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    UMA SOCIOLOGIA DO TRABALHO SEM 0 TRA-BALHO?

    Fernando Ponte de Sousa*

    RESUMO

    artigo discute e sugere que o parad oxo, a possibilidad e da sociologiado trabalho sem o trabalho, é parte do seu próprio objeto. Para isso, consideraainda que o trabalho como funcionalidade moral,ética

    ou esteticam ente ex-plicável em si mesmo é uma idéia; o que se coloca é o trabalho como merca-doria fetichizada, e o desafio m aior da sociologia do traba lho está principal-m ente em contribuir na exposição de tal fetichização.

    INTRODUÇÃO

    Analisar, especializada e isoladamente, a sociologia do trabalho comociência de u m sujeito un ificado, nãoé o que se propõe neste texto, mas sim,refletir sobre seu objeto m esm o, a sociedad e centrada no trabalho, que paracerta sociologia já não m ais existe. Se a ssim considerad o,o que nos resta en-tão, um a sociologia do trabalho semo trabalho?

    preciso abordar aquestão na perspectiva de tendências paradoxais dasociedade contemporânea, historicamente datada, para não absolutizarmosfenômenos e imaginarmos um noum eno pós-m oderno a substituir como re-curso (não) explicativo a mágica da sociedade moderna: sem o trabalho esem desmanchar-se no ar.Aliás tal questionam ento nãoé especificoda socio-logia do trabalho remete-se sociologia em geral uma sociologia sem a ca-tegoria trabalho. Isso indicaria a idé ia de a sociabilidade n ão ser algo igual asi m esma, separadas por um corteimaginário a cindir rad icalmen te o com-portamento orientado por fins determinados um agir técnico vinculado aotrabalho, e o comportamento comunicativo interação entre os homens media-tizados por regras (Giannotti, 1989, p.20).Esse é o impasse metodológicodasociologia não abandonando a representação deve-se torná -la como objetoseparado do seu corpo.

    Prof. Dr. Adjunto do Depa rtamento de Ciências Sociais da UFSC.

    Revista de Ciências Humanas Vol. 10, No 14 1993

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    SOCIEDADE EM QUESTÃO

    Talvez não seja de agora tal suposto, dado que o interesse pelo agir so-cial centrado no trabalho, quer dizer, pelo que ends:, se cham ou de sociedade,

    já era manifesto pelos primeiros fisicos sociais da era das revoluções, dosfisiocratas franceses, passando pela ilustração, aos cibernéticos da atual vi-rada de século, do trabalho agrário a atividade robótica, quer dizer, o lugar etempo do trabalho na sociedade, e do lucro privado no desenvolvimento eco-nômico. Desde a época, como entende Hobsbawn 1982), em que a politicaengatada no lucro, tinha o dinheiro com o fala e como governo . E desdeentãoa representação precisa distinguir-se do seu corpo - com a desintegração queBalzac conta na A comédia humana - excetuavam-se os lagos da trocabili-

    dade que precisavam ser garantidos de antemão como convertibilidade, ouro epapel-moeda.A articulação dialética daquilo que foi separado, a vida espiritual em

    geral e as bases m ateriais, tem no conceito de trabalho a elucidação do ardil,isso se busca o sujeito vivo - vale dizer, concreto e imediato que se remetenatureza hu mana - con tra as abstrações. Afinal, é relativo aos sujeitos vivos,concretos, que o trabalho pode ser definido como um ato que se passa entre ohomem e a natureza, e tem sido a principal categoria da sociologia, funda-mentando o estudo da apropriação real, da apropriação da natureza por inter-médio das forças produtivas de uma forma social determinada, sendo funda-mental tamb ém para a compreensão da estrutura econômica de um modo deprodução e para a formulação das teorias de sua transição.

    Na tradição hegeliana, o ardil seria conciliar o inconciliável, que sob acritica de Marx seria conceber a riqueza e o poder (do Estado) com o entidadesalienadas do ser humano na história da produção do pensamento abstrato, cujaapropriação ocorre apenas na consciência, como m ovimento do pensam ento.Mas fascinante como na Fenomenologia do Espirito, Hegel mostra clara-mente a dialética da negatividade com o principio criador e motor, a auto-cria-gdo do hom em com o um processo, a objetivagdo como perda do objeto, comoalienação e transcendência dessa alienação e, por isso expõe a natureza dotrabalho e o hom em concebido como resultado deste. Desta forma, o trabalhoé essência auto-confirmadora do homem. Assim, Hegel observa o aspectopositivo do trabalho, auto-criação e não o seu aspecto negativo.

    M arx propõe outro percurso para a mesm a atividade, alterando-lhe anatureza social, embora m antendo-lhe o valor antropológico de auto-criação

    hum ana. Na realidade, M arx vincula o trabalho ao uso daforça de trabalho,vendida e consum ida pelo comprador, fazendo-a trabalhar, transformando emação o que antes só era em potência materializada em valor de uso e merca-doria, para que se efetue ao capitalista e sob seu controle. Posto assim , meto-dologicamente falando, o trabalho não é separado da forma social capitalista

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    em que se reveste, mas como processo é o que deve ser analisado de inicioque desembocae se extingue no produto, e com este confundindo-se. Por-tanto,o que no trabalhador era dinamismo agora no produtoé quietude. Éoprocesso de alienaçãoque se realiza no trabalho e na divisão do trabalho;otrabalho eseus produtos assumem uma existência à parte do homem, de suvontade, cuja conciliação, teoricamente, só se realiza como categoria dialé

    ardilmente, diria G iannotti. Enquantoo homem se torna, pois, alienado de simesmo,o produto do seu trabalho 6-lhe estranhoe racionalmente dominador,mas, paradoxalmente, impera com os novos lagos, libertandoo indivíduodascadeias do tradicionalismo, tornando dupla a revolução, da economiae da ra-zio, embora distintas como corpoe representação, dai nãoser algo igual a simesmo como já assinalado anteriormente.

    Mesmo considerando esta distinção, as tradições clássicas da sociologabordamo trabalho como fato sociológico fundamental embora partam delugares distintose façampercursos - representações - diferentes.E talvez aiorigina-se aindao ardil, apresentando-se agora como paradoxo, não só a so-ciologia, mas a própria sociedade que se ergueu como trabalhoe semo traba-lhose apresenta.

    Para Clauss Offe, da Faculdade de Sociologia da Universidade de Blefeld,

    As respostas fornecidas entreo final do século XVIIIe ofinalda I Guerra Mundial as questões relativas aosprincípios orga-nizativosda dinâmicadas estruturas sociais, certamente chega-remos à conclusão de que ao trabalho foi atribuídauma posi-gio-chave na teoria sociológica (Offe, 1989, p.5).

    Marx, Webere Durkheim, exemplificadamente,para Offe, têm comoponto focal de suas contribuições, embora com diferenças metodológicas, a

    sociedade conflituosa do trabalho.Hoje, a questão central 6: ainda podemos preservar esta preocupaçã

    'materialista' dos clássicos da sociologia? (p.5). 0 autor não discorda que sociedade econômica,o trabalho livre assalariado, divide com a proprie-dade privada a esfera da produção. Releva a importância da contribuição dW eber sancionando teologicamente com um statusético a esfera do ganhono mercado; ressalta a originalidade de Durkheim ao propor adivisão de tra-balho como uma nova fonte de solidariedade e, finalmente, considera a anlise que Marx faz dadistinção conceitualentre os processos de produçãoe de valorização . Entretanto, Offe considera sociologicamentequestionávelexatamente estas questões fundantes da entãofísica social , em especial otrabalho assalariadoe suas contradições com poder de determinação.

