revista comunità italiana edição 167

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Rio de Janeiro, junho de 2012 Ano XVIII – Nº 167 www.comunitaitaliana.com Rio de Janeiro, capital mundial da ecologia: Brasil e Itália fecham acordos e parcerias para o desenvolvimento sustentável durante a maior conferência internacional já realizada no país ISSN 1676-3220 R$ 11,90 R 7,00 especial

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Edição Completa Número 167 para leitura online. Revista Comunità Italiana, a maior mídia da comunidade ítalo-brasileira.

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Page 1: Revista Comunità Italiana Edição 167

Rio de Janeiro, junho de 2012 Ano XVIII – Nº 167

www.comunitaitaliana.com

Rio de Janeiro, capital mundial da ecologia: Brasil e Itália fecham acordos e parcerias para

o desenvolvimento sustentável durante a maior conferência internacional já realizada no país

ISSN

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Cultura vibrante, economia dinâmica, população

conectada. O maior produtor de petróleo do Brasil

e o lugar com mais esportistas por metro quadrado.

O Rio de Janeiro não se cansa, não foge à luta,

não desanima. Nos últimos anos foi o estado

que mais atraiu investimentos no país e tem uma

impressionante carteira de projetos para a próxima

década. O Rio de Janeiro voltou a sonhar. E a realizar.

RIO DE JANEIRO.Marca registrada do Brasil.

marcaRJ.com.br

an_Energia Rev. comunita italiana 45x32.indd 1 6/11/12 6:39 PM

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Cultura vibrante, economia dinâmica, população

conectada. O maior produtor de petróleo do Brasil

e o lugar com mais esportistas por metro quadrado.

O Rio de Janeiro não se cansa, não foge à luta,

não desanima. Nos últimos anos foi o estado

que mais atraiu investimentos no país e tem uma

impressionante carteira de projetos para a próxima

década. O Rio de Janeiro voltou a sonhar. E a realizar.

RIO DE JANEIRO.Marca registrada do Brasil.

marcaRJ.com.br

an_Energia Rev. comunita italiana 45x32.indd 1 6/11/12 6:39 PM

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28 | A conjuntura O que o Brasil e a Itália esperam da Rio+20

33 | Pavilhão O espaço italiano no Parque dos Atletas reúne 30 empresas especializadas em tecnologia voltada para o desenvolvimento sustentável

37 | Agenda 21 Nascida na Rio 92, programa será reavaliado pela ONU e os países devem apresentar seus resultados. Itália sofre com os cortes no orçamento

41 | Italian Style A moda ecológica das grifes italianas, entre óculos em madeira líquida da Gucci, bolsas com pedaços de carros da Carmina Campus e echarpes com tecidos orgânicos da 2ADD

42 | Exclusivo Ministro italianoClini revela que TIM e Telespazio participarão de projeto de remodelamento urbano de favela do Rio

44 | Contra a fome FAO defende transição mundial para a agricultura sustentável

46 | Orgânicos Um dos temas da Rio+20,

segurança alimentar preocupa ambientalistas

e mercado de orgânicos cresce no Brasil e na Itália

52 | Slow Food Presidente e fundador do movimento nascido na Itália pelo alimento limpo, bom e justo é convidado especial da Rio+20

Junho de 2012 Ano XVII I Nº167

09 | Cose Nostre O procurador Pietro Grasso lança no dia 28, no Instituto Italiano de Cultura do Rio, o livro Liberi tutti: lettera a un ragazzo che non vuole morire di mafia

12 | Fabio Porta La morte della studentessa Melissa Bassi a Brindisi riapre due ferite mai rimarginate: mafia e terrorismo

13 | Ezio Maranesi Verdi, Stradivari, culatello e lambrusco: fiori di um dolce territorio

24 | Guilherme Aquino O Salão Náutico de Gênova vai apresentar as novidades tecnológicas e de design da construção naval ainda em 2012

