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Nome:Escolo: ---------------------

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Carofa) aluno(a],

Este Caderno trata de questes relativas qualidade da vida humana diante das possibilidades e dos limites apresentados pela tica e pela tecnologia. Nas Situaes de Aprendizagem aqui propostas, voc entrar em contato com a Biotica, seu campo de atuao e suas perspectivas. Ter, tambm, oportunidade de discutir e refletir sobre a abrangncia dos avanos da tecnologia e reconhecer os processos de racionalidade que a subsidiam. cotidianas. Poder, ainda, pensar a condio humana diante da banalidade de aes

Assim, por meio desses temas e de fundamentos da tradio filosfica, este Caderno oferece subsdios para que voc possa refletir sobre aspectos to diretamente ligados nossa vida diria e aos nossos sentimentos, que, por vezes, chegam a passar despercebidos.

Espera-se, dessa forma, que este Caderno possa ajud-lo a se posicionar com mais clareza acerca das questes que envolvem poscura tica em relao cincia, tecnologia e condio humana. E que o estimule a refletir sobre os eventos de sua vida cotidiana e a vivenci-los com mais responsabilidade. Bom estudo!

Equipe Tcnica de Filosofia rea de Cincias Humanas Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas - CENP Secretaria da Educao do Estado de So Paulo

Filosofia - 2' srie - Volume 4

SITUAAo DE APRENDIZAGEM INTRODUAo BIOTICA

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objetivo desta Situao de Aprendizagem iniciar um debate sobre alguns problemas relacionados biotica, como sade pblica, conceito de vida humana, de meio ambiente, de tica mdica, de medicalizao da existncia, de corporeidade e de planejamento familiar. Com os avanos cientficos e tecnolgicos na rea mdica, a relao com o corpo e com a sade experimenta mudanas cada vez mais intensas, impossibilitando que valores seculares respondam a questes absolutamente novas. Enfim, como pensar novos paradigmas ticos diante de um mundo em constante transformao e nem sempre admirvel? Leia com ateno os dois textos a seguir.

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Leitura e Anlise de Texto Texto 1 - Leis nazistas sobre a purificao da raa

"Entre 1933 e 1945, ocorreram trs fatos importantes que incluram progressivamente as instituies mdicas na formulao e na realizao de polticas pblicas 'eugenistas' e racistas, formuladas desde 1924 por Hitler em seu livro-propaganda Mein Kampf(Minha luta). 1. Lei de 14 de julho de 1933, sobre a esterilizao - 'lei para a preveno contra uma descendncia hereditariamente doente' -, que estabelecia uma ligao estreita entre mdicos e magistrados, por meio de um 'tribunal de sade hereditria', e que seria complementada, em 1935, pelas leis de Nuremberg - 'Lei da Cidadania do Reich' e 'Lei para a Proteo do Sangue e da Honra Alemes' -, relativas sobretudo a populaes judias e ciganas e interdio de casamento entre pessoas de 'raas diferentes'.

2. Circular de outubro de 1939 sobre a eutansia a ser praticada em doentes considerados incurveis, isto , de 'vidas que no valiam a pena serem vividas', criando seis institutos para a prtica da eutansia por injeo de morfina-escopolamina ou, quando julgada ineficaz, por sufocamento em cmaras de gs por meio de monxido de carbono e do inseticida Zyklon B (que foi amplamente utilizado em Auschwitz a partir de 1941), decidido e controlado por mdicos. 3. Criao, a partir de 1941, dos campos de extermnio, organizados e controlados pelos mesmos responsveis pelo programa de morte por eutansia."Leis nazistas sobre a purificao da raa. Adaptado de PALCIOS, M.; REGO, S.; SCHRAMM, F. R. A regulamentao brasileira em tica em pesquisa envolvendo seres humanos. In: MEDRONHO, R. et ai. (Orgs.). Epidemiologia. So Paulo: Atheneu, 2002.'I Dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 19 de agosto de 1947, ocorreu o julgamento de mdicos nazistas no Tribunal de Nuremberg. Nesse tribunal, 20 mdicos e trs administradores foram julgados por "assassinatos, torturas e outras atrocidades cometidas ern nome da cincia mdica", como tambm foram levantadas questes ticas sobre experimentao em seres humanos, com

as quais a nova cincia mdica

iria se defrontar

cada vez mais nos anos seguintes.

