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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÀO ‘LATO SENSU’
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A PEDAGOGIA WALDORF
Objetivo: Levantar as possíveis contribuições da
Pedagogia Waldorf para a Psicopedagogia preventiva.
Por: Maria da Conceição Rodrigues Pereira
Orientador
Prof. Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
Janeiro 2007
2
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida.
A meu marido, companheiro de jornada e
cúmplice de aventuras, pelo apoio que nunca me negou.
A meus filhos, minhas fontes de permanente
atualização e de exercícios de paciência.
Àqueles que se agregaram ao nosso pequeno
núcleo familiar e que o enriqueceram com suas diversidades conceituais,
ideológicas e religiosas.
À professora Denise Rocha Domingues do
Jardim Escola Michaelis, pela sua generosidade em nos franquear o
acesso à escola e ao seu trabalho de monografia.
3
DEDICATÓRIA
“Todos os anos o Brasil retoma o ritmo depois do Carnaval. Mas todos
os anos, a história do Brasil recomeça com a volta às aulas. Nesse dia,
anualmente, recomeça a construção do futuro do Brasil e das suas crianças em
função da educação que elas receberão.
Sugeri que o presidente destacasse a importância daquele dia para o
futuro de cada criança, especialmente daqueles que iam à escola pela primeira
vê; que elogiasse os professores como os verdadeiros construtores da nação;
que lembrasse às famílias que educação não se faz somente na escola, mas
também em casa; que solicitasse aos meios de comunicação que se juntassem
ao esforço nacional pela educação: e que declarasse que seu governo faria
uma revolução no país, começando um grande salto na qualidade da educação
básica.
Certamente o presidente não falará em cadeia nacional. Por isso,
continuarei repetindo a sugestão, esperando que um dia um presidente acabe
com o faz-de-conta da educação brasileira, passe a considerar a escola como
o berço da nação, vá ao rádio e à televisão falar do assunto e mobilizar o país
pela sua construção”.
(Cristovam Buarque, 2006)
A todos aqueles que se dedicam seriamente à educação de nossas
crianças: pais, professores, voluntários, políticos, comunicadores, para que
nunca nos cansemos de repetir essa verdade até conseguirmos construir o
país dos nossos sonhos.
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RESUMO
O que nos levou a este projeto de pesquisa foi a curiosidade de saber se essa
Pedagogia, quase desconhecida, tinha conceitos em comum com a
Psicopedagogia. À medida que aprofundamos a pesquisa percebemos que as
semelhanças vão além da ênfase no brincar na primeira infância. Embora de
origens distintas, já que a Pedagogia Waldorf tem sua fundamentação numa
visão holística Antroposófica e a Psicopedagogia se abre às mais diversas
influências, as duas convergem para uma educação humanista ampla no
sentido da diversidade e criatividade, no envolvimento do
aluno/família/professor no processo de aprendizagem e num sistema de
avaliação que considere que o desenvolvimento e o crescimento humano não
podem ser medidos por uma fórmula matemática.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada baseou-se na obra de Rudolf Lanz sobre a
pedagogia Waldorf, textos de revistas especializadas e consulta em sites de
Antroposofia e Pedagogia.
Nossa pesquisa foi desenvolvida no sentido de mostras os fundamentos
dessa Pedagogia, pouco conhecida, visando uma reflexão sobre as
contribuições que ela possa trazer, como proposta, na psicopedagogia
preventiva.
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SUMÁRIO
Resumo Pág. 04
Metodologia Pág. 05
Introdução Pág. 07
Capítulo I – Rudolf Steiner Criador da Pedagogia Waldorf Pág. 09
1.1 Conceitos Antroposóficos Pág. 10
1.2 História da Pedagogia Waldorf Pág. 12
1.3 História da Pedagogia Waldorf no Brasil Pág. 13
Capítulo II – A Pedagogia Waldorf Pág. 14
2.1 A Formação e a Atuação do Professor Pág. 18
2.2 Currículo Pág. 19
2.3 Educação Infantil – Jardim de Infância Pág. 22
2.4 Avaliação Pág. 23
2.5 Participação dos Pais Pág. 23
Capítulo III – A Escola Pág. 25
3.1 O Sistema Administrativo Operacional Pág. 26
3.2 A Classe Pág. 28
3.3 Religião Pág. 29
Conclusão Pág. 30
Bibliografia Pág. 31
7
INTRODUÇAO
O objetivo de nossa pesquisa foi buscar na Pedagogia Waldorf
elementos que possam contribuir para uma educação mais humana e centrada
no aluno sob a ótica da Psicopedagogia.
Apesar de se tratar de uma Pedagogia pouco divulgada nos meios
acadêmicos podemos perceber que alguns de seus conceitos são praticados
por psicopedagogos e professores que buscam a prática da educação não só
comprometida com a rápida evolução do mundo moderno, mas principalmente
com os conceitos filosóficos de ética e solidariedade que devem permear todas
as relações humanas.
Foi com esta preocupação que desenvolvemos nossa pesquisa. Assim,
as informações sobre os princípios Antroposóficos, nos quais se fundamenta a
Pedagogia, e seu desenvolvimento histórico foram apresentados no Capítulo I.
