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Revista Sustenta Brasil. Sustentabilidade e inclusão em debate.

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Orgânicos, a receita do futuroOs orgânicos são um prato cheio para a sustentabilidade. E juntam a fome com a vontade de comer: o consumidor quer mais qualidade e abre o apetite de uma inovadora cadeia produtiva. Página 30

O Brasil tem pressaA agenda radical de Márcio Pochmann. Página 14

Outro mundo possívelEmpresas e empresários devem ser coerentes na Responsabilidade Social. Veja artigo de Donizal Lopes e Adilton de Paula em “Ponto Final”. Página 38

O país em novo patamarA contribuição de Ladislau Dowbor para entender o Brasil contemporâneo. Página 26

SilêncioEssa trupe é do barulho e invadiu os hospitaisPágina 12

S u s t e n t a b i l i d a d e & I n c l u s ã o e m D e b a t eBRASIL

sustentaRevista trimestralAno I - Número 01 Dezembro 2010

O Peso do Afro Brasileiro no Equilíbrio da SustentabilidadeInstituto Adolpho Bauer realiza projeto inovador unindo empreendedorismo e inclusão. É a Nação Quilombola, que abre caminho e pede passagem para um novo horizonte de negócios sustentáveis

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A gente cria, inova e compartilha. É assim que o IAB faz um Brasil diferenteO Instituto Adolpho Bauer sabe que a evolução é o resultado de idéias e ações que propagam a cooperação, a participação e a solidariedade. Em pouco menos de dois anos de existência, as linhas de atuação do IAB promovem a sustentabilidade territorial, a igualdade e a cidadania. Através de projetos de parceria com empresas, governos e entidades do Terceiro Setor, o IAB trabalha para a construção de um mundo melhor e mais feliz para todos!

Conhecimento para quem trabalha O IAB desenvolve cursos de treinamento e capacitação com conteúdos elaborados especificamente para a linha de produção de indústrias dos mais diversos setoresComunidades tradicionais e geração de renda Programas que preservam e valorizam o patrimônio cultural e artesanal de comunidades tradicionais, entre elas, remanescentes de quilombos, para a criação de novos caminhos de auto-gestão e sustentabilidadeFeiras e Eventos TemáticosA Feira Quilombola do Paraná em 2010, Primeiro Colóquio Nacional do Pré-Sal em 2009. Comprometimento com a sustentabilidade e a inclusão social

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recursos) - qualificação de gestores no Siconv - parceria na formação de líderes junto a Master MindCoordenação da escola de futebol Parceria com o Projeto Segundo Tempo do Ministério dos EsportesParceria com a União Ibero Americana de MunicipalistasFormação e capacitação de gestores públicosParceria FIEP/SESIFormação de Afro-empreendedores e formação de alunos do ProUni para as cadeias produtivas do setor químico e petrolíferoProjetos de promoção de igualdades sociais, raciais e de gêneroRealização das Feiras Quilombolas em parceria com Anceabra, Federação Quilombola do Paraná, Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP e com o Instituto de Promoção do Desenvolvimento - IPD

Igualdade e cidadaniaCompromisso com a vida sustentável

Produtos do Instituto Adolpho Bauer

Desenvolvimento de cursos de qualificação profissionalQualificação para indústrias e empresas (formação in-company ou projetos especiais) - QUALIsPrograma de apoio à pequena e média indústria (PAPEMI)Desenvolvimento de assessorias e consultorias empresariais (reestruturação produtiva - planejamento estratégico - avaliação 360 graus - plano de cargos e salários - gestão da qualidade - certificaçõesPrograma de apoio à modernização da gestão pública (PAMGP)Desenvolvimento de consultorias para prefeituras e secretarias municipais de educação (montagem e revisão de planos de cargos e salários, desenvolvimento de projetos de captação de

Inclusão social e educação desportivaA Vila Olímpica do Paraná vai atender milhares de jovens, adultos e idosos com programas de iniciação e formação esportiva e para-esportivaEmpreendedores afro brasileiros Em parceria com o Sistema FIEP, o IAB qualifica para o mundo empresarial os alunos egressos do Programa Universidade para TodosAfeto e as novas gerações Programas de educação para garantir o direito a uma vida feliz!

Qualificação profissional

(41) 3029-0215 Rua Conselheiro Laurindo, 809 - sala 305,

Curitiba-PR-Brasil - CEP. 80060-100 www.institutoiab.org.br

MV Bill em apresentação na I Feira Quilombola do Paraná

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Número: 01 - Dezembro de 2010Publicação Trimestral do Instituto Adolpho Bauer Conselho Editorial: Adilton de Paula, Alex Bueno Netto, Marcelo Milek, Denise Rybas Dias, Donizal Lopes, Edson L. Peters, Paulo Roberto Castela, João Carlos Nogueira, João Bosco Borba, Maria Alice da Silva, Ladslau Dowbor.Presidente: Donizal Lopes.Vice-presidente: Francisco Rodrigues.Coordenador Geral: Adilton de Paula.Coordenação de Projetos: Maria Alice da Silva.Equipe de Vendas: Josemar Chaves Nizer, Orlei Rodrigues da Silva.Suporte: Iraci Sobral de Oliveira.Secretário de Produção: Marcelo Alejandro Giordano.Apoio Administrativo: Gisele Carvalho Lopes e Analice Rodrigues Santana.Edição: Bernardo Pellegrini. Reportagem: Waurides Brevilheri. Colaboração: Eli Antonelli.Revisão: Danúbia de Souza.Designer Gráfico: Laercio Castro.Impressão: Gráfica Malires.Tiragem: 10 mil exemplares impressos (200 mil exemplares virtuais).Jornalista Responsável: Waurides Brevilheri MT 980/06/092.O Instituto Adolpho Bauer é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, Voltado para a Promoção do Desenvolvimento Territorial Sustentável, com Inclusão Social, de Raça e de Gênero, com sede na cidade de Curitiba Paraná e com perspectiva de atuação em todo território nacional. O Instituto foi criado a partir de iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores Plásticos e Químicos do Paraná (STIQFEPAR), com apoio da FETIEP – Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Paraná.

Rua Conselheiro Laurindo, 809, 3º andar. Centro. Curitiba. Paraná. Brasil. CEP 80060-100Fone: 55 41 3029-0215www.institutoiab.org.br

Os artigos e informes publicitários são de inteira responsabilidade de seus autores.Próxima Edição: Março de 2011- A Mulher e a Sociedade do Século 21

n A ousadia dos afrodescendentes na luta pela sustentabilidade

n Radicalizar alternativas, a proposta de Pochmann

n O Brasil num novo patamar, a contribuição de Dowbor

n Ponto final

Em pleno século XXI, os quilombos ressurgem como modelo de sustentabilidade e dão lições de organização e práticas comunitárias. Em três dias que agitaram o Palácio das Indústrias do Paraná, os quilombolas mostram a força de sua produção – reunindo empresas, governo, movimento social e terceiro setor numa feira que já entrou para a história pelo ineditismo e pela ousadia. Página 16

A atuação progressista nas lutas sociais e políticas tem levado o Brasil a uma combinação histórica de crescimento com inclusão e justiça social. É o próprio presidente do IPEA quem propõe: o Brasil tem que radicalizar. Veja o que disse Márcio Pochmann ao saudar os participantes da Conferência Nacional do Desenvolvimento, a última do governo Lula. Página 14

“Nesta segunda década do milênio o Brasil está entrando num novo patamar. O futuro dependerá de como o Brasil administrará a equação da produção, do emprego, da renda e do meio-ambiente”. É o que diz Ladislau Dowbor na mais recente contribuição do grande economista para pensar o Brasil da contemporaneidade. Página 26

“Nossos empresários e empresas precisam ter de fato uma prática coerente e efetiva de defesa do meio ambiente, das pessoas e das condições de trabalho e salários”. Acompanhe o artigo de Donizal Lopes e Adilton de Paula, do IAB. Página 32

Índice

S u s t e n t a b i l i d a d e & I n c l u s ã o e m D e b a t eBRASIL

sustenta

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Sustenta Brasil: uma conquista da democracia

IAB: conteúdo multimídia para fortalecer a cidadania

Quando foi criado, o IAB tinha como meta promover a cida-dania através de ações que

integrassem o movimento social, em-presas, governo e terceiro setor. Proje-tos levados pelo Instituto e reportados nesta primeira edição de SUSTENTA BRASIL, como o projeto da Vila Olímpi-ca, ou o da Feira Quilombola, tudo isso confirma: estamos superando nossas próprias expectativas.

Estamos construindo um sonho – e o lançamento deste primeiro nú-mero de nossa revista é um passo consistente em sua direção. SUSTEN-TA BRASIL vem à luz num momento muito especial da vida brasileira – e o conteúdo editorial de nossa edição de lançamento não apenas celebra o mo-mento, como aponta caminhos, amplia o diálogo, troca experiência, seleciona informações, promove o intercâmbio entre brasileiros atentos e dispostos ao exercício democrático pela conquis-ta de direitos.

“Dizemos que uma sociedade – e não um simples regime de governo –

é democrática quando, além de elei-ções, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, respeito à vontade da maioria e das minorias, institui algo mais profundo, que é a condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos” - escre-veu certa vez Marilena Chaui . Ensina a mestre: “A Sociedade Democrática institui direitos pela abertura do cam-po social à criação de direitos reais, a ampliação dos direitos existentes e à criação de novos direitos”.

SUSTENTA BRASIL assina embaixo: não há democracia sem justiça, não há justiça sem sustentabilidade – e nem sustentabilidade sem inclusão. Sus-tenta Brasil nasce para mostrar que a inclusão social é fator essencial do de-senvolvimento sustentável. Vem para estimular o debate, para aprofundar o diálogo e contribuir para que a socie-dade brasileira avance a um novo pa-tamar de participação e solidariedade com oportunidades iguais para todos.

Boa leitura!

n Mercado de trabalho, o desafio do Bom Jesus

n Proteger o ambiente, desafio do crescimento

n Vila Olímpica agita a torcida e levanta a galera

n Uma trupe do barulho no silêncio dos hospitais

Em 2004 o Colégio Bom Jesus se deparou com um desafio: os seus alunos com deficiência intelectual que estavam ficando adultos e chegava a hora de enfrentar o mercado de trabalho. O problema virou solução: a construção de uma consciência empresarial. Página 10

Há 21 anos no Ministério Público, Edson Peters é novo Promotor de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná. “Nestes tempos de consumismo, a questão ambiental é o maior desafio da humanidade”, diz ele. Página 6

Projeto do Instituto Adolpho Bauer tem feito vibrar não só a comunidade esportiva, mas principalmente os agentes sociais, empolgados com as possibilidades de inclusão pelo esporte com as Olimpíadas de 2012. Vila Olímpica prevê atendimento para cinco mil pessoas. Página 34

Mais do que um projeto de Responsabilidade Social, a Trupe da Saúde é o carro chefe da UniCultura, uma empresa pioneira na gerência de projetos culturais. Ricardo Trento, seu fundador, ensina como formatar e como desenvolver projetos na área. Página 12

O que o presidente Lula esta-va fazendo em Salvador no ines-quecível novembro negro? O que dizem as grandes lideranças do movimento negro brasileiro sobre a Feira Quilombola? E o Pré – Sal, o que reserva de oportunidades para os excluídos do Brasil?

As respostas estão ao alcance de um clique no mouse do computa-dor – pois o Instituto Adolpho Bauer (IAB) é também um difusor de conte-údos multimidia ligados à cidadania. Através do Youtube.com podem ser vistos diversos documentários sobre Igualdade e Cidadania produzidos pela equipe do IAB. Confira:

Novembro Negro Salvador 2009

n www.youtube.com/watch?v=o1z5RUAvd-Yn www.youtube.com/watch?v=o1z5RUAvd-Y

Feira Quilombola do Paraná 2010

n www.youtube.com/watch?v=UOBxfYYvH6Qn www.youtube.com/watch?v=w_GK-xpah8I&feature=relatedn www.youtube.com/watch?v=GKOUL0kzLBk&feature=related

Colóquio do Pré-Sal 2009

n www.youtube.com/watch?v=BCT3mZnI23M&feature=related

Ponto de partida

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mundo sustentável mundo suMundo Sustentável stentável mundo sustentável

O novo titular da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná está há 21

anos no Ministério Público e é egresso da primeira turma de Promotores de Justiça, surgidos após a Constituição de 1988. Edson Peters assume as suas novas funções consciente: “A questão ambiental é o maior desafio da huma-nidade”, diz. O promotor acredita que o caminho para conciliar preservação com desenvolvimento passa pela edu-cação e pela revisão do modelo lesgis-lativo. “A legislação demasiadamente repressiva já mostrou que não resolve, é preciso usar da lei para fomentar e estimular novas práticas. A questão é cultural e neste sentido o modo de vida consumista e materialista está em cheque” – resume. SUSTENTA BRASIL foi ouvir o que pensa e como trabalha e o novo promotor do Meio Ambiente do Paraná.

