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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA USO DA ABELHA MELÍFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO NORDESTE BRASILEIRO MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT FORTALEZA - CE FEVEREIRO - 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

USO DA ABELHA MELÍFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO

NORDESTE BRASILEIRO

MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

FORTALEZA - CE

FEVEREIRO - 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA

USO DA ABELHA MELÍFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAÇÃO E

AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO

NORDESTE BRASILEIRO

MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT Engenheiro Agrônomo

FORTALEZA - CE FEVEREIRO - 2012

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MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

USO DA ABELHA MELÍFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA

ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO NORDESTE BRASILEIRO

Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal da Paraíba; como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Zootecnia. Orientador: Prof. PhD. Breno Magalhães Freitas

FORTALEZA - CEARÁ FEVEREIRO - 2012

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MARCELO DE OLIVEIRA MILFONT

USO DA ABELHA MELÍFERA (Apis mellifera L.) NA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE GRÃOS EM VARIEDADE DE SOJA (Glycine max (L.) Merril.) ADAPTADA ÀS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DO

NORDESTE BRASILEIRO

Tese defendida e aprovada pela Comissão Examinadora em Comissão Examinadora:

_________________________________________ Dra. Vera Lúcia Imperatriz Fonseca Universidade de São Paulo – USP

_________________________________________ Dra.. Eva Mônica Sarmento da Silva

Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF

____________________________________________ Dra. Darci de Oliveira Cruz

Universidade Federal do Ceará - UFC

___________________________________________ Dr. Francisco Deoclécio Guerra Paulino Universidade Federal do Ceará - UFC

_________________________________________ Ph D. Breno Magalhães Freitas (Orientador)

Universidade Federal do Ceará -UFC

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RISCOS...

Rir é correr o risco de parecer tolo.

Chorar é correr o risco de parecer sentimental.

Expor-se para o outro é correr o risco de se envolver.

Expor seus sentimentos é arriscar expor seu verdadeiro eu.

Mostrar suas idéias e sonhos diante de todos é arriscar perdê-los.

Amar é arriscar não ser amado.

Viver é arriscar morrer.

Ter esperança é arriscar desespero.

Tentar é arriscar falhar.

Mas riscos têm que ser assumidos, porque o maior

perigo é não arriscar nada.

A pessoa que não arrisca nada, não faz nada,

não tem nada, não é nada...

Ela pode evitar o sofrimento e a tristeza, mas ela

simplesmente não pode aprender, sentir, mudar,

crescer, amar, viver.

Acorrentada por suas certezas imutáveis, ela é, na

verdade um escravo que desistiu da liberdade.

Somente a pessoa que arrisca é livre!

Não é porque as coisas são difíceis que nós não

ousamos é porque não ousamos que as coisas são

difíceis!

Sêneca - ano IV a.C

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À Deus, pela vida, saúde, coragem e condição da realização desse trabalho.

À minha esposa Karolina Milfont, por todo amor, ajuda e paciência que foram imprescindíveis à realização desse trabalho, ao nosso bebê que está a caminho reservando muitas alegrias para as nossas vidas e a toda sua família pelo incentivo e colaboração.

Aos meus pais Ronaldo Milfont e Judite Milfont por acreditarem em mim, torcerem e por me darem apoio para que pudesse obter esse título.

Às minhas irmãs Carine Milfont e Caroline Milfont (in memorian), companheiras de todas as horas, por todo carinho e amizade.

Aos meus avós Jaime Milfont e Diva Milfont, Osvaldo Pimentel e Léa Nobre (exemplos de vida) pelo afeto, constante apoio e carinho.

À toda minha família pelo apoio, carinho e

amizade. Às abelhas, em nome da natureza.

DEDICO

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vii

AGRADECIMENTOS

A realização do presente trabalho não seria possível sem a participação de várias

pessoas e instituições, às quais agradeço:

Em primeiro lugar, agradeço ao nosso bom Deus...

À Universidade Federal do Ceará, Universidade Federal Rural de Pernambuco e

Universidade Federal da Paraíba, através do Programa de Doutorado Integrado em

Zootecnia, pela oportunidade de realização desse curso e ao Dr. Arlindo de Alencar

Araripe Noronha Moura (coordenador do programa).

Ao professor orientador PhD. Breno Magalhães Freitas pela orientação,

ensinamentos, amizade, paciência e compreensão.

À agroempresa Faedo Sementes: Dagoberto Faedo por disponibilizar suas áreas

e instalações para execução do experimento.

Á todos os funcionários da agroempresa Faedo Sementes pela amizade e

constante apoio durante a execução do projeto, em especial a Márcio, Neto, Éneas

(vigia), Lucieldo, João, Duda, Naldim, Cuca (in memorian), careca e as secretárias

Valdirene e Mônica.

À empresa Altamira Apícola pelo empréstimo das colônias e total apoio na

execução do experimento.

À Dra. Vera Lúcia Imperatriz Fonseca pelas valiosas sugestões ao presente

trabalho.

À Dra. Eva Mônica Sarmento da Silva pelo apoio e sugestões ao trabalho.

À Dra. Darci de Oliveira Cruz pelas críticas e sugestões ao trabalho.

Ao Dr. Francisco Deoclécio Guerra Paulino, pela amizade e colaboração.

À mestranda Epifânia de Macedo Rocha e aos estudantes de graduação David e

Ariane, por toda a ajuda e dedicação no presente trabalho.

À Ana Gláudia Catunda Vasconcelos pela amizade, ajuda e disposição nas

análises estatísticas.

À Dra. Favízia Freitas de Oliveira pela amizade e identificação das abelhas

coletadas nesse trabalho.

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A todos do Laboratório de Sementes do Departamento de Fitotecnia pela

amizade e colaboração nas análises, em especial ao colega Lineker de Souza Lopes.

À bibliotecária Isabela Nascimento pela ajuda e colaboração nas referências

bibliográficas.

A todos os colegas e amigos do Grupo de Pesquisa com abelhas.

Aos funcionários do setor de apicultura Francisco José Carneiro e Hélio Rocha

Lima pela amizade e ajuda no decorrer do curso.

Aos professores do Departamento de Zootecnia – UFC, pelos ensinamentos e

incentivos no decorrer do curso.

À Francisca Prudêncio, secretária da Pós-Graduação, pela simpatia, cooperação

e apoio administrativo durante todo decorrer do curso.

A todos os colegas do curso de Pós-Graduação.

À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,

pelo incentivo a pesquisa e pela concessão da bolsa de estudo.

E por fim, a todos aqueles que de forma direta ou indiretamente contribuíram

para a realização desse trabalho.

Meu muito obrigado!

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SUMÁRIO

Página

CONSIDERAÇÕES INICIAIS.....................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................

1

3

Capítulo I

1. Referencial Teórico .................................................................................. 6

2. A cultura da soja (Glycine Max (L.) Merril).......................................... 9

2.1 Origem da planta...................................................................................

2.2 Importância econômica.........................................................................

2.3 Produção e produtividade.....................................................................

2.4 Expansão da cultura..............................................................................

2.5 Características botânicas.......................................................................

2.6 Estádios de desenvolvimento................................................................

2.7 Biologia floral.......................................................................................

2.7.1 Flor, inflorescência e tempo de florescimento..........................

2.7.2 Padrão de secreção de néctar...................................................

2.7.3 Produção de pólen....................................................................

2.7.4 Requerimentos de polinização...................................................

2.8 Visitantes florais.................................................................................

2.9 Atratividade das flores de soja para as abelhas...................................

2.10 Influência das abelhas na produtividade da soja.................................

2.11 Recomendação de polinizadores.........................................................

2.12 Produção de mel..................................................................................

3. Referências bibliográficas..........................................................................

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Capítulo II

Biologia floral, requerimentos de polinização e eficiência polinizadora de Apis

mellifera L. na soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte – CE.

Resumo ............................................................................................................. 40

Abstract ............................................................................................................ 41

Introdução ......................................................................................................... 42

Material e Métodos ........................................................................................... 44

Resultados e Discussão .................................................................................... 50

Conclusões ....................................................................................................... 59

Referências Bibliográficas ............................................................................... 60

Capítulo III

Comportamento e padrão de forrageamento de Apis mellifera L. em soja tropical

(Glycine max (L.) Merril)

Resumo ............................................................................................................. 67

Abstract ............................................................................................................ 68

Introdução ......................................................................................................... 69

Material e Métodos ........................................................................................... 70

Resultados e Discussão .................................................................................... 73

Conclusões ....................................................................................................... 80

Referências Bibliográficas ............................................................................... 81

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xi

Capítulo IV

O uso de Apis mellifera L. no incremento de produtividade da soja cv. BRS-

Carnaúba e seu efeito no teor de óleo e proteína das sementes.

Resumo ............................................................................................................. 85

Abstract ............................................................................................................ 87

Introdução ........................................................................................................ 89

Material e Métodos .......................................................................................... 91

Resultados e Discussão .................................................................................... 97

Conclusões ....................................................................................................... 106

Referências Bibliográficas ............................................................................... 107

Capítulo V

Potencial produtivo e análise de multiresíduos de pesticidas no mel de abelhas

melíferas oriundo de cultivo de soja (Glycine max (L.) Merril)

Resumo ............................................................................................................. 111

Abstract ............................................................................................................ 112

Introdução ........................................................................................................ 113

Material e Métodos .......................................................................................... 114

Resultados e Discussão .................................................................................... 118

Conclusões ....................................................................................................... 123

Referências Bibliográficas ............................................................................... 124

Considerações Finais e Implicações ............................................................ 128

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xii

LISTA DE TABELAS

Capítulo I

Página

TABELA 01 Descrição dos estádios reprodutivos da soja (Glycine max (L.) Merril) .......................................................................................

18

Capítulo II

TABELA 01 Produção de néctar (µL) de flores de soja (Glycine max (L.) Merril) ao longo do dia das variesdade BRS-Carnáuba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009...........................................................................................

54

TABELA 02 Efeito da remoção de néctar em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009. Valores em médias ± e.p.m; n representa o número de flores......................................

54

TABELA 03 Visitantes florais da soja (Glycine max (L.) Merril) coletadas no município de Limoeiro do Norte-CE. 2009..........................

56

TABELA 04 Vingamento de vagens e sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Sambaíba sob quatro formas de polinização das flores. Limoeiro do Norte-CE.2009....................................

56

Capítulo III

TABELA 01 Número de abelhas Apis mellifera em coleta de néctar, néctar + pólen e total de abelhas melíferas em duas variedades de soja tropical (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte-CE. 2009..............................................................................................

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Capítulo IV

TABELA 01 Produção total e classificação das sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em três tratamentos de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009........................

97

TABELA 02 Percentual de incremento de produção entre os diferentes ensaios de polinização realizados na soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009..............................

98

TABELA 03 Produção total de vagens, grãos e número total de vagens com uma, duas e três sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em diferentes ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.................................................

103

TABELA 04 Peso de mil sementes (PMS), Altura de inserção de primeira vagem (AIPV) e percentual de flores não vingadas (PFNV) na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em três ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009...........................................................................................

104

TABELA 05 Percentual de óleo e proteína de sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba dos três diferentes ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009...................

104

Capítulo V

TABELA 01 Pesticidas aplicados na soja (Glycine max (L.) Merril) do plantio ao final do florescimento em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.................................................................................

115

TABELA 02 Produção de mel (Kg) por colmeia, produtividade média e produção total de apiário instalado em plantio de soja (Glycine max (L.) Merril em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.................

119

TABELA 03 Compostos analisados no mel de soja (Glycine max (L.) Merril) produzido em Limoeiro do Norte. 2009.........................

121

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xiv

LISTA DE FIGURAS

Capítulo I

Página

FIGURA 01

Flor de soja (Glycine max (L.) Merril) em corte longitudinal.... 19

Capítulo II

FIGURA 01 Padrão percentual de abertura das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedade BRS-Carnáuba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.....................................................

51

FIGURA 02 Padrão diário de secreção de néctar das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.........................................

53

Capítulo III

FIGURA 01 Comportamento de forrageio de abelhas melíferas (Apis mellifera L.) em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) no município de Limoeiro do Norte, Ceará. 2009...........................

73

FIGURA 02 Atividade das abelhas Apis mellifera L. nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.....................

76

FIGURA 03 Abelha Apis mellifera L. com pólen na corbícula na flor de soja (Glycine max (L.) Merril) variedade BRS-Carnaúba “flor branca” (a) e coletando néctar na variedade Monsoy 9144 RR “flor roxa” (b) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009...................

77

FIGURA 04 Número de abelhas Apis mellifera L. em coleta de néctar nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.............................................................................................

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FIGURA 05

Número de abelhas Apis mellifera L. em coleta de néctar + pólen nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.................................................................................

79

Capítulo IV

FIGURA 01 Pivôs plantados com soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009. (1) pivô com três tratamentos: áreas amarelas (áreas consideradas abertas com introdução de abelhas melíferas (Apis mellifera L.) na linha lateral; áreas verdes (área aberta); áreas brancas (área fechada), (2) pivô com um tratamento: áreas amarelas (áreas consideradas abertas com introdução de abelhas melíferas no centro da cultura. Os traços em vermelho significa o local de instalação do apiário (oito colônias cada)...................................

92

FIGURA 02 Gaiolas de tela de náilon (3,0 x 6,0 x 1,5m) montadas sobre a soja (Glycine max (L.) Merril) e impedindo a visitação de agentes polinizadores em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009............................................................................................

94

FIGURA 03 Produção de soja (Glycine max (L.) Merril) em sacos (60kg)/ha dos diferentes ensaios de polinização realizados em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.................................................

99

Capítulo V

FIGURA 01 Apiário constituído de oito colméias instalado em meio ao plantio de soja (Glycine max (L.) Merril var. Monsoy 9144 RR, em Limoeiro do Norte, Ceará.2009.....................................

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Uso da abelha melífera (Apis mellifera L.) na polinização e aumento de produtividade de grãos em variedade de soja (Glycine max (L.) Merril.) adaptada às condições climáticas do Nordeste brasileiro

RESUMO GERAL

A pesquisa foi conduzida entre julho e dezembro de 2009 usando cultivares tropicais de

soja (Glycine max (L.) Merril) irrigadas por pivô central no distrito de irrigação

Jaguaribe-Apodi, sendo o plantio pertencente à agroempresa Faedo Sementes situada na

Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Ceará. O estudo teve por objetivo investigar o

uso de Apis mellifera L. para polinização e incrementos de produtividade nas cultivares

de soja Monsoy 9144RR, BRS-Carnaúba, BRS-Sambaíba, adaptadas às condições

tropicais do Norte e Nordeste brasileiro. Os seguintes aspectos foram investigados:

biologia floral, requerimentos de polinização, eficiência de polinização de A. mellifera;

comportamento e padrão de forrageamento; uso de A. mellifera para elevar a

produtividade por área, por planta, em conteúdo de óleo e proteína dos grãos; potencial

para a produção de mel e os riscos de contaminação deste mel. Os resultados mostraram

que as cultivares estudadas são atrativas para as abelhas melíferas e elas concentram seu

forrageio na coleta de néctar no turno da manhã. As variedades são capazes de se

autopolinizarem, contudo houve incrementos de produtividade significativos (p<0,05)

quando as flores foram visitadas por agentes bióticos. Uma única visita da abelha

melífera elevou a produtividade para níveis equivalentes (p>0.05) ao das flores abertas

para polinização. No que se refere à produção total, observou-se diferenças

significativas (p<0,05) das áreas onde as abelhas foram introduzidas no centro ou ao

longo da linha lateral do plantio para a área cujas flores não receberam visitas. O

número médio de vagens por planta foi 49,64 ± 2,64, 57,16 ± 2,41 e 59,60 ± 2,71; o

número médio de grãos por planta foi 104,68 ± 5,13, 121,46 ± 3,98 e 127,42 ± 5,95; e o

percentual de vagens com três grãos foi 18,65%, 20,43% e 23,72% para os tratamentos

onde as plantas foram engaioladas para não receberem visitantes florais, deixadas

abertas para receberem visitantes florais e aberta + a introdução de colônias de abelhas

melíferas, respectivamente. Os conteúdos de óleo e proteína não diferiram (p>0,05)

entre os tratamentos. Todas as colônias produziram mel e ao final do florescimento (30

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dias) a produção total alcançou 81,7 kg, com uma produção média por colméia de 10,1

± 0,86 kg e nenhum resíduo de pesticida foi identificado no mel. Concluiu-se que as

cultivares de soja adaptadas ao Norte e Nordeste do Brasil podem ser usadas para a

produção de mel e o comportamento de forrageio de A. mellifera visitando flores

somente no período da manhã permite recomendar a aplicação de defensivos apenas no

final da tarde ou cedo da noite, quando as abelhas não se encontram no plantio para

produzir mel livre de resíduos de pesticidas e prevenir riscos de envenenamento das

abelhas; também, a introdução de A. mellifera para polinização pode elevar a

produtividade em mais de 25%, principalmente devido ao aumento no percentual de

vagens com três grãos.

Palavras-chave: Mel de soja. Polinização agrícola. Polinização da soja. Polinização por

abelhas. Produção de soja. Resíduos de pesticidas.

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Use of honey bees (Apis mellifera L.) in the pollination and the gain in productivity of grains in variety of soybean (Glycine max (L.) Merril.) adapted to Brazilian Northeastern climatic conditions

GENERAL ABSTRACT

The research was carried out between July and December 2009 using tropical soya bean

(Glycine max (L.) Merril) cultivars irrigated by center pivots in the irrigation district of

Jaguaribe-Apodi, belonging to the agribusiness Faedo Sementes situated at the Apodi

plateau, Limoeiro do Norte, Ceará, Brazil. The study aimed to investigate the use of

Apis mellifera L. for pollination and productivity increment in the soya bean cultivars

Monsoy 9144RR, BRS-Carnaúba, BRS-Sambaíba, adapted for the tropical conditions of

N and NE Brazil. The following aspects were investigated: floral biology, pollination

requirements, pollination efficiency of A. mellifera ; behavior and pattern of foraging;

use of A. mellifera to augment productivity per área, per plant, in oil and protein

content; and potential for honey production in soya bean crops and risks of pesticide

contamination of the honey. Results showed that the cultivars are attractive to honey

bees and they concentrate their foraging for nectar collection in the morning shift. The

varieties were capable of autopollination, however there were significant (p<0.05)

increments of productivity when flowers were visited by biotic agents. A single honey

bee visit raised productivity to equivalent (p>0.05) levels of those flowers open for

pollination. Regarding absolute production, it differed significantly (p<0.05) from the

areas where honey bees were introduced in the center or along the sideline of the

plantation to that where flowers did not receive flower visits. The mean number of pods

per plant was 49.64 ± 2.64, 57.16 ± 2.41 and 59.60 ± 2.71; the mean number of seeds

per plant was 104.68 ± 5.13, 121.46 ± 3.98 and 127.42 ± 5.95; and the percentage of

pods bearing three seeds was 18.65%, 20.43% and 23.72% for the caged, open and open

+ honey bees treatments, respectively. Oil and protein contents of seeds did not differ

(p>0.05) among treatments. All colonies produced honey and by the end of the

blooming period (30 days) total production reached 81.7 kg, with a mean production of

10.1 ± 0.86 kg per hive and no pesticide residue was found. It was concluded that the

soya bean cultivars adapted to N and NE Brazil can be used for honey production and

the foraging behavior of A. mellifera visiting flowers only in the morning allows to

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recommend spraying the crop only in the late afternoon and early evening when bees

are no longer in the crop to produce residue-free honey and prevent poisioning risks to

the bees; also, introducing A. mellifera for pollination purpose can increase production

over 25% especially due to augment in the percentage of three-seeded pods.

Keywords: Bee pollination, Crop pollination, Pesticide residues, Soybean honey,

Soybean pollination, Soybean production.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os polinizadores são essenciais para a produção agrícola, sendo responsáveis

pela polinização da grande maioria das espécies vegetais cultivadas pelo homem, sua

ausência em áreas agrícolas pode levar a aumento de custos, redução na lucratividade e,

em certos casos, prejuízos (FREITAS, 2010). Atualmente, além dos fatores econômicos,

uma maior atenção vem sendo dada a esse assunto devido aos fatores ecológicos. A

falta de polinizadores pode acarretar uma diminuição da produção de alimentos e como

conseqüência uma expansão na área cultivada para compensar a queda de

produtividade, levando então a um aumento no desmatamento (AIZEN et al., 2009).

Aproximadamente 75% das culturas agrícolas são dependentes da polinização

animal (FAO, 2004), e destes, 73% são polinizadas por alguma espécie de abelha

(KEVAN & IMPERATRIZ-FONSECA, 2002). Entre as abelhas, destaca-se a Apis

mellifera L., espécie amplamente utilizada em diversas culturas agrícolas (FREE, 1993;

FREITAS, 1998; DELAPLANE & MAYER, 2000). A ausência desses polinizadores

em áreas cultivadas pode reduzir em até 90% a produtividade de sementes, frutos e

nozes (SOUTHWICK & SOUTHWICK, 1992).

Independentemente da planta possuir flores monóicas ou dióicas, a presença de

polinizadores pode contribuir no aumento da produtividade (D´ AVILA & MARCHINI,

2005). Até mesmo espécies onde ocorre a auto-fecundação e, portanto não necessitam

obrigatoriamente da participação de agentes polinizadores, aumentos consideráveis na

produção podem ser obtidos. Culturas como o algodão (Gossypium hirsutum L.), o café

(Coffea arbica L.), a canola (Brassica napus L.) e a soja (Glycine max (L.) Merril)

podem apresentar aumentos em produtividade na presença de abelhas (SILVA, 2007;

MALERBO-SOUZA et al., 1994; SABBAHI, 2005; CHIARI et al., 2005). No caso

específico da soja, o que se observa são resultados bastante satisfatórios, porém muitas

vezes discrepantes. Enquanto, alguns autores observaram aumentos na produtividade da

cultura em função da presença de abelhas melíferas, outros relatam a não influência das

abelhas na produção da cultura. (ERICKSON, 1975; ABRAMS et al., 1978;

ERICKSON et al., 1978; ISSA et al., 1980).

Questão semelhante ocorre no uso dos recursos da soja (néctar e pólen) pelas

abelhas. São inúmeras e variáveis as informações da cultura da soja como fonte de

néctar e pólen (DADANT, 1975; FREE, 1993). Recentemente, AYRES (2010), definiu

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a soja como uma planta apícola muito duvidosa, sofrendo bastante influência dos fatores

climáticos e do tipo de solo onde é cultivada.

Atualmente, a cultura da soja vem sendo amplamente cultivada no Brasil, tendo

recentemente chegado ao Nordeste Brasileiro, suas sementes possuem elevada

importância econômica, principalmente em função do teor de óleo e proteína (AGUILA,

2005; BRASIL, 2007). A sua exploração nas regiões tropicais poderá contribuir para a

modernização e fortalecimento da economia agrícola regional, podendo ainda constituir

importante fonte na alimentação humana, suprimindo as carências protéicas

generalizadas na região (EMBRAPA, 2011). Por outro lado, a cultura faz uso de

grandes quantidades de defensivos agrícolas e seu cultivo na maioria das vezes é

constituído de extensas áreas contínuas, o que acaba por interferir e reduzir os níveis

ideais de polinização, podendo assim ocasionar um déficit de polinização na planta e

consequentemente perdas de produtividade. Embora existam indícios de aumento na

produtividade da soja pela ação abelhas, esses são muito relativos, e quando se referindo

às novas variedades adaptadas às regiões Norte e Nordeste, essas informações são

inexistentes.

