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JUNHO / 2011 102 REVISTA PROTEÇÃO MEIO AMBIENTE A correlação entre ética ambiental, percepção e gestão de riscos Visão ampliada Riscos são todos os insucessos ocorri- dos em uma determinada fase ou época e não de todo esperados. A partir dessa primeira abordagem, iremos estabelecer uma correlação entre os métodos tradi- Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira - Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, especialista em Gestão de Riscos, mestre em Saúde e Meio Ambiente e doutor em Engenharia Civil com ênfase em Gestão de Meio Ambiente. [email protected] Gilson Brito Alves Lima - Professor da Universidade Federal Fluminense [email protected] Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira e Gilson Brito Alves Lima BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM cionais de gestão de riscos, com base em pesquisa, coleta de dados, análise, percep- ção de sentimentos, medos, informação anterior e comprometimento de pessoas e questões baseadas na ética ambiental. Pretende-se cor- relacio- nar a efi- cácia das duas formas de avaliação e consolidá-las por meio da inter- pretação de que não basta somente informar as pessoas sobre os riscos, inerentes ao meio e à ativida- de desenvolvida. Deve-se levar em consideração também, a sensação de segurança ou insegurança e as questões ético-ambientais envolvi- das. As técnicas de gestão de ris- cos têm evoluído com a in- corporação de concei- tos adotados em programas de qua- lidade e em confia- bilidade de processos, assim como evo- luem as técnicas de avaliação de riscos, com novos softwares e conceitos de per- cepção de riscos. As técnicas de geren- ciamento trabalham com números, evi- dências e prognósticos, ao passo que a percepção trabalha com o sentimento das pessoas. As técnicas e conceitos relacionados à gestão de riscos foram introduzidos com o objetivo de avaliar prematuramente os riscos, por meio da aplicação de concei- tos físico-matemáticos. Com a proximida- de dos riscos a áreas povoadas e a intera- ção entre populações vizinhas e empreen- dimentos, passou-se a valorizar a percep- ção de riscos pelas pessoas no entorno do empreendimento. Grandes projetos de Engenharia sem- pre alteraram fundamentalmente o meio ambiente, como no caso de usinas hidre- létricas, portos, túneis, pontes, indústri-

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JUNHO / 2011102 REVISTA PROTEÇÃO

MEIO AMBIENTE

A correlação entre ética ambiental, percepção e gestão de riscos

Visão ampliadaRiscos são todos os insucessos ocorri-

dos em uma determinada fase ou época enão de todo esperados. A partir dessaprimeira abordagem, iremos estabeleceruma correlação entre os métodos tradi-

Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira - EngenheiroCivil e de Segurança do Trabalho, especialista em Gestão deRiscos, mestre em Saúde e Meio Ambiente e doutor emEngenharia Civil com ênfase em Gestão de Meio [email protected]

Gilson Brito Alves Lima - Professor da UniversidadeFederal [email protected]

Antonio Fernando de Araújo Navarro Pereira e Gilson Brito Alves Lima

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cionais de gestão de riscos, com base empesquisa, coleta de dados, análise, percep-ção de sentimentos, medos, informaçãoanterior e comprometimento de pessoase questões baseadas na ética ambiental.

Pretende-se cor-relacio-nar a efi-

cácia dasduas formas

de avaliação econsol idá- las

por meio da inter-pretação de que não

basta somente informaras pessoas sobre os riscos,

inerentes ao meio e à ativida-de desenvolvida. Deve-se levar em

consideração também, a sensaçãode segurança ou insegurança e asquestões ético-ambientais envolvi-

das.As técnicas de gestão de ris-

cos têm evoluído com a in-corporação de concei-

tos adotados emprogramas de qua-lidade e em confia-

bilidade de processos, assim como evo-luem as técnicas de avaliação de riscos,com novos softwares e conceitos de per-cepção de riscos. As técnicas de geren-ciamento trabalham com números, evi-dências e prognósticos, ao passo que apercepção trabalha com o sentimento daspessoas.

As técnicas e conceitos relacionados àgestão de riscos foram introduzidos como objetivo de avaliar prematuramente osriscos, por meio da aplicação de concei-tos físico-matemáticos. Com a proximida-de dos riscos a áreas povoadas e a intera-ção entre populações vizinhas e empreen-dimentos, passou-se a valorizar a percep-ção de riscos pelas pessoas no entorno doempreendimento.

Grandes projetos de Engenharia sem-pre alteraram fundamentalmente o meioambiente, como no caso de usinas hidre-létricas, portos, túneis, pontes, indústri-

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MEIO AMBIENTEas frente aos riscos, às vezes não palpá-veis ou percebíveis somente com técnicasde avaliação com estatísticas, confiabili-dade, análise de situações, pesquisas embancos de dados, com o objetivo de definirmedidas preventivas ou mitigadoras. Al-gumas vezes, a falta de percepção é frutoda conivência de uma população à mercêdas incertezas da vida ou sem muitas op-ções. Ou seja, as pessoas sabiam que aqui-lo não era bom para elas mas aceitavam ofato pacificamente. Nesses casos, apre-sentar elementos convincentes com baseem formulações matemáticas da conse-quência de determinado risco representa-va a sentença de morte do gestor do risco.

INTUITOINTUITOINTUITOINTUITOINTUITOO objetivo principal foi avaliar, dentro

de condições normais, a eficácia de algunsmétodos empregados no processo de ges-tão de riscos, enfocando meio ambiente esua degradação. Em muitas circunstânci-as, mais vale a segurança sentida pelaspessoas frente aos riscos, do que seu con-vencimento por outro caminho que não ode sua própria percepção. Muitas vezes,a segurança sentida não é a segurançaadequada ao momento. Muitos profissio-nais que atuam em SST já tiveram a opor-tunidade de presenciar a permanência deprofissionais gabaritados em situações ouatos perigosos. Quando questionados so-bre sua própria segurança, os emprega-dos respondiam: “Eu tenho mais de 20 a-nos de experiência nessa área” ou então“É só um estantinho e já vai estar tudopronto”. A escolha dos riscos aos quais sedeve dar atenção não é simplesmente oreflexo de preocupações com a proteçãoda saúde, da segurança e do ambiente.Essa escolha reflete também outros as-pectos, como as crenças da sociedadeacerca de valores, instituições sociais, na-tureza, justiça e moral, sendo estesdeterminantes na superestimação ousubestimação de riscos.

Um ponto que cabe ser destacado é aimportância que os sujeitos dão aos ris-cos e seus reflexos quanto às questõesambientais. Quase sempre as prioridadesdas pessoas não obedecem à mesma cro-nologia das prioridades das empresas,principalmente se aquelas estiverem di-retamente envolvidas com os resultadosdas implantações dos empreendimen-tos. Ou seja, se as pessoas percebem quepodem vir a se beneficiar com a implan-tação dos empreendimentos, costumam

as químicas e petroquímicas, minerado-ras. Algumas vezes, os empreendimentoschegam primeiro e as populações chegamdepois devido a oferta de empregos e fa-cilidades geradas pelo poder púbico, pelaproximidade de rodovias, aeroportos eportos. Em outros casos, os empreendi-mentos vêm depois, atrás de facilidadesgeradas pelos governos e pela disponibi-lidade de mão-de-obra. Assim como osgrandes empreendimentos, o licencia-mento para a construção de casas em en-costas também podem afetar o meio.

Muitos empreendimentos são implan-tados sem a devida preocupação com aspessoas e o meio ambiente e acabam vi-rando notícia em jornais por acidentesambientais ou outros problemas geradospor sua atividade. Uma indústria de papelem Minas Gerais teve rompida uma barrei-ra de uma lagoa de rejeitos, causando da-nos ecológicos e comprometendo o abas-tecimento de água de cidades, incluindoo Rio de Janeiro. O inusitado é que os atu-ais donos afirmaram que ao adquirir a in-dústria, as bacias já existiam, como se nãofossem responsáveis por seus passivosambientais.

HOLÍSTICAHOLÍSTICAHOLÍSTICAHOLÍSTICAHOLÍSTICANo livro “Correntes da Ética Ambien-

tal”, Marcelo Luiz Pelizzoli comenta que“Falar em ambiente é falar em pessoas esuas relações, ou seja, falar em ética, oque por sua vez não é apenas falar em nor-mas morais e comportamentos, mas emformas de conhecimento (que são semprerelações), visões de mundo, daí a cosmo-logia, a ontologia e a antropologia envol-vidas, a saber, visões de sentido do mundoou universo, do ser, da essência e do queé humano e ético”. O mesmo autor, ao a-bordar as perspectivas gerais da ótica ho-lística, afirma que o ponto de partida co-mum é a crítica ao modelo civilizatório quese baseia na noção de progresso materiale desenvolvimento econômico nos moldesda modernidade científica e industrial,que desconsidera as consequências ao serhumano e à natureza, em termos de dese-quilíbrio e perda de interligação com as-pectos fundamentais da vida. Novamen-te, entram em choque as ações dos sereshumanos em sua busca incessante pelamodernidade e os gravames abandonadosnos colos dos indivíduos que co-habitamos mesmos espaços. Mais uma vez, cabea reflexão sobre o futuro. Projetos de hojetêm que levar em consideração o amanhã,

como não muito distante.O planejamento e a administração não

podem mais suprimir a base ambiental eo modus civilizatório, assim como não po-derão mais prescindir de uma ética de fu-turo. Não é mais possível, como enfatizouo agrônomo e ecologista brasileiro JoséLutzenberger, vivermos como se fôssemosà última geração. As éticas anteriores nãocontemplaram a dinâmica de mutação ea exclusão inerente à sociedade tecnoin-dustrial. Tem seus parâmetros inócuos e,muitas vezes, trazem em seu bojo dispo-sições profundas dos riscos da razão ins-trumental e egológica hegemônica. São,por vezes, éticas individualizadas, que nãoconseguem pensar os sujeitos e os obje-tos não-humanos, pensar em longo pra-zo, ou ainda pensar a globalização econô-mica como ela se impõe hoje.

PRESERPRESERPRESERPRESERPRESERVVVVVAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOO que se observa é que as questões re-

lacionadas à preservação do meio ambien-te ou à adoção de mecanismos segurosde prevenção de riscos são ou foram pas-sados para trás, em detrimento da pressaem se iniciar as atividades ou de questõesfinanceiras, principalmente de obtençãode financiamentos de bancos públicos ajuros fortemente subsidiados. Muitos pro-blemas causados pelas indústrias foramencerrados sem qualquer solução, porqueera melhor ter como vizinha uma indús-tria poluente gerando mão-de-obra paraa família toda, do que um ambiente limpocom pessoas desempregadas, ou tendoque se deslocar dezenas de quilômetrospor uma oportunidade de emprego. Deoutra feita, era muito melhor ter um gran-de empreendimento próximo à residên-cia, proporcionando mais segurança e in-fraestrutura urbana, do que tê-la por lon-ge. Diz-se na gíria: ruim com ela, pior semela.

Por exemplo, em uma obra tradicionalde construção de edifícios é nítido que hádesperdícios. Esta percepção vem dos ca-minhões que saem das obras carregadosde entulhos (resíduos) e das caçambas es-tacionadas nas calçadas. Chegou-se a es-timar que os níveis de perdas ultrapassa-va a 5% do valor do empreendimento. Es-se percentual não incluía os custos para aremediação ambiental, prejudicada pelolançamento de produtos nocivos ao am-biente.

A primeira questão que sobressai é ada importância da percepção das pesso-

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relegar a um plano inferior suas preocu-pações com outros aspectos que não o desua contratação ou de seus familiares.Assim, não adianta querer envolvê-los emquestões mais técnicas sobre os possíveisproblemas, já que sua preocupação na-quele momento é apenas a empregabili-dade.

O enfoque das técnicas de avaliaçãosempre foi avaliar projetos e processoscom vistas à identificação dos riscos, paraseu posterior tratamento. Recentemente,foi incluída nesse rol de técnicas a avalia-ção do consumidor quanto a sua percep-ção de risco. Um aspecto importante é a-valiar o que pode ocorrer de errado emum projeto, sistema ou equipamento, quevenha a causar perdas. Outro aspecto é aavaliação sob a ótica dos consumidores oudos usuários. Especificamente na avalia-ção de impactos ambientais, espera-seque os moradores da circunvizinhança doempreendimento também possam opinarsobre as questões que dizem respeito àcontaminação ambiental, antes mesmo devirem a ser afetados por essa.

VVVVVARIAÇÕESARIAÇÕESARIAÇÕESARIAÇÕESARIAÇÕESUm exemplo clássico da percepção de

riscos, digamos assim, intuitivo, é o de um

martelo. Isoladamente essa ferramentanão apresenta qualquer tipo de risco enem é motivo de preocupações, como porexemplo, o martelo em uma caixa de fer-ramentas ou sobre uma bancada de tra-balho. Todavia, na mão de uma criançapode vir a representar um risco. Uma mãe,ao ver seu filho com menos de dois anosandar pela casa com um martelo na mãotem a reação imediata de tirar o objetodo filho por perceber que pode ocorreralgo de ruim. O mesmo pensamento podenão ocorrer a um pai, que pode até que-rer entregar um prego para que o filhopossa pregar sobre uma tábua. Se foremtios ou avós, podem até achar graça dacriança andando pela casa com martelo,em vez de andar com um brinquedo.

A percepção dos riscos pode variar deacordo com momento econômico, nível decultura e de informação, interesses envol-vidos, aspectos familiares, entre outrosfatores. Se há necessidade de construirum depósito de lixo em determinada lo-calidade, e se houver tratamento adequa-do, esse projeto poderá ser fonte de em-prego para desempregados, ou uma fon-te de riscos para famílias estruturadas fi-nanceiramente que não dependam daexistência desse para sua subsistência.

Outro aspecto interessante a ser obser-vado é estrutura de família. Um rapaz sol-teiro que vive sozinho poderá ter uma re-ação frente os riscos bem diferente do quese fosse casado, e mais diferente ainda setiver filhos pequenos. O mesmo ocorrecom famílias com filhos pequenos. A pre-ocupação das mães principalmente, tor-na-se maior quando esses são pequenos.

METODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIAA gestão de riscos (Risk Management)

pode ser entendida como um conjunto detécnicas de abordagem, com vistas à aná-lise qualitativa e quantitativa dos eventos,a fim de identificar, avaliar e tratar os ris-cos emergenciais ou latentes, capazes deprovocar perdas financeiras, pessoais, pa-trimoniais e de responsabilidades civis. Astécnicas de gestão de riscos, quando bemempregadas, transformam-se em elemen-to de antecipação ou previsão de um cená-rio de perdas futuras.

Por meio da gestão de riscos é possívelestudar procedimentos que promovem aredução do número de ocorrências ou daextensão das perdas, fatores importantís-simos para a mensuração das taxas de ris-cos. O processo ou conjunto de tecnolo-gias empregadas possibilita o surgimento

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MEIO AMBIENTE

de meios de atenuação de perdas que a-meaçam o patrimônio da empresa, redu-zindo sua severidade ou gravidade. Decerta forma, ao se controlar perdas e, porconseguinte, reduzir parte dos custos va-riáveis, estar-se-á aumentando o nível deprodutividade. Todavia, sob o enfoque doconsumidor ou da população sob risco, oconceito está voltado para a sensação desegurança. É importante saber o quãoseguras se encontram a empresa e a popu-lação. Se a população não se achar segu-ra, o empreendimento deve preocupar-seem empregar técnicas específicas que aconvençam do contrário.

Nessa apresentação, vê-se que a utiliza-ção das técnicas de gestão de riscos estámais voltada para a empresa em si e seusriscos. Quando se volta o foco da atençãopara terceiros, vislumbra-se a questão daresponsabilidade civil daí advinda. Tam-

bém deve ser ressaltado que o uso de suastécnicas se dá mais na fase do estabeleci-mento das premissas básicas de projeto,do que na implantação. Trata-se de umafase com pouca reverberação de opiniões,ou seja, a portas fechadas, quando se ava-liam prós e contras.

CONCEITOSCONCEITOSCONCEITOSCONCEITOSCONCEITOSA gerência de riscos surgiu como téc-

nica em 1963 nos Estados Unidos, com apublicação do livro “Risk Management inthe Business Enterprise” de Robert Mehre Bob Hedges. Seguramente, uma das fon-tes de consulta dos autores foi um traba-lho de Henry Fayol, divulgado na Françaem 1916. A origem da gerência de riscosé a mesma da administração de empre-sas, que por sua vez conduziu aos proces-sos de qualidade e produtividade.

O conceito de risco é amplo. Risco não

é somente aquilo que está para aconte-cer ou aquilo que se tem receio de queaconteça em determinado momento. E-xemplificando:

- Hoje teremos o risco de um temporal,levem os seus casacos, não cheguem tar-de da noite;

- Há risco de vocês serem assaltados,portanto não cheguem tarde, nem andempor ruas escuras;

- Se vocês não estudarem, correrão orisco de não tirarem boas notas;

- Não empreste dinheiro para seu ami-go, porque ele está desempregado e hárisco de você perder o amigo ao cobrá-lo;

- Não tente consertar o chuveiro paranão ter o risco de levar um choque.

Para cada exemplo acima citado, a pa-lavra “risco” tem significado diferente.Não chegar junto com o temporal apre-senta o inconveniente, e não o risco dapessoa se molhar. No caso do assalto, efe-tivamente há um risco de perda monetá-ria ou de danos à vida ou à saúde. Nasprovas, a pessoa pode ser reprovada. Oúnico risco, que não é aquele objeto daanálise é o da perda financeira de ter querepetir o ano letivo ou ter o dissabor doconstrangimento pessoal. Finalmente, nocaso do chuveiro, o risco envolve a vidada própria pessoa. Se essa estiver sobreum piso molhado poderá sofrer um cho-que mortal.

A palavra “risco” dá margem a uma sé-rie de interpretações. Contudo, está sem-pre associada, em qualquer caso, a uminsucesso, um perigo, uma perda ou umdano. Dentro do enfoque escolhido, decorrelacionar os processos de avaliaçãometodológica com a avaliação empírica,torna-se importante apresentar algumasconsiderações sobre o que vem a ser umrisco, como ele se materializa e como podeser avaliado, através de processos meto-dológicos.

Riscos são todos os fatos, situações,bens ou atividades sujeitas a perdas oudanos. Para fins de estudos podem serclassificados em voluntários, acidentais ealeatórios. Confira o Quadro 1, Classifi-cação dos riscos.

SITUAÇÕESSITUAÇÕESSITUAÇÕESSITUAÇÕESSITUAÇÕESPara ser capaz de gerar danos, um ris-

co materializa-se em função de um infin-dável número de situações. No projeto dese lançar uma sonda espacial para fora dosistema solar a fim de estudar corpos ce-

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lestes, para que o empreendimento tenhaêxito, deve-se aguardar o alinhamento dosplanetas, o que só ocorre a intervalos detempo definidos. Assim, é possível apro-veitar ao máximo as forças de atração dosastros para aumento da velocidade da es-paçonave, e mesmo assim, não se tem to-tal certeza do sucesso da missão. É o quese chama de imponderável.

A gestão de riscos avalia o imponde-rável. Chega-se a determinar, por inter-médio de técnicas de avaliação de riscos,qual a probabilidade de sucesso e fracas-so. Para modelos de análise mais simples,consegue-se descobrir os prováveis fato-res causadores do insucesso. Assim, ela-boram-se previsões com elevado percen-tual de acertos. Algumas técnicas de Estu-dos de Confiabilidade de Processos apre-sentam resultados bem próximos de 100%de acerto.

O risco ou evento, contra o qual se estáelaborando um plano de prevenção ou eli-minação de perdas, deve atender a algu-mas particularidades para ser enquadra-do como tal. Deverá ser futuro, incerto,possível, independente da vontade daspartes, conduzir a perdas mensuráveis.Um risco presente não é um risco, e simum fato consumado. Um risco certo tam-bém não é um risco, pois já se sabe quan-do e de que forma irá ocorrer. Um riscoimpossível também não é um risco, já quenão gerará qualquer tipo de perda ou dano.

Por exemplo, não se pode falar em in-cêndio em uma caixa d'água, porque sim-plesmente, principalmente quando essaestá cheia de líquido, não apresenta con-dições para um incêndio. Todavia, pode-se falar em um dano elétrico no motor deacionamento da bomba que esteja próxi-ma da caixa d'água. Um risco que depen-da de um dos sujeitos para ser iniciadotambém não é um risco. Lógico que háexceções, como no caso de uma pessoasem total domínio das faculdades mentais.Finalmente, um risco que não gere nenhu-ma perda e nenhum dano também nãopode ser entendido como risco.

ETETETETETAPAPAPAPAPASASASASASProcura-se entender como e por que

esse risco se manifesta, sua periodicida-de, frequência e extensão das perdas, parareduzir a severidade dos prejuízos. Bus-cam-se ainda meios de reduzir a extensãodas perdas a outros ambientes, locais ouequipamentos, com o emprego de meca-nismos de proteção, confinando as conse-

quências dos eventos.A função da gestão de riscos é reduzir

perdas e minimizar os seus efeitos. Issoquer dizer que se assume a existência deperdas em todos os processos industriais,como um fato perfeitamente natural. En-tretanto, por meio de técnicas como ins-peções e análises, procura-se evitar queperdas venham a ocorrer com frequênciaou reduzir seus efeitos, limitando-as a va-lores aceitáveis ou dentro do perfil esti-pulado pela empresa em seus orçamen-tos anuais.

Não existe um método único de gestãode riscos ou uma metodologia padrão.Costuma-se confrontar os procedimentosem vigor com procedimentos-padrão paraaquele tipo de etapa, analisando as possí-veis alterações existentes, através de umamplo conhecimento das várias etapas daatividade analisada. A gestão de riscos éum processo contínuo de busca de defei-tos ou quase-defeitos, com vistas à pre-venção. Esses defeitos são chamados ris-cos. Risco é uma chance de perda e prova-velmente, o mais importante degrau noprocesso de identificação e gerenciamen-to das perdas.

Com as informações obtidas por inter-médio da aplicação das várias técnicasadotadas na gestão de riscos e o empregode metodologias específicas pode-se tam-bém quantificar riscos. A partir do mo-mento que se qualifica e quantifica um ris-co tem-se a sua real magnitude ou sua ex-pressão matemática.

A qualificação é a identificação do tipode risco. Trata-se de um risco de incên-dio, de explosão, de danos elétricos, oude contaminação ambiental, etc. A quanti-ficação é a determinação do valor da per-da, expressa em percentual do valor dosbens ou em valores absolutos ou do tama-nho do prejuízo futuro. O risco, se ocorrer,poderá gerar uma perda que irá afetar48% do patrimônio da indústria. A perdapotencial é de cerca de 500 mil reais. Notocante a questões ambientais, há que seconsiderar os danos diretos, consequen-tes e indiretos. Os danos diretos podemser avaliados com certa precisão, e paraos demais, é preciso saber as caracterís-ticas do empreendimento, da região e dapopulação atingida.

TÉCNICASTÉCNICASTÉCNICASTÉCNICASTÉCNICASAs técnicas empregadas nos estudos de

gestão de riscos podem variar de acordocom os objetivos inicialmente propostos

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MEIO AMBIENTEpara a análise das situações como:

a) Check list: é um método de carátergeral, com abordagens qualitativas, atra-vés do diagnóstico de situações de riscosa partir de um cenário, com o empregode perguntas previamente estabelecidas.Seu sucesso depende das análises poste-riores, bem como dos resultados preten-didos. Os relatórios, de um modo geral,contêm um grupo de perguntas básicas,que serão formuladas a operadores deequipamentos, supervisores, vizinhos doempreendimento, terceiros não envolvi-dos com o empreendimento, as quais per-mitirão que sejam traçados perfis aproxi-mados do risco.

b) What if: é um método qualitativo, ouseja, que permite chegar ao tipo e ao ta-manho de risco, muito importante no em-prego em discussões de caráter geral acer-ca de um sistema, e para a abordagem dasconsequências maiores de um acidente.Deve-se sempre separar, na aplicação datécnica, as causas das consequências. Ascausas são fatos geradores, e as conse-quências, resultados. Existem perguntasclássicas que podem ser feitas. Se de re-pente uma pessoa atravessar a rua com o

sinal de pedestres fechado? Se a caldeiravier a explodir? Se a pressão da linha devapor subir muito? Se a informação rece-bida da direção da empresa, para a deso-cupação da área, não for confiável?

c) Técnica de Incidentes Críticos: é umatécnica operacional qualitativa, que bus-ca obter informações relevantes acerca deincidentes ocorridos durante determina-da fase ou período relatados por testemu-nhas que os vivenciaram. Os incidentessão os quase acidentes ou os não gerado-res de perdas. A metodologia emprega,principalmente, entrevistas com operado-res ou mantenedores dos sistemas sujei-tos a estudo. Alternativamente, poderá selançar mão de trabalhos de bancos dedados, onde todos os acidentes ou inci-dentes foram relacionados por tipo deocorrência. Entre as inúmeras formas declassificação dos incidentes podemos tero seguinte critério. Na Classe I, estão a-queles que provocam alterações no pla-nejamento ou na produção; na Classe II,os que provocam atrasos no planejamen-to ou na produção; na Classe III, os queprovocam paralisações ou o insucesso doplanejamento; e na Classe IV, aqueles queafetam a integridade física das pessoas.

O incidente é importante como dado es-tatístico porque comprova a existência defalhas operacionais ou de controle, possi-bilitando a sua imediata reparação.

d) Análise Preliminar de Riscos: é umatécnica de inspeção desenvolvida com oobjetivo de obter a análise superficial dospossíveis riscos, de suas causas, das con-sequências advindas com a materializaçãodesses, bem como das medidas correti-vas ou preditivas adotadas. Em resumo, aAPR visa à identificação de elementos pe-rigosos do sistema, das situações de ris-co, das falhas potenciais, etc., determinan-do a gravidade de suas efetivações, nor-malmente obtidas por meio de simula-ções. Procura enquadrar os riscos segun-do categorias, definidas de acordo com osefeitos destrutivos que podem vir a serobservados, tabelados como a seguir.

Desprezível ou Negligenciável Desprezível ou Negligenciável Desprezível ou Negligenciável Desprezível ou Negligenciável Desprezível ou Negligenciável(Classe I):(Classe I):(Classe I):(Classe I):(Classe I): gera efeitos imperceptíveis,não conduzindo a degradações físicas ouambientais que não sejam facilmente re-compostas. Normalmente essa categoriade riscos é perfeitamente absorvida pelaempresa, juntamente com os custos demanutenção ou revisão;

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MEIO AMBIENTE Marginal ou Limítrofe (Classe II): Marginal ou Limítrofe (Classe II): Marginal ou Limítrofe (Classe II): Marginal ou Limítrofe (Classe II): Marginal ou Limítrofe (Classe II):

gera ocorrências moderadas, controláveis,necessitando, porém, de ações saneado-ras em médio prazo. São riscos que po-dem surpreender em termos de perdas.Usualmente, as perdas estão associadasàs consequências dos eventos;

Crítica (Classe III): Crítica (Classe III): Crítica (Classe III): Crítica (Classe III): Crítica (Classe III): afeta substan-cialmente o meio ambiente, o patrimônioou as pessoas, necessitando de ações cor-retivas imediatas. Esse tipo de perda é tra-tado através do repasse do risco a umainstituição financeira ou seguradora;

Catastrófica (Classe IV): Catastrófica (Classe IV): Catastrófica (Classe IV): Catastrófica (Classe IV): Catastrófica (Classe IV): é normal-mente geradora de efeitos irreversíveis,afetando pessoas, sistemas, patrimôniosou ambientes. Quase todos os gerentesde risco recomendam, como técnica detratamento de riscos o afastamento, ouseja, a empresa deve renunciar a essa ati-vidade.

e) Análise de Modos de Falha e Efeitos: éum método de análise detalhada, que geraresultados qualitativos e quantitativos, ouseja, identifica o risco ao mesmo tempoem que o mensura. A AMFE permite aanálise das falhas dos equipamentos, com-ponentes e sistemas com estimativas defrequência de ocorrências (taxa de falhas)e a determinação dos efeitos ou conse-quências dessas mesmas falhas. Tambémconhecida como FMEA (Failure Modesand Effects Analysis), consiste em estu-dar o sistema por partes, em conjuntosou subconjuntos, sob a forma de diagra-mas de bloco, analisando não só as ocor-rências isoladamente como também a in-terpelação existente entre essas e os de-mais subconjuntos. Dessa análise particu-larizada se obtém a revisão dos modos defalha de cada componente e os efeitos quetais falhas terão sobre outros componen-tes que, ao falhar gerarão danos a todo osistema. Como resultado final tem-se ocálculo de probabilidade das falhas do sis-tema, gerado a partir das falhas de seuscomponentes. Logicamente, através des-ses estudos são determinadas as alterna-tivas de redução da probabilidade de fa-lhas.

f) Análise de Árvore de Falha: é o maisconhecido dos métodos de confiabilidadede sistemas. A AAF ou FTA (Failure TreeAnalysis) foi desenvolvida nos EstadosUnidos na década de 60, com o objetivo

de estudar o comportamento de mísseisbalísticos intercontinentais. Esses mísseisrepresentavam um alto custo unitário, demilhões de dólares e um elevado risco po-tencial, não só durante a armazenagem etransporte como também no lançamen-to. Os graus de acerto tinham de ser daordem de 100%. As probabilidades de per-das materiais eram enormes. Assim sen-do, partindo-se de um raciocínio lógico daocorrência de um evento indesejável, ouevento de topo, desenvolveu-se uma me-todologia interativa, a fim de descobrirquais as falhas que, atuando em conjuntoou isoladamente, poderiam gerar o even-to não desejado.

É importante salientar que um evento,quando materializado, nunca traz consi-go somente um tipo de perda. Associadoa essa, poderão existir outras, como per-da material ou de insumos para a produ-ção, perda de produção, financeira, pes-soal, de imagem, de mercado, assim comoresponsabilidades civis e danos ambien-tais.

MENSURAÇÃOMENSURAÇÃOMENSURAÇÃOMENSURAÇÃOMENSURAÇÃOO contraponto da aplicação das técni-

cas, anteriormente informadas, é o da per-cepção da perda ou do risco. Os indivídu-os selecionam alguns riscos pela impossi-bilidade de estarem conscientes de todos.Entre decidir dentre os milhares que oscercam, a opção é a de pensar naquelesque deveriam ser relevados e ignorados.Os indivíduos podem não se preocupar,em um primeiro momento, com o lança-mento de resíduos poluentes em um rio,mas sim na fumaça que sai pela chaminéda fábrica, porque ainda não estão preo-cupados com a contaminação das águas eporque o rio não passa junto a sua cida-de. Quase sempre nos preocupamos comaquilo que vemos ou sentimos.

Para a mensuração dos riscos, pelosprocessos matemáticos, como visto ante-riormente, basta que conheçamos as me-todologias e tenhamos experiência emaplicá-las, empregando para tal conheci-mento de campo e uso de banco de dadosconfiáveis. Para a obtenção de informa-ções sobre a percepção de riscos não hábanco de dados e nem metodologias espe-cíficas, visto que o sentimento quanto ariscos é individualizado e fruto de um de-terminado momento. Assim, uma pessoapode apresentar um sentimento em ummomento e outro em momento seguinte.Pode também vir a ser influenciada por

informações que passa a ter. Por isso oprocesso de avaliação é mais demorado esubjetivo. Quase sempre são empregadasentrevistas pessoais e preenchimento deformulários específicos. A elaboração des-tes formulários deve ser feita de maneiratal que não conduza o raciocínio das pes-soas entrevistadas para um determinadoviés. O formulário deve ser o mais isentopossível.

Pela dificuldade em se obter uma quan-tidade significativa de respostas, que ex-pressem a opinião da maioria das pesso-as envolvidas, costuma-se relegar a impor-tância da obtenção das informações dosenvolvidos, priorizando apenas a utiliza-ção de processos e técnicas como comen-tados anteriormente. É mister ressaltar-se que não se deve prescindir da obten-ção de informações dos envolvidos, prin-cipalmente se estamos tratando da análi-se de riscos de empreendimentos que se-jam potencialmente danosos ao meio am-biente.

PERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOPERCEPÇÃOApesar de podermos conhecer, pelo

menos em princípio, cada aspecto acercada percepção de riscos, devemos consi-derar que esta percepção dependerá dasinformações que as pessoas têm recebi-do, bem como em que tipos têm escolhi-do acreditar, dos valores e experiênciassociais aos quais têm sido expostas e dasua visão de mundo. Por sua vez, essesfatores dependeriam da dinâmica dos in-teresses dos grupos, da legitimidade dasinstituições, das características do proces-so político e do momento histórico quevivem.

Para Wynne, a tecnologia deveria serconceitualizada primariamente como umaorganização social, e não como uma enti-dade física. Esse conceito esclareceria queo risco, em si mesmo, pode ser frequen-temente uma categoria de pensamento,inserida artificialmente na mente das pes-soas, direcionando de algum modo à ques-tão de como deveria ver os sistemas deprocessos decisórios sobre o desenvolvi-mento e controle da tecnologia. Suprimira dimensão da experiência social envolvi-da em uma dada tecnologia ou risco seriaencobrir a legitimidade de valores sociaise ansiedades que surgem desta experiên-cia. A supressão da experiência social pelagestão de riscos ou regulamentação colo-caria em perigo a própria credibilidade aodizer para os indivíduos expostos que suas

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experiências sociais e busca de significa-do não contariam.

A percepção de riscos não deve ser to-mada como isolada ou dissociada dasquestões concretas relacionadas às situ-ações e eventos de riscos, já que interagecom inúmeros aspectos sociais. De modogeral, os estudos demonstram que, se que-remos estabelecer estratégias de gestãode riscos mais eficazes, devemos consi-derar os aspectos psicológicos, sociais,culturais e os valores morais que confor-mam as percepções do público. A racio-nalidade científica por si não irá substi-tuir, nem tampouco ser uma resposta fi-nal às preocupações do público, de modoque, sozinha, não deverá guiar as políti-cas públicas e o gerenciamento de tecno-logias perigosas.

ABORDAGENSABORDAGENSABORDAGENSABORDAGENSABORDAGENSHá espaço e necessidade para a aplica-

ção de abordagens distintas. A empresaou o empreendimento não pode só se va-ler da percepção das pessoas a respeitodos riscos que poderá causar. Os organis-mos de licenciamento, principalmente osambientais, não podem somente se base-ar no que as pessoas dizem ou pensam.Devem se preocupar com a análise técni-

ca, com as avaliações estatísticas, com asverificações de projeto e, com a aplica-ção de tecnologias que qualifiquem equantifiquem os riscos. Sabe-se que mui-tos riscos somente são percebidos depoisque se manifestaram. Ou seja, a percep-ção das pessoas não foi suficiente paraafastá-las dos riscos.

No subitem 4.3.3 - Objetivos e Metas daNBR ISO 14.001 - Sistemas de gestão am-biental consta: “Ao estabelecer e revisarseus objetivos, a organização deve consi-derar os requisitos legais e outros requi-sitos, seus aspectos ambientais significa-tivos, suas opções tecnológicas, seus re-quisitos financeiros, operacionais e co-merciais, bem como a visão das partes in-teressadas”. Dentro desse enfoque, nãosó os problemas da organização estão emcheque, como também a visão das partesinteressadas. A vizinhança é parte interes-sada. As organizações não governamen-tais também podem ser enquadradascomo partes interessadas, na medida emque representem legitimamente os inte-resses das comunidades afetadas.

No anexo “A” da mesma norma citadaacima, no que diz respeito a planejamen-to (subitem A.3) é recomendado que oprocesso para a identificação dos aspec-

tos ambientais significativos associadosàs atividades das unidades operacionaisconsidere, quando pertinente, outrasquestões locais relativas ao meio ambien-te e à comunidade. Há outras citações re-lativas à participação da comunidade ex-pressando a preocupação dos legislado-res com o atendimento, também, às ne-cessidades das comunidades locais. Anorma não faz referências explícitas à per-cepção da comunidade frente a riscos,mas menciona os interesses das comuni-dades afetadas.

PERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVPERSPECTIVAAAAASe consideradas as experiências e vi-

vências de cada um, especialmente da-queles que serão envolvidos direta ou in-diretamente pelos projetos, opinião quetambém concordamos, haja vista que,para se ter sucesso na análise dos resul-tados das avaliações técnicas deve-se apli-car também parte do conhecimento ad-quirido pelo avaliador, mesmo que apli-que inúmeras técnicas. Assim, para a opi-nião pública envolvida em um projeto am-biental valem mais seus conceitos de ris-co e sua percepção desses mesmos riscosdo que a leitura de extensos relatóriostentando lhes provar o contrário. Hoje em

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MEIO AMBIENTEdia, quando se realizam audiências públi-cas para a avaliação de um risco ambien-tal, reuni-se a população local, apresen-tam-se os resultados e se discute a ques-tão.

Os estudos sobre percepção demons-tram que as questões relacionadas aos ris-cos não podem ser restringidas somenteaos processos físicos, químicos e biológi-cos. O mundo em que se situam - sereshumanos em suas relações sociais - éconstituído por outros aspectos, como osestilos de vida e as relações interpessoais,as interações simbólicas e os movimen-tos sociais, as questões de poder e de dis-tribuição de riscos, controle social e ins-tituições sociais. Estes aspectos confor-matarão não somente o modo como os in-divíduos e especialistas percebem os ris-cos, mas também o próprio modo comoeste risco ocorre.

Os riscos existem dentro de toda ativi-dade humana. Uns ocorrem no início dasatividades, outros ao longo dessa. Há a-queles que têm um tempo de recorrênciamuito longo, ou alongado com a adoçãode medidas preventivas. Contudo, exis-tem. Considera-se também que as tecno-logias empregadas para a detecção des-ses está em contínuo processo de evolu-

ção. Sabe-se também que essas tecnolo-gias apuram informações e dados que pre-cisam ser interpretados e que essa inter-pretação é feita por profissionais com co-nhecimento específico. Influi bastante, noresultado dessas análises o conhecimen-to específico dos profissionais. Algumasvezes esse conhecimento não é tão pro-fundo ou não é profundo o suficiente paraavaliar toda a gama de riscos. Nessas cir-cunstâncias, a percepção do risco é im-portante e deve ser relevante na avalia-ção final da análise. Também se deve re-forçar a tese de que os laços de afetividadeentre a comunidade vizinha e o empreen-dimento devem ser sempre fortes. Parareforçá-los é importante ouvir a opiniãode seus representantes.

Finalmente, conclui-se que a percepçãode riscos deve ser uma ferramenta a mais,além das técnicas, utilizadas na avaliaçãodos riscos, em programas de Gestão deRiscos, face à sua importância dentro deum contexto social. Também se concluique a percepção não deve ser um elemen-to único ou isolado na avaliação dos ris-cos, porque há possibilidade de não sercompletamente verdadeira, face ao fatode que contribui para o seu insucesso afalta de informação ou o comprometimen-

to das pessoas com o empreendimento.A percepção não deve ser algo cuja res-

ponsabilidade repouse, única e exclusiva-mente, sobre os ombros do trabalhador,mas sim sobre todos os envolvidos. A per-cepção deve fazer parte da elaboração doprojeto, da escolha dos materiais, do pla-nejamento das atividades e da execuçãodos serviços.

Não se deve deixar de considerar o em-prego das técnicas de gestão de riscos,assim como não se deve deixar de ouvir aopinião dos sujeitos que irão ser prejudi-cados com um acidente ambiental que en-volva o empreendimento, como tambémdeixar de levar em consideração os aspec-tos éticos de todo o processo. Todos osprocessos encontram-se interrelaciona-dos. A sociedade como um todo não podedeixar de lado a premissa básica de que asemente de hoje será a arvore de amanhã.O empreendimento de hoje poderá ser oalgoz da população amanhã. Deve-se tero máximo cuidado nas avaliações técni-cas bem como no respeito à opinião daspessoas envolvidas.