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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O “ATO INSEGURO” E A RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADOS QUANTO À OBSERVÂNCIA DAS NORMAS DE SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. AUTOR FÁBIO LUCIANO MACIEL RÊLLO ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O “ATO INSEGURO” E A RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADOS QUANTO À OBSERVÂNCIA DAS NORMAS DE SEGURANÇA E

MEDICINA DO TRABALHO.

AUTOR

FÁBIO LUCIANO MACIEL RÊLLO

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O “ATO INSEGURO” E A RESPONSABILIDADE DOS EMPREGADOS QUANTO À OBSERVÂNCIA DAS NORMAS DE

SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Fábio Luciano Maciel Rêllo

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai (in memorian), por ter sido um exemplo permanente em minha vida e por ter me proporcionado a tranquilidade suficiente para que eu pudesse chegar até aqui; Ao meu irmão Victor Fabiano Maciel Rêllo (in memorian), por ser uma fonte inesgotável de inspiração na minha vida e por ter assegurado a continuidade desta e apoiado a minha esposa ao longo de sua gestação, possibilitando o nascimento do seu afilhado; A minha mãe, por estar demonstrado ser uma fortaleza inabalável, a despeito das desilusões sofridas;

Nada do que foi proposto neste trabalho seria objeto de meu apreço e reflexão, caso o Senhor Fernando Henrique Cardoso não tivesse privatizado o Sistema Telebrás, à época em que foi Presidente do nosso País, e me “obrigado” a trilhar outros caminhos que não o das Telecomunicações;

A minha esposa, por ter apoiado os meus projetos de vida e de realização profissional e por ter me dado um motivo a mais para prosseguir – o nosso filho Victor de Freitas Rêllo Neto;

Ao colega de trabalho e hoje grande amigo Alexandre Rezende da Costa, por me aconselhar a ingressar e concluir o curso de Arquivologia na UNIRIO, despertando em mim uma grande afinidade com a Ciência em questão;

Ao meu orientador Carlos Afonso Leite Leocadio, por ter acreditado na proposta do meu trabalho, pelas orientações precisas, pela disponibilização de materiais de apoio importantíssimos.

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DEDICATÓRIA

Ao meu irmão Victor Fabiano Maciel Rêllo (in memorian)

Ao meu pai (in memorian)

A minha mãe

A minha esposa Sammya Andreza

Ao meu amigo Alexandre Rezende da Costa

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RESUMO

A conscientização dos empregados quanto à importância do cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho vai de encontro ao “ato inseguro” e todas as suas implicações negativas. Os altos índices de acidentes no trabalho no Brasil estão na razão direta do desrespeito às normas regulamentadoras e talvez seja este o motivo de termos um dos piores indicadores de acidentes não só na América do Sul, mas também em nível mundial. As reclamações trabalhistas também são motivadas por questões de desrespeito às normas, sendo que, muitas das vezes, o real infrator é na verdade quem tende a ignorar as mesmas incorrendo no chamado “ato inseguro”. É fato que muitas empresas, independentemente de seu porte, tendem a ser omissas no quesito treinamento dos empregados na correta utilização dos equipamentos de proteção individual – EPIs, bem como dos equipamentos de proteção coletiva – EPCs. Muitas das vezes elas também não disponibilizam tais equipamentos, o que é considerada falta grave pelo Ministério do trabalho e Emprego – MTE. O cumprimento das regras de segurança e medicina do trabalho depende também da atuação da fiscalização que, ao incentivar os empregadores e empregados ao “trabalho seguro”, tende a inibir os acidentes e as doenças ocupacionais típicas das diversas atividades profissionais. A disponibilização, o correto treinamento e a devida utilização dos EPIs e EPCs minimizam os riscos de acidentes e as ocorrências de doenças ocupacionais e, por consequência, reduzem as causas trabalhistas motivadas por estes. Destarte, saber identificar a diferença entre o “ato inseguro” e a “condição insegura de trabalho” vai ao encontro da redução dos acidentes e das reclamações trabalhistas, bem como desafoga a seguridade social. A segurança no trabalho é um direito trabalhista, mas público e notório que a atuação da fiscalização do trabalho no cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho ainda é incipiente. Por outro lado, a delimitação de responsabilidade é clara quando analisamos as questões sob a ótica do ato inseguro ou da condição insegura de trabalho. No mais, a Justiça tende a ser mais benéfica com o trabalhador independentemente de sua culpa ou dolo, haja vista a sua hipossuficiência na relação trabalhista. Ou seja, ainda que proceda de forma incorreta nas questões associadas à segurança no trabalho, agindo com negligência, imprudência, incorrendo no chamado “ato inseguro”, ainda assim os trabalhadores tendem a lograr êxito nas causas trabalhistas que envolvam danos ou lesões causadas pelo desrespeito às normas regulamentadoras de segurança e medicina do trabalho.

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METODOLOGIA

O presente trabalho teve como temática principal correlações entre as

Normas de Segurança do Trabalho, a análise quantitativa de processos

trabalhistas, com foco naqueles motivados sobremaneira por questões relativas à

segurança e medicina do trabalho e algumas características jurídicas das

relações de trabalho no âmbito do ordenamento jurídico nacional, principalmente

no que tange à responsabilização pela inobservância daquelas normas de caráter

infraconstitucional do direito positivo brasileiro.

Nesse diapasão, o estudo monográfico em tese foi efetivado a partir do

método de pesquisa bibliográfica, através do qual se buscou o conhecimento em

diversos tipos de publicações, inclusive de as de cunho virtual. Livros, periódicos

e revistas específicas das áreas em estudo, artigos em jornais e outros materiais

especializados também embasaram a pesquisa, além de publicações oficiais da

legislação e da jurisprudência nacionais.

A monografia também foi empreendida através do método positivista,

uma vez que visou apenas identificar a realidade social em estudo e o tratamento

jurídico a ela conferido, sob a ótica do direito positivo brasileiro, sem, no entanto,

afastar-se por completo da linha da pesquisa aplicada, uma vez que visou

analisar as informações inicialmente colhidas e transformá-las em conhecimento

que possa ser utilizado de forma prática.

Mas segundo Minayo (2009, p.70) “[...] o observador faz parte do

contexto sob sua observação e, sem dúvida, modifica esse contexto, pois interfere

nele, assim como é modificado pessoalmente”.

Para Kuhn (1978), o progresso da ciência se dá via quebra de

paradigmas, pela discussão constante dos métodos e teorias, o que se traduz em

verdadeira revolução. Mas há também casos em que o problema é novo e não há

teorias desenvolvidas ou mesmo propostas, o que conduz a uma pesquisa

exploratória, a despeito de Minayo considerar que uma pesquisa sem teoria corre

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o risco de ser considerada como mera opinião pessoal sobre a realidade

observada (2009, p. 19).

Sendo assim, podemos considerar que haja material suficiente para

visualizar este trabalho sob a ótica da pesquisa qualitativa e da pesquisa

exploratória, uma vez que buscou a compreensão dos fatos a partir da

interpretação e especificação dos fenômenos analisados, bem como porque

buscou proporcionar maior conhecimento sobre a questão proposta,

transcendendo à qualidade de pesquisa descritiva, afastando-se sobremaneira do

que seria uma análise meramente crítica do tema inicialmente proposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E A ISENÇÃO DE

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADO...........................................................14

1.1 – BREVE HISTÓRICO DO ACIDENTE DO TRABALHO NO BRASIL...........15

1.2 – O “ATO INSEGURO” E A “CONDIÇÃO INSEGURA DE TRABALHO”.....17

1.2.1 – A NR-6 E O EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI ........19

CAPÍTULO II

A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR QUANTO ÀS INFRAÇÕES ÀS

NORMAS REGULAMENTARES...........................................................................22

2.1 – A NR-28 E A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR NA

PREVENÇÃO DOS ACIDENTES DO TRABALHO..............................................22

2.2 – NR-1 e NR-6 E AS IMPLICAÇÕES NA RESPONSABILIZAÇÃO DO

EMPREGADOR NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES DO TRABALHO.............24

2.3 – JUSTA CAUSA E ESTABILIDADE DO EMPREGADO EM CONDIÇÕES

INSEGURAS DE TRABALHO...............................................................................27

CAPÍTULO III

RESUMO DAS NORMAS REGULAMENTADORAS............................................30

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CAPÍTULO IV

AS ESTATÍSTICAS DOS PROCESSOS TRABALHISTAS..................................38

CONCLUSÃO........................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................44

ANEXOS................................................................................................................46

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INTRODUÇÃO

A pesquisa que embasou este estudo monográfico foi motivada pelo

pressuposto de não haver uma punição direta quando da constatação de um “ato

inseguro” praticado pelo empregado, principalmente quando este tenha resultado

em um acidente do trabalho grave, haja vista que o empregador, principal

responsável fiscalização no ambiente de trabalho, tende a ser complacente com o

infrator, entendendo que este já tenha sofrido o suficiente com as conseqüências

do acidente.

