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Ano V I Nº 20 Mai/Jul - 2003 ISSN 1519-0412

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Ano V I • Nº 20 • Mai/Jul - 2003

ISSN 1519-0412

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PensarContábil

Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

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Mai/Jul - 2003

Pensar

Editorial

Contabilidade criativa:

as duas faces de uma mesma moeda ................................... 4

José Paulo Cosenza

A Qualidade das Demonstrações Contábeis

Convertidas em Ambiente Econômico

Estável e Desvalorização Cambial .......................................... 15

Áurea de Carvalho Martins

Fraudes com Derivativos: O Caso Barings ........................... 19

Sebastião Bergamini Júnior

Fluxos de Caixa e Capital de Giro

– Uma adaptação do Modelo de Fleuriet .............................. 27

Andréa Alves Silveira Monteiro

Desperdício: Miopia Informativa da D.R.E, ........................... 35

Fabiano Simões Coelho

José Carlos Sardinha

Gestão dos Custos da Qualidade Ambiental ....................... 43

Maria Elisabeth Kraemer

ÍndiceExpediente

CONSELHO REGIONAL DECONTABILIDADEDO ESTADO DO RIO DE JANEIROPraça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andaresRio de Janeiro - RJ - CEP 20091-040

Tel. (21) 2216-9595 - Fax (21) 2516-0878Home Page: www.crc.org.br

E-mail (envio de artigos): [email protected] (assinatura): [email protected]

ContábilISSN 1519-0412

Uma publicação do

CONSELHO DIRETOR

Presidente: Nelson Monteiro da RochaVice-Presidente de DesenvolvimentoProfissional: Antonio Miguel Fernandes

Vice-Presidente de Administração e Finanças: Diva Maria de Oliveira Gesualdi

Vice-Presidente de Fiscalização do ExercícioProfissional: Vitória Maria da Silva

Vice-Presidente de Registro:Carlos de La Rocque

Vice-Presidente de Controle Interno: Paulo Cesar de Castro

Vice-Presidente de Interior: Cezar Stagi

CONSELHO EDITORIAL

Coordenador: Antonio Miguel FernandesConselheiro Jorge Ribeiro dos Passos Rosa

Conselheiro Josir SimeoneConselheiro Walter Conceição

Conselheiro Waldir Ladeira

Editora: Rosa Helena Martire (MT 21405)

Projeto Gráfico: W&C- Comunicação

Diagramação: Adriano Antunes dos Santos

Revisão: Claudia Stivelman

Estagiário: Marcelo Bernardo Pereira

PRÊMIO GERALDO DE LA ROCQUEA edição especial da revista “Pensar Contábil” justifica-se por de-

monstrar o crescimento quantitativo e qualitativo da produção literáriacontábil nos últimos anos e consagra a existência de um prêmio, oGERALDO DE LA ROCQUE, que vem se consolidando junto aos pes-quisadores da Contabilidade, desde a sua criação.

Antes de tecermos comentários sobre a matéria que integra estaedição, temos o dever de fazer breves comentários sobre o titular doprêmio: o contador e professor GERALDO DE LA ROCQUE.

O professor GERALDO DE LA ROCQUE é um nome de refe-rência para a escola brasileira de contabilidade, pela sua produçãoliterária e pelo exercício do magistério em instituições de ensinoimportantes no cenário brasileiro, como o DASP – Departamentode Aperfeiçoamento do Serviço Público e a EBAP – Escola Brasi-leira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, ondelecionou cursos de Contabilidade Pública, Contabilidade Geral, Téc-nicas de Tributação, Didática e Conteúdo de Contabilidade, Audi-toria e Contabilidade Industrial.

Produziu mais de 30 obras contábeis, obras essas que apresentamtemas variados e aprofundados (Contabilidade Pública, Auditoria e Aná-lise de Balanço, Dicionário Fisco-Contábil do Imposto de Renda, etc).

Trabalhou 34 anos no serviço público federal, como Auditor Fiscal doTesouro Nacional, mediante ingresso por aprovação em concurso pú-blico, em 1940.

Foi vitorioso na carreira pública, pois exerceu posições de destaquecomo: Contador Geral da República (último profissional a ocupar tal

cargo no país), Delegado Regional do Imposto de Renda, Secretário deAssuntos Legislativos, Assessor do Ministro da Fazenda e Contador doMinistério do Planejamento.

Ao se aposentar em 1974, deu continuidade às suas atividades pro-fissionais, como empresário contábil, professor, autor e articulistas dosprincipais jornais em circulação no país (O GLOBO, JORNAL DO COM-MERCIO, GAZETA MERCANTIL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DESÃO PAULO, FOLHA DE SÃO PAULO e ÙLTIMA HORA).

Foi por mais de 20 anos conselheiro do CRC-RJ, tendo inclusiveocupada a vice-presidência da entidade.

Partiu para outra etapa da vida em 1982, aos 63 anos, tendo nosdeixado além da sua obra e carreira profissional brilhantes, dois filhos,entre eles o nosso ex-presidente e atual conselheiro o contador CAR-LOS DE LA ROCQUE.

Considerando o caráter especial da edição, estamos publicando oscinco primeiros premiados no último evento, trabalhos que muito contri-buirão para auxiliar aos alunos dos cursos de graduação e pós-gradu-ação (lato e strictu senso) na absorção dos conhecimentos tratados emcada um dos artigos selecionados.

Esperamos que os leitores aproveitem bem esta edição e que pos-sam contribuir com artigos para o próximo prêmio GERALDO DE LAROCQUE, e para a própria PENSAR CONTÁBIL.

Antonio Miguel Fernandes Vice-presidente de Desenvolvimento Profissional

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PensarContábil

Contabilidade criativa:

as duas faces de uma

mesma moeda

1 – INTRODUÇÃOCom a internacionalização econômica dos mercados, as

empresas se viram forçadas a desenvolver suas atividades emum ambiente mais competitivo e complexo. Neste contexto, acontabilidade assume um papel preponderante, já que permiteo efetivo conhecimento da situação real do patrimônio das enti-dades.

Assim, a informação de caráter econômico-financeiro que ascompanhias elaboram e divulgam anualmente constitui umavariável chave para a tomada de decisão por parte dos usuári-os, pois é o principal meio de comunicação dessas empresascom os distintos agentes, interessados em suas situações eco-nômicas e na evolução de seus patrimônios.

Como, a princípio, somente os proprietários, visando o pro-cesso de gestão, e o governo, a fim de conhecer os resultadosobtidos pelas empresas e fiscalizá-las com base nos registrosde suas atividades, teriam interesse em tais informações, nãohavia muita preocupação com esse aspecto. No entanto, o sur-gimento de novos interessados na informação contábil-finan-ceira, na literatura denominados stakeholders (credores, diri-gentes não proprietários, acionistas, sindicatos, fundos de pre-vidência, etc.), acabou por elucidar a magnitude da ineficáciados sistemas de informação contábil1 .

Na literatura acadêmica, já há algum tempo se vem deba-tendo sobre quais seriam os usuários interessados no conhe-cimento da informação contábil e se desenvolvendo pesqui-sas sobre a utilidade da contabilidade, dirigida a diferentesobjetivos dentro do processo de análise da gestão. Contudo,o grande problema é que cada um desses usuários possuiobjetivos distintos a respeito da informação econômico-finan-ceira, acarretando, assim, um conflito de interesses, já quecada um deseja que os dados contábeis sejam gerados se-gundo suas conveniências particulares; fato que tem levadoo debate sobre a legalidade, a legitimidade, a conveniência eo sigilo da informação contábil a estar sempre presente em

Contabilidade criativa:

as duas faces de uma

mesma moeda

congressos, conferências, seminários e publicações especi-alizadas.

Todavia, o principal problema neste momento está relaciona-do à forma como se elabora essa informação, pois, dependendodo modo como os valores são calculados e da maneira comopodem ser publicados em cada país, é possível a obtenção deresultados mais ou menos favoráveis, levando os usuários afundamentarem suas decisões em resultados talvez enganososem essência.

São as ambigüidades dos critérios contábeis que dão mar-gem a contabilizações distintas de um mesmo fato e, portanto, agrandes diferenças na representação de uma mesma realidadepatrimonial2 . E neste contexto são canalizadas as práticas ditasde contabilidade criativa, cujos fundamentos estão embasadosno aproveitamento das subjetividades, flexibilidades e omissõesdas normas contábeis para que se consiga apresentar as con-tas de forma a melhor demonstrar a imagem desejada por quema elabora.

Partindo dessas considerações iniciais, iremos analisar eexplorar os aspectos relevantes associados ao fenômeno co-nhecido na literatura como contabilidade criativa ou earningsmanagement, como lhe denominam os autores internacionais,e demonstraremos, também, que a norma contábil mundial ofe-rece possíveis campos para práticas neste sentido. Nosso obje-tivo é abordar e explicar os aspectos indutores da contabilidadecriativa, discutindo seu significado, sua natureza e os fatoresque mais a motivam.

2 – O ALCANCE E O SIGNIFICADO DOTERMO CONTABILIDADE CRIATIVA

O termo contabilidade criativa é de origem anglo-saxônica —tanto em sua forma prática, quanto em sua estratégia — e já foiobjeto de grandes debates e pesquisas no meio acadêmico,principalmente no Reino Unido3 , porém esse fenômeno aindase apresenta como um tema atual na prática contábil internacio-

1 Em geral, os sistemas contábeis são estruturados para atender as demandas de informação direcionadas aos proprietários e administradores. Isto pode gerar, em certas ocasiões,

conflitos de interesses, já que a contabilidade nem sempre consegue atender aos interesses dos demais usuários que necessitam de dados que ponham em evidência outros

tipos de informes diferentes daqueles contidos nas demonstrações contábeis tradicionais.

2 Giner, 1992.

3 Em função da flexibilidade presente nas normas contábeis daquela sociedade (ver Naser, 1993).

� José Paulo Cosenza

� Bacharel em CC, doutorando na Universidade de Zaragoza,mestre em Contabilidade, professor na UERJ, contador no BNDES

1º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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Além dos autores citados, outros, ainda, têm dado suas pró-prias interpretações para definir este fenômeno, conceituando acontabilidade criativa sob os mais variados enfoques de abor-dagem, seja no âmbito legal, ético, contábil, ou financeiro6 . To-davia, na leitura de tais referenciações se observa que todossão unânimes em associá-la a dois fatores: 1o) a manipulaçãocontábil; e 2o) a intenção de enganar.

Podemos deduzir, então, que a contabilidade criativa, na ver-dade, se trata de uma maquiagem da realidade patrimonial deuma entidade, decorrente da manipulação dos dados contá-beis, para se apresentar a imagem desejada pelos gestores dainformação contábil. Portanto, identificar quais seriam os incen-

tivos que as companhias teriam para praticá-la seria o pontocentral para a explicação dessa problemática.

Por isso formular uma definição exata deste fenômeno podeser muito difícil, dada a complexidade do tema e seu caráternebuloso. Entretanto, o termo contabilidade criativa pode serentendido como a seleção de alternativas possíveis, segundoos princípios e as normas de contabilidade vigentes, utilizadaspara se conseguir a apresentação mais favorável da informaçãocontábil-financeira da empresa em um momento determinado.

De qualquer modo, para praticar a contabilidade criativa, oprofissional da área contábil se vale, principalmente, da flexibi-lidade presente nos princípios contábeis e na norma contábil-

4 A manipulação na contabilidade não é uma coisa recente, apenas se torna mais conhecida agora devido aos freqüentes escândalos que ocorrem mundialmente (Bauch & Lomb,

em 1995, Long Term Capital Portfolio, em 1998, Rite Aid e Cendant, em 1999, Sunbeam, Waste Management, Enron e Superior Bank, em 2001, Dollar General, em 2002, todos

nos Estados Unidos; Banesto, em 2000, Gescartera, em 2001, e BBVA, em 2002, na Espanha; Comroad, em 2000, na Alemanha; e no caso do Brasil, os bancos Nacional,

Econômico, Boavista e Noroeste; para não citar diversos outros exemplos mundo afora).

5 Rodríguez, 1996.

6 Ver Giner, 1992; Monterrey, 1997; Blasco, 1998; Laínez e Callao, 1999; Amat e Blake,2000; Cordobes e Sanchez,2000.

nal, uma vez que tem ganhado importância na informação con-tábil-financeira que se divulga para os usuários e comunidadeempresariais4 .

O tema contabilidade criativa pode ser analisado sob varia-

das perspectivas e sua conceituação depende da extensão quese lhe queira outorgar5 . Por conseqüência, distintos autores têmidentificado esse mesmo fenômeno sob os mais diferentes enfo-ques:

AUTOR ANO ABORDAGEM CONCEITUAÇÃO

Ian Griffiths 1988 e 1995 Jornalística A contabilidade criativa seria uma prática negativa de manipula-ção da realidade empresarial para distorcer os resultados e aposição financeira de maneira que reflitam a situaçãodesejada por quem a moldou.

Michael Jameson 1988 Contábil Entende ser uma prática inadequada, mesmo operando dentro da legislação e das normas contábeis, porque distorce os resultadose a posição financeira da empresa, induzindo os usuários adecisões econômicas ineficientes.

Terry Smith 1992 Analista deMercado Vê a contabilidade criativa como um problema muito grave, já que

serve como instrumento de manipulação contábil para se apresen-tar indicadores de crescimento econômico e financeiros não reais, que, em um segundo momento, podem se tornar verdadeiroscolapsos empresariais.

Kamal H.M. Naser 1993 Acadêmica A contabilidade criativa é o resultado da intenção de se transformaros fatos contábeis de aquilo que verdadeiramente são, paraaquilo que se deseja que eles sejam, aproveitando-se aslacunas das normas existentes, ou mesmo ignorando-as.

Jose MaríaGay Saludas 1997 e 1999 Jurídica Identifica a contabilidade criativa sob uma perspectiva de enge-

nhosidade, como uma arte, onde os grandes artistas da contabili-dade – os contadores e os auditores – se aproveitam das brechasoferecidas pelas rigorosas normas para imaginar uma engenhariafiscal-financeira que lhes permita espelhar a imagem fiscal ousocietária desejada para a companhia. A contabilidade criativa podeser catalogada como uma magnífica falsidade de obras de artecontábil, demandadas de estruturas de verdadeiraengenharia contábil.

Fonte: Elaboração própria do autor.

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societária, aos quais está subordinado. Assim, apesar de certasrestrições quanto à elaboração, contabilização e evidenciaçãoda informação econômico-financeira, em muitos casos é possí-vel contemplar certo grau de arbitrariedade na escolha de pro-cedimentos que melhor se adaptem aos requerimentos estraté-gicos da entidade, muitas vezes em detrimento da apresentaçãoda imagem fiel da companhia, prejudicando, até mesmo, os inte-resses de alguns dos usuários da informação divulgada.

3 – A NATUREZA E OS OBJETIVOSDA CONTABILIDADE CRIATIVA

A literatura contábil-financeira está repleta de estudos empíri-cos sobre a manipulação da informação contábil, cada qual diri-gido a diferentes objetivos dentro do processo de análise dagestão, principalmente à hipótese de eficiência do mercado7 .Embora o primeiro trabalho que analisou seriamente as motiva-ções econômicas que os administradores teriam para manipulara informação contábil tenha sido produzido nos anos 60,8 asprincipais evidências empíricas, neste campo, foram obtidas nadécada seguinte com um trabalho de caráter autenticamenteinovador em que seus autores estabeleceram o paradigma dautilidade, baseando-se na hipótese da eficiência9 .

Os autores desse trabalho, particularmente, analisaram o as-pecto da evidenciação contábil, se centrando na realidade eco-nômica e nas motivações determinantes da regulamentaçãocontábil; para isso, enfocaram a conduta dos usuários e suasreações diante da informação do sistema contábil10 . Suas hipó-teses foram baseadas, fundamentalmente, nas teorias da redecontratual11 , da regulamentação econômica12 e da agência13 .

Em uma pesquisa posterior, esses mesmos autores sustenta-ram, também, a hipótese de que a divulgação de benefícios ex-traordinários, mais especificamente de lucros, põe a empresaem evidência ante os usuários externos, exibindo uma imagempositiva da companhia14 . Assim, segundo eles, tais empresasestariam mais suscetíveis a manipulações contábeis visando aredução dos benefícios divulgados, para não prejudicar politica-mente sua imagem externa, principalmente em situações de ele-vações de preços de seus produtos.

Em etapas subsequentes, outros estudos foram realizados,seguindo esse mesmo raciocínio, sobre a arbitrariedade de quedispõem as empresas para manipular os ajustes em suas con-

tas de giro, sobre as restrições às importações15 e sobre aspráticas antitruste16 .

Todavia, nenhuma pesquisa havia estudado, até então, osefeitos do earnings management relacionado à ótica de cresci-mento dos preços dos produtos consumidos, o que foi realizadoem um estudo para identificar até que ponto as empresas petro-líferas estariam vulneráveis às manipulações contábeis, devidoaos lucros extraordinários que obtiveram durante a crise do Gol-fo Pérsico, em 199017 .

Essa pesquisa buscava testar a hipótese exposta no estudode Watts e Zimmerman18 e para isso estabeleciam que as com-panhias petrolíferas de refinamento, ao contrário daquelas deextração, estariam mais suscetíveis a realizar ajustes em suacontabilidade, na determinação dos seus resultados. Tal mani-pulação ocorreria em função do maior grau de exposição políti-ca e social que teriam estas últimas empresas, por geraremriqueza diretamente de sua relação com o consumidor final desua cadeia produtiva.

Uma segunda hipótese formulada, ainda, por esses autoresfoi de que estas mesmas empresas também pesavam os be-nefícios para liberar ou não oportunamente ao público a infor-mação dos lucros obtidos com o aumento dos preços de seusprodutos19 . Para contrastar suas hipóteses utilizaram dois es-tudos, os quais estabeleciam que as empresas com grandescrescimentos de lucro, em períodos politicamente sensíveis,teriam como incentivo antecipar a divulgação de seus infor-mes financeiros positivos, pois assim atrairiam a atenção pú-blica adicionalmente, ou vice-versa, quando fossem resulta-dos negativos20 .

A constatação de que a informação contábil divulgada podedebilitar ou fortalecer o valor da empresa tem sido objeto demuitos estudos empíricos nos últimos anos21 , sendo unanimi-dade o fato de que as entidades medem os custos políticos naescolha de estratégias contábeis que reflitam suas cifras de ne-gócio22 .

Em geral, a contabilidade criativa está associada à estratégiapara transmitir a visão mais otimista possível da companhia paraos distintos agentes econômicos. Contudo, pode, também, favo-recer outros tipos de práticas, como melhorar ou piorar os resul-tados econômicos por diversas razões, além da adequação daestratégia empresarial23 , divulgação de performance da com-

7 Ver Copeland, 1968; Cushing, 1969; White, 1970; Ball, 1972; Ball e Watts, 1972; Barefield e Comiskey, 1972; Sunders, 1975; Smith, 1976, dentre outros.8 Gordon, 1964.9 Watts e Zimmerman, 1978 (desde então, diversas pesquisas foram realizadas tomando tal estudo como base, abordando principalmente a temática do disclosure relativo às

companhias que negociam ações no mercado de capitais).10 Watts e Zimmerman, 1978.11 A teoria da rede contratual pode ser definida como um conjunto de interrelações (contratos) entre grupos, com finalidades discordantes, o que origina conflitos de interesses.12 A teoria da regulamentação econômica entende que os organismos governamentais, mediante a adoção de medidas que regulam a atividade econômica (estabelecimento de

tarifas de serviços públicos, impostos e subvenções), tem o poder de levar a cabo as redistribuições da riqueza entre os agentes econômicos, o que supõe para as empresasuns custos de regulação, também denominados custos políticos (surgidos para evitar ou conseguir transferência de riqueza da empresa para o exterior), gerando-se outra sériede conflitos entre a entidade e o ambiente onde desenvolve suas atividades.

13 A teoria de agência enfoca sua atenção nas relações e conflitos havidos pelas disparidades de interesses entre a propriedade da empresa e a gerência, decorrentes da delegaçãoque o principal (acionista ou proprietário) faz para o agente (gerente) para realizar algo em seu interesse, mediante uma contraprestação que pode ser financeira ou não.

14 Watts e Zimmerman, 1986.15 Jones, 1991.16 Cahan, 1992.17 Han e Wang, 1998.18 Watts e Zimmerman, 1986.19 Han e Wang, 1998.20 Chambers e Denman, 1984; Kross e Schroeder, 1994.21 Ver Hagerman e Zmgewski, 1979; Dhaliwal, 1980; Ronen e Sadan, 1980 e 1981; Suarez, 1989.22 Skinner, 1994.23 Zmijewski e Hagerman, 1981.

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panhia24 , avaliação de desempenho dos administradores25 , ob-tenção de benefícios26 , subsídios ou isenções governamentais27 ,conduta para comunicar boas e más notícias28 ou melhoriassociais e medidas medio-ambientais29 .

Por este motivo, é muito difícil analisar e explicar os mecanis-mos de escolha contábil, dada a forma sutil como são realizadose a heterogeneidade que existe de um segmento econômicopara o outro. Entretanto, a razão fundamental para a sustençãoda contabilidade criativa é a forte assimetria de informação queexiste entre os ambientes interno e externo da organização,portanto, os gerenciadores da informação contábil dispõem deum certo grau de arbitrariedade que lhes permite condutas quepodem chegar a não ser conhecidas pelos usuários externos,se esses mesmos gerentes assim o quiserem, e cuja percepçãoé muito difícil desde fora da organização. O caso Enron Corpo-rate é um exemplo recente desse tipo de problema30 , que, porsinal, tem posto, também, em xeque-mate a própria credibilida-de da profissão contábil31 .

4 – A CONTABILIDADE CRIATIVA FRENTEAO CONCEITO DE IMAGEM FIEL

A finalidade principal da contabilidade, como ciência, consis-te na análise, descrição e explicação dos fenômenos patrimoni-ais que afetam a riqueza de uma entidade e gerar, dessa manei-ra, uma informação que permita a formação de opinião exata efidedigna sobre determinada realidade empresarial.

Todavia, plasmar de uma maneira simples, em um documen-to contábil, todos os fatores e variáveis que influem em umaatividade econômica, é algo quase impossível de captar de umaforma unívoca e definitiva, dadas as incertezas que circundamtoda atividade econômica e financeira desenvolvida pelas em-presas32 . No sentido de limitar o campo de arbitrariedade naeleição e representação dos fatores econômicos, se recorre aoestabelecimento de normas e procedimentos contábeis, homo-geneizando e facilitando, assim, o processo de entendimento ecomparação para que cada agente econômico possa tomar suasdecisões de forma racional e equilibrada.

Ocorre, entretanto, que a teoria contábil tem se mostrado limi-tada e ineficaz para se defrontar com os problemas econômico efinanceiros derivados do crescimento da complexidade empre-sarial nas últimas décadas, como por exemplo, a preponderân-cia dos mercados de capitais, a desvalorização da moeda, arápida obsolescência dos bens e produtos, a primazia dos ati-vos intangíveis sobre os tangíveis, etc. Dessa incapacidade,deriva a contabilidade criativa, que encontra terreno fértil nessa

falta de clareza e de consenso em torno dos aspectos mais con-flitantes e nebulosos do campo contábil.

Não obstante, é errado considerar que a contabilidade criati-va é um modismo recente, ela existe na atividade econômicaorganizada, desde as mais remotas épocas33 . Fato é que, atual-mente, essas práticas adquiriram maior importância, pois seufenômeno se vincula à transcendência que há na informaçãocontábil para a empresa e seu ambiente, já que cresce a preo-cupação com a entidade e a imagem que dela se tem na socie-dade.

O mundo contemporâneo caracteriza-se por iniciativas volta-das a um conjunto de fatores que coloque em prática a cidada-nia responsável. As empresas, por importantes que são para odesenvolvimento da comunidade, estão tendo que assumir umposicionamento mais crítico na busca de princípios de gestãofundamentados em iniciativas sustentáveis, onde estejam refle-tidas suas relações com o meio ambiente e a comunidade.

O conceito de imagem fiel é derivado da literatura contábilanglo-saxônica, quando foi aplicado na norma para as socieda-des comanditas britânicas, em 184434 . Ainda que este conceito,desde 1947, venha representando um papel central na legisla-ção mercantil inglesa, no que se refere à contabilidade, nãoexiste nenhuma definição sobre seu significado nas leis do Rei-no Unido.

Além disso, não existe uma doutrina internacional que definaprecisamente a interpretação da imagem fiel - true and fair view-, que no seu sentido literal poderia ser traduzida como verda-deira e real, ou clara, correta e leal, ou verdadeira e apropriada,ou também, sinteticamente, visão real e correta. Para algunsautores, é impossível definir a expressão imagem fiel, por serum fato de caráter conceitual muito filosófico o qual não é susce-tível de uma definição mediante um conjunto de regras detalha-das35 .

A característica fundamental e essencial desse conceito, en-tretanto, está centrada na discussão “conteúdo/forma”, ou seja:o texto da lei (true), que representa a forma, deverá ter primaziasobre o espírito econômico (fair), que representa o conteúdo, ouvice-versa? Há duas correntes na investigação dessa temática:uma legalista e, outra, econômica; a primeira entende que aimagem fiel é um objetivo derivado, em definitivo, da conformi-dade com as disposições legais, de forma que seja um sistemainformativo legal36 ; para a segunda, a imagem fiel seria algoequivalente à realidade econômica, onde o fundo tem predomi-nância sobre a forma e a informação útil para os usuários deveser priorizada37 .

