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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A Propriedade Intelectual e a Sociedade da Informação: Desafios do Direito na pós-modernidade. Por: João Paulo Sá de Freitas Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2011

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Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito da Concorrência e Propriedade Intelectual

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A Propriedade Intelectual e a Sociedade da Informação:

Desafios do Direito na pós-modernidade.

Por: João Paulo Sá de Freitas

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A Propriedade Intelectual e a Sociedade da Informação:

Desafios do Direito na pós-modernidade.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito da

Concorrência e Propriedade Intelectual.

Por: . João Paulo Sá de Freitas.

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores, pelo

conhecimento compartilhado. A todos

os companheiros de aula, pelo ótimo

convívio.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pelo amor e apoio

incondicional;

Aos amigos, pela compreensão da

ausência;

À Valeria Gerber Mariscal, por então

pouco tempo, conseguir o que até

então ninguém conseguira: me fazer

acreditar em meus sonhos.

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RESUMO

A hipercomplexidade das relações na pós-modernidade, a globalização

efetiva dos meios de comunicação, a conectividade das pessoas ao redor do

mundo após a popularização da internet, especialmente de alta velocidade,

potencializada com o advento das redes sociais impõe repensar a propriedade

intelectual, que é o conteúdo de toda essa trama. Manter-se arraigado ao

conceito romano de propriedade, num ambiente “web 2.0”, é um conflito social

que cabe ao Direito resolver.

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METODOLOGIA

A metodologia predominante adotada foi a pesquisa bibliográfica dos

principais doutrinadores de Direito Privado, em especial, de Direito Civil,

Empresarial e de Propriedade Intelectual tais como João da Gama Cerqueira,

Denis Borges Barbosa, Fabio Ulhoa Coelho e Orlando Gomes, complementada

com pesquisa de dados na internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Análise Histórica da Propriedade 09

CAPÍTULO II - A Revolução Tecnológica e a Propriedade Intelectual 13

CAPÍTULO III – Casos concretos de Conflitos entre Direitos 20

CONCLUSÃO 25

ANEXOS 27

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

BIBLIOGRAFIA CITADA 32

ÍNDICE 34

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INTRODUÇÃO

O direito, por ser uma ciência social, não pode ser concebido como

uma ciência pura, divorciada dos fatos históricos, como teorizou Hans Kelsen

em sua visão burguesa da Teoria Pura do Direito [1], uma vez que tais fatos

influem inegavelmente em suas mudanças e evoluções.

Partindo desse pressuposto, o objetivo desse trabalho é refletir sobre

as modificações sociológicas e comportamentais havidas nos últimos 20 anos,

como forma de tentar prever seus reflexos nas legislações, uma vez que a

chamada “Revolução Tecnológica” se tornou uma realidade, com o “processo

de transformação da sociedade industrial em sociedade informacional” [2]. A

Revolução Tecnológica marca a transição da modernidade para a pós-

modernidade [3].

Para tanto, é fundamental traçar uma análise histórica do direito

privado, em especial, da proteção da propriedade, concebendo o atual papel

da propriedade intelectual, para que então, diante de um quadro amplo do

atual cenário fático e jurídico, se possa refletir quais os caminhos possíveis da

humanidade, com suas devidas e inevitáveis consequências.

CAPÍTULO I

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Análise Histórica da Propriedade

Ainda que se faça de forma superficial, é impossível tratar da história

da propriedade sem mencionar o Império Romano, uma vez que era esse seu

pilar econômico. É o primeiro grande marco histórico de proteção à

propriedade, numa sociedade dividida por classes (Patrícios, que eram os

proprietários rurais e detinham o poder político; Plebeus, que eram pequenos

comerciantes; Clientes, que eram serviçais dos Patrícios; e os Escravos). Esse

período se caracteriza pela luta da plebe por maior participação política e de

direitos.

Com a derrocada do Império Romano e a descentralização do poder, o

feudalismo tomou conta de toda Europa, período em que a igreja passou a

julgar os litígios a partir do direito canônico.

O renascimento do comércio, a partir do século XI, estimulado pelos

excedentes de produção marcou o fim do feudalismo. Uma clara modificação

nas relações entre servos e senhores feudais (grandes proprietários de terras e

donos de exércitos próprios) fez surgir a burguesia, dando início aos centros

urbanos, diminuindo o poder feudal, abalado pelas guerras, pestes e pela fome

registradas no século XIV.

Diante da necessidade de unificar as moedas e acabar com os

pedágios, a burguesia financiou os exércitos das monarquias absolutistas que

caracterizaram a Idade Moderna, centralizando o poder. O Estado Absolutista

fomentou o comércio, possibilitando à burguesia mercantil acumular capital

que, adiante, foram investidos na Revolução Industrial. Como se vê, o poder,

inicialmente na mão dos patrícios do Império Romano, passou pelos senhores

feudais e chegou à burguesia, ou seja, sempre esteve a serviço da classe

dominante, proprietária das maiores riquezas.

