TROTSKY – PEÇA PARA TELEVISORES E NÃO TELEVISORES NOFAROESTEHome  ·  Cultura  ·  TROTSKY – PEÇA PARA TELEVISORES E NÃO TELEVISORES NO FAROESTE

05OUT.

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Ricardo Alvarez – site Controvérsia entrevista os produtores doespetáculo TROTSKY – PEÇA PARA TELEVISORES E NÃO TELEVISORES NO

FAROESTE. Um bate papo interessante sobre uma proposta alternativa e engajada

de fazer teatro.

Controvérsia indica.

1) No espetáculo Trotsky simboliza o ideário da libertação do capitalismo através da

revolução comunista? Por que trotsky?

nucleozonaautônoma – Este trabalho e esta cia só existem porque antes delehouve LENIN – Cidade Bou Bou, primeiro espetáculo deste núcleo em 2009,

adaptação do conto de um escritor da região, Rauda Graco. A história perpassa pela

realidade de um suburbano do ABC, que, vivendo no futuro, volta ao passado para

exterminar o presidente da república que teria acabado com as utopias de sua

juventude. Este presidente é o FHC. Para isso, o protagonista o sequestra em um

sindicato nos anos 80, o faz vestir uma camiseta do Lenin e volta no tempo para 64

no meio de um embate entre manifestantes e a polícia militar na ditadura brasileira.

Assim, este futuro presidente é assassinado pelos policiais por vestir uma camiseta

do LENIN. Lenin foi portanto, um pretexto.

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RECENTES

Quando pensamos em seguir o trabalho, vislumbramos que um próximo espetáculo

deveria se chamar TROTSKY. E assim como LENIN, o nome do revolucionário

também deveria ser um pretexto para uma discussão abrangente. Trotsky, acusado

muitas vezes de vendido ao sistema capitalista americano e europeu por Stalin e

seus seguidores djanovistas, também não era visto como aliado pelos capitalistas.

Retirando todos os meandros e contradições que o processo histórico sugere, é uma

voz que não cabe nem no sistema capitalista, e nem naquilo que se configura como

socialismo oficial no período totalitário de Stalin. Ele não cabe em lugar nenhum.

Sendo assim, nosso TROTSKY não é apenas um rapaz mimado que não encontra um

mundo em que ele não consegue dizer as suas coisas, ele precisa criar um mundo

novo, pois os discursos, seja os de esquerda ou os de direita oficiais não

contemplam a ação revolucionária.

2) A sociedade é hoje mais consumista que na época da morte de Trotsky? Se sim,

como a peça pode contribuir nesta discussão?

nucleozonaautônoma – Acreditamos que sim pois foi durante a guerra fria que o“american way of life” se expandiu justamente pra diferenciar o modo de vida

capitalista do socialista.  É o momento em que o consumo passa a ser usado numa

chave ideológica, embasando essa ideia absurda de liberdade de consumo, de que

alguém pode ser livre através do que se compra. Tem uma frase do Marx, citada

num texto do Trotsky sobre a arte, que diz o seguinte: “O escritor, deve

naturalmente ganhar dinheiro para poder viver e escrever , mas não deve em

nenhum caso viver e escrever para ganhar dinheiro”. Achamos que a peça trava

contato com essa ideia, na medida em que o Trotsky, o nosso personagem, é um

cara marginal e precário, que vive nas margens do sistema, nós nos identificamos

com ele, e até então ele é esse cara que parece viver para escrever, e um dia é

oferecido à ele essa oportunidade de viver para ganhar dinheiro, o dilema dele é

como realizar um trabalho revolucionário num mundo rendido ao capital.

3) O nosso Trotsky tupiniquim tem o mesmo currículo revolucionário do verdadeiro

ou se trata apenas de um ganho na realidade para o desenvolvimento do enredo?

nucleozonaautônoma – Trata­se de um uso alegórico da figura do revolucionário:um homem de 30 anos, do qual se espera a revolução, por ser filho de uma

militante comunista russa, mas que se detém porque fica se questionando o que

significa ser revolucionário hoje – quase cem anos depois de 1917. Ao mesmo

tempo há o embate intrínseco da ficção, na qual Trotsky se reporta muito aos pais,

daí a trama abre espaço também para outras referências como a relação de Kafka

com seu pai, documentada em “Carta ao pai”.

4) A peça navega pelas águas da construção do homem novo, que supere os marcos

do capitalismo numa sociedade mais justa e igualitária?

nucleozonaautônoma – Quando estávamos mais no início do nosso processochegamos a tocar na noção de “homem novo”, inspirada inclusive no poema de

Drummond. Acho que o que transformou nosso revolucionário num homem

desiludido e impotente foi a televisão. Como a narrativa de Trotsky é exposta num

televisor, ele está propício à inação, e, ao mesmo tempo, é mais notável agir com

ousadia num ambiente conservador como o que o ronda.

5) O teatro é uma forma de linguagem adequada para este tipo de reflexão, até em

relação ao debate acadêmico? Ou elas não competem?

nucleozonaautônoma – Não, não vemos que o pensamento acadêmico esteja emcompetição com o teatro, não no nosso trabalho. Quando o nucleozonaautonoma

adquiriu sua configuração atual, nós ingressamos no curso de História da Fundação

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Santo André, e penso que estávamos especialmente interessados no impacto que a

formação acadêmica teria na montagem deste espetáculo, no estofo que poderia dar

à ela. A princípio a escolha pelo teatro se dá por ser nosso ofício.

6) Qual a efetiva contribuição que o espetáculo pensa em promover no público apos

sua exibição? Qual a reação esperada?

nucleozonaautônoma – É difícil prever uma reação esperada. Pensamos que ésempre desejável que nosso trabalho desperte discussões políticas, especialmente

aquelas que atualizem nosso horizonte revolucionário. Porém isso não é uma regra,

as pessoas podem ter a reação que quiserem diante do nosso trabalho, às vezes

acontece, por exemplo da discussão ficar mais circunscrita ao âmbito estético, o que

não deixa de ter implicações políticas também. Enfim, alguém disse algo muito

interessante depois de ver a nossa peça uma vez, que era o fato de ela dar vontade

de sair e fazer alguma coisa, quebrar um banco ou coisa do tipo. Acho esse tipo de

reação desejável.

nucleozonaautônoma é uma proposta de ação teatral/política criada em 2009 eatualmente formada por Marcio Castro e Talita Talissa.

TROTSKY – PEÇA PARA TELEVISORES E NÃO TELEVISORES NO FAROESTE

De 2 de outubro a 6 de novembro,  Sede Luz do Faroeste, Rua do Triunfo, 305,

01210000 São Paulo

https://www.facebook.com/events/437394199766631/

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POR RICARDO ALVAREZ, ENTREVISTA,

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