24 DeAngelo, 1988; DeAngelo, DeAngelo e Skinner, 1994.25 Strong e Meyer, 1987; Elliot e Shaw, 1988; Pourciau, 1993; Francis, Hanna e Vincent, 1996.26 Choi, Gramlich e Thomas, 2001.27 Healy e Palepu, 1993.28 Skinner, 1994; Han e Wang, 1998; Giner e Rees, 2001; Basu, 2001.29 García e Monterrey, 1993.30 BusinessWeek, 2001.31 BusinessWeek, 2002.32 Giner, 1992.33 Por exemplo, acredita-se que a terminologia contábil “inventário” deriva do verbo inventar, pois os contadores, ao realizarem os levantamentos da situação física dos estoques,

criavam números fictícios para poder conciliar com os saldos dos livros contábeis.34 Amat, Blake e Oliveras, 1997.35 Túa, 1985; Niño, 1992.36 Gondra, 1991.37 Gonzalo, Castro e Gabás, 1985.

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Parece, então, que em relação ao que se entende por ima-gem fiel, tanto acadêmico, empresarial, profissional quanto juri-dicamente, há o consenso de que ela é resultante da aplicaçãosistemática e regular dos princípios e normas contábeis, os quaisexpressam a realidade econômica das transações realizadas.Logo, os conceitos de imagem fiel e contabilidade criativa estãofortemente vinculados e interdependentes, como as duas facesde uma mesma moeda. Perfilar seus limites, alcances e conteú-do, aproximando-os da realidade empresarial, seria a forma dese evitar suas manipulações conceituais38 .

5 – A CONTABILIDADE CRIATIVA FRENTEAO POSICIONAMENTO ÉTICO

A aplicação de práticas de contabilidade criativa nem sempreestá evidentemente clara na informação financeira que as em-presas oferecem aos seus usuários, uma vez que a maioria dascompanhias domina tão bem esse tema, que consegue embutirtais práticas no complexo conjunto de informações que compõeos relatórios anuais divulgados.

Na prática, as demonstrações contábeis publicadas são oude reduzido conteúdo, quando não se quer informar um aspectodeterminado, ou de excessiva informação, quando se divulga ofato por obrigatoriedade. No primeiro caso, a quase omissãoinformativa, torna até mesmo impossível a análise e a identifica-ção da utilização ou não de práticas de contabilidade criativa. Jáno segundo caso, busca-se confundir os usuários, com demasi-ada informação, de conteúdo sem relevância e desassociadado tema que se teria que divulgar39 .

Contudo, o aspecto ético relativo ao profissional que elaboraas demonstrações contábeis deveria prevalecer, pois ele tem amissão de administrar a evidenciação do patrimônio da entida-de, de forma que essa represente a imagem fiel da organização.A postura ética profissional está fundamentada na adoção danorma técnica necessária, que permita oferecer informação útil,oportuna e exata a todos os usuários da informação contábil eno acatamento de parâmetros gerais de comportamento de in-dependência, apesar da relação capital-trabalho existente.

Está óbvio, então, que o tema contabilidade criativa introduzsimultaneamente, outra importante discussão, que está relacio-nada com o aspecto da ética profissional. Com isso queremosdizer que a contabilidade criativa serpenteia por um caminho demeias verdades que moralmente pode ser discutível, levandoao questionamento sobre se os fins justificariam os meios, jáque ela se move numa linha bem próxima do permissível e doilegal, ficando muito difícil delimitar onde começa uma e terminaa outra, ou vice-versa.

Se entendermos por ética profissional o conjunto de nor-mas e parâmetros gerais que regulamentam o comportamen-to moral e profissional do contador ante seus companheirosde trabalho e de profissão, os usuários da informação que eleelabora, o seu empregador, e os seus órgãos de classe, po-demos inferir que estas regras de comportamento outorgamcerto tipo de independência profissional caracterizada pela

necessária submissão a tais regras gerais de conduta. O con-flito se apresenta quando, nesse contexto, o profissional decontabilidade tem que executar e operacionalizar uma ativi-dade caracterizada ou tipificada como contabilidade criativa,previamente concebida e desenhada como uma estratégiaorganizacional pela alta administração da entidade; já queao funcionário compete somente sua realização, sem a devi-da consideração de seus efeitos adversos para os demaisusuários, sob pena de pôr em risco seu posto de trabalho,caso não concorde em realizar tal prática. Por isso, não é tãosimples, assim, dirimir esta questão.

Neste estudo, não entraremos no mérito da discussão dessaproblemática porque, assim, estaríamos caminhando para aanálise de outro tema igualmente importante e complexo. Cabe,apenas, ressaltar que ao efetuar práticas ditas criativas é possí-vel amodificação da imagem fiel da companhia, com reflexosem suas informações publicadas, que, como pode ser visto, pos-sui um aspecto de difícil interpretação, a intencionalidade, a qualpode apresentar problemas relativos ao campo da ética profissi-onal e da moral.

A normatização no campo contábil e a harmonização dasnormas internacionais podem vir a reduzir as alternativas deeleição entre princípios contábeis ou regras específicas de valo-ração, como os critérios de amortização, depreciação, provisão,etc., os quais podem ser determinantes para induzir às práticasde contabilidade criativa. A partir da ambiguidade das normas eprincípios contábeis, gera-se um campo fértil para estimativassubjetivas, calculadas e aplicadas sob as mais variadas diversi-dades de critérios alternativos, o que pode gerar comportamen-tos discordantes dos valores éticos e morais40 .

6 – O ÂMBITO DE APLICAÇÃO DACONTABILIDADE CRIATIVA

A contabilidade criativa tem sua aplicação nas subjetividadesdas normas e princípios de contabilidade que proporcionam umaampla margem de escolha dos critérios e métodos contábeis aempregar, assim como da forma de informá-los a terceiros. Issopermite uma imensa gama de formatações e procedimentos que,geralmente, são muito difíceis de se detectar, sem uma análisemais criteriosa e profunda, a nível de auditoria.

Todas estas práticas podem ter mais ou menos importânciaou estar estendidas em um grau maior ou menor de complexida-de, dependendo, antes de tudo, das probabilidades que têm osauditores de detectá-las e das necessidades de cada compa-nhia em realizá-la. Por isso que os auditores independentesdesempenham um papel fundamental no levantamento e divul-gação destas práticas em seus pareceres de auditoria41 .

Embora a contabilidade criativa, normalmente, seja motivadapor objetivos de cunho especulativo de curto prazo, ela pode,também, estar associada a efeitos de longo42 . No entanto, emsentido geral, os gerentes se deixam conduzir por medidas decurto prazo, já que lhes preocupam mais suas necessidadesmomentâneas que suas rentabilidades futuras: estão obrigados

38 Rodríguez-Vilariño, 1998.39 Algumas empresas oferecem pistas, divulgando tais fatos nas suas notas explicativas ou no relatório da administração, mas o fazem de maneira tão engenhosa, que a maioria

dos usuários não presta atenção a esses trechos escritos em um impecável, impenetrável e enfadonho jargão contábil-jurídico.40 Para um estudo visando aprofundar esse tema, ver Leung e Cooper, 1995; Fischer e Rosenzweig, 1995; Amat, Blake e Dowds, 1999.41 Monterrey, 1997.42 Rojo, 1993.

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a buscar, no curto prazo, soluções contábeis que possam darrespostas à necessidade de informações direcionadas para amanutenção da atividade da empresa no futuro. Este conflitoleva ao confronto da contabilidade como um sistema de infor-mação, com as necessidades dos gerentes em viver o hoje,aproveitando-se das vantagens que se apresentam no momen-to, para poder passar ao amanhã43 .

O pensamento de curto prazo é o causador, em grande parte,do surgimento da contabilidade criativa44 ; contudo há um limitepois, apesar de sua característica de manipular as cifras contá-beis45 , ela não pode fazer parecer boa eternamente, a situaçãoeconômico-financeira de uma empresa que atravesse autênti-cas e continuadas dificuldades: apenas serve para atrasar esuavizar as más notícias46 ; uma vez que seria impossível con-vertê-las em boas permanentemente, sem recorrer à verdadeirafraude47 .

As práticas de contabilidade criativa podem ocorrer nos se-guintes âmbitos48 :i) Práticas baseadas no incumprimento dos princípios contá-

beis;ii) Práticas estruturadas em contabilizações incorretas das ope-

rações contábeis;iii) Práticas alicerçadas em classificações erradas das partidas

contábeis;iv) Práticas fundamentadas em operações vinculadas49 .

A verdade é que todas essas práticas podem ter os mais di-versos efeitos na situação patrimonial da entidade — aumento,redução ou mesmo simples permuta50 . Todas elas podem acar-retar implicações negativas na tomada de decisão dos usuáriosda informação contábil. Um paliativo para minimizar esta pro-blemática seria a conscientização dos usuários de que, nas in-formações que as empresas publicam anualmente, há a possi-bilidade de manipulações a fim de apresentar determinada ima-gem econômico-financeira da companhia que, não necessaria-mente, é a verdadeira51 .

7 – AS MEDIDAS CONTRA ACONTABILIDADE CRIATIVA

Na leitura de distintos autores, se nota que há o consensoquanto ao fato de a impossibilidade de se extinguir as práticasde contabilidade criativa52 , entretanto, todos sugerem a criação

de medidas com a finalidade de limitar seu campo de ação erestringir sua proliferação, e apontam algumas alternativas pos-síveis como soluções:a) Maior envolvimento dos auditores independentes nesta

questão;b) Implantação efetiva de comitês de auditoria;c) Incorporação de conselheiros externos nos conselhos

de administração;d) Melhoria do nível de revelação da informação contábil;e) Estabelecimento de uma norma contábil mais precisa e

concreta;f) Limitação da liberdade dos gerentes na escolha das al-

ternativas contábeis;g) Eliminação do resultado das transações que envolvam

estimativas subjetivas.Outro ponto seria estabelecer mecanismos legais para con-

trole da existência da contabilidade criativa, que permitiria ha-ver uma penalidade jurídica por praticá-la, criando, assim, umobstáculo importante para a manipulação da informação contá-bil.

8 – ALGUNS CASOS DECONTABILIDADE CRIATIVA53

Não há dúvida de que os gerentes seriam os principais bene-ficiados com manipulação contábil, pois, além de possuíremmotivos para tal, controlam os mecanismos que possibilitamexecutá-la54 . Os instrumentos para a manipulação contábil sãoas variáveis nas quais o gerente ou o contador podem influirpara lograr os efeitos desejados55 .

Considerando que a maioria desses efeitos econômicos temreflexo imediato ou futuro no resultado contábil, o principal rela-tório manipulado é a demonstração do resultado, através detécnicas de manipulação dos ingressos ou dos gastos.

Tal conflito associado ao reconhecimento das receitas e des-pesas está formado por uma tríplice vertente: 1) as condiçõesque se devem cumprir para registrá-las contabilmente e os crité-rios para decidir quando incorporá-las (temporalidade); 2) o im-porte monetário pelo qual deverão ser registradas (valoração);e 3) a forma de conceituação a qual correspondem em funçãoda atividade da empresa (classificação)56 .

Como exemplo concreto de uma técnica contábil com fim de

41 Monterrey, 1997.42 Rojo, 1993.43 Rojo, 1993.44 Rojo, 1993.45 Griffiths, 1995.46 Griffiths, 1988.47 Laínez e Callao, 1999.48 Monterrey, 1997.49 Esta prática tem sido o principal foco de problemas identificados nos casos recentes de contabilidade criativa, uma vez que boa parte das companhias norte-americanas vêm se

utilizando da criação de estrutura jurídicas enigmáticas, freqüentemente denominadas entidades para propósito específico (SPEs – Special Purposes Entitities), que nada maissão que sociedades extra-oficiais que servem para ocultar ativos e passivos que representem risco para a empresa controladora, uma vez que essa não está obrigadalegalmente a consolidar o patrimônios destas sociedades quando investe mais de 3% do capital dessas sociedades para fins especiais.

50 Para mais detalhes, ver trabalho de Monterrey, 1997.51 Amat, Moya e Blake, 1997.52 Amat, Moya e Blake, 1997; Laínez e Callao, 1999; Monterrey, 1997; Naser, 1993; Blasco, 1998.53 Como a linha de interesse deste trabalho é também pesquisar possíveis casos de práticas de contabilidade criativa, foi realizada uma consulta na imprensa internacional no sentido

de encontrar possíveis manipulações contábeis, de onde destacamos alguns exemplos que poderiam ser classificados nesta situação específica.54 É praxe no mercado que a remuneração paga aos executivos contratados tenha sua maior parcela calculada de forma variável, associada ao desempenho econômico-financeiro

da empresa e alguns critérios e indicadores de performance previamente acordado entre as partes. Assim, quanto melhor os resultados da companhia, maior serão os benefíciosusufruídos por tais elementos em suas contas bancárias.

55 Apellándiz, 1991.56 Cano, 2001.

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influir no resultado através das receitas, aumentando-as quan-do para inflar o resultado do exercício, ou, diminuindo-as quan-do se deseja reduzi-lo, citamos o caso da Coca-Cola57 que re-gula convenientemente a quantidade de produto concentrado(xarope) que vende para as companhias associadas que produ-zem e engarrafam esse refrigerante. Esta empresa quando ne-cessita incrementar seus resultados contábeis, envia maior quan-tidade desse produto, obrigando as fábricas a manterem essasobre compra em seus estoques até que se possa utilizá-la nafabricação do refrigerante; e, de maneira inversa, reduz a vendado concentrado, quando suas perspectivas de lucro já são boase, evitando, assim, incrementar mais seus resultados contábeis.

Um outro exemplo claro de manipulação dos resultados, de-senhando o nível de ingresso desejado, é realizado pela Micro-soft58 , a qual não contabiliza suas vendas no ato em que sãorealizadas, tendo como justificativa o fato de que ainda restamserviços por prestar — as atualizações dos produtos e a assis-tência técnica. Desde que desenvolveu o sistema Windows 95,essa companhia tem utilizado uma metodologia contábil con-servadora diante das licenças vendidas para a utilização dosoftware. Portanto, tendo o cliente direito às atualizações dosoftware, assim como ao apoio técnico durante dois anos, aMicrosoft atrasa o reconhecimento contábil das vendas de umproduto, até bastante tempo após a venda e entrega do produto.Com isso, essa empresa consegue retardar o reconhecimentodos seus resultados contábeis, podendo mostrar um gráfico decrescimento de suas vendas mais ameno ao longo do tempo, jáque se assim não o fizesse, apresentaria grandes picos de in-gressos nos anos em que aparecessem novos programas59 .

A problemática da contabilidade criativa também tem apare-cido no caso das empresas ditas da nova economia, ou “empre-sas pontocom”. O valor de mercado destas companhias é esta-belecido com base na expectativa de seus resultados futuros, jáque não se pode ponderar seus resultados passados e presen-tes por estarem associados a perdas bastante elevadas, já queestão iniciando seus negócios. Como as expectativas de ven-das futuras servem como base de medição para o cálculo de talvalor, essas empresas procuram inflar seus ingressos, mesmosem apresentar efeito sobre seu resultado final.

Uma dessas companhias, a PriceLine.com60 , que se dedicaà venda de passagens aéreas e reservas de hotéis por Inter-net, costuma contabilizar suas vendas pelo valor total pagopelo cliente - o valor da comissão cobrada por sua intermedia-ção na transação, mais o importe relativo à compra da passa-gem aérea e da reserva do hotel — só posteriormente, essaempresa registra os gastos relativos à passagem e à reserva.Contabilmente, o correto seria efetuar apenas o registro dovalor da comissão recebida e utilizar contas de compensaçãopara refletir os outros dois fatos contábeis, tal como o fazem asagências de viagem. Todavia, a PriceLine argumenta que, di-

ferentemente das agências de viagem, ela assume o risco nocaso do não pagamento pelo cliente. Então, o mais adequadoseria efetuar uma provisão para perdas futuras ou algo demesma natureza contábil.

Os casos típicos de alteração temporal dos gastos estãoassociados à decisão de a ativar ou não determinado desem-bolso em um exercício concreto, principalmente aqueles cor-respondentes a pesquisas e desenvolvimento (P&D). A Ameri-can On Line (AOL) é exemplo real de capitalização das despe-sas com marketing e pesquisa e desenvolvimento61 . A partir de1995, a AOL decidiu amortizar tais gastos ativados durante umperíodo de 41 meses, ao invés de 25 meses como costumavapraticar, justificando que havia ocorrido um incremento na vidamédia das contas de Internet para 3 anos e 5 meses, segundoprojeções realizadas internamente. Com isso, a AOL conse-guia manter ativado no diferido os gastos que deveriam serconsiderados como despesas do exercício. Entretanto, sabe-se que esta companhia não possuia clientes com aquele perfilna data em que tomara tal decisão, pois a grande maioria dosseus clientes havia sido conquistada nos últimos 36 meses,não mais.

Outro truque empregado pelas empresas para evitar que umadespesa seja considerada permanente é utilizar a técnica declassificá-la em um grupo considerado extraordinário, para as-sim, poder apresentar um desempenho operacional mais está-vel no tempo, além de argumentar que o mal resultado finalapresentado foi causado por atividades extraordinárias, conjun-turais, que provavelmete não se repetirão62 .

Neste caso específico, estão determinadas empresas querealizam vendas por Internet (por exemplo, Amazon.com, eToys,1800 Flowers), as quais classificam seus custos relativos aocumprimento dos pedidos (armazenamento, embalagem e dis-tribuição) como despesas comerciais, ao invés de incluí-los nocusto dos produtos vendidos63 . Apesar de parecer um práticainofensiva, tal reclassificação tem um efeito considerável no re-sultado contábil, pois apresenta indicadores de rentabilidade,no caso a margem bruta, superiores ao que efetivamente são;ocultando, com isso, uma possível ineficiência operacional des-sas empresas ao aliviar suas margens de contribuição, que, porsi só, já são bastantes estreitas por motivos de uma forte compe-titividade no setor. Também permite misturar esses custos comas efetivas despesas de marketing, que, sabidamente, são ogrande desembolso dessas companhias na conquista de clien-tes, como tais despesas tendem a ser mais elevadas durante osprimeiros anos, nos quais essas companhias buscam consoli-dar seu market share, reduzindo-se a partir de então, essa prá-tica é importante na manutenção do valor de mercado dessasempresas, uma vez que permite iludir a atenção dos investido-res, ocultando uma série de custos permanentes e notadamenteimportantes.

57 Fox, 1997.58 Fox, 1997.59 Por exemplo, em 1995, 1998 e 2000, quando lançou os Windows 95 e 98 e o Millenium, seguidos de notáveis decréscimos nos anos seguintes.60 Kahn, 2000.61 NewsWeek, 1995.62 Cano, 2001.63 Kahn, 2000.

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9 – CONCLUSÃOA contabilidade é considerada uma fonte de informação para

os interessados na marcha da empresa. No entanto, face a suaslimitações para harmonizar os fatores internos e externos anteos princípios e normas contábeis, podem induzir a informaçõesimprecisas ou manipuladas, o que na literatura se denominacomo contabilidade criativa.

Assim, tomando como base a literatura existente sobre o ear-nings management, este trabalho objetivou analisar e exploraros aspectos relevantes relacionados à problemática da aplica-ção da contabilidade criativa, detectando tais práticas em em-presas, a partir de exemplos documentados na imprensa inter-nacional.

O estudo permitiu observar que, não obstante as normas,os princípios e os procedimentos contábeis regulamentem,nacional e internacionalmente, o registro, a elaboração e aapresentação da informação econômico-financeira gerada,as empresas sempre encontram argumentos para justificaraqueles procedimentos contábeis que, segundo seus inte-resses, melhor reflitam suas circunstâncias econômicas e fi-nanceiras.

Muito embora não explicitado, é possível admitir que as prá-

ticas ou estratégias de contabilidade criativa obedecem não auma casualidade, mas sim, a uma política empresarial bem pen-sada e desenhada para inferir ou modificar a visão que terão osusuários da informação contábil e financeira64 . Tudo indica queessas políticas não só são aprovadas pelas altas esferas hierár-quicas da organização, como também são muito inteligentementedesenhadas por elas, fazendo com que os profissionais da áreade contabilidade apareçam apenas como simples responsáveispela operacionalização de tais práticas.

Embora seja possível identificar um amplo campo para dis-cussão acadêmica sobre as práticas de manipulação contábil,formar conclusões sobre o assunto é complexo e demasiadoleviano, tanto pela subjetividade do tema, quanto pelos aspec-tos que a ele estão associados — ética profissional, conceito deimagem fiel, paradigma da utilidade da informação contábil-fi-nanceira para os usuários, fraude etc. Os esforços no sentido dese buscar um referencial conceitual que harmonize todas aspráticas e uniformize a justificativa racional da norma contábilsão quem irão permitir, por um lado, respaldar as decisões deseparação da norma concreta, quando não ofereça a imagemfiel e, por outro lado, reduzir o número de opções contábeissobre um mesmo fato patrimonial.

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Mai/Jul - 2003

1- INTRODUÇÃO.Cada vez mais, as empresas brasileiras se relacionam com

entidades estrangeiras, seja através da compra e venda de mer-cadorias, captação de recursos, emissão de ações em bolsasde valores de outros países, ou outras transações de interessedos sócios e acionistas.

Quando a empresa almeja captar recursos no mercado nor-te-americano, as exigências sobre as informações a serem di-vulgadas variam conforme o título a ser emitido. Segundo Mar-tins (1995 pág. 216)

“Se uma empresa vai lançar títulos no mercado norte-ameri-cano, por exemplo, há situações em que, por se tratar de coloca-ções fechadas, não públicas, não são pedidas demonstraçõesconvertidas, nem demonstrações elaboradas à base dos proce-dimentos daquele país; mas, no caso de lançamento primárioou público normalmente se exige a re-elaboração das demons-trações conforme a contabilidade de lá”.

Muitas empresas brasileiras convertem suas demonstraçõescontábeis para outras moedas não só com a finalidade de cap-tar recursos no exterior, mas também de consolidar as informa-ções contábeis de um grupo empresarial, comparar-se com con-correntes do mesmo ramo, entre outras.

Em se tratando do mercado norte-americano, a padroniza-ção do processo de conversão das demonstrações iniciou-seem outubro de 1975, quando o Financial Accounting StandardsBoard - FASB normatizou o processo através do FAS 8 (Financi-al Accounting Standards Borad Statement n.º 8). Este pronunci-amento determinava que fosse usada uma única metodologiapara a conversão em países de economia estáveis ou não, e emdezembro de 1981 foi substituído pelo pronunciamento n.º 52,que contém duas metodologias para o processo de conversão.Este pronunciamento encontra-se em vigor atualmente.

2- MÉTODOS ATUAIS DE CONVERSÃO.O processo de conversão das demonstrações contábeis para

moeda estrangeira varia conforme a estabilidade econômica dopaís em que a empresa está localizada e a moeda funcionalutilizada.

O parágrafo 39 do FAS 52 define moeda funcional como “amoeda do principal sistema econômico em que a entidade ope-ra; dependendo das circunstâncias, é a moeda do sistema emque a entidade gera e despende fundos”.

Empresas localizadas em países de economia considerada

estáveis, ou seja, cujo somatório da inflação dos três últimos

anos for inferior a 100%, e que tenham a moeda local como

moeda funcional, devem utilizar a metodologia de conversão

denominada “Translation”.

Mas, se o somatório dos índices de inflação for próximo ou

superior a 100% nesse mesmo período, a economia é conside-

rada hiperinflacionária, a empresa não pode, para fins de con-

versão, basear-se em seus registos feitos em moeda local, de-

vendo usar a metodologia do “Remeasurement”.Sobre a utilização das metodologias, Gomes Neto (1999,

pág.77) esclarece ainda que o Remeasurement.“...não se aplica apenas a economias altamente inflacionári-

as, como correntemente se descreve, mas também a entidades,que apesar de localizadas em países de economias estáveis,tem suas operações preponderantemente dependentes da ma-triz norte-americana”.

Os dois métodos de conversão estão resumidos abaixo:

TRANSLATIONa) Todas as contas patrimoniais, tanto os monetários quanto os

não monetários, são convertidos pela taxa de venda do dólarem 31 de dezembro.

b) As contas de resultado são convertidas pela taxa de câmbiodo dia da operação, entretanto, existe a possibilidade daempresa utilizar a taxa média mensal do período se for impra-ticável a utilização da taxa do dia da operação.

c) A conta Capital Social é convertida pela taxa de câmbio do diada integralização.

d) O ajuste da oscilação cambial é registrado no Patrimônio

Líquido, em uma conta separada, denominada CumulativeTranslation Adjustment – CTA.

REMEASUREMENTa) Itens monetários são convertidos pela taxa de venda do dólar

em 31 de dezembro.b) Itens não monetários, são convertidos pela taxa de do dia da

operação, ou seja, a taxa histórica.c) As contas de resultado são convertidas pela taxa de câmbio

do dia da operação, entretanto, existe a possibilidade daempresa utilizar a taxa média mensal do período, se for im-

� Áurea de Carvalho Martins

� Contadora, mestranda em Ciências Contábeis pela UFRJ

A Qualidade das Demonstrações

Contábeis Convertidas em

Ambiente Econômico Estável

e Desvalorização Cambial

A Qualidade das Demonstrações

Contábeis Convertidas em

Ambiente Econômico Estável

e Desvalorização Cambial

2º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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PensarContábil

praticável a utilização da taxa do dia da operação.d) A conta Capital Social é convertida pela taxa de câmbio do dia

da integralização.e) O ajuste da oscilação cambial é registrado no resultado do

exercício, na conta denominada Translation Gain or Loss –TGL.

