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EsPCEx 1 EsPCEx, onde tudo começa Escola Preparatória de Cadetes do Exército REVISTA PEDAGÓGICA 2017 – 18ª Edição – Publicada pela Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Campinas,SP. Fone: (0xx19)37442000,Fax:(0xx19) 32411373. www.espcex.ensino.eb.br, ISSN 1677- 8359. A Nossa Capa homenageia os 77 anos da EsPCEx. As imagens de fundo reproduzem uma pintura a óleo sobre tela de autoria do ex-aluno da EsPCEx e Cel R1 Milton Cezar Da Cás. Na parte superior, delimitando o nome da Escola, à esquerda, vê-se a imagem que ilustrou a capa da primeira Revista Pedagógica, editada no ano do Jubileu de Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasão da EsPCEx. Criação: Eduardo Tramonte Cappellano Publicitário Nossa Capa Comando da Escola Marcus Alexandre Fernandes de Araujo – Cel Comandante e Diretor de Ensino Alexandre de Oliveira Moço – Cel Subcomandante e Subdiretor de Ensino Jean Lawand Júnior – Ten Cel Comandante do Corpo de Alunos Divisão de Ensino Ivan Baroncelli Neto – Cel Chefe da Divisão de Ensino Língua Portuguesa I Guaraci Alexandre Vieira Collares – Cel Chefe da Seção de Português História do Brasil Sérgio Aparecido Bueno de Oliveira – Cel Chefe da Seção de História Língua Inglesa I Antônio José Luchetti – Cel Chefe da Seção de Inglês Língua Espanhola I José Francisco Martinez – Cel Chefe da Seção de Espanhol Física I João Alves de Paiva Neto – Cel Chefe da Seção de Física Cibernética I Ricardo Henrique Paulino da Cruz – Cel Chefe da Seção de Cibernética I Química I Maria Lúcia Fernandes Batista e Silva – Ten Cel Chefe da Seção de Química I Cálculo I Wilson Roberto Rodrigues – Cel Chefe da Seção de Cálculo I ********************************* Direção da Revista e Diagramação: Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel Arte Final: Eduardo T. Cappellano– Publicitário Revisão: Edson de Campos Souza – Ten Cel Professor de Português Fotolito e Impressão: EGGCF Tiragem da Revista: 1000 exemplares - Distribuição Gratuita - Os conteúdos dos textos, o uso das imagens e a bibliografia apresentados são de responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, as opiniões da direção da Revista e da EsPCEx. ***

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EsPCEx

1EsPCEx, onde tudo começa

Escola Preparatória de Cadetes do Exército

REVISTA PEDAGÓGICA 2017– 18ª Edição –

Publicada pela Escola Preparatóriade Cadetes do Exército. Campinas,SP.Fone: (0xx19)37442000,Fax:(0xx19)32411373. www.espcex.ensino.eb.br,ISSN 1677- 8359.

A Nossa Capa homenageia os 77anos da EsPCEx. As imagens de fundoreproduzem uma pintura a óleo sobretela de autoria do ex-aluno da EsPCExe Cel R1 Milton Cezar Da Cás. Na partesuperior, delimitando o nome da Escola,à esquerda, vê-se a imagem queilustrou a capa da primeira RevistaPedagógica, editada no ano do Jubileude Ouro da EsPCEx e, à direita, o Brasãoda EsPCEx.

Criação: Eduardo Tramonte CappellanoPublicitário

Nossa Capa

Comando da EscolaMarcus Alexandre Fernandes de Araujo – Cel

Comandante e Diretor de Ensino

Alexandre de Oliveira Moço – CelSubcomandante e Subdiretor de Ensino

Jean Lawand Júnior – Ten CelComandante do Corpo de Alunos

Divisão de EnsinoIvan Baroncelli Neto – CelChefe da Divisão de Ensino

Língua Portuguesa IGuaraci Alexandre Vieira Collares – Cel

Chefe da Seção de Português

História do BrasilSérgio Aparecido Bueno de Oliveira – Cel

Chefe da Seção de História

Língua Inglesa IAntônio José Luchetti – CelChefe da Seção de Inglês

Língua Espanhola IJosé Francisco Martinez – CelChefe da Seção de Espanhol

Física IJoão Alves de Paiva Neto – Cel

Chefe da Seção de Física

Cibernética IRicardo Henrique Paulino da Cruz – Cel

Chefe da Seção de Cibernética I

Química IMaria Lúcia Fernandes Batista e Silva – Ten Cel

Chefe da Seção de Química I

Cálculo I Wilson Roberto Rodrigues – Cel

Chefe da Seção de Cálculo I

********************************* Direção da Revista e Diagramação: Jorge Luiz Pavan Cappellano – Cel Arte Final: Eduardo T. Cappellano– Publicitário

Revisão: Edson de Campos Souza – Ten Cel Professor de Português Fotolito e Impressão: EGGCF

Tiragem da Revista: 1000 exemplares

- Distribuição Gratuita -

Os conteúdos dos textos, o usodas imagens e a bibliografiaapresentados são de responsabilidadede seus autores e não expressam,necessariamente, as opiniões dadireção da Revista e da EsPCEx.

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EsPCEx

EsPCEx, onde tudo começa2

Sumário

EditorialMarcus Alexandre Fernandes de Araujo – Cel Comandante e Diretor de Ensino daEsPCEx..............................................................................................05

A EsPCEx Comemora 77 Anos Selecionando e Preparando os Cadetes deCaxiasJorge Luiz Pavan Cappellano – Cel Professor de Português e Chefe da Seção doPatrimônio Histórico e Cultural da EsPCEx...............................................06

O Ensino de Português no Curso SuperiorGuaraci Alexandre Vieira Collares – Cel Professor de Língua Portuguesa I ...........11

O Uso das Novas Tecnologias Digitais e o Novo Manual do InstrutorViviane de Fátima Pettirossi Raulik – Professora de Inglês.............................14

Práticas Translingues - ReflexõesMaria da Graça Baroncelli – Professora de Inglês...........................................18

A Atividade Física e a Prontidão para o CombateMárcia Maria Carvalho Luz Fornari – 1º Ten OTT Psicóloga.................................21

Relatos Históricos sobre a Criação da Boina Verde-Oliva - RegistroMário Augusto Mota Coimbra– Cel Chefe da Divisão Administrativa.................26

A Rotina do Aluno da EsPCExBreno Bastos – Aluno da EsPCEx...............................................................28

A Instrução Militar de TiroArthur Aied Polatschek Valadão – Aluno da EsPCEx........................................30

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EsPCEx

3EsPCEx, onde tudo começa

Métodos de Ensino da Escola Preparatória de Cadetes do ExércitoMilena Canestraro – Aluno da EsPCEx..........................................................34

Os Desafios e as Contribuições do Ensino Militar Bélico MistoRenata Lima Campos – Aluno da EsPCEx ......................................................38

Evolução do Sistema de Artilharia de Foguetes para Saturação de Área ASTROSJean Lawand Junior – Ten Cel Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx..41

Avaliação da Ingestão Hídrica e Desidratação de Alunos-AtletasMaria Carolina Pelatieri Rodrigues do Valle - 1º Ten Nutricionista da EsPCExMatheus Takamori Costa Umebara - Estagiário de Nutrição da UNICAMP; eLuís D’Avoglio Zanetta - Estagiário de Nutrição da UNICAMP ....................49

Homenagem à EsPCEx - Reconhecimento .........................................55

O Cadete Escreve Mal?Wallace Franco da Silva Fauth – Professor de Lígua Portuguesa I..................59

Escola Preparatória de Cadetes do ExércitoEscola Preparatória de Cadetes do ExércitoEscola Preparatória de Cadetes do ExércitoEscola Preparatória de Cadetes do ExércitoEscola Preparatória de Cadetes do Exército

Nasceste parNasceste parNasceste parNasceste parNasceste para a a a a VVVVVencerencerencerencerencer

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EsPCEx

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Nossos Comandantes

General de ExércitoEduardo Dias da Costa Villas Bôas

Comandante do Exército

General de Exército Mauro César Lourena Cid

Chefe do Departamento de Educação eCultura do Exército

General de DivisãoAndré Luis Novaes Miranda

Diretor de Educação Superior Militar

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EsPCEx

5EsPCEx, onde tudo começa

EDITORIAL

(*) O Coronel de Artilharia Marcus Alexandre Fernandes de Araujo incorporou-se àsfileiras do Exército como aluno da EsPCEx em 13 de fevereiro de 1984. Graduou-sena Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1990, cursou a Escola deAperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) em 1998 e a Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) em 2007. Realizou os Cursos Básico de Paraquedista (1993), Mestrede Salto (1996), Básico de Salto Livre (1997), Estudo de Defesa do Royal College ofDefense Studies-Londres/Inglaterra (2016). Dentre outras funções, foi instrutor dosCursos de Artilharia da AMAN, da ESAO e da Seção de Logística da ECEME;Assessor de Artilharia da Cooperação Militar Brasileira no Paraguai; Comandante do32º Grupo de Artilharia de Campanha (Brasília-DF), Oficial do Gabinete do Comandantedo Exército e Chefe do Gabinete da Secretaria-Geral do Exército. Atualmente éComandante e Diretor de Ensino da EsPCEx.

A Revista Pedagógica da EsPCEx é uma publicação técnico-científica anual,destinada ao registro de atividades de ensino e aprendizagem desenvolvidaspor professores, instrutores e alunos.

Ela vem cumprindo um papel essencial de divulgação de trabalhos acadê-micos, apropriando-se de um espaço aberto ao debate e à livre expressão deideias sobre o ensino superior e as ciências militares.

A partir de 2012, a EsPCEx passou a integrar o Ensino Superior Militar,tornando-se o primeiro dos cinco anos de formação do Oficial Combatente,agregando novas responsabilidades na formação de nossos alunos.

No corrente ano, pela primeira vez na sua história, a EsPCEx incorporoualunos do sexo feminino, constituindo-se na primeira turma de formação dejovens mulheres a serem qualificadas como futuras oficiais Combatentes doExército Brasileiro.

É nesse contexto que publicamos a 18ª edição da Revista, que apresenta,dentre outros temas, A EsPCEx Comemora 77 Anos Selecionando e Preparandoos Cadetes de Caxias, O Ensino de Português no Curso Superior, O Uso daNovas tecnologias Digitais e o Novo Manual do Instrutor, Práticas Translingues,A Atividade Física e a Prontidão para o Combate, Relatos Históricos sobre aBoina Verde-Oliva, A Rotina do Aluno da EsPCEx, A Instrução Militar de Tiro,Métodos de Ensino da EsPCEx, Os Desafios e as Contribuições do Ensino MilitarBélico Misto, Evolução do Sistema de Artilharia de Foguetes para Saturação deÁrea ASTROS, Avaliação da Ingestão Hídrica e Desidratação de Alunos-Atletas,O Cadete Escreve Mal? .

As ideias desenvolvidas não são definitivas, mas servem para alimentaruma sadia discussão e a troca de conhecimentos entre educadores e aprendi-zes. A busca permanente por novas técnicas de ensino e aprendizagem é fatorindispensável para a evolução da sociedade e o aprimoramento do ser humano.

Essa publicação é uma janela que permite dar-nos a conhecer a partir dediferentes textos, produzidos por autores de variados níveis de formação efunções, que tratam da rotina de formação de nossos caros alunos.

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EsPCEx, onde tudo começa6

Jorge Luiz Pavan Cappellano(*)Professor de Língua Portuguesa e Literatura

EsPCEx, ONDE TUDO COMEÇA

A EsPCEx Comemora 77 AnosSelecionando e Preparando os

Cadetes de Caxias

Breve HistóricoO ensino preparatório do Exército

Brasileiro, como hoje o conhecemos,surgiu em 1939, com a transformaçãodo Colégio Militar de Porto Alegre emEscola de Formação de Cadetes, maistarde denominada Escola Preparatóriade Porto Alegre (EPPA). No início dadécada de sessenta, o Exército contavacom três Escolas Preparatórias: a dePorto Alegre (EPPA), a de Campinas(EPC) e a de Fortaleza (EPF), sendo estaúltima criada em 1942.

Em 1940, o Governo de São Paulomanifestou interesse em ter em seuterritório uma Escola Preparatória de

Cadetes semelhante à Escola de PortoAlegre. Essa iniciativa foi muito bemacolhida pelas autoridades militares,pois a Escola Preparatória de PortoAlegre já tinha esgotado sua capacidadede ampliação do efetivo de alunos.

O Ministério da Guerra associou-se ao Governo de São Paulo narealização de gestões junto aoPresidente da República, Dr. GetúlioVargas. Desse esforço conjunto, resultoua criação da Escola Preparatória deCadetes de São Paulo (EPSP), por meiodo Decreto-Lei n. 2.584, de 17 desetembro de 1940.

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EsPCEx

7EsPCEx, onde tudo começa

Como não era possível construirum prédio em poucos meses para abrigaro novo estabelecimento de ensino, oGoverno de São Paulo ofereceu, emcaráter provisório, um imóvel em fasede acabamento, localizado na antiga Ruada Fonte, atual rua Adma Jafet, nº 91,no bairro da Bela Vista, na capital doEstado. Esse edifício hoje pertence aoHospital Sírio-Libanês.

Em 1944, o Governo de São Pauloadquiriu o terreno da FazendaChapadão, em Campinas, eresponsabilizou-se pela construção de2/3 de outro prédio escolar quesubstituiria, em definitivo, o da Rua daFonte, ficando o 1/3 restante daconstrução sob a responsabilidade doExército Brasileiro.

Decidido o local de instalaçãodefinitiva da Escola, o projeto, em estilocolonial espanhol, foi idealizado econduzido pelo engenheiro e arquitetoHernani do Val Penteado.

No final da década de cinquenta, oprédio ficou parcialmente pronto e foientregue aos cuidados das autoridadesmilitares, que decidiram pela imediatatransferência para Campinas, mesmocom o prédio inacabado.

O ano de 1959 foi o marco de umnovo tempo para a Escola Preparatóriade Cadetes, que, na recém-inauguradasede, deixava de ser “de São Paulo”,adotando o nome de Escola Preparatóriade Campinas (EPC). Em 1961, foramextintas a EPPA e a EPF. Com o objetivode identificar a Escola com a suafinalidade, a EPC, a partir de 1967, foidenominada Escola Preparatória deCadetes do Exército (EsPCEx).

Nosso Patrimônio Histórico e Cultural

A beleza da EsPCEx não se restringeàs suas reservas verdes, rica fauna,construções coloniais e à grandiosidadede seu prédio. Ela vai além de tudo isso,pois guarda em seu interior umpatrimônio anímico incomensurável euma parte da história do ExércitoBrasileiro, corporificado por tradiçõesque permearam a formação de diversasturmas de alunos.

- Por que a EsPCEx é de Cor Rosa ?

Há muitas histórias sobre estetema. Algumas explicações sãosimplistas e até engraçadas.

A verdadeira história sobre aescolha da cor tem início na primeirametade da década de 1970, quando oprojeto arquitetônico entrou em fase deacabamento e era necessário pintar asparedes e a torre, que estavam apenasrevestidas com reboco.

O engenheiro e arquitetoresponsável pela construção, Dr. Hernanido Val Penteado, em visita à suaadmirável obra, trouxe-nos a lembrançade que a cor com a qual eram pintadasas moradias das antigas fazendascoloniais de café e cana-de-açúcar daregião era a cor rosa, obtida da misturade cal, pó de ostras queimadas, óleo debaleia, sangue de boi e terra.

Diante de tal esclarecimento, acapela e a fachada da entrada principalforam pintadas com tinta rosa.

As paredes, os contornos dassacadas e janelas que delimitam o PátioAgulhas Negras e as demais paredesexternas do conjunto principal não forampintados, mas, sim, revestidas por umamassa diferente da descrita acima, comuma composição especial que semantém preservada até hoje.

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- O Lustre do Salão Carlos Gomes

O Salão guarda em seu interior uminestimável acervo da cidade deCampinas: o Conjunto de Lustres doantigo Teatro Municipal, cujo prédio foidemolido em 1966. No dia 12 fevereirode 1974, foi inaugurado o sistema deiluminação do Salão Nobre da EsPCEx,enriquecido pelo Conjunto de Lustres decristal da Boêmia.

- Salão Carlos Gomes

No dia 15 de novembro de 1973,era inaugurado o Salão Nobre daEsPCEx. O magnífico ambiente recebeuo nome de “Salão Carlos Gomes”, umajusta homenagem a um dos mais ilustresbrasileiros e cidadão campineiro, ogrande maestro Antonio Carlos Gomes.

O Salão, em estilo colonial, é umatradução fiel das linhas idealizadas peloarquiteto Hernani do Val Penteado.

A cor rosa, indicada pelo ArquitetoHernani do Val Penteado, acentua apreservação da memória das moradiascoloniais que um dia existiram nacentenária Fazenda Chapadão.

- A Capela Santo Tomás de Aquino

A magnífica obra foi inaugurada nodia 20 de janeiro de 1972.

As linhas de construçãoharmonizam-se com as do modelo doConjunto Principal da EsPCEx. Asemelhança não está só no aspectoexterno da construção, mas em cadadetalhe do acabamento interior daCapela.

O teto, em madeira de lei – caviúna– é semelhante ao do Salão CarlosGomes, realçado, também, pelailuminação proporcionada por parte doconjunto de lustres de cristal da Boêmiado antigo Teatro Municipal de Campinas.Os vitrais de Tom Güer e as esculturascriadas por destacados artistas plásticoscompõem um ambiente sóbrio eacolhedor, que reproduzem os traçosarquitetônicos das igrejas do períodocolonial.

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- Memorial da EsPCEx

Uma simples visita às instalaçõesde nossa Escola é suficiente paraperceber que possuímos um valiosoacervo histórico, que remonta aosprimeiros anos da década de quarenta.

O nosso prédio abriga instalaçõese móveis cujo excelente estado deconservação surpreende até o maisdistraído visitante. Além dessas peças,a Escola tem um Memorial, onde estãoreunidas fotografias, documentos, obrasde arte, antigas publicações e os livrosdo Registro Histórico.

O Memorial da EsPCEx é otestemunho do respeito dedicado aogrande trabalho realizado por nossosantecessores.

A Escola Preparatória de Cadetesdo Exército de Hoje

Dos primeiros anos da década de1940 até hoje, muitas coisas foram semodificando, quer pela própria evoluçãoda sociedade, quer pelos constantesavanços tecnológicos. A Escola, sempreatenta, foi-se adaptando às novidades,impondo intenso ritmo de ensino, deformação e de aprendizagem, o que lhegarantiu uma excelência na preparaçãodos futuros cadetes da Academia Militar

das Agulhas Negras (AMAN).

