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APRESENTAÇÃO Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea- lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que melhor se encaixa à organização curricular de sua escola. A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen- tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci- dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas, histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob- jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade. As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada região brasileira. Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz. Gerente Editorial Geopolítica

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APRESENTAÇÃO

Este módulo faz parte da coleção intitulada MATERIAL MODULAR, destinada às três

séries do Ensino Médio e produzida para atender às necessidades das diferentes rea-

lidades brasileiras. Por meio dessa coleção, o professor pode escolher a sequência que

melhor se encaixa à organização curricular de sua escola.

A metodologia de trabalho dos Modulares auxilia os alunos na construção de argumen-

tações; possibilita o diálogo com outras áreas de conhecimento; desenvolve as capaci-

dades de raciocínio, de resolução de problemas e de comunicação, bem como o espírito

crítico e a criatividade. Trabalha, também, com diferentes gêneros textuais (poemas,

histórias em quadrinhos, obras de arte, gráficos, tabelas, reportagens, etc.), a fim de

dinamizar o processo educativo, assim como aborda temas contemporâneos com o ob-

jetivo de subsidiar e ampliar a compreensão dos assuntos mais debatidos na atualidade.

As atividades propostas priorizam a análise, a avaliação e o posicionamento perante

situações sistematizadas, assim como aplicam conhecimentos relativos aos conteúdos

privilegiados nas unidades de trabalho. Além disso, é apresentada uma diversidade de

questões relacionadas ao ENEM e aos vestibulares das principais universidades de cada

região brasileira.

Desejamos a você, aluno, com a utilização deste material, a aquisição de autonomia

intelectual e a você, professor, sucesso nas escolhas pedagógicas para possibilitar o

aprofundamento do conhecimento de forma prazerosa e eficaz.

Gerente Editorial

Geopolítica

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© Editora Positivo Ltda., 2013Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.

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GERENTE EDITORIAL:

GERENTE DE ARTE E ICONOGRAFIA: AUTORIA:

REFORMULAÇÃO:EDIÇÃO DE CONTEÚDO:

EDIÇÃO:ANALISTA DE ARTE:

PESQUISA ICONOGRÁFICA:EDIÇÃO DE ARTE:

CARTOGRAFIA:

PROJETO GRÁFICO:EDITORAÇÃO:

CRÉDITO DAS IMAGENS DE ABERTURA E CAPA:

PRODUÇÃO:

IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

CONTATO:

Ruben Formighieri

Emerson Walter dos Santos

Joseph Razouk Junior

Maria Elenice Costa Dantas

Cláudio Espósito GodoyLuciana Salles WormsMauro Michelotto BragaLeandro José Ribeiro Guimarães / Marcelo SmaniottoAndré Maurício CorrêaTatiane Esmanhotto KaminskiTassiane Garcez TokarskiAngela Giseli de SouzaJulio Manoel França da Silva / Luciano Daniel Tulio / Marilu de Souza / Talita Kathy Bora / Thiago Granado Souza / João Miguel Alves MoreiraO2 ComunicaçãoArowak© iStockphoto.com/DNY59; © Shutterstock/Denton Rumsey; © Shutterstock/Jezper; © Shutterstock/BibiDesign; © Dreamstime.com/Alexey ArkhipovEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 17480440-120 Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 Fax: (0xx41) 3312-3599Gráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 50081300-000 Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452E-mail: [email protected]@positivo.com.br

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@GEO1376Brasil e pré-sal:

formação, localização

e impactos

@GEO1376

@

W928 Worms, Luciana Salles. Ensino médio : modular : geografia : geopolítica / Luciana Salles Worms. – Curitiba : Positivo, 2013.

: il.

ISBN 978-85-385-7493-4 (livro do aluno)ISBN 978-85-385-7494-1 (livro do professor)

1. 1. Geografia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Título.

CDU 373.33

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)

(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

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SUMÁRIOGeopolítica

Unidade 1: Mudanças do mundo multipolar

Tensão entre as potências neocoloniais europeias 5

Expansionismo estadunidense 6

Expansão russa e formação da URSS 11

Unidade 2: Geopolítica da Guerra Fria – o sistema bipolar

Primeira e Segunda Grandes Guerras: antecedentes 16

O fim da Segunda Guerra e a Cortina de Ferro na Europa 18

O mundo sob a Guerra Fria: Ásia e África 23

Descolonização e Guerra Fria 25

Unidade 3: A América Latina sob o mundo bipolar

Socialistas no poder pela primeira vez: Guatemala – 1954 34

Revolução Cubana 34

Doutrina de Segurança Nacional 37

Unidade 4: Colapso no socialismo real e fim da Guerra Fria

Intervenções soviéticas na Europa Oriental 40

A queda dos regimes socialistas no Leste Europeu 43

O fim e a desintegração da URSS 50

Unidade 5: Oriente Médio

A Questão Palestina 54

Turbulência nas nações islâmicas não árabes do Oriente Médio 61

As guerras no Iraque e no Líbano 64

A Primavera Árabe 65

Unidade 6: República Sul-Africana

Colonização da República Sul-Africana e o apartheid 70

Unidade 7: Cenários geopolíticos do início do século XXI

O projeto geopolítico da União Europeia em xeque 76

Outros espaços de tensão – novos e velhos conflitos pelo mundo 78

China – uma nova superpotência? 84

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Mudanças do mundo multipolar1

Conforme foram sendo atingidos os limites do capitalismo industrial

nas economias europeias durante a segunda metade do século XIX,

mercados e recursos alternativos tiveram que ser encontrados no

além-mar. Enquanto havia pelo menos uma pequena possibilidade

de utilização mais intensiva de recursos da Europa, cada vez mais os

europeus voltaram-se à exploração de outras partes do mundo. No

final do século XIX, o imperialismo europeu completou o processo

de dominação do mundo que começou com a abertura da fronteira

atlântica, no século XVI [...].

GOUCHER, Candice; WALTON, Linda. História mundial: jornadas do passado ao presente. Tradução de Lia Gabriele Regius Reis. Porto Alegre: Penso, 2011. p. 191.

Geopolítica4

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As primeiras décadas do século XX testemunharam a sucessão de crises que conduziram a geopolítica mundial ao cenário bipolar da Guerra Fria. A influência de três processos paralelos (porém entrelaçados) centrais foi decisiva para a ocorrência dos eventos que alteraram profundamente a configuração das relações de poder no planeta:

a) os confrontos de interesses entre as tradicionais potências conduzindo-as a um desgaste político;

b) a ascensão dos EUA;

c) o surgimento e consolidação da URSS como alternativa de poder.

Tensão entre as potências neocoloniais europeias

Ao longo da história, as potências hegemônicas em geral se caracterizaram por estabelecer e controlar significativas áreas de influência.

Pode-se afirmar que as relações geopolíticas predominantes durante todo o século XIX e início do XX fundamentavam--se no sistema neocolonial, em que a expansão das atividades econômicas dos países e classes dominantes dependia essencialmente da exploração direta das colônias africanas e asiáticas e indireta das ex-colônias da América Latina.

Assim, no mundo neocolonial, os países que dispunham de mais colônias e/ou áreas de influência estavam cre-denciados a desfrutar de uma parcela do poder global. Na Europa, esse era o caso, principalmente, da Inglaterra e da França, que detinham imensas áreas coloniais dispersas pelo mundo. Na América, os EUA, como se verá adiante, já disseminavam a ideia de que todo o continente seria tratado como uma extensão do território estadunidense. A Rússia enfrentava diversas turbulências internas, mas sua incrível expansão territorial lhe garantia um suprimento tão vultoso de matérias-primas, mão de obra e mercado consumidor interno que praticamente a desobrigava da necessidade de se lançar à disputa da partilha neocolonial.

Além desse grupo de países, as últimas décadas do século XIX testemunharam a ascensão rápida de três outros candidatos a partilhar o poder global: Alemanha (principalmente), Itália (secundariamente), que saíam de penosos processos de unificação territorial, pois traziam uma base industrial em formação e a vitalidade política expansionista, e Japão, que, conhecendo o salto de desenvolvimento ocorrido durante a Era Meiji, também começava a mostrar sua importância para o mundo.

O imperador Mutsuhito, mais conhecido por Meiji, governou o Japão entre 1867 e 1912. Durante seu governo, o Japão saiu de uma estrutura praticamente feudal para consolidar uma forte base industrial, constituída por meio de intercâmbios tecnológicos com as potências ocidentais.

O grande problema para esses três países é que os horizontes para sua expansão econômica e política estavam limitados justamente pelo fator determinante já mencionado: a ausência quase total (no caso deles) de áreas de influência disponíveis para serem exploradas. Como poderiam abastecer a fornalha do desenvolvimento industrial, já desencadeado, sem elas?

No cenário europeu, particularmente, o conflito de interesses entre os que detinham generosas porções coloniais e os que pressionavam por uma nova partilha ou redistribuição, na qual pudessem garantir seu quinhão, ocorria parale-lamente à decadência e ao início da fragmentação de dois tradicionais impérios: o Austro-Húngaro e o Turco-Otomano, desencadeando o afloramento de tensões separatistas e/ou territoriais de cunho nacionalista – que os juntavam a outros tradicionais espaços desse tipo, como a Irlanda e a Espanha.

Ensino Médio | Modular 5

GEOGRAFIA

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Portanto, um rápido olhar sobre tais situações revela um cenário de turbulências que seria marcado pelo surgimento e rompimento de alianças e por rupturas, tensões, expansão de ideologias conflitantes, tentativas de arranjos diplomáticos, etc. Enfim, toda uma série de acontecimentos cuja explicação demandaria a compreensão da política interna vigente e da atuação na política externa de cada ator envolvido, diante de cada situação. Cabe ressaltar – e esse é o aspecto mais importante na aborda-gem geopolítica – que tudo estava diretamente relacionado a esse pano de fundo da dinâmica dos interesses do mundo neocolonial, que, tal qual uma bola de neve, resultaria na ocorrência das duas grandes guerras, ditas “mundiais”, mas que tiveram a Europa como epicentro. O mundo multipolar, com seus sete principais países em perspectiva expansionista (seja ela econômica, política ou ambas) e em relativa igualdade de forças, mergulhava numa profunda crise, que iria alterá-lo duramente.

É importante ressaltar duas questões fundamentais de cunho geopolítico:

em primeiro lugar, é curioso notar que muitas décadas mais tarde (último quartel do século XX), quando o mundo começou a falar no G-7 – o grupo dos sete países mais ricos do planeta –, os integrantes seriam quase exatamente os mesmos países que, há cem anos, credenciavam-se a ter o comando no mundo. A exceção foi a saída da Rússia (que teve uma vertical queda econô-mica logo após o colapso da URSS, como se verá adiante) para a inclusão do Canadá, um país que, embora oportunize uma melhor qualidade de vida a sua população, geopoliticamente sempre atuou como um satélite dos EUA. Ou seja: a alternância de poder parece não ser algo tão fácil de ocorrer no planeta. Há pelo menos um século, não há grandes mudanças entre os principais países no comando da geopolítica mundial, embora hoje se deva prestar muita atenção à China;

em segundo lugar, a Europa foi o palco onde ocorreu a maioria dos conflitos nas duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), fato de grande importância para compreender a transição do mundo multipolar para o bipolar. Isso significa, entre outras coisas, que a maior parte das baixas ocorridas foi de cidadãos europeus; a maior parte das cidades e itens de infraestrutura destruídos foi da Europa; os países mais afetados pelos impactos em seus sistemas produtivos internos foram os europeus; a maior demanda posterior por reconstrução foi europeia; etc.

As guerras mundiais, portanto, parecem ter sido um péssimo negócio para as tradicionais potências europeias (assim como para o Japão, derrotado em 1945, com a destruição de Hiroshima e Nagasaki pelas bombas atômicas estadunidenses). Mas também houve países que se deram muito bem com tudo isso, emergindo como superpotências no novo cenário geopolítico: os EUA e a URSS.

Expansionismo estadunidense

Formação territorial dos EUAA partir do século XVI, iniciou-se o processo de ocupação europeia do atual território estadunidense,

originalmente habitado por indígenas. Durante os séculos XVII e XVIII, foram fundadas Treze Colônias inglesas na costa leste. A expansão territorial para oeste se deu em terras dominadas por espanhóis e franceses, que foram anexadas por meio de guerras, compras e tratados. De um território inicialmente concentrado entre o Atlântico e os Apalaches, o país expandiu-se até atingir uma área nove vezes maior e, em meados do século XIX, chegou a mais de oito milhões de quilômetros quadrados, banhados por dois oceanos.

O povoamento do lado ocidental fundamentou-se nas ideias do Manifest Destiny (Destino Ma-nifesto). O colono americano descendente de europeu nutria um sentimento de superioridade em relação ao nativo e acreditava ter a “missão divina” de ocupar e “civilizar” todo o continente. Uma das consequências diretas desse processo foi o genocídio ameríndio: a população estimada em um milhão de indígenas ali existentes no ano da Declaração de Independência das Treze Colônias (1776) já havia caído para 300 mil em 1860.

Treze Colô-

nias Inglesas

na América

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Para estimular a ocupação do oeste, o governo americano aplicou uma política de distribuição de terras. A lei de 1862, conhecida como Homestead Act (Ato de Propriedade Rural), doava 160 acres ao colono que cultivasse a terra por um período mínimo de cinco anos. A implementação de ferrovias transcontinentais também fazia parte dessa estratégia de ocupação ocidental. Até o final do século XIX, a rede ferroviária já passava de 170 mil km.

Fonte: DK ATLAS da História do Mundo: história completa da jornada humana. Londres: DK, 2005. p. 126. Adaptação.

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Ocupação europeia na América do Norte

Fonte: NATHAN. Atlas du 21e siècle. Paris: Nathan, 2010. p. 142. Adaptação.

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Ocupação dos Estados Unidos

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GEOGRAFIA

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Corolário PolkA formação do mapa dos EUA atual se completou com anexações de terras do vizinho do sul. Em

1821, o México conquistou sua independência em relação à Espanha. A partir daí, os fazendeiros do sul dos EUA começaram a comprar terras no então estado mexicano do Texas, aplicando ali o sistema de plantation: monocultoras voltadas para o mercado externo e baseadas no trabalho escravo. Em 1829, porém, o México aboliu a escravidão e seu governo tomou medidas para impedir a entrada desse tipo de mão de obra no território texano. Os colonos americanos se rebelaram e a tensão crescente levou-os a declarar, em 1836, a independência do Texas em relação ao México. Em 1845, o presidente James K. Polk anexou unilateralmente o território aos EUA, justificando sua imposição por meio do que ficou conhecido como o Corolário Polk. Segundo essa doutrina, quando um antigo território colonial quisesse se juntar aos EUA, a questão deveria ser decidida apenas entre os seus habitantes (no caso fazendeiros estadunidenses) e o governo americano. Obviamente isso gerou enorme tensão junto ao governo mexicano e levou os dois países à Guerra Mexicano-Americana (1846-1848), vencida pelos EUA. Derrotado e fragilizado, o México ainda perdeu os territórios de Califórnia, Nevada e Utah (1848) e foi forçado a “negociar a venda” de Colorado, Arizona e Novo México (1853). O expansionismo dos EUA custou ao México, somando todas as suas perdas, aproximadamente metade de seu território.

Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p. 129. Adaptação.

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EUA – Expansão territorial (1783-1898)

O novo mapa do país, ao final de 1853, com acesso a dois oceanos e sem necessidade de novas disputas nas fronteiras, garantia aos EUA uma condição geopolítica invejável. Em 1867, compraram o Alasca (no Pacífico) dos czares russos e anteciparam o que seria, por toda a primeira metade do século XX, a nova orientação expansionista, agora pelo mar.

O fundamento para essa orientação veio em 1886, com o professor, almirante e presidente do Naval War College, Alfred Mahan (1840-1914), que elaborou uma teoria baseada no poder marítimo. Para ele, os EUA só conseguiriam atingir as metas de seu Destino Manifesto se tivessem uma marinha capaz de dominar as águas que os banham, o controle sobre um canal que interligasse os oceanos Atlântico e Pacífico (futuro Canal do Panamá) e bases militares espalhadas em locais estratégicos nesses oceanos. Nesse sentido, o controle sobre as águas do Mar do Caribe era considerado imprescindível.

8 Geopolítica

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Doutrina MonroeA base que fundamentaria as relações geopolíticas dos

EUA com a América Latina, cuja influência se evidencia até a atualidade, foi lançada há quase dois séculos. Em 2 de dezembro de 1823, o presidente James Monroe proferiu o famoso discurso em que lançou a tese sintetizada na frase: “América para os americanos” – que ficou conhecida como a Doutrina Monroe. Essa frase, que a princípio parece ino-fensiva, guardava uma explícita posição anticolonialista (se é para os americanos, não é para os europeus) e implicitamente uma perigosa sugestão de hegemonia. Os EUA passaram a considerar a América Latina como sua mais importante área de influência, o que lhes assegurava uma farta reserva de re-cursos naturais e humanos necessários ao desenvolvimento.

A tomada de territórios do México foi apenas a primeira aplicação prática dessa concepção. Dois episódios posteriores, já na virada para o século XX, ilustraram bem como viria a ser a conduta estadunidense em relação ao continente. Cuba lutava pela sua independência em relação à Espanha desde meados do século XIX. Em 1895, na terceira tentativa, liderados pelo poeta

e libertador José Martí, os cubanos estavam conquistando seu objetivo e caminhavam para, enfim, derrotar os espanhóis numa sangrenta guerra. Quando o conflito já estava praticamente decidido em favor dos cubanos, ocorreu um “incidente militar” entre a frota espanhola e um navio de guerra estadunidense – o Maine, que havia sido enviado para a região para salvaguardar propriedades e cidadãos dos EUA –, o que serviu como pre-texto para que os EUA entrassem na guerra contra a Espanha, contribuíssem para finalizá-la e saíssem do episódio como os vencedores. O documento que declara a independência de Cuba foi firmado pelos governantes dos EUA e da Espanha, sem a assinatura de qualquer liderança cubana (José Martí havia morrido em combate, ainda no início do levante final).

Em 1901, os invasores impuseram a emenda Platt à Cons-tituição cubana – a ilha se transformou em protetorado, o que garantiu o “direito” estadunidense de intervenção no país. Essa Constituição estabeleceu ainda a exploração mineral para em-presas com sede nos EUA e a construção de uma base militar na região de Guantánamo. Em 1934, a emenda Platt foi revogada, mas a base militar resiste até hoje.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Adaptação.

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Cuba – Base naval de Guantánamo

O surgimento do Panamá como país independente é ou-tro exemplo da intervenção estadunidense na configuração geopolítica latino-americana. A região pertencia à Colômbia, cujo senado criava resistências à intenção estadunidense de construir um canal na porção mais estreita de seu território, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico (gerando um ponto altamente estratégico). O impasse levou os EUA não só a apoiar amplamente, mas também a fomentar um conflito se-paratista em 1903, conduzido pelos habitantes do istmo contra a Colômbia. Obtida a independência, como “gratidão” à ajuda, o novo país concedeu aos EUA o domínio da zona do canal, cuja construção foi concluída em 1914. Além disso, também foi conferida ao Panamá a condição de protetorado dos EUA.

Base estadunidense na baía de Guantánamo, 2005Base estadunidense na baía de Guantánamo, 2005

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GEOGRAFIA

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Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. Adaptação.

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Panamá – Canal do Panamá

Apesar dos acordos que garantiram a posse perpétua do Canal aos EUA, em 1977 foi assinado o Tratado Carter-Torrijos (Jimmy Carter e Omar Torrijos). Por esse tratado, ao final de 1999, os EUA transferiram aos panamenhos a posse do canal. Mantiveram, contudo, o direito à reocupação da região caso considerem que a segurança esteja ameaçada. Atualmente, está sendo finalizada a construção de um novo Canal do Panamá, que permitirá a passagem de navios maiores, cuja inauguração deverá coincidir com os festejos do centenário do canal.

Vista aérea do Canal do Panamá, 2008Vista aérea do Canal do Panamá, 2008

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Corolário RooseveltO domínio estadunidense sobre a América Central, que já se configurava desde o início do século,

como se viu anteriormente, foi teorizado em 1904 pelo presidente Theodore Roosevelt. O seu corolário definia que, se algum país das Américas fosse inábil ou irresponsável em sua gestão, colocando em risco os interesses das nações americanas, os EUA se autoatribuíam o direito de intervenção militar em nome do bem-estar de toda a comunidade continental. O Corolário Roosevelt normatizou as aplicações práticas da Doutrina Monroe, determinando que: “Aqueles que aceitam a Doutrina Monroe devem aceitar [...] os direitos que ela nos confere”. A intervenção militar resultante desse discurso presidencial ficou conhecida como Big Stick, e serviu para sustentar governos aliados de Washington ou depor governos inamistosos. No decorrer dos anos, o ideal do Corolário Roosevelt teve vários outros nomes: Doutrina da Boa Parceria, Doutrina das Novas Fronteiras e Política da Boa Vizinhança. Contudo, até hoje serve de parâmetro para a política externa estadunidense em relação à América Latina, especialmente quando a superpotência é governada pelo Partido Republicano, de tendência mais conservadora.

10 Geopolítica

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Expansão russa e formação da URSS

Fonte: NATHAN. Atlas du 21e siècle. Paris: Nathan, 2010. p. 92 (mapa B). Adaptação.

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Expansão da Rússia

De “Rus” ao apogeu do Império Russo

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o maior país em extensão territorial que o mundo já conheceu (no seu auge chegou a contar com mais de 24 milhões de km²), surgiu em 1922, no X Congresso Panrusso dos Sovietes Revolucionários. Seu território foi praticamente uma herança do Império Russo, que, por sua vez, teve origem no antigo estado eslavo “Rus”, fundado por viajantes nórdicos que penetraram nas terras do oriente através dos vales dos rios da Bacia do Volga e ali se estabeleceram, no século IX.

Nos séculos seguintes, houve um lento processo de unifi-cação de diversas unidades políticas autônomas ali surgidas,

até a consolidação do chamado “Principado de Moscou”, ou simplesmente “Moscóvia” – estado que teve seu apogeu entre os séculos XIV e XVI e já demonstrava forte vocação expansio-nista, estendendo-se do Mar Báltico aos Montes Urais e, na fronteira setentrional, indo até os limites do Mar Glacial Ártico.

Ainda antes do final do século XVI, sob o reinado do czar (imperador russo) Ivan IV, conhecido como “o Terrível”, a barreira natural dos Urais foi ultrapassada e as vastas terras asiáticas da Sibéria começaram a ser conquistadas. Outro importante czar, Pedro, o Grande, fundou finalmente o chamado “Império Russo” em 1721. A expansão territorial não parou e, em meados do século XIX, o gigantesco país se estendia desde o leste europeu até o território do Alasca, na América (vendido em 1867 aos EUA).

GEOGRAFIA

11Ensino Médio | Modular

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Esse contínuo processo de expansão, que permitiu à an-tiga Moscóvia quintuplicar seu já extenso território original em aproximadamente quatro séculos, obviamente se deu à revelia dos habitantes dos locais, que iam sendo subjugados, na Europa e na Ásia. Esses povos, de origens e culturas di-versas, certamente não foram convidados a se integrar, muito embora o império buscasse legitimar a expansão utilizando a doutrina do pan-eslavismo, que defendia a ideia central de que os povos de origem eslava deveriam reunir-se num único, grande e poderoso país. Na prática, no entanto, a conquista se deu mesmo pela força – e os russos, ao subjugarem todos os demais povos em seu caminho (eslavos ou não), demonstravam impressionante vocação imperialista e expansionista.

Tais matrizes históricas são importantes para que se com-preenda a herança de um leque de tensões separatistas inter-nas, que até hoje ameaçam a integridade territorial da Rússia, bem como o ambiente de pouca cordialidade que sempre contrapôs, de um lado, os diversos povos submetidos e, de outro, a elite russa. De certa forma, numa rápida comparação com o expansionismo dos EUA, isso revela uma diferença, já que na América a maioria das vítimas desse processo, os povos ameríndios, foi exterminada e hoje não há a menor possibili-dade de promoverem algum levante separatista, embora haja tensão com outra nação vitimada: os mexicanos.

Por outro lado, há traços comuns a ambos os processos, já que a Rússia também utilizou a estratégia de cruzar o imenso território com ferrovias, para garantir o controle e a unidade territorial. A principal delas, a Ferrovia Transiberiana, ligando São Petersburgo (no litoral do Mar Báltico) a Vladivostok (no litoral do Pacífico), teve sua construção iniciada no século XIX e concluída em 1916.

O expansionismo do mais extenso país que já existiu concluiu-se após a anexação de mais alguns territórios, já durante o período da URSS, quando a área total ocupada chegou a 24,5 milhões de km².

Revolução Russa e implantação do socialismo

Mesmo sem ter atuado no mun-do neocolonial exatamente como uma metrópole colonialista, a voca-ção expansionista do Império Russo o colocou em trajetória de conflito diante de outras potências mundiais,

e no início do século XX o enorme país enfrentava turbulên-cias tanto externas quanto internas. Foi nesse cenário que o país ingressou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), como parte da Tríplice Entente (aliada ao Reino Unido da Grã-Bretanha e à França). Sua desorganização interna, no entanto, era evidente e refletiu-se nas perdas sofridas ao longo da guerra, agravando a crise.

Em 1917, a Rússia encontrava-se arrasada militarmen-te e desorganizada economicamente. Nesse contexto, o czar Nicolau II foi deposto por uma República Parlamentar, liderada pelo menchevique Alexander Kerensky (os menche-viques – que em russo significa minoritários – pregavam o amadurecimento do capitalismo na Rússia).

Mesmo com a Revolução Menchevique, de março de 1917, não houve alteração no quadro de crise do país.

Por outro lado, os bolcheviques (majoritários), liderados por Vladimir Ilitch Ulianov (Lenin) e Lev Davidovich Bronstein (Trotsky), defendiam a saída da Rússia da guerra, a divisão das propriedades rurais entre os camponeses e a regulari-zação do abastecimento interno.

Diante da organização da Guarda Vermelha por Trotsky e do desgaste da República Parlamentar de Kerensky, em no-vembro (outubro, pelo calendário juliano, adotado na época), os bolcheviques tomaram a sede do governo e estabeleceram o Conselho de Comissários do Povo (novo nome do governo), com Lenin no controle. A partir de 1918, o Partido Bolchevique adotou o nome de Partido Comunista Russo e, em 1925, passou a chamar-se Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

As internacionaisPara se entender melhor a primeira experiência revolu-

cionária socialista do século XX, é preciso recorrer a alguns pressupostos que elucidam a nomenclatura partidária.

Com a Revolução Industrial, a classe social operária despro-vida dos meios de produção, chamada de proletariado, cresceu em número e, no final de 1850, já mostrava organização, reagin-do ao industrialismo e às péssimas condições de vida na época.

Nesse período, dois jovens ale-mães, Karl Marx e Friedrich Engels, publicaram o Manifesto do Partido Comunista (1848), um marco na orga-nização e tomada de consciência da classe operária. O movimento, porém, estava dividido entre os socialistas utópicos, que defendiam que o capitalismo poderia ser melhorado por meio de refor-mas sociais e econômicas, e os socialistas científicos, que afirmavam a necessidade de transformações profundas no sistema, buscando formular as bases para operacionalizar tais mudanças – grupo integrado por Marx e Engels.

Marx e Engels apresentaram um método de organização histórica que resumiu os séculos de conflitos num esquema de sucessão de sistemas sociais. Para eles, da mesma forma que, no feudalismo, a disputa entre servo e senhor feudal resultou no capitalismo mercantil, a nova luta de classes – proletariado versus capitalistas (donos dos meios de produção) – inevita-velmente resultaria no que chamavam de socialismo.

Os partidários de Marx espalharam-se por todo o mundo. Em 1864, foi fundada, em Londres, a Associação Internacional dos Trabalhadores (mais tarde conhecida como I Internacional),

União Soviética:

da revolução a

superpotência

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Karl Marx, o

materialismo

histórico e o

comunismo

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com o intuito de discutir as questões do operariado no mundo. Esse encontro ficou marcado pelas contradições ideológicas entre Marx e o russo Mikhail Bakunin (anarquista). Os anar-quistas se diferenciam dos marxistas pelo fato de não acei-tarem qualquer forma de organização, qualquer liderança.

Marx defendeu a tese de que o fim do capitalismo se daria por uma revolução da maioria, o proletariado (na lin-guagem marxista, Revolução Socialista é o mesmo que Revo-lução do Proletariado). A partir desse ponto, o Estado seria o único dono dos meios de produção (socialismo), promoveria a igualdade de classes e faria a transição para uma sociedade ideal: o comunismo (sociedade sem Estado).

Bakunin, por sua vez, recusava o Estado capitalista tanto quanto recusava o Estado socialista de Marx. No anarquismo, a Revolução do Proletariado acabaria com o capitalismo e com o Estado, ao mesmo tempo.

Em 1876, acabou a I Internacional, e o movimento ope-rário internacional já era predominantemente seguidor do marxismo. Em 1889, seis anos após a morte de Marx, En-gels fundou a II Internacional, em Paris. Nesse período, os marxistas se agrupavam nos partidos social-democratas.

II InternacionalA aproximação da Primeira Guerra Mundial provocou uma

divisão no movimento operário internacional. O alemão Karl Kautski proclamou uma reforma nas ideias marxistas, com o abandono das ideias de revolução, e propôs uma solução

mais pacífica. Defendeu o ingresso e a busca de espaço institucional nas democracias parlamentares. O grupo dos reformistas de Kautski se autoproclamou “socialista” e deu origem aos atuais Partidos Socialistas – partidos que, apesar do nome, não pregam a revolução socialista nos moldes indicados por Marx, mas buscam atingir o socialismo pela via institucional capitalista.

A outra ala dos marxistas, liderada pela polonesa Rosa Luxemburgo e por Lenin e Trotsky, proclamou fidelidade às ideias de revolução e se autodenominou, numa tentativa de diferenciação, como “comunista”.

O termo “comunista” que, para Marx, significa a etapa superior da sociedade socialista, passou a identificar os revolucionários, opositores dos reformistas. Os comunis-tas originaram os Partidos Comunistas, defensores da necessidade de uma revolução para atingir o socialismo e, posteriormente, o comunismo.

A vitória da Revolução Bolchevique (outubro de 1917) abriu caminho para a III Internacional, apelidada de “Revolu-cionária”, fundada em Moscou em 1919. A revolução liderada por Lenin passou a servir de modelo para a organização dos partidos comunistas no mundo inteiro. Cinco anos depois, em 1922, o país adotou um novo nome oficial: União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p. 214-215. Adaptação.

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Em 1924, Lenin morreu. A condução do país passou a ser disputada por dois grupos que apresentavam muitas diferen-ças em seus projetos para o futuro da URSS e a expansão do socialismo no mundo: um deles liderado por Leon Trotsky e outro por Josef Stalin. Stalin venceu, e muitos historiadores atribuem a esse fato a origem do afastamento soviético dos ideais que nortearam a Revolução Russa.

No período stalinista, os partidos comunistas, que até então se espelhavam na URSS, passaram a ser instrumen-tos a serviço da burocracia e dos interesses geopolíticos de Moscou. Stalin, na condução do gigante país socialis-

1. (FUVEST – SP) “De puramente defensiva, tal qual era, em sua origem, a Doutrina Monroe, graças à extensão do poder estadunidense e às transformações sucessivas do espírito nacional, converteu-se em verdadeira arma de combate sob liderança de Theodoro Roosevelt” (Berral- -Montferrat, 1909).

a) Qual a proposta da Doutrina Monroe?

b) Explique a razão pela qual a doutrina se “con-verteu em arma de combate sob a liderança de Theodoro Roosevelt”. Exemplifique:

2. (UNICAMP – SP)

Julgamos propícia esta ocasião para afirmar como um princípio que afeta os interesses dos EUA, que

os continentes americanos, em virtude da condi-ção livre e independente que adquiriram e conser-vam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma po-tência europeia.

Trecho da mensagem de James Monroe ao Congresso norte--americano, 1823.

Aqueles que aceitam a Doutrina Monroe devem aceitar [...] os direitos que ela nos confere.

Theodore Roosevelt, 1904.

Os textos anteriores exprimem dois momentos da política externa dos EUA em relação a seus vizinhos do sul.

a) Identifique os dois momentos, citando suas características principais:

ta, tornou-se um dos mais controvertidos personagens do século XX.

Ainda houve uma IV Internacional, fundada em 1938, em Paris, e reconhecida apenas pelos trotskistas. Sua maior característica foi a crítica ao governo de Josef Stalin e ao seu burocratismo.

Trotsky, crítico ferrenho de Stalin, havia sido expulso da URSS, em 1929. Em 1940, supostamente a mando do seu inimigo, Trotsky foi assassinado no México. Depois do epi-sódio, acabou a IV Internacional. No entanto, o trotskismo se espalhou, em diversas facções, por todo o mundo.

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b) Relacione os dois textos, estabelecendo as li-nhas gerais da política externa estadunidense, no período compreendido entre os dois textos:

3. (UNICAMP – SP) A construção do Canal do Panamá foi iniciada no final do século XIX por europeus e terminada no início do século XX pelos EUA.

Os interesses dos EUA estavam ligados a um esquema estratégico, econômico e geopolítico. Quais são esses interesses?

4. (UNICAMP – SP)

A Primeira Guerra Mundial abalou profundamen-te todos os povos envolvidos, e as revoluções de 1917-1918 foram, acima de tudo, revoltas contra aquele holocausto sem precedentes, principal-mente nos países do lado que estava perdendo. Mas em certas áreas da Europa, e em nenhuma outra mais que na Rússia, foram mais que isso: foram revoluções sociais, rejeições populares do Estado, das classes dominantes e do status quo.