Independente do método utilizado, antes de iniciar a conver-são, é necessário adequar os Princípios da contabilidade localaos princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Uni-dos – US GAAP.

3- CONJUNTURAECONÔMICA BRASILEIRA.

Há pouco mais de cinco anos, o Brasil está conseguindoconter a inflação em níveis bastante baixos, se comparadoscom os anteriores que superavam os 40% ao mês. O Gráficoabaixo mostra que, segundo o medidor de inflação oficial dogoverno – IPCA, nos últimos cinco anos a inflação manteve-se abaixo de 2%, exceto no último trimestre de 2002 quandochegou a 3,02 %

GRÁFICO 1 - INFLAÇÃO BRASILEIRA MEDIDA PELO IPCA

Fonte: o autor

Já, segundo um indicador muito utilizado pelo mercado, oIGP-M, a inflação também se manteve relativamente baixa, su-perando três pontos percentuais apenas em quatro meses, nosúltimos cinco anos.

GRÁFICO 2 - INFLAÇÃO BRASILEIRA MEDIDA PELO IPCA

Fonte: o autor

Nessa conjuntura econômica, o Brasil é um país de baixa

inflação desde primeiro de julho de 1997, e o real é considerado

moeda forte. Desde 1998, as empresas brasileiras que possu-

em o real como moeda funcional, estão fazendo a conversão

das demonstrações contábeis pelo método de economia está-

vel, o “Translation”.

Seguindo as orientações de conversão das demonstrações

contábeis para moeda estrangeira impostas pelo FAS 52, Bufo-

ni, Gonçalves e Marques elucidam que na metodologia que está

sendo usada no Brasil,

“... todos os eventos econômicos sujeitos ao

reconhecimento contábil são quantificados em

Reais, não sendo reconhecido nenhum efeito da

oscilação do poder aquisitivo médio da moeda

funcional no Resultado da empresa.”

A padronização do FAS 52, foi formulada com o conceito de

oscilação da moeda reproduzido na dissertação de Gomes Neto

(1999, pág. 20), distinguindo-a de três maneiras :

“a) Flutuação – caracterizada quando as alterações da taxa cam-

bial entre dois períodos contábeis, delimitados por demons-

trações financeiras, se situam numa faixa muito estreita, con-

soante os parâmetros recomendados pelo Fundo Monetário

Internacional – FMI (variação de, no máximo 2,25% para mais

ou para menos, entre as taxas de câmbio oficial do país pra-

ticadas no período).

b) Desvalorização ou Depreciação – quando a taxa cambial do

país sofrer modificações radicais entre duas datas distintas,

expressando substancial perda de consistência em relação

às moedas estrangeiras, em razão de expressivo processo

inflacionário.

c) Valorização ou Apreciação – quando a taxa cambial expres-

sar elevação do valor da moeda local em relação à moeda

estrangeira.”

A premissa do pronunciamento é que, empresas situadas em

países com economias estáveis e moeda forte, possuem varia-

ções de câmbio pequenas e transitórias, logo, essas variações

não são reconhecidas como despesas ou receitas do exercício.

O valor referente a essa variação, encontra-se no Patrimônio

Líquido em uma conta denominada CTA (Cumulative Translati-

on Adjustment). O CTA é compensado com a variação dos exer-

cícios posteriores, pois acredita-se que essa variação é transi-

tória.

A observação das taxas de câmbio brasileiras mostram que o

real vem se desvalorizando frente ao dólar. As perdas são efeti-

vas, e a pequena recuperação do poder aquisitivo do real pe-

rante ao dólar, só pode ser observada após períodos de forte

especulação que desencadearam em uma maxidesvalorização

em nossa moeda - bem exemplificado no período pré-eleitoral

de 2002.

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5 – ANÁLISE DA INFORMAÇÃOCONTÁBIL CONVERTIDANAS EMPRESAS BRASILEIRAS.

A qualidade da informação contábil será analisada conside-rando os registros de uma empresa hipotética brasileira quepossui o real como moeda funcional, no período de 1º de janeirode 1998 a 31 de dezembro de 2002.

Em 1º de janeiro de 1998 a empresa foi constituída com oCapital Social de R$ 500.000,00 integralizado em dinheiro. Em1º de março de cada ano, a empresa adquire mercadorias porR$ 100.000,00 e as vende em 1º de outubro de cada ano por R$200.000,00 - as operações são efetuadas a vista. Nenhum lucrofoi distribuído. Para fins didáticos serão desconsiderados osimpostos, despesas e centavos.

BALANÇO PATRIMONIAL EM REAIS

Ativo 1998 1999 2000 2001 2002

Caixa 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000

Total 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000

Passivo 1998 1999 2000 2001 2002

Capital

Social 500.000 500.000 500.000 500.000 500.000

Lucros

Acumulados 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000

Total 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO

DO EXERCÍCIO EM REAIS

DRE 1998 1999 2000 2001 2002

Receita 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000

CMV (100.000) (100.000) (100.000) (100.000) (100.000)

Lucro Bruto 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000

Analisando a Demonstração do Resultado do Exercício emReais, observa-se um aumento substancial no fluxo de caixa daCompanhia oriundo do resultado operacional, ou seja, todo olucro que a empresa gera transforma-se em caixa.

A conversão das demonstrações contábeis para moeda es-trangeira conforme o FAS 52 será efetuada seguindo a metodo-logia Translation, onde o caixa será convertido pela taxa corren-te (31 de dezembro de cada ano), o Capital Social pela taxahistórica (em 01/01/98, US$ 1,00 = R$ 1,1164), as receitas edespesas pela taxa do dia em que a operação foi realizada. Nãoé feita a conversão da conta Lucros Acumulados por nenhumataxa específica, o valor a ela referente é obtido através do cálcu-lo da DRE em dólares.

As taxas de câmbio de venda no período segundo o BancoCentral do Brasil foram:

01 de março 01 de outubro 31 de dezembro1998 1,1304 1,1807 1,2087

1999 2,0284 1,9565 1,7890

2000 1,7678 1,8437 1,9554

2001 2,0428 2,6866 2,3204

2002 2,3596 3,7467 3,5333

Desde a estabilidade da economia brasileira, as variaçõesnas taxas médias mensais de câmbio foram:

GRÁFICO 3 - TAXAS MÉDIAS MENSAISDA VARIAÇÃO DO DÓLAR

Fonte: o autor

Comparando a variação anual da inflação, a taxa final dodólar nos últimos cinco anos e a variação acumulada do mesmoperíodo temos:

COMPARAÇÃO ENTRE A VARIAÇÃODA INFLAÇÃO E DO DÓLAR

VARIAÇÃO DA VARIAÇÃO ANUAL INFLAÇÃO IPCA DO DÓLAR

1998 1,66% 1998 8%

1999 8,94% 1999 48%

2000 5,97% 2000 9%

2001 7,67% 2001 19%

2002 12,53% 2002 52%

1998-2002 42,20% 1998-2002 217%

Fonte: o autor

No Brasil, taxas de câmbio e inflação não registram variaçõesproporcionais. Nos cinco últimos anos, a economia foi conside-rada estável e, a variação cambial só foi “pequena” no ano de2000.

4 – O PAPEL DA CONTABILIDADE.

A ciência contábil é responsável por fornecer informaçõesfidedignas sobre o patrimônio das entidades sob os aspectoseconômicos e financeiro, aos seus usuários. Entende-se porinformações fidedignas, relatórios que possuam credibilidade,respeitem os princípios contábeis e expressem a realidade daCompanhia.

Hendriksen e Van Breda (1999 pág. 105) esclarecem que,segundo o Fundamento da Incerteza e Conservadorismo, insti-tuído pelos órgãos normatizadores norte-americanos,

“... os contadores devem divulgar o menor dosvários valores possíveis para ativos e receitas e omaior dos vários valores possíveis de passivos edespesas. Também significa que as despesasdevem ser reconhecidas mais cedo e não maistarde, e que as receitas devem ser reconhecidasmais tarde, e não mais cedo”. (grifo nosso)

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Logo, temos os seguintes demonstrativos em US$. (Despre-zando os centavos).

BALANÇO PATRIMONIAL EM DÓLAR

Ativo 1998 1999 2000 2001 2002

Caixa 496.401 391.280 409.123 387.864 283.021

Total 496.401 391.280 409.123 387.864 283.021

Passivo 1998 1999 2000 2001 2002

Capital

Social 447.868 447.868 447.868 447.868 447.868

CTA (74.567) (368.148) (542.265) (896.564) (1.514.787)

Lucros

Acumulados 123.100 311.560 503.520 836.560 1.349.940

Total 496.401 391.280 409.123 387.864 283.021

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADODO EXERCÍCIO EM DÓLARDRE 1998 1999 2000 2001 2002

Receita 236.140 391.300 368.740 537.320 749.340

CMV (113.040) (202.840) (176.780) (204.280) (235.960)

Lucro Bruto 123.100 188.460 191.960 333.040 513.380

Analisando a Demonstração do Resultado do Exercício emDólares, observa-se o lucro crescente, e o Balanço Patrimonialno ano de 2002 informa que a empresa espera um aumento emseu caixa de US$ 1.514.787 oriundo exclusivamente da valori-zação do real.

6 - CONCLUSÃO.As demonstrações contábeis convertidas, não expressam

corretamente o resultado das atividades da empresa quandosão elaboradas em ambientes de baixa inflação e grande varia-ção no poder aquisitivo da moeda.

No nosso exemplo, embora a empresa consiga, através daatividade, gerar reais, em dólares, a liquidez está diminuindo,pois o lucro em reais é menor que a desvalorização cambial doperíodo.

A demonstração contábil convertida, informa que nofuturo, somente com a variação positiva do dólar a em-presa irá “ganhar” dólares, sem que realize nenhuma ati-vidade. Essa informação não é verdadeira. Na conjuntu-ra econômica do Brasil não há expectativa de valoriza-ção do real para se equiparar às perdas registradas des-de 1998, ano que o Brasil, pela estabilidade econômica,alterou a metodologia de conversão das demonstraçõescontábeis em moeda estrangeira.

A metodologia atualmente utilizada no Brasil, não reconheceuma variação da perda do poder aquisitivo da moeda em 217%,e desrespeita um Fundamento contábil norte-americano, o daIncerteza e do Conservadorismo.

A fidedignidade da informação contábil é relevante, pois, ba-seada nessas informações, entidades estrangeiras concedemou negam empréstimos para empresas brasileiras, logo a quali-dade da informação está diretamente relacionada ao ingressode recursos financeiros no Brasil.

Gomes (2000 pág. 57) esclarece que no mercado norte ame-ricano “... todas as informações disponíveis ao público influenci-am os preços dos títulos negociáveis de forma integral, instantâ-nea e sem tendenciosidade”, é possível que os valores dos títu-los das empresas brasileiras estejam distorcidos.

A comunidade científica contábil brasileira precisa promoverdiscussões sobre o assunto de modo a garantir a qualidade dainformação dos demonstrativos das empresas brasileiras tantoem reais, reconhecendo a inflação, como em dólares, reconhe-cendo a perda do poder aquisitivo de nossa moeda perante aoutras moedas.

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Mai/Jul - 2003

Fraudes com Derivativos:

O Caso Barings

Fraudes com Derivativos:

O Caso Barings

INTRODUÇÃO

Os instrumentos financeiros derivativos,como os contratos de futuros e de opções,não são produtos novos, mas seu usocresceu enormemente nos últimos anoscomo reflexo da crescente globalização eda redução nos controles da movimenta-ção das moedas estrangeiras. A maiorparte dos bancos dos grandes centros fi-nanceiros obteve êxito em utilizá-los paraadministrar seus negócios e em oferecerserviços de administração de risco aosseus clientes.

No entanto, a história registra episódi-

os de grandes perdas decorrentes do uso

desses instrumentos, salientando que es-

ses prejuízos têm sido acarretados por

diversos fatores, como administração pou-

co previdente, risco de modelo, técnicas

de hedge inadequadas, movimentação

inesperada do mercado, risco excessivo

com relação ao capital e fraudes. Esse

artigo descreve um caso notório de per-

das decorrentes de fraudes com derivati-

vos, que eclodiu no início de 1995, acar-

retando a quebra do Banco Barings.

O trabalho aborda o assunto em duasetapas: na primeira são relatadas as cir-cunstâncias da falência do Barings e, nasegunda, são comentadas as influênciasda cultura organizacional sobre o proces-so de gestão do risco operacional; as fa-lhas dos controles internos no Barings, queestão no cerne de sua quebra; e, finali-zando, a constatação da existência de umcampo de atuação pouco explorado pe-los contabilistas, representado pelo apoioao desenvolvimento e implantação de

controles internos nas empresas. NoApêndice são apresentados os conceitosessenciais sobre os mercados e as ope-rações com derivativos, necessários aopleno entendimento do artigo.

1. FRAUDES NO BARINGS

O ambiente de operações com deriva-tivos do Barings, em meados da décadade 90, era diferente do atual. O volumeglobal de negócios multiplicou por dezes-seis entre 1986 e 1995. As perdas com ouso de instrumentos derivativos foram deUS$ 16,4 bilhões em 1995, dos quais cer-ca de pouco menos de US$ 1 bilhão de-correram da quebra do Barings. Os valo-res envolvidos nessa falência não consti-tuíram parcela tão relevante das perdastotais do mercado, se considerada a am-pla divulgação que o fato recebeu na épo-ca.

A falência do Barings decorreu de frau-

des cometidas pelo seu principal opera-

dor local, Nicholas William Leeson, em

operações com derivativos transaciona-

dos na bolsa de Cingapura, a SingaporeInternational Monetary Exchange- SIMEX.

Era um pequeno e tradicional banco in-

glês, fundado em 1763 por Sir Francis

Baring. Seu capital acionário, na época

da falência, era de 470 milhões de libras,

o que permitia um nível de operações de

pouco mais de 5 bilhões de libras. A famí-

lia Barings ainda participava do controle

do banco, sendo representada por Peter

Barings, presidente do Conselho de Ad-

ministração.

As perdas em libras - não registradas

até a sua descoberta - foram ascenden-tes: no final de 1992 eram de cerca de150 mil libras; em 1993 de 23 milhões; em1994 de 170 milhões, culminando comuma perda acumulada, em 23 de feverei-ro de 1995, de cerca de 600 milhões delibras - equivalentes a cerca de 960 mi-lhões de dólares. Em contraste, os gan-hos de Leeson sob a forma de bonifica-ções passaram de 100 mil libras sobre osresultados de 1993, e para 400 mil librassobre os de 1994, ressaltando que esseúltimo valor representava oito vezes osseus salários fixos anuais, da ordem de50 mil libras.

1.1. Cronologia dos fatosLeeson deu a sua versão dos fatos, a

qual constitui a matéria-prima básica des-

se relato (Leeson, 1997): em 10 de julho

de 1989, com vinte e dois anos, começou

a trabalhar no Barings, de Londres, inici-

almente no back office, unidade respon-

sável pela liquidação, documentação-su-

porte e registro contábil de operações com

derivativos. Em fevereiro de 1992 foi de-

signado para o cargo de gerente-geral da

Barings Future Singapore-BFS, subsidiá-

ria criada em Cingapura para atuar no

mercado local de derivativos, tendo então

a incumbência de contratar os operado-

res e o pessoal do back office. Foi nesse

curto espaço temporal de três anos - entre

fevereiro de 1992 e fevereiro de 1995 -

que ocorreram os fatos que levaram o

Barings à bancarrota.

As fraudes começaram em 17 de julho

de 1992, com a utilização de “conta erro”

em duplicata para, alegadamente, enco-

� Sebastião Bergamini Júnior

� Bacharel em Ciências Contábeis pelaFaculdade Moraes Júnior (1975); pós -gra-duado em Finanças Corporativas pela Fun-dação Getúlio Vargas (1994); técnico doBNDES, desde 1977; atualmente exercen-do o cargo de Gerente de Crédito na Áreade Crédito.

3º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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brir uma falha de funcionária do back offi-ce, envolvendo a compra de 20 contratos

de futuros de títulos de emissão do Tesou-

ro japonês - os Japan Governmental Bond(JGB’s) - com perdas estimadas em 20 mil

libras. Leeson utilizou essa conta logo

após para encobrir falha de um operador

e, em seguida, para realizar transações

não autorizadas. Entre setembro e dezem-

bro daquele ano foram realizadas trinta

transações não autorizadas. Em janeiro

de 1993 a conta erro continha 420 contra-

tos de futuros, com valor de mercado de

cerca de 150 mil libras, envolvendo tran-

sações de cerca de oito milhões de libras,

todas originadas por transações não au-

torizadas.

Para encobri-las, Leeson passou a ope-rar com opções, o que era uma necessi-dade, não uma alternativa. Além de man-ter suas operações não-autorizadas emsigilo para a Divisão de Contabilidade In-terna, Leeson precisava providenciar, tam-bém, a cobertura de margem diária. Amargem inicial para futuros e opções noSIMEX podia ser feita em dólares ou ie-nes, porem as margens diárias eram li-quidadas em ienes, e para obtê-los eranecessário lançar opções. A SIMEX ope-rava com ienes, dólares e libras, numasalada de moedas que trazia dificuldadesadicionais para as atividades de controle.As cotações no período foram, em média,de uma libra por 1,60 dólares e de 100ienes por dólar.

Em março de 1993 a fraude se sofisti-

ca: Leeson passa a operar com opções

straddle. No mês de julho, ou seja, quatro

meses depois, em uma operação arrisca-

da, Leeson estabelece uma posição com-

prada em futuros e uma posição vendida

a descoberto em opções de compra, re-

vertendo sua posição de perda de seis

milhões de libras para uma de “lucro glo-

rioso”. Porém, em pouco tempo voltou a

realizar transações não autorizadas e, em

setembro, detinha uma perda acumulada

de pouco mais de um milhão de libras.

No início de 1994 o Barings divulgoulucros de 200 milhões de libras, relativasao ano anterior, pagando metade dessevalor em bonificações à Diretoria e funci-onários, conforme era usual no banco.Escondida nas demonstrações contábeishavia perdas não registradas de 23 mi-lhões de libras. Leeson recebeu uma bo-nificação de 100 mil libras, equivalente aodobro dos salários recebidos durante oano.

Em julho de 1994 uma auditoria inter-

na que durou três semanas nada apurou,

embora o relatório final apontasse para o

fato de que as chefias no pregão e no backoffice eram exercidas pela mesma pes-

soa, o que lhe permitia “efetuar transações

por conta do Grupo e depois garantir que

fossem ajustadas e registradas de acordo

com as suas próprias instruções”. Dos 50

milhões de libras em lucros auferidos ofi-

cialmente pelo Barings no primeiro se-

mestre de 1994, cerca de 50% provinham

das atividades do BFS. Curiosamente, as

perdas cristalizadas no final de julho eram

de 50 milhões de libras, o equivalente à

totalidade dos lucros oficiais do Barings

naquele período.

Em dezembro de 1994 as perdas nãoregistradas de Leeson eram de 170 mi-lhões de libras, dos quais 50 milhões re-pousavam na conta erro, sendo a diferen-ça representada por margens em poderdo SIMEX. Oficialmente as atividades doBFS naquele ano tinham gerado lucrosde 28 milhões de libras. Na distribuiçãode bonificações estava sendo discutida aparticipação de Leeson, em torno de 400mil libras.

Em 02 de fevereiro de 1995, Leesonfalsificou duas cartas simulando uma ope-ração de balcão financiada pelo Barings,realizada em 02.12.94 e com vencimentoem 30.12.94, envolvendo uma transaçãode opções entre a Spear, Leeds & Kellogg(SLK) - uma corretora de Cingapura es-pecializada em futuros e opções - e o Ban-que Nationale de Paris, no valor de 7,78bilhões de ienes (equivalentes a 50 mi-lhões de libras). Em seguida, manipulouextratos bancários do Citibank para simu-lar o pagamento pela SLK em 02.02.95.Esses documentos forjados induziram aempresa de auditoria independente Coo-pers & Lybrand (C&L) a isentá-lo, em 3 defevereiro, através do relatório preliminarde auditoria sobre a consolidação dasoperações do BFS.

Em 10 de fevereiro de 1995 as perdasascendiam a 200 milhões de libras, po-rém a falência do Barings ainda seria evi-tável. Nas duas semanas seguintes asperdas triplicaram, chegando a mais de600 milhões de libras, engolindo o capitalacionário do banco, de pouco menos de500 milhões de libras. Em 24 de fevereirode 1995, dia do pagamento das bonifica-ções relativas ao ano de 1994, Leesonfugiu de Cingapura, sendo preso no dia 2de março de 1995, em Frankfurt. Depois

de uma demora de oito meses por alega-dos problemas de jurisdição, foi recambi-ado para Cingapura. Em 1º de dezembrodaquele ano se declarou culpado de doiscrimes para enganar os auditores exter-nos do Barings e um para fraudar a SI-MEX, sendo condenado a seis anos e meiode prisão. Na época tinha vinte e oito anos.

1.2. Análise das fraudesLeeson executou suas fraudes na se-

guinte seqüência: aproveitou sua experti-se para operar uma “conta erro”, a partirde julho de 1992, na qual descarregavaprovisoriamente os resultados de suasoperações não autorizadas; “criou” ativosinexistentes nas datas dos fechamentosmensais ou anuais, pois a conta erro –que era uma conta transitória de resulta-dos - deveria estar zerada ao encerrar operíodo de apuração dos resultados; re-gistrou um recebível, no final de 1994, parapoder fechar o balanço daquele ano, combase em uma suposta operação de bal-cão; produziu documentação-suporte, noinício de fevereiro de 1995, falsificandoassinaturas de terceiros para simular areferida operação de balcão, visandomanter o sigilo das fraudes cometidas.

A ocorrência de falhas humanas na re-alização de operações financeiras é rela-tivamente comum, sendo a inversão deordem (de compra para venda, e vice-ver-sa) a mais comum. A sua reversão exigiaa realização de duas transações no mer-cado, gerando dois lançamentos na “con-ta erro”. O resultado da reversão - repre-sentado por lucro ou prejuízo - era apro-priado, posteriormente, aos resultadoscorrentes. No início das atividades do BFS,Leeson operava com uma conta erro, denúmero 99905, na qual eram descarrega-dos os erros, antes que fossem transferi-dos para Londres. Porem, dado o númeroelevado de erros diários - cerca de cin-qüenta, o que acarretava o dobro de re-gistro para cancelá-los - o pessoal damatriz em Londres permitiu a criação deuma conta erro local, de número 88888.Algumas semanas depois, Londres deter-minou a desativação da conta 88888, pas-sando a registrar todos os erros de formacentralizada. Em julho de 1993, Leesonpassou a utilizar fraudulentamente a con-ta 88888 – que deveria permanecer inati-va - com o duplo objetivo de executar tran-sações sem autorização de Londres e demanter suas perdas provisoriamente emsigilo, pois nos fechamentos mensais e

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anuais essa conta deveria estar zerada.As perdas eram mascaradas por Lee-

son, no fechamento dos balancetes e dobalanço anual, sob a forma de saldo derecebíveis inexistentes, na figura contábilde uma insubsistência ativa. Note-se queessas perdas também podiam estar tran-sitória e parcialmente ocultas na forma demargens depositadas na SIMEX, porémse cristalizavam nas datas dos vencimen-tos dos contratos de futuros ou de opções.Por exemplo, o déficit em torno de 50 mi-lhões existentes em julho de 1994 foi en-coberto pelo expediente de registrar umdepósito no Citibank de 50 milhões de li-bras. Era uma maneira absurda de escon-der o dinheiro desaparecido, pois se cru-zassem os dados contábeis com os doextrato do Citibank confirmariam a inexis-tência dos 50 milhões de libras.

Leeson não tinha autorização paraoperar no mercado de balcão, mas simu-lou a execução de uma operação de fi-nanciamento entre a SLK e o BanqueNationale de Paris, o que envolveria, setivesse sido realizada, a avaliação de ris-co de crédito do financiado SLK. O Comi-tê de Administração do Barings em Lon-dres tomou conhecimento de que cercade 80 milhões de dólares de dinheiro dobanco teriam passado dois meses longedo banco sem que ninguém tivesse per-cebido. Seus superiores não somenteaceitaram sem protestos a pretensa reali-zação, por Leeson, de uma operação nãoautorizada em uma modalidade não au-torizada, como também não investigaramo fato de uma transação concluída em30.12.1994 não tivesse sido tempestiva-mente liquidada. Essa situação demons-tra o reduzidíssimo nível de controle.

As atividades ilícitas de Leeson come-çaram com a realização operações nãoautorizadas, ou seja, com fraudes de na-tureza operacional que, para serem en-cobertas, acarretaram a execução de frau-des contábeis. Essas consistiam na omis-são ou falsificação dos registros dessastransações e de seus resultados. Mantersuas atividades em sigilo por dois anos emeio revela muito do caráter calculista deLeeson e denota a existência de circuns-tâncias facilitadoras. Leeson conseguiuesse feito por conhecer as operações comderivativos e seu registro contábil; por atu-ar sem supervisão efetiva; por ter conse-guido enganar as auditorias interna e ex-terna; por iludir a SIMEX e , finalmente,pelo Barings ter obtido a complacência do

Banco da Inglaterra com relação ao seudesenquadramento às regras bancáriasvigentes.

Por ser capaz de atuar nos dois ladosdo balancete, Leeson reincidia na execu-ção de transações não autorizadas. Seuconhecimento sobre a contabilização dasoperações com derivativos, o desconhe-cimento ou desinteresse de seus supervi-sores sobre o registro dessas transações,sua condição de operador de pregão, ofato de ter clientes com transações volu-mosas, sua contribuição aparentementepositiva para os resultados do Barings emperíodos anteriores formavam um conjun-to de motivos que faziam com que seuspedidos de transferência de recursos deLondres para Cingapura – destinados emgrande parte para margear suas transa-ções não autorizadas - fossem atendidossem questionamento sobre as suas desti-nações específicas.