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Surge, no século XVIII, o Iluminismo, movimento intelectual que

criticava a estrutura política e social do absolutismo, rejeitava o misticismo

(justificativa do poder monárquico, como “opção divina”) e defendia a liberdade

e a existência de direitos naturais do indivíduo, entre eles, a propriedade. O

pensamento iluminista e fisiocrata (Laissez faire, laissez passer) inspiraram o

surgimento do Estado Liberal, marcado pela obra de Adam Smith, “A Riqueza

das Nações”, de 1776, que preconizava o liberalismo econômico baseado na

plena liberdade de concorrência, regulado pela lei da oferta e da procura, que

atendia aos anseios de expansão da burguesia, uma vez que o Estado intervia

na economia impondo limites. Com a liberalização da indústria e do comércio

houve um grande avanço tecnológico e aumento da produtividade, às custas

da exploração dos trabalhadores em condições, hoje, tidas como desumanas.

A burguesia toma o poder pondo fim à monarquia com a Revolução

Francesa (1789-1799), podendo enfim organizar o Estado conforme seus

interesses. Em 1804 é promulgado o Código Civil napoleônico, garantindo as

principais conquistas da Revolução: liberdade individual, igualdade perante a

lei e direito à propriedade privada. Todas as legislações do século XIX

sofreram forte influência do sistema francês.

A maneira encontrada para proteger os direitos individuais do homem

foi a sua previsão em lei, de forma abstrata e, em teoria, aplicáveis a todos.

Com isso, a burguesia apenas tira proveito da insatisfação das camadas

menos abastadas, uma vez que desigualdades sociais foram mantidas,

especialmente quanto à exploração da mão-de-obra. A igualdade era apenas

jurídica, pois mantinha-se a injusta distribuição de renda e o acesso restrito às

decisões políticas.

Até os primeiros anos do século XX, o que se viu foi uma multiplicação

legislativa e a burocratização do Estado não-intervencionista em funções

administrativas, até a Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando, pela primeira

vez, o Estado dominou a vida econômica. O Tratado de Versalhes (1919), que

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selou oficialmente a paz, indicava a necessidade da intervenção estatal na

economia para solucionar os problemas sociais causados pelo capitalismo, em

especial, a exploração desmedida dos trabalhadores.

Os movimentos sindicais, a recuperação americana da crise de 1929 e

a ameaça comunista contribuíram decisivamente para o surgimento do Estado

do Bem-Estar Social, fundados sob os valores da social-democracia,

subordinando os interesses privados a conceitos jurídicos indeterminados

como interesse público, boa-fé objetiva e função social, em especial, da

propriedade, cujo exercício deixava ser pleno e soberano, devendo atender ao

bem-estar coletivo.

O reflexo desse período pode ser visto nas Constituições da França

(1946), Brasil (1946), Itália (1947) e Alemanha (1949), embora, nas duas

últimas, o objetivo da valorização do Estado tenha sido para atender aos ideais

do fascismo e do nazismo, respectivamente.

A crise do petróleo em 1973 e o alto preço da manutenção do Estado

do Bem-Estar Social foram determinantes para o seu fim, dando início lento e

gradativo ao que Fábio Ulhoa Coelho chamou de “capitalismo reliberalizante”

[4], através dos governos de Margaret Thatcher na Inglaterra (1979-1990) e

Ronald Reagan (1981-1989).Viu-se uma redução do papel estatal,

assegurando a liberdade econômica e regulando a concorrência. Apesar da

recessão no começo dos anos 90, não houve um movimento contrário à

reliberalização (até por não existir mais a ameaça comunista), que se expandiu

aos antigos países socialistas e à América Latina.

No entanto, o cenário está em franca mutação, e não só no cenário

econômico, mas principalmente no comportamento individual, com reflexos na

organização social e política, tudo devido à chamada Revolução Tecnológica,

que desloca o centro da economia da manufatura de bens para a informação e

o conhecimento.

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CAPÍTULO II

A Revolução Tecnológica e Propriedade Intelectual

O conceito de globalização, cuja origem remonta à era das

navegações do século XV, hoje é uma inexorável realidade, graças à

Revolução Tecnológica, que permite uma integração social, cultural,

econômica e política nunca antes vista na história da humanidade,

impulsionada, principalmente, pelos avanços nas áreas de comunicação e

transporte, que derrubaram fronteiras e encurtaram distâncias.

A tecnologia, que nada mais é que a aplicação do conhecimento

humano, avança, em todos os setores, numa velocidade nunca antes vista,

com preços cada vez mais acessíveis (em razão da competição em um

mercado global), levando a informação e o conhecimento a lugares e povos

antes excluídos. Especula-se que todo conhecimento humano produzido em

todo o século XVIII, seria equivalente ao que hoje se produz em cinco anos,

ou, como alguns sustentam [5], a velocidade da tecnologia seria dobrada a

cada 10 anos, em progressão geométrica, isto é, em 100 anos, o nível

tecnológico aumentaria 1000 vezes, tornando-se absolutamente impossível

prever o futuro.

Entre inúmeros exemplos que poderiam ser citados, basta dizer que

“entre 1950 e 2000, o poder de processamento dos computadores cresceu

inimagináveis 10 bilhões de vezes”, de acordo com a reportagem da edição

especial da revista Veja [6] sobre tecnologia. Exceto pelas implicações legais,

como a violação de direitos autorais, hoje já seria possível condensar todo

conhecimento científico e artístico no ambiente digital, numa espécie de versão

web da biblioteca de Alexandria.