    De fato, de forma mais abrangente,se as contradiçõesestiverem vincu-ladasao Estado num caráterde totalidade superior, onde se resolvem ou se

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    de renda, qualificações e indicadores de referenciais sociais; a diferenciaçãointerna do conjunto dos trabalhadores e a erosão de um a identidade coletiva;e, as diferenças entre formas de trabalho produtivas e de serviços, enfatizadaspelos sociológicos do trabalho, trazendo um outro paradigma , a sociedade de

    serviços, pós-industrial, ou, base para a sociedade que já não seria, semo tra-balho. Deve-seentão perguntar: o que seria então a atual sociabilidade?Desta forma, a questão, a nosso ver, vai além de se perguntar o que ca-

    racteriza a atual sociedade como explicativa de uma teoria sociológica detransformação do seu objeto. Os paradigmas hoje postos como superadosforam aqueles erguidos originariamente com a sociedadee sua ciência, a so-ciologia. Credenciando-se novos paradigmas, os da era pós-industrial, dosserviços, descredencia-se o modelo matriz, que sustentava sua ciência, aqueleque veio em oposição

    ao conceito de nobreza, isto 6, a sociedade, construídana era das revoluções da economia feudal para a economia burguesa. Logo,sem o trabalho, a sociologia não fica tamb ém sem a sociedade? Esteé o im -passe posto p ela sociabilidade emquestão.

    As manifestações empíricas desta sociabilidade são apontadas comofundamentos não da negação da sociedade, mas de uma dada sociedade, a

    sociedade do trabalho , pela sociedade capitalista industrial, altamentedesenvolvida e conduzida por um welfare state igualmente desenvolvido(Offe, 1989, p.16). Sociedade prognosticada como de drástico declínio nopotencial de absorção do mercado de trabalho (Op.cit., p.15), de redução dosperíodos médios de trabalho com o proporção de tempo de vidae perda da efi-cácia que o mecanismo do exército de reserva talvez aindaexerça. Em suma,tais manifestações colocariam emexposiçãoa crise da sociedade do trabalho,passando a exigir uma revisão na sua teoria sociológica, mas no âmbito dasociedade ainda legitimada , não mais pelo trabalho, mas pelas coisas que fa-zem a felicidade das pessoas: autono mia, auto-estima, felicidade familiar, la-zer livre de tensões, amizades (Op .cit., p.15). Noutras palavras, na ausênciadas categorias e conceitos relativos As relações de produção, a sociedade apre-senta-se com um alto grau de indeterminação em vastas regiões sociais a se-rem map eadas e explicadas po r outros conceitos.

    MODO DE PRODUÇÃO - MODOS DE VIDA

    Habermas tem sido citado como o autor de um a prop osta teórica quesatisfaria esta necessidade, justamente pelo seu afastamento dos pa radigmas

    teóricos clássicos, aposentando a epistemologia do trabalho , assim comoFoucault, Tourraine e Gorz, que não mais equiparam desenvolvimento dasforças produtivas com a emancipação humana.

    Com o acentua o próprio Offe 1989), postas desta m aneira, o uso dedicotomias, como modo de produção versus modos de vida ,

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    distribuição versus formas de vida , valores m aterialistas versus psis-m aterialistas , carrega algum as dificuldad esno âmbi to m esmodo conceitodesociedade. Sua prim eira fraqueza seria que,no âmb ito d a sociedade burguesa,as dimensões do trabalho e da produção são bastante conhecidas (Idem,p.19), enqu an to as estruturas e atores no dom inio da forma de vida , siom uito men os claros. E sua segund a fraqueza seriamas dicotom ias quese re-duzem a classificações ad hoc , sem um a teoria damudançasocial, com no-vos camp osde ação, novos atores enovas formas de racionalidade.

    Na realidade, não se pode ignorar que as transform ações geradas n asociedade industrial atual , que configuram a civilização cientifico-técnico,colocam sérias questões quan toà população trabalhadora,à natureza técnica eeconômicado processo produtivo,à reconceituaçãode sociedadecivil, is re-presentações e s ações intersubjetivas, que requerematenção dos cientistassociais, porque não esta em jogo apenas a modelagem de uma nova socie-dade, com o já bem apontavaFriedmann (1973), no âmbito da sociologia dotrabalho. Para nós é po ssivel que tend encialm ente, com o j i foi di to, esteja emjogo a sociedad e. E,se de um lado estio presentes elementos novos de soci-abilidade, de outro, roubam a cena os elem entosde barbárie ainda presentes eradicalizados como constitutivos da sociedade vigente e suas contradições,escopo não transparentede sua dinâmica.

    Pela sua não tran sparência,a economia burguesa tornaa sociedadefed-chizada e qu e, luz da sociologia positivista e tom ada m uitas vezes porcon-ceitos ad hoc quanto s po ssibilidade s das transform ações históricas.

    um a v isão m ecanic is taa da correspondên cia direta entre o mod odepensar e m odode trabalhar. A diversidadede consciências, opiniões e interes-ses, encontra com plicadores na d iversidad ede m odal idades , nas formasdedivisãosocial e técnica dotrabalho e suaarticulação atual coma sociedadedeconsum o. E possivel que o p róprio conceitode reificação , ao tratar da objeti-

    vagdo e ob jetividad e, abraespaço para a sobre determinaçãodo trabalho nãom ediat izada d ialet icam ente, quando na sociedade burguesa,lido se trata dotrabalho e do processo laborativo em geral, m asde uma forma socialdetermi-nada, o t rabalho hum ano ab strato cr iadorde valor e o processo de valorizacão portanto, nãose trata sim plesmentede ob jetivação, m as precisam entedereificação (Sochor , 1987, p.53-4). Nou tras palavra s, tal identificação épro-blernática na m edida em quea objetivação, enquan to perm anente aprop riaçãohu m ana, não ab rir ia possibi lidadea transitoriedade de sua forma reificada,m uito em bora, com o disse ainda Soch or (op.cit.), esta possater outras origensque não a estrutura d a sociedade b urguesa.

    Um a ap licação da correspondência m ecanicista entre mod ode pensar efazer, deriva assim da n ão d istinção acim a referida, possibilitandoum reduci-onismo histórico das formações sociais contemporâneas e abrindo caminhopara as postulações de conceitos que se constituiriam, em contrapartida, na

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    indeterminagdo,abstraindo a sociedaded e u m dada forma social historica-m ente situada. Portan to, énecessáriocon siderar, por exemplo, que a m enorsignificação do fato de ser em pregado , paracompreensãodas açõescultu-rais,

    organizacionais e políticas é mediatizada por fatores de forma-gdo/fragm entação de iden tidade, próprios da ob jetidade cultural que não deixaexpor aquilo que não se expressa em pregos. Assim , novas form as de iden ti-dad e, de organizaçãoe de efetividade do Estado parecem ser colocadas noespectro que ronda d iferenciad am ente, não só a Europa, m as hoje, todos osoutros continentes do sistema d e carências da sociedad e burguesa.

    SER SUJEITO

    Considerado o sistem ade ca rências da sociedade burguesa, quer dizer,as carências radicais, também considerados estão os sujeitos vivos, os queproduzem e que criam os instrum entos de produção e satisfação para suas ne-cessidades, tornando o trabalho algo mais do que um conceito normativo.T rata-se, portanto, de um a categoria explicativa cujo percurso, sob determ i-nad as form as sociais, é um recurso epistem ológico do ser sujeito - ser social -na desm istificação de uma sociedad e não transparente.