79 | Giordano Iapalucci I manifesti di Silvano Campeggi, uno dei più grandi cartellonisti cinematografici al mondo, alla Varart fino ad ottobre

94 | Claudia Monteiro De Castro A confeitaria Giuliani, em Roma, tem doces artesanais feitos com marron-glacé e chocolate

14 | Missão cumprida Novos acordos nos setores portuário e bioenergético são os frutos colhidos durante missão que trouxe 250 empresários italianos ao Brasil

21 | Terremoto O patrimônio histórico da Emília-Romanha: o antes e o depois dos tremores de maio

Nossos colunistas

Missão

Atualidade

Depois de encantar os passageiros do metrô do Rio

de Janeiro, as criações assinadas por artistas italianos e brasileiros — feitas com grafite, pôsteres, máscaras de estêncil e adesivos — irão para a Caixa Cultural, também no Rio, no dia 2 de julho, onde ficam até 15 de agosto.

56 | Ecologistas Mario Moscatelli, um ítalo-brasileiro engajado na proteção da bela, mas poluída bacia hidrográfica fluminense

59 | Nick Vendola, da Puglia, e Alessandro Zan, de Padova: preocupação com o bem-estar social

68 | Na prática Conheça alguns projetos ambientais que ONGs e instituições italianas e brasileiras levam adiante, do bicombustível à defesa do alimento justo e limpo

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Diretor-PresiDente / eDitor:Pietro Domenico Petraglia

(rJ23820JP)

Diretor: Julio Cezar Vanni

PubliCação Mensal e ProDução:editora Comunità ltda.

tirageM: 40.000 exemplares

esta eDição foi ConCluíDa eM:12/06/2012 às 9h00

Distribuição: brasil e itália

reDação e aDMinistração:rua Marquês de Caxias, 31, niterói, Centro, rJ

CeP: 24030-050tel/fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555

e-Mail: [email protected]

reDação: guilherme aquino; gina Marques; Cintia salomão Castro; Maurício tambasco;

nathielle Hó; Vanessa Corrêa da silva; stefania Pelusi

subeDição: Cintia salomão Castro

reVisão / traDução: Cristiana Cocco

ProJeto gráfiCo e DiagraMação:alberto Carvalho

[email protected]

CaPa: riotur

ColaboraDores:Pietro Polizzo; Marco lucchesi; Domenico De

Masi; fernanda Maranesi; beatriz rassele; giordano iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro;

ezio Maranesi; fabio Porta; Venceslao soligo; Paride Vallarelli; aline buaes; franco gaggiato;

Walter fanganiello Maierovitch; gianfranco Coppola; lisomar silva

CorresPonDentes: guilherme aquino (Milão); gina Marques (roma);

Janaína Cesar (treviso); Quintino Di Vona (salerno); gianfranco Coppola (nápoles); stefania

Pelusi (brasília); Janaína Pereira (são Paulo); Vanessa Corrêa da silva (são Paulo);

PubliCiDaDe: rio de Janeiro - tel/fax: (21) 2722-2555

[email protected]

rePresentantes: espírito santo - Dídimo effgen

tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; [email protected]

brasília - ZMC representações Zélia Corrêa

tel: (61) 9986-2467 / (61) [email protected]

Minas gerais - gC Comunicação & Marketing geraldo Cocolo Jr.

tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 [email protected]

são Paulo - sebastião Zolli JúniorCel: (11) 9111-3080

[email protected]

Comunitàitaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

la rivista Comunitàitaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. i collaboratori esprimono, nella massima

libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

issn 1676-3220

Fundada em março de 1994

Esta edição de Comunità chega às suas mãos com corpo diferente. Ali-nhados com a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, inovamos ao buscar uma homenagem à Rio+20, onde a ci-dade maravilhosa é o cenário de um Brasil virtuoso que está no centro

das atenções e realiza o seu mais importante teste para os grandes eventos que acontecerão nos próximos anos. Trabalhamos com papel 100% reciclável e utili-zamos tinta ecológica em todas as edições, mas para esta, em especial, buscamos entre a gama de papéis reciclados, o que transmitia melhor a natureza do evento.

