sintomas desagradáveis na gravidez

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Page 1: Sintomas desagradáveis na gravidez

Problemas na Gravidez

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CAPÍTULO 13

Sintomas desagradáveis na gravidez

1 Introdução2 Náuseas e vômitos3 Cansaço4 Dor nas costas5 Pirose6 Constipação7 Hemorróidas8 Vaginite

8.1 Candidíase8.2 Tricomoníase8.3 Vaginose bacteriana

9 Cãibras nas pernas10 Varizes e edema da perna11 Outros sintomas12 Conclusões

1 Introdução

Embora uma gravidez sem complicações geralmente sejaconsiderada um estado de saúde, e não uma doença, amiú-de é acompanhada por sintomas que, em outros momen-tos ou em outras circunstâncias, poderiam ser considera-dos sinais de doença. Os denominados “sintomas leves” dagravidez, como náusea e vômito, cansaço, dor nas costas,pirose, constipação, hemorróidas, corrimento vaginal, cãi-bras nas pernas, varizes e edema, são desagradáveis e podemcausar desconforto significativo. As muitas mulheres queapresentam esses sintomas podem ter que modificar bastanteseu estilo de vida e comportamento. A prevenção ou o alí-vio desses sintomas são um aspecto importante da atençãopré-natal.

2 Náuseas e vômitos

As náuseas e vômitos estão entre os sintomas mais freqüen-tes, os mais característicos e talvez os mais incômodos do iní-cio da gravidez. Quase 75% de todas as gestantes apresentamnáuseas, e uma em cada 10 apresenta persistência do distúr-bio além do primeiro trimestre. Apesar do nome popular “en-jôo matinal”, muitas mulheres têm o sintoma durante todo odia. Freqüentemente é mais intenso e mais duradouro nasmulheres com gravidez múltipla.

Felizmente, a forma mais grave de náusea e vômito(hiperêmese gravídica), com desidratação e distúrbioeletrolítico, é rara hoje. Embora as mulheres que apresentamhiperêmese possam precisar de internação hospitalar e de tra-tamento ativo, a morbidade e a mortalidade associadas dimi-nuíram dramaticamente.

As causas de náuseas na gravidez ainda são desconhecidas,e a variedade de tratamentos recomendados reflete as muitasteorias sobre as causas. Como poderia ser esperado de umacondição autolimitada, estudos não-controlados desses “tra-tamentos” mostraram resultados sensacionais, mas falsos. Emcontraste, os resultados dos estudos controlados foram menosimpressionantes.

Recentemente, o uso de antieméticos diminuiu devido atemores possivelmente justificados dos efeitos da medicaçãosobre o feto. Freqüentemente são preferidas condutas não-farmacêuticas para aliviar náuseas e vômitos, particularmentedurante as primeiras semanas, quando o feto em desenvol-vimento é mais vulnerável. Sugestões comuns sobre repou-so e dieta para mulheres com náuseas ou vômitos durante agravidez não foram avaliadas em estudos randomizados, mastendem a ser inofensivas, e podem ser úteis. Pequenas quan-tidades de carboidratos, como biscoitos ou bananas, podemaliviar algumas mulheres, e se forem retidas proporcionarãoa nutrição necessária. O repouso pode ser impossível quan-do as mulheres têm outras responsabilidades, como umemprego ou filhos pequenos, mas pode ser útil quando pos-sível.

Uma conduta não-convencional, que utiliza acupressão noponto Neiguan (P6) no punho, foi avaliada em vários estudosrandomizados controlados por placebo. Os estudos foram pe-quenos, mas sugerem que a acupressão pode reduzir a freqüên-cia de náusea persistente. As pulseiras antienjôo comuns usa-das para enjôos em viagens podem ajudar algumas mulheres,e não tendem a causar danos. O papel da acupressão mereceavaliação adicional.

