revista visão fenafisco nº 05

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Page 1: Revista Visão Fenafisco nº 05

Edição 05 | Agosto de 2013

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Caro leitor,A Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (FENAFISCO) traz nesta quinta edição da revista

Visão FENAFISCO, informações de suma importância, acerca do Projeto de Lei Orgânica da Administração Tributária – LOAT.

Estamos certos de que, a estruturação desta lei irá trazer maior autonomia aos órgãos federal, estaduais, distrital e municipais, que atuam com a arrecadação e fis-calização de tributos pondo fim à ingerência externa na Administração Tributária, que tanto prejudica o Estado e a sociedade. Trará, também, maior consciência para o servidor e para a população, em relação às questões de Tributação, Fiscalização e Arrecadação de tributos.

A LOAT, ao fortalecer a atuação da Administração Tributária e dos seus servidores e, em consequência, o próprio Estado, torna-se instrumento fundamental no combate à sonegação de tributos.

O leitor verá que o nosso projeto de Lei Orgânica Nacional é audacioso. Ele não trata, apenas, da carreira do Fisco, contempla a própria estruturação do Órgão Tributário. Embora as Administrações Tributárias, estadual, distrital e federal, já tenham uma estrutura básica organizada, não é esta, a realidade da maioria dos municípios de nosso país.

Discute-se o tema, desde 2004. No transcurso dos anos, vemos que a estrutura das secretarias e a carreira dos servidores do Fisco obtiveram boas melhoras e, em alguns estados, houve a implantação de boas Leis Orgânicas. Bons exemplos vieram do Rio Grande do Sul e do Pará, que já possuem normativas semelhantes ao projeto que a LOAT propõe. Tais conquistas motivam a que outras unidades de Federação trabalhem para formar um projeto de Lei Orgânica Estadual.

Estas e outras informações, contidas na presente edição, têm o objetivo de criar uma consciência críti-ca e política sobre a necessidade de melhorarmos a situação tributária do país. É de suma importância que todos os membros da categoria participem da construção desta proposta, que ainda tem muitas questões a serem melhoradas. Enquanto não se torna uma lei, enquanto ainda é um projeto, temos condições de discutir, modificar e melhorar o texto. Por isso, decidimos levar ao conhecimento da base da categoria as motivações e as minúcias do trabalho realizado pela Comissão da Lei Orgânica da Administração Tribu-tária, em sintonia com a diretoria da FENAFISCO e com os sindicatos filiados, nas discussões em torno do tema.

Esperamos que a leitura desta publicação seja proveitosa para todos, motivando-os a abraçar, cada vez mais, a causa da LOAT, que não é do Fisco apenas. É do Brasil. A FENAFISCO coloca-se à disposição para, juntos, construirmos uma Administração Tributária autônoma e independente.

Um abraço e boa leitura.

DIRETORIA EXECUTIVA

PresidenteMANOEL ISIDRO DOS SANTOS NETO (SINDIFISCO/PB)

Vice-PresidenteJOÃO MARCOS DE SOUZA (SINDAFEP/PR)

Diretor Administrativo e FinanceiroPAULO ROBERTO FERREIRA BONFIM (SINDIFISCO/MS)

Diretor de Formação Sindical e Relações IntersindicaisLIDUÍNO LOPES DE BRITO (SINTAF/CE)

Diretor para Assuntos Técnicos e ComunicaçãoGUILHERME FREDERICO PEDRINHA DE AZEVEDO(SINDIFISCAL/ES)

Diretor Assuntos Parlamentares e Relações InstitucionaisROGÉRIO MACANHÃO (SINDIFISCO/SC)

Diretor Jurídico e de Defesa ProfissionalLUIZ OSVALDO BARBOSA EVANGELISTA (SINDIFISCO/AM)

Diretor de Aposentados e PensionistasMARCO AURÉLIO CAVALHEIRO GARCIA (SINDATE/MS)

Departamento de Políticas e Ações SociaisLÚCIO ROBERTO DE MEDEIROS PEREIRA (SINDIFERN/RN)

Departamento TécnicoJOSÉ ALBERTO GARCEZ DE CARVALHO (SINDIFISCO/SE)

SUPLENTES

AUNIDES DE FREITAS COSTA NUNES (SINDIFISCO/AL)CARLOS PEREIRA CAMPOS (SINDIFISCAL/TO)JOSÉ PEDRO FARIA (SIPROTAF/MT)JOSÉ ROBERTO FERREIRA DE SOUZA (SINFITER/RR)MARLEIDE CARVALHO DE MACÊDO (SINDIFERN/RN)OTARCI NUNES DA ROSA (SINFATE/MT)

SCS Quadra 06 Bloco A Ed. City Corporation, 4º andarCEP: 70306-910 – Brasília-DF

(61) 3224-0515 / 3226-4070 / 3225-6227 / [email protected]

www.fenafisco.org.br

CONSELHO FISCAL

FRANCISCA DAS CHAGAS BARBOSA LIMA (SINTAF/MA)PHILIPPE SALHA (SINAFFEPI/PI)RUDIMAR BRAZ DE MELO (SINDIFISCO/SE)

SUPLENTES

ANTONIO MENDES PATRIOTA (SINAFITE/DF)JOSÉ ALVES COELHO (SINTAF/CE)MARIA CRISTINA LIMA DE SOUSA (SINAFFEPI/PI)

EXPEDIENTE

Textos: Guilherme Frederico Pedrinha de Azevedo – Diretor para Assuntos Técnicos e Comunicação Comissão de Lei Orgânica da FENAFISCOColaboração: Fátima Costa – Jornalista 37425 MTB/SP Alline Oliveira de Abreu – Jornalista 9109 MTB/DFHenrique Cabral de Oliveira (Programador)Heula Tadano (Gerente Administrativa)Revisão: Formas ConsultoriaDiagramação: Rakell SimonCapa: Matheus PachecoImpressão: Athalaia Gráfica e EditoraTiragem: 25 milLançamento: Agosto de 2013

EXPEDIENTE NACIONAL PRESS

Gerente-Geral: Fabricia LaportJornalista Responsável: Amanda GusmãoAssistente Administrativo: Roberta NascimentoAssistente de produção: MaivaEditores: Rakell SimonProjeto gráfico: Rakell Simon e Matheus Pacheco

Esta revista é produzida pela Nacional PRESS.Nacional Empresa de Comunicações Ltda.Edifício Barão do Rio Branco – SIG Quadra 1 Sala 23, Brasília/DFContato: (61) 3344-4748Prefixo editorial ISBN: 65052.nacionalpress.com.br

FENAFISCOFEDERAÇÃO NACIONAL DO FISCO ESTADUAL E DISTRITAL

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5FenafiscoAgosto de 2013

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Escopo Histórico e Trajetória do Projeto A Nova Administração Tributária

Integração dos Fiscos – Fórum Fisco

Lei Orgânica da Administração Tributária – LOAT As Conclusões da Comissão da Fenafisco

LOAT: Pará e Rio Grande do Sul saem na Frente

Apoio à LOAT Nacional

O Pioneirismo do Rio Grande do Sul

Bases Históricas da Administração Tributária

Algumas Experiências Internacionais

A Definição da Missão Institucional e dos Objetivos Estratégicos

Por Que ter Uma LOAT Nacional?

Um Pouco mais Sobre as Funções do Servidor Fiscal Tributário

Exemplos bem-sucedidos em outros setores

Entrevista

Opinião

Com a Palavra, o Autor da PEC nº 186/2007

Ponto de Vista

Mais Opiniões

Sistema Tributário Deve ser Fator de Distribuição de Renda e Riqueza

OAB Defende Luta por Justiça Tributária

Memória Fotográfica

Em 19 de dezembro de 2003, com a publicação da Emenda Constitucional nº 42, alguns

dispositivos fizeram nascer uma nova Administração Tributária no Brasil.

Eis os dispositivos:Art. 37....XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento

do Estado, exercidas por servidores de carreiras es-pecíficas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informa-ções fiscais, na forma da lei ou convênio.Art. 52. Compete privativa-mente ao Senado Federal:...XV - avaliar periodicamente a funcionalidade do Sistema Tributário Nacional, em sua

estrutura e seus componen-tes, e o desempenho das administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios.Art.167. São vedados:...IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e

A nova Administração

Tributária

EsCoPo HisTÓriCo ETrAJETÓriA Do ProJETo

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6 7Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

serviços públicos de saú-de, para manutenção e de-senvolvimento do ensino e para realização de ativida-des da administração tri-butária, como determina-do, respectivamente, pelos arts. 198, 2°, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8°, bem como o disposto no § 4° deste artigo;

A FENAFISCO preocupada com a correta interpretação e abrangência desses dispositivos, constituiu, em março de 2004, uma comissão de trabalho integrada por representantes dos sindicatos filiados dos estados de Santa Ca-

tarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Cea-rá e Mato Grosso do Sul (Sindate).

O objetivo era a regulamenta-ção desses dispositivos constitu-

cionais antecitados, o que se daria por meio da formatação de um anteprojeto de Lei Orgânica da Administração Tributária Nacional – LOAT, que resultasse no forta-

lecimento das Administrações Tributárias, do Estado e de suas instituições.

Mais tarde, ingressaram na comissão os representantes dos estados do Amazonas, Paraná, Amapá, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Goiás, Espírito Santo, Pará, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul (Sin-difisco).

Na elaboração do antepro-jeto, foram realizadas, até o momento, um pouco mais de sessenta reuniões de trabalho da comissão LOAT da FENA-FISCO.

No início dos trabalhos, estabeleceram-se algumas di-retrizes que deveriam nortear a elaboração do anteprojeto de Lei Orgânica da Administração Tributária. Entre elas, destaca--se a criação de uma identi-dade nacional do Fisco, nos

moldes existentes, hoje, para delegados, juízes e promoto-res; e a definição de quem se-ria o servidor público que esta-ria abrangido pelas definições do inciso XXII, do artigo 37, da Constituição Federal.

Após intensos debates, den-tro da comissão da LOAT, che-gou-se ao consenso de que o servidor público deveria ter, entre as competências legais do cargo, as atribuições de constituição do crédito tribu-tário, mediante o lançamento nos termos do artigo 142 do Código Tributário Nacional e a realização da fiscalização. Tam-bém o nome do cargo deveria ser um só para facilitar a sua identificação, principalmente perante a sociedade, tendo em vista serem vários os nomes existentes nos estados e muni-cípios.

As deliberações da comissão da LOAT foram apresentadas e aprovadas em reuniões do Con-selho Deliberativo da FENAFISCO, havendo uma primeira aprova-ção do texto do anteprojeto da LOAT, em setembro de 2005.

Durante os trabalhos da comissão, dúvidas foram sur-gindo e, para auxiliar os seus integrantes, foram contratados inicialmente cinco pareceres jurídicos pelos sindicatos filia-dos à FENAFISCO, que acaba-ram resultando na elaboração do Livro “Análise dos disposi-tivos constitucionais da nova Administração Tributária: Pare-ceres”, lançado em 2008.

Para subsidiar a Comissão foram contratados três consulto-res jurídicos, sendo que um deles, a advogada Adriana Schier, ainda continua prestando serviços para a Federação.

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8 9Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

As entidades a ele filiadas, FENAFISCO, Sindifisco Na-cional (na época Unafis-

co), Febrafite, Fenafisp, Fenafim, Sinait e Anfip são, pois, signatárias da PEC nº 186/2007, nascida, em consequência dos trabalhos da comissão, pela autoria do de-putado federal/SC Décio Lima. O seu texto, de apenas três artigos, propõe:

Art. 1º É acrescentado os §13 e §14 ao art. 37 da Constituição Federal, com a seguinte redação:

“§ 13 – Lei complementar estabelecerá as normas ge-rais aplicáveis à Administra-ção Tributária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dispondo inclusive sobre direitos, de-veres, garantias e prerroga-tivas dos cargos de sua car-reira específica, mencionada no inciso XXII deste artigo”.§ 14 – “Às Administrações Tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios são assegu-radas autonomia adminis-trativa, financeira e funcio-nal, e as iniciativas de suas propostas orçamentárias dentro dos limites estabe-lecidos na Lei de diretrizes orçamentárias.”.Art. 2º A Lei complementar referida no artigo 1° desta Emenda deverá ser apre-sentada no prazo de cento e oitenta dias, contados da promulgação da mesma.Art. 3º Esta Emenda entra em vigor na data de sua publicação.

Na percepção do texto da PEC nº 186/2007, vemos que ela criará a obrigatoriedade legal de elabo-ração de uma Lei Complementar, que disponha sobre as normas gerais a respeito das Administra-ções Tributárias e que a elas será garantida autonomia administra-tiva, financeira e funcional.

O que se deseja com essa normatização é a criação de re-gras mínimas para todas as Ad-ministrações Tributárias, que acarretarão no surgimento de uma identidade nacional e de uma instituição forte que seja capaz de blindar a sociedade de decisões equivocadas ou mal--intencionadas.

Quer-se o surgimento de um órgão estritamente técnico no

seu gerenciamento e na tomada de decisões, que seja capaz de se impor e fazer valer suas deli-berações, sempre tendo por fim o bem da sociedade como um todo.

O caminho não é fácil, mas to-talmente possível. Afinal, são qua-se dez anos de trabalho dentro da FENAFISCO, os quais já renderam importantes frutos, entre eles:

• o convencimento de todos os sindicatos filiados à Fe-deração de que aqueles princípios definidos lá no início pela comissão LOAT estavam corretos;

• a elaboração de uma mi-nuta básica de anteprojeto de LOAT que serve de base para os estados;

Visando à união de esforços e unicidade de discurso, o debate foi levado, democraticamente, ao FÓRUM FISCO, que concluiu pela necessidade de se viabilizar a Lei Orgânica da Administração Tributária, por meio de uma nova Proposta de Emenda à Constituição – PEC.

iNTEGrAÇÃo Dos FisCosFÓrum FisCo

• construção da PEC nº 186/2007; • aceleração da discussão do

tema em várias unidades da Federação, tendo inclu-sive algumas delas já apro-vado as suas leis orgânicas estaduais.

O trabalho deve continuar e agora mais intensamente den-tro do Congresso Nacional para que se consiga aprovar a PEC nº 186 e aí possibilitar que sur-ja no país essa nova instituição chamada Administração Tribu-

tária, que, com uma atuação in-dependente e responsável, per-mitirá uma maior chance para que o Estado cumpra com suas funções sociais, beneficiando diretamente a sociedade de um modo geral.

PEC nº 186/2007 tem a sua Admissibilidade Aprovada na CCJC

Em momento de grande expectativa, sob os olhares atentos dos dirigentes de todo o Fisco estadual e distrital bra-sileiro, foi aprovado, no dia 5 de junho de 2013, na Comissão de Constituição, de Justiça e de Ci-dadania (CCJC), da Câmara dos Deputados, o relatório do de-putado João Paulo Lima (PT/PE), pela Admissibilidade da proposta de emenda à Cons-tituição (PEC nº 186/2007). A Comissão acatou por unani-midade o projeto, que tem a finalidade de alterar a Consti-tuição Federal pedindo uma lei complementar para definir as normas aplicáveis à Adminis-tração Tributária da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios – a LOAT.

A expectativa pela aprova-ção da constitucionalidade da matéria tratada na PEC vem desde 2007 e tem sido um dos carros-chefes da atuação da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital – FENAFIS-CO no Congresso Nacional.

Participando ativamen-te, a diretoria da FENAFIS-CO esteve atenta e a todo o momento buscou articular o apoio de mais parlamentares. Com a presença do presiden-te da Federação, Manoel Isi-dro dos Santos Neto, do vice--presidente da entidade, João

Marcos de Souza, dos diretores Rogério Macanhão (Assuntos Parlamentares), Paulo Roberto Ferreira Bonfim (Administrati-vo), Luiz Osvaldo (Jurídico), Mar-co Aurélio (Aposentados e Pen-sionistas), Guilherme Pedrinha (Comunicação), Alberto Garcez (Departamento Técnico), José Roberto Ferreira de Souza (su-plente), dos conselheiros fiscais Francisca das Chagas Barbosa Lima (presidente do Conselho), Rudimar Braz de Melo (secretá-rio do Conselho) e Philippe Salha (membro do Conselho) e, ainda, dos presidentes e diretores dos 30 sindicatos filiados à Federa-ção, um firme plantão se formou para ver e ouvir os argumentos de parlamentares, na defesa dos interesses do Fisco, estadual e distrital.

Fizeram uso da palavra, os deputados João Dado (PDT/SP), Cesar Colnago (PSDB/ES), Fá-bio Trad (PMDB/MS), Vieira da Cunha (PDT/RS), Arthur Maia (PMDB/BA), Sergio Sveiter (PSD/RJ), Willian Dib (PSDB/SP), Ar-naldo faria de Sá (PTB/SP), Luiz Couto (PT/PB), Fátima Bezerra (PT/RN), Esperidião Amin (PP/SC), Luiz Carlos(PSDB/AP), Val-tenir Pereira (PSB/MT), Jorginho Melo (PR/SC), José Genoíno (PT/SP) e o presidente da CCJC e autor da proposta, Décio Lima (PT/SC). De todos se ouviu fortes e fartos

argumentos sobre a necessi-dade de se fazer respeitar e se adequar a realidade da Admi-nistração Tributária brasileira aos ditames constitucionais.

