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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
MESTRADO EM TURISMO E HOTELARIA
O TURISMO RELIGIOSO E AS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-CULTURAIS,
ECONÔMICAS E AMBIENTAIS EM NOVA TRENTO – SC
RENATA SILVA
Balneário Camboriú 2004
RENATA SILVA
O TURISMO RELIGIOSO E AS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-CULTURAIS,
ECONÔMICAS E AMBIENTAIS EM NOVA TRENTO – SC
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ
Balneário Camboriú 2004
RENATA SILVA
O TURISMO RELIGIOSO E AS TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-CULTURAIS,
ECONÔMICAS E AMBIENTAIS EM NOVA TRENTO – SC
Trabalho de Dissertação apresentado para obtenção do Título de Mestre no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria, Mestrado Acadêmico, da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientação: Profª. Drª. Roselys I. Corrêa dos Santos.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ Balneário Camboriú
2004
TERMO DE APROVAÇÃO DE:
RENATA SILVA
Trabalho de Dissertação apresentado para obtenção do Título de Mestre no Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria, Mestrado Acadêmico, da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, pela seguinte banca examinadora:
_______________________________________________________ Profª. Dra. Roselys Izabel Corrêa dos Santos (orientadora)
_______________________________________________________ Profª. Dra. Fernanda M. da S. Dias Delgado Cravidão (examinadora)
_______________________________________________________ Profª. Dra. Raquel M. F. do Amaral Pereira (examinadora)
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a contribuição de todos os professores do Programa de Mestrado e
principalmente, da minha orientadora Prof.ª Dr.ª Roselys Izabel Corrêa dos Santos
pelos ensinamentos; e a comunidade de Nova Trento pelas informações prestadas.
Sou grata em especial a minha família pelo apoio.
iv
Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.
...
É um não querer mais que bem querer. É solitário andar por entre a gente. É um não contentar-se de contente. É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor. ...
Renato Russo, Monte Castelo
v
RESUMO
O turismo pode ser analisado sob várias perspectivas e visões devido à complexidade de elementos que o relacionam como: deslocamento, utilização de serviços, consumo de bens e equipamentos, entre outros. Em virtude desta variedade, a definição de turismo apresenta-se ampla diversificada, diferenciando-se dos demais setores de produção. O turismo é um importante elemento, social, cultural, ambiental e econômico na vida da comunidade. O município de Nova Trento em Santa Catarina é caracterizado por sua história da colonização com imigrantes trentino-italianos. Sua população é identificada pela forte preservação dos usos e costumes demonstrados na religiosidade, tradições musicais e artísticas e na gastronomia. Além da importância cultural Nova Trento foi cenário de parte da vida e obra de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, contribuindo para o fortalecimento do turismo religioso catarinense. O desenvolvimento turístico propicia nas regiões, conseqüentes modificações e por isso, tornou-se indispensável à análise das transformações sócio-culturais, econômicas e ambientais geradas pelo turismo em Nova Trento. A contextualização do município dentro de uma perspectiva histórica e geográfica, a verificação e análise da gênese do turismo religioso no município e dos atrativos turísticos, foram momentos importantes na investigação. Houve também a necessidade de analisar o processo de colonização no município e no estado e a revisão bibliográfica do turismo e do turismo religioso, cultura e religião e das transformações sócio-culturais, econômicas e ambientais, e sustentabilidade foram fundamentais para o alcance dos objetivos. A pesquisa possui abordagem quali-quantitativa e método dialético materialista histórico. É exploratória e apresenta-se como estudo de caso, necessitando da aplicação de entrevistas e questionários. Os dados foram obtidos na Prefeitura, no meio empresarial e junto aos moradores tradicionais de Nova Trento.
Palavras-Chave: Turismo Religioso; Transformações Sócio-Culturais, Econômicas e
Ambientais; Nova Trento.
vi
ABSTRACT
The tourism can be analysed to several perspectives and vision because the element’s complexity that be connected with moviment, to make use of services, consumption of goods and equipaments, and others. In virtue of this variety, the tourism’s definition is presented ample diversity, differentiating itself of the too much sectors of production. The tourism is an important social, cultural, anbient and economic element in community’s life. The city of Nova Trento in Santa Catarina is characterized by its history of the settling with immigrants trentino-Italians. Its population is identified by the strong preservation of the uses and customs demonstrated in the religiosidade, musical and artistic traditions and in the gastronomia. Beyond the cultural importance, Nova Trento was scene’s part of the life and workmanship of Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, contributing for the fortification of the catarinense religious tourism. The tourist development provide consequences modifications in the regions, and therefore it became indispensable the analyze of partner-cultural, economic and ambient transformations generated by the tourism in New Trento. The vision of the city inside of a historical and geographic perspective, the verification and analysis of origin of the religious tourism in the city and of tourist attractives had been important moments in the research. There were also the necessity to analyze the process of settling in the city and the state and the bibliographical revision of the tourism and the religious tourism, culture and religion and of the partner-cultural, economic and ambient transformations, and support process had been basic for the reach of the objectives. The research possesss quali-quantitative boarding and dialect method materialistic description. It is exploration and one presents as case study, needing the application of interviews and questionnaires. The data had been gotten in the City hall, in the enterprise and together way to the traditional inhabitants of Nova Trento. Key Words: Religious Tourism; Social, Cultural, Economic and Ambient transformations;
Nova Trento.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Roteiro da fé no Estado de Santa Catarina .......................................................... 33
Figura 2- Mapa religioso de Nova Trento ........................................................................... 34
Figura 3- Imigrantes desbravadores .................................................................................... 58
Figura 4- Centro de Nova Trento em 1910 ......................................................................... 60
Figura 5- Distritos de Nova Trento ..................................................................................... 61
Figura 6- Ribeirão Alferes em 1925.................................................................................... 62
Figura 7- Centro em 1926.................................................................................................... 62
Figura 8- Fábrica Renaux em Nova Trento......................................................................... 63
Figura 9- Centro em 1935.................................................................................................... 63
Figura 10- Centro em 1943.................................................................................................. 64
Figura 11- Primeiro restaurante........................................................................................... 65
Figura 12- Primeiro hotel-pousada...................................................................................... 66
Figura 13- Centro de Nova Trento em 2002 ....................................................................... 67
Figura 14- Centro de Nova Trento em 2002 – Imagem lateral ........................................... 67
Figura 15- Mapa de projeção da localização de Nova Trento............................................. 69
Figura 16- Mapa dos limites de Nova Trento...................................................................... 69
Figura 17- Mapa rodoviário e aéreo da região de Nova Trento .......................................... 72
Figura 18- Mapa das principais linhas aéreas ..................................................................... 73
Figura 19- Bandeira de Nova Trento................................................................................... 73
Figura 20- O brasão e a bandeira de Nova Trento............................................................... 74
Figura 21- Igreja Sagrado Coração de Jesus ....................................................................... 75
Figura 22- Igreja Matriz de São Virgílio............................................................................. 76
Figura 23- Mapa de Nova Trento e os Santuários............................................................... 77
Figura 24- Morro da Cruz em 1970..................................................................................... 77
Figura 25- Morro da Cruz em 1976..................................................................................... 78
Figura 26- Vígolo no início do século XX .......................................................................... 78
Figura 27- Vígolo em 2002 ................................................................................................. 79
Figura 28- Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus ................................................ 86
Figura 29- Entrada do Santuário de Santa Paulina.............................................................. 89
Figura 30- Monumento construído sobre a casa de Santa Paulina...................................... 90
Figura 31- 1º painel com a história da vida de Santa Paulina ............................................. 90
viii Figura 32- 2º painel com a história da vida de Santa Paulina ............................................. 91
Figura 33- 3º painel com a história da vida de Santa Paulina ............................................. 91
Figura 34- 4º painel com a história da vida de Santa Paulina ............................................. 92
Figura 35- 5º painel com a história da vida de Santa Paulina ............................................. 92
Figura 36- Monumento a Santa Paulina .............................................................................. 93
Figura 37- Réplica da casa de Santa Paulina....................................................................... 93
Figura 38- Interior da réplica da casa de Santa Paulina ...................................................... 94
Figura 39- Interior da capela da CIIC.................................................................................. 94
Figura 40- Igreja Nossa Senhora de Lourdes ...................................................................... 95
Figura 41- Interior do Santuário Nossa Senhora de Lourdes .............................................. 95
Figura 42- A primeira imagem de Santa Paulina ................................................................ 96
Figura 43- Museu colonial................................................................................................... 96
Figura 44- Portal da colina de Santa Paulina ...................................................................... 97
Figura 45- Monumento em honra à Santa Paulina .............................................................. 98
Figura 46- Monumento comemorativo a passagem do milênio .......................................... 99
Figura 47- Vereda da paz, na colina de Santa Paulina ........................................................ 99
Figura 48- Área de passeio - oratório .................................................................................. 100
Figura 49- Área de passeio - capela .................................................................................... 100
Figura 50- Cruz no Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro ..................................... 101
Figura 51- Igreja Nossa Senhora do Bom Socorro.............................................................. 102
Figura 52- Monumento a Nossa Senhora do Bom Socorro................................................. 103
Figura 53- Estátua de Nossa Senhora do Bom Socorro ...................................................... 103
Figura 54- Cruz do Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro ..................................... 104
Figura 55- Igreja Matriz de São Virgílio............................................................................. 105
Figura 56- Oratório São José............................................................................................... 106
Figura 57- Coreto ................................................................................................................ 107
Figura 58- Casa histórica de Alexandre Visintainer ........................................................... 108
Figura 59- Festa Incanto Trentino ....................................................................................... 110
Figura 60- Pequena propriedade fabricante de vinhos em Vígolo ...................................... 113
Figura 61- Produção artesanal de vinho .............................................................................. 114
Figura 62- Vinhedos em Nova Trento................................................................................. 114
Figura 63- Produtos coloniais.............................................................................................. 115
Figura 64- Propriedade italiana ........................................................................................... 116
Figura 65- Proposta do complexo turístico religioso (1997)............................................... 120
Figura 66- Três irmãs fundadoras da CIIC (1997) .............................................................. 123
Figura 67- Estrutura do complexo (1997) ........................................................................... 123
ix
Figura 68- Maquete frontal – Projeto Santuário Santa Paulina (2002) ............................... 126
Figura 69- Maquete lateral – Projeto Santuário Santa Paulina (2002)................................ 126
Figura 70- Vista aérea de Vígolo e infra-estrutura de apoio ao visitante (canonização) .... 139
Figura 71- Vista da estrutura do Bairro de Vígolo no dia da canonização ......................... 140
Figura 72- Vista dos visitantes em Vígolo no dia da canonização...................................... 140
Figura 73- Bairro de Vígolo no dia da canonização............................................................ 141
Figura 74- Vista da estrutura do estacionamento em Vígolo no dia da canonização.......... 142
Figura 75- Turistas-romeiros em Vígolo no dia da canonização ........................................ 143
Figura 76- Loja de lembranças ............................................................................................ 143
Figura 77- Artigos religiosos............................................................................................... 144
Figura 78- Artigos comercializados no Santuário em Vígolo ............................................. 144
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Motivação da viagem – Turista estrangeiro 2001/2002 .................................... 35
Quadro 2- Distância dos principais pólos de turistas nacionais ......................................... 71
Quadro 3- Distância dos principais pólos de turistas internacionais................................... 71
Quadro 4- Tempo de vôo a Florianópolis ........................................................................... 73
Quadro 5- Símbolo do Brasão ............................................................................................. 74
Quadro 6- Capelas de Nova Trento .................................................................................... 76
Quadro 7- Legenda da proposta do complexo turístico religioso ....................................... 121
xi
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................................. vi
ABSTRACT ......................................................................................................................... vii
LISTA DE FIGURAS.......................................................................................................... viii
LISTA DE QUADROS........................................................................................................ xi
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
CAPÍTULO I – TURISMO, RELIGIÃO E TRANSFORMAÇÕES.............................. 9
1.1- Aspectos conceituais do turismo................................................................................. 9
1.2- Cultura.......................................................................................................................... 12
1.2.1- Religião...................................................................................................................... 15
1.3- Religião e turismo ........................................................................................................ 20
1.3.1- Turismo religioso....................................................................................................... 23
1.3.2- Peregrinações............................................................................................................. 28
1.3.3- Turismo religioso no Brasil ....................................................................................... 30
1.4- Transformações provocadas pelo turismo ................................................................ 38
1.4.1- Transformações sócio-culturais................................................................................. 39
1.4.2- Transformações econômicas...................................................................................... 42
1.4.3- Transformações ambientais ....................................................................................... 48
1.5- Sustentabilidade........................................................................................................... 51
CAPÍTULO II – NOVA TRENTO – ESPAÇO, HISTÓRIA E SOCIEDADE.............. 55
2.1- Contextualização geo-histórica................................................................................... 55
2.2- Santa Paulina – Da imigração à canonização ........................................................... 79
CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO EM NOVA TRENTO ..... 89
3.1- Atrativos turísticos ...................................................................................................... 89
xii
3.1.1- Histórico-culturais ..................................................................................................... 89
3.1.2- Eventos e festas ......................................................................................................... 108
3.1.3- Atrativos Naturais...................................................................................................... 111
3.2- Facilidades turísticas ................................................................................................... 111
3.2.1- Hospedagem e agenciamento .................................................................................... 111
3.2.2- Alimentação............................................................................................................... 112
3.2.3- Comércio de vinhos e produtos artesanais ................................................................ 113
3.2.4- Espaços para lazer ..................................................................................................... 117
CAPÍTULO IV – TURISMO RELIGIOSO E TRENFORMAÇÕES EM NOVA TRENTO ................................................................................................ 119
4.1- Políticas públicas de turismo ...................................................................................... 119
4.2- Complexo turístico religioso – projeto 1997.............................................................. 120
4.3- Santuário Santa Paulina – projeto 2002 .................................................................... 123
4.4- Turismo e constatações ............................................................................................... 127
4.5- Transformações em Nova Trento............................................................................... 147
4.5.1- Transformações sócio-culturais................................................................................. 148
4.5.2- Transformações econômicas...................................................................................... 149
4.5.3- Transformações ambientais ....................................................................................... 150
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 152
REFERÊNCIAS................................................................................................................... 157
APÊNDICES ........................................................................................................................ 162
APÊNDICE A – Entrevista com comerciantes (proprietários)....................................... 163
APÊNDICE B – Entrevista com comerciantes (funcionários) ........................................ 164
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido para participação em pesquisa .................................................................................................. 165
APÊNDICE D – Questionário a comunidade ................................................................... 166
ANEXOS............................................................................................................................... 168
ANEXO A – Folder de Nova Trento (capa) ...................................................................... 169
xiii
INTRODUÇÃO
O turismo, atualmente, vem sendo considerada uma das atividades mais importantes
da economia brasileira e mundial, crescendo rapidamente e em forte ascensão. Segundo a
Organização Mundial do Turismo – OMT (1999), para o ano de 2020 é prevista uma chegada
de 1.561 milhões de turistas internacionais em todo o mundo, representando uma taxa de
crescimento médio anual de 4,1%. Estima-se que atualmente a atividade turística se
caracteriza como um dos componentes fundamentais de consumo dos países desenvolvidos. O
Brasil contabilizou cerca de 20 bilhões de dólares com o turismo, o que representou 4% do
PIB – Produto Interno Bruto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR
(2000).
O fenômeno turístico consolidou-se como uma importante atividade econômica que
contribui para o desenvolvimento nacional, possibilitando, geralmente, o reconhecimento
nacional e internacional das destinações turísticas, proporcionando diversos benefícios ao
governo, empresariado e principalmente a comunidade local.
Sendo um elemento importante na vida social e econômica da comunidade regional, o
turismo reflete as aspirações legítimas das pessoas no sentido de desfrutar de novos lugares,
assimilar culturas diferentes, beneficiar-se de atividades ou descansar longe do local habitual
de residência. É também um importante valor econômico de muitas áreas e cidades e tem uma
contribuição especial a fazer para a coesão econômica e social das regiões periféricas.
Assim, em 2003 as organizações turísticas governamentais do Brasil, EMBRATUR e
MTur – Ministério do Turismo definiram o Plano Nacional de Turismo, documento norteador
das políticas públicas de turismo para o período de 2003-2007, que pretende aumentar para
6,5 milhões o fluxo de turistas estrangeiros, para 57 milhões o de turistas nacionais, crescer
para U$ 5,5 bilhões a receita cambial turística e gere 500 mil novos empregos diretos e
indiretos (MTUR, 2003).
Em virtude de seu recente estudo teórico e análise prática, o turismo apresenta
dificuldades em definir-se de maneira precisa e clara. Isto se deve pela grandeza e
2
complexidade que envolve o fenômeno. Assim, diversos pesquisadores de várias áreas afins
de estudo como a antropologia, a sociologia, a geografia, a administração, a educação e
outros; encontram-se analisando as características do desenvolvimento turístico.
O turismo pode ser encarado como uma necessidade social, quando o homem
compreende que viajar é uma forma de adquirir ascensão social e respeito pela sociedade;
uma necessidade psíquica, pois a pessoa viaja, muitas vezes, com o interesse de adquirir
conhecimentos diversos; e pode ser considerada também uma necessidade física ou de saúde,
já que a viagem pode ser motivada para fugir do estresse cotidiano.
O estudo do fenômeno turístico, recente, porém em vias de expansão, pode ser
segmentado em diferentes categorias ou tipologias. As mais comuns são: turismo para terceira
idade, de aventura, de eventos, para single, gastronômico, religioso e outros.
Os deslocamentos motivados pela religião encontram-se presentes na história da
humanidade desde a antiguidade até os dias atuais. Esta modalidade é praticada
individualmente ou em grupo, objetivada pela fé e pela necessidade de cultura religiosa;
podendo ser através de romarias, peregrinações e penitências; chamados por muitos
pesquisadores de turismo religioso. Esta temática refere-se então, ao grande deslocamento de
peregrinos, portanto turistas potenciais, que se destinam a centros religiosos, motivados pela
fé em distintas crenças.
Estudos sobre os impactos do turismo religioso, ainda incipiente, permitem
compreender que essa tipologia turística contribui para o redimensionamento da economia
local por meio de adaptações de equipamentos de hospedagens, serviços de comércio e
gastronomia, lazer e outros, ampliando a estrutura no espaço territorial. (NOVAES, 2000)
Atualmente, as pesquisas na área do turismo demonstram que não é somente a
preservação da diversidade cultural que pode ser ameaçada diante do desenvolvimento
acelerado e insensato de atividades turísticas. O meio-ambiente, as paisagens naturais e o
patrimônio artístico-cultural também podem ser objeto de degradação, quando inexistem
conscientização e controle.
3
O município de Nova Trento, em Santa Catarina, vem despontando cada vez mais no
cenário nacional devido à parte da vida e obra de Santa Paulina do Coração Agonizante de
Jesus na região. Hoje a cidade já é considerada a 2ª Estância Turístico-Religiosa do Brasil,
conforme EMBRATUR (2002), movendo grande quantidade de pessoas que buscam conforto
espiritual.
Distante aproximadamente 80 km da capital Florianópolis, Nova Trento possui uma
área total de 431 km² e uma população aproximada a 10.000 habitantes, sendo que 60% estão
na zona urbana e 40% na área rural.
Com a beatificação (12 de outubro de 1991) e a recente canonização (19 de maio de
2002) de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, a visitação dos turistas-peregrinos
no município de Nova Trento aumentou consideravelmente. A cidade e mais especificamente
o Santuário de Santa Paulina, que antes recebia 20 mil pessoas por mês, agora recebe cerca de
80 mil, acarretando diversas modificações no município.
A importância religiosa que Nova Trento apresenta fez com que o município
contribuísse intensamente para o fortalecimento do turismo religioso catarinense, tornando-se
assim, necessário um estudo do desenvolvimento turístico na região, e suas conseqüentes
transformações. Portanto, têm-se as seguintes perguntas de pesquisa: Quais as modificações
sócio-culturais, econômicas e ambientais ocorreram em Nova Trento, Santa Catarina, pelo
desenvolvimento do turismo religioso? Como a sociedade neotrentina está aceitando as
transformações impulsionadas pelo turismo religioso?
A análise das transformações sócio-culturais, econômicas e ambientais foi o objeto
deste trabalho que apresenta além das perguntas norteadoras da pesquisa, a seguir uma breve
justificativa da escolha do tema, os objetivos geral e específicos e os procedimentos
metodológicos contendo a definição dos métodos, materiais e campo de pesquisa, bem como
os procedimentos adotados para coleta e análise dos dados.
Os resultados da pesquisa estão distribuídos em quatro capítulos que representam a
estrutura da presente dissertação. O primeiro capítulo – Turismo, Religião e Transformações –
expõe a fundamentação teórica da pesquisa por meio da análise das bases conceituais sobre
turismo (definição e histórico da atividade); embasamento sobre cultura e religião; e a relação
4
entre turismo e religião, verificando as intervenções que resultam desta inter-relação como
turismo religioso, a peregrinação e o turismo religioso no Brasil. A análise das
transformações, ou seja, impactos positivos e negativos do desenvolvimento turístico e suas
derivações sócio-culturais, econômicas e ambientais, bem como sustentabilidade, foram
importantes momentos de esclarecimento e fundamentação da pesquisa.
O município de Nova Trento é apresentado no Capítulo II intitulado de Nova Trento -
Espaço, História e Sociedade, com uma breve avaliação da colonização do Estado de Santa
Catarina e de Nova Trento, com a contextualização geográfica e histórica da cidade, o que
possibilita o esclarecimento da gênese do desenvolvimento turístico no município e da
importância histórico-cultural. Assim, com esta retrospectiva, foi possui também constatar a
história de Santa Paulina, estudando sua vida desde a imigração no Brasil a canonização,
adquirida a mais de um ano, e a sua importância no município e na religião brasileira.
O Capítulo III – Desenvolvimento Turístico em Nova Trento – ilustra os atrativos
turísticos do município, principalmente os histórico-culturais, como também, eventos e festas
e os atrativos naturais. As facilidades turísticas oferecidas na cidade também são abordadas,
retratando a realidade local quanto a estrutura como hospedagem e agenciamento,
alimentação, comércio de vinhos e produtos artesanais e espaços para o lazer.
O quarto e último capítulo – Turismo Religioso e Transformações em Nova Trento –
apresenta a intervenção pública através da política turística definida e estruturada para o
município, mencionando os programas e projetos referentes ao turismo na cidade. O projeto
de 1997 sobre o complexo turístico-religioso é retratado e verificado, assim como, o novo
projeto Santuário Santa Paulina de 2002. As pesquisas realizadas e suas análises juntamente
com a prática turística de Nova Trento, foram chamadas de turismo e constatações, através do
relato e transcrição de trechos de entrevistas e resultados de aplicações de questionários. Por
fim, as considerações sobre as transformações ocorridas em Nova Trento com o
desenvolvimento turismo religioso e suas classificações sócio-culturais, econômicas e
ambientais positivas e negativas que formam o objetivo principal da dissertação.
Assim, objetivo geral desta pesquisa é analisar as transformações sócio-culturais,
econômicas e ambientais geradas pelo desenvolvimento do turismo religioso no município de
Nova Trento em Santa Catarina, buscando apontar as perspectivas da prática turístico-
5
religiosa. Para isso, foram definidos os seguintes objetivos específicos: contextualizar o
município de Nova Trento dentro de uma perspectiva geo-histórica; verificar a gênese do
turismo religioso no município; e identificar a oferta turística de Nova Trento desde o início
do desenvolvimento turístico até os dias atuais.
A pesquisa caracteriza-se de abordagem qualitativa e quantitativa, sendo seu método
dialético de perspectiva materialista histórica, o qual considera que a história é movida por
formas necessárias, independentes da vontade humana desencadeadoras de transformações.
Toda a formação social movida por conflitos estruturais, produz uma nova história.
O método na perspectiva materialista histórica está vinculado a uma concepção de realidade de mundo e de vida no seu conjunto. A questão da postura, neste sentido, antecede ao método. Este constitui-se numa espécie de mediação no processo de apreender, revelar e expor a estruturação, o desenvolvimento e transformação dos fenômenos sociais. (FRIGOTTO, 1987, p. 8)
Quanto aos objetivos, a pesquisa pode ser classificada como de cunho exploratório.
Segundo Gil (1991, p.45) “estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Pode-se dizer que estas
pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias”.
O método de procedimento da pesquisa é o estudo de caso. Segundo Dencker (2000,
p.127): “Permite o conhecimento em profundidade nos processos e relações sociais [...] o
estudo de caso pode envolver exame de registros, observação de ocorrência de fatos,
entrevistas estruturadas e não-estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa.”
Com relação a população e amostragem desta pesquisa, tem como população
investigada a comunidade do município de Nova Trento, em Santa Catarina. Foi adotado
como critério de definição da amostra os três segmentos envolventes do turismo:
representantes do poder público, da iniciativa privada e dos moradores tradicionais.
A técnica de coleta de dados deu-se três formas: levantamento bibliográfico, pois
“permite um grau de amplitude maior, economia de tempo e possibilita o levantamento de
dados históricos”1; documental, “com arquivos de primeira mão conservados em arquivos de
1 DENCKER, 2000, p.125.
6
instituições públicas ou privadas ou pessoais”2; e entrevistas “técnica importante que permite
o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas” (RICHARDSON, 1999, p. 207).
A revisão bibliográfica para esta pesquisa, objetivou o levantamento e
aprofundamento do fenômeno turístico-religioso relacionando-o com os aspectos culturais,
sociais, espaciais e econômicos; bem como a história do município de Nova Trento.
Por meio da análise documental, foi possível identificar a gênese do turismo religioso
e seu processo de desenvolvimento no município. Os dados foram coletados em artigos de
periódicos e junto aos seguintes órgãos: Prefeitura Municipal de Nova Trento, Santuário Santa
Paulina, Santa Catarina S.A. – SANTUR, Instituto Brasileiro de Turismo – EMBRATUR, e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Foram pesquisados e analisados
também materiais eletrônicos disponíveis na internet.
O processo de investigação in loco ocorreu mediante a aplicação de entrevistas semi-
estruturadas (APÊNDICES A e B) com autorização através do termo de consentimento livre e
esclarecido para participação em pesquisa (APÊNDICE C) com os seguintes atores: Secretária
de Turismo e Cultura do Município de Nova Trento, Presidente do CDL (Câmara dos
Dirigentes Lojistas) do município (morador e empresário), Irmã da Congregação das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição – CIIC (responsável pelo Restaurante da CIIC no
Santuário Santa Paulina no Bairro de Vígolo), Proprietário do Restaurante e Pousada Cantina
Italiana no Centro (morador), Proprietário do Restaurante Carlinhos no Centro (morador) e
Ambulantes do Santuário Santa Paulina no Bairro de Vígolo. Os questionários com perguntas
mistas - fechadas e abertas (APÊNDICE D) foram aplicados com os moradores tradicionais,
funcionários da Prefeitura, funcionários de empreendimentos turísticos (hotéis e restaurantes)
e ambulantes do santuário, totalizando 35 questionários. Fora utilizada, também, a técnica da
história oral com proprietários de empreendimentos turísticos e moradores tradicionais. Gil
(1991, p.122-123) afirma que:
É comum proceder-se a um estudo de caso partindo da leitura de documentos, passando para a observação e a realização de entrevistas e culminando com a obtenção de histórias de vida. [...] A história de vida é uma técnica das mais significativas no estudo de caso, sobretudo quando cada pessoa é considerada um caso específico.
2 DENCKER, loc. cit.
7
A identidade de uma cidade ou região está intimamente relacionada à memória de seus
moradores, e nessa área a história oral torna-se um método eficiente. Para Freire e Pereira
(2002, p. 123) “a história oral pode constituir uma excelente técnica para se efetuar um
primeiro levantamento de questões, sobretudo em áreas e localidades ainda pouco exploradas,
onde os dados são escassos ou inexistentes.” As autoras afirmam ainda a utilidade do
“preenchimento de lacunas havidas nos documentos escritos, ou para registrar o que ainda não
se cristalizou nesses documentos. Pode ser também um meio eficaz de descobrir documentos
escritos e iconográficos, que de outra maneira não seriam encontrados”3
Os dados coletados foram analisados por meio da aplicação da técnica descritiva,
buscando delinear os elementos que atenderam aos objetivos da pesquisa. Na abordagem
qualitativa, analisar e interpretar os dados significa investigá-los profundamente,
considerando os relatos das entrevistas e demais informações disponíveis.
3 FREIRE; PEREIRA, 2002, p. 123.
O peregrino de pés alados não trilha caminhos comuns, tampouco chega a um objeto geográfico qualquer, seja ele natural como uma montanha,
uma pedra ou um rio, seja ele construído pelos homens com forma de casa, catedral, mesquita,
terreiro. As estradas palmilhadas pelos peregrinos são sendas sagradas que conduzem à Habitação.
Nela, o sagrado pontifica construindo pontes e escadas para os peregrinos galgarem, e subindo se prostrarem balbuciando diante do mistério, como
fazem as criancinhas aprendendo a falar.
Desse encontro, quem vai e chega não volta, pois dele quem retorna, retorna aos seus, transfigurado.
São renatos e renatas, os renascidos.
Renascidos, vivendo a aurora, os peregrinos ao retomarem fazem novas experiências de vida,
reconhecem, ressignificam e são ressignificados, se alegram e sofrem, profetizam anunciando e
propondo critérios de julgamento, são acolhidos e afastados, realizam sonhos e fracassam, convivem
com o desejo e a desilusão, experimentam possibilidades e limites, entardecem e anoitecem em
luzes e sombras, esfriam e se aquecem.
Maria Ângela Vilhena, 2003.
CAPÍTULO I – TURISMO, RELIGIÃO E TRANSFORMAÇÕES
1.1- Aspectos conceituais do turismo
Desde o início dos tempos as viagens sempre estiveram presentes na trajetória
humana, por diversas motivações. Porém, a partir do século XIX, com o advento da
Revolução Industrial, começaram as primeiras viagens organizadas com a intervenção de um
agente de viagens4. A década de 1840 marcou o início do turismo coletivo, a excursão
organizada, atualmente denominada, pacote turístico. (BARRETTO, 2000)
As transformações ocorridas no século XIX como a melhoria dos transportes, a
industrialização, a segurança e o trabalho assalariado, foram determinantes para o
desenvolvimento do turismo mundial.
Com a chegada do século XX, a atividade turística expandiu-se pelo mundo inteiro.
Houve o aumento no número de agências de viagens, companhias aéreas; e a hotelaria
também passou por um processo de melhoria em seus serviços. Na segunda metade deste
século, também ocorreu a criação dos órgãos oficiais do turismo, encarregados da
superestrutura organizacional, legislativa e administrativa, como também a definição para o
fenômeno turístico. (BARRETTO, 2000). Conclui-se portanto, que o turismo como fenômeno
principalmente econômico alavancou a Pós-Segunda Guerra Mundial.
Conceituar turismo tem sido uma tarefa árdua e contínua para os pesquisadores e
profissionais envolvidos. Vários autores enfatizam a extrema dificuldade para uma definição
precisa e abrangente de turismo. Isto se dá pela grandeza e complexidade que o fenômeno
envolve.
Beni (2001, p. 34) afirma “identificar no campo acadêmico, nas empresas e nos órgãos
governamentais três tendências para a definição de turismo: a econômica, a técnica e a
holística”.
4 Em 1841, Thomas Cook reuniu 570 pessoas, comprou e revendeu os bilhetes para um encontro em Loughborough, na Inglaterra, configurando assim, a primeira viagem agenciada.
10
Analisando as definições econômicas, salienta-se a definição de turismo em 1910, por
Herman von Schoullern (apud BENI, 2001, p. 34): “a soma das operações, principalmente de
natureza econômica, que estão diretamente relacionadas com a entrada, permanência e
deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora de um país, cidade ou região”.
A partir da década de 1930, as definições técnicas do turismo foram sendo
estabelecidas. As organizações governamentais e empresas de turismo vinham tentando
controlar o tamanho e as características dos mercados turísticos. Para isso, necessitavam de
uma definição de turista, a fim de distingui-lo de outros viajantes. Foi somente que em 1963,
em Roma que as Nações Unidas patrocinaram uma Conferência sobre Viagens Internacionais
e Turismo, que recomendou definições de “visitante” e “turista” para fins de estatísticas
internacionais. Esta definição afirma que turista é o visitante temporário que permanece pelo
menos vinte e quatro horas no país visitado, cuja finalidade de viagem pode ser classificada
em lazer (recreação, férias, saúde, estudo, religião e esporte), negócios, família, missões e
conferências. E excursionista é aquele visitante temporário que permanece menos de vinte e
quatro horas no país visitado (incluindo viajantes de cruzeiros marítimos).5
Na esfera holística, as definições abrangem a essência total do fenômeno turístico. Em
1942, os professores suíços Hunziker e Krapf, definiram turismo como a soma dos fenômenos
e das relações resultantes da viagem e da permanência de não-residentes, na medida em que
não leva à residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade remuneratória.6
Ainda na vertente holística, o autor cita o conceito de Jafar Jafari (apud BENI, 2001, p. 36),
que afirma ser o turismo “o estudo do homem longe do seu local de residência, da indústria
que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria geram sobre os
ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora”.
Beni (2001) tem conceituado o turismo como elaborado e complexo processo de
decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo considera inúmeros
fatores de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural,
ecológica e científica que determinam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de
transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem. Ele aponta alguns elementos que
5 BENI, 2001. 6 BENI loc. cit.
11
devem ser considerados no estudo do turismo, são eles: viagem ou deslocamento,
permanência fora do domicílio, temporalidade e objeto do turismo.
A Organização Mundial do Turismo – OMT (2001) considera que a ausência de
definições conceituais de turismo, que determinem a atividade turística e a distinguem dos
demais setores, se dá pela relativa jovialidade do mesmo como atividade socioeconômica e a
seu caráter multidisciplinar.
Diante de diversos conceitos, a OMT (2001, p. 38) define que o turismo envolve
“atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao
seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano com finalidade
de lazer, negócios e outras”, afirmando se tratar de uma definição ampla e flexível que
concretiza as características mais importantes do turismo.
No meio acadêmico há um amplo debate sobre o que realmente é turismo e o que ele
envolve. Que elementos o compõem e quem deve ser considerado turista. Entretanto, a OMT
enfatiza que não há definição correta ou incorreta, já que todas contribuem de alguma forma
para a compreensão do turismo.
Para este trabalho será considerado que o turismo é um fenômeno caracterizado
basicamente pelo deslocamento de pessoas e pela utilização de serviços e equipamentos
(principalmente de transportes, alimentação e hospedagem). Este deslocamento é realizado
por pessoas isoladas ou em grupo, fora de seu entorno habitual, por diferentes motivos e
interesses. É uma atividade do setor terciário: prestação de serviços, que envolve diversos
setores produtivos da sociedade, com grande importância social, econômica, política e
ambiental.
Com toda a especialização sofrida pelos serviços turísticos e o crescimento da
demanda por estes, tornou-se necessário segmentar a atividade turística. Partindo desta
segmentação, foram determinadas diferentes categorias para o turismo: turismo para terceira
idade, de aventura, de eventos, para single, cultural, gastronômico, social, ecológico, religioso
e outros.
12
Nesta pesquisa foi analisada a tipologia religiosa, buscando identificar também o
histórico do turismo religioso e sua inter-relação com o município de Nova Trento, em Santa
Catarina. Entretanto faz-se necessário, primeiramente, verificar conceitos de cultura e
religião, buscando aprofundar a teoria do turismo religioso e suas relações.
1.2- Cultura
Segundo Visão e Ação (2000, p. 12) cultura “são os padrões, explícitos ou implícitos
do comportamento, adquiridos ou transmitidos por símbolos, que constituem o patrimônio de
grupos humanos, inclusive a sua materialização em artefatos”.
