trabalho fiscal - comparativo entre o irpj brasileiro e o irps português

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  • 1

    Aspectos comparativos do IRPF brasileiro e

    o IRS portugus

    Universidade do Porto

    Curso de Ps-graduao em Cincias Jurdicas (ao abrigo de Protocolo e Acordo com o

    IPCP, com possibilidade de creditao para acesso ao Curso de Mestrado em Direito)

    Disciplina: Direito Fiscal

    Professora Doutora: Glria Teixeira

    Aluno: Emmanuel Ruck Vieira Leal

    Dezembro/2011

  • 2

    LISTA DE ABREVIATURAS

    IRPF Imposto sobre a renda das pessoas fsicas

    IRS Imposto sobre a renda das pessoas singulares

    CIRS Cdigo do imposto sobre a renda das pessoas singulares

    CRFB Constituio da Repblica Federativa do Brasil

    CTN Cdigo tributrio nacional brasileiro

  • 3

    SUMRIO

    1. Introduo ..................................................................................................................... 4

    2. IRPJ e IRS .................................................................................................................... 5

    2.1 Denominao do tributo no Brasil e em Portugal ................................................................................................ 5

    2.2. Noes do imposto e legislao aplicvel .......................................................................................................... 6

    2.3. Conceito de renda ............................................................................................................................................... 7

    2.3.1 Aspecto espacial .......................................................................................................................................... 8

    2.3.2 Rendimentos decorrentes de atos ilcitos ..................................................................................................... 9

    2.4. Titularidade do imposto.................................................................................................................................... 10

    2.5. Classificaes ................................................................................................................................................... 11

    2.6. Dedues .......................................................................................................................................................... 13

    2.7. No incidncia sobre verbas indenizatrias ...................................................................................................... 14

    2.8. Alquotas(taxas) ............................................................................................................................................... 14

    3. Concluses .................................................................................................................. 18

    4. Bibliografia ................................................................................................................. 20

  • 4

    Aspectos comparativos do IRPF brasileiro e o IRS portugus

    Emmanuel Ruck Vieira Leal1

    1. Introduo

    O presente tem por objetivo traar um breve panorama do IRPF brasileiro e do

    IRS portugus. Para tanto sero indicados apontamentos da doutrina portuguesa e

    brasileira sobre os referidos impostos, fazendo uma rpida releitura do tema posto em

    discusso.

    Abordaremos inicialmente a questo em torno da nomenclatura, que diferencia o

    imposto brasileiro do portugus. Veremos que: 1) em Portugal o imposto denominado

    de acordo com o tratamento que dado pelo cdigo civil; 2) no Brasil, o imposto

    nomeado conforme o costume tributrio, j que no usual a denominao utilizada

    pelo cdigo civil.

    Apresentaremos uma breve noo do IRPF brasileiro e do IRS portugus,

    indicando a legislao aplicvel em um e outro caso, trazendo inclusive a soluo de

    ambos os pases quanto taxao da renda obtida por meio ilcito.

    Trataremos em seguida da questo acerca da titularidade do tributo, atentando

    para o fato da organizao do Brasil como uma repblica federativa, com diversas

    esferas de tributao. Nesse ponto, teceremos alguns comentrios relativos diviso dos

    impostos em estaduais e no estaduais mencionados na doutrina portuguesa e faremos

    um confronto com a diviso brasileira dos tributos.

    Em seguida indicaremos as principais classificaes que tm sido atribudas ao

    IRS e ao IRPF pela doutrina portuguesa e brasileira, se direito ou indireto, real ou

    1 Bacharel em direito pela Universidade Federal da Paraba UFPB; ps-graduado (lato sensu) em

    Direito Empresarial pela Universidade Federal da Paraba UFPB e em Direito Penal e Criminologia pela Universidade Potiguar UNP. Procurador Federal da Advocacia-Geral da Unio. Aluno do Curso de Ps-Graduao em Cincias Jurdicas da Universidade do Porto.

  • 5

    pessoal, de quota fixa ou varivel, peridico ou de obrigao nica, estaduais e no

    estaduais, sobre o rendimento, o patrimnio ou a despesa2.