Na indústria, a tecnologia multiplicou a capacidade de produção de

bens, e hoje, o bem material é menos importante e significativo que a

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tecnologia que o produz, o que torna a propriedade intelectual, especialmente,

a propriedade industrial (marcas, patentes, indicações geográficas e etc.) mais

importante economicamente do que seus maquinários e parques industriais.

Os bens imateriais valem mais que seus bens materiais. E com esse salto de

produtividade, a tecnologia se tornou mais acessível.

A comparação de preços com o passado torna esse reflexo muito

visível. Em 1980, um disco rígido da Morrow Designs de 26 MB custava US$

5.000,00, ou seja, há 31 anos, 1 GB de memória custaria US$ 193.000,00, em

valores não corrigidos. Considerando que hoje, um disco rígido de 500 GB

custa US$ 35,00, o valor de 1GB hoje corresponde à US$ 0,07, sem

mencionar a imensa diferença de tamanho dos aparelhos.

No entanto, não obstante os notáveis avanços nas diversas áreas do

conhecimento humano, o maior impacto da tecnologia se deu na comunicação,

especialmente, com o surgimento, aprimoramento e disseminação da internet.

É no meio digital que a globalização tem sua materialização mais visível.

De acordo com o site estatístico Internet World Stats [7], pouco mais

de um terço da população mundial tem, hoje, acesso à rede, com a maior

incidência proporcional nos Estados Unidos e Europa (78,3% e 58,3%,

respectivamente). No entanto, o crescimento desse número global, entre 2000

e 2011 foi de 480%, o que aponta um caminho sem volta. (anexo I)

Um dos reflexos dessa maior interatividade global é percebido na

política, com a fragilização do poder dos Estados, especialmente das

ditaduras, por consequência da aproximação cultural entre os povos. É o que

se percebe na insurreição de povos oprimidos por ditaduras na África e no

Oriente Médio, a partir de movimentos populares organizados através da

internet, com suas realidades retratadas para todo o mundo, não mais

dependendo dos órgãos oficiais de imprensa que sempre foram manipulados.

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Em exemplos concretos, pode-se citar os jovens filhos e netos de

imigrantes, constantemente discriminados, tomaram as ruas de Paris em 2005

e lançaram fogo em quase 9000 veículos, que se comunicavam através de

mensagens SMS dos celulares. Em 2008, no Irã, a relação foi via Twitter. No

Egito e na Tunísia, no início de 2011, o Facebook e o Twitter foram a

ferramentas escolhidas para contornar a censura. Agora, em Londres, os

jovens revoltados, desempregados, usam o serviço criptografado de

comunicação dos aparelhos BlackBerries.

A internet conecta as pessoas pelo fluxo de seu conteúdo,

transformando textos, sons, imagens e vídeos em dados. Não só através do

diálogo entre pessoas (que muitas vezes apenas se conhecem no meio

virtual), mas principalmente, pela circulação de bens culturais, que são, em boa

parte, protegidos pelas normas de direitos autorais.

O momento atual é de quebra de paradigmas e de dogmas até então

inatacáveis. Ganha cada vez mais adeptos a teoria que prega a livre circulação

dos bens no ambiente virtual, tendo-se que repensar toda a cadeia de

negócios há décadas estabelecida. São emblemáticos (e meramente

exemplificativos) os episódios do Napster e a criação da Wikipedia. E com isso,

instaurou-se um debate sobre a adequação da propriedade intelectual à pós-

modernidade, em face ao acesso aos bens, especialmente, culturais.

Se a propriedade intelectual tal como concebida no século XIX torna-se

ineficaz quando confrontada com a evolução tecnológica, não cumpre ao

jurista apenas apegar-se de modo ainda mais arraigado aos seus institutos

como forma de resolver o problema, coisa que a análise jurídica tradicional

parece querer fazer. Cumpre, em verdade, ver as alterações que a idéia de

propriedade intelectual sofre ou poderia sofrer em razão dessas

transformações, enfrentando essas questões de maneira aprofundada, sob

pena de se ignorar uma grande parcela da realidade. A grande quaestio é: a

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nova realidade deve se adaptar ao velho direito ou o velho direito deve se

adaptar à nova realidade ?

A proteção da propriedade intelectual, tal como a proteção da

propriedade em geral, desde Roma, como se viu, tem caráter exclusivista.

Através da exclusividade na exploração econômica de sua obra ou invenção,

estar-se-ia estimulando o criador, garantindo-lhe, assim, recompensa

pecuniária.

Mas há quem conteste esses preceitos, seja porque o estímulo ao

criador não deve ser, necessariamente, apenas pecuniário, seja porque “os

avanços tecnológicos e o uso da internet sugerem a possibilidade de um novo

modelo de negócio” [8], especialmente para o mercado do entretenimento, a

exemplo do Crowndfounding [9], que é um movimento onde pessoas ou

empresas se mobilizam e se quotizam para um determinado projeto.

Em relação à proteção de softwares, destaca-se a atuação de Richard

Stallman, criador do movimento do Software Livre (Free Software Foundation),

que deu origem ao sistema operacional Linux, todo feito de forma colaborativa

(Crowdsoursing), distribuído de forma gratuita, concorrendo com os sistemas

operacionais da Microsoft e da Apple, que dominam o mercado. A exemplo da

Wikipedia, o trabalho colaborativo voluntário se mostra suficientemente

confiável, uma vez que um número muito grande de pessoas controla o

conteúdo, corrigindo-o e aprimorando-o.