Nas 54 páginas do inserto, trazemos os avanços da humanidade nestes últimos 20 anos, a sinergia entre a Itália e o Brasil que resulta em melhorias para a qualidade de vida, os exemplos de produções que unem criatividade a um consumo sustentável, o perigo dos agrotóxicos e os movimentos sociais em busca de melhoria para o meio ambiente.

Os avanços ideológicos e a execução de medidas, principalmente por parte das empresas, que respei-tam os limites da natureza, hoje são bem mais efeti-vos. Consumidores preocupam-se com a origem dos produtos, dos cuidados da extração ao acabamento, com a poluição gerada e com a contaminação.

Se em 1992 o mundo vivia um clima muito mais eufórico, principalmente por conta da queda do muro de Berlim, dois anos antes, e um horizonte favorável para a economia global, o que fez da Rio 92 a mais importan-te conferência ambiental da ONU, o Brasil e principal-mente a cidade do Rio encontrava-se em situação bem diferente da atual. Dois aspectos ilustram bem aquele momento: impeachment de Fernando Collor da presi-dência da República e a violência extrema exercida por

facções criminosas no estado fluminense. Hoje o país está em sexto no ranking das maiores economias e é protagonista nas relações internacionais, assim como o Rio está quatro vezes menos violenta em relação ao período do evento anterior.

E como encarar a Rio+20? Como olhar para os riscos que a humanidade produz e deve enfrentar? Quais são os problemas piores, os antigos ou os atu-ais? A fome é melhor que a obesidade? Um mundo sem eletricidade é melhor que um mundo mais quente?

Fato é que a economia mundial mudou e que a China é uma potência mun-dial graças à industrialização e ao carvão barato. Através do seu confucionismo mais de meio bilhão de chineses saíram dos campos, da pobreza extrema. A Índia modernizada e integrada à economia global. O Brasil deve adotar suas capacida-des tecnológicas, do etanol extraído da cana à soja do cerrado, do pré-sal. São décadas de investimentos que, além de consequências negativas como o desma-tamento, trouxeram riquezas capazes de reverter problemas em soluções. Hoje a nação é capaz também de preservar florestas, desenvolver fontes mais limpas de energia, investir em educação e ajudar a erradicar a pobreza no mundo.

O desenvolvimento sustentável deve ser ecologicamente prudente e so-cialmente justo, com bases no cuidado com o futuro da natureza e do ser huma-no. Na realidade, para que os países possam consolidar este modelo, é necessá-rio incluir, proteger, dialogar e crescer.

Sete bilhões de pessoas coexistem neste planeta. Muitas com necessidades de alimento, água e recursos básicos. Segundo a Onu, esse número deve chegar a 10 bilhões até 2050. E o clima vai esquentar. Mas a humanidade se mostra capaz de dar solu-ções das mais simples as de mais alta tecnologia.

Homens e mulheres cada vez mais buscam engajamento consciente com um elevado senso de responsabilidade por um futuro e um presente bom para todos. Nós fazemos a nossa parte.

Boa leitura!

Paradigma verde

Pietro Petraglia Editor

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Bodas no OdescalchiO castelo medieval Odescalchi, a 40 km de Roma, foi o ce-

nário da festa de casamento do filho do vice-governador do Distrito Federal, Bruno Filippelli, ocorrido no dia 7 de junho. Casais famosos como Tom Cruise e Katie Holmes já promoveram suas bodas no belo monumento. O pai de Bru-no, Tadeu Filippelli, é vice de Agnelo Queiroz, chamado para depor na CPI do Cachoeira.

