vol. xii nº 47 jan./mar. 2010 -...

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ISSN 1519-0412 vol. XII nº 47 jan./mar. 2010 Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008 Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras Competências do Controller : um Estudo nas 100 Maiores Empresas de Santa Catarina Viagem Histórica pelo Vetusto Mundo da Contabilidade Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU

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ISSN 1519-0412ISSN 1519-0412ISSN 1519-0412

vol. XII nº 47 jan./mar. 2010

Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008

Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras

Competências do Controller: um Estudo nas 100 MaioresEmpresas de Santa Catarina

Viagem Histórica pelo Vetusto Mundo da Contabilidade

Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Consultores Ad Hoc Dr. André Carlos Busanelli de Aquino, Dr. Antônio Lopes de Sá, Dr. Francisco Antonio Bezerra, Dr. José Maria Dias Filho, Dr. Marcelo Coletto Pohlmann, Dr. Natan Szuster, Dr. Poueri do Carmo Mário, Dr. Ricardo Lopes Cardoso e Dr. Vinícius Aversari Martins.

Ficha catalográfica

P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-. - Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-.

Trimestral ISSN 1519-0412

1.Contabilidade. I.Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

CDU – 657

Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de JaneiroRua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJCEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2516-0878www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] de impressão: março/2010Tiragem: 2.000 exemplares

ISSN 1519-0412Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)Atendimento ao assinante •tel.: (21) 2216-9608 / fax: (21) 2516-9607

ExpedienteConselho Diretor do CRCRJ

Diva Maria de Oliveira GesualdiPresidente

Vitória Maria da SilvaVice-presidente

Regina Célia Vieira FerreiraVice-presidente Operacional

Francisco José dos Santos AlvesVice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional

João Bosco LopesVice-presidente de Fiscalização, Ética e Disciplina

Carlos Alberto do NascimentoVice-presidente de Registro

Claudio Vieira SantosVice-presidente de Interior

Vicente de Paulo MunizVice-presidente de Ouvidoria

Ana Cláudia Lima CorrêaVice-presidente de Controle Interno

CONCEITO QUALIS/CAPES: B4Esta revista é indexada pela Base Atena (www.atena.org.br)

Corpo EditorialFrancisco José dos Santos AlvesRio de Janeiro – RJEditorDoutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, professor da Universidade Estácio de Sá e professor da UERJ

Antonio Miguel FernandesRio de Janeiro – RJMestre em Ciências Contábeis – UERJ, professor da Faculdade Moraes Júnior, da EPGE da FGV Management e do CPGE da UCAM

Diva Maria de Oliveira GesualdiRio de Janeiro – RJContadora, Pós-Graduada em Gestão Financeira pelo ISEP e em Contabilidade Empresarial pela UniverCidade e professora da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie-Rio, da UniverCidade, do MBA de Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido Mendes

João Antonio da Silva CardosoRio de Janeiro – RJContador, economista, advogado, mestre em Sistema de Gestão. Professor da FGV e da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie-Rio.

José Alonso BorbaFlorianópolis – SCDoutor em Contabilidade – USP e professor da UFSC

Josir Simeone GomesRio de Janeiro – RJPós-doutorado em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e professor da UERJ

Lino Martins da SilvaRio de Janeiro – RJGraduação em Contabilidade pela Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas Moraes Júnior (1967) e em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1984). Livre-docência pela Universidade Gama Filho. Professor-adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coordenador-adjunto do Curso de Mestrado em Contabilidade.

Maria Thereza Pompa AntunesSão Paulo – SPDoutora em Controladoria e Contabilidade – USP e professora adjunta – Universidade Presbiteria-na Mackenzie/FAAP

Nahor Plácido LisboaSão Paulo – SPDoutor em Controladoria e Contabilidade – FEA/USP, professor da FEA/USP e pesquisador da FIPECAFI

Sandra Maria dos SantosFortaleza – CEPós-Doutorado em Economia Regional e Urbana – UFPE/PIMES, doutora em Economia Industrial – UFPE/PIMES e editora-chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e Gestão

Waldir Jorge Ladeira dos SantosRio de Janeiro – RJ Mestre em Contabilidade Financeira – UERJ, professor da UERJ, da Faculdade Moraes Júnior e da EPGE da FGV Management

Produção editorial: Cajá – Agência de Comunicação Jornalista responsável: Alessandra Vale (Mtb 21.215) Diagramação: Paulo Carvalho

Impressão: Gráfica Sermograf Apoio administrativo: Maria de Fátima Gomes Bacelo, Alex da Silva Peccini e Patrícia Silva

“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.”

PensarContábil

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Editorial

Sumário

Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008 5Daniela Torres da RochaJune Alisson Westarb CruzWesley Vieira da SilvaTomás Sparano Martins

Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras 16Júlio Orestes da SilvaRodrigo dos Santos CardosoJorge Ribeiro de Toledo Filho

Competências do Controller: um Estudo nas 100 Maiores Empresas de Santa Catarina 26Alessandra de Oliveira MachadoRogério João LunkesSérgio Murilo PetriFabrícia Silva da Rosa

Viagem Histórica pelo Vetusto Mundo da Contabilidade 35Miguel Gonçalves

Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU 43Erivelton Araújo Graciliano José Cláudio Moreira Filho Alessander de Paiva Nunes Fernando Cézar de Melo Pontes Fabrício Felício Zampa

Summary

Risk Analysis: a Bibliometric and Sociometric Study of the Scientific Production in the EnANPAD’s Area of Finance 1997-2008 5Daniela Torres da RochaJune Alisson Westarb CruzWesley Vieira da SilvaTomás Sparano Martins

Impact of Subprime Crisis on Debt of Major Brazilian Companies 16Júlio Orestes da SilvaRodrigo dos Santos CardosoJorge Ribeiro de Toledo Filho

Powers of the Controller: a Study in the 100 Largest Companies in Santa Catarina 26Alessandra de Oliveira MachadoRogério João LunkesSérgio Murilo PetriFabrícia Silva da Rosa

Historic Journey on Accounting’s Ancient World 35Miguel Gonçalves

Accountability in the Federal Public Administration: the Contribution of TCU Operational Audits 43Erivelton Araújo Graciliano José Cláudio Moreira Filho Alessander de Paiva Nunes Fernando Cézar de Melo Pontes Fabrício Felício Zampa

Já se passaram dez anos do século 21 e, sem dúvida, na próxima década, presenciaremos grandes mudanças em todo o mundo, principalmente no campo tecnológico, como, por exemplo, o surgimento da televisão 3D e do iPad, tecno-logia novíssima já à nossa disposição.

E falando de tecnologia, informamos que a base Atena de revistas eletrônicas da área de ciências contábeis e afins, gerenciada pelo CRCRJ, foi atualizada para uma nova ver-são do software utilizado (SEER). Visite a base no endereço www.atena.org.br.

A partir desta edição, passamos a utilizar uma capa pa-drão, apenas alternando as cores de fundo, dando maior destaque à logomarca da revista.

O CRCRJ inicia este ano sua nova gestão, tendo como pre-sidente a conselheira Diva Maria de Oliveira Gesualdi e con-tando conosco na Vice-presidência de Pesquisa e Desenvolvi-mento Profissional, garantindo a perenidade da revista Pensar Contábil. Nesse contexto de gestão, temos o primeiro artigo “Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Socio-métrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008”, que analisa as publicações voltadas à abordagem de riscos na área de finanças no Encontro Anu-al da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD). O artigo seguinte, “Impacto da

2010 e a nova gestãoCrise do Subprime no Endividamento das Maiores Em-presas Brasileiras”, traz um tema interessante, com origem nos EUA, cujo antecedente foi uma supervalorização dos imó-veis residenciais entre os anos de 1997 e 2006.

Em “Competências do Controller nas 100 Maiores Em-presas do Estado de Santa Catarina”, os autores tratam da identificação das características pessoais e profissionais dessa carreira. Voltando à Teoria da Contabilidade, temos o quarto artigo, intitulado “Viagem Histórica pelo Vetusto Mundo da Contabilidade”, sobre a evolução do pensamento contabi-lístico, efetuando uma viagem pela contabilidade de algumas das mais interessantes civilizações da antiguidade oriental e clássica. Por último, o artigo “Accountability na Admi-nistração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU” tem por objetivo evidenciar como as auditorias de natureza operacional do TCU têm contribuído no processo de accountability das entidades auditadas.

Senhores leitores, acreditando no diferencial, na transpa-rência e seriedade com que toda a equipe trabalha para que a revista exista, desejamos um ano repleto de oportunidades.

Francisco José dos Santos AlvesVice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional

Uma publicação do

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 3 - 4, jan./mar. 2010

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Orientações aos colaboradores da Revista Pensar ContábilPerfil temático e objetivos da publicação:A Revista Pensar Contábil é um periódico trimestral do Conselho Regional de Contabilidade, existente desde agosto de 1998 e tem como missão a divulgação de artigos relevantes na área de contabilidade, com o objeti-vo de fomentar a pesquisa.

Mecanismo de avaliação de artigos:Podem encaminhar artigos para a revista colaboradores do Brasil e do exterior.Os artigos recebidos são avaliados pelo Corpo Editorial e consultores externos, através do sistema double blind review, não sendo conhecidos os autores durante a avaliação.Os artigos são apreciados e pontuados para uma edição específica da revista.

Envio e regras para publicação de artigos:Os artigos deverão ser inéditos, podendo estar no idioma português, espanhol ou inglês. Devem ser encami-nhados para o e-mail [email protected], nos prazos e características a seguir:

Para publicação na Revista número Prazo para receber artigos 48 – abr./jun. - 2010 30/03/10 49 – jul./set. - 2010 30/06/10

a) em folha de rosto, deverá constar: - o título do artigo; - identificação e qualificação do(s) autor(es) constando: o nome completo, número de registro (se for o caso), for-

mação e qualificação profissional e/ou acadêmica (no caso de citar instituição de ensino, informar também o CEP, Cidade e UF correspondente);

- endereço completo, telefone, fax e e-mail do(s) autor(es);b) a estrutura de apresentação do artigo deverá conter: título do artigo, resumo e palavras-chaves, assim como os

mesmos tópicos em inglês (title, abstract, key words), introdução, desenvolvimento e conclusão;c) a bibliografia completa deverá ser apresentada em ordem alfabética no fim do texto, de acordo com as normas da

ABNT (NBR-6023 revisada);d) a formatação do artigo deve ser: - digitado em Word, tamanho A4, fonte Times New Roman; - fonte tamanho 12 para texto e tamanho menor para citações de mais de 3 linhas, notas de rodapé, paginação e

legendas das ilustrações e tabelas; - as folhas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm; - entrelinhas simples; - alinhamento justificado;e) os artigos deverão estar redigidos em português. Os artigos de autores do exterior serão publicados em inglês,

espanhol ou português, conforme o caso;f) os artigos deverão ter no mínimo 10 e no máximo 15 páginas;g) os artigos deverão ter sido completa e perfeitamente revisados;h) os direitos autorais dos artigos publicados nesta revista são dos autores, sendo concedidos pelos mesmos os

direitos da primeira publicação ao Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 3 - 4, jan./mar. 2010

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

Artigo recebido em 15/08/2009 e aceito em 27/01/2010.

1PPAD/PUCPR – Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – CEP: 80.215-901 – Curitiba – PR.2 EPS/UFSC – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina – CEP: 88.010-970 – Florianópolis – SC.3 Universidade Positivo – CEP: 81.280-330 – Curitiba – PR.4 Faculdades Opet – CEP: 80.520-000 – Curitiba – PR.

Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008

Daniela Torres da RochaCuritiba – PRMestranda em Administração pelo PPAD/PUCPR1

[email protected]

June Alisson Westarb Cruz Curitiba – PRDoutorando em Administração Estratégica pela PUCPR1

[email protected]

Wesley Vieira da Silva Curitiba – PRDoutor em Engenharia de Produção pela EPS/UFSC2 [email protected]

Tomás Sparano MartinsCuritiba – PRDoutorando em Administração na PUCPR1

Professor da Universidade Positivo3

Professor das Faculdades Opet4

[email protected]

ResumoO presente estudo propõe-se a analisar as publicações

voltadas para a abordagem de riscos na área de finanças no Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), observando os principais temas, autores, instituições de ensino, tipos de riscos, tipos de pesquisa, tipos de referências e cooperação entre os autores. Por meio da série histórica de 1997 a 2008, o EnANPAD apresenta uma população total de 602 artigos publicados na área de finanças, sendo identificados 47 traba-lhos acerca da temática proposta (riscos), que correspondem a 87 pesquisadores envolvidos de 23 instituições de ensino. Por meio de métodos bibliométricos e de análise de redes sociais, podem-se avaliar os padrões de relações entre au-tores e coautores. Como resultado, pode-se observar que, dos pesquisadores analisados, apenas 11 tiveram dois ou mais artigos publicados, respondendo por mais de 57,44% do total de artigos. Com relação ao mapeamento dos elos relacionais entre os autores, pode-se perceber uma baixa densidade geral (0,019), cercada por uma baixa média de centralidade, evidenciando uma suposta relação embrionária no desenvolvimento das cooperações entre pesquisadores das temáticas de riscos no EnANPAD nos últimos 12 anos.Palavras-chave: Risco, Finanças e Redes Sociais.

AbstractThis study’s proposal is to examine the publications on

risk approach in the area of finance in the Annual Meeting of the National Association of Graduate Studies and Research in Administration (EnANPAD), observing the main topics, authors, educational institutions, types of risks , types of re-search, types of references and cooperation between authors.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 5 - 15, jan./mar. 2010

Through a historical series from 1997 to 2008, the EnANPAD has a total population of 602 articles published in the area of finance and 47 papers were identified as being in the pro-posed theme (risks) that correspond to 87 researchers from 23 educational institutions. Through bibliometric methods and social networks analysis, we could evaluate the patterns of relationships between authors and co-authors. As a result, we could see that from the researchers examined, only elev-

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Daniela Torres da Rocha June Alisson Westarb Cruz Wesley Vieira da Silva Tomás Sparano Martins

en had two or more articles published, responding for more than 57.44% of the total number of articles. In relation to the mapping of relational links among authors, we could notice a general low density (0.019) surrounded by a low average of centrality, highlighting the alleged the embryonic relationship in the development of cooperation between researchers on the subject of risk in the last 12 EnANPAD years. Key words: Risk, Finance and Social Networks.

1. IntroduçãoO tema risco vem despertando interesse dos pesquisa-

dores que buscam saber como o risco pode ser gerenciado e quais os tipos de risco existentes. Na literatura, há estu-dos sobre tipos específicos de risco, como risco de mercado, abordado por Jorion (1997), e o risco de crédito, na obra de Caouette, Altman e Narayanan (1999).

O risco pode ser definido como uma variável causadora da evolução humana, uma vez que sua ausência implica a certeza de resultados e a restrição à construção de conheci-mentos (CAPELLETTO; CORRAR, 2006).

Para a área de finanças, o risco é a probabilidade de não obter o retorno esperado no investimento realizado, sendo estabelecido como a própria variância do retorno, sendo as-sim que, quanto maior a amplitude desse desvio, maior será o resultado exigido para compensar o risco assumido. Desta forma, dentro de uma empresa, o gerenciamento de riscos deve ser encarado por gerentes e funcionários como algo de importância fundamental (RISKTECH, 2005).

Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo analisar a pesquisa na área de riscos por meio das publicações na área de finanças do Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) nos últimos 12 anos (1997 a 2008), evidenciando os principais temas, autores, instituições de ensino, tipos de riscos, tipos de pesquisa, tipos de referências e cooperação entre os autores.

O presente o artigo está estruturado nas seguintes seções: introdução, referencial teórico, procedimentos metodológicos, apresentação e análise de resultados e considerações finais.

2. Referencial Teórico A presente seção aborda a fundamentação teórico-empí-

rica do estudo, observando os principais conceitos utilizados, apresentando-se nos seguintes itens: Conceituação de Ris-co e Tipos de Riscos.

2.1. Conceituação de risco De acordo com Famá, Cardoso e Mendonça Neto (2001),

a definição conceitual de risco nasceu há mais de 800 anos com o surgimento do sistema de numeração indo-arábico e, em seguida, no século XVII, com a teoria da probabilidade, permitindo-se a criação de técnicas quantitativas de adminis-tração de risco. Estes mesmos autores definem risco como a exposição à mudança, considerando-se a probabilidade de que ocorra algum evento.

Houaiss (2001) define o risco como uma probabilidade de fracasso de determinada coisa, em função de um eventual acontecimento, cuja ocorrência não depende somente do anseio dos interessados. Desta forma, o risco associa-se ao acaso, ao incerto.

Já para Bernstein (1997), o risco não é consequência do destino, mas sim uma opção, ou seja, o risco só existe quan-do existe ousadia.

Para Brito (2005), os riscos podem ser divididos em: a) risco de crédito, b) risco de mercado, c) risco de liquidez e d) risco operacional.

Bergamini Júnior (2005) destaca que a vantagem da divi-são dos riscos em categorias está em conseguir informações sobre a contribuição de cada tipo de risco para o resultado final da empresas e definir com isso, e com base em infor-mações adicionais sobre sua inclinação a cada tipo de risco, uma solução adequada por meio do controle desses riscos.

Gitman (2004) explica ainda que as atitudes em relação ao risco diferem entre os administradores e empresas, tornando-se, dessa forma, importante a delimitação de um nível aceitável de risco. Os três comportamentos básicos em relação ao risco são: a) indiferença: despreza as possíveis variações de retorno exigidas em razão do aumento de risco e vice-versa; b) aversão: o retorno aumenta quando o risco se eleva; se uma companhia é totalmente avessa ao risco, pode comprometer seriamente o retorno; e c) propensão: a companhia está disposta a abrir mão de algum retorno para assumir maiores riscos.

Assumir riscos é parte fundamental e indissociável do em-preendimento empresarial, já que as empresas são organi-zações cuja função econômica é produzir bens e serviços e quase a totalidade dessas atividades envolve um grau de exposição ao risco. Os riscos de uma empresa são assu-midos pelos stakeholders (acionistas, clientes, fornecedores, empregados e governo), e o sistema financeiro pode ser uti-lizado para transferir os riscos das organizações para tercei-ros (BODIE; MERTON, 2002).

O perfil de risco de um cliente pode ser definido como a soma de suas atitudes (CAOUETTE; ALTMAN; NARAYANAN, 1999). Os dados históricos permitem estudar os retornos e ris-cos dos títulos de crédito, que podem ser: a) dados cadastrais; b) conjunto de indicadores financeiros, obtidos por balanços, declaração de imposto de renda ou relatórios gerenciais; c) conjunto de informações sobre o cliente, obtidas no mercado; e d) informações de comportamento de pagamentos (SECU-RATO, 2002). O conhecimento do perfil de risco dos clientes permite à empresa aumentar sua carteira de risco, sem com-prometer os níveis de rentabilidade dessas operações.

2.2. Tipos de riscosDe acordo com Brito (2005), os riscos são classificados

em: a) risco de crédito, b) risco mercado, c) risco de liquidez; e d) risco operacional. Nesse sentido, observe-se a seguir o contexto geral de cada uma das classificações.

2.2.1. Risco operacionalSegundo Crouhy, Galai e Mark (2001, p. 475), “... é difícil

fazer uma clara distinção entre risco operacional e as in-certezas ‘normais’ enfrentadas pelas organizações em suas operações diárias”.

De acordo com Brito (2005), riscos operacionais podem ser definidos como riscos de perdas diretas ou indiretas pro-venientes de falhas ou ausências de processos e controles adequados, na dimensão interna, ou perdas decorrentes de eventos externos.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 5 - 15, jan./mar. 2010

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ Pensar Contábil

O risco operacional é definido por Jorion (1997, p. 16) como “as perdas potenciais resultantes de sistemas inade-quados, má administração, controles defeituosos ou falha humana, [e que] também incluem fraude e risco tecnológico”, de forma que os riscos operacionais estão fortemente ligados às pessoas, processos e tecnologia.

Na concepção de Duarte Jr. (1996, p.27), “risco opera-cional está relacionado a possíveis perdas como resultado de sistemas e/ou controles inadequados, falhas de gerencia-mento e erros humanos”.

De acordo com o Comitê da Basileia (BIS, 2004 apud AL-VES e CHEROBIM, 2006, p. 2), “risco operacional é definido como o risco de perdas resultantes de processos internos falhos ou inadequados, pessoas e sistemas, ou eventos ex-ternos. A definição inclui risco legal, mas exclui risco estraté-gico e reputacional”.

Este Comitê classificou sete tipos de evento para o ris-co operacional: fraudes internas; fraudes externas; práticas empregatícias e segurança no ambiente de trabalho; clien-tes, produtos e práticas de negócios; danos a ativos físicos; interrupção dos negócios e falhas de sistemas; e execução, entrega e gestão de processos (BIS, 2003 apud ALVES E CHEROBIM, 2006).

Segundo Bis (2003 apud ALVES e CHEROBIM, 2006, p. 2), a gestão do risco operacional pode ser entendida como “identifi-cação, avaliação, monitoramento e controle/mitigação do risco”.

Para Marshal (2002), o gerenciamento de risco operacio-nal abrange as seguintes atividades:

a. Identificação do risco: quais são os riscos a que a organização está exposta;

b. Medição do risco: determinação de quão crítico é o risco;

c. Prevenção de perdas operacionais: por meio de padronizações de procedimentos e documenta-ções;

d. Previsão de perdas operacionais: com a proje-ção dos riscos ao longo do tempo;

e. Transferência dos riscos a terceiros externos mais bem capacitados para lidar com risco;

f. Mitigação do impacto da perda após sua ocor-rência: redução da sensibilidade da empresa ao evento;

g. Mudança da forma do risco para outros tipos de risco e lidar com aquele risco; e

h. Alocação de capital para cobrir riscos operacionais.

2.2.2. Risco de liquidezOs riscos de liquidez, de acordo com Palia e Porter (2003),

surgem da incapacidade de satisfazer as exigências de cai-xa, quando necessário, podendo ser caracterizado como escassez de recursos disponíveis para o cumprimento das obrigações da instituição. O Banco Central do Brasil (2000) define o risco de liquidez como a ocorrência de desequilíbrios entre ativos negociáveis e passivos exigíveis que possam afetar a capacidade de pagamento da instituição, levando-se em consideração as diferentes moedas e os prazos de liqui-dação de seus direitos e obrigações.

De acordo com Gonçalves e Braga (2008), o Banco Cen-tral do Brasil (Bacen), em conformidade com os princípios

do gerenciamento de liquidez do Comitê de Basileia, estabe-leceu, por meio da Resolução 2.804 de dezembro de 2000, que as instituições financeiras devem manter sistemas de controle do risco de liquidez estruturados, de acordo com seus perfis operacionais e periodicamente reavaliados. Des-sa forma, as instituições devem, de acordo com a resolução, entre outras atribuições:

a. Manter os critérios e a estrutura estabelecidos para o controle do risco de liquidez, de forma adequadamen-te documentada;

b. Realizar avaliações dirigidas à identificação de meca-nismos e instrumentos que permitam a obtenção dos recursos necessários à reversão de posições que co-loquem em risco a situação econômico-financeira da instituição, englobando as alternativas de liquidez dis-poníveis nos mercados financeiros e de capitais; e

c. Preparar análises econômico-financeiras que permi-tam avaliar o impacto dos diferentes cenários na con-dição de liquidez de seus fluxos de caixa, levando em consideração até mesmo fatores internos e externos à instituição.

Para estes autores, para que o risco de liquidez possa ser avaliado, gerenciado e controlado, é necessário que sejam conhecidos os seus principais determinantes, ou seja, a par-tir da estrutura das contas ativas e passivas e suas inter-rela-ções identificar os principais fatores que têm maior influência na condição de risco da instituição.

De acordo com a Comissão de Gestão de Riscos da Fe-deração Brasileira de Bancos (2005 apud GONÇALVES e BRAGA, 2008), cujo objetivo é fornecer subsídios ao proces-so de gestão do risco de liquidez, podem-se utilizar indicado-res provenientes das relações das contas ativas e passivas dos balanços financeiros na avaliação da situação de liqui-dez da instituição, os quais são úteis por permitirem análises comparativas entre períodos diferentes ou em relação a ou-tras instituições com o mesmo perfil.

Brito (2005) afirma que, para que a gestão do risco de liquidez seja adequada, a política de liquidez da instituição deve contemplar a constituição de diferentes grupos para de-bater o assunto, uma vez que liquidez geral se refere a todos os ativos e passivos da instituição e não somente a ativos e passivos sob gestão da tesouraria.

2.2.3. Risco de créditoO crédito comumente envolve a perspectiva do recebi-

mento de um valor em determinado período de tempo. Nesse sentido, Caouette, Altman e Narayanan (1999) afirmam que o risco de crédito é a chance de que essa perspectiva não se cumpra.

Securato (2002) ilustra que o termo crédito tem origem no latim creditum, que significa confiança, boa fama, ou seja, em uma operação de crédito o que se estabelece é uma relação de confiança entre as partes envolvidas. Segundo o autor, o crédito pode ser definido como uma operação de emprésti-mo, utilizando-se dinheiro ou algo equivalente, sobre o qual incide uma remuneração de juros.

De acordo com Bessis (1998), o risco de crédito define-se como perdas geradas por um evento de default do tomador ou pela deterioração da sua qualidade de crédito, na qual

Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 5 - 15, jan./mar. 2010

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

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Daniela Torres da Rocha June Alisson Westarb Cruz Wesley Vieira da Silva Tomás Sparano Martins

existem distintas situações que podem caracterizar um evento de default de um tomador. O autor menciona como exemplo o atraso no pagamento de uma obrigação, o des-cumprimento de uma cláusula contratual restritiva, o início de um procedimento legal como a concordata e a falência ou, ainda, a inadimplência de natureza econômica, que ocorre quando o valor econômico dos ativos da empresa se reduz a um nível inferior ao das suas dívidas, indicando que os fluxos de caixa esperados não são suficientes para liquidar as obrigações assumidas.

Unido à maioria das transações financeiras, o risco de cré-dito possui características especiais por ser um tipo de risco em que a perda pode chegar a 100% do valor da transação atualizada (BRITO, 2005).

A mensuração deste tipo de risco pode ser definida como o processo de quantificar a possibilidade de a instituição in-correr em perdas, caso os fluxos de caixa esperados com as operações de crédito não se confirmem (BESSIS, 1998).

Jorion (2003) afirma que o risco de crédito é muito mais difícil de mensurar que o risco de mercado. Há inúmeros fatores que influenciam o risco de crédito, alguns deles de muito difícil mensuração em razão de sua falta de frequência. Incluem-se nesta categoria as probabilidades de inadimplên-cia suas correlações e taxas de recuperação. O autor explica que o risco de crédito lida com o efeito combinado do risco de mercado e risco de inadimplência:

• risco de inadimplência: que consiste na probabilida-de de inadimplência combinada com a perda, dada a inadimplência; e

• risco de mercado: que influencia o valor de mercado da obrigação, também conhecido como exposição a crédito.

2.2.4. Risco de mercadoDe acordo Brito (2005), o risco de mercado representa

perda econômica perante flutuações desfavoráveis das va-riáveis dos ativos relacionados, as quais estão presentes em mercados de juros, ações, câmbio, índices e mercadorias.

