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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde
Curso de Medicina Veterinária
Susanlay Pedroso de Moraes Mansur
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C.)
Curitiba
2006
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C.)
Curitiba
2006
Susanlay Pedroso de Moraes Mansur
RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Medicina veterinária, da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do Título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Drª. Rosária Tesoni de Barros Richartz
Orientador Profissional: Dr. Ronaldo Wanderlei Pizzo
Curitiba 2006
Reitor Profº Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profª Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de Planejamento e Avaliação Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profª Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Secretário Geral Profº Bruno Carneiro da Cunha Diniz Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Sa úde Profº João Henrique Faryniuk Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profª Neide Mariko Tanaka Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medic ina Veterinária Profª Elza Maria Galvão Ciffoni Metodologia Científica Profº CAMPUS CHAMPAGNAT Rua .Marcelino Champagnat, 505 - Mercês CEP 80.215-090 – Curitiba – PR Fone: (41) 3331-7958
ii
A P R E S E N T A Ç Ã O
Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de
Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de
Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio , no qual são descritas
as atividades realizadas durante o período de 01/08 a 18/10/2006, período este em
que estive na Secretaria Estadual de Saúde (SESA-PR), localizada no município de
Curitiba-PR cumprindo estágio curricular e também de uma Monografia que versa
sobre o tema: “ Resíduos de Antibióticos no Leite ”.
iii
Ao meu grande amor, FERNANDO, pelo carinho, pela
orientação, por sempre estar ao meu lado, e aos meus pais LUIS
ANTÔNIO e JEANETE, por nunca terem deixado de me
incentivar,
DEDICO
iv
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar gostaria de agradecer ao meu grande amor Fernando, por
nunca ter deixado de me incentivar e me orientar, por me amar, pela dedicação e
apoio nos momentos difíceis desta jornada.
Agradeço aos meus pais, Luis Antônio e Jeanete, e aos meus irmãos, Juliano
e Luciano, por sempre estarem ao meu lado, pelo amor, apoio, por terem me
proporcionado esta oportunidade, por terem me tornado essa pessoa que sou hoje.
Aos meus avós padrinhos, pelas conversas, pelos conselhos, pelo amor e por
tudo que representam em minha vida.
Gostaria de agradecer também aos meus amigos, Zé, Cris, Leonel, Cristiano
e Sheron por compartilharem comigo esta vitória. Ao meu amigão do peito, quase
“irmão”, Roger, pelas risadas, bebedeiras, piadas, pelas noites que passamos nos
divertindo, pelos churrascos e festas inacabáveis que duram até hoje. Agradeço à
todos os meus amigos de bebedeira nos finais de semana, por agüentarem as
piadas de mau gosto e as cretinices do Roger. Agradeço à todos os momentos que
passamos juntos, momentos estes que certamente terei muita satisfação e
saudades quando recordá-los, e espero que tenhamos muitos mais encontros
destes daqui pra frente.
Aos meus companheiros da faculdade, principalmente à Tracy, pena que não
nos conhecemos antes, mas nunca é tarde para descobrirmos uma longa e
verdadeira amizade, pelas aulas, pelos trabalhos, pelos momentos fáceis e outros
nem tão fáceis assim, momentos esses que terei saudades ao recordá-los.
Agradeço aos meus mestres, Ítalo, Rosária, França, Gasparetto, Elza,
Padilha, Ana Luisa, João Ari, Maia, Neide, Nocera, Roseli, Pedro Werner, Bronze,
Silvana, Uriel, Hartmann, Maria do Carmo, Antonio Carlos, Lucimeris, João Luis e
Valmir, por partilharem seus conhecimentos científicos, mas, mais que isso, seus
conhecimentos a respeito da vida, na tentativa nobre de formar Médicos Veterinários
e acima de tudo, cidadãos.
À Professora Maria do Carmo, pela orientação e à Professora Rosária, meus
sinceros agradecimentos por sua orientação e dedicação.
Muito obrigada, todos vocês foram e ainda são muito importantes para mim.
v
“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter
aquela velha opinião formada sobre tudo. Sobre o que é o amor,
sobre o que eu nem sei quem sou.
Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou, se hoje eu
te odeio amanhã lhe tenho amor, lhe tenho amor, lhe tenho
horror, lhe faço amor,eu sou um ator.
É chato chegar a um objetivo num instante, eu quero viver
essa metamorfose ambulante.”
Raul Seixas
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde
Curso de Medicina Veterinária
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
Curitiba
2006
Susanlay Pedroso de Moraes Mansur
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
Relatório de Estágio Curricular, apresentado ao Curso de Medicina veterinária, da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do Título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Drª. Rosária Tesoni de Barros Richartz
Orientador Profissional: Dr. Ronaldo Wanderlei Pizzo
Curitiba
2006
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde
Curso de Medicina Veterinária
RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE
Curitiba
2006
Susanlay Pedroso de Moraes Mansur
RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE
Trabalho de Monografia, apresentada ao Curso de Medicina veterinária, da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do Título de Médico Veterinário.
Professor Orientador: Drª. Rosária Tesoni de Barros Richartz
Orientador Profissional: Dr. Ronaldo Wanderlei Pizzo
Curitiba
2006
TERMO DE APROVAÇÃO
Susanlay Pedroso de Moraes Mansur
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Este Trabalho de Conclusão de Curso, o qual é composto por um Relatório de Estágio Curricular e uma Dissertação (Monografia), foi julgado e aprovado para a obtenção do Título de Médico Veterinário, no Programa (Curso) de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 20 de novembro de 2006.
____________________________________
Curso de Medicina Veterinária
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: Profª. Drª Rosária Tesoni de Barros Richartz
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Dr. José Maurício França
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Dr. Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade
Universidade Tuiuti do Paraná
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................................ iii LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. iv LISTA DE QUADROS ................................................................................................ v LISTA DE GRÁFICOS .............................................................................................. vi RESUMO.................................................................................................................. vii 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................1 2 VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO BRASIL E NO MUNDO ..........................................2 2.1 HISTÓRICO .........................................................................................................2 2.2 A AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) - ATUALMENTE ...........................................................................................................5 2.2.1 Competências .................................................................................................25 2.2.2 Ações sobre o Meio Ambiente.........................................................................26 2.2.3 Circulação de Bens – Produtos Relacionados à Saúde ..................................29 2.2.4 Produção – Serviços de Saúde .......................................................................32 2.2.5 Vigilância Sanitária do Trabalho......................................................................36 3 ESTÁGIO ..............................................................................................................39 3.1 INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS .....................................................................40 3.2 REGIONAIS DE SAÚDE ....................................................................................41 3.2.1 Regionais de Saúde do Paraná e seus Municípios .........................................41 3.3 EQUIPE TÉCNICA E INFRA-ESTRUTURA.......................................................54 3.4 DINÂMICA DE TRABALHO................................................................................54 4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS .........................................................................56 5 PROGRAMA LEITE DAS CRIANÇAS .................................................................59 6 PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS EM ALIMENTOS (PARA) ...............................................................................................61 7 PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (DTA) ..........................................................................Erro! Indicador não definido. 7.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS ...........................Erro! Indicador não definido. 7.1.1 Quanto à Notificação de Surtos de DTA.............Erro! Indicador não definido. 7.1.2 Quanto a Investigação de Surtos de DTA ..........Erro! Indicador não definido. 7.1.3 Quanto a Conclusão do Surto de DTA ...............Erro! Indicador não definido. 8 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA QUALIDADE SANITÁRIA DE ALIMENTOS ...............................................................Erro! Indicador não definido. 9 PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS VETERINÁRIOS NOS ALIMENTOS (PAMVET) ........Erro! Indicador não definido. 10 CONCLUSÕES ......................................................Erro! Indicador não definido. REFERÊNCIAS ...........................................................Erro! Indicador não definido. ANEXOS .....................................................................Erro! Indicador não definido.
ii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos-
(PARA)-PR-3º Ano-2003/2004...................................................................................41
TABELA 2 – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos-
(PARA)-PR-4º Ano-2005/2006...................................................................................41
iii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA)..............................20
FIGURA 2 – Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos..............................21
FIGURA 3 – Mapa do Estado do Paraná e suas Regionais de Saúde......................22
iv
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – 1ª Regional de Saúde-Paranaguá.........................................................23
QUADRO 2 – 2ª Regional de Saúde-2º Regional Metropolitana.................................23
QUADRO 3 – 3ª Regional de Saúde-Ponta Grossa....................................................24
QUADRO 4 – 4ª Regional de Saúde-Irati....................................................................24
QUADRO 5 – 5ª Regional de Saúde-Guarapuava......................................................25
QUADRO 6 – 6ª Regional de Saúde-União da Vitória.................................................25
QUADRO 7 – 7ª Regional de Saúde-Pato Branco......................................................25
QUADRO 8 – 8ª Regional de Saúde-Francisco Beltrão..............................................26
QUADRO 9 – 9ª Regional de Saúde-Foz do Iguaçu...................................................27
QUADRO 10 – 10ª Regional de Saúde-Cascavel.......................................................27
QUADRO 11 – 11ª Regional de Saúde-Campo Mourão.............................................28
QUADRO 12 – 12ª Regional de Saúde-Umuarama....................................................28
QUADRO 13 – 13ª Regional de Saúde-Cianorte.........................................................29
QUADRO 14 – 14ª Regional de Saúde-Paranavaí......................................................29
QUADRO 15 – 15ª Regional de Saúde-Maringá.........................................................30
QUADRO 16 – 16ª Regional de Saúde-Apucarana.....................................................31
QUADRO 17 – 17ª Regional de Saúde-Londrina........................................................32
QUADRO 18 – 18ª Regional de Saúde-Cornélio Procópio..........................................32
QUADRO 19 – 19ª Regional de Saúde-Jacarézinho...................................................33
QUADRO 20 – 20ª Regional de Saúde-Toledo...........................................................33
QUADRO 21 – 21ª Regional de Saúde-Telêmaco Borba............................................34
QUADRO 22 – 22ª Regional de Saúde-Ivaiporã.........................................................34
QUADRO 23 – (PAMvet)-Cronograma das Atividades desde a Implantação em
2003............................................................................................................................52
v
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Percentual de Amostras Coletadas no Paraná em 2001/2002............40
vi
RESUMO
O objeto deste Relatório de Estágio Obrigatório Supervisionado é demonstrar como a Vigilância Sanitária supervisiona e avalia as ações de controle sanitário, principalmente dos alimentos, mas também em todos os campos onde ela atua. Ressalta, de uma maneira simples, alguns dos Programas de controle sanitário que estão sendo desenvolvidos pelo Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos da Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, sendo estes, os Programas de Análises de Resíduos de Agrotóxicos e de Medicamentos Veterinários nos Alimentos, o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Alimentos Produzidos no Estado do Paraná, o Programa Leite das Crianças e o Programa de Notificação e Investigação de Doenças Transmitidas por Alimentos.
vii
1 INTRODUÇÃO
A Vigilância Sanitária é um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou
prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio
ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse
da saúde. Sendo assim, a Vigilância da Saúde é o modelo assistencial voltado para
a superação da divisão entre as chamadas práticas coletivas (vigilância
epidemiológica e sanitária) e as práticas individuais (assistência ambulatorial e
hospitalar).
O sucesso das ações e medidas voltadas para o bem estar geral de uma
população, de forma preventiva ou curativa, se contempla mediante o envolvimento
de profissionais de áreas como a engenharia, a biologia, a medicina e também a
medicina veterinária, onde cada ciência é responsável por demandar frações de
envolvimento técnico para, em conjunto, serem capazes de proteger a população
das pressões e riscos que o meio atual proporciona.
A divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos se preocupa com os alimentos
de maneira generalizada. Mais do que nunca é necessário manter a fiscalização
sobre as mais variadas formas de produção destes alimentos, como também, no seu
armazenamento, fiscalizar a sanidade dos animais de consumo, satisfazendo suas
exigências nutricionais e controlando riscos de contraírem doenças, na inspeção das
técnicas mais seguras de abate, na otimização das tecnologias de produção in
natura e sub-produtos industrializados, assegurando-os de contaminação,
fiscalização de entrepostos e postos comerciais, certificando enfim, que estes
alimentos estão sendo conservados e disponibilizados ao consumidor com
segurança.
Este Relatório tem como objetivo demonstrar como o Departamento de
Vigilância Sanitária de Alimentos supervisiona e coordena as ações de controle
sanitário do Programas relacionados aos alimentos que estão em desenvolvimento
no Estado do Paraná.
2 VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO BRASIL E NO MUNDO
2.1 HISTÓRICO
As atividades ligadas à Vigilância Sanitária surgiram de uma necessidade
decorrente da propagação de doenças transmissíveis nos agrupamentos urbanos,
que aumentavam em população e não em suas condições sanitárias básicas.
Na antiguidade, a literatura médica clássica grega continha inúmeras
referências a graves dores de garganta que muitas vezes terminavam em morte, e
com apenas descrições simples de sintomas, é possível incluir a Difteria entre essas
formas.
Na Idade Média, surgiram formas de proteção ao consumidor, em virtude da
crença difusa que perigosos focos de doença poderiam surgir, rapidamente em
lugares de venda de alimentos, havendo um grande cuidado em se manter o
mercado limpo. Por essa razão, as autoridades municipais se preocupavam em
policiar a praça do mercado e em proteger os cidadãos contra a venda de alimentos
adulterados ou deteriorados.
Algumas medidas como a inspeção das embarcações e de suas cargas,
especialmente quando infectadas ou suspeitas, colocando-se o passageiro sob
regime de quarentena nos lazaretos, visando barrar a entrada da peste nessa
cidade, foram tomadas no principal porto da Europa para a chegada de mercadorias
vindas do Oriente na época, o de Viena, no século XIV, e depois por outros portos
como medida de prevenção da entrada de doenças, iniciando a vigilância dos
portos.
Uma das primeiras medidas adotadas no Brasil foi a polícia sanitária do
Estado, que observava o exercício de algumas atividades profissionais e fiscalizava
embarcações, cemitérios e áreas de comércio de alimentos.
Com a descoberta nos campos da bacteriologia e terapêutica no período
compreendido entre as I e II Grandes Guerras Mundiais, houve a necessidade de
reestruturação da Vigilância Sanitária (VISA). Com a reestruturação neste período e
o crescimento econômico apresentado no Brasil, as atribuições da VISA cresceram.
No começo da década de oitenta, a VISA tomou o rumo que ela é hoje e, com
a participação popular, passou a administrar as atividades concebidas para o Estado
como papel de guardião dos direitos do consumidor e provedor das condições de
saúde da população. E com o surgimento da ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) as vigilâncias estaduais e municipais vêm se organizando, para
cuidar de todas as áreas que foi atribuído os seus serviços.
A Vigilância Sanitária é a forma mais complexa de existência da Saúde
Pública, pois suas ações, de natureza eminente preventiva, perpassam todas as
práticas médico-sanitárias.
O termo vigilância sanitária tem sua origem na denominação “polícia
sanitária”, que a partir do século XVIII era responsável, entre outras atividades, pelo
controle do exercício profissional e o saneamento, com o objetivo maior de evitar a
propagação de doenças.
A partir do reconhecimento do novo papel do Estado no contexto da saúde,
consagrado pela Constituição de 1988, elaborou-se a Lei n° 8.080 de 19/09/1990,
cujo artigo 1° refere-se que:
“Esta Lei regula em todo território nacional, as ações e serviços de saúde,
executados isolados ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por
pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado”.
A definição de vigilância sanitária está contida em seu artigo 6°, parágrafo 1°:
“Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar,
diminuir ou prevenir riscos à saúde e intervir nos problemas sanitários decorrentes
do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de
interesse da saúde, abrangendo:
I – o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se
relacionam com a saúde, compreendidas todas as etapas e processo, da produção
ao consumo; e,
II – o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou
indiretamente com a saúde”.
Deve-se destacar que a saúde do trabalhador, também, está contemplada
sob a égide da vigilância sanitária, tal como expresso no parágrafo 3° do mesmo
artigo:
“Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta Lei, um conjunto de
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como
visa à recuperação e a reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos
riscos e agravos advindos das condições de trabalho...”
De acordo com o exposto poder-se-ia definir a vigilância sanitária como o:
“Conjunto de medidas que visam a elaboração, a aplicação, o controle e a
fiscalização, respeitada a legislação pertinente, de normas e padrões de interesse
da saúde individual e coletiva, relativas ao ambiente, produtos, serviços e trabalho”.
Apesar da clareza dos termos expressos na Constituição Federal de 1988 e
da própria Lei n° 8.080, ainda não foi possível con statar qualquer aperfeiçoamento
expressivo na atuação dos Estados e Municípios brasileiros no que se refere à
saúde de modo geral, e muito menos em relação ao controle higiênico-sanitário dos
alimentos. Na realidade, há uma carência crônica de serviços dessa natureza na
grande maioria dos Municípios do país, o que compromete seriamente a segurança
alimentar, a qual por sua vez constitui relevante fator de morbidade para a saúde
pública.
Por outro lado, o país não conseguiu até o momento criar um amplo e
eficiente sistema de vigilância epidemiológica, capaz de identificar as principais
doenças de origem alimentar, mensurar seu alcance, determinar suas origens e
averiguar os grupos de pessoas mais suscetíveis, possibilitando a difusão de
informações e estabelecendo planos no âmbito nacional, propondo medidas de
controle capazes de minimizar os riscos decorrentes. As causas deste problema
estão alicerçadas no sistema político da vigilância sanitária, notadamente na área de
alimentos, ao lado de outras ineficiências no campo da saúde pública.
Em função desse estado de coisas, a Secretaria de Vigilância Sanitária, no
ano de 1988, sofreu dois episódios marcantes que atestaram as dificuldades do
setor público em controlar, no caso, a indústria de medicamentos. Assim, a Schering
do Brasil, Química e Farmacêutica Ltda, colocou à venda 650 mil cartelas do
anticoncepcional Microvlar, fabricadas a partir de 1,2 toneladas de composto de
lactose e açúcar. O teste para embalagem foi feito com pílulas da mesma cor do
remédio original, utilizando cartelas também iguais e, ainda mais grave, com a bula
inserida dentro da caixa. No mesmo ano, foi denunciada a fabricação e distribuição
no mercado nacional de remédio falsificado – o Androcur, indicado para pacientes
portadores de neoplasias prostáticas - fabricado pela Botica ao veado D´Ouro Ltda.
Em especial, neste último caso, a falta de um sistema organizado de fármaco-
vigilância, seguramente retardou a descoberta da fraude. Nos dois eventos,
registraram-se ações de indenização, tanto das mulheres que engravidaram
involuntariamente quanto das famílias cujos homens, submetidos ao tratamento com
o Androcur falsificado, morreram vítimas do câncer.
Ambos episódios precipitaram a alteração do status quo e contribuíram para a
substituição da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, com
função predominantemente cartorial, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
cujo objetivo primordial é criar uma burocracia estável para o setor da saúde.
Assim, em Janeiro de 1999, foi promulgada a Lei n° 9.782, que define o
Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e cria a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, cujo artigo 1° refere-se:
“O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária compreende o conjunto de ações
definido pelo parágrafo 1° do artigo 6° e pelos art igos 15 a 18 da Lei n° 8.080 de
19/09/1990, executado por instituições da Administração Pública direta e indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que exerçam atividades de
regulação, normatização, controle e fiscalização na área de vigilância sanitária”.
Deste modo, a vigilância sanitária, passou a contar com uma estrutura legal
que respalda as ações oriundas do poder público, sempre pautadas pela promoção
da saúde e coletividade.
2.2 A AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) -
ATUALMENTE
No início de 1999, a criação da ANVISA, no âmbito do Ministério da Saúde,
como agência reguladora, caracterizada pela independência administrativa,
estabilidade de seus dirigentes enquanto perdurarem seus mandatos e autonomia
financeira provocou verdadeira confusão nos órgãos estaduais e municipais da
saúde, devido à necessidade de promover a reestruturação dos serviços de
vigilância sanitária, adequando-os à nova política federal. De fato isto está sendo
possível nos Estados e Municípios que já contavam com serviços organizados,
anteriores à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, sendo incipiente o número de
municípios capazes de implantar e manter serviços de envergadura no cenário
nacional. A partir do momento em que o próprio SUS (Sistema Único de Saúde)
encontra sérias dificuldades, geralmente nas regiões mais desfavorecidas
economicamente, o que se pode esperar em termos de uma vigilância sanitária
operante e eficiente?
É claro que, apesar das dificuldades existentes a criação da ANVISA foi um
passo muito importante para a saúde pública, notadamente na área de alimentos,
onde o comercio varejista, cada vez maior, é exercido sem os menores cuidados de
segurança, sobretudo nas periferias das grandes cidades, e naqueles municípios
sem qualquer tipo de ação sanitária por parte do poder público.
Quando se aborda o tema vigilância sanitária, imediatamente, tem-se a idéia
de fiscalização e suas inevitáveis conseqüências. Todavia, a ação do poder público
é de capital importância, pois objetiva diminuir os riscos de transmissão de doenças
por produtos alimentícios de má qualidade higiênico-sanitária.
Segundo Germano, os princípios que norteiam a Agência, no nível federal, e
suas congêneres nos Estados e municípios, em particular na área de alimentos, são
indiscutíveis. Porém, ao lado do trabalho coercitivo, fundamental por causa dos
enormes riscos à sociedade, é imprescindível o papel educativo que estes órgãos
têm de desenvolver, com a finalidade de orientar, de um lado os que trabalham
oferecendo produtos e do outro aqueles que consomem.
Assim, para auxiliar a ANVISA estão integrados: O Instituto Nacional de
Qualidade de Saúde (INCQS), a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), os
Laboratórios Centrais de Saúde Pública, as Secretarias Estaduais de Saúde, os
Centros de Vigilância Sanitária Estaduais, as Secretarias Municipais e os Centros
Municipais de Saúde.
2.2.1 Competências
Dentre as diferentes competências atribuídas à vigilância sanitária, apoiadas
nos documentos legais, podem-se destacar:
• Ações sobre o meio ambiente: edificação e parcelamento do solo, saneamento,
saúde ambiental e, piscinas;
• Circulação de bens – produtos relacionados à saúde: medicamentos, alimentos,
cosméticos, correlatos, saneantes domissanitários e agrotóxicos e, águas
minerais e de fontes;
• Produção – serviços de saúde, odontológico, clínico-terapêutico, médico-
hospitalar, radiação e, hemoterapia;
• Vigilância sanitária do trabalho: análise e risco, orientação e organização n
trabalho e, condutas de trabalho no serviço público.
2.2.2 Ações sobre o Meio Ambiente
2.2.2.1 Objetivos
• Saneamento do meio à promoção da saúde pública e prevenção da
ocorrência de condições ambientais desfavoráveis, decorrentes do uso e
parcelamento do solo, das edificações, de piscinas e dos sistemas coletivos
de saneamento básico dos logradouros públicos;
• Controle dos efeitos na saúde individual ou coletiva decorrentes do processo
produtivo, no ambiente de trabalho ou fora dele;
• Licenciamento e cadastramento de estabelecimentos, habitações, locais e
entidades abrangidas no campo de atuação do Município;
• Aprovação de projetos e de obras em geral, em complementação às ações do
Município.
2.2.2.2 Ações e Comentários
• Estabelecimentos prestadores de serviços de assistência médica; lavanderias,
barbearias e afins; estabelecimentos veterinários e, escolas.
