revista comunità italiana edição 162

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Desafio na FAO Rio de Janeiro, janeiro de 2012 Ano XVIII – Nº 162 Ministro italiano fala sobre as expectativas para a Rio+20 www.comunitaitaliana.com O ítalo-brasileiro José Graziano assume o comando da Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação em Roma e dá início à árdua tarefa de combater a fome no mundo GELATO Saiba onde saborear os melhores sorvetes italianos no Rio e em SP EXCLUSIVO Banderas fala sobre a dublagem em italiano em O Gato de Botas ISSN 1676-3220 R$ 11,90 R 7,00 HOTEL ARMANI O mais novo endereço do luxo em Milão para quem não dorme na crise

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Edição Completa Número 162 para leitura online. Revista Comunità Italiana, a maior mídia da comunidade ítalo-brasileira.

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Page 1: Revista Comunità Italiana Edição 162

Desafio na FAO

Rio de Janeiro, janeiro de 2012 Ano XVIII – Nº 162

Ministro italiano fala sobre as expectativas para a Rio+20

www.comunitaitaliana.com

O ítalo-brasileiro José Graziano assume o comando da Organização da ONU para a

Agricultura e Alimentação em Roma e dá início à árdua tarefa de combater a fome no mundo

GelatoSaiba onde saborear os melhores sorvetes italianos no Rio e em SP

excluSivoBanderas fala sobre a dublagem em italiano em o Gato de Botas

ISSN

167

6-32

20R$

11,

90R

7,0

0Hotel aRmanio mais novo endereço do luxo em milão para quem não dorme na crise

Page 2: Revista Comunità Italiana Edição 162

Job: 289737 -- Empresa: Burti -- Arquivo: 289737-00260-116867-23452-014-Fiat-An Lideranca-45x32_pag001.pdfRegistro: 63648 -- Data: 12:54:28 06/01/2012

Page 3: Revista Comunità Italiana Edição 162

Job: 289737 -- Empresa: Burti -- Arquivo: 289737-00260-116867-23452-014-Fiat-An Lideranca-45x32_pag001.pdfRegistro: 63648 -- Data: 12:54:28 06/01/2012

Page 4: Revista Comunità Italiana Edição 162

28 | Um brasileiro na FAO José Graziano da Silva acaba de assumir o cargo de diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, sediada em Roma, onde deve enfrentar desafios como a necessidade de agilizar a imensa estrutura da entidade

12 | O ministro Clini Em entrevista exclusiva, o ministro italiano do Ambiente, Corrado Clini, fala sobre os preparativos para a Rio+20, as possibilidades oferecidas pela economia verde em tempos de crise e a polêmica questão do uso da energia nuclear

16 | Filhos da Itália Apelos para modificar a legislação italiana visando a concessão de cidadania aos filhos de imigrantes nascidos na Itália aumentam e geram intensos debates no país dos oriundi

38 | Comer sem pressa Nascida na Itália, a organização Slow Food chega ao Cerrado brasileiro para celebrar o alimento bom, limpo e justo

45 | Carnaval União da Ilha da Magia homenageia o país das máscaras venezianas no carnaval de Florianópolis

27 | Vestidos sustentáveis A estilista Rejane Cadore explica como a técnica milenar do patchwork favorece uma moda que respeita o meio ambiente

43 | Banderas O ator Antonio Banderas fala à Comunità sobre seu trabalho de dublagem e interpretação em O Gato de Botas

Janeiro de 2012 Ano XVII I Nº162

O segundo hotel do grupo Armani Hotel & Resorts, após a primeira experiência de Dubai, acaba de ser inaugurado em Milão. Com 95 quartos, as suítes mais luxuosas estão equipadas com sala de cinema, academia e terraço com vista panorâmica da capital da Lombardia

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CAPA

Nossos colunistas

07 | Cose NostrePaolo Dal Pino é o novo presidente do conselho de administração da Pirelli do Brasil

10 | Fabio Porta La malattia ci fa diventare tutti più umani; è, inconsapevolmente, l’antidoto più democratico che esiste alla megalomania

11 | Ezio MaranesiLa politica è una missione o un mestiere come un altro?

35 | Guilherme Aquino A Orquestra Filarmônica della Scala vai entrar em cartaz nos cinemas de Milão, além de outras 200 salas espalhadas pela Itália e mais de mil em 40 países

46 | Giordano Iapalucci Fino al 26 febbraio la Galleria degli Uffizi presenta le illustrazioni e le foto di Giuseppe Cremoncini, preparate in occasione della presentazione della Divina Commedia del 1898

50 | Claudia Monteiro De Castro Criado em homenagem ao famoso personagem da literatura infantil, o Parco di Pinocchio fica em Collodi, perto de Lucca, na Toscana

Gastronomia Dança

Atualidade

NegóciosModa

Cinema

Momento Itália-Brasil

20 | Sorvete, um quente negócio Universidade do sorvete funciona em Bolonha e atrai novos gelatieri de todo o mundo em busca do gelato (e do negócio) perfeito

22 | Guia Saiba quais são as sorveterias do Rio e de São Paulo onde é possível saborear um autêntico gelato italiano

44 | Dança Parceria entre a Bienal de Veneza e os órgãos estaduais da Cultura de São Paulo proporciona aulas para bailarinos brasileiros na cidade italiana

Serviço

janeiro 2012 | comunitàitaliana4

Page 5: Revista Comunità Italiana Edição 162

Outros cookies saem dos livros de receitas. Os nossos, dos livros de memórias do Sr. Bauducco.

Da família Bauducco para a sua família.

Page 6: Revista Comunità Italiana Edição 162

Diretor-PresiDente / eDitor:Pietro Domenico Petraglia

(rJ23820JP)

Diretor: Julio Cezar Vanni

PubliCação Mensal e ProDução:editora Comunità ltda.

tirageM: 40.000 exemplares

esta eDição foi ConCluíDa eM:12/01/2012 às 17:30h

Distribuição: brasil e itália

reDação e aDMinistração:rua Marquês de Caxias, 31, niterói, Centro, rJ

CeP: 24030-050tel/fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555

e-Mail: [email protected]

reDação: guilherme aquino; leandro Demori; Cíntia salomão Castro; nathielle Hó

Vanessa Corrêa da silva; stefania Pelusi

reVisão / traDução: Cristiana Cocco

ProJeto gráfiCo e DiagraMação:alberto Carvalho

[email protected]

CaPa: ©fao/alessandra benedetti

ColaboraDores:Pietro Polizzo; Venceslao soligo; Marco lucchesi; Domenico De Masi; fernanda Maranesi; beatriz rassele; giordano iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; ezio Maranesi; fabio Porta; Paride

Vallarelli; aline buaes; franco gaggiato; Walter fanganiello Maierovitch; gianfranco Coppola

CorresPonDentes: guilherme aquino (Milão); leandro Demori (roma);

Janaína Cesar (treviso); lisomar silva (roma); Quintino Di Vona (salerno); robson bertolino

(são Paulo); stefania Pelusi (brasília); Vanessa Corrêa da silva (são Paulo);

gianfranco Coppola (nápoles)

PubliCiDaDe: osvaldo requião

rio de Janeiro - tel/fax: (21) 2722-2555Cel: (21) 9483-2399

[email protected]

rePresentantes: espírito santo - Dídimo effgen

tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493

[email protected]

brasília - ZMC representações Zélia Corrêa

tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061e-mail:[email protected]

Minas gerais - gC Comunicação & Marketing geraldo Cocolo Jr.

tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 [email protected]

Comunitàitaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

la rivista Comunitàitaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. i collaboratori esprimono, nella massima

libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

issn 1676-3220

Editorial ExpEdiEntE

Fundada em março de 1994

A inda ontem, 11 de janeiro, o premier Mario Monti foi recebido pela chan-celer alemã Angela Merkel em Berlim. A Itália desta vez não se encontrou com a mulher mais poderosa do mundo com na mala os deboches de Silvio Berlusconi, mas com um pacote de medidas sérias. Medidas que exigem

grande sacrifício dos italianos que foram convocados compulsoriamente a assumirem com responsabilidade a agenda imposta pelos erros do passado. Como resultado da conduta dos dois meses do atual governo, que promove com maturidade reformas para que o país e a Europa possam seguir em frente com estabilidade e crescimento susten-tável, Merkel foi pontual: “foram atitudes de extraordinária importância e relevância, seja pela velocidade como pelo conteúdo. Estas reformas reforçarão a Itália e vão me-lhorar suas perspectivas econômicas”.

A determinação italiana em resolver os problemas de casa já rende a Monti pelo menos um ambiente favorável, longe da atmosfera pesada da última fase berlusconiana.

Esse reconhecimento de um partner fundamental como a Alemanha mostra que a Itália virou a página e está em busca de disciplinar-se com seu balanço e débito público. Uma demonstração, sobretudo, de grande nação, que respei-ta os compromissos históricos. Assim, quando no fim do mês acontecer o Conselho europeu, Mario Monti estará de cabeça erguida e pronto para questionar também os mercados que especulam sobre os altos juros pagos pelos títulos italianos.

Sem dúvida essa fase européia serve de lição para países como o Brasil. Por aqui, parece que vivemos numa utopia pe-rigosa. Enquanto comemoramos a entrada do país no sexto

lugar da economia mundial – superou a Grã Bretanha recentemente – o problema do desenvolvimento vigoroso tem seu lado obscuro e duvidoso. Ao mesmo tempo que o rit-mo de crescimento brasileiro, baseado numa sociedade democrática e ordenada, recebe elogios do mundo, observamos mazelas herdadas de um subdesenvolvimento recente.

Ao pagarmos a conta de um restaurante na zona Sul do Rio de Janeiro hoje, pare-ce que ignora-se os problemas básicos de saneamento precário, falta de moradias dig-nas, morte por dengue, violência, educação etc. E se comparamos fatores como a renda per capita de um cidadão brasileiro e um italiano, três vezes inferior, ou a qualidade de vida daqui e a da Europa, como o próprio ministro da Economia Guido Mantega admi-te, “será preciso décadas para se alcançar os níveis do velho continente”, constatamos que essa expansão é contraditória. Mas o que assusta agora é a previsão de crescimento de 3% para o Brasil em 2012. Esse índice não é suficiente para a distribuição da riqueza e consequente redução da pobreza.

O governo brasileiro precisa estar atento para que o vento a favor não vire repen-tinamente. Não pode se esquecer da inflação, que está em 6,5% e dos juros, que estão entre os mais altos do mundo. Para que a nave vá adiante, é bom olhar com muita aten-ção para as reformas estruturais européias e assumir sua posição de liderança mundial sem esquecer do péssimo histórico de índices sociais.

Toda vitória exige sacrifícios. Na crise é que nos damos conta de muitos valores. Enquanto os europeus buscam sair da crise mais unidos e fortes, é hora de assimilar exemplos e de ter vontade política para aplicar melhorias para o bem da nação.

Boa leitura!

Utopias

Pietro Petraglia Editor

janeiro 2012 | comunitàitaliana6

Page 7: Revista Comunità Italiana Edição 162

O italiano Paolo Dal Pino, 49 anos, é o

novo presidente do conselho de adminis-tração da Pirelli do Brasil. Dal Pino já foi o responsável pelos ati-vos da Telecom Itália na América do Sul, en-tre eles a TIM Brasil, na época em que a gigante da telefonia era contro-lada pela Pirelli. A ideia é que Dal Pino seja o rosto – e, principalmente, a voz – da empresa no país.

O Rio no VaticanoO governador do Rio, Sérgio Cabral, vai visitar

o Vaticano em março. Entre os objetivos da viagem, uma possível audiência com o Papa Ben-to XVI para discutir preparativos para a Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, um dos maiores eventos católicos, que deve reunir mais de 4 mi-lhões de pessoas.

Jogos para a juventudeO presidente da Fundação Torino, Raffaele Peano, recebeu,

em dezembro, uma homenagem do Comitê Olímpico Na-cional Italiano, o CONI, além de uma medalha entregue pelo cônsul geral da Itália no Rio, Mario Panaro, durante a come-moração pelos 20 anos dos Jogos da Juventude. A Fundação Torino desenvolve um trabalho voltado para o bem estar dos alunos na capital mineira, apoiando a realização dos jogos.

Morre Don VerzèDon Luigi Verzé, fun-

dador do hospital San Raffaele, que acabou falido em dívidas de mais de um bilhão de euros, faleceu aos 91 anos em 31 de de-zembro de 2011, de ataque cardíaco, em Milão. O sa-cerdote, conhecido por se vestir como um autêntico manager, de terno e grava-ta, morreu no dia do leilão do centro hospitalar funda-do em 1958. O grupo fun-dou um centro de referên-cia hospitalar em Salvador. Fotos de Don Verzè em que aparece na piscina de sua fazenda, na Bahia, ao lado do então braço direito Ma-rio Cal — que se suicidou em julho de 2011 — provo-caram polêmica após terem sido publicadas na impren-sa italiana no ano passado.

Crise freia o automóvelA crise econômica está afetando o uso de um dos maiores símbolos do

italian way of life: o automóvel. Um em cada cinco motoristas redu-ziu o tempo passado ao volante, recorrendo ao ônibus ou ao motorino, sobretudo os mais jovens. Os mais velhos usam a bicicleta ou fazem o percurso a pé. Os dados foram revelados pela pesquisa Automobile 2011, da Aci-Censis. A sondagem também mostrou que os custos anuais de manter um automóvel passaram de 3.191 (2010) para 3.278 (2011).

Cipião, o AfricanoO mausoléu da família

Scipioni, à qual per-tenceu o general Cipião, o Africano, célebre pela atuação durante as guer-ras púnicas, nas quais derrotou o invasor Aní-bal de Cartago, no século III a. C., foi aberto ao pú-blico no dia 27 de dezem-bro, depois de permane-cer 20 anos fechado. O monumento funerário, composto por uma série de galerias subterrâneas de dois metros de altura, com elegantes sarcófa-gos, está localizado junto à Porta di San Sebastia-no, um dos locais mais fascinantes da parte his-tórica de Roma.

Super ItaloDesenvolvido pela ferroviária privada NTV, o trem Italo

pretende competir com a estatal Trenitalia. O transpor-te é a última geração do renomado TGV francês e custou 90 milhões de euros. A companhia nacional francesa SNCF possui 20% da NTV, grupo fundado por empresários ita-lianos liderados por Montezemolo, presidente da Ferrari, e Diego della Valle, dono da marca Tod’s. O trem realizará 51 viagens por dia, e vai contar com wi-fi e salas de cinema.

Michel Teló pega a botaAi se Eu te Pego, do brasileiro

Michel Teló, conquistou a liderança das canções mais bai-xadas na Itália. O sucesso tam-bém está entre os mais tocados em Portugal e na Espanha, onde atletas como Cristiano Ronaldo e Rafael Nadal foram filmados dançando a coreografia. Ai se Eu te Pego não para de ganhar ver-sões e coreografias pelo mundo. A mais recente delas foi durante o show da virada da TV italiana RAI, quando um grupo de dan-çarinos apareceu no programa para dançar a música. O vídeo já registrou mais de 98 milhões de visualizações no YouTube.

Pais velhos sem direitosGabriella, de 58 anos, e Luigi d´Ambrosis, de 70, foram conside-

rados pela Justiça italiana velhos demais para criar um bebê — fato que chocou o país por concentrar uma grande população de idosos. O casal havia recorrido à reprodução assistida através de doação de material genético. Viola nasceu e ficou com os pais por apenas 18 dias, de acordo com sentença do tribunal de Turim, que decidiu que a menina deve ser adotada por uma família jovem.

Máfia S.A.Um relatório da Sos Impre-

sa acaba de ser divulgado com dados alarmantes sobre a máfia italiana, “o maior agen-te econômico do país, capaz de acumular um faturamento de 140 bilhões de euros”. A chamada Máfia S.A. atinge so-ciedades comerciais de vários setores, como bares, restauran-tes, lojas, hotéis e até vendedo-res ambulantes. Só a “agromá-fia” chega a movimentar 12,5 bilhões. “A crise é funcional para a criminalidade organiza-da, que condiciona a economia legal e fomenta aquela ilegal. O Estado se empenha, mas pre-cisamos de uma mudança de passo nas instituições”, alerta o presidente da Confesercenti, Marco Venturi.

cosenostreJul ioVanni

comunitàitaliana | janeiro 2012 7

Page 8: Revista Comunità Italiana Edição 162

“Gostei muito da matéria sobre as cooperativas de Mi-lão, que promovem casamentos éticos, ecológicos e

sustentáveis. Além de introduzirem ideias originais para as festas, eles ainda exercem a solidariedade através de proje-tos sociais”.

Fernando Tavares, São Paulo – SP – por e-mail

“Estive no REcine, e posso dizer que me encantei com o tratamento de restauração atribuído aos filmes anti-

gos. Gostei muito da sessão de homenagens e de ter visto pessoas como Ruth de Souza e Vanja Orico sendo ovaciona-das e reconhecidas”.

Julia Pires Niterói – RJ – por e-mail

cartas

Assembleia Legislativa de São Paulo aprova projeto de lei que proíbe garupas em motos. Você apoia?

Após 5 anos, os órgãos de trânsito não são mais obrigados a avisar sobre os radares. Você concorda?

Opositores acusam Obama de usar o fim da guerra no Iraque para se reeleger em 2012. Você concorda?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/12/11 a 09/12/11.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/12/11 a 22/12/11.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/12/11 a 15/12/11.

Não - 70%

Não - 66,7%

Não - 22,2%

Sim - 30%

Sim - 33,3%

Sim - 77,8%

opinião

“Meu próximo projeto será realizado no Brasil, a partir de um roteiro sobre crianças de rua”,Emanuele Crialese, diretor de Terraferma, ao falar sobre seu futuro filme durante o festival de cinema de Capri

“Foi uma decisão sofrida, mas estou convicto de que a tomei pelo

exclusivo interesse do país, consciente de estar agindo corretamente e de boa fé”,

Carlo Malinconico, no dia de sua renúncia ao cargo de secretário de

Estado para a Presidência do Conselho dos Ministros, após denúncias de que teria se hospedado em hotéis na Toscana

por conta do empresário Francesco Piscicelli, investigado sobre as ofertas de ajuda a Áquila após o terremoto de 2009

“Na vida, é preciso apontar para o alto e

jogar-se sem ter medo da grandeza

dos objetivos”, Leonardo Di Caprio, ator, em entrevista à revista italiana Tu Style, em dezembro de 2011

“Quando são ricos, os italianos não se devem sentir

embaraçados, mas sim orgulhosos”, o

premier italiano, Mario Monti, ao falar

sobre a necessidade de se lutar contra a evasão

fiscal, durante o programa televisivo de Fabio Fazio, transmitido pela Rai Tre

no início de janeiro

“I partiti sono la zavorra che ha fatto

affondare questo paese. La manna

della corruzione. La fecondazione di tutto

il marcio”, Susanna Tamaro, scrittrice

italiana, in intervista al settimanale Panorama, il

15 Dicembre 2011

“O casamento gay é uma das várias ameaças à família tradicional e coloca em xeque o próprio futuro da humanidade”,Papa Bento XVI, em discurso que reuniu diplomatas de 180 países, em janeiro

“Fico empolgada para cantar em São Paulo logo no começo da turnê. É meu show mais ambicioso até hoje. É bom fazê-lo num lugar que sempre me prestigiou”,Laura Pausini, cantora, em entrevista à Folha de S. Paulo, sobre sua nova turnê no Brasil

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no celular

enquetes frases

janeiro 2012 | comunitàitaliana8

Page 9: Revista Comunità Italiana Edição 162

“Eu e meu marido no Lago di Como, na semana do Natal de

2011. Fomos para a Itália pela segun-da vez para visitar minha sogra na ci-dade de Lissone, próximo a Milão. Na viagem, comemoramos dois anos de casados e a chegada da minha filha.

ana viTória CaTTaneo Niterói, RJ — por e-mail

Itália, Café e Cinema O Museu do Café da cidade de Salto, interior de São Paulo, está com a mostra que inte-gra duas paixões italianas: café e cinema. Em cartaz até o dia 22 de janeiro, com o apoio

do Ministério da Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a exposição retrata por meio de painéis, objetos e textos como a Itália tor-nou-se referência mundial na sétima arte e no preparo de uma das bebidas mais consu-midas do planeta.www.cultura.sp.gov.br

Laura Pausini no BrasilEm janeiro de 2012, o Brasil entra na rota de uma nova turnê internacional da can-tora Laura Pausini. A musa do pop italiano sobe ao pal-co do Credicard Hall, em São Paulo, nos dias 21, 22 e 23 de

janeiro. A artista canta gran-des sucessos da década de 1990 e divulga seu disco re-cém-lançado, Inedito, décimo

primeiro álbum da cantora. O novo CD conta com 14 faixas e marca o retorno de Laura após dois anos de pausa. www.laurapausinibrasil.com

Dante em PortuguêsSerá realizado nos dias 3, 10 e 17 de março, na Casa Guilher-me de Almeida, em São Paulo, um ciclo apresentando as traduções brasileiras da obra-prima de Dante Alighieri, A Divina Comédia. O evento se insere na programação do Momento Itália-Brasil e tem

a organização da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Diversos especialistas discutirão as características de cada tradução. O público vai poder conferir uma literatura de caráter épico e teológico, dividida em três partes: Infer-no, Purgatório e Paraíso. www.casaguilhermedealmei-da.org.br

Silêncio e luz na Glória Máximo Silêncio em Paris, a instalação do artista italiano Giancarlo Neri, será inaugu-rada em 27 de janeiro, às 19h, na Praça Paris, na Glória, no

Rio. São 9 mil globos lumino-sos que mudam de cor com pulsações diferentes. Ligados ao anoitecer, ficam acesos até a meia-noite. A obra já passou por Roma, Madri e Dubai. Com entrada gratuita, o projeto faz parte do Momento Itália-Brasil e tem o patrocínio da Oi, da Se-cretaria estadual de Cultura e RioLuz. Até 4 de fevereiro.

A arquitetura italiana em SampaDe 17 a 19 de março, espe-cialistas vão debater, em mesas-redondas organizadas no Palácio dos Bandeirantes, a influência da arquitetura italiana nos monumentos da capital paulista. O público vai conhecer um pouco mais do projeto original do próprio palácio através de estudiosos da USP e Unicamp. Além dis-so, o evento conta também com visitas a construções com inspiração italiana, co-mo a Igreja Nossa Senhora da Paz, onde estão os afrescos de Fulvio Pennacchi. A organiza-ção do evento é do governo de São Paulo.www.acervo.sp.gov.br

naestante

O Cemitério de Praga Umberto Eco cria um romance usando como premissa o caráter misterioso e a teoria de conspiração que envolve Os Protocolos dos Sábios de Sião. O texto é uma espécie de ata de uma assembleia, na qual judeus e maçons se encontram para planejar a dominação mundial, através do acúmulo de riquezas, entre outras metas. A conspiração an-tissemita é o tema central, e é lembrada no título do livro, referência ao famoso cemitério judeu de Praga. Ao longo da narrativa aparecem sociedades secretas, a maçonaria, os jesu-ítas e, ainda, a história italiana. Uma característica notável da obra é o fato de que as personagens realmente existiram, exce-to o narrador. Editora Record, 480 páginas, R$ 44,90.

Quando Amanhece na Sicília... A obra da jornalista Lúcia Helena Issa traz entrevistas com autoridades, espe-cialistas, ativistas, cidadãos comuns e juízas, que contam histórias envolventes sobre a transformação da Sicília, o confisco dos bens de mafiosos que permaneceram foragi-dos durante décadas e a transformação dessas apreensões em  escolas, parques e projetos para a comunidade onde atuavam. O livro tem entrevistas feitas em Roma, com his-toriadores, sobre a ligação de alguns membros do Vaticano com a Cosa Nostra, a organização criminosa mais famosa do mundo. Editora Multifoco, 240 páginas, R$ 40,00.

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agenda

comunitàitaliana | janeiro 2012 9

Page 10: Revista Comunità Italiana Edição 162

La malattia dei presidentiCon Cristina Kirchner sono cinque i presidenti del continente sudamericano colpiti dal cancro

La saggezza popolare direb-be che “una coincidenza è una coincidenza, due coin-cidenze sono un indizio e

tre coincidenze sono una prova”. Do-po l’intervento alla tiroide di Cristina Kirchner, sono ben cinque i Presidenti della Repubblica sudamericani che ne-gli ultimi tre anni hanno affrontato la dura malattia del cancro e le sue altret-tanto dure cure per debellarlo.