A vitamina B6 (piridoxina) foi testada em dois estudos. Seusresultados sugerem que a vitamina B6 pode ser efetiva na re-dução da intensidade da náusea, mas não está claro em quegrau. As indicações de qualquer efeito sobre o vômito sãoinconclusivas. No caso de hiperêmese, o gengibre em pó e oACTH foram comparados com placebo, mas esses estudos

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foram pequenos demais para permitir quaisquer conclusõesfidedignas.

Vários estudos, realizados principalmente nas décadas de1950 e 1960, demonstraram que diversos anti-histamínicossão melhores que os placebos. Um estudo da dramaminamostrou que ela é menos efetiva isoladamente do que quandoassociada à benzilamina. Os anti-histamínicos simples geral-mente são considerados seguros durante a gravidez, emboraalgumas vezes causem efeitos colaterais perturbadores, comotonteira e borramento da visão. Não foram realizados grandesestudos epidemiológicos para pesquisar possíveis efeitos ad-versos sobre o feto.

Antigamente, a droga mais usada no tratamento de náuse-as e vômitos da gravidez era uma substância contendo o anti-histamínico succinato de doxilamina e piridoxina (comerci-alizada como Debendox no Reino Unido, como Bendectin nosEstados Unidos e no Canadá e como Lenotan em alguns ou-tros países). Os três pequenos estudos controlados com placebopublicados fornecem indicações razoáveis de que o Debendoxaliviava as náuseas durante a gravidez. Foi retirado do merca-do em 1983 em conseqüência de processos judiciais contra osfabricantes. Houve alegações de que a droga causara malfor-mações congênitas quando usada na gravidez. Na época de seurecall, o Debendox havia sido usado por mais de 30 milhõesde mulheres em todo o mundo. Em muitos países, um quartoa um terço de todas as gestantes usaram Debendox. Se asmalformações congênitas ocorrem em 3,5% dos bebês, ape-nas acidentalmente o Debendox teria sido usado pelas mãesde mais de um milhão de bebês nascidos com malformaçãocongênita. Na inevitável busca do que pode ter causado asmalformações nas crianças, não causa surpresa que muitas mãestenham apontado o Debendox, e, talvez instigadas por advo-gados excessivamente gananciosos, algumas decidiram entrarna justiça.

O processo ocorreu apesar de muitas evidências contra o fatode o Debendox ser teratogênico. Nos 19 estudos epidemioló-gicos sobre o Debendox, há um amplo consenso de que a droganão está associada a aumento do risco de malformações congê-nitas. Apesar da súbita retirada do Debendox do mercado, nãohouve redução correlacionada na incidência descrita de qualquergrupo de malformações. A remoção do Debendox provavelmen-te levou a aumento do uso de outros medicamentos para trata-mento das náuseas e vômitos cujo uso, isoladamente, foi sub-metido a muito menos estudos em seres humanos.

Se for usado um antiemético durante a gravidez, a opçãoatual freqüentemente é um anti-histamínico. Essas substân-cias parecem ser eficazes, conforme demonstrado pelos estu-dos iniciais, mas sua segurança não foi tão bem estudada.

3 Cansaço

Muitas mulheres relatam extremo cansaço, principalmente nosprimeiros meses e novamente durante as últimas semanas degravidez. Apesar do efeito adverso sobre suas vidas, foram re-alizadas poucas pesquisas sobre as causas ou o tratamento dessesintoma. Há questões interessantes sobre a relação entre can-saço e náusea, e sobre fatores que poderiam ajudar, como tirarlicença do trabalho. Na ausência de pesquisa controlada, pa-rece prudente assegurar às mulheres que o cansaço é um sin-toma comum, que tende a diminuir durante o segundo tri-mestre, aconselhar aquelas excessivamente cansadas a repou-sar e a buscar ajuda nos compromissos domésticos e profissio-nais sempre que possível.

