universidade do vale do itajaÍ renata bello adamsiaibib01.univali.br/pdf/renata bello adam.pdf ·...

61
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RENATA BELLO ADAM A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR São José 2010

Upload: others

Post on 11-Jun-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RENATA BELLO ADAM

A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR

São José 2010

RENATA BELLO ADAM

A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Fabiano Pires

Castagna

São José 2010

RENATA BELLO ADAM

A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

São José, 14 de junho de 2010.

Prof. MSc. Fabiano Pires Castagna UNIVALI – Campus de São José

Orientador

Prof. MSc. Adriana Conterato Bulsing UFSC Membro

Prof. MSc. Moacir José Serpa UNIVALI Membro

Dedico este trabalho à minha filha Isadora, que

entendeu os momentos em que a mamãe ficou

distante, as noites em que ficamos separadas,

e nestes momentos finais de aflição, sempre

me tranquilizou com suas frases carinhosas.

Obrigada meu amor!

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família – mãe, pai e mana – que foram essenciais para

que esta etapa fosse cumprida, pelo carinho e incentivo que deles recebi nestes

cinco anos de dedicação. À mãe, pela ajuda e dedicação na reta final desta

monografia.

Aos queridos vó Égea e vô Júlio, pelo carinho e confiança que recebi

durante todos os anos de minha vida. Ao vô, pelas conversas jurídicas, sempre

muito instrutivas, e a vó, pelos muitos momentos de lazer.

Agradeço também ao meu noivo, por estar do meu lado sempre, me

apoiando e me ajudando, principalmente por neste final compreendendo os fins de

semana longe, enquanto me dedicava a este trabalho, e ainda por distrair a Isa,

quando eu já não conseguia mais tempo para tal função.

À minha grande amiga Bárbara, que está sempre do meu lado, na rotina das

aulas, e principalmente fora delas. Depois de passarmos pelas formaturas do

colégio, chegou a tão esperada formatura da graduação, e estaremos novamente

juntas.

Agradeço ainda aos colegas de trabalho, que me apoiaram e incentivaram,

mesmo nos momentos mais difíceis, sempre entendendo as ausências e agonias.

“Nem tudo que se enfrenta pode ser

modificado, mas nada pode ser modificado até

que seja enfrentado”.

(Albert Einstein)

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 14 de junho de 2010.

Renata Bello Adam

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a possibilidade ou não da

penhora recair sobre verba salarial, de acordo com a impenhorabilidade absoluta da

verba de caráter salarial, trazida pelo artigo 649, IV do Código de Processo Civil

brasileiro, e seus diferentes entendimentos. Para tanto, abordar-se-á a respeito da

tutela jurisdicional, com a explicação dos três procedimentos existentes no

ordenamento jurídico – sendo eles o processo de conhecimento, o processo de

execução e o processo cautelar – até chegar ao aprofundamento quanto ao

processo de execução, onde, após será tratado do objeto da execução até suas

espécies, e ao procedimento da execução por quantia certa contra devedor solvente.

Para então, no segundo capítulo, adentrar na penhora do processo de execução por

quantia certa contra devedor solvente; onde será conceituada a penhora, e sua

natureza jurídica, explicando seu devido procedimento, para se chegar às

impenhorabilidades elencadas no Código de Processo Civil, que podem ser:

impenhorabilidade absoluta e relativa, mais irá se tratar, a respeito da

impenhorabilidade de verba de caráter alimentar – tema central deste trabalho,

matéria que gera divergência tanto entre doutrinadores quanto em Tribunais. Ainda,

vale salientar, neste mesmo período, a ordem legal da penhora estabelecida no

artigo 655 do mesmo caderno legal. Para depois, encerrar o trabalho, no terceiro

capítulo, com estudos jurisprudenciais, demonstrando as divergências existentes

sobre a impenhorabilidade de verba salarial, nos Tribunais, com julgados tanto do

Tribunal de Justiça de Santa Catarina, quanto do Superior Tribunal de Justiça.

Palavra-chave: Execução. Impenhorabilidade. Verba salarial. Credor. Efetividade da

execução.

RÉSUMÉ

Le présent travail vise à examiner la possibilité de la saisie-arrêt de salaire

surcharger la somme, conformément à l'interdition abslolue prévue et introduit par

l'article 649, IV du code de procédure civile et ses différentes interpretations abordant

la question de la protection judiciaire supportée par les trois procédures juridiques

existantes – le processus des connaissances, le processus de mise en œuvre et le

processus de mise en garde – jusqu’aux conclusions et approfondissement de la

procédure d´éxecution, où, après il traitera dès l´objet d´éxecution jusqu'à son

espèce et sa procédure d'exécution par le bon montant contre le débiteur solvable.

Dans le deuxième chapitre dont traite de la procédure de la saisie-arrêt du processus

d'exécution du bon montant, contre le débiteur solvable, où il sera évalué la saisie-

arrêt et sa nature juridique expliquant sa procédure légale pour arriver aux

interdictions relatives et absolues dans le code de procédure civil brésilienne. Ce

travail abordera également l’interdiction de la saisie-arrêt sur le budget d´aide

alimentaire – concept central de ce travail, qui génère la divergence entre la doctrine

de droit et des tribunaux. Il est important de dire qui dans ce même chapitre traite de

l´ordre légale de la saisie-arrêt, établi dans l'article 655 du code de precédure civil.

L'étude sera terminée avec le troisième chapitre qui analyse le thème lui-même de

l'interdiction de la saisie-arrêt sur compte bancaire pour constituer le budget d'aide

alimentaire. En effet, le focus de ce présent travail sera de comparer la jurisprudence

des tribunaux du pays démontrant les différences existantes sur l´interdiction de la

saisie-arrêt de la somme du salaire dans les décisions collegiées.

Mots-clés: procédure d´éxecution. Insaisissabilité. Verba salaires. Créanciers.

Efficacité de l’application.

ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

CPC – Código de Processo Civil

ART – artigo

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

SUMÁRIO

RENATA BELLO ADAM .......................................................................................2

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE..................................................6

RÉSUMÉ..................................................................................................................8

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................12

1 DO PROCESSO DE EXECUÇÃO..........................................................................15

1.1 AS ESPÉCIES DE TUTELA JURISDICIONAL.................................................16

1.1.1 Processo de conhecimento........................................................................18

1.1.2 Processo de execução...............................................................................20

1.1.3 Processo cautelar ......................................................................................22

1.2 O OBJETO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ................................................24

1.3 AS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO ......................................................................25

1.4 O PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE .........................................................................................27

2 DA PENHORA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ...............................................................................................................29

2.1 CONCEITO DE PENHORA E SUA NATUREZA JURÍDICA ............................31

2.2 DO PROCEDIMENTO DA PENHORA.............................................................32

2.3 DA IMPENHORABILIDADE .............................................................................34

2.3.1 Da impenhorabilidade absoluta .................................................................35

2.3.2 Impenhorabilidade relativa.........................................................................36

2.3.3 Da impenhorabilidade de verba salarial.....................................................37

2.4. DA ORDEM LEGAL DOS BENS NA PENHORA ............................................39

3 A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR............................................................................................42

3.1 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA – ENTENDIMENTO FAVORÁVEL A IMPENHORABILIDADE...............................................................................................................................42

3.2 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – POSSIBILIDADE DA PENHORA EM PARTE DO SALÁRIO ..............44

3.3 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – IMPENHORABILIDADE DA VERBA SALARIAL .................................46

3.4 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS – POSSIBILIDADE DE PENHORA DA VERBA SALARIAL ........48

3.5 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL – POSSIBILIDADE DE PENHORA DA VERBA SALARIAL ....49

3.6 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA SÃO PAULO – POSSIBILIDADE DE PENHORA DE PARTE DA VERBA SALARIAL ...51

CONCLUSÃO ........................................................................................................54

REFERÊNCIAS.........................................................................................................57

12

INTRODUÇÃO

Neste presente trabalho de monografia será tratado sobre o debate existente

a respeito da impenhorabilidade de verba de caráter alimentar, prevista no artigo

649, IV do Código de Processo Civil, onde será apresentada a problemática

existente quanto a este assunto. Este tema gera grande debate no mundo jurídico a

respeito dos questionamentos quanto à possibilidade da penhora recair sobre parte

do salário, para então ter efetividade à execução.

É de grande valia o estudo aprofundado acerca deste tema, pois no artigo

649 do CPC, que trata da impenhorabilidade, em sua redação inicial havia a

previsão do §3°. Neste parágrafo estava prevista a possibilidade da penhora recair

sobre parte da verba salarial, que sofreu veto presidencial. Este veto, causou

divergência de entendimentos; pois muitos juristas ainda aceitam que ocorra esta

penhora; já outros observam o artigo 649, IV e o tratam com total presteza,

entendendo ser a verba salarial absolutamente impenhorável. Estas divergências

acabaram por acender grande discussão entre os operadores do direito e devendo

ser incluído como assunto a ser debatido no meio acadêmico.

Desta forma, justifica-se o presente estudo, sempre com o resguardo dos

dois princípios norteadores do processo de execução, sendo eles a efetividade da

execução, com o cumprimento da obrigação para com o credor; e ainda, a menor

onerosidade ao devedor, que visa a ocorrência da expropriação de forma menos

traumática para o executado.

Este estudo tem como problemática os seguintes questionamentos: É

possível a penhora de conta destinada a depósito de salário? Em caso positivo deve

prevalecer o princípio da menor onerosidade ao devedor ou da efetividade do

processo de execução?

A maior parte da doutrina processual civil, existente hoje, afirma que o

salário é sim, impenhorável. Nos julgados, há divergência de entendimento, sendo

sempre avaliado cada caso separadamente, decidindo então se é possível ou não a

penhora do salário.

13

O Princípio da menor onerosidade, e o da efetividade processual são

levados em consideração, sendo os dois sempre avaliados e bem dosados pela

jurisprudência, para não haver uma distorção muito grande de nenhum destes

princípios.

Para que se apresentem todas as abordagens a respeito da explanação do

tema, iniciar-se-á o primeiro capítulo trazendo as espécies de tutela jurisdicional, e

seus procedimentos, sendo eles: o processo de conhecimento, o processo de

execução e o processo cautelar. Após estas considerações a matéria será estudada

de forma precisa, assim como o processo de execução, conceituando o objeto deste

procedimento e suas diversas espécies, quando então, irá instruir a respeito do

processo de execução por quantia certa contra devedor solvente.

Na composição do segundo capítulo será tratado da penhora no processo de

execução por quantia certa contra devedor solvente. Quando então será

conceituada a penhora e demonstrada sua natureza jurídica; para depois aprofundar

seu procedimento, demonstrando suas peculiaridade. Passados estes pontos, tratar-

se-á sobre a impenhorabilidade, dividida em suas possibilidades, as quais podem

ser: absoluta ou relativamente impenhoráveis, sendo que, dentro das

impenhorabilidades absolutas é que esta a impenhorabilidade de conta salarial

(tema central deste trabalho). Ainda no segundo capítulo será tratado sobre a ordem

legal da penhora, prevista no artigo 655 do CPC, o que é imprescindível para

entender a relação entre o principio da menor onerosidade ao devedor, e da

efetividade da execução, quando mesclado com a impenhorabilidade de verba

salarial.

Finalizando este estudo, tem-se no terceiro capítulo, a demonstração da

divergência existente nos Tribunais pátrios. Com casos concretos e levados ao

judiciário em que mostram a realidade dos fundamentos aqui debatidos, e a prática

destes no dia-a-dia dos julgadores. Nestes casos, em que são aplicados os

princípios da efetividade e da menor onerosidade, de acordo com a prova

apresentada nos autos, que auxiliam na formação da convicção do juízo.

