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Ano V I Nº 21 Ago/Out - 2003 ISSN 1519-0412

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Ano V I • Nº 21 • Ago/Out - 2003

ISSN 1519-0412

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PensarContábil

Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

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Ago/Out - 2003

Pensar

Editorial

ÍndiceExpediente

CONSELHO REGIONAL DECONTABILIDADEDO ESTADO DO RIO DE JANEIROPraça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andaresRio de Janeiro - RJ - CEP 20091-040

Tel. (21) 2216-9595 - Fax (21) 2516-0878Home Page: www.crc.org.br

E-mail (envio de artigos): [email protected] (assinatura): [email protected]

ContábilISSN 1519-0412

Uma publicação do

CONSELHO DIRETOR

Presidente: Nelson Monteiro da Rocha

Vice-Presidente de DesenvolvimentoProfissional: Antonio Miguel Fernandes

Vice-Presidente de Administração e Finanças: Diva Maria de Oliveira Gesualdi

Vice-Presidente de Fiscalização do ExercícioProfissional: Vitória Maria da Silva

Vice-Presidente de Registro:

Carlos de La Rocque

Vice-Presidente de Controle Interno: Paulo Cesar de Castro

Vice-Presidente de Interior: Cezar Stagi

CONSELHO EDITORIAL

Coordenador: Antonio Miguel Fernandes

Conselheiro Jorge Ribeiro dos Passos Rosa

Conselheiro Josir Simeone

Conselheiro Walter Conceição

Conselheiro Waldir Ladeira

Editora: Rosa Helena Martire (MT 21405)

Projeto Gráfico: W&C- Comunicação

Diagramação: Adriano Antunes dos Santos

Revisão: Claudia Stivelman

Estagiário: Marcelo Bernardo Pereira

PENSAR CONTÁBIL: UMA REFERÊNCIAA Pensar Contábil, com seis anos de existência, vem procu-

rando cumprir a sua missão de propiciar aos pesquisadores eprofissionais contábeis a produção de artigos que contribuamcomo fonte de conhecimentos para os contabilistas e a umagama significativa de estudantes dos cursos de graduação e depós-graduação (lato e strictu senso).

A revista técnica do Conselho Regional de Contabilidade doEstado do Rio de Janeiro era um sonho antigo que conseguiuse tornar real a partir do primeiro mandato do contador Carlosde La Rocque, em 1998.

A Pensar Contábil tem uma característica diferenciada emrelação às demais revistas congêneres, já que uma parte de suaedição, normalmente, destina-se a publicação de artigos gené-ricos, que contribuam para o aprimoramento cultural do seu lei-tor. São artigos desenvolvidos a partir das demais ciências soci-ais, como economia, sociologia, antropologia etc.

Em nossa modesta avaliação a revista vem crescendo emconteúdo e já se tornou uma referência de consulta no mundoacadêmico pelo número significativo de novos assinantes que aprocuram.

Para que aprimoremos o estágio atual, é necessário que te-nhamos uma quantidade maior de artigos e para tornar a revistamais diversificada.

A Pensar Contábil não possui patrocinadores, quem arcacom todos os custos é o CRC-RJ, fato que impede sua ediçãomensal. Entretanto, o nosso compromisso com a sociedade, aocolocarmos em circulação a Pensar Contábil, é superior a qual-quer dificuldade de ordem financeira.

Aproveitem esta edição que está bem diversificada e comartigos muito bem elaborados.

Antonio Miguel Fernandes Vice-presidente de Desenvolvimento Profissional

PETRÓLEO E GÁS:RESULTADOS E AMBIGUIDADES ............................................. 4Leonardo Cezar Rocha Neves

O PERFIL DO PROFISSIONAL CONTÁBILNO CONTEXTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS ........................ 7Carlos Eduardo Barros LeiteFernando de Oliveira Santoro

NORMATIZAÇÃO CONTÁBILINTERNACIONAL EM NOVOS RUMOS ..................................... 14Antônio Lopes de Sá

UMA INICIAÇÃO A COMPARAÇÃO DAS PRÁTICASCONTÁBEIS INTERNACIONAIS (IAS),AMERICANAS (EUA) E BRASILEIRAS (BR) ............................ 19Kene Cristina Pereira

EVIDENCIAÇÃO DOVALOR DA MARCA ...................................................................... 25Josué Vieira dos Santos

A REDUÇÃO DOS CUSTOS DE UMA EMPRESAINDUSTRIAL ALICERÇADA NOGERENCIAMENTO DE PROCESSOS ........................................ 31Marco Aurélio Batista de SousaFabiano Maury RauppIlse Maria Beuren

O CASO DAS EMPRESAS JUNIORES DO ESTADODE MINAS GERAIS - TRANSFORMANDO OTEMPO EM QUALIDADE DE VIDA ............................................. 37Denise Carneiro dos Reis BernardoGeová José Madeira

EVIDÊNCIAS DAS PARTIDAS DOBRADAS ATRAVÉSDA MATEMÁTICA NA MESOPOTÂMIA ..................................... 45Elizabete Marinho Serra Negra

Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Ago/Out - 2003

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1 – INTRODUÇÃONo momento em que forte ameaça re-

pousa sobre as reservas de petróleo e gásdo Estado iraquiano e páira sobre a Ve-nezuela , em menor escala, um processode estilo semelhante, julgamos oportunoconsiderar alguns resultados e ambigui-dades instaladas no plano doméstico.

A mudança institucional da Lei do Pe-tróleo , que quebra o monopólio da Pe-trobrás, trouxe importantes implicaçõespara a dinâmica do sistema setorial bra-sileiro da indústria do petróleo. Óbvia-mente, são inegáveis as implicações po-sitivas dos resultados na exploração eprodução de óleo e gás e seus reflexosno crescimento do PIB e do emprego . Ocapítulo segundo analisa o caráter ambí-guo da imprensa ao veícular enfática-mente os resultados positivos da indús-tria do petróleo. Se por um lado , estasnotícias servem para informar aos leito-res sobre os avanços e conquistas dosetor. Por outro, atendem subrepticia-mente aos propósitos dos que advogama desregulamentação e o controle totaldo setor pelo mercado .

Relativamente ao capítulo terceiro sãoapresentados os aspectos decorrentes daação continuada da Lei 9.478/97 que tra-ta da quebra do monopólio do petróleo(FURTADO.A T. 2002.) Curiosamente, umdesses aspectos merece destaque por setratar do grande contingente de técnicosde nível médio e superior que entrou nopaís, bloqueando o trabalho dos nacio-nais . O capítulo ressalta ainda , em estilode denuncia a necessidade de reformula-ção do artigo 26 da citada lei que dá aos

PETRÓLEO E GÁS:RESULTADOS E AMBIGUIDADES

concessionários a propriedade do petró-leo e gás descobertos no país, contrarian-do o precito constitucional

2 – ALGO MAIS QUERESULTADOS EXITOSOS

Os expressivos resultados apresenta-dos pelo setor petróleo e gás, no períodopós monopólio, são inegáveis e conse-quentemente tem merecido grande des-taque da imprensa.

Há pelo menos, dois lados da natu-reza dos resultados, um lado , direta-mente relacionado a pesquisa explo-ratória com a descoberta de novoscampos e crescente produção de pe-tróleo e gás . Um outro lado igualmen-te importante está relacionado aos re-flexos no crescimento do PIB nacio-nal e geração de empregos. Conquan-to seja espetacular crescimento dosetor , motivo de esperança e prospe-ridade econômica para o país , seusexitosos números tem servido a algomais. Isto é, a múltiplos propósitos quetranscendem a esfera doméstica e aosenso comum.

2.1 – PETRÓLEO ,PIB E EMPREGO

De fato, o segmento que mais cresceufoi o de exploração e produção de petró-leo e gás . Em 1997 a atividade respondiapor 18,3% do PIB do petróleo que era deR$ 20,0 bilhões . Já em 2000este percen-tual subiu para 38,4 % de um total de R$52,6 bilhões , este crescimento segundo

Giovani Machado está relacionado a novaregulamentação do setor.

Nesse período a Petrobrás incremen-tou seus investimentos em exploração deR$ 3,4 bilhões (1997) para R$ 5,3 bilhões(2000). A produção nacional de petróleoda Estatal passou de 669 mil bpd (1997)para 1,3 milhão(2000).

De 1999 até o ano passado a AgênciaNacional do Petróleo, ANP ,realizou trêsleilões públicos ou seja, rodadas de licita-ções para a exploração de petróleo emdiversos blocos do país., quando foramassinados 67 contratos de concessão.Emjunho ́ próximo a Agência realizará a quar-ta rodada , concedendo 54 novas áreasa-inda não pesquisadas.

Nos quatro primeiros anos depois dofim do monopólio ( 1997 e 2000 ) a indús-tria do petróleo dobrou a sua participaçãono PIB nacional . Um estudo elaboradopela ANP , constatou que a contribuiçãodo setor petróleo para o PIB ,sem contar aparticipação dos impostos , passou de2,7% em 1997 para 5,4% em 2000. Eledestaca que o petróleo já é hoje um dosmais importantes para para a formaçãodo PIB. Para efeito de comparação a agro-pecuária pesa 7,7% , a construção civilpesa 9,1% , o setor automobilistico 4,1%e o siderurgico 2,5%. ( Ordoñez R. eFrança,M. 2002)

Relativamente ao mercado de traba-lho segundo as estimativas da Organiza-ção Nacinal da Industria doPetróleo(ONIP) , para cada US$1 bilhãoinvestido no setor de petróleo e gás , se-rão gerados outro US$ 1,180 bilhões naeconomia e 37 mil empregos . Hoje o

� Leonardo Cezar Rocha Neves

� Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. Economista pela UCAM e

professor-titular da Universidade Candido Mendes , Ex- economista Petrobrás

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número de empregados no setor é de500 mil e o volume de investimento pre-visto para o setor nos próximos quatroanos é de US $ 35 bilhões e absorverá100% do pessoal em diferentes funções, principalmente nas especialidades deengenharia naval ,química , mecânica,metalurgica e de minas . (Fernandes ,E.,2003)

Por outro lado o fundo de pensão Pe-tros , instituição de previdência privada dosempregados da Petrobrás investe em pro-jetos de diversos setores de infra-estrutu-ra , e no setor de petróleo aplicou seusrecursos em..infra-estrutura ( mais de R$1 bilhão ) nos últimos três anos criarammais de 100 mil empregos - 11.715 em-pregos diretos e 90.356 empregos indire-tos respectivamente nos campos de Mar-lim , Albacora e Nova Marlim ( Jornal daPetros,2002)

3 – FALÁCIAS EAMBIGUIDADES

A Lei 9478/97 estabeleceu novas di-retrizes políticas e regulatórias para to-dos os operadores, inclusive a estatalPetrobras, no mercado brasileiro de pe-tróleo e gás. Em decorrência as gran-des companhias internacionais e algu-mas nacionais passaram a operar , ex-plorar o subsolo brasileiro, notadamen-te nas áreas “offshore”. Nessa fase pósmonopólio em que inúmras empresasalocaram recursos ,investindo na pes-quisa exploratória , perfuração de po-ços e produção de óleo e gás , um certocontingente de mão –de-obra foi incor-porado ao mercado de trabalho, tal con-tingente ,tem sido destacado ,em termosnumérico ,de modo espetacular na im-prensa . Neste sentido , admite-se queveiculação desse fato pela imprensa te-nha com objetivo fortalecer a lógica devalidação do sistema pós monopólio :se o país convive com uma taxa de de-semprego em torno de 20% e se o siste-ma pós monopólio está empregando umgrande número de pessoas , então , asociedade poderá fazer opção pelo sis-tema que contribui para aliviar o desem-prego e tal opção “logicamente “deveser preservada e acolhida. Está implíci-to a percepção de que a lógica da im-prensa é de induzir a sociedade a daranuência e creditar como verdadeira aúnica opção , a do sistema pós monopó-lio do petróleo.

4.1 – A VULNERABILIDADEEM NÚMEROS

No período pós monopólio, inúmerosatores de diferentes procedências e incon-fessáveis propòsitos passaram a agir edesempenhar pápeis considerados es-tratégicos para o fortalecimento e consoli-dação de suas posições no setor petrolí-fero nacional com vínculos no mercadointernacional.

Em consequência foram sendo incor-porados diferentes fatores que contribui-ram para aumentar significativamente avulnerabilidade do Estado. Neste sentidoé essencial observar algumas decisõesdo poder executivo:

o Ministério do Trabalho autorizou ,em2001, o ingresso de 7.838 profissionaisestrangeiros no país. O Número é qua-se quatro vezes maior do que o registra-do em 1998, quando o mercado de pe-tróleo foi aberto e as empresas “impor-taram “ 2.079 trabalhadores. O maisconstante é o fluxo de entrada de diri-gentes de empresas petrolíferas : de1997 até 2001, foram 5.122” . (SIQUEIRA,F., 2002 ). Por outro lado étambém didático, observar-se a atuaçãodos atores internacionais .

Os Estados Unidos ,Japão e UniãoEuropéia estão pressionando o Brasilpara que haja abertura de mercado detrabalho para seus executivos e técni-cos atuarem no Brasil nos setores detelecomunicações, energia e bancos.Dados do Partido dos trabalhadoresapontam que 7 mil estrangeiros foramcontratados por empresas apenas en-tre os anos de 1998 e 1999. ( AEPET ,2002).

Ainda que um quadro carregados deincertezas se faça notar , é oportunomensionar a iniciativa de mobilzaçãode um grupo de especialistas para dis-cutir num forum específico questões dosdestinos das reservas e da proprieda-de do óleo e gás natural do país . Ospontos apresentados foram os seguin-tes:

-” Reorientar a ANP ,de acordo com anova política do governo para o segmen-to petróleo , para eliminar o tratamento di-feranciado e negativo, até aqui recebidopela Petrobras”.

- “Paralizar os processos de licitaçãode novas áreas de concessão explorató-rias , para rever e adequar às novas polí-ticas do setor a serem definidas no novo

governo pelo Conselho Nacional de Polí-tica Energética –CNPE”.

- Uniformizar os prazos dados a Petro-brás para os programas exploratórios einicio de produção das concessões” . (Fo-rum Pensar a Nova Petrobras, 2002)

– “Criar grupos de trabalho para re-ver a lei 9.478/97 para adequá-la aosinteresses nacionais , principalmente noartigo 26 que dá ao concessionárioapropriedade do petróleo e gásdescobertos,o que contraria o monopó-lio constitucional” . ( Forum Pensar aNova Petrobrás,2002)

Relativamente ao artigo 60 da citadalei ,também deve ser suprimido , pois asua pemanência neste diploma legal co-loca em risco o abastecimento e a segu-rança nacional . O citado artigo permitea exportação do petróleo pela empresaprodutora , inclusive as multinacionais .Assim sendo, numa situação de emer-gência de abastecimento , o governo deseu país de origem certamente vai pres-sioná-la para que o petróleo prospecta-do seja enviado a sua matriz. E se o go-verno se dispuser a pagar o preço domercado internacional dificilmente teriaargumentos para forçar a empresea quedetém o óleo a vendê-lo no Brasil.

5 - CONCLUSÕES

Os resultados alcançados pelo setorpetróleo na atual fase , possivelmente temsido usado pelos meios de comunicaçãopara fortalecer a consciência de livre mer-cado .

De igual modo ,admite-se que os refle-xos positivos do petróleo e gás no PIB ena geração do emprego têem sido acolhi-dos acriticamente por expressivos seg-mentos da sociedade.

É evidente a mobilzação de alguns ato-res institucionais para evitar a transferên-cia de propriedade do petróleo nacionalpara grupos fora do país.

Possivelmente o perigo de esgotamen-to das reservas provadas de petróleo egás natural em menor prazo esteja asso-ciado ao processo de financeirização daeconomia mundial .

Percebe-se com clareza a pressa comque as licitações de novos blocos geoló-gicos tem sido realizados .

Há evidências da exclusão da mão-de –obra nacional e inclusão de grandecontingente de trabalhadores estrangei-ros.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) ASSAYAG,M. “ Desafios de Águas Profundas” Rio de Janeiro:Revista petrobrás , ano 8, nº 80, jul / 2002, p.17

(2) Associação dos Engenheiros da Petrobras, AEPET, “Pressão por Trabalho “,Rio de Janeiro: Nº254, p.4 , nov./02.

(3) Forum Pensar a Nova Petrobrás, 11.12, e21/11/2002 ,Salvador,Ba., p.7

(4) FURTADO, A .T. “Mudança Institucional e Inovação na Indústria Brasileira de Petróleo”.Rio de Janeiro:Revista Brasileirade Energia, Vol. 9, nº1, p.9, SBPE, 2002.

(5) Jornal da Petros, “ 100 mil Empregos”, Rio de Janeiro: Informativo da Fundação Petrobrás de Seguridade Social, Ano XII,Nº 11 , nov./2002 ,p.5 .

(6) METRI ,P. “Guerras pelo Petróleo Marcam a História Recente” Porto Alegre: Forum Social Mundial ,jan./ 2001 , p.11(7) ORDOÑEZ, R. , FRANÇA, M., “ O Petróleo o Combustível do PIB” ,Rio de Janeiro: O Globo, 24/03/2002, p.37.

(8) SIQUEIRA, F. “Invasão Estrangeira” , Rio de Janeiro : Associação dos Engenheiros da Petrobrás, AEPET,nº246, 10/07/2002, p.4.

* Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. Economista pela UCAM e professor-titular da UniversidadeCandido Mendes , Ex- economista Petrobrás

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O PERFIL DOPROFISSIONALCONTÁBIL NO

CONTEXTODAS NOVAS

TECNOLOGIAS

1 - IntroduçãoO desenvolvimento econômico de uma nação, bem como o

poder competitivo de suas empresas, possuem forte correlaçãocom o estágio tecnológico de um País. Na sociedade contempo-rânea, as principais atividades organizacionais são realizadaspor profissionais com habilidades em computação, impondo aosque almejam melhor colocação no mercado de trabalho conhe-cimentos em informática.

Neste ambiente, o profissional que não detiver noções bási-cas de computação estará fadado a desenvolver atividades comreduzido valor agregado para a economia. Tal fato está contri-buindo, sobremaneira, para o agravamento das desigualdadessociais, visto que a maior parte da população brasileira encon-tra uma série de dificuldades no que se refere a utilização e aoaprendizado dos recursos proporcionados pela Informática.

A revolução tecnológica, intensificada desde os meados doséculo passado, vem modificando, praticamente, todos os seto-res da sociedade. A contabilidade, como ciência social, tambémtem sido afetada por tal avanço. “O expressivo progresso daInformática influiu de forma inquestionável nos domínios daContabilidade. Quem analisa hoje, por exemplo, um sistema deinformação em rede pode ter idéia de quanto se modificou atradicional forma de processar tarefas contábeis.”(Sá, 1998, p.38). Para que a Ciência Contábil possa atender ao seu principalobjetivo1, em tempo hábil e com eficiência, torna-se imprescindí-vel que os seus profissionais estejam aptos a utilizar, de formaeficiente, os recursos computacionais em sua prática cotidiana.

Na era do conhecimento2, os agentes econômicos valorizamos indivíduos que detenham características empreendedoras,multidisciplinares e pró-ativas. Assim sendo, para que classecontábil possa fornecer serviços de alta qualidade para umasociedade, com tamanha exigência, é necessário que o conta-dor se adapte às novas tecnologias e que usufrua dos seusbenefícios.

Este artigo tem como finalidade analisar o estágio atual dedesenvolvimento tecnológico do país e as principais conseqü-ências deste processo para o aperfeiçoamento da classe contá-bil. Paralelamente a isto, será estudada, também, a importânciada Informática para o aprimoramento dos serviços prestadospelos profissionais da área contábil.

2 - A Importância doConhecimento na Sociedade

Contemporânea

Na atualidade, a geração de conhecimento e tecnologia sãofatores relevantes na produção da riqueza de uma nação. É pormeio deles que um país atinge níveis sócio-econômicos maiselevados.

No século XXI o poder e a riqueza das nações seráderivado do saber. Um país que não leva em conside-ração esta questão está fadado a participar do co-mércio internacional apenas de forma marginal, even-tualmente exportando commodities agrícolas, queestarão sempre perdendo o valor. Hoje, o que contasão os chamados produtos de alta tecnologia, comocomputadores, software, celulares, fármacos, nosquais o componente principal é o conhecimento. Pa-rece evidente que nenhuma nação poderá sobrevi-ver dignamente se não fizer parte da sociedade doconhecimento. (http://www.cicuta.com.br/excluidos_da_era_digital.htm, 2003)

Determinadas questões que afetam os países em desenvol-vimento como, por exemplo, o aumento das desigualdades so-

1 O principal objetivo da contabilidade é prover seus diversos usuários com informações relevantes, de forma a apoiá-los na tomada de decisões de natureza econômica

e financeira ou na formação de suas avaliações.

2 Termo utilizado por vários estudiosos para descrever uma série de fenômenos que estão ocorrendo na atualidade.

� Mestre em Ciências Contábeis na UERJ com especialização

na área de Auditoria e Educação

�� Mestrando em Ciências Contábeis pela UERJ

O PERFIL DOPROFISSIONALCONTÁBIL NO

CONTEXTODAS NOVAS

TECNOLOGIAS� Carlos Eduardo Barros Leite

�� Fernando de Oliveira Santoro

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ciais, a produção de bens econômicos com reduzido valor agre-gado e a escassez de mão-de-obra qualificada, possuem fortecorrelação com a carência de investimentos no setor educacio-nal e na produção de novos conhecimentos.

Um dos fatores responsáveis pela nova conjuntura sócio-eco-nômica se deu com o desenvolvimento e a disseminação dainformática. E isto só foi possível em virtude dos constantes avan-ços do conhecimento humano. Entretanto, é reduzido o númerode países que disputam a liderança tecnológica mundial, sendoeste, inclusive, um dos principais responsáveis pelo aumentodas desigualdades sócio-econômicas entre as nações mais ri-cas e as mais pobres.

Em virtude do contraste existente entre o estágio atual daevolução tecnológica e o que se verifica no país, o governobrasileiro deverá investir, em um prazo relativamente curto detempo, um significativo montante de recursos no fomento à pes-quisa, haja vista que este é o primeiro passo a ser dado rumo àmodernização. Porém, o que tem se constatado nos últimos anosé justamente o inverso.

Uma particularidade bem conhecida do Brasil é oreduzido volume de recursos alocados em ciência etecnologia (C&T), como proporção do produto internobruto (PIB). Aqui, há mais de duas décadas, a razãoentre C&T/PIB não ultrapassa cerca de 0,8%, enquantonos Estados Unidos e na Alemanha, por exemplo, apercentagem está próxima a 3%. Além disso, no Bra-sil a despesa em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)executada pela empresa (pública ou privada) é pou-co expressiva. (Matesco, 1998, p.1)

A principal conseqüência desta situação é o aumento pro-gressivo do hiato existente entre os países que estão na van-guarda das novas tecnologias e os outros que se encontram naperiferia deste processo, como é o caso, por exemplo, do Brasil.

O nível atual de desenvolvimento tecnológico dos países podeser dividido, a título de evidenciação, em, basicamente, três tipo-logias, a saber:

a) os sistemas maduros, com a capacidade demanter o país próximo da (ou na) fronteira tecnológi-ca internacional. Nesta primeira tipologia está o gru-po de países formado pelos Estados Unidos, Alema-nha e Japão — que disputam a liderança tecnológicamundial —, e o grupo composto pela França, Inglater-ra e Itália, com dinamismo tecnológico bastante acen-tuado, porém relativamente menor em relação ao pri-meiro grupo;

b) os sistemas intermediários, voltados basica-mente à difusão da inovação, com forte capacidadedoméstica de absorver os avanços técnicos geradosnos sistemas maduros. Nesta categoria encontram-se dois grupos de países. Os “pequenos de alta ren-da”: Suécia, Dinamarca, Holanda e Suíça; e os paí-ses asiáticos: Coréia do Sul e Taiwan. Esses paísestornaram-se bastante especializados, aproveitandoas suas vantagens de localização por estarem próxi-mos dos principais centros avançados tecnologica-mente — como fatores relevantes para a criação devantagens comparativas; e

c) os sistemas incompletos, constituídos por umainfra-estrutura tecnológica mínima. Esses sistemas

estão presentes em países em desenvolvimento, taiscomo: Brasil, Argentina, México e Índia. A característi-ca comum destes sistemas é a sua baixa articulaçãocom o setor produtivo, o que contribui relativamentepouco para o crescimento econômico. Esses paísesconstruíram os seus sistemas de C&T, porém não ostransformaram em sistemas de inovação [Albuquerque(1995) apud Nelson (1977)]. (Matesco, 1998, p. 3)

3 - A Função da Educação naSociedade do Conhecimento

A situação do Brasil é preocupante quando comparada compaíses que estão na dianteira do processo tecnológico, como,por exemplo, Estados Unidos, Japão e Alemanha.

Para que o país possa superar o anacronismo tecnológico,torna-se necessário a evolução do modelo educacional. Na atu-alidade, a educação é abordada sob uma nova perspectiva,onde ela é apresentada como uma espécie de pedra angular.

... educar em uma sociedade da informação signi-fica muito mais que treinar pessoas para o uso dastecnologias de informação e comunicação: trata-sede investir na criação de competências suficientemen-te amplas que lhes permitam ter uma atuação efetivana produção de bens e serviços, tomar decisões fun-damentadas no conhecimento, operar com fluênciaos novos meios e ferramentas em seu trabalho, bemcomo aplicar criativamente as novas mídias, seja emusos simples e rotineiros, seja em aplicações maissofisticadas. Trata-se também de formar os indivídu-os para “aprender a aprender”, de modo a serem ca-pazes de lidar positivamente com a contínua e acele-rada transformação da base tecnológica. (Takahashi,2000, p. 25).

Num ambiente deste tipo a participação de toda sociedade éfundamental, desde o governo, através de suas políticas institu-cionais, passando pelas universidades (local nato para a cons-trução do saber) e pelas instituições privadas, que deverão, jun-tamente com o poder central, investir maciçamente na capacita-ção de novos pesquisadores, principalmente, através de convê-nios com as universidades, até chegar à sociedade civil que temo dever de acompanhar e fiscalizar tais iniciativas.

As empresas e os trabalhadores deste novo contexto têmcomo principal desafio à busca contínua pelo conhecimento,visto que, a cada instante uma nova tecnologia é inserida nomercado e o que era novo torna-se desatualizado em um curtoespaço de tempo. As instituições de ensino não ficam indiferen-tes a todas estas transformações, pois são nelas que será for-mada a principal matéria-prima deste processo, o ser-humano.