SB - Qual deve ser o papel do Estado, da Sociedade, do Empresário e do Cidadão Comum na questão ambiental?Edson Peters - Papel do Estado é implementar as políticas ambientais, ser efetivo na repressão e premiar as boas iniciativas criando estímulos tributários e creditícios. Quem polui mais deve pagar mais impostos e quem investe em tecnologias de produção industrial limpa deve pagar menos encargos. O papel da sociedade é se organizar e se educar para fazer sua parte, exigindo do Estado efetividade e apresentando sugestões para o aperfeiçoamento contínuo das Políticas Ambientais. Exigir que os Conselhos de Meio Ambiente saiam do papel de uma vez por todas, participar das associações de bairros

“Só a repressão não resolve”Como trabalha e o que pensa o novo promotor do Meio Ambiente do Paraná

e outros movimentos geradores desta nova cultura de respeito a si mesmo, ao semelhante e à natureza. A iniciativa privada se comporta de acordo com as tendências de mercado e neste ponto depende do cidadão-consumidor despertar para a realidade ambiental.

SB - Quais são os problemas recorrentes que o Ministério Público

enfrenta neste setor?Edson Peters - Muita energia do Ministé-rio Público se dissipa na fiscalização dos órgãos ambientais do próprio Estado, que muitas vezes não fazem seu dever de casa. O combate à corrupção conso-me muito do trabalho da Instituição. E, finalmente, a clandestinidade de empre-endimentos que degradam o ambiente e exploram o trabalhador.

No meio urbano a poluição sonora é reclamação recorrente. A ocupação de áreas de preservação permanente, a fal-ta de saneamento e o correto tratamento dos resíduos (lixo) são pautas diárias.

SB - Apesar de se proclamar Capital Ecológica, muitas famílias vivem em condições sub -humanas, inclusive com crianças sendo transportadas nos carrinhos de coleta de papel. Não existe trabalho efetivo de gestão para corrigir essa situação. O que deve ser feito?Edson Peters - Falta ação política, fal-ta vontade política para enfrentar esta situação. Não basta reconhecer o valor do trabalho dos catadores anônimos e explorados por atravessadores. Não basta também prestar-lhes alguma as-sistência paliativa. É preciso ir além e aprofundar a investigação das causas ao invés de atacar as conseqüências. Não é possível aceitar que alguns pou-cos vivam no luxo enquanto muitos ou-tros subvivam do lixo.

SB - O senhor acredita que podemos fazer um mundo melhor para todos? Como?Edson Peters - Ao invés de buscar deixar um mundo melhor para nossos filhos de-vemos investir para deixar filhos melho-res para o mundo. O consumismo que nos contagia desde a mais tenra idade. Se não mudar o padrão de consumo a sustentabilidade continuará sendo uma palavra a mais no dicionário a nos con-fortar na utopia ambiental.

Edson Peters: “Quem investe em tecnologias limpas deve pagar menos impostos”

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stentável mundo sustentávelMundo Sustentável

Manejo garante preservação

Conselho Estadual do Meio Ambiente vê crescer participação

Grupo Klabin supera Parque Nacional em preservação de espécies animais

Maior produtora, exportadora e recicladora de papéis do Bra-sil, a Klabin acaba de tornar a

maior também no manejo florestal. Líder nos mercados de papéis e cartões para embalagens, embalagens de papelão ondulado e sacos industriais, a Klabin é líder também na preservação de espé-cies em sua Fazenda Monte Alegre.

Alí, um sistema de manejo florestal em forma de mosaico vem proporcio-nando condições ideais de sobrevivên-cia para a fauna, pois favorece as trocas genéticas entre as espécies animais e entre as vegetais. A Fazenda possui mais espécies do que as encontradas no Parque Nacional do Iguaçu (PR), um templo de preservação. São 1858 es-pécies de peixe (40 a mais do que no Parque Nacional), 1240 espécies de an-fíbios (28 a mais) e 4.590 espécies de

mamíferos (45 espécies a mais).A Política de Sustentabilidade, que

prevê a prática da responsabilidade so-cial e ambiental nas comunidades em que atua, coloca a Klabin como modelo. A empresa mantém programas sólidos e que vem apresentando resultados cada vez melhores, como o Programa Caiubi ( que capacita para a preserva-ção ambiental mais de 14 mil alunos e 160 professores de 87 escolas no Paraná e Santa Catarina), o Programa de Fomento Florestal (que já distribuiu perto de 166 milhões de mudas para 18 mil proprietários fomentados em 79 municípios – são quase 94 mil hectares plantados)

Além destes, há uma dezena de outros projetos que contemplam des-de orientação para produtores rurais até musicalização nas escolas, dan-ça, canto coral e educação digital. A Klabin foi fundada em 1899, possui atualmente 17 unidades industriais distribuídas por oito estados no Brasil - e uma na Argentina.

O Estado do Paraná tem seu Con-selho Estadual de Meio Ambiente desde 1984, diante da retomada do desenvolvimento e impulsionado pela necessidade de impor limites de sus-tentabilidade, nesta última década ele vem se colocando como protagonista nos debates sobre as causas ambien-tais no Paraná. “Nestes últimos quatro anos as entidades vem participando efetivamente na elaboração de nor-mas ambientais”, comemora o enge-nheiro agrônomo Paulo Roberto Cas-tella, Secretário Executivo do CEMA.

Entre as principais conquistas do Conselho está a definição de metas para a qualidade dos efluentes nos próximos anos, reduzindo os efeitos tóxicos nos ambientes aquáticos (rios, lagoas e estuários). O secretá-rio executivo do CEMA cita também o estabelecimento de critérios técni-cos (exames laboratoriais com crité-rios de qualidade) para a queima de resíduos capaz de gerar energia nos fornos das cimenteiras, reduzindo os seus efeitos tóxicos. Nestes pro-cessos é previsto o monitoramento ambiental. “Estamos avançando na consciência para a sustentabilida-de”, comemora Castella.

O Conselho tem como membros natos nove secretários e o procurador geral do Estado, os presidentes do ór-gão ambiental, do Instituto das Águas, da Companhia de Habitação e do Ins-tituto de Terras, Cartografia e Geoci-ências. Entre os membros designados estão quatro representantes de ONGs, dois representantes de universidades públicas e privadas, representantes de dois sindicatos de trabalhadores e dois patronais, um representante dos Secretários Municipais do Meio Am-biente e um representante dos conse-lhos da categoria profissional (CREA, CRBIO, CRMV e OAB). n

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mundo sustentável mundo suMundo Sustentável stentável mundo sustentável

Curitiba é a cidade mais ambien-talmente sustentável do conti-nente. O prêmio de primeiro lugar

no Índice de Cidades Verdes da América Latina (Latin America Green City Index) coloca a capital do Paraná,mais uma vez ,na liderança do debate mundial so-bre sustentabilidade.

Produzido pela Siemens em parce-ria com a revista inglesa The Economist, o índice é o principal levantamento já feito na América Latina sobre cidades e sustentabilidade. “Ele ajudará as cida-des a aprenderem mais umas com as outras sobre estratégias bem-sucedi-das no desenvolvimento de soluções de infra-estrutura abrangentes e sustentá-veis”, saúda o presidente mundial da Siemens, Peter Löscher,

“Cidade é gente. E, onde há gente, há desafios, necessidades, demandas Mas, onde há gente, há potencialida-des, soluções, respostas. E esse é o jei-to curitibano de olhar a cidade”, afirmou o prefeito Luciano Ducci ao receber o prêmio, na Cidade do México, durante a Cúpula Mundial de Prefeitos sobre o Clima, em novembro.

Ducci saudou outra característi-ca importante da cidade: a adoção de boas práticas pela população. “São ações cotidianas por parte de pessoas que entendem a importância de cada um que deseja uma cidade melhor para se viver”. O estudo envolveu cidades de oito países e permitiu uma avaliação de itens como transporte, qualidade do ar, energia e emissões de CO2, co-leta de lixo, saneamento, água, gestão ambiental e uso do solo. A Economist está fazendo o levantamento na Ásia e

Oceania, África e América do Norte. O da Europa já foi concluído e divulgado, com Copenhague, na Dinamarca, em primeiro lugar. n

Prêmio da The Economist valoriza as boas práticas da população da capital

Curitiba, a mais verde do continente

Luciano Ducci recebe Prêmio The Economist no México

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stentável mundo sustentávelMundo Sustentável

O plástico é uma fonte renovável de energia, capaz de ser reciclado infinitamente. Banir o uso das sacolas plásticas seria um verdadeiro retrocesso para a socie-dade, pois se trata de um produto mais higiênico e prá-tico. Segundo o Simpep – Sindicato da Indústria de Ma-terial Plástico no Estado do Paraná - o que deveria ser feito pelos órgãos governamentais é uma política de conscientização, com ações de esclarecimentos para a população e implantação de usinas de reciclagem.

Infelizmente, o Brasil ainda utiliza o mesmo sistema de lixo de 100 anos atrás, completamente ultrapassado para a nova realidade.

Para o Simpep, umas das alternativas para a sus-tentabilidade do planeta é a implantação de usinas de reciclagem, que transformam o lixo orgânico em adu-bos e separa o reciclável. Outro benefício das usinas é transformar os materiais que não podem ser reciclados em energia elétrica, que pode ser vendida para as Cias de eletricidade ou utilizada na própria usina.

As sacolas plásticas são atóxicas, sem odor e imu-ne a fungos e bactérias, capaz de suportar 5 mil vezes o seu peso, além de ser 100% reciclável. Outro detalhe que precisa ser cobrado pelos consumidores é que as embala-gens estejam dentro das normas da ABNT, para assegurar

a qualidade e a resistência, o que evita o uso demasiado das embalagens no carregamento de produtos.

Querer banir o uso das sacolas plásticas é utopia. O sindicato acredita que discussões sobre o tema são positivas, e com certeza capazes de trazer soluções concretas para se chegar a um consenso em prol da população e do meio ambiente. “O uso consciente, sem desperdício e o descarte adequado seria o ideal para que todos possam continuar usufruindo dos benefícios que as sacolas trazem, sem prejudicar o ecossistema”, diz a presidente do SIMPEP, Denise Dybas Dias.

Hoje, o Paraná conta com 260 empresas de emba-lagens flexíveis, que geram aproximadamente 10 mil em-pregos diretos. No Brasil, são 2.900 empresas que empre-gam 105.400 pessoas, segundo a ABIPLAST – Associação Brasileira da Indústria Plástica.

Para o diretor do SIMPEP, Dirceu Galléas, reciclar não é uma opção e sim uma obrigação de todos. “É necessário que haja um engajamento em prol da natu-reza com campanhas sócio educativas, que coloquem a reciclagem como matéria curricular nas escolas. Uma política eficaz na questão de impostos também seria importante para tornar o plástico um material atrativo para a reciclagem, da mesma forma que aconteceu

com o alumínio, que hoje é 100% reciclado no Brasil”, diz.

Para Galléas, a carga tributária na reciclagem é muito alta e a falta de incentivo é a maior dificuldade do setor. “Antes de virar um material reciclado, os produtos já tive-ram os seus impostos cobrados e ocorre uma bi tributação quando são reciclados e transformados em novos produ-tos. Isso diminui o interesse das empresas, pois o custo muitas vezes acaba ficando próximo do material virgem e dos importados de baixa qualidade da China”.

Além da praticidade, as sacolas plásticas são extre-mamente higiênicas e podem ser usadas posteriormente para acondicionamento de lixo doméstico. Segundo a pre-sidente do SIMPEP, já estão em discussão alguns riscos que as sacolas retornáveis podem trazer devido ao acú-mulo de bactérias e fungos, que podem contaminar os alimentos e produtos transportados quando não higieniza-das corretamente. “As pessoas que adotaram as sacolas retornáveis acabam tendo que comprar sacos de lixo, não diminuindo em nada o consumo de plástico em suas resi-dências. A melhor saída é investir na instrução das pesso-as sobre o descarte adequado e incrementar com a coleta seletiva em todas as regiões do Brasil”, completa.

SIMPEP afirma que banir as sacolas plásticas é um retrocesso para a sociedade

Informe publicitário

Redução, Reciclagem e Reutilização: os “três erres” dos cadernos ecológicos

A empresa Ecossocial lança dois cadernos 100% ecológicos. Criados a partir dos 3R’s (Redução, Reciclagem e Reutilização), são dois modelos de capa – o primeiro é feito a partir de fibra de coco com látex e o segundo modelo é feito a partir de garrafas PET, material que leva 400 anos para se decompor na natureza. Para substituir o metal no es-piral, foi utilizado cipó da região de Gua-raqueçaba, no Paraná. Os cipós são re-tirados na lua minguante, pois segundo os moradores, desta forma ele se repõe facilmente e tem durabilidade maior.

A produção dos cadernos da Ecos-social é feita em oficinas com jovens da Fundação de Ação Social de Curi-tiba, meninos perto de completarem 18 anos que vem de situação de abandono e violência. Preocupada com o meio ambiente em sua produ-

ção, a empresa foi 4° Prêmio Brasil Excelência na categoria sustentabili-dade edição 2010. Informações e en-comendas no site www.ecossocial.com.br.