Serão demonstrados nestas situações reais, todos os conceitos trazidos nos

primeiros capítulos, confirmando assim a divergência de entendimento que existe

nos Tribunais, onde, dependendo do caso é ou não aceita a impenhorabilidade de

verba salarial.

14

O método utilizado no presente trabalho de monografia é o dedutivo, tendo

em vista a utilização de jurisprudências relativas a casos já levados ao judiciário,

seguindo-se do desenvolvimento da conceituação dos processos, em geral; das

peculiaridades do processo de execução e do procedimento da penhora no processo

de execução por quantia certa contra devedor solvente.

A base desta pesquisa será feita em doutrinas, artigos jurídicos, bem como

com o estudo dos artigos 649, IV e artigo 655 do Código de Processo Civil. Para

encerrar, serão trazidas jurisprudências que tratem deste tema, retiradas do Superior

Tribunal de Justiça, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul,

de Minas Gerais e de São Paulo.

15

1 DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O processo de execução – a ser estudado nesta pesquisa – é conceituado

pela doutrina clássica como transferência de valores do réu para o autor. Trata-se de

afirmação parcialmente correta, segundo Luiz Guilherme Marinoni, uma vez que só

se aplica adequadamente à execução objetiva; há casos, porém, em que

determinado bem está resguardado pelo direito, inviabilizando sua transferência, não

podendo então, ser efetivada a execução1.

Conceituado por Luiz Fux:

O processo, como instrumento de realização de justiça, é servil diante de uma pretensão justa e resistida, passível de ser resolvida em nível de definição de direitos, bem como na hipótese de resistência à satisfação de um direito já definido a merecer pronta realização prática. No primeiro caso, a definição judicial é exteriorizada através da tutela jurisdicional de cognição, que consiste, basicamente, no conhecimento dos fatos e na aplicação soberana da norma jurídica adequada ao caso concreto. Na segunda hipótese, o direito já se encontra definido e à espera de sua realização pelo obrigado. Nessa hipótese, a forma de tutela não é mais simples cognição senão de “realização prática do direito” através dos órgãos judiciais.2

O processo de execução pode acontecer de duas maneiras: a execução

forçada, que é utilizada quando do cumprimento de sentença, tendo respaldo legal

nos artigos 461 e 461-A do Código de Processo Civil; e ainda, com o processo de

execução, procedimento este previsto no Livro II (Processo de Execução) também

do Código de Processo Civil3.

O processo que se instaura com a ação de execução destina-se a realizar a

sanção, e, assim, a assegurar a eficácia prática do título executivo. Desenvolve-se

por meio de atos consistentes em medidas coativas, por via dos quais se transforma

a situação ordenada pelo título executivo. Se este ordena a entrega de imóvel, imite- 1 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de Processo Civil – execução, v. 3 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 69 2 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1247 3 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2009; THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 118

16

se o exequente na sua posse; ordena-se demolir uma obra, faz-se sua demolição;

ordena-se pagar certa quantia, apreende-se bens do devedor para sua

transformação em dinheiro para pagamento do credor etc4.

O processo civil é divido em duas fases distintas: uma, em que é conhecida

a matéria (conhecimento) e o momento em que depois de estudar o litígio, o Estado,

representado pelo juiz, profere a sentença, tendo esta força executória. Através da

decisão jurisdicional é dada ao credor uma resposta aos pedidos deduzidos na

petição inicial5.

Na presente pesquisa visa-se estudar as diferentes espécies de

procedimentos que têm por finalidade a resolução de lides e conhecimento da

matéria em discussão no processo – sendo eles os processos de conhecimento, de

execução e ainda o processo cautelar – passando pelas diferentes tutelas

jurisdicionais, para então, aprofundar-se no estudo do processo de execução

propriamente dito, tratando do objeto da execução, suas espécies e seu

procedimento.

1.1 AS ESPÉCIES DE TUTELA JURISDICIONAL

A tutela jurisdicional tem como objetivo dar solução aos conflitos trazidos

pela sociedade ao Poder Judiciário. Isto ocorre com a expressa vontade de uma das

partes (com interesse de agir) ao provocar o exercício jurisdicional do órgão

competente do Poder Judiciário, com a finalidade de ver seu litígio resolvido. Em seu

artigo intitulado de “Tutela jurisdicional: finalidade e espécies”, o Ministro do Superior

Tribunal de Justiça Luiz Fux traz o seguinte ensinamento:

O Estado, através da jurisdição, e provocado pelo interessado que exerce a ação, institui um método de composição do litígio com a

4 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 242 5 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 118

17

participação dos reais destinatários da decisão reguladora da situação litigiosa, dispondo sobre os momentos em que cada um pode fazer valer as suas alegações, com o fim de alcançar um resultado corporificado em tudo quanto o Judiciário "sentiu" das provas e do direito aplicável retratado na "sentença". Jurisdição, ação e processo são, assim, os monômios básicos da estrutura do fenômeno judicial6.

As formas que devem ser observadas pelas partes para ingressar no

Judiciário com a finalidade de solucionar conflitos estão disciplinadas na Lei n° 5.869

de 1973 – Código de Processo Civil. O que deve ser observado conforme o tipo de

resultado pretendido pelo autor da ação, que deve ser apresentada pela parte

interessada ao órgão competente, em forma de um processo de conhecimento,

processo de execução ou então com um processo cautelar7.

A doutrina processual civil e os operadores do direito estão obrigados a ler as normas infraconstitucionais à luz das garantias de justiça contidas na Constituição Federal, procurando extrair das normas processuais um resultado que confira ao processo o máximo de efetividade, desde, é claro, que não seja pago o preço do direito de defesa. É com esse espírito que o doutrinador deve demonstrar quais são as tutelas que devem ser efetivadas para que os direitos sejam realizados, e que a estrutura técnica do processo esta em condições de prestá-las8.

O procedimento a ser utilizado é norteado pelo objetivo que se pretende

produzir: se por exemplo, o objetivo que se quer alcançar é a declaração de um

direito, deve-se utilizar o processo de conhecimento; já se o objetivo é a satisfação

de um credor, o processo a ser utilizado é o de execução; e ainda, quando se

pretende afastar um perigo que cerca um direito que ainda será discutido, a forma

correta de pleiteá-lo é com o processo cautelar9.

Enquanto no processo de conhecimento a composição do litígio se faz pela

apreciação ideal da norma jurídica e declaração do direito concreto das partes por

meio da sentença, na execução a prestação jurisdicional consiste na atuação

6 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 14, n.2, p. 153-168, jul./dez. 2002. http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/766/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf?sequence=1 7 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 107. 8 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de processo civil, volume 2 : processo de conhecimento – 6. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 34. 9 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Novo curso de direito processual civil, volume 1 : teoria geral e processo de conhecimento (1ª parte) – 4 ed. – São Paulo : Saraiva, 2007, p. 104.

18

material dos órgãos da Justiça para a efetiva realização do direito do credor, cuja

certeza, liquidez e exigibilidade são atestadas pelo título executivo, judicial ou ainda,

extrajudicial10.

Esta divisão de procedimentos está regulada no artigo 270 do Código de

Processo Civil, que diz: “Este código regula o processo de conhecimento (Livro I), de

execução (Livro II), cautelar (Livro II) e os procedimentos especiais (Livro IV)”11.

Para se chegar até a penhora e passar então para a impenhorabilidade

neste trabalho destacada, faz-se essencial esclarecer os passos do processo de

Execução, que na esfera cível, inicia-se com a apresentação de um título executivo

extrajudicial, ou mesmo, com o título judicial adquirido em uma sentença terminativa

de qualquer dos procedimentos previstos no Código de Processo Civil, quando nesta

sentença, houver uma condenação a uma das partes12.

1.1.1 Processo de conhecimento

No processo de conhecimento a parte interessada pretende ter seu direito

reconhecido pelo Judiciário, o qual é feito através de sentença do magistrado.

Dependendo do decorrer da ação e da forma de entendimento do juiz, declarando,

condenando, com finalidade mandamental, executiva latu sensu, ou ainda

constituindo direitos ao autor ou ao réu13.

10 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 135. 11 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2009 12 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil : processo de execução, 8 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 151 13 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 109.

19

Ao provocar o Judiciário, o autor da ação tem uma pretensão com o pedido

feito; deste pedido é que se determina se este processo de conhecimento será

declaratório, condenatório, constitutivo, mandamental ou executivo lato sensu.14

O juízo “declaratório” é aquele donde provém uma sentença que declara a existência ou inexistência de uma relação jurídica, com força do ato da autoridade. [...] A sentença de procedência de natureza constitutiva, derivada de tutela da mesma qualidade, faz exsurgir no mundo do direito um estado jurídico novo, consistente na formação, na modificação ou na extinção de uma relação jurídica; [...] A tutela condenatória, diferente da declaratória, não incide sobre o preceito senão sobre a sanção da norma. A referida espécie pertine ai fenômeno “lide de pretensão resistida” que engloba não só os casos em que a contestação do direito exige a intervenção judicial para exarar a certeza jurídica necessária, como também as hipóteses de violação do direito subjetivo, quando então o restabelecimento do estado anterior, pela incidência da sanção da lei ao outro contendor. A sentença particulariza e especifica a sanção imputável ao violador, com a característica maior de colocar o Estado à disposição do lesado para, em atividade complementar à cognição, tornar realidade o “preceito sancionatório”. [...] A tutela de conhecimento mandamental apresenta resistências doutrinárias quanto à sua admissibilidade. As mandamentais são ações em que o comando judicial, mercê de apresentar o conteúdo dos demais, encerra uma ordem que é efetivada “na mesma relação processual” de onde emergiu o mandamento15.

O processo de conhecimento conta com procedimento comum ou sumário.

O procedimento comum (ordinário e sumário), é delimitado por exclusão, quando

não se encaixam nos demais procedimentos, utiliza-se o procedimento comum,

regulado no art. 271 do Código de Processo Civil. A lei limita-se apenas a

estabelecer as peculiaridades dos demais procedimentos, naquilo que se afastam do

procedimento ordinário. O procedimento comum sumário é regido pelo art. 272 do

CPC, e há ainda o procedimento sumaríssimo, que tem realização nos Juizados

Especiais Cíveis, disciplinados pela lei n° 9.099 de 1995 na Justiça Estadual, e

regido pela lei n° 10.259 de 2001 na Justiça Federal16.

Com o devido procedimento, apresentada a demanda no órgão judicial

competente, provoca-se o Estado, para obter determinada providência jurisdicional.

14 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 140. 15 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 45 - 47 16 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 04

20

Após recebida a ação, abre-se ao réu a oportunidade de se pronunciar, para

defender-se, momento em que pode haver pedidos por parte do réu, por meio de

reconvenção ou requerimento incidental de declaração. Com todos os atos

praticados, passa a ação a ser analisada pelo juízo, que fará então suas

considerações e formará sua convicção, fundada nas provas trazidas aos autos17.

1.1.2 Processo de execução

Ao tratar-se do processo de execução, o Estado faz o papel do exequente,

uma vez que tem competência para cobrar o que é de direito do credor. A atuação

do Poder Judiciário distingue o processo de execução com o processo de

conhecimento, pois antes do Estado executar, ele deve ter a certeza obtida com o

processo de conhecimento, no caso da execução de sentença, que em uma primeira

parte, fora discutido o mérito da questão, para depois, com o titulo judicial composto,

poder executar o devedor, cobrando sua obrigação18.

Este procedimento tem por objetivo um resultado prático, com a busca

efetiva da prestação jurisdicional, de forma que o credor veja seu direito realizado

com o pagamento por parte do devedor19.