O educador, na atual circunstância, deve buscar formar indi-víduos críticos, ou seja, pessoas “capazes de reformular conhe-cimentos e expressar-se criativa e apropriadamente, assim comodevem ser capazes de produzir e gerar informação, ao invés demeramente compreendê-la” (Amorin, 2003, p. 15)

Assim sendo, democratizar o conhecimento proporcionadopelos meios computacionais, ou seja, estendê-lo a todos os in-divíduos da sociedade, passa a ser, nos próximos anos, umadas metas da sociedade, independentemente, da ideologia po-lítico-partidária de seus governos.

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4 - A Exclusão Digital no Brasil

Com a disseminação da informática em, praticamente, todosos setores da sociedade, a sua universalização a todos os cida-dãos tornou-se uma questão presente. Com isso surgiram vári-as políticas, tanto de iniciativa pública quanto da sociedade civil,com o intuito de atenuar a exclusão digital, conceituada como aprivação “seja por motivos sociais, econômicos, políticos e/ouculturais – do acesso às vantagens e os benefícios trazidos pe-las novas tecnologias de informação e comunicação” (Milagres& Cattelan, 2003, p. 4).

O Brasil, considerado um País em desenvolvimento, contacom cerca de 85,24%3 de analfabetos digitais. Sendo assim,grande parte da população se encontra marginalizada na buscapor melhores colocações.

Já temos em nosso país várias categorias de ex-cluídos: os da terra, os da educação, os do emprego,os da saúde e os da moradia, entre outros. Agoraestamos passando a conviver com um novo tipo deexclusão. Trata-se da exclusão digital. Ela é tão oumais grave que as outras, pois já se torna obstáculopara as pessoas obterem empregos dignos. (Feld-mann, 2001, p. A3)

Além desta, há outras informações relevantes sobre a exclu-são digital no país, tais como:

a) Devido à escassez de cursos gratuitos de infor-mática, os indivíduos pertencentes às classes sociaismenos favorecidas acabam, por falta de opções, ten-do que recorrer aos cursos pagos com resultados nemsempre satisfatórios. (Cf. Takahashi, 2000, p. 25);

b) De acordo com o Censo de 20004, apenas10,56% dos domicílios particulares permanentes pos-suem computador. Segundo o e-rating5, cerca de8,25% dos brasileiros acessam a Internet. Compa-rando tais taxas com as de países com a liderançatecnológica como, por exemplo, os Estados Unidos(51% das residências possuem pelo menos um com-putador e 41,50% têm acesso à internet)6 verifica-seo atraso brasileiro perante as nações mais desenvol-vidas.

c) A maioria das escolas públicas ainda não foiinformatizada; menos de 10% dos municípios brasi-leiros dispõe de infra-estrutura local para conexão àInternet; o país detém na atualidade, apenas, 40 mi-lhões de linhas telefônicas. (Cf. Baggio, 2003, p. 2)

O resultado desta situação é a exclusão de milhares de indi-víduos do mercado de trabalho, o que acaba refletindo no au-mento das desigualdades sociais e na maior dificuldade de as-censão social. Assim, a exclusão digital emerge neste início deséculo como um desafio para a sociedade brasileira.

Para a superação deste problema será necessário que a so-ciedade brasileira crie iniciativas com o intuito de universalizar

os benefícios promovidos pela Informática a toda população ede forma indistinta, onde cada indivíduo possa:

- Ter acesso aos recursos promovidos pela Infor-mática;

- Ser usuário ativo dos programas computacionais;- Agir como reprodutor, para toda a comunidade,

dos benefícios e dos usos proporcionados por estaCiência.

Atualmente, existe no Brasil uma escassez de pessoal quali-ficado para dar suporte ao aumento da demanda observada noatual mercado de trabalho.

É preciso aumentar drasticamente o nível de alfa-betização do País. A penetração das novas tecnologi-as de informação e comunicação tende a estagnar,pois hoje ela se restringe basicamente às classes demaior poder aquisitivo. O aumento do grau de tal pe-netração na sociedade brasileira depende, entre ou-tros, da alfabetização digital das classes sociais eco-nomicamente menos favorecidas. Um aumento signi-ficativo do grau de penetração é essencial para dei-xar a sociedade mais bem preparada para as mudan-ças em curso. (Takahashi, p. 35, 2000)

Para que o país possa democratizar de forma efetiva o aces-so e a utilização dos meios computacionais é necessário quehaja uma acentuada expansão de projetos de capacitação emInformática, para, assim, diminuir a desigualdade social e pro-mover a formação de indivíduos capazes de competir de formamais igualitária no acirrado mercado de trabalho.

4.1 - Disseminação de Parcerias

Para que a exclusão digital seja atenuada, torna-se necessá-rio a disseminação de parcerias entre o governo, iniciativa pri-vada e os diversos setores organizados da sociedade civil.

Em notícia divulgada em 23/01/03 no site do ministério daCiência e Tecnologia7, o ministro Roberto Amaral ressalta aimportância da iniciativa privada na participação de projetos quecontribuam para o avanço tecnológico:

Segundo ele, enquanto nos Estados Unidos os apor-tes privados em C&T chegam a responder por 86% dototal, no Brasil, apenas 26% dos investimentos vêm dainiciativa privada. De acordo com Amaral, nos paíseschamados de “primeiro mundo”, as inovações tecnoló-gicas resultam da participação do empresariado, en-quanto no Brasil, somos dependentes das universida-des. “Nós precisamos corrigir isso”, admitiu o ministro.

O compartilhamento desta responsabilidade entre estas trêsesferas resultará na criação de projetos que tornarão possível auniversalização da informática para toda a população do país,independentemente da condição social dos seus habitantes.

Atualmente, há várias parcerias sob a coordenação de insti-tuições não governamentais que têm se dedicado à dissemina-

3 Dado disponibilizado pelo Relógio da Inclusão Digital, presente no site www.cdi.org.br.

4 www.ibge.gov.br

5 www.ipobe.com.br

6 Dados extraídos do censo americano de 2000, no site www.census.gov

7 http://www.mct.gov.br/comunicacao/textos/default.asp?cod_tipo=1&cod_texto=3113

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ção, entre a população mais carente, do acesso aos benefíciosproporcionados pela informática. Dentre elas pode-se destacar:

- O VivaRio: atua em diversas comunidades ca-rentes no Estado do Rio de Janeiro, através da dispo-nibilização de cursos de informática, acesso a Inter-net e formação para a cidadania. Neste empreendi-mento, há a cooperação de várias empresas, dentreelas a Rede Globo de Televisão;

- O Comitê para a Democratização da Informáti-ca (CDI): atua em vários estados brasileiros e promo-ve programas educacionais e profissionalizantes, como fim de reintegrar os membros de comunidades po-bres, principalmente crianças e jovens, diminuindo,desta forma, os níveis de exclusão social do país. Hávárias entidades que apóiam este projeto, dentre elas,pode-se destacar: a Unesco, a Fundação Starmediae a EXXON; e

- A Nação.br: tem a função de promover o desen-volvimento de soluções inovadoras para o governoeletrônico e a inclusão digital, através da cooperaçãoentre os setores empresarial, acadêmico, organiza-ções governamentais e do terceiro setor. Várias enti-dades participantes deste projeto, tais como: o Cen-tro de Desenvolvimento Tecnológico da Universida-de de Brasília (CDT) e o Centro de Tecnologia deSoftware (Tecsoft), a Fundação Certi (Centros de Re-ferência em Tecnologias Inovadoras)

Um dos principais problemas, pelos quais entravam uma maiordisseminação destes serviços se deve a fatores de naturezaeconômico-financeira, isto porque o custo para implantar e man-ter uma infra-estrutura adequada para dar suporte a uma inicia-tiva deste nível é muito alto.

Diferentemente do que acontece com as nações industriali-zadas, os países em via de desenvolvimento, como o Brasil,enfrentam uma série de dificuldades para dar seqüência a estepropósito, entre elas, pode-se destacar:

a) Alto custo tanto dos equipamentos como dossoftwares;

b) Falta de tradição da iniciativa privada no envol-vimento ativo de projetos desta magnitude; e

c) O fato da revolução da informática ter atingidoestes países sem que, antes, tenha sido resolvido pro-blemas centrais na área educacional, como, por exem-plo, o analfabetismo e a baixa instrução educacionalda maior parte da população.

Um outro fator que deve ser destacado, diz respeito ao fato damaioria das escolas públicas brasileiras ainda não disponibili-zarem o acesso à informática aos seus alunos. E esta situação,infelizmente, não se restringe as escolas de nível básico, mas seestende a todos os níveis de ensino:

Nos três níveis do ensino formal, são raras as es-colas públicas e poucas as particulares que se utili-zam da informática em suas disciplinas. O professoruniversitário – até o que usa as redes para suas pes-quisas – pouco utiliza as tecnologias de informação eda comunicação como meio de aumentar a eficáciado processo de ensino-aprendizagem. Os currículosescolares, por outro lado, de modo geral não incluemformação sobre o uso e a importância da informação

que incentive a discussão sobre os principais aspec-tos e problemas de uma sociedade da informação.(Takahashi, p. 52, 2000)

5 - O Mercado de Trabalhona Nova Economia

A evolução da informática, principalmente nas últimas déca-das, vem promovendo profundas transformações em toda a so-ciedade. No que diz respeito à economia, este progresso origi-nou um novo padrão de competição globalizada, onde “a capa-cidade de gerar inovações em intervalos de tempo cada vezmais reduzidos é de vital importância para empresas epaíses.”(Takahashi, 2000, p. 38)

Os benefícios proporcionados pela utilização destas novastecnologias têm possibilitado que as empresas sejam mais efi-cazes e eficientes quanto:

- A utilização mais racional do capital investido, damão-de-obra empregada e no uso dos recursos natu-rais aplicados no processo produtivo;

- A produção e a comercialização dos seus produ-tos; e

- As alternativas de novos investimentos;O perfil do novo trabalhador, apto a preencher as melhores

colocações na sociedade contemporânea encontra-se em cons-tante transformação. Assim, estão surgindo novas profissões,enquanto outras são transformadas, substituídas ou até mesmoeliminadas. O principal efeito desta situação é o aumento dohiato, no que se refere à remuneração e ao prestigio social,entre os trabalhadores mais qualificados, quando comparadoscom os de menor qualificação.

Até que ponto as relações de trabalho podem sedeteriorar é também uma preocupação. Mantida atendência atual, alguns estudos apontam que, no iní-cio do novo século, apenas 25% da população eco-nomicamente ativa será de trabalhadores permanen-tes qualificados e protegidos pela legislação, 25%dos trabalhadores deverão estar nos chamados seg-mentos informais, pouco qualificados e desprotegi-dos, assim como 50% dos trabalhadores poderão estardesempregados ou subempregados, em trabalhossazonais, ocasionais e totalmente desprotegidos pelalegislação. (Takahashi, 2000, p. 42)

Prever as necessidades futuras do mercado de trabalho cons-titui-se tarefa das mais complexas. Entretanto, é de consensogeral que as melhores oportunidades serão oferecidas aos tra-balhadores com capital intelectual bem apurado, ou seja, profis-sionais que:

- Tenham capacidade de abstração;- Desenvolvam o pensamento sistêmico, ao invés

da compreensão parcial e/ou fragmentada dos fenô-menos;

- Tenham criatividade, curiosidade e capacidadede pensar em múltiplas alternativas para um mesmoproblema (desenvolvimento do pensamento divergen-te);

- Detenham a capacidade de trabalhar em equipe,disposição para procurar e aceitar críticas;

- Possuam disposição para o risco; e

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- Desenvolvem o pensamento crítico, tenham ca-pacidade de buscar conhecimento, e desenvolvemcapacidade de comunicação. (Cf. ME, 1999)

Num contexto, como o da atualidade, onde os recursos tec-nológicos estão presentes, em, praticamente, todas as ativida-des sociais, é indispensável que todos os profissionais tenham,pelo menos, um conhecimento mínimo de informática.

O profissional da área contábil não está indiferente a esteprocesso. Chamado de “guarda-livros” no passado, na atualida-de, ele está em constante evolução. Porém, para que o Conta-dor alcance o status que lhe é devido na sociedade ele deve,assim como os demais profissionais da “era do conhecimento”,assumir uma postura pró-ativa e estar permanentemente se ade-quando com as novas tecnologias, com o intuito de atender, damelhor maneira possível, os usuários dos seus serviços.

O contador do presente e do futuro que estamosquerendo ajudar a formar é, de acordo com as nos-sas premissas, um homem conhecedor de sua área,obviamente com grande habilidade para relacionar-se, saber influenciar grupos e pessoas, dotado degrande habilidade numérico-quantitativa e capaz dedeslocar-se para a área de sistemas e informáticacom relativa facilidade, e conhecedor dos limites desua atuação. Machado (Machado, 1986, p. 43)

A difusão de novas tecnologias da informação tem se dadode forma lenta e gradual dentre as organizações brasileiras.Entretanto, para que o país possa competir globalmente, torna-se necessário formar um elevado número de profissionais aptosa operar estas novas ferramentas.

Como a demanda por novas aplicações crescerávertiginosamente nos próximos anos, é importanteque futuros profissionais de diferentes áreas de nívelmédio e superior sejam habilitados a desenvolveraplicações em informática de complexidade menor,já que dificilmente serão formados especialistas deinformática em número suficiente para atender a todaa demanda. [...] A fim de habilitar minimamente profis-sionais de outras áreas no desenvolvimento de apli-cações é necessário que atividades educacionaisusem mais intensivamente a informática como meio.(Takahashi, 2000, p. 48)

Desta forma, conforme as novas tecnologias vão se integran-do ao cotidiano da sociedade, o aprendizado de conhecimentosrelacionados à informática, assim como saber ler, escrever econtar, passou a ser um requisito básico para qualquer tipo deocupação, que exija um mínimo de qualificação técnica dos seusprofissionais.

6 - A Inserção da Contabilidade naEra do Conhecimento

6.2. - O Desenvolvimento das Práticas Contábeisno Contexto da Evolução Tecnológica

Desde os primórdios, o homem vem desenvolvendo formasde lhe poupar o esforço mental no cômputo das transações.

Dentre estas, o que tem sido mais eficaz para auxilia-lo foi ainvenção da máquina, em seu sentido amplo. Este achado, des-de a sua criação, na qual foi originado numa forma rústica, atéos dias atuais, consubstanciado por meio dos supercomputado-res, tem proporcionado tantos benefícios à sociedade que tentarmensurá-lo seria algo praticamente impossível.

De forma paralela, o sistema de escrituração contábil sempreacompanhou de perto a evolução desta tecnologia, se utilizan-do, portanto, dos benefícios proporcionados por estas inven-ções.

Durante este período, houve, basicamente, três fases relacio-nadas à evolução da escrituração contábil, a saber: a manual, amecânica e a eletrônica.

A escrituração manual, por exemplo, foi perdendo espaço tãologo ocorreu o surgimento das primeiras máquinas mecânicas.Este processo se efetivou a partir da Revolução Industrial, ondeiniciou-se uma nova etapa, caracterizada pela incorporação deuma variada gama de aparelhos nos escritórios das corpora-ções, facilitando, desta forma, o processamento da informaçãocontábil. (Cf. Cosenza, 1999, p.197)

Com o passar do tempo, este sistema de escrituração evolui,surgindo, com isso “as máquinas dotadas de somadores, calcu-ladoras, controles de saldos, barras programáveis e outros me-lhoramentos, todos voltados para a agilização e aperfeiçoamentodos registros contábeis”. (Machado, 1986, p.39)

Com o surgimento dos computadores da 3a geração8, houveum importante salto tecnológico e a escrituração contábil pas-sou a ser realizada de forma eletrônica, utilizando as máquinascomo um instrumento de trabalho imprescindível.

A introdução destes computadores facilitou, sobremaneira, otrabalho dos contadores, isto porque, a partir de então, tornou-se possível o armazenamento de uma maior quantidade de in-formações, a realização de cálculos e simulações com uma maioragilidade e a inserção simultânea de uma série de dados.

Com a disseminação dos microcomputadores pessoais nosescritórios, fato este ocorrido no inicio da década de 80, os re-gistros nos livros contábeis passaram a ser realizados por meiode sistemas de Processamento Eletrônico de Dados, os quaisficavam armazenados em meio magnético. Esta evolução foi degrande valia, visto que “as melhorias na forma de fazer contabi-lidade de uma empresa, utilizando-se a tecnologia da computa-ção, trouxeram enormes benefícios para os profissionais da área”.(Oliveira, 1997, p. 13)

No entanto, alguns contadores ficaram um tanto receososcom os progressivos avanços ocorridos na área tecnológica.Isto se devia ao fato deles considerarem a automação como umsinônimo de obsolescência profissional “a automação poderá,rapidamente, tornar o indivíduo obsoleto como profissional, poisgrande parte de suas funções, quando não a totalidade, serãoabsorvidas pela máquina”. (Spancholi, 1993, p. 5)

Entretanto, o uso da informática não substituirá ou marginali-zará o Contador, desde de que ele atente para as vantagens douso da computação. Na realidade, a tendência é de uma maiorvalorização profissional, pois a parte burocrática será relegadaàs tarefas mecânicas, liberando este profissional para tarefas

8 Primeira geração: computadores à válvula (até 1956); Segunda Geração: computadores transistorizados (1956

– 1963); Terceira Geração: computadores com circuitos integrados (1964

– 1971); Quarta Geração: computadores que utilizam chip (1971 a presente data).

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que se utilizem mais da capacidade intelectual.Hoje já não é mais possível aceitar o eficaz de-

sempenho profissional em um amplo leque de ativi-dades econômicas, científícas, educacionais e mes-mo esportivas, sem o indispensável apoio da infor-mática. O domínio do computador equivale ao que ofogo e a roda já proporcionaram um dia, em termosde mudança, avanços e desenvolvimento da huma-nidade. Inserida entre atividades de muita importân-cia para a empresa moderna, a contabilidade nãofoge à regra. Não regredir é a palavra de ordem e acada dia a adequada utilização da informática é cadavez mais fundamental. (Thompson, p. 20, 1991)

Torna-se necessário, então, que a classe contábil se consci-entize da necessidade em se adaptar às novas mudanças, poisas condições são favoráveis para a evolução da profissão. Casocontrário, ficará sob o risco de se tornar marginalizada no pro-cesso de desenvolvimento tecnológico. “A tecnologia de infor-mática passa a ser a principal preocupação do contador moder-no, podendo representar uma oportunidade ou uma ameaça àgeração de tais informações.”. (Cornachione, 1997, p.30)

Atualmente, segundo alguns autores9, a escrituração contá-bil se encontra numa nova fase.

Com a chegada dos computadores de grande por-te (...) iniciou-se a contabilização por evento, isto é, aescrituração contábil passou a ser um subproduto doevento (este estendido como o fato econômico queacontecia na empresa). Este processo passou a serdenominado como “contabilidade automática”. (Co-senza, 1999, p. 236)

Os importantes avanços tecnológicos, ocorridos nestes últi-mos anos, possibilitaram aos Sistemas de Escrituração Contábilevoluírem de tal maneira, que hoje o que se verifica é um redire-cionamento das funções exercidas pelo contador:

Uma fase mais moderna da contabilização eletrô-nica, atualmente em vigor, não está associada à pre-ocupação do evento, e, sim, com a documentação daorganização. [...]. Pelo que se observa, a automaçãoda Contabilidade está evoluindo, cada dia mais, nes-se sentido, e tende a chegar ao chamado “estado daarte”, onde o Contador ficaria preocupando-se somen-te com a parte prospectiva, em termos de planeja-mento operacional e financeiro, de política fiscal etributária, etc., não enfatizando, assim, a parte de re-gistro e conferência, que pouco valor tem agregadopara a profissão contábil. (Cosenza, 1999, p.242)

6.2 - Utilização da Tecnologia da Informação

A tecnologia da Informação, principalmente com o adventoda Internet, diminuiu as barreiras temporal e geográfica do prin-cipal produto da contabilidade, a informação. Tal fator proporci-

onou o aumento da relevância dos serviços prestados pelosContadores no processo de tomada de decisões.

A informática é uma das mais poderosas conquistas para aContabilidade, pois permite que a informação seja obtida emtempo hábil. Porém, na maioria das empresas, tal setor não con-tribui de forma eficiente para a maximização da riqueza da com-panhia, pois a informação contábil perde a relevância devido aoseu atraso.

Atualmente, uma empresa necessita esperar até ofinal do mês, ou o início do próximo (vários dias, àsvezes), para que seus executivos possam saber oresultado econômico ou contábil-financeiro das deci-sões que já tomaram há quase 30 dias. Isso não con-diz com as pressões sofridas pelos executivos no pro-cesso de gestão. (Riccio, 1997, p.9)

O Sistema de Informação Contábil é o principal alimentadordos vários sistemas gerenciais da Empresa, conforme discorreSpanholi (1933, p.4). “Queremos destacar o papel da contabili-dade [...], por ser uma área que interage, praticamente, com to-dos os demais segmentos da empresa, pois recebe e transfereum grande número de informações.”.

Quando bem estruturado, o Sistema de Informação Contá-bil é uma ferramenta poderosa para a otimização de dados.Cabe, então, ao Contador ter participação efetiva e pró-ativatanto na sua elaboração quanto nas suas atualizações. Eledeve dividir com os técnicos e analistas da área computacio-nal a responsabilidade da confecção de um sistema em que atransferência automática de dados proceda de forma ágil eracional.

7 - Conclusão

No atual estágio tecnológico, o contador deverá ser um pro-fissional generalista, sendo, portanto, capaz de compreenderassuntos relacionados a diversas áreas do conhecimento, como,por exemplo: economia, administração, direito, informática e etc.para poder, assim, produzir informações úteis para auxiliar, deforma efetiva, aos tomadores de decisões.

Nesta perspectiva, suas atribuições irão além do simples atode escriturar e elaborar demonstrações contábeis, pois ele par-ticipará ativamente da tomada de decisões, tornando, desta for-ma, o setor Contábil num centro de informações e num instru-mento de apoio gerencial. Contudo, para que isto se torne umarealidade, o contador deverá reformular o seu perfil profissional,passando de uma posição subvalorizada e acomodada parauma do tipo pró-ativa e visionária.

O reflexo direto desta iniciativa será o maior reconhecimento,pela sociedade, dos serviços prestados pela classe contábil. “Éinegável que a Contabilidade vem abrindo novos caminhos, queculminam na conquista da valorização profissional do Contador,tendendo ser essa a grande profissão nesta década.” (Bruneli,1992, p.51).

9 Consultar Cosenza, 1999 e Oliveira, 1997

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8 - Bibliografia

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- BRUNELI, Tereza Cecília. Informatização: um passo rumo à valorização do contador. Revista Brasileira de Contabilidade.Ano 21 n. 78 jan 1998.

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(Footnotes)

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Os graves problemas ocorridos com as normatizações contá-beis sugeriram modificações de critérios.

Seguindo diretrizes próprias, a Comunidade Européia vemde adotar novas medidas no sentido de perseguir maior sinceri-dade informativa.

A metodologia empregada parece buscar novos rumos quedeterminarão modificações de procedimentos, volvidos a atri-buir maior seriedade ao conceito de imagem fiel dos balanços,com, realmente, uma macro-regra prioritária.

SINCERIDADE DOSINFORMES CONTÁBEIS

A sinceridade dos balanços de há muito vem sendo evocadana Europa em matéria de doutrina, como o fez Bourquin, daUniversidade de Genebra, em todo um livro específico (obraidentificada na bibliografia - BOURQUIN), sugestões em traba-lhos técnicos e dispositivos legais.

Nem em todas as partes do mundo, todavia, tal fato mereceu,no século passado, a seriedade que se fazia necessária.

Assim, quando no Brasil se promulgou a lei 6404/76, paraservir a todas as sociedades por ações, mas, por extensão, tam-bém, às demais, a preocupação foi, apenas, a de copiar ummodelo que os estadunidenses adotavam por sugestão de suasentidades de classe, mas, sem compromisso com a realidade.

Em decorrência, a sinceridade expositiva ficou relegadaao esquecimento, pois nos Estados Unidos, na mesma épo-ca, se advertia, publicamente que tal arquétipo não tinha amenor preocupação com a exatidão e a clareza dos demons-trativos patrimoniais, e, especialmente, com os de resulta-dos.

Esta a razão pela qual o legislado (Lei 6404/76), em nenhumde seus artigos, refere-se expressamente a sinceridade exposi-tiva, nem, tão pouco, a clareza, mesmo sabendo-se que taisfatores são os imprescindíveis à qualidade das peças contá-beis.

Só presentemente e, assim mesmo, para as sociedades quenão são as constituídas por ações, o Código Civil Brasileiro de2002 obriga a “fidelidade e clareza”, em seu artigo 1.188, ou

seja, pende para a “imagem fiel”, aquela consagrada, também,atualmente, na Comunidade Européia.

Ou seja, finalmente, meio século depois do que enunciei emuma obra de minha autoria, em 1953 (referida na bibliografia,página 37 da edição brasileira) se atenta para as qualidadesfundamentais do balanço, aquelas que considerei como as im-prescindíveis.

IMAGEM FIELDO PATRIMÔNIO

A macro-regra da “imagem fiel” é pétrea, ou seja, é aquela àqual todos os princípios tecnológicos contábeis (uniformidade,oportunidade, competência etc.) devem estar subordinados,segundo o pensamento predominante na Europa e com o qualplenamente concordo.

É ilógico admitir que a aplicação de um conhecimento cientí-fico possa se afastar da verdade, esta que é o interesse e razãode existir da ciência.

Os levantamentos, registros, demonstrações, análises e apu-rações patrimoniais das células sociais, como aplicações deconhecimento, só adquirem qualidade se fieis à ciência da Con-tabilidade.

A expressão “fiel” é inequívoca no campo do saber, traduzin-do o que é objetivo, exato, rigoroso, ou seja, o que não se afastada “verdade”.

Uma “imagem fiel”, pois, só pode ser entendida contabilmen-te como a representação da verdadeira expressão do patrimô-nio e das transformações deste.

A interpretação de tal conceito, todavia, tem merecido inter-pretações variadas que vão de um extremo rigor a excessos deliberalidades.

Evoca-se que a “imagem” pode ser entendida como: 1) aconsuetudinária, 2) a do interesse de quem usa a informação oua 3) da prevalência da “essência sobre a forma” dos fatos.