É o caso da necessidade de reforme de um hospital onde a lavanderia, o
necrotério, a cozinha e o depósito de lixo, são contíguos e utilizam acesso comum,
para facilitar a entrada e saída de veículos no pátio externo.
Esta situação não pode ser tolerada, considerando os riscos que pode
acarretar à cozinha, às instalações, ao pessoal e aos próprios alimentos.
A edificação de uma escola deve atentar, especialmente, para a adequação
das instalações considerando: ventilação e iluminação das salas de aula, escadas,
proteção nas janelas dos andares mais elevados, instalações sanitárias e refeitórios
para merenda, entre outros.
A preocupação com lavanderias e tinturarias diz respeito, principalmente, ao
escoamento de águas sujas, com resíduos de sabão, resultantes da lavagem das
roupas e outros tecidos, aos produtos químicos empregados na limpeza a seco, e,
restos de substâncias de tingimento.
Nestas circunstâncias, a falta de uma rede de esgoto adequada, muitas
vezes, provoca o lançamento direto dessas águas nas vias públicas ou mesmo em
córregos das proximidades, contribuindo para a poluição e a contaminação
ambiental. O mesmo problema pode ser apontado para as barbearias e
cabeleireiros, onde a água proveniente dos diferentes procedimentos de trabalho,
além de contaminadas e com resíduos químicos, são ricas em cabelos e pêlos
provenientes de cortes e das depilações, o que favorece o entupimento de pias e da
própria rede de esgoto.
• Estabelecimentos industriais, comerciais e de trabalho, cemitérios, necrotérios e
velórios;
Em relação aos estabelecimentos industriais ou comerciais é importante
avaliar a segurança dos mesmos em relação aos trabalhadores e aos consumidores,
instalações fiscais, incluindo sistemas elétrico, hidráulico e de fornecimento de gás.
Um exemplo de recordação é o do Shopping Center de Osasco que teve parte de
sua estrutura destruída, com vítimas fatais, em razão de uma explosão por
vazamento de gás.
A localização de um cemitério é muito importante, devendo-se atentar para o
tipo de inclinação do solo, localização dos lençóis freáticos e até mesmo para os
acessos.
• Habitações e anexos, construções e reformas de prédios, hotéis, motéis,
pensões e afins, acampamentos e estâncias, locais de reunião, lazer, religião,
esportes;
Um encontro de adeptos de uma seita religiosa em um ginásio de esportes
deve considerar a capacidade das instalações para receber a número previsto de
fiéis, as saídas de emergência, as instalações sanitárias, os fornecedores de
bebidas e lanches. Além do estacionamento para ônibus e automóveis, bem como
vias de acesso e saídas.
As estâncias e os hotéis-fazenda estão em moda na atualidade, devem ser
supervisionados, além dos itens referentes à segurança e higiene das instalações, aí
incluídos os refeitórios e cozinhas, as piscinas, principalmente no que tange a
qualidade e tratamento da água à disposição dos usuários.
• Água, esgoto, lixo, resíduos, vetores e animais sinantrópicos;
Merece destaque a captação de água de abastecimento, seu tratamento e
distribuição. A coleta e destinação de resíduos e do lixo constituem fatores de
importância para o saneamento do município, notadamente em relação aos
problemas de degradação da paisagem, maus odores e proliferação de insetos e
roedores.
Dentre os animais sinantrópicos, os quais são aqueles que transmitem
doenças ao homem, destacam-se três grandes grupos. Os morcegos, cujo risco de
transmitir a raiva para o homem, entre outras doenças, deve ser considerado como
alto, e que acarretam prejuízos às habitações, utilizando frestas e vãos para se
abrigar durante o dia, defecando e urinando nos forros das casas, provocando maus
odores e degradação das instalações. Os pombos que, também, causam problemas
com os excrementos, sendo seu acúmulo responsável pelo afundamento e mesmo
ruptura dos forros das casas ou de igrejas, por outro lado, as fezes destes animais
podem veicular agentes de doenças para o homem, por exemplo, criptococose e
enteroparasitoses. Os roedores que constituem problema crônico de centros
urbanos onde lixo, água e abrigo são encontrados por todos os lados, além de
prejuízos econômicos, causados pelo hábito de roer desde sacarias de alimentos até
fios elétricos de alta tensão, são responsáveis em saúde pública pela transmissão
da leptospirose, através da urina, e suas pulgas podem veicular a peste ao homem e
aos animais, notadamente os gatos.
Em relação aos vetores, especificamente, devem ser consideradas todas as
medidas de saneamento capazes de impedir a proliferação de insetos de modo
geral. Dentre os vetores de maior importância destacam-se os mosquitos,
transmissores da leishmaniose, da dengue e da febre amarela. O combate dos
vetores passa, além das medidas concernentes ao saneamento, pela educação da
população, principalmente no que se refere ao acúmulo de coleções líquidas a céu-
aberto, as quais constituem locais ideais para criadouro desses artrópodes.
2.2.3 Circulação de Bens – Produtos Relacionados à Saúde
2.2.3.1 Objetivos
• Fiscalização do exercício das profissões relacionadas à produção e
comercialização de medicamentos, alimentos, águas minerais, cosméticos,
saneantes domissanitários, correlatos e de outros produtos de interesse da
saúde;
• Fiscalização das entidades e dos estabelecimentos que os produzem,
comercializam, distribuem, armazenam e, ou, aplicam;
• Licenciamento e cadastramento dos profissionais, estabelecimentos e entidades
que os produzem, comercializam e, ou, aplicam;
• Controle, em consonância com a Vigilância Epidemiológica, dos efeitos desses
produtos.
2.2.3.2 Ações e Comentários
• Medicamentos, matérias-primas, drogas, dietéticos e embalagens; exercício da
farmácia e ocupações afins;
A vigilância do comércio de medicamentos, principalmente, no que se refere à
possibilidade de falsificação, violação das embalagens com alteração do conteúdo e
vencimento do prazo de validade. Nas farmácias que oferecem produtos
manipulados, a responsabilidade da vigilância é ainda maior, notadamente no que
tange a qualidade das matérias-primas, a manipulação e a formulação do produto
final. Neste exemplo, é importante destacar que o Município pode recorrer ao auxílio
dos laboratórios de saúde pública, integrantes do Sistema de Saúde, sem ônus
maiores para a administração pública local, com a finalidade de confirmar ou não
suspeitas levantadas quando da fiscalização do estabelecimento responsável pela
elaboração da fórmula. Do mesmo modo, é da competência da vigilância a
fiscalização do exercício profissional dos responsáveis por estes estabelecimentos.
Neste contexto, também é muito importante a preocupação da vigilância
sanitária com os denominados produtos dietéticos, responsáveis por muitos
atendimentos de urgência com crianças diabéticas. O fato de ser dietético não
significa ausência de açúcar – uma redução de 10% do teor de açúcar pode
caracterizá-lo como tal – e o rótulo, ao omitir esta informação, pode induzir ao
consumidor a adquirir o produto e fornece-lo a diabéticos gerando conseqüências
desastrosas para os portadores da doença.
Há que citar, ainda, o problema com a “manipulação-artesanal” feita nos
domicílios de pessoas que buscam renda alternativa para complementar o salário. A
pessoa conhece, por exemplo, uma fórmula muito antiga para combater a acne,
preparada a partir de plantas de uma região diametralmente oposta a que reide,
mesmo assim parte para a sua preparação, substituindo alguns dos ingredientes
originais por outros sem comprovada eficácia. O resultado de sua aplicação constitui
um risco à saúde dos futuros consumidores, podendo-se observar desde ausência
de efeito até choque anafilático de pessoas alérgicas aos princípios da “fórmula”.
• Alimentos e similares, matérias-primas, alimentos in natura, embalagens,
profissões e ocupações.
Os alimentos são outra preocupação da vigilância sanitária. Mais do que
nunca é necessário manter a fiscalização sobre os estabelecimentos que
comercializam alimentos industrializados e in natura, bem como aqueles que servem
refeições comerciais ou industriais. Supermercados, açougues, mercearias,
peixarias, avícolas, frutarias e feiras-livres, entre outros, devem obedecer a regras e
padrões previstos em leis e decretos, no âmbito dos três níveis da administração
pública. O mesmo se aplica para refeitórios de indústrias, creches e escolas; ou para
restaurantes, bares, lanchonetes, fast-food, padarias e sorveterias, entre outros. A
adequação, a conservação e a higiene das instalações e dos equipamentos, os
responsáveis técnicos pelos estabelecimentos, a origem e a qualidade das matérias-
primas e o grau de conhecimento e preparo dos manipuladores são imprescindíveis
para garantir a segurança dos alimentos.
As matérias-primas, principalmente as de origem animal, como carne, leite e
ovos têm de ser provenientes de distribuidores idôneos e fiscalizados pelos Serviços
de Inspeção Federal ou Estadual. Produtos clandestinos expõem a população a
grandes riscos de contrair doenças de caráter zoonótico (comuns entre o homem e
os animais), destacando-se entre elas a tuberculose, a cisticercose e a salmonelose.
Do mesmo modo, a vigilância deve exercer, nos estabelecimentos que
trabalham com alimentos, a fiscalização em relação à qualidade e prazo de validade
dos produtos estocados; à integridade e adequação das embalagens, bem como às
condições de higiene e sanidade do pessoal.
Na área de alimentos, a preocupação com a “manipulação-artesanal” e com
os vendedores ambulantes deve ser uma constante e sua fiscalização intensa, pois,
na maior parte das vezes, as matérias-primas utilizadas por essas pessoas são de
qualidade duvidosa e suas condições de higiene são muito precárias. O pior de tudo
é que a população utiliza estes serviços, com a falsa crença de que sendo
“alimentos-caseiros” a qualidade é superior à dos estabelecimentos comerciais. A
situação econômica do país e o desemprego têm favorecido a proliferação desse
tipo de comércio em todos os centros urbanos.
• Cosméticos, produtos de toucador e de higiene pessoal, perfumes e similares,
embalagens; profissões e ocupações;
Como já apontado para os medicamentos, de maneira geral, valem as
mesmas considerações, destacando-se a importância da procedência dos produtos,
embalagens, rótulos e dos responsáveis pela fabricação dos mesmos.
• Correlatos: produtos dietéticos, óticos, de acústica, odontológicos e outros;
profissões e ocupações;
Estão incluídos neste contexto os aparelhos para corrigir deformações e
desvios da arcada dentária, pontes e próteses, dispositivos para melhorar a
capacidade auditiva de pessoas com deficiência de audição, óculos e lentes de
contato para correção de defeitos da visão e, demais produtos ou equipamentos que
tenham a finalidade de aumentar o desempenho físico de portadores de deficiências.
O principal papel da vigilância é o de fiscalizar os responsáveis pela fabricação
desses produtos, impedindo que os incautos sejam lesados por propaganda
enganosa ou até mesmo por equipamentos prejudiciais à saúde.
São, por exemplo, os óculos sem precisão de grau “próprios-para-leitura” ou
“para-ver-ao-longe”, vendidos em qualquer tipo de loja, as lentes de contato
oferecidas por pessoas sem treinamento adequado, entre outros.
Dentre os produtos dietéticos, consumidos largamente por pessoas com
tendência à obesidade, por obesos e diabéticos, há que se fiscalizar
permanentemente para se evitar que os consumidores paguem caro por algo que
não atende às especificações. É o caso de determinada marca de água mineral que
na garrafa colocou um pequeno rótulo com a palavra “diet”, a fim de “levar-
vantagem” em relação à concorrência, caso típico de propaganda enganosa.
• Saneantes domissanitários e agrotóxicos, profissões e ocupações;
É muito comum ver-se nos centros urbanos e suas periferias, caminhões
carregados de tambores contendo produtos químicos para limpeza doméstica.
Vendem água sanitária, detergentes e desinfetantes para diversos tipos de uso.
Contudo, nenhum destes produtos passou por qualquer inspeção dos órgãos
públicos. Não se conhece sua composição, sua eficácia e o quanto podem causar
de riscos à saúde, devido a sua ação corrosiva. Geralmente, são produtos
provenientes de “manipulação-artesanal”, fabricados sem o aval de um químico
responsável.
Os agrotóxicos, por outro lado, constituem um problema importante de saúde
pública, pois são largamente utilizados tanto nos produtos agrícolas, para combater
as pragas, quanto nos animais destinados ao abate, para controlar moscas e
carrapatos. Existem inúmeros produtos que estão proibidos para uso em alimentos,
devido ao risco dos resíduos tóxicos. É aqui que a vigilância deve entrar em ação
investigando se os alimentos comercializados nos estabelecimentos varejistas
contêm resíduos de tóxicos condenados, dentre eles os mercuriais e o DDT.
Novamente, surge a necessidade de acionar a rede de laboratórios integrantes do
Sistema de Saúde para confirmar ou refutar as suspeitas.
• Águas minerais, de fonte e potáveis de mesa;
A vigilância deve estar atenta para a idoneidade das águas minerais
distribuídas para o consumo da população, verificando a origem, composição,
rótulos e responsáveis técnicos. Por outro lado, deve zelar pela qualidade das fontes
existentes no município, notadamente no que se relaciona com o risco de
contaminação e, ou, poluição dos lençóis freáticos. O controle de qualidade deve ser
executado, periodicamente, pela vigilância utilizando os recursos dos laboratórios da
rede pública, integrantes do Sistema de Saúde.
2.2.4 Produção – Serviços de Saúde
2.2.4.1 Objetivos
• Fiscalização do exercício das profissões relacionadas à saúde e dos
estabelecimentos de serviços médico-hospitalares, clínicos, diagnósticos,
preventivos ou terapêuticos e outros;
• Fiscalização do exercício profissional de odontologia, das profissões e dos
estabelecimentos de prestação desses serviços;
• Fiscalização e controle da dispensa e do uso de medicamentos controlados nos
estabelecimentos sujeitos à fiscalização;
• Fiscalização e controle do emprego de radiações;
• Fiscalização e controle dos órgãos executores de atividade homoterápica,
hemodiálise e diálise peritonial;
• Licenciamento e cadastramento dos profissionais, estabelecimentos e entidades
prestadoras de serviços à saúde.
2.2.4.2 Ações e Comentários
• Hospitais, pronto-socorros, ambulatórios, clínicas especializadas, casas de
repouso para idosos e excepcionais e entidades afins;
A vigilância tem de fiscalizar todos os serviços de atenção à saúde, suas
condições e o nível técnico do pessoal especializado. Verificar se o hospital ou o
pronto-socorro contam com médico plantonista dia e noite, ou se após determinado
horário este é substituído por pessoal de enfermagem ou estagiários ainda não
graduados.
O mesmo se aplica para as clínicas especializadas, principalmente os centros
de estética, com práticas de rejuvenescimento à base de injeções subcutâneas
tóxicas para diminuir rugas, como por exemplo, a toxina botulínica. No momento, os
centros destinados a emagrecimento proliferam intensamente, e procedimentos de
lipoaspiração, utilizados para eliminar gorduras indesejáveis, apesar de bastante
procurados, nem sempre são bem sucedidos, tendo sido registrados acidentes, em
que as vítimas entraram em coma e apresentaram, posteriormente seqüelas
nervosas graves, além de óbitos. A utilização de hormônios anabolizantes, para
proporcionar maior massa muscular aos “atletas” constitui outra prática comum. De
qualquer modo, compete à vigilância sanitária a averiguar as condições desses
estabelecimentos, sobretudo sua capacidade operacional para intervir nos casos de
urgência, bem como a capacitação dos profissionais envolvidos, particularmente o
pessoal da área médica, indispensável para a realização dos procedimentos
terapêuticos e cirúrgicos.
Com relação às casas de idosos e serviços para excepcionais aplica-se o
mesmo raciocínio e a vigilância deve atentar, para os aspectos relacionados às
instalações, para sua funcionalidade e higiene, para os cardápios prescritos aos
internados, bem como se os mesmos foram estabelecidos por um nutricionista.
Nestes serviços é imprescindível no mínimo, a visitação assídua de médico
especialista e a manutenção de um corpo de enfermagem à disposição dos
pacientes.
Em todos estes estabelecimentos, exige-se um responsável que possa
responder por todas as ocorrências registradas.
• Atividades diagnósticas ou terapêuticas: laboratórios ou institutos, fisioterapia e
massagens, endoscopia e entidades afins;
Trata-se de contexto muito importante para o qual a vigilância deve estar
atenta. Em relação aos laboratórios de análises clínicas, recentemente no município
de São Paulo amostras de fezes contendo parasitas intestinais foram submetidas a
vários laboratórios obtendo-se diferentes resultados, desde negativos até acusando
parasitas inexistentes na amostra original. Em outro caso, também em São Paulo,
“amostra de refrigerante (Guaraná)”, foi recebida como urina tendo sido emitido
resultado completo do exame, como se houvesse sido analisada uma amostra
verdadeira. Essas situações são muito graves, pois demonstram o descaso de
alguns laboratórios, ao tratar as amostras recebidas para análise. Daí a necessidade
de controle periódico dessas instituições e avaliação de seu pessoal técnico e seus
responsáveis.
A mesma preocupação se aplica aos serviços de fisioterapia e de massagens,
onde a qualificação do pessoal tem de ser exigida, a fim de evitar os práticos e a
utilização de “procedimentos-padrão” para todo e qualquer tipo de caso e paciente.
A reutilização indevida de sondas naso-gástricas e outros equipamentos
destinados às técnicas de endoscopia, sem os necessários cuidados de higiene e
esterilização constitui os problemas apontados por pacientes que recorreram a
esses serviços. Alguns responsáveis pelas clínicas chegam a culpar o excesso de
exames pelas dificuldades para esterilizar o material utilizado. Outros culpam os
valores pagos pelos grupos de saúde privados ou públicos, os quais seriam
insuficientes para a devida reposição de material, fornecido originalmente como
descartável.
• Consultórios, clínicas, pronto-socorros e institutos de odontologia;
A fiscalização do exercício profissional deve ser exercida com todo o rigor,
evitando a substituição do pessoal especializado por charlatões e práticos. Há
poucos anos, no estado de São Paulo, descobriu-se que um médico que atendia ao
então governador, não tinha diploma, mas exercia a profissão livremente.
Clínicas odontológicas “populares”, ainda proliferam livremente, sobretudo,
nas zonas periféricas das cidades. Sua publicidade dá-se geralmente, através da
distribuição de panfletos nos logradouros públicos, divulgando a lista de preços
oferecidos aos incautos clientes, extrações, obturações e colocação de dentaduras a
preços extremamente baixos – impossíveis de serem praticados por um serviço ético
e de qualidade.
• Institutos abreugráficos, radiológicos e outros tipos de radiação;
É histórico o que aconteceu com os serviços de abreugrafia, onde as chapas
de pulmão “normal” já estavam previamente à disposição dos usuários, bastando
para tanto pagar uma taxa na recepção. Embora o usuário ficasse diante do
aparelho de raios-x a chapa não era tirada, assim procedendo o serviço não
precisava ter um médico para interpretar as radiografias (utilizavam-se as cópias de
uma mesma chapa normal), bastando uma secretária para atender ao público, havia
economia de material destinado à revelação e fixação e, não havia desgaste nem
necessidade de manutenção do aparelho, o qual nem precisava estar operante.
Deste modo, além de enganar os pacientes ao fornecer laudos de aptidão física, o
procedimento não identificava os possíveis portadores de pneumopatias.
Por outro lado, há necessidade de rigorosa fiscalização dos equipamentos de
radioterapia, operantes ou não, a fim de evitar o sucedido em Goiânia, Goiás. Em
setembro de 1987, catadores de sucata vasculharam antigas instalações do Instituto
goiano de Radioterapia no centro de Goiânia. Numa das salas desativadas foi
encontrada uma cápsula pequena abandonada, a qual foi aberta, posteriormente, a
marretadas, no quintal da casa de um dos catadores, para ver o que havia dentro.
Infelizmente, encontraram um pó com brilho azulado, insípido e inodoro, mas
altamente radioativo – o Césio137. Era o princípio de uma ocorrência funesta que
atingiu até setembro de 2002, de acordo com as estatísticas oficiais do governo do
Estado, a marca de 429 vítimas, aí incluídas as pessoas que tiveram contato direto
com o pó radioativo, servidores, bombeiros e policiais militares que trabalharam na
segurança da área atingida, na sua descontaminação e no atendimento às primeiras
vítimas. Inicialmente, morreram 4 pessoas, inclusive uma menina de 6 anos, que
havia passado o pó brilhante pelo corpo e ingerido acidentalmente alguns resíduos,
ao comer pão com as mãos não higienizadas, outro óbito ocorreu em 1994. Muitos
dos sobreviventes, na atualidade, sofrem de câncer, problemas de ordem digestiva,
hipertensão e distúrbios psicológicos. O descuido trágico dos responsáveis pela
instituição causou dor, sofrimento e muita preocupação.
• Bancos de sangue, postos de coleta, agências transfusionais, bancos de órgãos
e afins;
Um exemplo importante, que serve de modelo para a vigilância sanitária, é o
caso da modalidade urbana da doença de Chagas, surgida algumas décadas atrás,
causadas pelas transfusões de sangue a partir de doadores infectados com o
Trypanosoma cruzi. Em abril de 2000, a mídia notificou a utilização, no Vale do
Jequitinhonha, região pobre de Minas Gerais, de transfusões de emergência braço-
a-braço, pois não havia hemocentro funcionando nas proximidades. Esta situação,
de coleta e transfusões de sangue sem qualquer controle de qualidade, concentra-
se nos Estados mais pobres das regiões Norte e Nordeste do país, mas as
condições são precárias, também, no interior do Espírito Santo, Bahia, além de
Minas Gerais. Hoje, a preocupação maior deve ser com o sangue contaminado com
o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), sem omitir as hepatites e a própria sífilis.
Portanto, a ação da vigilância nos bancos de sangue e postos de coleta deve ser
exercida rigidamente, no intuito de garantir a qualidade do sangue, os responsáveis
devem ser profissionais qualificados para essas atividades de modo que os
receptores não corram riscos.
2.2.5 Vigilância Sanitária do Trabalho
2.2.5.1 Objetivos
• Controle dos efeitos na saúde individual ou coletiva decorrentes do processo
produtivo no ambiente de trabalho, emissão de pareceres técnicos;
• Cadastramento de locais de trabalho, orientação e organização das comissões
internas nos locais de trabalho – promoção da saúde e prevenção de doenças;
• Integração com sindicatos, órgãos e entidades relacionadas com a área,
atividades educativas e de organização do trabalho;
• Orientação referente à legislação específica e aos dissídios coletivos de trabalho,
supervisão e normatização das ações previstos em Lei (s).
2.2.5.2 Ações e Comentários
• Projetos de diagnóstico e, ou, controle de risco individual ou coletivo,
reconhecimento e avaliação dos riscos no trabalho com a finalidade de preservar
a integridade física e mental dos trabalhadores;
No ambiente de trabalho a fiscalização sobre a utilização de substâncias
deletérias à saúde, como no caso das fábricas de pisos à base de amianto, cujas
fibras são responsáveis por processos respiratórios crônicos nos trabalhadores
(asbestose).
Compete também à vigilância sanitária a fiscalização concernente aos
equipamentos de proteção individual (EPI), óculos e máscaras de proteção para
soldadores, protetores de ouvidos para o pessoal que lida com máquinas geradoras
de ruídos acima dos limites de normalidade, capacetes para os trabalhadores na
construção civil, luvas com malhas de aço para os açougueiros e, botas de borracha
para os limpadores de bueiros entre muitos outros.