Leeson se reportava diretamente aquatro pessoas: seu supervisor direto, lo-tado em Cingapura, era o gerente regio-nal de operações do Barings no sul daÁsia, que não se interessava pela partede futuros e opções, não exercendo ne-nhuma supervisão sobre suas atividades;outro chefe nominal era o gerente globalde futuros e opções baseado em Tóquio;e, por último, Leeson estava subordinadoa dois executivos do Grupo de ProdutosFinanceiros do Barings, lotados em Lon-dres. O fato de ser reconhecido como umoperador competente e de suas linhas decomando serem cruzadas e nebulosascontribuíam para que a falta de supervi-são mínima e para que seus pedidos detransferência de recursos fossem feitossem perguntas.

A auditoria interna estava mais preocu-pada em quanto tempo o BFS poderia pro-duzir lucros tão espetaculares, em vez dese interessar pela natureza dos lucros. Osauditores internos pareciam entender amecânica das transações, mas não as es-pecificidades de seu registro contábil. Amanipulação das demonstrações contá-beis por Leeson e seu conhecimento dosprocedimentos de registro permitiam des-pachá-los com respostas vagas e semsentido. O relatório de auditoria internacontinha uma relação dos limites fixadospelo Comitê de Riscos do Barings sobreas posições máximas que o BFS podiaassumir cada dia, não sendo autorizadanenhuma posição de um dia para o outro.No começo de setembro de 1994 Leeson

tinha 5.000 futuros de Nikkey 225 (contra-tos autorizados: 200); 2.000 futuros deJGB’s (autorizados: 10); 1.000 futuros deEuroyen (autorizados: 500); e 20.000 op-ções (não autorizados). Era evidente queLeeson atuava sem qualquer supervisão,pois os limites operacionais não eram efe-tivamente acompanhados pela sua che-fia imediata, pelos seus superiores hie-rárquicos, pelos membros do Comitê deRiscos ou pelos auditores.

A C&L, auditores externos do Barings,foram iludidos por documentos forjados ea quebra do Barings respingou em suareputação de forma indevida, pois a do-cumentação-suporte relativa à operaçãode balcão estava em ordem. A C&L tevesua desforra no julgamento, no qual Lee-son se declarou culpado de dois crimespara enganá-los, de forma passível a cau-sar danos à sua reputação.

A SIMEX remeteu um memo, datado de11.01.95, pedindo justificativa para o fatodo Barings ter violado a norma que proíbeos membros de financiarem as margensoperacionais de seus clientes, pois atéentão os registros da SIMEX computavamparte das posições relativas às transaçõesnão autorizadas como se fossem transa-ções de clientes. Antes de ser respondidopelo Barings, a SIMEX mandou outromemo, datado de 16.01.95, questionan-do a separação inadequada de recursosdos clientes e a computação imprópria derecursos dos clientes para atender as exi-gências financeiras de margens. A SIMEXestava tomando ciência das irregularida-des praticadas por Leeson, mas provavel-mente ignorava a sua extensão. O fato deLeeson ser responsável, na época, porcerca de 40% do movimento do mercadode Cingapura, recomendava um tratamen-to cauteloso da SIMEX.

O Barings comunicou ao Banco da In-glaterra, no mês de setembro de 1994, quetinha remetido, em descumprimento dalegislação bancária britânica então vigen-te, mais de 25% de seu capital acionáriopara Cingapura, destinados à coberturade margens. Essa carta ficou na “bandejade entrada” de Christopher Thompson,executivo do Banco da Inglaterra encar-regado da supervisão dos bancos de in-vestimentos. O Barings tinha auferido re-sultados medíocres e preocupantes al-guns anos antes e se, para melhorar seudesempenho tivesse que operar em ou-tros mercados, as autoridades regulado-ras da Inglaterra teriam complacência,

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portanto deram a sua autorização tácita.Mais tarde, Thompson foi demitido em ra-zão de sua leniência com o Barings. Essefato deve ter contribuído para a posterioroposição das autoridades britânicas emrecambiar Leeson da Alemanha para aInglaterra em 1995, para responder porcrimes financeiros contra o Barings, poisseu depoimento iria, provavelmente, com-prometer a imagem do Banco da Inglater-ra.

2. CONTROLES INTERNOSNA GESTÃO DAS EMPRESAS

O caso Barings tornou-se um divisor deáguas: antes se buscava estimar quantodeveria ser aplicado em derivativos paragarantir flexibilidade a uma carteira de in-vestimentos e reduzir o risco dos bancose de seus clientes; posteriormente, o cen-tro das preocupações dos investidoresdeslocou-se para o risco operacional ine-rente à cultura de risco das organizações,levando os investidores a refletir sobre aestrutura e a forma de operação dos mer-cados nos quais esses produtos financei-ros são negociados e sobre os controlesinternos necessários para bem geri-los.

As causas da quebra do Barings resi-diram, segundo Altman (2000), na suacultura de gestão de risco, ficando evidenteque o banco não tinha técnicas adequa-das de monitoramento, administração econtrole de risco para a importância emagnitude dos riscos envolvidos nas ope-rações com derivativos, portanto, a suacultura de gestão de risco não se adequa-va às atividades nas quais o Barings esta-va envolvido.

2.1. Cultura organizacionalA descrição de Leeson revela que a

cultura organizacional do Barings privile-giava as relações interpessoais, com con-troles exercidos num clima de alta infor-malidade e de excessiva confiança. Essaparticularidade guarda grande similarida-de com a cultura organizacional da maio-ria expressiva das empresas brasileiras,que é de propriedade familiar.

As culturas das organizações refletem,segundo Barbosa (1999), os valores deuma sociedade: a baixa valorização dotrabalho no Brasil fez com que tempo decasa e relações pessoais e políticas con-tassem mais do que o bom desempenhomedido de forma fria e objetiva, resultan-do numa cultura organizacional fortemente

relacional; enquanto que a valorização dotrabalho, o reconhecimento e o estímulodas diferenças individuais, predominan-tes na sociedade americana, geraramuma cultura mais influenciada pelos con-ceitos da meritocracia.

Essa diferença remonta à evolução dasempresas no contexto da formação socialdos países. A empresa privada teve umpapel decisivo no processo da formaçãoda sociedade americana, portanto ambascresceram juntas, sendo a primeira umaexpressão concreta de noções como livreiniciativa, liberdade econômica e direitoindividual. No Brasil esse processo ocor-reu de forma diferente, muito provavel-mente devido ao desenvolvimento tardiodo capitalismo. A empresa privada nacio-nal passou a influenciar o processo deformação histórica e econômica do paísapenas em meados do século XX, e mes-mo assim, com vínculos de forte depen-dência do Estado.

Os diferentes tipos de cultura das orga-nizações irão acarretar tratamentos diver-sos com relação aos métodos de gestãodas operações: uma cultura relacional,como a brasileira, irá se basear nas pes-soas, tendo grande dependência de pre-postos de confiança da família proprietá-ria da empresa para ocupar as funçõesde controle, valorizando os sistema decontroles poucos rigorosos e formais; aopasso que uma cultura meritocrata darápreferência a sistemas estruturados, pri-vilegiando o uso de controles formais de-talhados e a sua aplicação de forma im-pessoal.

Um tipo de cultura não parece ser in-trinsecamente melhor do que outra, comas inferências apontando para a existên-cia de culturas com variados graus deadequação com relação às atividadesdesenvolvidas pela empresa, o que forta-lece a crença de que uma cultura organi-zacional do tipo relacional estará poucoinstrumentalizada para gerir atividades derisco operacional elevado.

2.2. Risco operacionalO risco operacional surge da probabili-

dade de ocorrerem perdas acarretadas porerros, fraudes e falhas em equipamentos,portanto se referem à organização, quali-ficação e treinamento dos funcionários,bem como aos recursos materiais utiliza-dos pela empresa, principalmente, os re-lacionados à informática.

Esse tipo de risco torna-se muito rele-

vante para os diferentes mercados de de-rivativos, devido às características comunsdesses mercados: operam com informa-ções atualizadas; dependem dos recur-sos da telemática; embutem um alto nívelde risco; possibilitam um elevado nível dealavancagem de resultados; exigem umagrande agilidade no processo negocial; erequerem a disponibilidade de pessoalaltamente especializado.

A decisão de utilizar instrumentos deri-

vativos representa, para as instituições fi-

nanceiras, assumir riscos - principalmen-

te os de crédito, os operacionais e os de

mercado. O uso do hedge estrutural trans-

formou o risco do overnight no único risco

de crédito relevante nos mercados de tran-

sações com derivativos padronizados,

contudo o risco de crédito ainda constitui

o principal vetor de risco para o conjunto

de atividades desenvolvidas pelas insti-

tuições financeiras.

Estudo elaborado no final da décadade 90 pela Oliver, Wyman & Co., consulto-ra especializada em análise de risco deinstituições financeiras, revelou a impor-tância relativa de cada tipo de risco para aformação de resultados dos bancos - 65%para o risco de crédito, 25% para o opera-cional e 10% para o de mercado – confir-mando a pouca divulgada relevância dorisco operacional.

A falência do Barings demonstrou comoé essencial o desenvolvimento de umacultura organizacional adequada paragerir os riscos envolvidos na utilização dosinstrumentos financeiros derivativos, prin-cipalmente o risco operacional. Essa cul-tura está consubstanciada, em parte, pe-los seus controles internos. Para avaliaros pontos fracos desses controles e suainfluência na quebra do Barings, é neces-sário relembrar alguns conceitos (basea-dos em Atie, 1995).

2.3. Barings e os controles internosA definição do Comitê de Procedimen-

tos de Auditoria do Instituto Americano deContadores Públicos Certificados é que“o controle interno compreende o planode organização e todos os métodos emedidas adotadas na empresa para sal-vaguardar seus ativos, verificar a exatidãoe fidelidade dos dados contábeis, desen-volver a eficiência nas operações e esti-mular o seguimento das políticas admi-nistrativas prescritas”.

Seus objetivos são os de obter um con-trole eficiente sobre todos os aspectos vi-

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tais do negócio, e consistem em (a) esti-mular a eficiência dos funcionários, medi-ante o acompanhamento através dos re-latórios; (b) identificar erros e desperdíci-os, promovendo ao mesmo tempo a uni-formidade e correção ao registrarem-seas operações; (c) salvaguardar os ativos;(d) prevenir fraudes e, em caso de suaocorrência, ter meios de descobri-las ra-pidamente e determinar a sua extensão;e (e) comprovar a veracidade dos infor-mes e relatórios contábeis, financeiros eoperacionais;

Os princípios de controle interno cor-respondem ao conjunto harmônico de re-gras detalhadas que devem ser formali-zadas nas políticas, sistemas e organiza-ção. São representados pelas seguintesmedidas: clara atribuição de responsabi-lidades, formalização dos procedimentos,efetiva capacitação dos funcionários, di-visão de tarefas com a segregação de fun-ções, periódica rotação de funções, exi-gência de garantias formais para a ocu-pação de cargos sensíveis (tesoureiro, porexemplo), preferência pelos controles me-canizados, e realização de revisão inde-pendente por pessoal capacitado.

O caso Barings mostra que a maioriados princípios de controles internos foi vi-olada:

- as linhas de comando eram nebulo-sas e Leeson atuava sem supervisão (cla-ra atribuição de responsabilidades);

- os limites operacionais diários paraas transações proprietárias eram diaria-mente desrespeitados (formalização dosprocedimentos);

- a modalidade de transação no mer-cado de balcão não estava autorizada àLeeson, que apesar disso simulou operarnesse mercado (formalização dos proce-dimentos);

- o chefe do back office, responsável

pelos registros das operações e pelo mar-

geamento das operações, acumulava a

função de operador de pregão, responsá-

vel por realizá-las (divisão de tarefas com

segregação de funções); e

- a auditoria interna era realizada porfuncionários sem o adequado conheci-mento para comprovar a aderência dastransações às exigências das normas in-ternas (realização de revisão independen-te por pessoal capacitado).

Os controles internos se desdobram emdois tipos: os administrativos e os contá-beis. Os primeiros são mais abrangentese compreendem o plano de organização,

os métodos e procedimentos relaciona-dos com a eficiência das operações, vol-tadas diretamente para a implementaçãoda política de negócios da empresa e, in-diretamente, com os seus registros finan-ceiros. Os controles contábeis – que cons-tituem parte dos controles administrativos,complementando-os - abrangem o planode organização e todos os métodos e pro-cedimentos relacionados com a salva-guarda do patrimônio e a adequação dosregistros contábeis, sendo compostos portrês sistemas: de segregação de funções,de autorizações e de registros.

O caso Barings revela que os sistemasde controles contábeis também estavamclaramente comprometidos:

- sistema de segregação de funções:

não havia independência no exercício

das diversas funções. A execução opera-

cional (operação no pregão), a custódia

de bens patrimoniais (manutenção das

margens das operações), e a contabiliza-

ção das operações (registros feitos pelo

back office) eram realizados e controla-

dos pela mesma pessoa;

- sistema de autorização: o controle dasoperações através de métodos de apro-vações, de acordo com as responsabili-dades e os riscos envolvidos, não era re-alizado. No Barings, esse sistema eraconstituído pelos limites diários para aexecução de operações com derivativosque, embora existisse formalmente, nãoera acompanhado de forma efetiva;

- sistema de registros: as normas queregiam a utilização de uma estrutura for-mal de contas, a preparação das demons-trações contábeis e o uso correto das dis-posições constantes de um manual des-critivo do uso das contas, não eram segui-das. Esse fato é corroborado pelo uso nãoautorizado de uma conta erro em duplica-ta.

A comprovação de que, no Barings, os

princípios de controles internos não eram

respeitados e que os sistemas de contro-

les contábeis estavam comprometidos

contribuiu para evidenciar uma falha co-

mum encontrada, de forma recorrente, na

administração de empresas brasileiras de

propriedade familiar: a existência de con-

troles internos que não são efetivamente

utilizados nas atividades rotineiras das

empresas, o que pode ser diagnosticada

na fase de verificação da aderência das

práticas organizacionais com relação às

previstas (compliance).

Esse tipo de falha decorre, geralmen-

te, da falta de assertividade da alta admi-nistração - responsável pela implementa-ção dos padrões da cultura organizacio-nal - em exigir o efetivo cumprimento dasnormas. Altman (2000) compartilha des-sa idéia, quando afirma que “uma organi-zação pode estabelecer políticas e proce-dimentos complexos como freios e con-trapesos para controlar os seus riscos,mas se faltar um núcleo cultural forte, es-ses serão de pouca utilidade”.

2.4. Um campo de atuação pouco ex-plorado

O caso Barings indicou a relevância queo risco operacional tem para as empresasque atuam em qualquer ramo de ativida-de, porem assume especial importânciapara as instituições financeiras, pelo fatode sua mercadoria – o dinheiro - ter liqui-dez imediata, exigindo controles mais res-tritivos. No entanto, os conceitos de con-troles internos voltados para a adminis-tração do risco operacional podem e de-vem ser aplicados às pequenas e médiasempresas (PME’s), cujo processo de so-brevivência e crescimento dependem, emgrande parte, de um nível mínimo de for-malização e do desenvolvimento integra-do desses controles.

As PME’s apresentam um histórico dereduzida utilização de controles internosformais e/ou de desenvolvimento dessescontroles embasado na implementaçãode sistemas naturais. Esses decorrem daadoção de procedimentos isolados - emuitas vezes, inconsistentes ou conflitan-tes com os demais controles internos –visando à resolução de problemas espe-cíficos. Esse tipo de sistema se contrapõeao sistema planejado de controles inter-nos, elaborados a partir de uma visão con-junta e estruturada dos controles internosnecessários ao bom desenvolvimento dasatividades da empresa (adaptado de Pe-leias, 2002).

A elevada taxa de mortalidade nos no-vos negócios abertos pelas PME’s no Bra-sil decorre, em parte, da ausência de umacultura adequada ao exercício de suasatividades, acarretando o aumento do seurisco operacional. Esse agravamento derisco parece decorrer, em grande parte,da cultura relacional predominante nopaís, fundada em relações pessoais, im-plicando tanto na ausência ou baixa utili-zação de controles formais quanto na pre-valência do uso de sistemas naturais decontroles internos.

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Os contabilistas vinham há muito, deforma não sistemática, difundindo as téc-nicas de gestão empresarial entre asPME’s, colaborando para a diminuição doseu risco operacional. Essa contribuiçãopode aumentar de forma significativa,como permitem inferir os seguintes dados:apenas 5% das redes brasileiras de fran-quias têm sistemas profissionais de admi-nistração e cerca de 60% das PME’s doBrasil tem no contador sua principal fontede consulta; dados que sinalizam tanto aexistência de demanda reprimida paraesse tipo de consultoria, quanto a oportu-nidade dos contabilistas virem a ter umaparticipação expressiva no desenvolvi-mento dessas atividades.

Os organismos de apoio às atividadesdas PME’s também chegaram à conclu-são semelhante, confirmando a importân-cia dos controles internos na redução dorisco dos novos empreendimentos. Combase nesse diagnóstico, passaram a ofer-tar treinamento para contabilistas que tra-balham com micros e pequenas empre-sas nas áreas de planejamento e contro-le, inclusive em controles internos. Esse éum campo de atuação pouco exploradopelos contabilistas que se afigura comgrande potencial de desenvolvimento:apoiar as PME’s brasileiras, dotando-asde controles internos indispensáveis a umcrescimento sustentado.

CONCLUSÕES

O caso Barings demonstrou que todasas empresas, independente da naturezados seus negócios, precisam administrarseu risco operacional, através da utiliza-ção de um sistema de relatórios compre-ensível para a maioria das pessoas en-volvidas em funções de supervisão, de umadequado sistema de verificações inde-pendentes e de demonstrações contábeistransparentes.

O seu colapso foi conseqüência diretadas perdas causadas pela falta de contro-les adequados sobre as ações de seu jo-vem operador em Cingapura, que acumu-lava funções incompatíveis e não tinhasupervisão adequada. No entanto, as cau-sas mais profundas devem ser buscadasno sentimento de ganância generalizadaque sempre existiu nos mercados finan-ceiros, aliado ao conflito de interesses.Esse se materializou quando a parcelavariável da remuneração do funcionário,paga como bonificação à título de partici-

pação nos lucros, assumiu um valor reco-nhecidamente elevado, mesmo para ospadrões do mercado financeiro.

Leeson teve seu perfil traçado por Alt-

man (2000), segundo o qual ele seria um

traders option: “como estou jogando com

as suas fichas, se eu ganhar, nós ganha-

mos; mas se eu perder, só você perde.”

Leeson participava dos lucros do banco,

mas não precisava pagar pelas perdas. O

Barings falhou ao deixar de implantar

meios de controle adequados, porém o

fato é que, quando os negócios foram lu-

crativos, a direção em Londres ficou satis-

feita em receber os lucros sem fazer per-

guntas.

Na época, esse episódio deslocou ofoco dos investidores dos possíveis bene-fícios trazidos pela flexibilidade de umacarteira de ativos para o risco operacionalenvolvido nas transações com derivativos.Outra conseqüência foi que os contratosde derivativos mais complexos perderampopularidade em benefício dos produtospadronizados mais simples ofertados pe-los mercados futuro e de opções. No finaldo ano de 1995, os mercados se acalma-ram, depois de vários meses de pânico ede redução no volume de negócios comderivativos.

BIBLIOGRAFIA

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Narayanan, Paul. Gestão do risco de cré-dito: o próximo grande desafio financeiro.

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Qualitymark Editora, 1997.

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6. Peleias, Ivam R. Falando sobre con-trole interno. IOB, Temática Contábil eBalanços; Ano XXXVI, nº 50, dez.2002.

Apêndice:MERCADO DE INSTRUMENTOS FI-

NANCEIROS DERIVATIVOSA. Instrumentos financeiros derivativosOs derivativos são instrumentos finan-

ceiros cuja formação de preço decorre ou

deriva do preço do mesmo ativo negocia-

do no mercado à vista, podendo ser iden-

tificados os mercados de futuros, os mer-

cados de opções, os mercados a termo e

os mercados de swaps.

Esses mercados negociam dois tipos

de contratos: o padrão, no qual o venci-

mento, o prazo e as condições de entrega

e liquidação são padronizados e, uma vez

efetuada a transação, a relação contratu-

al passa a ser entre cada parte e a bolsa

ou câmara de compensação, o que é pos-

sibilitado pelo hedge estrutural; e o indivi-

dual, feito para atender as necessidades

específicas de um cliente e que não se-

gue as regras padronizadas dos merca-

dos de bolsas, sendo transacionado dire-

tamente entre as partes no sistema de

balcão.

O artigo está focado nos contratos pa-dronizados de futuros e de opções, cujoconhecimento básico é necessário para oentendimento das circunstâncias que en-volveram a quebra do Barings. As opera-ções com derivativos padronizados sãorealizadas através das bolsas, que esta-belecem as regras de transação, definin-do o objeto, a forma e a unidade de nego-ciação; os meses de vencimento, a datade vencimento e último dia de negocia-ção; o preço de exercício, a oscilaçãomáxima diária, a margem de garantia; etc..

O objetivo básico dos mercados de fu-turos é a proteção dos agentes econômi-cos contra as oscilações de preços de seusprodutos e de seus investimentos em ati-vos financeiros constituindo um instru-mento efetivo para eliminar o risco de uminvestidor que detenha uma determinadaposição de mercadorias ou ativos finan-ceiros.

Ao transacionar com contratos de futu-ros, o investidor está capacitado a fixarum valor futuro, ficando protegido das con-seqüências de um cenário desfavorável;no entanto, caso ocorra o cenário favorá-vel, esse investidor fica impossibilitado detirar proveito da situação porque tem aobrigação de liquidar a operação aos pre-ços previamente definidos.

No mercado de derivativos existe um

instrumento que possibilita o uso do hed-ge apenas no cenário desfavorável, não

constituindo obrigação caso esse cenário

se revele favorável: as opções de compra

e venda, que são contratos que têm uma

característica especial com relação aos

demais instrumentos: a assimetria de obri-

gações.

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Os pontos essenciais para se entendero funcionamento desses dois mercadosse referem a três características básicas:precificação; estratégias dos participantese esquema de garantias (baseado emFortuna, 1997). Esses pontos permitementender os fatores representativos do ris-co operacional envolvidos nas operaçõescom derivativos padronizados.

B. Mercado de futurosA formação de preços nos mercados

de futuros depende da base, que corres-pondente, em valor, aos custos de mantera posse da mercadoria física ou do ativofinanceiro até a data de vencimento docontrato futuro, em situação normal demercado. Esses custos se referem à ar-mazenagem, seguros, custos financeiros,transporte, impostos e lucro. Essa baseevolui porque existem diferentes expec-tativas que podem afetar cada um dosseus componentes de custo.

Ao transacionarem nos mercados de

futuros, os agentes econômicos envolvi-

dos podem assumir a posição de hedgerou de especulador. O hedger assume uma

posição no mercado de futuros contrária

à posição assumida no mercado à vista,

por ter o objetivo de buscar proteção (hed-ge) contra oscilações no preço de merca-

dorias ou ativos financeiros objeto de suas

atividades. Essa proteção equivale a um

seguro para limitar eventuais perdas. O

especulador assume a posição contrária

ao hedger procurando obter ganhos em

função de suas expectativas com relação

à evolução futura do mercado, assumin-

do riscos e dando liquidez a esse merca-

do.

O preço futuro e o preço à vista tendema mover-se de forma convergente - embo-ra não necessariamente ao mesmo tem-po e na mesma ordem de grandeza – ge-ralmente com o preço futuro declinando eo preço à vista aumentando com relaçãoà data do vencimento do contrato, refletin-do as influências da volatilidade do ativoe do principal componente da base: o cus-to do dinheiro. Essa base tende a zero nadata do vencimento do contrato futuro, como preço de vencimento futuro e o preço àvista afetando-se mutuamente, pois nadata do vencimento o contrato futuro deveser liquidado pelo preço à vista vigenteno mercado.

As transações de futuros podem ser deoperações de financiamento ou arbitra-gem e operações de caixa. As primeiras

ocorrem quando o preço futuro do ativosupera o seu preço à vista acrescidos oscustos de transação, enquanto que assegundas ocorrem numa situação inver-sa, no qual o preço futuro do ativo é inferi-or ao seu preço à vista acrescidos os cus-tos de transação.

A discrepância entre os preços futuro eà vista, em ambas as transações, é queacarreta a possibilidade de concretizá-lascom resultados positivos. As oscilaçõesdefinem os ganhadores e perdedores:quem está comprado ganha se o preçono mercado à vista sobe e perde se essepreço cai; enquanto que o vendido estána situação inversa.

As operações de futuros são, em sua

grande maioria, liquidadas financeiramen-

te, ou seja, apenas um percentual residu-

al das operações é liquidado pela tradi-

ção efetiva do bem negociado. A compra

e venda de mercadorias e ativos financei-

ros nos mercados de futuros se dão ape-

nas no papel, o que torna crucial o contro-

le do risco operacional das entidades en-

volvidas nesse tipo de operação. Para

cobrir esse tipo de risco, as bolsas de fu-

turos operam com um esquema de garan-

tias sucessivas, chamado hedge estrutu-

ral, constituído conjunto de margens e de

garantias, que visam assegurar a liquida-

ção de todas as operações.

