revista comunità italiana edição 169

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Onde está a felicidade? Rio de Janeiro, agosto de 2012 Ano XVIII – Nº 169 www.comunitaitaliana.com O sociólogo Domenico De Masi defende que os modelos de vida europeu e americano faliram e diz que o Brasil é a única democracia capaz de criar um conceito válido para o futuro FéRIAS Conheça os mais belos lagos da península ISSN 1676-3220 R$ 11,90 R 7,00 Exclusivo: especialistas analisam crise econômica na Zona Euro GASTRONOMIA A receita de Myriam, filha do ministro Gilberto Carvalho NEGóCIOS Rio vai lançar guia para investidores estrangeiros

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Edição Completa Número 169 para leitura online. Revista Comunità Italiana, a maior mídia da comunidade ítalo-brasileira.

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Page 1: Revista Comunità Italiana Edição 169

Onde está a felicidade?

Rio de Janeiro, agosto de 2012 Ano XVIII – Nº 169

www.comunitaitaliana.com

O sociólogo Domenico De Masi defende que os modelos de vida

europeu e americano faliram e diz que o Brasil é a única

democracia capaz de criar um conceito válido para o futuro

FériasConheça os mais belos lagos da península

ISSN

167

6-32

20R$

11,

90R

7,0

0

Exclusivo: especialistas analisam crise econômica na Zona Euro

Gastronomiaa receita de myriam, filha do ministro Gilberto Carvalho

neGóCiosrio vai lançar guia para investidores estrangeiros

Page 2: Revista Comunità Italiana Edição 169

1º trimestre de 2006: US$ 661,7 mi - 1º trimestre de 2012: US$ 3,6 bi.

Segundo a Firjan, a balança comercial do Rio de Janeiro apresentou

resultados históricos no primeiro trimestre de 2012. Comparado ao primeiro

trimestre de 2006, o crescimento foi cinco vezes maior. As exportações

de petróleo, produtos industrializados (19% contra a média nacional de 7%),

combustíveis e pneus foram as grandes responsáveis por esse recorde.

Primeiro estado do Brasil a conquistar o investment grade, concedido pela

Standard & Poor’s, e agora qualificado pela segunda vez pela agência Fitch Ratings,

junto com a força do Governo do Rio de Janeiro, somada aos investimentos cada

vez maiores da iniciativa privada, a expectativa é que o Rio de Janeiro

continue batendo recordes atrás de recordes. Grandes conquistas que

mostram que o Rio está no caminho certo. Grandes mudanças

que só reforçam que este é o melhor estado para investir e viver.

O RIO DE JANEIRO MUDOU. A VIDA DE MUITA GENTE ESTÁ MUDANDO JUNTO.

7265_An Exportação_Communita_45x32.indd 1 8/9/12 7:48 PM

Page 3: Revista Comunità Italiana Edição 169

1º trimestre de 2006: US$ 661,7 mi - 1º trimestre de 2012: US$ 3,6 bi.

Segundo a Firjan, a balança comercial do Rio de Janeiro apresentou

resultados históricos no primeiro trimestre de 2012. Comparado ao primeiro

trimestre de 2006, o crescimento foi cinco vezes maior. As exportações

de petróleo, produtos industrializados (19% contra a média nacional de 7%),

combustíveis e pneus foram as grandes responsáveis por esse recorde.

Primeiro estado do Brasil a conquistar o investment grade, concedido pela

Standard & Poor’s, e agora qualificado pela segunda vez pela agência Fitch Ratings,

junto com a força do Governo do Rio de Janeiro, somada aos investimentos cada

vez maiores da iniciativa privada, a expectativa é que o Rio de Janeiro

continue batendo recordes atrás de recordes. Grandes conquistas que

mostram que o Rio está no caminho certo. Grandes mudanças

que só reforçam que este é o melhor estado para investir e viver.

O RIO DE JANEIRO MUDOU. A VIDA DE MUITA GENTE ESTÁ MUDANDO JUNTO.

7265_An Exportação_Communita_45x32.indd 1 8/9/12 7:48 PM

Page 4: Revista Comunità Italiana Edição 169

Job: Fiat-Grand-Siena -- Empresa: Leo Burnett -- Arquivo: 23230-052-Fiat-An Grand Siena Painel-45x32_pag001.pdfRegistro: 73236 -- Data: 14:09:38 05/04/2012

Page 5: Revista Comunità Italiana Edição 169

Job: Fiat-Grand-Siena -- Empresa: Leo Burnett -- Arquivo: 23230-052-Fiat-An Grand Siena Painel-45x32_pag001.pdfRegistro: 73236 -- Data: 14:09:38 05/04/2012

Page 6: Revista Comunità Italiana Edição 169

34 | Entrevista Sociólogo inventor do conceito de ócio criativo chama os intelectuais brasileiros à responsabilidade de criar um novo modelo de vida para um mundo que vive em profunda crise de valores

14 | Análise da crise Dois especialistas italianos, Antonio Nicita e Angelo Lupoli, analisam o momento econômico do país no contexto da Zona Euro

17 | Guia Estado do Rio lança guia específico para investidores estrangeiros

48 | Verão Conheça os melhores lagos da península italiana para passar os dias mais quentes do ano

18 | Nova roupagem Globalizada, volátil e versátil. O juiz do processo histórico contra Cosa Nostra, Pietro Grasso, revela as novas características da máfia italiana, que não abandona, porém, a terra de origem

28 | Pizzas Setor é o mais bem sucedido do mercado brasileiro de entregas

24 | Herança da nonna Filha do ministro Gilberto Carvalho festeja o sucesso do pastifício San Felice, em Brasília

30 | Terraço Itália Restaurante que é também ponto turístico de São Paulo comemora 45 anos como ícone de requinte

65 | Sapori Restaurante aberto na zona norte do Rio é especializado em cozinha sarda

44 | A melhor idade Aumenta a procura por viagens de intercâmbio por parte de pessoas acima dos 50 anos, impulsionadas pelo bom momento da economia brasileira e pela elevação da expectativa de vida

Agosto de 2012 Ano XVII I Nº169

50

Mic

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09 | Cose NostreRaffaele Trombetta deve ser o novo embaixador italiano em Brasília

12 | Fabio Porta Dopo un anno di agonia l’economia italiana non riesce a dare segnali di ripresa

13 | Ezio MaranesiEsistono popoli più cortesi, e quindi più civili, di altri?

59 | Giordano Iapalucci I quadri a forma di lunetta da Iustus Utens, pittore fiammingo vissuto tra il XVI e il XVII secolo, su commissione di Ferdinando I de’ Medici, alla Villa della Petraia

61 | Guilherme Aquino Na esteira da crise, as lojas que compram joias e brilhantes aumentam e hoje já são sete mil na Lombardia

66 | Claudia Monteiro De Castro O triste adeus aos trens noturnos na Itália e a saudade que vão deixar nos viajantes que conheceram o Belpaese graças às ferrovias

Capa

Economia

Turismo

Criminalidade

Mercado

Gastronomia

54 | Novidade Grifes como Gucci e Ermenegildo Zegna marcam presença em shopping que acaba de ser inaugurado na capital paulista

57 | Italian Style Os últimos lançamentos das grifes italianas para todos os estilos de papais, dos mais esportivos e ambientalistas aos executivos

Moda

Italian Style

Nossos colunistas

Os sabores da região não se resumem ao chocolate gianduia e ao Barolo, o rei dos vinhos. A arquitetura, o misticismo e os parques da capital Turim fazem parte de suas atrações

Comportamento

agosto 2012 | comunitàitaliana6

Page 7: Revista Comunità Italiana Edição 169

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Page 8: Revista Comunità Italiana Edição 169

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DiretOr-PresiDente / eDitOr:Pietro Domenico Petraglia

(rJ23820JP)

DiretOr: Julio Cezar Vanni

PubliCaçãO Mensal e PrODuçãO:editora Comunità ltda.

tirageM: 40.000 exemplares

esta eDiçãO fOi COnCluíDa eM:13/08/2012 às 18h00

DistribuiçãO: brasil e itália

reDaçãO e aDMinistraçãO:rua Marquês de Caxias, 31, niterói, Centro, rJ

CeP: 24030-050tel/fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555

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reDaçãO: guilherme aquino; gina Marques; Cintia salomão Castro; Maurício tambasco;

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subeDiçãO: Cintia salomão Castro

reVisãO / traDuçãO: Cristiana Cocco

PrOJetO gráfiCO e DiagraMaçãO:alberto Carvalho

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CaPa: Marcos Queiroz

COlabOraDOres:Pietro Polizzo; Marco lucchesi; Domenico De

Masi; fernanda Maranesi; beatriz rassele; giordano iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro;

ezio Maranesi; fabio Porta; Venceslao soligo; Paride Vallarelli; aline buaes; franco gaggiato;

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PubliCiDaDe: rio de Janeiro - tel/fax: (21) 2722-2555

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[email protected]

Comunitàitaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

la rivista Comunitàitaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. i collaboratori esprimono, nella massima

libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

issn 1676-3220

Fundada em março de 1994

A Itália deve sair da crise com seus próprios pés, sem a ajuda do Fundo Eu-ropeu e consequente vigilância da zona do Euro. Isso será possível porque, apesar do débito público elevado (123% do PIB), o país não sofre os mes-mos problemas da Espanha, que deve se inclinar ao Banco Central Europeu

para pedir empréstimo devido também à bolha imobiliária e ao alto índice de inadim-plência. As contas do Estado, diversamente do vizinho, estão ativas com um positivo de 3,6 em 2012 e, sobretudo, a Itália não gastou por uma década 10% a mais do que era produzido, como fizeram os espanhóis.

Mesmo assim, para que a Itália consiga tutelar a sua independência econômica e política precisa de um plano que contemple as reformas que ficaram pela metade. Com determinação deve dar continuidade ao processo de liberalização, de expansão do mercado de trabalho e da reforma da lei eleitoral. O primeiro-ministro Mario Monti tem que resgatar o orgulho italiano através dos inúmeros símbolos que fizeram da Itália o país lembrado no mundo, seja pela história como pela indústria moderna e eficiente. E isso tem que ser logo para que a nação seja soberana e atual. Precisa pre-parar o país para não sofrer mais especulações por conta da proximidade das eleições na próxima primavera.

E se na Europa a recessão perdura, todos sabemos que o Brasil cresce. Mas neste país, riquíssimo de recursos natu-rais, que vão do petróleo a biodiversidade, da água doce às pedras preciosas, uma extensão territorial três vezes maior que a Europa e uma população de 200 milhões de pessoas que cada vez mais vãos às compras, é a China que dita o ritmo do crescimento. Por causa, principalmente, do país asiático, que freou a demanda por commodities, o PIB brasileiro chegará a míseros 1,85% neste ano. A relação Brasília-Pequim e essa dependência causa preocupação.

Pela abordagem econômica que ocupa nosso dia a dia, trouxemos na capa deste mês o sociólogo Domenico De Masi para conhecermos o pensamento deste influente intelectual sobre o futuro após a crise. Ele considera que o mundo está num período de desorientação e para sair desse estágio é necessário um novo modelo de desenvol-vimento sustentável. “O Brasil copiou por 450 anos o modelo europeu, depois, por 50 anos, copia o americano de consumismo, e agora? Agora deve criar seu próprio mo-delo!”, defende De Masi durante um encontro no Rio de Janeiro. Para ele, o presente--futuro não são os bens materiais, mas sim os imateriais, a informação, os serviços. “O primeiro mundo não é a fábrica, a fábrica é o terceiro mundo. No primeiro mundo está a educação, a formação, as ideias; no segundo instalam-se as fábricas; e no ter-ceiro explora-se a mão de obra”, acrescenta ele que acha que os pensadores brasileiros precisam se movimentar e fazer com que se ative a mola propulsora para um novo patamar social.

Boa leitura!

Novo patamar

Pietro Petraglia Editor

agosto 2012 | comunitàitaliana8

Page 9: Revista Comunità Italiana Edição 169

O Rei na ItáliaAté o fim de agosto, a produção do cantor Roberto Carlos se reunirá com

diretores da Globo para fechar detalhes sobre o especial de fim de ano da emissora. O projeto contempla dois shows do rei: um no Brasil e outro na Itália. O show terá a direção de Jayme Monjardim, que coordenou a apresen-tação do cantor em Jerusalém. O show na Itália será nos moldes do que foi montado em Israel, que contou na cenografia com a reprodução do Domo da Pedra, localizada na Cidade Velha. Na época, Roberto lançou CD duplo, DVD e Bluray em 3D das imagens do show.

Garibaldi sai da tumba“Em setembro, abriremos a tumba de Garibaldi e desco-

briremos se de fato ali, em Caprera, repousa o seu cor-po embalsamado”. O anúncio foi feito por Anita Garibaldi, bisneta do herói da Unificação italiana, morto em 1882. O Ministério italiano de Bens Culturais inicia em setembro o processo de exumação dos restos do revolucionário, sepul-tado no norte da Sardenha. O objetivo é também cumprir a vontade do general italiano, que deixou por escrito o desejo de que seu corpo fosse cremado e suas cinzas, enterradas. A exumação, aprovada há alguns meses pelas autoridades ita-lianas, quer comparar o material genético enterrado com o de seus descendentes e, talvez, aplicar um novo tratamento que permita uma melhor conservação do corpo.

Jantar de galaO jantar de gala de encerramento do Mo-

mento Itália Brasil, que trouxe de outubro de 2011 a junho de 2012 dezenas de espe-táculos, mostras e seminários ao Brasil, será realizado em 4 de setembro, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, a partir das 19.30h. Empresários, artistas e políticos se-rão recebidos pelo embaixador La Francesca.

Novo embaixadorFontes da Farnesi-

na dão como certa a nomeação de Raffaele Trombetta como novo embaixador italiano no Brasil. Atual vice diretor geral para a integração europeia do Ministério italiano das Relações Exteriores, ele deverá substituir Gherardo La Francesca, que deverá se despedir de Brasília em dezembro, após quatro anos de diplomacia na capital federal.

Reforço na pastaO grupo italiano Barilla apre-

sentou, em julho, um plano de negócios que inclui um pro-grama de reforço no mercado brasileiro. Nos próximos anos, a marca aposta em um incre-mento do faturamento no país que ocupa o terceiro lugar mundial no mercado de mas-sas, depois de Estados Unidos e Itália. A Barilla marca pre-sença no país com uma filial em São Paulo desde 1997. “O nosso projeto será focado em algumas áreas específicas no coração dos negócios, em uma situação de mercados muito complexos. Na massa e nos produtos que a acompanham, será reforçada a nossa expan-são internacional”, afirmou o presidente Guido Barilla.

Itália do floreteA delegação italiana alcan-

çou um feito raro logo no primeiro dia das Olimpíadas de Londres. Atletas do país conquistaram ouro, prata e bronze na disputa do florete feminino. O título ficou com Elisa Di Francisca, que der-rotou sua compatriota Arian-na Errigo na morte súbita de uma final equilibrada: 12 a 11. Na disputa pelo terceiro lugar, Valentina Vezzali venceu a sul-coreana Nam Hyun-Hee e garantiu o pódio inteiramente azzurro. Vezzali, porta-ban-deira da Itália na cerimônia de abertura, buscava o tetra-campeonato olímpico, mas precisou se contentar com o bronze. O tetracampeonato olímpico é um feito inédito entre as mulheres. Entre os homens, só os americanos Carl Lewis, no salto em dis-tância, e Al Oerter, no lança-mento de disco, conseguiram a façanha.

Menos poluiçãoA Fiat obteve um empréstimo de US$ 440 milhões do Banco

Europeu de Investimento para financiar pesquisas que bus-quem formas de tornar o consumo de combustível mais eficien-te e de reduzir as emissões de gases poluentes. O empréstimo financiará projetos em cinco dos 51 centros de pesquisa da Fiat Industrial na Europa. A Itália irá receber a maior parte dos inves-timentos, 83%. Alemanha e Suíça receberão 8% e 9% do valor, respectivamente. Os principais investimentos estarão concen-trados no desenvolvimento de tecnologia para motores e com-bustíveis, e na aerodinâmica de veículos.

Conexão de interesseA Vivendi está considerando

a possibilidade de vender a operadora brasileira de tele-comunicações GVT, em uma operação que poderá ajudar as ações do grupo francês a recuperar terreno. Analistas estimam que o valor da GVT gire em torno de US$ 10,42 bilhões. A Vivendi, um con-glomerado que atua em áreas que vão do entretenimento às telecomunicações, está reven-do sua estrutura para reverter uma queda contínua no preço de suas ações. Os potenciais interessados na GVT incluem a Telefônica e a Oi — bem como a Telecom Italia, através da TIM Brasil.

Barack Obama foi o precursor de campanhas políticas na inter-net com o viral “Yes, we can”. Muitos políticos estão aderindo

às redes sociais para divulgar projetos e criar proximidade com o público. Giulio Terzi, ministro italiano das Relações Exteriores, lançou, no começo do mês, sua página no Facebook, onde é possível seguir a agenda do chanceler e ver sua participação na Cúpula de Rimini, na Itália, em 24 de agosto, entre ou-tras notícias. Terzi já fazia uso do Twitter, e resolveu utilizar outras plataformas da internet com a finalidade de “dialogar em plena transparência com todos”.

cosenostreJul ioVanni

comunitàitaliana | agosto 2012 9

Page 10: Revista Comunità Italiana Edição 169

“Quero parabenizar a revista pela matéria sobre a luta por justiça social e ambiental durante a Cúpula dos

Povos. A ONG A Sud, através de seus convidados, tratou de questões centrais sobre sustentabilidade e ainda fez críticas construtivas à Rio+20.”

Patricia romeu, Cabo Frio – RJ – por e-mail

“Gostei muito da matéria sobre a Cúpula dos Prefeitos, duran-te o Fórum Humanidade 2012. É muito bom ver que os go-

vernantes do grupo C-40 estão se mobilizando em prol da redu-ção na emissão de gases poluentes, estão melhorando o setor de transporte e remodelando as cidades com projetos sustentáveis.”

rogério guimarães, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail

cartas

Você concorda com proibição da Anatel na venda de chips da Tim, Claro e Oi por problemas no serviço?

Jornal Corriere della Sera: Berlusconi quer voltar a ser primeiro-ministro em 2013. Ele conseguirá?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/07/12 e 22/07/12.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/07/12 e 15/07/12.

Não - 30,8%

Não - 50%

Sim - 69,2%

Sim - 50%

Vereador de Pieve Saliceto propôs colocar nome de Mussolini em escola. Isso é apologia ao fascismo?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 23/07/12 e 27/07/12.

Não - 22,2%

Sim - 77,8%

opinião

“Acho que o Brasil tem uma boa qualidade de produção, mas tento manter tudo o que posso na Itália, porque temos lá um know-how incrível”, Renzo Rosso fundador e CEO da Diesel, ao comentar sobre a nova loja em São Paulo em entrevista ao site Fashion Forward

“Parabéns, continuem assim.

Eu acompanho vocês.

Enviem meus cumprimentos a todos os atletas,

técnicos e dirigentes da delegação”

Mario Monti, premier italiano, ao telefonar ao presidente do

Comitê Olímpico Italiano,Gianni Petrucci, durante as Olimpíadas de Londres,

em cujo quadro de medalhas os atletas do país ficaram entre os 10 primeiros colocados

“Uma criança filha de imigrantes que estuda

na Itália é italiana”, Pier Luigi Bersani,

secretário do Partido Democrata, ao defender os direitos dos filhos de

imigrantes nascidos na Itália durante assembléia nacional

do PD, em Roma

“Trata-se de uma preciosa ocasião para muitos jovens

experimentarem a alegria e a beleza de

pertencer à Igreja e de viver a fé”, papa Bento XVI, ao

abrir, em Roma, a contagem regressiva

do Vaticano para a Jornada Mundial da

Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro em 2013

“É um faroeste espaguete surrealista”, Quentin Tarantino, cineasta, comparando seu novo filme Django Livre com o bangue-

bangue do cinema italiano das décadas de 1960 e 70

“Com o passar dos anos, você perde aquilo que na França é chamado de beleza do diabo e na Itália de beleza do burro. Se você acha que deve suscitar o desejo quando tinha 20 anos, significa que não saiu da infância e tem algum problema. Digo isso não apenas às mulheres, mas aos homens que se passam por ridículos aos 40-50 anos”,Monica Belucci, em entrevista à Ansa, ao comentar que convive muito bem com as rugas aos 48 anos

“A Itália não é como a Espanha. Acho que é muito mais forte: como país somos muito mais competitivos”,Giorgio Squinzi, presidente de Confindustria, ao falar sobre a crise espanhola

Acesse comunitaitaliana.com no seu smartphone com o código QR acima

no celular

enquetes frases

agosto 2012 | comunitàitaliana10

Page 11: Revista Comunità Italiana Edição 169

Willy RizzoO Museu Brasileiro da Escul-tura (MuBE) abriga em São Paulo uma mostra de foto-grafias da carreira de Willy Rizzo que faz parte do projeto Iguatemi Photo Series. A ex-posição conta com 100 fotos

impressas em papel gelatina de prata e ciber chrome, uma raridade nos dias de hoje. São retratos de estrelas do cine-ma, das artes e da moda, além de fotos das viagens de Rizzo ao Brasil, incluindo o Carnaval de 1961 no Rio de Janeiro. Até 2 de setembro. www.mube.art.br

FenaMassaO primeiro Festival Nacional da Massa acontece em outubro (dias 11, 12, 13, 14, 19, 20 e 21) na Praça Garibaldi, no centro histórico de Antônio Prado, no Rio Grande do Sul. O evento vai brindar o público com várias atrações culturais, oficinas de culinária, artesanato e visitas ao Museu da Massa. O Fena-Massa é um projeto que visa o incentivo à indústria de mas-sas e à qualificação de serviços e ingredientes dos estabeleci-mentos de comida italiana para receber bem o turista. www.fenamassa.com.br

4ª Bienal Brasileira de DesignNo Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), acontece, de 19 de setembro a 31 de outu-bro, a 4ª Bienal Brasileira de Design com o tema Diversi-dade Brasileira. O evento vai brindar o público com várias

mostras nacionais e interna-cionais, workshops e palestras de renomados profissionais da área, muitos deles italianos. As principais iniciativas do design da indústria, do meio acadêmico ou de gestão pode-rão ser conferidas no evento. http://www.minasdesign.mg.gov.br

De Gênova a Ouro PretoA Sala Manoel da Costa Athai-de do Museu da Inconfidência, situada em Ouro Preto (MG), sedia uma exposição sobre a imigração italiana no estado. A mostra retrata a chegada da família do fotógrafo ouropre-

tano Luiz Fontana ao Brasil, no final do século XIX. Os re-gistros de Fontana constituem patrimônio da prefeitura da ci-dade, sob a guarda do Instituto de Filosofia, Arte e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto. Além de fotos, há objetos utilizados por outras famílias

da cidade de descendência ita-liana. Até 26 de agosto.http://www.museudainconfiden-cia.gov.br/

MacfrutA maior feira de tecnologia e serviços para a produção de frutas e hortaliças (Macfrut) acontece em Cesena, cidade situada na região italiana da Emília Romanha, no dia 26 de setembro. A feira possibilita a troca de experiências, conheci-mentos e rodadas de negócios entre operadores italianos e outros do exterior, como os brasileiros. A Câmara Ítalo-Bra-sileira de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro assinou um acordo com a feira para ofe-recer condições especiais às empresas e aos profissionais do setor hortifrutícola do Brasil. www.macfrut.com

naestante

Branca como leite, vermelha como sangue Alessandro D’Avenia aborda a realidade juvenil através do protagonista Leo. Por meio de um monólogo, referências atuais rela-cionadas a temas como paixão, morte, sistema escolar, educação e relação entre jovens e adultos são tratadas na obra. No romance, o autor utiliza as cores para descrever sentimentos e sensações: o branco é sinônimo de solidão e silêncio, enquanto o vermelho representa intensidade, além de lembrar Beatriz — por quem o personagem é apaixona-do e por quem ele aprende a amadurecer devido à doença da amada. Editora Bertrand Brasil, 368 páginas, R$ 39,00.

Catturandi A principal ideia do livro é mostrar o proces-so que abrange do início da busca até a condenação dos mafiosos italianos. I.M.D., sigla do autor cujo nome não pode ser revelado para evitar represálias, descreve desde o vocabulário utilizado pela polícia até as técnicas de escu-ta, interceptação e perseguição. A obra explica como leis e experiências pessoais, regras e instinto, competência pro-fissional, capacidade de improvisação e, principalmente, paciência, fazem de um policial um especialista da Divisão Catturandi, do Esquadrão Investigativo de Palermo. I.M.D. participou de importantes inquéritos contra a máfia, como o que levou à captura de Bernardo Provenzano. Editora Ber-trand Brasil, 176 páginas, R$ 29,00.

clickdoleitor

Arq

uivo

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soal

SErviço

“Sou formada em Letras,  habi-litada em língua  italiana. Em

2010, descobri um curso de idiomas na região Marche, onde se mistura-va  aulas com visitas a importantes cidades italianas, como Veneza,  que carrega grande conteúdo histórico e apresenta uma atmosfera incrível.”

Juliana cristina Bonilha São José dos Campos, SP — por e-mail

agenda

comunitàitaliana | agosto 2012 11

Page 12: Revista Comunità Italiana Edição 169

Prigionieri dello “spread”Punto e a capo. Dopo un anno di agonia l’economia italiana non riesce a dare segnali di ripresa

L’estate del 2011 fu l’inizio della fine del governo Ber-lusconi: la speculazione finanziaria internazionale

cominciò ad accanirsi contro l’Italia, anche a causa della oggettiva debo-lezza del governo di allora, reso ogni giorno più vulnerabile dai ripetuti scandali (sessuali e non) che colpiva-no il Presidente del Consiglio e da una altrettanto oggettiva incapacità di rispondere alla crisi economica con misure serie e, soprattutto, credibili.

Dopo pochi mesi il governo Ber-lusconi fu costretto a rassegnare le dimissioni, sotto gli occhi di un’opi-nione pubblica sfiduciata e delusa dai suoi governanti e sotto la scure ineso-rabile dello “spread”.

Lo “spread”, sì; chi era costui?Oggi in Italia tutti (o quasi) han-

no fatto familiarità con questa strana parole inglese, che sta a indicare il dif-ferenziale tra gli interessi riconosciuti ai titoli di Stato tedeschi (i “Bund”) e quelli italiani (i “Btp”).

L’indicatore che misura questo scostamento, in tempi normali, do-vrebbe attestarsi intorno ai 100 punti; a novembre del 2011 arrivò vi-cino ai 600!

Fu la volta del governo presieduto da Mario Monti, un autorevole econo-mista stimato in Europa e nel mondo; una personalità capace e autorevole in grado, si disse allora, di trasmet-tere al Paese e ai cosiddetti “mercati” quell’iniezione di fiducia e di credibi-lità che tutti stavano ansiosamente aspettando.

L’iniezione arrivò, anche grazie a una potente dose di tasse e rigo-re (necessaria dopo gli anni allegri di Berlusconi, unico governante al mon-do ad aver eliminato la tassazione sugli immobili, mettendo in ginocchio le amministrazioni locali oltre che il bilancio dello Stato italiano).

L’iniezione però, come spesso acca-de con i più forti antibiotici, dopo poco tempo esaurì il proprio effetto tera-peutico; i mercati continuarono la loro opera di speculazione ed il loro attacco

all’Euro ed ai suoi Paesi più a rischio (la Grecia, la Spagna e la stessa Italia).

A distanza di un anno la situazione non è quindi cambiata di molto: lo “spre-ad” è tornato sopra quota 500 e non si intravede un’uscita dalla crisi a breve e medio termine.

L’avvicinarsi, infine, della scadenza naturale del governo e quindi l’indizione di nuove elezioni non sembra produrre alcun effetto positivo, al contrario. L’in-certezza politica contribuisce a sua volta a rafforzare instabilità e vulnerabilità.

Cosa vuole dire tutto ciò?Che è stato inutile far cadere Berlu-

sconi? Che il governo-Monti non è in grado di gestire la crisi?

Che sarebbe meglio andare a vota-re subito per formare un nuovo governo legittimato dalle urne? O che, al contra-rio, la prosecuzione del governo Monti è l’unica risposta in grado di rassicurare l’Europa e i mercati?

Nessuna di queste domande è di per sé in grado di spiegare in maniera esaustiva quanto sta accadendo. Ugualmente, non

sarebbe possibile una risposta univoca e secca a nessuno di questi interrogativi.

E’ fuori dubbio quanto la permanenza di Berlusconi al governo avrebbe continuato a produrre effetti negativi oggi difficilmente ipotizzabili; altrettanto evidente è il ruolo positivo avuto da Monti nel restituire credi-bilità e ruolo internazionale all’Italia.

Tutto ciò oggi non basta più, ed è questa forse l’unica vera risposta che pos-siamo dare.

Solo un nuovo governo, forte perché scelto dal popolo italiano, potrà essere in grado di affrontare la più difficile crisi economica dal dopoguerra ad oggi.

L’impresa è ardua, ai limiti dell’impos-sibile. Ma è l’unica strada che gli italiani hanno di fronte per combattere questa nuova “guerra mondiale”; una guerra dove il nemico non ha armi chimiche o nucleari, ma usa la finanza internazionale per minare ugualmente e alla radice le ba-si di un grande Paese: la nostra Italia!

Solo un nuovo governo, legittimato dal

popolo italiano, potrà affrontare con coraggio

e credibilità la crisi

opinioneFabioPor ta

agosto 2012 | comunitàitaliana12

Page 13: Revista Comunità Italiana Edição 169

Cortesia e civiltàEsistono popoli più cortesi, e quindi più civili, di altri?

Un giorno di giugno lessi que-sto annuncio su un autobus a Bologna: “ La cortesia è il mi-glior compagno di viaggio”. È

una campagna del Comune di Bologna che intende cosí sensibilizzare i cittadini con un richiamo alla buona educazione e alla solidarietà civile. Applausi: una gentilezza illumina la nostra giornata. Qualche tem-po dopo, a Fidenza, presi un autobus per Cremona. Una mandria di studenti agili e prepotenti aveva occupato tutti i sedili. Gli anziani, arrancando, arrivarono tardi e rimasero in piedi. Non uno, tra i cafoni, sentí il dovere di cedere il posto alla vec-chietta in piedi nel corridoio dell’autobus. Occhi bassi fingendo di non vedere, cuf-fia degli iPod fingendo di non udire, quei tristi esemplari della nostra futura classe dirigente rimasero marmorei al loro posto. La vecchietta, in fondo, è una cittadina co-me gli altri, e in Italia non ha alcun diritto sui sedili degli autobus pubblici. Dice in-fatti l´art. 3 della nostra Costituzione: “ Tutti i cittadini... sono eguali di fronte al-la legge senza distinzione.... di condizioni personali.. “. Cioè: anziani e bambini so-no persone comuni, e in quanto anziani o bambini, non hanno alcun diritto di gode-re di condizioni privilegiate rispetto a un giovanotto di 24 anni. Non ho trovato, in alcuna altra parte della Magna Carta o nel nostro Codice Civile, cenni che attenuino, tenendo conto delle varie stagioni umane, questo concetto di eguaglianza assoluta. L’aspirazione alla eguaglianza è un concet-to molto nobile, senza dubbio, che riflette la preoccupazione dei padri costituenti di non permettere che vi siano cittadini più uguali di altri. Un concetto però che tal-volta non regge il confronto con la realtà. In questi giorni, per esempio, si discute nel Parlamento italiano sull’opportunità di proteggere i gay, spesso ingiustamente

aggrediti. Ma i gay non sono persone diverse dalle altre; solo una visione ma-schilista li può vedere diversi. Certamente non meritano maggiore protezione ri-spetto a quanta ne dovrebbe essere data a bambini ed anziani.

Tornai a San Paolo. Avendo superato i 60, appartengo legalmente alla catego-ria “idosos”, cosí come determina la legge 10741 del 2003 “Estatuto do Idoso”. In quanto facente parte di questa categoria andai per la città in metrò e sugli auto-bus gratuitamente (art. 39 dello Statuto), seduto su sedili riservati agli anziani (art. 39), nelle banche e negli uffici pubblici mi indirizzai agli sportelli che permettono di

non fare la fila (art. 3), nel supermerca-to passai per le nostre casse esclusive (art. 3), nelle strade usai comodissimi spazi riservati per parcheggiare (art. 41), evitai l’estenuante fila al chek in dell’aeroporto (art. 42), mi sentii con-fortato da mille altre piccole e grandi attenzioni. La legge non si limita a dare all’anziano alcuni privilegi; in qualche caso impedisce veri e propri soprusi. Per esempio, l’art. 15 vieta alle imprese che gestiscono le assicurazioni sanita-rie di aumentare in funzione dell’età i premi che le persone anziane devono pagare. Questa norma permette ora agli anziani di avere un’assicurazione; prima che lo Statuto entrasse in vigo-re le imprese buttavano letteralmente fuori l’anziano aumentando il costo della sua assicurazione a livelli assur-di. E non v’è grazia per chi non rispetta lo Statuto: l’art. 96 determina la re-clusione per chi discrimina l’anziano, per qualunque motivo. Lo spirito della

legge è enunciato chiaramente dall’art. 8: “L’invecchiamento è un diritto per-sonalissimo e la sua protezione è un diritto sociale...”

È ovviamente superficiale soste-nere che vi siano popoli più civili di altri. Certamente però c’è relazione tra civiltà e cortesia. Ho vissuto atti di cortesia, e di scortesia, in Italia e in Brasile. Difficile dare dei pesi, ma l’im-pressione è che in Brasile un sorriso e un aiuto non si neghino quasi mai. Lo Estatuto do Idoso non è un fatto epi-sodico: è frutto di una cultura ed è un atto di grande civiltà. Gli italiani vivo-no tempi di grande difficoltà ma ciò non giustifica l’episodio di Fidenza, la maleducazione e gli atti di egoismo di cui sono stato vittima o testimone in Italia. La nostra terra è stata, un tem-po, la culla della civiltà.

L’impressione è che in Brasile un sorriso e un aiuto non si neghino

quasi mai. Lo Estatuto do Idoso non è un fatto

episodico: è frutto di una cultura ed è un atto

di grande civiltà

opinioneEzioMaranesi

comunitàitaliana | agosto 2012 13

Page 14: Revista Comunità Italiana Edição 169

Brasil se destaca cada vez mais en-tre as economias emergentes para novos negócios.

Antonio Nicita, docente de Política Econômica junto à Uni-versidade de Siena e de Economia Pública e Regulamentação na Uni-versidade LUISS Guido Carli de Roma, esclarece que as avaliações das agências especializadas em ris-co de investimentos, assim como as medidas defensivas adotadas por vários países fora da Zona Euro, indicam que há um ataque dirigido especificamente à moeda europeia, até mesmo para se saber de fato qual é o seu grau de resistência

— Esse ataque é muito mais forte à moeda do que aos países aderentes. A atual circunstância, porém, se agrava com os problemas

europa busca oxigênioDois jovens especialistas italianos, Antonio Nicita e Angelo Lupoli, analisam a crise econômica vivida no país no contexto da Zona Euro com exclusividade para a Comunità

Economia

ideia dos países europeus em gover-nar com soberania suas respectivas economias e suas dificuldades de mercado, abalando a autonomia de buscar alternativas para enfrentar seus problemas.

Como interpretar a instabilida-de do euro no mercado monetário? Que alternativas de mercado po-dem garantir a sustentabilidade econômica e um futuro mais es-tável para as empresas europeias em crise? Os fluxos migratórios da Europa para a Ásia, a América Latina, a África ou a Austrália po-dem ajudar a reorganizar a vida econômica dos cidadãos europeus? Como interpretar o frenético des-locamento de investimentos de uma área geográfica para outra? Dois jovens especialistas, um do-cente universitário e um jornalista econômico, respondem à Comu-nitàItaliana. Eles afirmam que o

As nações e as instituições financeiras defensoras do euro enfrentam o se-gundo semestre do ano

ainda na ofegante corrida em busca de oxigênio para os setores produ-tivos do mercado. A necessidade de se reduzir a dívida pública, impos-ta no âmbito da União Europeia e reforçada pela Alemanha, começou a asfixiar o crescimento econômico e agravou o questionamento sobre a validade de se manter o euro vi-vo entre os países que aderiram à moeda no transcorrer de seu pri-meiro decênio de circulação. As sucessivas crises econômicas, so-madas aos efeitos das avaliações de risco feitas por agências especia-lizadas em finanças, puseram em jogo a credibilidade da moeda e a

Lisomar SilvaDe Roma

A crise econômica ainda vai pesar

por muito tempo no bolso dos

italianos, acredita Angelo Lupoli

14 agosto 2012 | comunitàitaliana

Page 15: Revista Comunità Italiana Edição 169

da economia interna crítica e da dí-vida pública de cada um dos países que adotaram a moeda corrente.

No caso da Itália, a dívida públi-ca supera a faixa de 120% do PIB e cria uma situação paradoxal, anali-sa Nicita.

— Temos que usar o PIB para abater a dívida pública e ao mesmo tempo garantir o crescimento eco-nômico. O único modo de reduzir a nossa dívida é impor linhas políti-cas de austeridade que, na maioria dos casos, não deixam espaço ao crescimento econômico. Além dis-so, a Itália precisa atrair grandes investimentos para recuperar o fôlego necessário e dar suporte ao mercado interno.

Segundo o economista, a União Europeia impõe — a e Alemanha rei-vindica — medidas de austeridade que são dolorosas em seus efeitos pa-ra os trabalhadores e contribuintes italianos. Assim, torna-se necessá-rio diminuir a despesa no campo da previdência social, privatizar pelo menos uma parte do patrimônio pú-blico, procurando ao mesmo tempo reduzir a incidência de taxas e im-postos sobre os contribuintes:

— Temos gastos públicos ele-vados, com dívida pública e nível de imposição fiscal (próximo a 55%) muito alto. Não crescemos e apresentamos elevados índices de desemprego juvenil somado ao aumento do custo da previdência social, também pelo envelhecimen-to da população. Na prática, usamos os recursos gerados pelo recolhi-mento de taxas e impostos para pagar as aposentadorias, cobrir a despesa pública e pagar nossas dí-vidas. Não sobram recursos para fomentar o crescimento — afirma.

Esta linha de pensamento — classificada por Antonio Nici-ta como lobística — se baseia no atual quadro crítico dos países eu-ropeus, onde prevalece o aumento de desemprego somado às relações e às atividades produtivas cada vez mais precárias do mercado do tra-balho, além da necessária redução da dívida pública, gerando um cres-cimento escasso ou inexistente, mesmo que se reduza a diferença entre a própria dívida e o PIB.

— Podemos ver como a Grécia ficou praticamente destruída pelo conjunto dessas e outras medidas drásticas. Perdem-se a confiança e a força de programar o próprio fu-turo, assim como a capacidade de permanecer no mercado de consu-mo. A consequência desse conjunto de fatores é que o PIB não cresce.

O papel da Europa, nos planos político e social, também entra em jogo por suas raízes historicamente fundadas na democracia, na defesa dos direitos civis e na paz social.

— Esse papel precisa ser recor-dado na atualidade. Não se pode confundir a imposição de regras de comportamento a partir de um vér-tice, se cada país tem autonomia e regras próprias para enfrentar seus problemas internos. Ao mesmo tempo, a convivência dessas dife-rentes linhas políticas de ação com o tratamento a ser dado ao euro transforma a existência de países e cidadãos em uma convivência forçada, parecida com a vida de condomínio.

O professor italiano acredita que, se considerarmos que países como Espanha, Grécia e Itália po-dem perder mais espaço na área do euro, “certamente haverá uma espécie de implosão, que pode tor-nar as democracias europeias mais frágeis, o que gera também outros problemas nas relações interna-cionais com países de outras áreas geopolíticas”.

A austeridade alemã na Zona EuroAlguns especialistas pensam que a Alemanha, responsável pe-los efeitos da Segunda Guerra Mundial, deve ser considerada a

principal causadora de uma even-tual implosão do euro. Antonio Nicita recorda, porém, que o país governado por Angela Merkel tam-bém fez grandes sacrifícios para reconquistar e manter a união das partes Leste e Oeste, em 1990.

— Se os alemães renunciaram a diversos privilégios para poder absorver e superar os problemas trazidos pela reunificação, sen-tem-se, agora, no justo direito de reivindicar a austeridade aos ou-tros Estados que adotaram o euro.

Que medidas estão sendo ado-tadas para sair desse ciclo? Nicita aponta três linhas políticas atu-almente em debate junto à União Europeia, ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Central Europeu. Nicita explica que a pri-meira linha é de tipo neoliberal a curto ou médio prazo, que de-fende a privatização de parte do patrimônio público com forte re-dução da despesa pública e dos impostos. Neste caso, poderia haver um forte aumento do de-semprego, mas sem perder de vista a perspectiva de retomada do cres-cimento. A segunda linha leva em consideração uma programação de governo ao enfrentar problemas socioeconômicos espinhosos em modo gradual e com prazos mais flexíveis, de médio ou longo prazo. Neste caso, porém, “corre-se o ris-co de somente atenuar a recessão, sem reconquistar em seguida um ritmo de crescimento real, aler-ta”. Já a terceira se aproxima do pensamento Keynes, buscando re-cuperar o crescimento através do estimulo ao consumo e da deman-da de bens e serviços no mercado, o que pode aumentar o PIB, que se-rá usado em parte para diminuir a dívida pública.

— Só que a Alemanha se opõe a esta última tese no caso dos países que, com a Itália e a Grécia, adota-ram o euro, mesmo consciente dos efeitos negativos que uma recessão italiana profunda pode provocar na economia alemã — esclarece.

Uma das respostas se encontra na emigração para outros países, mas orientada a seguir um percur-so de formação e aperfeiçoamento profissional, o que seria a chance para os jovens, que podem atingir altos níveis de especialização para depois retornarem à Itália e aplica-rem os conhecimentos adquiridos no exterior.

— No atual cenário econômico italiano, infelizmente, há pou-cas perspectivas para os jovens.

“Se os alemães renunciaram a diversos privilégios para poder absorver e superar os problemas trazidos pela reunificação, sentem-se, agora, no justo direito de reivindicar a austeridade aos outros Estados que adotaram o euro”Antonio Nicita, economista italiano

A Alemanha, comandada por

Angela Merkel, é contra a recuperação

do crescimento em países como Itália

e Grécia através do estímulo ao consumo

e do aumento da demanda de bens e

serviços

comunitàitaliana | agosto 2012 15

Page 16: Revista Comunità Italiana Edição 169

Acabamos de alcançar um re-corde histórico nos índices de desemprego, sem programas de investimentos ou incentivos para a criação de vagas nos setores pú-blico e privado. Atualmente o total de trabalhadores regularmente registrados e ativos corresponde a menos de 30% da população. O reduzido número de contratos de trabalho corresponde à menor cap-tação de recursos para a previdência social, que deve dar suporte a um número sempre crescente de apo-sentados e idosos.

Crise e oportunidade em um mercado mais flexível O cenário da crise econômica eu-ropeia e italiana, aos olhos de Antonio Nicita, deve ser interpre-tado ainda com um conjunto de oportunidades que os investido-res internacionais sabem detectar muito bem:

— Em um quadro de economia fragilizada, o investidor vai encon-trar um clima mais flexível e, face aos índices de desemprego, traba-lhadores mais disponíveis.

Outras ocasiões para novos negócios se renovam em alianças estratégicas que a Itália busca esta-belecer com os países emergentes, sobretudo os do BRIC (Brasil, Rús-sia, Índia e China). Mas Antonio Nicita faz uma ressalva:

— É melhor negociar com o Brasil do que com a China, que é um país em crescimento econômico que compra dívidas de outros paí-ses, como Itália e Estados Unidos, o que gera uma dependência es-tratégica e não é necessariamente saudável. A Itália compra produtos a baixo custo da China, mas acaba ficando na posição de devedora dos chineses, que são grandes produto-res e grandes credores no mundo — ressalta.

As atuais características de forte demanda real e potencial do mercado brasileiro, ainda que com índices modestos de crescimento nesse período, oferece perspectivas interessantes para os investidores estrangeiros e empresários de pe-queno e médio porte. Para Antonio Nicita, ainda é prematuro falar de “bolhas” que possam explodir de um momento para outro. Mas o economista chama a atenção para imitações arriscadas:

— O Brasil não deve repetir a atitude dos Estados Unidos, que financiaram sem freios a compra de propriedades imobiliárias. Os preços do mercado imobiliário

brasileiro estão em ascensão, mas isso não significa que quem compra imóveis dispõe da liquidez neces-sária e suficiente para enfrentar novas despesas a médio ou longo prazo, ou ainda que lucrará com a revenda de seu imóvel. A atual fase econômica brasileira requer maior atenção concentrada sobre os efeitos reais da expansão e do crescimento do que o fomento de financiamentos.

Final de verão europeu em clima de especulaçãoO verão europeu se conclui com calafrios na espinha dos cidadãos italianos, que enfrentam os au-mentos de preços típicos do outono no fornecimento de gás e energia elétrica, das inscrições nas escolas para os filhos, nos impostos majo-rados sobre primeira (e às vezes, única) habitação, além de cortes na saúde pública para o tratamento de patologias consideradas caras.

— A crise econômica vai con-tinuar a pesar nos bolsos do consumidor por muito tempo. Nesse contexto, a saída do euro é a última coisa na qual os italianos pensam — explica Ângelo Lupoli, chefe da editoria econômica do La Repubblica, um dos mais importan-tes quotidianos italianos.

O atual primeiro-ministro Mario Monti busca alianças com países como a França e o apoio do banco Central Europeu na defesa do euro, lembra.

— As pressões da Alemanha para que a Itália recupere uma po-sição de equilíbrio em suas contas esconde o temor de uma nova si-tuação crítica semelhante às da Espanha e Grécia — afirma.

O Parlamento Federal Alemão (o Bundestag) e o Banco Central Alemão (o Bundesban, que detém a primazia sobre o sistema da Zona Euro), agora estão de olho no com-portamento dos grupos bancários da Itália, entre eles do Unicredit, já que o sistema italiano apresen-ta um quantitativo de créditos e

financiamentos em patamar supe-rior à liquidez de balanço:

— Os alemães não querem ver repetida a experiência vivida com a Grécia e a Espanha — acentua Lupoli.

Assim, a oferta do Banco Cen-tral Europeu de “fazer o possível para salvar o euro” fica restrita às exigências que o Bundesbank e a pri-meira-ministra alemã podem fazer aos outros Estados da Zona Euro.

Ainda existem dois problemas para a Europa, na visão de Lupoli:

— As economias e as demo-cracias acabam fragilizadas pela corrupção e a inadimplência que, somadas à crescente dívida e às despesas públicas, excessivas e improdutivas, ficam sujeitas à di-tadura dos mercados. O Brasil, com todo o seu potencial econômico de crescimento, não deve correr o risco de entrar nesse território mi-nado. Não se pode renunciar a uma política de austeridade econômica, capaz de garantir a credibilidade e a confiança dos cidadãos junto ao governo e do país junto ao mercado internacional — finaliza.

Economia

“É melhor negociar com o Brasil do que com a China, que é um país em crescimento econômico que compra dívidas de outros países. A Itália compra produtos a baixo custo da China, mas fica na posição de devedora dos chineses”Antonio Nicita, economista italiano

Em pleno final de verão, os italianos

enfrentam aumentos nas boletas do gás e

energia elétrica

agosto 2012 | comunitàitaliana16

Page 17: Revista Comunità Italiana Edição 169

Pense na seguinte situ-ação: um empresário italiano sente-se forte-mente atraído a investir

no Brasil e quer abrir filial de sua empresa em alguma cidade do país, mas não conhece nada do sistema tributário brasileiro, nem ninguém que lhe possa dar infor-mações sobre incentivos fiscais ou legislação comercial. Para facilitar a vida dos possíveis investidores estrangeiros, será lançado, dentro de um mês, o Guia do Investidor Estrangeiro no Estado do Rio de Janeiro. O projeto é fruto de uma parceria entre o governo fluminen-se e a Firjan.

Com 90 páginas dividas em 12 capítulos, reunirá informações com o objetivo de orientar os in-teressados em fazer negócios no Rio sobre temas como: tipos de vistos permanentes e temporários para imigração; formas jurídicas de estabelecer uma empresa, co-mo sociedade simples, limitada, anônima e joint venture; comércio exterior e aduana; sistema jurídi-co relativo a setores como imóveis, meio ambiente, petróleo e gás; li-citações e concessões públicas; e impostos federais, estaduais e mu-nicipais — um dos temas que mais influenciam os empresários antes de ingressarem em um país.

Além disso, será oferecido um panorama com dados políticos,

geográficos, econômicos, educa-cionais, culturais e logísticos tanto do Brasil quanto do estado. Ou-tros capítulos importantes serão dedicados a instituições como o BNDES, o CNPQ, a Finep, a CA-PES, a Faperj e a Faetec, além de uma seção específica que explica como funciona o Sistema Firjan e seus serviços, inclusive o Centro Internacional de Negócios.

— O Rio é o primeiro estado do Brasil a fazer um guia próprio pa-ra investidores estrangeiros. Em nível nacional, já existem guias co-mo os do Ministério das Relações Exteriores, da KPMG e de alguns escritórios de advocacia. A ideia é favorecer a criação de um ambiente friendly para negócios, facilitando

a compreensão do nosso sistema tributário aos estrangeiros — ex-plica o assessor chefe de comércio e investimentos da subsecretaria de Relações Internacionais do gover-no do Rio, Luiz Carlos Carvalho.

Recorde de investimentos e altas perspectivasA necessidade de criar um manu-al para o estado partiu da procura cada vez maior dos investidores estrangeiros, ressalta o subsecretá-rio de Relações Internacionais do Rio, Pedro Spadale.

— O estado do Rio é, atualmen-te, recordista em investimentos no país. Às vezes, os investidores precisam de respostas para ques-tões básicas. O objetivo é oferecer informações práticas quando pre-cisarem fazer negócios, como uma ferramenta de apoio — explica Spadale à Comunità.

A previsão é que, de 2012 a 2014, o estado receba US$ 120 bilhões em investimentos, afir-ma o documento. O volume é composto de investimentos pú-blicos e privados de origem nacional e estrangeira. Do total, aproximadamente 70% correspon-dem a investimentos industriais. O montante relacionado à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olím-picos e Paraolímpicos de 2016 representam US$ 10.1 bilhões, dos quais US$ 4.9 bilhões referem-se a projetos anunciados pelos setores de hotelaria, infraestrutura, e de reforma ou construção de instala-ções olímpicas.

O documento será disponibi-lizado gratuitamente na internet. O lançamento está previsto para o final de setembro e vai incluir uma versão em inglês. Uma versão em italiano está sendo realizada em parceria com a Câmara Ítalo--brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura do Rio.

Para investirEstado do Rio prepara lançamento de guia específico para investidores estrangeiros com informações nacionais e locais sobre os sistemas tributário e jurídico

Economia

“O Rio é o primeiro estado do Brasil a

fazer um guia próprio para investidores de

outros países”

A indústria petroquímica se expande no Rio de Janeiro e dá

oportunidade para inúmeras

empresas do setor. Em destaque, o

sub-secretário de Relações Exteriores

do estado do Rio, Pedro Spadale, um

dos responsáveis pela iniciativa

do governo

Cintia Salomão Castro

17comunitàitaliana | agosto 2012

Page 18: Revista Comunità Italiana Edição 169

O procurador antimáfia da República italiana Pietro Grasso vive sob escol-ta desde 1985, quando

foi juiz do famoso maxiprocesso de Palermo, na Sicília, que condenou 19 réus à prisão perpétua e a um total de 2600 anos de cárcere 475 acusados de envolvimento com a organização mafiosa Casa Nostra. Concluída a histórica tarefa, Grasso foi nomeado consultor da comissão antimáfia. Depois, virou conselheiro da Direzione affari penali do Ministé-rio italiano da Justiça. É procurador da direção italiana antimáfia desde 2005. Antes disso, de 2000 a 2004, atuou como procurador em Paler-mo, capital da Sicília, período em que foram presas 1.779 pessoas por crime de máfia, além de terem sido decretadas 380 prisões perpétuas.

Em julho, ele esteve no Brasil para apresentar seu novo livro, Li-beri tutti. Lettera a um ragazzo che non vuole morire di mafia. Diante de um auditório repleto, no Consu-lado italiano do Rio, Grasso falou sobre o combate à máfia.

Ele conta que sua obra fala de “um fenômeno complexo, social e econômico, pois o crime frequen-temente dá trabalho aos jovens, o que é um problema”.

Liberi tutti também serve para mostrar que não apenas quem está diretamente envolvido com a máfia “morre” do mal: também aqueles que silenciam são suas vítimas, analisa.

— No livro, procuro fazer en-tender que não morre de máfia somente quem é vítima da violência mafiosa. Privação de liberdade e da democracia, prepotência, opressão, corrupção, tudo isso, e não reagir à máfia, significa morrer, não viver li-vre. Portanto, morre de máfia quem

comete crimes e ainda aqueles que são indiferentes, os conformados, os que não reagem. É preciso rea-gir por meio de um movimento que não seja somente contraste, mas que também procure tirar o con-senso em torno da organização para que nos voltemos para o Estado e trabalhemos em busca de um futuro melhor, sobretudo para os jovens.

Ao longo de quatro décadas no calcanhar dos criminosos, o magis-trado italiano identifica as novas características da máfia, que cami-nhou rumo à internacionalização de suas ações, deixando de limitar-se a redutos ou a povoados italianos, co-mo mostravam clássicos do cinema. Tudo, porém, sem perder o contato com a terra originária.

— A máfia se internacionalizou. Colocou-se em contato com outras organizações criminosas estrangei-ras. Mudou e adaptou-se à demanda dos mercados globalizados. Por isso, dedica-se a outras atividades como a falsificação de mercadorias de grifes, e o tráfico de lixo nocivo, de obras de arte e de seres humanos. A máfia ita-liana, no entanto, permanece ligada ao território de origem, e isto lhe dá força e poder — explica à Comunità.

Outra novidade em termos de estratégia é o que Grasso chama de “multitráfico”, através da qual algumas rotas são seguidas para

mais de uma ativida-de, entre um país

e outro, como o tráfico de ar-mas e de seres

humanos.

atualidadE

Globalizada e volátilJuiz do processo histórico contra Cosa Nostra nos anos 80 revela as novas características da máfia italiana, que agora atua em conjunto com organizações de outros países, falsifica mercadorias de grifes e não deixa o rastro do dinheiro. Ele também indica falhas no sistema judiciário brasileiro

Cíntia Salomão Castro

Para o procurador Pietro Grasso, o

Brasil virou um lugar de trânsito para a

droga que vai para a Europa, o que reforça

as ligações entre as máfias italiana

e brasileira

18 agosto 2012 | comunitàitaliana

Page 19: Revista Comunità Italiana Edição 169

Argentina

Bolívia

Colômbia

Eua

Canadá

México

Peru

Nigéria

Mauritânia

Costa do Marfim

África do Sul

Cabo Verde

Itália

BRASIL

Principais rotas do tráfico mundial de cocaína

rota descoberta pelo procurador Pietro Grasso

rota do relatório mundial sobre drogas 2010

Além disso, a volatilidade de redes tem dificultado as investiga-ções da justiça italiana.

— Temos percebido que, fre-quentemente, pequenas networks são criadas para executar uma ope-ração criminosa de entorpecentes. Elas são caracterizadas pelo fato de se dispersarem logo que a operação é concluída. Durante as investiga-ções, não chegamos mais às pistas dos chefes ou dos adeptos da orga-nização — revela.

O dinheiro inodoro da máfiaÉ difícil também seguir o movimen-to do dinheiro, seja entrada, seja saída, conta o procurador italiano.

— O que parece é que quase há outra via, diferente, que leva a dro-ga, mas que não recebe o dinheiro na transação. São como dois canais diversos. Nós conseguimos inter-ceptar um canal, mas não o outro, talvez porque o outro se sirva de meios legais. Ou que parecem legais, mais difíceis de indagar. Confunde--se o dinheiro da criminalidade com o da corrupção econômica e políti-ca, e que vem da sonegação.

O Brasil virou um lugar de trânsi-to para a droga que vai para a Europa, sobretudo através da África, o que reforça as ligações entre as máfias italiana e brasileira, revela Grasso.

Os investigadores italianos, por meio de uma cooperação interna-cional que inclui o Brasil, acabaram descobrindo recentemente uma rota marítima que parte do norte ou do extremo sul do Brasil, ou da Argentina, e segue em para Cabo Verde ou a Nigéria, de onde a droga chega aos países eu-ropeus.

— Há dois anos, des-cobrimos uma organização na qual estavam envolvidos vários países. Na cabeça da organização estavam crimi-nosos sérvio-montenegros. Havia ramificações na Eslovênia, na Croácia, na Itália, na Suíça, no Brasil e na Argentina. Em cada país, existia uma tarefa no tráfico, que podia ser a parte econômica e de transporte. A droga, em quantidades enormes, chegava do Brasil e Argentina.

A cooperação internacional, coordenada pela procuradoria ita-liana antimáfia, saiu-se vitoriosa, exulta o magistrado.

— Estamos colocando em ato uma grande cooperação interna-cional para obter esses resultados. Nesse caso, conseguimos operar, ligados, em todos os países. Cap-turamos pessoas em todos eles, no

mesmo dia, o que foi um grande resultado. Houve colaborações de procuradores de Bari, Milão e Ro-ma, da Sérvia, e de outros países. O trajeto do dinheiro, no entanto, não conseguimos identificar.

As brechas do sistema brasileiroPara o procurador italiano, um dos instrumentos mais eficazes de com-bate à criminalidade — o sequestro e o confisco de bens — não é explo-rado em todas as suas possibilidades pelo sistema judiciário brasileiro.

— No Brasil, pelo que sei, é possível confiscar os bens somente depois da condenação definitiva, e apenas por tráfico de drogas. Porém,

àquela altura, você não encontra mais os bens, pois os criminosos já os venderam ou os repassaram pa-ra outras pessoas. Na Itália, se há bens imóveis, carros ou empresas comerciais, nós fazemos um se-questro preventivo para evitar que tais pessoas possam vendê-los. Se são condenados, aqueles bens são confiscados e passam para o Estado.

As investigações, pelas quais a Justiça italiana faz uso de inter-ceptações telefônicas e ambientais, ajudam a desmascarar os prestano-mi — os chamados “laranjas”. Um exemplo ocorrido na Itália envolveu um supermercado que estava no no-me de um “laranja”. Um colaborador da procuradoria italiana informou que, todas as noites, o responsá-vel recolhia o dinheiro do caixa e o levava ao capo. O supermercado foi confiscado ainda durante as in-vestigações. Com esse sistema, em cerca de quatro anos, 40 bilhões de euros foram seqüestrados em bens e repassados ao Estado, conta Pie-tro Grasso, que também defende a prisão perpétua, pena inexistente no Brasil, como instrumento eficaz para combater o crime, pois “o ris-co de se passar a vida toda na prisão faz com que muitos pensem antes de cometer um crime”.