Além disso, é bem provável que os acidentes do trabalho registrados

tenham como causa principal a negligência e a imprudência do trabalhador

quanto à observação das normas de segurança e medicina do trabalho. Sendo

assim, este trabalho também visou ressaltar a importância da responsabilidade

dos empregados quanto à observação das normas de segurança e medicina do

trabalho, bem como as implicações decorrentes de negligência e imprudência por

parte do trabalhador.

O “ato inseguro”, expressão técnica típica dos profissionais diretamente

envolvidos com as questões de segurança e medicina do trabalho, e a

possibilidade de responsabilização dos empregados quanto à inobservância das

normas de segurança e medicina do trabalho foram associados de forma a

explicitar o caráter didático da legislação em voga, uma vez que há uma

inclinação da justiça em beneficiar o hipossuficiente nas questões trabalhistas.

É o que observa Arnaldo Sussekind (DEVALI apud SUSSEKIND, 2010,

p. 75):

Ressalte-se, como o fez DEVALI, que o Direito do Trabalho é “um direito especial, que se distingue do direito comum, especialmente porque, enquanto o segundo supõe a igualdade das partes, o primeiro pressupõe uma situação de desigualdade que ele tende a corrigir com outras desigualdades”.

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Sendo assim, o caráter efetivamente punitivo da lei muitas das vezes

não se faz presente.

Os empregadores, por sua vez, tendem a tão somente entregar os

EPIs e disponibilizar os EPCs. Tendem a não qualificar, treinar os seus

empregados na correta utilização, assepsia e manuseio dos mesmos. Acabam

tornando-se simplesmente meros adereços, a despeito da importância que

possam ter. Certamente a norma prevê a qualificação, o treinamento dos

empregados quanto à correta utilização e manuseio dos equipamentos de

proteção, mas a lei tende a ser omissa no quer diz respeito à cobrança e punição

dos empregadores em casos de descumprimento da norma específica.

Segundo Sussekind (2010), os fundamentos jurídico-políticos e

sociológicos do princípio protetor geram, dentre outros princípios, o denominado

princípio da primazia da realidade, através do qual se tem o entendimento de que

uma relação evidenciada pelos fatos definiria a verdadeira relação jurídica

estipulada pelos contratantes, ainda que tal relação pudesse de alguma forma

destoar da realidade.

Sendo assim, um acidente onde fosse constatada uma irregularidade

quanto ao fornecimento de EPI, ou ainda uma deficiência no treinamento de

pessoal no que diz respeito ao seu correto uso e manutenção, poderia facilmente

ser caracterizado como em face de uma condição insegura.

Também a questão referente à manutenção do emprego deve ser

entendida como um obstáculo ao avanço no campo da segurança do trabalho,

uma vez que muito empregados tendem a aceitar trabalhar em condições

adversas, no que os teóricos da área consideram como “condições inseguras de

trabalho”, simplesmente por terem receio de poderem ser despedidos, seja por

justa causa ou sem motivação aparente.

O poder de fiscalização do Governo vem ao encontro do que

preconizam as normas da área de segurança e medicina do trabalho, mas ainda é

incipiente a atuação do mesmo. A simples constatação de ambiente inseguro

pode motivar o embargo de uma obra ou a interdição de um estabelecimento.

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Mas até que ponto resguarda o emprego do trabalhador? Até que ponto garante a

sua “pseudo-estabilidade”?

O limite entre o “ato inseguro” e as “condições inseguras de trabalho” é

objeto de constantes divergências quando da apuração de responsabilidades em

acidentes do trabalho. O empregador tende a atribuir ao empregado

responsabilidade pelo “desvio de conduta”, enquanto que este alega a seu favor

não estarem presentes, no momento do acidente, condições mínimas de

segurança no trabalho.

No entendimento de Sussekind (2010, p78):

Na execução do contrato de trabalho, o desejável é que o empregado procure, de boa-fé, cumprir as obrigação pactuadas, visando ao melhor rendimento no trabalho, enquanto que o empregador deve cumprir, por si ou pelos seus prepostos, com lealdade e boa-fé, as obrigações que lhe cabem.

O caráter didático das normas regulamentares, associado à

conscientização dos empregados através dos multiplicadores de que dispõem as

empresas, certamente corrobora com uma melhora nos indicadores de acidentes

do trabalho. Grandes empresas já adotam políticas severas de implementação e

controle dos dispositivos da legislação específica, mas certamente neste contexto

o empregado é o principal agente modificador da realidade atual. No que diz

respeito às médias e pequenas empresas, a responsabilidade está dividida: se

por um lado muitos empregadores falham nos quesitos treinamento e fiscalização,

levando os trabalhadores a agirem com imperícia, por outro, a despeito do

treinamento disponibilizado, muitos trabalhadores tendem a agir com negligência

e imprudência, principalmente nos casos em que a fiscalização foi omissa.

Os indicadores de acidentes do trabalho onde fica clara a condição de

“ato inseguro”, ao serem cruzados com os indicadores de acionamentos judiciais

impulsionados sobre tudo pelas conseqüências daqueles acidentes, podem levar

a crer que, em havendo maior fiscalização das condições de segurança e

medicina do trabalho, pode acarretar numa diminuição dos acidentes e, em

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conseqüência disto, numa diminuição dos acionamentos judiciais e índices de

desemprego.

As análises estatísticas podem levar a crer também que o “ato

inseguro” por si só não seja a mola propulsora, por assim dizer, da autoridade

punitiva do empregador. Na maioria dos casos o acidente deverá se consumar

para que haja algum tipo de punição, que na maioria dos casos é a mera

demissão do empregado, o qual tenderá a acionar a empresa no futuro.

A objetividade do trabalho foi sedimentada ao serem analisadas

especificamente as questões relativas ao “ato inseguro” e a “condição insegura de

trabalho” nas atividades desenvolvidas na rede externa de telefonia fixa da extinta

Telerj, que possam resultar em litígios trabalhistas no âmbito do direito do

trabalho e da Justiça do Trabalho brasileiros.

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CAPÍTULO I

OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E A ISENÇÃO

DE RESPONSABILIDADE DO EMPREGADO

As questões que definem a responsabilidade do empregado na

apuração de acidentes do trabalho estão estreitamente ligadas principalmente

com duas expressões técnicas da área de Segurança e Medicina do Trabalho, a

saber: “Ato Inseguro” e “Condição Insegura de Trabalho”. Além disso, algumas

orientações previstas na NR-6 – Equipamento de Proteção Individual – EPI

devem ser atendidas pelo empregador, podendo o mesmo ser responsabilizado

por acidentes que venham a ocorrer.

Segundo o Art. 158 da CLT, os empregados devem observar as

normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções dadas

através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar

acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. Também devem colaborar com a

empresa na aplicação dos dispositivos previstos no Capítulo V da CLT.

O parágrafo único do referido artigo considera ato faltoso do

empregado a recusa injustificada à observância das instruções expedidas pelo

empregador, bem como ao uso dos equipamentos de proteção individual

fornecidos pela empresa.

A concepção das relações trabalhistas tem de ser revista para que a

influência do poder patronal não dite as regras injustas de uma relação insegura

de trabalho, pois segundo Foucault (2005, p.27):

“Seria talvez preciso também renunciar a toda uma tradição que deixa imaginar que só pode haver saber onde as relações de poder estão suspensas e que o saber só pode desenvolver-se fora de suas injunções, suas exigências e seus interesses”.

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1.1 – BREVE HISTÓRICO DO ACIDENTE DO TRABALHO NO BRASIL

Os acidentes de trabalho começaram a ter visibilidade a partir da

Revolução Industrial em 1780, pois deste momento em diante as empresas

começaram a substituir o trabalho manual por grandes e pesadas máquinas

Industriais (THEODORO JÚNIOR,1987).

