulamento legal.

2.5 Desoneração da Folha de PagamentoA denominada “desoneração da folha de pagamen-

to”, consiste exatamente na tentativa de reduzir a carga tributária devida pelas empresas sobre as remu-nerações pagas em folha de pagamentos, para melhor entendimento é importante conhecer as medidas legais que foram tomadas para chegar-se na prática deste projeto.

As primeiras iniciativas foram promovidas pela Lei n.º 9.317, de 5 de dezembro de 1996, revogada pela Lei Complementar n.º 123, de 14 de dezembro de 2006, que institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte — Simples Nacional — defi-nido pelo artigo 12 como um Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, na qual implica o recolhimento mensal, mediante documento único de arrecadação, de impostos e contribuições, cujo valor será determinado pela aplicação de alíquota sobre a receita bruta auferida no mês, a Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) compõe este pagamento, conforme inciso VI do artigo 13 da referida Lei Complementar.

Porém, o Simples Nacional não abrange todos os setores da economia, mesmo com o advento da Lei Complementar n.º 147, de 7 de agosto de 2014, que amplia o quadro de setores para opção a este regime tributário; portanto não sendo sufi ciente.

Somente com a edição da Medida Provisória 540, de 2 de agosto de 2011, é que em termos práticos dar-se inicio a “desoneração da folha de pagamento”, substituindo a Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) de 20% sobre as remunerações pagas em folha de pagamento mensal, pela incidência da alíquota de 2,5% sobre o valor da recei-ta bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos, para as empresas de serviços de tecnologia da informação (TI), e tecnologia da informa-ção e comunicação (TIC).

Foram incluídas nesta substituição à alíquota de 1,5% sobre o mesmo critério de valor da receita bruta auferida, as empresas que fabricassem determinados produtos classifi cados na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), conforme artigo 8.º desta mesma Medida Provisória.

A implementação da incidência sobre a receita bruta se deu por meio da criação de um novo tributo, a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB). Esta medida de caráter obrigatório foi restrita, como apresentado, a determinadas atividades e a de-terminados produtos, com prazo de vigência até 31 de dezembro de 2012, apesar de não suficiente, desenca-deou uma sequência de aplicações legais na tentativa de maior abrangência da “desoneração”, sendo con-vertida na Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011.

Posteriormente, com a Medida Provisória n.º 563, de 3 de abril de 2012, convertida na Lei n.º 12.715, de 17 de setembro de 2012, em seu artigo 55, que altera os artigos 7.º e 8.º da Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, amplia-se o rol das empresas enquadradas na “desone-ração”, incluindo setores econômicos da sociedade de grande importância, como os de transportes rodoviários, aéreos e marítimos, e ainda o setor hoteleiro. Alterando as alíquotas da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) para 1% e 2%, bem como o prazo de vigência até 31 de dezembro de 2014.

Em seguida, a Medida Provisória n.º 601, de 28 de de-zembro de 2012, com vigência encerrada em 3 de junho de 2013, e posteriormente a Lei n.º 12.844, de 19 de julho de 2013, em seu artigo 13, trouxe novas mudanças, amplian-do as possibilidades de enquadramento para os setores da construção civil e de obras de infraestrutura, empresas de transporte ferroviário e metroferroviário de passageiros, aplicando-se às empresas do comércio varejista com ativi-dades listadas pelo Anexo II incluído na Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011.

Com a edição da Medida Provisória n.º 651, de 9 de ju-lho de 2014, convertida na Lei n.º 13.043, de 13 de novem-bro de 2014, em seu artigo 50 altera o prazo de vigência da “desoneração da folha de pagamento”, até então com prazo determinado, passa a ser permanente.

Para tornar os efeitos práticos da “desoneração”, de caráter impositivo às empresas enquadradas, o Decreto n.º 7.828, de 16 de outubro de 2012, regulamenta a exigência le-gal por meio da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), cuja apuração e recolhimento deverão ser de forma centralizada pelo estabelecimento matriz, através de Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF) no código de receita 2985, para as empresas conditas no artigo 7.º da Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, e no código 2991, para as referidas no artigo 8.º da mesma lei, assim defi nido pelo Ato Declaratório Executivo Codac n.º 86, de 1.º de dezembro de 2011.

Cujo crédito tributário à Previdência Social será cons-tituído por meio da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), mensalmente, na qual deverá conter informações relativas à Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) administrada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), inciso XII, artigo 6.º da Instrução Normativa RFB n.º 1.110, de 24 de dezembro de 2010.

Importante destacar que a nova contribuição apenas substitui a Contribuição Patronal Previdenciária (CPP), as empresas continuam sujeitas ao cumprimento das demais obrigações previstas na legislação previdenciária.

3. Estudo de Caso

3.1 Classifi cação da PesquisaInicialmente a pesquisa consiste no estudo da legislação

tributária que trata da contribuição previdenciária devida pelas empresas sobre as remunerações pagas em folha de pagamento, especifi camente na implantação da “deso-neração da folha de pagamento”, cujo intuito é de reduzir custo tributário. Portanto, do ponto de vista da sua natureza

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

trata-se de pesquisa aplicada, uma vez que objetiva gerar conhecimento com base na legislação previdenciária, para aplicação prática (MENEZES; SILVA, 2001).

Para esta análise usou-se como procedimento técnico o estudo de caso, inquirindo de maneira minuciosa o fato, o impacto da implantação da “desoneração da folha de pagamento” em uma empresa de construção de obras de infraestrutura, num determinado período, tornando a classificação da pesquisa, quanto à abordagem do problema, quantitativa e descritiva, uma vez que as informações podem ser traduzidas em números e o am-biente analisado é o natural, ou seja, contato direto com os documentos contábeis para coleta de dados, com a finalidade exploratória.

3.2 O Caso da Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

O estudo de caso está baseado em uma empresa de construção de obras de infraestrutura, pois esta atividade econômica foi incluída na “desoneração da folha de pa-gamento” pelo artigo 13 da Lei n.º 12.844, de 19 de julho de 2013, com vigência a partir de 1.º de janeiro de 2014, alterando assim a Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, que trata desta obrigação legal.

Por se trata de um setor relevante para a economia do país é importante avaliar o impacto causado pela exigên-cia legal, se de fato desonerou os custos previdenciários objetivados, em um caso particular, comparando com os resultados vantajosos demonstrados por relatório oficial do governo federal.

A empresa em questão possui sede no Estado do Rio de Janeiro com objeto constante de seu contrato social a construção de obras de arte especiais e correntes, tais como pontes, viadutos, elevados, passarelas, bueiros ce-lulares e mirantes; construção civil; pavimentação, terra-plenagem e construção de estradas; consultoria técnica, planejamento, estudos e projetos; transporte rodoviário em geral, inclusive de cargas indivisíveis; locação de máquinas, equipamentos e instalações. Cuja atividade principal, considerada aquela de maior receita auferida ou estimada, está enquadrada no grupo 421 da CNAE, classe e subclasse 4212-0/00 — construção de obras de arte especiais — efetivamente obrigada a “desoneração da folha de pagamento”.

Fundada em 1975, com quarenta anos de existência, foi pioneira na utilização em seu sistema de construções de concreto protendido e/ou armado, pré-fabricado em usina, integrando as atividades de execução, transporte e montagem, com equipamentos próprios e especialmente desenvolvidos para atender aos organismos ligados à construção de rodovias e ferrovias. Com mais de mil obras catalogadas nos estados da Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, principal área de atuação.

Com capital social integralizado, de R$ 15.500.000,00, apresentou na Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) findo em 31 de dezembro de 2014 o lucro líquido de R$ 9.355.961,35. Com 356 trabalhadores registrados no final de dezembro de 2014 e em 28 de fevereiro de 2015 apresentou 338 vínculos empregatícios.

Quanto aos encargos previdenciários sobre as remu-nerações pagas em folha de pagamentos atualmente a empresa arcar com os seguintes custos: Riscos Ambientais do Trabalho (RAT) em 3%, risco grave, com FAP (Fator Acidentário de Prevenção) em 1,5980% aplicado sobre a alíquota RAT resultando o percentual de 4,7940%; Outras Entidades ou Terceiros em 5,8%, contribuição destinada às entidades Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Serviço Social do Comércio (SESC), Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC), Serviço Social da Indústria (SESI) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).

O recolhimento destinado ao Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS) até o mês de dezembro de 2013 caracterizado pela Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) foi de 20% sobre as remunerações pagas pela folha de pagamentos. A partir de janeiro de 2014 a empresa passar a ter como encargo previdenciário patronal a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), substituindo a CPP, em 2% sobre o valor da receita bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.

3.3 A Aplicação da Perícia Contábil para o Estudo Proposto

A contabilidade é a ciência que tem como objeto de estudo o patrimônio das entidades em geral, seja física, jurídica, com ou sem fi ns lucrativos, de natureza comercial, industrial ou de serviços. Devido a sua abrangência, natu-ralmente, criaram-se ramifi cações, possuindo como ramo a contabilidade tributária que se dedica ao estudo dos princípios, conceitos, técnicas, métodos e procedimentos que se aplicam à apuração, análise, cumprimento das obri-gações principais e acessórias do que tange aos tributos (POHLMANN, 2010).

Para a aplicabilidade da contabilidade, em qualquer ramo, é necessário o uso de técnicas, provenientes das experiências; e das tecnologias, com uso dos conheci-mentos científicos. Conforme afirma Sá (2011), sendo a perícia contábil uma tecnologia da contabilidade, cujo objeto é a verificação de fatos, através de exames, in-dagações, avaliações, do patrimônio específico, com o intuito de dar uma opinião para a tomada de decisão, independentemente de seu ambiente, com o intuito de buscar a verdade dos fatos. É a perícia contábil tributária o melhor instrumento para responder à questão do pre-sente estudo.