No ano de 2010, o Departamentode Ensino e Cultura do Exército (DECEx)começou a promover uma atualizaçãocurricular de todos os seusestabelecimentos de ensino, visando àmodernização do Sistema de EnsinoBélico. Essa iniciativa foi registrada nodocumento intitulado Nova Sistemáticapara a Modernização do Ensino doExército.

Em 2012, a EsPCEx passa a ser umestabelecimento de ensino superior,constituindo-se no primeiro dos cincoanos do Curso de Formação e Graduaçãode Oficiais de carreira da Linha de EnsinoMilitar Bélico (Armas, Quadro deMaterial Bélico e Serviço deIntendência), cujo ciclo se completa nosquatro anos do curso na AMAN.

No corrente ano, 439 alunos daTurma 2017 (399 homens e 40mulheres) iniciaram a sua trajetória deformação profissional, na EsPCEx. Destavez, a solenidade de Entrada dos Alunospelo Portão das Armas, que se repetedesde a época da criação da antigaEscola Preparatória de São Paulo (EPSP),teve um significado singular: pelaprimeira vez, na EsPCEx, foramincorporados alunos do sexo feminino,constituindo a primeira turma de jovensmulheres a serem qualificadas comofuturas oficiais na Linha de FormaçãoBélica do Exército Brasileiro.

Nessas mais de 7 décadas, deinúmeras conquistas e entremeadas porgrandes transformações, seusprofissionais, civis ou militares,permaneceram firmes e determinadosna missão de selecionar e prepararfuturos cadetes, confirmando, em cadamomento, o compromisso sagrado de

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despertar vocações e priorizar todos os meios disponíveis para melhor prepararos recursos humanos de que necessitam a Academia Militar das Agulhas Negrase o Exército Brasileiro.

***

(*) O Coronel Professor Jorge Luiz Pavan Cappellano foi aluno da EsPCEx, formando-seem 1972. Graduou-se na Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN, no Serviço deIntendência, em 1976. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – EsAO (nívelmestrado), em 1986. Especializou-se em Informática Aplicada à Educação Construtivista(pós-graduação) pela UNICAMP, em 1997. É autor dos livros: “Memorial da EsPCEx, da Ruada Fonte à Fazenda Chapadão, 65 Anos de História” (2007), “Diário da Escola Preparatóriade Cadetes de São Paulo” (2011) e “A Escola Preparatória de Cadetes do Exército e o MeioAmbiente - O Verde-Oliva Protegendo o Verde” (2015). Atualmente é Professor de Portuguêse Chefe da Seção do Patrimônio Histórico e Cultural da EsPCEx.E-mail:[email protected]

Mulheres Pioneiras na Formação Profissional do Oficial CombatenteBélico do Exército Brasileiro

Adriele do Nascimento Coura, Amanda Falcão de Almeida, Amanda JulyGonçalves Rodrigues, Ana Luiza Santana, Andrea Araki, Andrielly MostavencoGomes, Beatriz Domingos Guttierres, Bibiana Sartori Chagas, Cassia EduardaAmaro, Cíntia Silva Vidigal, Deborah Renata Gutbier dos Santos, Donara TerezaMartins Camelo de Oliveira, Emily de Souza Braz, Fabiana Muzzi Leite,GiovanaAbrão Santos, Isabele Colla Lazzari Royes, Isabella Silva de Oliveira, JoyceBravo de Oliveira Vollmer, Julia de Mello Avila, Kimberly Galdino Afonso Ferreira,Laura Pitassi Bard Schumacker, Marcela Neves Boccardo Lanz, Maria Cecilia daSilva Vieira, Maria Eduarda de Melo Silva, Maria Luisa Harduim Medella, MikaelaRamires Alcântara, Milena Canestraro, Nayara Luiza Ribeiro da Silva, RenataAlves de Lima Capri, Renata Lima de Campos, Sarah Cassani Leite, TatianaRegina de Oliveira, Thainá Costa Cunha, Tamara Diehl, Valquiria Leticia Gomesde Mesquita, Vanessa Rodrigues Alves e Vitória Bezerra Costa.

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11EsPCEx, onde tudo começa

O Ensino de Português no CursoSuperior

Guaraci Alexandre Vieira Collares (*)Professor de Língua Portuguesa e Literatura

Diferente do que muitos defendem,o ensino de Português não deveencerrar-se no Ensino Médio. A ideiade que o universitário não precisa maisdo estudo da língua-mãe écompletamente equivocada porque, aolongo da vida, é preciso atualizar-seconstantemente diante de uma línguaviva e dinâmica. Pensar assim é omesmo que admitir que no Ensino Médiose aprende tudo do idioma pátrio. E opior é que há professores de Portuguêsaderindo a tal pensamento. Boa partedas faculdades no Brasil, atualmente,considera o Português como matériadada. Segundo elas, o universitário éque precisa buscar o aprimoramento notrato com a escrita, para fazer face àsexigências do curso e dos futurosdesafios nos trabalhos para conclusãodas especializações, pós-graduações eoutras, assim como no mercado detrabalho. Não exagerando, abandonaresse estudo é o mesmo que desprezaruma das nossas mais caras riquezas,nossa identidade brasileira.

Nesse contexto, as autoridades daLíngua esquecem a crua realidadenacional das escolas por todo o País:um ensino de qualidade questionável,diferente em cada região, em cadaestado da Federação, num Brasil detantas contrariedades e culturas, ondemuitas vezes o analfabetismo é quemanda. Há também o chamadoanalfabeto funcional, termo que define

o estudante que cumpriu comaproveitamento parte do currículo, masnão é capaz de interpretar um textosimples, enunciados de questões deoutra disciplina, ou de expressar-se deforma eficaz, por escrito ou verbalmente.Infelizmente, essa é a realidade, numpaís onde o hábito da leitura está muitoaquém do ideal, onde as bibliotecas sãocada vez mais escassas, e as que existemsão muito pouco frequentadas.

Então, por que não continuardedicando carga horária ao Português?A continuidade no estudo do idioma podeser realizada em nível bem acimadaquele anterior à faculdade,privilegiando algo maior do que osimples estudo da gramática pura, damorfologia, dos verbos, dasclassificações sintáticas, terror dosestudantes, ou o treinamento da redaçãopré-formatada ministrada nos cursinhos,simplesmente para a aprovação numconcurso, por exemplo. Há muito maisa se aprender na Língua do quepermanecer no miudinho ministrado noEnsino Fundamental e Médio.

Aperfeiçoar o Português em nívelsuperior vai muito além do aprendizadode simples estruturas sintáticas. É buscaro aperfeiçoamento, sem a preocupaçãoda simples memorização de regras, masa aplicação prática delas. As escolas deformação de oficiais do ExércitoBrasileiro da Linha Bélica mantêm oestudo da Língua Portuguesa nos dois

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primeiros anos da formação. Assim, oestudo do idioma recebe tanta ou maisimportância do que outras disciplinas,na Escola Preparatória de Cadetes doExército e na Academia Militar dasAgulhas Negras, fato que, além derecuperar, aprimora muitos alunos quenão se expressam adequadamente.

Nesses dois estabelecimentostradicionais da Força Terrestre,procura-se atingir um nível acimadaquele exigido no Ensino Médio, a fimde que o estudante passe a comportextos diferenciados daquelesproduzidos numa simples redação decolégio. O currículo ministrado nessasescolas militares contempla conteúdosque têm por finalidade oferecer aodiscente outras ferramentas, para queele evolua na própria expressão escrita.

São revisadas, no início doprimeiro ano, as noções de frase, oraçãoe período, para a produção de frasescom correção e coerência. Verificam-se, primeiramente, as relações deinterdependência entre as orações;analisa-se o valor dos termosempregados, relacionando-os na frase,de acordo com o valor das ideiasrelevantes, a fim de que a mensagempretendida seja absolutamente clara.

Na sequência, o aluno tomacontato com gramaticalidade einteligibilidade, e passa a terconsciência de que nem tudo que égramaticalmente correto é inteligível.Nas mensagens diversas do dia a dia,veem-se muitos exemplos de textosambíguos, ideias que não são bementendidas por quem as lê. O discentedessas escolas aprende conceitos comoo de paralelismo, que empresta à frasea simetria bem-vinda, para uma escritade alto nível.

Ele passa a construir o parágrafo-padrão, com tópico-frasal seguido deampliação da ideia-força. Talinstrumento facilita a produção textualporque não só conduz a organizaçãodo raciocínio e impede o desvio do focopretendido mas também facilita aleitura posteriormente.

No segundo semestre, o alunomergulha na prática argumentativa,estuda as falácias mais comuns daargumentação e aprende a defenderum ponto de vista, por meio dautilização de evidências irrefutáveis, osfatos, os exemplos, as ilustrações, osdados estatísticos e o testemunho. Aofinal do primeiro ano da formação,trabalha com outros gêneros textuais,como a notícia, o editorial e o artigo, eproduz um trabalho em grupo quepraticamente fecha o conteúdo, queprosseguirá na Academia Militar dasAgulhas Negras, no segundo ano daformação, com o aprimoramento daargumentação, com o estudo dosdocumentos de natureza militar e,finalmente, com a carga horáriadedicada à Oratória.

O ensino por competências,adotado no Exército desde 2012,contempla um conteúdo que prioriza aprática dissertativa, o que motiva oaprendizado pessoal, em detrimento dotradicionalismo teórico formal. O alunoexercita-se na expressão escrita, pormeio da solução de situações-problemacontextualizadas e de outros desafiosque vão até a produção do textocompleto.

Esse exemplo pode muito bem serseguido pelas faculdades em geral,independente da área de atuação dofuturo profissional. O abandono do

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13EsPCEx, onde tudo começa

(*) O Coronel Professor, da Arma de Cavalaria, Guaraci Alexandre Vieira Collares cursou oColégio Militar de Porto Alegre, de 1964 a 1970. Graduou-se na Academia Militar das AgulhasNegras em 1974. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível mestrado) em 1984e a Escola de Comando e Estado-Maior (nível doutorado) em 1994. Como funções principaisna ativa, foi Professor em Comissão da Cadeira de Redação e Estilística da AMAN de 1988 a1992; comandou o 2º Regimento de Carros de Combate e foi Chefe de Estado-Maior da 11ªBrigada de Infantaria Leve. Atualmente é Professor de Português na EsPCEx.

estudo da Língua Portuguesa em nívelsuperior deve ser repensado, a fim deque as pessoas sejam mais bempreparadas e atualizadas para atuaremnas diversas carreiras. De outra forma,as universidades podem caminhar nacontramão do aprimoramento e dosucesso intelectual.

***

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O Uso das Tecnologias Digitais eo Novo Manual do Instrutor

Viviane de Fátima Pettirossi Raulik (*)Professora de Inglês

O manual do instrutor de 1997(BRASIL, 1997) me foi apresentado naocasião em que assumi meu cargo deprofessora de inglês no ano de 2004.Tal documento tem como objetivoindicar aos instrutores e professores “oscaminhos mais adequados para quepossam planejar, orientar, controlar eavaliar as sessões de instrução ou deaula” (BRASIL, 1997, p. 1-1) e semanteve em vigor até 2013, quandouma nova versão, ainda em caráterexperimental, foi elaborada peloDepartamento de Educação e Culturado Exército (DECEx) e apresentada àescola.

Esse novo manual (BRASIL, 2013)é fruto de uma série de reformulaçõescurriculares e metodológicas que ainstituição vem promovendo desde2010 como parte de um programa maisabrangente, o Processo deTransformação do Exército Brasileiro(BRASIL, 2010). O que propomos, comeste artigo, é uma análise dos textosdos dois documentos com o objetivo decruzar informações relativas ao uso dastecnologias digitais e sua relação diretacom atividades colaborativas.

Segundo o manual de 1997, “ocomputador é um novo meio disponívelpara o estudo individual, que é realizadopor meio de programas educacionais.Esses programas podem ser de estilosdiferentes: tutoriais, exercícios e

simulação” (BRASIL, 1997, p. 4-16).Sobre os três estilos de programas, odocumento continua:

Os programas tutoriais apresentamum modelo que acompanha o de-senvolvimento e o desempenho doinstruendo, procurando identificaro quanto este aprende em uma li-ção. Quando o instruendo demons-tra ter dominado a habilidade pro-posta, o programa apresenta o pró-ximo grupo de perguntas ou pro-blemas.Os programas de exercício e práti-ca consideram apenas um momen-to determinado do processo ensi-no-aprendizagem. Apresentam si-tuações para que o instruendo pos-sa melhorar o seu DESEMPENHO,levando-o a praticar determinadasatividades quantas vezes julgar ne-cessário. Por exemplo: resolver pro-blemas matemáticos, estudar gra-mática de outro idioma, e outros domesmo tipo.As simulações reproduzem ambien-tes em que o instruendo aprende areagir como se estivesse diante deuma situação real, identificando econtrolando as relações de um dadoproblema. Os jogos de guerra, assimulações de instrução preparató-ria para o tiro, a regulagem de mo-tores, hidráulica, refrigeração sãoalguns exemplos deste tipo de pro-grama educacional (BRASIL, 1997,p. 4-16)

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Salvo os programas de simulaçãoe as particularidades a que eles servem,vejo que o uso de computador emambiente com propósito educacionalestá descrito de maneira extremamentebehaviorista, o que, para a época, nãose deu apenas pelo contexto militar, masdevido ao fato de que o uso docomputador para o aprendizado nadécada de 90 tinha essa característica,ou seja, era baseado em imitação,estímulos externos e respostas fechadas(UPHOFF, 2008).

Em relação ao trabalho em grupo,este é apresentado como um método deensino:

Método de ensino é o conjunto deações, passos, condições e proce-dimentos para atingir determinadoobjetivo educacional. Há vários cri-térios para a classificação dos mé-todos. Para o Exército Brasileiro,eles se classificam em: trabalhoindividual e trabalho em grupo(BRASIL, 1997, p. A-2)

Técnicas de ensino são“procedimentos por meio dos quais osmétodos de ensino sãooperacionalizados” (BRASIL, 1997, p. A-3). No entanto, grande parte dastécnicas de ensino é, por natureza, umtrabalho em grupo e o manual deixaclaro que a predominância do trabalhoem grupo durante as instruções e aulasé altamente recomendável. Assim,temos a definição de trabalho em grupono documento:

Trabalho em grupo é o método deensino por meio do qual os alunosinteragem entre si na busca peloconhecimento, com predomínio dainteração e do diálogo instruendo-instruendos, sem excluir o relacio-namento com o docente. Exige,normalmente, que o docente atue

como facilitador da aprendizagem,em detrimento do papel de trans-missor de conhecimentos. As ses-sões de instrução caracterizam-se,normalmente, pela ativa participa-ção dos discentes, que ocupam ocentro do processo ensino-apren-dizagem (BRASIL, 1997, p. A-3).

Identifico, nessa definição, fortesindícios de que sua base está nospreceitos da teoria sócio-histórica deVigotski (2007[1930]), que defende queo aprendizado humano advém dasrelações sociais. Para o teórico, o serhumano adquire conhecimentos atravésde uma relação de troca ou interaçãocom o meio social e essas trocas se dãoprincipalmente por relaçõesinterpessoais a partir de um processochamado de mediação.

Em relação aos meios auxiliares, ocomputador é apresentado como uma“nova tendência” após uma extensadescrição de outros meios auxiliaresmais comuns para a época como fitasde áudio e vídeo, ilustrações,transparências, etc. E a característicamais marcante dessa nova tendênciapara o ensino é a interatividade. “Oequipamento reage às ações do alunode modo a criar novas situações e agerar mais rendimento naaprendizagem” (BRASIL,1997, p. 7-2).Vemos que a interatividade a que odocumento se refere é com a máquinae não com outras pessoas, o que, para aépoca, também é compreensível, devidoainda às limitações da internet e aoacesso ainda restrito.

Pude constatar, portanto, que, noManual do Instrutor de 1997, o trabalhoem grupo e o uso do computador não secruzam em nenhum momento. Otrabalho apoiado por computador é

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descrito como individual e aspossibilidades de interagir se referem ainteragir com a máquina.

No novo Manual do Instrutor de2013 (BRASIL, 2013), os tais programaseducacionais não são mais mencionadose o estudo apoiado por computador nãoaparece mais como um tipo de estudoindividual. Na seção de meiosauxiliares, no entanto, o computador éainda visto apenas como umequipamento para reproduzir e editar.

Uma seção destinada à internetcomo um meio auxiliar apresentaria,todavia, os indícios reais de atualizaçãoque tanto busco. Primeiramente,afirma-se que a internet “possibilita oacesso a uma gama de informações erecursos que podem ser utilizadospara diversas finalidades relacionadasao processo ensino-aprendizagem”(BRASIL, 2013, p. 3-75, ênfaseadicionada). Como exemplos dessesrecursos, temos os websites depesquisa, os blogs como espaços deescrita, a ferramenta wiki como umrecurso educativo na construçãocolaborativa de um tema e ascomunidades virtuais, grupos, fórunse chats como

... espaços virtuais de grande valiapara o trabalho educativo que po-dem permitir a aprendizagem co-letiva, o intercâmbio de conheci-mentos e experiências, bem comoa resolução conjunta de exercíciose situações-problema relacionadosa determinados conteúdos, assun-tos e objetivos educacionais (BRA-SIL, 2013, p. 3-76).

Nessa nova versão, posso perceberalgumas mudanças consideráveis emrelação ao uso das tecnologias e suarelação direta com atividadescolaborativas. Tenho indícios aqui de

que as tecnologias digitais dentro doensino militar podem, e devem, serusadas como vislumbram Almeida eSilva (2011). Na proposta das autoras,a integração das tecnologias aocurrículo não deve ser apenas na funçãode uma ferramenta tangencial parabuscar conteúdo, digitar ou projetar,mas deve dar espaço para práticassociais de alunos e professores, típicosda cultura digital e Web 2.0.

Web 2.0 são os novos recursos dainternet que permitem a participação dosusuários no processo produtivo, e essetipo de participação, por sua vez, irágerar novas práticas sociais via internet,que são consideradas novos letramentos(LANKSHEAR; KNOBEL, 2007). Essasnovas características da rede mundialde computadores nos colocam numcontexto realmente interativo.

Todas essas informações foramtrazidas para mostrar que a internet seapresenta como mais um espaço onde otrabalho em grupo, dentro daperspectiva sócio-histórica, podeacontecer; e também para mostrar queo Sistema de Ensino do Exército, pormeio do Manual do Instrutor, estáatento a essas possibilidades.

***

ALMEIDA, M. E. B.; SILVA, M. G. M. Currículo, Tecnologia e Cultura Digital:Espaços e Tempos de Web Currículo. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.7n.1 Abril/2011. PUC-SP, p. 1-19.

BRASIL. Ministério do Exército. Manual do Instrutor. 3ed. 1997. Disponívelem: <http://www.decex.ensino.eb.br/port_/leg_ensino/2_educacao_eb-decex/2_port_092_EME_26Set1997.pdf>. Acesso em: 04/04/2014.