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Filosofia - 2' srie - Volume 4

Texto 2 - Algumas experincias com seres humanos

[...]"1932-1972 a) - Trs casos mobilizaram a opinio pblica americana:

em 1963, no Hospital Israelita de Doenas Crnicas, em Nova York, foram injetadas clulas cancerosas vivas em idosos doentes; entre 1950 e 1970, no Hospital Estadual de Willowbrook, o vrus da hepatite em crianas com deficincia mental; em Nova York, injetaram

b)

c)

em 1932, no Estado do Alabama, no que foi conhecido como o caso Tuskegee, 400 negros com sfilis foram recrutados para participarem de uma pesquisa de histria natural da doena e foram deixados sem tratamento. Em 1972 a pesquisa foi interrompida aps denncia no lhe New York Times. Restaram 74 pessoas vivas sem tratamento [... ]."

Algumas experincias com seres humanos. Adaptado, para fins didticos, de Biotica e Medicina. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, 2006. Disponvel em: . Acesso em: 18 jun. 2010.

Aps a leitura, discuta com os colegas e responda s questes a seguir. 1. Cabe a quem decidir sobre o direito vida? Ao Estado, cincia ou religio?

2.

Como considerar a deciso de cada um?

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Filosofia - 2' srie - Volume 4

PARA SABER MAISFilme Mar adentro. Direo: Alejandro Amenbar. Espanha/FranalItlia, 2004. 125 mino Drama. 12 anos. Assista ao filme que conta a histria de Ramn Sampedro, um tetraplgico que, incapacitado de mover partes do corpo, exceo da cabea, deseja pr fim a essa situao. O filme trata, diretamente, da questo da eutansia, envolvendo temas que a Filosofia pode debater.

Leitura e Anlise de Texto

o primado

da vida

"Com a Aids disseminada, hora de o magistrio catlico seperguntar se opreservativo no seria mesmo 'um mal menor'. "Frei Berro

Doutrina e teologia da Igreja Catlica conheceram considerveis avanos neste sculo, sobretudo a partir do Conclio Vaticano 29. (1962-65). Outrora, o planejamento familiar dependia da abstinncia sexual; o carinho dentro do casal era pecado; protestantes e judeus, abominados; o ecumenismo, impensvel; o latim, obrigatrio nas missas; a batina, nica indumentria social do padre. Hoje, celebra-se em lngua verncula; o papa rene-se com representantes de diversas religies e visita a sinagoga de Roma, fotografado em trajes esporte ao esquiar e pede perdo pelo antissemitismo da igreja, pelos erros da Inquisio, pela condenao de Galileu e das teorias de Darwin. Mesmo a Teologia da Libertao, encarada com suspeita na dcada de 80, incorpora-se agora aos discursos papais. Basta reler seus pronunciamentos em Cuba (98) e no Mxico (99), condenando o neoliberalismo e a globalizao, bem como seus insistentes apelos em prol da reforma agrria e da suspenso do pagamento da dvida externa. A cidadela inexpugnvel , ainda, a teologia moral. Sobretudo o captulo concernente

moral sexual, que probe relaes sexuais sem finalidade procriatria; condena o hornossexualismo; impede os casais de segundas npcias, exceto na viuvez, de acesso aos sacramentos e veta o uso de preservativos, mal grado a Aids ter tirado a vida, em 1999, de cerca de 4 milhes de pessoas. As autoridades da igreja, felizmente, demonstram maior tolerncia nesse mundo pluralista, em que no se pode pretender que a moral preceituada instituio seja imposta5