4 Dor nas costas

A dor nas costas é comum na população em geral, e ainda maiscomum em gestantes. Até 75% das mulheres relatam sentirdor nas costas em algum momento da gravidez, e um terçoconsidera-a um problema grave. As possíveis causas de dor nascostas na gravidez incluem alteração da postura com aumen-to da lordose lombar (curvatura da coluna vertebral) e altera-ções hormonais que causam afrouxamento dos ligamentos emaior retenção hídrica nos tecidos. Os sintomas freqüentemen-te são mais intensos à noite e contribuem para dificultar o sono,principalmente nos últimos três meses de gravidez. Deve-seassegurar às mulheres que o problema geralmente se resolveespontaneamente logo após o nascimento, particularmentepara aquelas que não sentiam dor nas costas antes da gravi-dez.

Há poucas informações de estudos controlados sobre comoevitar ou tratar a dor nas costas durante a gravidez. Conselhoscomuns sobre o estilo de vida, como usar cadeiras com bomsuporte para as costas e evitar levantar pesos, não foram avali-ados em estudos controlados, mas parece valer a pena tentar.Um estudo avaliou um programa de exercícios e educação,realizado em duas pequenas sessões em grupo com materialescrito, ou em cinco sessões individuais com uma fita e mate-rial escrito. Os problemas relacionados à dor foram reduzidosnos dois grupos de tratamento em comparação com o gruposubmetido à atenção pré-natal normal, e as mulheres que par-ticiparam do programa individualizado ficaram menos tem-po afastadas do trabalho. Entretanto, esses resultados devemser interpretados com atenção devido a falhas metodológicasno estudo.

Um único estudo sobre o travesseiro Ozzlo, um travesseirodesenvolvido na Austrália para dor nas costas, sugeriu que ele

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era um pouco melhor que um travesseiro padrão para alívio dador nas costas no final da gravidez. Pode-se considerar esse tra-tamento nos lugares em que o travesseiro pode ser encontrado.

5 Pirose

A pirose afeta cerca de dois terços das mulheres em algummomento da gravidez. É outro distúrbio “leve” da gravidez,mas causa mais desconforto e angústia do que muitos distúr-bios mais graves. Freqüentemente está associada à ingestão dealimentos, à posição abaixada ou deitada. O fator precipitantemais claro é a postura.

As primeiras recomendações para mulheres com pirosedevem incluir medidas prudentes, como evitar alimentos gor-durosos ou condimentados e evitar inclinar-se ou deitar-se apóscomer. Se isso for insuficiente, a automedicação com antiáci-dos é o tratamento mais empregado, e freqüentemente pro-porciona alívio adequado. Há poucas indicações de diferençasna eficácia das várias preparações disponíveis.

As drogas supressoras de ácidos, como a cimetidina ou aranitidina, e o omeprazol, um inibidor da bomba de prótons,mostraram ser altamente efetivos no tratamento da piroseintensa ou persistente ou do refluxo gastroesofágico. Todos osbloqueadores H2 atravessam a placenta humana, mas os estu-dos epidemiológicos com animais e seres humanos não mos-traram efeito teratogênico. Há poucas informações sobre osefeitos fetais ou neonatais do uso de bloqueadores H2 na gra-videz avançada, mas os estudos não mostraram diferenças emquaisquer aspectos dos resultados da gravidez ou da saúdeneonatal pelo seu uso. Entretanto, são necessários outros es-tudos para confirmar a segurança desses fármacos no final dagravidez. Um pequeno estudo avaliou o uso de ranitidina emgestantes, e os resultados são promissores.

Nas situações em que medidas alimentares e do estilo devida simples e prudentes não proporcionaram alívio adequa-do da pirose, as evidências sugerem que inicialmente devemser prescritos antiácidos, e o uso de drogas supressoras do áci-do deve ser reservado para sintomas persistentes. As pessoasdevem escolher seu produto preferido entre diferentes prepa-rações, pois a adesão ao tratamento será maior quando o pro-duto for considerado de gosto aceitável e efetivo.

6 Constipação

A constipação é um problema para muitas mulheres durantea gravidez, particularmente no último trimestre. As mulhe-res habitualmente constipadas geralmente apresentam agra-vamento durante a gravidez. A freqüência de constipação em

gestantes refletirá seus hábitos alimentares, o consumo de lí-quidos e o padrão de exercício físico.