Tendo em vista ainda, Sá (op. cit.) deixa claro que, perícia não é só aquela que se faz para efeitos judiciais e de litígio, como comumente é utilizada, mas toda e qualquer tarefa para a qual se exige uma opinião profun-da e específica, no sentido de gerar um esclarecimento, por especialista, um perito, capacitado a opinar após examinar a questão. Portanto, a esta perícia dá-se a classificação de extrajudicial, pois se encontra fora da aplicação da esfera judiciária. Com base em Alberto (2012), pode-se classificá-la, quanto sua finalidade em demonstrativa, pois demonstra a veracidade ou não do fato arguido.

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Assim, para o estudo proposto, a partir deste mo-mento, pode-se caracterizar de forma completa e clara como perícia contábil tributária extrajudicial demonstra-tiva, a tecnologia usada para se alcançar o objetivo de mensurar e analisar, com especificidade, os impactos tributários causados pela implantação da “desonera-ção”, legal, da contribuição previdenciária patronal na empresa de construção de obras de infraestrutura pelo método casuístico.

3.4 Protocolo de PesquisaA estratégia deste estudo de caso está baseada em

um projeto de caso único, ou melhor, uma única unida-de de análise, comparando-se a um experimento único para testar a teoria, neste trabalho, a intenção é testar a

legislação vigente da “desoneração da folha de pagamen-to” para confirmar se de fato ela alcança sua propositura de redução de custo previdenciário, ressaltando que a empresa analisada satisfaz as condições para testar a tese legal (YIN, 2009).

Quanto à abordagem do estudo de caso, os procedi-mentos da pesquisa esta estruturada nas etapas indica-das por Yin (op. cit.), primeiro, definição e projeção, cujo melhor método identificado é o casuístico para avaliar a exigência legal, selecionando nesta etapa o caso espe-cífico e projetando a coleta dos dados necessários para análise, cujos dados solicitados para extração foram ba-seados nos seguintes documentos da empresa do caso, conforme quadro de verificação da fidedignidade das diferentes fontes de evidências:

Quadro 1: Triangulação de dados das fontes de evidências

Fonte de evidência documental Confi rmabilidade

DIPJ (Declaração de Informações Econômico-fi scais da Pessoa Jurídica) ano calendário 2012

Recibo de entrega da DIPJ 2013 em 28/06/2013 à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)

DIPJ (Declaração de Informações Econômico-fi scais da Pessoa Jurídica) ano calendário 2013

Recibo de entrega da DIPJ 2014 em 25/06/2014 à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)

Balanço Patrimonial (BP) fi ndo em 31 de dezembro de 2014

Livro Diário n.º 39, recibo de entrega de ECD (Escrituração Contábil Digital) em 18/06/2015 pelo Sistema Público de Escrituração Digital — Sped da Secretaria da

Receita Federal do Brasil (RFB)

Demonstração de Resultados do Exercício (DRE) fi ndo em 31 de dezembro de 2014

Livro Diário n.º 39, recibo de entrega de ECD (Escrituração Contábil Digital) em 18/06/2015 pelo Sistema Público de Escrituração Digital — Sped da Secretaria da

Receita Federal do Brasil (RFB)

ECF (Escrituração Contábil Fiscal) — Imposto de Renda de Pessoa Jurídica ano calendário 2014

Recibo de entrega de Escrituração Fiscal Digital em 09/09/2015 pelo Sistema Público de Escrituração Digital — Sped da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)

DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais) mensal do período de janeiro de 2014 a

fevereiro de 2015

Recibos de entrega das DCTF à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)

Memória de cálculo das apurações tributárias do período de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015

DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais) mensal do período de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015

Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf) no código de receita 2985 da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) competências janeiro de

2014 a fevereiro de 2015

Extrato de arrecadação da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) do código de receita 2985 do período de 01/01/2014 a 20/03/2015

Folhas de Pagamentos mensais do período de dezembro de 2012 a fevereiro de 2015

Livro Razão n.º 32 para averiguação 12/2012; n.ºs 33, 34, 35 e 36, ano de 2013; n.ºs 37, 38 e 39, ano de 2014; n.º 40 para averiguação 01/2015 e 02/2015

Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP)

mensal do período de dezembro de 2012 a fevereiro de 2015

Protocolo de envio de arquivos SEFIP (Sistema Empresa de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social) via Conectividade Social à Caixa Econômica Federal

Memória de conferência da GPS (Guia de Previdência Social) do período de janeiro de 2012 a fevereiro de 2015

Comprovante de Declaração das Contribuições a Recolher à Previdência Social e a Outras Entidades e Fundos por FPAS Empresa — SEFIP

GPS (Guia de Previdência Social) do período de janeiro de 2012 a fevereiro de 2015

Extrato de Contribuições de Empresas e Equiparados da Previdência Social na Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)

Fonte: Elaboração nossa.

Na segunda etapa, preparação, coleta e análise, realizaram-se a pesquisa da literatura e legislação que trata do tema de estudo, com a coleta dos dados nos

documentos solicitados e fornecidos pela empresa do caso, conforme quadro 1, com descrição da relevância e evidência dos dados coletados, atendendo o princípio da

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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triangulação de dados sugerida por Yin (2009), com base nas fontes, demonstrando os encargos previdenciários antes e após a obrigatoriedade da “desoneração da folha de pagamento”.

Yin (2009) indica táticas de teste para determinar a qualidade do projeto, como a validade do constructo, atendida nesta pesquisa por utilizar fontes de evidências convergentes na investigação, ou seja, cruzamento dos dados convalidados, estabelecendo encadeamento de evidências.

A terceira etapa, análise e conclusão, de acordo com os resultados demonstrados dos encargos previdenciá-rios patronais sobre a folha de pagamentos, foram feitas projeções de cálculos nos períodos analisados realizan-do o cruzamento das exigências legais em ambos os momentos para comparação dos impactos tributários causados, com desenvolvimento das implicações e con-siderações finais.

Considerando as etapas executadas, a confi abilidade da pesquisa é demonstrada pelos resultados apresentados nas tabelas e gráfi cos que se seguirão, pressupondo inequivo-camente a necessidade de um banco de dados coletados das fontes documentais elencadas no quadro 1, que condu-zirá novamente este estudo aos mesmos resultados.

Não sendo exaustivo, para concluir, o projeto de pesqui-sa cumpriu com o sugerido por Yin (2009), relativos a outros testes de qualidade, fi dedignidade, uma vez que foi checa-da a autenticidade das fontes de evidências, credibilidade, demonstrando seu caráter crível, confi rmabilidade, a partir da convalidação junto ao Fisco por meio das declarações principais e acessórias dando fi delidade aos dados.

4. Apresentação e Discussão dos Resultados

4.1 Contribuição Previdenciária a Cargo da EmpresaCom base no inicio da obrigação de enquadramento na

“desoneração da folha de pagamento”, a partir de janeiro de 2014 para as empresas de construção de obras de

infraestrutura, levantou-se quanto foi pago de contribui-ção previdenciária a cargo da empresa no período de quinze competências antes e, de igual período posterior à obrigação legal, para demonstrar o recolhimento, respec-tivamente, da Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) — antes da “desoneração”, bem como a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) — após a “desoneração”.

A decisão quanto ao período de tempo determinado deu-se de acordo com os dados fornecidos pela empresa do caso, até fevereiro de 2015, considerando o início da obrigação a partir de janeiro de 2014 e ainda a competên-cia referente ao 13.º salário dos empregados no ano de 2014 tem-se assim quinze competências avaliadas após a “desoneração”, para que haja o comparativo adequado tomou-se como critério avaliar o mesmo período de tem-po anterior.

Os subtópicos a seguir apresentam os valores devidos à Previdência Social descontados em folha de pagamen-to dos empregados — Segurados — e dos autônomos ou retiradas pro labore dos sócios — Contribuintes. A contribuição previdenciária a cargo da empresa está apresentada nas colunas — CPP (20% sobre Fl Pagto) e CPRB (2% s/ Receita Bruta) — e os demais encargos pa-tronais — RAT (Riscos Ambientais do Trabalho) e “Outras Entidades”, cujos valores são recolhidos através da GPS (Guia de Previdência Social).

4.1.1 Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) — antes da “desoneração”

No período de dezembro de 2012 a competência do 13.º salário de 2013 a empresa recolheu à Previdência Social, com base no inciso I, artigo 22 da Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991, 20% sobre o total das remu-nerações pagas ou creditadas em folha de pagamento, a título de Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) o valor total de R$ 1.158.901,54, conforme demonstrado na tabela a seguir:

Tabela 1: Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) — antes da “desoneração”

Competência N.º de Empregados

Remunerações em Fl Pagto Segurados Contribuintes

CPP (20% sobre a Fl

Pagto)RAT Outras

Entidades GPS (Total)

15 12/2012 263 368.101,29 33.193,53 - 73.620,26 17.646,78 21.349,87 145.810,44

14 13/2012 252 287.713,74 25.317,88 - 57.542,75 13.793,00 16.687,40 113.341,02

13 01/2013 264 373.678,95 33.615,85 - 74.114,11 17.914,17 21.673,38 147.317,51

12 02/2013 267 362.929,21 32.189,35 - 71.480,21 17.398,83 21.049,89 142.118,28

11 03/2013 266 365.754,74 32.500,98 - 71.819,43 17.534,28 21.213,77 143.068,47

10 04/2013 263 350.870,26 31.231,92 - 68.901,44 16.820,72 20.350,48 137.304,56

9 05/2013 255 345.527,43 30.576,23 - 67.983,44 16.564,58 20.040,59 135.164,84

8 06/2013 262 369.301,51 32.805,54 - 73.780,42 17.704,31 21.419,49 145.709,76

7 07/2013 273 423.514,54 38.609,47 - 83.758,38 20.303,29 24.563,84 167.234,98

6 08/2013 271 431.849,51 39.303,46 - 84.987,94 20.702,87 25.047,27 170.041,54

continua

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4.1.2 Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) — após a “desoneração”