Filosofia - 2 srie - Volume 4

sociedade. Talvez isso explique o fato de Joo Paulo 2, em sua ltima visita ao Rio, teracolhido no altar cantores que j passaram por vrios casamentos [...]. Frente ameaa da Aids, o que o padre Valeriano Paitoni declarou [...] Folha (2/7) em nada destoa do que antes dissera dom Paulo Evaristo Arns: que o preservativo "um mal menor". magistrio eclesistico sabe que direito e dever dos telogos - pois esse o carisma deles: debater todas as questes concernentes vida de f - e que "os pastores nem sempre perceberam todos os aspectos e todas as complexidades de algumas questes" (Congregao para a Doutrina da F, 1990). A questo sexual luz das fontes da revelao crist situa-se num contexto mais amplo, que engloba desde o papel da mulher na igreja] ...] at o fim do celibato obrigatrio para os padres seculares, bem como a volta ao ministrio dos que se encontram casados. Como uma lente que se abre progressivamente, tais temas devem ser tratados com menos preconceito e mais estudos bblicos, menos autoritarismo e mais dilogo com a comunidade dos fiis, como fez dom Cludio Hummes, ao receber, semana passada, entidades solidrias aos portadores do vrus HIV A tradio ou histria da igreja uma boa mestra quando no se quer repetir equvocos. Os irmos Cirilo e Metdio evangelizaram a Morvia, no sculo 9. Criaram o alfabeto cirlico, base do russo atual. Traduziram para o eslavo os textos bblicos. Os bispos alemes protestaram, alegando que Deus s podia ser louvado nas trs lnguas da cruz: hebraico, latim e grego. Cirilo morreu em 869. Metdio foi preso por ordem dos bispos alemes. O papa Joo 8 negociou sua libertao em troca do latim na liturgia. Metdio recusou-se a abrir mo do eslavo. Dois anos depois, o papa cedeu e, sculos adiante, Joo Paulo 2 exaltaria os dois irmos [...]. Condenada pela igreja, ela foi queimada viva, em 1431, como "herege e idlatra [...]". Camponesa e analfabeta, tinha 19 anos, vestia-se de homem e andava armada. Canonizada em 1920, hoje venerada como santa Joana d'Arc. Na encclica "Mirari vos", de 1832, Gregrio 16 condenou o mundo moderno, as liberdades de conscincia e de imprensa e a separao entre igreja e o Estado. Em 1864, [...] Pio 9 reafirmou a sentena [...]. Continua vigente o decreto do Santo Ofcio assinado por Pio 12, em 1949, e confirmado por Joo 23, em 1959, pelo qual os catlicos que votarem ou se filiarem a partidos comunistas, escreverem livros ou artigos filocomunistas esto excludos dos sacramentos. "Ningum pode, ao mesmo tempo, ser bom catlico e socialista verdadeiro", disse Pio 11. Hoje, Joo Paulo 2 admite que "o socialismo continha sementes de verdade", visita Cuba, [...] mostra-se encantado com a Internet, louva os progressos cientficos e tcnicos e percorre o mundo em viagens areas. "Eppur si muove", malgrado o decreto de 1616, do Santo Ofcio, condenando aqueles que diziam que a Terra se move. No s o planeta, mas os costumes e a herrnenutica dos fundamentos da doutrina.

o

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Filosofia - 2' srie - Volume 4

Jesus no condenou a adltera 00 7) nem a samaritana que estava no sexto marido 004) nem deixou de escolher Pedro para chefiar o grupo apostlico porque ele era casado (Mc 1). Cobriu-os de compaixo, revelando-lhes o corao amoroso de Deus.

hora de o magistrio catlico se perguntar se o preservativo pode ser descartado,quando se sabe que at mulheres casadas so infectadas por seus maridos pelo vrus da Aids. O preceito evanglico da vida como bem maior de Deus e o princpio tomista da legtima defesa no se aplicariam a?Frei Betto. O primado da vida. Folha de S.Paulo, 30 de julho de 2000.

1. Qual a polmica central apresentada pelo autor?

2.

Qual seu posicionamento,

ou de seu grupo, em relao a essa polmica? Justifique.

PESQUISA INDIVIDUALA biotica um tema de extrema atualidade. Para aprofundar pesquisa na biblioteca da escola ou, se possvel, na internet. seu conhecimento, realize uma

Pesquise com o objetivo de responder: Quais as principais polmicas enfrentadas pela biotica no mundo contemporneo? Dois sites e dois autores indicados a seguir podem, de incio, ajudar voc neste trabalho. Verifique o que eles informam e tente responder questo proposta.7

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Os autores Edmund Pellegrino. Mdico e filsofo norte-americano, primeiros pensadores da biotica. considerado um dos . da

Volnei Garrafa. Pesquisador da Universidade de Braslia, vice-presidente seo Latino-Americana da Sociedade Internacional de Biotica (SIBI).

Procure mais informaes sobre estes dois autores: suas pesquisas, livros publicados e principais contribuies. Os sites BIOTICA. Disponvel em: . em: 18 jun. 2010. Acesso

CENTRO de Biotica - Cremesp. Disponvel em: