trabalho fiscal - comparativo entre o irpj brasileiro e o irps português
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Aspectos comparativos do IRPF brasileiro e
o IRS portugus
Universidade do Porto
Curso de Ps-graduao em Cincias Jurdicas (ao abrigo de Protocolo e Acordo com o
IPCP, com possibilidade de creditao para acesso ao Curso de Mestrado em Direito)
Disciplina: Direito Fiscal
Professora Doutora: Glria Teixeira
Aluno: Emmanuel Ruck Vieira Leal
Dezembro/2011
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LISTA DE ABREVIATURAS
IRPF Imposto sobre a renda das pessoas fsicas
IRS Imposto sobre a renda das pessoas singulares
CIRS Cdigo do imposto sobre a renda das pessoas singulares
CRFB Constituio da Repblica Federativa do Brasil
CTN Cdigo tributrio nacional brasileiro
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SUMRIO
1. Introduo ..................................................................................................................... 4
2. IRPJ e IRS .................................................................................................................... 5
2.1 Denominao do tributo no Brasil e em Portugal ................................................................................................ 5
2.2. Noes do imposto e legislao aplicvel .......................................................................................................... 6
2.3. Conceito de renda ............................................................................................................................................... 7
2.3.1 Aspecto espacial .......................................................................................................................................... 8
2.3.2 Rendimentos decorrentes de atos ilcitos ..................................................................................................... 9
2.4. Titularidade do imposto.................................................................................................................................... 10
2.5. Classificaes ................................................................................................................................................... 11
2.6. Dedues .......................................................................................................................................................... 13
2.7. No incidncia sobre verbas indenizatrias ...................................................................................................... 14
2.8. Alquotas(taxas) ............................................................................................................................................... 14
3. Concluses .................................................................................................................. 18
4. Bibliografia ................................................................................................................. 20
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Aspectos comparativos do IRPF brasileiro e o IRS portugus
Emmanuel Ruck Vieira Leal1
1. Introduo
O presente tem por objetivo traar um breve panorama do IRPF brasileiro e do
IRS portugus. Para tanto sero indicados apontamentos da doutrina portuguesa e
brasileira sobre os referidos impostos, fazendo uma rpida releitura do tema posto em
discusso.
Abordaremos inicialmente a questo em torno da nomenclatura, que diferencia o
imposto brasileiro do portugus. Veremos que: 1) em Portugal o imposto denominado
de acordo com o tratamento que dado pelo cdigo civil; 2) no Brasil, o imposto
nomeado conforme o costume tributrio, j que no usual a denominao utilizada
pelo cdigo civil.
Apresentaremos uma breve noo do IRPF brasileiro e do IRS portugus,
indicando a legislao aplicvel em um e outro caso, trazendo inclusive a soluo de
ambos os pases quanto taxao da renda obtida por meio ilcito.
Trataremos em seguida da questo acerca da titularidade do tributo, atentando
para o fato da organizao do Brasil como uma repblica federativa, com diversas
esferas de tributao. Nesse ponto, teceremos alguns comentrios relativos diviso dos
impostos em estaduais e no estaduais mencionados na doutrina portuguesa e faremos
um confronto com a diviso brasileira dos tributos.
Em seguida indicaremos as principais classificaes que tm sido atribudas ao
IRS e ao IRPF pela doutrina portuguesa e brasileira, se direito ou indireto, real ou
1 Bacharel em direito pela Universidade Federal da Paraba UFPB; ps-graduado (lato sensu) em
Direito Empresarial pela Universidade Federal da Paraba UFPB e em Direito Penal e Criminologia pela Universidade Potiguar UNP. Procurador Federal da Advocacia-Geral da Unio. Aluno do Curso de Ps-Graduao em Cincias Jurdicas da Universidade do Porto.
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pessoal, de quota fixa ou varivel, peridico ou de obrigao nica, estaduais e no
estaduais, sobre o rendimento, o patrimnio ou a despesa2.
Abordaremos ainda o que vem a ser as dedues, qual a sua finalidade e de que
maneira eles funcionam, reduzindo o valor o imposto sobre a renda a ser paga, tanto no
Brasil quanto em Portugal.