Tabela 2: Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) — após a “desoneração”

Competência N.º de Empregados

Receita Bruta

CPRB (2% s/ Receita Bruta)

Remunerações em Fl Pagto Segurados Contribuintes RAT Outras

Entidades GPS (Total)

1 01/2014283 162.745,56 1.768,17 363.510,57 31.366,26 - 17.426,70

21.083,61 69.876,57

2 02/2014286 1.954.204,82 38.931,08 403.223,94 35.656,33 - 19.330,56

23.386,99 78.373,87

3 03/2014289 1.487.770,62 29.694,95 427.900,90 37.842,23 - 20.513,57

24.818,25 83.174,05

4 04/2014274 1.342.283,27 26.747,03 416.771,11 36.807,03 - 19.980,01

24.172,72

80.959,76

5 05/2014290 5.390.401,08 107.783,36 445.767,56 39.022,28 - 21.370,10

25.854,52 86.246,90

6 06/2014304 2.696.983,41 53.939,67 494.468,07 44.773,34 - 23.704,80

28.679,15 97.157,29

7 07/2014324 3.363.763,19 67.275,26 590.537,15 54.719,68 - 28.310,35

34.251,15 117.281,19

8 08/2014324 2.738.033,68 54.686,69 607.084,68 56.688,42 - 29.103,64

35.210,91 121.002,97

9 09/2014330 5.349.592,20 106.827,18 526.002,35 48.089,78 - 25.216,55

30.508,14 103.814,47

10 10/2014 335 3.837.509,54 76.750,19 540.246,82 49.246,03 - 25.899,43 31.334,32 106.479,78

11 11/2014349 7.303.524,52 146.045,83 546.280,96 49.767,61 - 26.188,71

31.684,30 107.640,61

12 12/2014 356 23.718.104,35 474.222,09 559.415,79 50.980,27 - 26.818,39 32.446,12 110.244,78

13 13/2014 344 - - 428.297,07 38.764,31 - 20.532,56 24.841,23 84.138,10

14 01/2015 337 5.337.621,74 106.647,63 547.449,76 48.678,67 - 26.244,74 31.752,09 106.675,50

15 02/2015 338 521.733,82 10.216,72 562.220,42 50.568,64 - 26.952,85 32.608,78 110.130,27

Total 65.204.271,80 1.301.535,86 7.459.177,15 672.970,88 - 357.592,95 432.632,27 1.463.196,11

Fonte: Elaboração nossa.

Competência N.º de Empregados

Remunerações em Fl Pagto Segurados Contribuintes

CPP (20% sobre a Fl

Pagto)RAT Outras

Entidades GPS (Total)

5 09/2013 278 434.698,07 39.604,88 - 85.661,67 20.839,43 25.212,49 171.318,47

4 10/2013 290 453.885,59 41.266,70 - 89.389,12 21.759,28 26.325,36 178.740,46

3 11/2013 291 431.936,05 38.395,90 - 86.176,22 20.707,01 25.052,29 170.331,43

2 12/2013 292 510.499,39 47.687,10 - 101.986,44 24.473,34 29.608,96 203.755,84

1 13/2013 286 340.551,91 30.285,93 - 67.699,71 16.326,06 19.752,01 134.063,71

Total 5.850.812,19 526.584,72 - 1.158.901,54 280.487,94 339.347,11 2.305.321,30

Fonte: Elaboração nossa.

Para o período de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015 a empresa recolheu à Previdência Social, com base no inciso VII, artigo 7.º da Lei n.º 12.546, de 14 de dezembro de 2011, 2% sobre o valor da receita bruta, excluídas as vendas

canceladas e os descontos incondicionais concedidos, a título de Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) o valor total de R$ 1.301.535,86 mediante Darf no código de receita 2985, conforme demonstrado na tabela a seguir:

continua

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Conforme demonstrado nas tabelas 1 e 2, pode-se con-cluir na comparação dos períodos iguais e consecutivos de quinze competências antes e após a “desoneração” que o impacto da obrigação legal foi negativo para a empresa do caso, no valor total de R$ 142.634,32, onerando os custos previdenciários patronais através deste critério de análise.

No entanto, é relevante avaliar por meio do critério de cruzamento comparativo das exigências legais para replicar os resultados apresentados, se de fato o impacto será oneroso. Por esta razão as tabelas a se-guir mensuram este critério em ambos os períodos de competências.

Tabela 4: CPRB (2% sobre a Receita Bruta) x CPP (20% sobre Fl Pagto)

Competência N.º de Empregados Receita Bruta CPRB (2% s/ Receita Bruta) Remunerações em Fl Pagto CPP (20% sobre Fl Pagto)

1 01/2014 283 162.745,56 1.768,17 363.510,57 71.215,37

2 02/2014 286 1.954.204,82 38.931,08 403.223,94 80.491,77

3 03/2014 289 1.487.770,62 29.694,95 427.900,90 85.519,72

4 04/2014 274 1.342.283,27 26.747,03 416.771,11 83.255,58

5 05/2014 290 5.390.401,08 107.783,36 445.767,56 89.128,85

6 06/2014 304 2.696.983,41 53.939,67 494.468,07 98.893,61

7 07/2014 324 3.363.763,19 67.275,26 590.537,15 118.107,43

8 08/2014 324 2.738.033,68 54.686,69 607.084,68 121.342,96

Tabela 3: CPP (20% sobre Fl Pagto) x CPRB (2% sobre a Receita Bruta)

Competência N.º de Empregados Remunerações em Fl Pagto

CPP (20% sobre Fl Pagto) Receita Bruta CPRB (2% s/ Receita Bruta)

15 12/2012 263 368.101,29 73.620,26 1.892.405,69 37.848,11

14 13/2012 252 287.713,74 57.542,75   -

13 01/2013 264 373.678,95 74.114,11 3.182.121,04 63.020,74

12 02/2013 267 362.929,21 71.480,21 433.149,19 7.557,35

11 03/2013 266 365.754,74 71.819,43 5.613.978,51 110.948,05

10 04/2013 263 350.870,26 68.901,44 1.827.607,01 35.279,53

9 05/2013 255 345.527,43 67.983,44 2.431.490,31 47.507,76

8 06/2013 262 369.301,51 73.780,42 3.447.352,65 68.867,17

7 07/2013 273 423.514,54 83.758,38 4.613.444,24 91.324,35

6 08/2013 271 431.849,51 84.987,94 7.900.370,56 156.625,45

5 09/2013 278 434.698,07 85.661,67 3.921.811,21 77.158,28

4 10/2013 290 453.885,59 89.389,12 3.040.113,56 59.414,27

3 11/2013 291 431.936,05 86.176,22 4.350.291,46 86.794,84

2 12/2013 292 510.499,39 101.986,44 3.086.046,58 61.607,49

1 13/2013 286 340.551,91 67.699,71   -

Total 5.850.812,19 1.158.901,54 45.740.182,01 903.953,41

Fonte: Elaboração nossa.

A tabela 3 apresenta a comparação entre a CPP e a CPRB no período de dezembro de 2012 a competên-cia do 13.º salário de 2013, apresentando o impacto positivo da “desoneração da folha de pagamento”

caso existisse neste período a aplicação legal, com vantagem financeira de R$ 254.948,13, em termos percentuais sobre a receita bruta do período em 0,56%.

continua

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A tabela 4 apresenta a comparação entre a CPRB e a CPP no período de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015, mais uma vez apresentando o impacto positivo da “desoneração da folha de pagamento” caso neste período não houvesse a obrigação legal, com vantagem fi nanceira de R$ 187.749,99, em termos percentuais sobre a receita bruta deste período em 0,29%, não apresentando o mesmo retorno de desone-ração que o período comparado anteriormente na tabela 3, uma queda percentual de 51,66%.

Portanto, em ambos os períodos analisados, o cruzamen-to das legislações que tratam da contribuição previdenciária a cargo da empresa, apresentou impacto positivo, cumprin-do a propositura da “desoneração da folha de pagamento”, ou seja, de fato desonerou os custos patronais, ainda que apresente uma oscilação em termos percentuais quando comparado a receita bruta, signifi cando a necessidade de mensurações e projeções para que haja um melhor pla-nejamento tributário por parte da empresa, seja a do caso em estudo, ou qualquer outra, como método de replicação literal ou teórica.

Outra questão, não menos importante, trata-se de demonstrar e avaliar o impacto no número de vínculos empregatícios, uma vez que a “desoneração” como medida governamental tem como objetivo a geração de empregos formais, com isto elaborou-se com base nos dados coleta-dos os seguintes gráfi cos.

Gráfi co 1: Variação do número de empregados antes da “desoneração”

Fonte: Elaboração nossa.

O gráfi co 1 apresenta a variação do número de emprega-dos antes da “desoneração” com uma média de 272 vínculos no período.

Gráfi co 2: Variação do número de empregados após a “desoneração”

Fonte: Elaboração nossa.

Pode-se observar através do gráfico 2 que a média no período após a “desoneração” aumentou para 318 o nú-mero de empregados, com uma variação de 55 vínculos de janeiro de 2014 com 283 empregados, para fevereiro de 2015 com 338 empregados.

Afirmar que a causa do aumento na média e nos nú-meros absolutos de contratações tenha sido por conta do impacto vantajoso da “desoneração” não seria corre-to, uma vez que outras variáveis podem ter causado isto, como por exemplo, mais contratos de prestações de serviços firmados pela empresa do caso, ou mesmo um conjunto de fatores, incluindo a própria “desoneração”.

Diante dos resultados encontrados é possível res-ponder a questão de pesquisa, com base na tabela 4, que houve desoneração dos custos previdenciários patronais sobre a folha de pagamentos. E ainda afirmar que se no período igual e consecutivo antes da “deso-neração” já houvesse a obrigação legal, seria também, com base na tabela 3, benéfico o enquadramento da empresa de construção de obras de infraestrutura ana-lisada no caso.