BRASIL. Ministério da Defesa. Processo de Transformação do Exército.3ed. 2010. Disponível em: <http://www.eb.mil.br/c/document_library/get_file?uuid=18d47a84-99ac-45d3-b7d5-f37c9b5e53dc&groupId=1094704>.Acesso em: 04/04/2014.

BRASIL. Ministério da Defesa. Manual do Instrutor e do Professor no Âmbitodo Departamento de Educação e Cultura do Exército. Edição Experimental -2013. Circulação Restrita.

Bibliografia

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LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. Sampling “The New” in New Literacies. In:LANKSHEAR, C.; KNOBEL, M. (Eds). A New Literacies Sampler. NewYork: Peter Lang, 2007. p. 1-24.

UPHOFF, D. A história dos Métodos de Ensino de Inglês no Brasil. In:BOLOGNINI, C. Z. (Org.). A Língua Inglesa na Escola: Discurso e Ensino.Campinas: Mercado de Letras, 2008. p. 9-15.

VIGOTSKI, L.S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,2007.

(*) A Professora civil Viviane de Fátima Pettirossi Raulik é licenciada em Letras pela PontifíciaUniversidade Católica de Campinas (PUC), possui curso de pós-graduação Lato Sensu emMetodologia de Ensino da Língua Inglesa, Cambridge CAE (Certificate in Advanced English) eé mestranda em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)na Linha de Pesquisa Linguagens e Tecnologias. Atualmente exerce a função de professora deInglês da EsPCEx.

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Práticas Translíngues- Reflexões -

Maria da Graça Baroncelli (*)Professora de Inglês

A partir do conceito detranslinguagem e práticastranslingues, apresentados porautores como GARCIA (2009/2014) eCANAGARAJAH (2011/2013), passei adesvendar o que acontece no mundoescolar plurilíngue e transcultural, que,além de ser parte inerente do mundocontemporâneo, é também bastantecomplexo. Olhar para as práticas delinguagem de indivíduos bilínguesatravés da lente da translinguagem,segundo CANAGARAJAH (2011), implicaenxergar que as línguas fazem partede um repertório que é acessado paraseus próprios propósitos comunicativos,e, portanto, não são únicas e separadas,mas formam um sistema integrado. Acompetência multilingual emana daspráticas locais em que múltiplas línguassão negociadas para a comunicação e,por essas razões, a proficiência para osmultilíngues é focada na construção derepertórios, isto é, em desenvolverhabilidades nas diferentes funçõesservidas por diferentes línguas, em vezde um domínio total em cada uma daslínguas.

Segundo GARCIA (2009), práticaslinguísticas integradas são observadasconstantemente na co-construção desentidos em salas de aula com alunosbilíngues, enquanto eles se apropriamtanto da linguagem quanto do conteúdoespecífico apresentado pelosprofessores. As práticas translínguessão as práticas de linguagem em que os

indivíduos se utilizam de uma variedadede recursos semióticos de seusrepertórios para o entendimento comume o alcance de certos objetivos, sem anecessidade de separação rígida entrelínguas. Com base nesse entendimento,as relações entre línguas são maisdinâmicas e as línguas se fundem umasàs outras e se transformammutuamente.

A partir dessas reflexões e demuitas outras, extraí um recorte de umaexperiência pessoal, como professora deinglês, na Escola Preparatória de Cadetesdo Exército. Trata-se de uma instituiçãode ensino superior militar, comcaracterísticas peculiares, onde osalunos estudam em regime de internato,com regras que têm como pilares ahierarquia e a disciplina. Atitudes comodormir em sala de aula, não fazer tarefasou trabalhos requisitados pelosprofessores são consideradastransgressões disciplinares e podemgerar o que chamamos de “punições”.Então, os alunos procuram nãotransgredir, para evitar a punição.

Neste contexto, para a instituiçãode ensino e para os professores de inglês,aprender língua inglesa sempre tevecomo foco a idealização da figura dofalante nativo. Portanto a concepçãode linguagem como sistema e commétodos prescritivos tornaram-separtes inerentes do ensino da línguainglesa.

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Apesar de fazermos uso constantede criatividade no ensino da línguainglesa dentro da sala de aula, rarasvezes, oportunizamos outros espaçospara a prática da língua. Em 2016,resolvi fazê-lo, em caráter experimental,criando um grupo de “Whatsapp”, cujoobjetivo era a prática da língua inglesa,fora da sala de aula. Regra do grupo:falar somente no idioma inglês.

Eu ainda não questionava apossibilidade de hibridismo nas práticasde linguagem. O termo ‘negociação desentidos ’ ’ (meaning-making;negotiation strategies), adotado porCANAGARAJAH (2013) em sua teoria datranslinguagem, para se referir àsestratégias que os indivíduos bilínguesutilizam para ter sucesso nacomunicação, era por mim e pelosalunos vivenciadas,muitas vezes. Comoprofessora, ficava dividida entrereconhecer a riqueza dessa ‘mistura’ ourejeitá-la, já que contrariava as minhascrenças sobre o ensino de uma segundalíngua/ língua estrangeira.

Em um determinado dia, depois deuma sequência de tempos de aula,identifiquei um aluno sonolento, parareanimar a sala de aula, projetei aseguinte imagem:

Em seguida, perguntei: “Do youagree ?”

Apesar de ter estabelecido, nacriação do grupo, que a regra era falarsomente em inglês, práticas delinguagem híbridas, desenvolvidas alémde fronteiras rígidas entre línguas,começaram a aparecer. Veja o exemploabaixo, no qual um aluno diz: “ B u tin the best place to sleep you can be“torrado”.

Torrado é uma gíria comum nacomunidade escola militar, e significa“punido”.

A “Translanguaging” possibilitou aoaluno mediar a atividade cognitiva de“writing”. Utilizando-se da palavra“torrar”, em português, ele se posicionaem relação ao grupo e ao professor comoum “expert” capaz de negociar suaidentidade multilingual, aliando aspalavras a outras características daecologia da produção de significado. ParaGARCIA (2014), “A translinguagem é arede que dá suporte ao desenvolvimentodo letramento dos alunos. “Naquelecontexto, não havia outra palavra outermo em inglês que pudesse expressaro que “ser torrado” significava para todaaquela comunidade militar.

De acordo com GARCIA (2009), écoerente a denominaçãotranslinguagem quando se descrevemas práticas linguísticas do sujeitobilíngue a partir da perspectiva dosfalantes, e não simplesmente a partirdo uso das línguas ou do contatolinguístico. Para a autora, atranslinguagem refere-se às múltiplaspráticas discursivas nas quais osbilíngues se engajam para que seumundo bilíngue faça sentido. Podemosdizer, então, que houve uma prática

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translíngue.

Portanto, a professora forneceu umespaço seguro para a aprendizagem dalíngua inglesa e, consequentemente, osatos de linguagem foram produzidosespontaneamente, permitindo que osalunos e o próprio professor adotassemseus repertórios multilíngues para seuspropósitos comunicativos. As línguasportuguesa e inglesa fundiram-se etransformaram-se mutuamente.

Através dessa experiência e dasleituras e reflexões a respeito detranslinguagem, pude concluir queensinar línguas implica enxergar queuma língua não é única e separada,mas que forma um sistema integradocom outras línguas. A competênciamultilingual ocorre, então, mediantepráticas em que diferentes línguas sãonegociadas para a comunicação,desenvolvendo habilidades nasdiferentes funções por elas servidas.

***

CANAGARAJAH, A. S. (2011). Translanguaging in the classroom:Emerging issues for research and pedagogy. Applied Linguistics Review,2, 1-28.CANAGARAJAH, S. Translingual Practice: Global Englishes andCosmopolitan Relations. New York/London: Routledge, 2013.GARCIA, O. Bilingual education in the 21st century: a global perspective.[S.l.]: Wiley-Blackwell, 2009.GARCIA, O.;WEI, L. Translanguaging: Language, Bilingualism andEducation. London: Palgrave, Macmillan, 2014.

Bibliografia

A Major do Quadro Complementar de Oficiais Maria da Graça Duarte Baroncelli foi alunada EsAEx, formando-se em 1996. Possui os seguintes cursos: Letras, Licenciatura Plenaem Língua Inglesa, pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas-PUCC (1993); Inglêsno Mills College, pela EF - International Language School, em Oakland, CA, EUA (1994);Especialização em Atualização Pedagógica pelo CEP/UFRJ (1997); Certificado deProficiência ECPE, pela Universidade de Michigan; Extensão em Aprimoramento Profissionalpara Professores de Inglês, pela Universidade de Campinas-UNICAMP (2000); e Curso daEscola de Aperfeiçoamento de Oficiais-EsSAO (2005). Atualmente é Professora de Inglêsda EsPCEx e cursa disciplina de Pós-Graduação na área de Linguística Aplicada, naUnicamp.

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A Atividade Física e a Prontidãopara o Combate

Márcia Maria Carvalho Luz Fornari (*)Psicóloga

Na historiografia do Brasil Império,observa-se que, no serviço militar, haviaa valorização da força muscular e nãode habilidades corporais, como rapideze flexibilidade. Não existia umaprimoramento de capacidades físicaspor meio de exercícios corporaisespecíficos (ALMEIDA, 2010).

Silva e Melo (2011) discutem emseu artigo a obra de Pereira de Abreu,um médico que vivenciou a Guerra doParaguai e uniu preocupações médicase militares, fazendo uma ligação entrea prática de atividades físicas e apreparação do soldado para o combate.Ele se questionava a respeito de quaisseriam as características de um bomsoldado e como prepará-loadequadamente, pois, ao ser enviadopara o combate, deveria estar saudávele treinado de modo a superar asdificuldades advindas do conflito.

Pereira de Abreu, no ano de 1867,realizou uma pesquisa sobre a educaçãofísica, intelectual e moral do soldado.Naquela época defendeu a prática daginástica como forma de preparaçãofísica e manutenção do vigor. Enfatizouque a prática do exercício incidiria nocaráter e intelecto do soldado,desenvolvendo coragem e energia.Também associou a ginástica aodivertimento, ao lazer e à destreza,poupando o soldado de enfermidades eociosidade, podendo salvar sua vida e ade seus companheiros em lutascorporais (SILVA e MELO, 2011).

Para Almeida (2010), trata-se deatingir um patamar de condicionamento

(...) a ginástica na França deveriaabranger a prática de todos os exer-cícios que tornam o homem maiscorajoso, mais intrépido, mais inte-ligente, mais sensível, mais forte,mais habilidoso, mais adestrado,mais veloz, mais flexível, mais ágil,predisposto a resistir a todas as in-tempéries das estações, a todas asvariações dos climas, a suportar asprivações e contrariedades da vida,a vencer todas as dificuldades, atriunfar de todos os perigos e detodos os obstáculos que encontre,de prestar, enfim, serviços assina-lados ao Estado e a humanidade(CANCELLA apud SOARES, 2004, p.60-61).

físico. Portanto, seria necessáriotreinamento para aumentar ascapacidades físicas e técnicas de luta,ou seja, era necessário transformar ocorpo do soldado.

Com a evolução do esporte, a partirdo século XIX, houve maior repercussãonas Forças Armadas do Brasil, passandoo treinamento físico a fazer parte docotidiano dos militares. Nesse mesmoperíodo, as atividades de educaçãofísica foram gradativamenteincorporadas aos currículos dasprincipais instituições de ensino do País,espalhando-se pelas escolas deformação militar. A defesa desseprocesso de inserção da atividade físicasistematizada tinha o objetivo depromover benefícios para o corpo e paraa mente dos jovens na defesa da Pátria(CANCELLA, 2013).

Cancella, citando Soares (2004),escreve:

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Essas propostas francesas descritasacima foram adotadas pelo ExércitoBrasileiro no início do século XX. Aspráticas esportivas nesse períodotambém adquiriram contornos de umelemento diplomático e disciplinador,além de práticas de recreação(CANCELLA, 2013).

Na Grécia, os jogos representavamum momento de trégua nas guerras econflitos. Na era moderna, o MovimentoOlímpico não esteve alheio às esferassociais e políticas e foi interrompidopor causa das duas Guerras Mundiais.A característica de “combate civilizado”aumentou a importância do esporte,reforçando a simbologia da vitória paraalém da competição esportiva. Oimaginário do atleta enquanto heróiainda prevalece, assim como a alusãonegativa sobre o comportamentoagressivo de alguns torcedores dedeterminados povos antigos aosbárbaros (RUBIO, 2011).

DaCosta et al. (2007) apresentamoito exemplos de situações morais noesporte: respeito às diferenças, àsregras e às decisões, aceitação de seulimite e da outra pessoa, consideraçãopelas necessidades do outro, tomadade decisões, sentir-se orgulhoso emrepresentar a equipe, trabalhar emgrupo, encontrar respostas nosmomentos de dificuldades e aprender oque é vencer e o que é perder.

Dessa maneira, verifica-se ofenômeno da união que o esporte écapaz de proporcionar às nações.Impera a superação dos limites do corpoe da mente. Vale destacar a importânciado respeito a si mesmo, ao seu corpo eao outro competidor, bem como o jogolimpo e a contribuição que o esporte

proporciona na medida em que promoveo autoconhecimento, o autocontrole, acapacidade de superação e aautorrealização, ou seja, contribui parao desenvolvimento físico, social,emocional e moral (MEYER e RUBIO,2011).

De acordo com Sanches e Rubioapud Ruiz e Cabreba (2004), existemdiversos valores que podem sertrabalhados no esporte: tolerância,integração, solidariedade, cooperação,autonomia, participação, igualdade,expressão de sentimentos,sociabilidade, companheirismo,responsabilidade, confiança, dentreoutros. Todavia, existe uma dualidadeentre o jogo com respeito ao rival e ojogo agressivo, dentro e fora de campo.

Sanches e Rubio (2011, p. 829)afirmam que o olimpismo compreendeo esporte como uma filosofia de vidavoltada para o equilíbrio entre mente,corpo e espírito, juntamente com osvalores positivos, sem discriminação,promovendo a amizade, a solidariedadee a paz entre as Nações. Asadversidades do mundo esportivo giramem torno da competitividade malcanalizada, do estresse, da desunião,das cobranças excessivas e dosdesgastantes treinos. As autoras,citando Weinberg e Gould (2011),destacam a sensação aumentada decontrole, o alívio dos problemascotidianos, a sensação de competênciae de autoeficácia, a melhora naautoestima e no autoconceito e asinterações sociais como fatorespsicológicos advindos do esporte.

DaCosta et al. (2007) afirmam quea prática do esporte é construída emodificada sócio-historicamente e que

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os valores dessa prática são gerados apartir dos significados que os indivíduose grupos sociais atribuem à práticaesportiva, sendo que os valores queobservamos no esporte não sãoessencialmente do esporte, mas serefletem no esporte. Os autoresdescrevem um estudo realizado por Leee Cockman (1994) sobrecomportamentos, atitudes e valores comjovens praticantes de futebol e tênis.Os resultados revelaram dezoito valores:dedicação, conformidade, estabe-lecimento de contratos, igualdade,saúde e boa forma, imagem pública,autoatualização, unidade de grupo,realização, companheirismo,consciência, divertimento, bom jogo,obediência, espírito esportivo,demonstração de habilidades, tolerânciae vitória.

As competições esportivascontribuem para que os atletas pensema respeito de valores e comportamentos.DaCosta et al. (2007) citam outras duaspesquisas sobre valores – de Gomes(1999) e Turini (2002) –, queapresentam as seguintes conclusões:a prática esportiva e os valores doesporte podem ter diferentessignificados para diferentes grupossociais; os códigos de valores sofreminfluência direta do meio cultural noqual o atleta está inserido.

Outro ponto que os autoresdestacam refere-se à moral e à ética.Eles caracterizam a moral como umamaneira de se comportar regulada pelocostume, em que cada culturaestabelece padrões de conduta. Já aética provoca a reflexão sobre os valorese sobre a moral. DaCosta et al. (2007)ressaltam os valores eleitos no Exército

Americano: responsabilidade, lealdade,honra, serviço social, integridade ecoragem pessoal.

No livro intitulado A Arte daGuerra, Sun Tzu (2002) escrevediversas orientações para o combate.Algumas delas podem ser oportunastanto em uma situação de conflitoarmado, relacionando com o Exército,como em uma competição esportiva:

Ora, a disposição de forças do Exér-cito é como a água. A configuraçãoda água evita as alturas e corre parabaixo. A disposição de forças doExército evita o substancial e atacano vácuo. A água configura seu flu-xo de acordo com o terreno; o Exér-cito controla sua vitória de acordocom o inimigo. Desse modo, o Exér-cito não mantém nenhuma confi-guração estratégica de poder, aágua não tem forma constante.Quem é capaz de mudar e se trans-formar de acordo com o inimigo ealcançar a vitória é denominadoimaterial ( SUN TZU, 2002, p. 85).

No comentário referente a essetrecho, está a observação de que, peloconhecimento amplo e detalhado doinimigo ou dos competidores, serãoreveladas as possibilidades. Outraafirmação de grande valia de Sun Tzurelaciona-se ao desenvolvimento docontrole emocional em competições eem batalhas. Ele compara os doisextremos de vida e de morte, ou seja,aspirar à vida, evitando riscos, ouaspirar à morte desconsiderando riscos.Nas palavras do autor:

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Assim, se quero travar combate,mesmo que o inimigo tenha altosbaluartes e profundos fossos, nãopoderá evitar a batalha, porque ata-co objetivos que precisam ser re-cuperados (…). Assim, analisa-ocriteriosamente para saber as esti-mativas de ganho e de perda. Esti-mula-o para saber seus padrões demovimento e descanso. Determinasua disposição de forças para co-nhecer os terrenos acessíveis oufatais. Investiga-o para saber emque ele tem excesso, em que eletem insuficiência (SUN TZU, 2002,p. 82-84).

Segundo Brochado (2001), oalicerce psicológico das Forças Armadasestaria na união, capaz de fortalecer atropa estimulando a solidariedade, alémde sustentar a disciplina e a moral. Estesenso de pertencimento nutre o grupo,reanima, energiza, faz com que sesuperem tensões, medos e incertezasdo combate.

Outra obra de grande valia paraeste estudo é o livro do Coronel PedroSchirmer, publicado pela Biblioteca doExército. Essa obra refere-se às virtudesmilitares.

O autor fala do bom caráterenquanto firmeza na ação, generosidadede sentimentos, senso de justiça,respeito, autoconfiança, constância,tenacidade, dedicação, prudência,lealdade, retidão de conduta,honestidade, honradez, perseverança ecoragem moral. Sobre a coragem, naspalavras do autor:

A coragem cristalizada no seu apo-geu materializa-se na audácia (…).A audácia permite ao combatentefazer prodígios de valor no campode batalha. Por tudo isso, pode-sedizer que o heroísmo e a bravura,decorrentes da coragem, são flores

que só podem ser cultivadas e co-lhidas nos jardins dos audazes”(SCHIRMER, 2007, p. 63-64).

