trotsky sobre kronsdadt

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KRONSTADT E A BOLSA DE VALORES Traduzido por Marcelo Souza Encontramos alguns ecos notavelmente instrutivos dos acontecimentos de Kronstadt no periódico financeiro e econômico de Paris L’information. Este órgão reflete direta e completamente as bolsas de valores francesa e internacional. Os acontecimentos de Kronstadt não encontraram expressão alguma em artigos políticos ou “consignas” de qualquer espécie, mas nos relatórios dos caprichos da bolsa de valores e suas transações. Na edição de 8 de março do L’Information encontramos uma mensagem de Bruxelas datado de 5 de março. Citarei literalmente um excerto desta edição: “As notícias — na verdade, ainda não oficiais — de extensas desordens na Rússia, dirigidas contra a ditadura soviética, tiveram um forte efeito melhorando a situação do mercado. Todos nós sabemos quais seriam as conseqüências para o mundo inteiro se o regime soviético na Rússia entrasse em colapso... Podemos esperar para ver num futuro próximo o estabelecimento de uma forma racional de organização econômica no antigo império do czar, correspondendo às necessidades do período pós-guerra. Isto significaria a esperança na restauração de muitas empresas industriais belgas na Rússia, e ao mesmo tempo seria um golpe direto às intrigas bolcheviques na Bélgica e, em geral, fora da Rússia”. Assim, a bolsa de valores de Bruxelas está pouco interessada em saber como as consignas do social- revolucionário Petrichenko diferem das intenções do general Kozlovsky e a filosofia histórica do menchevique Dan. A bolsa de valores é esperta o suficiente para avaliar que essas questões não são estas nuances e detalhes verbais. A bolsa de valores sabe muito bem que apenas dois regimes são

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Leon Trotsky comenta sobre a insurreição contrarrevolucionária ocorrida durante a Revolução Russa.

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Page 1: Trotsky Sobre Kronsdadt

KRONSTADT E A BOLSA DE VALORES

Traduzido por Marcelo Souza

Encontramos alguns ecos notavelmente instrutivos dos acontecimentos de Kronstadt no periódico financeiro e econômico de Paris L’information. Este órgão reflete direta e completamente as bolsas de valores francesa e internacional. Os acontecimentos de Kronstadt não encontraram expressão alguma em artigos políticos ou “consignas” de qualquer espécie, mas nos relatórios dos caprichos da bolsa de valores e suas transações. Na edição de 8 de março do L’Information encontramos uma mensagem de Bruxelas datado de 5 de março. Citarei literalmente um excerto desta edição: “As notícias — na verdade, ainda não oficiais — de extensas desordens na Rússia, dirigidas contra a ditadura soviética, tiveram um forte efeito melhorando a situação do mercado. Todos nós sabemos quais seriam as conseqüências para o mundo inteiro se o regime soviético na Rússia entrasse em colapso... Podemos esperar para ver num futuro próximo o estabelecimento de uma forma racional de organização econômica no antigo império do czar, correspondendo às necessidades do período pós-guerra. Isto significaria a esperança na restauração de muitas empresas industriais belgas na Rússia, e ao mesmo tempo seria um golpe direto às intrigas bolcheviques na Bélgica e, em geral, fora da Rússia”.

Assim, a bolsa de valores de Bruxelas está pouco interessada em saber como as consignas do social-revolucionário Petrichenko diferem das intenções do general Kozlovsky e a filosofia histórica do menchevique Dan. A bolsa de valores é esperta o suficiente para avaliar que essas questões não são estas nuances e detalhes verbais. A bolsa de valores sabe muito bem que apenas dois regimes são possíveis na Rússia: ou a ditadura dos sovietes, liderada pelo Partido Comunista, o único partido historicamente capaz de dirigir a revolução, ou a ditadura francesa, belga ou qualquer outro capital exercido pela agência da contra-revolução russa. Petrichenko, Dan, Kozlovsky, Makhno — estes são só pequenos parafusos no mecanismo que é arrancar o poder das mãos da ditadura proletária e dá-lo ao imperialismo.

