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CENTRO UNIVERSITRIO ADVENTISTA DE SO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO

RAQUEL MENDES ROCHIA SANTOS

UM CORAL DE CANTOTERAPIA: RELATO DE EXPERINCIA

ENGENHEIRO COELHO 2011

RAQUEL MENDES ROCHIA SANTOS

Trabalho de concluso de curso do Centro Universitrio Adventista de So Paulo do curso de Ps Graduao em Regncia Coral com Capacitao para Docncia, sob orientao da Profa Ms.Ellen Boger Stencel.

ENGENHEIRO COELHO 2011

Dedico esse trabalho ao meu esposo Alexandre, pelo amor e pelo apoio incondicional, ao meu av Jos Mendes (in memorian) por me incutir a vontade incansvel de saber, dizendo-me sempre que aprender no ocupa espao e aos professores que me incentivaram a continuar aprendendo.

Comece fazendo o que necessrio, depois o que possvel, e de repente voc estar fazendo o impossvel. Francisco de Assis

SUMRIO 1 INTRODUO......................................................................................................07 2 OBJETIVOS..........................................................................................................09 2.1 Objetivo geral...............................................................................................09 2.2 Objetivos especficos...................................................................................09 3 METODOLOGIA...................................................................................................10 4 TRABALHANDO A VOZ, O CORPO E A MENTE................................................11 4.1 Definies das terapias citadas neste trabalho.........................................11 4.2 Um novo profissional: o cantoterapeuta....................................................13 4.3 Aspectos relevantes para as prticas e dinmicas dos ensaios..............14 4.3.1 Psicodinmica Vocal...........................................................................14 4.3.2 Vivncias Corporais-vocais................................................................15 4.3.3 Produo Vocal...................................................................................17 5 ASPECTOS GERAIS DO PROGRAMA: O PROPOSTO E O EXECUTADO........18 5.1. Proposta Inicial............................................................................................18 5.1.1 Cronograma de ensaios e apresentaes.........................................18 5.1.2 Objetivo do programa.........................................................................18 5.1.3 Definio do grupo vocal (descrio e justificativa)........................18 5.1.4 Apresentao, pblico alvo e local....................................................19 5.2 Programa efetivamente realizado: Histrico do desenvolvimento...........19 5.2.1 Definio do local de ensaio..............................................................19 5.2.2 Convite aos integrantes e critrio para adeso ao grupo................20 5.2.3 Histrico do grupo e seus integrantes..............................................20 5.2.4 Preparo das msicas e partituras......................................................21 5.2.5 Repertrio e temtica do programa...................................................22 5.2.6 Procedimentos e desenvolvimento dos ensaios..............................26 5.3 O trabalho de preparao vocal.................................................................26 5.4 Apreciao musical em grupo....................................................................27 5.5 Aprendizado terico....................................................................................27 5.6 O Recital e suas implicaes......................................................................27 5.7 Depoimentos de alguns participantes do grupo.......................................28 6 CONCLUSO.......................................................................................................29 7 REFERNCIAS.....................................................................................................30

8 ANEXOS...............................................................................................................32 8.1 ANEXO A Convite para participao no coral........................................32 8.2 ANEXO B Programa do Recital................................................................33 8.3 ANEXO C - Convite da apresentao........................................................35 8.4 ANEXO D Partituras e letras....................................................................36

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1 INTRODUO

Este trabalho trata de algumas impresses trazidas dos ensaios do grupo de cantoterapia que foi desenvolvido para obteno do ttulo de Especializao no Programa de Ps Graduao em Regncia Coral com capacitao para Docncia, do Unasp Centro Universitrio Adventista de So Paulo, sob a orientao da Professora Ms. Ellen Boger Stencel e do Dr. Jetro Meira de Oliveira. Trata-se de um relato de experincia em carter processual que tem como objetivo geral a experimentao do canto coral como agente teraputico, baseado em prticas pedaggicas empricas e da musicoterapia, com um coro misto amador. Para iniciar tal projeto foram estabelecidos os seguintes questionamentos: Qual a contribuio concreta do canto coral como atividade teraputica? Somente coristas afinados podem usufruir dos efeitos benficos da prtica musical? Que tipos de ferramentas o professor/regente pode usar para o crescimento do conhecimento dos alunos/coralistas, no que diz respeito apreciao, solfejo e msica em grupo? O interesse pelo tema oriundo das prticas musicais e artsticas com alunos de tcnica vocal da escola livre de msica Vila Jazz de Limeira, Estado de So Paulo. Na primeira parte, esse trabalho delineia brevemente o tema, as primeiras inseres no campo da cantoterapia, os objetivos e os procedimentos metodolgicos estabelecidos at o momento. Na segunda parte, relata os critrios para a execuo de um programa, descreve o resultado prtico obtido em apresentao pblica e complementa com algumas anlises dirigidas a esta prtica pedaggica. Para iniciar esta explanao, algumas consideraes a respeito de minha formao e dos motivos que me levaram a conjeturar sobre a necessidade deste tipo de trabalho devem ser delineadas. Minha trajetria profissional iniciou-se muito antes da formao como educadora musical. De 1988 a 2000 fui lder do coral de jovens da Igreja So Francisco de Assis, na cidade de Limeira/SP, onde, apesar de ter um conhecimento amador de msica e canto, fui submetida ao trabalho prtico com diversos jovens, o que me levou a buscar de forma gradativa o estudo formal. Nesta fase, percebia as dificuldades de alguns coralistas que, apesar de gostarem muito de cantar, no podiam ser classificados como talentosos, pois tinham algum grau de dificuldade em cantar afinado. Geralmente os corais das igrejas catlicas

