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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ HELOÍSA HELENA DE SOUZA KRAUSS A Importância do Estágio de Convivência na Adoção Curitiba 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

HELOÍSA HELENA DE SOUZA KRAUSS

A Importância do Estágio de Convivência na Adoção

Curitiba

2013

HELOÍSA HELENA DE SOUZA KRAUSS

A Importância do Estágio de Convivência na Adoção

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Professora Georgia Sabbag Malucelli Niederheitmann

Curitiba

2013

TERMO DE APROVAÇÃO

HELOÍSA HELENA DE SOUZA KRAUSS

A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA NA ADOÇÃO

Essa monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de bacharel em direito do curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de de 2013

___________________________________________

Professor Doutor Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Curso de Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientadora:___________________________________

Georgia Sabbag Malucelli Niederheitmann

Professor: ________________________________________

Professor: __________________________________________

I

Dedico este trabalho aos grandes amores da minha vida, Deus, meu marido Carlos, meus filhos biológicos Angélica e Guilherme, meu neto Vítor e a todos os meus filhos do coração.

II

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Helena (in memorian) e Inamá, pelo amor, carinho, formação e educação que me deram para que eu lutasse pelos meus direitos e fosse a pessoa que sou. Ao Carlos, Angélica, Cassiano, Vítor,Guilherme e Carol por me entenderem e incentivarem a concretizar meu sonho. Às minhas irmãs, a Ledi e aos meus sobrinhos por me fazerem entender que nunca é tarde para recomeçar. Aos professores, que com o tempo se tornaram amigos, sempre incentivando e ajudando, especialmente a minha orientadora Georgia Sabbag Malucelli Niederheitmann pela paciência. Aos colegas de turma que compartilharam essa árdua jornada e aos amigos que fiz cuja parceria certamente continuará por muito tempo. E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que meu sonho se realizasse e eu concluísse o curso.

III

RESUMO Adoção não é só caridade, é muito mais, é aceitar uma pessoa estranha no seio de sua família, dando-lhe carinho, amor, educação, criando-o como um filho saído de seu ventre. A adoção se apresenta na história em vários momentos diferentes, em que ela tinha um enfoque egoísta, pois seu papel era somente dar continuidade à religião da família, pois muitos povos acreditavam que era necessária uma homenagem, um culto de seu descendente para que o morto tivesse uma vida feliz após sua morte. Ou então ela era um subterfúgio para aumentar as riquezas e o poder político. Hoje em dia, com as mudanças na legislação e a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, vemos que o principal objetivo da adoção é a proteção e o resguardo da criança e do adolescente, permitindo a convivência em um lar que possa lhe dar uma vida digna. Muitas vezes não ocorre uma boa convivência entre adotante e adotando, gerando conflitos e não raro a devolução da criança, o que leva a importância do estágio de convivência antecedente à adoção. É nesse momento que ocorre a construção de laços afetivos, as trocas de experiências sociais e culturais, no qual acontece o nascimento de um novo vínculo familiar entre pais e filho. Após estudo de doutrinas, artigos e jurisprudências viu-se a importância de uma melhor preparação dos postulantes ao cargo de pais, para haver a certeza de que querem ter um filho e aquela criança é a certa, transmitindo amor, aceitação e segurança ao adotado.

PALAVRAS CHAVE: adoção, estágio de convivência.

IV

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

2. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E EVOLUÇÃO HISTÓRICA .............. 3

2.1. Conceitos de adoção ................................................................................... 3

2.2. Natureza jurídica .......................................................................................... 4

2.3. Evolução histórica ........................................................................................ 4

2.3.1. Evolução da adoção no Brasil ............................................................... 6

2.3.2. Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente ................................ 8

2.3.3. Adoção no Código Civil de 2002 ........................................................... 9

2.3.4. Nova Lei de Adoção .............................................................................. 9

3. PROCEDIMENTOS DA ADOÇÃO ............................................................. 11

3.1. Requisitos para Adoção ............................................................................. 13

3.1.1. Requisitos subjetivos ........................................................................... 13

3.1.2. Requisitos objetivos ............................................................................ 14

3.2. A função social da adoção ......................................................................... 20

3.3. Efeitos jurídicos da adoção ........................................................................ 20

3.3.1. Efeitos pessoais .................................................................................. 21

3.3.2. Efeitos patrimoniais ............................................................................. 22

4. ESPÉCIES DE ADOÇÃO .......................................................................... 23

4.1. Adoção internacional ................................................................................. 23

4.1.1. Requisitos para que ocorra a adoção internacional ............................ 24

4.2. Adoção “à brasileira” .................................................................................. 26

4.3. Adoção de nascituros ................................................................................ 28

4.4. Adoção de embriões .................................................................................. 29

4.5. Adoção por homossexual .......................................................................... 30

4.6. Adoção póstuma ........................................................................................ 33

5. ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA E PERÍODO DE ADAPTAÇÃO ................. 36

5.1. Histórico do estágio de convivência na legislação ..................................... 37

5.2. Dificuldades enfrentadas durante o estágio de convivência ...................... 43

5.2.1. Motivos apontados para a devolução de crianças adotadas ............... 47

6. CONCLUSÃO ............................................................................................ 49

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 51

1

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo uma análise sobre a necessidade do

estágio de convivência na adoção, as alterações ocorridas ao longo da história

no processo de adoção e sua importância no âmbito jurídico e social.

Em seu artigo 41, o Estatuto da Criança e do Adolescente diz que:

A adoção atribui ao adotado a condição de filho, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

No presente estudo, vemos que a adoção não é destinada apenas

como forma de satisfazer a vontade de pessoas sem filhos, mas tem como

objeto principal dar um ambiente saudável, afastando o menor do abandono e

colocando-o em um lar no qual ele possa ter amor, carinho, educação,

afastando-o da marginalidade e da vida nas ruas. Para que isso ocorra é

necessário seguir vários trâmites judiciais e capacitar todos os envolvidos no

processo por meio de uma equipe multidisciplinar encarregada de avaliar e

acompanhar, para que não ocorram problemas e a adoção se concretize. A

adoção tem como finalidade primordial a proteção dos menores.

A psicóloga Lídia Natália Dobrianskyj Weber (2001) diz que:

Nos processos de adoção os técnicos são fundamentais para selecionar (que é o que fazem a maior parte das agências de adoção), mas para preparar: esclarecer, informar, instruir, educar, conscientizar, desmistificar preconceitos e estereótipos, modificar motivações, desvelar vocações, lapidar desejos...A maior parte das pessoas cadastradas nas agências de Adoção está ansiosa para participar deste espaço de reflexão, mas elas são somente cadastradas, julgadas, examinadas, esquadrinhadas, investigadas e interpretadas nos deslizes de seus relatos verbais. (2001p. 37)

A adoção tem caráter irrevogável e por este motivo é fundamental que

se garanta o cumprimento da lei, possibilitando que o menor se desenvolva

2

bem, impedindo que ocorram abusos, negligências, rejeições ou possíveis

devoluções.

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2. CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

2.1. Conceitos de adoção

Temos várias abordagens sobre adoção em toda a história da

humanidade, pois desde essa época era muito importante ter uma família. Ela

varia conforme os costumes, as tradições e a época em que acontecia.

O Direito Romano, segundo Dirceu Rodrigues, a conceitua como um

ato solene pelo qual se admite em lugar de filho quem pela natureza não é.

(1995, p.22 apud GRANATO 2009,p.24)

Em seu livro Tratado de Direito Privado, Pontes de Miranda dizia que “a

adoção é o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outra como filho,

independentemente de existir entre elas qualquer parentesco consanguíneo ou

afim.” (1951, p.21 apud GRANATO, 2009, p.24)

A professora Maria Helena Diniz, conceitua adoção como:

o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. (1995, p.22)

O mestre Eduardo de Oliveira Leite define adoção como:

o ato jurídico solene pelo qual, observado os requisitos legais, alguém estabelece um vínculo de filiação trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que lhe é estranha.” (2005, p.257)

O termo adoção tem sua origem do latim adoptio, que significa o ato ou

efeito de adotar.

Adoção é muito mais que caridade, é um assunto que abrange uma

filosofia de vida, é consciência, é se comprometer, se doar, é criar e educar

com amor e carinho uma criança que não possui o mesmo sangue que o seu.

4

É poder dar a uma criança uma família, um lar onde ela se sinta amada e

protegida.

2.2. Natureza jurídica

O ato de adotar está presente nos artigos 39 a 52 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, e também tem fundamentação legal

nos artigos 1618 a 1629 do Código Civil, Lei 10.046 de 10.01.2002.

A grande maioria dos autores diz que a natureza jurídica da adoção é

contratual, outros, porém, consideram que ela não deve ser considerada um

contrato, pois esse termo dá a impressão de ser apenas um negócio jurídico,

quando, em verdade, ela vai além, envolvendo vínculos morais, afetivos e

espirituais.

A professora Eunice Ferreira Rodrigues Granato (2009 p.28 apud Maria

Alice C. Zaratin Soares Lotufo, p.57) afirma que:

A adoção apresenta-se como figura híbrida, ou seja, um misto de contrato e de instituição, onde a vontade das partes, bem como o exercício de seus direitos encontram-se limitados pelos princípios de ordem pública.

2.3. Evolução histórica

A adoção, na antiguidade, tinha por finalidade a propagação da religião

e também na crença de que os mortos necessitariam receber culto de seus

descendentes para terem uma vida tranquila após sua morte. Assim, aquele

homem que não possuísse filhos poderia adotar um varão para garantir a

perpetuidade de sua família. Neste caso, a adoção visava somente o bem do

adotante.

5

O Código de Hamurabi é o documento mais antigo sobre a adoção. Ele

continha nove artigos que definiam o instituto, dizendo que os filhos adotivos

tinham os mesmos direitos que os filhos legítimos e determinava alguns casos

em que o adotado poderia retornar à casa paterna.

Foi em Roma que ocorreu maior desenvolvimento e a adoção foi mais

utilizada, pois além do homem continuar necessitando de um filho para dar

continuidade ao culto aos mortos, também havia um cunho político permitindo

que plebeus se transformassem em patrícios aumentando e perpetuando o

poder político da família. Paulo Nader explica: A importância da adoção, na

civilização greco-romana, deriva do papel que desempenhava em favor do

pater famílias, receoso de morrer sem descendente.

Na Idade Média, devido ao Cristianismo, a adoção caiu em desuso. A

igreja só reconhecia como filhos aqueles gerados no casamento, proibindo o

reconhecimento de filhos adulterinos.

Para o guerreiro povo germano, a adoção era uma maneira de

perpetuar o chefe da família, ela dava ao adotado o nome, as armas e o poder

do adotante.

A adoção volta a aparecer somente na Idade Moderna, com o Código

de Napoleão elencando que a adoção poderia ser feita por contrato, dava

direitos de herdeiro ao adotado e que o adotante, sendo maior de cinquenta

anos e não possuindo filhos, deveria ter uma diferença de idade com o

adotado de pelo menos quinze anos.