Encontro de famíliasDiante de 350 mil pessoas reunidas para o encontro

mundial das famílias, em Milão, o Papa Bento XVI defendeu que famílias de países ricos apadrinhem famí-lias de países pobres. Ao lembrar que já existem apadri-nhamentos em nível cultural entre cidades, o chefe da Igreja Católica propôs a ampliação desse sistema para ajudar famílias em dificuldades e ainda sugeriu que “uma família da França, Alemanha ou Itália assuma a respon-sabilidade de ajudar” uma família necessitada de algum país em desenvolvimento.

Grasso no RioNo dia 28 de junho,

no último evento de Rubens Piovano como diretor do Instituto Ita-liano de Cultura do Rio de Janeiro, o procurador antimáfia Pietro Grasso apresenta ao público ca-rioca o seu último livro. Em Liberi tutti: lettera a un ragazzo che non vuole mori-re di mafia, Grasso revela as origem, os métodos e as regras secretas da orga-nização criminosa, em um apelo aos jovens para que superem a indiferença que faz prosperar a máfia. O evento acontece às 18 horas na sede do Institu-to, no centro.

Bola foraO atacante brasileiro

José Joelson Inácio, do Pergocrema, da ter-ceira divisão italiana, ad-mitiu ter participado do esquema de manipulação de resultados do futebol do país. Ele foi libera-do da prisão domiciliar. A confissão foi feita ao juiz Guido Salvini, em Cremona. O atacante foi acusado de ter ajudado a manipular os resulta-dos quando atuava pelo Grosseto, na temporada 2009/2010. O brasilei-ro é uma das 61 pessoas relacionadas a uma lista preliminar de acusados de participar de uma rede de apostas que come-tia fraudes em campo. A operação Última Aposta já levou à prisão mais de 40 pessoas, entre elas, os meias Cristiano Doni e Stefano Mauri, capitães da Atalanta e da Lazio, respectivamente, e o téc-nico campeão Antonio Conte, da Juventus.

Jantar de gala adiadoO jantar de gala que deveria encerrar com chave de ouro

o Momento Itália-Brasil, marcado para a noite de 4 de junho, teve de ser adiado em função do luto nacional decretado na mesma data em homenagem às vítimas dos terremotos ocorridos na Emília-Romanha, em maio. A Embaixada em Roma informa que o jantar deverá ser marcado em nova data e deve acontecer em São Paulo.

Quem sai de fériasApenas 34% dos ita-

lianos devem partir para as férias de verão em 2012, de acordo com os dados do observatório nacional Federconsuma-tori. Os cancelamentos das reservas feitas no litoral da Emília-Roma-nha, região atingida pelo terremoto em maio e normalmente muito pro-curada pelos banhistas do norte do país, contri-buíram para a queda dos números. Em 2008, 29,4 milhões de italianos saí-ram de férias, e a previ-são é que este ano sejam 20,4 milhões.

Ana da VinciO novo parceiro musical de

Ana Carolina vindo do Bel-paese é Sal da Vinci, ídolo da música contemporânea de origem napolitana, que foi re-cebido no estúdio da cantora brasileira no dia 8 de junho, no Rio. Juntos, eles gravaram a canção Coisas. Ana Carolina já gravou e se apresentou ao lado de outros artistas italianos, como Chiara Civello e Gianlu-ca Griliani. Ela pretende reali-zar um show com Sal da Vinci em Nápoles, em julho.

Em nome das águasO designer italiano Daniele Gaspari venceu o concurso euro-

peu da ONU de anúncios de sensibilização ao não desper-dício de água. A imagem, que recebeu o título de O desperdício de água vai matar o futuro, é capaz de chocar muitas pessoas, com uma pistola d’água apontada à cabeça de uma criança. “Somos atraídos pelos contrastes, querendo aprender mais”, afirmou um membro do júri. Daniele, de 31 anos, disse que a intenção é, de fato, chocar as pessoas e “torná-las conscien-tes de que cada ação que fazem tem consequências.” Mais de 3500 trabalhos de 45 países europeus participaram do con-curso Gota-a-gota: o futuro que queremos.