Adaptado de Eric Hobsbawm, Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 262-263.

a) Relacione a Primeira Guerra Mundial e a situa-ção da Rússia na época.

b) Cite e explique um princípio da Revolução Rus-sa de 1917.

5. (UFSJ – MG) Leia o trecho a seguir.

Horrorizai-vos porque queremos abolir a pro-priedade privada. Mas em vossa sociedade a propriedade privada está abolida para nove déci-mos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar a imensa maioria da sociedade de toda propriedade.

MARX, Karl. Manifesto Comunista, 1848.

O trecho acima expunha um ponto programático presente nos movimentos socialistas do século XIX.

Sobre esses movimentos é correto afirmar que eles lutavam pela:

a) igualdade social, a organização do operariado para a realização de uma revolução mundial e a supressão do sistema capitalista, da proprie-dade privada e da sociedade de classes;

b) criação de uma república corporativista, com a colaboração entre patrões e trabalhadores em harmonia social, sob a égide de um Estado forte e intervencionista no campo da produ-ção e da propriedade;

c) melhoria das condições de vida dos trabalha-dores, mediante a filantropia patronal e ecle-siástica, anulando o conflito entre as classes e preservando a propriedade privada como direito natural;

d) garantia do direito ao trabalho mediante refor-mas econômicas liberais que levariam ao cresci-mento industrial, à maior geração de empregos e à generalização da propriedade privada.

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A expressão “Guerra Fria” refere-se ao período da História em que EUA e URSS, na condição de superpotências, disputaram entre si as principais áreas de influência do globo. Esse conflito se apre-sentou para o mundo também como uma disputa ideológica, que contrapunha as principais lideranças do bloco associado ao capitalismo e praticante da economia de mercado (EUA) às do bloco socialista, que adotava a economia planificada (URSS).

Além disso, o período se caracterizou pela chamada corrida armamentista. Contraditoriamente, esse acúmulo bélico não poderia ser utilizado. Qualquer confronto armado direto entre as superpo-tências resultaria em um suicídio mútuo, já que ambas contavam também com imenso arsenal de armas nucleares. A expressão “Guerra Fria” está relacionada a esse permanente estado de tensão, de ameaças, de provocações, sem que tenha ocorrido (pelo menos entre as superpotências) nenhuma guerra de fato. É importante destacar, no entanto, que esse foi um dos períodos em que ocorreram mais mortes na história da humanidade, pois EUA e URSS não entraram em conflito entre eles, mas o fizeram largamente em defesa de suas respectivas áreas de influência.

Praticamente todas as guerras ocorridas entre 1945 e 1991 estão direta ou indiretamente associadas, portanto, à Guerra Fria e foram fomentadas pelos EUA, pela URSS ou por ambos simultaneamente.

Primeira e Segunda Grandes Guerras: antecedentes

A ocorrência das duas Guerras Mundiais, separadas por pouco mais de três décadas, tendo como cenário principal o território europeu, prejudicou tanto as economias das tradicionais potências da Europa Ocidental – Inglaterra, França, Alemanha e Itália – como suas pretensões geopolíticas de liderança global. Ao contrário, o período que vai da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), incluindo o entreguerras, trouxe amplas oportunidades de benefícios para EUA e para a renovada URSS, esta trazendo o fôlego revolucionário socialista pós-1917.

Geopolítica da Guerra Fria – o sistema bipolar

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Geopolítica16

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Os EUA, embora tenham enfrentado a Crise de 1929 e os duros anos seguintes, que ficaram conhecidos como a Grande Depressão, lucraram muito com as duas guerras mundiais, tendo colocado boa parte de seu sistema produtivo agropecuário e industrial para sustentar os países europeus em conflito. Assim, em 1945, além do moral elevado por ter sido um dos principais res-ponsáveis pela derrota dos nazifascistas, tinha seus principais aliados nas mãos, como devedores. Vale lembrar que nenhuma cidade dos EUA foi atacada ou destruída durante as guerras mundiais (o pior episódio para eles foi o ataque à base naval de Pearl Harbor pelos japoneses – mas tratava--se de um alvo militar, numa ilha do Pacífico, o que é muito diferente de ter que reconstruir no pós-guerra suas principais cidades, infraestruturas e sistemas produtivos, como era o caso dos países europeus). Ou seja: apesar das baixas humanas, as Guerras Mundiais foram um excelente negócio, que alavancou ainda mais a economia dos EUA – que já era a maior do mundo desde o início do século XX.

Por outro lado, a URSS, embora tenha tido uma participação pífia e humilhante na Primeira Guerra Mundial, havia se fechado para viver seu próprio processo revolucionário interno e, desde 1917, reorganizava-se e fortalecia-se significativamente – muito embora tenha dado, nesse perí-odo, poucas demonstrações do poder crescente. Tal qual ocorreu com os EUA, pode-se dizer que a Segunda Guerra Mundial foi decisiva para que a URSS emergisse como uma das superpotências da Guerra Fria. Por ser um país de área gigantesca, embora tenha tido suas infraestruturas seve-ramente danificadas nas porções invadidas, podia manter outras áreas funcionando plenamente. Tendo resistido bravamente à invasão nazista (soviéticos e alemães travaram algumas das mais sangrentas batalhas do conflito, como a de Stalingrado, onde morreram, aproximadamente, três milhões de pessoas), passou de vítima a algoz do regime hitlerista. É importante salientar que, na frente ocidental, lutavam juntos os exércitos dos EUA, Inglaterra, França e outros aliados menos expressivos. Do lado oriental quem enfrentou o poderio alemão praticamente sozinho foi o Exército Vermelho soviético.

À medida que, no período final da guerra, passaram a avançar sobre o Leste Europeu, libertando os países da região ocupados desde o início da guerra e empurrando o exército alemão de volta para o seu território, o poder dos soviéticos só aumentava. No ato final, quem tomou Berlim e decretou o fim da guerra na Europa foi a URSS. Assim, apesar de terminar a guerra como o país que teve o maior número de baixas (superior a 10 milhões de soviéticos mortos), foi, talvez, sua maior vencedora.

Quanto aos demais pretendentes ao poder global do início do século XX, basta perce-ber que a Itália (a primeira a se render), a Alemanha e o Japão (estes tendo lutado até o fim) saíram derrotados e desmoralizados da Segunda Guerra. A destruição promovida pelos aliados em solo alemão foi gigantesca, ao passo que o Japão ainda sofreu a humilha-ção de ter tido duas cidades destruídas por bombas atômicas. Inglaterra e França, por sua vez, embora do lado vencedor, estavam com suas infraestruturas debilitadas e na condição de grandes devedores dos EUA. Ocupação de Berlim, na Alemanha, peloOcupação de Berlim, na Alemanha, peloOcupação de Berlim, na Alemanha, pelo

exército soviético, 31 de março de 1945exército soviético, 31 de março de 1945exército soviético, 31 de março de 1945

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O fim da Segunda Guerra e a Cortina de Ferro na Europa

Os dois blocos que se formaram de 1939 a 1945 – de um lado o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e de outro os Aliados (Inglaterra, França, EUA e URSS) – tinham pretensões distintas. O primeiro re-presentava a união dos países nitidamente expansionistas; o segundo formava uma estranha aliança antinazista, que reunia duas potências coloniais, um país em franco crescimento capitalista e outro com economia planificada.

A pretensão soviética, assim como a dos países do Eixo, era a de conquistas territoriais. Nesse sentido, a URSS estava mais para Eixo do que para Aliados, mas o choque de interesses alemães e soviéticos – que pretendiam a expansão de suas influências sobre a Europa – empurrou Stalin para o lado de Roosevelt.

Conferência de YaltaOs interesses contraditórios dos Aliados vieram à tona com a derrota da Alemanha em 1945.

Em fevereiro, antes mesmo da rendição alemã (maio), iniciou-se a Conferência de Yalta (cidade da Crimeia soviética). Franklin Roosevelt (presidente dos EUA), Winston Churchill (primeiro-ministro do Reino Unido) e Josef Stalin (secretário-geral do Partido Comunista da URSS – PCUS) se reuniram para definir o futuro europeu. O fato de essa conferência ter sido realizada numa cidade soviética já é, por si só, um indicativo das novas relações de poder que estavam se desenhando. As fronteiras soviéticas foram alargadas. Os territórios perdidos durante a Primeira Guerra (1914-1918) foram quase todos recuperados (Estados Bálticos: Letônia, Lituânia e Estônia; leste polonês e nordeste da Romênia) pelo Exército Vermelho. O Leste Europeu, ocupado pelas tropas de Stalin, que substituíram o invasor alemão, transformou-se numa faixa de segurança e consolidou a posição soviética na Europa Central e Oriental.

Conferência de PotsdamEm julho de 1945, após, portanto, a rendição alemã, iniciou-se a Conferência de Potsdam (subúrbio

de Berlim), que reuniu novamente os três grandes países: EUA (não mais representado pelo falecido Roosevelt e, sim, pelo seu vice e futuro presidente, Harry Truman), Reino Unido (a abertura do encontro contou com a participação de Churchill, do Partido Conservador, substituído depois por Clement Attlee, do Partido Trabalhista, vitorioso nas eleições britânicas) e URSS (representada por Stalin). O principal tema da discussão foi o futuro da Alemanha.

A decisão foi por uma divisão da Alemanha e de Berlim em três zonas de ocupação, que refletisse a situação militar no momento da rendição. A porção oeste ficou sob o controle estadunidense e bri-tânico (depois de encerrada a conferência, a França foi “presenteada” com uma parte desse quinhão da Alemanha e de Berlim). O leste alemão e berlinense ficou sob o controle soviético.

A Conferência de Yalta não estabeleceu regimes de Partido Comunista no Leste Europeu. Só estabeleceu uma zona de influência soviética. Definiu governos provisórios, representativos de todas as correntes políticas antina-zistas, que deveriam preparar eleições livres e a implantação de instituições democráticas permanentes. A única imposição era a de não “demonstrar inabilidade” em reconhecer a URSS como sua tutora.

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Sob o pretexto de forçar a rendição japonesa, os EUA jogaram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (6 e 9 de agosto). A posse da nova arma colocou Truman numa posição de negociação com a URSS muito melhor do que a de Roosevelt na conferência de fevereiro. O domínio militar soviético no cenário europeu, referendado em Yalta, encontrou-se em xeque, o que fica claro no recuo de Stalin em Berlim. Afinal, se Stalin tinha o melhor posicionamento estratégico no cenário europeu, com seu exército ocupando quase a metade do território, os EUA possuíam uma nova e poderosa arma.

Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p. 212. Adaptação.

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Divisão da Alemanha após a Conferência de Potsdam

A discussão sobre a reunificação da Alemanha foi adiada, mas proclamada como meta pelos três participantes.

Doutrina TrumanAs decisões de Potsdam mostram que os EUA desejavam

pressionar por uma revisão do controle soviético no Leste Eu-ropeu. A URSS começou a transformar-se no grande inimigo ocidental a ponto de Churchill proferir um violento discurso, em março de 1946, nos EUA, acusando os “vermelhos” de satelitizarem o oriente da Europa e de representarem, em lugar do já vencido nazismo, o verdadeiro perigo para a

humanidade. Nesse discurso, foi usado pela primeira vez o termo “cortina de ferro”, que passou a simbolizar a divisão europeia entre os países capitalistas e os socialistas sob influência direta da URSS (havia duas exceções: Iugoslávia e Albânia, que por diferentes trajetórias não ficaram sob a tutela de Moscou). Nessa ocasião, o ex-primeiro-ministro também pediu para os estadunidenses assumirem a liderança ocidental contra um suposto expansionismo soviético.

A divisão da

Alemanha

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Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p.112. Adaptação.

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Cortina de Ferro

Em fevereiro de 1947, por ocasião da retirada britânica do comando geopolítico da Turquia e da Grécia – localizadas em pontos estratégicos, na Península Balcânica, junto à área de influência soviética – Harry Truman lançou a sua doutrina. Os EUA não poderiam permitir a desproteção de tais aliados, tão geograficamente incômodos para a URSS. Assim, Washington passou a substituir o controle inglês sobre a região.

A Doutrina Truman baseava-se na noção de contenção do avanço soviético e socialista e retomava a Doutrina Monroe, agora numa aplicação planetária (e não mais continental), atribuindo aos EUA a missão de liderança internacional do mundo capitalista, na defesa de suas áreas de influência: “[...] Se fracassarmos na nossa missão de liderança, talvez ponhamos em perigo a paz e o mundo – e certamente pore-mos em perigo a segurança da nossa própria nação”. Assim se “oficializou” a Guerra Fria.

Plano MarshallA aplicação da política de contenção na Europa se deu por

meio de um instrumento econômico e financeiro denominado de Plano Marshall (em junho de 1947, o secretário de Estado americano George Marshall lançou as suas ideias básicas). Por meio de transferências de dólares dos EUA para a Europa e de concessões de fundos, créditos e suprimentos materiais a juros baixíssimos, a Europa Ocidental estabilizava sua economia e “se

protegia” da crescente influência soviética. Por outro lado, os EUA conseguiam evitar o expansionismo socialista na Europa e aprofundavam a condição de credores das ex-potências do Velho Continente, ampliando, assim, a sua influência sobre elas.

O plano foi proposto inicialmente aos países europeus (inclusive aos que pertenciam à área de influência soviética) e à URSS. Com ele, os EUA pretendiam garantir a reintegra-ção da faixa leste ao domínio ocidental e a consolidação do capitalismo no oeste europeu.

Em julho de 1947, a URSS e os Estados por ela tutela-dos se retiraram das negociações do plano. Afinal, a frágil economia do leste não suportaria a entrada dos dólares sem uma modificação no cenário político.

Uma das consequências do Plano Marshall foi a criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) – atual União Eu-ropeia –, uma aliança que abandonou os conflitos históricos internos em nome de uma barreira antissoviética e de uma integração ao mercado mundial capitalista sob a liderança dos EUA (mesmo que, em alguns aspectos, receosos dessa condição, mas sem escolha para evitá-la na época).

Outra consequência foi o endurecimento soviético na sua faixa de segurança. Até então, o Leste Europeu só não podia ter governos antissoviéticos. Num primeiro momento, foram formados governos de coligação, representativos de várias correntes políticas. Como reação ao plano, a URSS impôs à sua área de influência europeia o regime de partido único.

20 Geopolítica

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Bloqueio de BerlimUm dos episódios que mais demonstrou o desconforto soviético com a entrada de dólares no palco

europeu foi o Bloqueio de Berlim (1948-1949).A reforma monetária decorrente do Plano Marshall, implementada

nos setores ocidentais da Alemanha e de Berlim (administrados em regime de economia de mercado, sob a tutela dos EUA), ameaçava a base econômica dos setores orientais. Diante disso, Moscou ordenou o bloqueio de todas as passagens que ligavam a zona ocidental da Alemanha ao setor ocidental de Berlim. Essas passagens ficavam na zona oriental alemã, de controle soviético.

A exigência de Stalin para levantar o bloqueio, que visava estrangular Berlim Ocidental, era o cancelamento da aplicação do Plano Marshall na Alemanha Ocidental.

Estadunidenses, franceses e ingleses recusaram as exigências so-viéticas. Mas, com o propósito de impedir que a população de Berlim Ocidental sofresse com a imposição do bloqueio, passaram onze meses abastecendo a cidade com mil aterrissagens diárias nos aeroportos de Tegel e Tempelhof, conseguindo suprir as necessidades de alimentos e carvão.

Os EUA aproveitaram a ocasião para reforçar a imagem da URSS como uma grande tirana ante a opinião pública mundial. Com a imagem arra-nhada e sem ao menos desestabilizar a bem-sucedida aplicação do Plano Marshall, a URSS se viu obrigada a suspender o bloqueio (maio de 1949).

Como consequência do final do bloqueio, as divisões estabelecidas na Conferência de Potsdam (1945) foram consolidadas e oficializadas. Surgem a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha – RFA) e a Alemanha Oriental (República Democrática Alemã – RDA). As zonas de ocupação ocidentais (francesa, britânica e estadunidense) se reuniram e estabeleceram Bonn como capital. Berlim Oriental continuou sendo a capital do lado leste.

Berlim Ocidental, a parte capitalista da cidade, ficou encravada na Alemanha Oriental, cercada por todos os lados pelos territórios do país socialista. Com o passar dos anos, a influência da porção capitalista sobre o socialismo à sua volta gerou uma tensão crescente, que culminou com a decisão do governo oriental (respaldado, obviamente, pela URSS) em isolar a parte capitalista da cidade, im-pedindo o livre trânsito dos habitantes da cidade de um lado para o outro. Assim, em 1961, foi erguido o símbolo maior da geopolítica bipolar da Guerra Fria: o Muro de Berlim.

OTAN e o Pacto de VarsóviaDurante a crise de Berlim (1949), para ratificar as “fronteiras ideológicas” que separavam as áreas

de influência estadunidenses e soviéticas, foi fundada a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Quatorze Estados europeus, mais o Canadá, organizaram-se militarmente sob o comando dos EUA. Se um deles fosse atacado, a resposta ocorreria em bloco.

Em resposta, a URSS fundou o Pacto de Varsóvia (1955), reunindo, sob seu controle, os Estados do Leste Europeu (área de influência soviética desde as Conferências de Yalta e de Potsdam).

Alguns Estados europeus não se vincularam a nenhuma aliança militar: Suíça e Suécia (tradição de neutralidade), Finlândia e Áustria (neutralizadas), Iugoslávia (governada por um Partido Comunista desvinculado da URSS) e Albânia (que chegou a ingressar no pacto, mas rompeu em 1961, ao posicionar--se em favor da China no Conflito Sino-Soviético).

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1. (MACK – SP) A “Guerra Fria” foi a expressão utili-zada para caracterizar um tipo de política externa decorrente de:a) polarização do mundo em dois blocos político-

-militares, entre as duas guerras mundiais;b) polarização do mundo em blocos interessados

na exploração e posse da Sibéria; c) polarização do mundo em dois blocos político-

-militares, após a Segunda Guerra Mundial;d) polarização do mundo em dois blocos liderados

pela Alemanha, Itália e Japão de um lado e In-glaterra, Rússia, EUA e França de outro.

2. (UDESC) O fim da bipolarização rompeu o equilí-brio com a base na hegemonia de duas potências (Estados Unidos e União Soviética), e o mundo as-sistiu à eclosão de múltiplos centros de poder que, agora, se afirmaram nitidamente em função:a) do período do socialismo como forma de deter-

minação das relações econômicas; b) da superação das desigualdades sociais e econô-

micas, fruto do capitalismo generalizado;c) da diferença das grandes potências, no momen-

to de intervir em conflitos localizados;d) da aproximação crescente entre países ricos e

países pobres, cada vez mais igualitários; e) de economia, uma vez que o antigo antagonis-

mo ideológico deixou de existir.

3. (MACK – SP) O Plano Marshall contribuiu de forma decisiva para:a) a implantação do capitalismo nas antigas repú-

blicas da ex-URSS; b) a reconstrução da Europa Ocidental após a Se-

gunda Guerra Mundial;c) o processo de paz no Oriente Médio;d) o desenvolvimento industrial dos “tigres asiáti-

cos”;

e) a redução dos arsenais nucleares da OTAN.

4. (UFCSPA – RS) Em 5 de julho de 1947, o secretá-rio de Estado norte-americano, George Marshall, anunciou um plano econômico-social, o Plano Marshall, que, por intermédio de: a) maciços investimentos, pretendia recuperar a

devastada Europa Ocidental, após a Segunda Guerra Mundial;

b) vários acordos comerciais, pretendia controlar a economia em todo o território latino-ameri-cano;

c) maciços investimentos, pretendia recuperar a devastada União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial;

d) vários acordos comerciais, pretendia desenvol-ver a economia dos países mais pobres da Amé-rica Latina;

e) maciços investimentos, pretendia recuperar a economia interna do Oriente Médio, que sofrera sérias perdas, devido à Segunda Guerra Mundial.

5. (UFPR)

Uma sombra desceu sobre o cenário até há pouco tempo iluminado pelas vitórias aliadas. Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e sua organização in-ternacional comunista pretendem fazer no futuro imediato e quais os limites. Se é que os há, para as suas tendências expansionistas e proselitistas.Trecho do discurso de Winston Churchill, primeiro-ministro da Inglaterra, em visita aos EUA, em 1946.

O fato básico crucial, que nunca é demais repetir, é que o sistema da Guerra Fria mostra-se altamente funcional para as superpotências. E por isso esse sistema persiste, apesar da probabilidade de mú-tua aniquilação, no caso de uma falha acidental.Noam Chomsky, cientista político norte-americano, em 1992.

Essas duas afirmativas apresentam posições sobre a Guerra Fria, a qual se define como a divisão do mundo, após a Segunda Guerra Mundial, em dois blocos: o bloco capitalista, liderado pelos EUA, e o bloco comunista, liderado pela URSS. Sobre o as-sunto, é correto afirmar: a) embora no Ocidente tenha se difundido o con-

ceito de Guerra Fria em nome da defesa da de-mocracia, o fato é que ambos os blocos dele se valeram para justificar o armamentismo;

b) o discurso de Churchill, proferido após a derrota da Alemanha nazista, é uma resposta à invasão russa em países europeus fragilizados pelo efei-to da Segunda Guerra Mundial;

c) as palavras de Chomsky reafirmam, décadas mais tarde, o receio de Churchill em face da ameaça soviética e revelam que, nos países de língua in-glesa, havia consenso sobre a necessidade de uma atitude defensiva diante do bloco comunista;

d) embora um dos principais desdobramentos da Guerra Fria tenha sido a corrida armamentista, não se experimentou conflito militar algum nes-se período;

e) o Brasil, de 1946 a 1964, adotou uma posição de neutralidade em relação às duas superpotên-cias, alinhando-se aos EUA somente com o ad-vento das ditaduras civil-militares.

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O mundo sob a Guerra Fria: Ásia e África

Revolução ChinesaA China, uma das mais disputadas colônias de exploração asiáticas, que ao longo de sua história

foi submetida a diversos períodos de ocupação estrangeira em seu rico território, tornou-se o terceiro país a se converter ao socialismo (o segundo foi a Mongólia, em 1925, por influência direta da URSS), por meio da vitória da Revolução Chinesa.

Em 1949, no dia 1.º

de outubro, o líder do Partido Comunista Chinês (PC), Mao Tsé-tung, que conduzia os revolucionários comunistas em suas lutas contra o poder central desde 1931, finalmente tomou o poder em Pequim e expulsou para a Ilha de Formosa (China insular – atual Taiwan) o governo pró-ocidental do Partido Nacionalista (Kuomintang) exercido por Chiang Kai-shek.

Com a posterior aliança entre o PC Chinês de Mao e o PCUS de Stalin, a Doutrina Truman, preocupada com o expansionismo soviético na Europa, deparou-se com o avanço do socialismo também na Ásia. Nesse contexto, o presidente dos EUA lançou a “Teoria do Dominó”: caso um país caísse nas malhas da orientação soviética em certa região, todos os seus vizinhos tenderiam a ir pelo mesmo caminho, assim como peças de um jogo de dominó colocadas lado a lado.

Ocupação no TibeteUm ano após a Revolução Chinesa, o exército de Mao Tsé-tung anexou unilateralmente o Tibete –

então um país soberano – alegando que o território era dominado por imperialistas e, desse modo, estaria sendo libertado.

Mesmo tendo prometido que respeitaria as tradições religiosas do budismo lamaísta, o governo chinês promoveu um dos mais violentos episódios da história recente da humanidade, com o objetivo claro de aniquilar a cultura tibetana e suas influências, consideradas perigosas à hegemonia do PC Chinês.

Houve uma drástica diminuição da população tibetana desde 1950. A violência contra monges, a destruição de quase todos os templos e monumentos sagrados, a colonização do território por chineses, entre outras estratégias, marcaram a ação dos chineses no Tibete.

O jovem Dalai Lama, líder espiritual e político dos tibetanos, em 1959, fugiu pela Cordilheira do Himalaia, indo refugiar-se na Índia, onde recebeu asilo político. Des-de então, ele nunca mais pôde retornar ao Tibete, e a China promove retaliações aos países que o recebem com as honras de líder tibetano ou que abrem espaço para que ele denuncie a situação de seu povo. O gover-no chinês, até hoje, se esforça ao máximo para que o Tibete permaneça isolado e que esse tema não receba qualquer atenção da mídia mundial. Ainda hoje é muito comum a ocorrência de suicídios por autoincineração de monges tibetanos como ato político, para chamar a atenção do mundo sobre o pro-blema – muito embora tais acontecimentos sejam abafados pelo governo chinês. Palestra do Dalai Lama em Nova Iorque – EUA, em 2010Palestra do Dalai Lama em Nova Iorque – EUA, em 2010

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Coexistência pacífica Apesar da posição de independência adotada desde o princípio por Mao Tsé-tung em relação aos

soviéticos, a Revolução Chinesa foi obviamente bem recebida pela URSS. No entanto, a entrada em cena do novo e importante vizinho socialista iria, mais tarde, trazer mais dores de cabeça do que se imaginava para Moscou no cenário da Guerra Fria.

Em 1956, três anos depois da morte de Stalin, Nikita Krushev se tornou secretário-geral do PCUS e inaugurou uma política reformista orientada pela ideia de estabelecer um tipo de coexistência pacífica em relação aos EUA e ao mundo capitalista. No XX Congresso do PCUS, Krushev denunciou os crimes stalinistas e anunciou reformas econômicas.

Essa nova orientação soviética serviu de argumento para que as crescentes tensões entre China e URSS virassem um conflito (Conflito Sino-Soviético – 1960). O principal motivo do rompimento entre os dois até então aliados socialistas foi a pretensão chinesa de se transformar numa potência nuclear autônoma. A China acusava Krushev de trair o socialismo ao denunciar Stalin e anunciar reformas na URSS. Krushev se defendia dizendo que MaoTsé-tung não acompanhava a evolução do socialismo. Na verdade, os discursos sobre o “revisionismo” apenas queriam esconder da humanidade a disputa nuclear.

Isolada internacionalmente, a China desenvolveu seu programa nuclear e explodiu sua primeira bomba atômica em 1964. Foi nesse contexto que a Albânia, que até então tinha mais relações com a URSS, passou a se aproximar mais da China. Em 1966, para fortalecer-se, Mao, que havia passado por períodos internos de crise na liderança do país, lançou as bases da “Revolução Cultural” chinesa: entre 1966 e 1976, promoveu, com apoio popular, perseguições políticas em grande escala e recuperou o total controle sobre o PC.

Guerra da Coreia A mundialização da ideia de contenção do avanço soviético (antes aplicada só à Europa) caracterizou

um dos momentos mais dramáticos da Guerra Fria: a Guerra da Coreia (1950-1953).Em 1945, com o final da Segunda Guerra, a Coreia, até então ocupada pelo derrotado Japão, de forma

similar ao que havia ocorrido na Alemanha, foi dividida em duas zonas de influência: uma soviética ao norte e outra estadunidense ao sul (o paralelo 38º N tornou-se a linha divisória). Mais tarde, em 1948, por intransigência das duas superpotências, essas zonas de ocupação se transformaram em dois países.

Influenciados pela revolução na vizinha China e pelo desejo de reunificação do país, os norte--coreanos ultrapassaram o paralelo 38, ou seja, as tropas do norte invadiram uma área de influência estadunidense. Pela “Teoria do Dominó”, isso era inconcebível para os EUA. Tropas estadunidenses, reforçadas por efetivos da ONU, comandadas pelo general Douglas MacArthur, desembarcaram na Coreia do Sul e deram início ao sangrento conflito, que ao final mataria mais de três milhões de pessoas.

MacArthur, logo no início das ofensivas, conseguiu empurrar os norte-coreanos até a fronteira da Manchúria (China), mas logo sofreu um contra-ataque promovido por “voluntários” chineses.

É importante frisar que a URSS não participou diretamente dessa guerra. Caso isso acontecesse, o embate soviético e estadunidense seria direto (a guerra deixaria de ser “fria”). Os norte-coreanos con-taram, sim, com a aliada China, embora não oficialmente – o que não deixa de ser uma impressionante demonstração de força e vitalidade do governo socialista recém-instalado em Pequim: apenas um ano após a vitória da Revolução Chinesa, a China invadiu o Tibete e não se intimidou em enfrentar as tropas de uma das superpotências da Guerra Fria, os EUA, na Guerra da Coreia, tudo no mesmo ano (1950).

Em 1951, o conflito se estabilizou no paralelo 38 e, em 1953, foi assinado o Armistício de Panmunjon. O território coreano confirmou a mesma divisão de 1948. Note-se que a Guerra da Coreia nunca acabou oficialmente. Os países vivem sob um cessar-fogo desde 1953, e não poucas vezes houve forte tensão na fronteira, motivada por provocações de ambos os lados. A nação dos coreanos, dividida pela Guerra Fria, ao contrário do que ocorreu na Alemanha, parece cada vez mais distante da reunificação.

A crise entre

as Coreias

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24 Geopolítica

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Descolonização e Guerra Fria

As primeiras décadas da Guerra Fria coincidiram com o período que ficou conhecido como o da Descolonização Afro-Asiática. Fragilizadas pela Segunda Guerra Mundial, as principais metrópo-les europeias já não conseguiam mais manter o controle sobre suas colônias, e os movimentos de independência se proliferaram.

O contexto da Guerra Fria mostrou-se decisivo nesse processo, muitas vezes tornando-o muito mais violento do que poderia ter sido. A posição da URSS era clara: interessada em ampliar suas áreas de influência e na condição de inimiga das metrópoles capitalistas europeias, ela incentivava, apoiava e enviava armamentos aos insurgentes que lutavam pela independência, esperando que os novos países se tornassem novos aliados no mundo socialista em expansão.

A princípio, poderia se supor que os EUA, nesse cenário, apoiariam as metrópoles europeias, que, afinal, eram seus grandes aliados na Guerra Fria. No entanto, fundamentados na tese da contenção da expansão socialista formulada pela Doutrina Truman e alegando a incapacidade dos europeus em conter a descolonização ou, no mínimo, em garantir que suas ex-colônias fizessem a transição para a independência sem se tornarem socialistas, os EUA passaram a intervir diretamente nos processos de independência – tal qual a URSS fazia.

Assim, cada um dos processos de independência que se sucederam na Ásia e na África, nesse período, apresentava lutas paralelas: num plano, viam-se as colônias lutando contra as metrópoles pela independência; noutro, os conflitos ocorriam entre os independentistas, uns de tendência socialista, armados e apoiados pela URSS, e outros capitalistas, influenciados e armados diretamente pelos EUA. Conforme o país, tal situação era agravada ainda mais pela existência de um terceiro plano de conflitos, em que se contrapunham grupos étnicos e/ou religiosos rivais ou ainda disputas territoriais dentro dos países.

Para o deleite das poderosas indústrias bélicas mundiais, especialmente as soviéticas e esta-dunidenses, tais guerras permitiram o aumento de produção, propiciando grandes lucros, e ainda transformaram-se em verdadeiros laboratórios para o teste de novos armamentos. O número elevado de vítimas da violência que marcou muitos desses processos de descolonização, somado ao das demais guerras regionais ocorridas no período estudado nesta unidade, reforça a tese de que a Guerra Fria, apesar de nunca ter se transformado num confronto armado direto entre seus grandes protagonistas, foi uma das que mais matou na história da humanidade.

Alguns importantes processos de descolonização no mundo foram:

a) Indostão Britânico (maior colônia inglesa situada na Ásia Meridional) – independente em 1947, num impressionante processo de resistência pacífica liderado pelo indiano Mahatma Gandhi. Gerou inicialmente dois países: a Índia (com a maioria da população hinduísta) e o Paquistão (maioria muçulmana), este dividido em duas partes, Oriental e Ocidental. O antigo Paquistão Oriental, posteriormente, adquiriu independência e mudou de nome, transformando-se no atual Bangladesh.

b) Indochina (colônia francesa no Sudeste Asiático) – enfrentou uma longa guerra de indepen-dência, que durou de 1945 a 1954. Deu origem a Vietnã, Laos, Camboja e Tailândia.

c) África Ocidental Francesa (maior colônia francesa na África) – só obteve a independência após anos de guerra contra a França, de 1954 a 1962.

GEOGRAFIA

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Observe, no mapa a seguir, os países africanos e seus respectivos anos de descolonização.

Fonte: SCALZARETTO, Reinaldo; MAGNOLI, Demétrio. Atlas: geopolítica. São Paulo: Scipione, 1996. p. 33. Adaptação.

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Descolonização da África

Guerra do VietnãComo já foi dito, o Vietnã foi um dos países independentes surgidos após a longa guerra pela

independência da Indochina Francesa (1945-1954). Nessa guerra, os vietnamitas receberam grande apoio inicialmente da URSS e depois da China. Quando a independência foi conquistada, numa ma-nobra política, os EUA (em mais uma aplicação da Doutrina Truman) conseguiram a assinatura de um acordo que dividia o novo país em duas partes, separadas pelo paralelo 17º N – situação bastante similar à acordada em relação à Coreia. O argumento era “garantir a liberdade religiosa” aos vietna-mitas católicos, diante da iminente tendência do país de converter-se ao socialismo. Dessa forma, os estadunidenses esperavam conquistar mais uma estratégica área de influência no continente asiático, nos moldes do que haviam conseguido com a Coreia do Sul.