Estudos de observação constataram que a modificação dadieta, o consumo de líquidos e o exercício trazem alívio paramuitas mulheres. Mais recentemente, o interesse concentrou-se no consumo suplementar moderado de fibras para reduzira constipação. Em um pequeno estudo randomizado compa-rando duas formas de dieta com suplemento de farelo e semsuplemento, as gestantes com constipação que receberamsuplementação de fibras tiveram seu número de movimentosintestinais aumentado em comparação com as mulheres não-tratadas.

Todavia, muitas mulheres com constipação podem neces-sitar de laxantes se as condutas fisiológicas não proporciona-rem alívio. Os laxantes geralmente são classificados pelo seumecanismo de ação. Os agentes formadores de volume (deri-vados de polissacarídeos e/ou celulose) e os amolecedores dasfezes com detergentes (os dioctilsulfossucinatos) são segurosdurante a gravidez, porque são inertes e não absorvidos. Al-guns laxantes, como os difenilmetanos (por ex., bisacodil efenolftaleína), as antraquinonas (aloe, cáscara e sene) e o óleode rícino, exercem sua ação irritante sobre o intestino. Os efei-tos colaterais maternos mais comuns incluem cólica ou dorsúbita, aumento da secreção de muco e catarse excessiva comconseqüente perda de líquido. O uso crônico de laxantes irri-tantes pode resultar em perda da função intestinal normal edependência de laxantes. Esses laxantes irritantes são todosabsorvidos sistemicamente em algum grau. A maioria delesprovavelmente atravessa a placenta, mas há poucas informa-ções sobre possíveis efeitos sobre o feto.

Os catárticos salinos (sais de magnésio, sódio e potássio) elubrificantes (como óleos minerais) não devem ser usadosdurante a gravidez; os primeiros devido ao risco de induzirdistúrbios eletrolíticos e os outros porque interferem com aabsorção de vitaminas lipossolúveis.

O conselho inicial para mulheres com constipação deve serusar medidas fisiológicas e aumentar o consumo de fibras. Osagentes formadores de volume e os amolecedores das fezes sãoseguros para uso prolongado durante a gravidez e a lactação.Se essas preparações não aliviarem os sintomas, deve-se usarlaxantes irritantes como o sene ou o bisacodil padronizadospor curto período. Não devem ser usados catárticos salinos eóleos lubrificantes.

7 Hemorróidas

A prevenção ou o tratamento efetivo da constipação ajudarãoa reduzir a intensidade das hemorróidas, outro sintoma comum

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e doloroso da gravidez. Na ausência de pesquisa confiável so-bre a melhor forma de se evitar ou tratar esse distúrbio, reco-mendações semelhantes às feitas a doentes não-grávidas po-dem ser apropriadas, tais como repouso, elevação das pernas econtrole da constipação. Também se pode assegurar às mu-lheres que as hemorróidas geralmente melhoram ou desapa-recem após o nascimento. Um pequeno estudo controlado complacebo comparou um rutosídeo com o placebo. Embora esseestudo tenha sugerido algum alívio dos sintomas, ainda hápoucos indícios sobre a segurança dos rutosídeos durante agravidez.

8 Vaginite

8.1 CandidíaseA candidíase vaginal (monilíase) é um problema freqüentedurante a gravidez, e causa corrimento vaginal pruriginoso,intensamente irritante. A infecção é duas a dez vezes mais fre-qüente em gestantes que em não-gestantes, e durante a gra-videz sua erradicação é mais difícil. Em geral, desaparece es-pontaneamente logo após o parto.

O diagnóstico clínico de candidíase vaginal não é específi-co nem sensível. Em algumas mulheres, pode ser difícil dis-tinguir entre sintomas de candidíase e o aumento e as modi-ficações da secreção vaginal normal na gravidez. Os sintomastípicos incluem corrimento vaginal irritante e prurido. O exa-me mostra eritema da mucosa dos pequenos lábios, intróito eterço inferior da vagina, com placas brancas e um corrimentofino contendo flocos brancos. O diagnóstico definitivo podeser feito por exame laboratorial.