Schirmer (2007) compara aprofissão do combatente a umsacerdócio, no qual há o desprendimentopessoal em prol de uma coletividade ebusca-se a vitória. Mais uma vez, naspalavras do autor:

A alvorada de uma vitória prenun-cia-se tão logo se faça nascer namente do inimigo a convicção deque sua causa está perdida, quan-do se aniquilam as suas esperan-ças de triunfo e a ânsia de continu-ar combatendo. A vitória é o predo-mínio da nossa vontade sobre avontade do inimigo. (…) Da mesmaforma como o soldado vence as suaslutas pessoais com a força da fé, anação armada triunfa em suas guer-ras, na defesa da sua honra, do seuterritório e das suas instituições, nãosomente com o fogo das armas oucom a ponta da baioneta, mas, pre-ponderantemente, com a chama doideal, que incendeia o coração dosoldado e aquece sua fé(SCHIRMER, 2007, p. 143).

No ambiente militar, a aptidão físicae a saúde contribuem para o aumentosignificativo da prontidão para ocombate. De acordo com o Manual deTreinamento Físico Militar (C20 - 20), aaptidão física incide na resistência àsdoenças, melhora os níveis de motivaçãoe da autoconfiança. Nesse mesmodocumento, verifica-se a afirmação deque, na missão do Exército Britâniconas Ilhas Falkland e nas ações doExército Americano em Granada, osmilitares com melhor preparo físicoestavam mais aptos para suportarem oestresse do combate, pois a segurançada própria vida depende muitas vezesdas qualidades morais e físicasadquiridas por meio do treinamento

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(*) A 1º Tenente psicóloga Marcia Maria Carvalho Luz Fornari é graduada em Psicologia comHabilitação em Psicologia como Psicólogo Pesquisador pela Pontifícia Universidade Católicade Campinas. Especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano nas Organizações eMestre em Psicologia como Profissão e Ciência pela Pontifícia Universidade Católica deCampinas. Psicopedagoga pela Universidade Gama Filho (UGF-RJ). Extensão na UNICAMP(Faculdade de Educação e Gerontologia). Formação complementar na área de Gestão Empresarialpela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). Graduanda em Administração na Universidade Paulista.Foi oficial OTT Psicóloga Adjunta da Seção Psicopedagógica da EsPCEx até 2017, quandoconcluiu o seu tempo regulamentar de permanência no serviço ativo como oficial temporário.

físico. Então, a atividade física estátambém relacionada com uma saúdemental positiva, exercendo papelimportante na personalidade e nocomportamento do militar (BRASIL,2002).

Dessa forma, a atividade físicafavorece o militar diante de situaçõesadversas de combate, tais como: calor,sono, frio, cansaço etc. Constitui-secomo um motivador de promoção desaúde, possui efeitos benéficos tanto narecuperação como na prevenção dedoenças, melhora o nível de energia,de disposição, de velocidade de reaçãoe de raciocínio (MACIEL, 2010).

***

ALMEIDA, A. J. História da educação física no Exército Brasileiro: históriado corpo e formação do Estado. Revista de História do Esporte, 2010, v.3,n.2, p. 1-16.

BRASIL Manual de Campanha Treinamento Físico Militar (C20-20). Brasília:Exército Brasileiro, 2002.

BROCHADO, J.M.S. O caráter dos soldados: estudo de valores coletivosque configuram a base do caráter profissional de militares na força decombate. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2001.

CANCELLA, K. B. O esporte e as Forças Armadas na PrimeiraRepública: das atividades gymnasticas às participações emeventos esportivos internacionais (1890-1922). Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército, 2013.

DaCOSTA, L. et al. Manual valores do esporte: fundamentos. Brasília: SESIDepartamento Nacional, 2007.

MACIEL, F. M. L. Benefícios da atividade física para a prevençãocardiovascular e melhoria da qualidade de vida. Trabalho de Conclusão deCurso em Aplicações Complementares às Ciências Militares: Escola de Saúdedo Exército Rio de Janeiro, 2010.

MEYER, S.S. e RUBIO, K. A prática esportiva como ferramenta educacional:trabalhando valores e a resiliência. Revista Educação e Pesquisa, 2011, v.37,n.4, p 825-841.

RUBIO, K. A dinâmica do esporte olímpico do século XIX ao XXI. RevistaBrasileira de Educação Física, 2011, v.25, n. esp, p. 83-90.

SCHIRMER, P. Das virtudes militares. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,2007.

SILVA, C. L. B. e MELO, V. A.Fabricando o soldado, forjando o cidadão: odoutor Eduardo Augusto Pereira de Abreu, a Guerra do Paraguai e a educaçãofísica no Brasil. História, Ciências, Saúde, 2011, v. 18, n. 2, p.337-353.

TZU, S. A arte da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Bibliografia

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Mário Augusto Mota Coimbra (*)Chefe da Divisão Administrativa da EsPCEx

Relatos Históricos sobre aCriação da Boina Verde-Oliva

- Registro -

Na procura por símbolos quedestacassem o Centro de Instrução deGuerra na Selva (CIGS) das demaisOrganizações Militares, surgiu a boinaverde. Em 1967, o 1º Ten Inf – Guerreirode Selva, nº 0015, Francisco Janderde Oliveira, propõe ao Ten Cel JorgeTeixeira de Oliveira, Comandante doCIGS, o uso de uma boina verde. OCmt reluta em aprovar a ideia, pois teriaque propor uma modificação doRegulamento de Uniformes para oPessoal do Exército (RUPE, coisa muito“complicada” para aquela época. O TenJander argumentou, porém, que seriaapenas para uso interno e na selva.

O Cmt CIGS, carinhosamenteapelidado de “Teixeirão”, que não erade desestimular a criatividade do seupessoal, disse-lhe que podiaconfeccionar um modelo para sersubmetido à sua decisão.

O Ten Jander entra em contato coma Prada, indústria que confeccionavaboinas, inclusive a dos “Pequedês”,explicou a ideia, especificando quedeveria ser “verde-oliva, da cor dasviaturas”.

Dias mais tarde, Jander entra nogabinete do Comandante e põe à suafrente, sobre a mesa, um pequenopacote. O Cmt abre e, surpreendido,encontra uma boina verde. Vibra, comoera do seu estilo, e aprova apenas parauso interno. São encomendadas em

número correspondente ao deinstrutores e monitores. Na verdade, aboina se mostrou inadequada para asatividades na selva e foi substituídapor um chapéu de selva, arremedo dochapéu tipo australiano, utilizado pelosBatalhões de Engenharia.

Em 1968, o Comandante do CIGSdecide solicitar, oficialmente,autorização para o pessoal do Centrode Instrução de Guerra na Selva a utilizara boina verde. Em consequência, ouniforme dos integrantes do CIGS seriacomposto por jaqueta de gabardineverde-oliva e coturnos verdes. Nessaépoca já existiam coturnos americanoscom seu uso autorizado na instrução.

Foto que serviu de modelo aopedido de uso da boina (1º Ten Inf

Adalberto Bueno da Cruz)

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Apesar de ainda não aprovada, aequipe do CIGS que visitou as escolassimilares do Exército norte-americanono Panamá e EUA, no período de marçoa abril de 1969, utilizou a boina verdecom o uniforme de instrução, duranteas visitas às OM e atividades de campo.

A boina só seria aprovada maistarde, ainda em 1969. Por alguns anos,a boina verde foi de uso exclusivo doCIGS. Quando da modificação do RUE,na administração do Ministro LeônidasPires Gonçalves, a boina verde foiadotada para todo o Exército, e o CMA,dotado de boina rajada.

Na foto acima, da esquerda para adireita, um oficial venezuelano,instrutor da Escola das Américas; o 1ºTen/ EB Bueno, instrutor do CIGS;um oficial porto-riquenho, instrutor daEscola das Américas; o Ten Cel/EBTeixeira, Cmt CIGS; e o Cap/EB COSTA,instrutor do CIGS.”

***

Foto: Gen Bda R/1 Adalberto Bueno da Cruz (In Memorian) Guerreirode Selva 119 (curso concluído em 1967)

Comitiva utilizando a boina verde

(*) O Coronel Mário Augusto Mota Coimbra graduou-se na Academia Militar das AgulhasNegras – AMAN, no Curso de Infantaria, em 1991. Cursou a Escola de Aperfeiçoamento deOficiais – EsAO (nível mestrado), em 1999. Possui os seguintes cursos: Operações naSelva – Categoria B (2001); Básico de Montanhismo (1995); Política e Estratégia – ADESG/MG (2004) e Estágio de Operações Psicológicas – COTER (2010). Instrutor do Centro deInstrução de Guerra na Selva de 2001 a 2003/ 2005 a 2009 e 2012/2013. Atualmente é oChefe da Divisão Administrativa da EsPCEx.

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A rotina dos alunos da EscolaPreparatória de Cadetes do Exército éintensa e diversificada. As atividadesforam elaboradas para forjarcaracterísticas necessárias aocumprimento das atribuições do futurooficial da linha bélica brasileira. Paratal se fazem necessárias ações quepermitam o desenvolvimento físico,intelectual e moral. Este artigoabordará as práticas que há anosgarantem a excelência da formação dooficial na EsPCEx. Citando o célebre RuiBarbosa, “O Exército pode passar cemanos sem ser usado, mas não podepassar um minuto sem estarpreparado.”

Acordar pela manhã antes do Solsurgir no horizonte faz parte da rotina.Esse hábito é proposto com o intuitode fazer com que os alunos da EsPCExacostumem-se a aproveitar o tempo emperíodo de paz para se preparar para ocombate.

Os cuidados pessoais sãoimportantíssimos. Começar o dia comuma higiene adequada é extremamentenecessário. Asseio corporal, higieneoral, barba e cabelo sempre no “padrão”e os uniformes bem alinhados. Seguirpara o café da manhã, após a ordemunida e a apresentação para avançarao rancho, são atividades que reforçam

a hierarquia e a disciplina, pilares que,segundo a Constituição Federal, são abase do Exército Brasileiro. As refeiçõessão elaboradas por profissionais. Opreparo de alimentos cuidadosamenteselecionados proporciona a energianecessária para um dia intenso deatividades.

O conteúdo das disciplinasuniversitárias é transmitido aos alunospor excelentes professores. O seuamplo conhecimento sobre os assuntose as técnicas de ensino e aprendizagemfazem com que cada aluno busquemelhorar seu conhecimento e alcançarmaiores objetivos. As aulas sãomomentos de integração eaprendizagem. Algumas práticas emlaboratório despertam ainda mais osinteresses, gerando autonomia eresponsabilidade. O ensino estábaseado no desenvolvimento decompetências e propõe umametodologia educacional centrada nodiscente, com atividades voltadas parao desenvolvimento proposto. Estamodalidade permite que o alunodemonstre responsabilidade com seusestudos e desenvolva o interesse pelasdiversas atividades da escola.

O Treinamento Físico Militar (TFM)contribui para um melhor preparo físico,afinal a segurança de um militar, muitas

Breno Bastos Macedo (*)

Aluno da EsPCEx

A Rotina do Aluno da EsPCEx

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vezes, depende da qualidade moral efísica adquirida no treinamento físico.São praticadas as modalidades decorrida, natação, flexões na barra, nosolo e abdominais, com avaliaçõesindividuais.

O conteúdo diretamente ligado àstécnicas militares é transmitido pormeio de métodos práticos e teóricos.A teoria ensinada nas disciplinas detécnicas militares, que incluemarmamento, orientação espacial,reconhecimento do território e outrosconteúdos. A parte prática ocorre comos serviços de escala e atividades nocampo. Para tal se faz necessário oconhecimento da parte teórica, que,junto com a prática, compõe um modelohomogneo e simétrico que garante overdadeiro aprendizado e a execuçãoda atividade-fim.

Os serviços são várias atribuiçõesde caráter rotativo e impessoal, quecolaboram para a defesa doaquartelamento bem como suamanutenção e administração. Com ointuito de transmitir as informações

sobre os diversos serviços existentes,os alunos são incorporados a essetrabalho e adquirem conhecimento deforma prática.

“Os campos” são atividades noterreno que promovem o desconforto emum ambiente novo para proporcionar odesenvolvimento de atributos comorusticidade e espírito de corpo. Asoficinas demostram, de forma fácil ecoordenada, os mecanismosnecessários para as práticas dediversas atividades.

Por essa vasta gama de atividades,pode-se perceber que o modelo deensino proposto pela EscolaPreparatória de Cadetes do Exército seencaixa perfeitamente no cotidiano dosalunos e colabora na preparação econtinuidade do curso de formação, queterá prosseguimento na AcademiaMilitar das Agulhas Negras.

***

(*) O Aluno Breno Bastos Macedo cursou o ensino fundamental e médio no Colégio Militar de

Brasília-DF. Atualmente, é aluno da 1ª Companhia da EsPCEx , no primeiro dos cinco anosdo Curso de Formação e Graduação de Oficiais de carreira da Linha de Ensino Militar Bélico(Armas, Quadro de Material Bélico e Serviço de Intendência), cujo ciclo se completa nosquatro anos do curso na AMAN. É integrante da Turma Rosa da Fonseca.

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A Instrução Militar de Tiro

O contexto atual pressupõe queas atualizações são necessárias paraenfrentar os novos desafios e, dessaforma, o Exército Brasileiro procura semanter em contínua evolução.

Esse processo de atualizaçãopermeia todas as áreas da ForçaTerrestre. Na área de ensino, a EscolaPreparatória inicia a formação militardo futuro oficial combatente, e o maiordesejo do aluno é a tão sonhadainstrução de tiro. Portar um fuzil e tê-lo como parte do seu corpo proporcionaao aluno uma imensa euforia. Aotérmino dessa instrução, já está aptopara o primeiro serviço.

A instrução militar de tiro na Escolainicia-se com o conhecimento teóricosobre os diversos armamentos doExército: Fuzil de Ar Comprimido (FAC),Fuzil Automático Leve (FAL), PistolasBeretta e Imbel, Fuzil AutomáticoPesado (FAP) e Fuzil IA2.

Figura 1: Fz IA2

Depois de um período de utilizaçãopor mais de cinco décadas pelo ExércitoBrasileiro, o Fz 7,62 M964 FAL, um dosmelhores fuzis do mundo, está em fasede substituição pelo novo Imbel A2.

Fonte www.defesanet.com.br

Na verdade o IA2 não é apenasum fuzil. É um sistema de armas emdois calibres, com modelos diferentespara cada um. O primeiro a serproduzido foi o calibre 5,56x45mmNATO, originalmente com doistamanhos de cano. O outro modelo IA2foi produzido com o tradicional calibre7,62x51mm, também com doistamanhos de cano.

O primeiro projeto do fuzil IA2 foio Fuzil de Assalto 5,56 IMBEL A2.Pensado como um sucessor do FuzilIMBEL MD97, tem como funcionamentoo sistema de ferrolho-rotativo. Essesistema, mais moderno do que oferrolho basculante, proporciona maiorprecisão, facilidade e segurança aoatirador. Os mais modernos fuzis domundo possuem sistema defuncionamento por ferrolho-rotativo.

Arthur Aied Polatschek Valadão (*)Aluno da EsPCEx

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Fonte www.forte.jor.br

Já o Fz Ass 7,62 IA2 foi projetadocom sistema de funcionamento porferrolho basculante. Um calibre maispesado, como o 7,62, realmente exigeuma maior rigidez do equipamento.Essa linha do fuzil foi projetada comdois tamanhos de cano. O Fz Ass 7,62IA2 com cano maior e faca-baioneta, ea Ca 7,62 IA2 (carabina), com cano maiscurto e sem suporte para baioneta.

As novidades do IA2 são extensas.Trilhos Picatinny permitem queequipamentos como lunetas, lanternase red-dots (mira holográfica) sejaminstalados na parte superior da caixada culatra e nas laterais do guarda-mão. A proteção em alumínio noguarda-mão permite ao atiradorrealizar mais disparos, uma vez queessa nova tecnologia impede o calorde chegar às placas do guarda-mão. Achapa da soleira foi projetada para daruma maior ergonomia ao armamento.O material em polímero, usado nafabricação do fuzil, deixou-o bem maisleve e maneável. Todos os aspectosdo IA2 foram pensados em prol dousuário. Com mais leveza, ergonomiae estabilidade, o fuzil proporcionamáxima letalidade.

Fz Ass IA2 5,56 equipado com “red-dot”

Fonte www.defesanet.com.br

Fz Ass IA2 5,56

O Imbel A2 foi apresentado em2010, sendo submetido a rigorosostestes de fábrica e avaliações emcondições extremas, como areia, poeira,temperatura e uso submergido. Apósser aprovado em todos os testes, em2012 o Exército adquiriu cerca de 20.000unidades, que estão sendo distribuídasaos poucos por todas as Unidades doBrasil. A tendência é que, com o tempo,o FAL seja substituído por completo peloIA2.

IA2 com coronha rebatida

Fonte www.defesanet.com.br

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A escolha do Exército por umcalibre menor e menos potente temrespaldo. A 4a Geração de Guerra étravada no meio civil. Diferentementede outrora, hoje as batalhas acontecemnas cidades, arrastando civis einocentes para o conflito. O 7,62 temuma potência imensa, varandofacilmente um corpo ou uma parede.Principalmente em comunidades, ondecasas de baixo padrão sãoimprovisadas, um projétil de 7,62 chegaa atravessá-las e a atingir a populaçãocivil, que nada tem a ver com o conflito.

De fato, o trabalho realizado pelaIndústria de Material Bélico do Brasil(IMBEL) é um sucesso.Internacionalmente reconhecido, o IA2chegou e já fez a diferença. O novofuzil já teve seu batismo de fogo, tendosido empregado em grandes eventos,como a Copa do Mundo 2014 e aOlimpíada no Rio de Janeiro em 2016.Além disso, também é utilizado nasmissões de paz do Exército, como noHaiti.

Apesar de os combates teremmudado ao longo da história, é certoque melhores equipamentos earmamentos garantem uma grandevantagem e superioridade a umexército. Com isso, o Exército Brasileirosó tem a ganhar com o novo IA2.

Até 2022, o processo detransformação do Exército chegará auma nova doutrina com o emprego deprodutos de defesa tecnologicamenteavançados, profissionais altamentecapacitados e motivados para que oExército enfrente, com os meiosadequados, os desafios do século 21,respaldando as decisões soberanas doBrasil no cenário internacional.

A Escola Preparatória, preocupadacom a formação militar e com o adventodas novas tecnologias, consolida suasatividades educacionais voltadas aofuturo da sociedade.

