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PROLEGÔMENOS PARA UMA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES: Ideias para uma Psicologia do porvir. Alexandre Victor Romero – [email protected] Natália Martins Clemente – [email protected] Thais Fernanda Cunha Contiero – [email protected] Graduandos em Psicologia pela UniSalesiano Lins/SP Prof. Me. Paulo Sérgio Fernandes – UniSalesiano Lins/SP [email protected] RESUMO O presente trabalho visa analisar os pressupostos teóricos de Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche. Tal cotejamento pretende apresentar o problema das Significações e Representações humanas presente na teoria desses autores. Logo, o objetivo principal é possibilitar a aproximação de tais pensadores, apontando seus pontos de divergências e confluência, para então ser aludido um novo prisma acerca da temática. Portanto, para objetivar os resultados pretendidos, será empregado o método de revisão bibliográfico para a coleta e análise dos dados. Igualmente, por intermédio dessa metodologia, poder-se-ia apontar que os resultados preliminares são concernentes ao resultado da coadunação dessas deliberações, onde, será demonstrado a relevância das chamadas Representações ante ao contexto de cada autor, para posteriormente unificar tais posicionamentos engendrando um novo prisma de compreensão. Almejando aludir uma compreensão inaugural e singular sobre as representações, é utilizado da concepção mitológica de Atlas (Atlante), servindo de signo conceitual para o modelo literário/bibliográfico apresentado na obra, ou seja, é o correlato direto dos apontamentos filosóficos que respaldam este trabalho, lançando lume na dimensão mitológica para fomentar visualmente o que é proposto em linguagem teórica, fazendo menção ao mundo singular de Atlas como meio de afiguração abstrata. Esse modelo proposto torna-se fundamental devido a tentativa de corroborar as 1

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PROLEGÔMENOS PARA UMA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES: Ideias para uma Psicologia do porvir.

Alexandre Victor Romero – [email protected]ália Martins Clemente – [email protected]

Thais Fernanda Cunha Contiero – [email protected] em Psicologia pela UniSalesiano Lins/SP

Prof. Me. Paulo Sérgio Fernandes – UniSalesiano Lins/SP [email protected]

RESUMO

O presente trabalho visa analisar os pressupostos teóricos de Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche. Tal cotejamento pretende apresentar o problema das Significações e Representações humanas presente na teoria desses autores. Logo, o objetivo principal é possibilitar a aproximação de tais pensadores, apontando seus pontos de divergências e confluência, para então ser aludido um novo prisma acerca da temática. Portanto, para objetivar os resultados pretendidos, será empregado o método de revisão bibliográfico para a coleta e análise dos dados. Igualmente, por intermédio dessa metodologia, poder-se-ia apontar que os resultados preliminares são concernentes ao resultado da coadunação dessas deliberações, onde, será demonstrado a relevância das chamadas Representações ante ao contexto de cada autor, para posteriormente unificar tais posicionamentos engendrando um novo prisma de compreensão. Almejando aludir uma compreensão inaugural e singular sobre as representações, é utilizado da concepção mitológica de Atlas (Atlante), servindo de signo conceitual para o modelo literário/bibliográfico apresentado na obra, ou seja, é o correlato direto dos apontamentos filosóficos que respaldam este trabalho, lançando lume na dimensão mitológica para fomentar visualmente o que é proposto em linguagem teórica, fazendo menção ao mundo singular de Atlas como meio de afiguração abstrata. Esse modelo proposto torna-se fundamental devido a tentativa de corroborar as representações com seu ponto psicológico, ou seja, poder pensar de maneira descritiva as condições psicológicas que permitem cotejar e descrever tal movimento de significação. Contudo, este trabalho é concernente ao Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia realizado ante a instituição Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins/SP no ano de 2017.

Palavras-chave: Representações. Schopenhauer. Nietzsche. Filosofia.

Psicologia.

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ABSTRACT

The present work aims to analyze the theoretical assumptions of Arthur Schopenhauer and Friedrich Nietzsche. This comparison intends to present the problem of Human Representations and Representations present in the theory of these authors. Therefore, the main objective is to make it possible to approach such thinkers, pointing out their points of divergence and confluence, so that a new perspective on the subject can be mentioned. So, to objectify the intended results, the bibliographic review method will be used to collect and analyze the data. Likewise, through this methodology, it could be pointed out that the preliminary results are related to the result of the coordination of these deliberations, where, it will be demonstrated the relevance of the so-called Representations before the context of each author, and later to unify such positions generating a new prism of understanding. Aiming at alluding to an inaugural and singular understanding of representations, it is used from the mythological conception of Atlas (Atlante), serving as a conceptual sign for the literary / bibliographic model presented in the work, that is, it is the direct correlate of the philosophical notes that support this work , throwing fire in the mythological dimension to visually foster what is proposed in theoretical language, making mention of the singular world of Atlas as a means of abstract figuration. This proposed model becomes fundamental due to the attempt to corroborate the representations with their psychological point, that is, to be able to think in a descriptive way the psychological conditions that allow to collate and to describe such movement of signification. However, this work is related to the Work of Conclusion of the Course in Psychology held before the institution Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium of Lins / SP in the year 2017.