• Capacitação e treinamento de funcionários;
A vigilância sanitária deve organizar cursos sobre segurança no trabalho,
utilização dos EPI, primeiros socorros, procedimentos em casos de incêndio,
desmoronamentos e explosões.
É um dever da vigilância fornecer treinamento de pessoal para trabalhar com
produtos alimentícios, principalmente os manipuladores, destacando as regras
básicas de higiene, asseio corporal e manuseio dos alimentos.
• Aplicação da legislação pertinente;
Fazer cumprir a legislação em vigor mediante ação fiscalizadora dos
estabelecimentos industriais e comerciais. Uma polêmica atual, por exemplo, é a
discussão sobre a abertura do comércio nos domingos e feriados nos centros
urbanos. A preocupação da vigilância neste caso é a de que os estabelecimentos
compensem a folga dos empregados em outro dia da semana e, ou, paguem as
horas extras correspondentes.
• Acompanhamento e incorporação de acordos coletivos de trabalho;
Dentre aqueles referentes à saúde do trabalhador podem ser apontados a
jornada de trabalho e os benefícios, tais como, creche, refeitório (quando for o caso),
convênio saúde e outros.
• Condutas de trabalho no serviço público, junto às secretarias municipais e
autarquias;
Supervisão dos funcionários no desempenho de suas funções que possam vir
a causar prejuízo à comunidade. Por exemplo, abertura de valetas no leito
carroçável sem sinalização de advertência aos transeuntes.
3 ESTÁGIO
O estágio foi desenvolvido na Secretaria Estadual de Saúde (SESA), no
município de Curitiba, Estado do Paraná, no Departamento de Vigilância Sanitária
de Alimentos (DVSA), situado na Rua Piquiri, n°. 17 0, no bairro Rebouças, sob a
supervisão do Médico Veterinário Sr. Ronaldo Wanderlei Pizzo.
FIGURA 1 – SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE CURITIBA (SESA)
FIGURA 2 – DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA DE ALIMENTOS
3.1 INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
O estado do Paraná ocupa uma área de 199.880 km², estendendo-se do
litoral ao interior, localiza-se a 51°00’00’’de lon gitude oeste do Meridiano de
Geenwich e a 24°00’00’’de latitude sul da Linha do Equador. No Brasil, o estado faz
parte da região Sul, fazendo fronteiras com os estados de São Paulo, Santa
Catarina, Mato Grosso do Sul e dois países, o Paraguai e a Argentina. É banhado
pelo oceano Atlântico.
Sua capital é Curitiba e outras cidades importantes são Londrina, Maringá,
Foz do Iguaçu, Ponta Grossa, Cascavel, Guarapuava e Paranaguá.
O clima predominante no Paraná é o Subtropical, com verões quentes e
invernos frios. As temperaturas no verão podem ser superiores a 40°C dependendo
da região e no inverno já foram registradas temperaturas abaixo de 0°C no interior
do município de Palmas, que é considerado o ponto mais elevado do estado, com
cerca de 1400 metros de altitude.
3.2 REGIONAIS DE SAÚDE
As regionais de Saúde são em número de vinte e duas em todo o Estado e,
constituem a instância administrativa intermediária da SESA/ISEP.
Principalmente através delas que o Estado exerce o seu papel. Este papel é
menos o de executar ações e serviços de saúde e mais de apoio, cooperação
técnica e investimento nos municípios e nos consórcios. Os municípios,
isoladamente ou aglutinados em módulos intermunicipais, devem assumir todas as
ações e serviços que possam por eles ser absorvidos. À Regional de Saúde cabe
desenvolver a inteligência necessária para apoiar o município em todas as áreas e
para influenciar na gestão das questões regionais, fomentando a busca contínua e
crescente da eficiência com qualidade.
As Macrorregionais de Saúde são em número de seis e não constituem novas
instâncias administrativas, não têm sede e nem funcionários. Seu objetivo é articular
as Regionais de Saúde em conjuntos para que possam, também entre si, somar
esforços na solução de problemas comuns (como por exemplo, o encaminhamento
de doentes para centros de referência) e trocar experiências. Cada Macrorregional
conta com um Assessor de Macrorregião, que tem a incumbência de assessorar as
suas regionais e o conjunto delas nas articulações necessárias.
FIGURA 3 – MAPA DO ESTADO DO PARANÁ E AS SUAS REGIO NAIS DE SAÚDE
3.2.1 Regionais de Saúde do Paraná e seus Municípios
QUADRO 1 - 1ª. RS. PARANAGUÁ - 7 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 6.055.952(Km2)
Município (Km2) Obs.
Antonina 882.316
Guaraqueçaba 2.018.906
Guaratuba 1.325.883
Matinhos 117.064
Morretes 684.580
Paranaguá 826.652 Município sede
Pontal do Paraná 200.551 Município instalado em 1997 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 2 - 2ª. RS. METROPOLITANA - 29 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 17.130.181(Km2)
Município (Km2) Obs.
Adrianópolis 1.349.338 Vale da Ribeira
Agudos do Sul 192.228
Almirante Tamandaré 195.145
Araucária 469.166
Balsa Nova 396.914
Bocaiúva do Sul 826.344 Vale da Ribeira
Campina Grande do Sul 539.861
Campo do Tenente 304.489
Campo Largo 1.249.422
Campo Magro 275.466 Município instalado em 1997
Cerro Azul 1.341.187 Vale da Ribeira
Colombo 198.007
Contenda 299.037
Curitiba 434.967 Município com Gestão Plena município sede
Doutor Ulysses 781.447 Município instalado em 1993 Vale da Ribeira
Fazenda Rio Grande 116.676 Município instalado em 1993
Itaperuçu 312.382 Município instalado em 1993 Vale da Ribeira
Lapa 2.045.893
Mandirituba 379.179
Piên 254.903
Pinhais 610.007
Piraquara 227.560
Quatro Barras 179.538
Quitandinha 447.023
Rio Branco do Sul 814.361 Vale da Ribeira
Rio Negro 603.246
São José dos Pinhais 945.717
Tijucas do Sul 672.197
Tunas do Paraná 668.481 Município instalado em 1993 Vale da Ribeira
Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 3 - 3ª.RS. PONTA GROSSA - 12 MUNICÍPIOS - ÁR EA TOTAL 14.801.889
Município (Km2) Obs.
Arapoti 1.360.498
Carambeí 649.679 Município instalado em 1997
Castro 2.531.503
Ipiranga 927.086
Ivaí 607.847
Jaguariaíva 1.523.793
Palmeira 1.457.261
Piraí do Sul 1.403.067
Ponta Grossa 2.067.545 Município sede
Porto Amazonas 186.575
São João do Triunfo 720.407
Sengés 1.366.628 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 4 - 4ª. RS. IRATI - 09 MUNICÍPIOS - ÁREA TOT AL 6.096.552
Município (Km2) Obs.
Fernandes Pinheiro 406.501 Município instalado em 1997
Guamiranga 259.632 Município instalado em 1997
Imbituva 756.531
Inácio Martins 936.913
Irati 999.515 Município sede
Mallet 723.085
Rebouças 481.843
Rio Azul 629.739
Teixeira Soares 902.793
Fonte: SESA-PR, 2006
QUADRO 5 - 5ª. RS. GUARAPUAVA - 20 MUNICÍPIOS - ÁRE A TOTAL 19.985.228
Município (Km2) Obs.
Boa Ventura de São Roque 622.185 Município instalado em 1997
Campina do Simão 449.401 Município instalado em 1997
Candói 1.512.768 Município instalado em 1993
Cantagalo 583.539
Foz do Jordão 235.399 Município instalado em 1997
Goioxim 702.470 Município instalado em 1997
Guarapuava 3.115.329 Município sede
Laranjal 559.505 Município instalado em 1993
Laranjeiras do Sul 671.121 Município instalado em 1997
Marquinho 511.147 Município instalado em 1997
Nova Laranjeiras 1.145.485
Palmital 815.893
Pinhão 2.001.586
Pitanga 1.663.747
Porto Barreiro 361.982 Município instalado em 1997
Prudentópolis 2.307.897
Reserva do Iguaçu 834.232 Município instalado em 1997
Rio Bonito do Iguaçu 746.120 Município instalado em 1993
Turvo 902.246
Virmond 243.176 Município instalado em 1993 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 6 - 6ª. RS. UNIÃO DA VITÓRIA - 09 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL - 7.298.024
Município (Km2) Obs.
Antônio Olinto 469.755
Bituruna 1.214.905
Cruz Machado 1.478.351
General Carneiro 1.070.252
Paula Freitas 420.331
Paulo Frontin 369.210
Porto Vitória 212.582
São Mateus do Sul 1.342.633
União da Vitória 720.005 Município sede Fonte: SESA-PR, 2006
QUADRO 7 - 7ª. RS. PATO BRANCO - 15 MUNICÍPIOS - ÁR EA TOTAL 9.288.976
Município (Km2) Obs.
Bom Sucesso do Sul 195.867 Município instalado em 1993
Chopinzinho 959.692
Clevelândia 704.634
Coronel Domingos Soares 1.557.894 Município instalado em 1997
Coronel Vivida 684.417
Honório Serpa 502.235 Município instalado em 1993
Itapejara D'Oeste 254.077
Mangueirinha 1.073.793
Mariópolis 230.741
Palmas 1.567.361
Pato Branco 539.415 Município com Gestão Plena município sede
São João 388.060
Saudade do Iguaçu 152.084 Município instalado em 1993
Sulina 170.760
Vitorino 307.946 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 8 - 8ª. RS. FRANCISCO BELTRÃO - 27 MUNICÍPIO S - ÁREA TOTAL 7.768.774
Município (Km2) Obs.
Ampére 298.334
Barracão 163.931
Bela Vista da Caroba 148.107 Município instalado em 1997
Boa Esperança do Iguaçu 151.986 Município instalado em 1993
Bom Jesus do Sul 173.972 Município instalado em 1997
Capanema 418.705
Cruzeiro do Iguaçu 161.493 Município instalado em 1993
Dois Vizinhos 418.320 Município com Gestão Plena
Enéas Marques 191.998
Flor da Serra do Sul 254.886 Município instalado em 1993
Francisco Beltrão 734.988 Município com Gestão Plena município sede
Manfrinópolis 215.682 Município instalado em 1997
Marmeleiro 387.680
Nova Esperança do Sudoeste 208.472 Município instalado em 1993
Nova Prata do Iguaçu 352.565
Pérola D'Oeste 206.048
Pinhal de São Bento 96.855 Município instalado em 1993
Planalto 345.740
Pranchita 225.839
Realeza 353.415
Renascença 425.082
Salgado Filho 183.080
Salto do Lontra 313.290
Santa Izabel do Oeste 321.169
Santo Antônio do Sudoeste 325.672
São Jorge d'Oeste 379.047
Verê 312.418 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 9 - 9ª. RS. FOZ DO IGUAÇU - 09 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 4.073.410
Município (Km2) Obs.
Foz do Iguaçu 617.701 Município com Gestão Plena município sede
Itaipulândia 336.173 Município instalado em 1993
Matelândia 639.746
Medianeira 328.733
Missal 319.510
Ramilândia 237.195 Município instalado em 1993
Santa Terezinha de Itaipu 259.393
São Miguel do Iguaçu 851.301
Serranópolis do Iguaçu 483.658 Município instalado em 1997 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 10 - 10ª. RS. CASCAVEL - 25 MUNICÍPIOS - ÁRE A TOTAL 11.775.294
Município (Km2) Obs.
Anahy 102.648 Município instalado em 1993
Boa Vista da Aparecida 256.296
Braganey 343.321
Cafelândia 271.724
Campo Bonito 433.836
Capitão Leônidas Marques 275.748
Cascavel 2.100.105
Catanduvas 581.754 Município sede
Céu Azul 1.179.442
Corbélia 529.385
Diamante do Sul 359.945 Município instalado em 1993
Espigão Alto do Iguaçu 326.446 Município instalado em 1997
Formosa do Oeste 275.712
Guaraniaçu 1.225.607
Ibema 145.442
Iguatu 106.937 Município instalado em 1993
Iracema do Oeste 81.538 Município instalado em 1993
Jesuítas 247.496
Lindoeste 361.368
Nova Aurora 474.011
Quedas do Iguaçu 821.503
Santa Lúcia 116.857 Município instalado em 1993
Santa Tereza do Oeste 326.917
Três Barras do Paraná 504.172
Vera Cruz do Oeste 327.084 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 11 - 11ª. RS. CAMPO MOURÃO - 25 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 11.937.031
Município (Km2) Obs.
Altamira do Paraná 388.634
Araruna 493.190
Barbosa Ferraz 538.621
Boa Esperança 307.381
Campina da Lagoa 808.824
Campo Mourão 757.109 Município com Gestão Plena município sede
Corumbataí do Sul 164.442
Engenheiro Beltrão 467.257
Farol 289.232 Município instalado em 1993
Fênix 234.098
Goioerê 564.048
Iretama 570.459
Janiópolis 335.613
Juranda 349.721
Luiziana 908.604
Mamborê 778.683
Moreira Sales 353.892
Nova Cantu 543.780
Peabiru 469.495
Quarto Centenário 321.875 Município instalado em 1997
Quinta do Sol 326.178
Rancho Alegre D'Oeste 241.416 Município instalado em 1993
Roncador 750.993
Terra Boa 320.905 Município com Gestão Plena
Ubiratã 652.581 Fonte: SESA-PR, 2006
QUADRO 12 - 12ª. RS. UMUARAMA - 21 MUNICÍPIOS - ÁRE A TOTAL 10.232.491
Município (Km2) Obs.
Alto Paraíso 967.771 Município instalado em 1993
Alto Piquiri 447.722
Altônia 661.558
Brasilândia do Sul 291.039 Município instalado em 1993
Cafezal do Sul 336.205 Município instalado em 1993
Cruzeiro do Oeste 779.222
Douradina 419.852
Esperança Nova 138.560 Município instalado em 1997
Francisco Alves 321.898
Icaraíma 675.241
Iporã 647.894
Ivaté 410.907 Município instalado em 1993
Maria Helena 486.234
Mariluz 433.170
Nova Olímpia 136.308
Perobal 406.707 Município instalado em 1997
Pérola 240.635
São Jorge do Patrocínio 404.689 Município com Gestão Plena
Tapira 434.367
Umuarama 1.232.799 Município com Gestão Plena município sede
Xambrê 359.713 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 13 - 13ª. RS. CIANORTE - 11 MUNICÍPIOS - ÁRE A TOTAL 4.073.875
Município (Km2) Obs.
Cianorte 811.666 Município sede
Cidade Gaúcha 403.044
Guaporema 200.188
Indianópolis 122.623
Japurá 165.184
Jussara 210.812
Rondon 556.082
São Manoel do Paraná 95.382 Município instalado em 1993
São Tomé 218.624
Tapejara 591.400
Tuneiras do Oeste 698.870 Fonte: SESA-PR, 2006
QUADRO 14 - 14ª. RS. PARANAVAÍ - 28 MUNICÍPIOS - ÁR EA TOTAL 9.833.330
Município (Km2) Obs.
Alto Paraná 407.719
Amaporã 384.734
Cruzeiro do Sul 258.780
Diamante do Norte 242.894
Guairaçá 493.939
Inajá 194.705
Itaúna do Sul 128.870
Jardim Olinda 128.515
Loanda 722.496
Marilena 232.366
Mirador 221.506
Nova Aliança do Ivaí 131.272
Nova Londrina 269.389
Paraíso do Norte 204.565
Paranapoema 175.874
Paranavaí 1.202.469 Município sede
Planaltina do Paraná 356.191
Porto Rico 217.677
Querência do Norte 914.764
Santa Cruz do Monte Castelo 442.012
Santa Isabel do Ivaí 349.497
Santa Mônica 259.956 Município instalado em 1993
Santo Antônio do Caiuá 219.066
São Carlos do Ivaí 225.077
São João do Caiuá 304.412
São Pedro do Paraná 250.653
Tamboara 193.345
Terra Rica 700.587 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 15 - 15ª. RS. MARINGÁ - 30 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 6.973.399
Município (Km2) Obs.
Ângulo 106.021 Município instalado em 1993
Astorga 434.791
Atalaia 137.663
Colorado 403.263
Doutor Camargo 118.278
Floraí 191.133
Floresta 158.092
Flórida 83.046
Iguaraçu 164.983
Itaguajé 190.370
Itambé 243.821
Ivatuba 96.786
Lobato 240.904
Mandaguaçu 294.010
Mandaguari 335.816 Município com Gestão Plena
Marialva 475.467
Maringá 487.930 Município com Gestão Plena município sede
Munhoz de Mello 137.018
Nossa Senhora das Graças 185.716
Nova Esperança 401.587
Ourizona 176.457
Paiçandu 170.837
Paranacity 348.951
Presidente Castelo Branco 155.734
Santa Fé 276.241
Santa Inês 138.480
Santo Inácio 306.871
São Jorge do Ivaí 315.088
Sarandi 103.226
Uniflor 94.819 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 16 - 16ª. RS. APUCARANA - 17 MUNICÍPIOS - ÁR EA TOTAL 4.861.449
Município (Km2) Obs.
Apucarana 558.388 Município com Gestão Plena município sede
Arapongas 381.091
Bom Sucesso 322.755
Borrazópolis 334.377
Califórnia 141.816
Cambira 162.635
Faxinal 715.943
Grandes Rios 309.312
Jandaia do Sul 187.600
Kaloré 193.299
Marilândia do Sul 384.424
Marumbi 208.470
Mauá da Serra 108.324 Município instalado em 1993
Novo Itacolomi 162.163 Município instalado em 1993
Rio Bom 177.836
Sabáudia 190.324
São Pedro do Ivaí 322.692 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 17 - 17 ª. RS. LONDRINA - 20 MUNICÍPIOS - ÁR EA TOTAL 7.394.433
Município (Km2) Obs.
Alvorada do Sul 424.245
Bela Vista do Paraíso 242.692
Cafeara 185.798
Cambe 494.692
Centenário do Sul 371.835
Florestópolis 246.329
Guaraci 211.733
Ibiporã 300.187
Jaguapitã 475.004
Jataizinho 159.180
Londrina 1.650.809 Município com Gestão Plena município sede
Lupionópolis 121.067
Miraselva 90.294
Pitangueiras 123.229 Município instalado em 1993
Porecatu 291.665
Prado Ferreira 153.398
Primeiro de Maio 414.442
Rolândia 460.153
Sertanópolis 505.528
Tamarana 472.153 Município instalado em 1997 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 18 - 18ª. RS. CORNÉLIO PROCÓPIO - 22 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 7.293.665
Município (Km2) Obs.
Abatia 229.083
Andirá 234.802
Assai 440.346
Bandeirantes 447.617
Congonhinhas 535.959
Cornélio Procópio 637.322 Município sede
Itambaracá 207.003
Leópolis 344.920
Nova América da Colina 129.476
Nova Fátima 283.420
Nova Santa Bárbara 71.763 Município instalado em 1993
Rancho Alegre 167.646
Ribeirão do Pinhal 374.733
Santa Amélia 77.903
Santa Cecília do Pavão 110.200
Santa Mariana 423.909
Santo Antônio do Paraíso 165.904
São Jerônimo da Serra 823.773
São Sebastião da Amoreira 227.982
Sapopema 677.610
Sertaneja 444.488
Uraí 237.806 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 19 - 19ª. RS. JACAREZINHO - 22 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 7.697.572
Município (Km2) Obs.
Barra do Jacaré 115.592
Cambará 366.173
Carlópolis 447.857
Conselheiro Mairinck 204.705
Figueira 129.806
Guapirama 189.099
Ibaiti 896.846
Jaboti 139.210
Jacarezinho 602.526 Município sede
Japira 189.139
Joaquim Távora 289.173
Jundiaí do Sul 320.818
Pinhalão 220.692
Quatiguá 112.689
Ribeirão Claro 632.782
Salto do Itararé 200.517
Santana do Itararé 251.265
Santo Antônio da Platina 721.625
São José da Boa Vista 399.670
Siqueira Campos 278.035
Tomazina 591.436
Wenceslau Braz 397.917 Fonte: SESA-PR, 2006
QUADRO 20 - 20ª. RS. TOLEDO - 18 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 8.150.248
Município (Km2) Obs.
Assis Chateaubriand 969.588
Diamante D'Oeste 309.109
Entre Rios do Oeste 122.071 Município instalado em 1993
Guairá 560.508
Marechal Cândido Rondon 748.003
Maripá 283.802 Município instalado em 1993
Mercedes 200.864 Município instalado em 1993
Nova Santa Rosa 204.666
Ouro Verde do Oeste 293.042
Palotina 651.228
Pato Bragado 135.285 Município instalado em 1993
Quatro Pontes 114.393 Município instalado em 1993
Santa Helena 758.229
São José das Palmeiras 182.418
São Pedro do Iguaçu 308.328 Município instalado em 1993
Terra Roxa 800.786
Toledo 1.197.016 Município sede
Tupãssi 310.912 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 21 - 21ª. RS. TELÊMACO BORBA - 07 MUNICÍPIOS - ÁREA TOTAL 10.065.833
Município (Km2) Obs.
Curiúva 576.261
Imbaú 331.199 Município instalado em 1997
Ortigueira 2.429.560
Reserva 1.635.025
Telêmaco Borba 1.225.676 Município sede
Tibagi 3.108.746
Ventania 759.366 Município instalado em 1993 Fonte: SESA-PR, 2006 QUADRO 22 - 22ª. RS. IVAIPORÃ - 16 MUNICÍPIOS - ÁRE A TOTAL 7.076.247
Município (Km2) Obs.
Arapuá 218.838 Município instalado em 1997
Ariranha do Ivaí 240.625 Município instalado em 1997
Cândido de Abreu 1.510.157
Cruzmaltina 312.299 Município instalado em 1997
Godoy Moreira 131.005
Ivaiporã 432.470 Município sede
Jardim Alegre 393.620
Lidianópolis 169.138 Município instalado em 1993
Lunardelli 199.220
Manoel Ribas 571.338
Mato Rico 394.533 Município instalado em 1993
Nova Tebas 545.693
Rio Branco do Ivaí 385.595 Município instalado em 1997
Rosário do Ivaí 371.248
Santa Maria do Oeste 847.137 Município instalado em 1993
São João do Ivaí 353.331 Fonte: SESA-PR, 2006
3.3 EQUIPE TÉCNICA E INFRA-ESTRUTURA
Além da Chefe do Departamento de Vigilância Sanitária Sra. Sueli Vidigal e
do Chefe do Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos, o Sr. Mv. Ronaldo
Wanderlei Pizzo, os trabalhos eram realizados por:
• 1 (uma) Nutricionista;
• 1 (uma) Engenheira Agrônoma;
• 2 (duas) Secretárias;
• 1 (um) Advogado;
• 4 (quatro) Médicos Veterinários;
• 1 (uma) Auxiliar.
O Departamento conta com 1 (uma) sala, equipada com 10 (dez)
computadores e uma sala exclusiva para reuniões do setor.