Nel 2009 fu proprio Dilma Rousseff, a pochi mesi dall’inizio del-la campagna elettorale brasiliana, a scoprire a seguito di un controllo di routine un cancro al sistema linfatico; dopo le necessarie sessioni di chemio-terapia, il cancro di Dilma fu debellato, anche se ancora oggi la Presidente bra-siliana continua a sottoporsi a ferrei controlli di routine. Il secondo pre-sidente attaccato dalla “malattia del secolo” (così veniva definito il cancro nella seconda metà del secolo scorso in Europa) è stato Fernando Lugo. An-che il Presidente del Paraguay, come Dilma, è riuscito a sconfiggere la ma-lattia; in assenza di strutture sanitarie adeguate nel suo Paese, Lugo si è recato più di una volta a San Paolo per sotto-porsi a controlli e cure specializzate. Nel 2011 tutto il mondo fu sorpreso prima dalla mancanza di notizie e poi dall’annuncio fatto dallo stesso Presi-dente Chavez della grave malattia che lo aveva costretto a curarsi a Cuba; il cancro del Presidente venezuelano è tutt’ora quello circondato dal maggio-re mistero, anche a causa delle possibili interferenze con le prossime elezioni presidenziali, previste per quest’anno. Un altro leader latino-americano mon-dialmente conosciuto, Luiz Inacio Lula da Silva, ha scatenato in Brasile e nel resto del mondo un’ondata di forte emozione e preoccupazione per la sua salute all’indomani della notizia del cancro alla laringe che lo ha colpito.

Di fronte a una tale successione di fatti – cinque presidenti della Repubbli-ca dello stesso continente colpiti dalla stessa grave malattia nell’arco di soli tre anni – è impossibile non provare a

sviluppare una riflessione nel tentativo di individuare un filo logico tra quanto è suc-cesso ai leader di questi grandi Paesi.

Due sono le considerazioni che vorrei sottoporre alla vostra attenzione.

La prima è inevitabilmente legata al tema del potere: ogni qualvolta un po-tente viene colpito da una grave malattia si ripropone il tema della fragilità umana, dell’impotenza dell’uomo (di tutti gli uo-mini) di fronte alla malattia o alla morte. Una riflessione antica ma sempre attuale, un monito permanente per tutti gli uomi-ni e in particolare per quanti esercitano

ruoli di primaria importanza politica; il potere a volte dà la pericolosa sensazione di essere eterni, immortali, immuni dalle pene della gente comune. La malattia ci fa diventare tutti più umani; è, inconsape-volmente, l’antidoto più democratico che esiste alla megalomania.

La seconda considerazione è invece più pertinente ai cinque casi in oggetto ed al-le evidenti analogie che li riguardano. Si tratta infatti di cinque leader che, sia pure in maniera diversa e con politiche non ne-cessariamente omogenee e comparabili tra loro, hanno scelto i poveri dei loro rispet-tivi Paesi come il principale riferimento dei programmi dei loro governi. Chavez in Venezuela, Lula e Dilma in Brasile, Lugo in Paraguay e Cristina in Argentina hanno in comune un dato: un altissimo indice di consenso di approvazione tra le classi più

povere della popolazione, direttamente proporzionale all’intensità delle politiche sociali e di redistribuzione della ricchezza che hanno voluto avviare e che ancora oggi costituiscono il ‘leit-motiv’ delle loro am-ministrazioni.

Politiche sociali che, in Brasile come in Paraguay, in Argentina come in Venezuela, costituiscono ancora oggi il ‘tallone d’Achille’ di economie in crescita o di Paesi emergenti che ambiscono a raggiungere standard e in-dicatori di sviluppo umano compatibili con le grandi democrazie occidentali.

In questo senso, allora, le “malattie dei presidenti” possono essere interpre-tate come l’indicazione di un percorso, il perseguimento di un obiettivo: la sanità pubblica, in questo contesto, è – insieme all’istruzione – la priorità da collocare al centro della scommessa che questi governi hanno già vinto con l’avvio di una spirale positiva in campo economico; una spirale che ha fatto uscire dalla povertà milioni di persone garantendogli una migliore qua-lità della vita, alla quale associare un servizio sanitario efficiente ed una pubbli-ca istruzione di qualità.

Se così fosse, le ‘coincidenze’ sarebbero la ‘prova’ dell’avvio di una nuova fase e di un nuovo mondo; di un continente senza più poveri costretti a morire per mancanza di cure adeguate o di strutture sanitarie in grado di poterli curare.

La malattia ci fa diventare tutti più umani;

è, inconsapevolmente, l’antidoto più

democratico che esiste alla megalomania

opinioneFabioPor ta

janeiro 2012 | comunitàitaliana10

Page 11: Revista Comunità Italiana Edição 162

Dante e i politiciLa politica è una missione o un mestiere come un altro?

La discussione appassiona: dove Dante metterebbe nella Com-media i politici di professione? Prendiamo per esempio alcune

figure del passato, e per non far torto né ai bianchi, né ai rossi né ai rosa, citiamo De Gasperi, Togliatti e Nenni. Ve ne sono altri, naturalmente, che hanno pensato all’Italia più che a loro stessi. Ne esisto-no anche oggi. Quale il loro destino? Il Paradiso? Il loro peccato originale, ap-partenere alla casta, li condanna, pur con tutte le attenuanti del caso. Purgatorio per loro. Per i politici di professione non esistono alternative: è l’Inferno, sen-za alcuna indulgenza. L’unico dubbio: in quale girone? Due sono le tesi. Quella be-nevola li colloca nell’Antinferno del canto III, inseguendo la bandiera senza colori dell’interesse personale, nudi, rincorsi da vespe fameliche. Le tesi più radicali li met-tono invece fra gli ipocriti o fra i falsari di parole, tutti nell’ottavo cerchio, oppure fra i traditori – degli ideali, o del partito, o degli elettori, ecc. – nel nono girone. Laggiù, in fondo all’imbuto infernale, le pene sono durissime. Non se la prendano i nostri politici; stiamo scherzando. Infat-ti l’italiano medio invidia Fini e Scilipoti, che hanno tradito il partito che li ha elet-ti, o sogna di essere “il Trota”, scalcinato delfino della Lega, o anela appartenere ad una casta. Eppure gli italiani sono, si sa, buona gente. Ma bisogna pur trovare un modo per guadagnare la tartina al caviale per stasera e per la vecchiaia.

Se ne discute per aver assistito alla commedia che è sulla scena nei giorni no-stri: “Il trionfo dell’ipocrisia”. Riassumo. L’Italia, per salvarsi dal naufragio, deve ricorrere a leggi durissime e impopolari. Né la destra né la sinistra hanno la forza

di imporle: non passerebbero per il veto dell’avversario politico. Ma non avreb-bero neppure il coraggio di proporle: perderebbero voti, cioè poltrone, sedie e sgabelli. Ovviamente gli italiani non ama-no le leggi che aumentano le tasse e non darebbero il voto a chi le propone. I partiti delegano allora a esimi professionisti non politici il compito di prendere le decisioni

che loro non prenderebbero mai. Le leggi, durissime, sono proposte al Parlamen-to, i vari partiti mugugnano, scalpitano, fingono qualche ritocco per “migliorar-le” ma sostanzialmente le benedicono e votano “sí”. Sanno che sono necessarie. Più tardi diranno che furono costretti ad accettarle per il bene della patria, ma erano visceralmente e filosoficamente contrari. Cercando di contenere le perdi-te. Alcuni partiti, più subdoli, mirano a guadagnare voti: cavalcano il malconten-to popolare, promuovono pagliacciate e votano contro. Il destino extraterrestre di Bersani, Bossi, Alfano e delle loro truppe è quindi segnato: saranno ospiti dell’ot-tavo girone. Berlusconi non è politico di professione ma non se la caverà: bene che vada l’aspettano i lussuriosi del se-condo cerchio. Chissà, il momento forse è storico: siamo agli albori di una rivo-luzione culturale? L’Italia sta accettando leggi pesantissime perchè consapevole di non potersi più permettere il sistema di

malcostume politico e di welfare dro-gato imperante negli ultimi decenni. L’attuale governo non-politico ha licenza, fino a un certo punto, di col-pire le rendite assurde della classe dirigente: dei parlamentari, degli as-sessori di mille enti utili e inutili, dei

magistrati dorati con i doppi e tri-pli incarichi, degli amministratori di troppe imprese pubbliche malgestite ecc. E ancora, di togliere privilegi alle corporazioni, di stanare gli evasori fi-scali, di far pagare alla finanza i suoi peccati ecc. Scalfire una cultura radica-ta richiede tempo, coraggio e fortuna. L’ipocrisia dei partiti darà al governo Monti il tempo e l’appoggio necessa-ri? Avrà Monti abbastanza coraggio? È quanto noi italiani ci chiediamo. Non possiamo illuderci: i partiti criti-cheranno ferocemente il governo e lo terranno in ostaggio, ma gli permette-ranno di proporre le leggi che loro non avrebbero il coraggio di proporre. Poi lo strozzeranno, per presentarsi alle prossime elezioni come verginelle in fiore. Non illuderanno nessuno. Ormai li conosciamo. La barca di Caron Dimo-nio non sarà sufficiente per traghettare agli inferi i nostri patrioti; ci vorranno i ferry boat della Tirrenia.

Chissà, il momento forse è storico: siamo agli

albori di una rivoluzione culturale?

opinioneEzioMaranesi

comunitàitaliana | janeiro 2012 11

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ComunitàItaliana – Quais são os motivos da sua visita ao Brasil?Corrado Clini – Estamos empe-nhados em preparar a participação italiana durante a Rio+20, à qual queremos dar um significado par-ticular, sob o signo da cooperação bilateral entre Itália e Brasil. A con-ferência é uma grande reunião, da qual esperamos o início de uma es-tação de cooperação internacional para enfrentarmos, juntos, o tema do crescimento econômico e da pro-teção dos recursos naturais, através do desenvolvimento de tecnologia nova, novas regras internacionais para o comércio e através, sobre-tudo, da criação de parcerias entre instituições públicas e empresas pri-vadas de diversos países. Parcerias essas que servem para desenvolver programas em comum e atingir objetivos avançados nos campos tecnológico e ambiental. Queremos dar muito valor à cooperação que já iniciamos aqui no Brasil. Nestes dias em que as pessoas costumam estar de férias, tive modo de encontrar representantes de diversos esta-dos, envolvidos nos programas de cooperação. Estive em Fernando de Noronha e com o grupo Osklen. Te-nho um encontro com o prefeito do Rio para falar sobre a participação na Rio+20, para ver como podemos colaborar com a Prefeitura duran-te o evento. Depois, vou encontrar com o Bispo do Rio, pois estamos avaliando a possibilidade de cola-borar com a Jornada Mundial da Juventude em 2013, que terá uma parte dedicada ao meio ambiente.

É o verde que cresceGoverno italiano começa os preparativos para a Rio+20 e visita do ministro Corrado Clini reforça parcerias com empresas e instituições brasileiras do setor ambiental

atualidadE

do serviço italiano de prevenção à poluição atmosférica e acústi-ca nas indústrias de 1991 a 2000, fala à Comunità sobre as suas ex-pectativas para a Rio+20, “uma ocasião para evidenciar a con-vergência entre a necessidade de retomar o desenvolvimento da eco-nomia global e o uso sustentável dos recursos”, as vantagens que a economia verde italiana oferece às finanças do país atualmente em cri-se a partir da eficiência energética e as medidas de proteção ambiental que serão propostas ao Parlamento italiano ainda em 2012.

Em visita ao Brasil que durou dez dias, o mi-nistro italiano do Ambiente, Corrado Clini, esteve com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, para tratar da participação italiana na gran-

de conferência ambiental que acontece em junho na cidade, a Rio+20. Eram dias típicos de férias, entre o final de dezembro e o início de janeiro, mas o ministro conseguiu reforçar projetos com instituições brasilei-ras com quem o governo da Itália mantém projetos de cooperação, como o Instituto Estadual do Ambiente do Rio e a Osklen.

Em entrevista exclusiva, Clini, que é médico gradu-ado pela Universidade de Parma e ocupou a diretoria

Cintia Salomão Castro

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12 janeiro 2012 | comunitàitaliana

Page 13: Revista Comunità Italiana Edição 162

CI – Quais são os programas que o Ministério italiano do Ambiente desenvolve atu-almente com instituições brasileiras?CC – Atualmente, temos um pro-grama de cooperação com o estado de São Paulo que já dura dois anos, concentrado na bioenenergia e na energia renovável. Um programa de cooperação com o estado do Rio de Janeiro, em particular com o Insti-tuto Estadual do  Ambiente, o Inea, orientado a identificar as melhores soluções tecnológicas e de gestão para enfrentar alguns desafios ur-gentes, como a prevenção do risco hidrogeológico. Basta pensar nas en-chentes que aconteceram no Rio no ano passado, o que já se repetiu este ano. Queremos juntar nossas com-petências para encontrar soluções de prevenção aos riscos de desmo-ronamentos e enchentes, pois as mudanças climáticas colocam à du-ra prova o território. A segunda área de colaboração com o Inea envolve a gestão integrada das águas, recurso cada vez mais precioso. A terceira área de colaboração está na área de sistemas urbanos, muito complexos e fontes de poluição. Para essa área, é necessária a definição de novas es-tratégias para a mobilidade, fazendo com que os edifícios sejam inteli-gentes, consumindo pouca energia e garantindo o bem-estar das pessoas que ali moram.

O quarto setor é o saneamento dos solos contaminados pela ati-vidade industrial, e o saneamento dos cursos d’água poluídos por li-xo industrial ou esgoto urbano não depurado. Sabemos que isso é um grande problema para o Rio, princi-palmente em vista das Olimpíadas, pois o estado deverá fazer, nos próxi-mos três anos, um enorme trabalho de requalificação dos seus sistemas de depuração de águas. Estamos tra-balhando com o Inea no sentido de identificarmos as melhores soluções e para dar início depois a progra-mas em comum. Esse projeto deverá chegar à sua primeira conclusão em junho, na ocasião da Rio+20.

Temos, ainda, um progra-ma de colaboração com o estado de Pernambuco, concentrado nas estratégias para enfrentar as mu-danças climáticas no estado, que já tem um programa importante sobre o assunto. Juntos, estamos desenvolvendo em um projeto no arquipélago de Fernando de Noro-nha, um patrimônio brasileiro e para toda a humanidade em recursos na-turais. Queremos trabalhar juntos

para fazer com que o local seja um símbolo mundial de desenvolvi-mento sustentável. Enfim, temos um programa, já em estado de rea-lização avançado, que é o estudo do social environment carbon footprin-ting, na indústria têxtil do grupo Osklen, que consiste na certificação de produtos da marca, sustentáveis do ponto de vista ambiental. Este é o primeiro projeto do gênero no mun-do, que será apresentado na Rio+20.

CI – Como será a participação italiana durante a RIO+20?CC – Nós teremos um nosso espaço, onde apresentaremos as iniciati-vas dos programas italianos para a proteção do ambiente na Itália e no mundo, inclusive aqueles que es-tamos realizando aqui no Brasil. Teremos uma série de seminários, e estamos preparando duas iniciati-vas com o governo brasileiro. Nossa intenção é fazer com que o pavilhão italiano seja, durante a conferência, um ponto de encontro para muitos países, colocando em evidência as colaborações entre Itália e Brasil.

CI – Que iniciativas serão essas com o governo fluminense?CC – Uma é dedicada à bioenergia, até porque os dois países compar-tilham a presidência da iniciativa chamada Global BioEnergy Partner-ship, da qual participam 55 países, todas as agências das ONU, mais o Banco Mundial. O objetivo é o esta-belecimento de regras em comum para a produção e o uso sustentável de biocarburantes. A outra iniciati-va é a apresentação do projeto com a Osklen. Mas também estamos ve-rificando se poderemos organizar encontros com a participação de empresas brasileiras e italianas para discutirem, juntas, a possibilidade de colaborarem em projetos, pois sabe-mos que muitas empresas italianas são também grandes empresas bra-sileiras. Então, tentamos entender de que modo podemos fazer joint ventures para a proteção ambiental. Com a Pirelli, por exemplo, assina-remos um acordo em Milão no dia 23 de janeiro, que inclui trabalhos

no Brasil, e espero conseguir envol-ver empresas como Techint, o grupo Fiat e o grupo Enel.

CI – Qual é a importância da Rio+20 para a Itália neste mo-mento de crise financeira?CC – Estou convencido de que uma estratégia de crescimento econô-mico pode ter sucesso se tivermos como referência o desenvolvimento de tecnologias e sistemas avança-dos que consentem produzir mais e consumir menos. A chave para o de-senvolvimento sustentável é essa. Se olharmos o trend de investimen-to mundial dos últimos quatro anos nesse período de grande crise finan-ceira, vemos que os investimentos em energias tradicionais energéti-cas tiveram uma queda, enquanto que aqueles em energias renováveis, ou alternativas, cresceram.

A Rio+20 é uma grande oportunidade para evidenciar a existência de uma convergência entre a necessidade de retomar o desenvolvimento da economia global e a proteção do ambiente e o uso sustentável dos recursos. As tecnologias que consomem menos e ajudam na conservação dos re-cursos têm mais sucesso hoje nos mercados internacionais.

E há um segundo aspecto muito importante que concerne aos con-sumidores. Cresce de maneira cada vez mais acentuada — e não apenas em países como Estados Unidos, Europa e Japão, mas também em

“Não esperamos, da Rio+20, a assinatura de um tratado, e

sim o início de um processo muito concreto, de iniciativas

que envolverão os governos, as empresas e os consumidores”

No encontro com o prefeito Eduardo

Paes, no Palácio da Cidade, em 6 de

janeiro, Clini sugeriu que as autoridades cariocas entrassem

em contato com a prefeitura de

Veneza para falar do tratamento de água e esgoto. “Ficamos

muito honrados com a visita do ministro. Ele gosta muito da

cidade e já tinha vindo na ocasião da Rio-92”, disse o embaixador da prefeitura do Rio,

Stelio Amarante

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economias como China, e no Bra-sil — uma demanda da parte dos consumidores por produtos com a garantia da qualidade ambiental.

Isso quer dizer que o mercado está se orientando, quase esponta-neamente, em direção a soluções sustentáveis. A conferência deste ano pode ser a ocasião para eviden-ciar e reforçar esse trend. Portanto, não esperamos, da Rio+20, a assina-tura de um tratado e, sim, o início de um processo muito concreto, de iniciativas que envolverão os gover-nos, as empresas e os consumidores.

 CI – Quais são as suas con-clusões tiradas da recente conferência climática que aconteceu em Durban, na África do Sul, em dezembro?CC – Graças à contribuição também do Brasil e da forte cola-boração entre Brasil e Europa foi muito positivo. Dois anos atrás, em Copenhagen,  ficamos prisio-neiros do confronto entre China e Estados Unidos, que por motivos deliberados, haviam negado a ne-cessidade de um acordo global para proteger o clima. Ao contrário, em Durban, graças à forte colaboração entre Europa, Brasil, África do Sul, dos países em desenvolvimento, e ao fim, também da China, foi alcan-çada uma posição que relançou um processo internacional para a pro-teção do clima. Desta vez, ao final, todos concordamos sobre a neces-sidade de um acordo global para proteger o clima. E esse acordo será alcançado até 2015. Portanto, foi aberta uma estação muito impor-tante e seguramente a Rio+20 será o primeiro passo para a construção de um acordo global. Tivemos um papel muito ativo, embora nossa comitiva não fosse muito grande, infelizmente, por causa dos recur-sos à disposição. Tivemos um papel muito dinâmico, pois absolutamen-te procuramos esse acordo. Eu, pessoalmente, trabalhei muito para convencer a China. Tivemos uma esplêndida colaboração com o Bra-sil. Talvez, depois de vários anos, o papel da Itália tenha sido mais di-nâmico do que nas outras ocasiões.

 CI – Que medidas o Ministé-rio pretende propor, ainda este ano, na Itália?CC – Ainda em janeiro, levare-mos à aprovação do governo o plano nacional para a redução de emissão de gás carbônico, um do-cumento que envolve política de energia, de transportes, a agrícola

e a proteção das florestas. A meu ver, o documento deverá definir o quadro de referência para o cres-cimento sustentável da Itália. O segundo documento que levamos à aprovação é o plano nacional para o desenvolvimento sustentável, que envolve a valorização dos nossos recursos naturais, a proteção do território de riscos hidrogeológi-cos e a promoção de medidas para incentivar a produção de produtos “limpos”, ou seja, verdes. Ainda es-te mês, daremos início a um fundo nacional chamado fundo rotativo, dotado de 600 milhões de euros ao ano, para dar créditos a pequenas e médias empresas que investem na proteção do meio ambiente. A crise financeira está colocando em dificuldade muitas empresas da economia verde, pois falta o cré-dito bancário. Por esse motivo, criamos esse fundo rotativo. Es-tamos também estudando formas para assegurar desconto fiscal para as empresas que investem na eco-nomia verde.

CI – Sua declaração favorá-vel ao emprego da energia nuclear, pouco tempo após ter assumido o Ministério, gerou muita polêmica no pa-ís, que realizou um referendo sobre o tema em junho de 2011, quando a grande maio-ria dos italianos decidiu pelo não. O senhor continua a fa-vor da construção de usinas nucleares?CC – A Itália fez um referendo e disse que não quer, no momento, centrais nucleares. Portanto, sabe-mos que, nos próximos anos, não é possível imaginarmos a projetação de centrais no país. Por outro lado, é necessário dizer que, nos anos anteriores ao referendo, se tinha começado a analisar a possibilida-de. Não havíamos identificado os lugares onde construir instalações

nucleares, ou qual tecnologia usar. Era uma discussão absolutamente preliminar. O referendo interrom-peu, então, esse debate. Mas é preciso esclarecer que não houve nenhuma decisão de realizar cen-trais nucleares na Itália. Porém, a energia nuclear é uma tecnologia que existe no mundo e o Brasil é um dos países que nela investem. Creio que seria muito tolo fingir que isso não existe. Até porque boa parte da energia elétrica que usamos na Itália vem de centrais nucleares da França, da Suíça. Além disso, sabemos que, neste momen-to, importantes investimentos estão sendo feitos, no mundo, pelo desenvolvimento do nuclear mais seguro, a chamada energia nuclear de quarta geração. Por exemplo, é recentíssima a decisão da funda-ção de Bill Gates de patrocinar a pesquisa em curso na China para a projetação e a realização de no-vos sistemas nucleares. Então, digo que a Itália não deve ficar de fora desse processo de pesquisa, pois a pesquisa sobre o nuclear avançado é muito importante pela influência que exerce sobre muitos aspectos, por exemplo, no desenvolvimento de novos materiais ou novos sis-temas de segurança. É um erro se a Itália, que faz parte do G8, ficar fora disso. Estamos limitando-nos a uma possibilidade de desenvol-vimento que, no futuro, poderia exercer um papel-chave.

atualidadE

“É um erro se a Itália, que faz parte do G8, ficar de fora das pesquisas sobre o nuclear avançado. Estamos limitando-nos a uma possibilidade de desenvolvimento que, no futuro, poderia exercer um papel-chave”

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ICE volta mais enxutoA bolido pelo governo Berlusconi em meados de 2011, o Ins-

tituto para o Comércio Exterior foi reconstituído a partir do decreto Salvaitalia, que instituiu, em dezembro, a Agência para a promoção no exterior e internacionalização das empre-sas italianas — mas apresenta uma versão bem mais enxuta. O órgão, atrelado ao Ministério do Desenvolvimento Econômico, deve operar com, no máximo, 300 funcionários e escritórios em Roma e em Milão, enquanto o antigo ICE contava com mais de 500 dependentes em mais de 115 filiais em 88 países.

Amazônia sem chamasBolívia, Brasil e Itália assinaram, no dia 6 de janeiro,

em La Paz, um convênio de cooperação de mais de 3,3 milhões de dólares para realizar, nos próximos 36 me-ses, campanhas de capacitação cidadã para a prevenção de incêndios na Amazônia boliviana. O objetivo do convênio é reduzir as queimadas através de práticas alternativas do uso do fogo, o que contribuirá para a proteção do meio am-biente. A Itália vai investir mais de 1,9 milhão de dólares; o Brasil, mais de 1,3 milhão de dólares; e a Bolívia, cerca de 105.000 dólares. O entendimento foi assinado pelo chance-ler boliviano, David Choquehuanca, e pelos embaixadores Luigi de Chiara, da Itália, e Marcel Biato, do Brasil.