Cultura pode ser entendida como sendo um sistema integrado de maneiras específicas de pensamentos, crenças ou formas apreendidas de fazer coisas, representando características dos seres humanos e não resultantes de heranças genéticas. Estas maneiras específicas de pensamentos, crenças ou atitudes incluem hábitos, costumes, regras, valores, usos de linguagens, religiões e outras expressões culturais. (LAGE; MILONE, 1995, p. 9)
Com relação à definição de patrimônio cultural e de patrimônio histórico, tem-se que:
Patrimônio cultural é o conjunto de bens materiais, culturais, simbólicos e espirituais de uma sociedade, nos quais se incluem: os conjuntos urbanos, arquitetônicos e os sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico e científico (...) Patrimônio histórico é a parte do patrimônio cultural que compreende as edificações, os monumentos, os espaços públicos, o acervo artísticos de uma comunidade. (VISÃO E AÇÃO, 2000, p. 20).
Portanto, patrimônio é o conjunto de bens que uma pessoa ou entidade possuem. O
patrimônio pode ser classificado por duas grandes divisões: natureza e cultura. Patrimônio
natural são as riquezas que estão no solo e no subsolo, tanto as florestas como as jazidas. Já o
patrimônio cultural vem sendo ampliado à medida que se revisa o conceito de cultura.
Até a primeira metade do século passado o patrimônio cultural foi sinônimo de obras
monumentais, obras de arte consagradas, propriedades de grande luxo, associadas às classes
dominantes, pertencentes à sociedade política ou civil.
O patrimônio assim transformado em monumento passou a ser considerado um
mediador entre passado e presente, uma âncora capaz de dar uma sensação de continuidade
13
em relação a um passado nacional, de ser um referencial capaz de permitir a identificação
com uma nação.
O patrimônio cultural está presente nas pequenas comunidades que souberam
preservar e valorizar seu modo de viver. Quanto mais autêntica for a comunidade, mais seu
patrimônio cultural deverá ser valorizado pelos indivíduos do lugar e pelos visitantes.
(SANTOS, 2001). A autora enfatiza que o turismo quando valoriza as culturas locais,
estimula a recuperação e a revitalização de patrimônios e pode gerar rendimentos econômicos
para pequenas e médias cidades se as mesmas tiverem um objetivo de valorização e
aproveitamento daquele potencial. A autora afirma ainda que:
O turismo, se respeitar essa dimensão plural da cultura, poderá ser fonte fecunda de renovação; caso contrário, apenas facilitará sua degradação, mascarando-a ou pasteurizando-a, transformando-a em simples produto de mercado.7
Porém, o turismo nem sempre é positivo para uma localidade. Uma comunidade que
apresenta um grande patrimônio histórico-cultural pode ser transformada em um local pouco
satisfatório de viver por seus habitantes quando passa a ser utilizada pelos turistas, e a
população começa a perder seus referenciais. “O turismo, se respeitar essa dimensão plural da
cultura, poderá ser fonte fecunda de renovação; caso contrário, apenas facilitará sua
degradação, mascarando-a ou pasteurizando-a, transformando-a em simples produto de
mercado”.8
Cada sociedade corresponde a uma tradição cultural, que se assenta no tempo e se
projeta no espaço. Uma cultura pode ser reedificada no tempo e espaço, através de sua
projeção e materialização em projetos, sobrevivendo na sociedade que as utiliza a partir de um
conjunto de práticas concretas e visíveis.
Segundo Gastal (2001) é necessário que a cultura deixe de ser exposta, apenas do
ponto de vista do lugar, como algo acabado, como produto a ser assimilado e consumido. Ela
afirma que “A cultura passará a ser veículo de socialização entre visitantes e visitados, quando
7 SANTOS, 2001, p. 116. 8 SANTOS, loc. cit.
14
ela for um processo vivo de um fazer de uma determinada comunidade”9. A autora conclui
ainda que a:
Cultura é um insumo turístico importante, mas é aquela cultura viva, praticada pela comunidade em seu cotidiano. Não é um espetáculo, que inicia quando o ônibus dos visitantes chega, mas uma atividade que a comunidade exerce rotineiramente. Quando os visitantes chegarem, eles serão bem vindos e convidados a juntos dançar, cantar, saborear o pão, aplaudir o artista.10
O patrimônio cultural, portanto, não só está presente no conjunto de monumentos
históricos e manifestações artísticas de culturas passadas, como ele vive e está presente em
comunidades que preservam e mantém sua identidade ético-cultural.
É possível ter os resíduos do que foi uma sociedade, com seus restos de monumentos arquitetônicos, obras de artes, selos comemorativos e até restos de culturas pré-históricas, contidas nos sítios arqueológicos e que vão caracterizar o patrimônio cultural de cada sociedade. [...] A consciência dos valores comunitários é extremamente importante como forma de preservar a integridade dos aspectos naturais, sociais e culturais, otimizando os seus benefícios para as populações receptoras. (GOULART; SANTOS, 1998, p. 27-28).
No conjunto cultural das comunidades encontra-se a religião como fator essencial do
processo. A religião influencia todos os aspectos da sociedade, desde instituições sociais até
política, música e alimentos. Poucas outras forças desempenharam papel tão importante no
desenvolvimento humano.
No meio rural e nas comunidades litorâneas, com suas atividades econômicas
primárias, é que se encontra presente o maior conjunto de tradições que compõe o patrimônio
cultural do Brasil meridional.
A cidade de Nova Trento apresenta como característica marcante a valorização da
cultura ligada aos imigrantes italianos que ali se estabeleceram. A comunidade possui em sua
história importantes referenciais culturais que permanecem vivos até os dias de hoje. Dentre
os principais destaca-se a religiosidade, que é facilmente percebida através do cotidiano e
modo de vida da população neotrentina.
9 GASTAL, 2001, p. 127. 10 Ibid., p. 129.
15
1.2.1- Religião
A história da religião é tão antiga como a história do próprio homem. Mesmo entre as
culturas mais antigas, existe evidência de algum tipo de adoração, a um ser superior. O
significado da palavra religião vem do latim, re-ligare – ligar novamente, revela a crença na
restauração de uma unidade perdida e o desejo de reconciliação entre Deus e homens. A
adesão a uma religião implica a prática de ritos e a observância de suas prescrições. (ABRIL,
2000)
A religião é a crença na existência de um ou de vários seres superiores que criam e
controlam a vida humana. As religiões pertencem ao campo simbólico criado pelos homens
para se relacionarem com o mundo. Permitem explicar aquilo que não é compreendido pelas
ciências, seja manifestando a natureza, seja uma elaboração da mente.Também consistiu a
matriz dos valores que moldam as sociedades.
A religião é praticada por todas as comunidades humanas [...] as religiões oferecem a seus seguidores formas de entender a vastidão e a complexidade do universo e criam o sentimento de pertencer a uma comunidade mais ampla com crenças comuns. A religião pode proporcionar organização social e orientação moral, reforçando a estabilidade social e a segurança. (WILKINSON, 2000, p. 9)
A busca de locais sagrados foi uma forma de suprir a falta de sentido simbólico que
ficou deslocado no dia-a-dia das pessoas. O mundo hoje é resultado de seu passado histórico,
e foi nesse passado que as pessoas aprenderam a acreditar em Deus de diferentes maneiras,
fazendo assim surgir diversas religiões. Destaca-se entre as mais conhecidas, segundo
Wilkinson (2000) o islamismo, budismo, judaísmo e cristianismo.
O islamismo com milhões de seguidores em todo o mundo. É a principal religião do
Oriente Médio, do Norte da África, do Paquistão, da Indonésia, da Turquia e da Albânia. Os
muçulmanos crêem em Deus Alá. Em sua religião há o paraíso e o inferno, juízo final e
ressurreição dos mortos, anjos e demônios. O principal Livro Sagrado do Islamismo é o
Corão, onde, além da doutrina religiosa, estão também os Hadith, contendo as tradições
muçulmanas. O local do culto dos muçulmanos chama-se Mesquita. Há cinco obrigações que
os muçulmanos devem cumprir: crer em Alá e em seu Profeta Maomé; orar cinco vezes ao dia
com o rosto voltado em direção a Meca – considerada a cidade santa; dar a esmola de lei
(zakat); observar o jejum do nascer do sol durante o mês do Ramadã; fazer uma peregrinação
a Meca pelo menos uma vez na vida.
16
Já o budismo é o ensinamento proveniente do Buda e de seus discípulos. Consiste
basicamente de uma prática de consciência do homem em relação ao mundo, de uma prática
de concentração e equilíbrio da mente, e de uma prática de visão clara das realidades mais
profundas e fundamentais. O Buda ou a Mente Desperta é o Mestre. O Buda ensina a
Dhamma, a Verdade e o Caminho. Aqueles que seguem o caminho e despertam para a
verdade são a Sangha, a Comunidade de Discípulos. O Buda, o Dhamma e a Sangha, são as
três Jóias Preciosas do Budismo.
Judaísmo busca de Deus através das escrituras e da tradição. É uma religião
monoteísta no mais estrito sentido, e sustenta que Deus intervém na história humana,
especialmente com relação aos judeus. A adoração judaica envolve várias festividades anuais
e diversos costumes. Embora não haja credos ou dogmas aceitos por todos os judeus, a
confissão da unicidade de Deus, conforme expressa na Shema, uma oração baseada em
Deuteronômio, é um componente central da adoração na sinagoga.
Todas as religiões criaram lugares sagrados e que recebem um número grande de
visitantes durante o ano todo. Na religião Islâmica destaca-se a peregrinação a Meca. A
cidade é considerada santa do mundo Árabe, berço de Maomé, onde a base econômica está no
comércio resultante da grande movimentação de visitantes. No budismo há uma intensa
visitação aos diversos Mosteiros ou Centros Budistas em todo o mundo oriental.11
Uma das mais importantes religiões da Antigüidade e do mundo contemporâneo é o
cristianismo, com milhares de fiéis espalhados em todo o mundo. Essa religião se fundamenta
basicamente na crença em Deus único e perfeito, sob três formas: Pai, Filho e Espírito Santo,
constituindo a Santíssima Trindade.12
Há em todo o mundo uma infinidade de cristão, seguidores de Jesus Cristo, o Filho de
Deus e no Messias cuja vinda fora prometida no Velho Testamento da Bíblia, principal
instrumento e documento sagrado. Wilkinson (2000, p. 87) afirma que:
Cerca de trezentos anos depois da morte de Jesus, o cristianismo tornou-se religião oficial do Império Romano. A fé se expandiu da Palestina para a Europa, oeste da Ásia e o norte da África, e, através da pregação e ensinamentos constantes,
11 WILKINSON, 2000. 12 WILKINSON, loc. cit.
17
continuou a espalhar-se por todo o mundo desde então. Desde o século XVI, colonos europeus trouxeram a fé cristã para as Américas, e no século XIX houve uma grande expansão quando missionários seguiram os colonizadores europeus em várias regiões da África e da Ásia. Atualmente há quase dois bilhões de cristãos em todas as partes do mundo. Eles pertencem sobretudo a três grandes grupos – católicos, ortodoxos e protestantes, que divergem quanto à doutrina e aos rituais, mas compartilham as crenças básicas cristãs.
Com o Cristianismo consagraram-se duas rotas de peregrinação que os devotos
percorriam em busca de indulgências e bênçãos. Uma delas conduzia ao Santo Sepulcro de
Jesus Cristo, em Jerusalém. A outra, ao túmulo de São Pedro, em Roma. Foi somente a partir
do século IX que surgiu a terceira rota: o Caminho de Santiago de Compostela, em direção ao
local onde estão os restos mortais do primeiro apóstolo-mártir, na Espanha. Ao longo da
história, milhares de peregrinos já realizaram esse roteiro espiritual em busca do auto
conhecimento e do contato com Deus. Atualmente a tradição continua com um número cada
vez maior de pessoas que cruzam os campos da Espanha para pagarem promessas, penitências
e a comunhão com Deus. (BARRETTO, 2000)
O Jubileu é considerado outra tradição católica, que por meio da Bula Regis a Eterna,
o Papa Alejandro III concedeu a graça do Jubileu, que significa o perdão de todos os pecados.
Para adquirir o Jubileu, um dos requisitos indispensáveis, é a visitação a Basílica de São
Pedro no Vaticano. O centro da fé cristã, o Vaticano, atrai anualmente uma multidão de fiéis
para receber a bênção do Papa na praça São Pedro. (DANTAS, 2003)
Além das já mencionadas, as cidades de Lourdes na França, e de Fátima em Portugal,
são também importantes destinos turístico-religiosos, devido aos santuários e as histórias de
milagres. Outro evento religioso de destaque é a exposição do Santo Sudário, que de acordo
com a tradição cristã teria envolvido o corpo de Jesus antes de ser sepultado. A exposição em
Turim atraiu milhares de fiéis da Itália e outras partes do mundo para ver uma das mais
valiosas relíquias do cristianismo. (DANTAS, 2003)
A Terra Santa, em Israel, continua sendo significativo ponto turístico do cristianismo.
A Terra Prometida dos Judeus é também o lugar onde Jesus morreu na cruz e o mesmo
território que Maomé visitou em suas andanças. Em época de paz, podia se observar judeus
rezando numa sinagoga quase ao lado de muçulmanos orando numa mesquita próxima a uma
18
igreja católica repleta de cristãos.13 Também era possível testemunhar as preces dos judeus
ortodoxos em frente ao Muro das Lamentações, considerado o monumento mais significativo
do judaísmo e da nação israelita. Portanto, a Terra é sagrada tanto para cristãos como para
muçulmanos e judeus.
O Brasil é um país predominantemente de religião católica, apresentando uma
diminuição no número de fiéis, desde 1970, segundo a UNB – União Norte Brasileira14
através de estudos15 baseados no Censo de 1991 e 2000 do IBGE – Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Os resultados revelam que o maior país católico do mundo, o Brasil,
possui uma proporção da população que se declara adepta a religião católica, em 1970 era de
91,8%, em 1991 caiu para 83,3% e em 2000 baixou para 73,9%. Entretanto, os números ainda
são expressivos, sendo a católica a principal segmentação religiosa brasileira. O fervor dos
fiéis proporciona um grande deslocamento de norte a sul no país, em visita aos locais
sagrados.
Porém, a diversidade religiosa é uma característica marcante do país, já que a cultura
indígena foi absorvida em várias regiões, como também, a influência africana. Atualmente,
percebe-se fortemente a presença dos carismáticos no catolicismo, tornando a religião um
importante fator social, cultural e político das comunidades.
Historicamente, o catolicismo é a religião predominante no Brasil. O pluralismo religioso, porém, é uma característica marcante do país. O animismo das diversas religiões indígenas sobreviveu ao período colonial e é até hoje praticado nas tribos mais distantes dos cetros urbanos – apesar das mudanças da religião provocadas por missionários católicos e protestantes. Com a chegada de imigrantes luteranos alemães e de outros países europeus, o protestantismo se introduziu no Brasil. No século XX, as denominações protestantes proliferaram – em especial com o surgimento, nas últimas décadas, de seitas pentecostais centradas em cultos extrovertidos que chegam a envolver exorcismos públicos. A contraparte católica dessa experiência religiosa se concentra nos movimentos de renovação de carismática, depois de anos em que parte importante da Igreja se voltou para a atividade social e política – com a Teologia da Libertação, as comunidades eclesiais de base e as várias pastorais (da terra, da criança, dos moradores de ruas, etc.). (WILKINSON, 2000, p. 116)
13 Devido à conturbada situação mundial com os recentes acontecimentos como os conflitos entre palestinos e judeus na Terra Santa (destino de visitação dos muçulmanos ao menos uma vez na vida - Meca) houve uma baixa da atividade turística na região. 14 CENSO 2000. União Norte Brasileira. Disponível em: <http://www.unb.org.br/asn_12.9.2003.htm>. Acesso em: 29 abr. 2004. 15 Realizado por uma equipe da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da École Normale Supérieure e do Centre de Recherche et de Documentation sur L'Amérique Latine (ambos da França). O estudo resultou no livro Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil, Editora PUC-Rio – São Paulo/Edições Loyola.
19
Outros lugares considerados santos no mundo, de acordo com Wilkinson (2000), são:
• Templo de Ammón: localizado no Egito é considerado a maior construção religiosa do
mundo;
• Lhasa: lugar de Deus e capital do Tibet é a “Roma” do Budismo Lamaísta e a sede do
“Papa” Dalai-Lama, o sumo sacerdote;
• Meca: é a cidade Santa do mundo árabe, berço de Maomé. Todos os muçulmanos esperam
ir, em peregrinação, para a Cidade Santa da Arábia Saudita;
• Delfos: na Grécia, é notável por seu oráculo na vertente do monte Parnaso. Lá se encontra
o Santuário de Apolo. A cidade cresceu em riqueza e esplendor graças aos donativos de
agradecimentos deixados no oráculo;
• Olímpia: a antiga cidade grega de Elida, na confluência dos rios Alfeo e Glaudeo, que
também deu origem aos famosos jogos olímpicos;
• Benarés: também chamada de Kasi, é a cidade sagrada da índia. O local oferece um centro
comercial de extrema importância devido à intensa visitação de peregrinos;
• Santuário de Fátima: em Portugal, local onde os três pastores presenciaram aparição de
Nossa Senhora de Fátima.
Estes locais religiosos atraem uma imensidão de visitantes. São pessoas em busca de
conforto espiritual, cumprimento de promessas, interação com o ambiente sagrado e outros.
Assim, o deslocamento motivado pela religiosidade – peregrinações, romarias, é também,
considerado por muitos pesquisadores como turismo religioso.
Percebe-se que o estudo da religião vem sendo foco de análise de vários
pesquisadores, inclusive da área de turismo, investigando a inter-relação do turismo e da
religião.
Há milênios as pessoas vêm estudando as religiões, debatendo as idéias dos profetas e líderes religiosos e registrando suas interpretações. A princípio, os eruditos tinham interesse nas crenças e práticas de sua própria tradição religiosa. Estudo esse que veio a ser conhecido como teologia. Depois, começaram a comparar as religiões do mundo, observando as diferenças e o que tinham em comum. Hoje, diferentes especialistas estudam as religiões. Os sociólogos pesquisam seu papel na sociedade, os antropólogos estudam práticas, rituais e comportamentos religiosos em todo o mundo, os historiadores analisam as influências das religiões sobre os acontecimentos, ao passo que os fenomenologistas procuram compreender os símbolos, doutrinas e rituais manifestados por meio delas. (WILKINSON, 2000, p. 9)
20
1.3- Religião e turismo
O interesse religioso como motivação para viagens, surgiu no século VIII a.C., na
Grécia, onde as pessoas viajavam para assistir os jogos Olímpicos que eram realizados em
homenagem aos deuses do Olimpo. Já nos séculos II e III d.C. houve intensa peregrinação à
Jerusalém, à igreja do Santo Sepulcro. Estes peregrinos eram chamados palmeiros.
(BARRETTO, 2000)
Muito visitados pelas romarias eram os túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo,
em Roma a partir do século VI. No século IX foi descoberta a tumba de Santiago de
Compostela, na Espanha, iniciando-se assim as peregrinações dos chamados jacobitas16 ou
jacobeus. (BARRETTO, 2000)
Na Idade Média as cruzadas expedições militares religiosas organizadas para recuperar
o Santo Sepulcro proporcionaram intensa movimentação de peregrinos, soldados e
mercadores na Europa. Estas viagens viriam a propiciar a melhoria do sistema de pousadas,
tornando então lucrativas as atividades de hospedagem. (BARRETTO, 2000)
Porém é necessário diferenciar o conceito de viagem, que implica apenas em
deslocamento, e o conceito de turismo, que envolve além da existência de recursos, infra-
estrutura e superestrutura jurídico-administrativa.
Atualmente, como já se colocou, a viagem motivada pela religião é um dos tipos de
deslocamento mais antigos do mundo17 e que movimenta um grande número de pessoas. Estes
deslocamentos religiosos tomaram novas feições passando a denominar-se turismo religioso.
Ressalvados o turismo de férias e o turismo de negócios [...] o tipo de turismo que mais cresce é o religioso, porque, além dos aspectos místicos e dogmáticos, as religiões assumem o papel de agentes culturais pelas manifestações de proteção a valores antigos, de intervenção na sociedade atual e de prevenção no que diz respeito ao futuro dos indivíduos e das sociedades. (NOVAES, 2000, p.129)
16 Designação que receberam os monofisistas da zona oriental do império bizantino (Síria, Mesopotâmia, Ásia). O nome lhes vem do bispo Jacob Baradai (século IV). Sua sede central foi na Antioquia da Síria. Atualmente, em Damasco. (CATOLICANET, 2004) 17 Houve na história da humanidade grandes deslocamentos de pessoas e grupos motivados pela fé. Um dos mais significativos ocorreu na Idade Média: As Cruzadas. Foram dois séculos de viagens em busca da reconquista de Jerusalém pelos cristãos peregrinos. (BARRETTO, 2000)
21
O moderno turista religioso busca reverenciar o objeto da sua fé, sem deixar de lado,
porém, os requisitos básicos de conforto para atingi-la: meios de transporte, segurança,
hospedagem, restaurante e outros serviços.
A modalidade turístico-religiosa pode ocorrer de forma individual ou organizada, em
programas como romaria, peregrinação e penitência, de acordo com os objetivos religiosos,
dogmáticos e morais dos fiéis visitantes. A romaria ocorre quando o indivíduo, por disposição
própria e sem esperar recompensas materiais ou espirituais, visita lugares sagrados. Já a
peregrinação se dá através da visita a lugares sagrados para cumprir promessas ou pedidos
anteriores feitos a divindades ou a espíritos bem aventurados. É considerado um ato de
penitência quando o fiel se desloca a locais sagrados, com a intenção de redimir-se de seus
pecados e culpas, de forma livre ou por meio de conselhos religiosos.
A dimensão espiritual do fenômeno turístico é destacada por Montejano (1999, p.78
apud DIAS, 2003, p. 13) que afirma:
O turismo contribui para o desenvolvimento dos valores espirituais e deve ser considerado como um fator de restauração da personalidade e dignidade humana. Graças ao turismo, corpo e espírito humano se restabelecem da fadiga do trabalho e ritmo cotidiano da vida. O homem reafirma sua necessidade vital de liberdade e movimento e estabelece relações interpessoais em um contexto de serenidade particular, de maior confiança de amais completa disponibilidade para reencontro e diálogo. O turismo não é, pois, uma simples evasão ou simples distração unicamente para romper com a monotonia de uma vida de trabalho. É um fator de solidariedade do homem com o homem e universo, já que permite um contato direto do homem com a natureza e contribui para a promoção dos valores dos recursos naturais.
Propôs-se no fim da década de 1970 pela Organização das Nações Unidas a
classificação para a motivação da viagem ou motivo principal da visita turística em todo
mundo, com o objetivo de normatizar as estatísticas de turismo, ordenando as diretrizes
provisórias sobre estatísticas do turismo internacional emissivo e receptivo para fins de
planejamento, promoção e comercialização. (DIAS, 2003, p. 14) Para tal, dividiu-se a
motivação turística da seguinte forma:
1. Lazer, recreação e férias
2. Visitas a parentes e amigos
3. Negócios e motivos profissionais
4. Tratamento de saúde
22
5. Religião/peregrinações
6. outros motivos.
Portanto, percebe-se a importância religiosa para as pesquisas de turismo no Brasil e
no mundo, já que a motivação religiosa está classificada pela OMT – Organização Mundial de
Turismo entre os principais motivos das viagens turísticas. Isso se dá devido à utilização que
os viajantes fazem dos mesmos equipamentos e transportes que geram produtos e serviços
para atender suas expectativas. (DIAS, 2003, p.15)
A Carta de Conjuntura Turismo da EMBRATUR (2003, p. 11), destaca em sua
estrutura o turismo religioso como “produto religioso – mercado em expansão” enfatizando
que:
A prática religiosa com a participação de milhões de fiéis em todo o Brasil vem propiciando, em especial nas religiões católicas e evangélicas, a expansão de um mercado que, muito de perto, interessa ao turismo. Esse mercado comporta, na atualidade, vários segmentos: editoras e gravadoras de discos, grandes festivais de música religiosa, grandes eventos religioso propriamente ditos, e lançamentos cinematográficos.
Segundo Steil (2003, p. 1) peregrinação e turismo, são dois “universos intrinsecamente
relacionados, são poucos os estudos que buscam destacar as implicações que decorrem desta
articulação.” O autor afirma que um dos primeiros trabalhos no campo da antropologia, é o de
Dean MacCannell (1973, 1976)18 sob um enfoque novo do comportamento turístico. O autor
mostra que o turismo moderno pode ser visto como uma continuação das peregrinações
tradicionais, carregando sentidos os valores que em outros momentos estiveram condensados
nesta experiência religiosa.
Cohen (1983)19 é outro autor que estabelece a mesma comparação entre turismo e
peregrinação, propondo uma análise do turismo a partir do modelo estrutural, enfatizando a
experiência do distanciamento do cotidiano como um elemento comum à peregrinação e ao
turismo. A etimologia da palavra peregrino, designa o termo estrangeiro, aquele que vem de
outro lugar, que não pertence à sociedade autóctone.
18 Antes de MacCannell, as ciências sociais tendiam a ver o turismo como um fenômeno superficial, que não merecia um estudo sério por parte de seus pesquisadores. 19 STEIL, 2003, p. 2.
23
A nova categoria de peregrino-turistas, ou de turistas religiosos, se diferencia dos
peregrinos tradicionais não apenas pelas motivações de deslocamento aos locais de
peregrinação, mas, sobretudo, pelas estruturas de significados dentro das quais inserem sua
experiência.
Esta experiência, por sua vez, permite perceber não apenas uma reinvenção das peregrinações nos contextos turísticos, mas, também, aponta para as transformações que vêm ocorrendo na própria vivência moderna do religioso que, ao incorporar o turismo como mediação do sagrado, acaba absorvendo elementos mercadológicos e do consumo e a ele associados. Cria-se assim, uma linguagem religiosa que precisa do turismo, e de tudo o que ele implica, para produzir significados e sentimentos espirituais.20
Assim, analisando os dizeres de Steil, conclui-se que eliminar o turismo do município
de Nova Trento, em certo sentido, é eliminar o próprio Santuário de Santa Paulina e sua
importância religiosa, já que o turismo apresenta-se como importante fator econômico na
cidade e para o cotidiano dos moradores.
1.3.1- Turismo religioso
O turismo religioso, como toda atividade turística, exige uma abordagem
interdisciplinar que contemple seus aspectos econômicos, sociais, espaciais e culturais
envolvidos. Este tipo de turismo, por apresentar importante intersecção com o fenômeno
religioso, deve merecer uma atenção especial pelas ciências sociais, pois trata de dois
importantes sistemas sociais que apresentam toda uma complexidade particular à abordagem
sociológica, por exemplo, podendo receber contribuições da sociologia do turismo e
sociologia da religião. (DIAS, 2003, p.17)
Turismo Religioso é quase uma expressão auto-explicativa. No entanto, é um conceito ainda em discussão entre antropólogos e sociólogos. Em parte, o dissenso advém do lugar onde se coloca o peso e o foco de origem na análise da expressão: no ‘turismo’ ou no ‘religioso’. As demandas teóricas do universo do turismo e do universo da religião são distintas e respondem a problemas também distintos. Turismo religioso como turismo recebe o aporte de toda a bibliografia que constituiu o fenômeno das viagens modernas como um campo de saber para o qual concorrem não apenas as ciências sociais, mas também as administrativas. Por outro lado, o turismo religioso como um fenômeno religioso se insere nas diferentes tradições de pesquisa sobre esse aspecto da vida humana que se volta para o sagrado e o transcendente. (VILHENA, 2003, p. 7)
20 Ibid., p. 6
24
Este fenômeno religioso é o conjunto de atividades que inclui a visitação a locais que
expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade aos crentes ou
pessoas vinculadas às religiões.
O turismo religioso, portanto, foi uma das modalidades atuais do turismo brasileiro que mais tem se desenvolvido, devido a vários fatores, dentre os quais podemos citar: a formação histórica do povo brasileiro ligada diretamente a Igreja Católica e, a diversidade de organizações religiosas católicas que se estabeleceram no país nestes 500 anos. (CRISTOFOLI, 2002, p. 3)
O autor faz referência ao grande deslocamento de peregrinos, portanto turistas
potenciais, que se destinam a centros religiosos, motivados pela fé são características do
turismo religioso. (BENI, 2001). Já Andrade (apud NOVAES, 2000, p. 125) denomina o
turismo religioso como:
O conjunto de atividades com utilização parcial ou total de equipamentos e a realização de visitas a lugares ou regiões que despertam sentimentos místicos ou suscitam a fé, a esperança e a caridade nos fiéis de qualquer tipo ou em pessoas vinculadas a religião.
Para Dias (2003, p. 17) o turismo religioso apresenta características que coincidem
com o “turismo cultural, pois à visita ocorre num entorno considerado patrimônio cultural
onde os eventos religiosos constituem-se em expressões culturais de determinados grupos
sociais ou expressam uma realidade histórico-cultural representativa de determinada região”.
Carvalho (2003) aponta “na definição oficial, turismo religioso é compreendido como
uma organização que movimenta inúmeros peregrinos em viagens pelos mistérios da fé e da
devoção a algum santo.” Ela afirma ainda que “no Brasil, o deslocamento de pessoas,
proveniente desse tipo de turismo, encontra-se ligada à fé devocional, originária da Igreja
Católica”.
Diante da grande movimentação de fiéis e da crescente importância religiosa, a Igreja
Católica Brasileira, elaborou um programa para recepcionar e acomodar os peregrinos.
Recentemente a Igreja Católica brasileira, interessada nesta situação, criou a Pastoral do Turismo, um programa que desenvolve atividades ligadas a recepção e acomodação dos peregrinos, como também sistematiza a dinâmica de distribuição e venda das lembranças aos fiéis. (...) A formação da Pastoral do Turismo no Brasil, insere-se dentro das diretrizes emanadas da Igreja Católica com sede em Roma, que através da Secretaria Nacional para a Pastoral do Tempo Livre, do Turismo e
25
Esporte, tem desenvolvido e sistematizado ações de alcance mundial para a implantação de aumentar o afluxo de fiéis-turistas aos locais de peregrinações. (CRISTOFOLI, 2002, p. 2)
Segundo Nolan e Nolan (1989 apud DIAS, 2003, p. 18), os locais com atrativo
religioso que acolhem estes fiéis-turistas “em primeiro lugar, estariam os santuários de
peregrinação; em segundo lugar, os espaços religiosos com um caráter histórico-artístico
significativo; e, por último, estariam os grandes encontros de grupos religiosos e as
celebrações de caráter também religioso”.
Entretanto há autores que afirmam haver outras classificações, como Dias (2003, p.
29) que considera a área de destino, objetivo final da viagem, que com a motivação, outro dos
principais pontos a serem considerados, classifica os atrativos turístico-religiosos em seis
diferentes tipos:
1. Santuários de peregrinação: relacionado com os santuários de peregrinação e que podem
apresentar várias características, por exemplo: podem adotar algum tipo de restrição; ou suas
características histórico-culturais podem apresentar tanta força motivacional como valores
espirituais; ou há aqueles que apresentam, de vez em quando, em datas especiais,
manifestações de massa significativas. A Basílica de Aparecida (SP) é o maior Santuário
religioso do País: 7 milhões de visitantes por ano. Atualmente, 90% da população
economicamente ativa do município trabalham em atividades ligadas ao turismo e, nos finais
de semana, a população da cidade, de 35 mil habitantes, mais que dobra. São 123 hotéis com
18 mil leitos.
2. Espaços religiosos de grande significado histórico-cultural: é o, turismo realizado em
espaços religiosos de grande significado histórico-cultural, porque são obras artísticas e
construções com significado histórico-cultural, que, em função disso, atraem um amplo
número de visitantes, independentemente de suas crenças ou engajamentos religiosos.
(Exemplo: igrejas de estilo barroco, em Minas)
3. Encontros e celebrações de caráter religioso: são os encontros e celebrações de caráter
religioso, que têm por objetivo organizar e definir diretrizes, doutrinação, reafirmação da fé
etc. e podem reunir multidões em espaços públicos, estádios de futebol e assim por diante.
26
(ex.: encontros dos carismáticos da Igreja Católica, encontros de membros das Igrejas
Evangélicas em estádios de futebol e espaços públicos etc).
4. Festas e comemorações em dias específicos: são as festas e comemorações em dias
específicos dedicados a figuras sagradas e/ou reverenciadas na religião ou podem ser
lembrados eventos histórico-religiosos de grande significação. Incluem-se aqui as festas
religiosas, desde procissões a outros aspectos de atos de veneração, festas periódicas previstas
no calendário litúrgico ou manifestações de devoção popular. Do ponto de vista religioso,
podemos utilizar parcialmente uma caracterização esboçada por Moura (2001, p.38) “das
festas populares brasileiras, começando por seus componentes estruturais”. Nesse sentido,
tem-se as festas:
a) Religiosas: ministradas por sacerdotes ou pessoas autorizadas pela igreja, como missa,
procissão, bênção, novena e reza.
b) Profano-religiosas: ministradas por leigos com aprovação do sacerdote, homenageando
figuras sacras, de modo alegre e festivo, entre estas estão: o levantamento de mastro, bailados
como congados, folia de reis, Império do Divino, Reinado do Rosário, Pastorinhas.
5. Espetáculos artísticos de cunho religioso: os espetáculos artísticos de cunho religioso, são
encenações artísticas de eventos e fatos marcantes da história religiosa e realizadas
periodicamente com a participação da população local fazendo o papel de atores. A mais
famosa encenação desse tipo é a Encanação da Paixão de Cristo realizada na cidade-teatro de
Nova Jerusalém, em Brejo da Madre de Deus (PE) e considerado o maior espetáculo de teatro
ao ar livre do mundo, com duração de 2,30 horas e a participação de 500 atores. Durante os
oito dias de apresentação, 80.000 pessoas assistem à encenação em nove palcos que retratam a
antiga cidade de Jerusalém (informações da EMBRATUR, 2000).
6. Roteiros de fé: constituem-se em caminhadas de cunho espiritual, pré-organizadas em um
itinerário turístico-religioso.
Conclui-se então que os santuários são os principais locais de expressão da
religiosidade dos povos, principalmente o brasileiro, uma vez que existem em torno de cem
27
deles no país. Eles são os centros de devoção, e as romarias populares constituem, ao longo da
história do Brasil, especificamente, os lugares de maior expressão coletiva da religião
popular.21
Assim, em seu simbolismo, o santuário pode ser considerado como um farol a projetar
a luz da fé nas pessoas que o visitam ou, simplesmente, ser considerado a ponte de ligação
entre o mundo terrestre e o espiritual. Assim, os locais de peregrinação, chamados de
santuários, atraem todos os níveis de pessoas, do mais favorecido intelectual e
economicamente aos que apresentam maiores dificuldades econômicas e de escolaridade.
Como exemplo de santuário, tem-se o de Fátima em Portugal; o Santuário de Montserrat, em
Barcelona, na Espanha; o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte,
São Paulo no Brasil.22
Segundo Padre Annunciação23 (apud CARVALHO, 2003), atualmente cresce nos
santuários da América Latina o número de visitantes, sendo que o fluxo de peregrinos varia de
acordo com a época e com as características de cada santuário. Em alguns, as peregrinações
acontecem o ano inteiro, enquanto, em outros, somente por ocasião das festas ou
acontecimentos especiais.
No Brasil, os centros de peregrinações estão presentes em todas as regiões. Em São
Paulo tem-se Aparecida do Norte; no Rio Grande do Sul o Santuário do Pe. Réus; em Juazeiro
do Norte os devotos do Padre Cícero, no Ceará; Bom Jesus da Lapa, no Sertão Baiano; o Círio
de Nazaré, de Belém do Pará; entre outros. Muitos surgiram no início da conquista
portuguesa, especialmente nos séculos XVII e XVIII; outros são recentes, séculos XIX e XX,
mostrando a longa tradição católica que se constitui numa das bases formadoras da cultura
brasileira, como é o de Nova Trento, que traz consigo a tradição religiosa dos colonizadores
italianos.
Todo Santuário, ao mesmo tempo em que provoca uma atração aos fieis que se
deslocam para o culto, também provoca o surgimento de uma demanda cultural, de pessoas
que irão apreciá-lo pelo que contém de histórico e cultural. Da mesma forma ocorre com os 21 CARVALHO, 2003. 22 CARVALHO, loc. cit. 23 ANNUNCIAÇÃO. A peregrinação na vida atual da igreja latino-americana. Aparecida: Santuário, 1999. 14 p. (Coleção Cadernos Marianos, 1).
