revista gestão pedagógica nº 02

48
Conheça um pouco sobre os processos de penhora contra empresas falidas, os desafios criados pela globalização, saiba como o simples ato de contar histórias para crianças pode ajudar na formação de adultos melhores e sugestões para aumentar a competitividade das pequenas e médias empresas . número 02 ano 02 janeiro - fevereiro - 2011 Repensando a penhora em execução fiscal contra o falido por Gustavo Henrique de Almeida - página 03 Aspectos revisitados da Globalização e seus desafios para os Estados Nacionais por Luis Cesar Fernandes página 26 A arte de contar histórias por Claudia Cristina Del Papa Cabral página 35 A Administração na gestão das Pequenas e Médias Empresas por Flávia Luciana Mateus Moreira e Marcio Vinício da Silva página 43 Você faz a diferença?

Upload: paulocabral

Post on 25-Jul-2015

539 views

Category:

Education


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

Conheça um pouco sobre os processos de penhora contra empresas falidas, os desafios criados

pela globalização, saiba como o simples ato de contar histórias para crianças pode ajudar na

formação de adultos melhores e sugestões para aumentar a competitividade das pequenas e

médias empresas .

número 02 – ano 02 – janeiro - fevereiro - 2011

Repensando a penhora em execução fiscal contra o

falido por Gustavo Henrique de Almeida - página 03

Aspectos revisitados da Globalização e seus desafios

para os Estados Nacionais por Luis Cesar Fernandes –

página 26

A arte de contar histórias por Claudia Cristina Del Papa

Cabral – página 35

A Administração na gestão das Pequenas e Médias

Empresas por Flávia Luciana Mateus Moreira e Marcio

Vinício da Silva – página 43

Você faz a diferença?

Page 2: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

2

Editorial

Li recentemente o livro Educação é um

direito de Anísio Teixeira, e apesar do

contexto social e político da época ser

outro, a mensagem é atual e aplicável aos

dias atuais.

No livro o autor tenta mostrar o papel da

educação para uma nação democrática,

que deve atender a sociedade de forma

abrangente sem excluir os menos

favorecidos. Mas o livro não apresenta

somente críticas sobre o sistema nacional

de ensino, mostra e propõe soluções.

Pode se dizer que a educação no país não é

mais excludente, pois todos tem acesso a

escola pública. Entretanto a educação de

qualidade ainda não é um direito de todos.

O sonho de Anísio Teixeira onde tanto o

pobre quanto o rico têm a mesma

educação ainda está distante.

Resta o alento que hoje o aluno passa mais

tempo na escola, e com acesso ao ensino

superior este tempo se prolonga ainda

mais. Alento porque os verdadeiros

educadores podem contribuir na

construção de cidadãos preparados para

quebrar preconceitos e paradigmas.

A construção de uma sociedade mais justa

passa pela escola, seja ela de educação

infantil, primária, do ensino médio ou

superior. A interação entre docentes e

discentes é benéfica para o país e para a

sociedade que nele vive.

Com esta proposta a Revista Gestão

Pedagógica trás dois artigos construídos

por alunos dos cursos de Pedagogia e

Administração de Empresas. Eles

representam a força de trabalho e

potencial inovativo do país, pois em breve

estarão no mercado de trabalho

produzindo e fazendo a diferença.

Nada mais justo do que incentivá-los a

darem suas contribuições e com eles

aprender, pois este é o verdadeiro

processo de construção do conhecimento.

Nesta edição também encontraremos dois

artigos de professores, um do curso de

Direito que mostra uma nova visão sobre a

penhora de empresas falidas e, outro

educador do Curso de Economia que

escreve sobre os desafios da Globalização.

Boa leitura a todos.

Page 3: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

3

Repensando a penhora em execução fiscal

contra o falido1

RESUMO

Trata-se de estudo analítico referente à

penhora realizada antes do decreto de falência

contra devedor empresário no campo dos

processos de execuções fiscais. O presente

trabalho tem o objetivo de sustentar a

importância da empresa e de sua preservação

como elementos embasadores para

desconstituir a penhora dos bens do

empresário insolvente. A proposta feita tende a

1 Gustavo Henrique de Almeida é mestrando em Direito

Empresarial pela Fundação Universidade de Itaúna, pós-graduado em Direito Empresarial pela Universidade Gama Filho, pós-graduado em Direito Privado pela Universidade Cândido Mendes, além de ser professor de Direito Empresarial, Direito Civil, Direito da Informática, Direito Processual Civil e Ética. Desempenha também a função de coordenador do curso de bacharelado em Direito da FACEMG, e é Advogado militante.

superar o entendimento consolidado nos

tribunais, especialmente no Superior Tribunal

de Justiça, pelo método analítico-propositivo,

que conduz à conclusão de se permitir a

desconstituição da penhora realizada nas varas

de execução fiscal contra o empresário falido.

Palavras-Chave: Execução fiscal, penhora,

preservação da empresa.

ABSTRACT

This is an analytical study on the pledge made

before the decree of bankruptcy against the

debtor entrepreneur in the field of tax

foreclosure proceedings. The present article

aims to support the importance of the

company and their preservation, as part

deconstitutes foundation for the judicial

constriction of property of the insolvent

employer. The proposal made tends to

overcome the understanding consolidated in

the courts, especially in the Superior brasilian

Court of Justice for the propositional and

analytical method, which leads us to the

conclusion that we should allow the

attachment deconstitution of the judicial

constriction in a execution against the

bankrupt entrepreneur.

Keywords: Fiscal action, judicial constriction,

preservation of the company.

1. Introdução

A necessidade de se conservar a empresa

Page 4: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

4

alimenta discussões em diversas oportunidades

nas quais a preservação da atividade

empresária se vê ameaçada, seja em razão da

aplicabilidade de outro princípio no caso

concreto, ou mesmo em virtude da

indiscriminada aplicação de dispositivos legais

em detrimento da norma principiológica

aludida.

Questiona-se a possibilidade de colisão entre o

princípio da preservação da empresa e os

dispositivos da Lei de Execuções Fiscais quando

há bem de empresário penhorado em

execução fiscal antes da sentença que decreta

a quebra deste. O questionamento nasce a

partir do entendimento dominante no STJ de

que ajuizada a execução fiscal anteriormente à

falência, com penhora realizada antes desta,

não ficam os bens penhorados sujeitos à

arrecadação no juízo falimentar. Surge, então,

um problema que consiste em saber se nesses

mencionados casos resta ferido o princípio da

preservação da empresa, por não ser possível

alienar o conjunto patrimonial do falido em

bloco para um arrematante que queira

continuar a atividade.

Antes de se adentrar no mérito do problema,

torna-se oportuno elucidar como ocorre o

processo de execução fiscal e a penhora nele

realizada, de modo que se possa tratar com

clareza do entendimento que se firmou no

Superior Tribunal de Justiça e, então, abordar a

questão da manutenção da empresa e a

desconstituição da penhora em execução fiscal

contra o falido.

Sendo assim, cabe elucidar que a dívida ativa

que qualquer devedor possua junto ao Estado

tanto relativamente aos créditos tributários,

quanto os créditos não-tributários, 2 quando

não paga, pode ser cobrada por meio de um

processo judicial denominado execução fiscal.

A inadimplência relativa à dívida ativa enseja

um procedimento que se inicia diretamente na

fase executória, sendo o executado citado

para, no prazo de cinco dias, pagar a dívida

constante da certidão,3 com os juros e multa de

2 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 12.

ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009. p. 1079. 3 ASSIS, Araken de. Manual do processo de

execução. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2002. p. 185.

Page 5: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

5

mora e encargos indicados na certidão de

dívida ativa, ou garantir a execução.

A Lei n. 6.830/80, de 22 de setembro de 1980,

constitui a norma que rege a execução fiscal no

âmbito do ordenamento jurídico brasileiro.

Referida Lei trata da satisfação forçada de

créditos da Fazenda Pública de forma distinta

de outras execuções de quantia certa previstas

na legislação processual brasileira, sendo o

foco da demanda executiva fiscal a celeridade e

a agilidade do processo promovido pela

Fazenda.4

Característica da Lei de Execuções Fiscais, os

privilégios para a Fazenda Pública nela

4 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência. 11. ed.

São Paulo: Saraiva, 2009. p. 3.

consubstanciados, de tantos e tão exagerados,

chamam a atenção da doutrina, a ponto de se

afirmar que em prol da Fazenda existem

favores extremos que chegam, em vários

momentos, a repugnar à tradição jurídica do

direito brasileiro.5 Araken de Assis argumenta

que “anima o Estado brasileiro, às vezes, um

profundo espírito caviloso, que avulta no

tratamento diferenciado conferido, de um lado,

ao crédito da Fazenda Pública, e, de outro, ao

crédito contra a Fazenda”6.

Não obstante aos privilégios que a doutrina aponta, a ineficiência do processo de execução fiscal é incomensurável. Kiyoshi Harada destaca alguns pontos que revelam a inutilidade do processo executório, cuja transcrição se faz oportuna:

5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 4. 6 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p.

1066.

a) o número de execuções fiscais ajuizadas corresponde a mais de 50% dos processos judiciais, em geral, em curso no âmbito do Poder Judiciário, sendo que no âmbito da Justiça Federal essa proporção é de 38,8%;

b) os dados de 2005 revelam que a taxa média de encerramento de controvérsias em relação às novas execuções fiscais ajuizadas é inferior a 50% e apontam um crescimento de 15% de estoque de execuções em 1ª instância na Justiça Federal, havendo uma taxa de congestionamento médio de 80% nos julgamentos de 1ª instância;

c) existem 2,5 milhões de execuções judiciais no âmbito da Justiça Federal, com baixíssima taxa de impugnação, seja por meio de embargos, seja por meio de exceção de pré-executividade;

d) no âmbito da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, enquanto o processo administrativo tributário leva em média 4 anos, a execução judicial leva 12 anos para findar;

e) menos de 1% do estoque de dívida ativa da União de R$ 400 bilhões (R$ 600 bilhões se incluída a da Previdência Social) ingressam aos cofres públicos por via de execução fiscal, bem menos do que o percentual alcançado por medidas de parcelamento (REFIS, PAES e PAEX);

Page 6: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

6

f) considerados os valores sob execução judicial e os que estão sob discussão administrativa, a dívida ativa da União atinge a cifra de R$ 900 bilhões, ou seja, 1,5 vezes a estimativa de receita da União para o exercício de

2006.7

Infere-se dessas informações que o processo

de execução fiscal, além de emperrar o Poder

Judiciário, consiste em um instrumento de

privilégios para o ente fazendário que, não

obstante, é ineficaz.

Um dos privilégios consagrados pela legislação

em comento consiste na exclusão da execução

dos créditos fazendários dos juízos universais,

ou seja, uma das preocupações da norma

contida no art. 5º da Lei n. 6.830/80 é a de

liberar a Fazenda da sujeição a todo e qualquer

7 HARADA, Kiyoshi. A penhora como pré-

requisito da execução fiscal. Revista Magister de

Direito Empresarial, Concorrencial e do Consumidor,

Porto Alegre, n. 6, p. 6-10, ago./set. 2007. p. 5-6.

juízo universal,8 dentre os quais se destaca o

juízo universal da falência. Desse modo, a

competência para apreciar a execução fiscal

não se altera em caso de decretação de

quebra.9

Havendo regra expressa no sentido de que o

foro da execução fiscal se mantém em face de

juízos universais, em especial o da falência,

sobrevindo decisão judicial que decrete a

quebra do devedor empresário, a execução

promovida pelo ente fazendário continuará no

foro onde se encontrava antes da decretação

falencial.

O processo de execução fiscal não será

8 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 73. 9 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p.

1087.

alterado ou mesmo paralisado em virtude da

falência do devedor executado. A execução

fiscal seguirá o seu curso até a alienação dos

bens penhorados nas varas de Execuções

Fiscais. Frise-se que a alienação dos bens ocorre

se houver penhora realizada antes da sentença

de quebra, pois, caso não haja penhora

realizada e sobrevenha sentença decretatória

de falência, qualquer eventual penhora deve

ser feita no rosto dos autos do processo

falimentar.10

Em suma, havendo penhora promovida pela

Fazenda antes da sentença falimentar, os bens

são alienados e o produto da arrematação é

entregue ao juízo falimentar, que pagará aos

10

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 4.

Page 7: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

7

credores, inclusive à Fazenda, segundo o rol de

preferência do art. 83, da Lei n. 11.101/05.

Esse é o entendimento majoritário nos

tribunais, especialmente o Superior Tribunal de

Justiça, que decorre de uma antiga súmula, de

n. 44, do extinto Tribunal Federal de Recursos,

cuja transcrição do teor ora se faz necessária:

Ajuizada a execução fiscal anteriormente à falência, com penhora realizada antes desta, não ficam os bens penhorados sujeitos à arrecadação no juízo falimentar; proposta a execução fiscal contra a massa falida, a penhora far-se-á no rosto dos autos do processo da quebra,

citando-se o síndico.11

Em virtude do entendimento do Superior

Tribunal de Justiça relativamente às normas

contidas nos arts. 5º e 29, da Lei n. 6.830/80 de

11

LOPES, Bráulio Lisboa. Aspectos tributários

da falência e recuperação de empresas. São Paulo:

Quartier Latin, 2008. p. 118.

liberar a Fazenda Pública da sujeição a todo e

qualquer juízo universal ou coletivo e,

consequentemente, promover a alienação dos

bens penhorados antes da falência naquele

foro, a arrecadação que o administrador judicial

da falência deve fazer no juízo falimentar,

apurando-se todos os bens do falido, não

contemplará o bem ou os bens penhorados nas

varas de execuções fiscais.

Por outro lado, a lei falimentar, prestigiando o

princípio da preservação da empresa,

prescreve em seu artigo 140, inciso I, que a

alienação dos bens arrecadados pelo

administrador judicial será realizada

prioritariamente mediante a venda dos

estabelecimentos empresariais em bloco. Não

sendo possível, proceder-se-á à venda dos

estabelecimentos das filiais ou unidades

produtivas isoladamente. Não sendo viável,

passa-se à alienação em bloco dos bens que

integram cada um dos estabelecimentos do

devedor ou, na última hipótese, à alienação dos

bens individualmente considerados.

Diversos autores, de diversos países, 12

sustentam que a preservação da empresa no

processo falimentar se concretiza por meio da

alienação dos bens do falido para um novo

empresário destinatário das unidades

produtivas, o que estabelece o artigo 140 da Lei

n. 11.101/05. Os autores esclarecem por qual

razão deve ser vendido o conjunto patrimonial

12

DÍAZ, Marta Zabaleta. El principio de

conservación de la empresa en la ley concursal.

Navarra: Editorial Civitas, 2006. p. 38.

Page 8: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

8

de forma integral como primeira opção.

Segundo eles, o motivo reside na conservação

da atividade econômica, em respeito ao

princípio da preservação da empresa.13

Portanto, a alienação do complexo de bens

organizados para a atividade empresarial,

“trata-se, na realidade, de venda global,

ensejadora da preservação da empresa com

novo empresário ou sociedade empresária

[...]”.14

Com tal alienação e com o afastamento dos

13

BERNARDI, Ricardo. Da realização do ativo.

In: SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO,

Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.). Comentários à

lei de recuperação de empresas e falência: lei

11.101/2005 - artigo por artigo. 2. ed. rev. atual. e

ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 487. 14

PACHECO, José da Silva. Processo de

recuperação judicial, extrajudicial e falência: em

conformidade com a lei n. 11.101/05 e a alteração da

lei n. 11.127/05, p. 330.

antigos administradores, pressupõe-se que a

empresa possa prosseguir suas atividades em

mãos de novos adquirentes.15

Surge, pois, o problema que consiste em saber

se resta violado o princípio da preservação da

atividade empresária caso não ocorra a

arrecadação e alienação de bens do falido no

juízo universal falimentar que já estejam

penhorados em execuções fiscais antes do

decreto de quebra, uma vez que não seria

possível adquirir o conjunto patrimonial em

bloco para continuar a empresa.