Bolsas de estudoA presidente Dilma Rousseff lan-

çou os editais de bolsa de estudo no exterior que vão selecionar, através do programa Ciência sem Fronteiras, 12.700 estudantes. Destes, 1.500 te-rão como destino a Itália. O programa pretende beneficiar, até 2014, 101 mil estudantes, sendo 75 mil patrocinados pelo governo fede-ral, através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) e do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo é que os brasileiros olhem para as diferentes áreas do co-nhecimento no exterior. Foram firmados ainda convênios com entidades da iniciativa privada e estatal como Febra-ban, Abidb, Petrobras, Eletrobras e Vale, que vão financiar outras 26 mil bolsas de estudo.

Panda na criseO presidente da Fiat, Sergio Marchionne, lançou uma

versão familiar do modelo Panda em Pomigliano d’Arco, no Sul da Itália. O carro, produzido por empregados que aprovaram um referendo em junho de 2010 que endu-recia a jornada de trabalho, é símbolo das mudanças sociais que o país atravessa. Empregados passaram a trabalhar 24 horas em seis dias por semana para evitar o fechamento da fábrica e a sua transferência para a Polônia. Em dezembro de 2011, o acordo passou a ser adotado por todas as fábricas italianas, configurando uma mudança na situação trabalhista do país.

Page 16: Revista Comunità Italiana Edição 162

Vaentino Agunu nasceu em Roma, em 1987. Fi-lho de pais nigerianos e estudante universi-

tário, ele teve a cidadania negada pelo país onde nasceu e estudou a vida inteira. Para poder viver re-gularmente na Itália, possui um permesso di soggiorno (visto) de es-tudo. Mas pensa em deixar o país assim que terminar a faculdade, por falta de oportunidades, seguin-do o exemplo dos pais, que foram morar nos Estados Unidos, onde já obtiveram o greencard.

— Alegaram que não tenho ren-da suficiente para ter cidadania. Após 24 anos vivendo no país onde nasci, sem documentos, provavel-mente irei em busca de um lugar onde tenha mais oportunidades — desabafa o jovem. Ele é mais um no universo de meio milhão de jo-vens filhos de imigrantes nascidos

em território italiano que devem esperar completar os 18 anos de idade para fazer a solicitação do documento, sob o grande risco de vê-la negada. Caso isso aconteça, o jovem deve obter um visto de traba-lho ou estudo para permanecer de forma legal no país.

Quando o presidente italiano Giorgio Napolitano declarou-se, no final do ano passado, favorável a mudanças na legislação nacional — atualmente baseada no princípio ius sanguinis, ou seja, do direito à cidadania através do sangue — tor-nou pública uma situação que dura décadas, mas que já impulsionou manifestações públicas por parte de toda uma geração que vive sem Pátria. Existem atualmente 932 mil menores filhos de pais estran-geiros morando na Itália — o que corresponde a 8% da população to-tal de crianças e adolescentes que vivem na península. Destes, 572 mil nasceram em alguma materni-dade italiana. As províncias onde a

presença é maior são quase todas do Norte do país, onde estão con-centradas as indústrias: Cremona, Lodi, Brescia, Mantova, Bergamo, Prato, Vicenza, Treviso, Reggio Emilia e Lecco. Enquanto menores de idade, têm todo o direito de fre-quentarem a escola, independente da situação legal dos pais no país. Aos 18 anos, no entanto, devem es-tar munidos de algum tipo de visto. A cidadania italiana não constitui um direito: a solicitação pode ser feita ao Estado, que pode negá-la. Por isso, o jovem, àquela altura, se não encontrar um emprego formal, ou não estiver matriculado na uni-versidade, corre o risco de se ver — de um dia para o outro — clan-destino no país onde nasceu.

Ao dizer que espera que o Parla-mento possa encarar a questão da cidadania aos filhos de estrangeiros nascidos na Itália, acrescentando que negá-la é uma “autêntica loucura, um absurdo, e que as crianças possuem tal aspiração”, Napolitano acabou provo-cando reações de ambas as correntes dos movimentos sociais e políticos. Em um Parlamento já agitado pela crise econômica, a Liga Norte logo se manifestou contrária à sugestão.

— A verdadeira loucura seria conceder cidadania baseando-se no ius solis (direito de solo). Isto seria uma distorção aos princípios cons-titucionais. Somos firmemente contrários — ressaltou o ex-minis-tro Roberto Maroni.

Várias adesões, no entanto, fo-ram ouvidas, entre elas, do líder da

UDC, Pier Ferdinando Casini, que afirmou “concordar plenamente com o apelo do presidente” sobre um “direito fundamental”.

Debate e filme no ParlamentoNo dia 20 de dezembro, a Câ-mara dos Deputados, em Roma, chegou a ser o palco de uma gran-de manifestação pró-ius solis. A iniciativa de grupos políticos e do terceiro setor, como o Terzo Po-lo-Pdl e a Libertiamo, promoveu, na sala Mappamondo do Palácio Montecitorio, a exibição do do-cumentário 18 Ius solis, de Fred

atualidadE

Os novos filhos da ItáliaApelos para conceder cidadania aos filhos de imigrantes nascidos na Itália aumentam e geram debates no país dos oriundi. Grande maioria da população é a favor

Cintia Salomão Castro

Aos 18 anos, quem nasce na Itália pode

pedir a cidadania italiana ao Estado.

Se for negada, porém, o jovem deve possuir um visto. Se

não encontrar um emprego, ou não

estiver matriculado na universidade,

corre o risco de se ver clandestino de

um dia para o outro

janeiro 2012 | comunitàitaliana16

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Kuwornu, diretor de um longa realizado em colaboração com o cineasta americano Spike Lee (In-side Búfalo). O documentário de 50 minutos traz depoimentos de jovens que se sentem italianos de fato, mas não de direito. Nascidos em solo italiano de pais estrangei-ros de vários países como Albânia, Nigéria e China, eles relatavam o drama de conviver com o risco de ser clandestino no país onde sem-pre viveram. A projeção do filme foi seguida de um debate entre representantes da sociedade civil, membros da Igreja Católica e par-lamentares como a ex-ministra da Saúde Livia Turco e o atual presi-dente da Câmara, Gianfranco Fini.

Na memória do cineasta nascido em Bolonha, em 1971, a mentalida-de de que o imigrante estrangeiro é pobre e precisa de caridade surgiu no país nos anos 1990.

— Agora, com a crise, pensa-se que abrigar imigrantes é insuportá-vel para o país. Porém, as empresas, na realidade, podem fazer aumentar o PIB italiano. Muitos empresários estrangeiros podem, inclusive, dar trabalho aos italianos — disse Fred à Comunità.

Novos cidadãos no meio da criseA empreendoria estrangeira é, de fa-to, uma novidade crescente que se contrapõe à recessão da economia italiana. Se, em 2010, o número de empresários de origem estrangeira cresceu 5,7%, o de italianos caiu em 1,4%. Em meados do ano passado, registravam-se 400 mil proprietários de empresas de origem estrangeira. Os dados das Câmaras italianas de Comércio indicam que essa presen-ça chegou a crescer 38,6% de 2006 para cá, sendo os setores preva-lentes o comércio, a construção e a manufatura.

O vice-presidente do Comitê permanente para os italianos no exterior da Câmara italiana dos De-putados, Fabio Porta também vê na integração dos filhos de imigrantes através do reconhecimento da cida-dania uma luz no fim do túnel da atual recessão.

— Chegou o momento de intro-duzir na Itália, como já acontece na maior parte dos países europeus, o princípio do ius solis, juntamente com o ius sanguinis. Tenho certeza de que a plena integração dos es-trangeiros no país e dos italianos que vivem no resto do mundo da-rá recursos vitais e importantes no combate à crise.

O deputado eleito pela circuns-crição América Meridional em 2008 ressalta, entretanto, que o direito dos oriundi deve continuar a ser respeitado, pois quem “nasce na Itália deve ter a cidadania ita-liana, assim como os descendentes italianos que vivem no exterior não devem esperar mais anos para ver reconhecido o mesmo direito”.

Liga Norte é contra a mudança da leiUma das vozes mais ativas e em desa-cordo completo com a reivindicação da G2 (segunda geração) é o líder da Liga Norte da Toscana, o ítalo-brasi-leiro Antonio Gambetta Vianna, que criticou a postura do presidente Na-politano sobre o assunto.

— Falar em conceder cidadania aos filhos de imigrantes neste mo-mento é fazer como os avestruzes e não ver os nossos reais problemas. Fala-se do ius solis para distrair as atenções dos italianos das medidas sanguessugas do governo Monti, sancionado por Napolitano.

Gambetta mostra abertura so-mente para a proposta de reduzir a idade com a qual se pode solicitar a cidadania — para 14 anos — mas sempre com o direito de optar en-tre o Estado italiano e o de origem familiar, já que muitos países não admitem a dupla cidadania.

Sobre a proposta de conceder o direito de voto aos imigrantes, o político é taxativo.

— Isso seria uma inútil ins-trumentalização por parte da esquerda que, fracassada com os italianos, quer agora encontrar um eleitorado com os estrangeiros. Partidos políticos à parte, uma pes-quisa realizada com 1.500 pessoas no final de 2011 pelo observatório político do Centro Italiano de Es-tudos Eleitorais indica que grande

parte da população italiana con-corda com o apelo de Napolitano. O percentual daqueles que concor-dam com a concessão automática de cidadania italiana aos nascidos no país chega a 71%. O índice de en-trevistados favoráveis a estender o direito de voto aos imigrantes é ain-da maior: 81%.

A Pátria dos oriundi tem a legislação mais restritaPara alguns, pode parecer contradi-ção. A Itália é, provavelmente, o berço da maior fenômeno emigratório do mundo contemporâneo. Calcula-se que, entre 1861 e 1985, mais de 29 milhões de pessoas tenham deixado o solo italiano em direção a outros países. Somente no Brasil, existem mais de 25 milhões de brasileiros com alguma ascendência italiana. No entanto, aplica a lei entre as mais restritivas da Europa em matéria de concessão de cidadania a estrangei-ros. Na Alemanha, quem nasce de pais estrangeiros residentes no país por um período superior a oito anos tem direito à cidadania. No caso da Grã-Bretanha, o tempo de residência exigido dos pais cai para quatro anos, enquanto que, na França, para tor-nar-se cidadão francês, basta atingir a maioridade. Tal paradoxo é explica-do pelas fases históricas vividas pelo Estado italiano, confirma o cientista social Maurizio Ambrosini, da Uni-versidade de Milão e responsável científico pelo centro de estudos so-bre imigrações de Gênova.

— Quando a Itália conscienti-zou-se que havia se transformado em um importante destino de flu-xos imigratórios internacionais, em 1992, reformou a sua lei no sentido de obter uma estreita ade-são ao ius sanguinis, ficando ainda mais distante da lei de 1912, que era mais liberal — afirmou o pes-quisador à Comunità.

O presidente Napolitano exortou

o Parlamento a criar uma legislação que

favoreça quem nasce na Itália. O cineasta

Fred Kuwornu (com Spike Lee)

dirigiu 18 Ius solis, filme exibido no

Parlamento italiano em dezembro

“Privados da cidadania, estão submetidos a uma férrea imposição, segundo a qual, ao completar 18 anos, devem possuir um visto de trabalho, sob pena de serem repatriados. Mas repatriados em qual país, se nasceram na Itália? No país dos pais que, talvez, nunca visitaram?”Fabio Perocco, sociólogo italiano

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Por isso, a partir dos anos 1990, o Estado deixou em vantagem aqueles que possuem ascendên-cia italiana, mas que, muitas vezes, nunca pisaram no país, enquanto que, para os imigrantes com anos de trabalho ou estudo, tudo ficou mais complicado. Filhos de casais brasi-leiros nascidos em alguma cidade italiana, por exemplo, correm o risco da clandestinidade. Para o deputado Fabio Porta, Brasil e Itália tiveram histórias profundamente diferentes. Enquanto a trajetória italiana foi marcada profundamente pela emi-gração, as cidades brasileiras foram palco de mistura de povos. Mas, para ele, o passado não justifica se conti-nue com os olhos fechados para as mudanças do presente.

— A integração e a mistura de raças, povos e culturas cons-tituíram a riqueza do Brasil. A Itália teve uma história diferen-te, marcada pela emigração. Hoje, essa quadro está mudando radi-calmente. Aceitar e acompanhar tal mudança não é, ao meu ver, somente um sinal de justiça e igualdade, mas também um ges-to de perspicácia e abertura; uma aposta no futuro e talvez parte da solução para a nossa crise.

A socióloga italiana Francesca Coin vai mais longe. Após realizar pesquisas nos Estados Unidos, no México e em países da Ásia, ela conclui que a falta de mistura racial no país é um dado “historicamente preocupante”. A “homogeneidade tradicional italiana” é um dado que “torna difícil a aceitação da convi-vência com outros povos”, afirma.

— Não é por acaso que a Itália se transformou, em 2008, em um país de vanguarda na legislação res-tritiva em relação aos imigrantes. O episódio de Florença (quando dois senegaleses foram assassinados por Gianluca Casseri em dezembro de 2011) é simplesmente horrível. Agora, vemos o fenômeno através de suas pontas extremas, mas não podemos ignorar o fato de que exis-te (o exacerbamento do racismo) e, se a crise continuar, devemos estar muito atentos — alerta a docente de estudos linguísticos e culturas comparadas da Universidade Ca’ Foscari de Veneza.

Poucas chances em um governo técnicoApesar do forte apelo da presidên-cia da República italiana e das vozes dos movimentos sociais e cultu-rais, a maioria dos especialistas concorda que, ao que tudo indica, uma eventual mudança da lei e até a adoção do ius solis deve ficar para um outro governo.

Da Faculdade de Ciência Política da Universidade de Mi-lão,  Maurizio Ambrosini lembra que a maior parte dos partidos de centro-direita que davam sus-tentação ao governo Berlusconi sempre se declarou contrária a qualquer tipo de abertura da lei, apresentando até mesmo um dese-nho de lei que tornava o acesso à cidadania ainda mais difícil, e que o atual governo técnico de Mon-ti já declarou que se trata de uma questão política, distante dos pro-pósito do seu mandato.

— Provavelmente, a equipe de Monti percebe que se trata de um “terreno minado”, no qual poderia ter problemas. Mas o presidente Napolitano, mais de uma vez, exor-tou, com palavras fortes até, o Parlamento italiano a modificar

a lei. Deu-se início a uma campa-nha para uma reforma da norma, promovida por associações, impor-tantes organizações católicas como a Caritas, e sindicatos. Durante a atual legislatura, talvez esse obje-tivo não seja atingido, porém, com certeza, é importante preparar o terreno e semear agora para produ-zir uma mudança de mentalidade, que dará os seus frutos em um fu-turo próximo.

Assim como Ambrosini, o profes-sor Fabio Perocco vê a possibilidade de mudança da lei somente nos pró-ximos governos, pois o mandato de Monti, assim como as forças polí-ticas e sociais italianas, tem como prioridade a crise econômica na qual aprofundou-se o país, devendo resolver problemas como a falta de trabalho. Perocco lembra que a previ-são é que o governo Monti conclua o mandato em 2013, o que torna pro-vável que uma mudança legislativa desse tipo seja feito por um governo político, e “não de uma equipe técni-ca com um mandato definido”.

Um instrumento que pode me-dir as possibilidades concretas de mudança na lei é o recolhimento de assinaturas de uma grande cam-panha nacional chamada L’Italia sono anch’io (A Itália também sou eu), promovida por associações do terceiro setor e sindicatos, enfa-tiza a professora da Universidade de Milão especializada em imigra-ções, Elena Caneva. A conclusão do abaixo-assinado está prevista para fevereiro deste ano.

— Ali, veremos se existe por parte da sociedade uma forte demanda por reformas e se há real-mente espaço para que a proposta avance no Parlamento.

atualidadE

Campanhas pelo ius solis (direito de cidadania a

quem nasce no país) percorrem todas as regiões da Itália. Para a

socióloga de Veneza, Francesca Coin, a

homonegeidade cultural e racial

na Itália é um fato “historicamente

preocupante”

Atualmente 932 mil menores filhos de pais estrangeiros vivem

na Itália — o que corresponde a 8% da população total de crianças e adolescentes da

península. As províncias onde a presença é

maior são quase todas do Norte, onde estão

concentradas as indústrias

VicenzaTreviso

LodiMantova

Lecco

Reggio Emilia

Prato

BresciaBergamo

Cremona

janeiro 2012 | comunitàitaliana18

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A cidadania italiana de fato Coordenador do laboratório de pesquisa sobre imigrações e transformações sociais da Universidade de Veneza, o sociólogo italiano Fabio Perocco é membro da rede de pesquisa Sikhs in Europe e autor de livros sobre o tema. Em entrevista à Comunità, ele explica que a Itália viu-se, nas últimas duas décadas, passar de um país de emigração para uma nação multicultural, onde vivem milhões de imigrantes de diversas origens, sem que, no entanto, a legislação e a própria sociedade tenha conseguido, ainda, acompanhar essa evolução histórica. “Apesar dessa forte mudança, a legislação italiana não prevê o ius solis. Não é um direito que pode ser exigido, mas sim uma concessão da autoridade estatal, que pode concedê-la ou negá-la”, ressalta

Comunità Italiana- Por que o Estado ita-liano, ainda hoje e ao contrário de países europeus como França e Alemanha, se ba-seia no ius sanguinis (por direito de sangue) como princípio para conceder de cidadania? Fabio Perocco - Desde a segunda metade do sécu-lo XIX até a Segunda Guerra Mundial, a Itália foi um país de emigração, que exerceu um papel fundamental nas migrações dentro do continente europeu e naque-las em direção a outros continentes. Tanto que, hoje, existem duas Itálias: uma que vive na península e ou-tra que vive no resto do mundo, feita de emigrantes de segunda, terceira e quarta gerações.

Devido a esta característica de país de emigração, há um século, o Estado italiano orientou-se em direção a uma política de cidadania baseada no ius sanguinis, ou seja, na transmissão da cidadania através do parentes-co biológico. Tal escolha exprimia a vontade da parte do Estado de manter uma ligação política e simbólica com o emigrante e seus descendentes, sobretudo com as cole-tividades dos emigrantes no exterior, imaginadas como comunidades italianas. A ideia era aquela de manter com as mesmas um sentimento de pertencer à Itália, uma relação de lealdade com o Estado, apesar da distância ge-ográfica e do passar do tempo através das gerações.

Essa escolha encontrou suporte em uma perspecti-va étnico-nacional da cidadania, em uma visão do povo italiano como raça, combinando com a ideia de uma supremacia cultural e de identidade — e da própria cultura representada como algo fixo, imutável e eter-no, transmitida por linha de sangue.

CI - Como essa escolha jurídica se reflete na Itália de hoje?FP - Cessada a função histórica de manter uma li-gação entre emigrantes e o Estado, a persistência do ius sanguinis constitui nada mais do que uma “linha de demarcação” entre os autóctones, de um lado, e os imigrantes, de outro, com a possível consequência da criação de duas sociedades dentro da sociedade ita-liana. No plano simbólico, por meio desse princípio, acredita-se, e se faz com que se acredite que seja unido aquilo que, na realidade, é fragmentado: a identidade, a estrutura social, os interesses, a solidariedade.

A situação nos últimos 30 anos mudou radicalmen-te no âmbito dos movimentos migratórios. É verdade que, ainda hoje, italianos migram para o exterior. Po-rém, os dados foram completamente invertidos: com quatro milhões e 200 mil estrangeiros residentes, dos quais um quarto é composto por menores de idade, a Itália virou uma terra de imigração, transformando-se em um país multinacional, multiracial, multicultural e multireligioso.

Esse é um processo, por vezes complicado, de profunda trans-formação social que, para o país, acostumado conceber-se como ter-ra de emigrantes e homogênea demográfica e culturalmente, re-presentou uma reviravolta de época. Apesar dessa forte mudan-ça, a legislação italiana prevê o ius sanguinis, e não o ius solis. O es-trangeiro pode pedir, e não exigir, a cidadania. Não é, portanto, um direito que pode ser exigido, e sim, uma concessão da autoridade esta-tal, que pode concedê-la ou negá-la.

CI - Como tem evoluído o debate em torno do assunto no país?FP - Por volta do ano 2000, acon-teceu um debate em torno do assunto. Mesmo com várias posi-ções favoráveis, como partidos de centro-esquerda, alguns políticos de centro-direita da área mais liberais, boa parte dos sindicatos e uma par-te significativa do mundo católico, a questão era controversa. Àque-la altura, o presidente Napolitano interveio e chamou a atenção da opi-nião pública, convidando as forças políticas a encontrarem um percur-so rápido de concessão de cidadania aos filhos de imigrantes, nascidos e crescidos em solo italiano. É im-portante resssaltar, porém, que a proposta evoca motivos funcionais ligados ao tema da “integração” do imigrante na comunidade nacio-nal, na unidade nacional. Baseia-se, de fato, na ideia de que ser cidadão italiano, sentir-se italiano, reforce

o sentimento de pertencer à nação, consolidando a identificação com o Estado e a lealdade à Itália, a coesão social e nacional, enquanto a sua exclusão representaria um elemen-to desfuncional na vida econômica, política e social.

CI - Como o senhor avalia a proposta de adoção do ius solis?FP - A proposta de estender a cida-dania, na minha opinião, é um ato de civilidade.

Privadas da cidadania, essas pes-soas estão sujeitas ao direito especial que regula a presença do estrangeiro no território nacional: devem es-tar ligados à férrea imposição do contrato de soggiorno, segundo o qual um jovem, por exemplo, ao completar 18 anos, deve possuir um permesso di soggiorno (visto) de trabalho, sob pena de ser repatria-do. Mas repatriado em qual país, se nasceu na Itália? No país dos pais, dos avós, que, talvez, nunca visitou? Não têm acesso a empregos públi-cos, limitados nos serviços sociais, como previdência social e moradias populares. Em suma, têm menos di-reitos. Continuam a ser percebidos e tratados pela pública administração, como eternamente “estrangeiros”.

CI - A concessão da cidada-nia melhoraria esse quadro social de exclusão?FP - A mudança é um passo ne-cessário, para que constituía um elemento de inclusão e não de ex-clusão. Entretanto, como a História já nos ensinou, na basta a mera ci-dadania formal e jurídica, para criar uma inclusão verdadeira, social. Você pode ter carteira de identida-de e passaporte, e ser discriminado no cotidiano e nas relações sociais. É também necessária a paridade ju-rídica, social, política, simbólica, e que se saia de uma condição de infe-rioridade social (condição na qual se encontra grande parte dos imigran-tes), sob a pena da criação de uma underclass no Belpaese, uma casta de intocáveis. Nas recentes revoltas na França e na Inglaterra, por exem-plo, os protagonistas era jovens filhos de imigrantes, detentores de todos os efeitos da cidadania fran-cesa, ou inglesa, que denunciavam uma discriminação no ambiente de trabalho, a segregação espacial, a exclusão social, policial. Precisamos ir além da cidadania jurídica. Deve ser uma cidadania social, do contrá-rio, o risco é que sejam cidadãos só no papel. Cidadãos de série B.

“Nas revoltas na França e na Inglaterra, os protagonistas eram filhos de imigrantes,

detentores de todos os efeitos de cidadania. Além da cidadania

jurídica, deve ser uma cidadania social, do contrário, o risco é

que sejam cidadãos só no papel. Cidadãos de série B”

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A Itália é a pátria do me-lhor sorvete do mundo. Por trás de um delicio-so gelato, existe não

apenas uma receita. Ele exprime a cultura e a antiga tradição italiana, mas, para se chegar ao legítimo ge-lado artesanal é preciso, também, estudo. A Carpigiani, líder mun-dial na fabricação de máquinas para sorvetes, sabe disso. Eles tiveram a ideia de fundar a primeira “Uni-versidade do Gelato” do mundo, onde, além de revelar os segredos das melhores receitas, ensinam que abrir uma sorveteria pode ser

um excelente negócio. Desde a fundação em 2003, em Bolonha, a Carpigiani Gelato University for-mou milhares de pessoas do mundo inteiro. Diferentes línguas e um único gosto: o vero gelato italiano.