28
eventos, que se incorporam à cultura local, tornando-se parte da tradição cultural, fonte de
identidade de determinada comunidade. Desse modo, há uma forte identificação entre turismo
religioso e cultural, sendo o primeiro, na realidade, integrado a este último.24
Os santuários, de modo geral, são patrimônio cultural e, como tais, susceptíveis de serem transformados em recursos turísticos. Dessa maneira, pode-se gerar um uso turístico dos espaços religiosos, forma esta de turismo incluída na categoria de turismo religioso, numa definição ampliada e, embora sua motivação principal não seja do tipo religioso, situa-se num dos extremos já citados, de uma linha contínua que se estende da peregrinação propriamente dita como atividade exclusivamente religiosa até os limites das atividades englobadas no conceito de turismo cultural.25
1.3.2- Peregrinações
Nas peregrinações é o povo que vai ao encontro do sagrado. “Elas se caracterizam
pelo seu caráter extramuros, isto é, fora dos limites urbanos. Faz-se jornada em espaços
abertos, passagem por lugares despovoados, visão alargada por horizontes ampliados.”
(VILHENA, 2003, p. 22) A referida autora distingui dois tipos de peregrinações católicas:
As organizadas pelo clero e aquelas organizadas pelo povo. As primeiras podem ser de âmbito internacional. Operadoras especializadas contatadas pelo clero promovem peregrinações a Jerusalém, Fátima, Roma, Medjugorje, Lurdes, Assis. São lugares santificados pela recordação histórica ou por manifestações sobrenaturais de caráter miraculoso. Divulgadas por panfletos, pregações, boca a boca, incluem direção espiritual e acomodações em casas de retiro. Propiciam exercícios espirituais, meditações, missas diárias, exortações, orações, confissões, aprofundamento da fé, silêncios, recolhimento, revisões de vida e busca de sentido. Evidentemente, a elas não podem aderir fiéis provenientes das classes populares. (VILHENA, 2003, p. 22)
De acordo com Annunciação26 (apud CARVALHO, 2003), os vários santuários de
cada país constituem “símbolos da interação da fé com a história dos nossos povos”, por isso
o fenômeno das peregrinações é complexo, diversificado, rico e próprio de cada cultura, de
cada país e região. Essa heterogeneidade deve-se à formação histórica, política, econômica,
cultural e religiosa dos povos. Então, cada santuário tem sua origem, evolução, vida própria,
onde os peregrinos expressam e celebram sua fé.
As peregrinações, no Brasil e na América Latina, constituem um movimento do
próprio povo, aprovadas pelos documentos oficiais da Igreja, vinculadas à Comunidade
Eclesial, a iniciativas particulares ou organizadas pelas dioceses, paróquias, associações
24 DIAS, 2003, p. 16. 25 Ibid., p.24. 26 ANNUNCIAÇÃO. A Peregrinação na vida atual da igreja latino-americana. Aparecida: Santuário, 1999. 14 p. (Coleção Cadernos Marianos, 1).
29
religiosas, pastorais específicas e profissões. Assim, de acordo com o Projeto Pastoral que
visa à Missão Evangelizadora dos Santuários Latino-Americanos em vista do terceiro milênio,
que se realizou em Aparecida, São Paulo, em 1996, as razões da peregrinação seriam de
ordem antropológica por fazer parte da natureza do homem ser peregrino; fenomenológica por
ser parte da vida, da história, da cultura e da religião dos povos; bíblica devido ao povo de
Deus do Antigo Testamento ser um povo peregrino; cristológica pois Jesus é o peregrino do
Pai; histórica já que os santuários e peregrinações fazem parte da tradição e da vida da Igreja;
escatológica por ser a vida cristã uma caminhada de fé rumo à casa do Pai; e por fim popular
pois é um sinal e uma expressão da religiosidade das culturas populares.27
A peregrinação é uma característica fundamental do povo latino-americano, dada a existência de um grande número de santuários, sendo, pois, um sinal e uma expressão da cultura do nosso povo, de sua religiosidade, de suas lutas, de suas esperanças, de seus sofrimentos, de seus anseios, de seus desejos e de suas conquistas. Na realidade, para muitos peregrinos, a visita ao santuário constitui o fundamento da vida cristã.28
Entretanto, na maioria das vezes, o deslocamento dos romeiros ao santuário ocorre
sem intenção de romaria. Há pessoas que visitam o local sagrado apenas para cumprir uma
promessa ou fazer um passeio, agindo como turistas e vão aos santuários em grupo, mas
apenas para admirar a natureza, a forma arquitetônica, ou as obras de arte sacra que existam
no santuário. Outros vão às romarias porque têm problemas e querem que ajuda divina,
solicitando a Deus que amenize os resolva suas dificuldades. (CARVALHO, 2003)
Segundo (VILHENA, 2003, p. 22) “O povo também é mentor e organizador de
romarias e as promove com ou sem parceria com a Igreja.”
As classificações peregrinação, romaria e turismo religioso aparecem várias vezes
como sinônimos, recobrindo um universo bastante extenso de práticas sociais. Então Steil
(2003, p. 22) afirma que
Quando nos aproximamos dos contextos religioso e social, em que essas práticas são recorrentes, damo-nos conta de que os usos que se fazem dessas categorias demarcam diferenças e posições dentro de um campo de disputas de sentidos e poder, no qual estão envolvidos diversos atores religiosos e políticos, mas também os acadêmicos, que estudam esses eventos sociais. Podemos então observar que essas categorias, ao mesmo tempo que se constituem num instrumento de análise e
27 CARVALHO, 2003. 28 CARVALHO, loc. cit.
30
de compreensão dos fenômenos que denominam, também revelam uma tomada de posição, apresentando-se como um instrumento de ação.
Além dos santuários, existem lugares especiais onde aconteceram eventos de grande
magnitude espiritual, e locais de fatos ocorridos que fazem parte de nossa história. Lugares de
milagres, ocorrências religiosas, acontecimentos mitológicos ou historicamente significativos,
locais onde vidas e destinos se transformam, e onde, acredita-se ser possível modificar a alma
e o espírito, como: o mar da Galiléia, localizado no vale do Rio Jordão, em Israel, circundado
por muitos locais sagrados do Novo testamento, como Cafarnaum e Tiberíades onde, segundo
a Bíblia, Jesus fez diversos milagres; o Monte Sinai, na Península do Sinai, no Egito, onde
Moisés considerou ter recebido os dez mandamentos. (CARVALHO, 2003)
No Brasil, o termo romaria está mais relacionado ao caráter coletivo da viagem, sendo
o romeiro o membro da comunidade que faz a jornada religiosa comum. O termo peregrino
tem sido mais associado com a experiência individual vivida pelo indivíduo que realiza a
jornada. (DIAS, 2003, p. 22)
Muitos consideram que as motivações religiosas não têm nada de turístico, quando
comparadas com outros propósitos de viagens. Dias (2003, p. 15) afirma que:
o viajante pode ter um envolvimento grande com o sagrado, mas continua a necessitar de descanso, alimentar-se e desfrutar de momentos de calma e relaxamento, pois sua condição humana assim o exige. E, ao provocar essa demanda, usufrui dos mesmos equipamentos necessários para o atendimento do viajante que o faz com fins culturais, por exemplo. Desse modo, embora com motivações de viagem diferentes, ambos os viajantes utilizam-se de serviços e produtos comuns, tomando-se, deste modo, turistas no sentido exato do termo, provocando surgimento ou desenvolvimento de inúmeras atividades econômicas que geram empregos e renda para uma determinada região. [...] Desse modo, o conjunto de locais e atividades religiosas - santuários, eventos, caminhadas, romarias etc. que provoca o deslocamento de pessoas, [...] deve ser considerado como atrativo turístico e o fenômeno deve ser considerado como tipo particular de turismo, o religioso.
1.3.3- Turismo religioso no Brasil
No Brasil, onde a fé católica é predominante, uma infinidade de destinações religiosas
que atraem diversos viajantes (peregrinos, romeiros, pessoas atraídas pela cultura do espaço
religioso e outros). Segundo Carvalho (2000)29 “são cerca de 15 milhões de pessoas se
29 Caio Luiz de Carvalho, Ministro do Esporte e Turismo e Ex-Presidente da EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Roteiros da fé. In: Jornal do Brasil, 2000.
31
deslocando anualmente no país por motivos religiosos”. Foi a partir desta constatação que o
Ministério do Esporte e Turismo, através da EMBRATUR, decidiu investir nesse segmento.
“Estamos transformando esta matéria-prima em produto. A idéia é utilizar a estrutura
existente, estimulando a profissionalização e a qualificação turística para melhor aproveitar
este nicho que movimenta, no mínimo, R$ 6 bilhões por ano”.30
A intenção da EMBRATUR era aproveitar o potencial das festas religiosas no Brasil
buscando impulsionar e incrementar o turismo religioso. A proposta do governo era
democratizar o acesso a estes eventos e mostrar aos agentes de viagem a sua importância
Tudo isso com base em um mercado de 15 milhões de pessoas, que representam mais de 30%
dos cerca de 42 milhões de brasileiros que viajam pelo país.
Com base nestes dados, a EMBRATUR (2000) incentivou a criação de “Roteiros da
fé”, enfatizando as principais festas e atrações religiosas e criando roteiros regionais
brasileiros. São eles:
a) Região norte:
• Acre: Círio e N. S. de Nazaré no 2º domingo de outubro, em Rio Branco;
• Amapá: Festa de São José no dia 19 de março, em Macapá;
• Amazonas: Festa do Padroeiro Santo Antônio de Borba, de 1º a 13 de junho, em Borba;
Festa da Padroeira Nossa Senhora da Conceição no dia 8 de dezembro, em Manaus; Festa
da Padroeira Nossa Senhora do Carmo, de 6 a 16 de julho, em Parintins;
• Pará: Círio de Nossa Senhora de Nazaré (Círio de Nazaré), 2º domingo de outubro, Belém;
• Rondônia: Espetáculo teatral “O homem de Nazaré”, durante a Semana Santa, com 3 dias
de espetáculo, em Porto Velho;
• Tocantins: Romaria do Senhor do Bonfim, de 7 a 17 de agosto, em Natividade.
b) Região nordeste:
• Ceará: Monumento a Padre Cícero e Santuário de São Francisco, em Juazeiro do Norte;
• Recife: Encenação da Paixão de Cristo, durante a Semana Santa, em Brejo da Madre de
Deus;
30 Ibid., p. 4.
32
c) Região centro-oeste:
• Goiás: Cavalhadas de Corumbá de Goiás, anualmente, geralmente na 1ª semana de
setembro, em Corumbá; Procissão do Fogaréu, na Semana Santa, em Goiás;
• Distrito Federal: Dia de Nossa Senhora Aparecida - Padroeira de Brasília, no dia 12 de
outubro, em Brasília; Via Sacra de Sobradinho, na Sexta-Feira Santa, em Sobradinho;
• Mato Grosso: Encontro de Oração Vinde e Vede, durante o carnaval, em Cuiabá;
• Mato Grosso do Sul: Arraial do Banho de São João, de 20 a 24 de junho, em Corumbá.
d) Região sudeste:
• Espírito Santo: Festa de “Corpus Christi”, em data móvel (maio/junho), em Castelo;
• Minas Gerais: Solenidade da Semana Santa, na Semana Santa, em Araxá; Encenação da
Semana Santa, na Semana Santa, em Belo Horizonte;
• Rio de Janeiro: Festa de Nossa Senhora da Penha, durante todos os domingos do mês de
outubro e no 1º domingo do mês de novembro, no Rio de Janeiro; Festa de São Sebastião,
no dia 20 de janeiro, no Rio de Janeiro; Festa do Divino, 50 dias após a Páscoa, com
duração de 10 dias, em Paraty;
• São Paulo: Festa de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, homenagem a Nossa
Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, no Santuário Nacional de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida, maior santuário mariano do mundo, e também o maior centro de
peregrinação popular – o mais freqüentado no Brasil, em Aparecida; Festa de Nossa
Senhora Achiropita, no último final de semana do mês de julho e durante o mês de agosto,
em todos os finais de semana (5 finais de semana), em São Paulo.
e) Região sul:
• Paraná: Festa de São Francisco da Ordem, em setembro, geralmente na 1ª quinzena, com
duração de 3 dias, em Curitiba; Festa de Nossa Senhora do Pilar, de 6 a 15 de agosto, em
Antonina;
• Rio Grande do Sul: Gramado Aleluia, na Semana Santa, durante a Semana Santa, em
Gramado; Romaria de Fátima, no 2º domingo de outubro, em Cruz Alta;
• Santa Catarina: Santa Paulina, durante todo o ano, em Nova Trento. Considerada a capital
do turismo religioso em Santa Catarina recebendo destaque de seu potencial, que lhe
garantiu o título de 2ª Estância Turístico-Religiosa do país, depois de Aparecida do Norte,
em São Paulo.
33
Na maioria dos destinos, onde há santuários ou ocorrem manifestações religiosas, a
infra-estrutura para receber os visitantes ainda é precária. (DIAS, 2003, p.15) Soma-se a isso,
a falta de incentivos governamentais e a intenção única e exclusiva de lucro imediato dos
empresários torna o ambiente despreparado para receber os visitantes.
Em Santa Catarina a SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A., órgão oficial estadual
de turismo, incentivou o turismo religioso no estado. Além de Nova Trento, inseriu também
no roteiro, os municípios de Brusque e Angelina.
A Santur [...] com o lançamento do roteiro turístico “Caminhos da Fé”, ressalta Nova Trento com o Santuário de Madre Paulina e o Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro. Ainda inclui, na divulgação integrada, os municípios de Brusque, com o Santuário de Nossa Senhora de Azambuja, e de Angelina, com o Santuário Imaculada Conceição. (NOVAES, 2000, p. 134)
A figura 1 apresenta o mapa do roteiro da fé no Estado de Santa Catarina, destacando
os santuários de Brusque, Nova Trento (dois santuários) e Angelina.
ESCALA GRÁFICA*
18 Km 0 18 36 Km
Fonte: MARQUES, 2000 (adaptada pe
FIGURA 1 – ROTEIRO DA FÉ DO ESTADO
* Elaborada pela autora
la autora)
DE SANTA CATARINA
34
No mapa apresentado é possível perceber a distância entre os municípios definidos
para o desenvolvimento turístico religioso de acordo com seu potencial. Estes três santuários
formam então, o Roteiro da Fé em Santa Catarina. Porém, em 2003, a nova administração
estadual, pretende ampliar a participação de outros municípios que possuem importância
religiosa como Santo Amaro da Imperatriz (próximo a Angelina), São Martinho (no sul), São
Francisco do Sul (litoral norte) e outros a participar do roteiro.
O município de Nova Trento contempla, além de atrativos histórico-culturais, um
conjunto religioso formado por dois santuários, capitéis, igrejas, grutas – conforme figura 2 –
e foi cenário do importante trabalho social e religioso de Santa Paulina. Estes fatores
proporcionam na cidade uma intensa visitação de pessoas oriundas de diversos municípios
catarinenses, estados do Brasil e alguns países da América do Sul.
ESCALA GRÁFICA*
9 Km 0 9 18 Km
* Elaborada pela autora
Fonte: MARQUES, 2000 (adaptada pela autora)
FIGURA 2 – MAPA RELIGIOSO DE NOVA TRENTO
35
O turismo religioso, muitas vezes, é realizado por fiéis, com o intuito de realizar e
pagar promessas, assim como de participar das manifestações religiosas, vinculadas aos seres
superiores. Por isso, atualmente, percebeu-se um aumento no número de turistas nos locais
considerados santos, sendo que a quantidade de romeiros varia constantemente de acordo com
a época e as características de cada santuário. Assim Carvalho (2003) afirma que o turismo
religioso é:
[...] o segmento que mais tem se desenvolvido, uma vez que, além dos fatores dogmáticos e místicos, as religiões adotam a função de agentes culturais pela manifestação de resguardo aos valores tradicionais, interposição na sociedade atual, e de preservação no que diz respeito à vida dos fiéis e das sociedades.
Observa-se um crescimento quanto ao interesse religioso nas viagens internacionais ao
Brasil, de acordo com os documentos da EMBRATUR, Pesquisa sobre o Turismo Receptivo
Internacional 2001 e de 2002, que apresentam além da motivação religiosa, os outros
interesses turísticos, conforme o quadro 1.
Motivo da Viagem (%) 2001 2002
Lazer 55,51 51,21 Negócios/Congressos/Amigos 30,23 28,28 Visitar familiares/amigos 10,62 15,60 Tratamento de Saúde 1,11 1,56 Estudo/Ensino/Pesquisa 0,15 0,32 Religião/Peregrinção 0,15 0,48 Outros 2,23 2,55
Fonte: Turismo Receptivo Internacional 2001 e de 2002 da EMBRATUR, 2004 (adaptado pela autora, 2004)
QUADRO 1 – MOTIVAÇÃO DA VIAGEM – TURISTA ESTRANGEIRO 2001/2002
O índice de turistas estrangeiros que se deslocam ao Brasil com motivação religiosa
ainda é muito pequeno. Segundo o Anuário Estatístico 2003 da EMBRATUR, das pesquisas
de 2002 com turistas estrangeiros identificou-se o interesse religioso em suas viagens ao
Brasil os seguintes países e percentuais: Paraguai 5,1; Chile 3,1; Uruguai 1,4; Itália 1,0;
Estados Unidos 0,3; e Argentina e Portugal com 0,2.
O que se percebe com facilidade, mesmo sem pesquisas oficializadas, é a grande
movimentação interna no país com motivação religioso. Segundo os Estudo de Mercado
Interno de Turismo 2001 da EMBRATUR, pode-se perceber a religião representa 7% dos
36
interesses de viagem do brasileiro. Separado por região tem-se os seguintes valores: região sul
3,8%; sudeste 6,5%; nordeste 11,1%; norte 3,8%; e centro-oeste 7,7%.
A periodicidade e o fluxo de visitação nos lugares sagrados varia, pois em alguns, as
peregrinações acontecem durante o ano todo, e em outros, somente nas festas e ocasiões
especiais. A prática do turismo religioso pode ser através das peregrinações aos locais
sagrados, famosos ou não, mas que são venerados por pessoas de todas as religiões; pelas
festas religiosas que são celebradas periodicamente; pelos espetáculos e as representações
teatrais de cunho religioso; e pelos congressos, encontros, seminários, ligados às atividades de
evangelização dos fiéis.
Nova Trento se enquadra como destinação de visitação durante o ano inteiro,
apresentando dois santuários. Devido a quantidade de visitantes que a cidade recebe, a
EMBRATUR considerou o município como 2ª Estância Turístico-Religiosa, sendo a primeira
o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, em Aparecida do Norte, em
São Paulo.
Em Nova Trento é facilmente percebida a procura e a constante visitação de grupos
excursionistas, principalmente nos fins de semana. Geralmente nestas excursões os viajantes
realizam preces e meditações comunitárias dentro dos ônibus, ao longo do percurso e, os
guias, muitas vezes o próprio sacerdote, se preparam para discorrer sobre a história do
santuário ou do local sagrado, sua importância e significado. Padre Roque Schneider31 (apud
CARVALHO, 2003), participante de peregrinações turísticas, com diversos diários de viagens
publicados, afirma que:
A peregrinação não é simples viagem turística. Vai mais além, mais alto e mais fundo. É um estado de espírito religioso-intimista que a gente respira e transpira do primeiro ao último dia, ao impacto das surpresas, na euforia de quem descobre tesouros inesgotáveis, jamais sonhados. O momento forte, o ponto alto da agenda diária: as celebrações eucarísticas, devotas, sem pressa, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Em torno do altar, com Jesus, o relógio não tinha vez.
Pela importância da religião no cotidiano das pessoas e pelo fluxo de visitação a
lugares sagrados, é possível identificar a magnitude do turismo religioso no mundo. Pode-se
31 SCHNEIDER, Roque. A terra santa que visitamos. v. 2, p.88. Porto Alegre: Padre Réus, 1986. p.90.
37
afirmar que para grande maioria das pessoas que peregrinam a pontos devocionais, o
deslocamento constitui-se, além do interesse religioso, como um fenômeno cultural.
A atividade turística, principalmente a de cunho religioso, proporciona aos visitantes
um amplo conhecimento da cultura e modo de vida da comunidade receptora. Cabe ressaltar
que para os visitantes há apenas os benefícios, porém, para os moradores locais e para o
espaço utilizado no turismo há grandes possibilidades de prejuízos. Estes são os chamados
impactos negativos, ou seja, as transformações maléficas que asseiam o ambiente natural, a
economia e os recursos sócio-culturais do povo receptivo.
Porém, muitas vezes a chegada do turismo é avassaladora, seja através das intensas propagandas oficiais, pelo surgimento espontâneo de destinos que se tornam atração aos olhos dos turistas. As pequenas localidades, povoados, vilas são invadidos e o seu cotidiano é moldado, muitas vezes, pela chegada dos viajantes com seus hábitos, costumes e tradições. O crescimento do turismo tem agredido, em variados graus, os recursos naturais, culturais e sociais das regiões receptoras. (CARVALHO, 2003)
É facilmente identificada, principalmente nas pequenas cidades turísticas, um claro
contexto de conflito e enfrentamento que envolve nativos, moradores provindos de outros
lugares, sejam comerciantes, artistas ou curiosos e os turistas propriamente ditos. Diante disto,
Giovannini Júnior (2003, p. 144) acrescenta dizendo que:
Conflitos sociais e culturais, dificuldades de estrutura urbana, saúde e educação, saneamento e abastecimento e principalmente de distribuição de renda, não são mencionados em folhetos de propaganda ou discursos dos guias. Muitas vezes, escapam aos olhos dos viajantes, porém, na medida em que viaja mais o turista começa a perder as vendas dos olhos e perceber os problemas locais passando a questionar, não somente as populações, mas também órgãos públicos e empresas privadas. Assim, muitas vezes as cidades perdem os “bons turistas”, aqueles mais conscientes e respeitadores, em função da informação enganosa e problemas básicos dos quais não dá conta de resolver.
Ainda referente a esta temática Payés (1999, p. 131 apud CARVALHO, 2003) afirma
que tal fato acontece uma vez que essa atividade segue a mesma lógica do mercado
capitalista, ou seja, “o mercado turístico guia-se pela valorização patrimonial, pela busca da
maior rentabilidade no menor prazo possível, deixando em regra, em segundo plano, qualquer
preocupação com a preservação dos recursos ambientais”
38
1.4- Transformações provocadas pelo turismo
A atividade turística está hoje entre os principais segmentos da economia brasileira e
mundial, crescendo ligeiramente. O desenvolvimento do turismo proporciona, muitas vezes, o
prestígio das destinações turísticas em nível regional, estadual, nacional e internacional,
apresentando benefícios ao governo, aos empresários e principalmente aos moradores
tradicionais.
Entretanto, o turismo de massa pode acarretar diversas transformações na localidade
turística. Na última década tem surgido, com mais destaque, a preocupação com os efeitos
negativos, principalmente sobre as comunidades mais frágeis, menos desenvolvidas.
Anteriormente, o enfoque se concentrava apenas nos benefícios (ganhos financeiros e
incremento na oferta de empregos para a população local). Percebe-se que tal atividade
também pode ameaçar o meio-ambiente, a segregação dos moradores e em longo prazo, o
afastamento da população local (KRIPPENDORF, 1989)
As transformações do turismo referem-se a uma série de modificações ou a
conseqüências de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas
localidades receptoras. Estes têm origem em um processo de mudança e não resultam de uma
única causa. Eles são a conseqüência de um complexo processo de interação entre os turistas,
as comunidades e os meios receptores.
Na literatura específica de turismo encontra-se freqüentemente a expressão “impacto”.
Os impactos apresentam natureza, intensidade, direções e magnitudes diversas, ocorrendo no
meio ambiente social, cultural, econômico e natural. Estes se referem às modificações que o
turismo pode provocar nas destinações turísticas. Estas podem ser positivas ou negativas e
influenciam a cultura, a economia e o meio ambiente natural das regiões.
Na obra de Ruschmann (2001, p. 34), percebe-se facilmente as preocupações com os
impactos turísticos, onde os “impactos são conseqüências ou modificações provocadas pelo
processo de desenvolvimento turístico nas localidades. Estes podem apresentar-se de forma
positiva ou negativa e subdividem-se em econômicos, sócio-culturais e ambientais.”
39
1.4.1- Transformações sócio-culturais
O turismo é uma atividade que proporciona o contato entre pessoas de culturas e
tradições muito distintas. Das relações sociais realizadas durante a estada dos visitantes,
resultam as transformações sócio-culturais. A intensidade dessas transformações dependerá de
vários fatores, como: a idade, renda, escolaridade dos turistas, bem como das diferenças
sócio-culturais existentes entre os turistas e os moradores da localidade.
O encontro entre turistas e moradores ocorre em três contextos principais: • Quando o turista compra um bem ou um serviço do residente; • Quando ambos compartilham o mesmo espaço físico (praias, passeios, etc.); • Quando ambos trocam informações e/ou idéias. (DE KADT, 1979 apud OMT, 2001, p. 215)
No turismo de massa é mais freqüente ocorrer os dois primeiros itens, pois estes,
mostram desinteresse em se envolverem com a cultura local. Em conseqüência desta atitude,
formam-se os guetos, nos quais são preservados costumes de suas próprias origens e
relacionamento com indivíduos de sua nacionalidade.
A quantidade e intensidade das transformações sócio-culturais causados na relação dos
moradores e turista podem ser analisadas pelas as seguintes fases: fase de euforia, a qual
desperta entusiasmo da população residente pelo fato de ocasionalmente acontecer o
desenvolvimento; fase de apatia, na qual começa a se ter uma visão de fins lucrativos; fase da
irritação, na qual chega-se ao estado de saturação, onde a população procura uma
compensação para tal desconforto; fase do antagonismo, a qual acusa o turismo de causar
todos os males, e a fase final, onde o destino deixa de ser um atrativo. (OMT, 2001)
O turismo é um fator estimulante do interesse dos moradores pela própria cultura e
para a revitalização da cultura em uma determinada comunidade, pois as tradições, costumes,
e patrimônios históricos encontram-se como atrativos turísticos da localidade receptora.
Portanto, o turismo pode contribuir para a preservação e a reabilitação de
monumentos, edifícios e lugares históricos; revitalizar os costumes locais (artesanato,
folclore, festivais, gastronomia, e outros); acelerar as mudanças sociais possíveis; e contribuir
para o intercâmbio cultural, fazendo com que haja uma compreensão e respeito às diferenças
dos visitantes em relação a outras culturas e maneiras de viver.
40
Segundo Ruschmann (2001, p. 51) “os impactos culturais favoráveis são: valorização
do artesanato, valorização da herança cultural, orgulho étnico, e valorização e preservação do
patrimônio histórico”. A autora enfatiza ainda “a valorização das artes, do teatro, do
artesanato, da música e até mesmo a gastronomia”.
O turismo geralmente traz consigo a melhoria da infra-estrutura, aumentando assim a
qualidade de vida dos moradores da região. Pode também estimular o interesse dos moradores
pela própria cultura, sendo extremamente positivo ao passo que conscientiza a população da
importância da preservação histórica e cultural.
Existe também a possibilidade de intercâmbio cultural com os moradores da
comunidade, permitindo uma interação que resulta no aumento da percepção e respeito acerca
das diferenças. Quando as diferenças econômicas entre os turistas e a comunidade são muito
grandes, pode-se encontrar um ressentimento por parte da população local.
Ruschmann (2001, p. 53) destaca como impactos culturais desfavoráveis a
“descaracterização do artesanato, a vulgarização das manifestações tradicionais, a arrogância
cultural e a destruição do patrimônio histórico”.
Uma característica comum e altamente negativa é a descaracterização da cultura local,
que pode desaparecer na presença de culturas mais forte, em países em desenvolvimento,
onde a cultura dos turistas pode ser notada como superior.
O artesanato pode apresentar uma desfiguração em função da demanda turística. Se
esta demanda for muito intensa por determinado tipo de artesanato, pode haver a necessidade
de aumento de oferta e ocorrer a padronização do artesanato em função da demanda. “A
maior procura por um determinado tipo de artesanato faz com que os artesãos das regiões
mais diferentes passem a produzir esses elementos.” (IGNARRA, 2001, p. 122).
Outra transformação negativa provocada pelo turismo é referente à cultura tradicional,
como por exemplo, o folclore. Este passa a ser visto como uma mercadoria e por isso é
vendido muitas vezes estereotipado para os países desenvolvidos. Para atender as expectativas
dos turistas, as cerimônias tradicionais, os festivais e os costumes são apresentados como
41
shows, e freqüentemente são realizados em diferentes datas, locais ou horários que pela
tradição deveriam acontecer.
A massificação do turismo pode provocar a destruição do patrimônio histórico, em
virtude da circulação excessiva de veículos e das ações depredatórias dos turistas. A
arquitetura tradicional também pode se transformar em virtude do turismo, porque os turistas
desejam se hospedar em edificações típicas do local, mas querem todo o conforto com o qual
estão acostumados em casa.
O desenvolvimento turístico não deve ser entendido apenas como a chegada de uma
demanda massificada. O excesso de demanda pode acarretar problemas estruturais e humanos,
provocando alterações nos costumes nas formas de comportamento social e nas manifestações
culturais, artísticas e folclóricas.
Por fim, a atividade turística pode provocar um processo de aculturação, o que leva ao
desaparecimento da cultura local, diante de outra mais forte. Isso acontece quando os
moradores consideram a cultura do turista superior à sua, imitando suas músicas, roupas, seus
hábitos e desprezando as suas raízes.
Essas transformações podem propiciam modificações sociais negativas na localidade
turística como: aumentar a criminalidade, a prostituição e conflitos, logicamente mal vistos
pela comunidade, bem como perda de privacidade, congestionamentos, perda de acesso às
atividades de lazer e outros. Corre-se o risco da perda da identidade cultural da localidade,
pois a cultura mais forte, que geralmente é vista como a dos turistas, prevalece sobre a dos
moradores.
Portanto, o turismo pode influir diretamente na estrutura social de uma região e pode
ser responsável por profundas transformações em muitas comunidades, sejam elas positivas
ou negativas.
Enquanto produtor e consumidor do espaço, o turismo pode ‘mercantilizar’ as culturas locais, tornando-as objeto de consumo, causando dessa forma danos irreversíveis à identidade da comunidade anfitriã. Daí a importância de se criar uma harmonia entre as atitudes dos turistas e o comportamento da população local. (HAZIN; OLIVEIRA; MEDEIROS, 2000, p. 7).
42
1.4.2- Transformações econômicas
Conforme apresentado anteriormente, o turismo é um fenômeno social complexo e
diversificado no cotidiano da sociedade contemporânea, apresentando elevadas taxas de
crescimento. Este é utilizado como nova estratégia entre as possibilidades de superação de
problemas econômicos e de promoção do desenvolvimento humano, além de ser um dos mais
notáveis agentes promotores da organização e reorganização do espaço.
Caracterizado então prioritariamente como atividade econômica, o turismo é tratado
por alguns autores como indústria, já que transforma matéria-prima elaborando produtos que
são comercializados e consumidos no mercado. O turismo é considerado uma forma de
exportação invisível, tendo em vista que traz divisa estrangeira ainda que o consumo dos bens
e serviços seja realizado na localidade receptora. As definições de turismo como indústria são
controversas, porém, é indiscutível que o turismo tem grande influência na economia das
localidades nas quais se desenvolve seja em âmbito local, regional ou nacional, e em diversas
intensidades determinando seu grau de participação na economia local.
Certamente nos países em desenvolvimento, caracterizados por baixos níveis de renda,
desemprego, desigualdades, baixo índice de industrialização, entre outros, o turismo apresenta
efeitos mais significativos do que nos países desenvolvidos, já que estes fatores são
facilmente percebidos. A atividade turística passou a ser considerada por muitos como a única
saída das nações em desenvolvimento. Muitos governos começaram a estimular esta atividade
em seus países, sem levar em consideração as adequações necessárias à implantação do
turismo.
Diante do desenvolvimento turístico, há então as transformações ou impactos nas
localidades e destinações turísticas. Durante muitos anos, criou-se à ilusão que o turismo
trazia somente vantagens econômicas para os destinos onde ocorreria, porém, hoje se sabe que
se mal planejada, esta atividade causará diversos prejuízos também à economia local.
Segundo Mathieson e Wall (1988, p. 52 apud RUSCHMANN, 2001, p. 42), para que
se chegue a um consenso sobre os impactos econômicos é necessário analisar os seguintes
fatores da localidade:
• Recursos e potencial atrativo;
• Gastos dos turistas;
43
• Base econômica e desenvolvimento;
• Distribuição e circulação de renda;
• Capacidade de adaptação à variação da demanda turística.
Dentre as transformações positivas, o turismo gera a oportunidade de se alcançar de
maneira rápida, as divisas necessárias para se equilibrar a economia de um país ou região, o
que ocorre mais facilmente nos países em desenvolvimento, pois estes geralmente são
considerados países receptores. No caso do Brasil, acontece o inverso, pois o país é mais
emissivo do que receptivo.
Para determinar a intensidade das transformações econômicas Mathieson e Wall
(1982, p.55 apud OMT, 2001, p.203) dividem os efeitos da atividade turística em três
categorias: primários, secundários e terciários. São eles:
Os efeitos primários são diretos, referem-se aos gastos dos visitantes num país e aos
gastos dos moradores locais no exterior.
•
•
•
Os efeitos secundários são os provocados pela utilização dos gastos dos turistas em outros
setores da economia local, subdividem-se em:
− Diretos: gastos com marketing, comissões de agentes de viagem;
− Indiretos: acontecem quando os responsáveis pelos serviços turísticos terceirizam certas
atividades, ou seja, quando repassam seus rendimentos;
− Induzidos: são os gastos direcionados aos trabalhadores assalariados que prestam serviços
às empresas turísticas.
Os efeitos terciários estão relacionados com os investimentos estimulados pela atividade
turística e não se originam de gastos diretos do turismo.
A geração de empregos nas destinações turísticas é altamente influenciada pela
atividade e também pode ser dividida em três categorias (MATHIESON; WALL, 1988, p. 54
apud RUSCHMANN, 2001, p. 43): o primeiro é o emprego direto, aquele que atende
diretamente os turistas, exemplo: funcionários de hotéis, restaurantes e outros; o segundo é o
emprego indireto que ainda está situado no setor turístico, mas não como resultado direto dos
44
gastos do turismo, exemplo: motoristas de empresas de transfer; e por último o emprego
induzido que é originado pelos gastos dos salários dos trabalhadores, exemplo: vendedores de
lojas de roupas que vendem aos trabalhadores da atividade turística.
Por se tratar de uma atividade do setor terciário (prestação de serviços), ainda que
tratada como indústria, depende em grande parte do fator humano, contribuindo assim para a
criação de emprego. “Estima-se que no mundo um em cada onze trabalhadores estão
empregados no setor de viagens e turismo” (IGNARRA, 2001, p. 100).
O desenvolvimento turístico também é um grande fomentador das atividades
empresariais, tendo em vista que seu crescimento servirá de estímulo ao crescimento da infra-
estrutura local e dos níveis econômicos da localidade. Os investimentos gerados na localidade
pelo turismo, como os de infra-estrutura, beneficiam a comunidade em geral e não somente
aos turistas, além de normalmente atrair investimentos estrangeiros, principalmente nos países
em desenvolvimento.