Comissão Especial é criada

No dia 17 de julho de 2013, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduar-do Alves (PMDB/RN), assinou o ato de criação da Comissão Especial destinada a apreciar e proferir parecer sobre a PEC nº 186/2007. O projeto agora aguarda a constituição da Co-missão Especial na Seção de Registro de Comissões da Câ-mara dos Deputados.

Em seguida, nova rodada de mobilização será necessá-ria para a sensibilização e o convencimento dos parlamen-tares, pela aprovação do méri-to da proposta e o seu encami-nhamento e pauta no Plenário da Câmara dos Deputados.

Dia de intenso trabalho. Dias de profunda reflexão e comprometimento de toda a categoria fiscal estadual e distrital, com o avanço do pro-jeto que institui a Legislação Orgânica da Administração Tributária e a consagração do Fisco brasileiro como carreira essencial ao funcionamento do Estado.

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10 11Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

Ao falar sobre as Conclusões da Comissão da FENAFISCO para a Lei Orgânica da Ad-

ministração Tributária, o diretor de formação sindical e relações intersindicais da entidade e co-ordenador da Comissão, Liduíno Lopes de Brito, ressalta os objeti-vos do anteprojeto da LOAT que pretende ser uma lei que trate de normas gerais referentes à or-ganização e funcionamento das Administrações Tributárias, inclu-sive quanto à definição da carreira específica dessas Administrações

Tributárias e do cargo que lhe compõe e que seja obedecido por todos os entes federados.

Ele lembra que a opção, até mesmo por questões de segu-rança jurídica, foi pela legislação complementar, para a qual tanto a aprovação quanto toda e qual-quer alteração exige quórum qualificado.

O coordenador pondera, também, que a lei busca uma identidade nacional com a defini-ção da carreira específica da Ad-ministração Tributária – Auditoria

Fiscal Tributária – composta pelo cargo de auditor-fiscal tributário, integrado apenas por servidores públicos que possuam a compe-tência legal do lançamento do crédito tributário.

Conclusões dos consultores

Na elaboração do ante-projeto, a comissão foi extre-mamente cautelosa e, antes da apresentação à representação da categoria, o anteprojeto passou pela análise de dois juristas, o Dr. Magno Mello, hoje, consultor legislativo do Congresso Nacional e o Dr. Romeu Bacellar – advogado

Liduíno Lopes de Brito

LEi orGÂNiCA DA ADmiNisTrAÇÃoTriBuTáriA – LoAT

As CoNCLusõEs DA ComissÃo DA FENAFisCo

Magno Mello

e professor paranaense, cuja atuação se deu por intermédio da Dra. Adriana Schier.

O consultor apontou a neces-sidade de emenda constitucio-nal para fazer previsão de que a LOAT será por lei complementar. Afirmou, entretanto que a LOAT poderia ser por lei ordinária.

Quanto à titulação do car-go, ele é da opinião que não se poderia colocar o mesmo nome para todos os fiscais do Brasil, cabendo a cada ente federado definir. Sugeriu que o texto fos-se redigido da seguinte forma: “assegura-se aos seus integran-tes o título de audito-fiscal, agre-gado à denominação prevista na legislação específica de cada Ente.” Nesse sentido, ele tam-bém defendeu que o texto não deve definir o nome da carreira e, ainda, que o anteprojeto tem como consignar a previsão das vantagens remuneratórias dos auditores-fiscais.

O Dr. Romeu Bacellar, em seu parecer, segue a linha de Mello, no tocante à necessidade de emenda constitucional para fa-zer previsão de que a LOAT será por lei complementar e da pos-sibilidade da mesma ser feita na forma de lei ordinária.

Entretanto, ele diverge do colega brasiliense, quanto à definição do nome da carrei-ra específica da Administração Tributária de todos os entes fe-derados, mas concorda com a não definição do nome do car-go, pois isto fere o pacto fede-rativo, por se tratar de matéria administrativa da competência regulamentadora de cada ente federado.

O projeto da LOAT comple-menta a PEC nº 186/2007, uma vez que a propositura em ques-tão cria a Lei Orgânica Federal da Administração Tributária, mas não elabora uma redação para ela – o que está sendo desenvol-vido pela FENAFISCO.

Entusiasta do projeto de-senvolvido pela comissão que coordena, Liduíno afirma que a aprovação da LOAT no Congres-so Nacional será uma vitória his-tórica da categoria. Para ele, a lei orgânica criará uma “identidade nacional” para a categoria do Fis-co, a qual passará a ser reconhe-cida, em todo o país, por uma só nomenclatura. Isso trará, em consequência, direitos e deveres iguais, além da autonomia e da consolidação da carreira, juridi-camente.

Diverge, também, quando afirma não poder haver previsão de vantagens remuneratórias para os auditores-fiscais, o que feriria, igualmente, o pacto federativo.

Seguindo o procedimento adotado, anteriormente, a nova proposta será reapresentada às entidades que compõem o Fórum Fisco (FENAFISCO, FEBRAFITE, SINAIT, FENAFIM, SINDIFISCO NACIONAL e ANFIP). Havendo uma deliberação positiva pelo Fórum, o passo seguinte é en-caminhar o projeto ao governo federal, para que este entre em tramitação no Congresso como matéria do Executivo, o que pode acontecer ainda este ano.

Romeu Bacellar

“A LOAT criará uma identidade nacional para a categoria”.Liduíno Lopes de Brito

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12 13Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

Alguns estados brasileiros saíram na frente e com muito esforço da categoria conseguiriam aprovar a Lei Orgânica da Administração Tributária – LOAT.

Foi o caso do Rio Grande do Sul e do Pará. Pro-movendo uma mobilização sem precedentes e, por meio de um metódico trabalho junto aos poderes constituídos, eles conseguiram que fossem aprova-das e sancionadas as suas “LOATs”.

PARÁ – Negociação foi o caminho

Diretores e servidores associados ao Sindifisco/PA, também fizeram a diferença nas negociações entre parlamentares, representantes do executivo e a categoria.

A lei do Fisco definiu as competências da Administração Tributária, funções institucionais e

a estrutura dos cargos de direção. O texto ainda determinou a criação do Fundo de Investimento Permanente da Administração Tributária do Estado do Pará (FIPAT), que passou a ser utilizado para finan-ciar despesas de investimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento dos servidores das carreiras do Fisco. Além disso, o artigo 3º da LOAT do Pará con-jecturou o ingresso nos cofres públicos de recursos financeiros essenciais para que o Estado construa uma sociedade livre, justa, solidária e próspera.

O secretário da Fazenda do estado do Pará, José Tostes Neto, acredita que leis nesse sentido podem representar um fator de estabilidade institucional e desenvolvimento econômico dos países. “É uma das áreas que, dentro do setor público, deve ser objeto de prioritária atenção e fortalecimento por parte dos governos”’, reforçou Tostes Neto.

No Pará, união aprovou a Lei orgânica do FiscoPor Euclides FariasSindifisco/Pará

Vinte anos depois de reunir pela primeira vez um grupo de visionários em torno do ideal da valorização das carreiras do Fisco, o Sindi-cato dos Servidores do Fisco Estadual do Pará (Sindifisco/PA), sucedâneo do Sindicato do Gru-po Ocupacional, Tributação, Arrecadação e Fis-calização da Secretaria de Estado da Fazenda (Sinditaf), fundado em 27 de janeiro de 1992, tinha, numa festa realizada no dia 23 de março de 2013, duplo motivo para comemorar: além de inaugurar a sede própria do sindicato, a catego-ria estava festejando também a aprovação, em dezembro do ano passado, da Lei Orgânica do Fisco do Pará, uma das legislações tributárias mais modernas do Brasil.

Os pioneiros, que pavimentaram o cami-nho para a maior conquista da história sindical, estavam munidos de sonhos. Sem estrutura, o grupo assemelhava-se ao personagem de ”Ci-dadão”, a famosa música composta pelo minei-ro José Geraldo Juste, o Zé Geraldo, e regravada por grandes nomes da MPB, como o paraibano

LoATPArá E rio GrANDE

Do suL sAEm NA FrENTE

Zé Ramalho: ”Eram quatro conduções. Duas para ir, duas para voltar”. Na inauguração da sede marcada pelo festejo da aprovação da lei orgânica, os precursores foram homenageados na pessoa do primeiro presidente do sindicato, José Braz Brito Ramalho.

Do distante 1992 aos dias atuais, muita coisa mudou. ”Mudou a postura da categoria, que tomou consciência da importância da lei. Esse foi o grande diferencial que resultou na conquista da lei”, afirma o presidente do Sindi-fisco/PA, Charles Alcantara, que cumpre o se-gundo mandato sindical e foi o grande líder de uma vigorosa campanha política e publicitária iniciada em 2009 e que logrou sucesso com a sanção governamental da lei em dezembro de 2011, depois da aprovação unânime dos 41 de-putados da Assembleia Legislativa.

Alcantara relata que a palavra-chave da campanha foi ”união”, que tanto pode expres-sar a coesão dos sindicalizados quanto a atu-ação parceira com a Associação dos Servidores do Fisco Estadual do Pará (Asfepa), presidida por Antônio Catete. ”Reputo Catete como a maior autoridade em Lei Orgânica do Fisco no Pará”, agradece. Há quase 15 anos na luta de

classe, Catete sempre advogou um Fisco inde-pendente. ”Autonomia é o motor de um Fisco a serviço da sociedade e não de governos”, afirma o presidente da Asfepa.

Um dos baluartes da Lei Orgânica no Pará, a deputada estadual e auditora fiscal Simone Morgado (PMDB), chamou para si a missão de facilitar a ampla e vitoriosa articulação política liderada pelo presidente Charles Alcantara junto aos deputados das bancadas de todos os parti-dos. Em certa ocasião, no ano passado, a parla-mentar chegou a ameaçar divergir do bloco go-vernista para ficar com a defesa da causa dos auditores e fiscais do estado.

Para o diretor de comunicação e relações intersindicais do Sindifisco, Luís Otávio Mo-raes, a reestruturação da Administração Tri-butária e das carreiras do Fisco contida na lei teve a ”contribuição fundamental” da área de Comunicação Sindical na sensibilização social, na medida em que mostrou o novo Fisco como forte instrumento de defesa dos valores éticos e da eficiente arrecadação dos tributos em be-nefício da própria sociedade.

Charles Alcantara

Simone Morgado

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14 15Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

Conheça um pouco mais do projeto que conquistou a ALE do Pará:

Essencialidade do Fisco

A Carta Magna, ao referir-se à Administração Tributária (AT) como essencial ao funcionamento do Estado, tornou incontroverso: a Administração Tributária é im-prescindível à sobrevivência do Estado, este não existindo sem aquela. É, portanto, em sintonia com a Constituição Federal que o artigo 2º, da Lei Orgânica do Fisco, a define como instituição de caráter permanente vinculada ao interesse público como atividade essencial ao funcionamento do Estado.

Consat, colegiado

O Conselho Superior da Administração Tributária (CON-SAT), órgão colegiado compos-to por integrantes das carreiras da AT, com exceção feita ao se-cretário da Fazenda, que o pre-sidirá, será a instância máxima de direção da Administração Tributária do estado do Pará.

Outra novidade é o subsecretá-rio da Administração Tributária, que substitui o atual secretário--adjunto de Receitas, cujo papel assemelha-se ao do titular da Secretaria da Receita Federal, órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.

A vez do mérito

O sistema de mérito será apli-cado tanto para a composição de lista, com base na qual o che-fe do Poder Executivo nomeará o subsecretário da Administração Tributária, quanto para a seleção de candidatos aos demais cargos comissionados de direção e coor-denação inerentes à AT. O sistema de mérito fortalece o Fisco como órgão de excelência técnica, dota-do de pessoal altamente qualifica-do, dedicado ao constante estudo e aperfeiçoamento profissional e de elevado espírito público.

O repórter Euclides Farias, do Sindifisco/Pará, entrevistou José Barroso Tostes Neto, secre-tário da Fazenda do Pará, sobre a aprovação da norma no Legis-lativo paraense. Confira a maté-ria, na íntegra.

José Barroso Tostes Neto foi “xerife” da Receita Federal por cerca de 15 anos no Pará, de onde estendia tentáculos a todos os esta-

dos amazônicos da jurisdição da 2ª Região Fiscal. Hoje, desde fevereiro de 2011 cedido pelo governo brasileiro, é secretário da Fazenda do Pará. Auditor da RF, mestre em Fazenda Pública e Administração Tributária pelo Instituto de Estu-dos Fiscais de Madri (Espanha) e com biografia recheada de cargos de comando na estrutura do Ministério da Fazenda, Tostes defendeu a Lei Orgânica do Fisco aprovada no Pará com a mesma convicção com que advoga uma LOAT nacional. “Sou inteiramente favorável”, diz o secretário, que fez fama como caçador de sone-gadores e hoje apoia, sem hesitação, uma ação movida pelo Ministério Público do estado para combater o desvio de função no Fisco. O antí-doto, além do fim das criminosas distorções: “Aguardamos a autorização já solicitada para a realização de concurso público”, anuncia Tostes.

P - Como o senhor definiria a recente aprovação da Lei Orgânica do Fisco do Pará?

É uma conquista muito importante, pois signi-fica o reconhecimento da Administração Tributária como organização estratégica do estado. É ainda um indicador relevante da maturidade democrática das sociedades contemporâneas, pois o Fisco repre-senta fator de estabilidade institucional e desenvol-vimento econômico dos países. A Administração Tributária é uma das áreas que, dentro do setor público, deve ser objeto de prioritária atenção e fortalecimento por parte dos governos, especial-mente por ser responsável por uma das atividades mais relevantes do estado; por promover a distri-buição dos recursos na luta contra a desigualdade, conjuntamente com a política de gasto público; constituir um instrumento de garantia democrática a serviço da segurança jurídica, estabilidade, objetividade e equidade para o cidadão e contri-

APoio à LoAT

NACioNAL

José Barroso Tostes Neto

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16 17Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

buir para a melhoria da governabilidade. Como servidor público de carreira da Receita Federal, con-sidero que foi uma experiência especial estar nes-te momento como secretário estadual da Fazenda e poder acompanhar e participar da finalização de um projeto tão importante, construído em um pro-cesso extremamente democrático e participativo, em que as concessões, sugestões e negociações das partes envolvidas foram prática dominante, sem perder em nenhum momento a coerência, o respeito pelas divergências e a relação transparen-te, imprescindível para o fortalecimento do Fisco estadual. Deve ser também ressaltado e reconheci-do o apoio do governador do estado, Simão Jatene, que, desde o primeiro momento, consciente da im-portância do projeto, também conferiu prioridade à sua construção e de imediato assumiu o compro-misso de enviá-lo à Assembleia Legislativa tão logo fosse concluída a análise.

P - O Sindifisco, que empunhou pioneiramente a bandeira da lei orgânica, convenceu a sociedade e os deputados da Assembleia Legislativa de que o instrumento legal é bom para o estado e melhor para a sociedade. O que a sociedade tem a ganhar com a lei? Ela não é corporativista?

Um sistema tributário mesmo que correta-mente desenhado não é nada sem uma Admi-nistração Tributária capaz de aplicá-lo de modo competente. E uma Administração Tributária mo-derna se sustenta em quatro pilares fundamentais: sua estrutura organizacional, seus sistemas e pro-cessos de trabalho, os recursos tecnológicos e os re-cursos humanos. Os três primeiros pilares somados são a base para o sucesso da gestão e os recursos humanos representam o potencial multiplicador do resultado dessa soma. Porém, esses pilares preci-sam de um adequado marco legal que lhes assegu-re a sustentação. Em minha visão, é isso que a LOAT representa. A sociedade terá inúmeros ganhos, pois disporá de um Fisco mais ágil, submetido a um sis-tema de controle e avaliação de desempenho, com métodos gerenciais modernos e orientados para a melhoria dos resultados e da qualidade dos serviços

prestados. Objetiva-se ainda que a Administração Tributária do Pará conte com um quadro de servi-dores em número adequado às suas necessidades de trabalho e adequadamente qualificados, capaci-tados, especializados, íntegros, éticos e motivados. Tudo isso nada tem de corporativismo, mas de inte-resse coletivo da sociedade.

P - O Pará se tornou referência nacional com essa lei, que começou a produzir efeitos financeiros para auditores e fiscais em julho de 2012. No que a nova legislação contribui para que o estado ar-recade mais e minimize os malefícios da sonega-ção e da corrupção?