A bem da verdade, o modelo de software livre não mudou apenas

história do software, mas criou uma nova forma de organização econômica,

com profundo impacto nas formas de produção e organização globais.

Outro fator crucial para essa colisão entre a propriedade intelectual e o

avanço tecnológico diz respeito à contrafação. Até meados do século XX, a

qualidade das cópias não autorizadas era visivelmente inferior ao original,

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geralmente feita por mecanismos nem sempre acessíveis a todos. Com o

avançar do século, especialmente a partir da cultura digital, tornou-se possível

a qualquer um que tenha acesso a internet, acessar, copiar e modificar obras

de terceiros, sem que os autores tenham qualquer tipo de controle sobre isso,

tendo o resultado final uma qualidade muito satisfatória.

Como se pode ver, o modelo de propriedade intelectual encontra-se

em rota de colisão com o avanço tecnológico, especialmente após o advento

da internet, suscitando dúvidas, ainda sem respostas, especialmente no

mundo jurídico.

Por outro lado, a regulação do meio cibernético, de maneira global, não

recebe o tratamento devido, o quando recebe, geralmente passa longe dos

canais mais democráticos. Do ponto de vista prático, observa-se que a internet

vem passando por um verdadeiro momento de fechamento de conteúdo. A

estrutura que havia em 1995, quando a internet ainda engatinhava e era tida

como democrática por uns e por um “mar se lei” por outras, não existe mais.

Até aquela época, os principais formatos de acesso e troca de informações

(FTP, SMTP e HTML) eram abertos e não estavam sujeitos a qualquer

regulação.

A partir de então, em um curto espaço de tempo, passou-se do meio

mais livre e democrático, que permitia o livre tráfego de informações, a um

severo controle estrutural de toda a rede, tendo como principal marco inicial o

DMCA (Digital Millenium Copyright Act), adotado pelos Estados Unidos em

1998, servindo de parâmetro para diversas outras legislações, que, por

exemplo, criminalizava qualquer iniciativa de violação de mecanismos técnicos

de proteção à propriedade intelectual, imputando aos provedores a

responsabilidade pelas infrações.

Hoje, a legislação brasileira em relação ao direito autoral, no campo

digital, é escassa. Os principais instrumentos legais (a lei 9.279/96 regula a

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propriedade industrial; a lei 9.609/98 protege os programas de computador; e a

lei 9.610/98 os direitos autorais) são da década de 90 e não preveem

regulamentação específica sobre o assunto, como se propõe que o faça o

Marco Civil da Internet, cujo texto se debate desde 2009. Ademais,

inegavelmente, a realidade hoje é sensivelmente diferente daquela de mais de

15 anos atrás.

Em parecer sobre o caso Napster, afirma o prof. Lawrence Lessig, da

faculdade de Direito de Stanford e fundador da licença Creative Commons [10],

que se deve analisar três pontos para se verificar a adequação de uma decisão

judicial que aborde o tema das novas tecnologias em face às demandas do

avanço tecnológico e o seu impacto no mundo jurídico, a saber: (i) a

possibilidade de uso lícito dessa tecnologia; (ii) a existência de meios menos

gravosos para a manutenção do uso a nova tecnologia, ao invés de

simplesmente bani-la; e (iii) a eficácia da medida pleiteada. E nesse caso

específico, embora se pudesse fazer o uso lícito do programa de

compartilhamento (caso o autor assim autorizasse), antes mesmo de ter os

servidores lacrados, o Napster já perdia espaço para outros sites de

compartilhamento, mais avançados, como os de sistema peer-to-peer (p2p),

que prescinde de um servidor central, pois cada computador funciona como

servidor (fornecendo dados) e como cliente (recebendo).

O desafio, como se nota, é buscar o equilíbrio entre a proteção da

propriedade intelectual, de forma a não prejudicar o criador, uma vez que suas

obras são, em última análise, seu meio de sobrevivência, sem que isso

inviabilize a disseminação da cultura, que beneficia toda a sociedade, equilíbrio

esse que se torna cada vez mais difícil de ser alcançado com a movimentação

tecnológica e a criação de novos suportes.

Ocorre que, por diversas razões, a busca desses equilibro, enquanto

dependente de um modelo estatal, é de difícil implementação,

preponderantemente por problemas políticos quase instransponíveis. Em

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paralelo, surgem, com cada vez mais força, modelos alternativos de

remuneração à propriedade intelectual, criados pela sociedade civil,

especialmente no que tange aos bens culturais.

Muito embora sejam manifestações dos espíritos de seus criadores, é

inegável que as obras intelectuais artísticas constituem numa valiosa forma de

afirmação da cultura de um país, além de importante meio de expressão de

opiniões. É partindo dessas premissas que muitos artistas tem feito uso das

licenças públicas, abrindo mão de parte de direitos autorais, usando a livre

circulação de suas obras como forma de divulgação, buscando formas

alternativas de remuneração.