Tal problemática possui uma conotação prática

muito instigante. Imagine-se que o arrematante

15

NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei

de recuperação de empresas e falências: lei n. 11.101,

de 9 de fevereiro de 2005, p. 119.

em uma alienação promovida no juízo

falimentar, de acordo com o artigo 140, inciso I,

da Lei 11.101/05, adquira todo o acervo

patrimonial do falido. Se assim o arrematante o

faz, muito provavelmente ele destinará os bens

do falido à continuidade da atividade

empresarial que por este era desenvolvida, ou

outra correlata. 16 Por outro lado, se um

arrematante adquire um bem isolado do acervo

patrimonial do falido, e o faz em uma alienação

promovida pelo juízo da execução fiscal, muito

provavelmente esse arrematante não possui a

intenção de desenvolver a mesma atividade

empresária do falido. Todavia, sem dúvida, as

16

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de

recuperação de empresas e falências comentada: lei

11.101/05: comentário artigo por artigo. 4. ed. rev.,

ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,

p. 326.

Page 9: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

9

alienações realizadas isoladamente

desmantelam o patrimônio que o falido

empregava no exercício da empresa.

Como consequência, o desmantelamento do

acervo patrimonial disposto e apto a gerar

lucro promovido por alienações isoladas

impossibilitará a utilização do acervo em

conjunto no exercício de uma mesma atividade,

mas, de modo diverso, serão os bens alienados

isoladamente destinados a fins distintos, por

distintos arrematantes.17

2 A penhora no processo de execução fiscal

contra o falido

A penhora consiste em ato judicial coercitivo

17

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de

recuperação de empresas e falências comentada: lei

11.101/05: comentário artigo por artigo, p. 327.

que dá início à expropriação de bens do

devedor para satisfação do credor. Nesse

sentido, o vínculo de indisponibilidade

decorrente da penhora deriva da particular

destinação do bem afetado para satisfazer à

pretensão executiva.18

O órgão do Poder Judiciário que determina a

penhora de um bem o tem sob seu poder para

destiná-lo à satisfação do crédito exequendo.19

Nesse sentido, a penhora de um bem pelo

Estado tem natureza de ato executório.20

Também na execução fiscal a penhora possui

18

SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Doutrina

e prática do arresto ou embargo. Rio de Janeiro:

Forense, 1976. p. 78. 19

LIEBMAN, Enrico Túlio. Processo de

execução. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1946. p. 95. 20

ASSIS, Araken de. Manual do processo de

execução, p.604.

natureza típica de ato judicial coercitivo que dá

início à expropriação de bens do devedor para

o caso de não ser paga a dívida, ou garantido o

juízo por meio de depósito ou fiança.

Despachada a petição inicial, o devedor goza

do prazo de cinco dias para realizar o

pagamento da dívida ou para nomear bens que

a garantam. Decorrido esse prazo, sem

manifestação valida do executado, a penhora

será levada a efeito sem que seja obrigatória a

ordem estabelecida pelo art. 11 da Lei n.

6.830/80 para nomeação de iniciativa do

devedor21.

Antes da sentença que decreta falência, a

citação para pagar ou garantir a execução será

21

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 82.

Page 10: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

10

feita ao executado. Tratando-se de empresário,

este será a pessoa física ou jurídica a ser citada.

O ajuizamento da execução fiscal contra o

empresário que se encontra em crise

econômico-financeira não constitui uma

exceção, pois aquele que está em estado de

debilidade, inadimplindo suas obrigações,

comumente deixa de ser pontual também com

o pagamento dos tributos e demais despesas

junto ao fisco.22

Desse modo, eventual execução fiscal ajuizada

antes da falência correrá contra o empresário

devedor até a decretação da quebra, quando a

Fazenda tomará ciência de tal decisão judicial.

22

SALAMANCHA, José Eli. Débitos fiscais e a

recuperação judicial de empresas. Revista de Direito

Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São

Paulo, v. 140, p. 118-125, out./dez. 2005. p. 118.

Como consequência, os bens que pertenciam

ao falido passam a ser da massa falida.

Contudo, se houver penhora realizada antes da

sentença de quebra, os bens penhorados não

ficam, como os demais bens da massa, sujeitos

a arrecadação no juízo falimentar, pois

constituem constrição judicial para garantia do

recebimento do crédito da Fazenda.

No que toca ao recebimento dos créditos

fiscais como decorrência da penhora de bens

do falido antes da sentença de quebra, em que

pese haver constrição de bens do falido antes

da aludida decisão, a Fazenda somente poderá

satisfazer o seu crédito mediante concurso

com demais credores segundo a ordem de

pagamento prevista na lei de falência.

Cabe ressaltar que o art. 29, da Lei n. 6.830/80,

prevê que a cobrança judicial da dívida ativa

não é sujeita a concurso de credores ou

habilitação em falência. Contudo, o Código

Tributário Nacional, que é lei hierarquicamente

superior à lei de execuções fiscais, dispõe em

seu artigo 186, de forma contrária, conforme

alteração introduzida pela Lei Complementar

118/05.

Assim, o art. 29 da Lei de Execução Fiscal exclui

a Fazenda da participação de juízos universais

como o da falência, mas não altera privilégios

instituídos e resguardados pelas leis materiais,

além do fato de que a Lei de Execução Fiscal é

da categoria das ordinárias, ao passo que o

Código Tributário Nacional é lei

Page 11: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

11

complementar23.

Portanto, processualmente a Fazenda não se

submete ao concurso de credores, mas do

ponto de vista material ela se submete aos

efeitos do rol de preferência e à ordem de

pagamento prevista no art. 83 da Lei de

Falência.24

Sendo assim, para o recebimento dos seus

créditos, pouco importa se a Fazenda procedeu

à penhora dos bens do empresário que

posteriormente veio a falir, pois deverá o ente

fazendário receber segundo a ordem de

preferência prevista na legislação falimentar.

23

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 179. 24

LOPES, Bráulio Lisboa. Aspectos tributários

da falência e recuperação de empresas, p. 18.

Nota-se que embora a execução fiscal não fique

paralisada em razão da quebra do devedor, não

pode o processo continuar tramitando até a

entrega do produto da arrematação à Fazenda

exequente. 25 Isso porque o produto da

alienação deve ser entregue ao juízo falimentar

para pagamento segundo a ordem de

preferência do art. 83, da Lei n. 11.101/05.

Partindo da impossibilidade da Fazenda de

satisfazer diretamente seu crédito com o

produto da arrematação do bem ou dos bens

por ela penhorados, mesmo antes da quebra,

uma vez que tal produto deve ser entregue ao

juízo falimentar para proceder ao pagamento

25

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência, p. 73-

74.

dos credores, 26 resta-nos concluir que a

manutenção da penhora na execução fiscal

diante da falência carece do sentido para o qual

foi instituída na Lei n. 6.830/80, que seria de

conferir segurança e garantir o recebimento

pela Fazenda dos créditos desta.

Cabe destacar que os créditos tributários,

principais haveres consignados em certidão da

dívida ativa, figuram na terceira posição no rol

de preferência previsto no art. 83, da Lei n.

11.101/05, sucedendo os créditos derivados da

legislação do trabalho, os decorrentes de

26

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça.

Embargos de divergência no Recurso Especial.

Processo nº 2003/0012123-0. Relator: Ministra Eliana

Calmon, j. 06/10/2003. DJ, Brasília, 09 dez. 2003. p.

204. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?p

rocesso=444964&&b=ACOR&p=true

&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 2 jan. 2010.

Page 12: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

12

acidentes de trabalho e os créditos com

garantia real. Ressalta-se que, entretanto,

antes de se pagar os credores concursais, paga-

se os credores extraconcursais, conforme art.

84, da referida lei, tão-logo haja disponibilidade

de caixa na falência.

A preservação da empresa justifica-se por sua

função social. Preservar a atividade significa

manter a fonte produtiva, a geração de renda e

empregos e, também, a arrecadação de

tributos. Diante dessas premissas, a lei

falimentar trouxe em diversos dispositivos a

essência da preservação da empresa, mas,

especificamente no art. 75, o legislador fez

constar que, em relação à falência, a finalidade

da norma é a preservação da empresa.

Tendo o legislador envidado esforços no

sentido de preservar a atividade, não poderia

resultar de seu labor outra disposição, no que

toca ao processo falimentar, senão a de

alienação dos bens tangíveis e intangíveis do

devedor empresário. Isso porque o principal

meio de ser preservar a atividade por ele

exercida consiste na transferência do seu

patrimônio para terceiros, que o usará para

exercer atividade econômica, o que evidencia

uma conotação processual do princípio da

preservação da atividade empresária. Nesse

sentido, a finalidade da alienação do acervo

patrimonial da massa ocorrida no processo

falimentar, tal como dispõe o art. 140, visa a

“[...] propiciar condições de eventual

continuação do negócio pelo adquirente,

preservando-se, assim, o valor social da

atividade”27.

Para que o terceiro arrematante pudesse

efetivamente levar a cabo a aquisição do

patrimônio empresarial, o legislador cuidou de

impedir que houvesse a sucessão trabalhista e

tributária no tocante às dívidas do falido por

aquele que adquire o patrimônio da massa

falida 28 . Para tanto, além da disposição

expressa na lei falimentar, em seu art. 141,

inciso II, a Lei Complementar n. 118 alterou o

art. 133, §1º, do Código Tributário Nacional, de

modo a consagrar a impossibilidade de

27

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de

recuperação de empresas e falências comentada: lei

11.101/05: comentário artigo por artigo, p. 326. 28

NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei

de recuperação de empresas e falências: lei n. 11.101,

de 9 de fevereiro de 2005, p. 119.

Page 13: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

13

sucessão na aquisição dos bens pertencentes à

massa.

Devido ao fato de não haver sucessão

trabalhista ou tributária, estimula-se a aquisição

do conjunto patrimonial e preserva-se a

atividade empresária, pois o novo empresário

adquirente dos bens em bloco poderá

desenvolver sua empresa29.

Sendo assim, a conotação processual do

princípio da preservação da empresa consiste

na alienação dos bens do falido no processo

falimentar que, sem ônus algum, serão

utilizados por um empresário que os destinará

a continuação de uma atividade empresária.

29

PACHECO, José da Silva. Processo de

recuperação judicial, extrajudicial e falência: em

conformidade com a lei n. 11.101/05 e a alteração da

lei n. 11.127/05, p. 330.

3 A ponderação de interesses e sua

aplicabilidade diante do entendimento do STJ

quanto à penhora de bens do empresário

insolvente

Os princípios do ordenamento jurídico

expressam valores que a sociedade brasileira

cultiva e que o sistema tutela. A todo o

momento se depara com princípios que

traduzem os anseios sociais e revelam o norte

do Direito posto.

Os princípios são muitos e variados e, por

vezes, entram em choque. Mas, como não são

regras, cujo conflito pode ser solucionado pela

anterioridade, hierarquia ou especialidade, a

colisão é solucionada pelo sopesamento dos

valores em atrito.

Desse modo, a ponderação de interesses

consiste na técnica apta a solucionar as colisões

entre os diversos princípios que fundamentam

a ordem jurídica. Essa é a técnica que conjuga a

ponderação entre os diversos valores que dão

fundamento ético ao sistema normativo.30

No caso concreto o julgador, ao dimensionar o

peso de um princípio em detrimento de outro,

deve fazê-lo obedecendo a certos critérios, sob

pena de pender para o arbítrio. Desse modo,

cresce a importância da proporcionalidade,

pois a solução dada pelo aplicador do Direito

deve conciliar valores ao conciliar os interesses

em jogo, conferindo, assim, legitimidade à

30

BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos

teóricos e filosóficos do novo direito constitucional

brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-

positivismo). Revista Diálogo Jurídico, p. 6.

Page 14: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

14

decisão.

Proporcionalidade consiste na “[...] apreciação

da necessidade (Erforderlichkeit) e adequação

(Geeignetheit) da providência legislativa” 31 .

Desse modo, a lei deve ser necessária aos fins

que se destina, e deve apresentar solução

adequada ao que ela pretende regulamentar.

Esse critério é utilizado na Alemanha para,

inclusive, declarar a constitucionalidade ou não

de uma lei, pois, não observando tais critérios,

padece o provimento legislativo da

constitucional proporcionalidade que dele se

31

MENDES, Gilmar. O princípio da

proporcionalidade na jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal: novas leituras. Revista Diálogo

Jurídico, Salvador, v. 1, n. 5, agosto, 2001. p. 2.

Disponível em: <http://www.direit opublico.com.br>.

Acesso em: 9 dez. 2009.

exige32.

Quanto ao problema motivador do projeto de

pesquisa, há nas decisões dos nossos tribunais

um choque entre o princípio da preservação da

empresa, cujos interesses sociais foram

analisados ao logo dessa pesquisa, e a

segurança jurídica conferida pela legislação em

vigor ao crédito fazendário executado em um

juízo diverso do falimentar.

O julgador tem, nesses casos difíceis,33 dois

valores que se apresentam e devem ser

ponderados, a preservação da empresa e a

32

MENDES, Gilmar. O princípio da

proporcionalidade na jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal: novas leituras. Revista Diálogo

Jurídico, p. 2. 33

FARALLI, Carla. La filosofía del derecho

contemporánea: temas y desafíos. Madrid: Servicio de

Publicaciones, Facultad de Derecho, Universidad

Complutense, 2007. p. 26.

segurança jurídica. Além disso, o julgador está

apto a analisar se a Lei n. 6.830/80, ao permitir

a penhora nas execuções fiscais, cumpre a sua

finalidade de satisfazer o crédito fazendário.

Em um primeiro momento, ponderar a

preservação da empresa em contraponto à

penhora pressupõe uma análise sobre o

impacto que esta pode exercer na alienação do

ativo do falido. Isso significa dizer que falar em

preservação da atividade empresária para se

desconstituir uma penhora exige que esta

constitua óbice à alienação do ativo

empresarial como um todo.

Por outro lado, há que se verificar se a penhora

nesses casos se constitui como instituto que

realmente ofereça a segurança jurídica que

Page 15: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

15

dela se espera. Se a alienação que sucede a

penhora gera uma receita que é destinada ao

pagamento dos credores conforme a ordem de

preferência estabelecida pela lei de falência,

não há que se falar em segurança jurídica para

a Fazenda Pública quanto ao recebimento dos

seus créditos, uma vez que figura em terceiro

lugar no rol de preferência para pagamento na

falência34.

Torna-se oportuno esclarecer que a segurança

jurídica classicamente considerada

representaria um óbice à interpretação que

permita a desconstituição da penhora de bens

34

CREMASCO, Suzana Santi. A Classificação

dos Créditos na Lei n. 11.101/05: Breve Estudo sobre

as Inovações Relativas a Ordem de Pagamento dos

Créditos Concursais Trabalhistas, com Garantia Real e

Tributários. Revista Magister de Direito Empresarial,

Concorrencial e do Consumidor. n. 11, p. 6-17,

out./nov. 2006. p. 14.

do empresário insolvente. Isso porque a

segurança jurídica clássica caracteriza-se pela

certeza e previsibilidade do ordenamento

jurídico, sob pena de enfraquecer as

instituições. Isso significa que a certeza da Lei

n. 6.830/80 consagra a previsão e certeza

formal do recebimento do crédito fazendário.