Além de ser um importante gerador de renda, o turismo também propicia uma melhor
distribuição desta renda nas localidades, ou seja, o turismo representa uma chance de melhora
em termos econômicos no nível da população das localidades receptaras. Por isso, muitas
vezes além do efeito econômico que sempre é colocado em voga por instituições ou
organizações públicas e privadas do Brasil e do exterior, o turismo é uma:
visão social e econômica onde o turismo processa recursos naturais, culturais e humanos [...] de forma articulada, planejada para atender o turista, e principalmente promover o desenvolvimento sustentável local; gerando emprego, trabalho, renda e combatendo a exclusão social (CARVALHO, 2002)32
No entanto, as velozes transformações do sistema produtivo mundial, resultantes do
processo de globalização da economia, o fenômeno do turismo passou a ser considerado no
Brasil, na primeira metade da década de 1990, como setor estratégico, face à sua capacidade
de gerar emprego e renda. E, além do mais, por se relacionar a 52 segmentos da economia
produtiva. (CARVALHO, 2001)33
32 Caio Luiz de Carvalho então Presidente da EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo no Vídeo “Revolução Silenciosa do Turismo na Economia Brasileira 1995/2002”, caracterizando o turismo no ano de 1999 “Turismo avança Brasil”. 33 CARVALHO, Caio Luiz de. Revolução Silenciosa. EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Disponível em: <www.embratur.gov.br> Acesso em: 16 dez. 2001.
45
Diante destas características, houve uma mudança de mentalidade que, a partir de
1995, permitiu que o setor turístico viesse a ser encarado como atividade estratégica pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa decisão fez a o turismo no Brasil expandir-se
significativamente de 1996 a 2000, a ponto de movimentar, em 1998, 32,2 milhões de turistas
domésticos, que conseqüentemente geraram US$ 13,2 bilhões em receitas diretas. Não
bastassem esses dados, de acordo com a World Travel and Tourism Council (WTTC) e a
Organização Mundial do Turismo (OMT), ao faturar direta e indiretamente US$ 31,9 bilhões,
o turismo no Brasil gerou cinco milhões de empregos, o que redundou em uma exação da
ordem de US$ 7 bilhões.34
O turismo contribui também para o equilíbrio da balança de pagamento (relação entre
a entrada e saída de capital gerado pelos turistas), já que o desenvolvimento turístico se
destaca por proporcionar giro de capital de maneira mais rápida do que outros setores da
economia.
Apesar de ser muito animador constatar todos os benefícios, já citados, que o turismo
causa em uma localidade, não se pode ignorar as transformações negativas ocasionados por
esta prática, e que se não forem bem analisados e planejados buscando minimizá-los podem
provocar sérios danos à localidade e à população receptora.
A queda da demanda turística em certas épocas do ano gera grande impacto em uma
localidade, pois isso faz com que a população local apresente um menor poder aquisitivo
durante esse período. Além disso, muitos equipamentos turísticos fecham suas portas na
“baixa temporada”, o que ocasiona o desemprego. A situação é ainda mais preocupante nos
países que apresentam uma dependência da atividade turística, muitas vezes, levando os
países a uma grave crise econômica quando o número de turistas diminui.
O turismo provoca a inflação, prejudicando a comunidade local, devido ao fato de que
os turistas apresentam poder aquisitivo suficiente para pagar os elevados preços cobrados
pelos comerciantes. Já os moradores que necessitam ou utilizam esses mesmos serviços,
muitas vezes não apresentam condições financeiras para adquirir tais necessidades.
34 CARVALHO loc. cit.
46
Outro fator negativo são as distorções na economia local. Muitas vezes os rendimentos
do turismo podem ser mais elevados do que os de outros setores, podendo prejudicar o
desenvolvimento de outra atividade econômica na localidade. Portanto deve-se cuidar para
que não se crie uma economia excessivamente dependente da atividade turística para o
desenvolvimento da localidade, já que sua demanda é extremamente sazonal e sensível às
variações do mercado.
A especulação imobiliária também está relacionada com a atividade turística,
causando uma super valorização de terrenos, preços de residências ou de aluguéis de bens
imóveis. Este fato é corriqueiro em várias cidades turísticas. É a lei da oferta e da procura,
causando uma instabilidade no mercado turístico, onde a demanda é superior a oferta.
Muitas vezes devido ao amplo número de investimentos estrangeiros grande parcela
do lucro obtido ultrapassa as fronteiras do país, propiciando a perda de benefícios econômicos
e potenciais. Este fato faz com que os lucros seja remetidos a outros paises evitando que estes
sejam reinvestidos no setor e no país receptivo.
Portanto, apresentam-se abaixo, resumidamente, as principais modificações positivas e
negativas. As positivas são:
• Geração de empregos e renda;
• Aumento e melhora na distribuição de renda;
• Elevação do nível profissional e cultural;
• Incentivo a atividade empresarial, desenvolvendo os demais setores da economia;
• Melhora da infra-estrutura turística, atraindo investimentos estrangeiros;
• Contribuição ao PIB (Produto Interno Bruto);
• Atração de mão-de-obra de outras localidades.
Assim, apesar das várias vantagens do turismo para a economia de um país ou região,
também se apresentam abaixo as transformações negativas decorrentes desta atividade:
• Inflação e especulação imobiliária;
• Dependência excessiva do turismo, devido à instabilidade do movimento turístico, a
economia pode ser prejudicada ou beneficiada;
• Sazonalidade da demanda turística, o que acarreta instabilidade econômica;
47
• Perda de benefícios econômicos e potenciais: devido aos investimentos estrangeiros,
grande parcela do lucro obtido ultrapassa as fronteiras do país;
• Distorções na economia local: concentração de renda em um só local, prejudicando as
demais áreas.
Lage (2002, p. 3) reforça a teoria exposta acima e apresenta as seguintes conclusões
referente aos impactos econômicos do turismo:
Normalmente os estudos econômicos apontam diversos aspectos positivos como a possibilidade de emprego, a geração de renda, o aumento de divisas, o combate à pobreza, o efeito multiplicador (por vezes “uma faca de dois gumes”, quando o turismo requer de importação), a ampliação da infra-estrutura, a criação dos serviços e comércio, além de outras variáveis que, no caso do Brasil, atuam de forma completamente diferente de região para região. Mas, nem sempre os efeitos negativos são alertados. Em termos econômicos, ainda deve-se acrescer a inflação, as variações cambiais, os altos impostos e taxações que inibem atividades importantes como o turismo marítimo brasileiro (viagem não mais exclusiva de rico) que, na última temporada [2001] chegou a transportar 170 mil passageiros por 7,5 mil km do litoral e 32,5 mil km de vias navegáveis internas, bem como a necessidade de importação, a especulação imobiliária, os riscos de investimentos, a deterioração e a perda de bens essenciais, únicos e, em extinção.
Percebe-se então que tanto um país rico, como um país pobre pode se beneficiar do
turismo. Antes de tudo, é necessário se valer do conhecimento econômico e definir sobre a
gestão dos recursos limitados, escolhendo quais fatores de produção (terra, capital, trabalho e
tecnologia) que serão utilizados para produzir os bens e serviços turísticos que mais atendam
aos interesses da comunidade receptora de fluxos turísticos e em todas as demais pessoas
(físicas, jurídicas) que circundam o grandioso sistema, em nível público e privado.35
Lage (2002, p. 7) afirma ainda que “esse crescimento e desenvolvimento econômico
sobreposto ao turismo deve sempre ser fundamentado em quatro grandes pilares: recursos
humanos; recursos naturais; capital; e, tecnologia”.
É imprescindível manter cautela e conscientização das autoridades responsáveis sobre
o futuro da economia do turismo que, antes de tudo, deve congregar uma imprescindível
legislação específica para cada caso e em cada situação.
35 LAGE, 2002, p. 7.
48
1.4.3- Transformações ambientais
O meio ambiente é considerado a matéria-prima do turismo, sendo as belezas naturais
e o contato com a natureza duas das maiores motivações das viagens de lazer da atualidade. O
agito da vida do homem urbano e a deterioração do ambiente ao qual se vive, faz com que
este, procure um local tranqüilo e natural para seu período de descanso. Essa constante
demanda provoca o fluxo em massa de turistas aos locais naturais podendo ocasionar diversas
modificações.
Os impactos do desenvolvimento turístico sobre o patrimônio natural e cultural são
percebidos em âmbito local, regional, nacional e internacional. A intensidade das
transformações positivas e negativas pode apresentar-se nesses diferentes níveis. Em alguns
casos, os impactos não são relevantes e, em outros, comprometem as condições de vida ou a
atratividade das localidades turísticas. (RUSCHMANN, 2001)
O turismo depende da utilização e da apropriação dos recursos naturais e das
sociedades locais. Os exemplos de degradação ambiental decorrente do turismo são
abundantes. A atividade turística, ao longo dos anos intensificou esses efeitos porque “o
turismo é um consumidor específico de recursos naturais, pois estes constituem a base para o
desenvolvimento da atividade turística” (STANKOVIC, 1991 apud OMT, 2001, p.227).
Os empreendedores turísticos passam a investir em medidas preservacionistas, além de
realizarem uma melhoria na infra-estrutura, o que de certa forma traz benefícios ambientais.
Segundo Lickorish e Jenkins (2000, p. 121) “O turismo funciona como incentivo para 'limpar'
o meio ambiente como um todo através do controle do ar, da água, da poluição sonora, de
problemas com o lixo e outros [...]”.
Se bem planejado, o turismo pode colaborar com a manutenção e melhoria do meio
ambiente de diversas formas. Uma delas é a preservação de importantes áreas naturais como,
por exemplo, os parques naturais, sendo que estes objetivam proteger a fauna e a flora, que
muitas vezes constituem um admirável atrativo turístico. Também pode se perceber que com
o turismo há uma valorização do contato do homem direto com a natureza, levando a uma
utilização mais racional dos espaços naturais. Tendo em vista a importância do meio natural
para o turismo apóia-se medidas de conservação da qualidade ambiental, já que o entorno
natural tem real valor para a atividade turística.
49
A partir da década de 1970, especialistas em turismo intensificaram seus estudos para
a preocupante situação da atividade turística e impuseram limites ao descontrolado
desenvolvimento (RUSCHMANN, 2001). Essa prática tornou-se mais freqüente e
consolidada com a Eco92, no Rio de Janeiro, onde se discutiu questões sobre o
desenvolvimento sustentável, principalmente, de ordem ambiental.
Nesta última década surgiu com mais destaque, a preocupação com os efeitos
negativos de um turismo de massas, principalmente sobre as comunidades mais frágeis,
menos desenvolvidas. Antes disso, o enfoque ficava concentrado nas vantagens dos ganhos
financeiros e do incremento na oferta de empregos para a população local. Por outro lado, tal
atividade também pode ameaçar com a destruição do meio-ambiente, a segregação dos
nativos, a exclusão dos autóctones de todo o processo de planejamento e, em longo prazo, um
amplo confisco sobre a população local (KRIPPENDORF, 1989).
Um grave impacto negativo que pode ser provocado pelo turismo é a poluição Esta
pode ser do ar, como resultado do excesso de tráfego de veículos, produção e consumo de
energia, poeira e sujeira no ar que podem ser geradas em áreas abertas e devastadas; a
poluição das águas, muitas vezes por falta de um sistema de tratamento dos dejetos de
empreendimentos turísticos como hotéis, resorts ou parques de entretenimento; a poluição
sonora através do barulho provocado pelos turistas, motores de veículos e às vezes, por certos
tipos de atrações turísticas muitas vezes são as que mais irritam os moradores locais; e por
fim, a poluição visual ocasionada pela construção de instalações turísticas incompatíveis com
o estilo da arquitetura local ou com o Plano Diretor Municipal, como também a colocação
excessiva de cartazes de publicidade.
A superlotação e os congestionamentos especialmente em atrações turísticas populares
acarretam a sobrecarga nos serviços de infra-estrutura, provocando danos consideráveis ao
meio ambiente e agredindo a qualidade de vida dos moradores locais. Estas situações também
podem causar conflitos entre a população e os visitantes, tendo em vista que os moradores
querem usufruir os equipamentos (já que os mesmos estão em sua cidade), mas precisam
enfrentar filas devido a quantidade de turistas.
Essa procura demasiada por determinados atrativos e equipamentos, muitas vezes,
ocasiona na degradação de locais históricos ou arqueológicos e de monumentos, aliado ao uso
50
abusivo ou mal feito desses locais. Os possíveis danos estarão relacionados com o desgaste e
vandalismo, o furto de peças e a ação dos grafiteiros.
O turismo descomedido pode causar vários problemas ecológicos. O excesso de
visitantes pode contribuir para o desaparecimento de diversas espécies de animais e plantas. O
hábito dos turistas de levar um souvenir (objeto ou artefato local como flores, pedras,
conchas, entre outros) dos lugares naturais visitados causa um efeito devastador.
“A poluição das águas, do ar e os ruídos provocados pelos equipamentos turísticos são
responsáveis pelo desaparecimento de exemplares da fauna e flora das localidades”
(RUSCHMANN, 2001, p. 59).
O mau planejamento na construção de instalações turísticas é outro fator comum no
desenvolvimento turístico que pode ocasionar o deslizamento de terra, inundação e
sedimentação de rios e áreas costeiras, prejudicando seriamente o meio ambiente natural.
Toda atividade turística inclui a utilização de recursos naturais, em conseqüência o
entorno é invariavelmente afetado (OMT, 2001), e para Krippendorf (1989) a situação de
algumas áreas turísticas é preocupante: “o turismo destrói tudo o que toca”. Algumas
localidades mostram sinais de crise e estresse, feita na mudança exigida pela atividade
turística, como na Suíça, por exemplo, a montanha se transformou num lugar congestionado.
Com o aumento das estações de esqui e rotas para caminhadas, acabou por ocasionar graves
problemas de desmatamento e degradação das áreas alpinas.
Existe uma preocupação acerca do processo de degradação do meio, e seu grau de
irreversibilidade. Efetivamente existem limites para a adaptabilidade do meio, os quais devem
ser respeitados a fim de manter o entorno da melhor maneira possível, e segundo Krippendorf
(1989) “a paisagem é a razão da existência do turismo e sua força econômica”.
Em suma a atividade turística fomenta as iniciativas de preservação ambiental de
forma a aspirar a sustentabilidade, permitindo a perpetuação deste fenômeno na região. Sendo
assim, o turismo é uma atividade muito complexa, a qual requer um bom planejamento para
que se desenvolva com sucesso. Portanto, é dever humano à preocupação com os recursos
escassos e, hoje mais do nunca, com o avanço tecnológico. A prática do turismo é
51
inconcebível sem a conscientização social, do planejamento, do desenvolvimento sustentável
e da avaliação econômica dos impactos ambientais, culturais, políticos e outros efeitos
derivados da prática moderna. (LAGE, 2002)
1.5- Sustentabilidade
Na história passada, a definição de desenvolvimento sustentável estava relacionada
somente ao meio ambiente, sobretudo nos países menos desenvolvidos. Isso porque o
desenvolvimento do turismo depende da preservação da viabilidade de seus recursos de base.
Atualmente, seu desenvolvimento abrange a conservação e proteção, não só do meio
ambiente, mas também dos recursos e critérios sócio-culturais e econômicos.
De acordo com a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (apud
RUSCHMANN, 2001, p. 109), o desenvolvimento sustentável é um processo de
“transformações, no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação
da evolução tecnológica e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial
presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”.
A utilização do termo desenvolvimento sustentável passou a ser conhecida e utilizada
mundialmente a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, denominada Eco-92, realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro36.
Segundo Ruschmann e Widmer (2001, p. 67) o turismo sustentável é “aquele que
ocorre em harmonia com os recursos naturais, culturais e sociais das regiões turísticas
receptoras, preservando-os para as gerações futuras”. O conceito de turismo sustentável tem
36 Realizada de 3 a 14 de junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento (também conhecida como Cúpula da Terra ou Eco-92) reuniu 108 chefes de Estado para buscar mecanismos que rompessem o abismo norte-sul preservando os recursos naturais da Terra. As bases para a Eco-92 foram lançadas em 1972, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) organizou sua primeira conferência ambiental, em Estocolmo, e em 1987, quando o relatório “Nosso Futuro Comum”, das Nações Unidas, lançou o conceito de desenvolvimento sustentável. Após negociações marcadas por diferenças de opinião entre o Primeiro e o Terceiro mundos, a reunião produziu a Agenda 21, documento com 2.500 recomendações para implantar a sustentabilidade. Essa carta de intenções foi foco da reunião de Johannesburgo (África do Sul) 26 de agosto a 4 de setembro de 2002, a Rio +10, ou Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, segundo encontro do ONU a discutir o uso dos recursos naturais sem ferir o ambiente. Segundo a organização, cerca de cem chefes de Estado e mais de 15 mil representantes da sociedade civil e de ONGs (organizações não-governamentais) participaram. O evento avaliou o progresso feito na década transcorrida desde a Eco-92 na questão ambiental. (TÖPFER, 2002)
52
sido ligado ao conceito de meio ambiente, mas “também diz respeito ao ambiente cultural e
social, assim como está preocupado com a viabilidade econômica a longo prazo”
(SWARBROOKE, 2000, p. 100).
O desenvolvimento sustentável do turismo visa melhorar a qualidade de vida da
população local e promover melhor qualidade para o visitante, manter a qualidade do meio
ambiente, aumentar a rentabilidade econômica da atividade turística, entre outros. Esse
desenvolvimento sustentável pode trazer benefícios para as gerações presentes sem afetar a
possibilidade de obtenção de benefícios de gerações futuras. Está relacionado,
tradicionalmente, ao meio natural, porém, é muito mais amplo e inclui critérios ambientais,
sócio-culturais e econômicos.
Além dos investimentos sempre necessários para otimização da atividade de turismo, o que deve ser feito realmente na prática é a manutenção de um equilíbrio sustentável entre esta atividade e o desenvolvimento e conservação dos valores naturais e culturais. (BENI, 2000, p. 169)
Para que ocorra um desenvolvimento turístico sustentável, torna-se necessário à
interação de três fatores, que segundo a OMT (2001, p. 247) são:
Sustentabilidade sócio-cultural, preservando a identidade da comunidade e garantindo o
desenvolvimento turístico e preservação da cultura e tradições locais;
•
•
•
Sustentabilidade econômica, assegurando crescimento turístico (empregos, renda, divisas)
eficiente;
Sustentabilidade ecológica, que garante um desenvolvimento turístico compatível com a
manutenção dos processos biológicos.
A sustentabilidade não se aplica apenas aos recursos finitos e ambientalmente ágeis; deve ser também relacionada às comunidades. À medida que o turismo se desenvolve, há a necessidade de se considerar a questão do volume máxima de turistas em um local. Uma comunidade que é assoberbada por turistas provavelmente irá desenvolver uma antipatia e um possível antagonismo em relação aos visitantes, o que ameaça a sustentabilidade do turismo nesse local a longo prazo. (LICKORISH; JENKINS, 2000, p. 235)
O conceito de sustentabilidade relaciona-se a três fatos importantes: qualidade,
continuidade e equilíbrio (OMT, 2001). A intenção do desenvolvimento sustentável é
proporcionar uma melhor qualidade de vida da população, do visitante, aumentar os níveis de
rentabilidade e preservar o meio natural e manter sua viabilidade econômica.
53
A atividade turística por sua complexidade, baseada nos diversos tipos de serviços e
equipamentos que envolvem e por todas as transformações que gera as destinações turísticas,
necessita de um planejamento complexo, a fim de que efetivamente beneficie empresários,
núcleos e setores, comunidades locais e turistas. Segundo Ruschmann e Widmer (2001, p.
67), o planejamento é fundamental e indispensável para o desenvolvimento de um turismo
equilibrado, também chamado de turismo sustentável.
Portanto, o turismo sustentável garante preservação dos aspectos ambientais, os quais
exigem um processo de ocupação espacial e conservação de suas características originais;
recursos naturais que requerem após o tombamento, o restauro e conservação de sua
integridade patrimonial e cultural; recursos histórico-culturais e temático-artificiais, onde se
aproveita o espaço com restrita observância da legislação ambiental. Na íntegra, o turismo é
uma atividade que requer um amplo planejamento, pois é um fator de grande importância para
a preservação do meio ambiente (natural, histórico-cultural, econômico e social) de uma
localidade. Por conseguinte, o turismo sustentável gera muitos benefícios e se incentivado,
pode transformar o desenvolvimento de uma região, tornando-a modelo de qualidade de vida.
Assim, as comunidades que estão iniciando ou buscando o reconhecimento turístico,
devem, sobretudo, preocupar-se com o desenvolvimento sustentável de seus recursos
ambientais, analisando suas três esferas (sócio-culturais, econômicas e naturais), preservando
as características de seu povo e espaço.
O município de Nova Trento, em Santa Catarina, vem despontando cada vez mais no
cenário turístico nacional, devido à parte da vida e obra de Santa Paulina do Coração
Agonizante de Jesus na região. Com a sua beatificação em 12 de outubro de 1991, e agora
mais recentemente a canonização em 19 de maio de 2002 a visitação dos turista-peregrinos no
município aumentou consideravelmente, acarretando diversas modificações na região,
tornando-se assim necessário um estudo do desenvolvimento turístico no município, e suas
conseqüentes transformações sócio-culturais, econômicas e ambientais.
Marcha "Nova Trento"
I Município de Nova Trento eia,
de existência 111 anos sus, celebrar jubilosos anseia
Nova Trento nimbado luz.
II A esta terra de amor e de graça
onde há prata, carvão, ouro e cal, vindo todos de todas as raças
para haurir a riqueza real.
Estribilho Para frente que importa a invernada,
temporais, inclemências e sóis, quem for fraco que fique na estrada, que a vanguarda é lugar dos heróis.
III Rijas pedras são os vossos nervos,
vossos músculos rijos metais, neotrentinos deveis proteger-vos
da preguiça inimigo letal.
IV Ardorosos na faina diária,
operários, colonos e os mais, enfrentando a sorte contrária,
brasileiros em tudo sejais.
Nicolau Bado e Padre Lidivino Santini.
CAPÍTULO II - NOVA TRENTO – ESPAÇO, HISTÓRIA E SOCIEDADE
2.1- Contextualização geo-histórica
O programa de colonização do Sul do Brasil é efetivamente colocado em prática e
alavancada a partir do século XIX, com a chegada de um grande número de imigrantes
alemães. “O período que se iniciou em 1850 com a rearticulação da política de povoamento
do governo imperial provocou o dinamismo demográfico através da imigração mais regular e
constante” (PIAZZA, 1983, p. 259)
Mas o processo de colonização da Província de Santa Catarina teve início ainda
durante o período colonial, quando colonizadores provenientes do arquipélago dos Açores
foram estabelecidos no litoral sul, a partir de 1748. Foi então colonizada a Ilha de Santa
Catarina e parte do litoral catarinense.37
No período regencial (1836), houve uma nova tentativa de colonização, com
imigrantes provavelmente oriundos do Reino do Piermonte e Sardenha, que foram
estabelecidos no vale do Rio Tijucas Grande, numa colônia que recebeu o nome de Nova
Itália. Por falta de apoio e por diversas calamidades a colônia extinguiu-se poucos anos depois
e seus colonizadores ou voltaram para a península italiana ou espalharam-se pelas povoas
litorâneas vizinhas.38
Em 1850, já durante o 2º Reinado, a “Lei de Terras”39, promoveu o processo de
colonização do sul do Brasil, principalmente. Na província de Santa Catarina duas colônias
foram criadas: Dona Francisca, no vale do rio Itapocu e Dr. Blumenau, no vale do rio Itajaí-
Açú, ambas com imigrantes alemães. (PIAZZA, 1983)
37 PIAZZA, 1983 38 PIAZZA, loc. cit. 39 A Lei de Terras de 1850 (nº 601 de 18 de setembro de 1850) tornou a via da posse ilegal, sendo que as aquisições de terras públicas só poderiam ocorrer através da compra, ou seja, só poderiam ser adquiridas por aqueles que tivessem condições de pagar por elas. Um dos objetivos da Lei de Terras foi exatamente impedir que os imigrantes e os trabalhadores brancos pobres, negros libertos e mestiços tivessem acesso à terra. Seu efeito prático foi dificultar a formação de pequenos proprietários e liberar a mão-de-obra para os grandes fazendeiros. Dessa maneira, foi barrado o acesso à terra para a grande maioria do povo brasileiro, que sem opções migrou para os centros urbanos ou tornou-se bóia-fria. Outros continuaram no campo como posseiros, numa situação de ilegalidade, sem direito ao título de propriedade. (PREZIA; HOOMAERT, 2000).
56
Em 1860, o então Governo Provincial fundou a Colônia Itajaí-Brusque, às margens do
rio Itajaí-Mirim com imigrantes alemães, tornando-se a mesma um centro de trocas de
mercadorias, de prestação de serviços e sede de futuras indústrias. (PIAZZA, 1983)
Apesar de apenas parte das terras disponíveis junto à Colônia serem apropriadas para
agricultura, foi grande o número de imigrantes que a Colônia Brusque recebeu. Concluindo-se
que a vinda de imigrantes significou o aumento populacional da Província de Santa Catarina,
justificando a política implementada pelo Governo Imperial para a ocupação e colonização do
sul do Brasil. (GROSSELLI, 1987)
A imigração italiana para a Província de Santa Catarina ocorreu a partir de 1875 com
as primeiras levas de imigrantes, já chegando em fevereiro deste ano e destinando-se a
periferia das Colônias Itajaí-Brusque e Blumenau. Entre 1875 e 1877, a Colônia Itajaí-
Príncipe Dom Pedro (Brusque), recebeu 5.616 imigrantes italianos, especialmente do norte da
Itália e do Trentino, hoje Província Autônoma da Itália, e na época parte do antigo Império
Austro-Húngaro. (PIAZZA, 1983). Na época, Trento pertencia ao Império Austro-húngaro e
era oficialmente denominado Tirol do Sul. Foi como tiroleses, cidadãos austríacos, que muitos
colonos chegaram ao Brasil, embora étnica e culturalmente fossem italianos. “Das províncias
italianas do Vêneto e Lombardia, também situadas no norte italiano vieram imigrantes, além
de alguns alemães e poloneses. Estes dois últimos grupos chegaram mais tarde.” (SANTOS,
1993, p. 46). Estes foram os mesmos distribuídos em lotes coloniais, distando a maioria 20 ou
30 quilômetros da sede colonial. Em Santa Catarina, os italianos foram quase sempre
localizados na periferia das colônias alemãs e longe dos centros consumidores.
Fazendo parte da Colônia Brusque o núcleo colonial de Nova Trento foi criada em
1875 como distrito colonial. Sua sede era próxima do litoral, porém a trinta quilômetros de
Brusque e igual distância da cidade portuária de Tijucas, mas mesmo assim, teve rápido
crescimento, transformando-se em pequeno centro de comércio e serviços. (SANTOS, 1993)
Desde o início de sua implantação houve na Colônia Brusque, a presença de
imigrantes com outra profissão, além da agricultura: alfaiates, tecelões, ferreiros, pedreiros e
carpinteiros. Isso facilitou o desenvolvimento do artesanato e, posteriormente, da indústria.
57
Em 1874, vésperas da expansão do Vale do Rio Tijucas, já havia, em Brusque, duas cervejarias, 22 engenhos de farinha, 18 serrarias, 5 fábricas de charutos, 11 moinhos de fubá e 34 engenhos de açúcar. Em 1876, Brusque tinha 34 fábricas, 9 casas comerciais e muitos artífices. A produção agrícola era exportada pelo porto Itajaí. Sofreria, como todo o Vale do Itajaí e do Tijucas, uma grande enchente e 1880, e, no ano seguinte seria emancipada tornando-se município. O nome já consagrado, Brusque, seria dado em 1890, quando já possuía algumas indústrias de fiação, que se transformariam na marca do município. (SANTOS, 1993, p. 43-44)
A grande colônia, após sua emancipação daria origem a outros municípios, e seu
comércio e indústria influenciaram decisivamente outros centros, firmando-se como centro
polarizador de todo o Vale do Rio Itajaí-Mirim e de parte do Vale do Tijucas.
Tendo recebido, também, outros grupos étnicos, inclusive luso-brasileiros, Nova
Trento teve os trentinos como grupo majoritário. Embora ligada à Colônia Brusque, teve por
algum tempo uma ligação mais forte com Tijucas, por onde saía a maior parte de sua
produção, representada pela madeira e gêneros alimentícios. A relativa proximidade de
algumas linhas coloniais, a riqueza vegetal e existência do rio Tijucas e seus afluentes como
meio de transportes cooperaram para que a história econômica neotrentina fosse diferente das
outras colônias.40
Os primeiros imigrantes que chegaram, encontraram muitas dificuldades como o clima
hostil e a vegetação desconhecida, animais selvagens e o perigo constante representado pelos
bugres (índios), que viviam nas terras destinadas agora à colonização.41
Os recém chegados, pela Lei de 1867 que regulamentava as colônias, tinham direitos a
auxílios e participação em obras, como abertura de estradas, onde recebiam, em ambos os
casos, algum dinheiro que era, por vezes, o único que se pode classificar como renda, pois os
produtos agrícolas nos primeiros tempos quase não tinham valor comercial, por falta de quem
os comprasse. (GROSSELLI, 1987)
Entretanto, mesmo diante das dificuldades, esses imigrantes trouxeram consigo muita
união e companheirismo familiar. A figura 3 retrata uma típica família de imigrante italianos
no município de Nova Trento, no final do século XIX, quando as festas de família e
religiosas eram formas de reunir os amigos e familiares.
40 SANTOS, 1993. 41 SANTOS, loc. cit.
58
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 3 - IMIGRANTES DESBRAVADORES
Algumas linhas do novo distrito colonial de Nova Trento, por vezes, identificaram a
origem de seus primeiros ocupantes. Lombardia, Valsugana, Vígolo ou Vigolane e Trento são
exemplos. O distrito experimentou algum progresso já no início, embora isso se desse
simultaneamente à saída e fracasso de alguns colonos. Esse progresso chamou a atenção das
autoridades e, segundo alguns relatórios de Presidentes da Província, o italiano estava
inclusive se integrando mais facilmente que o alemão, ao elemento nacional. Foi emancipada
então em 1881, a Colônia Brusque, com a criação do município desse nome.42
As terras eram na maioria de péssima qualidade e acidentadas, porém, o território de
Nova Trento era rico em madeiras e em quedas d´água e sua sede bem localizada. Sua
distância era cerca de trinta quilômetros de Brusque e a igual distância de Tijucas, centros
comerciais e de serviços mais próximos, foi motivo de disputa entre ambas (Brusque e
Tijucas) principalmente quando se planejou uma estrada ligando a sede do distrito colonial
com Tijucas.43
Os trentinos e os demais grupos de imigrantes e nacionais, além da lavoura, se
dedicaram à extração da madeira. Na agricultura três fenômenos relativos a terra a
influenciaram: sua disponibilidade, o mau uso do solo por técnicas agrícolas primitivas, e a
sua baixa qualidade e grande declividade. As culturas iniciais eram o milho, mandioca e
aipim, arroz, cana e café. Já na passagem do século muitos deixaram suas propriedades e se
42 SANTOS, 1993. 43 SANTOS, loc. cit.
59
dirigiam para outros municípios ou para fora do Estado em busca de melhores terras. O
comércio, a indústria nascente e as ações políticas tiveram em Nova Trento uma liderança
definida: os comerciantes.
Em 1876, um ano após a criação do distrito colonial instalou-se na sede Henrique
Carlos Boiteux, erigindo uma casa comercial na confluência dos rios Alferes e do Braço.
Boiteux era comerciante em Tijucas e tinha sido comerciante também na capital Desterro.
(SANTOS, 1993)
Boiteux, logo, não estava só, pois alguns imigrantes, atingindo a condição de comerciantes, logo estavam exercendo papel de expressão no novo distrito, como Francisco Vale, Francisco Gotardo, dentre outros. Inicialmente tiveram que travar uma disputa com Brusque, centro de trocas com uma estrutura comercial mais antiga e interligada ao sistema de importação-exportação, então dominante na Província. Na década de noventa, após o estreitamento de uma maior articulação com Tijucas e Desterro, sem que se quebrasse totalmente a influência de Brusque, tornaram-se, os negociantes uma verdadeira elite no que rivalizavam com os padres jesuítas, presente desde o início em Nova Trento, e possuidores de forte influência junto à população. (GROSSELLI, 1987, p. 490)
Em 1884, pela Lei provincial n° 1074, houve a elevação de Nova Trento a Distrito de
Tijucas. Em 1886, no setor industrial Nova Trento já exportava vinho e eram feitas
experiências com a criação do bicho da seda. Ambas as atividades tiveram início promissor. O
município chegou a ser o principal produtor catarinense de vinho daquele século e um dos
primeiros a possuir energia elétrica no Estado. (BOITEUX, 1998)
Já no período republicano, em 1890, ano da abertura da estrada para Tijucas,
comerciantes solicitaram a criação do município, para o que muitos imigrantes requereram a
nacionalização. Em 8 de agosto de 1892, deu-se, a emancipação, pela Lei Estadual n° 36.
(GROSSELLI, 1987)
Os comerciantes44 foram os grandes incentivadores pela abertura de estradas e também
os responsáveis pela emancipação política do município e os primeiros a tentar implantar
indústrias. Eles eram os intermediários entre o colono, produtor de bens primários e os
exportadores. Os comerciantes locais estavam ligados a Tijucas ou Brusque e estas, a outros
centros maiores. (SANTOS, 1993)
44 Benjamin Galotti, Henrique Carlos Boiteux e alguns imigrantes como Francisco Valle, Francisco Gotardo, entre outros.
60
O progresso neotrentino, mesmo com a saída de muitos colonos devido inúmeras
dificuldades, prosseguiu depois do início do século seguinte, quando algumas terras ocupadas
já apresentavam sinal de esgotamento. Houve, na época, uma grande crise na agricultura, sem
mercado para seus produtos, mais isso se devia a uma crise geral no país, que durou até
1906.45
Nova Trento, em 1907, tinha 7 das 11 fábricas de vinho catarinenses além de uma de
vinho de frutas, uma cervejaria e uma fábrica de seda.46
A fábrica de fiação e tecelagem de seda pertencia às freiras da Imaculada Conceição, com capital de dez contos de réis (Rs 1:000$000), que, manualmente, fabricavam meias e peças de seda, empregando nove pessoas e produzindo no ano 3.0000 m de tecidos de seda e 108 dúzias de pares de meias. As mesmas religiosas tinham na época, uma fábrica de vinho. A produção da fábrica das irmãs era pequena se comparadas com as fábricas de tecidos e roupas de algodão situadas em Joinville, Blumenau, Brusque e outras cidades.47
Na figura 4, pode-se observar o centro da cidade de Nova Trento em 1910, com a
Praça Getúlio Vargas e ao fundo à direita a antiga Igreja Matriz de São Virgílio,
posteriormente demolida.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 4 - CENTRO DE NOVA TRENTO EM 1910
Em 1911 havia dois distritos em Nova Trento: o da sede e o da Aliança, criado em
1895. No censo de 1920 consta, também, o Distrito Esteves Júnior, que era disputado por 45 SANTOS, 1993. 46 SANTOS, loc. cit. 47 Ibid., p. 54.
61
Tijucas. Em 1923 Esteves Júnior passa a integrar o município de Tijucas. Dez anos mais
tarde, o município era formado pelos Distritos da Sede, Aliança e Vargedo, este último criado
em 1931 com o nome de João Pessoa, sendo o distrito mais distante da sede (111
quilômetros). Aliança teve o nome mudado para Nova Aliança e depois para Claraíba. Por
decreto de 1943, foi criado o Distrito de Aguti, que teve inicialmente, o nome de Cotia,
desmembrado da sede. Pelo desmembramento do distrito de Vargedo, em 1962, foi criado o
município de Leoberto Leal. (SANTOS, 1993)
A figura 5 demonstra os três distritos atuais do município de Nova Trento: Distrito
Sede, Distrito Claraíba e Distrito de Aguti.
ESCALA GRÁFICA*
3 Km 0 3 6 Km
* Elaborada pela autora
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002 (adaptada pela autora)
FIGURA 5 – DISTRITOS DE NOVA TRENTO
Em 1919 foi instalada a primeira usina elétrica do município, aproveitando-se a queda
d´água do Ribeirão Alferes, na sede municipal. A figura 6, de 1925, apresenta a imagem das
calhas d’água construídas para desviar parte da água do Ribeirão Alferes para fábricas que se
estabeleciam na região. A iniciativa foi de um empresário de Brusque, que também tinha
negócios em Nova Trento. A cidade estava, assim, entre as primeiras a dispor de eletricidade
no Estado.