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CAPÍTULO III

Casos Concretos de Conflito entre Direitos

Diante de todo o exposto, vê-se que a Revolução Tecnológica e a

Sociedade da Informação mudaram os paradigmas sociológicos e

comportamentais, colocando em xeque a adequação do conceito de

propriedade intelectual esculpido no século XIX, tendo diversos exemplos

mundiais que retratam esse conflito entre o direito à propriedade e o direito

coletivo de acesso ao conhecimento e bens culturais e à livre expressão.

Diversos e curiosos são os episódios que retratam como a indústria do

entretenimento sofre com a proteção à propriedade intelectual de terceiros, por

exemplo, retratados, incidentalmente nas obra audiovisuais, limitando a livre

criação. [11]

Um deles refere-se ao filme Os Doze Macacos (“Twelve Monkeys”,

1996, direção de Terry Gililam), que teve sua exibição suspensa por decisão

judicial, 28 dias após o lançamento, porque o artista Lebbeus Woods ajuizou

uma ação contra a produtora (Universal Studios), alegando que uma cadeira

suspensa que aparecia no começo do filme se assemelhava à sua obra, de

1987, entitulada de “Neomechanical Tower (Upper) Chamber".

O filme Batman Eternamente (“Batman Forever”, 1995, direção de Joel

Schumacher) sofreu semelhante problema, em ação movida pelo escultor

Andrew Leicester contra a Warner Bros. A produtora, em um dos sets de

locação, obteve licença de um condomínio para fazer filmagens, que

apareceram oito vezes ao longo filme. Ocorre que, na área externa do

condomínio, encontram-se duas torres, obras do artista citado, entitulada de

“Zanja Madre”, que retratam a difícil relação entre Los Angeles e a

conservação da água, que custaram US$ 2,5 milhões, e encontram-se exibidas

publicamente.

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Em outro caso, de 1998, um juiz suspendeu por dois dias o

lançamento em DVD do filme O Advogado do Diabo (“The Devil’s Advocate”,

1997, direção de Taylor Hackford) para que a Warner Bros chegasse em um

acordo com o escultor Frederick Hart, que reclamava o uso de uma obra muito

semelhante à sua, entitulada de “Ex Nihilo, a criação do homem saindo do

Nada, como narrado no livro do Gênesis”. No acordo firmado, a Warner se

obrigou a anexar etiquetas negando qualquer relação ou endosso por Hart ou

pela Catedral Nacional de Washington, além de fazer alterações em algumas

partes do filme para eliminar qualquer confusão percebida em futuras

distribuições do filme.

Esses e tantos outros exemplos mostram a necessidade do clearing,

que é a avaliação meticulosa, anterior ao lançamento das obras audiovisuais,

muitas vezes anteriores até à filmagem, que identifique as obras de terceiros

que apareçam no filme, ainda que de forma incidental, buscando,

consequentemente, as devidas licenças. Diante de tantas imposições,

Lawrence Lessig afirma que um jovem cineasta estaria livre para realizar um

filme, desde que em uma sala vazia, com seus amigos.[12]

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CONCLUSÃO

A proteção aos direitos dos autores e as formas de utilização das obras

artísticas e culturais ganharam nova importância com o rápido

desenvolvimento tecnológico a partir do fim dos anos 90, em especial, com o

incremento da internet de alta velocidade, dos novos meios digitais e da

telefonia móvel, que utilizam as obras protegidas como seu principal conteúdo,

com liberdade, de forma indevida (pelo menos do ponto de vista da atual

legislação) e sem precedentes na história da humanidade, num avanço

irrefreável do progresso, colocando em cheque a secular proteção, tida por

alguns autores como a externalização de um direito natural [13].

Para muitos, essas recentes transformações são, em verdade, mais

que uma revolução meramente tecnológica, dos meios de produção ou do

processamento de informações, mas sim uma revolução na forma como o

indivíduo e toda sociedade se comporta e interage com a tecnologia, fazendo,

das obras hoje protegidas, seu principal conteúdo, base do entretenimento e

da informação que a todos acompanha.

Em cada diferente período da história o direito apresentou-se à

sociedade de uma diferente forma, a cada época, apresentou-se um modelo

capaz de oferecer à sociedade uma solução, como se viu, sempre atendendo

aos interesses daqueles que detinham o poder de ditar as regras. E é aí que

reside a grande interrogação, porque o exercício do poder está cada vez

menos nas mãos dos Estados, que não detém mais o principal bem econômico

dos dias atuais.

“Verifica-se, em suma, na evolução legislativa do Direito privado

brasileiro, aquele descompasso entre o Direito escrito e a realidade social”, já

preconizava o saudoso professor Orlando Gomes, em 1958 (obra citada), o

que mostra esse “descompasso” não é novidade por conta das recentes

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transformações. Mais que isso, percebe-se que o discurso do ilustre civilista

baiano continua atual:

“O meio social não é imóvel: transforma-se, contínua e

perpetuamente, mas as relações entre os homens,

disciplinadas pelo Direito, regulam-se por leis que devem

possuir um mínimo de precisão e rigidez, indispensável à

sua segurança. Manifesta-se, pois, um conflito

permanente entre a imobilidade das normas jurídicas e o

dinamismo da vida. Em virtude da “aceleração da

História”, esse conflito tornou-se agudo e violento nos

dias correntes. À medida que a sociedade evolui, o

pensamento e o sentimento mudam. Outrora, a mudança

era mais lenta. Hoje se está processando dentro da

mesma geração. O conflito assume, por isto, um aspecto

patético, a tal ponto que, como observa o professor de

Paris [Levy-Bruhl], muitas ilegalidades de hoje prefiguram

o direito do futuro.”