Essa segurança jurídica é meramente formal e

distante de uma justiça concreta, sendo esta

fundada na equidade e na igualdade. Tal

concepção está, outrossim, afastada da

segurança jurídica fenomenologicamente

entendida, que consiste em aceitar várias “[...]

verdades para casos semelhantes, desde que

fundamentadas e cuja argumentação forneça

também os critérios adotados, para que se

possa avaliar a razoabilidade da decisão

tomada”35. Nesse sentido, a segurança jurídica

meramente formal, se aplicada de forma

isolada, enfraquece as instituições, ao invés de

fortalecê-las36.

Por esses motivos deve a segurança jurídica ser

considerada em seu plano material. Isso implica

dizer que a real segurança jurídica só existe

quando se aceita a diversidade de

interpretações, as diferenças culturais e,

sobretudo, as constantes modificações do

direito. Portanto, para aceitar uma

interpretação, quanto à penhora de bens do

35

MACIEL, José Fábio Rodrigues. Teoria geral

do direito: segurança, valor, hermenêutica, princípios,

sistema. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 26-37. 36

MACIEL, José Fábio Rodrigues. Teoria geral

do direito: segurança, valor, hermenêutica, princípios,

sistema, p. 26-37.

Page 16: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

16

empresário insolvente, diversa daquela

empreendida pelo STJ, necessário se faz

trabalhar com uma nova concepção da

segurança jurídica, com a qual seja a “[...]

decisão baseada em valores, pautada nos

princípios jurídicos, limitando a ideologização,

mas entendendo as diferenças culturais e

aceitando o fato da não existência de verdades

absolutas”37.

Esses são, portanto, os elementos a serem

ponderados quando da apreciação pelo Poder

Judiciário de manutenção de penhora no juízo

fiscal diante da falência do executado.

4. Uma análise inferencial do posicionamento

37

MACIEL, José Fábio Rodrigues. Teoria geral

do direito: segurança, valor, hermenêutica, princípios,

sistema, p. 37.

do Superior Tribunal de Justiça

O trabalho ora desenvolvido estrutura-se na

análise da importância da empresa, em

contraste com normas que irradiam,

concomitantemente, sobre a execução fiscal e

sobre o processo falimentar. Questiona-se a

violação do princípio da preservação da

atividade empresária caso não ocorra a

arrecadação e a alienação de bens do falido no

juízo universal falimentar que já estejam

penhorados em execuções fiscais antes do

decreto de quebra.

Ao se discutir o posicionamento do Superior

Tribunal de Justiça, surge a necessidade de

uma argumentação jurídica que pressuponha

interpretação inferencialista sobre o

posicionamento da referida Côrte em seus

julgados.

Segundo as lições de Antônio Cota Marçal,

convém ressaltar que “por ‘inferencialismo’

entende-se aqui a proposta de repensar

determinados conteúdos conceituais a partir

de uma matriz de discursividade racional

distinta da clássica racionalidade lógico-

formal”38.

Assim, deve-se esclarecer que a análise da

questão tal como ora proposta revela diversa

interpretação sobre entendimento judicial do

Superior Tribunal de Justiça, considerando-se

38

MARÇAL, Antônio Cota. O inferencialismo

de Brandom e a argumentação jurídica. In:

GALUPPO, Marcelo Campos. O Brasil que queremos:

reflexões sobre o estado democrático de direito. Belo

Horizonte: Ed. PUC Minas, 2006. p. 105.

Page 17: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

17

que a interpretação é fruto de uma dada época,

de um dado momento histórico, e abarca os

fatos a serem interpretados, além do sistema

jurídico e das circunstâncias e do imaginário do

intérprete. Temos que ter em conta que “a

interpretação dos fenômenos políticos e

jurídicos não é um exercício abstrato de busca

de verdades universais e atemporais”39, mas

uma tentativa de se estabelecer uma

proposição justa e dogmática para solucionar

uma controvérsia jurídica.

Tal proposta de pensamento pressupõe,

portanto, um discurso racional e jurídico em

torno da importância da atividade empresária

39

BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos

teóricos e filosóficos do novo direito constitucional

brasileiro (Pós-modernidade, teoria crítica e pós-

positivismo). Revista Diálogo Jurídico, p. 2.

e, consequentemente, da sua preservação,

exaustivamente delineada neste relatório de

pesquisa. Se a empresa é tão importante para a

sociedade de modo geral, repercutindo na vida

econômica e social dos cidadãos a ponto dos

operadores do Direito repensarem o seu

conteúdo atribuindo-lhe uma função social e,

por conseguinte, erigir sua preservação a um

princípio de direito, este constitui efetivamente

a pedra angular do discurso racional que se

propõe. A proposta de repensar o conteúdo

decisional parte da variabilidade na

interpretação das razões na decisão

articuladas.40

Cabe lembrar que o posicionamento analisado

40

BRANDOM, Robert B. La articulación de las

razones: una introducción al inferencialismo. Madrid:

Siglo Veintiuno, 2002. p. 225.

se consolidou ainda sob a égide do Decreto Lei

n. 7.661/45, antigo dispositivo legal que regia a

falência. Ao longo dos anos os tribunais

adotaram e ainda adotam uma postura que

acredita na penhora de bens nos autos da

execução fiscal como garantia do recebimento

dos créditos fazendários, sobretudo porque a

Lei n. 6.830/80 impede que a Fazenda se

submeta a juízos universais.

Ademais, o posicionamento adotado pelos

tribunais, que também se justifica pela norma

do art. 5º da Lei n. 6.830/80, não são dinâmicos,

como se exige de uma ciência social na qual se

constitui o Direito, mas, ao contrário, são

estáticos.

Nesse sentido, cabe destacar que no âmbito do

Page 18: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

18

Direito, a evolução está embasada na própria

mudança social, a exigir uma constante e

renovada evolução na seara jurídica: “Como a

vida humana é simultaneamente prática e

teoria de uma discursividade livre, os conceitos

do Direito, além de instrumentais, são

interpretativos, históricos, inferenciais e

buscam se organizar logicamente”41.

A consolidação do entendimento dos nossos

tribunais, a extrair da Lei n. 6.830/80 uma

validade inabalável no que toca à penhora

realizada antes da falência, coexiste com outras

variáveis dentro da realidade social e jurídica

brasileiras. Ao lado da segurança que a penhora

41

MARÇAL, Antônio Cota. O inferencialismo

de Brandom e a argumentação jurídica. In:

GALUPPO, Marcelo Campos. O Brasil que queremos:

reflexões sobre o estado democrático de direito, p.

115.

pretende conferir ao crédito fazendário,

existem outros elementos a serem

considerados, tais como, o princípio da

preservação da atividade empresária e da

função social da empresa que, por suposto, são

normas de Direito42 que decorrem do princípio

constitucional da função social da propriedade.

Portanto, não se pode afastar a necessidade

imperiosa de se interpretar a Lei n. 6.830/80 à

luz da Constituição de 1988, uma vez que esta é

posterior ao texto legal.43

O que se evidencia é a possibilidade de se

argumentar racionalmente, com base em

elementos jurídicos claros que há espaço para

42

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito

constitucional. 15. ed. atual. São Paulo: Malheiros,

2005. p. 257. 43

ASSIS, Araken de. Manual da execução, p.

1067.

entendimento diverso do adotado pelo

Superior Tribunal de Justiça, especialmente em

virtude da mudança dos elementos fático-

sociais que convergem para a intenção de

preservar a empresa.

O discurso da preservação da empresa

encabeça a estrutura do raciocínio que permite

a superação do entendimento firmado, como

um princípio de Direito, cuja essência pode

embasar a desconstituição da penhora em uma

vara de execução fiscal, de modo a propiciar a

aquisição do acervo patrimonial do falido em

bloco por quem deseja utilizá-lo

empresarialmente e, com isso, continuar a

atividade empresária.

Sobre o discurso da argumentação jurídica

Page 19: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

19

calcada em princípios e razões de Direito, tem-

se que “por argumentação jurídica entende-se

aquele processo de explicitação e articulação

de razões capazes de fundamentar decisões e

justificar ações próprias do Direito considerado

como ciência social aplicada”44.

Há, inegavelmente, a necessidade da “[...]

construção sempre reiniciada dos conteúdos

conceituais do Direito (institutos jurídicos,

normas jurídicas, julgados, construções

teóricas) [...]”45, de modo que o próprio Direito

possa evoluir e atender às necessidades de

44

MARÇAL, Antônio Cota. O inferencialismo

de Brandom e a argumentação jurídica. In:

GALUPPO, Marcelo Campos. O Brasil que queremos:

reflexões sobre o estado democrático de direito, p.

114. 45

MARÇAL, Antônio Cota. O inferencialismo

de Brandom e a argumentação jurídica. In:

GALUPPO, Marcelo Campos. O Brasil que queremos:

reflexões sobre o estado democrático de direito, p.

115.

uma sociedade que é complexa e dinâmica.

A decisão judicial que soluciona a controvérsia

apresentada corresponde a uma decisão difícil.

Justamente em razão dessa dificuldade quanto

ao elemento normativo aplicável, ou mesmo da

interpretação a ser empreendida, é que a

argumentação baseada em princípios pode se

apresentar como o melhor caminho.46

Portanto, ao se analisar as diversas premissas e

os múltiplos interesses que gravitam em torno

da empresa, a manutenção de uma penhora

pode colocar em risco valores mais nobres para

o ordenamento jurídico, do que o benefício

imediato que a penhora confere à execução

46

LORENZETTI, Ricardo Luis. Teoria da

decisão judicial: fundamentos de direito. Tradução de

Bruno Miragem. São Paulo: Revista dos Tribunais,

2009. p. 395.

fiscal para o ente fazendário, o que permite

chegar a uma conclusão diversa do

entendimento firmado até então.

4. CONCLUSÃO

O processo falimentar é caracterizado como a

inevitável morte da empresa, quando não mais

é possível sua continuidade. Contudo,

consistindo a preservação da atividade

empresária como valor perseguido nos

processos concursais empresariais, a falência é

a última via a ser adotada, sendo antes dela

devem ser feito todos os esforços para manter

a fonte produtiva geradora de riquezas e

renda.

Processo com caráter liquidatório de outrora, a

Page 20: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

20

falência disciplinada pela Lei n. 11.101/05

apresenta-se como meio de viabilizar a

continuação do exercício da atividade

empresária, mesmo que seja decretada a

falência do empresário.

A referida lei abriu tal hipótese especialmente

quando em seu art. 141 previu as hipóteses de

alienação do patrimônio do falido. Para

possibilitar que um terceiro arrematante dos

bens do insolvente na sua totalidade e os

empregue na mesma atividade ou atividade

correlata à desenvolvida pelo falido, o inciso I,

do citado artigo, prioriza a venda em bloco dos

bens do falido.

Contudo, verificou-se que, quando há penhora

realizada antes da sentença que decretou a

falência do empresário, os bens constritos em

varas de execuções fiscais no bojo de ações

executivas não podem ser alienados pelo

administrador judicial do processo falimentar,

impossibilitando o arremate por parte de

terceiros que os fossem utilizar no exercício de

uma atividade empresarial frustrando o

princípio da preservação da empresa.

A manutenção da penhora foi confirmada em

diversas oportunidades pelo Poder Judiciário,

que firmou entendimento nesse sentido. Além

da súmula n. 4 do extinto Tribunal Federal de

Recursos, que orientou a aplicação desse

entendimento antes mesmo da constituição de

1988 e da atual lei de falências, o STJ mantém

essa posição, referindo-se em diversas

oportunidades à súmula do finado TFR.

O conflito existente entre o princípio da

preservação da empresa e aplicação da Lei n.

6.830/80, que permite a penhora em ações

fiscais, segundo entendimento o entendimento

do STJ, se resolve mediante a aplicação da

referida lei, em nome da segurança jurídica do

ato constritivo praticado, além da conservação

dos interesses fiscais.

Contudo, uma análise renovada do processo

falimentar, conjugado com a necessária

preservação da empresa tão propalada nos dias

atuais, além uma interpretação reflexiva e

constitucionalizada do teor da decisão que

opta pela manutenção da penhora, pode-se

chegar à conclusão diversa ao entendimento

Page 21: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

21

firmado.

Considerando que o conteúdo da decisão

merece uma releitura a partir do novo modelo

de processo falimentar, impende suscitar que a

preservação da empresa se revela seu maior

objetivo. A liquidação de que se vale a Fazenda

quanto aos bens penhorados só faz prejudicar

a preservação da empresa e, como

demonstrado alhures, não se presta, na maioria

dos casos, a garantir o recebimento da dívida

ativa.

A segurança jurídica que o instituto da penhora

gera não passa de mera segurança formal. Isso

porque a liquidação dos bens constritos não

assegura o recebimento dos créditos

fazendários, pois o produto da arrematação

deve ser entregue ao juízo falimentar que

pagará a Fazenda Pública apenas depois de

serem pagos os credores extraconcursais, os

credores com créditos derivados da legislação

do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta)

salários-mínimos por credor, os decorrentes de

acidentes de trabalho e os credores com

créditos com garantia real até o limite do valor

do bem gravado.

A interpretação diversa daquela empreendida

pelo STJ pressupõe uma nova concepção da

segurança jurídica, com a qual a decisão será

baseada em valores, pautada nos princípios

jurídicos e aceitando o fato da não haver

verdades absolutas.

Considerando-se que a interpretação é fruto de

uma dada época, de um dado momento

histórico, e abarca os fatos a serem

interpretados, o momento atual está muito

distante daquele no qual se firmou o

entendimento do extinto TFR, a merecer uma

nova abordagem.

Se a empresa é tão importante para a

sociedade de modo geral, repercutindo na vida

econômica e social dos cidadãos a ponto dos

operadores do Direito repensarem o seu

conteúdo atribuindo-lhe uma função social e,

por conseguinte, erigir sua preservação a um

princípio de direito, este constitui efetivamente

a pedra angular do discurso racional proposto.

A preservação da empresa encabeça a

estrutura do raciocínio que permite a

Page 22: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

22

superação do entendimento firmado, como um

princípio de Direito, cuja essência pode

embasar a desconstituição da penhora em uma

vara de execução fiscal de modo a propiciar a

aquisição do acervo patrimonial do falido em

bloco por quem deseja utilizá-lo

empresarialmente e, com isso, continuar a

atividade empresária.

Sendo assim, a conclusão formada ao se

analisar as diversas premissas e os múltiplos

interesses que gravitam em torno da empresa é

a de que a manutenção de uma penhora pode

colocar em risco valores mais nobres para o

ordenamento jurídico, do que o benefício

formal que a penhora confere à execução fiscal

para o ente fazendário, o que permitiu concluir

diversamente do entendimento firmado pelo

Superior Tribunal de Justiça.

5. REFERÊNCIAS

ASSIS, Araken de. Manual da execução. 12. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009.

______. Manual do processo de execução. 8. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2002.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS

TÉCNICAS. NBR 10520: informação e

documentação - apresentação de citações em

documentos. Rio de Janeiro, 2002.

______. NBR 14724: informação e

documentação: trabalhos acadêmicos:

apresentação. Rio de Janeiro, 2005.

______. NBR 6023: informação e documentação

- referências - elaboração. Rio de Janeiro, 2002.

BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos

teóricos e filosóficos do novo direito

constitucional brasileiro (Pós-modernidade,

teoria crítica e pós-positivismo). Revista Diálogo

Jurídico, Salvador, v. I, n. 6, p. 1-33, set. 2001.

______. Interpretação e aplicação da

constituição: fundamentos de uma dogmática

constitucional transformadora. 6. ed. rev.,

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004.

______. O direito constitucional e a efetividade

de suas normas: limites e possibilidades da

constituição brasileira. 7. ed. Rio de Janeiro:

Page 23: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

23

Renovar, 2003.

BERNARDI, Ricardo. Da realização do ativo. In:

SOUZA JÚNIOR, Francisco Satiro de; PITOMBO,

Antônio Sérgio A. de Moraes (Coord.).