As infecções por Candida podem afetar lactentes com pesomuito baixo ao nascimento e causam pneumonia e infecçõescutâneas. Entretanto, essas infecções no recém-nascido sãoraras, considerando-se a alta freqüência de candidíase vaginalem gestantes, e por essa razão não é indicado o rastreamentode gestantes sem sintomas de candidíase.

Foram estudados vários diferentes antifúngicos locais, bemcomo diferentes dosagens e freqüências de administração. Osimidazóis são mais eficazes que a nistatina. Não há indicaçõesde que um curso de 14 dias de tratamento antifúngico sejamais efetivo para cura da candidíase do que um curso de 7 dias,mas um curso de 7 dias é mais efetivo que um curso de 4 dias.As taxas de cura para um curso de 7 dias são de até 90%.Recentemente, foram usados tratamentos com dose única va-ginal, mas não foram descritos estudos comparativos na gra-videz.

O tratamento inicial da candidíase vaginal sintomática deveconsistir em um curso de 7 dias de imidazol tópico, como

clotrimazol, devido à sua comprovada eficácia superior ànistatina. Podem ser necessários cursos repetidos, devido àtendência de recorrência da infecção. Não é indicado tratamen-to na infecção assintomática.

Agora também estão sendo prescritos medicamentos orais,como fluconazol. Teoricamente, podem ser mais eficazes queos tratamentos vaginais, pois são eficazes contra microorga-nismos intestinais e vaginais. Entretanto, essa forma de trata-mento não foi testada durante a gravidez, e não pode ser con-siderada segura.

8.2 TricomoníaseO protozoário Trichomonas vaginalis é isolado freqüentemen-te das secreções vaginais durante a gravidez. A infecção porTrichomonas vaginalis na gravidez pode causar vaginite sin-tomática grave em algumas mulheres, com corrimento vagi-nal, irritação intensa e dor e micção dolorosa. Não se sabe aocerto se pode causar efeitos adversos sobre o resultado da gra-videz ou sobre o recém-nascido. Relatos não-comprovados su-geriram que a ausência de tratamento da vaginite por Tricho-monas causa parto pré-termo, mas um estudo controlado erandomizado não relatou diferença estatisticamente significa-tiva do peso ao nascimento ou da idade gestacional ao nasci-mento, tenha a infecção assintomática por Trichomonasvaginalis sido tratada com uma dose única de metronidazolou deixada sem tratamento. A colonização do bebê após partovaginal parece ser rara.

Como o Trichomonas vaginalis freqüentemente está asso-ciado a outras infecções sexualmente transmitidas na gravi-dez, estas devem ser especificamente pesquisadas quando éidentificado Trichomonas vaginalis.

Até metade das mulheres portadoras do microorganismo éassintomática. O corrimento vaginal é a queixa mais comum,mas o corrimento verde espumoso clássico só é encontrado emuma pequena proporção de mulheres. O exame microscópicoa fresco de uma preparação das secreções vaginais é simples ealtamente específico, mas sua sensibilidade comparada à cul-tura pode ser de apenas 50%. Para maximizar a sensibilidadede uma preparação fresca, deve-se examinar imediatamenteuma gota de secreção vaginal diluída em solução salina aomicroscópio. Os movimentos espasmódicos característicos domicroorganismo são perdidos se as secreções esfriarem antesdo exame.

A cultura é o melhor método para se diagnosticar Tricho-monas vaginalis, mas a metodologia é demorada e geralmentenão está disponível. Os esfregaços de Papanicolaou foram usa-dos para diagnosticar a doença, mas a sensibilidade dessemétodo comparada à cultura é de apenas 40%.

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O metronidazol é um tratamento altamente eficaz da in-fecção por Trichomonas vaginalis. Uma dose única de 2 g temtaxas de cura superiores a 90% por até um mês. Esse trata-mento em dose única também maximizará a adesão. O par-ceiro sexual deve ser tratado junto com a mulher.