As classes da universidade es-tão lotadas com alunos vindos de

Um saboroso negócioLíder mundial de máquinas de fazer sorvete, Carpegiani forma milhares de novos gelatieri na primeira Universidade do Gelato do mundo, em Bolonha. Em 2012, filial será aberta em São Paulo

nEgócioS

Gina MarquesDe Roma

todas as partes, mas os motivos que levam milhares de pessoas a ir até Bolonha aprender a fazer sorvete são dois: o sonho de mu-dar de vida e empreender um bom negócio. A diretora da universida-de, Kaori Ito, uma chef japonesa radicada na Itália, explica que, na maioria dos casos, o curso repre-senta uma mudança de vida na carreira de cada um.

— A idade média dos estudan-tes é de 35 a 40 anos. Eles estão prontos a começar um novo capítu-lo nas suas vidas.

A brasileira de origem italia-na Marcia Garbin, de 29 anos, ganhou uma bolsa de estudos do projeto “Pioneiros do Gelato”, um curso que ensina como fazer sor-vete e também as competências empresariais.

— O sorvete comigo foi co-mo amor à primeira vista. Porém, quando cheguei à Itália, percebi que um bom gelato era completamente diferente do que eu imaginava. Eu quis aprender a fazer sorvete para realizar um sonho, mas acabei en-tendendo uma coisa ainda maior: o business. Vou abrir uma gelateria no Brasil que vai ter, além dos sa-bores tradicionais italianos, gostos diferentes para o mercado brasilei-ro — planeja.

A primeira universidade de

sorvete do mundo, a Carpigiani

Gelato University, fica em Bolonha

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A Carpegiani quer incentivar os participantes a desenvolverem um modelo start-up no momento em que a recessão tem mostrado que é preciso investir em si mesmo e nos próprios valores. Eles ajudam os graduados na hora de abrir a pró-pria sorveteria, auxiliando-os na escolha do melhor ponto e na ela-boração de um plano de negócios.

A executiva da indústria têx-til Holy Randrianasolo pretende abrir a sua loja em Madagascar, sua terra natal.

— A minha atividade será em Antananarivo, mas vai ser dedica-da a um público mais rico — diz.

Já o estudante Kevin Koh, de Sin-gapura, foi fazer o curso e descobriu um universo que ele não conhecia.

— Eu nunca havia entendido a importância dos ingredientes, as fases de preparação e como fazer o sorvete. Agora, sei por que o gelato representa uma cultura — comenta.

Curso completo custa 2.800 eurosO curso profissional completo du-ra quatro semanas e é dividido em três fases: básico, intermediário e avançado. Os alunos pagam cerca de 2.800 euros e aprendem desde as noções básicas das proporções da receita, a mistura dos ingredientes e a química, até como montar uma vitrine e variar os produtos de acor-do com as estações do ano, além de gerenciamento e marketing. Os professores são grandes chefs do se-tor. A Carpigiani considera que cada aluno vai divulgar a cultura italiana pelo mundo através do gelato.

Para fazer um bom produto, não basta uma simples batedeira e uma

geladeira, é preciso também uma máquina profissional de qualidade. Apesar da Carpigiani ser fabrican-te de diversos tipos de máquinas de sorvete, os alunos do curso não são induzidos a comprar os seus equipa-mentos. Para eles, o mais importante é o conhecimento e a prática.

Na Itália, fabricar um quilo de sorvete custa de 2 a 4 euros, incluindo a matéria-prima. Em compensação, o quilo de sorvete é vendido ao consu-midor por um valor de 15 a 20 euros, ou seja, o proveito é certo. A Carpigiani encomendou um estudo de mercado sobre as possibilidades do lucro da atividade.  Os dados demonstraram que, considerando o investimento nos equipamentos (máquinas, vitri-nes), as despesas de funcionamento do local, como aluguel e empregados, para cada euro investido, a margem de lucro é de 75%.

Liderança

Fundada em 1946 pelos irmãos Piero e Poerio Carpigiani, a indústria, sediada em Bolonha, domina hoje 70% do mercado mundial no se-

tor de máquinas para sorvetes. Presente diretamente em 12 países, conta com 300 concessionárias e 500 centros de assistência espalhados pelo mundo. A Carpigiani é a fornecedora das máquinas para a maior rede de lanchonetes americana do planeta.

A expansão internacional começou nos anos 60 com a difusão da cultura do gelato italiano no mundo. No Brasil, a Carpigiani chegou há 38 anos e tornou-se, além de pioneira,a líder no mercado brasileiro.

Em 2012, a Carpigiani Gelato University vai abrir uma filial em São Paulo. O curso básico será co-ordenado pelo mestre Frederico Jardim Samora , internacionalmen-te premiado e um dos mais famosos chefs do Brasil. Formado em admi-nistração de empresas, ele decidiu se dedicar à sua paixão pelos sorvetes e fez da sua profissão um sucesso.

Os melhores “mestres” no mundo não dão a receita, mas apresentam uma característica em comum: são integralistas da pureza. Os ingredientes devem ser puros, sem aditivos ou gorduras hidroge-nadas e, de preferência, nativos, para respeitar a qualidade do sabor e da cultura local. Afinal, para os ita-lianos, o sabor é cultura.

“Eu quis aprender a fazer sorvete para realizar um sonho,

mas acabei entendendo uma coisa ainda

maior: o business. Vou abrir uma gelateria

no Brasil que vai ter, além dos sabores

tradicionais italianos, gostos diferentes para o mercado brasileiro”

Marcia Garbin, 29 anos

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A origem do sorvete é incer-ta. Existem indícios de que populações muito antigas já consumissem frutas e leite

gelados, bem antes dos imperadores ro-manos, que misturavam neve com frutas, e dos árabes que ocuparam a Sicília, onde introduziram o sherbet, bebidas geladas e açucaradas muito apreciadas nos países orientais. Mas o certo é que foram os ita-lianos a aperfeiçoarem a arte de fabricar

um bom gelato, à base de frutas (sorbet-tos) ou ao leite (cremosos). Desde que o cuoco siciliano Francesco Procopio dei Coltelli inventou a receita para os reis da corte francesa, no século XVII, o sorvete made in Italy é garantia de qualidade em todo o mundo.

No Brasil, é possível tomar um sorvete como se você estivesse em uma sorveteria italiana. O preço é um pouco salgado se comparado aos gelados mais comerciais, mas vale a pena pela receita artesanal que utiliza frutas sempre frescas (a exceção fi-ca por conta das secas como avelãs, nozes

e pistache, que costumam vir da Itália) e exclui qualquer tipo de gordura trans. A produção diária de sorvetes e o uso de uma espátula para cada sabor são outras marcas registradas dos gelatieri.

— O segredo do bom sorvete é prepará-lo diariamente; reunir bons in-gredientes; ter uma receita bem calibrada e possuir boas máquinas — explica o bo-lonhês Andrea, sócio da sorveteria Vero, situada no Rio de Janeiro.

Saiba onde saborear um vero gelato italiano para se refrescar com bom gosto neste verão, no Rio ou em São Paulo.

A cereja Amarena — Filhos de italianos, os irmãos Gianpietro e Diego, juntamente com o primo Francesco, largaram seus empregos há quatro anos

para se dedicaram a uma sorveteria batizada com nome de cereja, dando continuidade à tradição da família de pasticcieri originária da Calábria. A fidelidade ao estilo se confirma no alto percentual de fruta fresca (nada de

polpa, o que deixa o sorbetto com um incrível gosto da fruta), na preparação diária dos sorvetes e no maquinário italiano. A linha diet leva sucralose,

enquanto todo o restante da produção é adoçado com açúcar orgânico. Um festival de frutas refresca os clientes durante o mês de janeiro, regado a açaí,

graviola, cupuaçu, pêra e melancia. Entre os cremosos, destaque para o ferrero, o romeo e giulietta, o tiramisù e, é claro, o amarena. Um diferencial da casa está no fato de ser mais que uma sorveteria. Comece pelo sorvete

e você pode acabar levando para casa uma deliciosa torta gelato para comemorar algum aniversário, um pote de marrom glacê, cerejas ao licor da

marca italiana Fabbri ou alguma outra delícia made in Italy da lojinha.

onde: Rua Barata Ribeiro, 516, Copacabana; e Av. Ataulfo de Paiva, 209-F, Leblon.

Quando: Todos os dias, das 10h às 23hQuanto: De R$ 7,00 a R$ 15,00

È vero! — A gelateria dos sócios italianos Andrea, Claudia e Ruggero ainda vai completar um ano de

existência, mas já possui clientes fiéis (e exigentes). Situada em um dos pontos mais turísticos de

Ipanema, os proprietários seguem veramente à risca o melhor da tradição artesanal italiana. A gordura

vegetal é rigorosamente proibida, incluindo o óleo de palma. Todos os sorvetes de fruta são da fruta mesmo.

Nozes, pistaches e chocolate são importados.

— Antes de abrir a loja, experimentei os melhores sorvetes servidos no Rio, mas não via nada de realmente

artesanal como existe na Itália. Daí, o nosso estilo e o nome Vero (verdadeiro). Porque queremos, realmente,

fazer o verdadeiro gelato italiano — explica Andrea, que em Bolonha atuava como sommelier profissional.

Outro diferencial da casa são os sabores inusitados. Onde mais você pode comer um sorvete de pudim

de gengibre, de alho negro, ou de rúcula? Porém, se o freguês não se der por satisfeito, ele pode inventar um sabor e encomendá-lo. Na Vero, isso é possível. Foi assim que surgiram os sabores de cerveja e de manjericão, a partir das solicitações de clientes.

onde: Rua Visconde de Pirajá, 260 – Ipanema Quando: De domingo a domingo, das 10h às 22h

Quanto: De R$ 8,00 a R$ 15,00

Verão pede maisSaiba quais são as sorveterias do Rio e de São Paulo que se mantêm fiéis à receita artesanal e onde é possível saborear um verdadeiro gelato italiano

Vanessa Corrêa da Silva De São Paulo eCintia Salomão Castro Do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

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Emporio del Gusto — A sorveteria do premiado chef italiano Bruno Marasco

reabre no dia 15 deste mês com novidades. Passou por reformas e virou uma cafeteria-

pasticceria, com decoração inspirada na Roma antiga. Uma tentação para os moradores de Niterói: a casa também oferece sobremesas típicas como torta

mimosa, tiramisù e sacripantina. A gordura vegetal não é usada e todos os sabores

são cremosos. As massas de

chocolate, pistache e nocciole vêm

da Sicília e existe uma linha diet

para quem precisar excluir o açúcar. Destaque para o

gelato de caipirinha, de campari, de

tangerina e para a clássica dupla

amaretto com café. Uma dica: antes

de se refrescar no Emporio del Gusto, almoce ou jante no Da Carmine, ao lado,

restaurante de Bruno que já ganhou várias vezes o prêmio de melhor italiano e melhor

massa e pizza de Niterói. O Bar Itália, também de Bruno, completa o passeio à italiana com música ao vivo, drinques e

aperitivos de frente para o mar.

onde: Rua Mariz e Barros, 315, Icaraí – Niterói.

Quando: De Terça a domingo, de 8h às 22h.Quanto: De R$ 4,00 a R$ 7,00

Copacabana Palace — Poucos sabem que o sorvete do chef executivo do

Copacabana Palace, Francesco Carli, não é privilégio dos hóspedes. O carrinho circula

todos os dias pelo saguão da piscina e contém seis sabores, entre os quais

clássicos como avelã, baunilha e chocolate, mas também sorvetes que impressionam os hóspedes estrangeiros, como tapioca, sabor que Francesco classifica como uma

“homenagem ao Brasil”.— As receitas que o pasticciere segue

são minhas. Nossa linha é o gelato artesanal italiano, sem nenhum tipo de gordura vegetal ou conservantes

químicos — conta Francesco, natural de Asiago, a terra do famoso queijo italiano.

onde: Avenida Atlântica 1702 – Copacabana. O passante deve se dirigir ao restaurante Pérgula e perguntar pelo sorvete.Quando: O carrinho circula na beira da piscina de 10h às 17h, todos os dias. O

serviço só para de funcionar no inverno.Quanto: A partir de R$ 8,00 + 10%

4D — A 4D nasceu na Venezuela, onde morou o vicentino Stefano Nobilio antes de vir para o Brasil. O sucesso foi tanto que hoje a marca, hoje pertencente a

outros sócios, possui mais de 30 lojas no país vizinho. No Rio, a sorveteria está presente há mais de 10 anos e conta

com duas lojas próprias e um ponto de vendas. A produção usa o óleo de palma,

mas exclui qualquer tipo de gordura trans. Os preparados de avelãs, pistache

e amarena chegam da Itália, assim como o maquinário. O sorvete é produzido

diariamente. Este ano, uma nova loja será inaugurada no shopping Campo Grande.

onde: Barra Shoppping (Avenida das Américas, 4.666 ), New York City Center (Av. das Américas, 5000) e Shopping Rio

Sul (Rua Lauro Müller, 116 – Botafogo) Quando: Todos os dias. Das 10h às 22h (Barra Shopping) e das 10h à meia-noite (New York City Center). No Rio Sul, das 10h às 22h de segunda a sábado e, aos

domingos, de 12h às 22h. Quanto: De R$ 6,50 a R$ 11,00

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São Paulo

Vipiteno — Batizada com o nome de uma cidade da região do Trentino Alto-Adige,

norte da Itália, a casa foi inaugurada em 2007 e atualmente possui duas lojas em São Paulo,

cada uma delas com produção própria. — Usamos a técnica tipicamente italiana, que é fazer o sorvete no local em que ele é consumido — explica Octávia Ferreira, gerente da marca. Cada loja oferece diariamente 24 sabores de sorvete, que nunca ficam expostos mais de três dias após a fabricação. No total, a

Vipiteno já desenvolveu mais de 300 receitas

diferentes. A cargo do chef francês Laurent

Suaudeau, as receitas utilizam matéria-prima importada da Itália. Além de

sabores tradicionais italianos, há os de frutas

tropicais, como bacuri, graviola e cajá. Os mais vendidos são pistache, chocolate belga e carapino, feito de nata, calda de caramelo e pinoli. Neste verão, a sorveteria aposta em novos sabores, que mostram bem a mistura tropical e italiana: musse de cupuaçu, pavê de pitanga, café ao amaretto e cannolo siciliano.

onde: Rua Manuel Guedes, 85, Itaim Bibi; e shopping Market Place, na av.

Doutor Chucri Zaidan, 902 Quando: Todos os dias. No Itaim, das 12h à meia-noite. No Market Place, das 11h às 22h

Quanto: De R$ 8,00 a R$ 12,00

Bacio di Latte — Aberta em janeiro de 2011, em pouco tempo a Bacio di

Latte ganhou lugar de destaque entre as sorveterias italianas de São Paulo. A técnica

de produção foi aprendida em Milão e os ingredientes vêm da Itália, como os limões da Sicília e as avelãs vindas do Piemonte.

Todo o maquinário é made in Italy.

Oferecendo sabores como stracciatella, nutellina e pistache de Bronte, a sorveteria

não fica devendo nada às tradicionais gelaterias italianas.

onde: Rua Oscar Freire, 136, Cerqueira César

Quando: De domingo a quarta, das 12h às 22h, e de quinta a sábado, das 12h às 23h

Quanto: R$ 8,00

Stuzzi — A Stuzzi nasceu em 1922, na província italiana de Sappada, na região do Vêneto. Ali, Vittorio Scabin produziu sorvetes artesanais até que a Segunda Guerra Mundial o obrigou a deixar o país com a família. Vittorio escolheu

viver no Brasil, mas as dificuldades da

nova vida o fizeram abandonar a venda

de sorvetes. Décadas mais tarde, a Stuzzi

ressurgiu pelas mãos de seus netos, que

mantiveram as receitas do nonno. Hoje, a sorveteria possui

mais de 100 receitas e semanalmente

são oferecidos 16 sabores, com muitos ingredientes vindos da Itália. Entre os

tradicionais, chamados premium, estão pistache, tiramisú e zabaione com

amarena. Já os sorvetes gourmet trazem sabores como crostata di mascarpone ao limone, com queijo mascarpone e limões

sicilianos, e prosecco com pêssegos.

onde: Rua Paulistânia, 450, Vila Madalena; e shopping Anália Franco, Av. Regente Feijó, 1739Quando: Na Vila Madalena, de segunda a sábado, das 9h às 20h, e aos domingos,

das 12h às 20h. No Anália Franco, das 10h às 22h, de segunda a sábado, e das

14h às 20h aos domingos. Quanto: De R$ 8,00 a R$ 10,50

Sottozero — A receita dos sorvetes da Sottozero foi trazida da Itália em 1995, ano em que dois imigrantes italianos

abriram a primeira loja da marca, na rua Augusta. No início, todos os ingredientes

eram importados da Itália, inclusive copinhos e pazinhas. Hoje, a sorveteria

utiliza diversos produtos brasileiros, mas a base dos sorvetes e o modo de preparo continuam seguindo a tradição italiana. A novidade deste verão são os picolés de paçoca e Romeu e Julieta, e o sorvete de café crocante. Os sabores mais vendidos são os tradicionais de creme, chocolate e pistache.

onde: Av. Sumaré, 840, em Perdizes; e shopping Ibirapuera, na av. Ibirapuera, 3103Quando: Todos os dias. Em Perdizes, das 11h às 23h, e no Ibirapuera, das 11h às 22h

Quanto: De R$ 8,00 a R$ 10,00

SErviço

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Meios de transpor-te eficazes para o desenvolvimento sus-tentável das grandes

cidades estiveram entre os principais temas debatidos durante o V Semi-nário de Tecnologias Estratégicas Brasil e Itália, promovido pela Em-baixada italiana, em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Paraná. O evento, realizado na Uni-versidade Federal do Paraná (UFPR), contou com palestras e mesas-re-dondas sobre assuntos como energia elétrica e reciclagem de resíduos. O objetivo foi criar um fórum para a inserção de empresas e elaboração de acordos de cooperação tecnológica e financeira para o estabelecimento de parcerias internacionais.

Entre os palestrantes, estavam o secretário municipal de planeja-mento Carlos Homero, que falou sobre Passado, Presente e Futuro das Cidades, e o reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, que ressaltou o fa-to da Universidade sediar o evento, lembrando que os pesquisadores e professores da instituição colabo-raram de forma substancial para incrementar o leque de ideias apre-sentadas. O embaixador da Itália no Brasil, Gherardo La Francesca, citou os motivos que levaram o Pa-raná a ser escolhido como centro de discussão de parcerias tecnológicas entre os dois países.

— O Paraná é um estado com uma tradição italiana intensa e antiga. Há muitas cidades com

vínculos italianos. Por isso, a ideia de realizar esse evento aqui.

A reciclagem de resíduos só-lidos e de águas residuais foram assuntos em pauta no segundo dia do seminário. A professora Maria Cristina Borba Braga, da UFPR, co-mentou sobre o programa Câmbio Verde, da Secretaria municipal de Meio Ambiente, que beneficia 91 comunidades carentes de Curitiba, através da troca de quatro quilos de resíduos recicláveis por um quilo de produtos hortifrutigranjeiros. Em seguida, aconteceu o debate sobre a reutilização da água das casas ou re-sultantes do processo industrial, com a presença dos empresários italianos Matteo Frizzoni, Bibiana Ferrari, Al-fredo Cavozza e Paulo Bucker.

Uma das personalidades mais esperadas para o último dia do even-to, que aconteceu em novembro, foi o urbanista e ex-governador do Pa-raná Jaime Lerner. Ele apresentou soluções para o transporte urbano e apontou os três problemas essenciais das cidades do futuro: mobilidade, sustentabilidade e sociodiversida-de. Através de dados estatísticos, Lerner, que é arquiteto, explicou que os transportes de superfície são

muito mais eficazes nas grandes ci-dades, auxiliando no deslocamento das pessoas no trajeto entre casa e trabalho. Ele toma como exemplo a experiência de Curitiba.

— Em Curitiba, nossos ônibus transportam dois milhões e meio de pessoas por dia. Em Londres, uma cidade muito maior, o metrô transporta três milhões ao dia. Isso demonstra que nosso sistema tem mais capacidade de evoluir — disse Lerner, que critica os planos de im-plantação do metrô na cidade. Na visão dele será caro e ineficaz.

O ex-governador lembrou que cerca de 120 regiões do mundo, in-cluindo a gigante Cidade do México, utilizam o sistema de transporte público curitibano, com base nos ônibus com pista exclusiva, embar-que rápido e alta frequência. Um sucesso do qual ele se orgulha de ter implantado.

A energia do novo século foi o te-ma que fechou a sessão de palestras. O especialista José Mário Moraes e Silva, do Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), salien-tou que o futuro energético estará na energia solar e no aproveitamento do lixo para a geração de eletricidade. Entretanto, para desenvolver esses tipos de energia, são necessárias solu-ções de regulamentação, de mercado e tecnológicas, pondera. O diretor ge-ral da Itaipu Binacional, Jorge Samek, lembrou que o Brasil está em uma po-sição favorável, já que quase 50% da matriz elétrica brasileira é renovável, com base em hidráulica e biomassa. Além disso, cerca de 98% da rede de energia é integrada, o que favorece a distribuição a todos os estados do pa-ís. Após três dias de intercâmbio de ideias, o seminário foi encerrado com rodada de negócios.

Tecnologias para uma vida melhorUniversidade Federal do Paraná recebe estudiosos em urbanismo e energia para discutir sobre o futuro das cidades

MEio aMbiEntE

O reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho,

esteve no debate entre especialistas

brasileiros e italianos sobre questões

urbanísticas, como os meios de

transporte

Para o ex-governador

Jaime Lerner, a

implantação de um

metrô em Curitiba seria um projeto caro e

ineficaz

Nathielle Hó

26 janeiro 2012 | comunitàitaliana

Page 27: Revista Comunità Italiana Edição 162

Patchwork é uma palavra inglesa que quer dizer retalhos. Trata-se de um trabalho artesanal que a

estilista Rejane Cadore aprendeu com a sua avó italiana, que fazia patchwork tridimensional geomé-trico, encaixando os tecidos.

— A cultura em casa era italia-na e também a comida: comíamos massa e muita polenta, porque somos do Vêneto. Quando tinha nove anos, o meu pai me disse que eu tinha de aprender um trabalho manual — conta.

Daquele dia em diante, Rejane nunca mais parou. E desenvolveu uma técnica própria. O patchwork lhe permitiu fazer novas criações, com vestidos inspirados nas cores da região do Cerrado e nas formas geométricas de Brasília.

Gaúcha da cidade de Uruguaia-na, mora na capital federal há vários anos. A sua paixão pela moda co-meçou em 2005, quando venceu o concurso Capital Fashion Week, em Brasília, levando às passarelas um trabalho de patchwork e artesanato.

— De trezentas e poucas pes-soas, fomos dez selecionados. Comecei a moda em patchwork nes-sa época, mas já uso essa técnica há quase 20 anos — conta.

O ano de sua revelação foi 2005, quando foi selecionada como novo talento para a primeira edição do Capital Fashion Week.

— Fiz um desfile conceitual, ins-pirado nas flores e nos animais do Cerrado. Usei cores mais escuras: amarelo, verde, marrom. E também fiz vestidos inspirados nos monu-mentos de Brasília, como a Catedral.

Um dos modelos, o vestido ca-tedral, ainda é utilizado como um ícone para a propaganda do evento.

No ano seguinte, Rejane Cadore fez uma coleção inspirada nos sím-bolos indígenas, como o triângulo — que representa o jacaré. Entre outros trabalhos, fez uma coleção dedicada aos animais típicos do Brasil, como a arara e o tucano e, no ano passado, fez uma linha especial para a Copa do Mundo. Ela também participou de um projeto da uni-versidade do Instituto de Educação Superior de Brasília, onde criou um vestido todo feito em jornais: uma verdadeira peça sustentável.

— Recortei livros e revistas, fiz tiras dobráveis e as fixei em um corpo, também em papel — deta-lha Rejane.

Sardenha, a outra paixãoAlém da moda, a estilista tem outra paixão muito forte, ligada ao Bel-paese. Rejane vai à Itália a cada três meses em busca de inspiração. Ela fez uma coleção chamada quattro mo-ri, dedicada ao símbolo da Sardenha.

— Quando eu tinha 17 anos, me disseram que minha última encar-nação foi em 917 e que eu era uma costureira e estilista que vivia na ilha da Sardenha. Eu não sabia onde era a Sardenha. Em 2005, depois do Ca-pital Fashion Week, fui à Itália para estudar fashion designer no Instituto Marangoni, em Milão. Acabei co-nhecendo a ilha e me apaixonei pela terra. Criei coleções em homenagem à região, as quais, todos os anos, ven-do na Itália, e fazem o maior sucesso — revela a ítalo-brasileira.

