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1 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ DEBORA RAQUEL WENGRAT HABILITAÇÃO AUDITIVA POR MEIO DAS ESTRATÉGIAS DA TERAPIA AUDITIVO-VERBAL: RELATO DE CASO CURITIBA 2014

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

DEBORA RAQUEL WENGRAT

HABILITAÇÃO AUDITIVA POR MEIO DAS ESTRATÉGIAS DA

TERAPIA AUDITIVO-VERBAL: RELATO DE CASO

CURITIBA

2014

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DEBORA RAQUEL WENGRAT

HABILITAÇÃO AUDITIVA POR MEIO DAS ESTRATÉGIAS DA

TERAPIA AUDITIVO-VERBAL: RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Fonoaudiologia da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito

parcial à obtenção do grau de Fonoaudiólogo.

Orientadora: Profa. Dra. Angela Ribas

CURITIBA

2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que é o mestre dos mestres que nunca desistiu

do ser humano, e sempre esteve ao meu lado me sustentando e guiando nesta

trajetória.

Agradeço também aos meus pais por todo amor, apoio e por ter vivido este sonho

comigo neste período de graduação e por continuar sonhando tudo o que ainda

esta por vir.

Agradeço а todos os professores por me conduzirem nesta apaixonante e

fascinante jornada de conhecimento e inúmeras reflexões.

E principalmente agradeço a minha Orientadora Prof. Dra. Angela Ribas por ter

acreditando em mim, e ter me dado à chance de aprender um pouco mais com ela

neste período. E ter deixado em mim a chama acesa para sempre buscar mais e ir

além.

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RESUMO

Introdução: Muitas crianças que apresentam dificuldade de aprendizado na escola

podem estar sofrendo de uma Desordem do Processamento Auditivo Central

(DPAC). O processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de mecanismos

realizado pelo sistema auditivo responsável pela: Localização sonora; Discriminação

sonora; Reconhecimento auditivo; Aspectos temporais da audição; Desempenho

auditivo em presença de sinais acústicos competitivos e degradados. Objetivo:

descrever um caso de habilitação auditiva de uma criança com desordem do PAC,

onde foi utilizada a terapia Auditivo-verbal. Material e método: Relato de caso e

descrição de exames realizados. Resultados: Na avaliação foram aplicados a

audiometria, a logoaudiometria e os testes de PAC. Após quatro meses de terapia

os testes foram novamente aplicados, e todas as habilidades auditivas encontravam-

se dentro da normalidade. Conclusão: Com este estudo foi possível concluir que a

terapia Auditivo-verbal se mostrou efetiva na reabilitação de paciente com alteração

de PAC. É importante que os cursos de Fonoaudiologia formem os profissionais

fonoaudiólogos neste tipo de intervenção.

PALAVRAS-CHAVE: Processamento auditivo; teoria auditivoverbal; audição.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 6

2. REVISÃO DELITERATURA ................................................................ 788

2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ...................................... 7

2.2 ALTERAÇÂO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO ........................... 8

2.3 HABILIDADES AUDITIVAS ............................................................... 10

2.4 REABILITAÇÂO DO PAC .................................................................. 12

2.4.1 Terapia de reabilitação do PAC ...................................................... 13

3. RELATO DE CASO ............................................................................. 16

4. DISCUSSÃO ........................................................................................ 22

5. CONSCLUSÃO ................................................................................... 23

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 24

ANEXOS .................................................................................................. 26

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1 INTRODUÇÃO

Muitas crianças que apresentam dificuldade de aprendizado na escola podem

estar sofrendo de uma Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC). O

processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de mecanismos realizado pelo

sistema auditivo responsável pela: Localização sonora; Discriminação sonora;

Reconhecimento auditivo; Aspectos temporais da audição; Desempenho auditivo em

presença de sinais acústicos competitivos e degradados (ASHA, 2005).