Por tudo que foi dito, parafraseando o documentário irlandês “Chávez:

Bastidores de um Golpe” (Chavez: Inside The Coup, 2003), conclui-se que “a

Revolução não será televisionada”, ela é sentida, experimentada,

compartilhada e está acontecendo, muito embora muitos não se dêem conta.

Quais serão os paradigmas dessa primeira geração criada já imersa no

ambiente digital, que incorpora em seus hábitos práticas que hoje são

violações aos direitos autorais, é uma pergunta sem resposta.

O que não se pode é querer frear o ritmo do avanço tecnológico, que

traz inegáveis benefícios, especialmente quando ele já está disseminado, num

caminho sem volta. É o que já foi dito pela Suprema Corte Americana em

1984, ao julgar a licitude dos gravadores Sony Betamax, que, potencialmente,

argumentou-se à época, poderiam infringir direitos autorais.

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O que se vê, em suma, é um momento de mudança, de transformação,

uma revolução comportamental no cenário fático que caberá ao Direito se

adequar, cabendo aos legisladores equilibrar a balança entre a protetividade

dos criadores e a disseminação do conhecimento, equação essa que passa

por novos modelos de negócio.

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ANEXO I

A FORÇA DA TECNOLOGIA

Abaixo, encontra-se na íntegra o texto de Cláudio Nasajon, escritor,

empresário do setor de tecnologia e professor de empreendedorismo na PUC-

Rio, entitulado “A força da tecnologia”, disponível em sua página pessoal na

internet.

A força da tecnologia Claudio Nasajon

É difícil argumentar contra a idéia de que a tecnologia irá mudar mais nos próximos dez anos do que já mudou nos últimos cem. A velocidade dos avanços tecnológicos tende a dobrar a cada dez anos, o que significa que até o final deste século a tecnologia estará mil vezes mais avançada que nos dias atuais. A base para essas estimativas é parecida com a dos juros compostos: os avanços já alcançados aceleram novas descobertas, que por sua vez servem de ferramenta para novos avanços, num ciclo virtuoso que cresce em progressão geométrica. Para se ter uma idéia, foram necessários 14 anos para seqüenciar o vírus do HIV, mas apenas 31 dias para se chegar ao genoma da gripe asiática - um esforço semelhante feito apenas alguns anos depois. Não precisamos ir muito longe. Há poucos meses eu congelei células-tronco da minha filha recém-nascida, procedimento que hoje serve para curar meia centena de doenças (inclusive leucemia), mas que há poucos anos não passava de ficção científica. Igualmente pertenciam ao terreno da fantasia coisas que hoje são reais como nano-robôs que entram no organismo para limpar artérias, em vez das antigas cirurgias de alto risco. Também já são realidade organismos geneticamente modificados para coisas tão fúteis como peixinhos fosforescentes ou tão úteis como limpar os vazamentos de óleo nos oceanos, só para citar alguns exemplos. Nesse contexto, não dá para saber, ao certo, onde o mundo estará daqui a cinquenta ou cem anos. Pode-se prever carros elétricos que se auto-dirigirão a destinos programados usando rotas controladas por computador para obter a melhor performance, ou aparelhos de telefone integrados com TV, rádio, Internet e demais canais de comunicação implantados diretamente em nossos órgãos sensoriais. E certamente ainda surgirá muita coisa que não está sequer em nosso imaginário. Se aceitarmos o fato de que nos próximos cem anos a tecnologia irá avançar mil vezes mais do que já avançou em toda a nossa história, é simplesmente impossível prever o futuro.

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Por outro lado, há coisas que evoluem tão lentamente que permitem, sim, imaginar como serão no próximo século. Coisas que fazem parte da nossa constituição humana, das nossas tradições e cujas mudanças ocorrem com velocidades infinitamente mais lentas do que as da tecnologia. Refiro-me a questões como preconceito, avareza, egoísmo. A cada minuto, morrem, por causa da fome ou de doenças curáveis, cerca de dez crianças. No mesmo mundo em que os recursos naturais de uma nação, como o petróleo ou a soja, respondem por boa parte da sua riqueza, as mesmíssimas pessoas que participam da sua extração e produção pertencem às camadas mais pobres, mais miseráveis, deixando essa riqueza na mão de uns poucos privilegiados. Nossa tecnologia é capaz de ajudar uma mãe a dar a luz a uma criança em condições que outrora seriam impossíveis. No entanto, morrem ou são mutilados, milhões de seres humanos, simplesmente por terem nascido do lado errado das fronteiras, ou por terem determinada cor de pele, ou crença religiosa. As nações se unem na busca da paz e o organismo máximo que as coordena, a ONU, é controlada pelos cinco países que têm poder de veto, e não por acaso, são os cinco maiores fabricantes de armas do planeta, onde se gasta em campanhas militares, a cada minuto, mais de três milhões de dólares. A boa notícia é que há luz no fim do túnel. A mesma perenidade das nossas atitudes mais vis também se aplica às nossas emoções mais nobres. Posso prever, com alguma dose de certeza, que daqui a vinte, quarenta ou cem anos, ainda valorizaremos a ética, a integridade e o respeito ao próximo. Posso antever que os netos dos meus netos ainda cultuarão o amor e buscarão a paz de espírito. Posso garantir, até onde pode um mortal oferecer garantias, que serão as nossas escolhas do presente que determinarão o futuro das próximas gerações. Então, se por um lado é certo que a tecnologia pode ser usada para o mal, também o é que ela pode ser aplicada para o bem e que sempre haverá pessoas de boa índole que talvez, em algum momento de nossa história futura, aprendam a não ficar omissas, a não aceitar o mal de forma pacífica, a assumir a responsabilidade de agir para defender aquilo em que acreditam. E quem sabe, nesses tempos, a humanidade possa começar a se tornar mais justa, distribuindo melhor a riqueza, eliminando as fronteiras que nunca existiram de verdade e fazendo deste mundo, finalmente, um lugar onde impere a paz, a justiça e a felicidade não só de alguns, mas de todos os seus habitantes.