300

280

250

290

260

270

240

230

12/2

012

04/2

013

09/2

013

13/2

012

05/2

013

10/2

013

01/2

013

06/2

013

11/2

013

02/2

013

07/2

013

12/2

013

03/2

013

08/2

013

13/2

013

400

300

150

350

200

250

100

50

0

01/2

014

06/2

014

11/2

014

02/2

014

07/2

014

12/2

014

03/2

014

08/2

014

13/2

014

04/2

014

09/2

014

01/2

015

05/2

014

10/2

014

1022

015

Competência N.º de Empregados Receita Bruta CPRB (2% s/ Receita Bruta) Remunerações em Fl Pagto CPP (20% sobre Fl Pagto)

9 09/2014 330 5.349.592,20 106.827,18 526.002,35 105.035,81

10 10/2014 335 3.837.509,54 76.750,19 540.246,82 108.049,36

11 11/2014 349 7.303.524,52 146.045,83 546.280,96 109.231,53

12 12/2014 356 23.718.104,35 474.222,09 559.415,79 111.743,16

13 13/2014 344 - - 428.297,07 85.659,41

14 01/2015 337 5.337.621,74 106.647,63 547.449,76 109.385,15

15 02/2015 338 521.733,82 10.216,72 562.220,42 112.226,12

Total 65.204.271,80 1.301.535,86 7.459.177,15 1.489.285,85

Fonte: Elaboração nossa.

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

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5. Considerações FinaisPode-se afirmar que o objetivo deste artigo foi alcan-

çado, de mensurar e analisar o impacto causado pela implantação da “desoneração da folha de pagamento” em uma empresa de construção de obras de infraes-trutura, setor de grande importância para a economia do país. Utilizando a tecnologia contábil, a perícia, especificamente tributária na esfera extrajudicial, com o intuito de auxiliar administrativamente a entidade em-presarial, respondendo, após examinar a questão, se de fato houve desoneração dos custos previdenciários patronais.

Entre os principais resultados neste estudo de caso único, pôde-se testar na prática e esclarecer que a me-dida empreendida pelo governo federal foi favorável, ou seja, desonerou os custos previdenciários através da substituição da Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) calculada diretamente sobre a folha de pagamen-to, pela Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), para a empresa analisada a partir da obrigação de janeiro de 2014 até fevereiro de 2015 apresentando uma vantagem financeira no valor de R$ 187.749,99, equivalente a 0,29% da receita bruta total no período.

Outro resultado apresentado, proposto pela medida legal, foi a geração de novos empregos formais, no pe-ríodo de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015 houve um aumento na média de vínculos em comparação ao mesmo período de quinze competências anteriores em 16,94%, no entanto, não se pode afirmar que a causa tenha sido a “desoneração”, outras variáveis precisam ser avaliadas para se formar uma opinião exata.

Este estudo de caso ratifica resultados de estudos anteriores quanto ao impacto positivo da “desonera-ção”, em empresa metalúrgica do setor de autopeças e pelos resultados demonstrados pelo relatório oficial da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), na qual o setor de construção de obras de infraestrutura obteve resultados vantajosos no enquadramento da “desonera-ção” de janeiro a maio de 2014, quando comparamos os resultados desta pesquisa encontramos a mesma vanta-gem de redução no mesmo período de R$ 204.686,71, com uma redução percentual comparada ao valor que se pagaria com a aplicação da CPP de 49,97%.

Com isto, pode-se arriscar dizer que a tática de teste de qualidade do projeto de pesquisa possui validade externa, segundo Yin (2009), contudo, alerta o mesmo

que as generalizações não são automáticas, portanto não se deve renunciar a replicação das descobertas em casos diferentes.

A pesquisa evidenciou que a medida legal tem caráter impositivo e permanente, neste caso o enquadramento na “desoneração da folha de pagamento” foi favorável para a empresa analisada, tornando a pesquisa limitada pela própria característica de estudo de caso único, portanto é preciso para melhor planejamento tributário empresarial que se realizem os exames necessários para analisar o impacto desta obrigação, apesar de seu caráter impositivo, não só em outras empresas do setor, mas também em todas as atividades econômicas enquadradas.

Este trabalho torna-se relevante, pois apresentam na prática os efeitos da legislação existente através de estudo de caso com replicação literal, favoráveis, contudo, poderiam ser desfavoráveis e ainda assim a empresa teria que cumprir o impositivo legal, por este motivo, mudanças foram propostas na legislação para que torne facultativa a “desoneração” e ainda, pelas ra-zões evidentes e demonstradas, que com sua existência a arrecadação tributária previdenciária sofreu redução afetando assim as receitas públicas.

Nesta mesma propositura as alíquotas previdenciá-rias sobre a receita bruta das empresas que optarem a partir de então à “desoneração” aumentarão em 125%, de 2% para 4,5%, na atividade econômica aqui estudada, revelando sem equívoco o recuo do governo federal na tentativa de diminuir a carga tributária, ou seja, o plano não trouxe resultados satisfatórios para as contas do governo.

Considerando as alterações legais como medida de ajuste fiscal, serão imprescindíveis que trabalhos futuros façam a análise dos impactos causados pelas novas alíquotas da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) e consequentemente seus efeitos, bem como caracterizar a importância da opinião peri-cial, uma vez que com a mudança na legislação, será facultativa, logo, será mais importante ainda o planeja-mento tributário para a melhor escolha, pois o aumento de 125% na alíquota tornará a “desoneração”, no caso avaliado, uma desvantagem de R$ 1.442.356,80, sem dúvida um efeito negativo nos resultados econômicos da empresa, calculada em 2,21% sobre a receita bruta auferida no período pesquisado de janeiro de 2014 a fevereiro de 2015.

Referências Bibliográfi cas

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48 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 36-49, maio/ago. 2016

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Perícia Contábil Sobre a Desoneração da Folha de Pagamento: Caso em Empresa de Construção de Obras de Infraestrutura

49Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 36-49, maio/ago. 2016

Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

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Bruno José Machado de Almeida

50 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 50-9, maio/ago. 2016

Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira

Bruno José Machado de Almeida Doutorado em Ciências Economicas pela USC1

Revisor Ofi cial de ContasProfessor do ISCAC2

[email protected] 

ResumoA preparação e avaliação da informação fi nanceira

prospetiva representa o abandono do conservadorismo contabilístico, umbilicalmente ligado ao passado, e permite o aparecimento de novas tendências da contabilidade liga-das às previsões, orçamentos e demonstrações pró-forma. Neste tipo de informação são explicitados os objetivos que a organização pretende atingir, o que faculta, atendendo ao seu melhor conhecimento e informação disponível, a passagem para o exterior daquilo que os agentes conside-ram com grande probabilidade de ocorrer. Permite, ainda, identifi car o nível de performance que a organização aspira atingir no desenvolvimento da sua atividade. A informação fi nanceira prospetiva possibilita, assim, esbater as assime-trias da informação entre todos os stakeholders e facilita aos auditores a elaboração de um parecer sobre a continuidade ou não da empresa, além de refl etir a terceira dimensão da contabilidade: the most probable future. A contribuição des-te trabalho é sintetizar a literatura internacional sobre este tipo de informação.Palavras-chave: Prospetive Financial Information; Performance; Budgets; Demonstrações Pró-Forma; Corporate Social Reporting.

AbstractThe preparation and evaluation of the prospective fi nan-

cial information represents the abandon of the accounting conservatism, closely linked to the passed, and permits the emergence of new accounting tendencies connected to fo-recasts, budgets and pro-forma fi nancial statements. In this type of information the objectives the company intends to reach are explicit, which, taking into account their best kno-wledge and available information, permits to make public what the agents consider will most probably happen. It also allows identifying the level of performance the organisation

wants to reach in the development of its activity. The pros-pective fi nancial information allows therefore reducing the asymmetries of the information between all the stakehol-ders, and facilitates the release of an auditor’s opinion on the continuity of the company, as well as refl ects on the third dimension of accounting: the most probable future. The contribution of this study is to synthesize the international literature on this type of information. Keywords: Prospective Financial Information; Performance; Budgets; Pro-Forma Statements; Corporate Social Reporting.

1. IntroduçãoO utilizador da informação fi nanceira, nas economias do-

tadas de um mercado de capitais desenvolvido, é o centro das atenções das normas contabilísticas, cujo objetivo fun-damental é o de facultar informação relevante para a tomada de decisões. Esta ótica utilitária da contabilidade pressupõe previamente a determinação dos objetivos da informação contabilística, o que permite discutir a problemática da sua neutralidade (ÁLVAREZ, CALVO e MORA, 2012). A tomada de decisão requer que os dados contabilísticos tenham capacidade preditiva: tenta-se, assim, ligar a informação fi nanceira à previsão da rentabilidade potencial de uma unidade económica. Este critério de capacidade preditiva, como resposta para a eleição das regras contabilísticas, obriga à especifi cação prévia dos modelos de decisão do utilizador, implicando o estabelecimento de relações cau-sais entre a mensuração contabilística e os factos a prever, bem como consideração dos chamados erros de previsão. Toda esta problemática coloca, atualmente, um problema importante para a profi ssão e para as instituições que a tutelam, na medida em que a utilidade das demonstrações fi nanceiras e a tecnifi cação dos modelos preditivos asso-ciados á chamada contabilidade positiva, apontam, inequi-vocamente, para a inclusão de previsões na contabilidade, apesar do subjetivismo inerente a esta situação. Em termos teórico-concetuais e em termos gerais e abstratos a utili-dade das previsões parece ser consensual, atendendo ao facto de as decisões económicas se basearem em critérios de rentabilidade potencial, fl uxos de caixa futuros, estimati-vas, projeções e cenários de desenvolvimento da empresa. Assim, a inclusão de informação preditiva na contabilidade é de uma utilidade manifesta (IASB, 2011), por permitir aos

1 USC – Universidade Computelense de Madrid - CEP 28040- Madrid - Espanha.2 IASC – Instituto Superior de Contabilidade, Administração de Coimbra - CEP 3040-316 - Coimbra - Portugal.