62
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 6 – RIBEIRÃO ALFERES EM 1925
O Centro da cidade, em 1926, pode ser analisado na figura 7, ilustrando ao fundo à
direita e com vista lateral a antiga Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que posteriormente foi
demolida. Pode-se perceber também a formação espacial do centro da cidade e algumas
construções comerciais já existentes.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 7 - CENTRO EM 1926
Em 1932 instalou-se no município a primeira indústria têxtil, filial da Fábrica de
Tecidos Renaux S/A. de Brusque. A figura 8, abaixo, demonstra a construção da antiga
Fábrica Renaux, localizada em Nova Trento que posteriormente foi derrubada.
63
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 8 - FÁBRICA RENAUX EM NOVA TRENTO
Na figura 9 tem-se a vista parcial do centro de Nova Trento em 1935. Observa-se
também, a antiga Ponte de Ferro, desaparecida posteriormente, e a Igreja Matriz de São
Virgílio.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 9 - CENTRO EM 1935
O período de 1920 a 1940 foi considerado de grande crescimento para o município.
Houve substancial aumento na área agrícola plantada, embora o investimento em
equipamentos e técnicas fossem praticamente nulo no período. (SANTOS, 1993)
64
A vista do centro da cidade no ano de 1943, possibilita a observação, através da figura
10, ao fundo a nova Igreja de São Virgílio que foi construída no lugar da Igreja do Sagrado
Coração de Jesus. No canto inferior direito nota-se a primeira Igreja Matriz de São Virgílio.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 10 - CENTRO EM 1943
Embora a cidade tenha até sido considerada, na década de 40, como centro de serviços
e classificada como industrial, graças à sua indústria têxtil e algumas fecularias, o município
perdeu muitos habitantes, que saíram em busca de melhores terras ou oportunidades.48
Transformações ocorreram no comércio, que se diluiu em inúmeros estabelecimentos pequenos, ao tempo que as tradicionais casas desapareciam.[...] Mudanças na estrutura econômica nacional, com reflexos no Estado, somando-se às causas endógenas, como contínuo aumento vegetativo da população, causaram transformações nas micro-economias. Mudaram os sistemas de transportes, com o advento do caminhão, e o aprimoramento das técnicas de produção se impôs. Nova Trento não acompanharia o ritmo dessas mudanças, pois sua agricultura, o setor que mais empregava sua população, não se desligou das técnicas primitivas e pouco produtivas, o que, aliado a um solo infértil, erodível e montanhoso, trabalhado em pequenas glebas por famílias não pequenas, não poderia apresentar outros resultados, a médio e longo prazos, que não o esgotamento, embora a curto prazo, na década seguinte, houvesse uma pequena reação.49
48 SANTOS, 1993. 49 Ibid., p. 57.
65
De 1940 a 1950 percebeu-se um aumento no número de comerciantes. Entretanto, não
houve uma grande ascensão na atividade comercial, já que “o capital registrado de cada um
era diminuto, bem como era pequeno o número de pessoas empregadas”.50
Na década de 1950, as atividades agrícolas prosperaram “o pessoal ocupado na
lavoura, bem como a área plantada e o número de propriedades agrícolas, aumentaria. Houve
também maior investimento em equipamentos agrários”51; e o setor industrial tenderia a
estabilizar-se e o comércio praticamente encerraria a fase dos grandes comerciantes ligados a
exportação de bens primários.
Na década de sessenta houve pouca mudança na estrutura econômica neotrentina. A
maior fábrica da cidade, têxtil, fechou suas portas, provocando o desemprego. Na agricultura
houve uma pequena reação devido a maiores investimentos em equipamentos.52
A figura 11 demonstra a primeira churrascaria de Nova Trento, fundada em 1964,
ainda em funcionamento, porém, em novo prédio.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 11 - PRIMEIRO RESTAURANTE
50 SANTOS, 1993, p. 58. 51 SANTOS, loc. cit. 52 Cf. SANTOS, 1993.
66
O primeiro hotel-pousada de Nova Trento, figura 12, localizava-se junto a Praça
Getúlio Vargas, no centro da cidade. A construção foi demolida posteriormente.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 12 - PRIMEIRO HOTEL-POUSADA
A população total de Nova Trento, no entanto, teria crescimento muito abaixo da
média catarinense, demonstração de que não houve um crescimento econômico capaz de
absorver o contingente da força de trabalho neotrentina que aumentava a cada ano. (SANTOS,
1993)
Possui atualmente uma população de aproximadamente 10.000 habitantes, sendo
4.833 homens e 4.536 mulheres totalizando 9.369 habitantes de acordo com o senso do IBGE
de 1996 (IBGE, 2003). Em 200053 foi publicado como população urbana, 6.674 habitantes,
correspondendo aproximadamente 68%; e 3.179 habitantes na zona rural, referente a 32% da
população total do município.
As figuras 13 e 14 apresentam imagens do município de Nova Trento no ano de 2002,
possibilitando a observação da formação espacial do centro da cidade. São possíveis observar
na figura 13, a Igreja Matriz de São Virgílio (fundos) e a estrutura urbana da cidade, como
também a área natural, característica de Nova Trento.
53 IBGE, 2003.
67
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 13 – CENTRO DE NOVA TRENTO EM 2002
Na figura 14 tem-se a visão lateral da igreja na parte superior direita.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 14 – CENTRO DE NOVA TRENTO EM 2002 – IMAGEM LATERAL
68
Nova Trento situa-se no Vale do Rio do Braço (afluente do Rio Tijucas – um dos
principais rios formadores da bacia hidrográfica do Estado de Santa Catarina), que apresenta
como seus principais afluentes, no município, na margem direita, Rio Veado ou Trombudo,
Ribeirão Pitanga, Ribeirão Bonito e Ribeirão da Velha; na margem esquerda, Rio Capivaras,
Ribeirão Reginaldo, Ribeirão do Salto e Rio Alferes. As principais cascatas são: Indaiá, São
Valentin, Agutí, Ribeirão da Vasca e Monte Baron.54
O município possuindo uma área total de 431 Km², sendo 3.948 Km² na área urbana e
391.52 Km² na área rural; localizando-se a 30 metros do nível do mar. O clima é subtropical,
tendo no verão uma média de 24º C e no inverno 14º C, sendo a temperatura média anual de
19,9ºC, mantendo uma umidade constante do ar.55
Nova Trento encontra-se em posição geográfica privilegiada no Estado, conforme
figura 15, pertencente à Região Metropolitana da Grande Florianópolis, que de acordo com o
Artigo 7º da Lei Estadual nº 6063 de maio de 1982, é formado por vinte e dois municípios.
São eles: Florianópolis, São José, Biguaçu, Governador Celso Ramos, Tijucas, Canelinha, São
João Batista, Nova Trento, Leoberto Leal, Major Gercino, Antônio Carlos, Angelina, São
Pedro de Alcântara, Alfredo Wagner, Rancho Queimado, Anitápolis, Águas Mornas, São
Bonifácio, Santo Amaro da Imperatriz, Paulo Lopes, Garopaba e Palhoça. Nova Trento
equivale a 6,07% do total da área da Grande Florianópolis. Na região encontram-se fortes
representantes estaduais dos três setores produtivos da economia.56
54 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, 2002. 55 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, loc. cit. 56 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, loc. cit.
69
Fonte: IPUF, 2003; Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002 (adaptada pela autora, 2003).
FIGURA 15 - MAPA DE PROJEÇÃO DA LOCALIZAÇÃO DE NOVA TRENTO
A cidade de Nova Trento limita-se ao norte com os municípios de Botuverá e Major
Gercino; ao sul com os municípios de Major Gercino e São João Batista; ao leste com os
municípios de Canelinha e São João Batista; ao oeste com o município de Leoberto Leal e
Vidal Ramos, conforme figura 16.
10 K
Fonte: Bela Santa Catarina, 2003 (adaptada pela autora, 200
FIGURA 16 - MAPA DOS LIMITES DE NOVA TR
ESCALA GRÁFICA* m 0 10 20 Km
* Elaborada pela autora
3).
ENTO
70
A economia do município apresenta segmentos nos três setores de produção. No setor
primário a agricultura contribui com 30% da produção, predominando propriedades com área
de 30 hectares. As principais culturas produzidas são: fumo, mandioca, milho, feijão, uva,
banana, pêssego, laranja, amora. Na pecuária existem pequenos rebanhos de bovinos e suínos.
No setor secundário a participação é de 40%. Na construção civil são gerados
aproximadamente 800 empregos, a indústria (80 empresas) com 1000 empregos distribuídos
nos setores de calçado, vestuário, mobiliário, metal mecânico, eletrônicos, fogos de artifício e
produção de vinhos. Já no setor terciário o comércio e a prestação de serviços contribuem
com 30% do PIB – Produto Interno Bruto. São 205 estabelecimentos comerciais gerando
1000 empregos e 115 empresas prestadoras de serviços.57
A infra-estrutura básica em relação ao abastecimento de energia, há rede em todo o
município; de água, o município possui seu próprio serviço com manancial do tipo nascente,
com água tratada para a Sede e algumas localidades, não atendendo todo o município. Não
possui serviço de coleta de esgoto, possuindo apenas fossa séptica na Sede e algumas regiões
da cidade. A limpeza pública é regulamentada por legislação municipal tendo como entidade
responsável à própria Prefeitura. No entanto, a coleta do lixo ocorre apenas na Sede e algumas
regiões. Entretanto, o município possui licenciamento ambiental para o fim do mesmo.58
Os serviços de comunicação ocorrem através de correios, telefonia/DDD, telefonia
celular, jornais/revistas locais. O serviço de transporte interno é por ônibus e táxi. Os serviços
de saúde são prestados no hospital (um) e nos postos de saúde (cinco). Os serviços de
segurança pública do município são prestados pela Delegacia de Polícia e Defesa Civil;
referente ao trânsito local, há o DETRAN (Departamento de Trânsito) na cidade.59
Quanto à localização o município também se encontra favorecido, pois está próximo
ao litoral catarinense, e das cidades de Florianópolis (capital do Estado) e Balneário
Camboriú, as destinações com maior fluxo turístico no Estado. O quadro 2 demonstra a
distância dos principais pólos emissores de turistas nacionais.
57 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, 2002. 58 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, loc. cit. 59 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, loc. cit.
71
Cidade Km
Balneário Camboriú 55 Blumenau 66 Brusque 26 Curitiba 300 Florianópolis 75 Itajaí 67 Joinville 150 Porto Alegre 550 Rio de Janeiro 1020 São Paulo 700
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
QUADRO 2 - DISTÂNCIA DOS PRINCIPAIS PÓLOS EMISSORES DE
TURISTAS NACIONAIS
Nova Trento vem se destacando cada vez mais no cenário nacional, recebendo turistas
de todo o País, principalmente dos estados vizinhos Rio Grande do Sul e Paraná, como
também de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. Entretanto, o núcleo emissor
central é o estado de Santa Catarina, de várias cidades.
Há, atualmente, uma pequena parcela de turistas internacionais que se deslocam ao
Estado de Santa Catarina para o município de Nova Trento como destino principal. Acredita-
se que este fato deve-se pela falta de divulgação no exterior. Os turistas internacionais que
visitam Nova Trento são incentivados pela divulgação existente ns hotéis e postos de
informações turísticas dos municípios próximos como Balneário Camboriú, Brusque e
Florianópolis. O quadro 3, abaixo, demonstra a distância dos principais pólos emissores de
turistas internacionais.
Cidade Km
Assunção 1165 Buenos Aires 1770 Montevidéu 1593
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
QUADRO 3 - DISTÂNCIA DOS PRINCIPAIS PÓLOS EMISSORES DE
TURISTAS INTERNACIONAIS
72
As principais rodovias de acesso à Nova Trento, conforme a figura 17, são a BR-101 e
a SC-411.
FIGURA 17 –
Quanto ao
aeroportos: Aero
Navegantes, em N
Os turistas
Paraguai e Urug
freqüentemente pa
A figura 1
seqüência, o quad
capital do estado F
ESCALA GRÁFICA*
60 Km 0 60 120 Km
* Elaborada pela autora
Fonte: Guia Informe, 2003 (adaptada pela autora, 2003).
MAPA RODOVIÁRIO E AÉREO DA REGIÃO DE NOVA TRENTO
acesso aéreo, de acordo com a figura 17, o Estado dispõe de três
porto Internacional Hercílio Luz, em Florianópolis, Aeroporto de
avegantes e Aeroporto de Joinville, na cidade de Joinville.
estrangeiros que mais visitam o Estado provêem dos países da Argentina,
uai. Estes turistas geralmente hospedam-se em cidades balneárias, mas
sseiam pelos municípios mais próximos.
8 apresenta as principais linhas aéreas brasileiras e dos países vizinhos, e na
ro 4 demonstra o tempo, em horas de vôo, das principais linhas aéreas à
lorianópolis.
73
F
A popula
usos e costumes
italiana também
ESCALA GRÁFICA*
660 Km 0 560 1120Km
* Elaborada pela autora
Fonte: Bela Santa Catarina, 2003.
IGURA 18 – MAPA DAS PRINCIPAIS LINHAS AÉREAS
Cidade Hora
São Paulo 1:00 Curitiba 0:35 Porto Alegre 0:45 Brasília 3:30 Foz do Iguaçu 2:25 Assunção 3:25 Buenos Aires 2:15 Montevidéu 1:50 Santiago 3:40
Fonte: Bela Santa Catarina, 2003.
QUADRO 4 – TEMPO DE VÔO À FLORIANÓPOLIS
ção neotrentina é identificada, em todo Estado, pela forte preservação dos
ligados a sua etnia de origem. É possível perceber a importância cultural
na bandeira e no brasão do município, conforme figura 19.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 19 – BANDEIRA DE NOVA TRENTO
74
A Lei Municipal nº 397, de 30 de novembro de 1968, sancionada pelo então Prefeito
Municipal de Nova Trento, Sr. Pedro Piva Júnior, instituiu o Brasão do Município em
decorrência do projeto de lei encaminhado pelo Presidente do Poder Legislativo, o então
Vereador Sr. Eurides Battisti. A Lei nº 397 definia ficar a critério da Câmara Municipal, a
escolha das cores e o significado do mesmo. Na época, a Câmara Municipal abriu um
concurso para eleger o Brasão que representaria o Município. Na figura 20 pode ser
observado o brasão do município e o quadro 5 apresenta o significado de cada símbolo
utilizado no brasão. (PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, 2002)
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 20 - O BRASÃO DO MUNICÍPIO DE NOVA TRENTO
Símbolo Significado
Torreão (4 Torres): simboliza o Ducado Italiano da época da imigração.
Sol no Azul: o azul representa o céu e o sol retrata a riqueza, a liberdade, e o esplendor dos novos horizontes tão almejados pelos imigrantes italianos.
O Vermelho, o Báculo e o cacho de uvas: o vermelho representa o martírio do padroeiro São Vigílio; o sacrifício, o arrojo e a coragem dos imigrantes. O báculo representa o Bispado de Trento - Itália, cujo Padroeiro é São Vigílio; a mesma fé da cidade de origem e a formação católica da colônia. O cacho de uvas no báculo, simboliza a vinicultura.
O Verde e o Arado: o verde representa a esperança e as matas. O arado, simboliza a inclinação agrícola do município.
A Faixa Amarela: o nome do Município e a data da colonização – 1875.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
QUADRO 5 – SÍMBOLOS DO BRASÃO
75
Nova Trento apresenta grande destaque por sua história e colonização por imigrantes
trentino italianos. A comunidade neotrentina identifica-se pela forte preservação dos usos e
costumes e principalmente pela religiosidade.
A cidade apresenta um importante acervo cultural voltado à religião, como as igrejas,
capitéis e outras edificações de significado para o patrimônio histórico e cultural. Entretanto,
muitas das primeiras construções do município foram desaparecendo ao longo do tempo.
A figura 21, abaixo, apresenta a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, demolida, onde
hoje está a Igreja Matriz de São Virgílio. Mais ao fundo o Hospital Nossa Senhora Imaculada
Conceição também pode ser observado.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 21 - IGREJA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
A figura 22 apresenta o término da construção da Igreja Matriz de São Virgílio, com
os andaimes sendo retirados.
76
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 22 - IGREJA MATRIZ DE SÃO VIRGÍLIO
Há diversas capelas localizadas em diversos locais do município. No quadro 6, abaixo,
se perceber a data da criação e o padroeiro das capelas de Nova Trento.
Padroeiro (a) Localidade Criação
1. Nossa Senhora de Lourdes Vígolo 1880 2. Imaculado Coração de Maria Morro da Onça 1910 3. Santo Anjo da Guarda Indaiá 1910 4. Sagrado Coração de Jesus Veado 1926 5. São Valentim Rio do Braço 1929 6. São Caetano Alto Salto 1930 7. São Paulo Aguti 1941 8. Sant’Ana Ferreira Viana 1947 9. Santo Estanislau Valsugana 1947 10.Nossa Senhora do Rosário Trombudo 1947 11.Sagrada Família Baixo Pitanga 1947 12.São Sebastião Lageado 1955 13.Santa Luzia Ribeirão Bonito 1956 14.Santo Inácio Alto Pitanga 1956 15.São Francisco Xavier Corridas 1957 16.Santos Mártires Riograndenses Frederico 1957 17.Santo Isidoro Serraval 1962 18. São José Claraíba * 19. São Roque Rua do Salto * 20. N. S. do Perpétuo Socorro Ponta Fina Sul *
* Não divulgado. Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
QUADRO 6 - CAPELAS DE NOVA TRENTO
77
O município possui como grande diferencial à presença de dois santuários: o Santuário
de Nossa Senhora do Bom Socorro, no Morro do Bom Socorro e o Santuário Santa Paulina,
no Bairro de Vígolo, ambos próximo ao Centro de Nova Trento, conforme apresentado na
figura 23, abaixo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002 (adaptada pela autora)
FIGURA 23 – MAPA DE NOVA TRENTO E OS SANTUÁRIOS
A figura 24, de 1970, demonstra a vista aérea do Morro da Cruz com 525 m de altura.
Tem-se toda a visão do Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 24 - MORRO DA CRUZ EM 1970
ESCALA GRÁFICA*
3 Km 0 3 6 Km
* Elaborada pela autora
78
A figura 25, abaixo, também apresenta o Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro,
com a vista aérea do Morro da Cruz, em 1976, quando se comemorava aniversário e
alargamento da estrada. O morro é também mirante para a cidade e o Vale do Rio Tijucas.
Fonte: MARQUES, 2000
FIGURA 25 - MORRO DA CRUZ EM 1976
O Bairro de Vígolo no início do século passado é apresentado na figura 26, abaixo. No
lado esquerdo pode-se observar a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, construída em 1876
pelos primeiros imigrantes, local que, posteriormente, tornou-se o principal destino turístico
no município – Santuário Santa Paulina. Como se pode observar, predominava na área a mata
e clareiras onde se praticava a agricultura.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 26 – VÍGOLO NO INICÍO DO SÉCULO XX
79
A figura 27, abaixo, também apresenta o Bairro de Vígolo, especificamente o
Santuário Santa Paulina. A imagem retrata o dia da canonização da Santa, 19 de maio de
2002, data em que a pequena Vígolo recebeu mais de 100 mil visitantes. É possível observar o
restaurante da CIIC – Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e a Igreja Nossa
Senhora de Lourdes na parte inferior esquerda e o estacionando para abrigar os ônibus e
carros dos visitantes.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 27 – VÍGOLO EM 2002
Vígolo foi cenário de parte da vida e obra da jovem Amábile Lúcia Visintainer, hoje
Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, e local de fundação da Congregação das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição.
2.2- Santa Paulina – Da imigração à canonização
Amábile Lúcia Visintainer, segunda filha do casal Napoleone Visintainer e Anna
Pianezzer, nasceu em Vígolo Vattaro, diocese de Trento, norte da Itália, no dia 16 de
dezembro de 1865. Foi batizada no dia seguinte ao nascimento, de acordo com o costume da
época.
80
Com 8 anos a menina já ajudava os pais no trabalho da “filanda” (fiação de seda),
atividade comum na região trentina, e também cuidava da avó doente.
Em 1875 a família de Napoleone Visintainer emigrou para o Brasil com cinco filhos,
entre eles Amábile que contava 9 anos de idade. Para o grupo trentino foram destinadas terras
para colonizar na província (hoje estado) de Santa Catarina, ao Sul do Brasil.
O grupo percorreu, a pé, em mata fechada, cerca de 25 km, até chegar ao local
destinado, Vígolo. Porém, antes chegar, eles passaram 3 meses em Brusque, onde haviam
aportado e aguardavam o que o governo brasileiro lhes havia prometido: trabalho e terras.
(DIÁRIO CATARINENSE, 2002)
Com a fundação do núcleo colonial Nova Trento no Vale do Rio Tijucas, pequenos
povoados foram surgindo ao redor da vila, recebendo nomes em homenagem às terras
deixadas na Itália, como: Vígolo, Bezenello e Valsugana. (SANTA CATARINA, 2002)
O nome Vígolo foi dado à localidade em homenagem à região italiana de onde o grupo
veio. Na região de Vígolo Vattaro, no Norte da Itália, o relevo também é bastante acidentado
e o clima úmido. Essas semelhanças, mais a saudade que sentiam do país de origem, foram
determinantes para que batizassem o local.60
Religiosamente, a região de Nova Trento era confiada ao Pároco de Brusque, região de
colonização alemã, mas em 1879, por causa da presença dos imigrantes italianos foi confiada
aos padres jesuítas da Província Romana que já exerciam atividades missionárias no local.
Nessa época Amábile, com aproximadamente 12 anos fez a primeira comunhão quando então,
por graça alcançada em seu pedido, aprendeu a ler como por milagre.61. De acordo com
Marques (2000, p. 103) “Amábile [...] prometeu nunca em sua vida fazer leituras profanas se
conseguisse aprender a ler. E no dia de sua Primeira Comunhão estava lendo.”
Recém chegado em Nova Trento, o padre Augusto Servanzi, Superior da Residência
Paroquial, confiou a Amábile, com apenas 15 anos, e a uma amiga, Virgínia Rosa Nicoldi, a
60 DIÁRIO CATARINENSE, 2002. 61 Ibid., p. 4.
81
limpeza da capela São Jorge de Vígolo, o ensino do catecismo às crianças e a visita aos
doentes. (DIÁRIO CATARINENSE, 2002)
Durante dez anos Amábile cumpriu as funções recebidas do Padre Servanzi, sendo que
em 1887, com a morte da mãe, teve que desempenhar também as funções da casa e da família
(pai e sete irmãos, três muito pequenos, nascidos no Brasil). (MARQUES, 2000)
Em julho de 1890, iniciou sua missão religiosa. Com a ajuda da amiga Virgínia
Nicolodi. As jovens decidiram cuidar de Ângela Lúcia Viviani, com câncer em estado
terminal, e para isso precisaram deixar suas casas.
Em 1890, uma mulher idosa e doente de câncer veio do Salto (outra localidade de Nova Trento) visitar sua filha no Vígolo. Já em estado grave e impossibilitada de voltar para casa, permaneceu ali. O genro e a filha queriam interná-la no hospital, mas esse ficava em Desterro (atual Florianópolis). À distância e a falta de recursos para levá-la inviabilizou essa possibilidade. Os familiares, que trabalhavam na roça, alegavam não poder cuidar da idosa [...] Amábile e Virgínia: consoladas e decididas ao sacrifício.62
Para isto, precisavam de uma local para cuidar da doente, e foi então que o Padre
Rossi solicitou a Benjamin Galotti, forte comerciante italiano residente em Tijucas, permissão
para utilizar um casebre de madeira de 24m² de sua propriedade, em Vígolo. Galotti fez a
doação acrescentando um metro de terreno em volta do casebre que logo foi batizado como
“Ospedaletto San Vigilio” (Hospitalzinho São Vigilio). “O hospitalzinho foi início prático do
desejo de seguir a vida religiosa almejada pelas duas moças”.63
A casa tornou-se então a moradia das amigas, e local de encontro entre as mulheres
(crianças, jovens e idosas) de toda comunidade que necessitavam de auxílio.
Numa localidade basicamente de agricultores, aquele hospitalzinho atendia não só doentes, mas também meninas sem mãe e mulheres idosas. Ali se reuniam, ajudavam-se mutuamente e à comunidade. O hospitalzinho virou escola, espaço de oração e catequese – espaço de reunião. O trabalho desenvolvido ali tomou tais proporções que suscitou o investimento dos padres para que aquela instituição fosse levada para o centro do núcleo colonial de Nova Trento. Isso aconteceu em 1894. A pedido dos sacerdotes, o Sr. João Valle e seu sogro Francisco Sgrott, grandes proprietários e políticos locais fizeram a doação do terreno. Os padres, com ajuda dos moradores, coordenaram a construção da nova casa que abrigaria Amábile, Virgínia e Teresa (nova integrante do grupo).64
62 MARQUES, 2000, p. 39. 63 Ibid., p. 40. 64 Ibid., p. 42.
82
Depois de uma semana de retiro espiritual, Amábile, Virginia e Teresa Anna Maule
(amiga de Amábile) fizeram seus votos, numa cerimônia unindo as novas freiras, as noviças e
as Filhas de Maria de Nova Trento e Vígolo no dia 7 de dezembro de 1895. O Padre Rossi
abençoou os hábitos, véus e crucifixos que usariam posteriormente e, conforme o costume da
época, assumiram também um novo nome, fato que incluía uma espiritualidade, uma espécie
de consagração. Amábile tomou o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus;
Virginia passou a ser Irmã Matilde da Imaculada Conceição; e Teresa, Irmã Inês de São José.
Nos três nomes ficaram configuradas as três devoções da nova congregação: Jesus, Maria e
José, a Sagrada Família. (DIÁRIO CATARINENSE, 2002)
Além da leitura de vida de santos, cabia às Irmãs observar cinco virtudes: pobreza, castidade, obediência, caridade e paciência. Acrescentando-se as penitências durante todo o ano (exceto Tempo Pascal e Oitavas das Festas): terças e sextas o uso do cilício por uma hora (exceto aos doentes); quartas e sábados alguma disciplina estabelecida; quartas; sextas e sábados um obséquio no refeitório (tirava-se a sorte quem o faria).65
Após a morte da doente Ângela Lúcia Viviani as amigas decidiram fundar a
Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição CIIC.
A congregação começou na extrema pobreza, pois, as primeiras irmãs, além de cuidar
dos doentes, dos órfãos e dos trabalhos domésticos, ainda tinham que trabalhar na roça e,
posteriormente, na pequena manufatura de seda para sobreviver. Elas levavam uma vida de
trabalho (cultivo e plantio) para se sustentar e para a manutenção da Congregação. Segundo
Marques (2000, p. 103) “Paulina e sua Congregação, mais tarde, dedicaram-se à educação
formal nas escolas, em Nova Trento e em outras cidades, onde o interesse em expandir a ‘obra
de Deus’, que era também da Igreja, as acompanhava”. A autora completa ainda dizendo que:
As Irmãs não viviam só de ‘benefícios’, mas também trabalhavam na manutenção da congregação. Cultivavam roças como meeiras e durante dez anos mantiveram uma fonte de renda própria: a fábrica de seda, chamada filanda. [...]. A seda produzida pelas Irmãs participou de concursos nacionais e internacionais, ganhando medalhas pela qualidade do produto. Com a seda faziam paramentos litúrgicos. O que produziam vendiam para o mercado local e para outras cidades. Madre Paulina foi quem tomou iniciativa de tomar a frente o projeto de montar a fábrica. Ela já tinha experiência com este tipo de trabalho na Itália, bem como alguns colonos que conheciam o cultivo da amoeira e o processo de fabricação da seda. A madre [Santa Paulina] teve apoio dos padres para obter contato com pessoas que trabalhavam com a seda em Brusque [...] e conseguir maquinário necessário.66
65 MARQUES, 2000, p. 52. 66 Ibid., p. 44.
83
A CIIC nasceu sob a direção dos padres da Companhia de Jesus: de 1890 a 1895, o
padre Marcelo Rocchi; de 1896 a 1921, o padre Luiz Maria Rossi; de 1921 ate a morte de
Madre Vicência Teodora- Superiora Geral, o padre Giussepe Gianella. (DIÁRIO
CATARINENSE, 2002)
Em 1903 o padre Luiz Maria Rossi foi transferido de Nova Trento para São Paulo e
constituiu Irmã Paulina a Superiora Geral das duas comunidades: Vígolo e Nova Trento, já
com quase 30 religiosas. No mesmo ano, o padre Rossi chamou Madre Paulina para São
Paulo, confiando-lhe a direção de um orfanato para filhos de escravos abandonados, situado
na colina do Ipiranga. (MARQUES, 2000)
De 1903 a 1909 a sede da congregação, nascida em Vígolo, Nova Trento, passou para
São Paulo sob a direção da Madre Paulina.
Apesar dos conflitos e das relações de poder estabelecidas, o número de ingressas na Congregação das Irmãzinhas era crescente, bem como o processo de expansão. No mesmo ano em que as Irmãs foram para São Paulo, receberam convites para assumir o hospital de Azambuja, em Brusque. Assumiram-no, então, em 1903. Entre hospitais e escolas, as Irmãs foram para: Itajaí, no Estado de Santa Catarina; Bragança Paulista, Itatiba, São Paulo do Pinhal e Aparecida do Norte, no Estado de São Paulo, entre outras cidades, mais tarde. A Congregação da Filhas de Maria foi se espalhando por várias cidades de Santa Catarina e do Brasil, e destas recebendo novas adeptas, levanto ao fortalecimento da instituição. Em 1909, a congregação contava com 52 Irmãs, 6 noviças e 6 postulantes. (MARQUES, 2000, p. 56)
Em 1909, Madre Paulina precisou enfrentar uma dura prova com a qual conviveu até a
morte. De acordo com os registros da CIIC, por artimanhas de uma irmã, sua secretária e
assistente, e pela ingerência de uma bem-feitora, a autoridade da fundadora foi, dia-a-dia,
diminuída.67
Neste mesmo ano, o arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, por
circunstâncias adversas demitiu Madre Paulina do cargo de Superiora Geral da Congregação.
Convocou o Capítulo Geral (Assembléia) das Irmãzinhas da Imaculada Conceição para a
eleição de nova Superiora Geral. Foi imposta à Madre Paulina a condição de não mais poder
exercer cargos de comando em sua congregação.68
67 DIÁRIO CATARINENSE, 2002. 68 DIÁRIO CATARINENSE, op. cit.
84
Após sua demissão do cargo de Superiora Geral, Madre Paulina foi designada para
trabalhar em Bragança Paulista junto a um asilo de idosos, onde permaneceu de 1909 a 1918.
Apesar de estar na condição de súdita, sempre foi tratada como “Veneranda Madre
Fundadora”.69
A nova Superiora Geral, Madre Vicência Teodora da Imaculada Conceição, que
sempre a admirou e respeitou, lhe confiava funções diversas como acompanhar as irmãs em
novas fundações, realizar visitas canônicas às comunidades em seu nome, após ter voltado à
Casa Geral em 1918.70
Seja na vida familiar, na vida religiosa, como fundadora, superiora geral e súdita,
Madre Paulina sempre deu provas de intenso espírito religioso e de heróicas virtudes, sendo
exemplo para as religiosas no serviço aos doentes, aos órfãos, aos idosos, aos educandos, na
aceitação dos sofrimentos físicos e da doença, que a levou à amputação do braço direito.
Madre Paulina faleceu no dia 09 de julho de 1942, estando cega por causa da diabetes
que lhe causou grandes sofrimentos durante toda a sua vida. Suas últimas palavras foram:
“Seja Feita a Vontade de Deus”. Seus restos mortais repousam na Capela da Sagrada Família,
no Bairro Ipiranga, em São Paulo.71
Logo em seguida da sua morte a fama de sua santidade se espalhou entre o povo que
passou a invocá-la em suas necessidades. Os procedimentos em prol do reconhecimento da
santidade de Madre Paulina tiveram início em 1965, 23 anos após sua morte.72
Muitas graças foram alcançadas e em 1988, o Papa João Paulo II proclamou Madre
Paulina como Venerável, uma espécie de reconhecimento da Igreja Católica pelos trabalhos
de caridade que ela desenvolveu.73
69 DIÁRIO CATARINENSE, 2002. 70 DIÁRIO CATARINENSE, op. cit. 71 SANTA CATARINA, 2002. 72 Ibid., p. 3 73 Ibid., p. 3
85
Duas graças alcançadas foram reconhecidas anos depois como milagre por peritos:
médicos, teólogos e cardeais da congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano em
Roma.74
Em 1990, depois de 24 anos de investigação, o Vaticano confirmou a veracidade do
primeiro milagre de Madre Paulina, que aconteceu em 24 de setembro de 1966, no Hospital e
Maternidade São Camilo, na cidade de Imbituba, Litoral Sul de Santa Catarina, e envolveu
Eluíza Rosa de Souza, hoje com 59 anos de idade. Ela foi curada após ter sofrido durante três
meses com um feto morto dentro do útero. Teve hemorragia e parada cardíaca quando foi
submetida a uma curetagem. As freiras da congregação de Madre Paulina, enfermeiras que a
assistiam, colocaram uma relíquia com a foto da “Bem-Aventurada” no peito de Eluíza e
passaram a noite rezando, invocando sua interseção. Ao amanhecer, Eluíza teve cura
instantânea, atestada pelos médicos. Este fato, reconhecido pelo Vaticano como milagre, que
oportunizou o decreto da beatificação de Madre Paulina.75
Em 18 de outubro de 1991, Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus foi
beatificada pelo Papa João Paulo II em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina,
quando visitou pela segunda vez o Brasil.76
O segundo milagre aceito pelo Vaticano aconteceu em 9 de junho de 1992 com a cura
da recém-nascida Iza Bruna Vieira de Souza, na cidade de Rio Branco, capital do estado do
Acre.77. De acordo com o Padre Alécio Azevedo, chamado às pressas para batizá-la:
Iza Bruna nasceu com sérios problemas de saúde: meningoencefalocele, pelo qual provavelmente não sobreviveria mais do que alguns dias. A avó da menina, Zaira de Oliveira, devota de Madre Paulina desde outubro de 1991, sugeriu que todos a invocassem antes da cirurgia a que seria submetida à criança e pedissem a sua proteção. Iza Bruna foi operada no dia 9 de junho de 1992. Tudo corria bem. A criança passou toda a cirurgia com o retrato de Madre Paulina em sua mão que permanecia fechada... No dia seguinte, Iza Bruna acordou. Pouco tempo depois começou a convulsão cerebral, que durou até o fim da tarde. Foi quando decidimos batizá-la... Só que, para nossa felicidade, Iza Bruna renasce outra vez. Depois do batismo ela teve melhoras,... seguidas de melhoras. Ficamos no Hospital por alguns dias... Foram dias de angústias, de preces e de preocupações, pois os médicos disseram que provavelmente ela viria a ser uma criança doente... Graças a Madre
74 SANTA CATARINA, 2002, p. 4. 75 AN ESPECIAL, 2002. 76 Ibid., p. 6. 77 (DIÁRIO CATARINENSE, 2002)
86
Paulina, abaixo de Deus, Iza Bruna hoje é uma criança sadia, normal e perfeita, reage como se nada tivesse acontecido.”78
Hoje em dia a menina continua saudável e perfeita, freqüentando a escola e com uma
vida normal. Foi este milagre de sua cura que a comissão médica aprovou no dia 14 de
dezembro de 2000 em Roma e que os meios de comunicação divulgaram amplamente.
Em 03 de julho de 2001, o Conselho de Cardeais, reunido no Vaticano, reconheceu a
veracidade dos dois milagres de Madre Paulina e remete o Processo de Canonização ao Papa
João Paulo II.