Dessa maneira, o presente trabalho procurou investigar as necessidades de

polinização de variedades de soja preconizadas para as regiões Norte e Nordeste,

conhecer a sua biologia floral, seus requerimentos de polinização, a eficiência da

polinização melitófila na produtividade da cultura, teor de óleo e proteína, além de

avaliar o potencial apícola da cultura para a produção de mel.

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CAPÍTULO I

Referencial Teórico

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1 – A IMPORTÂNCIA DOS POLINIZADORES

A expansão das fronteiras agrícolas é amplamente reconhecida como uma das

mais significativas alterações humanas ao meio ambiente, em níveis globais. Essa

intensificação tecnológica no uso da terra, através da utilização de variedades de alto

desempenho, fertilizantes químicos, pesticidas e mecanização dentre outros insumos

agrícolas, tem contribuído com o aumento surpreendente na produção mundial de

alimentos nos últimos séculos (MATSON et al., 1997). Por sua vez, a mesma

agricultura moderna, que aplica tecnologia avançada permitindo o cultivo de grandes

áreas de terra contínua, acaba por afetar os serviços naturais de polinização fornecidos

pelo ecossistema, e dessa maneira faz com que não se consiga mais atingir os níveis

ideais de polinização das flores apenas pelas visitas de polinizadores nativos (ALLEN-

WARDELL et al., 1998; KREMEN et al., 2002). Como resultado, não adianta plantar a

melhor semente ou muda selecionada, fazer correção e adubação de solos, irrigar,

combater ervas daninhas, pragas e doenças, entre outros fatores de produção, se no

momento do florescimento não houver na área agentes polinizadores eficientes e em

número suficiente para polinizar as flores, e por consequência assegurar os níveis de

polinização desejados para maximizar a produção e, finalmente garantir a lucratividade

do sistema agrícola em questão (FREITAS & IMPERATRIZ-FONSECA, 2005;

FREITAS; 2006).

Logo, a polinização mediada por animais constitui-se também em um fator de

produção, o qual é de extrema importância para produção agrícola mundial, sendo que

35% das culturas agrícolas, servem de base para a alimentação dos povos, dependentes

do trabalho desses vetores bióticos para a formação de suas sementes e/ou frutos

(KLEIN et al., 2007). Dentre esses animais, as abelhas são consideradas como os

polinizadores mais importantes (FREE, 1993; KLEIN et al., 2007; WINFREE et al.,

2011; ELLIS et al., 2010), sendo estimado em 73%, as espécies agrícolas ao redor do

mundo dependentes da polinização por abelhas (NABHAN e BUCHMANN, 1997;

FAO, 2004).

As abelhas destacam-se como extraordinários polinizadores principalmente por

serem os únicos insetos que visitam as flores para coleta de pólen, o qual servirá como

fonte de alimento para suas larvas, além da necessidade de coletar néctar para satisfazer

suas próprias necessidades energéticas, e/ou as necessidades de sua colônia, no caso

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particular das abelhas sociais (KEVAN, 2007; BRADBEAR, 2009). Essas necessidades

fazem com que se torne obrigatório o contato constante das abelhas com as flores

(FREITAS, 2006). Além do mais, as abelhas possuem adaptações especiais

(morfológicas, fisiológicas e comportamentais), como a grande quantidade de pêlos

ramificados ao redor do seu corpo, que permite o aumento na eficiência da aderência

dos grãos de pólen (WINSTON, 2003; VIANA & SILVA, 2006; BRADBEAR, 2009), a

necessidade de pólen para seu crescimento e desenvolvimento e um comportamento de

fidelidade e constância floral bastante desenvolvido que, por sua vez, torna maior a

probabilidade dos grãos de pólen serem depositados em flores da mesma espécie

(ROBINSON et al., 1989; FREITAS, 1998a; DELAPLANE & MAYER, 2000).

Dentre as abelhas, a espécie Apis mellifera se destaca como o polinizador

economicamente mais valioso para a agricultura mundial (MCGREGOR, 1976;

COMMITTEE ON THE STATUS OF POLLINATORS IN NORTH AMERICA,

NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2007; KLEIN et al., 2007). Sua adaptação a uma

ampla variedade de condições climáticas encontradas no planeta, juntamente com a sua

espantosa capacidade de comunicação que a permite informar e recrutar outras abelhas

da mesma colônia a buscarem mais alimentos, além da sua tolerância ao manejo

humano tornam essa espécie um polinizador bastante eficiente para várias culturas

agrícolas e, portanto, o mais utilizado ao redor do mundo (DELAPLANE & MAYER,

2000; BRADBEAR, 2009). No Brasil, apenas duas culturas de maior expressão

econômica e que dependem do uso de polinizadores vem recorrendo à introdução

sistemática de colônias de Apis mellifera em larga escala: a maçã (Malus domestica) na

Região Sul, especialmente Santa Catarina, e o melão (Cucumis melo) na Região

Nordeste, particularmente nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte (FREITAS &

IMPERATRIZ-FONSECA, 2005), embora em muitos casos prevaleça a errônea idéia

de que a simples introdução na área plantada de algumas colmeias de abelhas já é

suficiente para obter-se níveis ideais de polinização. Como consequência, os resultados

são culturas mal polinizadas, o que gera baixos índices de produtividade, altas

percentagens de perdas, pouca rentabilidade, o que apenas contribui para a

desvalorização dos serviços de polinização no meio agrícola nacional. Isso se deve

principalmente a falta de conhecimentos por parte de apicultores e produtores a respeito

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das características florais, e necessidades de polinização dessas culturas (FREITAS,

1998b).

O grau em que uma determinada cultura agrícola depende da polinização por

abelhas varia de acordo com a morfologia floral, com o nível de autopolinização exibido

pela planta, além da disposição floral dentro da própria planta ou mesmo nas plantas

vizinhas (DELAPLANE & MAYER, 2000). Segundo KLEIN et al. (2007), dentre as

107 principais culturas agrícolas utilizadas diretamente na alimentação humana, 13

delas são essencialmente dependentes de polinizadores (perda de 90% ou mais na

produção na ausência de polinizadores); 30 são altamente dependentes de polinizadores

(40% a quase 90% de redução na produção); 27 são moderadamente dependentes (10%

a quase 40% de redução); 21 são levemente dependentes (mais que 0 e menos que 10%

na redução); para sete das culturas agrícolas estudadas a dependência é inexistente; e

para as nove restantes o grau de dependência de polinizadores é desconhecido. Sendo

assim, a cultura da soja é classificada como moderadamente dependente, o que significa

que na ausência de polinizadores pode-se reduzir em até 40% a produção de grãos de

soja. Portanto, mesmo em culturas consideradas, anteriormente, como exclusivamente

autógamas, como acontece no caso da soja, há evidências de que a polinização por

abelhas pode incrementar a produtividade da cultura (ERICKSON et al., 1978; CHIARI

et al., 2005; AIZEN et al., 2008).

2 - A CULTURA DA SOJA (Glycine max (L.) Merril)

2.1 - Origem da planta

A soja (Glycine max (L.) Merril) cultivada hoje é bem diferente dos seus

ancestrais, que eram plantas rasteiras que se desenvolviam ao longo de rios e lagos. Sua

evolução iniciou-se com o aparecimento de plantas procedentes de cruzamentos naturais

entre duas espécies de soja selvagem, domesticadas e melhoradas por cientistas da

antiga China, provavelmente da Glycine ussuriensis, espécie com sementes pequenas

que se desenvolviam na Ásia oriental (MARTIN, 2006)

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O primeiro registro do grão data de 2838 a.C, onde a soja juntamente com o

arroz, trigo, cevada e milheto eram considerados grãos sagrados (EMBRAPA, 2011). A

sua domesticação parece ter acontecido durante a dinastia de Shang, aproximadamente

de 1500 a 1027 a.C.. Entretanto, historicamente e geograficamente, a soja só parece ter

sido domesticada por volta de 1027 a 221 a.C, período da dinastia de Zhou, onde foi

cultivada no Nordeste da China (HYMOWITZ, 1970 citado por MEYER, 2006).

Após sua domesticação, a soja expandiu-se de maneira lenta para outras regiões

e países do Oriente; como o sul da China, Manchúria, Coréia, Japão, União Soviética e

países do sudeste da Ásia (BORÉM, 1999a).

No século XVII a soja chegou a Europa levada pelo botânico alemão Engelbert

Kaempfer, que residiu no Japão de 1681 a 1692. Em seguida, por volta de 1740,

sementes de soja enviadas por missionários chineses foram plantadas no Jardim

Botânico de Paris. Um pouco depois, em 1790, a soja chegou à Inglaterra, sendo

plantada no Jardim Botânico Peal Kiev. Vale destacar que permaneceu nesse continente

até o final do século IXX apenas como curiosidade. Posteriormente, várias tentativas de

exploração comercial do grão na Europa falharam, provavelmente devido às condições

climáticas desfavoráveis (PINHO, 1999).

A aparição da soja no continente americano data de 1765 em Savannah, Geórgia

– EUA, passando a ser cultivada comercialmente no início do século XX (COSTA,

1966 citado por BORÉM, 1999a). No Brasil, o primeiro registro data de 1882, no estado

da Bahia (VERNETTI, 1983; SEDIYAMA, 1985; SANTOS, 1988). O grão apareceu

com maior expressão em 1908 com os imigrantes japoneses e foi introduzida

oficialmente em 1914 no Rio Grande do Sul, de onde se tem registros do primeiro

cultivo comercial do país (CIS, 2011; FACS, 2011). Porém, a sua expansão no Brasil

somente ocorreu nos anos 70, com o crescente interesse da indústria de óleo e a alta

demanda do mercado internacional (MISSÃO, 2006).

2.2 - Importância econômica

Inicialmente, a soja era utilizada como cultura forrageira, sendo basicamente

utilizada na alimentação de animais (CARNEIRO, 2006). Apenas na segunda década do

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século XX foi que o teor de óleo e proteína contida no grão passou a despertar o

interesse das indústrias, e assim sua produção passou a ter importância econômica.

Atualmente, a soja é uma das mais importantes commodities transacionadas no

mercado internacional (MARTIN, 2005), sendo uma das principais fontes de proteína e

óleo vegetal utilizadas no mundo (BORÉM, 1999a; BRASIL, 2007).

Para a economia brasileira, a cadeia produtiva da soja é de extrema importância.

Em 2010, as exportações do complexo da soja (grão, farelo e óleo) totalizaram mais de

US$ 20 bilhões de dólares, o equivalente a aproximadamente 22% do saldo positivo da

balança comercial do país (BRASIL, 2011; ABIOVE, 2011). Além disso, ela destaca-se

como a principal cultura explorada no país, correspondendo a cerca de 46% da produção

brasileira de grãos (CONAB, 2010). Em nível mundial, o Brasil se destaca como maior

exportador e detém a segunda maior produção, ficando atrás apenas dos Estados

Unidos.

A soja destaca-se como matéria-prima para a formação de diversos produtos e

subprodutos, bastante utilizados pela agroindústria, indústria química e de alimentos. Na

alimentação humana, é constituinte de vários produtos embutidos, chocolates, temperos

para saladas e outros produtos (HASSE, 1999).

A proteína de soja é base para ingredientes de padaria, massas, produtos de

carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para bebês e alimentos

dietéticos. Ela é também bastante utilizada pela indústria de adesivos e nutrientes,

alimentação animal, adubos, formulador de espumas, fabricação de fibra e revestimento

(PINHO, 1999; BRASIL, 2010).

A forma mais usual é como óleo refinado, obtido a partir do óleo bruto. O

mesmo é rico em ácidos graxos poliinsaturados. Podendo ser usado como óleo de

salada, de cozinha e de fritura. Algumas das aplicações do óleo são para a produção de

maionese e margarinas. Na área industrial, faz-se uso do óleo para a confecção de tinta

de caneta e de impressão, tintas de pintura em geral, xampus, sabões e detergentes

(HASSE, 1999).

É através da extração da goma do seu óleo bruto que se obtêm a lecitina, agente

emulsificante responsável pela união entre a fase aquosa e oleosa de produtos, muito

usada na fabricação de produtos ricos em gorduras e óleos, como salsichas, maioneses,

achocolatados, margarinas e produtos de panificação. Podendo ser utilizada ainda como

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agente estabilizante em banhas e como agente umectante em cosméticos (HASSE,

1999).

A soja é um componente essencial na fabricação de rações animais e adquire

importância crescente na alimentação humana (BRASIL, 2011).

Além desses usos, a soja é utilizada também na fabricação de lubrificantes,

explosivos, adesivos, isolamentos elétricos, papel impermeável e laminados, acessórios

para veículos, vernizes, antioxidantes, tubulações, vedações, borrachas sintéticas,

estabilizadores de combustível, etc. Também se faz uso da soja como adubação verde,

forragem e pastagem (PINHO, 1999).

Outro importante nicho da sua utilização ocorreu recentemente devido à criação

do Programa Nacional de Biodiesel em 2004, e sua regulamentação por meio do decreto

nº 5.448, de 20 de maio de 2005, em que o governo autorizou a adição de 2% em

volume de biodiesel ao óleo diesel até 2008 e de 5% em 2013. Assim algumas

leguminosas passaram a ser exploradas com essa finalidade, dentre elas destaca-se a

soja.

Atualmente, existem cerca de 60 plantas autorizadas pela ANP (Agência

Nacional de Petróleo) para a produção de biodiesel, entretanto, mais de 80% da

produção nacional de biocombustível é proveniente do óleo da soja (SANT´ANNA,

2009; ROMANO, 2010; MOUTINHO, 2011). A ampla participação dessa oleaginosa

na produção de biodiesel é decorrente da existência de extensas áreas plantadas, escala

de produção e uma cadeia produtiva bem organizada (UBRABIO, 2010). Outro aspecto

a se considerar, é que hoje, através do melhoramento genético a cultura da soja possui

cultivares apropriadas para cada região do país.

2.3 - Produção e produtividade

Estima-se que a cultura da soja ocupa uma área mundial de 102,0 milhões de

hectares, produzindo 259,7 milhões de toneladas. Os Estados Unidos é o maior produtor

mundial com uma área plantada de 30,9 milhões de hectares, produção na safra

2009/2010 de 91,4 milhões de toneladas e produtividade de 2.958 kg/ha (USDA, 2010).

O Brasil é o segundo maior produtor mundial. Na safra 2009/2010, a cultura ocupou

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uma área de 23,46 milhões de hectares, o que rendeu uma produção de 68,7 milhões de

toneladas e uma produtividade média de 2.927 kg/ha (CONAB, 2011). Outros

importantes países produtores são Argentina, China, Índia e Paraguai (EMBRAPA,

2011).

Acredita-se que o Brasil possa vir a ser o maior produtor mundial, já que é

possuidor ainda de extensas áreas inexploradas e com aptidão para a cultura, caso que

não acontece com os Estados Unidos. Somado a isso, nos Estados Unidos vem

ocorrendo um forte incentivo para a produção de milho, ocasionando uma mudança dos

produtores para essa cultura. Entretanto, um dos principais fatores da elevação da

produção de soja no Brasil está relacionado com ganhos de produtividade (BRASIL,

2010).

No Brasil, as principais áreas produtoras estão nas regiões Centro-oeste e Sul.

Na safra 2009/2010, o estado do Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja,

seguido pelo estado do Paraná produziram juntos 32.845,6 mil toneladas, o que

representa 47,96% da produção total brasileira. (CONAB, 2011).

No Nordeste brasileiro, segundo previsões da CONAB (2011), a produção na

safra 2009/2010 na região deve ser de 5.309,5 mil toneladas, superando mais uma vez a

região Sudeste, que teve sua produção mensurada em 4.457,6 mil toneladas. Destaque

para os estados da Bahia, Maranhão e Piauí, sendo os dois últimos os principais pontos

de abertura de novas áreas de lavouras (SANT´ANNA, 2009).

Por sua vez, na região Norte, representada pelos estados de Tocantis, Rondônia,

Pará e Roraima deve apresentar uma produção de 1.691,7 mil toneladas (CONAB,

2011).

2.4 - Expansão da cultura

A soja (Glycine max L. Merril) é uma leguminosa anual, considerada como

planta de dias curtos e, atualmente cultivada em mais de 35 países nas mais diversas

condições edafoclimáticas (BORÉM, 1999b; MEYER, 2006). Inicialmente seu cultivo

se restringia a locais que apresentavam latitudes compreendidas entre 35º a 45º N, onde

predominam o clima temperado (SPEHAR, 1994, 2000). No Brasil, sua exploração deu-

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se início no estado da Bahia em 1882, posteriormente chegou à região Sul, onde devido

às condições bioclimáticas apresentou melhor adaptação (VERNETTI, 1983).

Na região Sul do Brasil os programas de melhoramento deram ênfase,

inicialmente, à introdução de genótipos desenvolvidos no sul dos Estados Unidos, e

posteriormente no desenvolvimento de cultivares mais adaptadas.

Na década de 1970, a soja passou a representar uma das mais importantes

culturas agrícolas, tendo sua produção alavancada, porém 80% da produção se

concentrava na região Sul do país. Apenas na década de 1980 é que a produção se

expandiu para outras regiões (CARNEIRO, 2006).

A adaptação da soja às condições de menores latitudes das regiões Centro-Oeste,

Norte e Nordeste representou um dos grandes desafios enfrentados pelos programas de

melhoramento no país. Essa expansão só foi possível devido ao desenvolvimento de

genótipos com característica de período juvenil longo, em razão das limitações no porte

e na produtividade (PALUDZYSZYN et al., 1993). Essas características são

influenciadas durante o seu crescimento no período vegetativo, o qual é encurtado em

baixas latitudes, onde a amplitude entre o dia mais curto e o dia mais longo é menor

(CAMPELO et al., 1998).

Atualmente, quase metade da produção brasileira é produzida em estados

compreendidos em latitudes menores de 20º. As regiões situadas abaixo de 10º

representam hoje a área de expansão da cultura, principalmente nos estados do

Maranhão, Piauí, Tocantis e Pará (CRUZ et al., 2009).

A existência de germoplasma de soja adaptável às regiões tropicais permite que

sua exploração constitua uma atividade econômica alternativa, contribuindo para o

fortalecimento da economia agrícola regional. A propósito, a soja poderá prover

matéria-prima para as indústrias de óleos e rações; poderá promover o aproveitamento

de áreas ainda inexploradas; poderá contribuir como fator de modernização da

agricultura e, ainda, constituir importante fonte na alimentação humana, suprimindo, as

carências protéicas generalizadas na região (EMBRAPA, 2011).

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2.5 - Características botânicas

De acordo com SEDIYAMA (2009), a soja é pertencente ao reino Plantae,

divisão Magnoliophyta, classe Magnoliopsida, ordem Fabales, família Fabaceae

(Leguminosae), subfamília Faboideae (Papilionoideae), gênero Glycine. A espécie

cultivada comercialmente hoje é a Glycine Max (L.) Merril.

A soja é uma planta herbácea com grande variabilidade genética, tanto em

relação ao ciclo vegetativo (período compreendido da emergência até a abertura das

primeiras flores) quanto ao ciclo reprodutivo (período representado pelo início da

floração até a maturação), sendo também bastante influenciada pelo meio ambiente.

O seu germoplasma apresenta ampla diversidade quanto ao ciclo, podendo variar

de 70 dias para as mais precoces e de até 200 dias para as mais tardias. As variedades

brasileiras, de uma forma geral, possuem ciclos de 100 a 160 dias e podem ser

classificadas em grupos de maturação precoce, semiprecoce, médio, semitardio e tardio,

dependendo da região (BORÉM, 1999b).

A altura da planta é bastante dependente da interação das condições ambientais

com as características genotípicas da variedade. As cultivares utilizadas comercialmente

no Brasil variam de 60 a 120 cm (SEDIYAMA, 1999).

Em relação ao hábito de crescimento, a soja pode apresentar três tipos de

crescimento: indeterminado, semideterminado e determinado, todos diretamente

correlacionados com o porte da planta. Essa classificação baseia-se no tipo de

crescimento da haste principal. Variedades que possuem crescimento determinado

apresentam plantas com caules terminados em racemos florais e que após o início do

florescimento as plantas crescem muito pouco em altura. Já variedades com hábito de

crescimento indeterminado não apresentam racemos terminais e continuam

desenvolvendo nós e alongando o caule, assim as plantas continuam crescendo até o

final do florescimento. Os racemos axilares possuem menor tamanho e um menor

número de flores. Nas variedades com tipos semideterminados ocorre uma ligeira

semelhança com as variedades com hábito indeterminado, o florescimento inicia-se

quando aproximadamente metade dos nós da haste principal já se formou, mas o

florescimento e o desenvolvimento de novos nós cessam mais abruptamente do que nos

tipos indeterminados (BORÉM 1999b, SEDIYAMA, 1999).

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O sistema radicular da soja é pivotante, constituído de um eixo principal e

inúmeras raízes secundárias, ricas em nódulo de bactérias Bradyrhizobium japonicum,

com a capacidade de fixação de nitrogênio atmosférico (PINHO, 1999; MISSÃO,

2006). O comprimento das raízes pode alcançar até 1,80 m, sendo que a maiorias delas

se encontram a 15 cm de profundidade (CIS, 2011).

A planta de soja apresenta caule herbáceo, ereto e com porte variável,

nubescentes de pêlos brancos, parcedaneos ou tostados. Possui bastante ramificações,

sendo os ramos inferiores mais alongados e formando diferentes angulações com a haste

principal (SEDIYAMA, 1999).

A soja possui quatro diferentes tipos de folhas ao longo do seu ciclo:

cotiledonares, folhas primárias ou simples, folhas trifolioladas ou compostas e prófilos

simples. Sua cor, na maioria das cultivares, varia do verde pálido ao verde escuro. Em

grande parte das variedades, as folhas começam a amarelar à medida que os frutos

amadurecem e passam a cair quando as vagens estão maduras.

As flores surgem em racínios curtos, axilares de terminais, podendo apresentar a

coloração branca, púrpura diluída ou roxa, de 3 até 8mm de diâmetro. O início da

floração dá-se quando a planta apresenta de 10 até 12 folhas trifolioladas (BORÉM,

1999b).

Os frutos são levemente arqueados, achatados e peludos, medindo de 2 até 7cm,

onde alojam de 1 até 5 sementes. Entretanto, a maioria das cultivares apresentam vagens

com dois a três grãos. A cor da vagem varia entre amarela-palha, cinza e preta,

dependendo do estágio de desenvolvimento da planta. Geralmente estão agrupadas em

um número de três a cinco, de modo que podem ser encontradas um total de até 400

vagens por planta (MISSÃO, 2006).

As sementes são lisas, ovais, globosas ou elípticas. Sua coloração pode ser

amarela, preta ou verde. O hilo é geralmente marrom, preto ou cinza. Seu tamanho é

bastante variável (SEDIYAMA, 2009).

2.6 - Estádios de desenvolvimento

Os estádios de desenvolvimento da soja são divididos em vegetativos e

reprodutivos. Os estádios vegetativos são representados pela letra V e os estádios

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reprodutivos pela letra R. As letras são seguidas por índices numéricos que identificam

os estádios específicos. A exceção são os estádios VE e VC, que correspondem à

emergência e cotilédone, respectivamente (FERH & CAVINESS, 1977).