Artigo recebido em 27/07/2015 e aceito em 17/08/2016

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Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira

51Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 50-9, maio/ago. 2016

utilizadores avaliar o desempenho das empresas e das organizações, além de facultar um conteúdo informativo adicional muito importante.

2. Revisão da LiteraturaA inclusão em geral de prognósticos na contabilidade e

na informação fi nanceira tem por base a consideração deste ramo do saber económico como um sistema de informação que faculta informação utilizável — fi tness for use — para a tomada de decisão. Este conceito teórico-concetual assenta na chamada teoria de agência, que alerta para os confl itos de informações e de interesses que podem ocorrer entre os dirigentes, acionistas e credores em sentido lato, tendo em conta as diferentes funções de utilidade atribuídas à informação fi nanceira. A ideia-base desta teoria refere que os diferentes agentes económicos não dispõem todos da mesma informação, sendo esta, imperfeita e assimétrica. A informação contabilística é uma base importante desta teo-ria, sobretudo, a informação fi nanceira prospetiva, porque, ao transmitir aos mercados de capitais as previsões das equipas de gestores, acrescenta uma informação adicional importante que se constitui em instrumento essencial para a tomada de decisões económicas e de controlo da equipa dirigente. A dupla função de controlo e avaliação da per-formance facultados pela informação fi nanceira prospetiva, consubstancia o futuro no mais provável — most probable future — Jensen (1983, p. 3): o que signifi ca que os pressu-postos foram avaliados pela administração e os orçamentos estão baseados em juízos próprios e refl etem o mais prová-vel cenário de desenvolvimento da empresa. A informação fi nanceira prospetiva acabará, assim, por reduzir as assime-trias de informação entre os preparadores internos — que têm o controlo do sistema de informação — e o utilizador externo que tem um acesso limitado à informação sobre a atividade económico-fi nanceira da empresa. A informação fi nanceira previsional, será, assim, um mecanismo impor-tante de controlo para todos os stakeholders, relativamente aos objetivos de desenvolvimento da empresa projetados pela administração, desde que este tipo de informação pre-visional, seja publicado e convenientemente auditado.

O refl exo dos prognósticos na informação fi nanceira nas-ce com o paradigma utilitarista cujas consequências, entre outras, implicaram o aparecimento das chamadas contas anuais interinas ou previsionais, que servem de base aos chamados modelos de decisão e de capacidade preditiva. Neste enfoque, os objetivos das demonstrações fi nanceiras são de fornecer informação útil para potenciar a atividade previsional, atendendo a que processo de decisão está assente em previsões, que exigem a utilização de proce-dimentos e modelos valorativos opcionais que podem as-sentar em técnicas de análise de sensibilidade e a utilização de modelos de mensuração alternativa ao custo-histórico/moeda nominal. Por sua vez, a capacidade preditiva permite concluir acerca dos procedimentos contabilísticos e das formas mensurativas dilemáticas submetidos à confi rmação posterior, uma vez especifi cados os arquétipos de decisão. Sterling (1972) concluiu que o valor histórico é irrelevante para os gerentes, investidores e credores, que o valor de realização é importante para os gerentes e que o valor reali-zável líquido e o valor atual são importantes para quaisquer

entidades. No entanto, a variável mais utilizada, quando se trata de fazer previsões, é o fl uxo futuro de rendimen-tos descontados esperado pelo investidor. Os diferentes marcos concetuais e pronunciamentos relacionados com a informação fi nanceira prospetiva refl etem a posição dos organismos internacionais, que evoluíram de uma posição totalmente adversa à verifi cação da informação fi nanceira prospetiva, para uma outra, em que admitem o envolvimento de profi ssionais na comprovação das bases contabilísticas utilizadas nas previsões e projeções, bem como na avalia-ção dos cálculos efetuados. O ASOBAT (1966) sugere que as necessidades dos utilizadores transcendem as transa-ções passadas, expressas nas demonstrações fi nanceiras tradicionais, e abrangem igualmente as informações rela-cionadas com os planos, expetativas futuras e orçamentos. Neste marco concetual, a informação fi nanceira prospetiva está legitimada. O Relatório Trueblood (1973) propõe uma ampliação do âmbito tradicional da informação fi nanceira englobando factos ou circunstâncias que possam ter re-fl exos no desenvolvimento futuro da empresa. Acrescenta ainda que a informação fi nanceira previsional deve ser acompanhada de presunções e assunções necessárias à avaliação da fi abilidade dos diagnósticos. Reconhece, po-rém, a sua natureza subjetiva e probabilística, que adquire contornos mais precisos quando envolve interpretações realizadas pelos responsáveis na elaboração das demons-trações fi nanceiras. O Corporate Report (1975) preocupa-se com as necessidades da informação de todos os stakehol-ders, propondo, como complemento às demonstrações fi nanceiras convencionais, uma demonstração prospetiva, com o desiderato de avaliar a capacidade da empresa para concretizar no ano seguinte investimentos futuros ao da apresentação da informação histórica. Recomenda ainda a publicação de prognósticos e uma análise dos desvios. O FASB (1974) defi ne as características qualitativas o que deve obedecer a informação fi nanceira e realça o valor pre-ditivo ligado ao atributo da relevância. No marco concetual do FASB, a informação fi nanceira prospetiva ganha também as suas raízes, embora de uma forma mais restrita do que no Relatório TrueBlood. O Guia para Análise da informação fi nanceira prospetiva (1975), emitido pelo AICPA, com os seus desenvolvimentos subsequentes, elucida-nos que este tipo de informação dirigida ao futuro, engloba os seguin-tes aspetos: previsões, projeções, estudo de viabilidade, análise do break-evenpoint e orçamentos. É encorajada a sua publicação, mas reconhece-se que o seu tratamento, elaboração e exame é mais complexo do que a informação fi nanceira histórica, sendo indispensável reconhecer as suas limitações. Por isso, o guia admite que a informação previsional possa ser preparada como um output de um sistemas de informação de gestão, ou fora do sistema for-mal de produção de informação. Este relatório alerta para a necessidade de se considerar a materialidade dos valores orçamentados, a análise de sensibilidade dos fatores chave, o estudo dos desvios e a análise da incerteza (AICPA, 1980, p. 9-10). Por sua vez, o Livro Verde (1996) da Comissão das Comunidades Europeias, ao considerar que a elaboração das contas anuais assenta na hipótese da continuidade de exploração, admite considerar, no futuro, a obrigação dos administradores tomarem posição explicitamente sobre

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Bruno José Machado de Almeida

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a capacidade da empresa em prosseguir a atividade, e, ipso facto, impor aos auditores a obrigação de apreciar a validade do pressuposto da continuidade. Há uma grande preocupação neste documento, com a sobrevivência da empresa e na identifi cação preventiva dos problemas de continuidade e, por isso, é apontado um sistema de alerta que diagnostique precocemente as difi culdades da empre-sa. Esta preocupação foi infl uenciada pela Lei de 1 de Março (1984) que exigia a elaboração de conta de exploração, um quadro de fi nanciamento e um balanço anual previsionais. Em 1988, o Institute of Chartered Accountants of Scotland (ICAS), enfatizou a informação fi nanceira previsional ao alargar as funções profi ssionais do auditor à análise da in-formação previsional. Recomenda-se, ainda, a necessidade de elaboração de uma demonstração de objetivos estrutu-rada num plano estratégico e informação sobre os fl uxos de caixa previstos. Este relatório atribui à informação fi nanceira maior exigência de relevância do que fi abilidade, sendo, por isso, considerado, em termos Europeus, como um marco concetual importante da informação fi nanceira prospetiva.

O processo de análise da informação fi nanceira pros-petiva é constituído por um conjunto inter-relacionado de componentes (AUS 804, 2002), e, por corolário, a metodologia aplicada à análise da informação fi nanceira histórica é inadequada quando aplicada àquela. De facto, a análise das demonstrações fi nanceiras históricas refl ete aquilo que aconteceu, enquanto que a informação fi nan-ceira prospetiva refl ete aquilo que, eventualmente, possa acontecer: daí a metodologia de abordagem ser diferente. Com efeito, ela é essencialmente sistémica, de natureza especulativa, focando o contexto mais do que os números nela refl etidos, privilegiando o risco e a incerteza e reco-nhecendo, implícita e explicitamente, a importância dos problemas qualitativos.

Como a revisão da informação fi nanceira prospetiva é abordada em termos de periodização num horizonte tem-poral de um ano, a base da sua apresentada será feita de acordo com os princípios e normas contabilísticas. Estes proporcionam consistência à informação contabilística e são os verdadeiros pilares da análise da informação fi nan-ceira. Assim, o tratamento contabilístico dado aos factos e às transações contemplados na informação fi nanceira pros-petiva deve ser idêntico ao seu tratamento quando refl etido nas demonstrações fi nanceiras históricas. Isto é, os pressu-postos contabilísticos, que servem de quadro de referência à informação fi nanceira histórica, devem ser, igualmente, aplicados à informação fi nanceira prospetiva. Esta repousa, em regra, na identidade daqueles, no entanto, as organiza-ções internacionais emitiram diretivas standard para guiar os auditores e contabilistas na sua análise e avaliação.

A diretiva internacional ISAE 3400 (2007), entre outras, além de se preocupar com os problemas de conceituação, estabelece normas inerentes à preparação e apresentação deste tipo de informação.