Em 26 de Fevereiro de 2002, em Consistório, o Papa João Paulo II confirmou a
canonização de Madre Paulina. Sua solene celebração foi no dia 19 de maio de 2002, na
Basílica de São Pedro no Vaticano, em Roma, na Itália, em que a Bem-aventurada passou a
chamar-se Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, ilustrada na figura 28. (DIÁRIO
CATARINENSE, 2002)
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 28 - SANTA PAULINA DO CORAÇÃO AGONIZANTE DE JESUS
No Santuário de Santa Paulina, em Vígolo, Nova Trento, pode-se conhecer toda a
história da jovem imigrante, que abraçou a carreira religiosa e fundou a Congregação das
Irmãzinhas da Imaculada Conceição, com Sede Geral em São Paulo, uma ordem que hoje
concentra mais de 600 religiosas presentes em várias regiões do Brasil, atuando também em
seis países latino-americanos e em três africanos.
78 SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A.. O Brasil comemora canonização de Madre Paulina. Disponível em: www.santur.sc.gov.br. Acesso em: 24 mar. 2002.
87
Com isso, o Santuário Santa Paulina juntamente com o Santuário de Nossa Senhora do
Bom Socorro e as demais edificações históricas, tornou o município de Nova Trento como
destinação de visitação de turistas religiosos. A visitação no município sempre ocorreu de
forma espontânea, ou seja, sem a promoção ou divulgação da cidade, e essa procura se deu
após a beatificação em 1991. A cidade não oferecia nenhuma estrutura para receber os
visitantes, que ainda era em número reduzido. A partir deste ano, Nova Trento tornou-se
conhecida regionalmente e iniciou um processo crescente quanto ao número de visitantes.
Então com a canonização de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, em 2002,
o município obteve reconhecimento nacional e internacional, o que aumentou
consideravelmente o número de turistas religiosos.
Mesmo a Secretaria de Turismo de Nova Trento, órgão oficial de turismo municipal,
ainda não desenvolvendo pesquisas de demanda turística, alguns dados são publicados e
oficializados pela Polícia Militar e Civil do Estado, como também, por jornais de circulação
estadual e interestadual, sobre a quantidade de turistas em Nova Trento e em especial no
Bairro de Vígolo (Santuário Santa Paulina).
Assim, divulgou-se que em 19 de maio de 2002 (canonização) o município recebeu
quase 100.000 visitantes, nos dias festas referentes à Santa Paulina (Aniversário da Morte, de
beatificação e de canonização, por exemplo) são em torno de 20.000 visitantes e nos finais de
semana, atinge cerca de 3.000 turistas.
Os números preocupam já que a cidade possui menos de 10.000 habitantes e a
estrutura de recepção e acomodação dos visitantes não evoluiu muito, já que o número de
hotéis e restaurantes ainda é insuficiente e o atendimento sem qualificação.
Esperamos que nesse século 21 e no futuro, o mesmo homem que
habita esse planeta e que convive com tudo que aqui existe, possa adequar
sabiamente os recursos escassos disponíveis para satisfazer suas infindáveis
necessidades, especialmente de viagens e de turismo.
Beatriz Lage, 2002.
CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO EM NOVA TRENTO
3.1- Atrativos turísticos
Por ser cenário de marcante história religiosa e mover uma multidão de fiéis todos os
anos a procura de conforto espiritual, o município de Nova Trento é a segunda Estância
Turística Religiosa do Brasil, de acordo com a EMBRATUR – Instituto Brasileiro de
Turismo.
Nova Trento tem marcantes monumentos que promovem o turismo religioso ligados
tanto a Santa Paulina, quanto religiosidade a seus munícipes.
3.1.1- Histórico-culturais
Os atrativos histórico-culturais são os que mais se destacam no município. Os
principais são:
a) Monumentos Históricos da Vida e Obras de Madre Paulina: compondo o conjunto atrativo
turístico-religioso do Santuário Santa Paulina. A figura 29 apresenta a entrada do Santuário de
Santa Paulina. No local estão dispostos os seguintes bens religiosos:
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 29 - ENTRADA DO SANTUÁRIO DE SANTA PAULINA
90
• Monumento à Casa Paterna: erguido em homenagem aos pais de Santa Paulina, foi
construído no local da casa de seus pais, conforme figura 30.
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 30 - MONUMENTO CONSTRUÍDO SOBRE A CASA DOS PAIS
DE SANTA PAULINA
A obra apresenta um conjunto de cinco painéis pintados em azulejos retratando
episódios da vida de Madre Paulina, de acordo com as figuras 31, 32, 33, 34 e 35.
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 31 - 1º PAINEL COM A HISTÓRIA DA VIDA DE SANTA PAULINA
91
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 32 - 2º PAINEL COM A HISTÓRIA DA VIDA DE SANTA PAULINA
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 33 - 3º PAINEL COM A HISTÓRIA DA VIDA DE SANTA PAULINA
92
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 34 - 4º PAINEL COM A HISTÓRIA DA VIDA DE SANTA PAULINA
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 35 - 5º PAINEL COM A HISTÓRIA DA VIDA DE SANTA PAULINA
A figura 36, monumento a Santa Paulina, apresenta uma exposição também em
azulejos pintados, sobre a vida de santa, como também um oratório.
93
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 36 - MONUMENTO A SANTA PAULINA
• Casebre: réplica do casebre original onde Madre Paulina cuidou de uma cancerosa em
estado terminal, figura 37. A figura 38 expõe o interior da casa.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 37 - RÉPLICA DA CASA DE SANTA PAULINA
94
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 38 - INTERIOR DA RÉPLICA DA CASA DE SANTA PAULINA
• Capela: Capela construída sobre o terreno do primeiro casebre onde Madre Paulina cuidou
da cancerosa, figura 39.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 39 - INTERIOR DA CAPELA DA CIIC
95
• Igreja Nossa Senhora de Lourdes: Construída em 1876 pelos primeiros imigrantes,
inclusive os pais e irmãos de Madre Paulina, figura 40.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 40 - IGREJA NOSSA SENHORA DE LOURDES
As figuras 41 e 42 apresentam o interior da Igreja de Nossa Senhora de Lurdes, e a
primeira imagem de Santa Paulina, respectivamente.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 41 - INTERIOR DO SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DE LOURDES
96
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 42 - A PRIMEIRA IMAGEM DE SANTA PAULINA
• Museu Colonial: Construído em 1996, ao lado do engenho com o intuito de conservar
veículos e instrumentos agrícolas, demonstrado na figura 43.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 43 - MUSEU COLONIAL
• Engenho (original de 1890): nele Madre Paulina trabalhou na sua juventude para o
sustento de suas obras de caridade.
97
• Cenário Vivo: inaugurado em dezembro de 1995, onde maquetes de pequenos bonecos
com movimento retratam a trajetória da personagem ilustre da cidade.
• Arco (Colina de Madre Paulina): inaugurado em 12 de julho de 1992, o Arco é portal de
entrada para o caminho que leva ao alto da colina, visualizado na figura 44.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 44 - PORTAL DA COLINA DE SANTA PAULINA
• Painéis artísticos no caminho para a colina: doze painéis ao longo do trajeto, pintados em
azulejo e fixados por uma moldura de tijolos, dando a impressão de janelas abertas,
contam um pouco da vida de Madre Paulina.
98
• Monumento a Madre Paulina na colina: altitude 200 metros, conforme figura 45. Uma
estátua em bronze, com 3 metros de altura em que a Madre tem em punho uma enxada,
lembrando o primeiro centenário de fundação da Congregação das Irmãzinhas da
Imaculada Conceição.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 45 - MONUMENTO EM HONRA À SANTA PAULINA
99
A figura 46 apresenta o monumento comemorativo a passagem do milênio.
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 46 - MONUMENTO COMEMORATIVO A PASSAGEM DO MILÊNIO
• Vereda da Paz: Fica no alto da Colina, inaugurado em 31 de maio de 1998. Na entrada há
um portal rústico com troncos de madeira, figura 47, com uma trilha em meio a mata, num
percurso de 80 metros, aonde se chega ao oratório.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 47 - VEREDA DA PAZ, NA COLINA DE SANTA PAULINA
100
• Área de passeio: recentemente foi criada uma área livre e aberta propicia ao passeio e a
meditação no Santuário, conforme figura 48 e 49. Esta se localiza atrás da Igreja de Nossa
Senhora de Lourdes, próxima à área, hoje desmatada, do futuro santuário. Há oratórios,
lago, fonte, trilhas e demais áreas arborizadas tornando o ambiente voltado ao descanso.
Fonte: produzida pela autora, 2004
FIGURA 48 – ÁREA DE PASSEIO - ORATÓRIO
Fonte: produzida pela autora, 2004
FIGURA 49 – ÁREA DE PASSEIO - CAPELA
101
Os principais eventos do Santuário Madre Paulina acontecem no 2º domingo de julho
– Festa Litúrgica de Madre Paulina; no dia 18 de outubro – Comemoração de Aniversário de
Beatificação de Madre Paulina, e em 19 de maio – Comemoração de Aniversário de
Canonização de Santa Paulina.
b) Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro: localizado no alto do Morro da Cruz,
distante 5,5 Km do centro, a 525 metros de altitude onde se tem uma vista panorâmica da
região do Vale do Rio Tijucas. Do complexo, destacam-se:
• Capitéis: ao longo do caminho, formam a via sacra.
• Cruz: colocada em 1899 por iniciativa do Padre Jesuíta Luís Maria Rossi. Este teve a idéia
de erguer cruzes nos montes mais altos de Nova Trento, para comemorar a passagem do
século, figura 50. Seu auxiliar, o Missionário Padre Alfredo Russel, prometeu levantar um
monumento à Nossa Senhora do Bom Socorro junto à cruz mais alta. E no dia 13 de julho
de 1901, sobre o Morro da Cruz, o Padre Alfredo Russel benzeu a cruz e o quadro de
Nossa Senhora do Bom Socorro, no lugar onde mais tarde seria erguido um Santuário em
sua homenagem.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 50 - CRUZ NO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DO BOM SOCORRO
102
• Oratório e Sino: marcam a benção da Cruz e o quadro de N.S. do Bom Socorro,
juntamente com a primeira santa missa.
• Igreja Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro: datada de 1912, com capacidade para
500 pessoas, possui uma sala de fotografias de pessoas que tiveram graças recebidas,
conforme figura 51.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 51 - IGREJA NOSSA SENHORA DO BOM SOCORRO
• Mirante: cobertura da parte central da Igreja, com vista panorâmica tendo visão para todas
as direções.
103
• Monumento a Nossa Senhora do Bom Socorro: monumento artístico, figura 52, tendo no
alto, uma estátua com 2,20 m e 700 Kg de constituição metálica e base em bronze, figura
53. Inaugurada em 1912.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 52 - MONUMENTO A NOSSA SENHORA DO BOM SOCORRO
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 53 - ESTÁTUA DE NOSSA SENHORA DO BOM SOCORRO
104
• Depósito de água em forma de cálice: com seis metros de altura, e importante função para
depósito de água.
• Cruz comemorativa ao cinqüentenário: com cinco metros de altura, comemora os
cinqüenta anos do Santuário, conforme figura 54.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 54 – CRUZ DO SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DO BOM SOCORRO
• Restaurante do Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro: construído em 1924. O
restaurante e lanchonete servem comida típica italiana e churrasco na grelha. Tem
capacidade para 250 pessoas. No mesmo prédio, há um pequeno museu com fotografias
antigas, objetos e livros dos primeiros imigrantes e loja de artigos religiosos.
Os principais eventos do Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro ocorrem na 5ª
Feira Santa – Caminhada ao Morro da Cruz (participação de fiéis da Região e Vale do Rio
Tijucas); e no 1º Domingo de maio –Tradicional Festa de N.S.do Bom Socorro, no Morro da
Cruz.
c) Capela Santa Ágata: onde foram realizados os primeiros atos religiosos na sede da
colônia. Foi construída por volta de 1880. A pintura da igreja foi totalmente recuperada
em 1982. Pela Lei Provincial de 1884, foi declarada primeira Igreja Matriz de Nova
105
Trento. Em seu interior existe um valioso quadro com a imagem de Santa Ágata, trazido
pelos imigrantes.
d) Igreja Matriz São Virgílio: dedicada ao padroeiro de Trento. Foi construída em 1942. Está
localizada no Centro da cidade. A figura 46 apresenta a imagem atual da igreja, e na figura
55, apresentada anteriormente, pode-se constatar a igreja em fase de construção.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 55 - IGREJA MATRIZ DE SÃO VIRGÍLIO
e) Calvário: composto por quinze capitéis, doados por famílias de Nova Trento, que formam
via sacra em homenagem a paixão de Cristo. Está localizado no Bairro de Trinta Réis.
f) Centro de Encontros Imaculada Conceição – CEIC: são realizados encontros, retiros e
seminários religiosos da congregação fundada por Madre Paulina. Está localizado no
Centro de Nova Trento. Junto ao CEIC, encontra-se também: a Gruta jazigo - local onde
era um antigo cemitério de 1897, com os corpos de 55 irmãs que fizeram parte da
Congregação. Em frente ao jazigo, está a cruz erguida pelo Pe. Luiz Maria Rossi na
passagem do século em 1900. E a Casa de São José - casa de madeira onde há um pequeno
museu, com objetos pessoais de Madre Paulina, como roupas e a cama onde ela morreu
cega, documentos da Causa da Beatificação de Madre Paulina e objetos que lembram o
início da Congregação.
106
g) Monumento Henrique Boiteux: localizado na Praça Getúlio Vargas. O monumento em
homenagem ao primeiro prefeito da cidade foi inaugurado em 08 de agosto de 1929.
h) Monumento Amábile Visintainer: está localizado no centro de Nova Trento.
i) Oratórios, Capelas e Grutas: num total de 28 dispostas em todo o município. Nestas
encontram-se diversas e raras obras sacras, muitas trazidas da Europa, no período inicial
da colonização, sendo marcos da história da cidade. O município abriga também diversos
capitéis, espécie de minialtares encontrados às margens das ruas. Os capitéis, que medem
cerca de 1m de altura por 1m de largura, estão dispostos em diversos locais de Nova
Trento. Eles foram construídos por famílias locais. Reza a tradição italiana que se construa
minialtares à beira da estrada para que a família, vizinhos e amigos possam se reunir em
momentos de oração.
A figura 56, abaixo, apresenta o oratório São José, primeiro oratório construído pelos
imigrantes em 1876, localizado na entrada de Vígolo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 56 - ORATÓRIO SÃO JOSÉ
107
j) Edificações Antigas e Históricas: o município possui oito edificações tombadas como
patrimônio histórico da cidade. Segundo avaliação da Fundação Catarinense de Cultura,
são consideradas edificações de relevante importância: Praça Getúlio Vargas e casario
adjacente; Igreja Matriz de São Virgílio e Oratórios, citados anteriormente; Capela Santa
Ágata; Centro de Encontros Imaculada Conceição; Igreja de Nossa Senhora de Lourdes,
no Vígolo, já mencionados; e algumas edificações do centro urbano: Prédio do Círcolo
Trentino de Nova Trento, prédio de propriedade do Sr. Wilson Sgrott, prédio na
comunidade do salto do Sr. Ângelo Minatti, residência particular do Sr. José Tomasoni,
prédio do Sr. Luiz Till, prédio onde funciona o Hotel Viviane e prédio onde está a fábrica
de Móveis e Esquadrias Marchi, o coreto (figura 57), a casa histórica de Alexandre
Visintainer (figura 58) e outros.
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 57 - CORETO
108
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 58 - CASA HISTÓRICA DE ALEXANDRE VISINTAINER
k) Antigos Engenhos, Alambiques e Atafonas: localizados principalmente na zona rural. São
elementos de preservação a história, usos e costumes dos neotrentinos.
l) Museus: Museu do Agricultor: anexo a Pousada Cantina Italiana: mais de 700 peças
catalogadas. Formado basicamente por objetos de uso do agricultor de Nova Trento e
região; Museu Colonial: construído em 1996, ao lado do engenho, no Complexo Madre
Paulina, com o intuito de conservar veículos e instrumentos agrícolas; e a Casa de São
José: localizado junto ao CEIC. O pequeno museu conta com objetos pessoais de Madre
Paulina, como roupas e a cama onde ela morreu cega, documentos da Causa da
Beatificação de Madre Paulina e objetos que lembram o início da Congregação.
3.1.2- Eventos e festas
Além do patrimônio anteriormente descrito, alguns eventos de cunho religioso
também pontuam em Nova Trento:
• Caminhada ao Santuário do Morro da Cruz – Caminhada da Semana Santa, missas
especiais e orações. No mês de abril (data móvel);
• Festa da Santa Cruz – Homenageia Nossa Senhora do Bom Socorro. No 1º domingo de
Maio;
109
• Festa da Uva – Festa da colheita da uva com gastronomia e atrações típicas. Segundo final
de semana de janeiro;
• Corpus Christi – Celebração especial ao Corpo de Cristo. Em junho (data móvel);
• Festa Junina – Apresentação de danças folclóricas. No mês de junho, em data móvel;
• Festa de São Virgílio – Homenageia o Padroeiro da cidade. Em junho (data móvel);
• Festa Litúrgica de Madre Paulina – Missas especiais, orações e romarias. No segundo
domingo de julho;
• Festa Incanto Trentino – tem por objetivo o resgate das tradições e dos costumes da gente
trentina, como o dialeto, a música, o canto e a gastronomia italiana. O evento vem
atingindo a esfera nacional. A festa é realizada todos os anos no mês de agosto;
• Cavalgada nos Caminhos de Madre Paulina – Cavalgada de Fé: trajeto Brusque - Nova
Trento. No último final de semana de agosto;
• Comemoração do Aniversário de Beatificação e de Canonização de Santa Paulina: missas
especiais, romarias e orações. Nos dias 18 de outubro e 19 de maio respectivamente.
• Festa da Virada de Ano – Missa e show pirotécnico no alto do Morro da Cruz, no dia 31 de
dezembro.
A Cavalgada nos Caminhos de Madre Paulina (trajeto Brusque – Nova Trento), a
Comemoração do Aniversário de Beatificação e Canonização de Santa Paulina (Vígolo), e a
Festa de Virada de Ano (Morro da Cruz) compõe o ciclo de eventos no município que mais
atraem visitantes, com projeção estadual, e cada vez mais, interestadual.
A cultura italiana é demonstrada também nas festas italianas. É nelas que os
descendentes de imigrantes mostram o amor pela música e pela comida, que passa de geração
em geração. Em agosto acontece o Incanto Trentino (figura 59), Festa do Vinho e das
110
Tradições Trentino Italianas, com desfiles, apresentações de grupos de dança, corais e artistas
nacionais. Uma festa que homenageia os colonizadores com danças e comidas típicas.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 59 - FESTA INCANTO TRENTINO
Os anos de 1988 e 1989 foram de glória para Nova Trento. Tempos em que a cultura
era motivo de orgulho e os costumes eram transpostos com satisfação. A Primeira e a
Segunda Incanto Trentino trouxeram uma nova realidade ao povo neotrentino e mostrou que a
tradição Italiana era importante no Estado.
Em março de 1988, o Círculo Trentino de Nova Trento planejou um calendário
apresentando propostas para realizações de eventos. O Círculo foi criado em 13 de março de
1985. Durante meses, o Círculo Trentino procurou sugerir, analisar e, posteriormente,
executar as propostas estudadas em reuniões para elaboração de uma festa tipicamente
trentina. Desde então, a comunidade passou a se mobilizar na construção do tal evento – único
que valorizava a tradição italiana. A festa recebeu o nome Incanto Trentino em virtude de
uma canção folclórica muito conhecida que evidenciava as beldades do Vale do Rio Tijucas e
as tradições italianas.
A comunidade renovou seu espírito e valorizando a cultura, empenhando-se na
elaboração da primeira festa italiana. A Incanto Trentino foi planejada para outubro daquele
ano, coincidindo com as demais festas vizinhas, Fenarreco (em Brusque) e Oktoberfest (em
Blumenau), pois atrairia o mesmo público para todos os eventos.
111
3.1.3- Atrativos naturais
Dentre os atrativos naturais, destacam-se os morros e locais que propiciam visão
panorâmica expressiva. São eles: Morro da Cruz: tombada como Patrimônio de Preservação
Permanente – Decreto 007/9; Monte Baron: 1148 metros de altitudes – localidade de Alto
Silva; Monte Bela Vista: a 850 metros de altitude; Monte Lima: a 789 metros de altitude;
Reserva Biológica: Canela Preta; Cascata São Valentim e Cascata de Indaiá.
Nos montes citados, há abertura de trilhas ecológicas, onde são realizadas caminhadas
organizadas pela Secretaria de Turismo Municipal. As Cachoeiras e os saltos constituem-se
uma grande atração juntamente com a paisagem, proporcionando o aproveitamento recreativo
para pesca, banhos e mergulhos.
3.2- Facilidades turísticas
3.2.1- Hospedagem e agenciamento
Em Nova Trento há capacidade de hospedagem para aproximadamente 800 pessoas,
de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo, distribuídas nos seguintes
estabelecimentos: Sogno Mio Pousada, localizado na Praça Getúlio Vargas no Centro de
Nova Trento; Hotel Viviane, localização em frente a Praça central; Pousada e Cantina
Italiana, na Travessa dos Imigrantes no Centro; e Mosteiro Park Hotel, no Bairro de Vígolo,
próximo ao Santuário Santa Paulina.
De acordo com o Jornal do Brasil (2004)79: Tanto movimento de romeiros não faz de Nova Trento uma cidade progressista em termos de hotelaria. Por enquanto apenas um hotel moderno se destaca - o Mosteiro Park, próximo ao santuário da Madre Paulina. As pousadas, com instalações e diárias mais modestas, começam a proliferar.
A escassa rede hoteleira do município faz com que os turistas-romeiros tenham que se
hospedar nas cidades próximas, como: Brusque, Balneário Camboriú e Florianópolis.
Segundo a SANTUR (2004)80 “apesar da infra-estrutura ainda ser insuficiente, Nova Trento
79 EM NOVA TRENTO o turismo insiste em não fazer milagres. Jornal do Brasil. 19 jan. 2004. Instituto Virtual de Turismo. Clipping. Disponível em: <http://www.ivt-rj.net/>. Acesso em: 23 jan. 2004. 80 MADRE Paulina – A Santa do Brasil. SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A. Disponível em: <http://intra.santur.sc.gov.br/materias/novatrento.htm>. Acesso em 22 jan. 2004.
112
conta com uma rede hoteleira de apoio nas cidades de Brusque (25 quilômetros) e Balneário
Camboriú (55 quilômetros), que ao todo somam mais de 25 mil leitos”.
Não há agências de viagens e turismo ou transportadoras turísticas em Nova Trento,
tanto para o turismo emissivo como para o receptivo, bem como para a organização de
passeios. Inexiste, também, na cidade um posto de informações turísticas.
3.2.2- Alimentação
Os restaurantes de Nova Trento têm capacidade para aproximadamente 3.500 pessoas.
Os principais estabelecimentos são: Cantina Italiana, no Centro de Nova Trento, para
aproximadamente 300 pessoas; Churrascaria Carlinhos, também no Centro, com capacidade
para aproximadamente 520 pessoas; Restaurante e Lanchonete Madre Paulina, em Vígolo,
para 600 pessoas; Restaurante Piatto D’Ouro, em Vígolo, para 250 pessoas no restaurante e
150 na churrascaria; Restaurante e Lanchonete Girola, em Vígolo, para 400 pessoas;
Restaurante do Mosteiro Park Hotel, em Vígolo, para 150 pessoas; Restaurante do Santuário
de Nossa Senhora do Bom Socorro, no alto do Morro da Cruz, para 200 pessoas na parte
térrea e mais 100 no subsolo; Restaurante Trevo, em Bezenello para 180 pessoas; Bar e
Lanchonete Canto das Lagoas, no Centro para 88 pessoas; Pizzaria Paiol, no Centro para 180
pessoas; e Churrascaria Grelha e Brasa, também no Centro para aproximadamente 100
pessoas.
Segundo o Jornal do Brasil (2004)81:
Restaurantes tradicionais, como a Cantina Italiana e o Carlinhos, trataram de expandir seus espaços. O mercado imobiliário começa a crescer com a chegada de novos moradores, principalmente paulistas, que chegam para abrir novos negócios. Tudo, no entanto, anda bem devagar.
A gastronomia diversificada é uma característica da cultura italiana. Em Nova Trento
esta tradição ainda permanece viva através da variedade de pratos. Os principais pratos
tradicionais da gastronomia italiana são: tradicional polenta; polenta com galinha; massas
(macarronada, nhoque, pizzas, lasanhas, canelones, ravioli, capeleti); pães; queijos (cacciota,
aziago, parmesão, provolone, ricota e outros); geléias e compotas; salames italianos; lingüiças
(mista, de porco e frescal); vinhos, licores e graspa; radiche e outros. 81 EM NOVA TRENTO o turismo insiste em não fazer milagres. Jornal do Brasil. 19 jan. 2004. Instituto Virtual de Turismo. Clipping. Disponível em : <http://www.ivt-rj.net/>. Acesso em: 23 jan. 2004.
113
Além dos restaurantes, o município possui mais de 50 pequenos bares, lanchonetes e
similares voltados ao atendimento da comunidade, sendo utilizados também pelos turistas.
3.2.3- Comércio de vinhos e produtos artesanais
O comércio de vinhos de Nova Trento oferece variedade e um pouco da história da
vitivinicultura da cidade, onde o turista pode, degustar o vinho ao visitar os produtores do
município. Os principais estabelecimentos são: Vinícola Neotrentina, em Vígolo; Vinhos
Girola, em Vígolo; Vinho Vígolo Vattaro, no centro em Nova Trento; Vinho Colonial Di
Trento, no centro em Nova Trento; Vinho Colonial Battisti, em São Roque; e Vinho Vô Luiz,
em Vígolo.
As figuras 60, 61 e 62 apresentam, respectivamente, uma pequena propriedade
fabricante de vinho no Bairro de Vígolo, a área interna da fábrica produtora e uma paisagem
dos vinhedos do município de Nova Trento.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 60 - PEQUENA PROPRIEDADE FABRICANTE DE VINHOS EM VÍGOLO
114
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 61 - PRODUÇÃO ARTESANAL DE VINHO
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 62 - VINHEDOS EM NOVA TRENTO
O comércio de produtos coloniais, figura 63, também se destaca no município com a
fabricação de queijos, melado-de-cana, cachaça, licor, graspa, e diversos produtos caseiros e
coloniais como: biscoitos, conservas, compotas, geléias, cavacos, cucas, pães, banana
desidratada, frutas, verduras, farinha de mandioca, entre outros.
115
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 63 - PRODUTOS COLONIAIS
Os principais produtores e estabelecimentos são: Fábrica de Laticínios Trentolat, em
São Roque; Euclides Bottamedi, em Trinta Réis; e Casa Marta Frehner, em Claraiba; Rose &
Lili, no centro de Nova Trento; Casa dos Vinhos e Queijos, em Besenello; Produtos Coloniais
e Artesanatos, no Centro de Nova Trento, anexo a Pousada Cantina Italiana; Biscoitos LG, em
Aguti; Helena Bottamedi, em São Roque; Orlando Deluca, em Claraíba; Matilde Bernarde,
em Claraíba; Osni Deluca, em Claraíba; José Deluca, em Claraíba; Moiséis Tambosi, em
Claraíba; Eliziene Franzoi, no Centro; Roberto Valle, no Mato Queimado; Conservas Will,
em Claraíba; Inês Wederof, em Vígolo; Urbana Baraúna, em Lageado; Valdirio Rinaldi, em
Vígolo; Altair Ruberti, em Trinta Réis; Daniel Sartori, em Velha; José Wolff, em Vígolo;
Meri Deluca, em Claraíba; e Edite Frisanco, em São Valentim.
Na Figura 64 se percebe uma típica propriedade italiana, em meio a área rural.
116
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 64 - PROPRIEDADE ITALIANA
No Complexo Santa Paulina existem variados tipos de lembranças (souveniers) que
são vendidos aos visitantes como: rosários, fitas, medalhas, imagens, velas, quadros,
correntinhas, santinhos, cartões postais, livros, chaveiros, fotografias, vídeos, canetas,
camisetas, bíblias, biografia de Santa Paulina e outros.
Segundo Mess82 (2004) “no santuário, em frente à capela onde está a imagem da
Madre Paulina, desenvolveu-se o comércio de ambulantes, vendendo desde fitinhas coloridas
do Senhor do Bonfim até estátuas em gesso da santa, livros sobre sua história e rosários.”. A
irmã afirma também que “com a divulgação na mídia por ocasião da canonização, isso aqui
explodiu. Antes não havia infra-estrutura, tínhamos apenas três banheiros. Hoje são 70 -
orgulha-se.”83
De acordo com a SANTUR (2004)84:
A cada mês surgem novos locais de cafés-coloniais, lojas com souvenires e imagens da Santa. A maioria dos turistas leva lembranças pequenas, que custam barato e fazem pouco volume. Entre elas, porcelanas, chaveiros, medalhas, escapulários, terços e tudo o que lembre Santa Paulina.
82 Irmã Ilze Mess, 77 anos , administradora do Santuário Santa Paulina. 83 EM NOVA TRENTO o turismo insiste em não fazer milagres. Jornal do Brasil. 19 jan. 2004. Instituto Virtual de Turismo. Clipping. Disponível em : <http://www.ivt-rj.net/>. Acesso em: 23 jan. 2004. 84 MADRE Paulina – A Santa do Brasil. SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A. Disponível em: <http://intra.santur.sc.gov.br/materias/novatrento.htm>. Acesso em 22 jan. 2004.
117
3.2.4- Espaços para lazer
O município oferece alguns ainda alguns espaços de lazer que também servem de
cenário as manifestações folclóricas. Dentre os principais centros de lazer estão: Estádio de
Futebol, administrado pela Sociedade Recreativa Humaitá; Pesque-Pague em algumas
propriedades de Nova Trento; Ginásio de Esportes Inácio Gullini; Salão da Sociedade
Recreativa Humaitá, com capacidade para 1.500 pessoas, para a realização de bailes e festas;
Salão da Sociedade Recreativa Primavera – capacidade para 1.100 pessoas, para a realização
de bailes sociais e tradicionais da cidade; Canto das Lagoas, com capacidade para 100
pessoas; Parque de Diversões Nona Anunciata, fazendo parte do complexo de Santa Paulina
em Vígolo e outros.
Portanto, Nova Trento é um município que oferecer importante legado histórico-
cultural, principalmente de cunho religioso, e atrativos naturais, sendo potenciais para a
atividade turística. Sua estrutura oferece um grande número de estabelecimentos de
alimentação, considerando o tamanho e as características da cidade, e alguns espaços para o
lazer e eventos. Entretanto, a cidade apresenta grande carência em sua rede de hospedagem e
de infra-estrutura de apoio ao turista como: segurança, saúde, acesso e informações.
Assim, o desenvolvimento do turismo necessita acima de tudo de intervenção política
e da sua união com os segmentos empresariais e moradores tradicionais para a definição da
atividade turística, analisando seu patrimônio, como também, a busca da sustentabilidade em
sua prática visando à minimização dos impactos negativos e a maximização dos recursos.
É preciso escolher um caminho que não tenha fim, mas, ainda assim,
caminhar sempre na expectativa de encontrá-lo.
Geraldo Magela Amaral
Fonte
: San
ta C
atar
ina,
2003.
CAPÍTULO IV - TURISMO RELIGIOSO E TRANFORMAÇÕES
EM NOVA TRENTO
4.1- Políticas públicas de turismo
As políticas e diretrizes para o setor turístico de Nova Trento, de acordo com a
Secretaria Municipal de Turismo, estão embasadas nas orientações e direcionamentos do
Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT85, e no Plano de
Desenvolvimento Turístico86.
Para o gerenciamento das atividades turísticas do município e a concretização dos
principais eventos a Prefeitura e a Secretaria Municipal de Turismo contam com o apoio do
Conselho Municipal de Turismo – COMTUR87, segmentos organizados da comunidade.
O poder público local estimula o desenvolvimento do turismo, também, por meio da
“Lei Municipal de Concessão de Incentivos Fiscais para o Setor Turístico”. Os incentivos
ocorrem através da isenção de impostos, redução de taxas, cessão de terreno, terraplanagem e
limpeza de terreno, e apoio complementar à infra-estrutura do empreendimento.
A necessidade de maior comprometimento e participação da comunidade nas ações
para o desenvolvimento turístico, estruturação e organização, se fazem necessárias para o
equilíbrio e harmonia da atividade em Nova Trento, evitando que se torne meramente
comercial.
85 O PNMT é um programa institucional da EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) criado com o objetivo de imprimir qualidade no produto turístico, através da municipalização. O programa utiliza a metodologia ZOOP nas Oficinas de Capacitação (conscientização, capacitação e planejamento), que são realizadas com os representantes da iniciativa privada, poder público e comunidade (moradores tradicionais). (EMBRATUR, 2001). 86 O plano é formado basicamente pelo inventário do município; análise interna (pontos fortes e fracos) e externa (oportunidades e ameaças); diagnóstico e prognóstico e diretrizes básicas para o desenvolvimento do turismo no município. Em 1998, foi elaborado pelo SEBRAE-SC (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina) sob a responsabilidade da Prof.ª Marlene H. Novaes, o Plano de Desenvolvimento Turístico de Nova Trento, com a elaboração de estratégias para o desenvolvimento sustentável do turismo. (PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA TRENTO, 2002) 87 O conselho é formado por um grupo de pessoas (representantes da iniciativa privada, do poder público e por moradores tradicionais) que se reúnem com o objetivo de fomentar o desenvolvimento do turismo no local e implementar as ações contidas no PDTur, se houver. Em Nova Trento o COMTUR é bipartidário (iniciativa pública e privada), consultivo (emite parecer, como esclarecimento e/ou orientação, sem voto deliberativo) e deliberativo (relativo à decisão ou resolução após discussão e exame). (EMBRATUR, 2001).
120
Preocupados com o impacto causado em Nova Trento pelo aumento progressivo de
romeiros, o Prefeito Municipal e a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição –
CIIC sentiram a necessidade de um planejamento básico para disciplinar o desenvolvimento
geral. Como a principal atratividade do município é a religioso, foram previstos projetos
turísticos religioso.
4.2- Complexo turístico religioso – projeto 1997
Assim, em 1997 iniciou-se o Projeto de um Complexo Turístico Religioso para o
município de Nova Trento, conforme figura 65 e quadro 7, abaixo. O projeto previa a
construção do Santuário Madre Paulina e todo o seu entorno, com criação de infra-estrutura
de apoio, que estavam sendo projetadas pelo plano diretor da cidade. Tal projeto já sofreu
modificações na sua concepção original.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 65 - PROPOSTA DO COMPLEXO TURÍSTICO RELIGIOSO (1997)
Item Descrição Item Descrição 1. Santuário Madre Paulina 12. Comércio e serviço local 2. Morro da Cruz 13. Parque Ecológico 3. Acesso principal - apoio ao turismo 14. Parque Temático Religioso
Continua a seguir
121
Continuação Item Descrição Item Descrição
4. Mini shopping (produtos e artesanato regional) 15. Pequena indústria e oficinas de
artesanato 5. Estação de Teleférico - 1 16. Estacionamentos
6. Posto de abastecimento 17. Controle geral de acesso ao Santuário
7. Villagem Condomínios Abertos 18. Estação de Teleférico Morro da Cruz 8. Hotel Fazenda 19. Comércio de apoio ao turismo 9. Hotel Resort 20. Posto de atendimento ao turista
10. Pousadas 21. Teleférico 11. Zona Residencial 22. Camping
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
QUADRO 7 – LEGENDA DA PROPOSTA - COMPLEXO TURÍSTICO RELIGIOSO
O projeto envolvia a preservação das áreas livres no entorno das edificações e
monumentos históricos existentes para propiciar maior visibilidade e facilitar a apreciação
pelos visitantes. A área previa:
• Construção da Basílica de Madre Paulina, com capacidade na nave principal para 6.500
pessoas, com mais de 4.000 na galeria de acesso;
• Praça Principal ou Praça da Fé, ampla e frontal à Basílica que permitiria grandes
aglomerações;
• Praça ecumênica, lugar para encontros de pessoas de diferentes religiões onde estariam
estampadas relevantes mensagens de fé e de esperança;
• Outras praças menores com bastante arborização para repouso e contemplação;
• Postos de apoio aos visitantes, destinados a serviços de emergência, informações,
orientação, e outros;
• Alteração do sistema viário interno, a fim de evitar a circulação de veículos dentro da área
religiosa, como medida de segurança e para preservar o silêncio;
122
• Preservação da residência das irmãs e do Reitor.