3.4 DINÂMICA DE TRABALHO
O Departamento está dando andamento em Programas Nacionais e
Estaduais de Vigilância Sanitária de Alimentos, como o Programa do Leite das
Crianças, os Programas Nacionais e Estaduais de Coleta de Amostras, o Programa
de Rotulagem de Alimentos e o Programa de Rotulagem de Alimentos Transgênicos,
o Programa Estadual de Controle de Resíduos de Medicamentos Veterinários nos
Alimentos (PAMvet-PR), o Programa de Controle e Erradicação de Surtos
Alimentares entre outros.
Os Médicos Veterinários eram responsáveis pelos Programas de Coleta de
Amostras, de Investigação e Erradicação de Surtos e pelo Programa Leite das
Crianças, além de prestarem informações sobre rotulagem de alimentos e outros
assuntos relacionados aos programas via atendimento telefônico e palestras.
Realizavam também, encaminhamentos de amostras ao LACEN, Laboratório Central
do Estado do Paraná, além de prestarem serviços de informação à todas as
Regionais de Saúde do Estado e Municípios.
A Engenheira Agrônoma era responsável pelo Programa Estadual de Controle
de Resíduos de Medicamentos Veterinários nos Alimentos (PAMvet-PR), a qual
também coordenava a coleta das amostras para o Programa.
A Nutricionista era encarregada de fornecer informações sobre Rotulagem de
alimentos via internet, atendimento telefônico e palestras.
O Advogado é quem dava todo o encaminhamento burocrático dos processos
e petições, ele também auxiliava na busca de leis e decretos.
4 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Os órgãos de vigilância sanitária (VISA) dos estados e do Distrito Federal, no
exercício de suas atribuições legais, realizam ações fiscais como, a inspeção
sanitária em estabelecimentos alimentares e análise fiscal de alimentos expostos ao
consumo, com o objetivo de averiguar se as condições sanitárias das unidades
fabris e dos alimentos estão em conformidade com os regulamentos legais e,
portanto, não acarretam riscos à saúde da população que deles se utilizam.
Quando identificam irregularidades sanitárias, os órgãos competentes adotam
as medidas legais pertinentes para prevenir possíveis danos à saúde da população,
impedindo a circulação do produto e, ou, interrompendo seu processo de fabricação.
No decorrer do estágio realizado na Secretaria de Saúde do Paraná, no
Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos, tive a oportunidade de adquirir
novas experiências profissionais, discutir novas idéias sobre a vigilância sanitária
como um todo, não somente com os profissionais da Medicina Veterinária, mas
também com outros profissionais da área da Saúde como nutricionistas,
engenheiros agrônomos, enfermeiros e médicos, o que me auxiliou muito ao
entender o papel do Médico Veterinário na área de alimentos no âmbito da saúde.
Nestes dois meses e meio, como estagiária da Divisão de Vigilância Sanitária
de Alimentos, tive a oportunidade de participar de diversos programas destinados
aos alimentos. Todos os trabalhos realizados foram válidos para o meu aprendizado,
mas dou destaque ao Programa de Controle de Resíduos de Medicamentos
Veterinários nos Alimentos (PAMvet), pois foi o assunto que mais me cativou e me
causou extrema preocupação, principalmente pelos problemas que estes resíduos
podem causar para a indústria de laticínios e para a saúde pública. Também conheci
um pouco sobre outros programas que fazem parte da divisão de alimentos como o
Programa de Controle de Resíduos de Agrotóxicos em alimentos (PARA), o
Programa Leite das Crianças, o Programa de Monitoramento da Qualidade Sanitária
de Alimentos, e os Sistemas de Investigação e Notificação de Surtos de Doenças
Transmitidas por Alimentos (DTAs). Também pude participar da realização de
pequenos trabalhos, como a elaboração de tabelas de cadastro para o Programa
Leite das Crianças, armazenamento dos laudos do Programa de Coleta de Amostras
dos anos de 2002 a 2006 e a elaboração de uma cartilha para Procedimentos de
Troca de Garrafões de água dos bebedouros de toda a Secretaria Estadual de
Saúde. Este trabalho foi realizado com o intuito de melhorar a qualidade da água
que é oferecida aos funcionários da SESA e também devido ao estado inadequado
dos bebedouros e dos procedimentos de troca de garrafões, os quais são realizados
pelos funcionários da limpeza nesta empresa.
5 PROGRAMA LEITE DAS CRIANÇAS
A anemia nutricional é um problema de saúde pública não se constituindo em
uma manifestação orgânica isolada e sim, decorrente do processo de nossa
organização social. A causa básica das anemias nutricionais é a deficiência no
consumo de ferro, associada à baixa cobertura de saneamentos ambiental.
O Programa Leite das Crianças – Diminuição da Desnutrição Infantil teve seu
lançamento Estadual em Maio do ano de 2003. A participação da SESA no
Programa Leite das Crianças, em 399 municípios, beneficiando aproximadamente
165.000 crianças por mês, com 4.950.000 litros de leite por mês, de 70 laticínios. A
SESA analisou somente no primeiro trimestre do ano de 2005, cerca de 199
amostras e 2.850 análises do leite. No segundo semestre foram analisadas cerca de
222 amostras e 3120 análises, efetivando no total de 5.970 análises por ano.
Este Programa tem por finalidade, a redução dos índices de morbidade,
mortalidade e desnutrição infantil, com os objetivos de reduzir as deficiências
nutricionais de crianças de 06 a 36 meses de idade, de famílias com renda média
per capita inferior a ½ salário mínimo por mês, estimular o aleitamento materno,
fomentar a bacia leiteira regional através dos pequenos produtores, gerar, manter e
ampliar o emprego no campo, incentivar a melhoria da qualidade do leite
(produtores, fornecedores e famílias), coletar, avaliar e controlar a qualidade do leite
que é produzido no Estado do Paraná.
Para poder ser distribuído, o leite produzido que participará do programa ser
pasteurizado, possuindo no mínimo 3% de gordura, acrescido de ferro do tipo
quelato e vitaminas A e D.
O Programa conta com as seguintes Secretarias Estaduais envolvidas:
• Secretaria da Agricultura;
• Secretaria da Educação;
• Secretaria do Planejamento;
• Secretaria da Saúde;
• Secretaria do Trabalho, Emprego e Promoção Social.
O programa também conta com os seguintes Órgãos Nacionais: Pastoral da
Criança, IPARDES, CEASA, EMATER, MST, Associações/Sindicatos e outros.
Como competências da Secretaria Estadual de Saúde são atribuídas a
organização de comissões e comitês municipais relacionados ao programa,
desenvolvimento de ações de cunho educativo e de cooperação técnica, realizar o
controle, a avaliação e o monitoramento do programa, definir os padrões do leite
pasteurizado, controlar a qualidade do leite com o auxílio da Vigilância Sanitária, do
Laboratório central do Estado (LACEN) em cooperação com SEAB/ MAPA/ PNMQL),
realizar o monitoramento de indicadores da população alvo e gestão de ações
específicas de ampliação do aleitamento materno no Estado.
6 PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS EM ALIMENTOS
(PARA)
O Para foi criado no ano 2000, tendo sido instituído pela Resolução RDC n°
119, de 19 de maio de 2003 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com o
objetivo de avaliar continuamente os níveis de resíduos de agrotóxicos nos
alimentos, fortalecendo a capacidade do Governo, no que se refere a atender a
segurança alimentar, evitando possíveis danos à saúde da população. Participam do
Programa as Secretarias Estaduais do Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins, além do Distrito
Federal. No estado do Paraná, é coordenado pela Divisão de Vigilância Sanitária de
Alimentos do Departamento de Vigilância Sanitária e pelo Laboratório Central de
Saúde Pública do Paraná da Diretoria de Vigilância em Saúde e Pesquisa. As
coletas das amostras são realizadas pela Vigilância Sanitária da Secretaria
Municipal de Saúde de Curitiba.
Atualmente são monitoradas nove culturas: alface, banana, batata, cenoura,
laranja, maçã, mamão, morango e tomate. A escolha destas nove culturas se
baseou no consumo anual per capita em kg, fornecidos pela cesta básica utilizada
para cálculo da Ingestão Diária Aceitável (IDA) de agrotóxicos, nos sistemas de
cultivo e de manejo de pragas, consumo in natura e disponibilidade destes alimentos
nos diferentes Estados que participam do Programa.
A escolha dos 92 diferentes ingredientes ativos pesquisados no Programa,
baseou-se em dados coletados sobre a utilização de agrotóxicos no País, nas
informações existentes nos laboratórios quanto aos resíduos de agrotóxicos
usualmente detectados nos alimentos e na disponibilidade nos laboratórios e, ou, no
mercado, de padrões analíticos indispensáveis à determinação dos mesmos. As
análises de resíduos dos ingredientes ativos selecionados são realizadas através do
método multiresíduos. Esta metodologia é utilizada e reconhecida
internacionalmente por todos os países com os quais o Brasil mantém relações
comerciais, o que possibilita a utilização destes resultados nas negociações.
A aquisição de padrões de pesticidas (ou agrotóxicos) é uma etapa
importantíssima para a análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos, para isso,
o grau de pureza destes padrões deve ser elevado, já que este pode influenciar a
qualidade do resultado. Padrões de referência são certificados e com alto grau de
pureza são exigidos, e deverão ser usados na preparação das soluções utilizadas
para a fortificação da matriz.
Para o Programa, deverão ser adquiridos 122 padrões de agrotóxicos (os 92
agrotóxicos mais seus metabólitos importantes).
No período compreendido entre 04 de julho de 2001 e 30 de junho de 2002
foram coletadas 1295 amostras das nove culturas selecionadas, nos Estados de
Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e São Paulo, que representam
aproximadamente 101% do programado (1281 amostras).
GRÁFICO 1 – PERCENTUAL DE AMOSTRAS COLETADAS NO PAR ANÁ EM 2001/2002.
Coleta Paraná
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
160%
1
Culturas
Alface
Banana
Batata
Cenoura
Laranja
Maçã
Mamão
Morango
Tomate
Fonte: SESA-PR, Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos – 2002;
Somente aqui no Paraná, no terceiro ano de funcionamento do Programa, ano
de 2003/2004, foram colhidas 184 amostras, sendo que destas, 150 foram amostras
satisfatórias, ou seja, sem resíduo de agrotóxico e, 34 amostras obtiveram
resultados insatisfatórios como mostra a tabela 23 abaixo:
TABELA 1 – PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE AGROT ÓXICOS EM ALIMENTOS – PARA – PARANÁ – 3° ANO – 2003/2004.
Fonte: SESA-PR Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos, 2003.
Porém, esses resultados foram menores no quarto ano de funcionamento do
programa aqui no Estado do Paraná, pois, de apenas 89 amostras coletadas, 8
obtiveram resultado insatisfatório.
TABELA 2 - PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE AGROT ÓXICOS EM ALIMENTOS – PARA - PARANÁ - 4.º ANO - 2005/2006.
*P.A. – Princípios ativos. Fonte: SESA-PR, Departamento de Vigilância Sanitária de Alimentos, 2005
Após algum tempo de funcionamento deste Programa, foi possível constatar
que a maioria destas culturas possuía algum tipo de resíduos de agrotóxico, sendo
que alguns possuíam agrotóxicos permitidos para seu tipo de cultura, porém em
quantidade acima do permitido e outras possuíam além do agrotóxico permitido,
outros tipos de agrotóxicos não permitidos e ambos também em quantidade elevada.
N.º de AmostrasColetadas Satisfatórias Insatisfatórias %
Alface 22 21 1 4,5 87Banana 21 19 2 9,5 65Batata 20 20 0 0 62Cenoura 21 19 2 9,5 1Laranja 20 15 5 33,33 87Maçã 20 17 3 17,64 2Mamão 20 19 1 5,0 44Morango 20 3 17 85,00 88Tomate 20 17 3 15,0 35
TOTAL 184 150 34
Alimentos N.º de P.A . Analisados
N.º de AmostrasColetadas Satisfatórias Insatisfatórias %
Alface 9 3 6 66,66 65Banana 10 10 0 0 84Batata 9 9 0 0 82Cenoura 10 10 0 0 52Laranja 11 11 0 0 80Maçã 11 11 0 0 57Mamão 11 11 0 0 81Morango 9 1 8 90,00 57Tomate 9 9 0 0 81
TOTAL 89 75 8
Alimentos N.º de P.A . Analisados
Estes dados permitiram observar, mais do que nunca, que o uso de
agrotóxicos deve ser restrito em todo país, promovendo para toda a população uma
alimentação mais saudável e segura. Hoje em dia, os agricultores estão mais
conscientes do mal que o agrotóxico causa à saúde. Sabendo disso, vários
agricultores optaram por uma outra alternativa, ou seja, acabaram optando pela
agricultura orgânica, cuja qual visa obter produtos sem o uso de agrotóxicos.
7 PREVENÇÃO E CONTROLE DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIME NTOS
(DTA)
A ocorrência de Doenças Transmitidas por Alimentos, vem aumentando de
modo significativo em nível mundial. Vários são os fatores que contribuem para a
emergência dessas doenças, dentre os quais destacam-se: O crescente aumento
das populações, a existência de grupos populacionais vulneráveis ou mais expostos,
o processo de urbanização desordenado e a necessidade de produção de alimentos
em grande escala. Contribui ainda, o deficiente controle dos órgãos públicos e
privados, no tocante à qualidade dos alimentos ofertados às populações.
Acrescentam-se outros determinantes para o aumento na incidência das DTA,
tais como a maior exposição das populações a alimentos destinados ao pronto
consumo coletivo “fast-foods”, o consumo de alimentos em vias públicas, a utilização
de novas modalidades de produção, o aumento no uso de aditivos e as mudanças
de hábitos alimentares, sem deixar de considerar as mudanças ambientais, a
globalização e as facilidades atuais de deslocamento da população, inclusive ao
nível internacional.
A multiplicidade de agentes causais e as suas associações a alguns fatores
citados resultam em um número significativo de possibilidades para a ocorrência das
DTA, infecções ou intoxicações que podem se apresentar de formas crônica ou
aguda, com características de surto ou de casos isolados, com distribuição
localizada ou disseminada e com formas clínicas diversas.
Diante deste quadro, vários países da América Latina estão implementando
ou implantando sistemas nacionais de vigilância epidemiológica das DTA, face aos
limitados estudos que se tem dos agentes etiológicos, a forma como esses
contaminam os alimentos e as quantidades necessárias a serem ingeridas na
alimentação para que possa se tornar um risco. Estas medidas vêm sendo
estimuladas por recomendações e acordos internacionais. Os alimentos de origem
animal e os preparados para consumo coletivo destacam-se como os maiores
responsáveis por surtos de DTA, e a suscetibilidade é de modo geral, sendo
considerado como grupos de pessoas mais suscetíveis, as crianças, os idosos e os
imunodeprimidos e, os agentes etiológicos mais comuns são a Salmonella spp.,
Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Shigella spp., Bacillus cereus e Clostridium
perfringes.
7.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS
TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas
por Alimentos – VE DTA é instituído e constituído de acordo com as áreas de
competência e níveis governamentais pelos órgãos que desenvolvem atividades de:
• Vigilância Epidemiológica;
• Vigilância Sanitária;
• Vigilância Ambiental;
• Defesa e Inspeção Sanitária Animal;
• Defesa e Inspeção Sanitária Vegetal;
• Laboratórios de Saúde Pública;
• Laboratórios de Defesa Sanitária Animal;
• Laboratórios de Defesa Sanitária Vegetal;
• Educação em Saúde;
• Assistência à Saúde;
• Saneamento.
Este Sistema tem por objetivo geral a redução da incidência das DTA no
Brasil a partir do conhecimento do problema e de sua magnitude, subsidiar as
medidas de prevenção e controle, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida
da população.
Como objetivos específicos, este Sistema pretende conhecer o
comportamento das DTA na população, detectar, intervir, prevenir e controlar surtos
de DTA, identificar os locais, alimentos e os agentes etiológicos mais envolvidos em
surtos, identificar tecnologias ou práticas de produção e prestação de serviços de
maior risco de DTA, identificar e disponibilizar subsídios às atividades e condutas
relacionadas à assistência médica das DTA e desenvolver atividades de educação
continuada para profissionais da saúde, produtores de alimentos e prestadores de
serviços de alimentação e consumidores.
Como nível estadual de competência neste sistema, cabe às Secretarias de
Estado da Saúde e do Distrito Federal a coordenação do Sistema VE-DTA no âmbito
de suas competências.
Dentro da Secretaria de Saúde do estado do Paraná participam diversas
áreas de trabalho como o departamento de Vigilância epidemiológica, de Vigilância
Sanitária, de Vigilância Ambiental, de Saneamento, de Educação em Saúde, de
Assistência à Saúde e o laboratório de Saúde Pública.
À vigilância Sanitária de Alimentos cabem as ações de notificar o surto de
DTA à área de vigilância epidemiológica, quando do conhecimento e, ou, acesso à
informação, participar das ações de planejamento com a equipe de investigação
epidemiológica, para o estabelecimento de estratégias e definição das medidas de
controle frente a um surto de DTA, participar da atividade de campo, realizando a
inspeção sanitária dos locais envolvidos com o surto de DTA para a identificação de
pontos críticos na cadeia alimentar do alimento suspeito e adoção de medidas de
intervenção e controle, acionar as áreas de vigilância ambiental, saneamento e
vigilâncias zôo e fitossanitária (defesa e inspeção), quando necessário, de acordo
com a natureza do surto, respeitando as áreas de competências, coletar,
acondicionar e transportar, em conformidade com as normas técnicas, as amostras
do ambiente e dos alimentos suspeitos envolvidos e encaminhar ao laboratório de
saúde pública, aplicar, no âmbito de sua competência, as sanções legais cabíveis
aos responsáveis pela ocorrência do surto, informar às áreas integrantes da
investigação epidemiológica, as ações desenvolvidas e as medidas sanitárias
adotadas, participar das discussões e conclusões da investigação epidemiológica
para a elaboração do relatório final, sensibilizar os setores envolvidos com a
produção, distribuição e prestação de serviços de alimentos para a adoção de
medidas preventivas e de controle das DTA, capacitar recursos humanos no âmbito
de sua competência, realizar trabalho educativo continuado e sistemático junto aos
manipuladores de alimentos para a adoção de boas práticas, realizar ou apoiar o
desenvolvimento de pesquisas técnico-científicas específicas e criar mecanismos de
disponibilização de documentação técnica atualizada.
7.1.1 Quanto à Notificação de Surtos de DTA
Geralmente, as DTA ocorrem de forma epidêmica – SURTO – e, de acordo
com o Código de Saúde do Estado do Paraná, Lei n° 1 3.331 de 23 de novembro de
2001, Decreto n° 5.711 de 05 de maio de 2002, na Se ção I Da Notificação
Compulsória de Doença ou Outro Agravo, no Artigo 510:
“É obrigatória a notificação de epidemias de qualquer agravo, pelo meio
mais rápido disponível , independente da natureza do agente etiológico”.
Compreendendo, desta forma, também os surtos de DTA. Portanto, a
notificação de um surto de DTA deverá ser feita da forma mais rápida possível à
autoridade sanitária local e as instâncias superiores conforme Artigo 501 do referido
Código.
“Notificação compulsória ou obrigatória é a comunicação oficial à
autoridade sanitária competente, da ocorrência de casos confirmados ou
suspeitos de determinada doença ou agravo, transmissível ou não nos
animais”.
É importante lembrar que a notificação pode ser recebida por qualquer uma
das áreas envolvidas, como a Vigilância Sanitária, a Vigilância Epidemiológica, a
Vigilância Ambiental, entre outras e, que a área que receber a informação ou
notificação do surto, seja em nível municipal, regional de saúde ou Estado, deverá
passar ao conhecimento das demais áreas para que se envolvam no processo de
juntas trabalharem na notificação/investigação.
Existe um sistema de notificação da Vigilância Epidemiológica conhecido
como SINAN, Sistema de Informações de Agravos de Notificação. Esse sistema é
para notificação individual das doenças de notificação compulsória, notificação
negativa e também notificação de surto. Esta notificação do SINAN compreende
todos os tipos de surtos que podem ocorrer, inclusive surtos de DTA, portanto, o
departamento que utiliza este sistema, também para surtos de DTA é o
departamento de Vigilância Epidemiológica. Já o departamento de Vigilância
Sanitária de Alimentos utiliza um formulário específico para notificação de DTA e,
encaminha pelo meio mais rápido possível (telefone, fax, internet) a partir do
conhecimento do surto e das informações necessárias para a notificação. Este e
outros formulários podem ser encontrados como anexos ao final deste relatório.
7.1.2 Quanto a Investigação de Surtos de DTA
Junto à notificação de surto do SINAN, existe também um inquérito para
investigação dos casos, porém, este inquérito é para qualquer tipo de surto e não
possui informações importantes e específicas relativas à surtos de DTA, assim
sendo, a investigação deverá ser realizada no Inquérito Coletivo Específico para
Surto de DTA, onde temos, por exemplo, a data e a hora da ingestão e do início dos
sintomas, informações fundamentais para a investigação.
A Vigilância Epidemiológica de vários municípios têm realizado a investigação
na Ficha Epidemiológica de Ocorrência Toxicológica, porém, isso demanda muito
trabalho, pois para cada caso é necessária uma ficha e também, esta ficha não
contempla dados de interesse para a conclusão do surto. Essas fichas devem ser
usadas em investigações de casos de ingestão de alimentos como plantas tóxicas,
alimentos contaminados por agrotóxicos, e outros casos da área de toxicologia.
Exceto quando este acidente toxicológico envolver duas ou mais pessoas com o
mesmo vínculo epidemiológico, por exemplo, um grupo de pessoas (pode ser da
mesma família ou amigos), participa de uma mesma exposição (Ex: refeição
contaminada por agrotóxico), e essa exposição leva a um quadro de intoxicação,
neste caso, caracteriza também um surto e deve ser investigados tanto com os
Formulários da Investigação de Surto (da Vigilância Sanitária), como com as Fichas
Epidemiológicas de Ocorrência Toxicológica (da Vigilância Epidemiológica) e
notificados aos seus respectivos setores.
7.1.3 Quanto a Conclusão do Surto de DTA
Todo surto de DTA deverá ser finalizado tanto no SINAN, quanto pelo
Relatório Final de Investigação de Surto de DTA da Vigilância Sanitária.
Para a confirmação do agente e do alimento incriminado poderá ser
empregado os critérios Clínico-Epidemiológico, Laboratorial Clínico, Laboratorial
Bromatológico, Laboratorial Clínico Bromatológico ou o Inconclusivo.
O critério Clínico-epidemiológico deve ser avaliado sempre e, para isso é
necessária uma investigação bem feita, com bom embasamento técnico. O resultado
inconclusivo denota de uma investigação sem precisão ou mal feita.
Outro fator a considerar em relação à conclusão de surto de DTA é quanto ao
número de agentes etiológicos envolvidos, pois raramente existe mais que um
agente envolvido em um surto de DTA. Em alguns resultados laboratoriais, vemos
mais que um agente isolado devido, por exemplo, a pesquisa de parasitas. Para
exemplificar, em um determinado surto obtemos como resultado os agentes
etiológicos S. aureus e Giárdia, o que indica que o agente S. aureus é o envolvido
no surto, considerando o período de incubação e pela análise bacteriológica. Já o
resultado de Giárdia foi obtido por estender a pesquisa um exame parasitológico,
mas não que esse seja o causador do surto.