Os objetivos principais das previsões radicam na plani-fi cação e no controle (HAUSTEIN, LUTHER e SCHUSTER, 2014; EPSTEIN, 2012; COLLIER, 2012). O primeiro comporta os sub-objetivos de coordenação de afetação de recursos,

enquanto que o segundo comporta os sub-objetivos de comunicação, motivação e avaliação.

Como o processo previsional está orientado para o curto prazo (THOMAS, 2012; VANDERBECK, 2012; AMAT, 1992), o modelo contabilístico baseado no princípio do acréscimo (APELÁNIZ GÓMEZ, 1997), afi gura-se-nos ca-paz de servir para fazer projeções fi nanceiras, desde que complementado com uma demonstração de tesouraria previsional. Assim, o exame das previsões pode ser de im-portância transcendente no diagnóstico precoce das falên-cias empresariais (LIZARRA DALLO, 1997; OROC1, 1992), bem como na aplicação do próprio princípio da empresa em funcionamento, no exercício seguinte ao da realização da auditoria (ANJUM, 2012; CHO, FU e YU, 2012; ASIC, 2011; GERANTONIS, VERGOS e CHRISTOPOULOS, 2009; FERNÁNDEZ PEÑA, 1993).

Por outro lado, Cassar (2009), Smith e Cordina (2014) sugerem uma relação intensa entre os ativos intangíveis e a informação fi nanceira prospetiva, e referem que este tipo de informação é mais relevante nas empresas de alta tecnologia mais recentes, atendendo ao signifi cativo montante de ativos intangíveis que detêm na estrutura dos seus ativos.

A auditoria das previsões pode ter um caráter interno ou externo, mas, em qualquer circunstância, deve ser inde-pendente dos responsáveis que estabelecem os planos e os orçamentos. Esta regra é importante pelo facto de o au-ditor não dever substituir a administração da empresa, nem substituir os responsáveis encarregados de estabelecer os planos e os orçamentos (ISAE 3400, 2007). O auditor não deve julgar a escolha das hipóteses (PARENT, 1981; ASIC, 2011), devendo, de preferência, transferir o ónus da prova para a administração, fazendo realçar, se for esse o caso, que as hipóteses subjacentes podem representar even-tualmente um corte na evolução dos principais parâmetros da empresa. A responsabilidade última, pela elaboração da informação fi nanceira prospetiva, pertence sempre à administração da empresa (AICPA, 1993). Acresce que a auditoria é circunscrita ao essencial e não ao secundário. A transplantação da fi losofi a básica, inerente à auditoria da informação histórica, para a auditoria a informação fi nanceira prospetiva, impõe-se com toda a acuidade atendendo a que o campo de possibilidades é muito mais amplo do que o abrangido pela auditoria ao passado.

3. MetodologiaProcedemos, desde o ASOBAT (1961-2015), ao levan-

tamento da bibliografi a mais importante e atualizada sobre a informação fi nanceira prospetiva. Examinámos todos os relatórios sobre o tema e avaliámos a sua coerência intrínseca. Investigámos artigos publicados em revistas conceituadas europeias e norte-americanas e australianas. Utilizámos, para o efeito, uma metodologia histórico-inter-pretativa contextualizada no espaço e no tempo, conce-bendo um quadro da evolução deste tipo de informação no período atrás referido, evidenciando o continente, o país, o autor/relatórios ou organismos, bem como os atributos mais relevantes a reter em cada situação.

1 Recomendação técnica n.º 11.

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Pensar ContábilCRCRJ Conselho Regional de Contabilidad e do RJ

Reporting Empresarial: a Inclusão de Previsões na Informação Financeira

53Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 50-9, maio/ago. 2016

4. Análise da Informação FinanceiraA institucionalização da informação fi nanceira prospe-

tiva é recente no mundo ocidental. Com efeito, no plano internacional, é, no início da década de setenta, que co-meçam a aparecer as primeiras preocupações com a regu-lamentação das matérias relacionadas com as previsões.

É no Reino Unido, no período de 1969 a 1972, que apare-cem as primeiras regras formuladas pelo Stock Exchange, geradas pelo City Code and Take-Overs and Mergers. Sem tomar obrigatória a publicação das previsões, a regra 16, do City Code, preconizava:

«As bases contabilísticas utilizadas nas previsões e os cálculos efetuados devem ser submetidos a um exame e ser objeto de um relatório elaborado pelos auditores inter-nos ou pelos contabilistas consultores».

A regulamentação é extensiva unicamente às socieda-des cotadas, quando enquadradas em processos de ofer-tas públicas de venda, ofertas públicas de aquisição ou de fusões: a aplicação é, assim, extremamente limitada e circunscrita a casos específicos. Apesar disso, a Grã-Bretanha assumiu o papel de precursor nesta matéria, ao estender a obrigatoriedade de exame e elaboração do relatório no caso de admissão na Bolsa, ou quando as empresas propõem efetuar uma nova emissão de ações ou obrigações. Não preconiza, todavia, a publicação das previsões: toda esta problemática constava do Yellow Book (Admission of securities to listing – Stock Exchange).

Nos Estados Unidos, em 1973, a Security Exchange Commission modifi ca as suas posições iniciais autorizando a publicação de previsões nos exatos termos por ela deli-neados. No entanto, proíbe qualquer menção relacionada com a certifi cação ou auditoria efetuada por terceiros.

Em 1978 e 1979, altera a posição atrás assumida e permite a intervenção dos auditores externos em matéria de previsões, emitindo os Guides for disclosure of future economic. Em 1979, emite o Safe Harbour Role, regra que limita a responsabilidade em matéria de previsões. Estas, sujeitas a auditoria e a publicação, tinham horizonte tem-poral de um ano, obrigando, por isso, os administradores a colocar as suas preocupações no curto prazo, e, sobre-tudo, nos dividendos por acão, situação que tem motivado alguma preocupação relativamente à ausência de uma perspetiva a longo prazo, e à capacidade da empresa para reembolsar os seus fi nanciamentos.

De qualquer maneira, a preocupação pela informação fi nanceira prospetiva é grande, e, nos Estados Unidos, em 1975, publicadas pelo AICPA, surgem as primeiras normas que se harmonizam com a posição da SEC, no tocante à elaboração e forma dos documentos previsionais a publicar.

Estes trabalhos, iniciados em 1975, são aperfeiçoados, aparecendo, em 1985, o documento Financial forecast and projections que precisa as missões dos contabilistas em matéria de previsões, caracteriza as normas de trabalho e o conteúdo dos relatórios contendo este tipo de informação. Em 1986 e 1993, é emitido o Guide for prospective fi nancial

information, onde se detalha a preparação, a apresentação, o exame e os relatórios relacionados com a informação fi nanceira prospetiva.

Em 1978, o Institute of Chartered Accountants of England and Wales publica o guia, designado Accountants reports on profi t forecast, e estabelece um conjunto de recomendações referentes ao exame das previsões.

Em 1983,o Canadá2 e a Holanda3 emitem, igualmente, normas de orientação referentes à apresentação e ao exa-me das previsões fi nanceiras.

Em 1986, em França, no seguimento da lei relativa a prevenção das difi culdades das empresas (Loi du 1.er de Mars de 1984), aparecem, emitidas pela «Ordre des experts comptables et des comptables agréés», duas recomenda-ções: uma relacionada com a elaboração e apresentação das contas previsionais (Príncipes d’établissement et de presentation des comptes prévisionnels), e outra com os métodos a ter em conta em matéria de contas previsionais (Diligences de l’expert comptable en matière de comptes prévisionnels).

Depois do ano 2000, a informação fi nanceira prospetiva continua a merecer a atenção de um conjunto amplo de organismos profi ssionais e reguladores da matéria. Com efeito, a Australian Accounting Research Foundation (2002) emite um standard de auditoria (AUS 804), intitulado The Audit of Prospective Financial Information, onde é desen-volvido de uma forma esquemática, o compromisso de auditoria relativamente à informação fi nanceira prospetiva preparada com bases nas melhores estimativas e assun-ções hipotéticas, relativamente a acontecimentos e even-tos que possam ocorrer no futuro, bem como as possíveis ações a desenvolver pela organização.

Em 2003, o Institute of Chartered Accoountants of England and Wales apresenta um guia extenso e profundo sobre a problemática em investigação, onde é desenhada a construção e preparação deste tipo de informação. O texto, intitulado Prospective Financial Information – Guidance For UK Directors, faz uma abordagem dos princípios subjacentes, desenvolve a estrutura concetual legal desta informação, e apresenta um conjunto de regras – listing rules – relativamente à construção das demonstrações financeiras.