C. Mercado de opçõesNo mercado de opções o vendedor ou

lançador tem apenas obrigações, enquan-

to que o comprador ou titular da opção de

um ativo tem um direito, que poderá ser

exercido ou não: se a opção for de com-

pra (call), o titular tem o direito de com-

prar, e se for de venda (put), o direito de

vender. Os direitos são negociados pelo

valor do prêmio, recebido pelo lançador e

pago pelo investidor. A oscilação do valor

da opção é derivada da variação do pre-

ço do ativo no mercado à vista.

O titular de uma opção de compra acre-

dita que o preço do ativo irá subir alem do

preço de exercício pré-fixado, enquanto

que o lançador acha que vai cair; o titular

de uma opção de venda acredita que o

preço do ativo irá cair aquém do preço de

exercício, enquanto o lançador espera que

suas cotações subam, de forma a não ser

exercido. Nos casos em que o lançador

espera uma baixa volatilidade, pode rea-

lizar operações de straddle, que consiste

na venda simultânea de uma opção de

compra (call) e de uma opção de venda

(put) pelos mesmos preços de exercício e

com as mesmas datas de vencimento.

Os contratos de futuros têm uma volati-

lidade menor quando comparados com os

de opções e as operações de straddles(estando essas últimas em um patamar

mais elevado de risco), indicando que a

concretização de operações a descober-

to - ou seja, realizadas sem o lastro do

ativo-objeto - podem resultar em perdas

elevadas, dependendo da volatilidade do

derivativo e da quantidade de contratos

envolvidos. Essa situação pode ser con-

sideravelmente agravada quando os

agentes econômicos que atuam na ponta

contrária têm ciência do fato.

No mercado de opções são negocia-dos apenas os direitos de compra e ven-da dos ativos, mas não os ativos. A opçãoamericana pode ser negociada a partir dodia seguinte ao seu lançamento, poden-do ser exercida a qualquer tempo até odia do vencimento. Uma opção não exer-cida implica na perda integral do valoraplicado pelo investidor (diz-se que “vi-rou pó”). A reversão de posição ocorrequando o lançador faz uma operação in-versa à anteriormente realizada envolven-do o mesmo volume de ativos da mesmasérie, acarretando o encerramento da po-sição é encerrada. Portanto, as obrigaçõesassumidas pelo lançador podem ser ex-tintas pelo exercício da opção pelo titular,pelo seu vencimento sem que tenha havi-do o exercício e pelo encerramento daposição através da reversão de posição.

O lançador é obrigado, nesse merca-do, a depositar garantias de forma a po-der cumprir os compromissos assumidos.O valor da garantia corresponde, em ge-ral, ao dobro do prêmio médio do merca-do ou se seu valor arbitrado pela bolsa.As posições margeadas terão que mantero nível até o vencimento, com ajustes sen-do calculados diariamente. O lançadorcoberto – ou seja, aquele que detém aposse do ativo-objeto - poderá depositá-lo como garantia.

D. Hedge estrutural e risco operacio-

nal

A atuação das câmaras de compensa-

ção e das bolsas de derivativos é direcio-

nada para obter o hedge estrutural, ou

seja, o conjunto de instrumentos para a

redução dos riscos, representado pelo

posicionamento líquido, exigência de

margens, prestação de garantias, referên-

cia ao mercado e gatilhos de rebaixamen-

to. Essa combinação provou ser altamen-

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te eficaz, funcionando melhor com produ-

tos padronizados negociados em grandes

volumes.

O posicionamento líquido – a práticade compensar pagamentos em um senti-do com pagamentos no sentido oposto –é a principal ferramenta de gestão de ris-co das câmaras de compensação e dasbolsas. Permite que os agentes de mer-cado tenham uma visão precisa de suaexposição com relação aos demais agen-tes. Os fluxos entre as instituições não sãoiguais, portanto os agentes aceitam, atécerto ponto, o crédito de outros, a partir doqual exigem alguma forma de garantiapara realizar mais negócios; e essa ga-rantia vem sob a forma de garantias reais.

O tempo constitui um aspecto crítico do

risco da contraparte devido ao valor dos

derivativos ser altamente volátil, fazendo

com que as bolsas e as câmaras de com-

pensação passem a exigir que os partici-

pantes do mercado referenciem suas car-

teiras ao mercado (mark to market), usan-

do esse valor no fechamento do pregão

para determinar o valor de cada instru-

mento que detêm. Com isso margens e

garantias podem ser ajustadas diariamen-

te. O hedge estrutural é complementado

pela utilização de gatilhos de rebaixamen-

to, portanto, se uma das partes for rebai-

xada alem de um determinado limite, de-

verá apresentar garantias reais para con-

tinuar a negociar.

As operações com derivativos têm queestar claramente segregadas entre asque compõem a carteira própria - deno-minadas de transações proprietárias - eas realizadas por conta de clientes, o queé crucial para o adequado cumprimentodas exigências de margeamento diárioprevistos em seus esquemas de garanti-as.

Adicionalmente, as bolsas têm exigên-cias que incluem depósitos de garantia,vigilância de crédito e monitoramento deseus membros. As câmaras de compen-sação também investem em sistemas deprocessamento para garantir alta confia-bilidade, desenvolvem procedimentospara lidar com a inadimplência de seusmembros, estabelecem reservas financei-ras para suportar eventos causadores dedesequilíbrio, mantêm relacionamentocom órgãos regulamentadores e podemobter apoio governamental em tempos decrise. Algumas câmaras têm poderes para,esgotados os seus recursos em decorrên-

cia das perdas sofridas, impor um confis-co de bens de seus membros.

Com o esquema de exigência de mar-

gens, as bolsas facilitam a negociação de

derivativos e praticamente eliminaram o

risco da contraparte entre comprador e

vendedor, fazendo com que o risco de cré-

dito que remanesça seja o do overnight –a possibilidade de que a contraparte não

proporcione a margem do dia seguinte.

Esse esquema é complementado pela atu-

ação das câmaras de compensação, que

foram desenvolvidas para permitir que as

instituições que fazem muitos negócios

umas com as outras compensem suas tran-

sações. Ao final do dia, a câmara de com-

pensação tem um livro perfeitamente equi-

librado de contratos e, assim, não incorre

em risco de mercado. A câmara de com-

pensação fica exposta ao risco – em gran-

de parte, controlado - de seus membros.

Com a participação das câmaras decompensação, o risco de crédito entre osparticipantes do mercado é diluído entreo baixo risco operacional inerente ao fun-cionamento dessas câmaras, e o risco decrédito da contraparte, de natureza resi-dual, ao qual as câmaras estão expostas,representado por seus clientes.

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1 – INTRODUÇÃOO objetivo principal de qualquer administrador de empresa

deve ser o de maximizar a riqueza dos proprietários, que émedida pelo preço da ação. Este, por sua vez, baseia-se naocorrência dos fluxos de caixa (retorno), em sua magnitude eseu risco. Esta consideração, permite-nos afirmar que as in-formações mais relevantes que uma empresa pode gerar sãoaquelas relacionadas ao seu caixa. Para qualquer naturezade decisão, seja operacional, de investimento ou de financia-mento, conhecer os reflexos de curto e de longo prazo nocaixa para cada atitude tomada é o que realmente importa.

Stancil (1987, p.38) considera a capacidade de geraçãode caixa uma informação essencial. Afinal, em sua opinião,uma empresa não pode pagar contas com lucros, apenas como caixa. O próprio pagamento dos lucros é diretamente de-pendente dos saldos de caixa da empresa. Para Stancil, portrás do interesse sobre a potencialidade de lucros de umaorganização, está o desejo de saber quanto em caixa ela estágerando.

Contudo, casos recentes de fracasso empresarial têm for-

talecido a convicção de que os enfoques previsivo e preven-

tivo da análise dos fluxos de caixa não são explorados em

toda sua potencialidade. A Demonstração dos Fluxos de Cai-

xa (DFC) resguarda, na sua simplicidade, capacidades es-

senciais para o sucesso na condução de qualquer porte ou

atividade empresarial, que permite, como por exemplo: (a)

apoiar o estudo para a previsão de falência; (b) analisar a

relação lucro versus caixa; (c) avaliar os efeitos no caixa das

transações de investimentos e financiamentos e (d) indicar as

possibilidades futuras de liquidação de obrigações. Estas,

entre outras, corroboram com a idéia de que, quando a ques-

tão é o estudo da liquidez, a DFC é o relatório mais eficaz na

gestão empresarial.

Além disso, “dez entre dez analistas utilizam o Fluxo de

Caixa para saber o verdadeiro valor de uma empresa” (Alpe-

rowitch, 1999, p.24). O Modelo do Fluxo de Caixa Desconta-

do foi considerado por Miller e Modigliani como a metodolo-

gia mais abrangente para avaliação de ativos e de empresas.

Eles afirmaram que a abordagem do fluxo de caixa desconta-

do pode “ser aplicada a toda empresa, a qual pode ser vista

como um grande e complexo equipamento”. (in Paxson &

Wood, 2001, p.181).

Desde 1988 os Estados Unidos reconhece a relevância daDFC e formalizou esta posição ao substituir, naquele ano, aDemonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR)pela DFC. Os critérios de elaboração e divulgação foram nor-matizados pelo Financial Accounting Statement Board (FASB),através do Statement Financial Accounting Standard (SFAS) 95.No Brasil, estamos na eminência de passarmos pela mesmasubstituição, conforme proposta de modificações para a NovaLei das S/A. Se aprovada, a Demonstração dos Fluxos de Caixapassará ser relatório obrigatório para as Sociedades Anônimas,sendo acatado o modelo americano, como sucintamente deter-minou a Normas e Pronunciamento de Contabilidade (NPC)20,do IBRACON.

À luz do que pesquisamos, o Brasil tende a seguir o êxodoamericano em direção ao uso da DFC como fonte de informa-ções. No entanto, importantes questionamentos ainda aguar-dam o posicionamento da comunidade contábil. Parte rele-vante das indagações está relacionada a taxonomia, ao méto-do de elaboração do Fluxo de Caixa Operacional e a qualida-de das informações sobre o caixa gerado ou consumido pelostrês fluxos. A comparabilidade, como uma característica infor-macional essencial, pode ficar comprometida por incongruên-cias que se acentuam de acordo com as peculiaridades em-presariais.

A DFC adotada como peça importante do conjunto das

Demonstrações Financeiras, será exaustivamente disseca-

da por usuários interessados por respostas para as varia-

ções de performance apresentada pelas organizações. A sua

natureza dinâmica, demanda critérios próprios para sua aná-

lise, distintos dos utilizados para o Balanço Patrimonial.

Os parâmetros de análise de Balanço foram criticados, pelo

� Andréa Alves Silveira Monteiro

� Bacharel em C.C. pela Moraes Júnior, graduada em Matemáticapela FEFACEL, mestre em C.C. pela UERJ.

Fluxos de Caixa

e Capital de Giro –

Uma adaptação

do Modelo de Fleuriet

4º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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professor francês Michel Fleuriet, principalmente quanto as limi-tações dos índices de liquidez. Na sua opinião, a interpretaçãoda situação financeira de uma empresa, quando baseada nobalanço, tende a ser uma visão estática incompatível com o di-namismo do cotidiano empresarial.

Seu interesse por este assunto veio atender as dificuldadesexistentes no Brasil, já existentes na década de 70. Junto com aFundação Dom Cabral, Fleuriet desenvolveu pesquisas no sen-tido de identificar um modelo de análise para as estruturas fi-nanceiras brasileiras. Seu principal norteador foi a construçãode um método que se adaptasse a um cenário sob constantemutação e imprevisibilidade, e não uma simples importação demodelos exógenos à nossa realidade.

O enfoque estático do Balanço foi revisto a partir da reclassi-ficação dos elementos patrimoniais em três naturezas: (a) ope-racionais, (b) financeiros e (c) não circulantes. Desta segrega-ção, foram extraídas três variáveis interdependentes, as quaisrepresentam o fio condutor das pesquisas de Fleuriet: (a) Ne-cessidade de Capital de Giro (NCG), (b) Saldo de Tesouraria(ST) e (c) Capital de Giro (CDG). Estas, a partir de um modelo decombinação, resultaram em seis tipos de estruturas financeiras,servindo como diagnóstico e parâmetro para decisões operaci-onais, táticas e estratégicas.

Nosso trabalho teve como objetivo principal verificar apossibilidade de aplicação dos diagnósticos do Fleuriet so-bre a DFC, mantido o formato estabelecido pelo SFAS 95.Para tanto, estudamos e organizamos as combinações dasvariáveis, propondo uma tabela-resumo dos 6 tipos de es-truturas financeiras. A seguir, desenvolvendo uma demons-tração lógica da compatibilidade entre o Balanço Patrimoni-al e a DFC, provamos que é possível isolar, a partir dos Flu-xos de Caixa, as mesmas variáveis do Modelo Dinâmico deCapital de Giro.

Com base nos dados publicados por empresas selecionadasdo setor de comércio varejista, aplicamos o modelo propostosobre as Demonstrações Financeiras da controladora para operíodo de 01 de janeiro de 1997 a 31 de dezembro de 2000.Foram escolhidas para base de teste quatro organizações im-portantes deste setor, que para efeito desta publicação, chama-remos de empresas A, B, C e D.

2 – A DEMONSTRAÇÃO DOSFLUXOS DE CAIXA, SEGUNDO O FASB

A DFC é um relatório que evidencia, historicamente, as entra-das e saídas caixa de uma entidade, em um determinado perío-do. O termo caixa, deve ser tratado no seu sentido amplo, comoo somatório de Caixa, Bancos e Aplicações Financeiras. Paraeste último caso, o SFAS 95 orienta sobre o que considerar comoequivalente de caixa. Entre as considerações mais relevantes,

está o prazo de resgate em até 90 dias. O FASB determina que aDFC seja segregada em três atividades: operacional, investi-mento e financiamento.

As atividades operacionais referem-se as entradas e saídasde caixa necessárias à manutenção dos negócios da entidade.O parágrafo 21 do SFAS 95 determina que neste fluxo estejamrepresentadas todas as transações que envolvam a produção eentrega de bens, mercadorias e serviços, e que não estejamenquadradas em nenhuma das características de operações deinvestimentos ou financiamentos preconizadas pelos parágra-fos 15 ao 20. O FASB não faz menção a respeito da segregaçãoentre curto e longo prazo. O Fluxo Operacional pode ser eviden-ciado por dois métodos: direto ou indireto. O Método Direto con-siste na composição dos valores de entradas e saídas que efe-tivamente geraram ou consumiram caixa das operações. O Mé-todo Indireto, consiste na conciliação do Resultado Líquido doexercício com a efetiva variação do caixa. Para compor estarelação, são aplicados os seguintes ajustes: (a) expurgo dosefeitos das transações incluídas na Demonstração do Resulta-do do Exercício (DRE) que não afetaram o Capital CirculanteLíquido, como por exemplo: Depreciação, Resultados de Equi-valência Patrimonial e Imposto de Renda Diferido, e (b) expurgodas variações dos ativos e passivos por representarem valoresrelativos às transações de caixa decorridas antes ou após operíodo de apuração do resultado.

As atividades de financiamento são tratadas no parágrafo 18do pronunciamento e incluem: (a) a obtenção de recursos deacionistas e o pagamento de um retorno (dividendos) sobre seusinvestimentos e (b) a obtenção de empréstimos e financiamen-tos de curto e longo prazo, incluindo os seus respectivos paga-mentos. Estas atividades estão diretamente relacionadas com aestrutura de capital da empresa e envolvem as modificaçõesque afetaram o caixa nos exigíveis onerosos de curto e longoprazo e no Patrimônio Líquido.

As atividades de investimentos são vinculadas às mudançasda estrutura de investimento de curto ou longo prazo que afeta-ram o caixa, porém não de natureza operacional. O parágrafo15 inclui as operações de execução e arrecadação de emprés-timos, aquisição e disposição de aplicações financeiras e com-pra e venda de ativos permanentes.

A seguir, apresentamos um exemplo hipotético de movimen-tação de caixa de uma entidade e como deveriam ser evidenci-ados, segundo a estrutura determinada pelo FASB. Considere-mos os seguintes dados para X1: (a) saldo inicial em 1o de janei-ro de X1: $10.000,00; (b) Fluxo Líquido das Atividades Operaci-onais: $80.000,00; (c) Fluxo Líquido das Atividades de Investi-mento: ($100.000,00) e (d) Fluxo Líquido das Atividades de Fi-nanciamento: $60.000,00. Neste caso, a Demonstração dos Flu-xos de Caixa fica assim representada:

Fluxo de Caixa Líquido das Atividades Operacionais ---------------------------------------------------------------- $ 80.000

(+/-) Fluxo de Caixa Líquido das Atividades de Investimento ------------------------------------------------------ ($ 100.000)

(+/-) Fluxo de Caixa Líquido das Atividades de Financiamento --------------------------------------------------- $ 60.000

(=) Acréscimo /Decréscimo de caixa no período ----------------------------------------------------------------------- $ 40.000

(+) Saldo inicial de caixa em 1º de janeiro ------------------------------------------------------------------------------- $ 10.000

(=) Saldo final de caixa em 31 de dezembro ---------------------------------------------------------------------------- $ 50.000

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O acréscimo ou decréscimo de caixa no período é determina-do pelo somatório dos três fluxos líquidos. Chamamos esta vari-ação de caixa gerado, se positiva, ou consumido, se negativa. Osaldo final é determinado, acrescentando o saldo inicial àquelavariação.

Este formato permite uma visualização da movimentação dosrecursos existentes entre os três fluxos. No exemplo dado, asatividades operacionais e as atividades de financiamento pro-duziram em caixa, respectivamente, $80.000 e $60.000. Dessetotal de $140.000, foram utilizados $100.000 nas atividades deinvestimentos da empresa, restando $40.000 os quais foramadicionados ao caixa inicial de $10.000, o que derivou seu mon-tante final para $50.000. Apesar da simplicidade, o critério declassificação quanto às suas atividades é o ponto de maior dis-cussão e questionamento sobre o modelo norte americano. Pro-blemas de taxonomia podem resultar em distorções nos valoresdemonstrados por cada fluxo de caixa.

3 – O MODELO DINÂMICODE CAPITAL DE GIRO

A partir da reclassificação do Balanço Patrimonial em opera-cional, financeiro e não circulante, Fleuriet isolou e combinoutrês variáveis, permitindo interpretar as decisões dos gestores,identificar suas conseqüências e nortear os rumos para o futuro.São estas:

1. O Capital de Giro (CDG) é a diferença entre os PassivosNão Circulantes (PNC) e os Ativos Não Circulantes (ANC). ComoPNC, estão inclusos os Passivos Exigíveis a Longo Prazo e oPatrimônio Líquido, já o ANC, considera os Ativos Realizáveis aLongo Prazo e o Ativo Permanente. O CDG possui o mesmovalor absoluto que o Capital Circulante Líquido (CCL), apenasseu cálculo é realizado de maneira diferente (Fleuriet,1978,p.20).Metaforicamente, o CCL é o reflexo no espelho do CPL: ima-gens iguais para composições diferentes. Este termo é entendi-do por alguns autores como sinônimo de Capital de Giro Líquidoe de Capital Circulante Líquido, o que é ratificado por Stickney eWeil (2001, p.806), que consideram uma redundância a termi-nologia “líquido”. Neste trabalho, adotaremos a definição Capi-

tal Permanente Líquido (CPL), aceita por alguns autores, comoSilva (2001, p.371), para melhor diferenciar do termo CapitalCirculante Líquido utilizado em explanações que seguem. Quan-do o CPL é positivo, significa que as origens de recursos delongo prazo e o capital próprio superam o valor investido emlongo prazo, destinando esta sobra para o CCL. Se o CPL énegativo, as aplicações de longo prazo utilizam recursos de cur-to prazo.

2. A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é a diferençaentre Ativos e Passivos Operacionais. É positiva quando o ciclooperacional for maior que o prazo médio de pagamento e nega-tiva quando o contrário ocorrer. A NCG tende a ser positiva ediretamente crescente em relação a evolução das vendas, se ovolume de negócios cresce a demanda de investimento em girotambém aumenta. Neste sentido, o CPL precisa acompanharesta evolução, fazendo face ao lastro necessário para o cresci-mento das operações. Quando isto não ocorre, a empresa ten-de a utilizar capital financeiro de curto prazo e a apresentarSaldo de Tesouraria negativo, apesar do crescimento das ven-das. Este fenômeno, conhecido como “Efeito Tesoura”, foi trata-do por Fleuriet como evidencia da interdependência das variá-veis por ele isoladas.

3. O Saldo de Tesouraria (T) é a diferença entre os AtivosFinanceiros (AF) e Passivos Financeiros (PF) de Curto Prazo, eserá positiva quando os AF forem superiores aos PF e negativaquando o contrário ocorrer. As decisões operacionais e as polí-ticas de autofinanciamento são determinantes de T.

4 – MODELO PROPOSTO:INTEGRAÇÃO FLUXOS DECAIXA VERSUS CAPITAL DE GIRO

A partir da combinação das variáveis CPL, NCG e T, Fleurietdiagnosticou 6 tipos de situações financeiras. Originalmente,sua obra demonstrou 4 tipos, fazendo apenas menção a maisdois que posteriormente, foram estudados por Braga (1999, p.17).Nossas pesquisas permitiram construir a tabela abaixo, facili-tando visualizar os diagnósticos:

Tipo CPL = T + NCG Interpretação

1 + = + + - Situação de Excelente Liquidez

2 + = + + + Situação Financeira Sólida

3 + = - + + Situação Financeira Insatisfatória

4 - = + + - Alto Risco de Insolvência

5 - = - + - Situação Financeira Muito Ruim

6 - = - + + Péssimo

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PensarContábil

Estes são os fatores que contribuem para a modificação das variáveis:

Variável

De natureza operacional

Quando positiva: o ciclo operacio-nal é mais longo que o prazo médiode pagamento, necessitando de in-vestimento em giro operacional. Nes-te caso, uma situação desfavorávelQuando negativa: o ciclo operacio-nal é menor que o prazo médio depagamento, representando recursosfinanciados por terceiros (não one-rosos). Neste caso uma situação fa-vorável.

NC

G =

Ativ

os C

íclic

os –

Pas

sivo

s C

íclic

os

� Crescimento no volume de ven-das� Esticamento da estocagem� Esticamento do processo de pro-dução� Políticas de crédito agressivas,com aumento do prazo de recebi-mento� Redução do prazo de pagamento

� Redução das Vendas� Velocidade no giro dos estoques� Velocidade no processo produtivo� Políticas de crédito mais conserva-dora� Esticamento do prazo com forne-cedores

De natureza estratégica

e operacional

Função espelho com o CCL. Se au-menta o CPL, aumenta o CCL. Se di-minui o CPL, diminui o CCLQuando Positivo: fonte líquida de re-cursos de permanentes, dando fôle-go ao CCL. Neste caso, situação fa-vorávelQuando Negativo: aplicação em itenspermanentes. Incapacidade da em-presa de ter giro com capital próprioou de longo prazo. Neste caso, situa-ção desfavorável

CP

L =

Pas

sivo

s N

ão C

ircul

ante

s –

Ativ

os N

ão C

ircul

ante

s =

CC

L =

NC

G +

T � Geração de Lucros� Aporte de Capital� Captação de recursos onerososde longo prazo� Diminuição de investimentos emAtivos Não Circulantes

� Geração de Prejuízo� Retirada de Capital� Distribuição de Lucros� Amortização de financiamentos� Aumento de Investimentos emAtivos Não Circulantes

De Natureza errática

Dependente do NCG e do CPLQuando positiva: empresa com so-bra de recursos financeiros de curtoprazo. Neste caso, situação favorávelQuando negativa: empresa depen-dente de recursos financeiros de cur-to prazo. Neste caso, situação desfa-vorável

T =

Ativ

os F

inan

ceiro

s –

Pas

sivo

sF

inan

ceiro

s =

CP

L -

NC

G

� Aumento do CCL� Redução do NCG

� Redução do CCL� Aumento da NCG

Característica Aumenta com Diminui com

O acompanhamento do comportamento destas variáveis e arelação entre elas pode representar a diferença entre o fracassoe o sucesso da gestão financeira de uma empresa. Para tanto,há necessidade que de esta ação seja preventiva e dinâmicacomo o próprio modelo propõem. A tempestividade da DFC,utilizada por muitas empresas até diariamente na condução deseus negócios, veio ao encontro desta necessidade, superan-do a estaticidade peculiar do Balanço Patrimonial. Este fato foio principal norte para a proposta de verificarmos a adaptabilida-

Fonte: adaptado de Joanília Cia (1988, p.62)

de do Modelo Dinâmico de Capital de Giro para a DFC.Contudo, o modelo adotado para evidenciação dos Fluxos

de Caixa tem critérios de evidenciação que dificultam a extraçãodas variáveis para análise dinâmica do Capital de Giro. O princi-pal obstáculo é a junção de operações de curto com longo prazoem um mesmo fluxo de caixa, o que impede a segregação dasoperações para composição de CPL, NCG e T. Em decorrência,propomos a reclassificação das transações que compõem osfluxos em curto e longo prazo, da seguinte forma:

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Ope-

ração Eventos

Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais

(=) Resultado Líquido

(+) Ajustes

(=) Resultado Líquido Ajustado = (1)

(-) Variações de Ativos Circulantes Operacionais = (2)

(+) Variações de Passivos Circulantes Operacionais = (3)

(=) Variação da Necessidade de Capital de Giro = (2) – (3) = (4)

(-) Variações de Ativos Não Circulantes Operacionais = (5)

(+) Variações de Passivos Não Circulantes Operacionais = (6)

(=) Geração de Caixa Operacional = (1) - (4) – (5) + (6) = (7)

Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento

(=) Investimentos Estratégicos = (8) – (9) = (10)

(+) Entradas de Investimento de Longo Prazo = (8)

(-) Saídas de Investimento de Longo Prazo = (9)

(=) Investimentos Táticos = (11) – (12) = (13)

(+) Entradas de Investimento de Curto Prazo = (11)

(-) Saídas de Investimento de Curto Prazo = (12)

(=) Geração de Caixa de Investimento = (10) + (13) = (14)

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

(=) Financiamentos Estratégicos = (15) - (16) = (17)

(+) Entradas de Financiamento de Longo Prazo (15)

(-) Saídas de Financiamento de Longo Prazo (16)

(=) Financiamentos Táticos = (18) - (19) = (20)

(+) Entradas de Financiamento de Curto Prazo (18)

(-) Saídas de Financiamento de Curto Prazo (19)

(=) Geração de Caixa de Financiamento = (17) + (20) = (21)

(=) Total do Caixa Gerado = (7) + (14) + (21)

(+) Saldo inicial de caixa = (23)

(=) Saldo final de caixa = (21) + (23) = (24)

(=) Variação do Saldo de Tesouraria = (21) + (13) – (20) = (25)

(=) Variação do Capital Permanente Líquido = (4) + (25) = (26)

Este modelo não contraria as exigências da NPC 20 quesegue as orientações do FASB. Mas, tão somente, consiste emsegmentar os fluxos de atividades em curto e longo prazo, viabi-lizando a extração da variáveis: (a) a NCG, como a diferençaentre a variação dos Ativos Circulantes e Passivos CirculantesOperacionais (item 4); (b) o ST, como somatório do Total doCaixa Gerado acrescido dos Investimentos Táticos e subtraídoos Financiamentos Táticos (item 25) e (c) o CPL, como o soma-tório das variações da NCG e ST (item 26).