Os autores Brighan, Gapesnki e Ehrardt (2001, p. 573) afirmam que “o risco de mercado de determinada ação pode ser medido por sua tendência de se movimentar em relação ao mercado em geral”.

Para Brealey e Myers (1992, p. 155), “o risco de mercado deriva das oscilações do próprio mercado”. Para avaliação dos riscos de uma empresa, os investidores ou credores pre-cisam de subsídios para a definição do retorno desejado por meio de parâmetros homogêneos na classificação desses riscos. A avaliação de risco é feita por meio da mensuração e ponderação das variáveis determinantes do risco das empre-sas (SILVA, 2001, p. 306).

Uma das formas de avaliar o risco de mercado é por meio do Valor em Risco (Value at Risk – VaR), que, segundo Jo-rion (1997), mensura a pior perda esperada em dado inter-valo de tempo sob condições normais de mercado a dado intervalo de confiança.

Para Jacobson e Roszbach (2003), o VaR pode ser defi-nido como a perda máxima esperada para determinada car-teira de empréstimos com uma probabilidade de x%, durante um período específico de tempo “t”.

3. Procedimentos MetodológicosO presente estudo aborda métodos de pesquisa bibliográfi-

ca e bibliométrica. Segundo Pádua (2004), a finalidade da pes-quisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato com o que já foi produzido a respeito do tema da pesquisa. Já a pes-quisa bibliométrica é utilizada para quantificar os processos de comunicação escrita e o emprego de indicadores bibliométri-cos para medir a produção científica (OLIVEIRA, 2001).

Como amostra, foram analisados os últimos 12 anos (1997 a 2008) dos anais do Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), sendo aplicada a análise bibliométrica aos artigos da área de finanças, procurando identificar as temáticas de Riscos.

A coleta de dados valeu-se de pesquisa de dados secundá-rios, enquanto a perspectiva temporal compreende observações longitudinais. A obtenção dos artigos revisados se deu por bus-cas eletrônicas realizadas nos CD-ROMs das edições do evento propostas, e a seleção dos artigos analisados (47) ocorreu por meio da leitura criteriosa dos resumos e palavras-chave da área de finanças, que apresentou um total de 602 artigos publicados.

Os dados coletados sobre as publicações incluem: ano de publicação, referência, tipo de risco, título do artigo, autor/co-autores, instituição de filiação e estado da instituição de cada um dos autores. Após a tabulação dos dados, procedeu-se à verificação da grafia dos nomes, afastando-se a possibili-dade de serem incluídos nomes com grafias diferentes, mas não a incidência de homônimos, conforme apontado por Silva et al. (2006). A padronização dos nomes é necessária para construção de relações de coautoria.

Da mesma maneira, foi verificada a denominação das ins-tituições de filiação dos autores. Na ausência da informação sobre vínculo, recorreu-se à Plataforma Lattes. As instituições foram mapeadas de acordo com a sua localização, identifican-do-se o estado brasileiro (UF) da sua sede. Para identificação dos estados das instituições em caso de dúvida quanto à loca-lização, procedeu-se a uma pesquisa via internet.

Com relação à forma de análise dos dados, o estudo com-preende duas formas de análise: software de análise de re-des sociais (Ucinet) e análise de conteúdo simples. Nesse contexto, são abordados os seguintes conceitos:

Software de análise de redes sociais: trata-se do software Ucinet 6 for Windows, versão 6.153. O sistema demonstra os aspectos relacionais dos atores envolvidos na estrutura de redes, possibilitando, por meio da estruturação de uma ma-triz, identificar atores, suas estruturas e objetivos de interação (BORGATTI et al., 2002). Em estudos de redes sociais, são considerados elementos primários os elos entre os nós da rede (sua existência ou não) e elementos secundários os atributos dos atores (raça, sexo, localização geográfica, objetivos e for-mas de interesse, etc.). A presente metodologia de análise uti-liza gráficos a serem analisados de forma descritiva e matrizes quadradas ou retangulares, também conhecidas como socio-matrizes (X). As matrizes permitem a visualização de relações e padrões que dificilmente seriam percebidos nos sociogramas de pontos e linhas. Nas matrizes, as linhas (y) representam os elos enviados, enquanto as colunas (z) representam os elos re-cebidos. Os elos enviados e recebidos possuem importantes implicações nos cálculos de graus de centralidade local e global e na identificação de subgrupos na rede.

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Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008

Justifica-se o uso desse tipo de análise, pois o cam-po científico é um sistema caracterizado por relações sociais regulares (MACHADO-DA-SILVA; GUARIDO FILHO; ROSSONI, 2006) e com função de dissemina-ção das informações (MACIAS-CHAPULA, 1998). Para Galaskiewicz e Wasserman (1994), a análise de redes sociais concentra sua atenção em atores ou entidades sociais que interagem uns com os outros e no fato de que essas interações podem ser estudadas e analisadas como uma única estrutura ou esquema. Dessa forma, os processos sociais podem ser explicados por meio de re-des de relacionamentos que unem os atores ou institui-ções (WALTER; SILVA, 2008).

Segundo Cruz et al. (2008), alguns conceitos iniciais são importantes no entendimento da análise de redes, en-tre os quais o presente estudo aborda em suas análises as seguintes abordagens: 1) Ator: indivíduos ou grupos de indivíduos, corporações, comunidades, departamen-tos, etc.; 2) Elos relacionais: forma de ligação entre dois atores, podendo ser relações comerciais, transferência de recursos, interações gerais, etc.; 3) Relação: coleção de elos de determinado tipo entre membros de um grupo; 4) Rede social: conjunto finito de atores e suas relações; 5) Grau nodal: mensuração do grau de “atividade” de um determinado nó, com base no cálculo da quantidade de linhas adjacentes; 6) Densidade: cálculo da proporção de linhas existentes em um gráfico, com relação ao máximo de linhas possíveis (escala de 0 a 1); e 7) Distância Geo-désica: a menor distância entre dois nós.

A partir das informações retiradas das publicações, foram geradas as figuras e tabelas cujos resultados e análise são discutidos na próxima seção.

4. ResultadosA seguir, é apresentada a análise dos dados obti-

dos nos anais do Encontro Anual da Associação Nacio-nal de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD) entre 1997 e 2008. Durante o período em estudo, foram realizadas 12 edições do evento, no qual na área de finanças foram apresentados 602 trabalhos. Foram tabulados 47 artigos, categorizados nos seguintes tipos de riscos: Risco de Crédito, Risco de Mercado, Ris-co de Liquidez e Risco Operacional.

4.1. Perspectivas temporais das publicações De 1997 a 2008, o EnANPAD apresentou 602 artigos na

área de finanças; destes foram extraídos 47, que apresen-tam em seu resumo e palavras-chave alguma abordagem de pesquisa na área de Riscos. O Quadro 1 mostra a série tem-poral dos artigos, conforme sua distribuição anual.

Do total de 602 artigos publicados ao longo das 12 edi-ções do EnANPAD analisadas, cerca de 7,8% (47 artigos)

correspondem a temas relacionados com risco de crédito, risco de mercado, risco de liquidez e/ou risco operacional, e os anos de 2005 e 2006 foram os que mais tiveram uma produção relativa mais acentuada.

O levantamento identificou 87 autores com trabalhos sobre riscos, dos quais 12,64% (11 autores) publicaram dois ou mais artigos, representando 57,44% do total publicado, 76 autores publicaram apenas um artigo, representando 87,36% dos autores e 42,56% dos artigos. A Tabela 1 representa o corte relativo a dois ou mais artigos publicados, indicando nominal-mente os principais autores por número de artigos publicados.

Tabela 1: Relação de autores com mais artigos sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

N Autor Artigos1 Charles Ulises De Montreuil Carmona 42 Eduardo Facó Lemgruber 43 Myrian Beatriz Eiras das Neves 34 Ana Paula Mussi Szabo Cherobim 25 Antonio Carlos Magalhães da Silva 26 Jaqueline Terra Moura Marins 27 Josete Florencio dos Santos 28 Lucio Rodrigues Capelletto 29 Mauricio Ribeiro do Valle 2

10 Newton C. A. da Costa Jr. 211 Patrícia Barros Ramos 2

Vinte e três instituições estão vinculadas aos autores que publicaram algum artigo sobre riscos no EnANPAD de 1997 a 2008. Entre elas, 11 (cerca de 47,83%) são responsáveis (em autoria e coautoria) pela publicação de dois ou mais ar-tigos. A instituição de pesquisa com maior número de pu-blicações é destacadamente a Universidade de São Paulo (USP), com 11 artigos publicados, seguida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As demais instituições fo-ram responsáveis por apenas uma publicação cada uma. A Tabela 2 indica a posição das instituições com maior número de publicação.

Tabela 2: Relação de instituições com mais artigos sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

N Instituição de Pesquisa Artigos sobre riscos

1 USP 112 UFRJ 63 Bacen 44 PUC-RJ 45 UFPE 4

6 IBMEC 37 MACKENZIE 38 UFPR 39 UFMG 2

10 UFSC 211 UNB 2

Quadro 1: Total de artigos e número de artigos analisados

Artigos Número de artigos por edição do EnANPAD Total1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Área de finanças do EnANPADTotal 25 18 20 27 20 40 39 48 119 123 63 60 602Analisa-dos

5 3 1 4 4 5 2 3 6 6 3 5 47

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Referências 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Média

Referências Internacionais

70% 93% 54% 78% 90% 62% 37% 87% 40% 80% 40% 60% 66%

Referências Nacionais

30% 7% 46% 22% 10% 38% 63% 13% 60% 20% 60% 40% 34%

Com relação à distribuição geográfica nos estados da fe-deração, observa-se que 4 estados são responsáveis por um total de 46 artigos (aproximadamente 98%), tendo o Estado de São Paulo em primeiro lugar (21), seguido do Estado do Rio de Janeiro (15). A Tabela 3 indica esta relação.

Tabela 3: Relação de Estados Brasileiros com mais artigos sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

N Estado Brasileiro Artigos sobre riscos

1 São Paulo 21

2 Rio de Janeiro 15

3 Pernambuco 5

4 Minas Gerais 5

Os quatro tipos de riscos descritos no item 2.2 (Risco de Mercado, Risco de Crédito, Risco Operacional e Risco de Liquidez) foram analisados quantitativamente e resultaram nos dados da Tabela 4, na qual se verifica que o tipo de ris-co em que existem mais trabalhos publicados nos 47 artigos sobre Tipos de Riscos na área de finanças do EnANPAD (de 1997 a 2008) é o Risco de Mercado com 24 artigos, se-guido do Risco de Crédito com 18 artigos. Destaca-se que um artigo abordou Risco de Mercado, Risco de Liquidez e Risco de Mercado e outros dois artigos realizaram a pesqui-sa acerca do Risco de Mercado e Risco de Crédito, sendo estes relacionados na categoria de Diversos.

Tabela 4: Número de artigos publicados por Tipos de Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

N Tipo de Risco de Acordo com Brito (2005)

Artigos

1 Risco de Mercado 24

2 Risco de Crédito 18

3 Risco Operacional 2

4 Risco de Liquidez 0

5 Diversos 3

Com relação ao tipo de pesquisa, constatou-se um forte predomínio do empirismo nas pesquisas sobre Riscos. Dos 47 artigos publicados, 89% realizaram estudos empíricos, 6% pesquisas teóricas e 4% estudos de caso, conforme Tabela 5.

Tabela 5: Tipos de pesquisa dos artigos publicados sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

Tipo de Pesquisa Artigos Publicados

%

Empírica 42 89,4%

Teórica 3 6,4%

Estudo de Caso 2 4,3%

Total 47 100,0%

No que se refere aos dados empregados, observa-se por meio da Tabela 6 que 68% dos artigos publicados sob esta temática utilizaram dados do tipo série temporal e 23% dados do tipo cross-section.

Tabela 6: Tipos de dados dos artigos publicados sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

Tipo de Dados Artigos Publicados

%

Cross-Section 11 23,4%

Série-Temporal 32 68,1%

Não se aplica * 4 8,5%

Total 47 100,0%

(*) A algumas pesquisas teóricas e a alguns estudos de caso

Quanto à origem da literatura, observou-se que há predo-minância da literatura estrangeira, com 66% do total no pe-ríodo analisado, contra 34% da literatura nacional, conforme pode ser observado na Tabela 7.

4.2. Perfil dos elos relacionais da redeObservando a perspectiva relacional entre os autores que

apresentaram publicações no EnANPAD sob a temática de riscos no período pesquisado (1997-2008), é apresentado o mapeamento dos elos relacionais entre os autores. Nesse sentido, os autores foram estruturados em uma matriz qua-drada com observações binárias (0 e 1) de acordo com exis-tência ou não de relações entre os principais autores na área. A densidade da rede é calculada pela proporção de linhas existentes em um gráfico, com relação ao máximo de linhas possíveis, podendo variar de 0 a 1. A escolha dessa medida tem como objetivo demonstrar o padrão de densidade geral das relações do período proposto.

Embora os dados apresentem sua coleta no período total de 1997 a 2008, optou-se por separar o período em duas etapas: a primeira corresponde ao período de 1997 a 2002 e a segunda corresponde ao período de 2003 a 2008. Tal

Tabela 7: Referências utilizadas nos artigos publicados sobre Riscos no EnANPAD (1997 a 2008)

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separação procura evidenciar a evolução do campo de pes-quisa numa relação temporal, procurando perceber a cons-trução das relações nos períodos propostos.

Conforme se observa na Figura 1, no período de 1997-2002 foram identificados 37 autores e uma densidade geral da rede de 0,042 (escala de 0 a 1) e o no período de 2003-2008 identificaram-se 52 autores e uma densidade geral da rede de 0,032. Observe-se a seguir o sociograma de cada um dos períodos propostos.

Ao comparar os dados estatísticos do período de 1997-2002 com 2003-2008, percebemos o aumento do número de participantes (35 para 52) e uma diminuição da densidade das redes (0,042 para 0,032). Observa-se uma distância mé-dia pequena (1,263) no primeiro período analisado, demons-trando serem necessários, aproximadamente, dois interme-diários (em média) para que ocorra o contato entre um autor e outro que não sejam diretamente ligados por elos.

Tabela 8: Comparativo de dados quantitativos (1997-2002) e (2003-2008)

Característica 1997-2002

2003-2008

Geral

Número de Participantes Ativos

35 52 87

Densidade Geral 0,042 0,032 0,019

Desvio Padrão 0,200 0,177 0,136

Distância Média Geral da Rede

1,263 1,980 2,320

Ao analisar a rede de forma geral, ou seja, interpretando o período integral do estudo (1997 a 2008), pode-se perce-ber uma densidade geral (0,019), com distância média de (2,320), possibilitando perceber que a rede de cooperação entre pesquisadores na temática de riscos apresenta uma fraca relação de elos, que podem ser reforçados na análi-se criteriosa do sociograma constante na Figura 2, que evi-

Figura 1: Sociogramas gerais da rede 1997-2002 (1) e de 2003-2008 (2)

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(1)

(1997 - 2002)

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(2)

(2003 - 2008)

Figura 2: Sociograma geral da rede 1997-2008

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dencia a perspectiva de centralidade por atores (individual). Nesse caso, quanto maior o tamanho do “nó”, maior a centra-lidade do autor na perspectiva relacional.

Se analisarmos os indicadores gerados sob a óptica in-dividual dos atores, podemos observar que a percepção da centralidade por autor sugere o grau de inter-relação, poden-do sugerir, neste contexto, que, quanto maior o grau de cen-tralidade do autor na rede, maior sua importância na estrutu-ra relacional entre os pesquisadores da área (Tabela 9). O grau de centralidade visa a revelar o número de laços que um ator possui com outros atores em uma rede, considerando somente os relacionamentos adjacentes, resultando na cen-tralidade local dos atores (ROSSONI; HOCAYEN-DA-SILVA; FERREIRA JÚNIOR, 2006, p. 2). Segundo Souza (2004), em redes de elos direcionais, calcula-se o grau de variabilidade nos índices de centralidade individuais, com relação ao envio (out) e o recebimento (in) de elos. Muitos atores apresentam sua centralidade mais fortemente estabelecida em relação ao recebimento ou ao envio de indicações, devendo-se ob-servar a realidade mapeada. Valores baixos representam uma rede mais dispersa em termos de centralidade.

Ao observar a classificação dos principais autores a se relacionar entre as publicações de Riscos de acordo com o grau de centralidade, percebe-se a importância de alguns autores, como Myrian Beatriz Eiras das Neves (8,14), Edu-ardo Facó Lemgruber (5,81), Charles Ulises De Montreu-

il Carmona (4,65), Alan Cosme Rodrigues da Silva (4,65), Antônio Carlos Magalhães da Silva (4,65), Jaqueline Terra Moura Marins (4,65), Giovani Antonio Silva Brito (4,65) se-guido Newton C. A. da Costa Jr., Maurel Alexis Weichert e Paulo Alvarez Vilella, com 3,48. O grau de centralidade por autor tem o objetivo de identificar os autores que apresen-tam relação de coautoria com os demais, não apresentando a perspectiva de importância da produção científica, e sim a importância dos autores no estabelecimento de relações entre os pesquisadores da área.

Tabela 9: Centralidade por autor em relações gerais (10 principais autores por centralidade)

N. Autor Centrali-dade

1 Myrian Beatriz Eiras das Neves 8,142 Eduardo Facó Lemgruber 5,813 Charles Ulises De Montreuil Carmona 4,654 Alan Cosme Rodrigues da Silva 4,655 Antônio Carlos Magalhães da Silva 4,656 Jaqueline Terra Moura Marins 4,657 Giovani Antonio Silva Brito 4,658 Newton C. A. da Costa Jr 3,489 Maurel Alexis Weichert 3,4810 Paulo Alvarez Vilella 3,48

Figura 3: Sociograma geral da rede – Autoria e Coautoria 1997-2008

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Referências

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Na perspectiva de apresentar a relação dos autores e coautores por meio do sociograma, a Figura 3 apresenta a relação dos pesquisadores da rede, observando a relação de autoria (out) e de coautoria (in). Dessa forma, a conexão dos autores com os coautores é representada pela origem da seta nos autores, indicando o destino da seta aos coautores, possibilitando identificar alguns pesquisadores, como Char-les Ulises De Montreuil Carmona, que apresenta grau de centralidade de 4,65 na matriz de autoria e coautoria, sendo essa alta centralidade predominantemente de coautorias, ao contrário da pesquisadora Myrian Beatriz Eiras das Neves, que apresenta grau de centralidade de 8,14, predominante-mente de autorias. A Tabela 10 apresenta o grau de cen-tralidade dos autores na matriz de autoria e coautoria, que elimina a relação de coautores com coautores, considerando apenas as relações de autores com coautores:

Tabela 10: Centralidade por autor em relações a Autoria e Coautoria (18 principais autores por centralidade)

N Autor Centrali-dade

1 Myrian Beatriz Eiras das Neves 8,142 Charles Ulises De Montreuil Carmona 4,653 Eduardo Facó Lemgruber 3,484 Alexandre Mescolin 2,325 Newton C. A. da Costa Jr. 2,326 André Luiz Oda 2,327 Wilson Toshiro Nakamura 2,328 Patrícia Barros Ramos 2,329 Gustavo Silva Araújo 2,3210 Leandro Luís Darós 2,3211 Moises Brasil Coser 2,3212 Luis Renato Junqueira 2,3213 Lucio Rodrigues Capelletto 2,3214 Ana Paula Mussi Szabo Cherobim 2,3215 Armando Chinelatto Neto 2,3216 Antônio Carlos Magalhães da Silva 2,3217 Jaqueline Terra Moura Marins 2,3218 Antonio Airton Carneiro de Freitas 2,32

5. Considerações FinaisSob a perspectiva de quantificar e conhecer a produção

científica acadêmica e identificar os tipos de riscos predo-minantes na área de finanças do EnANPAD, bem como ex-plicitar a distribuição da produção científica na área e os padrões de colaboração dos pesquisadores brasileiros por meio da utilização de abordagens bibliométricas e de análi-se de redes sociais nos trabalhos publicados na área de fi-nanças dos Anais do EnANPAD no período de 1997 a 2008, este trabalho apresenta, na percepção e mapeamento das principais tendências, autores, universidades e relações en-tre autores no período analisado.

Nesse sentido, vale destacar a identificação dos autores que mais publicaram artigos voltados aos tipos de riscos na área de finanças do EnANPAD no período proposto, evi-denciando a contribuição dos pesquisadores Charles Ulises De Montreuil Carmona (4), Eduardo Facó Lemgruber (4), Myrian Beatriz Eiras das Neves (3), entre outros.

Sob a perspectiva relacional, os principais autores, em ge-ral, limitam seu ambiente de produção em torno de poucas parcerias. Nesse sentido, vale ressaltar a contribuição de cen-tralidade entre autores de alguns pesquisadores: Myrian Bea-triz Eiras das Neves, com centralidade predominantemente de autoria, e Charles Ulises De Montreuil Carmona, com centra-lidade predominante em relações de coautoria, entre outros.

Com relação aos tipos de riscos mais pesquisados, evi-denciam-se o risco de mercado, com 24 artigos publicados, o risco de crédito, com 18 artigos, o risco operacional e o risco de liquidez, com 2 e 0, respectivamente. Verifica-se uma ca-rência de estudos sobre risco operacional e risco de liquidez.

Ressalta-se a contribuição das instituições de ensino supe-rior que apresentam maior representatividade nas publicações, surgindo a USP (11) como a principal IES, seguida da UFRJ (6), do Bacen (4), da PUC-RJ (4) e da UFPE (4). O Estado de São Paulo (21) é a principal origem das publicações dessa temática, seguido pelo Rio de Janeiro (15). Isso se deve ao fato de as IES que mais possuem publicações pertencerem a estes estados.

No que se refere às limitações desta pesquisa, pode-se citar a amostra, visto que esta utilizou apenas dados do En-contro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração no período de 12 anos. Nesse sentido, sugere-se expandir os presentes métodos de es-tudos aos demais congressos e periódicos representativos para as temáticas de riscos.

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Daniela Torres da Rocha June Alisson Westarb Cruz Wesley Vieira da Silva Tomás Sparano Martins

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Análise de Risco: um Estudo Bibliométrico e Sociométrico da Produção Científica da Área de Finanças do EnANPAD 1997-2008

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ResumoUma das crises mundiais com reflexos ainda na atualidade

é a crise do subprime, que teve origem nos EUA, e cujo antece-dente foi uma supervalorização dos imóveis residenciais entre os anos de 1997 e 2006. No Brasil, assim como no mundo, o impacto da crise é evidenciado na retração de disponibilidade de recursos financeiros. O objetivo deste estudo é verificar se as empresas de capital aberto brasileiras refletem o impacto da crise subprime no nível de endividamento das companhias. O estudo caracteriza-se como descritivo e documental, sendo que a população se constituiu de 27 empresas, divididas de acordo com a classificação setorial da Bovespa. Foram esco-lhidas três empresas de cada setor econômico que apresenta-vam o maior ativo total no exercício de 2008, excluindo o setor financeiro. Os resultados mostram que o agravamento da cri-se nos anos de 2006 e 2007 impactou na redução do nível de endividamento das empresas brasileiras, devido à retração de crédito por parte das instituições financeiras e as incertezas do mercado, que, por consequência, dificultaram a captação de recursos pelas organizações. Devido ao crescimento de desembolsos por parte do BNDES, a extensão desta crise foi atenuada no Brasil em 2008.Palavras-chave: Crise subprime. Empresas brasileiras. Ní-vel de endividamento.

AbstractOne of the world crises with consequences even today is the

subprime crisis. Originated in the U.S., the subprime crisis has a history of an over valuation of U.S. housing between the years 1997 and 2006. In Brazil, as well as in the world, the impact of the crisis is evident in the financial resource availability decli-ning. The objective of this study is to verify whether the publicly traded companies in Brazil reflect the impact of the subprime crisis in their debt level. The study is characterized as descripti-ve and documentary, and the studied population consists on 27 companies divided according to Bovespa sector classification. Three companies from each economy sector was selected, each of them having the largest total assets in 2008, except for the financial sector. The Results show that the increase of the crisis in 2006 and 2007 had some impact on reducing the debt

Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras

Júlio Orestes da SilvaBlumenau – SCMestrando do PPGCC/FURB1

[email protected]

Rodrigo dos Santos CardosoBlumenau – SCDoutorando do PPGCC/FURB1

[email protected]

Jorge Ribeiro de Toledo FilhoBlumenau – SCMestre e Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA-USP2

Professor do PPGCC/FURB1

[email protected]

Artigo recebido em 21/09/2009 e aceito em 27/01/2010.

1 PPGC/FURB – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis e Administração da Fundação Universidade Regional de Blumenau – CEP: 89.012-900 – Blumenau – SC.

2FEA/USP – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – CEP: 05.508-900 – São Paulo – SP.

level of Brazilian companies, being such behavior due to re-traction of credit by financial institutions and market uncertainty, with consequent difficulty in resources attainment for organiza-tions. Due to the disbursement growth from BNDES, the crisis extension was alleviated in Brazil in 2008. Key words: Subprime crisis; Brazilian companies; Debt-level.

1. IntroduçãoEstudos sobre a modificação da estrutura de capital remon-

tam a pesquisas de Modigliani e Miller na década de 1950. Es-sas variações são verificáveis quando se confirmam alterações no ambiente organizacional, como no caso das crises mundiais.

Uma das crises mundiais com reflexos ainda na atualidade é a crise do subprime. Com origem nos EUA, a crise do subpri-me com antecedentes de uma supervalorização dos imóveis residenciais dos EUA, nos anos de 1997 e 2006, provocou incertezas de liquidez de títulos dos créditos imobiliários. Tal movimento levou a dimensões maiores, com contornos mun-diais no setor financeiro com reflexos nas organizações.

No Brasil, assim como no mundo, o impacto da crise é evi-

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denciado na retração da oferta de recursos financeiros. A falta de disponibilidade de recursos impõe aos gestores tomadas de decisões acerca da estrutura de capital. Com referência à questão da tomada de decisão de estrutura de capital e endi-vidamento, Hackbarth (2009) afirma que um dos fatores rele-vantes é a perspectiva comportamental dos gestores.

No contexto dessa crise, as formas de estrutura de capital e análise de nível de endividamento são importantes quan-do analisadas sob a luz da crise dos mercados financeiros. Terra (2008) menciona que a incerteza provocada pelas crises mundiais impacta na retração de capacidade de ala-vancagem das empresas, que acabam limitando a liquidez dos mercados, denotando, assim, que influências externas ou medidas financeiras são determinantes para adequação de estruturas de capitais nas empresas e consequentemente impactam nos níveis de endividamento das organizações.

Uma das formas de analisar o conjunto comportamental dos gestores são os reflexos de suas ações nos índices fi-nanceiros das organizações. Assim, a presente pesquisa procura responder à pergunta: Existe relação entre a crise do subprime e o nível de endividamento das empresas bra-sileiras? Nesse sentido, o objetivo do estudo é verificar se as empresas de capital aberto brasileiras refletem o impacto da crise do subprime no seu nível de endividamento.

Para atingir o objetivo mencionado, o estudo foi estrutu-rado em sete seções, iniciando com esta introdução. Em se-guida, apresenta-se a fundamentação teórica, que aborda a estrutura de capital, endividamento e a crise subprime. Na se-quência são apresentados o método e as técnicas utilizadas para a realização da pesquisa. Após, faz-se a análise e in-terpretação dos dados coletados e as conclusões do estudo.