Keywords: Representations. Schopenhauer. Nietzsche. Philosophy. Psychology.

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INTRODUÇÃO

Acerca das representações, insta salientar a magnitude e a contribuição de

estudos que direcionam suas deliberações acerca desta temática, haja vista que, se

tudo que há em relação ao sujeito é “e permanece representação, e precisamente

por isso é, sem exceção e em toda a eternidade, condicionado pelo sujeito, ou seja,

possui idealidade transcendental.” (SCHOPENHAUER, 2015, p.17), tornar-se-ia

fundamentalmente objeto de uma pesquisa epistemológica, ou seja, configuraria

estudos de brio intelectivo sobre a formação deste conhecimento, aludindo e

fomentando compreensões que grassem para todo o entendimento humano e,

corolariamente, seria o dínamo de conhecimento de todas as áreas que se prestem

a contemplação das chamadas ciências humanas.

Contudo, retomando em precípua o tema aqui estabelecido e,

consequentemente toda a discussão que se coaduna a este, os benefícios e ganhos

de tecer conjecturas sobre as representações – inter-relação entre Homem e Mundo

– tornam-se inefáveis e hauríveis em escalas de teorização, sendo que, por

intermédio de revisão bibliográfica e, a autossuficiência em gerar entendimento

abarcado nesta relação, poder-se-ia estabelecer infinidades de releituras a outros

princípios, dardejando uma proposta sempiterna, embasada em autores já

sempiternos, que, preocupados verdadeiramente com o entendimento humano,

dedicaram-se a elucubrações que permitem fomentar essa obra, haja vista que, se

“O mundo é minha representação” (SCHOPENHAUER, 2015, p.3), todo estudo –

seja de nuances psicológicas; filosóficas; antropológicas; etc. – embasar-se-ia nesta

perspectiva, tornando outras tentativas – que transcendem esse viés – deveras

secundárias.

No que confere o enfoque para tal pesquisa e cotejamento, dir-se-ia sobre as

teorizações acerca das representações presentes nas obras de Arthur

Schopenhauer e Friedrich Nietzsche, donde que, visando uma abordagem clara em

seus conceitos, direciona ao introduzir o leitor acerca das teorias em sua origem –

porém de modo sucinto, introdutório por excelência –, para, então, apresentar, os

apontamentos inaugurais que dão forma para este trabalho, ou seja, a partir do já

apresentado em primado introdutório poder ir entrelaçando os conceitos teóricos

como um todo, discorrendo sobre novos apontamentos e apresentando um

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comparativo com o viés mitológico em analogia, para manifestar a semelhança

estrutural desta obra com a afiguração do mito de Atlante (Atlas) como portador de

um mundo representativo.

Deste modo, o objetivo deste trabalho, como problema direto de um

questionamento, é a pergunta que se faz como eixo de sustentação de toda

pesquisa: as manifestações das Intuições (emoções/sentimentos) e o

posicionamento intelectual (Princípio da Razão) podem inferir diretamente nos

modos de representações humanas em detrimento a relação – inseparável – entre

sujeito e objeto?

Para atingir tal finalidade, foi utilizado o método de revisão bibliográfico, tendo

nesta ferramenta de pesquisa o suporte necessário para a coleta e análise de

dados. No que confere o enfoque para tal coleta, dir-se-ia sobre as teorizações

acerca das Representações presente nas obras de Arthur Schopenhauer e Friedrich

Nietsche, visando a coleta de dados para corroborar ou refutar o eixo de

sustentação desta obra.

1 OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS: Elementos a priori de Schopenhauer

e Nietzsche.

Visando corroborar uma esfera contemplativa acerca da temática das

representações, cita-se uma breve definição etimológica presente no dicionário

filosófico, donde representação (représentation) é “Tudo o que se apresenta ao

espírito, ou que o espírito se representa: uma imagem, uma lembrança, uma ideia,

uma fantasia... são representações.”. (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 515). Logo, o

conceito apresenta uma espécie de manifestação, ou seja, tudo aquilo que é

elucidado ao homem em seu viés contemplativo ante sua inter-relação com o

mundo. Assim, o filósofo de Frankfurt (Arthur Schopenhauer nasceu na cidade de

Dantzig em 1788. Conhecido como o “Filósofo de Frankfurt”, pois Frankfurt-sobre-o-

meno foi a cidade a qual residia após obter a fama e o reconhecimento literário ao

qual almejava) define as representações como:

“O mundo é minha representação”: – esta é uma verdade em relação a cada ser que vive e conhece, embora apenas o ser humano possa trazê-la à consciência refletida e abstrata: e se de fato o faz, então nele surge a clarividência filosófica. Torna-se-lhe claro e certo que não conhece Sol

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algum nem Terra alguma, mas sempre apenas um olho que vê um Sol, uma mão que toca uma Terra; que o mundo que o cerca existe apenas como representação, isto é, tão somente em relação a outrem, aquele que representa, que é ele mesmo. (SCHOPENHAUER, 2015, p.03).