Em 2011, o Australian Securities & Investments Commission (ASIC), institui o Regulatory Guide 170: Perspective Financial Information, tendo por base o Corporations Act (2011), o qual preconiza que aos subscritores de produtos financeiros deve ser facultada informação financeira prospetiva, a qual pode incluir orçamentos e projeções refletindo a performance futura dos resultados, dos rendimentos e dos gastos. Esta apresentação e divulgação pode ser feita numericamente ou através de gráficos ou quadros. Neste documento são identificados os perigos inerentes à divulgação de informação financeira prospetiva, realçando-se o efeito deste tipo de informação tem sobre os preços das ações e no processo de decisão de comprar ou vender estes

2 Institute of Canadian des Chartered Accountants.

3 Netherlands Institute Van Registered Accontants.

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Bruno José Machado de Almeida

54 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 18, n. 66, p. 50-9, maio/ago. 2016

Quadro 1: Evolução histórica da IFP

Linha do Tempo da evolução da informação fi nanceira prospetiva (1916-2015)

Anos Continente País Autor/Relatórios/organismos Foco

1916 Europeu França Fayol Administrar é prever

1966 AmericanoEstados Unidos

ASOBAT Divulgação de planos, expectativas futuras e orçamento

1969-1972 EuropeuInglaterra

City Code on takeover and mergersSubmissão a exame das bases contabilísticas utilizadas

nas previsões

1916 a

20151973 Americano

Estados Unidos

SEC: guides for disclosure of future economic safe harbor rule

Limita a responsabilidade em matéria de previsões

Relatório true blood report of the study group on the objectives of

fi nance statements

Apresentação da informação fi nanceira por intervalos ou cenários

1975

AmericanoEstados Unidos

AICPA Financial Forecasts and Projections

Autoriza publicação, mas proíbe a certifi cação

Europeu Inglaterra Corporate reportEstimar as perspetivas futuras da

empresa

1978 Europeu InglaterraInstitute of Chartered Accountants of

England and WalesOrientações para apresentação e exame da informação

fi nanceira prospetiva

Quadro 2: Evolução histórica da IFP

Linha do Tempo da evolução da informação fi nanceira prospetiva (1916-2015)

Anos Continente País Autor/Relatórios/organismos Foco

1983-1986

Americano CanadáInstitute of Canadian of Chartered

AccountantsOrientações para apresentação e exame da informação

fi nanceira prospetiva

EuropeuFrança Loi du 1º de Mars 1981

Princípios de estabelecimento e apresentação das contas previsionais e métodos e previsão de falências

HolandaNetherlands Institute Van Registered

AccountantsNormas de orientação referente à apresentação e ao

exame das previsões fi nanceiras

1988

Europeu Escócia Making corporate report valuables Informação da situação fi nanceira futura da empresa

AmericanoEstados Unidos

Guide for review of fi nance forecast Informação dirigida ao futuro

1996 EuropeuUnião

EuropeiaLivro verde da comissão das

comunidades europeiasApreciação da validade das hipóteses da continuidade

da exploração

2002 Australiano AustráliaThe audit of prospective fi nancial

informationDesenvolvimento esquemático de compromisso de

auditoria à informação fi nanceira prospetiva

2003 Europeu InglaterraProspective fi nancial information –

guidance for U.K. directorsAbordagem dos princípios e da estrutura conceptual

subjacente à informação fi nanceira prospetiva

2011 Australiano AustráliaASIC – Australian Securities &

Investments CommissionAos subscritores de produtos fi nanceiros deve ser

facultado à informação fi nanceira prospetiva

títulos, atendendo a que a perceção da existência de uma taxa de retorno, de probabilidade elevada, a longo prazo, é um critério importante para a seleção dos in-vestimentos e, portanto, para o processo de tomada de decisões económicas. Por outro lado, a investigação que

dá origem a este regulamento sugere que a fiabilidade da informação financeira prospetiva, para períodos muito longos, é reduzida. Vejamos, em termos cronológicos, a linha de evolução cronológica da informação financeira previsional:

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Em Portugal, há todo um conjunto de situações previs-tas na legislação ou existentes na prática, que exigem a elaboração da informação financeira prospetiva:• Código das Sociedades Comerciais. Na alínea c), do

n.º 2, do artigo 66.°, o auditor tem de emitir opinião sobre o relatório de gestão, quer relativo a contas individuais, quer relativo a contas consolidadas, o qual deve conter, entre outros elementos, informação sobre a evolução previsível da empresa.

• Código de Mercado de Valores Mobiliários. A alínea 1, do n.º 1, do artigo 134.°, relaciona-se com as ofertas publicas de subscrição e exige um relatório de auditoria da situação económica e financeira da entidade emitente. Por sua vez, o n.º 2 do artigo 97.º, preconiza que a informação, obrigatória ou facultativa, fornecida ao público, sob qualquer forma, pelas entidades emitentes, entidades responsáveis por ofertas públicas de subscrição ou de transação, intermediários financeiros e entidades gestoras de mercados secundários, deve conformar-se com os princípios rigorosos de licitude, veracidade, objetividade, oportunidade e clareza. Ainda o n.º 3, do artigo 105.°, estabelece que as previsões apresentadas pela entidade emitente sobre a evolução dos seus negócios ou situação económico-financeira, impõem que o relatório do auditor incluía, obrigatoriamente, uma opinião sobre os pressupostos e consistência dessas previsões. Por sua vez, a alínea j), do n.º 2, do artigo 342.º, impõe a obrigação de o auditor dar parecer sobre as perspetivas de atividade e os resultados da empresa para o segundo semestre (situação revogada pelo Decreto-Lei 261/95, de 3 de Outubro).

Além destas ocorrências, referidas no Código das Sociedades Comerciais e no Código do Mercado de Valores Mobiliários, há outras situações que requerem a conceção e a valorização de informação fi nanceira prospetiva. Vejamos:• Projetos de viabilidade económica e de saneamento

fi nanceiro das empresas, baseados em ações e medidas com efeitos futuros.

• Avaliação de empresas e partes de capital com base nas perspetivas futuras de resultados, fl uxos de caixa e equivalentes.

• Projetos de fusões e aquisições em que os preços e relações de troca se baseiam no desempenho futuro previsível das empresas envolvidas.

Em suma:

Quadro 3: Situações que exigem IFP

Oferta pública de aquisição

Fusões( em que os preços e as relações de troca se baseiam no desempenho futuro previsíveis da empresa envolvida)

Subscritores de produtos fi nanceiros

Processo orçamental

Seleção de investimentos

Informação sobre a evolução previsível da empresa

Previsões apresentadas pela entidade emitente

Projetos de viabilidade económica e de saneamento fi nanceiro da empresa

Avaliação da empresa

Previsão de Falências / continuidade

Associação dos stakeholders ao futuro da empresa

Redução das assinaturas de informação

Performance futura dos resultados , rendimentos e gastos

Análise do breake-even point

Na análise efetuada da regulamentação ou das recomen-dações emanadas das organizações profi ssionais, resultam duas correntes de pensamento:• A corrente anglo-saxónica. Constituída pelos Estados

Unidos, Canadá e Reino Unido, países em que a regulamentação começa, inicialmente, a desenvolver-se por pressão da autoridade dos mercados fi nanceiros, ao regulamentar a sua publicação e ao instituir um rigoroso controlo sobre dados previsionais, com o intuito de evitar a sua publicação anárquica e proteger, simultaneamente, os acionistas e obrigacionistas. As autoridades bolsistas não impõem qualquer obrigação de publicação das previsões, mas incentivam as empresas a divulgá-las num quadro rigoroso por elas imposto.

• A corrente continental. Formada pela França, Portugal e outros países assume um contexto bastante regulamentado na publicação das previsões. Geralmente, é uma lei que vai impor a comunicação das previsões. Com efeito, a lei francesa tinha uma tripla ambição:

• Prever falências, obrigando as empresas a publicar previsões.

• Associar os empregados e os seus representantes ao futuro da empresa, obrigando-se a transmitir ao comité da empresa os documentos previsionais.

• Obrigar as empresas cotadas na bolsa a compensarem os acionistas com informação previsional, em virtude de haver grande atraso na publicação das contas históricas.

Acresce que a informação fi nanceira prospetiva, com-parada com a informação fi nanceira histórica, evidencia as seguintes caraterísticas.

A verificabilidade da informação financeira histórica: as demonstrações financeiras históricas são auditadas no pressuposto de que os números nelas contidas são relativamente verificáveis. Trata-se do primeiro pos-tulado fundamental da auditoria financeira, proposto por Mautz e Sharaf (1993, p. 49). É essencial, para a e25xistência da auditoria, que as demonstrações finan-ceiras sejam verificáveis, sendo esta a base em que se desenvolvem a teoria da evidência e a teoria da prova (SIERRA e ORTA, 1996, p. 16). Daí que, a auditoria da

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informação financeira histórica se dirija, prioritaria-mente, para a análise das transações. Neste tipo de análise, o contexto em que se desenvolve este tipo de informação é secundário, atendendo a que os números que ela reflete são verificáveis e estão adequadamente suportados. Este postulado é responsável pela limita-ção feita, inicialmente, aos auditores, de examinarem somente as demonstrações financeiras históricas. As regras de conduta profissional emitidas pelo «American Institute of Accountants» (1973) proibiram, na sua fase preliminar, a ligação do nome do auditor a qualquer tipo de previsão. Este conservantismo esteve, também, ex-presso nos pronunciamentos iniciais da «Securities and Exchange Commission» (SEC), que proibiu a auditoria da informação financeira prospetiva. Consequentemente, o conceito de verificabilidade, tomado no seu sentido estrito, foi invocado para estabelecer uma proibição de ligação do auditor às previsões.

A análise quantitativa supera a análise qualitativa: como os números refletidos na informação financeira histórica têm uma possibilidade de comparação maior, a análise quantitativa sobrepõe-se à análise qualitativa, não sendo necessário, neste tipo de informação, com-preender quem é o responsável pela condução do plano estratégico.

A abordagem quantitativa da informação financeira histórica, apoia-se na teoria da evidência, no procedi-mento de verificação, na aplicação da teoria das pro-babilidades à auditoria e no estabelecimento de limites e responsabilidades do auditor (SIERRA e ORTA, 1996, p. 17). Este tipo de informação enfatiza naquilo que já aconteceu. Assim, o objetivo da auditoria da informação financeira histórica centra-se no ciclo de transações, sendo a sua estratégia baseada na fiabilidade dos con-troles operacionais e contabilísticos implementados na organização do cliente. Mesmo quando se utiliza o enfo-que de risco, em que se pretende a avaliação dos riscos de negócio da empresa, o objetivo é determinar os efei-tos potenciais nas demonstrações financeiras, pela via das transações. O risco do negócio, considerado numa forma prospetiva, está ausente deste tipo de auditoria.