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O problema virou solução: a criação da Valor Brasil, uma empresa auto sustentável inteiramente voltada à

preparação profissional de seus alunos – e para a construção de uma consciência empresarial que valorize o trabalho dos excluídos em Curitiba.

Sessenta por cento da mão-de-obra é composta por pessoas com deficiência intelectual. “Os funcionários recebem trei-namento, registro em carteira e o mais im-portante: uma oportunidade de inserção no mercado profissional”, conta a Samar Merheb Jordão, Ouvidora da Valor Brasil. Eles são os responsáveis pela confecção de produtos como aventais, camisetas, embalagem para presente, linha hospi-talar, capa para carro ou porta-lixo – que são vendidos tanto no atacado quanto no varejo com logomarca das empresas ou com imagens, servindo como brindes.

“A idéia surgiu para que os alunos que fossem ficando mais velhos tives-sem uma oportunidade de trabalho. Eles passaram por uma formatura em que fechou um ciclo da vida deles, como de qualquer pessoa e a partir dis-so passaram a participar da empresa”, conta Maritza Requião. Ela é mãe de Eduardo, que estuda no Bom Jesus há 25 anos. Super comunicativo, Eduardo é quem fala pela Valor Brasil em feiras e eventos, como a recente apresentação da empresa no Cristal Fashion Week.

Maritza se sente recompensada vendo a abertura das grandes empre-sas para ações que trazem a valoriza-ção do potencial desses jovens. “É um trabalho permanente de colaboração entre os colegas e meu filho se sente

importante integrando o mercado de trabalho”, conta. Entusiasmado e ágil na comunicação, Eduardo gosta de fa-zer serigrafia nas peças, realizar a su-pervisão de qualidade dos produtos e

Mercado de trabalho, o desafio da Valor BrasilEm 2004 o Colégio Bom Jesus se deparou com um desafio: os seus alunos com deficiência intelectual estavam ficando adultos e precisando de qualificação para o ingresso no mercado de trabalho.

Colegas do Colégio Bom Jesus: cooperação no trabalho para um nova consciência empresarial

falar da empresa para outras pessoas. Mas quando perguntado sobre o que ele mais gosta, é como qualquer traba-lhador. “Gosto de ter meu salário, gosto de ter minha própria renda”. Bingo! n

Responsabilidade social

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Acessibilidade: apostando nessa batalha

Em 2006 o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agrono-mia do Paraná foi orientado pelo

Ministério Público Federal para que se adequasse ao Decreto Federal nº 5.296/2004, exigindo que engenheiros e arquitetos contemplassem em seus projetos o quesito acessibilidade.

Segundo o CREA-PR, sete mil pessoas já participaram de um programa que é referência para outros orgãos públicos

Foi a senha para que o Conselho transformasse essa obrigação em solu-ção, criando o Programa de Acessibili-dade , que engloba ações como cursos, seminários, convênios, parcerias e até palestras de sensibilização . “Fazemos uma simulação com os participantes para que imaginem como seria seu dia-a-dia se tivessem que, por exem-plo, usar uma cadeira de rodas: as di-ficuldades de locomoção em casa, no trabalho, no transporte” – conta a en-genheira Vivian Curial Baêta de Faria, coordenadora do Programa.

“Essa experiência, aliada às infor-mações gerais que também são apre-sentadas, mudam a percepção dos par-ticipantes com relação à importância desse assunto”, revela a coordenadora. Em 2010 o Programa de Acessibilidade comemora seus resultados: 54 Seminá-rios, 26 palestras, sete cursos de capa-citação e 12 fóruns, em 32 municípios do Paraná. Mais de sete mil pessoas já participaram desses eventos, numa de-monstração de que mais órgão públicos federais poderiam criar seus programas de responsabilidade social. n

Realização de vivência durante um seminário simulando as dificuldades de locomoção das PcDs

Responsabilidade social

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Uma década atrás, o ator e pro-dutor cultural Ricardo Trento foi acompanhar o pai em um check-

up de rotina num hospital em Curitiba. Ele se espantou com o clima de tristeza que viu entre os pacientes pelos corredo-res e quartos. “Quanta gente poderia ter acesso à arte aqui dentro”, foi a primeira coisa que pensou. Dez anos depois, a Trupe da Saúde é uma das mais bem su-cedidas experiências que se conhece no Brasil de projetos que levam cultura de maneira transversal – quer dizer, fugindo da verticalidade dos projetos convencio-nais e levando em conta que a cultura é o único segmento que permeia todas as outras atividades humanas.

Atores com especialização em clown e técnicas de improviso, preservando as características do palhaço, percorrem hospitais de Curitiba de leito a leito, de departamento a departamento, levando a fantasia uma arma infalível: o humor. “O riso humaniza o ambiente” – aprendeu Ri-cardo. O projeto conta com uma equipe de 22 pessoas (12 atores e uma equipe de produção) e se sustenta na Lei Rouanet, a Lei da Cultura que permite o incentivo das empresas através do Imposto de Ren-da até o limite de 4% do IR devido e para pessoa física o limite é 6% do IR devido quando este faz a declaração completa.

“Quando penso em sustentabilidade penso que a primeira ação é cultura. Um projeto de sustentabilidade que não tenha um programa cultural promove o nada. Não há transformação social, científica, tecnológica, aumento do IDH sem propos-

ta de acesso e formação cultural. Tudo passa pela arte” – ensina Ricardo.

Com a Trupe da Saúde nascia tam-bém Trento Comunicação, que começou em 2000 como uma agência de comu-nicação através da arte, utilizando as leis de incentivo, e UniCultura, uma ONG que fomenta e atrai investimentos financeiros e contribui com empresas em projetos de desenvolvimento social desportivos, de inclusão social, de formação e capacita-ção, de geração de emprego e renda e de comunicação colaborativa. “Deixamos de ser uma empresa com finalidade em si para ser um instrumento de desenvolvi-mento social” diz Trento.

“Não há projetos ruins, há idéias mal formatadas” – é a máxima de Ricardo. Nesta entrevista ele fala de seu trabalho e do alcance da cultura como ferramenta de desenvolvimento sustentável.

SB – Qual o alcance dos projetos culturais na vida das empresas?Ricardo Trento – Nosso olhar e percep-ção são treinados para ver um mundo administrado pelos números, e isto é um grande engano. Se é pelo desen-volvimento econômico que se chega ao desenvolvimento social então é verdade que a empresa deixa de ser uma finali-dade em si para ser este instrumento que também é responsável pela quali-dade de vida do povo.

Todo o projeto que é gestado na Tren-to usa o conceito da transversalidade, que trata a cultura em seus mais diversos con-teúdos e manifestações: educação, saú-

de, esporte, inclusão social, atuação com criança e adolescente, turismo, etc.

SB – Como os projetos se viabilizam?Ricardo Trento - Como a empresa ainda tem seu foco de investimento de comu-nicação na grande mídia, utilizamos as leis de incentivos para poder viabilizar as ações culturais e sociais que costumam estar longe da visão estratégica das em-presas tradicionais, cujos gestores e ope-racionais corporativos entram no mercado de trabalho sem formação cultural, huma-na e pouco estimulado a desenvolver-se. Essa má formação é responsável pelo fra-casso e estagnação de muitas empresas. É aí que entramos, ajudando a desenvol-ver e formatar as idéias.

Pequenas ações, grandes mudançasUm projeto de sustentabilidade que não tenha um programa cultural promove o nada”, diz Ricardo Trento. À frente de diversos projetos de responsabilidade social, o líder da Trupe da Saúde ensina: não existem projetos ruins – existem idéias má formatadas

Cultura e sutentabilidade

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SB - O que os projetos representam para empresas que buscam sustentabilidade? Ricardo Trento - Representam muito. A finalidade sempre é o resultado que se

colhe com cada projeto. Quando a em-presa investe em projetos sociais só para melhorar sua imagem, sem um conceito de mudança, os resultados são ruins, a

empresa perde credibilidade. Quando o projeto social é uma mentira, ao final se constata que todos perderam tempo e dinheiro desperdiçados. Quando penso em sustentabilidade penso que a pri-meira ação é uma ação cultural, pois a cultura promove a transformação. Tudo passa pela arte.

SB – A Trento Comunicação e a UniCultura trabalham em conjunto. Qual o foco destas duas instituições?Ricardo Trento - Para 2011 o foco das duas instituições começa se redefinir. UniCultura como formação, desenvolvi-mento de projetos e atração de recursos para pólo de investimentos sociais. E a Trento como executora, criação de estra-tégias de comunicação colaborativa, de conteúdos de mídia livre e de novos mo-delos de comunicação com o público.

SB - Como você presta seus serviços, como é que orienta e como encaminha as idéias de clientes, parceiros, etc?Ricardo Trento - Nada disso é possí-vel sem uma boa equipe de trabalho. O cliente que nos procura encaminha seus projetos para avaliação da nossa equipe técnica. Não há projetos ruins, há idéias má formatadas. Há também aquelas que já fazem parte de pensamentos vencidos, ultrapassados. A sociedade anda a pas-sos largos, e o conhecimento aliado a arte promove a evolução do conceito. Então orientamos como serviços de consulto-rias. E atendemos o cliente/parceiro des-de a formatação do projeto, escolha de projetos para patrocínios, toda a cadeia produtiva e econômica desde contratação e indicação de profissionais para os proje-tos até a prestação de contas.

SB – Quais projetos fazem um mundo melhor?Ricardo Trento - O mundo melhor se faz com pequenas ações e locais. Agir onde se está. Isso faz um mundo melhor. Pro-jetos que mostram a boniteza da vida. Você não imagina a satisfação que dá perceber o olhar intrigado de uma crian-ça quando o Dr. Palhaço entra no quar-to. Ou ver uma criança de 7 anos subir num palco: tão pequenina seus pés ain-da não alcançam o pedal do piano, mas logo ela será uma jovem concertista. Es-tas pequenas coisas mudam o mundo.

Criador e criatura: Ricardo Trento e a sua Trupe da Saúde, projeto carro-chefe da UniCultura

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O Brasil não mais aceita ser lidera-do – e pretende contribuir para o novo projeto de desenvolvimento

mundial, multipolar e compatível com a repartição justa da riqueza e a sustenta-ção do planeta para as novas gerações. O Brasil do início do século 21 tem pressa e não mais admite cometer velhos erros, que deixaram como herança o subdesen-volvimento.

Antes não se poderia elevar o valor do salário mínimo porque geraria infor-malidade e desemprego, não se deveria aumentar o gasto social porque desorga-nizaria as finanças públicas, não se po-deria apoiar investimentos nas empresas públicas porque haveria mais ineficiên-cia, assim como se deveria manter banco público aprisionado para não fazer subir ainda mais a taxa de juros. Os pobres, de vítimas deste sistema econômico e social regressivo, eram os próprios responsáveis por suas trajetórias de infortúnio, sendo somente os ricos portadores de recom-pensa e admiração. Agora, pela primeira vez, nos últimos 50 Anos, o que acontece é a combinação da expansão econômica com a mobilização social.

Somente o passar do tempo permi-

O Brasil do século XXI tem pressaAntecipar os principais aspectos estruturadores do passado recente parece necessário quando se está diante das expectativas de ação para os próximos quatro anos do governo Dilma

O avanço das forças produtivas em sintonia com políticas progressistas estão colocando o Brasil diante do desafio de se estruturar não só como país desenvolvido e líder numa nova cena internacional, mas também diante da “possibilidade da radicalização das alternativas de construção de uma sociedade superior em busca do desenvolvimento humano integral”.Citando Charlie Chaplin (“a persistência é o caminho do êxito”) e propondo uma avaliação das conquistas do período Lula com foco no futuro, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, Marcio Pochmann tirou o fôlego de muita gente em seu discurso de abertura da Conferência Nacional do Desenvolvimento ao propor uma agenda que coloque o Brasil na vanguarda da sociedade do conhecimento. Foram oito grandes painéis e quase uma centena de oficinas, documentários,filmes, lançamentos de livros. Durante três dias da última semana de novembro em Brasília, a CODE/IPEA abrigou um “fervilhar de idéias renovadoras e amplamente fecundas “, na avaliação do próprio Pochmann, que fez de sua saudação aos participantes da conferência um quase libelo pelo fortalecimento de uma liderança civilizatória. Professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas, Pochmann não tem dúvida: o Brasil está pensando o seu futuro de maneira inédita. Confira o resumo de seu discurso de abertura da Conferência.

Marcio Pochmann, Presidente do Ipea

Conferência Nacional do Desenvolvimento

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tirá avaliar completa e profundamente a trajetória econômica, política e social bra-sileira nos últimos oito anos do governo Lula. Antecipar, todavia, alguns dos princi-pais aspectos estruturadores do passado recente parece ser necessário, especial-mente quando se está diante das expec-tativas de ação para os próximos quatro anos do governo Dilma Rousseff.