No Capítulo II destacamos a importância da formação dos professores; a
abrangência do currículo escolar e o processo de Avaliação totalmente
desvinculado de testes e provas. Apresentamos ainda neste Capítulo o
trabalho desenvolvido na Educação Infantil – Jardim de Infância – início da
relação social e interação com a natureza, etapa fundamental para uma relação
harmoniosa do indivíduo com o mundo.
No Capítulo III descrevemos os princípios básicos para o funcionamento
de uma escola Waldorf: como ela se constitui e como se mantém jurídica e
administrativamente; a formação e a atuação dos grupos que dão suporte ao
seu funcionamento operacional e os campos de responsabilidade de cada um
desses grupos.
8 Abordamos a composição das classes e a relevância dos princípios que
norteiam as relações humanas nesse pequeno núcleo social.
Finalmente, focamos a educação religiosa e sua importância na
formação dos jovens, principalmente na sua concepção de liberdade de credos
e respeito às individualidades.
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CAPITULO I
RUDOLF STEINER
CRIADOR DA PEDAGOGIA WALDORF
Rudolf Steiner nasceu em Kraljevick (atual Croácia) em 1861 e faleceu
em 1925. Enquanto estudava Ciências Naturais e Matemática na Escola
Politécnica de Viena procurou aprofundar seus conhecimentos em temas
políticos sociais, através de estudos literários e filosóficos e foi nessa época
que desenvolveu um grande interesse pelas obras de Ghoete que serviram de
base para suas teorias do desenvolvimento humano.
Ao final da Segunda Guerra Mundial a Alemanha bem como os outros
países da Europa buscavam retomar a estabilidade através da conscientização
social. Foi nesse cenário que Emile Molt, diretor da fábrica de cigarros
Waldorf/Astória em Stuttgart, convidou Rudolf Steiner para proferir palestras
sobre temas sociais e educativos para os operários da fábrica.
Suas considerações eram fundamentadas na ciência antroposófica,
desenvolvida por ele mesmo, e serviram de base para todo o seu trabalho
sócio cultural.
Abrimos um parêntese para transcrever o texto de Waldemar W. Setzer
publicado na Internet (site www.sab.org.br/edit/nocoes/steiner.htm) em
15/02/98, modificado em 03/06/05 e que resume os conceitos da Antroposofia.
10
1.1. Conceitos Antroposóficos
“Espiritualismo – por seu método ela chega ao fato de que o universo
não é constituído apenas de matéria e energia físicas, redutíveis a processos
puramente físico-químicos. Ela descobre um mundo espiritual, estruturado de
forma complexa em vários níveis. Ela também descreve seres puramente
espirituais que não têm expressão física e que atuam em vários níveis
diferentes de espiritualidade.
Para a Antroposofia a substância física e uma condensação da
“substância” espiritual, não física. É, portanto, um estado do “ser”espiritual. Se
formos tanto ao microcosmos das “partículas”atômicas e subatômicas, como ao
macrocosmo das estrelas e galáxias começamos a penetrar diretamente no
mundo não-físico. Nesse sentido a Antroposofia representa um monismo: para
ela não existe o paradoxo do espírito atuar na matéria, ele é a origem de tudo.
*Antropocentrismo – Ela parte da compreensão do ser humano para ele
entender não só a si próprio como a todo o universo. Nesta ótica o ser humano
gerou, na sua evolução, o mundo dos animais. Estes são especializações
evolutivas do ser humano, que representa a razão de ser do universo físico,
dele também depende a evolução do mundo espiritual.
*Desenvolvimento de órgãos de percepção supra sensorial - A
Antroposofia demonstra que o mundo espiritual pode ser observado com tanta
clareza como se observa o mundo físico. Para isso é necessário que se
desenvolvam individual mente órgãos de percepção que jazem latentes em
todos os seres humanos, sendo nesse sentido indicados exercícios de
meditação individual. Aquilo que se denomina normalmente de “intuição” já é,
para a Antroposofia, uma percepção espiritual. No entanto, ela não é
consciente e nem auto-controlada, como devem ser as observações espirituais
11adequadas ao homem moderno, que deseja absorver idéias com a
compreensão, fazendo observações próprias e não ter crenças e crendices.
*A meditação Antroposófica baseia-se na atividade do pensamento
consciente, que deve conservar sua clareza, ser totalmente controlado e ser
desenvolvido a ponto de não depender de conceitos e imagens provenientes
do mundo físico.
*Desenvolvimento da consciência da autoconsciência, da individualidade
e da liberdade - A Antroposofia preconiza que essas quatro características
humanas devem ser radicalmente preservadas e mesmo desenvolvidas.
*Cosmo visão aberta - Toda obra de Rudolf Steiner e seus seguidores
está publicada. Não há absolutamente nada de secreto na Antroposofia.
*Perspectiva histórica – A Antroposofia fornece uma grandiosa
perspectiva para a evolução da Terra e do ser humano, abrangendo todo o
passado histórico e pré-histórico. Através dela pode-se conceitualmente
compreender muito do que foi transmitido na antiguidade, através de imagens
como a dos mitos antigos e os relatos do Velho e Novo Testamentos, (em
particular do ser cósmico Cristo e suas manifestação), passando pela filosofia
Grega e os movimento heréticos, a Idade Média, a Renascença e até os
movimentos materialistas modernos. Assim, ela resgata a continuidade
histórica, mostrando como o ser humano atual é conseqüência e de uma linha
de acontecimentos espirituais e físicos desde os primórdios do Universo.