Juiz do famoso maxiprocesso contra

Cosa Nostra nos anos 1980, Grasso

atualmente investiga as novas atividades

das organizações mafiosas, que

incluem a falsificação de mercadorias

de grifes

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comunitàitaliana | agosto 2012 19

Page 20: Revista Comunità Italiana Edição 169

Dal punto di vista giuridi-co, linguistico,culturale e religioso l’Europa la-tina ha più punti in

comune con l’America Latina piut-tosto che con gli altri Paesi che fanno parte dell’Unione Europea. Questa è l’opinione del professor Riccar-do Cardilli, direttore del Centro di Studi giuridici latinoamericani e coordinatore scientifico del corso di diritto europeo tenutosi a Roma dal 2 al 13 luglio.

— Quindi sarebbe auspicabi-le un rafforzamento dei rapporti diplomatici ed economici con l’A-merica latina e in particolare con il Brasile, essendo quest’ultimo un Paese che ha assunto sul piano mondiale, economico e politico, un ruolo trainante. Questo potrebbe

significare un’apertura fortissima in cui l’Europa latina guardi più verso ovest, rispetto a una parte di Europa, non latina, che guarda for-temente verso est (Russia e Cina) — afferma a Comunità.

Secondo Cardilli in Euro-pa, attualmente, il conflitto politico in atto fondato su ragio-ni economiche, vede nettamente su due posizioni differenti l’Euro-pa latina (Italia, Spagna, Francia, Portogallo) e l’Europa non latina (Germania, Finlandia, Danimarca). Questi due modelli esprimono due idee diverse.

L’avvicinamento tra l’Europa la-tina e il Brasile auspicato da Cardilli è stato l’obiettivo del corso di Di-ritto europeo ed armonizzazione, “Tradizione civilistica e armo-nizzazione del diritto nelle Corti Europee” che si è svolto presso il moderno Campus X dell’ateneo di

Tor Vergata, nell’area nord-est di Roma, sotto i castelli romani.

Il corso è stato promosso dal-la Scuola dell’Avvocatura di Stato brasiliana (EAGU, in sigla porto-ghese) e l’Università di Roma Tor Vergata, in collaborazione con l’As-sociazione culturale International Experience. Gli alunni provenivano da tutto il Brasile ed erano procu-ratori federali, della Banca Centrale nazionale e del Tesoro.

I partecipanti hanno potuto conoscere e discutere le leggi dell’U-nione Europea (UE), in particolare del diritto romano, civile, del lavo-ro, amministrativo e finanziario, e anche approfondire la struttura e il funzionamento dell’UE e delle istituzioni italiane più importanti attraverso delle visite guidate.

Tor Vergata è un’università statale giovane, che quest’anno compie 30 anni.

L’Europa latina guarda verso ovestPer la prima volta, 40 avvocati di stato brasiliani si sono recati a Roma in visita ufficiale per partecipare al corso intensivo di diritto europeo organizzato dall’Università Tor Vergata e dall’associazione International Experience

diritto

Stefania PelusiDe Brasília

20 agosto 2012 | comunitàitaliana

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— È un’università con una vo-cazione internazionale, i nostri rettori, che si sono susseguiti negli anni, hanno sempre avuto un’a-pertura verso il mondo. Abbiamo accordi di collaborazione scienti-fica e didattica in tutto il mondo, dall’Australia all’America. Il Brasi-le è stato il primo in classifica nei nostri rapporti e soprattutto nella volontà di aumentare gli scambi sia di studenti, di docenti e anche di cultura e di formazione — dichia-ra a Comunità Marina Tesauro, responsabile dell’Ufficio Relazioni Internazionali dell’università Ro-ma Tor Vergata.

Gli accordi tra Tor Vergata e le università brasiliane sono molti e sono sparsi dal nord al sud del Pae-se. Nel corso degli ultimi anni, delle delegazioni ufficiali dell’ateneo ita-liano hanno visitato le università brasiliane, lavorando in sinergia sia con le istituzioni universitarie, sia con l’ambasciata italiana e brasi-liana. Inoltre, Tor Vergata fa parte dei dieci atenei romani che riceve-ranno gli studenti brasiliani per svolgere corsi di primo e secondo livello all’interno del programma lanciato dal Capes.

Tra gli altri corsi, Tesauro menziona il dottorato congiunto nell’area medica con l’università di San Paolo (USP), con uno scambio di docenti e di giovani dottorandi, iniziato due anni fa. Attualmente, ci sono anche diversi docenti italia-ni che stanno lavorando in Brasile. Giancarlo Perone, docente di diritto del lavoro della facoltà di giurispru-denza, ha conseguito una borsa di insegnamento Capes ed è a Belo Horizonte da un anno e mezzo.

— Un altro esempio è quello di un professor di ingegneria am-bientale che, insieme al municipio di Salvador, in Bahia, ha fatto atti-vità di ricerca come il progetto di impianto di acque reflue – spiega la responsabile dell’Ufficio.

L’unico ostacolo sembra essere quello del riconoscimento del tito-lo di studi.

— Purtroppo non esiste un ac-cordo governativo tra l’Italia e il Brasile e questo richiede molto la-voro da tutte e due le parti. A fine giugno abbiamo avuto la visita del rettore dell’università di Rio de Ja-neiro e abbiamo parlato anche con lui di questa terribile lacuna che c’è della mancata reciprocità dei titoli, perché questo rende difficile prose-guire gli studi o avere uno sbocco professionale. Sono più di 15 an-ni che lavoriamo con le università

brasiliane e questa collaborazione sia didattica che scientifica è in con-tinua crescita — afferma Tesauro.

Il corso intensivo di diritto è sta-to un momento di confronto tra gli avvocati di stato brasiliani e i docen-ti della facoltà di giurisprudenza.

Base comune latinaSecondo Cardilli, coordinatore scientifico del corso, tra l’Italia e il Brasile non c’è un rapporto tra due nazioni o due ordinamenti diversi, visto che possiedono una base co-mune, quella latina, molto forte e quindi tra i giuristi italiani e brasi-liani c’è un dialogo più stretto e la storia lo dimostra.

— Tutti i professori a cui ho richiesto di fare lezione duran-te questo corso intensivo hanno accolto con grande piacere la pro-posta, nonostante fosse luglio, tenendo conto della platea parti-colarmente qualificata — spiega il direttore del Centro di Studi giuri-dici latinoamericani.

L’obiettivo del Centro di Stu-di è quello di rafforzare il legame fondamentale tra l’Europa latina e l’America latina.

— L’America latina ha un van-taggio rispetto all’Europa: è latina nella sua interezza, con tutte le

differenze dei singoli ordinamenti giuridici nazionali, però potrebbe avere una capacità di integrazio-ne nettamente maggiore rispetto all’Europa — sottolinea il profes-sor Cardilli.

Durante la presentazione del corso, il prorettore dell’Università di Tor Vergata, Pietro Masi, ha sot-tolineato il confronto fra il nuovo codice civile brasiliano e il codice civile italiano e la realtà del gigante sudamericano

— L’impresa è una realtà che si sta sviluppando anche in Brasi-le sulla base di un’esperienza che si sta ampliando anche nel campo dell’agricoltura e in altri settori, come quello alimentare, oltre alle attività tradizionali che stanno en-trando nel mercato internazionale — spiega Masi durante la conse-gna dei risultati di una sua ricerca sui due Paesi a Isaac Sidney Mene-zes Ferreira, procuratore del Banco Centrale brasiliano.

Masi ricorda che il governo brasiliano sta sostenendo un pro-gramma per la formazione degli scienziati “Scienza senza frontiere” e quindi anche le iniziative piccole, se fortemente qualificate, avranno bisogno di un contesto di azione internazionale.

— Questo richiede una legi-slazione adeguata, con regole che permettano agli operatori econo-mici di lavorare correttamente con una concorrenza leale tra loro e al-lo stesso tempo con una capacità di affermarsi anche in un mercato in-ternazionale dove ci sono operatori di altri Paesi.

Tra l’Italia e il Brasile c’è una grande tradizione di collegamento scientifico, culturale e tecnico, per questo molti docenti dell’ateneo di Tor Vergata hanno rapporti fre-quenti con le università brasiliane.

— La scienza non ha confini e quindi noi ci possiamo arricchire

Gli avvocati di stato brasiliani in visita ufficiale a Roma posano insieme

ai professori dell’università

Tor Vergata

L’avvicinamento tra l’Europa latina e il Brasile è stato l’obiettivo del corso di diritto europeo ed armonizzazione tenutosi a Roma il 13 luglio

comunitàitaliana | agosto 2012 21

Page 22: Revista Comunità Italiana Edição 169

sia nel confronto diretto, nei rap-porti di collegamento tra italiani e brasiliani, sia nelle attività di formazione dei risultati di scienza e di studio. Inoltre attraverso que-sti scambi emergono problemi che diventano comuni, come nel caso del diritto del lavoro, e nei quali è importante che si creino delle espe-rienze che circolino perché questo porta a un progresso generale e giustizia nella soluzione dei pro-blemi — dice Masi.

Lo sviluppo che c’è in Brasile, impone l’esigenza di regolare i rap-porti di lavoro dei giovani scienziati, commenta il prorettore. Secondo Masi, il Brasile deve affrontare pro-blemi nuovi, che non c’erano con un’economia più tradizionale e questo significa un mutamento di molti schemi e di rapporti tra gli o-peratori economici.

— Gli studenti di questo corso intensivo che sono avvocati del-lo Stato, devono confrontarsi con una realtà che cambia fortemente e che comunque sta venendo regola-ta. Il Brasile sta progredendo bene, adeguando le regole — dichiara il prorettore.

Tra i professori del corso han-no partecipato Luigi Daniele, professore di diritto internazionale e diritto dell’Unione Europea, che ha trattato del problema dell’armo-nizzazione e dell’integrazione del diritto europeo; il professor Enrico Gabrielli, professore ordinario di di-ritto civile e anche uno dei maggior avvocati italiani, che ha spiegato il diritto dei contratti; l’ex presidente della Corte Costituzionale, Cesare Mirabelli che ha tenuto una lezione sulla tutela dei diritti fondamentali tra la Corte Costituzionale italiana e la Corte europea.

diritto

Risultati positivi secondo la parte brasilianaLa direttrice della scuola di Avvo-catura generale dello Stato, Juliana Sahione Mayrink Neiva, racconta a Comunità di essere rimasta molto soddisfatta del corso e spera che questa conoscenza più da vicino del diritto europeo, principalmen-te di quello italiano, possa essere applicata nelle attività consuete, arricchendo il lavoro degli avvo-cati di stato brasiliani. – Le visite istituzionali organizzate durante il corso sono state molto importanti perché hanno creato un contatto per uno scambio di esperienze tra le istituzioni, al di là della parte te-orica. Inoltre l’avvocatura generale brasiliana si è ispirata al modello i-taliano, ed è una grande struttura di cui fanno parte 10.200 avvocati – dichiara la giovane direttrice.

Secondo Marco di Iulio, procu-ratore federale, l’esperienza è stata straordinaria e, nonostante la bre-ve durata del corso, le lezioni sono state di altissimo livello grazie a dei professori molto qualificati.

— È la prima volta che gli avvo-cati di stato brasiliani partecipano a un corso all’Università di Roma. È stata un’opportunita unica per gli avvocati di conoscere un regime giuridico comune a quello italia-no, che è quello romano, in cui ci sono le radici del diritto brasiliano e italiano. Per questo ci sono mol-te cose in comune, soprattutto nel diritto civile e in quello del lavoro. Al di là di uno scambio culturale è stato uno scambio scientifico e spe-riamo, in futuro, di poter ricevere professori e alunni nelle nostre u-niversità brasiliane — afferma a Comunità Isaac Sidney Menezes Ferreira, procuratore del Banco

Centrale brasiliano durante l’aper-tura del corso.

Tra gli studenti, tutti han-no detto di essere rimasti molto soddisfatti di questa esperienza e adesso hanno saudade (nostalgia) delle lezioni romane.

— In un ambiente globalizzato come quello in cui viviamo non si può perdere di vista il diritto degli altri Paesi – afferma Denise Maria de Araujo, procuratore della Fazen-da Nacional a Brasilia che ha potuto approfondire la conoscenza del di-ritto europeo.

Non solo teoriaSecondo la procuratrice federale e allieva Flavia Gualtieri de Carvalho, “per capire il diritto italiano biso-gna conoscere un po’ la cultura, economia e storia italiana e vicever-sa con il diritto brasiliano. Studiare solo a scuola è molto poco”.

— Per esempio, il campus sen-sazionale dove siamo stati ospitati è nato da un accordo pubblico-privato, mentre in Brasile è difficile ottene-re questi risultati da questi accordi. Quindi dobbiamo imparare qui.

Oltre alle lezioni, gli studenti han-no visitato la Corte Costituzionale, l’Avvocatura di Stato italiana, la Cor-te di Cassazione, il Consiglio di Stato ed è stato organizzato un cocktail in loro omaggio dall’Ambasciatore brasiliano a Roma, José Viegas. – Le visite istituzionali sono state molto importanti perché hanno permesso a 40 avvocati di stato di conoscere da vicino, non solo con la teoria, le istituzioni italiane e il loro funzio-namento. Lo scopo di questo corso è quello di rafforzare i legami tra i due Paesi – sottolinea l’avvocato romano e presidente dell’associazione Inter-national Experience, Federico Penna.

Tra i progetti futuri con l’Uni-versità Tor Vergata, l’Avvocatura di Stato brasiliana ha già dichiarato di voler ripetere il corso di formazio-ne a gennaio.

— Si è riscontrato un forte interesse tra gli avvocati e i magi-strati brasiliani e l’idea è quella di farlo diventare un evento periodi-co, due volte l’anno, a gennaio e a giugno. Secondo i test di valutazio-ne c’è stato un giudizio positivo del 100%, tutti gli studenti rifarebbe-ro l’esperienza — spiega il giovane Penna, che si dichiara soddisfatto di questo progetto piloto che ha portato grandissimi risultati.

Il corso si è concluso in grande sti-le con una cena di gala in una villa del ‘700 con antichi affreschi alle pareti, sullo sfondo dei castelli romani.

L’ambasciatore brasiliano José

Viegas riceve gli avvocati di stato

brasiliani nella sede dell’ambasciata

a Roma

agosto 2012 | comunitàitaliana22

Page 23: Revista Comunità Italiana Edição 169

Entre os países do BRIC, o Brasil se coloca como o palco mais propício para novas experiências

no âmbito das fontes energéticas alternativas renováveis no cená-rio internacional contemporâneo, marcado por tensões crescentes na conquista do maior acesso às reser-vas de combustíveis fósseis e pela forte instabilidade nos preços do petróleo. Este é também o foco de Enersolar+Brasil, feira internacio-nal de tecnologias que estreou em São Paulo, depois da realização em Buenos Aires, no mês de julho, com cerca de 130 participantes asiáti-cos, europeus e latino-americanos. A manifestação entra em sua fase conclusiva em setembro, em Ro-ma, com a feira Zero Emission. O evento, organizado e promovido pelo Grupo Cipa Fiera Milano, com o apoio da Artenergy Publishing, é o primeiro passo para a criação de uma rede internacional de feiras de negócios voltadas para o setor.

A EnerSolar+Brasil promoveu as oportunidades na indústria solar da América do Sul, onde ex-positores nacionais e de países como Itália, Estados Unidos, Ale-manha, Espanha, China e Suíça apresentaram tecnologias, serviços e soluções para aplicações indus-triais e civis, para os segmentos de energia térmica solar e fotovol-taica, inversores e outras energias renováveis. Durante três dias, o evento recebeu cerca de seis mil profissionais de toda cadeia produ-tiva do setor — como instaladores elétricos, arquitetos, engenheiros, empresas de design, atacadistas e distribuidores de materiais elé-tricos, empresas de agricultura, universidades, empresas de pes-quisa e treinamento, companhias de crédito, financeiras e segurado-ras, importadoras e exportadoras

— todos interessados em energia solar e economia energética.

A presença de jazidas petrolí-feras, além de acordos regionais firmados no setor energético, e o aumento da demanda interna, ge-rada pelo crescimento econômico, fazem com que o país modifique a estrutura de oferta no mercado: é o que indicam os especialistas do prestigioso blog internacional Car-tografare il Presente, assinalando que o Brasil “está emergindo rapi-damente (como potência) no campo energético, além do econômico.”

Localização ideal para a energia solarCom localização geográfica pri-vilegiada, atravessado ao norte pela Linha do Equador e ao sul pe-lo Trópico de Capricórnio, o Brasil é o mercado ideal para o desenvol-vimento da energia solar. Hoje, o país depende de hidrelétricas para

a provisão de mais de três quartos de sua eletricidade, mas as políti-cas governamentais atuais focam na melhoria da eficiência da matriz energética, bem como no aumen-to de fontes renováveis, tais como energia solar, biomassa e eólica. O total instalado de capacidade de energia fotovoltaica nacional é esti-mado entre 40 e 60 MWs, dos quais 50% são destinados para os siste-mas de telecomunicações e 50% para os sistemas rurais de energia.

O evento de Roma vai incluir a Eólica Expo Mediterranean, dedi-cada à energia gerada pelo vento, além da PV Rome Mediterranean, para aprofundar temas ligados ao uso da energia solar fotovoltaica, explica o presidente da feira, Mar-co Pinetti.

— Na Itália, o consumo de energia e seu relativo custo repre-sentam um problema para muitas empresas. Poucas delas, porém, sa-bem quanto poupariam de energia se fizessem algumas intervenções estruturais, com um melhor uso dos incentivos fiscais dados pelo governo — analisa Pinetti.

O especialista italiano defende a garantia de investimentos neces-sários para o desenvolvimento por parte das entidades governamen-tais, o que implica a formação de profissionais adequados aos traba-lhos de conservação dos materiais.

— Até 2050, poderemos não dis-por de energia produzida a partir de petróleo e gás. Então, teremos que estar prontos com equipamentos e fontes renováveis. Até lá, teremos que criá-los e testá-los. Além dis-so, vão se tornando mais baratos. Hoje, na Europa, o custo anual da energia fotovoltaica é de 1,8 euros. É mais barata que a gasolina ou ou-tros produtos. Precisamos reverter o processo enquanto temos tempo — alerta Pinetti.

Energia limpa mais próximaFeira internacional de tecnologias para energia solar debuta no Brasil e empresários e pesquisadores do setor já se preparam para a Zero Emission, que vai acontecer em Roma, em setembro

Marco Pinetti, presidente da

Artenergy Publishing, chama a atenção

para a necessidade de investimentos

governamentais em equipamentos e mão-

de-obra qualificada relacionados a fontes

renováveis

Lisomar SilvaDe São Paulo

mEio ambiEntE

comunitàitaliana | agosto 2012 23

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famílias com pirex: as pessoas esco-lhem a massa e os molhos e levam para casa já pronto.

A clientela é multiplicada com o boca a boca, explica Myriam.

— Não posso reclamar: des-de o primeiro dia em que abri as portas, não param de entrar novos clientes. Um deles me ligou para

Os cappelletti do Planalto CentralMyriam Carvalho, dona da oficina de massas San Felice, conta como a paixão pela cozinha entrou em sua vida através da nonna italiana

GaStronomia

Em 22 de novembro, aconteceu a inauguração oficial com a pre-sença da imprensa. A proposta da loja é oferecer um produto total-mente artesanal: massas cruas e congeladas e ao mesmo tempo um cozimento muito rápido. Dois mi-nutos em água fervente e a massa já está pronta. Quando o cliente compra a massa, recebe um folheto com as instruções para prepará--la e algumas dicas como “o tempo de cozimento é muito importante: um descuido e perdemos o ponto al dente” ou “vale lembrar que a mas-sa é como a nossa pele, cheia de poros, portanto, não coloque azei-te ou óleo na água, pois a gordura lubrifica a massa e impede que ela absorva o molho”.

— Meus clientes são muito va-riados: há os muitos jovens, os que chegam sozinhos, os casais e os re-cém-casados. A minha proposta de embalagem de massa individual ou para duas pessoas favorece isso. No final de semana, chegam muitas

Folhas de massa corta-das em quadrados e recheadas com a mis-tura de carnes bovina e

de frango, noz-moscada, salsinha, cebolinha, ovo e farinha de rosca. Essa é a receita dos famosos ca-ppelletti da avó Gera: a massa mais pedida na loja San Felice, a nova oficina de massas da capital.

— Apenas eu os faço de modo artesanal em Brasília, à mão, sem máquina que faça a dobra. Fecho o recheio um por um. Foi um boom, todo mundo que descobriu os ca-ppelletti se apaixonou, sobretudo os italianos que moram aqui — ex-plica a proprietária e chef Myriam Carvalho, filha do ministro da Secretaria-Geral da República, Gil-berto Carvalho.

A San Felice abriu sem mui-to alarde, no dia 27 de outubro (dia do aniversário de Myriam).

Stefania PelusiDe Brasília

O sonho de Myriam Carvalho foi realizado

com a abertura da oficina de massas. A

paixão pela cozinha é herança da nonna

agosto 2012 | comunitàitaliana24

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agradecer, dizendo que proporcio-nou à sua família um dos melhores almoços de domingo com massa em casa. Isso é muito gratificante — comentou a catarinense, que foi à Itália para aprender os segredos da gastronomia na mesma região de onde veio a sua trisavó, Corinna San Felice.

Como nasce uma paixãoA paixão pela gastronomia nasceu com a sua nonna Gera, que ainda cozinha.

— Ela tem 84 anos e é forte co-mo um touro. Ela ainda canta em italiano. Atende ao telefone dizen-do Pronto? Os meus trisavôs eram de Modena e de Mântova, vieram para o Brasil e seguiram as tradi-ções italianas — conta.

O avô era garçom e depois de 15 anos trabalhando, conseguiu comprar uma chácara, onde cons-truiu um salão de festa que se chamava Buffet Carvalho, na qual a avó cozinhava.

— Esse foi um lugar onde eu passei toda a minha infância, jun-to com os meus primos. Ficávamos em volta da mesa e a nonna nos en-sinava: ela cortava os quadradinhos de massa e a gente ia fechando. Era um momento que reunia toda a fa-mília — contou a dona da loja que herdou a paixão pela cozinha por causa da avó.

Quase todos os netos passaram pelo Buffet Carvalho. Myriam des-creve a sua nonna como uma pessoa que tem muita dedicação ao traba-lho, tanto que, quando faleceu o marido, continuou levando o buffet por uns 10 anos.

— Eu e os meus primos, que também trabalham na cozinha, tentamos assumir a gestão, mas ela, típica matriarcona italiana, não deixava de jeito nenhum. Hoje, o buffet não existe mais, pois dava muito trabalho para ela. Mesmo assim, ela não para: é voluntária no

hospital como costureira, cozinha para a quermesse da igreja, cozinha na casa dos filhos. Quando vem me visitar na loja, faz crostoli, uma sobremesa italiana típica do Carna-val, que meus clientes adoram.

A formação da chef é interna-cional: se formou em Hotelaria, em Bragança Paulista, com trabalhos exaustivos à beira do fogão. Ganhou uma bolsa para fazer um curso de especialização em gastronomia no Belpaese e foi convidada para tra-balhar em Madrid, onde atuou nas cozinhas do Hotel Meliã e de um restaurante cubano como chef.

A experiência na Itália: entre a desilusão e a especializaçãoEm janeiro de 2007, Myriam em-barcou para a Itália com uma bolsa para estudar em Serramazzoni, um vilarejo de quatro mil habitantes que pertence a Modena, perto de Maranello.

— Na escola, o começo foi difí-cil, mas depois que expliquei para os alunos que eu não queria ficar, que a minha vida não seria na Itá-lia, teve um que até suspirou então você não vai tirar o nosso trabalho, porque já tinha um problema mui-to grande da imigração. Eu até entendo um pouco isso, mas a for-ma com que eu e a minha prima fomos recebida foi mais ou menos assim. Havia o medo de que estáva-mos ali para tirar o emprego deles — revelou Myriam.

Ela ainda estranhou as famílias, muito menores do que imaginava, e menos unidas.

— O clima familiar não era co-mo eu esperava. As famílias são muito pequenas e há muitas pesso-as solteiras morando com os pais até muito tarde, os mammoni. A minha família é muito unida, todo mundo e encontra nas festas de mais de 100 pessoas. Talvez essa decepção tenha sido por ter uma ideia errada do que

seria e também por esperar de lá o que existe na minha família italiana daqui — analisa.

Myriam chegou sem falar na-da de italiano e foi aprendendo pouco a pouco na escola. Admi-tiu que teve preconceito por ser latino-americana e por ser mulher trabalhando na cozinha.

— Só havia eu e a minha prima na escola de imigrantes. O restan-te eram todos italianos. Isso talvez tenha acontecido porque fui para uma cidade pequena. Aos poucos, fomos conquistando a amizade das pessoas. No Brasil, a gente não tem nem direito de ser preconcei-tuoso. Somos um país feito por todos os outros, africanos, espa-nhóis, italianos, gregos, japoneses,

“Os meus clientes não sabem de quem sou filha. Nunca tive vontade de estar próxima à política. Meu negócio é outra coisa. Tenho um orgulho lascado do meu pai, porque a história dele é fantástica. Ele é ministro da Secretaria-Geral da República e a sua vida não mudou”

A loja fica na Asa Norte de Brasília

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adotou mais duas irmãzinhas que adoram cappelletti e já os fecham com o recheio — conta a cuoca.

Foi o ministro Gilberto Carvalho quem pesquisou a origens da famí-lia e achou seus familiares que ainda moram na Itália. Depois de abrir a loja, aconteceu uma coincidên-cia muito bonita: Myriam recebeu uma ligação de uma senhora que lhe perguntou se a Corinna San Felice, citada no vídeo do site da loja, era casada com Egidio Ballarotti.

— Eu confirmei o nome do meu trisavô e a senhora se apresentou como afilhada de Egidio Ballarotti e Corinna San Felice, os meus tri-savôs que se conheceram no navio para o Brasil!

Todas as massas e os molhos são artesanais, reproduzindo por-que o carinho da nonna.

— Aos 32 anos, tenho um so-nho realizado e isso, sem dúvida, me faz uma pessoa muito feliz — conclui a chef ítalo-brasileira.

chineses, índios — comenta a íta-lo-brasileira.

A realização de um sonho aos 32 anosDepois de passar dois anos na Es-panha, a dona da San Felice voltou a Brasília no final de 2009 para tra-balhar no Hotel Meliã.

— A ideia de montar a loja nasceu do meu companheiro Ri-cardo, da minha família e dos meus clientes que me encorajaram e me apoiaram nesse novo desafio. Não sou empreendedora, sou cozinhei-ra. Sei fazer bem comidas e me dedico muito. Gosto de escolher bem os ingredientes. Decidi fazer massas, pois é o que eu sei fazer bem graças à minha avó e à escola italiana — comenta.

A loja oferece aos clientes 12 tipos de massas recheadas — co-mo ravióli caprese, ravióli de brie e damasco, tortelli di zucca e cappel-letoni de ricota e presunto cru — e massas diversas, a exemplo da lasa-nha, dos rondelli, dos cannelloni e do inhoque. As integrais podem ser combinadas com 10 tipos de mo-lhos, como o de funghi, o pesto e o de gengibre.

O local também vende produ-tos como antepastos, embutidos, queijos, azeites e vinhos, sendo que muitos são importados da Itália. É possível podem comprar cotechi-no, zampone e outros produtos difíceis de encontrar no mercado brasileiro. E há sempre novidades.

— Conheci um senhor italiano que vive no Brasil há 15 anos que faz um pesto com baru (uma casta-nha tradicional do Cerrado) muito bom, o qual vendo na loja. Os clien-tes são curiosos e querem conhecer novos produtos — comentou, sa-tisfeita, a dona da loja que deixa a cozinha visível para que os clientes possam ver o trabalho.

A massa mais pedida, além dos cappelletti da nonna Gera, são o

tortelloni ossobuco e os de queijo com mussarela de búfala, tomate se-co e manjericão, ou só de mussarela.

— O molho mediterrâneo com azeitonas pretas, tomate, manjeri-cão e orégano é uma mistura que aprendi na Espanha e na Itália. A massa que menos vende é a de ba-calhau , pois no Brasil não há muito o costume de comer massa com peixe — explicou Myriam.

A relação com o paiMyriam Carvalho sempre se defen-deu dos jornalistas que tentavam associar o seu trabalho com a figu-ra do pai.

— Os meus clientes não sabem de quem sou filha. Nunca tive von-tade de estar próxima à política. As pessoas me perguntam por que eu não usufruo da facilidade, mas o meu negócio é outra coisa. Tenho um orgulho lascado do meu pai, porque a história dele é fantástica. Ele entrou no governo no primeiro ano do governo Lula, hoje é minis-tro da secretaria geral do governo e a vida dele não mudou. Meu pai sempre preservou muito os seus filhos. Somos três irmãos do pri-meiro casamento e agora o meu pai

GaStronomia

A dona da oficina de massas com o companheiro

Ricardo, que lhe deu a ideia de montar a loja

O produto final: os cappelletti San Felice

agosto 2012 | comunitàitaliana26

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Maior evento de gas-tronomia na América Latina, a Fispal Food Service — Feira In-

ternacional de Produtos e Serviços para a Alimentação Fora do Lar — chegou à sua 28ª edição este ano. Realizada no Pavilhão Expo Center Norte, em São Paulo, em junho, o evento representa uma oportunidade para que as empresas expositoras e compradores do setor possam ampliar a rede de relaciona-mentos e realizar bons negócios.

Durante quatro dias, 1400 mar-cas expositoras e profissionais de todos os segmentos deste merca-do — entre restaurantes, padarias, bares, lanchonetes, redes de fast--food, sorveterias, supermercados, empresas de catering e refeições coletivas, hotéis, cozinhas indus-triais e bufês — se encontram para conhecer as novidades do setor e participar de eventos de qualifica-ção profissional.