Por fim, trataremos da questo das alquotas (taxas) do IRPF brasileiro e do RS
portugus, para que elas servem, e de que maneira esto cumprindo o papel do imposto
em ateno ao princpio da progressividade e da capacidade contributiva.
2. IRPJ e IRS
2.1 Denominao do tributo no Brasil e em Portugal
Como objeto do trabalho a anlise do imposto sobre o rendimento das pessoas,
tratadas individualmente, a primeira questo que nos aparece a da denominao do
tributo no Brasil e em Portugal.
No Brasil3, apesar de o Cdigo Civil tratar no Ttulo I do Livro I tratar das
pessoas naturais, comum o prprio cdigo tratar referidas pessoas naturais como
sendo pessoas fsicas. Podemos exemplificar citando o art. 1.0394 do mencionado
diploma legal.
O regulamento brasileiro do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer
Natureza, publicado no Decreto n 3.000, de 26 de maro de 1999, trata em seu Livro I
da tributao das pessoas fsicas, indicando claramente que ser esse o tratamento
adotado pela legislao tributria brasileira ao se referir ao que os portugueses
costumam chamar de pessoas singulares.
2 Classificao indicada em TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina,
2010, p. 43-44.
3 O Cdigo Tributrio Nacional brasileiro em seu art. 83 faz referncia tambm ao rendimento das
pessoas fsicas. 4 Cdigo Civil brasileiro.
Art. 1.039. Somente pessoas fsicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os scios, solidria e ilimitadamente, pelas obrigaes sociais.
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Assim a denominao brasileira prefervel do tributo de Imposto de Renda das
Pessoas Fsicas, abreviado comumente como IRPF5, no obstante englobar no s a
renda, mas tambm os proventos de qualquer natureza6.
Em Portugal, a denominao mais clara, j que segue a nomenclatura do
prprio Cdigo Civil portugus, que no Ttulo II, Subttulo I, Captulo I, trata das
pessoas singulares. O artigo 1 do Decreto-Lei n 442-A/88, de 30 de Novembro, que
o Cdigo do IRS7, trata do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS).
2.2. Noes do imposto e legislao aplicvel
Tanto o IRS portugus quanto o IRPF brasileiro so impostos que tem por
escopo tributar o rendimento das pessoas singulares, denominadas no Brasil de pessoas
fsicas ou naturais.
Em Portugal tratado principalmente no Cdigo do IRS(CIRS) institudo pelo
Decreto-Lei n 442-A/88 de 30 de Novembro. No Brasil o IRPF tem regulamentao
legal totalmente espalhada em um sem-nmero de instrumentos normativos, dentre os
quais podemos citar como mais importantes, alm da CRFB e do CTN: o Regulamento
do Imposto sobre a Renda(RIR/99), institudo pelo Decreto n 3.000, de 26 de maro de
1999, as Leis Federais ns 7.713/1988, 9.250/1995 e 11.482/2007, com as alteraes
posteriores, inclusive da Lei Federal n 12.469/2011 que estabeleceu a nova tabela
progressiva mensal.
O rendimento tributvel do contribuinte apurado aps sujeio das diferentes
categorias de rendimentos8 s regras de incidncia do imposto sobre a renda e feitas as
dedues e os abatimentos permitidos9. Sobre esse rendimento lquido que incidir o
imposto sobre a renda. A incidncia do imposto de renda ocorre sobre o crdito lquido
5 ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. 4 ed. So Paulo: Mtodo, 2010, p. 32.
6 Ibidem, p. 558.
7 TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 69
8 Ibidem, p. 69.
9 Idem.
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do contribuinte, ou seja, a diferena entre a renda ou provento auferido e os encargos
admitis em lei, tais como gastos com dependentes, planos de sade etc10
.
2.3. Conceito de renda
No Brasil, o art. 43 do CTN11
estabelece que o imposto incide sobre a renda e
proventos de qualquer natureza e tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade
econmica ou jurdica. Hugo Machado indica que, na expresso do Cdigo, renda
sempre um produto, um resultado, quer do trabalho, quer do capital, que da combinao
desses dois fatores. Os demais acrscimos patrimoniais que no se comportem no
conceito de renda so proventos12
.