A LOAT trata das competências da Administra-ção Tributária, sua direção, precedência, estrutura organizacional, recursos e organização, das carrei-ras que a compõe, estabelecendo princípios e dire-trizes, estrutura, carreiras e atribuições dos cargos, vencimento e remuneração, desenvolvimento, pro-moção, avaliação de desempenho, desenvolvimen-to funcional e todas as demais questões relaciona-das aos recursos humanos. Tem ainda importantes inovações, como: a valorização do mérito funcional dos servidores que será inclusive critério para se-leção de gestores, a criação do Conselho Superior da Administração Tributária (CONSAT), órgão co-legiado de deliberação estratégica composto por integrantes de carreiras, e a garantia de recursos para as necessidades de investimentos e do aper-feiçoamento dos servidores com a criação do Fun-do de Investimento Permanente da Administração Tributária (FIPAT). Dessa forma, entendo que a LOAT garantirá os requisitos indispensáveis para a melhor implantação da estratégia de aumentar o nível de cumprimento voluntário das obrigações tributárias com melhores serviços aos contribuintes que dese-jam cumprir suas obrigações fiscais e o incremento da luta contra as fraudes. O sucesso dessa estratégia irá assegurar o alcance do objetivo fundamental da Administração Tributária, que está muito bem des-crito no art. 3º, da LOAT: “Constitui objetivo funda-mental da Administração Tributária do Estado do Pará atuar para que ingressem nos cofres públicos,

na medida e forma previstas em lei, os recursos financeiros essenciais para que o Estado cumpra o imperativo constitucional de construir uma socie-dade livre, justa, solidária, próspera e sustentável social, econômica e ambientalmente; promover o bem estar de todos e combater toda forma de desigualdade social e regional.”

P - A Secretaria da Fazenda e o Sindifisco são par-ceiros naquele que é talvez o maior desafio de sua administração e que já é alvo de investigação do Ministério Público. Desvio de função se combate com concurso público, para que a máquina arre-cadadora não sofra descontinuidades. O concurso vem aí?

A Secretaria da Fazenda do Pará tem a obriga-ção institucional de agir somente em conformidade com a lei. É o princípio da legalidade do qual não pode se afastar. Se forem identificadas situações de desvio de função, deveremos adotar as providên-cias para corrigi-las. Estamos fazendo neste mo-mento a análise individual da situação de cada uma das nossas unidades. Após a conclusão desse traba-lho, serão efetuados remanejamentos necessários à correção das distorções que forem identificadas em consonância com o acordado com o Ministério Público. Quanto ao concurso público é evidente a necessidade de recomposição dos quadros da Se-cretaria da Fazenda. Já concluímos o levantamento das necessidades e recebemos a autorização do go-vernador Simão Jatene para realizá-lo. O concurso acontecerá agora em 2013.

P - O Congresso Nacional discute agora a Pec nº 05/2011, que fixa um teto remuneratório comum a todos os servidores públicos, qualquer que seja o poder, qualquer que seja a esfera de governo. Qual a sua opinião a respeito?

É necessário um disciplinamento quanto aos tetos remuneratórios de todos os níveis de gover-no e de todos os poderes. As lacunas hoje existen-tes produzem algumas distorções remuneratórias inaceitáveis e prejudiciais. Entretanto, creio que o

tema deva ser analisado com muita cautela e sem o açodamento que lhe vem sendo atribuído ultima-mente. As definições de tetos remuneratórios não podem deixar de considerar as distintas realidades entre regiões, estados e municípios em nosso país, os efeitos financeiros decorrentes, e a necessidade do equilíbrio dos gastos públicos, princípio do qual nenhum ente deve se afastar.

P - Com o Fisco valorizado, a tendência é de crescimento da arrecadação. Qual tem sido o comportamento da receita própria nos primeiros meses do ano em que se festeja a lei orgânica?

O reflexo da valorização do Fisco no ambiente de trabalho e na motivação dos servidores, aliado às ações de planejamento e desenvolvimento dos pro-jetos de modernização da Administração Tributária, permitiu ao estado do Pará alcançar excelentes re-sultados na arrecadação própria em 2012, o que fez do Pará o segundo maior em crescimento na arre-cadação do ICMS no ano passado. Considerando a conjuntura econômica desfavorável, o desempe-nho da arrecadação própria assume importância ainda maior, na medida em que significa êxito no trabalho de combate à sonegação fiscal pela Secre-taria da Fazenda do Pará.

P - A FENAFISCO e entidades representativas do Fisco  estadual  advogam a criação de uma  Lei Orgânica nacional do Fisco. Qual a sua opinião?

Sou inteiramente favorável a uma LOAT nacional. Ela poderia estabelecer os princípios gerais das Administrações Tributárias brasileiras deixando a critério das unidades federadas a complementação do marco legal de acordo com as características de cada unidade. Representaria um avanço extraordi-nário na consolidação da Administração Tributária como um órgão de Estado em nosso país. Consi-derando ainda que a edição de leis orgânicas nas unidades federadas tem diferentes estágios e está sujeita a fatores diversos, a edição de uma LOAT na-cional seria uma grande impulsão ao prosseguimen-to dos vários projetos que hoje estão em andamento.

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18 19Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

A inspiração para a aprovação da Lei Orgânica da Administração Tributária do Pará pode ter vindo de um estado longe da região Norte.

Poucos meses antes do povo paraense conseguir a vitória na Assembleia Legislativa, o Fisco do Rio Grande do Sul viveu, também, momentos de êxta-se. Com 36 votos a dois, o texto foi aprovado em 31 de março de 2010.

O projeto disciplinou o regime jurídico dos cargos da carreira de agente fiscal do Tesouro do Estado e definiu a Receita Estadual como o órgão responsável pela Administração Tributária Estadual, subordinada à Secretaria da Fazenda. Entre outros pontos, a lei do Fisco trata das atribuições, dos di-reitos e garantias, das prerrogativas funcionais, dos deveres, do concurso para ingresso, da nomeação, da posse e do exercício, da lotação, do estágio pro-batório, da promoção, da remoção, da reintegração, da reversão, do aproveitamento, da vacância, do tempo de serviço, da remuneração, das vantagens pecuniárias e não pecuniárias, da aposentadoria e das normas disciplinares.

A lei, que protege os servidores do Fisco das interferências políticas, foi considerada uma das mais modernas no país. Uma importante conquista foi a garantia da gratificação de substituição (de cargo), antes prevista em lei apenas para os procuradores, policiais, defensores públicos e promotores estaduais.

De acordo com a lei, a Receita Estadual passa a ter recursos prioritários e suficientes para a realiza-ção de suas atividades e atuar de forma integrada. Com o compartilhamento de cadastro e de informa-ções fiscais é assegurado, aos agentes, autonomia funcional. Após a aprovação da lei do Fisco, a Recei-ta Estadual do Rio Grande do Sul passou a ser dirigi-da pelo subsecretário, designado entre os agentes fiscais do Tesouro do Estado ativos com mais de oito anos de exercício no cargo. A lei criou ainda o Con-selho Superior, composto por 11 membros.

Os auditores e fiscais gaúchos acreditam que a LOAT permitirá promover uma readequação do quantitativo dos cargos de nível superior em fun-ção da criação de cargos específicos para as funções fazendárias macro. Assim como no Pará, o texto do Rio Grande do Sul reduziu o número de servidores da carreira de nível médio e exige formação cor-respondente ao 3º grau completo, para o ingresso como técnico do Tesouro do Estado.

É importante dizer que a aprovação da lei do Fis-co nestes dois estados, Pará e Rio Grande do Sul, re-presentaram um acontecimento histórico. Por meio de iniciativas como estas, os servidores do Fisco de outras regiões sentiram-se motivados a fomentar a discussão de uma lei nacional, texto encabeçado pela FENAFISCO.

o PioNEirismo Dorio GrANDE Do suL

BAsEs HisTÓriCAs DAADmiNisTrAÇÃo TriBuTáriADiscorrer sobre um tema tão complexo como

o das Administrações Tributárias em âmbi-to internacional exige uma cautela especial,

pois há que se considerar a grande diversidade polí-tica observada entre os países que compõem, hoje, a estrutura capitalista do planeta.

Considerando essa heterogeneidade, usaremos o método comparativo – como será possível perce-ber mais adiante no texto – com o objetivo de res-saltar a flexibilidade conceitual da Administração Tributária. Primeiramente, repouso o pensamento nas escolas filosóficas que foram as precursoras das ideias do Estado moderno.

Da escola aristotélica, herdamos a noção da divisão do poder (“A Política”), quer dizer, das três funções estatais distintas: a edição de normas, as suas aplicações e a função de jul-gamentos. Todas, mais tarde, aprimoradas por Montes-quieu em “O Espírito das Leis”. Podemos ainda continuar a análise sob a ótica de Tho-mas Hobbes, em “Leviatã”; do processo de secularização, segundo Max Weber; e de muitas outras teses filosóficas que nos trouxeram a compreensão do Estado moderno, pós-moderno. Certamente, seguiremos “evoluindo” nesse sentido.

Cada um desses pensamentos que deram ori-gem à ideia de Estado trouxe como premissa a ne-cessidade de uma organização política social dos povos, com a promessa de sustentação dos institu-tos das garantias individuais e coletivas, ditadas por um ordenamento jurídico democrático. Trouxe, ain-da, o princípio da não agressão entre os povos, do respeito ao território e o compromisso de uma luta constante em busca da paz mundial.

Daí advém tantos outros princípios, tendo como berço a base cultural de cada país e as diferentes formas de apresentarem o Estado democrático. Sob esse aspecto, podemos abstrair que, hoje, a principal preocupação das instituições políticas é o aperfeiço-amento da democracia por meio da representação e do exercício do poder. O Estado moderno não admi-

te a concentração do poder a não ser em si próprio, como projeção do anseio de uma nação.

Assim, acreditamos que as instituições, sejam elas públicas ou privadas, devam cumprir o seu papel como unidades organizacionais autônomas dentro da estrutura estatal e é por meio da univer-salização desses parâmetros institucionais que se consolida o processo democrático almejado. Para manter esses pilares e a própria instituição maior, que é o Estado, democratizam-se também as es-truturas econômicas, que são o cerne do sistema governante. A partir daqui, compreendendo a exis-tência de várias formas constituintes de governo, acredito que o tributo é a base da formação e da sobrevivência. Com a maior simplicidade possível,

afirmo que a Administração Tributária é a principal ativi-dade desse ente chamado Estado.

Ora, mas o que é admi-nistrar senão seguir os pas-sos necessários à realização de um evento, garantir a sua execução, obter o seu resul-tado. Cabe à Administração Tributária o papel de fisca-

lizar, arrecadar e lançar créditos tributários. É por meio desse conjunto de ações que a Administração Tributária vem garantir as receitas para o funciona-mento do Estado.

A forma como isso ocorre varia de acordo com a estrutura estatal existente. Há uma tendência inter-nacional de a Administração Tributária cuidar dos tributos internos (como o imposto de renda, impos-tos sobre produtos e consumo, sobre a propriedade e contribuições sociais e outros, dependendo da es-pecificidade local) e dos serviços aduaneiros. Isso se verifica em países como Brasil, Alemanha, Espanha, Argentina, Itália, México. Exceção à regra são Esta-dos Unidos e Canadá, que transferiram o controle aduaneiro ao serviço de segurança, mantendo a Administração Tributária voltada apenas para os tri-butos internos e para a contribuição previdenciária.Baseado em texto de Manoel Rodrigues Bernardo, auditor-fiscal da receita estadual, do Espírito Santo.

Luiz Antônio BinsEx-presidente do Sindifisco/RS

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De certo modo, as Adminis-trações Tributárias guar-dam semelhanças, por todo

o mundo. O que as difere são: o grau cultural, a posição geográfica e o desenvolvimento econômico do país.

Todas têm, em geral, foco nos impostos internos, com atuação que depende, em alguns, da inci-dência de impostos sobre o consu-mo e, em outros, do nível de renda de seus cidadãos e/ou dos lucros empresariais e das grandes corpo-rações.

Também, na maior parte dos casos, a Administração Aduaneira é feita em separado da dos impos-tos internos, exercendo papéis di-versos, ora de política econômica, ora tributária e, ainda, em alguns

casos, integrando o próprio siste-ma nacional de segurança, à parte da Administração Tributária.

Em outros poucos países, a Administração Tributária, tanto in-terna quanto aduaneira, se faz sob o mesmo comando.

Vejamos, pois, como ela se or-ganiza em alguns países:

AMÉRICA DO NORTE

Estados Unidos da América

A maior economia das Améri-cas tem no (IRS), Internal Revenue Service, do Departamento do Te-souro, a administração do imposto de renda e as contribuições previ-dênciárias, os quais fiscaliza, arre-cada e cobra.

Já a Aduana é separada da Administração Tributária, desde 2002, integrando o Departamen-to de Segurança Interna. Embora de grande porte e importância, aspectos importantes como a de-claração online são recentes se comparados a países como Cana-dá e Brasil. Isso explica o grande

ALGumAs EXPEriÊNCiAsiNTErNACioNAis

número de funcionários – cerca de 100.000 – nos setores: fiscal, técni-co e de análise de arrecadação, in-formática e investigação, além do pessoal de apoio.

Canadá

Os impostos internos e pre-videnciários são de atribuição da Administração Tributária cana-dense. O país já teve a sua aduana inserida nessa competência, como acontece no Brasil, mas, há cerca de dez anos, houve a separação e, hoje, ela é um dos órgãos de segu-rança do país.

O governo central tem convê-nios com as províncias a quem re-passa os recursos arrecadados.

Foi a primeira Administração Tributária a receber declarações por meio magnético (disquete), logo seguida pelo Brasil.

A Administração Tributária ca-nadense é subordinada ao minis-

tro da Canadian Revenue Agency, que se reporta ao Parlamento, e é dirigida por um comitê de 15 membros, uns indicados pelo go-verno federal e os outros pelos provinciais. A gestão é feita por um diretor operacional, membro nato do comitê de administração. Como na Alemanha, temos aqui um fato curioso: Se o Ministro é an-glo-canadense, o seu diretor ope-racional será franco-canadense, e vice-versa.

México

O (SAT), Servicio de Adminis-tración Tributaria, com autonomia administrativa, técnica e orçamen-tária, é o órgão que cuida dos im-postos diretos e indiretos e, ainda, dos serviços aduaneiros e taxas de melhoria. No entanto, não admi-nistra as contribuições previdenci-árias.

Ele é organizado em admi-nistrações: Geral de Arrecadação, Geral de Auditoria Fiscal, Geral Ju-rídica, Geral de Aduanas, Geral de Tecnologia, Geral de Grandes Con-tribuintes e Geral de Assistência aos Contribuintes. Elas são replica-das nos níveis regionais e locais.

AMÉRICA DO SUL

Argentina

Fundada no modelo brasi-leiro, a Administração Tributária da Argentina é um pouco mais

abrangente que a nossa. A (AFIP), Administración Federal de Ingres-sos Públicos é de criação recente e incorpora a administração de im-postos internos, os serviços adua-neiros e a administração das con-tribuições previdenciárias.

São três segmentos de fiscali-zação: Impostos, Aduana e Segu-ridade Social, pelos quais a AFIP cuida da administração e controle de obrigações tributárias e previ-denciárias, com um quadro único de funcionários atuando em to-dos os segmentos, sendo possível a mobilidade funcional, resguar-dada a especialidade técnica dos fiscais.Também o cadastro de con-tribuintes é unificado em todos os segmentos, o que favorece um controle único de arrecadação, de pessoal e dos recursos financeiros e materiais.

Chile

É a mais fragmentada entre todas as Administrações Tribu-tárias americanas. Lá, o Servicio de Impuestos Internos fiscaliza os impostos sobre a renda, ven-das e serviços, tabacos, jogos

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de azar e territorial, porém não controla a arrecadação dos mes-mos, nem a sua cobrança. Tais competências ficam a cargo do Servicio de Tesonerias que, em-bora subordinado ao Ministe-rio da Fazenda, é totalmente se-parado do órgão fiscalizador. Já a Aduana exerce os dois contro-les: fiscalização e arrecadação, relativamente ao imposto sobre comércio exterior.

EUROPA

Alemanha

Na República Federal da Alemanha, vemos que a Ad-ministração Tributária detém características próprias, que diferem do restante da Europa. Sendo uma Federação, a com-petência sobre os impostos é repartida entre a União (Bund) e os diversos estados (Läger). Isso se explica pela sua forma-ção histórica.

Em fins do século XIX, Frede-rico, da Prússia, conclamou os ou-tros reinos a uma união aduaneira, que facilitasse o trânsito, de pesso-as e mercadorias entre eles. Pactos foram firmados, alguns preservan-do fronteiras externas com leis dependentes de sua aprovação. Tal integração levou Frederico a se tornar, mais tarde, imperador da

Alemanha. Sua coroação honrou os pactos feitos, vigentes até os dias atuais, destarte duas guerras mundiais. Em decorrência de tais pactos, a tributação aduaneira é federal, menos na Baviera, onde é estadual.

A Alemanha tem dois impos-tos fortes – Renda e IVA (consu-mo), que são cobrados pela via da competência dupla, federal e esta-dual e o seu montante dividido en-tre os governos federal, estadual e municipal.

A Administração Tributária alemã – Bundesfinanzverwaltung – é subordinada ao Ministério da Fazenda e não atinge a contribui-ção previdenciária. A aduana, su-bordinada ao mesmo ministério, é operada de modo separado da Administração Tributária.