Comentários à lei de recuperação de empresas e

falência: lei 11.101/2005 - artigo por artigo. 2. ed.

rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2007. p. 484-502.

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de

recuperação de empresas e falências comentada:

lei 11.101/05: comentário artigo por artigo. 4. ed.

rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2007.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito

constitucional. 15. ed. atual. São Paulo:

Malheiros, 2005.

BRANDOM, Robert B. La articulación de las

razones: una introducción al inferencialismo.

Madrid: Siglo Veintiuno, 2002.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo

Regimental. Processo nº 2005/0015284-4.

Relator: Ministro Humberto Martins, j.

16/06/2009. DJe, Brasília, 25 set. 2009

Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc

.jsp?livre=fal%EAncia+execu%E7%E3o

+fiscal&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=23>.

Acesso em: 2 jan. 2010.

______. Superior Tribunal de Justiça. Embargos

de divergência no Recurso Especial. Processo

nº 2003/0012123-0. Relator: Ministra Eliana

Calmon, j. 06/10/2003. DJ, Brasília, 09 dez. 2003.

p. 204. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc

.jsp?pro

cesso=444964&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=

1>. Acesso em: 2 jan. 2010.

CREMASCO, Suzana Santi. A Classificação dos

Créditos na Lei n. 11.101/05: Breve Estudo sobre

as Inovações Relativas a Ordem de Pagamento

dos Créditos Concursais Trabalhistas, com

Garantia Real e Tributários. Revista Magister de

Direito Empresarial, Concorrencial e do

Consumidor. n. 11, p. 6-17, out./nov. 2006.

DÍAZ, Marta Zabaleta. El principio de

conservación de la empresa en la ley concursal.

Page 24: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

24

Navarra: Editorial Civitas, 2006.

FARALLI, Carla. La filosofía del derecho

contemporánea: temas y desafíos. Madrid:

Servicio de Publicaciones, Facultad de Derecho,

Universidad Complutense, 2007.

HARADA, Kiyoshi. A penhora como pré-

requisito da execução fiscal. Revista Magister de

Direito Empresarial, Concorrencial e do

Consumidor, Porto Alegre, n. 6, p. 6-10,

ago./set. 2007.

LIEBMAN, Enrico Túlio. Processo de execução. 4.

ed. São Paulo: Saraiva, 1946.

LOPES, Bráulio Lisboa. Aspectos tributários da

falência e recuperação de empresas. São Paulo:

Quartier Latin, 2008.

LORENZETTI, Ricardo Luis. Teoria da decisão

judicial: fundamentos de direito. Tradução de

Bruno Miragem. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009.

MACIEL, José Fábio Rodrigues. Teoria geral do

direito: segurança, valor, hermenêutica,

princípios, sistema. São Paulo: Saraiva, 2004.

MARÇAL, Antônio Cota. O inferencialismo de

Brandom e a argumentação jurídica. In:

GALUPPO, Marcelo Campos. O Brasil que

queremos: reflexões sobre o estado

democrático de direito. Belo Horizonte: Ed.

PUC Minas, 2006. p. 105-118.

NEGRÃO, Ricardo. Aspectos objetivos da lei de

recuperação de empresas e falências: lei n. 11.101,

de 9 de fevereiro de 2005. São Paulo: Saraiva,

2005.

PACHECO, José da Silva. Processo de

recuperação judicial, extrajudicial e falência: em

conformidade com a lei n. 11.101/05 e a

alteração da lei n. 11.127/05. 2. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2007.

SALAMANCHA, José Eli. Débitos fiscais e a

recuperação judicial de empresas. Revista de

Direito Mercantil, Industrial, Econômico e

Financeiro, São Paulo, v. 140, p. 118-125,

out./dez. 2005.

SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Doutrina e

prática do arresto ou embargo. Rio de Janeiro:

Forense, 1976.

Page 25: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

25

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de

execução fiscal: comentários e jurisprudência.

11. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

Page 26: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

26

Aspectos revisitados da Globalização e seus

desafios para os Estados Nacionais1

O fenômeno da globalização tem sido objeto de

várias análises, principalmente no que se refere à

efetiva novidade do termo 2 . Apesar das

divergências interpretativas entre os mais

diversos autores que se dedicam ao estudo do

tema, um ponto em comum entre eles é o fato de

que a globalização tem gerado a

internacionalização produtiva, o incremento do

comércio e a absorção de novas tecnologias.

(Lacerda, 2003). Além disto, este processo tem

colocado novos desafios para os Estados

Nacionais, para as empresas, para os profissionais

envolvidos direta e indiretamente na cadeia

produtiva e para toda a economia num contexto

geral. 1 Luiz Cesar Fernandes da Silva é Mestre em Administração

Pública pela Fundação João Pinheiro, especialista em Finanças – UFMG e bacharel em Economia. Professor Universitário, trabalha com Consultoria Financeira Empresarial e integra o grupo de Pesquisa – Emprego e Renda da Fundação João Pinheiro, juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo de Minas Gerais. 2

A análise da globalização, no contexto da inserção

externa do país e na entrada do IED pelas atuações das

ETNs, tem sido tema estudado atualmente por diverso

autores. Entre estes: Baumann (1996) e Fiori (1998).

Embora para diversos autores, a sociedade global

ou a economia global apareçam na definição

desse processo 3, Fiori (2007) ressalta que ocorre,

em grande parte das análises, uma falta de

interpretação mais profunda para compreender o

“processo global” do desenvolvimento do

sistema capitalista. Para essa não compreensão, o

jargão “globalização” é comumente definido

como um resultado inevitável de que as

transformações tecnológicas coligadas à

expansão dos mercados “derrubaram” as

fronteiras das nações. José Luis Fiori diz que esse

“fenômeno” seria simplesmente a forma de

expansão do capitalismo, em mais uma nova fase

do desenvolvimento histórico de um sistema de

criação de riqueza.

3

Focalizo a atenção para textos em que se utiliza

metáforas para descrever as transformações do final do

século XX.” Primeira revolução mundial”(Alexander

King), “Terceira onda”(Tofler) e “Aldeia global”

(Mcluhan).

Essa nova fase de relevantes mudanças que tem

ocorrido no século XXI, tem sido não só

caracterizada pela aceleração dos fluxos de

serviços, de mercadorias, de idéias e valores, mas,

principalmente, pelo aperfeiçoamento das

capacidades técnicas, da liberalização financeira e

da globalização das empresas. (Defarges, 1993).

Todo esse processo de transformação deveu-se,

em grande média, aos avanços científicos e

tecnológicos em curso, especialmente nos

transportes e comunicações, que possibilitaram

maiores intercâmbios no comercio internacional.

Fiori (2007) descreve que, se retornarmos na

história, veremos que esse atual movimento

contemporâneo conhecido como “globalização”

já era vivenciado no capitalismo na Europa, no

final da Idade Média 4. Porém, durante os últimos

4 A raiz do sistema capitalista (acumulação e expansão)

existe desde o século XII. Entretanto, a expansão do

capitalismo realmente se dá após a Independência Norte-

americana e da multiplicação dos Estados nacionais fora

da Europa. Até o fim do século XVIII, o sistema mundial

moderno se restringia aos Estados Europeus e a todos os

demais territórios que se encontravam dentro do espaço

de dominação das colônias ou do Império. Detalhes da

Page 27: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

27

130 anos, as dinâmicas integrações regionais,

através de bens, capital e mão-de-obra e as

diferentes formas como estas vêm se

procedendo, são alguns dos fatores destacados

por historiadores como o aprofundamento do

processo de globalização. Na literatura, esse

período foi dividido por três diferentes fases onde

cada uma se caracterizou por um determinado

modo. (CEPAL, 2002).

1.1 A Primeira Fase

A primeira fase vai de 1870 até 1913 e se

interrompe com a Primeira Guerra Mundial. Esta

fase se caracterizou por três procedimentos: o

primeiro referiu-se à extensão do padrão-ouro, a

partir de 1870, como sistema de pagamento

internacional. O segundo, foi pela elevada

mobilidade internacional de capitais e da mão-de-

obra, enquanto o terceiro deu-se por várias

formas de regulação estatal. A seguir,

ponderamos esses processos mais

especificadamente.

evolução do processo mundial da globalização desde a

Idade Média, ver Fiori (2007).

Furtado (1976) destaca que, quando a Inglaterra

“abandonou” a agricultura em favor das

atividades comerciais, teve que necessariamente

aprofundar na industrialização interna. Ou seja, o

crescimento interno viabilizou a expansão do seu

crescimento econômico no comércio

internacional. Nas idéias de Celso Furtado, cabe

ressaltar que um dos pontos que caracterizou o

desenvolvimento do sistema capitalista foi o

intercâmbio de produtos entre países, que têm

em si a disparidade nos níveis de preços nas

trocas das mercadorias. Desse modo, quando a

Inglaterra assume a primazia na Revolução

Industrial, não sendo acompanhada, a princípio,

por grande parte dos países na difusão do “novo”

modo de produção, o intercâmbio favoreceu e

contribuiu para consolidar a hegemonia inglesa

pela acumulação financeira através das

desigualdades de preços nas relações comerciais.

O padrão-ouro clássico 5 foi a expressão da

hegemonia inglesa na primeira fase da

5 A “aceitação” ou a “escolha de um padrão monetário

depende de uma complexa interação entre as práticas de

pagamentos dominantes nos mercados à hierarquia entre

as econômicas nacionais”. (Belluzzo 1998, p.162). O

globalização, quando a libra se tornou uma

referência de pagamento mundial em 1870 6. Para

a Inglaterra, a expansão dos meios de

pagamentos proporcionou, sobretudo, o

financiamento da sua Revolução Industrial, que

viabilizou o deslocamento da indústria algodoeira

para a indústria metalúrgica de estradas de ferro.

(Fiori, 2007). Através destas indústrias

metalúrgicas, pode-se estabelecer a indústria de

bens de produção (máquinas, metalurgia e

mineração), possibilitando ainda maior inserção e

domínio nas relações comerciais.

O segundo procedimento característico dessa

fase, a mobilidade de capitais e de mão-de-obra,

estabelecimento desse padrão revela a aceitação dos

agentes nas relações comerciais e financeiras

internacionais, na moeda do país dominante como meio

de pagamentos nas transações. Indica uma confiabilidade

dos mercados no sistema bancário daquela nação, pois, é

através do poder de financiar as negociações no comercio

internacional e de “bancar” garantias, que essa economia

se impõe através da moeda de sua emissão. 6 A Inglaterra já liderava a globalização financeira desde

1830. A partir de 1649, no governo Crowell, foram

tomadas as primeiras estratégias que levaram a Inglaterra

á Revolução Industrial e à construção do seu império. A

Inglaterra não abriu mão do mercantilismo e do

expansionismo colonial até à primeira metade do século

XIX, quando já havia feito a Revolução Industrial e

liderava a economia mundial. Detalhes Fiori (2007).

Page 28: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

28

em síntese, ocorreu da seguinte maneira: com o

aperfeiçoamento das técnicas agrícolas, a

agricultura se desenvolveu, ampliando-se o

excedente produtivo que impulsionou o

crescimento das cidades e a expansão do

intercâmbio de bens e de mão-de-obra com

outras regiões. O advento da Revolução Industrial

deu origem à especialização e à divisão

internacional do trabalho. Percebe-se que a

extensão dessa divisão seria sempre delimitada

pelo tamanho do mercado, pois, com mercados

mais amplos, haveria uma especialização maior,

elevar-se-ia a produtividade, a eficiência e, com o

uso do dinheiro no intuito de superar as

dificuldades de um sistema de trocas, aumentar-

se-ia a riqueza.

Desse modo, a ampliação destes mercados

possibilitou oportunidades para o comércio e

transportes, principalmente para a indústria

ferroviária 7 e a de manufaturas. Estas,

7 A invenção do motor a vapor (1765), o tear hidráulico

(1768) e mecânico (1785), foram importantes fatores para

a ampliação dos mercados, pois permitiu enorme e um

rápido desenvolvimento da indústria em larga escala.

Detalhes Hunt (1978).

respectivamente, impulsionaram a mobilidade de

mão-de-obra e de capitais 8 que viabilizaram ainda

mais a especialização e a acumulação 9 . Cabe

ressaltar ainda a observação de Fiori (1998) de

que através desta expansão, deu-se a classe

operária e solidificou-se a urbanização da

sociedade européia.

Apesar do discurso Inglês em favor do livre

comércio, o terceiro procedimento característico

dessa fase foi à regulação estatal. Com exceção

das potências européias comprometidas com o

livre comércio (Inglaterra e Holanda) e da

imposição às colônias de livre comércio com as

respectivas metrópoles de iguais obrigações, o

que predominou para as outras nações do

continente Europeu, foi a proteção, através de

8 A expansão de capitais nessa fase da globalização se

deu através da "emissão de capital" em grandes projetos

de longo prazo, especialmente de infra-estrutura e da

criação de um mercado internacional de bônus da dívida

pública. Em torno desta expansão surgiu uma incipiente

rede bancária internacional que favoreceu também para

ampliar os mercados. (CEPAL, 2002).

9 Acumulação de capital se dá em duas formas. 1ª

Formação de capital e investimento e a 2ª de estoque

(capacidade de produção). Furtado (1976).

tarifas, no sentido de tentar beneficiar os

produtos nacionais.

De acordo com Furtado (1976), a decorrência

natural das operações de intercâmbio que é o uso

do excedente produtivo para captação de outro

excedente, fez-se de forma irregular em diversas

regiões, decorrente de fatores políticos e culturais

que ofereciam resistência à destruição das

estruturas mercantilistas anteriormente

existentes. Assim, com maior acumulação inglesa,

implicando em maiores excedentes produtivos, a

viabilidade de distribuição destes daria através da

ampliação dos mercados. Para que a expansão

dos mercados fosse viável, seria importante o

mínimo de dificuldades em termos de tributos e

normas. Ou seja, era previsível que, nesse cenário,

a Inglaterra discursasse em favor do livre

comércio.

Em síntese, nota-se que o aumento das

exportações era a estratégia para a expansão da

produção e do comércio. Percebe-se,

historicamente, que o processo de expansão das

Page 29: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

29

empresas para além das suas fronteiras começa a

se desenvolver e criar dimensões em fins do

século XIX. Outro fato relevante a se considerar é

que a abertura de novas linhas de comércio

possibilitou, de certa forma, a criação de “novos”

padrões nas relações de intercâmbio externo, que

configurariam, posteriormente, na segunda fase,

a base de um novo sistema de produção e de

comercialização, principalmente pelas grandes

empresas e pelas Empresas Transnacionais

(ETNs).10

Essa primeira fase da globalização se interrompeu

com a Primeira Guerra Mundial, que obstruiu o

dinamismo do comércio mundial. 11 Entre os

10

Em relação às grandes empresas, um fato importante

que deve ser destacado, é o surgimento do Fordismo.

Apesar da Ford ter sido fundada em 1903, o fordismo

aparece como novas práticas de gestão a serem seguidas

a partir de 1913, quando Henry Ford passa a adotar seu

sistema na linha de montagem de sua fábrica, na

produção do Ford Modelo T. Ou seja, entre o fim da

primeira e o início da segunda fase do processo de

globalização referenciado no trabalho. 11

As análises históricas indicam que, com a Primeira

Guerra Mundial, teve início um período de lenta

expansão das economias dos países industrializados, em

particular do Reino Unido e outros países europeus,

dando fim ao alto crescimento associado à primeira fase

da globalização. A queda inicial foi experimentada na

fatores que contribuíram para a queda desse

dinamismo, estariam a instabilidade política

mundial, a desaceleração do crescimento

econômico dos países desenvolvidos e a

incapacidade para preservar o padrão ouro.