2. Estrutura de Capital O assunto estrutura de capital é bastante estudado desde os

trabalhos de Modigliani e Miller (1963). Sendo um marco teórico para estudos de estrutura de capital, estes autores determinam uma estrutura de capital ótima na qual são determinantes para os benefícios fiscais e níveis de endividamento das empresas.

Anteriormente Modigliani e Miller (1958) afirmaram que a forma de financiamento das empresas não interfere no valor da mesma. Para esses autores o nível de endividamento não se relaciona com o custo de capital e o valor da organização. Os fluxos de caixa e risco são determinantes para o valor da empresa, razão por que as formas de financiamento não são determinantes (MODIGLIANI; MILLER, 1958).

Segundo Terra (2008), as contribuições e proposições, assim como as simplificações propostas por Modigliani e Mil-ler (1958 e 1963), sofreram várias críticas, que oportuniza-ram correções dos modelos originais pelos próprios autores. A importância deste clássico está centrada justamente na oportunidade de questionamentos, por parte do mundo aca-dêmico até então, de qual seria a estrutura de capital ideal para as empresas (TERRA, 2008).

Outros clássicos sobre estrutura de capital são os traba-lhos de Jensen e Meckling (1976), que relacionam a estru-tura da agência, assim como Myers (1977), que incorpora a teoria da agência e teorias de opções, esta última implicando o endividamento das empresas com variáveis de valor de mercado e prazos de ativos e passivos.

Para Gitman (2004), os trabalhos de Modigliani e Miller (1963) com relação ao capital de terceiros forneceu um equi-líbrio entre benefícios e custo de financiamento. Para Gitman (2004, p. 447), o custo de capital de terceiros decorre: “1) da maior probabilidade de falência causada pelas dívidas; 2) dos custos de agência causados pelo monitoramento da atuação da empresa pelo credor; 3) dos custos associados à posse de informação superior pelos administradores sobre as perspectivas da empresa.” Nota-se que para este autor há uma convergência de pensamentos dos clássicos, principal-mente no que tange à teoria da agência.

Com referência à questão da posse de informação dos ges-tores para tomada de decisão de estrutura de capital e endivi-damento, Hackbarth (2009) afirma que um dos fatores relevan-tes é a perspectiva comportamental dos gestores no que tange ao grau de endividamento e ao resultado da empresa. Para Hackbarth (2009), pode haver uma ação tendenciosa por parte dos gestores para atingir os resultados da empresa (teoria da agência), pois são estes que irão decidir o que investir e qual a forma de financiamento de capital para que atenda os interes-ses dos acionistas e próprios, ou seja, principal e agente.

Formigoni e Pereira (2009) inferem que a estrutura de capital pode ser resumida em três: Trade-Off, Pecking Or-der e Windows of Opportunity. Estas três classificações es-tão baseadas nos trabalhos de Pohlmann (2005) e Forte (2007), sendo resumidas no Quadro 1.

Quadro 1: Resumo de tipos de estrutura de capital

Teoria de Estrutura de capital Conceito

Trade-Off

Pode haver um nível ótimo de endividamento que pode ser oportuno para a empresa e outro patamar na qual os ganhos fiscais já não são oportunos.

Pecking Order de acordo com Myers e Majluf (1984)

Existe uma ordenação de captação de recursos: lucros acumulados, contrair novas dívidas e lançar novas ações.

Windows of Opportunity de acordo com Huang e Ritter (2005)

Neste caso a ordenação passa a ser por avaliações entre utilizar capital próprio quando custo for menor em relação à captação de dívida; do contrário emitem-se ações nos momentos de alta do mercado.

Fonte: adaptado de Formigoni e Pereira (2009).

Na análise feita por Formigoni e Pereira (2009), estrutu-radas no Quadro 1, há referências claras aos conceitos já formalizados de estruturas ótimas de capital propostas por Modigliani e Miller (1963) com relação à teoria Trade-Off. Pode-se inferir que a decisão de ordenação propostas nas teorias de Pecking Order e Windows of Opportunity depen-dem da decisão dos gestores e comportamento do mercado conforme proposto por Gitman (2004) e Hackbarth (2009).

Nota-se, portanto, que as estruturas de capital adotadas nas organizações estão ligadas ao endividamento na forma de captação de recursos de terceiros, que, por meio da alavanca-gem financeira, podem determinar resultados bons ou ruins, dependendo da atuação e decisões acertadas dos gestores.

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3. EndividamentoO endividamento está relacionado com a estrutura de

capital determinada pela empresa. Neste sentido, os traba-lhos clássicos de estrutura de capital referenciam modelos ótimos de estruturas conforme Modigliani e Miller (1958 e 1963), Jensen e Meckling (1976) e Myers (1977).

De acordo com Lucinda e Saito (2005), existem deter-minantes acerca das decisões sobre endividamento e es-tão relacionados: assimetria das informações (DIAMOND, 1984 e 1991); eficiência do processo de liquidação (HART, 1995); e risco moral (RAJAN, 1992).

Para Diamond (1984 e 1991)¸ as empresas pequenas possuem uma assimetria maior devido à falta de capital reputacional, diferentemente das empresas maiores, que já possuem essa reputação, com possibilidades de lança-mentos de seus títulos no mercado. Essa assimetria está ligada ao conhecimento do mercado com relação à empre-sa, visto que nas empresas menores esse conhecimento é reduzido quando comparado às informações fornecidas pelas empresas maiores. Nessas, o grau de fiscalização e visualização de seus resultados são atestados por audito-rias independentes.

De acordo com Hart (1995) e Grinblatt e Titman (2005), em firmas maiores o monitoramento pode ser afetado, con-forme a teoria de agência, pelo conflito de interesse entre os proprietários e os administradores. Esses autores ve-rificam a dificuldade de análise principalmente na liquida-ção das empresas, que em situações normais asseguram a lucratividade a longo prazo. Quando ocorrem problemas financeiros, as empresas tendem a ter seu foco no curto prazo. Exemplos dessa situação são antecipações de ne-gócios por parte de acionistas majoritários ou de fornecedo-res, desconfiados de uma possível liquidação da empresa.

O risco moral e os problemas de agência são evidencia-dos por Rajan (1992). Este autor enfatiza os interesses ex-postos entre principal (bancos) e agente (empresa). De um lado a tendência por parte dos bancos a financiar somente processos de alta rentabilidade, nos quais são focados com mais interesses e facilidades por parte do agente (adminis-tradores das empresas). A facilidade de obter financiamento de longo prazo passa por processos de emissões de ofertas públicas de dívida. Por outro lado, pode-se inferir que essas ofertas geram maiores informações e com isso diminuem as assimetrias analisadas por Diamond (1984 e 1991). Diante do exposto, há, segundo esses autores, uma variável im-portante no grau de endividamento, que é o tamanho da empresa. Silva e Valle (2008) salientam vários aspectos dessa variável, conforme demonstrado no Quadro 2.

Quadro 2: Razões de endividamento versus a variável tamanho da empresa

Autores Evidências encontradas

Titman e Wessels (1988)

Enfatizam que as pequenas empresas possuem a tendência de características de dívida de curto prazo, sendo vulneráveis as oscilações do mercado quando com-paradas com as empresas maiores.

Barclay e Smith (1995)

Encontraram evidências de que as em-presas pequenas, por dependerem mui-tas vezes de empréstimos bancários, possuem dívidas de curto prazo quando comparadas às empresas maiores que foram investigadas e possuem dívidas de longo prazo.

Rajan e Zingales (1995)

Salientam que a diversificação em empresas maiores é inversamente proporcional ao número de falhas e por consequência à probabilidade de falência, aumentando com isso a pos-sibilidade de adquirir dívidas.

Stohs e Mauer (1996)

Por meio de regressões entre tamanho e prazo de dívida, encontram evidências de que em empresas grandes os prazos de dívidas são maiores quando comparados com empresas menores, que possuem prazos menores de dívidas.

Demirgüç-Kunt e Maksimovic (1999)

Em empresas maiores há evidências de altas taxas de dívida de longo prazo versus total de ativos. Há diferenças entre empresas grandes e pequenas em cenários de países desenvolvidos ou em desenvolvimento quanto ao uso de dívidas de longo prazo

Ozkan (2002)

Afirma que o acesso a mercado de capitais é favorecido para as empresas maiores quando comparadas com as menores, assim como o prazo de venci-mento de dívidas é maior em empresas grandes devido à facilidade de acesso ao mercado financeiro.

Fonte: adaptado de Silva e Valle (2008).

Diante do exposto, a afirmação de Silva e Valle (2008) como hipótese é válida nos estudos apresentados, salien-tando a correlação positiva entre o grau de endividamento e o tamanho da empresa.

O grau de endividamento de uma empresa “indica o volume de dinheiro de terceiros usado para gerar lucros” (GITMAN, 2004, p. 49). A alavancagem financeira está re-lacionada ao capital de terceiros: quanto maior é a utiliza-ção deste capital em relação aos seus ativos totais, maior será a alavancagem, ou seja, maior o risco e maior a pos-sibilidade de retorno.

No contexto, as formas de estrutura de capital e análise de nível de endividamento são importantes quando analisadas sob a luz da crise dos mercados financeiros, com referên-cia, neste estudo, à crise dos créditos subprime. De acordo com Terra (2008), antecedendo a atual crise, em meados de 1980, houve uma necessidade de regulamentação dos mercados financeiros no setor de crédito que provocou re-tração de capacidade de alavancagem das empresas, que acabaram limitando a liquidez dos mercados. Denotando, assim, que influências externas ou medidas financeiras são determinantes para adequação de estruturas de capitais nas empresas e consequentemente impactam nos níveis de en-dividamento das organizações.

Júlio Orestes da Silva Rodrigo dos Santos Cardoso Jorge Ribeiro de Toledo Filho

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4. Crise SubprimeNo ano de 2007, o cenário econômico mundial tomou

como fato relevante a crise do subprime. Esta crise teve seu início com informações relacionadas ao financiamento de imóveis nos EUA. As perdas financeiras abalaram vários bancos e fundos de investimentos.

De acordo com Torres Filho (2008), nos EUA a reação do mercado diante da crise, com as informações de perdas, foi desfazer suas posições de créditos hipotecários, suspender resgate de cotas por parte dos fundos e reduzir a liquidez de títulos de curto prazo.

Nos dias atuais, com a globalização, notícias como estas fazem cair outros mercados, e reações parecidas aos dos investidores americanos também são verificadas em outros países. Determinadas informações e movimentos dos mer-cados podem ser analisados como antecedentes a deter-minadas crises; no caso da crise do subprime, Torres Filho (2008) demonstra que houve uma valorização exagerada dos imóveis residenciais dos EUA nos anos de 1997 e 2006. “Os aumentos reais atingiram 85%, sendo que, no ano de 2005, no auge do processo, esse percentual chegou a 15%. Foi o maior boom imobiliário nos EUA em mais de 50 anos” (TORRES FILHO, 2008, p. 2).

Essa expansão do crédito imobiliário estava sustentada por créditos a pessoas físicas de alto risco, ou seja, pessoas que não poderiam sustentar tais investimentos e por conse-quência os pagamentos das prestações de suas casas. As instituições que financiavam tais aplicações estavam segu-radas por papéis “chamados RMBS (Residential Mortgage-Backed Securities – algo como Títulos Baseados em Hipo-tecas Residenciais), que eram vendidos aos mais diversos portadores e também constantemente transacionados por estes” (PENIN e FERREIRA, 2008, p. 16).

Ainda de acordo com Penin e Ferreira (2008), acreditava-se que a securitização resolveria os problemas de eventuais inadimplências, pois estavam fragmentados em vários investi-dores. Outra forma de segurança dessas operações foram “os fundos de hedge, por exemplo, desfrutando de sua capacida-de de dispor de dinheiro a taxas baixas, passaram a investir largamente em títulos de alto risco, cuja elevada rentabilidade conferia alta atratividade” (PENIN e FERREIRA, 2008, p. 17).

Nota-se, portanto, que havia uma conjunção de formas de segurança desses empréstimos, sustentados principalmente por títulos em mercado, o que fazia os investidores assumir ris-cos maiores visualizando altas taxas de retorno. O fato de que os créditos fornecidos às pessoas não foram bem analisados fez com que houvesse um aumento de prestações em atraso. Neste contexto, “a falta de informações claras sobre o tama-nho e a responsabilidade sobre as perdas em curso, [...] os in-vestidores correram para resgatar suas aplicações em fundos imobiliários, [...]. Isto deixou os grandes bancos americanos e europeus expostos ao risco” (TORRES FILHO, 2008, p. 8).

Os efeitos da crise se espalham por vários segmentos, principalmente por posturas mais conservadoras de financia-mento e empréstimos bancários e impactos negativos nos ní-veis de emprego, renda, decorrentes de desacelerações na construção civil norte-americana (TORRES FILHO, 2008).

Infere-se do exposto que os mercados necessitam de uma maior regulamentação, e, portanto, a crise passa a es-

tender-se aos governos através de intervenções de bancos centrais, como forma de compensação dos efeitos da crise. Esta intervenção passa por influência direta de medidas re-gulatória dos mercados financeiros, assim como na deman-da e consumo de bens.

Para Torres Filho (2008), uma das consequências da cri-se do subprime é a incerteza do desempenho de economias dominantes e importantes como dos EUA e de países da Eu-ropa em face da crise. No Brasil, a crise do subprime também provocou projeções de crescimento menores para o ano de 2008, e uma crescente desaceleração nas atividades ao lon-go deste ano. Este cenário provocou pressões para diminui-ção de taxas de juros por partes do Banco Central.

Outra forma de diminuir os impactos da crise no Brasil, com referência à falta de crédito para financiamento das ope-rações nas empresas, foi o papel desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), por meio de investimento neste período, como pode ser veri-ficado no Gráfico 1.

Gráfico 1: Evolução dos desembolsos anuais do BNDES

Fonte: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (2009).

De acordo com BNDES (2009), os reflexos da crise de li-quidez internacional não são verificáveis em suas operações. A expansão de empréstimos em 2008 no BNDES mostra a capacidade do Banco de manter investimentos na economia brasileira, mesmo diante da redução da liquidez nos merca-dos internacional e doméstico.

5. Metodologia da PesquisaA pesquisa caracteriza-se, de acordo com o objetivo,

como descritiva. Segundo Triviños (1987), o estudo des-critivo requer delimitações de técnicas, métodos, modelos e teorias. Para Raupp e Beuren (2004, p. 81): “a pesquisa descritiva configura-se como um estudo intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, ou seja, não é tão preliminar como a primeira e não tão aprofundada como a segunda”. A pesquisa quanto aos procedimentos classifica-se como documental. Para Beuren (2004), as pesquisas do-cumentais utilizam materiais que não recebem análise, mas que podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. Quanto à abordagem, classifica-se como quantita-tiva, que implica o “emprego de quantificação tantos nas mo-dalidades de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas” (RICHARDSON, 1989, p. 70).

Dessa forma, para se realizar o estudo, foram selecio-nadas as empresas pela classificação setorial da Bovespa, utilizando-se as três empresas de cada setor econômico que

19,1 21,3 20,0 23,425,7

38,2 35,140,0

47,152,3

64,9

92,2

26,7

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 abr/09

Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 16 - 25, jan./mar. 2010

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Para Gitman (2004), “o índice de endividamento geral mede a proporção dos ativos totais financiados pelos credo-res da empresa”.

A seguir, apresenta-se na Figura 1 o design da pesquisa, para melhor visualização dos passos percorridos no seu de-senvolvimento.

Figura 1: Design da Pesquisa

Fonte: dados da pesquisa.

A Figura 1 demonstra como foi delineada a pesquisa com: a pergunta de pesquisa, o objetivo proposto para atender ao questionamento, as empresas que compõem a amostra. Con-sideraram-se as três maiores de cada setor, totalizando 27 em-presas. Para cálculo do nível de endividamento, utilizou-se o modelo de Gitman (2004), aplicado aos anos de 2005 a 2008, buscando os dados das Demonstrações Financeiras Padroni-

apresentavam o maior ativo total no exercício de 2008, ex-cluindo o setor financeiro, pois o endividamento para este se-tor se relaciona de maneira diversa dos outros setores anali-sados, não permitindo comparação com os demais.

Na Tabela 1 apresenta-se a relação das empresas sele-cionadas para a pesquisa, incluindo-se o ativo total em mi-lhares de reais. Com base no ativo total, pode-se verificar a representação individual por setor e a representatividade das empresas selecionadas na economia.

A amostra foi constituída por 27 empresas. Na seleção para a amostra, inicialmente se buscaram as empresas de cada setor econômico que possuíssem o maior ativo total em 2008, porém as que não apresentavam dados suficientes para análise nos períodos verificados foram substituídas pe-las empresas subsequentes na classificação.

Os dados utilizados para realização deste estudo foram coletados das Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) disponíveis no sítio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), período de 2005 a 2008. Após a coleta dos dados, foi calculado o nível de endividamento das empresas seleciona-das com base em Gitman (2004), aplicando-se a equação:

DIV. T =

PC + PELP

AT

Onde:DIV.T = Índice de endividamento geral;PC = Passivo circulante;PELP = Passivo exigível a longo prazo; eAT = Ativo total.

SETOR ECONOMICO EMPRESAS ATIVO TOTAL ATIVO TOTAL DO SETOR

PARTICIPAÇÃO TOTAL DAS EMPRESAS

PETRÓLEO, GAS E BIOCOMBUSTVEL PETROBRAS 292.163.842 96,08% 96,47%MARLIM PART 691.413 0,23%ECODIESEL 499.570 0,16%

MATERIAIS BÁSICOS VALE DO RIO DOCE 185.779.471 39,73% 52,73%SID NACIONAL 31.497.439 6,74%VICUNHA SID 29.278.340 6,26%

BENS INDUSTRIAIS EMBRAER 21.499.170 42,47% 58,69%WEG 5.772.774 11,40%MARCOPOLO 2.435.045 4,81%

CONSTRUÇAõ E TRANSPORTE TAM S/A 13.223.865 10,15% 24,99%ALL AMER LAT 11.765.573 9,04%CYRELLA REALT 7.557.503 5,80%

CONSUMO NÃO CICLICO AMBEV 37.270.096 22,27% 38,52%SADIA S/A 13.658.991 8,16%P.AÇUCAR-CBD 13.544.018 8,09%

CONSUMO CÍCLICO LOJAS AMERIC 6.577.898 10,86% 27,27%NET 6.086.555 10,05%WHIRLPOOL 3.846.045 6,35%

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ITAUTEC 1.211.777 22,89% 64,46%POSITIVO INF 1.161.151 21,93%TOT VS 1.040.333 19,65%

TELECOMUNICAÇõES TELEFÔNICA 289.089.000 49,15% 60,45%TELEMAR PART 42.708.940 7,26%VIVO 23.785.104 4,04%

UTILIDADE PúBLICA ELETROBRÁS 138.053.932 27,67% 36,67%CEMIG 24.341.468 4,88%SABESP 20.522.990 4,11%

Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 1: Empresas por setor econômico

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Júlio Orestes da Silva Rodrigo dos Santos Cardoso Jorge Ribeiro de Toledo Filho

Pergunta PesquisaExiste relação entre a cri-se do subprime e o nível de endividamento das empresas brasileiras?

Objetivo GeralVerificar se as empresas de capital aberto refletem o im-pacto da crise do subprime no seu nível de endividamento

UniversoEmpresas que negociam suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA)

Amostra 27 empresas repre- sentantes dos Seto- res Econômicos da Bovespa, exceto Instituições Finan- ceiras

PopulaçãoClassificação setorial apresentada pela Bovespa, com exce-ção das Instituições Financeiras

Critério de Seleção da amostraSelecionaram-se as três maiores empresas com base nos Ativos Totais. As que não disponibilizavam os dados suficientes para análise foram substituídas pelas empresas subsequentes na classificação

Teoria de BaseNível de Endividamento

Crise do subprime

Análise Estatística

•Média

•Porcentual

Análise dosResultadosConsiderando as 27 empre-sas analisadas

2ª e

tap

a1ª

eta

pa

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zadas disponíveis no sítio da Comissão de Valores Mobiliários, analisados estatisticamente, sendo posteriormente verificado se existe alguma associação com a crise do subprime.

6. Análise dos ResultadosNeste estudo, analisou-se o endividamento das empresas

brasileiras no período da crise do subprime, e a relação entre estrutura de capital e análise de nível de endividamento, es-tes indicadores auxiliam e fazem parte de todo um processo de decisão dos gestores e de planejamento da organização. Foram verificados estatisticamente o nível de endividamento das organizações brasileiras e a relação com a crise dos cré-ditos do subprime.

Este procedimento foi realizado com os dados anuais dos períodos de 2005 a 2008, obtidos por meio das demonstra-ções financeiras das empresas analisadas, calculando-se o nível de endividamento das empresas selecionadas em todos os anos. A representatividade das empresas selecio-nadas está expressa na Tabela 1, onde se pode identificar que a participação das três empresas em cada setor varia de 25% a 96%, tendo em média 51% de representatividade.

Na Tabela 2, apresenta-se o nível de endividamento das três empresas com maiores ativos totais do setor econômico de Petróleo, Gás e Biocombustíveis.

Tabela 2: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Petró-leo, Gás e Biocombustíveis

PETRÓLEO, GÁS E BIOCOMBUSTÍVEIS

2005 2006 2007 2008

PETROBRAS 53,44% 50,12% 48,03% 51,73%

MARLIM PART 90,85% 91,76% 94,10% 99,26%

ECODIESEL 98,10% 25,23% 47,82% 79,11%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

80,80% 55,70% 63,32% 76,70%

Fonte: dados da pesquisa.

As três empresas analisadas neste setor de acordo com seus ativos totais, conforme Tabela 1, possuem participação de 96% do total de ativos do setor; fica demonstrada, assim, a representatividade da amostra. Na Tabela 2, cabe ressaltar que as empresas nos anos de 2005 e de 2008 têm os maio-res níveis de endividamento total, destacando-se, o aumento da Ecodiesel de 48% em 2007 para 79% em 2008. A média do setor tem uma queda brusca no nível de endividamento de 2005. Já para o ano de 2008, ocorre o inverso: o endivida-mento aumenta para 77% na amostra analisada.

Sugerindo que, com a crise do subprime tendo início de seus reflexos em 2006, nos anos de 2006 e 2007 houve uma retra-ção dos créditos por parte das instituições financiadoras, como evidenciado no Gráfico 1. Em 2008, com um aumento de incen-tivos e com a crise atingindo de forma mais drástica o Brasil, as empresas tiveram de recorrer a fontes de financiamento para que pudessem manter suas atividades de maneira estável.

A Tabela 3 demonstra o nível de endividamento das três empresas com maiores ativos totais do setor econômico de Materiais Básicos. A amostra das empresas deste setor re-presenta 53% da composição do ativo total do setor, confor-me apresentado na Tabela 1.

Tabela 3: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Materiais Básicos

MATERIAIS BÁSICOS 2005 2006 2007 2008

VALE R DOCE 49,60% 63,33% 53,49% 44,90%

SID NACIONAL 73,50% 75,51% 72,09% 78,82%

VICUNHA SID 76,60% 74,06% 69,26% 76,21%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

66,57% 70,97% 64,95% 66,64%

Fonte: dados da pesquisa.

O setor de Materiais Básicos mostra-se menos volátil que o setor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis; o nível de endividamento não se altera tão fortemente. A empresa Sid Nacional e Vicunha Sid tem a mesma tendência que as em-presas apresentadas na tabela anterior; o ano de 2008 mos-tra que existe um aumento no nível de endividamento pelas empresas. No que tange à Vale, apresenta uma tendência inversa, pois esta empresa mesmo em períodos de retração de crédito tem reputação e consegue financiamentos para manter e expandir suas atividades. A média do setor mostra que existiu um aumento no nível de endividamento, do ano de 2007 para 2008, de 65% para 66%.

Na Tabela 4 a seguir, apresenta-se o nível de endivida-mento do setor econômico de Bens Industriais da Bovespa. A amostra corresponde à participação de 69% dos ativos to-tais deste setor, evidenciado anteriormente na Tabela 1.

Tabela 4: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Bens Industriais

BENS INDUSTRIAIS 2005 2006 2007 2008

EMBRAER 71,00% 67,85% 69,29% 71,47%

WEG 58,52% 58,49% 61,77% 61,53%

MARCOPOLO 63,70% 62,35% 70,73% 71,45%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

64,41% 62,90% 67,26% 68,15%

Fonte: dados da pesquisa.

As empresas deste setor apresentam um nível médio de endividamento maior em 2008, de 68%; assemelham-se aos setores já apresentados, que possuem um maior nível de en-dividamento em 2008. A maior variação de 2007 para 2008 acontece com a empresa Embraer, que de 69% passa para 71%. A Marcopolo apresenta o maior nível de endividamento de 2005 até 2008, passando de 64% para 71%. Já a WEG mantém o nível de endividamento no decorrer dos anos ana-lisados; a empresa dispõe de uma política de financiamento conservadora, que permite manter recursos e fontes de li-quidez suficientes para atender às necessidades de serviço de dívida e financiar o programa de investimentos, além de possibilitar o aproveitamento de diversas oportunidades de negócios, conforme pode ser analisado no relatório de admi-nistração da empresa.

As empresas do setor de Construção e Transporte cons-tantes nesta amostra correspondem a 25% do total de ati-vos do setor, conforme Tabela 1. O nível de endividamento da amostra deste setor está demonstrado na Tabela 5.

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Tabela 5: Endividamento das empresas brasileiras no setor de Construção e Transporte

CONSTRUÇÃO E TRANSPORTE

2005 2006 2007 2008

TAM S/A 76,65% 71,81% 80,82% 95,22%

ALL AMER LAT 64,47% 72,98% 76,46% 78,63%

CYRELA REALT 36,75% 32,07% 55,63% 68,12%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

59,29% 58,95% 70,97% 80,65%

Fonte: dados da pesquisa.

Este setor está entre os maiores níveis de endividamento médio em 2008, de 80,65%, demonstrando que as empresas do setor de construção e transporte estão desenvolvendo suas atividades com uma parcela maior de passivos onerosos. A Empresa TAM S/A é a empresa que possui os maiores níveis de endividamento, chegando em 2008 a 95,22%, mantendo o posto de mais endividada da amostra deste setor. Este setor re-cebe fortes incentivos para sua capacitação e desenvolvimento, e assim tem uma das maiores linhas de créditos do BNDES.

A Tabela 6 evidencia o nível de endividamento das em-presas do setor econômico de Consumo Não Cíclico, sendo que as três empresas da amostra correspondem a 38,52% do total de ativos do setor.

Tabela 6: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Consumo não Cíclico

CONSUMO NAO CÍCLICO

2005 2006 2007 2008

AMBEV 39,87% 44,77% 49,93% 53,28%

SADIA S/A 65,74% 67,94% 62,68% 96,60%

P.ACUCAR-CBD 58,44% 57,15% 60,10% 59,30%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

54,68% 56,62% 57,57% 69,73%

Fonte: dados da pesquisa.