Foram mais de 65 mil visitantes e especificadores qualificados, que participaram, além da feira princi-pal, dos eventos simultâneos Fispal Café, Fispal Hotel, TecnoSorvetes e, pela primeira vez, o Sial Brazil,

Salão Internacional de Alimenta-ção para a América Latina. Juntas, as feiras formam um encontro completo do setor de gastronomia.

Como nos anos anteriores, a Itália foi um dos destaques. A gran-de estrela made in Italy da feira foi o vinagre balsâmico da Casa Leo-nardi, uma azienda tradicional da região de Modena, que o produz desde o século XIX. O renomado produto é feito com as tradicio-nais uvas Trebbiano e Lambrusco. No estande, o proprietário da Casa Leonardi, Francesco, dava dicas de como usá-lo.

— Nossa produção é toda oriunda de vinhedos próprios — informou Francesco Leonardi.

Bralyx fecha parceria com a Italiana ImperiaDurante a Fispal, a Bralyx, forne-cedora nacional de equipamentos para a indústria alimentícia, anun-ciou parceria com a Italiana Imperia, empresa centenária que traz em seu portfólio a linha de máquinas Restaurant, composta por três modelos (elétrico, eletrô-nico e manual), com capacidade de produção média de até 12 quilos de massa por hora — ideal para pro-dução de massas frescas artesanais para pequenos estabelecimentos.

— A vantagem da máquina é deixar a massa homogênea e fina por completo. Na mão, não se con-segue o mesmo efeito — explicou o chef Píer Paolo Picchi.

Líder no mercado nacional em venda e locação de máquinas profis-sionais de espresso, a Italian Coffee lançou a Faema (Emblema), uma máquina desenvolvida na Itália e assinada por um dos maiores desig-ners da Ferrari, Giorgetto Giugiaro. O produto se destaca pela inovação e pela alta tecnologia aplicada.

No Sial 2012, um dos destaques foi o Spazio Italia Gastronômi-co, que teve a participação de 11 empresas italianas da Região de Abruzzo e outras oito do Conzorsio Italia del Gusto, apresentando o melhor dos produtos agroalimenta-res do país. Promovido pela Câmara Italiana de São Paulo, em parceria com a Região de Abruzzo, o Centro Estere Camere di Comercio Abru-zzo e o Conzorsio Italia del Gusto, a iniciativa procurou diversificar as exportações de alimentos e bebidas para o mercado brasileiro.

O espaço destacou os vinhos, as massas, os queijos, os molhos de tomates, as conservas típicas, as azeitonas, os azeites de oliva extra virgem, os bolos e os biscoitos, o café, a água engarrafada e as bebi-das em geral.

— A ideia não é competir com os produtos brasileiros, mas ganhar espaço entre os importados que já estão no Brasil. Queremos mostrar o que temos de melhor e conquistar cada vez mais espaço — disse Loren-zo Neri, international area manager da rede de alimentos Montenegro, responsável pela Vecchia Romagna, fabricante de destilados que tem como carro-chefe o conhaque.

O Spazio Italia Gastronômi-co apresentou ainda uma ampla programação de degustações, co-mandadas pelo chef Mario Tacconi, que preparou pratos com produtos típicos italianos.

Novidades que alimentamEmpresas italianas firmam parcerias e apresentam novidades no maior evento de gastronomia da América Latina

O grande destaque italiano da feira Fispal

Food Service foi o azeite balsâmico

da Casa Leonardi, produzido desde o

século XIX em Modena

Janaína PereiraDe São Paulo

mErcado

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líder no mercado de entregas por ser um alimento rápido no pre-paro e consumo, e que agrada aos mais diversos paladares por conta de seus variados sabores, coisa que pouquíssimos pratos conseguem.

— A pizza tem importância fun-damental no setor de alimentação fora do lar por ser versátil e demo-crática. Atinge diferentes classes econômicas, com preços que vão de R$ 7 a R$ 90. A cultura da pizza no Brasil é um pouco conflitante. Ao mesmo tempo em que uma refeição com pizza no jantar é tratada como entretenimento e encontro social, temos um consumo razoável no ca-fé da manhã, normalmente o que ficou da noite anterior. Porém, ain-da é baixo o consumo de pizza na hora do almoço, comum nos Esta-dos Unidos — acrescenta Barboza.

Evento apresenta novidades em serviços e produtos Devido à importância de São Paulo para o setor, aconteceu, em julho, no Anhembi Hall Nobre III, a Expo Pizzaria Roldão. O evento organiza-do pela Agência JKPG e Atacadista Roldão reuniu na cidade novidades

Minas Gerais e Bahia. Dados do Sebrae atestam que os paulistanos sofreram influência de sua gran-de colônia italiana, a ponto de ser a segunda cidade no mundo que mais vende a criação napolitana, perdendo somente para Nova York.

A pesquisa do Sebrae mostrou que São Paulo conta com mais de 10 mil estabelecimentos especializa-dos, onde são consumidas em média 43 milhões de pizzas por mês, com um faturamento anual de R$ 4 bi-lhões, e geração de mais de 100 mil empregos. O Sebrae também atesta que o segmento movimenta mais de R$ 20 bilhões ao ano em todo o pa-ís. O diretor da Associação Pizzarias Unidas do estado de São Paulo, Adil-son Barboza, enfatiza que a pizza é

Ela foi inventada em Nápoles, mas a popula-ridade dela é tão grande por aqui que se consa-

grou na expressão “tudo acaba em pizza”. Embora fuja da receita ita-liana original, a pizza brasileira, adaptada ao gosto dos consumi-dores de Norte a Sul do país, é um grande sucesso de mercado. Doce ou salgada, em unidade ou rodí-zio, a paixão nacional dura o ano todo. Os brasileiros só perdem para os norte-americanos no con-sumo da “redonda”. O estado que mais lucra é São Paulo, seguido por Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,

Fatia gordaO setor de pizza é o mais bem sucedido do mercado delivery brasileiro e São Paulo se destaca com serviços e tecnologias apresentadas em feiras como a Expo Pizzaria Roldão

mErcado

Patricia Galasini, representante da

JKPG, ressaltou que a Expo Pizzaria Roldão apresentou

novidades em serviços e produtos, possibilitou rodadas

de negócios e aproximou o

atacadista do cliente

Nathielle Hó

28 agosto 2012 | comunitàitaliana

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Sabores preferidos da redonda no Brasil

275gramas

10azeitonasé a média por redonda. (São Paulo e Rio de Janeiro são mais econômicos: usam apenas 8 azeitonas por pizza)

é a quantidade de mussarela usada por pizza

30%calabresa

8%mussarela

4%napolitana

21%portuguesa

21%marguerita

16%frango com

catupiry

Preferências por cidade:

SÃO PAULO 1º Mussarela 2º Calabresa

3º Portuguesa e frango com catupiry

PORTO ALEGRE

1º Calabresa 2º Portuguesa

3º Coração de galinha, napolitana e marguerita

RIO DE JANEIRO

1º Calabresa 2º Marguerita 3º Portuguesa

BELO HORIZONTE

1º Marguerita 2º Frango com catupiry

3º Calabresa

SALVADOR 1º Portuguesa

2º Frango com catupiry 3º Marguerita ou calabresa

Font

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Fonte: Associação Nacional de Restaurantes

relacionadas a ingredientes, equi-pamentos e serviços. A feira contou com workshops ministrados por profissionais do Senai, que orien-taram sobre como abrir e manter um estabelecimento, atrair clientes e criar fidelização. Recheios, ingre-dientes e harmonização de pizzas com azeites e vinhos também foram assuntos tratados nas palestras.

Empresas italianas que produ-zem farinhas e equipamentos como a Farinha 5 Stagione e GiMetal, marcaram presença, assim como as brasileiras do setor de maquinário, energia e insumos, como Moinho Santa Clara, Copagáz, Grano-maq, Cimap e Beira Mar. Patricia Galasini, representante da JKPG, ressaltou que a exposição ofereceu às pequenas e médias empresas a oportunidade de mostrarem seus produtos e realizarem negócios.

— Idealizamos um evento dire-cionado ao empresário da pizza e às indústrias fornecedoras de ma-térias-primas, com o objetivo de fomentar ainda mais o trade com inovações e conhecimento, e atrair novos empreendedores. Além dis-so, o atacadista não conhece seu cliente e a feira aproxima esses dois públicos — completou Galasini.

Os visitantes puderam co-nhecer novidades, a exemplo dos fornos que consomem menos energia, fermentos ultra-rápidos, “melhoradores” de farinha, linhas de montagem para pizzarias de-livery, masseiras “inteligentes”, boleadoras e abridora de massa. Na exposição também foram apre-sentadas pizzas integrais, feitas a partir de insumos orgânicos para atender as pessoas que preferem uma alimentação mais saudável.

Segundo Patricia, além dessas novidades, algumas empresas já estão adotando softwares especialmente desenvolvidos para o controle de gestão.

Patricia lembra que, por conta da demanda cres-cente, foi criado em 2008 o Centro Tecnológico de Desenvolvimento de Pizzas e Massa, em São Paulo, com o objetivo de formar mão-de-obra especializada. Ronal-do Ayres, conhecido como o “senhor pizza”, ministra cursos para empreendedores e pizzaiolos na instituição e afirma que há a necessidade da profissionalização e da introdução de novas tecnologias na indústria da pizza.

— Tem muita gente querendo abrir uma pizzaria no país, mas não sabe como fazer isso. O ramo exige ambiente de bom gosto, qualidade no atendimento e no produto. Não é fácil. A indústria ganhou sofistica-ção nos últimos anos, pois os fornecedores passaram a desenvolver tecnologias exclusivas — ressalta Ayres.

Na cadeia produtiva, é importante a especialização profissional, acrescenta Galasini.

— A formação do pizzaiolo empreendedor é vital para a profissionalização do negócio. A maior parte das pizzarias no Brasil é informal e trabalha na clan-destinidade. Portanto, profissionalizar e informar é o caminho certo para o setor — garante a empresária.

Um bom pizzaiolo tem emprego garantido e pode ganhar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês, segundo pes-quisa do Sebrae. Outra atividade que lucra com o setor é a de motoboy. Uma legião de 60 mil deles sai às ru-as todas as noites em São Paulo, numa atividade que é muitas vezes informal, mas que gera renda para milha-res de famílias e abre as portas do mercado de trabalho para os jovens.

No Sul, pizza de churrasco, no Rio, as doces, na Bahia, camarãoA Associação Nacional dos Restau-rantes fez uma análise das pizzas mais pedidas nas várias regiões do Brasil. A pesquisa de 2011 mostrou que a base da massa fina é a pre-ferência nacional, que a média da borda é de 2,6 centímetros e que 5% das pizzas pedidas são doces.

Na mesma pesquisa, a Asso-ciação avaliou as preferências pela redonda nas principais cidades do país. Os dados mostram que a pizza paulistana utiliza bastante mus-sarela, apesar de ser a única onde a calabresa não leva queijo. Ape-nas em São Paulo se prefere massa média. Já o gaúcho acrescenta chur-rasco em qualquer tipo de comida, inclusive na pizza. Entre os pedi-dos tradicionais na Região Sul, há sabores como coração de galinha e estrogonofe. Os cariocas gostam de sabores mais adocicados. Enquanto a média nacional de pizza doce é de 5%, no Rio chega a 15%. Em algu-mas pizzarias, o percentual chega a 30%. Por outro lado, nos estabe-lecimentos mineiros usa-se muito queijo de minas, e a pizza de fondue é muito pedida. Nos restaurantes da Bahia, os sabores são mais lito-râneos, como as pizzas de camarão, peixe e outros frutos do mar.

Na Expo Pizzaria Roldão, pizzaiolos testaram ingredientes e recheios na harmonização das massas com azeites e vinhos

comunitàitaliana | agosto 2012 29

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Qual a melhor receita para se festejar quase meio século de sucesso em termos de hospita-

lidade e com ofertas gastronômicas de alto nível em um espaço pano-râmico único, sem concorrentes? Antes de tudo, chamar um chef ita-liano capaz de entusiasmar o cliente com pratos bem elaborados e moti-vá-lo a voltar ao restaurante outras vezes, sobretudo em ocasiões es-peciais. Depois, dedicar a última semana de setembro a comemo-rações para surpreender o paladar dos clientes fiéis e ocasionais com ingredientes e matérias-primas simples, inclusive através da cria-ção de uma sinfonia de sabores e aromas que revelam de maneira inconfundível as características da genuína cozinha italiana. A dire-ção do Terraço Itália começou por convidar o chef Pasquale Mancini a coordenar 30 colaboradores, distri-buídos em dois turnos na cozinha, para satisfazer e aguçar o pala-dar dos quase 15 mil clientes que escolhem a cada mês aquele pri-vilegiado espaço para comemorar

importantes momentos de suas vidas ou simplesmente usufruir da atmosfera agradável do lugar. Esta é uma das maneiras mais eficazes de renovar o cardápio da casa, sem perder de vista a genuína tradição gastronômica italiana.

Originário de Arezzo, na Tosca-na, Pasquale Mancini foi escolhido após uma rigorosa seleção, mas o fato não o preocupa:

— É gratificante ver meu traba-lho valorizado, mas meu principal desafio será o de criar o ritmo ade-quado de trabalho nos quatro espaços do Terraço Itália. Essas premissas são mais simples de se satisfazer em cidades e lugares menores, como aconteceu comigo enquanto estive na Itália. Quero sinceramente que, quem vem ao Terraço Itália pela beleza do am-biente e do panorama, fique tão ou mais impressionado com os sabores que descobre aqui. E que retorne sempre.

A paixão de Mancini pela co-zinha e a gastronomia vem da adolescência: aos 14 anos, começou a trabalhar na trattoria Il Fagioli, de Florença, da qual foi sócio durante 22 anos. Mais tarde, passou para o restaurante da charmosa locanda toscana La Chiusa, que se distin-guiu com a prestigiosa estrela do Guia Michelin. Agora, aos 53 anos, já assinou, no Brasil, o cardápio do Nico Pasta & Basta. Em companhia da esposa, a brasileira Elisabeth Vasconcellos, Pasquale aprende a se comunicar em português com seus colaboradores e lhes ensina as principais técnicas de preparação dos pratos com as terminologias da gastronomia italiana. Realiza uma estimulante troca de experiências:

— Elisabeth se especializa nos doces e nas sobremesas em geral. Ao mesmo tempo, ela agiliza meu diálogo com os profissionais brasi-leiros que trabalham comigo. Sua contribuição é muito importante também na seleção dos ingredien-tes brasileiros usados nas receitas.

Quem viaja mais exige maisAs mãos de Pasquale Mancini mostram o rigor e a constância do cuoco toscano na elaboração dos mais tradicionais pratos da co-zinha italiana. Ele não pretende revolucionar o cardápio de modo radical, mas é minucioso em ma-téria de equilíbrio entre sabores. Busca a maior precisão da realiza-ção de cada receita que, se possível, terá todos os seus ingredientes de origem italiana.

O ponto mais altoTerraço Itália festeja 45 anos de história em que se destaca não apenas pela alta gastronomia, comandada pelo chef Mancini, mas também por oferecer um inigualável panorama da capital paulista, instalado em torre de 165 metros

GaStronomia

O chef Pasquale Mancini trabalhou

em Florença por mais de 20 anos antes

de chegar ao Brasil. Atuou na locanda

toscana La Chiusa, que se distinguiu com a estrela do

Guia Michelin

Lisomar SilvaDe São Paulo

30 agosto 2012 | comunitàitaliana

Page 31: Revista Comunità Italiana Edição 169

— Os brasileiros agora viajam muito mais que no passado. Quem viaja aprende a conhecer receitas e preparações conforme a tradição original de cada lugar. E isso exige mais de um chef que trabalha em um restaurante como o Terraço Itá-lia. Desejo que o cliente se recorde por muito tempo do prato que ti-ver escolhido. Trabalho com minha equipe para conquistar este equi-líbrio também através de uma boa relação entre qualidade e preço, desde a compra dos ingredientes até o valor final prato no cardápio — comenta.

No aniversário da casa, haverá novidades nos cardápios do res-taurante e do bar, além de eventos — sem perder de vista as bases das receitas clássicas italianas e da co-zinha regional toscana, que une em algumas das receitas selecionadas os sabores da terra e do mar.

No atual cardápio, já aparecem propostas que surpreendem os clientes, como os menus para de-gustação. Um deles é o Terrazzo Alla Terra (R$ 162), composto de salada de marreco com mostarda de Cremona e tomate, e inclui a tra-dicional massa toscana com ragu de coelho e o contrafilé cozido em vinho tinto e acompanhado com polenta cremosa.

Os crustáceos e peixes de sabores bem definidos estão combi-nados em uma sequência de menu chamada Terrazzo al Mare (R$ 178) — medalhões de lagosta com trufas brancas em azeite, arroz italiano com bacalhau e camarões grelhados com terrine de aipo.

Os dois menus incluem a esco-lha da sobremesa, que pode ser a Torta Fiorentina de chocolate e se-mifredo de chocolate, servidos com calda de morango, ou então uma torta de massa folhada com creme. A conclusão segue um dos hábitos mais característicos da Toscana, com biscoitos Cantucci, acompa-nhados do Vin Santo.

Quem aprecia as massas reche-adas vai encontrar as composições com ricota e espinafre, servidas com molho de pato (R$ 82), ou pra-tos à base de carnes, como o javali servido com polenta cremosa (R$ 94), que começam a serem pro-postas com maior frequência aos consumidores.

Ponto turístico a 165 metrosO Terraço Itália, que já é uma im-portante atração turística por conta da vista panorâmica inigualável da cidade de São Paulo, é referência

no cenário gastronômico nacional e internacional há 45 anos. Quem entra em um dos quatro ambientes admira a cidade de São Paulo a seus pés, vendo o horizonte a 360 graus em uma altura de 165 metros. O bar oferece vista para a zona Norte e a Serra da Cantareira. Nas salas No-bre e Panorama, acontecem jantares à luz de velas com música ao vivo e vista para a Zona Sul, com destaque para a Avenida Paulista — além do espaço dedicado a eventos sociais e corporativos. Uma das magias do lugar é a de que o cenário nunca se repete embora esteja sempre rela-cionado com o mesmo espaço físico, como explica o maître e sommelier Francisco Everaldo de Freitas.

— Trabalho aqui há 29 anos. Vejo a direção e a chegada de even-tuais chuvas, o deslocamento das nuvens, a limpidez do céu ou a intensidade de um pôr-do-sol. Es-pecial mesmo, porém, é vir para tomar um coquetel e admirar o cre-púsculo ou jantar em uma noite de lua cheia. A cidade ganha uma fei-ção luminosa diferente também no período das festas de fim de ano, com espetáculos pirotécnicos e de-corações coloridas.

Freitas gerencia a equipe de gar-çons e o barman do Terraço Itália, administrando também a carta de vi-nhos, que reúne cerca de 230 rótulos em adega, vindos na maioria da Itá-lia. Ele aprecia muito a genuinidade dos pratos preparados por Mancini.

— Houve épocas em que os che-fs simplesmente copiavam os pratos da cozinha internacional sem muita criatividade. Hoje, especialmente no caso de Pasquale, existe a curiosi-dade de criar e até inventar pratos, mas com aromas e combinações que respeitam a genuinidade da receita original — analisa Freitas, que cita al-guns dos pratos que já experimentou a convite do chef, como o Spaghetti

alla Carbonara, a Carne com Lascas de Trufas Negras, o Risotto alla Par-miggiana ou as Papardelle al Ragu de Vitela. Alguns dos pratos do cardá-pio recebem a finalização com óleo extravirgem de primeira qualidade, detalhe que exalta o sabor de todos os ingredientes.

Freitas também conta as rea-ções dos clientes do restaurante.

— Nas décadas de 1980 e 1990, muitas pessoas vinham para serem vistas e recordar o panorama da ci-dade, deixando para um segundo plano a memória e a lembrança dos pratos que escolhiam. A clientela de hoje pertence a várias faixas de idade e tem curiosidade de saber como os pratos são realizados, que ingredientes nacionais ou importa-dos são usados, e que vinhos caem bem no acompanhamento. Muitos dos quase 15 mil clientes que vêm a cada mês ao restaurante retornam mais pelo fato de recordarem as sensações de entusiasmo e curio-sidade que tiveram com os pratos saboreados do que pelo panorama urbano de São Paulo — afirma.

Para o maître e sommelier, o paladar da clientela começa a mu-dar quanto ao consumo de vinhos durante as refeições:

— Eles se informam cada vez mais sobre o que querem antes de

“Os brasileiros viajam muito mais que no passado. E quem viaja, aprende a conhecer receitas e preparações conforme as tradições originais. Tudo isso exige mais de um chef que trabalha em um restaurante como o Terraço Itália”Pasquale Mancini, chef italiano

O Terraço Itália, além de berço da alta gastronomia

italiana, é um dos pontos turísticos de São Paulo por

oferecer o mais belo panorama no ponto mais alto da cidade

comunitàitaliana | agosto 2012 31

Page 32: Revista Comunità Italiana Edição 169

chegar ao restaurante, seja em re-lação aos vinhos tintos e brancos, seja em relação aos importados ou nacionais. Muitas vezes nossas con-versações são estimulantes, pois se transformam em uma oportunida-de de troca de ideias e experiências.

Esse interesse cada vez maior está ligado ao número crescente de viajantes que degustam vários pro-dutos no exterior, acredita Freitas, que se sente, assim, estimulado a se atualizar sobre as novidades gastro-nômicas nacionais e estrangeiras.

Noivados são oficializados com o máximo de requinteO cliente é recebido como se es-tivessem entrando na casa de um amigo para viver uma oca-sião muito especial ou festejar datas importantes de suas vidas. O maître Freitas organiza um rito dedicado aos casais que oficializam seu enlace: quase ao final do jantar, leva à mesa as alianças de noivado,

apoiadas em uma pequena bandeja de prata coberta por uma cloche de-corada com flores perfumadas.

A alta qualidade das preparações na cozinha e o elevado padrão  no serviço de encontram bases sólidas e inovadoras também na competên-cia profissional de André Marques, jovem gerente geral que há dois anos trocou sua afirmada experiência  no setor hoteleiro pela possibilidade de transferir seus conhecimentos ao local. André usou sua determinação em reoganizar, em modo cuidadoso e gradual, os ambientes do restau-rante para satisfazer as exigências diferenciadas dos clientes.   

Ele conta o resultado de sua ex-periência:

— Na verdade, há muito em comum. O Terraço é um restauran-te que pode receber 400 clientes ao mesmo tempo e, assim como muitos hotéis, possui uma grande diversidade de perfis de clientes e com expectativas diferentes que de-vem ser identificadas no momento. Em uma noite, por exemplo, pode-mos ter no mesmo ambiente, uma família celebrando um aniversário, um jantar de negócios e um pedido de casamento, enquanto em outro ambiente acontece um jantar har-monizado com vinhos de primeira linha ou uma empresa lançando um produto.

Para orientar a clientela dentro dos espaços, Marques criou alguns parâmetros de informação:

— Cerca de 70% de nossos clientes fazem reserva. No mo-mento do contato, podemos entender quais são as suas expec-tativas e endereçá-lo ao espaço que

GaStronomia

Uma exposição fotográfica com inauguração pro-gramada para 29 de setembro vai marcar a festa

dos 45 anos de atividades do Restaurante Itália, insta-lado no alto do Edifício Itália, de propriedade do Grupo Comolatti. Projetado pelo arquiteto alemão Adolf Franz Heep — que chegou ao Brasil em 1947 — o edifício representa um dos mais importantes exemplos de ar-quitetura verticalizada no Brasil.

O Terraço Itália foi um presente que o italiano Evar-isto Comolatti fez à cidade devido ao sucesso que al-cançou como empresário após deixar a Itália em 1948. O período era de expansão urbana que parecia oferecer grandes oportunidades para negócios. Evaristo Comolatti também ficou impressionado com o panorama vislumb-rado do topo do prédio, a 165 metros do chão. As obras foram rápidas e permitiram a inauguração do restaurante em 29 de setembro de 1967. Atualmente, o restaurante é administrado por Sérgio Comolatti, filho de Evaristo. O lo-cal sofreu uma grande reforma em 1994, quando ganhou decoração assinada pelo arquiteto Jorge Elias.

O restaurante tem quatro ambientes abertos ao público e representa um dos pontos principais para en-

contros de negócios e reuniões familiares. Os clientes também contam com um serviço de bar, com vasta carta de coquetéis e música ao vivo, além de espaços destina-dos para eventos sociais e corporativos. A Sala Nobre é destinada ao almoço. Grandes empresários, intelectuais e artistas passaram por seus salões para apreciar a vista panorâmica de São Paulo, que a voz de Mick Jagger classificou como a “Nova York dos trópicos”.

Muitos clientes importantes, chefes de governo e personalidades do mundo esportivo, artístico e intelec-tual passam pelos seus salões. A rainha Elisabeth II da Inglaterra, a imperatriz Michiko do Japão e Indira Gandhi — primeira mulher a ocupar o cargo de chefe do governo indiano — já admiraram o panorama pau-listano das grandes janelas do Terraço Itália, além de jogadores do naipe de Franz Beckenbauer e músicos como Ray Coniff. Artistas queridos do grande público como Irene Ravache, Toni Ramos, Ivete Sangalo e o elenco da peça teatral Equus, com o diretor Alexandre Reinecke, sempre festejam momentos importantes para suas carreiras no local. Certamente, alguns deles festejarão também os 45 anos do estabelecimento.

Homenagem de Comolatti a São Paulo

O Terraço Itália foi construído como

um presente que o italiano Evaristo

Comolatti fez à capital paulista devido ao

sucesso que alcançou como empresário,

após deixar a Itália em 1948

O sommelier e maître Francisco Freitas, responsável pela adega do Terraço

Itália, ressalta que muitos clientes

trocam experiências com ele sobre

vinhos estrangeiros e gastronomia

internacional

mais o agrada. Assim, os que pro-curam uma atmosfera romântica para ocasiões especiais não se sen-tem condicionados pela presença de clientes que se reúnem para um happy hour mais animado.

André Marques aplica o prin-cípio fundamental de jamais subestimar as expectativas da clientela, especialmente em um ambiente que, por sua apresenta-ção, representa o cartão de visitas por excelência da cidade de São Paulo no Brasil e no exterior. As-sim como um resort ou um navio de cruzeiro, o Terraço Itália vende experiências, analisa.

— Nosso cliente espera mais que uma refeição. Muitas vezes, é a realização de um sonho. Temos reservas feitas com muita antecipa-ção, o que nos permite de estarmos bem preparados para receber nos-sos clientes com toda a atenção que merecem. Nossa grande responsabi-lidade reside no fato que, aqui, tudo é importante, da comida à atmos-fera do lugar. Os clientes querem e merecem viver e repetir suas experi-ências de sonhos neste cenário.

agosto 2012 | comunitàitaliana32

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notíciaS

Leão de OuroO novo filme de Marco Bellocchio, Bella Addormentata, é

o principal concorrente italiano ao Leão de Ouro da 69ª edição do Festival de Veneza — que acontece de 29 de agosto a 8 de setembro. È Stato Il Figlio, de Daniele Ciprì, e Un Giorno Speciale, de Francesca Comencini, são os outros representan-tes do país. Entre os concorrentes de língua inglesa, To The Wonder, de Terrence Malick, e Passion, de Brian De Palma, são fortes candidatos. A competição conta ainda com nomes conhecidos dos festivais como o francês Olivier Assayas com Après Mai e o filipino Brillante Mendoza com Thy Womb. Fora de competição serão exibidos os novos filmes de Robert Re-dford, Spike Lee e do português Manoel de Oliveira, cineasta mais velho em atividade no mundo, com 103 anos. O festival abre com The Reluctant Fundamentalist, de Mira Nair, e encer-ra com L’Homme Qui Rit, de Jean-Pierre Ameris. O júri será presidido pelo cineasta americano Michael Mann.

MecenasA Techint é a nova patrocinadora do MAM, o Museu de

Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em parceria com a TenarisConfab, do mesmo grupo, patrocina também a ex-

posição das esculturas de Alberto Giaco-metti, em cartaz no local até 9 de setem-bro. O grupo Techint foi fundado pelo engenheiro italiano Agostino Rocca, em 1945. A TenarisConfab chegou a ganhar um prêmio do jornal Brasil Econômico, que selecionou as empresas com os me-lhores resultados financeiros em 2011, na categoria Metalurgia e Siderurgia.

O enigma de Affonso RomanoAcaba de sair a edição italiana

de O Enigma Vazio, do escritor Affonso Romano de Sant’Anna. Edi-tado pela Nicomp, de  Florença, traz uma análise dos principais sofismas em que se baseia a arte conceitual e propõe uma episteme para a reava-liação da arte do século XX. O autor recorre à linguística, à filosofia, à re-tórica e à análise literária para pôr a arte e a crítica no divã. Em alguns momentos, desconstrói seus dis-cursos e argumentos e aponta seus exageros e contradições.

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Capa atualidadE

modeloum novo

de vidaUn nuovo modello di vita

Criador do conceito de ócio criativo lança livro no Brasil e conclama os

intelectuais tupiniquins a criarem um novo modelo cultural para um mundo

mergulhado em uma profunda crise econômica e de valores

Creatore del concetto di ozio creativo, lancia libro in Brasile e si appella agli intellettuali tupiniquins per creare un nuovo modello culturale, per un mondo immerso in una profonda crisi sia economica sia di valori

Do alto de seus 74 anos, Domenico De Masi transpira o entusiasmo e a voglia di fare ausente em muitos jovens do século XXI. O sociólogo, famoso no Brasil por conta

da teoria do ócio criativo, esteve na cidade que mais ama, depois de Nápoles e Roma, para participar do Congresso Nacional de Inovação, Trabalho e Educa-ção Corporativa, organizado no Rio pela Anitec, que também contou com a participação do pensador fran-cês Pierre Lévy, no final de julho. Diante de um púbico extasiado, De Masi, com inconfundível carisma na-politano, demonstrou que sabe falar de assuntos tão sérios como a crise do modelo de vida ocidental sem deixar de arrancar risadas do público.