O metronidazol atravessa facilmente a placenta. Emboratenha sido considerado carcinogênico em roedores emutagênico para determinadas bactérias, não há indicaçõesde teratogenicidade em seres humanos após sua administra-ção a gestantes. Entretanto, a maioria dos obstetras evita seuuso durante o primeiro trimestre de gravidez. Os imidazóis,que se mostraram efetivos in vitro contra Trichomonasvaginalis, podem proporcionar alívio sintomático no inícioda gravidez.

8.3 Vaginose bacterianaA vaginose bacteriana é causada por grandes números deum grupo misto de microorganismos, incluindo Gardne-rella vaginalis, Mycoplasma hominis e vários anaeróbios. Écomum, mas freqüentemente assintomática. Quando hásintomas, eles incluem corrimento vaginal e prurido vul-var. A infecção geralmente desaparecerá espontaneamen-te. Entretanto, há indicações de que a vaginose bacterianaestá associada ao parto pré-termo, e vários estudos avalia-ram a antibioticoterapia em mulheres sintomáticas e as-sintomáticas. Embora esses estudos mostrem que os anti-bióticos têm boas taxas de cura, eles são pequenos demaispara determinar se há qualquer benefício associado emtermos de redução da morbidade e da mortalidadeperinatais (ver Cap. 19).

9 Cãibras nas pernas

Quase metade das gestantes apresenta algum grau de cãibrasnas pernas (espasmos dolorosos dos músculos da panturrilha),particularmente nos últimos meses da gravidez. O sintomatende a surgir à noite, e pode recorrer repetidamente durantesemanas ou meses, causando considerável desconforto. A cau-sa e os mecanismos dessas cãibras ainda não são claros. Algu-mas vezes com base em analogias surpreendentes e hipótesessem apoio, várias drogas foram amplamente prescritas paratratamento e profilaxia. A quinina, o Benadryl, a vitamina De o cálcio na alimentação foram declarados benéficos com baseem estudos não-controlados.

Comprimidos de cloreto de sódio mostraram ser mais efe-tivos que o uso de placebo, o não-tratamento ou o lactato decálcio, em um estudo controlado, mas este estudo teve pro-blemas metodológicos e os resultados não foram confirmados.

Um estudo do cálcio controlado com placebo não mostrouqualquer melhora dos sintomas em mulheres que tomaram 1 gde cálcio duas vezes ao dia durante 3 semanas. Outro estudosugeriu que 5 mmol de magnésio pela manhã e 10 mmol ànoite durante 3 semanas poderiam evitar cãibras, mas esseestudo foi pequeno demais para se chegar a quaisquer conclu-sões firmes.

Os sais de cálcio ainda são amplamente prescritos para asíndrome de cãibras noturnas da panturrilha na gravidez, ape-sar da ausência de indícios em estudos controlados de que se-jam mais benéficos que um placebo. Infelizmente, não pare-cem ter sido realizados outros estudos sobre a eficácia do con-sumo de sódio ou magnésio. É provável que os benefícios ob-servados possam ser restritos a mulheres com deficiência desódio ou magnésio.

A massagem e o alongamento dos músculos afetados fre-qüentemente proporcionam alívio durante uma crise, e certa-mente vale a pena experimentar essas medidas inócuas.

10 Varizes e edema da perna

As varizes das pernas e da vulva são muito comuns durante agravidez. O edema da perna pode afetar até 80% das gestan-tes, e não deve ser considerado sinal de hipertensão induzidapela gravidez ou pré-eclâmpsia (ver Cap. 10). Os sintomaspodem incluir dor, sensações de peso, cãibras noturnas,dormência e formigamento. O tratamento padronizado dossintomas de varizes durante a gravidez é o uso de meias elás-ticas. Estas parecem proporcionar alívio, embora não tenhamsido testadas em estudos randomizados. Podem ser muitodesconfortáveis em épocas de calor.