Esse amor pela região levou Re-jane a tatuar o símbolo dos quattro mori no ombro direito.

— A Sardenha é mística e o meu sonho é viver lá, continuando a de-senvolver as minhas criações. Aquele mar, aquele céu... inspiram vestidos diferentes. Aqui em Brasília, onde moro há dez anos, me inspiro muito na natureza e nas curvas dos monu-mentos brasilienses.

Entre os próximos projetos, está a retomada dos estudos de modela-gem tridimensional e levar para a alta moda o seu patchwork.

— Essa técnica é milenar: de-senvolve coisas diferentes com a criatividade. É uma técnica ame-ricana que no Brasil está sendo difundida através da reciclagem de tecidos. Com pedaços de tecidos, po-de-se fazer um vestido bonito com um design único. É uma moda sus-tentável, pois consegue-se trabalhar patchwork com plástico e papel, res-peitando o meio ambiente — avalia.

A estilista também se preocupa com o trabalho das mulheres que têm filhos.

— As minhas colaboradoras aqui no Brasil não precisam sair de casa para trabalhar. Elas são autô-nomas. Assim, dou oportunidade para as costureiras ficarem em casa e cuidarem dos filhos.

Moda sustentávelA ítalo-brasileira Rejane Cadore explica à Comunità como a técnica milenar do patchwork pode criar uma moda que respeita o meio ambiente através da criação de vestidos de papel ou de plástico inspirados no Cerrado brasileiro ou na Sardenha

Moda

Stefania PelusiDe Brasília

“Com pedaços de tecidos, você pode fazer um vestido bonito com um design único. É uma moda sustentável, pois podemos trabalhar patchwork com plástico e papel, respeitando o meio ambiente”Rejane Cadore, estilista ítalo-brasileira

O vestido catedral, inspirado em um monumento de Brasília, é utilizado na propaganda do Capital Fashion Week

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Page 28: Revista Comunità Italiana Edição 162

a fome

umítalo-brasile iropara derrotar

Un italo-brasiliano per sconfiggere la fameResponsável pelo programa Fome

Zero, José Graziano acaba de assumir a diretoria geral da FAO, entidade da

ONU sediada em Roma, e dá maior liderança internacional ao Brasil

Responsabile del programma Fame Zero, José Graziano ha appena assunto la direzione della FAO, ente dell’ONU con sede a Roma e dà una maggior leadership internazionale al Brasile

Gina MarquesDe Roma

Capa atualidadE

O brasileiro José Graziano da Silva retorna ao país dos seus antepassados com uma importante missão mundial: erradicar a fome e eliminar a desnutrição da face da

Terra. Para isso, o novo diretor geral da FAO elaborou um programa de prioridades e, entre as metas, pro-põe uma “revolução verde”.

— Com um mandato de apenas três anos e meio não há tempo a perder — ressaltou Graziano, duran-te a primeira entrevista coletiva após assumir o cargo de diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, sediada em Roma, no início de janeiro. Ele anunciou que a FAO come-çará a dar mais apoio aos países com baixa renda e déficit alimentar, especialmente aqueles que sofre-ram crises prolongadas.

Graziano enfrentará desafios. Durante o manda-to, que vai até julho de 2015, ele vai precisar agilizar a

I l brasiliano José Graziano da Silva ritorna nella patria dei suoi avi con un’importan-te missione mondiale: sradicare la fame ed eliminare la denutrizione dalla faccia della

terra. Per farlo il nuovo direttore generale della FAO ha messo a punto un programma di priorità e, tra le mete, propone una “rivoluzione verde”.

— Con un mandato di soli tre anni non c’è tempo da perdere — ha sottolineato Graziano durante la pri-ma conferenza stampa dopo aver assunto l’incarico di direttore generale dell’Organizzazione delle Nazioni Unite per l’Agricoltura e l’Alimentazione (FAO), che ha sede a Roma, agli inizi di gennaio. Graziano ha an-nunciato che la FAO aumenterà gli appoggi ai paesi di basso reddito e deficit alimentare, specialmente quel-li che hanno subito crisi prolongate.

Graziano affronterà delle sfide. Durante il man-dato, che durerà fino al luglio 2015, dovrà rendere

janeiro 2012 | comunitàitaliana28

Page 29: Revista Comunità Italiana Edição 162

ítalo-brasile iro

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Page 30: Revista Comunità Italiana Edição 162

Capa atualidadE

imensa estrutura da entidade, que muitos comparam a um paquiderme acorrentado. A metáfora se refere ao elefante como um animal robusto e trabalhador, cujos movimentos são limitados pela burocracia. Nos últimos 18 anos, a FAO teve um único diretor geral, o senegalês Jacques Diouf. Alvo de críticas que apon-tam sua gestão como responsável pela lentidão do organismo, ele cumpriu três mandatos consecutivos.

— Acabar com a fome requer o compromisso de todos: nem a FAO e nenhum outro organismo poderão vencer sozinhos esta guerra — disse Graziano, acres-centando que seu desejo é trabalhar de forma mais transparente e democrática com os países membros, os organismos das Nações Unidas, o setor privado, a sociedade civil e as demais partes envolvidas.

Segundo ele, a erradicação da fome é a primeira das cinco prioridades estratégicas que a FAO preten-de alcançar. As outras são: incentivar sistemas mais sustentáveis de produção e consumo de alimentos; al-cançar uma maior igualdade na gestão dos alimentos em nível mundial; completar a reforma e a descen-tralização da FAO; e ampliar a cooperação sul-sul e outros tipos de aliança.

Recuperar a confiançaSobre os problemas dentro da entidade, o novo dire-tor admitiu a necessidade de se recuperar a confiança na organização.

— Temos que recuperar a confiança entre a Secreta-ria e os Estados membros para continuar seguindo em frente. A minha intenção é realizar os objetivos promo-vendo uma relação transparente e construtiva entre os países membros e os órgãos de governo da FAO.

O ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome durante o primeiro governo Lula ainda destacou que se empenhará para que a FAO seja mais eficaz e receptiva através da redução dos custos administrativos e um aumento da eficiência.

Ele deixou claro que tais medidas não vão afetar o trabalho técnico da FAO e que tratará de utilizar o orçamento para reforçar a ajuda direta da entidade aos países.

— Estou convencido de que a FAO pode dar uma contribuição importante e cada vez maior para a segurança alimentar e a produção e o consumo sus-tentável de alimentos no mundo — disse.

Uma nova revolução verdeGraziano pretende aplicar o modelo de uma revo-lução mais verde na agricultura, com o objetivo de incrementar a produção de alimentos sem efeitos co-laterais ou danos ambientais, e a escassez das reservas naturais causadas pelos sistemas agrícolas atuais.

— É o que chamamos de Save and Grow, ou se-ja, produzir mais com menos. Este novo modelo de produção preserva e reforça as reservas naturais, graças a uma série de práticas agronômicas que per-mitem uma melhor gestão do solo, limitando os efeitos negativos na sua composição e contribuindo para reduzir o consumo de água e os custos energéti-cos — explicou, acrescentando que o rendimento dos agricultores que seguiram em via experimental a téc-nica, aplicada em 57 países de baixa renda, aumenta em cerca de 80%.

A “revolução verde” será gradual.— Nos próximos 15 anos, encorajaremos e aju-

daremos os países em desenvolvimento a adotá-la — disse Graziano.

O que é a FAO: A sigla vem do inglês

(Food and Agriculture Organization).

Dentro da galáxia das Nações Unidas,

é a Organização para Agricultura e Alimentação. Foi

fundada em 1945. Desde 1951, a sede, em Roma, coordena

os diversos escritórios regionais espalhados

pelo mundo.

Áreas de atuação: no campo da agricultura e alimentação, abrange

pecuária, pesca, florestas, reservas

hídricas, biodiversidade e desenvolvimento

sustentável. Também se ocupa de doenças, pragas e mudanças

climáticas.

Países membros: 191 nações, mais a União

Europeia.

Empregados e consultores: 1.736

empregados e 1.905 consultores.

Aproximadamente, dois terços trabalham na sede

em Roma, enquanto o restante fica em

escritórios pelo mundo.

Orçamento bienal: Para 2012-2013, teve um incremento de 1,4 %, chegando a US$ 1 bilhão. A FAO recebe

também contribuições voluntárias de membros

e parceiros para que neste biênio alcance

cerca de US$ 1,4 bilhão.

As agências ONU em Roma: Além da FAO, outras duas agências das Nações Unidas com sede na capital

italiana trabalham para combater a pobreza. O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) atua

junto aos países com projetos fornecendo

microcrédito a população rural. O

Programa Alimentar Mundial (PAM) é

responsável pela ajuda alimentar. Esta é a maior organização humanitária

do mundo e assiste em média 90 milhões de pessoas carentes por ano em mais de 80 países, vítimas de desastres naturais e conflitos armados.

più agile l’immensa struttura dell’ente, che molti pa-ragonano ad un elefante incatenato. La metafora si riferisce all’elefante come un animale robusto e lavo-ratore, i cui movimenti sono limitati dalla burocrazia. Negli ultimi 18 anni la FAO ha avuto un unico diret-tore generale, il senegalese Jacques Diouf. Bersaglio di critiche che indicano la sua come la gestione re-sponsabile della lentezza dell’organo, si è mantenuto per tre mandati di seguito.

— Eliminare la fame richiede l’impegno di tutti: né la FAO né nessun altro organo potrà vincere da solo questa guerra — ha detto Graziano e ha aggiun-to che vorrebbe lavorare in modo più trasparente e democratico con i paesi membri, gli organi delle Na-zioni Unite, il settore privato, la società civile e le altre parti coinvolte.

Secondo lui sradicare la fame è la prima delle cinque mete strategiche della FAO. Le altre sono: incentivare sistemi più sostenibili di produzione e consumo di alimenti; raggiungere una maggior pa-rità nella gestione degli alimenti a livello mondiale;

janeiro 2012 | comunitàitaliana30

Page 31: Revista Comunità Italiana Edição 162

O que faz o diretor geral da FAO O papel do diretor geral da FAO é, sobretudo, diplo-mático e de liderança imparcial. Uma das principais funções desta organização é fornecer um fórum neu-tro de discussões entre os países para que possam se encontrar com paridade e negociar acordos interna-cionais. Em um momento em que o Brasil pleiteia uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, a eleição de Graziano ao cargo significa prestígio para o país. No entanto, não é o Brasil que estará chefiando esta organização, e sim, Graziano, pois o diretor geral as-sume um compromisso internacional.

Segundo o jornalista Ugo Tramballi, corres-pondente do jornal econômico Il Sole 24 Ore e especializado em agências da ONU, a eleição do bra-sileiro foi a ocasião ideal para o Estado brasileiro demonstrar liderança internacional.

— O Brasil está se transformando em um pa-ís líder, uma potência econômica no mundo e com força política na América Latina. Além disso, tem uma grande superfície agrícola. Nos últimos anos, é considerado exemplo por ter conseguido reduzir os desequilíbrios sociais.

Por trás da vitória de GrazianoJosé Graziano da Silva venceu as eleições para o cargo de diretor geral da FAO pelo próprio mérito. No entan-to, por trás da vitória, ele contou com apoios de peso, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chan-celer Celso Amorim, a presidente Dilma Rousseff, o chanceler Antonio Patriota e, no “meio-campo”, Anto-nino Marques Porto, embaixador do Brasil junto à FAO.

O encerramento oficial da apresentação dos candi-datos dos respectivos países ocorreu em 31 de janeiro de 2011, mas o movimento para a campanha começou antes. De fato, o ex-presidente Lula, em novembro de 2010, apresentou a candidatura de Graziano durante uma reunião do conselho da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), em Georgetown, na Guiana.

— Entramos para ganhar. Houve um esforço concentrado da política exterior do Brasil, graças ao trabalho do chanceler Patriota e, antes dele, do Amo-rim. Muito foi feito em Roma, onde tive encontros com 80 representantes permanentes. Conversei com eles olhando nos olhos para entender as necessidades e po-sição de cada um para poder caminhar juntos. O Brasil é um país aglutinador, gerador de consenso — explicou o embaixador Antonino Marques Porto à Comunità.

O brasileiro foi eleito em 26 de junho de 2011. Havia seis candidatos ao cargo de diretor geral da FAO: Franz Fischler, da Áustria; Indroyono Soesilo, da Indonésia; Mohammad Saeid Noori Naeini, do Irã; e Latif Rashid, do Iraque. A disputa mais acirrada foi entre o brasileiro e Miguel Ángel Moratinos, ex-mi-nistro de Assuntos Exteriores da Espanha.

A vitória foi no segundo turno. De 180 votos pos-síveis, Graziano obteve a preferência de 92 nações, incluindo os países do G77, conhecido como grupo dos “não-alinhados”, que reúne hoje 131 nações, muitas das quais do continente africano. Moratinos obteve 88 votos.

Uma vida dedicada ao combate à pobrezaO professor e engenheiro agrônomo José Graziano da Silva, de 62 anos, conta com experiência na FAO e nos projetos de combate à pobreza. Além de ter sido, de 2003 a 2004, ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome do governo Lula, foi o

Cos’è la FAO: La sigla viene dall’inglese

(Food and Agriculture Organization).

All’interno della galassia delle Nazioni

Unite è l’Organizzazione per l’Agricoltura e

l’Alimentazione. È stata fondata nel 1945. Dal 1951 la sede a Roma coordina i vari uffici regionali sparsi nel

mondo.

Aree di attuazione: nel campo dell’agricoltura

e alimentazione si occupa di allevamenti di bestiame, pesca,

foreste, riserve idrauliche, biodiversità e sviluppo sostenibile.

Inoltre si occupa di malattie, pestilenze e

cambiamenti climatici.

Paesi membri: 191 nazioni, oltre all’Unione

Europea.

Impiegati e consulenti: 1.736 impiegati e

1.905 consulenti. Due terzi circa lavora nella sede di Roma, mentre il resto rimane in uffici

per il mondo.

Preventivo biennale: Per il [biennio] 2012-

2013, c’è stato un aumento dell’1,4

%, arrivando a US$ 1 miliardo. La FAO

riceve anche contributi volontari di membri e partner affinché in questo biennio venga raggiunta la cifra di

circa US$ 1,4 miliardo.

Le agenzie ONU a Roma: oltre alla FAO,

altre due agenzie delle Nazioni Unite con

sede nella capitale italiana lavorano per

combattere la povertà. Il Fondo Internazionale

di Sviluppo Agricolo (FIDA) lavora insieme ai paesi con progetti

fornendo microcredito agli abitanti rurali. Il

Programma Alimentare Mondiale (PAM) è responsabile degli

aiuti alimentari. Questa è la maggior

organizzazione umanitaria del

mondo e in media dà assistenza a 90 milioni di persone

carenti all’anno in più di 80 paesi, vittime di disastri naturali e

conflitti armati.

completare la riforma e decentralizzazione della FAO; e ampliare la cooperazioen sud-sud e altri tipi di alleanze.

Recuperare la fiduciaPer quanto riguarda i problemi interni dell’ente, il nuovo direttore ha ammesso il bisogno di recuperare la fiducia nell’organizzazione.

— Dobbiamo recuperare la fiducia tra la segrete-ria e gli stati membri per continuare andando avanti. Mi propongo di realizzare le mete promuovendo un rapporto trasparente e costruttivo tra i paesi membri e gli organi di governo della FAO.

Il ministro straordinario di Sicurezza Alimentare e Lotta alla Fame durante il primo governo Lula ha inoltre messo in risalto che si impegnerà affinché la FAO sia più efficace e ricettiva grazie alla riduzione dei costi amministrativi e ad un aumento dell’effi-cienza.

Graziano ha lasciato chiaro che tali misure non attingeranno il lavoro tecnico della FAO e che si im-pegnerà ad usare il preventivo per rafforzare gli aiuti diretti dall’ente alle nazioni.

— Sono convinto del fatto che la FAO può dare un importante, e sempre maggior contributo alla sicurezza alimentare, alla produzione e al consumo sostenibile di alimenti nel mondo — ha detto.

Una nuova rivoluzione verdeGraziano pensa di applicare il modello di una rivo-luzione più verde nell’agricoltura per aumentare la produzione di alimenti senza causare effetti collate-rali o danni ambientali e nemmeno scarsità di riserve naturali causate dai sistemi agricoli attuali.

— E’ ciò che chiamiamo Save and Grow, ossia produrre di più con meno. Questo nuovo modello di produzione preserva e rafforza le riserve naturali grazie ad una serie di pratiche agronomiche che per-mettono una miglior gestione del suolo, limitando gli effetti negativi nella sua composizione e contribuen-do a ridurre il consumo dell’acqua e i costi energetici — ha spiegato, aggiungendo che il reddito degli agri-coltori che hanno seguito, in modo sperimentale, la tecnica applicata in 57 paesi di basso reddito, aumen-ta dell’80% circa.

La “rivoluzione verde” sarà graduale.— Nei prossimi 15 anni incoraggeremo e aiutere-

mo i paesi in via di sviluppo ad adottarla — ha detto Graziano.

Cosa fa il direttore generale della FAO Il ruolo del direttore generale della FAO è soprat-tutto diplomatico e di leader imparziale. Uno degli incarichi più importanti di questa organizzazione è quello di offrire un forum neutro di discussioni tra i paesi affinché possano incontrarsi in parità e nego-ziare accordi internazionali. In un momento in cui il Brasile si candida ad un posto nel Consiglio di Sicu-rezza dell’ONU, l’elezione di Graziano per l’incarico significa prestigio al paese. Ma non sarà il Brasile a guidare questa organizzazione, e sí Graziano, dato che il direttore generale si assume in impegno inter-nazionale.

Secondo il giornalista Ugo Tramballi, corrispon-dente del giornale di economia Il Sole 24 Ore e specialista in agenzie dell’ONU, l’elezione del brasilia-no è stata l’occasione ideale perché lo stato brasiliano dimostrasse la sua leadership internazionale.

comunitàitaliana | janeiro 2012 31

Page 32: Revista Comunità Italiana Edição 162

Capa atualidadE

responsável por implementar o Programa Fome Zero, depois transformado no Bolsa Família. Esta iniciativa ajudou 28 milhões de pessoas a saírem da pobreza.

Em 2006, foi nomeado representante regional da FAO para a América Latina e Caribe, e conseguiu que os países latinos fossem os primeiros no mun-do a assumir o compromisso de erradicar a fome até 2025. Ele aplica um principio básico: para combater a pobreza é preciso fortalecer as instituições no setor de políticas públicas voltadas para alcançar um de-senvolvimento integral e inclusivo no campo. Além disso, o brasileiro promove a cooperação sul-sul, ou seja, entre os países do hemisfério sul.

A origem italiana de Graziano— Somos de Catanzaro, somos todos calabreses, fa-lo, como e gesticulo como um italiano — comentou Graziano, durante a entrevista coletiva na FAO em Roma, no dia seguinte à eleição. Além de explicar as suas origens, ele contou que, quando foi renovar o passaporte italiano, o Consulado da Itália acabou cor-tando o sobrenome Graziano, deixando só o da Silva.

— Estou tentando recuperar a minha identidade — comentou, sorrindo.

Movimentar uma estrutura complexa que envol-ve 191 países e seus respectivos governos, diversas culturas e milhares de empregados não é tarefa fácil. A finalidade da FAO é proporcionar conhecimento, através de estudos e análises, fornecer assistência técnica e realizar projetos juntamente com os países membros, de acordo as solicitações e um programa detalhado. O vasto campo de ação na agricultura e alimentação abrange pecuária, pesca, florestas, re-servas hídricas, biodiversidade e desenvolvimento sustentável, além de tratar de problemas como doen-ças, pragas e mudanças climáticas.

A principal luta da FAO é contra a fome no mundo. Depois de vários apelos de Diouf, em vão, em setem-bro de 2010 foi apresentado um progresso mínimo. A subnutrição no mundo diminuiu pela primeira

— Il Brasile si sta trasformando in un paese le-ader, in una potenza economica nel mondo e con forza politica in Sudamerica. Inoltre vanta su di una grande superficie agricola. Negli ultimi anni viene considerato un esempio, perché è riuscito a ridurre le disuguaglianze sociali.

Alle spalle della vittoria di GrazianoJosé Graziano da Silva ha vinto le elezioni per l’inca-rico di direttore generale della FAO grazie ai propri meriti. Ma alle spalle di questa vittoria ci sono anche stati appoggi di peso, come quello dell’ex presidente

Luiz Inácio Lula da Silva, del cancelliere Cel-so Amorim, della presidente Dilma Rousseff, del cancelliere Antonio Patriota e, a “mezzo campo”, Antonino Marques Porto, ambasciatore del Brasile presso la FAO.

La chiusura ufficiale della presentazione dei candi-dati dei rispettivi paesi è stata il 31 gennaio 2011, ma il movimento per la campagna è cominciato prima. Infatti l’ex presidente Lula ha presentato la candida-tura di Graziano durante una riunione del Consiglio dell’Unione delle Nazioni Sud Americane (Unasul) a Georgetown, nella Guiana, nel novembre 2010.

— Siamo entrati per vincere. Ci sono stati sfor-zi concentrati della politica estera del Brasile grazie all’impegno del cancelliere Patriota e, prima di lui, di quello di Amorim. Gran parte [degli sforzi] è stata fatta a Roma, dove ci sono stati incontri con 80 rap-presentanti permanenti. Ho parlato con loro faccia a faccia per capire i bisogni e la posizione di ognuno per poter camminare insieme. Il Brasile è un paese che fa gruppo, che dà origine a consensi — ha spiegato l’am-basciatore Antonino Marques Porto à Comunità.

Il brasiliano è stato eletto il 26 giugno 2011. I candidati all’incarico di direttore generale della FAO erano sei: Franz Fischler dall’Austria; Indroyono So-esilo dall’Indonesia; Mohammad Saeid Noori Naeini dall’Iran; e Latif Rashid dall’Irak. La battaglia più dif-ficile è stata quella tra il brasiliano e Miguel Ángel Moratinos, ex ministro degli Affari Esteri spagnolo.

La vittoria è arrivata nel secondo turno. Dei 180 voti possibili Graziano ha ottenuto la preferenza di 92 nazioni, inclusi i paesi del G77, conosciuto come gruppo dei “non allineati”, che oggigiorno riunisce 131 nazioni, molte delle quali del continente africa-no. Moratinos ha ottenuto 88 voti.

Una vita dedicata alla lotta contro la povertàIl professore e ingegnere agronomo José Graziano da Silva, 62enne, vanta una grande esperienza presso la FAO e altri grandi progetti di lotta alla povertà. Oltre ad essere stato ministro straordinario di Sicurezza Alimentare e Lotta alla Fame del governo Lula, è sta-to responsabile per impiantare il Programma Fame Zero, trasformato poi in Borsa Famiglia. Questa ini-ziativa ha aiutato 28 milioni di persone ad emergere dalla soglia della povertà.

Nel 2006 è stato nominato rappresentante re-gionale della FAO per l’America Latina e Caraibi ed è riuscito a far sí che i paesi latini fossero i primi al mon-do a prendersi l’impegno di sradicare la fame entro il 2025. Graziano usa un principio basico: per combat-tere la poverta bisogna rafforzare le istituzioni nel settore delle politiche statali rivolte al raggiungimen-to di uno sviluppo integrale ed inclusivo nei campi. Inoltre il brasiliano promuove la cooperazione sud-sud, ossia tra i Paesi dell’emisfero sud.

“Acabar com a fome requer o compromisso de todos: nem a FAO e

nenhum outro organismo poderão vencer sozinhos esta guerra”

José Graziano, diretor geral da FAO

“Eliminare la fame richiede l’impegno di

tutti: né la FAO né nessun altro

organo potrà vincere da solo questa guerra”

José Graziano, direttore generale

della FAO

janeiro 2012 | comunitàitaliana32

Page 33: Revista Comunità Italiana Edição 162

vez em 15 anos. O relatório indica que o número de pessoas subnutridas caiu de 1,023 bilhão para 925 milhões. Porém, as metas do milênio — estabelecidas pela ONU no final do século passado, que era reduzir pela metade o número de vitimas da fome no mundo até 2015, ou seja, não superando 400 milhões de pes-soas — ainda estão longe de serem alcançadas.