“O Brasil copiou por 450 anos o modelo europeu. Por 50 anos, o americano. E agora? O que vai co-piar? Os intelectuais brasileiros, agora, têm o dever

Cintia Salomão Castro

D all’alto dei suoi 74 anni Domenico De Ma-si emana l’entusiasmo e la voglia di fare che manca a molti giovani del XXI seco-lo. Il sociologo, famoso in Brasile per la

sua teoria sull’ozio creativo, è stato nella città che più ama, dopo Napoli e Roma, per partecipare al Congres-so Nazionale di Innovazione, Lavoro ed Educazione Corporativa, organizzato a Rio dalla Anitec alla fine di luglio, che ha contato anche sulla partecipazione del pensatore francese Pierre Lévy. Di fronte ad un pubbli-co estasiato De Masi, con il suo inconfondibile carisma napoletano, ha dimostrato di saper parlare su assunti molto seri come la crisi del modello di vita occidentale, ma riuscendo a provocare risate nel pubblico.

“Il Brasile ha copiato per 450 anni il modello euro-peo. Per 50 anni, quello americano. E adesso? Quale copierà? Gli intellettuali brasiliani ora hanno il dovere di

34 agosto 2012 | comunitàitaliana

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Mar

cos

Que

iroz

35comunitàitaliana | agosto 2012

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Capa atualidadE

de criar um modelo autônomo de cultura”, lança aos pensadores do país que mais tem estado em evidên-cia no mundo.

A “provocação” de De Masi estará em debate da-qui a dois meses, em Paraty (RJ), de 31 de outubro a 2 de novembro, em um evento que reunirá intelectuais e artistas brasileiros, além de contar com a presença e a consultoria do escritor italiano, professor de Socio-logia do Trabalho na Universidade La Sapienza.

Se o Brasil quiser ser um país de primeiro mun-do, deve apostar, sobretudo, na produção de ideias, alerta. “A sociedade pós-industrial é marcada pela circulação de bens simbólicos. Possuir fábricas não equivale a estar no primeiro mundo, que é caracte-rizado por universidades, laboratórios de pesquisa e veículos de comunicação de qualidade. O destino do terceiro mundo é concentrar fábricas, mão-de-obra barata e matérias-primas”, analisa.

Em entrevista exclusiva, ele fala sobre o livro que acaba de ser lançado no Brasil, A Felicidade, além de um novo trabalho que deve ser publicado ainda em 2012, a crise na Itália e o Brasil como o lugar ideal para se viver a felicidade a partir do ócio criativo — conceito lançado por ele há 10 anos.

Comunità Italiana - O senhor presidiu a Fundação Ravello de 2002 a 2010, período em que foi proposto e construído o audi-tório projetado por Oscar Niemeyer, após muitas polêmicas. Atualmente, o teatro é palco de concertos do Ravello Festival, de julho a setembro, organizado pela Funda-ção. O senhor pode falar um pouco desse processo que levou alguns anos?Domenico De Masi - A beleza local é medieval e colocar uma obra de arte contemporânea assim, re-volucionária, exigiu seis anos de debate, discussões e autorizações. Foi um tempo necessário para superar todos os problemas burocráticos, o que é compreen-sível. Antes da construção, uma parte da cidade era entusiasta, outra era contrária, como sempre acon-tece quando surge uma obra de arte que revoluciona. Pensei que o start up fosse durar poucos meses, mas

creare un modello autonomo di cultura”, manda a dire a quei pensatori del paese che godono di stima nel mondo.

La “provocazione” di De Masi sarà dibattuta fra due mesi a Paraty (RJ), dal 31 ottobre al 2 novembre, durante un evento che riunirà intellettuali e artisti brasiliani, oltre a contare sulla presenza e la consu-lenza dello scrittore italiano, professore di Sociologia del Lavoro alla Università La Sapienza.

De Masi avverte che, se il Brasile vuole essere un paese del primo mondo, deve puntare soprattutto sulla produzione di idee. “La società postindustriale è segnata dalla circolazione di beni simbolici. Posse-dere fabbriche non equivale a stare nel primo mondo, che è caratterizzato da università, laboratori di ricer-ca e veicoli di comunicazione di qualità. Il destino del terzo mondo è quello di concentrare fabbriche, mano-dopera a basso costo e materie prime”, è la sua analisi.

Durante un’intervista esclusiva, parla del libro che sta lanciando in Brasile, La felicità, oltre ad un nuovo lavoro che sarà pubblicato sempre nel 2012, sulla crisi in Italia,e sul Brasile come il luogo ideale per vivere felici a partire dall’ozio creativo — concet-to lanciato da lui 10 anni fa.

Comunità Italiana - Lei è stato a capo della Fondazione Ravello dal 2002 al 2010, perio-do in cui è stato proposto e poi costruito l’auditorio progettato da Oscar Niemeyer, seguito da molte polemiche. Attualmente il teatro è sede di concerti del Ravello Fe-stival, da luglio a settembre, organizzato dalla Fondazione. Ci potrebbe parlare un po’ di quest’iniziativa che ha avuto biso-gno di anni per arrivare in porto?Domenico De Masi - La bellezza del luogo risale al medioevo, e inserirvi un’opera di arte contempo-ranea, se posso dire, rivoluzionaria, ha significato sei anni di dibattiti, discussioni e autorizzazioni. È stato il tempo necessario per superare tutti i problemi buro-cratici, il che è comprensibile. Prima della costruzione una parte della città ne era entusiasta, un’altra era contraria, come succede sempre quando sorge un’ope-ra di arte che rivoluziona. Avevo pensato che lo start up durasse pochi mesi, ma è durato qualche anno. L’i-naugurazione è avvenuta a gennaio 2010, e adesso finalmente sono presentati nell’auditorio molti spet-tacoli, anche perchè c’è stato un accordo tra il Comune di Ravello e l’organizzazione del Festival. La cosa più

Domenico De Masi e Oscar Niemeyer: o

arquiteto é o autor do projeto do auditório de

Ravello, cuja construção suscitou polêmicas entre

parte da população da cidade, situada na Costa

Amalfitana

Domenico De Masi e Oscar Niemeyer:

l’architetto è l’autore del progetto dell’auditorio

di Ravello, la cui costruzione ha suscitato

polemiche tra la popolazione della città,

situata nella Costa Amalfitana

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durou alguns anos. A inauguração aconteceu em ja-neiro de 2010 e, agora, finalmente acontecem muitos espetáculos no auditório, até porque houve um acor-do entre o Comune de Ravello e a organização do festival. A coisa mais interessante é que a cada dia, dezenas de turistas visitam o monumento, que virou uma atração turística de qualidade. Ravello tem a sua estratégia de marketing no turismo cultural e reali-za o festival de julho a setembro. A partir deste ano, acontecem concertos durante o inverno. Aos poucos, o local é valorizado em modo fisiológico.

CI – Por que o senhor decidiu escrever um livro sobre a felicidade?DM - O livro nasceu porque um banco italiano me pe-diu para fazer um livro com fotografias. Então, escolhi Oliviero Toscani, o fotógrafo italiano mais famoso, que fez campanhas para a Benetton. Ele sempre faz fotos muito figurativas. No entanto, eu afirmei que a felicidade é uma coisa abstrata, não concreta. Oliviero, pela primeira vez, fez fotos abstratas. Pensei também no livro de maneira pontual, feito “em pontos”. Peguei pensamentos de grandes pensadores ocidentais e de-pois coloquei a minha parte.

A primeira parte ilustra a história da felicidade, reunindo conceitos de gregos, romanos, da Idade Mé-dia cristã, do iluminismo, do renascimento, do barroco e da modernidade. Na segunda parte, estão os fatores que influenciam a felicidade, como o tempo, o espaço, a riqueza, a beleza. Depois, estão os seus amigos e ini-migos, como as viagens e o tempo. Enfim, concluo que a felicidade não é um direito, mas um dever.

Não pretende ser um tratado sobre a felicidade, é um livro-jogo, quase uma brincadeira entre mim e Oliviero. Cria um desafio a ele no plano fotográfico e a mim no plano dos conceitos. Deve ser lido em ócio criativo, não em uma situação muito atenta co-mo um tratado.

CI – Como definir felicidade?DM - Eu cheguei à conclusão de que não existe uma felicidade permanente, como não existe uma dor permanente. Existem momentos felizes e momentos de dor. O conceito de felicidade muda muito de acor-do com o tempo: alguns apostam no que existe neste mundo, e outros no que existe além deste mundo. E a situação atual da sociedade industrial e pós-in-dustrial conferiu à felicidade uma visão consumista: ela depende daquilo que eu compro, e não daquilo que eu sou. Há uma necessidade de retomar uma centralidade humana em relação ao conceito de fe-licidade. Tal centralidade seria melhor tratar em um outro livro (que provavelmente eu não farei), no qual se trate do assunto sob o ponto de vista dos grandes pensadores orientais, ou seja, a felicidade de acor-do com o hinduísmo, o confucionismo e o budismo,

interessante è che ogni giorno decine di turisti visi-tano il monumento, che è diventato un’attrazione turistica di qualità. Ravello ha la sua strategia di mar-keting nel turismo culturale, e realizza il festival da luglio a settembre. A partire da quest’ anno ci saranno concerti durante l’inverno. Poco alla volta il luogo vie-ne valorizzato in modo fisiologico.

CI – Perchè ha deciso di scrivere un libro sulla felicità?DM - Il libro è nato perchè una banca italiana mi ha chiesto di fare un libro con fotografie. Allora ho scel-to Oliviero Toscani, il fotografo italiano più famoso, che ha fatto campagne per Benetton. Lui fa sempre foto molto figurative. In tutto ciò ho affermato che la felicità è una cosa astratta, non è concreta. Oliviero, per la prima volta, ha fatto foto astratte. Ho anche pensato al libro in modo puntuale, fatto “su punti”. Ho preso in esame il pensiero di grandi pensatori oc-cidentali e dopo ci ho messo la mia parte.

La prima parte illustra la storia della felicità, ri-unendo concetti di greci, romani, del Medioevo cristiano, dell’Illuminismo, del Rinascimento, del ba-rocco e dell’età moderna. Nella seconda parte ci sono i fattori che influenzano la felicità, come il tempo, lo spazio, la ricchezza, la bellezza. Poi ci sono i suoi ami-ci e nemici, come i viaggi e il tempo. Infine concludo dicendo che la felicità non è un diritto, ma un dovere.

Non pretende di essere un trattato sulla felicità, è un libro-gioco, quasi un divertimento tra me e Olivie-ro. Si tratta di una sfida per lui sul piano fotografico, e per me sul piano concettuale. Deve essere letto nell’ozio creativo, non in una situazione di attenzio-ne come si legge un trattato.

CI – Come definire la felicità?DM – Io sono arrivato alla conclusione che non esiste una felicità permanente, come non esiste un dolore permanente. Esistono momenti felici e momenti do-lorosi. Il concetto di felicità cambia molto col tempo: alcuni puntano tutto sulle cose che esistono in questo mondo, altri su quello che esiste al di là di questo mon-do. E la situazione attuale della società industriale e postindustriale ha conferito alla felicità una visione consumista: dipende da quello che io compro, e non da quello che io sono. C’è bisogno di riprendersi una centralità umana in rapporto al concetto di felicità. Questa centralità sarebbe meglio trattarla in un altro

Possuir fábricas não equivale a estar no primeiro mundo,

que é caracterizado por universidades, laboratórios

de pesquisa e veículos de comunicação de qualidade

Possedere fabbriche non equivale a far

parte del primo mondo, che è

caratterizzato da università,

laboratori di ricerca e mezzi di comunicazione di

qualità

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Capa atualidadE

correntes para as quais a felicidade está no centro da especulação filosófica.

CI – O Brasil é citado no livro como o local ideal para viver a felicidade, como já havia sido citado pelo senhor como país aconse-lhado para exercitar o ócio criativo. E agora que o país vive um boom econômico?DM - Agora é perigoso. A felicidade não é de ricos ou de pobres. Quando um país fica rico, há o risco que enriqueça à moda norte-americana, e então a felici-dade fica ligada ao consumismo. E sabemos que isto não é verdade.

CI – O senhor está escrevendo algum livro no momento?DM - Estou escrevendo um livro que vou mandar para o meu editor ainda este mês, sobre o mode-lo brasileiro, que será breve como O Ócio Criativo, e procurará responder à pergunta: onde é melhor viver hoje? Todos nós nos colocamos essa per-gunta, é melhor viver na Itália ou Brasil, em Nova York ou em Tóquio, em Milão ou em Roma? A obra pretende analisar os modelos de vida de hoje, che-gando à conclusão de que o melhor modelo de vida neste momento é o brasileiro. Nele, analiso os prin-cipais modelos existentes, com seus prós e contras: o confucionismo da China, o budismo da Índia, o xintoísmo do Japão, o islamismo nos países muçul-manos, a Suécia, a Noruega, a Inglaterra, a Europa mediterrânea, os Estados Unidos, o Brasil. Não é que seja o paraíso, mas o brasileiro é o menos pior. Alguns países estão em desenvolvimento e outros em decrescimento. Alguns países em crescimen-to são democracias, enquanto outros não o são. O Brasil é uma democracia. Substancial, não em tudo, pois não existe um local onde a democracia seja to-tal. O Brasil não é homogêneo, é variado, há coisas terríveis e coisas maravilhosas. As universidades brasileiras, públicas e privadas, são melhores do que as italianas. Há uma injustiça social terrível entre ricos e pobres, mas é uma democracia, enquanto a China não o é; a Índia é uma falsa democracia, pois a família Nehru-Gandhi exerce o poder há 47 anos; e, no mundo islâmico, há um extremismo religioso inexistente no Brasil.

O país praticamente não tem conflitos com os países vizinhos, abriga 42 etnias onde há uma con-vivência pacífica, diferente do que acontece na Índia entre cristãos, budistas e hinduístas. Não é um mode-lo perfeito, mas é o único onde as distâncias sociais, em vez de aumentarem, diminuem.

CI – Por que a Itália chegou à crise atual?DM - A Itália foi um dos primeiros países do mun-do a se transformar de industrial a pós-industrial: ou seja, a indústria continuou importante, porém a economia se baseou na produção de informações, va-lores, símbolos, estética. O design italiano, a moda, a gastronomia, o vinho e tudo que tem a ver com o bem-estar exemplificam isso. Em nossa estrutura so-cial, a classe média é mais numerosa do que no Brasil. Mas tivemos por quase 20 anos Berlusconi no poder, o que foi uma tragédia sob todos os pontos de vista. Houve uma queda de valores, um empurrão forte ao consumismo, a política foi considerada secundária, a economia devorou a política, as finanças devora-ram a economia, agora as agências de rating estão

libro (che probabilmente io non scriverei), che trat-tasse il tema dal punto di vista dei grandi pensatori orientali, ossia la felicità secondo l’induismo, il confu-cianesimo e il buddismo, correnti secondo le quali la felicità si trova al centro della speculazione filosofica.

CI – Il Brasile viene citato nel libro come il luogo ideale per vivere la felicità, come era già stato citato da lei come paese suggeri-to per esercitare l’ozio creativo. E adesso che il paese vive un boom economico?DM – Adesso è pericoloso. La felicità non è cosa di ricchi o di poveri. Quando un paese diventa ricco, c’è il rischio che arricchisca alla moda nordamericana, e perciò la felicità è legata al consumismo. E sappiamo che questo non è vero.

CI – Lei ora sta scrivendo qualche libro?DM – Sto scrivendo un libro che manderò al mio edito-re proprio questo mese, sul modello brasiliano, che sarà breve come L’Ozio Creativo, e cercherà di rispondere alla domanda: dove è meglio vivere oggi? Tutti noi ci faccia-mo questa domanda, è meglio vivere in Italia o in Brasile, a New York o a Tokyo, a Milano o a Roma? L’opera pre-tende di analizzare i modelli di vita odierni, arrivando alla conclusione che il modello di vita migliore in questo momento è quello brasiliano. Nel libro prendo in esa-me i principali modelli esistenti, con i suoi pro e contro: il confucianesimo della Cina, il buddismo dell’India, lo scintoismo del Giappone, l’islamismo dei paesi mus-sulmani, la Svezia, la Norvegia, l’Inghilterra, l’Europa mediterranea, gli Stati Uniti, il Brasile. Non è che sia il paradiso, ma il brasiliano è il meno peggio. Alcuni pae-si sono in fase di sviluppo e altri in recessione. Alcuni

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devorando as finanças. Temos uma progressiva redu-ção do crescimento do PIB, que crescia 6 pontos nos anos 1950 e chegou a -2 este ano. Tivemos um de-crescimento permanente e não percebemos isso, pois a nossa renda per capita ainda é alta, de US$ 31 mil, enquanto o índice brasileiro é de US$ 8 mil. Tínha-mos uma distribuição de renda forte, mas no governo Berlusconi se enfraqueceu. Neste momento, 10 pes-soas na Itália têm a renda de 3 milhões de pobres. Nós não éramos assim.

Os políticos não são capazes de resolver o pro-blema que criaram. Hoje, temos um governo técnico, mas são técnicos que tomam decisões políticas. Deci-dem como deve ser organizada a escola, a televisão, como será distribuído o welfare. Este é o governo mais à direita que temos na Itália nos últimos 50 anos, mas é uma direita equilibrada: é a primeira vez que temos uma direita não fascista nem populista,

paesi in crescita sono democrazie, mentre altri non lo sono. Il Brasile è una democrazia. Sostanziale, non in tutto, poichè non esiste un luogo dove la democrazia sia completa. Il Brasile non è omogeneo, è svariato, ci sono cose terribili e cose meravigliose. Le università brasilia-ne, pubbliche e private, sono migliori di quelle italiane. C’è una terribile ingiustizia tra ricchi e poveri, ma è una democrazia, mentre la Cina non lo è; l’India è una falsa democrazia, dato che la famiglia Nehru-Gandhi eserce il potere da 47 anni; e, nel mondo islamico, c’è un estremi-smo religioso inesistente in Brasile.

Il paese praticamente non ha conflitti con i paesi vicini, accoglie 42 etnie fra le quali c’è una convivenza pacifica, differente da quello che succede in India fra cristiani, buddisti e induisti. Non è un modello per-fetto, ma è l’unico dove le differenze sociali, invece di aumentare, diminuiscono.

CI – Perchè l’Italia è giunta alla crisi attuale?DM – L’Italia è stato uno dei primi paesi del mondo a trasformarsi da industriale in postindustriale: ossia, l’industria ha continuato ad essere importante, tuttavia l’economia si è basata sulla produzione di informazio-ni, valori, simboli, estetica. Il design italiano, la moda, la gastronomia, il vino e tutto quello che ha a che fare col benessere lo spiega. Nella nostra struttura sociale la classe media è più numerosa di quella brasiliana. Ma ab-biamo avuto per quasi 20 anni Berlusconi al potere, il che è stato una tragedia sotto tutti i punti di vista. C’è stata una caduta di valori, una spinta forte al consumismo, la politica è stata considerata di secondaria importan-za, l’economia ha divorato la politica, le finanze hanno divorato l’economia, e adesso le agenzie di rating stan-no divorando le finanze. Assistiamo ad una progressiva riduzione della crescita del PIL, che cresceva di 6 pun-ti negli anni ‘50 e quest’anno è arrivato a -2. Abbiamo avuto una diminuzione permanente della crescita e non l’abbiamo percepito, dato che il nostro reddito pro capite è ancora alto, di US$ 31 mila, mentre l’indice bra-siliano è di US$ 8 mil. Avevamo una forte distribuzione del reddito, ma durante il governo Berlusconi si è inde-bolita. In questo momento 10 persone in Italia hanno un reddito equivalente a quello di 3 milioni di poveri. Noi non eravamo così. I politici non sono capaci di ri-solvere il problema che hanno creato. Adesso abbiamo un governo tecnico, ma sono tecnici che prendono de-cisioni politiche. Decidono come dev’essere organizzata la scuola, la televisione, come sarà distribuito il welfare. Questo è il governo più a destra che abbiamo avuto in Italia negli ultimi 50 anni, ma è una destra equilibrata: è la prima volta che abbiamo una destra non fascista né populista, anche se si regge sull’ appoggio della sinistra. È un governo che può porre riparo ai problemi, ma non darà uno spintone al paese, che dovrà essere economi-co e morale. L’ importante per un paese non è avere ricchezza, ma piuttosto avere un entusiasmo e una co-esione che portino a produrre e distribuire. Il Brasile ha avuto la fortuna di avere una sequenza molto positiva: il governo Fernando Henrique ha rinsaldato l’economia e accumulato ricchezza, e quello di Lula l’ha distribuita. Sarebbe stato un problema se fosse venuto prima Lula e poi FHC. L’Italia, a sua volta, né produce né distribuisce.

CI – Lei parla di crisi di valori e della ne-cessità di inventare un nuovo paradigma...DM - Il comunismo sapeva distribuire la ricchezza, ma non sapeva produrre, mentre il capitalismo sa produr-re, ma non sa distribuire. Il comunismo ha perso, ma

A Itália foi um dos primeiros países a se

transformar de industrial a pós-industrial: a economia se baseou na produção de

informações, símbolos, estética. O design italiano,

a moda e a gastronomia são exemplos disso

L’Italia è stato uno dei primi paesi a trasformarsi

da paese industriale in

postindustriale: l’economia

aveva posto le basi producendo

informazioni, simboli, estetica.

Il design italiano, la moda e la gastronomia

ne sono l’esempio

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embora se sustente com o apoio da esquerda. É um governo que pode reparar os problemas, mas não da-rá um empurrão ao país, que deve ser econômico e moral. O importante para um país não é ter riqueza, e sim um entusiasmo e uma coesão que levam a pro-duzir e distribuir.

O Brasil teve a sorte de ter tido uma sequência muito positiva: o governo Fernando Henrique sal-dou a economia e acumulou riqueza, e o de Lula a distribuiu. Problema seria se primeiro tivesse vindo Lula, e depois FHC. A Itália, por sua vez, não produz nem distribui.

CI – O senhor fala em crise de valores e a necessidade de se inventar um novo para-digma...DM - O comunismo sabia distribuir a riqueza, mas não sabia produzir, enquanto o capitalismo sabe produzir, mas não distribuir. O comunismo perdeu, mas o capitalismo não venceu. Não somos capazes de criar um novo modelo de vida. Não apenas de de-senvolvimento, mas de vida. Estamos cada vez mais desorientados. Não entendemos mais o que é boni-to e o que não é; não entendemos o que é vida ou é morte; na política, o que é esquerda ou direita; não sabemos mais o que é uma família. Mas o budismo foi criado em uma fase de grande desorientação na Índia, o confucionismo, na mesma situação na China. O cristianismo foi difundido na crise da civilização romana, o welfare durante uma crise do capitalismo. Então, este é o momento de se criar um modelo novo de vida que saiba pegar o positivo das diversas expe-riências mundiais e eliminar os negativos.

CI – Onde esse novo modelo para o mundo pode surgir? DM - Acho que do Brasil, onde não há um excesso de presença religiosa como o Islão ou o Vaticano na Itália, de presença militar como nos Estados Unidos e China, ou do Estado como na China e Rússia. O país apresenta uma situação interessante. E o que falta no Brasil? Falta um forte empenho da parte dos intelectuais brasileiros para transformar a ex-periência em modelo, como fizeram os iluministas na França no século XVIII, que usaram a experiên-cia negativa da monarquia absolutista para elaborar um modelo positivo de democracia, liberdade e igualdade. Acho que nem os intelectuais europeus nem os americanos são capazes de fazer isso, pois a situação de grande crise os impede de olhar o fu-turo como uma programação equilibrada. Mas me parece que os intelectuais brasileiros não têm cons-ciência de que o país, neste momento, tem este dever: o de propor um modelo seu, que seja vence-dor, para o mundo.

Capa atualidadE

il capitalismo non ha vinto. Non siamo capaci di creare un nuovo modello di vita. Non solo di sviluppo, ma di vita. Siamo sempre più disorientati. Non sappiamo più ciò che è bello e quello che non lo è; non capiamo quel-lo che è la vita o la morte; in politica, che cosa significa la sinistra o la destra; non sappiamo più che cosa è una famiglia. Ma il buddismo è stato creato in India in una fase di grande disorientamento, il confucianesimo nel-la stessa situazione in Cina. Il cristianesimo si è diffuso durante la crisi della civiltà romana, il welfare durante una crisi del capitalismo. E allora è arrivato il momen-to di creare un nuovo modello di vita, che sappia prendere il positivo dalle diverse esperienze mondiali ed eliminare quelle negative.

CI – Dove può sorgere questo nuovo mo-dello per il mondo? DM – Penso qui in Brasile, dove non c’è un eccesso di presenza religiosa come l’Islam o il Vaticano in Italia, di presenza militare come negli Stati Uniti e in Cina, o dello Stato come in Cina e in Russia. Questo paese rappresenta una situazione interessante. E che cosa manca al Brasile? Manca un impegno forte da parte degli intellettuali brasiliani per trasformare l’esperien-za in modello, come fecero gli illuministi nella Francia del XVIII secolo, che usarono l’esperienza negativa della monarchia assoluta per elaborare un modello po-sitivo di democrazia, libertà e uguaglianza. Credo che né gli intellettuali europei né quelli americani siano capaci di farlo, dato che la situazione di grande crisi gli impedisce di guardare al futuro con un programma equilibrato. Ma mi sembra che gli intellettuali brasilia-ni non abbiano consapevolezza che il paese, in questo momento, ha questo dovere: quello di proporre un mo-dello suo proprio, che sia il vincitore, per il mondo.

CI – L’ascensione economica brasiliana non segue il modello americano?DM - Quando sono venuto qua la prima volta, circa 30, 20 anni fa, l’Italia viveva in uno stato di euforia, e il Bra-sile, di depressione. Oggi è il contrario. Siamo depressi perchè abbiamo sbagliato, abbiamo puntato tutto sul materialismo e sul consumismo. Se un archeologo, fra duemila anni, trovasse i nostri annunci pubblicitari, penserà che eravamo un popolo di affamati, perchè la pubblicità in Europa è soprattutto fatta per vendere pa-tate fritte e carta igienica. Il pericolo è proprio quello di vivere una crescita economica dopo le esperienze euro-pea e nordamericana. Non si possono ripetere gli stessi

Não existe crescimento infinito em um mundo

finito. Sair da crise não é aumentar a renda, como

acreditam o premier italiano e o Obama. E esse é o perigo

no qual o Brasil pode cair

Non esiste crescita infinita

in un mondo finito. Uscire

dalla crisi non significa aumentare il

reddito, come pensano il

premier italiano e Obama. E

questo è il pericolo in cui

può cadere il Brasile

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errori. Quando il progresso economico e tecnologico non vanno di pari passo con il progresso culturale e in-tellettuale, si creano disfunzioni enormi, che possono portare addirittura al fascismo. In Italia il 20% dei voti vanno a Beppe Grillo, che non ha nessun programma. Lui protesta soltanto, non ha proposte. È populismo al-lo stato puro. E si può cadere nel populismo, sia dovuto la povertà, sia al progresso. A sua volta, adesso il Brasile ha una crescita moderata, con un PIL del 2,7%, anche perchè non esistono grandi investimenti. È un assurdo, per esempio, che il viaggio fra Rio e São Paulo sia fatto con l’aereo, che consuma, inquina ed è pericoloso. Un percorso di 500 chilometri si può fare in due ore di tre-no, come Milano-Roma.

CI – Nonostante tutto l’Italia uscirà dalla crisi?DM - Credo di sì. Ma quando parlo di crescita, parlo dal punto di vista morale, della felicità, anche riducendo il reddito. Le ricerche mostrano che quando il reddito pro-capite supera i US$ 15 mila dollari, la felicità non cresce insieme ad esso. Ci troviamo in una fase di cambiamen-to totale del modello economico mondiale. Alcuni paesi si sono arricchiti alle spalle del resto del mondo, soprat-tutto delle ex colonie come la Cina, l’India, il Brasile, il Cile ecc. Per la prima volta nella storia moderna questi paesi non sono più disposti a farsi derubare. Non è più possibile che i paesi ricchi continuino a crescere. Se il petrolio è finito, ce n’è sempre meno sulla Terra, com’è possibile per un italiano pagare lo stesso prezzo per la benzina di quando la Cina non aveva quasi automobili? Non possiamo ripetere l’idea della crescita infinita, non esiste crescita infinita in un mondo finito, c’è poco da fare. Perciò, quando dico che possiamo uscire dalla cri-si, dico che bisogna ridurre il PIL e aumentare la qualità di vita. Uscire dalla crisi non è aumentare il reddito, co-me pensano il premier italiano e Obama. E questo è il pericolo in cui il Brasile può cadere. Credere nell’illusio-ne che bisogna crescere all’infinito invece di distribuire all’infinito sono due cose diverse.

CI – A ascensão econômica brasileira não segue o modelo americano?DM - Quando vim aqui pela primeira vez, há cerca de 30, 20 anos, a Itália vivia um estado de euforia, e o Brasil, de depressão. Hoje é o contrário. Esta-mos deprimidos porque erramos, apostamos tudo no materialismo e no consumismo. Se um arqueólo-go, daqui a dois mil anos, encontrar nossos anúncios publicitários, pensará que éramos um povo de fa-mintos, porque a publicidade na Europa é sobretudo para vender batatas fritas e papel higiênico. O perigo é justamente viver um crescimento econômico após as experiências europeia e norte-americana. Não po-dem repetir os mesmos erros. Quando o progresso econômico e tecnológico não é paralelo ao progresso cultural e intelectual, se criam disfunções enormes, que podem levar até ao fascismo. Na Itália, 20% dos

votos vão a Beppe Grillo, que não tem um programa. Ele apenas protesta, não tem proposta. É populismo em estado puro. E se pode cair no populismo, seja por pobreza, seja por progresso. Por sua vez, agora, o Brasil tem crescimento mode-rado, com um PIB de 2,7, até porque não existem grandes investimentos. É um absurdo, por exemplo, que a viagem entre Rio e São Paulo seja feita de avião, que consome, polui e é perigoso. Um trajeto de 500 quilômetros se pode fazer em duas horas de trem, co-mo Milão-Roma.