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tm como princpio aceitar todo e qualquer indivduo que deseje participar, sendo assim, o trabalho necessita ser simplificado para que seja acessvel. J nesta poca comecei a buscar formas de incluir a todos, mantendo a qualidade do grupo que se sentia confiante e feliz pela mera participao nas missas; sem perceber, eu j estava atuando como regente. A partir de 2005, j como professora de tcnica vocal, comecei a notar que havia a necessidade do trabalho psicolgico com os alunos, pois muitos deles procuravam as aulas de canto apenas como forma de terapia. Tanto no coral como nas aulas particulares, percebi que o resultado final desejvel deixa de ser a qualidade vocal e sonora do grupo, mas o prazer que o canto pode proporcionar, ou seja, a arte de cantar se torna meio e no fim, como prope Mathias:Assim nossa proposio: buscar o som de cada ser humano para que ele possa se inserir num processo de educao musical libertadora, partindo de sua prpria beleza interior, do seu saber, que no sentido original significa SENTIR O GOSTO, PERCEBER. [...] Atravs desta experincia musical que vamos nos descobrir, dar um novo sentido nossa vida, buscando todos os sons interiores, para que possamos transmitir ao mundo a msica da vida humana. (MATHIAS, 1986, p.21)

Este tipo de trabalho torna-se necessrio visto que, nos dias de hoje, mais e mais pessoas buscam conforto, alivio e a melhora de sua auto-estima atravs de atividades prazerosas. Ele d continuidade ao Trabalho de Concluso de Curso da graduao em Educao Artstica com Habilitao em Msica, realizado em 2007 nesta mesma instituio de ensino, e seu foco o da prtica do canto no como objetivo final, mas como um conjunto de tcnicas para o alvio do estresse, socializao e entretenimento, atravs de uma pedagogia afetiva e do uso de dinmicas de grupo como meio de se obter o bem-estar fsico e psicolgico do indivduo.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O objetivo deste trabalho relatar as experincias de prtica de canto coral obtidas com um grupo heterogneo de candidatos com pouca ou nenhuma vivncia musical. Pretende-se analisar se possvel encontrar um bom resultado relativo com este tipo de grupo independentemente da qualidade vocal dos participantes atravs de um trabalho que vise apenas envolver o aluno no fazer musical, dando ao mesmo a possibilidade de ampliar seus horizontes para a apreciao, a percepo, a vivncia e a execuo musical.

2.2 Objetivos Especficos Desenvolver a sensibilidade, a capacidade de expresso atravs da msica e de uma comunicao no verbal, corporal-sonora; Aplicar atividades prticas de terapia atravs do uso da voz e da msica conjuntamente com as tcnicas vocais bsicas para canto coral em um grupo misto sem conhecimento musical ou com um conhecimento mnimo; Apontar um caminho onde as pessoas descubram que a msica, na verdade, para todos (Gainza, 1988); Resgatar a auto-estima dos participantes ajudando-os a encontrar um ponto de equilbrio ao se expor. Avaliar a hiptese de que bons momentos de ensaios e apresentaes de grupos de canto coral e a simples aquisio de conhecimentos relativos a msica, so capazes de proporcionar entretenimento e prazer aos coralistas e talvez possam levar a um resultado benfico do ponto de vista da arteterapia, mais especificamente da musicoterapia, cantoterapia e da psicoterapia;

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3 METODOLOGIA

Este trabalho ser realizado com um grupo de alunos da escola de msica Vila Jazz de Limeira, Estado de So Paulo, que se sintam motivados a cantar em um coral e que queiram participar de uma prtica voltada cantoterapia. A opo metodolgica aponta para a pesquisa bibliogrfica e tambm a investigao do coro de forma observacional. Primeiramente ser sugerida uma proposta de programa musical com a finalidade de uma apresentao pblica no final do projeto. A partir das propostas de repertrio do prprio grupo ser ento finalizado o programa que ser a base do aprendizado dos coralistas. Deste repertrio sero transmitidas as msicas, as histrias relativas s composies, aos compositores e possveis curiosidades a fim de aproximar os alunos s obras. Tambm ser feita uma pesquisa bibliogrfica sobre o uso teraputico da msica e principalmente do canto, do trabalho do regente como lder e motivador e em seguida o relato das experincias prticas. O conjunto deste texto no visa esgotar o assunto, mas demonstrar os resultados obtidos com estas prticas e significa uma contribuio aos estudos musicais em geral, mais especificamente aos estudos da Musicoterapia.

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4 TRABALHANDO A VOZ, O CORPO E A MENTE

4.1 Definies das terapias citadas neste trabalho

Primeiramente faz-se necessrio expor as definies encontradas para alguns dos substantivos aqui utilizados: Terapia (do grego: - "servir a deus") ou teraputica significa o tratamento para uma determinada doena pela medicina tradicional, ou atravs de terapia complementar ou alternativa. (pt.wikipedia.org/wiki/Terapia). Musicoterapia, segundo a World Federation of Music Therapy, a utilizao da msica e/ou de seus elementos constituintes, ritmo, melodia e harmonia, por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em um processo destinado a facilitar e promover comunicao, relacionamento, aprendizado, mobilizao, expresso, organizao e outros objetivos teraputicos relevantes, a fim de atender as necessidades fsicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funes do indivduo para que ele ou ela alcance uma melhor qualidade de vida, atravs de preveno, reabilitao ou tratamento. (pt.wikipedia.org/wiki/Musicoterapia). Segundo Benenzon (1981, p.11), a musicoterapia o campo da medicina que estuda o complexo som-ser humano-som, para utilizar o movimento, o som e a msica, como objetivo de abrir canais de comunicao no ser humano, para produzir efeitos teraputicos, psicoprofilticos e de reabilitao no mesmo e na sociedade. Ainda como definio de musicoterapia, RUUD (1990, p.87) afirma:Uma caracterstica notvel de msica tem sido sua capacidade de ser reconhecida como um meio teraputico por toda a histria ocidental (e, naturalmente, em outras civilizaes e histrias) a despeito de conceitos mutantes sobre sade e terapia. Ao estudar o panorama mundial de musicoterapia na poca atual, um antroplogo estar se confrontando com uma ampla gama de utilizaes da msica desde aquela para tocar e danar, at a audio musical de todas as maneiras imaginveis. Indagando-se ao musicoterapeuta puro acerca da base racional de seu trabalho, ele poderia concluir que a msica possui quatro funes principais: ela atua no sentido de melhorar a ateno, vinculada ao treinamento do desenvolvimento motor e/ou cognitivo; estimular habilidades scio-comunicativas; favorecer a expresso emocional e esclarecimento e estimular o pensamento e a reflexo sobre a situao de vida da pessoa.