O entorno previa áreas para: pousadas, paradouros, hotel fazenda, camping,
estacionamentos, parques ecológicos, parque temático religioso, villages, zona residencial
com comércio e serviços local, caminhos para meditação, e trilhas ecológicas.
O acesso envolvia a reformulação dos existentes com a finalidade de proporcionar às
pessoas mais segurança e facilidade nas visitas ao Santuário. Seria criado um anel viário no
entorno do Santuário desviando o tráfego de veículos no seu interior, visando preservar a
segurança e o silêncio.
O centro de apoio seria composto por um posto de apoio ao turista, posto de
abastecimento, centro comercial, estação teleférico, pequenas indústrias e oficinas de
artesanato.
A instalação de um teleférico no Morro da Cruz teria a finalidade de fomentar as
visitas a ambos os santuários, de Nossa Senhora do Bom Socorro e Santa Paulina,
proporcionando um novo atrativo turístico na cidade.
Seriam abertos caminhos que interligam os Santuários, sinalizando-os e criando
paradouros de apoio. Antigas trilhas seriam reativadas, proporcionando passeios ecológicos.
O partido arquitetônico no projeto foi definido de acordo com a história de Madre
Paulina, hoje Santa. As formas do conjunto, procuravam de forma emblemática, simbolizar
aspectos relevantes que marcaram a vida da Santa. Os três volumes, onde se erguem os
campanários, representam as irmãs que fundaram a organização (Amábile, Virginia e Teresa),
conforme a figura 66, e a estrutura externa está representada na figura 67, a seguir.
123
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 66 – TRÊS IRMÃS FUNDADORAS DA CIIC - COMPLEXO (1997)
O sistema construtivo do projeto seria, na parte interna, espaço para 6.500 pessoas; a
galeria para aproximadamente 4.000 pessoas, e a praça para 60.000 pessoas, com
possibilidade de ampliação. A figura abaixo apresenta a suposta imagem do Santuário Santa
Paulina.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 67 – ESTRUTURA EXTERNA DO COMPLEXO (1997)
Porém, após a canonização (2002), planejou-se uma nova estrutura para o Santuário,
que segunda as Irmãzinhas da Imaculada da Conceição ficará pronto em 2004.
4.3- Santuário Santa Paulina – novo projeto (2002)
O novo santuário está sendo construído, também em Vígolo, próximo a Igreja de
Nossa Senhora de Lourdes, principal local de oração dos visitantes utilizado atualmente. A
124
obra total terá capacidade para 3.500 pessoas e será integrada à lista dos demais santuários da
região, concretizando a vocação da cidade como centro de irradiação da fé.
O Governo do Estado de Santa Catarina criou uma comissão governamental, presidida
pelo órgão oficial de Turismo, SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A., encarregada de
acompanhar a implantação do “Plano de Turismo Religioso Madre Paulina”, em Nova Trento.
Por meio da releitura da Arquitetura Sacra tradicional, representou-se a simplicidade
por meio da composição da volumetria e geometria e a solidez e autenticidade por meio dos
materiais construtivos. Através da iluminação natural zenital elevada ao centro e direcionada
ao céu, mediante a forma ascendente da cobertura, criou-se um espaço propício à meditação, à
busca da espiritualidade e ao encontro com a força Divina. Segundo os idealizadores do
projeto do Santuário (CIIC, 2004), “O Caráter arquitetônico do Santuário de Santa Paulina
retrata a essência de sua trajetória, mulher simples de valores sólidos e puros e de imensa
espiritualidade e bondade.”
O programa de necessidades desenvolve-se integralmente sob uma cobertura
modulada, a cada 7,5 metros, com caimento em duas águas. Sob a cobertura estão abrigados
três setores distintos como a Nave Principal, as Capelas e as áreas de Apoio, bem como a
circulação de acesso.
Foram definidos acessos ao Santuário de Santa Paulina para atender ao fluxo de
pedestres e veículos. Os pedestres terão acesso ao Santuário por escadaria ou rampa e o
acesso de veículos será destinado a ocasiões especiais e a pessoas portadoras de deficiência
física. A rampa tem início na praça central onde se encontra a igreja original de Santa Paulina,
ligando ao Santuário; e a escadaria inicia na praça/estacionamento levando até o hall do
Santuário e um segundo acesso vindo dos monumentos comemorativos.
A cobertura em duas águas busca uma referência às construções tradicionais e sob esta
se localizam todas as atividades. Os acessos ao Santuário estão marcados pelo movimento da
cobertura nas laterais da nave principal, onde se localizam as capelas, e pela torre central
representando a Santíssima Trindade no acesso principal. A nave principal possui planta de
formato cônico permitindo a visualização do altar por todos os fiéis. A sacristia se localizada
125
e em ponto estratégico possibilitando o fácil acesso aos altares da nave principal, das capelas
e confessionários.
A entrada de ar será realizada por janelas laterais fazendo com que o ar circule pelo
espaço interno e saia naturalmente pelo lanternim central. A iluminação e a ventilação natural
do Santuário se dá através de uma faixa contínua localizada no eixo central da cobertura
buscando a criação de um espaço repleto de luz vindo das alturas como forma de inspiração à
meditação e às preces.
Buscou-se uma solução construtiva adequada às necessidades dos espaços, visando
manter a nave principal e as capelas totalmente isentas de interferências visuais, eliminando-
se, portanto a presença de pilares internos e suavizando a forma das vigas metálicas aparentes.
A estrutura principal do Santuário será em concreto protendido suportando as vigas
metálicas da cobertura metálica. As escolhas dos materiais construtivos sugerem elementos
puros que atendam já como acabamento final em sua característica original, visando fácil
manutenção e vida útil prolongada. Como elementos de fechamento foi previsto blocos de
concreto texturizados e vidros de segurança tipo laminado.
A estrutura do Santuário será para 3.000 pessoas, na nave principal, a Capela da Santa
Paulina para 150 pessoas; a Capela do Santíssimo para 100 pessoas com área total coberta de
6.925,56 m². A área de estacionamento será de 14.000,00 m², tendo capacidade para 300
veículos e 115 ônibus, aproximadamente. (HERWIG, 2004)88
É possível verificar a disposição da estrutura e as edificações do futuro Santuário
através da observação das figuras 68 e 69, a seguir, que retratam a maquete do projeto do
Santuário, exposta no Restaurante da CIIC no Santuário Santa Paulina.
88 Paulo Henrique Herwig da Herwig Shimizu Arquitetos, engenheiro responsável pela obra do Santuário Santa Paulina, em entrevista ao Jornal RBS Notícias, 27 jan 2004.
126
Fonte: produzida pela autora, 2004
FIGURA 68 – MAQUETE FRONTAL - PROJETO SANTUÁRIO SANTA PAULINA
Fonte: produzida pela autora, 2004
FIGURA 69 – MAQUETE LATERAL - PROJETO SANTUÁRIO SANTA PAULINA
Acredita-se que a obra esteja pronta e concretizada no final de 2004, beneficiando a
visitação, já que Nova Trento é a principal destinação religiosa do sul do Brasil. Essa nova
estrutura será utilizada por todos os visitantes de Nova Trento, assim como, pelos
comerciantes e moradores locais que aproveitam o fluxo turístico para aumentar suas rendas,
que em muitos casos é a única fonte de receita.
127
4.4- Turismo e constatações
No primeiro semestre de 2003 foram realizadas pesquisas de campo (questionários e
entrevistas) no município, buscando analisar a visão e a percepção dos diversos atores da
comunidade neotrentina frente às transformações decorrentes do turismo ocorridas na cidade.
Foram aplicados 3589 questionários (APÊNDICE D) nos dias 29 de janeiro e 08 de julho com
os moradores tradicionais, funcionários da Prefeitura Municipal, funcionários de empresas
turísticas (hotéis e restaurantes) e ambulantes do santuário.
Do público entrevistado prevaleceu o masculino, com idade entre 30 e 49 anos. O grau
de escolaridade mais predominante do universo pesquisado foi o ensino médio completo e o
ensino superior incompleto, com renda estimada, principalmente de R$ 200,00 a R$ 400,00; e
R$ 601,00 a R$ 800,00.
Dentre as profissões, destacam-se pequenos empresários, auxiliar de escritório, caixa,
comerciante, auxiliar administrativo, professora, pedreiro, comerciante, aposentado, contador,
funcionário público, e recepcionista.
Com relação ao tempo de moradia em Nova Trento, identificou-se apenas um
entrevistado não ter nascido no município, vindo quando pequeno, os demais são oriundos da
cidade de Nova Trento. Quanto ao gostar de morar em Nova Trento, obteve-se um total de
100% de respostas afirmativas, tendo como justificativa a tranqüilidade que a cidade oferece,
a segurança, o orgulho da cultura neotrentina, pela cidade ter futuro e pela proximidade com
grandes centros urbanos.
Quanto a se mudar para outras cidades, prevaleceram as respostas negativas, com as
seguintes observações: “tudo o que tenho está aqui”; “não vou trocar tranqüilidade por
agitação”; “porque valorizo a terra onde nasci e cresci (família)”; “dificilmente encontraria
outra cidade com estas características”. Entretanto as respostas positivas quanto a mudança
enfatizam a falta de opções de lazer e de compras; ou então por necessidade de emprego.
89 O total de 35 questionários aplicados à comunidade de Nova Trento justifica-se pela recorrência das respostas, o que segundo alguns autores, indica o momento de encerrar os questionamentos.
128
Quase 70% dos entrevistados trabalham com atividades relacionadas ao turismo.
Dentre elas tem-se: comércio, restaurante, hotelaria e pousada. Estes entrevistados afirmam
trabalhar com estas atividades a mais de 10 anos.
Constatou-se também, que os muitos familiares dos entrevistados também exercem
atividades relacionadas ao turismo. As principais atividades referem-se ao comércio em geral,
serviços em restaurantes e hotéis.
O desenvolvimento do turismo no município de Nova Trento a partir de 1991, fez com
que uma significativa parcela da população se dedicasse às atividades de prestação de serviços
relacionadas diretamente a atividade turística.
Os entrevistados foram unânimes quanto ao questionamento de existência de
melhorias no município após a Beatificação de Madre Paulina em 1991. Identificaram como
principais aspectos positivos os seguintes: a divulgação do município, o desenvolvimento do
comércio, o aumento de emprego no município, o desenvolvimento geral do município,
valorização da cultura italiana, a possibilidade de abrir um novo negócio, o aumento de
opções de lazer, a melhoria da educação e a preservação da natureza.
Os aspectos econômicos são os mais enfatizados pelos entrevistados, e conforme a
fundamentação teórica apresentada anteriormente, estes são os benefícios mais facilmente
identificados pela comunidade.
Os aspectos negativos ocorridos em Nova Trento após a Beatificação em 1991, foram
percebidos por aproximadamente, 53% dos entrevistados. As principais modificações foram:
“vários comércios abriram e já fecharam”; “há muita gente de fora”; “invasão de ambulantes
perto do Santuário Santa Paulina”; “roubos, assaltos e violências”; “superpovoamento”;
“desrespeito aos costumes locais”; “exploração comercial”; “destruição da natureza”;
“concorrência nos negócios”; “aumento do custo de vida”; “destruição das vias públicas”;
“mais exigências para os novos empregos”; “exploração da mão-de-obra de menores de
idade”; e “a população local foi colocada de lado em relação aos turistas”.
Os principais aspectos identificados pela comunidade referem-se diretamente as
transformações sócio-culturais que o turismo pode provocar. As preocupações com o
129
comércio também são percebidas, já que esta é a principal atividade econômica no município.
Entretanto, as mais agravantes são as relacionadas ao modo de vida da população. Os
benefícios sociais como qualidade de vida da comunidade são aspectos indispensáveis para
uma sociedade. A preservação da cultura também se faz importante, principalmente para um
povo que tanto se esforça para manter vivas suas raízes.
Mais de 86% dos entrevistados acreditam que com Santificação de Paulina, a vida da
comunidade melhorou, já que a “nossa cidade ficou conhecida pelo mundo todo e fortaleceu o
nosso relacionamento coma Itália”. Outras justificativas também foram citadas como: “outras
mentalidades e cultura sempre são positivas”; “a prefeitura na busca de atender bem aos
turistas, fez obras que melhoraram a vida dos moradores”; “houve uma valorização da mão-
de-obra e dos terrenos e casas, o que faz com que os jovens fiquem em Nova Trento”; “Parece
que há mais fé”; e “novas perspectivas de emprego”.
Quanto ao desenvolvimento do município, 80% afirmaram ter sido positivo, já que
“aumentou o giro da economia”, “novos moradores atraem novos investimentos”, e “houve a
valorização da terra”. Os entrevistados que afirmaram não haver desenvolvimento citaram a
“falta incentivo municipal, estadual e federal”; as “várias modificações relacionados a infra-
estrutura foram realizadas, para o bem da comunidade, em geral” e; que “estão investindo
mais no conforto do turista” do que da própria comunidade.
Estudos sobre os impactos econômicos do turismo religioso, apesar de ainda insuficientes ou pouco disponibilizados, permitem inferir que essa modalidade turística contribui para o redimensionamento da economia local por meio de adaptações de equipamentos de hospedagens, serviços de comércio e gastronomia, lazer e outros, que tomam uma ampla configuração no espaço territorial. (NOVAES, 2000, p. 129)
A relação dos turistas com a comunidade foi considerada positiva por mais de 85%
dos entrevistados, devido a hospitalidade do povo italiano. Os que afirmaram ser negativa,
declararam se sentirem invadidos com a presença dos turistas.
Quando questionados sobre a instalação de novos moradores no município, 80% dos
entrevistados afirmaram que conheceram turistas que vieram, primeiramente, para visitar o
local e alguns meses depois retornaram para morar em Nova Trento. Isso se dá, segundo eles,
pela tranqüilidade do município.
130
As entrevistas foram realizadas em 29 de janeiro e 08 de julho no Centro de Nova
Trento e em Vígolo. Foram entrevistados: o Presidente do CDL (Câmara dos Dirigentes
Lojistas) do município (morador e empresário), a Irmã da Congregação das Irmãzinhas da
Imaculada Conceição – CIIC (responsável pelo Restaurante da CIIC no Santuário Santa
Paulina no Bairro de Vígolo), o Proprietário do Restaurante e Pousada Cantina Italiana no
Centro (morador), o Proprietário do Restaurante Carlinhos no Centro (morador) e Ambulantes
do Santuário Santa Paulina no Bairro de Vígolo. A Secretária de Turismo e Cultura,
representante do poder público, concedeu, apenas, informações sobre os projetos da secretaria
para o município através de e-mail.
Na entrevista realizada com o Presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas – CDL90
de Nova Trento e também empresário local, constatou-se, sobretudo, interesse do comércio no
desenvolvimento do turismo no município. É fato que os benefícios financeiros que esta
atividade proporcionou a cidade impulsionaram a melhoria de vida da população.
Entretanto, referente aos horários de funcionamento do comércio do Centro de Nova
Trento aos fins de semana, período de maior visitação ao município, verificou-se que este se
encontra fechado e “inclusive já conversamos numa das reuniões do CDL e o pessoal achou
que por enquanto não há necessidade de abrir o comércio local no Centro de Nova Trento em
abrir aos domingos”. Mesmo assim o empresário considera que “o desenvolvimento do
turismo religioso na região tem contribuído para o crescimento da cidade como todo” e que
este fato, “sem sombra de dúvida” é positivo e tem “conseguido aumentar os lucros” dos
comerciantes.
O entrevistado afirmou também que “uma grande parte de turistas que aqui passam
vêem Nova Trento como uma cidade muito limpa e se agradam da cidade e pretendem já se
instalar aqui” ocasionando então a venda dos terrenos, provocando uma possível especulação
imobiliária. O Presidente do CDL diz saber “que devido a Santificação vários empresários
compraram terrenos em Vígolo” e salientou que esse fato recebe o apoio da administração
municipal, comentando que “nosso prefeito está apoiando muito e incentivando indústrias e
comércio”. Ele considera este fator, por enquanto positivo, pois acredita que:
90 Sr. Vilmar Bittencourt, Presidente do CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas) de Nova Trento e empresário local em entrevista concedida em 31 de março de 2003.
131
a cidade cresce quando vem dinheiro de fora para dentro e não de dentro para fora, então, com isso todo mundo cresce, a cidade cresce e como te falei anteriormente Nova Trento não só se liga a Madre Paulina [...] Nova Trento é conhecida mundialmente, muito só pela Santa Paulina, mas como também tem as belezas naturais [...] somos privilegiados, tem o comércio local.91
A Irmã92 responsável pelo Restaurante da CIIC junto ao Santuário Santa Paulina,
natural Ituporanga em Santa Catarina, está em Nova Trento há 1 ano e 3 meses coordenando o
restaurante do Santuário, afirma que o “aumento da vinda das pessoas é mais de boca em
boca. Apresentamos na internet alguma coisa. Mas nós não fizemos nenhum tipo de
propaganda, para vir aqui, para visitar, para participar, para tomar lanche aqui, não”. A grande
procura pelo município se deve também a divulgação que os municípios vizinhos fazem de
Nova Trento, principalmente Balneário Camboriú:
Através do próprio setor dos hotéis, mais principalmente por causa da canonização, quem vem lá do oeste, por exemplo, se hospeda em [Balneário] Camboriú, eles não deixam de vir aqui. Outros também vêm principalmente das praias, o turista vem pra cá filmam, fotografam as belezas ecológicas e fazem a propaganda. O veraneio agora é outra classe que visita aqui. Nessa época de dezembro até o do natal, férias até agora, é a época que vem muito turista e envolve a fé também. Mas os grupos são diferentes, poucos ônibus, mais famílias, e quando vem ônibus são os que vêm de Camboriú pra cá. Não vem aquelas lotações grandes que vêm da Paróquia direto pra cá, envolvendo grupo de crianças, grupo de idosos, agora não, agora vem a família, com a família, o pai, a mãe, os filhos, avó, avô. Uma vez veio uma avó e um avô com quatro netos. Dois netos de uma família dois de outra, lá de Curitiba. Então nessa época vem muita gente. Nós do restaurante [servimos], na média mais de 400 almoços por dia, de segunda a segunda. [...] Todo domingo tem multidão, no mínimo 130 ônibus e não cabia o pessoal [no restaurante], quando chove isso aqui é uma loucura, não cabe o pessoal. O povo que vem pra cá é um povo muito bom, então não tem muita violência, roubos. A única coisa que eles reclamam são coisinhas pequenas.93
Referente a limpeza da área de Vígolo, no entorno do Santuário, a Irmã afirma ser
função da própria CIIC, ou seja das irmãs, onde todos “funcionários são nossos que recolhem
o lixo das barracas, barraca dos outros inclusive, são os nossos funcionários que recolhem
também. Limpam, organizam, há dois funcionários só para recolher o lixo das barracas”.
Quando questionada sobre um possível apoio da Prefeitura ela completa dizendo que “não
existe ainda [...] no começo houve até uma pequena ajuda na coleta de lixo aqui durante a
semana, mas cortaram também.”. A CIIC apresenta-se, então, como uma importante
instituição social à localidade e a seus moradores.
91 BITTENCOURT, loc. cit. 92 Irmã Augustinha, responsável pelo Restaurante da CIIC junto ao Santuário Santa Paulina em entrevista concedida em 29 de janeiro de 2003. 93 AUGUSTINHA, loc. cit.
132
Nossos funcionários são todos daqui de Vígolo, não tem ninguém que fora. Tem a mãe, tem a filha, tem o pai. Sabe, a família propriamente toda envolvida, todos registrados direitinho, de maiores. Todo dinheiro que entra aqui ele não é mandado pra fora, ao contrário, nós recebemos dinheiro de São Paulo, de fora, para ajuda nas compras.94
As transformações negativas na vida comunidade de Vígolo, com o forte
desenvolvimento turístico, principalmente após a canonização, foram identificadas pela Irmã
da seguinte forma:
Agora, o que eu achei um pouco de prejuízo para eles [moradores] é que começaram a vender os seus terrenos. Isso é uma coisa muito triste, estão vendendo as terras, a procura é muito grande, eles oferecem um precinho e estão passando a perninha neles. [estas pessoas que estão vendendo os terrenos estão indo morar] na casa de parentes. Então tira, tira toda a liberdade deles, uma agressão nesse sentido, tiraram aquela paz, aquela tranqüilidade. Eu acho que o fato de perderem certa liberdade deles, a terrinha deles, foi muito grande, até isso aí eles perderam um pouco, um pouco da liberdade.95
Para a melhoria da qualidade de vida da comunidade (das irmãs e das pessoas que
trabalham ou moram no bairro) a Irmã apontou o acesso a Vígolo, mas principalmente o
transporte urbano, pois:
não tem ônibus, não tem nada que ligue [...] só táxi. Para os estudantes tem a noite o horário do ônibus exclusivo, mas o leigo [visitante] se precisar ir não chega. Quem não paga táxi vem a pé. Nós mesmos, quando a gente se aperta, não tem dinheiro pra vir pra cá, não vem porque não existe transporte, ou carona, ou a pé e são 7 quilômetros! Mas por enquanto não existe. Domingo sim. Faz pouco tempo, antes da canonização, a empresa Reunidas colocou só no domingo. 96
Outro setor que está muito carente, segundo a Irmã, é a área da saúde, “falta aqui é
farmácia, não tem nenhuma farmácia, não tem nada, posto de saúde por enquanto não tem
enfermeiro, médico que atenda”. Em contrapartida, a Irmã afirma que o fluxo turístico vem
aumentando muito e isso só vem a beneficiar a comunidade residente.
Alguns representantes da iniciativa privada também foram entrevistados, voltados a
área de alimentação de Nova Trento. Assim, em entrevista97 o proprietário de um dos mais
antigos restaurantes da cidade conta que a empresa foi constituída pelo casal (seus pais) que
alugaram um terreno e montaram o restaurante, no mesmo lugar onde é hoje o Restaurante
94 AUGUSTINHA, loc. cit. 95 AUGUSTINHA, loc. cit. 96 AUGUSTINHA, loc. cit. 97 Carlos César Battisti, proprietário do Restaurante Churrascaria Carlinhos no Centro de Nova Trento em entrevista concedida em 29 de janeiro de 2003.
133
Carlinhos. Era “um puxadinho, churrasqueira e fogão a lenha foram o começo do negócio
que, em 1970, já da renda suficiente para que os Battisti quisessem o terreno.”98
Durante todos estes anos a empresa sempre foi administrada pela família, desde a
coordenação da cozinha até a gerência geral. Todos os funcionários da empresa são da própria
cidade e são treinados pelos próprios administradores-proprietários.
“Os lucros do Restaurante aumentaram com o turismo na cidade, já que o número de
visitantes também cresceu” afirma o entrevistado. Entretanto este benefício não é de todo
município porque “os turistas não ficam no Centro de Nova Trento, eles apenas passam direto
a Vígolo, o comércio daqui não lucra muito com os turistas, só o Vígolo. Nós aqui recebemos
muitas excursões porque estamos no caminho do Santuário”. Mesmo com a localização
favorável a visitação, o Restaurante investe em “atividades de marketing com anúncios
veiculados na televisão, folhetos entregues aos motoristas na entrada”.
Em entrevista99 com o proprietário de hotel e restaurante em Nova Trento se
constataram diversas preocupações referentes ao desenvolvimento do turismo de forma
sustentável no município, como também, muita disposição e vontade de divulgar a cultura
italiana e bem servir os visitantes.
Sua empresa foi inaugurada, em dois momentos, “começamos com o restaurante, a
Cantina Italiana foi inaugurada em 07 de setembro de 1990, em outro local próximo daqui, só
o restaurante. Agregado ao restaurante uma loja de produtos coloniais e de móveis rústicos”,
que segundo ele foi uma junção de atrações que vieram a ajudar para o sucesso da pequena
empresa. Começaram com 2 funcionários, a família, sendo ele e a esposa, que cuidavam
também do filho de 5 anos, pois não tinham onde deixá-lo. Posteriormente, com o
crescimento da Cantina, iniciaram as contratações que ele faz questão de enfatizar que
“praticamente todos os nossos funcionários foram daqui de nova Trento, inclusive a partir
1990, todo o material humano é somente daqui do município de Nova Trento”.
98 BATTISTI, loc. cit. 99 Sr. Augustinho Orsi, empresário-proprietário da Pousada e Cantina Italiana em Nova Trento em entrevista concedida em 08 de julho de 2003.
134
Consegue-se perceber a mudança de vida dos moradores, já antes mesmo da
beatificação de Santa Paulina em 1991, ainda sem demanda turística, já que alguns moradores
perceberam o potencial turístico da cidade e a repercussão que Santa Paulina, ainda Madre,
teria futuramente, e alteraram suas funções e cotidiano.
Antes do restaurante eu era caminhoneiro, caminhoneiro de viagens pequenas, não viajava para fora, já a minha esposa trabalhava na roça. Na época quando eu trabalhava como caminhoneiro as pessoas, como visitantes e empresários perguntavam onde poderiam comer, e pela dificuldade de indicar locais adequados, pois para conseguir comida típica era somente por encomenda. Verificada tal necessidade, resolvemos colocar um restaurante típico italiano, onde passamos a verificar o local, como seria o atendimento, começando assim uma pesquisa junto ao público necessitado de tal restaurante, vendemos o caminhão,compramos e colocamos todo o material num terreno financiado a juros de popança. Já a construção foi construída por mim próprio como servente e meu irmão que era pedreiro, e mais um amigo que deu uma mão na parte da carpintaria. Na inauguração passamos a atende com as pessoas da família e com a ajuda de amigos, colocando, posteriormente, 2 funcionários, tudo naquele sistema de apanhando e aprendendo.100
Logo no início das atividades “atendíamos aproximadamente 10 pessoas, nós
inauguramos em setembro e já em outubro ninguém imaginou que houvesse tal explosão,
passando a atender quase sem horário”. Este período coincidiu com a Beatificação da Santa, o
que aumentou consideravelmente a quantidade de pessoas no restaurante provocando também
a falta de pessoal “para atendimento, acomodações, pratos, talheres e até comida, pois
tínhamos que atender a qualquer hora, e com esse aumento de visitantes tivemos que preparar
mais, aumentando o espaço do restaurante, com mais móveis e utensílios.”
A explosão no Restaurante, conforme o proprietário, propiciou a ampliação do
empreendimento, e também o início na área hoteleira.
Na época tínhamos 60 lugares, sendo que após um ano aproximadamente passamos o restaurante para 120 lugares, não aumentando mais o restaurante em função do terreno, logo após vendo a necessidade da parte hoteleira na cidade, resolvemos pela construção também de uma pousada agregada a Cantina, tudo no estilo italiano pois a região é tipicamente italiana. Hoje a Pousada tem 35 apartamentos com capacidade para 90 lugares, e a Cantina com 300 lugares, com a previsão de mais uma pousada.101
Este novo empreendimento hoteleiro também será em Nova Trento, em direção ao
Santuário de Nossa Senhora do Bom Socorro, na subida do Morro da Cruz. Segundo ele, será
“no sentido ecológico, totalmente dentro da mata, preservando todas as árvores, com museu
100 ORSI, loc. cit. 101 ORSI, loc. cit.
135
ao ar livre, uma casa de colono, demonstrando todas as suas atividades, com água
transportada por calha, movida por uma roda de 5 metros de diâmetro” tornando o ambiente
mais rústico e de acordo com os costumes dos imigrantes italianos, contendo também uma
“casa do rádio com aproximadamente 400 unidades, com área de lazer, alambique em
funcionamento, lagoas para pesque-pague e [inclusive] uma casa antiga que está sendo
transformada em senzala, com 5 apartamentos com capacidade para 15 pessoas”.
Atualmente a empresa conta com 14 funcionários, tanto na Pousada como no
Restaurante e são todos do município, “logicamente que alguns que vieram de outras regiões
hoje já se instalaram aqui em nova Trento”.
Com relação aos benefícios após a Beatificação e principalmente após a canonização
para o povo de nova Trento como para todos os comerciantes, segundo o empresário, então o
“fomento do turismo foi bom, trazendo vários benefícios [econômicos], mas para outros não,
os que trabalham fora da cidade, estão acostumados com cidade pequena e sentem muito pelo
agito dos finais de semanas. Mas pra nós do ramo hoteleiro foi fato fundamental”.
Entretanto, o entrevistado afirma que o município, através do poder público e da
iniciativa privada, não pode depender exclusivamente do turismo religioso e de seu público,
deve incentivar e planejar também outras formas e práticas de turismo na região. Assim, o
“turismo não pode ficar só na religião, pois se transforma num turismo carente para a
hoteleira, sendo bom só para restaurantes, devendo ter também a parte cultural, turismo rural,
agregando um conjunto de parceria, tornando-se assim num turismo mais desenvolvido”.
Um importante fator ressaltado pelo empresário, porém negativo ao processo turístico
é referente ao meio ambiente natural. As novas construções estão sendo inseridas em locais de
mata nativa, muitas vezes sem estudo ou análise do solo e desmatando o espaço sem
preocupação alguma com o futuro.
A questão ambiental ela foi até conservada num certo ponto de vista, mas houve umas invasões [...] loteamentos de terrenos, acho até que dentro da lei, provenientes de pequenos terrenos, talvez de herança [...] terrenos onde não era permitido derrubar uma árvore ou palmito, assim por diante, em pequena escala, só com ordem disso ou aquilo, então quando acontecem casos de loteamentos onde são pagos impostos e tudo mais, podem chegar e derrubar, destruir, como aconteceu em alguns casos 1000, 2000, 3000 e até 4000 metros, daí então podem porque estão pagando, são essas coisas que eu não concordo. Como aqui próximo da minha casa existem 3
136
crateras que foram abertas próximo da minha pousada, nada contra quem fez, só acho um absurdo, porque quanto a propostas de conservar o meio ambiente, de não jogar nada nos rios, preservar as matas, [...] mas hoje está abrindo crateras que é uma ferida, que isso é incurável, por isso se os terrenos foram pagos pode fazer tudo, por isso que eu acho condenável. Pela localização são residenciais, por isso eu não concordo, pois a prefeitura faz muito bem a sua parte, com relação à preservação do meio ambiente, nada contra, eu só não entendo porque da existência destas crateras.102
Outro fator que deveria ser mais preservado, segundo o entrevistado, é a cultura. A
cultura italiana não tem recebido o apoio e o cuidado que merece por parte do poder público.
“Na cultura italiana Prefeitura está deixando muito a desejar, agora a iniciativa privada, o
particular, como nós aqui sempre damos apoio às festas da Madre Paulina, mas está muito
fraca”.
Quanto à hospedagem na cidade, o empresário considera outra dificuldade encontrada.
Não apenas pela falta de hotéis para abrigar os visitantes, mas sim pela falta de atrações que
façam estes turistas quererem se hospedar em Nova Trento.
O visitante, o romeiro já existe mais dificuldade de fazer ele permanecer aqui nos hotéis, porque ele quer a parte cultural a noite e isso a gente não tem, como alguém que cante, uma dança típica, isso não temos em Nova Trento ainda, estamos muito carente, não há parceria entre o comércio e Secretaria de Turismo, então a gente está meio carente ainda, os visitante querem também a parte de caminhada ecológica e mais coisas da parte cultural.103
Mesmo diante das transformações negativas comentadas anteriormente, o empresário
acredita “que o turismo só tem vindo para contribuir, melhorar o município de um modo
geral, só ganhando, [como mencionado] as pessoas que trabalham fora, talvez nos fins de
semana achem agitado, que podem sofrer, talvez neste aspecto, mas o mais não tem sofrido”.
Esta carência de atratividades na cidade, aliada a falta de união entre o poder público e
a iniciativa privada levantadas pelo entrevistado, é percebido também pelo fator de existir na
cidade um conselho municipal de turismo a mais de 10 anos, mas que não é atuante.
Eu faço parte já há dez anos [do Conselho Municipal de Turismo de Nova Trento], mas nunca fizeram qualquer proposta, que saísse do papel, por isso me obriguei a participar do Centro Trentino, o centro hoje está tendo uma outra cara, está ajudando
102 ORSI, loc. cit. 103 ORSI, loc. cit.
137
com esta parte da cultura italiana, promovendo gincanas tentando promover festas, cursos de pintura e assim por diante, e outros projetos que estão em vista.104
A atual situação de desunião (pública e privada) resultou na organização do
empresariado local e conseqüentemente em uma associação voltada ao desenvolvimento
turístico.
Eu acabei de fundar uma associação dos turistas de nova Trento, com o nome de Associação Trentina do Turista, começamos ela agora, está com trinta dias, está toda regulamentada, com estatuto, CNPJ, tudo certinho, e nos já entramos com projeto de mapeamento da cidade. Com todos os comércios agregados, vamos tentar fazer uma parceria com a Secretaria de Turismo para fixar placas na cidade, com cores e tamanhos, e tentar trabalhar agregados a outras associações, tentando fazer delas uma só. A finalidade dela é ter associados ligados diretamente com o turista, isso inclui farmácias, pousadas, restaurantes, hotéis, lojas de produtos coloniais, vinícolas e assim por diante, quem trabalha diretamente com o turista. Hoje nós já estamos com 22 associados, e estamos buscando novos parceiros. Os encontros geralmente estão sendo semanais.105
Assim o entrevistado afirma também que “Nova Trento tenta ser uma cidade turística,
só que a partir de uma conscientização, participação e harmonia do comércio e da prefeitura
será possível, senão será muito difícil”. Entre outras considerações ele sugeriu algumas
melhorias prioritárias ao município, as quais serão pauta nas reuniões da Associação como:
Um portal de entrada, um portal turístico em Nova Trento, algo na BR-101 em Tijucas na ponte, porque ali tem muita gente passando sem fazer nada e com vontade de conhecer uma outra coisa, não só o turismo religioso, mas também informações em Tijucas, artesanato, trilhas ecológicas, cascata, turismo religioso e cultural junto. Seria uma alavanca que vai melhorar o turismo em toda a região.106
Para concretizar estas e outras intenções que serão sugeridas pelas associações e
envolvidos no turismo local, é imprescindível a participação dos três segmentos do turismo:
poder público, empresariado e moradores tradicionais. O que no caso de Nova Trento ainda se
faz necessário a inclusão de um quarto membro: a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada
Conceição. “O comércio eu estou conseguindo unir, sentindo firmeza nas lideranças, mas a
gente não consegue trabalhar se não tiver a parceria da prefeitura, porque a gente queria fazer
coisas que dependem da prefeitura. A parceria é fundamental.”, afirma o entrevistado,
concluindo que:
104 ORSI, loc. cit. 105 ORSI, loc. cit. 106 ORSI, loc. cit.
138
Esperamos falar com o prefeito e encontrar que o poder político responsável pelo turismo, faça parcerias, que sejam mais unidos e que venham falar com a gente porque nós estamos aí simplesmente para ajudar. É lógico que todos tem interesse particular, mas quando o comércio de Nova Trento vai bem como hoje esta indo, o turismo, a prefeitura também ganha com isso porque a credibilidade é o município que ganha. Se você vem no meu restaurante ou no meu hotel é bem atendido e é em Nova Trento você vai falar ‘eu estive em Nova Trento!’, e o primeiro nome é sempre o nome do município que vem primeiro, você sempre coloca o município na frente e agregado a isso vai prefeito, vai o secretário de turismo [...] e tudo isso, não ocorre então porque não há parceria.107
Esta realidade que vive Nova Trento, da iniciativa privada ser muito mais atuante no
desenvolvimento turístico que o poder público é facilmente observada em algumas regiões
turísticas. É função das organizações turísticas governamentais a formulação, coordenação e
execução da política de turismo, seja em nível federal, estadual ou municipal. A iniciativa
privada apresenta-se como ator fundamental no processo turístico, juntamente com os
moradores tradicionais, formando o tripé básico para o correto desenvolvimento turístico,
visando a sustentabilidade.
Diante das informações coletadas por meio de entrevistas e aplicação de questionários,
foram necessárias análises da estrutura e do espaço local, através da observação de
fotografias, buscando identificar a realidade atual e as transformações já ocorridas no
município.