O estádio vegetativo VE representa a emergência dos cotilédones, ou seja, uma

planta recém emergida. O momento em que os cotilédones se apresentam

completamente abertos e expandidos é denominado como VC. A partir do estádio VC

passam a ocorrer às subdivisões dos estádios vegetativos (V1, V2, V3, V4, V5,...Vn),

onde Vn representa o último nó, no topo da planta, com folha completamente

desenvolvida. Desta forma, uma plântula se encontra em V1 quando as folhas

unifolioladas opostas no primeiro nó se encontrarem completamente desenvolvidas e

quando os bordos dos folíolos da primeira folha trifoliolada não mais se tocarem. O

estádio V2 é caracterizado quando a primeira folha trifoliolada estiver completamente

desenvolvida e os bordos dos folíolos da segunda folha trifoliolada não mais se tocarem.

Por conseguinte, o estádio V3 se caracteriza pela segunda folha trifoliolada

completamente desenvolvida e quando os bordos da terceira folha trifoliolada não mais

se tocarem. Na ordem, ocorrem os estádios V4, V5, V6,... Vn. A mudança de um

estádio vegetativo para o outro varia de três a cinco dias, sendo os estádios iniciais mais

prolongados que os estádios finais (BONATO, 2000).

Os estádios reprodutivos correspondem ao período florescimento-maturação,

sendo caracterizado pela letra R acompanhada dos números um até oito. Os estádios

reprodutivos correspondem a quatro fases distintas do desenvolvimento reprodutivo: os

estádios R1 e R2 correspondem ao florescimento; os estádios R3 e R4 referem-se ao

desenvolvimento da vagem; os estádios R5 e R6 estão relacionados ao desenvolvimento

do grão; e a maturação da planta compreende os estádios R7 e R8. A descrição

detalhada dos mesmos encontra-se na tabela 1.

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Tabela 1: Descrição dos estádios reprodutivos da soja (Glycine max (L.) Merril).

Fonte: BONATO, 2000

2.7 - Biologia Floral

2.7.1 - Flor, inflorescência e tempo de florescimento

A soja apresenta flores perfeitas, ou seja, possuem perianto e órgãos sexuais na

mesma flor. (SEDIYAMA et al., 1985). As flores zigomórficas surgem em racemos

axilares e terminais, sendo constituída de cálice tubular e corola. O cálice é formado por

cinco sépalas desuniformes. A corola situa-se logo acima do cálice e é composta de

cinco pétalas. A pétala superior é denominada estandarte, as duas medianas,

lateralmente localizadas, são as asas e as duas inferiores formam a quilha ou carena

(CARLSON & LERSTEN, 1987). A quilha forma uma espécie de câmara, e é onde se

abrigam os órgãos sexuais (FIGURA 1).

Estádio Denominação Descrição

R1 Início de florescimento Uma flor aberta em qualquer nó da haste principal

R2 Florescimento pleno Uma flor aberta num dos 2 últimos nós da haste principal com folha completamente desenvolvida

R3 Início de formação

da vagem Vagem com 5 mm de comprimento num dos 4 últimos nós da haste

principal com folha completamente desenvolvida

R4 Vagem completamente desenvolvida

Vagem com 2 cm de comprimento num dos 4 últimos nós da haste principal com folha completamente desenvolvida

R5 Início do enchimento

do grão Grão com 3 mm de comprimento em vagem num dos 4 últimos nós da

haste principal, com folha completamente desenvolvida

R6 Grão verde ou vagem cheia

Uma vagem contendo grãos verdes preenchendo as cavidades da vagem de um dos 4 últimos nós da haste principal, com folha

completamente desenvolvida

R7 Início da maturação Uma vagem normal na haste principal com coloração de madura

R8 Maturação plena 95% das vagens com coloração de madura

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FIGURA 1: Flor de soja (Glycine max (L.) Merril) em corte longitudinal. Fonte: Adaptado de McGregor, 1976.

O androceu é constituído por 10 estames, inicialmente separados, mas com o

desenvolvimento floral nove se fundem e formam uma coroa abaixo do estigma

(BORÉM, 1999 a, b). Os estames se localizam ao redor do órgão feminino e momentos

antes da antese, se elevam, projetando-se na altura do estigma. Assim, no momento de

abertura das anteras, o pólen cai diretamente sobre o estigma. Isso pode acontecer antes

mesmo da abertura da flor, ocorrendo então um processo conhecido como cleistogamia.

Em condições adversas de temperatura, fotoperíodo e luminosidade, por exemplo, as

flores nem chegam a abrir completamente, ocorrendo a polinização com a flor ainda

fechada (MULLER, 1981; BORÉM, 1999b).

O gineceu é constituído de um único ovário, sendo este pubescente e súpero,

contém de 1 a 5 óvulos que se desenvolvem simultaneamente (FREE, 1993; BORÉM,

1999b), possuí estilo curvo, terminado em estigma bífido, globoso e coberto com

papilas (BORÉM, 1999a). De acordo com KUEHL (1961, citado por BORÉM 1999a) e

MULLER (1981), o estigma torna-se receptivo de um a dois dias antes da antese,

permanecendo assim por mais dois dias. Desta forma, considerando a facilidade do

pólen se projetar diretamente para o estigma, sem a interferência de nenhum vetor,

estimula-se a autopolinização (DELAPLANE e MAYER 2000).

Nectário Asas

Estigma

Antera

Quilha

Estame

Óvulo Ovário

Cálice

Estandarte

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As flores variam da tonalidade branca, púrpura clara ou roxa. As flores

arroxeadas possuem guias de néctar roxos, conhecidos como línguas guias, bem

marcantes e localizados na base da pétala estandarte que convergem aos nectários

(FREE, 1993; AYERS, 2010). As flores diferem ainda segundo a sua dimensão;

podendo ser longas e relativamente delgadas ou pequenas e largas (ERICKSON Jr.,

1983).

A inflorescência da soja é um racemo que possui de 5 a 35 flores, podendo uma

mesma planta apresentar até 800 flores, porém cada flor permanece aberta apenas por

um só dia. Um máximo de 13 flores por inflorescência pode abrir de uma só vez

(DELAPLANE e MAYER, 2000).

Estima-se que em um hectare a quantidade de flores emitidas por dia pode

alcançar 4,1 milhões (McGREGOR, 1976; ERICKSON Jr. 1983). O número, a

proporção de flores que se abrem simultaneamente e a progressividade de abertura

variam segundo a variedade (FREE, 1993).

O período total de florescimento da soja pode durar de três a seis semanas. O

tempo de florescimento é bastante variável e difere entre cultivares (McGREGOR,

1976; VERNETTI, 1983).

2.7.2 - Padrão de secreção de néctar

De acordo com ERICKSON e GARMENT (1979) o nectário da soja é discoidal

em formato de cálice. O seu tamanho varia de 0,63 a 0,73 mm e sua distribuição é

desuniforme, podendo formar grupos de dois ou três. Sua localização mais precisamente

é ao redor do ovário (FREE, 1993) O néctar das flores da soja é composto basicamente

de três açúcares: frutose, glucose e sacarose.

O período de maior secreção de néctar ocorre no período da manhã, entre 7:15 e

10:15h, e esse coincide com o horário de total abertura das flores (VILA, 1988)

Em trabalho realizado no Haiti com 17 variedades de soja, SEVERSON e

ERICKSON Jr., (1984) concluíram que: a secreção de néctar acontece entre as 9:00 e

15:00h ; sua produção varia de 0,022 a 0,127 µl; a flor permanece viável em um único

dia; a quantidade de carboidratos na flor varia de 301 a 1. 354 µg/ µl de néctar e de 16 a

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134 µg por flor. A concentração de açúcares nas 17 variedades foi de 1,2: 1,0: 6,7 de

frutose, glucose e sacarose, respectivamente. O conteúdo médio total de açúcar no

néctar foi de 37 a 45%. Ao longo do dia a concentração de açúcar aumenta, porém o

volume decresce. O néctar produzido por variedades de plantas de flores brancas e

roxas, quando comparados, mostrou-se semelhante.

Em experimento realizado com a variedade BRS-133, CHIARI et al., (2005a)

obtiveram os seguintes valores médios: quantidade total de açúcar de 14,33 µg/flor, com

uma variação de 5,25 a 42,61 µg/flor; quantidade de glicose de 3,61 µg/flor, com uma

variação de 1,05 a 17,8 µg/flor; volume de néctar de 0,072 µl/flor.

As condições edáficas e climáticas interferem significativamente na produção,

qualidade e secreção de néctar. Plantas de soja em áreas com níveis ideais de cálcio e

magnésio produzem néctar de excelente qualidade. A alta umidade atmosférica

intensifica a secreção, mas pode reduzir a quantidade de açúcar secretado. A textura do

solo pode afetar na quantidade de néctar secretado, solos com pouca aeração apresentam

plantas com reduzida produção de néctar, porém com maior concentração (SHUEL,

1967).

ROBACKER et al., (1983), trabalhando em ambiente controlado com a

variedade “Mitchell”, constatou que a produção de néctar foi influenciada pela

temperatura do ar, pelas condições atmosféricas diárias, pela temperatura do solo e

pelos níveis de nitrogênio e fósforo.

2.7.3 - Produção de pólen

A produção de pólen por plantas de soja é bastante variável e difere entre

variedades. Da mesma forma é a coleta de pólen pelas abelhas. Em algumas regiões, a

quantidade de pólen coletada é insignificante, no entanto, em outras pode alcançar 50%

da quantidade total coletada (FREE, 1983). O pólen da soja possui coloração cinza

marrom, tamanho pequeno e dureza. (ERICKSON Jr. 1983).

De acordo com ERICKSON e HERBERT Jr. (1980), os grãos de pólen contêm

de 4 a 7% de gordura e valores protéicos que variam de 45 a 60%.

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2.7.4 - Requerimentos de polinização

A soja é uma espécie autógama, com flores perfeitas, possuindo os órgãos

masculinos e femininos protegidos dentro da corola (SEDIYAMA et al., 1985). A

liberação do pólen e a receptividade do estigma em algumas variedades ocorrem antes

mesmo da abertura da flor, prevalecendo assim a autopolinização (DELAPLANE e

MAYER 2000). Momentos antes da antese os estames se elevam à altura do estigma, e

as anteras ao se abrirem por deiscência projetam o pólen sobre o estigma. Esse artifício

pode acontecer antes mesmo da abertura da flor, ocorrendo então um processo

conhecido como cleistogamia (MULLER, 1981). Porém, apesar da autopolinização ser

um processo automático, algumas variedades apresentam um percentual de aborto nas

flores superiores a 75% (ERICKSON, 1982; FREE, 1993).

Estima-se que sua taxa de fertilização gire em torno de 13 a 57%, sendo esse

percentual variável de acordo com o genótipo e com as condições ambientais em que as

plantas se encontram. Apesar de a soja emitir uma grande quantidade de flores, o

número final de vagens formadas é bem inferior (VAN SCHAIK e PROBST 1958,

citados por McGREGOR, 1976).

O elevado potencial de rendimento de grãos da soja, em parte é perdido, devido

ao elevado índice de aborto e abscisão das estruturas reprodutivas (flores, vagens e

grãos), reflexo da interação com o ambiente e da competição entre os órgãos por

assimilados durante o desenvolvimento (NAVARRO JÚNIOR e COSTA, 2002).

Diante do exposto, formam-se dúvidas se a polinização da soja não seria um dos

fatores limitantes na produção (DELAPLANE e MAYER, 2000). Somado a isso,

existem fortes indícios que algumas variedades se beneficiem da polinização mediada

por abelhas (CARRILLO e RÍOS, 2009).

Várias são as pesquisas que mostraram um maior rendimento em plantios

quando introduzidas abelhas nas áreas. (ERICKSON, 1975; JULIANO, 1976;

ERICKSON, 1978; ISSA et al., 1980; MORETI et al., 1998; FÁVERO, 2000; CHIARI

et al., 2005b; CHIARI et al., 2008). Porém, não está claro se esse aumento é função da

autopolinização, da polinização cruzada ou de ambas (FREE, 1993; DELAPLANE e

MAYER 2000).

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Outros pesquisadores como ERICKSON (1975), ISSA et al., (1980) e

ROBACKER et al., (1983) reportam que nem todas as variedades de soja são atrativas

às abelhas devido a fatores próprios determinados por efeitos genéticos e ambientais.

Em geral, a soja apresenta baixa freqüência de cruzamentos naturais. A taxa de

cruzamento entre plantas de fileiras adjacentes é cerca de 0,5%, esse valor sobe para

aproximadamente 1,0% quando as plantas estão em estreito contato (SEDIYAMA,

1970). Insetos, principalmente as abelhas, podem transportar o pólen e realizar a

polinização de flores de diferentes plantas, porém a taxa de fecundação cruzada

normalmente é menor que 1% (BORÉM, 1999b). Em diversos genótipos, valores

compreendidos entre 0,78 a 3,13% de alogamia foram obtidos (VILA, 1988; AHRENT

e CAVINESS, 1994).

A baixa taxa de alogamia na espécie é decorrente da característica cleistogâmica

da flor (BORÉM 1999 a, b). Porém, ERICKSON (1975), após ampla revisão,

mencionou um intervalo de 0,5 a 35% de polinização cruzada natural, tendo uma maior

taxa de cruzamento em linhagens onde a fertilização ocorre pela manhã. Na verdade, os

valores variam de um lugar para o outro, essa variação é conseqüência dos fatores

ambientais e das diferentes variedades (SEDIYAMA, 1970; VILA, 1988).

De acordo com ROBACKER et al., (1982) e ERICKSON (1984), para uma

adequada polinização são necessários um mínimo de 20 grãos de pólen.

FREE (1993) relata que os requerimentos de polinização da soja variam entre

cultivares e são afetados pelas condições ambientais.

2.8 - Visitantes florais

Existem vários relatos associados à visitação de insetos às inflorescências da

soja. Dentre eles, destacam-se as abelhas (JAYCOX, 1970; RUST et al., 1980 CHIARI

et al., 2005b);

Um total de 29 espécies de abelhas foram coletadas em três cidades dos Estados

Unidos (Dalaware, Wisconsin e Missouri) sendo estas pertencentes a quatro famílias

distintas (Hymenoptera: Apidae, Anthophoridae, Megachilidae e Halictidae). As

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espécies mais freqüentes foram: Apis mellifera L., Ceratina calcarata Robertson,

Megachile testaceus Robertson e Dialictus versatus Robertson. (RUST et al., 1980).

Na Índia, WOODHOUSE e TAYLOR (1913), citados por FREE (1993),

observaram moscas e três espécies de abelhas; Apis cerana, Apis dorsata e Nomia

cognata, sendo a última a espécie mais presente na área.

MORSE e CARTTER (1937) citados por FREE (1970) mencionam a visita de

outros insetos, como o Thrips tabaci as flores de soja e WOODHOUSE e TAYLOR

(1913) também citados por FREE (1970) verificaram a presença de moscas (Musidae) e

das abelhas A. cerana, A. dorsata e Nomia cognata (Halictidae) nas flores de soja,

sendo a última a espécie mais abundante.

O tripes (Thrips tabaci) e outros insetos são apontados como possíveis

causadores de cruzamentos naturais na soja (WEBER e HANSON, citados por

SEDIYAMA et al., 1970).

Já JAYCOX (1970) relata as abelhas Apis mellifera L., Bombus impatiens, B.

griseocollis, Triepeolus spp. e Coelioxys, bem como abelhas solitárias dos gêneros

Melisores, Megachile, Calliopsis, Colletes, Halictus, Agapostemon e Lasioglossum.

No Brasil, FÁVERO e NOGUEIRA COUTO (2000) estudando a polinização

entomófila na soja observaram Apis mellifera L., como a espécie mais freqüente

visitando as flores de soja. Vespas e abelhas Trigona sp. e Tetragonisca sp. também

foram registradas na cultura.

Segundo CHIARI et al., (2005b) em experimento realizado em Maringá-PR,

observaram a superioridade de visitas realizadas por abelhas melíferas as flores de soja,

tendo registrado também a presença de lepidópteros e de outras abelhas. As seguintes

espécies foram identificadas: Trigona fuscipennis Friese, 1900; Exomalopsis subtilis

Timberlake, 1980; Exomalopsis analis Spinola, 1853; Exomalopsis tomentosa Friese,

1899; Exomalopsis ypirangensis Schrottky, 1910.

2.9 - Atratividade das flores de soja para as abelhas

A elevada atratividade das flores de soja às abelhas melíferas pode ser

justificada pela síndrome melitófila que suas flores apresentam. Nectários bem

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desenvolvidos circundando a base do carpelo com produção de néctar de boa qualidade,

flor com guia de néctar bem definido e visível a ultravioleta, aroma próprio, e a

existência de um canal guia para a introdução da língua das abelhas são algumas dessas

características. Desta forma, as abelhas possuem a capacidade de reconhecer as flores

pela cor, forma e aroma (ROBACKER et al., 1983; VILA, 1988; HORNER et al., 2003;

ORTIZ-PEREZ, et al., 2006; PALMER et al., 2009)

Outras características florais como: tamanho da flor, abundância de flores,

cleistogamia, produção de néctar e sequência de floração estão diretamente associados

no efeito de atração às abelhas. Essas características são herdadas, entretanto, podem ser

influenciadas por fatores climáticos e edáficos (ERICKSON, 1975). Ainda segundo o

autor, as abelhas dão preferência às variedades que apresentam um maior número de

flores, maior tamanho e que produzam mais néctar.

ROBACKER et al., (1982) afirmam que o tamanho da flor e o padrão de

abertura possuem relação positiva com sua atração para as abelhas.

Em relação à cor da flor, as variedades que apresentam flores brancas são mais

preferidas por abelhas melíferas (ERICKSON, 1975). O mesmo foi constatado por

VILA (1988), onde variedades que possuíam flores brancas receberam um maior

número de visitas que as variedades que possuíam flores roxas, e que as variedades do

grupo tardias em relação às do grupo precoces foram preferidas, fato justificado por

apresentarem plantas mais altas, maior número de flores por planta e por possuírem uma

média superior em dias de floração. Porém, JAYCOX (1970), relata que flores de cores

brancas e roxas são igualmente atrativas, e que a diferença na atração é devido ao

número de flores por planta ou na quantidade de secreção de néctar.

2.10 - Influência das abelhas na produtividade da soja

Por se tratar de uma espécie autógama, e que possui mecanismos que facilitam a

autopolinização, o uso de abelhas melíferas não costuma ser recomendado. Porém, é

sabido que algumas espécies autógamas se beneficiam desses agentes polinizadores

(FREE, 1993). No caso particular da soja, vários são os trabalhos que indicam um

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aumento na produção, assim como outras pesquisas revelaram o não beneficiamento

dessa cultura com a introdução de abelhas (ISSA et al., 1984).

Nos EUA, ERICKSON (1975) testando três cultivares, sendo uma cleistógama,

que não foi influenciada pela ação das abelhas, obteve aumento de 14 e 16% nas outras

duas.

No Brasil, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul, JULIANO

(1976) trabalhando com a cultivar Santa Rosa concluiu que abelhas, vespas e outros

insetos contribuíram positivamente no aumento do número de vagens e grãos, tendo o

número de vagens aumentado em 37,95%, o peso médio das vagens em 40,13% e o

peso médio dos grãos em 39,85%.

Um maior rendimento foi observado em campos de soja que possuíam colmeias

com abelhas melíferas instaladas a 100 metros do plantio (ERICKSON, 1978). Porém

SHEPPARD et al., (1979, citado por DELAPLANE e MAYER, 2000) não encontrou

nenhuma relação de rendimento a diferentes distâncias de colônias de abelhas melíferas.

Em três anos sucessivos, no Kansas, Estados Unidos, KETTLE e TAYLOR

(1979 citados por FREE, 1993) obtiveram aumentos de 5, 20 e 36% em uma variedade

polinizada por abelhas e em outra variedade o rendimento foi em torno de 10%.

Já ISSA et al., (1980), verificando a ação polinizadora das abelhas em relação as

cultivares IAC-8 e IAC-3, obtiveram um aumento na produção em relação ao controle

de 81% e 9%, respectivamente.

A cultivar IAC 14 apresentou um aumento de 58,58% no número médio de

vagens em uma área coberta por gaiola com introdução de abelhas em relação a uma

área coberta com gaiola sem abelhas (MORETI et al., 1998).

Trabalhando com a variedade FT 2000, FÁVERO (2000) registrou um

incremento no número de vagens e grãos em uma área descoberta, permitindo a

visitação de polinizadores, em comparação com uma área coberta, impedindo toda e

qualquer visita de agentes polinizadores.

CHIARI et al., (2005b) obtiveram uma produção média estimada de 60,12 sacos

por hectare em uma área coberta com abelhas contra 39,91 sacos em uma área coberta

sem a presença de abelhas melíferas.

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Mais recentemente, CHIARI et al., (2008) constataram um aumento na produção

de grãos de 37,84% em uma área coberta por gaiola com introdução de abelhas em

relação a uma área coberta por gaiola sem a presença abelhas.

Outro aspecto a salientar é em relação ao percentual de aborto nas flores de soja

quando expostas a ação de polinizadores. CHIARI et al., (2005b) trabalhando com a

cultivar BRS 133 registraram uma redução de 82,91% em áreas cobertas por gaiolas

para 53,95% e 52,66% em áreas cobertas com a presença de abelhas e livres,

respectivamente.

De acordo com ERICKSON (1982), os benefícios na polinização intermediados

por abelhas são mais evidentes em áreas com solos mais pobres. Porém, a influência das

abelhas no aumento de produtividade da soja é fortemente afetada pelas características

das variedades e pelas condições ambientais (DELAPLANE & MAYER, 2000).

2.11 – Recomendação de polinizadores

A introdução de polinizadores suplementares em campos de soja é fato raro,

apesar de alguns trabalhos demonstrarem efeito positivo com a introdução de abelhas.

(ERICKSON, 1975; JULIANO, 1976; ERICKSON, 1978; ISSA et al., 1980; MORETI

et al., 1998; FÁVERO, 2000; CHIARI et al., 2005b; CHIARI et al., 2008).

O fato da cultura da soja ser economicamente rentável sem a introdução de

polinizadores bióticos, somado ao intenso uso de defensivos agrícolas talvez sejam os

grandes responsáveis pela não utilização de polinizadores.

Apenas SHEPPARD et al., (1979, citados por DELAPLANE e MAYER, 2000)

fazem referência para um incremento de polinização cruzada e considera 0,6 colmeia de

abelhas melíferas por hectare como um número adequado para esta finalidade.

2.12 - Produção de mel

São inúmeras e variáveis as informações da cultura da soja como fonte de néctar.

Nos Estados Unidos, mais precisamente nas planícies centrais e especialmente em

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Arkansas e Missouri, plantios de soja representam uma das principais fontes para a

produção de mel. Apicultores das cidades de Carolina do Norte, Maryland e Tennessee

reportam sobre boas colheitas de mel advindas da cultura da soja. ERICKSON Jr.

(1984), na região do delta do Mississipi (EUA), relata impressionantes médias anuais de

70 a 90 kg de mel por colônia em floradas de soja. Em contrapartida, apicultores de

outras zonas dizem que a soja possui pouco valor apícola e que às vezes pode produzir

algum excedente de mel, assim não é fonte confiável e nem importante (DADANT,

1975).

No Brasil, especificamente em Viçosa – MG, VILA (1980), em experimento

realizado em casa de vegetação, faz referência a uma produção suficientemente boa

considerando a pouca quantidade de flores disponíveis. Porém não quantifica a

produção.

Colônias instaladas próximas a plantios de soja em Maringá – PR obtiveram

uma produção média entre 5,75 a 8,32 Kg em um período de 31 dias (CHIARI, 2004).