Na edição de 9 de março deste mesmo L’Information nós encontramos o boletim da bolsa de valores de Paris datado de 8 de março. No início é dito que a bolsa de valores havia experimentado até recentemente “sua inércia habitual”, mas que nos últimos dias a situação começou a mudar, graças, acima de tudo, às “notícias favoráveis” sobre extensas revoltas na Rússia, ameaçando o governo bolchevique. “Todas as seções da bolsa de valores exprimiram animação, em maior ou menor grau. Mas foi o grupo de ações da Rússia que atraiu mais atenção, por razões que estão se tornando cada vez mais

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sólidas”. Isto é seguido pelos preços das ações russas que estavam sendo cotadas na bolsa de valores de Paris.

A linguagem destas figuras está muito mais clara, mais precisa, mais convincente, mais séria do que as consignas fabricadas pelos social-revolucionários de Reval, os mencheviques de Berlim (Martov e Abramovich) e os anarquistas de Makhno, seus aliados. Makhno exige (ou, mais corretamente, exigiu) sovietes livres. Martov e Dan exigem sindicatos independentes e uma completa mitigação da ditadura. Petrichenko quer sovietes sem comunistas. Chernov defende uma Assembléia Constituinte. O general Kozlovsky não se apressa em falar da monarquia, mas oferece meramente os seus serviços para atirar nos bolcheviques. Milyukov, no seu periódico de Paris, também não está interessado, por enquanto, nas consignas emitidas por Petrichenko e Dan, mas aguarda sua oportunidade e coleta (muito tarde, que pena!) dentre os financeiros e capitalistas russos situados no exterior milhões de francos para ajudar aos rebeldes. Enquanto isso, a bolsa de valores européia anota calmamente, de caneta em punho: “Em Petrogrado os mencheviques estão causando um alvoroço; as ações da ‘Putiov Works’ subiram a um valor de 10 francos. Chernov promete abrir a Assembléia Constituinte; outros 5 francos marcaram em alta. Em Kronstadt a artilharia falou em nome dos sovietes contra os comunistas; isso significa que os capitalistas belgas poderão voltar aos seus trabalhos e minas no Donbas — uma alta para essas ações de 20-30 francos”.

Se pegarmos os boletins da bolsa de valores da Europa, e especialmente da França, de fevereiro e março, e traçarmos um gráfico da movimentação das ações russas, podemos ver claramente que as consignas dos social-revolucionários, mencheviques ou Guardas Brancos estavam sendo citadas como uma figura perfeitamente uniforme e insignificante. Mas assim que estas consignas combinaram-se com a artilharia, seu valor subiu imediatamente a um ponto bastante elevado.

Os patifes contra-revolucionários, os fanfarrões e simplórios social-revolucionários, as raposas mencheviques e os desordeiros anarquistas, conscientes ou inconscientemente, por astúcia ou por loucura, desempenham todos o mesmo papel histórico: cooperam com todas as tentativas de estabelecer o governo irrestrito dos bandidos do imperialismo mundial sobre o povo trabalhador e sobre toda a riqueza natural. A independência econômica, política e nacional só são possíveis para a Rússia sob a ditadura dos sovietes. A espinha dorsal desta ditadura é o Partido Comunista. Não há nenhum outro, e nem pode haver.

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Desejam quebrar essa espinha, senhores eseristas e mencheviques? Assim, então, a experiência de quatro anos de revolução não foi o suficiente para vocês! Atreva-se! Atreva-se! Estamos prontos a completar sua experiência.

23 de março de 1921, “Pravda” Nº 63.

Fontes:

Original: http://www.marxists.org/archive/trotsky/works/1921-mil/ch61.htm

Tradução: http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2005/12/341736.shtml