    Exatam ente neste percurso con sti tuem -se os indicadores das antigas enovas form as de identidades e efet ividades d os sujeitos, que se dão a onívelda dinâmicado movimento histórico e ao nível molecular dos movimentossociais.

    Atualmente é possívelque o sujeito social ou sujeitos sociais) con-forme a análise de Krischke 1989) e de alguns autores identificados com oindividualismo m etodológico (Elster, Przeworski), realiza conquistas m ole-culares y experiências parciales acum ulativas, en las cuales ejercita su propriacon struccion c om o sujeto social que antecipa el futuro frente a la historicidad

    de ias necessidadesno satisfechas por esta sociedad (Krischke, 1989, p.'75).Significa que sob novas formas de sociabilidade, urbanas por exemplo, asclasses sociais em diferentes relações de m ediação com o plano das nec essi-dad es, con stróem e recon stróem no vas identidad es e efetividades com o sujei-tos, num m odo d e apropriação cuja produção da barbá rie não é contingencial,m as inerente, com o gênese reprodutiva do m odo d e produção. Desta forma, asmodalidades de barbárie, longe de serem inevitabilidades da natureza hu-m ana, sãocontingênciashistóricas especificasde um a dad a objetivação, a da

    sociedade capitalista e de seu especifico sistema de carências e alienação.Nem determ inista , nem voluntarista (op.cit ., p.92), o con ceito de nec es-sidade é apontadoentão com o m ediação entrea sociedade e a política,semiimplicações reducionistas que desconsiderariam os fundam entos m icro-expli-cativos dos fenôm enos soc iais.

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    De fato, tal recursometodológicoé m uito interessante, A sociedad e, en-tretanto, é im portante destacar o cuidado com seus limites com o seu outrolado, que seria redu zir as categorias sociais datotalidade A s relações atomisti-cas tomando os novos sujeitos como contingenciaisou conjunturas a d adosm om entos sociais. A sociologia estaria salvacom os novos sujeitos, m as con-tinuaria sem o trabalho, o que seria também apresentar os novos sujeitoscomo epifenômenosou acessórios, enfim , suficientes Asanálises exclusiva-mente individualistase provisórias. Ora, para a sociologianão seria um a basefundante, visto que impõe uma dificuldad e lóg icaA ciência social que p recisade um sujeito dialeticamente unificado,com a d upla condiçãoque encerra oser sujeito, criatura e criador.

    Posto assim , propor aos ag entes coletivos dapráxis atual a condiçãodesujeitos dialeticamente unificados, implica em abordar alguns pressupostosdesta piáxis,com o se seguem .

    PRESSUPOSTOS

    Um dos pressupostos de fundam entalimportância conceitualà socio-logia diz respeito A forma de como os homens produzem socialmente suasvidas. Hom ens concretos, carentese vivos, são os que estabelecem ,indepen-

    dentes de sua exclusiva vontade,relações necessáriasa produção de sua exis-tência social. Sao relações que se estabelecem culturale historicam ente nosâmbitospolitico,jurídico, psicológicoe da estrutura econôm icada sociedade,que lhe dá r zão d e ser, e que em certa m edidadependerá de como se consti-tui a modalidade de propriedad e dos m eios que lhesão inerentes e impesso-ais. Destas relações erguem -se asforças prod utivas, com o conceito, porqu eexpressam relações concretas, sem as quaisnão há com o indagar, propor, ou

    buscar , na necessidade interna, um d esenvolvim entointrínseco da história

    das sociedades (Cardoso,1988, p.41).Por outro lado, mais um a vez é preciso cuidado com assimplificaçõesem , por exem plo,não reduzir ou limitar o conceito deforças produtivas ex-clusivamenteA sua form a técnica, especialm ente na atualépoca de significati-vos avanços cientifico-técnicos,abordad os m ais adiante. Estaobservaçãojus-tifica-se tam bé m pela existência d e diferentese variadas concepçõesdesteconceito, na medida que nos textos de arx tal definiçã o nãoaparece tãoformalizada, e sim , discutida. Mas, interessa aqui d estacar quenão limitandoo conceito deforças prod utivas ao arranjo de té cnicas, instrum entose proce-dimentos de produção, abre-se seu constructo A um a gam a variada deativida-des físicas e intelectuais, instrumentais e organizacionais dos homens nacumplicidadede sua divisãosocial e técnica na operação e gestã oda produ-ção, em outras palavras, na hominização.Quer d izer, as exigências dosho-mens como sujeitospressupõema conceituaçãode forças produtivas relativas

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    As relações sociais de produção - na cooperaçãoe no controle do trabalho.Desta forma, asforçasde produção podem ser propostas como base para ahistória, pressupondo aspectos objetivose subjetivos,relativos ao modo de

    produção, ao modo de vidae seus saberes.Metodologicamente,a questãoque se coloca hoje com mais evidênciaque no século anterior,é que tendencialmenteo tempo de trabalho necessáriotem sido menor, pelo desenvolvimento de tecnologiase operaçõesde controlee programaçãoda produçãoe sua qualidade, pela intervenção nas condiçõesadversas do meio-ambiente pelas maiores especializações e ao mesmotempo parcerias entre blocos hegemônicos acarretando com o aumentopopulacionalo aumento do trabalho improdutivo a ocupar, em atividades di-versas, parcelas ponderáveis da população. Tais condições, por si só justifcariam a inter/multidisciplinaridade cientifica daanáliseda realidade nos no-vos campos incorporados As relações de produção tais como, a biodiversidade o biopoder,o que não torna mais fácil ao contrário parece tornar maiscomplexa a análisedas representações dos interesses e de todo o mundoimaginário,de grandefascínio esedução intelectual, cujo pós-modernismoé afragrância atual de sua fetichização.

    Outro pressuposto que não deve ser ignorado refere-se aocaráterglobalda valorizaçãoe acumulaçãodo capital, cujo desempenho relativamente favo-rável vem do períodoposterior A Segunda Guerra Mundial. Trata-se de um.ciclo ou tal desempenho corresponderia a um novo padrão do sistema? Dependendo da resposta A esta indagação estaria em jogo a transformação estrutural ou a superação do capitalismo. Apossívelresposta, claro,influiráporconseqüência, naanáliseque se faz da realidade social dado que o pressu-postoé oque metodologicamente imprime perspectiva A mesma.

    Neste sentido, pondera-se aqui que a tendência mais provável, considerando-se os posicionamentos de diferentesanálisesde sociólogos e economis-tas, é que esta caracterizaçãobinária eantagônica nãose põe de maneiraimediata, faz-se de forma mediata. É preciso relevar que parte daargumenta- ão da perspectiva apologética sustentava-se na defesa do Estado do bem-estar, cujos recursos econômicos públicose privados, foram garantidos pela re-gulamentaçãoe pelo gerenciamento Estatal. Esta argumentaçãoé contraditó-ria A natureza liberal clássica do capitalismo, mas de qualquer forma seria correlata A tese de que tal intervenção foi esteio do surto de industrialização, qupor sua vez provocou profundas mudanças na humanidade possibilitandouma nova civilização, quer dizer, a vigência deprincípioseconômicos e poli-ticos novos. A sociedade industrial da opulência evoluiu A sociedade pós-idustrial, tercidriae quaternária,cientificae informacional,semo trabalho. Talenfoque, mesmo por esse viés, não deixa de ser uma espécie de fortalecimendo determinismo tecnológico como cultura dasforçasprodutivas.Um elogioA M arx? É mais lógico supor um reducionismo visto aexclusãodas media-