Essas variações na produção de mel são decorrentes das muitas variedades

existentes, bem como dos tipos de solos e condições climáticas onde se cultivam soja

(DADANT, 1975).

AYRES (2010) relata a influência dos fatores climáticos, de acordo com o

mesmo, a produção de mel possui correlação com o tipo de solo onde a soja é cultivada.

Em relação às características do mel obtido em plantios de soja, DADANT

(1975), caracteriza como sendo um produto de alta qualidade e com uma tendência de

cristalização muito rápida, possui consistência leve e com uma cor variando do âmbar

claro ao extra claro, apresentando um sabor pouco comum e agradável.

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39

CAPÍTULO II

BIOLOGIA FLORAL, REQUERIMENTOS DE POLINIZAÇÃO E EFICIÊNCIA

POLINIZADORA DE Apis mellifera L. NA SOJA (Glycine max (L.) Merril) EM

LIMOEIRO DO NORTE - CE.

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Biologia Floral, requerimentos de polinização e eficiência polinizadora de Apis

Mellifera L. em soja tropical (Glycine max (L.) Merril)

RESUMO

A pesquisa foi conduzida entre os meses de julho a dezembro de 2009 com variedades

tropicais de soja (Glycine max (L.) Merril) irrigadas por pivô central no Distrito de

irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes, localizada na

chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Ceará. O presente trabalho teve como finalidade

investigar a biologia floral, os requerimentos de polinização e a eficiência polinizadora

da abelha Apis mellifera L. em cultivares de soja adaptadas às condições do Norte e

Nordeste brasileiro. Os resultados mostraram que a antese das flores aconteceu a partir

das 7:00h, porém somente às 10:00h todas as flores se encontravam abertas. A flor

apresentou longevidade de apenas 1 dia, tendo o seu estigma receptivo durante todo o

período que a flor permaneceu aberta. O momento de maior liberação de pólen foi às

9:00h. A disponibilidade máxima de néctar ocorreu às 8:00h e foi decrescendo ao longo

do dia. Foram observadas abelhas de cinco famílias diferentes, porém houve um

predomínio total da espécie Apis mellifera L. No que se refere aos requerimentos de

polinização, os estudos mostraram que a soja produziu vagens em todas as formas de

polinizações empregadas (restrita, livre e uma visita de A. mellifera). No entanto,

quando intermediada por agentes bióticos (polinização aberta) incrementos de 27,4% e

20,72% em número de vagens e número de sementes, respectivamente, foram

alcançados. Apenas com uma única visita de A. mellifera foi possível obter rendimentos

semelhantes aos encontrados no tratamento de polinização aberta (p>0,05). Conclui-se

que A. mellifera e, possivelmente, outros agentes polinizadores, podem contribuir para

suprimir déficits de polinização e maximizar a produtividade de cultivares tropicais de

soja, gerando incrementos substanciais na produção de vagens e grãos.

Palavras-chave: Déficit de polinização. Polinização agrícola. Polinização por abelhas.

Polinização pela abelha melífera. Produção de soja.

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Floral biology, pollination requirements and pollination efficiency of Apis mellifera

L. in tropical soya bean (Glycine max (L.) Merril).

ABSTRACT

The research was carried out between July and December 2009 using tropical soya bean

(Glycine max (L.) Merril) cultivars irrigated by center pivots in the irrigation district of

Jaguaribe-Apodi, belonging to the agribusiness Faedo Sementes situated at the Apodi

plateau, Limoeiro do Norte, Ceará, Brazil. The study aimed to investigate the floral

biology, pollination requirements and pollination efficiency of Apis mellifera L. in

cultivars of soya bean adapted to the tropical conditions of the Northern and

Northeastern regions of Brazil. Results showed that anthese started at 7:00h, but only by

10:00h all flowers were open. The flower lasted only one day and the stigma was

receptive throughout the period the flower remained open. The moment of most pollen

release was at 9:00h. The greatest amount of nectar was available by 8:00h and

decreased during the day. Bees of five Families were observed visiting the flowers, but

the numbers of Apis mellifera were overwhelming. Regarding pollination requirements,

the soya bean plant produce pods in all treatments (restricted pollination, open

pollination and one A. mellifera visit), but increments of 27.4% and 20.72% in number

of pods and number of seeds, respectively, were reached when pollination was

intermediated by biotic agents (open pollination). A single A. mellifera visit to the

flowers produced results similar (p>0,05) to that of open pollination. It was concluded

that A. mellifera and possibly other pollinating agents can contributed to suppress

pollination deficit and maximize productivity in tropical cultivars of soya bean

generating substantial increments pods and seeds yield.

Key words: Bee pollination. Crop pollination. Honey bee pollination. Pollination

déficit. Soya bean yield,

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1 – INTRODUÇÃO

A soja (Glycine max (L.) Merril) é uma cultura de grande importância para o

Brasil, matéria-prima para vários produtos, possui elevado teor protéico em suas

sementes e representa a principal fonte de óleo para a produção do biodiesel. Em 2010,

o país foi o segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Na safra

2009/2010 a cultura ocupou uma área de 23,46 milhões de hectares, o que rendeu uma

produção de 68,7 milhões de toneladas e uma produtividade média de 2.927 kg/ha

(CONAB, 2011). A produção de soja no Brasil tem se concentrado nas regiões Centro-

oeste e Sul do país, principalmente nos Estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande

do Sul e somente recentemente se expandiu a outras regiões, caso do Norte e Nordeste,

sobretudo nos Estados do Tocantis, Pará, Maranhão e Piauí (AGUILA, 2005; CRUZ et

al., 2009) No entanto, são praticamente inexistentes informações em relação a essas

cultivares adaptadas ao Norte e Nordeste brasileiro, sendo necessários então estudos

relativos a sua biologia floral, suas necessidades de polinização e de possíveis perdas de

produtividade em virtude do aborto e da abscisão de estruturas reprodutivas (flores,

vagens e grãos).

A soja é considerada uma espécie essencialmente autógama, com flores

perfeitas, possuindo os órgãos masculinos e femininos dentro da corola (SEDIYAMA,

1985). A liberação do pólen e a receptividade do estigma em algumas variedades

acontecem antes mesmo da abertura da flor, ocorrendo um processo conhecido como

cleistogamia (MULLER, 1981). Assim a autopolinização prevalece na soja

(DELAPLANE & MAYER 2000). Por outro lado, ERICKSON (1982) e FREE (1993)

relatam que em algumas variedades o percentual de vingamento de flores é menor que

25%, o que poderia ser devido a um déficit de polinização. De fato, VAN SCHAIK e

PROBST (1958, citados por McGREGOR 1976) encontraram taxa de fertilização tão

baixa quanto 13%. Os mesmos autores fazem referência ainda à quantidade de vagens

formadas que é bem inferior ao número total de flores produzidas. Assim, levanta-se a

questão se a polinização da soja não seria um dos fatores limitantes na produção

(DELAPLANE & MAYER, 2000).

Existem fortes indícios que algumas variedades de soja se beneficiem da

polinização mediada por abelhas. De fato, essa planta é possuidora de características

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melitófilas como: existência de aroma próprio, produção de néctar de boa qualidade e

canal para introdução da probóscide das abelhas (VILA, 1988). Sendo notável a visita

de abelhas solitárias e sociais em suas flores, como observado por JAYCOX (1970);

FREE (1993); RUST et al. (1980); FÁVERO (2000) e CHIARI et al. (2005).

Alguns trabalhos têm observado aumentos na produção de soja quando visitada

por abelhas (ERICKSON, 1975; JULIANO, 1976; ERICKSON, 1978; ISSA et al.,

1980; MORETI et al., 1998; FÁVERO, 2000; CHIARI et al., 2005; CHIARI et al.,

2008).

No entanto, a taxa de polinização cruzada na soja de uma maneira geral é baixa,

variando de 0,5 a 3,13% (VILA, 1988; AHRENT & CAVINESS, 1994), embora

ERICKSON (1975), em ampla revisão tenha mencionado variedades que atingem 35%.

Portanto, em função de maiores informações a respeito da biologia floral,

requerimentos de polinização e potenciais polinizadores das novas variedades de soja

que estão sendo introduzidas no Norte e Nordeste brasileiro, desenvolveu-se o presente

trabalho com o objetivo de investigar a biologia floral e os requerimentos de polinização

de cultivares de soja adaptadas às regiões Norte e Nordeste, bem como a eficiência

polinizadora de Apis mellifera L. na polinização desta cultura.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área experimental

2.1.1 Localização

A pesquisa foi conduzida em plantios de soja irrigados por pivô central no

Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes. A

fazenda está situada na chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Ceará, que tem como

coordenadas geográficas 05º 08’ 72” (S), 37º 59’ 14” (W) e 30,22 m de altitude em

relação ao nível do mar, situado na mesorregião do Jaguaribe, na microrregião do Baixo

Jaguaribe (IPECE, 2011).

2.1.2 Clima

Segundo a classificação climática de KÖPPEN, o clima da região é do tipo

BSw’h’, (semi-árido, com máximo de chuvas no outuno e muito quente), onde as

condições climáticas são caracterizadas por médias anuais de 62% de umidade relativa

do ar, 720 mm de precipitação pluvial e 28,5ºC de temperatura, sendo o trimestre

março-maio, o período mais chuvoso e o período julho-dezembro o mais seco

(DNOCS,2011).

2.1.3 Variedades e período de estudo

Os experimentos relacionados a biologia floral da soja foram realizados com as

variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR. Já os experimentos de requerimentos de

polinização e eficiência polinizadora de Apis mellifera L., foram realizados na cultivar

BRS-Sambaíba. Os estudos foram desenvolvidos de julho a dezembro de 2009.

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2.2 Biologia floral

2.2.1 Longevidade e abertura das flores, deiscência das anteras e receptividade do

estigma

Para a verificação do ciclo da flor (horário de abertura e longevidade), dezenas

de botões florais na pré-antese em diferentes plantas foram marcados com linha de

algodão na base do pedicelo e acompanhados visualmente durante todo o seu

desenvolvimento.

O padrão de abertura das flores foi obtido em três filas de um metro linear da

cultura das variedades estudadas (BRS-Carnaúba e Monsoy 9144RR). Durante o

florescimento as plantas de cada metro foram marcadas e acompanhadas ao longo do

dia. As observações eram feitas a cada hora, das 6:00 às 17:00 horas, e a medida que as

flores abriam eram removidas e registradas em uma planilha.

Para a averiguação da deiscência das anteras, 30 botões florais na pré-antese em

diferentes plantas foram marcados com linha de algodão na base do pedicelo e

acompanhados visualmente durante todo o seu desenvolvimento. A cada hora, das 6:00

às 17:00 horas eram realizadas vistorias, sendo as observações registradas em uma ficha

de controle.

Como forma de avaliar a receptividade dos estigmas das flores de soja, utilizou-

se o teste de peróxido de hidrogênio (H2O2 – 10 volumes) em 10 flores de cada

variedade estudada (BRS-Carnaúba e Monsoy 9144RR) a cada hora, das 7:00 às

17:00h. O estigma foi considerado como receptivo a partir do momento que se observou

a formação de bolhas. A formação de bolhas ocorre pela liberação do oxigênio após a

quebra das moléculas do peróxido de hidrogênio, ocasionadas por enzimas presentes

nos estigmas receptivos (DAFNI, 2005).

2.2.2 Período de florescimento e número total de flores emitidas em cada variedade

O período de florescimento e o número total de flores emitidas em cada

variedade foram obtidos através do acompanhamento e da contagem diária das flores

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em um metro linear da cultura, sendo um total de 12 e 14 plantas para a variedade BRS-

Carnaúba e Monsoy 9144 RR, respectivamente. Com o resultado foi possível estimar a

quantidade de flores de cada variedade em um hectare.

2.2.3 Padrão de secreção de néctar

Para a obtenção do padrão de produção e do efeito de retiradas sucessivas de

néctar, plantas de soja das variedades estudadas foram escolhidas aleatoriamente e

tiveram alguns dos seus botões florais que abririam no dia seguinte ensacados. Foram

realizados quatro tratamentos em cada variedade estudada (BRS-Carnaúba e Monsoy

9144 RR):

1º - retirada de néctar em quatro horários (8:00h, 11:00h, 14:00h, 17:00h);

2º - retirada de néctar em três horários (11:00h, 14:00h, 17:00h);

3º - retirada de néctar em dois horários (14:00h, 17:00h);

4º - retirada de néctar em apenas um horário (17:00h).

Cada flor do primeiro tratamento foi submetida a quatro extrações a intervalos

de três horas, iniciando às 8:00h. As flores do segundo tratamento foram submetidas a

três extrações, sendo a primeira retirada realizada às 11:00h. No terceiro tratamento, que

iniciou-se às 14:00h, as flores sofreram duas extrações. Nas flores do quarto tratamento

foi realizada somente uma extração, que ocorreu às 17:00h.

Em cada tratamento foram utilizadas cinco flores de plantas diferentes e nos

tratamentos em que eram realizadas mais de uma extração, as flores eram reensacadas

após cada retirada. A retirada do néctar em cada cultivar foi realizada com auxílio de

microcapilares de 0,5µL.

Com o experimento foi possível detectar a quantidade de néctar disponível, a

produção de néctar ao longo da vida da flor e o efeito de retiradas sucessivas em cada

variedade.

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2.3 Visitantes florais

Os visitantes das flores da soja foram capturados durante todo o período de

florescimento das cultivares estudadas. Realizaram-se alguns transetos em zigue-zague

entre o cultivo ao longo do dia (7:00 às 17:00h) e com o auxílio de uma rede

entomológica eram realizadas as capturas. Os insetos coletados foram sacrificados em

câmara mortífera contendo acetato de etila e acondicionados em frascos contendo álcool

70% para futura identificação.

Também se fez uso de armadilhas de pratos coloridos (pan traps capture), que

são pequenos recipientes plásticos de três cores diferentes: um branco, um azul e um

amarelo, pintados internamente com tinta capaz de refletir a luz ultravioleta e assim

exercer um poder de atração aos insetos. Em cada “pan trap” era adicionado água e

detergente, e estas permaneciam expostas por um período de 24 horas em meio ao

plantio. Diariamente os insetos retidos eram coletados e uma nova solução de água e

detergente era preparada.

Posteriormente, todos os insetos foram montados em alfinetes entomológicos,

devidamente etiquetados e enviados para identificação pela Dra. Favízia Freitas de

Oliveira na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

A coleta e identificação dos visitantes florais tiveram como intuito, obter um

levantamento das espécies presentes na área como possíveis agentes polinizadores da

cultura da soja.

2.4 Requerimentos de polinização e eficiência polinizadora de Apis mellifera L.

Com o intuito de conhecer os requerimentos de polinização da soja cv. BRS-

Sambaíba e a eficiência de abelhas melíferas com uma única visita, quatro tratamentos

foram realizados durante o florescimento da cultura. A metodologia aplicada é descrita

abaixo:

a) Polinização livre – T1: visando identificar o nível de polinização natural

das flores sob condições de campo, sem qualquer manipulação e com a ação dos agentes

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polinizadores existentes, 150 botões florais foram marcados no dia anterior ao da antese

(abertura da flor) e acompanhados até a formação da vagem.

b) Polinização restrita com filó – T2: um total de 150 botões florais no dia

anterior a sua antese foram protegidos com sacos de filó, no entanto com a manipulação

das flores, apenas 79 persistiram. A finalidade do presente tratamento foi verificar a

capacidade da cultura de se autopolinizar ou ser polinizada pelo vento, já que o saco de

filó permite a passagem do vento e de possíveis grãos de pólen que esteja carregando,

sem que agentes polinizadores bióticos tenham contato direto com as flores. As flores

permaneceram ensacadas durante o período que se encontravam abertas.

c) Polinização restrita com papel – T3: para esse tratamento, 150 botões

florais foram protegidos com sacos de papel no dia anterior a sua antese, e

permaneceram ensacadas por todo o momento em que as flores se encontravam abertas.

Porém, devido à queda de sete flores na manipulação, apenas 143 permaneceram. Esse

tratamento não permite a ação de nenhum agente externo. Desta forma, foi possível

verificar o percentual de autopolinização da variedade nordestina de soja.

d) Polinização com uma única visita de Apis mellifera L. – T4: nesse

tratamento dezenas de botões florais foram ensacados, e após a sua antese foram

desensacados e observados até que recebessem a primeira visita de uma abelha melífera.

Logo após a abelha deixar a flor, essa era reensacada e assim permanecia durante todo o

período de sua abertura. Flores que recebessem visita de qualquer outro inseto ou que

não fossem visitadas por Apis mellifera L. naquele dia eram excluídas do tratamento.

Foi computado um total de 56 flores nesse tratamento

Os sacos de filó e papel eram retirados imediatamente após o fechamento da flor

e teve como finalidade reduzir a queda das flores por fatores que não fossem o de aborto

natural. As flores de soja são muito frágeis e a permanência contínua dos sacos de filó e

papel, somado a ocorrência de ventos intensos ocorridos na área durante a execução do

experimento poderia acarretar na queda prematura das mesmas e a consequente perda de

confiança dos dados.

A marcação das flores em todos os tratamentos foi realizada com linha de

algodão na base do botão, tomando-se o devido cuidado para que a linha não afetasse a

abertura normal da flor e a possível formação da vagem. Posteriormente, as plantas

foram numeradas e marcadas com fita colorida de acordo com o tratamento.

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Em todos os tratamentos, quando as plantas se encontravam por volta do estádio

R7 e R8, ou seja, no início da maturação e na maturação plena respectivamente, foram

coletados dados referentes a número de vagens, número de grãos por vagem e número

total de grãos.

2.5 Análise dos dados

Os dados numéricos referentes ao experimento de biologia floral tiveram suas

médias e erros-padrões calculados, porém as produções de néctar das flores ao longo do

dia tiveram suas médias comparadas pelo teste de Tukey, usando-se o programa

estatístico SAS versão 9.1, sendo utilizado um nível de significância de 5%.

Os requerimentos de polinização e eficiência polinizadora de Apis mellifera L.

foram analisados pelo programa estatístico SAS versão 9.1, por meio do teste não

paramétrico de Qui-quadrado.

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Biologia floral

3.1.1 Abertura das flores, deiscência das anteras e receptividade do estigma

As flores de Glycine max (L.) Merril são perfeitas, possuem um único plano de

simetria e são compostas por cálice tubular e corola. Em relação ao seu posicionamento

na planta, observou-se o surgimento de flores em racemos axilares e terminais. As

variedades estudadas apresentavam flores de cores diferentes, sendo a variedade

Monsoy 9144 RR possuidora de flores com tonalidade roxa e a cultivar BRS-Carnaúba

detentora de flores na cor branca.

A abertura das flores nas duas cultivares ocorreu, exclusivamente, no período da

manhã, iniciando por volta das 7:00 horas e prolongando-se até às 10:00 horas, quando

então todas as flores daquele dia se encontravam abertas.

As duas cultivares avaliadas apresentaram comportamento bastante semelhante

no que se refere ao padrão de abertura de suas flores. As 7:00 horas, menos de 20% das

flores daquele dia em ambas as variedades se encontravam abertas, as 8:00 horas

registrou-se o maior percentual de abertura das flores, tendo a variedade Monsoy

9144RR apresentado quase que 80% de suas flores daquele dia abertas e a variedade

BRS-Carnaúba alcançando um total de 90%. No horário de 9:00 horas, praticamente

todas as flores se encontravam abertas, entretanto somente as 10:00 horas todas as flores

de soja daquele dia das variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR estavam

totalmente abertas (FIGURA 1). Segundo FREE (1993), o número, a proporção de

flores que se abrem simultaneamente e a progressividade de abertura variam

grandemente de acordo com a variedade.

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FIGURA 1: Padrão percentual acumulado de abertura das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 em Limoeiro do Norte, CE. 2009.

As flores ao abrirem já apresentavam pólen em suas anteras, tendo se observado

a maior quantidade de pólen disponível as 9:00 horas da manhã. A liberação de pólen

antes da abertura da flor é uma característica comum a várias Fabaceae, o que acaba por

favorecer a autopolinização (FRANCO, 1995; GUEDES, 2009). Na soja, isso ocorre

inclusive com a existência de variedades cleistogâmicas, ou seja, cujas flores nunca

abrem, mas liberam pólen e se autopolinizam estando fechadas.

Em relação à receptividade do estigma, este se mostrou receptivo durante todo o

período que a flor permaneceu aberta, corroborando com MULLER (1981) e

DELAPLANE & MAYER (2000). Esses autores citam ainda que o estigma torna-se

receptivo dois dias antes da antese, podendo permanecer assim por mais dois dias.

Entretanto, nesse estudo, a receptividade do estigma não foi testada nem antes e nem

depois da ocorrência da antese.

O processo de senescência das flores de soja de ambas as variedades estudadas

deu-se início ao final da tarde e foi caracterizado pelo início do curvamento da flor em

direção ao solo. No dia seguinte pela manhã as flores estavam fechadas e não abriram

mais, apresentando desta forma longevidade de 1 dia e, após três a quatro dias as pétalas

estavam completamente murchas. Esses resultados confirmam os obtidos por outros

autores (FREE, 1993; DELAPLANE & MAYER 2000), concordando ainda com

PRIMACK (1985), que menciona que as flores de Fabaceae em geral permanecem

0

20

40

60

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abertas por um só dia. No entanto, CHIARI et al., (2005), observaram flores que

permaneceram abertas por quase três dias e meio.

3.1.2 Período de florescimento e número total de flores emitidas em cada variedade

O período total de florescimento foi de 34,0 ± 1,44 dias e 37,0 ± 2,23 dias para

as cultivares BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR, respectivamente. De fato, alguns

estudos confirmam que o período de florescimento da soja é bastante variável, podendo

durar de três a seis semanas e difere entre cultivares (McGREGOR, 1976; VERNETTI,

1983). Em relação ao tempo de florescimento da variedade BRS-Carnaúba, a

quantidade de flores emitidas foi um pouco menor do que a registrada pela Embrapa em

outras regiões do país.

No final do florescimento, o número total médio de flores produzidas por planta

foi de 447,27 ± 88,60 para a variedade BRS-Carnaúba e 390,15 ± 41,96 flores na

variedade Monsoy 9144 RR. Isso evidencia uma das características da soja, que é a

grande produção de flores por planta, havendo relatos de variedades que podem emitir

até 800 flores numa única planta (DELAPLANE & MAYER, 2000). Quando convertido

a quantidade de flores no metro linear para um hectare, obtemos um valor aproximado

de 107 milhões e 344 mil flores/ciclo na variedade BRS-Carnaúba e 101 milhões e 439

mil flores/ciclo na variedade Monsoy 9144 RR.

3.1.3 Padrão de secreção de néctar

As primeiras amostragens de néctar realizadas as 8:00 horas da manhã

mostraram que as plantas apresentavam seu volume máximo de produção de néctar,

sugerindo que a produção possivelmente já começa a ocorrer antes mesmo da abertura

da flor. Em ambas as variedades estudadas, esse volume caiu progressivamente até as

17:00 horas quando então a quantidade amostrada foi mínima. No entanto, essa queda

apresentou um padrão diferente entre as variedades estudadas. Enquanto na variedade

Monsoy 9144 RR houve um decréscimo acentuado do período compreendido das 8:00

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as 14:00 horas, e depois apenas uma leve redução na sua quantidade, a variedade BRS-

Carnaúba apresentou um decréscimo moderado das 8:00 as 14:00, quando então uma

queda mais acentuada na sua quantidade foi registrada (FIGURA 2).