Dos vários méritos alcançados pelo governo Lula, pelo menos dois principais devem ser destacados. Um primeiro vin-culado ao contexto mundial menos des-favorável ao reposicionamento brasileiro na Divisão Internacional do Trabalho. O avanço obtido no comércio externo per-mitiu reduzir consideravelmente as his-tóricas fragilidades nacionais no Balan-ço de Pagamentos, com a prevalência de importantes saldos comerciais, do aces-so ampliado aos investimentos diretos externos, da resolução dos problemas com a dívida externa e do considerável aumento das reservas internacionais, tornando o país credor do Fundo Mo-netário Internacional, algo jamais antes visto. Ademais, o protagonismo brasilei-ro no âmbito das relações internacionais tornou-se evidente e incontestável nos diversos fóruns mundiais e, em alguma medida, com papel de liderança nos te-mas ambientais e sociais.

Um segundo mérito observado nos úl-timos oito anos encontra-se relacionado aos importantes desempenhos obtidos em quatro campos. No campo econô-mico (com expansão duas vezes maior que na década de 1990), no campo dos investimentos e da produção, bem como da queda à quase metade na taxa de de-semprego comparada a dos anos 1990, no campo social, com redução sensível nas taxas de pobreza e de desigualdade da renda – e no campo ambiental, com a desaceleração nas queimadas e no grau de emissão do dióxido de carbono.

Essa construção relativamente har-mônica nas diversas esferas do desen-volvimento nacional possibilitou ao país um novo reposicionamento na relação com o conjunto das nações, ademais de chamar a atenção para a possibilidade de construção de um novo padrão de desen-volvimento com justiça social e sustenta-bilidade ambiental.

A etapa de resolução dos problemas do passado não se encerrou ainda e já há

novas questões do presente que se vin-culam com o futuro, não mais passíveis de postergação, precisando urgentemen-te ser consideradas à luz da reorganiza-ção do Brasil que se deseja e que não tem medo de ser feliz. Para os próximos anos, contudo, a seqüência de enfrenta-mento dos problemas que estruturam o passado tende a contar com fatos novos, fundamentais de serem considerados e, sobretudo, enfrentados.

De um lado, o movimento global de reestruturação do capital, responsável por expressar sinais crescentes de deca-dência relativa dos Estados Unidos, simul-taneamente ao deslocamento do antigo centro dinâmico capitalista unipolar para a multipolarização geoeconômica mun-dial – Estados Unidos, União Européia, Rússia, Índia, China e Brasil.

De outro lado, o desafio da constru-ção de uma sociedade superior. Pela elei-ção democrática da presidente Dilma, o Brasil consolida a formação de uma nova maioria política capaz de assegurar a continuidade do caminho do desenvolvi-mento brasileiro. Mas isso não significa, necessariamente, a sequência de mais do mesmo, mas a possibilidade da radi-calização das alternativas de construção de uma sociedade superior. Ou seja, a transição mais intensa da condição do trabalho enquanto meio de financiamento da sobrevivência para o estabelecimento de um novo patamar do desenvolvimento humano integral.

Historicamente, a combinação do avanço das forças produtivas com a atua-ção progressista das lutas sociais e políti-cas permitiram elevar o padrão de vida da população. Atualmente, quando o curso da revolução tecnológica faz crescer ain-

da mais o potencial material de produzir, o Brasil encontra-se diante de oportuni-dade inédita de libertação crescente de sua dependência do trabalho para a mera sobrevivência. Noutras palavras, o estabe-lecimento de um novo código do trabalho fundamentado na educação para toda a vida, na postergação do ingresso no mer-cado de trabalho para após a conclusão do ensino superior e na contenção do tempo de trabalho.

Na sociedade do conhecimento, não somente transformam-se as fontes da geração de riqueza como se requer um Estado refundado e apto a potencializar as oportunidades de universalização de um padrão de vida superior, com expec-tativa de vida próxima dos 100 anos de idade, estudo durante toda a vida e so-lidariedade fraterna.

É neste contexto, de estar na luta com determinação, envolvido na bandeira da vida, de vencer com ousadia que o Institu-to de Pesquisa Econômica Aplicada, com o apoio plural de meia centena de orga-nizações governamentais e da sociedade civil, tornou possível a construção da pri-meira Conferência Nacional do Desenvol-vimento (Code/Ipea).

Em pleno coração do Brasil e no centro da Esplanada dos Ministérios, a multidisciplinariedade temática do de-senvolvimento é tratada de forma inédi-ta, não mais como um assunto somente de especialistas em salas VIP, que em seus gabinetes fechados e protocolares pretendiam definir os rumos da nação.

O triunfo das decisões a respeito dos rumos do desenvolvimento nacio-nal pertence ao atrevimento de todas as gerações de brasileiros que não se afastam dos esforços de desafiarem continuamente as impossibilidades, as-sumir seu papel na história e não dei-xar mais para amanhã a esperança de acordar o gigante que por muito tempo permaneceu adormecido.

Conhecer o povo brasileiro e des-vendar todo o potencial de uma gran-de nação pacífica e produtiva como o Brasil por meio da formação de novas convergências políticas construídas em torno dos rumos do desenvolvimento brasileiro constitui-se a base de todo o sucesso. Por um Brasil desenvolvido. Viva a Conferência Nacional do Desen-volvimento. Viva o povo brasileiro n

“O desenvolvimento nacional harmônico

permitiu reposicionamento na relação com outras nações e a construção

de um novo padrão de desenvolvimento,

com justiça social e sustentabilidade

ambiental”

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Existe a possibilidade de se colocar lado a lado os novos conceitos de responsabilidade social, políticas

de inclusão e fomento na criação de um mercado sustentável para os produtos oriundos das comunidades quilombolas que, nos últimos anos, vem passando por um intenso processo de regularização?

Os três agitados dias que movimen-taram o Palácio das Indústrias, sede da Federação Paranaense de Indústrias (FIEP), em Curitiba, na I Feira Quilombola do Paraná mostraram que sim. A Feira foi um sucesso não apenas como evento ino-vador, como parece ter pautado também uma nova agenda no esforço brasileiro de inclusão pela sustentabilidade.

“Foi um exercício de ousadia”, resu-me Donizal Lopes, Presidente do Instituto Adolpho Bauer, responsável pelo projeto. “Quando criamos o IAB, tínhamos como

meta promover a cidadania através de ações que pudessem integrar empresas, governo, movimento social e o terceiro se-tor. A Feira foi uma prova de que isso não só é possível como necessário” – diz.

O processo de inclusão das comunida-des remanescentes dos quilombos ao pro-cesso produtivo brasileiro vem se dando a passos largos – e pedia um projeto à altura de sua dimensão histórica. O Brasil parece ter entrado no século XXI disposto a corri-gir distorções seculares: hoje já são quase cinco mil comunidades mapeadas – com pelo menos 3.500 delas em processo de regularização e 1.500 já certificadas.

Nessas localidades as pessoas vivem e produzem em regime comunitário como nos tempos de seus avós, em harmonia com a natureza, através relações sociais estáveis, igualitárias, socializantes - valo-res agregados na luta planetária por de-senvolvimento sustentável.Muitas vezes isolados econômica e geograficamente, porém, os quilombos remanescentes de-mandam projetos e abrem caminho para uma nova geração de empreendedores afro descendentes.

Um exercício de ousadiaInstituto Adolpho Bauer abre caminho e pede passagem para um novo horizonte de negócios sustentáveis

“Do ponto de vista do desenvol-vimento, desde o final do século 19 e ao longo todo o século 20, o Brasil teve crescimento em condições abso-lutas de absorver a grande maioria da população: negros, pobres, mulheres, crianças – e não o fez”, cobra João Carlos Nogueira,secretário executivo da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção de Igualdade Racial.“ Mudar isso parecia uma utopia – por-que as forças contrárias eram muito fortes. Hoje as mudanças operadas são incontestáveis – porque existe vontade política para mudar”.

O Brasil vive um longo ciclo de mu-danças e transformações em relação à cultura afro-brasileira. As políticas afir-mativas, a mobilização do movimento negro em novas bases e por todo o País, o trabalho da Fundação Palmares na regularização fundiária dos quilom-

Para muito além da utopia

I Feira Quilombola do Paraná

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bos, a constituição da Secretaria Nacio-nal de Políticas de Promoção de Igualda-de Racial – tudo vem contribuindo para fazer um novo momento na história dos descendentes africanos no Brasil.

O governo Lula colocou em curso, por exemplo, o Programa Nacional Brasil Quilombola, cujo eixo de Fo-mento ao Desenvolvimento envolve nada menos do que 23 ministérios do

governo federal, que cada vez mais são chamados a atuarem através de políticas integradas. “As políticas de economia solidária cumprem um pa-pel muito importante no Brasil, mas de nosso ponto de vista chegou a hora de investir no empreendedoris-mo” – ressalta Adilton de Paula, coor-denador do Instituto Adolpho Bauer, principal articulador da Feira.

Modelo de desenvolvimento

“Um dos objetivos da feira é gerar oportunidades de negócios para as co-munidades quilombolas. Começou apre-sentando a produção certificada das 26 comunidades quilombolas do Paraná, mas esse é apenas um começo”, come-mora o presidente da Associação Na-cional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros (Ance-abra), João Bosco. “A idéia é criar novos nichos de mercado, criar novas formas de escoar as mercadorias produzidas nas comunidades quilombolas e definir um arcabouço de desenvolvimento” – dimensiona ele.

Para além das rodadas de negócios, a Feira Quilombola surpreendeu também pela mobilidade na articulação dos par-ceiros – um amplo espectro de interes-ses convergentes. “O Estado do Paraná chega a um momento muito importante no reconhecimento dos quilombos, mas

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Animada e energetizada pelo suces-so da primeira edição da Feira, em novembro, no Palácio das Indústrias

de Curitiba, sede da Federação das Indús-trias do Paraná, a equipe do Instituto Adol-pho Bauer começou a preparar a nova edição do evento.

Seu formato já está definido. “Am-pliar as parcerias e persistir nessa abordagem avançada do potencial das comunidades quilombolas”, resume Adilton de Paula, coordenador do Insti-tuto Adolpho Bauer.

Misturando uma programação artísti-ca arrebatadora, uma sessão de painéis com debates consistentes, rodadas de negócios que continuam mesmo depois do fim do evento, a I Feira foi um exemplo do sucesso - e uniu um grupo de pensa-dores diversos e líderes em suas áreas:

a cultura, os negócios e a militância his-tórica pela igualdade racial no Brasil. Veja aqui o que disseram estes novos líderes brasileiros unidos na luta pelas práticas de sustentabilidade.

chega com 100 de atraso” – alfineta Glauco de Souza Lobo, um militante histórico do movimento negro para-naense, representando o governo do Estado na Feira.

“É imperativo para o Brasil corri-gir a exclusão”, emenda Rodrigo Ro-cha Loures, liderança notória quan-do o assunto é responsabilidade, inclusão e inovação. Presidente da Federação das Indústrias do Paraná, articulador ativo do evento, Rocha Loures mediou mesa redonda que, por si, mostra a convergência de te-mas: “Quilombos, cidades inovado-ras, crescimento econômico e desen-volvimento territorial sustentável”.

Detalhe que não escapou ao Mi-nistro Chefe da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igual-dade Racial, Elói Ferreira de Araújo, ele próprio um entusiasta de novas edições não só da Feira Quilom-bola, como de novas feiras com o mesmo enfoque. “A conquista da igualdade racial não deve ser en-tendida como de responsabilidade apenas da população negra, mas de toda a sociedade brasileira” – disse o ministro na abertura deste encontro que já entrou para a histó-ria não só como uma conquista do movimento sustentável, mas como uma verdadeira vitrine de um novo conceito de sustentabilidade. “Não existe sustentabilidade sem justiça social” – concluiu o ministro Elói. Falou por todos.

Nas próximas páginas, acompa-nhe o que foi a I Feira Quilombola e conheça mais sobre a história e o desenvolvimento das comunidades quilombolas.

Unidos pela sustentabilidadeO Brasil está vivenciando um longo ciclo de mudanças e transformações em relação à cultura afro-brasileira – e a Feira Quilombola do Paraná é um marco nessa trajetória.

Rodrigo da Rocha Loures (em pé), presidente da FIEP

Adilton de Paula, coordenador do IAB

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Elói Ferreira de Araújo, ministro da Igualdade Racial

Certificação é o primeiro passo

“Atualmente são 1.500 comunidades já certificadas pela Fundação Cultural Pal-mares. A certificação é o primeiro passo para a regularização do território e tam-bém a implementação de políticas públi-cas na saúde, educação, habitação e prin-cipalmente no resgate da preservação dos valores culturais dessas comunidades.

Essa certidão cria um simbolismo de caráter cultural, que é justamente o alvo de identificação dessas comunidades, tra-zendo à tona a sua cultura a sua ancestra-lidade e também a questão étnica racial. Hoje o estado brasileiro reconhece e valo-riza a existência dessas comunidades. E abrindo caminhos para a implementação de políticas públicas”.

Mauricio Reis - Fundação Zumbi dos Palmares

Os quilombolas vivem hoje a sua maioridade

“Fico feliz em ver a maioridade das comunidades quilombolas. Nos últimos cinco anos eles se descobriram, se or-ganizaram, se prepararam para assu-mir o seu papel, para serem agentes de sua história.