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    ções com o universo m ais amplo das relações sociais. Fica evidente que ar azão de ser m etodológica de talexclusão funda-se na consideração daforça demudanças e evoluções do capitalismo nele mesmo, permanente e infinita--mente alimentado pelo ba rulho dos seusêxitos como o veloz cavalo da mito-logia que tam bém alim entava-se do b arulho dos seus próprios cascos. A ex-clusdo da m ediações opera-se em colocar entre parênteses as contradiçõesebarbáries expostas na m anutenção da m iséria junto à maior concentração deriquezas privadas, nas questões raciais, na generalização d a delinqüência, nadestruição dos ecossistemas e na visível incapacidade dos governos de re-solvê-los, mesm o aqueles defeições mais democráticas.

    exatamente o cará ter contraditório da sociedade que, como pressu-posto sociológico poderá descortinar suas representações, m esmo conside-

    rando, inegavelmente, os avanços da revolução cientifico-técnica. Logo, se aatuação do E stado foi justificada por um determinado momento, não se efeti-vou assim apenas pelas pressões dos movimentosoperários, mas também pelanecessidade de valorização do capital, em especial nospaíses de capitalismotardio, que legitimavam o Estado, substituindo a com petição de preços pelo

    estabelecimento de pregos (Haberm as, 1980, p.53).M esmo na atual década de política monetarista neo-liberal as contradi-

    gões, agravadas com as recessões que se estabelecem na redivisdo internacio-

    nal do trabalho, fazem com que a competição de preços no mercado oligopo-lista tenha sua contrapartida no mercado de trabalho . Nas economias de capi-talismo tard io, sem poupança social, isso não se faz da mesma form a, diferen-tes que são as correlações deforças, onde o Estado ainda tem forte presençana tentativa de equalizar os con flitos permeados pela presença de ram osem-presariaisdependentes, trabalhadores desorganizados e marginalizados, pro-vocando crises permanentes nas finanças governamentais, ao lado da po-breza pública, (i.6., empobrecimento de transporte público, educação, habita-gdo e cuidados médicos) (op.cit., p.54).

    Se nas formações sociais desenvolvidas são remotas as possibilidadesdo capitalismo avançado se auto-transformar, nas econom ias de capitalismotardio, onde o Estado ainda atua como regulamentador do extermínio declasse, as possibilidades remotas não existem, mesmo que administrados osdistúrbios do crescimento capitalista.

    Posto assim , a sociologia não seria a m esma, ignorando a contradiçãoda produção socializada para fins particulares (op.cit., p.55). A cum plici-dade e os conflitos de classe assumem novas formaspolíticas que dependerãode com o as crises são adm inistradas no atual estágio de evolução das formasde trabalho e valorização do capital, ou seja, relativo à estes conceitos de inte-resse da sociologia, articula-se um outro:o poder.

    Neste estágio, de econom ia m onopólicae multinacional, ainda que de-sigualmente combinada com corporações familiares, locais e de atividades

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    mercantis m arginais, a m iséria espelha o excedente, em cuja irracionalidadeexplica-se a lógica e a ética do m ercado onde não são assimiladas com tran-qüilidade as mino rias nacionais e as nuvens de populações migratórias. Aosprob lemas superestruturais parecem deslocar-se energias da guerra de classes.M as, não seria isso supo r um a sociedade centrada no trabalho, negadora dopapel revolucionário da classe operária? Tal conclusão não seria imediata Aanterior, dado que os mecanismo s de adaptação também geram rejeição e re-beldia quando se tem uma consciência crítica destes. É possível esta consci-ência nascer dos setores m arginalizadose não necessariamente dos operáriosquando integrados ao sistema.

    Estas idéias partilhadas po r M arcuse e André Gorz explicariam que asociedade industrial, de abundância e exclusão, possibilitaria uma nova formade luta, mais avançada, ou seja, o controle operário para dirigir a produção e asociedade. Por outro lado, estas expressões de lutas mais setoriais não seriamnecessariamente excludentes as lutas sindicais m ais tradicionais.

    Outro aspecto a ser considerado , nestes pressupostose que por hipótesenão nega o s anteriores, é que talvez pelo estágio do alto grau de internaciona-lização e socializaçãoda produção, a compreensão do capitalismo atual passapelo estudo do capitalismo a nível mundial. Os conflitos locais em formasarcaicas ou novas, de alguma maneira não excluem determinadas variáveis docaráter monopolista da sociedade capitalista, de concentrações tecnológicas,econômico-financeirase de capital sem fronteiras.

    Visto assim, em termo s de evolução/supressão do trabalho , verifica-seque não é o avanço cientifico-tecnológico quedetermina a realização do capi-tal, mas ao contrário, os requisitos de centralização financeira, internacionali-zação do capital e intervenção estatal visam também desenvolver, patentear,privatizar e aplicar os avanços da evolução científico-técnica do trabalho.Logo, isto significa admitir as contradições entreo desenvolvimento de de-terminadas forças produtivas com a atual estrutura, primando pela não valori-zação do trabalho. Como ? Com base nas transformações tecnológicas, evoluipara serviço o trabalho mais qualificado, sofisticadoe intelectual, ou seja,para o não trabalho relativo na sua mais valia ao infinito (eliminandoo traba-lho vivo como base de valorização ,e involui para a desqualificação e extin-gdo do trabalho propriamente dito, junto As parcelas excluídas de tais avanços.

    Sem m enosprezo do s fatores degestão e adm inistração do desempenhoda produção, que podem inspirar uma nova sociologia do trabalho, agora

    sem o trabalho , o que está em jogo quando ocorre o que assinalamos

    acima, são crises de estruturação e reestruturação do processo de acumulaçãocapitalista. Do contrário seria supor o que não fo i constatado até o m omento,que a socialização do capital tivesse eliminado a propriedade privadae o re-gime de salários.

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    Se no limiar do século XXI o nãotrabalho ainda não conseguiu criaronão patrão,se o mesmo existe cabe lançara pergunta: afinal, para que serveeste? Talvez a resposta dependa a inda do trabalhoe dos trabalhadores, estaéa questão.Na sua perspectiva a resposta indica pelo menos que a lógica de

    ser dos patrões está na o rganização não igualitária do trabalho, onde astuições sociais polític s e econômicas,sustentam-se na organização hierdr-quica, cuja função socialé a acumulação E neste sentido que o contra-con-troleé fatoroperantee po liticamente fundamental para a sociologia co mprender as novas formas de mediação e participaçãosocial dos trabalhadores.Sem as quais mais difícilfica a lógica de ser de uma ciência social sem seusujeito unificado.

    Ainda a respeito da revolução cientifico -técnicaé preciso clareza na sua

    desmistificação . Voltamo s a frisar queo capital monop olista não p recisa dotrabalho cientifico-técnico para se desenvo lver, precisa sim da internalda econom ia para aplicar os seus avanços. Enfim, trata-se de umadetermina-ção dialéticae não unilateral, tendencialmente falando ,é o que faltavaacrescentar ao raciocinio anterior. Desta forma, fica patenteada a sepaentre os trabalhadorese os meios de produção no sentido técnico no pro-cesso de socialização da pro duçãodivisãosocial e técnica da produção), pro-vocado pelo desenvolvimento das forçasprodutivas com a introdução dasmáquinas.

    Esta determinação dialética, não unilateral, aqui ressaltada, destacprincipalmente a partir da segunda m etade do sé culo XX, quando a ciênusada como també m determinação para o rientação do processo deexpansãodos povos universalizando a revolução industrial. A evolução tecnológicatem sido fundamental na transform ação das relações que unem o s homsuas obras, mas não com o definidora das realidades sociais. Entretanto,sobremaneira nas Kbes humanas sobre a natureza externae com a ação daciência na tentativa de transformação universal de todas asforçasprodutivas,exercendo fungi:5es diretamente ligadas ao processo produtivo, influi nasocial com a reordenação daforçasde trabalhoe no tipo de educação neces-sária A sua reprodução .