No direito português, ela servia somente para pedir alimentos para os

filhos. Não possuiu um desenvolvimento pleno, pois havia oposição ao direito à

sucessão, que dependia de autorização do Rei para que a adoção ocorre-se.

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2.3.1. Evolução da adoção no Brasil

No Brasil, por ser uma colônia de Portugal na antiguidade, a adoção se

apresentava com as mesmas características do direito português. Para as

crianças que não eram filhos legítimos, ou então cuja família estivesse em

situação de pobreza, na Santa Casa existia a roda dos enjeitados, que era uma

porta giratória com uma gaveta na qual a criança era depositada e ao girá-la as

crianças eram levadas para dentro da instituição onde passavam a ser

cuidadas por pessoas da instituição que tentavam encaminhar essas crianças a

famílias para que ajudassem nos afazeres domésticos e na plantação (mão-de-

obra infantil).

Eunice Ferreira Rodrigues Granato relata em seu livro Adoção Doutrina

& Prática (2005, p.43) que o primeiro registro legal referente à adoção foi em

22.09.1828 e mudava a competência para a expedição da carta de

perfilhamento da Mesa do Desembargo do Paço para os juízes de primeira

instância. Houve outras abordagens de pouca valia nas Consolidações Civis

que se seguiram.

Foi somente com a instituição do Código Civil Brasileiro, estabelecido

pela Lei 3.071, de 01/01/1916, que a adoção teve um tratamento especial

presente nos artigos 368 a 378 do Título V, Capítulo V, do Livro I, em sua Parte

Especial. Os obstáculos encontrados para adotar uma criança eram muitos,

fazendo com que o interesse pela adoção praticamente inexistisse.

Carlos Roberto Gonçalves cita em seu livro que,

A adoção disciplinada no Código de 1916 não integrava o adotado, totalmente, na nova família. Permanecia ele ligado aos parentes consanguíneos, pois o artigo 378 do mencionado diploma dispunha que “os direitos e deveres que resultam do parentesco natural não se

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extinguem pela adoção, exceto o pátrio poder, que será transferido do natural para o adotivo.”(2012, p.380)

A Lei 3.133, de 08 de maio de 1957, trouxe parcas modificações e

condições para a vida do adotado, possibilitando que ele acrescentasse junto

ao sobrenome dos pais biológicos os do adotante. Porém, ele só teria direito a

uma parte da herança, menor que a dos filhos biológicos. O que importava

nessa época era dar aos casais que não pudessem ter filhos a oportunidade de

dar continuidade ao nome da família.

Em 02 de junho de 1965, foi criada a Lei 4.655, que trouxe uma

novidade para a adoção: a possibilidade de cancelar o registro de nascimento

original da criança e substituí-lo por outro. Essa legitimação foi a origem da

adoção plena, posteriormente ratificada no Código de Menores.

O Código de Menores foi instituído pela Lei 6.697, de 10/10/1979,

revogando a Lei 4.655. Nele foram introduzidos alguns avanços em relação a

proteger a criança e o adolescente na adoção.

Previam-se duas formas de adotar: a simples e a plena. Na forma de

adoção simples, só foi acrescentada a possibilidade de ser alterado o nome da

criança e ela ter direito à herança. Essa maneira de adoção foi regimentada

pelo Código Civil e também prevista no Código de Menores.

Na forma de adoção plena, o casal deveria ser legalmente casado no

mínimo há cinco anos, poderiam ter filhos biológicos, sendo que um deles

deveria ter mais de trinta anos e uma diferença de idade com o adotado de

pelo menos dezesseis anos, cortando-se todos os laços com sua família

biológica.

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O tempo estabelecido para o Estágio de Convivência diminuiu para um

ano e, apesar de todas essas mudanças positivas, ao estrangeiro, ao solteiro,

ao viúvo ou ao separado não era permitida a adoção.

Com a Constituição Federal de 1988, foram igualados os direitos de

todos os filhos naturais ou adotados, que passaram a ser sujeitos de direito,

sendo dever da família, da sociedade e principalmente do Estado protegê-los e

cuidar de seus direitos.

2.3.2. Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente

A Lei 8.069/90 elenca os direitos da criança e do adolescente, entre

eles o direito fundamental de serem criados por uma família, seja a biológica ou

por meio de adoção. Ela acabou de uma vez com a diferença entre adoção

plena e simples.

Nos artigos 39 a 50 dessa Lei, existem alguns requisitos específicos

que devem ser observados para a adoção de crianças brasileiras por cidadãos

brasileiros, por estrangeiros domiciliados e residentes no Brasil, como também

por brasileiros residentes e domiciliados no exterior. Para a adoção

internacional será válido o elencado nos artigos 51 e 52 do mesmo Estatuto.

Segundo Sílvio de Salvo Venosa,

A adoção, segundo o estatuto, não somente iguala os direitos sucessórios dos adotivos como também estabelece reciprocidade do direito hereditário entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária (art.41,parágrafo 2º ECA). Superam-se, portanto, todos os resquícios de discriminação na adoção, existentes até a Constituição Federal de 1988.(2005,p.314)

A adoção só pode ser decretada por sentença. Presume-se que tenha

ocorrido o estágio de convivência, consentimento legal dos pais ou responsável

9

legal e se o menor for maior de doze anos, também se faz necessário o seu

consentimento. O nome e sobrenome podem ser alterados e a adoção é

irrevogável.

2.3.3. Adoção no Código Civil de 2002

O Código Civil de 2002 disciplinou de forma ordenada a adoção nos

artigos 1.618 a 1629. Nele, observamos que a idade para poder adotar baixou

de 30 anos para 18 anos – conservando a diferença de 16 anos entre adotante

e adotado. Pode ocorrer a adoção unilateral, desde que haja comprovação de

estabilidade familiar.

Como no Estatuto da Criança e do Adolescente, aqui também está

elencado que a adoção só ocorrerá depois do trânsito em julgado, tornando-se

irrevogável. Porém, conforme os artigos 373 e 374 do presente Codex, ela só

poderá ser dissolvida contratual ou jurisdicionalmente.

Os vínculos com a família biológica serão rompidos, mas o adotado

terá direitos alimentícios e sucessórios, assim como todos os deveres de um

filho biológico.

2.3.4. Nova Lei de Adoção

Com a Lei 12.010/09 foram sancionadas alterações no Estatuto da

Criança e do Adolescente. Seu objetivo maior é dar mais celeridade aos

processos e não permitir que os menores fiquem por mais de dois anos nas

casas de passagem.

A nova lei prevê que a adoção seja o último recurso a ser tomado,

quando não houver mais condição de convivência com os pais biológicos. Ela

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também impede que irmãos sejam separados, ou seja, eles devem permanecer

juntos na nova família.

Foi criado um cadastro nacional no qual estão registradas as crianças

em condição de serem adotadas e as pessoas ou casais habilitados para a

adoção. Alguns Tribunais estão reconhecendo a adoção por homossexuais

conforme será visto em tópico a seguir.

Outro item presente na lei e de extrema importância é o

acompanhamento de uma equipe multidisciplinar composta por assistentes

sociais e psicólogos, auxiliando a família e o menor nesse período de

adaptação e acolhimento do menor.

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3. PROCEDIMENTOS DA ADOÇÃO

A preparação para adotar uma criança ou adolescente é imprescindível

para que se possa evitar problemas e dificuldades, possibilitando que o

adotante saiba como se posicionar frente a dificuldades que venha ter em

relação à educação do menor.

O Conselho Nacional de Justiça implementou um sistema no qual estão

relacionadas informações de crianças e adolescentes a serem adotados e

também dos pretendentes a adoção, denominado Cadastro Nacional de

Adoção (CNA).

O CNA é uma ferramenta precisa e segura para auxiliar os juízes na condução dos procedimentos de adoção e atende aos anseios da sociedade no sentido de desburocratizar o processo, uma vez que: • uniformiza todos os bancos de dados sobre crianças e adolescentes aptos a adoção no Brasil e pretendentes; • racionaliza os procedimentos de habilitação, pois o pretendente estará apto a adotar em qualquer Comarca ou Estado da Federação, com uma única inscrição feita na Comarca de sua residência; • respeita o disposto no artigo 31 do ECA, pois amplia as

possibilidades de consulta aos pretendentes brasileiros cadastrados e garante que apenas quando esgotadas as chances de adoção nacional possam as crianças e adolescentes ser encaminhados para adoção internacional; • possibilita o controle adequado pelas respectivas Corregedorias-Gerais de Justiça; e • orienta o planejamento e formulação de políticas públicas voltadas para a população de crianças e adolescentes que esperam pela possibilidade de convivência familiar.(cnj.jus.br,cadastro nacional de adoção, p.3,4)

A Lei 12.010/09 alterou alguns artigos do Estatuto da Criança e do

Adolescente com a firme intenção de zelar pela proteção dos menores

incentivando sua entrega ao Poder Judiciário para que este possa intermediar

a adoção. O artigo 50 do Estatuto elenca a existência de determinação para a

formação de cadastros regionais para adoção. Essa previsão também está

expressa no artigo 227 da Constituição Federal. Esses cadastros são de suma

importância pois através deles pode se verificar as condições psicossociais e

12

do ambiente familiar dos pretendentes antes de incluir o menor a família

pretendente à adoção.

O Conselho Nacional de Justiça, a partir de disposição do artigo 103-b

da Constituição Federal, desenvolveu um cadastro único, contendo todos os

dados das crianças e adolescentes aptos para serem adotados e de

pretendentes devidamente habilitados para a adoção.

A revista “Em discussão”, nº 15 de maio/2013 presente no site do

Senado Federal, traz a seguinte matéria sobre a importância do Cadastro

Nacional de Adoção:

Cadastro unificou informações e tenta aproximar as crianças aptas à adoção das pessoas dispostas a acolhê-las O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, já previa que cada comarca deveria manter cadastros de pessoas habilitadas e de crianças disponíveis para a adoção. O fato de serem listagens regionalizadas não contribuía para o aumento do número de adoções no país, por isso decidiu-se pela criação do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), implantado em 2008, sob a responsabilidade do Conselho Nacional de Justiça, com base nas informações fornecidas pelos tribunais de Justiça dos estados e do Distrito Federal. Ao unificar as informações, o CNA aproxima crianças que aguardam por uma família em abrigos e pessoas que tentam uma adoção, mesmo que separados por milhares de quilômetros. A inscrição do pretendente, válida a princípio por cinco anos, é única e feita pelos juízes das varas da Infância e da Juventude (a lista segue ordem cronológica). Quando a criança está apta à adoção, o inscrito no cadastro de interessados é convocado. Do mesmo modo, pretendentes podem consultar a lista de crianças, que traz detalhes como sexo, idade, cor e eventuais necessidades especiais. Paralelamente, foi criado também o Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA), contendo dados das entidades de acolhimento sobre as crianças e adolescentes atendidos por essa medida protetiva prevista no ECA. Os juizados de Direito da Infância e da Juventude, as promotorias de Justiça da Infância e da Juventude, os conselhos tutelares e os próprios abrigos são os responsáveis pelas informações, centralizadas sob a responsabilidade da Corregedoria Nacional de Justiça. Apenas uma pequena parcela dos inscritos nesse cadastro — mais de 44 mil, em março passado — é formada por crianças destinadas à adoção.