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As aplicaes da msica mais evidentes e mais fceis nas terapias so as recreativas. O tamanho e natureza do grupo cujo denominador comum tem que ser estabelecido deve ser levado em considerao, pois, segundo ALVIN (1984) em um grupo grande o uso generalizado da msica pode diminuir os efeitos sobre o individuo. Segunda a autora, irresistvel colocar o mximo de participantes possvel, porm grupos de at 15 pessoas do ao musicoterapeuta a oportunidade de observar a conduta pessoal de cada indivduo, j grupos maiores tendem a existir apenas como meio de empregar o tempo de maneira agradvel. Arteterapia um processo teraputico que se serve do recurso expressivo a fim de conectar os mundos internos e externos do indivduo, atravs de sua simbologia. Variados autores definiram a Arteterapia, todos com conceitos semelhantes no que diz respeito auto-expresso. a arte livre, unida ao processo teraputico, que transforma a Arteterapia em uma tcnica especial. A Arteterapia distingue-se como mtodo de tratamento psicolgico, integrando no contexto psicoteraputico mediadores artsticos. Tal origina uma relao teraputica particular, assente na interao entre o sujeito (criador), o objeto de arte (criao) e o terapeuta. O recurso imaginao, ao simbolismo e a metforas enriquece e incrementa o processo. (pt.wikipedia.org/wiki/Arteterapia). Psicoterapia definida como o tratamento por mtodos psicolgicos. Conjunto das tcnicas que visam ao tratamento das molstias mentais por persuaso, sugesto, psicanlise, atividades ldicas ou de trabalho. (http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=psicoterapia Cantoterapia, segundo Sonia Joppert, musicista que trabalha com esta disciplina h 27 anos, (http://www.cantoterapia.com.br/o_que_e_cantoterapia.php) uma aula de canto muito mais abrangente, que se prope a aprimorar a voz cantada, mediante variados exerccios de tcnica vocal associados parte psicolgica e musical do aluno. Segundo Joppert, a cantoterapia se baseia em tcnicas e disciplinas de diferentes origens: canto e impostao da voz, anlise transacional, programao neurolingustica (PNL), musicoterapia, expresso corporal, teatro, dinmicas de grupo, biodana, arteterapia e meditao. Quanto aos benefcios da cantoterapia, afirma Joppert:

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Desde 1983, ano de sua criao, a Cantoterapia vem obtendo resultados surpreendentes e comprovados nas seguintes reas da vida: Na capacidade de cantar de forma livre, com boa tcnica e qualidade de interpretao; Na possibilidade de gostar e admirar a prpria voz; Na desinibio e soltura ao se colocar em evidncia; Na comunicao com uma plateia; Na sade fsica (liberao da endorfina); Na melhora do sistema imunolgico; Nos relacionamentos interpessoais; No equilbrio emocional (pois tambm um processo de relaxamento e paz interior); No despertar de talentos adormecidos; Na autoestima, autoconfiana, autovalorizao e autoaceitao; Na utilizao do canto tambm como um canal para a espiritualidade (JOPPERT, 2010)

4.2 Um novo profissional: O cantoterapeuta

Quem busca uma aula de canto ou um grupo coral certamente se beneficiar de uma terapia. Quem busca um grupo de cantoterapia poder tambm, obter os benefcios de uma aula de tcnica vocal. A finalidade da cantoterapia, no entanto, no o de formar um cantor, mas uma pessoa que possa desfrutar de seu prprio instrumento interno para eliminar o estresse e liberar-se de conflitos psicolgicos mas tambm das patologias orgnicas, que na maior parte dos casos so originados de um desequilbrio nervoso, endcrino e imunolgico. (De Fonzo, 2010 p.38, traduo nossa). Dificilmente o maestro tambm um terapeuta, e ao terapeuta, ao contrrio, falta um conhecimento de canto e de msica. Segundo De Fonzo (2010, p.39, traduo nossa), a figura do cantoterapeuta no ainda bem definida no quadro profissional atual e os prprios musicoterapeutas esto h apenas algumas dezenas de anos consolidando seu ofcio. Estes j so figuras de maior responsabilidade e formao tcnica, podendo fazer diagnsticos e definir tratamentos e, ao final da terapia observar os resultados. A formao do musicoterapeuta envolve disciplinas de medicina, psicologia, neurologia, psiquiatria, entre outras. Para os cantoterapeutas, deseja-se que uma especializao seja em breve constituda no plano da prtica clnica multidisciplinar. De Fonzo prope que a cantoterapia seja tratada como uma co-terapia. Utilizamos aqui o termo cantoterapeuta para ento designar o regente que busca para seu coro o exerccio de uma terapia, e dentro deste pensamento, podemos citar MATHIAS, que afirma:O Maestro, lder, aquele que faz com que as pessoas cresam, aquele que valoriza o esforo de cada elemento atravs de inter-relaes pessoais,

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buscando uma unidade dentro do grupo. E s podemos conseguir esta unidade pela fraternidade, nos conhecendo melhor em nossas aspiraes e nos compreendendo melhor em nossas limitaes. (1986, p.18)

Podemos concluir que o regente que deseje ser um cantoterapeuta, precisa, alm das qualidades musicais imprescindveis, desenvolver uma pedagogia afetiva que permita a seus coralistas sentirem-se o mais a vontade possvel nos ensaios.