A gestão é compartilhada e al-ternada entre federais e estaduais, por força de convênios que uni-ficam a Administração Tributária federal e estadual. As chefias se al-ternam, na vacância, por qualquer motivo, ora federal, ora estadual, e o ingresso na carreira é por concur-so para as escolas de serviço públi-co. Uma vez terminado o curso, o funcionário começa a trabalhar, mas só é efetivado aos 27 anos de idade.

ESPANHA

Similar ao modelo brasileiro, a Administração Tributária espa-nhola existe, formalmente, desde 1992. O seu âmbito de adminis-tração abrange os impostos inter-nos e aduaneiros. No entanto, não trata dos previdenciários. Mantém convênios com as províncias autô-nomas, no tocante aos impostos internos.

A autarquia detém pessoal e orçamento próprios – 5% da arre-cadação como fonte de recursos – e é subordinada à Secretaria de Estado de Fazenda y Orçamento, órgão integrante do Ministério de Economia y Fazenda.

A estrutura é presidida pelo se-cretário de estado da Fazenda, res-ponsável legal e é administrada por um diretor-geral, no seu dia a dia.

É subdividida em diversos de-partamentos, que abrangem as questões funcionais, tecnológicas, de pessoal, de organização, plane-jamento e relações institucionais e dos assuntos relativos aos territó-rios.

Há processo seletivo público e a previdência é constituída por um fundo voltado à aposentadoria dos funcionários. Os salários são regidos pelo mercado.

ITÁLIA

A Administração Tributária ita-liana é formada por quatro agên-cias – Território, Receita, Aduanas e Patrimônio Público – subordina-das ao Ministério de Finanças.

Cabe à Receita, autônoma quanto à administração, pessoal, contabilidade e patrimônio, as atividades de controle, arrecada-ção e fiscalização dos tributos.

Nessa missão, ela se organiza em departamentos , Central, Re-gional e Local, que hierarquica-mente, cuidam:

Central – planejamento, nor-matização e controle;

Regional – supervisão das re-partições locais, atendimento e controle de contribuintes; e

Local – execução de ações de fiscalização, controle de arrecada-ção e atendimento, direto, ao con-tribuinte.

Países Baixos

Neles, o Ministério das Finan-ças engloba impostos e aduana, como subordinadas. A eles cabe a gestão dos impostos internos e aduaneiros e das contribuições previdenciárias.

Sua tecnologia está entre as mais avançadas do mundo, refle-xo do nível de exigência do povo holandês com a prestação de ser-viço público. Além disso, o seu pessoal é, maciçamente, treinado e capacitado. Seus salários, de ex-celente nível, seguem os valores de mercado, sendo que os fun-cionários que trabalham com in-vestigação e informação ganham acima dos demais. Embora de di-mensões reduzidas, o país man-tém cerca de 35.000 funcionários, nos diversos níveis da Administra-ção Tributária.

PONTOS A PONDERAR

Vê-se que, embora com dife-rentes nuances, a tendência de controle, arrecadação, fiscalização e cobrança das contribuições pre-videnciárias se torna fato comum em todos os países citados. Mes-mo onde tais contribuições são consideradas como tributos inter-nos comuns, o movimento é no sentido de que elas sejam do âm-bito da Administração Tributária.

Já quanto à Aduana, embora na maior parte deles haja a unifica-ção, em alguns, a conjuntura dos países fala mais alto, ao tratá-la como parte do sistema de segu-rança.

Em todos, porém, é nítida a preocupação com a otimização de custos/benefícios, via unificação e compartilhamento cadastral, pela racionalização de recursos finan-ceiros e materiais e dos procedi-mentos conjuntos de fiscalização, sob os vários enfoques dela decor-rentes.

Também, ao visualizarem o contribuinte como ente único, elas contribuem para a redução dos seus custos com as obrigações tri-butárias.

O desempenho é uma das pre-ocupações centrais e a transparên-cia tem sido ampliada, em relação aos serviços de Estado, prestados à população.

Uma nota se faz neces-sária em relação à Receita Federal do Brasil: ela foi a primeira Administração Tri-butária que unificou os ser-viços de controle aduaneiro e fiscalização de tributos in-ternos. É importante frisar que, comumente, busca-se a unificação do serviço de fiscalização, principalmen-te dos tributos internos.Como exemplo, posso ci-tar a Argentina, que possui apenas um quadro de fun-cionários para atuar nos diferentes níveis de fisca-lização; a Alemanha, onde a Administração Federal e a Administração Estadu-al também são unificadas. Aqueles entes que ainda não trabalham de forma in-tegrada tratam em esferas distintas a administração dos tributos, porém procu-ram manter convênios e/ou disponibilizam informações entre os fiscalizadores.

A consequência da busca desse trabalho para gerir recursos para o Estado é o amadurecimento da Admi-nistração Tributária den-tro desse contexto político atual, que tem garantido o avanço nas estruturas democráticas em âmbi-to mundial. Como unidade autônoma, ela planeja, fis-caliza e arrecada o tributo dentro dos parâmetros da justiça social almejada pelo povo.

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Em tempos de luta por uma le-gislação orgânica para a Adminis-tração Tributária brasileira, temos, forçosamente, que partir da reali-dade que representa a sua eficácia para o conjunto do Sistema Tribu-tário.

Esse pensamento se justifica pelos movimentos ocorridos, em todo o mundo, voltados a refor-mar a concepção, a percepção e a inserção do tributo no âmbito da cidadania, observado com maior ênfase, da década de 1980, para cá.

Um verdadeiro reexame do papel das administrações na fi-xação dos limites da eficácia de qualquer sistema impositivo. Nes-sa reavaliação, incorpora-se ao próprio conceito de sistema tribu-tário, quase que à unanimidade, a sua administração. Especialistas em tributação afirmam que a me-lhor Administração Tributária não é a que simplesmente arrecada mais receita e sim a que reduz a diferença entre a receita obtida e a receita potencial. A diminuição deste “compliance gap” seria, en-tão, a medida de “eficácia” delas. Uma evolução nos esforços em melhorar a Administração Tribu-tária em países subdesenvolvidos

e em desenvolvimento tem sido igualmente observada, desde o fim dos “anos dourados”, quando se firmou a tese de que apenas com a introdução das tecnologias de computação os problemas das Administrações Tributárias esta-riam resolvidos. Os anos seguintes e as frustrações nascidas dessa óti-ca deixaram claro que a tecnologia sozinha não poderia fazer o servi-ço.

Uma frustração, hoje, encara-da como benéfica, pelo despertar havido, naquela década, para os movimentos reformistas em vários países, que avançaram e melhora-ram suas estruturas de gestão de tributos.

A partir de 1990, vemos que o conceito e as tendências trazem como marcas firmes a autonomia, a busca da eficiência e da eficácia e a gestão democrática dos tributos. Um desafio que demanda ações no sentido de instrumentalizar cada vez mais as Administrações Tributárias para que possam favo-recer o cumprimento voluntário das obrigações fiscais pelos contri-buintes.

As tendências internacionais apontam, também, no sentido da

unicidade dos órgãos arrecada-dores, da autonomia de gestão, da redução de custos – tanto do Fisco quanto do sujeito passivo da obrigação das garantias do crédito e dos programas de cumprimento voluntário.

Essas novas bases, econômi-cas inclusive, têm provocado mo-dificações nos sistemas tributários internacionais e nas economias contemporâneas, alterando e re-formulando a gestão do tributo, na busca de um melhor desempe-nho das suas funções.

O panorama internacional re-gistrado e analisado pelo (CIAT), Centro Interamericano de Admi-nistrações Tributárias e pelo (BID), Banco Interamericano de Desen-volvimento indicam a necessidade de:

a) altos investimentos na área de informática;

b) novas estruturas adminis-trativas e modificação nas políticas de gestão;

c) estratégias para quebrar resistências às mudanças, treina-mento dos agentes do Fisco para absorção das reformas e vincula-ção de remunerações a resultados obtidos;

d) necessidade de um plano estratégico de reformas, privile-giando-se o médio e longo prazos;

e) aumento do poder coerci-tivo do Fisco, em paralelo à apli-cação de programas de cumpri-mento voluntário da obrigação, inclusive para financiamento de projetos e intercâmbio de infor-mações; e

f ) compromisso dos escalões superiores do governo de entre-gar os recursos em tempo e evitar pressões para obtenção de resul-tados de curto prazo.

“A Administração Tributária é a função de Estado que tem por missão otimizar a receita, a fim de viabilizar a satisfação das necessidades coletivas públicas. Ao administrar as atividades estatais voltadas à otimização da receita, a Administração Tributária assume como meta alcançar a “receita ótima”, assim entendida a que resultaria do cumprimento pleno de todas as tributárias previstas em lei” (Guadagnin, 2002, p. 3).

adequadas para aproximar ao máximo a receita que efetivamen-te ingressa no Tesouro, da receita potencial, correspondente à pre-vista no ordenamento jurídico como a necessária para o bom funcionamento estatal no inte-resse de todos os cidadãos.

Vemos, pois, claramente defi-nida a missão de garantir os meios financeiros para o funcionamento e os investimentos do Estado, ao menor custo, com a máxima justi-ça fiscal e com o maior grau possí-vel de observância voluntária da lei por parte dos contribuintes. A ela se somam conceitos de ação como a prevenção do ilícito, a re-cuperação do tributo sonegado e a melhoria contínua, estes funda-mentais para a boa gestão e cum-primento da legislação tributária.

Ao visualizarmos a essência da missão da Administração Tri-butária, vemos, também, que ela deve ser dotada de uma estraté-gia para o bom desempenho, a exemplo da iniciativa privada e de outras organizações que têm uma atividade vital, com a mes-

Sob a ótica vista anteriormen-te, da eficiência nos resultados, vários países do mundo contam, atualmente, com uma legislação es-pecificamente dirigida a outorgar maior autonomia administrativa e fi-nanceira à Administração Tributária.

No geral, as Administrações Tributárias são organizações de natureza pública que são institu-cionalizadas na forma de Ministé-rios, de Secretarias ou, mais recen-temente, de entidades autônomas (estas muitas vezes vinculadas ao Poder Executivo). O objeto dessas organizações é aplicar o sistema tributário para arrecadar as receitas que a lei outorgou ao Estado para satisfazer as necessidades públicas.

Nesse sentido, compete ao legislador traduzir nas leis tribu-tárias as definições quanto ao montante de recursos que a sociedade autoriza o Estado a cobrar para custear os serviços públicos que lhe são prestados.

Uma vez definidos em lei os contribuintes, os fatos geradores, as bases de incidência e as alíquotas, à Administração Tributá-ria incumbe desenvolver medidas

A DEFiNiÇÃo DA missÃo iNsTiTuCioNAL E Dos

oBJETiVos EsTrATÉGiCos

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26 27Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

ma aplicação e cobrança de im-postos, uma tarefa que deve ser realizada em conformidade com a lei. É importante que as admi-nistrações fiscais estabeleçam uma definição clara de sua mis-são, desde o início, e que a façam conhecidas aos interessados.

O conceito de missão deve ser a resposta para a pergunta so-bre o que deveria fazer uma ad-ministração fiscal e aduaneira e deixar transparente a forma como a gestão está desempenhando as responsabilidades que lhe são atribuídas. Essa percepção é fun-damental para mostrar a direção em que deverá se desenvolver a organização e o que deve ser al-cançado no futuro. Nela, vemos que a missão, a estratégia e as metas da organização estão rela-cionadas.

O Manual de administração tributária, do CIAT, inclusive, dei-xa claro que não se justifica a de-claração do que a organização quer atingir (missão), se a estraté-gia indicadora das ações de cum-primento das principais respon-sabilidades, no futuro próximo, e as metas com as quais se intenta

vincular a estratégia com as ati-vidades diárias, não forem efeti-vamente realizadas. (Manual de Administração Tributária do CIAT).

Nesta modernidade concei-tual sobre a missão da Adminis-tração Tributária, não podemos mais enxergar a gestão tributária como algo meramente arrecada-dor, a ser avaliado com abstração ao entorno em que se desenvol-ve. Claro que continua sendo im-portante para a definição da mis-são da Administração Tributária a finalidade de geração de receitas, mas ela deve incorporar, também, o “como” arrecadar, atendo-se ao contexto em que está inserida e preocupando-se em preservar os direitos dos contribuintes e os le-gítimos interesses da sociedade como um todo.

Reescreve-se, portanto a missão cidadã da Administração Tributá-ria: Nessa concepção atual, vemos que a eficácia, a confiança pública e a espontaneidade no cumprimento das obrigações tributárias se aliam ao imperativo “arrecadar”, na satis-fação da sua essência conceitual máxima: promover o bem-estar da comunidade.

“Aplicar eficazmente o sistema tributário buscando a confiança pública em sua atuação bem como o cumprimento espontâneo das obrigações tributárias para contribuir ao bem-estar da comunidade”.

No quadro, listamos as de-clarações de missão de alguns países membros do CIAT e des-tacamos os pontos comuns a todos eles:• otimizar o cumprimento es-

pontâneo;• garantir a confiança do pú-

blico na integridade e impar-cialidade da AT;

• melhorar a produtividade;• melhorar a qualidade dos

serviços oferecidos;• prevenção otimizada da

fraude e da sonegação;• uso eficiente, efetivo e ade-

quado dos recursos;• pessoal motivado, compe-

tente e bem capacitado.

Canadá:

”Nossa missão é promover o cumprimento das leis e regulamentos fiscais, comer-ciais e de fronteira do Canadá, por meio da educação, qualida-de de serviço e aplicação res-ponsável, contribuindo, assim,

para garantir a conformidade com as disposições fiscais e facilitar a execução.”

Colômbia:

”A gestão dos sistemas fis-cais e aduaneiros, e as opera-ções de mudança de controle, a

para o bem-estar econômico e so-cial dos canadenses.”

Chile:

”A Receita Federal é responsá-vel pela implementação e gestão do sistema de imposto interno, os contribuintes de monitoramento

as leis;f ) tecnologia adequada que

compreenda a utilização ampla da Internet, da in-formática de ponta e de sistemas integrais e inte-grados que cubram todas as áreas funcionais do circuito tributário, propor-cionando informação certa, oportuna e suficiente;

g) administração diferencia-da com segmentação que atenda às características dos contribuintes (tama-nho, setor econômico, etc.);

h) ter práticas e fazer acor-dos de Cooperação com outras instituições gover-namentais, com governos estrangeiros e organismos internacionais;

i) ter sistemas de controle interno;

Fica claro que as Administra-ções Tributárias, hoje, estão cons-cientes de que para melhorar e manter níveis elevados de cum-primento espontâneo – que vem a ser o objetivo estratégico:

a) são necessárias ações que facilitem o pagamento vo-luntário;

b) identificação e punição dos casos de não cumpri-mento voluntário geran-do na sociedade a percep-ção de um alto risco para o contribuinte, em caso de evasão fiscal;

c) sistema tributário não complexo;

d) “Código Tributário Geral” que promova una relação transparente,equitativa e justa entre o Fisco e os contribuintes;

e) independência e capacida-de de atuação para aplicar

j) ter recursos humanos sufi-cientes, capacitados, moti-vados, éticos e comprome-tidos com a organização e com as necessidades da sociedade.

Por isso, o desafio para os pró-ximos anos deste novo milênio se resume, justamente, em dar um novo enfoque para a atuação da Administração Tributária, que deve dirigir seus esforços para a consecução de uma maior aceita-ção social e para o melhor cum-primento fiscal voluntário, assim como para a criação de um alto risco para os evasores. Para isso, será necessário incorporar uma nova cultura organizacional, ins-taurando como valores dominan-tes: a eficiência e a eficácia em to-das as atuações administrativas, a valoração do capital humano, o conceito de serviço público, a éti-ca e o trabalho em equipe.

fim de garantir a imparcialida-de, a neutralidade e a progres-sividade dos impostos, a con-corrência leal e níveis de receita competitivos.”

República Dominicana:

”Garantir e facilitar o cumprimento tributário corre-to, voluntário e atempado das obrigações fiscais e alcançar os objetivos e as políticas de-terminadas pelo imposto esta-dual.”

México:

”Fomentar os impostos federais com qualidade e efici-ência necessária para financiar os gastos públicos, garantindo uma aplicação justa e equitativa da legislação fiscal e promover o cumprimento voluntário e opor-tuno.”

Estados Unidos:

”Proporcionar aos contribuintes serviços de alta qualidade, ajudando--os a compreender e assumir as suas responsabilidades fiscais e pela apli-cação da legislação tributária tudo com integridade e imparcialidade.”

Venezuela:

”Modernizar e de forma eficaz e eficiente a arrecadação nacio-nal, promovendo, assim, o desen-volvimento da cultura fiscal, com base nos princípios da legalidade, honestidade, justiça e respeito ao contribuinte, a fim de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população.”

Cingapura:

”Vamos agir de forma respon-sável e gerir eficazmente as nos-sas leis fiscais, para garantir que

os impostos sejam recolhidos imediatamente, e que o custo de coleta seja mantido baixo. Os contribuintes vão oferecer servi-ços com rapidez e qualidade. Isso só acontecerá por meio de uma motivada, competente e bem trei-nada Administração Tributária.”