13

O Promotor paranaense Doutor Murilo José Digiácomo diz que

agora se impõe ao Poder Judiciário a obrigação da criação e manutenção de cadastros estaduais e nacional de adoção, além daqueles existentes em cada comarca, acabando assim, de uma vez por todas, com a polêmica decorrente da implantação de um único Cadastro Nacional de Adoção pelo Conselho Nacional de Justiça.(www.crianca.caop.mp.pr.gov.br)

O Ministro do STJ Sidnei Beneti diz que a ordem cronológica do

Cadastro Nacional de Adoção não é absoluta e deve prevalecer o que for

melhor para o menor. Destacou ainda que um cadastro único pode evitar a

possibilidade de tráfico de crianças e adoções de forma ilegais.

O critério cronológico nem sempre deve prevalecer, visto que a

dignidade do menor, sua integridade, segurança e bem estar estão acima de

tudo. O Cadastro Nacional de Adoção surgiu como uma maneira de proteger os

adotandos, evitando que ocorram devoluções dos menores após a adoção, e

até mesmo a colocação dessa criança em lares que venham a lhe explorar, e

que não dêem a devida atenção e carinho necessários para seu pleno

desenvolvimento.

3.1. Requisitos para Adoção

Apesar de a adoção ser norteada pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, os requisitos para os candidatos estão elencados nos artigos

1618 ao 1629 do Código Civil Brasileiro.

3.1.1. Requisitos subjetivos

a) Idoneidade dos que querem adotar

É necessário verificar se não existem impedimentos de ordem pessoal,

condenações cíveis ou criminais e também um parecer psicossocial por parte

14

do adotante para que ele possa exercer de forma responsável e eficiente a

criação desse menor.

b) Motivos legítimos para a adoção

Muitas vezes o ato de adotar é tomado por impulso, sem total

consciência da responsabilidade deste ato. Muitas adoções ocorrem por pena

do menor e em muitos casos eles são devolvidos. Para que isso não aconteça

é necessário que a equipe interdisciplinar realize um estudo para analisar os

reais motivos que levaram aquela pessoa a querer integrar o menor em seu

seio familiar e tê-lo como filho. Acontecem casos também em que a adoção

ocorre para exploração infantil.

c) Reais vantagens para a pessoa que se quer adotar

Se o adotante possui o desejo de cumprir e garantir o que está

prescrito no artigo 227 da Constituição Federal:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

3.1.2. Requisitos objetivos

a) Idade e parentesco das pessoas envolvidas

O Estatuto da Criança e do Adolescente elenca em seu artigo 42 e

parágrafos que só podem adotar os adotantes maiores de 18 anos,

independente de seu estado civil; os adotantes com pelo menos 16 anos de

diferença com o adotado, podendo ser uma adoção conjunta desde que

15

demonstrado que sejam casados legalmente ou tenham uma união estável,

comprovando estabilidade familiar verificada pela equipe interdisciplinar; os ex-

companheiros divorciados ou separados desde que o estágio de convivência

com o menor tenha sido iniciado enquanto viviam juntos (nesse caso será

determinada a guarda compartilhada); o menor não pode ser adotado por seus

irmãos e nem por seus ascendentes.

b) Consentimento ou destituição do poder familiar dos pais biológicos

O consentimento dos pais não pode ser presumido e necessita da

aprovação judicial. A nova Lei de Adoção prioriza que a criança ou adolescente

fiquem com a família, somente quando o juiz vê ser impossível a continuidade

no ambiente familiar, ocorrendo à destituição do poder familiar.

c) Consentimento da pessoa que se quer adotar

Conforme elencado nos artigos 28 e 45 do Estatuto da Criança e do

Adolescente se o adotado tiver doze anos ou mais, poderá se manifestar

perante o juiz dizendo se aceita ou não que aquela pessoa o adote, desde que

tal procedimento não constranja a criança. Se for menor de doze anos esse

requisito é facultativo.

d) Estágio de convivência

É o período posterior às visitas feitas ao menor nas casas de

passagem ou abrigos. Nele ocorre a adaptação social e cultural, e a troca de

experiências entre adotante e adotado. Quem determina o prazo é o juiz.

16

e) Prévio cadastramento

É obrigatório o prévio cadastramento dos interessados em adotar uma

criança conforme os termos do artigo 50 do Estatuto da Criança e do

Adolescente:

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção. § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 29. § 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. § 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e nacional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residentes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no § 5o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manutenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 10. A adoção internacional somente será deferida se, após consulta ao cadastro de pessoas ou casais habilitados à adoção, mantido pela Justiça da Infância e da Juventude na comarca, bem como aos cadastros estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, não for encontrado interessado com residência permanente no Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)

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§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e recomendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em programa de acolhimento familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) II - for formulada por parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos artigos 237 ou 238 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os requisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009).

Pode-se encontrar um modelo de requerimento para inscrição no

processo de habilitação nas Varas da Infância e Juventude e em Organizações

não governamentais. Os candidatos deverão anexar a esse requerimento

cópias dos seguintes documentos: carteira de identidade, cadastro de pessoa

física, certidão de nascimento, certidão de casamento, comprovante de renda,

comprovante de residência, alvará da folha judicial, atestados de saúde física e

mental além de uma fotografia atualizada. Para esse processo não é

necessária à constituição de um advogado.

PROCEDIMENTOS CADASTRO NACIONAL DE ADOÇÃO - 1. Inscrições de Pretendentes no Cadastro Nacional de Adoção – CNA 1.1 O pretendente à adoção somente poderá ser inserido no sistema

pela Comarca de seu domicílio, nos moldes do art. 50 da Lei Federal 8.069/90. Isso significa que o pretendente deve primeiro habilitar-se na Vara da Infância e da Juventude de sua Comarca ou, inexistindo nela Vara Especializada, na Vara competente para o processo de adoção. O próprio juiz ou seu auxiliar realizará o cadastro no sistema. Com a inserção no CNA, todos os juízes, de todo o país, terão acesso à relação dos pretendentes à adoção.

• O recibo de inclusão pode ser emitido a qualquer momento, após ter concluído o cadastro do pretendente. Uma vez aberta a tela com os

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dados do pretendente (menu: Consultar >> Pretendente), na base da tela há o link: ‘Gerar recibo de cadastro’. Clique e o recibo será gerado.

1.2 O sistema não permitirá a duplicidade de inscrições e identificará a sua ocorrência por meio do CPF do pretendente. Na hipótese de inscrições múltiplas ocorridas antes da criação do Cadastro Nacional de Adoção, é possível sua anotação no Cadastro, sob a rubrica “processo adicional,conforme o item 6 deste manual. Nesse caso, os pretendentes serão considerados como se domiciliados em mais de uma Comarca ou Foro Regional.

1.3 As inscrições no CNA serão válidas por 5 (cinco) anos, prazo que poderá ser reduzido a critério do juízo da habilitação, caso entenda pela necessidade de reavaliação do pretendente.

1.4 Vencido o prazo de inscrição sem que tenha sido finalizado o processo de adoção, o sistema alertará o juízo da habilitação, que poderá notificar o pretendente para providenciar, caso tenha interesse, a renovação do seu pedido.

1.5 Ultrapassados os 5 (cinco) anos, o cadastro do pretendente poderá ser mantido caso seja realizada uma reavaliação, com obrigatória atualização dos dados.

1.6 A decisão sobre a reavaliação e a sua forma de realização são de competência do juiz responsável pelo processo.

1.7 O magistrado tem liberdade para suspender os pretendentes por ele habilitados quando o prazo da habilitação ultrapassar o estipulado em seu Estado, caso entenda ser essa a melhor forma de proceder. Para isso, deve alterar a situação do pretendente para “inativo por determinação judicial(cnj.jus.br,cadastro nacional de adoção,p10,11 )

O processo de adoção não deve ser somente composto por uma parte

burocrática, deve haver um espaço no qual adotantes se prepararem

psicologicamente, procurando minimizar e até mesmo conseguir contornar

situações difíceis conforme será explicitado em outro tópico.

O Princípio da Afetividade é um dos principais princípios basilares do

direito de família. Com ele, o conceito de família vem sendo modificado e

tratado no nosso ordenamento jurídico, como a aceitação de novas entidades

familiares, não se baseando apenas nos laços biológicos ou genéticos,

aparecendo o afeto como o pilar principal para essa nova forma de família que

pode ser monoparental, socioafetiva e também reconstituída. Rodrigo da

Cunha Pereira destaca:

de fato, uma família não deve estar sustentada em razões de dependência econômica mútua, mas, exclusivamente, por se constituir um núcleo afetivo, que se justifica, principalmente, pela

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solidariedade mútua. (...) o que se conclui é ser o afeto um elemento essencial de todo e qualquer núcleo familiar, inerente a todo e qualquer relacionamento conjugal ou parental.

O juiz deve proferir uma decisão que seja melhor para a criança ou

para o adolescente, buscando a existência de vínculos afetivos e de afinidade

entre o adotante e o adotando. O parágrafo 13°, do artigo 50, do Estatuto da

Criança e do Adolescente prevê três hipóteses onde o Cadastro Nacional de

Adoção pode ser dispensado, são elas:

- na adoção unilateral, quando um dos cônjuges adota o filho do

companheiro;

- de o pedido ser formulado por parente com quem a criança já possua

vínculos de afinidade ou de afetividade;

- quando esse pedido for formulado pelo tutor legal ou guardião de

criança maior de três anos e que estejam comprovados os vínculos afetivos e

de afinidade.

O civilista Paulo Lobo ensina:

O princípio jurídico da afetividade faz despontar a igualdade entre irmãos biológicos e adotivos e o respeito a seus direitos fundamentais, além do forte sentimento de solidariedade recíproca, que não pode ser perturbada pelo prevalecimento de interesses patrimoniais. (...) A evolução da família expressa a passagem do fato natural da consanguinidade para o fato cultural da afinidade).(2012, p.66)

Entretanto, o juiz pode considerar o vínculo afetivo como definidor na

escolha dos futuros pais. O posicionamento do adotante no Cadastro Nacional

de Adoção não deve ser considerado fator definitivo ou prioritário para que seja

concretizada a adoção.

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3.2. A função social da adoção

Não se deve pensar na adoção como uma “tábua de salvação” para

seus problemas. Se a pessoa tem medo da solidão, seus filhos já estão

grandes e precisa de companhia, seu casamento está com problemas, precisa

de alguém para dar continuidade aos negócios da família ou então perpetuar

nome da família então será necessário repensar sua atitude, adoção é entrega,

é sentimento, é um caminho que não tem volta.