As companhias listadas na Bovespa que representam o setor de Consumo Não Cíclico mostram uma tendência de aumento de endividamento em 2008, fortemente puxada pela Sadia S/A, que passou de 62,68% em 2007 para 96,60% em 2008; a empresa encerrou o exercício de 2008 com um endividamento financeiro líquido de curto prazo no montante de R$ 2,6 bilhões, representado por várias modalidades de financiamentos, conforme se pode verificar no seu relatório da administração: a empresa tenta equacionar a atual situação patrimonial e financeira, ocasionada pelo aumento do endivi-damento. Na Sadia, os principais financiamentos são decor-rentes de bancos credores, como o Banco do Nordeste e o BNDES. Neste caso específico, a Sadia demonstra que os im-pactos da crise ocorreram com o reflexo de perdas financeiras com instrumentos derivativos e da desvalorização do real.

Este setor manteve um aumento constante no nível de en-dividamento durante os anos analisados, possuindo 54,68% em 2005 e aumentando gradativamente durante os anos subsequentes, até chegar a 69,73% em 2008.

As empresas da amostra do setor de Consumo Cíclico re-presentam 27,27% do total de ativos de todas as empresas

deste setor listadas na Bovespa. Na Tabela 7, apresenta-se o nível de endividamento das empresas do setor.

Tabela 7: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Consumo Cíclico

CONSUMO CÍCLICO 2005 2006 2007 2008

LOJAS AMERIC 88,71% 88,26% 91,36% 93,64%

NET 73,23% 58,70% 45,35% 56,57%

WHIRLPOOL 52,98% 50,51% 52,16% 56,77%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

71,64% 65,82% 62,96% 68,99%

Fonte: dados da pesquisa.

As maiores empresas pelo ativo total do setor econô-mico de Consumo Cíclico da Bovespa demonstram que o ano de 2005 foi o ano em que as empresas apresentavam o maior nível de endividamento, sendo que nos anos de 2006 e 2007 ocorreu uma queda no nível de endividamen-to das empresas deste setor. Já no ano de 2008, o nível de endividamento teve um aumento significativo, podendo-se destacar que a NET aumentou em aproximadamente 11% no seu endividamento. As Lojas Americanas apresentam um dos maiores níveis de endividamento, que se deve à política da empresa: observa-se em seu relatório de ad-ministração que a companhia utiliza sua geração de caixa priorizando investimento.

A Tabela 8 representa o nível de endividamento das empre-sas do setor econômico da Bovespa de Tecnologia da Informa-ção. As empresas da amostra possuem uma relevante partici-pação no seu setor, representando 64,46% do total de ativos.

Tabela 8: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Tecnologia da Informação

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

2005 2006 2007 2008

ITAUTEC 56,56% 59,87% 60,45% 62,59%

POSITIVO 53,81% 45,27% 43,95% 50,91%

TOTVS 37,94% 17,21% 19,42% 55,86%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

49,44% 40,78% 41,27% 56,45%

Fonte: dados da pesquisa.

O nível de endividamento do setor de Tecnologia da Infor-mação apresenta-se mais elevado em 2005, com 49,44%; em 2006 ocorre uma queda de aproximadamente 10%, estabili-zando-se em 2007; e em 2008 o nível atinge seu maior per-centual nos anos analisados: passa a 56,45%, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Destaca-se a companhia TOTVS, que demonstra em seu relatório de administração que contou no ano de 2008 com um forte incentivo do BNDES para seus programas, sendo um dos fatores que levaram a empresa a apresentar um maior grau de endividamento.

As empresas que compõem a amostra do setor de Telecomunicações participam em termos de ativos to-tais de 60,45% no setor econômico. No Tabela 9, está expresso o nível de endividamento da amostra analisa-da neste grupo.

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Tabela 9: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Telecomunicações

TELECOMUNICAÇÕES 2005 2006 2007 2008

TELEFONICA 77,85% 81,65% 78,41% 80,42%

TELEMAR PART 61,97% 58,84% 58,69% 72,82%

VIVO 63,03% 52,28% 54,16% 62,74%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

67,62% 64,25% 63,76% 72,00%

Fonte: dados da pesquisa.

Os dados demonstrados na Tabela 9 demonstram que a empresa Telefônica apresenta o maior nível de endivida-mento na amostra do setor de Telecomunicações, sendo em 2008 de 80,42%. O setor apresenta em 2005 um nível de en-dividamento superior a 2006 e 2007, sendo que em 2008 tem um significativo aumento, de aproximadamente 8%. Pode-se destacar a Telemar Participações, que teve o maior aumento no último ano. Conforme se analisou no relatório da admi-nistração, a Telemar, para financiar a aquisição das ações, tomou empréstimos de curto prazo junto a instituições finan-ceiras nacionais e estrangeiras, evidenciando, assim, que um dos fatores que levaram ao aumento do endividamento se justifica pela política de expansão da empresa.

Na Tabela 10, é possível verificar o nível de endividamento das três empresas com maiores ativos totais do setor econô-mico de Utilidade Pública. Esta amostra representa 36,67% da composição do ativo total do setor, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 10: Endividamento da empresas brasileiras no setor de Utilidade Pública

UTILIDADE PÚBLICA 2005 2006 2007 2008

ELETROBRAS 36,93% 36,39% 34,16% 37,81%

CEMIG 63,69% 67,17% 63,82% 60,17%

SABESP 51,35% 49,93% 47,59% 48,87%

MÉDIA DO SETOR ECONÔMICO

50,66% 51,16% 48,52% 48,95%

Fonte: dados da pesquisa.

No setor de Utilidade Pública, destaca-se a empresa Ce-mig, que possui o maior nível de endividamento do setor, sen-do superior a 60% durante os quatro anos. A Eletrobrás pos-sui o menor nível de endividamento, chegando a 34,16% em 2007, neste setor, não evidenciando uma sequência ou uma tendência dos níveis de endividamento no decorrer dos anos.

Na Tabela 11, apresentam-se os setores econômicos de acordo com a classificação da Bovespa, e seus respectivos níveis de endividamento, durante os anos de 2005 a 2008.

Analisando-se a representatividade das empresas frente aos setores verificados, obteve-se o índice de 54% de partici-pação total nos setores alvo da pesquisa. A amostra utilizada representa, portanto, a maioria das empresas considerando-se o ativo total das companhias analisadas em termos de ativos totais dos setores analisados, conforme apresentado na Tabela 1.

Os nove setores econômicos da Bovespa apresentaram em média 62,19% de endividamento em 2005, com tendên-

cia a redução em 2006, mantendo-se em 2007 com aumento no nível de endividamento em 2008, uma alta de 15%, se se compara a 2006, e de 13%, se se compara a 2007. O setor econômico de Petróleo, Gás e Biocombustíveis é o que apre-senta o maior nível de endividamento dos setores analisados em 2007, apresentando em 2005 endividamento de 80,8%, reduzido no ano seguinte para 55,7%, e voltando a subir em 2007 e em 2008; o aumento de 2006 para 2008 foi de 13%. Em 2008, o maior nível médio de endividamento passou a ser o do setor de Construção e Transporte, com 80,65%.

Já os setores de Tecnologia da Informação e Utilidade Pública são os que apresentam níveis mais baixos de endivi-damento entre os setores analisados, ficando em média com o nível de endividamento de 50%. Tecnologia da Informação em 2006 demonstra o menor nível de endividamento dos pe-ríodos analisados, sendo de 40,78%.

Pode-se perceber que, nos índices apresentados na Ta-bela 11, o nível médio dos setores é de aproximadamente 62%. Analisando os dados dos setores em conjunto, verifica-se que a maioria dos setores possui um nível de endivida-mento mais elevado em 2005 e 2008, sendo o ápice o ano de 2008. Dessa forma, os índices de 2006 e 2007 apresentaram tendência a redução.

Neste contexto, acredita-se que a estrutura de capital das empresas e dos setores analisados sofreu alterações em função da crise do subprime, o que justifica o menor grau de endividamento nos anos de 2006 e 2007, conforme visto na maioria dos setores analisados.

A estrutura de capital modifica-se de acordo com os con-textos ambientais e as perspectivas dos gestores na toma-da de decisão, conforme Modigliani e Miller (1958 e 1963), Jensen e Meckling (1976), Myers (1977), Gitman (2004), Hackbarth (2009). O contexto ambiental é a própria crise do subprime, e as ações dos gestores são verificadas na modifi-cação do grau de endividamento perante a crise.

O grau de endividamento está ligado à estrutura de capital e confirma as observações de Demirgüç-Kunt e Maksimovic (1999) e os estudos de variações verificados nas pesquisas de Silva e Valle (2008).

Tabela 11: Endividamento médio da empresas por setor de atuação na Bovespa

SETOR ECONÔMICO 2005 2006 2007 2008

PETRÓLEO, GÁS EBIOCOMBUSTÍVEIS

80,80% 55,70% 63,32% 76,70%

MATERIAIS BÁSICOS 66,57% 70,97% 64,95% 66,64%

BENS INDUSTRIAIS 64,41% 62,90% 67,26% 68,15%

CONSTRUÇÃO E TRANSPORTE

59,29% 58,95% 70,97% 80,65%

CONSUMO NAO CÍCLICO 54,68% 56,62% 57,57% 69,73%

CONSUMO CÍCLICO 71,64% 65,82% 62,96% 68,99%

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

49,44% 40,78% 41,27% 56,45%

TELECOMUNICAÇõES 67,62% 64,25% 63,76% 72,00%

UTILIDADE PúBLICA 50,66% 51,16% 48,52% 48,95%

MÉDIA DOS SETORES ECONÔMICOS

62,79% 58,57% 60,06% 67,59%

Fonte: dados da pesquisa.

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Na análise, verifica-se que em 2005 havia um mercado sem influências de crises financeiras, com acesso aos cré-ditos normalmente. Já no ano de 2006, iniciou-se a retração dos créditos, devido ao aumento dos riscos das empresas. Em 2007 a crise teve a mesma tendência que no ano ante-rior, observando-se que em 2008, com incentivos governa-mentais associados à necessidade de captação de recursos por parte das empresas, o nível de endividamento das com-panhias foi o maior dos anos analisados. Infere-se que pode existir relação entre os desembolsos do BNDES maiores no último ano e o nível de endividamento das empresas maior em 2008, conforme Gráfico 1.

7. Considerações Finais A presente pesquisa procurou responder à seguinte per-

gunta: Existe relação entre a crise do subprime e o nível de endividamento das empresas brasileiras? A resposta a essa questão é afirmativa, sendo que o reflexo da crise não se en-cerra no ano de 2008, pois mesmo atualmente as empresas ainda são afetadas. Há, contudo, algumas características, evidenciadas nesta pesquisa, comuns às empresas anali-sadas. Observa-se uma correlação entre o agravamento da crise nos anos de 2006 e 2007 e o nível de endividamento das empresas brasileiras.

Dessa forma, as empresas de capital aberto brasileiras con-sideradas na pesquisa refletiram o impacto da crise do subpri-

me com um menor grau de endividamento nos anos de agrava-mento da crise. Acredita-se que tal comportamento foi devido à retração de crédito por parte das instituições financeiras, bem como às incertezas do mercado, que, por conse quência, difi-cultaram a captação de recursos pelas companhias.

Esse comportamento, encontrado nas empresas brasilei-ras de maior porte, pode ser inferido para praticamente todos os setores da Bovespa analisados, com pequenas variações nos setores econômicos de Materiais Básicos, Consumo Não Cíclico e Utilidade Pública. A média de todos os setores analisados apresenta essa característica, ou seja, nos anos de agravamento da crise (2006 - 2007) há um menor grau de endividamento.

Constatou-se que uma das fontes de captação de recur-sos foi o BNDES, atuando no Brasil como financiador das empresas e tentando suprir a oferta de recursos do mer-cado, sendo que em 2008 houve o maior desembolso do Banco. A expansão de empréstimos mostra a capacidade do BNDES de manter investimentos na economia brasileira, mesmo diante da redução da liquidez no mercado interna-cional e doméstico.

Outros estudos, além da óptica do grau de endividamento, podem ser feitos analisando-se os reflexos da crise subpri-me. Tais estudos seriam importantes para o entendimento da amplitude e consequências desta crise nas organizações como um todo.

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Júlio Orestes da Silva Rodrigo dos Santos Cardoso Jorge Ribeiro de Toledo Filho

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Impacto da Crise do Subprime no Endividamento das Maiores Empresas Brasileiras

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ResumoA definição das competências do controller é um dos pon-

tos fundamentais em qualquer estudo de controladoria. En-tretanto, o leitor tem encontrado dificuldades em identificar um conjunto básico de competências pessoais e profissio-nais na literatura. Diante disso, este trabalho tem como obje-tivo identificar as competências do controller nas 100 maio-res empresas do Estado de Santa Catarina. O delineamento metodológico adotado para desenvolver esta pesquisa foi o descritivo, de caráter quali e quantitativo, conduzido por meio do instrumento de levantamento (survey) e amostragem por acessibilidade. Os resultados mostram que as competências pessoais estão mais relacionadas a características como trabalhar sobre pressão, ética, flexibilidade para mudanças, honestidade e integridade, iniciativa e liderança, entre outros. Já as competências profissionais estão relacionadas a carac-terísticas como visão estratégica e de processos, raciocínio lógico, planejamento e organização, entre outros.Palavras-chave: Competências pessoais. Competências profissionais. Controller.

Abstract The definition of the powers of the controller is one of the

key issues in any study of Controlling. However, the reader has encountered difficulties in identifying a core set of person-al and professional literature. So this study aims to identify the powers of the controller in the 100 largest companies in the state of Santa Catarina. The experimental methodology ad-opted to develop this research was descriptive, qualitative and quantitative nature, conducted through the survey instrument (survey) and sampling access. The results show that personal skills are more related to characteristics such as, working un-der pressure, ethics, flexibility for change, honesty and integri-ty, initiative and leadership, among others. Since the skills are related to features such as the strategic vision and processes, logical reasoning, planning and organization, among others. Key words: Personal Skills. Professional Skills. Controller.

Competências do Controller: um Estudo nas 100 Maiores Empresas de Santa Catarina

1Univille/SC – Universidade da Região de Joinville – CEP: 89.219-905 – Campus Universitário – Joinville – SC.2EPS/UFSC – Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina – CEP: 88.010-970 – Florianópolis – SC.3PPGC/UFSC – Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina – CEP: 88.040-970 –

Campus Universitário – Trindade – Florianópolis – SC.4PPGEP/UFSC – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina

– CEP: 88.040-900 – Florianópolis – SC.

Alessandra de Oliveira MachadoJoinville – SCMestre, professora na Univille/SC1

[email protected]

Rogério João LunkesFlorianópolis – SCMestre em Engenharia de Produção pela EPS/UFSC2

Professor da PPGC/UFSC3

[email protected]

Sérgio Murilo PetriFlorianópolis – SCDoutor em Engenharia de Produção pelo PPGEP/UFSC4

Professor da UFSC2

[email protected]

Fabricia Silva da RosaFlorianópolis – SCDoutoranda pelo PPGEP/UFSC2 [email protected]

Artigo recebido em 21/12/2009 e aceito em 27/01/2010.

1. IntroduçãoAs organizações contemporâneas têm experimentado

pressões competitivas sem precedentes, sendo assim for-çadas a criar continuadamente mecanismos para diferen-ciar-se e incrementar seus níveis de competitividade. Neste contexto, há dois pontos interdependentes já apontados nos trabalhos de Ansoff (1975), que têm aumentado significati-vamente de complexidade nas últimas décadas. O primeiro diz respeito à dinâmica e complexidade do ambiente em-presarial, que é caracterizado pela frequência e velocidade das mudanças dos diferentes segmentos do ambiente e pela sua força, regularidade e previsibilidade. O segundo aparece como resposta ao primeiro e está relacionado à diferencia-

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ção. Isto ganha força nos mais diferentes arranjos empre-sariais, e se manifesta na massiva setorização da estrutura organizacional e nas relações com o ambiente, no difuso sistema de gestão e também nas estruturas de poder que determinam as direções da organização.

Em face deste panorama, a controladoria passa a exercer um papel central no processo de gestão. Seu desenvolvimen-to ocorreu a partir dos preceitos básicos da contabilidade para uma ampla função de suporte informacional, controle interno, planejamento tributário, elaboração do orçamento e medidas operacionais, passando a participar também ativamente da formulação das estratégias, fazendo com que deixasse de ser apenas um compilador de dados e passasse a ser um coor-denador responsável pelo planejamento nas organizações.

Diante disso, as competências também tendem a ser aprimoradas visando atender as novas necessidades das organizações. Elas estendem-se de conhecimentos básicos de contabilidade, apontados por Heckert e Willson (1963), Tung (1974), Mosimann e Fisch (1999), Roehl-Anderson e Bragg (1996), Figueiredo e Caggiano (1997), Koliver (2005), Küpper (2005) e Horváth (2006); passando por conhecimen-tos do ambiente e métodos de planejamento e controle (HE-CKERT e WILLSON, 1963), (TUNG, 1974), (FIGUEIREDO e CAGGIANO, 1997), (KÜPPER, 2005), (HORVÁTH, 2006); a teorias comportamentais, instrumentos de motivação e técni-cas de criatividade (KÜPPER, 2005), entre outras.

Entre as exigências pessoais, destaque para poder de síntese (HECKERT e WILLSON, 1963), (KÜPPER, 2005); comportamento social (KÜPPER, 2005), (HORVÁTH, 2006); ética (HECKERT e WILLSON, 1963), (SCHMIDT e SANTOS, 2006), KÜPPER, 2005); e habilidades de gestão (KÜPPER, 2005), (HORVÁTH, 2006), entre outras.

Visando reconhecer um conjunto de competências bá-sicas, Horváth (2006) descreve que se devem estudar as oriundas de representações (órgãos) “oficiais” e/ou associa-ções como a FEI (Financial Executives Institute), de relatórios sobre estudos empíricos e específicos de atividades, organi-zação e desenvolvimento da controladoria, de publicações sobre soluções “típicas” ou “dignas de imitação” provenientes da práxis, de manuais e/ou obras de referência e de pesqui-sas em entidades de seleção e recrutamento de controllers.

Levando em consideração a dificuldade de fazer afirma-ções precisas sobre as competências do controller e bus-cando dar uma resposta a esta questão, surge a seguinte pergunta de pesquisa: quais são as competências exercidas pelo controller nas 100 maiores empresas do Estado de San-ta Catarina? Assim, o objetivo central deste artigo é a iden-tificação das competências do controller nas 100 maiores empresas do Estado de Santa Catarina.

2. Competências Exigidas do ControllerPara que a área da controladoria possa atender a suas

demandas, ela precisa contar com um conjunto de compe-tências, seja de natureza técnica ou pessoal. Se ela for com-posta por uma equipe, estas competências precisam estar nesta equipe; entretanto, se ela for composta por apenas uma pessoa, esta precisa reuni-las também.

Ao discutir o assunto, Mosimann e Fisch (1999) defendem que o controller é o gestor que, após o presidente, deve ter a

visão mais generalista da organização [...] Quando não existe na estrutura um órgão de controladoria, a coordenação dos esforços para a busca da maximização dos resultados globais da organização será exercida por outro gestor; entretanto, de-verá ser sempre aquele que tiver a visão mais generalista.

Corroborando este raciocínio, Koliver (2005) descreve que o controller deve ter uma visão ampla, visto que sua atu-ação não se restringe a uma função específica, mas abrange também a atuação e controle das diversas áreas da organi-zação. Para ele, a função do controller no Brasil, mais preci-samente na última década, passou a ter relevância tanto no meio acadêmico, em cursos de pós-graduação e mestrado, quanto no mercado, que procura profissionais especializa-dos, com visão de gestão, planejamento gerencial, fiscal, fi-nanceiro e de contabilidade.

Küpper (2005) defende que para assumir a função de controller é necessário ter conhecimento das áreas a ser coordenadas e, especialmente, de suas inter-relações. As-sim, é necessário, por um lado, um conhecimento amplo e atualizado. Ademais, as interdependências referem-se a conexões que são alcançadas por hipóteses, já que elas não reproduzem efeitos únicos sobre acontecimentos isolados, mas apresentam relações sequenciais. Por outro lado, o co-nhecimento teórico também tem importância fundamental. Como sua atividade é direcionada de forma especial pela vinculação com o sistema de gestão e desempenho, o co-nhecimento das conexões e, com isso, o conhecimento das teorias econômicas ganham um significado especial.

O mesmo raciocínio já era adotado em 1963 por Heckert e Willson, quando defenderam que o controller devia possuir visão econômica na função de assessoria a outros gestores em qualquer área. Assim, ele deve estudar os métodos uti-lizados no desempenho das tarefas da área, sugerir altera-ções que otimizem o resultado econômico global e suprir o gestor com as informações necessidades a esse fim.

De acordo com Küpper (2005), para intervir nas interde-pendências, devem-se empregar instrumentos de coor-denação. Aqui entram os amplos sistemas da controladoria que, juntamente com instrumentos de coordenação isolados, desenvolvimento das possibilidades de estruturação e seus efeitos, compõem o ponto central dos conhecimentos exigi-dos do controller. Pela função de coordenação é possível identificar que as exigências técnicas referentes ao control-ler se relacionam principalmente a conhecimentos teóricos e metodológicos (ver Quadro 1).

O controller deve suprir os gestores com informações e apoiá-los em suas decisões, visando à eficácia empresarial. Isto demanda capacidade de análise do desempenho e dos resultados passados com vistas a identificar ações de aper-feiçoamento (HECKERT e WILLSON, 1963). Ele também de-manda informações sobre eventos futuros, principalmente no suporte ao planejamento, execução e controle.

Entretanto, esta característica do tipo de conhecimento resulta também de outro objeto da controladoria. Assim, a função de direcionamento de objetivos exige, via de regra, um conhecimento preciso dos métodos de planejamento e controle. Para o direcionamento dos colaboradores em relação aos objetivos da empresa, é necessário influenciar o seu comportamento, com conhecimento de teorias com-

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portamentais e instrumentos de motivação. Isso enfatiza a necessidade de vinculação entre conhecimentos técnico-econômicos e conhecimentos de teorias comportamentais (KÜPPER, 2005).

Para Tung (1974), o conhecimento dos fatores macroeco-nômicos, bem como dos da organização, faz com que o con-troller se situe em seu próprio meio. O sistema contábil e a metodologia financeira constituem as ferramentas principais para o desenvolvimento de um método eficaz de controle. As responsabilidades e autoridade atribuídas conferem-lhe uma sólida base de trabalho. Dessa forma, as qualificações inerentes à função devem vir acompanhadas de imaginação construtiva, iniciativa, espírito de imparcialidade e sinceridade.

Segundo Küpper (2005), as outras exigências metodológi-cas e teóricas derivam da função de adequação e inovação. Para tanto, ele necessita conhecer previamente as modi-ficações do mercado e do meio. Elas são frequentemente orientadas a longo prazo e situam-se, assim, em estreita re-lação com áreas estratégicas. As inovações pressupõem en-contrar ideias e alternativas de soluções. Destes aspectos resultam exigências relativas a métodos de reconhecimento prévio, processos de planejamento e controle estratégicos, assim como a técnicas de criatividade.

Complementando, Heckert e Willson (1963) descrevem que o controller deve fornecer informações oportunas aos gestores em tempo hábil, relacionadas às alterações de pla-nos ou padrões, em função de mudanças ambientais, contri-buindo para o desempenho eficaz das áreas e da organiza-ção como um todo.

Quadro 1: Exigências técnicas e pessoais do controller

Exigências Técnicas

Exigências Pessoais

Tipos de conhe-cimentos técnicos e

experiênciasConteúdo dos objetos

Teorias econômicas ligadas ao sistema de gestão e desempenho

Instrumentos de coor-denação• Objetivos e sistemas de indicadores• Sistemas orçamen-tários• Sistemas de direcio-namento e controle

Métodos de planejamento e controle

Teorias comportamentais

Instrumentos de motivação

Métodos de conhecimento prévio

Técnicas de criatividade

Sistema de informações• Contabilidade de custo e desempenho (Contabilidade financeira, do balanço social e do capital humano)• Equipamentos do sistema de informações

Inteligência

Raciocínio analítico

Flexibilidade

Comportamento social• Sociabilidade• Capacidade de persuasão

Capacidade de inspirar confiança em relação à sua competência

Habilidades de gestão

Planejamento e controle• Sistemas• Processos• Instrumentos

Sistema de objetivos• Solução de conflitos de objetivos• Identificação de objetivos

Gestão de pessoas• Estilos de gestão• Sistemas de incentivo • Determinação do com-portamento humano

Organização

Interdependência no sistema de desempenho

Fonte: Küpper (2005).

Para tanto, ele deve ser imparcial ao fornecer informações aos gestores sobre a avaliação de desempenho das áreas. Embora essa ação possa trazer dificuldades no relaciona-mento interpessoal com tais gestores, ele deve focar na oti-mização do resultado empresarial.

2.1. Características profissionais do controllerAssumir a função de coordenação do sistema de gestão

exige conhecimentos básicos sobre todas as áreas envolvi-das. Por isso, a área de trabalho do controller é ampla. Por um lado, ela diz respeito a conhecimentos gerais de cada área, e, por outro, a um conhecimento sobre a caracterização desta na própria organização (KÜPPER, 2005).

Assim, o ponto de partida em termos de conhecimentos técnicos é a contabilidade. Para poder direcionar o sistema de informação e a gestão de pessoal de acordo com a ne-cessidade do planejamento e controle, é essencial que ele possua sólidos conhecimentos em contabilidade e avalia-ção de desempenho. Logo, ele deve ter familiaridade com as possibilidades de estruturação, bem como com a utiliza-ção dos diferentes sistemas. Para avaliar o desempenho, é fundamental conhecer a contabilidade e, principalmente, os meios e métodos utilizados para gerar a informação contábil (KÜPPER, 2005).

Corroborando, Roehl-Anderson e Bragg (1996) descre-vem que as qualificações do controller podem incluir uma excelente capacidade técnica em contabilidade e finanças, incluindo um grande entendimento e conhecimento dos princípios contábeis. Já Heckert e Willson (1963) apontam que ele deve saber analisar e interpretar dados contábeis e elaborar estatísticas que, associadas ao conhecimento dos princípios e procedimentos contábeis, se tornam a base de seu trabalho. Estas competências e habilidades, combinadas com o conhecimento suficiente de informática para propor modelos de aglutinação e simulação de diversas combina-ções de dados, segundo Figueiredo e Caggiano (1997), são a base direcionadora de sua ação.

Para Küpper (2005), os equipamentos e softwares do sis-tema de informação são importantes instrumentos de regis-tro, acumulação e disseminação de dados para ambas as partes do sistema de planejamento e controle. Por isso, é ne-cessário que o controller tenha capacidade de utilizá-los de forma direcionada aos objetivos sem, no entanto, colocar-se no lugar do profissional da informática. Assim, suas tarefas relacionam-se muito mais com o conteúdo dos processos de informação. Portanto, eles devem ter a capacidade de ga-rantir a utilização eficiente dos sistemas de informação como instrumento de gestão.

Com relação à coordenação do sistema de informação, de acordo com Küpper (2005), também é necessário pelo menos conhecimentos básicos sobre contabilidade externa, isto é, contabilidade financeira e tributária. Quanto maior for a importância dos tributos no planejamento, maiores serão as exigências relacionadas às atividades do controller.