    NOVAS BASES M ATERIAIS DAS CO NTRADIÇÕES

    Algumas implicações sociais surgem com a reordenação das forçasdetrabalho, apo ntando novas bases materiais das con tradições de classes aorm ente referidas. Para a suacompreensãoseguem-se alguns fatores de con-textualização.

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    1) 0 desenvolvimen to daconcentração e monopolizaçãoda economiase faz com o apr ofundamento de suas contradições sociais a indicar algunsfatores, tais como:a) as relações de dependência inter -países mercado, tecnologia e recursos

    hum anos), com o consolidação de formas de dominação, reacomodam-seem função das redefiniçõesda divisão internacional do trabalho outrospaíses expoentes e novas tecnologias, ampliação dos mercados, avanços daexploraçãorelativa do trabalho para exploraçãoabsoluta e grandes concen-trações urbanas;

    b) avanços tecnológicoscom destaque para o avanço da revolução cientifico-técnico - se antes a superação dos patamares do desenvolvimento eramprocessos de milhares de anos agora são poucos anos com o desenvolvi-

    mento da informática, micro-eletrônica, telecomunicações,novos materiais,biotecnologia, química fina, a influirem na tecnologia da produção materiale econômica,repercutindo também em novos pr ocessos de trabalho,profis-sões, cargos, ocupações e salários,configurando-se um desenho diferenteno conjunto das classes sociais, principalmente como crescimento das ati-vidades vinculadas ao trabalho intelectual;

    c) repercussões a nível politico, quer nas alterações das correlaçõesdas forçaspolíticas,quer nas representações ideológicase culturais;

    d) a satisfação das necessidades fundamentais cr iando novas nec essidadesnãose faz de maneira mecânica, esim dialética, na medida em q ueo sistema decarê ncias da sociedade secomplexifica;

    e) em sum a, ao lado da satisfação de setores da produção e do mercado, commaiores e diferentes exigências de consum o,há um aum ento da populaçãomarginalizada, desempregada e desassistida dos serviços sociais umverdadeiro genocídiode c lasse.

    2) Ao m esmo temp o que a inteligência se torna a m ais imp ortantemer-cadoria, o genocídiode classe é o modo mais selvagem de eliminação das

    pessoas.Com a evolução dos métodos de trabalho por meio de novos fatores

    tecnológicos, a produção é cada vez mais sofisticada, e exige homens maissofisticados. Nos países mais dependentes isto se processa por meio de umaformação e reciclagem da mão-de-obra, suficiente apenas p ara atender à de-manda de produção lucrativa, e não aos limites de exigências sociais maisamplas. Conseqüentemente, ocorre um aum ento do subempregoe do desem-prego, da mor talidade infantil, e dos indices deex luídos do processo produ-tivo e seus resultados.

    Por outro lado, o pais dependente não tem condições de acompanharcom oferta de serviços pú blicosa deman da dos milhares de miseráveis que

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    vão mo rrendo ano a ano , dia a dia, sem assistência àsaúde e sem seguro de-semprego realmente satisfatório.

    Em síntese, o sistema de produção econômicaassume sua configuraçãocomo forma enganosa deestabilização: a modernização, via os processos de

    trabalho e universalizaçã o e monop olizaçãodo mercado, carrega a concentra-gdo de renda e o genocídiode classe. No caso do Brasil isto se opera nocampo social exterminando milhares de pessoas como a maior de todas as

    violências já vividas.Modernidade , civilizaçãomo delar , p rimeiro mundo ,são exp res-

    sões com q ue diversos governos b rindam oscidadãos brasileiros,enquanto naprática o p ais descamb a do terceiro p arao quarto mundo no tocante as condi-ções de vida da população.

    Em 1990 a Am érica Latina bateu o recorde: duzentos e quatro milhõesde pessoas vivendo abaixo do limite de pobreza. Mais do que na Africa e naAsia que é de 15% o índicede abandono do ensino nas escolas primárias;4 4 % da força de trab alho está desemp regada o u subempregada. Sao indicesdo P rograma das NaçõesUnidas para o Desenvolvimentoe do Banco Intera-mericano de Desenvolvimento.

    Enquanto avança o desenvolvimento insustentável e regressivo osjuros - somente os juros - da divida externa latino-americana determinaram,

    entre 1982e 198 8,uma transferência liquida de cap ital da regido para os pai-ses credores de duzentos bilhões de dólares. Com isto o número absoluto depobres é 50% maior do que em 1960.

    relatório de 1991 da UNICEF aponta que metade dos recursos dospaíses em desenvolvimento é gasto com o p agamento de juros da divida ex-terna e despesas militares. Por isso mesmo segundo ainda a UNICEF maisde cem milhões de crianças que nascerão na próxima década vão morrer antesde comp letar cinco ano s de idade.

    Segundo o Banco M undial (1991)somos o terceiro p ais do m undo na

    concentração de renda e desigualdade social. Na frente do Brasil só mesmoHonduras e Serra Leoa. E o IBGE confirma a concentração de renda noBrasil atingiu no ano passado o índicemais alto já registrado: os 1 mais ri-cos da populaçãodetêm 17,3%do bo lo.

    Segundo informações divulgadas no 6° Congresso Brasileiro deGastro-enterologia Pediátrica e Nutrição , a cada dez m inutos um a criança morre pordiarréia na regido Nordeste. A crueldade não p ara ai, a UNI CE F confirma quea cada hora no B rasil uma criança morre po r não ter receb ido as v acinasobri-gatórias po r lei.

    Este paradoxo cristaliza-se no Brasil com a quase ausência deinvesti-mentos em ciência e educação . Co ntinuamos p atinando, vendo o sinvestimen-tos em ciência e tecnolo gia emníveis inferiores ao s de uma década atrás.

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    mesmo quadroé composto por outra tendência que torna mais gravea situação da população brasileira.

    aumento da pobrezae a intensificação da produção para a morte temse realizado de forma combinada com a relação campo versus cidade.

    Na regido Sul do pais, o IBGE já apontava no censo de 1980 umagrandeinversãodo quadro geo-populacional, reacional ao quadroeconômicoconfigurando a formação de novas demandas.

    Em inúmeras cidades do interior da regido Sul já se verifica no mesquadro geo-populacional das concentrações urbanas, uma configuração deocupações diferentes, ou seja, na média, a mão-de-obra ativa rural não ca 5 do total, enquanto a mão-de-obra ativa do ramosecundárioda economiajá chega a 15 e, é significativo,o tercidrioabsorve 35 da mão-de-obraativa. 0 restante da população vive agregada A população ativa vivendo dosubproduto de sua renda.

    Maso que se pretende destacaré que estes indices confirmam com estatendência de modificações nadivisão técnica do trabalho, a indicar uma novaestratificação de classes e, portanto, um vasto campo de ação política comexigências diferenciadas. Não que as classes não existam mais, ou que nãoexista mais arazãodos seus conflitos.

    A análiseconcreta aponta alterações na sua estratificaçãoe na cristali-

    zação de seus interessese conflitos. Épossívelque a classe operária,no sen-tido clássicoe tradicional, esteja emextinção,mas não a classe trabalhadora,notadamente mais sofisticadae intelectual porque a forma de propriedadecontinua privada, embora com novas bases materiais nasforçasde produção.