A restrição deste modelo é a falta dos saldos iniciais deNCG e ST, já que a DFC permite apenas isolar as variaçõesdas mesmas. No entanto, este fato pode ser contornado apartir do conhecimento dos saldos iniciais destas variáveis, osquais são obtidos do Balanço Patrimonial imediatamente an-terior ao período da DFC. Estas informações podem ser inse-ridas em notas de rodapé dos Fluxos de Caixa, quando apre-sentados isolados do Balanço Patrimonial. Estas providênci-as tornariam viável a aplicação dos diagnósticos de Fleurietsobre a DFC, conferindo a este relatório a transparência e aconsistência informacional suficientes para sustentar a inter-

pretação por parte dos usuários sejam eles internos ou exter-nos.

Considerando que para o isolamento das variáveis é neces-sário acrescentar à variação os saldos iniciais de Balanço, épossível aplicarmos as seguintes fórmulas na determinação dasvariáveis, onde:

NCG = NCGi + DAocp - DPocpT = Ti + TCG - EIt + SIt - EFt + SFtCCL = NCG + TCPL = CCL

A aplicação do modelo, baseou-se nos seguintes procedi-mentos: (a) seleção das Demonstrações Financeiras e transcri-ção das mesmas para uma planilha eletrônica (Excel); (b) reor-ganização do Balanço Patrimonial em: cíclico, financeiro e nãocirculante; (c) isolamento das variáveis: NCG, ST e CPL; (d)aplicação da tabela resumo dos diagnósticos sobre o BalançoPatrimonial; (e) elaboração da DFC conforme o modelo adapta-do; (f) isolamento das variáveis: NCG, ST e CCL, a partir dosFluxos de Caixa; (g) aplicação da tabela resumo dos diagnósti-cos sobre a DFC; (h) comparação entre os resultados (d) e (g); (i)verificação da consistência do diagnóstico obtido pelo confrontocom as informações divulgações sobre a situação da empresa; e(j) conclusões sobre os testes.

O teste possibilitou o isolamento das variáveis NCG, ST eCCL, assim como revelou seus valores iguais aos existentes noBalanço Patrimonial. Em decorrência, verificamos que os diag-nósticos de Fleuriet podem ser aplicáveis para análise da DFC.Para tanto, o analista deve conhecer apenas os saldos iniciaisde NCG e T. O modelo também permitiu ratificarmos a situaçãodivulgada pelas empresas e ainda conhecermos mais detida-mente o comportamento de suas políticas estratégica, operacio-nal e financeira. Como segue:

1. Desempenho Geral: visualizamos o bom desempenho

das empresas A, B e D, esta última já apresentando um Efeito

Tesoura em 2000. A situação da empresa C também transpa-

receu ratificando uma estrutura financeira que inspira muitos

cuidados e revisão das estratégias atuais. O gráfico demons-

tra a performance geral, através da aplicação do Diagnóstico,

combinando as decisões estratégicas (CPL), operacionais

(NCG) e financeiras (ST). Neste caso a empresa D foi a mais

eficiente, apesar do ano de 2000 ter sido desfavorável. O

desempenho veio seguido das empresas A, B e C, nesta or-

dem.

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PensarContábil

2. Decisões Estratégicas: a empresa B foi a mais con-

servadora, seguida de D e A. Estas mantiveram seu CPL

positivo durante todo o período, no entanto diminuíram seu

CCL a medida que realizaram investimentos não circulan-

tes. O gráfico abaixo mostra o resumo destas decisões

através da medida ANC/PNC (índice de Imobilização do

PNC):

3. Decisões Operacionais: podem ser sintetizadas pelo ín-

dice Pop/Aop (financiamento dos Ativos Operacionais por Pas-

sivos Operacionais). O índice indicou que a empresa A foi a mais

eficiente. No entanto, a empresa D também teve um ótimo com-

portamento em 1998 com 1,18 de financiamento de seus Ativos

Operacionais por Passivos Operacionais, o que não conseguiu

manter nos anos seguintes. Em terceiro ficou B, seguida de C. O

comportamento destas decisões foi assim demonstrado pelo

gráfico:

4. Decisões Financeiras: foram medidas pela capaci-

dade de liquidação de Passivos Erráticos com Ativos Errá-

ticos e foi definido pelo índice Ae/Pe. Cabe ressaltar, que o

termo errático é equivalente ao termo financeiro utilizado

por Fleuriet. A empresa B apresentou a melhor gestão de

Tesouraria no período. Esta medida deve ficar perto de 1.

Valores expressivamente acima disto, indica excesso de

dinheiro em tesouraria e abaixo, sinaliza insuficiência para

pagamentos financeiros de curto prazo. O índice médio da

empresa B no período foi de 1,73, seguido de 3,88 da em-

presa D e 7,97 de A. A empresa C apresentou Saldo de

Tesouraria negativo no período e sua média de cobertura

de passivos erráticos foi de 0,26. O desempenho neste item,

é demonstrado graficamente:

5 – CONCLUSÃOA Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) tem como finali-

dade evidenciar a geração ou consumo do caixa relativo a trêsatividades: (a) operação, (b) financiamento e (c)investimento. Éconsiderada essencial no estudo da liquidez e da capacidadede continuidade organizacional. Em decorrência de sua rique-za informacional a DFC faz parte do elenco de mudanças pro-postas para a Nova Lei das S.A., onde está sendo cogitada ainclusão deste relatório em substituição a Demonstração dasOrigens e Aplicações de Recursos. À luz do que pesquisamos,o Brasil tende a seguir o êxodo americano em direção ao uso daDFC, adotando os critérios preconizados pelo FASB através doSFAS 95.

Devido a sua natureza dinâmica, a análise da DFC deman-dará critérios próprios, distintos dos tradicionalmente adota-dos para o Balanço Patrimonial. O enfoque dinâmico da em-presa foi estudado por Michel Fleuriet que criticou a estaticida-de dos modelos tradicionais de análise. Sua pesquisa foi nor-teada pela reclassificação dos elementos patrimoniais, de ondeforam extraídas três variáveis interdependentes: (a) Necessi-dade de Capital de Giro(NCG); (b) Saldo de Tesouraria(T) e (c)Capital Permanente Líquido(CPL). A combinação destas re-sultaram no Modelo Dinâmico de Capital Giro, compondo 6tipos de diagnósticos sobre a situação financeira de uma em-presa.

Nossa pesquisa teve como objetivo verificar a possibili-dade de aplicação dos diagnósticos do Fleuriet sobre a DFC.Para tanto, foi apresentada uma revisão teórica sobre a DFCe o Capital de Giro, seguido de uma demonstração lógica dacompatibilidade entre os dois temas. Conseguimos desen-volver um modelo adaptado que permitiu isolar, a partir dosFluxos de Caixa, as mesmas variáveis utilizadas por Fleuri-et.

O modelo foi testado sobre as Demonstrações Financeirasde quatro empresas importantes no setor de varejo, o que per-mitiu concluir que é possível aplicar os diagnósticos do ModeloDinâmico de Capital de Giro também sobre o modelo norte ame-ricano de Demonstração dos Fluxos de Caixa. Para tanto, énecessário conhecer os saldos iniciais de Balanço da NCG e STe segregar nos Fluxos de Caixa as transações de curto prazodas de longo prazo. Também podemos concluir que os diag-nósticos sobre a situação financeira das empresas concebidos,a partir da aplicação do modelo adaptado, sinalizaram informa-ções equivalentes àquelas divulgadas pelas empresas ao mer-cado.

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6 – BIBLIOGRAFIA4 BAHSON, P. R., MILLER, P. B., BUDGE, B. P. Nonarticulation in Cash Statements and Implications for Education, Research and

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Medidas e Modelos Integrados do Desempenho Empresarial: Uma investigação de fundamentos e critérios de classificação operacional.Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Contabilidade e Atuária, SãoPaulo, agosto de 2000.

29 MARTINS, Eliseu. Contabilidade Versus Fluxo de Caixa. Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Contabilidade e Atuária,Caderno de Estudos Fipecafi, São Paulo, jan./abr., 1999.

30 OHLSON, James A., ZHANG, Xiao-Jun. On the Theory of Forecast Horizon in Equity Valuation. Journal of Accounting Research, vol.37, no.2, 1999.

31 PADOVEZE, Clovis Luis. Análise do Índice de Liquidez sob o conceito de avaliação econômica da empresa. Revista Brasileira deContabilidade, Brasília, jul./ago., 2000.

34 REICHELSTEIN, Stefan. Providing Managerial Incentives: Cash Flows versus Accrual Accounting. Journal of Accounting Research,vol. 38, no. 2, 2000.

37 ROSS, Stephen A, WESTERFIELD, Randolph W., JORDAN, Bradford D. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas,2000.

39 SALES CIA, Jonília Neide de. Sistema de Gerenciamento de Liquidez sob a ótica da teoria das restrições: uma adaptação daMetodologia de Fleuriet. Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998.

40 SANTOS, Ariovaldo, LUSTOSA, Paulo Roberto. Demonstração de Fluxo de Caixa: uma reflexão sobre a objetividade (ou falta de) doFluxo de Caixa. Boletim IOB, Temática Contábil de Balanços, São Paulo, n.14, 1999.

41 _______. Demonstração dos Fluxos de Caixa: Alternativas para Tratamento dos Estoques: Atividades Operacionais ou de Investi-mentos. Boletim IOB, Temática Contábil de Balanços, São Paulo, n. 21, 1999.

42 _______. Juros e Dividendos Pagos: Onde Classificá-los na Demonstração do Fluxo de Caixa. Boletim IOB, Temática Contábil deBalanços, São Paulo, n.39, 1999.

44 SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. 5.ed. São Paulo: Altas, 2001.45 SOFFER, Leornard C. SFAS n. 123 Disclosures and Discounted Cash Flow Valuation. Accounting Horizons, vol.14, no. 2, June 2000.46 SOUZA, Milanez Silva, FAMÁ, Rubens. Gestão do Capital de Giro na Corporação Virtual. Revista Contabilidade Vista & Revista, Belo

Horizonte, junho,1998.47 STANCILL, James McNeil. “When is there Cash in Cash Flow?” In Harvard Business Review, Boston, vol. 65, n. 3/4, mar./abr., 1987.48 STICKNEY, Clyde P., WEIL, Roman L. Contabilidade Financeira: uma introdução aos conceitos, métodos e usos. São Paulo: Atlas,

2001.49 SZUSTER, Natan. Cálculo e Análise Contábil do Lucro Passível de Distribuição. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, n. 58, 1986.55 WAHLEN, James M., BOASTMAN, Jams R., HERZ, Robert H. American Accounting Association’s Financial Accounting Standards

Commitee. Accounting Horizons, vol. 14, no. 4, december 2000.56 WILLIANS, Jan R. GAAP GUIDE – Generally Accepted Acconunting Principles – Ed. Harcourt Brace & Company, 1996, pág. xvi, xvii,

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1 - INTRODUÇÃOUltimamente, estamos sendo abarrotados de novas expres-

sões que almejam direcionar a modernização da gerência em-

presarial. Cada vez mais estamos conhecendo “uma série de

recursos (que) pode ser utilizada para a condução e o desenvol-

vimento de um processo da análise e mudanças do ambiente

interno. Corresponde, em sua maioria, a novos termos que têm

aflorado na administração para caracterizar processos e práti-

cas nem sempre novos”1 . Termos estes como, entre vários, ben-chmarking, downsizing e Theory of Constrains.

Entretanto, um erro comum é a utilização de conceitos e mu-danças estruturais, que, em sua aplicabilidade, se perdem porsimples miopia estratégica. Decisões de investimentos, cortesde custos, novos investimentos ou reduções dos mesmos e ex-pressões como “cortar a gordura da organização” são realiza-das sem a devida visão sistêmica da contabilidade e, de formamais pragmática, da contabilidade de custos.

Sua importância dentro da organização é imprescindível aosucesso organizacional, afinal “o sistema contábil é o principal– e o mais confiável – sistema de informação quantitativo em (...)todas as organizações”2 , pois é, basicamente, o único “meio decoletar, resumir, analisar e relatar informação acerca dos negó-cios”3 de uma empresa, onde a contabilidade de custos agregaum valor inestimável à empresa, pois estas necessitam cadavez mais de “informações precisas sobre custos em todos osaspectos de sua empresa, do projeto e desenvolvimento à pro-dução, marketing e entrega de serviços ao cliente pós compra”4 .

Ou seja, as empresas estão vivenciando um cenário de gran-de concorrência e necessitam tornarem-se cada vez mais efici-entes e enxutas. Ao mesmo tempo esquecem a contabilidadecomo principal fonte de informação.

O objetivo deste trabalho é mostrar como um relatório contá-bil, a Demonstração de Resultado de Exercício, pode ser um

importante instrumento de tomada de decisão gerencial ao serutilizado de forma a gerar informações dependendo do grau deevidenciação disposta na mesma.

Não é propósito deste trabalho questionar todo o referencialteórico quanto ao pensamento e aplicação de nova cultura or-ganizacional. O que iremos discutir é como utilizar todo esteconhecimento que aflora a cada dia no mundo em consonânciacom a realidade empresarial. O enfoque deste trabalho, de for-ma mais objetiva, ao entendimento de um poderoso instrumen-to, a Demonstração de Resultado de Exercício, para agregarvalor a tomada de decisão.

2 - A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA CONTÁBILA Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação

e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstra-ções e análises de natureza econômica, financeira e de produ-tividade, com relação à entidade, objeto de contabilização.

Essas informações são fornecidas a diversos tipos de usuári-os, que subsidiem a tomada de decisão: para o cliente internoas informações o auxiliam no planejamento e controle; para ocliente externo informa a situação econômica e financeira daempresa, que o permite tomar decisões de investimento. Assimsendo, a contabilidade é a ciência que tem por função registrar,controlar e analisar os atos e fatos administrativos de uma ativi-dade econômica:

a) Registro - Ato de acumular dados de efeitos econômicospermitindo a transcrição dos mesmos em contas a serem agru-padas nos demonstrativos econômico-financeiros (Balanço,DEREX, DOAR, etc) como caixa, estoque, etc.

1 TAVARES, Mauro Calixta. Gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2000. p. 284

2 HORNGREN, Charles T., et al. Contabilidade de custos. Tradução de “Cost accounting” 9 ed., por José Luiz Paravato. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. p.2

3 ANTHONY, Robert N. Contabilidade gerencial. Tradução de Management accounting principles, por Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Atlas, 1975. p.17

4 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 54

� Fabiano Simões Coelho

�� José Carlos Sardinha

� Bacharel em C.C. pela UERJ, pós-graduado em C.C. pela FGV,mestre em C.C. pela UERJ.�� Coordenador de Área da FGV Manegement. Doutor e Mestreem Ciência em Administração de Empresas pela University of SouthernCalifórnia.

MIOPIA INFORMATIVA DA D.R.E,

DESPERDÍCIO

5º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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b) Controle - Processo pelo qual a alta administração se cer-tifica, na medida do possível, de que a organização está atingin-do em conformidade com os planos e políticas traçados pelosdonos do capital. Como a mensuração é periódica e sistemáti-ca, os dados contidos nos demonstrativos econômicos e finan-ceiros permitem avaliar os resultados vis-à-vis aos planejados.

c) Análise - Técnica utilizada para saber o que está errado, oque pode ser corrigido, o que está funcionando e o que podefuncionar melhor.

Integrado neste sistema, há a Contabilidade de Custos, que,em um sentido amplo, tem como principal objetivo registrar in-formações suficientes para abastecer a Contabilidade Financei-ra e a Contabilidade Gerencial.

A Contabilidade, bem como a Contabilidade de Custos, sem-pre existiram, mas seu progresso e desenvolvimento cresceramem velocidade progressiva nos últimos 40 anos frente as novasnecessidades informativas de seus usuários. Hansem5 definede maneira precisa este novo cenário:

“O ambiente econômico atual criou a necessidade deuma reestruturação da gestão de custos. Pressões com-petitivas mundiais, o crescimento do setor de serviços eos avanços nas tecnologias de informação e de manufa-tura mudaram a natureza de nossa economia e fizeramcom que muitos fabricantes dos EUA mudassem drastica-mente sua maneira de operar seus negócios.”

Essas alterações dramáticas tornam a contabilidade de cus-tos uma necessidade em toda a organização. Entretanto, ex-pressões, modelos e técnicas como o Just in time6 , Administra-ção total da qualidade7 , Benchmarking8 , Reengenharia9 , The-ory of Constrains10 , Downsizing11 , entre outros, estão sendoconstantemente aplicados na entidade sem as devidas noçõesinerentes a seus efeitos colaterais.

Além disso, a empresa e seus gestores esquecem que há umimpacto comportamental das informações de custos, além dasimples necessidade informacional. Um pensamento equivoca-do é que a contabilidade de custos, bem como o sistema contá-bil, é um mero instrumento que reflete o que está acontecendode forma imparcial. “Ao invés disso, um sistema de informaçõesde contabilidade de custos também molda a empresa”12 .

A idéia básica de custos, atualmente, é de que eles devemser determinados, tendo em vista o uso a que se destinam. Adiversidade de objetivos da Contabilidade de Custos torna difí-cil estabelecer um só tipo de custo da produção, que se adaptea todas as necessidades. Cada utilização de custo requer, defato, diferentes tipos de custos. Por isso, a Contabilidade deCustos, quando acumula os custos e os organiza em informa-ções relevantes, pretende atingir três objetivos principais: a de-

terminação do lucro, o controle das operações e a tomada dedecisões.

Os dados de custos necessários para a determinação do lu-cro podem ser extraídos diretamente dos registros convencio-nais da Contabilidade. Uma ou outra compilação deverá serfeita para transformá-los em informações úteis. Por exemplo, aseparação dos custos em aplicados e periódicos já vai fornecerresultados mais realísticos à Administração. A acumulação doscustos por fases de fabricação, por departamentos e por produ-tos resultará em apropriações mais racionais. O atendimento doprincípio contábil da competência, na qual para toda renda de-vem ser computados os custos necessários para realizá-la, é amaneira mais usada e correta para o levantamento do lucro doperíodo.

Considerando os mesmos dados básicos, pode a Contabili-dade, por meio de classificações especiais, atender ao controle.Quando o contador acumula os custos por centros de responsa-bilidade e dentro de cada centro classifica os custos por função,por natureza e por possibilidade de controle, dota a Administra-ção de meio eficaz para a determinação dos custos por compo-nente da organização e, conseqüentemente, para o exercíciode controle mais efetivo sobre o desempenho de cada um dosresponsáveis por esses mesmos componentes.

O sistema de custos-padrão, adotado pelas empresas indus-triais e que também pode ser empregado para o controle deoutras atividades, é instrumento valioso à disposição do admi-nistrador o qual permite a criação de metas, bem como medir osresultados. A separação dos custos em relação ao volume, istoé, custos fixos e custos variáveis, fornecerá ao contador meiospara dar melhores informações à administração em termos decontrole (por exemplo, os orçamentos flexíveis) e de auxílio aoprocesso decisório (por exemplo, a análise do ponto de equilí-brio).

Tratando-se das relações entre a Contabilidade de Custos eo processo de decisão, vale lembrar a existência de diversostipos de custos que devem atender a várias finalidades. Nesteponto é que reside a maior utilidade das técnicas de Custos. Osdados de custos são manipulados de formas diferentes, objeti-vando emprestar-lhes a significação exigida para a solução dosmais complexos problemas que enfrenta o administrador.

O custeamento dos planos e das alternativas, das atividadesde distribuição e dos inventários por meio de tipos diferentes decustos, permitirá ao administrador tomar decisões mais científi-cas. É sabido que existem fatores qualitativos de extrema impor-tância que devem ser levados em conta ao se tomar uma decisão.Todavia, mesmo reconhecendo que existem elementos impon-deráveis na escolha de uma alternativa, este processo será maisválido se auxiliado por fatores de natureza quantitativa. Em resu-mo, a Contabilidade de Custos fornece informações para:

5 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Op cit. p. 30

6 Em produção ou compras, cada unidade é adquirida ou fabricada exatamente antes de ser utilizada.

7 Métodos gerenciais de acordo com o qual a organização procura apresentar desempenho excelente em todas as dimensões; o cliente é quem define qualidade.

8 O processo contínuo de acordo com o qual uma organização avalia seus produtos, serviços e atividades contra os melhores níveis de desempenho.

9 Redesenho radical dos processos organizacionais, de maneira a promover melhoria no desempenho.

10 Teoria das Restrições - Método gerencial que focaliza a maximização de lucros mediante a identificação de restrições de capacidade e aumento da capacidade.

11 Redução do tamanho da organização, representada pela diminuição dos níveis hierárquicos e, às vezes, de pessoas.

12 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Op cit. p. 37

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a) A determinação dos custos dos fatores de produção;b) A determinação dos custos de qualquer natureza;c) A determinação dos custos dos setores de uma organização;d) A redução dos custos dos fatores de produção, de qualqueratividade ou de setores da organização e controle das opera-ções e das atividades de qualquer organização;e) A administração, quando esta deseja tomar uma decisão,estabelecer planos ou solucionar problemas especiais;f) O levantamento dos custos dos desperdícios, do tempo ocio-so dos operários, da capacidade ociosa do equipamento, dosprodutos danificados, do trabalho necessário para conserto, dosserviços de garantia de produtos;g) A determinação da época em que se deve desfazer de um equi-pamento, isto é, quando as despesas de manutenção e reparosultrapassam os benefícios advindos da utilização do equipamento;h) A determinação dos custos dos pedidos não satisfeitos;i) A determinação dos custos dos inventários com a finalidadede ajudar o cálculo do estoque mínimo, do lote mais econômicode compra, da época de compra;j) O estabelecimento dos orçamentos.

3 - COMO CORTAR CUSTOSSEM DERRAMAR SANGUE?13

A contabilidade em geral e todos os seus ramos, como a audi-

toria, contabilidade de custos, perícia contábil, análise econômi-

ca e financeira, entre outros importantes e geradores de informa-

ções para a empresa, são instrumentos poderosos para o gestor

e a própria continuidade empresarial.

Entretanto, como qualquer mecanismo, pode ser utiliza-

do corretamente ou não e saber manipulá-lo vai decidir sobre

a possibilidade de sucesso ou fracasso na assertividade

informacional. Sua utilidade será questionada quando for

utilizada da maneira incorreta. O problema, portanto, con-

siste que tais decisões, visando alcançar objetivos determi-

nados, são feitas sem conhecimento suficiente de todo fer-

ramental contábil podendo, assim, causar alguns efeitos

negativos. A seguir serão dispostos algumas decisões en-

contradas no dia-a-dia da empresa e seus possíveis efeitos

negativos:

OBJETIVO DECISÕES FATORES NEGATIVOS SE UTILIZADOS DE MANEIRA ERRADA14

Calcular oresultado de

cada departa-mento

Divisão da empresa em unidades denegócios e cálculo do lucro que cada

unidade gera

Ao transformar unidades de centro de custos ou receita em centrosde lucro ou investimento, cada unidade pode se preocupar em

buscar apenas seus resultados, não se preocupando com a empresacomo um todo, afinal o somatório do melhor de cada não será o

melhor para a empresa.

Atingir metasa qualquer

custo

Remuneração de executivos egerentes atrelados a metas orçamen-

tárias

“Se o gerente apresenta um número que é aprovado e, depois,ultrapassa esse número, ele fica tentado a esconder o fato, transferin-

do os custos para outro período”15

Aumentarresultados e

melhorardesempenho

Redução de Custos - Parte 01 -Visão genérica

“Há muitas companhias em que o crescimento do lucro é muito maiorque o crescimento das receitas, porque eles cortam custos, mas não

geram novas receitas. Sabemos que isso é um jogo que acabaabruptamente. A empresa chega num ponto que simplesmente não

consegue cortar mais nada. Você não consegue criar mais lucro semcriar novas receitas”16 .