Conforme discorre Moacyr Amaral Santos:

Na execução, formada a relação processual, as atividades coativas se desenvolvem contra o executado, que não pode impedi-las, não lhe cabendo senão o poder de exigir que se realizem na conformidade e nos limites da lei. Conquanto parte, o executado se encontra na posição de sujeição às atividades

17 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 05 18 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 118/119. 19 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 110.

21

jurisdicionais executórias impregnadas da vis coativa que as caracteriza20.

Ao utilizar-se do processo de execução, é necessário observar os

pressupostos para a sua existência. Tem-se como pressupostos a existência do

título executivo e a comprovação do descumprimento da obrigação, declarada no

título, por parte do devedor. O título serve para a comprovar a existência da relação

entre o exequente e o executado, e ainda, para corroborar o inadimplemento da

obrigação que ali está prevista. Não havendo a observação dos pressupostos, não

será possível a existência da ação21.

O título executivo constitui a prova pré-constituída da causa de pedir da ação

executória. Esta consiste na alegação, realizada pelo credor na inicial, de que o

devedor não cumpriu espontaneamente, o direito reconhecido na sentença ou

obrigação. Deverá acompanhar a petição inicial ou o requerimento. Efeitos deste

documento se espraiam em tríplice direção22.

Os títulos executivos extrajudiciais, que constituem prova para o processo de

execução, estão dispostos no art. 585 do Código de Processo Civil, que são:

Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:

I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

20 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 242 21 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1258 22 ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 146

22

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva23.

Demonstrados os títulos exigíveis em execução, passa-se então, ao

procedimento utilizado neste processo, que pode se dar por diversas formas

previstas pelo Código de Processo Civil. Estes procedimentos ocorrem na forma de

execução para entrega de coisa certa ou incerta, execução das obrigações de fazer

e não fazer, execução por quantia certa ou ainda a execução de prestações

alimentícias. Independente da forma da execução, ela sempre visará a efetiva

prestação por parte do devedor ao credor24.

Este processo será aprofundado no presente estudo, quando tratar-se das

diversas peculiaridades, onde será debatido o objeto da execução e suas espécies,

para depois adentrar no processo de execução por quantia certa contra devedor

solvente, objeto do presente estudo.

1.1.3 Processo cautelar

Todo processo seja ele de conhecimento ou de execução, tem morosidade –

demora – normal em seu trâmite; pelos quais não se tem a resposta judicial de

forma imediata, mas em determinadas situações esta morosidade pode trazer riscos

ou prejuízos ao credor da obrigação. Nestes casos é necessária a presença de dois

requisitos, o primeiro, denominado periculum in mora, que é a comprovação do risco

existente com a demora da prestação jurisdicional; e ainda, outro requisito para a

23 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2009 24 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 135

23

tutela cautelar é o fumus boni juris, que deve o autor provar que o direito requerido e

ainda, deve ser este, plausível25.

Ovídio Baptista discorre sobre os procedimentos da seguinte forma:

A distinção entre satisfação antecipada – equivalente a satisfação do direito concedida em processo sumário – e a forma de tutela outorgada contra o estado de perigoso, sem implicar satisfação do direito protegido, era, no entanto, feita com razoável clareza pelos juristas medievais, através do manejo de dois conceitos fundamentais que nos foram transmitidos e de que ainda hoje nos valemos: os conceitos de damnum irreparabile e de periculum in mora26.

São pressupostos da tutela cautelar o periculum em mora e o fumus boni

juris, onde o perigo exigido é de que haja um risco de insucesso na prestação que

se visa na tutela definitiva. Perigo este constante na própria demora na análise

judicial. Já o fumus boni juris deve ser visto como uma quase certeza para a

obtenção da medida liminar. Esta apreciação está na dependência das provas

constituídas no processo, para o convencimento do juízo, com o deferimento ou não

da tutela de urgência27.

Com a necessidade de garantir a prática das tutelas de cognição e de

execução, o legislador concebeu um terceiro gênero de prestação jurisdicional, que

auxilia os demais procedimentos, por resguardar as condições para a prestação ser

efetiva, sem o perecimento do direito. Esta tutela visa tão somente o resguardo do

direito para ter, até o final do processo de conhecimento ou de execução, a

possibilidade da prestação jurisdicional cumprida, acautelando o objeto da demanda

principal28.

[...] a atividade jurisdicional cautelar dirige-se à segurança e garantia do

eficaz desenvolvimento e do profícuo resultado das atividades de cognição e

25 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 112. 26 SILVA, Ovídio ª Baptista da, Do processo cautelar, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 13 27 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1564 - 1566 28 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1549 - 1550

24

execução, concorrendo desta maneira, para o atingimento do escopo geral da

jurisdição29.

O Código de Processo Civil, disciplina em seu Livro III o processo cautelar, e

contém em seu primeiro capítulo as disposições gerais, e no segundo elenca um por

um dos procedimentos específicos. Apesar de estar expresso no art. 798 os

processos aceitos, este não é exaustivo, pois é admitida a utilização de outros

procedimentos, de acordo com o caso concreto30.

Feitas as considerações relativas ao processo cautelar, passa-se ao estudo

do processo de execução.

1.2 O OBJETO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

O objeto de todos os processos está disposto na parte dos pedidos. Como

no processo de conhecimento, que visa a declaração, constituição ou condenação

em relação a um determinado pedido, o objeto está na sentença em se visa obter; já

no processo de execução, visa-se a realização de uma sanção já determinada pelo

título executivo. Sendo este, o objeto imediato da execução31.

Conforme discorre José Carlos Barbosa Moreira, é alcançado o objeto da

execução: “[...]quando se reembolse o credor da importância que lê era devida, ou

se realize o fato cuja prestação se obrigara o devedor”32.

Araken de Assis cita Liebman em sua doutrina e pondera:

[...] o título acumula e consolida “toda a energia necessária” para o procedimento in executivis. Por isso, a lei abstrai-lhe a causa,

29 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 465 30 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 310 31 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3° volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 247 32 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 206

25

isolando o título do mecanismo da sua formação, portanto do próprio crédito, que se funda no direito material. O título é a fonte “imediata, direta e autônoma da regra sancionada e dos efeitos jurídicos dela decorrentes”; não prova o crédito, pois tal prova, no tocante à eficácia do título, se ostenta desnecessária33.

O direito, na execução, já está definido, pronto para ser realizado pelo

devedor, não necessita mais da tutela de cognição, vista nos demais procedimentos,

onde o Estado-juiz deve tão somente realizar o direito ali expresso, com ou sem a

cooperação das partes. Onde se tem, então, a essência do processo de execução,

que visa satisfazer o direito. O Estado não apenas diz que o executado deve ao

exeqüente, mas sim faz com que a obrigação seja satisfeita34.

Passado pelo estudo do objeto da execução, estudada a efetividade da

execução, por ser fundada em um título já constituído; feitas as considerações,

pode-se passar ao estudo específico das suas espécies.

1.3 AS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

As espécies de execução são divididas conforme a natureza do título em

que a motiva, a execução pode ser fundada em título judicial (sentença ou decisão)

ou extrajudicial; e ainda, de acordo com a eficácia do título, que pode ser – quando

título judicial – definitivo, quando de decisão já transitada em julgada, ou seja,

quando não houver mais possibilidade de recurso; ou provisório, quando há a

possibilidade de recorrer, mas sem a suspensão do processo, o que possibilita a

execução dita provisória. No caso dos títulos extrajudiciais a execução será sempre

definitiva, tendo em vista a eficácia definitiva do título35.

Luiz Fux diz que:

33 ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 144. 34 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1248. 35 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 248

26

A “execução definitiva” é aquela cujo resultado do processo alcança o seu escopo satisfativo máximo. Assim, v.g., na execução definitiva por quantia certa, o processo termina com a entrega da soma ou de bens correspondentes do devedor ao credor. Os atos processuais são praticados com o objetivo de alcançar a realização “completa” do direito36.

Na execução provisória de título judicial, o credor tem de ressarcir possíveis

danos causados ao devedor, no caso de reforma ou cassação da decisão. Neste

caso o credor assume o risco de executar aquilo que ainda não se tornou definitivo,

sendo estes prejuízos liquidados no mesmo processo. Então, para valer-se desta

execução, deve o credor prestar caução, e mesmo assim, este procedimento não

passará da penhora e avaliação para a alienação dos bens37.

Há ainda as subdivisões do processo de execução fundado em título

extrajudicial, que se divide pelos meios executivos utilizados e pela diversidade

procedimental, sendo estas denominadas de: execução por quantia certa, execução

para entrega de coisa e execução de obrigação de fazer e não fazer38.

Estas subdivisões estão previstas nos arts. 621 e seguintes do Código de

Processo Civil, que estão divididas de acordo com a natureza da prestação contida

no título. A execução por quantia certa se desdobra em outras modalidades, que

pode ser contra devedor solvente ou insolvente, no caso de crédito contra a

Fazenda Pública ocorre a execução fiscal e também há a execução alimentícia,

quando se tratar de prestação de alimentos39.

Passada a fase do estudo das espécies de execução, partir-se-á ao

aprofundamento da execução, tida por Execução por quantia certa contra devedor

solvente, com o qual pretende-se especificar melhor este procedimento, para então

alcançar o objetivo final desta pesquisa.

36 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1280 37 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de execução, 8. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 140 38 FUZ, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1280 39 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 209

27

1.4 O PROCEDIMENTO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA

DEVEDOR SOLVENTE

A execução por quantia certa contra devedor solvente está prevista no

Código de Processo Civil, em seu artigo 591, caput, ao qual se referiu Humberto

Theodoro Júnior, “a execução por quantia certa contra o devedor dito solvente

consiste em expropriar-lhe tantos bens quantos necessários para a satisfação do

credor”40.

Marcos Destefenni defini da seguinte forma a execução por quantia certa

contra devedor solvente:

Deve-se lembrar que essa espécie de execução é considerada a mais importante, uma vez que, na prática, é a mais comum. Além disso, é subsidiária em relação às demais formas de execução. Isso significa que a impossibilidade de uma execução de obrigação de fazer, por exemplo, permite a conversão em execução por quantia41.

Este processo deve obedecer aos preceitos do previstos para qualquer

ação, elencados no art. 282 do CPC, mas também, deve satisfazer aos requisitos

específicos em razão da natureza do processo, que se inicia com a petição inicial, e

se encerra com a sentença, com a prestação jurisdicional, com o mérito da

questão42.

A estrutura procedimental do processo executivo pode ser dividida em: fase

inicial – com a petição inicial, citação e arresto; a fase preparatória – onde ocorre a

penhora, momento oportuno para a oposição de embargos; a avaliação dos bens

penhorados e ainda, é quando ocorrem os atos preparatórios à satisfação da

obrigação; e ainda, há a fase final – quando ocorre a expropriação ou a remição da

dívida, com a satisfação do credor e a extinção do processo43.

40 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 284 41 DESTEFENNI, Marcos, Curso de processo civil, volume 2 : processo de execução dos títulos extrajudiciais, São Paulo : Saraiva, 2006, p. 100. 42 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de Processo Civil – execução, v. 3 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p.435. 43 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 2 : processo de execução, 9. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 170

28

Neste procedimento não há julgamento do mérito, parte-se do pressuposto

de que o direito requerido existe e busca-se apenas o cumprimento do direito

material. Juntamente com a petição inicial, deverá ser anexado ao processo o título

executivo em questão, o qual se pretende cobrar por meio da ação44.

Após o recebimento do processo de execução pelo juízo, é ordenada a

citação do executado para pagar a dívida ou então para defender-se, que no caso

da execução é feita com a oposição dos Embargos à Execução. Após a citação do

executado, que pode ser pessoal, ficta, com ou sem arresto, prosseguir-se-á o

encaminhamento da demanda, seguindo para a penhora45.