Ou ainda, insiste-se em deixar a questão conceptual no cam-po das “alternativas”, o que é de todo ilógico e inadmissívelquando se considera que a matéria é de natureza pétrea e prio-ritária.

� Antônio Lopes de Sá

� Prof. Dr. em Contabilidade e autor de diversos livros

NORMATIZAÇÃO CONTÁBIL

INTERNACIONAL

EM NOVOS RUMOS

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O assunto mereceu da IASC, hoje IASB, em 1975 a considera-ção de que a imagem fiel é aquela que consagra a “prevalênciada essência sobre a forma”.

No fundo, esta maneira de entender é a que tende mais aaproximar-se da exatidão qualitativa dos fenômenos patrimoni-ais, ou seja, a que considera o fato pela função real e não pelamaneira como a lei ou um ato coercitivo diga que ele deva serapresentado ou que um equívoco ou ação incompetente possater mal evidenciado.

Como a IASB está hoje prestigiada, a vocação é a de que talinterpretação, sobre a “macro-regra” referida, seja deveras a queprevalecerá na Comunidade Européia, pelo que se depreende,também, da IV Diretiva por esta legislada (artigo 2.3).

O rigor da Diretiva alcança não só o atual estado do patrimô-nio e de suas transformações passadas, mas, igualmente, àsque possam no futuro ocorrer, mas já são perceptíveis (fatos po-tenciais).

A metodologia que agora tende a prevalecer é a do abandonodo conceito de “geralmente aceito”, expressão esta que já sevinha desmoralizando e corrompendo nos Estados Unidos (deonde se copiou o deficiente modelo) desde a década de 70 (in-clusive em charges na imprensa), mas que em nosso país, la-mentavelmente, foi inserida em texto na Lei 6404/76 (referida noartigo 177 como “paradigma”).

As advertências que fiz em minha obra “Aspectos contábeisda nova lei das sociedades por ações”, editada em 1978, sobreos erros da cópia de um modelo contábil que era repudiado nopróprio país de origem, foram todas em vão.

O tempo, todavia, incumbiu-se de comprovar a má qualidadetécnica dos procedimentos contábeis importados, mas, foi preci-so que prejuízos ocorressem para que se operasse o reconheci-mento do que acusávamos.

PROCEDIMENTOS DEFORMADORESE ADVERTÊNCIAS

Influiu negativamente, sobre o progresso do conhecimentocontábil no Brasil, a cópia do “paradigma americano”, especial-mente por se haver inserido o mesmo em leis e resoluções.

As referidas normas deformadoras, o próprio Senado dos Es-tados Unidos já as considerara de má qualidade, recomendan-do reformas, conforme conclusão que o sodalício expressou emsúmula de relatório de Comissão Parlamentar de Inquérito sobrefraudes no mercado de capitais, instaurada na década de 70 doséculo passado (referido na bibliografia deste artigo – U. S. SE-NATE).

Foi um erro importar como “evolução” o que na terra de ori-gem já era considerado como “recusável” e “atrasado”, assimostensivamente declarado por eminentes intelectuais da Conta-bilidade e pelo próprio poder político estadunidense.

Tão deficiente era (e ainda o é) o sistema contábil norte-ame-ricano que o procrastinar das providências para alterá-lo provo-cou, em 2002, outros grandes escândalos (ENRON, XEROX,WORLDCOM etc.) que de certa forma abalaram o conceito daprofissão contábil (como já havia ocorrido cerca de três décadasantes, sem providências posteriores palpáveis do governo dosEstados Unidos).

As advertências de grandes mestres da Contabilidade dosEstados Unidos sobre a má influência das normas não foram

levadas a sério e, de forma oposta, procurou-se, sim, desmere-cer as acusações justas que eram feitas, inclusive em livros (umdeles identificado na bibliografia deste artigo, de BRILOFF) eartigos específicos.

A metodologia equivocada dos normatizadores estaduniden-ses, o jogo de interesses para manipular ações na Bolsa, odomínio de grupos multinacionais nas entidades de classe con-tábil, através de seus auditores, (como se acha acusado peloSenado dos Estados Unidos no relatório referido), foi bastantepara a deformação dos critérios contábeis (tudo isto ainda so-mado ao descaso pelos aspectos científicos).

O impacto dos últimos escândalos, denunciando a má quali-dade dos procedimentos contábeis norte-americanos, todavia,foi suficiente para que a Comunidade Européia mudasse seurumo e para que a partir de 2002 viesse a repudiar uma harmo-nização que pudesse estar fundamentada em um acordo comas entidades americanas.

Havia, entretanto, uma vocação anterior, até 2001, por partede alguns mentores europeus, em conciliar os modelos do ve-lho mundo com os dos norte-americanos.

A referida vocação, todavia, reverteu-se diante do reconheci-mento da inconveniência de buscar conciliação com matériacorrompida, ostensivamente assim entendida, segundo a maté-ria que a imprensa difundiu a respeito dos escândalos vultosossobre manipulações em balanços.

Em várias conferências que proferi em Universidades euro-péias, e, especialmente, em um encontro dos professores Uni-versitários da Espanha, na centenária Universidade de Sarago-ça, em 1997, prenunciei todo o desastre que estava por nova-mente suceder.

Na introdução da palestra afirmei:Há cerca de 20 anos, em fins de 1977, recebi uma

especial correspondência do Prof. Abrahan J. Briloff,da Universidade de Nova York que acompanhava oseu livro “More Debts Than Credits”, chamando mi-nha atenção para os gravíssimos problemas que ocor-riam nos Estados Unidos, ligados a um processo exis-tente no Senado e que acusava os Contadores deincompetentes ou de coniventes com as fraudes domercado de capitais, em razão das adulterações dosPrincípios e Normas de Contabilidade.

Mandou-me, em seguida, outras publicações dele,em Jornais e, também, depoimentos que fizera, acu-sando as manipulações que se produziam com aNormatização.

O assunto de tal forma impressionou-me que co-mecei a estudá-lo profundamente.

A seguir, passei a observar que as advertênciasde Briloff possuíam eco em vários outros doutrinado-res da Contabilidade, em diversos Países e mesmonos Estados Unidos.

As conclusões a que cheguei, após tantos e tan-tos anos de investigações sobre esta matéria, hojeeu as manifesto perante este seleto auditório, nestatradicional e valorosa Universidade de Saragoça.

Destaquei, mais adiante, enfaticamente, que:A produção de Normas, para que as informações

sejam a imagem fiel dos fenômenos da riqueza patri-monial, deve considerar o que nos devemos impor,

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como fundamento metodológico, ou seja, definir o queentender por informação e qual a utilidade que efeti-vamente esta deve prestar a quem a procura.

Não basta informar sem um compromisso com averdade como não basta padronizar apenas para queuma coisa seja aceitável por grupos de pessoas, semque tenhamos a convicção de que é válido e útil, paratodos, o que se informa.

A informação é apenas um veiculo, não o objetivofinal, mas, necessita permitir um entendimento semdistorções, competente para merecer crédito.

O que afirmei e passei a dissertar foi um sinal de alerta aoscolegas na Europa, mas, senti que nem todos se sensibilizaramcom a questão.

A pressão publicitária estadunidense já estava forte, na épo-ca, nas Universidades européias, através de intenso tráfego deinfluências que sugeria o modelo “americano” como o “maisevoluído” e até mesmo o “infalível”.

O NOVO SISTEMA EUROPEUPARA AS NORMAS CONTÁBEIS

Diante das evidências das fraudes cometidas nos EstadosUnidos, amplamente difundidas pela imprensa internacional noinício do século atual e da pressão do parlamento da Comuni-dade Européia, a realidade compeliu a uma mudança no pro-cesso de normatização contábil, deveras já necessária.

Fortaleceu-se a antiga IASC (Comissão Internacional de Nor-matização em Contabilidade), hoje IASB, parece que buscandoabandonar influências americanas.

Para em dois níveis atuar, criou-se: o EFRAG (Grupo Europeude Assessoria em Demonstrações Contábeis), para aconselha-mentos e a ARC (Comissão de Regras Contábeis) esta compos-ta por representantes dos Estados membros da ComunidadeEuropéia.

A estrutura burocrática, própria dos grandes organismos, pro-jeta, dessa forma, uma grandeza de tarefa que se pretende rea-lizar, isenta, o tanto quanto possível, de influências (essa pareceser a intenção).

O EFRAG surgiu como uma instituição particular, criada emmarço de 2001, para servir de apoio, sendo a ação da mesma,precipuamente, volvida a dar suporte ao IASB (antes IASC).

Múltiplas, pois, são as entidades: IASB, EFRAG e ARC.Segundo o que se pode entender sobre a metodologia apli-

cada, a questão está em colocar nas mãos do EFRAG a vigilân-cia sobre uma filosofia de “imagem fiel”, e, por ser privada, ficasem a influência direta dos Estados, mas, rigorosamente sub-metida às diretrizes do Parlamento Europeu, especial e princi-palmente ás 4a. e 7a (que são volvidas a assuntos contábeis,como macro-regras).

Evidencia-se o sistema como híbrido, ou seja, misto de poderpúblico e privado.

Nenhuma norma pode ser aprovada, todavia, sem que existao aconselhamento do EFRAG (em nível de opinião).

Ou seja, age, a instituição, como um filtro, embora tenha aobrigação de seguir rigorosamente ao já estabelecido pelasmacro-diretrizes referidas (IVª e VIIª), especialmente no que tan-ge à obediência a uma “imagem fiel” do demonstrado contabil-mente, assim como aos requisitos de compreensibilidade, rele-

vância, confiabilidade e comparabilidade.O aconselhamento, pois, adquire aspectos duplos, ou sejam

os de avaliação em face de um paradigma, e, também, de julga-mento com a finalidade de opinião sobre a matéria elaborada.

Além disso é exigível submissão de tudo ao “interesse socialeuropeu”, como fator de relevância no caso, o que enseja certamargem de natureza política, esta que pode, uma vez mais, pre-judicar a qualidade técnica da normatização.

Os males que afetaram os Estados Unidos, poderão, assim,também, contaminar a Comunidade Européia, se a política degrupos vier a prevalecer e, nesse caso, uma vez mais, a Conta-bilidade estará sendo usada para satisfazer a “interesses subje-tivos privados”, sob a capa de “interesse social” (a palavra socialtem sido anteparo de muita manobra).

Esperamos que os objetivos maiores, aqueles que poderãoensejar o surgimento de trabalhos realmente tecnológicos, ins-pirados em bases científicas, possam ser os que realmente ve-nham a aflorar nessa estrutura que surge com sintomas de pe-culiaridade européia, mas, ainda, sujeita a influências políticas.

Se houver seriedade, se o propósito for realmente o de fideli-dade, sinceridade, a medida consolidará a vitória e novos ru-mos estarão em marcha, resgatando o elo perdido através dasnormas norte-americanas.

EXPECTATIVAS PROFISSIONAISDOS CONTADORES

Toda modificação normativa implica modificações de proce-dimentos contábeis.

Os contadores europeus parecem apreensivos quanto ao quepossa tanger aos programas de informática hoje aplicados,medidas de controle e apresentação de informes que possamvir a ser requeridas (manifestações feitas no número de dezem-bro de 2002 da revista da Associação Espanhola de Contabili-dade e Administração de Empresas).

Não podemos afirmar, todavia, que tais apreensões sejamapenas as de nossos colegas do Velho Mundo.

Também, no Brasil, modificações se prenunciam, como nosEstados Unidos algumas (embora tênues) estão em curso.

A apresentação de balanços tende a ganhar sempre maiorimportância quando a economia é mais intensamente depen-dente do movimento das Bolsas de Valores.

O caso brasileiro não é o norte-americano (muito dependen-te), nem o francês, nem o espanhol (estes menos dependentes).

Basta um paralelo entre o PIB e o movimento de Bolsa, emnosso País, para se verificar que o mercado de ações não tem osignificado que possui em alguns outros poucos países.

Percebe-se, entretanto, que mesmo não se tratando de capi-tais, o governo procura envolver todo movimento de riquezapatrimonial das células sociais, o tanto quanto lhe vem sendopossível (como agora o faz com as instituições que não possu-em finalidades lucrativas e no que ensaia fazer com as socieda-des por cotas).

Tudo isso envolverá um intenso envolvimento com normati-zações e parece indicar que será a CVM – Comissão de ValoresMobiliários a que se incumbirá de realizar as fiscalizações, pois,já se estão fazendo exigências de registros nesse órgão aosauditores, mesmo quando esses operam fora da área das soci-edades por ações.

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Em meu modo de entender tal controle deveria estar confiadoaos Conselhos de Contabilidade, pois, tais órgãos foram os cri-ados por lei com o objetivo específico de realizar tais fiscaliza-ções.

Essa dupla face da ação fiscal, em verdade, todavia, já estáocorrendo, como um “bis in ibdem”.

AS NORMAS E O MERCADO DE CAPITAIS

Em 1991, o professor Jorge Tua Pereda, da UniversidadeAutônoma de Madri, editou através do Ministério da Economiada Espanha, uma profunda e importante pesquisa (identificadana bibliografia, PEREDA) dedicada especificamente à análiseda metodologia das Normas Contábeis “americanas”, evidenci-ando o quanto estas se submeteram aos interesses das mano-bras nas Bolsas de Valores.

O ilustre autor referido indica como fatores que acionaram asnormatizações nos Estados Unidos: 1) a grande depressão, 2) oesforço para a retomada do crescimento econômico e 3) a refor-ma legal realizada no mercado de capitais (página 25 da obrareferida na bibliografia), mas, foi à esta terceira que atribuiu aorientação normativa.

Afirma o insigne estudioso que a falta de um método lógico, apressa com a qual se realizaram os trabalhos, levou a uma subs-tituição da pesquisa científica sobre a verdade geral, por um“paradigma empírico”, orientado apenas na direção de usuáriosde informações (página 25 da obra referida na bibliografia -PEREDA).

O interesse pelo lucro do investidor, para manter as Bolsaságeis e eufóricas, prevaleceu, segundo o autor citado, sobrequalquer outro (página 24 da obra referida na bibliografia - PE-REDA).

Perdeu-se o elo verdadeiro da Contabilidade, portanto, aqueleque busca a realidade sobre a transformação patrimonial, vi-sando a explicar os acontecimentos, para atar-se, o movimentonormatizador, a uma apresentação “estimulante” ao investimen-to.

Do priorizar tal método passou-se a um regime de “alternati-vas” (o do “pode ser desta forma”, “mas, também por ser a des-ta”...), pressionado por interesses particulares, abrindo os cami-nhos ao que se denominaria pejorativamente de “ContabilidadeCriativa”.

Amesquinhou-se a Contabilidade a um simples “conhecimen-to da informação” porque só isto interessava a quem precisavamanipular dados, esses que alimentaram as centenas de es-cândalos que explodiram no mercado de capitais desde a déca-da de 70 do século XX e que se agigantaram no século XXI.

A ciência é sempre um conhecimento evitado pelos que nãose interessam em evidenciar a verdade ou que desejam adulte-rar conceitos (para tal fim se escolhe a sofisticação para enco-brir as aleivosias).

O que se chamou de “paradigma de utilidade” (pragmatismo)não passou de uma barreira ao desenvolvimento científico, mas,tornou-se poderoso instrumento para uma “alquimia dos balan-ços” (como se infere das conclusões de NEPOMUCENO, artigoidentificado na bibliografia).

Esclarece Tua Pereda, em sua pesquisa (profunda como asde Briloff, sendo a desses intelectuais as duas maiores que co-nheço), que todo um aparato foi utilizado para apresentar as

normas contábeis dos Estados Unidos como se fossem o “ápiceda perfeição”, envolvendo, para isto, revistas, conferências, con-claves, bancos de dados, pressões sobre o Parlamento, artigosem importantes jornais, entrevistas, em suma, toda uma maciçapublicidade (páginas 37 e seguintes, da obra referida na biblio-grafia - PEREDA).

A isso tudo se somou a influência sobre o mundo educacio-nal, com penetração nas Universidades através de influênciasnotórias, com cessão de bolsas de estudos, mestrados, doutora-dos, livros, boletins ditos de pesquisas, visando a formar corren-tes de “simpatizantes” e “adeptos” do sistema do que se con-vencionou entre nós chamar de “escola americana”.

Muitos intelectuais, mesmo nos Estados Unidos, todavia, dis-cordaram do que se realizava, tais como: Ball, Foster, Flint, Shaw,Peasnelll, Dyckman, Gibbing, Swieringo, Pina Martinez, Tricker,Kins, Groves, Chua e outros, acusando, a normatização de co-meter sérios erros, como os de: 1) falta de base teórica, 2) sofis-ticação enganosa, 3) ausência de preocupação com os resulta-dos, 4) omissão científica, 5) excesso de empirismo, 6) metodo-logia equivocada e 7) perda de autonomia do conhecimentocontábil (página 33 da pesquisa de PEREDA referida na biblio-grafia).

É enganoso, pois, admitir que a dita “escola americana” sejao resultado de uma unanimidade intelectual nos Estados Uni-dos, como livre pensamento de uma Nação, pois, muitos foramos valores do mundo intelectual contábil norte-americano quediscordaram dos procedimentos adotados pelas entidades nor-matizadoras.

Colaborou para reforçar a enganosa posição normativa im-posta pelas entidades o fato da AAA-Associação Americana deContabilidade declarar, em 1977, que seria impossível dar asNormas um cunho científico, por falta de uma doutrina internaci-onalmente aceita como Teoria Geral da Contabilidade (página77 da obra de PEREDA referida na bibliografia).

A declaração da AAA, por uma “coincidência” editou-se nomesmo ano em que o Senado dos Estados Unidos havia con-cluído pela má qualidade das normas contábeis (obra citada nabibliografia em U.S. SENATE).

A posição da Associação desconheceu que ao enunciar teo-rias um cientista não se preocupa se elas terão ou não aceita-ção universal, mas, sim, apenas, com os enunciados lógicosque seu intelecto conquista.

Quando Galileu Galilei elaborou as suas leis científicas nãosaiu pelas ruas de Pisa a perguntar ao povo se elas seriam ounão “aceitas” e se outros cientistas estavam dispostos ou não aconcordar com elas.

A ciência não se constrói de “consensos”, mas, de descober-tas e enunciados sobre a verdade das coisas e, Deus, nisto,parece privilegiar a gênios que se acham afinados com a cons-ciência do universal e não com uma quantidade de opiniõesque possa se somar.

O grande erro das normatizações norte-americanas foi o dedeixar-se levar pela “especulação financeira” e não pelo inte-resse de evidenciar a “realidade patrimonial”, guiando-se maispelo interesse “subjetivo de grupos” que aquele “objetivo” daciência.

Os defensores de tais regras equivocadas chegaram a lecio-nar que mais valiam as tendências de mercados que quaisquerdoutrinas contábeis (página 95 da obra de PEREDA referida na

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bibliografia).Só mesmo a ausência de lógica, o distanciamento da realida-

de, o interesse de sofismar, podem levar a afirmação de que umbalanço verdadeiro seja menos eficaz que “palpites” em ummercado de capitais, movido por influxos e refluxos de ordempsicológica.

O acreditar no subterfúgio aludido foi um dos fatores que cau-sou os sérios prejuízos a muitos milhões de estadunidenses,quando da derrocada das ações das grandes companhias e asdaquelas que inflaram seus patrimônios com fantásticas imobi-lizações intangíveis.

Não se podem negar as influências ambientais, mas, isto nãoimplica crer que elas por si só são as determinantes de valor.

São as riquezas das células sociais que por somatório fazemas dos mercados e não o inverso.

Qualquer outro raciocínio é uma fuga á realidade.A doutrina do Neopatrimonialismo Contábil consagra as for-

ças agentes sobre os patrimônios como fatores de produção defunções, mas, reconhece que são os efeitos dos fenômenos osque ditam a prosperidade celular da qual dimana aquela social.

Logo, não há realidade de mercado sem realidade de empre-sa e não há realidade de empresa sem que tal fato seja o espe-lhado pela Contabilidade.

A falência da metodologia aplicada na elaboração de muitasnormas, defluente de todo o mau sistema empregado, da omis-

são de doutrina científica, da linha empírica equivocada segui-da nos Estados Unidos, é reafirmada por Pereda em sua pes-quisa, a melhor que conheço a respeito do empirismo da cha-mada “escola americana” (página 349 da obra de PEREDA iden-tificada na bibliografia).

Em razão de suas conclusões, de maneira enfática, o emi-nente pesquisador destaca que a escola normativa “americana”não passou de sua “infância” (página 349 da obra de PEREDAidentificada na bibliografia) e para apoiar sua afirmativa evoca amesma opinião expendida por J. A. Lev e B. Ohson.

Conclui que tal como são elaborados os demonstrativos con-tábeis, apoiados nos procedimentos vigentes nos Estados Uni-dos, o mercado não tem condições de avaliar a eficácia e nem aeficiência de nenhum empreendimento (página 362 da obra dePEREDA identificada na bibliografia) o que é um grave risco.

O que Pereda prognosticou, onze anos depois se comprovoucorreto, mais uma vez, na prática, com a derrocada nas Bolsas eos escândalos expressivos que explodiram no mercado de açõesdas mais expressivas empresas norte-americanas.

Os novos rumos, pois, esses que parecem dispostos a umamudança de comportamento na produção das normas contá-beis, haverão de representar uma nova fase se prevalecer aconsciência de que o caminho científico é o único competentepara apresentar a “imagem fiel” dos fenômenos patrimoniaisdas empresas e instituições.

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TAYLOR, Peter e TURLEY, Stuart - The regulation of Accounting, editor Basil Blackwell, Oxford, 1986TORRE, Pedro Rivero – El concepto de imagen fiel y el Plan General de Contabilidad, em Comentarios sobre el nuevo plan

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1 - INTRODUÇÃO

As demonstrações contábeis, quando preparadas por práti-cas contábeis diferentes, apresentam divergências decorrentesde alguns critérios contábeis serem considerados de formasdiferentes nessas práticas. Isso dificulta a análise dos usuáriosdessas demonstrações, além de minimizar a agilidade da con-tabilidade de gerar informações transparentes para o mercado.Devido à necessidade da sociedade de se elaborar demonstra-ções contábeis sobre os mesmos aspectos contábeis, foi-se cri-ada a Prática Contábil Internacional.

Essa prática é considerada por diversos países, como umafonte de referencia para suas práticas, podendo-se padronizarou harmonizar a elas e, pelo fato de representarem um conjuntode normas de alto nível e constantemente atualizadas com asatuais exigências do mercado mundial, têm sido aceitas grada-tivamente em mais países.

Porém o processo de adaptação exige esforços de todos osinteressados, para isto, é necessário demonstrar a quantidadede órgãos que emanam procedimentos contábeis em cada umadas práticas (Americanas, Brasileiras e Internacionais) gerandoas interpretações e os conceitos das normas (e por fim as dife-renças entre as práticas). Exemplos de aspectos contábeis queseriam modificados no Brasil e nos Estados Unidos ao se pa-dronizar ou harmonizar à Prática Internacional. E as vantagense desvantagens para os países que optarem por harmonizar oupadronizar sua prática.

1.1 Tema:A comparação das práticas contábeis frente às Normas Bra-

sileiras de Contabilidade.1.1.1 Delimitação:Uma iniciação a comparação das práticas contábeis Interna-

cionais (IAS), Americanas (EUA) e Brasileiras (BR) no âmbitocontábil.

1.2 Situação Problema:A globalização comercial e financeira introduziu no mundo

uma necessidade constante de demonstrações financeiras atu-alizadas e elaboradas sobre as mesmas práticas e princípios

contábeis. Esta necessidade advém de:� Grandes empresas multinacionais com investi-

mentos relevantes em diversos países e diferenteseconomias, que necessitam periodicamente reconhe-cer seus ganhos e perdas com investimentos (métodode equivalência patrimonial) e consolidar demonstra-ções financeiras em suas controladoras;

� Elaboração de relatórios gerenciais para a altaadministração das empresas controladoras, quantoao patrimônio e saúde financeira de seus investimen-tos (analise do risco de investimento);

� Profissionais tendo que se especializar em práti-cas além da sua de origem (nos aspectos legais, fis-cais e contábeis) em práticas de outros países.

� Dificuldade de investidores de analisar as de-monstrações de vários países por cada um partir deprática contábil diferente.

Com base nestas dificuldades foi criado um órgão internacio-nal (IFAC) que efetuou a revisão das normas internacionais (IAS)criadas em 1973 pelo IASC, e as adotou como a Prática ContábilInternacional, cujo intuito é uma padronização mundial.

Com o intuito de firmar ainda mais essa prática, foi informadoao mercado como relata Niero (2002), que “A partir de 2005, oBanco Mundial só emprestará para os países que estiverem adap-tados as práticas contábeis internacionais”.

1.3 Hipótese:Com base nos aspectos descritos na situação problema, for-

mula-se a seguinte questão:A prática contábil internacional é mesmo a melhor prática a

ser adotada como mundial?Como uma resposta provável e possível neste momento, pode-

se dizer que a princípio os países mostrarão insatisfação e difi-culdade na adaptação de sua prática já efetiva para uma mu-

� Kene Cristina Pereira

� Bacharel em Ciências Contábeis

UMA INICIAÇÃO A COMPARAÇÃO DAS PRÁTICAS

CONTÁBEIS INTERNACIONAIS (IAS),

AMERICANAS (EUA) E BRASILEIRAS (BR)

UMA INICIAÇÃO A COMPARAÇÃO DAS PRÁTICAS

CONTÁBEIS INTERNACIONAIS (IAS),

AMERICANAS (EUA) E BRASILEIRAS (BR)

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dança de conceito, mas posteriormente, todos os países tendema assumir uma única prática a fim de minimizar conflitos contá-beis e nível de conceitos e organização.

1.4 Objetivo e Justificativa:Objetiva-se neste estudo comparar, identificar, analisar e es-

clarecer critérios gerais sobre as práticas contábeis America-nas, Brasileiras e Internacionais. Com este estudo os contado-res, investidores e usuários da contabilidade em geral poderãocompreender as necessidades, vantagens e desvantagens dese ter uma prática mundialmente padronizada ou harmonizadae, esclarecer o porque existem as diferenças podendo observarexemplos dela.

1.5 Metodologia:Pesquisa bibliográfica em livros, revistas técnicas, artigos, e

sites na internet de órgãos Brasileiros e Internacionais.