1.2 A Segunda Fase

Após a Segunda Guerra Mundial, tem início uma

nova etapa de integração global comandada pela

hegemonia americana. 12 O período assinalado

dessa segunda fase, 1945 a 1973, caracterizou-se

pela grande extensão do comércio de

manufaturas entre os países desenvolvidos, pela

existência de uma grande variedade de modelos

de organização econômica ao redor do mundo e,

diferentemente do que ocorrera na primeira fase,

por uma baixa mobilidade de mão-de-obra.

forte crise do pós-guerra de 1920 e 1921. Associada a

esta, durante esse período os preços reais das matérias-

primas sofreram uma queda de 45%. O colapso da

economia mundial em 1929 gerou uma nova queda dos

preços de matérias-primas, os quais se mantiveram

baixos até o final da década de 1940. CEPAL (2002)

12 Detalhes da queda da hegemonia Inglesa na primeira

fase, para a primazia hegemônica Americana na segunda

fase. Ver Fiori (1998 p. 87 a 150).

No período da segunda-fase, a economia

americana funcionou como reguladora do

processo capitalista, provendo a liquidez e a

demanda do comércio internacional. O processo,

vivenciado pela economia americana de

acumulação de capital no pós-guerra, contribuiu

para a formação das ETNs que passaram a dispor

de grande poder financeiro e econômico. Hiratuka

(2003) assinala que essas empresas, na busca de

novos mercados, passaram cada vez mais a

internacionalizar suas atividades, instalando filiais

em diversos países onde os mercados

possibilitariam melhores retornos.

Decorrente dos efeitos do pós-guerra, o incentivo

do governo americano à produção local, em

detrimento à queda das importações, motivou a

industrialização produtiva em vários setores

industriais daquela economia. Associado aos

mercados promissores dos países que saíram

destruídos pela guerra, os EUA abriram suas

exportações para a Europa e Japão, que

passavam pelo processo de reconstrução. O

projeto americano de construção da ordem

Page 30: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

30

econômica internacional 13 foi concebido com o

propósito de promover a expansão do comércio

entre as nações e colocar seu desenvolvimento a

salvo de turbulências financeiras. (Belluzzo, 2005).

Nessa conjuntura, as ETNs passaram a assumir um

papel pioneiro pelo aumento do comércio

mundial a partir dos anos 50. Alcoforado (1997)

ressalta que, em fins daquele decênio, para

superar a crise econômica do pós-guerra, assim

como a queda na produtividade do capital e das

margens de lucro das empresas, era vital tanto a

mudança de paradigmas tecnológicos e de

gestões empresariais, como a diminuição de

barreiras comerciais. Só através dessas mudanças,

seria possível dar início a um novo ciclo de

expansão do sistema capitalista.

Dois acontecimentos importantes para o

desenvolvimento desse novo ciclo de integração

comercial das economias, foram: a rápida

expansão dos mercados financeiros 14 mundiais no

13

Plano Marshall. Ver Sandroni (1989). 14

O início da desregulamentação financeira se dá através

da quebra de contrato de Bretton Woods (1944). O

ressurgimento do financiamento privado internacional de

longo prazo, a partir da década de 60, 70, foi produto não

final dos anos 70, liderado pela economia

americana e, a expansão das ETNs através do

Investimento Estrangeiro Direto (IED). Esta

favoreceu-se principalmente quando o mercado

interno americano passou a crescer menos do que

o potencial de expansão de suas empresas. Para

Vernon (1996) 15, quando as empresas americanas

produziam um bem cuja demanda interna não

só da nova fase de estabilidade da economia mundial,

mas também de uma sucessão de fatores. Entre estes,

podem-se destacar quatro: 1) o excedente de dólares da

década de 60 e os petrodólares da década seguinte; 2) o

abandono do esquema de paridade fixa de Bretton Woods

e a “flutuação” das principais moedas no início dos anos

1970; 3) a acelerada institucionalização da poupança na

década de 1980 sob a liderança dos Estados Unidos e

Reino Unido; e 4) o nascimento de um mercado crescente

de derivados financeiros, na última década do século XX,

que permitiu subdividir os riscos dos diversos ativos e

passivos financeiros. 15 Vernon – Teoria do Ciclo de vida dos produtos. Esse

autor foi o primeiro a analisar os fluxos comerciais a

partir do movimento da expansão das ETNs.,

estabelecendo uma relação dinâmica entre a capacidade

de inovação, internacionalização produtiva e padrões do

comércio. Para ele, os novos produtos na sua fase de

crescimento são introduzidos nos mercados estrangeiros

via exportação ou IED através dos “oligopólios baseados

na inovação”,, onde tudo depende duma análise

custos/benefícios entre estas duas modalidades. A

dinâmica do modelo residiria na interação entre as

forças da demanda e as possibilidades de produção.

respondesse ao esperado, as exportações era o

caminho e estas se davam, inclusive, através das

instalações das filiais em outros países. 16

Pode-se notar que, nessa segunda fase da

globalização o avanço no transporte, nas

tecnologias da informação e comunicação

permitiu aumentos consideráveis na

produtividade, no crescimento econômico e no

comércio internacional. Esses avanços

possibilitaram a formação dos blocos

internacionais (blocos regionais, sub-regional e

bilateral), tornando-se papel importante para

maior proveito da ampliação dos mercados, no

sentido de enquadrar a “nova” industrialização e

estender o avanço do progresso técnico.

Como consequência, a formação desses blocos

trouxe a exigência da queda das barreiras ao

comércio internacional, pois aumentou o grau de

16

Cabe destacar aqui, um ponto de grande relevância que

ocorre no decorrer dessa integração comercial. O nascer

de uma nova concepção de sistema de produção

conhecido como Toyotismo. Apesar de ter a sua gênese

no Japão, no decênio de 1950, é no decorrer da década de

1970, que o Toyotismo passa a ser incorporado

mundialmente em diversas empresas. No Brasil, as

empresas começam a adotar esse modelo, mais

precisamente, no decênio de 1980.

Page 31: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

31

interdependência entre os países deles

participantes, visto uma maior movimentação dos

fluxos de capitais financeiros e dos IED que

passou a acorrer. Essa situação corroborou para

que os Estados Unidos adotassem uma postura

no sentido de promover e desenvolver

instituições de cooperação internacional 17 em

matéria financeira e comercial, visando assegurar

sua hegemonia global ao longo desse tempo.

Em síntese, o que caracterizou esse período foi,

inicialmente, a expansão das operações do

mercado americano, que à priori se deu pelo IED e

através das exportações das ETNs. Cabe ressaltar

ainda que a difusão das ETNs no pós-guerra,

adiciona-se, especialmente na década de 60 e 70,

uma intensa internacionalização do capital

financeiro. O ponto de ruptura dessa fase,

17

Os EUA, ao contrário da Inglaterra no século XIX,

construíram uma complexa rede de instituições voltadas

para a gestão multilateral de sua hegemonia e agrupadas

em três grandes áreas. 1) As instituições econômicas,

(FMI, BIRD, GATT), responsáveis pela supervisão do

comércio, do sistema monetário e do equilíbrio do

balanço de pagamentos dos países membros, 2) a rede

global de suas bases militares legitimada por vários

pactos regionais e 3) a finalmente, a ONU, para garantir

administração política de conflitos. Detalhes: Fiori

(1998).

segundo Marglin e Schor (1990), dá-se

especificamente no início da década de 70, com o

fim da paridade cambial acordada em 1944, em

Bretton Woods 18.

1.3 A Terceira Fase

No último quarto do século XX, consolidou-se a

terceira fase de globalização, cuja característica

central é a crescente presença das ETNs e do IED

no cenário mundial sob a modalidade de sistemas

de produção integrados. As raízes deste longo

processo estiveram inseridas nas sucessivas

18 Reunião realizada em 1944 na cidade de Bretton

Woods (EUA), onde representantes de 44 países aliados

assinaram um acordo estabelecendo as regras de

funcionamento de um novo sistema monetário

internacional, definidas basicamente pelos EUA e Grã-

Bretânia, o “padrão-dolar”. Com o objetivo de se criar

um sistema multilateral de regulamentação

macroeconômica baseado em taxas de câmbio fixa, mas

reajustáveis, e o apoio financeiro aos países que

enfrentavam crises do balanço de pagamentos, assim

como o surgimento dos bancos oficiais de financiamento

internacional, tanto nacionais (bancos de exportações e

importações) como multilaterais, esse novo sistema,

passou a vigorar no pós-guerra e se manteve vigente até

1973, quando os EUA tomaram a iniciativa de abandoná-

lo.

revoluções da tecnologia da informação e da

comunicação (fibra ótica, satélites, sistemas de

computadores, etc.), que se intensificaram no

decorrer dos três últimos decênios.

Braudel (1994) assinala que esses fatores

contribuíram para explicar a grande “onda” de

investimentos estrangeiros e a concentração da

produção em escala mundial que caracterizou a

última década do século XX. Para esse autor, a

internacionalização produtiva das empresas

remete ao final do século XIX, como um

subproduto dos processos de concentração

econômica nos países industrializados, de onde

vem até hoje grande parte das ETNs.

A partir da década de 70, estendeu-se a sub-

contratação internacional das tarefas mais

intensas em mão-de-obra, que originou o primeiro

passo para o desenvolvimento de sistemas de

produção integrados, pois possibilitou a criação

de segmentos nas diversas etapas do processo

produtivo. Essas mudanças aumentaram a

importância das grandes empresas, contribuindo

para o aumento do IED e dos fluxos de bens e

Page 32: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

32

serviços em suas relações comerciais 19 .

Acrescenta-se a isso, que as economias em

desenvolvimento começaram a apresentar alguns

fatores específicos a partir dos anos 90 que

impulsionaram o processo de expansão do IED.

(Franco, 1998). Tais fatores incluem: a

intensificação da política de liberalização

econômica e comercial; os ajustes

macroeconômicos que viabilizaram a retomada

do crescimento; a necessidade de explorar os

recursos tecnológicos externos e, principalmente,

as privatizações das empresas estatais, sobretudo

no setor de prestação dos serviços públicos,

como telecomunicação e abastecimento de

energia elétrica.

19

A especialização de fábricas ou empresas sub-

contratadas, localizadas em vários países na produção de

componentes e nas etapas do processo produtivo. Essas

mudanças na estrutura produtiva e comercial

aumentaram a importância das grandes empresas ou

conglomerados empresariais. Passou a existir, de fato,

uma relação entre o surgimento dos sistemas integrados

de produção e o aumento dos fluxos de comércio e do

IED.

Para Eliane Franco, essas transformações

começaram a mudar o relacionamento entre os

governos desses países e as ETNs, pois

possibilitaram a criação de um cenário mais

definido para atuações dessas empresas no

processo da globalização. Nessa fase, além da

definição geográfica de suas fragmentações

produtivas, as ETNs passaram a incorporar firmas

locais através de fusões ou pelas privatizações.

Formaram novas redes de logísticas e

influenciaram no processo de transformação de

mudanças comportamentais das organizações

hospedeiras, que configuram em novas estruturas

produtivas e de valores. Estas mudanças foram

desde novos valores de gestões administrativas

até ao nível de envolvimento de

comprometimento das empresas que se

relacionam diretamente com as ETNs.

Segundo Alcoforado (1997, p.13), essa nova fase

tem sido identificada pela:

produção de mercadorias complexas que exigem a utilização de elevada competência profissional nas áreas de gestão empresarial, de materiais e de tecnologias sofisticadas. As mercadorias complexas não se reduzem nem a objetos

materiais individualizados, nem a simples serviços. Ela é a combinações do material e do imaterial, da intervenção direta de competências e do uso de bens de forte conteúdo técnico que implicam frequentemente em pesados investimentos na pesquisa, na produção de equipamentos e na formação de recursos humanos.

Além dos avanços tecnológicos, a integração

regional foi e tem sido estimulada pelos mercados

financeiros desregulamentados e sofisticados.

Isto colaborou/colabora para a criação de um

fator intangível da riqueza e contribui para uma

nova expansão do capitalismo.

O capital financeiro volta a ocupar o proscênio, em blocos de poder formados por seus Estados nacionais e comprometidos por novos territórios econômicos, delimitados já não pelas barreiras comerciais, mas pela credibilidade de suas moedas e do sistema de pagamentos. Criam-se verdadeiros territórios monetários que se espraiam e competem através de um universo integrado, pelas desregulações nacionais dos movimentos de capitais e pela descompartimentalização dos próprios mercados financeiros do cambio, das ações, dos imóveis e das comodities. (Fiori, 1999, p.72).

Para José Luís Fiori, além desses procedimentos,

há ainda políticas que reforçam as grandes nações

e as ETNs em favor de novos regimes

Page 33: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

33

internacionais de comércio e investimentos, no

sentido de confirmar suas lideranças. A abertura

dos mercados financeiros pós anos 80, pelos EUA,

teria lhes confirmado essa supremacia. No estudo

da CEPAL (2002), em linhas gerais esse processo

ocorreu através de três fatores. 20

O primeiro estaria relacionado à diminuição do

número de instituições bancárias em quase todos

os países, que viabilizou o aumento dos grandes

conglomerados bancários. Isso foi decorrente da

concentração do sistema financeiro nas

economias desenvolvidas no pós-guerra e que, na

década de 90, se caracterizou por fusões e

aquisições de grandes instituições financeiras. O

segundo fator foi o surgimento dos

intermediários financeiros não bancários (fundos

de pensões, bancos de investimentos, etc.), que

aumentou a concorrência com as instituições

bancárias tradicionais, e que, por sua vez, obrigou

20

A expansão financeira realmente se estabelece em

1980, com políticas de desregulamentações adotadas

pelos governos anglo-saxões. Como conseqüência da

concorrência por esse capital e na busca de maior liquidez

para as empresas e para o mercado, outros países

seguiram a mesma tendência de política econômica.

Assim, nascem às finanças desregulamentadas privadas

dos anos 90.

a produzir um conjunto mais amplo de serviços.

Para favorecer a isso, ocorreu ainda a

desregulamentação das atividades bancárias e a

eliminação do controle de capitais nos países

desenvolvidos. Com isso, criaram-se

possibilidades de novas fontes e modalidades de

financiamentos para as empresas. A grande

liquidez gerada no mercado secundário por essas

empresas, em específico para as ETNs norte

americanas, viabilizou e permitiu a expansão de

suas atividades e o financiamento de grandes

projetos tecnológicos e comerciais ao redor do

mundo. Por último, o crescimento dos ativos

financeiros em mãos de investidores, uma vez

que, multiplicada a demanda para a diversificação

de títulos de diferentes riscos, gerou efeitos

positivos e negativos para as economias

industrializadas. O efeito positivo transcorreu do

surgimento de novas formas de financiamentos

para novos e caros projetos. Ao mesmo tempo, o

efeito negativo decorreu de que, com estas novas

formas de financiamento, criou-se maior

fragilidade financeira. A partir dessa fragilidade,

começou a veicular entre os governos o debate

em torno de medidas de regulação.

Em síntese, a fase recente da globalização tem

sido assinalada pela liberalização dos mercados

comerciais e financeiros e pelo crescimento das

oportunidades de valorização do capital, através

do comércio de bens, serviços, IED e entre

associações dos ativos. Verifica-se, por sua vez,

um aumento considerável na competitividade,

viabilizado por novas ações estratégicas das ETNs,

pelas aquisições, fusões e pela produção em

redes. Nesse aspecto, as ETNs tornaram-se

agentes centrais nos processos de inovações com

consideráveis aumentos do fluxo de IED por

diversas regiões globais.