No Brasil, os efeitos da revolução industrial se fizeram sentir a partir de

1880, com o advento de usinas geradoras de eletricidades de grande porte,

principalmente nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

A Lei nº 3.724/19 restringia-se ao conceito de risco profissional,

considerando-o como sendo natural a determinadas atividades profissionais. Não

fixava um seguro obrigatório, mas apenas a previsão de pagamento de

indenização ao trabalhador ou, na falta deste, à sua família, sendo esta calculada

de acordo com a gravidade das seqüelas do acidente. A prestação do socorro

médico-hospitalar e farmacêutico era obrigação do empregador.

O acidente de trabalho deveria ser comunicado à autoridade policial do

lugar, pelo empregador, pelo próprio trabalhador acidentado, ou ainda, por

terceiros.

A Constituição de 1934 instituiu a contribuição tripartite para fazer

frente ao acidente de trabalho, bem como a outros infortúnios. Mas foi com a

Constituição de 1946 que surgiu a obrigatoriedade da instituição do seguro pelo

empregador contra os acidentes do trabalho (HORVATH JÚNIOR, 2006).

Em 1943 é instituída a Consolidação das Leis do Trabalho, que dentre

outras normas protecionistas, inseriu a regulamentação quanto à prevenção de

acidentes.

Em 1972 a Portaria nº 3237 tornou obrigatório, além dos serviços

médicos, os serviços de higiene e segurança nas empresas onde trabalham 100

ou mais pessoas (Portaria 3237, de 27/6/72, do Ministério do Trabalho).

Atualmente é considerado não só o número de empregados da empresa, mas

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também o grau de risco da mesma, segundo o quadro I da NR 4, que define a

Relação de Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE

(http://www.ibge.gov.br/concla/default.php).

Cumpre ressaltar que a redação do quadro I da referida NR foi

atualizada de acordo com a Portaria nº 76, de 21/11/2008.

Em 1978 foi instituída a Portaria nº 3.214 do MTB de 08/06/1978, a

qual aprovou as Normas Regulamentadoras (NR’s) relativas à Segurança e

Medicina do Trabalho, abordando vários aspectos relacionados ao ambiente de

trabalho e a saúde do trabalhador, obrigando as empresas ao seu cumprimento.

Estas normas sofreram e vêm sofrendo atualizações ao longo dos

anos, de acordo com as demandas de doenças típicas da modernidade, como

Lesões por Esforços Repetitivos (LER) ou Distúrbios Osteomusculares

Relacionados ao Trabalho (DORT).

A Constituição Federal de 1988, “especificou no seu artigo 7º, inciso

XXVIII o seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, mas não

excluiu a indenização por culpa ou dolo” (PINTO, 2006).

Ainda assim são recorrentes os acidentes de trabalho no Brasil,

sobretudo pela falta de investimento na área de segurança e medicina do

trabalho.

Segundo uma matéria recentemente publicada no portal do Tribunal

Regional do Trabalho da Primeira Região – TRT-RJ (http://portal.trtrio.gov.br), que

vem Homenagear os 2.796 mortos em acidentes de trabalho em 2011, por

ocasião do dia 28 de abril de 2012, data mundial de homenagem às vítimas de

acidentes de trabalho, fica evidente que as questões relativas à segurança e

saúde no trabalho estão na ordem do dia.

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1.2 – O “ATO INSEGURO” E A “CONDIÇÃO INSEGURA DE TRABALHO”

Os acidentes do trabalho, assim como os demais tipos de acidente, são

causados por alguém ou por alguma situação específica, o que geralmente

demanda investigação e análise, no intuito de se chegar às causas dos mesmos

e, assim procedendo, obtermos êxito na prevenção de acidentes futuros que

possuam as mesmas características.

Saber quem deu causa ao acidente demanda entendermos

previamente o que a literatura específica da área define como “ato inseguro” e

“condição insegura de trabalho”. A despeito dos acidentes de causas naturais que

dependem diretamente das condições da natureza, podemos classificar as

causas de um acidente de trabalho em dois fatores específicos: Ato Inseguro e

Condição Insegura de Trabalho.

Isoladamente ou em conjunto, esses dois fatores específicos é que

resultam diretamente nos ditos “acidentes do trabalho”. A prevenção aos

acidentes do trabalho deve seguir duas linhas de atuação básicas: evitar ou

corrigir as condições inseguras e prevenir que o ato inseguro se torne uma

constante no ambiente de trabalho.

Segundo levantamentos realizados por diversos órgãos e institutos

(http://asegurancadotrabalhador.blogspot.com.br/2009/05/atos-inseguros-e-

condicoes-inseguras.html), podemos constatar que as causas dos acidentes de

trabalho são principalmente atribuídas às questões referentes aos “atos

inseguros”, os quais são de responsabilidade do trabalhador. Tais pesquisas

mostraram que a proporção de causas de acidente é de aproximadamente:

ATOS INSEGUROS

80%

CONDIÇÕES INSEGURAS

20%

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O “Ato Inseguro” tem como característica principal o nível de exposição

dos empregados aos riscos de acidentes, seja de forma consciente ou não.

Normalmente resultam em acidentes com pessoas feridas, ou seja, contribuem de

forma negativa à prevenção dos acidentes do trabalho. Como exemplos

recorrentes de atos inseguros, podemos citar os seguintes: vestuário inadequado

ou falta de uniforme; manutenção e ajuste de máquinas em operação; não

utilização dos EPIs; etc.

Não que devamos abandonar a visão de Colquhoun (1807, apud

Foucault, 2005), quando ele afirma que “todas as vezes que estiver reunida no

mesmo lugar uma grande quantidade de trabalhadores, haverá necessariamente

muitos maus elementos”. Mas que façamos uma analogia inversa desta assertiva

e pensemos que podem existir trabalhadores conscientes no meio de muitos

outros que ignoram as normas de segurança e medicina do trabalho e que

aqueles podem se tornar verdadeiros multiplicadores dos corretos procedimentos

que conduzem ao trabalho seguro.

A falta de treinamento de um funcionário ou mesmo a sua ignorância

quanto aos riscos presentes em determinado trabalho ou tarefa devem ser

entendidas como condição insegura de trabalho.

A “Condição Insegura de Trabalho” é compreendida quando o

ambiente de trabalho apresenta risco à integridade física ou a saúde do

trabalhador, ou a ambas ao mesmo tempo, através de falhas, irregularidades

técnico-operacionais, defeitos, vícios, etc. As condições inseguras não se

confundem com os riscos inerentes de determinadas atividades, a exemplo

da corrente elétrica inerente às redes de telefonia aérea, seja a corrente própria

dos circuitos telefônicos, seja àquela presente nas redes das distribuidoras de

energia elétrica. Como exemplos clássicos de condição insegura, podemos citar

os seguintes: instalações elétricas inadequadas, nível de ruído inadequado,

iluminação inadequada, etc.

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1.2.1 – A NR-6 e o Equipamento de Proteção Individual - EPI

O Ato Inseguro, como já verificamos, é considerado como sendo toda

forma incorreta de trabalhar, onde há desrespeito às normas de segurança, ou

seja, são ações conscientes ou inconscientes que podem resultar em acidentes

e/ou ferimentos. Já a Condição Insegura é entendida como sendo uma condição

específica mesmo do ambiente de trabalho, a qual possa causar o acidente ou

que venha a contribuir para sua ocorrência.

Sendo assim, a não observação e o não cumprimento das normas de

segurança e medicina do trabalho podem ser entendidos, em última análise, como

“ato inseguro”, haja vista que o empregado tende a realizar suas atividades

laborais de forma negligente ou imprudente.

No entanto, faz-se necessário que os trabalhadores sejam orientados

previamente no que diz respeito aos corretos procedimentos operacionais

relativos às questões de segurança no trabalho.

Segundo o artigo 3º da Lei de Introdução ao Código Civil, que na

verdade é uma lei sobre direito, uma lei de introdução ao direito como um todo,

com normas gerais sobre aplicação do direito e sobre direito internacional privado,

ninguém pode ninguém pode alegar o desconhecimento da lei em benefício

próprio. A vida em sociedade não seria possível caso as pessoas pudessem

alegar o desconhecimento da lei para se escusar de cumpri-la. Daí o surgimento

da máxima jurídica de que todos devem conhecer a lei.

Contudo, haja vista a proliferação legislativa, alavancada sobremaneira

pelo advento da Sociedade da Informação, fica cada vez mais difícil que o

cidadão comum, e até mesmo o profissional do direito conheça todas as leis com

profundidade.