2 - OS ÓRGÃOS, AS PRÁTICASEMANADAS, SEU EFEITO NA

CONTABILIDADE E EXEMPLO DEDIFERENÇAS:

As práticas contábeis base para este artigo serão apresenta-das nos tópicos a seguir para conhecimento de suas origens, oque representa e o que normatiza. Todos os órgãos, normas einterpretações por eles emanados ocasionaram diferenças nojulgamento e regulamento de alguns critérios contábeis ondeforam apresentados exemplos de diferenças no item 2.4 desteartigo.

1.1 Prática Contábil InternacionalDe acordo com a interpretação do site do IASC (Inglês), o IAS

constitui um conjunto de normas contábeis (do 1 ao 41) emitidaspelo Conselho Internacional de Padrões de Contabilidade (In-ternational Accouting Standards Board - IASB) e 33 interpreta-ções emitidas pelo Comitê de Interpretação (Standing Interpre-tation Comittee - SIC). O órgão responsável harmonização daspráticas contábeis é a Federação Internacional dos Contadores(International Federation of Accountants - IFAC ).

2.1.1 International Federation of Accountants - IFACDe acordo com a interpretação do site da IFAC (Inglês), o

órgão é um conjunto de organizações de contabilidade que re-presentam os contadores empregados em prática pública, ne-gócio e indústria, setor público, e educação, como também al-guns grupos especializados que freqüentemente conectam coma profissão. Atualmente, tem 155 membros em 113 países, re-presentando 2 milhões de contadores. A estrutura da IFAC esuas operações provêem de diversas organizações.

Ainda conforme interpretação do site da IFAC (Inglês), o obje-tivo é desenvolver a profissão e harmonizar seus padrões mun-diais para permitir aos contadores prover serviços de alta quali-dade para o interesse público.

2.1.2 International Accouting Standards Committee - IASCDe acordo com a interpretação do site do IASC (Inglês), o

órgão foi fundado em 29 de junho de 1973 em Londres, pororganizações profissionais da área contábil da: Austrália, Ale-manha, França, Grã Bretanha, Irlanda, Japão, Canadá, México,Holanda e Estados Unidos da América.

Ainda conforme interpretação do site do IASC (Inglês), o IASCassumiu recentemente a denominação de IASC Foundation,sendo ele uma organização independente que tem dois corpos

principais, os Fiduciários e o IASB. Os Fiduciários designam ossócios do IASB e levantam os recursos necessários para a ativi-dade do órgão, já o IASB tem responsabilidade exclusiva porfixar padrões de contabilidade, conhecidos como IAS. O IAS em2002 adquiriu nova denominação: IFRS (International FinancialReporting Standard).

2.1.3 Standing Interpretations Committee - SICConforme interpretação do site do IASC (Inglês), o Comitê de

Padrões de Contabilidade Internacional (IASC) formou o Comi-tê de Interpretações dos IAS (Standing Interpretations Commit-tee - SIC) em janeiro de 1997. O objetivo é aumentar a aplicaçãorigorosa e a comparatibilidade mundial de demonstrações fi-nanceiras que são preparadas utilizando a norma internacionalde contabilidade (IAS). O SIC interpreta assuntos de contabili-dade que possam gerar dúvidas. Em 2002, foi-se adotado asnovas terminologias para SIC: IFRIC (International FinancialReporting Interpretations Comitte).

2.1.4 International Organization of Securities Commission- IOSCO

De acordo com a interpretação do site da IOSCO (Inglês), oórgão foi oficialmente criado em 1983 representado pela Co-missão Européia. Conta atualmente com mais de 130 membrosde 80 países. Estes membros são responsáveis pela quase tota-lidades da capitalização do mercado de valores mobiliáriosmundial, sendo ela o principal fórum internacional para as auto-ridades reguladores dos mercados de valores.

Ainda segundo interpretação do site da IOSCO (Inglês), esteórgão foi criado para o desenvolvimento de um conjunto básicode normas (core standards) concluído em 1998 com o IAS 39.Seus objetivos são: promover altos padrões de regulação ade-quados a manutenção dos mercados de valores com informa-ções eficientes e eqüitativos; intercambiar informações; unir es-forços para estabelecer padrões internacionais de contabilida-de; auditoria; entre outros.

Conforme interpretação do site da IOSCO (inglês), a IOSCOemitiu em 17/05/00 uma resolução recomendando a seus mem-bros a aceitação das normas contábeis internacionais (IAS) parafins de registro em bolsa e espera conseguir tornar obrigatório apartir de 2005.

1.2 Prática Contábil AmericanaConforme interpretação do site do FASB (Inglês), a prática

contábil americana é normatizada por um conjunto de mais de146 normas contábeis emitidas pelo Conselho de Normas deContabilidade Financeira (Financial Accounting Board - FASB)conhecidas por SFAS, este mesmo órgão emitiu também 44 in-terpretações dos SFAS, 31 opiniões e 51 boletins emitidos peloInstituto Americano dos Contadores Públicos Certificados (Ame-rican Institute of Certified Accountants – AICPA). Na prática con-tábil americana, existem outros pronunciamentos como, porexemplo, os boletins Técnicos (Tecnical Bulletins – FTB) tam-bém emitidos pelo FASB.

Os principais organismos normativos da contabilidade norte-americana são:

- PCAOB - Public Company Accounting Oversight Board.- SEC - Securities and Exchange Commission.- FASB - Financial Accouting Standards Board.- AICPA - American Institute of Certified Accountants.2.2.1 Public Company Accounting Oversight Board - PCAOBConforme interpretação do site da PCAOB (Inglês), este ór-

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gão é privado, criado após a lei Sarbanes Oxley Act em 2002,sendo ele o conselho de supervisão de assuntos contábeis dascompanhias abertas, principalmente para proteção de investi-dores, criados após os escândalos de fraude ocorridos nos Es-tados Unidos, este é o órgão máximo em elaboração de normascontábeis, embora ele delegue estas funções para os outrosórgãos americanos. Seu principal intuito é supervisionar as ati-vidades de todos os órgãos.

2.2.2 Securities and Exchange Commission - SECSegundo interpretação do site da SEC (Inglês), o órgão é

uma organização governamental responsável pela administra-ção e fiscalização da legislação sobre valores mobiliários. Seuobjetivo é promover a divulgação precisa e completa da infor-mação.

Ainda conforme o site da SEC (Inglês), a posição deste órgãoem relação às normas internacionais é de apoio a iniciativa deharmonização das práticas contábeis e a SEC emitiu um “Con-cept Realease” objetivando colher informações de usuários so-bre a qualidade e aplicação do IAS.

2.2.3 Financial Accounting Standards Board - FASBDe acordo com interpretação do site do FASB (Inglês) este

conselho emana as normas americanas conhecidas como SFAS,além de interpretações das normas conhecidas como Interpre-tações Financeiras (Financial Interpretations – FIN), boletins téc-nicos e outros.

Este conselho equivalente ao órgão brasileiro CFC - Conse-lho Federal de Contabilidade.

A posição do FASB em relação ao IAS é, conforme relataNiero (2002), “O Conselho de Padrões Contábeis americano(Fasb, na sigla em inglês) aprovou formalmente o projeto paraanalisar a unificação dos princípios contábeis americano e in-ternacional”.

2.2.4 American Institute of Certified Accountants - AICPAConforme interpretação do site do AICPA (Inglês), este Institu-

to emana boletins referentes a assuntos contábeis, posição daprofissão no país, interpretação de contabilidade, estes boletinssão conhecidos por APB (Accounting Principles Board) e ARB(Accounting Resource Board).

Este órgão se assemelha ao Ibracon no Brasil.1.3 Prática Contábil BrasileiraA prática contábil brasileira é regulada por diversos órgãos

que afetam a contabilidade. Os principais foram descritos nostópicos seguintes.

De acordo com o site da CVM (2003), a harmonização tem oapoio da CVM, CFC e Ibracon e os seguintes procedimentosestão sendo adotados para uma harmonização com a PráticaInternacional:

- Reformatação das normas do CFC e do Ibracon.- Projeto reforma 3.741/00 da Lei das SA’s.2.3.1 Conselho Federal de Contabilidade - CFCDe acordo com o site do CFC (2003), o conselho foi criado

pelo Decreto - lei no.9.295 de 25 de maio de 1946, constituin-do uma pessoa jurídica de direito privado que presta serviçopúblico. Ele tem por finalidade, orientar, normatizar e fiscali-zar o exercício da profissão contábil por intermédio dos Con-selhos Regionais de contabilidade. O CFC emana as NBC’s;Normas Brasileiras de Contabilidade, que devem ser obser-vadas por todos os contadores Brasileiros na execução dacontabilidade.

2.3.2 Instituto dos Auditores Independentes do Brasil -IBRACON

De acordo com o site do IBRACON (2003), o órgão foi funda-do em 13 de dezembro de 1971, através das fusões dos Institu-tos dos Contadores Públicos do Brasil (fundado em 26/03/57) edo Instituto Brasileiro de Auditores Independentes (fundado em2/01/68).

Ainda conforme site do IBRACON (2003) o instituto congregaprofissionais de diferentes atividades, com interesse no estudotécnico da contabilidade, na edição de normas técnicas de con-tabilidade e auditoria e no aprimoramento da profissão no Bra-sil. Este órgão emana os Boletins de Contabilidade

2.3.3 Comissão dos Valores Imobiliários do Brasil - CVMDe acordo com o site da CVM (2003), a comissão foi criada

com a Lei no. 6.385 de 07/12/1976, com os objetivos de assegu-rar o funcionamento eficiente e regular do mercado de bolsa ede balcão, protegendo os titulares de valores mobiliários contraemissões irregulares e atos ilegais de administradores e acio-nistas controladores de companhias, ou de administradores decarteira de valores mobiliários entre outros.

Ainda conforme site da CVM (2003), o órgão verifica a ade-quada aplicação da Lei 6.404/76, a Lei 9.457/97 e a Lei 10.303/01 destinada às sociedades anônimas.

Conforme relata Iudícibus (2000), as entidades fechadas eoutras devem aplicar esta lei embora nem todos aspectos. Ocumprimento para as demais empresas não é exigido pela CVMque só é responsável pelas abertas.

1.4 Exemplo de DiferençasCom base nas contas patrimoniais ativo e passivo e, nos cri-

térios de julgamento destas contas, selecionamos as diferençasa seguir afim de demonstrar exemplos de diferenças que ocor-reram nas práticas contábeis Brasileiras, Americanas e Interna-cionais por terem sido emanados pelos diversos órgãos diferen-tes como já mencionados nesse artigo.

2.4.1 Valorização de estoquesBrasil: Semelhante ao IAS (Lei n.º 6404/76 e NPC IBRACON n.º

02), exceto que o método de custo LIFO não é aceitávelpela legislação fiscal e, por isso, é rara sua utilização.

Estados Unidos: Semelhante ao IAS (ARB n.º 43), exceto que oLIFO é aceitável sem necessidade de se efetuar a divul-gação da comparação com um outro método, conformeexigido pelo IAS.

Internacionais (IAS): Conforme IAS n.º 2, os estoques devemser valorizados pelo custo histórico ou pelo valor líquidorealizável, dos dois o menor, utilizando-se o FIFO ou ocusto médio como métodos preferidos. Matérias-primase produtos em processo não precisam ser levados a va-lor líquido realizável, se os produtos acabados finais fo-rem vendidos ao custo ou acima deste. A base LIFO éuma alternativa aceitável; mas, se for adotada, a valori-zação por meio de um dos métodos preferidos deve serdivulgada também. O custo dos estoques compreendetodos os custos de compras, processamento e demaiscustos incorridos para trazer os estoques a uma determi-nada localização e condição física. Os estoques de me-tais preciosos e “commodities” usados para atividadesde “trading” podem ser registrados pelo valor de merca-do (menos as despesas de venda), mesmo se este foracima de custo.

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2.4.2 Relatório por segmentoBrasil: Conforme relatado por KPMG (2001), não se reporta por

segmento.Estados Unidos: Semelhante ao IAS (SFAS n. º 131); contudo,

as exigências do GAAP americano são mais detalhadas.Internacional: Conforme IAS n. º 14. As vendas, os resultados,

os ativos e os passivos empregados em cada segmentode negócio e região geográfica devem ser reportadosseparadamente nas demonstrações financeiras. A enti-dade deve identificar e apresentar as informações porsegmento baseada no sistema de informações utilizadono gerenciamento de suas operações.

2.4.3 CâmbioBrasil: Semelhante ao IAS (Lei n. º 6404/76, Pron. IBRACON n.

º XVIII e Delib. CVM n. º 28/86), porém não existe trata-mento especial para hedges. As demonstrações finan-ceiras das subsidiárias estrangeiras (demonstração deresultado e balanços) são convertidas na taxa do fecha-mento, a menos que a subsidiária seja baseada numambiente hiperinflacionário, sem nenhum sistema decorreção monetária.

Estados Unidos: Semelhante ao IAS (SFAS n. º 52), os ganhosou perdas num contrato de câmbio futuro, utilizado comoum hedge, (são diferidos até que termine a transaçãocorrelata do hedge).

Internacional: Conforme IAS no. 52. As transações em moedaestrangeira devem ser registradas usando-se a taxa dadata da transação. Em cada data de balanço, os itensmonetários em moeda estrangeira devem ser converti-dos à taxa de fechamento, a menos que exista um contra-to de câmbio futuro. Neste caso, utiliza-se a taxa do con-trato

3 - A DIFERENÇA ENTREHARMONIZAR OU PADRONIZAR, EAS VANTAGENS DE SE ADOTAR A

PRÁTICA CONTÁBILINTERNACIONAL.

As diferenças entre harmonizar e padronizar são a basede definição dos países em se adotar a prática contábil interna-cional abandonando ou não a própria prática, conforme demons-trado no tópico seguinte. Ao se adotar a Prática Contábil Interna-cional a sociedade obterá vantagens e desvantagens conformedemonstrado no tópico 3.2 deste capítulo.

3.1 Diferença entre harmonizar e padronizarSegundo o dicionário Aurélio (2000, 135, 75, 76), os concei-

tos de padronização e harmonização são os seguintes:“Padronização: É a redução de objetos, procedimentos; do

mesmo gênero a um só; segundo um padrão... Harmonização:Por em harmonia; conciliar... Harmonia: Disposição bem orde-nada entre as partes de um todo”

Desta forma, padronizar seria adotar algo como padrão pró-prio e harmonizar é arrumar as diferenças de forma que fiquecom os mesmos critérios.

Conforme interpretação do site do IASC (Inglês), alguns paísestêm utilizado o IAS como base para o padrão local conforme exem-plos: Hong Kong, Singapura, Malásia, Surilanka, Panamá, Croá-cia, Romênia, Republica Dominicana (entre outros). Já alguns pa-

íses que se harmonizaram foram, a título de exemplo: Austrália,Nova Zelândia, Inglaterra, Holanda, Dinamarca e África do Sul.

Conforme relata Niero (2002), a padronização (adotar o IAScomo padrão e abandonar sua atual prática) exige preparo, es-tudo e adequação da Economia dos países interessados, por-que cada país possui aspectos econômicos diferentes, o quetorna algumas das normas internacionais não aplicáveis na eco-nomia de muitos países sendo inviável uma padronização.

3.2 Vantagens e desvantagens de se adotar a prática con-tábil internacional

Para o IFAC e CVM (segundo seus respectivos sites) algu-mas vantagens em se adotar a prática contábil internacionalserão:

Sob a ótica das empresas:- Redução de Custos;- Maior controle (entendimento) das operações no exterior;- Maior facilidade para acesso ao mercado de capitais mundial;- Facilidade na consolidação das demonstrações financeiras;Sob a ótica do mercado:- Maior transparência e confiabilidade;- Maior facilidade de interpretação das demonstrações financei-ras por parte dos usuários.- A padronização/harmonização poderá culminar o processo depreparação de conciliações entre as práticas contábeis.

Outro exemplo de vantagem, seria a minimização das dife-renças dos balanços contábeis como relata Niero (2002): “Umadiferença de quase 7 bilhões entre os balanços da telefônicapublicados no Brasil e na Espanha poderiam ser evitados se oscontadores do mundo inteiro falassem a mesma língua”.

As desvantagens para Nobes (1998) seriam os custos em-pregados nos estudos e treinamento para padronização daspráticas.

CONCLUSÃO

A contabilidade é, sem dúvida, um importante instrumentopara o processo de tomada de decisões em qualquer nível eatividade econômica.

As informações produzidas pela aplicação das técnicas con-tábeis são capazes de suprir os seus usuários com valiososdados, de modo a colocá-los em condições de decidir sobre osdestinos de qualquer entidade econômica e de avaliar a capaci-dade de seus administradores na gestão das operações, logo énecessário que as pessoas que se utilizam da contabilidade,saber interpretar as informações por ela produzidas.

Se os usuários conseguirem entender corretamente as infor-mações, estas se tornarão mais úteis aos seus propósitos, elesnão só reconhecerão a importância do instrumento (contabilida-de) como, também, dará maior valor ao profissional (contador).

No mundo globalizado, a elaboração de demonstrações fi-nanceiras baseadas nos mesmos critérios é essencial para auniformização e comparabilidade das mesmas em países dis-tintos, sendo esse o principal fator a impulsionar a adoção depráticas contábeis universais.

As práticas internacionais estão sendo gradativamente ado-tadas pelos países, por ser uma prática decorrente de estudosde órgãos internacionais, e que viabilizam a mais adequadaaplicação das praticas contábeis em toda a economia mundial.Outro fator determinante vem sendo as recentes fraudes nas

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Empresas Americanas e as grandes diferenças entre os balan-ços apresentados nos países de Empresas Multinacionais, aexemplo da diferença de 7 bilhões da Telefônica, mencionadono tópico vantagens e desvantagens.

A tendência mundial é de se adotar a prática contábil interna-cional, como a exemplo do Brasil, a reformulação da lei dasSociedades Anônimas vem sofrendo inclusões de princípiosdescritos na Prática Internacional.

Mesmo aqueles países que se opunham a uniformatização,

como por exemplo, os Estados Unidos, em recentes pronuncia-mentos, o FASB aprovou formalmente o projeto para analisar aunificação dos princípios contábeis americanos e internacionais.

A harmonização das regras contábeis é um plano antigo po-rém, cada vez mais necessário devido as grandes vantagens queuma só prática mundial fornecerá ao mercado, desta forma, gra-ças principalmente da confiabilidade e ao respeito da prática con-tábil internacional, ela é realmente a melhor prática a ser adotadacomo um exemplo a ser seguido para os demais países do globo.

LISTA DE SIGLAS

Boletim de Pesquisa Contábil ........................................................................................................................................... ARB

Comissão de Segurança Internacional de Valores .......................................................................................................... IOSCO

Comissão de Valores Mobiliários do Brasil ...................................................................................................................... CVM

Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos da América ................................................................................ SEC

Conselho de Normas de Contabilidade Financeira ......................................................................................................... FASB

Comitê Internacional de Padrões de Contabilidade ........................................................................................................ IASC

Comitê de Interpretação .................................................................................................................................................... SIC/IFRIC

Conselho de Padrões Internacionais de Contabilidade .................................................................................................. IASB

Conselho de Supervisão de Assuntos Contábeis das Companhias Abertas .................................................................. PCAOB

Conselho Federal de Contabilidade ................................................................................................................................. CFC

Federação Internacional dos Contadores ........................................................................................................................ IFAC

Instituto Americano dos Contadores Públicos Certificados ............................................................................................. AICPA

Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes ............................................................................................................. IBRACON

Interpretações Financeiras ................................................................................................................................................ FIN

Norma Internacional de Contabilidade ............................................................................................................................. IAS/IFRS

Normas de Contabilidade Financeira ............................................................................................................................... FAS

Normas e Procedimentos de Contabilidade ..................................................................................................................... NPC

Opinião do Comitê de Princípios Contábeis ..................................................................................................................... APB

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Livros:

FERREIRA, AURELIO BUARQUE DE HOLANDA, Mini Dicionário; revisão ampliada 1989, 4ª Ed , Rio de Janeiro: Nova

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1- Introdução

Segundo Schmidt (2002, p. 166) as grandes mudanças eco-nômicas, tecnológicas, políticas e sociais experimentadas a partirda década de 60, bem como as fusões e aquisições de empre-sas e os avanços na telecomunicação culminaram com a globa-lização da Economia, representada, segundo Szuster (1997, p.4), pela integração econômica e tecnológica dos países com aquebra das barreiras comerciais, aumentando o número deempresas transacionais e o fluxo de capitais entre diferentespaíses, gerando maior oportunidade de venda e divulgação dosprodutos.

A globalização da Economia fez com que as empresas en-trassem em um mercado mais competitivo, em que os clientessão mais exigentes, fazendo com que os produtos recebessemuma certa dose de intangibilidade de conhecimento, afim dasempresas conseguirem satisfazer as necessidades de seus cli-entes, adquirindo assim uma vantagem competitiva em relaçãoaos concorrentes.

Segundo Schmidt (2002, p. 166) a globalização da Economiafoi o marco para a transição da Sociedade Industrial para a So-ciedade do Conhecimento ou da Informação, e na qual os re-cursos econômicos utilizados como terra, capital e trabalho, uni-ram-se ao conhecimento humano, alterando a estrutura econô-mica das nações e dos negócios das companhias.

Em decorrência da globalização e transformações dos negó-cios na Era do Conhecimento ou Informação os ativos intangí-veis das empresas passaram a representar o principal ativo nacomposição do patrimônio de uma companhia. Mas o que é umativo?

2 - Ativo: conceito, classificaçãoe mensuração

Segundo Hendriksen e Breda (1999, p.286) ativos devem serdefinidos como potenciais fluxos de serviços ou como direitos abenefícios futuros sob o controle da organização.

Iudícibus (apud Schmidt, 2002, p.12) argumenta que ativossão recursos controlados pela entidade, capazes de gerar flu-xos de caixa.

Com base nestas definições podemos considerar a marca daempresa como sendo um ativo em função da sua potencialida-de de gerar fluxos de caixa, devido a lealdade dos clientes àmarca.

Os ativos podem ser classificados em ativos tangíveis e intan-gíveis. Segundo Iudícibus (2000, p. 209) o termo tangível signi-fica, literalmente, perceptível ao toque.

Sobre os ativos intangíveis Lopes de Sá cita que:

a marca, o capital intelectual, o ponto comercial, aclientela, a patente etc, todos são bens intangíveis(imateriais), mas traduzem-se em aumento de utilida-de e em ampliação, de utilização do capital. Influindono aumento da funcionalidade que pode alcançar atodos os sistemas da empresa (liquidez, resultabili-dade, economicidade, estabilidade, produtividade, in-vulverabilidade e elasticidade), embora de forma di-ferenciada em intensidade e expressão. (2000, p. 47)

Iudicíbus (2000, p. 143) comenta que quanto a avaliação dosativos a forma que conceitualmente mais se aproxima da natu-reza dos ativos seria sua mensuração através do valor presentedos fluxos futuros de caixa.

3 - Capital Intelectual:conceito e mensuração

Para o FASB (apud Wernke, 2002, p. 24) o capital intelectualpode ser definido de duas maneiras:a) Ativos intangíveis combinados que permitem à companhia

funcionar e manter uma vantagem competitiva;b) A diferença entre o valor real de mercado da companhia e o

valor real de mercado dos ativos tangíveis menos o passivoda companhia.

Entende-se com a primeira definição que capital intelectualé um conjunto de ativos intangíveis.

No tocante ao valor de mercado real, entende-se como sen-do segundo Ross (1995, p. 53) o preço de mercado que é oresultado do número de ações existentes em uma empresamultiplicado pelo preço de cotação da ação no dia. Percebe-se

� Josué Vieira dos Santos

� Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ - Contador do Tribunal

de Contas do Município do Rio de Janeiro - Professor da Faculdade

Estácio de Sá

Evidenciação do

valor da Marca

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que neste caso o valor do capital intelectual pode oscilar diaria-mente, devido às flutuações da cotação da ação, e ainda, muitasempresas que não possuem ações em bolsa de valores nãopoderiam calcular o seu capital intelectual.

Um outro conceito de valor de mercado segundo Ross (1995,p. 44) é entendido como sendo o preço pelo qual compradorese vendedores interessados negociariam os ativos, neste caso ovalor real de mercado da companhia seria seu preço de negoci-ação, todavia, as empresas não são ativos que são negociadoscomo mercadorias diariamente, impossibilitando assim o cálcu-lo de seu capital intelectual.

Uma última definição de valor de mercado da empresa segun-do Hendriksen e Breda (1999, p.176) é que o valor de mercadode uma empresa seria igual ao valor descontado dos fluxos futu-ros de caixa gerados pelos ativos. Essa definição de valor demercado explica porque o fornecimento de informações sobre osfluxos futuros de caixa provenientes dos ativos tangíveis e intan-gíveis da companhia são tão importantes para o mercado.

Edvinsson e Malone (apud Wernke, 2002, p. 24) utilizam umametáfora para definir o capital intelectual comparando a empresaa uma árvore, em que os galhos, o tronco e os frutos representama parte visível, ou seja, os ativos tangíveis da empresa demons-trados nas demonstrações contábeis, já as raízes representam aparte invisível, ou seja, os ativos intangíveis, que embora muitosnão sejam demonstrados nas demonstrações contábeis são devital necessidade para a sobrevivência da companhia.

Essa definição traz nos a seguinte reflexão: sendo os ativosintangíveis as raízes que sustentam a companhia, são eles osresponsáveis pela sobrevivência a longo prazo da empresa,neste caso, deveriam ser acompanhados e gerenciados a fimde que se possa detectar prematuramente qualquer problemacom esses ativos intangíveis, com o intuito de manter a compa-nhia viva no mercado a longo prazo.

Edvinsson e Malone (apud Schmidt, 2002, p. 180) dividem ocapital intelectual em três categorias:

- Capital humano: relacionado ao conhecimento,expertise, poder de inovação e habilidades dos em-pregados, além dos valores, cultura e a filosofia daentidade;- Capital estrutural: inclui marcas, patentes, equi-pamentos de informática, softwares, banco de dadose tudo o mais que apóia a produtividade dos empre-gados;

- Capital cliente: envolve o relacionamento comclientes e tudo o mais que agregue valor para os cli-entes da organização.

Percebe-se que esses autores classificam a marca como sen-do um capital estrutural, sendo este uma subdivisão incluídadentro do capital intelectual.