    Abordaremos ainda o que vem a ser as dedues, qual a sua finalidade e de que

    maneira eles funcionam, reduzindo o valor o imposto sobre a renda a ser paga, tanto no

    Brasil quanto em Portugal.

    Por fim, trataremos da questo das alquotas (taxas) do IRPF brasileiro e do RS

    portugus, para que elas servem, e de que maneira esto cumprindo o papel do imposto

    em ateno ao princpio da progressividade e da capacidade contributiva.

    2. IRPJ e IRS

    2.1 Denominao do tributo no Brasil e em Portugal

    Como objeto do trabalho a anlise do imposto sobre o rendimento das pessoas,

    tratadas individualmente, a primeira questo que nos aparece a da denominao do

    tributo no Brasil e em Portugal.

    No Brasil3, apesar de o Cdigo Civil tratar no Ttulo I do Livro I tratar das

    pessoas naturais, comum o prprio cdigo tratar referidas pessoas naturais como

    sendo pessoas fsicas. Podemos exemplificar citando o art. 1.0394 do mencionado

    diploma legal.

    O regulamento brasileiro do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer

    Natureza, publicado no Decreto n 3.000, de 26 de maro de 1999, trata em seu Livro I

    da tributao das pessoas fsicas, indicando claramente que ser esse o tratamento

    adotado pela legislao tributria brasileira ao se referir ao que os portugueses

    costumam chamar de pessoas singulares.

    2 Classificao indicada em TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina,

    2010, p. 43-44.

    3 O Cdigo Tributrio Nacional brasileiro em seu art. 83 faz referncia tambm ao rendimento das

    pessoas fsicas. 4 Cdigo Civil brasileiro.

    Art. 1.039. Somente pessoas fsicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os scios, solidria e ilimitadamente, pelas obrigaes sociais.

  • 6

    Assim a denominao brasileira prefervel do tributo de Imposto de Renda das

    Pessoas Fsicas, abreviado comumente como IRPF5, no obstante englobar no s a

    renda, mas tambm os proventos de qualquer natureza6.

    Em Portugal, a denominao mais clara, j que segue a nomenclatura do

    prprio Cdigo Civil portugus, que no Ttulo II, Subttulo I, Captulo I, trata das

    pessoas singulares. O artigo 1 do Decreto-Lei n 442-A/88, de 30 de Novembro, que

    o Cdigo do IRS7, trata do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS).

    2.2. Noes do imposto e legislao aplicvel

    Tanto o IRS portugus quanto o IRPF brasileiro so impostos que tem por

    escopo tributar o rendimento das pessoas singulares, denominadas no Brasil de pessoas

    fsicas ou naturais.

    Em Portugal tratado principalmente no Cdigo do IRS(CIRS) institudo pelo

    Decreto-Lei n 442-A/88 de 30 de Novembro. No Brasil o IRPF tem regulamentao

    legal totalmente espalhada em um sem-nmero de instrumentos normativos, dentre os

    quais podemos citar como mais importantes, alm da CRFB e do CTN: o Regulamento

    do Imposto sobre a Renda(RIR/99), institudo pelo Decreto n 3.000, de 26 de maro de

    1999, as Leis Federais ns 7.713/1988, 9.250/1995 e 11.482/2007, com as alteraes

    posteriores, inclusive da Lei Federal n 12.469/2011 que estabeleceu a nova tabela

    progressiva mensal.

    O rendimento tributvel do contribuinte apurado aps sujeio das diferentes

    categorias de rendimentos8 s regras de incidncia do imposto sobre a renda e feitas as

    dedues e os abatimentos permitidos9. Sobre esse rendimento lquido que incidir o

    imposto sobre a renda. A incidncia do imposto de renda ocorre sobre o crdito lquido

    5 ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. 4 ed. So Paulo: Mtodo, 2010, p. 32.

    6 Ibidem, p. 558.

    7 TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 69

    8 Ibidem, p. 69.

    9 Idem.

  • 7

    do contribuinte, ou seja, a diferena entre a renda ou provento auferido e os encargos

    admitis em lei, tais como gastos com dependentes, planos de sade etc10

    .