Tomando como base a figura 26, página 78, que retrata o Bairro de Vígolo no início
do século XX, visualizando a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes, e comparando-a com as
figuras apresentadas a seguir, principalmente a figura 70, próxima, nota-se a modificação
ambiental e a urbanização de Vígolo em virtude da estrutura para a visitação.
107 ORSI, loc. cit.
139
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 70 - VISTA AÉREA DE VÍGOLO E SUA INFRA-ESTRUTURA DE APOIO
AO VISITANTE NO DIA DA CANONIZAÇÃO
As figuras 71, 72 e 73, a seguir, mostram Vígolo no dia da Canonização de Santa
Paulina. Percebe-se o desmatamento para utilização do espaço para estacionamento, comércio
e outros.
140
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 71 - VISTA DA ESTRUTURA DO BAIRRO DE VÍGOLO
NO DIA DA CANONIZAÇÃO
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 72 - VISTA DOS VISITANTES EM VÍGOLO NO DIA DA CANONIZAÇÃO
141
Na figura 73, abaixo, se pode observar o local destinado ao futuro Santuário de Santa
Paulina, no canto superior esquerdo e a disposição dos veículos, principalmente ônibus, no dia
da canonização, como também, a movimentação dos turistas-peregrinos na pequena Vígolo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 73 - BAIRRO DE VÍGOLO NO DIA DA CANONIZAÇÃO
Assim, é possível verificar através das figuras 74 e 75, a seguir, a área destinada ao
estacionamento de ônibus e automóveis, e o fluxo de visitantes e comércio montado para
tentar suprir suas necessidades.
142
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 74 - VISTA DA ESTRUTURA DO ESTACIONAMENTO EM VÍGOLO
NO DIA DA CANONIZAÇÃO
De acordo com o Jornal do Brasil (2004)108:
Os 10 mil moradores de Nova Trento, em Santa Catarina, já estavam acostumados ao movimento do turismo religioso que levava, em média, 700 carros por dia ao Santuário da Madre Paulina. Com a canonização da primeira santa brasileira, em 19 de maio de 2002, triplicou o afluxo de romeiros, que chegam de todo o Brasil e até de países como Itália e Alemanha.
Segundo Santos109 (JORNAL DO BRASIL, 2004), “Sinto-me muito bem aqui, tem
uma energia boa - afirma, informando que cobra R$ 3,00 de cada um dos cerca de 1.500 que
passam por lá a cada dia.”
Em contrapartida, Dalri110 (JORNAL DO BRASIL, 2004), afirma que “o movimento
de carros em direção ao santuário diminuiu muito depois que as Irmãzinhas instituíram o
estacionamento pago.”
108 EM NOVA TRENTO, o turismo insiste em não fazer milagres. Jornal do Brasil. 19 jan. 2004. Instituto Virtual de Turismo. Clipping. Disponível em : <http://www.ivt-rj.net/>. Acesso em: 23 jan. 2004. 109 José Hamilton Santos, fiscal contratado pela CIIC para administrar o trânsito no local. 110 Luiz Dalri, morador de Vígolo e empresário que fabrica, com os filhos, móveis e persianas de madeira.
143
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 75 – TURISTAS-ROMEIROS EM VÍGOLO NO DIA DA CANONIZAÇÃO
As figuras 76 e 77, apresentadas na seqüência, expõem os artigos que deveriam ser
mais comercializados em Vígolo: artigos religiosos. Estes espaços de revenda de artigos
somente religiosos estão localizados junto ao Museu e no entorno do Santuário, de
responsabilidade e administração das irmãzinhas da CIIC.
Fonte: Brasil, 2001
FIGURA 76 - LOJA DE LEMBRANÇAS
144
Fonte: Santa Catarina, 2002
FIGURA 77 – ARTIGOS RELIGIOSOS
Entretanto, a realidade da maioria das barracas em Vígolo é a venda de produtos
irregulares (contrabandeados de países vizinho como o Paraguai) como: bonés, bijuterias,
brinquedos, adesivos, despertadores, CD’s e vários outros que não apresentam relação com o
ambiente do Santuário, com a Santa Paulina ou com a devoção religiosa, conforme a figura
78, abaixo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Nova Trento, 2002
FIGURA 78 – ARTIGOS COMERCIALIZADOS NO SANTUÁRIO EM VÍGOLO
145
Segundo o Governo do Estado de Santa Catarina (2002)111: “A esperteza de ganhar
dinheiro às custas de Santa Paulina está em alta. Hoje quem chega ao Santuário encontra
barraqueiros vendendo CDs falsificados, camisetas e sacolas com imagem da Madre”. Este
fato preocupa as Irmãzinhas da Imaculada Conceição já que a comercialização de estatuetas
da Santa Paulina também são falsificadas e que “para diminuir custos, ganhar rapidez e lucro,
alguns barraqueiros do Santuário estão vendendo estátuas falsas dela, ou seja, que não
representam o legítimo rosto de Amábile Lúcia Visintainer”112. A Irmã Lígia esclarece que
“Eles estão usando as formas do rosto de Santa Rita de Cássia”113.
Esta irregularidade nas variadas estatuetas é de conhecimento da Congregação, porém
as Irmãzinhas afirmam não possuírem controle nas falsificações e não poderem induzir os
turistas-religiosos a comprarem a imagem que retratam a Santa. Segundo a Irmã Lígia114 “o
que podemos garantir é que a verdadeira reprodução de Madre Paulina a define com traços
italianos. Ela não tem feição fina no rosto como algumas estátuas a apresentam”.
A cultura ainda não é instrumento de divulgação e valorização no comércio local
(salvo aqueles administrados pela CIIC, junto ao Santuário Santa Paulina). É necessário que
se organize melhor o comércio local, pois este apresenta uma descaracterização referente aos
artigos comercializados no Santuário Santa Paulina, conforme as figura apresentadas.
De acordo com Santos115 (2004) “futuramente, quando a basílica for inaugurada, os
comerciantes estarão reunidos num shopping, que será administrado pelas Irmãzinhas”.116
Dentre as informações repassadas através de e-mail enviado em 07 de abril de 2003
pela Secretária de Turismo e Cultura117 do município, pode-se destacar como propostas de
projetos apresentadas até o momento as seguintes: melhorias nos acessos viários ao
município, construção do novo Santuário de Santa Paulina (obra em andamento),
desenvolvimento da cultura local, desenvolvimento do turismo regional (Roteiro Nova
111 REUNIÃO teve a presença do governador. Governo do Estado de Santa Catarina.Disponível em: <www.sc.gov.br>.Acesso em: 19 jun 2002. 112 SANTA CATARINA, loc. cit. 113 SANTA CATARINA, loc. cit. 114 SANTA CATARINA, loc. cit. 115 José Hamilton Santos, fiscal contratado pela CIIC para administrar o trânsito no local. 116 EM NOVA TRENTO o turismo insiste em não fazer milagres. Jornal do Brasil. 19 jan. 2004. Instituto Virtual de Turismo. Clipping. Disponível em : <http://www.ivt-rj.net/>. Acesso em: 23 jan. 2004. 117 Sra. Ivana Cadore. Secretária de Turismo e Cultura do Município de Nova Trento.
146
Trento-Brusque interligando os santuários), construção de portais turísticos, postos de
atendimento aos visitantes, formatação de novos roteiros turísticos na cidade e implantação
de Escola Técnica de Turismo Regional.
Todos estes projetos mencionados pela representante do poder público municipal,
segundo ela, são considerados emergenciais ao desenvolvimento turístico sustentável da
cidade, preocupando-se com a estrutura do município e com as informações a serem passadas
aos turistas. Diz-se também, ter interesse em preservar a cultura local e utilizá-la como
atrativo turístico, entretanto, por enquanto, percebe-se esta iniciativa apenas junto ao setor
privado.
Segundo o Prefeito Municipal, Sr. Godofredo Tonini, a demora na melhoria da
estrutura do município ocorre, pois, “o turismo religioso é muito diferente do turismo profano.
As pessoas não vêm até aqui para se divertir, comer bem e fazer compras; elas vêm em busca
de conforto espiritual, para resolver seus problemas. Na maioria das vezes são humildes, sem
poder aquisitivo”. O prefeito conta ainda que “a igreja demorou muito para decidir se a
basílica seria construída em Nova Trento ou em São Paulo, onde estão a sede da Congregação
e o corpo da Madre Paulina”. Ele afirma que devido ao impasse, “os investidores ficaram
esperando a decisão e só agora começam a chegar. Quando a basílica ficar pronta, o lado
comercial vai melhorar 100%.”118
Outro ponto relevante na organização na região e do Santuário é o Plano Diretor do
Bairro Vígolo, “que continua indefinido. Várias propostas para o melhoramento do bairro
estão sendo discutidas há muito tempo, como por exemplo, a questão dos comerciantes que lá
se encontram”119. De acordo com Irmã Ilze Mees, responsável pela organização do Santuário,
“houve omissão por parte da Câmara de vereadores e da administração municipal, que só
agora sentem a gravidade do problema”120.
O poder público de Nova Trento, através do presidente da câmara se manifesta da
seguinte forma: “O presidente da Câmara de Vereadores, Carlos Tarcísio Battisti, explicou
que o prefeito municipal, Godofredo Luiz Tonini, pediu um tempo, pois ele alterará não 118 JORNAL DO BRASIL, loc. cit. 119 REUNIÃO teve a presença do governador. Governo do Estado de Santa Catarina.Disponível em: <www.sc.gov.br>.Acesso em: 19 jun 2002. 120 SANTA CATARINA loc. cit.
147
somente o Plano Diretor do Vígolo, e sim, de todo o município de Nova Trento.”121. A real
intenção do prefeito seria a:
a chegada de grandes empresas para a cidade como rede hoteleira, telefonia, fábrica de autopeças na idéia de expandir a visitação de romeiros. Tonini apóia a construção civil ao redor do Santuário, o que gera uma discussão com a Congregação. As Irmãs querem a preservação de quatro quilômetros de cada lado do Santuário.122
O fenômeno turístico-religioso, assim como às demais modalidades, necessitam da
elaboração de um planejamento para o desenvolvimento dos destinos religiosos, dentro de
uma visão sustentável, proporcionando benefícios a comunidade em geral.
Ressalta-se a importância dos programas prioritários para a ordenação da atividade turística, gerando benefícios para devotos e turistas e garantindo o desenvolvimento sustentável, tanto no aspecto econômico como no ambiental e sócio-cultural, assim como a qualidade de vida da comunidade local. (NOVAES, 2000, p. 131)
Em Nova Trento se percebeu muitas modificações na cidade e na vida dos moradores
após a canonização de Santa Paulina, e dentre elas a que mais se destaca é o aumento no fluxo
turístico. Segundo SANTUR (2004)123 “ocorreram mudanças expressivas durante esse tempo.
A principal delas foi o aumento do número de visitantes ao Santuário que passou a receber 80
mil pessoas por mês, quatro vezes mais que antes da canonização.”
4.5- Transformações em Nova Trento
Conforme dissertado no Capítulo I, deve-se ter muito cuidado com o processo de
desenvolvimento turístico, pois há grande possibilidade de haver danos causados por esta
atividade que muitas vezes ocorre sem planejamento. Estes, podem ser irreversíveis minando
por completo a identidade cultural e os aspectos econômicos e ambientais do povo receptor.
No turismo religioso, principalmente aquele que ocorre em Jerusalém, Meca e Medina, tem havido registros de conflitos entre os visitantes devotos, a população receptora e os turistas curiosos. Os lugares religiosos se transformaram em atrações turísticas, em detrimento da sua função espiritual, e as igrejas (não só as do Terceiro Mundo) passaram a explorar o turismo em benefício próprio. Vendem ingressos, santinhos, velas, cartões postais e tour pagos. Várias conferências e reuniões têm
121 SANTA CATARINA, loc. cit. 122 SANTA CATARINA, loc. cit. 123 MADRE Paulina – A Santa do Brasil. SANTUR – Santa Catarina Turismo S.A. Disponível em: <http://intra.santur.sc.gov.br/materias/novatrento.htm>. Acesso em 22 jan. 2004.
148
ocorrido nas diversas comunidades com atrativos religiosos, concluindo-se que há necessidade de preparar guias especializados para os locais ‘santos’, de criar condições para atender adequadamente os peregrinos e outras atividades para os turistas que visitam o local sem a motivação religiosa. (RUSCHMANN, 1997, p. 50)
4.5.1- Transformações sócio-culturais
Como transformações positivas sócio-culturais no município de Nova Trento destaca-
se a preservação dos usos e costumes, através da religiosidade, tradições musicais, artísticas e
da gastronomia típica italiana, como também, a realização de festas típicas italianas,
principalmente às de cunho religioso: Cavalgada de Fé, Aniversário de Beatificação e
Canonização de Santa Paulina, Festa de São Virgílio e outras.
É facilmente percebida também como benefício do desenvolvimento turístico a
valorização da herança cultural italiana (diversas manifestações e orgulho étnico demonstrado
pelos moradores); o fortalecimento do relacionamento com a Itália, principalmente após a
canonização de Santa Paulina, onde se estreitaram os laços com a comunidade italiana; a
divulgação da cultura, também impulsionada pela canonização, já que este fato foi veiculado a
todo mundo e considerado único no Brasil e principalmente em Santa Catarina.
Envolvida diretamente no cotidiano dos moradores tradicionais que o turismo
proporcionou foi a troca de culturas e experiências do povo local com os diversos visitantes,
que são provenientes de todas as regiões do Estado, de vários estados brasileiros (São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, e vários outros do norte e nordeste), como também
dos países da América do Sul (Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e outros).
As modificações também sentidas pela comunidade foi o aumento de opções de lazer,
através da variedade de restaurantes, compras e atrações histórico-culturais, e a melhoria na
qualidade de vida dos moradores, pelas opções de lazer, de educação e saúde.
As transformações negativas sócio-culturais decorrentes do turismo identificadas
foram à descaracterização nos artigos religiosos que refletem na religiosidade da comunidade
e o desrespeito aos costumes locais (como a forma atual do comércio e a procedência das
peças vendidas) e o aumento populacional, que acaba por causar danos culturais devido a
permanência de pessoas que não possuem a mesma importância pela etnia e costumes
italianos.
149
O condicionamento do anfitrião à cultura e gostos dos visitantes não é regra geral.
Quando há planejamento adequado e participação da comunidade local durante o processo de
preparação de uma região para o desenvolvimento de atividades turísticas, o resultado final
pode ser positivo. Os efeitos sócio-culturais sobre as pessoas residentes na área podem se
manifestar, entre outros aspectos, em melhores condições de vida e enriquecimento cultural.
4.5.2- Transformações econômicas
Como transformações positivas econômicas destaca-se o desenvolvimento e
crescimento do comércio, principalmente aqueles instalados em Vígolo, já que foi constatado
que atualmente o comércio do Centro de Nova Trento pouco lucra com a atividade turística;
possibilidade de novos negócios, pois muitos moradores que trabalhavam apenas na
agricultura ou eram funcionários de empresas locais viram a oportunidade de negócio próprio
impulsionando a economia municipal.
Com isso, houve conseqüentemente o aumento no número de emprego, o que
favoreceu a situação dos moradores locais, assim como a valorização da população e do
desenvolvimento do município. A cidade conseguiu arrecadar mais impostos devido aos
novos investimentos e pode assim retornar a lucratividade aos munícipes em forma de bem
feitorias.
A possibilidade de novos empregos, funções e negócios provocam na sociedade
produtiva uma melhora na qualificação de mão-de-obra. Em Nova Trento se inicia um
processo de exigência de qualidade na prestação de serviços e produtos oferecidos. O que é
muito positivo e futuramente rentável.
Os benefícios positivos econômicos são aqueles mais facilmente percebidos pela
comunidade e pelo governo, estão envolvidos diretamente no cotidiano das pessoas como a
geração de empregos e de renda; e o aumento e melhoria na distribuição da renda. Estes já
começam a serem percebidos, porém de uma forma ainda superficial.
As transformações negativas econômicas encontradas são a instabilidade comercial,
principalmente no Bairro do Vígolo, através das barracas, lanchonetes e estabelecimentos de
produtos típicos, mas acima de tudo a situação dos ambulantes no Santuário Santa Paulina; a
150
marginalização (pequeno crescimento), com alguns furtos constatados nos locais de maior
fluxo e principalmente aos finais de semana.
A inflação e a especulação imobiliária são modificação identificação na cidade. Os
preços variam de acordo com o período e local e isso reflete negativamente direto ao morador
tradicional. A grande procura de investidores e muitas vezes de particulares em busca de
terrenos no município vem prejudicando diretamente a comunidade, pois muitos se
aproveitam da ingenuidade dos moradores oferecendo valores irrisórios por suas terras.
A concentração de renda em um só local no município vem causando uma distorção
na economia local. É facilmente constatado o interesse turístico, infelizmente, só em Vígolo.
Este fato vem provocando nos moradores das demais áreas da cidade uma apatia aos
moradores do Vígolo e principalmente aos visitantes.
Os investimentos feitos nas destinações turísticas sempre são considerados positivos,
porém, atualmente os moradores estão constatando que estas melhorias estão se voltando
apenas aos turistas e não para a comunidade local. Da mesma forma, para o morador os
turistas estão provocando prejuízos na estrutura pública, como é o caso das vias públicas que
estão em estado ruim, apresentando destruição em alguns pontos. Todo este sentimento pode
vir a ser um grande complicador para o desenvolvimento turístico de Nova Trento.
Por último destaca-se o pouco incentivo por parte municipal, estadual e federal que os
moradores e empresários vem sentindo. As organizações turísticas governamentais não estão
aplicando recursos ou realizando efetivamente investimentos no município. A atual estrutura
oferecida ao visitante é praticamente a mesma a mais de dez anos. Um município como Nova
Trento que dispõe de importante legado histórico-cultural e religiosa, e conseqüentemente
atrai muitos visitantes não possui um posto de informações turísticas, um controle de visitação
e de satisfação dos turistas. Onde sua infra-estrutura de apoio ao turista é precária,
necessitando melhorar áreas como a saúde, segurança, acesso e outros, de responsabilidade do
governo.
4.5.3- Transformações ambientais
Como transformações positivas ambientais destaca-se a consciência sobre a
preservação da natureza por parte dos moradores locais e também dos atuais visitantes. Como
151
a cidade já apresenta uma organização e limpeza urbana (Prefeitura), assim como no Vígolo
(CIIC), os próprios visitantes se esforçam para manter o local limpo.
A valorização das áreas naturais do município, também são consideradas positivas,
pois com a utilização ambiental para o desenvolvimento do turismo local, provavelmente
serão preservados os espaços e organizados de forma correta os atrativos a serem visitados
como: trilhas, morros, cascatas e cachoeiras. Esta intenção de desenvolver o turismo
ecológico já se faz presente na cidade, por parte de empresários locais e pela CIIC, que
desejam promover estas práticas.
As transformações negativas ambientais encontradas são a situação dos ambulantes no
Santuário Santa Paulina ocasionando uma poluição visual grandiosa, assim como a área
desmatada em Vígolo para o futuro Santuário Santa Paulina. Acredita-se que estes impactos
serão amenizados quando forem concluídas as obras do Santuário.
Entretanto, a atual degradação ambiental que vem ocorrendo em várias áreas do
município é considerada uma das principais preocupações que os gestores do município
deveriam ter. Os problemas com a destruição das vias públicas acabam sendo apenas um dos
segmentos a serem analisados, assim como a superlotação de visitantes nos principais pontos
turísticos, como o Santuário Santa Paulina na pequena Vígolo. As áreas naturais são as que
mais sofrem e são, muitas vezes irreversíveis no processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O turismo é um processo importante na vida da comunidade regional. Entretanto, o
desenvolvimento deve ser organizado, pois, em algumas destinação onde se desenvolve, ele
pode causar diversas transformações, positivas e negativas, em seu meio ambiente (social,
cultural, econômico e ecológico).
A atividade turística é considerada como fenômeno econômico e social, podendo
apresentar um número indefinido de vertentes dependendo das motivações do viajante para
empreender a viagem.
Atualmente o turismo religioso tem sido um dos tipos de turismo mais desenvolvidos
no mundo. Um dos fatores que impulsiona e contribui para esta prática é o aumento dos
problemas sociais no cotidiano das pessoas. Buscando remediar e muitas vezes solucionar os
problemas, diversas pessoas visitam “templos” sagrados a cada ano, pedindo principalmente
ajuda aos seres superiores.
O município de Nova Trento dispõe de uma importante história de colonização e de
cultura preservada junto a seus moradores. Aliado a isso, possui um forte e vasto atrativo
religioso, devido à parte da vida e obra de Santa Paulina na região. Esses diferenciais fizeram
de Nova Trento um dos maiores núcleos receptores de turistas do Estado de Santa Catarina.
Os turistas-peregrinos são provenientes dos municípios vizinhos, do estado e de todo o país.
Nova Trento é um município, que apesar dos seus 110 anos, ainda mantêm suas
características de cidade do interior, tranqüila, onde predominam traços fortes da etnia italiana
revelada nos costumes, gastronomia, folclore, dialeto e religiosidade.
Privilegiada com seus recursos naturais (morros, cachoeiras, rios e ribeirões) e
principalmente com recursos histórico-culturais, dois santuários (única cidade brasileira) e
diversas edificações; Nova Trento é ímpar por ser o local de parte da vida e obra, incluindo a
Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, de Amábile Visintainer a Santa
Paulina, a primeira santa no Brasil, o que proporcionou a cidade o título de 2ª estância
Turístico-Religiosa do País.
153
A cidade apresenta grande destaque por sua história e colonização por imigrantes
trentino italianos. A comunidade neotrentina identifica-se pela forte preservação dos usos e
costumes. A religiosidade, as tradições musicais, artísticas e a gastronomia estão vivas e
presentes na maioria das famílias de Nova Trento.
O turismo ocorreu repentinamente e em grandes proporções em Nova Trento e por
isso tornou-se necessário à análise das transformações sócio-culturais, econômicas e
ambientais ocorridas com o desenvolvimento do turismo religioso na cidade.
As alterações no cotidiano da comunidade, segurança, infra-estrutura básica e
comodidade, são preocupações que se fazem necessárias na análise do desenvolvimento
turístico.
Em Nova Trento as conseqüências relacionadas à qualidade de vida da comunidade
foram, até o momento, benéficas, já que o intensivo desenvolvimento turístico com a
superlotação de visitantes vem ocorrendo há praticamente dois anos.
Os moradores, em sua maioria, por enquanto, se posicionam de modo favorável ao
desenvolvimento do turismo na cidade, já que muitos deles se beneficiam diretamente com o
fluxo turístico. Porém, há aqueles que já demonstram insatisfação referente a movimentação
turística no município.
Quanto às transformações culturais, conclui-se que a manutenção e preservação do
patrimônio histórico-cultural, em determinados locais e a própria divulgação do município
foram propiciadas pelo aumento no número de visitantes na cidade. O orgulho étnico e a
valorização da herança cultural também são processos identificados na região e constatados
após o início do turismo. Destacam-se como fatores desfavoráveis à falta de aproveitamento e
divulgação do potencial cultural, através de manifestações folclóricas, do município, que
poderiam ser utilizadas realmente como atrativos turísticos.
As modificações negativas geradas com o desenvolvimento do turismo devem ser
minimizadas e as positivas mantidas, dentro de um estudo planejado. Portanto, o turismo tem
que ser planejado e organizado pelos gestores municipais em conjunto com a comunidade
local para se identificar o processo desejável da atividade turística na cidade.
154
Como transformações econômicas positivas destaca-se como ponto-chave o
desenvolvimento e crescimento do comércio em geral e as novas perspectivas que este fato
ocasionou nos moradores tradicionais como empregos, novos negócios, impostos e outros.
Por ser as alterações identificadas prontamente, tanto na teoria como na prática, os
aspectos positivos econômicos estão relacionados diretamente no dia-a-dia da comunidade.
Fatores como incremento no número de empregos, renda; e na melhoria na distribuição da
renda, já são impactos percebidos na cidade em estudo. Entretanto como principal
transformação econômica negativa destaca-se a grande procura de investidores e particulares
na aquisição de terrenos no município eu muitas vezes são vendidos por preços fora do valor
de mercado. Outro fator que merece destaque e que deve ser trabalhado pelo poder público,
através de campanhas de conscientização por exemplo, é a percepção que os moradores estão
com relação as melhorias na estrutura do município, que eles alegam serem voltadas
exclusivamente aos visitantes.
Assim considerou-se também que deve haver mais inventivo financeiro do poder
público, principalmente o estadual e municipal, no desenvolvimento turístico de Nova Trento.
Afinal, faz parte das competências e funções das organizações turísticas governamentais a
definição das políticas ao turismo e programas de marketing, de qualificação de mão-de-obra,
e de melhoria na infra-estrutura básica e turística, o que não se percebe em Nova Trento.
A divulgação de lugares sagrados para celebração através de festivais, eventos e
manifestações artísticas, como também de santuários, como é o caso de Nova Trento, acaba
por proporcionar o enriquecimento na vida social e econômica, realçando características e
identidades culturais locais. Porém, nada adianta se a destinação turística não está preparada
para receber o visitante, se não há estrutura e conscientização da população local a apoio o
turismo, e principalmente união entre o poder público e a iniciativa privada. Assim a
conservação e revitalização dos núcleos devem ser promovidas e estimuladas pelo governo
junto à população, a empresários, principalmente comerciantes.
Como alterações ambientais positivas salienta-se a consciência de preservação do
meio ambiente natural da população local e dos turistas; como também, a potencialidade para
práticas turísticas relacionadas ao meio ambiente como trilhas e cachoeiras, tornando assim
uma nova temática que poderá ser oferecida ao turista.
155
Já como transformações negativas relacionadas ao ambiente natural pode-se apontar,
sobretudo, a poluição visual no Santuário Santa Paulina ocasionada pelas barracas de
ambulantes que não recebem nenhum treinamento ou fiscalização.
Assim, acredita-se que os gestores do turismo no município, empresários, secretário,
prefeito ou morador devem conhecer a realidade de sua cidade e tentar trabalhar o turismo de
forma sustentável, visando a preservação dos recursos e minimizando os impactos negativos,
que são de certa forma inevitáveis.
A massificação do turismo acima de tudo pode fazer desaparecer, com o tempo,
características essenciais da comunidade, na medida em que os anfitriões, para atender à
demanda turística vão aos poucos adequando o seu cotidiano às necessidades dos grupos
visitantes, a ponto de perder seus referenciais.
Porém, a realidade pode ser outra. A subordinação do anfitrião à cultura e gostos dos
visitantes não é regra geral. Quando há planejamento adequado e participação da comunidade
local durante o processo de preparação de uma região para o desenvolvimento de atividades
turísticas, o resultado final pode ser positivo. Os efeitos sócio-culturais sobre as pessoas
residentes na área podem se manifestar, entre outros aspectos, em melhores condições de vida
e enriquecimento cultural, que é o que se espera de Nova Trento.
Assim, os danos causados pelo turismo descontrolado e sem planejamento podem ser
irreversíveis acabando, por completo, com a identidade cultural do povo receptor.
Mesmo recebendo visitantes há mais de uma década, Nova Trento ainda possui
características e perfil de núcleo receptor inicial, ou seja, que está começando a desenvolver o
turismo. Não organizou seu crescimento e a forma que gostaria de desenvolver o turismo e
está sofrendo com superlotação de visitantes, falta de infra-estrutura básica e turística, entre
outros.
A prática turística pode ser considerada uma grande alavanca para o desenvolvimento
econômico municipal, entretanto se não for bem administrada e gerida, seguindo parâmetros
sustentáveis, pode ser uma atividade nociva e prejudicial.
156
Percebe-se ao término desta pesquisa, que o turismo religioso desenvolvido
atualmente no município de Nova Trento apresenta-se benéfico ao crescimento da localidade,
pois as transformações positivas superam as negativas.
Enfim, planejar e preparar é, em última instância, pensar na sobrevivência do povo
que vive no local a ser visitado e conhecido por outras pessoas a fim de que a sua história
possa ter continuidade.
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APÊNDICES
APÊNDICE A – Entrevista com comerciantes (proprietários)
Somos do Curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI em Balneário Camboriú e estamos realizando uma pesquisa para analisar as transformações ocorridas em Nova Trento com o desenvolvimento do turismo religioso. Solicitamos sua colaboração em responder o seguinte questionário. Muito Obrigada!
1) Empresa: / Cargo:
2) Você sempre trabalhou com esta atividade? ( ) Sim ( ) Não
3) Se não, qual a atividade que você exercia anteriormente?
4) Há quanto tempo funciona sua empresa?
5) Quantos funcionários havia quando inaugurou a empresa?
6) Quantos clientes você recebia? Como era o fluxo (local ou visitantes)?
7) Você acredita que os negócios em Nova Trento melhoraram após a Beatificação de
Madre Paulina em 1991? Como?
8) A sua empresa cresceu?De que forma?
9) Quantos funcionários existem hoje em sua empresa?
10) Quantos deles são de fora de Nova Trento?
11) Quantos clientes você recebe atualmente? Como é o fluxo (local ou visitantes)?
12) Você acha que Santificação de Paulina proporcionou uma melhora no comércio da
cidade? Por quê?
13) Houve crescimento nos lucros de sua empresa?
14) No último ano a visitação em Nova Trento aumentou muito. Você acha isso positivo? Por
quê?
15) Você acha que o desenvolvimento do turismo religioso tem contribuído para o
crescimento de Nova Trento? E isto é interessante para o comércio local?
16) Gostaria de fazer alguma observação?
APÊNDICE B – Entrevista com comerciantes (funcionários) Somos do Curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI em Balneário Camboriú e estamos realizando uma pesquisa para analisar as transformações ocorridas em Nova Trento com o desenvolvimento do turismo religioso. Solicitamos sua colaboração em responder o seguinte questionário. Muito Obrigada!
Nome: / Idade: / Naturalidade:
1) Mora em Nova Trento? Há quanto tempo?
2) Qual a atividade que você desenvolve? Sempre trabalhou com esta atividade? Se não, qual
atividade exercida anteriormente?
3) Houve crescimento nos lucros?
4) Qual a principal transformação notada no comércio com a santificação de Paulina?
5) Os turistas têm valorizado o comércio local? Por quê?
6) Você acha que o turismo religioso tem contribuído para o desenvolvimento da cidade de
Nova Trento?
7) As tradições (sócio-culturais) do município mantiveram-se após a santificação?
8) Na sua opinião, houve algum fator que veio contribuir negativamente na vida da
comunidade?
9) As autoridades municipais e estaduais do setor turístico têm oferecido cursos de
capacitação aos comerciantes para atender a nova demanda?
10) Em âmbito geral, quais as perspectivas perante a nova situação de Nova Trento?
11) O quê você sugere para melhorar a vida da população de Nova Trento?
12) Você tem alguma observação a fazer?
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido para
participação em pesquisa
Analisei a possibilidade de participar de uma entrevista que durará no máximo 40
minutos, contendo perguntas relacionadas ao município de Nova Trento e ao desenvolvimento
do turismo na região, caso eu aceite participar desta como entrevistado (a) meu nome não
aparecerá quando forem apresentados e divulgados os resultados da pesquisa. A pesquisadora
garante sigilo quanto a informações que me identifique, assim como o uso destas informações
apenas em publicações e eventos de natureza científica.
A gravação de minha entrevista será identificada apenas por número, garantindo o
sigilo das informações.
Não receberei nenhum tipo de pagamento por participar deste estudo. Não sofrerei
nenhum tipo de prejuízo ou punição se, mesmo depois que começar a entrevista, eu resolver
parar ou não quiser responder algumas perguntas.
Estou de acordo em participar da pesquisa, no momento assino este termo de
consentimento, junto ao pesquisador.
Nova Trento, ____de ________________de 2003.
Participante:____________________________________
Pesquisadora: Profª. Renata Silva
APÊNDICE D – Questionário a comunidade
Somos do Curso de Mestrado em Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI em Balneário Camboriú e estamos realizando uma pesquisa para analisar as transformações ocorridas em Nova Trento com o desenvolvimento do turismo religioso. Solicitamos sua colaboração em responder o seguinte questionário. Muito Obrigada! Nome:______________________________________________________ Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ( ) 15 a 19 anos ( ) 20 a 29 ( ) 30 a 39 ( ) 40 a 49 ( ) 50 a 59 ( ) acima de 60 anos Naturalidade: ___________________
1) Qual a sua escolaridade? ( ) 1o grau incompleto ( ) 1o grau completo ( ) 2o grau incompleto ( ) 2o grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo 2) Qual o seu rendimento? ( ) Menos de R$ 200,00 ( ) de R$ 200,00 a R$ 400,00 ( ) de R$ 401,00 a R$ 600,00 ( ) de R$ 601,00 a R$ 800,00 ( ) de R$ 801,00 a R$ 1.000,00 ( ) de R$ 1.001,00 a R$ 1.200,00 ( ) Mais de R$ 1.201,00
3) Qual a sua profissão? ____________________________________
4) Há quanto tempo mora em Nova Trento? ______________________ 5) Você gosta de morar em Nova Trento? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________________ 6) Se você pudesse, mudaria de cidade? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________________ 7) Você trabalha com alguma área ligada ao turismo? ( ) Não. (Passe para a pergunta 10) ( ) Sim. Qual é a atividade? ( ) Comércio ( ) Hotelaria ( ) Pousada ( ) Lanchonete ( ) Quiosque ( ) Restaurante ( ) Outro _________________
8) Desde que ano você trabalha com esta atividade? __________________ 9) Você é proprietário ou empregado? ( ) Proprietário ( ) Empregado 10) Alguém na sua família trabalha com alguma atividade turística? ( ) Não. (Passe para a pergunta 12) ( ) Sim. Quantas pessoas? _______
11) Qual a atividade desenvolvida por eles? ( ) Comércio ( ) Hotelaria ( ) Pousada ( ) Lanchonete ( ) Transfer ( ) Quiosque ( ) Restaurante ( ) Outro _____________________
12) Você acha que ocorreram melhorias no município após a Beatificação de Madre Paulina em 1991? ( ) Sim (passe para a próxima questão) ( ) Não (passe para a pergunta 14)
13) Se você respondeu sim, quais os aspectos positivos apareceram no município após a Beatificação? ( ) O desenvolvimento do comércio ( ) O aumento de visitantes no município ( ) A preservação da natureza ( ) A divulgação do município ( ) A possibilidade de abrir um novo negócio ( ) O aumento de emprego no município ( ) O aumento de opções de lazer ( ) A melhoria da educação ( ) Valorização da cultura italiana ( ) Desenvolvimento geral do município ( ) Outros _________________________________________________________________________ 14) Você acha que houve aspectos negativos em Nova Trento após a Beatificação em 1991? ( ) Sim (passe para a próxima questão) ( ) Não (passe para a pergunta 16) 15) Se você respondeu sim na pergunta anterior, quais foram os aspectos negativos que ocorreram? ( ) Exploração comercial ( ) Desrespeito aos costumes locais ( ) Superpovoamento ( ) Mais exigências para os novos empregos ( ) Destruição da natureza ( ) Exploração da mão de obra de menores de idade ( ) Concorrência nos negócios ( ) Roubo, assaltos e violências ( ) Aumento do custo de vida ( ) A população local foi colocada de lado em relação aos turistas ( ) Destruição das vias públicas ( ) Invasão de ambulantes perto do Santuário ( ) Há muita gente de fora ( ) Vários comércios abriram negócios e já fecharam ( ) Outros _________________________________________________________________________ 16) Você acredita que com Santificação de Paulina, a vida da comunidade melhorou? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________
17) E o desenvolvimento no município melhorou? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________
18) Como você considera a relação do turista com a comunidade? ( ) Positiva ( ) Negativa Por quê?___________________________________________________ 19) Você conhece algum turista que se instalou definitivamente em Nova Trento? ( ) Sim ( ) Não 20) Como morador você já se sentiu discriminado no atendimento do comércio? ( ) Sim ( ) Não 21) Observações____________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
ANEXOS
ANEXO A – Folder de Nova Trento (capa)
Fonte: Santa Catarina, 2002.