Além disso, o autor defende que a contabilidade social, como os balanços socioambientais e relatórios de capital humano, oferece pontos de partida para uma forte conside-ração a respeito de aspectos sociais e relativos ao ambiente, bem como para o gerenciamento do fator humano na orga-

Alessandra de Oliveira Machado Rogério João Lunkes Sérgio Murilo Petri Fabricia Silva da Rosa

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nização. A importância deste tipo de informação na conta-bilidade era limitada até recentemente. Por isso, em muitas organizações elas não fazem parte das tarefas centrais do controller. Entretanto, quando sua importância se torna fun-damental para o crescimento e sobrevivência da organiza-ção, esses aspectos devem estar contemplados nos obje-tivos e, portanto, fazer parte das exigências do controller. Então a estruturação de uma contabilidade ampla será uma área central da atividade do controller.

Para coordenar o planejamento e o controle, Küpper (2005) defende que é essencial que o controller conheça a estrutura dos sistemas de planejamento e controle, assim como suas respectivas qualidades. Para realizar uma sinto-nia entre os níveis de planejamento, ele deve conhecer os componentes centrais dos planejamentos estratégico, tático e operacional. A coordenação para a gestão de pessoal e organizacional exige conhecimentos e experiências sobre estilos de gestão, sistemas de incentivos e motivação e do comportamento humano.

Suas tarefas de gestão são vinculadas ao sistema de de-sempenho. Isto demanda conhecimento das atividades das áreas e relacioná-las principalmente às interdependências do sistema de desempenho. Este componente de exigência forta-lece a relação entre a controladoria e as áreas. Desta forma, os controllers devem conhecer bem as respectivas áreas da orga-nização. Isso exige conhecimento de finanças, produção, logís-tica, vendas, marketing e pessoal, entre outras. Já os controllers de áreas específicas devem vincular conhecimentos profundos da respectiva função ou departamento com conhecimentos re-lacionados ao sistema de gestão (KÜPPER, 2005).

Para Figueiredo e Caggiano (1997), o controller tem ne-cessidade de um bom conhecimento do ramo de atividade do qual a organização faz parte e dos problemas e vantagens que afetam o setor, bem como conhecimento da história da organização e identificação com os objetivos, metas e políti-cas. Da mesma forma, Roehl-Anderson e Bragg (1996) des-crevem que ele deve ter um entendimento geral do segmento de negócio em que a organização atua e das forças sociais, econômicas e políticas envolvidas. Deve também entender a organização, incluindo as tecnologias, produtos, controles, objetivos, história, estrutura e ambiente, além de possuir ha-bilidade para comunicar-se com os mais diversos públicos com os quais interage, indo desde a alta administração até as áreas de nível operacional.

A todas estas exigências de natureza técnica, Küpper (2005) acrescenta, ainda, a vivência prática. Com ela ganha-se melhor entendimento dos efeitos dos instrumentos e procedimentos para a solução das tarefas transmitidas. Como as atividades dos controllers são direcionadas à vinculação entre as áreas, assim outras experiências profissionais também são importantes. Por um lado, necessita-se de experiências isoladas em partes dos sistemas de gestão, como, contabilidade, planejamento e controle. Por outro, exige-se direcionamento do desempenho da área específica de um setor ou departamento.

Vistas assim, as exigências técnicas do controller aten-dem às diversas áreas da organização. Portanto, dele se demanda visão generalista e especialista, ou seja, deve encontrar um equilíbrio entre o conhecimento expansivo e o aprofundado. Entretanto, é importante ressaltar que seus

conhecimentos e experiências das áreas são relativamente menores que os dos respectivos especialistas, e devem estar mais relacionados às áreas de desempenho e de gestão.

2.2. Características pessoais do controllerComo grande parte do trabalho do controller consiste em

interagir com as mais diversas áreas da organização, suas qualidades pessoais adquirem um valor especial. Na condi-ção de detentores de uma função transversal, Küpper (2005) entende que em muitas de suas atividades devem proceder de maneira não formal. Logo, seu desempenho é fortemente influenciado pela sua capacidade de persuasão pessoal.

Para Roehl-Anderson e Bragg (1996), as qualificações do controller podem incluir habilidade de expressar claramente as ideias e de motivar outros a realizar as ações que resul-tem no alcance dos resultados desejados. Corroborando, Heckert e Willson (1963) esperam deste profissional a ha-bilidade de expressar claramente suas ideias em linguagem adequada. Da mesma forma, Figueiredo e Caggiano (1997) descrevem que a habilidade de expressar-se bem oralmente e por escrito, associada às capacidades técnicas, é a chave do sucesso deste profissional.

Para Küpper (2005), a variedade de exigências técnicas pode levar a uma forte sobrecarga pessoal. Frequentemente, as expectativas em relação ao seu desempenho são elevadas, e, portanto, deve equilibrar a falta de conhecimentos aprofun-dados com habilidades intelectuais e pessoais. Aliado a isto, segundo Heckert e Willson (1963), o controller deve empre-ender uma comunicação racional ao fornecer informações às áreas com linguagem compreensível, simples e útil aos gesto-res e minimizar o trabalho de interpretação dos destinatários.

As amplas exigências técnicas são possíveis de ser al-cançadas somente com inteligência correspondente. O co-nhecimento em contabilidade, planejamento e controle exi-ge capacidade de raciocínio analítico. Ao mesmo tempo, o controller deve ter condições de raciocinar em diferentes áreas e problemas. Exige-se dele grande flexibilidade, de-corrente de limitações naturais para lidar com a competência formal. Deve também estar imbuído de força de vontade para impor seus argumentos. Assim, sua disposição para gerar desempenho superior deve ser grande em diversas áreas e especialidades (KÜPPER, 2005). Já Heckert e Willson (1963) apontam que o controller deve ter poder de síntese para traduzir fatos e estatísticas em gráficos de tendências e em índices, de forma que haja comparação entre o resultado realizado e o planejado e não entre o resultado realizado no período comparado com o anterior.

Para Küpper (2005) e Horváth (2006), as exigências pessoais especiais são colocadas em relação ao compor-tamento social. Isto envolve aspectos éticos (SCHMIDT e SANTOS, 2006). Desta forma, o controller é o mediador das áreas, departamentos e pessoas, e por isso deve criar um espírito de cooperação. Juntamente com a capacidade de raciocínio e flexibilidade, exige-se considerável habilidade para compreender, conversar e convencer. Somente assim ele pode lograr êxito e alcançar uma ação sintonizada e ob-jetivada. As habilidades sociais e de persuasão formam, por isso, qualidades centrais de que o controller necessita para realizar suas tarefas. Heckert e Willson (1963) descrevem

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que por meio da persuasão ele deve convencer os gesto-res da utilização das sugestões, no sentido de tornar mais eficaz o desempenho de suas áreas e, consequentemente, o desempenho global, desde que haja compreensão dos re-latórios gerenciais disponibilizados.

Segundo Küpper (2005), sua capacidade de se impor depende ainda de sua capacidade de inspirar confiança às demais pessoas. Quanto mais convincentes forem suas informações e argumentos, maior é a chance de êxito. Na vi-são de Heckert e Willson (1963), o controller deve ser persis-tente para acompanhar os desempenhos das áreas à luz de seus estudos e interpretações e cobrar as ações sugeridas para otimizar o resultado econômico global. Deve ter também espírito para cooperar assessorando os demais gestores a superar os pontos fracos de suas áreas, quando detectados, sem se limitar a simplesmente criticá-los pelo fraco resultado.

De acordo com Küpper (2005), para exercer a atividade de controller são exigidas habilidades de gestão. Além disso, estas qualidades são requeridas assim que lhe são transfe-ridas competências em face de outras seções ou áreas, ou quando, por exemplo, cabe a ele a incumbência de decidir em caso de conflito. Nesse sentido, Heckert e Willson (1963) colo-cam que o controller deve ter iniciativa para antecipar e prever problemas no âmbito da gestão global e fornecer informações necessárias aos gestores das áreas diretamente afetadas.

Por fim, apesar de todas estas exigências, sejam de na-tureza técnica ou pessoal, Horváth (2006) alerta que não se deve estilizar o controller como um super-homem. Ele conti-nua sendo um ser humano.

3. Metodologia de Pesquisa3.1. Universo e amostra

Esta pesquisa teve como escolha e seleção da amostra-gem as “100 maiores empresas do Estado de Santa Cata-rina” da revista Amanhã de 2007, por entender que é uma forma de buscar uma evidência mais próxima das caracterís-ticas do controller no Estado de Santa Catarina.

A revista Amanhã utiliza para formar o ranking uma única fonte de informação, as demonstrações financeiras. Com foco nas demonstrações contábeis consolidadas ou individuais e preparadas de acordo com a legislação societária, a metodo-logia adotada obedece a critérios técnicos da análise de ba-lanços. O índice utilizado para estabelecer a ordem no ranking é o VPG – Valor Ponderado de Grandeza, que consiste em: resultado da soma, com pesos específicos, dos três principais componentes do balanço: patrimônio líquido (50%), receita bruta (40%) e possivelmente resultará em um lucro ou prejuí-zo – líquido (10%).

Por ser uma pesquisa intencional, traz algumas limitações quanto aos seus resultados, pois para Longaray et al. (2003, p. 127) é muito difícil que uma amostra intencional seja repre-sentativa do universo; sofre restrições, entre as quais a não possibilidade de cálculo do erro amostral e a não represen-tatividade do universo pesquisado. Do total de questionários enviados, obteve-se a resposta de 32 empresas.

3.2. Perfil das empresas da amostra O questionário foi encaminhado para as 100 empresas por

meio de e-mail, sendo que algumas das características comuns

entre elas são: (i) todas têm unidades no Estado de Santa Cata-rina; (ii) todas aparecem na relação da revista Amanhã – 2007, sendo seus dados referentes ao exercício de 2007; e (iii) todas tiveram o VPG calculado pela revista Amanhã, sendo a primeira empresa com o VPG de 6.074,28 pontos e a última com 49,18 (um intervalo considerável; porém as empresas que têm valores em milhar só ocorrem até a 8ª colocação).

As empresas relacionadas apresentam as seguintes ativi-dades principais, conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2: Atividade principal das empresas da amostra

ATIVIDADE PRINCIPAL TOTAL ATIVIDADE PRINCIPAL

TOTAL

Metalurgia 10 Agroquímica 1

Têxtil 10 Banco 1

Alimentos 8 Cerâmica de Mesa 1

RevestimentosCerâmicos

5 Comércio de Cereais

1

Geração de Energia 3 Compressores de Ar

1

Madeira 3 Confecções 1

Química 3 Couros 1

Varejo 3 Distribuiçãode Gás

1

Agência de Fomento 2 Elástico 1

Autopeças 2 Eletrodomésticos 1

Comércio Exterior 2 Equipamentos para Telecomuni-cações

1

Construção 2 Fruticultura 1

Eletromecânica 2 Gráfica 1

Ensino Superior 2 Insumo Industrial 1

Estatal de Energia 2 Mineração 1

Estatal de Saneamento 2 Motores Elétricos 1

Higiene 2 Plásticos 1

Móveis 2 Plásticos eEmbalagens

1

Papel 2 Rede de Farmácias

1

Papel e Embalagens 2 Reflorestamento 1

Planos de Saúde 2 Siderurgia 1

Supermercados 2 Software 1

Transmissão de Energia 2 Transporte Rodoviário

1

Agroindústria 1 Tubos e Conexões 1

Fonte: dados da pesquisa.

Observa-se no Quadro 2 que há uma diversidade de ativi-dades das empresas da amostra, o que evidencia a possibi-lidade de obter um diagnóstico provavelmente mais preciso e que possa bem representar o universo; porém não se trata de verdade absoluta, como é próprio de uma pesquisa com característica indutiva.

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3.3. Enquadramento metodológicoEste estudo quanto ao objetivo se enquadra em pesquisa

descritiva. Para Gil (2002, p. 42), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabele-cimento de relação entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título, e uma de suas ca-racterísticas mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática.

Quanto ao tempo, a pesquisa pode ser classificada como um estudo transversal, em que, segundo Miranda (2007, p. 14), o pesquisador coleta os dados de cada caso ou sujeito num único instante no tempo, obtendo um recorte momentâ-neo do fenômeno investigado. Pois foi realizada entre os dias 1º de maio e 16 de junho de 2008, e o instrumento da pesqui-sa foi apresentado ao sujeito em um único instante no tempo.

Para esta pesquisa, optou-se pelo levantamento ou survey, pois Gil (2002, p. 50) argumenta que as pesquisas deste tipo se caracterizam pela interrogação direta das pessoas cujo comporta-mento se deseja conhecer [...] basicamente, procede-se à solicita-ção de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema [...] em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados.

Para a realização da pesquisa de levantamento ou survey, usou-se como instrumento o questionário, que, para Lakatos e Marconi (2001, p. 222), é uma técnica de observação direta ex-tensiva que é constituída por uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador.

Complementando a classificação, busca-se identificar qual é a característica quanto à abordagem do problema. Como esta busca identificar as competências do controller nas 100 maiores empresas do Estado de Santa Catarina através de informações qualitativas e utilizar métodos esta-tísticos na compilação do questionário, esta pesquisa tem ca-racterística quali-quantitativa, unificando o método qualitativo e quantitativo. Longaray et al. (2003) destacam que os estu-dos que se classificam como qualitativos podem descrever a complexidade de um problema e interpretar certas variáveis, compreendendo e classificando processos dinâmicos de de-terminados grupos sociais. E que o quantitativo se caracteri-za pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações como no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas de coletas de dados.

3.4. Procedimentos metodológicosCom a finalidade de atender ao objetivo da pesquisa de

identificar as competências do controller ou da controlado-ria nas 32 empresas respondentes, adaptaram-se a partir da literatura as seguintes características pessoais e profissio-nais, conforme o Quadro 3.

Para tanto, foram enviados questionários para 100 empre-sas, composto de 30 questões fechadas, com respostas do tipo SIM, NÃO, NÃO SABE RESPONDER. Quanto às ques-tões que envolvem o tema competências, foi solicitado ao respondente classificá-las em: muito importante, importante, pouca importância e nenhuma importância. Então, procede-se à contagem das respostas, e com base nesta contagem se realiza a análise das competências identificadas.

Quadro 3: Principais características pessoais e profissionais

Características Pessoais Características Profissionais

Ética Visão estratégica

Flexibilidade para mudanças Visão de processos

Honestidade / integridade Raciocínio lógico - matemático

Iniciativa Planejamento e organização

Interação Fazer o que sabe

Liderança Conhecimento de finanças

Manter o equilíbrio entre trab-alho e vida pessoal

Capacidade para implantação de novas idéias

Motivação – energia para o trabalho

Capacidade analítica

Pró-atividade Visão sistêmica

Respeito aos objetivos organizacionais

Visão de negócios

Senso crítico Ter conhecimentos em contabilidade

Ter espírito de decisão Habilidade de negociar

Aceitação de risco Antevisão das demandas

Delegação Domínio de línguasestrangeiras

Dinamismo e iniciativa

Disponibilidade

Espírito de decisão

Facilidade de relacionamento inter-pessoal

Formação de equipes

Uso da autoridade com re-sponsabilidade e bom senso

Valorização dos bens confiantes

Personalidade / carisma e dedicação

Facilidade de gestão de conflitos

Ter sensibilidade

Fonte: dados da pesquisa.

Apresentados a classificação, enquadramento e proce-dimento da pesquisa, cabe apresentar e analisar os resul-tados encontrados.

4. Apresentação e Análise dos ResultadosDas 32 empresas, sete responderam em todas as opções

que as exigências profissionais e pessoais elencadas tinham nenhuma importância para o controller. Assim, desconside-rando as sete empresas, podem-se obter os seguintes resul-tados, conforme o Gráfico 1.

Conforme o Gráfico 1, pode-se observar que as empresas consideram “muito importante” as qualificações profissionais com 58,86%, e com 49,75% as características pessoais. Já conside-ram “importante” algumas qualificações pessoais, com 47,68, e

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Os conhecimentos em finanças, 17 empresas os identifi-caram como “muito importante”. Isto demonstra que o control-ler exerce funções de finanças, o que não ocorre em países como a Alemanha, onde as funções do controller e do tesou-reiro ou de finanças são segregadas. Corroborando, pesqui-sas realizadas por Sathe em 1978 e 1982 nos Estados Unidos ressaltam que pequenas e médias empresas, com estrutura funcional, apresentam geralmente este tipo de comportamen-to, com o controller trabalhando nas duas áreas.

As características relacionadas, por exemplo, ao domínio de línguas estrangeiras são fortemente destacadas na práti-ca. Entretanto, na literatura, principalmente a internacional, não há destaque para conhecimentos relacionados a línguas como, inglês, francês, alemão ou espanhol, etc. Isto se deve particularmente a aspectos voltados para a prestação de contas, de resultados e da contabilidade internacional, como também ao fato de as empresas pesquisadas serem filiais de multinacionais, ou seja, na realidade o responsável pela controladoria é um controller de unidade e está subordinado à matriz, localizada em outro país. Neste caso, o controller da unidade deve prestar informações constantes para a contro-ladoria da matriz, segundo as características determinadas pela sede, o que inclui a língua.

Ao analisar sob o aspecto geral, a pesquisa aponta que quase todas as características profissionais foram apontadas como “muito importante” ou “importante”, com exceção da Língua estrangeira, com quatro indicações de “pouca impor-tância”, sendo que com uma indicação de “pouca importân-cia” apareceu para a Antevisão das demandas, Habilidade em negociar e Ter conhecimento profundo em contabilidade.

Apresentadas as características profissionais, o Gráfico 3 apresenta as características pessoais.

Gráfico 3: Características pessoais do controller na organização

Fonte: dados da pesquisa.

No Gráfico 3, o destaque em relação às características pes-soais é a Ética, seguida pela Honestidade/Integridade. O que in-dica que a empresa está em busca de profissionais com valores morais íntegros. Isto pode ser decorrente de vários aspectos, entre os quais destaque para a necessidade de controller com idoneidade em função de concentrar duas áreas fundamentais

profissionais, com 38%. Nos Gráficos 2 e 3, apresenta-se o deta-lhamento destas qualificações exigidas pelas empresas.

Gráfico 1: Classificação percentual das exigências feitas ao controller

Fonte: dados da pesquisa.

Destaca-se no Gráfico 2 que, de todas as características profissionais, a que obteve maior indicação é a Antevisão das Demandas, seguida por Visão Estratégica, Capacidade para implantação de novas ideias e projetos. O que assina-la a valorização de profissionais voltados para o mercado e, principalmente, voltados para tarefas relacionadas ao futuro, como o planejamento. Isto reforça a literatura (Anthony e Go-vindarajan, 2001; Atkinson et al., 2000; Garrison e Noreen, 2001, Roehl-Anderson e Bragg, 1996; Weber, 2003; Küpper, 2005 e Horváth, 2006; entre outros) que descrevem que o controller está atuando fortemente em atividades de plane-jamento. Para os autores, no atual contexto a controladoria está se tornando parte da alta administração, participando da formulação e da implementação de estratégias, cabendo-lhe a tarefa de traduzir o plano estratégico em medidas operacio-nais e administrativas.

Gráfico 2: Características profissionais do controller na empresa

Fonte: dados da pesquisa.

Já os conhecimentos de contabilidade destacados por Ja-ckson (1949), Heckert e Willson (1963), Tung (1974), Yoshi-take (1984), Brito (2005) e Padoveze e Benedicto (2005), Roehl-Anderson e Bragg (1996), Weber (2003), Küpper (2005) e Horváth (2006), entre outros, tiveram a indicação de 14 empresas como “muito importante”, reforçando a eviden-ciação da literatura.

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47,6838

58,86

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das empresas, a controladoria e a tesouraria, com a possibilida-de de elevados riscos, decorrentes de desvios e fraudes.

Já os aspectos direcionadores dos objetivos organizacionais também tiveram grau elevado de indicação. Entre outras carac-terísticas pessoais fortemente elencadas, podem-se apontar as relacionadas ao compartilhamento das ações e decisões, o que inclui a iniciativa, formação de equipes e interação.

Assim como com relação às características profissionais, há uma grande ênfase nas características pessoais, que na sua maioria foram apontadas como “muito importante” ou “importante”. A exceção fica com Ter sensibilidade, com qua-tro indicações de “pouca importância”, e com Personalidade, que aparece com três indicações, enquanto com somente uma indicação de “pouca importância” aparecem Valoriza-ção dos bens confiantes, Aceitação de risco, Disponibilidade, Delegação e Formação de equipe.

5. Conclusões e RecomendaçõesO objetivo da pesquisa foi atendido com a identificação das

competências pessoais e profissionais exigidas do controller, detalhadas no Gráfico 2 e 3. Entre as competências pessoais, destaque para as relacionadas a características como Traba-lhar sobre pressão, Ética, Flexibilidade para mudanças, Ho-

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nestidade e integridade, Iniciativa e Liderança, entre outras. Já as competências profissionais estão relacionadas a aspec-tos como Visão estratégica e de processos, Raciocínio lógico, Planejamento e Organização, entre outros. Isto indica que as empresas estão valorizando atividades voltadas para o geren-ciamento do futuro, como a atuação no planejamento.

As características de uma forma geral foram identificadas em grau elevado em “muito importante” e “importante”. Na sua grande maioria, os resultados da pesquisa apontam forte alinhamento com a literatura. Entre as características pesso-ais apontadas, há uma grande acepção para: trabalhar sobre pressão/ética/iniciativa/honestidade, apontando uma tendên-cia de procurar uma pessoa com valores morais e crenças afinadas com a empresa. Quanto aos aspectos profissionais, os resultados da pesquisa também apontam grande alinha-mento com a teoria, demonstrando de certa forma que as empresas estão buscando profissionais com visão estratégi-ca, de processo, sistêmica e de negócios.

Quanto às recomendações, a pesquisa pode ser aplicada em empresas de outros estados, visando identificar as caracte-rísticas pessoais e profissionais e ampliar o conhecimento sobre o tema. Além da possibilidade de melhorar os aspectos voltados para a revisão, com agrupamento das características idênticas.

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Alessandra de Oliveira Machado Rogério João Lunkes Sérgio Murilo Petri Fabricia Silva da Rosa

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Artigo recebido em 29/12/2009 e aceito em 27/01/2010.

1ISCAC-PT – Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra – Quinta Agricola – Bencanta – 3040-316 – Coimbra – Portugal.2Universidade do Minho – Largo do Paço – 4704-553 – Braga.3Universidade de Aveiro – Campus Universitario de Santiago – Pavilhão 1 – Aveiro – 3810 – Portugal.4Universidade de Coimbra – Largo da Porta Férrea – 3000 – Coimbra – Portugal – 239 823 331.

* Este artigo segue as normas ortográficas estabelecidas em Portugal.

Viagem Histórica pelo Vetusto Mundo da Contabilidade*

Miguel GonçalvesCoimbra – PortugalProfessor do ISCAC – Portugal1

Doutorando em Contabilidade pela Universidade do Minho e de Aveiro2

Mestre em Contabilidade e Auditoria pela Universidade de Aveiro (pré-Bolonha)3

Pós-Graduado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (pré-Bolonha)4

[email protected]

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 35 - 42, jan./mar. 2010

ResumoO artigo assume a finalidade de apresentar uma resenha so-

bre a evolução do pensamento contabilístico, efectuando, para o efeito, uma viagem pela Contabilidade de algumas das mais interessantes civilizações da Antiguidade Oriental e Clássica.

A digressão vem acompanhada pela exposição sumária das principais razões que motivaram a necessidade do desenvolvi-mento da Contabilidade em cada uma dessas civilizações.

Tenta-se, também, caracterizar e descrever o material con-tabilístico que sobreviveu até aos nossos dias e que se encon-tra documentado, realçando-se, contudo, a principal dificuldade inerente a esta temática: o reduzido número de documentos contabilísticos resistentes à inexorável passagem do tempo.Palavras-chave: Origem da Contabilidade; História da Con-tabilidade; Contabilidade Romana; Civilizações da Antiguida-de Clássica; Evolução do Pensamento Contabilístico; Regis-tos Contabilísticos.

AbstractThe main purpose of the paper is to present a summary re-

garding the evolution of the accounting knowledge, by means of looking back through the History of Accounting to some of the most interesting civilizations of Oriental and Classical Antiquity.

The digression is accomplished by exposing the summary of the main reasons that motivated the necessity to the deve-lopment of Accounting in each of these civilizations.

We try, as well, to characterize and describe the accounting material that has survived until today and that is documented, though emphasizing the principal difficulty that is inherent to this theme: the reduced number of accounting documentation that has resisted the inexorable passing of times.Key words: The Origin of Accounting; History of Accounting; Roman Accounting; Civilizations of Classical Antiquity; Evolu-tion of Accounting Knowledge; Accounting Records.

1. IntroduçãoNão será de todo descabido supor que a noção de conta e,

consequentemente, de Contabilidade, seja tão antiga como a origem da vida do homem em sociedade. Alguns historiadores fazem remontar os primeiros sinais objectivos de existência de contas aproximadamente a 4.000 antes de Cristo (a.C.).

O certo é que o homem primitivo ao inventariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, ao contar os seus rebanhos ou as suas ânforas de bebidas já estaria a praticar uma forma rudimentar de Contabilidade. Esta opi-nião é partilhada por Costa (1988: 5), pois para este autor a Contabilidade nasceu “logo que o homem primitivo sentiu a necessidade de controlar os animais que possuía, utilizando como processo de contagem e registo as inscrições feitas nos troncos das árvores ou seixos, representativos do núme-ro de cabeças do seu rebanho”.

Com efeito, estes registos em rochas ou em placas de ma-terial diverso representam aquilo que se pode considerar como os primeiros vestígios de Contabilidade, tendo como finalidade assegurar, como base de apoio memorialista, o posterior con-trolo dos seus bens, direitos e obrigações. Noutros termos, na esteira de Barata (1998), estas inscrições permitiam-lhe con-trolar tudo o que estava incluído no seu património.

A opinião de outros ilustres autores aponta na mesma direcção. Atente-se, em primeiro plano, na visão de Sá: “a contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em função dela. Talvez por isso os seus progres-sos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizam os da própria evolução do ser humano” (Sá, 1998a: 19).

O mesmo entendimento parece ser partilhado por Mon-teiro (1979), ao sustentar que a vida económica do homem primitivo fez aparecer aquilo que presentemente se designa pelo objecto da Contabilidade.

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1Abreviatura de “cerca”.2 Em verdade, falamos de dois gêneros de contas. Numa economia primitiva, em que se fazia a troca direta dos bens, a conta é a expressão das próprias uni-

dades dos bens ou das coisas. Quando foram criados os sistemas de medição e de pesagem (pelos sumero-babilônios), a conta exprime as unidades da sua medida. É a conta em “natura” ou em “espécie”. Quando se passa à Economia monetária, ao sistema de troca indireta, surge a conta “de valores”, ou seja, os bens, os direitos e as dívidas exprimem-se pela quantidade de moeda que valem ou que é devida.

Miguel Gonçalves

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 35 - 42, jan./mar. 2010

Neste mesmo sentido, assinale-se a opinião de outro emérito mestre, Gonçalves da Silva: “a contabilidade é arte velha. Conta milénios de existência. Nas suas formas mais rudimentares já a utilizavam os incas, os assírios, os egípcios e outros povos da mais remota Antiguidade” (Silva, 1959: 11).

Como corolário, temos que a Contabilidade, desde o seu aparecimento, privilegiou sempre um cariz memorialista, so-bretudo no que dizia respeito ao registo de valores patrimo-niais e de transacções de maior magnitude e importância, motivadas pelo incremento da actividade comercial. Assim se expressaram Amorim (1929) e Silva (1975).