O governo-satélite estabelecido por Washington em Saigon (Vietnã do Sul) passou a enfrentar a insurgência civil crescente, na busca pela reunificação do país. Entre os grupos que lutavam com esse objetivo, o que mais se destacou foi o de tendência socialista, chamado de vietcongues.

Diante desse cenário, o Vietnã do Norte, socialista, liderado pelo herói da independência Ho Chi Minh, inicialmente ofereceu apenas apoio tático e logístico aos insurgentes do sul. No entanto, diante do agravamento dos conflitos e do apoio estadunidense ao governo de Saigon, as tropas do Vietnã do Norte passaram a se envolver diretamente na guerra em 1959.

Antevendo a incapacidade das tropas do Vietnã do Sul em impedir a reunificação do país sob o regime socialista, os EUA passaram do apoio logístico ao envio de tropas. Em 1962, já havia em torno de 12 mil militares estadunidenses no Vietnã. Ao final da guerra, em 1974, mais de dois milhões de soldados estadunidenses haviam servido na longa guerra.

26 Geopolítica

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Soldados estadunidenses deslocando-se com prisioneiros vietnamitas em Da Nang, Vietnã do Sul, 1965Soldados estadunidenses deslocando-se com prisioneiros Soldados estadunidenses deslocando-se com prisioneirosvietnamitas em Da Nang, Vietnã do Sul, 1965vietnamitas em Da Nang, Vietnã do Sul, 1965

A luta de guerrilha ocorre quando um dos lados em conflito reconhece a superioridade militar do oponente e, por isso, deixa de lado a estratégia da guerra aberta – exército contra exército –, passando a adotar as ações camufladas de sabotagem, emboscadas, assassinatos seletivos, etc., para minar as forças do adversário. O guerrilheiro normal-mente se vale do profundo conhecimento sobre a geografia do local do conflito, usando-o a seu favor. A opção pela guerrilha pode ser eficaz do ponto de vista militar, equilibrando conflitos desiguais, mas expõe a população civil, provocando um número muito superior de vítimas entre essa população, visto que os guerrilheiros se misturam a ela como camuflagem. Assim, ao tentar atingi-los, o exército oponente promove atos de violência contra os civis.

De qualquer forma, depois de mais de uma década de polêmi-cas domésticas e com um terrível saldo de aproximadamente cinco milhões de mortos (a maioria civis vietnamitas, embora tenham mor-rido mais de 58 mil soldados es-tadunidenses), Saigon finalmente caiu (abril de 1975) diante do avanço das tropas socialistas, e o Vietnã reunificado incorporou-se ao bloco socialista. A cidade de Saigon foi rebatizada como Ho Chi Minh.

Polêmicas domésticas: a ordem

interna dos EUA se viu ameaçada em

alguns momentos, pois os próprios estadunidenses

passaram a se opor ao conflito e a se

mobilizar por meio de movimentos civis que

cobravam a retirada imediata das tropas estadunidenses do

Vietnã.

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A Guerra do Vietnã representa uma ferida aberta na história de conquistas militares dos EUA. Foi sua única derrota em guerras. A grande questão é: como uma superpotência com tal poderio militar conseguiu perder uma guerra para um país tão pobre como o Vietnã? Embora tal resposta demande um aprofundamento muito maior de análise sobre a sucessão de erros cometidos pelo alto comando dos EUA durante a guerra e uma série de outros fatores, uma questão teve importância fundamental: o uso, pelos vietcongues, de táticas de guerrilha que neutralizavam a superioridade militar estadunidense.

Índia x Paquistão – risco de conflito nuclearMahatma Gandhi, o grande herói pacifista da independência indiana, apesar de vitorioso nesse

processo, não conseguiu concretizar o sonho de que a antiga colônia britânica se mantivesse unificada. As tensões entre as lideranças hinduístas e muçulmanas mostraram-se intransponíveis, e, já no ato da independência, a ex-colônia se dividia em dois países: o Paquistão (áreas ocidental e oriental, onde havia maioria muçulmana) e a Índia (porção central, de maioria hinduísta).

A consequência imediata dessa divisão foi o deslocamento de milhões de pessoas, já que os mu-çulmanos que viviam na área que seria a Índia foram orientados a irem viver no Paquistão, e vice-versa (nem todos seguiram a orientação e até hoje há minorias religiosas nos dois países). A insatisfação de ambos os lados, cada qual acusando o radicalismo do outro lado pela situação, acirrou os ânimos e conduziu os dois novos países à guerra. Na verdade, mais de uma: desde 1947, a fronteira entre Índia e Paquistão já enfrentou diversos períodos de conflitos maiores e menores e ainda apresenta permanente estado de tensão.

Os horrores da guerra

química no Vietnã

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GEOGRAFIA

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Fonte: UNIVERSITY of Texas Libraries. Kashmir region. Disponível em: <http://www.lib.utexas.edu/maps/middle_east_and_asia/kashmir_region_2004.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2012. Adaptação.

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Caxemira

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Adaptação.

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África Meridional

Um dos pontos mais delicados se refere à posse da região da Caxemira, ou Pun-jab, situada no extremo norte de ambos os países. É uma área rica em recursos mi-nerais e valiosíssima do ponto de vista da geopolítica da água, já que os principais rios da região – o Indo e o Ganges – têm suas nascentes ali. Além disso, a maioria da população é de origem muçulmana, mas a região ficou majoritariamente dentro do território da Índia.

O contexto da Guerra Fria tratou de dar contornos mais dramáticos à tensão entre os dois países e à disputa pela Caxemira. A Índia, embora não tenha oficialmente se agregado ao bloco socialista, aproximou-se geopoliticamente da URSS, obrigando os EUA a apoiarem o Paquistão na disputa re-gional por áreas de influência. O problema

maior foi que a URSS colaborou decisivamente para que a Índia desenvolvesse um programa nuclear e construísse a bomba atômica. Diante de tal situação, para equilibrar o conflito, os EUA venderam armas nucleares ao Paquistão. Até hoje é uma região historicamente conflituosa, em permanente estado de tensão, com atores que possuem armamentos atômicos e vivem ameaçando utilizá-los, sendo que nenhum deles é signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

Num período mais recente, outra preocupação se refere ao fato de algumas das organizações fun-damentalistas mais radicais do mundo islâmico atuarem no Paquistão e em seu vizinho, Afeganistão – entre elas a rede Al Qaeda, de Osama bin Laden (que foi emboscado e morto em território paquistanês). Um dos claros objetivos desses grupos é a derrubada do governo ditatorial desgastado que controla o Paquistão há décadas, para ter acesso ao arsenal de armas nucleares – o que representaria um risco ainda maior à paz mundial. O controle sobre as armas atômicas paquistanesas, vendidas a eles pelos EUA no contexto da Guerra Fria, agora representa uma enorme preocupação para Washington.

Guerras civis na comunidade lusófona

28 Geopolítica

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O cone sul da África (região ao sul da linha do Equador) ou África Meridional sofre a influência geopolítica da República Sul-Africana (África do Sul). Essa supremacia formalizou-se na década de 1960, graças ao poderio industrial do país e, principalmente, ao contexto da Guerra Fria, uma vez que a África do Sul se consolidou como a principal área de influência dos EUA no continente e recebeu a incumbência de impedir a expansão socialista na região. Entre os países da área de influência sul-africana, estavam Angola e Moçambique (à época, colônias portuguesas). A África do Sul apoiava a elite europeia desses países que queria manter os laços coloniais.

AngolaA luta pela independência angolana começou em 1956, com a fundação do Movimento Popular

pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto. O movimento, além de buscar a independência angolana, também se opunha ao apartheid (política racista adotada na África do Sul). O MPLA se orientava pelo socialismo e recebia o apoio da URSS.

Em 1966, foi fundada a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita). De inspiração inicialmente maoísta, o grupo liderado por Jonas Savimbi aliou-se a Washington, influenciado pela aproximação entre a China e os EUA, e passou a contar com o apoio da África do Sul.

Em 1974, chegou ao fim a ditadura salazarista de Marcelo Caetano, em Portugal. A crise econô-mica e a oposição de parte das Forças Armadas, descontente com as guerras coloniais, resultaram na célebre Revolução dos Cravos. Para festejar o fim da ditadura, a população distribuiu cravos (flor nacional portuguesa) aos soldados. Era 25 de abril, primavera na Europa.

Como reflexo das mudanças ocorridas na metrópole, em 1975, as colônias portuguesas obtiveram a independência. Apesar da assinatura de um tratado de transição entre Portugal e os grupos angolanos (Tratado de Alvor), Angola conquistou a liberdade em meio à Guerra Civil entre MPLA e Unita.

Em 11 de setembro de 1975, Portugal saiu formalmente de Angola, e Agostinho Neto foi proclamado o novo presidente. Em 1976, a ONU reconheceu o governo do MPLA, que assinou com a URSS um tratado de amizade e cooperação. Agostinho Neto, porém, jamais teve tranquilidade para implementar em seu país as reformas que desejava.

A instalação de um governo pró-soviético na área de influência da África do Sul (alinhada com os EUA) levou a região a um permanente estado de tensão. O governo angolano se transformou em aliado diplomático e fornecedor de armas ao Congresso Nacional Africano (CNA), que lutava contra o apartheid.

A questão se complicou ainda mais quando o MPLA passou a apoiar o movimento de indepen-dência da vizinha Namíbia (Organização do Povo do Sudoeste da África – SWAPO), país controlado diretamente pela África do Sul.

Em 1932, Antônio de Oliveira Salazar instaurou, em Portugal, uma ditadura inspirada no fascismo. Depois da morte do ditador, em 1968, Marcelo Caetano, ex-ministro das Colônias, foi empossado. O substituto de Salazar manteve a Pide (polícia política do salazarismo) e os domínios coloniais portugueses. A ditadura continuou depois de 1968, apesar de liberados alguns partidos de oposição.

GEOGRAFIA

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Em resposta, o governo racista sul-africano, apoiado pelos EUA, fornecia apoio e armas à Unita, que não aceitava o governo do MPLA e tentava, assim, derrubá-lo.

Em 1988, já no período da distensão entre URSS e EUA, as superpotências mediaram negociações para pôr fim ao conflito no sudoeste da África.

Em 1991, instaurou-se o pluripartidarismo em Angola (Unita e MPLA decidiram lutar nas urnas) e as primeiras eleições aconteceram em 1992. A vitória, no primeiro turno, de José Eduardo dos Santos, do MPLA, foi contestada pela Unita, que reiniciou a guerra civil.

Em 1994, foi assinado o Acordo de Lusaka (Zâmbia), que previa a formação de um governo de coalizão entre os grupos em conflito. Contudo, Jonas Savimbi não desmobilizou seus homens e se recusou a abandonar a área de maior lucro na exploração de diamantes, sob controle da Unita.

Desde abril de 2002, depois da morte do líder de Savimbi, foi assinado mais um Acordo de Paz, que vem sendo, felizmente, respeitado até hoje. A guerra civil em Angola, contudo, deixou um saldo terrível de aproximadamente 1 milhão de mortos e mais de 12 milhões de minas terrestres espalhadas pelo ter-ritório – que geraram legiões de aleijados e inviabilizam inclusive a produção agrícola, isso numa região privilegiada com um solo de altíssima qualidade, similar à terra roxa existente no sul do Brasil. Com ótimas condições para a produção agrícola e rica em recursos naturais, como o petróleo, Angola é um triste exemplo de como o cenário da Guerra Fria e as ambições das duas superpotências foram capazes de castrar os sonhos de desenvolvimento de muitos países em todo o mundo. Ao contrário, as dificuldades enfrentadas pelo país para sua reconstrução hoje contribuem para que o continente africano mantenha o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o maior Índice de Pobreza Humana (IPH) do mundo.

MoçambiqueAssim como Angola, Moçambique localiza-se no cone sul da África. Foi colônia portuguesa e sua

independência se deu após a Revolução dos Cravos. No entanto, ao contrário do MPLA, que já nasceu como um grupo pró-soviético, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), fundada por Eduardo Mondlane, era uma fusão de grupos nacionalistas que lutavam contra a dominação portuguesa e a hegemonia sul-africana.

Apenas em 1977, dois anos após a independência, Samora Machel (presidente de Moçambique reconhecido pela ONU), líder da Frelimo após a morte de Mondlane, em 1969, assinou com Moscou um acordo de cooperação e integrou Maputo (capital) na órbita soviética. Em resposta, África do Sul e EUA recrutaram grupos de oposição e organizaram a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).

Assim como Angola, Moçambique passou a apoiar abertamente a luta dos militantes do Congresso Nacional Africano (CNA) contra o apartheid. Por essa razão, a fronteira entre Moçambique e África do Sul se transformou na rota de fuga dos perseguidos sul-africanos.

A proximidade territorial entre África do Sul e Moçambique também facilitou as incursões da Re-namo. Esse grupo caracterizou-se por ataques a aldeias e pela destruição das infraestruturas sociais do país. O êxodo rural se acentuou e resultou na diminuição da produção agrícola.

A seca e a fome de 1983 levaram a Frelimo a assinar um acordo com a África do Sul no ano seguinte (Tratado de Nkomati). Por ele, Moçambique se comprometia a suspender o apoio logístico ao CNA em troca do fim da sustentação da Renamo. Apenas Moçambique cumpriu o acordo.

Em 1990, Frelimo e Renamo assinaram outro acordo, que estabeleceu o pluripartidarismo no país. Em 1994 e 1999, aconteceram as primeiras eleições democráticas no país. Em ambas, o candidato da Frelimo, Joaquim Alberto Chissano, substituto de Machel, que morreu em 1986, foi o vencedor.

Apesar da paz, Moçambique é um dos países mais pobres do mundo. Os 20 anos de guerra civil deixaram um saldo de um milhão de mortos e gravíssimos problemas sociais.

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O Timor Leste é um território visto como estratégico. Durante a Segunda Guerra, foi invadido inicialmente pela Austrália – que já havia descoberto petróleo na costa timorense no início do século XX – e depois pelo Japão – fato que deixou 60 mil mortos nos campos de concentração. Essa foi uma das piores catástrofes da guerra, cuja divulgação a ninguém interessou.

Durante a ditadura salazarista, até a década de 1960 não havia sequer energia elétrica em Díli, capital, e até a década de 1970 não havia infraestrutura de água e esgoto, nem escolas e hospitais. No entanto, todo timorense que ousasse questionar a colonização ou a falta de zelo do governo por-tuguês com a colônia era preso e exilado. Em contrapartida, prisioneiros políticos portugueses eram enviados ao Timor Leste.

Quando finalmente aconteceu a festa da democracia em Portugal, o novo governo deixou aos timorenses do leste a escolha entre a independência ou a integração à Indonésia.

Já em maio de 1974, quando os partidos do Timor Leste foram liberados, surgiram a Associação Social Democrata Timorense (ASDT), de orientação soviética – que em setembro do mesmo ano mudou o nome para Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin) –, e a Associação Popular e Democrática Timorense (Apodeti), defensora da integração do Timor Leste à Indonésia.

No início de 1975, ocorreram as primeiras eleições livres do país. A vitória esmagadora foi da Fretilin. Em agosto do mesmo ano, teve início a guerra civil.

Parte das Forças Armadas de Portugal armava a Frente de Libertação Nacional do Timor Leste (Falintil), braço armado da Fretilin. Mas o governo indonésio e parte da antiga polícia fascista por-tuguesa – descendente da polícia política do salazarismo (Pide) – armavam os grupos de oposição à frente revolucionária, com o apoio da derrotada Apodeti. Por detrás deles, estava um aliado muito maior: os EUA, sempre fundamentados na doutrina de contenção da expansão socialista. É preciso lembrar que o continente asiático, em meados da década de 1970, já estava amplamente convertido ao socialismo, fosse ele de influência soviética ou chinesa. A Indonésia, com sua enorme população de maioria muçulmana ocupando mais de 13 mil ilhas, numa área rica em petróleo, era considerada absolutamente estratégica nesse cenário, e os EUA não mediram esforços para mantê-la sob sua influência, dando todo o apoio à violenta ditadura de Hadji Mohamed Suharto.

Fonte: ORGANIZAÇÃO das Nações Unidas. Disponível em: <http://www.un.org/Depts/Cartographic/map/profile/timor.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2013. Adaptação.

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Timor Leste

Timor Leste (Ásia)

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Além de reconhecer as potencialidades petrolíferas que o Timor Leste poderia proporcionar ao governo da Indonésia, Suharto não iria permitir a possibilidade de um “minicomunismo” – que contaria com o apoio da URSS e do Vietnã, recém-unificado sob o regime de Partido Comunista – à sua porta. Incensado pelos EUA e pela Austrália, o ditador indonésio deu início a um dos maiores massacres da história da humanidade, em termos proporcionais: a repressão que resultaria na morte de 200 a 300 mil timorenses – cerca de 1/3 da população do país na época –, seja pela violência, pela fome, pelo deslocamento forçado de populações inteiras seja pela criação de verdadeiros campos de extermínio.

A Indonésia ignorou uma resolução da ONU que condenava a invasão e transformou o Timor Leste em sua 27.ª província. A Austrália foi o primeiro e único país a reconhecer a anexação – e posterior-mente assinou um acordo com o ditador indonésio para assegurar o controle das reservas de petróleo e de gás natural do Mar do Timor.

A questão do Timor Leste havia começado timidamente a ganhar destaque internacional quando, em 1991, jornalistas estrangeiros divulgaram pela CNN (canal de televisão estadunidense) imagens do massacre promovido pelo exército indonésio no cemitério Santa Cruz. Uma multidão foi recebida a tiros durante uma manifestação em homenagem a um estudante timorense morto pela repressão. Mais de 200 timorenses morreram no local e outros tantos nos dias seguintes, perseguidos pelas ruas e hospitais.

Convém afirmar que não é coincidência que o “vazamento” dessa notícia, rompendo o bloqueio midiático internacional que havia, tenha ocorrido em 1991: nessa época, vivia-se o contexto do final da Guerra Fria, que levava o governo dos EUA a repensar o apoio incondicional dado a ditadores sanguinários no Terceiro Mundo, os quais auxiliavam a estratégia estadunidense de contenção da expansão socialista por meio de governos truculentos.

O grande impulso para a conquista da liberdade timorense aconteceu quando dois ativistas pela independência do país ganharam o Prêmio Nobel da Paz, em 1996. Com a concessão do prêmio ao bispo Dom Carlos Felipe Ximenes Belo e a José Ramos Horta (exilado na Austrália) e com a apresen-tação de um vídeo com torturas praticadas por soldados indonésios contra timorenses, iniciou-se um importante movimento de pressão do mundo contra a violação dos direitos humanos praticada no país.

Em 1997, a pressão internacional, somada a uma crise econômica na Indonésia – que acabou por selar a deposição do ditador Suharto, no ano seguinte –, fez com que Portugal e Indonésia negociassem a realização de uma consulta popular sobre a manutenção do Timor Leste sob domínio indonésio. Mais de 78% dos timorenses escolheram a independência.

Com o anúncio do resultado, as milícias ligadas ao exército da Indonésia desencadearam uma onda de extremada violência. Pessoas que supostamente teriam votado a favor da libertação eram caçadas nas ruas com facões. Milhares de casas foram incendiadas, mais de duas mil crianças e adultos foram executados, e a população se refugiou em montanhas para sobreviver.

Para tentar viabilizar a paz, a ONU decidiu formar uma força internacional de intervenção (Interfet), ironicamente liderada pela Austrália. Uma das mais ardentes defensoras do regime indonésio que anexava o Timor Leste se transformou na grande advogada do povo timorense na luta por sua autode-terminação. Isso rendeu uma renovação do acordo petrolífero no Mar do Timor.

Quando os soldados da Interfet entraram no Timor Leste, encontraram um país totalmente devastado.Em 14 de abril de 2002, José Alexandre Gusmão (Xanana Gusmão) foi eleito presidente da repú-

blica, com 82,7% dos votos. Em 20 de maio de 2002, Xanana tomou posse como o primeiro presidente eleito pelo povo timorense.

Finalmente o grito de libertação preso na garganta desde 1975 pôde ser ouvido pelo mundo todo.

32 Geopolítica

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1. Sobre a Guerra da Coreia, é correto afirmar: (01) A invasão das tropas norte-coreanas à Coreia

do Sul foi impulsionada pela Revolução Chine-sa.

(02) A Coreia foi dividida, no pós-guerra em: Norte – área de influência da URSS – e Sul – área de influência dos EUA.

(04) Os EUA contra-atacaram a invasão norte--coreana comandados pelo general Douglas MacArthur.

(08) Ela quase transformou a “Guerra Fria” em “Guerra Quente”, promovendo o embate dire-to entre EUA e URSS.

(16) Os acordos de 1953 mantiveram a divisão idên-tica à estabelecida ao final da Segunda Guerra.

(32) Com o seu final também chegou ao fim a Guerra Fria.

2. (UEFS – BA) O mundo pós-Segunda Guerra Mundial assistiu ao surgimento de vários países socialistas. Um desses países foi a China, sobre cuja história é correto afirmar:

I. A implantação de uma República Popular, na China, provocou a organização de um governo dissidente na Ilha de Formosa.

II. O socialismo chinês permaneceu sob a órbita so-viética até desintegração da URSS.

III. A influência da opinião pública das nações de-mocráticas tem contribuído para que o governo chinês respeite os direitos individuais.

IV. As reformas pró-capitalismo, empreendidas por Deng Xiaoping, tiveram como objetivo a manu-tenção dos comunistas no poder.

V. Em 1989, uma manifestação estudantil de ca-ráter democrático foi reprimida na Praça da Paz Celestial.

3. (UFC – CE) A intervenção dos EUA no Vietnã, no contexto dos conflitos militares da Guerra Fria, tinha como propósito:

a) evitar a reunificação do Vietnã sob o poder do governo socialista do Norte, o que representaria a ampliação da zona de influência soviética;

b) garantir a realização de eleições gerais e diretas em todo o Vietnã a fim de possibilitar a desocu-pação militar americana na Coreia do Sul;

c) retirar as bases militares soviéticas estabelecidas em território vietnamita com a finalidade de pôr fim à corrida armamentista;

d) restituir o domínio colonial francês no território a fim de salvaguardar o regime democrático na Coreia;

e) impedir o massacre dos civis do Vietnã do Sul pelo governo socialista do Norte, que seguia a orientação de práticas stalinistas.

4. (UNEAL) A Caxemira é um dos focos de conflito na atualidade. Ela é o pivô de uma disputa entre os se-guintes países:a) China e Índia;b) Paquistão e China;

c) Paquistão e Índia;d) Índia, Paquistão e Afeganistão;e) China, Índia e Paquistão.

5. (UNIOESTE – PR) No século XIX, as nações europeias disputaram o controle sobre os territórios da África e da Ásia, e algumas construíram verdadeiros im-périos coloniais. No período pós-Segunda Guerra, ocorreu um processo de descolonização, ocasião em que muitas dessas antigas colônias alcançaram a independência. Sobre esses dois momentos, é cor-reto afirmar:(01) No século XIX, a partilha da África e da Ásia

beneficiou especialmente Espanha e Portugal, que haviam perdido suas colônias na América.

(02) A partilha da África e da Ásia possibilitou a al-guns países europeus o acesso a fontes de ma-térias-primas estratégicas para suas indústrias, como carvão, ferro e petróleo.

(04) O contato com os europeus fez com que, no processo de descolonização, os países africanos estabelecessem democracias representativas.

(08) A Índia alcançou sua independência a partir de acordos firmados com a União Soviética, o que a conduziu ao bloco dos países socialistas.

(16) Uma das consequências da derrota da China na Guerra do Ópio foi a entrega à Inglaterra de Hong Kong, processo só recentemente revertido.

(32) O regime salazarista opôs-se, de forma con-tundente, à libertação de suas colônias; assim, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau só con-seguiram sua independência após a queda do ditador português.

(64) A Indochina foi colônia francesa até 1940, e após sua independência a região não conhe-ceu outras guerras durante todo o século XX.

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GEOGRAFIA

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A América Latina sob o mundo bipolar

3

Socialistas no poder pela primeira vez: Guatemala – 1954

A primeira ameaça concreta de instalação de um país socialista na América Latina ocorreu na Guatemala. Em 1951, encabeçando a coligação vitoriosa nas eleições com forte influência do Partido Comunista, Jacobo Arbenz assumiu como presidente.

Apesar de um início de governo meio tímido e sob a vigilância da Agência Central de Inteligência (CIA), aos poucos o novo presidente começou a ousar desafiar os interesses dos EUA no país, tentando implementar uma ampla reforma agrária, o que foi irritando Washington, que apoiava as oligarquias agrárias da região, com quem mantinha estreita ligação. A gota-d’água foi quando o governo tentou expulsar do país a multinacional estadunidense United Fruit Company, que praticamente controlava as melhores terras guatemaltecas. Tal situação provocou o desencadeamento de um golpe de estado, que derrubou Arbenz e instalou uma ditadura militar no país. Foi a primeira de uma lista de intervenções dos EUA na América Latina no período da Guerra Fria.

Desde então, a Guatemala se consolidou como uma das principais bases de ação dos interesses estadunidenses na América Central. Seu território foi utilizado para treinar e organizar os insurgentes que lutariam contra as forças progressistas em El Salvador e na Nicarágua nas décadas de 1970 e 1980. Além disso, no recente episódio do golpe de estado que derrubou o presidente de Honduras, novamente a vizinha Guatemala revelou sua vocação pró-imperialista ao ter sido um dos primeiros países a reconhecer o governo golpista.

Revolução Cubana

Cuba foi colônia da Espanha até 1898 (final da guerra Hispano-Americana) e teve que aceitar uma emenda constitucional imposta pelos EUA (emenda Platt), que garantiu o “direito” de intervenção estadunidense na ilha. Os EUA, aliás, nunca esconderam sua pretensão geopolítica de anexação do território cubano, nos moldes do que ocorreu com Porto Rico.

Da mesma forma que seus vizinhos, o país era controlado por uma elite latifundiária, que defendia os interesses estadunidenses. Desde 1934, estava sob a violenta ditadura de um homem de confiança estadunidense: Fulgencio Batista.

Geopolítica34

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Em 1953, um grupo composto por líderes camponeses, sindicalistas e inte-lectuais, organizado e liderado pelo jovem advogado Fidel Castro Ruiz, tentou, frustradamente, derrubar o ditador. Fidel acabou preso, sendo depois libertado e deportado para o México, e o Movimento Revolucionário 26 de Julho, como ficou conhecido, desarticulou-se temporariamente. No México, Fidel retomou o movimento e preparou o retorno a Cuba, para uma nova tentativa de tomar o poder. Ali conhe-ceu o médico argentino Ernesto Che Guevara e o convenceu a ajudar os cubanos a derrubarem o ditador Batista. Em 1956, a bordo do barco Granma, um grupo de 82 guerrilheiros (o barco tinha capacidade para 25 pessoas) – entre eles Fidel, Che, o irmão mais novo de Fidel, Raul, e Camilo Cienfuegos – atravessou o mar do Caribe para desembarcar no sul da Ilha, numa operação cheia de contratempos. Foram recebidos sob bombardeio aéreo das tropas de Batista, numa área de mangue. Muitos foram mortos, outros presos ou dispersos. Por fim, um grupo de apenas 12 guerrilheiros – entre os quais os quatro líderes principais citados – conseguiu se refugiar na Sierra Maestra, contando com apenas dois fuzis. Três anos depois, esse grupo entrava triunfante em Havana, tendo vencido a revolução.

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Ao contrário do que a imprensa, os EUA e Fidel Castro dizem, a Revolução Cubana não foi, originalmente, nem socialista nem pró-soviética. Muito pelo contrário. O Partido Comunista cubano, que na época se chamava Partido So-cialista Popular (PSP) e era atrelado a Moscou, além de não apoiar as tentativas de derrubada de Batista, ainda boicotou a luta clandestina. Apenas quando a revolução já estava nas ruas e a vitória de Castro era inevitável, o apoio che-gou. Esse fato foi decisivo para o que os próprios estrategistas de Washington consideram um dos maiores erros estratégicos já cometidos por eles: como Fidel não era declaradamente socialista e não pertencia ao partido, a revolu-ção por ele conduzida foi recebida até com alguma simpatia pelo governo dos EUA, que avaliava que a ditadura de Batista já havia mesmo chegado ao seu limite, e julgava que o novo líder poderia ser facilmente corrompido. Afinal, se a mudança de poder era inevitável, antes ocorresse por meio do grupo de Fidel do que pelos comunistas. Um erro de avaliação.

No dia 31 de dezembro de 1958, Fulgencio Batista fugiu para a República Dominicana e, no dia seguinte, os revolucionários tomaram Havana. Os EUA reconheceram o novo governo revolucionário.

O novo governo, porém, amplamente respaldado pelo apoio popular, começou a revelar suas pretensões e promover atos mal recebidos em Washington, como a nacionalização de empresas estadunidenses e a reforma agrária. Tal como na Guatemala, a derrubada do novo governo começou a ser planejada pela CIA.

Em 1961, um grupo de homens da elite cubana, que havia fugido da ilha na revolução, voltou com apoio logístico da CIA, para derrubar Fidel. O episódio ficou conhecido como desembarque na Baía dos Porcos e significou uma das maiores desmoralizações do famoso presidente estadunidense, John Kennedy. Os contrarrevo-lucionários foram recebidos e derrotados pelo Exército Cubano, que lhes impôs uma derrota contundente. Imediatamente depois desse fato, o governo cubano percebeu que a tentativa seguinte, se houvesse, não seria com um bando de cubanos dissi-dentes mal preparados, mas com o poderoso exército estadunidense. Diante desse

1959

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cenário, só restava a Cuba aproximar-se da URSS e pedir-lhe proteção militar. Assim, em 1961, Cuba foi proclamada socialista e alinhou-se com Moscou. A URSS e seus aliados passaram a comprar, a partir de então, os produtos cubanos em larga escala. Em resposta, os EUA expulsaram Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, em 1962, impuseram o famoso bloqueio econômico, tentando isolar a ilha socialista e sufocar sua economia. A aliança com a URSS, no entanto, fez com que a Ilha superasse o bloqueio econômico estadunidense com certa tranquilidade, pelo menos até a década de 1980.

Crise dos mísseis em CubaUm dos episódios mais dramáticos da Guerra Fria ocorreu em 1962 e por muito pouco não levou o

mundo à temida Terceira Guerra Mundial: a chamada “Crise dos Mísseis de Cuba”.Como os mísseis soviéticos eram de curto alcance, Moscou aproveitou a proximidade geográfica

entre Cuba e os EUA (entre Cuba e a Flórida são apenas pouco mais de 100 km) e instalou plataformas de lançamento de mísseis apontadas para Washington.

Ao tomarem conhecimento da gravidade do fato, os EUA inicia-ram uma tensa negociação com a URSS de Nikita Krushev. Como as conversas não evoluíam e a URSS vinha transportando os mísseis por meio de navios, pelo Oceano Atlântico, os EUA posicionaram uma frota naval e estabeleceram um limite territorial no entorno de Cuba. A ultrapassagem de tal limite por qualquer embarcação soviética seria considerada ato de guerra, e os almirantes esta-dunidenses tinham ordens para atacar.

Após dias de tensão internacional, o chefe de governo so-viético Nikita Krushev e John Kennedy chegaram finalmente a um acordo secreto, e o governo soviético ordenou a retirada dos equipamentos soviéticos de Cuba.

Embora os termos do acordo só fossem divulgados ao final da Guerra Fria, a negociação revelou-se, ao contrário do que se divulgou na época, amplamente favorável à URSS, podendo ser considerado uma cartada bem dada de sua estratégia geo-política. Uma das condições impostas por Moscou foi a de que Washington retirasse mísseis instalados na Turquia. A outra exigência foi o comprometimento estadunidense em jamais violar Cuba, nem apoiar – como no desembarque na Baía dos Porcos – quem a violasse.

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Quando as reformas de Gorbatchev começaram (estudaremos adiante a glasnost e a perestroika), Cuba perdeu a proteção soviética e passou a sentir duramente os efeitos do bloqueio estadunidense. Hoje, após o fim da URSS, a economia da ilha está debilitada e demonstra resistência, embora tenham sido feitas concessões ideológicas que colocam em risco algumas das conquistas sociais que o socialismo possibilitou. O regime de partido único permanece, mas algumas medidas de abertura econômica foram inevitáveis, especialmente no que se refere à indústria do turismo, que vem sendo fomentada para manter em pleno funcionamento os programas sociais colocados em prática após a revolução.

Fidel Castro governou Cuba até fevereiro de 2008, quando se retirou do poder por problemas de saúde, dando lugar ao seu irmão mais novo, Raul Castro.

Os EUA tentaram

invadir Cuba, mas

não conseguiram

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Doutrina de Segurança Nacional

A disputa por áreas de influência dos EUA e da URSS tornou a integração da América Latina à orientação esta-dunidense, já imposta no século XIX e início do século XX (Doutrina Monroe, Corolário Roosevelt), mais evidente. Em 1948, constituiu-se a Organização dos Estados Americanos (OEA) e, em 1952, foi assinado, no Rio de Janeiro, o Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca (Tiar). Ambos oficializa-vam a integração dos países das Américas ao sistema geo-político ocidental e tiveram por finalidade a criação de uma barreira americana, liderada por Washington, que protegia o continente das influências soviéticas.

O Tiar estabelecia que todos os Estados americanos deveriam prestar auxílio recíproco na defesa contra ameaças extracontinentais.

Os pactos seriam utilizados apenas na prevenção contra a URSS, embora isso não fosse explícito tex-tualmente. Na Guerra das Malvinas (entre Argentina e Inglaterra – 1982), por exemplo, o país latino-americano invocou o Tiar para conseguir o apoio dos EUA, argumen-tando que a Inglaterra é uma potência extracontinental. Mas o apoio de Washington foi explícito a Londres, o que desmoralizou o tratado.