Aumentarresultados e

melhorardesempenho

Redução de Custos - Parte 02 -Corte de pessoal

A demissão de pessoas é a mais rápida e mais fácil forma de cortarcustos, entretanto ela pode causar a médio e longo prazo uma

deficiência operacional sentida pelos clientes.

Calcularcustos

unitários

Utilizado para valorar o estoque eresultado

A visão estrita do custo unitário pode levar a empresa a esquecer docomportamento de custos, tomando, assim, decisões erradas ineren-tes a curto prazo, como decisões de aceitar ou rejeitar uma proposta,

concorrência, entre outros.

A falta de conhecimento quanto aos mecanismos contábeis fa-zem com que os dados produzidos dentro da empresa sejam me-ras peças soltas. Então, como cortar custos sem derramar san-gue? A resposta bem simplificada desta questão é: conhecendo aempresa e todos os processos inerentes a evolução patrimonial.

Deve-se esclarecer que o ambiente competitivo da atualida-de exige uma estrutura mais enxuta e, por isso, o corte de custosmuitas vezes é necessário, mas o mesmo não deve ser feito,necessariamente, através de processos “sangrentos”, nem atra-vés de fatos ilícitos como está acontecendo com algumas em-

13 COPELAND, Tom. Cutting costs without drawing blood.Harvard Business Review. Set-Oct / 2000. p. 155.

14 Não é propósito comentar que todos os cenários causam problemas para a empresa, mas que os mesmos, se utilizados de maneira inadequada, poderão distorcer a informação a ser gerada.

15 LEVI, William. in SANVICENTE, Antonio Zoratto. As 10 maiores armadilhas do orçamento. HSM Management. N 32, ano 6, maio-junho 2002. p. 140.

16 HAMEL, Gary. O pior inimigo é a tradição. Exame n 737, ano 35 abril/2001. p. 98.

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presas nos E.U.A. e que provavelmente acontece com váriasoutras no mundo inteiro17 .

Entretanto, deve-se saber que o objetivo das empresas não écortar custos. Ao se voltar estritamente para a política de redu-ção de custos e tentativa de alavancar lucros sem devido conhe-cimento do processo como um todo, muitas vezes, o foco empre-sarial se perde. A forma mais sensata de cortar custos é se tor-nando mais eficiente. Evita-se, assim, o desperdício dentro doprocesso operacional, como será abordado a seguir.

3.1 - Eficiência EmpresarialTodo entendimento é bastante nebuloso dentro do arcabou-

ço, pois há uma imensa confusão entre a diferença de eficiênciae eficácia. Segundo Anthony18 :

“In summary, (...) is efficient if it does things right, and it iseffective if it does the right things”.

Ou seja, eficácia é a relação entre as saídas e seus objetivos,portanto, se a empresa alcançar seus objetivos da maneira cor-reta, então será eficaz.

Eficiência é a relação existente entre entradas e saídas. Sar-dinha complementa afirmando que “o retorno sobre o ativo é oretorno sobre o investimento: sendo, uma medida de performan-ce gerencial. Esta informação permite o investidor conhecer sea empresa A teve performance superior a B, porque: (1) apesarde ambas apresentarem o mesmo resultado operacional, os ati-vos da empresa A são inferiores aos da empresa B; ou, (2) am-bas possuem o mesmo investimento, mas a empresa A apresen-ta um lucro superior ao da empresa B. Este conceito expressa: aempresa A é mais eficiente, pois exige menos recursos paraobter os mesmos resultados ou com os mesmos recursos obtémresultados superiores.”19

Conforme pode ser inferido, a eficiência está associada como fazer tarefas, processos, ou similares, de forma correta; ouseja, está próxima ao nível tático ou operacional. Já a eficáciaestá associada ao alcance/obtenção de resultados (nível estra-tégico).

À medida que o administrador se preocupa em fazer correta-mente as coisas, ele está se voltando para a eficiência (melhorutilização dos recursos disponíveis). Porém, quando ele utilizaos instrumentos e resultados fornecidos por aqueles que execu-tam para avaliar o alcance dos resultados, isto é, se as coisasbem feitas são as que realmente importam para o alcance dosobjetivos e metas organizacionais, então ele está se voltandopara a eficácia (alcance dos objetivos através dos recursos dis-poníveis).

Portanto, uma empresa eficaz é aquela capaz de produzir umresultado desejado afim de alcançar algum objetivo; mas a mes-ma só será eficiente se, no alcance de tais objetivos, sua produ-ção for feita com o mínimo de perdas, gastos e esforços.

4 - CORTAR DESPERDÍCIOS E CAUTERIZARUM DOS LADRÕES DE LUCROS

Sendo assim, quando uma empresa não é eficiente, ela pas-sa a ser geradora de desperdícios. Para promover uma melho-ria organizacional e tornar-se mais eficiente a empresa devepromover a redução dos desperdícios dentro da entidade. Paraisso, antes de mais nada, todo o processo dentro da organiza-ção deve estar claro, bem definido e estipulado.

Desde a seleção de uma estratégia bem definida, passandopor um plano de contas bem estruturado e a utilização dos me-canismos contábeis são processos essenciais para tornar umdesperdício em condições de ser percebido.

A chave para o crescimento sustentável, neste caso, é focarem encontrar e eliminar desperdícios valorando cada fato nosdevidos lugares. Sua importância existe porque, segundo Mc-Nair20 , “o desperdício expulsa os lucros da firma. Apenas tor-nando o desperdício visível e trabalhando ativamente no senti-do de eliminá-lo, a companhia poderá obter um controle de lon-ga duração sobre seus lucros”.

O problema é que o desperdício está oculto dentro de todo oprocesso operacional da empresa. A mensuração do que fize-mos de errado (desperdício) é raro, pois o registro atual e aforma de utilização dos relatórios contábeis acabam, muitas ve-zes, mesclando o que é bom (trabalho eficiente) com o ruim(trabalho ineficiente).

A Demonstração de Resultado de Exercício poderia se encai-xar neste contexto, pois o uso do D.R.E. muitas vezes misturavariáveis que poderão confundir o gestor no momento da toma-da de decisão, distorcendo, assim, a geração de informação.Para isso é necessário entender os elementos inerentes aoD.R.E., o desperdício e sua classificação.

4.1 - Elementos BásicosPara que o desperdício possa ser localizado e evidenciado,

deve-se definir de maneira precisa os termos e elementos bási-cos a serem abordados, como será visto a seguir:

a) Custo das Mercadorias Vendidas e Despesas Operacio-nais - Gastos relativos a bens ou serviços consumidos direta ouindiretamente para a obtenção de receita. São os gastos queagregam valor ao produto ou que não agregam valor, mas sãonecessários. Ou seja, são os valores econômicos de recursosnecessários para se fabricar produtos, fornecer serviços ao cli-ente ou para sustentar a organização;

b) Despesa Não Operacional - Eventos e transações de cará-ter significativamente diferente das atividades típicas ou usuaisda entidade. São decréscimos pela participação de transaçõesperiféricas ou incidentais de uma entidade, e em outras transa-ções ou outros eventos e circunstâncias, afetando a entidadedurante um período;

c) Desperdício - Valor de todas as atividades utilizadas de

17 Os casos mencionados são da WorldCom, Xerox, Enron entre outras que inflacionaram e fraudaram resultados e balanços.

18 ANTHONY, Robert N. e GOVINDARAJAN, Vijay. Management control system. 8a ed. Irwin, 1995, p. 111

19 SARDINHA, Carlos José. Apostila de formação de preços. FGV/RJ, 2002. p.120.

20 MCNAIR, Carol J. Maximizando o lucro final - alto desempenho em todas as linhas do “lucro e perdas”. São Paulo: Makron Books, 2000. p. XVI

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forma ineficiente ou pelas quais os clientes não estão dispostosa pagar. Torna-se, portanto, o ladrão de lucro da empresa. São:Máquinas ociosas, pessoal subutilizado, material desnecessá-rio, filas, retrabalhos, redundâncias operacionais, variações ex-cessivas, ajustes, superprodução, etc.

Ou seja, dentro da estrutura empresarial, há dois tipos deesforços: aqueles que agregam valor ao bem, que compreendeas atividades que realmente aumentam o valor do produto (nor-malmente condicionadas às atividades de transformação) eaqueles que não agregam valor ao bem, mas proporcionamsuporte para o trabalho efetivo.

Os desperdícios não adicionam valor aos produtos e tambémnão são necessários ao trabalho efetivo. Algumas empresas,inclusive, estão utilizando tal para mensurar itens que não adici-onam valor ao produto no enfoque do consumidor. Dependendoda percepção que o cliente tenha dos bens ou serviços, algu-mas características dos mesmos podem estar, inclusive, diminu-indo o valor dos produtos.

Portanto, ao se estruturar e manipular os demonstrativos con-tábeis de forma a fazer submergir os desperdícios, focando, as-sim, em sua eliminação ou redução, a empresa se tornará maiseficiente. Enquanto não fizer isso, sua miopia contábil poderálevá-la a descontinuidade.

Percebe-se que um desperdício poderia ser classificado comoDespesa não Operacional, entretanto, como não há a devidanoção da importância informativa da localização e devida sepa-rabilidade dos desperdícios, os mesmos acabam configurandoos custos e despesas.

4.1.1 - Tipos de DesperdíciosA partir dos conhecimentos de Shingo21 e McNair22 pode-se

classificar:a) Desperdícios de superprodução - Refere-se à produção

de itens acima do necessário ou antecipadamente. Com isso,há um aumento dos estoques, podendo mascarar imperfeiçõesdo processo. Para ser completamente eliminado, a empresa deveproduzir uma quantidade próxima ao necessário;

b) Desperdícios por transporte - Refere-se às atividades demovimentação de materiais. Sua eliminação ou redução estáatrelada a reorganização física da fábrica;

c) Desperdícios no processamento - Correlacionados às ati-vidades de transformações desnecessárias para que o produtoadquira suas características básicas de qualidade, ou seja, con-sistem em se trabalhar fazendo peças, detalhes ou complexida-des produtivas excessivas. Além disso, define-se que parte des-te desperdício está intimamente relacionada com a percepçãoque o cliente tem do produto. Se o bem ou serviço possuempeças e partes que são dispensáveis do ponto de vista do con-sumidor, então os custos dos mesmos não agregam valor para oproduto final e, portanto, são gastos que não visam a geração dereceita. Sua eliminação depende de técnicas de análise do va-lor de produto e de processo, bem como um pós venda bemestruturado;

d) Desperdícios por fabricação de produtos defeituosos -Relacionado à produção de itens fora das especificações de

qualidade. Este talvez seja o mais comum e o mais fácil deser identificado. Sua eliminação depende de uma confiabili-dade no processo e na rápida identificação e solução de pro-blemas;

e) Desperdícios no movimento - Relaciona-se à movimenta-ção inútil na consecução das atividades. Sua eliminação estáno esforço de estabelecer padrões de desempenho, bem comoo de atingir tais metas;

f) Desperdícios por espera - Formados pela capacidade ocio-sa, ou seja, trabalhadores e máquinas paradas. Seus principaisgeradores são: elevado tempo de preparação, ajustes necessá-rios, mudanças de layout da linha de produção, falta de sincroni-zação da produção e falhas não previstas no sistema produtivo.Devem ser através da redução o tempo de processamento, tem-po de ajustes, filas, balanceamento da produção e aumento daconfiabilidade do sistema;

g) Desperdícios de estoques - Gerado basicamente pela su-perprodução ou falhas no processo que podem resultar em gar-galos e, consequentemente, em excesso de estoques em pro-cesso. Para sua eliminação deve ser localizado tais gargalos,bem como adequação da produção à necessidade do mercado;

h) Desperdícios de matéria-prima - Relacionados ao desper-dício de matérias-primas despendidas de maneira anormal ouacima do estritamente necessário à confecção do produto. Con-funde-se com desperdício de processamento, entretanto este émais fácil de ser localizado. Para isso localiza-se variação ex-cessiva do padrão estabelecido;

i) Desperdícios de capacidade humana - São aqueles muitasvezes associadas em outros processos, mas que estão relacio-nados ao conhecimento dos funcionários. Existem a partir detreinamentos inadequados, funcionários sem poder de decisãoou de flexibilidade, imperícia e erros no processo, ou até comu-nicações ineficientes transmitidas de cima para baixo ou viceversa. Sua eliminação deve estar condicionada a uma gerênciade RH bem estruturada;

j) Outros desperdícios - Há ainda uma gama de desperdíciosnão alocados em nenhum anterior, por ser inclusive possívelalocá-los em todos. São aqueles como redundância operacio-nal, burocratização, erros de remessa, promessas descumpri-das, insatisfação de clientes, entregas atrasadas, retrabalhos,inspeções para tentar apurar falhas não encontradas, paralisa-ções não esperadas, e qualquer outro gasto que não visa recei-ta e reduz o lucro da organização.

Muito em voga a tentativa da empresa em minimizar oueliminar por completo os desperdícios na busca pela eficiên-cia empresarial. Entretanto, percebe-se que, muitas vezes, aeliminação de um desperdício causa a maximização de ou-tro. Assim como acontece no estudo do LEC (Lote Econômicode Compra), que, por exemplo, a escolha do mínimo custo deestocagem causa a maximização do custo de pedido, então aempresa irá calcular um ponto onde o custo será mínimo. Omesmo ocorre com desperdícios, como é o caso de superpro-dução e por espera. Caso a empresa elimine por completo aociosidade, pode acarretar maximização de produção e decusto de estoques, causados por esta superprodução.

21 SHINGO, Shigeo. Study of Toyota production system from industrial engineering viewpoint. Tokyo, Japan: Japan Manegement Association, 1981 in BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação

eme empresas modernas. São Paulo: Bookman, 2002. p. 31.

22 MCNAIR, Carol J. Op cit. p. 07

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4.2 - Otimizar a utilização do D.R.E.A partir destas definições podermos reformular o D.R.E. de

acordo com nossas expectativas, com intuito de valorar a de-monstração e evidenciação. Lembre-se que podem existir vári-as “versões” do mesmo relatório para usuários diferentes, ouseja, esta reformulação pode ser naturalmente feita, desde queseja gerencial.

Os valores apresentados no relatório do Demonstrativo deResultados, de acordo com a Contabilidade Financeira, utilizamo método da competência. Esse método tem por objetivo apro-priar os gastos que foram necessários à organização para obtera receita que está sendo apresentada. De uma forma geral, oDemonstrativo de Resultado empregado na Contabilidade Fi-nanceira tem a seguinte estrutura de informação:

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO

Receita Operacional Bruta (de vendas ou serviços) $

(-) Deduções $

(=) Receita Operacional Líquida $

(-) Custo das Mercadorias /

Produtos Vendidos (CMV / CPV ) $

(=) Lucro Operacional Bruto $

(-) Despesas Operacionais

(comerciais, administrativas, gerais) $

(=) Lucro Operacional Líquido $

(+ / -) Resultados Não Operacionais $

(=) Lucro Antes do Imposto de Renda $

(-) Contribuição Social / Provisão

para Imposto de Renda $

(=) LUCRO ou PREJUÍZO

LÍQUIDO DO EXERCÍCIO $

Nunca é demais recordar que a Demonstração do Resultadodo Exercício possui, como objetivo, informar aos usuários dasdemonstrações contábeis uma série de informações acerca deseus objetivos. Algumas delas: a rentabilidade da empresa nodecorrer do tempo, a margem que cada processo etapa do pro-cesso gera, o resultado do período como medida de desempe-nho das atividades da empresa, o peso de cada rubrica frente àreceita, o comportamento de cada linha ao longo do tempo, en-tre outras.

Nesse sentido, o contador deve evitar processos sofisticadosque interfiram no entendimento da informação contábil. As De-monstrações de Resultado dos Exercícios deverão informar atendência do empreendimento. Por exemplo, saber uma possí-vel correlação existente entre Receita e Custo dos ProdutosVendidos, evidenciando ou não uma eficiência; o peso das des-pesas financeiras que impactam o resultado e o risco inerente àempresa; uma possível relação entre o preço cobrado e o lucroatingido, de forma a entender o comportamento do mercado eaproveitar uma maior sinergia deste conhecimento.

Dentro deste relatório, pode-se visualizar melhor os desper-dícios ocorridos ao expurgá-los das classificações, onde nor-malmente são inseridas (Custo das Mercadorias / DespesasOperacionais), lançando-os em despesas não operacionais. Issoagregaria mais informação ao gestor, indicando com maior pre-cisão e assertividade, onde a empresa poderá se esforçar paramelhorar resultados, inclusive em índices e análises. Com oexemplo a seguir, será exposta a melhoria informacional.

4.3 - ExemploUma empresa chamada Lost’n’notfound tentava se encontrar

dentro do próprio processo de geração de valor. Seu único pro-duto, o energetion, tem um preço de $ 250,00 por unidade. Ape-sar do mercado absorver 1.000 unidades por mês, sua capaci-dade é de 2.000 unidade / mês. Seu contador informou, ainda,os seguintes dados:

Custo Variável $ 110,00 Custo Fixo $ 80.000,00Por unidade MAD $ 80,00 Despesa Variável $ 30,00 / unid

MOD $ 20,00 Despesa Fixa $ 25.000,00Outros $ 10,00 Custo de Estocagem $ 45,00 / unid

Em uma melhor apuração, estipulou-se e apurou-se ainda:

Eficiência

MAD5,0 Kg / unid $ 16,00 / Kg

MOD10,0 h / unid $ 2,00 / hora

$ 80,00 / unid $ 20,00 / unid

Dados dos fatos ocorridos

MAD

5,1 Kg / unid $ 16,30 / Kg

MOD

10,3 h / unid $ 2,15 / hora

$ 83,13 / unid $ 22,04 / unid

Produção 1.200 unidades

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O seguinte D.R.E. poderia ser montado a partir das informa-ções acima:

Receita $ 250.000,00

(-) C.M.V. $ 181.834,17

= Lucro Bruto $ 68.165,83

(-) Despesas $ 64.000,00

= Lucro Operacional $ 4.165,83

(-) Result Não Oper $ 0,00

= LAIR $ 4.165,83

A fim de tornar este relatório mais condizente com a funciona-lidade contábil bem como gerador de informação, remodela-seo D.R.E. estruturando-o da seguinte maneira:

Receita $ 250.000,00

Custos Variáveis $ 110.000,00

Despesas Variáveis $ 30.000,00

Margem de Contribuição $ 110.000,00

Custos Fixos $ 40.000,00

Despesas Fixas $ 25.000,00

Lucro Operacional $ 45.000,00

Result Não Oper

Ociosidade $ 26.666,67

Estocagem $ 9.000,00

Variação MOD $ 2.037,50

Variação MAD $ 3.130,00

LAIR $ 4.165,83

Percebe-se que o LAIR dos dois relatórios não possui dife-rença, entretanto a análise a ser formulada é mais detalhada. Arelevância da informação gerencial amplia-se, visto que cadadesperdício necessita uma ação específica e “a quantificaçãodos mesmos permite a formação de prioridades para a atuaçãogerencial no combate aos desperdícios”23 .

Isso agregaria ao gestor mais valor à importância do sistemacontábil como fonte de informação, pois garantiria à sua tomadade decisão uma maior assertividade e certeza.

5 - CONCLUSÃO O controle organizacional é imprescindível ao sucesso do

empreendimento. Seu principal mecanismo, a Contabilidade,bem como todas suas engrenagens, fazem com que haja umamaior precisão na identificação dos problemas internos de umaorganização.

Como exemplo, cita-se a Tigre que “sabe exatamente quantocusta cada novo microcomputador, cada funcionário da assis-tência técnica, cada máquina que processa as informações cor-porativas. Com essas informações ele conseguiu um ganho deeficiência notável”24 . Outro exemplo é a Basf que “implementouseu sistema integrado de gestão, ou ERP, dentro do prazo e aum custo 30 % inferior”25 resultado de cobranças e cumprimentode custos e prazos.

“A era da informação criou mercados hipercompetitivos. Oscompradores estão mais informados a respeito das ofertas dosconcorrentes, mais conscientes em relação ao preço e mais exi-gentes quanto às características dos produtos e serviços, doque em qualquer outra época e em qualquer outro mercado.”26

Por isso, no mundo turbulento dos negócios, há exigências dasempresas tornarem-se enxutas. A partir disso, o corte de custosmuitas vezes é implementado, em que a demissão de pessoaspassa a ser um mecanismo atraente por proporcionar resulta-dos a curto prazo.

Todavia, a redução de custos deve ser realizada de ma-neira coerente e inteligente atrelado ao enfoque estratégi-co, bem como ao controle proporcionado pela Contabilida-de Gerencial, evitando, portanto, que um possível corte decustos possa ser feito sem que ocorra algum revés inespe-rado ou afete negativamente o cenário de médio e longoprazos. Ou seja, muitas vezes o corte de custos pode edeve ser realizado, mas decisões ineficazes podem resul-tar em processos operacionais ineficientes, chocando-sediretamente com a performance estrutural e econômica dasempresas.

Com a Contabilidade gerencial, através de mecanismoseficientes da gestão orçamentária, o processo de redução decustos torna-se mais preciso, proporcionando, assim, otimi-zação dos gastos empresariais, efetivando-se numa profícuaferramenta para avaliação de desempenho e maximizaçãode resultado.

Só que para sua melhor utilização o gestor pode melhorutilizar os relatórios existentes, como a D.R.E., a fim desaber localizar e evidenciar os problemas, como no casoexemplificado, os desperdícios. O objetivo deste trabalhofoi mostrar que os relatórios contábeis são de imensa im-portância para os gestores que buscam mensurar as variá-veis que podem levar a empresa a descontinuidade, afinaltudo aquilo que não é medido, controlado ou evidenciado,não é gerenciado.

23 BORNIA, Antonio Cezar. Op cit. p. 65.

24 TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Chega de desperdício. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002. p. 34

25 TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Op cit. p. 35

26 KOTLER, Philip, JAIN, Dipak e MAESINCEE, Suvit. Marketing em ação. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p.06

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5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTHONY, Robert N. Contabilidade gerencial. Tradução de Management accounting principles, por Luiz Aparecido Caru-so. São Paulo: Atlas, 1975.

BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação eme empresas modernas. São Paulo: Bookman, 2002.COPELAND, Tom. Cutting costs without drawing blood.Harvard Business Review. Set-Oct / 2000.DIEGUEZ, Consuelo. O futuro está em jogo. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002.HAMEL, Gary. O pior inimigo é a tradição. Exame n 737, ano 35, abril/2001.HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.HORNGREN, Charles T., et al. Contabilidade de custos. Tradução de “Cost accounting” 9 ed., por José Luiz Paravato. 9 ed.

Rio de Janeiro: LTC, 2000.

KOTLER, Philip, JAIN, Dipak e MAESINCEE, Suvit. Marketing em ação. Rio de Janeiro: Campus, 2002.MCNAIR, Carol J. Maximizando o lucro final - alto desempenho em todas as linhas do “lucro e perdas”. São Paulo: Makron

Books, 2000.NAGLE, Thomas. Cuidado com o preço. HSM Management, n 21. Julho-Agosto 2000.SANVICENTE, Antonio Zoratto. As 10 maiores armadilhas do orçamento. HSM Management. N 32, ano 6, maio-junho 2002TAVARES, Mauro Calixta. Gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2000.TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Chega de desperdício. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002.

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1 – INTRODUÇÃOO novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida

postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com or-ganizações que sejam éticas, com boa imagem institucional nomercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável.

Diante deste novo cenário, as organizações necessitam di-recionar suas estratégias para a variável ambiental, a fim deobter vantagem competitiva. As estratégias da empresa devemlevar em conta, a preocupação com gastos relevantes por natu-reza e volume, principalmente em função da relação custo/be-nefício. Estes gastos tornam-se relevantes para a organização,bem como para a qualidade de vida da população atual e dasgerações futuras.

Nestas condições, um gerenciamento dessa variável exigeferramentas gerenciais para o controle dos custos e despesas.Isto exposto, se faz necessário que os gastos de natureza ambi-ental devam ser controlados e gerenciados continuamente. Paraisso, as empresas podem adotar sistemas de custos da qualida-de ambiental, a fim de apurar os seus números que, na maioriadas vezes, estão distorcidos por outros custos da empresa.

2 – MEIO AMBIENTE E CUSTOSDA QUALIDADE AMBIENTAL

A busca pela preservação do meio ambiente tomou forma ecomeçou sensibilizar a sociedade e as autoridades.

Hoje, após anos de intensas discussões, conclui-se que aausência de crescimento ou desenvolvimento é nociva ao meioambiente e que a grande questão atual é torná-lo sustentável.

De acordo com Alves (2001), a variável ambiental é um as-pecto significativo a ser considerado e tratado na estratégia dasorganizações. A gestão ambiental, por sua vez, deve ser geridaeficientemente, monitorando-se os custos de controle, a polui-ção e os custos das falhas da falta de controle de gestão.

Moura (2000) diz que os custos da qualidade ambiental de-vem ser utilizados na avaliação e melhoria da posição de compe-titividade das companhias, com relação aos seus concorrentes.Daí a sua importância. Enfatiza também que a gestão de custosda qualidade ambiental é uma ferramenta fundamental para ogerenciamento do sistema de gestão ambiental, pois fornece ele-

mentos para a alta administração das empresas à tomada dedecisões, direcionando a melhoria do desempenho ambiental.

Desse modo, o gerenciamento ambiental passa a ser um fa-tor estratégico que a alta administração das organizações deveanalisar.