FIGURA 2: Padrão diário de secreção de néctar das flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.

Considerando a quantidade total de néctar produzido por cada variedade,

observaram-se diferenças significativas entre os tratamentos (p<0,05). A produção de

néctar na variedade BRS-Carnáuba, nos horários de 8:00, 11:00 e 14:00 horas diferiu da

produção registrada as 17:00 horas. Já na variedade Monsoy 9144 RR, a produção de

néctar no horário das 8:00 horas diferiu estatisticamente (p<0,05) dos demais horários

(11:00, 14:00, 17:00). Por conseguinte, a quantidade de néctar as 11:00 horas foi

superior a obtida as 14:00 e 17:00 horas. Entre os dois últimos horários (14:00 e 17:00)

não se verificou diferença estatística (p>0,05) entre eles. Quando comparado a

disponibilidade de néctar entre as variedades nos diferentes horários, as análises

demonstraram haver diferença significativa (p<0,05) apenas as 8:00 horas, horário em

que a quantidade de néctar da variedade Monsoy 9144 RR foi superior e diferente

quando comparado com a produção alcançada pela variedade BRS-Carnaúba (TABELA

1).

0,000

0,020

0,040

0,060

0,080

0,100

0,120

0,140

0,160

0,180

08:00 11:00 14:00 17:00

Vo

lum

e (

µL)

Horários

Monsoy 9144 RR BRS-Carnaúba

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Tabela 1: Produção de néctar (µL) de flores de soja (Glycine max (L.) Merril) ao longo do dia das variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009.

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Em relação ao efeito de retiradas sucessivas de néctar, as variedades não fizeram

reposição de néctar após a primeira retirada (TABELA 2). De acordo com DAFNI

(2005), essa é uma das estratégias apresentadas pelas plantas com flores e pode estar

diretamente relacionada à diversidade e comportamento dos visitantes florais nessas

flores. O fato da flor não repor néctar após ser removido pode estar relacionado a

aspectos econômicos da planta.

Observa-se ainda que nas flores em que não era retirado o néctar, esse volume

decrescia ao longo do dia. Esse fato pode estar relacionado à evaporação do néctar

como também pela reabsorção pela planta (GALLETO & BERNARDELLO, 2005).

TABELA 2: Efeito da remoção de néctar em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) variedades BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR em Limoeiro do Norte, CE. 2009. Valores em médias ± e.p.m; n representa o número de flores.

A quantidade média máxima e mínima de néctar produzido ao longo do dia de

ambas as variedades apresenta-se dentro do intervalo de outras 17 variedades estudadas

no Haiti, onde a produção variou de 0,022 a 0,127 µL (SEVERSON & ERICKSON Jr.,

1984). Os mesmos autores concluíram ainda que a secreção de néctar ocorre entre as

9:00 e 15:00 horas, diferindo bastante do presente trabalho, haja vista que em nossas

observações não foi mais verificado secreção após a primeira retirada. Ainda em relação

08:00 11:00 14:00 17:00ẋ ± e.p.m ẋ ± e.p.m ẋ ± e.p.m ẋ ± e.p.m

BRS-Carnaúba 5 0,114 ± 0,013 Ba 0,093 ± 0,012 Aa 0,079 ± 0,012 Aa 0,032 ± 0,011 AbMonsoy 9144 RR 5 0,168 ± 0,013 Aa 0,106 ± 0,013 Ab 0,042 ± 0,013 Ac 0,029 ± 0,013 Ac

Variedade n

Variedades n 08:00 11:00 14:00 17:00 Total5 0,114 ± 0,013 0 0 0 0,114 ± 0,0135 0,093 ± 0,012 0 0 0,093 ± 0,0125 0,079 ± 0,012 0 0,079 ± 0,0125 0,032 ± 0,011 0,032 ± 0,011 5 0,168 ± 0,013 0 0 0 0,168 ± 0,0135 0,106 ± 0,013 0 0 0,106 ± 0,0135 0,042 ± 0,013 0 0,042 ± 0,0135 0,029 ± 0,013 0,029 ± 0,013

Volume de néctar (µL)

BRS-Carnaúba

Monsoy 9144 RR

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à quantidade produzida, a quantidade de néctar amostrada as 8:00 e 11:00 horas foi

bastante superior as obtidas em outros estudos, como os de ERICKSON (1975) com 30

variedades diferentes, onde a produção variou de 0,003 a 0,063 µL e o de CHIARI et

al., (2005), que na variedade BRS-133 encontrou um volume de néctar de 0,072 µL por

flor.

3.2 Apis mellifera e outras abelhas nas flores de soja

Apesar de abelhas de quatro famílias diferentes terem sido observadas

forrageando nas flores de soja, 90% das visitas foram feitas pela abelha Apis mellifera

L., sendo o restante constituído pelas outras espécies (TABELA 3). A elevada

ocorrência de abelhas melíferas forrageando nas flores de soja pode ser justificada pela

síndrome melitófila que apresenta suas flores. Nectários bem desenvolvidos

circundando a base do carpelo com produção de néctar de boa qualidade, flor com guia

de néctar bem definido e visível a ultravioleta, aroma próprio, e a existência de um

canal guia para a introdução da língua das abelhas são algumas dessas características.

Assim, as flores de soja são bastante atrativas as abelhas, e estas possuem a capacidade

de reconhecê-las pela cor, forma e aroma (ROBACKER et al., 1983; VILA, 1988;

HORNER et al., 2003; ORTIZ-PEREZ, et al., 2006; PALMER et al., 2009) Dessa

forma, os estudos de eficiência e polinização foram conduzidos com essa espécie.

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Tabela 3: Visitantes florais da soja (Glycine max (L.) Merril) coletados no município de Limoeiro do Norte-CE. 2009.

Ordem / Família Gênero/Espécie Sexo Hymenoptera Andrenidae Psaenythia sp. ♀ Apidae Apis mellifera (Linnaeus, 1758) ♀ Apidae Melitomella grisescens (Ducke, 1907) ♀ Apidae Ancyloscelis sp. ♂ ♀ Apidae Exomalopsis analis (Spinola, 1853) ♀ Apidae Florilegus sp. ♀ Apidae Centris analis (Fabricius, 1804) ♀ Halictidae Augochloropsis sp. 1 ♀ Halictidae Augochloropsis sp. 2 ♀ Halictidae Augochlorella sp. ♀ Halictidae Augochlora sp. 1 ♀ Halictidae Augochlora sp. 2 ♀ Halictidae Dialictus sp. 1 ♀ Halictidae Dialictus sp. 2 ♀ Halictidae Dialictus sp.3 ♀ Megachilidae Megachile sp. ♀

3.3 Requerimentos de polinização e eficiência polinizadora de Apis mellifera L.

Ao final do experimento observaram-se diferenças significativas (p<0,05) no

número de vagens entre os diferentes tratamentos, sendo o tratamento de polinização

aberta e de polinização com uma única visita de Apis mellifera L. estatisticamente

diferentes (χ² =28,51, gl=3, p<0,05) aos demais, porém não diferindo entre si, conforme

se verifica na tabela 4.

TABELA 4: Vingamento de vagens e sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Sambaíba sob quatro formas de polinização das flores. Limoeiro do Norte-CE. 2009.

Tratamentos Nº de flores Vagens Sementes

Número (%) Número (%) Polinização aberta 150 82 a 54,67 196 a 43,56 Polinização 1 visita (Apis ) 56 27 a 48,21 69 a 41,07 Polinização Restrita filô 79 23 b 29,11 59 b 24,89 Polinização Restrita papel 143 39 b 27,27 98 b 22,84 Valores seguidos pelas mesmas letras na coluna não diferem significativamente (Teste de Tukey) P<0,05.

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Em relação ao número de sementes por vagem, novamente os tratamentos de

polinização livre e de polinização com uma única visita de Apis mellifera L. diferiram

estatísticamente (χ² =23,04, gl=3, p<0,05) quando comparados aos tratamentos que

possuíam suas flores restritas, que impediam toda e qualquer ação de polinizadores

bióticos.

A soja cv. BRS-Sambaíba produziu vagens sob todas as circunstâncias de

polinização efetuadas no experimento. Mesmo quando as flores foram privadas da visita

de insetos, 28,19% das flores deram origem a vagens, porém quando intermediada por

agentes bióticos (polinização aberta) incrementos de 27,4% e 20,72% em número de

vagens e número de sementes, respectivamente, puderam ser alcançados. Isso corrobora

com afirmações já bem elucidadas da soja como uma planta autógama (SEDIYAMA et

al., 1985; FREE, 1993; AHRENT & CAVINESS, 1994). Fato confirmado por

DELAPLANE & MAYER (2000), que observaram liberação de pólen e receptividade

do estigma antes mesmo da abertura da flor, favorecendo assim a autopolinização.

Ainda em relação aos tratamentos de polinizações restritas, a polinização restrita

com saco de filô não diferiu (p>0,05) da polinização restrita com saco de papel,

demonstrando que a ação do vento não interferiu na formação de vagens e sementes,

haja vista que o isolamento da flor com saco de filó impede apenas a ação dos visitantes

florais. ABUD et al., (2003), também não encontrou efeito significativo do vento na

polinização da soja, assim como SEDIYAMA et al., (1970), que obteve valores

inferiores a 1,30%, demonstrando praticamente nula a interferência do vento na

polinização da cultura da soja.

O maior número de vagens e sementes produzidas no tratamento de polinização

com uma única visita demonstra o papel relevante das abelhas como eficientes

polinizadoras. Vale ressaltar que no tratamento aberto as flores que haviam sido

visitadas pela Apis, não foram mais visitadas por nenhum outro visitante e nem por

outra Apis. O que é coerente com o padrão de disponibilidade de néctar observado e

também com a alta efetividade da Apis com uma única visita, ao qual foi equivalente

quando a flor estava aberta, e portanto disponível a inúmeras visitas. De fato a Apis

mellifera é uma abelha generalista, mas que geralmente apresenta uma alta eficiência de

polinização com apenas uma visita, como observado também em outras culturas

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(FREITAS & PAXTON, 1998; FREITAS et al., 2002; SOUZA, 2003; ALVES &

FREITAS, 2007; RIZZARDO, 2007; ROSA, 2011).

No que se refere ao tratamento de polinização livre, os bons índices obtidos

nesse trabalho podem ser explicados pela constante presença de abelhas nas flores de

soja, representado principalmente pela Apis mellifera L. (TABELA 3)

A intensa atividade da espécie Apis mellifera L. nas flores de soja,

possivelmente, favoreceu uma maior deposição e uma melhor distribuição de grãos de

pólen viáveis em quantidade e qualidade. Condição que em deficiência, é responsável

como uma das principais causas de déficit de polinização em culturas agrícolas

(VAISSÉRE, 2011).

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4 - CONCLUSÕES

As variedades de soja (Glycine max (L.) Merril) adaptadas as condições do

Norte e Nordeste brasileiro (BRS-Carnaúba e Monsoy 9144 RR) apresentam antese

(abertura da flor) diurna ocorrendo no início da manhã, ocasião em que o estigma se

encontra receptivo e os grãos de pólen estão disponíveis.

A soja (Glycine max (L.) Merril) var. BRS-Sambaíba é uma planta autógama

capaz de formar vagens e grãos mesmo sem a interferência de agentes polinizadores,

porém, quando intermediada por agentes bióticos um maior índice de produtividade é

obtido.

A abelha Apis mellifera L. com apenas uma única visita às flores de soja foi

responsável em aumentar seus rendimentos a níveis equivalentes a flores livremente

visitadas.

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5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO III

COMPORTAMENTO E PADRÃO DE FORRAGEAMENTO DE Apis mellifera L.

EM SOJA TROPICAL (Glycine max (L.) Merrill)

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Comportamento e padrão de forrageamento de Apis mellifera L. em soja tropical

(Glycine max (L.) Merril)

RESUMO

O estudo foi conduzido entre os meses de julho a dezembro de 2009 com variedades

tropicais de soja (Glycine max (L.) Merril) irrigadas por pivô central no Distrito de

irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes, localizada na

chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Ceará. O presente trabalho teve como objetivo

investigar o comportamento e o padrão de forrageamento de Apis mellifera L. nas flores

de cultivares de soja preconizadas para exploração no Norte e Nordeste brasileiro. Os

resultados mostraram que as abelhas melíferas forragearam exclusivamente no período

da manhã, em busca principalmente de néctar, mas, às vezes, coletaram também pólen.

O tempo de cada abelha na flor variou de acordo com o tipo de recurso coletado,

levando em média 1,76 ± 0,05 e 2,89 ± 0,13 segundos para a coleta de néctar e néctar +

pólen, respectivamente. Estudos palinológicos das cargas polínicas comprovaram

fidelidade à espécie vegetal. Desta forma, conclui-se que as variedades adaptadas às

regiões Norte e Nordeste brasileiro estudadas são atrativas para as abelhas melíferas, as

quais concentram sua atividade de forrageamento em coleta de néctar e invariavelmente

no período da manhã. Esse comportamento permite recomendar a realização de

aplicações de controle de pragas e doenças no período da tarde e cedo da noite quando

as abelhas não se encontram mais no cultivo, minimizando riscos de contaminação do

mel ou mortalidade de abelhas usadas para polinização.

Palavras-chave: Abelhas na soja. Apicultura. Atratividade da soja. Néctar de soja.

Comportamento de pastejo. Horário de forrageio.

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Foraging behavior and foraging pattern of Apis mellifera L. in tropical soya bean

(Glycine max (L.) Merril).

ABSTRACT

The research was carried out between July and December 2009 using tropical soya bean

bean (Glycine max (L.) Merril) cultivars irrigated by center pivots in the irrigation

district of Jaguaribe-Apodi, belonging to the agribusiness Faedo Sementes situated at

the Apodi plateau, Limoeiro do Norte, Ceará, Brazil. The study aimed to investigate the

behavior and pattern of Apis mellifera L. foraging on flowers of soya bean cultivars

developed for the tropical conditions of the Northern and Northeastern regions of

Brazil. Results showed that honey bees foraged exclusively in the morning shift,

searching mainly for nectar, but also collecting pollen sometimes. The time each bee

spent in the flower varied according to the resource gathered, taking 1.76 ± 0.05 and

2.89 ± 0.13 seconds when collecting nectar and nectar + pollen, respectively.

Palynological studies proved the bee fidelity to soya bean flowers. Therefore, it was

concluded that the cultivars developed to the Northern and Northeastern regions of

Brazil are attractive to honey bees and they concentrate their foraging in harvesting

nectar during the morning shift of the day. Such behavior and pattern allows to

recommend any procedures for controlling pests and diseases to be carried out in the

late afternoon or early evening when bees are no longer in the Field, mitigating risk of

honey contamination or bee mortality when colonies are used for pollination purposes.

Key words: Apiculture. Bee in soya bean. Foraging behavior. Soya bean attractiveness.

Soya bean néctar. Time of foraging.

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1 – INTRODUÇÃO

A apicultura é uma das atividades agropecuárias que apresentam maior

crescimento dentre aquelas propostas para exploração racional do semiárido brasileiro.

Por outro lado, o cultivo da soja (Glycine max (L.) Merril) vem se expandindo cada vez

mais pelo Brasil, devido a sua riqueza em proteínas e pela grande variedade de produtos

que dela são gerados, sendo ainda utilizada como a principal fonte de óleo para a

produção de biodiesel (HASSE, 1999; CRUZ et al., 2009; SANT´ANNA, 2009;

ROMANO, 2010). Recentemente, o seu cultivo chegou à região Nordeste e vem

substituindo a vegetação nativa em grandes áreas, reduzindo a disponibilidade de pasto

apícola.

Em relação ao seu potencial apícola, são inúmeras e variáveis as informações da

cultura da soja como fonte de néctar, sendo essas variações decorrentes das muitas

variedades existentes (DADANT, 1975). O mesmo é relatado em relação à soja como

fornecedora de pólen para as abelhas, onde a quantidade coletada pode variar de

insignificante para mais de 50% do total de pólen coletado (FREE, 1993). Mais

recentemente, AYRES (2010) reporta a soja como sendo uma planta apícola muito

duvidosa, sendo bastante influenciada pelos fatores climáticos e tipo de solo onde é

cultivada.

Outro aspecto que se deve levar em consideração, é a utilização de grandes

quantidades de defensivos agrícolas na cultura (AGÊNCIA BRASIL, 2011), que tanto

pode contaminar o mel produzido como envenenar seus polinizadores bióticos, entre

eles a abelha Apis mellifera L.. Em 2008, a soja representou a cultura mais demandante

de defensivos agrícolas, sendo responsável por 45% do total utilizado no país

(AGROANALYSIS, 2009).

Diante disso, o presente trabalho investigou o comportamento e padrão de

forrageamento de abelhas melíferas nas flores de soja de variedades adaptadas à região

Nordeste.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Local e período de estudo

O trabalho foi conduzido em plantios de soja irrigado por pivô central no

Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes (05º

08’ 72” de latitude (S) e 37º 59’ 14” (W) de longitude e 30,22 metros de altitude em

relação ao nível do mar) no município de Limoeiro do Norte, estado do Ceará, distando

200 km da capital Fortaleza. Os estudos foram realizados de julho a dezembro de 2009.

2.2 Comportamento e padrão de forrageamento de abelhas Apis mellifera L.

O comportamento e o padrão de forrageamento das abelhas melíferas nas flores

de soja foi observado na variedade BRS-Tracajá, por um período de seis dias, das 7:00

às 17:00h. Foram coletados dados à respeito do número de abelhas nas flores e recursos

coletados, comportamento nas flores, tempo de permanência na flor e número de flores

visitadas por minuto, e a fidelidade à espécie vegetal.

As metodologias para a realização de cada um deles foram às seguintes:

a) Número de abelhas nas flores e recursos coletados – Em meio ao plantio de

soja foi demarcada uma área com dimensões de 25 x 50m a 20 metros da borda do

plantio, e através de transetos em zigue-zague realizou-se a contagem do número de

abelhas forrageando nas flores e qual o recurso coletado. Vale salientar que as abelhas

foram consideradas como coletoras de néctar e coletoras de néctar + pólen, já que essas

últimas, muitas vezes apresentavam comportamento de néctar, mas acabavam também

por adquirir uma pequena quantidade de pólen. O percurso foi feito a cada hora, por um

período de seis dias, das 7:00 às 17:00h, observando-se por 5 minutos a cada hora.

b) Tempo de permanência na flor – Com o auxílio de um cronômetro foi

marcado o tempo que as abelhas passavam sobre as flores em cada visita. O intervalo de

tempo para a atividade de coleta de néctar e néctar + pólen foi registrado

separadamente, com 60 repetições para cada recurso coletado.

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c) Número de flores visitadas por minuto – Uma abelha em atividade de

coleta de recurso (néctar e néctar + pólen) era acompanhada por um período de um

minuto e registrada o número de flores de soja que eram visitadas em sequência, isto é,

sem qualquer interrupção. O número de flores visitadas por minuto para os recursos

florais néctar e pólen foram avaliados separadamente. Foram feitas 30 repetições para

cada recurso coletado.

d) Fidelidade a espécie vegetal – Em cada horário de observação, abelhas

coletoras de pólen foram capturadas com auxílio de rede entomológica e sacrificadas em

câmaras mortíferas contendo acetato de etila. Posteriormente foram colocadas em

pequenos sacos plásticos devidamente identificados e mantidos em congeladores. No

Laboratório de Abelhas da Universidade Federal do Ceará os grãos de pólen contidos

em suas corbículas foram observados quanto a sua origem floral.

Somado a todos esses parâmetros avaliados, foram realizadas fotografias e

filmagens das abelhas em visita as flores ao longo da realização do experimento, assim

foi possível uma observação mais minuciosa do comportamento e padrão de

forrageamento das abelhas Apis mellifera nas flores de soja.

2.3 Atividade e preferência das abelhas melíferas em duas variedades de soja com

flores de cores diferentes

Duas cultivares, ´BRS-Carnaúba` e ´Monsoy 9144 RR`, foram avaliadas quanto

a sua atratividade para a abelha melífera africanizada (Apis mellifera L.), bem como,

qual o recurso (néctar e néctar + pólen) era procurado pelas abelhas. Somado a isso, foi

comparado qual das duas variedades era a preferida pelas abelhas.

Duas áreas (25 x 50m) vizinhas foram delimitadas no meio do plantio de cada

cultivar estudada. Ambas as cultivares se apresentavam em estádio reprodutivo de

florescimento (R2), que é definido como florescimento pleno, caracterizado por

apresentar uma flor aberta em um dos dois últimos nós da haste principal com folha

completamente desenvolvida (FERH & CAVINESS, 1977).

A atratividade das cultivares de soja para as abelhas foi avaliada por meio de

transetos em zigue-zague dentro das áreas delimitadas por um período de seis dias, das

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7:00 às 17:00h., observando-se cada área por 5 minutos a cada hora. Foram registrados

dados em relação ao número de abelhas nas flores e qual o recurso coletado (néctar e

néctar + pólen) em ambas as cultivares. A cultivar preferida foi determinada por meio

da comparação do número de abelhas em cada uma delas.

2.4 Análise dos dados

Para os dados de comportamento de pastejo, como: número de abelhas nas

flores, tempo de permanência na flor, número de flores visitadas por minuto e fidelidade

a espécie vegetal foram calculados as médias e os seus respectivos erros-padrões.

A cultivar preferida foi determinada por meio de comparação do número de

abelhas em cada uma delas. Os dados foram analisados pelo teste de Tukey, usando-se o

programa “SAS”, sendo utilizado um nível de significância de 5%.

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Comportamento e padrão de forrageamento de abelhas Apis mellifera L.

3.1.1 Número de abelhas nas flores

As abelhas forragearam nas flores de soja em busca de néctar e néctar + pólen,

exclusivamente no período da manhã, encerrando as atividades por volta das 13:00

horas (FIGURA 1).

FIGURA 1: Comportamento de forrageio de abelhas melíferas (Apis mellifera L.) em flores de soja (Glycine max (L.) Merril) no município de Limoeiro do Norte, Ceará.2009.

Observando a forma de coleta minuciosamente, foi possível verificar que as

abelhas Apis mellifera L. apresentavam comportamento de pastejo tipicamente de

néctar, entretanto, algumas delas apesar de apresentarem comportamento bastante

semelhante com coleta de néctar, à medida que visitam muitas flores acabavam por se

contaminarem com pólen, estas nesse trabalho foram definidas como coletoras de néctar

+ pólen.

Geralmente, a campeira visitava muitas flores da mesma planta, só então passava

para a planta seguinte, preferencialmente da mesma linha. Considerando que as flores

da soja são dispostas muito próximas umas das outras, com sincronismo de abertura no

período da manhã e equivalência na oferta de recursos, aliado ao comportamento de

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

de

co

leto

ras

Horários

Néctar Néctar + pólen

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forrageio da abelha melífera, onde visa à obtenção máxima de recursos com o mínimo

de gasto energético, possibilitou à abelha visitar as flores vizinhas mais próximas

possíveis, invariavelmente na mesma planta. Esse comportamento da abelha que visa

um maior saldo energético em suas visitas já foi relatado por alguns autores (FREE,

1993; WINSTON, 2003).