*Renovação da Pesquisa Científica - A Antroposofia indica como ampliar
a pesquisa científica tornando-a mais humana e mais coerente com a natureza,
tendo obtido ótimos resultados no desenvolvimento de medicamentos, na
compreensão de animais, plantas, etc. Nesse sentido ela deve ser considerada
como uma evolução do método científico estabelecido por Goethe.
Em particular sua Teoria das Cores, foi estendida e melhor conceituada
a partir de pesquisas científicas feitas e publicadas por antropósofos.
12
*Desenvolvimento Moral – A Antroposofia recomenda um
desenvolvimento moral que deve ser feito pessoalmente fundamentado no
conhecimento da essência do ser humano e do universo. Para ela o
desenvolvimento moral baseado em um amor altruísta é a missão do ser
humano na presente Terra. As atitudes morais devem observar a liberdade
individual, isto é, não devem ser baseadas em imposições exteriores de
mandamentos, dogmas e leis, mas irradiadas do amor e do conhecimento
individuais em plena liberdade.”
Como se pode perceber, essa filosofia sugere mudanças
comportamentais em áreas do desenvolvimento humano dentre outras da
medicina, da terapia, da agricultura, da farmacologia, e da que nos interessa
mais de perto: a educação.
1.2. História da Pedagogia Waldorf
Os operários da fábrica Waldorf, afetados pelos conceitos sócios
educativos emitidos por R. Steiner durante palestras dirigidas a eles,
manifestaram desejo de que seus filhos tivessem acesso a uma formação
acadêmica mais voltada para as reais necessidades do desenvolvimento
humano na modernidade. Rudolf Steiner foi então convidado para organizar
um novo modelo de escola que observasse esses conceitos e assim, em 1919
é criada a primeira escola Waldorf com 12 docentes e 256 alunos. Uma escola
livre para crianças de qualquer procedência, classe social, raça ou religião.
Existem hoje no mundo cerca de 700 escolas Waldorf, espalhadas nos
seguintes países: África do Sul, Egito, Quênia, Israel, Japão, Alemanha,
Áustria, Croácia, Bélgica, República Tcheca, Dinamarca, Escócia, Finlândia,
França, Geórgia, Grã-bretanha, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Liechtenstein,
Lituânia, Luxemburgo, Moldávia, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Rússia,
13Suécia, Suíça, Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Canadá, Colômbia, Chile,
Equador, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai e Brasil.
1.3. História da Pedagogia Waldorf no Brasil
A primeira escola Waldorf no Brasil começou a funcionar com vinte e oito
alunos em um grupo de Jardim de Infância em fevereiro de 1956 na Rua
Albuquerque Lins, Higienópolis, São Paulo. Os primeiros professores foi o
casal Karl e Ida Ulrich, vindos da escola Waldorf de Pforzheim na Alemanha.
Sua tarefa era lecionar e preparar novos professores.
A escola foi bilíngüe durante os doze primeiros anos e só em 1975
formaram a primeira turma de Ensino Médio.
Em 1970 surgiu o 1º. Seminário de Pedagogia Waldorf no Brasil,
fundado por Rudolf e Mariane Lanz, para atender a necessidade de formação e
atualização de professores nessa Pedagogia. Esse seminário tornou-se um
Centro de Formação de Professores, autorizado pelo Parecer CEE número
576/97. ( site www.sab.org.br/pedag-wal/pedag.htm).
Existem hoje no Brasil vários Jardins de Infância e escolas de Ensino
Fundamental, porém, apenas duas conseguiram implantar o Ensino Médio. No
Estado do Rio de Janeiro existem três escolas oficiais Waldorf e no município
do Rio de Janeiro funciona o Jardim Michaelis.
14
CAPITULO II
A PEDAGOGIA WALDORF
O essencial é saber ver.
Saber ver sem estar a pensar.
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a
alma vestida!)
Isso exige um estudo profundo
Uma aprendizagem de desaprender.
(Fernando Pessoa, 1972).
A diferença entre a Pedagogia Waldorf e outras pedagogias inovadoras
está não só na sua concepção do homem e do mundo mas, principalmente, na
visão crítica e na forma como atua na realidade frente às necessidades de
transformação.
Considera o ser humano como uma unidade harmônico físico anímico
espiritual que não é determinado exclusivamente pela genética e pelo meio
ambiente. Ele nasce com um potencial e predisposições que é capaz de
desenvolver, de forma única, no decorrer de sua vida, a partir das informações
e estímulos que recebe.
Baseia-se no conceito do homem tríplice, nas suas funções específicas:
Pensar Sentir Querer/Vontade
(Intelecto) (Sentimento) (Metabolismo)
Steiner afirma que a vida e o amadurecimento do homem não se dão de
forma linear, mas em ciclos de aproximadamente 7 anos, que ele denomina
Setenios. Considera que o homem passa por quatro “nascimentos”: o do corpo
15físico ao nascer: o do corpo etérico aos 7 anos (escolaridade): o do corpo astral
aos l4 anos (puberdade) e o do eu aos 21 anos (maturidade).
Compreender e respeitar esse processo de evolução é a base de todo o
trabalho na Pedagogia Waldorf.