Devidamente regulamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente,

a adoção possui caráter social, buscando proteger e garantir ao menor os

direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, referentes à dignidade

da pessoa humana como alimentação, saúde, educação, cultura, respeito,

dignidade e convivência familiar.

Não basta dar a essa criança bens materiais, o que configuraria

assistencialismo, mas acreditar que esse filho do coração tem os mesmos

direitos de um filho biológico. O ato de adotar não significa somente uma “boa

ação”, trata-se também de dar a oportunidade de constituir um lar para o

adotado, proporcionando à criança uma melhor infância, com muito carinho,

assistência e amor necessários para que ela tenha um bom desenvolvimento

tanto no sentido afetivo quanto moral.

3.3. Efeitos jurídicos da adoção

Os efeitos da adoção podem ser de ordem pessoal ou patrimonial. Eles

começam a surtir efeitos depois da sentença constitutiva ter transitado em

julgado, constituindo uma nova família para o adotado.

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3.3.1. Efeitos pessoais

O ato de adotar pode ser considerado o mais importante instrumento

de inserir a criança em um novo lar, rompendo de forma definitiva vínculos

existentes entre os pais biológicos e o restante dos familiares. Nesse sentido,

Arnaldo Rizzardo destaca que:

Com a sentença, ocorrem a constituição da filiação adotiva e o fim da filiação natural. O adotado passa a integrar a família do adotante, desvinculando-se da família de sangue, exceto quanto aos impedimentos matrimoniais. Ingressa definitivamente na família adotiva, sem que seja restabelecido vínculo com os pais naturais no caso de falecimento dos adotantes.”(2008,p.589)

A criança passa a ter os mesmos direitos e deveres de um filho natural,

e conforme previsto no parágrafo 6º do artigo 227 da Constituição Federal:

Os filhos havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Assim como filhos naturais, o adotado tem alguns impedimentos

matrimoniais que estão previstos no artigo 1521 do Código Civil de 2002:

Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

A perda do pátrio poder dos pais biológicos é outro efeito pessoal.

Conforme o elencado no artigo 1635, inciso IV do Código Civil,- em razão da

ruptura dos laços familiares naturais, ocorre uma transferência natural aos

adotantes de forma natural e irreversível. Os pais naturais perdem o direito

sucessório em relação ao menor adotado. Rizzardo comenta sobre o assunto:

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É decorrência normal da adoção esta transferência, pois não se justifica o exercício conjunto entre os pais de sangue e o pai adotivo, ou a mãe adotiva, ou a continuação com aqueles, quando o filho passou a conviver com o último ou a última.(2008,p.554)

3.3.2. Efeitos patrimoniais

No âmbito patrimonial, os efeitos são o do direito à sucessão e a

obrigação alimentar. Em relação à sucessão, o adotado passa ser herdeiro

legítimo, tendo os mesmos direitos a herança como o cônjuge e os demais

filhos conforme o disposto no artigo 41 do Estatuto da Criança e do

Adolescente, no artigo 1829, inciso I do Código Civil e no artigo 227 da

Constituição Federal.

A obrigação alimentar é repassada aos pais adotivos a partir do

momento em que deixa de existir uma relação de parentesco com os pais

biológicos. O adotado tem os mesmos direitos como qualquer filho natural ao

sobrenome, ao direito à sucessão, aos alimentos. Nascendo a partir desse

direito, o dever recíproco de prestação de alimentos conforme o elencado no

artigo 1696 do Código Civil. De acordo com Liberatti vemos que:

Não há, portanto, qualquer restrição de ordem legal quanto à natureza da filiação. Em resumo, o filho é filho, não importando se foi concebido ou não,ou se é fruto da adoção, etc. Assim, não serão permitidas pela lei brasileira as expressões filhos legítimos e ilegítimos, filhos naturais, filhos adulterinos,filhos incestuosos, filhos adotivos. A filiação, agora, é sempre legítima e uma só. ( 1995, p. 67)

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4. ESPÉCIES DE ADOÇÃO

A adoção é um laço jurídico que substitui o laço consanguíneo de

filiação. O afeto é mais forte e duradouro do que a juridicidade atribuída á

relações advindas de uma sentença constitutiva.

4.1. Adoção internacional

Sílvio de Salvo Venosa cita em sua obra que:

A adoção é objeto de regras internacionais. O Brasil é signatário da Convenção sobre Cooperação Internacional e Proteção de Crianças e Adolescentes em Matéria de Adoção Internacional, concluída em Haia, em 29-5-93. Essa convenção foi ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 3.087/99. Essa norma internacional tem disposições que devem ainda ser adaptadas à legislação interna, como por exemplo, a designação “autoridade central” no país , encarregada de dar cumprimento às obrigações impostas pela convenção, algo que ainda não está suficientemente claro. (2008, p.284).

É a espécie de adoção feita por pessoas, inclusive brasileiros,

residentes em outros países de crianças brasileiras com base no previsto no

artigo 51 do Estatuto da Criança e do Adolescente que diz que a adoção deve

ser preferencialmente dada a brasileiros e que a adoção feita por estrangeiros

é de caráter excepcional, pois ocorre quando não há uma família brasileira

interessada na adoção daquela criança. Isso geralmente ocorre com crianças

maiores e na existência de irmãos. É também conhecida por adoção entre

países, adoção por estrangeiros ou adoção transnacional.

É uma medida especial de ordem pública que possibilita ao menor viver

em um novo lar, em outro país com as mesmas garantias que ele teria vivendo

no Brasil.

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4.1.1. Requisitos para que ocorra a adoção internacional

A Lei 8069/90 cita alguns requisitos que deverão ser observados para a

efetivação da adoção para estrangeiros não domiciliados no Brasil e também

brasileiros domiciliados no exterior.

Para o adotante:

- capacidade genérica conforme a lei de seu país de origem;

- capacidade específica que será definida pela lei brasileira;

- Ter um mínimo de 16 anos de diferença entre a idade do adotante e

do adotado;

- Habilitação para adoção expedida por autoridade e em conformidade

com as leis do país de origem.

Já Convenção de Haia prioriza que a adoção internacional seja

realizada respeitando os direitos fundamentais internacionais, e que seja de

interesse do menor. Entre eles, os principais para que a adoção só ocorra

quando:

- As possibilidades de uma adoção nacional estiverem esgotadas;

- Orientação das instituições e autoridades para que a criança seja

informada do rompimento dos vínculos com sua família de origem e que sua

vontade seja levada em conta;

- Que se tenha o livre consentimento de forma legal e por escrito da

mãe do menor;

- Que a entrada e residência do menor no país dos futuros pais tenha

sido autorizada.

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Em seu parágrafo segundo o artigo 46 da Lei 8069/90 diz que estágio

de convivência será de no mínimo 15 dias para menores de dois anos e trinta

dias para crianças maiores dessa idade.

Para que seja deferida a adoção, o juiz deverá dar uma sentença

declaratória e constitutiva, declarando o extinto o poder familiar dos pais

biológicos e constituindo um novo vínculo familiar entre o adotado e o

adotante. A saída do país do menor só será autorizada após transitada em

julgado a sentença.

Existem alguns conflitos entre a Lei 8069/90 e a Convenção de Haia:

- A Convenção admite que o trâmite da adoção seja realizado no país

de acolhida do menor, mas conforme nossas leis, ela deve ser processada no

Brasil visto que ele é o país de domicílio do menor e são suas leis que devem

ser seguidas;

- O Estatuto da Criança e do Adolescente só permite a saída da criança

do país depois do trânsito em julgado da sentença, já a Convenção de Haia

possibilita que a criança vá antes que seja promulgada a sentença;

- De acordo com nosso ordenamento, a criança extingue o vínculo

familiar com seus pais biológicos e a Convenção permite que esse vínculo

permaneça;

- A Lei 8069/90 diz que só será necessário consentimento dos

adotados maiores de doze anos para que ocorra a doção, diferente da previsão

da Convenção que elenca que deve ser levado em conta a idade e maturidade

da criança para que ele possa dar seu consentimento;

- O ordenamento brasileiro preceitua a obrigatoriedade do estágio de

convivência e a Convenção diz não haver necessidade de ser obrigatório;

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- A Convenção diz ser de suma importância a presença de uma equipe

para dar cumprimento a todos os requisitos solicitados para a ocorrência da

adoção, já o artigo 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é

facultativo se estabelecer uma Comissão Estadual Judiciária de Adoção.

Deve-se considerar que o interesse do menor deve sempre estar acima

de qualquer ordenamento jurídico, proporcionando a ele uma vida familiar e um

futuro melhor não importando em qual país desde que seja tratado com amor,

carinho e que sejam respeitados seus direitos.

4.2. Adoção “à brasileira”

A Adoção à Brasileira possui os mesmos fins da adoção tradicional,

porém, o que as difere são os métodos utilizados para sua ocorrência.

Enquanto que a adoção tradicional exige procedimentos solenes, a adoção à

brasileira usa meios considerados ilícitos para sua realização.

Sobre o assunto Gonçalves ressalta: Essa situação pouco satisfatória, pela qual os adotantes se viam frequentemente na contingência de partilharem o filho adotivo com a família biológica, deu origem à prática ilegal de casais registrarem filho alheio como próprio, realizando um simulacro de adoção, denominada pela jurisprudência “adoção simulada” ou “adoção à brasileira”. (2012, p. 380).

A Adoção à Brasileira vem sendo muito discutida não só pela sua

autenticidade, mas também pelos métodos utilizados pelos juízes e operadores

de direito para justificar sua aceitação. Esse tipo de adoção pode ser

considerada um crime de falsidade ideológica, conforme o que está previsto no

artigo 242 do Código Penal que diz “dar parto alheio como próprio, registrar

como seu filho de outrem, ocultar recém nascido ou substituí-lo, suprimindo ou

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alterando direito inerente ao estado civil.” Essa falsa declaração de paternidade

é passível de pena de reclusão.

O parágrafo único desse artigo cita que se essa adoção ocorrer por

uma causa nobre, o juiz pode até deixar de aplicar a pena. Isso vem ocorrendo

numa tentativa de equiparar as leis com as mudanças ocorridas na sociedade.

O Código Civil de 2002 e a Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do

Adolescente) trouxeram mudanças que visam proteger os interesses e as

necessidades das crianças, sobrepondo-se ao interesse dos pais em possuir

descendentes conforme elencado no Código Civil de 1916.

A Lei 12.010/90 (Nova Lei de Adoção) alterou alguns dispositivos do

Estatuto da Criança e do Adolescente, mais especificamente nos artigos que

tratam do direito a convivência familiar e comunitária, regulamentação do

acolhimento institucional, das modalidades de colocação em família substituta,

sobretudo a adoção.