As terapias de PAC tem se mostrado bastante efetivas no que se refere as

crianças que apresentam algum tipo de dificuldade das habilidades acima citadas,

sendo que a literatura explica que, nestes casos, as terapias auditivas orais são as

que mais se aplicam (BIANCHI, 2011).

Uma das metodologias existes atualmente é a Auditivo-verbal, criada para

reabilitar a audição e a linguagem de crianças surdas por meio da estimulação

auditiva (TOSIM, 2009) .

Neste trabalho apresentaremos um caso, de uma criança diagnosticada com

DPAC, que foi reabilitada por meio de estratégias da terapia Auditivo-verbal

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL

O processamento auditivo central (PAC), é um conjunto de mecanismos e

processos realizados pelo sistema auditivo responsável pelos fenômenos

comportamentais de localização e lateralização de fonte sonora, discriminação

auditiva, reconhecimento de padrão auditivo aspectos temporais da audição e

desempenho auditivo em presença de sinais acústicos competitivos e degradados

(ASHA, 2005).

O termo PAC refere à capacidade de compreender e organizar os estímulos

sonoros que recebemos e são desenvolvidos a partir das experiências sonoras pelas

quais a criança está exposta nos dois primeiros anos de vida, e neste período ocorre

o amadurecimento das estruturas do sistema nervoso central. Envolve um conjunto

de habilidades necessárias para atender, discriminar, reconhecer, armazenar e

compreender a informação auditiva (COSTA-FERREIRA et al., 2007)

O PAC é o processo de gerenciamento das informações recebidas

auditivamente por uma pessoa, é um termo que descreve o que acontece quando o

cérebro reconhece e interpreta o som (MOMENSOHN-SANTOS & BRANCO-

BARREIRO, 2004).

Para Gielow (2001 apud: MEDEIROS et al. 2008) o PAC é como o sistema

auditivo analisa e organiza o que é ouvido. O estimulo sonoro percorre o sistema

nervoso, passando pelo tronco cerebral que é responsável por diferentes habilidades

auditivas como a atenção, detecção e identificação.

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Segundo Sanchez et al (2003) o processamento auditivo é um conjunto de

habilidade específicas mediadas pelos centros auditivos, das quais o individuo

depende para interpretar o que ouve.

O processamento auditivo envolve os aspectos percepção de detecção, de

análise e de interpretação de estímulos sonoros. Estes processos acontecem no

sistema auditivo periférico e no sistema auditivo central. O som após ser detectado

pela orelha interna sofre inúmeros processos fisiológicos e cognitivos para que seja

decodificado e compreendido (RAMOS et al. 2007)

2.2 ALTERAÇÕES NO PROCESSAMENTO AUDITIVO

Alteração no processamento auditivo é uma desordem ou déficit no

processamento neural do estimulo auditivo, que pode atingir desde a detecção da

presença de um som até a análise mais complexa das informações envolvendo

aspectos linguísticos e cognitivos de percepção. O Sistema de PAC é constituído de

processos que necessitam de um perfeito funcionamento das estruturas ligadas ao

sistema nervoso periférico e central. Uma simples falha ou até um distúrbio pode

fazer com que a uma criança não consiga interpretar o som que acabou de ouvir, a

interpretação dos sons pode ser comprometida, pois depende que suas habilidades

auditivas estejam organizadas e estruturadas.

Quando as habilidades auditivas não são desenvolvidas, podendo ser por

razões físicas ou psicológicas, o indivíduo pode apresentar uma dificuldade ou

desordem no PAC, podendo muitas vezes acarretar em dificuldades de

aprendizagem na idade escolar (SINCKEVICIUS, 2010).

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A DPAC pode se caracterizar pela quebra em uma ou mais etapas do

processamento auditivo. Podendo gerar um distúrbio de audição em que há um

impedimento na habilidade de analisar ou interpretar os padrões sonoros, podendo

ser decorrentes de privações sensoriais, perdas auditivas, problemas neurológicos

ou outros (PEREIRA, 1993).