Dois pequenos estudos fornecem alguns indícios de que osrutosídeos estão associados a melhor alívio dos sintomas devarizes que o placebo, incluindo cãibras, cansaço e edema. Sãonecessários outros estudos para confirmar esses achados, e paraassegurar que o uso de rutosídeo na gravidez não tem efeitosprejudiciais sobre o feto. Os estudos também devem ser pla-nejados para avaliar tratamentos físicos, como meias elásticase exercícios como natação, e para compará-los com os medi-camentos.

Outros métodos para se obter alívio sintomático do edema,como compressão pneumática externa intermitente e imersãoem água durante aproximadamente uma hora, podem resul-tar em redução do volume da perna ou aumento do débitourinário em curto prazo, mas têm pequena utilidade prática.A principal importância do edema é o desconforto apresenta-do por mulheres, e não há indícios de que essas medidas pro-porcionem alívio sintomático.

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11 Outros sintomas

Pequenos estudos tentaram avaliar a efetividade de um cremepara evitar estrias, de um creme com filtro solar para melasma(manchas cutâneas escuras), de anti-histamínicos comparadosà aspirina para controle do prurido no final da gravidez e devitamina B para evitar cáries dentárias. Nenhum tevemetodologia ou tamanho de amostra adequados para estabe-lecer claramente se os tratamentos proporcionaram algumbenefício ou alívio.

12 Conclusões

Alguns dos sintomas comumente apresentados durante a gra-videz podem ser aliviados por condutas simples e fisiológicas.Outros persistem e causam desconforto significativo.

A acupressão mostrou ser promissora para o alívio de náu-seas e vômitos da gravidez, e deve ser mais bem investigada.Quando se considera necessário o uso de medicamentos, osanti-histamínicos parecem ser as drogas de escolha, emboranenhum produto isolado tenha sido testado satisfatoriamentequanto à eficácia em estudos suficientes e haja poucos estudosdisponíveis para informar-nos sobre possíveis riscos teratogê-nicos.

Não há informações disponíveis para ajudar no alívio docansaço. Quando possível, as mulheres devem ser incentiva-das a repousar, e a buscar ajuda para as tarefas domésticas eprofissionais.

Quando os sintomas de pirose deixam de responder às in-tervenções posturais e nutricionais, devem ser usados antiáci-dos ou drogas supressoras de ácidos. No caso de constipaçãona gravidez, a modificação da dieta, incluindo aumento doconsumo de fibras e líquidos, deve ser considerada antes de serecorrer aos laxantes. Os fármacos de volume, se necessáriocombinados aos amolecedores de fezes, devem ser usados se asmedidas não proporcionarem alívio suficiente. Os laxantesirritantes (como sene padronizado) devem ser reservados parauso por curto período em casos refratários.

Os sintomas da candidíase vaginal respondem bem a cur-sos breves de clotrimazol, que freqüentemente também pro-porcionarão alívio dos sintomas de vaginite por Trichomonas.Não é indicado tratamento na infecção assintomática. Ometronidazol, que é mais eficaz para Trichomonas vaginalis,atravessa facilmente a placenta, e provavelmente deve ser evi-tado durante o primeiro trimestre.

Ainda não há tratamento farmacêutico para cãibras daspernas firmemente baseado em evidências científicas. Atual-mente, há poucos indícios para se recomendar qualquer tra-

tamento para o edema que seja efetivo ou aceitável. Apesar daausência de dados objetivos, as meias elásticas ainda são o tra-tamento padrão para varizes e edema.

A prevenção e o tratamento dos sintomas “leves”, freqüen-temente muito desagradáveis, da gravidez foram objeto de pe-queno exame sistemático nos estudos clínicos. Devido à suaampla prevalência, e ao desconforto significativo que causam, éurgente a necessidade desse estudo sistemático.

Fontes

Effective care in pregnancy and childbirth

Biblioteca Cochrane

Revisões pré-Cochrane

Outras fontes

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