Desenvolvida para efeitos de gestão das firmas dos co-merciantes, tendo como fim principal permitir-lhes seguir a evolução do capital nelas aplicado, a Contabilidade emerge assim como uma realidade umbilicalmente associada ao Co-mércio, conexão magistralmente sintetizada por Dória (1919: 10): “A Contabilidade é a ciência a que se pode chamar a alma do comércio”.

Mesmo nestas formas mais rudimentares, cremos contu-do que o propósito inicial da Contabilidade se mantém actual, ou seja, ela terá sido desenvolvida e colocada desde sempre para atender a objectivos e fins de Gestão, ainda que relativos às carências das pessoas, famílias e comerciantes da época.

A perspectiva de Gonçalves da Silva confirma o argumen-to supra:

[a génese da contabilidade explica-se pela necessidade], cedo sentida pelo homem, de suprir as deficiências da sua memória mediante um processo de classificação e registo que lhe permitisse recordar facilmente as sucessivas mu-tações de quaisquer grandezas comensuráveis e variáveis (como por exemplo, uma dívida, um stock) em ordem a po-der determinar em qualquer altura a nova medida ou exten-são das mesmas (Silva, 1975: 13).

Lopes Amorim, outro excelso especialista sobre História da Contabilidade, insiste também no carácter memorialista da Contabilidade, indo no entanto mais além, explicando ser o crédito o factor impulsionador da técnica contabilística. A este título, atente-se nas palavras do autor:

a Contabilidade surgiu como necessidade imperiosa de se criar um conjunto de processos práticos destinados a suprir a memória dos mercadores a partir do momento em que ela se mostrou incapaz de fixar e de reproduzir com ab-soluta fidelidade, em qualquer momento, as quantidades e valores das mercadorias por eles vendidas a crédito. Ora a introdução do crédito no mundo dos negócios é muito mais antiga do que muitos certamente julgarão, podendo mesmo afirmar-se que ela remonta aos longínquos tempos das so-ciedades primitivas (Amorim, 1968: 9).

Não é possível, com exactidão, determinar onde, quando e como nasceu a Contabilidade. No entanto, haverá sempre quem, por desconhecimento ou comodidade, esteja pronto a afirmar ou a acreditar que uma ciência (ou técnica) tenha origem num único homem, que passaria assim a ser o seu

inventor. Toda a ciência provém do Homem, mas é sempre uma conquista colectiva. A Contabilidade não configura, na-turalmente, excepção.

Mas será que todos os registos dos Antigos podem consi-derar-se registos contabilísticos? Prudentemente, responde-mos que não. Só os registos aplicados à contagem de factos de natureza patrimonial representam registos contabilísticos.

A contagem levou à criação dos numerais. Os numerais (números naturais) mais rudimentares de que há memória consistiam em traços rectos (verticais) para os números de um a nove. Estes símbolos apareceram no Egipto (3400 a.C.) e na Mesopotâmia (ca1. 3000 a.C.). Assim que a contagem se aplica aos bens económicos ou aos bens que constituem o pa-trimónio administrável do indivíduo ou da colectividade, pode concluir-se estarmos na presença dos primeiros registos con-tabilísticos. Consequentemente, nos seus primórdios, a Histó-ria da Contabilidade confundir-se-á com a História da Conta2.

Para finalizar, uma última palavra para os diversos mate-riais usados como suporte pela técnica contabilística ao lon-go dos tempos. Em termos quase cronológicos, isto porque alguns destes materiais coexistiram entre si, enumeramos: a pedra, placas de madeira, placas de couro, placas de argila, papiro, peles de animais preparadas, pergaminho e papel.

2. Indicações da Presença da Técnica Contabilística entre os Povos da Antiguidade Oriental e Clássica

Cravo (2000) refere que, de um modo geral, todos os povos contribuíram para o desenvolvimento da Contabilida-de. Desta forma, o périplo que se segue versará o exame de alguns dos principais passos da evolução contabilística, efectuando-se, para o efeito, uma viagem por algumas das mais interessantes civilizações antigas.

2.1. Civilização ChinesaOs chineses apresentavam como principais indústrias a

seda, a porcelana, o bronze e o papel. A escrita chinesa já há muito tinha sido inventada com o sistema de caracteres que ainda hoje é utilizado na China. Sabe-se que cerca de 800 a.C. existiam, na China, notas de banco. Também utilizavam moeda metálica, títulos de crédito, dando assim origem ao aparecimento de entidades intermediárias que desempenha-vam as funções de banqueiros do nosso tempo.

O elevado grau de desenvolvimento económico-industrial desta civilização aponta no sentido de que este não teria po-dido processar-se – é licita a conclusão – sem a utilização de uma boa forma de contabilidade adequada, mas como advo-ga Amorim (1968), infelizmente nada se encontrou que nos possa elucidar sobre o funcionamento desta contabilidade.

2.2. Civilização HinduNa velha Índia, as profissões comerciais e industriais

eram tidas como muito honrosas e dignas e as suas princi-

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3 Esta obra é composta por cerca de 150 capítulos.4 Note-se que o Código nada dispunha quanto à maneira de escriturar as operações comerciais.5 O que pressupunha a existência de crédito.6 Meso – do grego “meio”; Potamos – do grego “rios”. Portanto, entre os rios. Mais concretamente, entre os rios Tigre e Eufrates. A Mesopotâmia corresponde,

grosso modo, ao atual Iraque. A parte sul da Mesopotâmia era a Suméria.7 Só esta classe era capaz, por exemplo, de redigir contratos e cartas comerciais.8 A mais conhecida terá sido Ur, mas também Uruk e Lagash.9 Sensivelmente a oitenta quilómetros da actual Bagdad.10 Hamurabi foi um rei da Babilónia. O código data de cerca de 1780 a. C. Está presentemente no Louvre e foi descoberto em 1901 na cidade de Susa (no Irão

actual). Trata-se de um monólito de diorito preto com um altura de dois metros e meio.

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pais indústrias eram as relativas aos tecidos de algodão, lã, seda e linho.

Provêm desta civilização algumas obras e legislação que demonstram algum avanço em matérias económicas. Uma dessas obras foi escrita por Kautilya, um sábio orien-tal, tendo vivido há cerca de dois mil e trezentos anos, num território situado na actual Índia. Da sua obra Arthasastra3, constam diversos conceitos e definições relacionados com a Contabilidade, como definições e classificações de lucros, custos, receitas e capital, bem como uma distinção entre despesas ordinárias (constantes) e despesas extraordiná-rias (variáveis). Existe igualmente uma distinção de despe-sas que resultavam de fenómenos com fins operacionais e não operacionais.

Realce também para o Código de Manu4, ca. século XII a.C., legislação comercial que incluía disposições atinentes à fiscali-zação da qualidade e do preço das mercadorias, à prevenção de fraudes, à regulação dos tributos do Rei por parte de funcio-nários que tinham de prestar contas ao soberano e ainda regu-lamentações sobre a taxa de juro e sobre taxas de empréstimo5.

Não foram encontrados vestígios elucidativos da contabi-lidade Hindu, mas, por muito primária que fosse, a contabi-lidade existia, porque havia uma hierarquia de funcionários incumbidos de administrar o produto das cobranças dos impostos. Prolongando esta linha de pensamento, e segun-do Sá (1998b: 263), “tudo indica que na Índia havia já uma organização contabilística apreciável, com muitos cuidados técnicos pertinentes às áreas orçamentárias”.

2.3. Civilização PersaOs Persas, que habitavam o actual território iraniano,

apresentavam como principais indústrias o fabrico de tape-tes, a cerâmica e o mobiliário. Era costume registar todos os actos e todas as ordens do rei que para esse efeito se fazia sempre acompanhar de secretários.

No tempo do rei Dario (século V a.C.) organizou-se um ca-dastro de todo o império, pelo qual se lançavam os impostos que eram depois repartidos pelas províncias, que não eram mais do que uma espécie de “repartição autárquica”, compa-rável às leis actuais de finanças das autarquias. Faziam-se inventários das propriedades dos conventos, das igrejas, dos comerciantes e dos particulares, o que pressupõe a existên-cia de uma forma de contabilidade pública lado a lado com um sistema de contabilidade privado.

2.4. Civilização Suméria, Babilónia e AssíriaOs Sumérios, a mais antiga civilização da Humanidade

(ca. 4000 a.C.) habitavam a Mesopotâmia6. São devidas a este povo duas importantes criações: (1) a escrita cuneifor-

me (ca. de 3500 a. C.), complexa, conhecida apenas pelos sacerdotes e por uma classe especial7 de escribas, tratava de incisões gravadas em pequenas placas de barro hume-decido (que secava rapidamente) com estiletes de madeira com a ponta prismática, de base triangular e (2) as cidades-Estado8, com cada cidade a ter um rei, uma murada em seu redor, uma divindade própria e todo o movimento comercial a girar à volta de uma estrutura central – o templo.

Como escreve Sá (1998a), existe um generalizado consen-so entre os peritos da arqueologia de que foram as imensas riquezas da Suméria – muito particularmente as de Uruk – que forneceram subsídios para as bases de um desenvolvimento da escrita contabilística. Prossegue o afamado autor, afirmando que a origem da escrita cuneiforme, atribuída a esta civilização, muito “orgulhou o conhecimento da Contabilidade, pela sua qualidade como expressão do pensamento” (Sá, 1998a: 30).

Os registos contabilísticos eram gravados em placas de argila e o instrumento utilizado para efectuar as inscrições cuneiformes era um estilete de madeira. De acrescentar que foram organizadas na Mesopotâmia escolas de escrituração contabilística, tendo sido encontradas uma razoável quanti-dade de placas de argila de exercícios de alunos.

No sentido de sobrelevar a originalidade das pranchas ou placas de argila das civilizações da Mesopotâmia (Babilónia, Suméria e Assíria) na evolução da escrita contabilística, im-porta reter duas reflexões de Sá (1998a: 31-32):

1) as mesmas já registavam apuramentos de custos, or-çamentos, revisões de contas, controlos de gestão de pro-dutividade e

2) cerca de 2000 a.C. já se adoptava o razão, produziam-se balanços de qualidade, possuíam-se orçamentos evolu-ídos de receita e despesa pública e calculavam-se custos.

No tempo dos Babilónios (os Babilónios tomaram a Sumé-ria cerca de 2000 a.C.) realça-se o grande centro populacio-nal da cidade de Babilónia9. De destacar, também, um dos mais antigos códigos escritos de legislação comercial e civil: o Código de Hamurabi10.

O Código continha leis gravadas em pedra (numeradas de 1 a 282, mas os números 13, 66 a 99, 110 e 111 não existem) mandadas reunir por Hamurabi, sexto rei da primeira dinastia babilónica e que reinou entre 1729 e 1686 a.C., e inscritas em caracteres cuneiformes. Representa uma nova concep-ção sobre as classes sociais, a indústria, a economia, as leis em geral e inclusive sobre a família. Mais concretamente, e na óptica que mais interessa a este trabalho, aparecem nor-mas relativas ao contrato de sociedade, à carta de crédito, a empréstimos, ao contrato de comissão e regulamentação de relações entre empregados e patrões.

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11 De coluna dupla, acrescentamos.12 História do Egito e dos Faraós a respeito da administração da casa do primeiro faraó “Menah” – cerca do ano 3623 a.C.13 Planta existente nas margens pantanosas do rio Nilo. Esta planta é uma espécie de cana com o caule liso e direito, o qual era cortado às tiras horizontais e

verticais, fazendo um gênero de folha. É no nome de papiro que reside a etimologia dos vocábulos papel, papier e paper.

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Miguel Gonçalves

Os Babilónios usavam declarações de venda e conferiam muita importância à prova escrita e ao juramento. No seu tempo, havia contratos de troca, de empréstimo, de aluguer e até de penhora. Havia também recibos, sendo claro que o texto era gravado em pequenas placas de argila nas quais se inscreviam as incisões cuneiformes.

Os Babilónios possuíam casas de sociedades em parti-cipação sob a forma de um contrato estabelecido entre um capitalista (fornecedor de mercadorias) e um comerciante (fornecedor de trabalho e de conhecimentos comerciais).

Eram, na realidade, um povo muito desenvolvido, autor do sistema de pesos e medidas, dos títulos de crédito, da car-roça, entre outras invenções, como a cerveja, por exemplo.

De acordo com Vlaemminck (1961), muitas das tábuas ou placas de argila dos sumero-babilónios oferecem todos os elementos da conta moderna11; o saldo anterior, a série de elementos a débito, a série de elementos a crédito e o saldo final que se junta para balancear a conta.

Para além destes elementos, os vestígios que chegaram até aos nossos dias permitem deduzir que estas civilizações teriam registos inscritos em tábuas de argila, de conteúdo mais variado: “incluíam contratos sociais de intercâmbio em espécies, pagamento de salários ou de serviços prestados aos templos, empréstimos em dinheiro, vendas, testamen-tos, acções judiciais e registos de dívidas a e de terceiros” (Rivero Romero [et al.], 1997: 690).

Cravo (2000) refere que é dos Babilónios e dos Sumérios que se obtém a mais antiga documentação com contas com débitos e créditos (ca. de 4000 a.C.). O autor também avança que é a estes povos que devemos o processo de determina-ção e análise de custos (Cravo, 2000).

Por último, sublinha-se que no reinado do rei Nabucodo-nosor II (século VI/V a.C.) existia na cidade de Hillah, na As-síria, uma casa bancária com o nome de Egibi e Filhos. Esta emprestava dinheiro a juros, bem como, entre outras coisas, vendia terrenos e escravos.

2.5. Civilização FeníciaOs fenícios ocupavam uma estreita faixa territorial com-

preendida entre o Mediterrâneo, a Síria a Norte e a Palestina a Sul (o que, grosso modo, terá tradução hoje no território do Líbano e da Síria). Este era um território estéril e muito pobre em produtos agrícolas, pelo que se viraram para o mar – o Mediterrâneo, tendo ficado catalogados como o mais alto ex-poente no comércio da Antiguidade Clássica.

Criaram entrepostos comerciais – conhecidos como fei-torias – na orla mediterrânica para abrigar os seus navios e para aí desenvolverem o comércio. O seu intenso tráfico comercial marítimo requeria a utilização de uma grande frota mercante cuja existência e manutenção se apoiavam numa forte indústria de construção naval.

O uso de uma escrita alfabética simplificou de tal modo os registos que numerosos comerciantes fenícios puderam praticá-la eles mesmos, ao contrário, por exemplo, dos babi-

lónios e dos egípcios, cujos sistemas de escrita, cuneiforme e hieroglífica, respectivamente, eram tão labirínticas que só raras pessoas as teriam podido aprender e praticar.

2.6. Civilização EgípciaNo Egipto dos Faraós já se praticava uma Contabilidade

com minuciosidade, exactidão e regularidade, necessária para assegurar a administração da monarquia e das obras de irrigação do Rio Nilo. A documentação era já arquivada cronologicamente e com base na oposição receitas-despe-sas, isto é, entradas e saídas.

Segundo Sarmento (1997: 601), é no Egipto que se reali-zam “os primeiros registos provisórios feitos em Memoriais, e depois definitivamente efectuados em quadros ou dispo-sitivos de secções sobrepostas ou justapostas (contas): em ambos os casos não se trata já de uma relação esparsa, frag-mentária, mas sim de um conjunto de registos coordenados”.

A título de exemplo, pode citar-se o sistema de anotações contabilísticas realizadas no reinado do Faraó Sebekhotep (aproximadamente entre 2.000 e 1.900 a.C.). Trata-se do apontamento das despesas e receitas da Corte, elaborado de forma permanente e detalhada.

Entre 1.800 e 1.600 a.C. era usado um manual de ensino que mereceu ao matemático e filósofo Abel Rey a afirmação de que “nele se encontravam os segredos do bom calculador e do bom contabilista” (idem: ibidem).

Quanto aos profissionais que se dedicavam à escrituração, Stone (1969: 284) afirma que “in ancient Egypt in the pharaoh´s central finance department […] scribes prepared records [on papyrus] of receipts of silver, corn and other goods”. A Conta-bilidade aparece-nos assim associada ao registo de activos, ganhando especial relevo a figura do escriba. Desta classe, muito considerada, saíram as figuras de maior representati-vidade social na administração pública, no exército, no sacer-dócio e nas profissões liberais. Recorde-se que o sistema de escrita hieroglífica era muito complicado; só os escribas e os sacerdotes eram capazes de a compreender e aplicar.

Disto mesmo nos dá conta Stone (1969: 290), quando sustenta que “the earliest management accountants were scribes”. Na mesma linha, White, apud Sá (1998a: 34), enfa-tiza-nos que o escriba era “considerado como o máximo pro-fissional ou o mais digno de todos os profissionais” no antigo Egipto. Amorim (1968: 35) também nos releva a importância na época dos escribas, citando uma passagem da obra de Brugschbey12: “obedecendo às ordens dos seus superiores, os escribas anotavam as várias ocorrências da vida domés-tica, escrituravam exactamente as receitas e as despesas do soberano e tinham em boa ordem as suas contas”.

No entanto, terá sido o uso do papiro13, no Egipto, o grande impulsionador da escrita contabilística, aplicada muito particu-larmente nos domínios do controlo das colheitas armazena-das, na contabilidade das viagens e nas caravanas para trans-portes de pedras utilizadas nas suas magnificas construções.

No Antigo Egipto, o crédito desempenhava um papel de

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14 Nestes bancos existiam contas correntes, transferindo-se assim quantias de uma conta para outra.15 Trapezista deriva de trapeza, palavra grega para mesa.16 Lamarr, Layondon (1923). Rate making for public utilities. McGraw Hill Books Co., Inc. Nova Iorque, p. 51.

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grande relevo e era interiorizado como um compromisso de honra que o devedor se esforçava por satisfazer, sob pena de ser considerado infame e de a sua ignomínia se estender aos seus descendentes.

No tempo da moeda, na expressão numérica das suas contas, os egípcios usavam como unidade monetária o shat e havia bancos públicos e privados14 que aceitavam depósi-tos em dinheiro e em géneros.

Em termos sintéticos, no Antigo Egipto, muitas eram as actividades que eram objecto de registo, inclusive, como foi constatado, as pilhagens, isto é, os saques que eram feitos nas cidades vencidas e que viriam posteriormente a ser objec-to de distribuição pelo Estado. Outro pormenor interessante de constatar era o acompanhamento dado pelos contadores às caravanas para transporte de pedras para construção das pirâmides, quando estas atingiam determinada dimensão.

2.7. Civilização GregaNos séculos VI e V a.C., a importância do governo das

cidades, a riqueza dos templos e o desenvolvimento da eco-nomia dotaram de grande dignidade as tarefas de registo dos factos económicos, designadamente receitas e despesas pú-blicas ou relacionadas com os templos gregos.

Tal como na civilização Suméria/Babilónica, os primeiros banqueiros gregos eram sacerdotes e por isso mesmo os primeiros bancos situavam-se nos templos. Depois vieram os Trapezistas15 – nome dado aos banqueiros que se lhes seguiram – que centralizavam os aforros e que dispensavam o crédito necessário.

Tipicamente, esta Contabilidade consistia em controlar os saldos iniciais e finais, os recebimentos e os pagamentos. “O Estado realizava um inventário anual nos templos, e os contadores preparavam as demonstrações financeiras apro-priadas, as quais indicavam as principais fontes de receitas (juros e rendas dos empréstimos) e a origem das despesas (principalmente sacrifícios, entretimentos e pagamento de salários)” (Kam, 1990: 14).

Estas circunstâncias são também relatadas por Amorim (1968), pois para este autor o comércio marítimo, a activi-dade bancária, e a organização administrativa e financeira do Estado, proporcionaram fortes contributos ao desenvol-vimento da Contabilidade, muito particularmente da Conta-bilidade Pública, como sustenta, admitindo que o primeiro vestígio da sua existência possa ter sido dado pela apre-sentação das contas do Estado – gravadas em lápides de mármore – à sanção pública, as quais, nestes termos, eram confrontadas e livremente criticadas por todos. Adicional-mente, esclarece-nos que, segundo alguns historiadores (não precisando no entanto quais),

a contabilidade privada era largamente praticada e tida em conta em conta pelos gregos, existindo mesmo leis que im-punham aos comerciantes a obrigação de possuir certos livros, o que parece ser confirmado por diversas passagens colhidas nas obras de vários escritores (Amorim, 1968: 53).

Cremos que, não fosse a imensa destruição de acervos gregos, e muitos mais documentos contabilísticos nos have-riam de chegar. Não obstante, os gregos utilizaram a con-tabilidade tanto na administração pública como na privada, muito embora os vestígios encontrados não possam fornecer indicações exactas acerca da forma das espécies de registos em que as mesmas se suportavam.

2.8. Civilização RomanaEm 753 a.C., na planície que vai desde os Apeninos até

ao Mediterrâneo, começou a estruturar-se um dos mais for-tes impérios da Antiguidade. Foi ele que dominou a maior parte do mundo antigo, tornando-se assim o centro político-económico da época, vindo a ter forte influência na formação da sociedade ocidental.

Recebendo grande influência dos Gregos, as notícias mais vetustas que nos chegaram da contabilidade do povo romano datam dos séculos II e I a.C.

O mundo romano, sucedendo ao grego, foi palco de gran-des acumulações de riqueza, pelo que a sua contabilidade, nas diversas fases da sua civilização (Monarquia, República e Império) pode ser qualificada como de superior, de grande qualidade, embora pouquíssima prova material tenha chega-do aos nossos dias. Por outras palavras, a economia da Idade Antiga chegou ao seu apogeu no período romano. Os inter-câmbios comerciais eram realizados por todo o Império, e en-tre este e o mundo bárbaro para lá das suas fronteiras. Assim, não é de estranhar que a Contabilidade dos velhos tempos tenha atingido a sua mais alta expressão no Império Romano.

O desenvolvimento da Contabilidade foi paralelo ao da ad-ministração pública e das empresas agrícolas: era já usada uma série de livros de registo que constituía um sistema or-denado, devendo-se, assim, aos Romanos a primeira grande contribuição para o desenvolvimento da Contabilidade, o que pode ser comprovado pela existência de alguns conceitos contabilísticos. Por exemplo, e de acordo com Lamarr16, ci-tado por Hendriksen (1970: 26), um arquitecto romano afir-mava que a “valorização de uma parede não podia ser só determinada pelo seu custo, mas sim após dedução a este de um oitavo por cada ano que a parede havia estado de pé, isto é, a utilização de uma taxa de amortização de 12,5%”.

O objectivo da Contabilidade Romana era similar ao de períodos anteriores: medir o grau de eficácia dos responsá-veis da administração dos bens e propriedades – privadas ou públicas – através de registos exactos e minuciosos. Esta é a opinião perfilhada por Santos (1998), autor para quem esses registos tiveram sobretudo a ver, inicialmente, com o contro-lo da prosperidade das famílias e da respectiva comunidade. Depois, com a expansão do seu território e o desenvolvimento da actividade económica, alargou-se a aplicação dos registos contabilísticos à actividade pública e à actividade comercial.

Em matéria de escrituração contabilística muito pouco se sabe da época monárquica. Aliás, mesmo nos dois outros sistemas de governo a documentação acumulada é muito

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17 Era considerado o livro fundamental.18 Intendente é aquele que tem a seu cargo a direção ou administração de

um serviço público ou grande estabelecimento.19 Com o imperador Marco Aurélio (século II d.C.) este funcionário público se beneficiava do reconhecimento de ser o cargo melhor remunerado de toda a admi-

nistração pública de Roma, com honorários de 300.000 sestércios/ano, sendo o único trecenarius, denominação dada a quem auferia tal vencimento.20 Na óptica de Sá (1998: 20), período decorrido da Antiguidade – iniciado cerca de 4000 a.C – até à entrada na Idade Média (476 d.C., com a queda do Império

Romano do Ocidente), que se caracteriza pela disciplina dos registros e pelo estabelecimento de métodos de organização da informação.

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exígua e as notícias são fragmentadas e indirectas. O pou-co que se sabe dos períodos republicano e imperial tem por base mais os comentários e testemunhos de escritores da época do que, efectivamente, documentos contabilísticos que se tenham conservado.

Contudo, podemos afirmar que nos tempos da República a Contabilidade Romana atingiu um enorme grau de perfei-ção, continuando a evoluir no período imperial devido, em parte, ao facto de os romanos terem sido excelentes admi-nistradores, sendo lógico supor que bons administradores teriam bons registos contabilísticos.

Sá (1998a) projecta-nos um quadro com os traços distin-tivos da Contabilidade romana em que faz sobressair o seu carácter eminentemente analítico e a sua primordial preocu-pação em fazer instituir como prova perante o tribunal, os li-vros escriturados da contabilidade, técnica obrigatória para os comerciantes, proprietários e banqueiros. Baseando-nos em Amorim (1968), podemos identificar uns quantos livros, quase os mesmos que se adoptavam na administração pública:

– Commentarius (ou Libellus): este livro servia ape-nas para re gistar, preliminarmente, o facto contabilístico exactamente como havia sido constata-do ou ocorrido. Era como um tipo de livro de primeiras anotações. Tendo por função referenciar meramente os factos, os registos contabilísticos efectuados neste livro não obedeciam a nenhuma regra, nenhuma sis-tematização ou metodologia prévias.– Adversaria (ou Ephemeris): livro para o qual se pas-sava o movimento do Commentarius e que segundo alguns autores correspondia a uma espécie de diário;– Codex accepti et expensi17: uma espécie de caixa. Para Murray (1978: 126) “a sua exacta forma deu azo a muita discussão, mas é quase certo que este Codex tinha uma apresentação que permitia mostrar os débitos e os créditos ao mesmo tempo, provavelmente em pá-ginas opostas, isto é, as entradas eram anotadas numa página e as saídas noutra“. Eram também anotadas a data, o género e a importância de todas as transacções.– Tabulae Rationum (ou Codex Rationum) – espécie de razão. De acordo com Silva (1970: 36), “o Codex Rationum era conservado e podia, na falta de teste-munhas, utilizar-se como meio de prova”.– Calendarium – aqui se registavam os capitais ce-didos, os nomes dos devedores, a quantia em dívida, os juros mensais, os dias em que se venciam, etc. O escravo que tinha à sua responsabilidade este livro era conhecido como calendarius. Segundo Sarmento (1997: 602), o “nome deste livro provém da data ha-bitual de pagamento dos juros, isto é, nas calendas (primeiros dias) de cada mês”.

O Commentarius, o Adversaria, o Codex Accepti et Expen-si, o Tabulae Rationum e o Calendarium tanto eram usados na Contabilidade privada como na pública. O único livro exclusivo da administração pública era o Breviarum Imperii. Este livro, também denominado Rationarium, instituído no governo do imperador Augusto, apresentava aos cidadãos a forma como estavam a ser utilizados os fundos públicos, ou seja, o valor dos tributos arrecadados, provisões e dotações orçamentais bem como o património administrado, com base nas informa-ções recebidas dos governadores e intendentes18.