Durante os primeiros anos a criança é permeável ao que acontece ao
seu redor, não construiu a barreira entre o eu e o mundo ambiente, que passa
a ocorrer no mundo adulto. Por isso é fortemente atingida por todas as
influências do meio ambiente e transmite a esse mundo tudo o que sente.
Imita inconscientemente tudo que se passa ao seu redor. Seu comportamento
é uma cópia dos modelos em volta. Os primeiros e talvez os mais
importantes aprendizados do ser humano – o andar e o falar – ocorrem
normalmente antes dos dois anos de idade e só acontecem em contato
com outros seres humanos. A partir dos três anos aproximadamente surge a
representação mental. A criança imita os adultos através de suas brincadeiras
e assume os papéis de mãe, pai, vendedor, animal, etc. Nessa fase o adulto
deve ficar atento ao seu próprio comportamento já que não é através de
discursos e conscientização que se educa a criança na Educação Infantil, mas
pelo exemplo e pela organização do ambiente.
A criança não tem barreira nem inibição, exterioriza o que se passa
dentro dela; o prazer de correr, de subir de escorregar, etc.e também o que a
desagrada. Esses impulsos descontrolados recebem o nome de vontade. Na
criança pequena prepondera “a vontade” mesmo que inconsciente.
Após os três anos as impressões deixam de ter uma passagem livre no
comportamento da criança e passam a ser guardadas sob forma de memória.
A continuidade das imagens gravadas faz surgir a consciência do próprio eu.
Ela passa a usar o pronome “eu” no lugar do próprio nome. É a fase da
teimosia e da oposição. Essa primeira “memória” é ainda rudimentar e só
adquire o caráter duradouro entre os 7 e 14 anos, quando se transforma em
16memória conceitual. Apenas entre os 14 e 21 anos será dominada pela
abstração e causalidade.
O ponto mais importante da educação durante o segundo setênio
consiste em trabalhar os sentimentos das crianças, em apelar à sua fantasia
criadora e em aumentar essas forças com imagens que as fecundem e elevem.
Esse prazer inato do jovem de cantar, ouvir música e praticar a arte do
movimento deve ser respeitado. A educação que ignora esses anseios
desperdiça e causa atrofia a essas forças que estão presentes nos jovens à
espera de serem chamadas e aproveitadas. Nessa fase o mundo fala à criança
não por seu conteúdo conceitual mas por sua imagem. Por isso a
transformação das imagens (concreto) em conceitos e regras deve se
processar paulatinamente.
O terceiro setênio se caracteriza pelo surgimento da autonomia. É o
pleno desenvolvimento das faculdades mentais e morais. Nesta fase aparece
o espírito crítico. O adolescente quer julgar por si mesmo, tem prazer em
colocar em dúvida as opiniões alheias. Surge o questionamento da autoridade.
É a fase de tomar consciência de seu próprio existir. Ele começa a sentir-se
como um eu e a vivenciar o mundo como um não eu.
Nesse setênio não funciona a pedagogia da autoridade, o que prevalece
é o reconhecimento das qualidades do educador, em especial as intelectuais e
morais.
Nessa fase predomina o idealismo e os ideais serão escolhidos de
acordo com sua personalidade e com a formação que teve até aqui. O objetivo
da Pedagogia Waldorf é conseguir que essa etapa seja atingida com a
harmonização das forças anímicas: pensar, sentir e querer.
O jovem deverá chegar aqui conhecendo não só as ciências exatas e
humanas, mas principalmente, a realidade social com as dúvidas e angústias
17nela contidas, já que será através desse conhecimento e conscientização que
ele virá a desejar contribuir para o progresso do mundo. É a fase do idealismo
conduzido à vida prática.
Rudolf Steiner chamou atenção para o fato de que uma educação pobre,
materialista e ignorante, no que se refere ao verdadeiro desenvolvimento da
criança, pode ser responsável pelos fenômenos de erotismo exacerbado e
agressividade que atingem os jovens. Uma educação consciente, baseada no
conhecimento da natureza biológico-anímico-espiritual do homem pode ser a
base para inverter essas tendências.
Uma pedagogia que preze a integração de seus alunos na
realidade social tem a considerar, como primeira e mais
imediata realidade, a personalidade desses alunos. Por
isso a Pedagogia Waldorf não é um edifício de idéias
abstrata, mas lida com situações concretas. Admite, sem
julga-las, diferenças existentes entre raças e culturas,
procurando adaptar-se a todas elas. ... Isso não significa
que não queira corrigir defeitos e unilateralidades. Ela
reconhece defasagens, fenômenos de aceleração, etc.
Crianças prejudicadas pelo ambiente ou com defeitos
congênitos recebem cuidados e ensino especiais... Definir
diferenças entre a Pedagogia Waldorf e as tradicionais
equivale, para alguns aficionados, a dizer que ä Pedagogia
Waldorf forma, a tradicional informa.” ... Realmente , a
Pedagogia Waldorf visa a formação do ser humano, quer
desenvolve-lo harmoniosamente em todos os seus
aspectos: inteligência, conhecimentos, vontade, ideais
sociais, etc. quer despertar todas as suas qualidades e
disposições inatas e estabelecer um relacionamento sadio
entre o indivíduo e seu mundo ambiente – que inclui os
outros homens. Mas a informação também é necessária:
sem ela nenhuma formação é possível.” (LANZ, 1979, p.94)
18
2.1. A Formação e a Atuação do Professor
Germino, germino, sem parar
Cobrem-me folhas e flores
algum orvalho, nenhum bocejo.