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ANEXO II

IMPACTO E VELOCIDADE DA TECNOLOGIA

O texto abaixo, de autoria dos jornalistas Carlos Rydlewski e

Alessandro Greco, foi publicado na revista Veja, edição especial sobre

Tecnologia, de julho de 2006.

NÚMEROS DO FUTURO

Impacto e velocidade O ritmo acelerado da evolução da tecnologia estimula previsões sobre novos avanços. E o resultado das estimativas é impressionante

No fim dos anos 90, ainda no século passado, o consagrado físico e matemático Freeman Dyson, professor emérito do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, observou que a tecnologia é apenas uma das forças que impulsionam a humanidade. E nem sempre é a mais importante. Ela divide seu poder de influência com a política, a religião e a economia, além das rivalidades militares e culturais. É tudo verdade. Mas não chega a surpreender se esse tipo de conceito tiver de ser revisto nas próximas décadas, tais são o impacto e a velocidade com que a tecnologia tem provocado mudanças na sociedade. Essas alterações são cada vez mais profundas e se aplicam tanto à maneira como as pessoas se relacionam quanto à forma como produzem. Exemplos não faltam. Em 1990, a internet nem sequer existia em termos sociais. Hoje, conecta quase 1 bilhão de pessoas no mundo e deve interligar a metade da população mundial em dez anos. Atualmente, o preço de uma transação feita pela rede de computadores já atingiu 0,01 centavo de dólar. Numa agência bancária, custaria 1,07 dólar. É por isso que o comércio eletrônico dispara a cada ano, mesmo em um país como o Brasil, que ocupa o modesto 41º lugar entre as nações tecnologicamente mais preparadas, em ranking elaborado pela IBM e pela consultoria The Economist Intelligence Unit. As máquinas também avançam. Entre 1950 e 2000, o poder de processamento dos computadores cresceu inimagináveis 10 bilhões de vezes.

O engenheiro e inventor americano Ray Kurzweil, autor de livros com oFantastic Voyage: Live Long Enough to Live Forever (algo como A Viagem Fantástica: Viva o Suficiente para Viver para Sempre), acredita que esse ritmo vai aumentar ainda mais. É verdade que Kurzweil é uma das pessoas mais otimistas quando o assunto é o avanço da tecnologia. Mas, bom engenheiro, gosta de fazer contas e já acertou em muitos prognósticos. No seu primeiro livro, The Age of Intelligent Machines (A Era das Máquinas

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Inteligentes), publicado em 1990, previu que em poucos anos uma rede global de computadores cobriria o planeta. Eis a web. Disse também que uma máquina poderia derrotar um campeão de xadrez até 1998. Foi isso que o Deep Blue, da IBM, fez com Garry Kasparov, em 1997.

Kurzweil continua a produzir estimativas – que devem ser vistas mais como tendências, e não necessariamente como previsões. Depois de desenvolver um novo modelo, chegou à conclusão de que a velocidade dos avanços tecnológicos tende a dobrar a cada dez anos. Estima que, no início deste século, o mundo das técnicas salte o equivalente a vinte anos de pesquisas em apenas catorze. Depois pulará mais duas décadas, mas em sete anos. O resultado final é que as tecnologias podem apresentar um progresso mil vezes maior no século XXI do que mostraram no século XX. "Os cálculos convencionais normalmente subestimam a intensidade das mudanças porque usam um raciocínio linear. E a tecnologia tem outro ritmo. Ela será o primeiro exemplo de um processo evolucionário marcado por um padrão exponencial", disse Kurzweil a VEJA. Aos descrentes, o engenheiro e escritor fornece uma idéia do que vem por aí: "Basta dizer que foram necessários catorze anos para chegar à seqüência do HIV. Já no caso do vírus da sars (síndrome respiratória aguda grave), a seqüência foi feita em somente 31 dias".

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ANEXO III

DADOS ESTATÍSTICOS DA INTERNET

Os dados e gráficos abaixo reproduzidos corroboram as constatações

do texto. A globalização, fenômeno que começou desde as grandes

navegações do século XV, tem na comunicação, especialmente com a

popularização da internet, sua principal materialização.

WORLD INTERNET USAGE AND POPULATION STATISTICS March 31, 2011

World Regions Population ( 2011 Est.)