No artigo 8º, parágrafos 4º e 5º Estatuto da Criança e do Adolescente

vemos determinação expressa para que as mães que manifestem interesse em

entregar seus filhos para a adoção tenham assistência psicológica para evitar

que elas deixem essas crianças em locais inadequados, colocando em risco a

própria vida e a dos recém-nascidos.

O artigo 13 desse mesmo ordenamento, visando diminuir o abandono

ou entrega irregular das crianças, obriga a genitora que manifeste interesse em

entregar seu filho para adoção o encaminhe ao Juizado da Infância e

Juventude, onde existe um cadastro regional de adoção que contém os nomes

das pessoas interessadas em adotar uma criança ou adolescente que também

estão inscritos nesse rol.

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As adoções irregulares são demonstrações de conflito entre a teoria

jurídica e a prática social. As mudanças no mundo do direito devem ser

constantes, buscando atingir a proteção integral e assegurar na prática os

direitos peculiares e intrínsecos das crianças e dos adolescentes. Essa

proteção integral não pode ficar restrita à letra da lei, ela deve estar presente

nas ações do Poder Público, bem como internalizada pela cultura nacional para

que cada criança e cada adolescente sejam protegidos integralmente e

respeitados como sujeito de direito.

4.3. Adoção de nascituros

A Adoção de Nascituros pode ser possível, pois este é um sujeito de

direito como qualquer outro ser humano já nascido. Os argumentos sustentam

que a dignidade da pessoa humana deve atingir os nascituros, pois eles tem o

direito de serem adotados e terem uma vida digna desde a fecundação.

O artigo 2º do Código Civil diz que o nascituro é um ser humano, já

concebido e que vive no ventre materno. È importante frisar que desde a

gravidez, na vida uterina, a criança deve ser zelada, garantida e protegida pelo

sistema. Já em seu artigo 4º, o mesmo Codex elenca que o nascituro não pode

ser reputado pessoa, pois a personalidade civil do homem começa com o

nascimento com vida.

Maria Helena Diniz ao interpretar o artigo 2º do Código Civil diz:

[…] poder-se-ia até mesmo afirmar, que na vida intra-uterina, tem o nascituro, e, na vida extra-uterina, tem o embrião personalidade

jurídica formal, no que atina aos direitos da personalidade, visto ter a pessoa carga genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro, passando a ter personalidade jurídica material, alcançado os direitos patrimoniais e obrigacionais, que permaneciam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. O

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nascimento com vida diz respeito à capacidade de exercício de alguns direitos patrimoniais. (http://jus.com.br/artigos/21972/)

A mulher pode demonstrar vontade de dar seu filho para adoção, mas

também, em qualquer tempo durante sua gestação e após o parto desistir de

abrir mão de seu direito à maternidade.

Eunice Ferreira Rodrigues Granato diz: “não sendo o nascituro

pessoa, não se vê como possa ser adotado, já que a adoção é ato jurídico que

se realiza entre pessoas, conforme conceitos já adredemente

expostos.”(2009,p.137).

Diante a legislação brasileira está descartada a possibilidade de

adoção de um nascituro tanto em relação à capacidade civil quanto a sua

personalidade jurídica pois nascituros são a prole vindoura, seu nascimento

depende de um fato ainda futuro e incerto.

4.4. Adoção de embriões

Quando ocorre a fertilização in vitro, vários embriões são criados e

muitos deles não são aproveitados na inseminação artificial. Esses embriões

excedentes são congelados, conforme a Lei 11.105/05 podem ser ofertados

por seus genitores para pesquisas e terapias com células tronco. Com essa

permissão dada aos genitores desses embriões e que não possuem mais

interesse em futuros filhos foi dada a oportunidade de se adotar esses fetos por

pessoas interessadas em gerarem filhos e não possuem essa oportunidade.

Maria Helena Diniz opina sobre o assunto:

A manipulação em laboratório dos componentes genéticos da fecundação é um tema delicadíssimo e de grande atualidade pela implicação de valores. As novas técnicas conceptivas solucionam de

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um lado, a questão de esterilidade do casal, que terá seu filho, com a interferência de ambos os consortes ou de um só deles, ou ainda de nenhum deles; mas, por outro lado, causam graves problemas jurídicos, sociais, psicológicos, bioéticos e médicos, sendo necessário não só impor restrições legais às clínicas que se ocupam da fertilização humana, controlando juridicamente, a Embriologia e a Engenharia Genética, como também estabelecer normas sobre a responsabilidade civil por dano moral e patrimonial ao embrião e nascituro.

A resolução atual (n.º 2.013/2013) autoriza clínicas de fertilização a se

desfazerem de embriões congelados há mais de cinco anos, desde que haja

consentimento dos genitores.

4.5. Adoção por homossexual

Esse é outro tema que gera muita polêmica em nosso país. O

ordenamento jurídico brasileiro ainda não possui leis específicas em relação à

possibilidade de adoção por homossexuais, sendo algumas vezes favorável e

em outras totalmente contrário.

Eunice Ferreira Rodrigues Granato se posiciona quanto ao tema:

Pensamos que, sendo o espírito da lei imitar a filiação biológica, proporcionando à criança e ao adolescente convivência familiar harmoniosa, devemos questionar se esse desiderato será atingido com uma pessoa que tenha vivência homossexual. Será indispensável cuidadoso estudo psicossocial da equipe técnica da Vara da Infância de cada comarca, para se verificar a possibilidade de se colocar a criança em um lar em que o adotante declare ser homossexual.

Os doutrinadores favoráveis à adoção por homossexuais dizem que o

juiz deverá ser imparcial, e assim como no caso de adoções por solteiros,

casados ou viúvos, o grupo de apoio deverá apurar a conduta social desse

pretendente em seu trabalho, na escola, na meio social onde vive. O fato da

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pessoa ser homossexual nunca poderá impedir uma adoção, mas sim seus

atos e atitudes.

O Desembargador Fernando Wolff Bodziak, do Tribunal de Justiça do

Paraná, Relator da Apelação Cível N° 582499-9 se mostrou favorável na

adoção por homossexuais conforme decisão abaixo transcrita:

APELAÇÃO CÍVEL. HABILITAÇÃO PARA ADOÇÃO. CASAL HOMOAFETIVO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA AFASTADA. POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DE UNIÕES HOMOAFETIVAS COMO ENTIDADES FAMILIARES. AUSÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL. ATRIBUIÇÃO POR ANALOGIA DE NORMATIVIDADE SEMELHANTE À UNIÃO ESTÁVEL PREVISTA NA CF/88 E NO CC/02. HABILITAÇÃO EM CONJUNTO DE CASAL HOMOAFETIVO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE ATENDIDOS AOS DEMAIS REQUISITOS PREVISTOS EM LEI. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO DE IDADE E SEXO DO ADOTANDO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. NÃO-DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. MELHOR INTERESSE DO ADOTANDO QUE DEVE SER ANALISADO DURANTE O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA NO PROCESSO DE ADOÇÃO, E NÃO NA HABILITAÇÃO DOS PRETENDENTES. APELAÇÃO PROVIDA. RECURSO ADESIVO PREJUDICADO.

O respaldo para permitir que homossexuais adotem uma criança ou

adolescente encontra-se no artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente,

que elenca que qualquer pessoa maior de vinte e um anos tem possibilidade de

adotar, não importando o seu estado civil.

Os que são contrários da adoção por homossexuais defendem que o

menor durante a convivência com um casal do mesmo sexo poderá ter

problemas de ordem psíquica e moral, além disso, poder vir a influir em sua

opção sexual futuramente. Dizem que a criança poderá passar por vários

problemas em razão do preconceito existente na sociedade brasileira.

Resumindo, dizem que esse lar não seria digno e adequado para se criar uma

criança.

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Nesse sentido, o parágrafo 3º do artigo 227 da Constituição Federal

dispõe:

Artigo 227 – A família, base na sociedade, tem especial proteção do Estado. §3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Por ser uma questão de extrema complexidade, a doutrina e a

jurisprudência vem procurando dar pareceres de forma que a adoção tenha o

papel de laços biológicos familiares. O artigo 226 e seguintes da Constituição

Federal, seguindo o que preceitua o princípio da dignidade humana, tornou

possível juridicamente o reconhecimento de outras formas de família além da

tradicional composta por homem e mulher.

A Desembargadora Maria Berenice Dias proferiu o seguinte voto:

A homossexualidade é um fato social que se perpetua através dos séculos, não mais podendo o Judiciário se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a uniões que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família. A união pelo amor é que caracteriza a entidade familiar e não apenas a diversidade de sexos. É o afeto a mais pura exteriorização do ser e do viver, de forma que a marginalização das relações homoafetivas constitui afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do direito à vida, violando os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. (AP. cível nº70012836755)

A sociedade mudou em vários sentidos e muitas pessoas continuam

estagnadas em relação à homossexualidade. Os nossos legisladores não

previram esta mudança quando da elaboração da última Constituição – apesar

de naquele ano a homossexualidade já estar bem inserida na sociedade - e

perdeu outra grande oportunidade a partir da promulgação da nova lei de

adoção, a Lei12010/09.

33

Conforme reportagem da Revista Super Interessante, um grande medo

é que as crianças adotadas por casais homoafetivos demonstrem problemas

psicológicos por causa do preconceito existente na sociedade e incutido nas

outras crianças por seus familiares.

O Ministro Carlos Ayres Brito reconheceu a união estável de pessoas

do mesmo sexo no dia 05 de maio de 2011, em sessão do Supremo Tribunal

Federal, fundamentando que “Todos os direitos dos heterossexuais valem para

os homossexuais. Equiparação completa.”

Hoje em dia vemos pais e mães demonstrando estarem orgulhosos de

seu filho, não por sua opção sexual, mas sim pela pessoa que ele é. Eles

convivem harmoniosamente com sua família podendo dar a essa criança avós,

tios, primos , enfim, uma convivência plena em um lar repleto de amor.

Se todos são iguais perante a lei, porque não deixar um casal

homoafetivo dar um lar para uma criança? Aos menores não importa se tem

dois pais ou duas mães, eles precisam é de um lar com amor, carinho e

respeito.

4.6. Adoção póstuma

A Adoção Póstuma ocorre quando o adotante falece no curso da

adoção. Essa modalidade de adoção será concretizada caso o pretendente à

adoção tenha manifestado vontade de adotar e antes de ser prolatada a

sentença ele venha a falecer.

Se o processo estava em curso quando o infortúnio ocorreu, baseando-

se na previsão do artigo 42, parágrafo 6º, do Estatuto da Criança e do

34

Adolescente, a adoção poderá ser deferida. Nesse caso, os efeitos retroagirão

(efeito ex tunc) à data do óbito, sendo pressupostos para o reconhecimento

jurídico da situação: a continuidade, a publicidade e a sócio afetividade.