A penhora na execução por quantia certa contra devedor solvente será

estudada, de forma mais incisiva, no segundo capítulo, onde será debatido seu

conceito e procedimento, com um aprofundamento adequado para assim chegar até

o objetivo final deste trabalho, onde será debatida a penhora de valores depositados

em contas bancárias e tratar das formas com que esta pode ou não ser considerada

impenhorável.

44 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de Processo Civil – execução, v. 3 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p.437-438. 45 SANTOS, Ernane Fidelis dos, As reformas de 2006 do Código de Processo Civil : execução dos títulos extrajudiciais, 1 ed., São Paulo : Saraiva, 2007, p. 17-18

29

2 DA PENHORA NA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA

DEVEDOR SOLVENTE

A execução por quantia certa visa a expropriação de bens do devedor, até o

limite para satisfazer o direito do credor. Este processo tem uma fase que

individualiza estes bens, chamada de apreensão, para então vinculá-los ao

processo, o que é possível com a chamada penhora. Por estarem os bens

vinculados ao processo, qualquer ato após a penhora, que desvirtue estes,

caracteriza fraude de execução46.

Humberto Theodoro Júnior diz que:

Cabe à penhora a função de instrumentalizar a execução por quantia certa mediante apreensão de bens do executado, para viabilizar a sujeição correspondente a responsabilidade patrimonial nascida do inadimplemento por ele praticado. O órgão judicial, num comportamento sub-rogatório, necessita de recursos que serão extraídos do patrimônio do devedor, para realizar, em seu lugar, o pagamento não cumprido espontaneamente. É a penhora que põe à disposição do juiz os bens a serem empregados, direta ou indiretamente, na satisfação do crédito exeqüendo47.

No processo de execução por quantia certa contra devedor solvente, fala-se

em penhora, a partir do momento em que, citado o executado, este vem a não

cumprir a obrigação. Sendo então, realizada a penhora, pelo oficial de justiça,

vinculando estes bens ao processo48.

Sobre a interferência do devedor sobre o bem penhorado leciona Cássio

Scarpinella Bueno:

O §1° do art.652, ademais, confirma o entendimento de que não há mais o direito para o executado oferecer bens à penhora. O que se espera dele, no prazo do caput do art. 652, é o pagamento total do valor reclamado pelo exequente. Se houver necessidade da prática de atos executivos – o que pressupõe o transcurso in albis dos três dias –, eles desde logo serão praticados pelo oficial de justiça. Visando uma maior celeridade e racionalização nestes primeiros atos executivos, é importante que o exequente informe, na

46 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1400 47 Humberto Theodoro Junior – Revista de processo, ano 34, n. 177 48 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 2 : processo de execução, 9. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 187/188.

30

sua petição inicial, quais bens do executado deverão ser penhorados49.

A penhora servirá para garantir o juízo, por estar se tratando de devedor

solvente, garante-se a execução com a apreensão realizada, sendo destacada então

a função cautelar deste procedimento; tendo como finalidade, a satisfação do débito

devido ao exequente50.

Humberto Theodoro Júnior ainda diz que:

[...] a penhora importa na individualização, apreensão e depósito de bens do devedor, que ficam a disposição judicial (CPC, arts. 664 e 665), tudo com o objetivo de subtraí-los à livre disponibilidade do executado e sujeitá-los à expropriação. Para esse mister o agente do órgão judicial há, primeiramente que buscar ou procurar os bens do devedor, respeitando, porém, a faculdade que a lei confere ao próprio devedor de fazer a escolha, desde que obedecidas às preferências e demais requisitos legais de validade da nomeação de bens à penhora (CPC, arts. 655 e 656)51.

A penhora é o primeiro ato executório e coativo do processo de execução

por quantia certa, pois sem sua efetivação não pode ter prosseguimento a execução.

Este ato visa individuar e apreender os bens destinados à execução, e também, visa

conservar os bens individualizados, evitando que sejam subtraídos, deteriorados ou

alienados, colocando em risco o curso da execução52.

Este ato deverá sempre incidir sobre bens que estejam livres para a

alienação, por ter como finalidade à expropriação do bem; observando, no entanto,

as prerrogativas trazidas no artigo 649 do Código de Processo Civil, onde são

citados os bens absolutamente impenhoráveis, que além preservar os bens do

devedor, ainda resguardar a renda destinada à alimentação do devedor e de sua

família. Traz, expressamente, em seu inciso IV que serão impenhoráveis53:

os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as

49 BUENO, Cássio Scarpinella, Curso de direito processual civil : tutela jurisdicional executiva, volume 3 – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 204 50 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 14 ed., Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2007, p.307/308 51 THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência : Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 274. 52 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 302 53 THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência : Rio de Janeiro – editora Forense, 2006. p. 283.

31

quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal54.

Sendo assim, passa-se agora a conceituação da penhora e de sua natureza

jurídica.

2.1 CONCEITO DE PENHORA E SUA NATUREZA JURÍDICA

O conceito de penhora pode ser retirado de Simone Stabel Dautl, quando

cita Eurico Túlio Liebman, que diz que: “A penhora é o ato pelo qual o órgão

judiciário submete a seu poder imediato determinados bens do executado, fixando

sobre eles a destinação de servirem à satisfação do direito do exequente. Tem, pois,

natureza de ato executório”55.

É trazido, por Araken de Assis o seguinte conceito:

[...] a penhora é ato executivo e não compartilha a natureza do penhor e do arresto. Ela não extrai o poder de disposição do executado. Entre nós, não se pode sequer afirmar que o exercício desse poder se repurtará ineficaz perante o credor por força da penhora, vez que o estudo da fraude contra a execução revela que a ineficácia precede a penhora, que somente a acentua e, em alguns casos, torna o eventual negócio de disposição um fato típico penal. Indubitavelmente, a penhora constitui “ato específico de intromissão do Estado na esfera jurídica” do obrigado, “mediante a apreensão material, direta ou indireta de bens constantes no patrimônio do devedor”56.

José Carlos Barbosa Moreira diz que a penhora é: “o ato pelo qual se

apreendem bens para entregá-los, de maneira direta ou indireta, na satisfação do

crédito exequente”57.

54 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2008, artigo 649, IV 55 DAULT, Simone Stabel, Aspéctos da penhora, Revista Eletrônica Forense, v. 377, p. 661-675, 2005, <http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2004/aspectosdapenhorasimone.htm> acessado em 12/05/2009 56 ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 591 57 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro : exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009, p. 237

32

Tem-se a penhora, como o ato inicial do procedimento, onde se individualiza

o bem mediante a apreensão de parte do patrimônio do devedor, que tem como

consequência dar fim ao processo de execução, quando disponibiliza o bem à ao

órgão judicial para que ocorra o pagamento da dívida ao credor, alcançando com

isto o objeto da execução, já tratado no item 1.258.

Quanto à natureza jurídica, trata Moacyr Amaral Santos:

A penhora se caracteriza por ser ato específico da execução por quantia certa contra devedor solvente. É assim, ato de execução, ato executório, pois produz modificação jurídica na condição dos bens obre os quais incide, e se destina aos fins da execução, qual o de preparar a desapropriação dos mesmos bens para o pagamento do credor ou credores59.

Moacyr ainda discorre que a função da penhora é fixar a responsabilidade

executória sobre os bens afetados, sendo assim, não perde o devedor o domínio ou

a posse do bem penhorado, apenas o vincula ao processo. Continua o executado

com os direitos sobre o bem, mas tendo como fim a satisfação da execução. E

ainda, citando Pontes de Miranda diz: “A compra e venda de bens penhorados não é

nula, nem anulável; é apenas ineficaz, não se pode opor ao exequente”60.

2.2 DO PROCEDIMENTO DA PENHORA

Após a propositura da ação de execução aqui estudada, será o devedor

citado para em três dias pagar a dívida, ocorrendo este pagamento, total, tanto da

dívida, como das custas e honorários, será extinta a execução; já, não ocorrendo o

pagamento, o oficial de justiça, procederá de imediato a penhora e a avaliação dos

58 HUMBERTO, Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil – Processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, 39. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 270 59 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 302 60 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 304

33

bens, lavrando o auto respectivo, sendo então intimado o executado, na mesma

oportunidade61.

Não contendo a indicação de bens a serem penhorados na inicial, o juiz

despachará, para que então, o devedor indique possíveis bens para penhora. Desta

forma, verifica-se que a indicação tanto pode ser feita pelo credor, quanto pelo

devedor, e ainda, pode ocorrer a qualquer tempo, desde que necessária, pois a

execução persiste até sua total satisfação, tanto quanto pagamento ao credor,

custas e honorários processuais62.

Quando a nomeação ocorre por parte do devedor, o executado diz qual bem

deverá ser penhorado (há está possibilidade, por entender o legislador que, ninguém

melhor que o devedor, para saber do seu patrimônio), devendo sempre observar a

ordem legal disposta no art. 655 do Código de Processo Civil, tanto quando a

indicação for por parte do credor, quanto do devedor; há ainda a possibilidade de

substituição da penhora quando ocorrer uma das situações observadas no artigo

656 do CPC que discorre63:

Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora:

I – se não obedecer à ordem legal;

II – se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para pagamento;

III – se, houver bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados;

IV – se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravames;

V – se incidir sobre bens de baixa liquidez;

VI – se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou

VII – se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I à IV do parágrafo único do art. 668 desta lei.

§1°. É dever do executado (art. 600), no prazo fixado pelo juiz, indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução, exibir prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora (art. 14, parágrafo único).

61 GRECO FILHO, Vicente, Direito processual civil brasileiro, v. 3 : (processo de execução a procedimentos especiais), 20. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 79 62 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 23 ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 318 63 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005, p. 1407

34

§2°. A penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judiciária, em valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais 30% (trinta por cento).

§3°. O executado somente poderá oferecer bem imóvel em substituição caso o requeira com a expressa anuência do cônjuge64.

Esta substituição poderá ser requerida, no prazo de 10 (dez) dias, contados

da data da intimação da penhora, e ainda, terá que ser comprovada que a

substituição não acarretará em prejuízo ao exequente, nem em onerosidade ao

executado. Estas medidas são requisitos para inibir manobras protelatórias, com

configuração da litigância de má-fé. Antes da definitiva pronúncia do juiz, quanto à

substituição, deverá ocorrer a ouvida da parte contrária, no prazo de três dias; dada

a decisão, caberá o recurso de agravo de instrumento, por não ser causa terminativa

do processo65.

2.3 DA IMPENHORABILIDADE

A penhora pode, como regra, recair sobre qualquer bem do devedor, mas

dentre este bens, existem alguns que são impenhoráveis, os quais não podem sofrer

com a execução. Por ser a penhora o primeiro ato preparatório para a expropriação,

os bens inalienáveis e impenhoráveis não podem ser penhorados66.

O que pode ser visto na doutrina de Alexandre Freitas Câmara:

O que acaba de ser dito quer significar que a lei processual pode determinar que certos bens fiquem excluídos da responsabilidade patrimonial, impedindo-se, com isso, que sobre os mesmos recaia a penhora. São os chamados bens impenhoráveis, de que passamos a tratar67.

64 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2008, artigo 656 65 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 23 ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 320 66 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 314 - 315 67 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de direito processual civil, v. 2, 14. ed – Rio de Janeiro : Editora Lumen Juris, 2007, p. 313

35

Esta impenhorabilidade foi redigida pelo legislador por razões humanitárias,

com a preocupação de preservar o executado e sua família. Está ligada a

preservação do devedor e da manutenção necessária para sua sobrevivência e de

seu grupo familiar68.