Não obstante a profusão de normas, decretos, enfim, de toda a

legislação à disposição dos profissionais que necessitam de esclarecimentos

quanto às questões de segurança e saúde no trabalho, vale ressaltar a

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importância do que determina a alínea “d” do subitem 6.6.1 desta norma: “orientar

e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação”.

O mínimo de informação acerca da importância da correta utilização

dos EPIs pode evitar que acidentes ocorram. O “ato inseguro” está na razão direta

do desconhecimento, da falta de orientação do trabalhador quanto às questões de

segurança e saúde no trabalho. No entanto, ainda que treinado e orientado, caso

ocorra descumprimento das normas de segurança e saúde no trabalho,

poderemos então classificar a conduta do empregado como, no mínimo,

imprudente, pois a NR 6 em seu subitem 6.7.1, relaciona as responsabilidades do

empregado quanto ao EPI.

Sendo assim, tanto o empregado quanto o empregador possuem

responsabilidade na prevenção de acidentes do trabalho.

A legislação no Brasil não admite o non liquet. O Juiz não pode se

eximir em proferir sentença alegando omissão da lei. Caso a lei seja omissa a

respeito da questão em pauta, a Justiça deverá decidir caso segundo a analogia,

os costumes e os princípios gerais de direito.

Como também já verificamos, a NR 6 estabelece e define os diversos

tipos de EPI's que as empresas deverão fornecer a seus empregados, sempre

que as condições de trabalho os exigirem, a fim de resguardar a saúde e a

integridade física dos trabalhadores. Esta norma está respaldada legal, ordinária e

especificamente pelos artigos 166 e 167 da CLT, que definem basicamente a

responsabilidade da empresa quanto ao fornecimento e a aprovação dos

equipamentos, a saber:

Art. 166 - A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

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Art. 167 - O equipamento de proteção só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação do Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

Enquanto isso, a NR 28 dispõe sobre fiscalização e penalidades.

Estabelece os procedimentos a serem adotados pela fiscalização trabalhista de

Segurança e Medicina do Trabalho, tanto no que diz respeito à concessão de

prazos às empresas, quanto no que diz respeito à concessão de prazos às

empresas para a correção de possíveis irregularidades técnicas, como também,

no que concerne ao procedimento de autuação por infração às Normas

Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho.

O simples fornecimento do EPI pelo empregador não garante a sua

isenção de responsabilidade caso ocorra um acidente do trabalho. Também

devem treinar e fiscalizar os empregados no que diz respeito à correta utilização

dos equipamentos de segurança. O EPI também deverá ser certificado e

aprovado pelo órgão competente em matéria de segurança e saúde no trabalho

do Ministério do Trabalho e Emprego, quando receberá o devido Certificado de

Aprovação – CA, o qual deverá vir registrado no EPI. Além disso, o os EPIs

devem ser fornecidos pelas empresas aos seus empregados de forma gratuita, de

acordo com as recomendações do SESMT em consonância com a CIPA.

Recentemente a juíza do Trabalho Juliana Ribeiro Castello Branco

proferiu uma sentença afirmando que a finalidade da mesma também era

pedagógica (http://www.tst.jus.br/web/trabalhoseguro/inicio):

A Justiça não quer apenas punir a empresa, mas evitar que isso aconteça de novo. É preciso deixar claro para o empregador que investir em prevenção e em segurança do trabalho é mais barato do que reparar um dano. E esse é um dano que não tem reparação.

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CAPÍTULO II

A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR QUANTO ÀS

INFRAÇÕES ÀS NORMAS REGULAMENTARES

Para facilitar a consulta aos profissionais da área, o legislador optou

por mencionar, no final de cada item / subitem da Norma Regulamentar NR 28, o

código e o grau de infração correspondente. Tais códigos podem ser apreciados

no Anexo II da NR 28 – Fiscalização e Penalidades. Assim, no trecho entre

parênteses: C = código; I = infração.

Percebe-se, porém, que tal codificação não está presente no rol de

responsabilidades do empregado constantes do item 1.8 da NR 1, o que pode

denotar certa “benevolência” do legislador para com o trabalhador.

2.1 – A NR-28 e a Responsabilização do Empregador na Prevenção dos

Acidentes do Trabalho

Esta norma estabelece os procedimentos a serem adotados pela

fiscalização trabalhista de Segurança e Medicina do Trabalho, tanto no que diz

respeito à concessão de prazos às empresas, quanto no que diz respeito à

concessão de prazos às empresas para a correção das irregularidades técnicas,

como também, no que concerne ao procedimento de autuação das empresas por

infração às Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho.

Segundo nossa legislação, “constitui ato faltoso do empregado a

recusa injustificada à observância das instruções expedidas pelo empregador”. O

ato faltoso poderá ser punido com “justa causa” quando perfeitamente

caracterizado. Portanto as punições podem ir de Advertência Verbal até a

Demissão por Justa Causa.

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Os Decretos n.º 55.841, de 15/03/65, e n.º 97.995, de 26/07/89, o Título

VII da CLT e o § 3º do art. 6º da Lei n.º 7.855, de 24/10/89 e o subitem 28.1.1 da

NR 28 é que norteiam a fiscalização do cumprimento das disposições legais e/ou

regulamentares sobre segurança do trabalho e saúde do trabalhador.

Caso seja constatada qualquer irregularidade, o agente da inspeção do

trabalho, com base em critérios técnicos pré-estabelecidos, poderá notificar os

empregadores, concedendo-lhes prazos para a sua adequação, os quais deverão

ser limitados a, no máximo, 60 (sessenta) dias, salvo pedido de prorrogação

devidamente fundamentado.

Tanto o engenheiro de segurança do trabalho como o médico do

trabalho, devidamente habilitados, poderá emitir laudo técnico para que os

agentes da inspeção do trabalho lavrem auto de infração pelo descumprimento

dos preceitos legais e/ou regulamentares sobre segurança e saúde do

trabalhador.

Caso fique constatado pelo agente da inspeção do trabalho situação

laboral de grave e iminente risco à saúde e/ou integridade física do trabalhador,

com base em critérios técnicos específicos, este deverá propor de imediato à

autoridade regional competente a interdição do estabelecimento, setor de serviço,

máquina ou equipamento, ou o embargo parcial ou total da obra, apontando as

medidas que deverão ser adotadas para a correção das situações de risco.

(Alterado pela Portaria n.º 7, de 05 de outubro de 1992).

As infrações aos preceitos legais e/ou regulamentadores sobre

segurança e saúde do trabalhador serão penalizadas segundo o disposto no

quadro de gradação de multas – Anexo I deste trabalho. As infrações estão

previstas no quadro de classificação das infrações (Anexo II) desta Norma que

pode ser consultado em: http://www.normaslegais.com.br

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2.2 – NR-1 e NR-6 e as Implicações na Responsabilização do Empregador na

Prevenção dos Acidentes do Trabalho

Na NR 1, norma que trata das disposições gerais, a exemplo do que se

pode verificar na NR 6, norma que trata especificamente dos equipamentos de

proteção individual – EPIs, verificam-se as responsabilidades dos empregados no

que tange às questões de segurança e medicina do trabalho.

Segundo o item 1.8 desta norma, cabe ao empregado:

a) cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador; b) usar o EPI fornecido pelo empregador; c) submeter-se aos exames médicos previstos nas Normas Regulamentadoras - NR; d) colaborar com a empresa na aplicação das Normas Regulamentadoras – NR.

Também de acordo com o subitem 1.8.1 da mesma norma, constitui

ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao cumprimento do disposto no

item anterior. Mas não há maiores indícios do grau de responsabilização a que

estariam sujeitos os trabalhadores em caso de possíveis infrações às normas de

segurança e saúde do trabalho vigente.

No entanto, o item 1.9 da referida norma prevê a aplicação de

penalidades quando ocorrer descumprimento das disposições legais e

regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho apenas ao empregador,

o que pode ser confirmado com a analise do subitem 6.6.1 da NR 6.

O subitem 6.6.1 da NR 6 lista como responsabilidades diretas do

empregador no que diz respeito aos EPIs, as seguintes alíneas:

a) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; (C=206.005-1/I=3)

b) exigir seu uso; (C=206.025-6/I=4)

c) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional

competente em matéria de saúde e segurança no trabalho;

(C=206.026-4/I=4)

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d) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e

conservação; (C=206.008-6/I=3)

e) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado;

(C=206.009-4/I=3)

f) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica;

(C=206.027-2/I=2)

g) comunicar ao MTE qualquer irregularidade observada; e,

h) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adotados

livros, fichas ou sistema eletrônico.