Logo, a representação – Vorstellung – torna-se o dínamo da contemplação

de mundo, e do próprio sujeito, pois, segundo Schopenhauer, o sujeito é “aquele que

tudo conhece, mas não é conhecido por ninguém”, isto é, é em si o “sustentáculo do

mundo”, onde tudo que existe e aparece, toda manifestação existente, só existe para

o sujeito (SCHOPENHAUER, 2015, p.05). Assim, toda manifestação representativa

é, sobretudo, uma tentativa singular de um observador em relação ao seu mundo

circundante – que nesta perspectiva é ele mesmo. Todavia, para entender o que

Schopenhauer quer dizer, é fator sine qua non esclarecer que:

O mundo inteiro dos objetos é e permanece representação, e precisamente por isso é, sem exceção e em toda a eternidade, condicionado pelo sujeito, ou seja, possui idealidade transcendental. Desta perspectiva não é uma mentira nem uma ilusão: ele se oferece como é, como representação cujo vínculo comum é o princípio da razão. (SCHOPENHAUER, 2015, p. 17).

“O mundo inteiro dos objetos é e permanece representação” assim, o mundo

se torna uma representação passiva ao sujeito condicionar e configurador de

mundo, haja vista que “por isso é, sem exceção e em toda a eternidade,

condicionado pelo sujeito, ou seja, possui idealidade transcendental”. Doravante, o

que se apresenta para o sujeito do conhecimento é o objeto de representação e

como tal, não pode ser outra coisa exterior as representações, é submetido ao

critério representativo para ser aquilo que vêm a lume, “cujo vínculo comum é o

princípio da razão”.

Do mesmo modo, Nietzsche apresenta posturas intituladas como

perspectivista, de tal modo a aproxima-lo do pensamento representativo de

Schopenhauer – sendo que é sabido que o Filósofo do Martelo foi leitor de

Schopenhauer –, assim, cita-se Mosé:

Ou melhor, não há sentido, apenas perspectivas, produto de uma correlação sempre móvel de forças. O mundo, diz Nietzsche, “é diversamente interpretável, ele não tem um sentido que lhe seja próprio, mas, sentidos inúmeros, ‘perspectivismo’”. (2016, p.53).

Contudo, para melhor entender esses pensamentos, faz-se possível ressaltar

que tanto Nietzsche como Schopenhauer apresentam suas obras de maneira 5

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rebuscada, trazendo um brio intelectivo em conceitos de extrema relevância para as

representações e, conforme fundamento de entendimento, alguns de seus conceitos

podem ser entendidos como: Representações Intuitivas e Abstratas; Princípio de

Razão e o posicionamento intelectivo da Vontade descrito por Schopenhauer. Bem

como para Nietzsche, aponta-se os conceitos de: Mundo da vida; Amor Fati;

Niilismo; Super-Homem; e Vontade de Potência.

Sucintamente, para entender tais terminologias, visa esclarecer de maneira

resumida cada um destes conceitos. Quando Schopenhauer cita as representações

intuitivas e abstratas é significativo apontar o paralelo entre elas, como cita o autor:

A diferença principal entre todas as nossas representações é entre a intuitiva e a abstrata. Essa última constitui apenas UMA classe de representações, os conceitos, que são sobre a face da terra propriedade exclusiva do ser humano, cuja capacidade para formá-los o distingue dos animais, e desde sempre foi nomeada RAZÃO. (SCHOPENHAUER, 2015, p.03. Grifo do autor).

É evidente que as representações, como citado, são entendidas brevemente

como tendo dois polos, diferentes em si, mais complementares em demasia. A

seguir, tal pensamento aponta a primeira – intuitiva – como pertencente ao

entendimento dos acontecimentos (do qual Schopenhauer trata como causa e efeito,

não necessariamente como aplicação da razão), é presente em todos os animais, o

que evidencia uma primeira representação acerca do mundo, que, como ordem de

acontecimentos, sempre estão submetidas a tríade de tempo, espaço e causalidade

(três elementos representativos). Do mesmo modo existe a representação abstrata,

por sua vez, é unicamente restrita ao homem, dotado de razão. O que inaugura o

pensamento seguinte, o princípio de razão, parcamente falando, condiz com a

afiguração da razão sobre o entendimento primária, isto é, uma ressignificação do

representado intuitivamente, mas, desta maneira, apresentando conceitos racionais

acerca das primeiras representações do entendimento.