No entanto, Amorim (1968: 58) observa que existiam dois livros e não um só:1. Breviarum: para a discriminação das receitas aufe-ridas pelo Governo e2. Rationarium: para descrever o quantitativo bélico mantido pelo Império e a soma de recursos existentes nos cofres estatais, provenientes dos tributos cobrados. Nele também eram descritos os bens do Império, por unidade governamental (reinos, províncias, etc), e o montante dos impostos, das provisões, doações e encargos do Império Romano. Por isso, pode-se concluir que o livro em refe-rência ultrapassava o âmbito orçamentário, constituindo um verdadeiro livro de registo de inventários.

Uma característica marcante da Contabilidade Romana residiu sem dúvida na manutenção de livros para cada ac-tividade, para cada grupo de factos específicos. Sá (1998a) ilustra-nos alguns clarividentes exemplos: (a) Ratio Praedii – livro de propriedades; (b) Ratio Pecoris – livro de rebanhos; (c) Ratio Vinaria – livro do movimento vinícola; e (d) Ratio Olearia – livro da produção do azeite.

A contabilidade pública romana encontrava-se centrali-zada na figura do Contador Geral do Estado19 – o Procu-rator a Rationibus – responsável também pela gestão do património público, coadjuvado por um contabilista chefe, dois secretários ou contabilistas adjuntos e, na base da pi-râmide, por escravos libertos. No maior e mais vasto impé-rio de todo o mundo, o mais poderoso gestor da riqueza era um contabilista.

Interessante também a circunstância de já nesta época os Romanos estabelecerem hipóteses sobre os custos de des-locamento de tropas para a Germânia ou para a Lusitânia, tendo tudo que ser registado e controlado, especialmente o número de soldados dispersos por todo o império.

Daqui se infere, portanto, que, como advogam alguns au-tores, a contabilidade terá atingido em Roma a sua expressão máxima até então. Nestes termos, Sá (1998a) defende que Roma terá representado o auge do período racional-mnemó-nico20 da História da Contabilidade, por três ordens de razões:

1) pela qualidade dos trabalhos contabilísticos;2) pela forma como eram analisados e explicados os factos patrimoniais e3) pela análise dos factos patrimoniais por actividade.

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21 Assim considerados pelos romanos, porque eram povos rudes, desconhecedores dos primores da civilização romana, os quais sobrepunham o culto da força ao culto do espírito.

Referências

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Fazemo-nos valer da constatação de Amorim (1968: 60) para concluir que,

em face da descrição feita, nenhuma dúvida poderá restar de que a contabilidade entre os romanos era correntemente utilizada tanto na administração pública como na administra-ção mercantil e doméstica e já apresentava um apreciável grau de sistematização, se se atender à recuada era em que o império romano existiu.

Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., observou-se, nesta parte do globo, um período de al-guma letargia no que concerne aos progressos das técnicas contabilísticas, mas de lentos progressos no Oriente. No Oci-dente, registou-se um declínio da riqueza e como a riqueza (património) é o objecto da Contabilidade, assistiu-se assim a um declínio do conhecimento contabilístico.

Com a invasão do Império Romano do Ocidente pelos po-vos bárbaros21, muitíssimo mais atrasados na cultura e institui-ções, regista-se um enfraquecimento da administração públi-ca e das instituições comerciais, bem como se assiste a uma redução do tráfico comercial, associada também à ruptura das vias de comunicação, pois as calçadas romanas (vias terres-tres, precursoras das actuais estradas) foram descuidadas, acabando por ficar intransitáveis, na sua grande maioria.

Dada a Contabilidade dos Romanos conter todos os ele-mentos principais que se encontram no sistema de registos das épocas posteriores, alguns autores chegaram erronea-mente a admitir que os romanos já conheciam a partida dobra-da, entre os quais, o flamengo Simon Stevin, em 1608. O erro destas opiniões reside na confusão de coluna dupla (accepti – receitas e expensi – despesas) com a coluna do deve e ha-ver na partida dobrada. Afinal, a coluna dupla é um elemento quase inseparável de qualquer contabilidade, por mais rudi-mentar que seja. Bastará para tal lembrarmo-nos das contas gravadas nas placas de argila dos babilónios, por exemplo.

3. ConclusãoA noção de conta, exposta ao longo deste trabalho, re-

montará ao tempo em que o Homem se tornou um ser social, isto é, ela existirá desde que este passou a viver em socie-dade e a interagir, em termos sociais e económicos, com

outros indivíduos, surgindo-lhe deste modo a necessidadede assentar elementos relativos a esta interacção.

No que concerne à Contabilidade, entrecruzada com o con-ceito de conta, desde os tempos mais remotos que, enquanto sistema de registo, privilegiou um carácter memorialista, so-bretudo no que dizia respeito a valores patrimoniais e a tran-sacções de maior magnitude de valores e importância relativa.

O aparecimento, em termos históricos, desta Ciência – ou técnica conforme a percepção do leitor – é muito difícil de pre-cisar. A única certeza que existe é que esta não resultou das diligências de um só indivíduo, mas terá sido uma conquista co-lectiva, por intermédio de um gradual desenvolvimento e aper-feiçoamento dos seus métodos, limitados pelas necessidades e circunstâncias envolventes de cada época e de cada civilização.

No entanto, não deverá ter sido, de todo, muito fácil a ta-refa dos primeiros técnicos de Contabilidade na Antiguidade e da qual não se encontraram vestígios muito completos nas buscas arqueológicas. Não obstante, sabe-se que a técni-ca de registo existia, de forma rudimentar, porque sempre houve, entre os povos da Antiguidade, histórias e relatos de intenso tráfego comercial exercido nos territórios por ele ocupados, motivado fundamentalmente pelo uso da moeda e pelo uso de títulos de crédito.

Das descrições efectuadas da Contabilidade realizada por cada povo antigo podemos salientar a complexidade notória dos registos contabilísticos das civilizações que habitaram a Mesopotâmia (essencialmente da Suméria e Babilónia) e a minuciosidade, a exactidão e a regularidade dos registos contabilísticos do Antigo Egipto, não obstante estarmos, nes-te caso, perante uma Contabilidade muito primitiva.

Uma referência especial deverá fazer-se à civilização Ro-mana, pois que esta utilizava uma série de livros contabilísticos de registo, constituindo por assim dizer um sistema ordenado. Partilhamos mesmo o entendimento de que antes do início da Idade Média, e sequente retrocesso e estagnação de todos os aspectos da sociedade europeia, a Contabilidade atingiu a sua mais alta expressão no Império Romano, devendo-se, assim, a esta civilização, a primeira grande contribuição de destaque para o desenvolvimento da nossa área de conhecimento.

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Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU

Erivelton Araújo GracilianoRio de Janeiro – RJMestrando em Ciências Contábeis pela FACC/UFRJ1

[email protected]

José Cláudio Moreira Filho Rio de Janeiro – RJPós-graduado em Auditoria Governamental pela FGV2

[email protected]

Alessander de Paiva NunesRio de Janeiro – RJMestrando em Ciências Contábeis pela FACC/UFRJ1

[email protected]

Fernando Cézar de Melo PontesRio de Janeiro – RJMestrando em Administração pela COPPEAD/UFRJ3

[email protected]

Fabrício Felício ZampaRio de Janeiro – RJPós-graduado em Auditoria Governamental pela FGV2

[email protected]

Artigo recebido em 30/09/2009 e aceito em 28/10/2009.

1FACC/UFRJ – Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP: 22.290-240 – Rio de Janeiro – RJ.2FGV – Fundação Getúlio Vargas – CEP: 22.253-900 – Rio de Janeiro – RJ.3COPPEAD/UFRJ – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP: 21.941-918

– Rio de Janeiro – RJ.

Resumo O estudo objetivou evidenciar como as auditorias de

natureza operacional do Tribunal de Contas da União têm contribuído no processo de accountability das entidades auditadas, utilizando o levantamento de sugestões e críti-cas do TCU nas auditorias de natureza operacional. Foram adotados como bases referenciais os conceitos de Audito-ria Operacional e Accountability aplicados na Administração Pública, por meio de pesquisa bibliográfica e documental. Os dados coletados no banco de dados do TCU foram tra-tados qualitativamente, com o fim de realizar uma pesquisa descritiva e explicativa. Os resultados indicam que o con-trole externo da administração pública pode ultrapassar os meandros da conformidade de procedimentos, contribuin-do para a melhoria de desempenho nos órgãos auditados, quando se utiliza de auditorias operacionais.Palavras-chave: Administração pública. Auditoria operacio-nal. Accountability.

AbstractThe study aimed to show how the Court of Counts (Tri-

bunal de Contas da União - TCU) operational audits have contributed in the accountability process of entities audited. So that a survey of suggestions and criticisms made by TCU during operational audits were used. Were adopted as refer-ence base concepts from Operational Auditing and Account-ability in Public Administration implemented through literature and documents. The data collected in the database of the TCU were treated qualitatively, in order to perform a descrip-tive and explanatory research. The results indicate that the external control of public administration can overcome the intricacies of compliance procedures, contributing to improve performance in the auditees when using operational audits.Key words: Public administration. Operational auditing. Ac-countability.

1. Introdução O termo auditoria é genérico, indicando fiscalização de

atividades em que serão apontados erros ou acertos em referência a uma norma, lei ou processo operacional (PE-REZ JUNIOR et al, 2007, p. 23). Para Jund (2007, p. 423), a função de auditoria, em qualquer entidade, está relacionada

Trabalho classificado em 2º lugar no X Prêmio Contador Geraldo de La Rocque

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à verificação do cumprimento das obrigações, da execução dos programas de trabalho, da veracidade das informações geradas pela contabilidade, bem como à prevenção de da-nos ou prejuízos ao patrimônio da entidade.

Na administração pública, a Secretaria Federal de Contro-le Interno definiu auditoria como o conjunto de técnicas que visa a avaliar a gestão pública, pelos processos e resultados gerenciais, e a aplicação de recursos públicos por entidades de direito público e privado, mediante a confrontação entre uma situação encontrada com determinado critério técnico, operacional ou legal (BRASIL, 2001). A Instrução Normativa nº 01/2001 dessa Secretaria classifica os tipos de auditoria governamental, definindo a auditoria operacional como uma atividade de assessoramento ao gestor público, com vistas a aprimorar as práticas dos atos e fatos administrativos, sendo desenvolvida de forma tempestiva no contexto do setor pú-blico, atuando sobre a gestão, seus programas governamen-tais e sistemas informatizados.

A auditoria operacional ultrapassa a fronteira dos aspec-tos financeiros, adentrando-se nas questões de economia, eficiência e eficácia (ARAUJO, 2008, p. 13). Segundo Perez Junior et al (2007, p. 28), a auditoria operacional tem como objetivos a avaliação sistemática da eficácia e eficiência das atividades operacionais e dos processos administrativos, visando ao aprimoramento contínuo da eficiência e eficácia operacionais, contribuindo com soluções.

Para o Tribunal de Contas da União (TCU), a Auditoria de Natureza Operacional consiste na avaliação sistemática dos programas, projetos, atividades e sistemas governamentais, assim como dos órgãos e entidades jurisdicionadas ao Tribunal.

Segundo Rocha (2007), a auditoria de gestão, ou audi-toria de desempenho, em seu sentido de avaliação ampla, objetiva e sistemática da conformidade, economia, eficiência, eficácia e efetividade da ação governamental, é um instru-mento adequado à promoção da accountability. Entende-se aqui accountability como a responsabilização permanente dos gestores públicos em termos da avaliação da conformi-dade/legalidade, bem como da economia, da eficiência, da eficácia e da efetividade dos atos praticados em decorrência do uso do poder que lhes é outorgado pela sociedade.

A ideia de accountability está presente desde a adminis-tração de empresas até a educação, passando pela adminis-tração pública e pela ciência política. Para Paul (1991, p. 2), accountability pública se refere ao conjunto de abordagens, mecanismos e práticas usados pelos atores interessados em garantir um nível e um tipo desejados de desempenho dos serviços públicos.

A busca pela responsabilidade dos gestores públicos cres-ce com a ideia de que eles deverão não somente ser éticos como também eficientes e eficazes nas suas funções. O TCU, por meio das auditorias de natureza operacional, objetiva con-tribuir efetivamente para a melhoria do desempenho das ins-tituições governamentais e da aplicação de recursos públicos (BRASIL, 2000). Acredita-se que essa melhoria se manifesta pelo aprimoramento dos gestores na condução de suas ativi-dades, o que influencia no processo de accountability.

A auditoria dita governamental terá atuação interna ou externa de acordo com os controles internos e externos de-finidos na Constituição Federal de 1988. Os artigos 70 e 71

da Constituição, em nível federal, prescrevem que o controle interno será exercido por sistema de cada Poder e o con-trole externo será exercido pelo Congresso Nacional, auxi-liado pelo Tribunal de Contas da União. O controle público no Brasil remonta ao período colonial, através das Juntas das Fazendas; na República, foi criado o Tribunal de Contas da União. Atualmente este Tribunal tem a responsabilidade de, no auxílio ao Congresso Nacional, exercer a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, à legitimidade e à economicidade e a fiscalização da aplicação das subvenções e da renúncia de receitas (TCU, 2009).

Desde o fim da década de 1980, em cumprimento do artigo 70 da Constituição Federal, o TCU vem realizando auditorias operacionais em órgãos da Administração Pública Federal. Freitas e Guimarães (2005) chegam a inferir que uma audi-toria operacional do TCU, realizada na Embrapa nos anos 90, contribuiu para a melhoria daquela empresa numa época em que esta passava pelo risco de extinção, na medida em que o relatório do Tribunal foi muito bem aceito pela empresa.

Com o intuito de verificar como o processo de accoun-tability de um órgão pode se beneficiar de uma auditoria do controle externo, é que surge a seguinte pergunta: como as auditorias de natureza operacional do Tribunal de Contas da União podem contribuir no processo de accountability das entidades auditadas?

2. Revisão de Literatura2.1. Auditoria operacional

A origem latina do termo auditoria, que vem de audire (ou-vir), foi ampliado pelos ingleses como auditing para denomi-nar a tecnologia contábil da revisão. O termo é genérico, in-dicando fiscalização de atividades em que serão apontados erros ou acertos em referência a uma norma, lei ou processo operacional (PEREZ JUNIOR et al, 2007, p. 23).

Araújo (2008, p. 15) simplifica o termo auditoria como a comparação imparcial entre o fato concreto e o desejado, com o intuito de expressar uma opinião ou de emitir comen-tários, materializados em relatórios de auditoria.

Na administração pública, a auditoria é uma ferramenta utilizada para avaliar a gestão dos agentes públicos, por meio da análise dos processos e resultados gerenciais e mediante a confrontação entre uma situação encontrada com um determinado critério técnico, operacional ou legal (BRASIL, 2001).

Trata-se de uma importante técnica de controle do Estado na busca da melhor alocação de seus recursos, não só atu-ando para corrigir os desperdícios, a improbidade, a ne-gligência e a omissão e, principalmente, antecipando-se a essas ocorrências, buscando garantir os resultados preten-didos, além de destacar os impactos e benefícios sociais advindos (JUND, 2007, p. 424).

Para Jund (2007, p. 425), a finalidade da auditoria governa-mental é a comprovação da legalidade e legitimidade dos atos e fatos administrativos e avaliação dos resultados alcançados, quanto aos aspectos da eficiência, eficácia e economicidade da gestão nas unidades e entidades da Administração Pública.

Erivelton Araújo Graciliano José Cláudio Moreira Filho Alessander de Paiva Nunes Fernando Cézar de Melo Pontes Fabrício Felício Zampa

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No desempenho desta atividade, há de se pautar pela ob-servância da legislação específica e normas correlatas; pela subordinação aos princípios fundamentais que nortearam o planejamento, coordenação, descentralização, delegação de competência e controle; pela apreciação do desempenho administrativo e operacional das unidades supervisionadas; pela verificação dos controles existentes na guarda e aplica-ção dos bens e valores sob uso e guarda dos administrado-res ou gestores; pelo exame do controle das transferências e aplicação dos recursos orçamentários e financeiros das unidades; e pela avaliação dos sistemas de informações e utilização dos recursos computacionais das unidades.

O objetivo volta-se para avaliação da regularidade e efici-ência da gestão administrativa e dos resultados alcançados, quando a emissão do relatório de auditoria oferta sugestões com interesse no aperfeiçoamento dos sistemas, processos e procedimentos administrativos e controle interno dos ór-gãos auditados.

A Instrução Normativa nº 01/2001, da Secretaria Federal de Controle Interno do Poder Executivo, classifica a auditoria operacional como um dos tipos de auditoria governamental (BRASIL, 2001):

[...] consiste em avaliar as ações gerenciais e os proce-dimentos relacionados ao processo operacional, ou parte dele, das unidades ou entidades da administração públi-ca federal, programas de governo, projetos, atividades, ou segmentos destes, com a finalidade de emitir uma opinião sobre a gestão quanto aos aspectos da eficiência, eficácia e economicidade, procurando auxiliar a administração na gerência e nos resultados, por meio de recomendações, que visem aprimorar os procedimentos, melhorar os contro-les e aumentar a responsabilidade gerencial.

Desde o fim da década de 1980, o TCU vem realizando au-ditorias operacionais em órgãos da Administração Pública Fe-deral. Dessas auditorias resultam recomendações do Tribunal, destinadas a aprimorar o gerenciamento dos entes públicos e das ações e programas governamentais implementados.

A auditoria operacional vai além dos aspectos financeiros analisados, buscando avaliar as questões de economia, efi-cácia e eficiência, mediante revisão de processos adminis-trativo-operacionais. É aplicada no setor privado e no setor público, incorrendo em denominações diversas, como audi-toria de desempenho, de gestão ou administrativa (ARAÚJO, 2008 p. 13).

No setor governamental, a auditoria operacional se de-senvolveu a partir do início da década de 1970, por entidades de auditoria dos Estados Unidos, em especial o U.S. Gene-ral Accounting Office (GAO), correspondente ao Tribunal de Contas da União no Brasil. A partir de 2004, a sigla GAO passou a significar U.S. Government Accountability Office, em razão de alteração na sua missão institucional. O GAO é uma agência de auditoria federal ligada ao Congresso norte-americano, com autoridade para emitir normas aplicáveis à auditoria de organizações, programa, atividade e funções governamentais, as quais são publicadas em um livro deno-minado de Normas de Auditoria Pública, também conhecido como “Livro Amarelo”, pela cor de sua capa (GAO, 2009).

Araújo (2008, p. 46) lembra que o VII Congresso Interna-cional de Entidades Fiscalizadoras Superiores (INTOSAI), re-

alizado em 1971, foi um dos marcos iniciais da auditoria ope-racional no mundo. O conceito oficialmente estabelecido para auditoria operacional foi fixado pelo Instituto Latino-Americano e do Caribe de Ciências Fiscalizadoras (ILACIF), que atual-mente é denominado Organização Latino-Americana e do Caribe das Instituições Superiores de Auditoria (OLACEFS).

Em 1995, o Tribunal de Contas da União (TCU), em par-ceria com a Fundação Getúlio Vargas, a Universidade ameri-cana Virginia Polytechnique Institute e a National Academy of Public Administration dos Estados Unidos, implantou o Projeto de Capacitação em Avaliação de Programas Públicos, voltado para o desenvolvimento dos métodos necessários à avalia-ção da efetividade de programas e projetos governamentais (BRASIL, 2000). Em 1998, o TCU criou o Manual de Auditoria de Desempenho, onde incorporou experiência de trabalhos de auditoria iniciadas a partir de 1998, com a implementação do Projeto de Cooperação Técnica entre as Entidades Superiores de Fiscalização do Brasil e do Reino Unido.

Em 2000, o Manual de Auditoria de Desempenho passou a ser denominado Manual de Auditoria de Natureza Ope-racional. Para o TCU, a Auditoria de Natureza Operacional consiste na avaliação sistemática dos programas, projetos, atividades e sistemas governamentais, assim como dos ór-gãos e entidades jurisdicionadas ao Tribunal.

A Auditoria de Natureza Operacional (ANOp) contempla duas modalidades de auditoria (BRASIL, 2000):

• Auditoria de desempenho operacional – objetiva o desempenho operacional, examinando a ação go-vernamental quanto aos aspectos da economicidade, eficiência e eficácia; e

• Avaliação de programa – busca examinar a efetivida-de dos programas e projetos governamentais.

Segundo Pacheco (2008, p. 8), ao se realizar uma audi-toria de natureza operacional, deve-se relacionar às dimen-sões da economicidade, eficácia, eficiência e efetividade de iniciativas e programas governamentais:

• Economicidade – preocupação constante que o ges-tor deve ter em minimizar os custos dos recursos uti-lizados no desempenho de suas funções;

• Eficácia – procura-se medir o grau de atendimento das metas propostas em um determinado espaço temporal;

• Eficiência – relação entre a meta alcançada (bens e serviços produzidos) e custo total realizado (insumos) em determinado espaço de tempo. A relação ótima é obtida quando se consegue realizar a melhor com-binação dos custos, do tempo e da qualidade para obter os bens e serviços propostos pela meta; e

• Efetividade – relação entre os resultados (impactos observados) e os objetivos (impactos esperados).

Entretanto, para se chegar à medição de tais dimensões, a administração há de implantar indicadores de desempe-nho, a fim de manter um acompanhamento gerencial eficaz de suas ações.

A auditoria de desempenho operacional e a avaliação de programa são autônomas e independentes, pois cumprem seu papel independentemente de informações obtidas na outra modalidade. Entretanto, as duas modalidades de audi-

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toria de natureza operacional são complementares, pois, em conjunto, retratam um quadro completo da atuação do gover-no, seja pelo ponto de vista dos aspectos operacionais, seja pelo ponto de vista do impacto das ações implementadas.

O TCU utiliza os seguintes critérios na seleção das institui-ções, dos programas ou das políticas públicas:

• Relevância – busca-se estudar o grau de importância ou de relevância relativa das ações em análise, e in-depende de sua materialidade;

• Risco – preocupa-se quanto à vulnerabilidade das ações, que poderá ocasionar um evento indesejável; e

• Materialidade – representatividade quanto ao valor ou volume de recursos envolvidos.

Neste sentido, o TCU inicia um trabalho para conhecer a instituição com levantamento de dados e informações, utilizando-se dos sistemas organizacionais, funcionais, con-tábil-financeiro, orçamentários, operacionais e patrimoniais. Quando da manifestação sobre a oportunidade e a conve-niência de realização de auditoria de natureza operacional (avaliação de programa ou auditoria de desempenho opera-cional), avalia-se a relevância da auditoria, os temas em foco na mídia, as preocupações da sociedade e da Administração e o impacto que a auditoria poderá causar na melhoria dos programas ou no desempenho das instituições auditadas.

2.2. AccountabilityUm dos assuntos que tem ganhado importância e desta-

que no debate sobre a qualidade da organização das socie-dades democráticas modernas é a accountability. O termo pode ser definido no âmbito público como o direito de cada cidadão a conhecer o desempenho de seus governantes, adicionado à “obrigação” destes de realizar prestações de contas sobre as suas ações.

Os entes governamentais, ou aqueles que recebem suas delegações de direito público, devem explicitar as políticas e objetivos adotados, como também demonstrar a forma como os recursos públicos foram empregados no cumprimento ou não dos resultados planejados.

Embora a accountability tenha se tornado um tópico re-levante na agenda de pesquisa das ciências sociais nos últimos anos, uma rápida revisão dos trabalhos produzidos revela que a definição do conceito ainda carece de consenso quanto ao seu significado, e de uma clara delimitação teó-rica. Percebe-se que a definição tende a variar acentuada-mente não apenas de autor para autor, e que questões como a da existência de formas não eleitorais de accountability; de quais seriam as maiores falhas na accountability; de como tais defeitos podem ser pensados e resolvidos; e quais as inovações, a fim de melhorar a accountability democrática, são discutidas de diversas maneiras.

Cinco áreas de divergência e disputa conceitual são iden-tificadas por Mainwaring (2003). A mais fundamental e básica questão — da qual as outras divergências parecem originar-se — diz respeito ao escopo e à abrangência do conceito.

Para alguns autores, como O’Donnell (1998), Kenney (2003) e Abrucio & Loureiro (2005), bem como o próprio Mainwaring (2003), apenas os mecanismos de controle for-

mais e institucionalizados devem ser compreendidos sob a noção de accountability. Tais autores adotam uma noção de responsabilização que não compreende em seus limites as re-lações informais de fiscalização e controle, não considerando, assim, como agentes de accountability a imprensa e organiza-ções da sociedade civil que comumente se incumbem de mo-nitorar e denunciar abusos e condutas impróprias de agentes públicos no exercício do poder. Nesse sentido, esses autores defendem uma noção menos abrangente de accountability.

Dunn (1999) e Keohane (2002), embora não restrinjam as relações de fiscalização e controle tão somente às formas institucionalizadas e, portanto, admitam um rol de relações bem mais abrangente, estipulam que tais relações devem necessariamente incluir a capacidade de sanção aos agen-tes públicos. Segundo estes autores, a accountability implica a capacidade de resposta dos governos (answerability), ou seja, a obrigação dos oficiais públicos de informar e explicar seus atos, e a capacidade (enforcement) de impor sanções e perda de poder para aqueles que violaram os deveres públi-cos. A noção de accountability é, basicamente, bidimensional: envolve capacidade de resposta e capacidade de punição.

Há ainda um terceiro grupo de autores, Day & Klein (1987) e Paul (1991), que admite toda e qualquer atividade ou rela-ção de controle, fiscalização e monitoramento sobre agen-tes e organizações públicas como constituintes do conjunto de mecanismos de responsabilização. Nesse sentido, Paul (1991) afirma que

[...] accountability significa manter indivíduos e organiza-ções passíveis de serem responsabilizados pelo seu de-sempenho. Accountability pública se refere ao conjunto de abordagens, mecanismos e práticas usados pelos atores interessados em garantir um nível e um tipo desejados de desempenho dos serviços públicos.

Por mais problemático e arbitrário que se mostre o empre-endimento de se firmarem claras e significativas linhas de de-marcação para o conceito de accountability, a adoção de uma concepção tão ampla como essa formulada por Paul (1991) traz a complicação adicional de incorporar mecanismos e ati-vidades de controle não intencionais, os quais se mostram in-susceptíveis de ser adequadamente identificados e avaliados.

Como Dahl (1989) já demonstrou com êxito, a accountability só pode ser medida se as formas de controle são intencionais, isto é, explicitamente concebidas para esse fim. Adicionalmen-te, cabe ressaltar que a ideia de responsabilização transcende a ideia da simples prestação de contas. A accountability não se limita à necessidade da justificação e da legitimação da discricionariedade daqueles que exercem o Poder Público em nome dos cidadãos, mas também deve incluir a possibilidade de sanção. Por outro lado, não se pode minorar a inegável im-portância da atuação das organizações da sociedade civil e da imprensa na fiscalização e no controle do exercício do Poder Público pelos governantes e burocratas.

Opta-se, assim, por uma noção menos abrangente de res-ponsabilização que aquela formulada por Paul (1991), pois abarca em seus limites apenas as relações e atividades de fiscalização e controle de agentes públicos propositadamen-te concebidas para tal finalidade e que, ademais, envolvam necessariamente a possibilidade de sanção legal ou simbóli-ca. Esta definição engloba não apenas atores institucionais,

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mas também associações de cidadãos ou usuários de servi-ços públicos, organizações da sociedade civil e a mídia.