A montagem da “fortaleza americana” não se limitou à assinatura de tratados. Enquanto na América Central predo-minaram as intervenções diretas do Big Stick, para a América do Sul foi aplicada, em geral, uma fórmula menos explícita, ideologizadora de elites político-militares, baseada na cha-mada Doutrina de Segurança Nacional. O principal centro difusor da ideologia dos EUA foi o National War College (NWC), que contou com diversas instalações similares em vários países latino-americanos. No Brasil, a instalação da Escola Superior de Guerra (ESG), em 1949, fazia parte dessa estratégia. O pilar dessa megaestrutura desenvolvida por Washington foi a criação, em 1946, na Zona do Canal do Panamá (território controlado pelos EUA), da Escuela de Las Américas, onde agentes da CIA davam treinamento aos militares latino-americanos, ensinando as mais variadas técnicas de repressão e tortura. Sem o status anterior e sob o nome de “Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação na Segurança (Whinsec)”, ela ainda atua até hoje, embora tenha sido transferida para Fort Bennig, na fronteira da Geórgia com o Alabama (EUA).

A Doutrina de Segurança Nacional, que arquitetou os golpes militares ocorridos na América Latina nesse perío-

do, fundamentava-se em duas noções: segurança, baseada na contenção do “inimigo interno” (o subversivo, ligado às organizações de esquerda, fossem elas ou não de tendência socialista), e desenvolvimento, entendido como o aumento quantitativo do Produto Nacional Bruto (PNB) e a integração ao mercado mundial capitalista.

A consolidação do socialismo em Cuba, a partir de 1961, foi decisiva para que os EUA passassem a priorizar a tomada de todas as medidas que considerassem necessárias para que não surgissem “novas Cubas” na América Latina. A partir desse ano é que a Guerra Fria iria mesmo “esquentar” para os latino-americanos – e o Brasil era peça-chave nessa estratégia.

Brasil

João Goulart em discurso no comício João Goulart em discurso no comícioda Central do Brasil, no Rio deda Central do Brasil, no Rio deJaneiro, em 13 de março de 1964Janeiro, em 13 de março de 1964

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Em março de 1964, o Brasil sofreu um dos mais importan-tes golpes militares da América do Sul (considerado essencial para a estratégia geopolítica elaborada por Washington), baseado na Lei de Segurança Nacional, com a deposição do presidente João Belchior Marques Goulart, o Jango.

O general Golbery do Couto e Silva atuou destacada-mente na ESG e fez a ponte entre a instituição e os gene-rais presidentes que se revezaram no poder: Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1966), Arthur da Costa e Silva (1967-1969), Emílio Garrastazu Médici (1970-1973), Ernesto Geisel (1974-1978), João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985).

A radicalização do regime brasileiro se deu com a edição do Ato Institucional número 5 (AI-5), em dezembro de 1968. A ditadura brasileira durou 21 anos, terminando apenas em 1985.

Golpe de 1964:

o início da

Ditadura Militar

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GEOGRAFIA

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O AI-5, que vigorou até 1979, concedeu ao presidente plenos poderes para fechar por tempo ilimitado todo o Poder Legislativo; intervir em estados e municípios; suspender por 10 anos direitos políticos de qualquer cidadão e cassar mandatos eletivos; demitir ou aposentar sumariamente funcionários públicos, inclusive juízes de tribunais; suspender a garantia do habeas corpus; efetuar prisões sem mandado judicial e decretar o es-tado de sítio. A pena de morte foi prevista para crimes políticos. Não houve nenhuma execução oficialmente, só extraoficialmente. Enfim, a arbitrariedade foi legalizada.

ChileNo Chile, em 1970, Salvador Allende

ganhou as eleições diretas apoiado pelos partidos socialista e comunista, tornando-se o primeiro líder socialista no mundo a ascender

ao poder pela via institucional. Um ano depois, com amplo apoio popular, o presidente iniciou a nacionalização de empresas estadunidenses de cobre e começou a sofrer uma campanha desestabilizadora promovida pelos EUA. Em 1973, curiosamente no dia 11 de setembro, um golpe articulado pela CIA e liderado pelo general Augusto Pinochet derrubou a esquerda do poder.

A ditadura personalizada do general se estendeu até 1988. O governo de Pinochet ficou marcado como a mais violenta das ditaduras militares latino-americanas ocorridas durante a Guerra Fria, com um triste saldo final de aproxima-damente 30 mil mortos e desaparecidos durante o regime.

ArgentinaO regime de segurança nacional foi instaurado na Argen-

tina no ano de 1976, com a deposição de Maria Estela Perón. Isabelita, como era chamada, era vice-presidente e viúva de Juan Domingo Perón, líder populista, que morreu em 1974.

Soldado argentino em base nas Ilhas Falkland/ Soldado argentino em base nas Ilhas Falkland/ Malvinas, 1982Malvinas, 1982

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A Doutrina da Segurança Nacional teve na Argentina sua maior demonstração. Considerando que a ditadura argentina durou apenas sete anos, ali ocorreu a repressão mais san-

grenta, que perseguiu guerrilheiros e sindicalistas (nacionalistas) e deixou quase todas as famílias sem, pelo me-nos, um membro. Apesar de a ditadura argentina ter sido bem mais curta que a chilena, teve um número de mortos e desaparecidos similar ao do Chile. O primeiro general-presidente argentino foi Jorge Rafael Videla, que transferiu seu cargo para o também general Roberto Viola (1981). Meses depois, Viola foi deposto e substi-tuído por Leopoldo Galtieri. Em seu governo, as forças políticas de oposição se reorganizaram e as manifestações populares cresceram e promoveram protestos frente à Casa Rosada.

O governo argentino já tinha utilizado a Copa do Mundo de 1978, vencida pela Argentina, como tentativa de desviar a atenção da população dos crimes praticados nos porões da ditadura. Numa nova tentativa de unir o povo argentino a seu favor, Galtieri evocou o espírito nacionalista portenho e deflagrou a Guerra das Malvinas (1982), ao reivindicar a posse das ilhas junto à Inglaterra. A previsível derrota acabou sendo decisiva para decretar o fim do regime. O presidente foi deposto e Arnaldo Bignone assumiu para preparar as eleições diretas que elegeram Raul Alfonsín, em 1983.

Uruguai No Uruguai, a tomada de poder pelos militares ligados à

Doutrina da Segurança Nacional foi menos repentina.Juan Maria Bordaberry, civil que precedeu os militares, foi

eleito presidente em 1972. No mesmo ano, visando conter o crescimento da guerrilha de esquerda, o congresso decretou “es-tado de guerra interna” e atribuiu aos militares plenos poderes para reprimir. Em 1973, Bordaberry fechou o congresso, proibiu a maioria dos partidos e impôs a censura. A reorganização mi-nisterial de 1974 aumentou a participação militar no poder. Em 1976, a conclusão do processo foi a deposição de Bordaberry e a tomada do controle político uruguaio.

O primeiro general-presidente foi Aparicio Méndez, que comandou uma sangrenta repressão política até 1980. Em 1981, o general Gregório Álvarez iniciou a abertura política e preparou as eleições gerais de 1984, vencidas pelo oposi-cionista moderado Julio Sanguinetti.

Operação Condor e outras ditaduras sul-americanas

Na estratégia geopolítica adotada pelos EUA em relação à América Latina, como já foi visto, o controle sobre o território brasileiro era essencial – afinal a grande extensão territorial de nosso país e o fato de fazer fronteira com a maioria dos países sul-americanos nos conferia uma posição especial.

A repressão aos partidos e organizações de esquerda nos países sob ditadura era articulada em bloco, por meio da Operação Condor, que consistia basicamente na troca de in-formações e coordenação de ações dos governos ditatoriais,

A morte de

Pinochet

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A ditadura no

Uruguai e na

Argentina e o

fim da anistia

aos militares

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38 Geopolítica

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no intuito de fechar o cerco sobre os denominados subver-sivos – tudo com a estreita colaboração dos agentes da CIA.

Além dos países já citados, os regimes militares pró--americanos também marcaram a história da maioria dos demais países da América do Sul. Governos foram derru-bados por meio de golpes no Equador (1961), Peru (1962) e Bolívia (1964). A Colômbia, durante esse período, foi marcada

pela ininterrupta guerra civil envolvendo diversas facções paramilitares – algumas apoiadas diretamente pela CIA –, que lutavam entre si e tentavam tomar o poder. O país sul--americano que teve maior estabilidade nessa época foi a Venezuela, isso porque contava com um governo elitista que já se alinhava politicamente aos interesses dos EUA e lhes fornecia petróleo a baixo custo.

Ensino Médio | Modular 39

GEOGRAFIA

1. A Revolução Cubana (1959) pretendia:a) libertar a ilha do colonizador espanhol;

b) transformar o país numa área de influência da URSS;

c) planificar e estatizar a economia cubana;d) orientar o país pelo Partido Comunista Chinês; e) tirar do poder o ditador Fulgencio Batista.

2. (FUVEST – SP) Existem semelhanças entre as dita-duras militares brasileira (1964-1985), argentina (1976-1983), uruguaia (1973-1985) e chilena (1973--1990). Todas elas:a) receberam amplo apoio internacional tanto dos

Estados Unidos quanto da Europa Ocidental; b) combateram um inimigo comum, os grupos es-

querdistas, recorrendo a métodos violentos;c) tiveram forte sustentação social interna, especial-

mente dos partidos políticos organizados;d) apoiaram-se em ideias populistas para justificar a

manutenção da ordem;e) defenderam programas econômicos nacionalis-

tas, promovendo o desenvolvimento industrial de seus países.

3. (UFF – RJ) O filme Diários de motocicleta colocou em evidência a figura de Ernesto Guevara, médico ar-gentino, líder revolucionário, na década de 1960. Ao lado do romantismo que envolve a figura de “Che”, há um processo histórico sangrento e dotado de um sentimento de busca da identidade da América La-tina, incluído aí o Brasil. Esse sentimento decorreu da exploração imperialista que conduziu o mundo latino-americano ao subdesenvolvimento.

A partir das referências contidas no texto, assinale a opção que reúne fatos ilustrativos da repressão aos movimentos sociais de oposição à política america-na para a América Latina.

a) A vitória de Pinochet no Chile, a intervenção do exército argentino no Uruguai, a morte de Che Guevara e a Revolução de 1964 no Brasil.

b) A morte de Anastácio Somoza, a intervenção americana na Nicarágua, a revolução cubana de1958 e a formação das FARC na Colômbia.

c) A morte de Che Guevara, a repressão política pós--64 no Brasil, a oposição ao governo de Salvador Allende no Chile e a invasão da Baía dos Porcos pelo exército americano em 64.

d) A ditadura militar implantada no Brasil em 1964, a revolução cubana de Fidel Castro e a vitória in-glesa na Guerra das Malvinas.

e) Vitória inglesa na Guerra das Malvinas, a revo-lução cubana de Fidel Castro, a morte de Che Guevara e a revolução de 1964 no Brasil.

4. (UFPR) Nas décadas de 1960 e 1970, vários países da América Latina, incluindo o Brasil, passaram por um processo histórico semelhante, sobretudo no plano político. Em relação a esse tema, é correto afirmar que:

a) depois do Golpe Militar no Brasil, em 1964, hou-ve uma onda de golpes militares na América do Sul, em nome do combate ao comunismo e à preservação da Segurança Nacional;

b) as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por processos de democratização e ampliação da ci-dadania política no Brasil, Argentina e no Chile;

c) Brasil, Argentina e Chile constituíram o “Plano ABC”, uma aliança terceiro-mundista para se contrapor à influência estadunidense no conti-nente e que pode ser considerada a gênese do Mercosul;

d) as décadas de 1960 e 1970 representaram o auge da economia neoliberal na América Latina, cuja principal característica foi a diminuição da influência dos Estados na economia;

e) o modelo soviético foi adotado pelos principais partidos políticos latino-americanos que, influen-ciados pela Revolução Cubana de 1959, inspira-ram-se no nacionalismo.

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Colapso no socialismo real e fim da Guerra Fria

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Tanques circulam pelas ruasTanques circulam pelas ruasde Budapeste – Hungria,de Budapeste – Hungria,

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Geopolítica40

Intervenções soviéticas na Europa Oriental

A doutrina da coexistência pacífica anunciada por Krushev ao assumir a liderança da URSS em 1956 foi apenas retórica. Apesar de seus discursos flexíveis em relação ao inimigo, nada mudou na política de manutenção das áreas de influência soviéticas do Leste Europeu.

O regime de partido único e o alinhamento com o Pacto de Varsóvia caracterizaram os Estados do Leste até as Revoluções de 1989. Bem antes delas, porém, houve duas tentativas emblemáticas de abertura que foram sufocadas pela URSS.

HungriaEm 1956, poucos meses depois do XX Congresso do PCUS, a Hungria sofreu uma intervenção ao

questionar o domínio soviético. A atuação do pacto serviu para deixar claro que a URSS não toleraria insubordinação em sua área de influência.

O movimento húngaro iniciou-se na cúpula do partido oficial, mas Imre Nagy, o primeiro-ministro que lançou as ideias democratizantes, conseguiu um amplo e descontrolado apoio popular. Ao anun-ciar, nos fins de outubro, a formação de um governo nacional desvinculado do Pacto de Varsóvia, ele pretendia impedir que o Partido Comunista fosse atropelado pelos movimentos populares, mas o que obteve foi a ira soviética.

No mês de novembro, o Exército Vermelho bom-bardeou Budapeste e deu início a uma intervenção militar que, ao final, deixou um saldo de vinte mil mortos húngaros e cento e sessenta mil exilados. Nagy e o general Pál Maletér, ministro da Defesa, foram presos e executados.

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Protesto pacífico da população contra a dominação soviéticaProtesto pacífico da população contra a dominação soviéticaem praça de Praga, capital da Tchecoslováquia, 1968em praça de Praga, capital da Tchecoslováquia, 1968

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GEOGRAFIA

TchecoslováquiaO mesmo disfarce, porém, não foi possível na Tchecoslováquia em 1968. Lá, tal como havia ocorrido

na Hungria, a iniciativa por algumas reformas liberalizantes também começou na cúpula do PC. Entre-tanto, intelectuais, estudantes e trabalhadores do país passaram a exigir a aceleração do processo e promoveram, no mês de abril, na capital, protestos contra a dominação soviética (“Primavera de Praga”). Alexander Dubcek, primeiro-secretário, passou a criticar a URSS e suspendeu a censura à imprensa.

Manobrando cautelosamente, Dubcek, ao mesmo tempo que anunciava a restauração de direitos civis e liberdades políticas, também anunciava a não pretensão de tirar a Tchecoslováquia do Pacto de Varsóvia. Contudo, as ideias democráticas – “socialismo com fase humana”, como defendia Dubcek – acabaram por se espalhar pelo resto do Leste Europeu e isso podia representar um processo desestabilizador da URSS nas suas áreas de influência.

Em agosto, tropas do pacto invadiram a capital e, depois de negociações com os dirigentes tchecos, esmagaram as reformas, “normalizaram” a situação e reabilitaram completamente o país à esfera soviética.

Fonte: SCALZARETTO, Reinaldo; MAGNOLI, Demétrio. Atlas: geopolítica. São Paulo: Scipione, 1996. Adaptação.

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Pacto de Varsóvia

No período da Primavera de Praga, o controle do PCUS não estava mais com Nikita Krushev. Desde 1964, por meio de um golpe, chegou ao poder um stalinista, Leonid Brejnev. Todas as reformas de Nikita foram suspensas. As práticas stalinistas do terror político foram retomadas.

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O endurecimento na Tchecoslováquia não foi camuflado como o da Hungria. Ao contrário: foi usado como exem-plo – uma estratégia que fez parte da chamada “Doutrina Brejnev”: qualquer distúrbio entre os países-membros do Pacto de Varsóvia seria entendido como uma agressão a Moscou.

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42 Geopolítica

Perestroika e glasnost – ventos da mudança na URSSNa década de 1970 – ainda sob o governo Brejnev – a URSS começou a evidenciar os sinais de um

crescente atraso tecnológico e econômico (já previsto por Krushev, duas décadas antes). A manutenção da corrida armamentista e a burocracia interna emperravam a máquina soviética.

Após a morte de Brejnev (1982), sucederam-se dois breves governos conservadores – o que evidenciava uma instabilidade política sem precedentes no comando do PCUS. Nesse contexto, assumiu o poder, em 1985, o líder que iria transformar a história do país: Mikhail Gorbatchev.

O perfil do novo líder surpreendeu o mundo: bem mais jovem, cordial e diplomáti-co, Gorbatchev tinha a clara missão de introduzir novas ideias para tentar reconduzir a URSS ao caminho do crescimento. Havia, no entanto, dois enormes desafios a serem enfrentados: no cenário internacional, a Guerra Fria (cuja tensão havia au-mentado perigosamente desde a ascensão ao governo dos EUA do republicano e ultraconservador Ronald Reagan, em 1980); e internamente, um cenário desolador de crise econômica somado à insatisfação popular e à resistência às reformas por parte dos burocratas da ala conservadora do PCUS.

Diante desse quadro, ele propôs (só o fato de “propor” e não “impor” já evidenciava um perfil bem diferente daquele dos tradicionais líderes soviéticos que o antecederam) um projeto de amplas mudanças no país, que envolvia dois aspectos fundamentais: reestruturação econômica (perestroika) e abertura política (glasnost). O projeto também envolvia, no plano internacional, o estabelecimento de negociações com os EUA para o fim da corrida armamentista – os gastos com armas, potencialmente, poderiam ser canalizados para a produtividade nacional. O corte de gastos também incluiu o envio de recursos para a manutenção das áreas de influência soviéticas.

A perestroika e a glasnost, mesmo ainda no plano das ideias e não da implementação prática, foram importantes para o Leste Europeu, que ansiava por mudanças, e motivaram as populações desses países a pressionarem as autoridades comunistas internas a também implantarem as reformas. O fato é que, apenas seis anos após Gorbatchev lançar tais sementes de mudança (até 1991), todos os países do Leste Europeu se libertariam da influência da URSS e esta, incrivelmente, deixaria de existir, fragmentando-se em 15 Estados.

Uma análise em retrocesso, até hoje, não é conclusiva sobre quais eram, exatamente, as intenções de Gorbatchev. Ele desejava, como dizia, reformar o socialismo ou reconduzir o país à economia de mer-cado? Setores conservadores do mundo socialista, dentro e fora da Rússia, o consideram um “traidor”, que seria o maior responsável pelo fim da URSS, insinuando até que ele pode ter agido sob orientação da CIA. Para boa parte da população que sofreu as agruras terminais do socialismo real soviético, ele é retratado como um político fraco e moroso, que lançou ideias boas, mas não teve força o suficiente para enfrentar os conservadores do PCUS e implementá-las; talvez nem soubesse, ao certo, como fazê-lo e, por isso, essas pessoas afirmam que, se outras lideranças não tivessem acelerado o processo, eles talvez estivessem até hoje vivendo sob o mesmo cenário de crise.

Há, no entanto, entre os estudiosos da História e Geopolítica Contemporânea, muitas vozes que inserem Gorbatchev no panteão daqueles estadistas tão geniais quanto incompreendidos em seu tempo – que, às vezes, só são devidamente reconhecidos anos após sua morte. Para estes, se Gorbatchev tivesse conseguido realizar aquilo que pretendia e no tempo (cuidadoso) que julgava neces-sário, possivelmente a URSS ainda existisse, provavelmente ainda mais forte e poderosa do que antes, e tivesse dado alguns passos para retomar os verdadeiros ideais socialistas – dos quais o gigantesco país vinha se afastando desde o início da era Stalin.

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Solidariedade (Solidariedade (SolidarnoscSolidarnosc), ),central sindical que reivindicavacentral sindical que reivindicavamelhorias nas condições de vida melhorias nas condições de vidae de liberdade da população. e de liberdade da população.Polônia, 1981Polônia, 1981

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“Diretas Já”, no Brasil, em 1984.

GEOGRAFIA

43Ensino Médio | Modular

A queda dos regimes socialistas no Leste Europeu

PolôniaNo início dos anos 80, o mundo assistiu a mais uma tentativa de democratização no Leste Europeu.

A Polônia, ao contrário da Hungria e da Tchecoslováquia, que tiveram seus movimentos iniciados na cúpula do governo, contou com uma contestação de base popular, operária, organizada pelas estruturas sindicais dos estaleiros do porto de Gdansk, no Mar Báltico.

O estopim da crise foi o aumento de preços dos alimentos, que desencadeou greves por todo o país. Lech Walesa, liderança operária reconhecidamente católica, passou a reivindicar, além da revogação do aumento, o reconhecimento de uma central sindical independente do governo, o Solidariedade. Note-se que a atuação de um sindicato autônomo num país do bloco soviético era algo inédito e extremamente ousado, especialmente considerando que isso ocorreu cinco anos antes de Gorbatchev e a glasnost.

Aos poucos, como se poderia prever, o Solidariedade deixou de ser apenas uma central sindical e começou a estruturar projetos políticos que questionavam o domínio soviético.

O Partido Operário Único Polonês (POUP) – PC polonês –, em junho de 1981, recebeu um ultimato da URSS ameaçando uma intervenção com base no Pacto de Varsóvia. Em dezembro, o Solidariedade foi colocado na ilegalidade e, durante todo o ano de 1982, dez mil pessoas foram presas, incluindo seu líder, Lech Walesa. Na clandestinidade, porém, o sindicato continuou atuando e se fortalecendo.

Quando foram lançadas na URSS as ideias da perestroika e da glasnost, o Solidariedade ganhou grande impulso e passou a pressionar o governo comunista, contando com grande apoio popular. Nes-sa época, o sindicato polonês já havia se transformado num dos maiores símbolos da luta contra os regimes autoritários do Leste Europeu e recebia um apoio internacional de grande peso: o do papa João Paulo II, que era polonês e explicitamente demonstrava sua simpatia pela mobilização popular polonesa.

O resultado disso foi que a Polônia acabou sendo o primeiro país do bloco socialista a implementar, na prática, as ideias da glasnost. Uma de suas conquistas iniciais foi o pluripartidarismo – o “Soli-dariedade” transformou-se num partido político. As primeiras eleições livres do Leste Europeu desde a Segunda Guerra Mundial ocorreram em 1989, e Lech Walesa se elegeu presidente, reconduzindo, durante seu governo, a Polônia democrática à economia de mercado.

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44 Geopolítica

A queda do Muro de BerlimO clima de abertura motivado pela perestroika e pela glasnost, somado ao sucesso do Solidariedade

e à redemocratização da Polônia, conduziu ao fato mais simbólico da transição que estava ocorrendo no Leste Europeu e no mundo: a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Apesar de todo o cenário favorável sugerir que isso ocorreria inevitavelmente em algum momento, há uma curiosa contribuição do acaso para que o famoso evento ocorresse da forma como ocorreu.

Pressionados pela população para a abertura política e econômica, os dirigentes da Alemanha Oriental haviam decidido flexibilizar o trânsito de pessoas para Berlim Oci-dental (capitalista). No entanto, quando as medidas foram anunciadas, deram origem a um boato de que esse trân-sito seria totalmente liberado e não apenas flexibilizado. Imediatamente, multidões de ambos os lados dirigiram-se ao muro, numa bela manifestação popular, e, quando per-ceberam que não haveria a tradicional repressão policial, lançaram-se sobre ele e o derrubaram. A notícia estremeceu o mundo, e as imagens dos alemães de ambos os lados se confraternizando e destruindo o símbolo mais marcante de um mundo dividido se tornaram algumas das cenas mais espetaculares de todo o século XX.

Imediatamente, ambos os governos – Alemanha Oriental e Ocidental – iniciaram as negociações que conduziram à reunificação alemã, formalizada em outubro de 1990. Com isso, estabelecia-se a primeira grande alteração no mapa da Guerra Fria, com o desaparecimento das duas porções existentes desde a Segunda Guerra Mundial, para o ressurgimento da Alemanha com o território unificado, como permanece até hoje.

Com as eleições livres na Polônia e os eventos ocorridos na Alemanha, ficou claro que a URSS, ao contrário do que havia feito décadas atrás em relação à Hungria e à Tchecoslováquia, não mostrava o mesmo interesse ou força para intervir e reprimir os movimentos populares. Os ventos da mudança passaram a derrubar todos os regimes do bloco socialista do Leste Europeu, que caíram todos – um a um – entre 1989 e 1991. Alguns de forma violenta, como na Romênia – onde o ditador Nicolae Ceaucescu, ao tentar reprimir o movimento, só fez aumentar o ódio popular contra ele, que culminou com sua derru-bada, julgamento sumário e execução por fuzilamento (com sua esposa), transmitida ao vivo em cadeia nacional de TV, no dia do Natal de 1989; outros de forma mais pacífica e tranquila, como na Hungria, na Bulgária e, especialmente, na Tchecoslováquia – esta com importante alteração territorial concluída em 1992, já que a população, consultada por meio de um plebiscito, decidiu pelo desmembramento em dois novos países, a República Tcheca e a Eslováquia –, em que o processo ocorreu de forma tão suave e bem conduzida que ficou conhecido como Revolução de Veludo.

A transição nos países não alinhados à URSS Como já vimos, a formação de um bloco soviético no Leste Europeu foi justificada pela presença das

tropas soviéticas, que, ao final da Segunda Guerra Mundial, substituíram as nazistas. Moscou havia consolidado esse escudo de influência na Conferência de Yalta (fevereiro de 1945) e incorporado as zonas orientais da Alemanha e de Berlim na Conferência de Potsdam (julho de 1945).

Mas em dois países, geograficamente incluídos na porção oriental europeia, as justificativas soviéticas não tiveram efeito: Albânia e Iugoslávia. Ali, sua atuação geopolítica durante a Guerra Fria transcorreu de maneira autônoma, sem a submissão aos interesses de Moscou. Mesmo assim, no final da década de 1980, eles não ficaram imunes aos ventos da perestroika e da glasnost.

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GEOGRAFIA

45Ensino Médio | Modular

AlbâniaEm outubro de 1944, o movimento de resistência liderado por Enver Hodja expulsou os nazifascistas

da Albânia, sem necessidade de ajuda soviética. Por ser um movimento nacionalista independente, Hodja, que era comunista, proclamou a República Popular da Albânia, em regime de partido único (Comunista). Entretanto, no alinhamento militar da Guerra Fria, a Albânia inicialmente entrou para o Pacto de Varsóvia (não impositivamente como a Polônia, mas por conivência ideológica).

No entanto, por ocasião do Conflito Sino-Soviético de 1960, a Albânia optou por Mao Tsé-tung e só rompeu essa aliança quando a China se aproximou de Washington, na década de 1970. A partir daí, o país ficou totalmente isolado no cenário geopolítico internacional – o que resultou na acentuação do atraso econômico que já era bem pronunciado anteriormente (desde seu surgimento como país independente, a Albânia é a nação mais pobre da Europa).

A transição para o capitalismo, no final da Guerra Fria, como não poderia deixar de ser, ocorreu depois da morte de Hodja (1985). A partir daí, o país passou por um lento processo de abertura, até converter-se à economia de mercado em 1991.

Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p. 203. Adaptação.

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Península Balcânica - final do século XIX e início do século XX

IugosláviaA região balcânica é o território geopoliticamente mais turbu-

lento de toda a Europa. A compreensão das violentíssimas guerras civis que ocorreram na Iugoslávia na década de 1990, bem como das tensões até hoje ali existentes, exige um olhar histórico sobre uma série de questões antigas e mal resolvidas.

Ainda no final do século XIX, os Bálcãs estavam divididos entre dois grandes impérios: ao norte, domínio austro-húngaro, e ao sul, domínio otomano (Império Turco).

Desde o século XI, a Sérvia se apresentava como um reino independente. No entanto, em 1389, na Batalha de Kosovo, os sér-vios caíram diante da expansão dos turco-otomanos. Encontram-se

nesse fato as raízes religiosas dos conflitos atuais: a região é considerada sagrada para os cristãos ortodoxos (como os sérvios e os macedônios), mas ficou mais de cinco séculos sob ocupação islâmica – o que resultou na conversão de alguns de seus povos (os albaneses e o povo miscigenado que habita a Bósnia).

Depois de se libertar definitivamente do Império Turco (apenas no final do século XIX, quando o duradouro império dos otomanos já se encontrava no seu ocaso), a Sérvia começou a formular seu projeto geopolítico, baseado na união dos eslavos (pan-eslavismo), com a intenção de criar a “Grande Sérvia”. Os russos, que dis-putavam com os otomanos a hegemonia sobre o Mar Negro, viram nesse expansionismo sérvio a solução para que pudessem controlar a passagem nos estreitos de Bósforo e Dardanelos.

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46 Geopolítica

A Questão Balcânica foi um dos motivos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Aliás, o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, Francisco Ferdinando, por um estudante nacio-nalista sérvio, na cidade de Sarajevo (Bósnia e Herzegovina), foi o fato que deu início ao conflito. Ao final da guerra, a monarquia sérvia, aliada do lado vencedor, foi “presenteada” com a reali-zação do seu projeto expansionista – a formação da Iugoslávia (Estados Eslavos do Sul). Conseguiu, com a derrota do Império Austro-Húngaro, os territórios da Croácia, Eslovênia e a parte norte da Bósnia e Herzegovina; e com a derrota otomana, os territórios da parte sul da Bósnia e Herzegovina, Macedônia e Montenegro. Oficialmente, o novo Estado passou a chamar-se Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Interessante perceber que, com tal nome, o novo país evidenciava o desejo de cada uma de suas nações mais importantes de não se integrar, mas em conservar sua identidade. As tensões nacionalistas latentes já se evidenciavam. Em 1929, o nome Iugoslávia tornou-se oficial.

A Iugoslávia – com seis Estados (Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Sérvia) –, portanto, foi um produto do desenlace da Primeira Guerra Mundial. Um Estado multinacional, submetido à hegemonia sérvia, cujas diferenças culturais e históricas sempre propiciaram conflitos. Croatas e eslovenos se mantiveram, e se mantêm até hoje, ligados às tra-dições da Europa Central (antiga Áustria-Hungria) e às influências italianas (integraram, por um curto período, também a República de Veneza) – daí serem majoritariamente cristãos católicos roma-nos. Já o centro-sul do país tinha a cultura marcada pelo histórico conflito entre a resistência dos cristãos ortodoxos e os invasores muçulmanos como legado de rancores. As tensões evidentes explodiram em plena Segunda Guerra Mundial, quando, além de lutarem contra os invasores nazifascistas, os iugoslavos tam-bém se atiraram uns contra os outros, numa complicada guerra civil que envolvia, além das disputas religiosas e nacionalistas, diferenças políticas (havia monarquistas, republicanos, fascistas e comunistas disputando o poder).

Durante esse período (Segunda Guerra Mundial), acirrou-se definitivamente a maior rivalidade nacionalista na região: boa parte dos croatas (segunda maior etnia), pela proximidade com a Itália, aliou-se ao nazifascismo e ajudou os invasores alemães a promoverem massacres contra os sérvios.

Foi nesse cenário que emergiu a figura de Josip Tito – líder comunista que não apenas conduziu seu grupo à vitória contra os inimigos internos, como também se tornou herói nacional ao ex-pulsar os nazistas da Iugoslávia em pleno 1943, quando as tropas de Hitler ainda pareciam imbatíveis. A complexidade da região fica evidente quando se leva em conta que Tito era croata, ou seja: tratava-se de um líder croata comandando os comunistas sérvios contra seus compatriotas croatas, que eram fascistas. Ao final da Segunda Guerra, Tito tomou o poder e proclamou a República de Partido Comunista, impedindo a desagregação do território.

Apesar da instauração do regime de Partido Comunista, o governo de Tito não se orientou pela URSS – em 1948, inclusive, rompeu relações com Moscou. Em 1956, as relações foram restabelecidas sem, contudo, aceitar qualquer domínio soviético.

Em uma tentativa de reduzir os conflitos nacionalistas, o novo governo instaurou uma federação socialista, conferindo alguma autonomia aos mesmos seis Estados, agora repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Mace-dônia) e, em 1960, reconcedeu à Vojvodina, de expressiva minoria de origem húngara, e ao Kosovo, de maioria de origem albanesa, o status de províncias, com privilégios políticos dentro do Estado sérvio. O centro de poder continuou na Sérvia, capital Belgrado.

O longo governo de Tito foi o período menos conturbado da história da Iugoslávia, já que ele combinava habilidade diplo-mática, força repressiva e, sobretudo, conquistou o respeito da maioria dos iugoslavos, fossem de qualquer etnia ou religião.

A desestabilização da Iugoslávia, ao longo da década de 1980, tem três causas fundamentais: a morte do marechal Tito (1980); a influência da perestroika e da glasnost a partir de 1985 e a ascensão ao poder, na Sérvia, do ultranacionalista Slobodan Milosevic, em 1989. A partir de então, recomeçaram as crises de desagregação.

Guerra da Croácia (1991)A Croácia e a Eslovênia declararam independência em 1991.

O centro de poder iugoslavo (Sérvia) não aceitou. Em junho da-quele ano, teve início a primeira das guerras civis que marcariam o fim da Iugoslávia. Os sérvios aproveitaram a situação para se lançarem numa operação de vingança contra seus desafetos croatas, que haviam dado apoio aos nazifascistas e promovido atrocidades contra os sérvios durante a Segunda Guerra Mun-dial. A revanche só não havia ocorrido antes – apesar do rancor latente – graças à hábil atuação de Tito. Mas agora não havia mais quem a impedisse. Nesse sentido, a Eslovênia, pela maior distância geográfica com a Sérvia e pelo ódio entre sérvios e croatas, resolveu rapidamente sua situação e formalizou a independência, herdando a porção mais rica e industrializada da antiga Iugoslávia.