Sistema de Armas Imbel A2

Fonte www.forte.jor.br

Bibliografia

__________. http://www.forte.jor.br/2017/07/14/exercito-substitui-gradualmente-fuzil-fal-762-pelo-ia2-556/. Disponível em: 18 de julhode 2017. Acesso em: 18 de julho de 2017.__________. http://www.forte.jor.br/2016/10/12/exercito-comeca-testar-novo-fuzil-ia2-7-62/. Disponível em: 18 de julho de 2017. Acessoem: 18 de julho de 2017.__________. http://www.defesanet.com.br/armas/noticia/26417/Exercito-adota-Fuzil-IA2—com-tecnologia-100—nacional-/ .Disponível em: 18 de julho de 2017. Acesso em: 18 de julho de 2017.__________. Indústria de Material Bélico do Brasil, IMBEL. Manualdo Usuário Operação e Manutenção: Fuzil de Assalto/ Carabina 5,56IA2 – Edição Junho 2014, 66 páginas.__________. Indústria de Material Bélico do Brasil, IMBEL. Catálogode Suprimentos do Fuzil de Assalto/ Carabina 5,56 IA2 – Edição Junho2014, 28 páginas.

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(*) O Aluno Arthur Aied Polatschek Valadão cursou o ensino fundamental e médio noColégio Militar de Brasília-DF. Atualmente, é aluno da 1ª Companhia da EsPCEx, noprimeiro dos cinco anos do Curso de Formação e Graduação de Oficiais de carreira daLinha de Ensino Militar Bélico (Armas, Quadro de Material Bélico e Serviço de Intendência),cujo ciclo se completa nos quatro anos do curso na AMAN. É integrante da Turma DonaRosa da Fonseca.

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Métodos de Ensino da EscolaPreparatória de Cadetes do

Exército

Milena Canestraro (*)Aluno da EsPCEx

Resumo

O Exército Brasileiro busca amodernização e o aperfeiçoamentoconstante da instituição. A prioridadena modernização é das Escolas deFormação, visto que são responsáveispor difundir os valores do exército epela formação profissional e moral dasfuturas gerações militares. Dessaforma, a Escola Preparatória de Cadetesdo Exército (EsPCEx) conta com ametodologia moderna do Ensino porCompetências e com os benefícios datecnologia, que, aliados a umaqualificada equipe de profissionais,tornam a escola referência nacional. Oaluno da EsPCEx passa não apenas pelotreinamento militar e físico, mastambém por preparação intelectual eatitudinal, necessária para o futurooficial. É importante destacar que essamodernização não representa umaruptura com as tradições do Exército, eque o passado histórico e os valorescomo hierarquia e disciplina continuamsendo os pilares da instituição. É umanova Força Terrestre para o mesmoExército.

Palavras-chave: Ensino porCompetências. Ambiente Virtual deAprendizagem. Exército Brasileiro.

Introdução

O Exército Brasileiro adotou oEnsino por Competências como métodode ensino em suas escolas de formaçãono ano de 2012, seguindo a Diretrizpara o Projeto de Implantação do Ensinopor Competências no Exército Brasileiro,do DECEx (Portaria nº 137, de28FEV12). Esse novo método nãosignifica uma ruptura com as tradiçõesda instituição. Apenas ressalta amodernização a qual o Exército estásubmetido constantemente, visando oaprimoramento técnico-profissional deseus integrantes.

Junto da filosofia do Ensino porCompetências, as aulas em laboratório,o uso de tecnologia em sala e aexistência de um Ambiente Virtual deAprendizagem tornam o processo deaprendizagem mais atual e dinâmico.Dessa forma, o futuro oficial militarrecebe, na Escola Preparatória deCadetes do Exército (EsPCEx), umaformação voltada para a ação, que vaialém da teoria. A experiência adquiridana instituição pelos futuros instrutoresde novas gerações de militares éessencial tanto para situações de guerraquanto de não-guerra.

O Ensino por Competências

O Ensino por Competênciasvaloriza a capacidade de aplicar oconhecimento assimilado no cotidiano,

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atribuindo um significado aos conteúdosaprendidos. “Não é suficiente saberou dominar uma técnica, nem ésuficiente sua compreensão e suafuncionalidade, é necessário que o quese aprende sirva para poder agir deforma eficiente e determinada diantede uma situação real.” (ZABALA, 2010,p.10)

Essa aplicabilidade das matériasé bastante visível na EsPCEx. Além dasmatérias de Técnicas Militares,necessárias para a formação do oficial,as matérias da Divisão de Ensino, comoQuímica e Física, ensinam conteúdosque serão utilizados pelo militar emseu dia a dia. De acordo com o conteúdoprogramático disponível no AmbienteVirtual de Aprendizagem (AVA) daEsPCEx, a disciplina de QuímicaAplicada I é composta por 4 assuntosdidáticos: Combustíveis, ArmasQuímicas, Processos Oxidativos eTecnologias Químicas Aplicadas – TQA.São conteúdos que, em situação decombate, serão de grande auxílio paraos combatentes.

O Ensino por Competênciastambém prevê a divisão da matéria emquatro tipos de Conteúdos deAprendizagem: Conceitual, Factual,Procedimental e Atitudinal. Cadaconteúdo deve ser ensinado e avaliadode modos diferentes. Por isso o Alunoda EsPCEx tem, ao longo de suaformação, avaliações teóricas, práticas,físicas e atitudinais. A avaliaçãoatitudinal é um dos grandes diferenciaisdo ensino da EsPCEx com relação aoensino universitário comum. Os alunossão avaliados diariamente em 19atitudes, como abnegação ecamaradagem, que compõem parte de

sua nota e possibilitam umacompanhamento dos valores queprecisam ser mais trabalhados por cadaaluno. Os conteúdos conceituais efactuais são os aprendidos em sala deaula; os procedimentais, nos diasverdes (dias de Instrução Militar) e nosexercícios no terreno.

Campanha do Agasalho – alunodesenvolvendo os valores

atitudinais

O Ambiente Virtual de Aprendizagem

“O processo de ensino-aprendizagemtem potencial para tornar-se maisativo, dinâmico e personalizado pormeio de Ambientes Virtuais deAprendizagem. Essas mídias, emevolução, utilizam o ciberespaçopara promover a interação e a co-laboração a distância entre os ato-res do processo e a interatividadecom o conteúdo a ser aprendido.”(PEREIRA, SCHMITT, DIAS)

Tendo em vista o caráter demobilidade geográfica do militar, o AVAé uma ferramenta de ensino bastanteadequada, visto que o conteúdoexistente no ambiente virtual pode seracessado por qualquer aparelho comacesso a internet, em qualquer lugar

Fonte: site da EsPCEx: www.espcex.eb.mil.br

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do Brasil. Dessa forma, os alunos dosmais diversos rincões do Brasil podemvisitar suas cidades natais, ou ir acompetições esportivas em outraslocalidades, e o conteúdo continuarádisponível. Além disso, todos os alunostêm acesso à Intranet quando estãonas dependências da Escola, podendoacessar os conteúdos existentes noambiente virtual.

O grande diferencial do AVA é apossibilidade de acessar conteúdosmultimídia. Além do material escrito,que também fica disponível para oaluno, existem imagens, vídeos e atémesmo aplicativos que facilitam aaprendizagem. Os docentes tambémcompartilham no AVA os slidesutilizados em sala de aula.

Do ponto de vista ecológico, tãoem voga no século XXI, a utilização deambientes virtuais representa a reduçãodo uso de mídias em papel, visto que omaterial é disponibilizado online, semprecisar ser distribuído. Algumas dasavaliações também são realizadasdiretamente pelo AVA.

Atividades Experimentais

“O saber que não vem da experiên-cia não é realmente saber”(VYGOTSKY, 1984).

Na EsPCEx, muitos dos conteúdossão aplicados em atividadesexperimentais. No que se refere àDivisão de Ensino, os alunos têm aulasexperimentais de química, Física eCibernética. Nas aulas de Química emlaboratório, podem observar de pertoas características de cada combustívele o poder calorífico de uma térmita,por exemplo. Já nas aulas deCibernética, realizadas sempre no

laboratório, os computadores sãonecessários para trabalhar com oPrompt de Comando do Windows e doLinux e as provas são realizadasdiretamente no AVA.

Quanto às Técnicas Militares, osconteúdos trabalhados inicialmente sãoconceituais e factuais. Após umaintrodução teórica, os alunos sãosubmetidos à prática, com conteúdosprocedimentais e atitudinais, pois,apenas com a teoria, poderiam nãoestar aptos para exercer as funções deum oficial combatente. Exemplos deconteúdos que só são realmentecompreendidos com a prática são asinstruções de tiro, construções deabrigo, camuflagem, orientação,topografia de campanha e avaliação dedistâncias, dentre tantos outros.

Aluno da EsPCEx realizandotransposição de curso d’água na

Operação Agulhas Negras

Conclusão

Utilizando o moderno método doEnsino por Competências, por meio detécnicas como a realização de aulasexperimentais e do uso de tecnologiapor meio do Ambiente Virtual deAprendizagem, o Exército forma novasgerações de militares cada vez mais

Fonte: site da EsPCEx: www.espcex.eb.mil.br

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preparados. Esse maior preparo se dápelo enfoque na aplicação dosconhecimentos adquiridos, que vai alémda simples teoria.

A EsPCEx se destaca comoestabelecimento militar e de ensino,então, por formar profissionais que seadaptam às características dinâmicasdo século XXI, em que o “saber fazer”torna-se necessário.

***

Bibliografia

BARBOSA, Ana Cláudia Rocha. O ensino por Competências e aformação docente para o ensino militar: Contribuições para aeducação sociocomunitária. 2012.Disponível:< http://www.revista.unisal.br/ojs/index.php/educacao/article/view/209>.Acesso em: 29 jul. 2017

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VYGOTSKY, Lev. A formação Social da Mente. São Paulo: MartinsFontes, 1984.

ZABALA, Antonio; ARNAU, Laia. Como Aprender e EnsinarCompetências. Porto Alegre: Artmed, 2010.

(*) A Aluno Milena Canestraro cursou o ensino fundamental e médio no Colégio Militar deCuritiba-PR. Atualmente, é aluno da 1ª Companhia da EsPCEx, no primeiro dos cinco anosdo Curso de Formação e Graduação de Oficiais de carreira da Linha de Ensino Militar Bélico(Armas, Quadro de Material Bélico e Serviço de Intendência), cujo ciclo se completa nosquatro anos do curso na AMAN. É integrante da Turma Dona Rosa da Fonseca.

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Os Desafios e as Contribuiçõesdo Ensino Militar Bélico Misto

Renata Lima Campos (*)Aluno da EsPCEx

Historicamente, o acesso demulheres ao ensino, até mesmo aoensino básico, foi uma conquista vindade um longo período de espera. NoBrasil, o acesso feminino às escolasocorreu primeiramente na época doentão Marquês de Pombal, no períodode 1758 a 1810, por meio de escolasexclusivas para mulheres. Surgiu,assim, uma das primeirasoportunidades para a mulher nomercado de trabalho do setor público,através do magistério.

Com Dom João VI, seguindo oMétodo Bell-Lancaster, a formação doprofessor começava exclusivamentedirecionada aos homens e totalmenteligada ao exército. Ou seja, somadoao fato de as matérias lecionadas àsmulheres terem um cunhopredominantemente voltado para oscuidados do lar (o que era discriminado,por exemplo, na Lei Geral de 1827), dehaver uma grande resistência culturalfrente às conquistas das mulheres e,frequentemente, a necessidade doconsentimento de um homem para quea mulher pudesse trabalhar, além dehaver limitações até mesmo aomagistério feminino no setor público,novamente se lançava o desafioaparentemente inatingível do acessofeminino mais amplo à formaçãosuperior e ao mercado de trabalho.

Foi, enfim, em 1870 que asprimeiras escolas públicas mistas e apossibilidade de as mulhereslecionarem tanto para homens quantopara mulheres, salvo algumasrestrições, firmaram-se. Ademais, odireito de as mulheres frequentarem oensino superior foi galgado em 1879,por concessão de D. Pedro II. No finaldo século XIX, teve início, assim, oensino superior feminino, sendo em1887, no estado da Bahia, o primeiroingresso de uma mulher numauniversidade brasileira.

Nesse sentido, é perceptível oquão lento foi o acesso das mulheres àformação escolar, mesmo na formaçãobásica, e, ainda mais em se tratandodo ensino superior, inclusive, no que serefere à formação conjunta de homense mulheres. Isso tudo refletiudiretamente no acesso difícil e restritodas mulheres ao mercado de trabalho,especialmente no setor público. Logo,somado às barreiras culturais e aosreceios quanto aos impactosfisiológicos e familiares, o acesso damulher brasileira à Linha de EnsinoSuperior Militar, especialmente, à Linhade Ensino Superior Militar Bélico, pareciaimpensável.

Porém, com o passar do tempo, asdiversas mudanças e os diversos

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acontecimentos históricos, fez-senecessário reconhecer a contribuição damulher. Na Guerra do Paraguai, asmulheres atuaram expressivamente nocampo de batalha, colaborando comapoio logístico e cuidados médicos. Noataque paraguaio ao Forte de Coimbra,por exemplo, a maioria das esposas demilitares brasileiros fabricaram balasde fuzil.

Por outro lado, com o tempo edevido à necessidade de efetivo e àstransformações no estilo doscombates, as mulheres foramempregadas nas linhas de frente debatalha em diversos países e comosubstitutas da mão de obra masculinanas linhas de produção, como naInglaterra, na Alemanha e na UniãoSoviética, surgindo a necessidade deum aparato legal para o novo cenário,como atesta o Coronel Nereu, em 2013,no seu artigo “A mulher na Linha deEnsino Militar Bélico”, no seguintetrecho:

“Após a 2ª GM, vários instrumentosjurídicos internacionais surgiram emdefesa dos direitos da mulher, ob-servados na carta das Nações Uni-das, na declaração Universal de Di-reitos Humanos, na Convenção so-bre a Eliminação de todas as For-mas de Discriminação Contra a Mu-lher, entre outros documentos. Noentanto, estas legislações não am-param a mulher na condição decombatente, seguindo, desta forma,o previsto nas Convenções de Ge-nebra e no Protocolo Adicional.”(p.10, ““A mulher na Linha de EnsinoMilitar Bélico” , 2013, Cel Inf NEREUAugusto dos Santos Neto)

Assim, diversos entravesdificultavam a inserção da mulher naLinha de Ensino Militar Bélico. Dentreeles, os desafios culturais na

convivência entre homens e mulheres,as dificuldades na adequação deinstalações e infraestruturas, anecessidade de se fazer umaadequação nas regulamentações, deforma a receber as mulheres e anecessidade de enxergar a mulher comomais que responsável por “dar a vida”,sendo também capaz de lidar com ocombate.

Com as transformações doambiente de batalha, cada vez maisdescentralizado, a exigência de seformar recursos humanos capazes dedecidir de forma rápida e em situaçõesvariadas tornou-se uma prioridade. Ouseja, tornou-se essencial odesenvolvimento de sujeitos flexíveis,abertos a novas ideias, consciente desuas potencialidades, de seus direitose deveres, sem deixar de lado osvalores militares.

Ademais, a eficiência do suportelogístico ganhou maior poder de decisãono campo de batalha, ainda maistendo-se em vista as transformaçõestecnológicas e o aumento dacomplexidade dos combates. Assim,segundo o Portal do Exército Brasileiro,“os exércitos marcham sobre seu apoiologístico”.

Nesse contexto de constantesmudanças e de conquista gradual elenta de novos espaços para asmulheres, foi possível constatar apossibilidade de inseri-las na Linha deEnsino Militar Bélico, aproveitandocapacidades administrativas, decisóriase estratégicas das mulheres, adespeito de algumas dificuldades nocampo da adaptação fisiológica, que,geralmente, afetam mulheres expostasà grande sobrecarga física.

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Logo, conforme o art 7º da Lei nº12.705, de 8 de agosto de 2012, oingresso de candidatos do sexofeminino na Linha de Ensino Bélicodeveria ser viabilizada em até 5 anos.

Após inúmeras pesquisas eadaptações em diversos campos(jurídico, educacional, estrutural eoutros), a mulher tem sua primeirachance na Linha Bélica do Exército.

Diante de uma complexa ecompleta rede de ensino, a mulherfinalmente tem acesso, a partir desteano de 2017, a uma formação queabrange desde aspectos cognitivos efísicos até o campo de valores militarese emocional. E assim tem sido traçadamais uma linha da história do ExércitoBrasileiro, na EsPCEx (EscolaPreparatória de Cadetes do Exército).Fique claro, porém, que, apesar do briode novidade, essa linha não é maisimportante do que outras passadas,mas traça um acréscimo a essa história,uma contribuição relevante.

Claro que tudo tem sido avaliadopasso a passo. Diante dessa grandeoportunidade, não só a mulher-soldado,mas também o homem-soldado, édesafiado a reinventar-se, a superar-se.

É perceptível, porém, que aformação mista na linha bélicaproporciona desafios cruciais para odesenvolvimento daquelascompetências anteriormente citadas,

tão necessárias na atual conjuntura decombate.

Complementando-se, homens emulheres aprendem uns com os outrosos valores de forma mais intensa: aspossíveis limitações físicas impõemmaior empenho quanto à rusticidade;os desafios da convivência impõem anecessidade de maior espírito de corpoe maior capacidade de superação e depersistência; as diferenças fazemaprender de forma mais forte aimportância das expressões “irmão defarda”, “família verde-oliva”.

Verdadeiramente, experenciar essetipo de formação traz novos desafiose, por que não, dúvidas, como qualquernovidade, ainda mais quando se tratada formação de recursos humanos dainstituição mais bem reconhecidasocialmente no país — o ExércitoBrasileiro. É justamente aí que nasce aoportunidade de se modernizar e inovaro campo de batalha, partindo-se daevolução na base, isto é, na capacitaçãodo oficial combatente.

***

NETO, Nereu Augusto dos Santos, Cel Inf, A Mulher na Linha deEnsino Militar Bélico. Rio de Janeiro: 2013.DE OLIVEIRA, Hermann Moreira, A Inserção do Gênero Femininonas Forças Armadas. Rio de Janeiro: 2015.Site da internet: http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdfSite da internet: http://www.uece.br/setesaberes/anais/pdfs/trabalhos/420-07082010-184618.pdfSite da internet: http://www.dgp.eb.mil.br/docs/2016/revista%20230%20para%20web.pdfSite da internet: http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/1813/1786

Bibliografia

A Aluno Renata Lima Campos cursou o ensino fundamental no Colégio Militar de Juiz deFora (MG). Em 2016, ingressou na Universidade Federal de Juiz de Fora. Interrompeu seucurso superior de Direito para ingressar na carreira militar, no ano de 2017. Atualmente, éaluno da 3ª Companhia da EsPCEx , no primeiro dos cinco anos do Curso de Formação eGraduação de Oficiais de carreira da Linha de Ensino Militar Bélico (Armas, Quadro deMaterial Bélico e Serviço de Intendência), cujo ciclo se completa nos quatro anos do cursona AMAN. É integrante da Turma Dona Rosa da Fonseca.