Para Branco-Barreiro (2008), o modelo de processamento da informação

auditiva consiste de três sub-perfis: decodificação auditiva, prosódia e integração.

A decodificação auditiva é o sub-perfil mais específico à modalidade auditiva.

O córtex auditivo primário do hemisfério dominante para a linguagem é a localização

presumida da disfunção. As habilidades auditivas deficientes são principalmente o

fechamento e a discriminação auditiva, processamento temporal e a separação, e a

integração binaural.

A prosódia é frequentemente somente a parte auditiva de uma disfunção

maior e mais global no hemisfério direito.

A integração é caracterizada pela dificuldade em tarefas que exijam

transferência inter-hemisférica.

Para Pereira e Schochat (1997) o transtorno do processamento auditivo pode

ser classificado em decodificação, codificação e organização. Sendo acrescentado

em 2006 a gnosia não-verbal, estabelecendo cinco subperfis: decodificação,

integração auditiva ou codificação, associação ou perda gradual de memória,

organização da saída e função não-verbal (MACHADO, PEREIRA e AZEVEDO,

2006).

Para avaliar o funcionamento das estruturas responsáveis pelo

processamento auditivo, são realizados testes comportamentais através de

audiômetros de dois canais em cabine acústica. O resultado desses testes permite

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classificar o processamento auditivo como normal ou alterado (COSTA-FERREIRA,

2007)

Pereira e Cavadas (1998) sugerem uma descrição dos Transtornos do PAC

correlacionando estes efeitos com o impacto social e a necessidade educacional.

Eles são classificados em normal, leve, moderado e severo.

No grau normal, observa-se uma boa capacidade de acompanhar a

conversação em ambiente desfavorável.

No grau leve, observa-se no portador uma discreta dificuldade em

acompanhar a conversação em ambiente desfavorável, podendo ser agravada se a

distância do interlocutor é aumentada ou se na classe existe muito ruído.

No grau moderado observa-se capacidade de compreender a conversação se

a distância e estrutura do vocabulário forem controladas, perdem muitos sinais

acústicos de fala, provavelmente cerca de 50%, podem ter atraso de linguagem, são

consideradas desatentas e apresentam grande diferença entre compreender a fala

no silêncio e no ruído.

No grau severo observam-se sujeitos incapazes de acompanhar a

conversação em ambiente desfavorável, apresentam dificuldades escolares

importantes, podem ter atraso de linguagem, de sintaxe e de inteligibilidade de fala,

podem ser considerados como pouco competentes para aprender.

2.3 HABILIDADES AUDITIVAS

Segundo Boothroyd (1986), existem diversas habilidades envolvidas no PAC,

são elas: atenção seletiva, detecção de som, sensação, discriminação, localização,

reconhecimento e memória. O adequado funcionamento dessas habilidades é

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fundamental para que a criança consiga processar adequadamente as informações

recebidas.

Segundo Misorelli (2005), o processamento da informação auditiva necessita

da atenção ao som e para que os estímulos sejam organizados e classificados estes

precisam ser retidos. Ou seja, primeiramente precisamos estar atentos ao som que

queremos ouvir, para que ele possa ser devidamente organizado e classificado pelo

cérebro. Essa habilidade permite que possamos reconhecer o som posteriormente e

acessar a informação pertinente.

Para Sanchez et al. (2003) as habilidades auditivas são mediadas pelos

centros auditivos localizados no tronco encefálico e no cérebro, podendo ser

subdivididas em atenção, discriminação, associação, integração, prosódia e

organização de saída.