Deve aqui ser feito um aparte para anlise do conceito de disponibilidade
econmica e disponibilidade financeira. Sabbag indica que a disponibilidade jurdica a
obteno de direito de crditos no sujeitos condio suspensiva, representado por
ttulos ou documentos de liquidez e certeza13
. O imposto s pode incidir quando h
acrscimo patrimonial, salientando-se que no h necessidade de o rendimento ser
efetivamente recebido pelo sujeito passivo, sendo suficiente que este tenha adquirido o
direito de crdito sobre ele, ou seja, a disponibilidade jurdica. O referido autor
exemplifica a situao com o caso de um comerciante que vende um produto no ltimo
dia do ano, porm s recebe o pagamento no 1 dia do ano subsequente14
, considerando
para fins tributrios a data da venda e no a do recebimento, pois com a venda o
contribuinte adquire a disponibilidade jurdica sobre o rendimento tributvel.
Em Portugal, o artigo 1, n. 1 do CIRS estabelece que: O imposto sobre o
rendimento das pessoas singulares (IRS) incide sobre o valor anual dos rendimentos das
10
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009, p. 1012. 11
Art. 43do CTN. O imposto, de competncia da Unio, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinao de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acrscimos patrimoniais no compreendidos
no inciso anterior. 12
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. 21 ed. So Paulo: Malheiros, 2002, p. 274. 13
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1011. 14
Idem.
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categorias seguintes, mesmo quando provenientes de actos ilcitos, depois de efectuadas
as correspondentes dedues e abatimentos. Vale lembrar, contudo, que o carter anual
no prejudica as retenes na fonte na forma do art. 98 a 101 do CIRS15
, inclusive as
realizadas mensalmente.
No existe definio de rendimento no CIRS16
, sendo, porm, enumerados os
seus vrios tipos, embora sem disposio genrica, contrariamente ao que se encontra na
legislao dos Estados Unidos. Os diversos rendimentos constituem elementos
sintomticos da capacidade contributiva do sujeito17
.
2.3.1 Aspecto espacial
O IRS atende ao princpio da territorialidade pessoal (tributao em funo da
residncia) e territorialidade real (tributao atendendo ao lugar da produo do
rendimento). Fica reconhecido assim o poder tributrio do local em que produzido o
rendimento e da residncia do respectivo beneficirio, sendo em princpio indiferente a
nacionalidade do sujeito passivo18
. O artigo 13, n. 1 e o artigo 15 do CIRS trazem as
respectivas regras que acolhem tais princpios.
Assim, aplica-se o princpio da territorialidade para taxao dos rendimentos
originados em territrio portugus no caso dos contribuintes com residncia em
territrio estrangeiro19
.
Indivduos no residentes e sem rendimentos originrios em territrio portugus
no esto sujeitos a IRS20
.
Como aponta Sabbag, em matria de IRPF, como praxe internacional, a renda
tributvel no pas de quem a aufere. Assim a renda deve ser tributada no pas onde
reside o contribuinte21
. Ele indica que o ponto fulcral da tributao da renda em patamar
15
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 383. 16
Ibidem, p. 350. 17
Idem. 18
Ibidem, p. 375. 19
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 70. 20
Idem. 21
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1016.
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internacional sempre foi a mobilidade da renda, que constitui a razo pela qual se
assinam acordos de tributao internacional, a fim de que se inibam os mecanismos de
mobilidade, preservando-se uma tributao adequada e justa22
.
Isso o que faz os pases implementarem medidas conjuntas no sentido de coibir
a proliferao de parasos fiscais e obterem a razo final da tributao consentnea com
a justia fiscal23
. No caso de Brasil e Portugal, existe a conveno entre a Repblica
Federativa do Brasil e a Repblica Portuguesa destinada a evitar a dupla tributao e
prevenir a evaso fiscal em matria de impostos sobre o rendimento, celebrada em
Braslia em 16 de maio de 2000 e aprovada para ter vigor no Brasil pelo Decreto
Legislativo n 188, de 8 de junho de 2001.