Michele Valensise, que ocupou o cargo de embaixador ita-liano no Brasil de 2006 a 2009, incluindo a época da crise

diplomática por conta do Cesare Battisti, é o novo secretário geral da Farnesina. Ele assumiu o cargo no final de maio, após despedir-se da Embaixada em Berlim. Valensise, que também já foi embaixador em Saravejo e é reconhecido como um dos mais experientes diplomatas do país, substitui Giam-piero Massolo, que agora vai trabalhar no departamento de informação e segurança da Itália. Na foto, Valensise entrega a Medalha de Cavalheiro da República italiana ao arquiteto Oscar Niemeyer.

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“Adorei a matéria sobre os casamentos em castelos e vilas italianos. As celebrações na Itália têm mais

glamour e requinte, com preços equivalentes aos serviços prestados. Creio que cada vez mais brasileiros apostarão nesse destino para os matrimônios.”

Flávia Cunha, São Paulo – SP – por e-mail

“O Brasil Sabor é um festival que estimula o movi-mento do público em restaurantes e, além dis-

so, divulga o que há de melhor na culinária italiana para os brasileiros. A matéria sobre o evento está de parabéns!”

José soares, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail

cartas

Você acha que decretar feriado nos dias da Rio+20 é a melhor solução para o trânsito?

Corrado Clini, ministro italiano: “O desafio da Rio+20 não é ambiental, é econômico”. Concorda?

Vaticano diz que escândalo de corrupção pode abalar a confiança dos fiéis na Igreja. Você concorda?

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/05/12 e 09/05/12.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/05/12 e 22/05/12.

No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/05/12 e 15/05/12.

Não - 37,5%

Não - 12,5%

Não - 44,4%

Sim - 62,5%

Sim - 87,5%

Sim - 55,6%

“Eu tinha uma alma italiana de querer comer tudo e ela dizia para eu comer uma maçã”, Luiza Possi, atriz e cantora, em entrevista ao programa Estrelas, diz que sua mãe, Zizi Possi, controlava sua alimentação

“O eurocentrismo morreu”, historiador e responsável

pelas bibliotecas de Harvard,Robert Darnton, em entrevista à Folha,

falando sobre o futuro duvidoso da Europa e do

descontentamento de países como a Itália

“Se nos disserem que, pelo bem do futebol, a seleção nacional deveria

deixar a Eurocopa, não haveria nenhum

problema”, Cesare Prandelli,

técnico da Itália em entrevista à RAI, fala

sobre a corrupção no futebol das

séries A e B

“O Brasil é ponto de referência de uma série de iniciativas empresariais

italianas”, Giancarlo Lanna,

presidente da Simest, durante o Fórum Econômico

Brasil-Itália

“Muita gente tenta mudar suas vidas, e seus destinos, através da televisão”,Matteo Garrone, diretor de cinema, em entrevista à imprensa, criticando a televisão no filme Reality, que tem como protagonista o ator presidiário Aniello Arena

“Uma noite estava conversando com Gianluigi e mencionei meu sonho de ter um navio em minha homenagem e ele sugeriu o título Divina, como uma experiência divina, que proporciona memórias que duram para sempre”,Sophia Loren, atriz, sobre homenagem feita pelo presidente da MSC Cruzeiros, Gianluigi Aponte

Acesse comunitaitaliana.com no seu smartphone com o código QR

no celular

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“Morei na Itália entre 2003 e 2004, quando atuei como

fotógrafo esportivo profissional. Fiz coberturas de campeonatos italia-nos de futebol e de Fórmula 1. Nes-sa época, conheci Milão, cidade que me impressionou pela beleza urba-na e pelo ambiente acinzentado.”