CI – Apesar de tudo, a Itália vai sair da crise?DM - Creio que sim. Mas quando falo de crescimen-to, falo do ponto de vista moral, de felicidade, mesmo reduzindo a renda. As pesquisas mostram que, quan-do supera a renda per capita supera os US$ 15 mil dólares, a felicidade não cresce junto. Estamos em uma fase total de mudança de modelo econômi-co mundial. Alguns países enriqueceram às custas do resto do mundo, sobretudo de ex-colônias como China, Índia, Brasil, Chile etc. Pela primeira vez na história moderna, esses países não estão mais dis-postos a se deixarem roubar. Não é mais possível que os países ricos continuem a crescer. Se o petróleo é fi-nito, há cada vez menos na Terra, como é possível um italiano pagar o mesmo preço pela gasolina da época em que na China não havia quase automóveis? Não podemos repetir a ideia de crescimento infinito, não existe crescimento infinito em um mundo finito, c’è poco da fare. Então, quando digo que podemos sair da crise, digo para reduzir o PIB e aumentar a qualidade de vida. Sair da crise não é aumentar a renda, como acreditam o premier italiano e o Obama. E esse é o perigo no qual o Brasil pode cair. Acreditar na ilusão de que é preciso crescer até o infinito em vez de distri-buir ao infinito, são duas coisas diferentes.

O que falta ao Brasil? Um forte empenho de seus intelectuais

para criar um novo modelo de vida que seja vencedor,

para o mundo, como fizeram os iluministas na França no

século XVIII

Cosa manca al Brasile?

Un impegno forte dei suoi

intellettuali per creare un nuovo

modello di vita che sia vincitore

per il mondo, come fecero gli

illuministi nella Francia del XVIII

secolo

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Rumo a 2016Entre surpresas e decepções, Brasil fecha os Jogos de 2012 em 22ª posição e agora assume o desafio de organizar as primeiras Olimpíadas da América do Sul

atualidadE

Inédito - De São Caetano, Arthur Zanetti, de 22 anos, fez história ao superar o chinês Yibing Chen, ex-campeão olímpico cujo treinador chegou a classificar o resultado como um “roubo”. Do alto de seus 1,56 m de altura, o ítalo-brasileiro levou a primeira medalha verde-amarela na modalidade com as argolas. Com uma pontuação de 15.733, o italiano de Vimercate ficou com o bronze, e dedicou a medalha à filha Gaia, de apenas 10 meses

Alegria e tristeza - Cesar Cielo levou o bronze nos 50m, mas ficou em sexto lugar na prova dos 100m na capital inglesa. O nadador avisa que são poucas as chances de competir na prova mais longa nos Jogos do Rio, em 2016

Prata de novo - Dois gols do mexicano Peralta acabaram com o sonho do ouro olímpico para o futebol masculino. A vitória do México por 2 x 1 significou a terceira derrota da seleção brasileira em uma final olímpica. A prata também aconteceu em Los Angeles em 1984 e em Seul em 1988

Primeira – Ao vencer a romena Alina Dumitrue na categoria até 48 kg, a piauiense Sarah Menezes, de 22 anos, não foi apenas a primeira brasileira a faturar uma medalha em Londres: é também a primeira brasileira a conquistar um ouro olímpico para o judô

Bicampeãs - Desacreditada antes dos Jogos, a seleção feminina de vôlei entrou para a história ao conquistar o bicampeonato olímpico, com vitória sobre os Estados Unidos por 3 sets a 1, e ganhou até um comunicado oficial da presidente Dilma, parabenizando as atletas pelo resultado

Enquanto a Itália terminou os Jogos de Londres no G8 do esporte, o Brasil, apesar das críticas, alcançou número recorde de medalhas, mas

sem conseguir seu melhor desempenho na história. Os atletas brasileiros conquistaram 17 medalhas — duas a mais do que o obtido em Atlanta em 1996 e em Pe-quim em 2008. Mas a quantidade de ouro é o primeiro

parâmetro na avaliação do desempenho dos países, e Brasil conseguiu apenas três. Já os azzurri obtiveram oito ouros, com 28 medalhas no total. O primeiro ouro da história da ginástica artística brasileira surpreen-deu o mundo, enquanto a seleção feminina de futebol foi eliminada logo nas quartas-de-final e a masculina terminou mais uma vez com a prata.

42 agosto 2012 | comunitàitaliana

Page 43: Revista Comunità Italiana Edição 169

Quadro de medalhas

Estados Unidos

China

Grã-Bretanha

Rússia

Coreia do Sul

ITÁLIA

BRASIL

22º

Ouro Prata Bronze TOTAL

46 29 29 104

38 27 22 87

29 17 19 65

24 25 33 82

13 8 7 28

8 9 11 28

3 5 9 17

Troféu na despedida - O norte-americano Michael Phelps se despede das Olimpíadas com um ouro no revezamento 4x100m medley de equipe, e ainda recebe do presidente Federação Internacional de Natação, Julio Maglione, um troféu “para o maior atleta olímpico de todos os tempos”. Somente em Londres, ele faturou seis medalhas: quatro de ouro e duas de prata

Bicampeão - Aos 25 anos, o jamaicano Usain Bolt torna-se lenda: é o primeiro velocista a ganhar os 100 e os 200 metros em duas edições seguidas de Jogos Olímpicos. Ele conseguiu uma façanha inédita até para Carl Lewis. A prova da meia volta à pista em Londres também demonstrou a superioridade da Jamaica na velocidade, com Yohan Blake e Warren Weir nos outros dois pódios

Florete - O time italiano da esgrima, composto por Valentina Vezzali,

Arianna Errigo, Elisa Di Francisca e Ilaria Salvatori, derrotou a equipe

russa por 41 a 35 na final. Valentina, a grande estrela da modalidade,

alcançou sua sexta medalha de ouro em Jogos Olímpicos

Doce bronze - Ferido pelo inesperado doping de Alex Shwazer, o atletismo italiano ressurgiu por meio de Donato. Originário de Latina, aos 35 anos, levou o bronze com um salto triplo de 17,48: foi a primeira medalha do atletismo azzurro em Londres

Heroína Forciniti - A pequena cidade de Longobucco, em Cosenza, recebeu Rosalba Forciniti com festa, após o retorno da Inglaterra. Campeã nacional e de torneios internacionais de judô, aos 26 anos, conquistou o bronze na categoria -52 kg

Remo - A dupla do remo que levou a medalha de prata vem de Latina. Alessio Sartori e Romano Battisti chegaram em segundo lugar, atrás da dupla da Nova Zelândia, e contaram que a conquista é fruto de um “ano duríssimo de trabalho”De Londres para o Rio - Na festa de

encerramento dos Jogos, o prefeito de Londres, Boris Johnson, subiu ao palco, agitou a bandeira olímpica e a passou para o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogge, que repetiu o gesto. Em seguida, foi a vez do prefeito do Rio, Eduardo Paes, tomar posse: a cena mostrou ao mundo que as Olimpíadas já estão sob responsabilidade carioca. Rogge solicitou às autoridades brasileiras que terminem os trabalhos que faltam o mais rápido possível para que tudo corra bem em 2016

43comunitàitaliana | agosto 2012

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a Itália, conta Suzana Martins, ge-rente de marketing da STB.

— Os países mais procura-dos pelos idosos são os de línguas neolatinas, portanto, italiano, francês e espanhol. Mesmo as-sim, constatamos um crescente número de inscritos em países co-mo Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. O bom momento da eco-nomia brasileira, aliado ao acesso aos benefícios da educação inter-nacional, está contribuindo para popularizar o intercâmbio. Além disso, esse percentual de idosos em intercâmbio deve crescer, pois a expectativa de vida das pessoas aumentou — analisa.

A STB tem cursos especiais pa-ra pessoas com idade superior a 50 anos. O pacote custa a partir de 1.218 euros, excluídas as passa-gens. A empresa encaminha seus clientes para a escola Dilit em Ro-ma, por duas semanas. O pacote inclui 20 aulas de italiano em grupo e atividades guiadas por professo-res especializados em Arqueologia e História da Arte. Aulas de culinária, passeios em Tivoli e Castelli Roma-ni, visitas a adegas, degustações, jantares e excursões por Pompeia e Nápoles fazem parte do cronogra-ma. Suzana Martins conta que as motivações estão relacionadas aos hobbies e às carreiras dos viajantes.

— O público na faixa etária acima de 50 anos geralmente bus-ca programas que unam estudo e atividades ligadas aos hobbies e ao estilo de vida de cada um, como

de intercâmbio pegou carona nessa mudança de perfil dos turistas.

Batizados de special age ou mature students, os programas de estudo para estrangeiros são mon-tados pelas próprias escolas no exterior e vendidos no Brasil por empresas de intercâmbio. Apesar mais de 30 agências brasileiras ofe-recerem esse serviço, o intercâmbio de idosos ganhou mais impulso somente nos últimos dois anos. Na agência Student Travel Bureau (STB), o intercâmbio para a tercei-ra idade registrou alta de 40% de 2010 para 2011. Os destinos mais requisitados são os europeus, como

Para fugir da rotina diária, ou aperfeiçoar-se pro-fissionalmente, ou para minimizar a frustração

de nunca ter feito uma viagem de intercâmbio na juventude, muitas pessoas com mais de 50 anos to-mam a decisão de embarcar para o exterior através de programas de intercâmbio. Uma parte recorre às agências de intercâmbio também para aprender línguas, e paralela-mente aos estudos, realizam muitos passeios e atividades extracurricu-lares. O setor do turismo foi um dos primeiros a apostar nesse nicho de mercado. Segundo uma pesquisa realizada pelo QuorumBrasil, viajar é o desejo de consumo de 58% dos idosos brasileiros — e o segmento

Novos horizontes após os 50Os intercâmbios entre pessoas acima de 50 anos têm aumentado cada vez mais, apontam pesquisas de agências especializadas. Itália é um dos destinos mais procurados

comportamEnto

Nathielle Hó

44 agosto 2012 | comunitàitaliana

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arte, culinária e dança. Nossos clientes continuam muito ativos profissionalmente e, em sua maio-ria, são profissionais liberais, têm o próprio negócio, a casa própria, não têm mais obrigações financeiras pesadas e seus filhos já cresceram, o que facilita para realizarem via-gens longas — completa Suzana.

Rui Barbosa Júnior, de 60 anos, psiquiatra e morador de Be-lo Horizonte, comprou o pacote de intercâmbio da STB em maio de 2012 para a Itália. Descenden-te de italianos do Vêneto, estuda a língua há três anos e fez a viagem de intercâmbio para ganhar flu-ência no idioma e mergulhar na cultura do país. Para Rui, o aspec-to mais interessante das viagens de intercâmbio é descobrir as peculia-ridades regionais.

— Em Palermo, as lojas fecham no horário de almoço. Isso é muito interessante! Agora posso ler so-bre os lugares que visitei e ter uma visão mais concreta do que é dito. Além disso, durante a viagem você conhece pessoas de outros países, de todas as idades, com hábitos di-ferentes dos seus, mas que acabam seus amigos e te ajudam muito, ainda mais quando você vai sozi-nho ou é “marinheiro de primeira viagem” — lembrou Rui.

Intercambistas maduros e exigentesOs alojamentos de estudantes não são tão populares entre os mais ve-lhos, que preferem a tranquilidade e a privacidade. A maioria escolhe como locação um apartamento ou um hotel e, no caso daqueles mais interessados em praticar exclusiva-mente o idioma, hospedar-se em casas de família é uma boa opção. Rui Barbosa se instalou em hotéis durante o intercâmbio na Itália e enfatiza a importância de se procu-rar informações na internet sobre preços e a qualidade dos locais de hospedagem em outros países.

— Durante a preparação da viagem, pesquisei em vários blogs de viajantes, que me deram dicas bastante úteis. Em Roma, escolhi o Hotel Rimini, próximo à escola Dilit. Gastei 1700 euros em hotéis, pois passei 13 noites em Roma, duas em Catânia, no Hotel Villa Romeo, e duas em Palermo, no Hotel del Centro. Eram hotéis três estrelas. Humildes, porém limpos, relativa-mente confortáveis e próximos às estações ferroviárias e rodoviárias.

Aos 59 anos, o contador Mau-ro Tassi vai acompanhar a esposa

Beth Tassi, empresária de 58 anos, na primeira viagem à Florença, pelo Programa 50+ da Central de Inter-câmbio (CI), em setembro. O pacote do programa tem valores a partir de  2.600 euros por pessoa e inclui acomodação com café da manhã, materiais de estudo, transfer in/out e todos os passeios. Durante o in-tercâmbio, os alunos terão aulas na instituição Linguaviva e ficarão hos-pedados no Hotel Royal Firenze.

O casal vai fazer visitas guia-das a vilas e jardins de Florença, à Galeria Uffizi, à Torre de Pizza e à Igreja Croce que apresenta uma be-la arquitetura gótica. Eles querem apreciar obras de Michelangelo, na Galeria Accademia, que fica na cidade de San Gimignano, além de conhecer as melhores grifes de mo-da do mundo como Gucci e Armani. Mauro fez seu primeiro intercâm-bio aos 48 anos no Canadá. Ele compara suas experiências com as do filho Gabriel que, aos 20 anos, viajou para os Estados Unidos.

— Fazer um intercâmbio na mi-nha idade é muito melhor do que fazer um intercâmbio jovem. Além de se ter mais bagagem cultural e de vida, a situação financeira estável também ajuda a aproveitar de ma-neira mais confortável as viagens. Tomo como exemplo o intercâm-bio que meu filho Gabriel fez aos 20 anos para os Estados Unidos. O pacote dele foi mais barato. Ele ficou em casa de família e levou pouco dinheiro para gastar. Com minha esposa, ficarei em um hotel, vou jantar em bons restaurantes e poder comprar o que eu quiser sem ter aquela restrição de dinheiro de quando somos jovens. Além disso, quando se tem 50 anos ou mais, se aproveita de forma diferente os lu-gares — ressaltou Tassi.

As pessoas mais velhas são mais detalhistas e querem saber, com antecedência, todos os pas-sos que darão. A programação

para os idosos costuma ser mais intensa porque dura de duas se-manas a um mês, diferente do intercâmbio de jovens, que pode durar até seis meses, um ano ou mais. Para dar conta de todas as atividades, é preciso estar com a saúde sob controle. Os idosos que sofrem de alterações de memória e humor, ou portadores de doença crônica que não esteja controla-da, devem viajar acompanhados. De qualquer maneira, é obrigató-ria a contratação de um plano de saúde para todo o período da via-gem, diz Gabriel Canellas, gerente do Programa 50+ da Central de In-tercâmbio (CI). O plano de saúde é válido para todas as idades e já está incluído no preço final do pa-cote do intercâmbio.

Gabriel garante que os inter-câmbios na faixa dos 50 anos só tendem a aumentar, pois quem ex-perimenta conhecer novas culturas e outros costumes, acaba querendo repetir essa experiência.

— A aventura em terra estran-geira, somada à experiência de voltar à sala de aula, ajuda os alunos com mais de 50 anos a reciclar ideias e hábitos, abre horizontes e propor-ciona mais autoconfiança. Em geral, eles já voltam do intercâmbio pla-nejando a próxima viagem para o exterior — conclui.

Rui Barbosa Júnior fez intercâmbio em maio de 2012, aos 60 anos, pela STB. Durante a viagem, conheceu Florença

e Roma

Mauro Tassi, de 59 anos, e a esposa

Beth Tassi, de 58, fazem em setembro a primeira viagem à

Florença

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na Idade Clássica, o italiano formulou a “negação da psiquiatria” como dis-curso e prática. Ele via a necessidade de utilizar a arte como coadjuvante no tratamento de doenças físicas e emocionais. Fundadora da clínica Pomar, especializada em arteterapia, no Rio de Janeiro, Angela Phillipini, ressalta que o trabalho realizado na instituição tem influência junguia-na, baseada no autoconhecimento. A psicóloga ítalo-brasileira também ressalta que absorveu muitas das ideias de Basaglia em seu trabalho.

— A União Europeia tem um consórcio de países que, a cada dois anos, organiza um grande con-gresso sobre arteterapia. O último aconteceu em setembro do ano passado, na cidade de Lucca. A In-teligência do Coração foi o tema do congresso. Franco Basaglia foi lem-brado, por ser o responsável pela reforma psiquiátrica na Itália. Essa revolução começou no hospital de Trieste, onde ele promoveu a subs-tituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territo-rial de atendimento, da qual faziam parte cooperativas de trabalho, ateliês de arte, centros de cultura e lazer, oficinas de geração de renda e residências assistidas — lembra.

A forte influência de Basaglia na psiquiatria do BrasilAngela Phillipini afirma que as ideias do psiquiatra italiano tive-ram reflexos nas políticas públicas

Terapia com criatividadeO psiquiatra italiano Franco Basaglia e sua filosofia antimanicomial, baseada na arte como terapia, influenciou a revolução psiquiátrica no Brasil

SaúdE

abalar o equilíbrio emocional. Para auxiliar no tratamento desses trau-mas, é empregada a arteterapia. O psiquiatra italiano Franco Basaglia foi o grande incentivador e divulga-dor desse método antimanicomial.

Basaglia, no campo das relações entre a sociedade e a loucura, assu-mia uma posição crítica com relação à psiquiatria hospitalar devido ao isolamento do doente através da internação e dos eletrochoques. Ins-pirado na obra do filósofo francês Michel Foucault, História da Loucura

Expressar sentimentos através das pinceladas em um quadro ou por meio dos traçados de um

desenho é uma forma de terapia. Colocar o lado criativo para fun-cionar pode ajudar no tratamento de problemas crônicos e distúrbios psicológicos. O mundo moder-no, individualista, competitivo e violento faz com que muitas pes-soas desenvolvam doenças como depressão e síndrome do pânico. As situações-limite que os italia-nos têm enfrentado, a exemplo da crise econômica e de catástrofes como terremotos, contribuem para

Nathielle Hó

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agosto 2012 | comunitàitaliana46

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brasileiras, como a construção dos CAP’s — Centros de Atenção Psi-cossocial. Basaglia, que veio ao Brasil pela primeira vez em 1978, retornou no ano seguinte, quando fez uma visita ao Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, um dos mais cruéis manicômios brasi-leiros. Ali, Basaglia comparou o estado dos doentes e a estrutura do local a um campo de concentração, reforçando as denúncias de maus--tratos e violência. Sua presença em terras tupiniquins deu origem ao documentário do cineasta Helvécio Ratton, Em nome da razão, de 1980, um marco na luta antimanicomial brasileira. Angela Phillipini acres-centou que Basaglia revolucionou o tratamento dos “loucos”, propondo a criação, na Itália, da lei 180.

— Em 13 de maio de 1978, foi instituída a lei 180, de autoria de Basaglia. Não apenas proíbe a re-cuperação dos velhos manicômios e a construção de novos, como também reorganiza os recursos para a rede de cuidados psiquiátri-cos, restitui os direitos sociais dos doentes e garante o direito ao tra-tamento psiquiátrico qualificado — explica a psicóloga.

Basaglia também influenciou a reforma psiquiátrica do hospital de Santos, em 1989. Após uma série de mortes na Casa de Saúde Anchieta, conveniada ao extinto Inamps, a prefeitura decidiu intervir e desa-propriá-la, iniciando um trabalho semelhante àquele que Franco fez na Itália. Na cidade, foram im-plantados os núcleos de atenção psicossocial (Naps), abertos 24 ho-ras por dia. Foram criadas também oficinas de trabalho para geração de renda dos ex-internos e diversos projetos culturais de inserção social, como a Rádio e a TV Tam Tam.

Base na teoria junguiana do autoconhecimento Em arteterapia, o trabalho clínico desenvolve-se em um ponto de in-serção entre artes, educação e saúde, de forma interdisciplinar. Seja atra-vés da teoria do autoconhecimento de Jung, seja através da filosofia antimanicomial de Basaglia, mui-tos que praticam a arteterapia defendem que o exercício de cria-ção ativa várias áreas do cérebro para compreender cores, contrastes e formas. Além disso, o ato de criar proporciona entusiasmo. De acordo com a professora de História Maria Luiza Cristófaro, que frequenta cur-sos ministrados na clínica Pomar, a arteterapia é um meio com o qual a

pessoa tem muitos insights, o que contribui para que ela possa orga-nizar seus pensamentos e amenizar aflições e ansiedades.

— Não há uma bula para inter-pretar formas e cores na arteterapia. A pessoa exterioriza, através da pintura, escultura, colagem e reciclagem, o que está em seu sub-consciente. Saber decifrar o que a imagem quer dizer é importante, mas essa interpretação é mediada pelo terapeuta. Outra coisa essencial é olhar o cotidiano de uma forma di-ferente. As pessoas normalmente têm um olhar padronizado, direcio-nado a formas aceitas. Por isso, é bom sair desse olhar conformado — ressalta Maria Luiza.

Há várias publicações sobre o assunto, mas não há um estudo controlado para saber se a técnica traz, de fato, efeitos positivos. Mui-tos psiquiatras e outros médicos afirmam que é necessário testar um grupo composto por pacientes com os mesmos tipos de diagnóstico e tratamento para fazer a compara-ção e ver se realmente a terapia com arte tem resultados significativos. A psicóloga Sayuri Pauli acredita que a arteterapia está relacionada com a construção de uma auto-ima-gem, que ajuda o terapeuta a colher dados sobre o paciente.

— Hoje, já falamos em medicina integrativa, um termo mais amplo do que complementar. Uma vez comprovada a eficácia dessas téc-nicas, chamadas alternativas, elas deixam de ser “paralelas” e entram no arsenal de tratamentos. Quan-do estava prestes a me formar em Psicologia, não sabia que corrente seguir, se a psicanálise ou a Gestalt. Depois, descobri a arteterapia. Ela funciona como uma ferramenta pa-ra enriquecer a coleta de dados do seu paciente. O terapeuta dizer o que você tem é como fazer uma pro-jeção do outro, por isso eu acho que o psicólogo é apenas um facilitador do processo. Na verdade, é o pró-prio paciente que deve se encontrar através das imagens produzidas — enfatizou a psicóloga.

A clínica Pomar segue a teoria de Carl Gustav Jung, fundador da psi-cologia analítica. Jung foi a grande referência para a médica brasilei-ra Nise da Silveira. A psiquiatra foi responsável pela introdução da arte-terapia no Brasil e fundou o Museu das Imagens do Inconsciente, loca-lizado no Hospital Pedro II, no Rio de Janeiro, onde há um acervo de obras de seus pacientes. Na terapia junguiana, que explora os sonhos

e as fantasias, um diálogo é esta-belecido entre a mente consciente e os conteúdos do inconsciente. Segundo a agente administrativa do Ministério da Saúde e aluna da clínica, Lídia de Jesus, Jung usou como objeto de estudo ele mesmo, para mostrar às pessoas como elas podem atingir o autoconhecimento para viver melhor.

— Segundo a teoria junguia-na, o autoconhecimento ajuda a minimizar os conflitos internos e as relações sociais. A ideia de Jung é chegar à individuação, o ser não dividido. Ele ficou 50 anos pesqui-sando e produzindo imagens para ter a descoberta do eu, conforme diz a música do Milton Nascimen-to, Caçador de Mim. A gente acha que se vê como num espelho, mas, na verdade, somos tão desconhe-cidos de nós mesmos... Por isso, a arteterapia é importante, para ti-rarmos o véu do que está encoberto em nossa memória, sejam histórias tristes de família, sejam traumas de infância, dentre outros proble-mas — conclui Lídia.

Na clínica Pomar, fundada pela

psicóloga Angela Phillipini, são

ministrados cursos de arteterapia. A

clínica segue a teoria do autoconhecimento

de Jung e se inspira na filosofia antimanicomial de

Franco Basaglia

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Além de serem um co-lírio para os olhos, os lagos italianos são uma ótima opção nos meses

de verão para escapar das multi-dões que tomam conta das praias da Itália. Segundo a Legambiente, que publica todos os anos a famosa Guida Blu com o ranking dos desti-nos de verão italianos, os melhores lagos estão nas regiões de Trenti-no-Alto Ádige, Toscana e Úmbria, além, é claro, do sempre elegante Lago de Como, na Lombardia.

A Guida Blu é uma publicação promovida pela maior organização

ambientalista italiana, a Legam-biente. Considerada o “Oscar” do turismo italiano, analisa anual-mente quase 400 balneários de água doce e salgada de toda a Itália. Os critérios de turismo sustentável regem as classificações dos balne-ários, que recebem como nota de zero a cinco velas. As localidades são julgadas segundo a capacida-de das administrações municipais em integrarem belezas naturais e preservação de tradições culturais, como gastronomia com gestões de baixo impacto ambiental.

— Segundo uma pesquisa pu-blicada recentemente, 56% dos italianos estão dispostos a paga-rem um pouco mais nas suas férias

Férias no lagoConheça os melhores destinos italianos de água doce, do extremo norte da península, onde no inverno se transformam em pistas de patinação, à ensolarada Toscana

turiSmo

Lago de Monticolo

No coração de uma terra conhecida como a dos cas-telos, lagos e vinhos, a 16 km da capital provincial

Bolzano, encontra-se a pequena cidade de Appiano sulla Strada del Vino, mais conhecida pelo seu nome alemão Eppan an der Weinstrasse, já que 87% da população se declara falante de alemão. Em meio a essa região de forte tradição vinícola, encontram-se os dois lagos de Monticolo: o Grande e o Pequeno. De origem glacial, es-tão rodeados por bosques e são fechados à navegação de motores ou barcos a vela, conferindo total tranquilidade para os turistas que chegam, principalmente, da vizinha Bolzano, para aproveitar o verão. Devido ao aquecimen-to natural, a temperatura das águas durante o verão é perfeita para os mergulhos, enquanto no inverno as baixas temperaturas congelam as águas, o que favorece a formação de uma pista improvisada para a patinação no gelo. Nos dois lagos, estruturas de hospedagem e restaurantes garantem conforto aos turistas, que en-contram até piscinas aquecidas à beira do lago.

se houver garantias de respeito ao meio ambiente — afirma o presi-dente da Legambiente, Sebastiano Venneri.

No extremo norte da Itália, onde mais de 30% da população fala ale-mão e a geografia é dominada pelas Dolomitas, encontram-se os melho-res lagos da Itália. O Trentino-Alto Ádige, que faz fronteira com a Áus-tria, reúne três dos seis lagos que conquistaram a nota máxima na Guida Blu 2012: Monticolo, Fiè e Molveno. Os outros três premiados são o badalado Lago de Como, na Lombardia, o Lago de Trasimeno, na província de Perúgia, e o Lago dell´Accessa, em Massa Marittima, na Maremma Toscana.

Lago Trasimeno

Única novidade na lista de localidades premiadas, o La-go Trasimeno, a 30 km de Perúgia, próximo da divisa

entre a Úmbria e a Toscana, foi palco de momentos impor-tantes da história da península. Ali, foi travada uma das mais sangrentas batalhas da Antiguidade, quando mais de 16 mil soldados romanos morreram aniquilados pelo exér-cito do general Anibal, em 217 a.C.. Na Isola Maggiore, a principal das três ilhas do lago, ninguém menos que São Francisco de Assis teria transcorrido um período de jejum e orações em 1211, o que motivou os franciscanos a cons-truírem no local um convento e uma igreja. Hoje, o local faz parte de um parque regional de preservação importan-te em nível europeu por ser rota de centenas de espécies de pássaros migratórios. As estruturas turísticas são rigida-mente controladas ao longo das margens do lago, sendo estimuladas aquelas com menos impacto ambiental, co-mo pequenos hotéis-fazenda, pensões e campings.

Aline BuaesEspecial para Comunità

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Lago de FièAssim como o Monticolo, o Lago de Fiè se encontra a poucos quilômetros de Bolzano, na cidade de Fiè allo Sciliar, e oferece atrações tanto de verão, com os pas-seios nos barcos a remo e os locais de mergulho para as crianças, quanto de inverno, com a pista de patina-ção no gelo improvisada. A 1036 metros de altitude e com profundidade máxima de 3,5 metros, o lago não é natural. Foi construído em 1500 por Leonhard von Völs--Colonna, então capitão do Tirol, para ser um viveiro de peixes e permitir que os habitantes da região pudessem pescar. Hoje, no entanto, a pesca é terminantemente proibida no local. Outra atração é a proximidade com os Alpes de Siusi, considerados um dos maiores da Eu-ropa, com famosas estações de esqui.

Lago dell´Accesa

O lago localizado na pequena Massa Maritti-ma, no coração da Maremma Toscana, uma

regiões históricas da Itália quando o assunto é ambientalismo, é também rico de belezas histó-ricas e arquitetônicas. Pertencente à província de Grosseto, o pequeno lago de 14 hectares é cir-cundado por bosques e florestas, mas chama a atenção pela presença de um sítio arqueológico de origens etruscas nas suas margens. Os primei-ros habitantes teriam chegado ao local no século VI a.C., atraídos pelas minas de prata e chumbo, e foram os responsáveis pelas primeiras atividades industriais na região. Hoje, o lago representa a única bacia natural de água doce da parte norte da Maremma, com a presença de espécies animais e vegetais muito vulneráveis que exigem muita atenção sobre a conservação ambiental.