Irlanda:

”Maximizar o cumprimento vo-luntário e desencorajar a evasão e fuga. Otimizar o desempenho e desenvolvimento de pessoal. Utilizar os recursos de forma eficiente, eficaz e adequada.”

Nova Zelândia:

”Pretendemos maximizar a conformidade com a legislação fis-cal e de política social da Nova Ze-lândia por meio da educação, qua-lidade de serviço e aplicação da lei de forma justa, mas com firmeza.”

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28 29Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

A Administração Tributária é aquela que cuida da arre-cadação de tributos, entre

outras atribuições. Sua obrigação é a de lançar, fiscalizar e cobrar tributos. Obrigatoriamente, deve ser exercida por servidores de carreiras específicas, próprias do cargo. Mas, afinal, o que se busca com a aprovação de uma lei com-plementar que versa sobre Admi-nistração Tributária em âmbito nacional?

Talvez para servidores e fis-cais, que estão engajados nessa luta, a resposta seja simples e cla-ra do ponto de vista técnico. En-tretanto, o que se pretende, por fim, com a Lei Orgânica da Ad-ministração Tributária é regula-mentar preceitos constitucionais, firmados e assentados na Carta Magna, mas até agora sem execu-ção, que acarretará em benefícios para a sociedade.

Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas ativi-dades e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de ca-dastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio.

O presente texto ainda afirma que a Administração Tributária possui autonomia na gestão de recursos prioritários para a reali-zação de suas atividades, a fim de não permitir que o exercício da atividade fiscal seja inviabilizado, por meio de restrições de recur-sos e corte de verbas orçamen-tárias, em geral impostas pelos administradores.

De acordo com Luiz Alberto dos Santos, subchefe de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais, da Casa Civil, no governo Dilma, é a lei que trata da organização de um setor ou órgão da Administração Pública, ou campo temático da atuação do poder público. As leis orgâni-cas são, por sua natureza, subor-dinadas ao princípio do paralelis-mo com a Constituição Federal e restritas às competências do ente.

Está na Constituição Federal

O inciso XXII, do art. 37, da CF, diz que a Administração Tributá-ria é atividade essencial e deve ser exercida por servidores de carreiras específicas.

(...) XXII – as administra-ções tributárias da União, dos Estados, do Distrito

Por quE TEr umA

LoAT NACioNAL?

A proposta de emenda à Constituição Federal, nº 186/2007, acrescenta os parágrafos 13 e 14 ao artigo 37. O parágrafo 13 prevê que a lei complementar estabeleça normas gerais para a organização da Administração Tributária no âmbito nacional. Já o parágrafo 14 confere autono-mia à Administração Tributária.

Esse projeto teve a sua admis-sibilidade de constitucionalidade aprovada na Comissão de Cons-tituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, no dia 5

de junho de 2013, e terá o mérito analisado por uma Comissão Es-pecial, que foi criada no dia 17 de julho deste ano.

A proposta de emenda à Constituição, nº 186/07 optou por uma lei complementar, visando a que os entes federados se sintam compelidos a cumprirem os ter-mos da futura lei, promovendo a adequação das suas constitui-ções e leis orgânicas.

As atividades da categoria seriam desenvolvidas por ser-vidores de carreiras específicas

e teriam recursos prioritários para o desenvolvimento des-sas ações. O trabalho passa a ser executado de forma inte-grada, inclusive, com o com-partilhamento de cadastros e de informações fiscais. Outra disposição constitucional, pou-co abordada, é o inciso 15, do art. 52, que diz que o Senado Federal deve avaliar, periodica-mente, a funcionalidade e o de-sempenho do Sistema Tributá-rio Nacional, em sua estrutura e seus componentes.

Esta proposta do ex--deputado federal Virgílio Guimarães (PT/MG) altera a Constituição Federal na me-dida em que altera o Sistema Tributário Nacional, unifica a legislação do (ICMS), Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Servi-ços de Transporte Interes-tadual e Intermunicipal e de Comunicação, entre outras providências.

Por solicitação da FENA-FISCO, o deputado federal João Dado (PDT/SP) apre-sentou a emenda de nº 293, em que acrescenta dois pa-rágrafos (13 e 14) ao art. 37, da Constituição Federal, a ser incluído na redação da PEC nº 233, de 2008, apen-sada à PEC nº 31-A/2007, que altera o Sistema Tribu-tário Nacional, os seguintes parágrafos:

duas inovações: a primei-ra, uma sólida e volumosa plataforma comum, absor-vida pela proposta governa-mental e pela nossa Refor-ma Tributária, e a segunda, menos volumosa, escalando píncaros nunca antes ex-plorados. Alçando voo além dos alicerces da unificação do ICMS, Virgílio Guimarães vislumbrou um trio de me-didas empolgantes, primei-ra, a valorização da pessoa do servidor profissionaliza-do em carreiras de Estado como esteio indispensável à execução de qualquer re-forma, medida com a qual concordamos e que incor-poramos à nossa Reforma Tributária.”

O relatório recebeu apro-vação da Comissão Especial e se encontra pronto para pauta no Plenário da Câmara Federal.

PEC nº 31-A/2007Parágrafo 13 Prevê

a edição de lei comple-mentar sobre regime jurídico das Adminis-trações Tributárias, dis-pondo sobre direitos, deveres, garantias e prerrogativas dos car-gos de suas carreiras específicas.

Parágrafo 14 - As-segura autonomia ad-ministrativa, financeira e funcional às adminis-trações tributárias, bem como a iniciativa de suas propostas orça-mentárias dentro dos limites estabelecidos na Lei de diretrizes or-çamentárias.

O relator da matéria, de-putado federal Sandro Mabel, acatou, apenas, o parágrafo 13 e registrou na sua peça que ”a PEC nº 31, de 2007, contém

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30 31Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

As atribuições do servidor fiscal tributário, sem pre-juízo de outras definidas

em lei, possuem caráter privativo e geral. Em caráter privativo, cabe a ele fiscalizar o cumprimento da legislação tributária; proceder ao lançamento do crédito, quan-do for o caso; julgar e decidir, singularmente e/ou em colegiado sobre a apuração de questões tributárias, no âmbito administrativo; auditar e decidir consultas, res-tituições, ressarcimen-tos ou compensações tributárias, inclusive benefícios fiscais; atuar na representação fiscal junto ao órgão de jul-gamento de segunda instância do processo administrativo tributá-rio; e orientar o sujeito passivo e a sociedade em geral da obrigação tributária. Em caráter geral, todas as demais atribuições que não são de natureza privativa.

É nulo o ato que se origine do exercício

das atribuições por agente que não integre a carreira de audito-ria fiscal tributária da Administra-ção Tributária.

Em função da natureza das atribuições conferidas ao cargo de servidor fiscal tributário, as atividades desenvolvidas pelos

servidores que integram a car-reira de auditoria fiscal tributá-ria são consideradas, para todos os efeitos, como exclusivas de Estado, nos termos do art. 247, da Constituição Federal.

um PouCo mAissoBrE As FuNÇõEs Do

sErViDor FisCAL TriBuTário

Em diversos trabalhos apre-sentados acerca do tema, o economista Hugo Mescolin

mostra que, na maioria dos paí-ses, as Administrações Tributárias abarcam quatro macrofunções básicas: fiscalização, tributação, arrecadação e informações eco-nômico-fiscais. A Lei Orgânica da Previdência Social (pré-CF/88), por exemplo, publicada em 12 de fevereiro de 1993, foi promulga-da a partir da previsão contida no artigo 61, § 1º, inciso II, alínea “d”, da Constituição Federal.

A Carta Magna atual situa o Ministério Público em capítulo especial, fora da estrutura dos de-mais poderes da República, con-sagrando sua total autonomia e independência e ampliando-lhe as funções (arts. 127/130), sem-pre em defesa dos direitos, garan-tias e prerrogativas da sociedade.

A Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União, aprovada em julho de 1992, não é diferente, no sentido de garantir nature-za, competência e jurisdição ao órgão. Entre outros fatores, Luiz Alberto dos Santos, subchefe de Análise e Acompanhamen-to de Políticas Governamentais, da Casa Civil, no governo Dilma, esclarece que há a necessidade da regulamentação de uma

Lei Orgânica da Administração Pública (art. 84 CF) – em fase de discussão no Executivo, a fim de que se estruture, de forma sistê-mica e integrada, a normatização relativa ao funcionamento de um setor. “A LOAT assegura melhor vi-são do sistema em que se insere a instituição ou setor do Estado. Além disso, permite consolidar instrumentos normativos que regem a sua atuação, confere ou reconhece status institucional diferenciado e age na distinção de “espaços de poder” e meios para seu exercício”’ conclui Santos.

As leis orgânicas, no entanto, não podem, porém, servir de “es-cudo” para apropriação corporati-va de espaços de poder e autorida-

de, ou para resolver conflitos entre corporações ou setores, nem para estabelecer instrumentos arbitrá-rios de exercício da autoridade ou reduzir possibilidade do controle social. Pelo contrário, ela passa a garantir para o estado, agentes públicos e para o cidadão transpa-rência e melhor atendimento ao princípio da legalidade.

Acredita-se, ao fim e ao cabo, que as Administrações Tributárias dos diversos entes que compõem a Federação necessitam de nor-mas gerais que possibilitem uma identidade nacional de seus ser-vidores, respeitadas as compe-tências específicas, dotando-lhes de unicidade de direitos, deveres, garantias e prerrogativas.

EXEmPLos BEm suCEDiDos Em

ouTros sETorEs

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32 33Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

ENTrEVisTA

Entrevista LOAT – Adriana SchierFlorianópolis, agosto de 2013.

Adriana Schier, é advogada, doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná e consultora da FENAFISCO no tocante a lei orgânica. Schier ainda é professora e dire-tora acadêmica do Instituto Paranaense de Direito Adminis-trativo. Nessa conversa, a advogada aborda o anteprojeto da LOAT da FENAFISCO sob a ótica jurídica, e, também, co-menta outros aspectos da proposta da Federação, elabora-da pela Comissão de lei orgânica. Com o projeto de lei em fase de parecer da comissão de estudos, este é o momento da revista Visão FENAFISCO apresentar os resultados do tra-balho. Um registro que vale a pena ler atentamente.

Visão FENAFISCO - Afinal, o que é uma lei orgânica? No que ela se difere de outras legislações?

Adriana Schier - No Brasil, lei orgânica é uma designa-ção conferida às legislações que regulamentam as princi-pais instituições públicas do país, tais como a Magistratura e o Ministério Público. No caso da Lei Orgânica da Adminis-tração Tributária, esta deverá se constituir como um instru-mento para que, fornecendo as bases para a formação de uma cultura institucional, permita à sociedade o reconhe-cimento da relevância das atividades por ela exercidas, sem as quais, em última análise, não se permite a concretização do modelo de Estado Social preconizado na Carta Magna. A LOAT coloca-se, portanto, como elemento que permitirá es-tabelecer as balizas para garantir a segurança funcional dos agentes públicos que integram a Administração Tributária, ao mesmo tempo que fornecerá mecanismos de proteção do contribuinte.

Note-se que a discussão sobre a edição de uma Lei Or-gânica no Fisco nacional surge ainda no início dos anos 90,

no contexto da reforma do aparelho do estado brasileiro. Nesse cenário, era essencial o ajuste das contas públicas e a valorização da Administração Tributária. Na esteira des-sas ideias, a Emenda Constitucional nº 42/2003 consagrou a valorização dessa instituição, declarando, expressamente, que se traduz como atividade essencial ao funcionamento do Estado. Esse reconhecimento se justifica não só porque permite ao Estado arrecadar recursos para manter sua es-trutura interna de funcionamento, mas, acima disso, porque possibilita a obtenção de recursos para a devida consecu-ção das políticas públicas voltadas à satisfação dos direitos fundamentais.

VF - Se assim é, o Fisco valorizado pelo Brasil afora,

por que falar em legislação orgânica da Administração Tributária?

Schier - Entende-se que a edição da LOAT tornará pos-sível consagrar a Administração Tributária como uma verda-deira Instituição da sociedade brasileira e, com isso, trará a efetiva valorização dos servidores que a compõem e exer-cem, dignamente, seus misteres, direcionados à concreti-zação do Estado Social e Democrático de Direito, conforme consagrado na Constituição Federal de 1988. Além disso, uma legislação com tal status permite criar mecanismos de blindagem dos servidores que integram a sua estrutu-ra contra possíveis ações políticas e de grupos que tutelam interesses econômicos em detrimento do exercício de suas funções públicas. A lei orgânica busca impedir, ainda, qual-quer tipo de interferência no exercício das funções fiscais, buscando, com isso, garantir a eficácia e a justiça social.

VF - Mas, para a LOAT alcançar o status de lei comple-

mentar, ela, forçosamente, terá que obter o nível consti-tucional por meio de uma proposta de emenda à Consti-tuição?

Schier - Sim. Sem isso ela somente poderá ser edita-

da como lei ordinária. Por isso, a aprovação do projeto de emenda à Constituição, PEC n.º 186/07, legitimará ainda mais a competência do Congresso Nacional para a edição das normas gerais referentes à estruturação da Administra-ção Tributária.

VF - Qual a importância e a vantagem de uma LOAT

para o Fisco estadual e distrital? Como a senhora vê a atu-ação da FENAFISCO nesse processo?

Schier - Como tenho afirmado em inúmeros eventos nos quais tenho tido a honra de participar, tratando do tema da Lei Orgânica da Administração Tributária, entendo que de-

fender a necessidade de edição de uma lei com tais caracte-rísticas não se limita a uma preocupação de classe. Não me parece que o interesse daqueles que têm feito a defesa da LOAT se restrinja, apenas, a assegurar aos servidores públicos benefícios funcionais. Ao contrário do que se tem observado é que o projeto de LOAT, tanto no âmbito nacional, no qual a FENAFISCO vem trabalhando com tanto afinco na última década, assim como os projetos que vêm se delineando no âmbito dos estados, preocupam-se em assegurar que o Fisco, assim entendido, possa consagrar sua missão social.

Tal normativa permitirá a instalação de uma Nova Ad-ministração Tributária, no cenário nacional, colaborando para a consolidação de uma estrutura que permita a reali-zação das relevantes funções constitucionais que lhe são atribuídas.

Porém, todo o empenho pela construção de uma Ad-ministração Tributária eficiente, que permita a devida alo-cação de recursos em programas que assegurem a melhor prestação de serviços públicos, depende da valorização dos servidores públicos que a integram, o que certamente será observado com a aprovação da Lei Orgânica Nacional, a exemplo do que ocorre com a Magistratura e com o Mi-nistério Público. Desde Max Weber, responsável teórico pela estruturação de um regime de gestão burocrático como característica do Estado Democrático de Direito, propugna--se pela necessidade de um tratamento específico a ser con-ferido aos agentes públicos. Tal imperativo torna-se ainda mais premente quando se trata de carreiras essenciais de Estado, entre as quais aquelas que integram a Administra-ção Tributária. Segundo aquele autor, aqueles que ocupam um cargo público devem ter assegurado um rol de garan-tias que permitam o exercício de suas funções de forma livre e independente das pressões do governo ou de grupos da sociedade civil. Na esteira de tal diretriz, Romeu Felipe Ba-celar Filho afirma que é necessário que os servidores sejam pessoalmente livres, nomeados após aprovação em concur-so público. O sistema de remuneração deve ser composto de vencimentos fixos, cujo valor deverá ser definido em lei. Deverá ser assegurado a todos os servidores a perspectiva de uma carreira sólida, garantindo-se a possibilidade real e efetiva da devida ascensão funcional. Há que ser imple-mentado um sistema rigoroso de disciplina e controle do serviço. A estabilidade deve ser considerada um direito fundamental de todos os servidores, enquanto a perda do

cargo só poderá ocorrer nas hipóteses previstas em lei, sem-pre precedida do devido processo legal. Esse conjunto de direitos se consolida como conquistas democráticas porque assegura uma Administração Pública vinculada à concreti-zação do interesse público, voltada à efetivação dos direitos fundamentais. De igual maneira, coloca-se como primordial a definição da atividade do Fisco como insalubre e perigosa, caracterização que trará benéficas consequências aos servi-dores, inclusive no que se refere à aposentadoria.

VF - A lei disciplinará a autonomia da Administração

Tributária. Fale sobre isso. Não haveria choque com o pró-prio governo? E a divisão de poder na democracia?

Schier - A edição da Lei Orgânica da Administração Tri-butária, na esfera nacional, permitirá a prescrição de normas gerais que tornarão possível criar uma identidade aos servi-dores que a integram, respeitadas as competências especí-ficas de cada ente federativo, definindo-se as prerrogativas, direitos e deveres dos integrantes do Fisco.

O pressuposto é a garantia, à União da competência para a edição de normas gerais e aos estados, municípios e Distrito Federal a competência para a regulamentação de temas específicos. No caso da União, a determinação é fru-to do poder constituinte derivado, que não pode autorizar qualquer ingerência na órbita dos estados e municípios.