As representações intuitivas puras referem-se as formas puras da intuição, condições de possibilidade da experiência, e tem como faculdade cognitiva própria a sensibilidade pura; as intuitivas empíricas dizem respeito aos objetos reais e singulares, constituindo o mundo empírico, possuindo como faculdade particular o entendimento; e, por fim, as representações abstratas, os conceitos, responsabilidade exclusiva e própria da razão. (SOUZA, 2015, p. 71).

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Visto as representações – de maneira bem resumida – Schopenhauer

debruça-se em outro problema fundamental, que é o questionamento do que

mobiliza o homem no mundo e, sobre o que está fundamentada todas

representações? A essa ideia é atribuído o entendimento da metafísica da Vontade

(citada também como coisa em si). Conceito caro na filosofia de Schopenhauer – da

qual nitidamente é retratada depois em Nietzsche, com uma hermenêutica diferente,

mas partindo do conceito inicial do autor de O Mundo como Vontade e como

Representação –, que ressalta que a única coisa que conduz o homem é uma força

incontrolável, cega por natureza, da qual homem nenhum possui domínio. É a

Vontade – retratada brilhantemente nesta passagem: “Pode, às vezes, parecer que

o intelecto dirige a vontade, mas apenas como um guia dirige o seu amo; a vontade

é o cego robusto que carrega em seus ombros o coxo que vê.” (DURANT, s.d.: 41-

2). Portanto, a Vontade é vista como:

O conceito de VONTADE, ao contrário, é o único dentre todos os conceitos possíveis que NÃO tem sua origem na aparência, NÃO a tem na mera representação intuitiva, mas antes provêm da interioridade, da consciência imediata do próprio indivíduo, na qual este se conhece de maneira direta, conforme sua essência, isento de todas as formas, mesmo as de sujeito e objeto, visto que aqui quem conhece coincide com o que é conhecido. (SCHOPENHAUER, 2015, p. 130-1. Grifo do autor).

Dando forma a esses elementos, é importante destacar que Schopenhauer

cita a Vontade como um fundamento sem fundamento, ou seja, algo que per si é

fundamento das representações, porém, em si mesma não é fundamentada, é o

princípio de tudo, de toda manifestação.

Passando agora para a compreensão básica de Nietzsche, engendra-se,

primeiramente, o conceito de Vontade de Potência (aproveitando os fios deixados

por Schopenhauer):

A força só existe no plural; não é em si, mas em relação a; não é algo, mas um agir sobre. {...} A força simplesmente se efetiva, melhor ainda, é um efetivar-se. Atuando sobre outras e resistindo a outras mais, ela tende a exercer-se o quanto pode, quer estender-se até o limite, manifestando um querer-vir-a-ser mais-forte, irradiando uma vontade de potência. (MARTON, 1993, p. 62).

A Vontade de Potência insurge do combate entre forças – outro ponto da

teoria nietzscheana, a teorização das forças – onde o encontro pressupõe que a

“vida é luta, o confronto, o choque, produzido por um movimento de expansão e 7

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resistência, então a vida é constante mudança, transformação, configuração

provisória.” (MOSÉ, 2016, p.34.), em outros termos, o viver passa ser o puro devir –

(devenier) é “a mudança, considerada em sua globalidade. Portanto, é o próprio ser,

na medida em que não cessa de mudar” (COMTE-SPONVILLE, 2011, p. 161) –

donde, entre tais lutas e mudanças, há o imperativo da potência, uma energia que

movimenta o homem a ser cada dia mais elevado, superando a si mesmo e, este, é

entendido por Nietzsche como Super-Homem (também lido como

além-homem/humano), aquele que superou o homem: “O Além-Homem é o sentido

da terra. Assim fale a vossa vontade: possa o Além-Homem tornar-se o sentido da

terra!” (NIETZSCHE, 2008, p.19). Conseguintemente, a vontade de potência é o

dínamo para se chegar e superar o homem, poder ir além, mas, tal vontade de

potência é entendida como uma força que move o homem em busca de ser superior,

mas para isso se esbarra em outras forças – eterna luta/teorização das forças –

gerando de uns Super-homens, de outros escravos:

E se os cordeiros dizem: “estas aves de rapina são más”, e o que for perfeitamente o contrário, o que for parecido com um cordeiro é bom, nada teríamos que responder a esta maneira de erigir um ideal. Apenas que as aves de rapina responderão com ar de troça: “nós não queremos mal a estes cordeiros, se não pelo contrário, os apreciamos muito; nada tão saboroso como a carne de um tenro cordeirinho” (NIETZSCHE, 2013, p. 48. Grifo do autor).