O subitem 6.7.1 desta mesma norma lista as responsabilidades do

empregado quanto aos EPIs, quais sejam:

a) usar, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; e, d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado.

A CLT prevê em seu Art. 156 que compete às Delegacias Regionais do

Trabalho promover a fiscalização do cumprimento das normas de segurança e

medicina do trabalho, bem como impor as penalidades cabíveis por

descumprimento das normas constantes do Capítulo V, nos termos do art. 201.

Segundo o Art. 201, as infrações ao disposto no Capítulo V relativas à

medicina do trabalho serão punidas com multa de 3 (três) a 30 (trinta) vezes o

valor de referência previsto no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 6.205, de 29

de abril de 1975, e as concernentes à segurança do trabalho com multa de 5

(cinco) a 50 (cinquenta) vezes o mesmo valor.

O parágrafo único do referido artigo prevê também que em caso de

reincidência, embaraço ou resistência à fiscalização, emprego de artifício ou

simulação com o objetivo de fraudar a lei, a multa será aplicada em seu valor

máximo.

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O equipamento de proteção individual - EPI, seja ele de fabricação

nacional ou importado, só poderá ser comercializado ou utilizado com a indicação

do Certificado de Aprovação - CA, o qual deverá ser expedido pelo órgão nacional

competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do

Trabalho e Emprego.

O item 6.3 da NR 6 indica que empresa é obrigada a fornecer aos

empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de

conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias:

a) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e, c) para atender a situações de emergência.

Segundo o subitem 6.11.1 da NR 6, compete ao Ministério do Trabalho

e Emprego / MTE, órgão nacional em matéria de segurança e saúde no trabalho:

a) cadastrar o fabricante ou importador de EPI; b) receber e examinar a documentação para emitir ou renovar o CA de EPI; c) estabelecer, quando necessário, os regulamentos técnicos para ensaios de EPI; d) emitir ou renovar o CA e o cadastro de fabricante ou importador; e) fiscalizar a qualidade do EPI; f) suspender o cadastramento da empresa fabricante ou importadora; e, g) cancelar o CA.

Já o subitem 6.11.2 da referida norma define as competências do

órgão regional do MTE em matéria de segurança e saúde no trabalho, quais

sejam:

a) fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e a qualidade do EPI; b) recolher amostras de EPI; e, c) aplicar, na sua esfera de competência, as penalidades cabíveis pelo descumprimento desta NR.

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2.3 – Justa Causa e Estabilidade do Empregado em Condições Inseguras de

Trabalho

A análise da terceira questão do campo problema do plano de pesquisa

que deu origem a este trabalho conduz a uma resposta negativa, pois ao se

questionar se a recusa por parte do empregado em trabalhar em “condições

inseguras” poderia acarretar em sua demissão por justa causa, as possibilidades

elencadas no artigo 482 da CLT que permitem esta modalidade de dispensa

devem ser observadas. São elas:

a) ato de improbidade; b) incontinência de conduta ou mau procedimento; c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço; d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido suspensão da execução da pena; e) desídia no desempenho das respectivas funções; f) embriaguez habitual ou em serviço; g) violação de segredo da empresa; h) ato de indisciplina ou de insubordinação; i) abandono de emprego; j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; l) prática constante de jogos de azar.

De acordo com este artigo, a alínea “h” seria a que mais se aproximaria

da possibilidade de ocorrer demissão do empregado por justa causa, visto que a

insubordinação pode ser entendida como sendo um capricho do empregado em

não querer realizar determinada tarefa ou serviço.

A Constituição Federal em seu artigo quinto, inciso II, prevê que

ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude

de lei. Também o artigo sétimo, inciso XXII da Carta Magna prevê que são direitos

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dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social, a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio das normas

de saúde, higiene e segurança.

Sendo assim, considerando-se ser a ordem manifestamente ilegal, no

caso de as condições de trabalho não estarem de acordo com o que prevê as

normas de segurança e saúde no trabalho, automaticamente estaria o empregado

resguardado da punição em tese – demissão por justa causa.

No que diz respeito à resposta da quarta questão do plano de pesquisa

em questão, conclui-se que a simples constatação de ambiente inseguro por parte

de órgão fiscalizador não pode ser entendida como característica determinante da

estabilidade no emprego, haja vista que a Constituição Federal é taxativa quanto

às possibilidades de proteção do emprego do trabalhador.

A segurança no emprego, tecnicamente expressada como estabilidade,

pode ser entendida como sendo uma restrição ao direito potestativo dos

empregadores de dispensarem os seus empregados.

Segundo José Martins Catharino, a estabilidade no emprego poderia ser assim entendida:

"é meio de valorização do trabalho como condição da dignidade humana. É forma de repressão ao abuso do poder econômico e instrumento para que a propriedade tenha função social, sendo que a mesma justifica a desapropriação por utilidade pública ou social e também justifica a subtração do direito de despedir" (in "Estabilidade e Fundo de Garantia"- Simpósio promovido pelo Instituto de Direito Social - p. 161).

O caput do artigo sétimo prevê vários direitos dos trabalhadores

urbanos e rurais, bem como outros que visem à melhoria de sua condição social,

mas em nenhum momento cita a possibilidade de haver estabilidade por eles

atuarem em condições inseguras de trabalho, não obstante haja previsão legal de

seguro e indenização no inciso XXVIII deste artigo.

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Já o caput do artigo oitavo assegura liberdade de associação

profissional ou sindical, com o seguinte entendimento em seu inciso VIII:

É vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Também o Título X – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

– em seu artigo décimo, inciso II, assegura que fica vedada a dispensa arbitrária

ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até

cinco meses após o parto.

Além das possibilidades de estabilidade citadas anteriormente, temos

também a previsão do caput do artigo 41, onde se lê:

São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

Ademais, o artigo 492 da CLT que previa que o empregado que

contasse mais de 10 (dez) anos de serviço na mesma empresa não poderia ser

despedido, salvo motivo de falta grave ou circunstância de força maior,

devidamente comprovadas, não produz mais efeito legal.

Sendo assim, salvo as hipóteses legalmente admitidas para a

estabilidade provisória – a dos dirigentes sindicais (CLT, Art. 543), do dirigente

das Comissões de Prevenção de Acidentes - CIPA, ainda que suplentes (Súmula

339-TST), e da gestante (Art. 10 do ADCT/88 Art. 10, II, letras "a" e "b") – não

cabe o entendimento de que, ainda que constatado ambiente inseguro por parte

de órgão fiscalizador, teria o empregado direito à manutenção de seu emprego,

indo de encontro ao direito potestativo dos empregadores de dispensarem os

seus empregados.

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CAPÍTULO III

RESUMO DAS NORMAS REGULAMENTADORAS – NRs –

URBANAS

As Normas Regulamentadoras são instrumentos normativos que visam

regulamentar e fornecer orientações sobre procedimentos obrigatórios

relacionados à medicina e segurança no trabalho no Brasil. Apresentam-se

também como anexos da Consolidação das Leis do Trabalho e são de

observância obrigatória por todas as empresas, sejam elas públicas ou privadas.

NR 1 - Disposições Gerais: Determina o campo de aplicação de todas

as NRs de Segurança e Medicina do Trabalho Urbano, bem como os direitos e

obrigações do Governo, dos empregadores e dos trabalhadores no tocante a este

tema específico. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente

pelos artigos 154 a 159 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

NR 2 - Inspeção Prévia: Através desta NR as empresas ficam

orientadas de quando deverão solicitar ao MTb a realização de inspeção prévia

em seus estabelecimentos, bem assim a forma de sua realização. Esta norma

está respaldada legal, ordinária e especificamente pelo artigo 160 da CLT.

NR 3 - Embargo ou Interdição: Estabelece as situações em que as

empresas se sujeitam a sofrer paralisação de seus serviços, máquinas ou

equipamentos, bem como os procedimentos a serem observados, pela

fiscalização trabalhista, na adoção de tais medidas punitivas no tocante à

Segurança e a Medicina do Trabalho. Esta norma está respaldada legal, ordinária

e especificamente pelo artigo 161 da CLT.