Além disso, para facilitar a comunicação de Notificação e Investigação de
Surtos de DTA, foi criado pela SESA/ISEP/CVS/CIDS/Departamento Técnico de
Informática, uma entrada de dados pelo Notes, com o objetivo de agilizar as
informações das Regionais de Saúde para a Central, possibilitando, além disso, a
emissão de relatórios que ficará disponível para todas as Regionais de Saúde, como
também, alimentará as informações da home page da Secretaria de Estado da
Saúde. Com isso, teremos uma melhor condição de avaliar a atuação e a
pontualidade para com as informações de notificação/investigação, estando
disponível à população todo trabalho desenvolvido pelas Vigilâncias do estado.
8 PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA QUALIDADE SANITÁRIA DE
ALIMENTOS
O Programa de Monitoramento da Qualidade Sanitária de Alimentos,
desenvolvido pela área de alimentos da ANVISA, desde o ano de 2000, fundamenta-
se no controle e fiscalização de amostras de diversos produtos alimentícios expostos
ao consumo e na avaliação do padrão sanitário por meio de análise dos parâmetros
físico-químicos, microbiológicos, contaminantes, microscopia, aflatoxina, aditivos,
dentre outros e da análise de rótulo no que concerne aos dizeres de rotulagem
obrigatórios.
Considerando um dos instrumentos efetivos para a verificação da
conformidade dos produtos com as legislações sanitárias, fornece resultados
analíticos que permitem traçar o perfil dos distintos alimentos e identificar os setores
produtivos que necessitam de intervenção institucional, de abrangência nacional e
estadual e de caráter preventivo, a fim de garantir a melhoria da qualidade sanitária
dos alimentos comercializados no país.
As categorias de alimentos foram selecionadas com base no risco
epidemiológico e no elevado consumo pela população, somando no total de vinte e
sete categorias diferentes de alimentos que estão relacionados a seguir:
• Água Mineral;
• Água Purificada Adicionada de Sais;
• Alimento Infantil à base de Cereais;
• Alimentos Congelados;
• Biscoitos com Recheio;
• Cafés
• Charque Embalado,
• Doces;
• Especiarias e Temperos;
• Farinha de Mandioca;
• Fubá;
• Fórmula Infantil à base de Leite;
• Gelados Comestíveis;
• Gelo;
• Hambúrguer Congelado;
• Leite em Pó;
• Leite UHT/UAT;
• Lingüiça Suína Fresca;
• Massas Alimentícias Congeladas;
• Massas Alimentícias Frescas ou úmidas;
• Ovo de Galinha Inteiro ou Cru;
• Palmito em Conserva;
• Polpa de Frutas;
• Produtos de Côco;
• Queijo Minas Frescal;
• Sal;
• Sobremesas para Dietas com Restrição de Açúcares.
Este Programa foi criado para monitorar a qualidade sanitária e os dizeres de
rotulagem dos alimentos, para estabelecer um histórico de qualidade dos alimentos,
identificar as categorias de alimentos dispensados de registro que devem integrar-se
ao grupo de alimentos com obrigatoriedade de registro, adotar as medidas legais no
caso de detecção de irregularidades em determinado alimento e/ou estabelecimento
responsável pela sua produção, estabelecer intercâmbio interinstitucional contínuo
sobre as informações dos alimentos analisados e as providências adotadas.
No Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, essas ações são
desenvolvidas pela Divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos. A coleta destas
amostras é realizada pelos técnicos da Secretaria Municipal de Saúde, do
departamento de vigilância sanitária. Esses técnicos devem colher cerca de três
amostra do produto em questão, na quantidade exigida pelo Laboratório Central
(LacenPR), em recipientes lacrados, sendo que estas, obrigatoriamente, devem
pertencer ao mesmo lote.
A Divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos (DVSA) recebe avaliações de
Orientação, Surto, Reclamação e Processos Administrativos. Estas amostras são
divididas, uma ficará em posse do produtor ou proprietário da empresa que fabricou
o alimento, sendo que esta amostra poderá, mais tarde, ser utilizada para uma nova
avaliação, caso o produtor ou fabricante do produto vir a requerer uma contra-prova
dos testes realizados, podendo até ser realizado em outro laboratório. A segunda
amostra vai para o Lacen-PR, sendo que este emitirá um laudo técnico de acordo
com os testes e provas que foram realizados. Normalmente têm-se análises físico-
químicas, microbiológicas e provas de microscopia. Esses resultados poderão ser
satisfatórios ou insatisfatórios. No caso de serem insatisfatórios, deve constar no
laudo o motivo do resultado. Após a realização destes laudos, o Lacen os
encaminha para a DVSA, o qual é analisado e onde são tomadas as medidas de
intervenção se necessárias.
As ações da vigilância sanitária estão sendo realizadas tomando-se como
referência a Análise de Risco, a qual consiste de três componentes: Avaliação de
Risco, Caracterização de Risco e Comunicação de Risco, e visam garantir a
segurança dos alimentos e a proteção à saúde da população.
O Programa de Monitoramento constitui uma forma de utilização desta
ferramenta científica (Análise de Risco), pois por meio dela tornou-se disponível
obter informações acerca dos perigos envolvidos nos alimentos monitorados
(Avaliação de Risco). Com vistas ao controle dos riscos identificados, foram
adotadas medidas de intervenção (Gerenciamento de Risco) e disponibilizadas
informações a respeito da qualidade higiênico-sanitária dos alimentos (Comunicação
de Risco).
Quanto às ações que o departamento pode realizar, seria a notificação ao
fabricante, a comunicação à VISA onde se localiza a unidade fabril, a comunicação
ao Ministério da Agricultura, a apreensão do alimento ou a instauração de um
processo administrativo.
9 PROGRAMA DE ANÁLISE DE RESÍDUOS DE MEDICAMENTOS
VETERINÁRIOS NOS ALIMENTOS (PAMVET)
O PAMvet-PR foi criado pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná pela
Resolução SESA n° 337 de 30 de julho de 2003. O pro grama é coordenado pela
Divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos do Departamento de Vigilância Sanitária
e pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Paraná da Diretoria de Vigilância em
Saúde e Pesquisa (LACEN-PR). Com o objetivo de acompanhar, implantar e avaliar
as ações do Programa foi instituído o Grupo Técnico Científico, GTC – PAMvet-PR,
pela Resolução SESA n° 338 de 30 de julho de 2003. O GTC – PAMvet-PR é
composto por representantes das seguintes Regionais de Saúde: 2º RS
(Metropolitana), 3ª RS (Ponta Grossa), 8ª RS (Francisco Beltrão), 10ª RS
(Cascavel), 14ª RS (Paranavaí), 15ª RS (Maringá), 17ª RS (Londrina), 22ª RS
(Ivaiporã), além das Universidades Estaduais de Londrina (UEL), Maringá (UEM),
Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Ponta Grossa (UEPG). O Programa tem como
principal objetivo a avaliação contínua dos níveis de medicamentos veterinários em
alimentos de origem animal, visando à segurança alimentar e evitar possíveis danos
à saúde da população.
O conhecimento da dimensão da exposição da população a esses compostos
é de fundamental importância para nortear as ações de controle visando a proteção
do consumidor.
O Programa prevê o controle de resíduos de medicamentos veterinários em
alimentos de origem animal expostos ao consumo, cuja implementação é de forma
escalonada no território nacional, contemplando ações de colheita de amostras no
comércio e análise de resíduos em laboratórios. Em função dos resultados
encontrados, será desencadeada uma estratégia de controle voltada à correção do
problema, podendo a mesma ser seguida de uma ação fiscal em conformidade com
a legislação vigente.
Na seleção dos alimentos a serem analisados, levou-se em conta critérios de
consumo alimentar sendo priorizados:
• Leite Bovino;
• Carne de Frango;
• Carne Bovina;
• Carne Suína;
• Pescado;
• Ovo de Galinha;
• Mel de Abelha.
Os critérios adotados para a seleção dos medicamentos que são investigados
neste Programa foram os seguintes:
• Medicamentos que deixam resíduos nos alimentos;
• Medicamentos cuja presença no alimentos ofereçam um risco potencial à
saúde humana;
• Medicamentos utilizados na Medicina Veterinária, que impliquem um alto
potencial de exposição ao consumidor;
• Medicamentos que possuam disponibilidade de metodologia analítica
confiável, sensível, prática e de custo acessível para programas de controle.
Este Programa iniciou suas atividades com análises de leite bovino, incluindo
outros alimentos conforme o cronograma abaixo:
QUADRO 23 – CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES DESDE IMPLANT AÇÃO EM 2003. Subprogramas Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
Leite Bovino + + + + +
Carne de
Frango
- + + + +
Carne Bovina - - + + +
Carne Suína - - + + +
Pescado - - - + +
Ovo de Galinha - - - + +
Mel de Abelhas - - - - +
Fonte: Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – PAMvet – 2003
No ano de 2002, o Brasil produziu 21,64 bilhões de litros de leite, sendo que o
Estado do Paraná ocupou o quarto lugar, com 9,2% da produção total nacional, com
1,95 bilhões de litros (IBGE, 2004). O Estado do Paraná vem demonstrando, nos
últimos anos, um aumento da taxa de crescimento médio na produção de 7,9% ao
ano. A produtividade média do Paraná, em 2002, ficou em torno de 1660
litros/vaca/ano, superior à produtividade média nacional, que foi de 1200
litros/vaca/ano. Esse aumento de produtividade refletiu no aumento da
disponibilidade de litros/habitante/ano, que em 1995 era de 181 litros alcançando
243 litros em 2002.
10 CONCLUSÕES
O planeta encontra-se dirigido de acordo com propósitos mercantis de
algumas nações. Nações estas que estão ansiosas para globalizá-los e aumentar
incessantemente a sociedade carente de consumo. Estes propósitos sobrepujam
outros valores, a ponto de que ainda existam milhões de pessoas morrendo devido,
à fome e a desnutrição. O apelo ao consumismo surpreende, principalmente, as
nações de culturas mais recentes, antes colonizadas, que ainda estão
desenvolvendo a capacidade de garantir os direitos básicos de um cidadão, como
saúde, educação, alimentação e moradia.
A sustentabilidade da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida das
pessoas depende de que estas possuam uma alimentação saudável, por isso a
Divisão de Vigilância Sanitária de Alimentos da SESA se preocupa com a qualidade
sanitária dos alimentos que o consumidor leva para casa, não somente pelas
diversas maneiras que estes produtos podem ser produzidos e armazenados, mas,
principalmente, se estes produtos são seguros.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, Pesquisa sobre as
ações fiscais realizadas, entre outros assuntos informados no site, como a
legislação. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/acoes/index.htm.
Acesso em: 31 de outubro 2006.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, Pesquisa sobre
dados do Programa de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários nos
Alimentos. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/alimentos/pamvet/index.htm.
Acesso em: 20 de outubro de 2006.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, Pesquisa sobre
dados do Programa de Análise de Resíduos de Medicamentos Veterinários nos
Alimentos, Ações Propostas e Diagnóstico dos Laboratórios do PAMvet. Disponível
em: http://www.anvisa.gov.br/reblas/pamvet/index.htm.
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA, Pesquisa sobre
dados do programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos.
Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/reblas/para/index.htm. Acesso em: 20 de
outubro de 2006.
GERMANO, Pedro M. L; GERMANO, Maria I. S. HIGIENE E VIGILÂNCIA
SANITÁRIA DE ALIMENTOS – Qualidade das matérias primas, Doenças
transmitidas por alimentos e Treinamento de recursos humanos. 2. ed. São Paulo:
Varela, 2003.
MANUAL INTEGRADO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DAS DOENÇAS
TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS, VE – DTA. Ministério da Saúde.
SESA - SECRETÁRIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ, Pesquisa sobre a
secretaria, as vigilâncias, entre outros assuntos do estado do Paraná. Disponível
em: http://www.saude.pr.gov.br. Acesso em: 26 de outubro de 2006.
SESA - SECRETÁRIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ, Pesquisa sobre a
área do estágio e informações sobre a Divisão de Alimentos. Disponível em:
http://www.saude.pr.gov.br/visa/index.html. Acesso em 26 de outubro de 2006.
ANEXOS
ANEXO 1 - FORMULÁRIO DE REGISTRO DE NOTIFICAÇÃO DE CASO/SURTO DE DOENÇA TRANSMITIDA POR ALIMENTOS.
ANEXO 2 – FICHA INDIVIDUAL DE INVESTIGAÇÃO DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS.
ANEXO 3 – RELATÓRIO FINAL DE SURTO DE DOENÇA TRANSMITIDA POR ALIMENTO
ESTADO DO PARANÁ – SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE INSTITUTO DE SAÚDE DO PARANÁ
RELATÓRIO FINAL DE INVESTIGAÇÃO DE DOENÇA TRANSMITIDA POR ALIMENTO
MUNICÍPIO: RS:
LOCAL DA OCORRÊNCIA:
Nº do SURTO:
DATAS: Inicio do surto: ___/___/____
Notificação: ___/___/____
Início da investigação: ___/___/__
SINTOMATOLOGIA: OUTROS: NÁUSEA ______________________________%______________ __________________________________%__________ VÓMITO ______________________________%______________ __________________________________%__________ CÓLICA _______________________________%______________ __________________________________%__________ DIARRÉIA ______________________________%______________ __________________________________%__________ FEBRE ______________________________%______________
__________________________________%__________
Sexo Total Pessoas Numero %
Faixa etária dos
doentes (em anos)
Masc.(Nº) Fem.(Nº)
Expostas <1 Nº %
Entrevistadas 1 a 4
Doentes 5 a 9
Hospitalizadas 10 a 19
Óbitos 20 a 49
MEDIANA DO PERÍODO DE INCUBAÇÃO
50 e +
EM HORAS: ___________________________
Total
Taxas de ataque dos alimentos mais suspeitos
Pessoas que ingeriram Pessoas que não ingeriram Alimentos
Doentes Não doentes
Total % Doentes Não doentes
Total % ≠ de %
Local de preparo
Domicílio Cozinha industrial
Restaurante Escola Outro:
Local de ingestão
Domicílio
Refeitório industrial
Restaurante
Escola Outro:
Fatores causais que contribuíram para o surto
Contato com recipiente tóxico Contami nação por pessoa infectada
Adição de substâncias químicas tóxicas
Higiene deficiente de equipamentos
Ingredientes crus contaminados Higiene deficiente na manipulação
Contaminação cruzada Tempo de exposição do alimento superior a 2 horas entre 10º a 60ºC
Uso do frio inadequado na conservação dos al imentos (> 10ºC)
Uso do calor inadequado no preparo dos alime ntos (< 60ºC)
Outros:
Exames laboratoriais
Alimentos:
Alimentos da refeição suspeita do dia: ____/____/_______
Alimentos preparados nas mesmas condições do dia do surto: ____/____/_______ (quando coletado em dia diferente do surto)
Alimento Exame Resultado
Manipuladores
Tipo de amostra Exame Número Resultado Número Percentual
Doentes
Tipo de amostra Exame Número Resultado Número Percentual
Alimento incriminado: _______________________________________
Confirmado Suspeito
Agente etiológico: ___________________________________________
Confirmado Suspeito
Medidas adotadas:
Anexos:
Data: ____/____/_______
Vigilância Epidemiológica: Vigilância sanitária:
ANEXO 4 – FORMULÁRIO DE RESULTADOS ANALÍTICOS DO PAMvet-PR
TCA MARCA No. LAUDO DATACONFIRMAÇÃO LMR LABORATORIO
001/2006 CAMPINENSE beta-lactâmicos Negativo penicilina G 4 UEL 113.00/2006 18/09/06tetraciclinas Negativo ampicilina 200gentamicina Negativo amoxicilina 200cloranfenicol Positivo 200
estreptomicina Negativo oxitetracilina 100neomicina Negativo clortetracicina 100
tetraciclina 100sulfametazina 100
sulfatiazol 100sulfadimetoxina 100
abamectina 0ivermectina 0
estreptomicina 200neomicina 500
eritromicina 40cloranfenicol 0
RESULTADOSTRIAGEM
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ................................................................................................ iii LISTA DE QUADROS ............................................................................................... iv RESUMO.................................................................................................................... v ABSTRACT ............................................................................................................... vi 1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 2. LEITE .....................................................................................................................2 2.1 COMPOSIÇÃO DO LEITE ...................................................................................2 2.2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA ....................................................................................4 2.2.1 Carboidratos......................................................................................................4 2.2.2. Proteínas ..........................................................................................................5 2.2.3 Gordura .............................................................................................................5 2.2.4 Sais Minerais e Vitaminas .................................................................................6 2.3 VALOR NUTRITIVO DO LEITE............................................................................7 3. ANTIBIÓTICOS NO LEITE ....................................................................................8 3.1 AGENTES ANTIMICROBIANOS..........................................................................9 3.2 RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS EM PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL.10 3.3 O LEITE COMO VEÍCULO DE RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS...............10 4. AÇÃO TOXICOLÓGICA ......................................................................................11 4.1 ASPECTOS TOXICOLÓGICOS.........................................................................13 5. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE OU ALÉRGICAS ..................................15 6. ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS ......................................................................16 7. INTERFERÊNCIA NOS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO LE ITE ....17 8. ORIGEM DOS RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS NO LEITE ........................18 9. PERÍODO DE RETIRADA DO LEITE PARA CONSUMO ...................................19 10. CUIDADOS NO TRATAMENTO DA MASTITE .................................................22 11. TESTES PARA A DETECÇÃO DE RESÍDUOS ................................................24 11.1 TESTES DE INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO BACTERIANO...........................25 11.2 TESTES IMUNOLÓGICOS, COM BASE EM RECEPTORES, ENZIMAS E OUTROS..................................................................................................................26 11.3 MÉTODO DO TTC (2,3,5 CLORETO DE TRIFENILTETRAZÓLIO) ................26 11.4 MÉTODO PENZYME .......................................................................................27 11.5 MÉTODO RÁPIDO DO IOGURTE ...................................................................28 11.6 ANTIMICROBIAL DIFFUSION METHOD (ADM) .............................................28 11.7 MÉTODO DO DISCO DE FILTRO ...................................................................29 11.8 MÉTODO DO DELVOTEST-P E DELVOTEST-P-MULTI ................................30 11.9 MÉTODO SNAP...............................................................................................30 12. DADOS SOBRE O BRASIL ...............................................................................31 13. DADOS SOBRE O PARANÁ .............................................................................32 14. COMO EVITAR RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE ............................36 15. CONCLUSÃO ....................................................................................................38 REFERÊNCIAS .......................................................................................................39
ii
LISTA DE TABELAS TABELA 1- Composição do leite em percentagens.....................................................3
TABELA 2- Composição dos principais tipos de leite..................................................6
TABELA 3- Limite máximo permitido de resíduos de antimicrobianos no leite..........12
TABELA 4- Concentração média de antibióticos para inibir em 50% o crescimento de
bactérias usadas na fabricação de queijos e iogurte.................................................17
TABELA 5- Resíduos de benzilpenicilina no leite após a aplicação intramuscular e
intramamária de benzilpenicilina procaína e benzilpenicilina.....................................21
TABELA 6- Sensibilidade do teste ADM aos antibióticos...........................................29
TABELA 7- Resultados de testes de detecção de antimicrobianos e outros inibidores
em amostras de leite nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Porto
Alegre.........................................................................................................................32
TABELA 8- Freqüência das marcas comerciais por classes terapêuticas nas
patologias relacionadas pelas fichas técnicas aplicados em 160 estabelecimentos
comerciais, localizados em 76 municípios do Paraná, no período de setembro a
outubro de 2003.........................................................................................................34
TABELA 9- Freqüência dos princípios ativos antimicrobianos aplicados em 160
estabelecimentos comerciais, localizados em 76 municípios do Paraná, no período
de setembro a outubro de 2003.................................................................................34
iii
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Cálculo do ADI (Dose Diária Ingerida).................................................11
QUADRO 2 – Cálculo do TC (Concentração Tolerável)............................................12
QUADRO 3 – Objetivos do Tratamento da Mastite....................................................23
iv
RESUMO
O objeto deste trabalho é apontar os principais prejuízos que os resíduos de antibióticos no leite podem causar, não somente à saúde humana, mas também as interferências que estes causam nos processos de industrialização. Discute questões relacionadas às reações que estes antibióticos podem causar quando ingeridos por um longo período de tempo, a origem destes antibióticos no leite, o período em que o produtor deve retirar o leite para consumo caso tenha administrado qualquer tipo de tratamento antimicrobiano ao gado, orientações aos produtores quanto ao tratamento de mastites, descreve testes que são utilizados para a detecção destas substâncias e, também, descreve dados atualizados sobre estudos realizados para avaliar a presença de inibidores ou de resíduos de antibióticos no leite, tanto no Brasil quanto no Estado do Paraná.
v
ABSTRACT
The object of this work is to point the main damages that the antibiotic residues in milk can cause to the human health, as well the interferences that they cause in the industrialization procedures. It argues questions related to the reactions that these antibiotics can cause when ingested for a long period of time, the origin of these antibiotics in milk, the period where the producer must remove milk for consumption in case that it has managed any type of antimicrobial’s treatment to the cattle, guidances about treatment of mastitis to the producers, it describes tests that are used for the detection of these substances and, also, describes samples of updated researches to evaluate the presence of antibiotic inhibitors or residues in milk, in the Brazil mainly in the State of the Paraná.
Vi
1 INTRODUÇÃO
O leite é considerado uma das mais completas fontes de nutrientes para os
seres humanos, por apresentar diversos componentes como proteínas, vitaminas e
sais minerais, importantes na nutrição humana. É também um alimento
extremamente perecível, podendo sofrer alterações nas suas características físico-
químicas e microbiológicas, tornando-se inadequado para o consumo.
De uma maneira geral, o leite é definido como um produto da secreção da
glândula mamária dos mamíferos. De acordo com o Regulamento de Inspeção
Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), artigo 475,
denomina-se leite, sem outra especificação, o produto normal, fresco, integral,
oriundo da ordenha completa e ininterrupta de vacas sadias.
A presença de resíduos de antibióticos no leite resulta da aplicação de
diferentes substâncias antimicrobianas no efetivo leiteiro, para a prevenção ou
tratamento de doenças, com destaque para as infecções da glândula mamária e
doenças do trato reprodutivo. Diferentes tipos de antibióticos e suas combinações
são utilizados para estes fins.
O leite contaminado por resíduos de antibióticos é considerado adulterado e
impróprio para o consumo, representando riscos para a saúde pública, riscos
tecnológicos para a indústria de laticínios e riscos comerciais.
A presença de resíduos de antimicrobianos no leite pode levar à ocorrência
de seleção de microrganismos patogênicos resistentes e desencadear reações de
hipersensibilidade. É também um problema econômico social, a partir do momento
em que interfere nos processos industriais de produção e conservação de derivados
do leite e, leva à penalização do produtor.
O objetivo deste trabalho é apontar os principais prejuízos que estes resíduos
de antibióticos causam à saúde do consumidor, para a indústria leiteira e para o
produtor, mostrando a importância do Médico Veterinário no contexto de se evitar a
presença destes resíduos no leite.
2 LEITE
O leite é o alimento mais completo de que se pode dispor, devendo ser
tomado pelas crianças, jovens e adultos, principalmente para crianças, pois é um
dos grandes responsáveis pelo crescimento e saúde infanto-juvenil. É indispensável
na alimentação diária, porque contém tudo o que faz bem à saúde. Pela sua
composição não há alimento que possa se comparar.