Neste aspecto, há preocupações de governos

locais, principalmente dos países menos

desenvolvidos, em relação à vulnerabilidade

externa proporcionada pelos fluxos financeiros e

pelo IED. Tendo em vista que a caracterização

desses fluxos por essas empresas se diferencia

quanto ao volume, à periodicidade e quanto as

suas estratégias de ações, cabe a relevância de se

Page 34: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

34

pensar na necessidade de políticas econômicas de

cada país em relação, também, às intenções

internas. Para um país inserir-se neste cenário,

torna-se básica a existência de uma estrutura

econômica e institucional interna solidificada,

compatível com certos padrões da

competitividade internacional em comunhão aos

objetivos, principalmente sociais internos e

externos deste país.

Referência Bibliográfica

ALCOFORADO, Fernando. Globalização. São Paulo:

Nobel. 1997

BAUMANN, Renato. Uma visão econômica da

globalização In: O Brasil e a economia global. Rio de

Janeiro: Campus, 1996.

BELLUZZO. L.G. Dinheiro e as transformações da

riqueza. In: TAVARES. M.C e FIORI, J.L. (org).

Poder e Dinheiro: uma economia política da

globalização. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

CEPAL. Globalização e desenvolvimento. Brasília,

2002.

DEFARGES, P. M. A Mundialização – O Fim das

Fronteiras. São Paulo: Instituto Piaget, 1993.

FIORI, José Luis. O poder global e a nova

geopolítica das nações. São Paulo: Boitempo

editora, 2007.

-------------------. (org). Estados e moedas no

desenvolvimento das nações. Petrópolis, RJ: Vozes;

1999.

-------------------. Globalização, hegemonia e império.

In: TAVARES. M.C e FIORI, J.L. (org). Poder e

Dinheiro: uma economia política da globalização.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

FRANCO, Eliane Cristina. Novas práticas

organizacionais, inovação e competitividade. No

mercado global: Um estudo sobre uma empresa

transacional do setor de bens de consumo.

Dissertação de Mestrado. Instituo de Geociências

da UNICAMP. 1998.

FURTADO, Celso. Prefácio a Nova Economia

Política. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra. 1976.

HIRATUKA, C. et all (org). Padrões de integração

comercial das filiais de empresas transacionais. In:

Internacionalização e desenvolvimento na indústria

no Brasil. São Paulo: Editora UNESP; Campinas, SP:

Instituto de Economia da UNICAMP, 2003.

HUNT, E.K. História do Pensamento Econômico. 7ª

Edição. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

LACERDA, Antõnio Correia. Globalização e inserção

externa da economia brasileira: Política econômica,

investimentos diretos estrangeiros e comércio

exterior,na década de 1990. Dissertação de

Doutorado. Instituto de Economia da UNICAMP,

2003.

MARGLIN, S. A. e SCHOR, J. B. (Eds.) In: The

Golden Age of Capitalism. Oxford, Clarendon Press,

1990.

SANDRONI, Paulo. (org). Dicionário de Economia.

São Paulo, Editora Best Seller, 1989.

VERNON, R. (1966) "La inversión internacional y el

comercio internacional en el ciclo de productos". In:

Rosenberg, N. (org.). Economia Del Cambio

tecnológico. Trad. de Eduardo L. Suárez. México:

Fondo de Cultura Econômica, 1979, 1. ed.

(espanhol), El trimestre Económico, Lecturas, 31,

p. 408-427.

Page 35: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

35

A arte de contar histórias1

RESUMO

Neste artigo será tratado a importância da

contação de histórias na educação infantil. Não

somente a importância, mas também como fazê-lo

de forma correta, a fim de estimular a criatividade e

o hábito pela leitura. Dada tamanha importância

que a contação histórias têm para a formação

epistemológica dos alunos, tentaremos neste artigo

alertar os educadores a se prepararem e lançarem

mão sempre que possível desta arte que tem ficado

em segundo plano nos ambientes educacionais.

Assim mostraremos algumas técnicas e também

sugestões de leitura para crianças de várias idades,

mas focando o trabalho na educação infantil.

ABSTRACT

This article will be portrayed the importance of

storytelling in early childhood education. Not only

the importance but also how to do it correctly, in

order to stimulate creativity and the reading habit.

Given such importance that are telling stories to the

students' epistemological formation, this article

will try to alert educators to prepare and launch

hand whenever possible this art that has been in

the background in educational environments. So

show some techniques and also suggested readings

1 Claudia Cristina Del Papa Cabral é graduanda do curso

de Pedagogia no Centro Universitário Izabela Hendrix e

professora de educação infantil.

for children of various ages, but the work focusing

on early childhood education.

INTRODUÇÃO

Por muitos anos, mesmo depois da invenção da

escrita pelos assírios, o conhecimento foi

transmitido para gerações futuras de forma oral,

ou seja, através de histórias que os mais velhos

contavam aos mais novos. Assim a cultura de um

povo não morria, era contada de geração em

geração.

[...] designa o ato de passar algo para outra pessoa, ou de passar de uma geração a outra geração. Em segundo lugar, os dicionaristas referem a relação do verbo tradire com o conhecimento oral e escrito.Isso quer dizer que através da tradição, algo é dito e o dito é entregue de geração a geração. [...] Assim, através do elemento dito ou escrito algo é entregue, passa de geração em geração, e isso constitui a tradição – e nos constitui.2

Porém, séculos se passaram, meios tecnológicos

armazenam e disponibilizam o conhecimento,

assim a contação de histórias, foi perdendo

espaço para jogos eletrônicos, filmes, desenhos e

2 TRADIÇÃO. In: Novo dicionário da língua

portuguesa. Aurélio Buarque de Holanda. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 1696.

outros apetrechos oferecidos pela sociedade

moderna.

Contar histórias foi uma prática muito comum

dentro dos lares. Pais que liam livros para os filhos

antes de dormir, avós que contavam antigas

histórias e faziam assim os netos viajarem por um

mundo que não conheceram nem viram, mas que

imaginam com uma clareza de detalhes. A ficção

ou imaginação é o tempero do brincar. Nesse

universo, as coisas acontecem de modo diferente

da realidade. É outra realidade. A imaginação é

marcada pela capacidade de conferir diferentes

significados a algo dado3.

O problema colocado em questão para

construção deste trabalho é “A contação de

histórias é benéfica para o desenvolvimento

cognitivo de crianças no processo de

alfabetização?”.

O objetivo da pesquisa é mostrar a importância de

contar histórias, despertar a criatividade nas

3

CARVALHO, Alysson; SALLES, Fátima;

GUIMARÃES, Marilia; DEBORTOLI, José Alfredo,

organizadores. Brincar(es). Belo Horizonte: Editora

UFMG; Pró-reitoria de Extensão, 2005. Pp21.

Page 36: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

36

crianças, fazer com que elas consigam quebrar o

paradigma do tempo e espaço e imaginar outros

mundos em outras situações. Isto faz com que

elas se tornem adultos criativos e aptos a

buscarem soluções para problemas do cotidiano e

tornarem profissionais pró ativos.

Além disso, a criança que ouve histórias com frequência educa sua atenção, desenvolve a linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário e principalmente aprende a procurar, nos livros, novas

histórias para o seu entretenimento4.

Com os avanços da tecnologia e a agitação do

mundo pós moderno, onde pais trabalham em

vários empregos, e mães se tornaram peça

fundamental na estrutura familiar, com seu

trabalho e ansiando pelo crescimento

profissional, o tempo para contar histórias antes

de dormir, foi trocado por um tempinho

assistindo televisão. Assim a contação de histórias

perdeu espaço para filmes e desenhos. A criança

ao invés de ouvir e criar em sua mente efeitos

especiais desenvolvendo sua criatividade, assiste

4 COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem

idade. São Paulo: Ática, 1995.

passível aos efeitos especiais de outra mente que

rouba sua atenção e a deixa em situação de

inércia, de esperar as coisas já prontas sem a

necessidade de pensar.

Se pensarmos na triste realidade de muitas

crianças, principalmente das escolas publicas,

talvez consigamos pensar na real importância de

contar histórias a estas crianças.

Para tanto, a construção deste capítulo dar-se-á a

partir de pesquisa bibliográfica, considerando a

pesquisa bibliográfica como aquela que procura

aplicar os conhecimentos adquiridos baseados em

referências teóricas5.

Foram pesquisados textos que abordam o

processo pedagógico de aprendizado, a

psicologia infantil, sendo assim consultados livros

pedagógicos, textos da psicologia infantil, história

da educação, metodologia do trabalho

5 CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino.

Metodologia Científica. 5.ed. São Paulo: Prentice

Hall, 2002.

acadêmico e o Novo Dicionário da Língua

Portuguesa de Aurélio Buarque de Olanda. Os

livros pedagógicos foram consultados a fim de

fundamentar as influências percebidas dentro de

sala de aula pelos alunos no processo de

alfabetização. Para tal foram pesquisados textos

de Paulo Freire, autores da FAE (Faculdade de

Educação da UFMG) com o livro Brincar“es” e

textos de Nelson Piletti, que mostram a prática

docente com crianças. Na área da psicologia, dois

livros foram utilizados, textos de Angela Biaggio,

no livro a Psicologia do Desenvolvimento e A

Psicologia do Desenvolvimento de Jean Piaget, do

autor John H. Flavell. Estes textos serviram para

fundamentar como as crianças reagem quando

têm sua imaginação estimulada.

Construção do conhecimento – Arte de contar

História: ação interdisciplinar

Quando observamos a grade curricular de

qualquer escola, encontraremos nos objetivos

vários termos que apontam para o

desenvolvimento psíquico dos alunos.

Page 37: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

37

Nenhum sistema estadual ou municipal de educação no Brasil pode demonstrar provas de que oferecem educação com o mínimo de qualidade para a maioria de seus alunos de uma maneira ou de outra, muito menos de uma maneira

sustentável6.

Logo vemos na ementa todo conteúdo

programático para o período letivo, onde a Língua

Portuguesa e a Matemática ocupam lugar de

destaque. De forma extremamente tradicional o

conhecimento é transferido para os alunos.

É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pelo qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não existe docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do

outro7.

6 Schwartzman, Simon. Brock, Colin. Os desafios da

educação no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

2005. pp73. 7 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes

necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra,

1996. pp 23.

Freire 8 já ensinava aos educadores algumas

décadas atrás, a necessidade de repensar a

educação. Ele condenava veementemente a

transferência de conhecimento, como se a mesma

fosse uma mercadoria. O que tem que ser

contextualizado é que o aprendizado faz parte de

um processo, onde o conhecimento é construído

por ambas as partes, professores e alunos.

Vencida esta barreira começamos a perceber que

o simples atos de ensinar uma ementa para alunos

não estamos construindo conhecimento. O aluno

que aprende, por exemplo, matemática sem

saber sua real aplicabilidade, nunca vai se

interessar por ela.

Assim para que o professor cumpra seu papel de

educador, ele tem que lançar mão de ferramentas

que levarão as crianças além das equações e

8 Paulo Reglus Neves Freire, destacou-se por seu trabalho

na área da educação popular, voltada tanto para a

escolarização como para a formação da consciência. É

considerado um dos pensadores mais notáveis na história

da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento

chamado pedagogia crítica.

conjugação de verbos. Ele tem que imaginar e

viajar com os números e verbos.

Ensinar é assim a forma como toma o ato de conhecimento que o (a) professor(a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos seu ato de conhecimento também. Por isso, ensinar é um ato criador, um ato crítico e não mecânico. A curiosidade do (a) professor (a) e dos alunos, em ação, se

encontra na base do ensinar-aprender9.

Quando conseguimos despertar nos alunos este

interesse e desejo ao que estamos ensinando, seja

Matemática, Língua Portuguesa ou Geografia,

estamos formando cidadãos mais conscientes e

prontos para o mundo, prontos para competirem

no mercado de trabalho. Não é exagero falar isto,

a base do homem esta sendo formada no ensino

infantil, se não explorarmos todas as

possibilidades teremos adultos e profissionais

incompletos e assim sem chance de crescimento

social.

Ninguém aprende a trabalhar utilizando apenas cadernos, livros, lápis, giz e outros materiais didáticos semelhantes. É necessário que as escolas ofereçam

9 FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um

reencontro com a Pedagogia do oprimido. 9. edição. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 2002. pp81

Page 38: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

38

condições de aprendizagem adequadas às

atividades...10

Como observado nas palavras de Paulo Freire,

construir conhecimento é trazer o aluno para

contribuir com o processo, ao ensinar que dois

mais dois são quatro, o aluno pode imaginar que

quatro maçãs não seriam suficientes para os sete

anões, ou que a história dos três porquinhos tem

quatro personagens que seria três porcos mais

um lobo. Entendendo esta contextualização

começamos a clarear qual a real importância das

histórias para o aprendizado:

Muito se tem estudado para conseguir o melhor

aproveitamento do pouco tempo que o professor

dispõe com alunos e, como conseguir que estes

alunos consigam competir na luta por melhores

postos de trabalho quando adultos. O melhor

caminho é que na fase da educação infantil, este

aluno desenvolva e seja incentivado a utilizar sua

criatividade. Esta o ajudará com o ensino das

10

PILETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino

fundamental. Editora Atica:São Paulo. 1998. pp68.

demais disciplinas e quebrara barreiras de

aprendizado.

Contar histórias por mais que se pareça tempo

perdido, é o momento em que a criança se

desprenderá de todas as amarras que a limita e

partirá a explorar seu cognitivo através da

imaginação. Isto lhe confere capacidade de ver o

complexo de forma mais simples, mais leve, e

quando citamos complexo, pode ser uma

equação matemática.

Esse acontecimento é uma atividade consciente, inserida numa realidade imaginativa, capaz de mobilizar estruturas internas profundas advindas da própria experiência individual e do imaginário coletivo, transmitido de geração em

geração11

.

O que se espera com a contação de histórias,

além da criança se desligar um pouco da sua dura

realidade é incentivá-la na busca por algo novo,

desenvolver talentos que ainda não foram

explorados. Não por coincidência, mas as crianças

que tem o costume de ouvir histórias, também

11

CARVALHO, Alysson; SALLES, Fátima; GUIMARÃES,

Marilia; DEBORTOLI, José Alfredo, organizadores.

Brincar(es). Belo Horizonte: Editora UFMG; Pró-reitoria de

Extensão, 2005. pp23.

gostam de escrever as suas próprias estórias,

recheadas de imaginação e misturando

personagens dos contos com pessoas próximas a

elas.

E ao associar esta viagem com outras disciplinas

conseguimos resultados surpreendentes. O

lúdico, que tem sido tratado com muita ênfase no

meio escolar, trata também da contação de

história, pois a brincadeira muitas vezes vem das

histórias ouvidas que se materializam.

A reflexão sobre a Educação Infantil insere-se em um campo de produção de conhecimento que tem enfrentado um desafio histórico de buscar aproximar-se da escola e da educação como tempo e espaço, que supõe uma partilha de experiências sociais. Isso pressupõe problematizar os processo de transmissão e produção da cultura humana – tanto seus fundamento técnicos como seus princípios e responsabilidades humanas e

sociais .12

Neste ambiente da falta de tempo dos pais, as

crianças são as mais prejudicadas. È vetado a elas

o direito de desenvolvimento, de adquirirem o

12

CARVALHO, Alysson; SALLES, Fátima; GUIMARÃES,

Marilia; DEBORTOLI, José Alfredo, organizadores.

Brincar(es). Belo Horizonte: Editora UFMG; Pró-reitoria de

Extensão, 2005. pp79.

Page 39: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

39

hábito da leitura, de se tornarem leitores

assíduos, adultos criativos. Mas resta ainda o

ambiente escolar, que pode suprir esta falta que

lhe é imposta dentro de casa. Afinal estamos

falando de desenvolvimento epistemológico, e o

arcabouço da escola tem que contemplar tudo a

este respeito. Professores têm que se prepararem

para contar histórias e fazerem as crianças

novamente sonharem, imaginarem. Imaginarem

uma floresta, o espaço, príncipes encantados,

criarem finais alternativos para suas histórias

preferidas, transformarem em super heróis e

salvarem o mundo, acabarem com todo o

desmatamento das matas, imaginarem um mundo

melhor.