Pode haver bens absoluta ou relativamente impenhoráveis. Quando a

impenhorabilidade é absoluta, o bem não pode ser, em hipótese alguma, ser

penhorado, nem mesmo com a vontade do devedor, e está prevista no art. 649 do

CPC. Já os bens relativamente impenhoráveis podem ser penhorados como última

opção, na falta de outros bens, ou ainda, por consentimento das partes, e está

previsto no art. 650 do mesmo Código69.

2.3.1 Da impenhorabilidade absoluta

São absolutamente impenhoráveis os bens elencados no art. 649 do CPC,

sendo eles: os bens inalienáveis e os declarados não sujeitos à execução, por ato

voluntário, não sendo esta vontade unilateral do devedor, mas deve estar esta

vontade expressa no negócio jurídico, tendo como exemplo o bem de família, a

doação com cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade; são ainda

absolutamente impenhoráveis os móveis, pertences e utilidades domésticas que

fazem parte da residência do executado, com a exceção daqueles de maior valor e

que não correspondem ao padrão médio de vida; há também os vestuários e

pertences de uso pessoal; os vencimentos, subsídios, soldos, salários,

remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as

quantias recebidas por liberalidade de terceiros e destinadas ao sustento do devedor

de sua família, os ganhos do trabalhador autônomo e honorários de profissional

liberal; livros, máquinas, ferramentas, utensílios, instrumentos ou outros bens

necessários para o exercício de qualquer função; seguro de vida; materiais 68 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Reforma do CPC 2 : nova sistemática processual civil, São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 197 69 SANTOS, Ernani Fidélis dos, As reformas de 2006 do Código de Processo Civil : execução dos títulos extrajudiciais, 1. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2007, p. 38

36

necessários para obras em andamento, a não ser que esta esteja também

penhorada; pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família; recursos

públicos recebidos por instituição privada para aplicação em educação, saúde ou

assistência social; quantia depositada em caderneta de poupança, até o valor de

quarenta salários mínimos; e ainda, os recursos públicos recebidos por partido

político70.

Bem representado está o cuidado do legislador com o devedor, e sua

subsistência, na doutrina de Araken de Assis, quando diz que:

À guisa de exemplo revelador do fundamento dessas regras, basta invocar a impenhorabilidade das provisões e do combustível necessário à manutenção do devedor e de sua família por um mês, objeto de previsão específica no direito anterior e assunto hoje subsumido no art. 649, II. É obvio que não se pode matar o devedor de fome ou de frio. O benefício de competência se baseia, portanto, no respeito ao supremo valor da vida humana – enfim, no princípio da dignidade da pessoa humana71.

Os bens relacionados no presente artigo não podem ser penhoráveis em

hipótese alguma, nem mesmo quando não houver outros bens a serem penhoráveis.

Mas, conforme disposto no próprio art. 649, §1°, diz que, alguns dos bens elencados

nos seus incisos podem ser penhorados, desde que a dívida tenha sido contraída

para a aquisição deste72.

2.3.2 Impenhorabilidade relativa

Já os bens relativamente impenhoráveis são aqueles, conforme já dito, que

podem ser penhorados, na falta de outros desembaraçados, conforme prevê o art.

650 do CPC. Quando podem ser penhorados os frutos e rendimentos de bens

inalienáveis. Somente não podendo ocorrer quando estes rendimentos forem

70 GRECO FILHO, Vicente, Direito processual civil brasileiro, v. 3 : (processo de execução a procedimentos especiais), 20. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 77 - 78 71 ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 223 72 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de direito processual civil, v. 2, 14. ed – Rio de Janeiro : Editora Lumen Juris, 2007, p. 319

37

utilizados para o apagamento de alimentos, podendo ser qualquer pessoa

destinatária destes alimentos73.

Estabelece ainda, o CPC que poderão ser penhorados os frutos e

rendimentos de bens inalienáveis para garantir a prestação alimentícia. Neste caso,

poderão estes bens ser penhorados, mesmo que o executado disponha de outros

em seu patrimônio74.

Há dois requisitos para que estes bens sejam ditos relativamente

impenhoráveis, sendo eles, em primeiro lugar, a disponibilidade de outros bens,

passiveis de penhora, livres e desembaraçados; ou também, a finalidade alimentícia

destes bens, qualquer que seja o alimentante75.

2.3.3 Da impenhorabilidade de verba salarial

A verba de caráter salarial tem previsão, conforme já falado anteriormente,

no inciso IV, do art. 649 do Código de Processo Civil, que diz que:

Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:

IV – os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepíos; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro destinados ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no §3° deste artigo76;

Vale salientar que esta ressalva para a observação do §3°, fora vetado pelo

Presidente da República. Com este veto, restou apenas a penhorabilidade de

proventos estabelecida no §2° deste artigo, que prevê o desconto em folha para o

73 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 317 74 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de direito processual civil, v. 2, 14. ed – Rio de Janeiro : Editora Lumen Juris, 2007, p. 320 75 ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 233 76 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2008, artigo 649, IV

38

pagamento de pensão alimentícia, quando o devedor já recebe seu salário com o

desconto referente à parcela devida77.

Ainda sobre o veto presidencial, comenta Daniel Amorim Assumpção Neves:

Mais uma vez deve-se lamentar um veto presidencial referente à sadia modificação pretendida por aqueles que já perceberam de longa data que a preservação da dignidade humana não pode ser confundida com “carta branca” para devedores sem escrúpulos, mas com totais condições de realizar o pagamento. O veto presidencial nesse caso diz respeito ao art. 649, §3°, CPC: “Na hipótese do inciso IV do caput deste artigo, será considerada penhorável até 40% (quarenta por cento) do total recebido mensalmente acima de 20 (vinte) salários mínimos, calculados após efetuados os descontos de imposto de renda retido na fonte, contribuições previdenciária oficial e outros descontos compulsórios”78.

Prossegue ainda, Daniel Amorim Neves dizendo que, já vinham os

doutrinadores utilizando este entendimento, porque nele havia a efetivação da tutela

executiva, sem ofender a dignidade do devedor. O que foi vetado pelo Presidente da

República, onde o motivo para tal foi a tradição do direito brasileiro, sem valorizar as

mudanças já conquistadas.79

Ocorrido o veto, restou apenas o parágrafo que trata da penhora para fins de

pagamento de pensão alimentícia, mas de acordo com o doutrinador Araken de

Assis, este parágrafo não traz uma limitação de qual à porcentagem máxima que

poderá ser penhorado, devendo então, utilizar-se o bom senso, para não prejudicar

a subsistência do executado e de sua família. Tendo sido normalmente utilizado o

coeficiente de 30% do valor percebido pelo alimentante. 80

Há com isto grande divergência entre julgados, pois no dispositivo legal diz

que estas verbas, percebidas com o trabalho, são absolutamente impenhoráveis,

sem nenhuma ressalva; mas é grande a discussão a respeito deste assunto. Cada

caso é analisado separadamente pelos Tribunais, quando são vistas as

peculiaridades ali existentes, para então, o juiz decidir sobre a penhora. Sendo esta

a grande divergência deste estudo.

77 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, volume II, 14ª ed., Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2007, p. 315/316 78 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Reforma do CPC 2 : nova sistemática processual

civil, São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 213 79 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Reforma do CPC 2 : nova sistemática processual civil, São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 214 80 ASSIS, Araken de, Manual de Execução, 11. ed, ampl. e atual. com a Reforma Processual – 2006/2007 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 228/229

39

2.4. DA ORDEM LEGAL DOS BENS NA PENHORA

A efetividade da penhora depende também do respeito à ordem prevista no

art. 655, que traz a seguinte ordem de preferência: em primeiro lugar o dinheiro,

depois as pedras e metais precisos, títulos da dívida pública da União ou dos

Estados, título de crédito com cotação na bolsa de valores, móveis, veículos,

semoventes, imóveis, navios e aeronaves, e ainda, direitos e ações. Há

entendimento que esta ordem legal não é rígida, pois pode ser alterada por

circunstâncias e peculiaridades do caso concreto, e também, pelo interesse das

partes81.

A ordem legal tem por finalidade facilitar a execução, uma vez que a preferência é para os bens de mais fácil conversão em dinheiro, o que atua em favor da efetividade da execução ou cumprimento da sentença. A ordem, porém, não é sacramentado. Há que se atender, também, à menor onerosidade do devedor se a sua comodidade não prejudicar ou dificultar a efetivação do contido no título. Daí pode o executado pedir a substituição do bem penhorado, o que será decidido pelo juiz, ponderando os dois princípios orientadores: efetividade e menor onerosidade82.

Esta ordem não é rígida e absoluta, por observância dos dois princípios aqui

já citados, para manter o equilíbrio entre a efetividade da execução e da menor

onerosidade do devedor. Com isto, então, admite-se a penhora de bens em posição

posterior na ordem legal do art. 655 do CPC83.

Aliás, o termo “preferencialmente”, com que o art. 655 define a gradação da penhora, é em si um indicativo de que não está estabelecendo uma ordem inflexível, mas recomendando uma escala

81 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006, p. 290 82 GRECO FILHO, Vicente, Direito processual civil brasileiro, v. 3 : (processo de execução a procedimentos especiais), 20. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 81 83 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 2 : processo de execução, 9. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 167

40

a ser adotada como regra, se não houver razão relevante para que outra solução se imponha na particularidade do caso concreto84.

Cabe ao juízo, a observação desta ordem legal, apreendendo em primeiro

lugar, os bens que se encaixam na primeira das categorias expostas pelo dito artigo.

Por ter como objetivo maior da execução, conforme já foi tratado, a expropriação do

bem, para a satisfação do credor, foi determinada em primeiro lugar, na ordem de

preferência, que a penhora recaia sobre dinheiro, e seguida, pelos bens mais fáceis

de serem expropriados e convertidos em dinheiro85.

Sobre a penhora de dinheiro, discorre Vicente Greco Filho:

Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução. As informações limitar-se-ao à existência ou não de depósito ou aplicação até o valor indicado na execução. Compete ao executado comprovar que as quantias depositadas em conta corrente referem-se à hipótese de impenhorabilidade prevista no inciso IV do caput do art. 649 desta Lei ou que estão revestidas de outra forma de impenhorabilidade86.

Na sociedade ocorrem constantes mudanças, também nos bens e nas

riquezas que as pessoas acumulam. Com isto, a ordem de preferência, deve com

isto, também mudar, para acompanhar a realidade da sociedade, dando destaque

aos bens, por hora, relevantes, e reduzindo o destaque, daqueles bens que já não

estão mais em realce. Sendo a ordem estabelecida de acordo com a realidade da

sociedade87.

Na penhora, deverão todos os requisitos ser observados de forma conjunta,

para não ocorrer a indisponibilidade de bem impenhorável, prejudicando a

subsistência do executado e de sua família, e também, não fluir a execução de

forma mais demorada. Tratados, desta forma, os pontos relevantes quanto a

penhora, passa-se então ao estudo da impenhorabilidade tratada no art. 649, IV do

84 THEODORO JUNIOR, Humberto. A penhora on line e alguns problemas gerados por sua prática. Revista de processo, São Paulo, v. 34, n. 177, p. 16 – 17, novembro 2009. 85 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de direito processual civil, v. 2, 14. ed – Rio de Janeiro : Editora Lumen Juris, 2007, p. 305 86 GRECO FILHO, Vicente, Direito processual civil brasileiro, v. 3 : (processo de execução a procedimentos especiais), 20. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009, p. 81 - 82 87 VIEIRA, Christian Garcia, A penhora e a nova execução de título extrajudicial, in BRUSCHI, Gilberto Gomes, Execução civil e cumprimento de sentença, volume 2, São Paulo : Método, 2007, p. 55.

41

CPC, referente a penhora de salário, pelo sistema eletrônica denominado

BACENJUD.