    2.3. Conceito de renda

    No Brasil, o art. 43 do CTN11

    estabelece que o imposto incide sobre a renda e

    proventos de qualquer natureza e tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade

    econmica ou jurdica. Hugo Machado indica que, na expresso do Cdigo, renda

    sempre um produto, um resultado, quer do trabalho, quer do capital, que da combinao

    desses dois fatores. Os demais acrscimos patrimoniais que no se comportem no

    conceito de renda so proventos12

    .

    Deve aqui ser feito um aparte para anlise do conceito de disponibilidade

    econmica e disponibilidade financeira. Sabbag indica que a disponibilidade jurdica a

    obteno de direito de crditos no sujeitos condio suspensiva, representado por

    ttulos ou documentos de liquidez e certeza13

    . O imposto s pode incidir quando h

    acrscimo patrimonial, salientando-se que no h necessidade de o rendimento ser

    efetivamente recebido pelo sujeito passivo, sendo suficiente que este tenha adquirido o

    direito de crdito sobre ele, ou seja, a disponibilidade jurdica. O referido autor

    exemplifica a situao com o caso de um comerciante que vende um produto no ltimo

    dia do ano, porm s recebe o pagamento no 1 dia do ano subsequente14

    , considerando

    para fins tributrios a data da venda e no a do recebimento, pois com a venda o

    contribuinte adquire a disponibilidade jurdica sobre o rendimento tributvel.

    Em Portugal, o artigo 1, n. 1 do CIRS estabelece que: O imposto sobre o

    rendimento das pessoas singulares (IRS) incide sobre o valor anual dos rendimentos das

    10

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009, p. 1012. 11

    Art. 43do CTN. O imposto, de competncia da Unio, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acrscimos patrimoniais no compreendidos

    no inciso anterior. 12

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. 21 ed. So Paulo: Malheiros, 2002, p. 274. 13

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1011. 14

    Idem.

  • 8

    categorias seguintes, mesmo quando provenientes de actos ilcitos, depois de efectuadas

    as correspondentes dedues e abatimentos. Vale lembrar, contudo, que o carter anual

    no prejudica as retenes na fonte na forma do art. 98 a 101 do CIRS15

    , inclusive as

    realizadas mensalmente.

    No existe definio de rendimento no CIRS16

    , sendo, porm, enumerados os

    seus vrios tipos, embora sem disposio genrica, contrariamente ao que se encontra na

    legislao dos Estados Unidos. Os diversos rendimentos constituem elementos

    sintomticos da capacidade contributiva do sujeito17

    .

    2.3.1 Aspecto espacial

    O IRS atende ao princpio da territorialidade pessoal (tributao em funo da

    residncia) e territorialidade real (tributao atendendo ao lugar da produo do

    rendimento). Fica reconhecido assim o poder tributrio do local em que produzido o

    rendimento e da residncia do respectivo beneficirio, sendo em princpio indiferente a

    nacionalidade do sujeito passivo18

    . O artigo 13, n. 1 e o artigo 15 do CIRS trazem as

    respectivas regras que acolhem tais princpios.

    Assim, aplica-se o princpio da territorialidade para taxao dos rendimentos

    originados em territrio portugus no caso dos contribuintes com residncia em

    territrio estrangeiro19

    .

    Indivduos no residentes e sem rendimentos originrios em territrio portugus

    no esto sujeitos a IRS20

    .

    Como aponta Sabbag, em matria de IRPF, como praxe internacional, a renda

    tributvel no pas de quem a aufere. Assim a renda deve ser tributada no pas onde

    reside o contribuinte21

    . Ele indica que o ponto fulcral da tributao da renda em patamar

    15

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 383. 16

    Ibidem, p. 350. 17

    Idem. 18

    Ibidem, p. 375. 19

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 70. 20

    Idem. 21

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1016.

  • 9

    internacional sempre foi a mobilidade da renda, que constitui a razo pela qual se

    assinam acordos de tributao internacional, a fim de que se inibam os mecanismos de

    mobilidade, preservando-se uma tributao adequada e justa22

    .

    Isso o que faz os pases implementarem medidas conjuntas no sentido de coibir

    a proliferao de parasos fiscais e obterem a razo final da tributao consentnea com

    a justia fiscal23

    . No caso de Brasil e Portugal, existe a conveno entre a Repblica

    Federativa do Brasil e a Repblica Portuguesa destinada a evitar a dupla tributao e

    prevenir a evaso fiscal em matria de impostos sobre o rendimento, celebrada em

    Braslia em 16 de maio de 2000 e aprovada para ter vigor no Brasil pelo Decreto

    Legislativo n 188, de 8 de junho de 2001.