Quanto a mensuração do capital intelectual segundo Góis(apud Wernke, 2002, p. 29) o indicador mais usado para medir ocapital intelectual seria a diferença entre o valor de mercado daempresa e o seu valor contábil ou patrimônio líquido.

Ocorre que para utilizar esta metodologia devemos observaos vários conceitos de valor de mercado, conforme já vistos ini-cialmente. E ainda, este modelo de mensuração ratifica nossaafirmação de que o capital intelectual pode variar em cada mo-mento em que é medido.

Outro item que nos desperta a atenção é: será que a empresapode possuir capital intelectual negativo ou não possuir capitalintelectual quando o valor de mercado é menor que o valor con-tábil ou patrimônio líquido da empresa? Entendemos que ocapital intelectual representado pelos ativos intangíveis da em-presa sempre existirá, contudo, se mal gerenciado e emprega-do junto aos demais fatores de produção pode vir a destruir ariqueza da companhia, não agregando valor ao capital investi-do pelos acionistas e credores.

Sobre esse assunto Sveiby (1998, p. 15) afirma que os ativosintangíveis são tão valiosos que se os gerentes não souberemgerenciá-los, eles levarão a empresa à ruína.

4 - A Informação e osPrincípios Contábeis

Para o IASB (apud Iudícibus e Marion, 1999, p. 65) uma dascaracterísticas mais importantes da informação contábil é a suarelevância, ou seja, sua capacidade de influenciar as decisõeseconômicas dos usuários ajudando-os a avaliar eventos passa-dos, presentes ou futuros.

Segundo a equipe de professores da FEA/USP (1998, p. 27)as informações geradas pela Contabilidade só terão utilidadequando satisfazerem às necessidades da administração ou deoutros interessados, e não apenas do contador.

Iudícibus (2000, p. 21) apresenta no quadro a seguir algunsusuários da informação contábil e a necessidade de informaçãomais importante para esses usuários.

Quadro 1 – Tipos de usuários da informação contábil

Usuário da Informação Contábil Tipo de Informação mais importanteAcionista minoritário Fluxo regular de dividendos.Acionista majoritário Fluxo de dividendos, valor de mercado da ação, lucro por ação.Acionista preferencial Fluxo de dividendos mínimos.Emprestadores em geral Geração de fluxos de caixa futuros suficientes para receber de volta o

capital mais os juros, com segurança.Entidades governamentais Valor adicionado, produtividade, lucro tributável.Empregados em geral, como assalariados Fluxo de caixa futuro capaz de assegurar bons aumentos ou

manutenção de salários, com segurança e liquidez.Média e alta administração Retorno sobre o ativo, retorno sobre o patrimônio líquido, situação

de liquidez e endividamento confortáveis.Fonte: Iudícibus (2000, p. 21)

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Segundo Iudícibus (2000, p. 21) pode-se perceber que osusuários da informação contábil estão tão interessados em da-dos passados, quanto em fluxos futuros, de renda ou de caixagerados pelos ativos, todavia, para estes últimos a informaçãocontábil somente será relevante se puder ser utilizada comoinstrumento de predição sobre os eventos ou tendências futu-ras.

Contudo, a Contabilidade registra e avalia seus ativos porvalores de entrada com base no principio do custo original comobase de valor (registro inicial).

Por este princípio os componentes do patrimônio devem serregistrados pelos valores originais das transações com o mun-do exterior, expressos a valor presente na moeda do país.

No caso da marca, geralmente, é registra na Contabilidadepelos valores desembolsados pela empresa para registrá-la nosórgãos governamentais como a exemplo no Instituto Nacionalde Propriedade Industrial. Não sendo registrada a marca, naContabilidade, pelo valor presente dos benefícios futuros gera-dos pela mesma.

Ocorre que o valor da marca pode variar ao longo do tempo,quando comparamos o valor registrado na Contabilidade, regis-tro inicial, com o valor presente dos benefícios futuros da marca,fazendo com que a informação da situação patrimonial da em-presa não represente o “real” valor desse ativo.

Muitos dos gastos incorridos pela empresa na formação edesenvolvimento da marca não são capitalizados na marca,mas considerados como despesas do período a exemplodas despesas de propaganda, fazendo com que se aumentea diferença entre o valor da marca registrada na Contabili-dade e o valor presente dos benefícios futuros gerados pelamarca.

Segundo Roberto Martins (apud, Santos 2003) a avaliaçãoda marca seria particularmente útil à administração para fins deinvestigar a eficiência da gestão dos recursos de propaganda emarketing.

Para Aaker (1998, p. 22) atribuir valor à marca é importantepara se justificar os investimentos na marca, pois uma justificati-va para esses investimentos é que aumentarão o valor da mar-ca.

Iudícibus (2000, p. 55) comenta que a preferência conserva-dora pelo registro dos ativos a valores originais de transação,baseia-se na preocupação de não correr riscos de avaliação, acada momento, em função da variabilidade da potencialidadedo ativo em gerar benefícios futuros, o que poderia levar a errosde julgamento.

Todavia, Iudícibus (2000, p. 55) afirma que a avaliação con-servadora, baseada no custo original, falha nos demonstrativosfinanceiros, como elemento de predição de tendências futuraspara os usuários da informação contábil.

Ainda sobre a informação contábil, para a equipe de profes-sores da FEA/USP (1998, p. 132) o Balanço Patrimonial é ademonstração contábil que tem por finalidade apresentar a situ-ação patrimonial da empresa em dado momento, dentro de de-terminados critérios de avaliação. Critérios esses que predomi-nam o registro das transações com base na utilização do princí-pio do custo original como base de valor.

Citam ainda que (1998, p. 27) a maior limitação da Contabili-dade consiste no Balanço Patrimonial não representar, freqüen-temente, o valor de mercado da empresa.

Sobre esse assunto Schmidt comenta que:

Existe, atualmente, uma preocupação cada vezmaior por parte de estudiosos e investidores do mun-do inteiro sobre a lacuna existente entre o valor eco-nômico da entidade e seu valor contábil. De acordocom o índice mundial da Morgan Stanley, o valor dasempresas cotado na bolsa de valores é o dobro deseu valor contábil. Nos Estados Unidos, o valor demercado de uma empresa varia normalmente entreduas e nove vezes seu valor contábil. (2002, p. 9)

Schmidt (2002, p. 9) afirma ainda que, essa diferença temcrescido assustadoramente, em função da relevância assumidapelos ativos intangíveis em relação aos ativos tangíveis na com-posição do patrimônio das entidades.

Baruch Lev fez a seguinte análise do índice S&P 500 de 1977até março de 2000:

Examine o índice Standard & Poor´s 500 das mai-ores companhias dos Estados Unidos, muitas dasquais não estão no setor de tecnologia. A relação pre-ço /valor patrimonial – isto é, a relação entre seu valorde mercado e o valor líquido de seus ativos (o núme-ro que aparece no balanço) é atualmente maior doque seis. O significado deste dado é que os númerosdo balanço – medidos pela contabilidade tradicional– representam de 10 a 15% do valor destascompanhias.(apud, Roberto Martins, 2000, p. 4)

Com base nas citações anteriores percebemos que o proble-ma não é restrito a uma ou duas empresas, mas pode abrangero mercado como um todo.

Em um estudo realizado no ano de 1999 pelo Citibank e aInterbrand, demonstra que a maior parcela do valor de mer-cado das empresas analisadas é atribuída aos bens intangí-veis e não aos bens tangíveis registrados no balanço patri-monial. A seguir apresentamos um gráfico que demonstra talpesquisa.

Gráfico 1 – Valor de mercado versus valor contábil.

Fonte: Adaptado da Interbrand

No mesmo ano de 1999, a Interbrand avaliou o valor da mar-ca dessas empresas, utilizando uma metodologia baseada novalor presente dos benefícios futuros gerados pela marca. Po-

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demos verificar na tabela a seguir a participação da marca decada empresa sobre o valor dos intangíveis totais.

Quadro 2 – Participação da marca sobre os intangíveistotais

Bilhões US$Marca Valor bens Valor % sobre

tangíveis da Marca intangíveisIBM 19.0 43.8 28%Coca-Cola 7.8 83.8 57%American Express 9.3 12.6 32%Kellogg´s 1.0 7.1 50%

Fonte: Adaptado da Interbrand

Em recente levantamento a consultoria Interbrand publicouna revista Business Week de agosto de 2002 um ranking ondeapresenta o valor das 100 marcas mais valiosas do mundo, va-lores esses encontrados através de uma técnica onde são con-siderados os benefícios futuros da marca para a empresa. Apre-sentaremos aqui as dez marcas mais valiosas do mundo segun-do esta consultoria.

Quadro 3 - Ranking Interbrand

Posição Marca Valor em País Bilhões US$

1º COCA-COLA 69,64 USA2º MICROSOFT 64,09 USA3º IBM 51,19 USA4º GE 41,31 USA5º INTEL 30,86 USA6º NOKIA 29,97 FINLANDIA7º DISNEY 29,26 USA8º McDONALD’S 26,38 USA9º MARLBORO 24,15 USA10º MERCEDES 21,01 ALEMANHA

Fonte: Business Week (agosto 2002, p.77)

Como se percebe o valor da marca pode envolver valoresexpressivos e representar um dos principais intangíveis da em-presa, superior, muitas vezes, aos bens tangíveis.

Vimos que a informação contábil tem como um dos objetivosprincipais ser utilizada pelos usuários da Contabilidade para atomada de decisão, entretanto, o balanço patrimonial, que é umdos demonstrativos utilizados pelos usuários para tomada dedecisão, freqüentemente, possui valor contábil muito abaixo dosvalores atribuídos aos ativos pelo mercado.

Neste contexto, será que a informação contábil mesmo com aexistência desta lacuna, entre o valor de mercado e o valor con-tábil, continua sendo relevante, ou seja, possui a capacidade deinfluenciar as decisões econômicas dos usuários ajudando-osa avaliar eventos passados, presentes ou futuros? O que nota-mos é que em função desta lacuna a Contabilidade perde umpouco de sua relevância como instrumento de predição de even-tos ou tendências futuras, que é uma das informações requisita-das por muitos usuários da Contabilidade, conforme visto noquadro 1.

Sobre o modelo tradicional de relatórios contábeis Kaplan eNorton fazem a seguinte citação:

O ideal é que o modelo da contabilidade fi-nanceira se ampliasse de modo a incorporar aavaliação dos ativos intangíveis e intelectuaisde uma empresa (...) A avaliação dos ativos in-tangíveis e capacidades da empresa seria parti-cularmente útil, visto que, para o sucesso dasempresas na era da informação, eles são maisimportantes do que os ativos físicos ou tangí-veis. Se os ativos e as capacidades intangíveisda empresa pudessem ser avaliados dentro domodelo de contabilidade financeira, as empre-sas que aumentassem esses ativos e capacida-des poderiam comunicar as melhorias aos fun-cionários, acionistas, credores e à comunidade(1997, p. 7).

Para Cardozo (2002, A-2) a Contabilidade esta corroída pelocélere processo de desenvolvimento dos negócios e tornou-seincapaz de acompanhar e traduzir o ritmo das corporações.Advoga ainda a reformulação de certos conceitos básicos, taiscomo, entre outros, o custo como base de valor, provavelmenteirrealístico nos dias de hoje.

Percebe-se que houve uma transformação no mundo, fa-zendo com que na Era da informação o principal ativo dasempresas seja composto pelos seus ativos intangíveis, toda-via o modelo tradicional de contabilidade financeira desen-volvido há séculos, não tem condição de contemplar o valordesses ativos intangíveis, fazendo com que os indicadoresfinanceiros utilizados pelos usuários da contabilidade tradici-onal meça somente a eficiência dos ativos tangíveis, tornan-do-se assim obsoletos.

Segundo Gomes (2000, p, 131) uma grande dificuldadepara o analista externo é que, na maior parte das vezes, elenão dispõe de informações sobre os ativos intangíveis (mar-cas, patentes etc), os quais são os mais relevantes para oentendimento sobre a potencialidade da empresa. Destaforma devemos ser cautelosos ao utilizarmos os indicado-res financeiros procurando sempre avaliar os riscos envolvi-dos.

5 - A Evidenciação doCapital Intelectual

Segundo Marques (2002, p. 6) evidenciação significa tornarevidente, mostrar com clareza, comprovar. Em Contabilidade, otermo evidenciação está diretamente relacionado ao seu objeti-vo: fornecer informação útil.

Ainda, segundo Marques (2002, p. 1) a evidenciação estárelacionada a uma maneira clara de divulgar as informaçõescontábeis, e sob esta ótica a evidenciação contábil está pre-sente no processo de identificação, mensuração e organiza-ção dos eventos econômico-financeiros na forma de informa-ção útil.

Sobre a necessidade de mensuração e evidenciação do ca-pital intelectual Arnosti e Neumann fazem o seguinte comentá-rio:

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As informações contidas em um relatório de capi-tal intelectual são importantes para os usuários in-ternos e externos da Contabilidade, pois identificaseu potencial na organização, no presente, além, desua capacidade de gerar benefícios, agregando va-lor, no curto e longo prazo. A necessidade de remo-delação das Demonstrações Contábeis tradicionaisé, indubitavelmente, resultante da demanda de in-formação prevalecente, resultante da relação cadavez mais distante entre os valores contábeis e demercado das entidades, centrando-se esse diferen-cial. no capital humano ou intelectual e, o desafio seantepõe a toda a classe contábil, que é a mensura-ção desse ativo extremamente volúvel e intangível.(...) Aí se apresenta o desafio, para nós acadêmicose profissionais contábeis. Nosso papel é o de en-contrar formas de mensurar esse valor agregado,evidenciando aquilo que o gestor do empreendimen-to e o investidor precisam conhecer (grifo nosso)(2001, p. 20).

Dentre as formas propostas de evidenciação do capital inte-lectual podemos citar:a) Evidenciação em Relatórios Gerencias;b) Evidenciação no Relatório Anual da Diretoria ou da Adminis-

tração.

Para fins de evidenciar o capital intelectual para os usuáriosinternos poderia a empresa utilizar relatórios gerenciais, poisos mesmos segundo Warren, Reeve e Fess (2001, p. 3) possu-em as seguintes características:a) fornecem medidas objetivas de operações passadas e esti-

mativas subjetivas de futuras decisões, sendo que o uso deestimativas subjetivas auxilia a administração a responder àsoportunidades de negócios;

b) os relatórios gerenciais não precisam ser elaborados de acor-do com os Princípios Fundamentais de Contabilidade.

Sendo assim, uma vez que os relatórios gerenciais nãoprecisam ficar amarrados aos princípios contábeis, se pode-ria então mensurar o capital intelectual com base no valorpresente de seus benefícios futuros e evidenciá-lo no relató-rio gerencial.

Outra maneira de evidenciar o capital intelectual é através doRelatório anual da Diretoria ou da Administração.

Um exemplo de evidenciação do capital intelectual, em Rela-tório da Administração, é o caso da Rolta India Limited 1 empre-sa da Índia que atua na área de tecnologia da informação. ARolta mensurou e evidenciou em seu Relatório Anual da Admi-nistração do ano de 2001 o valor de sua marca, demonstrandopara os usuários da informação contábil, internos e externos, apotencialidade de geração de benefícios futuros gerados pelasua marca, a qual é integrante do capital intelectual da compa-nhia.

Segundo a Rolta (2001, p. 106) a metodologia utilizada paraa mensuração do valor de sua marca foi a elaborada por Nigel

Eastway, Harry Booth e Keith Earner. A seguir apresentaremos ovalor da marca Rolta com base na sua potencialidade de gera-ção de benefícios futuros.

Quadro 5 - Evidenciação do valor da marca no Relatório daAdministração da Rolta

Milhões $Composição do valor da Marca Rolta

Item 1999 2000 2001

EBIT 712 1.088 1.339Estrutura de Capital 2.155 2.476 2.854Remuneração do capital – 8% (172) (198) (228)Lucro da marca e outros intangíveis 540 890 1.111Impostos sobre o lucro (208) (318) (397)Lucro da marca e outrosintangíveis após os impostos 332 572 714Múltiplo 21,33 21,33 21,33Valor da Marca Rolta 7.083 12.205 15.233

Fonte: Adaptado do Annual Report da Rolta de 2001, p. 106

Segundo a Rolta (2001. p.106) o múltiplo é calculado emfunção dos fatores liderança, estabilidade, mercado, internacio-nalidade, tendências, suporte e proteção legal, relacionados coma marca Rolta, sendo que esses fatores são avaliados utilizandouma escala de 1 a 100.

A mensuração da marca com base no valor de seus benefíci-os futuros e sua posterior evidenciação para os usuários inter-nos e externos traria as seguintes vantagens:

a) Uma vez que segundo Gomes (2000, p. 131) o analistaexterno, na maior parte das vezes, não dispõe de informa-ções sobre os ativos intangíveis (marcas, patentes etc), osquais são os mais relevantes para o entendimento sobre apotencialidade da empresa. A mensuração da marca e suaevidenciação contribuiriam para que esses usuários exter-nos usufruíssem uma melhor informação sobre a potenciali-dade desse ativo intangível na geração de benefícios futurospara a companhia;

b) A mensuração da marca e sua evidenciação contribuiriampara que os usuários internos pudessem investigar a eficiên-cia da gestão dos recursos de propaganda e marketing, con-forme comentado por Roberto Martins (2000, p. 247) e ainda,contribuiria para que a administração justificasse os investi-mentos na marca, pois uma justificativa para tais investimen-tos segundo Aaker (1998, p. 22) seria que aumentaria o valorda marca que é um bem da companhia que contribui para ageração de benefícios futuros;

c) A mensuração da marca e sua evidenciação contribuiriampara que os usuários internos e externos usufruíssem umamelhor informação sobre a geração de fluxos futuros de cai-xa, melhorando assim a informação sobre a predição de even-tos e tendências futuras, informação essa que segundo Iudí-cibus (2000, p. 21) é uma das mais requisitas pelos usuáriosda Contabilidade.

1 Ver www.rolta.com/financials/annual report2001, página 106, acessado em 3/04/2003

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6 – Conclusão

Podemos concluir que a mensuração da marca combase na sua potencialidade de geração de benefíciosfuturos e sua posterior evidenciação para os usuáriosda Contabil idade, seja através de Relatórios Gerenci-

ais, seja através do Relatório da Administração, a exem-plo da Rolta India Limited, contribuem para uma melhorinformação contábil para os usuários internos e exter-nos no processo de tomada de decisão, melhorando in-clusive a informação gerada para os investidores doMercado de Capitais.

7 – Bibliografia

1 AAKER, David A. Marcas: Brand Equity gerenci-ando o valor da Marca. 2.ed. São Paulo: Negócio,1998.

2 ARNOSTI, José Carlos, NEUMANN, Regina Apa-recida. Capital Intelectual: um novo paradigma con-tábil? A Era do Conhecimento agregando valor. SãoPaulo, 2001, artigo apresentado na XXIV Conferên-cia Interamericana de Contabilidade.

3 CARDOZO, Julio Sergio, Auditores em xeque,Gazeta Mercantil, Editorial, 25/02/2002, p. A-2.

4 GOMES, Josir Simeone. Contabilidade paraMBA´s: Textos e Caso. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

5 HENDRIKSEN, Eldon S., BREDA, Michael F.Van. Teoria da Contabilidade. 5.ed. São Paulo: Atlas,1999.

6 INTERBRAND. Avaliação de Marca. Ed. Inter-brand Brasil, edição 2001.

7 IUDICÍBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilida-de. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2000.

8 MARQUES, Idarlene Araújo de Oliveira. O pro-cesso de evidenciação contábil sob a ótica da teoriada comunicação. artigo, 2002.

9 ROLTA India Limited, Annual Report 2001,www.rolta.com acessado em 03/04/2003, p. 106.

10 SCHMIDT, Paulo, SANTOS, José Luiz. Avaliação de Ativos Intangíveis. 1.ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2002.

11 SANTOS, Josué Vieira dos. Uma Contribuição a Evidenciação e Mensuração da Marca: Um Estudo Exploratório.Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. UERJ/FAF, 2003.

12 SZUSTER, Natan, SILHAN, Peter. A Contabilidade do Futuro: O potencial impacto das atuais mudanças econômicas etecnológicas sobre a Contabilidade. artigo, 1997.

13 WARREN, Carl S., REEVE, James M., FESS, Philip E. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Ed. Pioneira, 2001.

14 WERNKE, Rodney, Considerações acerca dos métodos de avaliação do capital intelectual. Revista Brasileira deContabilidade, n.137, p. 23, set/out, 2002.

(Footnotes)

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1. INTRODUÇÃO

As mudanças que se processam em um mercado cada vezmais globalizado, aliadas à influência de n ovas tecnologias,têm incentivado muitos administradores a intensificar mudan-ças na estrutura da empresa onde atuam. Acompanhar os avan-ços propostos pelo mercado é algo necessário, a fim de quepossa situar a empresa nesse novo ambiente.

Nos últimos anos, várias organizações têm procurado sus-tentar a sua competitividade através da melhoria da eficiênciaoperacional e do corte de custos. Neste aspecto, produzir pro-dutos de qualidade e com menor custo é o que tem incentivadoo desenvolvimento de novas formas de gestão.

Uma das maneiras pela qual a empresa pode se tornar com-petitiva é reduzindo os seus custos. Produtos com um custo finalmais baixo proporcionam vantagens à empresa, dentre elas, ospreços de venda mais baixos, que projetam a empresa no mer-cado e, conseqüentemente, podem alavancar aumentos na de-manda.

Para reduzir os custos da empresa é apontado como um im-portante fator o gerenciamento dos processos. Assim, conside-rando estes aspectos de mudança, que exigem um posiciona-mento das organizações frente o cenário que se apresenta, ve-rifica-se a importância de pesquisar a redução dos custos deuma empresa a partir do gerenciamento de processos.

Neste sentido, o objetivo deste artigo é verificar a influênciado gerenciamento de processos na redução dos custos de umaempresa industrial.

Assim, inicia-se com a abordagem da gestão de custos naindústria. Na seqüência, destaca-se a definição de processos,bem como o seu gerenciamento. Em seguida, aborda-se a aná-lise de um estudo empírico, onde se caracteriza a empresa in-dustrial e os seus elementos de custos. Por último, mostra-secomo pode ocorrer a redução dos custos na empresa a partir dogerenciamento de processos.

2. GESTÃO DE CUSTOS NA INDÚSTRIA

Para o conhecimento mais profundo dos custos dos proces-sos industriais da empresa e a análise das diversas atividades

A REDUÇÃO DOS

CUSTOS DE UMA

EMPRESA INDUSTRIAL

ALICERÇADA NO

GERENCIAMENTO DE

PROCESSOS

que os envolvem, é necessário um aprimoramento dos sistemasde custeamento, sob pena de poder contribuir para a reduçãoda competitividade da empresa. Por conseguinte, as empresasestão em busca de sistemas de custos mais apropriados à estanova realidade organizacional.

O ambiente empresarial exige informações de custos cadavez mais aprimoradas e detalhadas. Observa-se, também, queos custos indiretos de fabricação estão em crescimento expo-nencial, em função da automação da produção, enquanto que amão-de-obra direta (MOD) tem reduzido a sua participação per-centual no custo total dos produtos fabricados em muitas empre-sas.

As empresas dedicam-se intensivamente à melhoria de al-guns fatores críticos de sucesso, tais como: melhor desempe-nho de produtos e processos, maior sensibilidade para o merca-do, melhor gestão estratégica e operacional da organização,entre outros aspectos. Souza e Bacic (1995, p.307) explicitamque:

a procura da flexibilidade produtiva está levando as gran-des empresas a descentralizar suas operações, externali-zando algumas etapas e integrando os fornecedores dentrode seu sistema empresarial. Do ponto de vista da lógica dabusca do aumento da competitividade e da racionalizaçãodos custos, vários problemas são apresentados quanto àintegração vertical e à produção em uma única planta, à

� Marco Aurélio Batista de Sousa

�� Fabiano Maury Raupp

��� Ilse Maria Beuren

� Mestrando em Administração de Empresas - CPGA

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

�� Mestrando em Administração de Empresas - CPGA

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

��� Doutora em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP

Universidade Federal de Santa Catarina

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medida que os problemas exigem processos de fabricaçãomais complexos.

O gerenciamento dos custos tem sido primordial para osucesso das organizações. Em relação ao cenário, o que setem percebido é que as empresas que estão preocupadascom a competitividade global já não colocam mais a contabi-lidade de custos como uma função secundária ou terciária.Entre seus objetivos, Matz, Curry e Frank (1974, p.31) desta-cam que:

visto que trabalha com custos, orçamentos e análise de cus-to, a Contabilidade de Custos pode ser descrita como sócio prin-cipal, nas atividades de controle e nas fases de planejamento ede decisões, da empresa. A Contabilidade de Custos aplica osprincípios contábeis da mesma forma que a Contabilidade Ge-ral e fornece à administração registro detalhado, análise e inter-pretação das despesas efetuadas em conexão com a operaçãoda empresa.

Nesse ambiente empresarial, são necessárias informa-ções mais detalhadas sobre os produtos e processos dasempresas. Assim sendo, as empresas estão se dedicando àmelhoria de alguns aspectos críticos, como: melhor desem-penho de produtos e processos, maior sensibilidade para omercado, melhor gestão estratégica e operacional entre ou-tras.

Desse modo, nas empresas em que as informações de cus-tos são usadas para desenvolver estratégias que visam a obten-ção da vantagem competitiva, gerenciar custos com eficáciaexige um enfoque profundo. No entanto, talvez uma exigênciamaior por parte da Contabilidade de Custos, com ênfase nocampo estratégico, tenha se iniciado com a crescente complexi-dade das indústrias, bem como, dos custos industriais. Franco(1991, p.143) define custos industriais como “o conjunto dosdispêndios que a empresa industrial tem com o material, a mão-de-obra e os gastos gerais incorridos na fabricação de seusprodutos”.

Dado a importância das informações de custos no meio em-presarial, deve-se buscar o refinamento da contabilidade queanalisa e gerencia este tipo de informação. A gestão estratégicade custos tenta alcançar posições para a organização, seja atra-vés do enxugamento da estrutura da empresa, expansão dacapacidade fabril, lançamento de novos produtos ou formaçãodo preço de venda. No entanto, além das informações de cus-tos, é necessário que a empresa tenha clara a definição de pro-cessos.