42

3 A IMPENHORABILIDADE DE CONTA BANCÁRIA EM RELAÇÃO À

VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR

Ao iniciar este trabalho, passou-se pelas diversas fazes do processo, desde

a conceituação dos procedimentos, até o estudo aprofundado do processo de

execução por quantia certa contra devedor solvente, quando foi analisada a

ocorrência da penhora, conceituada e explicada no capítulo anterior.

A matéria relativa à impenhorabilidade é de grande divergência, tanto entre

doutrinadores, quanto entre os Tribunais de todo o país. Para melhor explanação

faz-se necessário o estudo de jurisprudências relacionadas ao tema, já

disponibilizadas por meio eletrônico.

Dentre estes julgados, há entendimentos favoráveis e desfavoráveis à

penhora, em diversos sentidos. Há quem entenda ser o salário totalmente

impenhorável, mas também existem jurisprudências que adotam o posicionamento

de que é possível a penhora de parte do salário do devedor, para assim satisfazer a

obrigação, conforme demonstrado a seguir.

3.1 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA

CATARINA – ENTENDIMENTO FAVORÁVEL A IMPENHORABILIDADE

Foi decidido no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em março do corrente

ano, pelo Desembargador José Carlos Carstens Köhler, em sede de Agravo de

Instrumento, no processo de n° 2009.063562-8, interposto contra decisão do juízo

de primeiro grau, que postergou a análise da revogação da penhora sobre conta-

corrente do executado.

Após a análise, foi proferida a seguinte ementa:

43

Agravo de Instrumento. Execução de título extrajudicial. Deferimento de penhora on line por intermédio do sistema BACEN JUD. Pedido de revogação da constrição não analisado pelo juízo de origem. Insurgência da devedora.

Penhora incidente sobre os salários e remunerações depositados pela empregadora do devedor em suas contas-correntes. Documentos que comprovam a origem do crédito e sua consequente impenhorabilidade. Levantamento de parte da constrição. Manutenção da medida em relação aos valores cuja origem trabalhista não restou comprovada. Recurso parcialmente provido88.

Em seu voto, o Desembargador inicia discorrendo a respeito da ordem de

penhora, já estudada no ítem 2.4. No processo em análise, diz o julgador ter seguido

corretamente o agravado (exequente) a ordem prevista, que indica o dinheiro em

primeiro lugar para ser penhorado, conforme art. 655 do CPC.

Mas a alegação principal deste agravo é, ter a penhora recaído sobre verbas

de caráter salarial, sendo estes, pela tese do agravante, absolutamente

impenhoráveis.

Sobre o assunto, é citado pelo julgador, por analogia, o seguinte julgado,

desta mesma corte:

Execução de Sentença. Pedido de arresto e posterior conversão em penhora de crédito trabalhista. Impossibilidade. Exegese do disposto no inciso IV do artigo 649 do CPC. Recurso desprovido.

Consoante o disposto no inciso IV do artigo 649 do Código de Processo Civil admite-se a penhorabilidade do crédito trabalhista, apenas na hipótese de execução fundada em prestação alimentícia devida em decorrência de relação de parentesco.89

Por entender, o relator, serem as verbas penhoradas de caráter salarial, e

pelo entendimento de serem estas verbas absolutamente impenhoráveis, julgou o

Desembargador, no sentido de ser retirada a penhora que recaía sobre estes

valores.

Este é o entendimento das diversas câmaras do Tribunal de Justiça de

Santa Catarina, que entende se absolutamente impenhorável a verba salarial, sem

nenhuma exceção, em árdua pesquisa nas jurisprudências, achou-se diversos

88 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n° 2009.063562-8. Agravante: Leonardo Meirinho. Agravado: Azul Papel Industria e Comércio Ltda. Relator: José Carlos Carstens Köhlen. Quarta Câmara de Direito Comercial. Diário de Justiça publicado em 08/03/2010. 89 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n° 2002.006073-4. Agravante: Ricardo Arruda Garcia. Agravado: Celso Mello. Relator: Jorge Schaefer Martins. Segunda Câmara de Direito Cível. 19 de maio de 2002.

44

julgados que tratam da impenhorabilidade de verba salarial, pois, pela

modernização, a grande maioria dos trabalhadores recebem seus salários direto em

conta bancária, que são, pela ordem de preferência trazida pelo art. 655 do CPC, os

primeiros bens a serem penhorados, gerando com isto, uma grande demanda de

ações discutindo este assunto.

Já o Superior Tribunal de Justiça há esta divergência, onde em alguns

julgados é autorizada a penhora de parte de valores provenientes de salário, como

será explanado no tópico a seguir.

3.2 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA – POSSIBILIDADE DA PENHORA EM PARTE DO SALÁRIO

Foi levado ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso em

Mandado de Segurança, impetrado por Sebastião Hélio Honorato Lopes em face do

Banco do Brasil S/A, a demanda em que quer se discutir quanto a penhora recaída

sobre conta bancária, em que existem verbas, que no entendimento do recorrente,

são impenhoráveis, por serem estas, de caráter alimentar. Tendo a seguinte

emenda:

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. ATO JUDICIAL. EXECUÇÃO. PENHORA. CONTA-CORRENTE. VENCIMENTOS. CARÁTER ALIMENTAR. PERDA. - Como, a rigor, não se admite a ação mandamental como sucedâneo de recurso, tendo o recorrente perdido o prazo para insurgir-se pela via adequada, não há como conhecer do presente recurso, dada a ofensa à Súmula nº 267 do STF. - Ainda que a regra comporte temperamento, permanece a vedação se não demonstrada qualquer eiva de teratologia e abuso ou desvio de poder do ato judicial, como ocorre na espécie. - Em princípio é inadmissível a penhora de valores depositados em conta-corrente destinada ao recebimento de salário ou aposentadoria por parte do devedor. Entretanto, tendo o valor entrado na esfera de disponibilidade do recorrente sem que tenha sido consumido integralmente para o suprimento de necessidades básicas, vindo a compor uma reserva de capital, a

45

verba perde seu caráter alimentar, tornando-se penhorável. Recurso ordinário em mandado de segurança a que se nega provimento.90

Este Mandado de Segurança teve origem, em um processo de execução,

onde se discutia uma divida no valor de R$ 19.890,05, e que, depois de esgotadas

todas as possibilidades de penhora, menos onerosas para o devedor, foi deferida a

penhora de valores depositados em conta bancária, restando penhorados R$

19.572,18.

Inconformado o executado – por entender serem verbas de caráter alimentar

– recorreu em todas as instâncias, com o intuito de ver retirada a penhora de sua

conta bancária. Mas todos os recursos lhe foram desfavoráveis. Quando então,

chegou ao STJ para a decisão do Recurso em Mandado de Segurança.

Em seu voto, a Ministra Relatora Nancy Andrighi, entendeu ser cabível o

recurso interposto e sobre a impenhorabilidade discorreu ser absolutamente

impenhoráveis as verbas de caráter alimentar, mas, no valor suficiente para

subsistência sua e de sua família.

A Ministra ainda cita, neste sentido, o doutrinador Araken de Assis, quando

diz que:

“Nesse aspecto, Araken de Assis anota que a impenhorabilidade de

vencimentos deve ficar restrita ‘àquela quantia necessária para sua [do devedor]

subsistência até o próximo encaixe’91”.

E ainda destaca que:

O acolhimento da tese do recorrente viabilizaria, no extremo, a esdrúxula situação de que qualquer trabalhador contraia empréstimos para cobrir seus gastos mensais, indo inclusive além do suprimento de necessidades básicas, de modo a economizar integralmente seu salário, o qual não poderia jamais ser penhorado. Considerando que, de regra, cada um paga suas dívidas justamente com o fruto do próprio trabalho, no extremo estar-se-ia autorizando a maioria das pessoas a simplesmente não quitar suas obrigações.92

90 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n° 25.397, Recorrente: Sebastião Helio Honorato Lopez. Recorrido: Banco do Brasil S/A. Relatora: Nancy Andrighi. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 03/11/2008 91 ASSIS, Araken de, Manual da Execução, 9ª ed., São Paulo: RT, 2004, p. 215 92 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n° 25.397, Recorrente: Sebastião Helio Honorato Lopez. Recorrido: Banco do Brasil S/A. Relatora: Nancy Andrighi. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 03/11/2008

46

Fica evidente o entendimento da Ministra Nancy, que mostra a

impenhorabilidade regida no art. 649, IV, CPC, de outra forma, mostrando que não

são todas as verbas percebidas de salário que são impenhoráveis, mas sim aquelas

que são utilizadas mensalmente para sua subsistência.

Não englobando nesta impenhorabilidade os valores que por ventura sobrem

em conta bancaria, depois da virada do mês, ou quando depositados valores

relativos ao próximo mês. Como é o caso demonstrado nesta jurisprudência, onde o

recorrente demonstra que a origem dos valores penhorados é seu salário, mais

confirma que estas verbas são resíduos de meses anteriores.

Desta forma, negou provimento ao recurso, mantendo a penhora nas contas

do recorrente.

3.3 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE

JUSTIÇA – IMPENHORABILIDADE DA VERBA SALARIAL

Há ainda, julgados em que, tratam as verbas de caráter salarial, como

absolutamente impenhoráveis. Como pode ser visto no julgado do Ministro Massami

Uyeda, que decidiu, em sede de agravo regimental, em Recurso Especial, interposto

por Cooperforte – Cooperativa de economia de crédito mútuo dos funcionários de

instituição financeira pública e federal, em face de Raimundo Nonato Braga,

proferindo a seguinte ementa:

Agravo regimental no Recurso Especial – Penhora de valores depositados em conta-corrente destinada ao recebimento de aposentadoria por parte do devedor – impossibilidade, ressalvando o entendimento pessoal do relator – recurso improvido. 1. É inadmissível a penhora parcial de valores depositados em conta-corrente destinada ao recebimento de salário ou aposentadoria por parte do devedor - Precedentes; 2. Agravo regimental improvido93.

93 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Recurso Especial n° 1023015. Agravante: Cooperforte – Cooperativa de economia e crédito mutuo dos funcionários de instituição financeira pública e federal. Recorrido: Raimundo Nonato Braga. Relatora: Massami Uyeda. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 05/08/2008

47

Após recurso especial da agravando, foi determinada, em decisão

monocrática do Ministro Humberto Gomos de Barros, a retirada da penhora que

recaía sobre suas verbas salariais; então, inconformado, adentrou a Cooperativa,

com agravo regimental, a fim de ter a penhora efetivada novamente, sustentando a

tese de que a impenhorabilidade do salário proporcionaria o enriquecimento ilícito.

Em seu voto, o Ministro Relator Massami Uyeda, diz, ser entendimento do

Superior Tribunal de Justiça, a impossibilidade de a penhora recair sobre parte de

verba salarial depositada em conta-corrente. Trouxe em seu voto o seguinte

ensinamento:

Ressalte-se que a vedação da penhora sobre percentual de salário ou aposentaria remanesce incólume, a despeito do advento da Lei nº 11.382/2006, que alterou a ordem legal da constrição dos bens do devedor, apontando a preferência sobre dinheiro ou espécie ou de depósito em instituição financeira, pois a penhora sobre percentual das verbas enumeradas no inciso IV do artigo 649 do CPC, constante do projeto de lei, no § 3º do artigo 655, foi expressamente vetada94.

Ao encerrar seu voto, expressa o Ministro, não ser este, seu entendimento

pessoal, quando diz que:

Assim, apesar da convicção pessoal deste Relator - oposta ao absolutismo da impenhorabilidade dos salários, uma vez que, embora estes possuam natureza alimentar, nem por isso deixam de ser fonte de quitação de obrigações -, é de aplicar-se o supracitado entendimento, prevalecente nesta Corte, para afastar a penhora de valores depositados na conta-corrente do ora agravado95.