    2.3.2 Rendimentos decorrentes de atos ilcitos.

    O art. 1 do CIRS acima transcrito deixa claro que mesmo se for decorrente de

    ato ilcito, h incidncia de IRS sobre a renda auferida atravs de conduta contrria ao

    ordenamento jurdico. Aqui o que interessa ao fisco saber se h enquadramento do

    rendimento nas hipteses elencadas no CIRS. Havendo o mencionado rendimento,

    pouco importa se foi decorrente ou no de ato ilcito.

    No Brasil, em razo da clusula geral residual do conceito de proventos, que

    definido por excluso do que no se enquadre no conceito legal de renda, os acrscimos

    patrimoniais decorrente de atividade ilcita, inclusive criminosa estaro abrangidos no

    conceito de proventos24

    , sendo sujeitos, portanto, tributao pelo IRPF, ainda que o

    aumento patrimonial seja decorrente de trfico de drogas25

    , por exemplo.

    A razo de ser para tal entendimento que, nesses casos, no se est punindo o

    ato ilcito com a incidncia do tributo. A cobrana decorre da ocorrncia do fato

    gerador, que uma vez verificada deve ser interpretada abstraindo-se da validade jurdica

    22

    Idem. 23

    Idem. 24

    ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. Cit., p. 558. 25

    Ibidem, p. 560.

  • 10

    dos atos praticados. Essa lio que podemos retirar da clara dico do art. 188, inciso I e

    II do CTN, que dispe que a definio legal do fato gerador interpretada abstraindo-se

    da validade jurdica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, bem como da

    natureza de seu objeto ou de seus efeitos26

    .

    2.4. Titularidade do imposto

    Em Portugal, quanto titularidade, costuma-se classificar os impostos em

    estaduais e no estaduais27

    . So ditos como no estaduais os que dizem respeito a uma

    entidade diversa do estado, nomeadamente os impostos regionais, municipais, etc28

    .

    O IRS portugus um imposto estadual, atendendo ao sujeito ativo do

    imposto29

    .

    No Brasil, com a organizao em forma de repblica federativa (art. 1 da CRFB

    de 1988), temos a existncia de trs esferas de tributao, a federal, a estadual e a

    municipal, cada uma com uma competncia tributria prpria30

    . Os impostos so

    classificados ento como federais, estaduais e municipais31

    . So ditos federais os

    impostos de titularidade da Unio Federal. Os impostos estaduais so os que possuem

    como sujeito ativo um dos estados da repblica federativa brasileira. Os impostos

    municipais, como a prpria denominao j indica, tm como titular um municpio.

    O IRPF brasileiro assim um imposto federal, uma vez que o art. 153 da CRFB

    estabelece a competncia privativa da Unio para instituir imposto sobre a renda e

    proventos de qualquer natureza.

    26

    Art. 118 do CTN. A definio legal do fato gerador interpretada abstraindo-se:

    I - da validade jurdica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsveis, ou terceiros,

    bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;

    II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. 27

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 44. 28

    Idem. 29

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 347. 30

    CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 220. 31

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 261.

  • 11

    A justificao para tal imposto ser de competncia federal decorre do ato de

    poder ser utilizado como instrumento de distribuio de renda, buscando manter em

    equilbrio o desenvolvimento econmico das diversas regies do pas32

    .

    2.5. Classificaes

    Em razo de estar organizado em escales com percentuais variveis, em

    Portugal, o IRS tido com um imposto de quota varivel33

    , que visa tributar os

    contribuintes em consonncia com o princpio da progressividade34

    , da mesma forma

    que ocorre com IRPF brasileiro que tido como um imposto de alquotas progressivas.

    Aqui vale fazer um parntese para indicar o que vem a ser um imposto

    progressivo, que, na definio de Cassone, um imposto que, tendo duas ou mais

    alquotas, o montante do imposto varia desproporcionalmente em funo do valor

    tributvel35

    , ou seja, o tributo vai aumentando desproporcionalmente. Assim a

    desproporcionalidade da tributao, em funo do valor tributvel o elemento que

    diferencia a progressividade da proporcionalidade.

