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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
DEBORA RAQUEL WENGRAT
HABILITAÇÃO AUDITIVA POR MEIO DAS ESTRATÉGIAS DA
TERAPIA AUDITIVO-VERBAL: RELATO DE CASO
CURITIBA
2014
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DEBORA RAQUEL WENGRAT
HABILITAÇÃO AUDITIVA POR MEIO DAS ESTRATÉGIAS DA
TERAPIA AUDITIVO-VERBAL: RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Graduação em Fonoaudiologia da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito
parcial à obtenção do grau de Fonoaudiólogo.
Orientadora: Profa. Dra. Angela Ribas
CURITIBA
2014
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus que é o mestre dos mestres que nunca desistiu
do ser humano, e sempre esteve ao meu lado me sustentando e guiando nesta
trajetória.
Agradeço também aos meus pais por todo amor, apoio e por ter vivido este sonho
comigo neste período de graduação e por continuar sonhando tudo o que ainda
esta por vir.
Agradeço а todos os professores por me conduzirem nesta apaixonante e
fascinante jornada de conhecimento e inúmeras reflexões.
E principalmente agradeço a minha Orientadora Prof. Dra. Angela Ribas por ter
acreditando em mim, e ter me dado à chance de aprender um pouco mais com ela
neste período. E ter deixado em mim a chama acesa para sempre buscar mais e ir
além.
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RESUMO
Introdução: Muitas crianças que apresentam dificuldade de aprendizado na escola
podem estar sofrendo de uma Desordem do Processamento Auditivo Central
(DPAC). O processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de mecanismos
realizado pelo sistema auditivo responsável pela: Localização sonora; Discriminação
sonora; Reconhecimento auditivo; Aspectos temporais da audição; Desempenho
auditivo em presença de sinais acústicos competitivos e degradados. Objetivo:
descrever um caso de habilitação auditiva de uma criança com desordem do PAC,
onde foi utilizada a terapia Auditivo-verbal. Material e método: Relato de caso e
descrição de exames realizados. Resultados: Na avaliação foram aplicados a
audiometria, a logoaudiometria e os testes de PAC. Após quatro meses de terapia
os testes foram novamente aplicados, e todas as habilidades auditivas encontravam-
se dentro da normalidade. Conclusão: Com este estudo foi possível concluir que a
terapia Auditivo-verbal se mostrou efetiva na reabilitação de paciente com alteração
de PAC. É importante que os cursos de Fonoaudiologia formem os profissionais
fonoaudiólogos neste tipo de intervenção.
PALAVRAS-CHAVE: Processamento auditivo; teoria auditivoverbal; audição.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 6
2. REVISÃO DELITERATURA ................................................................ 788
2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ...................................... 7
2.2 ALTERAÇÂO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO ........................... 8
2.3 HABILIDADES AUDITIVAS ............................................................... 10
2.4 REABILITAÇÂO DO PAC .................................................................. 12
2.4.1 Terapia de reabilitação do PAC ...................................................... 13
3. RELATO DE CASO ............................................................................. 16
4. DISCUSSÃO ........................................................................................ 22
5. CONSCLUSÃO ................................................................................... 23
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 24
ANEXOS .................................................................................................. 26
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1 INTRODUÇÃO
Muitas crianças que apresentam dificuldade de aprendizado na escola podem
estar sofrendo de uma Desordem do Processamento Auditivo Central (DPAC). O
processamento auditivo central (PAC) é um conjunto de mecanismos realizado pelo
sistema auditivo responsável pela: Localização sonora; Discriminação sonora;
Reconhecimento auditivo; Aspectos temporais da audição; Desempenho auditivo em
presença de sinais acústicos competitivos e degradados (ASHA, 2005).
As terapias de PAC tem se mostrado bastante efetivas no que se refere as
crianças que apresentam algum tipo de dificuldade das habilidades acima citadas,
sendo que a literatura explica que, nestes casos, as terapias auditivas orais são as
que mais se aplicam (BIANCHI, 2011).
Uma das metodologias existes atualmente é a Auditivo-verbal, criada para
reabilitar a audição e a linguagem de crianças surdas por meio da estimulação
auditiva (TOSIM, 2009) .