A atenção envolve as habilidades relacionadas com a maneira que o sujeito

percebe a fala e os sons do seu próprio ambiente. A discriminação envolve as

habilidades relacionadas com à capacidade de distinguir características diferentes

entre os sons. A associação envolve habilidades relacionadas à capacidade de

corresponder um estímulo sonoro com outras informações já armazenadas de

acordo com as regras da língua. A integração envolve habilidades relacionadas à

junção de informações auditivas com informações de diferentes níveis sensoriais. A

prosódia envolve habilidades relacionadas à associação e interpretação dos padrões

supra-segmentais, não-verbais, da mensagem recebida, como ritmo, entonação,

expressão facial, ênfase e contexto. E a organização de saída, envolvendo um

conjunto de habilidades de série, organização e evocação de informações auditivas

para o planejamento e emissão de respostas. E ainda a habilidade de localização,

que consiste na capacidade de reconhecer a origem da fonte sonora. Trata-se de

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um comportamento que envolve o funcionamento efetivo das vias auditivas do

sistema nervoso central e do córtex, além de uma adequada sensibilidade auditiva

em ambas as orelhas do indivíduo (DIAS E PEREIRA, 2008).

2.4 REABILITAÇÃO DO PAC

Para Bianchi (2011) o papel do fonoaudiólogo frente às alterações do PAC é

reabilitar as habilidades auditivas prejudicadas.

Para trabalhar a decodificação auditiva, é importante desenvolver atividades

de leitura que, utilize a memória visual como ponto de referência. Atividades com

música, identificando os sons e decodificando-os, também podem ser utilizados.

Para auxiliar na integração auditiva, Canto e Knabben (2002) sugerem os

exercícios corporais de movimentação no tempo e espaço, estas técnicas trabalham

o hemisfério direito e esquerdo e a terapia ritmo-visual.

Para a associação auditiva, as autoras indicam trabalhar com estocagem de

informação, o material utilizado deverá ser fragmentado em atividades de leitura,

pois nem sempre a repetição de textos longos irá auxiliar, o ideal é sempre utilizar

com partes menores.

Para desenvolver a organização de saída, são sugeridas as atividades que

envolvam sequêncialização e listagem que reforçam as habilidades desses

indivíduos; por exemplo: caderno de anotações casa/escola ajudará a criança a não

ser desorganizada em suas tarefas de casa (CANTO; KNABBEN, 2002).

A função não-verbal pode ser trabalhada com atividades que desenvolvam a

memória operativa com pistas visuais, por meios não verbais. Por exemplo; pistas

corporais.

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Segundo Musiek e Chermak (1995), para trabalhar a codificação sugere que

seja trabalhado com desenho por ser uma técnica de codificação de grande valia

para pessoas com dificuldade de processamento da linguagem falada, porque o ato

de desenhar ativa o córtex motor primário do hemisfério direito e, possivelmente,

aciona o processamento bi-hemisférico na tarefa de memorizar os estímulos verbais.

Musiek (1999) também destaca que a combinação de ações de natureza

verbal e motora fornece melhor acesso à memória e, possivelmente, melhora o

processo de memorização, devido às múltiplas representações (verbal, espacial,

auditivo, visual, somática e processos motores) envolvidas, de sorte que sugere que

esse procedimento seja usado com crianças com problemas de memória ou com

comportamentos que têm sido atribuídos à pobre memória auditiva.

Outra técnica visa o trabalho com a habilidade de atenção seletiva. Para esse

procedimento, utiliza-se um texto que deve ser lido em voz alta para a criança.

Nesse texto, deve aparecer uma palavra repetidas vezes. Antes de iniciar a leitura

em voz alta, orientar a criança durante a leitura do texto ela deve prestar atenção:

todas as vezes que ouvir a palavra, deve bater palma, ou então contar quantas

vezes essa palavra foi repetida no texto (TOSIM, 2009).

2.4.1 Terapia para reabilitação do PAC

Segundo Casanova (1992) e Jakubovicz (1997), o oralismo se fortaleceu e se

difundiu em meados de 1880, com o surgimento da sociedade industrial, que

determinava formas educacionais novas e rígidas. Assim, surgiram metodologias

inspiradas na filosofia oralista, as quais dependiam de uma protetização efetiva,

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leitura labial e habilidade de comunicação através da fala, excluindo os gestos, pois

acreditavam que os signos linguísticos poderiam interferir no aprendizado da fala.