    Como dito, quanto titularidade, o IRS classifica-se como um imposto estadual

    em Portugal e o IRPF como um imposto federal no Brasil.

    O IRS portugus36

    e o IRPF brasileiro podem ser ainda classificados como

    impostos peridicos. Em Portugal, o imposto (IRS) incide sobre o valor anual do

    rendimento dos contribuintes, depois de efetuadas as correspondentes dedues37

    . No

    Brasil, de igual forma, tambm um imposto (IRPF) de incidncia anual38

    , no obstante

    32

    Ibidem, p. 272. 33

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 34

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 71. 35

    CASSONE, Vittorio Direito tributrio. 17.ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 83. 36

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 37

    Idem. 38

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit..

  • 12

    a previso de retenes mensais do tributo atribuda lei pelo Cdigo Tributrio

    Nacional39

    .

    Utilizando a classificao dos impostos em reais e pessoais40

    , que o IRS um

    imposto pessoal41

    uma vez que s pode ser pensado tomando-se em conta um

    contribuinte em concreto, valendo frisar, entretanto, que em alguns casos pode-se

    apresentar com um imposto real42

    .

    Hugo Machado indica em relao ao IRPF que as alteraes realizadas a

    pretexto de simplificar a sistemtica do imposto, praticamente eliminou o carter

    pessoal do imposto de renda43

    , que ele aponta como sendo o nico tributo que atendida

    ao art. 145, 144

    da CRFB. Ele indica que a partir de 1989 quando foi suprimida a

    classificao dos rendimentos e ganhos de capital das pessoas fsicas por cdulas, e

    revogados todos os dispositivos pertinentes a isenes, dedues e abatimentos45

    . O

    imposto passou a ser devido mensalmente, calculado sobre o rendimento bruto, do qual

    apenas algumas parcelas podem ser abatidas, entre as quais as penses alimentcias e as

    contribuies previdencirias. Aqui podemos ver que ele trata a questo de ser um

    imposto pessoal no no que tange contraposio ao imposto real, mas no respeita

    individualizao do tributo e a individualizao segunda a capacidade econmica do

    contribuinte referida no texto constitucional brasileiro.

    Podemos classificar o IRS e o IRPF como sendo impostos sobre o rendimento e

    diretos46

    , em contraposio a outros impostos que podem incidir sobre o patrimnio ou

    sobre a despesa47

    .

    39

    Vide art. 45, pargrafo nico do CTN brasileiro. 40

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 43. 41

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 42

    Idem. 43

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 283. 44

    Art. 145 CRFB. 1 - Sempre que possvel, os impostos tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir efetividade a

    esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimnio, os

    rendimentos e as atividades econmicas do contribuinte. 45

    O art. 3, 5 da Lei Federal n 7.713/1988, com vigncia a partir de 01/01/1989 estabeleceu que:

    5 Ficam revogados todos os dispositivos legais concessivos de iseno ou excluso, da base de

    clculo do imposto de renda das pessoas fsicas, de rendimentos e proventos de qualquer natureza, bem

    como os que autorizam reduo do imposto por investimento de interesse econmico ou social. 46

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 346.

  • 13

    Na classificao em de imposto em principal, acessrio e dependentes48

    , temos

    que o tanto o IRS49

    como o IRPF podem ser classificados como sendo impostos

    principais.

    2.6. Dedues

    Apesar de ser um imposto geral50

    que sujeita toda a globalidade de rendimentos,

    temos que ter em mente que o legislador estabelece dedues que iro mitigar o efeito

    do imposto, mediante diminuio do valor efetivo cobrado do contribuinte. Os

    abatimentos inicialmente consagrados no CIRS deram lugar s dedues colecta, dado

    esta se traduzir numa vantagem igual para todos os contribuintes, ao contrrio dos

    abatimentos, atenta a progressividade das taxas51

    .

    Como aponta Glria Teixeira52

    , a dedutibilidade dos gastos ou despesas est

    diretamente relacionada com razes de poltica social, familiar e cultural. Como aponta

    Hugo Machado, embora se possa afirmar que o imposto sobre a renda tenha funo

    eminentemente fiscal(arrecadadora), este tambm possui funo extrafiscal relevante,

    com possibilidade de ser utilizado para realizar interveno no domnio econmico53

    .