— A tarefa de reduzir pela metade o número de indigentes no mundo não é só da FAO, mas trata-se de competência dos países membros. No entanto, o diretor geral deve dar a idéia de que é possível vencer a batalha. Ele deve ser como um treinador de fute-bol, com capacidade de ir ao encontro dos jogadores, dar convicção e energia para alcançar os objetivos. Graziano tem todas estas qualidades — comentou o embaixador Antonino Marques Porto.

O longo período de comando de Diouf acabou por prejudicar a agilidade da estrutura.

— Um organismo da ONU fundamental como é a FAO não pode ter um único diretor geral por 18 anos, porque é quase como um ditador. A entidade precisa de ar fresco e gente com experiência, como é Grazia-no — comentou Ugo Tramballi.

As regras mudaram após a longa experiência com Jacques Diouf: a duração do encargo foi reduzida de seis para quatro anos. Permitem-se, no máximo, dois mandatos consecutivos. Portanto, o brasileiro vai chefiar a organização no período de 1° de janeiro de 2012 até 31 de julho de 2015.

As várias críticas que o último diretor recebeu cha-coalharam a estrutura. Acusada de ser vagarosa e de

desperdiçar dinheiro, a FAO passou por uma reforma em 2008, quando foi aprovada a resolução para o Plano Imediato de Ação. A ideia é diminuir a burocracia, racio-nalizar as despesas e tentar dar mais autonomia para as sedes regionais espalhadas pelo mundo. A descentrali-zação é apontada como uma das alternativas para que Graziano consiga desacorrentar o paquiderme.

L’origine italiana di Graziano— Siamo di Catanzaro, siamo tutti calabresi, parlo, mangio e gesticolo come un italiano — ha commen-tato Graziano durante la conferenza stampa rilasciata alla FAO a Roma il giorno dopo le elezioni. Oltre a spiegare le proprie origini Graziano ha raccontato che quando è andato a rinnovare il passaporto italiano il Consolato d’Italia ha eliminato il cognome Graziano, lasciando solo il da Silva.

— Sto cercando di recuperare la mia identità — ha commentato sorridendo.

Far muovere una complessa struttura che coinvolge 191 paesi e i loro rispettivi governi, varie culture e migliaia di impiegati non è un com-pito facile. Lo scopo della FAO è quello di offrire conoscenza per mezzo di studi e analisi, di fornire assistenza tecnica e di realizzare progetti insieme ai paesi membri, in accordo alle richieste e ad un programma dettagliato. Il vasto campo di azione in agricoltura e alimentazione include allevamenti di bestiame, pesca, foreste, riserve idrauliche, bio-diversità e sviluppo sostenibile, oltre ad occuparsi di problemi come quello delle malattie, pestilenze e cambiamenti climatici.

La principale lotta della FAO è contro la fame nel mondo. Dopo vari ed inutili appelli di Diouf, nel settembre 2010 è stato presentato un minimo pro-gresso. La denutrizione nel mondo è diminuita per la prima volta in 15 anni. La relazione indica che il numero di denutriti è caduto da 1,023 miliardo a 925 milioni di persone. Ma le mete del millennio – stabilite dalla ONU alla fine del secolo scorso, che prevedevano di ridurre a metà il numero di vitti-me della fame nel mondo entro il 2015, ossia, non superando i 400 milioni di persone – sono ancora molto lontane.

— Il compito di ridurre a metà il numero di in-digenti nel mondo non è solo della FAO, ma si tratta di competenza dei paesi membri. Però il direttore generale deve trasmettere l’idea di che sia possibile vincere la battaglia. Dev’essere come un allenatore di calcio, capace di andare incontro ai calciatori, dar-gli sicurezza ed energia per raggiungere gli obiettivi. Graziano ha tutte queste qualità — ha commentato l’ambasciatore Antonino Marques Porto.

Il lungo periodo di comando di Diouf ha finito col danneggiare l’agilità della struttura.

— Un organo dell’ONU fondamentale com’è la FAO non può avere un unico direttore generale per 18 anni perché è quasi come un dittatore. L’ente ha bisogno di aria fresca e gente con esperienza, com’è Graziano — ha commentato Ugo Tramballi.

Le regole sono cambiate dopo la lunga esperienza con Jaques Diouf: la durata dell’incarico è stata ri-dotta da sei a quattro anni. E vengono permessi due mandati consecutivi al massimo. Quindi il brasilia-no guiderà l’organizzazione nel periodo che va dal 1º gennaio 2012 al 31 luglio 2015.

Le varie critiche ricevute dall’ultimo direttore hanno scosso la struttura. Accusata di essere lenta e di sprecare soldi, la FAO ha subíto una ristrutturazio-ne nel 2008 quando è stata approvata la risoluzione per il Piano Immediato di Azione. L’idea era quella di diminuire la burocrazia, razionalizzare le spese e cer-care di dare più autonomia alle sedi regionali sparse nel mondo. La decentralizzazione viene indicata co-me una delle alternative affinché Graziano riesca a slegare il pachiderma.

“O Brasil está se transformando em um país líder, uma potência

econômica no mundo e com força política na América Latina”

Ugo Tramballi, jornalista italiano

“Il Brasile si sta trasformando in un paese leader, in una potenza economica nel

mondo e con forza politica in

Sudamerica”Ugo Tramballi,

giornalista italiano

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Page 34: Revista Comunità Italiana Edição 162

Sobrinho-neto do conde Francesco Matarazzo, ita-liano que se mudou para o Brasil no fim do século

XIX, Andrea Matarazzo faz parte de uma das mais tradicionais famí-lias de imigrantes italianos em São Paulo. Atual secretário da Cultura do estado de São Paulo, Matarazzo, que é também empresário, come-çou sua carreira na política como assessor especial do Ministério da Educação e Cultura, em 1991.

Em São Paulo, atuou como sub-prefeito da Sé entre 2005 e 2007 e assumiu a Secretaria de Estado da Cultura em 2010. Para este ano, o plano é concorrer ao cargo de prefei-to da capital paulista como candidato do PSDB. As prévias do partido de-vem ser decididas até o fim de janeiro e Matarazzo espera que sua candida-tura seja consolidada.

— Se tudo der certo, depois de tantos anos, teremos um bisneto de italianos representando a maior cidade da América Latina — afirma o político.

Embaixador do Brasil em Roma entre 2001 e 2002, Matarazzo disse estar satisfeito com os resultados obtidos até agora pelo Momen-to Itália-Brasil, série de eventos culturais que tem como objetivo promover as relações culturais e econômicas entre os dois países.

— Em São Paulo, nós vivemos um eterno Momento Itália-Brasil, mas o MIB traz vários eventos es-pecíficos, que relembram que a cidade não é a Itália. São Paulo se parece com a Itália em muitos as-pectos, mas a cultura italiana vai além do que já conhecemos aqui, e é isso o que o MIB está ajudando a mostrar.

Forte presença do MIB em São PauloSegundo o secretário, o calendário do MIB em São Paulo começou a ser planejado seis meses antes de sua abertura oficial, que aconteceu em outubro de 2011. Os preparati-vos foram feitos pela Secretaria de Cultura, em parceria com o Institu-to Italiano de Cultura da cidade.  

— Desde o início, ficou claro que São Paulo deveria hospedar o maior número de eventos do calen-dário. Afinal, é a cidade que possui o maior número de descenden-tes de italianos, com 12 milhões de pessoas. A Secretaria estadu-al de Cultura foi escolhida como a grande locomotiva do Momento Itália-Brasil, por determinação do governador Geraldo Alckmin. Atra-vés da secretaria, muitos eventos serão levados também para cidades do interior do estado — ressalta.

Andrea Matarazzo considera as instituições e associações italia-nas de São Paulo muito presentes e eficazes em seu trabalho de pre-servar e divulgar a cultura italiana na cidade. Ele cita como exemplos o presidente do Instituto Italiano de Cultura, Attilio De Gasperis, que tem feito “um grande trabalho em São Paulo, sempre divulgando e fortalecendo a cultura italiana”, e o Circolo Italiano, “uma instituição muito ativa e que contribui muito”.

Para ele, a cultura italiana con-tinua sendo preservada na cidade, mesmo na vida dos jovens que já fazem parte da terceira ou quarta geração de descendentes.

— A cultura italiana continua muito presente no dia a dia de São Paulo, seja por meio das festas de rua anuais, como a festa de Nossa Senhora Achiropita e San Genna-ro, seja pelos próprios bairros de imigrantes italianos, como Bexiga e Mooca.

Matarazzo lembra que a Itá-lia tem uma grande vantagem em termos culturais, por ser consi-derada referência em áreas muito próximas aos jovens — como a gas-tronomia, o design, a tecnologia e o turismo — fator que “ajuda a manter sua cultura presente no dia a dia”.

— Em São Paulo, inúmeras ações culturais passam pela Itá-lia. Ações ligadas ao cinema, ao teatro, à música, à preservação do patrimônio histórico... Um dos violinistas da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Pau-lo), por exemplo, é italiano, de Roma — cita.

Candidato ao topoO secretário da Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo, agora quer representar os 12 milhões de descendentes de italianos da cidade como prefeito

“São Paulo se parece com a Itália em

muitos aspectos, mas a cultura italiana

vai além do que já conhecemos aqui, e é isso o que o MIB está ajudando a mostrar”

Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura de São Paulo

Vanessa Corrêa da SilvaDe São Paulo

Andrea Matarazzo, secretário da

Cultura de São Paulo, pretende se candidatar a

prefeito da cidade representando os

oriundi

política

janeiro 2012 | comunitàitaliana34

Page 35: Revista Comunità Italiana Edição 162

Mosaicos da GalleriaA obra de restauração durou sete

meses e com o canteiro de obras aberto ao público, o que é uma novi-dade que pôde seguir dia após dia. De agora em diante, os turistas e habi-tantes da cidade, assíduos frequen-tadores da galeria mais chique da Itália, a Galleria Vittorio Emanuele, no centro de Milão, podem admirar os mosaicos que retratam os símbo-los da cidade. Desenhados no chão, após 45 anos do último restauro, eles voltam a “iluminar” o pavimento do local construído em 1865 pelo arqui-teto Giuseppe Mengoni.

La Scala, em cartaz nos cinemasA Orquestra Filarmônica della Scala vai

entrar em cartaz nos cinemas de Mi-lão, além de outras 200 salas espalhadas pela Itália e mais de mil em outros 40 pa-íses. O objetivo é comemorar os 30 anos da orquestra com transmissões ao vivo das apresentações no teatro Alla Scala, junto às telonas dos cinemas com tecnologia adequada para receber os sinais televisi-vos. A meta principal é conquistar novos públicos com a exibição de um espetáculo visto de todos os ângulos possíveis e ima-gináveis, graças a 30 câmeras instaladas no palco. Ao invés de ir ao teatro, o especta-dor compra o bilhete no cinema e assiste ao espetáculo com todo o conforto, pipoca e refrigerante, e com a vantagem de, no in-tervalo, assistir a entrevistas com os mú-sicos e o maestro. O primeiro espetáculo acontece no dia 26 de janeiro. O programa pode ser visto no site www.filarmonica.it

A arte de receber bemA embaixatriz Solange Greco da Fon-

seca, mulher do embaixador e cônsul do Brasil em Milão, Luiz Henrique Pereira da Fonseca, lançou o livro Etichetta e Pro-tocollo, pela editora Italplanet Edizioni. “O protocolo se aprende com a teoria, a etiqueta com o passar do tempo. Nada é mais importante do que ser natural e es-pontâneo para estar à altura”, afirma a au-tora do livro, com conhecimento de causa. A embaixatriz-amiga dá dicas sobre como receber os convidados, preparar a mesa e distribuir os comensais sem ofender nin-guém, entre outras sugestões valiosas, com uma linguagem simples e direta. Regri-nhas básicas e impor-tantes, recolhidas em mil e uma recepções durante a longa carreira da autora. O livro pode ser encontrado no site www.booksimport.it

Cubo gastronômicoUm restaurante móvel aterrissou sobre

um prédio debruçado sobre a catedral do Duomo. O projeto “itinerante” da Elec-trolux é um “bistrô” de 140 metros qua-drados, com 18 lugares à mesa. O cardápio custa, pelo menos, 200 euros por pessoa. The Cube ganhou o patrocínio do Comune da cidade. A ideia é testar novas formas arquitetônicas, tendo como objetivo um futuro estudo para a requalificação do centro da cidade. Obviamente, como tudo na Itália, aplausos e vaias seguem de mãos dadas com a iniciativa pioneira.

A região da Lombardia se une àquela de Valência, na Espanha, na dispu-

ta da prestigiosa America’s Cup, a mais antiga competição de vela do mundo. O círculo de vela de Gargnano, no lago de Garda, revive a aventura de +39, o bar-co que participou da edição de 2007. A nova embarcação é um catamarã de cer-

ca de 23 metros de comprimento, e vai bater as bandeiras italiana e espanhola. A inscrição foi assinada em Milão e o orçamento para a participação gira em torno dos 54 milhões de euros. Esporte e tecnologia elevados a um nível altíssi-mo vão estar à dura prova na baía de San Francisco, nos Estados Unidos, em 2013.

Milão, de vento em popa

milãoGui lhermeAquino

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Page 36: Revista Comunità Italiana Edição 162

Triestina doc. La prima volta che la prof.ssa e dott.ssa Loredana Stau-ber Caprara è stata in

Brasile è stato nel 1962 per motivi di famiglia, per poi trasferirsi de-finitivamente a San Paolo nel ’75, dove vive tutt’ora. Attraverso l’ana-lisi dei discorsi televisivi e politici ha analizzato l’evoluzione della lin-gua e della società italiana.

— Nel 1976 sono entrata all’Università di San Paolo (USP) e lì ho iniziato la mia carriera di do-cente in Brasile — ricorda.

Comunità Italiana – Com’è nata quest’analisi sul discor-so retorico e antiretorico nella comunicazione dei me-dia in Italia?Loredana Stauber Capraba – Mi sono resa conto, ascoltando le trasmissioni della RAI, che molte volte il discorso televisivo italiano è ancora improntato sulla retorica: sono testi preparati, con un vocabo-lario scelto con effetti di ripetizione, che molte volte sono recitati, non pronunciati naturalmente o spon-taneamente. Tutti usano questi effetti, basta pensare ai discorsi del presidente degli Stati Uniti, Obama: sono discorsi preparatissimi, studia-ti con tutte le regole della retorica.

CI – C’è una differenza tra questi due usi della retorica?LSC – Il modo di pronunciarli. Nel caso di Obama è un modo sempli-ce, spontaneo, non sembra che stia recitando. Mentre lo è. È molto in-teressante come da una base così studiata, venga fuori un discorso che sembra così naturale, mentre in Ita-lia succede il contrario. Questa è una cosa che mi ha colpito moltissimo

specialmente in quest’ ultimo perio-do che è tornata mia figlia che vive negli Stati Uniti e me lo fa notare tutte le volte che accendo la tv.

CI – E i discorsi politici ita-liani? Anche lí impera la retorica?LSC – Un bellissimo uso della retorica, per quanto riguarda l’ita-liano, sono i discorsi del presidente Giorgio Napolitano che parla in un modo bellissimo, evidentemen-te studiato, ogni parola è pesata, ma c’è un afflato personale molto grande che non è artificiale. Invece in alcuni programmi televisivi, ad esempio quando si parla di opere d’arte, il discorso diventa paludato, come le statue antiche che hanno degli abiti romani con tutte quelle pieghe, ben disposte, che nella re-altà non sarebbero mai così belle.

CI – Ha analizzato anche i di-scorsi televisivi delle recenti celebrazioni televisive dei 150 anni dell’Unità d’Italia?LSC – Sono partita dalla costatazio-ne che nei programmi televisivi c’è molta retorica. Nel senso di discorso scelto, dove ogni parola è pesata, con alti e bassi nei toni di voce. Quindi i discorsi celebrativi dei 150 anni dell’Unità d’Italia dovevano esse-re quantomeno noiosi. Ma una domenica ho visto una ripresa del Festival di Sanremo e mi sono trovata di fronte a un’interpreta-zione dell’inno italiano di Benigni, bellissimo! Quest’inno che è stato tanto bistrattato, che i nostri atleti non volevano cantare neanche quando vincevano. Pensa un po’... “Siam pronti alla morte...” Tu lo canteresti?

CI – E Benigni?LSC – Lui ha presentato l’inno in una forma diversa. Arriva in scena a cavallo, scende e fa la lode dell’ani-male “Il cavallo è memorabile, memorabili sono anche i personag-gi del Risorgimento: Silvio Pellico, Goffredo Mameli, morto a 21 anni per una ferita ricevuta sotto le mura di Roma nel ’49.” E a un certo pun-to dice “Io vi racconto la storia di un ragazzo che come Goffredo Mame-li, cosí si preparava alla battaglia, quella battaglia che avrebbe potuto portarlo alla morte, però bisognava andarci”. Racconta la storia e spiega che il ragazzo riflette su questa cosa, con questo suo vocabolario strano che ha imparato a scuola “l’elmo di Scipio”. Quando arriva a “pronti alla morte”, la voce di Benigni si abbas-sa, si rompe e canta, in questo modo antiretorico al massimo. Benigni da grande comunicatore com’ è, capace di sfruttare l’umorismo, in questo caso, dopo aver scherzato sull’inno, ne ripropone il profondo sentimen-to patriottico, perché in fondo il ragazzo di cui parla l’inno va, com-batte e Mameli, lui stesso è morto.

CI – Nell’Italia di oggi esiste ancora questo sentimento

patriottico?LSC – Secondo me è nascosto. Esiste indubbiamente nel presidente Napo-litano, si sente. In Berlusconi un po’ meno, dice “questo paese di merda, io an-drei via”, però via lui non ci va. Lui rimane. Ma lui rappresenta un’altra Italia, non

tutta. Se fosse solo lui non sarebbe li dov’è. C’è qualcuno che lo vota e più di qualcuno. Anche se gli avver-sari non sono una grande cosa, non

linguiStica

Quando la retorica imperaL’uso della retorica nella comunicazione italiana è una tendenza che viene da lontano. La docente all’USP Loredana Stauber Caprara spiega a Comunità la sua ultima ricerca e il curioso caso dell’origine italiana di Pedrinhas

Stefania PelusiDe Brasília

“Giorgio Napolitano che parla in un modo

bellissimo, evidentemente studiato, ogni parola è

pesata, ma c’è un afflato personale molto grande

che non è artificiale”

janeiro 2012 | comunitàitaliana36

Page 37: Revista Comunità Italiana Edição 162

hanno molto midollo. Non sanno neanche fare uso della retorica.

CI – Nelle canzoni possiamo notare il modificarsi del lin-guaggio italiano attraverso il tempo. I testi dell’opera, che usavano un linguaggio colto, potevano raggiunge-re tutta la popolazione?LSC – Il mio concetto è sempre stato che non è vero che gli italiani incolti, persone che avevano fatto soltan-to le elementari, che non avevano una preparazione, non conoscevano l’italiano. Il piccolo artigiano della città di 150 anni fa conosceva un po’ di italiano. Non ci sarebbe potuta es-sere una diffusione come c’è stata del teatro d’opera in città grandi e picco-le in tutta Italia se non ci fosse stato un pubblico che seguiva, che capiva e ricantava le arie. Ricantare signifi-ca in un certo senso appropriarsi un po’ della lingua. Le parole importan-ti sono ripetute varie volte, quindi rimangono nella memoria perché funziona attraverso parole-chiavi. E cosí, con l’opera, imparavano un po’ di italiano un po’ più colto, poi biso-gna vedere come lo usavano.

CI – Si è anche occupata del-le canzoni di emigrazione.LSC – Sono molto interessanti per-ché si vede che molte volte sono in dialetto o altre volte sono in una lingua intermedia tra il dialetto e l’italiano. Erano canzoni che le per-sone capivano, quindi vuol dire che questa conoscenza dell’italiano non era corretta. Questo concetto degli italiani per cui la lingua o è perfet-tamente corretta o non è lingua... Questo non è vero! La lingua è lingua quando comunica. Bisogna stare at-tenti perché sono questi dogmi che ci portano fuori dalla verità reale delle cose. Nella vita comune non è cosí. Ci sono vari livelli di comunicazione e questo che si è dimenticato in Ita-lia. In Italia si è sempre pensato che parlare bene significasse esprimere bene se stessi. Ma esprimere bene se stessi a chi? C’è un discorso di comu-nicazione: io parlo per comunicare, per mettermi in rapporto con gli al-tri. Tu puoi rimanere perfettamente corretta ed essere cosí piatta da non toccare l’altro. La correttezza forma-le non è cosí importante. Io credo che si perde molto tempo all’università cercando di insegnare la correttezza formale, che non si insegna.

CI – Lei ha coordinato una ricerca su come parlano gli italiani in Brasile. La ricerca si

è svolta a San Paolo, infatti il titolo della ricerca era l’italia-no degli italiani di San Paolo. Cosa ne è venuto fuori?LSC – Questa ricerca è stata divisa in gruppi. Io ho lavorato seguendo alcune indicazione di due linguisti, il professor Ataliba Castilho, che aveva lavorato sul portoghese colto e il torinese Rodolfo Ilari. Per pri-ma cosa ho raccolto del materiale di italiani colti, cioè di persone che avessero fatto l’università in Italia, perché c’era il problema, molto di-battuto con Ilari, del dialetto. Ilari era venuto in Brasile su-bito dopo la guerra in un periodo in cui il dialetto era molto forte, mentre io avevo vissuto a Mila-no e alla fine degli anni ‘70 non era più cosí, tut-ti parlavano italiano. Ho fatto questa prima ricer-ca negli anni ‘80. È chiaro che le persone dovevano avere un certo periodo di residenza in Brasile. Noi facevano quest’intervista a vari livelli, cioè si po-nevano domande su vari argomenti che richiedevano un di-scorso più colto e altri più casalinghi, come “cosa continuate a mangiare? Quali prodotti si trovano in Brasile e quali no?” e una signora nel corso dell’intervista spiega che i nomi delle verdure e della frutta li aveva impa-rati in portoghese o anche in casa con la donna di servizio; lei usava parole come fogão, geladeira. Quindi abbiamo visto che persone di una certa cultura, avevano perso vivacità nel discorso, avevano un vocabola-rio più ristretto, ma continuavano a parlare italiano. Questa ricerca è poi stata pubblicata nel 2000.

CI – Durante le sue ricerche, ha scoperto anche una colonia agricola italiana in un paesino in provincia di San Paolo.LSC – I beni italiani durante la guerra sono stati sequestrati; finito il conflitto, col trattato di pace sono stati restituiti a patto che gli italiani non riportassero questi soldi subi-to in Italia, ma rendessero possibile la formazione di colonie agricole in Brasile. L’unica colonia che realmen-te è stata realizzata è stata quella di Pedrinhas Paulista, vicino ad Assis. È stata comprata una azienda, è stata lottizzata, è stato ripulito il terre-no e sono state costruite delle case semplici, di modo che gli immigrati che sono stati poi mandati dall’Ita-lia, trovassero già una sistemazione

insieme al minimo per poter soprav-vivere e gli arnesi per poter lavorare. Nel 1952 è arrivato il primo gruppo di italiani: erano 28 persone prove-nienti da varie regioni d’Italia, in modo che non fossero tutti veneti o toscani o meridionali, in modo da creare un gruppo misto di italiani.

CI – E chi era a capo di que-sta colonia agricola?LSC – All’epoca governava la De-mocrazia Cristiana e quindi chi gestiva questo gruppo di immigran-ti era un sacerdote trevigiano, don

Ernesto, che con mano di ferro ha mantenuto, du-rante 20 anni, l’unità di questo gruppo. Tutti do-vevano andare in chiesa e lí le funzioni erano in italiano, non in dialetto. Inoltre questo sacerdote era riuscito a trovare del-le suore toscane che sono venute ad aprire un asi-lo d’infanzia. In questo modo anche i bambini hanno imparato l’italia-no. A quell’epoca non era ancora un paesino, erano

case sparse, con pochissima gente. E cosi un po’ alla volta sono arrivati altri italiani insieme a dei brasiliani, perché si erano creati dei posti di la-voro e hanno finito per avere tutti come lingua franca un po’ di italia-no. Ho aiutato le mie studentesse ha fare delle tesi di laurea e di post-laurea su questo caso curioso.

CI – Com’è adesso questa comunità?LSC – Attualmente hanno co-struito degli archi di trionfo. Si sentono molto discendenti dei ro-mani. Adesso sono i figli dei figli che vivono lí. C’è un servizio di insegna-mento dell’italiano, organizzano le feste italiane ed è diventata anche un’attrazione turistica.