Neste trabalho apresentaremos um caso, de uma criança diagnosticada com
DPAC, que foi reabilitada por meio de estratégias da terapia Auditivo-verbal
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
O processamento auditivo central (PAC), é um conjunto de mecanismos e
processos realizados pelo sistema auditivo responsável pelos fenômenos
comportamentais de localização e lateralização de fonte sonora, discriminação
auditiva, reconhecimento de padrão auditivo aspectos temporais da audição e
desempenho auditivo em presença de sinais acústicos competitivos e degradados
(ASHA, 2005).
O termo PAC refere à capacidade de compreender e organizar os estímulos
sonoros que recebemos e são desenvolvidos a partir das experiências sonoras pelas
quais a criança está exposta nos dois primeiros anos de vida, e neste período ocorre
o amadurecimento das estruturas do sistema nervoso central. Envolve um conjunto
de habilidades necessárias para atender, discriminar, reconhecer, armazenar e
compreender a informação auditiva (COSTA-FERREIRA et al., 2007)
O PAC é o processo de gerenciamento das informações recebidas
auditivamente por uma pessoa, é um termo que descreve o que acontece quando o
cérebro reconhece e interpreta o som (MOMENSOHN-SANTOS & BRANCO-
BARREIRO, 2004).
Para Gielow (2001 apud: MEDEIROS et al. 2008) o PAC é como o sistema
auditivo analisa e organiza o que é ouvido. O estimulo sonoro percorre o sistema
nervoso, passando pelo tronco cerebral que é responsável por diferentes habilidades
auditivas como a atenção, detecção e identificação.
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Segundo Sanchez et al (2003) o processamento auditivo é um conjunto de
habilidade específicas mediadas pelos centros auditivos, das quais o individuo
depende para interpretar o que ouve.
O processamento auditivo envolve os aspectos percepção de detecção, de
análise e de interpretação de estímulos sonoros. Estes processos acontecem no
sistema auditivo periférico e no sistema auditivo central. O som após ser detectado
pela orelha interna sofre inúmeros processos fisiológicos e cognitivos para que seja
decodificado e compreendido (RAMOS et al. 2007)
2.2 ALTERAÇÕES NO PROCESSAMENTO AUDITIVO
Alteração no processamento auditivo é uma desordem ou déficit no
processamento neural do estimulo auditivo, que pode atingir desde a detecção da
presença de um som até a análise mais complexa das informações envolvendo
aspectos linguísticos e cognitivos de percepção. O Sistema de PAC é constituído de
processos que necessitam de um perfeito funcionamento das estruturas ligadas ao
sistema nervoso periférico e central. Uma simples falha ou até um distúrbio pode
fazer com que a uma criança não consiga interpretar o som que acabou de ouvir, a
interpretação dos sons pode ser comprometida, pois depende que suas habilidades
auditivas estejam organizadas e estruturadas.
Quando as habilidades auditivas não são desenvolvidas, podendo ser por
razões físicas ou psicológicas, o indivíduo pode apresentar uma dificuldade ou
desordem no PAC, podendo muitas vezes acarretar em dificuldades de
aprendizagem na idade escolar (SINCKEVICIUS, 2010).
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A DPAC pode se caracterizar pela quebra em uma ou mais etapas do
processamento auditivo. Podendo gerar um distúrbio de audição em que há um
impedimento na habilidade de analisar ou interpretar os padrões sonoros, podendo
ser decorrentes de privações sensoriais, perdas auditivas, problemas neurológicos
ou outros (PEREIRA, 1993).
Para Branco-Barreiro (2008), o modelo de processamento da informação
auditiva consiste de três sub-perfis: decodificação auditiva, prosódia e integração.
A decodificação auditiva é o sub-perfil mais específico à modalidade auditiva.
O córtex auditivo primário do hemisfério dominante para a linguagem é a localização
presumida da disfunção. As habilidades auditivas deficientes são principalmente o
fechamento e a discriminação auditiva, processamento temporal e a separação, e a
integração binaural.
A prosódia é frequentemente somente a parte auditiva de uma disfunção
maior e mais global no hemisfério direito.
A integração é caracterizada pela dificuldade em tarefas que exijam
transferência inter-hemisférica.