A forma de abordagem mais comum da abelha Apis mellifera L. nas flores de

soja foi através da fixação sobre as pétalas alas, as abelhas agarravam-se a elas e só

então introduziam a probóscide. Entretanto, algumas vezes a abelha apresentava um

comportamento muito comum relatado em Fabaceae, que é a utilização da pétala

estandarte como suporte para coleta de néctar e pólen (FRANCO, 1995; GUEDES,

2009).

O maior número de abelhas nas flores no período da manhã coincidiu com o

período de abertura das mesmas, que se iniciava por volta das 7:00 horas e se

prolongava até as 10:00 horas, quando então todas as flores daquele dia já se

encontravam abertas.

O período de visitação das abelhas nas flores da soja tem sido bastante variável,

com alguns autores relatando visitação exclusiva no período da manhã (DADANT,

1975; VILA, 1988). Outros, mencionam visitas no decorrer da tarde (RIBEIRO, 2002).

Existindo ainda aqueles que observaram abelhas forrageando nas flores de soja durante

quase todo dia (FÁVERO, 2000; CHIARI et al., 2005).

Essas divergências encontradas entre os horários de visitas das abelhas Apis

mellifera L. e alguns dos trabalhos citados, deve-se ao fato de que vários fatores podem

influenciar no horário de forrageio das abelhas, como: competição das flores de soja

com outras espécies em florescimento presentes nas áreas avaliadas; às diferentes

condições climáticas e edáficas dos locais de estudo ou até mesmo a fatores inerentes da

própria planta, já que se trata de experimentos realizados com variedades diferentes.

Em relação ao recurso coletado, a coleta apenas de néctar ocorreu na proporção

2 para 1 em relação a coleta de néctar + pólen. A maior quantidade de abelhas em

coleta de néctar corrobora com outros autores (CHIARI et al., 2005, FÁVERO, 2000).

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3.1.2 Tempo de permanência na flor e número de flores visitadas por minuto

O tempo de permanência de cada abelha na flor da soja variou de acordo com o

tipo de alimento coletado. As abelhas levaram em média 1,76 ± 0,05 segundos para a

coleta de néctar e 2,89 ± 0,13 segundos para a coleta de néctar + pólen em cada flor. A

permanência em coleta de recursos nas flores de soja é bastante variável, e na literatura

observa-se valores de 2,55 até 8,2 segundos (FÁVERO, 2000; RIBEIRO, 2002;

CHIARI et al., 2005) Os diferentes tempos registrados de Apis mellifera L. na flor deve

ser consequência da quantidade de recurso disponível de cada variedade estudada. De

acordo com WINSTON (2003), o tempo de permanência de Apis mellifera L. em

atividade de coleta depende da quantidade das recompensas florais e da disposição das

flores.

A quantidade de flores visitadas por minuto variou de acordo com o recurso

coletado. As abelhas coletoras de néctar visitaram em média 15,5 ± 0,44 flores/minuto,

enquanto as coletoras de néctar + pólen visitaram 12,5 ± 0,31 flores/minuto. A

quantidade relativamente grande de flores visitadas por minuto evidencia uma das

muitas características positivas de forrageamento das abelhas melíferas, que são a

agilidade e a rápida movimentação durante a coleta, resultando na visita de muitas flores

por dia (FREITAS, 2002).

Quando confrontado o tempo decorrido das abelhas coletoras de néctar e das

abelhas coletoras de néctar + pólen, observou-se que as abelhas que coletavam

exclusivamente néctar foram mais rápidas, levando menos tempo na flor, o que

proporcionava uma visita a um maior número de flores por minuto, considerando a

grande quantidade disponível de flores na área, essa característica pode ser bastante

importante na polinização. Por outro lado, as abelhas que coletavam néctar + pólen

passavam mais tempo na flor, e com isso tinham mais chance de transferir pólen para os

estigmas.

3.1.4 Fidelidade a espécie vegetal

De acordo com a análise das cargas polínicas das abelhas melíferas foi possível

observar total fidelidade a espécie vegetal em questão. Em todos os horários, as abelhas

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coletadas possuíam 100% de sua carga polínica proveniente da soja, comprovando que

naquele momento elas visitavam apenas essa cultura. A fidelidade de Apis mellifera as

flores de soja também é relatada por outros autores (CHIARI et al., 2005. A fidelidade

de visitantes florais a uma única cultura é um indicativo de que este possa ser um

eficiente polinizador. O resultado encontrado classifica a espécie como possuidora de

algum dos pré-requisitos necessários de um potencial polinizador da cultura (FREE,

1993; FREITAS & PAXTON, 1996; FREITAS 1997).

3.2 Atividade e preferência das abelhas melíferas em duas variedades de soja com

flores de cores diferentes

Os resultados mostraram que as abelhas Apis mellifera L. foram bastante

frequentes no plantio das duas cultivares. A atividade nas flores de ambas as cultivares

iniciou-se por volta das 7:00h, e perdurou até as 13:00h, quando então não foi mais

visualizado abelhas nas flores (FIGURA 2).

FIGURA 2: Atividade das abelhas Apis mellifera L. nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Apesar do número sempre maior de abelhas visitando as flores da variedade

BRS-Carnaúba em relação a cultivar Monsoy 9144 RR em todos os horários, as análises

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

18,0

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22,0

07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

de

co

leto

ras

Horários

BRS-Carnaúba Monsoy 9144 RR

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estatísticas não mostraram diferenças significativas (p>0,05) de preferência das abelhas

por uma ou outra variedade (TABELA 1).

Tabela 1: Número de abelhas Apis mellifera L. em coleta de néctar, néctar + pólen e total de abelhas melíferas em duas variedades de soja tropical (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte-CE. 2009.

Horário BRS-Carnaúba Monsoy 9144 RR

Néctar Néctar + Pólen Total Néctar Néctar + Pólen Total

07:00 9,0 ± 3,4 a 1,7 ± 0,5 a 10,7 a 5,7 ± 2,4 a 0,8 ± 0,3 a 6,5 a 08:00 4,5 ± 0,8 a 10,7 ± 2,0 a 15,2 a 4,5 ± 1,4 a 4,5 ± 1,1 b 9,0 a 09:00 4,7 ± 0,8 a 11,7 ± 3,4 a 16,4 a 5,5 ± 0,9 a 3,5 ± 1,0 b 9,0 a 10:00 7,7 ± 1,4 a 9,8 ± 1,7 a 17,5 a 6,2 ±1,3 a 7,0 ± 1,7 a 13,2 a 11:00 15,0 ± 2,2 a 4,3 ± 1,1 a 19,3 a 7,0 ± 1,7 b 3,8 ± 1,6 a 10,8 a 12:00 9,7 ± 1,2 a 0,8 ± 0,6 a 10,5 a 9,0 ± 1,8 a 0,3 ± 0,3 a 9,3 a 13:00 0 0 0 0 0 0,0 14:00 0 0 0 0 0 0,0 15:00 0 0 0 0 0 0,0 16:00 0 0 0 0 0 0,0 17:00 0 0 0 0 0 0,0

Médias seguidas pelas mesmas letras na linha entre as respectivas colunas (Néctar/Néctar, Néctar+Pólen/Néctar+Pólen, Total/Total) não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

As atividades das abelhas nas flores das duas cultivares foram em busca de

néctar e néctar + pólen, sendo o néctar o recurso mais coletado (p<0,05) (FIGURA 3).

FIGURA 3: Abelha Apis mellifera L. com pólen na corbícula na flor de soja (Glycine max. (L.) Merril) variedade BRS-Carnaúba “flor branca” (a) e coletando néctar na variedade Monsoy 9144RR “flor roxa” (b) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

a b

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Quando analisado o número de abelhas individualmente para o recurso coletado,

as análises demonstraram não haver diferenças significativas (p>0,05) para a coleta de

néctar em todos os horários que houve atividade das abelhas, exceto às 11:00h, horário

em que o número de abelhas nas flores da variedade BRS-Carnaúba foi bem superior e

diferente quando comparado com o número das visitas que recebia as flores da

variedade Monsoy 9144 RR (FIGURA 4).

FIGURA 4: Número de abelhas Apis mellifera L. em coleta de néctar nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Em relação à coleta de néctar + pólen, o número de coletoras nos horários de

8:00 e 9:00h na cultivar de flores brancas, diferiu significativamente (p<0,05) em

comparação com o número de coletoras nas flores roxas (FIGURA 5). Esses resultados

demonstram a preferência das abelhas pela cultivar BRS Carnaúba, quando avaliadas

individualmente para o recurso coletado e assemelham-se aos obtidos por ERICKSON

Jr. (1975) e VILA (1988), onde as cultivares de flores brancas obtiveram um maior

número de visitas que variedades que possuíam flores de cores roxas. Entretanto,

somente a cor da flor não é responsável pela atratividade de variedades de soja as

abelhas, devendo-se considerar uma série de características florais, como: tamanho da

flor; abundância das flores; produção de néctar e sequencia de floração (ERICKSON,

1975; ROBACKER et al., 1982)

0,0

2,0

4,0

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10,0

12,0

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07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

de

co

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ras

(né

cta

r)

Horários

BRS-Carnaúba Monsoy 9144RR

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FIGURA 5: Número de abelhas Apis mellifera L. em coleta de néctar + pólen nas cultivares BRS-Carnaúba (flor branca) e Monsoy 9144 RR (flor roxa) ao longo do dia, em Limoeiro do Norte, Ceará.

3.3 Sugestão do período para aplicação de defensivos agrícolas

Nas três diferentes variedades observadas (BRS-Tracajá, BRS-Carnaúba e

Monsoy 9144 RR) verificou-se que as abelhas melíferas forrageavam exclusivamente

no período da manhã, encerrando suas atividades por volta das 13:00 horas. Esse

comportamento permite recomendar a realização de aplicações de controle de pragas e

doenças no período da tarde e cedo da noite quando as abelhas não se encontram mais

no cultivo, minimizando riscos de contaminação do mel ou mortalidade de abelhas

usadas para polinização, bem como de possíveis abelhas melíferas existentes pelas

redondezas.

Vale ressaltar, que o período de atividade de forrageamento de Apis mellifera L.

nas variedades estudadas pode se comportar de forma totalmente diferente em outros

locais, haja vista, que pode se tratar de ambientes com condições edafoclimáticas

diferentes, áreas constituídas de outras espécies vegetais que possam a vir competir com

a cultura da soja e até mesmo de plantios ocupados com muitos hectares da cultura.

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

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07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00

de

co

leto

ras

(né

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r e

len

)

Horários

BRS-Carnaúba Monsoy 9144 RR

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4 - CONCLUSÕES

As variedades de soja (Glycine max (L.) Merril) tropicais (BRS-Tracajá, BRS-

Carnaúba e Monsoy 9144 RR), mostraram-se atrativas para as abelhas melíferas e estas

utilizam prontamente seus recursos florais.

As abelhas Apis mellifera L. concentram seu forrageamento no período da

manhã, tanto para coleta de néctar quanto para a coleta de néctar + pólen, visitando uma

maior quantidade de flores quando forrageando por néctar e permanecendo um maior

tempo na flor quando coletando néctar + pólen.

Em função da concentração de forrageamento da abelha Apis mellifera no

período da manhã, recomenda-se a realização de aplicações de controle de pragas e

doenças no período da tarde e cedo da noite quando as abelhas não se encontram mais

no cultivo, minimizando riscos de contaminação do mel ou mortalidade de abelhas

usadas para polinização.

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CAPÍTULO IV

O USO DE Apis mellifera L. NO INCREMENTO DE PRODUTIVIDADE DA

SOJA cv. BRS-CARNAÚBA E SEU EFEITO NO TEOR DE ÓLEO E

PROTEÍNA DAS SEMENTES

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O uso de Apis mellifera L. no incremento de produtividade da soja cv. BRS-

Carnaúba e seu efeito no teor de óleo e proteína nas sementes

RESUMO

A pesquisa foi conduzida entre os meses de julho a dezembro de 2009 com a cultivar

tropical de soja BRS-Carnaúba (Glycine max (L.) Merril) irrigada por pivô central no

Distrito de irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes,

localizada na chapada do Apodi, Limoeiro do Norte, Ceará. O presente trabalho teve

como objetivo investigar se a utilização da abelha melífera (Apis mellifera L.) pode

contribuir para incrementos de produtividade da cultura e se influenciam no teor de óleo

e proteínas das sementes. A estimativa da produtividade constou de 4 tratamentos em

áreas iguais de 10m2: T1 - área fechada por gaiola; T2 - área aberta para a visitação de

insetos; T3 - área aberta com a introdução de colônias de A. mellifera na linha lateral do

plantio e T4 - introdução de colônias de A. mellifera no centro do plantio. Na avaliação

da produção individual por planta foram usados apenas os tratamentos T1, T2 e T3.

Houve diferença significativa (p<0,05) dos tratamentos com a presença de abelhas em

relação ao tratamento fechado, sendo a produção de 3.553,4kg/ha, 3.333,2kg/ha,

3.001,6kg/ha e 2.822,4 kg/ha para os tratamentos T4, T3, T2 e T1, respectivamente. Na

produção por planta, o número médio de vagens foi 49,64 ± 2,64, 57,16 ± 2,41 e 59,60

± 2,71; o número médio de grãos por planta foi 104,68 ± 5,13, 121,46 ± 3,98 e 127,42 ±

5,95 ; e o percentual de vagens com 3 grãos foi 18,65%, 20,43% e 23,72% para os

tratamentos T1, T2 e T3, respectivamente. Houve um aumento de 13,15% e 16,72% no

número de vagens, e 13,82% e 17,85%, no número total de grãos dos tratamentos T2 e

T3, em relação ao tratamento controle (T1). Houve diferenças significativas (p<0,05)

entre os tratamentos quanto à altura de inserção da primeira vagem e do percentual de

flores não vingadas, tendo o mesmo acontecido para o peso de mil sementes. Em

relação ao teor de óleo e proteína não foi verificado diferenças estatísticas (P>0.05)

entre os diferentes ensaios de polinização. Conclui-se que apesar da soja ser uma

espécie autógama e apresentar uma produtividade acima de 2.800kg/ha nessas

condições, a introdução de A. mellifera eleva significativamente essa produtividade,

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principalmente por aumentar o percentual de vagens com três sementes vingadas.

Também pode-se concluir que a disposição das colônias no centro ou linha lateral do

cultivo não afeta a eficiência do trabalho das abelhas nas condições testadas, e o

conteúdo de óleo e proteína dos grãos de soja não são influenciados pelo tipo de

polinização.

Palavras-chave: Produção agrícola. Polinização da soja. Polinização por abelhas.

Polinização agrícola.

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Using Apis mellifera L. to increase soya bean cv. BRS-Carnaúba (Glycine max (L.)

Merril) productivity and its effect on oil and protein seed content

ABSTRACT

The research was carried out between July and December 2009 using the tropical soya

bean cultivar BRS-Carnaúba (Glycine max (L.) Merril) irrigated by center pivot in the

irrigation district of Jaguaribe-Apodi, belonging to the agribusiness Faedo Sementes

situated at the Apodi plateau, Limoeiro do Norte, Ceará, Brazil. The study aimed to

investigate whether introducing honey bees (Apis mellifera L.) to soya bean plantations

can contribute to increase crop productivity and if it has any effect on the oil and protein

contents of the seeds. Estimation of productivity was obtained for 4 treatments in

similar áreas of 10m2: T1 – caged area; T2 – open area allowing insect visit to flowers;

T3 – open area + introduction of A. mellifera colonies along the sideline of the

plantation and T4 - open area + introduction of A. mellifera colonies in the center of the

plantation. For the plant production evaluation only the treatments T1, T2 and T3 were

used. There were significant (p<0,05) differences between the productivity of

treatments with bees to the caged one, which were 3,553.4kg/ha, 3,333.2kg/ha,

3,001.6kg/ha and 2,822.4 kg/ha to T4, T3, T2 and T1, respectively. In the treatments for

production per plant, the mean number of pods was 49.64 ± 2.64, 57.16 ± 2.41 and

59.60 ± 2.71; the mean number of seeds per plant was 104.68 ± 5.13, 121.46 ± 3.98 and

127.42 ± 5.95 ; and the percentage of pods bearing three seeds was 18,65%, 20.43% and

23.72% to T1, T2 and T3, respectively. Houve um aumento de 13,15% e 16,72% no

número de vagens, e 13,82% e 17,85%, no número total de grãos dos tratamentos T2 e

T3, em relação ao tratamento controle (T1). There were significant (p<0,05) differences

between treatments regarding the height of first pod insertion, percentage of flowers not

set and weight of a thousand seeds. There were no significant (p>0,05) differences

between treatments for oil or protein seed content. It is concluded that despite the soya

bean be autogamous and reach productivity over 2,800kg/ha in such conditions,

introducing A. mellifera to plantations increase significantly (p<0,05) the crop

productivity, especially for increasing the proportion of pods setting three seeds. It is

also possible to conclude that placing the colonies along the margin of the crop or in its

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Center does not interfere with the bees’ efficiency under the conditions tested and the

oil and protein content of the seeds is not affected by the type of pollination.

Key words: Bee pollination. Crop pollination. Crop production. Soya bean pollination.

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1 - INTRODUÇÃO

A soja (Glycine max (L.) Merril) é uma cultura de grande importância

econômica. No Brasil, por exemplo, o complexo da soja (grão, farelo e óleo) representa

o principal gerador de divisas cambiais, com valores anuais que ultrapassam US$ 20

bilhões (BRASIL, 2011). O valor econômico e o constante crescimento de mercados

vem propiciando a expansão dessa cultura pelo país, tendo a mesma recentemente

chegado às região Norte e Nordeste (AGUILA, 2005). Porém, esse crescimento

acontece às custas do recrutamento de novas áreas para cultivo, ao invés de incrementos

na produtividade, o que tem levado a sérios impactos de ordem ecológica e da

conservação (FREITAS et al., 2009).

Uma das principais razões que faz os produtores buscarem aumentos de

produção por meio da expansão da área plantada é a existência de déficits de

polinização que levam a cultura a produzir abaixo do seu potencial (VAISSIÈRE et al.

2011). A supressão deste déficit de polinização por meio da introdução de agentes

polinizadores bióticos poderia elevar os níveis produtivos do cultivo diminuindo a

pressão sobre as áreas de vegetação natural (ANONYMOUS, 2010).

No entanto, a soja é uma espécie autógama, com mecanismos que facilitam a

autopolinização, o que geralmente dificulta a identificação de déficits de polinização já

que a cultura consegue produzir em níveis economicamente viáveis, embora geralmente

aquém do seu potencial real. Além disso, o massivo e generalizado uso de defensivos

agrícolas no seu cultivo geralmente impede observar o efeito da polinização biótica na

cultura, tanto devido aos efeitos letais quanto sub-letais sobre os visitantes florais

(FREITAS & PINHEIRO, 2010; PINHEIRO & FREITAS, 2010). Mesmo assim,

estudos tem comprovado que algumas espécies autógamas apresentam aumentos de

produtividade quando recebem visitas de polinizadores bióticos (FREE, 1993; AIZEN

et al., 2008).

No caso particular da soja, vários são os trabalhos que sugerem aumentos na

produção de vagens e/ou grãos quando as flores são visitadas por agentes polinizadores

(CHIARI et al., 2008; ERICKSON, 1975; FÁVERO, 2000; ISSA et al., 1984). Porém, a

cultivar de soja parece influenciar consideravelmente na resposta do cultivo à

polinização biótica. ERICKSON (1975), nos EUA, testando três cultivares, observou

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incrementos na produção de grãos da ordem de 14 e 16% em duas delas e nenhum

incremento na outra. Por outro lado, ISSA et al. (1984), no Brasil, usando outras duas

cultivares utilizadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, obtiveram incrementos tão

díspares quanto 9 e 81%. Não há estudos sobre a polinização biótica nas variedades

cultivadas no Norte e Nordeste do Brasil.

No entanto, os estudos existentes baseiam-se invariavelmente na comparação de

áreas abertas aos visitantes florais com outras cobertas para evitar as visitas, não

permitindo geralmente conhecer as espécies visitantes nem a contribuição dada por cada

uma delas. CHIARI et al. (2008) avaliando a espécie Apis mellifera L. constataram

aumento de 37,84% em uma área coberta por gaiola com introdução de abelhas em

relação a uma área coberta por gaiola sem a presença abelhas. No entanto, esse

resultado deve ser visto com cautela, uma vez que o confinamento das abelhas a uma

pequena área com limitada quantidade de flores não reproduz as condições que ocorrem

no campo. Há a necessidade de estudos sobre esse assunto que sejam conduzidos em

condições as mais próximas possíveis da realidade encontrada em áreas agrícolas.

Desta forma, o presente trabalho procurou investigar, a nível de campo, o efeito

da polinização biótica realizada pela abelha Apis mellifera na produtividade e teor de

óleo e proteína nos grãos da cultivar BRS-Carnaúba, uma das cultivares desenvolvidas

para as regiões Norte e Nordeste do Brasil.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área experimental

2.1.1 Localização e período de estudo

A pesquisa foi conduzida em plantios de soja irrigados por pivô central no

Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo Sementes (05º

08’ 72”S, 37º 59’ 14”W e 30, 22 m de altitude em relação ao nível do mar) localizada

na chapada do Apodi, Limoeiro do Norte – CE, situado na mesorregião do Jaguaribe, na

microrregião do Baixo Jaguaribe. Os estudos foram desenvolvidos de julho a dezembro

de 2009.

2.1.2 Clima

Segundo a classificação climática de KÖPPEN, o clima da região é do tipo

BSw’h’, (semi-árido, com máximo de chuvas no outuno e muito quente), onde as

condições climáticas são caracterizadas por médias anuais de 62% de umidade relativa

do ar, 720 mm de precipitação pluvial e 28,5ºC de temperatura, sendo o trimestre

março-maio, o período mais chuvoso e o período julho-dezembro o mais seco

(DNOCS,2011).

2.1.3 Variedade e área de estudo

A variedade utilizada foi a BRS-Carnaúna, cultivar desenvolvida em 2005 pela

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), juntamente com a

Fundação de Amparo à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte “Irineu Alcides

Bays” (FAPCEN) e, veio para atender a demanda das regiões Norte e Nordeste.

A área de estudo foi constituída por dois pivôs centrais, na primeira área foram

montados os tratamentos fechados por gaiolas, aberto e aberto com introdução de

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abelhas melíferas na linha lateral. Já no segundo pivô foram feitas as marcações do

tratamento aberto com introdução de abelhas melíferas no centro do plantio (FIGURA

1).

Figura 1: Pivôs plantados com soja (Glycine max. (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará, 2009. (1) pivô com três tratamentos: áreas amarelas (áreas consideradas abertas com introdução de colônias de Apis

mellifera L. na linha lateral; áreas verdes (área aberta); áreas brancas (área fechada), (2) pivô com um tratamento: áreas amarelas (áreas consideradas abertas com introdução de colônias de Apis mellifera L. no centro da cultura. Os traços em vermelho significa o local de instalação do apiário (oito colônias cada).

2.2 Colônias experimentais

As colônias utilizadas no experimento foram fornecidas pela empresa Altamira

Apícola Com. Rep. Importação e Exportação. As colméias modelo Langstroth eram

habitadas por colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.), de origem e grau de

mestiçagem desconhecido, mas muito bem adaptadas às condições ambientais da região

e em bom estado sanitário.

Teve-se o cuidado de selecionar colônias com população uniforme e em bom

estado populacional, contendo de 6 a 8 quadros com crias e de 2 a 4 quadros com

alimento.