3. DEFINIÇÃO DE PROCESSOS

Segundo Hammer (2001, p.76), “o processo é um termotécnico, com uma definição exata: grupo organizado deatividades correlatas que, em conjunto, cria um resultadode valor para os clientes”. Nesta definição, explica quecada palavra é importante. “Processo é um grupo de ativi-dades, não apenas uma. As atividades de um processonão são aleatórias ou improvisadas. Elas são integradase organizadas. Elas não se entremeiam com atividadesestranhas ou irrelevantes e devem ser executadas emdeterminada seqüência. Todas as atividades de um pro-

cesso são executadas em conjunto, com vistas a um obje-tivo comum”.

Davenport (1994, p.6-7) explicita que:

processo é simplesmente um conjunto de atividades estrutu-radas e medidas destinadas a resultar num produto especifica-do para um determinado cliente ou mercado. Um processo é,portanto, uma ordenação específica das atividades de trabalhono tempo e no espaço, com um começo, um fim, e inputs e ou-tputs claramente identificados: uma estrutura para a ação.

O sucesso na realização do processo dependerá, em grandeparte, da maneira como as atividades estão estruturadas e coor-denadas. A ordenação e a cronologia das atividades são pontosfundamentais na execução do processo.

Para Hope e Hope (2000, p.120), “os processos empre-sariais enquadram-se em dois níveis: os processos princi-pais, como desenvolvimento de novos produtos e os servi-ços aos clientes, e os subprocessos secundários, que defi-nem as atividades a serem executadas dentro dos proces-sos principais”.

Ambos os tipos de processos requerem o mesmo grau deanálise em suas fases de planejamento e execução, com vistasao bom funcionamento da empresa. Além disso, faz-se neces-sária uma definição clara de quais processos são principais esecundários, a fim de que a organização esteja orientada paraeles. No que se refere a esta questão, Hammer (1998) mencio-na que, uma organização orientada para processos tem neles ocentro das atenções. No entanto, nas organizações tradicionais,os processos são ignorados.

Neste sentido, observa-se a abrangência do termo processoem uma organização, haja vista as várias características que oenvolvem. Na organização, há outros agentes que estão preo-cupados com o processo, dentre eles, o cliente. Além da defini-ção de processos, faz-se necessário discutir o gerenciamentode processos nas empresas.

4. GERENCIAMENTOS DE PROCESSOS

Para criar valor para o cliente, o processo precisa ser bemgerenciado em todas as suas atividades. Hammer (2001, p.76)relata que “o atendimento de pedidos é um processo compostode muitas atividades - recebimento e lançamento do pedido,verificação de crédito do cliente, busca nos estoques, produçãoe embalagem das mercadorias, planejamento do transporte eefetivação da entrega. Nenhuma tarefa isolada cria o resultadoalmejado. O valor é conseqüência de todo o processo, em quese fundem estas tarefas”.

Infere-se, portanto, que o gerenciamento de processos emuma organização é de suma importância para a sua adequaçãoàs mudanças trazidas pelo novo cenário. Hope e Hope (2000,p.119) dizem que:

Os processos e as equipes estão no âmago do novo modeloorganizacional. Algumas empresas, por exemplo, criaram equi-pes multifuncionais que combinam talentos das diferentes áre-as especializadas para melhorar o fluxo das operações e osserviços aos clientes. Outras sobrepuseram uma estrutura hori-zontal baseada em processos em cima da hierarquia existente,sem introduzir, de fato, as mudanças físicas e de pessoal neces-sárias. Mas na terceira onda torna-se essencial uma mudança

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mais formal para o modelo baseado em processos. O desenhodo modelo e o funcionamento prático da sua estrutura gerencialserão determinados pela proposição de valor escolhida.

Hammer (2001, p.78) refere que “o desenho do processo pres-creve como o trabalho de cada uma das unidades deve confluirpara um ponto comum, a fim de atingir o objetivo mais amplo.Ele especifica exatamente como o trabalho será executado, emque seqüência, em que localidade e por quem. O desenho doprocesso é requisito para a repetição, sem isso, o pretenso pro-cesso seria executado de maneira diferente em cada ocasião”.

Antes que o processo seja executado devem ser analisadosalguns elementos que se julgam essenciais para a sua execu-ção. O primeiro elemento que antecede a execução do proces-so é o planejamento. Depois de planejado, o processo precisaser desenhado para que se obtenha a visão do todo. Feita acriação do desenho do processo, o elemento seguinte é geren-ciamento do mesmo, só então o processo é executado.

Hope e Hope (2000, p.122) citam que “a maioria dasempresas concentrou-se nos processos como uma maneiramelhor de fornecer seus produtos e serviços aos clientes. Noentanto, elas geralmente não conseguem estabelecer o vínculocrucial entre estratégias, competências e processos. Os proces-sos são as partes componentes das competências básicas edevem evoluir e adaptar-se à medida que as competências tam-bém evoluem e se adaptam”.

Diante do exposto, fica evidente a necessidade do gerencia-mento dos processos em uma organização. A partir do seu ge-renciamento, os gestores poderão nortear os resultados obtidosmediante a sua execução. Por sua vez, a execução dos proces-sos pode implicar em mudanças no planejamento, fechandoassim o ciclo. Assim, a partir da discussão do gerenciamento deprocessos nas empresas, aborda-se a análise de um estudoempírico, onde, primeiramente, se caracteriza a empresa.

5. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA OBJETO DE ESTUDO

A empresa objeto de estudo é de porte médio, fabricante detubos, tubetes e conicais, exclusivamente de papel e papelão.Atualmente conta com cerca de 102 funcionários. Possui 2.500m2 de área fabril distribuídos em três unidades. Iniciou suasatividades no ano de 1993, com o propósito de fabricar e comer-cializar seus produtos para atender preferencialmente um únicocliente nesta região. A fim de preservar a empresa, a razão soci-al de ambas (fabricante e cliente) não será revelada.

Inicialmente, a empresa foi constituída por dois sócios, queinvestiram de forma igualitária na formação e na constituição doseu capital. Esses sócios detinham o know-how da produçãodesses produtos, além de serem os responsáveis pela fabrica-ção das máquinas utilizadas no processo produtivo. Estes in-vestiram devido à oportunidade de garantir e obter um mercadopromissor, já que a região onde se instalou constitui em umimportante pólo têxtil e de indústrias que utilizam os diversostipos de produtos fabricados pela empresa.

Antes de se instalar, a empresa possuía um cliente em poten-cial, contactado anteriormente, o que motivou e facilitou em muitoa sua fixação nesta localidade. Posteriormente, este cliente in-fluenciou e contribuiu diretamente para que a empresa amplias-se a comercialização dos seus produtos para todo o Estado e

demais regiões do país. Além deste fato, a qualidade dos seusprodutos e o atendimento personalizado dispensado à cada umdos seus clientes possibilitou a empresa expandir suas vendaspara alguns países membros do Mercosul, tornando-se, destaforma, uma empresa respeitada e de fomento neste segmento.

Após a sua consolidação no mercado, a empresa que inicial-mente fora constituída por dois sócios teve incorporado ao seuquadro societário dois novos integrantes, que a partir do ano de1995 passaram a gerenciar todas as suas atividades. Neste ano,foi transferida a esses dois novos integrantes (filhos dos donos)a responsabilidade de gerir os negócios da empresa.

Em função do volume de negócios realizado e do aumentode suas vendas, a empresa adotou, como estratégia competiti-va, meios de melhor gerenciar todos os processos, desde a che-gada das matérias primas, o processo de produção dos produ-tos, a saída dos produtos acabados, sua comercialização e, prin-cipalmente, o pós-venda, além de verificar in loco a real neces-sidade e satisfação de cada um dos seus clientes. Utilizandodesta estratégia, a empresa conseguiu manter-se competitiva eem expansão no mercado.

OS ELEMENTOS DE CUSTOS DA EMPRESA

Os elementos de custos são inerentes a qualquer entidadeempresarial, pois são eles que constituem o custo de produçãodo período. Assim, faz-se necessário identificar esses elemen-tos, bem como buscar mecanismos que possam auxiliar em seuscontroles desde o começo até o final do processo produtivo.

Os elementos de custos influenciam diretamente o custo finaldo produto. Para Becker e Jacobsen (1984, p.3), “o custo de umproduto é determinado pela soma dos elementos de custos”,sendo que estes também influenciam o preço de venda queserá praticado pela empresa na comercialização destes produ-tos. Porém, vale ressaltar que este preço nem sempre é o prati-cado pelas empresas, haja vista que são influenciados por fato-res externos, decorrentes da livre negociação entre o compra-dor e o vendedor.

Assim, os elementos de custos mais comuns na constituiçãodo custo de produção são: materiais diretos, a mão-de-obra di-reta e os custos indiretos de fabricação. Jiambalvo (2002), aodescrever os custos de produção, destaca que estes correspon-dem a todos os custos associados a produção dos bens e inclu-em o material direto empregado na fabricação, a mão-de-obradireta e todos os custos indiretos de fabricação. Pela importân-cia atribuída a cada um desses elementos na constituição docusto do produto final, os controles desses fatores são de vitalimportância na redução dos custos da empresa, como tambémna manutenção de sua competitividade entre os seus concor-rentes.

Na empresa investigada, os materiais diretos correspondemà parcela mais significativa do custo de produção. Estes materi-ais, segundo Becker e Jacobsen (1984), constituem efetivamen-te o produto acabado e são facilmente identificados no proces-so. Isto acontece pelas características dos produtos produzidospela empresa, que são basicamente a cola, ou seja, um adesivovegetal a base de milho não tóxico e os diversos tipos de papéisclassificados em nobres, papéis de primeira qualidade, papéisde segunda qualidade e papéis recicláveis, que são utilizadosconforme a necessidade e as exigências de cada cliente.

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Desta forma, Li (1981, p.8) cita que “o material direto repre-senta a parcela dos materiais utilizados no processo de fabrica-ção que é imediatamente identificável e mensurável”. Estesmateriais são considerados como diretos, pois são facilmenteidentificados aos diferentes produtos fabricados.

Em relação aos papéis utilizados na confecção dos produtos,estes representam a maior parte dos materiais diretos, tanto emtermos monetários como também em volume. A sua relevânciaem termos monetários se dá pelo fato de que o preço de aquisi-ção desse componente é ditado pelo mercado internacional,estando atrelado a cotação do dólar, os valores de aquisiçãodestes materiais variam conforme a cotação desta moeda. Emrelação ao volume sua importância é verificada devido a grandequantidade desse material utilizada na produção, já que os pro-dutos são compostos essencialmente de papel. Como se verifi-ca, esses materiais influenciam significativamente no aumentodos custos de produção por meio destes fatores.

No que tange a mão-de-obra direta, esta é definida por Mar-tins (2000, p.143) como sendo “aquela relativa ao pessoal quetrabalha diretamente sobre o produto em elaboração, desde queseja possível a mensuração do tempo despendido e a identifica-ção de quem executou o trabalho, sem a necessidade de qual-quer apropriação indireta ou rateio”.

A mão-de-obra direta é composta por todo trabalho aplicadodiretamente na execução do produto ou componentes, inde-pendente se este for ou não especializado. A mão-de-obra di-reta constitui-se no segundo elemento de custo mais represen-tativo desta empresa, devido o seu grau de importância nadeterminação do custo de produção, a quantidade de funcio-nários que a empresa possui e os valores correspondentes aoseu custo.

O terceiro e o último elemento na formação do custo total deprodução é o custo indireto de fabricação. Estes custos são de-finidos por Jiambalvo (2002) como sendo todos os custos relaci-onados com as atividades produtivas, exceto o material direto emão-de-obra direta.

Conforme Horngren, Foster e Datar (2000, p.29), os custosindiretos de fabricação “são todos os custos de produção con-siderados parte do objeto de custos (ou seja, unidades acaba-das ou em processo), mas que não podem ser facilmente iden-tificados individualmente com o custo-objeto de maneira eco-nomicamente viável”. Desta forma, estes custos são conside-rados como todos os custos industriais que não podem seridentificados facilmente em um produto específico. Esses sãoalocados ou distribuídos aos produtos em função de bases derateio.

Na empresa, os custos indiretos não têm uma grande re-presentatividade na determinação do custo de produção, sen-do considerados como o de menor proporção na formação docusto total de produção. Franco (1991, p.171) cita que os cus-tos indiretos “são os que incidem na produção de forma indi-reta, ou cuja apropriação no custo de cada produto ou seçãoprodutiva é impossível ou difícil de ser conseguida”. Essescustos são, em grande parte, representados pela mão-de-obra indireta que corresponde aos líderes da fábrica, encar-regados em supervisionar a produção. Esses líderes são res-ponsáveis pela escolha do material utilizado na confecçãodos tubos, tubetes e conicais e pelas determinações e pa-drões exigidos pelos clientes, como: o comprimento, o diâme-

tro e a espessura de cada produto. Este é o elemento maisrelevante na formação do custo indireto de fabricação destaempresa.

Um outro custo indireto de fabricação é a água utilizada noprocesso produtivo. Mesmo sendo identificada no processo pro-dutivo, este é considerado como um custo indireto, pois nãopossui uma relação direta com os produtos. A água é adiciona-da à cola para dilui-la quando de sua utilização no processoprodutivo. A quantidade de água a ser utilizada dependerá ex-clusivamente dos fatores climáticos como calor, chuva ou frio,que influenciam diretamente na fabricação dos produtos, já quesão variações que definem mais ou menos água para diluir acola. Assim, como a água não pode ser identificada somente aum produto em especial, ela é considerada como um custo indi-reto de fabricação. Outros custos indiretos identificados na em-presa são: aluguel da fábrica, depreciação das máquinas, re-muneração do gerente da fábrica e a energia elétrica utilizadano processo produtivo.

7. O GERENCIAMENTO DE PROCESSOSNA EMPRESA ATRAVÉS DAIMPLANTAÇÃO DE CONTROLES

Após realizado o diagnóstico da empresa, onde se obteve asinformações necessárias ao desenvolvimento de controles in-ternos, principalmente no setor de produção, pôde-se iniciar oprocesso de implantação destes controles.

Primeiramente, observou-se o que deveria ser realizado, osmeios e os tipos de controles que poderiam ser implantados.Assim sendo, o primeiro passo para a implantação desses con-troles foi buscar junto aos funcionários da produção o compro-metimento com as tarefas a serem realizadas na sua alimenta-ção.

Sobe esta perspectiva, iniciaram-se os controles com o apon-tamento das quantidades de matéria-prima (papel e cola), quechegavam através de fichas de controle de entrada de matéria-prima. Conseqüentemente, pôde-se saber o dia em que cadatipo de papel e cola chegou na empresa, a quantidade de cadauma dessas matérias-primas, sendo possível controlar os esto-ques desses materiais e a quantidade exata de cada tipo depapel e cola em estoque. A partir dessas anotações foi viabiliza-da a implantação das fichas correspondentes às requisições demateriais. Como já foi descrita anteriormente, a empresa nãoconhecia a quantidade necessária desses materiais consumi-dos em determinada produção, sendo que através da implanta-ção desta ficha de requisição de materiais passou a ter estecontrole.

Antes de iniciar a produção de determinado produto, o funci-onário responsável pelo controle vai até o estoque desses pro-dutos e anota no bloqueto a quantidade requisitada de cada tipode papel que é utilizada na produção. Quando há necessidadede mais quantidade de papéis é feita uma outra requisição des-ses para a produção.

Por intermédio da requisição evidencia-se a data, o produtofabricado, o fornecedor, a gramatura e a largura do papel, aquantidade do papel que fora utilizado, além das quantidadesde cola e o seu lote. Esta ficha permite a verificação de possíveisfalhas na produção, e os erros incorridos no consumo de mate-riais.

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Outra dificuldade encontrada na empresa decorria da falta decontagem física dos produtos acabados em estoques. Muitasinformações foram perdidas mediante a falta desses controles.Portanto, foram elaboradas fichas para a contagem e controledesses itens.

Por meio desta ficha foi formalizada a contagem física dosestoques das bobinas, para evitar os conflitos e as dúvidas emrelação a quantidade desses produtos em estoque. Para a con-tagem física das bolachas de papel e dos tubos foram elabora-das fichas idênticas, apenas substituindo o nome dos produtos.

A fim de facilitar o controle na produção e formalizar algunsprocedimentos, foi oportuna a adoção de uma ficha denomina-da de ordem de produção. Com a elaboração desta ficha foipossível verificar e ter algumas informações relevantes a respei-to da hora de início e término de cada lote produzido, o cliente, aquantidade produzida, o material utilizado na produção, o nomedo operador da máquina e outras informações relevantes.

Foi possível, ainda, comparar o consumo dos elementos decustos com as outras anotações realizadas nas demais fichas,dando mais credibilidade e segurança nas informações gera-das através da sua utilização.

Além da implantação desses controles, inúmeras mudan-ças foram realizadas na indústria, como redução dos desperdí-cios de materiais, redefinições de funções, conscientização detodos os funcionários quanto a necessidade de cooperação.Através desta conscientização implantaram-se os controles de-senvolvidos ao processo de gestão da empresa.

Por intermédio dessas ações e da implantação de algu-mas fichas, foi possível o desenvolvimento e a implantação dealguns controles internos na empresa, auxiliando os gestoresno gerenciamento de processos, bem como contribuindo para aredução dos custos totais e a manutenção da competitividadeda empresa frente ao mercado.

8. A REDUÇÃO DOS CUSTOS TOTAISNA EMPRESA A PARTIR DOGERENCIAMENTO DE PROCESSOS

Com a adoção da estratégia de acompanhamento e verifica-ção do processo produtivo da empresa, desde a chegada dematéria-prima até a comercialização dos produtos e o seu acom-panhamento pós-vendas, foi possível reduzir os custos na em-presa.

O gerenciamento do processo de produção, com o já enfati-zado se dá desde a chegada da matéria-prima e a sua utilizaçãoe transformação em produto acabado. O gerenciamento inicialdeste processo se deu mediante fichas de controles internosque possibilitaram os gestores controlar e gerenciar melhor estefator de produção.

Este controle inicia-se com a chegada dos materiais, a confe-rência de sua procedência, qualidade, quantidade e determina-ções específicas da empresa a fim de evitar eventuais supres-sas em relação a todos estes fatores. A adoção deste controlecontribui para a redução dos custos, pois com todas estas ob-servações a empresa conseguiu manter e até mesmo melhoraro padrão de qualidade dos seus produtos em função da verifica-ção da chegada dos ingredientes principais dos seus produtos,que são as suas matérias-primas, não diminuindo desta formaas suas vendas em função de sua qualidade.

O acompanhamento dos materiais no processo de produçãotambém foi possível através de controles internos (fichas), quepossibilitaram a identificação do tipo e da quantidade de materi-ais utilizados na confecção dos produtos, evitando, com isto,desperdícios de materiais e tempo de produção.

Quando do início da produção de um determinado tipo deproduto, os materiais são requisitados por meio de uma fichadenominada “ficha de requisição de materiais”, onde são anota-dos os diversos tipos de produto a serem fabricados, a quantida-de e o tipo de matéria-prima utilizada. Este procedimento, comojá comentado, contribui para a padronização da produção dosprodutos evitando perdas de materiais.

Os controles referentes a mão-de-obra indireta são feitos atra-vés de fichas, possibilitando uma verificação do tempo gasto eas pessoas diretamente envolvidas no processo produtivo. Sen-do assim, por meio dessas fichas são subtraídas as seguintesinformações: funcionários diretamente vinculados a fabricaçãodo produto e o tempo dispensado à fabricação do produto (tantoo início como o final da produção).

Assim, o gerenciamento do processo contribuiu à determina-ção do custo de cada produto e auxilia o gestor na formação dopreço de venda dos produtos.

No tocante aos custos indiretos de fabricação, em virtude dasdificuldades de identificá-los a um produto em específico, sãocomumente rateados em função do consumo da matéria-primaconsumida por cada produto. Vale ressaltar que, nesta empresaem específico, esta foi a melhor maneira de alocar estes custosaos produtos, porém pode não ser a ideal para outro tipo deempresa.

Com a adoção destes controles internos e o gerenciamentode processos a empresa conseguiu reduzir os seus custos to-tais, contribuindo para manter-se competitiva em seu segmentode mercado.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As diversas mudanças econômicas, políticas e sociaisocorridas no âmbito externo e interno dos países exigiramque as empresas reformulassem suas atividades operacio-nais e administrativas. Estas transformações fizerem comque as empresas buscassem alternativas a fim de se man-ter competitivas em um mercado de constates transforma-ções.

Assim, independente do porte e do ramo de atividade, asempresas tiveram que se adequar à esta nova realidade im-posta pelo mercado, proporcionando aos consumidores e cli-entes produtos com qualidade e a um preço considerado jus-to.

No tocante à estratégia estabelecida pela empresa investiga-da, esta decorre do gerenciamento de processos como umaalternativa de reduzir os custos. Desta forma, o objetivo desteartigo consistiu em verificar a influência do gerenciamento deprocessos na redução dos custos de uma empresa de médioporte.

O foco principal do gerenciamento de processos se deu naprodução, onde se implantou alguns controles internos que pos-sibilitaram a empresa gerenciar todo o processo de produção,deste a chegada da matéria-prima até o acompanhamento dopós-venda de seus produtos.

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REFERÊNCIAS

ANTKINSON, Anthony. A et al. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 2000.

BECKER, Norton e JACOBSEN, Lyle E. Contabillidade de custos: uma abordagem gerencial. São Paulo: McGraw-Hill doBrasil, 1984.

DAVENPORT, Thomas H. Reengenharia de processos: como inovar na empresa através da tecnologia da informação. 5.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1994.

FRANCO, Hilário. Contabilidade industrial. São Paulo: Atlas, 1991.

HAMMER, Michael. A agenda: o que as empresas devem fazer para dominar esta década. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

HAMMER, Michael. A empresa voltada para processos. HSM Management. São Paulo, n. 9, p. 6-9, jul./ago. 1998.

HOPE, Jeremy; HOPE, Tony. Competindo na terceira onda: os 10 mandamentos da era da informação. Rio de Janeiro:Campus, 2000.

HORNGREN, Charles T.; FOSTER, George; DATAR, Srikant M. Contabilidade de custos. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

JIAMBALVO, James. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

LI, David H. Contabilidade de custos. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981.MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2000.

MATZ, Adolf; CURRY, Othel J.; FRANK, George W. Contabilidade de custos. São Paulo: Atlas, 1974.

SOUZA, Maria Caroline A. F. de; BACIC, Miguel Juan. Desenvolvimento da cooperação entre empresas como instrumentopara enfrentar os custos da complexidade. I Congresso Brasileiro de Gestão Estratégica de Custos. São Leopoldo, Unisinos,1995. Anais..., p. 304-308.

(Registrado no CRC-RJ)

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1. INTRODUÇÃOO Balanço Social é um demonstrativo elaborado por algumas

empresas e publicado anualmente que contém informaçõessobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos em-pregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e suaforma de interação com a comunidade e meio ambiente. Essedemonstrativo é importante, pois o investidor tende a aplicar emempresas preocupadas com a ética e a transparência, partindodo pressuposto que os riscos são menores.

A idéia de elaborar um Balanço Social para empresas junio-res surgiu do conhecimento dessas prestarem serviços sociaisa entidades beneficentes como creches e ONGs. A pesquisateve como objeto de estudo empresas juniores da UFMG, UNAe PUC Minas. É importante salientar que praticamente todas asempresas consultadas se dispuseram a realizar ou já realizamprojetos sociais. A pesquisa foi feita com a utilização de materialbibliográfico e eletrônico. Também foram aplicados questionári-os e analisados dados da UCJ – UFMG Consultoria Júnior daFACE/UFMG devido à facilidade de acesso.

O objetivo deste trabalho foi elaborar um Balanço Social paraempresas juniores e um modelo de banco de dados para abri-gar as entidades que precisam de ajuda e as que se dispõem aajudar. A diferença desse Balanço Social é o fato das empresasjuniores não colaborarem com as instituições financeiramente,mas prestando-lhes serviços. Para tento, foi criada uma maneirade mensurar financeiramente esses serviços. O Balanço Socialelaborado tem como parâmetro e fundamentação o modelo doIbase pelo fato de ser simples e ter como objetivo ser adotadopor um número cada vez maior de empresas juniores.

A monografia tem por filosofia a mensagem do Betinho “Reali-zar o Balanço Social significa uma grande contribuição para con-solidação de uma sociedade verdadeiramente democrática”.

2. CONCEITO E DEFINIÇÃOO Balanço Social é um demonstrativo que contém informa-

ções sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aosempregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e àcomunidade publicado anualmente por algumas empresas.

No Brasil a elaboração anual de relatórios com informaçõesde caráter social ganhou destaque quando o sociólogo Herbertde Souza, o Betinho, começou uma campanha pela divulgaçãovoluntária do Balanço Social.

A elaboração do Balanço Social é importante, pois agregavalor à empresa trazendo, assim, um diferencial para a sua ima-gem na medida em que é cada vez mais valorizado por investi-dores e consumidores em todo o mudo. O investidor tende aaplicar em empresas preocupadas com a ética e a transparên-cia, partindo do pressuposto que os riscos são menores.

De acordo com KROETZ (2000, p. 68):

“O Balanço Social, antes de ser uma demonstra-ção endereçada à sociedade, é considerado um fer-ramenta gerencial, pois reunirá dados qualitativos equantitativos sobre as políticas administrativas e so-bre as relações entidades/ambiente, os quais pode-rão ser comparados e analisados de acordo com asnecessidades dos usuários internos, servindo comoinstrumento de controle, e auxílio para a tomada dedecisões e na adoção de estratégias”.

Segundo o Ibase – Instituto Brasileiro de Análise Sociais eEconômicas - os analistas de mercado e os órgãos de financia-mento como BNDES, BID e IFC já incluem o Balanço Social nalista dos documentos necessários para se conhecer, avaliar osriscos e as projeções de uma empresa. O Ibase também enfatizaa necessidade da elaboração do Balanço Social em um modeloúnico, pois acredita que a simplicidade garante o envolvimentomaior de corporações. E, desse modo, é possível fazer uma ava-liação adequada da função social da empresa ao longo dos anos.