José roberto belardo Júnior

São Paulo, SP — por e-mail

Brasileiros na ItáliaO Museu Nacional de Be-las Artes, no Rio de Janeiro, sedia, até 5 de agosto, a ex-posição Brasileiros na Itália. A mostra reúne 97 obras, entre pinturas, esculturas, dese-nhos e gravuras. São criações de 38 artistas brasileiros que se debruçaram sobre a cultura italiana. Nomes con-sagrados da arte oitocentista e do século XX, como Maria Bonomi, Iberê Camargo e Darel, são alguns dos autores das grandes obras ítalo-bra-sileiras expostas. www.mnba.gov.br

De Chirico Na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, até 29 de julho, o público poderá conferir uma das maiores exposições do artista Gior-gio de Chirico. A exposição, que faz parte do Momen-to Itália-Brasil, conta com mais de 120 obras, sendo 11 esculturas, 45 pinturas e 66 desenhos, todas provenien-tes da Fundação Giorgio e Isa De Chirico, de Roma. O pintor italiano influen-ciou grandes brasileiros de renome, como Tarsila do

Amaral, Di Cavalcanti e Ibe-rê Camargo e foi precursor do surrealismo. www.casafiatdecultura.com.br

ZoomAté 15 de julho é possível conferir no Museu de Arte Brasileira da FAAP, em São Paulo, a exposição Zoom. Design italiano e as fotogra-fias de Aldo e Marirosa Ballo. Com a curadoria de Mathias Schwartz-Clauss, a mostra tem parceria com o Vitra Design Museum, da Ale-manha. Entre as décadas de 1950 e 1990, o trabalho de Aldo e Marirosa tornou-se referência no cenário do

design italiano por meio das fotografias de objetos que estamparam capas de revistas, campanhas publi-citárias e artigos editoriais. São 300 fotografias da co-leção do museu alemão e trechos de filmes italianos.www.faap.br

ModiglianiO traço da sobrancelha se une ao nariz. Os pescoços são longilíneos. Um constan-te uso de cores que passam dos tons terrosos e quentes

ao cinza e ao frio. Essas são algumas das características das obras de Amedeo Modi-gliani, expostas no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

A exposição inclui qua-dros de Guglielmo Micheli, com quem o pintor italiano aprendeu história da arte e as técnicas do nu artístico e do retrato. Até 15 de julho.www.masp.art.br

19ª FestitáliaA cidade de Blumenau pro-move, de 13 a 22 de julho, a Festitália, a maior festa italiana de Santa Catarina. Criada em 1994 pelos inte-grantes do Circolo Italiano

di Blumenau, tem o objetivo de promover e preservar a cultura do país. A Festitália reúne eventos de gastro-nomia, danças, músicas e vestimentas típicas. Di-versos grupos folclóricos e bandas da região se apre-sentarão, com destaque para os shows de Tony Angeli, Luciano Bruno e Mafalda Minnozzi.www.festitalia.com.br

naestante

Passagens de tempo A obra, centrada na investi-gação sobre a natureza fugidia do tempo, estende-se a outros campos do pensamento, e dialoga com a história da filosofia ocidental e autores clássicos e contemporâneos como Heiddeger e Descartes. O au-tor Mauro Maldonato mescla ideias que relacionam saberes históricos, como medicina, psiquiatria, arte e ciência, ancoradas na reflexão sobre o tempo. Edi-ções Sesc SP, 192 páginas, R$ 40,00.

O mundo à mesa Por que o vinho é proibido para os muçulmanos e por que os hindus não comem car-ne de vaca? As respostas estão no livro do jornalista italiano Vittorio Castellani, que usa o pseudônimo chef Kumalè — um autêntico “gastronômade”. Di-versos aspectos que definem os hábitos alimentares são abordados, como a religião, as festividades, o ti-po de comida e a história gastronômica de diversas regiões. Saberes Editora, 240 páginas, R$ 29,00.