Para que se tenha boa saúde e crescimento normal é indispensável tomar
leite todos os dias, nas seguintes quantidades:
• Crianças: 3 a 4 copos de leite por dia;
• Adultos: 2 a 3 copos de leite por dia;
• Mulheres em gestação/amamentação: 4 a 6 copos por dia.
Há diversas definições do leite, cada uma delas feita por um ou mais
estudiosos do assunto e considerando o leite sob determinado ponto de vista.
O leite é definido grosso modo como um produto da secreção mamária de
mamíferos. De acordo com o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de
Produtos de Origem Animal (RIISPOA), artigo 475, denomina-se leite, sem outra
especificação, o produto normal, fresco, integral, oriundo da ordenha completa e
ininterrupta de vacas sadias.
A anatomia constitutiva do animal e os fatores fisiológicos que comandam a
capacidade de produção, armazenamento e descida do leite para a cisterna do
úbere mostram como a natureza planejou tudo sistematicamente.
Desde sempre, o leite vem sendo usado na alimentação humana, por oferecer
uma equilibrada composição de nutrientes que resulta em elevado valor biológico, é
considerado um dos mais completos alimentos in natura. Industrializado, resulta em
vários produtos para consumo, devidamente controlados por normas de inspeção
industrial e sanitária.
2.1 COMPOSIÇÃO DO LEITE
Vários são os componentes do leite. O que se apresenta em maior proporção
é a água, sendo os demais formados principalmente por gordura, proteínas,
carboidratos, todos sintetizados na glândula mamária. Existem também pequenas
quantidades de substâncias minerais hidrossolúveis transferidas diretamente do
plasma sangüíneo, proteínas específicas do sangue e traços de enzimas.
A composição média de um litro de leite de vaca é a seguinte:
TABELA 1 – Composição do leite em percentagens.
Fonte: Manual Para Inspeção da Qualidade do Leite – 1997.
A água é o componente mais abundante no qual se encontram em solução os
demais compostos. Alguns minerais apresentam-se na forma de solução iônica, a
lactose e a albumina aparecem como solução verdadeira, a caseína e os fosfatos no
estado de dispersão coloidal e a gordura na forma de pequenos glóbulos dispersos
constituindo uma emulsão.
Os termos sólidos totais (ST) ou extrato seco total (EST) englobam todos os
componentes do leite, exceto a água. Por sólidos não gordurosos (SNG) ou extrato
seco desengordurado (ESD) compreendem-se todos os elementos do leite menos a
água e a gordura.
A cor branca deve-se ao resultado da dispersão da luz em proteínas,
gorduras, fosfatos e citrato de cálcio. O processo de homogeneização do leite
aumenta a coloração branca, pois as partículas fragmentadas dispersam mais luz. O
leite desnatado apresenta tonalidade mais azulada, já que existe baixa quantidade
de grandes partículas na suspensão.
Água 87,3
Gorduras 3,6 Extrato seco
total Extrato seco
desengordurado Proteínas...3,3 Lactose......4,9 Minerais.....0,9
9,1
12,7
Vitaminas ____
Enzimas ____
Pigmentos ____
Gases dissolvidos (CO2, O, N)
____
2.2 COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Sendo tão complicada como sua estrutura física, sua composição química é
muito variável tanto em função das raças produtoras, tanto em função de sua idade,
da fase de lactação, época do ano, natureza da forragem oferecida aos animais, etc.
As proteínas estão constituídas essencialmente por caseína (82%). É a
proteína que se encontra em suspensão porque pode precipitar-se facilmente por
acidificação do leite ou adição de coalho, formando-se então a coalhada ou coágulo.
Junto à caseína, vamos encontrar algumas proteínas solúveis e proteínas do soro.
Entre elas, a α-lactalbumina, β-lactoglobulina, imunoglobulina e soro albumina. A
matéria gorda apresenta-se em forma de glóbulos de pequeno tamanho, envolvidas
por uma membrana bastante espessa. Quimicamente, como os demais corpos
gordurosos de origem animal e vegetal, esta matéria gorda está constituída por 99%
de triglicerídeos, espécie de associação entre uma molécula de glicerol e três ácidos
graxos, geralmente diferente uns dos outros.
O leite contém, em quantidades suficientes, todos os elementos minerais e
vitaminas necessárias para o ser humano.
2.2.1 Carboidratos
O principal carboidrato do leite é a lactose. É produzida pelas células epiteliais
da glândula mamária e é a principal fonte de energia dos recém-nascidos. Além da
lactose, podem ser encontrados no leite outros carboidratos, como a glicose e a
galactose, mas em pequenas quantidades.
A lactose compreende aproximadamente 52% dos sólidos totais do leite
desnatado e 70% dos sólidos encontrados no soro do leite. Controla o volume de
leite produzido, atraindo a água do sangue para equilibrar a pressão osmótica na
glândula mamária. A quantidade de água do leite e, conseqüentemente, o volume de
leite produzido pela vaca, depende da quantidade de lactose secretada na glândula
mamária. A concentração de lactose no leite é de aproximadamente 5% (4,7 a
5,2%). É um dos elementos mais estáveis do leite, isto é, menos sujeito a variações.
2.2.2. Proteínas
As proteínas representam entre 3% e 4% dos sólidos encontrados no leite. A
porcentagem de proteína varia, dentre outros fatores, com a raça e é proporcional à
quantidade de gordura presente no leite. Isso significa que quanto maior a
percentagem de gordura no leite, maior será a de proteína.
Existem vários tipos de proteína no leite. A principal delas é a caseína, que
apresenta alta qualidade nutricional e é muito importante na fabricação dos queijos.
A caseína é produzida pelas células secretórias da glândula mamária e encontra-se
organizada na forma de micelas, que são agrupamentos de várias moléculas de
caseína junto com cálcio, fósforo e outros sais. Cerca de 95% da caseína total do
leite está nessa forma. As micelas de caseína junto com os glóbulos de gordura são
responsáveis por grande parte das propriedades relativas à consistência e à cor dos
produtos lácteos.
A caseína não é facilmente alterada pelo calor, permanecendo bastante
estável quando o leite é pasteurizado. Entretanto, quando ocorrem mudanças na
acidez do leite, há o rompimento da estrutura das micelas, o que faz a caseína
precipitar e formar coágulos. A gordura e a caseína têm importância fundamental
para a manufatura de vários derivados lácteos, sendo que representam a maior
concentração de elementos sólidos dos queijos.
2.2.3 Gordura
A gordura do leite está presente na forma de pequenos glóbulos, suspensos na fase aquosa. Cada glóbulo é envolvido por uma camada formada por um componente da gordura denominado fosfolipídeo. Essa camada forma uma membrana que impede a união de todos os glóbulos. Desse modo, a gordura do leite é mantida na forma de suspensão.
A maior parte da gordura do leite é constituída de triglicerídios, que são
formados por ácidos graxos ligados ao glicerol. A gordura do leite está presente na
forma de pequenos glóbulos em suspensão na água. A fração de gordura no leite
serve de veículo para as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) colesterol e outras
sibstâncias solúveis em gordura, como os carotenóides (provitamina A), que dão ao
leite sua cor amarelo-creme
A concentração de gordura no leite varia geralmente entre 3,5% e 5,3%, em
razão de diferenças entre raças, estágio de lactação e de acordo com a alimentação
dos animais.
2.2.4 Sais Minerais e Vitaminas
O leite é uma fonte excelente da maioria dos sais minerais necessários para o
desenvolvimento dos indivíduos jovens. O cálcio e o fósforo do leite apresentam alta
disponibilidade, em parte porque se encontram associados à caseína. Por isso, o
leite é a melhor fonte de cálcio para o crescimento do esqueleto dos indivíduos
jovens e para a manutenção da integridade dos ossos dos adultos. O conteúdo de
ferro é baixo.
O leite é uma importante fonte de vitaminas, algumas se associam com a
gordura (A, D, E e K), enquanto outras se associam com a parte aquosa. Dentre as
últimas, estão às vitaminas do complexo B e a vitamina C. Mais de dez vitaminas
diferentes do complexo B são encontradas no leite. Entretanto, com exceção da
vitamina B² (riboflavina), as outras são encontradas em quantidades pequenas. As
vitaminas do complexo B são produzidas no estômago composto (rúmen) dos
animais.
O leite é uma fonte importante de vitamina C (ácido ascórbico), mas esta é
rapidamente oxidada na presença de cobre em um produto biologicamente inativo.
TABELA 2 – Composição dos principais tipos de leite (g/litro). Subst. Nitrogenadas
Espécie animal
EST
Gordura
Açúcares Caseína Albumina
globulina
Sais
Vaca 125-130 35-40 47-52 27-30 4-5 9-9,5
Ovelha 170-185 55-70 43-50 45-50 8-10 9-10
Cabra 125-145 35-50 40-50 30-32 5-7 7-9
Mulher 117-120 32-35 65-70 10-12 5-6 2-3
Égua 95-100 9-15 60-65 10-12 7-8 3-4
Jumenta 95-105 10-12 60-70 8-12 7-9 4-5 Fonte: Veisseyre, R. (1980). Manual Para Inspeção da Qualidade do Leite – 1997.
2.3 VALOR NUTRITIVO DO LEITE
Desde os primórdios da civilização, o leite tem sido utilizado a alimentação
humana como fonte de proteína, gordura, energia e outros constituintes essenciais.
O leite de vaca apresenta cerca de 3,2 a 3,5% de proteína. É formado por
vários compostos nitrogenados, dos quais aproximadamente 95% ocorrem como
proteínas e 5% como compostos nitrogenados não protéicos. Aproximadamente
80% do nitrogênio protéico do leite constitui-se de nitrogênio caseínico e 20% de
nitrogênio não-caseínico. A elevada qualidade de sua proteína é devida à
diversidade de quantidades apreciáveis de aminoácidos essenciais. A grande
quantidade de lisina faz com que o leite seja utilizado como complemento de dietas
baseadas em cereais e outros nutrientes pobres neste aminoácido. As necessidades
de aminoácidos essenciais de um adulto podem ser satisfeitas pelo consumo diário
de 0,5 litros de leite ou 50 a 100 gramas de queijo. Um grama de proteína fornece 4
calorias.
A lactose é um açúcar que pode variar em quantidades de 4,7 a 5,2% no leite
de vaca. Cada grama de lactose pode fornecer 4 calorias. Com um poder adoçante
baixo, trata-se de um açúcar pouco solúvel e quando comparado com outros tipos
de açúcares, altamente solúveis, apresenta menor tendência de irritação das
mucosas do estômago. A lactose é hidrolisada no intestino delgado em
monossacarídeos (glicose e galactose), por ação da enzima lactase existentes nas
células epiteliais da mucosa intestinal.
A utilização da lactase pela microflora intestinal resulta na produção de ácido
lático e na diminuição do pH promovendo o desenvolvimento da microflora intestinal
lactofílica desejável, inibindo o desenvolvimento de bactérias putrefativas e
patogênicas. A lactose também é importante porque melhora a absorção do cálcio
no organismo, fato explicado pela redução do pH intestinal, que leva a solubilidade e
disponibilidade notavelmente maiores dos compostos de cálcio constituídos para a
absorção.
Uma conseqüência da absorção lenta da lactose é seu efeito levemente
laxante, atribuível ao seu elevado peso molecular e menor nível de pH no intestino, o
que aumenta sua atividade peristáltica. A lactose ainda é considerada como uma
fonte persistente de energia, já que é absorvida mais lentamente que a sacarose.
Supõe-se também que a lactose não forma placas dentárias como os demais tipos
de açúcares.
A gordura do leite fluído está presente na forma de emulsão de glóbulos
graxos no soro do leite. A gordura no leite contribui para uma melhor digestibilidade
e palatabilidade do produto. É também responsável pelo grande número de ácidos
graxos essenciais e pelo valor calórico do leite (1 g de gordura fornece 9 calorias).
Além disso, o valor nutricional da gordura é devido às vitaminas lipossolúveis (A, D,
E, K) e à presença do caroteno precursor da vitamina A.
O leite contém todos os minerais biologicamente importantes, incluindo
microelementos. Possui quase 7,5 g de minerais por litro. Trata-se de uma ótima
fonte de cálcio e fósforo. O leite é considerado uma das fontes mais adequadas de
cálcio, muito importante principalmente durante a fase de crescimento, onde a
absorção média de cálcio varia de 21 a 27%. O leite é um alimento pobre em ferro.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), as recomendações
de consumo de leite seriam:
a) Crianças abaixo de 9 anos: 2-3 xícaras (0,5 litros de leite por dia);
b) Crianças de 9 a 12 anos: 3 ou mais xícaras (3/4 litros de leite por dia);
c) Adolescentes: 4 ou mais xícaras (1 litro de leite por dia);
d) Adultos: 2 ou mais xícaras (1/2 litros de leite por dia).
3 ANTIBIÓTICOS NO LEITE
A preocupação relacionada com a possível presença de antibióticos no leite
tem sido uma constante na indústria de laticínios, em especial para os envolvidos
com a elaboração de produtos lácteos fermentados.
Os antibióticos são substâncias indesejáveis no leite por dois aspectos
fundamentais: causam problemas de saúde pública e problemas tecnológicos em
produtos fermentados. O leite pode ser veículo de resíduos de substâncias
antimicrobianas, em decorrência do uso destas para tratamento e prevenção de
doenças do gado leiteiro, principalmente as mastites (infecção da glândula mamária)
e doenças do trato reprodutivo, principalmente a metrite e a retenção de placenta.
Com relação aos problemas de saúde, a presença de resíduos de
antimicrobianos no leite pode ter um efeito adverso na microflora intestinal humana e
o consumo por tempo prolongado deste leite com resíduos pode propiciar a
manutenção de uma flora resistente. O risco para os consumidores decorre de
infecções por microrganismos resistentes ou ainda transferência de resistência aos
agentes patogênicos, que podem prejudicar um tratamento posterior.
Deve-se ressaltar ainda o risco de reações alérgicas, sobretudo relacionados
à penicilina. Podem ocorrer efeitos toxicológicos pelo uso de cloranfenicol e
nitrofuranos. No caso do cloranfenicol, para o homem, pode desencadear efeitos
colaterais perigosos para a medula óssea (anemia aplástica, hipoplástica e
granulocitopenia). Quanto aos nitrofuranos, podem provocar efeitos mutagênicos e
aumento da indução de tumores em animais de laboratório.
Os antibióticos podem ser encontrados no leite por introdução voluntária
fraudulenta de produtores que desejam aumentar a durabilidade do leite, porém, o
mais usual, é o seu aparecimento como resíduo de tratamentos de doenças do
animal.
3.1 AGENTES ANTIMICROBIANOS
Agentes antimicrobianos são substâncias usadas para inibir o crescimento ou
inativar os microrganismos que se estabeleceram em um organismo vivo. Uma
propriedade destas substâncias, que define seu uso na terapêutica, é a toxicidade
seletiva, isto é, deve ter atuação restrita aos microrganismos, sem afetar as células
do organismo do hospedeiro. As substâncias antimicrobianas mais usadas são os
antibióticos. Os antibióticos são substâncias que ocorrem naturalmente e são
produzidas total ou parcialmente por microrganismos. Os principais microrganismos
produtores de antibióticos são os fungos. O termo quimioterápico é usado para
designar os antimicrobianos produzidos totalmente por síntese química.
Dentre estes, os mais comuns são as sulfonamidas e os nitrofuranos.
3.2 RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS EM PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL
Logo após a utilização dos antimicrobianos para tratamento de doenças
humanas, eles foram introduzidos na prática veterinária. Antes do final da II Guerra
Mundial, infusões de penicilina foram usadas para tratamento de mastite em vacas.
Em seguida, produtos injetáveis e formulações com estreptomicina, cloranfenicol,
sulfas e tetraciclinas tornaram-se disponíveis.
Atualmente, agentes antimicrobianos são usados na produção animal para
prevenção ou tratamento de doenças e como aditivo alimentar. Neste último caso,
com a finalidade de melhorar a eficiência e utilização dos alimentos, resultando no
melhor desempenho produtivo dos animais. No tratamento de doenças infecciosas
agudas, os antimicrobianos são usados, geralmente, por períodos relativamente
curtos, de 1-7 dias. Quando utilizados como promotores de crescimento ou na
prevenção de doenças, são administrados por longos períodos que podem
corresponder a maior parte da vida do animal. Neste processo, os antimicrobianos
ou seus derivados metabólicos podem se acumular ou depositar nas células, nos
tecidos ou nos órgãos do animal. Quando vestígios destas substâncias são
detectados posteriormente nos alimentos, são denominados de resíduos.
As quantidades residuais de uma droga ou substância química e seus
derivados são expressos e partes por peso ou volume, tais como, mg/kg ou mg/L
(ppm), µg/kg ou µg/L (ppb).
3.3 O LEITE COMO VEÍCULO DE RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS
Um componente importante dos programas de saúde dos rebanhos leiteiros é
o emprego de substâncias antimicrobianas para a prevenção ou para o tratamento
de doenças, principalmente mastite e doenças do trato reprodutivo como a metrite e
a retenção de placenta. Contudo, o uso disseminado dessas substâncias tem
ocasionado o aparecimento de resíduos no leite ou nos produtos lácteos.
A presença de resíduos interfere diretamente na qualidade do leite e nos
processos industriais, além de constituir um problema de saúde pública. Com
respeito à importância para a saúde pública, os aspectos toxicológicos,
desenvolvimento de reações e hipersensibilidade e microbiológicos devem ser
considerados.
4 AÇÃO TOXICOLÓGICA
A avaliação toxicológica de resíduos de antimicrobianos nos alimentos em
geral segue os princípios elaborados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
(Food Agriculture Organization – FAO), órgãos das Nações Unidas, definidos pela
comissão do Codex Alimentarius (Joint FAO/WHO Food Standarts Programme). O
risco toxicológico é avaliado determinando-se o nível de concentração da droga que
não causa nenhum efeito adverso (NOEL) em animais, incluindo o homem. Com
este valor, estima-se a concentração aceitável de ingestão diária da droga (ou dose
diária aceitável, ADI). A ADI é a dose diária que, se ingerida durante toda a vida do
indivíduo, não oferece risco apreciável à saúde, com base nos conhecimentos
disponíveis no momento. Não oferecer risco apreciável significa a certeza prática de
que uma exposição durante toda a vida ao resíduo não resultará em efeitos
deletérios à saúde. Valores de ADI são sempre sujeitos a revisão, desde que novas
informações se tornem disponíveis, e são expressos em miligrama da droga por
quilograma de peso vivo.
QUADRO 1 – Cálculo do ADI (Dose diária ingerida)
ADI = Nível de efeito adverso negativo (NOEL) x 70 ---------------------------------------------------------------------------------------------
Fator de segurança (100, 1000)
ADI = mg/dia
NOEL = mg/kg em animais
70 = peso corporal médio dos consumidores
Fonte: Britto. Resíduos de Antimicrobianos no Leite, 2000.
A concentração toxicologicamente tolerável do resíduo em um alimento pode
ser calculada de acordo com a fórmula abaixo: TC (Concentração tolerável).
QUADRO 2 – Cálculo do TC (Concentração Tolerável).
TC = ADI x peso corporal x kg do alimento consumido ----------------------------------------------------------
Fator de segurança adicional
Fonte: Britto, Resíduos de Antimicrobianos no Leite, 2000
A partir da avaliação de cada substância, e baseando-se nos estudos do
metabolismo e cinética de eliminação de resíduos, é determinado o limite máximo de
resíduo (MRL, do inglês “Maximum Residue Limit”), permitido no alimento. Este deve
ser sempre mais baixo que a concentração tolerável e não deve exceder a dose
diária aceitável. A tolerância para uma droga ou resíduo químico no leite é
estabelecida como a décima parte daquela da carne. Isto se deve ao fato de que o
leite é o principal alimento da dieta de crianças e recém-nascidos, que são
considerados mais sensíveis que os adultos. Tolerâncias são estabelecidas para
compostos não-carcinogênicos. Para substâncias com ação carcinogênica, a
tolerância ainda é zero.
Na tabela 1 são apresentados os limites máximos permitidos de algumas
substâncias antimicrobianas de acordo com regulamentações da FAO/OMS e da
União Européia. Alguns desses valores estão estabelecidos, enquanto outros são
preliminares e estão sujeitos a revisão, desde que novas informações sobre as
substâncias tornem-se disponíveis.
TABELA 3 - Limite máximo permitido de resíduos de antimicrobianos no leite. Substância Limite máximo permitido no leite (µg/L)
Ampicilina
Amoxicilina
Cefapirina
Ceftiofur
Cloranfenicol
Clortetraciclina
Cloxacilina
Dihidroestreptomicina
Eritromicina
Espectinomicina
Espiramicina
4
4
20
100
0
100
30
200
40
200
200
Estreptomicina
Gentamicina
Neomicina
Oxitetraciclina
Penicilina
Sulfadimidina
Tetraciclina
Tilosina
200
200
500
100
4
25
100
50
Fonte: Compilado de FAO, Food and Agriculture Origanization, (1991) e de Heeschen & Suhren, 199
4.1 ASPECTOS TOXICOLÓGICOS
Os principais aspectos toxicológicos dos resíduos de antimicrobianos no leite
estão relacionados às seguintes ações:
• Carcinogênica: causam dano irreversível ao DNA celular, portanto, não se
admitem resíduos para esta categoria de substâncias;
• Mutagênica: causam danos aos componentes genéticos das células ou
organismos;
• Teratogênica: causam efeito tóxico ao embrião ou feto.
Alguns exemplos que evidenciam a importância de estudos para avaliar níveis
de resíduos aceitáveis no leite são apresentados a seguir:
• Nitrofuranos : Compreendem um grupo de compostos sintéticos derivados do
anel furano, com um grupo nitro na posição 5. Estudos realizados com
nitrofuranos marcados com carbono 14 mostraram que estes compostos
podem se ligar às moléculas de DNA e RNA, levando ao rompimento de
cadeias simples de DNA e até inibição da síntese de DNA. Em geral, os
nitrofuranos são tóxicos para o material genético da célula e são mutagênicos
em diferentes sistemas testados, bem como aumentam a freqüência de
tumores em animais de laboratório como ratos (ação carcinogênica). Uma
ingestão diária de < 0,002 µg/kg de peso corporal equivale a um risco
carcinogênico de menos de 1:107.
• Cloranfenicol : Em animais de experimentação observam-se efeitos adversos
de cloranfenicol sobre a medula óssea. Supõe-se que esta ação seja
conseqüência da ligação covalente de metabólitos do cloranfenicol, com ação
sobre o DNA das células do indivíduo. Isto resulta em anemia aplástica em
indivíduos susceptíveis (cerca de 1/40.000). Parece que este efeito é
independente da dose.
O cloranfenicol foi avaliado pelo Comitê de Especialistas em Aditivos
Alimentares da FAO/OMS (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives,
JECFA). Entre outras afirmativas o Comitê salienta que “o mecanismo para a
patogênese de anemia aplástica é desconhecido e não há um modelo animal
conveniente para seu estudo. Assim, não pode ser estabelecido um nível ou uma
dosagem em que não se observa nenhum efeito adverso (NOEL), e não pode ser
alocada uma ADI para o cloranfenicol, porque não é possível assegurar que
resíduos no tecido animal seria seguro para indivíduos susceptíveis”. Portanto, não
existe um nível aceitável de resíduo de cloranfenicol no leite.