Finalizando tais apontamento, o autor ressalta que viver para potência é viver

no hic et nunc – aqui e agora – da vida, vivendo suas transformações e amando

cada acontecimento como único, como aquilo que a realidade/representação pode

ser tão e unicamente. Esse ponto é entendido como o amor fati, que afirma o mundo

da vida:

Nem conformismo, nem resignação, nem submissão passiva: amor; nem lei, nem causa, nem finalidade: fatum (destino). Amor fati, aí se acha reunido o que aparentemente não se pode reunir: a atividade em vista de realizar o que ainda não é e há a aceitação amorosa do que advém. Em vez de esperar que um poder transcendente justifique o mundo, o homem tende dar sentido à própria vida; em vez de a guardar que venham redimi-lo, deve amar cada instante como ele é. E não há afirmação maior da existência que a afirmação de que tudo retorna sem cessar. (MARTON, 1993, p.67-8).

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Em sentido corolário, o que é apresentado é, como se acredita nesta obra, um

mecanismo representativo sobre os encontros inter-relacionais entre o homem e o

mundo, sendo que, no mundo da vida é movido por uma potência em eterno conflito

com outras potências e, a cada instante o mundo altera-se conforme estes

encontros, ocasionando sempre uma reinterpretação acerca da própria

mundaneidade. Entretanto, o próprio Nietzsche ressalta que nem todos vivem desta

maneira (há a moral dos senhores e dos reativos, os que vivem pela vontade, e os

que a negam e tentam frear os ativos, respectivamente), pois, os homens

inventaram um ideal para negar o real, ou seja, os homens criaram um conjunto de

elementos que justificam e negam, por excelência, o mundo da vida, deixam de viver

suas pulsões – vontade de potência – em nome de um além-mundo. Esses são,

para Nietzsche, os Niilistas (cordeiros):

Quando Nietzsche se refere ao niilismo como negação da vida, ele se dirigi a toda história da metafísica construída sobre estes pilares. A ideia de verdade, justificação de toda a busca racionalista, implica uma avaliação da vida; falar de verdade é assumir a vontade de identidade, de ser, de essência, e isto é negar o tempo em nome da eternidade, é negar a vida em nome da morte. (MOSÉ, 2016, p.43).

Assim, o niilismo entendido por Nietzsche é justamente a negação do mundo

da vida. É se posicionar contra a própria vontade, contra as pulsões, contra a vida.

Em linhas gerais, é crer em valores absolutos (ir contra o devir), é crer em um

mundo póstumo que, para se ter acesso é preciso passar por provações e resistir a

elas.

Resumido todos estes conceitos que, claramente foram delimitados para

descrever brevemente o essencial aos leitores desatentos, visa-se agora apontar um

outro prisma representativo, que terá como sustentáculo os conceitos apresentados,

elencando um paralelo com o mito de Atlante (Atlas) para fomentar o prisma

significativo deste trabalho.

2 ATLANTE E AS REPRESENTAÇÕES: O mundo singular.

A representação faz-se algo pronto para adir com sua relação com o homem

– e sua significação, haja vista que, assim como foi apresentado – por

Schopenhauer e Nietzsche – ou o “mundo é minha representação” 9

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(SCHOPENHAUER, 2015, p.03) atribuída aqui de representações intuitivas e

abstratas, bem como sua coisa em si, a Vontade. Ou mesmo o mundo – da vida – “é

um devir demonstra que o mundo não tem finalidade, nem um estado final”

(Nietzsche, 2011, p. 444), e bem como visto, o que tem o homem imerso neste

mundo é “’vontade de potência’; parece bastar ao indivíduo o libertar-se de uma

preponderância da sociedade (quer seja o Estado ou a Igreja...).” (NIETZSCHE,

2011, p.415). Até mesmo na aproximação de Schopenhauer, onde “o termo

Vontade, que, como uma palavra mágica, deve desvelar-nos a essência mais íntima

de cada coisa na natureza” (SCHOPENHAUER, 2015, p. 130). Portanto, o mundo

representativo pressupõe uma clarividência elucidada por excelência que, quando

vindo a lume, insurge um mundo singular, único na medida que está em relação com

o sujeito (e é ele mesmo), assim como determina o próprio aparecer dos objetos, ou

seja, ser-de-representação e, conseguintemente, entes-para-um-ser-de-

representação. Onde destaca-se o apontamento dessa inseparabilidade, sendo que

“não há objeto sem sujeito nem sujeito sem objeto. Ser-objeto significa ser

conhecido por um sujeito. Ser-sujeito significa ter um objeto” (BARBOZA, 1997,

p.35).

A partir deste ponto, será tratado a cosmovisão das aparências, ou seja,

como o mundo aparece como algo completamente único, sem compartilhamento.