Para Pereira e Schochat (1997) o transtorno do processamento auditivo pode
ser classificado em decodificação, codificação e organização. Sendo acrescentado
em 2006 a gnosia não-verbal, estabelecendo cinco subperfis: decodificação,
integração auditiva ou codificação, associação ou perda gradual de memória,
organização da saída e função não-verbal (MACHADO, PEREIRA e AZEVEDO,
2006).
Para avaliar o funcionamento das estruturas responsáveis pelo
processamento auditivo, são realizados testes comportamentais através de
audiômetros de dois canais em cabine acústica. O resultado desses testes permite
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classificar o processamento auditivo como normal ou alterado (COSTA-FERREIRA,
2007)
Pereira e Cavadas (1998) sugerem uma descrição dos Transtornos do PAC
correlacionando estes efeitos com o impacto social e a necessidade educacional.
Eles são classificados em normal, leve, moderado e severo.
No grau normal, observa-se uma boa capacidade de acompanhar a
conversação em ambiente desfavorável.
No grau leve, observa-se no portador uma discreta dificuldade em
acompanhar a conversação em ambiente desfavorável, podendo ser agravada se a
distância do interlocutor é aumentada ou se na classe existe muito ruído.
No grau moderado observa-se capacidade de compreender a conversação se
a distância e estrutura do vocabulário forem controladas, perdem muitos sinais
acústicos de fala, provavelmente cerca de 50%, podem ter atraso de linguagem, são
consideradas desatentas e apresentam grande diferença entre compreender a fala
no silêncio e no ruído.
No grau severo observam-se sujeitos incapazes de acompanhar a
conversação em ambiente desfavorável, apresentam dificuldades escolares
importantes, podem ter atraso de linguagem, de sintaxe e de inteligibilidade de fala,
podem ser considerados como pouco competentes para aprender.
2.3 HABILIDADES AUDITIVAS
Segundo Boothroyd (1986), existem diversas habilidades envolvidas no PAC,
são elas: atenção seletiva, detecção de som, sensação, discriminação, localização,
reconhecimento e memória. O adequado funcionamento dessas habilidades é
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fundamental para que a criança consiga processar adequadamente as informações
recebidas.
Segundo Misorelli (2005), o processamento da informação auditiva necessita
da atenção ao som e para que os estímulos sejam organizados e classificados estes
precisam ser retidos. Ou seja, primeiramente precisamos estar atentos ao som que
queremos ouvir, para que ele possa ser devidamente organizado e classificado pelo
cérebro. Essa habilidade permite que possamos reconhecer o som posteriormente e
acessar a informação pertinente.
Para Sanchez et al. (2003) as habilidades auditivas são mediadas pelos
centros auditivos localizados no tronco encefálico e no cérebro, podendo ser
subdivididas em atenção, discriminação, associação, integração, prosódia e
organização de saída.
A atenção envolve as habilidades relacionadas com a maneira que o sujeito
percebe a fala e os sons do seu próprio ambiente. A discriminação envolve as
habilidades relacionadas com à capacidade de distinguir características diferentes
entre os sons. A associação envolve habilidades relacionadas à capacidade de
corresponder um estímulo sonoro com outras informações já armazenadas de
acordo com as regras da língua. A integração envolve habilidades relacionadas à
junção de informações auditivas com informações de diferentes níveis sensoriais. A
prosódia envolve habilidades relacionadas à associação e interpretação dos padrões
supra-segmentais, não-verbais, da mensagem recebida, como ritmo, entonação,
expressão facial, ênfase e contexto. E a organização de saída, envolvendo um
conjunto de habilidades de série, organização e evocação de informações auditivas
para o planejamento e emissão de respostas. E ainda a habilidade de localização,
que consiste na capacidade de reconhecer a origem da fonte sonora. Trata-se de
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um comportamento que envolve o funcionamento efetivo das vias auditivas do
sistema nervoso central e do córtex, além de uma adequada sensibilidade auditiva
em ambas as orelhas do indivíduo (DIAS E PEREIRA, 2008).
2.4 REABILITAÇÃO DO PAC
Para Bianchi (2011) o papel do fonoaudiólogo frente às alterações do PAC é
reabilitar as habilidades auditivas prejudicadas.