4.3. Aspectos relevantes para as prticas e dinmicas dos ensaios

4.3.1 Psicodinmica Vocal

Somos capazes de identificar diversos atributos no-verbais presentes na voz de um interlocutor, tais como sexo, idade, procedncia e nvel scio-cultural mesmo que este no seja visvel, como, por exemplo, em uma conversa ao telefone. Podemos ainda perceber caractersticas menos sutis tais como sentimentos e emoes. A leitura da voz e do seu efeito sobre os ouvintes, que identificam algumas caractersticas da qualidade vocal, nem sempre conhecidas por aquele que produz a voz, cujo perfil vocal, em geral, condicionado por vivncias pessoais, conceitualmente definido como Psicodinmica Vocal. (http://www.saudevocal.com.br/psicodinamica_vocal/). A qualidade vocal, por sua vez, segundo BEHLAU e ZIEMER (1988), o conjunto de caractersticas que identificam uma voz humana, relacionando-se da composio dos harmnicos da onda sonora impresso total criada por essa voz. Este termo era anteriormente chamado de timbre. Para uma avaliao teraputica, podem ser empregados basicamente, trs nveis de leitura vocal: biolgica, psicolgica e scio-educacional. As informaes de natureza biolgica dizem respeito s caractersticas fisiolgicas do indivduo. A dimenso psicolgica, que foi a mais enfatizada neste trabalho, fornece informaes sobre a personalidade e estado emocional do indivduo no momento da emisso. A maneira como um indivduo usa sua voz reflete sua psicodinmica.

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Umas das caractersticas bastante perceptveis da psicodinmica vocal a ressonncia. O que d ao som vocal a sua sonoridade, a sua penetrao, a sua cor, e o poder emotivo so as vibraes do ar nas cavidades do instrumento humano. (VILELLA, 1961, p.79). Conforme a utilizao das cavidades do aparelho fonador pulmes, laringe, faringe, cavidade bucal, cavidade nasal e seios paranasais-, tambm chamadas de caixas de ressonncia, pode-se agregar mais ou menos harmnicos, o que influencia na qualidade vocal e na esttica de uma voz, embelezando-a ou no. Podemos identificar diversas caractersticas emocionais atravs da sonoridade e aspectos de uso das caixas de ressonncia. Uma ressonncia excessivamente laringofarngea confere emisso uma caracterstica tensa, o que geralmente caracteriza pessoas com dificuldade em trabalhar sentimentos de agressividade e que se encontram desgastadas ou sobrecarregadas. O uso excessivo da cavidade oral, associado ou no a uma articulao exagerada, pode demonstrar uma caracterstica afetada que em geral revela uma personalidade de carter narcisista. O uso em excesso de ressonncia nasal, quando descartados problemas orgnicos, pode estar relacionado a caractersticas emocionais de afetividade e sensualidade. A voz de pessoas muito racionais literalmente seca. (BEHLAU e ZIEMER,1988, p.85). Para o trabalho de cantoterapia importante tratar problemas vocais alm das questes fisiolgicas, o que pode ser obtido atravs de uma percepo mais sutil da sonoridade emitida pelo cantor tambm na voz falada. Segundo Behlau e Ziemer (1988) outros parmetros vocais podem tambm indicar alteraes na expresso e emoo do indivduo, tais como a respirao, a regio da voz falada, a extenso vocal, a intensidade, a articulao e os maneirismos, cabe ao regente ou ao cantoterapeuta ser observador o bastante para perceber onde existem desequilbrios e tentar identificar possveis solues.

4.3.2 Vivncias Corporais-vocais

Um aspecto muito importante para o desenvolvimento vocal de um ser humano a propriocepo, ou seja, um desenvolvimento das sensaes internas e

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percepes auditivas para chegar ao monitoramento consciente da prpria conduta vocal (FERREIRA e ANDRADA E SILVA, 2002, Cap.2, p.7). Para este grupo de cantoterapia, procurou-se oferecer atividades onde os indivduos pudessem tomar conhecimento do funcionamento da voz em relao ao corpo, atravs de exerccios de relaxamento fsico e mental. (MATHIAS, 1986, p.28). Aos participantes foram propostas as seguintes atividades: Alongamentos, retificao postural, relaxamento e automassagem. (FERREIRA e ANDRADA E SILVA, 2002; MATHIAS, 1986; BEHLAU e ZIEMER, 1987; GOULART e COOPER, 2002) Autopercepo e correo da dinmica respiratria. O uso correto da respirao o principal assunto abordado pelos autores que tratam de voz falada e cantada. Aps os participantes reconhecerem a modalidade respiratria executada por cada um at ento, foram propostos exerccios para adequao da mesma, ou seja, para uma coordenao fonorrespiratria. O trabalho desenvolvido nesta etapa um dos mais importantes, pois visa um melhor abastecimento na inspirao e um melhor uso do sopro expiratrio para uma sonorizao adequada, seja na fala ou no canto. (BA e PACHECO, 2006; BEHLAU e REHDER, 1997; BEHLAU e ZIEMER, 1987; FERREIRA e ANDRADE E SILVA, 2002; GOULART e COOPER, 2002; MATHIAS, 1986). Correo de condutas vocais incorretas: uso de tenso ou esforo ao falar e/ou cantar. Segundo FERREIRA e ANDRADA E SILVA (2002, p.12) uma das principais causas de perda de eficincia vocal, cansao, ardncia, ressecamento ao falar, falta de projeo e prejuzos na qualidade da voz vem do uso de uma fonao com constrio da musculatura larngea por excesso de tenso nas pregas vocais e/ou presena de golpes de glote, ou seja, o uso de um ataque tenso ao iniciar uma sonorizao. Para correo deste problema, foram utilizados exerccios para retirar o esforo e suavizar a emisso. Conhecimento dos cuidados de higiene vocal. Foram apresentadas todas as propostas de higiene vocal obtidas na literatura estudada para que cada integrante pudesse repensar seus hbitos e buscar uma nova conduta visando sua sade vocal e tambm global. (BA e PACHECO, 2006;

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BEHLAU e REHDER 1997; BEHLAU e ZIEMER, 1987; FERREIRA e ANDRADE E SILVA, 2002; GOULART e COOPER, 2002; MATHIAS, 1986; VILLELA, 1961). Conforme orienta FERREIRA e ANDRADE E SILVA (2002, p.16), este tipo de programa visa:[...] uma ao preventiva sobre a voz e tambm aprimora a comunicao oral. A voz falada parte integrante da comunicao oral humana. Acredita-se que o que afeta a voz, afeta a fala, a comunicao e a pessoa no seu bem-estar biopsicossocial. A possibilidade de poder desenvolver e proteger sua qualidade de voz confere pessoa segurana e confiana na comunicao oral, permitindo melhor insero nas relaes pessoais e de trabalho, tornando-a mais feliz e integrada.