2.3.2 Rendimentos decorrentes de atos ilcitos.
O art. 1 do CIRS acima transcrito deixa claro que mesmo se for decorrente de
ato ilcito, h incidncia de IRS sobre a renda auferida atravs de conduta contrria ao
ordenamento jurdico. Aqui o que interessa ao fisco saber se h enquadramento do
rendimento nas hipteses elencadas no CIRS. Havendo o mencionado rendimento,
pouco importa se foi decorrente ou no de ato ilcito.
No Brasil, em razo da clusula geral residual do conceito de proventos, que
definido por excluso do que no se enquadre no conceito legal de renda, os acrscimos
patrimoniais decorrente de atividade ilcita, inclusive criminosa estaro abrangidos no
conceito de proventos24
, sendo sujeitos, portanto, tributao pelo IRPF, ainda que o
aumento patrimonial seja decorrente de trfico de drogas25
, por exemplo.
A razo de ser para tal entendimento que, nesses casos, no se est punindo o
ato ilcito com a incidncia do tributo. A cobrana decorre da ocorrncia do fato
gerador, que uma vez verificada deve ser interpretada abstraindo-se da validade jurdica
22
Idem. 23
Idem. 24
ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. Cit., p. 558. 25
Ibidem, p. 560.
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dos atos praticados. Essa lio que podemos retirar da clara dico do art. 188, inciso I e
II do CTN, que dispe que a definio legal do fato gerador interpretada abstraindo-se
da validade jurdica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, bem como da
natureza de seu objeto ou de seus efeitos26
.
2.4. Titularidade do imposto
Em Portugal, quanto titularidade, costuma-se classificar os impostos em
estaduais e no estaduais27
. So ditos como no estaduais os que dizem respeito a uma
entidade diversa do estado, nomeadamente os impostos regionais, municipais, etc28
.
O IRS portugus um imposto estadual, atendendo ao sujeito ativo do
imposto29
.
No Brasil, com a organizao em forma de repblica federativa (art. 1 da CRFB
de 1988), temos a existncia de trs esferas de tributao, a federal, a estadual e a
municipal, cada uma com uma competncia tributria prpria30
. Os impostos so
classificados ento como federais, estaduais e municipais31
. So ditos federais os
impostos de titularidade da Unio Federal. Os impostos estaduais so os que possuem
como sujeito ativo um dos estados da repblica federativa brasileira. Os impostos
municipais, como a prpria denominao j indica, tm como titular um municpio.
O IRPF brasileiro assim um imposto federal, uma vez que o art. 153 da CRFB
estabelece a competncia privativa da Unio para instituir imposto sobre a renda e
proventos de qualquer natureza.
26
Art. 118 do CTN. A definio legal do fato gerador interpretada abstraindo-se:
I - da validade jurdica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsveis, ou terceiros,
bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos. 27
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 44. 28
Idem. 29
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010, p. 347. 30
CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Saraiva, 2005, p. 220. 31
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 261.
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A justificao para tal imposto ser de competncia federal decorre do ato de
poder ser utilizado como instrumento de distribuio de renda, buscando manter em
equilbrio o desenvolvimento econmico das diversas regies do pas32
.
2.5. Classificaes
Em razo de estar organizado em escales com percentuais variveis, em
Portugal, o IRS tido com um imposto de quota varivel33
, que visa tributar os
contribuintes em consonncia com o princpio da progressividade34
, da mesma forma
que ocorre com IRPF brasileiro que tido como um imposto de alquotas progressivas.
Aqui vale fazer um parntese para indicar o que vem a ser um imposto
progressivo, que, na definio de Cassone, um imposto que, tendo duas ou mais
alquotas, o montante do imposto varia desproporcionalmente em funo do valor
tributvel35
, ou seja, o tributo vai aumentando desproporcionalmente. Assim a
desproporcionalidade da tributao, em funo do valor tributvel o elemento que
diferencia a progressividade da proporcionalidade.
Como dito, quanto titularidade, o IRS classifica-se como um imposto estadual
em Portugal e o IRPF como um imposto federal no Brasil.