    Na realidade,trêsfatores tendenciais são inter-relacionados:1)A desocupação do campo, com o aumento das grandes propriedades apli-

    cadas na pecuária e/ou desenvolvimento da cultura extensiva, necessitacada vez mais de poucae especializada mão-de-obra.

    Para exemplificar, no Noroeste doParaná,cidades que não se susten-tam com o pólos de serviços, há trinta anos atrás, tinham trinta mil habittes,e hojeestãocom dez mil,e sem nenhuma perspectiva alternativa.

    2)Enquantoisto, nas cidades pólos, e não apenas nos grandes centros urba-nos, desenha-seo quadro do inchaço populacional numa combinação domodernoe do atrasado. Uma população com novo quadro estatísticodeocupações, espalhada nosespaçosurbanos em condiçõese valores que exi-gem novas identidades.

    3)Ao mesmo tempo que a formação de novos estratos em funçãodo cresci-mento das novas ocupações cria novos valores sonhos e necessidades devidae de consumo, especialmente para a juventude, que engloba hoje amaior parte dessa população, as cidades não apresentam todas as condipara esta expansãofísica ecultural. Ou seja, crescem demasiadamente asdemandas de consumo.

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    Sociologicamente dois elos unificam e organizam os homens, a produ-cdo e o consumo.

    e lo produtivo é o mais e studado, mais organizado na ação politica dasociedade civil, mais tradicional na intervenção sociológica. Mas,tão impor-

    tante quanto o elo produção, socialmente falando compreendendo fatoreseconômicos, politicose culturais), é o e lo consumo.Consumo não no sentido do consumismo mas dos serviços: alimenta

    cão moradia, transporte, e ducação, saúde , prote ção ambie ntal, lazere outros.Hoje, e ncontra-se também nas médiase até nas pequenas cidades problemasque se imaginava próprios dos grande s centros, problem as derivados da au-sência dos serviços acima mencionados, que fomentam a precariedade urbana,agravada em seus vários fatores, incluindo aquele que hoje mais preocupa apopulação: a violência.

    De sta forma, os conflitos de classe passam a ter um de senh o dife ren te.Hoje, o governador, o pre fe ito, instituições públicase encarregados de servi-ços se materializam como alvo de ação politica das massas, mais do que ospatrões. A politização da luta politica faz-se na politização das re ivindicaçõe sdos serviços que não acompanham em quantidadee qualidade o grande au-me nto das demandas urbanas.

    Ser cidadão não é ape nas se r sindicalizado produtor)e lutar por melho-res saldrios, sercidadão é também ser consumidor, e enquanto tal, ter efetiva-dos todos os se us direitos.

    Nas gestões politicas os pleitos eleitorais deixam de estar associadosapenas ao mundo produtivo através do partido de classe)e passam a se asso-ciar também ao mundo do consumo, espe cialme nte no B rasil, como aprofim-damento do grau de de sempre go, fome , mortalidadee outras mazelas.

    Trata-se de um campo de conflitos que exige um projeto que vai maisalém da classe ope rdria, trabalhadora,campesina)E um projeto para a socie-dade, e nglobando o cidaddo, o marginal, o excluido, os grupos diferenciadose descriminados, a mulher, o me io ambiente oimagindrio da juventude apaz, enfim , a vida.

    Entre tanto, pelas razõe s já apontadas, tais conflitosestão centrados nocardte r de classe da sociedade ,e seu e studo nãoé proje to de uma única ciên-cia e sua especialidade. No campo das ciências sociais a sociologia se obrigaa ampliar a sua interdisciplinaridade, apresentando a sociologia do trabalhomaiores complexidades como parte de sua lógica e não como parte de suaextinção.

    REORDENAÇÃO DAS FORÇAS DE TRABALHO

    Com relação ao grau de complexidades acima citado, a evolução dastécnicas produtivas que influenciam na nova ordem do trabalho, repercutem

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    junto A quase totalidade dapopulação,de forma desigual como foi expres-sado, entre as sociedades de capitalismo tardio e sociedades ou zonas alta-mente industrializadas. Nestas últimas, provoca a necessidade de readap

    nova realidade pontuando crises das organizações sindicaise dos partidosoperários.Um exemplo está naautomação ena robotização da produção commá-quinasde execução e programação,liberando m ão-de-obra num a velocidadesuperior ao crescimento dos setores que poderiam absorvê-la.E mais, tambémas situações de crise econômica, tornam a modernização acelerada da prgdo responsável pela eliminação de muitos empregos.'

    Outro fator de modernização na gestão da produção, incluindo tambéo setor administrativo,é a terceirização. As em presas passaram a trabalhar

    com três níveis hierárquicos em média, ao invés de cinco. Na produção, porexemplo,o trabalhador que fazo controle de qualidade também desapareceu,porque as empresasestão treinandoseus empregados para fazero controle dequalidade desdeo inicio da produção. Segundo, ainda,o IBGE , istoé interes-santedestacar pois, os salários não acompanharam a produção. Na m esmapesquisa anteriormente citada,o saláriomédio real caiu 3,3%e a massa sala-rial que medeo volume desaláriospagos diminuiu 13,3%e dos empregadosque perderamo vinculo empregaticiomuitos continuam no mesmo local detrabalho por umsaláriomenor.

    Em contrapartida, areaçãodos sindicatos não responde ainda A altura,embora tenha diversificado mais sua pauta de reivindicações e, ultimamincluídonas negociações aquestãodamanutençãodos empregos.

    Uma alternativa aonível do controle operário é o contrato coletivo detrabalho, quepressupõe mais liberdade sindical, mas com risco de sua dilui-gdo se a pluralidade das representações sindicais por locale ramo econômiconão forem bem demarcadase organizadas. Além do que, no âmbito mais am-

    É o caso do Brasil, onde se prevê que quando a econom ia voltar a crescer, a indústriavai repor toda a m ão-de-obra demitida. Segundo levantamento do IBGE (0 Estado dPaulo, 06/12/92, p.7 em indústrias de Sao Paulo. Várias indústrias, em diferentes ramos,eliminaram milhares de pessoas de seu quadro sem diminuição da produção e comaumento da produtividade. A Autolatina por exemplo de janeiro a maio de 1992produziu 20% m ais com 2% menos defuncionários.A indústriaautomobilística,citada nomesmo estudo emprega hoje praticamente o mesmo número de funcionários queempregava em 1982, mas produz anualmente cerca de noventae oito milveículos a mais.

    Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Sao Paulo procurou-se evitar redução dacategoria, por causa da terceirização, durante as negociações em novem bro, incluindcláusula no acordo coletivo que obrigava a manter o funcionário terceirizado ,mas nãofuncionou. Ainda conforme o citado sindicato metade das demissões nos últimos anos édecorrente da modernização.

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    pio das relações de produção, os sindicatos ainda ressentem-se da falta depreparo.

    Tais fatores dereordenaçãoda força de trabalho relacionam-se tambémcom sua diversidade, quer no s mesmo s ramo s pro dutivos, quer em ram os di-ferentes.

    Um exemplo desse caso também no Brasil o crescimen to do tercid-rio que não necessariamente absorve mão-de-obra oriunda do desempregoindustrial. Existem hoje diferentes niveis de trabalhadores em serviços, domais simples ao mais sofisticado, passando a ocupar nos pólos urbanos,gran de parcela da mã o-de-obra ativa.

    Alguns afirmam queo crescimento deste setor como grande a bsorvedorde mão -de-obraé o que cara cteriza o estágio de desenvolvimento p ós-indus-trial. In dep en den te de tal t ipificaçã o, interessa aqui ressaltar que se trata deinegável redesenho da reordenaçã o dasforças de trabalho, com alteraç ões emsua con figuraçã o de classes.