Chegando ao local do experimento, cada colmeia foi instalada sobre cavaletes,

permanecendo a uma altura aproximada de 50 cm do solo. Dois apiários foram

montados em pivôs diferentes, sendo um no centro do plantio e outro na linha lateral,

cada qual contendo 8 colmeias. As colmeias foram dispostas em filas simples, com uma

distância de aproximadamente 2 metros de uma para a outra.

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2.3 Componentes da produção

Os componentes da produção foram obtidos de duas formas: uma através da

produção (kg) por área e a outra em plantas individuais coletadas dentro de cada área.

2.3.1 Produção (kg) por área

O experimento constou de 4 tratamentos com cinco repetições, sendo: (T1 e T2)

áreas abertas com introdução de abelhas melíferas no centro e na linha lateral do

plantio; (T3) área aberta para a visitação irrestrita; e (T4) área fechada por gaiola,

impedindo toda e qualquer visitação de agentes polinizadores. A intenção de se usar

formas diferentes da disposição das colônias foi a de observar até que ponto a

competição com outras espécies de plantas poderia interferir na ação polinizadora das

abelhas na cultura alvo. Um total de 16 colônias foi utilizado para os tratamentos com

introdução de abelhas melíferas, sendo oito para cada tratamento. Cada área contou

com 18 m² (3,0 x 6,0 x 1,5m).

Na área fechada por gaiola, dias antes do início do florescimento foram

montadas as estruturas e cobertas com tela de nylon (FIGURA 2). Em cada repetição da

área aberta e nas áreas abertas com introdução de abelhas foram apenas delimitadas

áreas usando canos em PVC. As colônias foram introduzidas no plantio quando 10 a

20% das plantas se encontravam no início do florescimento, conforme JAY (1986), que

na soja é caracterizado por uma flor aberta em qualquer nó da haste principal (FERH &

CAVINESS, 1977) (estádio R1). Vale ressaltar que cada área aberta foi demarcada

imediatamente ao lado da área fechada com gaiola, assim minimizando ao máximo as

diferenças entre as áreas. As áreas delimitadas no tratamento aberto com introdução de

abelhas encontravam-se a aproximadamente 40 a 60 metros das colônias, distância

dentro da recomendada por GARY (1978), como área de maior concentração de

forrageamento de abelhas melíferas. A área em que foi instalado o apiário no centro do

cultivo se encontrava em outro “pivô”.

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Figura 2: Gaiolas de tela de náilon (3,0 x 6,0 x 1,5m) montadas sobre a soja (Glycine max (L.) Merril) impedindo a visitação de agentes polinizadores em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Ao término do florescimento da cultura, as gaiolas foram desmontadas e

substituídas por marcações em cano PVC, que permaneceram até a data da colheita.

Para fins de análise, a área das bordas foi descartada, perfazendo uma área de 10

m² para cada parcela. Posteriormente, a área inicial (10m²) foi extrapolada para 10.000

m², obtendo-se então a produção correspondente para 1 hectare. A produção foi obtida

após a debulha, limpeza, peneiração e pesagem dos grãos colhidos.

A classificação das sementes foi realizada após a peneiração dos grãos em

peneiras com diferentes tamanhos de crivos, que variou de 18/64 a 14/64 de polegada.

Preconizou-se as sementes retidas nas peneiras 18/64 e 17/64 de polegada como

grandes, as médias como os grãos retidos nas peneiras 16/64 e 15/64 de polegada e as

pequenas, aquelas que ficaram acumuladas na peneira 14/64 de polegada.

2.3.2 Produção e caracteres avaliados por planta

Diferentemente do experimento anterior, a avaliação na produção e dos

caracteres avaliados por planta constou apenas de 3 tratamentos: área aberta com

introdução de abelhas na linha lateral, área aberta para a visitação irrestrita e área

fechada por gaiola.

De cada repetição (área) em cada tratamento foram marcadas aleatoriamente 10

plantas para serem analisadas individualmente em relação à quantidade de vagens com

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uma, duas e três sementes, quantidade total de vagens, total de grãos e altura de inserção

da primeira vagem (AIPV), perfazendo assim um total de 50 plantas por tratamento.

Foram retiradas ainda amostras e realizadas pesagens em cada tratamento para a

determinação do peso de mil sementes (PMS) de acordo com as Regras de análise de

sementes (BRASIL, 2009)

Somado a isso, foi quantificado o percentual de flores não vingadas (PFNV).

Esse percentual foi obtido pela razão entre o número de vagens colhidas e o número de

flores emitidas por planta. Vale ressaltar que o número de flores emitidas por planta foi

obtido através da contagem diária em um metro linear da cultura, com um total de 14

plantas.

2.4 Quantificação do teor de óleo e proteína das sementes

Após a colheita, limpeza e pesagem dos grãos colhidos, foram amostradas 400

sementes nas repetições de cada parcela (aberta com introdução de abelhas na linha

lateral, área aberta e área fechada com gaiola) e em seguida homogeneizadas, compondo

assim uma amostra composta representativa de cada ambiente. A partir das amostras

compostas das sementes formaram-se sub-amostras que foram divididas em três

repetições para a melhor confiabilidade dos resultados.

Para análise do teor de óleo, foram utilizados 2g de sementes moídas como

amostra por repetição e envolvidas em papel de filtro, sendo então colocadas em

aparelho “Soxlet” de extração etérea, por um período de oito horas (AOCS, 1972).

O conteúdo protéico de cada tratamento foi obtido após maceração de 40 mg de

cada sub-amostra, sendo então extraídas as proteínas com 1 mL de NaOH a 0,1M, e

logo em seguida quantificada por espectrofotometria (BRADFORD, 1976).

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2.5 Análise dos dados

Para análise dos dados utilizou-se o programa estatístico SAS versão 9.1 (2003).

A produção total em cada tratamento, o peso de mil sementes (PMS), a altura de

inserção da primeira vagem (AIPV), o percentual de flores não vingadas (PFNV) e o

percentual de óleo e proteína foram submetidos ao estudo de análise de variância pelo

procedimento ANOVA. Quando constatados efeitos significativos, as médias foram

comparadas a posteriori pelo teste de Tukey com 5% de probabilidade de erro.

Os dados referentes a número de sementes por vagem, quantidade total de

vagens e quantidade total de grãos foram analisados por meio do teste de Qui-quadrado

para verificar as diferenças obtidas entre as variáveis em função dos diferentes

tratamentos de polinização.

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Componentes da produção

3.1.1 Produção por área

Após a extrapolação da área inicial, obtiveram-se as seguintes médias com seus

respectivos erros-padrões da produção dos diferentes tratamentos realizados (TABELA

1).

Tabela 1: Produção total e classificação das sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em três tratamentos de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Tratamento Produção (kg/ha)

Total sementes grandes sementes médias sementes pequenas

Introdução de abelhas (centro) 92,2 ± 12,24 b 2202,8 ± 112,18 a 1258,4 ± 29,71 a 3553,4 a

Introdução de abelhas (lateral) 502,8 ± 42,84 a 2249,2 ± 25,44 a 581,2 ± 22,79 b 3333,2 ab

Área aberta 342,4 ± 25,23 a 2047,6 ± 71,90 ab 611,6 ± 12,67 b 3001,6 bc

Área fechada 479,2 ± 71,67 a 1824 ± 53,70 b 519,2 ± 45,09 b 2822,4 c

Valores seguidos pelas mesmas letras minúsculas nas colunas não diferem significativamente a p<0,05.

As análises estatísticas mostraram diferenças significativas (p<0,05) entre os

tratamentos. A área aberta com introdução de abelhas melíferas no centro do plantio

mostrou um maior incremento na produção (p<0,05) quando comparado aos tratamentos

da área aberta e da área fechada por gaiola. A produção de 3553,4 Kg/ha representou

um aumento de 18,3% e 25,8% em relação à área aberta e a área fechada por gaiola,

respectivamente. Apesar da área aberta com introdução de colônias de Apis mellifera L.

no centro apresentar uma produção superior em 6,6%, quando comparado com o

tratamento aberto com introdução de abelhas na linha lateral, as análises não mostraram

diferenças significativas entre elas (p>0,05).

A produção média de 3333,2 kg/ha na área aberta com introdução de abelhas na

linha lateral foi estatisticamente superior (p<0,05) aos 2822,4 kg/ha produzidos na área

fechada por gaiola, porém não diferiu (p>0,05) dos 3001,6 kg/ha registrados na área

aberta. Por sua vez, o tratamento aberto não diferiu estatisticamente (p<0,05) do

tratamento em que as plantas se encontravam privadas de agentes polinizadores.

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O tratamento fechado confirmou que a soja var. BRS-Carnaúba é uma cultura

que possui capacidade de autopolinização e produziu comercialmente acima de 2.800

kg/ha independentemente de agentes bióticos. Tal resultado associado com o alto uso de

pesticidas pode explicar porque nunca se tem a preocupação com a introdução de

polinizadores por parte dos sojicultures. Entretanto, um aumento médio de 6,3%, em

áreas onde visitantes florais nativos tiveram livre acesso às flores mostrou que esta

cultura se beneficia desses agentes polinizadores bióticos. De fato, estudos recentes

mostram que plantas autógamas também parecem ter a produção de frutos e sementes

aumentadas devido à ação de animais que maximizam a autopolinização (FREE, 1993;

AIZEN et al., 2008).

Convertendo os dados de produção obtidos nos diferentes tratamentos para sacas

(60kg)/ha, as áreas aberta com introdução de abelhas no centro e aberta com introdução

de abelhas na linha lateral obtiveram um total de 59,22 e 55,55 sacas (60kg)/ha,

respectivamente. Considerando a produção obtida na área que possuía abelhas no centro

em relação à área aberta e área fechada, houve um acréscimo de 9,2 sacos/ha para a

primeira, e 12,18 sacos/ha para área que restringia a visita de qualquer agente

polinizador (FIGURA 3)

A introdução de colônias de abelhas melíferas em plantações de soja

aumentando a produtividade em 25,8 e 18,0% em relação às áreas fechadas não apenas

parece confirmar a importância dos polinizadores bióticos na polinização desta cultura,

mas também revela um déficit de polinização de 18,3 e 11,0%, como definido por

VAISSIÈRE et al. (2011), na plantação de soja em geral, representada aqui pelas áreas

abertas (TABELA 2).

Tabela 2: Percentual de incremento de produção entre os diferentes ensaios de polinização realizados na soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009

Tratamento % incremento

Abelhas (centro)

Abelhas (lateral) Aberta fechada

Introdução de abelhas (centro) − 6,6 18,3 25,8

Introdução de abelhas (lateral) 6,6 − 11,0 18,0

Área aberta 18,3 11,0 − 6,3

Área fechada 25,8 18,0 6,3 −

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Produtividades semelhantes a essa já foram encontradas em outras variedades

por outros autores (ERICKSON, 1975; ERICKSON et al., 1978; ISSA, 1984; CHIARI

et al., 2005, 2008). No entanto, parece haver variedades que respondem pouco a

presença de abelhas, conforme constatado por SHEPPARD et al. (1979, apud

DELAPLANE e MAYER, 2000) e ERICKSON (1975) em uma variedade cleistógama.

Diferentemente do sugerido por JAY (1986) e FREE (1993), que as abelhas

quando introduzidas para serviços de polinização no centro da área influenciariam mais

positivamente no incremento da produção, no presente trabalho não se observou

diferença em relação a esse aspecto. A semelhança na produção entre as áreas que

possuíam abelhas no centro e na linha lateral do plantio demonstraram que ambas as

formas de distribuição das colônias foram eficazes em gerar maiores produções.

Trabalho semelhante foi desenvolvido por SOUZA (2004), avaliando duas formas de

distribuição de colônias, no centro e na linha lateral, em cultivo de melão (Cucumis

melo L.), que da mesma forma do nosso trabalho, não apresentou diferenças na

produção. Provavelmente as condições de vegetação e clima da caatinga, onde há um

período muito seco e consequentemente uma menor oferta de alimento (néctar e pólen)

no segundo semestre do ano (FREITAS, 1996), faz com que as abelhas não tendo outras

opções de campo, se direcionem para a cultura, independentemente de instaladas na

linha lateral ou no centro do plantio.

FIGURA 3: Produção de soja (Glycine max (L.) Merril) em sacas (60kg)/ha dos diferentes ensaios de polinização realizados em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

0

10

20

30

40

50

60

fechado aberto abelha

(lateral)

abelha

(centro)

47,0450,03

55,5559,22

Pro

du

ção

(sc

/he

cta

re)

Tratamentos

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Em relação ao tamanho das sementes obtidas nos diferentes tratamentos,

observa-se diferença significativa (p<0,05) do tratamento aberto com introdução de

abelhas no centro do plantio em relação aos tratamentos aberto com introdução de

abelhas na linha lateral, aberto e da área fechada, quando se refere ao tamanho de

sementes grandes e pequenas (TABELA 1). A maior produção e o maior percentual de

sementes obtidas em todos os tratamentos foram das classificadas como médias, porém

a produção nas áreas que apresentavam abelhas foi estatisticamente superior (p<0,05) a

área fechada por gaiola. A área com introdução de abelhas na linha lateral não diferiu

(p>0,05) da área aberta, que por sua vez não diferiu (p>0,05) da área fechada por gaiola.

3.1.2 Produção e caracteres avaliados por planta

Os resultados mostraram diferenças significativas (p<0,05) entre os tratamentos.

As áreas em que foram introduzidas abelhas melíferas produziram uma maior

quantidade de vagens e grãos do que as áreas fechadas, onde as flores eram impedidas

da visitação de insetos (TABELA 3). Houve um aumento de 13,15% e 16,71% no

número de vagens, e 13,81 e 17,84% no número total de sementes dos tratamentos

aberto e aberto com introdução de abelhas, em relação ao tratamento controle. Esses

resultados são semelhantes aos obtidos por outros autores (VILA, 1988; FÁVERO,

2000)

Quando comparado o número total de vagens e grãos das plantas das áreas com

introdução de abelhas e plantas das áreas abertas, e plantas das áreas abertas com

plantas das áreas fechadas nenhuma diferença significativa foi observada.

Considerando o número de sementes por vagem, existiram diferenças

significativas no número de vagens com uma, duas e três sementes dentro de cada

tratamento. Em todos os tratamentos o número de vagens com duas sementes foi

significativamente maior do que aqueles com uma e três sementes, por sua vez o

número de vagens com três sementes foi maior do que aquele com uma.

Comparando as vagens com o mesmo número de sementes entre tratamentos foi

observada diferença significativa para vagens com uma e três sementes, mas não para

vagens com duas sementes. Os dados mostraram que de 2/3 a 3/4 das vagens vingadas

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101

por uma planta de soja contém duas sementes e não depende de visitantes florais, mas

plantas acessíveis aos visitantes florais, ou que estavam disponíveis a visita de abelhas

melíferas produziram significativamente mais do que aquelas, nas quais a visitação não

foi permitida.

Plantas em área com colônias de Apis mellifera contiveram significativamente

mais vagens de uma semente do que em área engaiolada, e isso pode explicar

parcialmente o aumento de produtividade observado entre os dois tratamentos. No

entanto, isso não pode explicar por si só uma diferença superior em 18,0% na

produtividade, especialmente porque as plantas da área livre que também produziram

uma colheita significativamente menor do que em área com colônias de abelhas

melíferas não diferiu desta em número de vagens de uma semente.

A principal diferença entre os tratamentos foi observada em número de vagens

de três sementes vingadas por planta. Parece que as abelhas melíferas foram capazes de

vingar um número maior de vagens de três sementes do que os visitantes naturais ou

mesmo do que as flores que apenas se autopolinizaram. ISSA et al. (1984) já haviam

sugerido a possibilidade de aumento de vagens com 3 sementes na presença de abelhas.

Ainda em relação a isso, o fato da liberação de pólen ocorrer quando a flor ainda

se encontra fechada, provoca a distribuição aleatória de pólen sobre o longo pistilo

polinizando a flor. Entretanto, em algumas ocasiões, este mecanismo de autopolinização

pode falhar em deixar grãos de pólen, vivos e viáveis, suficientes na superfície receptiva

do estigma, e assim esta flor não vinga de modo algum ou a vagem apresenta apenas

uma ou duas sementes. Parece que o último caso acontece na maioria das vezes, porque

vagens de duas sementes representam mais do que 66% de todas as vagens produzidas

por planta (TABELA 3).

Aparentemente, alguns visitantes florais como a abelha Apis mellifera ajudam a

distribuir melhor os grãos de pólen sobre a superfície estigmática quando forçam sua

parte ventral do abdômen contra o estigma, contribuindo principalmente para vingar a

terceira semente em algumas vagens, mas também uma primeira semente em algumas

flores, que caso contrário falhariam na formação da vagem.

Em relação ao peso das sementes provenientes dos três ensaios de polinização

quando obtido através do peso de mil sementes (PMS), as áreas fechadas apresentaram

sementes mais pesadas do que no tratamento que possuía abelhas, porém não diferindo

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102

da amostra das sementes da área do tratamento aberto (TABELA 4). Resultados

semelhantes foram verificados por FÁVERO (2000).

No que se refere à altura de inserção da primeira vagem (AIPV), foi observado

diferença significativa (p<0,05) das plantas das áreas fechadas em relação às plantas das

áreas abertas e das áreas com presença de abelhas (TABELA 4). Isso pode estar

associado ao fato da existência de polinizadores nativos e a constante presença de

abelhas melíferas no plantio de soja, assim aparentemente as flores da base foram

devidamente polinizadas, dando origem a vagens e consequentemente grãos. As alturas

registradas da inserção da primeira vagem encontram-se dentro do intervalo registrado

em plantas de soja em várias cidades do Norte e Nordeste do Brasil (AGUILA, 2005).

O percentual de flores não vingadas de 88,9% registrado nas plantas da área

fechada por gaiola foi superior (p<0,05) aos 87,22 e 86,67% dos tratamentos que

possuíam abelhas e da área aberta, respectivamente (TABELA 4). Esses valores estão

de acordo com FREE (1993), que menciona que o percentual de aborto em algumas

variedades pode exceder a 75% e corroboram com o de CHIARI et al., (2005), onde as

flores que foram privadas da ação de insetos obtiveram percentual de aborto mais

elevado que as plantas que possuíam flores mantidas livres, não evitando a ação de

agentes polinizadores.

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Tabela 3: Produção total de vagens, grãos e número total de vagens com uma, duas e três sementes na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em três diferentes ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Valores seguidos pelas mesmas letras minúsculas nas colunas não diferem significativamente a p<0,05.

Valores seguidos pelas mesmas letras maiúsculas nas linhas não diferem significativamente a p<0,05.

Tratamentos Nº de plantas Total vagens Total 1 semente Total 2 sementes Total 3 sementes

% Total Total grãos

X̄ ± e.p.m X̄ ± e.p.m (%) X̄ ± e.p.m (%) X̄ ± e.p.m (%) X̄ ± e.p.m

Presença de abelhas 50 59,6 ± 2,71 a 5,92 ± 0,51 Ca 9,93 39,54 ± 1,95 Aa 66,34 14,14 ± 1,10 Ba 23,72 100 127,42 ± 5,95 a

Área aberta 50 57,16 ± 1,87 ab 4,54 ± 0,47 Cab 7,94 40,94 ± 1,54 Aa 71,62 11,68 ± 0,85 Bb 20,43 100 121,46 ± 3,98 ab

Área fechada 50 49,64 ± 2,64 b 3,86 ± 0,40 Cb 7,78 36,52 ± 2,29 Aa 73,57 9,26 ± 0,51 Bb 18,65 100 104,68 ± 5,13 b

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Tabela 4: Peso de mil sementes (PMS), Altura de inserção de primeira vagem (AIPV) e percentual de flores não vingadas (PFNV) na soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba em três ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Tratamentos Nºplantas PMS (g) AIPV (cm) % PFNV

X̄ ± e.p.m X̄ ± e.p.m X̄ ± e.p.m

Presença de abelhas 50 124,13 ± 1,66 b 19,02 ± 0,41 ab 86,67 ± 0,60 b

Área livre 50 129,4 ± 1,15 ab 18,56 ± 0,43 b 87,22 ± 0,41 ab

Área fechada 50 132,57 ± 2,04 a 20,04 ± 0,43 a 88,9 ± 0,59 a Valores seguidos pelas mesmas letras nas colunas não diferem significativamente a p<0,05.

3.2 Quantificação do teor de óleo e proteína das sementes

Não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) entre os três diferentes

ensaios de polinização realizados (TABELA 5). Os resultados sugerem que as sementes

advindas dos diferentes tratamentos possuem percentuais de óleo e proteína

equivalentes e que os mesmos não influenciaram em relação a essa característica.

Tabela 5: Percentual de óleo e proteína de sementes de soja (Glycine max (L.) Merril) cv. BRS-Carnaúba dos três diferentes ensaios de polinização em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Tratamentos n % óleo % proteína

X̄ ± e.p.m X̄ ± e.p.m

Presença de abelhas 3 21,5 ± 0,29 a 47,89 ± 2,22 a

Área livre 3 22,00 ± 0,29 a 40,13 ± 2,65 a

Área fechada 3 21,83 ± 0,83 a 43,99 ± 0,82 a Valores seguidos pelas mesmas letras não diferem significativamente a p<0,05.

Resultado diferente foi obtido em cultivo de mamona (Ricinus communis L.),

onde RIZZARDO (2007) verificou um maior rendimento de óleo em cachos produzidos

numa área com introdução de abelhas Apis mellifera quando comparado a uma área sem

introdução de colônias.

Em relação ao percentual de proteína, nosso trabalho difere do realizado por

MORETI et al. (1994) trabalhando com o feijão, onde sementes resultantes de flores

polinizadas por abelhas apresentaram um maior percentual de proteína quando

comparada com sementes advindas de flores sem polinização efetuada por abelhas.

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105

Em soja são escassas as informações sobre a influência da polinização em

características inerentes as suas sementes, apenas RIBEIRO e NOGUEIRA-COUTO

(2002) encontraram uma maior produção de sementes viáveis (66,17%) quando

resultantes de flores visitadas por abelhas do que pelas não visitadas (33,83%).

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4 - CONCLUSÕES

Conclui-se que apesar da soja ser uma espécie autógama, a presença de

polinizadores bióticos propicia incrementos de produtividade, embora ainda inferiores

ao potencial de produção das plantas.

A introdução de Apis mellifera pode contribuir para maximizar a produção,

sendo esse aumento proporcionado pela maior formação de vagens com três sementes.

Os percentuais de óleo e proteína das sementes de soja não são influenciados

pelo tipo de polinização.

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110

CAPÍTULO V

Potencial produtivo e análise de multiresíduos de pesticidas no mel de abelhas

melíferas oriundo de cultivo de soja (Glycine max (L.) Merril)

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111

Potencial produtivo e análise de multiresíduos de pesticidas no mel de abelhas

melíferas (Apis mellifera L.) oriundo de cultivo de soja (Glycine max (L.) Merril).

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo investigar o potencial de produção de mel por

colônias de abelhas Apis mellifera L. em plantio de soja (Glycine max (L.) Merril), bem

como analisar o mel proveniente da cultura quanto a existência de resíduos de

pesticidas. A pesquisa foi realizada no Distrito de irrigação Jaguaribe-Apodi, Limoeiro

do Norte, Ceará. No centro de um plantio de 50 ha de soja cv. Monsoy 9144RR foi

instalado um apiário constituído de oito colmeias, modelo Langstroth, povoadas por

colônias populosas de A. mellifera. Cada colônia recebeu uma melgueira vazia

previamente pesada contendo quadros com cera puxada, que ao final da floração, 30

dias depois, foi novamente pesada, sendo então obtida a produção individual de cada

colônia e a produção total do apiário. Do plantio ao final da floração, todos os pesticidas

aplicados na soja foram registrados em uma ficha de controle. O mel produzido foi

submetido à análise melissopalinológica para a determinação da sua origem floral,

sendo também analisado para a detecção de possíveis resíduos de pesticidas. Todas as

colônias apresentaram produção, sendo a média de 10,1 ± 0,86 kg de mel/colônia em

apenas 30 dias. As análises melissopalinológicas comprovaram sua origem floral como

proveniente da soja. Nenhum composto de pesticida foi detectado no mel produzido.