    Manuel Pires indica54

    que as dedues visam precipuamente: adequar o imposto

    situao pessoal e familiar do contribuinte; atender s condies das pessoas com

    deficincia e evitar a dupla tributao internacional.

    Glria Teixeira aponta ainda que recentemente esto sendo questionadas a

    validade e eficincia de certos tipos de dedues, como por exemplo a dedutibilidade de

    juros relacionados com a compra de imveis para habitao55

    . Certos tipos de dedues

    47

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 44. 48

    Idem. 49

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 50

    Idem. 51

    Ibidem, p. 432 52

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 70. 53

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273. 54

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 432. 55

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273.

  • 14

    acabariam por incentivar outras entidades que no o sujeito visado. No exemplo dado da

    dedutibilidade dos juros, que teria por objetivo principal aumentar o nmero de

    proprietrio de imveis, os principais beneficirios so as entidades bancrias ou

    financeiras.

    Tanto em Portugal56

    quanto no Brasil, podem ser deduzidas, entre outras e em

    algumas hipteses e com certos limites, as despesas de sade, as despesas com educao

    e os encargos com penso de alimentos.

    Como dito, no Brasil, o imposto sobre a renda tem carter eminentemente

    fiscal57

    , sendo um tributo de enorme importncia no oramento da Unio Federal58

    ,

    figurando como a principal fonte de receita tributria59

    . Nada impede que sejam criadas

    dedues com carter extrafiscal60

    , permitindo, por exemplo, o abatimento de verbas

    gastas em determinados investimentos tidos como de interesse social ou econmico,

    como o reflorestamento que serviria para incentivar a formao de reservas florestais no

    pas.

    2.7. No incidncia sobre verbas indenizatrias

    No Brasil, corrente o entendimento que as verbas de natureza indenizatria no

    se sujeitam incidncia do IRPF, devendo o gravame incidir sobre as parcelas que

    compem o ganho de natureza salarial61

    . Se o ganho tiver natureza indenizatria, no

    haver incidncia do imposto sobre a renda. Cassone indica que se pode concluir que

    verbas recebidas em face de indenizao, por qualquer tipo de prejuzo ou dano, no

    esto sujeitas a IR, sendo essa a regra62

    .

    56

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 434. 57

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273. 58

    Idem. 59

    Idem. 60

    CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. Cit., p. 235. 61

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1016. 62

    CASSONE, Vittorio Direito tributrio. Cit., p. 374.

  • 15

    Em Portugal, h delimitao especfica para a no sujeio das indenizaes, em

    algumas hipteses. Se a indenizao for devida em consequncia de leso corporal,

    doena ou morte, e houver subordinao a determinados requisitos, como por exemplo

    paga pelo Estado em virtude de deciso judicial(art. 12, n. 1 do CIRS). O mesmo

    ocorre em relao aos danos morais fixados por deciso judicial ou resultante de acordo

    homologado judicialmente (art. 9, n. 1, alnea b do CIRS).

    2.8. Alquotas(taxas)

    Como dito anteriormente, o imposto sobre a renda um tributo de natureza

    eminentemente progressivo63

    . Vale frisar que o princpio da progressividade

    decorrncia do princpio da capacidade contributiva64

    . Se cada um deve contribuir para

    o custeio das necessidades estatais gerais na medida de sua capacidade econmica,

    devem os tributos aumentar medida que crescem tais manifestaes da capacidade

    contributiva65

    , como o caso da renda.

    O princpio da capacidade contributiva desapareceu do constitucionalismo

    brasileiro em 196766

    , embora como princpio geral de direito tributrio tenha

    permanecido no sistema, ressurgindo no texto constitucional de 1988, ou seja, na atual

    CRFB ao lado do princpio da personalizao. a traduo atual no direito fiscal do

    velho brocardo suum cuique tribuere67

    .

    Cumpre ento estabelecer em que medida o IRS portugus e o IRPF brasileiro

    tratam a questo da progressividade e consequentemente da capacidade contributiva.