A característica forte do anteprojeto é o respeito ao pacto federativo e às limitações dele decorrentes. Em pa-ralelo com o movimento nacional, os estados vêm bus-cando a elaboração de suas legislações específicas, no uso das competências definidas, exatamente, pelo pac-to federativo. Nesse sentido, cada ente federado haverá de adaptar a estrutura, em âmbito estadual e municipal, àquela proposta na LOAT, respeitada a sua esfera de auto--organização. Isso está previsto, expressamente, no arti-go 3º, do projeto de lei.

A Carta Magna reparte competências, organizacional, administrativa e financeira. Este é o primeiro aspecto que deverá nortear a apreciação de todos os dispositivos do an-teprojeto da LOAT nacional: a necessidade de que as deter-minações de ordem geral deverão ser feitas de modo a res-peitar as competências de cada ente federativo. Isso exigirá a aprovação do citado projeto de emenda à Constituição, a PEC nº 186/2007.

“Não se trata de uma preocupação de classe apenas. Não se trata de uma legislação que visa a assegurar aos servidores públicos do Fisco, apenas, benefícios funcionais. Vejo que o projeto LOAT, tanto no âmbito nacional, no qual a FENAFISCO vem trabalhando com tanto afinco, na última década e os projetos que vêm se delineando no âmbito dos estados, preocupam-se em assegurar que o Fisco possa consagrar a sua missão social.”Adriana Schier

Adriana Schier

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34 35Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

VF - Muito se fala da carreira de auditoria fiscal como carreira de Estado. De onde vem essa condição?

Schier - Resgatando o pensamento de Max Weber é

possível entender que o Estado moderno nasceu a partir da expropriação do poder da esfera privada, pelo sobe-rano, poder esse que se exterioriza pelas funções típicas e essenciais que até hoje lhe são reconhecidas (executiva, legislativa e judiciária) e, entre estas, figura a função fiscal. Seguindo a via histórica, foi a Teoria do Fisco, de Otto Mayer (veja o box) que permitiu as bases da responsabilização do ente público perante os particulares. Vemos, portanto, que desde os primórdios do pensamento da Ciência Política, o Fisco ocupa papel central na configuração do Estado e no seu relacionamento com a sociedade.

As atividades do Fisco, desde a gênese da Administra-ção Pública Moderna, estão incluídas entre aquelas funções essenciais ao Estado e aparecem, desde logo, caracterizan-do-se como típicas funções administrativas.

Essas funções essenciais de Estado serão melhores ins-trumentalizadas em um bom ambiente de Administração Tributária, que sistematize critérios claros e objetivos, que tornem possível distinguir, objetivamente, os atos do Esta-do soberano à parte dos atos do Estado Fisco, tornando a Administração Tributária uma instituição realmente voltada ao atendimento das demandas públicas. Em um ambiente de Estado Social, então, isso é imprescindível. Sem ela, os estados não conseguirão atuar segundo as imposições da Constituição de 1988. Sem um Fisco atuante, forte, institu-cionalizado, realizar políticas e serviços públicos é impossí-vel. Ainda que alcancemos um índice econômico bom, isso não acontece com os indicadores sociais que, atualmente, nos situam ao lado do Zimbabwe.

Um dos caminhos para que se alcance a excelência, também nesse aspecto, é a concretização de um sonho, próximo de se tornar realidade, que é a aprovação da Lei Or-gânica da Administração Tributária.

VF - Também se apregoa a essencialidade da Admi-

nistração Tributária. Ela é institucional ou abrange tam-bém a pessoa do agente do Fisco?

Schier - Uma instituição se define por uma estrutura e

uma função, direcionada a uma finalidade. A instituição tem previsão no anteprojeto da LOAT, no

artigo 7º , quando dispõe sobre a estrutura organizacional básica, que compreende Auditoria-Geral, Conselho Supe-rior, órgãos de julgamento do Processo Administrativo Tri-butário, Corregedoria da Administração Tributária, órgãos de Execução da Administração Tributária e Ouvidoria.

Esses órgãos visam à melhoria da condição de vida dos cidadãos. Um dos caminhos mais importantes é a distribui-ção de renda e isso só será sentido quando houver uma equalização entre o que é arrecadado e a qualidade do re-torno ao cidadão, pelos serviços públicos. São os direitos do cidadão que se pretende resguardar.

Por isso, é importante reconhecer a relevância consti-tucional dada à Administração Tributária como conjunto de órgãos que permitirá a devida arrecadação, enquanto estru-tura, e com isso garantir a efetividade e eficácia dos serviços públicos, sendo esta a sua finalidade primordial. Esse enfo-que, analisando sistematicamente a Constituição Federal de 88, permite assegurar a construção de um Estado Social e Democrático de Direito, voltado à dignidade cidadã.

Enquanto a Administração Tributária se apresenta como uma instituição, os seus servidores de carreira têm a si atribuídas as competências que a própria Constituição lhes Imputa. Nesse sentido, a Carta Magna tratou a Administra-ção Tributária como estrutura e como função.

Nessa perspectiva, um dos dispositivos que desponta com maior relevo no projeto de LOAT é, justamente, aquele que define que o dirigente da Administração Tributária será o auditor-geral tributário, nomeado pelo Chefe do Executivo do respectivo ente federado, escolhido em lista tríplice, para o exercício de mandato de dois anos, nos termos do artigo 8º.

Tal dispositivo terá que ser refletido nas leis orgânicas, estaduais e municipais, em respeito ao pacto federativo, o que reforça a necessidade de uma lei orgânica que não se prenda à preocupação com a diminuição de recursos públi-cos com servidores, em relação aos integrantes da Adminis-tração Tributária.

Inclusive, devo realçar que as atividades desempenha-das pelos servidores do Fisco, em todos os âmbitos federados, integram o rol das chamadas atividades exclusivas de Estado.

No Brasil, a Lei Federal nº 6.185/74 identifica o elenco de carreiras típicas da Administração Pública. A Lei nº 6.335/78 deu nova redação ao seu artigo 2º e disciplinou que as ativi-dades inerentes ao Estado, como Poder Público, sem corres-pondência no setor privado, são as funções compreendidas nas áreas de segurança pública, diplomacia, tributação, ar-recadação e fiscalização de tributos federais e contribuições previdenciárias, procurador da Fazenda Nacional, controle interno e no Ministério Público. A mesma lei determina que para esses cargos só serão nomeados servidores cujos deve-res, direitos e obrigações fundamentais sejam os definidos em estatutos próprios, ou seja, uma legislação orgânica.

Na década de 1990, a reforma administrativa admitiu a delimitação de que são carreiras de Estado aquelas relacio-nadas com a formulação, controle e avaliação das políticas públicas e com a realização de atividades que pressupõe o poder de Estado.

As carreiras, então, acabam por se inserir na própria estrutura administrativa e, nessa esteira, os seus servidores, que organizam e dirigem toda a organização estatal, além de formular políticas e governar. Detém, em alguma medi-da, o poder de Estado, atuando como administradores pro-fissionais ainda mais competentes e mais prestigiados, por-que auxiliam os políticos a desenhar instituições e políticas públicas, se encarregam de sua implementação, controlam os recursos públicos, entre outras.

No entanto, ante a remessa da matéria, pela Consti-tuição Federal, à regulamentação infraconstitucional, de-

A contribuição alemã a essa teoria consistiu na elabo-ração da doutrina do Fisco, a qual identificava o Fisco como o Estado nas suas relações de ordem civil ou de direito priva-do. Nesse sentido, o patrimônio público não pertenceria nem ao príncipe, nem ao Estado sobe-rano, mas a um sujeito jurídico distinto de ambos, regido pelo direito privado. Assim, o Fisco seria, por sua natureza, enca-rado como o homem ordinário, que administra seu patrimônio e está submetido ao direito civil e à jurisdição civil, sendo um súdito do Estado, como os demais; enquanto o Estado

trimonial, conferindo-lhes al-guma proteção.

propriamente dito não teria patri-mônio, mas se acha investido do poder público, do poder geral de mando.

Disso deriva que apenas o Fisco responderia pelos seus atos que causassem dano, e não o Estado. O artifício da cisão jurídica da personalidade do Estado permitiu uma flexibiliza-ção do rigor derivado da noção de soberania, que impossibilitava ao Estado obrigar-se perante os súditos, e o colocava acima de qualquer limite jurídico. Tal doutrina foi fundamental para atribuir aos particulares direitos em face do Estado, ainda que do ponto de vista estritamente pa-

Teoria do Fisco, ou Doutrina do Fisco – mayer

vemos admitir que a definição da carreira do Fisco como carreira exclusiva de Estado deve estar presente na LOAT, acompanhando a disciplina dos artigos 1º e 19, da Consti-tuição Federal.

VF - E a pessoa Adriana Schier, não sendo do Fisco, mesmo assim vemos que é notória sua paixão pelo tema, que vai além da atuação profissional de estudiosa do di-reito. O que a cidadã brasileira Adriana vê, de tão especial, neste projeto que a fez abraçá-lo com tanto empenho?

Schier - Vejo a Lei Orgânica da Administração Tribu-

tária como um instrumento de garantia para os servido-res que integram o Fisco, em todas as esferas da Fede-ração, mas também para a sociedade. Como cidadã, eu preciso ter a certeza de que o auditor-fiscal poderá au-tuar uma empresa que se encontra irregular, sem qual-quer espécie de ingerência, com a garantia de que a sua atuação, no campo de suas prerrogativas funcionais, não lhe trará qualquer consequência negativa, não irá gerar qualquer tipo de perseguição política.

Como disse antes, a proposição elaborada pela FENA-FISCO não se esgota em uma preocupação de classe. Antes, o anteprojeto visa ao fortalecimento de uma instituição, tornando-a consolidadora de uma sociedade cidadã e de-mocrática, iniciativa que merece todos os nossos elogios.

Foi trabalhando com a LOAT, do Fisco, com o movimen-to sindical fiscal, que retomei a crença de que ainda há tem-po de resgatarmos o pensamento de Poulantzas, ocupando espaços dentro da estrutura do poder constituído, para fa-zer valer o direito dos mais desvalidos.

Defendo a construção da LOAT nacional com o desi-derato de consolidar, sim, um Fisco independente na pers-pectiva de um Estado Forte, ou Essencial, aproveitando a expressão do professor Juarez Freitas. Acredito que a Ad-ministração Tributária, nessa perspectiva institucionalizada, colabora com o advento de um Estado em sua perspectiva republicana, apresentando-se como uma instância que per-mita contribuir para a felicidade das pessoas, como já preco-nizava Aristóteles.

É preciso resgatar a ética, em sentido amplo, aquela que assegura a valorização concreta da dignidade da mu-lher e do homem que exerçam o munus publicae, quando ocupam, dignamente, cargos dentro da Administração.

Não podemos acreditar que o direito, isoladamente, possa trazer soluções que assegurem, por si só, a inclusão social no cenário brasileiro. A aprovação da LOAT, entretan-to, na forma como está a proposta, parece ser uma via que deverá ser, necessariamente, conjugada com leituras de ou-tros saberes e de outros campos de atuação, mormente no campo da luta sindical.

A proposição da FENAFISCO, eu a vejo como a indica-ção do início do caminho, caminho esse que, como já dizia o poeta Antonio Machado, será feito ao caminhar. Mas desde já é um caminho talhado por vias possíveis, que indica uma especial forma de compreensão da Administração Tribu-tária e que coloca à disposição do operador jurídico e dos seus integrantes, um instrumental apto a tornar manifestos os direitos sociais.

Penso que é preciso acreditar, afinal, como já dizia We-ber “não se teria jamais atingido o possível, se não se hou-vesse tentado o impossível.”

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36 37Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

oPiNiÃoManoel Isidro dos Santos Neto – Presidente da FENAFISCO

Sempre que é perguntado sobre a LOAT, o pre-sidente da FENAFISCO, Manoel Isidro dos Santos Neto, faz questão de esclarecer que a norma não é uma LOAT federal.

Em entrevista dada ao SINDIFISCO/SE, ele expli-ca que a Lei Orgânica da Administração Tributária será uma lei complementar nacional, isto é, será para todos os entes da Federação.

“Em 2007, aprovamos, com o Fórum Fisco (Fis-co federal, estadual, municipal, do trabalho e pre-videnciário) uma proposta de LOAT. Nesta gestão da FENAFISCO a Comissão de lei orgânica decidiu rever a redação dessa proposta e, agora, ela está sen-do discutida no âmbito do Conselho Deliberativo da Federação, principalmente a parte que se refere à sua estrutura. Revendo o texto, a comissão achou por bem constar na proposta a estrutura da Administração Tri-butária. Após a aprovação do Conselho Deliberativo, a proposta será submetida às outras entidades do Fó-rum Fisco”, explica Isidro.

QUEM SE BENEFICIA COM A LOAT

Manoel Isidro defende que o Estado brasileiro será o principal beneficiário dessa lei. Ela dará maior autonomia ao órgão da Administração Tributária e trará independência aos servidores fiscais tribu-tários para exercerem as atividades essenciais ao funcionamento do Estado, ou seja, a fiscalização e a cobrança dos tributos. A Administração Tributária não ficará atrelada às influências externas, mas, sim, ao escopo técnico.

Esta é a garantia de que a autonomia do órgão e a independência dos servidores fiscais tributários em suas atividades potencializarão o aumento das arrecadações, o que possibilitará uma melhoria no atendimento das políticas públicas, beneficiando toda a sociedade.

Na fala do dirigente da FENAFISCO, “logo após a aprovação da redação final da proposta da FENA-FISCO pelo Conselho Deliberativo, iremos nos reunir com as demais entidades do Fórum Fisco, para for-matarmos uma proposta única do Fisco brasileiro”.

Para a aprovação da LOAT, será necessário alte-rar o texto da Constituição Federal. É o que preten-de a PEC nº 186/2007. Essa proposta de emenda à Constituição Federal acrescenta os parágrafos 13 e 14 ao artigo 37.

O parágrafo 13 prevê que uma lei comple-mentar (a lei orgânica da Administração Tributária) estabeleça as normas gerais para a organização da Administração Tributária no âmbito da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Já o parágrafo 14 confere autonomia à Adminis-tração Tributária.

Esse projeto teve o parecer de admissibilidade constitucional, do deputado João Paulo Lima (PT/PE), aprovado no dia 5 de junho de 2013, na Co-missão de Constituição, de Justiça e de Cidadania (CCJC), da Câmara dos Deputados. Agora, a luta irá focar na aprovação da PEC na Comissão Especial, que tem a finalidade de estudar o mérito da PEC nº 186/2007.

A proposta de emenda à Constituição nº 186/07 optou por uma lei complementar, visando a que os entes federados se sintam compelidos a cumprirem os termos da futura lei, promovendo a adequação das suas constituições e leis orgânicas.

No âmbito federal, o parágrafo 13 da PEC 1 nº 86 já foi acatado e sua redação já está incluída na PEC “31-A”, da Reforma Tributária, que tramita no Con-

gresso Nacional. O último relator do projeto, o de-putado Sandro Mabel, após um intenso trabalho de mobilização da FENAFISCO acatou a redação desse parágrafo. A PEC da Reforma Tributária está parada, mas se encontra pronta para votação em Plenário.

“A LOAT dará maior autonomia ao órgão da Administração Tributária e trará independência aos servidores fiscais tributários para exercerem as atividades essenciais ao funcionamento do Estado, ou seja, a fiscalização e a cobrança dos tributos. A Administração Tributária não ficará atrelada às influências externas, mas, sim, ao escopo técnico.”Manoel Isidro

Nos estados que já adotaram a lei orgânica, a receptividade do legislativo foi a melhor possível, até mesmo porque houve consenso, favorável ao projeto, entre as classes beneficiadas e os governos. Nenhuma Assembleia Legislativa colocou a propos-ta em votação sem que tal consenso fosse pleno.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, com a união da categoria, construiu-se o consenso com o gover-no. Após essa construção, o projeto foi levado à vo-tação e obteve aprovação, à unanimidade.

Da mesma forma, no Pará, o grande trabalho foi o de convencimento do atual governador do esta-do, uma vez que o projeto havia sido acertado com a governadora anterior, que não veio a se reeleger. Então, tudo teve que ser negociado, novamente, e isso somente foi possível, porque já existia a união da categoria.

A inclusão dos Incisos XXII e XVIII do art. 37 da Constituição Federal, bem como a alteração do inci-so IV, do art. 167, pela Emenda Constitucional nº 42 foram fatores determinantes que impulsionaram a ideia das Administrações Tributárias independentes.

Esses dispositivos trouxeram a precedência da Administração Fazendária e seus servidores fiscais, dentro de suas áreas de competência e jurisdição sobre os demais setores administrativos; com eles, conceituaram-se as atividades desenvolvidas pe-las Administrações Tributárias como essenciais ao funcionamento do Estado e que essas atividades seriam desenvolvidas por servidores de carreiras específicas e, ainda, que elas teriam recursos prio-ritários para o desenvolvimento dessas atividades.