4.3.3 Produo vocal

Para iniciar a produo vocal foram usados exerccios considerando as atividades propostas no tpico anterior, atravs de vocalizes de aquecimento e tcnica vocal. Todas estas atividades eram propostas para serem executadas em um ambiente de informalidade, procurando induzir os coralistas a no terem medo de errar. Um dos temas que SOBREIRA (2002) mais afirma que comentrios negativos a respeito da atuao vocal de uma criana ou adulto podem produzir reflexos negativos, tolhendo sua capacidade de se expressar vocalmente e desmotivando-os a tentar. Muitas so as causas e os nveis de desafinao vocal, e quase sempre o indivduo, com o treinamento adequado, capaz de melhorar.

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5 ASPECTOS GERAIS DO PROGRAMA: O PROPOSTO E O EXECUTADO

5.1 Proposta Inicial

5.1.1 Cronograma de ensaios e apresentao

Ensaios semanais de 02:00h de durao, a partir de Maro de 2.008, totalizando 30 encontros e 60 horas de ensaio. A princpio ser feita uma apresentao no final do ano, podendo haver outras caso surjam convites. Seguindo a linha de pesquisa sobre a Cantoterapia, um dos objetivos do grupo aprender a lidar com o medo de cantar em pblico, por isso nos encontros semanais sero utilizadas dinmicas de grupo, onde todos podero se divertir e cantar de forma descontrada, livres de tenses e com isso, ao final do ano, ser possvel fazer uma avaliao do mtodo utilizado para conferir sua eficcia.

5.1.2 Objetivo do programa

Servir de incentivo para a promoo da cultura, mostrando ao pblico sucessos dos grandes compositores da msica popular brasileira e tambm, por se tratarem de canes alegres e bem-humoradas, promover momentos de descontrao e lazer, trabalhando ainda a segurana e desenvoltura do grupo.

5.1.3 Definio do grupo vocal (descrio e justificativa)

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O grupo misto, formado por pessoas que nunca tiveram contato com o canto coral, desta forma sero trabalhadas primeiramente canes em unssono e conforme o desenvolvimento do grupo podero ser includos arranjos a duas vozes.

5.1.4 Apresentao, pblico alvo e local

A apresentao ser agendada para o ms de Dezembro de 2.008, na Praa Toledo Barros em Limeira/SP, juntamente com as festividades de final de ano da cidade, porm a data s ser confirmada em Novembro. O pblico alvo sero as famlias que fazem suas compras de natal no comrcio central de Limeira no ms dezembro e demais convidados dos integrantes. Os eventos que ocorrem no Coreto da Praa Toledo Barros j so tradicionais e conseguem reunir um bom pblico.

5.2 Programa realizado: Histrico do desenvolvimento.

5.2.1 Definio do local de ensaio

Devido falta de um salo ou auditrio, ficou definida a sala de aula de tcnica vocal da escola Vila Jazz, em Limeira/SP, como local de ensaio. O espao era pequeno e cabiam sentadas no mximo 12 pessoas, o que tambm veio a concordar com teoria de ALVIN (1984) que sugere que grupos com menos de 15 pessoas so melhores para o trabalho da musicoterapia, conforme descrito no item 4.1. A primeira parte da aula dedicada ao relaxamento corporal e pr-aquecimento vocal era feita no quintal, mais espaoso, salvo em dias de chuva onde estes treinamentos eram resumidos sala de aula. Caso a demanda de alunos fosse muito maior que a expectativa, foi cogitada a possibilidade de se criarem dois grupos ou fazer todos os ensaios no quintal, ao ar livre.

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5.2.2 Convite aos integrantes e critrios para adeso ao grupo.

Foi elaborado um cartaz (ANEXO A) convidando todos os alunos da Escola de Msica Vila Jazz de Limeira, fossem eles alunos de tcnica vocal ou de instrumentos, de todas as idades, sem exigncia prvia de saber cantar. Esses cartazes foram afixados nas salas de aulas para que todos tivessem conhecimento. A procura foi razovel, porm nem todos os interessados puderam participar no dia e horrio que ficou estabelecido para os ensaios, ou seja, s quintas-feiras das 20:00h s 22:00h. O grupo de cantoterapia passou a fazer parte dos produtos gratuitos oferecidos pela escola, deste modo, todo aluno que ingressava durante o ano tinha direito participao no coral. Como o nmero de integrantes era pequeno (mdia de 10 pessoas), cada novo interessado era festejado, porm alguns alunos ingressaram no grupo em outubro, ou seja, quase no final do ano. Com estes foram feitas algumas aulas extras para adaptao.

5.2.3 Histrico do grupo e seus integrantes.

Como foi relatado anteriormente, no foi imposto nenhum pr-requisito para a participao no grupo, pelo contrrio, o convite foi claramente divulgado como sendo para um grupo de cantoterapia, ou seja, com a inteno de trabalhar o canto como manifestao possvel a qualquer indivduo, educado ou no musicalmente. Um aspecto relevante foi o de oferecer momentos agradveis e prazerosos, sem cobranas diretas e com a oportunidade de aprender-se a cantar e aliviar as tenses, afinal o prprio dito popular prope: quem canta seus males espanta. Apresentaram-se ao grupo pessoas com os mais variados interesses: alguns poucos alunos de tcnica vocal, mas principalmente alunos de outros instrumentos, todos eles em estgios iniciais. A faixa etria foi de 15 a 40 anos. Tambm importante relatar que tivemos participantes que buscaram o grupo como forma de terapia para problemas pessoais, um indicado por psiclogo e um segundo aluno indicado por fonoaudiloga.

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5.2.4 Preparo das msicas e partituras.