Primavero-me
(Conceição Albuquerque, 2001)
Além da formação acadêmica convencional o professor precisa da
especialização na Pedagogia Waldorf. Essa especialização, obtida em
Instituições específicas, compreenderá aprofundamento na filosofia
Antroposófica e, na metodologia pedagógica além de a formação artística e
artesanal.
Idealmente o professor acompanha a mesma turma da 1ª. à 8ª. série e
atua como “professor de classe” ensinando as matérias para as quais esteja
habilitado, inclusive arte e música. A convivência diária e prolongada propicia
um relacionamento mais estreito com seus alunos e o fato de lecionar diversas
matérias possibilita a melhor percepção dos dons e dificuldades de cada aluno,
dando-lhe a oportunidade de chegar a ele através de seus pontos de interesse.
Considerando que o professor tem oito anos para acompanhar a classe
se sente menos pressionado e pode planejar seu trabalho com mais
flexibilidade, ciente de que sua prioridade é a classe não o programa.
Nessa proposta pedagógica os pais têm uma participação maior e mais
ativa o que possibilita a troca de informações sobre o desenvolvimento do
aluno com sugestões e propostas de ambas as partes.
Esse sistema, entretanto, exige do professor atualização e renovação
permanentes, caso contrário corre o risco da classe se cansar dele.
19 Quando outros professores lecionam para a mesma classe cabe ao”
professor de classe” coordenar e orientar os demais professores.
A partir da 9ª. série todas as matérias passam a ser dadas por
professores especializados, cessa então o sistema de “professor de classe “e
surge a figura do” tutor”, que é o elemento de ligação entre a classe e a escola.
O “tutor” pode ser escolhido pelos próprios alunos e tem a função de manter
contato pessoal com a classe, tomar ciência e ajudar na solução de quaisquer
problemas. Ele centraliza as informações de todos os professores que
lecionam em sua classe e é também o elemento de ligação com os pais dos
alunos.
Nas escolas Waldorf o corpo docente é formado por pedagogos
autônomos e embora os professores não tenham total autonomia ela é
bastante grande se comparada às demais escolas. Principalmente se
considerarmos que não existe um diretor no sentido tradicional do termo.
O compromisso do professor é para com os alunos e seus pais e
também com as idéias da pedagogia e da Antroposofia. Isso não significa,
entretanto que os professores tenham que ser antropósofos, porém idealmente
são desejáveis no professor algumas características especiais, como por
exemplo: buscar o melhor conhecimento do ser humano através do
aprofundamento na filosofia Antroposófica: praticar o amor fraterno como base
do comportamento social e procurar desenvolver sua criatividade, encarando
cada aula como uma verdadeira obra de arte.
2.2. Currículo
Esta pedagogia tem seu campo de atuação mais efetivo no Ensino
Fundamental e Médio. O ciclo completo abrange 12 séries e se subdivide em
duas etapas de 8 e 4 séries, respectivamente. Em geral existe ainda um
Jardim-de-Infância que vai merecer um capítulo à parte e, eventualmente, uma
2013ª. série que é o preparatório para os exames oficiais de conclusão do curso
de Ensino Médio, nos países em que tais exames se fazem necessários.
Num sistema de ensino baseado na Pedagogia Waldorf todo cidadão
deveria freqüentar a escola até a idade de 18 anos e não poderia ser excluído
desse processo sob pretexto de ser menos dotado, pouco inteligente, etc. A
escola deveria estar a serviço da criança e o sistema escolar proporcionar a
todos, indistintamente, a possibilidade de aprender e receber uma formação
que vise ao pleno desenvolvimento de sua personalidade humana. Só após o
seu desenvolvimento como pessoa ele seria preparado profissionalmente e de
acordo com sua personalidade e seus dons.
Segundo Steiner, essa possibilidade de acesso ao patrimônio e valores
culturais, igual para todos, seria a melhor garantia contra o sentimento de
angústia, frustração e ódio que está na origem das tensões e conflitos sociais.
Existem inegavelmente as causas econômicas e sociais, mas, as diferentes
oportunidades de acesso ã educação e cultura são os maiores geradores da
sensação de injustiça. Porém, esse ponto de vista só é corretamente
compreendido se considerado em sua natureza totalmente apolítica.
Quanto à escolha das matérias a serem lecionadas, a que tempo e a
metodologia seguem-se as sugestões feitas por Steiner e as exigências
curriculares feitas pelas legislações dos diversos países. Em geral os currículos
aplicados nas escolas Waldorf têm se mostrado mais amplos e mais ricos que
os oficiais. Todas as matérias do currículo são obrigatórias para todos os
alunos podendo haver opções entre as várias atividades artísticas e entre as
línguas estrangeiras.
Uma das características da pedagogia é evitar o uso de livros didáticos
nas aulas. Não quer dizer que os alunos não devam consultar livros
específicos. Na sala de aula, porém a matéria é ensinada com base na palavra
21viva do professor e transcrita, em seguida, para o caderno de época com
redação própria dos alunos (a partir da 5ª. série).