Concluiu-se que as áreas de cultivo de soja apresentam bom potencial para a exploração

apícola com fins de produção de mel e que é possível produzir mel livre de

contaminantes em plantios de soja.

Palavras chave: Mel de soja. Resíduos no mel. Produção de mel. Resíduos de

pesticidas.

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112

Productive potential and multiresidual analyses of pesticides in the honey produced by honey bees (Apis mellifera L.) from soya bean (Glycine max (L.) Merril) plantation

ABSTRACT

The present work aimed to investigate the productive potential for honey production by

honey bee (Apis mellifera L.) colonies in a soya bean (Glycine max (L.) Merril)

plantation, as well as to analyse the honey produced for pesticide residues. The research

was carried out in the irrigation district of Jaguaribe-Apodi, in the county of Limoeiro

do Norte, Ceará, Brazil. An apiary made up of eight Langstroth hives containing strong

honey bee colonies was placed in the center of a 50 ha of soya bean cv. Monsoy

9144RR plantation. Each colony had an empty super filled with tem drawn combs and

previously weighted. After blooming, 30 days later, each super was weighted again and

the honey production of each colony and the whole apiary obtained. All pesticides

applied from sowing to the end of blooming were recorded in a control sheet. The

honey harvested was sent for melissopalynological analyses to determine its floral

origin as well as to multiresidual analyses for pesticide residues screening. Results

showed that all colonies produced honey, in average 10.1 ± 0.86 kg of honey/colony in

only 30 days. The melyssopalylogical analyses showed a soya bean origin to the honey.

No pesticide compound was dectected in the honey. It was concluded that areas

cultivated with soya bean have a good potential for apiculture aiming honey production

and that it is possible to produce honey free of pesticide contaminants in soya bean

plantations.

Key words: Soya bean honey. Residues in honey. Honey production. Pesticide

residues.

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1 – INTRODUÇÃO

No Brasil, a cultura da soja (Glycine max (L.) Merril) encontra-se em plena

expansão. Na safra 2009/2010, ocupou uma área de mais de 21,7 milhões de hectares,

com projeções de aumento para 26,8 milhões de hectares para safra 2019/2020

(BRASIL, 2010a). Atualmente, a sua expansão predomina em regiões com latitudes

menores que 10º, compreendendo parte do Norte e Nordeste do Brasil, especialmente

nos Estados do Tocantis, Pará, Maranhão e Piauí. (AGUILA, 2005; CRUZ et al., 2009).

Essa ampliação de cultivos de soja pelo país está sendo possível devido a existência de

novas variedades adaptadas as regiões.

Por outro lado, a atividade apícola no Nordeste do Brasil vem ganhando

destaque e desempenhando importante função na geração de emprego e renda (SOUZA,

2010). Seu sucesso em grande parte está diretamente relacionado com o aproveitamento

de floradas silvestres, que nos últimos anos vem se tornando cada vez mais escassas no

Brasil e no mundo. Desta forma, o desenvolvimento da apicultura vem ficando cada vez

mais dependente de culturas agrícolas (RISSATO, 2006).

No que se refere à soja, vários são os relatos de abelhas nas suas flores,

principalmente da espécie Apis mellifera L. (JAYCOX, 1970; FREE, 1970, 1993;

RUST et al., 1980; FÁVERO, 2000; CHIARI, 2005). A constante presença dessa abelha

é decorrente da existência de nectários bem desenvolvidos nas flores e da produção de

néctar de boa qualidade (ROBACKER, et al., 1983; VILA, 1988).

Entretanto, apesar da existência de extensas áreas plantadas e informações de

visitas de abelhas melíferas às suas flores, os plantios de soja não são explorados para

atividade apícola, possivelmente devido à intensa utilização de defensivos agrícolas que

causariam o extermínio das colônias e a possibilidade de produção de um mel

contaminado, pondo em risco a saúde dos consumidores.

No que se refere às variedades adaptadas as regiões Norte e Nordeste do Brasil

são escassas as informações da presença de abelhas nas suas flores, muito menos ainda

a respeito de produção de mel a partir da cultura.

Desta forma, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o

potencial de produção de mel por colônias de abelhas Apis mellifera L. em plantio de

soja, bem como, investigar o mel produzido quanto a contaminações por pesticidas.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Área experimental

2.1.1 Localização

A pesquisa foi realizada em um plantio de 50 hectares de soja irrigado por pivô

central, no Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi, pertencente à agroempresa Faedo

Sementes. A empresa está situada na chapada do Apodi no município de Limoeiro do

Norte, Ceará, possuindo coordenadas geográficas de 05º 08’ 72”S, 37º 59’ 14”W e

altitude de 30,22 m (IPECE, 2011).

2.1.2 Clima

De acordo com a classificação climática de KÖEPPEN, o clima da região é do

tipo BSw’h’, (semi-árido, com máximo de chuvas no outuno e muito quente), onde as

condições climáticas são caracterizadas por médias anuais de 62% de umidade relativa

do ar, 720 mm de precipitação pluvial e 28,5ºC de temperatura, sendo o trimestre

março-maio, o período mais chuvoso e o período julho-dezembro o mais seco

(DNOCS,2011).

2.1.3 Variedade e pesticidas aplicados na cultura

A variedade utilizada foi a Monsoy 9144 RR e possuía um stand aproximado de

260.000 plantas/hectare. Da emergência das plantas até o término do florescimento,

momento em que as colônias foram retiradas da cultura, todos os produtos químicos

aplicados na soja foram registrados quanto ao nome comercial, ingrediente ativo, classe,

tipo de formulação, classificação toxicológica, dosagem aplicada, número, época,

período e intervalo de aplicação (TABELA 1). As aplicações dos produtos químicos

foram realizadas através de pulverizador tratorizado.

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Nome comercial

Ingrediente ativo Classe Tipo de

formulação Classe toxicológica

Dosagem aplicada

Número, período, época e intervalo de aplicação

Priori Xtra Azoxystrobin e Ciproconazol

Fungicida sistêmico

Suspensão concentrada

III - Medianamente tóxico

350 ml/ha Aplicado 2 vezes (manhã e tarde, durante o

florescimento e no final do florescimento, com intervalo de aplicação de 14 dias).

Zapp QI 620 Glifosate potássico Herbicida sistêmico do uso das glicinas

Concentrado solúvel

IV - Pouco tóxico 1,5 L/ha Aplicado 2 vezes (manhã e tarde, aos 15 e 30

dias no estádio vegetativo).

Karate Lambda-Cialotrina Inseticida do grupo

dos piretróides sintéticos

Suspensão de encapsulado

III - Medianamente tóxico

50ml/ha Aplicado 2 vezes (manhã e tarde, durante

florescimento e final do florescimento, com intervalo de aplicação de 14 dias).

Engeo TM Pleno Tiametoxan e Lambda-Cialotrina

Inseticida sistêmico de contato e

ingestão

Suspensão concentrada

III - Medianamente tóxico

250ml/ha Aplicado 2 vezes (manhã, no final do

florescimento, com intervalo de aplicação de 7 dias).

Tabela 1: Pesticidas aplicados na soja (Glycine max (L.) Merril) do plantio ao final do florescimento em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

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2.2 Colônias experimentais

As colônias utilizadas no experimento foram fornecidas pela empresa Altamira

Apícola Com. Rep. Importação e Exportação. As colmeias modelo Langstroth eram

habitadas por colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.), de origem e grau de

mestiçagem desconhecido, mas muito bem adaptadas às condições ambientais da região

e em bom estado sanitário.

Teve-se o cuidado de selecionar colônias com população uniforme e em bom

estado populacional, contendo de 6 a 8 quadros com crias e de 2 a 4 quadros com

alimento.

Cada colméia selecionada foi identificada com uma numeração de 1 a 8 para

posterior identificação no campo. As colméias foram transportadas juntamente com uma

melgueira seca, contendo quadros com cera puxada, já que eram advindas de uma

recente colheita de mel.

As colônias foram introduzidas no plantio quando 10 a 20% das plantas se

encontravam em início de florescimento, que na soja é caracterizado por uma flor aberta

em qualquer nó da haste principal (FERH & CAVINESS, 1977). O apiário foi instalado

no centro da cultura, sendo as colmeias fixadas sobre cavaletes individuais, dispostas

em fila simples e apresentando um espaçamento entre elas de aproximadamente 2

metros (FIGURA 1).

Figura 1: Apiário constituído de oito colméias instalado em meio ao plantio de soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

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2.3 Produção de mel e análises

A produção de mel foi obtida através da pesagem das melgueiras, sendo obtida

pela diferença de peso da melgueira depois e antes da florada. Cada melgueira foi

pesada e assim registrada a produção individual de cada colônia e consequentemente a

produção total do apiário.

Para a caracterização da origem floral do mel, realizada de acordo com BARTH

(1989), uma porção de mel com opérculos de cada melgueira foi obtida com o auxílio

de um garfo desoperculador. Estas foram acondicionadas em sacos plásticos e

receberam a numeração correspondente a sua melgueira e respectiva colmeia.

Posteriormente, os opérculos de cada melgueira foram depositados em peneira e

permaneceram por tempo suficiente para que todo o mel escorresse. Esse mel então foi

coletado em frascos individuais e constituiu as amostras utilizadas para as análises

melissopalinológicas. As análises melissopalinológicas realizadas levaram em

consideração critérios de padrão de secreção de néctar e liberação de pólen,

florescimento de espécies presentes na área, quantidade total de pólen nas amostras e

fatores de sub e super-representação de espécies botânicas no mel.

Para a determinação de multiresíduos no mel, os quadros de cada melgueira que

apresentavam mais de 80% da área de seus favos operculados, significando que o mel

estava maduro, foram colhidos, homogeneizados e enviados a empresa Agrosafety:

monitoramento agrícola Ltda, situada em Piracicaba-SP, para a detecção de possíveis

resíduos de pesticidas. A análise realizada levou em consideração a detecção dos

princípios ativos dos produtos que foram aplicados na lavoura, bem como daqueles

exigidos pelo MAPA em mel de abelha. O monitoramento mais amplo e de diversos

princípios ativos teve como intenção verificar a possível existência de resquícios de

defensivos aplicados em culturas anteriores no mel produzido e de uma possível

contaminação do mel com pesticidas aplicados em outros cultivos existentes próximos a

área de estudo, haja vista que onde foi realizado o experimento é importante pólo

agrícola da região.

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4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Já no dia posterior a introdução das colônias, era visível a movimentação de

abelhas Apis mellifera L. forrageando nas flores de soja coletando néctar e pólen. A

intensa atividade de abelhas melíferas nas flores de soja evidencia a cultura como uma

espécie bastante atrativa e confirma as afirmações de ROBACKER et al. (1983), VILA

(1988) e DELAPLANE & MAYER (2000). Foi possível observar ao término do

florescimento que as colônias não só conseguiram se manter na área, como também

armazenaram quantidade razoável de mel, principalmente, quando levado em

consideração um período de apenas 30 dias.

As análises melissopalinológicas mostraram que as amostras de mel analisadas

possuíam basicamente a presença de pólen de duas espécies, soja (Glycine max (L.)

Merril) e jurema-preta (Mimosa tenuiflora Willd.), porém com a ocorrência de um ou

outro grão de pólen de outra espécie, mas em quantidade inferior a 3%, e portanto de

pouca importância no fornecimento de néctar, sendo classificado como pólen isolado

ocasional (BARTH, 1989). Aproximadamente 10% do pólen encontrado em todas as

amostras eram de soja, sendo o restante de jurema-preta. Entretanto, a alta ocorrência de

pólen de jurema-preta não necessariamente o classifica com proveniente dessa espécie,

já que se trata de uma planta superrepresentada, ou seja, fornece pouco néctar, mas

muito pólen (BARTH, 2005). Por outro lado, a ocorrência de menos de 10% de pólen

da soja no espectro polínico das amostras trata-se de um caso de subrepresentação, isto

é, a contribuição com muito néctar, mas com pouco pólen. Um mel para ser considerado

como proveniente de jurema-preta teria que ser representado nos espectros polínicos em

mais de 98% do total de pólen nas amostras. Além do mais, conforme visto em um dos

capítulos anteriores, as abelhas melíferas não utilizaram a soja como uma importante

fonte de pólen. Provavelmente, o forrageamento das abelhas cedo da manhã nas flores

de jurema possibilitaram uma alta contaminação, já que essas mesmas abelhas

coletavam néctar mais tarde na soja.

No final do experimento, que se deu ao término da florada, a produção total foi

de 81,7 kg de mel (TABELA 2).

A média obtida de produção de mel (10,1kg) em 30 dias pode ser considerada

satisfatória, quando considerando que a produção anual brasileira está em torno de 25kg

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colmeia/ano (BRASIL 2010b). Deve-se considerar ainda alguns fatores que podem ter

influenciado nessa produção, como o fato da cultura ser irrigada diariamente e a

aplicação de defensivos agrícolas (FREITAS e SILVA, 2006).

Tabela 2: Produção de mel (Kg) por colmeia, produtividade média e produção total de apiário instalado em plantio de soja (Glycine max (L.) Merril) em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009.

Colmeias Produção (Kg)

1 13,40

2 8,40

3 7,90

4 9,80

5 14,20

6 10,00

7 10,40

8 7,60

Média ± e.p.m 10,1 ± 0,86

Total 81,7

Verificando-se a produção individual das colônias, observa-se uma certa

variação entre elas, alcançando uma diferença de 6,6kg da colônia que mais produziu

para a que menos produziu. Essa diferença é totalmente justificada por se tratar de

colônias obtidas em matas e, portanto de constituição genética desconhecida. Segundo

ALMEIDA e CENTENO (1994), fatores genéticos influenciam em 77,2% na produção

de mel, sendo o restante influenciado pelas condições internas da colônia e pelo meio

ambiente, citados respectivamente em ordem de importância.

A produção obtida revela a variedade testada com aptidão apícola e a inclui

como sendo mais uma monocultura com potencial para ser explorada para tais fins,

assim como a laranjeira, o eucalipto, o cajueiro e a mamoneira (KOMATSU, 2002;

BENDINI, 2008; MILFONT, 2009)

Em relação aos pesticidas aplicados na cultura, inclusive na época em que as

colônias se encontravam no plantio, não foi detectado nenhum resíduo de pesticidas no

mel produzido. Esse resultado mostra ser possível a produção de mel livre de

contaminantes em plantios de soja. Os resultados da análise podem ser verificados na

tabela 3.

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120

O fato de pesticidas serem aplicados na cultura da soja, ao qual as abelhas

forrageavam e estes não serem detectados no mel surge como uma boa perspectiva para

a exploração apícola na lavoura.

Analisando mais criteriosamente cada pesticida aplicado e seu respectivo

ingrediente ativo, porém não levando em consideração o seu efeito tóxico e sim o seu

não aparecimento no mel, podemos supor que tenham ocorrido as seguintes

possibilidades, como: o produto Zapp QI 620 (Glifosate potássico) é considerado de

baixo risco e mesmo assim foi aplicado no período vegetativo, portanto sem a

possibilidade de causar maiores problemas de contaminações; o fungicida sistêmico

Priori Xtra (Azoxystrobin e Ciproconazol) foi aplicado durante e no final florescimento,

para as abelhas possui um maior efeito de repelência e nas condições do Nordeste se

degrada rapidamente, o que acabou por não contaminar o mel produzido; o inseticida

Karate (Lambda-Cialotrina), não é sistêmico, degrada-se rapidamente nas condições do

Nordeste e possui uma maior probabilidade de contaminação via pólen, recurso pouco

utilizado pelas abelhas nas variedades de soja tropicais estudadas, conforme descrito em

capítulo anterior; por último temos o Engeo TM Pleno (Tiametoxan e Lambda-

Cialotrina) que possui grande efeito de choque e desorientação sobre as abelhas, assim

provavelmente as abelhas contaminadas não conseguiram regressar a colméia e

consequentemente não contaminaram o mel produzido (informação verbal 1).

1 Informado por José Nunes Pinheiro em conversa sobre o assunto.

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Tabela 3: Compostos analisados no mel de soja (Glycine max (L.) Merril) produzido em Limoeiro do Norte, Ceará. 2009. (compostos destacados em negrito são os ingredientes ativos dos pesticidas aplicados da emergência ao final do florescimento da cultura)

Compostos Resultados LD LQ

(µg/kg) (µg/kg) (µg/kg)

acefato ND 6,7 20,0

acetocloro ND 6,7 20,0

Alacloro ND 6,7 20,0

alfacipermetrina ND 3,3 10,0

azoxistrobina ND 6,7 20,0

betaciflutrina ND 6,7 20,0

betacipermetrina ND 3,3 10,0

bifentrina ND 3,3 10,0

bromuconazol ND 6,7 20,0

buprofezina ND 6,7 20,0

captana ND 16,7 50,0

carbendazim ND 6,7 20,0

carbosulfano ND 16,7 50,0

carboxina ND 6,7 20,0

cianazina ND 6,7 20,0

ciflutrina ND 6,7 20,0

cipermetrina ND 3,3 10,0

ciproconazol ND 6,7 20,0

cletodim ND 6,7 20,0

clomazona ND 6,7 20,0

clorfluazurom ND 6,7 20,0

clorotalonil ND 6,7 20,0

clorpirifós ND 6,7 20,0

deltametrina ND 6,7 20,0

difenoconazol ND 6,7 20,0

endossulfam ND 3,3 10,0

epoxiconazol ND 6,7 20,0

esfenvalerato ND 3,3 10,0

espinosade ND 6,7 20,0

etofenproxi ND 6,7 20,0

fenarimol ND 6,7 20,0

fenitrotiona ND 3,3 10,0

fenoxaprope-P-etilico ND 6,7 20,0

fipronil ND 6,7 20,0

fluazifop-p ND 6,7 20,0

fludioxonil ND 6,7 20,0

flufenoxurom ND 6,7 20,0

fluquinconazol ND 6,7 20,0

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Continuação da tabela 3.

flutriafol ND 6,7 20,0

gama cialotrina ND 3,3 10,0

glifosate potássico ND 6,7 20,0

imidacloprido ND 6,7 20,0

lambda-cialotrina ND 3,3 10,0

linurom ND 6,7 20,0

lufenurom ND 6,7 20,0

metalaxil ND 6,7 20,0

metamidofós ND 6,7 20,0

metolacloro ND 6,7 20,0

metomil ND 6,7 20,0

metribuzim ND 6,7 20,0

novaluron ND 6,7 20,0

oxifluorfem ND 6,7 20,0

parationa ND 6,7 20,0

pendimetalina ND 6,7 20,0

permetrina ND 6,7 20,0

picoxistrobina ND 6,7 20,0

piriproxifem ND 6,7 20,0

profenofós ND 3,3 10,0

propiconazol ND 6,7 20,0

Protiofós ND 3,3 10,0

quizalofope-P-etílico ND 6,7 20,0

s-metolacloro ND 6,7 20,0

sulfentrazona ND 6,7 20,0

tebuconazol ND 6,7 20,0

tebufenozida ND 6,7 20,0

teflubenzurom ND 6,7 20,0

tetraconazol ND 6,7 20,0

tiabendazol ND 6,7 20,0

tiacloprido ND 6,7 20,0

tiametoxam ND 6,7 20,0

tiodicarbe ND 6,7 20,0

tiofanato-metílico ND 6,7 20,0

tolifluanida ND 6,7 20,0

triazofós ND 3,3 10,0

trifloxistrobina ND 6,7 20,0

triflumurom ND 6,7 20,0

trifluralina ND 6,7 20,0

zeta-cipermetrina ND 3,3 10,0 LD: Limite de detecção LQ: Limite de Quantificação ND: Não detectado

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4 - CONCLUSÕES

As abelhas Apis mellifera L. são capazes de produzir e armazenar mel quando

introduzidas em plantios de soja var. Monsoy 9144 RR.

É possível produzir mel da soja sem contaminações de defensivos agrícolas

mesmo utilizando o tratamento fitossanitário convencional.

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5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES

A soja é uma cultura de grande importância econômica no mundo. No Brasil, se

destaca como um dos principais produtos na pauta das exportações, seu valor

econômico e o constante crescimento de mercados vem estimulando a expansão dessa

cultura pelo país, tendo recentemente chegado às regiões Norte e Nordeste. As poucas

informações existentes a respeito das cultivares tropicais fizeram deste trabalho uma

importante fonte de informações sobre o comportamento deste material no Nordeste

brasileiro, especialmente no que diz respeito a biologia floral, requerimentos de

polinização, atratividade para as abelhas, resposta da introdução de colônias de Apis

mellifera L. para polinização e potencial apícola da cultura para a produção de mel.

O fato da soja ser uma espécie autógama e conseguir produzir em níveis

economicamente viáveis sem a presença de agentes polinizadores, somado ao massivo e

generalizado uso de defensivos agrícolas no seu cultivo, geralmente impede observar o

efeito da polinização biótica na cultura. No entanto, nosso trabalho mostrou claramente

que as cultivares de soja tropical avaliadas podem apresentar incrementos de

produtividade na presença de polinizadores bióticos.

O presente estudo também demonstrou que a soja é atrativa para a abelha

melífera e a introdução de colônias no cultivo contribui positivamente para incrementos

na produtividade, sendo esse aumento proporcionado principalmente pela maior

formação de vagens com três sementes. Nossos resultados mostram que uma única

visita da abelha melífera é capaz de garantir produção de vagens e sementes a níveis

equivalentes a quando as flores são visitadas livremente, sem afetar o teor de óleo e

proteína das sementes.

Além do potencial uso na polinização da cultura, também foi demonstrado que

cultivos de soja possuem potencial para a exploração apícola visando a produção de

mel. As abelhas forragearam na cultura principalmente para néctar. Sendo assim, foi

possível produzir mais de 10 kg de mel por colônia de abelhas em apenas 30 dias e,

mais importante ainda, esse mel estava livre de resíduos de defensivos agrícolas. O

comportamento de forrageio das abelhas concentrado no período da manhã, torna

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possível a aplicação do controle de pragas e doenças no final da tarde e cedo da noite

minimizando riscos de contaminação do mel produzido ou de mortandade das abelhas.

Os resultados obtidos no presente estudo possuem implicações interessantes,

como: i) a possível aproximação de apicultores e sojicultores para o desenvolvimento de

um plano de manejo conjunto que permita o uso racional de abelhas Apis mellifera em

plantios de soja, seja visando a produção de méis livres de resíduos químicos ou ganhos

em produtividade da cultura por meio da polinização dirigida, maximizando os insumos

aplicados e reduzindo impactos sobre o meio ambiente que seriam inevitáveis com o

crescimento das áreas plantadas para compensar as baixas produtividades; ii) o

desenvolvimento pela indústria, ou uso pelos sojicultores, de defensivos mais

específicos para as pragas-alvo ou menos tóxicos para os polinizadores; iii) a

conservação e promoção da fauna nativa de potenciais polinizadores da soja.