Ao se deparar com um pedido de reconhecimento póstumo de uma

adoção de fato, deve o julgador levar em conta os fins sociais a que se destina

a lei e lembrar sempre que os interesses do adotado devem prevalecer,

visando seu bem estar.

A Ministra Nancy Andrighi destaca em seu acórdão abaixo transcrito a

importância de prevalecer o princípio do melhor interesse da criança:

Para as adoções post mortem, vigem, como comprovação da inequívoca vontade do de cujus em adotar, as mesmas regras que comprovam a filiação socioafetiva, quais sejam, o tratamento do menor como se filho fosse e o conhecimento público dessa condição. Ademais, o § 6º do art. 42 do ECA (incluído pela Lei n. 12.010/2009) abriga a possibilidade de adoção póstuma na hipótese de óbito do adotante no curso do respectivo procedimento, com a constatação de que ele manifestou, em vida, de forma inequívoca, seu desejo de adotar. In casu, segundo as instâncias ordinárias, verificou-se a ocorrência de inequívoca manifestação de vontade de adotar, por força de laço socioafetivo preexistente entre adotante e adotando, construído desde quando o infante (portador de necessidade especial) tinha quatro anos de idade. Consignou-se, ademais, que, na chamada família anaparental – sem a presença de um ascendente –, quando constatados os vínculos subjetivos que remetem à família, merece o reconhecimento e igual status daqueles grupos familiares descritos no art. 42, § 2º, do ECA. Esses elementos subjetivos são extraídos da existência de laços afetivos – de quaisquer gêneros –, da congruência de interesses, do compartilhamento de idéias e ideais, da solidariedade psicológica, social e financeira e de outros fatores que, somados, demonstram o animus de viver como família e dão condições para se associar ao grupo assim construído a estabilidade reclamada pelo texto da lei. Dessa forma, os fins colimados pela norma são a existência de núcleo familiar estável e a consequente rede de proteção social que pode gerar para o adotando. Nesse tocante, o que informa e define um núcleo familiar estável são os elementos subjetivos, que podem ou não existir, independentemente do estado civil das partes. Sob esse prisma, ressaltou-se que o conceito de núcleo familiar estável não pode ficar restrito às fórmulas clássicas de família, mas pode, e deve, ser ampliado para abarcar a noção plena apreendida nas suas bases sociológicas. Na espécie, embora os adotantes fossem dois irmãos de sexos opostos, o fim expressamente assentado pelo texto legal – colocação do adotando em família estável – foi plenamente cumprido, pois os irmãos, que viveram sob o mesmo teto até o óbito de um deles, agiam como família que eram, tanto entre si como para o infante, e naquele grupo familiar o adotando se deparou com relações de afeto, construiu – nos limites de suas possibilidades – seus valores sociais, teve amparo nas horas de necessidade físicas e emocionais,

35

encontrando naqueles que o adotaram a referência necessária para crescer, desenvolver-se e inserir-se no grupo social de que hoje faz parte. Destarte enfatizou-se que, se a lei tem como linha motivadora o princípio do melhor interesse do adotando, nada mais justo que a sua interpretação também se revista desse viés. REsp 1.217.415-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/6/2012.

Para a Ministra Nancy Andrighi, adoção póstuma pode ser análoga a

uma adoção socioafetiva já existente, pois o de cujus mostrou interesse na

adoção quando ainda estava vivo. Segundo ela, o texto legal deve ser

compreendido como uma ruptura no conceito de que a adoção deve-se dar em

vida.

O artigo 42 em seu parágrafo 5º do Estatuto da Criança e do

Adolescente diz que poderá ocorrer a adoção póstuma desde que o adotante

tenha demonstrado a vontade de adotar e tiver dado entrada ao processo antes

de falecer, pois o vínculo existente entre adotante e adotado não se dilui com a

morte, a vontade de ambos continua e torna-se real com a adoção póstuma.

36

5. ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA E PERÍODO DE ADAPTAÇÃO

O período de adaptação é uma fase de experiência onde se

proporciona que a criança e os pretendentes a pais se conheçam melhor do

que nas visitas feitas ao menor nos abrigos e em passeios de finais de

semana. É o momento onde os futuros pais aprendem mais sobre a criança

que querem adotar, se informam sobre sua personalidade, seus hábitos

alimentares, sua saúde, seus desejos e anseios, assim como a criança procura

se adaptar ao novo ambiente e conhecendo melhor as pessoas com quem irá

conviver, buscando construir vínculos familiares.

Em seu livro Aspectos Psicológicos da Adoção, a psicóloga Lidia

Natália Dobriankyj Weber fala dos mitos e realidades existentes sobre a

adaptação dos filhos adotivos:

Os pais adotivos mostram-se muito exigentes e pressionados socialmente pela sua função “adotiva” e tendem a encaminhar seus filhos a profissionais especializados com maior frequência do que pais não adotivos. Pais adotivos, assim como profissionais da saúde mental e da educação estão, juntamente com o restante da população, sob a influência dos preconceitos que ainda existem na questão da adoção e percebem-na como um fator de risco natural. (2001,p.50)

Nesse período de adaptação inicial, o juiz concede um termo de guarda

e responsabilidade provisória aos pretendentes, determinando

acompanhamento psicossocial para serem informados das dificuldades

existentes nessa etapa da adoção.

Ana Clara do Amaral em seu artigo sobre adoção diz:

A adoção busca encontrar uma família adequada a uma determinada criança, e não dar uma criança para aqueles que querem adotar, e deve ser precedida de estágio de convivência com a criança ou com o adolescente pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso (artigo 46 do Estatuto da Criança e do Adolescente).(2012)

37

Dispõe o artigo 46, do Estatuto da Criança e do Adolescente, in verbis

que: “A adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou

adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as

peculiaridades do caso.”

Segundo Eunice Ferreira Rodrigues Granato:

Esse estágio é um período experimental em que adotando convive com os adotantes, com a finalidade precípua de se avaliar a adaptação daquele que a família substituta, bem como a compatibilidade desta, com a adoção. É de grande importância esse tempo de experiência, porque, constituindo um período de adaptação do adotando e adotantes à nova forma de vida, afasta adoções precipitadas que geram situações irreversíveis e de sofrimento para todos os envolvidos. (2009, p.81)

A finalidade do estágio de convivência, após o período de adaptação, é

dar ao menor a possibilidade de adaptação dele ao novo lar, à nova família e

deixar claro ao adotante as obrigações e responsabilidades, informando-o dos

efeitos que o ato de adotar vai gerar em sua “nova” vida.

Isso tudo deve ocorrer para que não ocorram adoções sentimentais ou

impensadas, diminuindo a possibilidade de inserir o menor em uma família

5.1. Histórico do estágio de convivência na legislação

Foi a partir da Lei 4655/65, que dispõe sobre a legitimidade adotiva,

que o estágio de convivência começou a ter previsão legal no Brasil. Em seu

artigo 1º, parágrafo 2º, estava elencado que só poderia ser deferida a

legitimação da adoção após um período mínimo de três anos de guarda do

adotando pelo requerente.

Já a Lei 6697/79 não definiu um prazo para o estágio de convivência

na adoção simples, deixando para a autoridade judiciária fixá-lo de acordo com

38

a idade do adotando e outras características que achasse necessário, podendo

até dispensar o cumprimento caso o menor tivesse menos de um ano de idade

conforme previsão do artigo 28, parágrafos 1º e 2º, da mesma lei.

No que diz respeito à adoção plena, a mencionada Lei previa em seu

artigo 31 que somente seria deferida após um período mínimo de um ano de

estágio de convivência do menor com os adotantes, desde que esse período

de guarda houvesse sido iniciado antes da criança completar sete anos e o

estágio tivesse aprovação.

Em seu artigo 33 a Lei autorizava a adoção por viúvo, desde que

comprovado que o estágio de convivência havia iniciado três anos antes de o

outro cônjuge falecer. O artigo 34 dispunha que os cônjuges separados

poderiam requerer a adoção plena, desde que o estágio de convivência

houvesse ocorrido durante enquanto estivessem casados e entrassem em

acordo sobre a guarda do menor após a separação judicial.

O parágrafo 1º, do artigo 46, da Lei 8069/90, autorizava a dispensa do

estágio de convivência se a criança tivesse menos de um ano de idade, ou de

qualquer idade caso estivesse em companhia do adotante e fosse possível

avaliar e comprovar a existência de vínculo entre eles.

O Juiz de Direito Renato Rodovalho Scussel mostrou-se favorável à

dispensa do estágio de convivência na decisão que vemos a seguir:

Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal EXPEDIENTE DO DIA 16 DE ABRIL DE 2013 Juiz de Direito: Renato Rodovalho Scussel Nº 641-5/13 - Adoção - A: A.A.C.e.o.. Adv (s).: DF017522 - FREDERICO DO VALLE ABREU. R: M.D.P.F.L.. Adv (s).: SEM INFORMACAO DE ADVOGADO. A: A.N.F.. Adv (s).: (.). PARTE OBJETO (CRIANÇA): J.E.F.L.. Adv (s).: (.). DECISAO Admito a emenda à inicial apresentada às folhas 67/91. Cuida-se de ação de adoção ajuizada por A.A.C. e A.N.P., em favor da criança J.E.F.L., nascido ao 1º de abril de 2010, filho de M.D.P.F.L.. Os requerentes informam na inicial que detêm a guarda do infante desde o seu nascimento, em razão de a criança lhes ter sido

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entregue pela própria genitora, que decidiu lhes confiar os cuidados do filho. Afirmaram ainda que a guarda da criança foi regularizada judicialmente, obtida por sentença no processo n. 69024-8/10, que tramitou perante a 3ª Vara de Família de Brasília. Requereram, dentre outros pedidos, a dispensa do estágio de convivência e de novo estudo psicossocial, alegando para tanto que já foi realizada intervenção psicossocial nos autos de Guarda que tramitaram perante a Vara de Família. A petição inicial de fls. 2/16, emendada às folhas 67/68, veio acompanhada dos documentos de fls. 17/46 e 69/91. Presentes os requisitos legais. Os requerentes já possuem a guarda judicial da criança. Recebo o pedido. Designe-se data para realização de audiência de oitiva da genitora, a fim de que ratifique a anuência ao pedido, conforme preceitua o artigo 166, § 1º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Antes da realização da audiência a genitora deverá ser orientada e esclarecida pela Equipe Interprofissional/SEFAM, nos termos do artigo 166, § 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Intime-se a genitora por oficial de justiça. Com relação ao pedido de dispensa do estágio de convivência, tenho como possível, eis que os requerentes já exercem os cuidados da criança desde o seu nascimento, possuindo a guarda provisória desde dezembro de2010 e a guarda definitiva desde junho de 2011 (fls. 30/38). Portanto, é plausível se presumir a existência de vínculos de afetividade e convivência suficientes para a dispensa do estágio de convivência, enquadrando-se os postulantes na exceção prevista no artigo 46, § 1º do ECA. Todavia, no que se refere à dispensa o do estudo psicossocial, não gozam os requerentes da mesma sorte. Isso porque o estudo psicossocial realizado nos presentes autos se presta a avaliar a conveniência do deferimento do pedido de adoção, averiguando-se a situação atual da criança e eventual presença/consolidação dos laços de filiação e parentalidade, mostrando-se, portanto, obrigatório, à luz do disposto no artigo 167 do supracitado Diploma Legal. Dessa forma, dispenso a realização do estágio de convivência e determino, após a realização da audiência de oitiva da genitora, a realização de estudo psicossocial pela SEFAM. Intimem-se os autores. Dê-se ciência. Brasília -DF, segunda-feira, 08/04/2013 às 16h39. RENATO RODOVALHO SCUSSEL Juiz de Direito CERTIDAO - Certifico e dou fé que foi designado o dia 09/05/2013 às 13h50 para realização de audiência, conforme decisão de folha . Brasília - DF, sexta-feira, 12/04/2013 às 17h36.. (Pg. 438. Diário de Justiça do Distrito Federal DJDF de 17/04/2013) 5.3.2 Fixação de prazo para o estágio de convivência Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal

Conforme previa o parágrafo 2º, do art. 46, caso o menor fosse

adotado por estrangeiro residente ou domiciliado fora do país, esse período de

convivência deveria ser cumprido em território nacional. O prazo mínimo era de

quinze dias para crianças com até dois anos e de trinta dias quando o

adotando fosse maior de dois anos.