Isso porque, um dos princípios da pedagogia consiste em ir da atividade
ou do fenômeno para a abstração conceitual. O caminho será da vontade para
o sentimento e os livros didáticos convencionais costumam seguir o caminho
inverso. Partem da abstração e definições para o exemplo prático.
O processo de alfabetização parte do desenho geral para o desenho das
letras. A partir do desenho das letras a criança formará suas próprias palavras
e só após a leitura de sua própria criação ela será estimulada a fazer a leitura
de outras escritas.
No ensino da matemática é aplicado o sistema analítico (12 = ? + ?),
enquanto o ensino tradicional utiliza o sistema sintético (5+7= ?).
O sistema sintético é fechado, só admite uma resposta enquanto o sistema
analítico estimula o raciocínio mais amplo e permite mais de uma resposta.
As matérias artísticas e artesanais têm a mesma importância para a
formação do jovem que as matérias do currículo tradicional. Assim o Currículo
Waldorf contém, do Jardim de Infância até a última série, um programa de
atividades artísticas e artesanais, adaptado à faixa etária de cada classe.
Todos os alunos têm acesso ao ensino do canto e da música
instrumental.
A Jardinagem é matéria obrigatória e envolve: semear, adubar, colher e
comer o fruto de seu trabalho. Essa atividade possibilita a percepção de que
existe um tempo que não pode ser acelerado o do crescimento e maturação
que não se colhe sem que esse tempo tenha transcorrido e que além do tempo
o clima é o grande aliado da colheita.
22 Todas essas atividades curriculares fazem parte da formação e
desenvolvimento pleno do ser humano. É através dessas atividades que a
criança aprende a respeitar o trabalho manual, a admirar a arte e a respeitar a
natureza. As excursões e acampamentos estimulam o trabalho solidário e a
responsabilidade pelo seu bem estar e o do grupo já que, nessas atividades, as
tarefas são previamente distribuídas e só a atuação responsável de cada um
permite que o momento de convivência aconteça.
2.3. Educação Infantil – Jardim de Infância
A Pedagogia Waldorf considera que a criança na idade da Educação
Infantil deve ficar em casa, no convívio da família. Porém, como isso é
praticamente impossível nos dias atuais quando pai e mãe trabalham fora o
Jardim de Infância Waldorf procura reproduzir um aconchegante ambiente
familiar.
As crianças são acolhidas em casas com quintal onde mantêm contato
com todos os elementos da natureza: terra, plantas, água, etc.
Os brinquedos e materiais oferecidos às crianças nessa fase são
necessariamente naturais (madeira, pedra, cera de abelha, argila) e as
atividades artísticas, artesanais e musicais, adequadas à faixa etária, também
fazem parte do dia a dia do Jardim de Infância. As refeições servidas são
também totalmente naturais e incluem: sucos, frutas, cereais e sempre que
possível, pão caseiro feito na própria escola.
Nesta etapa um destaque é dado à hora do conto. Os autênticos contos
de fadas além de abrirem as portas para um mundo de fantasia e mistérios
provêm de uma velha sabedoria popular e, sempre que possível a narração é
repartida em vários dias, para manter a expectativa da continuação.
23
2.4. Avaliação
O desenvolvimento do indivíduo não pode ser medido nem quantificado
só observado e acompanhado. Assim, a aplicação, a forma, a fantasia a
riqueza de pensamentos, estrutura lógica, o estilo, a evolução da ortografia e
os conhecimentos reais são apenas acompanhados. O julgamento geral sobre
o aluno levará em conta o esforço real que ele fez (ou não fez) para alcançar
os resultados, bem como seu comportamento e seu espírito social. A avaliação
procurará estimular o aluno realçando o que há de positivo e criticando o
negativo só em relação ao que ele, sendo capaz, poderia ter produzido e não
fez.
Esta avaliação é formalizada através do boletim anual em que o
“professor de classe” faz um relato minucioso sobre a atuação do aluno no
período, considerando as impressões de todos os demais professores e o esse
boletim é apresentado aos pais. Somente quando exigido pelas autoridades de
ensino a escola faz uma avaliação quantificada ou quando o aluno sair da
escola.
2.5. Participação dos Pais
Sem a total integração dos pais a vida escolar da criança será muito
difícil. É fundamental que participem a nível filosófico e operacional. Essa
participação inclui reuniões periódicas, eventos sociais e culturais, críticas,
sugestões e se possível como membro do Conselho de Pais e Conselho
Gestor da escola.
É primordial que os pais conheçam bem as idéias básicas da Pedagogia
para que não aconteça dos filhos serem educados numa escola com valores e
princípios diferentes daqueles praticados na família. Isso resultaria em sérios
conflitos ideológicos e psicológicos gerando falta de segurança e desorientação
no aluno.
24
Para dar suporte aos pais a escola assume, também, a tarefa de
informá-los e ajuda-los Esse suporte é dado através de vasta literatura sobre
diversos temas promoção de conferencias, debates e grupos de estudo.
Com esse trabalho a escola promove indiretamente, a criação de vínculos entre
os pais. A partir dessas convivências nos grupos de estudo podem surgir
vínculos de amizade que irão beneficiar também as crianças.