Para trabalhar a decodificação auditiva, é importante desenvolver atividades
de leitura que, utilize a memória visual como ponto de referência. Atividades com
música, identificando os sons e decodificando-os, também podem ser utilizados.
Para auxiliar na integração auditiva, Canto e Knabben (2002) sugerem os
exercícios corporais de movimentação no tempo e espaço, estas técnicas trabalham
o hemisfério direito e esquerdo e a terapia ritmo-visual.
Para a associação auditiva, as autoras indicam trabalhar com estocagem de
informação, o material utilizado deverá ser fragmentado em atividades de leitura,
pois nem sempre a repetição de textos longos irá auxiliar, o ideal é sempre utilizar
com partes menores.
Para desenvolver a organização de saída, são sugeridas as atividades que
envolvam sequêncialização e listagem que reforçam as habilidades desses
indivíduos; por exemplo: caderno de anotações casa/escola ajudará a criança a não
ser desorganizada em suas tarefas de casa (CANTO; KNABBEN, 2002).
A função não-verbal pode ser trabalhada com atividades que desenvolvam a
memória operativa com pistas visuais, por meios não verbais. Por exemplo; pistas
corporais.
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Segundo Musiek e Chermak (1995), para trabalhar a codificação sugere que
seja trabalhado com desenho por ser uma técnica de codificação de grande valia
para pessoas com dificuldade de processamento da linguagem falada, porque o ato
de desenhar ativa o córtex motor primário do hemisfério direito e, possivelmente,
aciona o processamento bi-hemisférico na tarefa de memorizar os estímulos verbais.
Musiek (1999) também destaca que a combinação de ações de natureza
verbal e motora fornece melhor acesso à memória e, possivelmente, melhora o
processo de memorização, devido às múltiplas representações (verbal, espacial,
auditivo, visual, somática e processos motores) envolvidas, de sorte que sugere que
esse procedimento seja usado com crianças com problemas de memória ou com
comportamentos que têm sido atribuídos à pobre memória auditiva.
Outra técnica visa o trabalho com a habilidade de atenção seletiva. Para esse
procedimento, utiliza-se um texto que deve ser lido em voz alta para a criança.
Nesse texto, deve aparecer uma palavra repetidas vezes. Antes de iniciar a leitura
em voz alta, orientar a criança durante a leitura do texto ela deve prestar atenção:
todas as vezes que ouvir a palavra, deve bater palma, ou então contar quantas
vezes essa palavra foi repetida no texto (TOSIM, 2009).
2.4.1 Terapia para reabilitação do PAC
Segundo Casanova (1992) e Jakubovicz (1997), o oralismo se fortaleceu e se
difundiu em meados de 1880, com o surgimento da sociedade industrial, que
determinava formas educacionais novas e rígidas. Assim, surgiram metodologias
inspiradas na filosofia oralista, as quais dependiam de uma protetização efetiva,
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leitura labial e habilidade de comunicação através da fala, excluindo os gestos, pois
acreditavam que os signos linguísticos poderiam interferir no aprendizado da fala.
Os métodos oralistas, ou segundo a terminologia atual, métodos auditivo –
verbais, podem ser subdivididos em: métodos multissensoriais orais e os métodos
puramente orais, ou, unissensoriais.
Os métodos multissensoriais orais, muito utilizados com crianças
protetizadas, utilizam recursos variados além da audição, como: pistas visuais,
movimentos corporais, leitura orofacial, dentre outros. A escrita é ensinada desde
cedo junto com a produção oral das palavras. As propostas que utilizam os recursos
multissensoriais propiciam maiores chances para promover o desenvolvimento da
criança deficiente auditiva. São exemplos: método Verbotonal e método Perdoncini.
Os métodos unissensoriais, ou puramente oralistas, não permitem o uso de
gestos. O fonoaudiólogo deve utilizar ao máximo os resíduos auditivos do paciente,
sendo portanto, a prótese ou o Implante Coclear, dispositivos necessários para o
bom desenvolvimento das estratégias propostas. Como exemplo podemos citar a
Terapia Auditivo-Verbal, que não descarta outros sentidos, porém utiliza somente
um, a audição, depois que a criança consegue processar o som. Esta terapia está
baseada no um princípio lógico de que crianças surdas podem ser educadas para
usar ao máximo suas habilidades auditivas, amplificadas, para desenvolver a fala.