40

A Lei 12.010/09 alterou a redação do artigo 46, da Lei 8069/90, que em

sua redação atual preconiza que a adoção será precedida de estágio de

convivência por um prazo a ser fixado pela autoridade judiciária, respeitando as

particularidades de cada caso e podendo ser dispensado se o menor já estiver

sobre guarda legal ou tutela do adotante por um período suficiente para que o

vínculo afetivo seja confirmado.

Em alguns casos o juiz acha necessário o estágio de convivência por

mais que ao adotante já possua a guarda do menor, conforme podemos

verificar na decisão abaixo transcrita:

EXPEDIENTE DO DIA 23 DE NOVEMBRO DE 2012 Juiz de Direito: Renato Rodovalho Scussel Diretora de Secretaria: Cristina Ferreira Vitalino Para conhecimento das Partes e devidas Intimações DIVERSOS Nº 6373-6/12 - Adocao - A: F.A.M.. Adv (s).: DF010908 - ESTHER DIAS CRUVINEL. R: S.A.S.. Adv (s).: SEM INFORMACAO DE ADVOGADO. PARTE OBJETO (ADOLESCENTE): D.M.S.. Adv (s).: (.). DECISÃO (...) Assim, considerando que a concessão da guarda provisória da adolescente em apreço ao requerente vai ao encontro das diretrizes do ECA, concedo, com fulcro no artigo 33,§ 1º, do multicitado Diploma Legal, a guarda provisória de D. M. S. ao postulante F. A. M., que a exercerá conjuntamente com a genitora, mediante termo e até decisão final dos presentes autos. Considerando que a Lei nº 12.010/2009, em seu artigo 46, estabelece que "a simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa de estágio de convivência", fixo, desde já, o início do estágio de convivência, que terá prazo de três meses, a ser acompanhado pela Equipe Interprofissional. Designe-se data para realização de audiência de oitiva da genitora e da adolescente em tela, nos termos do artigo 166, § 1º, c/c 28, § 2º, do ECA. Antes da realização da audiência, encaminhem-se os autos à Equipe Interprofissional/SEFAM para proceder às orientações e esclarecimentos necessários, à luz do disposto no artigo 166, § 3º, do ECA. Cite-se o requerido por edital. Prazo: vinte dias. Sem prejuízo da determinação acima, oficie-se ao TSE solicitando informar a este Juízo se consta nos seus arquivos eventual endereço do genitor, informando-se sua filiação, fl. 16. Expeça-se mandado para tentativa de citação do requerido no endereço de fl. 19, conforme requerido pelo órgão ministerial. Intimem-se. Dê-se ciência. Brasília - DF, terça-feira, 20/11/2012 às 13h18. RENATO RODOVALHO SCUSSEL Juiz de Direito CERTIDAO - Certifico e dou fé que foi designado o dia 29/11/2012 às 13h50 para realização deaudiência, conforme decisão de folha 52 V . Brasília - DF, quinta-feira, 22/11/2012 às 16h45. p/Diretora de Secretaria.

41

Para casais estrangeiros o prazo ficou estipulado por um mínimo de

trinta dias para qualquer idade do menor.

O parágrafo 4º, do artigo 46, do Estatuto da Criança e do Adolescente,

elenca que o estágio de convivência deverá ser acompanhado por uma equipe

interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, assessorada

por pessoal especializado e responsável pela execução da política municipal

de garantia do direito à convivência familiar, conforme o disposto no artigo 28.

Essa equipe apresentará relatórios ao Juízo da adaptação do menor ao

seio da família adotante, como também da reação dos adotantes perante um

possível novo membro na família. Esses assistentes não necessitam ser

funcionários do judiciário, mas que prestem serviços a ele, pois nem todas as

comarcas no Brasil possuem funcionários preparados para realizar tal função,

razão pela qual existe necessidade do poder público conferir esse encargo a

Organizações não Governamentais que estejam habilitadas para o

acompanhamento.

O acompanhamento do pessoal especializado é importante, pois eles

estão acompanhando o processo desde o início, conhecendo detalhes que

podem ser úteis quando o juiz for proferir a sentença.

O estágio de convivência é um período de extrema importância por ser

fundamental para a construção de um vínculo forte de amor, segurança e

respeito entre o adotando e o adotante. Em estudo feito pelo Tribunal de

Justiça de São Paulo, na gestão do Desembargador Celso Luiz Limongi, 2006-

2007, concluiu-se que para que o estágio ocorra sem problemas existem

características apresentadas pela criança/adolescente que devem ser

avaliadas pelas equipes, quais sejam:

42

a) Hábitos de rotina diária (alimentação, higiene, laser, etc.);

b) Comunicação verbal e não verbal;

c) Estabelecimento de interações sociais e demonstrações de

relacionamento social;

d) Desenvolvimento global da criança nos aspectos de comunicação,

comportamento, saúde, dificuldades apresentadas, etc.;

e) Como a criança se coloca em relação a sua história, aos vínculos

existentes com sua família de origem, se lembra de seu passado ou o renega,

a sua inserção ao seu novo lar.

Já em relação aos adotantes o estudo aponta que pode ser analisado:

a) As alterações na família com o ingresso de mais um membro;

b) As dificuldades encontradas e como elas foram enfrentadas;

c) Inclusão do menor no ambiente escolar e em outros cursos;

d) Inserção social no restante da família e grupo de amigos;

e) Como lidam com o tratamento diferenciado pela sociedade e

familiares por terem um filho adotado;

f) Como tratam da saúde, e com os hábitos e costumes que a

criança possui;

g) A colocação de limites quanto ao comportamento de birras e

manhas feitas pelo adotando.

A psicóloga Cintia Liana, em seu artigo “Preparo, estágio de

convivência e adaptação”, resume o estágio de convivência como sendo:

O momento da adaptação é fundamental para o sucesso do vínculo porque acontece a integração de elementos de sentido e de significação que caracteriza a organização subjetiva de um âmbito da experiência dos sujeitos, ação construção, história, transações, trocas sociais e culturais como configurações subjetivas da personalidade. É um complexo de articulações e possibilidades contraditórias, processos de ruptura e renascimento, tudo deve ser visto com sensibilidade e não com um olhar determinista, universalista, as

43

coisas acontecem e tudo é bem vindo para que a relação tome sua própria forma e não uma forma mágica aprendida em livros de contos de fadas.

A criança quer se sentir amada, aceita como um novo membro da

família e não ser apenas um boneco de marionetes que deve seguir os

comandos de seu mestre. A partir do momento em que se sente segura, ela

passará a demonstrar que é digna de receber amor, carinho e confiança dos

futuros pais.

5.2. Dificuldades enfrentadas durante o estágio de convivência

A psicóloga Lidia Natália Dobriankyj Weber, em seu livro Aspectos

Psicológicos da Adoção, cita que tanto os pais como os filhos adotivos dizem

ter sentido dificuldades durante o processo de adaptação.

Os pais relataram que tiveram mais dificuldades nas questões relativas

a educação, pois as crianças um pouco maiores já possuíam um certo

discernimento e sabiam dizer não para algumas coisas e tentavam impor suas

vontades diante de questões que não estavam satisfeitas.

Entretanto, essas dificuldades também podem acontecer com um filho

biológico e corresponde às fases de desenvolvimento em que a criança está e

os pais não vivenciaram a experiência de serem pais desde o início, posto que

começaram sua jornada com crianças com vontades e opiniões.

Martha Caselli de Ferreyra alerta:

Para que os futuros pais saibam qual é a etapa evolutiva, com suas respectivas características, que a criança/adolescente que será adotado se encontra. Porque cada período da infância e da puberdade apresenta crises que nada tem a ver com o processo de adaptação.(1994, p.142-152)

44

Já com as crianças ocorreram diferentes tipos de reação,

demonstrações excessivas de afeto inicialmente e sucedidas por gestos e

comportamentos agressivos tanto em casa quanto na escola. Algumas

atitudes como voltar a tomar mamadeira, usar chupeta, fazer xixi na cama

também foram relatadas. Conforme evoluíam as relações esses

comportamentos deixavam de acontecer.

Esses comportamentos podem acontecer durante a fase de adaptação

da criança, de acordo com a psicóloga Margarete Gil:

O processo adaptativo passa por três estágios, no primeiro há a fase de encantamento, onde a criança se esforça para agradar aos pais. No segundo estágio há o medo de rejeição, então a criança entende que é melhor nem gostar desses pais, porque inconscientemente pensa que será abandonada. Ao invés de demonstrar amor faz tudo ao contrário, colocando em teste a família. Por último ocorre o estágio de integração, que pode ser precedido pela intercalação de progressões e regressões no comportamento da criança. Logo, os comportamentos regressivos é que permitem a vivência da maternagem inicial que lhe faltou. (1991,p.139-147)

Devido aos conflitos existentes durante o estágio de convivência,

muitos pais não preparados decidem devolvê-las. Esse é um fenômeno que

ocorre tanto nas adoções legais, como nas adoções “à brasileira”, sendo

motivo de preocupação constante na área do Direito e da Psicologia. Nas

palavras da psicóloga e psicanalista Maria Luiza De Assis Moura:

O tema adoção de crianças e adolescentes se insere no contexto das filiações que são propiciadas pela cultura. Esta contingência suscita mobilizações psíquicas específicas no âmbito familiar por tratar-se de experiências vividas relacionadas ao desamparo, ao abandono e à rejeição. Experiências bem sucedidas, é certo, são constituintes do panorama da adoção. No entanto, toda situação ligada à adoção remete ao originário e, como tal, refere=se ao mal estar estruturante da subjetividade. (2013 a).