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Evolução do Sistema de Artilhariade Foguetes para Saturação de

Área ASTROS

1. Introdução

A origem dos sistemas de foguetesde saturação de área desenvolvidos pelaempresa brasileira AVIBRASAEROESPACIAL S.A. remonta aos seusprimeiros anos de atividade na décadade 60. Após êxitos iniciais nos setoresaeronáutico e aeroespacial brasileiro,a empresa passou a desenvolversistemas de foguetes Ar-Terra (Sbat-37, Sbat-70 e Sbat-127) e Terra-Terra(SS-15 com 127 mm de calibre e 15 kmde alcance) para emprego emaeronaves e Unidades de Artilhariarespectivamente.

Na década de 70, atendendo arequisitos operacionais e programas depesquisa do Exército Brasileiro (EB), aempresa desenvolveu os foguetes X-20 (180mm de calibre e 20 Km dealcance) e X-40 (300mm de calibre e40 km de alcance). A pedido do próprioExército, industrializou o foguete 108mm e o míssil MSS X-1 anticarroprojetados pelo então IPT (Instituto dePesquisas Tecnológicas), assim comouma série de componentes correlatos.Empregando conhecimento dos projetosanteriores, desenvolveu o sistema defoguetes 70 mm superfície-superfície,com lançadores capazes de disparar 36foguetes em alcance de 7 km. Maistarde, esse sistema foi aperfeiçoado,dando origem ao AV-12/36, materialcapaz de disparar, em 12 segundos, 36foguetes 70 mm Skyfire de alta geraçãoa alcances que variam de 04 a 12 km.

No final da mesma década, aempresa identificou uma lacuna nomercado internacional, que não possuíaum sistema de foguetes de diversoscalibres e alcances para saturação deárea, lançados de um mesmo veículo.O EB, por sua vez, por meio deconsistente estudo de doutrina etrabalho conjunto com a AVIBRAS,concluiu ser vantajoso o emprego desistema multicalibre como poderosoelemento de dissuasão e defesa eincentivou a empresa a prosseguir nosestudos para seu desenvolvimento.

A falta no mercado mundial e oapoio do Exército Brasileiro permitiramà AVIBRAS a concepção do ASTROS(ARTILLERY SATURATION ROCKETSYSTEM), primeira versão brasileira desistema multicalibre de foguetes deArtilharia para saturação de área. Apartir daí, o sistema evoluiu, ano a ano,por percepção da empresa, que sempredesejou manter o material no “Estadoda Arte” em tecnologia, ou porsolicitações de clientes, sempreinteressados em melhorias queatendessem a suas necessidadesoperacionais.

Hoje, a última versão do sistema,o ASTROS 2020, já é uma realidade efaz parte do processo de transformaçãoe modernização da Força Terrestre,constituindo-se em um dos ProgramasEstratégicos do Exército Brasileiro,capaz de dotá-lo de meios capazes deprestar um apoio de fogo de longoalcance, com elevada precisão eletalidade.

Jean Lawand Junior (*)Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx

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Fig 4 – ASTROS II (MK1) – LANÇADORAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 5 – ASTROS II (MK1) –REMUNICIADORAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 6 – ASTROS II (MK2) – VIATURASFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 7 – ASTROS II (MK2) – LANÇADORAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 2 – ASTROS I – LANÇADORAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 3 – ASTROS I – UCFFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

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2. Desenvolvimento

Hoje, alguns países do OrienteMédio e Sudeste Asiático possuem omaterial ASTROS, que é considerado,por todos eles, vetor de dissuasão desuas Forças Armadas. Outros clientesao redor do mundo, principalmenteaqueles que buscam independência dosprodutos norte-americanos, russos echineses, têm se mostrado bastanteinteressados na aquisição. Namíbia,Brunei e Colômbia são exemplos dealguns países que vislumbram a comprado sistema.

No Brasil, o material foi adquiridoem 1989 pela primeira vez. Contratossubsequentes até 1997 permitiram aoExército a obtenção de veículossuficientes para mobiliar cinco bateriasde Lançadores Múltiplos de Foguetes(Bia LMF). Inicialmente, três bateriasforam designadas para emprego naArtilharia de Costa. Por problemasconjunturais e de logística, todas asviaturas do sistema foram centralizadasem Formosa-GO, com a criação do 6o

Grupo de Lançadores Múltiplos deFoguetes (6o GLMF) em 2005.

A necessidade de transformar oExército Brasileiro e dotá-lo de novascapacidades que permitissem dissuadira concentração de forças hostis porterra, por mar e pelo ar, e neutralizarqualquer possível agressão ou ameaça,antes mesmo que acontecessem, fezcom que fosse concebido o PortfólioEstratégico do Exército, integrado porsubportfólios, programas e um projeto.Dentre os programas do subportfólioDEFESA DA SOCIEDADE, encontra-se oASTROS 2020 (Fig 1).

Com o ASTROS 2020 como um dosProgramas Estratégicos do Exército

Brasileiro, as três baterias do 6o GLMFestão sendo modernizadas e adaptadaspara o lançamento do míssil tático decruzeiro em desenvolvimento,transformando-o em Grupo de Mísseise Foguetes. Além dessa modernização,há a previsão de criação e implantaçãode outro Grupo de Mísseis e Foguetes.As duas Unidades serão estruturadascom um Comando e Estado-Maior, umaBateria Comando e três Baterias deMísseis e Foguetes, mobiliadas comviaturas na versão MK-6.

Para que se entenda o atualestágio de tecnologia do ASTROS, éimportante que se faça referência atodas as versões do sistema,desenvolvidas e fabricadas desde oprimeiro protótipo:

a) 1981 – Versão ASTROS I –também conhecido como “Brucutu”, foio primeiro protótipo do sistema defoguetes multicalibre de saturação deárea da AVIBRAS. Não possuía cabineblindada e era composto por 3 tipos deveículos: a lançadora (Fig 2), aremuniciadora e a unidade de direçãode tiro (cálculo dos elementos de tiro eradar de acompanhamento dos foguetespara ajustagem) (Fig.3), todos modeloscom tração 6x6. A partir desse projeto,foi concebida a versão MK-1 do ASTROSII;

b) 1983 – Versão ASTROS II(MK-1) – 1a versão do atual Sistemade Artilharia de Foguetes para Saturaçãode Área, foi desenvolvida para atendera requisitos operacionais do exércitoiraquiano, a pedido do próprio SadamHussein, governante do país à época.Possuía eletrônica analógica bastantesimples. A cabine passou a serblindada, e os veículos foram

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Fig 12 – ASTROS II (MK5) – VIATURADE COMANDO E CONTROLEFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 8 – ASTROS II (MK3) – VIATURAMETEOROLÓGICAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 9 – ASTROS II (MK3) – LANÇADORAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 11 – ASTROS II (MK4) – DISPARODO SS-80 (MALÁSIA)Fonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 13 – ASTROS II (MK5) –LANÇADORA, JÁ COM CHASSIS TATRAFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

Fig 10 – ASTROS II (MK4) – LINHADE MONTAGEMFonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

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concebidos nos mesmos três tipos: alançadora (Fig. 4), a remuniciadora (Fig.5) e a unidade de controle de tiro (todos6x6). O sistema de Comunicações eraanalógico e portátil. O Chassiempregado era da marca MercedesBenz. Foram desenvolvidos os foguetesSS-30 (127mm), SS-40 (180mm) e SS-60 (300mm), com alcances nominaisde 39 km, 33 km e 70 km,respectivamente, ao nível do mar;

c) 1986 – Versão ASTROS II(MK-2) (Fig. 6 e 7) – Evolução daversão anterior, houve mudanças naeletrônica e na mecânica de todas asviaturas, permanecendo o mesmosistema analógico de Comunicações.Foi o modelo vendido à Arábia Saudita,sendo adicionado um novo veículo:oficina móvel veicular, montadatambém sobre o chassi Mercedes 6x6e que permitia a manutenção de 1o e2o escalões em campanha;

d) 1998 – Versão ASTROS II(MK-3) – Versão melhorada paraatender ao maior pedido feito peloExército Brasileiro, que já haviaadquirido uma bateria (4 lançadoras)do tipo MK-2. A partir dela, os modelospassaram a ter cabine basculante,visando à manutenção, e novoequipamento rádio, que, aindaanalógico, era mais moderno ecomplexo que o anterior. Os tipos deviaturas não mudaram, havendo oacréscimo de uma específica para ostrabalhos de meteorologia. A AV-MET(Fig. 8) foi montada sobre o chassi daFord F-1000, contrastando com orestante dos veículos (Fig. 9), e passoua ser responsável por todos ostrabalhos de levantamentometeorológico de superfície e das altascamadas;

e) 2001 – Versão ASTROS II(MK-4) (Fig. 10) – Desenvolvida a partirde pedido do governo da Malásia (Fig.11), sofreu grande salto tecnológico emrelação ao MK-3; o material passou aempregar a eletrônica digital e houve ainclusão de sistema de navegação emtodas as viaturas com o emprego doGPS e DGPS. Foi inserido novo tipo deveículo com tração 4x4, o de Comandoe Controle (Fig. 12), capaz de executara coordenação e o planejamento doapoio de fogo nos níveis Bateria eGrupo, empregando softwaresespecíficos. Equipamento rádio digitalfoi adotado, elevando a segurança dosistema de Comunicações (dados evoz). O chassi Mercedes ainda era oempregado em todas as viaturas. Foidesenvolvido, por solicitação do própriocliente asiático, o SS-80 (300 mm) comalcance nominal de 90 km ao nível domar;

f) 2009 – Versão ASTROS II(MK-5) – Versão seguinte do sistema,teve grandes inovações tecnológicas,principalmente na eletrônica que foitotalmente modificada. A hidráulicatambém foi modernizada, e diversosequipamentos, como o giroscópio, sãode geração mais atual. O chassiempregado, por problemas de boicoteda empresa Mercedes Benz, passou aser o da empresa tcheca TATRA (Fig.13), levando à reformulação naestrutura de todos os veículos. Asviaturas 4x4 foram bastantemodificadas, tornando-se mais robustase equipadas e permitindo um maiornúmero de tripulantes. Essa versão foifeita com adaptabilidade para olançamento do míssil tático de cruzeiro(MTC) (alcance de 300 km) e capacidadede executar todos os cálculos para o

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disparo da nova munição, cujodesenvolvimento seria retomado;

g) 2014 – Versão ASTROS II(MK-6) – Versão mais recente e quecomporá as viaturas do ASTROS 2020,adquiriu completa capacidade delançamento do míssil tático de cruzeiro,bem como a de um foguete guiado comalcance de 40 km. O sistema de tirocomputadorizado, de última geração,passou a ser capaz de controlar odisparo também das novas munições,com possibilidade de inserção de outrasdesenvolvidas no futuro. Foi criada umanova viatura somente para o apoio e apreparação do MTC e desenvolvidosnovos softwares e hardwares bem maisrobustos e confiáveis. Adaptações naremuniciadora, devido ao míssil, emelhorias na Unidade Controladora doTiro, buscando o acompanhamento dastrajetórias com elevada precisão, sãoalgumas das inovações encontradasnessa versão.

Percebe-se, do exposto, que aversão mais moderna do sistema (MK-6), concebida mais de 30 anos após omodelo inicial (MK-1), possui enormesmodificações e melhoramentos. Hoje,o ASTROS 2020 é considerado omaterial mais flexível do mundo,atendendo às necessidades das forçasterrestres em destruir alvosestratégicos e de longo alcance com oemprego de cabeças de guerra alto-explosivas ou múltiplas. Suascaracterísticas o apontam como um dosmelhores sistemas de foguetes emísseis de saturação existentes nomercado internacional e seudesempenho foi provado em combatena Guerra Irã-Iraque e nas duas Guerrasdo Golfo.

O sistema, composto por oitodiferentes veículos, será capaz delançar foguetes balísticos, foguetesguiados e mísseis (em desenvolvimento– Fig. 14) com alcances que variam,hoje, entre 09 e 300 km. As muniçõessão dispostas em contêiner-lançador dedimensões padrão, variando-se,obviamente, o número de artefatosmontados em cada um deles, o quepermite que todos os tipos sejamlançados de uma mesma viatura.

A flexibilidade, o alcance e areduzida dispersão dos foguetes, aaerotransportabilidade, os tempos deentrada e saída de posição, suasmedidas de defesa ativa e passiva e alogística simplificada tornam o sistemabrasileiro incomparável em sua classe,garantindo maior precisão aos fogos deprofundidade, maior diversificação dealvos e maior flexibilidade de manobra,além da dissuasão.

Agora, a AVIBRAS prepara-se parauma evolução maior no material,buscando transformá-lo em um sistemamais completo de defesa que poderádisparar, além dos artefatos terra-terra,um míssil antiaéreo.

Após contatos realizados comdiferentes órgãos das Forças ArmadasBrasileiras, verificou-se haver interessepor um sistema antiaéreo de médiaaltura (até 15.000 m) que fosse capazde se integrar ao SISDABRA (Sistemade Defesa Aeroespacial Brasileiro),possuísse um Sistema de Comando eControle com possibilidade de interfacede Comunicações e que, sendo tambémuma arma de ataque terrestre, pudesseatender às características da Artilhariado futuro.

Levando-se em consideração a

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utilização de plataformas já existentesna empresa e sua capacidade técnicae operacional, concluiu-se que o novosistema deveria ser modular e baseadono material ASTROS, o que facilitaria oemprego e a logística, permitindo,inclusive, a disponibilidade e as trocasde módulos e de munição entre todasas tropas empregadas. Permitiria olançamento de míssil terra-ar deplataformas montadas em veículosterrestres ou em belonaves.

Se desejado pelas Forças ArmadasBrasileiras, o país possuiria um sistemade defesa inovador, nas versões deArtilharia de Campanha e Antiaérea,que traria poder de dissuasão jamaisantes adquirido e, o melhor, fabricadopor empresa nacional.

3. Conclusão

O ASTROS surgiu após estudoscontinuados da empresa brasileiraAVIBRAS, como solução para ademanda mundial na área de sistemasmulticalibre de foguetes para saturaçãode área.

Desde sua concepção, vempassando por inovações tecnológicasimpostas pela evolução do combate queo mantêm em posição de destaquequando comparado aos mais modernose completos sistemas similares domundo. A procura pelo ASTROS vemcrescendo, principalmente por paísesque buscam independência tecnológicadas grandes potências mundiais.

O Exército Brasileiro possui umGrupo de Mísseis e Foguetes, localizadoem Formosa – GO, como resultado dacentralização do material adquiridodesde o final da década de 80.Entretanto, o Comando da Instituição,

sabedor das necessidades futuras dopaís e das características do material,determinou a criação do ProgramaASTROS 2020, que contempla a criaçãode mais uma Unidade do sistema.

O Programa ASTROS 2020, versãocom mísseis de alcance 300 km e quepode adquirir capacidade futura delançar munição antiaérea de médiaaltura, foi criado com o intuito de supriro Brasil com um sistema de armasmoderno e preciso, aproveitando-se datecnologia já existente, que trará altopoder de dissuasão ao país e o colocaráno rol de países produtores de mísseisterra-terra e terra-ar.

***

Fig. 14 – Teste com Míssil Tático (TM)no Campo de Provas da Marambaia.Fonte: AVIBRAS AEROESPACIAL S.A.

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(*) O Tenente-Coronel Art Jean Lawand Junior é graduado emCiências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras(AMAN – 1996), pós-graduado Stricto Sensu em Ciências Militarespela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO – 2004) e Escolade Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME – 2015/2016).Exerceu a função de Oficial de Ligação do Exército na empresaAVIBRAS AEROESPACIAL S.A. no período de 2008 a 2010,auxiliando no desenvolvimento técnico-operacional do ASTROS II.Atualmente, é o Comandante do Corpo de Alunos da EsPCEx.

- Portal do Escritório de Projetos do Exército. Disponível em: http://www.epex.eb.mil.br/index.php/texto-explicativo. Acesso em 20 dejulho de 2017.

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Avaliação da Ingestão Hídrica eDesidratação de Alunos-Atletas

IntroduçãoA nutrição esportiva tem se

tornado o objeto de diversos estudossobre o desempenho humano, devidoà estreita relação entre o rendimento ea alimentação (BRITO, MARINS, 2003).

Sabe-se que a perda hídricadurante o exercício pode gerar umestado de desidratação, entretanto ahiperidratação também é prejudicial aodesempenho, devido ao desconfortogástrico, podendo gerar, ainda, umestado de hiponatremia no atleta(MARINS, 1999).

Segundo Armstrong (1997), acapacidade do organismo em perdercalor para o ambiente depende dasecreção e evaporação do suor. Àmedida que a temperatura corporalaumenta, a sudorese também aumentapara evitar o acúmulo excessivo decalor no organismo.

Para evitar os possíveis efeitosadversos da desidratação sobre odesempenho esportivo, a ingestão deágua em quantidades suficientes pararepor a perda hídrica pela sudorese temsido recomendada em consensosinternacionais (ACSM, 1996; CASA etal., 2000).

Recomenda-se beber aproximada-mente 500 mL de líquido, cerca de 2hantes do exercício para promover umahidratação adequada e permitir que

haja tempo para excretar o excesso deágua ingerido. Além disso, aconselha-se um aumento da hidratação naspausas do treino, como também aingestão de 1L a 1,25L de líquido, paracada quilograma de água corporalperdido durante o exercício. Dessamaneira, é possível prevenir umadesidratação ou provável hipertermia,bem como decréscimos no desempenhodurante o exercício (PRADO et al, 2009).

O esporte militar, nas últimasdécadas do século XX e início do séculoXXI, apresentou grande projeção emtodo o mundo. A estrutura dasorganizações ligadas ao esporte militarpassou a se equiparar às organizaçõesesportivas de alta performance, assimcomo seus torneios e campeonatos(CANCELLA, 2011).

O crescimento do esporte na áreamilitar somado ao grande esforço físicoe condições ambientais trouxeram umaumento de doenças de síndromeclínicas, em especial a rabdomiólise. Arabdomiólise é caracterizada pornecrose muscular e liberação deconteúdo intracelular (como mioglobinae creatinoquinase) para a circulaçãosanguínea, podendo desenvolver-se emqualquer circunstância em que ademanda por energia nos músculosexceda o suprimento energéticodisponível (POLDERMAN, 2004).