Análise isolada e não sistémica: a informação finan-ceira histórica é efetuada com base nos números refle-tidos no balanço, por isso, não perspetiva o negócio do cliente como um todo relacionado com a envolvente. O sistema em que a empresa está integrada é desconhe-cido pela auditoria da informação financeira histórica. O planeamento de uma auditoria, de acordo com o SAS n.º 70 (1997, p. 131), deve identificar os tipos de erros potenciais, os fatores que afetam o risco e o desenho de testes substantivos. Ora, este planeamento de auditoria situa-se ao nível desagregativo — bottom up —, sendo as demonstrações financeiras históricas auditadas com base nas normas internacionais de auditoria, que focali-zam o nível das transações ou as classes de operações ou o balanço. O risco de negócio, considerado como um todo, não é objeto de auditoria. Assim, a análise isolada da empresa, num contexto de globalização crescente dos negócios, é extremamente reducionista e potencia-dora de grandes falhas em auditoria (BELL et al., 1997).

Com efeito, tendo sido desenvolvidas num contexto de estabilidade económica, as normas de auditoria variam de país para país, e todas elas apontam, ao auditor, a missão de opinar sobre a fiabilidade das de-monstrações financeiras, tendo em conta o quadro dos princípios contabilísticos geralmente aceites (NEEDLES, 1985, p. 61). Este quadro não permite ao auditor fazer uma análise estratégica centrada no negócio do cliente e na indústria.

O suporte objetivo da informação financeira histórica: este tipo de informação é suportado por provas obje-tivas, sendo a análise documental feita em suportes elaboradas que refletem as transações já passadas.

Segundo Kopczynski (1996), a informação financeira prospetiva tem as seguintes caraterísticas fundamentais:• Enfatiza o que pode acontecer: este tipo de informação,

ao ser feito em termos de previsão ou probabilísticos, reflete o que vai acontecer em detrimento daquilo que ocorreu. Neste contexto, a informação financeira prospetiva tem, como característica fundamental, o facto de os resultados reais terem uma forte probabilidade de serem diferentes dos apresentados, pelo que os desvios e a sua análise são importantes.

• Análise sistémica: a informação financeira prospetiva deve ser integra e representar o sistema em que está enquadrada. A investigação dos diferentes componentes da informação financeira prospetiva, conjuntamente com as técnicas que a geraram, maximiza o seu significado.

• Base de natureza especulativa: ao contrário do que sucede com a informação financeira histórica, que é suportada por provas objetivas, as provas respeitantes aos pressupostos são de natureza especulativa, o que toma mais difícil, ao auditor, fazer a sua avaliação e chegar a um nível elevado de segurança, isto é, assegurar que essa informação esteja isenta de erros ou distorções materialmente relevantes. Contudo, o seu exame contribui para aumentar a credibilidade da informação prospetiva, quer ela se destine a uso interno, quer a terceiros.

• Risco e incerteza: as demonstrações financeiras prospetivas devem ser analisadas partindo do pressuposto de que os resultados reais terão uma forte probabilidade de serem diferentes dos apresentados na informação financeira prospetiva. Assim, enquanto na informação financeira histórica os números contidos nas demonstrações financeiras são assumidos como relativamente fiáveis, ajudando os standards de auditoria a confirmar esta asserção, a análise da informação financeira prospetiva é inteiramente diferente. Com efeito, como os resultados esperados podem não ocorrer, o grau de incerteza de cada elemento, inserto nas demonstrações financeiras previsionais, é maior. Daí as técnicas a utilizar no exame tenderem a ser mais sofisticadas.

• Análise do contexto como prioritário: no estudo da informação fi nanceira histórica a investigação do contexto é secundária, porque se assume que os números são verifi cáveis. Como a base da informação fi nanceira é

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prospetiva é de natureza especulativa, implicando, por isso, menores possibilidades de comparação, a focagem terá de ser efetuada, preferentemente, no contexto, pelo que a análise qualitativa é mais importante do que a análise quantitativa.

• A mudança como característica básica da informação fi nanceira prospetiva: o relacionamento dos contabilistas e auditores com o futuro vai ainda no começo. No entanto, são cada vez mais confrontados com este problema, não obstante a sua inevitável resistência à mudança. Como a probabilidade de mudança é uma das caraterísticas importantes da análise da informação fi nanceira prospetiva, o auditor tem de ter capacidade de trabalhar com a mudança, o que lhe não e exigido na análise da informação fi nanceira histórica. Como já dizia, em 501 a.C., o fi lósofo grego Heráclito, «não há nada permanente, exceto a mudança».

As características da informação fi nanceira histórica e as características que atribuímos à informação prospetiva, permitem-nos fazer o seguinte quadro resumo:

Quadro 4: Comparação em IFH e IFP

Características Informação fi nanceira histórica

Informação fi nanceira prospetiva

Verifi cabilidade X

Quantitativa X

Análise isolada X

Suporte objetivo X

Centrada X

Multidisciplinar X

Análise Sistémica

X

Base especulativa

X

Risco e incerteza

X

Análise do contexto

X

Mudança X

5. DiscussãoAs abordagens teórico-concetuais relativas à infor-

mação financeira prospetiva refletem alguns problemas e inconvenientes ainda não resolvidos, relativamente à regulamentação deste tipo de informação. Em primeiro lugar, por razões diversas, a própria empresa pode não estar interessada em facultar informação previsio-nal com o argumento de que se trata de informação secreta, suscetível de colocar em causa a capacidade competitiva da empresa. Por outro lado, ao ser pu-blicitada, pode alertar ou atrair a concorrência e, por

consequência, pode colocar em causa a própria conti-nuidade da empresa. Outro argumento que pode afetar a sua divulgação é a eventual responsabilidade em que os administradores da empresa podem incorrer, quando as previsões sejam manifestamente erradas ou inadequadas, o que pode colocar problemas jurídicos relacionadas com a responsabilidade daqueles agentes por comportamentos culposo, em caso de negligência grave ou abuso de poder. No entanto, para Herwitz (2006, p. 247-273) a responsabilidade do agente pelas previsões só ocorre em casos muito limitados relativos a distorções provocadas por uma má-fé expressa e in-tencional. Outro argumento esgrimido contra as previ-sões radica no facto de quando a previsão é publicada adquire uma relevância pública e quando os desvios são significativos podem colocar a imagem dos admi-nistradores em causa. Daí que, quando a sua publica-ção é obrigatória, o comportamento dos responsáveis é bastante conservador e, de uma maneira geral, os pressupostos estão muito vinculados a períodos muito recentes do desenvolvimento passado das empresas. A utilidade da divulgação das previsões está estritamente relacionada com as premissas subjacentes, expressas ou ocultas, e que dão contornos às previsões efetua-das. Acresce que, na ausência de uma recusa taxativa sobre esta problemática, os instrumentos de gestão previsional devem ser observados mais de uma pers-petiva qualitativa do que quantitativa, e de uma forma mais informal do que formal, por isso, a sua apresen-tação por cenários é desejável, admitindo-se, assim, a existência de vários grupos de premissas.

A regulamentação da informação financeira pros-petiva, no quadro de uma publicação obrigatória ou facultativa, acompanhada do exame das contas previ-sionais, tem suscitado reações de oposição por parte dos auditores, atendendo a que a revisão da informação financeira histórica é bastante mais confortável. De fac-to, é mais fácil para o auditor verificar o passado do que pronunciar se sobre o futuro. O exame, contudo, não significa a certificação da informação previsional: deve ser entendido mais como conselho sobre os documentos previsionais. Atendendo a que a previsão é incerta, por definição, compete ao auditor pronunciar-se, somente, sobre o funcionamento do sistema previsional, bem como sobre a coerência das hipóteses de base, subja-centes às previsões.

6. Considerações FinaisA informação fi nanceira prospetiva, bem como as

Demonstrações Financeiras previsionais refl etem uma infor-mação dirigida ao futuro englobando: a situação fi nanceira prevista, os resultados das operações e a mutação da posi-ção fi nanceira sobre o futuro.

Este tipo de informação engloba os seguintes aspetos: previsões, projeções, estudos de viabilidade, análise do break-even point e orçamentos.

Os pressupostos em que assenta podem ser infl uencia-dos por fatores endógenos e exógenos, e, em consequên-cia, assume-se que a fi abilidade dos relatórios nunca pode ser garantida.

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Terceiro Setore Tributação 8José Eduardo Sabo Paes (coordenador)

Por seu conteúdo, a obra visa de sentido à pesquisa e ao estudo das relações entre o estado, a sociedade e a tributação e harmonizar-se com os desafi os sempre presentes em nossa sociedade, que busca, a cada dia, ser mais igualitária, o que só será, em sua plenitude, com a contribuição de todos, por meio de valores éticos e comportamentos transparentes e responsáveis.

É fundamental estarmos todos nós, cidadãos, sensíveis às transformações da sociedade para agir com dignidade e ética, sendo capazes de manter o permanente compromisso com um mundo mais justo e equânime, em que a paz e o respeito mútuo sejam a tônica e o corolário de nossas relações pessoais, sociais e profissionais.

Editora Elevação

Organizações da Sociedade Civil: Associações e Fundações. Constituição, Funcionamento de DirigentesAutores: Airton Grazzioli, José Eduardo Sabo Paes, Marcelo Henrique dos Santos e José Antonio de França

Por seu conteúdo, a obra visa de sentido à pesquisa e ao estudo das relações entre o estado, a sociedade e a tributação e harmonizar-se com os desafi os sempre presentes em nossa sociedade, que busca, a cada dia, ser mais igualitária, o que só será, em sua plenitude, com a contribuição de todos, por meio de valores éticos e comportamentos transparentes e responsáveis.

É fundamental estarmos todos nós, cidadãos, sensíveis às transformações da sociedade para agir com dignidade e ética, sendo capazes de manter o permanente compromisso com um mundo mais justo e equânime, em que a paz e o respeito mútuo sejam a tônica e o corolário de nossas relações pessoais, sociais e profi ssionais.

Editora Educ