Mestre em psicologia escolar e do desenvolvimento humano, no

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Maria Luiza

Ghirardi escreveu uma dissertação exatamente sobre a questão — A

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Devolução de Crianças e Adolescentes Adotivos sob a Ótica Psicanalítica

(2008):

No estudo, explicou que, muitas vezes, a criança adotada e a relação com ela são “supervalorizadas” pelos novos pais. Não se admite o surgimento de dificuldades, tão comuns em qualquer relação do gênero, o que leva a uma “decepção”. Na maioria dos casos, a devolução acontece quando o adotante detém a guarda provisória, mas o processo de adoção não está finalizado. Mas depois de encerrado o processo, ainda que rara, ela também pode acontecer. A devolução chama muito mais nossa atenção porque se constitui como uma experiência que reedita o abandono. É desse ângulo que se enfatiza que as consequências para a criança podem ser intensificadas em relação aos seus sentimentos de rejeição, abandono e desamparo.

Ainda sobre o tema, Ghirardi explicita:

A devolução da criança adotiva aponta para o insucesso de sua adoção e expressões de violência, rejeição e frustração são experimentadas por todos aqueles que de alguma maneira vivenciam o processo ligado à devolução, sejam os adotantes, a criança ou o profissional que, em sua prática depara-se com ela (2013)

A adoção é um ato jurídico do qual se origina ou se completa uma

família, com direitos e deveres estabelecidos e garantidos pelo Código Civil e

pela Constituição Federal.

Esse acórdão fala sobre a devolução de um filho adotivo:

Apelação Cível n. 2011.020805-7, de Gaspar Santa Catarina – 12.08.2011 Relator: Des. Joel Dias Figueira Júnior APELAÇÃO CÍVEL. PODER FAMILIAR. DESTITUIÇÃO. PAIS ADOTIVOS. AÇÃO AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. ADOÇÃO DE CASAL DE IRMÃOS BIOLÓGICOS. IRRENUNCIABLIDADE E IRREVOGABILIDADE DA ADOÇÃO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. RENÚNCIA DO PODER FAMILIAR. ADMISSIBILIDADE, SEM PREJUÍZO DA INCIDÊNCIA DE SANÇÕES CIVIS. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 166 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. PERDA DO PODER FAMILIAR EM RELAÇÃO AO CASAL DE IRMÃOS ADOTADOS. DESCONSTITUIÇÃO EM FACE DA PRÁTICA DE MAUS TRATOS FÍSICOS, MORAIS. CASTIGOS IMODERADOS, ABUSO DE AUTORIDADE REITERADA E CONFERIÇÃO DE TRATAMENTO DESIGUAL E DISCRIMINATÓRIO ENTRE OS FILHOS ADOTIVOS E ENTRE ESTES E O FILHO BIOLÓGICO DOS ADOTANTES. EXEGESE DO ART. 227, § 6º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL C/C ART. 3º, 5º, 15, 22, 39, §§ 1º, 2º E ART. 47, TODOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE C/C ART. 1.626, 1634, 1.637 E 1.638, INCISOS I, II E IV, TODOS DO CÓDIGO CIVIL.

46

MANUTENÇÃO DOS EFEITOS CIVIS DA ADOÇÃO. AVERBAÇÃO DO JULGADO À MARGEM DO REGISTRO CIVIL DE NASCIMENTO DOS MENORES. PROIBIÇÃO DE QUALQUER ESPÉCIE DE OBSERVAÇÃO. EXEGESE DO ART. 163, § ÚNICO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE C/C ART. 227, § 6º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DANO MORAL CAUSADO AOS MENORES. ILÍCITO CIVIL EVIDENCIADO. OBRIGAÇÃO DE COMPENSAR PECUNIARIAMENTE OS INFANTES. APLICAÇÃO DO ART. 186 C/C ART. 944, AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. JUROS MORATÓRIOS. MARCO INICIAL. DATA EM QUE A SEQUÊNCIA DE ILICITUDES ATINGE O SEU ÁPICE, MATIZADA, NO CASO, PELO ABANDONO DO FILHO ADOTADO EM JUÍZO E SUBSCRIÇÃO DE TERMO DE RENÚNCIA DO PODER FAMILIAR. EXEGESE DO ART. 398 DO CÓDIGO CIVIL EM INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA COM O ART. 407 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA. PERTINÊNCIA ENTRE O PEDIDO E O PRONUNCIADO. NECESSIDADE DE FLEXIBILIZAÇÃO E RELATIVIZAÇÃO DAS REGRAS PROCESSUAIS CLÁSSICAS EM SEDE DE DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. MITIGAÇÃO DA DISPOSIÇÃO CONTIDA NO ART. 460 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. VÍTIMAS QUE, NA QUALIDADE DE IRMÃOS BIOLÓGICOS E FILHOS ADOTIVOS DOS RÉUS MERECEM RECEBER, EQUITATIVAMENTE, A COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA PELOS DANOS IMATERIAIS SOFRIDOS. HIPOTECA JUDICIÁRIA. EFEITO SECUNDÁRIO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA. APLICAÇÃO DO ART. 466 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Conforme o ordenamento brasileiro a adoção é um ato irrevogável, ou

seja, após a sentença haver transitado em julgado o adotante não poderá se

arrepender de seu ato. Para evitar que os menores sejam devolvidos o Estatuto

da Criança e do Adolescente instituiu o estágio de convivência onde são

avaliadas e procurar sanar as incompatibilidades existentes entre adotante e

adotado. Segundo a psicoterapeuta Denise Mondejar, a adoção começa com a

fantasia de que não existirão problemas, que as crianças são educadas,

polidas,mas com o dia-a-dia vão se descobrindo os hábitos e costumes pré

existentes e a relação começa desmoronar, ficando difícil estabelecer um

relacionamento sincero e amoroso.

Com a irrevogabilidade da adoção pretende-se proteger os interesses

do menor, visto que o objetivo maior da adoção é proporcionar um lar e uma

47

família inexistente na vida pregressa do menor. Adoção é um ato de amor e

não de caridade.

5.2.1. Motivos apontados para a devolução de crianças adotadas

Os pretendentes à adoção alegam que o estágio de convivência é uma

burocracia desnecessária, pois consideram que todas as perguntas feitas, o

acompanhamento contínuo de psicólogos e assistentes sociais são

excessivamente cansativos e trazem pouco a acrescentar.

A falta de preparo e maturidade, o preconceito cultural e social

existente, a origem da criança, a insegurança dessas pessoas para assumirem

a responsabilidade de criar um filho são motivos que intensificam os conflitos

existentes e motivam a devolução dos menores.

Muitos pais, para justificar a desistência da adoção, se defendem

dizendo que fizeram de tudo, deram alimentação, educação, atenção, cuidaram

como se fossem seus próprios filhos, mas a criança não correspondia a toda

essa dedicação, era perversa, tinha gênio ruim, deveria ter puxado os pais

biológicos. Todos esses motivos são gerados por preconceitos presentes na

sociedade que impedem o adotante de compreender e aceitar as

individualidades de cada criança.

A desembargadora do Mato Grosso do Sul, Doutora Maria Isabel de

Matos Rocha cita em um artigo:

A problemática não é nova, é recorrente, e,como tal, poderia ser prevenida, se duas instâncias tivessem um olhar preocupado para tal questão: a sociedade e o Poder Público. Porém, não se vê a doutrina abordando tais questões nem os juristas se ocupam de analisar tais condutas para lhes atribuir tratamento jurídico diverso do que tem merecido, e mais garantidor dos interesses da criança e do adolescente.(2013)

48

Deveriam ser usados os mesmos parâmetros da adoção para que um

adotante devolva uma criança. É de suma importância que o Juiz rejeite

firmemente as devoluções, na maioria das vezes levianas e sem motivos e que

muitas vezes acontecem por egoísmo e individualismo do adulto que não tratou

da adoção como um assunto seríssimo.

Sobre o mesmo assunto acrescenta Ghirardi:

A compreensão das motivações dos pais adotivos para a devolução como saída para os impasses vividos na relação com o filho poderá iluminar importantes reflexões acerca da experiência de filiação por adoção. No âmbito judiciário, o estudo dos fenômenos que levam a ruptura da relação adotiva poderá auxiliar psicólogos e assistentes sociais a reconhecer, no processo de adoção, fatores de risco que se apresentem subestimados no processo de avaliação de candidatos a pais adotivos. (2013)

A intervenção de psicólogos, assistentes sociais, técnicos do poder

judiciário como também os juízes das varas de infância e adolescência

deveriam intervir de maneira a tentar reverter a devolução conversando e

ajudando os pais adotivos a refletir sobre o assunto buscando uma melhor

solução para este momento triste para ambas as partes.

49

6. CONCLUSÃO

O estágio de convivência é fundamental na identificação da família

adequada para o adotando e para construção do vínculo de amor, confiança e

respeito entre o adotando e o adotante. Para o seu sucesso é indispensável o

apoio de equipes multidisciplinares para orientar adotantes e adotados, pois na

maioria das vezes os envolvidos não possuem conhecimentos necessários

para conduzirem sozinhos este período de adaptação e avaliação.

No caso do filho biológico, os vínculos de amor e confiança se iniciam

na vida intrauterina e se fortalecem diariamente durante a formação da criança

e às vezes, como o de respeito, só se consolidam na fase adulta. Quanto maior

a idade do adotando, maior será o tempo necessário para estabelecer os novos

vínculos e romper os vínculos anteriores, uma vez que estes estarão mais

fortemente impressos e presentes na sua personalidade e comportamento.

O estágio de convivência é também uma oportunidade indispensável

para o adotante avaliar os reais motivos que o levaram a decisão da adoção e

de desmistificar algumas expectativas pessoais. A motivação deverá ser

sempre a do bem estar da criança e se, esgotadas as tentativas de adaptação

durante o estágio de convivência, concluir-se que isto não irá ocorrer, é

preferível interromper o processo de adoção a enfrentar o trauma do

cancelamento da adoção posteriormente ou mesmo prolongar uma insatisfação

mútua pelo resto de suas vidas.

Pelo exposto, somente um vínculo de amor, confiança e respeito pré-

existente e claramente evidenciado, poderá ser motivador da dispensa estágio

de convivência, sem contudo ser possível garantir que estes vínculos não

serão alterados em função dos direitos legais que o adotando passará a ter e

50

que podem alterar os vínculos pré-existentes, principalmente em relação aos

outros filhos se já existirem.

A complexidade do ser humano e de suas relações não nos permite

dizer que o estágio de convivência nos dará total segurança no processo de

adoção, mas com certeza é atualmente o melhor e indispensável instrumento,

principalmente quando adotantes e adotandos são auxiliados por equipes

multidisciplinares e isentas, mas comprometidas com o bem estar da criança.

51

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