NR 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em

Medicina do Trabalho - SESMT: Esta norma obriga as empresas públicas e

privadas, que possuam empregados regidos pela CLT, de organizarem e

manterem em funcionamento, seus SESMT, com o objetivo de promover a saúde

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e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Esta norma está

respaldada legal, ordinária e especificamente pelo artigo 162 da CLT.

NR 5 - A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA: Esta

norma condiciona o funcionamento das empresas públicas e privadas à

organização e funcionamento, por estabelecimento, de uma comissão constituída

exclusivamente por empregados, com o objetivo de prevenir infortúnios laborais,

através de sugestões e recomendações ao empregador para que melhore as

condições de trabalho, minimizando ou mesmo eliminando as possíveis causas

de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. Esta norma está respaldada

legal, ordinária e especificamente pelos artigos 163 a 165 da CLT.

NR 6 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI: Estabelece e define

os diversos tipos de EPI's que as empresas deverão fornecer a seus empregados,

sempre que as condições de trabalho os exigirem, a fim de resguardar a saúde e

a integridade física dos trabalhadores. Esta norma está respaldada legal, ordinária

e especificamente pelos artigos 166 e 167 da CLT.

NR 7 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional -

PCMSO: Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, por parte

de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como

empregados, do PCMSO, visando promoção e preservação da saúde de seus

trabalhadores. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente

pelos artigos 168 e 169 da CLT. .

NR 8 - Edificações: Dispõe sobre os requisitos técnicos mínimos que

devem ser observados implementados nas edificações para garantir segurança e

conforto aos que nelas trabalham. Esta norma está respaldada legal, ordinária e

especificamente pelos artigos 170 a 174 da CLT.

NR 9 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA:

Estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação, pelos

empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados do

PPRA, visando a preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores,

a qual deverá ser atingida através da antecipação, reconhecimento, avaliação e

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conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que

venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do

meio ambiente e dos recursos naturais. Esta norma está respaldada legal,

ordinária e especificamente pelos artigos 175 a 178 da CLT.

NR 10 - Instalações e Serviços em Eletricidade: Estabelece as

exigências mínimas para assurar a segurança dos empregados que trabalham em

instalações elétricas, em suas diversas etapas - elaboração de projetos,

execução, operação, manutenção, reforma e ampliação - assim como a

segurança de usuários e de terceiros, em quaisquer das fases - geração,

transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica - observando-se, para

tanto, as normas técnicas oficiais vigentes e, na falta destas, as normas técnicas

internacionais. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente

pelos artigos 179 a 181 da CLT.

NR 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de

Materiais: Estabelece os requisitos de segurança a serem observados nos locais

de trabalho, no que se refere ao transporte, à movimentação, à armazenagem e

ao manuseio de materiais, tanto de forma mecânica quanto manual, objetivando a

prevenção de acidentes do trabalho. Esta norma está respaldada legal, ordinária

e especificamente pelos artigos 182 e 183 da CLT.

NR 12 - Máquinas e Equipamentos: Determina as medidas

prevencionistas de segurança e higiene do trabalho a serem adotadas pelas

empresas em relação à instalação, operação e manutenção de máquinas e

equipamentos, visando à prevenção de acidentes do trabalho. Esta norma está

respaldada legal, ordinária e especificamente pelos artigos 184 e 186 da CLT.

NR 13 - Caldeiras e Vasos de Pressão: Reúne os requisitos técnico-

legais relativos à instalação, operação e manutenção de caldeiras e vasos de

pressão que deverão ser atendidos para prevenir a ocorrência de acidentes do

trabalho. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente pelos

artigos 187 e 188 da CLT.

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NR 14 - Fornos: Estabelece as recomendações técnicos-legais

pertinentes à construção, operação e manutenção de fornos industriais nos

ambientes de trabalho. Esta norma está respaldada legal, ordinária e

especificamente pelo artigo 187 da CLT.

NR 15 - Atividades e Operações Insalubres: Caracteriza as atividades,

operações e agentes insalubres, inclusive seus limites de tolerância, definindo,

assim, as situações que, quando expostos os trabalhadores, ensejam a

caracterização do exercício insalubre, e também os meios de proteger os

trabalhadores de tais exposições nocivas à sua saúde. Esta norma está

respaldada legal, ordinária e especificamente pelos artigos 189 e 192 da CLT.

NR 16 - Atividades e Operações Perigosas: Regulamenta as atividades

e as operações consideradas perigosas, estipulando as devidas recomendações

prevencionistas. O Anexo n° 01: “Explosivos”, e n° 02: “Inflamáveis”, respaldam-

se, respectivamente, nos artigos 193 a 197 da CLT. A Lei n° 7.369, de 1985,

definiu a energia elétrica como sendo o 3° agente periculoso e instituiu o adicional

de periculosidade para os profissionais da área de eletricidade. A portaria MTb n°

3.393 de 17 de dezembro de 1987, numa atitude casuística e decorrente do

famoso acidente com o Césio 137 em Goiânia, veio a enquadrar as radiações

ionozantes, como o 4° agente periculoso.

NR 17 - Ergonomia: Visa estabelecer parâmetros que permitam a

adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos

trabalhadores, de modo a proporcionar conforto, segurança e desempenho

eficiente. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente pelos

artigos 198 e 199 da CLT.

NR 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção: Relaciona as diretrizes de ordem administrativa, de planejamento de

organização, que tenham por objetivo a implementação de medidas de controle e

sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio

ambiente de trabalho na indústria da construção civil, através do Programa de

Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção - PCMAT.

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Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente pelo artigo 200

inciso I da CLT.

NR 19 - Explosivos: Regulamenta as condições acerca do depósito,

manuseio e transporte de explosivos, objetivando a proteção da saúde e da

integridade física dos trabalhadores nos ambientes de trabalho. Esta norma está

respaldada legal, ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso II da CLT.

NR 20 - Líquidos Combustíveis e Inflamáveis: Regulamenta as

condições acerca do armazenamento, manuseio e transporte de líquidos

combustíveis e inflamáveis, objetivando a proteção da saúde e da integridade

física dos trabalhadores nos ambientes de trabalho. Esta norma está respaldada

legal, ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso II da CLT.

NR 21 - Trabalho a Céu Aberto: Caracteriza as medidas

prevencionistas relacionadas com as atividades desenvolvidas a céu aberto, tais

como, em minas ao ar livre e em pedreiras. Esta norma está respaldada legal,

ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso IV da CLT.

NR 22 - Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: Estabelece

métodos de segurança a serem observados pelas empresas que desenvolvam

trabalhos subterrâneos, de modo a proporcionar a seus empregados satisfatórias

condições de Segurança e Medicina do Trabalho. Esta norma está respaldada

legal, ordinária e especificamente pelos artigos 200 inciso III e 293 a 301 da CLT.

NR 23 - Proteção Contra Incêndios: Estabelece as medidas de

proteção contra Incêndios que devem dispor os locais de trabalho, visando à

prevenção da saúde e da integridade física dos trabalhadores. Esta norma está

respaldada legal, ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso IV da CLT.

NR 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho:

Determina as condições de higiene e de conforto a serem observados nos locais

de trabalho, especialmente no que se refere a: banheiros, vestiários, refeitórios,

cozinhas, alojamentos e água potável, visando a higiene dos locais de trabalho e

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a proteção à saúde dos trabalhadores. Esta norma está respaldada legal,

ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso VII da CLT.

NR 25 - Resíduos Industriais: Determina medidas preventivas a serem

observadas, pelas empresas, na destinação final dos resíduos industriais

resultantes de suas operações, de modo a proteger a saúde e a integridade física

dos trabalhadores, bem como do meio ambiente. Esta norma está respaldada

legal, ordinária e especificamente pelo artigo 200 inciso VII da CLT.

NR 26 - Sinalização de Segurança: Define a padronização de cores a

serem utilizadas na sinalização de segurança, de modo a proteger a saúde e a

integridade física dos trabalhadores. Esta norma está respaldada legal, ordinária e

especificamente pelo artigo 200 inciso VIII da CLT.

NR 27 - Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no

Ministério do Trabalho: Define os requisitos a serem satisfeitos pelo profissional

que desejar exercer as funções de técnico de segurança do trabalho, em especial

no que diz respeito ao seu registro profissional como tal, junto ao Ministério do

Trabalho. A fundamentação legal, ordinária e específica, tem seu embasamento

jurídico assegurado través do artigo 3° da lei n° 7.410, de 27 de novembro de

1985, regulamentado pelo artigo 7° do Decreto n° 92.530 de 9 de abril de 1986.