Enquanto isso, a Guerra da Croácia apresentava uma esca-lada impressionante de violência, visto que dentro do território croata havia algumas regiões com maioria sérvia, consideradas estratégicas no projeto geopolítico resgatado por Milosevic de formar a Grande Sérvia. Dessa vez, ao contrário do que ocorrera na Segunda Guerra Mundial, eram os croatas que enfrenta-vam, pelas mãos dos sérvios, os campos de concentração e extermínio.

Em dezembro de 1991, numa atitude de destaque internacio-nal, a Alemanha se antecipou e reconheceu as independências da Croácia e da Eslovênia. O resto da União Europeia fez o mesmo em janeiro de 1992. Em fevereiro, o conflito servo-croata,

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GEOGRAFIA

47Ensino Médio | Modular

depois de matar dez mil pessoas e provocar o deslocamento de centenas de milhares para países vizinhos, teve fim.

Enquanto ocorria o conflito no norte do país, a Ma-cedônia aproveitou para, também em 1991, declarar sua independência. Dessa vez, não houve guerra, visto que os macedônios são bastante identificados com os sérvios, especialmente por ambos professarem o cris-tianismo ortodoxo. O país, no entanto, possui conflitos internos, visto que uma parcela de sua população é de origem albanesa (portanto, muçulmanos) e deseja a independência para concretizar, ao lado do Kosovo e do atual estado albanês, o projeto geopolítico chamado de “Grande Albânia”.

Guerra da Bósnia (1992-1995)O fim do conflito servo-croata, entretanto, não significou

paz para a Península Balcânica. Com a conquista esloveno--croata, a Bósnia se sentiu incentivada a também declarar

sua independência. No entanto, se os sérvios já haviam lutado tanto para não perderem territórios que nunca esti-veram sob seu domínio histórico (a Eslovênia e boa parte da Croácia) – não integrando, portanto, o projeto geopolítico da Grande Sérvia –, isso se intensificou em relação à Bósnia e Herzegovina, uma região situada geograficamente na porção central do território iugoslavo.

Ao contrário de suas vizinhas, os bósnios são uma co-munidade multiétnica e pluricultural, reunida em torno mais do conceito da cidadania do que da nação étnica (tal como o Brasil, entre tantos outros países). No entanto, com essas características, localizada onde estava e naquele cenário, a Bósnia representava um potencial explosivo. Em números aproximados: 17% da população são de etnia croata, 31% são de etnia sérvia e 44% (que a imprensa erroneamente chama de “bósnios”) pode ser etnicamente sérvia ou croata (na verdade, a maioria deles é miscigenada, já que a posição geográfica da Bósnia era central na antiga Iugoslávia), mas o que une a comunidade é a religião muçulmana.

Fonte: INSTITUTO GEOGRÁFICO DE AGOSTINI. Calendário Atlante de Agostini. Novara: Instituto Geográfico de Agostini, 2008. Adaptação; Folha de S.Paulo, ago. 1992. Mundo, p. 3. Adaptação.

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A composição étnica da Iugoslávia, 1991

Sendo considerada a mais violenta guerra ocorrida em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial e uma das mais cruéis de toda a história, a Guerra da Bósnia trouxe novamente o fantasma do etnocídio. Os sérvios, durante os quatro anos de guerra, promoveram operações de limpeza

étnica contra os muçulmanos, movidos pelo ódio religioso dos extremistas ortodoxos e pelo desejo de “limpar” e “purificar” a região para estabelecer ali um dos territórios de sua Grande Sérvia.

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A Guerra do

Kosovo e suas

consequências

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Kosovo:

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48 Geopolítica

Para piorar a situação, ao perceber que a Bósnia tendia a desaparecer do mapa, a Croácia, recém-independente, também entrou no conflito, para garantir seu quinhão de território e “proteger” as populações de origem croata que ali habitavam. O caos se instalou diante do silêncio da União Europeia e da comunidade internacional em geral – um silêncio conivente, visto que as atrocidades ordenadas por Milosevic e a cúpula sérvia, apesar de abomináveis, seriam encaradas como necessárias, pois acabariam por “pacifi-car” a região, e isso era tudo o que os países da Europa e do mundo desejavam. Milosevic teve “carta branca” da comunidade internacional para agir na Guerra da Bósnia. E só não conseguiu concluir seu intento porque o povo bósnio

lutou heroicamente pelo direito de continuar existindo e também porque, a partir de uma certa altura, as atrocidades eram tantas que começou a ficar difícil escondê-las, o que acabou produzindo a pressão da opinião pública internacional para que aquele sangrento conflito cessasse.

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Em 1995, finalmente, ocorreu a intervenção das tropas de paz da ONU, que conseguiram em poucos meses controlar a guerra. Estabeleceu-se uma Federação Muçulmano-Croata (51% da Bósnia passou a ser administrada pelas lideranças muçulmanas e croatas do país) e outra porção administra-da pelas lideranças da Sérvia (49%). O plano de paz criou uma linha de separação desmilitarizada, que cortou todo o país – 4 km de largura e 1 000 km de extensão – e dividiu muçulmanos e croatas, de um lado, e sérvios, do outro. Esse é o cenário da Bósnia e Herzegovina até hoje. Certamente apenas o tempo poderá cicatrizar os rancores e estabelecer, ali, um país verdadeiramente estável.

Guerra de KosovoA região do Kosovo, como já foi

dito, é considerada sagrada para os sérvios, mas por séculos sofreu um processo de islamização e hoje possui esmagadora maioria albane-

sa (90% da população). Em 1998, apoiados pelo Exército de Libertação de Kosovo (ELK), os albaneses deram início a uma intensa campanha pela independência local. A reação do presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic – que desde 1989, quando ainda era apenas chefe do antigo Partido Comunista, havia cassado o status de semiautonomia dos kosovares, garantido na época do governo Tito –, foi a de

promover represálias sangrentas contra essa população majoritária. Mais uma vez começaram a ocorrer operações de limpeza étnica. Em 1999, evitando responder novamente pela omissão, como acontecera na Guerra da Bósnia, a co-munidade internacional reagiu, e forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) passaram a bombardear a Iugoslávia. Depois de 78 dias de guerra, de 8 mil mortos e prejuízos que somaram mais de US$ 100 milhões, Milosevic capitulou e retirou suas tropas de Kosovo, que ficou sob proteção das forças de paz da ONU.

Em fevereiro de 2008, o primeiro--ministro de Kosovo, Hashim Thaci, declarou a independência unilateral da província. Os albano-kosovares comemoraram e foram apoiados pelos EUA e pela maio-ria dos Estados da UE. A situação formal do “país”, no entanto, ainda não está totalmente definida, visto que a Rússia (tradicional aliada dos sérvios) e outros países não reconheceram a sua independência. Uma parte significativa da comunidade internacional (o Brasil está inserido nesse grupo) adota cautela, afirmando que o reconhecimento ocorrerá quando houver consenso internacional sobre a questão. Em muitos mapas, o Kosovo ainda é representado com um status diferenciado de país em processo de inde-pendência ou área de litígio internacional, sob a intervenção da ONU, por exemplo.

Em julho de 1995 – portanto já na etapa final da Guerra da Bósnia, quando as forças de paz da ONU já tinham entrado em ação – ocorreu o Massacre de Srebrenica. Sob o comando do general Ratko Mladic, uma unidade paramilitar sérvia executou friamente mais de oito mil muçulmanos bósnios que viviam na cidade de Srebrenica, em sua maioria homens, de adolescentes a idosos, enterrando-os em valas comuns. Ao todo, a Guerra da Bósnia vitimou aproximadamente 200 mil pessoas.

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GEOGRAFIA

Fonte: INSTITUTO GEOGRÁFICO DE AGOSTINI. Calendário Atlante de Agostini. Novara: Instituto Geográfico de Agostini, 2008. Adaptação.

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Iugoslávia: fragmentação

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Sob protestos dos nacionalistas sérvios – para quem são reverenciados como heróis nacionais – Slobodan Milosevic e outras autoridades sérvias, como Ratko Mladic (que comandou o massacre de Srebrenica) e Radovan Karadzic (apelidado de carniceiro dos Bálcãs), depois da queda do governo e do fim dos conflitos, foram denunciados ao Tribunal Internacional de Haia (Holanda) por crimes contra a humanidade. Alguns desses líderes passaram anos escondidos pela própria população sérvia, antes de serem descobertos e capturados.

Milosevic foi detido pelas autoridades sérvias em 1.º de abril de 2001 e extraditado, no final de junho, para responder pelos crimes. Formado em Direito, dispensou os advogados e disse que formularia sua própria defesa. Suas ameaças em comprovar documentalmente que agiu com a conivência das principais autoridades europeias e estadunidenses, que lhe teriam dado “carta branca” para “pacificar” os Bálcãs, conferiram grande notoriedade a seu julgamento. No entanto, tais revelações jamais vieram a público e o que era considerado o “julgamento do século” acabou não acontecendo: Milosevic morreu na prisão, de ataque cardíaco, em 2006. Alguns de seus parceiros, no entanto, estão sendo julgados até hoje.

Até 2002, o nome Iugoslávia ainda tinha registro internacional e contava com as duas repúblicas remanescentes do antigo território formado ao final da Primeira Guerra Mundial: Sérvia e Montenegro – em plebiscito realizado em março de 1992, 96% dos votos haviam decidido permanecer na federação. O país passou a se chamar Sérvia e Montenegro.

Contudo, em 2006, os montenegrinos realizaram um novo plebiscito – desta vez aplicado apenas à população que habitava o seu território – e, embora com a vitória apertada, a decisão foi pela independência em relação à Sérvia. A tensão da situação gerou o medo de que houvesse um novo conflito nos Bálcãs – mas isso acabou não ocorrendo. Formalizou-se, então, em 2006, a independência da sexta república que integrava a antiga Iugoslávia.

50 Geopolítica

Apesar do aparente esforço pela paz, o povo na península está longe de viver com tranquilidade. Constantemente, representantes de um grupo étnico promovem depredações, saques e incêndios nas regiões habitadas pelo outro. O ressentimento dos muçulmanos, aprisionados em campos de concentração sérvios, dificilmente será apagado por acor-dos de paz. Infelizmente, na velocidade com que caminha a história, ainda há possibilidade de muitos outros conflitos.

O fim e a desintegração da URSS

Após analisar o que ocorreu nos principais países que compunham a chamada Europa Oriental socialis-ta, é importante retomar o que aconteceu à URSS após o anúncio, por Mikhail Gorbatchev, da intenção de pro-mover a perestroika e a glasnost. O processo planejado por ele era paulatino, seguro. Contudo, à medida que os anos passavam e pouco de concreto acontecia na URSS, emergiram duas forças políticas no PCUS: os conserva-dores (antiperestroikistas), contrários às mudanças, e os ultrarreformistas (chamados de ultraperestroikistas), defen-sores da aceleração nas mudanças.

Diante desse quadro, Gorbatchev se dividiu entre as concessões, ora feitas aos conservadores, ora feitas aos reformistas.

Na virada para a década de 1990, já com as mudanças nos países do bloco, emergiu o nome da principal liderança do grupo dos ultrarreformistas: tratava-se de Boris Yeltsin, presidente da Rússia – a maior e mais importante das repúbli-cas que integravam a URSS. De tendência populista, Yeltsin absorveu, em pouco tempo, toda a simpatia popular que havia sido concedida a Gorbatchev no início de seu governo, mas que agora dava lugar a uma frustração pela lentidão com a qual as mudanças anunciadas eram implementadas.

Os movimentos autonomistas eclodiam por toda a URSS e desarticulavam o poder central. Em 1991, numa atitude quase desesperada de reassumir o controle da situação, Gorbatchev enviou tropas à Lituânia para conter o separatismo. Yeltsin se posicionou claramente a favor dos movimentos e se transformou no maior adversário político de Gorbatchev.

Em agosto de 1991, as lideranças conservadoras do PCUS, tentando acabar com as mudanças e restabelecer a ordem, deram um Golpe de Estado e derrubaram Gorbatchev. Apro-veitando a situação, Yeltsin, até então o grande inimigo de Gorbatchev, saiu às ruas em sua defesa, denunciando o Golpe de Estado, e conseguiu esmagador apoio popular.

O golpe fracassou, a ala conservadora do PCUS foi desmora-lizada e Gorbatchev reassumiu o governo soviético – mas agora o homem forte do país era Boris Yeltsin, que adotou medidas que impulsionaram a desintegração da URSS: declarou a indepen-dência da Rússia, seguida quase simultaneamente pelas outras repúblicas soviéticas que ainda não haviam se desmembrado (as repúblicas bálticas – Estônia, Lituânia e Letônia haviam sido as

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GEOGRAFIA

primeiras), e incorporou o controle sobre todos os meios produtivos situados em seu território, bem como sobre o Exército Verme-lho (agora transformado em exército russo) e seus armamentos. Também extinguiu o Partido Comunista, proibindo-o de atuar politicamente na Rússia. No Natal de 1991, Mikhail Gorbatchev anunciou sua renúncia ao cargo de presidente da URSS.

Boris Yeltsin proclamava a criação da CEI (Comunidade de Estados Independentes), reunindo a maioria das ex-re-públicas, agora autônomas. Nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, a maioria dos atletas da ex-URSS competiu ainda reunida sob a bandeira da CEI. No entanto, com o passar dos anos, cada país seguiu seus próprios projetos.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 78. Adaptação.

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Comunidade dos Estados Independentes (CEI): 1993

O fim da URSS, no entanto, embora tenha sido intensa-mente celebrado no bloco sob influência estadunidense, que proclamou a “vitória na Guerra Fria” – o que é polêmico, já que a URSS desmembrou-se muito mais por seus próprios equívocos internos do que pela ação do bloco rival –, gerou situações de extrema e duradoura crise na maioria das ex--repúblicas – em especial na Rússia de Yeltsin.

No período stalinista (1924-1953), os russos foram distri-buídos pelas outras 14 repúblicas num projeto geopolítico de sedimentação do controle soviético por Moscou, ao mesmo tempo que populações inteiras eram deslocadas para lugares distantes aos de sua origem.

Com o fim da URSS, as minorias russas que estavam em cada república recém-independente se opunham à indepen-dência e representavam uma possibilidade de conflito.

Três são os estopins de conflitos que envolvem as minorias russas: elas são, em geral, discriminadas (pagando hoje pelos séculos de imperialismo conduzido por seus ancestrais) – nos Estados bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia), por exemplo, os descendentes russos não têm direito ao voto –; tendem a ser separatistas em alguns Estados (Geórgia, Moldávia e, particularmente, na Ucrânia, onde constituem a maioria da população na porção oriental desse extenso país); e repre-sentam minoria religiosa (cristãos ortodoxos) nos Estados muçulmanos da Ásia Central.

Há também diversos conflitos separatistas dentro da atual Rússia, que contém 21 Estados ou Repúblicas. O mais emblemático e violento é o que ocorre na Chechênia.

Em 1994, Boris Yeltsin – presidente russo, eleito ainda sob a existência da URSS –, ordenou a invasão da região separatista da Chechênia (localizada no Cáucaso, entre os mares Negro e Cáspio), destruiu a capital Grozny e causou a morte de milhares de nacionalistas.

Os chechenos têm profundos ressentimentos dos russos. Calcula-se que cerca de 80 mil civis – 40% deles crianças – morreram na primeira guerra da Chechênia, entre 1994 e 1996.

Sob a liderança de Djokhar Dudaiev e com a intenção de criar um Estado islâmico, os chechenos haviam declarado sua independência em 1991 – durante a crise de agosto (quando Gorbatchev foi golpeado e depois recolocado no cargo). No entanto, não conseguiram formalizar sua inde-pendência como as demais 15 repúblicas que se separaram da URSS. Entre 1994 e 1996, lutaram contra as tropas de Yeltsin e, a muito custo, conseguiram expulsá-las do país, que viveu autonomamente por alguns anos – mesmo não sendo reconhecido como independente pela comunidade internacional.

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A ação das forças de

segurança ocorreu no dia da festa de início do

ano letivo, e os reféns ficaram

presos por dias num ginásio de

esportes sob temperaturas de mais de 40

graus, sem água ou comida

suficiente.

Vladimir Putin é o “homem forte” da Rússia pós-URSS. Ele assumiu o poder como primeiro-ministro do presidente afastado Boris Yeltsin em 1999. Desde então, se mantém como grande líder político do país, tendo sido eleito nas eleições de 2000 e reeleito em 2004. Em 2008, como não podia concorrer a um terceiro mandato seguido, indicou e elegeu seu protegido Dmitry Medvedev para a presidência, mas recriou para si o cargo de “primeiro-ministro” e continuou comandando o país. Em 2012, novamente concorreu à presidência e voltou a ser eleito, mesmo sob denúncias de fraude na votação.

O presidente russo, Vladimir Putin, em discurso em Bruxelas – Bélgica, 2012O presidente russo, Vladimir Putin, em discurso em Bruxelas – Bélgica, 2012O presidente russo, Vladimir Putin, em discurso em Bruxelas – Bélgica, 2012

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52 Geopolítica

Yeltsin governou até 1999, quando teve que se afastar devido à cirrose hepática (faleceu em 2007). Quem passou a comandar a Rússia, inicialmente como primeiro-ministro e depois como presidente eleito, foi um político linha-dura, ex-integrante da KGB (a polícia política da antiga URSS): Vladimir Putin, que prometera ainda em campanha que res-tabeleceria a ordem na província rebelde.

Ainda naquele ano, Putin deu início a uma nova ofensiva, uma operação antiterrorista parcialmente desencadeada por uma onda de atentados contra apartamentos em Moscou e em outras partes da Rússia. Putin atribuiu os ataques a rebeldes chechenos.

Nem a assinatura de um acordo que concedia mais au-tonomia à república rebelde, em 1996, interrompeu a onda de violência. Separatistas islâmicos passaram a intensificar atentados contra alvos russos.

Em agosto de 1999, os separatistas chechenos invadiram o vizinho Daguestão, para incentivar a criação de um Estado islâmico também nessa região e pressionar Moscou. Putin, então, ordenou o envio de tropas para a região e expulsou os rebeldes para a Chechênia. O novo conflito se alastrou na região, com a destruição de Grozny (capital chechena) e a im-posição violenta do poder russo sobre a população chechena. Entre as ações do governo e os atentados promovidos pelos separatistas, o conflito produziu mais de 180 mil refugiados, além de centenas de mortos.

Reprimidos em seu território, os guerrilheiros chechenos contra-atacaram utilizando o terrorismo. Em outubro de 2002, 50 rebeldes chechenos invadiram um teatro em Moscou e fizeram cerca de 800 reféns. A polêmica operação de resgate, autorizada pelo presidente russo, resultou na morte de todos os rebeldes e de 120 reféns.

Em setembro de 2004, dias depois das suspeitas eleições para a presidência da Chechênia (que elegeram um candidato apoiado por Putin), ocorreu a mais trágica demonstração de barbárie nesse cenário: rebeldes chechenos tomaram uma escola em Beslan na Ossétia do Norte (outra repúbli-ca russa no Cáucaso, vizinha à Chechênia). A desastrada

ação das forças de segurança da Rússia para libertar mais de mil re-féns, entre estudantes, familiares e professores, mantidos pelos extremis-tas, resultou na morte de cerca de 400 pessoas – a maioria crianças.

Ao golpear energicamente o se-paratismo islâmico, Putin reafirma a hegemonia russa sobre as imensas reservas minerais e petrolíferas da margem ocidental do Cáspio, embo-ra tenha saído do episódio com sua imagem duramente abalada perante a opinião pública russa e internacional.

Desde 1999, mais de 14 mil rebeldes chechenos e 5 mil militares russos morreram no conflito separatista – um dos mais sangrentos da atualidade.

Durante as Olimpíadas de 2008, em Pequim, o exército da Geórgia (república da ex-URSS) fez uma intervenção na sua região separatista da Ossétia do Sul (fronteira com a Ossétia do Norte). A pretensão georgiana era a de impedir a evolução do processo de independência dessa região, que tem status de autonomia limitada desde o fim da URSS e é habitada em sua maioria por descendentes russos. Rapidamente, o exército russo invadiu o território georgiano, causando outro grave incidente internacional na região.

Em agosto, em represália, o presidente russo Dmitry Medvedev, sucessor de Putin, anunciou o reconhecimento dos pedidos de independência da Ossétia do Sul e da Abcácia (outra região separatista de maioria russa dentro da Geórgia). Nenhum outro país acompanhou a Rússia nessa decisão.

Apesar dos protestos do governo georgiano, a Rússia mantem até hoje um contingente de tropas nas repúblicas separatistas georgianas, embora já tenha se retirado dos demais territórios ocupados.

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Ensino Médio | Modular 53

GEOGRAFIA

1. (UNIMAR – SP) Quando foi escolhido para ocu-par o mais alto cargo na estrutura política e go-vernamental da ex-União Soviética, em 1985, Gorbatchev e sua equipe anunciaram, para a na-ção e para o mundo, que os planos de seu go-verno teriam por base reformas: a(o) ______ (a reconstrução na economia) e a(o) ______ (a aber-tura ou transparência política).

Essas reformas foram respectivamente chama-das de:a) Kolklhoze e Sovkhoze;b) Sovkhoze e Kolkhoze;c) Bolchevique e Menchevique; d) Perestroika e glasnost;e) Glasnost e perestroika.

2. (CEFET – PR) Em agosto de 1991, setores con-trários à liberação do regime soviético tentaram um golpe de Estado e Gorbatchev, que se en-contrava em férias com a família na Crimeia, foi colocado sob prisão domiciliar. Em Moscou, a resistência aos golpistas foi liderada por:a) Guennadi Yanayev; b) Alexandre Dubcek;c) Vicktor Chernomirdin; d) Alexander Lebed; e) Boris Yeltsin.

3. (UFRGS – RS) Considere as seguintes afirmações, relativas à região do Cáucaso onde recentemen-te, em 2009, houve um conflito militar.

I. A invasão da Ossétia do Sul pela Geórgia le-vou a uma resposta imediata da Rússia, devi-do à posição pró-Estados Unidos e pró-OTAN do governo georgiano.

II. A Geórgia é um dos principais fornecedores de petróleo para a Rússia.

III. O território da Geórgia é atravessado por um importante oleoduto.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e III.

4. (UNICAMP – SP) “Na Iugoslávia, havia seis repú-blicas, cinco povos, quatro idiomas, três religiões, dois alfabetos e um partido – o comunista”.

(Norman Stone, Folha de S.Paulo, 11/8/1992)

Usando os seus conhecimentos sobre os conflitos na região dos Bálcãs, explique como foi possível existir a unidade iugoslava, entre 1941 e 1989, apesar das diversidades apontadas no texto acima.

5. (UNESP) A divisão territorial da ex-Iugoslávia ori-ginou seis novos países. Assinale a alternativa que contém o nome desses países e sua localiza-ção geográfica.

a) República Tcheca, Eslovênia, Macedônia, Cro-ácia, Sérvia, Montenegro; Europa do Sul.

b) Albânia, Macedônia, Bósnia, Croácia, Sérvia, Montenegro; Europa Ocidental.

c) Romênia, Croácia, Eslovênia, Bósnia, Sérvia, Montenegro; Europa do Norte.

d) Bósnia, Macedônia, Croácia, Eslovênia, Sérvia, Montenegro; Europa Oriental.

e) Bulgária, Bósnia, Eslovênia, Macedônia, Sér-via, Montenegro; Europa Mediterrânea.

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Oriente Médio5

Principais

conflitos

no Oriente

Médio

@GEO405

Geopolítica54

A região em questão, desde remotos tempos, caracteriza-se por ser estratégica. É próxima dos limites entre três continentes (Europa, Ásia e África), portanto, um local de passagem – o que facilitou a difusão das atividades ligadas ao comércio, tradicionais para os diversos povos que ali habitam. É de difícil ocupação, em virtude de fatores como as características do relevo e dos climas áridos e semiáridos, e tem grandes reservas de petróleo – o que afetou profundamente as relações geopolíticas na região a partir do século XX. Possui, por conta dos inúmeros povos que por lá andaram, uma imensa diversidade étnico-cultural, com destaque para o aspecto religioso, reunindo locais sagrados para três importantes religiões monoteístas da humanidade: judaísmo, cristianismo e islamismo.

O que chamaremos de Oriente Médio, pela lógica geopolítica, será uma vasta região com conflitos interligados, sem limites tão precisos, podendo se estender desde o norte da África até o Afeganistão e Paquistão, cuja maior parte foi dominada por séculos pelo Império Turco-Otomano e posteriormente sofreu a dominação anglo-francesa.

O Oriente Médio é abordado com frequência nos noticiários e jornais. Por se tratar historicamente de uma região estratégica, é comum que determinadas situações e impasses que ocorrem em escala local se transformem em questões internacionais. Muitas vezes, erroneamente, os conflitos no Oriente Médio são interpretados como disputas meramente religiosas, contudo, a questão é muito mais ampla.

A Questão Palestina

A formação do Estado de IsraelNo século XIX, iniciou-se um movimento internacional de criação de um Estado para o povo

judeu – disperso pelo mundo desde a sua expulsão da Palestina pelos romanos, no início da Era Cristã –, o movimento sionista. Por meio desse movimento, e com o financiamento de organizações judaicas, fluxos migratórios direcionaram-se à Palestina (o retorno à pátria). Há séculos, a região vinha sendo habitada também por povos de origem árabe.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Palestina, até então controlada pelo Império Turco-Otomano, passou ao controle britânico. Antes mesmo de acabar o conflito mundial, em 1917, o secretário dos Negócios Estrangeiros de Londres, Lord Balfour, anunciou a intenção de se criar, na Palestina, um lar nacional para o povo judeu, assegurando também os direitos civis e religiosos dos povos de origem não judaica. Em 1914, cerca de cem mil judeus imigrados já trabalhavam em colônias agrícolas na região. Mas somente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o enfraqueci-mento do Reino Unido somado à indignação internacional frente aos horrores sofridos pelos judeus na Alemanha nazista, é que o Estado para os judeus iria surgir de fato.

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Ensino Médio | Modular 55

GEOGRAFIA

Partilha da região da Palestina

Em 1946, a população estimada da Palestina era com-posta por 1 846 000 pessoas, divididas entre 1 203 000 ára-bes e 608 000 judeus. Cerca de 35 000 compunham outros grupos. Em 1947, com os votos soviético e estadunidense, a recém-criada ONU aprovou um plano de partilha da região da Palestina em dois Estados: um Estado com o nome de Palestina (que corresponderia a cerca de 43% da área total da Palestina), destinado aos árabes, e outro com o nome de Israel, destinado aos judeus (aproximadamente 57% da área total). Nesse plano, Jerusalém seria considerada uma cidade internacional, administrada pela ONU.

Apesar de aprovado, o mapa da partilha nunca foi concre-tizado. Em 14 de maio de 1948, quando o Reino Unido, que tinha o controle da região desde o final da Primeira Guerra, retirou-se – o que era previsto no acordo –, a Agência Judaica proclamou o Estado de Israel com configuração territorial abrangendo toda a Palestina. A insatisfação árabe que se seguiu levou ao início da Primeira Guerra Árabe-Israelense, co-nhecida como Guerra de Independência de Israel (1948-1949).

Guerra de Independência de Israel (1948-1949)

A guerra de Independência de Israel opôs os países árabes vizinhos da Palestina (Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Síria), que fundaram a Liga Árabe, ao recém-criado Estado de Israel.

Os palestinos perderam o território para Israel e para os árabes vizinhos. Com isso, as milícias israelenses aumentaram em 50% o território concedido originalmente ao povo judeu, com a total ocupação da Galileia, ao norte. Por sua vez, a Jordânia passou a controlar a Cisjordânia (lado ocidental do Rio Jordão), e o Egito, a Faixa de Gaza. Em julho de 1949, foi assinado um armistício entre Israel e Egito, Líbano, Síria e Jordânia.

Fonte: UNITED NATIONS – GENERAL ASSEMBLY. Plan of Partition with Economic Union. Disponível em: <http://domino.un.org/maps/m0103_1b.gif>. Acesso em: 6 abr. 2013. Adaptação.

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Plano de partilha da ONU (1947)

Quando, em 1947, a ONU aprovou a partilha da Palestina, a cidade de Jerusalém, localizada no interior da Cisjordânia, sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, teria administração internacional. Com o conflito de 1948-1949, a cidade foi dividida: a parte oriental ficou sob a administração jordaniana e a parte ocidental sob a administração israelense.

Guerra do Canal de Suez (1956)Em 1954, o general Gamal Abdel Nasser subiu ao poder no Egito e apresentou seu projeto unifica-

dor do povo árabe − pan-arabismo − e sua política nacionalista. Sob seu governo, o Egito objetivava atacar Israel.

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56 Geopolítica

A encaminhada vitória militar anglo-franco-israelense, porém, transformou-se em derrota diplomática com a intervenção da URSS, aliada egípcia, que ameaçou disparar mísseis estraté-gicos sobre Londres e Paris. As antigas potências colonialistas pediram a ajuda estadunidense. No entanto, em época de Guerra Fria, os EUA estavam visivelmente mais preocupados com a

invasão da URSS à Hungria, que ocorria simultaneamente. Além disso, obtiveram a garantia dos árabes de que o suprimento de petróleo através do canal seria mantido, conseguindo assim o apoio da comunidade internacional em relação à retirada das tropas do Canal. Assim, após uma semana de guerra, as ofensivas foram suspensas e as tropas se retiraram, o que permitiu a Nasser nacionalizar o Canal de Suez.

O Canal de Suez possui uma extensão de aproximadamente 193 km e uma largura mínima de 60 metros. Pode acomodar navios de até 210 000 toneladas. Não há eclusas interrompendo o tráfego nessa via de navegação.

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O pan-arabismo ratificava a oposição árabe ao Estado de Israel, pois, sob a liderança de Nasser, os árabes se uniriam contra o inimigo comum de seu povo. Em tempos de Guerra Fria, o Egito reforçava--se militarmente adquirindo armas da URSS. A influência soviética sobre Nasser e outros importantes líderes pan-arabistas fez com que fundamentos do socialismo fossem adaptados para a realidade do mundo islâmico. Isso, no entanto, exigia das lideranças do movimento nacionalista que mantivessem o caráter laico de seus países, que se orientavam pelo secularismo e não pela xariá (o código de leis religiosas adotado nas chamadas teocracias islâmicas). Tal posicionamento gerava relativa tensão interna com as lideranças religiosas, que, muitas vezes, faziam oposição aos presidentes pan-arabistas.

Percebendo a atmosfera em que se encontrava a região, Israel estabeleceu um acordo secreto com o Reino Unido e a França para atacar o Egito.

Ao colocar em prática seu projeto nacionalista, o presidente egípcio anunciou, em 1956, a constru-ção da represa de Assuã, para assegurar o fornecimento de energia ao Egito. Ele contava com apoio financeiro de Estados Unidos e Reino Unido, além do Banco Mundial. Contudo, divergências sobre os custos resultaram no cancelamento da ajuda financeira.

Em 1956, sob a alegação de que precisava de recursos para finalizar a construção de Assuã, Nasser nacionalizou o Canal de Suez – que une o Mar Vermelho ao Mar Mediter-râneo (rota tradicional do petróleo) –, cujos controladores eram França e Inglaterra. Esse foi o pretexto para as ações militares que se seguiram. Os israelenses invadiram o Sinai e forças anglo-francesas bombardearam a entrada do Canal (Port Said) e o Cairo.

A Guerra de Suez, ou Segunda Guerra Árabe-Israelense, ocorreu enquanto a Hungria era invadida pelas nações do Pacto de Varsóvia. A ampla cobertura da mídia à questão envolvendo o Canal de Suez ofuscou as coberturas relativas à opressão soviética contra os nacionalistas húngaros.

Guerra dos Seis Dias (1967)Entre as quatro guerras árabe-israelenses, uma das que melhor possibilita a compreensão das impli-

cações geopolíticas até hoje existentes na região é a terceira – também conhecida como Guerra dos Seis Dias. Com o sucesso de sua política nacionalista, Nasser logo pôde contar com outros países alinhados ao pan-arabismo. Formou, com a Síria (também aliada econômico-militar da URSS), com a Jordânia e com o Iraque, uma frente contra Israel. Com um contingente militar bastante superior ao de Israel, planejavam realizar um ataque maciço contra o inimigo, mas os planos foram descobertos pelo Mossad – o Serviço Secreto Israelense. Diante da descoberta, Israel se antecipou e promoveu um avassalador ataque aéreo na manhã de 5 de junho de 1967. Em seguida, a infantaria invadiu os países vizinhos e, em apenas seis dias de guerra, impuseram aos árabes uma humilhante derrota militar.

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GEOGRAFIA

Fonte: SMITH, Dan. O atlas do Oriente Médio: o mapeamento completo de todos os conflitos. São Paulo: Publifolha, 2008. Adaptação.

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Territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias

Israel ocupou a Península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjor-dânia e, ainda, as Colinas de Golan (que pertenciam à Síria). Com a ocupação da margem ocidental do Rio Jordão, Israel também ocupou o lado leste (árabe) de Jerusalém.