O Estado não fez nada nem desco-briu nada. Nós chegamos com mais de 100 de atraso. Se não fosse o governo federal enfrentar a questão de maneira institucional, talvez nós nem estivésse-mos aqui discutindo.

O estado do Paraná desconhecia, negava oficialmente a existência de uma população negra que é a maior do sul do Brasil, que é um quarto da população pa-ranaense, que construiu esse Estado. Sua sobrevivência é questão crucial para o Brasil, pois são eles que preservam o sis-tema de trabalho, a cultura e os costumes dos quilombos – presentes sempre como uma referência quando o tema é susten-tabilidade. Nós estamos cumprindo com mais de 100 anos o nosso papel.

Glauco Souza Lobo - presidente do grupo de trabalho Clóvis Moura, do governo do Paraná

A igualdade é responsabilidade de todos

“A conquista da igualdade racial não deve ser entendida como de responsabili-dade apenas da população negra, mas de toda a sociedade brasileira. É assim que entendemos o Estatuto da Igualdade Ra-cial, a mais nova conquista da Igualdade Racial. Por isso a Feira Quilombola adqui-riu relevância ainda maior, porque abre caminhos e constrói pontes para que as novas gerações cresçam num ambiente sustentável. Não existe sustentabilidade sem justiça social”.

Elói Ferreira de Araújo - Ministro Chefe da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

Hoje existe vontade política

“O Brasil, do ponto de vista do de-senvolvimento, ao longo do século 19 e sobretudo no século 20 teve crescimento

em condições absolutas de absorver a totalidade ou a grande maioria da popu-lação negra, pobre, mulheres, crianças e não o fez.

Estou falando de projetos continuida-de de país, de momentos nos quais nós cada vez mais estamos fazendo mudan-ças da quais nos muitas vezes acreditáva-mos, tínhamos no horizonte como utopia, mas eram quase irrealizáveis porque as forças contrárias aos nossos sonhos eram muito fortes. Hoje, as conquistas são reais e estão tendo uma continuidade.

Essas mudanças que estão sendo operadas, elas tem reflexos. A Feira Qui-lombola é um desses momentos. Eviden-temente que se não fosse a pressão do movimento social e a vontade política do Paraná, esse encontro não seria realiza-do. O momento existe porque tem vontade e interesse político de realizar. Esse é um momento único da história de nosso País.

João Carlos Nogueira - Secretario Executivo da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção de Igualdade Racial

Temos que criar uma mentalidade empresarial

“O Brasil mudou. As pessoas tem que entender que este país é outro, que o Bra-sil será a quinta ou a sexta economia do mundo nos próximos 10 anos, e nós te-mos um esforço tremendo, a ANCEABRA e os demais parceiros, de entender que nós queremos que o Brasil seja a quinta ou sexta economia com os negros incluídos na economia nacional. Entendemos que isso é fundamental.

Eu quero dizer a vocês que nós os em-presários negros temos um fator funda-mental: a construção de uma mentalidade empresarial. Somos poucos empresários no Brasil, o censo de 2010 vai mostrar

João Bosco, presidente da Anceabra

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que nos crescemos muito os empresários afro brasileiros, só que nos temos que en-tender que todos os setores da sociedade brasileira, e a Feira Quilombola veio para isso, nós temos que estar na linha de fren-te do desenvolvimento do Brasil.

Hoje a agricultura familiar é respon-sável por 80 por cento dos alimentos que nós consumimos no País, não é o agro-negócio – e eu não sou contra o agro negócio. Hoje a Agricultura familiar é responsável pela geração de empregos e pela manutenção das pessoas na ter-ra. Então o processo de desenvolvimento brasileiro tem esse sentido.

Estar aqui na Federação das Indústrias é sair um pouco das relações fechadas e estar na primeira linha para mostrar seus produtos, construir uma nova composição produtiva, criar novos nichos de mercado”

João Bosco - presidente da Associação Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-Brasileiros - Anceabra

Um projeto duradouro

“Esse tipo de encontro é fundamental para a cidadania e a inclusão social dos grupos afro-descendentes. Estamos for-talecendo a comunidade quilombola do Paraná e gerando novas oportunidades de negócios”.

Adilton de Paula - coordenador geral da Feira e coordenador do Instituto Adolpho Bauer

Um exercício de ousadia

Com a criação do Instituto Adolpho Bauer nós tínhamos como meta promover a cidadania através de ações que pudes-sem integrar empresas,governo, movi-mento social e o terceiro setor. Este é um exercício de ousadia, que representa um desafio imenso, mas, esta Feira Quilom-bola é um exemplo concreto de que lança-mos as sementes em solo fértil, contando com a percepção de lideranças sensíveis e que estão unidas no projeto de fazer uma sociedade mais justa e solidária.

Donizal Lopes - presidente do Instituto Adolpho Bauer

É imperativo corrigir a exclusão dessa camada

“É muito importante enfatizar sempre

a riqueza da cultura negra e sua contribui-ção para a formação da identidade bra-sileira. É imperativo para o País corrigir a exclusão. É preciso intensificar programas de educação básica e educação profissio-nal voltados a jovens afro-brasileiros, de forma a que possam desenvolver à pleni-

tude o potencial criativo e empreendedor. O Sistema Fiep participa deste processo, já que faz parte da missão da nossa enti-dade identificar o que é relevante para o desenvolvimento sustentável do Paraná”.

Rodrigo da Rocha Loures - Presidente da Fiep - Federação das Indústrias do Paraná.

Qualificação é estratégicaA Feira Quilombola do Paraná colhe seus frutos. Começa em 2011 a parceria do Instituto Adolpho Bauer e a Associação Nacional de Empresários e Empreendedores Brasileiros (Anceabra) com o Sesi Paraná, que vai oferecer o curso a Formação de Afroempreendedores. “Os afro-brasileiros possuem forte cultura empreendedora e criativa. O curso visa capacitá-los para elaboração de planos de negócios, para que possam criar empreendimentos produtivos e lucrativos, incluindo experiências em incubadoras”, diz Maria Cristhina Rocha, gerente de Projetos Estratégicos do Sesi-PR.Começa em 2011 também o Curso de Qualificação Profissional para o Setor Químico Plástico, de gestão e de apoio à gestão, direcionado a alunos egressos do ProUni – Programa Universidade para Todos, do Ministério da Educação. “A qualificação é o principal caminho para abrir oportunidades à população negra e garantir as futuras gerações um avanço ainda maior, como, por exemplo, acesso a cargos de decisão nos mais diversos setores”, disse Adilton de Paula.

Selo Quilombola reforça identidadeO Paraná foi o terceiro estado brasileiro a adotar o Selo Quilombola, lançado durante da I Feira Quilombola. O selo foi criado pelo presidente Lula em 2009, e busca atribuir identidade cultural aos produtos de procedência quilombola. O selo integra o eixo de Fomento ao Desenvolvimento do Programa Nacional Brasil Quilombola, que envolve 23 ministérios. Segundo a diretora de Programas para as Comunidades Tradicionais da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ivonete

Carvalho, o selo busca dar visibilidade aos produtos das comunidades rurais negras. “Isso facilita a inserção da produção quilombola nas redes de comercialização tradicionais, o que contribui para o desenvolvimento sustentável das comunidades”, disse Ivonete. Hoje produtos de 45 quilombos já possuem o selo.

Frutos da feira

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Na Casa de Farinha, um cômodo de pau a pique no centro da co-munidade, as irmãs Odete dos

Santos Pontes e Maria de Fátima dos Santos prepararam a farinha de man-dioca. O trabalho começou bem cedo: depois de colher e descascar, é preciso ralar e prensar as fibras para soltar a goma de tapioca. Depois de peneirar e tostar lentamente a pasta, a mandioca vai virando farinha torrada no enorme tacho de cobre sobre o fogão a lenha, onde ela é mexida com as mãos, “que é pra não embolar”.

“É como nos tempos dos nossos avós”, diz Odete. A cena acontece quase todos os dias na Casa de Farinha do Qui-lombo Ivaporunduva, no Vale da Ribeira, fronteira dos estados de São Paulo e Pa-raná. E poderia apenas repetir um ritual

que acompanha a vida do quilombo há mais de um século, não fosse o inusita-do: acompanhando a produção da fari-nha ancestral pelos descendentes dire-tos de negros escravos, que fizeram do quilombo um reduto de liberdade, estão nada menos do que 15 estudantes eu-ropeus, italianos e italianas jovens.

Eles atravessaram um oceano para ver de perto como vivem e como pro-duzem os remanescentes quilombolas, que extraem da terra quase tudo o que consomem. São alunos da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, criada por Carlo Petrini, o fundador do slow food, movimento surgido em 1986 para fazer frente à comida rápida norte-americana que virou de cabeça para baixo os saudáveis hábitos tradicionais de alimentação europeus.

O novo quilombo, um modelo para o século XXIOs quilombos ressurgem como modelo de sustentabilidade e dão lições de organização, valores e práticas comunitárias

I Feira Quilombola do Paraná

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Perini defende a sustentabilidade em toda a cadeia alimentar – e é um dos res-ponsáveis pela explosão de consumo de produtos orgânicos. “O tempo do mero consumo acabou e os que exercerem seu poder de escolha, optando por ali-mentos bons, limpos e justos, não serão só consumidores, mas coprodutores”, diz ele. “Isso não significa que todos devam mudar para o campo e cultivar a própria comida, mas o link original com a fonte de nossa alimentação pode e deve ser restabelecido”, propõe.

Por isso, a universidade organiza via-gens de estudo pela Itália e por vários pa-íses do mundo, para que os alunos não só conheçam ingredientes e hábitos culi-nários como contribuam para a criação de mercados de produtores ou de formas alternativas de distribuição de alimentos que privilegiem o produto local, como no caso da farinha de mandioca certificada do Quilombo de Ivaporunduva, onde, em parceria com institutos ambientais, exis-te também um consistente programa de proteção do palmito juçara e produção de banana. Plantado nas margens do rio Ribeira, Ivaporunduva foi uma das pri-meiras comunidades do Estado de São Paulo a ser reconhecida como quilombo.

“Acreditamos muito nas possibilida-des do ecoturismo ou turismo étnico e cultural”, diz Antonio Carlos de Andra-de Pereira, 45 anos, coordenador da Federação Estadual das Comunidades Quilombolas do Paraná. “O Vale do Ri-beira é uma região que ainda tem gran-

de parte da Mata Atlântica preservada, temos muitas possibilidades de desen-volver projetos de pousadas”, avalia (ver entrevista nesta edição). Como em Ivaporunduva, a busca de novas possibi-lidades de produção e de negócios hoje movimenta remanescentes quilombolas em 24 estados brasileiros. Devido ao isolamento dos grandes centros, preser-vam uma tecnologia e uma cultura mui-to própria — os engenhos e moendas em madeira, as casas de farinha, fornos de barro onde assam pães e carnes — o que os faz viver em um sistema estruturado e viável, vendendo os seus produtos ou trocando, quando podem utilizar a terra para plantar.

No Brasil existem hoje 3.5000 qui-lombos legalizados e outros 1.5000 a caminho da regularização pelo Cadastro Geral de Remanescentes de Comunida-des de Quilombos do Governo Federal, que em 2008 criou o Selo Quilombola, um selo de origem controlada ao redor do qual vem se organizando a produção agrícola. As ações envolvem nada me-nos do que 23 ministérios do governo Lula. Existem comunidades quilombolas no Amazonas, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Pa-raná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e To-cantins – e em todos os estados vem se intensificando as ações em rede.

“A ligação com a fonte de nossa alimentação deve ser restabelecida”

Os quilombos hoje são verdadeiros laboratórios de práticas sustentáveis

Gerações e gerações de brasi-leiros aprenderam na escola que quilombos eram esconderijos de negros fugidos das fazendas. Hoje é possível estudar os quilombos como verdadeiros laboratórios de práticas sustentáveis. Eles representaram as primeiras iniciativas no Brasil de construção de uma sociedade base-ada na liberdade e na igualdade. As relações de trabalho se davam em colaboração e os resultados eram socializados. Os quilombos eram sociedades avançadas, do ponto de vista da organização, dos princípios, de valores, de práticas de socializa-ção, do regime de propriedade.

No Paraná a população quilom-bola está hoje distribuída em quase 100 comunidades. Sobrevive da agricultura de subsistência, caça, pesca e extrativismo – 36 destes grupos familiares foram certificados pela Fundação Cultural Palmares. Nessas comunidades existe uma fartura de alimentos que contrasta com a contínua miséria alimentar da população do entorno. A abundância da mão-de-obra, o trabalho cooperati-vo e a solidariedade social garantem bons níveis de produção. Depois de guardar em celeiros as quantidades em sementes destinadas à próxima plantação, ainda sobra algo para tro-car por outros produtos ou até para vender para os vizinhos.

As pequenas lavouras de man-dioca, milho, banana e feijão tem um relevante destaque no panorama alimentar da população em compa-ração com a agricultura praticada nos latifúndios. As possibilidades de auto-sustentabilidade torna estas co-munidades totalmente viáveis, mas a falta de infra-estrutura e a atuação de grileiros em cima de suas terras, vem criando obstáculos para o seu desen-volvimento.