NR 28 - Fiscalização e Penalidades: Estabelece os procedimentos a

serem adotados pela fiscalização trabalhista de Segurança e Medicina do

Trabalho, tanto no que diz respeito à concessão de prazos às empresas, quanto

no que diz respeito à concessão de prazos às empresas para a correção das

irregularidades técnicas, como também, no que concerne ao procedimento de

autuação por infração às Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do

Trabalho. Esta norma está respaldada legal, ordinária e especificamente pelo

artigo 201 da CLT, com as alterações que lhe foram dadas pelo artigo 2° da Lei n°

7.855 de 24 de outubro de 1989, que institui o Bônus do Tesouro Nacional - BTN,

como valor monetário a ser utilizado na cobrança de multas, e posteriormente,

pelo artigo 1° da Lei n° 8.383 de 30 de dezembro de 1991, especificamente no

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tocante à instituição da Unidade Fiscal de Referência - UFIR, como valor

monetário a ser utilizado na cobrança de multas em substituição ao BTN.

NR 29 - Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: Visa regular a

proteção contra acidentes e doenças profissionais, facilitar os primeiro socorros a

acidentados e alcançar as melhores condições de segurança e saúde aos

trabalhadores portuários. As disposições contidas nesta NR aplicam-se aos

portuários em operações tanto a bordo como em terra, assim como aos demais

trabalhadores que exerçam atividades nos portos organizados e instalações

portuárias de uso privativo e retroportuárias, situadas dentro ou fora da área do

porto organizado. A sua existência jurídica está assegurada através da Medida

Provisória n° 1.575-6, de 27/11/97, do artigo 200 da CLT e do Decreto n° 99.534,

de 19/09/90 que promulga a Convenção n° 152 da OIT.

NR 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário: Destina-se aos

trabalhadores de embarcação comercial utilizada no transporte de mercadorias ou

de passageiros, na navegação marítima de longo curso, na cabotagem, na

navegação interior, no serviço de reboque em alto-mar, bem como em

plataformas marítimas e fluviais, quando em deslocamento, e embarcações de

apoio marítimo e portuário. A observância desta NR não desobriga as empresas

do cumprimento de outras disposições legais com relação à matéria e outras

oriundas de convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho.

NR 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária

Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura: Estabelece os preceitos a serem

observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar

compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da agricultura,

pecuária, silvicultura, exploração florestal e aqüicultura com a segurança e saúde

e meio ambiente do trabalho. A sua existência jurídica é assegurada por meio do

artigo 13 da Lei nº. 5.889, de 8 de junho de 1973.

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NR 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde:

Estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à

segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como

daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral.

NR 33 - Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados:

Estabelece os pré-requisitos mínimos para identificação de espaços confinados e

o reconhecimento, avaliação, monitoramento e controle dos riscos existentes, de

forma a garantir permanentemente a segurança e saúde dos trabalhadores que

interagem direta ou indiretamente nestes espaços.

NR 34 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção e Reparação Naval: Estabelece os requisitos mínimos e as medidas

de proteção à segurança, à saúde e ao meio ambiente de trabalho nas atividades

da indústria de construção e reparação naval.

Vale ressaltar que as Normas regulamentadoras têm relação com o

que a literatura específica da área de Segurança do Trabalho convencionou

classificar como “Ato Inseguro” e “Condição Insegura de Trabalho”. Esta relação

pode se acontecer de forma direta, como no caso específico da NR 28 – Infrações

e Penalidades, como de forma indireta, a exemplo da NR 27 - Registro

Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho no Ministério do Trabalho.

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CAPÍTULO IV

AS ESTATÍSTICAS DOS PROCESSOS TRABALHISTAS

Como não há um estudo específico acerca da correlação entre os

procedimentos de segurança e medicina do trabalho e as questões trabalhistas, a

alternativa foi a realização de um trabalho de campo, onde foram analisados

diversos autos processuais da Justiça do Trabalho do Estado do Rio de Janeiro,

no âmbito do Tribunal Regional do Estado do Rio de Janeiro – TRT/RJ, no intuito

de obter um perfil do processo trabalhista motivado exclusivamente por questões

de segurança e medicina do trabalho, visando sobretudo “desafogar” a justiça

trabalhista, na medida em que, conhecendo-se uma das causas das ações

trabalhistas, poderíamos propor soluções para evitar seus efeitos.

Já foi dito que a “Condição Insegura de Trabalho” é compreendida

quando o ambiente de trabalho apresenta risco à integridade física ou a saúde do

trabalhador, ou a ambas ao mesmo tempo, através de falhas, irregularidades

técnico-operacionais, defeitos, vícios, etc. As condições inseguras não se

confundem com os riscos inerentes de determinadas atividades, a exemplo

da corrente elétrica inerente às redes de telefonia aérea, seja a corrente própria

dos circuitos telefônicos, seja àquela presente nas redes das distribuidoras de

energia elétrica. Como exemplos clássicos de condição insegura, podemos citar

os seguintes: instalações elétricas inadequadas, nível de ruído inadequado,

iluminação inadequada, etc.

Sendo assim, não obstante haja atividades caracterizadas como sendo

de risco inerente, seja em função de aspectos intrínsecos da atividade, ou em

função de influências externas, ou mesmo de ambos, muitas outras atividades

são delineadas pelo “ato inseguro” ou pela “condição insegura de trabalho”.

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Com base na análise dos autos processuais trabalhistas arquivados de

uma determinada Junta de Conciliação e Julgamento do Estado do Rio de Janeiro

no ano de 2007, constatou-se que aproximadamente 9% dos autos apreciados

foram motivados por questões diretamente ligadas à segurança e medicina do

trabalho, a saber:

- Insalubridade: 40,54%

- Periculosidade: 27,02%

- Estabilidade (CIPA, licenciado, gestante): 13,51%

- Acidentes diversos: 10,81%

- Acidente resultante de Condição Insegura: 5,40%

- Acidente resultante de Ato Inseguro: 2,70%

A análise estatística do universo de processos que teriam alguma

relação direta com as questões de segurança e medicina do trabalho demonstra

que a insalubridade é o principal fator motivador dessas causas trabalhistas, ou

seja, o empregador ainda insiste em desrespeitar as condições adequadas de

trabalho que visam o bem estar do trabalhador. As causas explicitam a

provocação de um ambiente inseguro de trabalho, uma vez que os EPIs e EPCs

são constantemente sonegados pelo empregador.

Não raro o empregado, através do escritório de advocacia contratado,

pleiteia a periculosidade juntamente com a insalubridade, muito embora seja do

conhecimento geral que apenas um dos percentuais será deferido, caso a Justiça

assim o entenda. Mas é fato que as causas ensejadas pela periculosidade

estejam também no topo da lista dos processos trabalhistas analisados.

No que tange às questões diretamente ligadas à estabilidade,

observamos que muitos empregadores simplesmente ignoram a estabilidade

provisória da gestante, do membro da CIPA e dos obreiros afastados por motivo

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de saúde, afastamento esse que pode ter se dado em função inclusive de uma

condição adversa de trabalho.

Os acidentes “normais” de um ambiente laboral, ou mesmos aqueles

provenientes dos deslocamentos dos trabalhadores – acidente de trajeto -

contribuem com aproximadamente 11% nas estatísticas, sendo esses

caracterizados principalmente pela imprevisibilidade. Ninguém sabe quando cairá

ao descer uma escada ou será atingido por uma colisão no trânsito.

Já os acidentes decorrentes da “condição insegura” e do “ato inseguro”

são previsíveis, haja vista que as normas regulamentadoras de segurança e

medicina do trabalho, em especial a NR 15 - Atividades e Operações Insalubres e

a NR 16 - Atividades e Operações Perigosas prevêem uma série de atividades

onde condições especiais de trabalho deveriam ser observadas.

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CONCLUSÃO

A despeito do que as estatísticas dos processos trabalhistas motivados

por questões diretamente ligadas à segurança e medicina do trabalho possam

demonstrar - vide Anexo II - é provável que um acidente do trabalho grave, onde

estivesse configurado o “ato inseguro”, fosse “ignorado” pelo empregador, haja

vista que há um entendimento paternalista de que o obreiro já teria sofrido o

suficiente com as conseqüências do mesmo.