Lago de Molveno

Localizado na província de Trento, a 864 metros de altitude, encanta os visitantes com sua bela

paisagem. A moldura que o circunda é formada pelas cadeias montanhosas de Paganella e os Alpes Dolo-mitas de Brenta, até as suas águas multicoloridas, com tons verdes e azuis, e profundas, que descem por uma extensão de até 120 metros. Molveno é também o maior lago da Europa, acima de 800 me-tros, e oferece, além do banho refrescante nos dias de verão, diversas opções de trekking e mountain bike, já que toda a sua orla pode ser percorrida a pé ou de bicicleta. Nos meses de primavera e outono, a atração fica por conta do vento Ora del Garda, que permite a prática de esportes como surfe, para-pente e barco a vela.

Lago de Como

O mais badalado dos lagos, é residência de famosos como o ator Ge-orge Clooney. No passado, já encantava nomes do romantismo

europeu, de Alessandro Manzoni a Stendhal, Byron e Franz Liszt. A cer-ca de 60 minutos de trem do centro de Milão, localiza-se entre os Alpes suíços e o vale do rio Pó. Com uma área de 146 m², é também um dos maiores da Itália, com mais de 50 praias consideradas balneáveis. A orla privilegiada do município de Bellagio, em meio ao lago, possui algumas das mais famosas mansões históricas da região com jardins típicos, como a Villa Serbelloni, cuja visita completa leva mais de duas horas. Muitas excursões partem de Bellagio a pé, como as que sobem até o panorâmico pico de San Primo, de carro, pelas estradas circundantes do lago, ou de barco em direção às margens opostas. Entre as especialidades gastronô-micas da região, há peixes lacustres, como trutas e agones, e polenta.

49comunitàitaliana | agosto 2012

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A Itália é uma península com quase 7.500 km de costa, circundada pelas águas do Tirreno,

do Iônio e do Adriático. Neste país privilegiado, o Piemonte não pode-ria ficar sem o seu mar: o mar da cultura. O piemontês é orgulhoso de seus campos verdes, suas mon-tanhas, seus rios e suas tradições, mas consegue também ser um livre navegante do mundo.

Terra de grandes persona-gens do passado e do presente, nela nasceram o poeta Cesare Pa-vesi, o ex-presidente Luigi Einaudi, considerado um dos pais da Repú-blica Italiana, a médica Rita Levi di Montalcino, que venceu o prêmio Nobel da medicina em 1986, o es-critor contemporâneo Alessandro Barrico e o fundador do movimen-to Slow Food Carlo Petrini.

A história italiana está intrin-secamente ligada ao Piemonte, de onde partiram as ordens do rei Vit-torio Emanuele II de Savoia para unificar os diversos reinos em um só país. Esta unificação contou com o comando do general Giuseppe Garibaldi, o herói dos dois mundos que, já na segunda metade do sécu-lo XIX, era um cosmopolita.

Hoje, a capital Turim é uma me-trópole rica de história em meio a uma atmosfera cosmopolita. Na cidade, vivem italianos de diver-sas origens que se transformaram em torinesi. A maioria imigrou pa-ra o Piemonte depois da Segunda Guerra Mundial para trabalhar em grandes indústrias como a Fiat, cuja sede está em Turim. Esta mis-tura de sotaques acabou por abrir

os horizontes de um lugar que ago-ra acolhe estrangeiros de vários países, costumes e religiões.

O mercado de Porta Palazzo, no centro de Turim, é um exemplo do caráter cosmopolita da cidade. Esta feira gigante é composta por uma área aberta e outra coberta, construída em 1916 em estilo art nouveau, cuja fachada em ferro e vidro expõe desde 2005 uma ins-talação do artista Michelangelo Pistoletto. A obra consiste em vá-rios neons com a escrita amar as diferenças, em diversos idiomas.

Em Porta Palazzo, se acha de tudo. Ali se encontram objetos de to-dos os tipos, desde sapatos e roupas a produtos para a casa. O ponto for-te está nos alimentos, com bancas que vendem especialidades de dife-rentes regiões da Itália e do mundo. São diversos rostos, idiomas e dia-letos que comprovam a nova Turim como ponto de encontro de culturas.

Artística, verde e esotéricaEm Turim, se tropeça na arte. Ape-nas um passeio ao ar livre pela Porta Palatina, erguida pelos an-tigos romanos no I século antes de Cristo, atravessa dois mil anos de história entre os castelos reais em pleno centro e dá a dimensão da riqueza cultural da cidade. Ho-je, Turim e seus arredores estão abertos ao público com mais de 50 museus, monumentos, caste-los, palácios, residências e espaços expositivos considerados atrações internacionais. Merece destaque o Museu Egípcio, o qual, com um acervo de valor inestimável que re-úne 30 mil peças, é considerado o mais importante do mundo depois daquele situado no Cairo.

No entanto, a capital do Pie-monte não vive só do esplendor de

seu passado, mas investe no pre-sente e no futuro. Nos últimos dez anos, Turim aumentou em 50% as entradas de visitantes e agora ven-de o dobro de pacotes turísticos de Nápoles. O projeto cultural é bem articulado, entre mecenas e insti-tuições públicas, transformando-se na capital da arte contemporânea da Itália.

O Piemonte, além de incen-tivar projetos sustentáveis, tem uma das capitais mais verdes da Europa. Cidade industrial, Turim, nos anos 1970, começou a aplicar uma política de reflorestamento e conservação de parques e bos-ques, e áreas fluviais. Desde então,

A magia de TurimCidade repleta de mistérios esotéricos e berço do delicioso chocolate gianduia e do movimento Slow Food, a capital do Piemonte está entre as mais verdes da Europa

turiSmo

Gina Marques e Guilherme Aquino

De Turim

Turim mescla monumentos

históricos com uma atmosfera

cosmopolita, representada pelo mercado de Porta

Palazzo, que abriga desde 2005 uma

instalação do artista Michelangelo

Pistoletto

50 agosto 2012 | comunitàitaliana

Page 51: Revista Comunità Italiana Edição 169

a superfície destinada ao verde ur-bano cresceu de 4 milhões a 18,4 milhões de metros quadrados. Ho-je, há uma proporção de quase 20 metros quadrados de área verde para cada um dos 907.000 habitan-tes, o que é considerado excelente para os padrões das metrópoles eu-ropeias.

Segundo os esotéricos, Turim é uma cidade mágica. Situada no paralelo 45, exatamente na metade do hemisfério norte, faz parte do triângulo da magia branca, junto com Lion e Praga — e do triângulo negro, com Londres e São Fran-cisco. Alguns acreditam que seja porque a cidade está localizada no ponto de encontro de dois rios, um com características femininas, o Dora, e outro masculino, o Pó. Ou-tros atribuem ao poder da dinastia Savoia, que era muito ligada ao esoterismo. Dizem que até o mis-terioso Conde de Saint-Germain era um assíduo frequentador da cidade, convidado da rainha Mar-gherita de Valois. Para muitos não é casual que o Santo Sudário, o len-çol de linho que teria envolvido o corpo de Jesus Cristo, esteja guar-dado na Catedral de Turim.

A dinastia dos Savoia deixou profundas marcas no Piemonte. Nos arredores da capital e em toda região encontram-se castelos, vi-las e palácios magníficos em estilo barroco que serviam para o deva-neio da realeza. Estas residências reais em 1997 foram tombadas pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Recentemente foi restaurada a Reggia di Venaria, que vale a pena visitar. Este palácio era

uma das residências de caça da fa-mília real, provavelmente a maior por conta das suas dimensões, com 950.000 metros quadrados de ex-tensão, incluindo parques e jardins. A sua estrutura é comparável ao Palácio de Versailles, sendo que o projeto do palácio francês foi base-ado na residência real piemontesa. A construção começou em 1659, durante o ducado de Carlo Emanue-le II de Savoia. Ao longo dos anos sofreu muitas degradações até ser devolvido ao seu esplendor com a restauração e a abertura em 2007.

O rei dos vinhos é piemontês A monarquia italiana terminou em 1946, mas o Piemonte continua sendo a terra do rei da Itália: o Baro-lo, o rei dos vinhos. Ele é conhecido e apreciado no mundo inteiro pela sua intensidade, pelo seu vermelho rubi, pelo aroma complexo.

Para manter o seu padrão de qualidade, o Barolo é produzido nu-ma área determinada no Piemonte, nas Langhes, na província de Cuneo. Ali, o solo calcário argiloso e o clima proporcionam caracte-rísticas especificas para exaltar a qualidade das uvas de casta Neb-biolo, cepa 100% dominante.

O Barolo conta com o certifica-do de qualidade europeu de DOCG, ou seja, Denominação de Origem Controlada e Garantida. Os produ-tores respeitam as rígidas regras de envelhecimento. O vinho de reser-va é envelhecido por um período mínimo de três anos, dos quais pe-lo menos dois passam em barris de

Situada no paralelo 45, metade do

hemisfério norte, faz parte do triângulo

da magia branca com Lion e Praga, e do triângulo negro com Londres e São

Francisco. Para muitos não é por

acaso que o Santo Sudário esteja

guardado na Catedral de Turim

A Catedral de Turim guarda o Santo Sudário, o lençol de linho que teria envolvido o corpo de Jesus após a crucificação

51comunitàitaliana | agosto 2012

Page 52: Revista Comunità Italiana Edição 169

madeira. Para que sejam qualifica-dos como Riserva Speciale, devem ser envelhecidos por pelo menos cinco anos, sendo dois em barris de madeira. A graduação alcoólica é de aproximadamente 13%.

Para divulgar a cultura e o co-nhecimento do Barolo no mundo, foi fundada a Academia do Ba-rolo, que reúne 14 produtores: Azelia, Michele Chiarlo, Conterno--Fantino, Damilano, Poderi Luigi Einaudi, Gianni Gagliardo, Franco Martinetti, Monfalletto - Cordero di Montezemolo, Pio Cesare, Pru-notto, Luciano Sandrone, Paolo Scavino, Vietti e Roberto Voerzio. A sede desta Academia está no Castelo Barolo, onde se encontra também o Museu do Vinho.

A Academia do Barolo promove interessantes iniciativas, como um turismo cultural na região, com li-ções de como o vinho é produzido e visitas às vinícolas. Eles também organizam um leilão, que já está na 13ª edição. Mais do que promoção comercial do produto, o evento se transforma numa divertida festa, obviamente regada pelo elegante rei dos vinhos.

A única universidade de ciências gastronômicas do mundoO Piemonte é a terra fértil de onde brotou o Slow Food, um movi-mento que, pelos seus princípios de respeito da biodiversidade ali-mentar, acabou conquistando o mundo. O piemontês Carlo Petri-ni, criador do movimento, lançou a faísca de revalorizar um antigo burgo na cidadezinha de Pollen-zo (província de Cuneo), onde está situada uma das residências reais tombadas desde 1997 pe-la Unesco como Patrimônio da Humanidade. Trata-se do Caste-lo de Pollenzo, cuja construção começou na Idade Média e ainda mantém características originais como a torre. Em 2003, foi fun-dada a Universidade de Ciências Gastronômicas em Pollenzo, úni-ca do gênero no mundo. Mais do que uma faculdade, é um centro internacional de formação e in-vestigação de uma agricultura eco

sustentável, que preserva a biodi-versidade e promove uma relação orgânica entre enogastronomia e ciências agrárias.

A Universidade fica no burgo ao lado do castelo, hoje transformado em um excelente hotel e restauran-te. Para os amantes dos animais, a estrutura aceita hóspedes acompa-nhados dos seus melhores amigos, cães e gatos. Afinal, o respeito pelos animais é a aplicação do prin-cípio de justiça.

Em todos os ambientes da cida-dezinha de Pollenzo, os princípios do Slow Food — que pregam ali-mento bom, limpo e justo — são aplicados na íntegra. O restauran-te do hotel conta com o talento dos

A dinastia dos Savoia deixou

profundas marcas na região, repleta

de castelos, vilas e palácios barrocos

que serviam para o devaneio da realeza

A Reggia di Venaria, restaurada há pouco

tempo, foi o maior palácio de caça da

família real, com 950 mil metros

quadrados de extensão, incluindo

parques e jardins

A vinícola Piemonte, situada no Alto

Monferrato, na fronteira com Asti e Langhe

Cuneo, produz o Barolo. O solo calcário

argiloso e o clima da região proporcionam

as características incomparáveis do vinho

turiSmo

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melhores chefs de fama internacio-nal, que usam ingredientes típicos locais com criatividade para ela-borar pratos saborosos e variados. Mas é suficiente uma volta pelo lugar e tomar um aperitivo num casual bar para perceber o valor das tradições locais, aliadas à simpli-cidade das pessoas. Assim vive a valorosa gente simples, no profun-do do intenso Piemonte.

Um mundo de sabores além do gianduiaA capital do Piemonte é um ca-leidoscópio gastronômico da boa alimentação. O passado de capital do Reino da Itália ainda se refle-te na grande oferta de uma rica opção das mais variadas iguarias. Não por acaso a região é o berço Slow Food, divulgador das tradi-ções alimentares que preservam

a matéria-prima local e o modo de preparar os pratos levando em conta, ainda, o custo-benefício do valor final do que é oferecido ao consumidor. A cidade tem ca-feterias no centro, restaurantes tradicionais nas colinas e estabe-lecimentos sofisticados na Reggia di Veneria, onde está a cozinha de Alfredo Russo, duas estrelas Mi-chelin, a Dolce Stil Novo e a maior e mais multiétnica das feiras livres no país, a dos domingos, na aveni-da Regina Margherita.

O mercado popular dominical é um dos cartões-postais. Nele, cen-tenas de feirantes comercializam os seus produtos plantados e colhidos nas redondezas. Italianos de todas as partes do país e estrangeiros

Engana-se quem pensa que Turim é

somente sinônimo de gianduia, o delicioso chocolate nascido no século XIX com 30%

de creme de avelã

radicados na cidade armam as barraquinhas lado a lado. Aos pou-cos, a filosofia do quilômetro zero conquista os consumidores que privilegiam os produtos semeados no quintal de casa. Um passeio pe-lo mercado é uma dos programas turísticos obrigatórios em Turim, ainda mais em companhia do chef Kumalé, um jornalista torinês de carteirinha e que organiza passeios gastronômicos culturais no cora-ção da feira, em meio a feirantes chineses, marroquinos, egípcios e, italianos, claro, do norte e do sul. Afinal, Turim, terra da Fiat, atraiu ondas e ondas de imigrantes do sul da Itália, nos anos 50, 60 e 70.

Ali ao lado, está o primeiro Hamman da cidade e, claro, dentro da sauna, há um espaço dedicado à culinária das “arábias” no restau-rante Al Andalus, com um couscous da melhor qualidade. Por ser uma concentração de matéria-prima para pratos inusitados e ser ain-da um local de grande encontro multiétnico, o lugar vai receber, dentro de pouco tempo, um alber-gue criado para receber estudantes de culinária. Eles irão estudar e morar ali mesmo, bem ao lado do mercado. Além disso, a instituição vai vender a produção dos futuros chefes, com uma revisão completa do conceito do fast-food. É ver pa-ra crer.

Há uma “fábrica” de chocolates em cada esquina de Turim, cidade da elaboração

do cacau por excelência, que chega de longe, do Brasil, de Gana. As aulas para a confecção das saborosas barras acontecem em difer-entes locais, como em um antigo prédio, no centro de Turim, a Maison Massena. O número 18 da avenida Stati Uniti é um dos endereços do chocolate. O professor Gio-vanni Dell’Agnese se desdobra para ensinar aos alunos os segredos da arte desta iguaria

sagrada dos antigos astecas. Quinze vagas são ocupadas por diletantes da cozinha que querem aprender a dominar a técnica e es-colher bem a matéria-prima. Dell’Agnese tem toda a paciência do mundo.

Ele já deu aulas para doceiros franceses e suíços experientes, mas confessa:

— Existem segredos de nossos avós que não podemos revelar, porém isso não impede a confecção de chocolates de altíssima quali-dade — conta à Comunità.

Do fruto do cacau ao chocolate pron-to para ser servido, todo o processo não dura mais de três horas. Entre telas de alta definição que exibem os passos registrados pelas câmeras ao vivo, os alunos mergul-ham no mundo do chocolate, colocando, lit-eralmente, as mãos na massa. Quem pensa que Turim é somente sinônimo de gianduia, chocolatinho nascido em 1806 que leva 30% de creme de avelã, está muito enganado.

Oficinas de chocolate

A capital do Piemonte é o berço do Slow-

Food, movimento que promove o alimento bom, limpo e justo. O jornalista e chef

torinês Kumalé organiza passeios

pelo mercado popular para difundir

a filosofia do quilômetro zero

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masculinos e oferece um serviço de confecção de ternos sob medida. É a sexta loja da grife dedica-da totalmente aos homens: desde outubro passado, a Gucci inaugurou espaços do tipo em Seul, Tóquio, Xangai, Pequim e Paris. — O Brasil é um mercado muito importante para a Gucci e achamos que o shopping JK, sendo um dos mais luxuosos do país, era um local perfeito para abrir nossa primei-ra loja exclusivamente masculina nas Américas — diz Frida Gian-nini, diretora criativa da marca. No momento, a marca não tem

para inaugurar sua primeira loja no Brasil. Especializada em artigos de couro, a grife vende acessórios, incluindo bolsas femininas e mas-culinas, sapatos e óculos, além de ter uma linha de perfumes. Fundada em 1966 pelos italianos Michele Taddei e Renzo Zengia-ro, a Bottega Veneta tem sua sede estabelecida em Vicenza, na re-gião do Vêneto, no norte da Itália. Uma de suas criações de maior sucesso é o intrecciato — uma técnica de entrelaçamento do cou-ro que acabou se tornando uma espécie de assinatura da grife. Em 2001, a Bottega Veneta foi comprada pela Gucci, outra mar-ca italiana presente no shopping. Um dos ícones da moda italiana, a Gucci surgiu em Florença, em 1921, criada por Guccio Gucci, que começou fabricando artesa-nalmente peças de couro. A grife já tem outras três lojas no Brasil: duas em São Paulo e uma em Bra-sília, mas abriu no JK Iguatemi a sua primeira loja exclusivamen-te masculina no país. Com uma área de 3.600 metros quadrados, o espaço vende roupas e acessórios

Após uma longa bri-ga com a prefeitura de São Paulo, o sho-pping JK Iguatemi,

na zona sul da capital paulista, foi aberto ao público no final de junho passado, dois meses após o prazo inicial de inauguração. O impasse deveu-se ao fato de que os responsáveis pelo empreendimen-to não teriam construído obras para minimizar o impacto da abertura do empreendimento no trânsito da região, no bairro da Vila Olímpia. Programado para começar a fun-cionar em abril, o local só pôde abrir as portas depois que a pre-feitura concedeu o Habite-se, documento que atesta que o sho-pping está cumprindo a legislação. Contornadas as dificuldades, o centro de compras foi inaugura-do no dia 22 de junho e tem entre suas lojas uma seleção de grifes internacionais, que inclui marcas renomadas de origem italiana. Uma delas é a Bottega Veneta, que escolheu o shopping JK Iguatemi

Milão desfila em SampaDolce & Gabbana, Gucci, Ermenegildo Zegna e Bottega Veneta marcam presença em novo shopping que acaba de ser inaugurado na capital paulista

moda

Vanessa PilzDe São Paulo

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planos de abrir uma loja parecida nos Estados Unidos.

Miu Miu abre sua primeira loja no BrasilEntre as grifes italianas presen-tes no shopping, uma das mais aguardadas é a Dolce & Gabba-na, que inaugurou no centro de compras sua primeira loja no Bra-sil. Assim como a Gucci, fundada em 1985 em Milão por Domenico Dolce e Stefano Gabbana, terá um espaço voltado somente para o público masculino e também con-tará com serviços de alfaiataria. No restante da loja, as mulheres poderão encontrar roupas, aces-sórios, joias e perfumes da marca. Outra loja cuja abertura era bas-tante esperada é a Miu Miu, criada pela italiana Miuccia Prada em 1993. Espécie de “filhote” do gru-po Prada, a Miu Miu é voltada para o público feminino e a loja do shopping JK é o primeiro em-preendimento da marca no Brasil. Em breve, a Prada também abrirá uma loja no centro de compras da Vila Olímpia. Será a segunda filial da grife no país. A primeira fun-ciona no shopping Cidade Jardim, também em São Paulo. A Prada surgiu em 1913 em Milão, cria-da pelos irmãos Mario e Martino Prada como uma loja de artigos de couro. No início, a marca im-portava bolsas e malas produzidas na Inglaterra. No final da década de 1970, deixou de importar pro-dutos ingleses e passou a fabricar todos os acessórios vendidos pela marca. A grife também começou a criar roupas e em 1983 abriu uma segunda loja em Milão. Foi nos anos 1990 que a Prada alcançou o auge do sucesso no mundo da mo-da, tornando-se símbolo de status. Hoje, a grife possui lojas espalha-das em todo o mundo e deu origem à Miu Miu, outra loja cuja abertura no shopping JK foi bastante espe-rada. Criada pela italiana Miuccia Prada em 1993, a Miu Miu é volta-da para o público feminino e a loja do JK é o primeiro empreendimen-to da marca no Brasil.

Homens apreciadores da mo-da italiana têm um motivo a mais para visitar o JK Iguatemi, além da Gucci e da Dolce & Gabbana: a grife Ermenegildo Zegna, que abriu no local sua sexta loja no Brasil. Além de três outras filiais em São Paulo, a marca é vendida em Brasília e no Rio de Janeiro. Famosa por produzir ternos de altíssima qualidade, sur-giu em 1910 na cidade de Trivero,

no Piemonte. Hoje, além de rou-pas, vende acessórios e perfumes. Uma das favoritas entre o público jovem, a Diesel leva seus cobiça-dos jeans à Vila Olímpia, em sua segunda loja no Brasil. A primeira funciona também em São Paulo, na rua Haddock Lobo. A grife foi cria-da em 1978 por Renzo Rosso, em Bregranze, no norte da Itália. Atu-almente, está presente em mais de 80 países, somando cinco mil pon-tos de venda.

Nem só de roupas vivem as gri-fes italianas. A Officine Panerai, fundada em 1860, em Florença, é uma grife especializada em reló-gios. A marca surgiu do trabalho de Giovanni Panerai e hoje fabrica seus sofisticados relógios em Neu-chatel, na Suíça. Com lojas que se espalham de Nova York a Hong Kong, a Officine Panerai fez sua estreia no Brasil no shopping JK.

Para o segundo semestre de 2012, está programada a abertura da Tod’s, grife especializada em sapa-tos e acessórios de couro. A marca teve início no fim dos anos 1920, quando Dorino Della Valle come-çou a produzir sapatos em um porão. Anos depois, seu filho mais velho, Diego Della Valle, expandiu o ateliê do pai, transformando-o em uma fábrica e vendendo sapa-tos para lojas de departamento dos Estados Unidos. Hoje, a Tod’s possui lojas espalhadas pela Eu-ropa, Estados Unidos e Ásia, e se prepara para aportar no Brasil.

Panini, gelato e polpetone no cardápioA Itália não se fez presente ape-nas nos pisos dedicados à moda no shopping JK. Três restauran-tes italianos tradicionais de São Paulo abriram filiais no espa-ço, oferecendo massas, risotos e outros pratos típicos italianos. O mais antigo é o Jardim di Napoli, que abriu sua primeira casa em São Paulo em 1949 e hoje tem mais du-as filiais em centros comerciais da cidade, além da loja no JK Iguatemi. Diversos tipos de massas e molhos dividem espaço com a estrela do car-dápio da casa, o polpetone.

Quem quiser pratos mais sofisti-cados pode optar pelo Tre Bicchieri, que, nos últimos anos, foi várias vezes eleito como o melhor res-taurante italiano de São Paulo por publicações especializadas em gas-tronomia.

Por fim, a Forneria San Paolo, cujo carro-chefe são os tradicionais pani-ni, instalado no andar térreo, possui um ambiente completamente aber-to, no centro do corredor principal. Entre os pratos servidos, destacam--se o cordeiro assado no próprio molho com risoto parmegiano, o portafoglio (filé mignon recheado de aspargos e queijo brie com tortelli de batata com manteiga e sálvia) e o risoto de camarão e tomate. Para uma sobremesa à italiana, a pedida é experimentar um sorvete na Bacio di Latte, que produz seus sabores seguindo a típica receita do gelato italiano.

ServiçoShopping JK Iguatemi

Avenida Presidente Juscelino Kubitscheck, 2041 - Vila Olímpia

Telefone: (11) 3152-6800 De segunda a sexta, das 10h30 às 22h, aos sábados das 10h às 22h, e aos domingos das 14h às 20h.

O shopping JK Iguatemi, em

São Paulo, com diversas lojas de

grifes italianas, foi inaugurado

no final de junho

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Entre janeiro e abril de 2012, a Itália importou do Brasil cerca de dois mi-lhões de pares de sapatos,

movimentando US$ 34 milhões. Com este desempenho, os italianos estão em terceiro lugar no ranking dos principais compradores do cal-çado brasileiro. A 44ª edição da Francal — Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios — apresentou, em São Paulo, as novidades nacionais e abriu as por-tas para empresas internacionais firmarem parceria com o Brasil, contribuindo para o incremento desse já movimentado mercado.

A Francal deste ano também contou com uma participação mui-to especial: antes da abertura da feira, Stefano Ferragamo, consul-tor da grife de calçados Salvatore Ferragamo, participou de uma dis-putada palestra.

Com o tema Luxo e Calçado: A Busca da Perfeição, o estilista italia-no comparou a produção de seus famosos sapatos com o carnaval brasileiro.

— Para preparar uma coleção e criar um desfile, trabalhamos com toda a equipe junta e com música

no último volume. Este é o nos-so carnaval. Temos a obrigação de transformar tudo em realidade.

Ao comentar o sucesso mun-dial da marca que leva seu nome, ele explicou que uma grife se torna conhecida quando consegue adap-tar as medidas aos vários países em que atua.

— Isso dá o conceito de luxo. A tipologia dos pés no mundo é variada e, por isso, precisamos de profissionais que façam essa adap-tação de clima, hábitos e tamanhos. Erros e defeitos no mundo do luxo são intoleráveis.

Para o consultor, o luxo não tem como base o preço dos produtos.

— Essa palavra deve ser o equi-líbrio perfeito de técnica e estética. Hoje o luxo não é para ricos apenas e já tem um público variado, com estilo e personalidade — explicou.

Porém, ele admitiu que sapatos ca-ros, mas desejados, é o sonho de toda marca.

— O preço envolve estilo, pro-dução e vendas, com profissionais fundidos entre si com o mesmo ob-jetivo — comentou.

Ferragamo vê o mercado bra-sileiro como forte e crescente na categoria “luxo acessível”.

— O Brasil é uma potência enor-me e o luxo acessível já começou a ser produzido com um novo gos-to que o país desenvolve. Isso deve explodir futuramente — destacou, ressaltando que o segredo é traba-lhar com a matéria-prima da região.

Projeto Comprador Nacional atrai empresas italianasA Francal 2012 contou com cerca de mil expositores, mais de 59 mil profissionais do setor e atraiu um público de 60 mil visitantes. Mais uma vez, um dos destaques da feira foi o Projeto Comprador Nacional (PCN), que reúne compradores internacionais interessados nos lançamentos da moda calçadista brasileira para a primavera-verão 2011/2012. A Itália novamente participou do projeto.

— Além de ver de perto as nossas novidades, cada convidado leva essas informações a seu país, ampliando a divulgação do progra-ma — destacou a coordenadora de marketing do Brazilian Footwe-ar, Vivian Laube, que coordenou o grupo vindo da Itália.

Entre os empresários italianos que estiveram na Francal, Ma-rio Bulgarelli, da Ballarini, de San Mauro Pascoli, procurava sapatos femininos e artigos esportivos.

— Estou interessado em fazer negócios, além de conhecer a cultu-ra do país — disse.

Já Antonino Schillaci, da GFS Schillaci, de Palermo, procurava produtos diferenciados.

— Quero algo inovador para distribuir na Europa — revelou.

Giorgio Cannara e Mauro Muz-zolon, da Associação Italiana de Manufaturados de Pele, fizeram contato com produtores de bolsas, artigos para viagem, peças e aces-sórios de couro. Eles tinham como objetivo firmar parcerias com os pro-dutores brasileiros que produzem linhas de acessórios com qualidade e ficaram surpresos com a quantidade de produtos chineses no evento.

— Mais de 70% de bolsas e arti-gos para viagens expostos na feira são de chineses — lamentou Gior-gio Cannara.