Sendo assim, mesmo contrario ao seu entendimento, negou seguimento ao

agravo regimental interposto, com votação unânime na Terceira Turma.

94 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Recurso Especial n° 1023015. Agravante: Cooperforte – Cooperativa de economia e crédito mutuo dos funcionários de instituição financeira pública e federal. Recorrido: Raimundo Nonato Braga. Relatora: Massami Uyeda. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 05/08/2008 95 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Recurso Especial n° 1023015. Agravante: Cooperforte – Cooperativa de economia e crédito mutuo dos funcionários de instituição financeira pública e federal. Recorrido: Raimundo Nonato Braga. Relatora: Massami Uyeda. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 05/08/2008

48

3.4 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS

GERAIS – POSSIBILIDADE DE PENHORA DA VERBA SALARIAL

Nos julgados do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, é possível ver julgados

que possibilitam a penhora de verba de caráter alimentar, no montante de 30% do

valor total recebido. Conforme visto na ementa a seguir transcrita:

EXECUÇÃO - PENHORA DE VALORES PROVENIENTES DE BENEFÍCIO DE NATUREZA ALIMENTAR - IMPOSSIBILIDADE - LIMITE DE 30%. Tanto o texto constitucional quanto o processual vedam a retenção de salários, pois é através desses que os trabalhadores se mantêm e sustentam suas respectivas famílias, quitando seus compromissos cotidianos. O artigo que veda a penhora sobre os salários, soldos e proventos deve ser interpretado levando-se em consideração as outras regras processuais civis. Serão respeitados os princípios da própria execução, entre eles o de que os bens do devedor serão revertidos em favor do credor, a fim de pagar os débitos assumidos. A penhora de apenas uma porcentagem da verba de natureza alimentar não fere o espírito do artigo 649 do Código de Processo Civil96.

Foi dado este julgamento, quando, em execução, fora penhorada conta em

que a executada recebe seu salário. Inconformada, a devedora agravou da decisão

que determinou a penhora, com o intuito de ver desbloqueado o valor que estava

depositado nesta conta.

Trata, o relator José Antonio Braga, o assunto, trazendo a possibilidade da

penhora de parte do salário do devedor para cumprir a obrigação, e diz:

O artigo que veda a penhora sobre os salários, soldos e proventos deve ser interpretado levando-se em consideração as outras regras processuais civis e serão respeitados os princípios da própria execução, entre eles, o de que os bens do devedor serão revertidos em favor do credor, a fim de pagar os débitos assumidos. Isso porque as verbas de natureza alimentar são livremente negociáveis, disponíveis. A título exemplificativo, cita-se a consignação em folha de pagamento, prática cada vez mais comum entre servidores públicos, em que se destina previamente parte do salário para o pagamento de determinadas dívidas. Dessa forma, é medida justa a penhora limitada ao percentual equivalente a 30% (trinta por cento)

96 BRASIL, Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de instrumento nº 1.0024.05.731211-8/001(1). Agravante: Márcio Custódio. Agravado: Taíza Dias Barbosa. Relator: José Antonio Braga. Nona Câmara Cível. 25 de setembro de 2007.

49

dos proventos líquidos percebidos pela agravada, de forma mensal, até a integral quitação do débito exeqüendo97.

Desta forma, entende que deve ser sim penhorada parte do salário, para

satisfazer a obrigação para com o credor. O relator ainda mostra que, se considerar

todo o salário impenhorável, ninguém mais pagaria suas contas com salário, então

de onde deveriam vir estes valore? Indaga o relator.

Está ainda a favor deste entendimento a lei que autoriza o desconto em

folha para o pagamento de empréstimo. Que diz ser possível o desconto de até 30%

do valor total recebido pelo devedor, inclusive, podendo recair sobre verbas de

caráter rescisório.

Tal entendimento também é visto em outros julgados deste mesmo Tribunal,

conforme ementa transcrita:

Agravo de instrumento – desconto de empréstimo bancário em conta corrente – percentual fixado 30% - recurso parcialmente provido. A fixação da limitação do desconto de empréstimo bancário em conta corrente ao percentual de 30%, resulta da concretização em se alcançar a justiça, uma vez que ao mesmo tempo que não nega o direito de ser realizado o desconto, não inviabiliza ao devedor o poder de arcar com sua própria subsistência98.

Ao final do voto, foi dado provimento parcial ao agravo, para limitar a

penhora de 30% do valor recebido pela devedora, até o pagamento integral da

dívida.

3.5 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO

GRANDE DO SUL – POSSIBILIDADE DE PENHORA DA VERBA SALARIAL

O Tribunal de Justiça do Rio grande do Sul, em sede de Agravo de

Instrumento, interposto por Physiovitta Clinica de Fisioterapia, em face de Airton 97 BRASIL, Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de instrumento nº 1.0024.05.731211-8/001(1). Agravante: Márcio Custódio. Agravado: Taíza Dias Barbosa. Relator: José Antonio Braga. Nona Câmara Cível. 25 de setembro de 2007. 98 BRASIL, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Agravo de Instrumento n° 472.937-9. Agravante: Banco do Brasil S/A. Agravada: Noêmia Duarte Pereira. Relatora: Hilda Teixeira da Costa. Quinta Câmara Cível. Diário de Justiça Publicado em 24/12/2004.

50

Suslik Sviski, interposto com o intuito que a penhora recaísse na verba salarial

depositada em conta-corrente do devedor.

Foi proferida a seguinte ementa, pelo Relator Nelson José Gonzaga:

Agravo interno. Agravo de instrumento. Execução de sentença. Constrição sobre verba salarial. Impenhorabilidade art. 649, IV do CPC. Em regra, o dinheiro proveniente do salário do devedor é absolutamente impenhorável. Inteligência do art. 649, IV do CPC. Aplicação do princípio da menor onerosidade ao devedor. A penhora sobre parcela do salário do devedor pode ocorrer, contudo, tão-somente quando se apresentar como única forma de satisfação do crédito do exeqüente Na espécie, o agravado ofereceu bens à penhora, negados pelo credor em razão de serem gravados com cláusula de incomunicabilidade. Ocorre que a incomunicabilidade, por si só, não implica inalienabilidade ou impenhorabilidade do bem. Possibilidade de venda judicial dos imóveis indicados pelo devedor. Afastada a argüição quanto à preclusão da matéria. Decisão que se mantém por seus próprios fundamentos, tendo em vista a ausência de elementos capazes de alterar a convicção formada. Por maioria, negaram provimento ao agravo interno99.

Em Agravo interno, alegou o agravante, ser medida que se impõe, a penhora

sobre valores depositados em conta-corrente do executado, para cumprimento da

obrigação. Medida esta, já deferida em primeiro grau, mas revogada em agravo de

instrumento interposto pelo devedor.

O relator ensina que:

Com efeito, a penhora do salário do devedor é medida excepcional, devendo ocorrer tão-somente quando se apresentar como única forma de satisfação do débito exeqüendo. No presente caso, embora o devedor apresente renda vultosa (fls. 287 e 296), existem outros bens de sua titularidade que, inclusive, foram oferecidos à penhora. Esses bens, salvo prova em contrário, são aptos a fazer frente à garantia do Juízo, pois correspondem a três apartamentos pertencentes ao devedor, localizados nesta Capital, cujas matrículas foram acostadas ao feito pelo próprio agravante nas fls. 291/ 293100.

Diante de tudo, negou o relator, seguimento ao Agravo, determinando que a

penhora recaísse sobre os bens imóveis encontrados em nome do autor.

99 BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo interno n° 70023776826. Agravante: Physiovitta Clinica de Fisioterapia. Agravado: Airton Suslik Sviski. Relator: Nelson José Gonzaga. Décima oitava Câmara Cível. Diário de Justiça Publicado em 26 de junho de 2009. 100 BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo interno n° 70023776826. Agravante: Physiovitta Clinica de Fisioterapia. Agravado: Airton Suslik Sviski. Relator: Nelson José Gonzaga. Décima oitava Câmara Cível. Diário de Justiça Publicado em 26 de junho de 2009.

51

Desobedecendo a ordem legal, prevista no art. 655, do CPC, por, nessa medida, ser

menor a onerosidade do devedor, e ainda, sendo satisfeita a execução.

3.6 A IMPENHORABILIDADE TRATADA PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA SÃO

PAULO – POSSIBILIDADE DE PENHORA DE PARTE DA VERBA SALARIAL

A impenhorabilidade de verba salarial é tratada de forma coerente no agravo

de instrumento de n° 990.10.002296-2, onde o relator José Carlos Ferreira Alves

proferiu a seguinte ementa:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO Cumprimento de sentença - Penhora on-line de conta salário - Alegação de violação ao artigo 649, IV, do CPC - Possibilidade, diante das peculiaridades do caso. Parcela do valor excutido que possui natureza alimentar, a possibilitar a penhora de valores depositados em conta salário, conforme dispõe o § 3o do art. 649. Decisão mantida -Agravo desprovido101.

Este recurso foi interposto por Edinizio Francisco de Souza, com o intuito de

modificar a decisão prolatada nos autos principais que determinou a penhora de

20% do valor percebido pelo agravante, mensalmente, até que se atinja o valor total

da execução.

Inconformado com esta penhora, o agravante sustentou a tese de que os

valores depositados em sua conta se tratavam de verba salarial, e sendo verbas

salariais, possuem, conforme tese do agravante, impenhorabilidade absoluta,

conforme disposto no art. 649, IV do CPC.

Demonstra o relator, em seus fundamentos, que é de ser negado o

provimento do presente recurso pelo fato de que a decisão recorrida que penhorou

20% do salário do agravante, visa tão somente a efetividade da execução sem

101 BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n° 990.10.002296-2. Agravante: Edinizio Francisco de Souza. Agravada: Momentum Empreendimento Imobiliário Ltda. Relator: José Carlos Ferreira Alves. Segunda câmara de direito privado. Diário de Justiça publicado em 05/05/2010.

52

desrespeitar as garantias do devedor, inclusive o princípio que prevê que a

execução aconteça de forma menos onerosa para o devedor.

O que pode ser visto no seguinte trecho:

[...] é de rigor que se busque, da maneira mais efetiva possível, a satisfação de um crédito que, além de incontroverso (pois tem como base título executivo judicial) possui valor irrisório frente às possibilidades do agravante em saldar a dívida. Se, conforme afirma, a MM. juíza "determinou, de maneira singular, que a penhora fosse realizada de forma parcelada e parcial em conta salário de titularidade do agravante" é somente porque este se furta ao cumprimento de sua obrigação102.

Conforme provas constantes nos autos, juntadas inclusive pelo agravante, o

valor recebido como salário pelo devedor, em alguns meses pode chegar a quantia

de R$30.000,00. Então, a penhora de 20% destes valores não prejudicariam em

momento algum, a subsistência do executado e de sua família.

Para elucidar o entendimento, traz este voto, trecho do voto da Ministra

Nancy Andrighi, já debatido neste capítulo, que diz:

Embora ainda vacilante, a jurisprudência admite, em alguns casos, a mitigação do previsto no inciso IV do artigo 649: “Tendo o valor entrado na esfera de disponibilidade do recorrente sem que tenha sido consumido integralmente para o suprimento de necessidades básicas, vindo a compor uma reserva de capital, a verba perde seu caráter alimentar, tornando-se penhorável”103.