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para fazer o melhor!(41) 3026-1080

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O agricultor Antonio Carlos de An-drade Pereira, aos 45 anos é um líder na comunidade João Surá,

onde nasceu, em Adrianópolis, Paraná. Ligado às questões quilombolas desde que se entende por gente, Antonio Carlos é hoje o coordenador geral da Federação Estadual das Comunidades Quilombolas do Paraná(FECOQUI). Nesta entrevista ele reforça a importância do trabalho de resgate das tradições e identificação pe-las próprias comunidades de seu valor histórico e cultural – em busca da auto-nomia econômica e social. E deixa claro suas as expectativas dos quilombolas de ampliar suas parcerias.

SB - Como vem sendo trabalhada a questão da sustentabilidade junto às comunidades quilombolas do Paraná?

Olhando no espelhoQuando temos orgulho da nossa origem, é mais fácil se organizar

“Para nós a sustentabilidade está ligada à questão da identidade cultural”

Antonio Carlos - Considero um grande fator para a sustentabilidade o trabalho para promover a auto- estima das po-pulações que vivem nas comunidades remanescentes. E isso se dá através de ações que buscam resgatar as tradi-ções culturais e da conscientização so-bre o grande potencial que temos, tanto na agricultura orgânica de subsistência quanto no ecoturismo e artesanato. A gente observa que na medida em que uma pessoa possa se identificar como quilombola e sentir orgulho de sua ori-gem e identidade, é muito mais fácil es-timular a organização do trabalho com a participação de todos. Para nós, sus-tentabilidade está ligada à questão da identidade cultural.

SB - Qual é o incentivo que as comunidades têm para produzir?Antonio Carlos - Hoje o nosso perfil ain-da é o de produção de subsistência. Ba-nana, mandioca, legumes, hortaliças e feijão, principalmente nas comunidades

do Vale do Ribeira. O novo é que o P.A. –Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal está criando uma nova fonte de renda. Isso exige que o produtor faça um planejamento para produzir os alimentos que o P.A. adqui-re. Para se ajustar a esse programa, a gente se obrigou a organizar associa-ções nas comunidades de Sete Barras e João Surá. Outras associações vai sur-gir em outras comunidades também.

SB - Qual o projeto que vocês têm em perspectiva para garantir novos meios de sustentabilidade?Antonio Carlos - Acreditamos muito no ecoturismo ou turismo étnico ou cultural. Por exemplo, no Vale do Ribeira que é uma região que ainda tem grande parte da Mata Atlântica preservada, temos mui-tas possibilidades de desenvolver proje-tos de pousadas o que ajudaria a vender nossos produtos de artesanato de fibras vegetais como a da bananeira ou taboa e valorizar a culinária tradicional. n

Entrevista

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A AMCHAM - Câmara Americana de Comércio - chegou ao Brasil há 90 anos e desde o ano 2000, promove em Curitiba o networking, a capacitação executiva e valores como a cidadania empresarial. Um melhor ambiente de negócios é bom para todos. Ajuda a movi-mentar a economia, gera mais empregos e mais qualidade de vida. Um ciclo virtuoso do qual os seus mais de 400 associados têm de participar. Ligue (41) 2104-9350 ou acesse www.amcham.com.br e participe você também!

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CURSO DE ESPECIALIZACIÓN EM GERENCIA PÚBLICA Y PLANIFICACIÓN ES-TRATEGICA TERRITORIAL

El ILPES y La UIM, a través de esta apuesta institucional conjunta, buscan rescatar las potencialidades de los gobiernos locales para impulsar procesos de desarrollo endóge-no. Ello pone de manifiesto la utilidad y urgencia de disponer de personal público en-

trenado en estos ámbitos, particularmente, en la comprensión de la dinámica de estos procesos y, muy especialmente, en la revisión de instrumentos concretos de política y

de gestión que permitan modernizar esta esfera de la acción del Estado.Uno de los principales desafíos de esta actividad de capacitación, es entrar con de-

talle en la revisión de instrumentos, metodoligías y experiencias que permitan dilucidar principios de gestión estratégica compatibles con el logro de los objetivos de desarrollo

local planteados.En este sentido, el curso persigue la capacitación integral de profesionales de los go-biernos locales habilitados para guiar y gestionar procesos desarrollo territorial, tonto

desde el punto de vista económico, como social y político, entregándole técnicas y mé-todos concretos de gestión, sin perder de vista la globalidad del proceso de desarrollo

regional y nacional en el que ellos se insertan.

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Os novos caminhos do Brasil

Pensamento estratégico

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Professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo,

Ladislau se formou em economia política pela Universidade de Lausanne, Suíça. No exílio tornou-se doutor em Ciências Econô-micas pela Escola Central de Planejamen-to e Estatística de Varsóvia, Polônia. Nos anos 1970 foi professor de finanças pú-blicas na Universidade de Coimbra e em seguida coordenador técnico do Ministé-rio de Planejamento da Guiné-Bissau. Foi consultor da ONU para Assuntos Políticos Especiais, já no início dos anos 80.

Em seu retorno ao Brasil, a experiên-cia como Secretário de Negócios Extraor-dinários da Prefeitura de São Paulo, no governo de Luiza Erundina, seria definitiva para que Dowbor ajustasse seu foco na in-formação para a gestão. “Os governos tra-balham com baixíssima qualidade de in-formação”. Desde então trabalha duro no desenvolvimento de sistemas descentrali-zados de gestão no quadro de administra-ções municipais, envolvendo sistemas de informação gerencial, políticas municipais de emprego, políticas integradas para criança de risco e gestão ambiental.

Consultor de vários governos (Costa Rica, Equador, África do Sul), hoje o pro-fessor contempla, com seu apurado e descontraído rigor, uma vasta gama de in-

teresses – em que o tom, quase sempre, é a dessacralização da cifrada informação econômica. “O que é realmente interes-sante, não é a caminhada científica em si, e sim como esta caminhada se cruza com os dilemas simples que cada ser hu-mano enfrenta”, diz. Consumo responsá-vel, redes sociais, experiências de gestão, poder local, globalização, tecnologia da informação, a economia do tempo livre, nada parece escapar aos interesses deste professor idolatrado pelos seus ex-alunos e querido de todos os que se valem de seu trabalho (são mais de 40 livros publi-cados) na construção de um Brasil econo-micamente grande e socialmente justo.

O artigo “Brasil: um outro patamar - propostas de estratégia” é a mais recen-te contribuição de Ladislau Dowbor para pensar o Brasil da contemporaneidade. O texto aqui resumido é uma introdução ao trabalho, publicado em 2010. Ele se propõe como convite à reflexão e à cons-trução de uma nova agenda para todos aqueles que trabalham pelo desenvolvi-mento da sustentabilidade com justiça e inclusão. É também uma homenagem da revista SUSTENTA BRASIL a esse raro pen-sador brasileiro que nos encanta e nos or-gulha por seu talento e pelo compromisso com a transformação social.

Nascido na França de pais poloneses fugidos do nazismo, em 1941, Ladislau Dowbor tinha dez anos de idade quando chegou ao Brasil. “O primeiro choque que tive no Brasil foi ver as diferenças sociais entre ricos e pobres”, ele rememora num saboroso relato biográfico (“O Mosaico Partido”) em que o tema, tanto quanto a própria vida, é a Economia – sua paixão. Duas vezes preso por sua militância política nos anos 60, em junho de 1970 embarcou para a Argélia no grupo trocado pelo embaixador alemão – e começava assim, movido tanto por suas escolhas como pelas circunstâncias históricas, uma brilhante carreira internacional.

“Nesta segunda década do milênio o Brasil está entrando num novo patamar. O país resistiu à maior crise financeira desde 1929, e está apontando rumos baseados no bom senso, numa visão equilibrada dos interesses econômicos, das neces-sidades sociais e da questão ambiental.Constata-se hoje que a presença de um forte setor estatal não é um estorvo,é um suporte fundamental. A regulação das fi-nanças não implica burocratização, é uma proteção necessária contra a irresponsa-bilidade.

“Assegurar melhores salários aos tra-balhadores não é demagogia, é a forma mais simples e direta de gerar demanda e

uma conjuntura favorável. Apoiar os mais pobres da sociedade não é assistencia-lismo, é justiça, bom senso, e dinamiza a economia pela base. Investir nas regiões mais pobres não é um sacrifício, prepara novos equilíbrios ao gerar economias ex-ternas para futuros investimentos. Fazer políticas sociais não é um “bolo” que se divide, pois é o investimento na pessoa que mais gera dinâmicas econômicas, como já analisava Amartya Sen.

“Apoiar movimentos sociais não é dis-tribuir benesses, é dar instrumentos de trabalho a organizações que conhecem profundamente a realidade onde estão inseridas, e apresentam flexibilidade e efi-

Brasil: um outro patamar“Em grande parte o futuro dependerá de como o Brasil administrará a equação da produção, do emprego, da renda e do meio-ambiente”

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ciência nas suas áreas específicas. Fazer política ambiental não “atrasa” o progres-so, pois muito mais empregos geram as alternativas energéticas e o apoio à poli-cultura familiar, do que extrair petróleo e desmatar para buscar lucros de curto pra-zo. Manter uma sólida base de impostos, não é “tirar da população”, é assegurar contrapesos indispensáveis para o desen-volvimento equilibrado do país.

“A constatação dos avanços não im-plica subestimação dos desafios. O con-texto internacional continua instável, com

boa parte dos desequilíbrios do sistema financeiro privado dos países desenvol-vidos simplesmente transformada em desequilíbrios públicos, gerando déficits impressionantes. Os desafios sociais, em que pesem os grandes avanços dos últi-mos anos, continuam imensos, exigindo iniciativas mais abrangentes.

“O conjunto do sistema tributário ain-da aguarda uma revisão em profundidade, buscando maior racionalidade e justiça na captação, e maior eficiência e redistribui-ção na alocação orçamentária. A moderni-

zação e o resgate da dimensão pública do Estado ainda aguardam uma reforma po-lítica cada vez mais premente. As políticas ambientais precisam ser consolidadas e absorvidas na cultura tanto da adminis-tração pública, como das empresas e do comportamento do consumidor. De certa forma, os rumos tornaram-se mais claros, e a confiança da sociedade aumentou ao ver que os resultados os confirmam. Mas são etapas de uma construção que exige um constante repensar das estratégias.

“Um eixo chave a se considerar, é o

Salário aquece a economia

“Em números redondos, o nível de emprego formal aumentou em 12 milhões desde 2002. O salário mínimo teve um aumento de capacidade real de compra de 53,67% no período, o que atinge cerca de 26 milhões de pessoas. Indiretamente favorecidos com este aumento são os aposentados, cerca de 18 milhões de pessoas.”

Erradicação da pobreza

“O Bolsa-Familia atinge hoje 12,4 milhões de famílias, melhorando, como

ordem de grandeza, as condições de vida de 48 milhões de pessoas.

Em boa parte isto significa crianças alimentadas, e seguramente menos

angústias nas famílias de baixa renda. Entre 2003 e 2008 19,5 milhões de

pessoas saíram da pobreza.”

O novo Brasil em números

Terra ociosa

“O Brasil tem mais de 150 milhões de hectares de boa terra a ser incorporada no processo produtivo, mais do dobro do que é hoje utilizado para a lavoura temporária e permanente somadas. Isto constitui a maior reserva de solo parado do planeta.”

Democratização da educação

“O Programa Universidade para Todos (Prouni), que já passou de meio milhão de estudantes, também mostrou resultados impressionantes quando se avaliou o seu desempenho no conjunto das universidades, refutando o argumento do nivelamento por baixo (...) “A elaboração e disseminação de softwares de gestão escolar como os desenvolvidos pelo SPB (Software Público Brasileiro) também é essencial (...) “O acesso à banda larga em todas as escolas está avançando rapidamente, a eletrificação está hoje atingindo a quase todos, a generalização do wi-fi urbano deve permitir que o que foi visto na aula o jovem possa confrontar com outros conhecimentos em casa.”

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aproveitamento racional dos potenciais impressionantes que o país possui, e a sua conjugação com os novos desafios ambientais. Temos a maior reserva de solo agrícola parado do planeta, uma das maiores reservas de água doce, temos clima e mão de obra, isto numa época em que a pressão por alimentos e bio-combustíveis aumenta por toda parte. E o Brasil hoje domina tecnologias de ponta nesta área. Tem uma matriz ener-gética invejável numa época em que a mudança do paradigma energético-pro-dutivo está se tornando peça chave da construção do futuro.