Em toda a terapia de PAC é enfatizada a necessidade do comprometimento
dos pais, que muitas vezes participam juntos com a criança.
Tosim (2009) relata algumas estratégias para o aprimoramento das
habilidades auditivas. Segundo a autora é importante partir do simples para o
complexo; do fácil para o difícil; do suave para o forte; do menor para o maior; do
conjunto fechado para o aberto.
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Sugere também a utilização de jogos de pergunta e resposta; absurdos;
atividades que aliam as habilidades de discriminação auditiva e de semântica;
memória; e discriminação.
Sempre focando na audição, e começando em ambiente silencioso para,
posteriormente, trabalhar com competição sonora.
Também deve-se estimular as orelhas em conjunto e depois separadamente.
Na sequência apresentaremos um caso de alteração do PAC onde a terapia
auditivo-verbal foi utilizada com sucesso.
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3. RELATO DE CASO
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Institucional sob número
CEP/UTP 48/2009 (Anexo 1).
Este estudo de caso se refere a um paciente do gênero masculino nascido em
13 de maio de 2003. Na época da avaliação (2013) cursava o 4º ano do ensino
fundamental.
Foi encaminhado para a avaliação do PAC pela fonoaudióloga terapeuta,
apresentando as seguintes queixas: vai mal na escola, desatenção.
A família procurou a Clinica de fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do
Paraná para avaliação auditiva e avaliação do PAC em 14 de março de 2013.
Durante a anamnese realizada com a mãe do menor registro-se os seguintes
dados:
A gravidez foi planejada, a gestação foi normal com a duração de nove
meses, o parto foi normal sem intercorrências posteriores ao nascimento.
A mãe não soube informar qual foi a nota de APGAR, nem o peso e
comprimento ao nascer.
No que se refere a outros dados motores, andou com 1 ano e 3 meses,
balbuciou com 6 meses e começou a falar com 1 ano, não apresentou dificuldades
para falar e é compreendido por estranhos.
Na avaliação audiológica os resultados foram: audiometria dentro dos
padrões de normalidade para a via aérea e óssea, limiar de reconhecimento de fala
(LRF) adequado, porém com índice de reconhecimento de fala (IRF) pior do que o
esperado, ou seja, incompatível com a audiometria tonal (figura 1).
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FIGURA 1 – audiometria referente a data de 14 de março de 2013
FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.
Depois de realizada a audiometria, foram aplicados os testes de PAC,
conforme figura 2:
Localização
Memora verbal e memória não verbal
Discriminação
Padrão de frequência – PPS
Dicóticos de dígitos
Dicóticos alternados (SSW)
RGDT (percepção de gap)
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FIGURA 2- Avaliação do PAC realizada no dia 14 de março de 2013
FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.
Depois de realizados os exames e constatada a DPAC, a criança deu inicio às
terapias de processamento auditivo, por meio da Terapia Auditivo-verbal.
Exames de PAC foram repetidos dois meses e quatro meses depois de
iniciada a terapia, e os dados estão registrados nas figuras 3 e 4.
Vale ressaltar que a criança fez terapia duas vezes por semana, em sessões
que duravam entre 45 e 50 minutos. As atividades englobavam trabalho com
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oralidade e audibilização. Não foram utilizados recursos eletrônicos, como prótese
auditiva ou sistema FM.
Os limiares auditivos também foram reavaliados e os resultados estão na
figura 5.
FIGURA 3- Avaliação do PAC em 05 de maio de 2013
FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013.
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FIGURA 4- avaliação do PAC realizada no dia 14 de julho de 2013
FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013
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FIGURA 5- Audiometria realizada no dia 14 de julho de 2023
FONTE: Clínica de Fonoaudiologia UTP, 2013
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4. DISCUSSÃO
O caso aqui relatado é de uma criança com 11 anos, diagnosticada com
DPAC. De acordo com a literatura (ASHA, 2005), esta entidade refere-se à
dificuldade que uma pessoa tem para lidar com as habilidades auditivas.