Após a derrota, Nasser chegou a anunciar sua renúncia, assumindo a responsabilidade pelo fracasso militar. Contudo, dado o apoio popular, permaneceu no poder até sua morte, três anos depois. A Guerra dos Seis Dias, porém, representou um duro golpe ao pan-arabismo. O nacionalismo secular árabe apenas recuperaria parte de seu prestígio com uma próxima geração de líderes, como Muamar Kadafi (Líbia), Hafez Al Assad (Síria), Saddam Hussein (Iraque) e Yasser Arafat (líder da Organização para a Libertação da Palestina – OLP).

Guerra do Yom Kippur (1973)Embora importantes implicações geopolíticas da questão

que envolve Israel e seus vizinhos árabes estejam relacionadas à Guerra dos Seis Dias, a Guerra do Yom Kippur foi um evento extremamente violento.

Com a morte de Nasser, em 1970, Anwar al-Sadat, seu vice--presidente, assumiu a presidência egípcia. Oficialmente, sua

política continuou nacionalista e, pretensamente, pan-arabista, apesar de não mais contar com o apoio jordaniano – com a derrota na Guerra dos Seis Dias, o Rei Hussein, da Jordânia, rompeu com o Egito e passou a adotar uma linha política de neutralidade, menos agressiva a Israel.

Em 1973, no dia do feriado religioso mais importante do povo judeu, o Yom Kippur (Dia do Perdão), Egito e Síria atacaram Israel.

O avanço árabe no início da guerra parecia ser um indi-cativo de que, dessa vez, Israel seria derrotado. As perdas israelenses chegaram a tal ponto que existem indícios de que Israel havia cogitado lançar uma bomba atômica caso não revertesse a situação em que se encontrava. Embora não declare oficialmente e nem seja signatário do Trata-do Internacional de Não Proliferação de Armas Nucleares, acredita-se que o país disponha de arsenal nuclear.

Contudo, as forças israelenses conseguiram bloquear o avanço árabe por terra e, ao final da guerra, os árabes não conseguiram retomar nenhum dos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias. Em vinte dias de guerra, foram mortas em torno de 15 mil pessoas.

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58 Geopolítica

Acordo de Camp DavidEm 1979, foi concluído em Camp David (EUA), o acor-

do que vinha secretamente sendo negociado entre o Egito (representado pelo seu presidente Anwar al-Sadat) e Israel (representado pelo seu primeiro-ministro, Menahem Begin). Mediado pelo então presidente estadunidense, Jimmy Carter, foi acordado que Israel devolvesse ao Egito a Península do Sinai, em troca do compromisso de não agressão egípcia a Israel. De fato, desde os anos 1970, o Egito transformou-se em um país cuja política externa tem sido marcada pela moderação e a não agressão.

O Sinai, uma região pobre em recursos naturais, sempre pertenceu ao Egito. Sua conquista por Israel, em 1967, ocorreu para que a região pudesse ser barganhada (por exemplo, em acordos de paz). O Acordo de Camp David pôs fim às guerras árabe-israelenses. Depois de quatro tentativas fracassadas, os árabes perceberam que a estratégia do enfrentamento militar não era a mais eficaz contra os israelenses.

A Faixa de Gaza e a Cisjordânia integravam o projeto geopolítico sionista, já que compunham territórios da Pa-lestina histórica (Terra Prometida). Essa foi a justificativa para, na década de 1970, Israel incentivar a instalação de colônias judaicas nas regiões – estimulando a imigração de judeus da Europa Central e da antiga URSS –, inclusive em Jerusalém Oriental. Essa prática, embora considerada ilegal pela legislação internacional (que proíbe a colonização de territórios ocupados em guerras), evidenciou a pretensão das lideranças mais conservadoras israelenses de não devolver as regiões aos palestinos. Por outro lado, as Colinas de Golan, ter-ritório perdido pela Síria em 1967, têm importância estratégica para Israel. Elas permitem um posicionamento geográfico e militar estratégico para as tropas israelenses e contam com importantes nascentes de água da região.

A Primeira IntifadaEm 1987, ocorreu na região da Palestina um evento co-

nhecido como a Primeira Intifada. Armados com paus, pedras e coquetéis molotov, palestinos de todas as idades atacavam corajosamente os soldados israelenses. As imagens desse conflito logo ganharam o mundo, chamando a atenção para a situação socioeconômica palestina e criando embaraços ao governo de Israel. Aos poucos, os palestinos perceberam que as imagens do desequilíbrio de forças existente constituía uma estratégia bem mais eficaz do que as guerras.

Paralelamente a isso, movimentos organizados de re-sistência, alguns utilizando discursos religiosos, passaram a recrutar homens-bomba para se sacrificarem contra alvos israelenses – o que veio a legitimar a adoção de medidas severas por parte do governo de Israel para reprimir ter-

roristas palestinos. Ou seja: a última das grandes guerras árabe-israelenses pode ter acabado em 1973, mas a violência na região nunca cessou.

Acordos de pazEm 1992, o Partido Trabalhista de Yitzhak Rabin venceu

as eleições israelenses. Isso abriu portas para que se esta-belecesse um diálogo com Yasser Arafat, o líder da OLP que, a essa altura, esforçava-se para se afastar da imagem de guerrilheiro e passava a buscar soluções pela via diplomática e o apoio da comunidade internacional. As conversações de paz ocorreram em Oslo, capital na Noruega.

O Acordo de Oslo (1993) entre o primeiro-ministro de Israel (Yitzhak Rabin) e o líder da OLP (Yasser Arafat), as-sinado em Washington, foi possível por dois motivos: a derrota da direita israelense nas eleições (representada pelo partido Likud, de tendência conservadora e sionista), abrindo caminho para os negociadores do Partido Trabalhista, e o desgaste político de Arafat, depois do apoio a Saddam Hussein na Guerra do Golfo (1991). O histórico líder palestino foi obrigado a não mais mencionar a questão da negação do direito de Israel à existência. O Acordo de Oslo criou a Autoridade Nacional Palestina (ANP), cujo presidente era o próprio Arafat, responsável pela administração de partes da Cisjordânia e da faixa de Gaza.

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Em setembro de 1995, foi assinado o acordo conhecido como Oslo II, que prometia entregar à ANP o controle das grandes cidades árabes da Cisjordânia e, progressivamente, devolver aos palestinos a autonomia sobre uma expressiva parcela dos territórios ocupados em 1967. Apesar dos avanços do processo de paz, havia alguns impasses fundamentais (que até hoje persistem) como a retirada das colônias israelenses dos territórios ocupados, a partilha de Jerusalém (conside-rada capital para árabes palestinos e judeus) e o retorno dos refugiados palestinos.

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Fatah: organização político-militar

palestina fundada em 1959 e que, após

a criação da OLP, transformou-se em seu braço armado.

GEOGRAFIA

59Ensino Médio | Modular

As relações políticas entre israelenses e palestinos

O término da Primeira Guerra Árabe-Israelense promoveu profundas mudanças na organização territorial da população árabe na Palestina e nas relações políticas com o recém--criado Estado de Israel.

Em 1967, foi fundada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que negava a existência do Estado de Israel (esse reconhecimento só veio em 1993, com o Acordo de Oslo) e previa a construção de um Estado Palestino na Palestina histórica – nesse período, o território da Palestina histórica estava sob o controle egípcio (Faixa de Gaza), jordaniano (Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental) e israelense. Em 1967, após a Guerra dos Seis Dias, Israel passou a controlar todos esses territórios.

Em 1969, Yasser Arafat, até en-tão líder do Fatah, assumiu a direção da organização. Em 1974, a ONU re-conheceu a OLP como representante do povo palestino e concedeu-lhe o status de membro observador. Doze anos depois, em uma investida diplo-

mática, a OLP oficializou a sua mudança de objetivo. A intenção de destruir o Estado de Israel e a criação de um Estado Palestino na região foi substituída pela reivindicação da devolução da Faixa de Gaza e da Cisjordânia (originalmente concedidas aos palestinos em 1947, com o plano de partilha da ONU). A OLP abriu mão da Galileia, mas seguiu reivindicando o lado leste de Jerusalém como capital do futuro Estado Palestino.

A mudança de orientação da OLP desagradou aos setores mais radicais das lideranças palestinas. Além disso, a falta de resultados práticos das negociações abriu espaço para que movimentos mais radicais, de caráter religioso, como o Hamas (fundado em 1987), fossem conquistando cada vez mais simpatizantes. Essa organização se opôs ao posicio-namento da OLP no acordo de Oslo de 1993.

Cinco semanas depois da assinatura do chamado Acordo de Oslo II, Ytzhak Rabin foi assassinado por um fundamenta-lista judeu, que o acusava de traição. Em seu lugar, assumiu Shimon Peres, que, sob intensa turbulência política resultante da pressão dos radicais de ambos os lados, ainda tentou implementar os termos do acordo. No final de 1995, Peres cumpriu a entrega de cidades de maioria árabe na Cisjordânia (Jenin, Qalqilya, Tulkarm, Nablus, Ramallah e Belém).

As tentativas do sucessor de Rabin em manter o acordo de paz, porém, renderam-lhe uma derrota nas eleições para a

escolha do novo primeiro-ministro, em 1996. O Likud voltava ao poder, e o processo de paz naufragava.

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A Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, 2013A Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, 2013A Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, 2013

Em 2000, Ariel Sharon estava em campanha para se eleger primeiro-ministro israelense e visitou um dos lo-cais mais sagrados para os muçulmanos: a Esplanada das Mesquitas (local também sagrado para os judeus, que o denominam de Monte do Templo; os palestinos o chamam de Haram al-Sharif), na parte velha de Jerusalém Oriental. Sua visita gerou uma onda de protestos dos palestinos, o que levou à Segunda Intifada. Desta vez, ocorreram enfren-tamentos armados e atentados suicidas, inclusive dentro dos territórios de Israel. De certa forma, Sharon foi bene-ficiado, pois sua imagem era relativamente relacionada, pelos israelenses, à garantia da segurança nacional. Em 2001, Sharon foi eleito primeiro-ministro de Israel.

É importante perceber o quanto a dinâmica da política interna do Estado de Israel é determinante para a evo-lução das relações estabelecidas na Palestina. Quando Israel está sendo governado pelo Partido Trabalhista, em geral, o diálogo é mais aberto. O contrário geralmente ocorre quando os conservadores do Likud estão no po-der. Após 2005, uma dissidência do Likud formou outro partido conservador, o Kadima.

Foi no governo Sharon que Israel começou a levantar um polêmico muro de proteção – conhecido como o Muro da Cisjordânia –, destinado a impedir, por exemplo, ataques de homens-bomba palestinos. A ideia de construir um muro surgiu após a explosão da Segunda Intifada. A construção suscitou, desde o início, tensões políticas internas e muitas críticas palestinas e da comunidade internacional.

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60 Geopolítica

Em 2004, Ariel Sharon deu outro passo decisivo para a implementação de seu projeto geopolítico: conseguiu aprovar no Parlamento (Knesset) a retirada de sete mil colonos judeus da Faixa de Gaza. Contudo, paralelamente eram instaladas novas colônias na Cisjordânia, cujas me-lhores e mais ricas terras passavam definitivamente para controle israelense por meio da construção do muro. Além disso, a Faixa de Gaza, cuja fronteira era controlada por Israel, jamais seria, de fato, autônoma, pois os recursos de que necessita só chegam à região com a autorização de Israel. Portanto, a geopolítica de Sharon assegurava,

de certa forma, o controle de Israel sobre os palestinos naquela área.

Em 2004, aos 75 anos, faleceu o líder palestino Yasser Arafat. Ele acumulava os cargos de chefe da OLP (desde 1969) e de presidente da Autoridade Nacional Palestina (em 1996, fora reeleito com mais de 80% dos votos). Com a morte de Arafat, uma das figuras mais importantes da representação palestina passou a ser Mahmoud Abbas, um dos fundadores do Fatah (com Arafat) e presidente da Autoridade Nacional Palestina desde 2005. Contudo, ele não contava com o mes-mo carisma e autoridade de Arafat.

O Muro da Cisjordânia segue até hoje sendo construído, apesar dos protestos internacionais. Seu traçado vem sendo implementado não exatamente sobre a divisa territorial entre Israel e Cisjordânia, mas alguns quilômetros para dentro desta – o que, na prática, resulta em novas perdas territoriais aos palestinos. Além disso, está cercando algumas áreas de colônias judaicas e reservas aquíferas da região, colocando-as, dessa forma, do lado israelense.

Fonte: UNITED NATIONS – OFFICE FOR THE COORDINATION OF HUMANITARIAN AFFAIRS; WORLD HEALTH ORGANIZATION. Six Years After the International Court of Justice Advisory Opinion on the Barrier: The Impact of the Barrier on Health. Disponível em: <http://unispal.un.org/UNISPAL.NSF/0/2C565CF02FA191128525775900613966>. Acesso em: 9 abr. 2013. Adaptação.

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O Muro da Cisjordânia (2010)

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Ensino Médio | Modular 61

GEOGRAFIA

Em Israel, Ariel Sharon saiu de cena: ele sofreu um der-rame em 2006 e desde então está em estado de coma. No entanto, o partido que ajudou a fundar – o Kadima – segue influente. Embora seja do Likud, atualmente, um dos políticos israelenses mais importantes − o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O vácuo de poder deixado pela ausência de Arafat abriu ainda mais espaço para o fortalecimento de diversos grupos fundamentalistas que utilizam o terrorismo como principal arma contra a ocupação israelense. Entre eles, quem obteve maior destaque e vem crescendo a cada dia é o Hamas.

Em 2006, o Hamas (que também possui seu braço políti-co) ganhou as eleições legislativas palestinas. Tal situação produziu um impasse institucional, já que o governo de Israel, apoiado pelos EUA, anunciou que não reconhecia e nem negociaria com o governo do Hamas, e só aceitava dialogar com a ANP, de Mahmoud Abbas. Podemos observar uma clara divisão territorial de poderes: o Hamas controla a Faixa de Gaza, ao passo que a ANP ainda mantém suas principais bases de apoio na Cisjordânia.

Os primeiros anos do século XXI foram marcados por diversos confrontos. Em 2006, houve um forte enfrentamento militar entre Israel e a milícia libanesa xiita e pró-palestina do Hezbollah, resultando em milhares de mortos. Em 2008 e 2012, ocorreram pesados bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza, buscando atingir alvos do Hamas. Em 2010, ao levar ajuda humanitária a Gaza – com representantes de entidades de direitos humanos de vários países, inclusive brasileiros – uma frota de navios turcos foi atacada em águas internacionais pela marinha israelense, resultando na morte de oito ativistas turcos e um estadunidense.

Atualmente, também existem preocupações de que Israel venha a se envolver (ou a ser envolvido) pelos conflitos e tensões que vêm sendo gerados desde a eclosão da cha-mada Primavera Árabe – especialmente no que se refere às mudanças de governo e à instabilidade política na Síria e no Egito ou ainda de um importante país islâmico do Oriente Médio, não árabe, mas muito forte: o Irã.

Turbulência nas nações islâmicas não árabes do Oriente Médio

Irã e AfeganistãoO ano de 1979 tornou-se emblemático para a complexa

geopolítica do Oriente Médio. Além da assinatura do Acordo de Camp David, outros três episódios – todos relacionados

ao contexto da Guerra Fria – marcaram o mundo islâmico: no Iraque, Saddam Hussein assumiu o poder por meio de um golpe de Estado; no Irã, o xá Reza Pahlevi, aliado dos EUA, foi deposto por uma revolução popular liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini; no Afeganistão, tropas soviéticas invadiram o país.

A Revolução Islâmica do Irã promoveu profundas transfor-mações nesse país de origem persa (portanto, não integrante do chamado mundo árabe). Segundo maior em extensão (1,6 milhão de km²) e o mais populoso do Oriente Médio (aproximadamente 74 milhões de habitantes), o Irã herdou seu território do antigo Império Persa, tendo escapado do neocolonialismo europeu. Ao lado de Iraque, Barein, Azerbai-jão e, possivelmente, Iêmen, corresponde a um país islâmico com a maioria da população formada por xiitas.

Os xiitas representam aproximadamente 10% a 15% da comunidade islâmica mundial. Ao contrário dos su-nitas, não seguem a Suna, que apresenta os princípios que partem dos ditos de Maomé (os hadith) e defendem que a legitimidade para a interpretação das palavras do profeta é, exclusivamente, de seus legítimos herdeiros consanguíneos (os sunitas acreditam que o consenso da comunidade para tal escolha é suficiente).

A forte rivalidade entre sunitas e xiitas remonta ao momento em que se deu a cisão, poucas décadas após a morte de Maomé, no ano 632 d.C. No mundo ocidental, é comum estereotipar os xiitas como extremistas, e os sunitas, como moderados. Entretanto, existem extre-mistas fundamentalistas e moderados entre ambos os grupos – assim como em qualquer outra religião. Como exemplo, cabe lembrar que a rede Al Qaeda, em que um de seus maiores líderes foi Osama bin Laden, é operada basicamente por fundamentalistas sunitas, e não xiitas.

O Irã, antes de 1979, possuía uma ditadura ocidentalizada. A família real do xá Reza Pahlevi esbanjava a rique-za obtida pela exportação de petróleo, principalmente para EUA e Europa. Opondo-se ao alinhamento com o Ocidente e aproveitando a condição social de parte da população do país, lideranças religiosas foram cada vez mais conquistando apoio popular para a revolução. Havia, também, outros grupos revolucioná-rios, como os de tendência marxista. Eles colaboraram para a derrubada do governo, em abril de 1979, mas logo ficou claro que o grupo ligado aos mais importantes clérigos xiitas – os aiatolás – mostrava-se mais organizado e, sob a liderança do Aiatolá Khomeini, assumiu o poder, instalando no Irã uma República Teocrática. Embora esse episódio tenha ocorrido em plena Guerra Fria, não apresentou caráter socialista – o

Invasão da

embaixada

dos Estados

Unidos no Irã

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62 Geopolítica

alinhamento contra os EUA ocorrido logo após esteve mais associado à oposição ao governante derrubado, que era um importante parceiro dos EUA.

Percebendo a alteração do cenário geopolítico iraniano, os EUA acreditavam na possibilidade de uma ameaça ex-pansionista xiita, representada pelo Irã. Assim, manobraram estrategicamente e conseguiram atrair para si o Iraque. Esse país, embora religiosamente também tenha a maior parte de sua população xiita, etnicamente, ao contrário do Irã, é um país de maioria árabe. Os EUA buscavam uma liderança secu-lar, ambiciosa e influenciável, que fosse, contudo, da facção sunita (minoritária no país). Encontraram tais características em Saddam Hussein. Com um golpe de Estado, ele foi alçado ao poder em 1979, contando com apoio bélico e logístico dos EUA para impedir que seu país caísse nas mãos dos aiatolás. Ao mesmo tempo, os EUA garantiam, dessa forma, o afastamento do Iraque, pelo menos temporariamente, de possíveis investidas lançadas contra Israel.

Em 1980, iniciou a Guerra Irã-Iraque, que se estendeu até 1988, sem vencedores, mas com o saldo de um milhão de mortos, de ambos os lados. O Iraque contou com o apoio dos EUA, enquanto o Irã obteve o apoio explícito da China e da Síria, e implícito da URSS, mesmo nunca tendo sido muito próximo de Moscou − contudo, esse foi mais um episódio que evidenciou o contexto bipolar da Guerra Fria.

No vizinho Afeganistão, um golpe liderado por marxistas, em 1973, havia deposto o xá Muhammad Zahir, causando forte oposição por parte dos muçulmanos conservadores. O país foi invadido pela URSS em 1978, pois era considerado uma região estratégica – ainda mais depois da Revolução Islâmica do Irã (o pretexto havia sido a morte de 50 conse-lheiros russos no país). Depois da invasão soviética, os EUA, que acabavam de perder uma área de influência no Irã, pas-saram a financiar, por intermédio da Agência de Inteligência Estadunidense (CIA), os opositores do regime estabelecido no Afeganistão (ou seja, opositores à URSS): os mujahidins.

Entre 1979 e 1988 (ano em que o presidente da URSS, Mikhail Gorbatchev, anunciou a retirada das tropas soviéticas), cinco milhões de afegãos já haviam fugido do país. Mesmo com esse cenário, ainda assim difundiam-se discursos ortodoxos das escolas islâmicas tradicionais, conhecidas como madrasas. Foram nelas que se formou um grupo extremista conhecido como Taleban. Composto por muçulmanos sunitas, opunha-se aos muçulmanos xiitas do Irã e via a URSS como um grande inimigo a ser combatido, utilizando táticas de guerrilha.

Depois da retirada soviética, em 1989, e das disputas pelo poder no Afeganistão que se seguiram, em 1996 o Taleban conquistou definitivamente o poder no país. O governo fun-damentalista adotou diversas medidas, como a destruição de monumentos históricos de outras religiões (estátuas de Buda e templos, por exemplo), restrições aos direitos das mulheres e a censura de livros e músicas.

Durante a invasão soviética, um milionário saudita cha-mado Osama bin Laden, com suposta ajuda dos EUA, apoiou a luta dos mujahidins contra a URSS e organizou a rede Al Qaeda, que apresentava uma estrutura desmembrada em células semiautônomas.

Quando ocorreram os atentados de 11 de setembro de 2001, que atingiram as Torres Gêmeas e o Pentágono nos EUA, a Al Qaeda já havia realizado diversos outros atentados contra alvos americanos em outros países.

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após os ataques aéreos promovidos pela Al Qaeda –Nova Iorque, EUA, 11 de setembro de 2001

Prédio do complexo do World Trade Center em chamas Prédio do complexo do World Trade Center em chamas Prédio do complexo do World Trade Center em chamasapós os ataques aéreos promovidos pela Al Qaeda –após os ataques aéreos promovidos pela Al Qaeda – Nova Iorque, EUA, 11 de setembro de 2001Nova Iorque, EUA, 11 de setembro de 2001

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Mujahidins a postos para combaterem tropas soviéticas em Herat – Afeganistão, 1980

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Ensino Médio | Modular 63

GEOGRAFIA

Após o 11 de setembro, com o pre-sidente George W. Bush declarando sua Guerra ao Terror, era urgente dar uma satisfação à opinião pública. Como os

talebans protegiam a Al Qaeda e Osama bin Laden, o Afe-ganistão foi invadido pelos EUA. Os bombardeios, ainda em 2001, causaram a dissolução do Taleban, embora o grupo atue até hoje sob a forma de guerrilha.

Em 2011, o governo dos Estados Unidos, sob a presi-dência de Barack Obama, conseguiu um de seus maiores trunfos contra a Al Qaeda: o esconderijo de Osama bin Laden foi descoberto no Paquistão e o terrorista foi exe-cutado em uma rápida ação militar.

Mais de dois mil soldados estadunidenses já perde-ram a vida na Guerra do Afeganistão, iniciada em 2001. O número de mortos afegãos é, aproximadamente, dez vezes maior.

Outro problema que se acentuou no cenário geopolítico do Oriente Médio para os Estados Unidos diz respeito ao pro-grama nuclear do Irã. O país acelerou o processo que já vinha desenvolvendo para enriquecimento de urânio. Segundo o governo iraniano, o projeto nuclear teria fins exclusivamente de geração de energia, mas há fortes indícios de que o país queira se armar com bombas atômicas.

Um dos fatores que agravou a tensão nas relações geopolíticas do Irã com EUA e Israel foi a ascensão ao poder iraniano do presidente Mahmoud Ahmadinejad em 2005, representando a ala mais conservadora e radical do país. O governante frequentemente desfere declarações provocativas contra seus governantes inimigos. Atual-mente, a maior ameaça contra o Irã vem de Israel, cujo governo já insinuou que não permitirá que os iranianos levem em frente seu projeto nuclear.

A questão dos curdosOs curdos são a maior nação sem estado do planeta. Os

números não são precisos, mas há indícios da presença de um número entre 30 e 40 milhões de indivíduos dessa etnia, vivendo como minorias espalhadas em cinco países do Orien-te Médio: Turquia (onde vive aproximadamente a metade da comunidade curda), Síria, Irã, Iraque e Azerbaijão. Parte do território habitado por eles é rico em petróleo (se o Curdis-tão fosse independente, seria um dos maiores produtores mundiais) –, o que dificulta seu projeto de independência.

Fonte: LIBRARY OF CONGRESS. The Kurdish lands. Disponível em: <http://memory.loc.gov/cgi-bin/image-services/jp2.py?data=/home/www/data/gmd/gmd7/g7611/g7611e/ct000930.jp2&res=2>. Acesso em: 13 set. 2012. Adaptação.

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Terras curdas

Sua cultura está intimamente ligada às práticas do pasto-reio seminômade – uma vida simples na sociedade estruturada em clãs. Não há uma liderança única curda que consiga con-centrar e organizar a luta pela independência. Historicamente, eles enfrentaram alternâncias de maior ou menor perseguição política e cultural nos países onde habitam.

No entanto, nas terras orientais da Turquia, onde vivem perto de 20 milhões de curdos, o contexto da Guerra Fria contribuiu para que surgisse o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Trata-se de uma guerrilha socialista, liderada por Abdullah Ocalan, a qual recebeu apoio da URSS para se fortalecer e lutar contra o governo turco, que era integrante da Otan e um grande aliado dos EUA na Guerra Fria. Seu líder foi preso pelos turcos em 1999. Os guerrilheiros do PKK, no entanto, continuam suas ações pela independência.

O grande receio dos outros países que possuem minorias cur-das é que a luta do PKK atravesse as fronteiras e provoque uma rebelião mais ampla, ameaçando suas estabilidades políticas.

A Turquia, cuja maior ambição geopolítica atualmente está em conseguir vencer as resistências das autoridades europeias e ingressar na União Europeia, teme perder o con-trole sobre a rica região habitada pelos curdos. O país vem sendo governado, desde 2007, por Abdullah Gül, um político ligado aos partidos islâmicos. Tal aproximação preocupa diversos grupos, que temem, dessa forma, o afastamento do caráter laico da Turquia, o que viria a comprometer seus planos de adesão à União Europeia.

A guerra no

Afeganistão

e o Talibã

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64 Geopolítica

As guerras no Iraque e no Líbano

Guerra do Golfo (1991) e Guerra do Iraque (2003)

Em 1990, no comando de um país belicamente muito fortalecido pelas armas obtidas da URSS (até 1979) e dos EUA (pós-1979), Saddam Hussein invadiu o Kuwait, com ar-gumentos ligados ao preço, às cotas de produção do petróleo (ambos os países são membros da Opep) e à antiga unifica-

ção territorial entre os dois países na região. Tomar o controle das reservas petrolíferas do Kuwait também era uma forma de o Iraque se recompor finan-ceiramente dos gastos causados pela guerra com o Irã (1980-1988).

A reação da comunidade internacional contra o Iraque foi rápida. Liga Árabe, ONU e Estados Unidos prontamente se opuseram ao ato de Saddam Hussein. Os EUA formaram uma coalizão internacional – que incluía até alguns países árabes preocupados com o poder crescente e as ambições territoriais de Saddam – e intervieram militarmente com o argumento de defender a liberdade do povo kuwaitiano.

Durante o confronto, o Iraque lançou mísseis contra cidades de Israel, com o pretexto de defender a causa palestina. Porém, com isso, esperava um contra-ataque israelense que obrigasse os árabes a ficarem ao seu lado. O contra-ataque não veio (ou seja: não se configurou o conflito árabe-israelense, como queria Saddam) por parte de Israel, mas, sim, das forças de coalizão.

Também foram desferidos novos e violentos ataques con-tra as populações curdas do norte do país, utilizando armas químicas adquiridas dos EUA durante a guerra contra o Irã. Saddam acusava os curdos de traição, por darem apoio ao inimigo. Acredita-se que o número de vítimas desses ataques tenha sido algo em torno de 200 mil curdos.

Mesmo com o fim da guerra, a vitória dos EUA e a liber-tação do Kuwait, Saddam Hussein conservou o poder até 2003. Durante esse período, o Iraque sofreu a imposição de um severo bloqueio econômico que, segundo depoimentos de entidades de direitos humanos que lá atuaram, produziu mais baixas no país do que a própria guerra em si. Milhares de crianças, por exemplo, morreram de doenças simples como a gripe ou o sarampo, pelo fato de o país não conseguir ter acesso a medicamentos básicos. Os EUA usaram a mídia internacional para promover uma ampla campanha contra o regime de Saddam, a qual foi intensificada depois dos atentados de 11 de setembro de 2011.

Decididos a aproveitar o momento de tensão geopolí-tica para derrubar o ditador iraquiano e ter livre acesso ao petróleo do país, os EUA iniciaram uma nova guerra contra o Iraque, dessa vez unilateralmente, sem o apoio da ONU e não respaldados no direito internacional. O argumento usado foi o de que Saddam Hussein teria vínculos com a Al Qaeda e estaria desenvolvendo armas de destruição em massa, o que não foi comprovado posteriormente.

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Estátua de Saddam Hussein é derrubada pelas tropasEstátua de Saddam Hussein é derrubada pelas tropasestadunidenses em Bagdá, capital do Iraque, em 2003estadunidenses em Bagdá, capital do Iraque, em 2003

Durante a Guerra do Golfo, um dos episódios mais dramáticos ocorreu quando as tropas de Saddam Hussein atearam fogo aos campos petrolíferos kuwaitianos e derramaram milhões de litros de petróleo no mar, enquanto batiam em retirada. O controle dos incêndios demandou uma operação logística extremamente difícil e o prejuízo ambiental gerado foi incalculável.

Campos petrolíferos incendiados nos arredores da Cidade do Kuwait, Campos petrolíferos incendiados nos arredores da Cidade do Kuwait,capital do país de mesmo nome, em 1991capital do país de mesmo nome, em 1991

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A Primeira

Guerra

do Golfo:

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Kuwait pelo

Iraque

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GEOGRAFIA

65Ensino Médio | Modular

Derrotado e destituído logo no início da ofensiva (2003), Saddam ficou anos escondido, sendo, enfim, descoberto, cap-turado, julgado por um tribunal especial e executado durante o governo interino estabelecido no país, em 2006. Apesar da retirada da maioria das tropas estadunidenses, o país vive um cenário de guerra civil.

Atualmente, o futuro do Iraque é incerto: os EUA temem entregar simplesmente o poder à maioria xiita, pois seria difícil, posteriormente, evitar que o país viesse a seguir os passos teocráticos do vizinho Irã. Quanto à minoria sunita, ela ainda carrega sua insatisfação pela destituição e morte de Saddam Hussein, seu grande líder. Nesse delicado equilíbrio de forças, o atual presidente do Iraque é um curdo, Jalal Talabani.

Guerra civil no LíbanoA luta das massas libanesas pela independência na-

cional (a região foi ocupada durante séculos pelo Império Turco-Otomano) é relativamente recente. Ainda durante a Primeira Guerra Mundial, França e Inglaterra decidiram repartir entre si o Oriente Médio por meio dos acordos de Sykes-Picot (1916), segundo seus próprios interesses, ao mesmo tempo que fragmentavam o território em diversos países, para minar o nacionalismo árabe. Embora tenha sido declarado uma república em 1926, quando uma constitui-ção lhe foi imposta pela França, o Líbano continuou sob o domínio francês, que controlava os assuntos exteriores e militares do país e introduziu um regime político baseado na representação das seitas religiosas, que se consolidou por meio do Pacto Nacional.

Em 1943, ano da independência do Líbano, um censo constatou uma maioria populacional de cristãos maronitas e, por isso, essa comunidade foi privilegiada na distribuição de poder do Pacto Nacional, gerando tensão em relação aos muçulmanos. Hoje, no entanto, a comunidade muçulmana representa praticamente 60% da população. A rivalidade entre

muçulmanos e cristãos, por si só, já gerava elevadas tensões internas no país; contudo, os caminhos políticos do início da década de 1970 conseguiram piorar a situação.

Em 1975, iniciou-se uma guerra civil entre muçulmanos e cristãos libaneses. No ano seguinte, a Síria entrou no conflito, sob o pretexto de atuar como uma força de paz. O grande projeto geopolítico pessoal de seu presidente, Hafez al-Assad, era corrigir o que considerava uma distorção gerada pelo imperialismo, quando ocorreu o desmembramento territorial − fazendo surgir o Líbano como um estado artificial, mas que, de fato, devia estar integrado à Síria. Os sírios, inicialmente, acreditaram que, ao se aproximarem da elite cristã, teriam maiores chances de concretizar a reunificação pretendida. O poder crescente da OLP no Líbano também incomodava a Síria, em função principalmente da desconfiança entre o presidente sírio e Yasser Arafat.

Em 1982, Israel (que já controlava militarmente algumas áreas do país) invadiu o Líbano. A essa altura, porém, a guerra tomava proporções bem mais complexas, com a atuação de diversas milícias maronitas, xiitas e sunitas, algumas orien-tadas por princípios religiosos e outras laicas. Além disso, o conflito se misturou à Questão da Palestina, pelo confronto explícito entre a OLP e Israel.

Os israelenses retiraram oficialmente suas tropas do sul do Líbano apenas em 2000. No entanto, voltaram a atacar violentamente o país em 2006 – segundo o seu governo, não se tratava de um ataque ao Líbano, mas, sim, ao Hezbollah (fundado por guardas revolucionários iranianos em 1982, como resposta à invasão israelense ao Líbano). A ação israelense, estrategicamente, foi deflagrada alguns meses após a retirada das tropas sírias do Líbano (2005). A Síria foi obrigada a se retirar após o polêmico assassinato do primeiro-ministro liba-nês, o milionário muçulmano sunita Rafic Hariri, num atentado a bomba. A Síria foi acusada de ter planejado o atentado e pressionada a retirar suas tropas do país.