O IRS portugus36
e o IRPF brasileiro podem ser ainda classificados como
impostos peridicos. Em Portugal, o imposto (IRS) incide sobre o valor anual do
rendimento dos contribuintes, depois de efetuadas as correspondentes dedues37
. No
Brasil, de igual forma, tambm um imposto (IRPF) de incidncia anual38
, no obstante
32
Ibidem, p. 272. 33
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 34
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 71. 35
CASSONE, Vittorio Direito tributrio. 17.ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 83. 36
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 37
Idem. 38
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit..
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a previso de retenes mensais do tributo atribuda lei pelo Cdigo Tributrio
Nacional39
.
Utilizando a classificao dos impostos em reais e pessoais40
, que o IRS um
imposto pessoal41
uma vez que s pode ser pensado tomando-se em conta um
contribuinte em concreto, valendo frisar, entretanto, que em alguns casos pode-se
apresentar com um imposto real42
.
Hugo Machado indica em relao ao IRPF que as alteraes realizadas a
pretexto de simplificar a sistemtica do imposto, praticamente eliminou o carter
pessoal do imposto de renda43
, que ele aponta como sendo o nico tributo que atendida
ao art. 145, 144
da CRFB. Ele indica que a partir de 1989 quando foi suprimida a
classificao dos rendimentos e ganhos de capital das pessoas fsicas por cdulas, e
revogados todos os dispositivos pertinentes a isenes, dedues e abatimentos45
. O
imposto passou a ser devido mensalmente, calculado sobre o rendimento bruto, do qual
apenas algumas parcelas podem ser abatidas, entre as quais as penses alimentcias e as
contribuies previdencirias. Aqui podemos ver que ele trata a questo de ser um
imposto pessoal no no que tange contraposio ao imposto real, mas no respeita
individualizao do tributo e a individualizao segunda a capacidade econmica do
contribuinte referida no texto constitucional brasileiro.
Podemos classificar o IRS e o IRPF como sendo impostos sobre o rendimento e
diretos46
, em contraposio a outros impostos que podem incidir sobre o patrimnio ou
sobre a despesa47
.
39
Vide art. 45, pargrafo nico do CTN brasileiro. 40
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 43. 41
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 42
Idem. 43
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 283. 44
Art. 145 CRFB. 1 - Sempre que possvel, os impostos tero carter pessoal e sero graduados segundo a capacidade econmica do contribuinte, facultado administrao tributria, especialmente para conferir efetividade a
esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimnio, os
rendimentos e as atividades econmicas do contribuinte. 45
O art. 3, 5 da Lei Federal n 7.713/1988, com vigncia a partir de 01/01/1989 estabeleceu que:
5 Ficam revogados todos os dispositivos legais concessivos de iseno ou excluso, da base de
clculo do imposto de renda das pessoas fsicas, de rendimentos e proventos de qualquer natureza, bem
como os que autorizam reduo do imposto por investimento de interesse econmico ou social. 46
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 346.
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Na classificao em de imposto em principal, acessrio e dependentes48
, temos
que o tanto o IRS49
como o IRPF podem ser classificados como sendo impostos
principais.
2.6. Dedues
Apesar de ser um imposto geral50
que sujeita toda a globalidade de rendimentos,
temos que ter em mente que o legislador estabelece dedues que iro mitigar o efeito
do imposto, mediante diminuio do valor efetivo cobrado do contribuinte. Os
abatimentos inicialmente consagrados no CIRS deram lugar s dedues colecta, dado
esta se traduzir numa vantagem igual para todos os contribuintes, ao contrrio dos
abatimentos, atenta a progressividade das taxas51
.
Como aponta Glria Teixeira52
, a dedutibilidade dos gastos ou despesas est
diretamente relacionada com razes de poltica social, familiar e cultural. Como aponta
Hugo Machado, embora se possa afirmar que o imposto sobre a renda tenha funo
eminentemente fiscal(arrecadadora), este tambm possui funo extrafiscal relevante,
com possibilidade de ser utilizado para realizar interveno no domnio econmico53
.
Manuel Pires indica54
que as dedues visam precipuamente: adequar o imposto
situao pessoal e familiar do contribuinte; atender s condies das pessoas com
deficincia e evitar a dupla tributao internacional.