    Analisaremos ento as tabelas que espelham os escales ou patamares em que so

    cobrados tais tributos.

    63

    ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente Direito tributrio na constituio e no STF. 7 ed. Rio

    de Janeiro: Impetus, 2004, p. 154. 64

    DIFINI, Luiz Felipe Silveira Manual de direito tributrio. 4 ed. So Paulo: Saraiva, 2008, p. 88. 65

    Idem.

    66 AMARO, Luciano Direito tributrio brasileiro. 12. ed. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 138.

    67 Idem.

  • 16

    Atualmente em Portugal, as alquotas (taxas) do IRS esto estabelecidas no

    artigo 68, n. 1 do com a redao dada pela Lei n 55-A/2010, de 31 de Dezembro, que

    estabelece um escalonamento de acordo com o valor do rendimento do contribuinte.

    Conforme o valor do rendimento sobe, o valor da taxa aplicvel tambm sobe, conforme

    quadro abaixo:

    Rendimento Coletvel(em euros)

    Taxas(em percentagens)

    Normal

    (A)

    Mdia

    (B)

    At 4 898 11,50 11,500

    De mais de 4 898 at 7 410 14,00 12,3480

    De mais de 7 410 at 18 375 24,50 19,5990

    De mais de 18 375 at 42 259 35,50 28,5860

    De mais de 42 259 at 61 244 38,00 31,5040

    De mais de 61 244 at 66 045 41,50 32,2310

    De mais de 66 045 at 153 300 43,50 38,6450

    Superior a 153 300 46,50

    Podemos ver que em Portugal h oito faixas de contribuio do IRS, o que

    permite afirmar que h uma boa progressividade do imposto, que inicia com alquota de

    11,5% e vai at a taxa de 46,50%, conforme o valor da renda do contribuinte. Quanto

    maior a renda do contribuinte, maior ser a alquota do imposto devido.

    Antes de 1989, no Brasil, para as pessoas fsicas a alquota do imposto era

    claramente progressiva, variando de 3%(trs por cento) at 55%(cinquenta e cinco por

    cento), dependendo do valor da renda lquida do contribuinte68

    . Essas alquotas incidiam

    sobre cada faixa de renda e no sobre o total, de forma que no clculo do imposto as

    diversas alquotas eram utilizadas.

    Com a edio da Lei 7.713/1988, que entrou em vigor em 01 de janeiro de 1989,

    e foi posteriormente modificada pela Lei 9.250/1995, as alquotas progressivas foram

    substitudas por apenas duas: 15%(quinze por cento) e 25%(vinte e cinco por cento).

    68

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 278.

  • 17

    Em 1997, em meio crise financeira asitica, que teve repercusso no Brasil, a alquota

    mxima foi majorada para 27,5% pela Lei 9.532/97, com efeito a partir de 01 de janeiro

    de 1998.

    Passados os efeitos da crise, contudo, o valor da alquota mxima foi mantido

    em 27,5%, vigente at hoje.

    Aps esse perodo e at 2008, no Brasil, existiam apenas trs escales de

    contribuio na tabela progressiva para o clculo do IRPF69

    , sendo uma faixa de iseno

    e duas faixas de contribuio, o que fazia com que a classe mdia assalariada sofresse

    forte tributao de seus rendimentos. Como aponta Sabbag70

    , em dezembro de 2008 o

    governo brasileiro anunciou a criao de duas novas alquotas intermedirias de

    Imposto de Renda para pessoas fsicas: 7,5% e 22,5%. Foram mantidas as alquotas de

    15% e 27,5% vigentes naquela data.

    Desde 2009, com o advento da Lei Federal n 11.945, de 5 de junho de 2009,

    que o escalonamento foi estendido em mais faixas, sendo uma faixa de iseno e quatro

    faixas de contribuio.

    Hoje, no Brasil, conforme disposio da Lei Federal n 12.469, de 26 de agosto

    de 2011, para o ano-calendrio 2011, est em vigor a tabela abaixo, que trata das

    alquotas do IRPF:

    Base de clculo mensal em R$ Alquota %

    Parcela a

    deduzir do

    imposto em

    R$

    At 1.566,61 - -

    De 1.566,62 at 2.347,85 7,5 117,49

    De 2.347,86 at 3.130,51 15 293,58

    De 3.130,52 at 3.911,63 22,5 528,37

    Acima de 3.911,63 27,5 723,95

    69

    Faixa de iseno, 15% e 27,5%. 70

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009, p. 125.