25
CAPITULO III
A ESCOLA
A escola com que sonhamos é aquela que assegura
a todos a formação cultural e cientifica para a vida
pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma
relação autônoma, crítica e construtiva com a cultura
em suas várias manifestações: a cultura provida pela
ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem
como pela cultura paralela (meios de comunicação
de massa) e pela cultura cotidiana... capacidade de
diálogo e comunicação com os outros,
reconhecimento das diferenças, solidariedade,
qualidade de vida, preservação ambiental.
(José Carlos Libâneo, 2001)
Segundo Lanz (2005) são basicamente três os princípios necessários ã
existência de uma escola Waldorf.
1. Liberdade quanto às metas de educação; deve haver a
possibilidade de conceber essas metas da forma mais ampla possível. A
escola Waldorf quer ser algo mais do que as escolas tradicionais; se fosse
incapacitada para desempenhar essas funções, não poderia existir.
2. A liberdade quanto ao método pedagógico é a pedra-de-toque
de sua existência, pois é principalmente por seu método pedagógico que ela se
distingue das outras escolas. Esse método é sua razão de ser.
3. Embora tenha uma importância menor em comparação com o
método o currículo constitui uma das características da escola Waldorf. A
liberdade quanto ao currículo não significa que matérias exigidas pelos
programas oficiais de ensino não sejam aí ensinadas; significa ao contrário que
matérias adicionais possam ser incluídas em seu programa e sobretudo que
cabe à escola determinar a época em que as matérias devem ser ensinadas.
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3.1. O Sistema Administrativo Operacional
As escolas Waldorf são administradas por um grupo geralmente
composto pelos fundadores de cada escola e um grupo de pais e professores,
cuja atuação é norteada pelo Estatuto Social da Instituição, o Regimento
Interno e o Projeto Político Pedagógico.
Metas, níveis de responsabilidade, compromissos e formas de avaliação
são estabelecidos periodicamente.
As escolas Waldorf são criadas a partir da determinação de um grupo de
pessoas que comungam a mesma filosofia. Não existe um modelo pré
definido, por isso não são encontradas duas escolas idênticas em sua
estrutura. A liberdade, ponto marcante da Pedagogia Waldorf, faz com que
sejam encontradas soluções diferentes para o funcionamento de cada escola.
Como um organismo social vivo a escola se compõe de três funções
básicas:
A vida espiritual que dentro da escola está sob a responsabilidade do
corpo docente, que a exerce por meio de conferências, comissões e
delegações, embora cada professor seja também, individualmente, um
componente responsável desse desenvolvimento.
As atividades jurídicas que a nível interno (como por exemplo, a
disciplina da escola) são dirigidas pelo corpo docente, com a colaboração
eventual dos alunos de classes superiores. Já nas relações exteriores com
autoridades de ensino e outras essa atribuições cabem à Associação
Mantenedora, por meio de sua diretoria, com a ajuda eventual de pais de
alunos e professores.
27 A administração econômica e financeira que está, via de regra, nas
mãos da Associação Mantenedora. Não existe diretor ou diretoria, pois o
principio de auto - administração da escola pelo Corpo Docente exclui essa
função.
Rudolf Steiner recomendou para as escolas Waldorf um princípio que
previa a formação de vários órgãos representativos, aos quais são confiadas
funções e atribuições específicas, são eles:
Associação Mantenedora – possui personalidade jurídica, podendo ser
proprietária de bens imóveis e móveis e atuar como “empregadora” (no sentido
jurídico) dos professores e outros colaboradores, paga impostos e representa
jurídica mente a escola junto às autoridades constituídas. Como instituição
jurídica está sujeita às leis que regulam as associações. É composta
geralmente pelo grupo que originalmente fundou a escola (pais de alunos e
professores).
Conselho de Pais – rege-se por um estatuto elaborado pelo próprio Conselho
e tem atribuições consultiva e de assessoramento a outros órgãos da escola e
executivas nas atividades extra curriculares.
Grupo Docente – alem de ministrar aulas são atribuições do Corpo Docente as
Conferências Pedagógicas que ocorrem regularmente (uma vez por semana) e
tem por objetivo a discussão sobre alunos, individualmente, ou sobre classes
inteiras. Propicia uma integração maior da escola como um todo e é o fórum
para que o professor expõe situações que demandem ajuda ou
aconselhamento dos outros professores.
Conferência Interna – constitui o órgão de consciência e de vontade da escola
e dela fazem parte somente professores que trabalhem há pelo menos dois
anos na escola. É competência da Conferência Interna a fiscalização de metas;
a auto-crítica do Corpo Docente; a contratação e demissão de professores e a
distribuição das classes e dos cargos pedagógicos.
Conselho de Administração – existe apenas em algumas escolas e é
formado por três ou mais membros da Conferencia Interna e tem a função de
28representar a escola perante os pais e terceiros, tomar decisões urgentes
(quando não é possível a reunião da Conferência Interna).
Essa participação tão abrangente do Corpo Docente na vida da escola
pressupõe regime de dedicação exclusiva do professor. Em casos
excepcionais existe o regime do professor parcial desde que ele se
comprometa com a participação em reuniões e conferências e atividades
culturais externas.
3.2. A Classe
Na escola Waldorf a classe não é apenas uma unidade administrativa.