No exame inicial, verifica-se dificuldades em todas as habilidades auditivas
avaliadas. Pode-se inferir que a criança não conseguia analisar e/ou organizar
aquilo que escutava (GIELOW, 2001).
No caso em questão, considerando a proposta de Pereira e Shochat (1997),
foi diagnosticada uma alteração severa do PAC, onde a codificação e a
decodificação estavam comprometidas.
A audiometria estava normal, porém, as habilidades de reconhecimento de
fala piores do que o esperado. Tal fato pode ser explicado por Ramos (2007), onde,
apesar da parte periférica do ouvido detectar corretamente o som, a porção central
não consegue decodificar ou compreender.
Nestes casos, a terapia fonoaudiológica é indicada, com vistas à reabilitar as
habilidades auditivas (BIANCHI, 2011).
A terapia eleita para o trabalho com a criança foi a Auditivo-verbal, onde se
preconiza o uso de estratégias orais e auditivas (TOSIM, 2009).
Após dois meses de terapia, já foi possível observar uma melhora nos
resultados dos seguintes exames: Localização, Dicótico de dígitos na orelha direita,
Dissílabos alternados e RGDT. Ainda apresentava dificuldades nos testes referentes
a: memória verbal, memória não verbal, discriminação, padrão de frequência.
Após quatro meses de terapia os testes foram novamente aplicados, e todas
as habilidades auditivas encontravam-se dentro da normalidade. Também o IRF
melhorou.
As terapias oralistas, principalmente aquelas que utilizam o canal auditivo
como meio de estimulação, facilitaram a reabilitação das habilidades auditivas
(CASANOVA, 1992).
Em especial, a Terapia Auditivo-verbal, tem se mostrado eficiente na
reabilitação do PAC.
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5. CONCLUSÃO
Com este estudo foi possível concluir que Terapia Auditivo-verbal se mostrou
efetiva na reabilitação de paciente com alteração de PAC.
É importante que os cursos de Fonoaudiologia formem os profissionais
fonoaudiólogos neste tipo de intervenção.
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REFERÊNCIAS
1. American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). (Central) Auditory
Processing Disorders [Technical Report]. 2005. [acesso em 15 set 2011] Disponível em: www.asha.org/policy.
2. BARRETO, Monique Antunes de Souza Chelminski. Caracterizando e correlacionando dislexia do desenvolvimento e processamento auditivo. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia. v. 26, n. 79. 2009.
3. BRANCO-BARREIRO, Fátima Cristina Alves. Intervenção audiológica nos distúrbios do processamento auditivo In: Congresso Brasileiro De Fonoaudiologia, 16, 2008. Campos do Jordão. Anais... SBFa, 2008 p. 164. Resumo.
4. BOOTHROYD, Arthur. Speech acoustics and perception. Austin: Pro-ed, 1986. p. 65-73.
5. CASANOVA, P. Manual de fonoaudiologia. Porto Alegre, Artes Médicas, 1992. 386 p.
6. FISHER, L (1976) – Fisher Auditory Problem. Check list. Bemidji, Minnesota, Life Products
7. MEDEIROS, Priscilla Livorati Salgado, Processamento Auditivo na Escola:
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8. NEVES, Ivone Ferreira; SCHOCHAT, Eliane. Maturação do processamento auditivo em crianças com e sem dificuldades escolares. Pró-Fono R. Atual. Cient., Barueri , v. 17, n. 3, dez. 2005 .
9. NORTHEM, J.C. & DOWNS,M.P. (1991) – Development of auditoryBehavor. In Hearing in Children.
10. NOBACK, C.R. (1985) – Nuroanatomical correlates af central auditory function.
11. OLIVEIRA, Juliana Casseb; MURPHY, Cristina Ferraz Borges; SCHOCHAT, Eliane. Processamento auditivo (central) em crianças com dislexia: avaliação comportamental e eletrofisiológica. CoDAS, São Paulo , v. 25, n. 1, 2013 . Available from
12. Terapia Auditivo Verbal. Enseñar a escuchar para aprender a hablar.
13. Mariana Maggio De Maggi Revista Eletrônica de Audiologia vol 2 , 2014 www.auditio.com
14. KATZ, J (1992) – Classification of auditory processing dissorders.
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ANEXO 1
26