O Comitê recomendou que deveriam ser feitos esforços para substituir ou
proibir o uso de cloranfenicol para animais de produção, particularmente vacas em
lactação, em que altos níveis de resíduos no leite é o problema principal. Em
diversos países do mundo, o uso de cloranfenicol é aprovado somente para animais
não utilizados como alimento humano. Isto está descrito na Portaria n° 448/1998 do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento, a qual considera que não é possível o
estabelecimento dos limites máximos de resíduos para cloranfenicol, furazolidona e
nitrofurazona na carne, leite e ovos, proíbe a fabricação, a importação, a
comercialização e o emprego de preparações farmacêuticas de uso veterinário, de
rações e de aditivos alimentares com estas substâncias para animais cujos produtos
sejam destinados à alimentação humana.
• Sulfametazina : Tem sido empregada por muitos anos em Medicina
Veterinária, tanto com finalidade terapêutica como para melhorar a eficiência
alimentar e como promotor de crescimento. Contudo, o “National Center for
Toxicological Research” dos Estados Unidos apresentou resultados de
pesquisa mostrando que a sulfametazina causou adenomas de células
foliculares na glândula tireóide de ratos e camundongos que foram
dependentes da dose. Este efeito foi observado após a administração de
doses moderadas e elevadas de sulfametazina por períodos de 18 a 24
meses.
5 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE OU ALÉRGICAS
Reações de hipersensibilidade ou reações alérgicas são reações
imunológicas que aparecem após o indivíduo se expor ao antígeno e tornar-se
sensibilizado. Após nova exposição, a reação imunológica ocorre e a alergia se
manifesta. As reações de hipersensibilidade, por causa de substâncias
antimicrobianas se manifestam, geralmente, como reação de pele (ex: urticárias e
dermatites) e, ou, sintomas envolvendo o sistema respiratório (rinite e asma
brônquica). Reações alérgicas que resultam em um choque anafilático são mais
raras. Os fatores que influenciam a sensibilização incluem a intensidade, duração,
via de administração e freqüência de exposição ao alérgeno.
As penicilinas constituem o grupo mais importante de drogas que causam
reações alérgicas, embora se saiba que, em menor proporção, outros
antimicrobianos como a tetraciclina, a estreptomicina, as sulfonamidas e derivados
dos nitrofuranos, possam também ter essa ação. Considerando a hipersensibilidade
à penicilina, supõe-se que as pequenas concentrações encontradas no leite como
resíduo não induziriam à sensibilização. O risco do desenvolvimento de reações
alérgicas se relaciona a uma pequena porcentagem de indivíduos alérgicos,
previamente sensibilizados, que podem desenvolver reações sérias, mesmo com o
consumo de quantidades muito pequenas da droga. Tem sido mostrado que
concentrações tão pequenas quanto 3-9 µg de penicilina no leite resultaram em
reações alérgicas em indivíduos susceptíveis.
Em 1969, a OMS propôs que os limites para penicilina no leite de consumo
humano não deveriam exceder a 0,006 µg/ml (0,01 UI/ml). Nos países da
Comunidade Européia o nível máximo permitido de 0,004 µg/ml ou 4 µg/kg (ppb) foi
introduzido para penicilina G em 1985. Considera-se que a principal via de
contaminação do leite com penicilina é após o tratamento intramamário de mastite
bovina, quando o leite não foi retirado do consumo durante o período de excreção da
droga.
6 ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS
Os resíduos de antimicrobianos no leite podem ter ação sobre
microrganismos do ambiente e da flora intestinal levando a um aumento de bactérias
resistentes, devido à pressão seletiva.
Uma bactéria pode se tornar resistente a um antimicrobiano por meio de
mutação no seu cromossoma ou por infecção por um plasmídio. No primeiro caso, a
mutação pode surgir espontaneamente, em proporções determinadas. NO segundo
caso, os genes da resistência estão presentes em fragmentos de DNA extra-
cromossomiais (plasmídios). Os plasmídios podem ser transferidos de uma célula
bacteriana para outra dentro da mesma espécie ou até mesmo entre espécies
diferentes, transferindo a resistência. Este último mecanismo apresenta maior
problema, porque é mais prevalente e pode envolver a transferência de resistência a
múltiplos agentes.
Os agentes antimicrobianos, portanto, não induzem resistências nas
bactérias, mas atuam como agentes seletivos, inibindo as bactérias sensíveis e
permitindo o crescimento e multiplicação das resistentes. Sob a pressão seletiva dos
antimicrobianos, o número de bactérias resistentes aumenta, podendo tornar-se a
flora dominante e até persistir por semanas após o término de seu uso. Uma
bactéria é considerada resistente a um agente antimicrobiano se a menor
concentração necessária para inibir seu crescimento (concentração mínima
inibitória), ou, seja, a menor concentração de uma sustância capaz de inibir o
crescimento ou inativar um determinado microrganismo. Essa concentração varia de
acordo com cada produto, seu mecanismo de ação e com características dos
microrganismos, for maior do que a concentração atingida nos tecidos do animal
durante o tratamento. A ocorrência de bactérias com resistência múltipla no
ambiente tem sido um fenômeno freqüente. Muitos pesquisadores acreditam que
este fenômeno tem sido o resultado do uso extensivo de antimicrobianos, tanto em
medicina humana como na veterinária.
A administração de quantidades subterapêuticas de antibióticos ocasiona um
aumento na freqüência de bactérias resistentes, tanto no homem quanto nos
animais. Nesse sentido, a presença de resíduos de antimicrobianos no leite pode ter
um efeito adverso na flora intestinal humana, prejudicando sua ação protetora local,
além de propiciar a manutenção de uma flora resistente.
O risco para a saúde humana decorre de infecções por microrganismos
resistentes ou transferência de resistência a bactérias patogênicas, podendo
prejudicar o tratamento posteriormente.
7 INTERFERÊNCIA NOS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO LEI TE
A presença de resíduos de antimicrobianos no leite pode causar prejuízos
consideráveis para a indústria de laticínios. Quantidades pequenas podem inibir
culturas lácteas sensíveis, utilizadas na fabricação de queijos, iogurtes e de outros
produtos. O leite com resíduos de antimicrobianos apresenta problemas na
acidificação e na textura dos queijos, acidificação e formação de odores
desfavoráveis na manteiga e no creme, inibição de cultivos do iogurte e outros
produtos fermentados. Além disso, a prova de redutase, utilizada para controle de
qualidade do leite, pode indicar uma qualidade aparentemente boa, o que não é
verdade.
TABELA 4 - Concentração média de antibióticos (µg/ml) requerida para inibir em 50% o crescimento de bactérias usadas na fabricação de queijos e iogurte. Antibióticos Streptococcus
lactis
Streptococcus
cremoris
Culturas
comerciais
Penicilina G 0,12 0,11 0,13
Cloxacilina 2,2 1,68 1,86
Tetraciclina 0,14 0,14 0,11
Estreptomicina 0,53 0,67 0,57
Fonte: Britto, Resíduos de Antimicrobianos no Leite, 2000
A pasteurização tem pouco ou nenhum efeito no conteúdo de antimicrobianos
do leite. O cloranfenicol é completamente resistente ao aquecimento a 100°C. A
fervura ou o aquecimento do leite a 100°C destrói e stes antibióticos nas seguintes
porcentagens:
• Penicilina: 50%;
• Estreptomicina: 66%;
• Ocitetraciclina e tetraciclina: 90%.
8 ORIGEM DOS RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS NO LEITE
A contaminação do leite de consumo por antimicrobianos é decorrente do
tratamento de vacas em lactação por problemas de mastite, metrite ou outra doença
infecciosa, ou como resultado do tratamento durante o período seco para controlar
mastite. Após a aplicação pelas vias parenteral, oral e intra-uterina, os
antimicrobianos passam do sangue para o leite. Mesmo após a aplicação
intramamária, ocorre a passagem para o sangue e daí para o leite. O aparecimento
de resíduos em quartos não tratados, após o tratamento intramamário, se deve a
essa passagem via corrente sangüínea e não pela passagem direta de um quarto
para outro.
A excreção de antimicrobianos no leite varia de produto para produto. Após a
aplicação intravenosa, dependendo do tipo de preparação e da dose administrada,
poderão aparecer resíduos por um período de 12 a 48 horas. O padrão de excreção
após a aplicação intramuscular é semelhante ao da aplicação intravenosa, só que o
período de excreção é prolongado (entre 6 a 150 horas). Os produtos utilizados para
tratamento durante a lactação, por via intramamária, geralmente apresentam um
período de excreção entre 24 e 96 horas. Preparações de bases oleosas podem ser
excretadas em até sete dias, não sendo recomendadas para tratamento de vacas e
lactação. A administração intramamária de antibióticos para tratamento de mastite é
considerada a principal fonte de contaminação do leite.
Um levantamento realizado no Reino Unido (Booth & Harding, 1986) mostrou
que, de 3.484 casos de contaminação do leite com antibióticos, 80% foram devidos
a tratamento intramamário para mastite. Mais de 50% dos casos de contaminação
foram relacionados com o tratamento intramamário durante a lactação e
aproximadamente 27%, resultado do tratamento à secagem. As principais razões
para o aparecimento de resíduos foram:
• Não-observação de um período de carência para a retirada do leite para
consumo humano após o tratamento (16,5%);
• Mistura acidental do leite contaminado com antibiótico ao não-contaminado
(16,7%);
• Excreção prolongada do antibiótico (8,2%);
• Parições antes do período esperado (7,3%);
• Contaminação dos equipamentos de ordenha (7,2%).
• Outras causas observadas foram: ordenha acidental de vacas no período
seco, descarte somente do leite dos quartos tratados, deficiência ou falta de
anotação dos tratamentos realizados, não-identificação das vacas tratadas ou
perda da identificação, falha de notificação do período de retirada do leite
para consumo e uso de produtos indicados para o período seco durante a
lactação.
Quando uma vaca tratada com antibiótico pela via intramamária é ordenhada
mecanicamente, mesmo que o leite seja recolhido separadamente, um pequeno
volume de leite é retido nas tubulações ou nos recipientes coletores. Em um estudo
realizado por Pugh et al. (1977), este volume foi de aproximadamente 25 ml e foi
suficiente para contaminar o leite produzido por até 20 vacas. Por esta razão,
recomenda-se ordenhar as vacas tratadas separadamente.
9 PERÍODO DE RETIRADA DO LEITE PARA CONSUMO
Este período corresponde ao intervalo de tempo após a administração da
última dose do antimicrobiano até o leite estar seguro para o consumo. Neste
período, a concentração detectável da substância cairá para dentro de limites
estabelecidos. Este intervalo é necessário para prevenir o aparecimento de
resíduos.
A persistência dos resíduos de antimicrobianos no leite depende de uma série
de fatores, tais como o tipo da preparação que está sendo usada (substância ativa e
formulação), dosagem empregada, intervalo entre o início do tratamento e a primeira
ordenha, absorção pelos tecidos do úbere, quantidade de leite produzido no
momento do tratamento, o estado de saúde e fatores individuais do animal. Na
tabela 3 são apresentados os dados de resíduos de benzil penicilina no leite após a
administração de doses variáveis pelas vias intramuscular e intramamária. As
avaliações foram feitas após a administração da primeira dose. Cada valor
corresponde à média de 5 animais e o valor mais alto foi colocado em baixo, entre
parênteses. Como pode ser observado, a persistência foi afetada pela formulação do
produto comercial. Os animais tratados pela via intramuscular (tratamentos A, B, C e
D) receberam a mesma dosagem do antimicrobiano. Dentre estes tratamentos, o
que deu origem a menos resíduos no leite foi o tratamento A, em que os
antimicrobianos foram preparados em solução aquosa. Algumas preparações, como,
por exemplo, a que continha polivinilpirrolidona (tratamento B) e lecitina (tratamento
D) foram eliminadas por mais tempo. As preparações usadas nos tratamentos
intramamários foram em bases oleosas. O período de eliminação foi influenciado
pela base e pela dosagem empregada.
Os produtos desenvolvidos para tratamento durante a lactação e para o
período seco diferem na formulação do antibiótico. Os primeiros são liberados mais
rapidamente porque são, geralmente, sais solúveis em bases de liberação rápida.
Os produtos para tratamento no período seco são, geralmente, sais insolúveis em
bases de ação longa, para permitir a liberação contínua do antibiótico no úbere por
várias semanas. Por exemplo, o tempo de persistência de penicilina benzatina no
organismo é superior a três semanas. Portanto, o tratamento de uma vaca com esta
droga deve ser no mínimo 28 a 30 dias antes do parto ou no início do período seco.
TABELA 5 - Resíduos de benzil penicilina no leite (µg/L) após aplicação intramuscular e intramamária de benzilpenicilina procaína (PBP) e (ou) benzilpenicilina (BP). As informações sobre os tratamentos (A, B, C, D, E, F e G) e doses utilizadas são dadas abaixo. Cada valor corresponde à média de cinco animais e o valor mais alto encontrado está colocado entre colchetes.
Intramuscular Intramamária Ordenha
N° A ¹ ² B C D E F G
- 2 126
[168]
90
[150]
72
[108]
126
[216]
29100
[42000]
174600
[234000]
34800
[48000]
- 1 21
[35]
22
[80]
41
[84]
40
[78]
1590
[3072]
109380
[192000]
420
[870]
1 114
[162]
120
[246]
90
[132]
120
[246]
51650
[76800]
173400
[264000]
20520
[31200]
2 23
[27]
34
[71]
38
[85]
29
[53]
3096
[8040]
5556
[11700]
184
[405]
3 7
[15]
16
[36]
20
[56]
11
[18]
329
[636]
331
[690]
15
[48]
4 2
[4]
5
[16]
8
[28]
13
[13]
48
[140]
26
[34]
1
[4]
5 ND³ 4
[11]
2
[10]
2
[8]
7
[23]
4
[7]
<1
[1]
6 ND 2
[7]
2
[4]
1
[5]
1
[5]
1
[2]
<1
[1]
7 ND 1
[5]
<1
[2]
<1
[3]
<1
[2]
<1
[<1]
ND
8 ND <1
[1]
ND <1
[3]
<1
[1]
ND ND
9 ND ND ND ND <1
[1]
ND ND
10 ND ND ND ND ND ND ND
1 – tratamentos utilizados: A: 40% BP, 60% PBP em solução aquosa; B: PBP e dihidroestreptomicina em solução aquosa com polivinilpirrolidona; C: B mais lecitina; D: B mais carboximetilcelulose; E: PBP mais sulfato de neomicina em álcoois e petrolato; F: PBP mais dihidroestreptomicina, polisorbato 80, e sílica coloidal em propileno glicoésteres de ácidos graxos saturados; G: PBP e glicerolmonoestearato em óleo de amendoim. 2 – Dosagens utilizadas nos tratamentos citados acima: A, B, C, D: duas injeções intramusculares de 6,0 mg/kg peso corporal a cada 24 horas; E: duas aplicações de 270 mg/quarto cada 24 horas; F: Três aplicações de 600 mg/quarto mamário após três ordenhas consecutivas; G: duas aplicações de 60 mg quarto com 24 horas de separação entre elas. 3 – ND: Nenhum resíduo detectado. Fonte: FAO, Food and Agriculture Organization, 1991.
Estudos baseados em esgotamento do úbere, empregando-se testes
quantitativos, são utilizados para determinar o tempo em que o antibiótico está
sendo excretado e, conseqüentemente, determinar o período no qual o leite não
deve ser enviado para consumo. Como este período varia de produto para produto,
cada preparação comercial deve indicar claramente na bula o período em que o leite
deve ser retirado do consumo humano e este prazo deve ser rigorosamente
respeitado. Os antimicrobianos que não trazem este tipo de informação não devem
ser usados em vacas em lactação cujo leite é destinado ao consumo humano, seja
na forma de leite fluido, seja na forma de derivados lácteos. Os produtos indicados
para tratamento no início do período seco devem propiciar concentrações abaixo da
permitida no quarto dia após o parto.
Sempre que um antimicrobiano é recomendado para tratamento de vacas em
lactação ou no início do período seco, o produtor e o veterinário responsável devem
estar familiarizados com o período de tempo em que o leite deve ser retirado do
consumo. É muito importante que o veterinário alerte o produtor para a necessidade
de observar este período após o tratamento.
10 CUIDADOS NO TRATAMENTO DA MASTITE
A administração de antimicrobianos para tratamento da mastite é a fonte mais
importante de contaminação do leite com resíduos. A mastite é uma doença
multifatorial, e para que ela seja controlada em um rebanho, é necessário um
conjunto de ações, dirigidas para o animal, o ambiente, o homem, o manejo, as
instalações, etc. É necessária a adoção de medidas que incluam higiene durante a
ordenha, higiene do ordenhador, controle dos equipamentos de ordenha e
manutenção de ambiente limpo e seco para as vacas. Neste processo não existem
atalhos ou abreviações e a alternativa é a observância rígida e permanente de um
conjunto de medidas profiláticas e higiênicas.
Não se deve esquecer a ação benéfica dos antimicrobianos para tratamento
dos casos clínicos, mas o controle da mastite subclínica requer um enfoque racional
e não deve ser baseado na utilização de antimicrobianos durante a lactação. O
tratamento deve ser realizado ao se interromper a lactação, no momento da
secagem da vaca. Resultados de pesquisa de vários países que possuem uma
indústria leiteira desenvolvida apontam nesta direção. Há necessidade, portanto, de
um programa de controle de mastite que considere as características da doença e a
utilização estratégica dos antimicrobianos. O tratamento deve ser norteado pelos
objetivos básicos citados a seguir: (Bramley et al., 1996).
QUADRO 3 – Objetivos do tratamento da mastite
A preocupação central do tratamento da mastite deve ser com a saúde, o
bem-estar e a segurança alimentar.
Os objetivos básicos da terapia antimicrobiana na mastite devem inclui:
• Retorno à produção e composição normal do leite;
• Prevenção da mortalidade dos casos agudos;
• Eliminação dos microrganismos infecciosos;
• Prevenção de novas infecções durante o período seco;
• Eliminação de práticas que possam ocasionar resíduos de
antimicrobianos no leite;
Para que esses objetivos possam ser atingidos, é necessária a execução
contínua de um programa de controle da mastite, uso cuidadoso de antibióticos e
outros medicamentos e anotação de todos os tratamentos realizados.
Fonte: Britto, Resíduos de Antimicrobianos no Leite, 2000
Outro aspecto que deve ser considerado quanto ao tratamento da mastite é
que os antimicrobianos têm sido, muitas vezes, utilizados de modo indiscriminado,
isto é, intensivo e com alternância elevada dos princípios ativos disponíveis. Muitas
vezes, considera-se que a não-atuação de um antimicrobiano é resultado da
resistência dos microrganismos, enquanto outros fatores poderiam ser
responsabilizados. Problemas relacionados à baixa dosagem, duração inadequada
do tratamento, formulação que não propicia uma boa difusão no úbere ou o alcance
do sítio da infecção, podem ser responsáveis por falhas do tratamento, mesmo
quando resultados de laboratório apontam para a sensibilidade da droga.
11 TESTES PARA A DETECÇÃO DE RESÍDUOS
Logo após a introdução de antimicrobianos para tratamento de infecções em
vacas leiteiras, foram observados os efeitos adversos do leite de vacas tratadas nos
produtos lácteos fermentados. As perdas econômicas decorrentes de falhas na
fermentação, a influência dos antibióticos em determinados testes e os riscos do
desenvolvimento de reações alérgicas e tóxicas nos indivíduos levaram ao
desenvolvimento de testes para a detecção de resíduos no leite.
Atualmente, há vários métodos descritos com essa finalidade. Estes se
baseiam na inibição do crescimento bacteriano, na ligação de receptores
específicos, em reações imunológicas ou enzimáticas e na separação, identificação
e quantificação do antimicrobiano por meio de técnicas de cromatografia gasosa ou
líquida. Os testes qualitativos darão resultado positivo ou negativo em relação a uma
concentração determinada da droga. Os quantitativos permitem a quantificação dos
resíduos, enquanto os semiquantitativos darão resultados em relação a uma faixa de
concentração da droga, por exemplo, negativo, fracamente positivo e fortemente
positivo.
A maioria dos testes comerciais disponíveis para aplicação no campo são
qualitativos ou semiquantitativos, e são classificados como testes de triagem. O
teste de triagem deve fornecer uma indicação segura e confiável da ausência de
resíduos na amostra em teste.
Para isso devem possuir um limite de detecção abaixo do limite máximo de
resíduo permitido para cada antimicrobiano.
Para todos os testes recomendam-se:
a) Tratamento térmico prévio à realização do teste: aquecer amostras a 80°C
por cinco a dez minutos, com o objetivo de eliminação dos inibidores naturais
do leite;
b) Um controle positivo (leite contaminado propositalmente com antibióticos) e
um controle negativo (leite certificado de ausência de antibióticos);
c) Microrganismos ativos.
11.1 TESTES DE INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO BACTERIANO
Estes testes baseiam-se na propriedade geral de que todos os
antimicrobianos inibem bactérias sensíveis. A amostra de leite é colocada em
contato com um microrganismo sensível. Adicionam-se nutrientes e após um período
de incubação, se houver presença de resíduos, nota-se a ausência de crescimento
bacteriano. Na ausência de resíduos, o crescimento bacteriano é evidenciado pela
produção de ácido, redução de corantes ou formação de uma camada visível de
crescimento na superfície de ágar.
Esse tipo de teste não permite a especificação e quantificação da substância
inibitória presente. A adição de certas substâncias à amostra positiva e a reanálise
permite fazer determinadas identificações. Por exemplo, a adição de penicilinase
permite confirmar se a substância inibidora é penicilina. Para confirmar a presença
de sulfonamidas, faz-se o mesmo procedimento adicionando-se ácido p-amino
benzóico. Se não aparecer a zona de inibição ou se aparecer uma zona de inibição
menor do que a observada previamente, significa que a amostra continha penicilina
(quando se adiciona penicilinase), ou sulfonamidas (quando se adiciona ácido p-
amino benzóico).
Outras amostras de bactérias usadas em testes de inibição do crescimento
são: Streptococcus thermophilus, Bacillus subtilis, Bacillus megaterium, Sarcina lútea
e as bactérias do iogurte (cultura mista de Streptococcus thermophilus e
Lactobacillus bulgaricus). O limite de detecção destas amostras de bactéria para
diversos antimicrobianos é conhecido, podendo haver variação nestes limites com
amostra utilizada e com o teste empregado. Não existe um teste de inibição do
crescimento bacteriano que detecte todos os antimicrobianos dentro dos limites
máximos de resíduos permitidos.
Dentre os testes que se baseiam na inibição do crescimento bacteriano há
disponibilidade de testes específicos para penicilina ou sulfonamidas na forma de
kits, que podem ser utilizados na própria fazenda.
11.2 TESTES IMUNOLÓGICOS, COM BASE EM RECEPTORES, ENZIMAS E
OUTROS
Embora os testes microbiológicos tenham papel destacado na detecção de
resíduos de antimicrobianos no leite, eles apresentam limitações, pois requerem
tempo para a incubação e o resultado somente é conhecido após duas a cinco
horas, na maioria dos casos. Posteriormente foram desenvolvidos métodos mais
rápidos, que possibilitam obter o resultado dentro de 15 minutos ou menos. Existem
testes específicos para diferentes classes de antimicrobianos, como, por exemplo,
para betalactâmicos, macrolídios, aminoglicosídios, tetraciclinas, cloranfenicol e
sulfonamidas.