    Algo mais é importante ainda observar sobre o que está acon tecendoneste aspecto, quanto ao alcance que tais fatores podem ter no desenvolvi-mento das forças produtivas e suas alterações conseqüentes. Com

    revolução informática,é possivelum macro efeito da micro eletrônicaso-bre nossas vidas sociais.

    Verifica-se que as condições de trabalhoe a distribuição de empregosesta passando por modificações profundas em conseqüência do processo deautom ação . Esse percurso começo u há po uco ma is de tr inta an os, salvo dadomais preciso.

    Mas só nos últimos anos foi que a importância e premência dessesproblemas alcançaram pleno reconhecimento - isso devido ao aparecimentono mercado m undial do microp rocessador, aquela peç a de equipam ento ele-trônico que p ode assumiro con trole de toda uma variedade de atividades de

    produção e de m uitos serviço s, afastan do delao ser human o. Não existe aindauma avaliaçã o de todas as con seqüên cias sociaise econômicasdeste fato.

    Em primeiro lugar verificou-se a automação, agora verifica-se que omicropro cessador mo strou ser de longeo instrumento mais eficiente para se

    3 Conforme o presidente da CUT- Central Única de Trabalhadores, aindaé difícil discutirdentro da CUT questões como reforma fiscale até mesmo ascâmaras setoriais, que seriamuma p equena amostra dadiscussão de um con trato coletivo de trabalho 0 Estado de SaoPaulo, 1992, p.22).

    4 Estudo feito recentemente pela Burson-Marsteller/Corporate Territory para o Comitê deServiçosda Cam ara Am ericana de Co mércio (Folha de S. Paulo,10/12/92) revela algo dadimensãodeste setor. No ano de 1991, uma part ic ipaçãoestimada no PIB de 56,8 e,dos sessenta e dois milhões das pessoas ocupadas a pa rtir dos18 ano s de idade em1990,54,47 encon travam-se em atividades ligadas ao setor deserviços.

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    lidar com o vasto e rapidamen te crescente fluxo de inform ações, cujo papel navida do mundo m oderno m al pode ser imaginado.

    Os sistem as anteriores eram utilizados em operações de m em orizaçãoeem algumas operações lógicas. Depois em decorrência do crescente refina-

    mento dos circuitos foipossível inserir em uma única pastilha de silício osm eios de realizar funções lógicas, de m em orizaçãoe de input / output e deinter-relacionar as tais funções.

    Dizem os especialistas da área que essa abertura levou a criação em1971, do prime iro microprocessador - com o fator de econ om iae velocidadeede inteligênciaartificial. Dai para cá este progresso está sendo muito maisrápido. As chamadas gerações tecnológicas de equipamen tos surgem commu ito m ais freqüência, tomand o conta do m undo p rodutivo.

    microprocessador e o microcomputadorestãodesempenhando p apelde alta importância no desenvolvimento de muitos setores da indústria. Háquem diga que num futuro não m uito distante a tecnologia m icro-eletrônicaestará sendo aplicada em mais de duzentas mil finalidades na indústriae nolar. Trata-se, sem dúvida, de um a verdad eira revolução tecnológica. As uni-dades e sistemas dotados de m icroprocessadoresestão sendo utilizadas cadavez mais em muitos campos notadamente na medicina onde se observa umgrande avanço.

    Portanto, o microprocessador e o m icrocomputador fazem parte de umfenômeno que em mu itoscírculos é chamado revolução informática . Na suasíntese ocomputador é um a m áquina de informação que e stabelece relaçãoentre fatos diferentes, compara analogiase realiza outras funções; ele man têminteração com o seu m eioe ajuda a modificá-lo,mostrando-se assim capaz desubstituir a intervenção humana em muitos processos intelectuais.

    Ne ste ponto situa-seo intrigante desta lógica referida anteriormen te;é alógica da evolução até mesmo no aspecto biológico. Isto porque a invenção

    do m icroprocessador, pode ser considerada outro grande salto no que se refereao progresso da inform ação.PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA TORNOU-SEPOSSÍVEL GUARDAR FORA DO CÉREBRO NÃO APENAS INFORMAÇÃO MASTAMBÉM INTELECTO.Quando pensamos que vários dos estágios de saltostecnológicos estenderam-se por umperíodo de cem milhões de anos depoisoutros estenderam -se por vários milhões de anose que os últim os estão rela-cionados As três últimas décadas, compreendem os que todoo progresso dastécnicas de inform ação está se acelerando a um ritmo quase inacred itável.

    As organizaçõespolíticas e sindicaisestão preparadas para isso? Asorganizações educacionaisestão preparadas para isso? E possível que nãoprincipalmente nas sociedades dependentes. 0 rápido progresso da mi roeletrônica, o ritmo de renovação das técnicase da tecnologia e a produçãoacelerada de a parelham ento m icro-eletrônico, tornam indispensável a recicla-gem de um mu ndo substancial de trabalhadorese o seu treinamen to em técni-

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    cas novas, além de criar uma demanda extra, qualitativa e quantitativa, dequadroscientíficos etécnicos, apesar do grande desempre go que prom ove.

    Nas sociedades subdese nvolvidas a introdução da microeletrônicacriauma série de problemas adicionais, visto que a adoção de tecnologias adas exige investime ntos vultuosos em capitale sólidas infra-estruturas cienti-ficase técnicas. 0 Brasil expe rimenta dificuldades sérias na execução dprogram as próprios de pesquisae desenvolvimento em computadores, tele-comunicaçõese outros campos. Hoje , as em presas transnacionais concentos arquivose bancos de dados que tam as informaçõese serviçosdas indús-trias de transformação. 0 que faz situar dificeis condições de compe titas empresas nacionais ou locais. Por isso respostas As questões suscitadaspela aplicação generalizada da informática,estãoligadas aos problemas daeducação, da ciência e da cultura, quer dizer, aos problemas do desenvolvi-me nto dasforçasde produção, na relação capitaltrabalhoprodutor-consumi-dor, globalizaçãode mercadose modernização tecnológica.

    Novamente aqui,o destrincharde stas relações justifica A sociologia geral e A sociologia do trabalh o acompreensãode como a sociedade que nãoprescinde do trabalho move-se pela lógica do capital que na sua reproduçãotorna dispensávelo trabalho h umano. Não e stá ai também,o seu próprio pa-radoxo já assinalado no inicio de ste trabalho?

    ARTIFICIALIDADE E AUTO PRODUÇÃO

    necessário,também, abordar a artificialidade que toma a relação hmem-natureza no atual estágio de alto grau de desenvolvimento cientificoonde deve-se form ular indagações sobre suas conseqüênciase sobre a prepa-ração das ciências sociais para responde-las.

    Novos saberese novos poderesestãoem jogo com os avanços da gené-

    tica,e através da qual, sob a lógica do capital, uma forma de auto -produçcoloca.E oque Paul Rabinow chama de bio-sociabilidade (1991, p.85).A base de tal preo cupação na argume ntação de P aul Rabinow ori

    se na observação de François Dagogne t que

    Identificatrêsrevoluções principais nas nossas atitudes emrelação ao mundo; a primeira foi a possibilidade de uma me-canização do m undo, associada a Galileu; a segunda foi a R e-

    volução Francesa, que m ostrou A hum anidade que suas insti-tuições lhe pe rtenciam,e conseqüentementeos homens pode-riam se tornar 'senhores das relações sociais'; a terceira, queestá agora A me rcê de nossa vontade, não se refere nem ao universo nem a sociedade, mas A própria vida (Rabinow, 1991,p.92).