A Primavera Árabe

Em dezembro de 2010, um jovem tunisiano, em praça pública, ateou fogo no próprio corpo para protestar contra as condições de vida no país em que vivia. Mal podia imaginar que, com seu sacri-fício, estaria desencadeando uma onda de rebeliões populares que se espalhou por diversos países árabes, culminando com a queda de diversos governos, e ficou conhecida como a Primavera Árabe (uma referência à Primavera de Praga, quando movimentos populares tchecoslovacos tentaram tirar o país da esfera de influência da URSS e do Partido Comunista tcheco, em maio de 1968).

Os principais

acontecimentos

da Primavera

Árabe

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66 Geopolítica

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 32. Adaptação.

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Principais países onde ocorreu a Primavera Árabe

No entanto, embora haja na Primavera Árabe alguns traços comuns – por exemplo, o uso das redes sociais como forma de organizar as mobilizações populares contra os regimes, além da busca por maior democracia, mais liberdade e melhores condições de inclusão social das expressivas camadas mais pobres –, é preciso estar atento ao fato de que o movimento esteve longe de ter um caráter homogêneo. Em cada país, tomou rumos específicos e desdobramentos peculiares. Um dos fatores mais importantes para as diferenças nos desdobramentos esteve associado ao fato de os países onde ocorriam os protestos estarem alinhados ou opostos aos interesses dos EUA na região.

Esse jogo de interesses que cercou os eventos da Primavera Árabe dificulta, inclusive, a definição segura de onde ocorreram, de fato, movimentos populares espontâneos, de caráter revolucionário, e de onde facções rivais foram insufladas e armadas para derrubar governos atendendo a interesses externos – neste caso, utilizando a mídia como propaganda e a população como massa de manobra e contando, inclusive, com o apoio explícito de milícias de mercenários nas ações militares. De um jeito ou de outro, significativas mudanças geopolíticas ocorreram em diversos países.

Tunísia – os protestos levaram à rápida queda do presidente Ben Ali em 2011, que estava no poder desde 1987. A Tunísia, no entanto, não é considerada um país central na geopolítica do Oriente Mé-dio, nem o ditador deposto se enquadrava entre as principais lideranças da região.

Egito – se a Tunísia não chamou muita atenção, o mesmo não se pode dizer do Egito – um dos países-chave do Oriente Médio, que vivia a ditadura pró-ocidental de Hosni Mubarak (que assumiu o poder 30 anos antes, após o assassinato de Anwar Sadat, em 1981). Os maciços protestos populares ocorridos por 18 dias seguidos na Praça Tahrir, no Cairo, e a consequente queda de Mubarak levaram a comunidade internacional a perceber o impacto das mudanças que esta-vam ocorrendo no Oriente Médio.Em janeiro de 2011, atos de protestos já eram registrados

também em Marrocos, Argélia, Jordânia e Mauritânia, além de ocorrerem com maior intensidade nos países listados a seguir.

Mubarak. Cairo, ito, 2011

A Praça Tahir foi palco de inúmeros protestosA Praça Tahir foi palco de inúmeros protestosda população egípcia, que exigia a renúncia deda população egípcia, que exigia a renúncia deMubarak. Cairo, Egito, 2011Mubarak. Cairo, Egito, 2011

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GEOGRAFIA

67Ensino Médio | Modular

Líbia: Muammar Kadafi, ao longo de seu governo de mais de 40 anos, tornou-se um dos mais controvertidos líderes pan-arabistas. Tendo assumido o poder por meio de um golpe de estado que instituiu um regime de tendência esquerdista e popular, tornou-se um dos maiores inimigos de Israel e dos EUA na região. Seu governo deu apoio explícito a grupos que praticavam atos terroristas contra israelenses – inclusive o grupo chamado de Setembro Negro, que invadiu a Vila Olímpica durante as Olimpíadas de Munique de 1972 e acabou por assassinar 11 atletas israelenses que tinham sido feitos reféns, em uma das páginas mais tristes da história dos Jogos Olímpicos. Sendo a Líbia um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, as excentricidades e polêmicas de Kadafi acabaram tendo que ser aceitas pelos países que dependiam do fornecimento desse recurso – em especial as po-tências europeias. Embora conduzindo rigidamente sua política externa, Kadafi contava com amplo apoio popular na Líbia – um país estruturado em clãs tribais. Isso era garantido pela condução de expressivas reformas de inclusão social, que levaram a Líbia a ser o segundo país com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da África em 2013 (atrás ape-nas da pequena ilha de Seychelles). Com tais características, apesar do explícito interesse estadunidense, sua queda não ocorreria facilmente. A Líbia acabou sendo o primeiro país em que a Primavera Árabe se transformou numa violenta guerra civil, que só foi decidida contra Kadafi pela intervenção direta das tropas da Otan. Mesmo assim, o governo Kadafi resistiu por seis meses, até que ele fosse destituído e sumariamente morto pelos rebeldes.

Iêmen: o ditador Ali Abdullah Saleh também era alinhado ao pan-arabismo e se aproximou da URSS durante a Guerra Fria – sendo, portanto, mais um desafeto dos EUA na região. Os pro-testos populares caminhavam para uma guerra civil, quando o ditador negociou a realização de eleições. Em novembro de 2011, ele deixou o poder, após 33 anos.

Arábia Saudita e Barein: a Arábia Saudita é o maior e mais importante aliado que os EUA possuem entre os países árabes. As íntimas relações entre a monarquia saudita e Washington explicam por que o maior país em extensão de todo o Oriente Médio − e o maior produtor de petróleo do planeta − nunca tenha se envolvido diretamente nos diversos conflitos que opunham as comunidades árabe ou muçulmana internacional a Israel ou aos interesses esta-dunidenses. Internamente, porém, trata-se de um dos países mais fechados da região: uma monarquia teocrática que aplica a xariá (a lei islâmica). Barein, Emirados Árabes Unidos e Catar são como pequenas extensões da estrutura saudita e também sustentam suas economias no petróleo. Quando ali eclodiram os protestos da Primavera Árabe, eles foram duramente reprimidos pelas forças armadas (o rei de Barein – um sunita que governa pela força um país de maioria xiita – chegou a pedir ajuda militar da Arábia Saudita para conter os protestos). O uso da força para conter os protestos não atraiu tanto a atenção dos EUA. As monarquias da Arábia Saudita e do Barein até agora não foram derrubadas na Primavera Árabe.

Síria: com históricos conflitos ocorridos entre o país e Israel e os interesses estadunidenses no Oriente Médio (e que se desenha desde o alinhamento pan-arabista ocorrido ainda na Guerra Fria), a Síria viu a Primavera Árabe em seu território transformar-se numa violenta guerra civil – similar ao que houve na Líbia. No entanto, o governo de Bashar al-Assad (filho de Hafez al-Assad), que governa o país desde o ano 2000, apesar da crescente perda de controle sobre o país, continuava, até meados de 2013, resistindo após diversas ondas de protestos e atuação militar de milícias armadas que empregavam todas as forças para derrubá-lo. A guerra civil da Síria se alastrou de modo tão perigoso que já criou episódios de tensão com a Turquia, tendo em vista a desestabilização das áreas ocupadas pelos curdos.

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Kadhafi, ex-

ditador da

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Conflito na

Síria: guerra

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68 Geopolítica

1. (PUCSP)

“Desde a ocupação de Jerusalém, em 1967, as autoridades israelenses confiscaram 84% das terras árabes e das propriedades da cidade”, di-zia o dirigente jordaniano. E acrescentava: “Se a tendência de confisco continuar, Jerusalém vai se transformar em breve em uma cidade totalmen-te judia. Em 1948, não mais de 4% das terras estavam nas mãos judias, enquanto outros es-trangeiros possuíam 2% e os muçulmanos 94%. A política de assentamento de colônias mudou o equilíbrio demográfico de Jerusalém e atualmen-te a cidade tem trezentos mil judeus e apenas cem mil árabes.”

Analise o texto acima e assinale a alternativa que corresponde a um dos objetivos expressos por essa realidade.

a) Reduzir a autonomia dos judeus nos territó-rios ocupados em 1967.

b) Ampliar o espaço controlado pelo governo jordaniano na área.

c) Ampliar o espaço controlado pelos palestinos, para permitir a reconstrução de sua pátria.

d) Permitir o avanço da luta dos palestinos, atra-vés da ocupação territorial de Jerusalém.

e) Reduzir o sentido de coesão territorial e nacio-nal entre árabes e palestinos.

2. (UFPR) Os conflitos no Oriente Médio constituem um dos mais graves problemas geopolíticos de-vido às disputas territoriais, religiosas e étnicas, envolvendo questões de fundo econômico. Em relação a esses conflitos, é correto afirmar:

(01) Em seu processo de expansão territorial, Is-rael anexou novas áreas, como a Cisjordâ-nia, a Faixa de Gaza e as Colinas de Golan. Antes da anexação, esses territórios eram ocupados, na sua maior parte, pelo povo palestino, o qual atualmente reivindica seu controle e vive em constante conflito com Israel.

(02) Tunísia e Iraque, dois dos países localiza-dos no Oriente Médio, já estiveram em guerra durante a década de 80. Atualmen-te, apesar das divergências políticas e reli-giosas, esses países vivem um processo de relativa paz.

(04) São as divergências territoriais entre Egito e Arábia Saudita que, atualmente, colo-cam em risco o processo de paz no Oriente Médio.

(08) Regionalmente, está ocorrendo a mani-festação de grupos fundamentalistas, em particular da corrente xiita, a qual atua se-gundo os preceitos religiosos do islamismo e defende a chamada “Guerra Santa”.

(16) A fonte de renda que projeta internacio-nalmente o Oriente Médio, e que origi-na focos de tensão política, é o petróleo, cujas jazidas mais significativas são encon-tradas na Mesopotâmia e na área do Golfo Pérsico.

(32) Os estreitos de Ormuz e de Messina têm sido alvo de disputas regionais porque são fundamentais para o escoamento da pro-dução petrolífera.

Uma análise superficial dos eventos ocorridos no Oriente Médio com a Primavera Árabe poderia identificar que, mantidos no poder os principais governos alinhados aos EUA e sendo derrubados seus principais inimigos, o cenário seria favorável aos interesses estadunidenses. No entanto, a queda dos regimes ditatoriais abre espaço para a expansão dos partidos islâmicos de cunho religioso que, muitas vezes, adotam posturas bem mais radicais na oposição aos EUA e a Israel do que os laicos pan-arabistas. Nas primeiras eleições egípcias que ocorreram após a queda de Mubarak, por exemplo, o partido vitorioso – a Irmandade Muçulmana – tem uma postura muito mais voltada ao radicalismo.

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69Ensino Médio | Modular

3. (PUCSP) Sobre o Oriente Médio, pode-se afirmar que:

a) a estabilidade política em todos os países da região prende-se ao sucesso dos acordos de “Camp David”, firmado entre Egito e Israel;

b) o Irã tem aumentado sua produção de petró-leo de modo a fazer frente à profunda crise econômica que o país vive;

c) a invasão soviética no Afeganistão teve objeti-vos puramente humanitários, visando garantir a revolução capitalista que se desencadeava nesse país ainda feudal;

d) as constantes invasões militares de Israel no Líbano têm profunda ligação com a luta do povo palestino pela reconquista de sua pátria;

e) o Golfo Pérsico tem sido a única área do Orien-te Médio onde a paz tem reinado de forma absoluta.

4. (ESPM)

Do ponto de vista paquistanês, o Afeganistão apresenta um duplo interesse. De um lado, a influência sobre o país vizinho permitiria que o Paquistão se tornasse o corredor principal en-tre os hidrocarbonetos do Cáspio e o mercado mundial. De outro, o controle sobre o regime de Cabul conferiria ao Paquistão a profundidade estratégica necessária para sustentar um pro-longado conflito contra a Índia. Depois de uma década de guerra com a União Soviética, com a retirada soviética, o Estado afegão entrou em vir-tual dissolução, como resultado da guerra entre facções rivais. Nesse ambiente, sob o patrocínio paquistanês, surgiu o grupo Taleban, que assu-miu o poder em 1997.

Demétrio Magnoli, Relações Internacionais: Teoria e História.

Quanto ao Afeganistão, é correto afirmar que o Taleban, mencionado no texto, pode ser consi-derado:

a) um grupo cristão;

b) um grupo muçulmano xiita;

c) um grupo muçulmano druso;

d) um grupo muçulmano alauita;

e) um grupo muçulmano sunita.

5. (UFPR)

Rússia e China se opuseram a intervenções mili-tares na Síria ao longo dos 17 meses de um con-flito sangrento entre rebeldes e as tropas leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad. Os dois países vetaram três resoluções defendidas por Estados árabes e potências ocidentais no Conselho de Segurança da ONU, que aumentariam a pressão sobre Damasco para encerrar a violência.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2012/ 08/21. Acesso em: 5 set. 2012.

Sobre os conflitos recentes do Oriente Médio, é correto afirmar:

a) tais conflitos resultam do acomodamento de tensões geopolíticas que deram origem ao mundo bipolar, representado pelo socialismo e pelo capitalismo, liberados pela União Sovié-tica e pelos Estados Unidos, respectivamente;

b) as manifestações que têm, sucessivamente, ocorrido no mundo árabe podem ser explica-das notadamente como conflitos de ordem econômica, haja vista a dimensão que o petró-leo possui para a economia daqueles países;

c) o movimento conhecido como Primavera Ára-be tem derrubado muitos governos no Orien-te Médio, mas não tem implicado mudanças na organização política desses países;

d) após o término da Guerra Fria, conflitos inter-nos, isto é, que ocorrem dentro de cada Es-tado-Nação, passaram a ter efeitos regionais, motivo pelo qual Rússia e China vetaram as resoluções da ONU, que envolviam potências ocidentais;

e) os interesses e as estratégias geopolíticas glo-bais de potências ocidentais e orientais depen-dem do equilíbrio regional que se estabelece no Oriente Médio.

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República Sul-Africana6

Geopolítica70

Colonização da República Sul-Africana e o apartheid

Embora o litoral do antigo Cabo das Tormentas, também conhecido como Cabo da Boa Esperança, por sua localização geográfica (ponto de passagem obrigatória aos navegadores que tentavam atingir as Índias, a partir do final do século XV), tenha abrigado entrepostos comerciais de diversos povos europeus, o primeiro grupo majoritário de colonizadores que se fixou na região para viver era cons-tituído fundamentalmente por holandeses, já no século XVII (com a presença minoritária de outros povos de origem germânica). Isso, curiosamente, caracterizou uma colonização de povoamento e não

de exploração, como ocorreria mais tarde em toda a África. Eles dedicavam-se, inicialmente, às atividades agrícolas, embora, posteriormen-te, tivessem passado a atuar em outras áreas, como o comércio. Receberam a denominação de bôeres (mais tarde, autodenominaram-se africânderes) e, para se estabelecerem, en-frentaram e venceram a resistência dos povos nativos – especialmente do Império Zulu.

No século XIX, quando a partilha da África começou a ser definida, já era notório o conhe-cimento e a exploração de riquezas minerais na porção meridional do continente. O Reino Unido, maior potência mundial da época, fez valer, então, seu poder de influência para to-mar a rica colônia dos holandeses. Alegando a suposta posse original da França sobre a região da Cidade do Cabo, que teria sido vendida aos britânicos como espólio das guerras napoleô-nicas, o Reino Unido conseguiu oficializar seu domínio sobre esse território no Congresso de Viena (1814-1815).

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 45. Adaptação.

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África do Sul

África do Sul:

dominação,

apartheid e

Mandela

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Ensino Médio | Modular 71

GEOGRAFIA

A chegada dos colonos britânicos por volta de 1820 gerou tensões que acabaram por expulsar os bôeres do litoral sul-africano, deslocando-se em direção aos territórios do interior, ao norte do Rio Orange.

Os bôeres, que chegaram ao extremo sul da África mais de 150 anos antes e cuja base da economia era sustentada na escravidão, viram o Reino Unido aboli-la nos territórios sob a sua tutela. Em 1833, o fim da escravidão foi anunciado em todas as colônias britânicas, o que acentuou a migração, chamada de Grande Jornada (Great Trek), dos bôeres em direção às terras interiores, onde foram fundadas repúblicas como o Estado Livre de Orange e o Transvaal. Com o propósito de romper com a dominação britânica, o colonizador bôer buscou o isolamento. Procurou liberdade para continuar a utilizar a mão de obra nativa como escravizada e para propagar um discurso fundado na superioridade de raças – o que veio a se tornar a semente do apartheid.

O Reino Unido, porém, não se contentava em controlar apenas a região litorânea, visto que, ao longo do século XIX, novas ricas regiões mineradoras de ouro e diamantes iam sendo descobertas no interior do país. Novamente, a maior potência imperialista da época fez valer sua força, e os britânicos então tomaram as terras dos bôeres também no interior, já na virada para o século XX, no episódio que ficou conhecido como Guerra dos Bôeres. Em 1902, Orange e Transvaal assinaram a rendição e se submeteram à Coroa Britânica, formando, em 1910, com Cabo e Natal, a União Sul-Africana. Em seu território, configuravam-se três grupos sociais bem distintos:

A compra da Cidade do Cabo pelos britânicos assegurou a hegemonia do Reino Unido pela passagem entre os oceanos Atlântico e Índico.

Fonte: ATLAS da história do mundo: história completa da jornada humana. 2. ed. Londres: Dorling Kindersley, 2005. p. 166-167. Adaptação.

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África do Sul: final do século XIX

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72 Geopolítica

os africânderes – descendentes dos bôeres, que constituíam a elite latifundiária, sendo pro-prietários da maior porção das terras do interior;

os ingleses – na verdade, sul-africanos descendentes dos colonizadores britânicos, cujo poder econômico se estabelecia nas atividades mineradoras e, posteriormente, urbano-industriais; e

os nativos – povos negros de diversas etnias (entre os maiores grupos, destacam-se os zulus e os xhosas), que habitavam a região antes da chegada dos europeus e foram submetidos como mão de obra escravizada pelos bôeres.

Além desses grupos principais, já no século XX, o país recebeu uma grande quantidade de imigrantes asiáticos (especialmente indianos) como mão de obra barata.

Pela Constituição da União da África do Sul, a cidadania era um privilégio dos brancos, fossem eles de origem britânica ou africânderes. Os negros africanos e os asiáticos eram excluídos.

Nas eleições de 1948, os africânderes, organizados no Partido Nacional (fundado em 1914), exi-biram sua superioridade numérica e venceram as eleições, implantando, logo a seguir, o sistema de leis segregacionistas que ficou conhecido como o apartheid.

O apartheid (que significa “separação”) foi, portanto, a legalização da ideia de superioridade de raça pelos colonizadores bôeres, consolidando atos como o Native Land Act, de 1913, que destinava à população negra 7,3% das terras (valor esse aumentado para 12,7% em 1936), sendo que esse con-tingente compunha, aproximadamente, três quartos da população. Dez anos depois, o Native Urban Act limitaria a ocupação da população negra em cidades que configurassem redutos dos brancos.

Três pilares sustentavam a estrutura do apartheid: a segregação política (o negro simplesmente não podia votar); a segregação geográfica (negros e bran-cos não podiam usar as mesmas instalações) e a segregação geopolítica. Esta última coroou a estratégia de segregação por meio dos chamados bantustans. Tal estratégia pretendia impedir que a maioria numérica da população africana se convertesse em maioria política.

Os bantustans foram Estados ou Autoridades Territoriais reservadas aos negros, visando à desnacionalização do negro sul-africano. Ao mesmo tempo que o negro era incluído, necessariamente, como mão de obra, era eliminado, definitivamente, da vida política do país. Aliás, pela estratégia do governo, os bantustans seriam Estados independentes. Os negros que lá viviam eram desnacionalizados como sul-africanos – desenvolvia-se o nacionalismo étnico.

Geralmente, os bantustans eram governados por chefes nativos que se colocam a serviço do Partido Nacional. As autoridades políticas desses Estados – cuja independência foi reconhecida apenas pela própria África do Sul – eram apoiadas e sustentadas por Pretória.

A ideia de deslocar a maior parte da população negra para os bantustans sem abrir mão de sua força de trabalho e seu mercado consumidor surgiu da

dificuldade de controle sobre as townships – as imensas favelas que se desenvolviam no entorno das principais cidades sul-africanas. Nesses lugares se organizava a resistência da população negra contra o apartheid – portanto, era necessário diminuir radicalmente a con-centração populacional ali (sem comprometer a oferta de mão de obra para os trabalhadores urbanos) e aliviar a tensão racial. O impulso definitivo para a política dos bantustans ocorreu a partir da rebelião de Soweto (South West Township) – a maior township sul-africana, si-tuada na periferia de Johannesburgo –, que foi sufocada com uma violenta operação militar conhecida como o Massacre de Soweto, em 1976. Muitos autores sustentam que o começo do fim do apartheid se deu ali.

Em 1961, é decla-rada a República da África do Sul.

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Ensino Médio | Modular 73

GEOGRAFIA

Fonte: LIBRARY OF CONGRESS. Bantustans, Republic of South Africa and South-West Africa. Disponível em: <http://memory.loc.gov/cgi-bin/image-services/jp2.py?data=/home/www/data/gmd/gmd8/g8501/g8501g/ct002724.jp2&res=1> . Acesso em: 1 abr. 2013. Adaptação.

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Principais bantustans da África do Sul

Os brancos buscaram fazer da opressão a imagem do reconhecimento da identidade nacional. Na realidade, separando os negros por etnias, muitas das quais inimigas, deslocavam os conflitos para os bantustans e assim enfraqueciam os movimentos contra o apartheid. No projeto geopolítico dos africânderes, o cenário ideal teria bantustans também para seus outros desafetos regionais – os brancos descendentes dos britânicos. Isso, porém, jamais chegou a ser executado, dado o grande poder econômico e político destes no país.

Apesar dos discursos antiapartheid na Assembleia Geral da ONU, nada foi feito de concreto para pôr fim ao regime. Muito pelo contrário. Graças às suas enormes produções de ouro (maior produção do mundo), diamante, manganês, minério de ferro, urânio e carvão, a África do Sul contava com grandes investimentos externos, sobretudo do Reino Unido – 10% de todo o capital aplicado fora do país –, que inclusive colaborou na difusão de uma imagem positiva do parceiro econômico.

No entanto, o que estava realmente em jogo era o papel político fundamental desempenhado pela África do Sul no cenário geopolítico da Guerra Fria. O governo racista dos africânderes contava com a conivência dos sul-africanos de origem britânica que, embora rivais dos primeiros, também se beneficiavam do apartheid. A África do Sul era a principal área de influência capitalista no continente e desempenhava um papel estratégico de impedir a expansão socialista no cone sul africano, especialmente depois que Angola e Moçambique se tornaram independentes e socialistas. Em outras palavras, apesar de o discurso oficial dos EUA e do bloco capitalista, em geral, criticar a política do apartheid, quem sustentava os africânderes no poder, subliminarmente, eram eles.

A repercussão internacional do assassinato, pela polícia, do líder negro Steve Biko, em 1977, fez aumentar a pressão contra o regime. Em 1978, a ONU resolveu declarar o Ano Internacional Contra o Apartheid e iniciou um programa de sanções econômicas contra a África do Sul – a divulgação de imagens de massacres contra os negros no país pressionava cada vez mais a comunidade internacional. Na década de 1980, intensificaram-se as campanhas pela libertação de Nelson Mandela (vide quadro a seguir) – que estava preso desde 1962, condenado à prisão perpétua. Soma-se a isso a fragilização que vinha sofrendo o governo sul-africano – como em 1988, com a derrota militar diante das tropas angolanas e cubanas na batalha de Cuito Cuanavale (a maior batalha ocorrida em solo africano desde a Segunda Guerra Mundial), na Guerra Civil de Angola e pela independência da Namíbia. Mas o regime ainda sobreviveria estrategicamente (não por coincidência) até o fim da Guerra Fria.

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O Congresso Nacional Africano (CNA) foi fundado em 1912. Na década de 1950, estabeleceu como meta a extensão da cidadania a todo habitante da África do Sul, no documento conhecido como Carta de Libertação – seu lema era “Um homem, um voto”. Visava à criação de um Estado unitário, pluralista e multirracial. Em 1960, o CNA foi declarado ilegal.

Nelson Mandela formou-se em Direito pela Universidade de Fort Hare (fundada em 1916, por missionários presbiterianos), no Cabo. Apesar de as restrições aos negros já existirem no início do século XX, a província do Cabo, ainda sob o controle político e ideológico do Reino Unido, permitiu a formação universitária, bem como o direito a voto (sob controle e condições) de negros para o parlamento provincial.

Na década de 1950, Mandela, que era líder da Liga da Juventude do CNA, liderou a campanha de desobediência civil às leis racistas do apartheid. Em

1962, foi preso e condenado a trabalhos forçados. Em 1964, foi sentenciado à prisão perpétua, tendo cumprido a maior parte da pena no famoso presídio da Ilha Robben, na Cidade do Cabo – hoje transformada em museu e considerada Patrimônio da Humanidade.

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Juramento presidencial deJuramento presidencial deNelson Mandela. Pretória – Nelson Mandela. Pretória – África do Sul, 1994África do Sul, 1994

Em 1989 – ano das irreversíveis mudanças no cenário da Guerra Fria ocorridas em solo europeu –, frente a uma estagnação econômica, o novo presidente da África do Sul, Frederick Willem de Klerk, parecia não ter mais saída, a não ser iniciar um processo de abertura.

De Klerk pretendia promover, aparentemente, a transição de um governo segregacionista para um governo democrático. Já em 1989, a Lei dos Serviços Públicos Separados (segregação geográfica) foi suprimida e as organizações negras, como o CNA, foram legalizadas. Nelson Mandela, que cumpria pena de prisão perpétua, foi libertado em 1990. A intransigência dos governos anteriores em manter Mandela preso apenas fez crescer sua liderança.

Em 1992, em um plebiscito destinado apenas à população branca, cerca de 70% votaram a favor da continuidade das reformas que, posteriormente, encerrariam o apartheid. As leis segregacionistas começaram, uma a uma, a cair – e quando os negros conquistaram a liberdade política, expressa na livre organização de partidos políticos e no direito ao voto em eleições livres, a queda do regime africânder e o fim do apartheid foram inevitáveis. Os bantustans deixaram de existir e, nas eleições marcadas para 1994, Mandela – candidato do CNA – foi eleito presidente.

Duas organizações políticas são muito influentes na África do Sul. O CNA, de Mandela, possui uma ação política mais conciliadora e apresenta controle negro, apesar de conter brancos em seu quadro. Seu maior opositor é o Partido da Liberdade (Inkatha – fundado em 1978), articulado pela facção mais nacionalista da etnia zulu, liderado por Mangosuthu Buthelezi. Enquanto o CNA defende o nacionalismo africano e o Estado unitário, o Inkatha possui aspirações geopolíticas no sentido de restaurar o antigo Reino Zulu.

Apesar da vitória de Mandela e do fim oficial do apartheid, a África do Sul precisa superar profundas mazelas sociais. Os brancos ainda dominam a economia do país, já que continuaram com o controle das minas, fazendas e indústrias – o que lhes garante grande participação política. As principais li-deranças africânderes ainda defendem abertamente sua ideologia separatista, alegando que a África do Sul só funcionaria dessa forma e que o Estado multiétnico é uma utopia de Mandela que jamais existirá harmonicamente na prática.

Os negros ainda representam largamente a parcela mais socialmente vulnerável da população – boa parte deles habitando até hoje nas townships. O percentual de portadores do vírus da aids e de crianças que já nascem com ele, entre os negros, é um dos mais elevados do planeta. Além disso – e acima de tudo –, há a sensação de que o pacto de não revanchismo é um compromisso muito mais relacionado à imagem da liderança emblemática de Mandela do que, efetivamente, uma responsabi-lidade assumida conscientemente por toda a maioria negra sul-africana.

74 Geopolítica

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Ensino Médio | Modular 75

GEOGRAFIA

Apesar da difícil situação econômica do país, da oposi-ção dos nacionalistas zulus e africânderes, além do próprio desgaste natural pela permanência no poder, o CNA vem se sagrando vitorioso nas eleições realizadas desde o final do apartheid. A África do Sul, internacionalmente, vem tentando melhorar sua imagem perante o mundo, sediando importantes conferências da ONU e eventos, como a Copa do Mundo de 2010. As sequelas do apartheid, como as grandes desigual-dades sociais, por exemplo, ainda estão muito presentes no cotidiano do país.

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do Cabo – África do Sul, 2012do Cabo – África do Sul, 2012

1. (FGV – SP) Os bantustões ou homelands foram criados para confinar os negros em uma área de solos pobres, sem riquezas minerais e onde, ge-ralmente, os negros foram levados à força. Essa estratégia geopolítica do governo da África do Sul teve como objetivo minimizar os problemas raciais nos conflitos com os brancos,

a) diminuindo o “excesso” de negros no país, cuja taxa de natalidade é bem maior do que a dos brancos, e garantindo mão de obra barata para as empresas próximas aos bantustões;

b) criando locais, para negros mais rebeldes per-manecerem, que se constituíam em verdadei-ras prisões a céu aberto, de onde somente po-diam sair quando se mostrassem mais dóceis;

c) resolvendo os problemas de rebeldia extrema-da dos homens negros que, confinados, não poderiam contagiar os negros favoráveis ao governo branco racista, antes da ascensão de Nelson Mandela;

d) resolvendo problemas econômicos dos negros pobres que nesses locais poderiam produzir o alimento do grupo, assim como desenvolver seu artesanato sem trânsito pelas áreas bran-cas;

e) obrigando os negros a trabalhar nas indústrias localizadas no interior dos bantustões, sem pagamento de salários, recebendo apenas uma cesta básica mensal para o seu sustento.

2. (URCA – CE) Diversos problemas graves afligem a humanidade nos dias atuais. Levantamentos indicam a existência de 27 milhões de pessoas na condição de escravas. A xenofobia, as guerras

“preventivas”, o terrorismo e a miséria ainda são chagas entre os seres humanos. O racismo é ma-nifestação presente em vários países. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), havia um país, em que, até 1989, praticava o racismo abertamente e inclusive o consagrava em sua Constituição, institucionalizando o regime do apartheid. Brancos, negros e algumas minorias tinham status diferenciado onde a população ne-gra estava excluída de vários direitos. Esse país era:

a) o Marrocos;

b) o Congo;

c) o Afeganistão;

d) o Quênia;

e) a África do Sul.

3. (UFOP) Sobre a África do Sul, país sede da Copa do Mundo de 2010, assinale a afirmativa incor-reta.

a) O fim do apartheid, um regime segregacionis-ta que negava aos negros direitos sociais, eco-nômicos e políticos, produziu condições para a eliminação da desigualdade social.

b) O país tem uma população constituída por di-versos grupos étnicos e, além do inglês, adota diversos outros idiomas oficiais.

c) O território abriga, em seu subsolo, uma gran-de quantidade de minérios, entre os quais se destacam o ouro e o diamante.

d) O país, cujo território está localizado no extre-mo sul do continente africano, tem a Cidade do Cabo e Johannesburgo como seus princi-pais centros urbano-industriais.

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Cenários geopolíticos do início do século XXI

7

Geopolítica76

O projeto geopolítico da União Europeia em xeque

O mundo pós-Guerra Fria consagrou a formação de diversos blocos econômicos – alguns cuja origem se encontra em períodos ainda anteriores a esse. É o caso da organização que mais avançou na consolidação de estruturas supranacionais entre seus países-membros: a União Europeia (UE). Seu embrião corresponde ao tratado que instituiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca), em 1951, e que entrou em vigor no ano seguinte. Em 1957, surgia o Mercado Comum Europeu, mas o bloco viria mesmo a se consolidar em 1992, por meio do célebre Tratado de Maastricht, contando com a adesão de 12 países – incluindo os mais importantes da Europa Ocidental. Em seguida, a UE abriu caminho para o ingresso, na organização, de alguns países supostamente considerados neutros durante a Guerra Fria, fazendo com que a chamada “Europa dos 12” já tivesse aumentado para 15 em 1995, com a entrada de Finlândia, Áustria e Suécia.

Com o Tratado de Maastricht, foi concedida a cidadania europeia aos cidadãos de todos os estados-membros. Com o passar do tempo, foram intensificados acordos aduaneiros e sobre imi-gração, com o objetivo de permitir aos cidadãos europeus uma maior liberdade para viver, trabalhar ou estudar em qualquer um dos países-membros.

Em 2004, mais 10 países (Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Eslovênia, Lituânia, Letônia, Estônia, Malta e Chipre) passaram a fazer parte da União Europeia. Com a adesão da Bulgária e Romênia em 2007 e da Croácia em 2013, o bloco econômico chegou ao número de 28 países (governado por um colegiado, o Conselho da União Europeia).

Em 1999, onze países da União Europeia (UE) passaram a adotar o euro, moeda única do bloco (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Finlândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal). Atualmente, o euro não é adotado em todos os seus estados-membros, principalmente nos que aderiram ao bloco recentemente – além da Dinamarca e do Reino Unido. Os países que o utilizam pertencem à chamada Zona do Euro. Com uma população de cerca de 500 milhões de pessoas, a economia dos 27 membros (sem a Croácia) apresentava, em 2011, um PIB superior a US$ 15 trilhões.

Euro: a

moeda

da União

Europeia

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Blocos

econômicos e a

reorganização

da economia

mundial

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Ensino Médio | Modular 77

GEOGRAFIA

Apenas parte do Chipre ingressou na UE (em 2004). A República Turca do Norte de Chipre, onde vivem com autonomia relativa os cidadãos de origem turco-cipriota, só é reconhecida como um país independente pela Turquia. As leis e os benefícios da União Europeia só contemplam o sul do país, onde moram os grego--cipriotas, deixando os turco-cipriotas fora do bloco.