O que é necessário ao educador compreender é

que não transferimos conhecimento, nós o

construímos, e quando construímos também

aprendemos. E a contação de histórias nos

ajudará a trabalhar com os alunos temas

complexos, expandir suas mentes e

aprenderemos como ser mais educadores que

instrutores.

Arte de contar história: movimento e ação

Compreendido a importância da contação de

histórias para a educação infantil, é necessário

deixar claro que esta não é uma tarefa simples. É

preciso alguns cuidados para que se consiga os

resultados esperados.

O corpo do narrador lança matéria significante que se impregna no corpo do ouvinte, onde é transformada em significados, matéria vivida, experiência sentida que ninguém mais vai arrancar. As impressões que então se refletem no espírito de cada participante dessa roda mágica e mítica vão lhe acompanhar pelo resto dos seus dias, e o narrador terá lançado o verbo, e nada mais será como

antes. E o momento passou13

.

Como conseguir este nível de atenção dos alunos?

Mais que atenção, envolvimento dos mesmos

com a história que está sendo contada. Para tal é

necessário criar um clima que levem as crianças a

entrar na história. Para criação deste ambiente

que leve os ouvintes a viajarem, vários detalhes

devem ser observados, desde o vestuário de

quem vai contar as histórias, passando pela

13

BUSATTO, Cléo. A Arte de Contar Histórias no

Século XXI- Tradição e Ciberespaço. Vozes 2006. pp39

disposição das crianças até a tonalidade da voz e

cuidados com vícios de linguagem.

Segundo os textos de Cléo Busatto, detalhes

devem ser observados a fim de explorar todo o

potencial da contação de histórias:

Escolher histórias que desperte o

interesse da turma – Deve ser observada a

idade dos alunos que serão os ouvintes,

histórias demasiadamente infantis podem

despertar desinteresse e descaso dos

alunos, o mesmo acontece inversamente,

o texto a ser lido não pode ser muito

complexo para outras faixas etárias. Esta

percepção, o educador deve trazer da

convivência com seus alunos.

Disposição física dos alunos – Os ouvintes

devem estar próximos do contador de

histórias, a sala deve estar disposta

preferencialmente em semi-circulo. Desta

maneira o leitor tem a visão e

conseqüentemente a atenção de todos.

Esta mudança na sala de aula para contar

histórias, serve também para a mudança

Page 40: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

40

psicológica do aluno, pois ele sai de um

ambiente e entra em outro, o ambiente da

imaginação.

Conhecer a história a ser contada –

Mesmo se tratando de histórias infantis, é

preciso preparação para contá-la. Esta

preparação ajuda ao contador, como

contextualizá-la e trazer um significado

prático para ela. Contar histórias sem

pensar nos benefícios que este ato pode

trazer, é simplesmente passar o tempo.

Apresentação da história –

Complementando ao item anterior,

quando se conhece a história, podemos

preparar materiais de apoio, como

desenhos, quadros, vestuário e outros. Ao

contar a história de Chapeuzinho

Vermelho, o contador pode colocar um

avental ou até mesmo um chapéu

vermelho. O Gato de Botas pode ser

contado com bigodes de gatos

desenhados. Esta preparação na

apresentação da história irá ajudar a

prender atenção dos alunos.

Linguagem – É mais proveitoso as

histórias com linguagem simples, a

medida que trabalhamos com crianças

maiores, podemos acrescentar novas

palavras que irão enriquecer o dicionários

delas, mas devemos fazer isto com

cuidado para que elas não percam o

interesse.

Cuidados com a voz e com o olhar – O

contador de histórias deve trazer a

emoção do que está lendo para os

ouvintes. Leitores que contam toda a

história sem mudar a entonação de voz só

conseguirão extrair bocejos de sua

platéia. A expressão facial também deve

trazer a emoção para as crianças, caras e

bocas são permitidas e prendem a

atenção.

Outros cuidados podem ser implementados em

uma fase anterior, como por exemplo, anunciar

que teremos uma história muito legal na próxima

semana. Isto cria uma expectativa benéfica nos

alunos, que estarão com a mente receptiva para

o que será contado.

O local onde será contada a história também é

muito importante, o ideal seria em um local

diferente da sala de aula, talvez ao ar livre quando

possível. Mas se a sala é o único lugar para tal, faz-

se necessário mudar a disposição das carteiras,

este um momento especial, os alunos devem

sentir que é diferente, não é simplesmente mais

uma aula.

Após a história, é importante escutar os

comentários, as perguntas, e estimular as

sugestões de outro final, este momento estimula

a criatividade dos alunos. Deve-se pensar também

em uma atividade ligada a história contada, pode

ser um desenho, propor um final, ou intermediar

o que foi contado com alguma disciplina em

especial. Pode associar a história à aula de

geografia, ou matemática. O importante é

explorar o potencial que este momento oferece.

Considerações finais

Page 41: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

41

Contar histórias é uma arte, pouco explorada nos

dias atuais, mas uma arte que pode e deve ser

explorada pelos educadores. A educação infantil é

responsável pelo desenvolvimento

epistemológico das crianças, e não existe maneira

de alcançar este objetivo sem exercitar a

imaginação e criatividade dos alunos.

Faz-se necessário despertar nos professores a

importância da contação de histórias e os

benefícios que esta trará ao desenvolvimento

cognitivo de seus alunos. Este momento em que a

criança sai de sua realidade de tempo e espaço e

explora outras possibilidades, a ajudará na

exploração de conteúdos mais complexos em

disciplinas como Matemática e Língua

Portuguesa. Criará nos alunos o hábito da leitura

proporcionando adultos com vocabulários mais

ricos. Teremos crianças com maior capacidade de

interpretação de texto bem como maior

compreensão do que lêem.

Poderíamos enumerar várias vantagens da

contação de histórias, mas o primeiro passo deve

vir dos educadores em incluir esta atividade nos

seus planos de aula ou grade curricular a ser

discutida com coordenadores pedagógicos.

Referências Bibliográficas

BIAGGIO, Angela M. Brasil. Psicologia do

desenvolvimento – Petrópolis: Vozes. 1983.

BUSATTO, Cléo. A Arte de Contar Histórias no

Século XXI- Tradição e Ciberespaço. Vozes 2006.

CARVALHO, Alysson; SALLES, Fátima;

GUIMARÃES, Marilia; DEBORTOLI, José Alfredo,

organizadores. Brincar(es). Belo Horizonte:

Editora UFMG; Pró-reitoria de Extensão, 2005.

COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem

idade. São Paulo: Ática, 1995.

FLAVELL, HOHN H. A psicologia do

desenvolvimento de Jean Piaget – São Paulo:

Pioneira, 1986.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes

necessários à pratica educativa. São Paulo: Paz e

Terra, 1996.

______________. Pedagogia da esperança: um

reencontro com a Pedagogia do oprimido. 9.

edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002

HOLANDA, Aurélio Buarque. Novo dicionário da

língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1986

PILETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do

ensino fundamental. Editora Atica: São Paulo.

1998.

SCHWARTZMAN, Simon. BROCK, Colin. Os

desafios da educação no Brasil. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 2005. pp73

Page 42: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

42

A Administração na gestão das Pequenas e Médias Empresas1

RESUMO

Este artigo tem por objetivo salientar a

importância da aplicação das Teorias da

Administração nas Pequenas e Médias Empresas.

A preocupação de pesquisadores com essas

empresas se dá, principalmente, pelo seu papel de

principais geradores de empregos e suas altas

taxas de mortalidade. Foi tratado o perfil dessas

organizações, conceito de porte, perfil dos

proprietários e administradores, taxas de

mortalidade e como as Teorias da Administração

podem contribuir para melhorar a administração

destas empresas. Para apresentar esses dados,

foram utilizadas pesquisas realizadas pelo SEBRAE

e IBGE, importantes para a descrição da situação

das Pequenas e Médias Empresas. Também foi

mostrado o perfil do administrador e a sua

importância para que estas empresas possam

sobreviver em um mundo globalizado e

competitivo.

ABSTRACT

1 Flávia Luciana Mateus Moreira e Marcio Vinício da Silva são alunos

do 2° Período do curso de Administração de Empresas do Instituto Belo

Horizonte de Ensino superior - IBHES

This article has the objective stress the

importance of implementing the theories of

Administration in Small and Medium Sized

Enterprises. The concern of researchers with such

undertakings is gives, mainly, by its role of main

generators of jobs and their high mortality rates.

We are dealing with the profile such

organizations, the concept of porte, profile of

owners and managers, rates of mortality and as

the theories of Administration may contribute to

improving the administration of these companies.

For presenting these data, we use researches

conducted by SEBRAE and IBGE, which were of

great importance for the description of the

situation of Small and Medium Sized Enterprises.

We also stress the profile of the administrator and

its importance for these companies can survive in

a globalized world and competitive.

INTRODUÇÃO

As pequenas e medias empresas tem recebido

bastante atenção nos últimos anos. Diversos

estudos foram desenvolvidos focando o

funcionamento geral dessas empresas. Alguns

analisaram mais particularmente as dificuldades

de gestão que os dirigentes enfrentam

diariamente. Outros trabalhos foram realizados

tendo como alvo a motivação dos

empreendedores e a identificação dos problemas

ligados às suas empresas. A análise dos resultados

desses estudos revela problemas julgados

prioritários pelos dirigentes de pequenas e medias

empresas.

A maioria dos pesquisadores em gestão considera

que uma das maiores

dificuldades ao estudar as pequenas e médias

empresas é a extrema heterogeneidade existente

entre elas. Essa heterogeneidade explicaria em

parte, o atraso dos estudos e pesquisas voltados a

esse tipo de empresas e a dificuldade de propor

teorias e conclusões adequadas e diferentes

daquelas aplicadas às grandes empresas.

As especificidades das pequenas e medias

empresas e, sobretudo, o seu papel de principais

geradores de empregos, despertou a atenção dos

observadores que creem que o aprofundamento

desses conhecimentos trará ajuda mais adequada

às necessidades dessas empresas e favoreça,

eventualmente, a diminuição da alta taxa de

mortalidade da qual elas são vitimas.

Ultimamente os pesquisadores têm tentado

compreender os problemas enfrentados pelas

pequenas e medias empresas. Essa orientação de

pesquisa tem como motivação o desejo de

oferecer aos dirigentes dessas empresas os

conhecimentos que necessitam e que lhes

permitam administrar a empresa o mais

eficazmente possível, em um ambiente

Page 43: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

43

econômico em constate evolução. Assim o

reconhecimento desses problemas a resolver é uma

premissa incondicional para a implantação de

programas estratégicos no seio das pequenas e

medias empresas 2.

O que pode se observar é que muitas empresas

surgiram como fruto de sonhos, ou pelo espírito

empreendedor de seus fundadores, pelo desejo

de abrir o próprio negócio, ou pelo desemprego,

por identificar uma nova oportunidade de negócio

no mercado, para aumentar a renda familiar ou

ainda, por se ter algum capital disponível para

investimentos. Algumas delas sobrevivem até

hoje, mas, a realidade é que, a maior parte dessas

empresas fecham suas portas, pois, na maioria

dos casos, ser empreendedor não foi o suficiente.

A diferença está na tomada de decisões. As

decisões mais sábias devem ser tomadas,

baseadas em situações previamente analisadas, e

estabelecidas, e muitos desses empreendedores

se jogam com tudo, na maioria das vezes, sem

nenhum planejamento, sem conhecer o mercado,

sem saber quem são seus principais concorrentes,

ou o público alvo. Muitos deles desconhecem a

legislação vigente para o tipo de negócio que

2 LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra, - As especificidades das pequenas e médias empresas. Revista Administração de Empresas - São Paulo, v.34, n.2, P. 91–94, Abril/Junho 1999.

desejam abrir, e veem seus investimentos e o seu

sonho “ruírem” junto com os fiscais.

Existem ainda aqueles que insistem em fazer as

coisas de forma empírica, e sempre cometem os

mesmos erros, mas nunca aprendem com eles.

Esse é o fruto do empreendedorismo, em um país

onde se dá jeito para tudo, onde os habitantes

são conhecidos pelo “jeitinho brasileiro”, pelas

gambiarras, pelo improviso, pela procrastinação.

Pelo “depois eu resolvo isso, vamos focar no que

é mais importante agora”, e esse depois nunca

chega.

Rossetti, em seu livro Introdução à Economia define o termo empreendedor:

O termo empreendedor é de origem francesa – entrepreneur. Originalmente, abrangia as funções do inventor, do planejador, do construtor, do administrador e do empregador, mas não as de provedor de capital, nem as de quem corre riscos. Somente com o surgimento do capitalismo liberal é que se estabeleceu uma distinção clara entre aqueles que executavam funções técnicas e aqueles que ocupavam funções empresariais. Foi Richard Cantillon, homem de negócios e financista do século XVIII, quem empregou pela primeira vez o conceito de forma específica. Ele sugeriu que o empreendedor é um agente econômico dotado de capacidade de previsão e de disposição para assumir riscos,

executando ações convergentes à obtenção de lucros3.

Com base nestes fatos, espera-se com este artigo

contribuir para a mudança deste quadro e, servir

como fonte de referência para os futuros

empreendedores e administradores de empresas

do Brasil.

CONCEITOS

Em primeiro lugar, serão conceituadas as

pequenas e médias empresas, no Brasil.

Segundo dados do SEBRAE, o critério utilizado

para se classificar o porte de uma empresa é o

número de empregados que ela possui.

Consideram-se Pequenas Empresas (PE) as que

possuem, na indústria, de 20 a 99 empregados e,

no comércio e serviços, de 10 a 49 empregados e

Médias Empresas (MDE) as que possuem de 100 a

499 empregados na indústria e de 50 a 99 no

comércio e serviços. Portanto, vemos que seria

quase impossível administrar empresas deste

porte sem se utilizar das ferramentas da

Administração.

3 ROSSETTI, José Paschoal, 1941 – Introdução à economia / José

Paschoal Rossetti, - 20. Ed. – São Paulo: Atlas, 2003.

Page 44: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

44

De acordo com a pesquisa As Micro e Pequenas

Empresas Comerciais e de Serviços no Brasil –

2001:

São características gerais das Micro e Pequenas Empresas a baixa intensidade de capital, as altas taxas de natalidade e de mortalidade, forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão-de-obra ocupada nos negócios, poder decisório centralizado, estreito vínculo entre os proprietários e as empresas, não se distinguindo, principalmente em termos contábeis e financeiros, pessoa física e jurídica, registros contábeis pouco adequados, contratação direta de mão-de-obra, utilização de mão-de-obra não qualificada ou pouco qualificada, baixo investimento em inovação tecnológica, maior dificuldade de acesso ao financiamento de capital de giro, e relação de complementaridade e subordinação com as empresas de grande porte (IBGE, 2003) 4.

A partir desses dados, observamos que as altas

taxas de natalidade e mortalidade fazem parte do

perfil dessas empresas. Ao analisarmos o perfil

dos seus administradores, entendemos o porquê

dessa situação. A maior parte dessas empresas é

fruto do desejo de se abrir um negócio próprio, de

4 SILVA, Edwin Aldrin Januário da, - A TI nas Micro e Pequenas Empresas – Uma abordagem territorial. Edwin Aldrin Januário da Silva.(UFRN) – Fonte: Pesquisa Anual de Comércio 1998-2001 (IBGE). Disponível em: www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/DowContador?...unid... Acesso em: 27 de Outubro de 2010.

se tornar autônomo, ou então negócios que vão

passando de pai para filho. São empresas

familiares, cujos donos estão diretamente ligados

à administração dos negócios e, muitas vezes sem

nenhuma capacitação profissional para isso.