A maior parte das msicas foi transmitida de forma oral, ou seja, atravs da repetio e da escuta para memorizao. Como o grupo era totalmente amador e com srios problemas de afinao, foi dada bastante importncia aos exerccios de vocalizes na primeira parte de cada encontro. Cada msica era minuciosamente desmembrada e cantada diversas vezes para que cada um assimilasse todos os detalhes das melodias. Apesar de as msicas serem cantadas na maioria em unssono, o repertrio escolhido tinha um certo grau de dificuldade meldica e rtmica. J as msicas com diviso de vozes (Andana e Carimb) foram um timo exerccio de percepo e concentrao. O acompanhamento era feito por mim com violo, piano ou playback. Todas as msicas aps assimiladas eram ensaiadas capella, e somente neste momento podiam ser regidas. Levando em considerao a necessidade de criar uma independncia, deu-se incio a alguns exerccios de solfejo, ainda que de forma lenta e gradativa, pois segundo Rocha (2004, p.98) todas essas formas de aprendizado puramente auditivo so eficientes para a realizao da atividade em si, a grande desvantagem de tais meios encontra-se na impossibilidade objetiva do coro, que assim trabalha, desenvolver-se musicalmente. A inteno primordial da no exigncia do solfejo para o grupo em primeiro plano foi a de no alarma-los, pois muitos tinham srias dificuldades inclusive no estudo de seus instrumentos. Muitas pessoas tm um desejo forte de aprender a cantar, mas tm vergonha de se expor, principalmente em grupo, por se acharem desafinados. Neste trabalho foi deixado bem claro que qualquer pessoa poderia aprender a cantar e todos perceberam que em um grupo onde se sentiram aceitos, ficou mais fcil perder a insegurana e passaram a se divertir com os erros e acertos. Um coralista que trabalha o dia todo e, cansado, vai ainda para o ensaio, no busca ideais estticos, mas apenas um tempo de lazer, com a funo teraputica de liberao de tenses e estresse (ROCHA, 2004, p.99).

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5.2.5 Repertrio e temtica do programa.

A princpio foi proposto que escolhssemos msicas do cancioneiro popular brasileiro, dentro de um universo de msicas apresentadas ao grupo. Primeiramente, algumas msicas populares foram escolhidas a partir de temas abordados em aula, como por exemplo, a incluso de duas msicas pertencentes ao perodo da bossa nova, que comemorou 50 anos em 2008. A msica Andanas foi proposta por uma aluna que disse achar muito difcil entender as partes onde as vozes se misturam ela se referia aos contra-cantos existentes do refro da msica. A msica Carimb foi includa por ter um bom trabalho corporal e arranjo simples a duas vozes. Tambm no ltimo ms de ensaio foi solicitado pela Prefeitura Municipal de Limeira, a qual cedeu espao para a apresentao do grupo no evento Natal das Luzes, que houvesse msicas natalinas na programao, para isso foi criado um pout-pourri com canes bastante conhecidas do pblico. A ordem final do programa foi dividida em tpicos, conforme poder ser observado no ANEXO B Programa do Recital. As respectivas partituras esto transcritas no ANEXO D. A seguir descreve-se as informaes das obras executadas: Com que roupa (Samba) Compositor: Noel Rosa (1929). Tonalidade L maior. Esta msica retratava o Brasil da poca, cheio de dificuldades, com o povo quase na misria. O samba explode em todo o pas no carnaval de 1930 e aparece na boca do povo, surpreendendo at seu autor. A expresso - com que roupa? passou a fazer parte do vocabulrio do carioca, nas dificuldades. Aconteceu que, antes mesmo do sucesso o cantor Igncio Guimares ofereceu a Noel a importncia de l80 mil ris pela aquisio da msica, o que foi aceito. Dessa forma, o cantor tornou-se dono do samba mais cantado no Brasil. A partir do "Com Que Roupa?", Noel comps sem limite. Bastava surgir um tema para que nascesse uma letra de msica. (http://musicabrasileira.org/noelrosa/). Esta cano tem a forma AB, o que facilita a assimilao do grupo que aprende por repetio. Uma vez memorizada a melodia do primeiro verso e do

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refro, o trabalho segue apenas com a apreenso da letra e trabalho de articulao. A msica foi cantada em unssono e treinada com acompanhamento de violo e a melodia tocada no piano ou repetida oralmente. Como tem uma rtmica bastante sincopada, exige um treinamento de percepo rtmica atravs de exerccios, tais como o de eco com palmas. Isto aqui o que (Samba) Compositor: Ary Barroso (1942). Tonalidade R maior. Com carter ufanista, esta cano um samba de exaltao destacando o povo brasileiro. Tem uma melodia um pouco mais difcil. Alguns saltos foram exercitados com vocalizaes durante o aquecimento vocal. Foi ensinada em unssono com acompanhamento de playback. Como uma cano muito conhecida de todos, foi transmitida oralmente sem maiores problemas. Tambm serviu para execuo de exerccios corporais. Carinhoso (Choro) Compositor: Pixinguinha (msica 1917) e Joo de Barro (letra 1937) Tonalidade D maior. Carinhoso uma das obras mais importantes da msica popular brasileira. Esta uma cano conhecida de todos os coralistas, e foi transmitida tambm de forma oral, por repetio. Foi cantada em unssono e exigiu um trabalho intenso de afinao do grupo. Foi usado como playback, um arranjo feito para quarteto de cordas, que era tocado diretamente do programa Sibelius. Lobo Bobo (Bossa Nova) Compositor: Carlos Lyra e Ronaldo Bscoli (msica 1959) Tonalidade L maior. Uma das primeiras composies da dupla Carlos Lyra-Ronaldo Bscoli, feita meio de brincadeira, a partir do tema de O Gordo e o Magro (Stan Laurel & Oliver Hardy), funciona como uma espcie de verso musical alegre, espirituosa e temperada por uma boa dose de malcia, da fbula Chapeuzinho Vermelho (http://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/lobo-bobo.html).

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Esta cano bem humorada foi transmitida de forma oral, em unssono e com acompanhamento de violo e linha meldica no teclado. Como todas as msicas deste perodo, tem melodia bastante sinuosa. Aps o aprendizado com base instrumental, foi ensaiada tambm capella e usando trabalho de dramatizao e expresso corporal. O pato (Bossa Nova) Compositor: Jayme Silveira e Neusa Teixeira (1960) Tonalidade D maior. Esta cano acabou caracterizando o lado galhofeiro da bossa nova, concentrado na letra que descreve a extica cena de um quarteto vocal, formado pelo pato, o marreco, o ganso e o cisne ensaiando beira da lagoa o Tico-Tico no Fub. Por ser de uma rtmica rpida, exigiu treinamento de articulao e respirao, que foi feito com exerccios extrados do livro Por todo o canto. (GOULART e COOPER, 2002). Foi executada em unssono com acompanhamento de violo. Andana (Samba-cano) Compositores: Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajs (1968) Tonalidade Mi maior. Esta cano expe ao grupo elemento musicais diferentes. A harmonia direciona a melodia para outra escala de outra tonalidade, processo feito pelo sistema de modulao, e que de certa forma coloca o cantor em outra concepo em relao ao controle da melodia. Foi ento contextualizado a situao de aprendizado, onde foram demonstrados atravs de vocalizes, exemplos de melodia dentro de uma mesma tonalidade e depois com a harmonizao conduzindo a melodia para outra tonalidade. Outra dificuldade no ensino dessa cano foi a parte do contra-canto do refro, pois um grupo tinha que cantar uma melodia enquanto ouvia outra cantada pelo outro grupo, no caso homens e mulheres, o que exige maior concentrao de ambas as partes. Esta foi a primeira cano com um trecho em duas vozes apresentada ao grupo. Foi usado playback ou violo nos ensaios.

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Carimb (ritmo Carimb) Folclore nordestino - Adapt. M.V.Zcaro Tonalidade Sol maior. Com esta cano foi retratado tambm um pouco do regionalismo brasileiro, sobretudo das danas folclricas. Alm do carimb, foram apresentados outros gneros como baio, coco, ciranda, quadrilha, atravs de vdeos diversos extrados da internet. Tambm foi feita uma pequena ponte ligando as danas do lundu e do maxixe com a formao da msica brasileira. Foi trabalhada tambm a percusso corporal como parte do arranjo da cano, o que enveredou para a parte de expresso corporal dos coristas. Foi ensaiada a duas vozes, sendo na parte B onde aparece um sistema de perguntas e respostas separados para homens e mulheres, e no final da msica h uma diviso propriamente dita, que foi bastante trabalhosa para os coristas, porm proporcionou um enorme prazer quando executada corretamente. A maior dificuldade era sincronizar o canto parte de rtmica corporal, feita com palmas e ps. Com esta msica os coralistas comearam a fazer um primeiro acompanhamento da partitura, para entender as diferenas das vozes masculina e feminina. Pout-pourri de Natal Noite Feliz (Silent night: F.Gruber), tonalidade Sol maior. Natal Branco (White Christmas: Irving Berlin), tonalidade D maior. Para no ser triste (Edson Borges), tonalidade D maior. Bate o sino (Jingle Bells: J.Pierpont), tonalidade D maior. O primeiro Natal (John Stainer / Memphys), tonalidade L maior. Ento Natal (Happy Xmas: J.Lennon e Y.Ono, vers. Cludio Rabelo), tonalidade R maior. Esse pout porri proveniente de um arranjo feito para serenatas de natal Trabalha os momentos emocionais enaltecidos nessa poca e evidenciado nas canes. O coro cantou em unssono, e no teve grande dificuldade de aprendizado, j que as msicas eram conhecidas de todos. No aspecto pedaggico, esse arranjo possui diversas variaes de andamentos e dinmica, e o coro respondeu muito bem aos gestos da regncia; foi a partir dele que os coralistas melhor executaram a dinmica e onde se pde trabalhar um pouco mais a sonoridade do coro.

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5.2.6 Procedimentos e desenvolvimento dos ensaios

Como a maior parte do grupo no tinha experincia em canto, foi necessrio investir longos perodos na preparao vocal. Tambm foi dispensado um tempo considervel em cada ensaio, propositadamente, para que o grupo se socializasse, atravs de bate-papos, rodas de discusso, danas circulares e dinmicas de grupo com o aprendizado de pequenas canes ou cnones, o que poderia acontecer antes, durante ou aps a parte prtica do ensaio, conforme o assunto que seria abordado. Com isso, mesmo os mais tmidos conseguiram relaxar e interagir, formando uma atmosfera de alegria e amizade. Os ensaios, em sua maioria, seguiram o seguinte cronograma: - Relaxamento / alongamento corporal: - Exerccios de respirao e apoio: - Exerccios de vocalizes e percepo rtmica e meldica: - Audio e ensaio das msicas: - Outras atividades, danas e dinmicas de grupo: 10 min. 5 min. 20 min a 30 min. 45 min a 50 min. 25 min a 40 min.

5.3 O trabalho de preparao vocal

Para a preparao vocal do grupo, devem-se seguir as normas de higiene vocal bsicas e o regente deve ter a prtica de analisar as vozes e saber trabalhar dentro de suas tessituras. Principalmente no caso de um coro misto que inclui pessoas com qualquer ou nenhum conhecimento musical, de suma importncia que o regente perceba os limites de cada indivduo e trabalhe dentro de suas possibilidades. Os exerccios de relaxamento, respirao e aquecimento vocal so fundamentais para um bom resultado livre de problemas futuros para os membros. (MATHIAS, 1986; BEHLAU e REHDER, 1997). Em todos os exerccios executados, tomava-se o cuidado de perceber at que ponto um ou outro grupo podia acompanhar, segundo sua extenso vocal.

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5.4 Apreciao musical em grupo

Os ensaios do grupo de cantoterapia serviam tambm para incutir nos alunos o gosto pelo conhecimento. Atravs da apreciao de cada nova msica eram dadas informaes histricas sobre a obra, o autor, o intrprete e at curiosidades, o que fazia com que os membros se sentissem mais prximos do objeto a ser realizado.