Fonte: UNIÃO EUROPEIA. Países. Disponível em: <http://europa.eu/about-eu/countries/index_pt.htm>. Acesso em: 2 abr. 2013. Adaptação.

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União Europeia: adesões ao bloco

O sonho de unidade da União Europeia passou a enfrentar seu momento mais delicado após a eclosão da grave crise financeira de 2008 nos EUA, que rapidamente se espalhou para as principais potências ocidentais, além do Japão, por exemplo.

Como efeito colateral da ávida expansão em direção aos promissores mercados do antigo Leste Europeu socialista, as profundas diferenças socioeconômicas entre os países-membros se tornaram ainda mais evidentes. Essa fragilidade estrutural já era percebida anteriormente em relação aos países de economias mais frágeis da Europa Ocidental, integrados anteriormente (Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia). Tais países haviam tido sua economia alavancada pela força do bloco, vivendo um surto de grande crescimento econômico e endividamento na década de 1990.

Os primeiros anos da década de 2010 revelam um cenário delicado para o projeto de integração europeu: a Grécia está mergulhada numa profunda crise econômica, que quase a levou à moratória, o que desencadearia um efeito cascata para diversas outras economias europeias e mundiais. Cumprindo determinações do FMI e da própria cúpula da UE, o governo grego tenta superar a crise com a imposição de pesados programas de ajuste e cortes sociais à sua população. A Espanha, por sua vez, apresentava as mais elevadas taxas de desemprego do bloco em 2012 (chegando a 25% de sua força de trabalho). Já Portugal e Irlanda possuíam crises crescentes, dando indícios de que caminham para o mesmo rumo.

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78 Geopolítica

Entre os integrantes da Zona do Euro, ganham força os opositores à moeda única. A política de austeridade imposta pela Alemanha – que tenta manter sua liderança e solidez em meio a tudo isso – é cada vez mais questionada por grupos políticos que ambicionam voz mais ativa no bloco.

Paradoxalmente ao cenário de recessão econômica e desemprego, a Europa convive com a necessi-dade de importação de mão de obra ativa qualificada, para compensar suas baixas taxas de crescimento vegetativo. Tal cenário tem fortalecido organizações e partidos políticos de extrema direita que pregam o discurso xenófobo. Alguns grupos já chegaram ao poder em países como a Áustria e a Itália, também cresce sua participação em países como França, Países Baixos e Bélgica – conquistando mais simpatizantes a cada nova eleição. Às ações terroristas promovidas por fundamentalistas islâmicos, como os atentados em Londres (2005) e Madri (2004), somam-se agora ataques promovidos por extremistas xenófobos, como o ocorrido na Noruega, em 2011. Os alvos da violência xenófoba não são somente as comunidades islâmi-cas de africanos e asiáticos ou os latino-americanos, mas também os migrantes internos do continente, oriundos das ex-repúblicas soviéticas e dos antigos países socialistas da Europa Oriental.

Todo esse cenário de crise ameaça a tranquilidade da expansão e consolidação dos projetos de integração da União Europeia, criando forte tensão geopolítica na região – provocando, inclusive, o recrudescimento de algumas questões nacionalistas antigas. O separatismo catalão na Espanha é um exemplo: aproveitando-se do cenário de profunda crise no país, o movimento ganhou mais força em 2012, com líderes tentando encaminhar a realização de um referendo popular sobre a questão.

Naturalmente, a parcela mais afetada por esse contexto são as comunidades socialmente mais vulneráveis em cada país. Em geral, os povos europeus desfrutaram, especialmente nas décadas depois da Segunda Guerra Mundial, a boa fase do chamado estado do bem-estar social. Agora, sentem que seu padrão de vida, seus privilégios, seus valores e sua tranquilidade estão relativamente ameaçados, com o desmonte gradativo dessa estrutura. Para um continente historicamente habituado aos graves conflitos em períodos de crise, possivelmente este deva ser o momento dos articuladores centrais do projeto da União Europeia perceberem que a integração só será possível e estável quando ela conseguir superar, de fato, as grandes diferenças socioeconômicas, ainda tão marcantes no bloco. Contudo, isso não acontecerá, efetivamente, pela simples imposição de políticas recessivas às populações e países mais frágeis que o integram.

Outros espaços de tensão – novos e velhos conflitos pelo mundo

Zimbábue: tensão racial e desgaste político de Mugabe

Robert Mugabe foi o herói da independência do Zimbábue (ex-Rodésia), liderando a União Nacional Africana do Zimbábue – Frente Patriótica (Zanu-PF), que, após quase duas décadas de lutas, derrubou o governo da minoria branca, o qual era apoiado pelo Reino Unido, em 1979.

Mugabe se mantém no governo desde a década de 1980. Inicialmente, contou com grande aprova-ção popular, conduzindo o país com apoio da URSS e tomando medidas para ampliar a inclusão social dos negros, como a reforma agrária. Com o tempo, no entanto, seu governo começou a centralizar totalmente o poder, perseguindo opositores, afastando-se dos ideais socialistas nos quais se inspirava e, de forma contrária ao que fez o CNA na África do Sul, passou a perseguir a minoria branca que vive no país, gerando tensão social e violência interna, além de muitas reações internacionais.

Crise

econômica

europeia: o

que o Brasil

tem a ver

com isso?

@GEO1323

África: um

continente

marcado por

conflitos

@GEO1395

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GEOGRAFIA

79Ensino Médio | Modular

De fato, o Zimbábue, que possui muitas riquezas minerais, pouco avançou em seus indicadores sociais desde a década de 1980. É um dos países mais pobres da África Negra (encontra-se na 172.° posição entre os 186 classificados no ranking do IDH 2013), inclusive com elevada parcela da população sendo portadora do vírus da aids (quase 10% dos seus habitantes estão contaminados pelo vírus HIV).

Apesar de toda a polêmica em torno de sua gestão, que já dura praticamente três décadas, Mugabe foi reeleito novamente em 2008 e cumpre novo mandato como presidente, sob suspeitas de fraude eleitoral – levantadas pela oposição e por observadores internacionais.

Congo, Ruanda, Burundi, Uganda – fronteiras artificiais, tensões étnicas e pobreza

Uma das regiões que apresentam maior tensão geopo-lítica no continente africano é a fronteira oriental da Repú-blica Democrática do Congo (antigo Zaire), especialmente nos limites com Uganda, Ruanda e Burundi.

A República Democrática do Congo tem como principais riquezas o urânio, o ouro, o diamante e o cobre. O país teve longas ditaduras com Mobutu Sese Seko (1965 a 1997) e com a dinastia dos Kabila – o pai Laurent (assassinado em 2001) e seu filho Joseph, que assumiu em 2001 (tendo sido eleito em 2006 e reeleito em 2011). Sua instabilidade política afeta e também é afetada pela dos vizinhos.

Os conflitos ali existentes, como em outras regiões da África, refletem o processo colonizador, que dividiu o con-tinente aleatoriamente, produzindo as chamadas fronteiras artificiais e gerando inúmeros conflitos étnicos.

Em Ruanda e Burundi, as etnias hutu e tútsi, que outrora conviviam pacificamente na região, foram ma-nipuladas, divididas e, literalmente, lançadas uma contra a outra pelos colonizadores belgas. O resultado foi uma sucessão de golpes de estado, ora de uma etnia, ora de outra, gerando confrontos e levas enormes de refugiados, fugindo em direção aos países vizinhos. O auge dessa violência foi o massacre ali ocorrido em 1994, quando hutus promoveram, principalmente a facões, um genocídio de aproximadamente um milhão de tútsis.

O cenário de Uganda, país que abrigou, na década de 1970, um dos mais famosos ditadores africanos, Idi Amin Dada, também é afetado pelas disputas políticas e étnicas.

A islamização africana e a divisão do SudãoA porção do continente africano de forte influência árabe, aos poucos, está deixando de ser a

única região que professa a religião islâmica: o islamismo expande-se rapidamente para os territórios ao sul do Saara. Entretanto, a miséria e a instabilidade política dos países africanos representa um terreno fértil não para a simples expansão religiosa, mas para a atuação radical das organizações fundamentalistas islâmicas, gerando ainda mais tensão interna a esses países.

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Democrática do Congo, 2006

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O conflito em Ruanda provocou o deslocamento em massa de grande parte de sua população. Refugiadosruandenses chegam ao Zaire (atual República

O conflito em Ruanda provocou o deslocamento em O conflito em Ruanda provocou o deslocamento emmassa de grande parte de sua população. Refugiadosmassa de grande parte de sua população. Refugiadosmassa de grande parte de sua população. Refugiadosruandenses chegam ao Zaire (atual República ruandenses chegam ao Zaire (atual RepúblicaDemocrática do Congo), em 1997Democrática do Congo), em 1997Democrática do Congo), em 1997

Ruanda: um

genocídio

no centro da

África

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80 Geopolítica

Nesse contexto, milícias radicais atuam em diversos países importantes, como a Argélia e a Nigéria, promovendo atentados e tentando chegar ao poder para impor à população os preceitos religiosos que proclamam.

No Sudão, um dos países mais miseráveis das regiões do Saara e do Sahel, esse processo já gerou a divisão territorial do país, dando origem ao Sudão do Sul. Nesse novo país, com capital em Juba e que teve a independência formalizada e reconhecida internacionalmente em 2011, a maioria da população é cristã. No Sudão, por sua vez, a maior parte da população é islâmica.

Nacionalismos separatistas que ainda sobrevivemAlém dos já citados casos das regiões de Catalunha (Espanha), Chechênia (Rússia), Tibete (China) e

da ilha de Chipre (turco-cipriotas contra greco-cipriotas), o cenário geopolítico do início do século XXI ainda convive com diversas outras questões mal resolvidas que envolvem projetos étnico-nacionalistas separatistas. As mais importantes são elencadas a seguir.

Fonte: THE PEW FORUM ON RELIGION & PUBLIC LIFE. The Global Religious Landscape. Disponível em: <http://www.pewforum.org/global-religious-landscape-exec.aspx#geographic>. Acesso em: 3 abr. 2013. Adaptação.

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África: religiões predominantes

Sudão do

Sul: já ouviu

falar?

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Ensino Médio | Modular 81

GEOGRAFIA

O País Basco, cuja população, composta pela etnia basca (uma das mais antigas existentes no mundo), nutre forte senso nacionalista, almejando sua autonomia. Ali atua um dos mais famosos grupos terroristas do planeta, o ETA, que na língua basca significa Pátria Basca e Liberdade. Atualmente, esse grupo se encontra em um período de reclusão, podendo, contudo, voltar à atividade a qualquer instante. Sua atuação adota como prática, por exemplo, assas-sinatos seletivos contra autoridades espanholas opositoras à independência basca. Quando lutava contra a ditadura de Franco, possuía maior prestígio popular. Mas perdeu força com o grande crescimento econômico espanhol da década de 1990 – que beneficiou muito a rica re-gião basca – e com as concessões de autonomia obtidas por via diplomática diante do governo espanhol. Entretanto, com o atual cenário de crise econômica se alastrando pela Espanha e a inspiração do levante catalão, a pressão separatista ainda se faz presente.

Fonte: EUSKAL KULTUR ERAKUNDEA INSTITUT CULTUREL BASQUE. Basque Country. Disponível em: <http://www.eke.org/en/kultura/basque-country>. Acesso em: 3 abr. 2013. Adaptação.

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País Basco

A Irlanda do Norte parece ter encontrado uma forma de convivência pacífica após o famoso Acordo de Belfast ou da Sexta-feira Santa, de 1998. O país enfrentou décadas de violência e confrontos sangrentos entre católicos, que representavam a camada proletária da população, e protestantes, que compunham a elite. Os termos do acordo foram a garantia de maior repre-sentatividade política dos católicos e a sua inclusão social. Atualmente, todas as instâncias de poder do país funcionam com cotas para os dois grupos, impedindo a supremacia protestante que antes havia. O braço armado do lado católico era o Exército Republicano Irlandês (IRA), que desejava a independência em relação ao Reino Unido para se unificar com a já independente República da Irlanda. Já os protestantes eram apoiados pelo poder central do Reino Unido. O IRA deixou de atuar desde a consolidação do acordo, embora tenham ocorrido alguns inciden-tes promovidos por suas dissidências. E, apesar de a Irlanda do Norte continuar agregada ao Reino Unido, novos acordos de paz em 2012 reduziram ainda mais as tensões entre ambos.

O Domingo

Sangrento

volta a ser

notícia

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82 Geopolítica

A província do Quebec, no Canadá, habitada pelos franco-canadenses, já deixou evidente seu projeto de desvinculação do país, de maioria anglo-canadense. Embora o separatismo ali nun-ca tenha se tornado uma questão que envolveu a ação de grupos terroristas, eventualmente algum político ligado a partidos mais radicais assume cargos importantes e levanta a questão do separatismo. No entanto, nos plebiscitos já realizados sobre a questão, os separatistas sempre foram derrotados por pequena margem de votos, o que indica o relativo apoio a esse projeto entre os habitantes locais.

Fonte: PHILIPS’S International School Atlas. 2. ed. Grã-Bretanha: The Royal Geographic Society, 2006. p. 57. Adaptação.

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Localização da Irlanda do Norte no Reino Unido

Fonte: GOVERNMENT OF CANADA – PRIVY COUNCIL OFFICE. Interactive Map of the Provinces and Territories. Disponível em: <http://www.pco-bcp.gc.ca/aia/index.asp?lang=eng&page=provterr&sub=map-carte&doc=map-carte-eng.htm>. Acesso em: 3 abr. 2013. Adaptação.

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Canadá: político (com destaque para Quebec)

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GEOGRAFIA

83Ensino Médio | Modular

Ainda há exemplos como o partido Lega Lombarda, que visa à separação do norte da Itália (rico e fortemente industrializado) em relação ao sul do país, menos desenvolvido economicamente. O próprio Silvio Berlusconi não esconde sua simpatia pela ideia. No entanto, o sonho dos separatistas parece bastante distante, num período em que a Itália tenta firmar seu espaço na União Europeia. Outro país europeu que apresenta cenário parecido é a Bélgica, que também convive historicamente com a ameaça de separação entre duas regiões: o Flandres (região norte, de origem flamenga) e a Valônia (região sul, cuja maior concentração populacional é de origem francesa). Em 2010, o partido separatista Nova Aliança Flamenga (NVA) se sagrou vi-torioso nas eleições parlamentares, prometendo levar adiante os projetos de maior autonomia às três regiões do país: Flandres, Valônia e Bruxelas, a capital do país.

Tensão no Oriente: China x Japão

No Oriente, não bastasse a constante tensão que envolve as duas Coreias e a questão da autonomia de Taiwan (considerada uma província da China), o ano de 2012 trouxe um novo elemento de discórdia, dessa vez envolvendo os dois países mais fortes econômica e politicamente da região: China e Japão.

Trata-se da disputa pelas Ilhas Senkaku (também conhecidas como Ilhas Diaoyu/Diaoyutai), um pequeno arquipélago formado por oito ilhas. Seu controle foi alterado por diversas vezes: já pertenceram à China, foram administradas por Taiwan, cedidas ao Japão, administradas pelos EUA (como parte do conjunto de ilhas Nansei Shoto), repassadas novamente ao Japão e pleitea-das por Taiwan e China como sua propriedade. A descoberta de possíveis reservas de petróleo no final da década de 1960 e início de 1970 agitou ainda mais o cenário geopolítico na região. Assim como o Japão, o governo chinês tem difundido amplamente a questão da sua pertença dessas ilhas junto à população, que passou a hostilizar cidadãos e empresas japonesas no país. A disputa entre China e Japão continua, e o nível de tensão está longe de ser considerado normal.

O movimento “Occupy Wall Street” “ocupa” novos espaços e se consolida

Em 2011, o crescente uso das redes sociais como instrumento de mobilização popular não ficou evidenciado apenas na Primavera Árabe ou nos protestos ocorridos nos países europeus em crise, como a Grécia e a Espanha, mas também dentro de um dos pontos mais sensíveis dos EUA: Wall Street – seu coração financeiro.

Pessoas de diversas idades, procedências, raças, religiões e ideologias acamparam em Wall Street protestando contra os desmandos promovidos pelos grandes especuladores, empresas e setores ligados ao mercado financeiro estadunidense.

O movimento ganhou força e notoriedade, ocupando a região por semanas, até ser finalmente dispersado pela polícia. A mobilização, no entanto, não desapareceu, influenciando ativistas de outras cidades dos EUA e de outros países a agirem de modo similar, sempre sob o slogan do movimento: a expressão ocuppy (ocupem).

Silvio Berlusconi: um dos mais

influentes políticos italianos, que já governou o país e controla uma

importante rede de mídia italiana, além de ser dono do Milan (time de

futebol).

Wall Street: rua situada em Nova York que

se consagrou por abrigar

importantes empresas

do mercado financeiro, além da própria Bolsa

de Valores de Nova Iorque – a mais importante

do mundo.

Fontes: IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 46; BBC. Q&A: China-Japan islands row. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/news/world-asia-pacific-11341139>. Acesso em: 3 abr. 2013. Adaptação.

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Localização das Ilhas Senkaku (Diaoyu/Diaoyutai)

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84 Geopolítica

Com objetivos ainda difusos e sem definir uma linha de atuação ideológica ou política clara, o movimento ainda não pode ser comparado às barricadas francesas de 1968 ou a outras importantes mobilizações populares ocorridas em tempos recentes (incluindo a própria Primavera Árabe). No entanto cumpriu, até agora, o papel de anunciar que novas formas de mobilização popular estão se configurando atualmente – e certamente irão se manifestar com força, quando determinados grupos julgarem ter sido lesados, de alguma forma, pelos governantes e por grandes corporações.

China – uma nova superpotência?

Muito se tem dito sobre a possibilidade de a China vir a substituir o papel geopolítico outrora desempenhado pela URSS, restabelecendo, dessa forma, um sistema bipolar de forças, em oposição aos EUA, como ocorreu durante a Guerra Fria.

Na geografia política, estabelecer previsões – especialmente as de médio e longo prazo – consiste numa prática arriscada e cercada de perigosa subjetividade, pois os preceitos que conduzem o raciocínio no presente podem ser alterados por novas contingências no futuro. Mesmo assim, é possível tecer algumas considerações sobre o tema.

A primeira delas é de que, embora se firmando a cada ano como potência econômica capaz de interferir – nesse aspecto – em toda a dinâmica do mundo global, é preciso lembrar que a China ain-da está atrás dos EUA e de outros países na produção de tecnologia de ponta original e na pesquisa científica, mesmo que já tenha ganhado expressivo espaço também nesses setores no período mais recente. O grande avanço tecnológico ocorrido durante a Guerra Fria, especialmente nos EUA, esteve diretamente relacionado às pesquisas motivadas pela indústria bélica e pelos projetos estratégicos no período. De lá para cá, os EUA nunca deixaram de ter nas necessidades militares uma de suas principais forças propulsoras do desenvolvimento tecnológico.

A China pretende reforçar seu papel atual de um país industrial. Portanto, sem as mesmas implica-ções militaristas dos estadunidenses, não parece, ao menos a princípio, tão interessada em destinar uma fatia tão generosa de seu orçamento às forças armadas e ao desenvolvimento de armamentos (como os EUA fazem ou como a URSS também fazia). Exceto pelas questões históricas de reivindicarem territórios que consideram legitimamente seus, como Taiwan, os chineses também não apresentam uma política externa expansionista ou disposta a disputar áreas de influência com os EUA.

Outro indicativo é perceber como tem se pautado a política externa chinesa em relação a temas de seu interesse político. Verifica-se uma postura independente em relação aos interesses dos EUA – que reflete a independência adotada desde o período da Guerra Fria e que se estendia inclusive à URSS. Em algumas questões de convergência – como o combate ao terrorismo internacional promovido por fundamentalistas islâmicos –, ela tende a alinhar suas posições às dos estadunidenses. Em outras, sejam aquelas consideradas por ela como questões internas, como a do Tibete, ou as que envolvam tradicionais alianças estabelecidas pela China na Guerra Fria, como no caso do governo da Síria, sua posição é firmemente contrária à dos EUA. No que se refere à permanente tensão na península coreana, a China tem atuado como moderadora em relação à Coreia do Norte, isolada e bloqueada economicamente pelo Ocidente, tentando conduzir o diálogo entre o país socialista e os EUA.

Mesmo não se submetendo passivamente aos interesses geopolíticos da única superpotência da atualidade (os EUA), a China parece mais disposta a investir em seu crescimento econômico e mantém sua política externa orientada mais por tal interesse do que pelas eventuais pretensões de ampliar sua participação política no mundo global.

China – da

dominação

imperialista

à expansão

capitalista

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Ensino Médio | Modular 85

GEOGRAFIA

1. (UFBA)

A Segunda Guerra Mundial intensificou o proces-so de descolonização e independência dos países asiáticos e africanos e muitos deles tornaram-se socialistas. Os aliados também dividiram a Ale-manha em zonas de ocupação: soviética, france-sa, inglesa e americana. Mais tarde, a zona sovi-ética transformou-se na República Democrática Alemã, também socialista.

CÁCERES, F. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1993. Segundo grau. p. 400. Adaptado; ______. História Geral. 4. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Moderna, 1996.

A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre o segundo pós-guerra, pode-se afirmar:

(01) A referida descolonização no continente africano propiciou a integração dos novos países como parceiros no processo de ex-pansão do capitalismo internacional.

(02) O processo de descolonização, nos países asiáticos, assumiu o caráter de não violência e desobediência pacífica, preconizado por Mahatma Gandhi.

(04) A presença da URSS na partilha do territó-rio alemão decorreu do fato de os soviéticos terem participado, como aliados, da vitória das democracias contra o Eixo, formado pela Alemanha, Itália e seus aliados.

(08) A construção do muro de Berlim (1961) de-correu do aprofundamento dos confrontos de interesses entre Estados Unidos junta-mente com a Europa versus URSS, no con-texto da Guerra Fria.

(16) A política da perestroika e do glasnost, instalada na URSS durante o governo de Mikhail Gorbatchev, relaciona-se com o es-facelamento do sistema socialista no Leste Europeu.

(32) O desmembramento da antiga União Sovi-ética propiciou o surgimento de movimen-tos nacionalistas nas repúblicas do Leste Europeu, resultando no reordenamento das fronteiras políticas naquela região.

2. (URCA – CE) A Questão Palestina é um dos eixos de tensão no Oriente Médio. A implantação do

Estado de Israel, em 1948, está entre as origens do problema palestino. Sobre a criação do Esta-do de Israel e o agravamento da Questão Palesti-na, é correto afirmar:

a) a aprovação do plano de partilha da Palestina que previa a criação de um Estado israelense e outro palestino foi aprovada na ONU em 1947 e sofreu apenas a oposição da URSS;

b) a Liga Árabe se recusou em aceitar a partilha decidida pela ONU, o que provocou uma guer-ra vencida pelos países árabes e reduziu con-sideravelmente os territórios do recém-criado Estado de Israel;

c) a guerra de 1948-1949 abriu uma ferida nas relações entre os países da região e transfor-mou centenas de milhares de palestinos em refugiados;

d) o Egito foi o único país da região a apoiar Isra-el desde o início daquele país;

e) para o agravamento da tensão na região foi decisivo o apoio norte-americano aos palesti-nos, o que só foi atenuado com a presença britânica para contrabalançar a hegemonia dos EUA.

3. (UFJF – MG) Leia os versos a seguir. Eles fazem parte do Hino Nacional da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) adotado em 1944.

A grande mãe Rússia consolidou para sempre A união indestrutível das repúblicas livres. Viva a criada pela vontade dos povos, Única, poderosa União Soviética. Formamos o nosso exército nas batalhas, Varreremos os infames inimigos do caminho! Nas batalhas, decidimos o destino das gerações, Levaremos nossa Pátria para a glória!

Sobre o processo histórico soviético durante o século XX, é incorreto afirmar que:

a) nos anos 20, apesar da adoção dos princípios socialistas, a Nova Política Econômica (NEP) teve como lema “... voltar um passo atrás, para depois avançar dois passos à frente” com a retomada de algumas práticas capitalistas;

b) nos anos 30, a falta de planejamento econô-mico estratégico contribuiu para que a eco-

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86 Geopolítica

nomia soviética fosse uma das mais afetadas pelas repercussões da crise de 1929;

c) nos anos 40, as lideranças políticas soviéticas procuraram reforçar a ideia de grandeza da URSS e a importância da unidade entre as re-públicas que a compunham;

d) nos anos 50, a URSS ampliou sua área de in-fluência sobre o leste do continente europeu através de alianças como o Pacto de Varsóvia, que apresentava uma natureza militar;

e) nos anos 60, a URSS buscou demonstrar sua superioridade tecnológica, investindo, por exemplo, na corrida espacial, o que permitiu o lançamento do 1º. homem ao espaço.

4. (UTFPR) O processo de descolonização da Ásia e da África ganhou um grande impulso após a Se-gunda Guerra Mundial, em parte devido ao de-clínio internacional de potências coloniais como a França e a Grã-Bretanha, e em parte devido ao crescimento de movimentos de libertação nacio-nal dentro das próprias colônias.

Sobre esse assunto, estabeleça correspondência entre a primeira coluna e a segunda.

1.ª coluna

(1) Desobediência civil

(2) Dien Bien Phu

(3) Al-Fatah

(4) Yom Kippur

(5) Frente de Libertação Nacional

2.ª coluna

( ) Israel

( ) Argélia

( ) Vietnã

( ) Palestina

( ) Índia

A sequência correta é:

a) 2, 3, 5, 4 e 1.

b) 1, 2, 5, 4 e 3.

c) 1, 5, 2, 4 e 3.

d) 1, 5, 2, 3 e 4.

e) 4, 5, 2, 3 e 1.

5. (UFPel – RS)

Fonte: SCALZARETTO, Reinaldo; MAGNOLI, Demétrio. Atlas: geopolítica. São Paulo: Scipione, 1996. Adaptação.

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As duas Coreias

O mapa demonstra a divisão da Coreia, que foi um episódio da:

a) Segunda Guerra Mundial (entre Aliados e Eixo);

b) Guerra Fria (entre União Soviética e Estados Unidos);

c) Revolução Chinesa (entre comunistas e nacio-nalistas);

d) Guerra Sino-Japonesa (entre a China e o impe-rialismo japonês);

e) Guerra Russo-Japonesa (na disputa pela Pe-nínsula da Coreia).

6. (UNICAMP – SP) O ativista negro Steve Biko, um dos críticos do apartheid, que vigorou oficial-mente na África do Sul entre 1948 e 1990, afir-mou:

Nós, os negros, temos que prestar muita atenção à nossa história se quisermos tornar-nos cons-cientes. Temos que reescrever nossa história e mostrar nossa resistência aos invasores brancos. Muita coisa tem que ser revelada e seríamos in-gênuos se esperássemos que nossos conquista-dores escrevessem uma história imparcial sobre nós. Temos que destruir o mito de que a nossa história começa com a chegada dos holandeses.

Adaptado de Steve Biko, I write what I like: a selection of his writings. Johannesburg: Picador Africa, 2004. p. 105-106.

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Ensino Médio | Modular 87

GEOGRAFIA

a) Segundo o texto, por que os negros necessita-riam reescrever a história da colonização sul--africana?

b) O que foi o regime denominado apartheid na África do Sul?

7. (UFPA) Em relação aos conflitos étnico-nacionais entre árabes e judeus e os impactos socioespaciais decorrentes desses conflitos, é incorreto afirmar:

a) o conflito entre árabes e judeus ficou mais evidente a partir da divisão estabelecida pela ONU em 1947, pois os árabes não aceitaram a partilha do território e formaram uma coa-lizão, entrando em confronto com o Estado judeu por várias vezes. A Guerra dos Seis Dias foi o conflito mais importante, porque trouxe uma reconfiguração espacial com a ampliação do território israelense e uma grande limpeza étnica com a expulsão de milhares de palesti-nos em direção aos países vizinhos;

b) a superioridade do Estado judeu está relacio-nada a uma maior coesão político-cultural das colônias judaicas espalhadas pelo mundo e ao apoio das potências ocidentais, principal-mente os EUA, que, além de prestarem ajuda financeira a Israel, ainda vetaram no Conselho de Segurança da ONU a aprovação de resolu-ções condenando esse Estado;

c) a criação do Estado palestino esbarra na des-continuidade territorial, pois, apesar da devo-lução da Faixa de Gaza à autoridade nacional palestina, grande parte da Cisjordânia conti-nua nas mãos de Israel e a construção do muro que separa as cidades palestinas das colônias judaicas deverá dificultar a devolução integral desse território aos árabe-palestinos;

d) a disputa entre árabes e judeus envolve o con-trole de recursos naturais importantes, como as reservas hídricas do Rio Jordão, na medida em que este curso d’água nasce nas Colinas de Golã e corre em direção à Cisjordânia, dois territórios que continuam nas mãos de Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967;

e) o apoio das grandes potências a Israel gerou um sentimento antiocidental no mundo ára-be, o que tem legitimado a expansão do ter-rorismo em escala global, por meio de grupos fundamentalistas islâmicos, como o Hezbollah e o Hamas, que recebem, ambos, o apoio for-mal de várias potências ocidentais.

8. (UFPA) Sobre a África do Sul, leia o texto a seguir.

A África do Sul ocupa uma posição estratégica no sul do continente africano, como eixo de pas-sagem entre os oceanos Atlântico e Índico. Além disso, possui muitos recursos naturais, especial-mente ouro, pedras preciosas e minerais. Porém a sua inserção como potência regional define-se mais pela sua liderança no continente, reforça-da pela formação da União Africana em julho de 2002. Essa nova organização é uma iniciativa para estimular o desenvolvimento e combater a pobreza no continente.

KRAJEWSKI, A. C.; GUIMARÃES, R. B.; RIBEIRO, W. C. Geo-grafia, Pesquisa e Ação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003. p. 115.

Considerando a África do Sul como potência re-gional e a sua relação com os demais países da África Subsaariana, é correto afirmar:

a) o forte desenvolvimento econômico e a aber-tura democrática fizeram com que a Áfri-ca do Sul exercesse forte influência sobre o continente africano, no final do século XXI, especialmente sobre a África Subsaariana, in-termediando acordos de paz em países como Angola e Moçambique;

b) a influência da África do Sul sobre o continen-te africano, especialmente sobre a maioria dos países subsaarianos, sempre ocorreu em razão do bloqueio econômico imposto pela ONU aos países que eram seus concorrentes dire-tos, como a Líbia;

c) ao contrário dos demais países da região, a homogeneidade étnica na África do Sul con-tribuiu para o fortalecimento da democracia,

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88 Geopolítica

que sempre prevaleceu nesse país, e o ajudou a se tornar uma das maiores potências regio-nais;

d) a economia da África do Sul é altamente mo-dernizada, principalmente no setor mineral. Esse crescimento econômico com base nos recursos minerais foi direcionado para bene-ficiar a sociedade como um todo e inspirou a superação de conflitos étnicos em países, como Serra Leoa e Congo, nos quais tribos ri-vais disputaram, durante muito tempo, o con-trole das reservas minerais;

e) durante a Guerra Fria, a África Sul, com o aval de grandes potências capitalistas, apoiou grupos pró-ocidentais em conflitos regionais, como ocorreu em Angola e Moçambique. Esses conflitos destruíram a infraestrutura e comprometeram a produção de alimentos nos referidos países.

9. (UFMT) O governo dos EUA resolveu reativar, desde o dia 1º. de julho de 2008, a IV Frota, vol-tada para operações navais na América Latina, marcando uma nova etapa nas suas relações com esta região. Na primeira metade do século XIX, essa relação foi caracterizada por ideias que defendiam a liberdade comercial e o princípio da não intervenção de nações estrangeiras, sinteti-zado pelo lema América para os americanos.

Como foi denominada essa política?

a) Doutrina do Big Stick.

b) Aliança para o Progresso.

c) Pan-americanismo.

d) New Deal.

e) Doutrina Monroe.

10. (ESPM) Observe o texto e o mapa:

Sudão do Sul, independente e vulnerável

No sábado 9, o mundo ganhou um novo país: o Sudão do Sul. A nação, maior que a Bahia, nas-ce carregando o título do Estado mais pobre do mundo, onde três dos estimados nove milhões de habitantes precisam de ajuda humanitária para se alimentar e 90% vivem com até 50 centavos de dólar por dia (cerca de 0,80 centavos de reais).

Fonte: Carta Capital. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/internacional/sudao-do-sul-independente-e-vulneravel>. Acesso em: 30 set. 2011. Adaptação.

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Sudão e Sudão do Sul

Em relação à geografia do novo país, está corre-to afirmar:

a) localizado na África Austral, as ricas jazidas de ferro e cobre apresentam-se como oportuni-dades futuras em melhores dias para amenizar o alto índice de miséria existente;

b) localizado entre a África Oriental e Central, e de maioria cristã e animista em oposição ao norte islâmico, o Sudão do Sul vê no petróleo as melhores perspectivas futuras;

c) localizado na África Ocidental, o novo país tem nas áreas de plantation a base da econo-mia exportadora de gêneros tropicais, como cacau e açúcar;

d) o conflito étnico entre tútsis e hutus levou a um genocídio nesse novo país da África Orien-tal, cuja separação em duas partes pareceu ser a única solução possível;

e) o novo país de maioria islâmica localiza-se na África Setentrional e o clima mediterrâneo fa-vorece o cultivo de videiras e oliveiras, os prin-cipais produtos de exportação.