No gráfico que se segue podemos observar que o

nível de escolaridade dos proprietários é um

diferencial entre as empresas que ainda estão

ativas e as que foram extintas.

O dado mais importante refere-se à diferença apurada na escolaridade dos proprietários, uma vez que, cerca de 23,1% das empresas ativas detêm curso superior completo, contra apenas 4,1% de ex-empresários. Unindo-se os níveis “colegial completo até superior incompleto” e “superior completo ou mais”, observa-se discrepância ainda mais acentuada entre os dois grupos – 61,3% de empresários de estabelecimentos ativos, contra 20,8% daqueles extintos5.

Distribuição dos proprietários das empresas, segundo o grau de instrução.

6 SEBRAE/MG; BRASÍLIA, Fundação Universitária de, (FUBRA) Fatores condicionantes e taxa de mortalidade de empresas de Minas Gerais. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2004. 26 p. il. Relatório de Pesquisa, outubro de 2004. Disponível em: www.wdigital.com.br/.../relatorio_pesquisa_mortalidade_minas.pdf Acesso em: 27 de Outubro de 2010.

Fonte: Pesquisa direta SEBRAE/MG

Notamos assim, que muitos desses empresários

não possuem nenhuma formação que o capacite a

gerenciar melhor os seus negócios. Sendo assim,

como esperar outro cenário senão a quebra e

falência de muitas dessas empresas?

A situação das Pequenas e Médias Empresas ainda

é ruim quanto às taxas de mortalidade, mas essa

realidade está mudando. Segundo dados do

SEBRAE, as taxas de mortalidade de empresas, no

Brasil têm diminuído consideravelmente. Tudo

isso, graças às mudanças que têm ocorrido no

perfil dessas Pequenas e Médias Empresas.

Muitas têm buscado ajuda em consultorias, têm

investido em inovações tecnológicas, em

capacitação profissional, em Planejamentos de

Page 45: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

45

Tecnologias da Informação, e tudo isso para se

manter vivas e competitivas.

Podemos observar, no gráfico a seguir, que no

ano de 2000, a taxa de mortalidade era de 59,9%.

Em 2001, passou a 56,4% e em 2002, teve uma

queda significativa para 49,4%. Observa-se que,

em todos os anos considerados, as taxas de

mortalidade de empresas no Estado de Minas

Gerais são inferiores às do Brasil e das demais

regiões.

Taxa de mortalidade de empresas em Minas Gerais e demais regiões do Brasil (%)

Fonte: Pesquisa direta SEBRAE/MG

Obs.: Para a obtenção da taxa de mortalidade empresarial para o Brasil, foram efetuadas ponderações.

Ainda, segundo o SEBRAE:

Relativamente às áreas de conhecimento mais importantes no primeiro ano de atividade de uma empresa, apurou-se que o planejamento é considerado para os dois grupos, (empresas extintas e ativas),

como o ponto mais essencial nos primeiros 12 (doze) meses de funcionamento de um empreendimento (62,5% das respostas, no caso de extintas, e 50% para as ativas). Em segundo plano, ex-proprietários e empresários, ainda no mercado, elegeram como mais importantes as áreas de vendas, organização empresarial, análise financeira e marketing/propaganda6.

Os dados acima citados reforçam a necessidade

das empresas por profissionais cada vez mais

capacitados para gerenciar seus negócios. A falta

de experiência, de recursos e, principalmente, de

conhecimento em gestão foram primordiais para

a mortalidade das empresas extintas. Vemos que

os conceitos, ensinados na Abordagem Clássica

da Administração, ainda são, necessariamente,

utilizados como base para as atividades das

empresas da atualidade.

Henry Fayol (1916) define em sua obra –

Administração Industrial e Geral. – as funções básicas de uma empresa, que são aplicáveis a todas as empresas independente do seu campo de atuação:

Funções técnicas: relacionadas com a produção de bens e serviços da empresa.

Funções comerciais: relacionadas com a compra, venda e permutação.

6 SEBRAE/MG; BRASÍLIA, Fundação Universitária de, (FUBRA) Fatores condicionantes e taxa de mortalidade de empresas de Minas Gerais. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2004. 26 p. il. Relatório de Pesquisa, outubro de 2004. Disponível em: www.wdigital.com.br/.../relatorio_pesquisa_mortalidade_minas.pdf Acesso em: 27 de Outubro de 2010.

Funções financeiras: relacionadas com a procura e gerência de capitais.

Funções de segurança: relacionadas com a proteção e preservação dos bens e das pessoas.

Funções contábeis: relacionadas com inventários, registros, balanços, custos e estatísticas.

Funções administrativas: relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. As funções administrativas coordenam e sincronizam as demais funções da empresa, pairando sempre acima delas7.

Fayol, em 1916, definiu as atividades básicas que

deveria haver dentro de toda empresa, mas

podemos observar que, ainda hoje, em muitas

pequenas e médias empresas, não existe essa

divisão de atividades. O que acontece é que uma

pessoa é responsável por executar várias dessas

funções, o que causa atraso e aumenta as

possibilidades de erro durante o processo. E o

resultado é prejuízo.

Fayol, também define o ato de administrar como:

o Planejamento: consiste em examinar o

futuro e traçar um plano de ação a médio e longo prazo.

o Organização: montar uma estrutura humana e material para realizar o empreendimento.

o Comando: manter o pessoal ativo em toda a empresa.

7 CHIAVENATO, Idalberto, Introdução à teoria geral da administração –

6. Ed – Rio de Janeiro: Campus, 2000.

Page 46: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

46

o Coordenação: reunir, unificar e harmonizar toda a atividade e todo o esforço.

o Controle: cuidar para que tudo se realize de acordo com os planos e as ordens8.

Essa definição, como já foi dito, foi feita em 1916.

O que é de se admirar é que, ainda hoje, existem

empresas que são criadas sem esses conceitos,

administradas no peito e na raça, sem

planejamento, organização, comando,

coordenação e controle. Uma empresa assim não

conseguirá sobreviver em um mercado que se

torna cada vez mais competitivo. A globalização,

os avanços tecnológicos, a expansão das

atividades econômicas e as mudanças no perfil

das organizações têm feito com que o perfil dos

profissionais também seja mudado. Peter F.

Drucker, em seu livro Introdução à Administração,

fala qual é o real papel do administrador:

No trabalho do administrador, encontramos cinco operações básicas. Juntas, elas resultam na integração dos recursos em um organismo viável e em desenvolvimento. Em primeiro lugar, o administrador fixa objetivos. Em segundo lugar, ele organiza. A seguir, motiva e comunica. O quarto elemento básico no trabalho do administrador é a mensuração ou avaliação. E finalmente, o

8 MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Teoria geral da administração: da

revolução urbana à revolução digital / Antônio Cesar Amaru Maximiano. – 4.ed. – São Paulo: Atlas, 2004.

administrador forma pessoas, inclusive a si mesmo 9.

As empresas tem buscado, repetidamente, profissionais que sejam excelentes administradores, que saibam gerir, não somente os recursos materiais, mas, principalmente, pessoas, ou seja, que saiba identificar e extrair o melhor de cada funcionário, que saiba colocar as pessoas certas nos lugares certos, a fim de melhorar o desempenho profissional de cada um.

Esse novo perfil se encaixa perfeitamente na Teoria das Relações Humanas, onde o funcionário passa a não ser mais visto como uma peça da engrenagem da empresa. Ele passa a ser visto como um ser social, que tem necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, autoestima e auto realização 10 . Esse ser social tem a necessidade viver em grupos e de ser aceito pelo grupo no qual está inserido e leva esta característica para dentro da empresa, que possui em sua estrutura os chamados grupos informais. Como todo grupo, os grupos informais possuem líderes que ditam as normas e regulamentos que devem ser seguidos e aplicam recompensas e sanções para aqueles que seguem ou não estas regras11. O problema é quando essas normas e

9 DRUCKER, Peter Ferdinand, 1909 – Introdução à administração /

Peter F. Drucker; tradução de Carlos Malferrari. – São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

11 WITZEL, Morgan. 50 Maiores Estrategistas da Administração. São Paulo: Contexto, 2005.

12 CHIAVENATO, Idalberto, Introdução à teoria geral da administração – 6. Ed – Rio de Janeiro: Campus, 2000.

regulamentos vão contra aos interesses da empresa. Cabe ao administrador observar e trazer esses líderes para trabalharem ao seu lado. Para isso é necessário que ele saiba lidar, não somente com números, balanços e gráficos, mas também, com pessoas.

As empresas estão em busca, também, de

gestores que saibam inovar, atentos às variações

do mercado, que sejam proativos, que se

antecipem, que estejam sempre prontos a

aprender, e queiram evoluir. Profissionais que se

envolvam, que trabalhem não só pelo salário,

mas, por prazer naquilo que fazem. Que vejam,

nas dificuldades, oportunidades de ir além, de

chegar mais longe, de crescer. Profissionais que

busquem alternativas para um desenvolvimento

sustentável, que se preocupem com o social, que

enxerguem além de si mesmos. Que contribuam

não só com a empresa, mas também com a

sociedade. Dentro desse conceito, Drucker,

afirma:

Anteriormente, os debates sobre as responsabilidades sociais que cabem às empresas concentravam-se em três áreas. A primeira área localizava-se no problema da relação entre a ética privada e a ética pública. O segundo tópico era constituído pela responsabilidade social que o empregador assume para com os seus empregados em virtude do poder e riqueza que possui. E, finalmente, falava-se da responsabilidade social do executivo para salientar sua responsabilidade de liderança com respeito à “cultura” da comunidade. Já, hoje em dia, são outros

Page 47: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

47

os pontos que se salientam quando se trata das responsabilidades sociais. Fala-se daquilo que a empresa deve ou pode fazer para enfrentar e resolver os problemas sociais. Dá-se ênfase às contribuições que a empresa pode prestar com relação a problemas do tipo discriminação e da proteção e recuperação do ambiente físico. Essa nova concepção da responsabilidade social já não pergunta quais as limitações da empresa, ou o que ela deveria estar fazendo em favor daqueles que se encontram sob sua autoridade imediata. Ela exige que as empresas assumam responsabilidades em relação aos problemas sociais, às questões sociais e às metas e políticas sociais, bem como que passem a ser as guardiãs da consciência social e as solucionadoras dos problemas sociais12.

Esse é o novo perfil das empresas e deve ser

também o de seus administradores.

As Abordagens Clássica e Humanística serviram de

base para as outras Abordagens que vieram

depois. As Abordagens Neoclássica, Estruturalista,

Comportamental, Sistêmica, Contingencial e as

novas abordagens que surgem com o início da Era

da Informação13, puderam extrair o que havia de

melhor nas primeiras abordagens. Transformaram

o que era bom em algo ainda melhor. Isso nos

13 DRUCKER, Peter Ferdinand, 1909 – Introdução à administração / Peter F. Drucker; tradução de Carlos Malferrari. – São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

14 CHIAVENATO, Idalberto, Introdução à teoria geral da administração

– 6. Ed – Rio de Janeiro: Campus, 2000.

mostra como os profissionais de administração

devem agir no exercício de sua função. Eles

devem ter a capacidade de extrair o melhor

dentro de cada situação. Devem ser ecléticos, ter

uma visão ampla, sob todos os aspectos, dentro

da empresa. Devem ter a capacidade de antever

situações e projetar soluções, antes mesmo de

algo acontecer. Enfim, devem ser profissionais

completos.

Ao estudarmos as Teorias da Administração,

vemos que todas elas podem ser aplicadas nos

dias de hoje. O que se faz necessário é que os

administradores as conheçam bem para poderem

aplicá-las nas situações que aparecem no dia a dia

da empresa. A função do administrador vai além

de qualquer função dentro da empresa, pois ele é

o responsável por direcionar as decisões que

serão tomadas e qualquer erro nessas decisões,

poderá colocar a empresa em situações difíceis e

até mesmo levá-la à falência. Por isso, devem ser

profundos conhecedores das Teorias da

Administração, pois elas são ferramentas

fundamentais para o desempenho da função de

administrador. Devem ter a capacidade de coloca-

las em prática nos problemas que se apresentem

no seu dia a dia, pois nada vale a teoria sem a

prática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cenário das pequenas e médias empresas no

país pode ser mudado para melhor. O que se vê

são empreendedores sem preparo tentando

conduzir seus projetos sem preparo e de forma

empírica. O que ocasiona o fechamento precoce

de várias empresas e conseqüentemente o corte

de vários postos de trabalho. Soma-se a este

quadro aquelas empresas que continuam em

atividade, porém sem competitividade e aquém

do porte que poderia chegar.

Por outro lado está disponível todo o

conhecimento necessário para aumentar a

longevidade e competitividade destas empresas,

sejam em livros, cursos de capacitação ou

profissionais da Administração que formam todos

os anos em diversas Instituições de Ensino

Superior. A Administração de Empresas começou

a ser tratada como ciência no século passado e, as

várias abordagens apresentam ferramentas úteis

a qualquer empreendimento, independente de

seu porte.

O Brasil, conhecido internacionalmente pelo

empreendedorismo de sua população e

dependente economicamente de empresas de

pequeno e médio porte, tem na capacitação

destes administradores a solução para ter

empresas longevas e competitivas no mercado

nacional e internacional.

Referências bibliográficas:

Page 48: Revista Gestão Pedagógica Nº 02

48

CHIAVENATO, Idalberto, Introdução à Teoria Geral

da Administração – 6. Ed – Rio de Janeiro:

Campus, 2000.

DRUCKER, Peter Ferdinand, 1909 – Introdução à

administração / Peter F. Drucker; tradução de

Carlos Malferrari. – São Paulo: Pioneira Thomson,

2002.

LEONE, Nilda Maria de Clodoaldo Pinto Guerra, -

As especificidades das pequenas e médias

empresas. Revista Administração de Empresas -

São Paulo, v.34, n.2, P. 91–94, Abril/Junho 1999.

MAXIMIANO, Antônio Cesar Amaru. Teoria Geral

da Administração: da revolução urbana à

revolução digital / Antônio Cesar Amaru

Maximiano. – 4.ed. – São Paulo: Atlas, 2004.

ROSSETTI, José Paschoal, 1941 – Introdução à

Economia / José Paschoal Rossetti – 20. Ed. – São

Paulo: Atlas, 2003.

SEBRAE/MG; BRASÍLIA, Fundação Universitária

de, (FUBRA) Fatores condicionantes e taxa de

mortalidade de empresas de Minas Gerais. Belo

Horizonte: SEBRAE/MG, 2004. 26 p. il. Relatório de

Pesquisa, outubro de 2004. Disponível em:

www.wdigital.com.br/.../relatorio_pesquisa_mort

alidade_minas.pdf Acesso em: 27 de Outubro de

2010.

SILVA, Edwin Aldrin Januário da, - A TI nas Micro e

Pequenas Empresas – Uma abordagem

territorial. Edwin Aldrin Januário da Silva.(UFRN)

– Fonte: Pesquisa Anual de Comércio 1998-2001

(IBGE). Disponível em:

www.biblioteca.sebrae.com.br/bte/bte.nsf/DowC

ontador?...unid... Acesso em: 27 de Outubro de

2010.

WITZEL, Morgan. 50 Maiores Estrategistas da

Administração. São Paulo: Contexto, 2005.

Expediente

Editor-chefe – Paulo R. Cabral Jr.

Direção de arte – Alex Pereira Costa

Revisão – Alex Pereira Costa

Contribuições nesta edição: Claudia

Cristina Del Papa Cabral, Flávia Luciana

Mateus Moreira , Gustavo Henrique de

Almeida, Luís Cesar Fernandes, Marcio

Vinício da Silva

ISSN 2179-2852

http://www.gestaopedagogica.com.br/cat

egory/revista-gestao-pedagogica/