Essa ideia por mais estranha que possa parecer, mas alude que o homem carrega o

próprio mundo, e não é carregado por ele. Nestas veredas o que temos é um mundo

representativo da formação relacional da vontade e do homem (representação)

criando e destruindo a todo momento o que se é conhecido, haja vista a condição de

impermanência da vontade e dos conceitos do mundo e, para essa afiguração,

apresenta-se Atlante – ou Atlas – um titã, filho dos titãs Japeto e Climene, sendo

irmão de Prometeu e pertencente à geração dos deuses, das divindades dos seres

desproporcionais, gigantescos, é a personificação de forças da natureza (ideia de

vontade como força). Atlas é um dos responsáveis por manifestar uma rebelião

contra o Olimpo, isto é, contra Zeus (Júpiter), devido a ter perdido tal guerra, Atlas e

seus irmãos são punidos, cada qual com um castigo dado por Júpiter, entretanto,

para Atlas seu castigo foi ter que sustentar para toda eternidade nos ombros o céu

(muitas vezes vislumbrado como o mundo). Seu nome passou então a significar o

"portador" ou "sofredor”. (LÚCIA, 2010).

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Assim como Atlante, o homem possui um mundo próprio, singular em

demasia, sendo construído através das representações – seja pelo entendimento,

seja pela abstração – mas que, contudo, engendra em seus ombros uma estrutura

totalmente de unicidade, sendo um portador de mundo da vontade e, por esta razão,

sendo funcionalmente – e, psicologicamente – construtor de si mesmo, artífice de

suas escolhas e representações mundanas. Ora, se a apresentação das

representações dita a manifestação e aparição de um mundo único, isto é, de um

mundo completamente singular, sendo apenas um encontro entre a corporeidade

(espaço), submetido ao tempo (temporalidade do devir), envolvido com a

causalidade destes fenômenos (sucessão dos acontecimentos), então esse

posicionamento traz à tona um novo meio de compreender os acontecimentos pois,

como “o mundo que o cerca existe apenas como representação, isto é, tão somente

em relação a outrem, aquele que representa, que é ele mesmo. (SCHOPENHAUER,

2015, p.03)”, não podendo ir além do próprio sujeito para ser compreendido, estando

delimitado as representações, devolvendo a lógica e a forma do mundo para o

sujeito:

O mundo é o caos. A lógica do mundo está em nós, não no mundo. A forma tem a aparência de algo durável, mas a forma é também um acomodamento que inventamos de acordo com a economia de nosso psiquismo. Há uma ilusão em acreditarmos na intransitoriedade da forma ao observarmos a continuidade a partir das aparências constitucionais. (NIETZSCHE, 2011, p.45).

Como bons portadores de uma representação mundana (que o homem é),

engendra a “economia de nosso psiquismo”, ou seja, a tentativa de frear e relegar o

mundo para um lugar diferente, fora do homem; assim como demonstrado ser o

“portador” de um mundo não é uma benção, mas sim um castigo, pois esse também

poderia ser – ou traduzido – como o “sofredor” ao deparar-se com tal factualidade,

mas tudo porque não entende o prazer da transitoriedade, assim como destaca

Nietzsche: “[...], mas sim, para além do terror e da compaixão, para sermos nós

mesmos o eterno prazer do devir, – aquele prazer que também inclui em si o prazer

do destruir...” (NIETZSCHE, 2014, p.101). Isto ressalta que o mundo do devir –

sendo construído e desconstruído – não está fora do sujeito, mas em si é o sujeito.

Este é o seu mundo representado, passivo de transformações e mudanças (artífice),

movido pela Vontade (de potência) como farol das veredas humanas, mas é, antes

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de mais nada, humanamente superior, ou seja, ser portador do próprio mundo é

sinônimo de além-homem.

Dessarte, o que insurge é o correlato direto com o poder das representações

de Schopenhauer, haja vista que tudo passa a ser a relação entre a realidade e as

abstrações da verdade, como nos lembra o autor:

Aquilo conhecido corretamente através da RAZÃO é VERDADE, vale dizer, um juízo abstrato com fundamento suficiente: aquilo conhecido corretamente através do ENTENDIMENTO é REALIDADE, ou seja, a passagem correta do efeito, no objeto imediato, para a sua causa. (SCHOPENHAUER, 2015, p.28. Grifo do autor.).