Estas se dariam em atuação de forma integrada, inclusive, com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais e que elas teriam direito a vinculação da receita de impostos, ou seja, é dado o mesmo tratamento que tem a saúde e educação, de vinculação de receita de impostos.

Foi colocada nesse mesmo patamar a Adminis-tração Tributária, só que a saúde e a educação já contam com uma vinculação específica por meio de lei complementar, o que ainda não ocorreu com o Fisco. Mas realmente foi criada, a partir dessa emen-da, essa prerrogativa.

Outra disposição constitucional, pouco aborda-da, é o inciso 15, do art. 52, que diz que o Senado Federal deve avaliar, periodicamente, a funcionali-dade do Sistema Tributário Nacional, em sua estru-tura e seus componentes, e, também, o desempe-nho das Administrações Tributárias da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

A CARREIRA DO FISCO

Uma das preocupações do Fisco se refere à transição que ocorrerá nas carreiras dos Fiscos es-tadual e distrital com a implementação da LOAT. Na verdade, essas carreiras já vivenciam essa transição, mesmo sem que tenhamos, ainda, a aprovação da Lei Orgânica Nacional, pois desde o início das dis-cussões do projeto de LOAT, em 2004, o Fisco bra-sileiro passa por um processo de discussão intenso e constante. Essas discussões provocaram e provo-cam uma melhora na estrutura das Administrações Tributárias, em âmbito nacional, e uma qualificação, cada vez maior, das carreiras do Fisco sem contar que houve e continua havendo, também, aumento nas arrecadações.

Os estados do Rio Grande do Sul e do Pará já aprovaram as suas Leis Orgânicas Estaduais, com base na proposta, ainda em elaboração, de LOAT

Manoel Isidro

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38 39Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

da FENAFISCO e vários estados da Federação estão fazendo a discussão para aprovação, em um futuro próximo, de suas LOATs.

As LOATs, como já dito, trarão autonomia aos órgãos e independência na atuação de seus servi-dores fiscais como, também, acabarão com as inge-rências externas e, em consequência, possibilitarão uma melhora no perfil das arrecadações tributárias.

Buscamos, agora, o consenso amplo, nos esta-dos, sobre o projeto da LOAT. E ele está em plena construção. O que estamos tentando é aprovar o pedido de lei orgânica, que é a PEC nº 186. O segun-do passo é trabalhar, efetivamente, cada esfera. Das três esferas, federal, estadual e municipal, a única que já tem a exigência da lei orgânica é a federal. A PEC nº 186 reforça essa exigência, mas, também, a estende para as esferas estadual e municipal.

E, não vejo incompatibilidade alguma, entre se discutir a LOAT em âmbito federal, ao mesmo tem-po em que alguns estados se antecipam e discutem os seus projetos próprios. Cada ente da Federação é autônomo. Cada um deles tem autonomia para fazer sua lei orgânica, independentemente se outra esfera já fez, ou não, e de como será essa legislação. O que se discute na Lei Orgânica Nacional é que se tenha um regramento balizador com relação aos di-reitos, garantias e deveres, que são universais para as três esferas. Não vai existir direito maior ou me-nor. O que tentamos é criar uma identidade nacio-nal para a Administração Tributária e uma uniformi-dade. Então, cada estado ou município pode, sim, se antecipar e fazer sua lei. Quando sair a nacional apenas será necessário uma adequação.

Não existe incompatibilidade e, sim, fortaleci-mento da construção do projeto nacional por meio da concretização de projetos estaduais e municipais.

AUTONOMIA

A criação de um órgão autonômo e indepen-dente, no exercício de suas competências, com servidores de carreira específica e altamente quali-ficados, é um sonho dos servidores fiscais da Admi-nistração Tributária de todo o Brasil, por entende-rem que será importante para o fortalecimento do Estado e para a sociedade brasileira.

CIAT: um bom exemplo

Existe um organismo internacional, chamado Centro Interamericano de Administrações Tributá-

rias (CIAT), que tenta dar um padrão mínimo para as Administrações Tributárias de todo o mundo. Ini-ciou-se com as Américas, mas por sua boa estrutu-ração, hoje, já existem organismos na Europa, Ásia e África, pertencentes ao CIAT.

O CIAT defende atributos mínimos considerados dese-jáveis e necessários para que uma Admi-nistração Tributária possa ser considera-da eficiente, eficaz, moderna e profis-sional e, dessa for-ma, possa conseguir alcançar seu objetivo de arrecadar os impostos que servirão para o progresso dos estados.

Nesse padrão, a questão fundamental é a auto-nomia da Administração Tributária, que não pode sofrer com ingerências. A independência da Admi-nistração Tributária, para definir as suas políticas e estratégias para controlar o cumprimento das obri-gações tributárias, mediante uma estrita aplicação da lei, sem concessões ou favores por interferência de autoridades superiores, ou outros membros do poder político, se justifica pela natureza específica das funções da categoria.

A Constituição Federal do Brasil também reco-nhece a Administração Tributária “como atividade essencial ao funcionamento do Estado”, e os estu-dos mostram que para o desenvolvimento de uma Administração Tributária é preciso que ela seja in-dependente.

A nossa intenção é construir um órgão seme-lhante ao Ministério Público. Essa construção be-neficiará a todos, auditores e sociedade. Com a autonomia do órgão Administração Tributária, a in-dependência de atuação de seus servidores fiscais e a extinção das ingerências externas, as arrecada-ções irão aumentar ainda mais, com maior justiça fiscal, possibilitando o atendimento satisfatório das políticas públicas.

O órgão terá recursos prioritários para manu-tenção da máquina arrecadadora e os servidores serão cada vez mais qualificados. Nosso foco é uma sociedade com justiça social e fiscal. Só podemos ter isso com um órgão tributador, arrecadador e fiscalizador forte, independente e autônomo, com-posto por servidores de carreira de Estado.

Por ocasião da aprovação do parecer do deputa-do João Paulo Lima (PT-PE) pela admissibilidade da proposta de emenda à Constituição (PEC nº 186/07), que determina a elaboração de lei complementar para fixar normas gerais aplicáveis às Administrações Tributárias da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, acrescentando os parágrafos 13 e 14, ao artigo 37, da Constituição Federal, na Comis-são de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC), o au-tor da proposta, deputado Décio Lima (PT-SC), atual presidente da comissão, argumentou, durante a dis-cussão da matéria, a necessidade de o colegiado ana-lisar apenas a sua admissibilidade, papel precípuo da CCJ, deixando o debate acerca do mérito da PEC para a comissão especial a ser criada posteriormente. Se-gundo o autor, o que a proposta põe em debate, en-tre outros pontos, é se as Administrações Tributárias devem ser um órgão de governo ou uma estrutura de Estado, não abordando aspectos corporativos das carreiras dos Fiscos.

Segundo Lima, “estamos discutindo um conceito de modelo de Estado, se queremos um Fisco au-tônomo a exemplo das universidades e do Minis-tério Público. Nesse sentido, quero fazer um apelo aqui com relação a essa PEC, para permitir que a matéria seja discutida a partir da aprovação, tão

somente, da admissibilidade da proposta por essa comissão”, justificou. 

Em suma, a proposta do presidente da CCJ trata da chamada Lei Orgânica da Administração Tributária (LOAT), que disporá sobre a autonomia administra-tiva, financeira e funcional de todas as Administra-ções Tributárias do país, estabelecendo também di-reitos, deveres, garantias e prerrogativas dos cargos de fiscais de tributos em todos os entes federados. 

Discurso coerente

Referindo-se à Lei Orgânica da Administração Tributária, em recente pronunciamento, durante o VI CONEFAZ, promovido pelo Sindifisco/RS, o deputado catarinense afirmou que os sindicatos de fazendários estão atuando além do seu papel, na busca pela construção de um país diferente. “No que se refere à PEC nº 186 (lei orgânica), o traba-lho que vocês realizam é fundamental para o suces-so dessa luta”, ressaltou. Para ele, a receita não pode ser objeto de proselitismo político, o que é pernicio-so para qualquer Estado ético, sério e responsá-vel. “A receita é uma atividade inerente ao Estado. O gasto – este sim – é objeto do debate democrático”, afirmou, ao defender a PEC nº 186.

Com A PALAVrA, oAuTor DA PEC Nº 186/2007

Décio Lima

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40 41Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

PoNTo DE VisTAN esta seção, apresentamos conjecturas e

visões de especialistas da área fiscal, além de conhecedores da LOAT. Enviamos a todos

os entrevistados os mesmos questionamentos. A seleção que segue representa os pontos-chaves de cada indagação.

1 - IMPORTÂNCIA DA LOAT

Visão FENAFISCO: Na sua avaliação, qual é a importância de se ter uma lei do Fisco nacional?

Luiz Carlos HaulySecretário da Fazenda do Paraná

A uniformização na-cional certamente propi-ciará crescente aprimora-mento na aplicação das leis tributárias e aperfei-çoamento institucional do Estado brasileiro como um todo. Isso traria be-nefícios não apenas ao Estado, mas à sociedade, como um todo, uma vez expurgadas negativas interferências externas que possam existir. Não se trata de uma lei que vise a atender a interesses indi-viduais dos servidores das Receitas Estaduais, mas um diploma que garanta ao Estado a estabilidade e autonomia que são inerentes aos órgãos de fisca-lização de tributos. De certa forma, o Paraná já tem a sua LOAT, pois a Lei Complementar nº 131/2010 é um avançado estatuto que dá aos nossos audi-tores-fiscais a condição de integrarem um quadro próprio de um órgão de regime especial da es-trutura administrativa do Estado.

Pedro TaquesSenador/MT

É essencial que se tenha uma Administração Tributária eficiente, imparcial e honesta para o Es-tado Democrático de Direito. É uma garantia de que a participação exigida em lei para o custeio

dos gastos comuns da coletividade será cobrada de todos, independentemente da sua condição eco-nômica, poder político ou qualquer outro tipo de favorecimento na relação com o poder. É imprescin-dível também para o equilíbrio econômico, uma vez que a eficiência na arre-cadação, num cenário econômico altamente sofisticado como o atu-al, é a única forma de garantir as receitas que assegurem os resulta-dos fiscais sustentáveis.

José Augusto DelgadoMinistro aposentado do Supremo Tribunal de Justiça; ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral

A vantagem para o Estado de aprovar uma Lei Orgânica Nacional para a Ad-ministração Tributária é a de unificar, com base em princípios gerais, a regulamentação da carreira para a União, estados, Distrito Federal e municípios, criando regras comuns, possibilitando, assim, maiores recursos para atender às despesas com a manu-tenção da máquina estatal, da saúde pública, do ensino em todos os seus graus, da segurança pública e de outros direitos que a Constituição Federal assegura à cidadania. Outras manifesta-ções doutrinárias de igual valia têm sido procla-madas desde a promulgação da Emenda Constitu-cional nº 42, todas elas defendendo a necessidade de ser aprovada uma Lei Orgânica Nacional para regular as atividades e a composição funcional das Administrações Tributárias da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

2 - AUTONOMIA

VF: Qual é a sua opinião sobre a autonomia da Administração Tributária como ponto de divisão de poder em um Estado Democrático?

Hauly: Com essa nova realidade jurídica será possível garantir a concretização de princípios maiores que informam o Sistema Tributário Nacio-nal. A exterioridade do exercício das tarefas dos auditores-fiscais constitui encargos peculiares da mais alta relevância, pois espelha a imagem e a pre-sença da Administração Tributária no meio social. Somente com um eficiente combate à sonegação, ao lado de iniciativas que busquem a prevenção, informação e orientação dos contribuintes, pode--se garantir os imprescindíveis recursos públicos para a manutenção e efetivação do Estado Demo-crático de Direito. Tal fato, aliado a uma perma-nente fiscalização da sociedade na aplicação dos recursos públicos, certamente contribuirá para um país mais democrático e com uma melhor distri-buição de riquezas.

Taques: A Administração Tributária deve ter a mesma autonomia que todos os componentes da Administração do Estado, ou seja, constituir-se em instrumento impessoal, profissionalizado, vincula-do à lei e imune a qualquer tipo de pressão políti-ca ou interesse particular na execução das políticas públicas definidas legitimamente pelos processos políticos democráticos.

Delgado: A democracia só é bem exercida pelo Estado quando desenvolve as suas ações valorizan-do a dignidade humana, a cidadania, o bem-estar social, a boa-fé nos atos públicos, a probidade admi-nistrativa, a eficiência, a moralidade, a legalidade, a impessoalidade, a publicidade e o respeito aos seus servidores. As carreiras essenciais do Estado são os sustentáculos maiores da aplicação eficiente do re-gime democrático. Os Poderes Executivo, Legislati-vo e Judiciário são exercidos por pessoas que de-senvolvem atividades essenciais ao funcionamento do Estado sob as garantias funcionais outorgadas pela Carta Magna.

3 - ESSENCIALIDADE

O que se entende sobre a essencialidade da Administração Tributária?

Hauly: Diante das crescentes demandas da so-ciedade por serviços públicos de qualidade, da evo-lução da economia do país, do aumento da comple-xidade da cadeia produtiva e de comercialização, e das relações entre empresas e destas com os consu-midores de serviços e produtos, é indispensável a presença do Estado para garantir a necessária segu-

rança jurídica e institucional. Isso exige recursos, o que torna evidente a essencialidade da Administra-ção Tributária na busca para consegui-los. Entendo que as Administrações Tributárias deveriam possuir o status de secretaria autônoma, com orçamento e regime jurídicos próprios, de modo a ter corpo téc-nico competente, autônomo e independente, tanto do ponto de vista funcional quanto dos aspectos administrativos, financeiros e orçamentários, nos limites que a lei estabelecer.

Taques: A gestão da Administração Tributária em nosso Estado deve incluir a preservação incon-dicional do caráter profissional, apolítico e impes-soal da ação do Fisco; o desenvolvimento profissio-nal contínuo dos agentes fiscais para acompanhar a evolução dos métodos e técnicas utilizados pe-las empresas em suas atividades econômicas e em suas tentativas de elisão e evasão fiscal; uma política salarial que assegure remunerações com-patíveis com o mercado de trabalho de alta quali-ficação, para atrair e manter profissionais de qua-lidade; uma avaliação permanente e transparente dos resultados da tributação em termos de efici-ência e equidade; por fim, a discussão permanen-te junto à sociedade e ao Legislativo, por meio de estudos, pesquisas e projetos, de alternativas de política tributária que contemplem uma distribui-ção equitativa do ônus fiscal entre os contribuintes segundo sua capacidade contributiva e o combate sem tréguas à evasão fiscal e à corrupção no pro-cesso arrecadatório.

Delgado: Ser essencial é ser indispensável. A essencialidade da Administração Tributária consiste na característica de, sem a sua existência, sem o seu atuar, o Estado não ter condições de se organizar e de atender as necessidades de manutenção da sua estrutura e os reclames fundamentais da cidada-nia. Temos como certo que a estrutura da atividade Administração Tributária agiganta-se no instante em que, por desiderato constitucional, passa a ser considerada como essencial ao funcionamento do Estado, equiparando-se às outras funções que têm a mesma categoria valorativa. Anunciamos, segun-do o nosso entendimento, que as atividades da Administração Tributária, elevadas à categoria de essencialidade à estrutura estatal, no campo da fis-calização, de modo especial, há de adotar posturas que revelem: consideração absoluta pelos aspec-tos éticos da legislação tributária; exercício de uma gestão que tenha o primado do interesse público e respeito aos direitos do cidadão como norte único;

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42 43Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

a não contaminação do interesse privado sobre o interesse público, entre outros pontos.

A verdade é que, em decorrência da essenciali-dade possuída conforme destacado, pode atuar de modo integrado. Essa atuação integrada abrange o funcionamento dos Fiscos federal, estaduais, distrital e municipais, em que estão envolvidos aspectos de cadastro único, eficiência fiscal, redução de obri-gações acessórias, utilização de informações fiscais protegidas pelo sigilo, o dever funcional dos agentes integrantes da Administração Tributária atuarem res-peitando o princípio da legalidade, da moralidade, da eficiência e do aplauso aos direitos do contribuinte.

4 - CARREIRA 

Qual sua opinião sobre a carreira de auditor fiscal como carreira de Estado?

Hauly: A Administração Tributária, enquanto atividade essencial, será exercida por servidores de carreira específica, que são os auditores-fiscais, priorizando inclusive a destinação de recursos para a desobrigação de suas tarefas, nos termos do inciso XXII, do art. 37, da Constituição Federal. O auditor-fiscal representa o próprio Estado, uma vez que do ato do lançamento, que é privativo dessa autoridade administrativa tributária, conforme estabelece o Código Tributário Nacional, é que se constitui o crédito tributário, dando consequência ainda, se for o caso, inclusive à persecução criminal do infrator, por meio da devida representação fis-cal para tal fim, nos termos da Súmula Vinculante nº 24, do STF. Assim, resta evidente que a carreira de auditor-fiscal é uma carreira de Estado e, como tal, deve ter todas as garantias e prerrogativas que as responsabilidades do cargo exigem.