Glria Teixeira aponta ainda que recentemente esto sendo questionadas a
validade e eficincia de certos tipos de dedues, como por exemplo a dedutibilidade de
juros relacionados com a compra de imveis para habitao55
. Certos tipos de dedues
47
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 44. 48
Idem. 49
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 347. 50
Idem. 51
Ibidem, p. 432 52
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. Cit., p. 70. 53
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273. 54
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 432. 55
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273.
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acabariam por incentivar outras entidades que no o sujeito visado. No exemplo dado da
dedutibilidade dos juros, que teria por objetivo principal aumentar o nmero de
proprietrio de imveis, os principais beneficirios so as entidades bancrias ou
financeiras.
Tanto em Portugal56
quanto no Brasil, podem ser deduzidas, entre outras e em
algumas hipteses e com certos limites, as despesas de sade, as despesas com educao
e os encargos com penso de alimentos.
Como dito, no Brasil, o imposto sobre a renda tem carter eminentemente
fiscal57
, sendo um tributo de enorme importncia no oramento da Unio Federal58
,
figurando como a principal fonte de receita tributria59
. Nada impede que sejam criadas
dedues com carter extrafiscal60
, permitindo, por exemplo, o abatimento de verbas
gastas em determinados investimentos tidos como de interesse social ou econmico,
como o reflorestamento que serviria para incentivar a formao de reservas florestais no
pas.
2.7. No incidncia sobre verbas indenizatrias
No Brasil, corrente o entendimento que as verbas de natureza indenizatria no
se sujeitam incidncia do IRPF, devendo o gravame incidir sobre as parcelas que
compem o ganho de natureza salarial61
. Se o ganho tiver natureza indenizatria, no
haver incidncia do imposto sobre a renda. Cassone indica que se pode concluir que
verbas recebidas em face de indenizao, por qualquer tipo de prejuzo ou dano, no
esto sujeitas a IR, sendo essa a regra62
.
56
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. Cit., p. 434. 57
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 273. 58
Idem. 59
Idem. 60
CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. Cit., p. 235. 61
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1016. 62
CASSONE, Vittorio Direito tributrio. Cit., p. 374.
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Em Portugal, h delimitao especfica para a no sujeio das indenizaes, em
algumas hipteses. Se a indenizao for devida em consequncia de leso corporal,
doena ou morte, e houver subordinao a determinados requisitos, como por exemplo
paga pelo Estado em virtude de deciso judicial(art. 12, n. 1 do CIRS). O mesmo
ocorre em relao aos danos morais fixados por deciso judicial ou resultante de acordo
homologado judicialmente (art. 9, n. 1, alnea b do CIRS).
2.8. Alquotas(taxas)
Como dito anteriormente, o imposto sobre a renda um tributo de natureza
eminentemente progressivo63
. Vale frisar que o princpio da progressividade
decorrncia do princpio da capacidade contributiva64
. Se cada um deve contribuir para
o custeio das necessidades estatais gerais na medida de sua capacidade econmica,
devem os tributos aumentar medida que crescem tais manifestaes da capacidade
contributiva65
, como o caso da renda.
O princpio da capacidade contributiva desapareceu do constitucionalismo
brasileiro em 196766
, embora como princpio geral de direito tributrio tenha
permanecido no sistema, ressurgindo no texto constitucional de 1988, ou seja, na atual
CRFB ao lado do princpio da personalizao. a traduo atual no direito fiscal do
velho brocardo suum cuique tribuere67
.
Cumpre ento estabelecer em que medida o IRS portugus e o IRPF brasileiro
tratam a questo da progressividade e consequentemente da capacidade contributiva.
Analisaremos ento as tabelas que espelham os escales ou patamares em que so
cobrados tais tributos.
63
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente Direito tributrio na constituio e no STF. 7 ed. Rio
de Janeiro: Impetus, 2004, p. 154. 64
DIFINI, Luiz Felipe Silveira Manual de direito tributrio. 4 ed. So Paulo: Saraiva, 2008, p. 88. 65
Idem.
66 AMARO, Luciano Direito tributrio brasileiro. 12. ed. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 138.
67 Idem.
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16
Atualmente em Portugal, as alquotas (taxas) do IRS esto estabelecidas no
artigo 68, n. 1 do com a redao dada pela Lei n 55-A/2010, de 31 de Dezembro, que
estabelece um escalonamento de acordo com o valor do rendimento do contribuinte.
Conforme o valor do rendimento sobe, o valor da taxa aplicvel tambm sobe, conforme
quadro abaixo:
Rendimento Coletvel(em euros)
Taxas(em percentagens)
Normal
(A)
Mdia
(B)
At 4 898 11,50 11,500
De mais de 4 898 at 7 410 14,00 12,3480
De mais de 7 410 at 18 375 24,50 19,5990
De mais de 18 375 at 42 259 35,50 28,5860
De mais de 42 259 at 61 244 38,00 31,5040
De mais de 61 244 at 66 045 41,50 32,2310
De mais de 66 045 at 153 300 43,50 38,6450
Superior a 153 300 46,50
Podemos ver que em Portugal h oito faixas de contribuio do IRS, o que
permite afirmar que h uma boa progressividade do imposto, que inicia com alquota de
11,5% e vai at a taxa de 46,50%, conforme o valor da renda do contribuinte. Quanto
maior a renda do contribuinte, maior ser a alquota do imposto devido.
Antes de 1989, no Brasil, para as pessoas fsicas a alquota do imposto era
claramente progressiva, variando de 3%(trs por cento) at 55%(cinquenta e cinco por
cento), dependendo do valor da renda lquida do contribuinte68
. Essas alquotas incidiam
sobre cada faixa de renda e no sobre o total, de forma que no clculo do imposto as
diversas alquotas eram utilizadas.
Com a edio da Lei 7.713/1988, que entrou em vigor em 01 de janeiro de 1989,
e foi posteriormente modificada pela Lei 9.250/1995, as alquotas progressivas foram
substitudas por apenas duas: 15%(quinze por cento) e 25%(vinte e cinco por cento).
68
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. Cit., p. 278.
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17
Em 1997, em meio crise financeira asitica, que teve repercusso no Brasil, a alquota
mxima foi majorada para 27,5% pela Lei 9.532/97, com efeito a partir de 01 de janeiro
de 1998.
Passados os efeitos da crise, contudo, o valor da alquota mxima foi mantido
em 27,5%, vigente at hoje.
Aps esse perodo e at 2008, no Brasil, existiam apenas trs escales de
contribuio na tabela progressiva para o clculo do IRPF69
, sendo uma faixa de iseno
e duas faixas de contribuio, o que fazia com que a classe mdia assalariada sofresse
forte tributao de seus rendimentos. Como aponta Sabbag70
, em dezembro de 2008 o
governo brasileiro anunciou a criao de duas novas alquotas intermedirias de
Imposto de Renda para pessoas fsicas: 7,5% e 22,5%. Foram mantidas as alquotas de
15% e 27,5% vigentes naquela data.
Desde 2009, com o advento da Lei Federal n 11.945, de 5 de junho de 2009,
que o escalonamento foi estendido em mais faixas, sendo uma faixa de iseno e quatro
faixas de contribuio.
Hoje, no Brasil, conforme disposio da Lei Federal n 12.469, de 26 de agosto
de 2011, para o ano-calendrio 2011, est em vigor a tabela abaixo, que trata das
alquotas do IRPF:
Base de clculo mensal em R$ Alquota %
Parcela a
deduzir do
imposto em
R$
At 1.566,61 - -
De 1.566,62 at 2.347,85 7,5 117,49
De 2.347,86 at 3.130,51 15 293,58
De 3.130,52 at 3.911,63 22,5 528,37
Acima de 3.911,63 27,5 723,95
69
Faixa de iseno, 15% e 27,5%. 70
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009, p. 125.
-
18
Em termos prticos, mensalmente quem ganha at R$ 1.566,61 estar isento do
imposto, e deste valor at R$ 2.347,85, haver incidncia da alquota de 7,5%. incidir
alquota de 15% para quem recebe mensalmente entre R$ 2.347,86 e R$ 3.130,51. Deste
valor at R$ 3.911,63 incide o percentual de 22,5% a ttulo de IRPF. Acima deste valor,
a alquota a incidir ser de 27,5%.