“Tem a médio prazo eventos inter-

nacionais que o projetam mais ainda no cenário mundial. A disponibilidade maior do petróleo abre novas perspectivas. Jun-tando estes e outros fatores, se o país conseguir evitar a tentação de mais um ciclo agro-exportador, ou o uso apressado dos novos recursos, e souber proteger o seu meio ambiente e aprofundar a cons-trução de um novo equilíbrio social, a continuação do círculo virtuoso tem boas perspectivas. Em grande parte o futuro dependerá de como o Brasil administrará a equação da produção, do emprego, da renda e do meio-ambiente. Os desafios são grandes, mas o Brasil tem aberto no-vos caminhos”n

Desafio ecológico

“O desmatamento da Amazônia reduziu de 28 para 7 mil quilômetros quadrados ao ano, o que é uma grande vitória, mas ainda é um desastre (...) “Os condicionamentos ambientais, de geração de empregos verdes, de uso de tecnologias alternativas e semelhantes devem passar a fazer parte de todo financiamento, isenção ou subvenção. O meio ambiente não é um entrave, é uma condição de avanço acelerado para o futuro.”

Famílias no campo

“O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) teve os seus recursos aumentados de 2,5 bilhões de reais em 2002 para 13 bilhões em 2009, dinamizando a produção de cerca de 2 milhões de produtores rurais (...)” A agricultura familiar é responsável por 70% da produção dos nossos alimentos, e ocupando 10 milhões de pessoas, necessita de um sistema integrado de serviços de apoio, como existe em países desenvolvidos.”

Planejamento nos transportes

“A readequação da matriz de transporte de passageiros exige reformulação. São Paulo anda em média 14 quilômetros por hora, os veículos se deslocam em primeira e segunda. Se estimarmos em 15 mil reais o valor médio do veículo, e 6 milhões de veículos, são 90 bilhões de reais em meios de transporte praticamente imobilizados, gerando grandes custos em combustível, doenças respiratórias, e uma média de2:40 horas perdidas por dia, em que o paulistano nem trabalha nem descansa. Os motoqueiros morrem numa média de 1,5 por dia.”

Estratégia energética

“O desafio hoje está na corrida pelas tecnologias de aproveitamento dos subprodutos como o etanol celulósico, alternativas ao plástico tradicional e outros na linha das biotecnologias em geral. Com a descoberta do Pré-Sal, o quadro brasileiro, que já era favorável, torna-se excepcional.”

Redescobrindo o Brasil

“A organização de políticas destinadas à faixa mais pobre da população tem como obstáculo principal não a falta de recursos, mas a dificuldade de gestão de um sistema de apoio extremamente capilar, destinado a pessoas que frequentemente não têm endereço postal, CPF, conta em banco, ou até certidão de nascimento. De certa forma, o Estado não existia para estes 25% da população do país.”

Tecnologia

“O Plano Nacional de Banda Larga adquire aqui uma importância central. O conhecimento está cada vez menos localizado em bibliotecas e na cabeça de especialistas, e cada vez mais disponibilizado online em todo o planeta. Em termos econômicos, o conhecimento é um bem não rival, o seu consumo não reduz o estoque, e precisa ser de livre acesso sempre que possível. E inteligência é um capital democraticamente distribuído, independente de classe social.”

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Vai longe o tempo em que Rafael Konzen enfrentava a incredulidade do curitibano. Quando ele abriu o

Green Life, mais antigo restaurante orgâ-nico de Curitiba, comida natural ainda era sinônimo de comida sem sabor. “Foi só nos últimos cinco anos que os orgânicos vem conquistando mais espaço no merca-do” atesta um Konzen que por duas déca-das vem acompanhando a evolução não

só da consciência das pessoas por uma vida mais saudável através da alimenta-ção, mas também uma alquimia nada tri-vial: a transformação da comida orgânica com status de gourmet.

Produtor de sua própria matéria pri-ma, o empresário viu a cadeia produtiva se organizar no caminho da sustentabi-lidade. “É uma mudança de cultura”, atesta em entrevista ao jornal O Estado

de São Paulo.A corrida da grande mídia para satisfa-

zer com informações o gosto de um novo consumidor emergente (mais consciente, mais responsável) mostra que não é só na mesa que o sabor dessa nova tendência da alimentação mundial vem despertan-do paladares e abrindo apetites.

Num café da manhã orgânico que ofereceu a convidados no palácio do pla-nalto, no mês de julho, o presidente Lula deu sinais claros de que o governo está disposto a fortalecer o setor com redução de impostos e pagamentos por serviços ambientais. “Medidas fiscais e tributárias devem permitir o acesso aos produtos or-gânicos a toda a população, dos mais ri-cos aos mais pobres”, disse o presidente.

Entre os mais ricos a tendência or-gânica é irreversível. “Faz parte da res-ponsabilidade do cozinheiro defender a boa alimentação e fazer a promoção da qualidade dos ingredientes”, diz José Barattino, chef do restaurante do Hotel Emiliano, um dos mais refinados de São

Prato cheio para a sustentabilidadeOs orgânicos estão juntando a fome com a vontade de comer: o consumidor quer mais qualidade de vida e abre o apetite da cadeia produtiva, que se profissionaliza. E os agricultores tem a receita para baratear o preço final do produto: receber por serviços ambientais

Orgânicos

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Paulo. Alguns anos atrás, a equipe de Ba-rattino decidiu radicalizar na qualidade do alimento, foi em busca dos fornecedores e descobriu uma produção fantástica, ain-da desarticulada, mas cheia de possibili-dades. “Além de inventar novos produtos, estamos reabilitando alimentos que cairam em desuso”, disse o chefe em ciclo de três dias de debates pro-movido recentemente pela TV Estadão.

Na outra ponta da mesa, o governo se mexe. “Os incentivos go-vernamentais ao orgânico são uma forma de reduzir gastos e fomentar o produtor. Queremos que o agricultor tenha preços mais competitivos e que seja permitida a universalização do setor” – confirma Ro-gério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, onde está em andamento a consulta pública para a definição das normas para a produção

de sementes e mudas orgânicas.

Dias escolheu o ce-nário ideal para anunciar as novidades: a Biofach América Latina 2010, que em novembro reuniu mais de 400 exposito-res na capital paulista. Há oito anos no país, a Biofach é a maior fei-ra mundial de produtos sustentáveis, e escolheu o Brasil para sede na América Latina. Não por acaso: os potenciais do setor são enormes. O mercado global hoje movimenta cerca de US$52 bilhões de dólares. Os números no Brasil não são oficiais, mas a estimativa é que os orgâ-nicos movimentem perto de 300 milhões de reais por ano, num mercado que tem potencial de crescimento superlativo: até 40% anuais não apenas para alimentos, mas também, e cada vez mais, para cos-méticos e têxteis.

“O agricultor orgânico não produz alimentos sem veneno apenas: ele cui-da do solo, cuida da água. Na sua pro-priedade não pode ter erosão, não pode depredar os recursos, o lixo tem que ir para local adequado, as nascentes de-vem ter vegetação protetora. Quer dizer: a agricultura orgânica cuida de todo o ambiente, e não apenas do produto”, re-sume José Pedro Santiago, pioneiro no segmento e diretor técnico do Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD), que surgiu no início da década de

80 para divulgar a Agri-cultura Biodinâmica no Brasil. Desde 1990 o IBD realiza seus traba-lhos de certificação.

“Já negamos certifi-cação para uma usina de cana de açúcar em Pernambuco que ti-nha o produto perfeito, mas não tinha sequer

sanitários para os empregados”, lembra Santiago. Por isso, ele reafirma, a cadeia orgânica é também um instrumento de justiça social. “A agricultura orgânica res-peita e fortalece as leis sanitárias, as leis ambientais e as leis trabalhistas. Você não pode se dedicar a uma agricultura sustentável se não respeita aquele que trabalha na terra”, resume.

“O mercado global movimenta 52 bilhões de dólares. No Brasil os orgânicos movimentam perto de 300 milhões de

reais por ano”

São exatamente es-ses cuidados que elevam os custos de produção – e o custo final para o consumidor, colocando, diante de toda a cadeia produtiva, o desafio que fez o presidente Luis Iná-cio Lula da Silva naquele café da manhã diante de agricultores, empresários,

órgãos de defesa do consumidor: univer-salizar os produtos orgânicos – princi-palmente, já defendem os especialistas, através da rede da merenda escolar.

“Um pé de alface comum custa 50 centavos, enquanto o orgânico custa um real e 50 centavos. Se colocar tudo aquilo que não é cobrado do agricultor convencional, como o desgaste do solo, a erosão na terra, a contaminação de nascentes, intoxicação de funcionários e os efeitos prejudiciais à saúde pela agricultura química, vamos perceber que é o consumidor quem paga essas despesas, através dos impostos e in-vestimentos na saúde”, analisa o agri-cultor orgânico Guaraci Diniz.

Nos anos 90 Guaraci voltou para o seu sítio para terminar uma tese de mestrado em Biociências, se envolveu com a produção orgânica e hoje diri-ge a Associação de Agricultura de São Paulo. Em seu sítio ele atingiu 86 por cento de sustentabilidade – quer dizer, 86 por cento das necessidades de to-das as famílias envolvidas com o tra-balho podem ser satisfeitas com pro-dução própria – segundo um Índice de Sustentabilidade da Propriedade Agrí-cola desenvolvida pela Universidade de Campinas. Ele faz as contas:

“Se formos acrescentar aos custos da agricultura tradicionais a sua res-ponsabilidade social, um pé de alface nesse modelo de produção custaria 7 reais – e o orgânico vai continuar a um real e 50 centavos. Quer dizer, não é o produto orgânico que é caro, é a lógica da produção que está invertida: o pro-dutor orgânico não investe apenas no produto, mas na saúde do planeta”. Que o agricultor orgânico seja remunerado por seus ativos ambientais, para ele é questão de justiça: “A qualidade de vida das pessoas é o verdadeiro lucro que os orgânicos oferecem ao planeta” n

Inaugurado há quase dois anos, o Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba é o primeiro mercado do gênero no país. Fica ao lado do Mercado Municipal, numa área com 3,7 mil metros quadrados. Reúne 22 lojas de produtos orgânicos que oferecem, juntas, mais de mil produtos com selo de certificação que garante que são livres de agrotóxicos e aditivos químicos. De acordo com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica em Extensão Rural (Emater), a produção de produtos orgânicos está crescendo cerca de 2.000 por cento ao ano no Estado.

“Já negamos certificação para

uma usina que tinha o produto perfeito,

mas não tinha sequer sanitários para os

empregados”

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A Organics Brasil tem como desafio integrar a cadeia primária com o setor secundário para chegar ao

consumidor final, cada vez mais cons-ciente e exigente. No início eram 12 empresas do Paraná, hoje mobiliza 70 empresas, que representam perto de 60% de todo o mercado nacional. Nesta entrevista, Ming Chao Liu (foto) fala so-bre os avanços deste segmento e revela os imensos potenciais dos orgânicos no Brasil. Filho de chineses, 44 anos, Ming é formado em Administração pela FGV-SP, com mestrado em Agronegócio pela Kansas State University. “As empresas que não perceberem esta nova linha de

negócios terão vida curta”, sentencia. Confira a entrevista. SB - Qual a visão que o Organics Brasil tem para o segmento?Liu - O mercado de produtos orgânicos no Brasil vem crescendo desde o ini-cio da década de 90. Começou com a grande produção da agricultura familiar e pequenos produtores locais. Este pro-cesso vem se desenvolvendo em toda a cadeia produtiva. Nossa visão partiu de como poderíamos contribuir para fo-mentar este segmento que no exterior já é um mercado consolidado, e que sempre buscou nos países em desen-volvimento sua matéria prima.

SB - Como tem evoluído a cadeia de pro-dutos orgânico?Liu - Na cadeia primária, hoje observa-mos o avanço na produção tanto em termos qualitativos como quantitativos em função da demanda do mercado. No setor secundário de transformação, já observamos que há um aumento da qualificação de mão de obra e de proces-sos, maior organização entre os grupos e formação de cooperativas de produção para trabalhar volumes maiores. No vare-jo crescem as redes de distribuição como supermercados e lojas de produtos natu-rais. Nas principais capitais, já ocorrem feiras locais com o aumento de oferta de produtos diretamente ao consumidor, e incluindo ai os novos mercados munici-pais exclusivamente de orgânicos como já ocorre em Curitiba.

SB - Como surgiu a idéia do programa? Quais as dificuldades na execução do projeto?Liu - O Projeto Organics Brasil nasceu de uma idéia do presidente da FIEP Rodrigo Rocha Loures, de desenvolver e fomentar o processo de agregação de valores dos produtos orgânicos que eram produzidos no Paraná e acabou se transformando em um programa maior e nacional. Há muitos anos os produtos orgânicos brasileiros são exportados na forma de matéria pri-

Em busca do mercado globalCriado através de parceria entre o Instituto de Promoção do Desenvolvimento (IPD), da Agência de Promoção de Exportações (APEX Brasil) e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), o projeto Organics Brasil surgiu pensando o desenvolvimento de novos produtos orgânicos e sua inserção no mercado global.

Entrevista

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ma com baixo valor agregado, e o Paraná tem sido o estado que mais ações em ní-vel municipal e estadual tem realizado no setor, mesmo ainda sem ter a regulamen-tação federal finalizada. Começamos com 12 empresas do Paraná. Com o apoio da Apex-Brasil, foi proposto um projeto seto-rial de promoção internacional, e hoje esta parceria atende mais de 70 empresas de 14 estados, nos segmentos de alimentos, cosméticos e produtos têxteis. Como todo projeto de fomento a maior dificuldade foi conseguir mostrar credibilidade de um projeto onde não havia uma entidade se-torial. Foram quase três anos de matura-ção. Hoje podemos considerar que estas 70 empresas representam em torno de 60% de todo o mercado nacional.