Taques: Para a profissionalização e a garantia de impessoalidade na atuação da Administração Tributária, é imprescindível que seus agentes de-tenham as garantias que a Constituição atribui aos servidores públicos de Estado, ou seja, defesa con-tra intervenções e retaliações políticas que pudes-sem inibir ou ameaçar o estrito cumprimento da lei por parte desses profissionais. Essas garantias não são privilégios dos servidores envolvidos, mas proteção da sociedade contra a instrumentaliza-ção dos poderosos recursos de poder da máquina pública em favor de interesses privados que te-nham acesso aos postos de comando político em algum momento.

Delgado: A Emenda Constitucional nº 42 apri-morou o funcionamento do Estado ao reconhecer a carreira de auditor-fiscal e complementar como sendo a ele essencial. Resta pôr em prática o obje-tivo constitucional, fazendo com que essa carreira seja organizada e exercida por servidores com ga-rantias de inamovibilidade, de irredutibilidade de vencimentos, de subsídios condignos e integran-do órgãos dotados de autonomia administrativa, financeira e organizacional. Deve, portanto, ser re-gulamentada de modo que os cidadãos que a in-tegram tenham condições e incentivos funcionais que permitam bem exercê-la para que os objetivos, por ela visada, sejam alcançados.

6 - APOIO À LOAT

Hauly: A criação de uma LOAT porá fim a este cenário sombrio. Na condição de deputado federal eleito e licenciado para ocupar a Secretaria da Fa-zenda do Paraná, envidarei todos os esforços neces-sários junto aos parlamentares em Brasília para que a PEC em tramitação seja aprovada da forma mais adequada possível, garantindo aos Fiscos a possibi-lidade de execução de suas missões institucionais na sua total plenitude.

Taques: Se por lei orgânica da Administração Tributária se entender uma lei de caráter nacional que fixe regras gerais para o desenvolvimento da atividade administrativa tributária, incluindo pa-drões de profissionalização dos seus servidores e de prevenção e combate à corrupção nesse segmento, e atualizando certas disposições do vetusto Código Tributário Nacional (muito especialmente, reduzin-do para os contribuintes os custos de cumprimen-to das obrigações acessórias, sem reduzir a eficácia dos controles tributários), entendo que pode ser um instrumento muito relevante para melhorar a eficiência e a equidade na tributação.

Delgado: Concluímos o nosso pronuncia-mento com o incentivo de que as movimentações sindicais para a aprovação de uma Lei Orgânica Nacional sejam intensificadas, a fim de que cres-çam as sensibilidades do Poder Legislativo e do Poder Executivo para que tal reivindicação se tor-ne realidade, a fim de que o Fisco estatal conti-nue a contribuir, cada vez mais, para o desenvol-vimento econômico, financeiro e social da Nação brasileira, por ser esta a sua vocação, conforme tem atestado a sua atuação durante anos e anos passados.

mAis oPiNiõEsBruno Terra Dias, juiz e vice-presidente da Associação dos Magistrados Mineiros (AMAGIS)

A reforma administra-tiva fixou as cinco carreiras típicas, entre as quais se inclui a fiscalização. Esses quadros, que compõem a reserva qualificada do Estado, devem estar prote-gidos por prerrogativas, atribuições, direitos e ga-rantias. Isso não é a priva-tização do cargo público,

mas é a publicização dos atos praticados por esses segmentos da Administração Pública.

Edson Ribeiro Baeta, promotor e vice-presiden-te da Associação Mineira do Ministério Público (AMMP)

O Ministério Público é um órgão de Estado, e não um órgão de gover-no, assim como o Fisco. Cada membro age con-forme sua convicção ju-rídica, em nome da ins-tituição e não em nome próprio. A instituição dispõe de um sistema de freios e contrapesos, pois não podemos ser re-fratários ao controle, pois somos agentes de defesa de interesses da sociedade.

D. Juan Cano Garcia, diretor do Departamento de Ins-peção Financeira e Tribu-tária da Agência Estatal de Administração Tributária da Espanha

Entre os princípios da Administração Tributária

espanhola, encontra-se a assistência ao contri-buinte, a luta contra as fraudes, ações sistematica-mente planejadas, funcionários de alto nível e salários condicionados à produtividade. É impor-tante que se tenha um órgão independente para cuidar dos assuntos tributários, com princípios técnicos e profissionais.

Cesar Colnago, deputado federal pelo estado do Espírito Santo

O coração da máqui-na é o Fisco e queremos um Estado que dê conta de suas demandas. O fisco tem papel determi-nante para questionar o atual sistema tributário,

para promover a consciência tributária do cidadão e levá-lo a se engajar no controle social dos atos da administração pública.

Randolph Rodrigues Alves, senador pelo estado do Amapá

Fiscais e auditores valorizados aprimo-ram a atividade central das administrações, que é a arrecadação. O futuro é uma ad-minsitração tributária afinada com a justiça fiscal. Nós teremos que debater qual reforma po-lítica queremos. Temos que privilegiar o povo, o destinatário maior da reforma. Ela por si só não é suficiente para garantir o grande passo que temos que dar que é fazer justiça. E a justiça passa por justiça tributária. A reforma tributária não pode ser feita simplesmente para criminalizar o Brasil ou a tributação. O erro do Brasil não é a tributação, mas o modelo injusto que se estabeleceu ao longo dos anos, regressivo, onera principalmente os menos favorecidos e o consumo.

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44 45Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

A recuperação econômi-ca mundial está em um equilíbrio instável. Para in-

clinar a balança em favor do cres-cimento e do desenvolvimento sustentável é necessário enfren-tar a injustiça social. As palavras que melhor transmitem minha mensagem são as que figuram

na Constituição de 1919 da OIT: “A paz permanente somente pode basear-se na justiça social.” Atualmente, existe uma sensa-ção generalizada de profunda injustiça na qual se está pedin-do aos mais fracos que façam os maiores sacrifícios. A justiça social tem um caráter multidi-

mensional; no entanto, como no final do século XIX, o mundo do trabalho é hoje o núcleo do des-contentamento e deve ser parte integrante da solução, configu-rando uma ordem mundial dife-rente e mais justa para o futuro. O modelo de globalização esti-mulado pelas finanças, que deu

sisTEmA TriBuTárioDEVE sEr FATor DE

DisTriBuiÇÃo DE rENDA E riquEzA

lugar ao colapso financeiro de 2008, deixou um desemprego massivo, subemprego e redu-ções dos salários e dos bene-fícios sociais em muitos países. Isso criou um panorama mundial desolador.

As desigualdades sociais e econômicas, em suas múltiplas formas, estão aumentando. Cer-ca de 200 milhões de mulheres e homens estão desempregados. Outros 870 milhões de mu-lheres e homens – um quarto das pessoas que exercem uma atividade de todo o mundo – trabalham, mas sua renda não permite nem a eles nem a suas famílias superar o umbral da pobreza de dois dólares por dia por pessoa. Cerca de 74 mi-lhões de mulheres e homens jo-vens estão desempregados. O desemprego dos jovens alcan-ça níveis alarmantes em vários países da Europa e da África Setentrional. O tempo durante o qual os jovens permanecem desocupados está aumentan-do e as sequelas do desempre-go juvenil podem durar toda a vida.

Além do desemprego das mulheres e homens jovens, continua havendo trabalho in-fantil. Também persiste o traba-lho forçado – em seu propósito de escapar do desemprego e da pobreza em seus locais de origem, muitas mulheres e ho-mens estão caindo em mãos de traficantes de seres humanos, os quais os submetem a formas modernas de escravidão. Cer-ca de 80% da população mun-dial não tem uma cobertura adequada da proteção social e mais da metade carece por completo dessa cobertura. A discriminação, em suas muitas

manifestações, está impedin-do que centenas de milhões de pessoas, especialmente mulhe-res, desenvolvam seu potencial e contribuam em pé de igualda-de ao desenvolvimento de nos-sas sociedades e economias.

Em muitos países, impede--se a constituição de sindicatos e a afiliação a eles. Com o ple-no emprego, a interdependen-te economia mundial obteria resultados muito melhores. No entanto, na situação atual, corre-se o grave perigo de re-correr a políticas de “empobre-cimento do vizinho”, como me-didas de proteção do comércio e desvalorizações monetárias competitivas, bem como a cor-tes de salários e ajustes fiscais. Isso prejudicaria todo mundo, já que supõe o enfraquecimento das economias, o aumento dos deficities e o agravamento das desigualdades sociais. Apesar desse panorama deprimente, existem sinais alentadores de um desejo de inverter essa ten-dência. Algumas das sociedades mais desiguais do mundo estão enfrentando o desafio de apli-car políticas sociais inteligentes, que também constituem um in-vestimento na recuperação cen-trada nas pessoas. Alguns países em desenvolvimento da Ásia e da América Latina, por exemplo, estão investindo em pisos de proteção social mais sólidos e em sistemas de fortalecimento do salário mínimo. Essas políti-cas já estão contribuindo para reduzir as disparidade sociais e impedir que a economia mun-dial caia em uma dupla reces-são.

Para começar os investi-mentos e a recuperação, re-quer-se um esforço ingente e

concertado, especialmente por parte dos mais poderosos e for-tes, a fim de conseguir-se que o poder aquisitivo chegue às mãos dos que mais necessitam. A cooperação internacional e a coordenação de políticas em favor da recuperação tam-bém devem orientar-se na di-reção de um desenvolvimento mundial integrador, equitativo e sustentável. Trata-se de um processo dinâmico e transfor-mador. Deve ser uma resposta produtiva que enfatize a gera-ção de emprego pleno e pro-dutivo e trabalho decente para todos, por exemplo, mediante o apoio às pequenas e médias empresas. Deve-se reconhe-cer que o respeito aos direi-tos fundamentais no trabalho permite desenvolver o poten-cial humano e contribui para o desenvolvimento econômi-co, como os pisos de proteção social. O compromisso com a criação de uma cultura de di-álogo social também contri-bui para gerar políticas justas, equilibradas e integradoras. Isso é o que garante a legitimi-dade e a sustentabilidade das sociedades abertas e da econo-mia mundial.

Por tudo isso, é indispensá-vel intensificar a luta mundial em favor da justiça social. Tam-bém devemos fazê-lo por nos-so próprio interesse comum. Reafirmamos, hoje, nosso com-promisso com o trabalho de-cente para todos no contexto do desafio mundial de tornar realidade a justiça social e uma globalização equitativa.

Mensagem do Diretor-Geral da OIT, Juan Somavia, por ocasião do Dia Mundial da Justiça Social

Juan SomaviaDiretor Geral da OIT

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46 47Fenafisco FenafiscoAgosto de 2013Agosto de 2013

A luta por justiça e transpa-rência tributária é, para a cidadania brasileira, tão

relevante quanto foi a luta contra a ditadura. A comparação foi fei-ta há quase três anos pelo então presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante. Entretanto, a afirmação ainda é pertinente para os dias de hoje.

Durante um seminário or-ganizado em Brasília pelo Sin-dicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco Nacional), Ophir apoiou a criação da Lei Orgânica do Fisco, criticou a elevada carga tributária brasi-leira e defendeu a estruturação de um órgão que confira auto-nomia e independência à Ad-ministração Tributária aos ser-vidores fiscais.

Os tributos são a fonte de recursos do Estado, e devem lhe proporcionar o alcance das metas previstas no preâmbulo da Constituição Federal. Essa função social passa necessa-riamente pela busca da justiça tributária, pilar do equilíbrio social e econômico de uma sociedade, que depende não

apenas da adequada propor-cionalidade com que os impos-tos são estabelecidos, mas da eficácia e transparência com que são cobrados e supervi-sionados. Cavalcante esclarece que não basta aumentar as alí-quotas dos tributos, ou mesmo outorgar aos servidores fiscais tributários prerrogativas que lhe assegurem o exercício de suas atividades. “Por isso é que se deve ter em mente que o Estado existe para a defesa dos interesses do cidadão e não do

próprio Estado. Aliás, qualquer autonomia de órgão do Estado deve ser utilizada para o forta-lecimento da entidade e não de seus ocupantes, embora se reconheça que a existência de órgãos de Estado com autono-mia funcional, administrativa e orçamentária seja importan-te para o aprimoramento da democracia e fortalecimento do próprio Estado, sobretudo quando se sabe da imensa so-negação fiscal existente no país aliada à corrupção.”

oABDEFENDE LuTA Por

JusTiÇA TriBuTáriA Eficácia operacional

Um dos principais pontos discutidos com a criação da Lei do Fisco nacional é a autonomia da carreira tributária. O respeito aos seus direitos e garantias re-presenta elemento indissociável à preservação da cidadania. Se-gundo Ophir Cavalcante, a LOAT deve conferir autonomia e in-dependência a essa importante função estatal, além de detalhar as carreiras específicas dos au-ditores que a integram. Todavia tal modelo, afirma, não pode, em hipótese alguma, estar dis-sociado do respeito aos elemen-tares direitos do cidadão-contri-buinte. O ex-presidente da OAB reconhece o esforço de institui-ções do setor em declarar a ne-cessidade de uma Lei Orgânica

do Fisco. Entretanto, reforça que o grande desafio é promover a defesa de uma lei desapaixona-da do viés inerente às questões corporativas.

É importante deixar claro, destaca Ophir, que as prerroga-tivas não configuram privilégio e nem que a concessão da auto-nomia administrativa, funcional, financeira e orçamentária possa ser a senha à criação de um Es-tado policial fiscal. As carreiras tipicamente de Estado e, no par-ticular, aquelas que envolvem o aspecto fiscal-tributário lidam diuturnamente com bilhões de reais, e devem se preocupar com a preservação de instrumentos que promovam melhor distri-buição de renda, crescimento econômico, elevação dos postos de trabalho e, enfim, aprimora-

mento da máquina estatal de modo a alcançar o correto equi-líbrio entre a exação tributária e a justiça social. “A atividade do auditor-fiscal envolve risco, e nos últimos anos morreram mais auditores-fiscais em servi-ço combatendo a corrupção e a sonegação do que delegados da Polícia Federal ou servidores de qualquer carreira de nível supe-rior do serviço público federal”, pontua.

Com essas reflexões, encer-ro enaltecendo a iniciativa de se discutir sobre uma Lei Orgânica do Fisco que seja comprometida com a sociedade e não com inte-resses corporativos.

Fonte: Texto editado a partir de uma apresentação de Ophir Cavalcante, na Câmara dos Deputados, em 2010

“A democracia e a cidadania não caminham juntas com o abuso de poder. Pelo contrário”Ophir Cavalcante

Ophir CavalcanteEx-presidente da OAB

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49FenafiscoAgosto de 2013

Memória Fotográfica

48 Fenafisco Agosto de 2013

mEmÓriA FoToGráFiCA

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51FenafiscoAgosto de 201350 Fenafisco

Memória Fotográfica

Agosto de 2013

FONTESAnteprojeto de Lei Orgânica da FENAFISCO

CIAT - Estado de la Administración Tributária en América Latina – 2006/2010

http://www.dicionariodoaurelio.com/

http://www.2013.fenafisco.org.br/

http://www.sindifiscomg.com.br/loat/Administracao_Tributaria.pdf

http://www.sindifiscomg.com.br/estudos/text.hugo.mescoli.16052008.html

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=375821

http://justicafiscal.files.wordpress.com/2011/04/manifesto.pdf

http://www.sindifiscogo.org.br/documentos/OABdefende

Fonte: Projeto de Lei Complementar do Senado, nº 319/ 2011

Fonte: http://www.fazenda.sp.gov.br/educacao_fiscal/glossario.shtm. Acesso em fevereiro de 2013

Fonte:http://www.affego.com.br/noticias.php?idlink=16&idmateria=1334&id=4&campo1=&buscasimples=. Acesso em 4 de

março de 2013.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/Msg/Vep/VEP-1141-06.htm. Acesso em 6 de março de 2013.

Fonte: http://www.fonacate.org.br/v2/?go=page&id. Acesso em 6 de março de 2013.

Fonte: Art. 142, Código Tributário Nacional – CTN.

Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Capítulo IV, Art 29.

Fonte: Art. 113, Código Tributário Nacional – CTN

Entrevistas e depoimentos de juristas, parlamentares e sindicalistas.

Após a aprovação da admissibilidade da PEC nº 186/2007, um registro para a história. O autor da proposta, deputado Décio Lima (PT-SC) e o deputado João Dado (PDT-SP) posam para foto com a presidência da FENAFISCO e lideranças sindicais do Fisco estadual e distrital de vários estados.

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FENAFISCOFEDERAÇÃO NACIONAL DO FISCO ESTADUAL E DISTRITAL

Desde 1989SINDIFISCO-AP

SINAFITE-DF

S IN D IC A TO D OS FU N C ION Á R IOS D O FIS C O D O E S TA D O D E GOIÁ S

SINDICATO DOS AUDITORES FISCAIS DA RECEITA ESTADUAL DO ESTADO DO TOCANTINS

S IN F IT E RSINDICATO DOS FISCAIS DE TRIBUTOS

DO ESTADO DE RORAIMA

Sindicato dos Agentes TributáriosEstaduais de Mato Grosso do Sul