Os métodos oralistas, ou segundo a terminologia atual, métodos auditivo –

verbais, podem ser subdivididos em: métodos multissensoriais orais e os métodos

puramente orais, ou, unissensoriais.

Os métodos multissensoriais orais, muito utilizados com crianças

protetizadas, utilizam recursos variados além da audição, como: pistas visuais,

movimentos corporais, leitura orofacial, dentre outros. A escrita é ensinada desde

cedo junto com a produção oral das palavras. As propostas que utilizam os recursos

multissensoriais propiciam maiores chances para promover o desenvolvimento da

criança deficiente auditiva. São exemplos: método Verbotonal e método Perdoncini.

Os métodos unissensoriais, ou puramente oralistas, não permitem o uso de

gestos. O fonoaudiólogo deve utilizar ao máximo os resíduos auditivos do paciente,

sendo portanto, a prótese ou o Implante Coclear, dispositivos necessários para o

bom desenvolvimento das estratégias propostas. Como exemplo podemos citar a

Terapia Auditivo-Verbal, que não descarta outros sentidos, porém utiliza somente

um, a audição, depois que a criança consegue processar o som. Esta terapia está

baseada no um princípio lógico de que crianças surdas podem ser educadas para

usar ao máximo suas habilidades auditivas, amplificadas, para desenvolver a fala.

Em toda a terapia de PAC é enfatizada a necessidade do comprometimento

dos pais, que muitas vezes participam juntos com a criança.

Tosim (2009) relata algumas estratégias para o aprimoramento das

habilidades auditivas. Segundo a autora é importante partir do simples para o

complexo; do fácil para o difícil; do suave para o forte; do menor para o maior; do

conjunto fechado para o aberto.

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Sugere também a utilização de jogos de pergunta e resposta; absurdos;

atividades que aliam as habilidades de discriminação auditiva e de semântica;

memória; e discriminação.

Sempre focando na audição, e começando em ambiente silencioso para,

posteriormente, trabalhar com competição sonora.

Também deve-se estimular as orelhas em conjunto e depois separadamente.

Na sequência apresentaremos um caso de alteração do PAC onde a terapia

auditivo-verbal foi utilizada com sucesso.

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3. RELATO DE CASO

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Institucional sob número

CEP/UTP 48/2009 (Anexo 1).

Este estudo de caso se refere a um paciente do gênero masculino nascido em

13 de maio de 2003. Na época da avaliação (2013) cursava o 4º ano do ensino

fundamental.

Foi encaminhado para a avaliação do PAC pela fonoaudióloga terapeuta,

apresentando as seguintes queixas: vai mal na escola, desatenção.

A família procurou a Clinica de fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do

Paraná para avaliação auditiva e avaliação do PAC em 14 de março de 2013.

Durante a anamnese realizada com a mãe do menor registro-se os seguintes

dados:

A gravidez foi planejada, a gestação foi normal com a duração de nove

meses, o parto foi normal sem intercorrências posteriores ao nascimento.

A mãe não soube informar qual foi a nota de APGAR, nem o peso e

comprimento ao nascer.

No que se refere a outros dados motores, andou com 1 ano e 3 meses,

balbuciou com 6 meses e começou a falar com 1 ano, não apresentou dificuldades

para falar e é compreendido por estranhos.

Na avaliação audiológica os resultados foram: audiometria dentro dos

padrões de normalidade para a via aérea e óssea, limiar de reconhecimento de fala

(LRF) adequado, porém com índice de reconhecimento de fala (IRF) pior do que o

esperado, ou seja, incompatível com a audiometria tonal (figura 1).