Encerra o relator, discorrendo que:

Destaque-se, finalmente, que uma parte do valor excutido tem

origem nos honorários advocatícios devidos ao causídico da parte

adversa, verba esta que possui, reconhecidamente, natureza

102 BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n° 990.10.002296-2. Agravante: Edinizio Francisco de Souza. Agravada: Momentum Empreendimento Imobiliário Ltda. Relator: José Carlos Ferreira Alves. Segunda câmara de direito privado. Diário de Justiça publicado em 05/05/2010. 103 BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n° 990.10.002296-2. Agravante: Edinizio Francisco de Souza. Agravada: Momentum Empreendimento Imobiliário Ltda. Relator: José Carlos Ferreira Alves. Segunda câmara de direito privado. Diário de Justiça publicado em 05/05/2010; BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n° 25.397, Recorrente: Sebastião Helio Honorato Lopez. Recorrido: Banco do Brasil S/A. Relatora: Nancy Andrighi. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 03/11/2008

53

alimentar. Portanto, conforma-se à hipótese prevista no parágrafo 3°

do artigo 649 do CPC104.

Ao presente recurso foi negado provimento, e confirmada a penhora sobre

20% do valor recebido mensalmente pelo devedor, até que seja cumprida

integralmente a dívida existente com o credor.

Este julgado elucida a discussão proposta neste trabalho, pois mescla a

efetividade da execução, com o princípio da menor onerosidade ao devedor. Não

deixa o devedor desamparado, sem recursos para a sua subsistência, mais também,

não faz com que esta premissa dificulte resultado da execução, sem ter o credor

recebido aquilo que lhe é de direito.

A impenhorabilidade, a luz desta decisão, é vista com a função de não

deixar o devedor sem a possibilidade de se sustentar com o salário que recebe,

mas, sendo o valor recebido mais do que o suficiente para manter o devedor e sua

família, deve ser utilizado estes valores remanescentes para o cumprimento das

obrigações reconhecidas.

Encerra-se aqui o estudo proposto nesta pesquisa, que visava o debate

entre os Tribunais pátrios com relação à impenhorabilidade de verba salarial no

processo de execução.

104 BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n° 990.10.002296-2. Agravante: Edinizio Francisco de Souza. Agravada: Momentum Empreendimento Imobiliário Ltda. Relator: José Carlos Ferreira Alves. Segunda câmara de direito privado. Diário de Justiça publicado em 05/05/2010.

54

CONCLUSÃO

O presente estudo pretendeu pensar e abrir a discussão com relação a

impenhorabilidade absoluta da verba de caráter alimentar no processo de execução

por quantia certa contra devedor solvente.

Para se chegar ao debate final com relação ao assunto, faz-se mister

analisar desde os procedimentos em geral, sendo eles o processo de conhecimento,

processo de execução e processo cautelar, incluindo-se as peculiaridades do

processo de execução, o qual foi esmiuçado quanto aos seus conceitos e suas

espécies. Desta forma, adentrar com conhecimento suficiente no processo de

execução por quantia certa contra devedor solvente.

A abordagem da pesquisa aprofundou-se no estudo da penhora, através da

sua conceituação, a explicação de seu procedimento, para posteriormente adentrar

na impenhorabilidade, relatando as possibilidades de impenhorabilidade absoluta

relativa.

Ao tratar da impenhorabilidade de verba salarial, iniciou-se a discussão

central deste trabalho onde ocorrem as divergências de entendimentos quanto a

esta possibilidade. Ainda não há uma corrente predominante, ambos os

entendimentos tem sido utilizados para resolver casos reais, conforme exposto no

terceiro capítulo.

É também de grande importância o debate relativo a ordem legal da

penhora, prevista no art. 655 do Código de Processo Civil. Por esta ordem não ser

rígida, possibilita sua inversão, de acordo com os princípios a serem observados no

caso concreto. Com isto, na maioria dos casos, esta ordem não é observada, pois

está ali previsto que o dinheiro deve ser o primeiro bem a ser penhorado. De acordo

com diversos autores aqui estudados, esta é a forma mais onerosa para o devedor,

com isto, muitas vezes esta ordem é invertida, para que haja a penhora de dinheiro

em último caso.

Com todos estes conceitos, adentrou-se no estudo de casos reais, debatidos

no Tribunais pátrios, onde debate-se quanto a possibilidade ou não da penhora

recair sobre verbas de caráter alimentar.

55

Com todos os casos analisados, pode-se concluir que, na maior parte dos

julgados ocorre a confirmação da impenhorabilidade de verba de caráter alimentar,

com o intuito de resguardar o devedor.

Mas ao mesmo tempo, não estão tão distantes os julgados que defendem a

possibilidade da penhora recair sobre verba de caráter alimentar. Estes julgados,

fundamentam suas decisões com o seguinte entendimento: a penhora de parte do

salário do executado não comprometeria sua subsistência e ainda, com isto, a

efetividade da execução seria cumprida.

É possível vislumbrar que estes julgamentos se moldam de acordo com o

caso concreto. Quando a verba salarial recebida pelo devedor não é expressiva, é

notório que qualquer desconto feito pode ser essencial para sua subsistência, é

quando normalmente ocorre a confirmação da impenhorabilidade de acordo com o

art. 649, IV.

Ao tratar-se de devedor que recebe grandes quantias, é possível que não

seja todo este valor utilizado para subsistência dele e de sua família, uma vez que

esta impenhorabilidade tem como finalidade manter a alimentação do executado.

Com isto, quando não é utilizada a totalidade desta verba para esta finalidade, esta

desconfigurada a impenhorabilidade prevista pelo Código de Processo Civil.

Muitos juristas valem-se do §3°, do artigo 649 do Código de Processo Civil,

uma vez que concordam com a redação que ali fora vetada. Entendem ser a

impenhorabilidade apenas empecilho para a efetivação da execução, quando em

muitas vezes tem-se a ocorrência da má-fé por parte do devedor.

A origem deste trabalho monográfico deu-se com as seguintes indagações:

É possível a penhora de conta destinada a depósito de salário? Em caso positivo

deve prevalecer o princípio da menor onerosidade ao devedor ou da efetividade do

processo de execução?

Ao finalizar este trabalho de pesquisa, é notório que não é possível

responder de forma precisa nenhum destes questionamentos, pois ambos podem

seguir por vertentes diversas. Este trabalho poderá nortear pesquisas futuras acerca

do tema utilizando um aprofundamento estudo de caso a caso.

Sobre a possibilidade da penhora de conta bancária destinada a depósito de

salário pode-se dizer que deverá ser analisado cada caso separadamente. Podendo

56

haver a concretização da impenhorabilidade destes valores, como também pode ser

considerada penhorável parte destes valores.

Quanto aos princípios a serem observados, vale salientar que não se pode

abalizá-los separadamente, uma vez que o processo de execução não ocorre

apenas para uma das partes. Sendo assim, para se ter um justo processo de

execução, de acordo com as normas legais, deve-se observar tanto o princípio da

menor para o devedor, como o da efetividade da execução.

Entretanto, as experiências e jurisprudências aqui descritas buscam

encontrar as melhores forma de ajustes para a impenhorabilidade, seja encurtando

prazos tanto para a satisfação de cada uma das partes envolvidas no processo.

57

REFERÊNCIAS

ASSIS, Araken de, Manual da execução, 11. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007 ASSIS, Araken de, Manual da Execução, 9ª ed., São Paulo: RT, 2004, p. 215 BRASIL, Código de Processo Civil, São Paulo : Saraiva, 2009 BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n° 2009.063562-8. Agravante: Leonardo Meirinho. Agravado: Azul Papel Industria e Comércio Ltda. Relator: José Carlos Carstens Köhlen. Quarta Câmara de Direito Comercial. Diário de Justiça publicado em 08/03/2010. BRASIL, Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n° 2002.006073-4. Agravante: Ricardo Arruda Garcia. Agravado: Celso Mello. Relator: Jorge Schaefer Martins. Segunda Câmara de Direito Cível. 19 de maio de 2002. BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n° 25.397, Recorrente: Sebastião Helio Honorato Lopez. Recorrido: Banco do Brasil S/A. Relatora: Nancy Andrighi. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 03/11/2008 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental em Recurso Especial n° 1023015. Agravante: Cooperforte – Cooperativa de economia e crédito mutuo dos funcionários de instituição financeira pública e federal. Recorrido: Raimundo Nonato Braga. Relatora: Massami Uyeda. Terceira Turma. Diário de Justiça Publicado em 05/08/2008 BRASIL, Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de instrumento nº 1.0024.05.731211-8/001(1). Agravante: Márcio Custódio. Agravado: Taíza Dias Barbosa. Relator: José Antonio Braga. Nona Câmara Cível. 25 de setembro de 2007. BRASIL, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Agravo de Instrumento n° 472.937-9. Agravante: Banco do Brasil S/A. Agravada: Noêmia Duarte Pereira. Relatora: Hilda Teixeira da Costa. Quinta Câmara Cível. Diário de Justiça Publicado em 24/12/2004.

58

BRASIL, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo interno n° 70023776826. Agravante: Physiovitta Clinica de Fisioterapia. Agravado: Airton Suslik Sviski. Relator: Nelson José Gonzaga. Décima oitava Câmara Cível. Diário de Justiça Publicado em 26 de junho de 2009. BRASIL, Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n° 990.10.002296-2. Agravante: Edinizio Francisco de Souza. Agravada: Momentum Empreendimento Imobiliário Ltda. Relator: José Carlos Ferreira Alves. Segunda câmara de direito privado. Diário de Justiça publicado em 05/05/2010. BUENO, Cássio Scarpinella, Curso de direito processual civil : tutela jurisdicional executiva, volume 3 – São Paulo : Saraiva, 2008 CÂMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 14 ed., Rio de Janeiro : Lúmen Júris, 2007 DAULT, Simone Stabel, Aspéctos da penhora, Revista Eletrônica Forense, v. 377, p. 661-675, 2005, <http://www.tex.pro.br/wwwroot/01de2004/aspectosdapenhorasimone.htm> acessado em 12/05/2009 DESTEFENNI, Marcos, Curso de processo civil, volume 2 : processo de execução dos títulos extrajudiciais, São Paulo : Saraiva, 2006 FUX, Luiz, Curso de direito processual civil, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2005 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva, v. 14, n.2, p. 153-168, jul./dez. 2002. <http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/766/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf?sequence=1> GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios, Novo curso de direito processual civil, volume 1 : teoria geral e processo de conhecimento (1ª parte) – 4 ed. – São Paulo : Saraiva, 2007 GRECO FILHO, Vicente, Direito processual civil brasileiro, v. 3 : (processo de execução a procedimentos especiais), 20. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2009

59

MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de Processo Civil – execução, v. 3 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de processo civil, volume 2 : processo de conhecimento – 6. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007 MARINONI, Luiz Guilherme, Curso de Processo Civil – execução, v. 3 – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007 MOREIRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento, 27.ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2009 NEVES, Daniel Amorim Assumpção, Reforma do CPC 2 : nova sistemática processual civil, São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2007 SANTOS, Ernane Fidelis dos, As reformas de 2006 do Código de Processo Civil : execução dos títulos extrajudiciais, 1 ed., São Paulo : Saraiva, 2007 SANTOS, Moacyr Amaral, Primeiras linhas de direito processual civil, 3. volume, 22 ed. – São Paulo : Saraiva, 2008 SILVA, Ovídio A. Baptista da, Do processo cautelar, 3. ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2006 THEODORO JUNIOR, Humberto, Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência, 39. ed., - Rio de Janeiro : Forense, 2006 THEODORO JUNIOR, Humberto. A penhora on line e alguns problemas gerados por sua prática. Revista de processo, São Paulo, v. 34, n. 177, p. 16 – 17, novembro 2009. VIEIRA, Christian Garcia, A penhora e a nova execução de título extrajudicial, in BRUSCHI, Gilberto Gomes, Execução civil e cumprimento de sentença, volume 2, São Paulo : Método, 2007 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, v. 1 : teoria geral do processo e processo de conhecimento, 8. ed., - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006

60

WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso avançado de processo civil, volume 2 : processo de execução, 8. ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2006