Cada classe tem sua individualidade. Quem observa bem a vida de uma
escola percebe que ela é como uma pequena comunidade social que reflete,
com seus problemas, suas amizades e tensões, seus contrastes internos e
vivencias comuns, a comunidade maior da sociedade que a rodeia. A
Pedagogia Waldorf considera que quanto mais variada a composição da classe
mais rico será o convívio. Por isso o ideal é que ela não seja pequena demais
nem com elementos muito semelhantes para que possa reproduzir melhor a
diversidade social. Uma classe bem equilibrada é composta de alunos com
diversas aptidões cognitivas e artísticas, de várias origens étnicas, dos mais
diversos credos religiosos e também de alunos ditos “especiais” isso por que
são características que se repetem no grupo social mais amplo.
O suporte aos alunos com dificuldades de aprendizagem ou ditos “especiais”
pode ser dado através da eurritmia (arte antroposófica do movimento que pode
ter caráter artístico, pedagógico ou terapêutico), da terapia artística ou da
ginástica ou ainda do ensino em classes auxiliares. Esses alunos devem
acompanhar a classe até o último ano, sempre que possível, mas isso só é
viável quando o espírito social de todos os alunos os aceita com suas
dificuldades. Esta aceitação é também um trabalho a ser desenvolvido na
classe.
29 Na visão pedagógica Waldorf não existe a possibilidade do ensino
escolar sem problemas de disciplina. Porém, quando certos limites são
ultrapassados é motivo para observação e reflexão e esta deve começar pela
auto observação e análise crítica do professor de seu próprio comportamento.
Existem sem dúvida as questões de problemas familiares, influências externas,
deficiências psíquicas ou físicas que podem explicar ou ser as próprias causas
do mau comportamento. Entretanto, o professor dever ser calmo, justo e
conseqüente na aplicação da punição. A punição deve ser sentida como
conseqüência lógica do ato assim: quem destrói deve construir, quem suja
deve limpar. Por isso, tarefas extras, mas com sentido, como: lixar e pintar e
fazer trabalhos de limpeza são mais indicados nestes casos.
Situações graves de indisciplina devem ser discutidas com outros
professores antes de qualquer decisão.
3.3. Religião
A escola Waldorf não é religiosa ou confessional nem tem por finalidade
ensinar a Antroposofia, procura sim criar um ambiente de respeito para com a
natureza, o homem e as forças sobrenaturais. Orienta apenas que cada criança
siga um ensino religioso, de acordo com as convicções de seus pais, pois
considera que todas as religiões, pelo seu conteúdo mítico e moral, suas festas
cerimoniais e imagens, provocam na criança atitudes anímicas positivas.
Algumas escolas convidam os pais a organizar, dentro do horário
normal, um ensino religioso a ser ministrado aos seus filhos pelos
representantes das próprias igrejas e comunidades religiosas. Para as crianças
cujos pais não desejam um ensino religioso, de acordo com um credo definido,
a escola oferece ensino religioso cristão livre sem ligação dogmática com
quaisquer das grandes religiões cristãs.
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CONCLUSAO
Pela pesquisa desenvolvida no decorrer deste trabalho e pela
observação do funcionamento do Jardim de Infância Waldorf concluímos que a
aplicação plena desta Pedagogia só se realiza pela vivência da filosofia
Antroposófica pela família e pelos professores e que é fundamental um
envolvimento comprometido com o funcionamento da escola.
Concluímos, também, que são fundamentos, tanto da Pedagogia
Waldorf quanto da Psicopedagogia, a visão holística e a constatação de que a
aprendizagem ou não aprendizagem se processam em função dos estímulos
ambientais e da forma como é visto o sujeito aprendente. Que a formação do
indivíduo não se restringe ao aprendizado científico e que antes da preparação
profissional é preciso propiciar a oportunidade de o aluno se perceber como
indivíduo e cidadão.
Finalmente, ao nos darmos conta das diferenças que existem na
estruturação e funcionamento de uma escola Waldorf em comparação com as
escolas particulares e públicas que conhecemos ficamos imaginando que seria
estimulante tentar elaborar, junto com nossos colegas, um projeto de escola
com um enfoque psicopedagógico. Mas isso já é uma outra história...
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BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE, Conceição. Poesia em três tempos. RJ: Bom Tempo, 2001.
ALVES, Rubem. Conversas sobre Educação. 7ª. ed. SP. Verus Editora, 2003.
BUARQUE, Cristovam. Volta às aulas. Jornal O Globo, 4 de fevereiro 2006.
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? 5ª. ed. SP.
Cortez, 2001.
LANZ, Rudolf. A Pedagogia Waldorf Caminho para um ensino mais
humano. 9ª. ed.SP. Antroposófica, 2005.
PESSOA, Fernando. Obra Poética. 4ª. ed. RJ. Aguilar, l972.
MIZOGUCHI, Shigueyo M. artigo publicado na revista Viver Mente e
Cérebro, Memória da Pedagogia, vol. 6: SP. Ediouro, 2006.
DOMINGUES, Denise Rocha. O dia-a-dia de um Jardim de Infância –
fundamentado na Pedagogia Waldorf, monografia apresentada no Centro de
Ciências Humanas, Universidade Veiga de Almeida. Curso de Pedagogia, RJ.
2005.
STEINER, Rudolf. A Arte da Educação – III. SP. Antroposófica, 1999.
Sites consultados:
www.sab.org.br/pedag-wal/pedag.htm acessado em 10/12/2006
www.sab.org.br/edit/nocoes/steiner.htm acessado em 10/12/2006