Tal ponto ressalta a pertinência do posicionamento das representações com

os vínculos do entendimento e da razão, isto é, demonstra que na causalidade dos

encontros – passagem de causa e efeito – surgem manifestações representativas

diferentes, cada qual com seu modo-de-ser em relação ao aspecto interacionista de

Atlante, ou seja, o homem pode possuir vários mundos nos ombros, portanto para si

mesmo representações que são pertinentes de estados de passagens submetidos

aos conceitos abstratos ou, simplesmente, retratadas como puras, somente no

entendimento da relação. Vale lembrar que, as representações neste contexto são

tentativas do intelecto – ou do entendimento puro – de alcançar o fundamento da

Vontade (coisa em si dos significados que não possui significação em si), donde que

tais “modalidades” representativas podem inferir em um diferente a ser portado por

Atlante, todavia, não exclui a responsabilidade e propriedade sobre tal

mundaneidade destas representações singulares. Assim, o homem Atlante passa a

sustentar seu mundo intuitivamente no entendimento de sua realidade

representativa, mas, como visto, ele não para por ai (como fazem os animais), ele

passa a atribuir conceitos a essas intuições representativas, ou seja, passa a

remodelar seu mundo do qual é portador, talhando a duras marteladas (como

gostaria Nietzsche) o que provêm de sua racionalidade, isto é, o que passa a prover

de sua razão como verdade deste constructo mundano que é permito somente para

o homem.

[...] em cada caso ao seu caráter e sempre manifestando apenas a este. É assim que todo caráter humano também se manifestará em todas as circunstâncias: mas as aparências que daí emergem variarão segundo as circunstâncias. (SCHOPENHAUER, 2015, p.161).

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Logo, o que insurge neste prisma não é somente uma figura portadora de

mundo, mas uma aproximação para uma instância psicológica, pois, o que o Atlante

representa é o homem e sua consciência e suas pulsões (vontade), seu mundo

figurado em seus ombros é apenas uma pintura do modelo exposto

intelectualmente, aludindo uma esfera de contemplação para aquilo que não é visto,

mas pode ser deliberado e ilustrado. Enverando por este caminho, cita-se Giacoia-

Junior, em seu livro Nietzsche como Psicólogo (2004):

[...] a partir das categorias lógico-gramaticais de sujeito e predicado, subsistência e inerência, inferimos em termos de substância e atributos, causas e efeitos e, com base nisso, construímos nossa interpretação global do universo, sustentada por essas hipóstases; procedemos, pois, como se tais ficções reproduzissem a estrutura do real, e não fossem justamente interpretações dos processos que observarmos.Nosso conhecimento consciente só pode ser constituído a partir desse esquema transcendental de formulação e interpretação de nossas representações. Todavia, não se pode confundir tais esquemas semióticos com uma realidade ontológica: nosso “Eu”, nosso si mesmo, é muito mais que uma superfície e fachada, ou seja, muito mais que a ilusão de unidade da consciência. (p.61-2).

O que o autor retrata é que, as estruturas do real são

interpretações/representações de um conjunto de fatores fatídicos, quer dizer, é

baseado em um conjunto de fatores (elementos do entendimento, causa e efeito,

abstração, substância, valores, etc.) e, desta feita, o mundo aparente é um processo

constituído de seu observador, passa a ser próprio pois depende deste para ser.

Conseguintemente, temos uma visão, ao que parece, totalmente proximal ao

conjunto de um perspectivismo, ou seja, as aparências assim como as concebemos

insurgem dentro do prisma do olhar do homem – como bem disse Schopenhauer

acerca da mão que toca uma terra, ou o olho que vê o sol –; nota-se então que a

proximidade do homem com o que ele acredita ser o mundo é mera percepção (seja

intuitiva ou abstrata, com base na Vontade – de potência), partindo do ponto de que

uma condição psicológica (percepção) capturou e interpretou em suas realizações

na presentificação do mundo da vida, logo:

Ou melhor, não há sentido, apenas perspectivas, produto de uma correlação sempre móvel de forças. O mundo, diz Nietzsche, “é diversamente interpretável, ele não tem um sentido que lhe seja próprio, mas, sentidos inúmeros, ‘perspectivismo’”. (MOSÉ, 2016, p.53).

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Desta maneira que é cobrado o amor fati ao Atlas/homem, ou seja, se o

mundo está para o sujeito assim como o sujeito está para o mundo (pois são a

mesma coisa), amá-lo é fundamentalmente obrigação (destino), haja vista que amar

aquilo que é realidade, nesta perspectiva, é amar a si mesmo como condição de

encontro com a vontade de potência e, ainda, determinará o a superação do homem

(como conceito, como abstração) para ensejar o Super-homem, aquele dotado e

consciente de suas representações e como portador e sofredor ama seu mundo,

valendo-se de que é tudo que existe em relação as representações (em abstração

ou entendimento, mas sempre condicionadas a instância psicológica da

consciência).