CI – È stato oggetto di varie ri-cerche di studio questo caso?LSC – Una mia alunna ha fatto una ricerca sul vocabolario alimen-tare degli abitanti di Pedrinhas. La sua mamma era calabrese e lei ha ritrovato molte parole relati-ve all’alimentazione in dialetto calabrese. Queste persone si espri-mevano in un italiano semplice, non troppo corretto, ma in italia-no. Loro dicevano che in famiglia ognuno continuava parlando dia-letto, però l’italiano lo capivano perché con il prete bisognava par-lare in italiano.

“Io parlo per comunicare, per mettermi in rapporto

con gli altri. Tu puoi rimanere perfettamente corretta ed essere cosí piatta da non toccare l’altro. La correttezza

formale non è cosí importante”

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Bom, limpo e justo. Es-sa é a filosofia do Slow Food. O alimento que comemos deve ter bom

sabor; ser cultivado de maneira limpa, sem prejudicar a nossa saú-de, o meio ambiente ou os animais; e seus produtores devem receber o que é justo pelo seu trabalho. Com esses princípios, a organiza-ção Slow Food nasceu na Itália em 1989 para se contrapor ao fast food e ao fast life, ao desaparecimento

das tradições alimentares locais e à diminuição do interesse das pes-soas pelo alimento que consomem. Fundada por Carlo Petrini, visa melhorar a qualidade das refeições e a existência de uma produção que valorize o produto, o produtor e o próprio meio ambiente. A cidade natal do fundador, Bra, revelou-se o berço perfeito para o movimento: está situada no Piemonte, região italiana famosa pelos vinhos, tru-fas brancas, queijos e carne de vaca.

Não por acaso, o caracol, carac-terizado por movimentos lentos e pela calma durante o ato de

comer, é o símbolo da organiza-ção. A filosofia do grupo defende a necessidade de informar o con-sumidor e de proteger identidades culturais ligadas a tradições ali-mentares e gastronômicas, além de salvaguardar produtos alimentares e comidas, processos e técnicas de cultivo e processamento herdados por tradição, e de defender espé-cies vegetais e animais, domésticas e selvagens.

Atualmente, o Slow Food con-tabiliza mais de 100 mil membros, espalhados em 132 países. Está organizado em grupos locais, que

Slow Food chega ao CerradoNascida na Itália, organização promove encontros, visitas e oficinas em Brasília para celebrar o alimento bom, limpo e justo. A líder da organização explica à Comunità como esse movimento chegou ao Brasil

gaStronoMia

Stefania PelusiDe Brasília

A líder da organização italiana Slow Food , Roberta

Marins de Sá

38 janeiro 2012 | comunitàitaliana

Page 39: Revista Comunità Italiana Edição 162

recebem o nome de convivium — que, em latim, significa festim, entretenimento ou banquete. Os líderes locais organizam, periodi-camente, uma série de atividades, como oficinas de educação alimen-tar, palestras, degustações, cursos e roteiros de turismo enogastronô-mico. Também apoiam campanhas lançadas pela associação em nível internacional.

O convivium Slow Food Cerrado iniciou suas atividades em novem-bro de 2009, a partir do desejo e da necessidade de valorizar o Cerrado, que representa um dos mais ricos biomas do mundo. E nada seria mais prazeroso do que fazê-lo atra-vés da ecogastronomia, conforme explica a líder do grupo e cientista de alimentos, Roberta Marins de Sá.

ComunitàItaliana – Qual é a particularidade do Slow Food Cerrado e quando nasceu?Roberta Sá – Acredito que a par-ticularidade do Slow Food Cerrado é a diversidade de seus associados. Alguns são gastrônomos, profis-sionais da área de gastronomia e gourmets, enquanto outros são ambientalistas, estudantes, jorna-listas, acadêmicos e pesquisadores. O convívio é formado por um gru-po de pessoas de diversas áreas da sociedade do Distrito Federal e entorno. Juntos, formam um con-junto bem equilibrado.

CI – Quando e como o Slow Food chegou ao Brasil?RS – O primeiro convívio Slow Food do Brasil foi o Slow Food Rio de Janeiro, que iniciou suas ativi-dades no final da década de 1990.

CI – Quantas pessoas estão envolvidas?RS – Hoje, temos 80 associados (pessoas que se associaram ao Slow Food e que têm carteirinha de só-cio). Muitos outros simpatizantes também participam ativamente de nossas atividades.

CI – O Slow Food Cerrado engloba quais cidades do Brasil? RS – Nossos associados estão principalmente em Brasília, Tagua-tinga, e outras cidades do entorno do Distrito Federal. No entanto, temos associados que moram em Brazlândia, Cidade Ocidental e Goiânia, no estado de Goiás. Não existe uma regra específica, e as pessoas podem se associar ao con-vívio que mais lhes agrada. O ideal,

RS – Vamos continuar realizando a Quinta Slow, um encontro mensal que fazemos na primeira quinta-feira de cada mês, no restaurante Panelinha, e realizando eventos, oficinas e visitas aos produtores locais de alimentos. Queremos es-treitar os laços com os produtores orgânicos do Distrito Federal e en-torno, e realizar mais atividades educativas envolvendo crianças.

CI – Quais são os restaurantes em Brasília que promovem o Slow Food Cerrado?RS – Atualmente, o restaurante parceiro do Slow Food Cerrado é o próprio Panelinha, situado no

final da Asa Norte. Temos também uma parceria com a Central do Cer-rado, a cooperativa de

comercialização de produ-tos oriundos do Cerrado produzidos por diversas comunidades, e com a Ar-ca do Sabor Gastronomia

Infantil, uma escola de gas-tronomia para crianças.

O Slow Food contabiliza mais de 100 mil membros,

espalhados em 132 países. Os grupos locais recebem o

nome de convivium — que, em latim,

significa festim, entretenimento ou

banquete

no entanto, é que se associem ao convívio mais próximo, para po-der participar das atividades locais com mais facilidade.

CI – Quais são os produtos típicos do Cerrado que vo-cês querem difundir?RS – Em primeiro lugar, estamos interessados em mostrar o valor gastronômico, social e ambiental dos alimentos nativos do Cerra-do e, para isso, precisamos ter contato, degustar e conhecer os produtos, e também as pessoas que estão envolvidas com a extração, coleta, processamento e produção destes alimentos. Os alimentos produzidos localmente e de forma sustentável, não necessariamente nativos do Cerrado, mas importan-tes para a nossa alimentação diária, também estão na nossa pauta.

CI – Quais são as dificul-dades para difundir esse movimento?RS – Uma dificuldade é a de que os brasileiros, em geral, não possuem o hábito de se associarem, de pa-gar uma anuidade para fazer parte efetivamente de uma associação, influenciando nos rumos tomados pela associação. Outra dificuldade é o entendimento de que o Slow Food é um movimento feito pelas pró-prias pessoas, e que cada um que se associa a um convívio pode propor, liderar e coordenar a realização de atividades, sem necessariamente passar por uma hierarquia, ou espe-rar pela liderança, desde que estas atividades estejam dentro dos prin-cípios do grupo e que promovam o alimento bom, limpo e justo.

CI – Há alguma ligação com outros movimentos sociais no Brasil? RS – Pouco a pouco, os movimen-tos sociais estão compreendendo o que queremos dizer quando fa-lamos em ecogastronomia, e tem se aproximado. Ao mesmo tempo, os gastrônomos envolvidos com o Slow Food estão perce-bendo a importância dos movimentos sociais e a rede vai crescendo e se fortalecendo. A Rede Ter-ra Madre, promovida pelo Slow Food, é fruto desta aproximação maior entre o movimento Slow Food e outros movimentos sociais.

CI – Quais são os proje-tos para o próximo ano?

comunitàitaliana | janeiro 2012 39

Page 40: Revista Comunità Italiana Edição 162

Segundo hotel do grupo Ar-mani Hotel & Resorts, após a primeira experiência de Dubai, o novo empreendi-

mento do grupo abriu suas portas no final de 2011 em grande estilo, no chamado Quadrilatero della mo-da (quarteirão da moda) de Milão. Em um dos endereços mais cool da capital internacional da moda, nos últimos andares do mesmo prédio onde já funcionava o quartel-general de todas as marcas Armani, foi inau-gurado, em novembro passado, o Armani Hotel Milano, uma síntese do luxo e sofisticação da marca, com os mínimos detalhes escolhidos pelo próprio Giorgio Armani, que resu-miu sua nova obra-prima como “uma declaração de amor por Milão”.

— Concentrei-me naquilo que eu queria oferecer, seguindo a mi-nha visão pessoal da estética e uma ideia precisa de conforto — explicou o estilista na pomposa festa de inau-guração, que contou com a presença dos sócios do empreendimento, os árabes da Emaar Properties, gi-gante do setor imobiliário de Dubai e proprietária do Burj Khalifa

— o edifício mais alto do mundo, que abriga o Armani Hotel Dubai.

O palazzo de Via Manzoni, de linhas austeras projetado original-mente nos anos 1930 pelo arquiteto Enrico Griffini, após a ampliação de dois andares é, hoje, além de sede das marcas do grupo Armani, também a sede do Armani Hotel Milano, que conta com 95 suítes, spa, restauran-te, lounge-bar, academia de ginástica e business center, com vista de 360° dos terraços da capital mundial do design.

O estilo e a filosofia da grife que, neste caso, se resumem no slogan do hotel Stay with Armani, definem cada detalhe dos 95 quartos, cujos preços iniciam a partir de 600 euros a diária, e que, segundo a empresa, exprimem o gosto pela ordem e pelo espaço experimentado pelo próprio Armani dentro de suas casas. Toda a

decoração do hotel se inspira nas co-leções da linha Armani Casa, criadas especialmente para o local. Os quar-tos mais simples, ou Armani Deluxe, de até 45 m², possuem hall de entra-da, a fim de preservar a intimidade do hóspede, móveis exclusivos, banhei-ro com revestimento em mármore e uma série de luxuosos detalhes de-corativos, como os armários que se escondem nas paredes ou os pisos feitos com uma pedra rara asiática de tom creme-marrom. Os quartos mais luxuosos, como a Suíte Armani Signature ou a Armani Presidential, possuem a partir de 200 m² de área, escadas espirais que levam ao quarto de dormir no segundo andar, servi-ço completo de bar, sala de cinema privada com tela LCD de 100’ e uma academia privada em anexo. Nas suí-tes presidenciais, a vista panorâmica é garantida pelas paredes de vidro e pelo terraço privado com mesas e espreguiçadeiras que se estende por todo o comprimento da suíte.

Um novo conceito de hospitalidadeTodos os espaços comuns do hotel se concentram nos dois últimos an-dares do prédio, também chamado “chapéu de vidro”, onde é oferecida uma espetacular e inesperada vista de Milão. No sétimo andar, se encon-tra o restaurante Armani, dedicado à rica culinária tradicional italiana, com uma enoteca exclusiva. Do lado oposto, encontra-se o Armani Loun-ge, junto ao Armani Bamboo bar, dois ambientes criados para refei-ções informais e happy hour, com pé direito elevado a 6,5 metros e uma parede de vidro panorâmica. Já no oitavo andar, está toda a estrutura do Armani Spa. São mais de 1200 metros quadrados com salas para massagens e tratamentos de relaxa-mento, uma academia e uma piscina para banhos relaxantes, com tempe-ratura regulável e vista panorâmica.

Junto com todo o desejo de Ar-mani de reinterpretar o conceito de hospitalidade, oferecendo conforto e estética, harmonia e privacidade, nasceu também a filosofia do no-vo hotel, que traz como principal novidade prática a presença de um funcionário personalizado para os hóspedes, chamado de lifestyle ma-nager. Trata-se de uma figura central na recepção do hotel, que centraliza o atendimento ao cliente desde o momento da reserva até sua chegada e permanência no estabelecimento, com o objetivo de transmitir ao clien-te a hospitalidade do signor Armani, com muito “conforto e discrição”.

Para quem dorme longe da criseO novo Hotel Armani, mais um luxo de Milão, está localizado no coração da capital internacional da moda

Aline BuaesEspecial para Comunità

Estética, harmonia e conforto procuram

estar integrados no Hotel Armani. O

restaurante com vista panorâmica de Milão é um exemplo disso

turiSMo

janeiro 2012 | comunitàitaliana40

Page 41: Revista Comunità Italiana Edição 162

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comunitàitaliana | janeiro 2012 41

Page 42: Revista Comunità Italiana Edição 162

Assombroso serA Cripta de Poe comemora os 10 anos da Cia. Nova de Teatro com espetáculo multimídia, em cartaz no Rio até fevereiro, com participação especial do grupo italiano Teatro Del Contagio

A representação teatral nunca se repete, ela sempre sofre influência externa de públicos di-

versificados e dos próprios atores que apresentam facetas múltiplas. A Crip-ta de Poe segue esse ritmo. Com uma roupagem multimídia, mesclando linguagens de teatro, dança, canto, vídeo, música eletrônica e moda, o espetáculo apresenta intervenções videográficas e ressalta elementos repletos de suspense e fantasmago-ria. Adaptação de trechos das obras do escritor americano Edgar Allan Poe, cumpriu temporada no Centro Cultural São Paulo em dezembro. Atualmente, está em cartaz no Rio, onde pode ser vista de 13 de janeiro a 5 de fevereiro de 2012. Com a direção dramatúrgica de Lenerson Polonini, o espetáculo conta com a participa-ção especial do grupo italiano Teatro Del Contagio — uma associação de artistas de Milão, fundada em 2006, que trabalha com concepção e produ-ção de projetos artísticos.

O público é agraciado com uma versão especial do espetáculo, em formato de site specific (feito pa-ra o lugar). Toda a arquitetura do Castelinho — o Centro Cultural Odu-valdo Vianna Filho, no Flamengo — é explorada de forma a construir

o universo dos contos de Poe. A fachada do prédio e o in-terior do espaço são utilizados como base para projeções e vídeos mapeados que retratam o cenário sombrio.

O protagonista da peça é o ator italiano Omero Affede. A italiana Carmen Chimienti e os brasileiros Carina Casuscelli, Rosa Freitas e Daniel Sommerfeld completam a trupe. No vídeo, quem incorpora o “Ve-lho Poe” é o ator Paulo César Pereio. A peça é inspirada em trechos de alguns contos célebres de Edgar Allan Poe como O Retrato Oval, Berenice, O Espectro, Ligeia e O Corvo, que são alinhavados formando uma colcha de retalhos dos principais momentos de cada obra. A montagem, que comemora os dez anos do grupo pau-listano Cia. Nova de Teatro, apresenta uma narrativa fragmentada que trata de jogos obsessivos.

O espectador mergulha nos confins da alma hu-mana e se identifica com muitos conflitos psicológicos que são mostrados. Alucinações, mentes irrequie-tas e febris, e personagens neuróticas povoam esse mundo, que mescla o fantástico com o real. Nesse sen-tido, de acordo com Polonini, busca-se junto com o público refletir sobre questões que assombram o ho-mem contemporâneo, seus medos e fantasmas, o

“desconhecido” da mente humana e seus reflexos no comportamento e nas relações interpessoais.

Obsessão pelo amor idealizadoO enredo conta com dois homens e duas mulheres que representam a busca pelo amor e a dualidade do ideal romântico. Além deles, existe a figura coringa, o narrador, que simboliza a alucinação das mentes perturbadas. Investigar o amor idealizado e platô-nico e os medos relacionados à paixão é uma das premissas da peça, como enfatiza Polonini.

— Os homens de Poe vivem sob o efeito de delírio e idealizam as mulheres que se foram, mas que continuam presentes em suas lem-branças. A impossibilidade do amor é um tema muito caro à escola literá-ria de Poe. E sonhar com ele já é algo interessante — completa o diretor.

As imagens mentais — reverbe-rações videográficas — refletem um elevado grau de distúrbio psicológico, que delineia a personalidade obses-siva das personagens. A repetição de situações cria a unidade na peça.

A parte musicada que explora a situação de títere do personagem tem como intérprete a atriz Carmen Chimienti, que mostra versatili-dade ao cantar partes em inglês e italiano da canção baseada na obra Ligeia. Omero Affede também solta a voz e desenvolve músicas na flauta e trompete ao longo do espetáculo. Os atores Affede e Chimienti con-servam a língua pátria e têm suas falas legendadas. A intenção era utilizar a língua italiana por ela ser “melódica, e conseguir transmitir mais emoção”, segundo a atriz e di-retora de arte Carina Casuscelli.

tEatro

Nathielle Hó

42 janeiro 2012 | comunitàitaliana

Page 43: Revista Comunità Italiana Edição 162

O ator Antonio Banderas esteve no Rio no fim do ano para divulgar o fil-me dublado por ele, a

animação O Gato de Botas. Esta foi a segunda visita do astro espanhol à cidade. Desta vez, ele veio acom-panhado da atriz mexicana Salma Hayek, do diretor Chris Miller e do produtor e executivo da Drea-mWorks, Jeffrey Katzenberg.

Simpático, Banderas conversou com ComunitàItaliana a respeito de seu trabalho no filme e contou detalhes do processo de interpretar o Gato de Botas em italiano.

Acostumado a dublar o perso-nagem na franquia Shrek, ele disse que o personagem acabou virando um sucesso porque caiu nas graças do público, e o mais interessante é que o Gato ri de si mesmo — e é isso que o atrai.

— O personagem era pequeno no segundo Shrek e foi crescendo.

A decisão final foi da plateia, que gostava dele. Por isso, fizemos um filme só para o Gato. É importan-te dizer isso porque muitos acham que esta é uma continuação de Shrek, mas não é — explicou.

Sobre o processo de dublagem, o ator revelou que, antes de dar voz ao Gato de Botas, há todo um trabalho específico, que inclui a interpretação dos atores para dar nuances à animação. Ele conta que recebeu o roteiro e contribuiu com a construção do personagem, discu-tindo o projeto, cena por cena, com centenas de pessoas, entre anima-dores e roteiristas. Posteriormente, recebeu o roteiro com todas as no-tas para uma outra discussão. A dublagem incluiu improvisição e mui-to trabalho de interpretação, detalha Banderas.

— Quando começam as sessões de dublagem, a voz é o primeiro elemento, mas, depois das primeiras lei-turas, eu e Salma Hayek

começamos a improvisar. Fomos filmados durante as leituras. Por isso, a dublagem foi muito mais do que apenas colocar a voz no personagem. Fizemos mesmo um processo de interpretação. To-dos os nossos gestos e expressões nessas sessões foram elementos usados pelos animadores. Então, quando você vê o Gato de Botas no cinema, cada gesto que ele faz foi algo que eu fiz no estúdio, quando ainda ensaiava para colocar a voz no personagem.

“Português é muito mais complexo do que parece”Banderas se aprofundou tanto no trabalho de dublagem que acabou fazendo mais de uma versão da animação. O ator fez a dublagem original em inglês, e também em italiano e em espanhol. Quanto ao espanhol, foram realizadas du-as versões: uma para a Espanha e outra para a América Latina. E, apesar de gostar da ideia, ele con-ta que não se “atreveu a dublar em português”.

— Adoro a língua, mas não te-nho ainda como me aventurar nela, acho o português muito difícil e muito mais complexo do que pare-ce — confessa.

A experiência de dublar em italiano, no entanto, não foi com-plicada para Antonio Banderas. No filme O Amante, de 2008, ele interpreta um espanhol astuto e encantador que mora em Milão e, claro, aparece em algumas cenas fa-lando em italiano.

— Quando fui morar nos Es-tados Unidos, eu não sabia falar inglês. Em meu primeiro filme lá, Os Reis do Mambo, apenas repetia o que meu professor de idioma dizia. Já o italiano é um idioma que eu falo e com o qual tenho facilidade. Tem mais a ver, por causa da proxi-midade entre Espanha e Itália.

Para fazer a dublagem em italia-no, o ator não fugiu do seu sotaque.

— Quando falamos outro idioma, dificilmente escondemos

nosso sotaque. Na versão em inglês, o Gato de Botas é cla-ramente um espanhol que

fala em inglês. Na dublagem em italiano é a mesma coisa,

só que faço uma coisa mais natural, como uma pessoa falando italiano com sota-

que espanhol.Apesar da facilidade com o

idioma, o ator não pensa em fazer filmes italianos, “pelo menos, por enquanto”, frisou.

O italiano de BanderasAtor espanhol, de passagem pelo Rio, conta à Comunità como foi a experiência de dublar O Gato de Botas em italiano

cinEMa

Janaína PereiraDo Rio de Janeiro

O ator Antonio Banderas, cujo primeiro filme nos Estados Unidos foi Os

Reis do Mambo, esteve no Rio para divulgar O

Gato de Botas

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Page 44: Revista Comunità Italiana Edição 162

Oito bailarinos brasileiros participarão este ano do projeto de dança Arsenale della Danza - Bo-dy In Progress, da Bienal de Veneza, uma das instituições culturais mais prestigiadas do

mundo. O projeto — fruto de uma parceria entre a Bienal de Veneza, a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e o Sesc — será comandado pelo coreógrafo brasileiro e diretor artístico do Festival de Dança da Bienal de Veneza, Ismael Ivo, e acontecerá de janeiro a maio de 2012.

Diretor do festival desde 2005, Ivo é um dos prin-cipais nomes da dança contemporânea no Brasil e no mundo. Ele foi o principal responsável pela seleção dos bailarinos, que aconteceu em São Paulo, no início de novembro. Durante três dias, 50 candidatos com idade entre 18 e 25 anos participaram de um encontro com o coreógrafo no Teatro Sérgio Cardoso. Após o encon-tro, foram selecionados cinco bailarinos residentes no estado de São Paulo e três bailarinos de outros estados brasileiros para participar do programa em Veneza.

Durante quatro meses, os bailarinos terão aulas diá-rias de dança e terão a oportunidade de conhecer artistas do mundo todo. Os dançarinos terão as despesas com passagens aéreas, hospedagem e alimentação pagas pe-la Secretaria de Cultura e pelo Sesc. Também receberão uma ajuda de custo durante a realização do programa.

— O Sesc sente-se honrado em participar desta parce-ria com a Secretaria de Cultura e com a Bienal de Veneza, que vai possibilitar vivências em dança contemporânea

para um grupo de dançarinos bra-sileiros. Estimular a circulação de ideias e o intercâmbio de experiên-cias é parte importante de nossa missão institucional — afirmou Da-nilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc em São Paulo.

Para o secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Andrea Mata-razzo, o projeto oferece uma ótima oportunidade aos artistas brasileiros.

— Além da possibilidade de aprimoramento em Veneza, com um dos mais importantes coreógrafos da atualidade, os sele-cionados poderão mostrar depois seu trabalho em São Paulo, em turnê promovida pela Secretaria, por meio das oficinas culturais do estado, e pelo SESC — explicou.

Sonho de bailarinos brasileiros que virou realidadeUm dos oito bailarinos escolhidos para participar do projeto, Gui-lherme Nunes ficou sabendo do projeto através de um amigo, mas não deu muita importância por estar ocupado com outros planos. Mesmo assim, resolveu mandar o currículo.

— Minhas expectativas para o projeto são as melhores, embora eu esteja um pouco preocupado por não ter fluência na língua inglesa, com a qual trabalharemos durante o período — acrescentou. O dan-çarino conta que está “empolgado demais”, estudando e acreditando cada vez mais em si mesmo .

— Não é mais sonho, é realida-de — vibra Guilherme, que ficou entre os cinco selecionados da ci-dade de São Paulo.

Leilane Teles, de Salvador, foi uma das escolhidas. Também embarcarão para a Itália bailarinos das cidades de Curitiba e do Rio de Janeiro.

— Candidatei-me porque o Ar-senale della Danza é um dos poucos projetos que visam à qualificação técnica e profissional na área da dança. É uma oportunidade única vivenciar uma experiência artísti-ca em outro país e manter relações com pessoas de nacionalidades dife-rentes — disse Leilane, que também foi atraída pela oportunidade de ter contato profissional com Ismael Ivo.

Como resultado da residência na Itália, o grupo de bailarinos bra-sileiros irá montar um espetáculo, dirigido por Ismael Ivo, que deve ser apresentado no Sesc Pinhei-ros no segundo semestre de 2012. Depois, a montagem vai percorrer algumas cidades do interior do es-tado, em teatros mantidos pela Secretaria estadual da Cultura.