BALANÇO SOCIAL

� Denise Carneiro dos Reis Bernardo

�� Geová José Madeira

� Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Controladoria do De-

partamento de Ciências Contábeis da FACE/UFMG

�� Mestre em Ciências Contábeis – FGV/RJ

Professor do Departamento de Ciências Contábeis da FACE/UFMG

Pesquisador, Orientador e Coordenador do Núcleo de Estudos em

Controladoria do Departamento de Ciências Contábeis da FACE/UFMG

O CASO DAS EMPRESAS JUNIORES

DO ESTADO DE MINAS GERAIS -

TRANSFORMANDO O TEMPO

EM QUALIDADE DE VIDA

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Para estimular a participação, o instituto criou o Selo BalançoSocial Ibase/Betinho para as empresa que publicam anualmen-te o Balanço Social no modelo sugerido pela organização. Aempresa pode utilizar-se deste selo nos seus anúncios, emba-lagens e campanhas publicitárias

3. HISTÓRICODe acordo com a literatura existente, desde o início do século

XX registram-se manifestações clamando por maior responsa-bilidade social das empresas. Mas foi somente a partir dos anos60 nos Estados Unidos da América e no início da década de 70na Europa, em especial na França, Alemanha e Inglaterra, que asociedade começou a cobrança por maior responsabilidadesocial das empresas, daí a necessidade de divulgação dos cha-mados balanços ou relatórios sociais.

Segundo o Ibase, nos Estados Unidos e na Europa, na década de60, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a umboicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas liga-das ao conflito. A sociedade, então, começou a exigir uma posturaética diferente e várias empresas passaram a prestar contas de suasações e objetivos sociais. A elaboração e divulgação anual dessetipo de relatório resultaram no que se chama hoje de Balanço Social.

Foi na década de 70 que difundiu-se na Europa o conceito deresponsabilidade social. Em 1971 a companhia alemã STEAAGproduziu uma espécie de relatório social das suas atividades.Porém, na França em 1972, a empresa SINGER publicou o quepode ser considerado o primeiro Balanço Social da história dasempresas. Em 12 de julho de 1977, foi aprovada a Lei 77.769nesse país que tornava obrigatória a realização de BalançosSociais periódicos para as empresa com mais de 700 funcioná-rios. Depois esse número foi reduzido para 300 funcionários.

Já no Brasil, segundo TORRES1:

“... os ventos desta mudança de mentalidade em-presarial já podem ser notados na “Carta de Princípi-os de Dirigente Cristãos de Empresas” desde a suapublicação, em 1965, pela Associação de DirigentesCristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil). Nadécada de 80, a Fundação Instituto de Desenvolvi-mento Empresarial e Social (FIDES) chegou a elabo-rar um modelo. Porém, só a partir do início dos anos90 é que algumas empresas – muito poucas – pas-saram a levar a sério esta questão e divulgar siste-maticamente em balanços e relatórios sociais asações realizadas em relação à comunidade, ao meioambiente e ao seu próprio corpo de funcionários.”

A empresa estatal Nitrofértil, situada na Bahia, foi a primeiraempresa brasileira a fazer um documento do gênero que teve onome de Balanço Social. Na mesma época, o Sistema Telebrasestava fazendo o seu Balanço Social que foi publicado em me-ados da década de 80. O Banespa realizou o seu Balanço Soci-al em 1992, compondo, também, a lista das empresas precurso-ras em Balanços Sociais no Brasil.

4.LEIS E PROJETOSExistem no Brasil alguns projetos de lei no âmbito federal,

estadual e municipal incentivando a realização do Balanço So-cial. São eles:

� FederalProjeto de Lei (PL) 3.116/97Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares- PT/RJ e Sandra

Starling- PT MG, apresentaram o Projeto de Lei 3.116/97, quetornava obrigatório o Balanço Social para todas as empresaspúblicas e para as empresas privadas com 100 ou mais empre-gados. Esse projeto foi arquivado, mas segundo informaçõesretiradas do site do Ibase esse projeto de lei tramita atualmentena Câmara dos Deputados com o Deputado Paulo Rocha sob onº 0032 de 1999.

De acordo com esse projeto “Balanço Social é o documentopelo qual a empresa apresenta dados que permitam identificaro perfil da atuação social da empresa durante todo o ano, aqualidade de suas relações com os empregados, o cumprimen-to das cláusulas sociais, a participação dos empregados nosresultados econômicos da empresa e as possibilidades de de-senvolvimento pessoal, bem como a forma de sua interaçãocom a comunidade e sua relação com o meio ambiente.”

O diferencial do projeto é que ficam estabelecidas, também,penalidades para as empresas que fraudarem ou não atende-rem o que está presente na lei. Essas empresas serão impedi-das de participar de licitações e contratos da Administração Pú-blica, de serem beneficiadas de incentivos fiscais e dos progra-mas de créditos oficiais e estarão sujeitas a uma multa a serdefinida pelo executivo.

O projeto foi bem elaborado, é interessante e firma-se emfortes justificativas. É o melhor da categoria no Brasil.

� EstadualLei nº 11.440 de 18/01/2000É um projeto de Lei sobre Responsabilidade Social do Depu-

tado Estadual Cézar Buzatto, no Rio Grande do Sul. Essa Leiinstitui o Balanço Social para empresas estabelecidas no Esta-do do Rio Grande do Sul, o qual deverá ser assinado por umcontador ou Técnico em Contabilidade devidamente habilitado.

� MunicipalPela Resolução nº 005/98, no município de São Paulo, “Cria

o Dia e o Selo da Empresa Cidadã às empresas que apresenta-rem qualidade em seu Balanço Social e dá outras providênci-as”. A autoria é da Vereadora Aldaiza Sposati. Esta resoluçãoestá em vigor e premiou diversas empresas na Cidade de SãoPaulo. No município de Santo André/ SP, foi estabelecida umaLei com o mesmo propósito.

No município de Porto Alegre/RS, João Pessoa/PB e Uber-lândia/MG, também foram estabelecidas Leis de incentivo aoBalanço Social, com a distribuição de um selo às empresas queapresentarem-no.

5. A EMPRESA JÚNIOREm 1967, foi criado na França o Movimento Empresa Júnior,

como resultado de um projeto do governo francês para promo-ver a criação de novas empresas. A primeira Empresa Júnior foifundada em Paris, na Universidade Essec de Administração.

1 www.balancosocial.org.br

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A repercussão positiva em países como Itália, Espanha e Suíçaserviu de impulso para que, em Julho de 1988, a Câmara deComércio e Indústria franco-brasileira sugerisse a implantaçãode associação semelhante em universidades brasileiras. A Es-cola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Var-gas foi escolhida para iniciar a experiência no Brasil.

Atualmente, existem Empresas Juniores espalhadas por todo oMundo. Na Europa, as Empresas Juniores estão organizadas emConfederações Nacionais e em uma associação continental deno-minada JADE (Junior Association for Development in Europe).

O Brasil é o país que possui maior número de Empresas Juni-ores. Estas se encontram organizadas em Federações Estadu-ais. Em Minas Gerais, a FEJEMG (Federação das EmpresasJuniores do Estado de Minas Gerais) é a entidade que repre-senta as Empresas Juniores junto às universidades, empresase entidades do Estado, facilita o intercâmbio de experiências e,principalmente, auxilia na qualificação e desenvolvimento dasfederadas.

6. DEFINIÇÃO E MISSÃOA Empresa Júnior é uma Associação Civil sem fins lucrativos2

constituída por alunos de nível superior ou técnico com o intuitode aplicar a teoria ministrada em sala de aula, prestando servi-ços de consultoria e assessoria de qualidade, a um custo redu-zido, para empresários, empreendedores e profissionais libe-rais. Estas atividades são desenvolvidas com o acompanha-mento e a orientação de professores e profissionais especiali-zados, promovendo assim, a excelência na preparação e noestímulo da formação profissional.

Uma Empresa Júnior pode ter caráter multidisciplinar. Nessecaso a empresa é constituída por alunos de dois ou mais cursos,trabalhando de forma conjunta na efetivação dos projetos. Nes-ta empresa são formadas equipes com o objetivo de promover aintegração e a ampliação do conhecimento geral, o que susten-tará a expansão da mesma.

Sua missão é contribuir para a formação e o crescimento pro-fissional e humano dos seus membros, através da prestação deserviços dentro de suas respectivas áreas de atuação, promo-vendo uma maior integração entre a sociedade e as instituiçõesde ensino, colaborando para o desenvolvimento de ambas.

7. OBJETIVOSEm suma, os objetivos da Empresa Júnior são:� Proporcionar aos seus membros condições reais para a

prática dos conhecimentos adquiridos em sala de aula;� Promover e desenvolver a interação entre as instituições

de ensino e a sociedade civil, tornando o conhecimento um bemmais acessível;

� Valorizar os alunos, os professores e a instituição de en-sino no âmbito da sociedade como um todo;

� Prestar serviços de qualidade à sociedade, com acom-panhamento e orientação de profissionais capacitados, contri-buindo assim para o desenvolvimento da mesma;

� Estimular o profissionalismo dos alunos, incentivando oespírito empreendedor, crítico, analítico e a consciência de suaresponsabilidade para com a sociedade, tornando-os profissio-

nais mais competentes e preparados para a realidade do mercado.A Empresa Júnior tem por finalidade proporcionar a seus

Membros Efetivos condições necessárias à aplicação prática deconhecimentos teóricos relativos à sua área de formação profis-sional com o objetivo de treiná-los para o exercício da futuraprofissão, sempre com respaldo técnico-profissional competen-te e colocar o seu membro no mercado de trabalho. Tambémrealiza estudos e elabora diagnósticos e relatórios sobre assun-tos específicos de sua área de atuação e assessora a implanta-ção de soluções indicadas para os problemas diagnosticados.

É dado enfoque ao desenvolvimento do espírito empreende-dor dos alunos membros.

8. RESPONSABILIDADE SOCIALDAS EMPRESAS JUNIORES -TRANSFORMANDO O TEMPOEM QUALIDADE DE VIDA

A idéia de elaborar um Balanço Social para empresas junioressurgiu do conhecimento dessas prestarem serviços sociais a en-tidades beneficentes como creches e ONGs. Para isso, foi elabo-rada uma monografia com o objetivo de apresentar os aspectossociais das empresas juniores e a proposta de um Balanço Socialpara as mesmas. Também foi desenvolvido um modelo de bancode dados que conterá entidades carentes e entidades dispostasa ajudar. A pesquisa teve como objeto de estudo empresas junio-res da UFMG, UNA e PUC Minas. É importante salientar quepraticamente todas as empresas consultadas se dispuseram arealizar ou já realizam projetos sociais e aceitaram estabeleceraté uma cota anual caso fosse necessário. A pesquisa foi feitaatravés de questionários e análise de dados da UCJ – UFMGConsultoria Júnior da FACE/UFMG devido a facilidade de acesso.

A UCJ – UFMG Consultoria Júnior da FACE vem realizandovárias ações no campo social. Essa relação surge do contato daentidade necessitada com a UCJ, geralmente através da indica-ção de um professor colaborador de alguma entidade ou de pes-soas que já ouviram comentários do trabalho da Consultoria.

Para detectar o problema, os alunos visitam a instituição, en-trevistam os diretores e analisam documentos. No caso de ONGs,geralmente o serviço solicitado é para reestruturação interna.Esta, por sua vez, pode ser de cargos e funções bem como daparte administrativa da instituição. Os projetos são realizados acusto praticamente zero visto que o contratante colabora ape-nas com os gastos de material e de vale transporte.

Quanto a colaboração financeira, uma das empresa junioresda UFMG comprou ingressos para a feijoada do Núcleo Assis-tencial Caminhos para Jesus e tentou estabelecer um trote soli-dário com a arrecadação de alimentos.

Já os alunos-consultores de outra realizaram em maio desteano um seminário onde 40% do lucro líquido arrecadado foidoado para uma instituição que apóia crianças com câncer. Tam-bém, em torno de uma vez por mês, os consultores vão a esselugar brincar e tocar violão.

De acordo com um dos alunos entrevistados, que realizoutrabalho em uma ONG de Belo Horizonte, “o trabalho voluntáriotraz grande satisfação pessoal aos estudantes que o realizam,pois além de colocarem em prática a matéria estudada, apren-dem a importância de exercer a cidadania”.

2 Entidade constituída pela união de pessoas civis com o intuito de alcançarem um objetivo comum, excluindo a geração de lucro. As associações adquirem personalidade jurídica

após a efetuação do registro de seus estatutos em cartório.

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9. NÚCLEO SOCIALA partir da elaboração de um plano de negócios classificado

em primeiro lugar na categoria Empresa Júnior em um concursorealizado pelo Senac e pela CT & IT- Coordenadoria de Transfe-rência e Inovação Tecnológica - no final de 2001, surgiu na UCJ– UFMG Consultoria Júnior da FACE a idéia de montar um Nú-cleo Social capaz de atender entidades que precisam de ajudae entidades que estão dispostas a ajudar.

De acordo com seu atual presidente, “a empresa júnior ofere-ce o que sabe fazer à sociedade. Nós podemos ajudar reestru-turando creches, ensinando meios para a entidade captar recur-sos, por exemplo, e não contribuindo financeiramente. Pode-mos ensiná-los a pescar o peixe ao invés de dá-lo”. Um dosobjetivos a UCJ é oferecer às empresas que contratam seusserviços a elaboração de um programa de responsabilidadesocial personalizado e gratuito. A intenção é colaborar para odesenvolvimento da consciência social do empresariado.

A criação de um Núcleo Social em todas as empresas junio-res é importante na medida em que o aluno-consultor, dessemodo, pratica os ensinamentos adquiridos, oferece um serviçode maior qualidade e desenvolve a sua consciência social, pois“os alunos de hoje serão diretores e gerentes de empresas ama-nhã, podendo ocupar cargos importantes nos mais diversos cam-pos” diz o presidente da UCJ. Aqui, eles aprendem a importân-

cia do Balanço Social como a de se ter uma empresa cidadã “.Assim, a UCJ pretende conscientizar as empresas para as quaispresta consultoria, mostrando a importância tanto humana quan-to financeira de se ter um programa de responsabilidade social.

10. A MENSURAÇÃO DOS SERVIÇOS PRESTADOS E O BANCO DE DADOS

Para calcular o valor desses serviços, foi criado um métodode mensuração através do número de horas investido em cadatarefa. O cálculo se dá através do número de horas investidas naajuda a uma instituição multiplicada pelo valor mínimo da horade um consultor do Sebrae3.

Foi elaborado, também, um modelo de banco de dados paraabrigar as entidades que precisam de ajuda e as que se dispõema ajudar. Nele é especificada a entidade, o serviço que presta,público-alvo, fomento, endereço, telefone e do que necessitam. Omodelo feito no Access é de fácil utilização. Nele foram colocadosdois botões: Entidades Necessitadas e Colaboradores. Clicandono botão Entidades Necessitadas surge o quadro a ser preenchi-do com as entidades que precisam de ajuda. O mesmo acontecequando se clica no botão Colaboradores mudando os campos aserem preenchidos. Cada empresa júnior terá um programa debanco de dados para poder escolher as entidades que poderáauxiliar bem como aquelas que poderá indicar para outras pes-soas e entidades que desejam colaborar.

Balanço Social Anual – Ano X

1. Apresentação da Entidade

Razão/denominação social:

Endereço:

CGC:

1.1 – Informações endógenas

Missão

Filosofia/ Valores

Áreas de negócios

1.2 – Informações exógenas

Regiões de atuação

Outros dados relevantes

Dados Financeiros ANO X1 ANO X2

Quantidade Valor ( R$) Quantidade Valor ( R$)

T. Serviços remunerados

T. Serviços doados

TOTAL

% TOTAL/ T. Serviços doados

2) Indicadores Sociais Internos ANO X1 ANO X2

HORAS % HORAS / % HORAS /

H.SERVIÇOS Valor H.SERVIÇOS Valor

PRESTADOS ( R$) HORAS PRESTADOS ( R$)

Seguro de vida

Capacitação e desenvolvimento

profissional/ Cultura/ Educação

Outros

Total - Indicadores Sociais Internos

3 Atualmente a hora mínima de consultoria do SEBRAE é R$ 40,00.

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Ago/Out - 2003

3) Indicadores Sociais Externos % HORAS/ % HORAS/

H.SERVIÇOS Valor H.SERVIÇOS Valor

HORAS PRESTADOS ( R$) HORAS PRESTADOS ( R$)

Educação/ cultura

Esporte/ Lazer e diversão

Creches

Donativos a instituições de solidariedade

Relação com os clientes - investimentos

Prêmios recebidos

Indicadores do nível de satisfação -

Grau de confiança dos clientes

Outros

Total – Indicadores Sociais Externos

4) Indicadores Ambientais

Relacionados com a

operação da empresa

Em Programas e/ou projetos externos

Total dos Investimentos

em Meio Ambiente

5) Indicadores do Corpo Funcional

Nº de estagiários e trainees ao final do período

Nº de admissões durante o período

Nº de serviços terceirizados

Nº de mulheres que trabalham na empresa

% de cargos de chefia ocupados por mulheres

Nº de negros que trabalham na empresa

% de cargos de chefia ocupados por negros

Nº de empregados portadores de deficiência

6) Informações Relevantes quanto ao Exercício da Cidadania Empresarial

Os projetos sociais e ambientais

desenvolvidos pela

empresa foram definidos: ( ) pela ( ) direção e ( ) todos os ( ) pela ( ) direção e ( ) todos os

direção gerências empregados direção gerências empregados

A missão e filosofia da

empresa foram definidos: ( ) pela ( ) direção e ( ) todos os ( ) pela ( ) direção e ( ) todos os

direção gerências empregados direção gerências empregados

Na seleção dos fornecedores,

os mesmos padrões éticos e de

responsabilidade social e ambien-

tal adotados pela empresa: ( ) não são ( ) são ( ) são ( ) não são ( ) são ( ) são

considerados sugeridos exigidos considerados sugeridos exigidos

7) Outras Informações

Investimentos em tecnologia

Outras

Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Ago/Out - 2003

42

PensarContábil

1) Instruções para o preenchimento

Realização Este Balanço Social (BS) deve

apresentar os projetos e as ações

sociais e ambientais efetivamen-te realizados pela empresa.

Divulgação Este BS deve ser apresentado

como complemento em outros ti-

pos de demonstrações financei-

ras e socioambientais, publicado

isoladamente e divulgado entre

os alunos, professores e funcio-

nários da unidade em que a Em-

presa Júnior se encontra. Pode

ser acompanhado de outros itens

e de informações qualitativas

(textos e fotos) que a empresa

julgue necessários.

Dados Financeiros

T. Serviços remunerados Quantidade total de serviços re-

munerados prestados, somatório

dos valores dos serviços.

T. Serviços doados Quantidade total de serviços do-

ados, somatório dos valores dos

serviços (hora de cada serviço x

hora do SEBRAE)4

TOTAL Somatório de cada coluna

% TOTAL/T. Serviços doados A divisão do TOTAL pelo T. de

Serviços doados resultará na

porcentagem de serviços doados

pela empresa sob o total de ser-

viços prestados no ano.

2) Indicadores Sociais InternosSeguro de Vida Somatório de todos os seguros

de vida dos membros da Empre-

sa Júnior

Capacitação e desenvol-

vimento profissional/

Cultura/ Educação Recursos investidos em treina-

mentos, cursos, estágios e inves-

timentos voltados especificamen-

te para capacitação relacionada

com as atividades desenvolvidas

pelos alunos-membros, investi-

mentos em manifestações artísti-

cas e culturais (música teatro, ci-

nema, literatura e outras artes),

investimento em reembolso de

educação, bolsas, assinaturas de

revistas, biblioteca e investimen-

tos em educação em geral.

Outros Transporte e outros benefícios

oferecidos aos estagiários podem

ser enumerados aqui.

3) Indicadores Sociais Externos

Educação/ Cultura/ Esporte/

Lazer e diversão Investimentos nessas áreas do-

ados à comunidade calculando

o investimento como já citado.

Relação com os

clientes - investimentos Investimentos em pesquisas, cur-

sos ou outros que visam a me-

lhorar a relação com o cliente.

Prêmios recebidos Horas investidas na elaboração

do trabalho premiado e o valor

do prêmio.

Indicadores do nível de

satisfação – Grau de

confiança dos clientes Investimentos em pesquisas, cur-

sos e outros que visam a melho-

rar a relação com o cliente.

4) Indicadores Ambientais

Relacionados com a

operação da empresa Investimentos em programas de

educação ambiental para os

membros como palestras e com

a organização e sistema de cole-

ta de lixo na empresa, reutiliza-

ção do papel e utilização de ma-

terial reciclado.

Em Programas e/ou

projetos externos Campanhas ambientais, educa-

ção para a comunidade em ge-

ral.

7) Outras Informações

Outras Este campo está disponível para

a Empresa Júnior acrescentar

outras informações.

4 Atualmente a hora mínima de consultoria do SEBRAE é R$ 40,00.

PensarContábil

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Ago/Out - 2003

Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil Ago/Out - 2003

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PensarContábil

11. CONCLUSÃO

Atualmente as empresas juniores são uma ferramenta impor-tante tanto para o crescimento profissional e humano dos alu-nos como para a sociedade, no auxílio a micro, média e empre-sas de grande porte, bem como para entidades sem fins lucrati-vos.

Nesse tipo de associação, os alunos de nível superior outécnico têm a oportunidade de aplicar a teoria ministrada emsala de aula, prestando serviços de consultoria e assessoria dequalidade, a um custo reduzido, sob a orientação de professo-res e profissionais. Dessa maneira, promovem uma maior inte-gração entre a sociedade e as instituições de ensino, colabo-rando para o desenvolvimento de ambas. As empresas juniorestêm responsabilidade social não só capacitando profissional-mente os alunos mas, também, contribuindo com a sociedadeque fazem parte.

Para evidenciar melhor os serviços prestados pelas empre-sas juniores e como instrumento de auxílio gerencial das mes-mas, foi criado um modelo de Balanço que contém dados comoa identificação da empresa, tempo investido no auxílio a cre-ches, ONGs e outras entidades, arrecadação de alimentos, aga-salhos e outros, prêmios recebidos, indicação do nível de satis-

fação e confiança dos clientes, investimentos no meio-ambien-te, tecnologia, entre outros.

A diferença desse Balanço Social é o fato das empresas juni-ores não colaborarem com as instituições financeiramente masprestando-lhes serviços. O Balanço Social elaborado tem comoparâmetro e fundamentação o modelo elaborado pelo Ibase pelofato de ser simples e ter como objetivo ser adotado por um nú-mero cada vez maior de empresas juniores.

Foi elaborado, também, um modelo de banco de dados paraabrigar as entidades que precisam de ajuda e as que se dis-põem a ajudar. Nele é especificada a entidade, o serviço quepresta, público-alvo, fomento, endereço, telefone e do que ne-cessitam. O modelo feito no Access é de fácil utilização. Cadaempresa júnior terá um programa de banco de dados para po-der escolher as entidades que poderá auxiliar bem como aque-las que poderá indicar para outras pessoas e entidades quedesejam colaborar.

A monografia tem por filosofia a mensagem do Betinho “Rea-lizar o Balanço Social significa uma grande contribuição paraconsolidação de uma sociedade verdadeiramente democráti-ca”. E, com esse propósito, as empresas juniores não perdemtempo – o seu bem mensurável: transformam-no em atos quepodem melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Anderson A., O Balanço Social e a Empresa Cidadã. Rio de Janeiro: Trevisan - Auditores, 1998.

BATISTA, Halcima Melo. Proposta de um modelo de Balanço Social a ser aplicado nas Indústrias Têxteis. Revista PENSAR

CONTÁBIL. Agosto/Outubro de 2000. Página 39.

FRANÇA, Júnia Lessa. Manual para normalização de publicidade técnico-científicas; colaboração: Ana Cristina de Vascon-

cellos, Maria Helena de Andrade Magalhães, Stells Maris Borges. – 5º ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.

IUDÍCIBUS, Sérgio de: MARTINS, Eliseu & GELBCKE, Ernesto R. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações:

aplicável às demais sociedades. São Paulo: Atlas, 2000.

_______________________________, Teoria da Contabilidade. 5º ed. São Paulo: Atlas, 1997.

KROETZ, Cesar Eduardo Stevens. Balanço Social: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, 2000.

MATHEWS, M. R. Socially Responsible Accounting. London: Chapman & Hall, 1994.

SOUZA, Herbert José de. Empresa pública e cidadã. Jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 26.03.1997, página 1.3.

TINOCO, José Eduardo Prudêncio. Balanço Social: uma abordagem sócio-econômico da contabilidade. São Paulo: Facul-

dade de Economia e Administração da USP, 1984. (Dissertação de Mestrado em Contabilidade)

LEI Nº 11.440 DE 18-01-2000 – Estado Do Rio Grande do Sul

LEI Nº 8118/98 – Município de Porto Alegre

LEI Nº 7.672 – DE 18 DE JUNHO DE 1998 - Município de Santo André/SP

DECRETO LEGISLATIVO Nº 118/99 – Município de Uberlândia

RESOLUÇÃO Nº 004/98 - Município de João Pessoa/PB

RESOLUÇÃO Nº 005/98 – Município de São Paulo

PROJETO DE LEI Nº 3.116 DE 1997 – FEDERAL

www.balancosocial.org.br

www.ibase.org.br

www.ipea.gov.br

www.fides.org.br

www.ucj.com.br

(Footnotes)

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Ago/Out - 2003

EVIDÊNCIAS DAS PARTIDAS

DOBRADAS ATRAVÉS DA

MATEMÁTICA NA MESOPOTÂMIA

1- INTRODUÇÃO

A Contabilidade como a concebemos nos dias atuais foi frutode uma demorada e profícua evolução, desde os homens dascavernas, passando por todas as grandes civilizações do pas-sado até chegar na complexidade do mundo mercantilista e glo-balizado atual.

O pilar básico da Contabilidade que são os registros e contro-les da riqueza ou do patrimônio encontra-se sustentado pelaforma peculiar de registro, que hoje universalmente aceito epraticado, denominado de Método das Partidas Dobradas.

O Método das Partidas Dobradas foi exposto, oficialmente,por Luca Pacioli em 1494 em sua obra Suma de Aritmética,Geometria, Proporção e Proporcionalidade. Sabemos que nãofoi Pacioli o inventor do método, coube ao mesmo mostrar emum livro impresso pela impressa de Gutemberg o método que oscomerciantes italianos utilizavam naquela época para registro econtrole de suas atividades comerciais. Não queremos, de for-ma alguma, tirar os méritos de Pacioli, mas questões históricassão e sempre serão alvos de pesquisas e de discussão da co-munidade científica que cada ciência se insere.

Se por um lado sabemos que Pacioli não inventou as Parti-das Dobradas, por outro permanece as perguntas de quem,onde, quando, como e porque foram inventadas as PartidasDobradas. Essas respostas continuam sendo objeto de pesqui-sa e algumas respostas ainda não satisfaz a todos.