5.5 Aprendizado terico

Em alguns ensaios do grupo aproveitava-se para trabalhar a leitura e solfejo dos alunos, com exerccios simples e de fcil execuo. medida que o grupo ia evoluindo na qualidade vocal, passava-se a exigir mais qualidade tambm nas vocalizaes e nos solfejos. Estes momentos eram importantes para provar aos alunos que todos tinham capacidade para aprofundar-se no aprendizado formal da msica.

5.6 O Recital e suas implicaes

Aps definida a data do Recital, que foi confirmada pela Prefeitura Municipal de Limeira com pouco mais de duas semanas de antecedncia, duas coisas interessantes aconteceram. Primeiramente os coralistas ficaram amedrontados, pois a situao cmoda em que jaziam seria finalmente quebrada. Eles j haviam passado pela parte mais difcil nos ensaios que era a de se expor, perder a vergonha e soltar a voz de fato e agora que haviam se acostumado com os colegas, teriam que se apresentar a familiares e a estranhos. Por outro lado, houve uma motivao ainda maior nos ensaios, pois finalmente iriam revelar o quanto tinham aprendido (e certamente todos ficam felizes em estar num palco para serem apreciados, por maior que seja o temor que este momento cause). Os dois ltimos ensaios foram feitos com uma banda formada por um tecladista, um contrabaixista,

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um guitarrista e um baterista, que participaram tambm da apresentao. Todas as msicas tiveram o acompanhamento dos msicos. Para os coralistas tambm foi uma experincia relevante pois a maioria deles nunca havia cantado com uma banda e, segundo relatos de alguns deles, se sentiram envolvidos pela msica que preenche o espao e agrada aos ouvidos. Tambm participaram deste recital, alunos de flauta doce do curso de musicalizao infantil do Colgio Baro de Limeira. Eles foram convidados para abrir o espetculo tocando duas msicas acompanhados da banda.

5.7 Depoimentos de alguns participantes

Para no expor os participantes, iremos nos referir eles atravs de iniciais. A senhorita M.S. apresentava restries leves de locomoo e habilidades intelectuais, mas se sentia muito vontade para cantar, dizendo me divirto muito com o pessoal, e gosto de todos, cada um com seu jeito diferente de ser. No final de seu depoimento ela agradece a Deus por ter colocado esta oportunidade em seu caminho e por poder descobrir que todos foram unidos pela msica. A jovem R.A. de 15 anos era aluna de canto e disse que no havia ficado muito empolgada com o convite para participar do coral pois achava que seria um coral bem certinho, porm percebeu que era uma hora para relaxar, esquecer dos problemas e apenas curtir as msicas. Tambm comenta que aprendeu sobre respirao e a dividir vozes. R.A. afirma ainda que a cantoterapia uma tima atividade de relaxamento e socializao onde pessoas de todas as idades se juntam e se divertem com msica.

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6 CONCLUSO

A proposta deste tipo de programa no visa sanar os problemas que levam desafinao vocal, mas tenta resgatar a auto-estima do participante e o ajuda a encontrar caminhos para lidar com o medo, a vergonha e a insegurana, descobrindo um ponto de equilbrio ao se expor. Neste trabalho o importante foi o processo, e no o resultado. Quanto ao teraputica, pode-se afirmar que a cantoterapia realmente uma ferramenta muito adequada para os dias de hoje, onde a busca por solues contra uma vida agitada e estressante so de suma importncia para pessoas de todas as idades. Em nosso caso, os alunos tiveram a oportunidade de ensaiar e cantar com uma banda tocando ao vivo, o que uma experincia significativa para qualquer indivduo. O grupo comeou com pessoas tmidas e isoladas e terminou com pessoas divertidas e felizes com seus crescimentos. Nos ensaios e na apresentao, os coralistas apesar de entenderem a regncia, ainda precisavam de uma voz firme que os guiasse na afinao; quando havia uma voz afinada como guia, mesmo que em uma gravao, o resultado sonoro era melhor. Houve seguramente uma evoluo, at maior do que o esperado, entretanto foi possvel observar que so necessrias mais horas de prtica vocal para que o resultado seja melhor. Diante disto, pode-se afirmar que os objetivos foram alcanados, tanto no aprendizado particular, como na notria felicidade dos alunos. Conclui-se tambm que o canto coral contribui para a vivncia geral dos indivduos, para agregar conhecimento e cultura e o presente trabalho comprova que pessoas sem requisitos musicais tambm podem desfrutar das benesses do canto.

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7 REFERNCIAS

ALVIN, Juliette. Musicoterapia. Barcelona: 1 reimpresin, Paids ediciones, 1984. BA, Tutti. PACHECO, Cludia. Canto: equilbrio entre corpo e som: princpios da fisiologia vocal. So Paulo: Irmos Vitale, 2006. BEHLAU, Mara Suzana e ZIEMER, Roberto. FERREIRA, Lslie Piccolotto, org. Trabalhando a voz: vrios enfoques em fonoaudiologia. So Paulo: Summus, 1988.Part II. ________ & REHDER, Maria Ins. Higiene vocal para o canto coral. Rio de Janeiro: Revinter, 1997. BENENZON, Rolando. Manual de Musicoterapia. Barcelona: Editoral Paids, Ibrica S.A., 1981 (p.11) DE FONZO, Mirella. Cantoterapia. Il teorema del canto. Roma: Armando, 2010. FERREIRA, Lslie Piccolotto, ANDRADE E SILVA, Marta Assumpo de, organizadoras. Sade Vocal. Prticas Fonoaudiolgicas. So Paulo: Roca, 2002. GOULART, Diana. COOPER, Maly. Por todo canto: mtodo de tcnica vocal: msica popular, v.1. So Paulo: G4 Editora, 2002. JOPPERT, Snia. Cantoterapia. Disponvel em: . Acesso em 21/01/2011. Lobo Bobo. Disponvel em bobo.html)>. Acesso em 25/01/2011.