A Gestão Ambiental inclui uma série de atividades que devemser administradas, tais como: formular estratégias de administra-ção do meio ambiente, assegurar que a empresa esteja em con-formidade com as leis ambientais, implementar programa de pre-venção à poluição, gerir instrumentos de correção de danos aomeio ambiente, adequar os produtos às especificações ecológi-cas, além de monitorar o programa ambiental da empresa.

Além dessa ferramenta, a problemática ambiental envolvetambém o gerenciamento dos assuntos pertinentes ao meioambiente, por meio de sistemas de gestão ambiental, da buscapelo desenvolvimento sustentável, da análise do ciclo de vidados produtos e da questão dos passivos ambientais.

3 – GESTÃO AMBIENTALA nova consciência ambiental, surgida no bojo das transforma-

ções culturais que ocorreram nas décadas de 60 e 70, ganhoudimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios fun-damentais do homem moderno. Nos anos 80, os gastos com pro-teção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderesnão primordialmente como custos, mas como investimentos nofuturo e, paradoxalmente, como vantagem competitiva.

A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos daorganização moderna amplia substancialmente todo o conceitode administração. Administradores, executivos e empresários

GESTÃO DOS

CUSTOS DA

QUALIDADE

AMBIENTAL

� Maria Elisabeth Pereira Kraemer

� Contadora, CRC/SC nº 11.170, Professora e Membro da equi-pe de Ensino e Avaliação na Pró-Reitoria de Ensino da UNIVALI –Universidade do Vale do Itajaí. Mestre em Relações EconômicasSociais e Internacionais pela Universidade do Minho-Portugal. Dou-toranda em Ciências Empresariais pela Universidade do MuseuSocial da Argentina. Membro da Corrente Científica Brasileira doNeopatrimonialismo e da ACIN – Associação Científica Internacio-nal Neopatrimonialista.

5º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque

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introduziram em suas empresas programas de reciclagem, me-didas para poupar energia e outras inovações ecológicas. Es-sas práticas difundiram-se rapidamente, e em breve vários pio-neiros dos negócios desenvolveram sistemas abrangentes deadministração de cunho ecológico.

Esse novo paradigma precisa ser acompanhado por umamudança de valores, passando da expansão para a conserva-ção, da quantidade para a qualidade, da denominação para aparceria.

A gestão ambiental demanda uma dimensão ética, cujas prin-cipais motivações são a observância das leis e a melhoria daimagem da organização. É motivada por uma ética ecológica epor uma preocupação com o bem-estar das futuras gerações.Não questiona a ideologia do crescimento econômico, que é aprincipal força motriz das atuais políticas econômicas e, tragica-mente, da destruição do ambiente global.

Assim, para que uma empresa passe a realmente trabalharcom gestão ambiental deve, inevitavelmente, passar por umamudança em sua cultura empresarial; por uma revisão de seusparadigmas.

4 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELO desenvolvimento sustentável é aquele que atende às

necessidades do presente sem comprometer a possibilida-de de as gerações futuras atenderem a suas próprias ne-cessidades. Ele contém dois conceitos-chave: 1) o concei-to de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenci-ais dos pobres no mundo, que devem receber a máximaprioridade; 2) a noção das limitações que o estágio da tec-nologia e da organização social impõe ao meio ambiente,impedindo-o de atender às necessidades presentes e futu-ras.

Além disso, desenvolvimento sustentável introduz uma di-mensão ética e política que considere o desenvolvimento comoum processo de mudança social, com conseqüente democrati-zação do acesso aos recursos naturais e distribuição eqüitativados custos e benefícios do desenvolvimento.

Para a existência de uma sociedade sustentável, Meyer (2000)diz que é necessária a sustentabilidade ambiental, social e po-lítica, constituindo-se em alinhamentos e ajustes ao longo doprocesso, a fim de se buscar um estágio final equilibrado.

O desenvolvimento sustentável, além de equidade soci-al e equilíbrio ecológico, segundo Donaire (1999), apre-senta, como terceira vertente principal, a questão do de-senvolvimento econômico. Induz um espírito de responsa-bilidade comum como processo de mudança no qual a ex-ploração de recursos materiais, os investimentos financei-ros e as rotas do desenvolvimento tecnológico deverãoadquirir sentidos harmoniosos. Neste sentido, o desenvol-vimento da tecnologia deverá ser orientado para metas deequilíbrio com a natureza e de incremento da capacidadede inovação dos países em desenvolvimento, e o progres-so será entendido como fruto de maior riqueza, maior be-nefício social eqüitativo e equilíbrio ecológico.

Então para solucionarmos este conflito, temos que passarpor uma mudança de valores e de orientação nos sistemas pro-dutivos das organizações e da sociedade, com a produção e oconsumo, visando à minimização de danos e impactos ambien-tais negativos normalmente causados

5 - CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS

O ciclo de vida do produto tem sido estudado em ampla gamade contextos organizacionais, influenciando as relações comer-ciais entre países exportadores e importadores, tendo como pre-ocupações de caráter ambiental aspectos que compreendemdesde o processo produtivo e seus produtos, o uso, até o poste-rior descarte.

A série ISO 14000, na organização do seu comitê técnico TC-207 – Gestão Ambiental, encarregado da elaboração das nor-mas e guias internacionais para o SGA – Sistema de Gerencia-mento Ambiental, Nahuz (1995), criou o subcomitê SC-5 paraAvaliação do Ciclo de Vida, considerando os impactos causa-dos ao meio ambiente desde a extração da matéria-prima usa-da na geração do produto, e por todo processo produtivo, levan-do em conta as emissões de efluentes, até o descarte do produ-to com sua reintegração ao meio ambiente.

A avaliação do ciclo de vida do produto é definida por Chehe-be (1998) como uma técnica para avaliação dos aspectos ambi-entais e dos impactos potenciais, associados a um produto, com-preendendo etapas que vão desde a retida da natureza dasmatérias-primas elementares que entram no sistema produtivo(berço) à disposição final (túmulo).

O referido autor diz que a análise do ciclo de vida pode serutilizada com um enfoque gerencial para vários propósitos, poisajuda no seguinte:- a identificar oportunidades de melhoramentos dos aspectos

ambientais, considerando as várias fases de um sistemade produção.

- na tomada de decisão, por exemplo, no estabelecimento deprioridades ou durante o projeto de produtos e processos,podendo levar à conclusão de que a questão ambientalmais importante para uma determinada empresa pode estarrelacionada ao uso de seu produto, e não as suas matéri-as-primas ou ao processo produtivo.

- como parte do processo para avaliar a seleção de componen-tes feitos de diferentes materiais.

- Na avaliação da performance ambiental.Na realidade, a análise do ciclo de vida propõe-se a respon-

der às questões e às dúvidas mais comuns quando da concep-ção de um produto. De acordo com Alves (2001): que embala-gens causam menos danos ao meio ambiente: retornáveis ourecicláveis? Quais dessas alternativas são mais viáveis econo-micamente? Essas e outras questões são importantes, pois asempresas são responsáveis pelo produto até a disposição final,conforme a legislação brasileira atual.

6 – PASSIVO AMBIENTALO passivo ambiental são as obrigações contraídas pela em-

presa perante terceiros, que têm como origem um gasto ambi-ental (ativos, custos, despesas etc). Assim, segundo Ribeiro &Gonçalves (2002), constituem-se obrigações ambientais aque-las decorrentes de compras de ativos ambientais, de elementosconsumidos durante o processo de produção e aqueles prove-nientes de penalidades impostas às organizações por infraçãoà legislação ambiental, por danos ao meio ambiente e à propri-edade de terceiros.

Com a dinâmica dos negócios, os passivos ambientais de-vem ser tratados com muita atenção e devem fazer parte da

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tomada de decisões das organizações na aquisição de outrasempresas, na formação de cluster, nas fusões, nas análises deriscos do negócio, na venda da empresa e na concepção denovos produtos, dentre outras transações pertinentes ao assun-to.

Para a ONU apud Ribeiro (1998), existem três tipos de obri-gações decorrentes do passivo ambiental:

1) - Legais – são as provenientes de instrumentos legais.2) Construtivas – são aquelas que a empresa propõe-se a

cumprir espontaneamente, excedendo as exigências legais.3) Justas (equitable) – refletem a consciência de responsabi-

lidade social; ou seja, a empresa cumpre em razão de fatoreséticos e morais.

Alves (2001) ressalta que a variável custos da qualidadeambiental decorrente de gastos para manter o padrão de emis-são dos resíduos, em conformidade com as leis que regulamen-tam a questão ambiental no Brasil, bem como as despesas origi-nadas pela falta de controle, como os passivos ambientais e osdemais custos envolvidos (dentre eles: ciclo de vida de produ-tos, manutenção dos sistemas de gestão e custos dos estudosde novas tecnologias menos impactantes ao meio ambiente),deverão fazer parte do controle de custos gerenciais das organi-zações.

7 - CUSTOS DA QUALIDADECom o propósito de participar de forma efetiva neste mercado

com tendências à globalização, os fatores de produção sempreestiveram constituindo o núcleo de preocupações dos gestoresempresarias, tanto no contexto de ambiente produtivo em si,como também no que diz respeito à dinamicidade de fatoresexternos de qualquer forma, associados aos núcleos de trans-formação das empresas.

Os conceitos de custos da qualidade passaram a ser disse-minados com a bibliografia que tratava do controle da qualidadee buscava oferecer suporte às ações de melhorias, além detentar medir a qualidade das empresas. A partir daí, surgemconceitos iniciais de custos da qualidade, buscando oferecersuporte às ações de melhoria e como forma de medir a qualida-de das empresas.

Para SÁ (1995), custo da qualidade é a aplicação de capitalno sentido de oferecer o produto que se elabora um caráterdistintivo, que lhe atribui condições para a plena satisfação docliente, quer quanto à utilização, quer quanto ao preço.

Os custos da qualidade são um importante indicativo paraavaliar quanto às empresas estão perdendo ou deixando deganhar por não estarem produzindo com qualidade. Então cus-tos da qualidade buscam identificar e apontar as falhas existen-tes, assim como os custos para se prevenir problemas decorren-tes dessas falhas.

Esses custos são classificados em dois grandes grupos: osCustos do Controle e os Custos de Falhas no Controle. Os Cus-tos do Controle se subdividem em Prevenção e Avaliação e nocaso dos Custos de Falhas no Controle em Custos de FalhasInternas e Custos de Falhas Externas. Abaixo, será detalhadocada custo de acordo Shank & Govindarajan (1995).

Custos de Prevenção – A soma de todos os custos associa-dos a medidas tomadas para planejar o processo de modo agarantir que não ocorrerão defeitos. Por exemplo, projetar umprocesso de fabricação sem defeitos, um projeto de produto es-

tável, treinamento e desenvolvimento de empregado, etc.Custos de Avaliação – Aqueles custos associados à medi-

ção do nível de qualidade obtido pelo sistema ou, em outraspalavras, custos associados à inspeção para garantir que asexigências do cliente sejam atendidas. Por exemplo, inspeção eteste de protótipo, inspeção e teste de recebimento, inspeçãodurante o processo, e auditoria de qualidade em produtos aca-bados.

Custos de Falha Interna – Aqueles custos incorridos paracorrigir a produção defeituosa antes que ela chegue ao cliente.Por exemplo, refugo, retrabalho, reparo, reprojeto, reinspeçãode retrabalho, paralisação devido a defeitos e custo de oportuni-dade de vendas perdidas causadas por ter produção insuficien-te para vender.

Custos de Falha Externa – Aqueles custos associados àentrega de produtos com defeito ao cliente. Por exemplo, ajus-tes de garantia, investigação de defeitos, devoluções, cancela-mentos, processos judiciais e perda da boa vontade do cliente.

8 - COMO MEDIR OS CUSTOS DA QUALIDADESegundo Coral (1996), existem dois enfoques para se medir

os custos da qualidade: o enfoque tradicional e uma nova ten-dência que se baseia na utilização de valor agregado.

No enfoque tradicional, os custos da qualidade são obtidosatravés da identificação de itens de prevenção, avaliação, falhainterna e falhas externos em uma organização. Os cálculos doscustos são retirados de relatórios contábeis e através de ajustesem sistemas de custos tradicionais, levando aos mesmos pro-blemas dos sistemas tradicionais de custos, uma vez que ositens dos custos da qualidade são separados em grandes blo-cos de custos e não relacionam tais itens as suas causas.

Neste enfoque, adiciona-se um relatório financeiro de falhas,que serve para medir a qualidade em uma empresa, porém nãoaponta as causas de falhas, não possuindo efeito significativono gerenciamento da qualidade.

Já no enfoque da utilização do valor agregado aos custos daqualidade, relaciona os itens de prevenção e falhas com as ati-vidades que agregam valor para o consumidor. Portanto o ge-renciamento da qualidade baseia-se na eliminação de ativida-des que não agregam valor e que resultam em custos desne-cessários para a organização. Nesta metodologia, os custos daqualidade são obtidos através de sistemas de custeio baseadosem atividades.

Para Juran & Gryna, apud Alves (2001), a mensuração doscustos da qualidade é vista pelos administradores como a formade se atender a vários objetivos ou questões, dentre os quais sedestacam:-aumentar a produtividade através da qualidade;-avaliar os programas de qualidade por intermédio de quantifi-

cações físicas e monetárias;-conhecer na realidade o quanto à empresa está perdendo pela

falta de qualidade;-revelar o impacto financeiro das decisões de melhoria;-tornar a qualidade um dos objetivos estratégicos da organização;-identificar as oportunidades para diminuir a insatisfação dos

clientes;-identificar as principais oportunidades para a redução dos cus-

tos;-expandir os controles orçamentários e de custos da qualidade; e

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-estimular o aperfeiçoamento da qualidade por meio de divulgação.Verifica-se, portanto, diante do exposto que os conceitos de

custos da qualidade são aplicáveis também aos custos da qua-lidade ambiental.

9 – CUSTOS DA QUALIDADE AMBIENTALOs custos de qualidade, na realidade, buscam identificar e

apontar as falhas existentes, bem como os custos para se preve-nir problemas decorrentes destas falhas.

Para Bovenberg & Goulder, apud Alves (2001) a interfaceentre a competitividade e a preservação do meio ambiente dá-se por meio da gestão dos custos da qualidade ambiental.

As empresas, para se adequarem à nova postura de preser-vação ambiental e buscarem uma política de qualidade ambien-tal na gestão da sua organização, devem se preocupar tambémcom os custos da relação meio ambiente e meio empresarial,destacando estes custos dos demais.

Neste sentido, Campos (1996) diz, que o meio empresarialdeverá se preocupar com dois aspectos relacionados aos seuscustos da qualidade ambiental: o primeiro, e mais complexo,buscar formas de considerar os custos tratados, até então, como“externalidades”, ou seja, internalizá-los; o segundo, identificare obter, para em seguida avaliar, os custos ambientais, sejamtanto os relacionados aos processos empresariais, quanto osrelacionados aos processos produtivos e a apuração destescustos tornar-se uma ferramenta imprescindível ao direciona-mento das tomadas de decisões.

Para melhor entendimento dos conceitos dos custos da qua-lidade ambiental e da sua padronização, a GEMI, Global Envi-ronmental Management Initiative, e a USEPA, U.S. Environmen-tal Protection Agency apud Alves (2001), atribuíram quatro cate-gorias de custos da qualidade ambiental e sugerem a seguinteclassificação:

- Custos Convencionais: incluem os custos que, na maiorparte das vezes, recebem atenção especial na contabilidadegerencial, tais como: investimentos em equipamentos, matéria-prima, mão-de-obra e materiais indiretos. Incluem todos custosassociados aos aspectos ambientais tangíveis de tais proces-sos e atividades. Seu controle conduz ao aumento da eficiênciaprodutiva, por eliminar o desperdício.

- Custos Potencialmente Ocultos: são aqueles ligados atodas as atividades necessárias para que a empresa se mante-nha em conformidade com as leis e outras políticas ambientaisinerentes à própria organização. Alves (2001) dá como exemploos custos com o monitoramento ambiental, treinamento e relató-rio ambiental.

- Custos com Contingências: são os gastos que podem ounão ocorrer devido a futuros custos de regulamentações, multase penalidades, gastos com recuperação de recursos naturaisdanificados, etc. Se o fato gerador de tais custos é conhecidoantecipadamente, possibilita à empresa definir ações a fim deevitá-los.

- Custos de Imagem e Relacionamento: envolvem a per-cepção e o relacionamento que os acionistas, comunidade egoverno desenvolvem com a companhia. Para Alves (2001),apesar de difícil quantificação, o desempenho ambiental podemelhorar ou prejudicar o relacionamento da empresa com ter-ceiros, e os impactos gerados podem ter custos e/ou implica-ções financeiras.

Os custos da qualidade ambiental para Moura (2000), refe-rem-se à definição, criação e montagem de um sistema de con-trole da qualidade ambiental, bem como da avaliação, de con-formidade com os objetivos e metas derivados da política ambi-ental, de normas legais e outros compromissos assumidos pelaempresa, além de outros custos associados com as conseqüên-cias de falhas ambientais, acidentes e incidentes.

Para se ter um efetivo controle dos investimentos e gastos naárea ambiental, Alves (2001) diz que o sistema de custos daqualidade ambiental pode auxiliar, sobremaneira, a competitivi-dade e sobrevivência das organizações, principalmente porapontar deficiências na gestão da qualidade ambiental, poden-do construir para as ações de melhoria contínua no desempe-nho ambiental da empresa.

Para implantação de um sistema de custos da qualidadeambiental Moura (2000) segue os mesmos procedimentos em-presariais tradicionais que consistem em: - preparação do gerenciamento geral do programa de custos

da qualidade ambiental; - identificação dos itens de custos da qualidade ambiental; - identificação dos centros de responsabilidade (centros de cus-

tos); -preparação dos formulários de coleta de dados dos custos da

qualidade; - treinamento das pessoas responsáveis pela obtenção dos

dados e do pessoal da contabilidade; - levantamento dos custos pelas pessoas responsáveis (coleta

de dados); e - preparação dos relatórios de análise.

10 – GESTÃO DE CUSTOS AMBIENTAISA gestão dos custos ambientais é um instrumento estratégico

para aumentar e reduzir os custos, conduzindo a um processode mudanças em desenvolvimento contínuo. É por intermédioda gestão dos custos ambientais que se fortalece os sistemasde gestão ambiental existentes ou facilita o estabelecimento desistemas padronizados. Ela gera informações básicas, ajuda aformar consciência e a criar estrutura que podem ser utilizadascomo primeiros passos para o processo ISO 14001.

Ela enfoca o fluxo de material, energia e água, não a raciona-lização. Ao contrário da maioria das outras ferramentas da ges-tão dos custos, ela não objetiva primordialmente a redução de(custos do) trabalho evitando, portanto, dois tipos de conflitossociais: com os empregados (emprego) e com a opinião pública(impacto ambiental).

Com o aumento da competitividade mundial, segundo Cam-pos (1996), as empresas começaram a se preocupar mais emcontrolar e gerenciar seus custos, juntamente com seus progra-mas de qualidade. Neste contexto, trabalhar com custos da qua-lidade passa a ser fundamental para medir e guiar a qualidade,as estratégias de custos e a diferenciação das empresas moder-nas.

Com isso, surgem novos sistemas de custos para substituir aobsolescência e imprecisão dos sistemas de custos tradicio-nais, já que, por sua vez, por sua natureza, a maioria destescustos se enquadra na classificação de Custos Indiretos de Fa-bricação, dificultando, com isso, sua identificação e alocação.

De acordo com estudos realizados e constatações práticas,os atuais sistemas de custos repassam muitas vezes custo ao

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produto final que não lhe pertencem. Portanto, necessita-se deferramentas gerenciais que condiz com a realidade.

Neste cenário, o Custeio Baseado em Atividades (ABC) tem-se mostrado como o mais apropriado, para auxiliar a gestão doscustos ambientais, inclusive para contribuir no gerenciamentodo controle dos impactos ambientais.

O ABC preocupa-se em melhorar a apropriação dos custosaos produtos, sendo um sistema de custeio que se destaca pordetalhar, principalmente, os custos indiretos. Vêm tentando mi-nimizar os impactos de alocações inadequadas, através do cus-teamento das atividades exigidas pelos produtos ou demais ati-vidades operacionais. Ele constitui o ponto culminante da análi-se estratégica dos custos e, em conseqüência, contribui signifi-cativamente para o processo de planejamento estratégico daempresa.

Este sistema não é centrado apenas em números. Isto é, elenão se preocupa exclusivamente com os aspectos monetários,mas procura contemplar aspectos físicos das atividades, anali-sando fatos, atividades e processos. Assim, são definidos comoelementos importantes desta abordagem de custeio, conformeZardo & Schlosser (2002):

- Função: grupo de processos desempenhados com umafinalidade específica, como a função de marketing e vendas e,por exemplo, a de controle ambiental.

- Processo: conjunto de atividades encadeadas com um fimespecífico, como por exemplo, uma linha de montagem de umproduto ou o conjunto de procedimentos necessários para otratamento de uma determinada quantidade de resíduos polu-entes, em um período em particular.

- Atividades: ação empreendida a recursos consumidos parase chegar a um dado objetivo, como estudar o processo de pro-dução para verificar, por exemplo, o que causa a poluição.

- Tarefa: trabalho desenvolvido para a execução das ativida-des, como, por exemplo, selecionar os pontos passíveis de pro-dução de resíduos poluentes.

- Operações: operacionalização das tarefas, ou seja, a me-nor fração de trabalho, como visitar pontos passíveis de produ-ção de resíduos poluentes.

O fato do método em questão dividir a empresa em ativida-des, sua implantação resulta numa base de apoio adequadapara a definição de metas de resultados e para a obtenção deexcelência empresarial, a qual, segundo Brimson (1996), é aintegração eficaz do custo das atividades de todas as unidadesde uma empresa para melhorar, continuamente, a prestaçãodos serviços que satisfaçam ao cliente.

De acordo com Brimson (1996), a capacidade de alcançar emanter a excelência empresarial requer a melhoria contínua edeliberada de todas as atividades dentro de uma empresa. Nes-se sentido, o autor aponta, como elementos-chave, a eficáciaem custos, a integração de atividades, a coerência interna emtodas as unidades da empresa, a satisfação do cliente e a aloca-ção correta de custos.

Quanto à eficácia em custos, as atividades devem ser realiza-das com tanta eficácia quanto possível. Isso significa que a em-presa produz a custo baixo, mas não necessariamente ao me-nor custo. Ter custos baixos significa que os custos totais estãoabaixo da média de todos os concorrentes que oferecem produ-

tos ou serviços equivalentes ao mesmo segmento de clienteQuanto à integração de atividades, as empresas são organi-

zadas com rígidas especializações por assunto, de maneira queos relatórios gerenciais enfatizam as unidades organizacionaisindividuais, quase como se fossem independentes e auto-sufici-entes.

Portanto, estas e outras questões afins poderão ser facilmen-te respondidas, quando os gerentes dispõem de um sistema degestão e de apuração dos custos fundamentado no método decusteio ABC. Segundo Martins (1996), nada melhor do que co-nhecer os custos de todas as atividades para daí se ter condi-ções de verificar quais as atividades que não adicionam valor eque precisam ter seus gastos reduzidos ou anulados, e quais asatividades que podem sofrer processo de racionalização (àsvezes de reengenharia) para se chegar a esta adaptação aomundo real.

Enfim, o ABC é uma ferramenta de gestão que dá às organi-zações uma visão mais clara de sua economia interna e exter-na, através do qual os custos passam a ser visíveis, e dessaforma, podem ser alvo de programas que objetivem melhoresresultados para a empresa. Além disso, proporciona o cálculomais acurado do custo dos produtos, o qual suporta diversostipos de decisões.

Portanto, os recursos da área de gestão ambiental, conformeZardo & Schlosser (2002) devem ser rigorosamente mensura-dos e avaliados econômico, financeira e fisicamente de forma agarantir um adequado balanceamento de recursos possuídospela empresa, para assegurar a eficácia da aplicação destesrecursos e para satisfazer as exigências do público externo, oumais precisamente, para o cumprimento da responsabilidadesocial da empresa.

A análise dos custos da qualidade ambiental mostra-se umaferramenta gerencial importantíssima não somente à tomada dedecisão, mas também à gestão ambiental de forma equilibradae concisa.

11 – CONCLUSÃOAs despesas e os investimentos na área ambiental constitu-

em itens que não podem faltar no rol da gestão econômica dasorganizações, bem como os custos da qualidade ambiental, fer-ramenta pela qual as mesmas estão usufruindo para atingir asmetas do desafio do crescimento econômico, da administraçãodos passivos ambientais, da análise do ciclo de vida e da contri-buição para o desenvolvimento sustentável.

Para se ter um efetivo controle dos investimentos e gastos naárea do meio ambiente, o sistema de custos da qualidade ambi-ental pode auxiliar a competitividade e sobrevivência das orga-nizações, porque aponta deficiências na gestão da qualidade,contribuindo para a melhoria contínua no desempenho ambien-tal da organização.

Os custos da qualidade ambiental, na sua maioria são com-postos por atividade indireta, e para apuração ser mais efici-ente o Custeio por Atividade retrata a realidade, uma vez queo foco está na atividade, podendo com isto proporcionar eli-minação de custos de falhas e desperdícios, melhorias noprocesso produtivo e conseqüente aumento da competitivi-dade.

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12 – REFERENCIAISALVES, I. C. Metodologia para apuração e controle de custos da qualidade ambiental. Florianópolis. 2001. Dissertação

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Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.CHEHEBE, J. R. Análise do ciclo de vida de produtos. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998.CORAL, E. Avaliação e gerenciamento dos custos da não qualidade. Florianópolis. 1996. Dissertação (Mestrado em Enge-

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