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FIGURA 1 – audiometria referente a data de 14 de março de 2013

FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.

Depois de realizada a audiometria, foram aplicados os testes de PAC,

conforme figura 2:

Localização

Memora verbal e memória não verbal

Discriminação

Padrão de frequência – PPS

Dicóticos de dígitos

Dicóticos alternados (SSW)

RGDT (percepção de gap)

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FIGURA 2- Avaliação do PAC realizada no dia 14 de março de 2013

FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.

Depois de realizados os exames e constatada a DPAC, a criança deu inicio às

terapias de processamento auditivo, por meio da Terapia Auditivo-verbal.

Exames de PAC foram repetidos dois meses e quatro meses depois de

iniciada a terapia, e os dados estão registrados nas figuras 3 e 4.

Vale ressaltar que a criança fez terapia duas vezes por semana, em sessões

que duravam entre 45 e 50 minutos. As atividades englobavam trabalho com

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oralidade e audibilização. Não foram utilizados recursos eletrônicos, como prótese

auditiva ou sistema FM.

Os limiares auditivos também foram reavaliados e os resultados estão na

figura 5.

FIGURA 3- Avaliação do PAC em 05 de maio de 2013

FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.

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FIGURA 4- avaliação do PAC realizada no dia 14 de julho de 2013

FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013

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FIGURA 5- Audiometria realizada no dia 14 de julho de 2023

FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013

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4. DISCUSSÃO

O caso aqui relatado é de uma criança com 11 anos, diagnosticada com

DPAC. De acordo com a literatura (ASHA, 2005), esta entidade refere-se à

dificuldade que uma pessoa tem para lidar com as habilidades auditivas.

No exame inicial, verifica-se dificuldades em todas as habilidades auditivas

avaliadas. Pode-se inferir que a criança não conseguia analisar e/ou organizar

aquilo que escutava (GIELOW, 2001).

No caso em questão, considerando a proposta de Pereira e Shochat (1997),

foi diagnosticada uma alteração severa do PAC, onde a codificação e a

decodificação estavam comprometidas.

A audiometria estava normal, porém, as habilidades de reconhecimento de

fala piores do que o esperado. Tal fato pode ser explicado por Ramos (2007), onde,

apesar da parte periférica do ouvido detectar corretamente o som, a porção central

não consegue decodificar ou compreender.

Nestes casos, a terapia fonoaudiológica é indicada, com vistas à reabilitar as

habilidades auditivas (BIANCHI, 2011).

A terapia eleita para o trabalho com a criança foi a Auditivo-verbal, onde se

preconiza o uso de estratégias orais e auditivas (TOSIM, 2009).

Após dois meses de terapia, já foi possível observar uma melhora nos

resultados dos seguintes exames: Localização, Dicótico de dígitos na orelha direita,

Dissílabos alternados e RGDT. Ainda apresentava dificuldades nos testes referentes

a: memória verbal, memória não verbal, discriminação, padrão de frequência.

Após quatro meses de terapia os testes foram novamente aplicados, e todas

as habilidades auditivas encontravam-se dentro da normalidade. Também o IRF

melhorou.

As terapias oralistas, principalmente aquelas que utilizam o canal auditivo

como meio de estimulação, facilitaram a reabilitação das habilidades auditivas

(CASANOVA, 1992).

Em especial, a Terapia Auditivo-verbal, tem se mostrado eficiente na

reabilitação do PAC.

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5. CONCLUSÃO

Com este estudo foi possível concluir que Terapia Auditivo-verbal se mostrou

efetiva na reabilitação de paciente com alteração de PAC.

É importante que os cursos de Fonoaudiologia formem os profissionais

fonoaudiólogos neste tipo de intervenção.

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REFERÊNCIAS

1. American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). (Central) Auditory

Processing Disorders [Technical Report]. 2005. [acesso em 15 set 2011] Disponível em: www.asha.org/policy.

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ANEXO 1

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