Internet Users Dec. 31, 2000

Internet Users Latest Data

Penetration (% Population)

Growth 2000-2011

Users % of Table

Africa 1,037,524,058 4,514,400 118,609,620 11.4 % 2,527.4 % 5.7 %

Asia 3,879,740,877 114,304,000 922,329,554 23.8 % 706.9 % 44.0 %

Europe 816,426,346 105,096,093 476,213,935 58.3 % 353.1 % 22.7 %

Middle East 216,258,843 3,284,800 68,553,666 31.7 % 1,987.0 % 3.3 %

North America 347,394,870 108,096,800 272,066,000 78.3 % 151.7 % 13.0 %

Latin America / Carib.

597,283,165 18,068,919 215,939,400 36.2 % 1,037.4 % 10.3 %

Oceania / Australia

35,426,995 7,620,480 21,293,830 60.1 % 179.4 % 1.0 %

WORLD TOTAL 6,930,055,154 360,985,492 2,095,006,005 30.2 % 480.4 % 100.0 %

NOTES: (1) Internet Usage and World Population Statistics are for March 31, 2011. (2) CLICK on each world region name for detailed regional usage information. (3) Demographic (Population) numbers are based on data from the US Census Bureau . (4) Internet usage information comes from data published by Nielsen Online, by the International Telecommunications Union, by GfK, local Regulators and other reliable sources. (5) For definitions, disclaimer, and navigation help, please refer to the Site Surfing Guide. (6) Information in this site may be cited, giving the due credit to www.internetworldstats.com. Copyright © 2001 - 2011, Miniwatts Marketing Group. All rights reserved worldwide.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARBOSA, Denis Borges. Tratado da Propriedade Intelectual, Tomo I, Ed.

Lúmen Júris, 2010;

CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial, Volume I, Ed.

Lúmen Júris, 2010;

COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 3, Ed. Saraiva, 2005;

DUARTE, Rodrigo. Industria Cultural: Uma Introdução. FGV Editora, 2010;

GOMES, Orlando. Raízes Históricas e Sociológicas do Código Civil Brasileiro.

Ed. Martins Fontes, 2003;

FRANCEZ, Andréa e outros. Manual do Direito do Entretenimento, Ed. Senac

São Paulo, 2009;

LEMOS, Ronaldo e CASTRO, Oona. Tecnobrega: O Pará reinventando o

negócio da música. Aeroplano Editora e Consultoria Ltda., 2008;

LEMOS, Ronaldo. Direito, Tecnologia e Cultura. FGV Editora, 2005.

MIGUEL, Paulo Castello, Contrato Entre Empresas, Ed. Revista dos Tribunais,

2006;

PARANAGUÁ, Pedro e BRANCO, Sergio. Direitos Autorais. Editora FGV,

2009.

SANTOS, Milton. A Revolução Tecnológica e o Território: Realidades e

Perspectivas, in Geografia, Território e Tecnologia, Ed. Marco Zero, 1992;

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BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - GOMES, Orlando. Raízes Históricas e Sociológicas do Código Civil

Brasileiro. Ed. Martins Fontes, 2003.

2 - SANTOS, Milton. A Revolução Tecnológica e o Território: Realidades e

Perspectivas, in Geografia, Território e Tecnologia, Ed. Marco Zero, 1992,

pág. 7.

3 - JUCÁ, Francisco Pedro, apud MIGUEL, Paulo Castello, Contrato Entre

Empresas, Ed. Revista dos Tribunais, 2006, pág. 42.

4 - COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 3, Ed. Saraiva.

5 - NASAJON, Cláudio. A força da tecnologia, acessado em 16/06/2011 no

endereço http://www.claudionasajon.com.br/index.php/perfil/artigos/ .

6 - http://veja.abril.com.br/especiais/tecnologia_2006/p_014.html acessado em

17/07/2011.

7 - http://www.internetworldstats.com/stats.htm acessado em 07/07/2011.

8 - LEMOS, Ronaldo e CASTRO, Oona. Tecnobrega: O Pará reinventando o

negócio da música. Aeroplano Editora e Consultoria Ltda., pág. 151.

9 - http://exame.abril.com.br/pme/noticias/fenomeno-do-crowdfunding-ganha-

forca-no-brasil acessado em 07/07/2011.

10 - Sistema de pré-licenciamento mais flexível aos conteúdos protegidos por

direitos autorais (http://www.creativecommons.org.br/).

11 – A descrição completa dos casos, em inglês, encontra-se em

http://www.benedict.com/Visual/Visual.aspx , acessado em 12 de agosto de

2011.

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12 – LESSIG, Lawrence, apud PARANAGUÁ, Pedro e BRANCO, Sérgio.

Direitos Autorais, Editora FGV, 2009.

13 - CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial, Volume

I, pág. 129. Lúmen Júris, 2010.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Análise Histórica da Propriedade 09

CAPÍTULO II

A Revolução Tecnológica e a Propriedade Intelectual 13

CAPÍTULO III

Casos concretos de Conflito entre Direitos 20

CONCLUSÃO 22

ANEXO I 25

ANEXO II 27

ANEXO III 29

CONCLUSÃO 18

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

BIBLIOGRAFIA CITADA 32

ÍNDICE 34