Baile brasileiro em VenezaParceria entre Bienal de Veneza e órgãos estaduais da Cultura de São Paulo proporcionará aulas para bailarinos brasileiros na cidade italiana

Após a experiência na Itália, o grupo de bailarinos brasileiros montará um espetáculo, dirigido por Ismael Ivo, que deve ser apresentado no Sesc Pinheiros ainda em 2012

Vanessa Corrêa da SilvaDe São Paulo

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44 janeiro 2012 | comunitàitaliana

Page 45: Revista Comunità Italiana Edição 162

Fevereiro será marcado por uma das festas mais esperadas e aclamadas pelos brasileiros: o carna-

val. Corpos esculturais desenham na avenida movimentos sincroni-zados no passo do samba. A rotina diária é “quebrada”, os uniformes de trabalho são substituídos pelas fantasias e as pessoas caem na folia num conjunto ritmado, como uma coletividade sintonizada na músi-ca e no canto. No carnaval, o corpo paga um tributo ao cansaço, mas é uma exaustão decorrente do prazer e da alegria. E é nesse compas-so que a União da Ilha da Magia, agremiação carnavalesca de Floria-nópolis, carinhosamente chamada de UIM, homenageia a Itália com o enredo Una Bella Storia.

Foi a partir de 2011, com o sam-ba Cuba Sim! Em nome da verdade, que sagrou a escola campeã em seu terceiro desfile, que tudo começou. O tema gerou polêmica por falar sobre algumas virtudes e tiranias de Cuba, mas, por outro lado, a escola defendeu a liberdade de ex-pressão, sob a vibração equalizada das batidas dos corações e dos ins-trumentos dos percussionistas. O primeiro lugar trouxe o sentimento

de realização e gerou repercussão nacional. A partir disso, o Consula-do italiano em Curitiba procurou a agremiação e propôs um projeto de enredo que integrasse, em 2012, o Momento Itália-Brasil. O projeto foi apresentado e aprovado pelo embai-xador Gherardo La Francesca.

O samba-enredo Una Bella Sto-ria, composto por Sequinho do Cavaco e Douglas, vai contar a his-tória italiana que começa com Roma Imperial e as comemorações na rua, as chamadas Saturnálias, festa on-de os mortais desejavam ser deuses numa inversão de valores onde o rico vestia-se de pobre e vice-ver-sa. O desfile apresentará a Idade Média com advento do latim co-mo língua oficial do cristianismo, e prestará uma homenagem à Divina

Comédia, de Dante Alighieri. E, por fim, a escola vai mostrar a história do imigrante que conquistou terras e influenciou a cultura brasileira.

Para festejar a saga italiana, a União da Ilha da Magia conta com dois carnavalescos, Lucas Pinto e André Rodrigues, que atribuem originalidade e criatividade às cria-ções artísticas. Na avenida, a escola apresenta três alegorias e 16 alas comerciais, com venda aberta aos foliões. A comissão de frente, que tem como coreógrafa Patrícia So-ares, recepciona o público, que vai poder conferir as belas fantasias do Carnaval de Veneza, Galileu Galilei, Direito Romano, e outras. Três mil pessoas, entre passistas e destaques de carros alegóricos, vão despender suor e energia na passarela Nego Quirido, em Florianópolis. Segundo o presidente da agremiação, Valmir Bráz de Souza, conhecido como Ne-na, a intenção é abordar a cultura italiana e os 150 anos de imigração de forma sutil e lúdica.

— Muitas vezes, não fica explí-cita uma passagem sobre a Itália no samba-enredo, como, por exemplo, o trecho “E vi brilhar a heroína, uma história de paixão”... Fala de Anita Garilbaldi, mas sem citar o nome dela e a história completa — ressaltou o presidente.

Na equipe musical, Sequinho e Mauricinho desenvolvem o samba nos cavaquinhos. Diego Carque-ja e Marcelo Perna, os intérpretes oficiais, soltam a voz e embalam o público ao som do samba-en-redo. André Cardone, o “mestre Dé”, coordena o coração da esco-la, a Bateria Tribuzana do Ritmo, e administra a sintonia de repique, tan-tan, cuíca e surdo, dentre ou-tros instrumentos que colaboram para a harmonia. E nos bastidores, atua o organizador do barracão, Otoney Xavier, colaborador da es-cola desde os tempos em que ela era apenas um bloco.

De acordo com o presidente Valmir, o tema escolhido pela es-cola não poderia ser melhor, pois, além de atrair estrangeiros, faz uma bela homenagem à Itália e aos oriundi, ali onde é forte a presença da colônia italiana.

— Nós, do Sul, temos uma in-fluência fortíssima da imigração europeia, principalmente italiana e alemã, povos que ajudaram no de-senvolvimento da região. Por isso, muitos que presenciarem o desfile irão se identificar com a história contada e mostrada na avenida — concluiu.

Ritmo de carnavalUnião da Ilha da Magia homenageia o país das máscaras venezianas no carnaval de Florianópolis com o enredo Una Bella Storia

carnaval

Nathielle Hó

O samba-enredo Una Bella Storia vai contar

a história italiana que começa com

Roma Imperial e as Saturnálias, e prestará

uma homenagem à Divina Comédia, de

Dante Alighieri

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Page 46: Revista Comunità Italiana Edição 162

Ritmi VisiviLa Fondazione Raggianti di Lucca

presenta una splendida retrospet-tiva dedicata a Luigi Veronesi scom-parso all’età di 90 anni nel 1998. Ar-tista poliedrico, dalla fotografia alla pittura fino ad autore cinematogra-fico, Veronesi è stato uno dei grandi protagonisti dell’astrattismo italia-no. Già nel 1934 frequenta il gruppo parigino Abstraction-Création ed en-tra in contatto con il costruttivismo svizzero. La mostra presenta opere di grandi artisti come Kandinskij, Klee, Moholy-Nagy, Albers, Vantongerloo, Florence Henri, Munari, Fontana, Ballocco, Ghiringhelli solo per citar-ne alcuni. Dal martedì alla domeni-ca dalle ore 10.00 alle 13.00 e dalle 15.00 alle 19.00.

Le stagioni creativeNello splendido spazio espositivo dalla

vista mozzafiato di Villa Bartini sarà possibile visitare, fino al 4 marzo, le circa 60 opere di Luciano Guarnieri, già allievo di Pietro Annigoni. Si tratta principal-mente di dipinti, litografie e disegni che lo stesso ha prodotto durante le sue “sta-gioni creative”: dalla sezione degli autori-tratti a quella dei ritratti della moglie fino ad arrivare alla collezione di opere “in-ternazionali” nelle quale ritraeva i propri viaggi: Stati Uniti, Praga, Messico, Cina e Irlanda. Guernieri si può definire un “ar-tista civile” con la sua ricerca di dar voce alla narrativa popolare. Ingresso gratuito.

Nel SilenzioPer festeggiare i 20 anni di carriera artisti-

ca, Guido Morelli presenta una mostra personale nello spazio fiorentino delle Ex Murate, le vecchie carceri ormai ristruttura-te e trasformate in luogo di scambio cultura-le. L’esposizione dell’artista ligure, classe ’67, dal titolo “Nel Silenzio”, propone dipinti ad olio su tela dell’ultimo decennio raffiguran-ti paesaggi naturali di forma sintetica cer-cando di distaccarsi dall’aspetto puramente descrittivo, mettendosi alla ricerca di un linguaggio più psicologico che porta con sé luminosità e cromatismi. Ingresso gratuito.

I paesaggi della Divina CommediaFino al 26 febbraio la Galleria degli Uf-

fizi presenta le illustrazioni e le foto di Giuseppe Cremoncini che furono prepara-te in occasione della presentazione della Divina Commedia del 1898. Con l’esposi-zione “Dante illustrato” si potranno così ammirare ben 64 rappresentazioni del “Sommo Poeta”. L’esposizione trae con sé anche le avventure e le disavventure che il Cremoncini passò alla fine del XIX secolo nell’impresa della ricerca dei luoghi tosca-ni dove Dante colloca alcuni eventi e fatti presenti nella Divina Commedia. Dalle 8.15 alle 18.50. Ingresso gratuito con il biglietto della Galleria degli Uffizi.

Il surrealismo del pittore fiorentino Maurizio Vinanti approda alla Biblio-

teca del Palagio di Parte Guelfa nell’af-fascinante Sala dei Consoli. L’artista in questa esposizione vuole far entrare i visitatori, attraverso i colori, le figure e le luci surrealiste, nella storia e nelle strade della città rinascimentale in una

sorta di viaggio tra immaginazione e realtà dei suoi ricordi. I commenti poe-tici di sua moglie Carla conducono in un percorso visivo tra personaggi sospesi nelle bellezze e gli angoli più suggesti-vi della città molto spesso dimentica-ti. Orario: Dal lunedì al venerdì 9.00 - 18.30 - Sabato 9.00 - 13.00

I pennelli di Vinanti

firenzeGiordanoIapalucci

janeiro 2012 | comunitàitaliana46

Page 47: Revista Comunità Italiana Edição 162

notíciaS

Bressane na RAIAlém de lançar um novo filme, o cineasta brasileiro Jú-

lio Bressane foi homenageado na Itália. A RAI, a rede de televisão estatal italiana, está transmitindo, este mês, uma retrospectiva de 25 filmes do diretor. Ele viajou à Itá-lia para acompanhar o especial. Rua Aperana 52 é seu mais

recente longa metra-gem. Através de fotos e filmes caseiros, realiza-dos entre 1905 e 2009, o filme refaz o percurso sentimental e geográ-fico de uma casa que, durante décadas, esteve associada à família do realizador.

Teatro em focoAs montagens de Antunes Filho e seu Centro de Pes-

quisas Teatrais (CPT), desde Macunaíma (1978) a Lamartine Babo (2010), foram registradas por Emidio Luisi, fotógrafo nascido na Itália e coordenador da agência Foto-grama Imagens. Dedicado há 30 anos à fotografia de palco, Luisi tem uma preferência pelo preto e branco, em imagens que documentam histórias de atuações memoráveis. Com texto de Sebastião Milaré, as fotos compõem o volume Antunes Filho: Poeta da Cena, que conta com prefácio do jor-nalista Antonio Gonçalves Filho.

As Idades do Amor vence Prêmio PirelliO filme As Idades do Amor (Manuale D´Amore 3), de

Giovanni Veronesi, foi o grande vencedor do Prêmio Pirelli de Cinema Italiano, entregue ao final da 7ª Semana Pirelli de Cinema Italiano, durante festa no Terraço Itália, no centro de São Paulo, em dezembro. O filme, protago-nizado por Robert de Niro e Monica Bellucci, ganhou um prêmio de R$ 40 mil, que será usado como apoio ao lança-mento e distribuição no Brasil. As Idades do Amor foi uma das três produções apontadas pelo público em votação aberta, entre os 12 filmes exibidos na mostra de cinema contemporâneo da Semana Pirelli. A escolha final ficou com um júri especializado. A 7ª Semana Pirelli de Cinema Italia-no foi realizada entre novembro e dezembro nas cidades de São Paulo e Ribeirão Preto.

Page 48: Revista Comunità Italiana Edição 162

Nicola Vilardo, proveniente da região da Calábria, saiu de uma Itália envolta em nuvens que prenunciavam uma nova guerra, e desembarcou no Brasil em 1920. Ainda moço, com 16 anos, foi trabalhar na firma “Antonio Jannuzzi Irmão & Companhia”,

exercendo funções de feitor e capataz. Com o tempo, tornou-se amigo dos Jannuzzi – família que influenciou sobremaneira a arquitetura da cidade fluminense, ocupando um dos edifícios mais bonitos do Rio de Janeiro, o Palacete de Santa Teresa.

Antonio Jannuzzi foi o responsável pelas principais obras da ci-dade fluminense, como a abertura da Avenida Rio Branco, a convite do então presidente Francisco Rodrigues Alves. O projeto e construção do Moinho Fluminense, na área do Porto Maravilha — cuja fachada está sendo restaurada — também ficou a cargo do engenheiro italiano. Além dessas construções, através dele foi levantado o prédio da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, o Palácio Itaboraí e o Palácio Rio Negro, em Petrópolis, além de várias igrejas presbiterianas. Ele foi responsável pela sede do Jornal do Comércio, hoje demolida, pela reforma na casa Rui Barbosa, e por restaurações diversas para a família Guinle. Antonio encabeçou, ainda, a doação do terreno onde foi erguida a Casa D´Italia, cuja escritura, entregue ao governo italiano, contém a sua assinatura.

As oficinas que Antônio Jannuzzi possuía no Mor-ro da Viúva compunham um verdadeiro complexo for-mado pelas pedreiras de granito, oficinas a vapor de serraria, carpintaria e serralherias, depósitos de madeiras, pedras e toda espécie de materiais de con-strução, além da seção de transportes de carga. Entre as obras de Jannuzzi, encontramos construções ecléticas que utilizam o repertório clássico da Renascença italiana, em sua ornamentação, implantação e volumetria. As varandas e

IlLettoreRacconta

Rio de Janeiro, RJ

salões apresentam geralmente rigorosa simetria e acessos. Além disso, uma composição característica da família eram as fachadas das construções com três vãos em arco pleno ao centro e dois planos laterais, o que torna-va os edifícios suntuosos.

Ícone dos italianos no Brasil, Antonio Jannuzzi fundou o atual Sinduscon, o Sindicato da Construção Civil do Rio de Janeiro, que pre-sidiu por dez anos. Além disso, ele também ocupou o cargo de presidente da SIBMS — Sociedade Italiana de Beneficência e Mútuo Socorro — fundada em 17 de dezembro de 1854, com a participação da imperatriz Teresa Cristina. Jannuzzi foi o presidente da SIBMS em quatro mandatos, não sucessivos, construindo a sede da entidade na Praça da República, em estilo neoclássico.

Nicola Vilardo e nove de seus irmãos trabalharam na empresa dos Jannuzzi, sendo muito aju-dados por eles. Depois de algum tempo, Nicola acabou se mudando para o ramo de frutas. Teve sete filhos, seis homens e uma mulher. Eu, o primogênito, engenheiro e ferroviário da Rede Ferro-viária Federal, fui diretor de distritos de obras e se-cretário executivo da Ceca, a Comissão Estadual de Controle Ambiental, onde participei da implantação do sistema de controle do meio ambiente, sendo agraciado por meus serviços presta-dos com a Medalha Pedro Ernesto. Depois, recebi os títulos de Comendador e Grande Oficial da Liga da Defesa Nacional.

O segundo filho, Francisco, economista e advogado, é auditor da Fazenda. O tercei-ro, Giuseppe Mario, advogado, trabalhou na firma de Silvio Santos.

Paulo Luigi, administrador de empresas e empregado dos Correios, foi o inventor do “envelope-carta serrilhado”, hoje de domínio público e usado mundialmente. Maria Helena, professora de for-mação, foi a vereadora mais votada do município de Peixe, no estado de Tocantins, “abrindo mão” de se tornar prefeita da cidade. Todos os filhos de Vilardo, sem exceção, tiveram suces-

so no Brasil, deixando heranças culturais e políticas. O italiano Nicola venceu em terras tupiniquins,

contribuindo para o engrandecimento deste rincão chamado Brasil. Além disso, foi colaborador na empresa dos Jannuzzi, precursores de um estilo ar-

quitetônico único, que fez história no Rio de Janeiro.

Antonio VilardoRio de Janeiro – RJ

Mande sua história com material fotográfico para:

[email protected]

Calábria

Placa comemorativa na Avenida Rio Branco homenageia o arquiteto Antonio Jannuzzi, construtor

de várias igrejas presbiterianas

janeiro 2012 | comunitàitaliana48

Page 49: Revista Comunità Italiana Edição 162

saporid’italiaStefaniaPelusi

Serviço: Hostaria dei Sapori scls 212 bloco a loja 4, brasília | tel: (61) 3346- 3234

Horário de Funcionamento: : segunda-feira das 19h às 23h. de terça à quinta, das 11h às 15h e das 19h às 23h. sextas e sábados, das 11h às 15H e das 19h até 1h. aos domingos, das 11h às 17h e das 19h às 23h.

Pasta alla carbonaraRendimento: Três pessoas

Ingredientes: Espaguete, quatro ovos inteiros, toucinho, cebola, vinho branco, azeite extra virgem, sal grosso, pimenta do reino, parmesão.

Modo de fazer: Em uma panela, dourar a cebola e o toucinho com o azeite. Depois de refogar tudo, colocar um pouco do vinho branco e deixar evaporar. Enquanto isso, vá cozinhando a massa na água com o sal. Em um prato separado, bata os ovos com sal, pimenta do reino e parmesão até obter um creme. Para cada porção, adicione um ovo: para três pessoas, quatro ovos; para quatro, cinco ovos. Escorrer a massa al dente e colocá-la a na panela, misturando-a com o refogado. Por último, adicionar um ovo que não estiver cozido ao fogo, que acaba cozido com o calor da massa.

Onde a massa reina

Casa aberta em setembro na Capital Federal já se torna referência na pasta alla

carbonara e no estilo de servir italiano

Brasília – A primeira pagina do cardápio diz Benvenuto, sinta-se na Itália. O novo restaurante ganhou há pou-cos meses Brasília e parece um cantinho do Belpaese, onde os donos, chefs e até os garçons são italianos.

— Aqui, todos poderão apreciar a cultura, a comida e a cortesia italianas, que consideramos a fórmula da felicidade — explica um dos sócios, o calabrês Giuseppe Modafferi. Junto ao chef romano Gino Tarquinio e ao ítalo-brasileiro Ricardo Carvalho, ele inaugurou a Hostaria dei sapori no coração da capital, em setembro de 2011.

O nome do restaurante vem do latim e pode ser traduzido como pousada de sabores. As hostarias   foram construídas como lugares para comer, de passagem no caminho das viagens. Logo, tornaram-se pontos de encontro e de relações sociais.

— É um conceito mais amplo. Não é só comer, é a hospitalidade no verdadeiro sentido da palavra — enfatiza Modafferi.

A ideia do restaurante surgiu na Itália, quando o chef Gino Tarquinio, proprietário do Sapore di Mare, em Roma, e o amigo Giuseppe Modafferi, então proprietário da lanchonete Signor Panino, sonhavam em trazer, para o Brasil, toda a bagagem e experiência gastronômicas que adquiriram ao longo dos anos. Tarquinio se revezará entre o comando de seu restaurante romano especializado em peixes, e da nova casa, em Brasília. Para ajudá-lo nessa missão, trouxe parte de sua equipe: os chefs Salvatore Montanaro e Vincenzo Trinca; um garçom, Luca Grossi; e a garçonete Giada Guarnotta.

Uma sequência clássica sugerida é a entrada, o primeiro prato, o segundo prato com acompanhamentos e a sobremesa. As massas, os pães e as sobremesas são de produção própria.

Entre os pratos mais pedidos, figuram o autêntico e muito elogiado espaguete à carbonara, o inhoque, o talharim com frutos do mar, o peixe tricolor (com tomate cereja e azeitonas) e o tiramisù.

Na carta de vinhos, a maioria das opções vem de vinícolas da Itália (70%), mas também há garrafas do Chile, da

Argentina, da França e da África do Sul. O cardápio inclui um menu bambini e uma lista de cocktails italianos, como o spritz (com Aperol ou Campari).

Com 400 m², a casa ampla e espaçosa, decorada com as imagens da Itália, abriga a sala Colosseo e a sala Navona, em homenagem à praça de Roma onde fica a Embaixada do Brasil. O restaurante pode acolher 80 pessoas e até o dobro, 160, durante eventos. Além disso, oferece um jardim para aperitivos e encontros culturais. 

— A gastronomia tem regras. O nosso projeto é um desafio gastronômico: somos ortodoxos e queremos que nossos clientes possam experimentar os verdadeiros sabores da cozinha da Itália — relatou o chef romano.

O dono calabrês destacou que é uma satisfação quando os clientes elogiam o inhoque da casa, porque “é feito como na Itália. A pasta, aqui, é a rainha da mesa, não é um acompanhamento”.

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Parque do Pinóquio

Programa de infânciaPassei a infância entre o Rio e São Paulo, e tenho doces memórias das duas cidades. Existem aqueles lugares que marcam

época em nossa vida e nos acompanham para sempre. Principalmente aqueles onde fomos milhares de vezes; afinal, crianças são repetitivas: quando gostam de um lugar, adoram ir de novo, da mesma forma que, quando assistem a um

filme bacana, querem assistir de novo, de novo e de novo.Quanto a São Paulo, quando penso naqueles anos, me lembro do programa número 1: almoçar um frango xadrez com arroz

chop suey num restaurante chinês do bairro Ibirapuera. O mais importante era comer com os pauzinhos. Depois do chinês, era a vez de uma torta de nozes na Brunella, seguido por passeio pelo shopping. Em algumas ocasiões, eu tinha também direito a uma parada na loja de mágicas para comprar um truque. Afinal, mágicas e o mini laboratório químico eram meus brinquedos preferidos. Para finalizar: sessão de cinema. Ou ainda, de vez em quando, ir à Cidade da Criança. Adorava a Casa Maluca, uma casa com piso todo torto.

Com meu pai, no período em que ele morava em São Paulo, a grande expectativa era o domingo à noite, quando íamos na Pizzaria Monteverde, no Itaim, aguardando ansiosamente também o gran finale: sorvete de menta com calda de chocolate quente. Bons tempos...

Já no Rio, as palavras mágicas da infância eram duas: Sessão Coca-Cola no Tivoli ou jantar no Alfredo, no Hotel Intercontinental. Íamos lá para saborear o famoso fettuccine feito em casa, com massa levinha e fininha, ao molho de manteiga e parmesão.

E eis que, morando em Roma, pude reviver esse momento de infância, indo no Alfredo de Roma, para beber diretamente da fonte. Na realidade, existem dois Alfredos em Roma, o que pode causar confusão. Afinal, qual é o verdadeiro? Os dois servem o famoso prato, ou seja, o fettuccine Alfredo. Os dois ficam no centro histórico de Roma: um na via della Scrofa e o outro na piazza Augusto Imperatore.

Mas o da piazza Augusto Imperatore faz questão de dizer que é o verdadeiro Alfredo. Afinal, pertence à família do Alfredo: passando do Alfredo I, ao Alfredo II e finalmente, Alfredo III. O outro, da via della Scrofa, era a antiga localização, mas hoje tem outros donos. De qualquer forma, o macarrão é delicioso em ambos.

No entanto, foi no “vero” Alfredo que pude viver uma emoção única: degustar o decantado fettuccine com os famosos talheres de ouro. Foi perguntando ao maître a respeito de qual restaurante era o verdadeiro Alfredo, que ele me trouxe os talheres para eu usá-los durante a refeição.

A história é a seguinte. Nos anos 20, Alfredo recebeu os atores do cinema mudo Mary Pickford e Douglas Fairbanks. Eles passavam pelo restaurante durante a lua de mel em Roma. Como presente pela ótima acolhida, deram a Alfredo talheres de ouro, uma colher e um garfo, gravados to Alfredo, the king of the noodles. Daquele momento em diante, os freqüentadores mais famosos tinham a honra de comer o fettuccine com os célebres talheres.

Naqueles anos, ir a Roma e não passar pelo Alfredo era como ir ao Vaticano e não ver o Papa. A lista de stars que passaram pelo restaurante é longa: Frank Sinatra, Ava Gardner, Burt Lancaster, Anna Magnani, Clark Gable, Ginger Rogers, Jerry Lewis e Dean Martin só para começar. Entre os famosos brazucas, Pelé e Falcão — este último idolatrado em Roma até hoje.

Para vips ou meros mortais, com talheres de ouro ou sem, na infância ou na idade adulta, um belo prato de fettuccine Alfredo vale sempre a pena.

Qual foi meu choque quando descobri que o Pinóquio não tinha sido engolido por uma baleia, mas por um tubarão. É que, no filme da

Disney, o Pinóquio é engolido por uma baleia. E foi a baleia que ficou em nosso imaginário. Porém, no texto original, trata-se de um tubarão. O belíssimo conto de fadas foi escrito por Carlo Lorenzini, conhecido como Carlo Collodi — que usou como pseudônimo o nome da cidadezinha natal de sua mãe, Collodi.

Em Collodi, perto de Lucca, na Toscana, foi criado, em 1956, em homenagem à obra e ao autor, o Parco di Pinocchio. Localizado em uma grande área verde, vários mosaicos, esculturas e outras obras ilustram os episódios e personagens do conto de fadas, como o Grilo Falante, a Fada Madrinha, a Serpente, o Caranguejo, o Gato, a Raposa e, para a minha tristeza, o tubarão.

la gente, il postoClaudiaMonteiroDeCastro

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