O grau de responsabilização do empregado quanto à infração às

normas de segurança e medicina do trabalho pode ser sensivelmente modificado

devido justamente a essa benevolência por parte do empregador em não atrelar a

responsabilidade do empregado ao seu “ato inseguro”. Com isso, muitos

acidentes que tiveram como causa principal a imprudência ou imperícia do

trabalhador podem acabar caindo na “vala comum” do acidente do trabalho

genérico.

Segundo o Art. 158 da CLT, os empregados devem observar as

normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções dadas

através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar

acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais. Também devem colaborar com a

empresa na aplicação dos dispositivos previstos no Capítulo V da CLT.

O parágrafo único do referido artigo considera ato faltoso do

empregado a recusa injustificada à observância das instruções expedidas pelo

empregador, bem como ao uso dos equipamentos de proteção individual

fornecidos pela empresa.

No entanto, devido à profusão de normas, decretos, enfim, de toda a

legislação à disposição dos profissionais que necessitam de esclarecimentos

quanto às questões de segurança e saúde no trabalho, vale ressaltar a

importância do que determina a alínea “d” do subitem 6.6.1 da NR 6: “orientar e

treinar o trabalhador sobre o uso adequado, guarda e conservação”.

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O empregador não deve esperar que apenas o trabalhador busque

orientação e esclarecimento na legislação para agir. Deve sim se antecipar e

prover orientação e treinamento aos seus empregados, visando inclusive uma

diminuição considerável dos litígios trabalhistas motivados por divergências

quanto aos preceitos e normas de segurança e saúde no trabalho. É adotar, em

suma, uma postura prevencionista.

Os processos motivados pela chamada “condição insegura”, segundo

as estatísticas levantadas, representam o dobro daqueles motivados pelo

chamado “ato inseguro”, ou seja, aqui o empregador tende a ser, no mínimo, mais

negligente que o empregado.

Também de acordo com os dados coletados na pesquisa, ficou claro

que as principais questões que ensejaram os processos trabalhistas no âmbito da

segurança e medicina do trabalho foram àquelas relativas à insalubridade e

periculosidade, nessa ordem.

Sendo assim, os números da pesquisa referentes à “condição

insegura” poderiam ser perfeitamente alterados, pois o simples fato de um

processo ser julgado e deferido, assegurando aos seus postulantes os

respectivos percentuais de insalubridade e periculosidade, não afasta a

possibilidade de ocorrerem mais adiante doenças ocupacionais resultantes do

trabalho. A LER e DORT são as siglas para Lesões por Esforços Repetitivos e

Distúrbios Osteo-musculares Relacionados ao Trabalho que podem não ter

sintomas imediatos, ou seja, podem vir a se manifestar mesmo após o empregado

ter se afastado da atividade.

Ainda que os dados da pesquisa demonstrem ser o “ato inseguro” o

“menor dos problemas”, haja vista sua menor incidência em comparação as

outras causas analisadas, ainda assim, de acordo com a nossa legislação,

“constitui ato faltoso do empregado a recusa injustificada à observância das

instruções expedidas pelo empregador”.

O ato faltoso poderá ser punido com “justa causa” quando

perfeitamente caracterizado. Portanto as punições podem ir de Advertência

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Verbal até a Demissão por Justa Causa. No entanto, o ato faltoso deve ser

perfeitamente caracterizado para ser revertido em justa causa, o que passa ao

largo da “condição insegura”, ou seja, o empregador não tem o poder de obrigar

um trabalhador a se expor em um ambiente inseguro de trabalho, ainda mais se

valendo da prerrogativa da justa causa.

Dito isso, a simples recusa por parte do empregado em trabalhar em

“condições inseguras” não poderia acarretar em sua demissão por justa causa,

pois as possibilidades legais que permitem esta modalidade de dispensa estão

relacionadas no artigo 482 da CLT.

No que diz respeito à possibilidade de garantia de emprego ao serem

observadas “condições inseguras” de trabalho pelo órgão fiscalizador, conclui-se

que a simples constatação de ambiente inseguro não pode ser entendida como

característica determinante da estabilidade no emprego, haja vista que a

Constituição Federal é taxativa quanto às possibilidades de proteção do emprego

do trabalhador.

A segurança no emprego, tecnicamente expressada como estabilidade,

pode ser entendida como sendo uma restrição ao direito potestativo dos

empregadores de dispensarem os seus empregados, restrição esta que não

possui como um de seus pilares a “condição insegura de trabalho”.

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BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até a

Ementa Constitucional nº XX.

BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação

das Leis do Trabalho – CLT. Atualizado até Lei nº 12.619 de 2012.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 19, de 04 de junho de 1998. Modifica o regime

e dispõe sobre princípios e normas da Administração Pública, servidores e

agentes políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de

atividades a cargo do Distrito Federal, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Titulo II

da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do

trabalho e dá outras providências.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis. Ed. Vozes. 2005.

MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES,

Romeu. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro. Ed.

Vozes. 2009.

RIO DE JANEIRO. Decreto Estadual nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o

Regulamento da Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro. Atualizado até

o Decreto nº 4.032 de 26 de novembro de 2001.

SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Constitucional do Trabalho. Rio de Janeiro. Ed.

Renovar. 2010.

http://www.ibge.gov.br/concla/default.php. Acesso em 03/05/2012.

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http://asegurancadotrabalhador.blogspot.com.br/2009/05/atos-inseguros-e-

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http://www.tst.jus.br/web/trabalhoseguro/inicio. Acesso em 30/04/2012.

http://www.normaslegais.com.br. Acesso em 25/05/2012.

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ANEXOS

ANEXO I

Gradação das Multas (em UFIR)

Nº empregados Segurança do Trabalho Medicina do Trabalho

I1 I2 I3 I4 I1 I2 I3 I4

1-10 630-729 1129-1393 1691-2091 2252-2792 378-428 676-839 1015-1524 1350-1680

11-25 730-830 1394-1664 2092-2495 2793-3334 429-498 840-1002 1255-1500 1681-1998

26-50 831-963 1665-1935 2496-2898 3335-3876 499-580 1003-1166 1501-1746 1999-2320

51-100 964-1104 1936-2200 2899-3302 3877-4418 581-662 1167-1324 1747-1986 2321-2648

101-250 1105-1241 2201-2471 3303-3718 4419-4948 663-744 1325-1482 1987-2225 2649-2976

251-500 1242-1374 2472-2748 3719-4121 4949-5490 745-826 1483-1646 2226-2471 2977-3297

501-1000 1375-1507 2749-3020 4122-4525 5491-6033 827-906 1647-1810 2472-2717 3298-3618

mais de 1000 1508-1646 3021-3284 4526-4929 6034-6304 907-990 1811-1973 2718-2957 3619-3782

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ANEXO II

Gráfico dos processos trabalhistas motivados por questões de segurança e medicina no trabalho (em percentuais)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

insalubridade

periculosidade

estabilidade

acidentes genéricos

acidentes - ato inseguro

acidentes - condição insegura

Colunas 1

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ÍNDICE

RESUMO................................................................................................................ 5

METODOLOGIA..................................................................................................... 6

SUMÁRIO............................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO.......................................................................................................10

CAPÍTULO I

OS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E A ISENÇÃO DE

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADO...........................................................14

1.1 – BREVE HISTÓRICO DO ACIDENTE DO TRABALHO NO

BRASIL..................................................................................................................15

1.2 O “ATO INSEGURO” E A “CONDIÇÃO INSEGURA DE

TRABALHO”.........................................................................................................17

1.2.1 – A NR-6 e o Equipamento de Proteção Individual..................................19

CAPÍTULO II

A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR QUANTO ÀS INFRAÇÕES ÀS

NORMAS REGULAMENTARES...........................................................................22

2.1 – A NR-28 E A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR NA

PREVENÇÃO DOS ACIDENTES DO TRABALHO.............................................22

2.2 – NR-1 e NR-6 E AS IMPLICAÇÕES NA RESPONSABILIZAÇÃO DO

EMPREGADOR NA PREVENÇÃO DOS ACIDENTES DO TRABALHO.............24

2.3 – JUSTA CAUSA E ESTABILIDADE DO EMPREGADO EM CONDIÇÕES

INSEGURAS DE TRABALHO...............................................................................27

CAPÍTULO III

RESUMO DAS NORMAS REGULAMENTADORAS............................................30

CAPÍTULO IV

AS ESTATÍSTICAS DOS PROCESSOS TRABALHISTAS..................................38

CONCLUSÃO........................................................................................................41

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................44

ANEXOS................................................................................................................46