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    A revolução sobre a própria vida com base social e biológica(genética) é aquela dentro da qualo homem é um ser d istinto porqueé tantoo sujeito quanto o objeto de se u próprio saber (op.cit., p. '79). Tal re laçãoépossívelcom os avanços da engenharia genética no conhecimentoe manipu-lagdo dos genes por meio da decodificação do DNA. A experiênci progra-mada como de m ior lc nce neste sentido é o Proje to Genom a, que visa ospossíveis trêsbilhões de pares de base no DNA humano. As possibilidadesinclusive de fornecime nto privado d e DNA sintético, já nãoé obra de ficçãocientifica onde seu seqiienciamento significa identificação mapeamento eprogramação feita sob encomenda. 0 risco ético aqui suposto é justamente aeliminaçãodo risco , que r dizer, da população de riscoe padronização, oti-mização do suje ito e ficiente e adaptável . A re fe re ncia inicial ao artificia-lismo suste nta-se ne sta proposta já e m inve stigação, de possibilitar a ne utra-.lização da contextualização social pela abordagem instrumentalista do ambi-ente e do indivíduo.Ainda conforme Rabinow:

    Estamos aos poucos abandonando a antigavigilância face-a-f ce de indivíduos egrupos já conhecidos como perigosos oudoe nte s, com finalidade s disciplinare s ou te rapêuticas,e pas-sando a projetar fatores de risco que de sconstróem ou re cons-tróem o suje ito indiv idual ou grupal (op.cit., p.86).

    Em ve z dadoença, a deficiência é associada ao mundo produtivoe nãosó holistico na adm inistração de difere nças. A alim e ntação m ode rna, comome rcadoria, já é processada industrialme nte para a uniformidadee demonstrao quanto o espaço ea re produção biológica já são dominados pe lo proce ssode produção capitalista, onde sua capacidade de manejar os ritmos do tempo

    biológico é m ais um a modalidade técnica que corrobora adivisão social dotrabalho cuja função soci l é a acumulação, aumentando o controle sobre todoo proce sso de produção. Este e xem plo, evide ncia-se como tam bém no campoda v ida, onde os sabere s m odificam as práticas de trabalho, tornando-as m aistransitórias ainda pe rante a supe rioridad e do biológico . 0 inusitado socio-lógico de t l postul ção é de que a separaçãoe distância dos produtores dosmeios não seria só histórica - socialmente falando - seria também biológicaeirreversível.Em que term os isso já não existe além deficção? Não é pura fic-

    cdo as re laçõe s degênero, idade e sexo, desde quando tornadas mercadorias,já destituíram a vida tornando a força de trabalho meioe coisa. Trata-se agoranão só da fe tichização de ssas relações,o que pode ser historicamente negado.0 que parece se propor agora, seriao que prome te serirreversível,a fetichi-zação artificializada pela ciência da vida.

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    CONSIDERAÇÕESFINAIS

    Em vista do que foi desenvolvido o que se apresenta agoraé a tese deque a so ciedade industrial não se explica nela mesma, um fim próprio qesse a justificar o sdesequilíbriossociais e ecológicos.E necessárioter os modos de produção histo ricamente dados com oferências impo rtantes para acompreensãosociológica da modernização dasociedade industrial, agora cham ada de pós-industrial, bem co mo para com -preensdo das suas formas de rendae acumulaçãode riquezas, po líticas sociaise relaçõesindustriaise trabalhistas. Aobservânciadesta teseé imprescindivelno com prometimento so cial da produção, principalmente das relações de trabalho, quer como trabalho vivo ou não, quer como desenvolvimeentifico-tecnológico quer como intervenção ecológica quer como bio-podere geraçãode auto-produção da vida.

    Naanalisede quaisquer sociedades são estas as referencias que lhesimprimem sociabilidade, em cujo espelhamento pautam-se as demanddiatizadas pelas distintas ações organizacionais dos homens - como agentespo liticos. Sao referências metodo lógicas importantes, mesm o nas sociavançadas, de grande exigências de pro dução , eficiência, resultadose diminu-içãodo trabalho vivo ligado A reprodução do capital, onde a intensa reifi

    parece sufocar qualquerrepresentação eautonomia dos sujeitos pela nãotransparência das relações de propriedade.Nestas sociedades cuja forma de ser é oser social contraditório, per-

    manentes aumentos de demandas das condições produtivas estruturam-sradoxalmente com a permanente diminuição do trabalho necessfirio A rdução social do capital, cuja valorização faz-se aparentemente aut6noma

    De fato as possibilidades de diminuição do tempo de trabalho produ-tivo se realizou juntamente com a diminuição do valor dos saldrios E a des-

    valorizaçãodo trabalho tese decorrente do modo de produção que lhe ex-plica, alienante porque fetichizado . Sendo assim, com o primeiro recurtodológico da sociologia cabe-lhe expor a fetichização sem a qual a desva-lorização do trabaiho aparece apenas como não trabalho,e nãocomo explora-gdo. Sua supressão exigiria sua negação pelo seu inteiramente contrário: avalo rização do trabalho co mo grandeza concreta de realização da justicial. Na verdade, a desvalorização do trabalho tem relação direta, quer resulta da subsunção do trabalho ao capital, sob a forma de mais-valia.

    Esta tese não necessariamente contrapõe-se As formas de interaçõessubjetivas de ações comunicativas como alternativa ao caráteressencial-mente to talitárioda sociedade moderna a impregnar o comportamento doshomens.

    Entretanto,é preferívelnão ignorar aconexãointimaentreo entendi-mentoe o fazer, entre a comunicaçãoe a açãoestratégica (Giannotti, 1991,

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    p.23).Localizam-se ai determinações reciprocas que Giannotti propõe quenão devem ser jogadas fora. No mesm o texto, Giannotti, reafirma:

    Se a teoria do valor trabalho hoje em dia perde suapertinên-ciaeconômica creio ser ela ainda relevante para a análise daalienação desse processo de trabalho, atualmente marc ado pelafalta de sua medida (op.cit., p.23).

    Depreende-se que, uma c oisaé colocar os conceitos relativos à esferado trabalhoe da produção como metodologicamente aproximativos, não ablutos para uma soc iedade não acabada,e outra coisaé exclui-los e introduzir apolíticacom um alto grau de indeterminação numa sociedade que não reco-nheceo que não tem objetidade com ercial ou convertibilidade em pregos; nal, sic) os seus laços.

    Finalmente,é possívelconsiderar a tese de que a continua evoluçãotecnológicapoderálibertaro homem do trabalho alienado, mas não do traba-lho. Embora quase equivalentes,o trabalhoé objetivaçãodo processo de pro-dução social dos homens,e otrabalho alienadoé forma de objetidade, reifica-cdoe como já foi dito pode ser transitório ao primeiro principalmente seconsiderado com o resultado da subsunção real ao capital.

    Portanto, a atividade hum ana como não trabalho, por enquanto,é umconceito utópico.Nãopoderia uma sociedade que eliminao trabalho dispensar também

    os patrões? Para que serviriam os patrões se o trabalho não servisse mais?Servem os patrões porque ainda residem, não superadas, as contradições rtivas à propriedadee aos objetos sociais das formas de propriedade.

    cedo talvez para a sociologia conceder esta anistia. Tal paradoxo apossibilidade da sociologia do trabalho, semo trabalho,é parte do seu objeto.

    0 trabalho com o funcionalidade mora l,éticaou esteticamente explicável emsi mesmo é uma idéia;o que se coloca é otrabalho c omo mercadoria, fetichi-zado,e o desafio maior da sociologia do trabalho está principalmente emcontribuir na exposição de tal fetichização.

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