Alguns historiadores contábeis retomam a obra Liber Abacide Fibonacci de 1202 como um dos documentos mais antigosque trata das partidas dobradas, mas não são, ainda, provasconcludentes. Realmente podemos verificar que em vários lu-gares do mundo, entre os anos de 1200 a 1400, produziram-seregistros contábeis por partidas dobradas, desde os Kipus doimpério Inca até os gravetos de bambus do império Chinês.

Outro grupo de historiadores contábil, por sua vez, sugereque o aparecimento das Partidas Dobrado é mais antigo queesses esparsos registros encontrados.

A determinação das origens das Partidas Dobradas é assun-to controverso e não menos interessante para as Ciências Con-tábeis. A finalidade desse trabalho é mostrar, em forma de evi-

denciação, que a matemática desenvolvida pelos povos damesopotâmia entre os anos de 2800 a 1880 a.C. dão suporteslógicos e consistentes para embasarem uma opinião de que asPartidas Dobradas surgiram na Mesopotâmia como forma deregistro contábil.

2 - ASPECTOS GEOGRÁFICOS ESOCIOLÓGICOS DA MESOPOTÂMIA

Geograficamente a Mesopotâmia está situada entre os riosTigre e Eufrates no oriente médio, onde atualmente se localiza oIraque. Apresenta um clima seco e quente. Tirando a regiãopantanosa e de brejo que possui uma vegetação de caniço, oque sobra da região é um solo árido, infértil, improdutível, semmadeira para construção, sem minério e quase não há pedras.Em grego a palavra Mesopotâmia significa entre rios.

As civilizações que habitam essa região prosperaram combase na agricultura. Desenvolveram-se no vales dos rios Tigre eEufrates devido à fertilidade da terra, decorrente das inunda-ções anuais destes. Para desenvolver a agricultura, os habitan-tes desses vales inventaram sistemas de canalização e de di-ques para controlar a direção da água durante as enchentes.Estes sistemas também controlavam a drenagem das águas devolta aos rios.

Os Sumérios, Babilônicos e os Acádios formaram os princi-pais ocupantes desta região entre os anos de 2800 a.C. e 1800a.C.. Foi neste período que surgiram os primeiros centros urba-nos da humanidade, com uma vida de ostentação da riqueza,complexa e variada, em que a lealdade política não era mais emrelação à tribos ou clãs, mas sim ao rei que governava. As prin-cipais cidades dessa época foram: Ur, Uruk, Eridu, Nipur e Za-gash.

Essas cidades eram governadas pelos patesis, que repre-sentavam ao mesmo tempo a figura do chefe militar e sacerdote.Desenvolveu-se uma sociedade baseada em atividades agríco-las, pastoris, comerciais e artesanais. A formação de castas, or-ganizada em forma piramidal foi inevitável.

O posicionamento social do individuo, geralmente, era deter-minado pelo critério de nascimento e hereditariedade. Sua es-

� Elizabete Marinho Serra Negra

� Bacharel em Ciências Contábeis

Especialista em Perícia Contábil

Mestranda em Contabilidade

Professora e Pesquisadora da UNIVALE

Membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis

EVIDÊNCIAS DAS PARTIDAS

DOBRADAS ATRAVÉS DA

MATEMÁTICA NA MESOPOTÂMIA

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PensarContábil

trutura era dividida em camadas sendo a base da pirâmide com-posta pelos escravos, um número significativo e era constituídoprincipalmente por prisioneiros de guerra e homens livres po-bres que se vendiam para sobreviver.

Acima dos escravos, existiam os artesãos e os camponeses,que pertenciam às classes de homens livres, mas não recebiamo suficiente pelo trabalho que realizavam. E no topo da hierar-quia social estava o rei, que possuía riquezas fabulosas, paláci-os grandiosos e vários funcionários que auxiliavam na adminis-tração do império. Administração essa, que se caracterizava pelodomínio de todos os grupos sociais em um governo dominadore de fundamento teocrático.

Indiscutivelmente, a principal contribuição que os mesopo-tâmicos realizaram para o desenvolvimento do conhecimentofoi a invenção de um tipo de escrita, a qual era feita por estile-tes em uma placa de argila mole que depois secavam ao Sol.Tais letras tinham a forma de cunha e, por isso, foram chama-das de cuneiforme. Eram monopolizadas pelos sacerdotes quetinham como uma de suas funções registrar as atividades co-merciais.

Os sacerdotes do templo religiosos, através de seu vasto sis-tema tributário, coletavam e administravam gigantescas somasde bens, tais como terrenos, incluindo rebanhos, manadas, ren-das e propriedades rurais. Sendo criaturas mortais, eles eramsolicitados a prestar contas de sua gestão ao sumo sacerdote -uma prática de fiscalização administrativa.

Entretanto, por causa da amplitude e variedade da riquezaacumulada, os sacerdotes enfrentaram problemas sem prece-dentes na história humana. Para essa prestação de contas comointendentes, não era possível confiar na memória a respeito dostributos pagos, transações concluídas, sendo necessário umaforma de registro permanente.

O surgimento da escrita justificou-se pelo crescimento daseconomias centralizadas, quando os funcionários dos palá-cios e templos sentiram a necessidade de manter o controledas quantidades de cereais e dos rebanhos de carneiros egado que entravam e saíam dos celeiros e fazendas. Eraimpossível depender apenas da memória de um homem paraarmazenar todas as transações realizadas, além da neces-sidade de se transmitir os fatos a outros sacerdotes quandohouvesse o falecimento de quem controlava essas opera-ções, assim, tornou-se indispensável a criação de novosmétodos que mantivessem registros confiáveis e permanen-tes.

3 - COMÉRCIO E ECONOMIAMESOPOTÂMIA

Os Mesopotâmicos possuíam uma economia bastante de-senvolvida, com métodos de intercâmbio comercial que incluí-am o uso de uma moeda metálica e já dispunham de uma redebancária primitiva.

Baseada na agricultura, principalmente no cultivo da cevada,produzia também outros produtos como o óleo de linhaça e degergelim; linho; trigo e hortigranjeiros. A cevada muitas vezesera usada como meio de pagamento de salários e em raçõesdiárias; sendo matéria-prima para a fabricação da bebida natu-ral: a cerveja.

Os rebanhos de ovelhas e cabras pastavam nos campos fora

da estação de plantio e o gado quando havia água suficiente. Aprodução da lã era extensa e convertida em peças de tecidos.Santos (2001) nos afirma que:

os sumérios eram excelentes agricultores, eramperitos em irrigação; sendo favorecidos pelos riosTigre e Eufrates. Eram bons comerciantes. A econo-mia do país, se fundamenta na lavoura e no comér-cio. Desenvolveram-se intensas relações comerci-ais com os países próximos. Trocavam-se metais, ma-deiras, produtos agrícolas e manufaturados. Usavam-se recibos, faturas, títulos de créditos, notas promis-sórias. Circulava como dinheiro, barras de ouro ouprata. A unidade monetária padrão de troca era umsiclo de prata. O comércio era ativo e empregavamuita gente.

Outra atividade econômica era a pesca, utilizando-se de pe-quenos barcos de junco, anzol e rede os sumérios pescavam noGolfo Pérsico, nos rios, canais e pântanos.

O artesanato foi um dos responsáveis pelo grande impulsodado ao comércio. Os artesãos eram muito habilidosos e fabri-cavam móveis de madeira; vasilhas de argila, de pedra, de ma-deira e de vidro; objetos de metal, de couro (sandálias, roupas,equipamentos militares), bijuterias e tijolos (secos ao sol ou co-zidos em forno). As lãs retiradas das ovelhas eram utilizadaspara confecção de tecido. As famílias ou oficinas têxteis, consti-tuídas pelos homens livres, eram os realizadores do trabalhoartesanal.

Segundo texto publicado no site Vbcontrol (2003) “há duasformas básicas para se obter os materiais que países necessi-tam: pela guerra ou comércio. Tais materiais são geralmenteexigidos como tributos ou tomados por pilhagem após uma ex-pedição militar”.

A região mesopotâmica carecia de recursos minerais e demadeira, indispensáveis para a construção de grandes monu-mentos, além de resistentes. Ao longo da história, os mesopotâ-micos tiveram cada vez mais necessidade destes materiais, quevinham de longe: ou das florestas do Líbano ou das montanhasdo Irã (atualmente). Essas montanhas também eram ricas emminerais, pedras e metais.

Por este motivo, o comércio começava ser executado comtodas as regiões vizinhas. De acordo com Cruz e Silva (2002)devido ao incremento na atividade mercantil bem como ao au-mento de mercadorias em circulação, o sistema de tábuas con-tábeis tornou-se complexo.

Segundo Iudíbus (1997) “a preocupação com as propri-edades e a riqueza é uma constante no homem da Anti-güidade,[...] e o homem teve de ir aperfeiçoando seu ins-trumento de avaliação patrimonial à medida que as ativi-dades foram desenvolvendo-se em dimensão e em com-plexidade”.

A situação geográfica da Mesopotâmia, na rota do comercioentre Oriente e Ocidente, estimulou as atividades comerciais,tornando necessários rudimentos de aritmética aplicada, taiscomo sistemas de contabilidade, noção de juros, etc. Em mea-dos do terceiro milênio os comerciantes da Suméria já empre-gavam um sistema de pesos e medidas, fazendo uso de jurossimples e compostos.

PensarContábil

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4 - APLICAÇÕES DA MATEMÁTICA E DAGEOMETRIA MESOPOTÂMICA

Os mesopotâmicos foram os inventores da álgebra,do sistema posicional, desenvolveram os cálculos dediv isão e mul t ip l icação, inc lu indo a cr iação da ra izquadrada e da raiz cúbica. E ut i l izando símbolos para

unidades e dezenas, podiam representar qualquer nú-mero.

Os símbolos utilizados por este povo para representar os nú-meros eram: v que correspondia a 1 (um) e o < que correspondiaao 10 (dez). O sistema numérico adotado pelos sumérios é umacombinação do sistema decimal e do sistema sexagesimal. As-sim tem-se:

vvv <<< vvvv vv vvv vv vvv vvv < << <<< <<<vvv << <<< vvv

vv vv vvv vvv << vvv1 2 3 4 5 9 10 20 30 36 40 59

Ciudad de la informática (2001) nos traz o seguinte texto:

la Astronomía e las Matemáticas comenzaron abuscar esas respuestas, y a crear aparatos que lesservían como apoyo para ordenar el mundo y losciclos que la naturaleza dispone. Los primeros ca-lendarios usados por los babilonios (alrededor del2700 a.C.) medían los meses de acuerdo con lasfases lunares y los años conforme a la posición delsol. Por el testimonio que perdura en las tablillas dearcillas que han llegado hasta nosotros, hoy sabe-mos que alrededor del año 1950 a.C., el pueblo ba-bilónico adoptó la base 60 para medir el tiempo, osea, una hora es igual a 60 minutos. Pero, claro, paraque esto pudiera suceder, antes debieron contar nosólo con sistemas de numeración, sino también consignos que representaran cantidades.

Ou seja, o sistema sexagesimal teve sua origem na astrono-mia, especificamente, na contagem do tempo, ou melhor na divi-são do tempo em horas, minutos e segundos. No qual 1 (uma)hora equivale a 60 minutos.

Estes números eram escritos mediante a pressão da extremi-dade mais larga ou menor de um cálamo de junco sobre a argilaou verticalmente (para desenhar um círculo) ou obliquamente.Com o passar do tempo esses números passaram a apresentaruma forma angular.

Exemplificando os sistema numérico utilizado pelos suméri-os, tem-se:

1º) << << = 20 x 60 + 20 = 1.220

2º) vv vv <v = 2 x 602 + 2 x 60 + 11 = 7.331

Observa-se que os mesopotâmicos começaram a calcular dadireita para esquerda, ou seja, o primeiro grupo de símbolosrepresentam as unidades, o segundo grupos representam asdezenas, depois seriam as centenas e assim por diante.

Um outro fato curioso é que retirando o grupo das unidadesos demais grupos são multiplicados pelo fator 60, onde as deze-nas apenas por 60, as centenas por 60 ao quadrado, e assimcontinuaria, aumentando-se as casas aumentam-se os expoen-tes.

Este tipo de cálculo deixa bem claro que os sumérios já co-nheciam e utilizavam as potências quadradas e cúbicas. Um

texto trazido pelo site Geocities (2003) revela que:Dos tablillas encontraron em Senkerah cerca Del Euphrates

em 1854 a partir, fechadas em el 2000 a.C.. Dan dos cuadradosde los números hasta 59 y de los cubos hasta 32. Los sumeriosutilizaron la fórmula

para realizar las multiplicación.Las división se asimilo a la

multiplicación, es decidir .

Algumas tábuas mostram que os mesopotâmicos chegarama resolver equações do 2º e 3º graus, usando palavras comoincógnitas num sentido abstrato e conheciam bem o processode fatoração. Não só resolviam as equações quadráticas, sejapelo método equivalente ao da substituição numa fórmula geral,seja pelo método de completar quadrados, como também discu-tiam algumas cúbicas e algumas biquadradas.

Acredita-se que os povos mesopotâmicos dominavam tam-bém as fórmulas de progressões geométricas. Seus desenvolvi-mentos podem ser constatados em tabuletas que indicavam re-lações entre os lados de um triângulo. Porém, essas tabuletasmostram apenas as questões e os resultados.

As implantações dos sistemas de irrigação desenvolvidasexigiam, para a execução do trabalho, alguma forma primitivade engenharia e agrimensura, atividades que pressupõem aaplicação de certos conhecimentos geométricos, tais como me-diadas de áreas, linhas de nível, etc.

Da matemática mesopotâmica constata-se também a familia-rização com as regras gerais de cálculo da área do retângulo,do triângulo retângulo e isósceles, de um trapézio retângulo edo volume de um paralelepípedo e mais, geralmente do volumede um prisma reto de base trapezional.

Tinham também uma fórmula para calcular o perímetro dacircunferência a que equivale. Conheciam o volume de um tron-co de cone e de um tronco de pirâmide quadrangular regular.Sabiam que os lados correspondentes de dois triângulos retân-gulos semelhantes são proporcionais. Utilizavam-se de uma ‘cor-da com 13 nós’ de forma a que o espaço entre eles fosse igual,isto é, a corda media 12 unidades, sendo cada unidade o espa-ço entre dois nós consecutivos, para construir um triângulo re-tângulo, mas não sabiam expressar teoricamente esse conheci-mento.

Essa técnica foi divulgada por Pitágoras, em 560 a.C. após

( x + y )2 - ( z - y )2

2x y =

x 1__ = x � __y y

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PensarContábil

ter realizado várias viagens a Mesopotâmia, cujo saber haviafascinado Tales, onde estudou geometria com sacerdotes, vin-do a ter contato com o Método da ‘corda de 13 nós’. Com basenesta técnica desenvolveu, o que hoje conhecemos, de Teore-ma de Pitágoras ‘num triângulo, o quadrado da hipotenusa éigual a soma dos quadrados dos catetos’. Pitágoras não só sesatisfez com a generalização da propriedade a que chegou,como também se preocupou com a sua demonstração, ou seja,em provar que essa regra se aplicava a todos os triângulos re-tângulos.

Somente em 1637 d.C., foi provada a relação de posiciona-mento utilizado pelos sumérios nas construções de seus tem-plos, palácios e monumentos arquitetônicos. Tal feito foi realiza-do por Descartes. Ele criou uma fórmula algébrica para repre-sentar um fato trivial e infantil já conhecido por todos; de que umponto em uma folha de papel retangular está infalivelmente,como é evidente, onde as duas linhas de suas duas distanciasmedidas perpendiculares a duas margens adjacentes da folha,se encontram. Em linguagem geométrica, isto quer dizer que umponto em um plano pode ser representado pelos valores (hojechamado coordenadas cartesianas) das suas duas distâncias(x,y), tomadas perpendiculares a dois eixos que se cruzam emângulo reto nesse plano, como a convenção de lado positiva enegativa para um e outro lado do ponto de cruzamento dos ei-xos.

5 - PARTIDAS DOBRADAS ECONHECIMENTO MATEMÁTICO

A matemática sempre foi utilizada com um instrumento, atra-vés do qual se podia explicar os fenômenos naturais, ou seja,suas causas e conseqüências. Por exemplo, aplicando-se adualidade dos fatos, pela matemática, obtem-se na Astronomiaa relação do tempo em horas dia e horas noite.

Os mesopotâmicos também representavam a naturezados seres através da matemática, ou seja, os númerospares eram considerados seres femininos e os ímpares,masculinos. Até mesmo na grafia estava presente a duali-dades das coisas, o que se pode verificar claramente nosímbolo utilizado para representar o infinito. Esse símbo-lo representa a união de dois círculos (4), onde um delesrepresenta o mundo material e o outro o mundo imaterial,em outras palavras, o infinito significa graficamente a uniãodos dois mundos.

Os números também representam o bem e o mal, representa-vam o bem e os números positivos,que significa a soma, o acrés-cimo; já os números negativos o mal, a exclusão, a subtração.Paralelamente a esse raciocínio desenvolveu-se o controle dopatrimônio, o sentido do que me pertence e o que pertence aoutra pessoa. Segundo Sá (2002) “o ‘meu’ e o ‘seu’ deram, naépoca, origem a registros especiais de ‘débito’ (o que alguémtem que me pagar) e ‘crédito’ (o que devo pagar a alguém)”,onde teríamos uma primeira versão do registro por PartidasDobradas.

Uma outra aplicação da matemática pelos mesopotâmicosse refere às funções. Este povo conhecia o sentido amplo dapalavra ‘relação’. Conforme Brito [s.d] diz-se que existe umarelação entre duas coisas quando existe um elo de ligação, umacorrespondência, uma vinculação entre elas.

Usando a representação de conjuntos podemos visualizarestes exemplos mais facilmente. Dentro de cada conjunto pode-mos apresentar seus elementos (valores) e associá-los na rela-ção. Como pode ser observado na figura 1.

Figura 1 Correlação entre conjuntos

Observe que do conjunto origem (A) parte os elos de ligaçãoem direção ao conjunto destino (B).

Com esta noção de ‘relação’ em mente e, particularmente,evidenciando as situações acima ilustradas, podemos definiro que vem a ser uma função. A idéia de relação biunívoca deconjunto que predomina uma função entre origem e destino,coaduna com a idéia das Partidas Dobradas de origem e apli-cação de recursos.

A forma intuitiva do aprendizado das funções através darepresentação de conjuntos é trocada, na prática, pelo Siste-ma Cartesiano, no qual colocamos o domínio no eixo do x e ocontradomínio (em que estarão as imagens) no eixo do y.Desta forma podemos visualizar melhor o par ordenado (x,y)e o comportamento das funções que se deseja estudar. Assimtemos:

Figura 2 Sistema Cartesiano

Como já foi dito antes, os mesopotâmicos não deixaram re-gistro desse conhecimento, mas já foi provado que não só co-nheciam, como os utilizavam para a edificação de suas constru-ções monumentais.

O par ordenado do eixo cartesiano (x,y) pode ser visto, tam-bém, como uma forma de registro em par, isto é, uma PartidaDobrada.

Aplicando o conhecimento da relação matemática aos con-troles contábeis em um determinado fato é relatado por Schmidt(2000):

a

b

c

a

b

c

BA

y

y

xx

P(y,x) y = f (x)

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no ano de 1920, em Nuzi (norte da babilônia), 49fichas acompanhadas de uma tabela de pedra cominscrições cuneiformes listando um pequeno reba-nho de carneiros, pertencente ao segundo milênioa.C., portanto, fora do período pré-histórico. Essesartefatos representam, aparentemente, a transferên-cia desse pequeno rebanho – sete diferentes tiposde carneiros e cabras – realizada por Puhisenni, fi-lho de Mapu, habitante s da região, para o pastor denome Ziquarru. A escavações revelam que as 49 fi-chas perfuradas representam a garantia de que opastor havia recebido o rebanho e tinha uma dívidacom o proprietário anterior. Cada animal do rebanhoera representado por uma ficha mantida em um re-ceptáculo. Sempre que alguma animal era transferi-do para um pastor, ou para outra pastagem, ou mes-ma para tosquia, a forma de registro desse eventoera a transferência da ficha correspondente ao ani-mal para outra caixa. A explicação para esse duploregistro (a tabela de pedra e as fichas), segundo Sch-mandt-Besserat (1992), foi que a caixa de barro con-tendo as fichas era provavelmente destinada ao pas-tor (ou devedor), enquanto a tabela constituía o reci-bo de proprietário (ou credor). Mesmo já existindo aescrita cuneiforme, a maioria da população (como ospastores de 2000 a.C.) não a dominava e as fichascontábeis eram de fácil entendimento, já que cadaficha representava um animal.

Terá a seguinte representação gráfica da situação acima cita-da:

Figura 3 Representação em utilizando o Conjuntos

Logo, temos:Matematicamente

f(venda) = (carneiro, Ziquarru)f’(venda) = (cabra, Ziquarru)

Contabilmente1o) Débito – Ziquarru (Cliente) 2o) Débito – Ziquarru (Cliente) Crédito – Carneiro (Estoque) Crédito – Cabra (Estoque)

Analisando os fatos observa-se que há duas contabilidadesparalelas, a do vendedor Puhisenni e a do comprador Ziquarru.Isso ficou bem caracterizado quando Schmidt afirmou a transfe-rência desse pequeno rebanho – sete diferentes tipos de car-

neiros e cabras – realizada por Puhisenni para o pastor de nomeZiquarru. Essa transferência de propriedade foi registrada por49 fichas acompanhadas de uma tabela de pedra com inscri-ções cuneiformes listando um pequeno rebanho de carneiros.Em ambas as análises predomina a idéia do registro contábilpor Partidas Dobradas e não por Partidas Simples.

A contabilidade realizada por Puhisenni revela-nos que hou-ve um registro de saída de 7 animais, ou seja, atualmente diría-mos que foi creditada conta estoque (animais) em sua contrapartida, por meio das 49 fichas perfuradas, que representam agarantia de que o pastor havia recebido o rebanho e tinha umadívida com o proprietário anterior, ou seja, essa garantira seequivale àquilo que atualmente conhecemos por duplicatas,notas promissórias, cheques pré-datados, ou qualquer outro ins-trumento que reconheça a dívida, e logicamente esse registro éfeito no Ativo na conta cliente. O conhecimento de números po-sitivos e negativos nessa operação está bem clara.

Observe que apesar de estarem registrados em livros distin-tos, o ato da venda dos animais teve sua contra-partida queforam os recibos do reconhecimento da dívida, como diz o texto“enquanto a tabela constituía o recibo de proprietário (ou cre-dor)”. Graficamente, teríamos dois livros um de animais (esto-que) e outro de garantia de compra (cliente a receber), a exis-tência e registro em dois livros de forma simultânea nos permi-tem afirmar que tais registros são por Partidas Dobras, como semostra a seguir.

Registros contábeis realizados por Puhisenni

Livro 1 – Animais Livro 2 – Garantia(estoque) (cliente a receber)

Carneiro Cabras 49 fichas que representam agarantia de que o pastor haviarecebido o rebanho e tinha umadívida com o ele.

O mesmo fato também é registrado pelo comprador, Ziquarru,“a explicação para esse duplo registro (a tabela de pedra e asfichas), segundo Schmandt-Besserat (1992), foi que a caixa debarro contendo as fichas era provavelmente destinada ao pas-tor (ou devedor)”. Onde ele debitaria estoque (animais) e credi-taria fornecedor (pela emissão de 49 ficha dadas em de garan-tia).

Registros contábeis realizados por Ziquarru

Livro 1 – Animais Livro 2 – Garantia(estoque) (cliente a receber)

Carneiro Cabras 49 fichas que representam agarantia de que o pastor haviarecebido o rebanho e tinha umadívida com o Puhisenni.

Na seqüência do texto há a referência da transição de ani-mais “cada animal do rebanho era representado por uma fichamantida em um receptáculo. Sempre que algum animal era trans-ferido para um pastor, ou para outra pastagem, ou mesmo para

ClienteEstoque (Puhisenni)

Cabra

Carneiro

Ziquarru

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tosquia, a forma de registro desse evento era a transferência daficha correspondente ao animal para outra caixa”. Isso demons-tra a aplicação de todos os conhecimentos matemáticos, princi-palmente àqueles ligados às funções, visto que todos os fatosrelacionados com o patrimônio eram registrados.

Conforme Sá (1997) a “apuração de custos, revisões de con-tas, controle gerencias de produtividade, orçamento, tudo isto jáera praticado em registros feitos em pranchas de argila, nascivilizações da Suméria e da Babilônia (mesopotâmia)”. Só po-deria ser realizado esse cálculo se os Mesopotâmicos aplicasseos princípios matemáticos aqui relatados.

Um outro fato que concretiza a utilização de partidas dobra-das pelos Mesopotâmicos é que somente os sacerdotes poderi-am fazer esse registro e controle. Um dos requisitos básicospara essa função era o conhecimento teórico e prático de arit-mética e geometria. Seria um choque de conhecimentos e apli-cações dos registros, se os sacerdotes utilizassem partidas sim-ples, uma vez que a matemática sempre trabalhou com umadualidade: causa e conseqüência. Por este motivo é infundadofalar que os registros contábeis realizados pelas civilizações daMesopotâmia eram feitos sobre forma de partida simples, o fato

de utilizarem livros distintos para os registro de controle nãodescaracteriza a aplicação da partida dobrada.

6 - CONCLUSÃO

A genialidade dos Mesopotâmicos e o seu desenvolvimentocultural criaram, também, ambientes intelectuais propícios ao gran-de progresso na escrita contábil. Há cerca de 2000 a.C. os siste-mas de leis, alcançando o patrimônio, já exigia controles e regis-tros aprimorados. Onde a matemática desempenhava um impor-tante papel na concretude da vida cotidiana. Por suas construçõesmonumentais constata-se claramente o alto grau de desenvolvi-mento da matemática pelos sumérios, a qual era também empre-gada em outras áreas do conhecimento inclusive a contabilidade.

Para se tornar um sacerdote contador, o indivíduo precisavater conhecimento de notação aritmética e do seu uso prático.Um dos princípios básicos da matemática é a relação dos fenô-menos, por isso seria insensato dizer que os sacerdotes nãoaplicavam esse conhecimento nos registros contábeis. Conse-qüentemente, fica provado que esses registros eram feitos usandoPartidas Dobradas, porém, em livros e formas distintas.

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