Matheus Takamori Costa Umebara (**)Estagiário de Nutrição da UNICAMP

Luís D’ Avoglio Zanetta (***)Estagiário de Nutrição da UNICAMP

Maria Carolina Pelatieri Rodrigues do Valle (*)Nutricionista

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A apresentação clínica éfrequentemente sutil. A tríade clínicaclássica de dor e fraqueza muscular comexcreção de urina de cor escura éobservada em menos de 50% doscasos, sendo necessário um elevadoíndice de suspeita diagnóstica. Sinaislocais, como hipersensibilidade, rigidez,contusões ou escoriações e contraturasmusculares, além da presença desintomas sistêmicos, como mal-estargeral, náuseas, vômitos, febre,palpitações, agitação, delírio, confusãoe diminuição do débito urinário, sãooutros achados da história clínica a terem consideração (GABOW, 1982)

Atualmente, o esporte é umfenômeno consagrado e praticado nomeio militar em todo o mundo, na formacompetitiva, de preparação militar elazer. No campo de estudos do esporte,porém, poucos trabalhos sãoencontrados sobre o processo deaproximação dos militares ao fenômenodo esporte e a importância dahidratação no rendimento dos atletasmilitares relacionados a doençasmetabólicas. Apesar de existirem açõespreventivas do Exército, como cartilhasde prevenção à rabdomiólise, énecessário que se mantenha umaatenção especial, reforçando oconteúdo disponibilizado pela Força.

Assim, questiona-se se a ingestãohídrica dos atletas militares antes,durante e após as atividades físicasentá dentro do recomendado, uma vezque há uma preocupação do Exércitobrasileiro com o surgimento de doençasmetabólicas, como a rabdomiólise.

ObjetivoO presente trabalho tem como

objetivo comparar a ingestão hídricados atletas avaliados com a ingestãoadequada, separando-os pormodalidade, e as porcentagens de perdade peso sem e com a hidratação.

Materiais e Métodos

Para o trabalho, foram avaliados49 alunos da Escola Preparatória deCadetes do Exército (EsPCEx), que selocaliza na cidade de Campinas, SãoPaulo. A instituição, com mais de meioséculo de existência, tem a missão depreparar candidatos para o ingresso naAcademia Militar das Agulhas Negras(AMAN), responsável pela formação deoficiais combatentes do Exército(GALLACI, 2013). Os alunos de trêsmodalidades – atletismo, judô eorientação – foram avaliados no mêsde setembro de 2017, no período pré-treino, que se inicia por volta das 11h,e após o treino, por volta das 12h.

Para a pesagem, foi utilizada umabalança digital modelo G-tech. Osatletas foram pesados antes e após aatividade física sem tênis e com roupasleves. No judô, os atletas foramavaliados sem o uso do quimono. Napesagem, após o exercício, essesatletas foram questionadosindividualmente sobre o consumo deágua durante a atividade. Desse modo,a hidratação foi mensurada por meiodo relato dos próprios alunos, utilizandogarrafas de água individuais.

Os atletas da modalidadeatletismo foram separados de acordocom a categoria: corredores, saltadorese arremessadores.

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Para os dados estatísticos, foramutilizadas as seguintes nomenclaturas:PA, para Peso Antes, que indica o pesoantes da atividade física; Líquido, parao consumo de líquido durante oexercício; PD, para Peso Depois, queindica o peso do atletas após aatividade física; PF, para Peso Final,que indica o peso do atleta menos aquantidade de líquido ingerido duranteo exercício; Perda, que indica quanto oatleta perdeu de peso durante oexercício; % Perda, indica aporcentagem de peso que o atletaperdeu em relação ao PA, por meio dafórmula (Perda / P.A.)*100.

Resultados e Discussão

A desidratação é um aspectonegativo e prejudicial ao desempenhoatlético, tanto em esportes de longaduração quanto nos exercícios de altaintensidade. A ocorrência de grau levede desidratação, como 1% a 3% do pesocorporal, também pode prejudicar acapacidade de rendimento e dificultarum atleta de atingir o seu desempenhomáximo. Já a perda excessiva, em tornode 5% do peso corporal, pode reduzir acapacidade de esforço emaproximadamente 30% (SALTIN &COSTILL, 1988).

Pelos resultados da pesagem(tabela 1), notamos que os atletastiveram uma perda de peso que variade 0,1kg a 1,4kg, sendo 1,1% a médiade perda. A partir dos resultados e daliteratura consultada, sabemos que ahidratação é um fator importante nasaúde e no rendimento dos atletas.

Para a pesagem do judô, foiobservado que houve uma perdaconsiderada como grau leve de

desidratação (1% a 3%), que podeapresentar-se como prejudicial aosatletas em relação à perda derendimento. Apesar dos resultados, osatletas não obtiveram uma perda tãosignificativa, provavelmente pelo tipode treino, mais técnico e menosextenuante.

Os praticantes de atletismomostraram uma perda de peso menordo que as demais modalidades, tendouma média de 0,72kg de perda. Numacomparação entre as modalidades doatletismo, os arremessadores esaltadores obtiveram uma perda menor,explicada devido ao treino técnico e deforça, ao contrário dos corredores, quetiveram a maior perda de peso comtreino aeróbico intenso.

Já os atletas da orientaçãoapresentaram uma perda de pesosemelhante aos de judô, em média1,2%. Nesse caso específico, não foiingerido nenhum tipo de líquido duranteo treino, devido à escolha do treinadorpor uma corrida contínua, na qual hádificuldade no transporte e consumo deágua.

Os atletas avaliados tiveram umaperda de peso média compatível com adesidratação leve. Foi observado que,em geral, os atletas se apresentarammais da metade na faixa de 1,0 a 3,0%de perda de peso, sem contar aingestão hídrica durante o treino,mostrando uma possível diminuição norendimento. Após a análise com ahidratação, percebemos umadiminuição dos atletas nesta faixa de1,0 a 3,0%, surgindo atletas com ganhode peso (10% do total dos atletas),que pode estar relacionado a umaingestão maior do que o recomendadoou uma baixa sudorese.

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Tabela 1: Intervalo dos parâmetros por modalidade esportiva.

Gráfico 1: Comparação da porcentagem de perda e ganho de peso dosatletas considerando a ingestão ou não de água.

0 5 10 15 20 25 30 35

ganho

número de alunos

1327

3021

Nº d

e p

erd

a d

e p

eso

0,0-1,0

1,0-3,0

com água sem água

> 3,0

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A dificuldade de se hidrataradequadamente está presente emtodas as modalidades. Para aorientação, a dificuldade mostrou-seainda mais visível, pois, além de serum treino mais contínuo, não hábebedouros no percurso e há dificuldadede transporte de garrafas. Contudo, como uso de estratégias adequadas eincentivo para a hidratação (gráfico 1),foi possível observar uma transição de14 atletas avaliados com grau leve dedesidratação (1,0 – 3,0%) para acategoria de baixo risco (0,0 – 1,0%).

Estratégias podem ser usadaspara garantir a hidratação adequada,como boa ingestão hídrica antes deiniciar a atividade física e mochilas quefacilitem o transporte de líquido duranteo treino. A viabilidade desseequipamento para os alunos da EsPCEx,porém, pode ser questionável. Os outrospraticantes de Judô e modalidades doAtletismo têm acesso à água duranteo treino, o que torna a hidratação algomais possível. Apesar da facilidade deacesso, alguns praticantes nãocostumam consumir água durante otreino, tendo um consumo de líquidoinferior ao perdido como suor. Seriainteressante uma intervenção paraavaliar as causas que levam os atletasa não consumirem líquidos (falta demotivação, desconforto, esquecimento)e, a partir disso, orientar e incentivar oconsumo.

A avaliação do estado dehidratação corporal antes, durante eapós o exercício físico é de fundamentalimportância por ser um fatordeterminante de desempenho para aprática de atividades físicas,principalmente para a prática

constante, além de ajudar a prevenirou evitar os problemas de saúdeprovocados pelo estado de desidratação(MOREIRA, 2006).

Ademais, é de extremaimportância o consumo adequado deágua. Princípios do tratamento eprevenção para a rabdomiólise sãobaseados na hidratação, indução dediurese e alcalinização da urina. Oaumento da perfusão renal minimiza ainjúria por isquemia e aumenta o fluxourinário para tentar eliminar os cilindroshemáticos, que obstruem os túbulosrenais (ROSSI et al, 2009).

Conclusão

O esporte de alto rendimento,principalmente no nível militar, vem sedestacando nos últimos anos. Por isso,deve haver um aumento dapreocupação com os atletas na suaperformance e prevenção contra lesõese doenças.

Assim, o consumo adequado deágua e ações preventivas são de grandeimportância para minimizar os efeitosadversos da desidratação erabdomiólise, uma vez que nem sempreé possível fazer ingestão adequada deágua durante a atividade física, levandoa uma redução na qualidade dos treinos,em respostas competitivas ecomplicações provenientes da máhidratação.

***

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(*) A 1o Tenente OTT Maria Carolina Pelatieri Rodrigues do Valle é Nutricionista, graduadapela Universidade de São Paulo – USP, em 2009; especialista em Nutrição Esportiva pelaUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em 2016; especialista em Nutrição Clínicapelo Hospital Universitário da Universidade de São Paulo – USP, em 2010; especialista emNutrição Pediátrica pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de SãoPaulo – USP, em 2010. Cursa pós-graduação em Inteligência, Estratégia e Segurança Corporativapela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG. Atuou como AssessoraTécnica na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Co-autora do Manual de Terapia

Nutricional na Atenção Especializada Hospitalar, pelo MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atualmente é Nutricionista daEscola Preparatória de Cadetes do Exército – EsPCEx, Auditora do Programa de Auditoria de SegurançaAlimentar - PASA e Supervisora de Estágio na UNICAMP.

(***) Luís D’ Avoglio Zanetta é aluno de graduação na Universidade Estadual de Campinas(UNICAMP), no curso de Nutrição, com ingresso no ano de 2014. Atualmente é bolsista deIniciação Científica e estagiário da EsPCEx, supervisionado pela 1º Tenente Maria Carolina.

(**) Matheus Takamori Costa Umebara é aluno de graduação na Universidade Estadual deCampinas (UNICAMP), no curso de Nutrição, com ingresso no ano de 2014. Atualmente ébolsista de Iniciação Científica e estagiário da EsPCEx, supervisionado pela 1º Tenente MariaCarolina.

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Homenagem à EsPCEx- Reconhecimento -

No dia 14 de setembro, foi realizadano Teatro Castello Branco (TCB) umasessão solene da Câmara Municipal deCampinas presidida pelo Vereador LuisCarlos Rossini. A Câmara Municipal deCampinas prestou uma homenagem àEsPCEx, outorgando-lhe a MedalhaChico Mendes, com o respectivoDiploma de Reconhecimento, pelosrelevantes serviços prestados napreservação do Meio Ambiente,destacando a exuberante área verdeque envolve o prédio da EsPCEx,formada por diversas espécies raras deMata Atlântica. No evento também foientregue o Diploma de Honra aoMérito para a Banda da EsPCEx, emface dos valores que transmite esimboliza nas apresentações em apoioàs instituições de ensino, entidades eórgãos públicos, eventoscomemorativos e sociais da Prefeiturade Campinas e região metropolitana.As condecorações concedidas forampreviamente aprovadas, porunanimidade, pelo plenário da Câmarados Vereadores da Cidade de Campinas.O Vereador Rossini enalteceu a outorgadas honrarias com o seguinte discurso:

Discurso em homenagem à EscolaPreparatória de Cadetes do

Exército

“A Câmara Municipal de Campinasse reúne em sessão solene, pela pri-meira vez em sua história, nas depen-dências da Escola Preparatória de Ca-detes do Exército, para prestar duas

homenagens a esta instituição, quecomemora 77 anos de existência e derelevantes serviços prestados à naçãobrasileira.

Serão concedidas as seguintes hon-rarias: Medalha “Chico Mendes” à ES-COLA PREPARATÓRIA DE CADETES DOEXÉRCITO e Diploma de Honra ao Mé-rito à Banda da Escola Preparatória deCadetes.

Antes de discorrer sobre as justi-ficativas que permitiram a aprovação,por unanimidade, pela Câmara Munici-pal das propostas por mim apresenta-das, considero necessário comentar, deforma breve, o significado dessas hon-rarias.

A Medalha Chico Mendes foi criadapela Câmara Municipal de Campinaspara homenagear pessoas e institui-ções que se destacam pelo cuidado epreservação do meio ambiente, desen-volvendo ações de proteção, recupera-ção e educação ambiental, como obje-tivo-fim de sua atuação, ou seja, queincorpora os princípios desustentabilidade como parte de suamissão.

O Diploma de Honra ao Mérito, porsua vez, consiste em um título de vir-tude, dado a pessoas ou organizaçõesque atingiram o reconhecimento públi-co das suas atividades. Este reconhe-cimento surge, muitas vezes, de umapostura ética para com a sociedade, oupelos benefícios alcançados ou gera-dos pelo impacto de suas ações.

Feitas essas rápidas consideraçõesiniciais, passo agora a relatar de forma

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muito resumida as razões que motiva-ram a Câmara Municipal a prestar essereconhecimento público, através daoutorga dessas honrarias.

Primeiramente vamos tratar daMedalha Chico Mendes.

“A relação da humanidade com anatureza é muito mais intensa do queimaginamos. A natureza tem seu jeitoespecial para influenciar o comporta-mento humano. Ao protegê-la, rece-bemos como gratidão a beleza das pai-sagens o canto dos pássaros, o perfu-me das flores, a exuberância das co-res, a pureza do ar, a qualidade dosalimentos, o dom da vida e, sobretu-do, uma imensa capacidade de sere-nar a alma daqueles que com ela con-vivem em harmonia”

Este pequeno trecho extraído dolivro A ESCOLA PREPARATÓRIA DE CA-DETES DO EXÉRCITO E O MEIO AMBI-ENTE – O VERDE OLlVA PROTEGENDOO VERDE, de autoria de JORGE LUIZPAVAN CAPPELLANO, nos dá conta dapreocupação ambiental da Escola Pre-paratória de Cadetes, desde a suatransferência para Campinas.

Quando, em 1944, o Governo deSão Paulo adquiriu o terreno da Fazen-da Chapadão, em Campinas, e inicioua construção da escola, o local ondefoi edificado o projeto, em estilo colo-nial espanhol, idealizado e conduzidopelo arquiteto Hernani do Vai Pentea-do, era um imenso pasto, sem, prati-camente nenhuma vegetação de por-te.

A obra inspirada nas antigas for-talezas espanholas, destaca, na facha-da principal, a imponente Torre Duquede Caxias, que, do alto de seus 40metros, permite uma visão que vai alémde toda a área da Fazenda Chapadão e

de parte dos bairros e edificações dacidade de Campinas. Verifica-se, hoje,que a harmonia do verde é quebradapela existência de três lagos formadosa partir de uma nascente de água, lo-calizada na área da Escola, onde seencontra o Bosque da Nascente.

Desde a transferência da Escolapara Campinas, foram implantadas inú-meras áreas verdes formadas por es-pécies raras da Mata Atlântica, desta-cando-se o Bosque da Tradição, que,todo ano, no dia 17 de setembro, rece-be o plantio de uma árvore de pau-brasil,não apenas como comemoração do seuaniversário, mas, também, para reafir-mar o compromisso da escola de cuida-do com a natureza.

A beleza da Escola, no entanto,não se restringe às suas reservas ver-des, rica fauna, construções coloniaise a grandiosidade de seu prédio. Elavai além de tudo isso, pois guarda emseu interior um patrimônio anímico in-comensurável e uma parte da históriado Exército Brasileiro.

O livro acima mencionado, nos dáconta ainda de que:

“A exuberância da área verde daEscola Preparatória de Cadetes do Exér-cito, que abriga mais de 12.000 espé-cies de árvores e uma diversidade depássaros e animais silvestres, que con-trasta com a paisagem urbana, forma-da por prédios, ruas e casas do bairroJardim Chapadão, revela o cuidado e oapreço pela conservação da naturezade todas as gerações que, nas últimasdécadas, integraram os quadros dessaEscola, pois um ambiente tão rico emrecursos naturais não se constitui sema dedicação de muitas pessoas ao lon-go dos anos.”

Ao celebrar e preservar de manei-

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ra contínua a natureza, nos mais dife-rentes espaços da instituição, permi-tiu a criação de um ecossistema emtorno dela, que consequentementeenriquece o patrimônio arbóreo e sil-vestre da nossa cidade, fato que émotivo de orgulho para todos os inte-grantes da Escola Preparatória de Ca-detes e deve receber o devido reco-nhecimento pela municipalidade.

Por último, vale a pena destacarque um dos grandes valores cultivadospela escola é o sentimento de amor àpátria. Mas o que é a pátria, senão oconjunto das pessoas, instituições, dasriquezas e dos recursos naturais exis-tentes no solo brasileiro? Amar a pá-tria é, também, cuidar e respeitar suanatureza.

Fica claro, portanto, a justeza dahomenagem prestada pela Câmara Mu-nicipal de Campinas, outorgando aMedalha Chico Mendes à Escola Prepa-ratória de Cadetes do Exército.

Passo agora a comentar sobre oDiploma de Honra ao Mérito que seráentregue à Banda da Escola Preparató-ria de Cadetes do Exército.

Na história militar, a música sem-pre teve papel fundamental. Seja parareforçar o ânimo das tropas, valorizarsuas conquistas ou para marcar beloscerimoniais, os acordes de canções ehinos militares se tornaram mundial-mente famosos. No Brasil, existem re-gistros da existência de bandas milita-res desde a segunda metade do séculoXVIII, em Pernambuco.

Entretanto, a primeira banda mili-tar, organizada como conjunto, apre-sentou-se em 1808 com a vinda da fa-mília real para o Brasil.

No dia 15 de março de 1946, tinhainício o ano letivo da Escola Preparató-

ria de São Paulo. Foi nesse ano, que oComandante da Escola, coronel ArthurHescket Hall recebeu ordens do esca-lão superior para começar a Banda daEscola.

O Registro Histórico da Escola as-sinala que os primeiros ensaios da tra-dicional Banda tiveram início no dia 29de março daquele ano. Mas foi no dia29 de outubro de 1946, com 35 músi-cos, sob a regência do 2°Ten JuvenalCarneiro, que ocorreu a primeira apre-sentação oficial da Banda de Música.Mesmo antes dessa primeira apresenta-ção, a Banda já havia participado devários eventos, acompanhando desfi-les, formaturas e competições esporti-vas, e desde essa época vem contribu-indo com eventos cívicos sociais.

No ano 2000, como parte das co-memorações dos 60 anos de criação daEsPCEx, a Banda de Música gravou oseu primeiro CD, intitulado Canta Bra-sil, composto de marchas militares emúsicas populares. A banda é formadapor um regente e 46 músicos. Atual-mente o regente interino é o 1° Sar-gento Lauro Votdk.

Pela qualidade de suas apresen-tações, pelos valores que transmite esimboliza, a presença da Banda da Es-cola de Cadetes é solicitada com muitafrequência por prefeituras, escolas, en-tidades e órgãos públicos em eventoscomemorativos e sociais, sendo quaseimpossível atender a todos os pedidos.