  • 18

    Em termos prticos, mensalmente quem ganha at R$ 1.566,61 estar isento do

    imposto, e deste valor at R$ 2.347,85, haver incidncia da alquota de 7,5%. incidir

    alquota de 15% para quem recebe mensalmente entre R$ 2.347,86 e R$ 3.130,51. Deste

    valor at R$ 3.911,63 incide o percentual de 22,5% a ttulo de IRPF. Acima deste valor,

    a alquota a incidir ser de 27,5%.

    Como aponta Ricardo Alexandre71

    , como a incidncia do imposto mais

    gravosa sobre os maiores rendimentos, obtm-se o efeito de redistribuio de renda,

    pois aqueles que menos contribuem so, em regra, os que mais utilizam os servios

    pblicos (sade e educao, por exemplo).

    Vemos, entretanto, que apesar de o Brasil ter uma distribuio de renda muito

    pior do que a de Portugal, a progressividade do imposto brasileiro menor que a do

    imposto portugus.

    Para que haja uma maior justia fiscal no Brasil, como aponta Sabbag,

    necessrio que seja estabelecido de um expressivo grau de progressividade de alquotas,

    em funo da quantidade de renda auferida72

    : h que se imprimir maior progressividade

    s alquotas, de modo a cumprir efetivamente o desgnio constitucional.

    71

    ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. Cit., p. 558. 72

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1013.

  • 19

    3. Concluses

    Com o presente estudo, trouxemos um breve panorama do IRPF brasileiro e do

    IRS portugus, indicando as lies da doutrina portuguesa e brasileira sobre os referidos

    impostos, fazendo uma rpida releitura do tema posto em discusso.

    Apesar de possuir nomenclatura diferente, sendo Imposto sobre a renda de

    pessoas singulares IRS em Portugal e Imposto sobre a renda de pessoas fsicas IRPF

    no Brasil, ambos os impostos tratam do mesmo fato gerador, qual seja: a percepo de

    rendimentos por pessoas singulares, tratadas como pessoas fsicas ou naturais no Brasil.

    Vimos que para a legislao do imposto sobre o rendimento, tanto do IRS

    quanto do IRPF, indiferente o fato do rendimento ter sido obtido por meio ilcito,

    sendo devido o pagamento dos referidos impostos, caso haja aumento patrimonial

    decorrente de tal atividade.

    Podemos verificar que tanto o IRS quanto o IRPF so impostos progressivos e

    de quota varivel, sendo que em Portugal tratado como um imposto estadual ao passo

    que no Brasil tido comum um imposto federal, em razo da organizao diferenciada

    da Repblica brasileira, com trs nveis de competncias tributrias. Vimos ainda que

    ambos os impostos so peridicos, pessoais, sobre a renda e principais.

    Trouxemos a noo do que so as dedues, e a informao de que foram

    diminudas severamente em um passado recente no Brasil, enquanto Portugal

    experimentou o fenmeno da revogao dos abatimentos (art. 56 do CIRS), subsistindo

    somente um nmero limitado de dedues.

    E por fim, vimos a questo das alquotas (taxas) do IRPF brasileiro e do RS

    portugus e para que elas servem, como forte instrumento de distribuio de renda,

    como um imposto que deve atender ao princpio da progressividade e da capacidade

    contributiva, principalmente no Brasil, onde a desigualdade social maior do que em

    Portugal.

  • 20

    4. Bibliografia

    ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. 4 ed. So Paulo: Mtodo,

    2010

    ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente Direito tributrio na constituio e no

    STF. 7 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004

    AMARO, Luciano Direito tributrio brasileiro. 12. ed. So Paulo: Saraiva, 2006, p.

    138.

    CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Saraiva,

    2005

    CASSONE, Vittorio Direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 374.

    DIFINI, Luiz Felipe Silveira Manual de direito tributrio. 4 ed. So Paulo: Saraiva,

    2008

    MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. 21 ed. So Paulo: Malheiros,

    2002

    PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010

    SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009

    TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina, 2010