SB - Quais as principais ações realizadas pelo Organics Brasi?Liu - O Projeto já realizou a participação das empresas em mais de 32 feiras in-ternacionais, nos cinco continentes, nos últimos cinco anos. Nestes últimos qua-tro anos, o volume de exportação gera-do pelas empresas ultrapassou o valor de 90milhoes de dólares. Já trouxemos cerca de 25 compradores internacionais para rodadas de negócios com empresas nacionais, jornalistas da Europa, Japão e Estados Unidos para divulgação das ações de empresas no pais, como parte de um projeto de construção de imagem do segmento. Internamente participamos de programas de capacitação nacional e internacional com entidades regionais go-vernamentais, federações de Indústrias.

SB - Em relação ao comércio exterior, é possível sentir este avanço?Liu - Nosso objetivo no comércio exterior é mudar a imagem de que o Brasil é um fornecedor de matéria prima de qualida-de, e mostrar que sim, temos uma regula-mentação do setor nacional, o mercado é forte e consciente, e que o Brasil tem con-dições de exportar sua marca Brasil nos principais mercados globais. O mercado global hoje está estimado em cerca de 52 bilhões de dólares. O Brasil participa de forma muito insipiente

SB - E quanto ao comércio interno? Liu - O mercado nacional não possui nú-meros oficiais, mas atualmente tem uma estimativa de movimentar algo entre 250-

300 milhões de reais por ano, para um potencial de mercado que apontam cres-cimentos na ordem de até 40% anuais. O varejo já percebe a importância do tema da sustentabilidade no seu dia a dia, des-de ações internas até a percepção do con-sumidor frente a este assunto, o que no final impacta o seu sucesso. Obviamente as empresas que tratam o assunto como uma obrigação e não como uma nova filo-sofia de negócios, terão vida curta. Com o consumidor cada vez mais informado e a mídia com forte penetração em todas as camadas sociais, tem sido estratégico para as empresas que nunca pensaram nos temas de sustentabilidade, em se iniciar a pensar. Lojas temáticas próprias, programas de reciclagem voluntários, educação para o consumidor, programas de conservação e reflorestamento, temas que até anos atrás pouca importância ti-nham, hoje são bandeiras que os consu-midores cada vez mais demandam.

SB - E como o consumidor surge neste cenário?Liu - O consumidor final de orgânicos não é um consumidor de moda, de momento, mas de consciência. Ele demanda atitu-des sustentáveis. Hoje o consumidor tem o poder de direcionar as ações das em-presas. Por isso a Coca- Cola, Pepsi, Kraft, Danone e tantas outras multinacionais direcionam suas estratégias não apenas mostrar praticas sustentáveis, mas para ser participantes de uma cadeia sustentá-vel. Cabe ao consumidor julgar se esta ini-ciativa é uma jogada de marketing ou se é uma nova filosofia de negócio da empre-sa. Sobreviverá aquela que for honesta.

SB - O que falta para a consolidação des-ta cadeia produtiva?Liu - Acho que o fato mais importante para o segmento é a regulamentação da Lei10831, que entrará em vigor a partir de janeiro de 2011. Esse será um marco de-cisivo ao segmento. Em mercados onde já ocorreu a regulamentação, o setor desen-volveu na sua plenitude. Com regras esta-belecidas, os investimentos no segmento crescerão. Temos a chance de construir um desenvolvimento mais harmônico que nos outros países. Integrar a cadeia primá-ria com o setor secundário para chegar ao consumidor final será o grande desafio n

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Desde que foi apresentado aos potenciais parceiros durante lançamento no ano passado,

o projeto da Vila Olímpica do Paraná vem mobilizando o Instituto Adolpho Bauer na conquista de novas parce-rias. “O Instituto Adolpho Bauer é um parceiro das empresas que acreditam na Responsabilidade Social como o melhor caminho para promover uma sociedade mais justa e equilibrada”, repete sem descanso o coordenador do IAB, Adilton de Paula, num trabalho permanente de abordagem e busca de novos investidores.

“São 11 milhões de reais que preci-samos garantir até setembro de 2011, e tenho certeza de que vamos conse-

Vila Olímpica empolga a torcida

O projeto é fascinante – e tem feito vibrar não só a comunidade esportiva, de olho nas Olimpíadas de 2012, mas principalmente os agentes sociais, empolgados com as oportunidades que o esporte tem oferecido às novas gerações de jovens brasileiros

guir. Este é um projeto ousado, pois mobiliza a consciência e as esperanças de todos aqueles que se preocupam com o desenvolvimento das novas gera-ções de brasileiros”, convoca Adilton. A captação dos recursos é garantida por mecanismos da Lei de Incentivo ao Es-porte, que permite a dedução de até 1% do Imposto de renda de investimentos a serem feitos pelas empresas e de até 6% pelas pessoas físicas.

“A Lei de Incentivo ao Esporte ga-rante transparência e segurança para quem investe”, lembra o assessor es-pecial do Ministério do Esporte, Joel Benin, que viaja o Brasil esclarecendo como a renúncia fiscal transforma lu-cro em desenvolvimento social e hu-mano. Com esse instrumento, o Brasil caminha para ser uma das dez maio-res potências esportivas do mundo. “isso não significa apenas mais me-dalhas olímpicas, mas principalmen-te, uma sociedade mais equilibrada, com suas gerações bem formadas e preparadas para uma vida com mais qualidade. além de reforçar o sentido de nação e o espírito de cooperação de nossos jovens.”

Olho no Lance

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A Vila Olímpica é uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores nas In-dústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado do Paraná (STIQFEPAR) e vem sendo erguida num terreno de quase 64 mil m², localizado na divisa entre Curitiba e Araucária.

O projeto prevê a construção total de quase 11 mil m² entre canchas co-bertas de futebol, pista de atletismo, piscina, vestiários, anfiteatro para 400 pessoas e um ginásio coberto com três pavimentos que terá cancha poliespor-tiva, salas de treinamento e auditório para a realização de eventos com até três mil pessoas.

Desse total de obras, três campos cobertos de futebol society, com vesti-ários, salão social para eventos e escri-tórios, que totalizam quase 5 mil m², já estão prontos e atendem aos associa-dos do STIQFEPAR e à população em geral com escolinhas de futebol e cen-tro de eventos.

Um sonho se tornando realidade

Esporte para cinco mil pessoas

A Vila Olímpica vai atender direta-mente em torno de 3 mil pessoas entre crianças de 0 a 12 anos e jovens até 18 anos com programas de iniciação esportiva, treinamento e formação de atletas de alto nível e também, adultos de 18 a 59 anos e idosos a partir de 60 anos com programas de recreação e complementação desportiva. A Vila con-templa também projetos para pessoas com deficiências físicas, a formação e o treinamento de atletas paraolímpicos. O público a ser atendido indiretamente pela Vila Olímpica do Paraná está es-timado em cerca de 5 mil pessoas de todas as idades.

O que dizem os dirigentesVai nos dar muitas alegriasO Sindicato dos Químicos sempre foi um grande parceiro e o projeto da Vila Olímpica fortalece ainda mais o nosso foco na qualidade de vida. A Vila vai nos dar muitas alegrias e está sendo vista com muito carinho por todos nós.

Marcelo Milek - Presidente do Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado do Paraná (SINQFAR).

Podem contar conoscoO projeto da Vila Olímpica vem em boa hora e nos deixa muito felizes. É um projeto de excelência e reforça o compromisso empresarial com a responsabilidade social. Podem contar com a nossa colaboração para seu êxito.

Denise Dybas Dias - Presidente do Sindicato das Indústrias do Material Plástico do Estado do Paraná (SIMPEP).

Sua empresa pode participar dessa idéia. Entre em contato.

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Vamos ampliar a atuação social de nosso sindicatoCom esse projeto, nós estamos dando largada a uma proposta ousada e consistente para criar mais espaços de inclusão social através da educação desportiva. Estamos de olho na Copa de 2014 e nas Olímpiadas de 2016”.

Donizal Lopes – Presidente do STIQFEPAR

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Fundação Nap Hill Um século desenvolvendo Mentes de Mestre

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liderança, inteligência interpessoal e comunicação eficaz...

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O Instituto Adolpho Bauer promove a sustentabilidade através de projetos de educação, cultura, capacitação profissional, consultoria empresarial para a qualidade, esporte e outros que contribuem para a igualdade e a cidadania em nosso país.È uma missão de quem aposta na excelência e acredita que é possível fazer um mundo melhor para todos. E tudo isso será apenas um sonho se não houver líderes preparados para este grande desafio. E você pode ser um líder para este novo momento global com o treinamento Master Mind Executivo.

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Desenvolvimento exige compromis-so, responsabilidade ambiental e inclusão social e de raça e gênero.

Defender e preservar o Planeta, lutar con-tra as mudanças climáticas provocadas pelos homens e seus projetos predatórios de desenvolvimento, combater as violên-cias, promover o equilíbrio socioeconômi-co e as inclusões sociais com prioridade para as inclusões de classe, gênero e raça. Preservar e defender a vida, este é hoje o grande desafio, e ao mesmo tempo a grande oportunidade e objetivo das pes-soas de bem.

Acreditamos que o mundo pode ser melhor, que a vida pode ser melhor, mas o mundo e a vida só serão melhores se as pessoas se tornarem também melhores. Precisamos de pessoas mais solidárias, responsáveis ambientalmente, honestas, justas e felizes, pessoas comprometidas com a realização do bem comum.

Neste sentido, apostamos imensa-mente no processo de educação. Sa-bemos que a edu-cação sozinha não transforma a socie-dade, mas sabemos também que sem ela não há transfor-mação. Por isto e para isto foi criado o Instituto Adolpho Bauer, uma Organi-zação Não Governa-mental, voltado para a promoção do de-senvolvimento territorial sustentável com inclusão social, de gênero e de raça. O Ins-tituto é um instrumento, uma ferramenta, que vem se somar a tantos e tantas outras que já existem, na luta pela solidariedade humana e pela preservação e salvação do planeta e de suas formas de vida.

Um outro mundo é possívelDevemos reduzir a distância entre discurso e prática, combater a hipocrisia da responsabilidade social, em que publicamente se fala uma coisa e na prática se faz outra

“Precisamos de pessoas mais solidárias, pessoas comprometidas com a

realização do bem comum. Preservar e defender a vida é hoje o grande desafio e o

grande objetivo das pessoas de bem”

Um Outro Mundo é Possível – e acre-ditamos nisso. Acreditamos num mun-do justo, igualitário, fraterno e feliz. Mas acreditamos que este outro mundo tem que ser construído, tem que ser moldado em nosso dia-a-dia, nos nossos relaciona-mentos em nossas casas, escolas, traba-lhos, comunidades.

É fundamental fortalecer os movimen-tos sociais, principalmente o movimento sindical e os movimentos específicos de defesa dos direitos civis e “das minorias”. Organizar a participação social, a fiscaliza-ção pública dos gestores e do patrimônio público. Fortalecer os conselhos popula-res e sociais e criar novos mecanimos e ferramentas de participação e democra-tização, como as comissões de empresa, osorçamentos participativos, etc.

Mas acima de tudo temos que me-lhorar a coerência e reduzir a distância entre discurso e prática. Devemos com-bater a hipocrisia que cerca muitos pro-

jetos de responsa-bilidade social, em que publicamente fala-se uma coisa e na prática se faz ou-tra. Empresários e empresas precisam ganhar seriedade e ter de fato uma prática coerente e efetiva de defesa do meio ambiente, das pessoas e das

condições de trabalho e salário. Hoje fe-lizmente já temos muitos empresários e empresárias sérios e compromissados, mas seguramente ainda temos muito em que avançar.

SUSTENTA BRASIL – este é o nosso Quilombo, este é o nosso grito de alforria. Entendemos que o Brasil só vai sustentar

uma política de crescimento econômico, com justiça social e com inclusão de clas-se, gênero e raça, se o povo brasileiro as-sim o exigir, se nós assim o exigirmos.

A revista SUSTENTA BRASIL é parte deste sonho e deste compromisso, um mecanismo, um instrumento, um tambor nagô, na luta pela democracia e por jus-tiça social, ao mesmo tempo um instru-mento de socialização e de diálogos, para mostrarmos coisas que já estão sendo fei-tas de bom e apontarmos muitas outras coisas boas e positivas que ainda podem ser feitas. Sabemos que uma andorinha só não faz verão, mas sabemos que ao menos ela pode anunciar que o verão está pra chegar.

Venha, participe, contribua, deba-ta, contraponha, façamos desta revis-ta um instrumento e uma ferramenta coletiva de luta por uma Sociedade e um Mundo Melhor!

Donizal Lopes é Presidente e Adilton de Paula coordenador geral do Instituto Adolpho Bauer.

Ponto final

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