No próximo mês de outubro, no dia29, a Banda da Escola de Cadetes co-memora 71 anos da sua primeira apre-sentação oficial e, como forma de re-conhecimento pelos relevantes servi-ços prestados, a Câmara Municipal deCampinas resolveu homenagear a Ban-da da nossa honrada Escola Preparató-

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ria de Cadetes do Exército, conferindo-lhe o Diploma de Honra ao Mérito, porsua contribuição em ações de interesse público e social, voltadas ao segmentoda cultura musical de Campinas.

Parabéns a todos os integrantes da Banda da Escola de Cadetes, parabénsa todos os integrantes da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, parabénsao Exército Brasileiro.

Em nome da população de Campinas, recebam nosso sincero muito obriga-do.

Luiz Carlos Rossini – Vereador Líder do PV

“A relação da humanidade com a natureza é muito mais intensa do queimaginamos. A natureza tem seu jeito especial para influenciar o comporta-mento humano. Ao protegê-la, recebemos como gratidão a beleza das paisa-gens o canto dos pássaros, o perfume das flores, a exuberância das cores, apureza do ar, a qualidade dos alimentos, o dom da vida e, sobretudo, umaimensa capacidade de serenar a alma daqueles que com ela convivem emharmonia.

Jorge Luiz Pavan Cappellano”

Foto: Gilberto Pagliarini

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O Cadete Escreve Mal?

Wallace Franco da Silva Fauth (*)Professor de Língua Portuguesa e Literatura

Dados Iniciais

Há uma percepção generalizada deque o aluno termina o Ensino Médiosem saber escrever da maneira comose espera de um cidadão com esse nível.Parece que os 12 anos na escolaserviram de muito pouco para oaprendizado da escrita. Mais tarde, jáno ensino superior, nota-se que asituação parece não melhorar. Aoobservar a escrita de um cadete quecomete algumas impropriedadeslinguísticas consideradas graves pelamaioria das pessoas alfabetizadas emum nível mediano, verifica-se atendência de se concluir, a partir de umfator isolado, que “o cadete estáescrevendo mal”, usando-se o termo“cadete” no singular para representartoda uma categoria. Tal afirmativaprecisa ser comprovada a partir decritérios bem definidos que nos levemà verdade sobre o assunto. O que sepretende com este trabalho é traçar umperfil real, em termos linguísticos, doaluno que passou no concurso efrequenta nossas escolas de formaçãode oficial combatente do ExércitoBrasileiro – Escola Preparatória deCadetes do Exército (EsPCEx) eAcademia Militar das Agulhas Negras(AMAN).

Para chegarmos a uma conclusãosegura, traçamos como parâmetrospesquisas realizadas por grandesinstitutos de nosso país. O indicadorescolhido inicialmente foi do Inaf

(Indicador de Alfabetismo Funcional)1,que é uma pesquisa idealizada emparceria entre o Instituto PauloMontenegro e a ONG Ação Educativa erealizado com o apoio do IBOPEInteligência com o objetivo de mensuraro nível de alfabetismo da populaçãobrasileira entre 15 e 64 anos, avaliandosuas habilidades e práticas de leitura,de escrita e de matemática aplicadasao cotidiano. Ao longo de 15 anos depesquisa (a última foi realizada em2015), o Inaf aperfeiçoou suametodologia e, atualmente, trabalhacom a seguinte escala representativade domínio das habilidades de leiturae de escrita para os funcionalmentealfabetizados:

“Elementar – As pessoasclassificadas neste nível podem serconsideradas funcionalmentealfabetizadas, pois já leem ecompreendem textos de médiaextensão, localizam informaçõesmesmo que seja necessário realizarpequenas inferências, resolvemproblemas envolvendo operações naordem dos milhares, resolvemproblemas envolvendo uma sequênciasimples de operações e compreendemgráficos ou tabelas simples, emcontextos usuais. Mostram, no entanto,limitações quando as operaçõesrequeridas envolvem maior número deelementos, etapas ou relações;

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Intermediário – Localizaminformações em diversos tipos de texto,resolvem problemas envolvendopercentagem ou proporções ou querequerem critérios de seleção deinformações, elaboração e controle deetapas sucessivas para sua solução.As pessoas classificadas nesse nívelinterpretam e elaboram sínteses detextos diversos e reconhecem figurasde linguagem; no entanto, têmdificuldades para perceber e opinarsobre o posicionamento do autor deum texto.

Proficiente - Classificadas nestenível estão as pessoas cujashabilidades não mais impõem restriçõespara compreender e interpretar textosem situações usuais: leem textos demaior complexidade, analisando erelacionando suas partes, comparam eavaliam informações e distinguem fatode opinião (grifo nosso).”1

Do último relatório do Inaf,publicado em maio de 2016, recortamoso quadro abaixo:

A primeira observação quepodemos fazer do relatório é queexistem, cursando faculdades de nívelsuperior, 4% de analfabetos funcionaisna categoria rudimentar, que deixamosde elencar nas definições acima por nãohaver alunos em nosso curso nessasituação, já que são eliminadosenquanto candidatos no momento emque corrigimos as redações, pois, aoidentificar a carência nessa habilidade,classificamos como inaptos para o

sistema. Observa-se ainda que, detodos os concluintes do Ensino Médio,e portanto aptos a prestar nossoconcurso, há um número maior nacategoria “rudimentar” (11%).

Outro dado importante queutilizaremos é o que determina os dezmaiores cursos de nível superior,conforme o Censo da Educação Superiorde 2016, realizado anualmente peloInstituto Nacional de Estudos ePesquisas Educacionais Anísio Teixeira(Inep), reproduzido a seguir:

Tabela 2.a – Distribuição da população pesquisada por grupos deanalfabetismo e escolaridade

(% na escolaridade)

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Tabela 2.05 – Os 10 maiores Cursos de Graduação em Relação aoNúmero de Matrículas, de Ingressantes e de Concluintes (Nome OCDE)

Brasil – 2009-2016

Ano

2016

Posição

12345678910

Fonte: Mec/Inep; Tabela elaborada por Inep/Deep

Observa-se que a lista de cursoscom a maioria das matrículas em 2016(51%) não contempla, curiosamente, acarreira médica. Constata-se apenasuma tendência da sociedade brasileirade procura por essas outras carreiras.Ressalta-se que, segundo o siteConcursos Militares, “em 2017 devemser abertas mais de 9.300 vagas paraos concursos militares, em todos osníveis (grifo nosso) de escolaridade”.Isso indica que, por causa do númerorestrito de vagas, a carreira militarjamais será contemplada na tabela doInep, ainda mais por não serpropriamente um vestibular. Por setratar de um concurso público em queos aprovados passam a receber soldo,não temos as mesmas característicasdos concursos vestibulares, apenasexigimos o mesmo nível deescolaridade. Em suma, esse censorepresenta uma tendência geral dosestudantes matriculados no ensinosuperior do qual o Exército participa

com ínfima quantidade de vagas emuma comparação de nível nacional.

O que importa, então, écompararmos a concorrência. Nessamatéria, estamos muito bem em relaçãoaos mais concorridos vestibulares doPaís. Primeiramente, conheçamos os 10maiores vestibulares do país, segundoo site Guia do Estudante2:

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Segundo reportagem de O GLOBO, de 15 de agosto de 2014, seisuniversidades do Brasil estão entre as 500 melhores do mundo, de acordo comranking da Universidade Jiao Tong, de Xangai, publicado naquele ano. Dessas,cinco encontram-se no quadro acima e são as que utilizaremos para nossapróxima comparação em termos de concorrência, ou seja, a relação candidato-vaga. Os dados colhidos são de 2017, com exceções devidamente apontadas.

(a) 2016 – até o momen-to da redação deste arti-go, não foram divulgadosos dados;(b) 2011 – passou a usarexclusivamente a provado ENEM;(c) 2013 – passou a usarexclusivamente a provado ENEM; e(d) Apesar de não ser umestabelecimento de nívelsuperior, a Escola de Sar-gentos das Armas foi adi-cionada por cobrar o En-sino Médio em seu con-curso de admissão.

USP(Fuvest)

UNESP(a)

UFRJ(b)

UFMG(c)

UNICAMP(a)

EsSA(d)

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A primeira observação nítida é queas vagas para a categoria feminina noCurso de Formação de Oficiais da LinhaBélica do Exército estão com umaconcorrência acima de qualquerinstituição de ensino superior no Brasil.Quanto à categoria masculina, aconcorrência só deixa de superar oscursos de medicina, com exceção deum curso de Gastronomia na UFRJ em2011. Esses dados levam à conclusãode que o concurso para a EsPCEx estáentre os mais difíceis do País em relaçãoà concorrência.

Reportagem do G1 de 2016,baseada em dados do IBGE de 2014,informa que a porcentagem de jovensde 19 anos que concluem o Ensino Médioé de 56,7%. Desses, sabemos, umnúmero reduzido entrará no nívelsuperior. Segundo Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (PNAD/IBGE) de2015, apenas 18,1% da populaçãobrasileira de 18 a 24 anos estavammatriculados na Educação Superior(incluindo Pós-Graduação), fato queevidencia a pequena parcela deindivíduos com Ensino Médio queconsegue ascender ao Ensino superior,isso sem levar em conta os 20% dessaparcela que abandonam os estudos,segundo o Instituto Lobo, responsávelpela pesquisa “Estudos sobre a Evasãono Ensino Superior Brasileiro”.

O Aluno

Os candidatos que surgem àsportas da EsPCEx, depois de aprovadosno Concurso de Admissão, constituemo que temos de melhor em nossasociedade em termos intelectuais. Seé triste constatar que as provas nãosão muito difíceis e que a nota de corte(mediana) em Língua Portuguesa em

2016 foi 35 (de 100) e que foi a segundamaior, o mais triste é saber queestamos recebendo alunos que são osmais bem formados nas diversasescolas do Brasil, incluindo asparticulares, de acordo com os dadosapresentados acima. Se há algumadeficiência educacional apresentadapelos alunos aqui da Preparatória oupelos cadetes da AMAN, trata-se de umproblema que começou muito antes,durante os 12 anos de estudo por esseBrasil afora. Caso fixemos a nota em50, há um sério risco de não obtermoso número suficiente de candidatosaprovados aptos a passarem ainda pelaredação, pelos exames médicos e pelostestes físicos levando a Escola a ficarem defasagem com relação aocompletamento das vagas.

Da maneira como trabalhamoshoje, sempre conseguimos, com ainstituição da mediana, três vezes onúmero de vagas para iniciarmos umaseleção mais criteriosa com relação àsredações. Estabelecemos o critério denota 50 como mínimo para consideraro candidato apto, dentre parâmetrossólidos de tema, linguagem egramática, divulgados amplamente nagrade a que o candidato tem acessoantes de fazer a prova e, depois, viaInternet, com as respectivas notasapontadas. Nessa prova, não háclassificação. Ele recebe uma nota, masa questão que importa é estar ou nãoapto, isto é, estar acima ou abaixo de50.

Ao analisar fria e pontualmentenossa grade, sem a observância detodos os dados educacionais que noscercam – e que ora apresentamos nestetrabalho – pode-se à primeira vista

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julgar pejorativamente que estamossendo condescendentes. Há,entretanto, uma condição da realidadeque não podemos deixar de lado: o graude alfabetização geral, já levantado porpesquisas e apresentado no início desteartigo.

Como vimos, no ensino superior,há 32% de estudantes em nível“elementar” de alfabetismo.Vergonhosamente há, nos bancosuniversitários, 4% que, pelosparâmetros da pesquisa do Inaf, sãoconsiderados alfabetizados funcionaise estão no nível “rudimentar”. Estescertamente são eliminados por nossaseleção quando aparecem, mesmo queporventura tenham ultrapassado afronteira das provas objetivas. Do quenão conseguimos fugir é dos 32% dosestudantes em nível elementar, poisapresentam uma gramática sem errosgraves, realizam inferências básicas epor isso conseguem construirrazoavelmente um texto dissertativoentre 25 e 30 linhas. Ainda assim, umaparcela desse conjunto é eliminada pornossos corretores, pois não é difícilimaginar que há uma gradação nesseuniverso “elementar”.

Talvez um sensível aumento danota para 60 levasse a uma eliminaçãomaior desse grupo, mas jamaisdeixaremos de ter elementos desseconjunto, já que sem ele, por causa darealidade educacional de nosso País, éprovável que as vagas não sejamcompletadas. Transformar a redação emclassificatória poderia ser outra soluçãoainda mais viável, pois seriamchamados na ordem, dos melhores paraos piores, ficando o máximo possívelde candidatos do grupo elementar forados aprovados e, quem sabe, isso

levasse os candidatos a preocuparem-se mais com o estudo da escrita antesde prestar o concurso. Qualquer umadas soluções, no entanto, não eliminariaesse grupo, que é o principalresponsável por apresentar os deslizesgramaticais que levam algumaspessoas a, de maneira imprudente,afirmar que “o cadete está escrevendomal”.

O trabalho ideal, além de diminuira quantidade de alunos em nívelelementar, deveria ser levar o grupo quese encontra entre os “intermediários”ao grupo dos “proficientes”, cujosintegrantes não possuem restriçõespara compreender e interpretar textosem situações usuais: leem textos demaior complexidade, analisam erelacionam suas partes, comparam eavaliam informações e, principalmente,distinguem fato de opinião.

A mudança na EsPCEx, em 2011,para o ensino superior, trouxe apossibilidade de desatrelar osconteúdos dos parâmetros curricularesnacionais relacionados ao Ensino Médio.Com isso, passamos a direcionar oensino de Língua Portuguesa para aprática de leitura e de escrita, retirandoalguns itens de gramática e toda aliteratura que, para os alunos, era umarepetição do que já haviam estudadonas respectivas escolas de origem, poisa maioria, em torno de 80%, por prestaro concurso mais de uma vez, chegavaà EsPCEx com o Ensino Médio completopara refazer o 3º ano.

Tecnicamente, adotamos a posturade estudar o texto de forma crescente,isto é, a partir de suas partes menores,o período e o parágrafo, até as partes

Nosso Trabalho

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mais complexas, que dizem respeito aoconteúdo apresentado pelo redator.Nesse último aspecto, inserimos adistinção entre fato e opinião – que éum dos principais aspectos observadosno nível “proficiente” – como um denossos assuntos dentro daargumentação, quando abordamos“Evidências das Provas” e “Temas eFiguras”. Nosso objetivo, afinal, é levartodos os alunos ao mais alto nível dealfabetismo.

Não podemos deixar de destacara existência de alunos que preferemdedicar-se a outras disciplinas, pormotivos diversos, e que ficamsatisfeitos com a nota cinco – afinal aregra do jogo admite que ele sejaaprovado com cinquenta por cento doconhecimento avaliado. Diante dessarealidade, não há muito o que fazer, jáque o interesse é de foro íntimo.Trabalhamos, então, em despertar esseinteresse, mostrando que a figura dooficial militar, sobretudo ao alcançar ogeneralato, requer, antes de tudo, amaior proficiência na língua pátria, paraque, sabendo interpretar os textos e,consequentemente, a sociedade em quevive, poderá posicionar-se e expressar-

se de acordo com os interesses da ForçaTerrestre, que são os interessesnacionais e, portanto, patrióticos. Issoé feito por intermédio de textos deinteresse profissional, que passamosa adotar a partir da mudança para oensino superior.

Nessa mudança, optamos portrabalhar com temas de redaçãovoltados para a vida militar, tais comouso das Forças Armadas em situaçõesde garantia da lei e da ordem,participação de militares nos jogosolímpicos, guerra cibernética e projetosestratégicos do Exército Brasileiro. Comisso, ao estudar para a prova, o alunoaprende sobre a atividade-fim que viráa exercer como oficial combatente edesenvolve, juntamente com aexpressão escrita, a capacidade leitorae o amor à profissão militar. Esseconjunto forma o que proporcionamosde melhor em termos de metodologiasativas.

Enfim, depois de nossa Avaliaçãode Controle do primeiro semestre,adaptando nossos graus aoescalonamento do Inaf, chegamos àseguinte comparação com a realidadebrasileira:

Conclusão

Após analisar a realidadeestudantil brasileira e identificar o perfildo cidadão que se candidata ao Cursode Formação de Oficial Combatente doExército Brasileiro, deparamo-nos comuma verdade bastante favorável a nós:

nossos índices de alfabetismo, após oprimeiro semestre de aulas na EsPCEx,supera o nível nacional. Contamos compraticamente 10% a mais de alunosproficientes em Língua Portuguesa emnosso ensino militar da Linha Bélica;

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mais ainda no nível intermediário; emenos da metade no nível noelementar.

Asseguramos, com isso, que aideia generalizante de que o cadete doExército Brasileiro escreve mal étotalmente equivocada. Diante de umpequeno grupo de indivíduos quecomete gafes linguísticas, alguémconclui que a situação não está boa ecomenta com os companheiros, que,por sua vez, repetem a narrativa sembase em uma pesquisa maisaprofundada. Nosso primeiro objetivo,portanto, com o presente artigo, édesconstruir essa afirmação falaciosa,fundamentando-nos em estudos queconstatam o quadro geral e real emque vivem os nossos estudantesmilitares atualmente.

Nosso maior engajamento é buscara elevação do nível de proficiência denossos alunos. Serão necessáriasmuitas estratégias, sobretudo quantoao despertar do interesse em expressar-se melhor. Continuamos estudandopossibilidades e trocando ideias comprofessores de diversas instituições deensino, fazendo contatos permanentesde integração com a AMAN eaperfeiçoando, a cada ano, nossasmetodologias ativas de ensino. Nossoprincipal objetivo é que o aluno, cadavez mais e melhor, compreenda aimportância não apenas de obterfriamente o conhecimento, mas deconseguir rapidamente identificar ocaminho certo que o levará à soluçãodos mais diversos problemas que, hoje,ainda não estamos em condições desaber quais serão daqui a vinte outrinta anos.

***

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TERRA notíciashttps://www.terra.com.br/noticias/educacao/enem/ufmg-acaba-com-v e s t i b u l a r - e - p a s s a - a - u s a r - e n e m - p a r a - s e l e c i o n a r -alunos,bc9eb7d75f48d310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html .Acesso em 17 de setembro de 2017.

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(*) O Major Wallace Franco da Silva Fauth foi aluno da EsAEx, formando-se em 1996, naárea de Magistério – Língua Portuguesa. Possui os seguintes cursos: Licenciatura Plenaem Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pelas Faculdades Integradas Simonsen, doRio de Janeiro-RJ; Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (nível especialização), em 2006.Apresentou trabalhos no 3º e 6º Encontro Pedagógico do Ensino Médio Militar (EPEMM),promovidos pela EsPCEx, com os temas: “A poesia na sala de aula” e “A poesia fora dasala de aula”. Atualmente é professor de Língua Portuguesa I na EsPCEx.