Outro grupo de testes são os conhecidos como imunológicos, pois se
baseiam na reação do antibiótico (antígeno) com um anticorpo específico. Nestes
métodos, anticorpos específicos ou anticorpos monoclonais se ligam ao resíduo do
antimicrobiano, quando presente na amostra. Alguns destes testes utilizam métodos
de análise que empregam substâncias radioativas, ou empregam enzimas, na
técnica conhecida como ELISA. Na técnica de ELISA, quando uma amostra é
positiva, há alteração de cor, que pode ser visualizada.
Além destes testes, há outros métodos de detecção de resíduos no leite que
empregam cromatografia gasosa, em camada fina, ou líquida de alto desempenho
(HPCL), eletroforese, biorradiografia, outros métodos enzimáticos e alguns métodos
microbiológicos que empregam receptores ou anticorpos. Não são usados na rotina,
mas para propósitos especiais, como, por exemplo, em casos que necessitam
confirmação. Na maioria dos casos há necessidade de equipamentos sofisticados e
que demandam pessoal treinado para o uso.
11.3 MÉTODO DO TTC (2,3,5 CLORETO DE TRIFENILTETRAZÓLIO)
O princípio deste teste reside na inibição do Streptococcus thermophilus. Se
não houver antibióticos, o TTC (incolor), pela fermentação e diminuição do pH,
passa para formazano, um composto de coloração róseo-avermelhada.
A técnica é a seguinte:
• Colocar 10 ml da amostra em um tubo de ensaio, aquecer a 80°C por
15minutos;
• Resfriar a 37-40°C;
• Em cada tubo, deve-se adicionar 1 ml da suspensão de cultura pura de S.
thermophilus 1:1 com água estéril;
• Inverter os tubos;
• Levar para banho-maria ou estufa com agitação a 37°C-40°C por duas horas;
• Retirar os tubos do banho-maria ou estufa e adicionar em cada tubo 0,3 ml de
solução de TTC a 4%;
• Misturar adequadamente e incubá-los em iguais condições por mais trinta
minutos.
Para a interpretação dos resultados, deve-se observar a coloração adquirida
pela solução. Se a solução obteve a coloração rósea a vermelho indica que este
teste é negativo para antibióticos ou substâncias inibidoras. Por outro lado, se a
solução adquirir a coloração branca significa que o teste foi positivo para resíduos de
antibióticos.
11.4 MÉTODO PENZYME
Trata-se de um teste enzimático colorimétrico desenvolvido para detectar
antibióticos do grupo betalactâmicos (Penicilinas, Ampicilinas, etc), em apenas 20
minutos. Em sua primeira fase, utiliza uma DD-carboxipeptidase ativa que se inibe
específica e quantitativamente por antibióticos do grupo β-lactâmicos e, como
resultado, sua atividade residual será um tanto menor quanto maior seja a
contaminação por antibióticos. Em fase posterior, o teste hidrolisa especificamente
substratos do tipo R-D-Ala-D-Ala, com liberação de D-Alanina. Para medir a
atividade da enzima, a D-Alanina transforma-se por uma oxidase estero-específica
em ácido pirúvico, com liberação de peróxido de hidrogênio. O H2O2 produzido oxida
sob ação de uma peroxidase, um corante orgânico, produzindo como resultado a
modificação da coloração.
Para a realização do teste, basta seguir as especificações do “kit” do
fabricante. Os resultados podem ser assim interpretados:
• Coloração amarela indica presença provável de antibióticos do tipo β-
lactâmicos (acima de 0,017 U.I./ml);
• Coloração marrom-tijolo ou laranja indica ausência de antibióticos.
11.5 MÉTODO RÁPIDO DO IOGURTE
Eis um teste prático e econômico, próprio para a rotina industrial.
O princípio baseia-se na inibição da formação de ácido pelo Streptococcus
thermophilus e Lactobacillus bulgaricus. Na ausência de antibióticos, o processo
fermentativo ocorre normalmente, havendo diminuição do pH do leite e coagulação
do mesmo no ponto isoelétrico da caseína (pH = 4,7). Pode-se utilizar, para maior
facilidade de visualização e para fins práticos, um indicador de pH, como por
exemplo, a púrpura de bromocresol (1 grama para 300 ml de água destilada).
A mistura é preparada da seguinte forma:
• 10 ml de iogurte (cultura recente, ativa) + 10 ml de leite ou água esterilizada +
20 ml de solução de púrpura de bromocresol;
A técnica consiste em aquecer a 80°C por cinco minu tos a quantidade de 10
ml de leite a testar. Resfriar em seguida a 45°C po r duas horas. A prova será
positiva, indicando a presença de antibióticos, se a coloração violeta inicial não
sofrer alteração e a amostra se mantiver líquida. Coloração amarela, coágulo
homogêneo e fermentação normal indicam a ausência de antibióticos.
11.6 ANTIMICROBIAL DIFFUSION METHOD (ADM)
É um teste qualitativo baseado na presença de Bacillus stearothermophilus
var. calidolactis, um microrganismo extremamente sensível à presença de pequenas
quantidades de antibióticos.
A realização da prova requer um “kit” de 100 tubos, com o meio de cultura
contendo o microrganismo. Em seguida, deve-se adicionar 3 a 4 gotas do leite teste
no tubo ADM, fechá-lo com a tampa acompanhante e mantê-lo em banho-maria a
63°C-65°C por duas horas e meia. Após, realizar a l eitura de coloração. A coloração
amarela indica ausência de antibióticos, a coloração roxa será interpretada como
teste positivo, indicando a presença de antibióticos no leite.
Na tabela a seguir, pode-se observar a elevada sensibilidade do teste à
grande maioria dos antibióticos usados com freqüência para o tratamento da
mastite.
TABELA 6 – Sensibilidade do teste ADM aos antibióticos. Antibiótico Faixa de detecção Antibiótico Faixa de detecç ão
Benzilpenicilina¹ 0,002-0,004 UI/ml Dihidroestreptomicina 4-13 µg/ml
Ampicilina¹ 0.002-0.005 µg/ml Neomicina 1-22 µg/ml
Cloxacilina¹ 0.015-0,035 µg/ml Kanamicina 9-28 µg/ml
Naficilina¹ 0,006-0,011 µg/ml Bacitracina 0,06-0,14 µg/ml
Tetraciclina HCl 0,10-0,40 µg/ml Eritromicina 1-2,25 µg/ml
Clortetraciclina 0,20-0,45 µg/ml Rifamicina 0,01-0,14 µg/ml
Oxitetraciclina 0,15-0,50 µg/ml Gentamicina 0,15 µg/ml
Cloranfenicol 7-15 µg/ml Cefapirina¹ 0,008 µg/ml
Fonte: Informativo HÁ-LA BIOTEC, n. 33 (1996). Britto, Resíduos de Antimicrobianos no Leite, 2000. ¹ - Grupo β-lactâmicos.
11.7 MÉTODO DO DISCO DE FILTRO
Este método utiliza o microrganismo Bacillus stearothermophilus var.
calidolactis. Se houver na amostra, resíduos de antibióticos, o microrganismo não se
desenvolve, apresentando um halo de inibição. Inicialmente recomenda-se propagar
os microrganismos em caldo triptona a 55°C por 18 h oras, por duas vezes, para que
haja ativação da cultura.
A técnica é a seguinte:
• Preparar placas com ágar triptona (40-45°C) e acres centar 10 ml de caldo
triptona contendo o microrganismo ativo. Após solidificadas, guardar as
placas em geladeira até o momento do uso;
• Após a eliminação dos inibidores naturais, embeber nas amostras pequenos
discos de papel-filtro estéril. Retirar o excedente da amostra nas paredes do
tubo com o auxílio de uma pinça estéril;
• Distribuir os discos embebidos nas amostras de leite, de forma regular sobre
a placa que contém os microrganismos (esporos), deixando um espaço de
aproximadamente quatro centímetros entre cada disco, para observar o
resultado.
Quando a amostra apresentar um halo de inibição do desenvolvimento do
microrganismo ao redor do disco de papel-filtro (halo transparente), o teste será
positivo. Se a amostra apresentar crescimento regular do microrganismo ao redor do
disco de papel, o teste será negativo.
11.8 MÉTODO DO DELVOTEST-P E DELVOTEST-P-MULTI
Este método baseia-se no princípio do crescimento do microrganismo, na
diminuição do pH do leite e na modificação da cor do indicador. Assim sendo, os
testes são realizados com um “kit” de ampolas contendo esporos do B.
stearothermophilus var. calidolactis, nutrientes de desenvolvimento e indicador de
pH (púrpura de bromocresol). Para a sua realização, deve-se seguir a metodologia
prescrita no “kit”.
Sua interpretação é feita a partir da observação da coloração, ou seja, o teste
será positivo, isto é, não existe desenvolvimento do microrganismo, quando
permanece a cor violácea-púrpura. Tendo ocorrido o crescimento do microrganismo,
abaixamento do pH e modificação da coloração do indicador para a coloração
amarela, o teste será interpretado como negativo.
11.9 MÉTODO SNAP
Consiste em um “kit” de fácil utilização para a determinação de antibióticos
pelo método enzimático. A maior vantagem deste teste, se comparado aos
tradicionais, é o tempo total de análise de 10 minutos. Este método é específico para
antibióticos do grupo β-lactâmicos. Apesar de não ser considerado ainda um método
oficial, seu uso já faz parte do sistema rotineiro de algumas indústrias na plataforma
de recepção. De acordo com o Departamento de Microbiologia do Milk Marketing
Board (MMB) no Reino Unido, é um método de excelente repetitividade e os testes
confirmatórios demonstram a precisão das reações do Snap Test.
12 DADOS SOBRE O BRASIL
No Brasil, estudos para avaliar a presença de inibidores ou de resíduos de
antimicrobianos no leite foram realizados em diversos estados. As amostras de leite
foram coletadas na plataforma de recepção da indústria, em caminhões-tanque ou
no leite ensacado colocado à venda. Foram detectados resíduos, em porcentagens
variáveis, comprovando a relevância deste tema para a saúde pública e para a
indústria leiteira nacional. Os testes realizados possuíam sensibilidade conhecida
para penicilina, mas isto não significa ausência de resíduos de outros
antimicrobianos.
É provável que tenham ocorrido variações nas porcentagens a partir da época
e que foram obtidas até o momento atual. Deve-se considerar que um maior número
de antimicrobianos está disponível atualmente no comércio, e existe a necessidade
de se dar maior atenção aos animais, que atualmente possuem maior potencial
produtivo. Contudo, os resultados mostram que existe o problema de resíduos de
antimicrobianos no leite no Brasil e que há necessidade de se ter atenção para o
problema e tomar todo o cuidado para que ele seja evitado.
TABELA 7 - Resultados de testes de detecção de antimicrobianos e outros inibidores em amostras de leite nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Local Leite N° de Amostras
Analisadas
% de Amostras
positivas
Referência
São Paulo C 1.000 9
(1,9% penicilina)
Mello Filho et al.,
1965/67
Belo
Horizonte
B
C
183
80
5,4
1,25
Fagundes et al., 1982
São Paulo B 490 (produtores)
80 (carros-tanque)
32 (pasteurizado)
15,04
21,25
21,87
Barros & Perches,
1981
Belo
Horizonte
B
3,2 %
gordura
96
288
4,16
0; 1,04; 3,08¹
Silva & Sena, 1984
São Paulo B 404 3,6 e 11,63² Gelli et al., 1984
Porto Alegre - 1,045 11,68
(42,15% penicilina)
Fonseca & Zolin, 1984
¹ - Resultado de três marcas analisadas ² - O resultado de 3,6% foi obtido com o teste de inibição de disco e 11,63% foi obtido com o Delvotest, para as mesmas amostras. Fonte: Britto, Resíduos de Antimicrobianos no leite, 2000
13 DADOS SOBRE O PARANÁ
Para avaliar os riscos à saúde humana , no Estado do Paraná, a Secretaria
de Estado da Saúde (SESA) promulgou a Resolução N° 337 em agosto de 2003,
criando o programa Estadual de Controle de Resíduos de Medicamentos
veterinários em Alimentos de Origem Animal – PAMvet-PR – e também a Resolução
N° 338, criando o Grupo Técnico Científico – GTC – que desenvolve esse Programa
aqui no Estado do Paraná.
Como fase inicial do programa, realizou-se um levantamento que teve por objetivo conhecer os medicamentos mais freqüentemente administrados em terapêuticas para patologias do rebanho leiteiro e definir os princípios ativos que, em consonância com a disponibilidade de metodologia laboratorial, serão pesquisados pelo PAMvet-PR, que tem como finalidade oferecer à população um alimento com garantias de qualidade e que não represente risco à saúde.
Para a determinação dos medicamentos veterinários mais utilizados no rebanho leiteiro do Estado do Paraná, foram pesquisados 160 estabelecimentos comerciais (cooperativas, distribuidoras e revendedoras de medicamentos veterinários), localizados em 76 municípios, distribuídos em sete Macro Regionais de Saúde da Secretaria de Estado dão Saúde do Paraná (SESA).
O levantamento foi realizado no período de setembro a outubro de 2003, tendo como instrumento de pesquisa entrevistas com os atendentes, responsáveis técnicos, médicos veterinários e, ou, proprietários dos estabelecimentos comerciais.
Foi elaborada uma ficha técnica, na qual há o questionamento de quais dos três medicamentos veterinários são mais utilizados nas seguintes patologias do rebanho leiteiro: mastite (vaca seca e em lactação), metrite, retenção de placenta, doenças respiratórias, infecções de casco, babesiose e parasitoses internas e externas. Para cada um dos três medicamentos citados, foram obtidas informações do rótulo e da bula sobre: marca comercial, laboratório, fabricante, apresentação, princípio (s) ativo (s), concentração e período de carência.
Os medicamentos veterinários identificados foram agrupados em classe farmacológica segundo uso terapêutico e freqüência de citações.
Nas 160 entrevistas realizadas, foram mencionadas 255 marcas comerciais que, por repetição foram citadas 4505 vezes. Nessas 255 marcas foram identificados 152 princípios ativos. Considerando-se que em várias formulações observaram-se associações com dois ou mais princípios ativos, essas repetições totalizaram 7206 citações.
Verificou-se que entre as marcas comerciais, os antibióticos foram citados
2244 vezes (49,81%), seguidos pelos antiparasitários, com 1294 (28,72%). Essas
duas classes terapêuticas representam 78,51% do total de medicamentos citados,
conforme mostra a tabela 8.
TABELA 8 - Freqüência das marcas comerciais por classes terapêuticas nas patologias relacionadas pelas fichas técnicas aplicadas em 160 estabelecimentos comerciais localizados em 76 municípios distribuídos em sete Macro Regionais de Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Paraná, no período de setembro a outubro de 2003.
Fonte: Netto.Levantamento dos Principais Fármacos Utilizados no Estado do Paraná, 2005.
Em muitos países, seis β-lactâmicos (penicilina G, ceftiofur, cloxaciclina, cefapirina, amoxicilina e ampicilina) têm sido amplamente utilizados no tratamento de infecções do gado leiteiro e estes podem deixar resíduos no leite. As penicilinas possuem um alto potencial alergênico em pessoas pré-sensibilizadas e foram relatados alguns casos de reações alérgicas após o consumo de alimentos contendo resíduos desses β-lactâmicos. A presença de resíduos de penicilinas em alimentos de origem animal pode também desenvolver resistência a antibióticos, e na indústria de laticínios pode causar efeitos microbiológicos indesejáveis na produção de alimentos derivados do leite. No caso do PAMvet-PR, as penicilinas foram os antimicrobianos com o maior número de citações (n=1431) seguidas dos aminoglicosídeos (n=943) e das tetraciclinas (n=577) conforme apresentado na tabela 9.
TABELA 9 - Freqüência dos princípios ativos de antimicrobianos pelas fichas técnicas aplicadas em 160 estabelecimentos comerciais localizados em 76 municípios do Estado do Paraná, no período de setembro a outubro de 2003. Fonte: Netto, Daisy Pontes, 2005.
Fonte: Netto, Daisy Pontes, 2005
Os aminoglicosídeos foram o segundo grupo em freqüência de citações (n=943), destacando-se a diidroestreptomicina, gentamicina, estreptomicina e neomicina. Esse fato decorre do grande uso de aminoglicosídeos no tratamento de infecções por bactérias Gram-negativas na mastite. O leite reduz a atividade dos aminoglicosídeos, particularmente da neomicina. Entretanto, os aminoglicosídeos são incluídos em muitas preparações comerciais, devendo ser mais estudado. Os riscos à saúde humana associada aos aminoglicosídeos estão em casos de hipersensibilidade e perda de audição.
O terceiro grupo de antimicrobianos com maior número de citações foi o das tetraciclinas (n=577), sendo que a oxitetraciclina foi o princípio ativo mais citado para o tratamento da metrite, retenção de placenta, doenças respiratórioas e infecção de casco.
Os resíduos de tetraciclinas podem promover o surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos.
Entre os macrolídeos (n=284) destacaram-se a tilosina, utilizada para mastite em vaca seca e em lactação, metrite, doenças respiratórias e infecção de casco, e a espiramicina somente em tratamento da mastite de vaca em lactação. A tilosina é um antibiótico de uso exclusivo em medicina veterinária e não foi citado em associação. A espiramicina apresentou-se sempre associada à neomicina, pois é ativa contra bactérias Gram-positivas e micoplasmas, enquanto que a neomicina é ativa contra as bactérias Gram-negativas.
Entre as cefalosporinas, destacou-se o uso do cefoperazone, encontrado sozinho ou em associação com glicocorticóides. O cefoperazone apresenta 80% de eficácia frente aos principais patógenos na mastite e não é tóxico nem irritante para o úbere. O uso de glicocorticóides é indicado quando há intensa inflamação, porém deve ser restringido, uma vez que diminui as reações naturais de defesa do organismo.
Deve-se ressaltar a referenciação a duas classes farmacológicas observadas: nitrofuranos e ioniazida. A citação sobre os nitrofuranos, furazolidona (n=3) e nitrofurazona (n=11) deve ser destacada, uma vez que a Portaria N° 448 de 10/09/1998 do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento proíbem a comercialização desses produtos farmacêuticos de uso em veterinária, assim como o cloranfenicol. A ocorrência dessas citações, por ocasião da pesquisa, indica que esses produtos continuam sendo comercializados, apesar de proibidos.
A isoniazida é um quimioterápico indicado no tratamento da tuberculose humana e sabe-se que bovinos portadores dessa patologia devem ser descartados segundo a Instrução Normativa N° 2 de 10 de Janeiro de 2002 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Brasil, 2001b). A freqüência de isoniazida encontrada neste levantamento foi de 22 citações (0,30%) e deve-se a sua associação em uma marca comercial com os antibióticos: penicilina G procaína, penicilina G potássica e estreptomicina, utilizada no tratamento de doenças respiratórias em bovinos. No entanto, o uso de isoniazida, nessa formulação, é indicado pelo fabricante para a profilaxia da tuberculose.
Notou-se que para o mesmo princípio ativo e dosagem semelhante, o período de carência encontrada nas bulas de alguns medicamentos veterinários comercializados foi diferente quanto ao fabricante. O período de carência para a gentamicina variou de 48 a 120 horas, para a neomicina de 72 a 144 horas, para a cloxacilina de 48 a 96 horas e para a espiramicina de 96 a 144 horas.
14 COMO EVITAR RESÍDUOS DE ANTIBIÓTICOS NO LEITE
Não disponibilizar para consumo o leite de vaca tratada com substâncias
antimicrobiana. Portanto, não se deve comercializar o leite durante e após o
tratamento, enquanto o antimicrobiano estiver sendo eliminado. Toda a vaca tratada
durante a lactação deve ser identificada, para se evitar a mistura acidental do leite
com resíduos ao restante do leite do rebanho. Quando um quarto mamário é tratado,
os outros também podem eliminar resíduos, devido à passagem do antimicrobiano
via corrente sangüínea.
Respeitar rigorosamente o prazo de retirada do leite do consumo para cada
produto utilizado. Este prazo varia de acordo com o produto. Antimicrobianos que
não trazem esta informação não devem ser usados para tratamento de vacas em
lactação.
Evitar tratamentos desnecessários, principalmente o da mastite subclínica
durante a lactação. O tratamento feito na ocasião de secagem da vaca apresenta
maior taxa de cura.
Evitar aumentar a dosagem recomendada na bula de cada antimicrobiano.
Não se deve também reduzir a quantidade recomendada. Por exemplo, a bisnaga ou
seringa para aplicação intramamária deve ser aplicada integralmente em um quarto
mamário, e não dividida para dois ou mais.
Evitar o uso de mais de um antimicrobiano diferente, pois isso pode aumentar
o período de excreção de resíduos no leite e, conseqüentemente, alterar o prazo de
retirada do leite pra consumo.
Adotar um plano de controle da mastite que contemple a adoção de medidas
preventivas e de higiene, ambiente limpo para as vacas, manutenção e limpeza
adequadas dos equipamentos de ordenha;
As preparações de antimicrobianos recomendadas para tratamento de vacas
secas não devem ser utilizadas em vacas em lactação, porque são formuladas para
persistirem por mais tempo no úbere. Vacas tratadas na secagem que parirem antes
da data esperada devem ter o leite retirado do consumo até completar o período
recomendado.
Segundo Britto, devem-se observar cuidados rigorosos na higiene na
aplicação intramamária de antimicrobianos. Para isto as tetas devem estar limpas,
secas e previamente desinfetadas. As cânulas de aplicação devem estar
completamente limpas e não devem ser reutilizadas. Esses procedimentos são
necessários para evitar que o próprio tratamento veicule uma nova fonte de infecção
com microrganismos do ambiente.
15 CONCLUSÕES
O leite e seus derivados são produtos de alta qualidade nutricional e exemplo
de alimento natural e seguro. Para preservar esta reputação, deverá ter padrões
adequados de composição, pureza e ausência de resíduos de antibióticos ou outros
produtos químicos. Para tanto, há necessidade de um esforço de todos os
segmentos da cadeia produtiva.
O uso de antibióticos para tratamento e prevenção das infecções
intramamárias e de ordem reprodutiva é e será, no futuro, uma importante
ferramenta para o controle destas patologias no rebanho leiteiro. O vasto uso de
antibióticos, no entanto, conduz ao alto risco de contaminação do leite.
Resíduos de antibióticos têm uma influência sobre as propriedades
tecnológicas do leite usado para a fabricação de produtos fermentados podendo
causar perdas econômicas consideráveis. Além disso, estes resíduos podem causar
reações tóxicas e imunológicas ao consumidor.
A indústria farmacêutica tem um papel importante neste processo, para
orientar os usuários sobre o prazo de retirada do leite do consumo, enquanto
persistir a eliminação de resíduos, e também, o governo, por meio da fiscalização e
regulamentação do uso de antimicrobianos, especialmente aqueles recomendados
para o tratamento da mastite.
O produtor de leite e os técnicos que dão assistência a rebanhos leiteiros
precisam compreender o potencial para o aparecimento de resíduos de antibióticos
sempre que estes são utilizados. O veterinário tem um papel destacado quando se
trata de evitar resíduos de antibióticos no leite, pois, sempre que há necessidade de
se prescrever esses produtos para o tratamento de um animal em lactação, ele deve
alertar o responsável pelo rebanho ou o produtor sobre o prazo adequado de
retirada do leite do consumo, enquanto houver possibilidade de eliminação da droga
no leite.
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