Outro ponto teórico diz respeito à diferenciação entre accountability vertical e accountability horizontal. A pri-meira se refere à interação entre governantes e cidadãos, ou seja, é, ainda que de forma não exclusiva, a dimensão eleitoral, o que significa premiar ou punir um governante nas eleições. Essa dimensão requer a existência de li-berdade de opinião, de associação e de imprensa, assim como de diversos mecanismos que permitam tanto reivin-dicar demandas diversas como denunciar certos atos das autoridades públicas. Já a segunda implica a existência de agências e instituições estatais possuidoras de poder legal e de fato para realizar ações que vão desde a super-visão de rotina até sanções legais contra atos delituosos de seus congêneres do Estado (O’DONNELL, 1998, p.27).

Porém, independentemente da fonte teórica e da direção (vertical ou horizontal) que se pretenda para a accountability, é condição necessária para que ela ocorra que as informações sobre a atuação governamental estejam disponíveis para que todos (legisladores, governo, sociedade, cidadãos e os próprios gestores públicos) saibam se: os recursos governamentais são utilizados apropriadamente e os gastos efetuados de acordo com as leis e regulamentos; os programas e projetos governa-mentais são conduzidos de acordo com seus objetivos e efeitos desejados; e os serviços governamentais seguem os princípios da economia, da eficiência, da eficácia e da efetividade.

As mudanças no modo de pensar da Administração Pú-blica, influenciados por modelos gerenciais importados da iniciativa privada, consubstanciaram o paradigma da Nova Gestão Pública, a qual busca atacar a ineficiência relaciona-da ao excesso de procedimentos e controles processuais e a baixa responsabilização dos burocratas em face do sistema político e da sociedade.

No Brasil, essa mudança de perspectiva consistiu na reforma administrativa de 1995, o que caracterizou a transformação da administração pública brasileira de burocrática em gerencial; a busca de uma administração pública orientada para o cidadão, para a obtenção de resultados, onde políticos e funcionários pú-blicos fossem merecedores de grau limitado de confiança.

Essa nova busca procurava modificar substancialmente as formas de controle no interior do aparato estatal. O con-trole não seria mais exclusivamente sobre processos, mas fundamentalmente sobre resultados. Nesse caso, a maior autonomia para administrar é balanceada pelo compromisso com os resultados a serem atingidos, e pela transparência das informações sobre desempenho institucional, através do contrato de gestão. Para isto, a informação é insumo funda-mental. E não há, aí, contraposição entre aumento de eficiên-cia e aumento de accountability, o que contribui para ampliar a responsabilização dos administradores públicos.

Na concepção da atual reforma administrativa, são grandes os impactos que se pretende alcançar no grau de accountabi-lity das instituições públicas, permitindo assim a abertura dos vínculos entre governança e governabilidade democrática. Esta depende de várias dimensões políticas, entre as quais a qualidade das instituições públicas quanto à intermediação de interesses, a existência de mecanismos de responsabilização dos políticos e burocratas perante a sociedade e a qualidade

do contrato social básico. Essas dimensões remetem lato sen-su à reforma política, essencial à reforma do Estado no Brasil (BRESSER PEREIRA, 1998, p. 36).

A reforma da administração pública deve ser situada como uma das extensões da reforma do Estado brasileiro. Do ponto de vista conceitual, a reforma do Estado abrange quatro áreas: delimitação da área de atuação do Estado, desregulamenta-ção, governança e governabilidade (PACHECO, 1999, p. 223).

Tal reforma visa ao fortalecimento da governança, à eficiência e à melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos. Para alcançar tais resultados, a reforma em curso propôs uma mudança no quadro cons-titucional-legal, a criação de novos formatos institucionais (agências executivas e organizações sociais), a transição da cultura burocrática, rígida e ineficiente para uma cultura gerencial, flexível e eficiente, além de novos instrumentos de gestão pública.

Mas quem define os resultados a serem alcançados? Na administração gerencial, estes resultados têm de ser nego-ciados entre os formuladores da política pública e a institui-ção encarregada de implementá-la. O contrato de gestão será mais accountable quanto mais claramente identificados forem os objetivos e metas, principalmente os responsáveis pelo seu atingimento, em todos os níveis da organização.

Nas organizações sociais, além do ministério supervisor, o conselho integrado por representantes do Estado e de enti-dades da sociedade civil deverá ser o guardião da execução do contrato de gestão, devendo ainda participar na própria definição das metas.

Ainda que não haja segurança teórica sobre essa respos-ta, vários autores reconhecem que o controle de resultados é muito mais propício à construção de novos mecanismos de accountability do que o controle de processos.

Através de novos formatos institucionais, novos instrumen-tos de gestão e novas formas de controle, a reforma adminis-trativa pretende contribuir para um processo de aprendizado político e organizacional que torne as instituições públicas mais accountable. Suas propostas visam contribuir não apenas para o aumento da eficiência dessas instituições (obtenção de re-sultados), mas também para sua maior transparência (informa-ção), talvez o mais forte pilar da accountability democrática.

A ideia de um sistema de administração pública pauta-do nos fundamentos da accountability reflete integridade, representando um passo importante no estabelecimento de uma política consistente de controle da corrupção, na qual os gestores públicos devem ter em mente a responsabilidade de se preocupar constantemente com os produtos, bens e serviços, que oferecem para os cidadãos aos quais devem prestar contas permanentemente, consolidando assim o tri-nômio da moralidade, da cidadania e da justiça social.

3. Metodologia e ObjetivoO objetivo deste trabalho é evidenciar como as auditorias

de natureza operacional do Tribunal de Contas da União (TCU) têm contribuído no processo de accountability das en-tidades auditadas, utilizando o levantamento de sugestões e críticas no TCU nas auditorias de natureza operacional.

Este estudo está delimitado pelo contexto das organi-zações da Administração Pública Federal, dado que as

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análises e auditorias do TCU possuem abrangência na uti-lização de recursos públicos da União. A análise se baseia em uma empresa pública atuante na área de previdência social, no que tange aos serviços de tecnologia e proces-samento de dados.

O presente trabalho apresenta uma revisão bibliográfica sobre o assunto no Brasil, especificadamente quanto à abor-dagem teórica da auditoria operacional no campo da audito-ria governamental. Para classificação da pesquisa, tomou-se como base o critério proposto por Vergara (2000). Quanto aos fins e quanto aos meios, tem-se:

• Quanto aos fins – trata-se de uma pesquisa descritiva e explicativa. Descritiva porque expõe o processo de ac-countability na Administração Pública. Explicativa, pois se propõe a apresentar a técnica utilizada com a Audito-ria governamental, especificamente do tipo operacional.

• Quanto aos meios – a pesquisa é bibliográfica e do-cumental (qualitativas). Bibliográfica porque, para a fundamentação teórico-metodológica do estudo, é re-alizada a investigação sobre abordagens de diversos autores; documental porque traz o levantamento de dados primários disponíveis na internet, especifica-mente no sítio do Tribunal de Contas da União.

Segundo Gil (1996, p. 46), as pesquisas descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno; e as pesquisas expli-cativas são aquelas que têm a preocupação central de iden-tificar os fatores que determinam, ou que contribuem, para a ocorrência dos fenômenos.

Pode-se definir o trabalho, basicamente, como uma pes-quisa documental e bibliográfica, em que, através da análise da bibliografia existente, é demonstrado o conceito de Au-ditoria Operacional. Na medida em que se pretende expor as contribuições da auditoria de natureza operacional, são apresentados documentos emitidos pelo TCU.

Segundo Lakatos e Marconi (1992, p. 43), os documentos de fonte primária são “aqueles de primeira mão, provenientes dos próprios órgãos que realizaram as observações [...]”. A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias trata-se do levantamento da bibliografia já publicada.

Para Gil (1996, p. 51), a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, sendo a diferença essencial entre ambas a natureza das fontes. Enquanto a segunda se uti-liza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a primeira vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda po-dem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.

4. Análise de Casos e ResultadosNo exemplo proposto neste trabalho, busca-se evidenciar

a contribuição dos relatórios do TCU para o processo de ac-countability da Administração Pública, quando se faz presen-te pela Auditoria Operacional. Os dados utilizados constam no endereço eletrônico daquele Tribunal, configurando uma pesquisa documental. Dessa forma, foram coletados quatro acórdãos do TCU relativos a auditorias operacionais efetua-das na Empresa de Tecnologia e Informações da Previdên-cia Social (Dataprev), em 2001 e 2003 (TCU, 2009):

• Acórdão TC 014.003/2001 – Dependência crônica da Dataprev em relação à tecnologia Unisys. Desobedi-ência à Lei nº 8.666/93;

• Acórdão TC 015.984/2001 – Avaliação do sistema de arrecadação de receitas previdenciárias e suas inter-faces com o sistema de benefícios governamentais;

• Acórdão TC 005.644/2003 – Avaliação da ocorrência de fraudes nas bases de dados de benefícios da Pre-vidência Social; e

• Acórdão TC 013.636/2003 – Avaliação dos custos da prestação de serviços da Dataprev ao INSS e o termo de convênio celebrado com o Centro Educacional de Tecnologia em Administração – CETEAD.

A Dataprev originou-se em 1974 dos centros de proces-samento de dados dos institutos de previdência existentes. É uma empresa pública vinculada ao Ministério da Previdência Social, com personalidade jurídica de direito privado, sediada em Brasília e com filial regional na cidade do Rio de Janeiro e ação em todo o território nacional, compreendendo 23 Uni-dades Regionais e quatro Unidades de Atendimento (DATA-PREV, 2009).

A empresa tem por objetivo estudar e viabilizar tecnolo-gias de informática na área da previdência e assistência so-cial, compreendendo sistemas operacionais e equipamento de computação, a prestação de serviços de processamento e tratamento de informações, bem assim o desempenho de outras atividades correlatas (MPOG, 2009). Atualmente é responsável pelo processamento da maior folha de paga-mento do país, ajudando na distribuição de renda a 25 mi-lhões de brasileiros em todos os recantos do Brasil.

Nas subseções seguintes, foram extraídas recomen-dações e determinações dos acórdãos do TCU que foram representativas para compreensão deste trabalho, sendo apresentadas as contribuições de cada auditoria pesquisa-da, evidenciando os principais resultados e a sua correlação com o processo de accountability na Administração Pública.

4.1. Auditoria TC 014.003/2001O relatório é resultado do trabalho de Auditoria Opera-

cional acerca de possíveis irregularidades nos contratos fir-mados entre a Dataprev e a Unisys Brasil Ltda. As análises feitas pela equipe de auditoria, entretanto, mostram que a empresa carece de procedimentos de acompanhamento e controle, tanto do ponto de vista da formalização de proces-sos de inexigibilidade e da execução de contratos quanto sob o aspecto do monitoramento de seu parque computacional, o que acaba por gerar irregularidades.

Relativamente ao monitoramento de seu parque compu-tacional, foi constatado que o estudo de capacidade e per-formance realizado pela Dataprev não continha elementos suficientes e capazes de conduzir a uma tomada de decisão adequada pela empresa. Nesse sentido, deve a empresa ob-servar requisitos mínimos quanto à abrangência do estudo, seletividade e período amostral, bem como quanto à utiliza-ção de dados nativos das máquinas.

No que concerne aos preços praticados pela Unisys nos contratos de locação de equipamentos de processamen-to de dados, foram constatados sérios indicativos de que a

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Dataprev estaria pagando à Unisys preços superiores aos praticados no mercado. Tais fatos ensejam determinação à empresa no sentido de que seja efetuada uma ampla rene-gociação dos contratos firmados com a Unisys, com o ful-cro de adequar os valores contratados àqueles praticados no mercado, tendo em vista o princípio da supremacia do interesse público.

Também ficou evidenciado que a empresa ainda não ha-via efetuado eficazmente a migração de seus sistemas e ba-ses de dados para plataformas abertas. Considerando que a migração é condição fundamental para a ruptura de depen-dência que há com a Unisys, a Dataprev deveria recursos para concluir a migração no menor espaço de tempo possível.

Analisando as determinações do TCU à Dataprev, segun-do o referencial teórico, pode-se constatar uma forte noção do emprego das definições de accountability quanto às rela-ções de fiscalização e controle, à capacidade de resposta do órgão ao fornecimento de informações e à implementação das correções determinadas, além de mencionar a possi-bilidade de aplicação de punição ou responsabilização dos agentes envolvidos.

O relatório determina prazos para a renegociação de di-versos contratos, tendo em vista o princípio da supremacia do interesse público, e levando-se em conta os preços des-tes estarem acima daqueles praticados no mercado, deter-minando a rescisão unilateral dos respectivos, no caso de insucesso. Também são determinados prazos para o envio das justificativas para as discrepâncias apontadas e para os resultados das renegociações, caracterizando ações de fis-calização e controle e um desafio ao fornecimento de infor-mações por parte do órgão auditado.

Quanto à responsabilização dos agentes envolvidos, fo-ram solicitadas as justificativas para o reembolso integral de encargos iniciais de certos contratos, tanto ao órgão quan-to à empresa beneficiada, tendo em vista a não aquisição, pela Dataprev, da propriedade dos bens importados pela contratada, e levando em consideração a possibilidade de o órgão contratante não ser o único cliente a se utilizar dos equipamentos adquiridos, além de determinar a realização de várias audiências com diversos agentes públicos para a apresentação de razões e justificativas para diversos acha-dos de auditoria que implicaram ou não impactos financeiros, demonstrando, também, a preocupação com a prática da boa gestão pública.

4.2. Auditoria TC 015.984/2001A auditoria visava avaliar o sistema de arrecadação de re-

ceitas previdenciárias e suas interfaces com o sistema de be-nefícios governamentais. Tendo em vista a abrangência dos trabalhos e o curto espaço de tempo, a equipe delimitou os ob-jetivos e o escopo da auditoria no sentido de assegurar maior conhecimento para as instituições de matérias, tais como:

• Mecanismos de fixação das metas de arrecadação estabelecidas para o INSS, bem como o cumprimen-to das mesmas;

• Processo de planejamento das ações das áreas en-volvidas com a arrecadação;

• Controle do fluxo financeiro entre arrecadadores e o INSS;

• Contabilização e transferência de recursos arrecada-dos para terceiros;

• Classificação e contabilização das receitas;• Contabilização de créditos e direitos contra contri-

buintes e devedores em geral;• Condições operacionais das unidades executoras da

atividade de arrecadação;• Adequação dos sistemas informatizados de apoio à

atividade de arrecadação; e• Verificação do cumprimento de determinações e re-

comendações anteriores do TCU.

O relatório final determinou à diretoria de arrecadação do INSS que, em conjunto com a Dataprev, adotasse as seguin-tes providências:

• Desenvolvimento de procedimento para a correta contabilização e classificação das receitas, com base nos dados constantes da Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social (GFIP), evitando que a classificação seja feita por percentual estimado;

• Desenvolvimento de procedimento de classificação da receita arrecadada para terceiros com base nos dados constantes da GFIP para evitar repartição da mesma por meio de estimativa de arrecadação;

• Buscar mecanismo de correção e depuração dos da-dos constantes dos cadastros geridos pelo sistema SICOB (Sistema de Registro e Controle de Débitos, Parcelamento e Cobrança) para evitar que os proces-sos sejam impedidos de tramitar na cobrança admi-nistrativa ou remetidos para inscrição de débitos em Dívida Ativa, em razão desses erros;

• Regularização das baixas de pagamentos oriundos do programa REFIS (Recuperação Fiscal) para que a Procuradoria-Geral dê prosseguimento às ações de cobranças dos débitos de contribuintes excluídos do programa; e

• Desenvolvimento de procedimento de apuração da movimentação da dívida ativa, bem como da cobran-ça administrativa para que a contabilidade proceda aos registros dessa movimentação com base em do-cumentos elaborados para esse fim.

A integridade do relatório de auditoria, por sua percuci-ência na abordagem do sistema de arrecadação, representa um excelente subsídio para o entendimento da accountability como uma forma de avaliação da atuação governamental, tanto na utilização dos recursos públicos como na sua arre-cadação, a qual lastreia os gastos efetuados de acordo com as leis e regulamentos, programas e projetos conduzidos e a aplicação dos princípios da economia, da eficiência, da eficá-cia e da efetividade nos serviços governamentais.

4.3. Auditoria TC 005.644/2003O objetivo da auditoria operacional foi avaliar a ocorrência

de fraudes nas bases de dados de benefícios da Previdência Social. O relatório determinou à Dataprev que se procedesse a uma série de iniciativas para a implementação de modi-ficações no sistema de benefícios, com vista à suspensão

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Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU

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daqueles onde houvesse ausência de dados cadastrais e, principalmente, para a inclusão do registro das matrículas dos servidores responsáveis por inclusões e atualizações de dados, além de tomar ações para que estes não pudessem mais emitir boletins de inclusão em seu próprio nome.

Foi mencionada a necessidade de interligação dos siste-mas de controle de pagamento de pessoal ativo e inativo do Governo Federal, de forma a identificar segurados que sejam também servidores públicos federais, estaduais e municipais e coibir o pagamento indevido de benefícios, enviando tam-bém o calendário de implantação da rotina para novos be-nefícios e para o batimento dos benefícios já concedidos, e priorizando as situações em que a legislação, de pronto, já veda a percepção de outra renda.

A Dataprev deveria encaminhar ao TCU estudo de viabili-dade para o desenvolvimento de ferramenta de extração de dados de benefícios da Previdência Social, de forma a tornar mais acessíveis essas bases tanto ao Ministério da Previdên-cia Social e INSS quanto aos órgãos de controle interno e externo, e até mesmo aos cidadãos de modo geral.

Levando-se em conta a característica fundamental da empresa de prestar apoio para viabilização de tecnologias de informática para diversos entes públicos, pode-se cons-tatar uma forte noção do emprego das definições de ac-countability, quanto às relações de fiscalização e controle, em conjunto com outros órgãos.

O relatório determina prazos para procedimento de uma sé-rie de iniciativas, implementação de modificações no sistema de benefícios e integração de diversos sistemas informatizados de gerenciamento de dados cadastrais e financeiros do setor público. É citada a necessidade de facilitação do acesso às informações sobre benefícios gerenciados ou não pela Data-prev, tanto pelos órgãos de execução e controle quanto pelos beneficiários do sistema de benefícios sociais, demonstrando uma das principais funções da accountability, ou seja, a pres-tação de contas sobre a atuação governamental para todos.

Contudo, considerando-se o alto grau de complexidade da auditoria operacional realizada e o seu caráter explo-ratório e educativo das entidades envolvidas, não houve registro de citação à punibilidade ou responsabilidade de agentes públicos.

4.4. Auditoria TC 013.636/2003A auditoria realizada teve por objetos os custos relativos

à prestação de serviços da Dataprev ao INSS e o termo de convênio celebrado entre o então Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) e o Centro Educacional de Tec-nologia em Administração – CETEAD. A equipe de auditoria registrou as seguintes ocorrências:

• Ausência sistemática, nos contratos, de justificativa de preço. A inexistência de uma estrutura técnica pró-pria do INSS, na área de tecnologia da informação, capaz de proceder a um estudo dessa natureza, pode ser apontada como uma das causas dessa omissão;

• Dificuldades em aferir adequabilidade dos preços dos serviços em relação aos praticados no mercado. Havia a necessidade de uma análise mais abran-gente para considerar as diferentes metodologias de medidas de desempenho dos serviços prestados, a

qualidade dos serviços e a verificação de sua efetiva prestação, bem como a especialização do prestador de serviços e o valor agregado gerado pelo serviço; e

• Avanços significativos em relação aos contratos an-teriores. Em relação ao contrato em vigor, houve a necessidade de aperfeiçoamento dos critérios de fixação de métricas para faturamento dos serviços; inclusão de serviços cuja natureza não é compatível com a finalidade da Dataprev, nem com o fundamen-to legal adotado para dispensa da licitação; inclusão indevida de serviços prestados para o MPAS sem que o Ministério conste como parte no referido con-trato e sem que haja qualquer Convênio ou Ajuste entre o MPAS e o INSS para este fim específico.

O relatório de auditoria constatou diversas transgressões às boas práticas da administração pública, além de citar a necessidade de que fossem obtidos esclarecimentos sobre possíveis impropriedades cometidas por agentes públicos.

Pode-se notar a aplicação dos entendimentos de Day & Klein (1987) e Paul (1991) sobre accountability, que admitem toda e qualquer atividade ou relação de controle, fiscaliza-ção e monitoramento sobre agentes e organizações públicas como constituintes do conjunto de mecanismos de responsa-bilização. Nesse sentido, Paul (1991) afirma que accountabi-lity significa manter indivíduos e organizações passíveis de ser responsabilizados pelos seus desempenhos.

5. Considerações FinaisEste trabalho teve por objetivo evidenciar a contribuição

das auditorias de natureza operacional do TCU para o pro-cesso de accountability das entidades auditadas. Para isso, utilizou-se do levantamento de auditorias do TCU realizadas em uma empresa pública de processamento de dados, nos anos de 2001 e 2003, cuja fonte primária se encontra dispo-nível no endereço eletrônico daquele Tribunal.

No capítulo 3, procurou-se identificar o conceito de Audi-toria Operacional na Administração Pública, expor as duas modalidades de auditoria de natureza operacional efetuada pelo TCU – Desempenho Operacional e Avaliação de Pro-grama – e identificar os critérios de seleção das entidades auditadas, relacionados aos aspectos de relevância, risco e materialidade. No capítulo 4, procurou-se identificar o concei-to de accountability na Administração Pública.

Os acórdãos selecionados possuem relação com a fiscaliza-ção, controle e melhoria das operações da empresa auditada. Percebe-se uma preocupação do TCU em apontar discrepân-cias relacionadas à atividade da entidade, cujas consequên-cias impactam na eficiência e efetividade dos serviços públicos.

O primeiro acórdão aborda o descumprimento dos proce-dimentos licitatórios, os quais visam à transparência e eco-nomicidade do gasto público. O segundo acórdão aponta a melhoria de arrecadação de receitas previdenciárias e suas interfaces com o sistema de benefícios governamentais, o que pode otimizar o financiamento da máquina pública. O terceiro acórdão levanta a questão do controle para evitar a corrupção, em uma atividade tão visada como a previdência nacional. E o quarto acórdão fiscaliza os contratos de servi-ços prestados e os atos dos agentes públicos.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 43 - 51, jan./mar. 2010

Erivelton Araújo Graciliano José Cláudio Moreira Filho Alessander de Paiva Nunes Fernando Cézar de Melo Pontes Fabrício Felício Zampa

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A accountability representa um passo importante no es-tabelecimento de uma política consistente de controle da corrupção, na qual os gestores públicos devem se preocu-par com os produtos e serviços que oferecem aos cidadãos, prestando contas permanentemente, sob o trinômio da mo-ralidade, cidadania e justiça social.

A suposição de que o controle externo da administração pública pode ultrapassar os meandros da conformidade de procedimentos, contribuindo para a melhoria de desempe-

Referências

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nho nos órgãos auditados, quando se utiliza de auditorias operacionais, mostra-se verdadeira na medida em que os ór-gãos auditados possam absorver as sugestões recebidas e canalizá-las no processo de accountability interno.

Por fim, supõe-se que um estudo de caso para a hipótese deste estudo possa permitir pesquisas empíricas mais espe-cíficas. Além disso, algumas auditorias operacionais do TCU foram realizadas sobre programas de governo, o que também desponta como um campo fértil para pesquisas correlatas.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 12, n. 47, p. 43 - 51, jan./mar. 2010

Accountability na Administração Pública Federal: Contribuição das Auditorias Operacionais do TCU

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MISSÃO DO CRCRJ“Promover a manutenção, educação e desenvolvimento da profissão contábil com dignidade, ética e responsabilidade, aliadas a um eficiente serviço de atendimento, registro, fiscalização e desenvolvimento do profissional da contabilidade e das organizações contábeis do Estado do Rio de Janeiro, objetivando satisfazer os anseios da categoria e da sociedade.”

VISÃO DO CRCRJ“O CRCRJ será reconhecido pela excelência e qualidade na prestação de serviços a todos aqueles que tenham interesse ou necessidade relacionada ao exercício da profissão contábil, valorizando os recursos humanos e trabalhando com dignidade, ética, transparência e responsabilidade social na execução dos serviços de registro e de fiscalização do exercício da profissão, bem como na execução do seu programa de educação continuada.”

POLÍTICA DE QUALIDADE DO CRCRJ• Conquistar e manter o Selo de Gestão da Qualidade;• Atender aos contabilistas de forma eficaz e cordial, prestando serviços de qualidade;• Promover e incentivar os colaboradores internos na busca do crescimento pessoal

e profissional;• Padronizar os processos internos como forma de atender à legislação vigente;• Elevar o padrão de Governança Corporativa, mediante a implantação de controles

que garantam a integridade do patrimônio e a imagem do CRCRJ;• Garantir, através dos serviços de registro e fiscalização, o direito pleno do exercício

da profissão somente pelo profissional habilitado;• Promover e incentivar o desenvolvimento do profissional da contabilidade, através

de um programa permanente de educação continuada.

DEMANDA DE PUBLICAÇÃO – 2009

Artigos submetidos 68

Artigos aceitos 27

Artigos rejeitados 41

Artigos publicados 20

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PENSAR CONTÁBILAssinatura anual (04 edições) - Condição:

1 - ASSINATURA 2 - PEDIDO DE RENOVAÇÃO 3 - ALTERAÇÃO DE DADOS

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PESSOAFÍSICA

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PESSOAJURÍDICA

RAZÃO SOCIAL

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CNPJ INSCRIÇÃO MUNICIPAL INSCRIÇÃO ESTADUAL

ENDEREÇO PARA A REMESSA TELEFONE

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CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRONúcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Profissional

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Lançamento

Esta página se destina à divulgação de livros da

área de contabilidade. Os autores interessados

deverão encaminhar um exemplar do livro ao

Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

Profissional do CRCRJ, que, após tomar

conhecimento, o disponibilizará em

sua biblioteca para consulta.

Manual do (Re)Estruturador de EmpresasAutor: Ricardo Negreiros

O livro apresenta uma visão ampla e prática da ainda pouco conhecida profissão de reestruturador de empresas, cuja

principal e mais elementar ferramenta é o estabelecimento de controles e de uma contabilidade eficiente para o propósito de torná-las mais

lucrativas e valorizadas pelo mercado.

O método, extraído da experiência de pelo menos dez anos da RN Executivos, enfatiza e enaltece o trabalho do contador, promovendo-o a uma posição de pró-atividade e interferência nas decisões estratégicas da empresa.

Trata-se de uma visão especial que, quando assimilada, restabelece ao profissional de contabilidade o seu merecido lugar de destaque na empresa, da forma como acontece nos países mais desenvolvidos, como nos EUA e Europa.

Editora Concilium

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Demonstrações Contábeis: Estrutura, Análise e Interpretação Autor Hugo Rocha Braga

Adaptado à nomenclatura contábil implantada no país com a Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.638/07, e atualizado segundo os mais recentes padrões da análise financeira, este livro objetiva proporcionar aos professores da área entendimento adequado da ciência contábil, que lhes permita utilizar as informações de maneira diferente.

Dividido em três partes, dedica a primeira delas ao exame da estrutura das demonstrações contábeis e do significado de seu conteúdo, possibilitando o conhecimento da empresa a ser analisada. A segunda parte trata de métodos e procedimentos para análise completa da situação da empresa, seu desempenho passado e suas perspectivas futuras. A terceira apresenta as diversas aplicações das técnicas estudadas.

Editora Atlas www.editoraatlas.com.br