Como aponta Ricardo Alexandre71
, como a incidncia do imposto mais
gravosa sobre os maiores rendimentos, obtm-se o efeito de redistribuio de renda,
pois aqueles que menos contribuem so, em regra, os que mais utilizam os servios
pblicos (sade e educao, por exemplo).
Vemos, entretanto, que apesar de o Brasil ter uma distribuio de renda muito
pior do que a de Portugal, a progressividade do imposto brasileiro menor que a do
imposto portugus.
Para que haja uma maior justia fiscal no Brasil, como aponta Sabbag,
necessrio que seja estabelecido de um expressivo grau de progressividade de alquotas,
em funo da quantidade de renda auferida72
: h que se imprimir maior progressividade
s alquotas, de modo a cumprir efetivamente o desgnio constitucional.
71
ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. Cit., p. 558. 72
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. Cit., p. 1013.
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19
3. Concluses
Com o presente estudo, trouxemos um breve panorama do IRPF brasileiro e do
IRS portugus, indicando as lies da doutrina portuguesa e brasileira sobre os referidos
impostos, fazendo uma rpida releitura do tema posto em discusso.
Apesar de possuir nomenclatura diferente, sendo Imposto sobre a renda de
pessoas singulares IRS em Portugal e Imposto sobre a renda de pessoas fsicas IRPF
no Brasil, ambos os impostos tratam do mesmo fato gerador, qual seja: a percepo de
rendimentos por pessoas singulares, tratadas como pessoas fsicas ou naturais no Brasil.
Vimos que para a legislao do imposto sobre o rendimento, tanto do IRS
quanto do IRPF, indiferente o fato do rendimento ter sido obtido por meio ilcito,
sendo devido o pagamento dos referidos impostos, caso haja aumento patrimonial
decorrente de tal atividade.
Podemos verificar que tanto o IRS quanto o IRPF so impostos progressivos e
de quota varivel, sendo que em Portugal tratado como um imposto estadual ao passo
que no Brasil tido comum um imposto federal, em razo da organizao diferenciada
da Repblica brasileira, com trs nveis de competncias tributrias. Vimos ainda que
ambos os impostos so peridicos, pessoais, sobre a renda e principais.
Trouxemos a noo do que so as dedues, e a informao de que foram
diminudas severamente em um passado recente no Brasil, enquanto Portugal
experimentou o fenmeno da revogao dos abatimentos (art. 56 do CIRS), subsistindo
somente um nmero limitado de dedues.
E por fim, vimos a questo das alquotas (taxas) do IRPF brasileiro e do RS
portugus e para que elas servem, como forte instrumento de distribuio de renda,
como um imposto que deve atender ao princpio da progressividade e da capacidade
contributiva, principalmente no Brasil, onde a desigualdade social maior do que em
Portugal.
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20
4. Bibliografia
ALEXANDRE, Ricardo Direito tributrio esquematizado. 4 ed. So Paulo: Mtodo,
2010
ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente Direito tributrio na constituio e no
STF. 7 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004
AMARO, Luciano Direito tributrio brasileiro. 12. ed. So Paulo: Saraiva, 2006, p.
138.
CARVALHO, Paulo de Barros Curso de direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Saraiva,
2005
CASSONE, Vittorio Direito tributrio. 17 ed. So Paulo: Atlas, 2006, p. 374.
DIFINI, Luiz Felipe Silveira Manual de direito tributrio. 4 ed. So Paulo: Saraiva,
2008
MACHADO, Hugo de Brito Curso de direito tributrio. 21 ed. So Paulo: Malheiros,
2002
PIRES, Manuel ; PIRES, Rita Calada Direito fiscal. 4 ed. Coimbra: Almedina, 2010
SABBAG, Eduardo Manual de direito tributrio. So Paulo: Saraiva, 2009
TEIXEIRA, Glria Manual de direito fiscal. 2 ed. Coimbra: Almedina, 2010