Ferragamo caminha por aquiEvento para o mercado de calçados e acessórios contou com a presença de empresas italianas em busca de parcerias com o Brasil

Janaína PereiraDe São Paulo

Stefano Ferragamo diz que uma marca

fica conhecida quando consegue

adaptar a tipologia dos pés ao clima

e aos hábitos dos vários países

mErcado

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Foto

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ItalianStyle

No mês em que se comemora o Dia dos Pais no Brasil, confira alguns lançamentos das grifes italianas que trabalham com a moda masculina

uomo

Toki London Ainda na onda das Olimpíadas 2012,

Alberto Guardiani se inspira na capital inglesa, Londres, para a sua coleção

Outono/Inverno 2012/2013 de calçados clássicos e esportivos. A linha de

sneakers Toki, modelo clássico da marca, apresentou seis versões diferentes para

homenagear Londres. Preço: € 240

store.albertoguardiani.com

Pastores tibetanos mYak é o nome de uma nova grife italiana especializada em produtos têxteis feitos da fibra baby yak, comprada diretamente de comunidades nômades da

região norte do Tibet. O projeto ético-social, fundado por um veterinário italiano, tem como objetivo apoiar a sobrevivência

destes pastores nômades, produtores originais deste tecido, que não sofre

tratamentos químicos.Vem apenas nas cores naturais marrom escuro, preto,

cinza e branco gelo. Entre os produtos vendidos, estão estolas, cachecóis,

mantas e cobertores. Preço: Sob consultawww.myak.it

Obló A grande atração da nova coleção de sapatos de Cesare Paciotti, que apresenta uma longa lista de criações psicodélicas com inspiração nos anos 1970, se chama Obló. O sapato em couro leve é coberto por uma rede de furos circulares sobre fundo de borracha fina. Preço: Sob consultawww.cesare-paciotti.com

Waterproof Rain Pirelli A nova coleção masculina da Pirelli Pzero para o próximo inverno europeu é rigorosamente à prova d’ água: os casacos trench coat possuem tecidos com borrachas especiais, costuras embutidas, botões em borracha e membranas internas super coloridas. Preço: Sob consultastore.pirellipzero.com

Relógios de luxo Dolce&Gabbana A nova coleção de relógios da Dolce& Gabbana é totalmente nova em relação aos relógios já produzidos pela grife. Não apenas o formato deixa de ser fashion para se tornar clássico: a confecção mecânica foi realizada sob os padrões mais rigorosos da tradição suíça, onde foi realizada a produção. A coleção completa inclui 52 modelos de relógios masculinos divididos em três linhas. A mais rica delas, DG7 Gems, traz visores enfeitados com diamantes, rubis e outras pedras preciosas. Preço: Sob consultawww.dolcegabbana.com

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A oitava edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea da Bienal de Ve-neza deste ano apresentou uma série de espetáculos, performances e instalações

com coreógrafos e bailarinos de diversos países. O te-ma central deste ano foi Awakenings, inspirado na obra Tempo de Despertar, do neurologista e escritor inglês Oliver Sacks, que relata o retorno à vida de pacientes que passaram anos em um estado de torpor.

O paulistano Ismael Ivo, que há oito anos dirige o setor de dança da Bienal de Veneza, foi o responsável pelo espetáculo de abertura, Biblioteca do Corpo, que teve como inspiração a obra do argentino Jorge Luis Borges. A coreografia terá uma turnê italiana e mun-dial, em parceria com o Sesc de São Paulo.

Entre as companhias italianas de dança, um dos destaques foi a Compagnia Virgilio Sieni. O dançarino e coreógrafo, nascido em Florença e formado em dança clássica e contemporânea em Amsterdã, Nova York e Tóquio, além de apresentar um de seus mais famosos espetáculos, Ultimo giorno per noi, ministrou pales-tras para bailarinos profissionais e não profissionais, além de abrir uma seleção para a sua companhia.

Outro nome que chamou a atenção em Veneza foi o americano William Forsythe, um dos mais célebres dançarinos da atualidade. Ele coreografou especialmen-te para o evento Nowhere, espetáculo de quatro horas de duração apresentado como uma metáfora sobre a

solidão. Forsythe, que ganhou fama com seu trabalho no Balé de Frank-furt, já havia chamado a atenção na Bienal de Dança de 2008, quando criou um espaço degradado, cheio de cordas e anéis de ginástica, no qual que o espectador poderia sal-tar do chão. Desta vez, em uma sala com cenário de floresta de prumo com pêndulos cônicos, a jovem dan-çarina Brock Labrenz se apresentava em silêncio. A multidão de especta-dores, sentada em poucos bancos de madeira, observava tudo, como se estivessem hipnotizados pela dança.

— É uma experiência complexa para instigar o espectador, mostrar a relação entre o raciocínio e a fuga dos outros e de si mesmo. É o que o tema da Bienal aborda, e é o que de-vemos pensar sobre nós, o quanto

precisamos pensar e despertar para a vida, saindo da inércia e da soli-dão — explicou Forsythe.

O Brasil foi representado na pro-gramação pelo Balé Teatro Castro Alves (BTCA), de Salvador, consi-derada uma das cinco companhias de dança mais importantes do país. O BTCA, que é dirigido por Jorge Vermelho, fez oito apresentações em Veneza, com dois espetáculos: 1POR1PRAUM e A Quem Possa Inte-ressar, com participação ao vivo da cantora Badi Assad.

Leão de Ouro vai para Sylvie GuillemUm dos momentos mais emo-cionantes da Bienal de Dança, ocorrida em junho, foi a entrega do Leão de Ouro pela carreira à baila-rina francesa Sylvie Guillem. Ela se junta a Merce Cunningham (1995), Carolyn Carlson (2006), Pina Baus-ch (2007), Jirí Kylián (2008) e William Forsythe (2010), home-nageados nas edições anteriores. Sylvie esteve em Veneza com seu espetáculo 6000 Miles Away, um dos pontos altos do evento. Em ex-celente forma física aos 47 anos, ela explicou que, às vezes, é trans-parente, em outros momentos é uma ternura só ou pode ser deses-perada também, o que reflete o seu jeito de dançar.

— Quando as pessoas dizem para você “eu te daria uma parte da minha vida para que você pos-sa continuar dançando”, há algo muito poderoso aí. Eu já ouvi isso algumas vezes, e por isso continuo dançando — resume.

Sylvie Guillem começou a car-reira aos 12 anos de idade na Ópera de Paris e aos 16 já era uma estrela. Aos 19, dançou ao lado de Rudolf Nureyev — que se tornaria um dos seus parceiros mais constantes — em O Lago dos Cisnes. Intérprete de todos os papéis principais do balé clássico, como Giselle, Don Quixote, Romeu e Julieta, Cinderela e Notre-Dame de Paris, em 2003 ela passou a se dedicar à dança con-temporânea, dando um novo rumo à sua carreira. A bailarina já dan-çou em todos os principais teatros do mundo, do Teatro Kirov de São Petersburgo ao American Ballet Theater, em Nova York, passando pelo Teatro alla Scala de Milão. A Bienal de Dança de Veneza tam-bém foi palco de uma homenagem a Pina Bausch criada pela italiana Cristiana Morganti, e da estreia mundial do novo espetáculo do bel-ga Wim Vandekeybus.

A Bienal sob a direção de IvoCom a curadoria do brasileiro Ismael Ivo, o Festival Internacional de Dança Contemporânea da Bienal de Veneza reuniu os mais importantes nomes do balé clássico e da dança contemporânea

Janaína PereiraDe Veneza

dança

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Da Signorini a RosaiNelle splendide sale della Galleria

d’Arte Moderna di Palazzo Pitti saranno ospitate ben quarantanove dipinti dedicati agli scorci e ai pa-esaggi più rappresentativi e intimi della città di Firenze. La Soprinten-denza speciale per il Polo Museale Fiorentino propone questa esposi-zione in cui sarà presente anche una “guida della memoria” con la quale sarà possibile vedere la città di un tempo a confronto con quella di oggi: dalle rappresentazioni del ‘700 di Giuseppe Maria Terreni a quelle già più recenti del secolo XIX di Lorenzo Gelati, dai colori accesi della macchia di Telemaco Signorini a quelli decisi e più urbani di Ottone Rosai. Un’oc-casione da non perdere. Fino al 28 ottobre con ingresso a 8 euro.

In bianco e in neroL’occazione è ghiotta: trascorrere una

bella giornata al mare e conciliarla con un’esposizione fotografica alla Fondazio-ne Culturale Hermann Geiger dal titolo The World in black and white. Le opere in mostra, firmate da esploratori e naturali-sti, ancor prima di essere fotografi, come Clifton R. Adams, J. Baylor Roberts, Edwin L. Wisherd e B. Anthony Stewart, sono una prima assoluta per l’Italia. Si tratta di foto-grafie scattate tra il 1880 e il 1950, prove-nienti dagli archivi della National Geografic Society. Si pensi solo che di questa immensa collezione ne sono state pubblicate, fino ad oggi, solo il 2% a livello mondiale. L’espo-sizione rimarrà aperta fino al 16 settembre con orario 18.00-23.00. Ingresso gratuito.

Le ceramiche di BiavatiNella piccola cittadina di Pietrasanta, una

grande mostra sulla ceramica di Riccar-do Biavati. L’artista ferrarese, maestro ce-ramista, presenta una quarantina di opere di piccole e medie dimensioni insieme ai disegni di progettazione. Biavati si è diplo-mato all’Accademia di Belle Arti di Bologna

e fino al 2007 ha insegnato “Disci-pline Pittoriche” presso l’Istituto d’Arte di Ferra-ra. L’esposizione vuol essere una sorta di omaggio alla storia e ai

maestri ceramisti, che anticamente produ-cevano manufatti per contenere liquidi e per cucinare cibi ma anche come elementi ricchi di simbolismo. La mostra rimarrà aperta fino al 9 settembre con ingresso gra-tuito dalle 17.00 alle 22.00.

Ville MediceeAlla base delle colline circostanti Firenze

ci sono le antiche residenze estive dei Medici, circondate da boschi e parchi in cui l’attività si divideva prevalentemente tra il riposo e caccia. Molte di queste furono raffi-gurate in quadri a forma di lunetta da Iustus Utens, pittore fiammingo vissuto a cavallo tra il XVI e il XVII secolo, su commissione di Ferdinando I de’ Medici. Il Polo Museale Fio-rentino ha deciso di trasferire queste opere dal Museo di Firenze alla Villa della Petraia fino al 30 settembre. Dal prossimo Natale, poi, diventerà esposizione permanente, incrementando le opere esposte. Sarà così possibile una panoramica maggiore delle principali ville e palazzi dell’epoca medicea. L’ingresso è gratuito e comprende una visita guidata all’interno della Villa Petraia.

La curiosa mostra dal titolo Geometrie dell’illusione fra arte e scienza, offre una

serie di sculture anamorfiche e giochi prospettici eseguiti da Gianni Miglietta e Stella Battaglia. La tecnica anamorfica è una raffigurazione pittorica di origine barocca basata sullo studio prospettico in cui la percezione corretta dell’immagine viene percepita solo se osservata da un

preciso punto di vista. Da un qualunque altro luogo di osservazione, questa vie-ne distorta e praticamente indecifrabile. I due artisti percorrono questa strada ricercando le potenzialità plastiche del-la prospettiva approfondendo l’aspetto tra arte e scienza. Fino al 16 settembre. Aperto dalle 9.30 alle 18.00 presso il Mu-seo Galileo a Firenze. Ingresso 9 euro.

Geometrie dell’illusione

firenzeGiordanoIapalucci

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Contagem regressivaO papa Bento XVI, em sua residência no Castel Gandolfo,

próximo a Roma, abriu, no final de julho, a contagem re-gressiva do Vaticano para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada no Rio em 2013. Na abertura, o papa ressaltou a importância dos jovens para o evento, pois eles se-rão missionários do catolicismo e praticantes da fé. Bento XVI também agradeceu à Arquidiocese do Rio de Janeiro pelo em-penho na preparação dos jovens. A 28ª jornada será realizada de 23 a 28 de julho. Para o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, o evento será uma oportunidade para oferecer um crescimento dos valores cristãos, de solidarieda-de, justiça, esperança e coragem para as novas gerações.

Faces da repressão Em ocasião dos 90 anos da marcha sobre Roma, evento

que levou a Itália a uma ditadura fascista de mais de duas décadas, a Universidade Federal do Estado do Rio de Ja-neiro, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura de Rio de Janeiro, promove um ciclo de conferências sobre fascismo e antifascismo. O objetivo é trazer aos estudantes e pes-quisadores brasileiros as reflexões elaboradas por notórios pesquisadores italianos sobre o tema. As palestras abertas ao público com tradução simultânea acontecem de 21 de agosto a 11 de setembro, no auditório da UniRio, e contam com a participação de Giordano Bruno Guerri, da Universidade de Roma; de Giorgio Sacchetti, da Universidade de Padova; e de Carlo Romani, da UniRio.

Globo tricoloreTodos os anos, o concurso internacional Globo Tri-

colore presta uma homenagem aos italianos que se destacam nos mais variados setores e em diversos países do mundo. Do Brasil, saíram premiados da cerimônia de ga-la promovida na Úmbria, no dia 7 de julho, o executivo da FIAT Valentino Rizzioli, primeiro manager italiano do se-tor automobilístico em Minas Gerais; o empresário Sergio

Comolatti, da Comolatti Holding, do setor de acessórios para motores, imóveis e gastronomia; Alessandro Acito, da LibLab, que se ocupa de inovação sustentável e tecnologia; a docente universitária Giorgia Miazzo, que se destaca por projetos de pesquisa histórica sobre a imigração italiana; e o cineasta Cesar Meneghetti, autor de Io e un altro, traba-lho artístico multidisciplinar que aborda a fronteira entre a desabilidade mental e a normalidade.

notíciaS

Assinatura: 1 ano = R$ 118,00 2 anos = R$ 199,00

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Numa friaUm dos passeios para quem vem a

Milão é dar um pulinho em Gêno-va. Fica a pouco mais de uma hora de trem e vale a pena. Dizem que a ri-viera é a praia milanesa. Mas um dos principais motivos para visitar a ci-dade natal de Cristóvão Colombo é o seu famoso aquário e o seu mais novo morador: um filhote de pinguim de Magalhães. Os “pais” já tinham tra-zido à luz Diana, Freezy e Frost. O caçula da família nasceu em junho, saiu do ninho em julho, e em agosto e setembro vai crescer a olhos vistos na piscina com temperaturas entre 6 e 10 graus centígrados.

Luz, câmera, MilãoEntre os dias 12 e 23 de setembro,

acontece em Milão o festival de cine-ma da cidade. O Milano Film Festival and Filmmaker vai movimentar as telas da capital lombarda. O convidado de honra desta edição é o artista inglês Ben Rivers. Realizador de documentários e filmes, é um dos principais nomes da filmografia inglesa contemporânea. Quem estiver na cidade vai poder até mesmo participar de uma aula de cinema, assim como da apre-sentação do seu mais novo curta-metra-gem. Neste ano, o festival tem a colabora-ção do Brithish Coucil e Filmidee.

Panos para mangaO registro do poderoso presidente da re-

gião da Lombardia, Roberto Formigo-ni, no inquérito que apura as denúncias de corrupção no sistema de pagamentos do setor da saúde surpreendeu o mundo político lombardo. O Ministério Público em Milão não brinca em serviço. Segun-do informações da promotoria, Formigo-ni deverá explicar os mimos milionários em viagens e festas, principalmente, o recebimento de 8,5 milhões de euros do seu amigo que está atrás das grades e colocando a boca no trombone: o ilustre lobista Pierangelo Dacco. E a novela está apenas no começo.

Multa infantilBrinquedos para menores de 12 anos

são para menores de 12 anos. Uma avó foi surpreendida pelos guardas muni-cipais na cidade de Dorno, perto de Pavia, brincando na gangorra com o neto peque-no. Na primeira vez, os vigias alertaram que ela não podia subir no brinquedo. Na segunda vez, deram o flagrante e não pensaram duas vezes: aplicaram multa de 100 euros. De nada valeu a defesa da non-na indignada com a repreensão.

Até 25 de novembro, a Fundação Pra-da apresenta, na sede veneziana, a

mostra The Small Utopia Ars Multipli-cata. Uma visita na Cà Corner é uma ótima chance de conhecer um dos mais belos palácios de Veneza, transforma-do em local para exposição. Obras de pintura, livros e revistas, escultura, tri-

lhas sonoras de rádio e disco, além de instalações de vídeos, estão entre as pe-ças exibidas e emprestadas de coleções importantes do Moma de Nova York e do museu Weserburg, de Brema. Enfim, um grande supermercado de objetos ar-tísticos que tem como mecenas a famo-sa casa de moda Prada.

Prada dita a moda da arte

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Do inferno ao paraísoA Caixa Cultural no Rio de Janeiro abriga até dois de setembro cem imagens de Salvador Dalí inspiradas em trechos de A Divina Comédia de Dante Alighieri

ExpoSição

Proveniente de uma coleção privada da Espanha, o acervo de gravuras conduz o espectador a uma viagem ao infer-

no do poeta fiorentino, passando pelo purgatório até chegar ao paraíso, e conta com a presença dos personagens de Dante (o homem), Beatriz (a fé) e Virgílio (a razão). As gravuras fazem o público traçar o percurso imaginário de Dante, desde os círcu-los infernais, acompanhado por Virgílio, até o centro da terra, onde encontra Lúcifer. Ao regressar à superfície terrestre, sobe a montanha do purgatório, para — guiado pela amada Beatriz — ser admitido no paraíso. A coleção surrealista é uma das mais originais já produzidas, com alusões ao mundo dos sonhos e do subconsciente. A música de Franz Liszt, Sinfonia Dante, ambien-ta a mostra. A exposição é promovida pela Arte A Produções, com apoio do Instituto Cervantes e do Instituto Italiano de Cultura da cidade. A exposição tem classificação indicativa de 12 anos.

Em suas criações, Dalí utilizou um método paranóico-crítico como uma forma de apreciar a realidade longe do racional, como pode ser comprovado nas obras que retratam a trajetória do inferno ao paraíso: Canto IX; Canto XX – Adivinhos e Magos; Canto XIV; Canto XXI: O Diabo Negro; e Canto XXXIIII

Nathielle Hó

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Várias ilustrações de A Divina Comédia surgem na forma como Dalí interpreta o cosmos de Dante e redesenha os cantos da vida e da morte. Exemplos disso são as obras: Canto X; Canto I – De partida para a grande viagem; Os Heréticos; Canto XXVII – Um diabo lógico; e Canto VII – Avarentos e Prodígios

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Apolônio Cometti, advogado, escritor e arquivo vivo da colo-nização italiana, foi um dos idealizadores do Museu do Imi-grante Italiano no Espírito Santo. Ele me relatou a história de seu ilustre avô, Guilherme Balla. Oriundo de Cologno Al

Serio, na Lombardia, embarcou no Navio Pará, em 1890, com destino ao Porto do Rio de Janeiro e, posteriormente, Vitória. Balla era casado com a senhora Maria Pessotti. O casal teve quatro filhos: Izaldina, Olivério, Rosa e Alaíde.

No Espírito Santo, Guilherme havia adquirido 30 hectares de terra, onde cultivou um bom cafezal. A seguir, adquiriu peças, com o objetivo de fabricar um maquinário para o beneficiamento do café. Paralelamente, administrou uma loja. O negócio prosperou no ramo da compra de café para exportação, e Guilherme chegou a montar uma sucursal nas proximidades da recém criada ferrovia que ligava Vitória a Minas, para ter mais facilidades no embarque do café e recebimento de produtos manufaturados da capital.

Como grande produtor de café, Balla conheceu a família de italia-nos de sobrenome Cibien, versáteis negociantes dos grãos negros mágicos. Juntos, começaram a fazer parcerias. Os acordos entre eles eram firma-dos através da palavra, pois não havia cartório naquele município. Além disso, as pessoas tinham honra e um respeito mútuo nestes negócios, pois a palavra estava sempre acima do papel. Assim, Balla selou um contrato verbal com o patriarca da família Cibien. Os negócios prosperaram em boa velocidade, com muitas divisas nos cofres.

Em certa ocasião, Guilherme conversava amenidades no casarão do Velho Cibien, à luz de lampião, pois a modernidade da energia

elétrica não se fazia presente naquelas paragens. Alguém chegou furtivamente com um fuzil de caça e, sem que

ambos notassem a presença, ouviu–se um grande es-

IlLettoreRacconta

Rio de Janeiro

tampido. Cibien cai, tenta balbuciar alguma coisa inteligível e falece a seguir, no centro da sala, com o impacto de vários caroços de chumbo da arma de grosso calibre.

Neste momento, começa a via-crúcis de Balla, figura dócil e ho-nesta, exemplar chefe de família, que todos conheciam na comunidade italiana. Eram tempos difíceis, com uma polícia local sem cultura, semia-nalfabeta, para direcionar os fatos através de um inquérito de forma coe-rente e imparcial. Por tudo isso, o crime acabou sendo creditado a Balla. Guilherme possuía o agravante de estar no lugar certo, na hora errada, pesando, ainda, sobre ele, o fato do não reconhecimento do assassino, que se evadira na calada da noite.

Estava em vigência no Brasil a ditadura de Getúlio Vargas, nada simpatizante com os imigrantes italianos e seus descendentes — muitos dos quais militantes do Integralismo, movimento político perseguido pela Gestapo de Vargas. Balla se encaixava neste estereótipo, sendo alvo fácil do sistema. Porém, mesmo assim, se comprometeu inicialmente a prestar todos os esclarecimentos do que havia presenciado para comprovar a sua ino-cência. Àquela altura, o italiano já havia amealhado um bom dinheiro e patrimônio respeitável, estava rico, desfruta-va de amigos influentes na política. Estes o aconselharam a não se apresentar à justiça.

Seguindo os conselhos de amigos, Balla foge para a fazenda Pedra Bran-ca, na cidade paulis-ta de Ribeirão Preto. Alguns familiares achavam que ele ainda estava vivo, em algum lugar em São Paulo, exercendo discretamente alguma atividade, com uma nova identidade, inclusive casando no-vamente. Dona Maria Pessotti, convencida do falecimento do ma-rido, veio a se casar novamente com Caetano Castiglioni em 1941, tocando a vida até o final de sua existência.

Um grande vazio ficou para os familiares de Guilherme. Ninguém soube do grand finale daquele ente querido, que nunca mais retornou. As-sim como hoje, a justiça daquela época era cara e lenta. Por isso, Balla decidiu fugir. Para mim, este mártir, mediante seu caráter magnânimo, foi perdoado e perdoou a todos.

Jane M. Niterói – RJ

Mande sua história com material fotográfico para:

[email protected]

Apolônio Cometti em uma foto de família. Ele foi um dos idealizadores do Museu do Imigrante Italiano no

Espírito Santo. Abaixo, seu pai João Olívio, com uniforme da Força Expedicionária Brasileira, e seu

avô, o produtor de café Guilherme Balla

Cologno Al Serio

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saporid’italiaCint iaSalomãoCastro

Serviço: Aberto para o café da manhã, almoço e jantar de segunda a sábado, das 7h à meia-noite.

Aos domingos, das 11h às 17h.Rua São Cristóvão 405 – São Cristóvão – Rio de Janeiro

Tel (21) 2501-9848

Culurgiones(ravióli típico sardo)

Ingredientes: 1 kg de batatas selecionadas600 g de farinha italiana grano duro 00azeite extra virgem2 dentes de alho vermelhofolhas de hortelãqueijo pecorinoqueijo parmiggiano reggiano2 ovosMolho de tomate feito com 50% de pomodori pelati e 50% de tomate fresco

Preparo:Lave e cozinhe as batatas com a casca, tire da água uma por vez, descasque e amasse, fazendo um purê. Junte o azeite morno com o alho levemente dourado, as folhas de hortelã cortadas finas, um pouco de sal, e junte o pecorino e o parmiggiano ralado. Una com a mão rapidamente e conserve em uma tigela com um pano por cima. Faça a massa com a farinha, os ovos, o azeite, sal e água, abrindo-a até que fique bem elástica. Arrume-a em discos nos quais o recheio deve ser colocado com uma colher. Fechamento dos CulurgionesOs culurgiones devem ser decorados em um trabalho muito artesanal, quase de “costura”. Cozinhe-os em água quente com sal e escorra-os quando subirem. Coloque em um prato raso e junte molho de tomate e queijo ralado.

Acompanha o vinho tinto sardo Perdera Monica. Rende 8 porções.

Trattoria sarda

Rio de Janeiro – A maioria esmagadora dos restauran-tes italianos do Rio fica na zona sul, a região mais nobre e cara da cidade. Inaugurada no início do ano no cora-ção da zona norte, a Casa do Sardo oferece uma opção

gastronômica para os cariocas dos outros bairros, inclusive para os executivos cansados de almoçar nos rodízios do centro, que fica a poucos quilômetros dali. Em clima de trattoria, o cliente se sente em casa e ao mesmo tempo degusta o melhor da culinária italiana sem precisar ir à zona sul por um preço acessível.

Há pouco mais de dois anos no Brasil, os dois chefs originários de duas ilhas de mágicos sabores — Silvio Podda, da Sardenha, e Paolo Di Bella, da Sicília — escolheram o histórico bairro de São Cristóvão, para servir autênticas massas feitas com farinha italiana grão duro 00, como o inhoque de batata baroa, o canelo-ni de ricota e espinafre, e o culurgiones, ravióli típico sardo com queijo pecorino e hortelã. O ambiente é tão aconchegante que da mesa o cliente pode ver Silvio e Paolo no comando da cozinha.

O forte da casa são os frutos do mar, especialidade sarda. A ilha do Mediterrâneo, ocupada por nuragues, mouros, bizan-tinos e catalães, traz em seus pratos elementos incorporados ao longo dos séculos. Eles estão nos petiscos, como os fritos mistos de lula, camarão, polvo e filé de peixe; e nos pratos prin-cipais, como a carbonata di mare e a aragosta alla catalana, que leva salada de tomate, aipo, cebola vermelha, azeite, vinagre balsânico de Modena e limão siciliano. No entanto, o filé mig-non flambado com vinho tinto acompanhado de risotto preto, o Nero Nero, também é muito pedido.

A carta de vinhos reúne, além dos italianos, rótulos chilenos, argentinos e brasileiros. O tiramissù ao mascarpone ou a torta de maçã são as opções da casa para acompanhar o ca fé expresso.

Restaurante inaugurado na zona norte enriquece o roteiro gastronômico do Rio com cardápio inspirado na Sardenha em clima de informalidade

Espécie de “centro cul-tural” informal, na Casa do Sardo o cliente pode almoçar com a família ouvindo música ao vivo aos domingos, apren-der mais sobre a Itália atra-vés de uma conversa com os proprietários, sempre muito acessíveis, e ouvir as bandas que tocam à noite. Fazem parte da decoração as bandei-ras da Sardenha (com os qua-tro mouros) e da Sicília (com o tríscele). Durante a semana, o cliente pode esbarrar com alunos do curso do Instituto Italiano de Cultura, executi-vos que trabalham no centro e moradores de um dos bair-ros cariocas mais tradicionais. Tudo isso em um clima muito informal, típico de uma au-têntica trattoria.

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Gole dell’Alcantara

Arrivederci trem noturno

Para mim, a notícia foi uma grande tragédia. Eliminaram quase todos os trens noturnos na Itália. Com a crise, a ferrovia nacional teve que cortar pessoal e custos e os trens noturnos foram para as cucuias. Nem todos, mas a grande maioria. A qualidade, diga-se de passagem, já não era lá essas coisas. Mesmo assim, para mim e para

tantos outros passageiros (além dos trabalhadores que perderam o emprego, é claro), foi um duro golpe. Sou apaixonada por trens. Além do meu medo de avião (que confesso, meio envergonhada) e do meu romantismo

por este meio de transporte retrô, existe, em minha opinião, uma certa praticidade em pegar o trem à noite. Afinal, partindo de noite de uma cidade, chegamos em outro lugar a 1000 km de distância bem cedinho no dia seguinte. Quantos encontros eu já tive nesses trens noturnos! Quanta gente conheci, quantos endereços troquei por toda a Itália, e também pela Europa. Parte dessa aventura era o famoso cuccettista, o senhor que pega as passagens assim que você chega na cabine, que traz os lençóis e as cobertas e que acorda você de manhã. Um verdadeiro pai!

O trem eliminado que mais doeu no meu coração foi o Roma-Paris. Era chamado de Palatino e ligava as duas cidades mais lindas da Europa (na minha humilde opinião). Lembro da época das vacas gordas, quando serviam cappuccino e croissant e davam o jornal de manhã em cada cabine. Dizem as gerações mais velhas que, no passado, serviam até champagne assim que se entrava no trem. O serviço foi piorando bastante: primeiro sumiu o jornal, depois o cappuccino e o croissant. Depois aumentaram os atrasos. Solução all’italiana: ora, ao invés de melhorar o serviço para resolver o problema, vamos cortar o mal pela raiz. Que tal eliminar o trem? E assim foi feito. Choveram protestos, mas de nada adiantou, pelo menos até o momento.

Para meu consolo, ainda bem que sobreviveu o Roma-Palermo.Ah, esse também está no meu coração. Já fiz o trajeto umas seis

vezes, mas a primeira vez a gente nunca esquece. O trem sai de Roma às onze da noite e chega de manhã na pontinha da Bota, em Villa San Giovanni. Mas a Sicília é uma ilha, então o que fazer? Ora bolas, colocar o trem no barco! Devagarzinho, eles vão encaixando os vagões no traghetto, o barco que atravessa o estreito de Messina, formando umas quatro ou cinco fileiras. A operação é lenta e barulhenta, mas qual foi minha excitação ao ver esse grande evento do trem que entra no barco pela primeira vez! Depois, todos devem deixar a cabine e subir no andar de cima, onde é possível tomar um belo cafezinho durante a brevíssima travessia de poucos quilômetros. Na chegada a Messina, mais uma operação: encaixar de novo todos os vagões para o trem adquirir seu aspecto original. Ora, claro que as pessoas chegam descabeladas, suadas e cansadas, mas quem se importa! Essa é que é uma verdadeira Odisséia, digna de Ulisses! E tem gente que ainda vem me dizer que de avião leva somente uma horinha...

Não muito longe do Etna, nos arredores de Taormina, na Sicília, fica uma das atrações sicilianas mais

interessantes: a Gole dell’Alcantara, ou seja, as gargantas do Alcântara, espécie de cânion que tem o nome homônimo do rio que corre entre suas pedras lávicas. As gargantas ficam dentro do Parque Fluvial do Alcântara, uma fascinante reserva natural. A água é gelada (uns 10 graus), mas muitos corajosos encaram o banho no verão. A maioria recorre a um artifício: alugam uma espécie de salopete de plástico.

la gente, il postoClaudiaMonteiroDeCastro

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