Finalizando, os niilistas devem ser aqueles que negam seu próprio mundo,

resumidamente são aqueles que, nas representações abstratas inferem conceitos

lógicos (princípio de razão) anulando o próprio mundo de Atlas, não suportando o

sofrimento de saber que a vontade é imperativa, considerando que carregar nos

ombros a responsabilidade de sua mundaneidade (tornando-se superior ou escravo

– em relação ao movimento psicológico do sujeito), amando o mundo da vida como

ele é, sem desejar nada além (como o ideal de além-mundos), pois isso seria matar

a si mesmo em nome de algo que está fora e, portanto, demonstra uma necessidade

e uma fraqueza humana, algo que os niilistas e reativos não suportam – ter de

carregar o próprio mundo, criando um sistema de economia psíquica. Essa visão

ressalta a cosmovisão de Atlas como o centro de seu mundo, como portador deste

ele carrega e enseja o mundo da vida como uma pulsão estridente, mas, ao mesmo

tempo ressalta sua solidão contemplativa, sua punição por ser centralizado – e é a

isso que Nietsche dirige sua indignação, pois acredita que sempre tem que ser

assim, centrada na pessoa como sempre o único centro de gravidade mais sólido –;

isso acarreta no castigo de Atlas, em sua dor de um mundo sempre só, belo e

sublime em sua essencialidade, mas sempre doloroso em sua singularidade

sempiterna. Não suportando sua dor, o homem-Atlas abre mão de seu mundo para

viver em coletividade, deixa sua singularidade em nome do ideal gregário (através

das representações abstratas, hipostasiando as representações em ideias únicas de

conceitos), logo:

Há pequenas modificações que passam muitas vezes despercebidas. Nós somos constrangidos a construir o conceito de espécie, de forma, de fins e

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de leis, buscando sempre as identidades pela lei psicológica do menor esforço, como pelo desejo de acomodar o mundo a uma forma adaptável à nossa existência – o mundo que nos seja mais compreensível, em que não sejamos uma contradição. Este desejo é o que explica nossa ânsia de simplificação porque temos o instinto de fugir ou de combater o desequilíbrio. (NIETSZCHE, 2011, p.45).

CONCLUSÃO

É evidente que, quando unificado as teorias e deliberando os correlatos

representativos apresentados, é elucidado o homem como um perfeito Atlas, como o

trabalho demonstrou, sendo entendido como um grande e magnifico deus, em força

e (vontade) potência, tanto para construir como para descontruir um mundo que é

simplesmente singular (respondendo seu questionamento inicial). Todavia, não é

apenas domínio de si mesmo, pois ter um mundo próprio exige um preço, um

castigo (como o mito bem demonstra) e seu próprio sofrimento, que para o Atlas é

visto como a solidão de estar sempiternamente sozinho. Tal sentimento não é

suportado por muito tempo, pois as representações singulares pressupõem

justamente neste mundo que exige apenas um portador, que é sentido seu peso nos

ombros. E, psicologicamente, o homem-Atlas não quis tal peso, donde em sua

história passou a abrir mão da singularidade pela coletividade.

Partindo do entendimento científico, é exequível apontar o compromisso em

outros estudos que utilizem deste pensamento para aprofundar mais

sofisticadamente na temática das representações, pois tal pensamento pode ser

muito bem aproveitado para uma leitura e cotejamento da psicologia, da sociologia,

da antropologia, da filosofia, da filologia, entre outras áreas do saber, donde a

compreensão de todas as representações e seus elementos essências permitem

fornecer o sustentáculo inicial para auxiliar no entendimento do que é o homem e o

mundo, ou melhor, do que pode vir-a-ser o homem e seu mundo.

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REFERÊNCIAS

BARBOZA, J. Schopenhauer: a decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderno, 1997.

COMTE-SPONVILLE, A. Dicionário filosófico. Tradução Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

DURANT, W. A filosofia de Schopenhauer. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

GIACOIA JUNIOR, O. Nietsche como psicólogo. São Leopoldo: Unisinos, 2004.

LÚCIA. Atlas e o excesso de tarefas. Mitologia grega, Belo Horizonte, 30 out. 2010. Disponível em: <http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/10/atlas.html> Acesso em 20 set. 2017.

MARTON, S. Nietzsche: a transvaloração dos valores. São Paulo: Moderna, 1993.

MOSÉ, V. Nietzsche: e a grande política da linguagem. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

NIETZSCHE, F. W. A genealogia da moral. Tradução Mario Ferreira dos Santos. 4.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

______. Crepúsculo dos Ídolos ou como se filosofa com o martelo. Tradução Jorge Luiz Viesenteiner. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

______. Vontade de potência. Tradução Mario Ferreira dos Santos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

SCHOPENHAUER, A. O Mundo como Vontade e como Representação. Tradução Jair Barbosa. 2.ed. São Paulo: Unesp, 2015.

SOUZA, E. R. C. Schopenhauer e os conhecimentos intuitivo e abstrato: uma teoria sobre as representações empíricas e abstratas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.

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