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Venti anni dopoLa morte della studentessa Melissa Bassi a Brindisi riapre due ferite mai rimarginate: mafia e terrorismo

Venti anni fa l’Italia vive-va uno dei periodi più bui della sua storia re-pubblicana: nell’arco di

soli due mesi, tra il mese di maggio e quello di luglio del 1992, la mafia uccideva i due giudici-simbolo della lotta a “Cosa Nostra”, Giovanni Fal-cone e Paolo Borsellino.

Le stragi di “Capaci” e “Via D’Amelio” (questi i nomi della lo-calità nei pressi di Palermo e della via del capoluogo siciliano dove si verificarono le due mortali esplosio-ni) furono infatti molto più che due ‘semplici’ omicidi di mafia.

Questo a causa dell’inaudita ed inedita efferatezza dei due attentati, per i quali venne usato un quantita-tivo pari a quasi una tonnellata di tritolo; per la cinica e spietata furia omicida dei mafiosi, che oltre a Fal-cone e Borsellino uccisero ben nove componenti delle rispettive scorte; infine per l’altissimo profilo simbo-lico dei due magistrati, che in quegli anni rappresentavano di fatto l’ul-timo baluardo di legalità e giustizia dello Stato di diritto nella lotta con-tro la mafia.

Allora, come oggi, la politica ita-liana viveva un momento di scarsa credibilità a causa del “ciclone ma-ni pulite”, un’operazione giudiziaria che nel giro di un paio d’anni con-tribuì in maniera determinante a smascherare il fitto intreccio tra partiti politici ed affari. Allora, come oggi, la guida del governo venne affi-data ad un cosiddetto “tecnico”, l’ex Governatore della Banca d’Italia Car-lo Azeglio Ciampi. Allora, come oggi, un terremoto politico aveva pratica-mente cancellato i vecchi partiti, ed un referendum sulla legge elettorale segnò definitivamente il passaggio dalla Prima alla Seconda Repubblica.

Da quel 1992 ad oggi sono tra-scorsi venti anni, i venti anni della Seconda Repubblica, segnati dai governi guidati dal centrosinistra con Romano Prodi e – prevalen-temente – dai quattro governi di centrodestra affidati all’indiscussa,

anche se controversa, leadership di Sil-vio Berlusconi.

Eppure, a distanza di vent’anni, non sono ancora stati chiariti tutti i misteri legati alla morte di Falcone e Borsellino, nonostante sia sempre più evidente che dietro all’azione della mafia c’erano del-le chiare complicità di carattere politico e istituzionale.

Venti anni non sono bastati a ren-dere giustizia alle vittime delle stragi di Capaci e Via D’Amelio, anche se in que-sti vent’anni la coscienza dei siciliani e di tutti gli italiani è cresciuta proprio grazie al sacrificio di Falcone e Borselli-no, veri e propri eroi del nostro tempo.

Forse è anche a causa di questa co-scienza collettiva che, a seguito della morte di Melissa Bassi, la ragazza sedi-cenne morta a Brindisi a causa di una bomba esplosa davanti ad una scuo-la intitolata a Francesca Morvillo (la

moglie di Giovanni Falcone), i giovani italiani di tutte le scuole si sono imme-diatamente mobilitati per dire il loro “NO” alla mafia e al terrorismo.

Mafia e terrorismo, due piaghe an-tiche che in epoche diverse hanno segnato il nostro dopoguerra. Se la cieca violenza dei terroristi ebbe negli anni ’70 il suo momento di massima

determinazione e visibilità anche inter-nazionale (basti ricordare al rapimento e l’assassinio di Aldo Moro nel 1978), saranno i primi anni ’90 a segnare l’api-ce della violenza mafiosa in Italia.

L’Italia di oggi, alle prese con la più dura crisi economica della sua storia de-mocratica, deve così fare i conti anche con il possibile risorgere di questi due fenomeni, mai definitivamente sconfit-ti: mafia e terrorismo.

L’attentato contro i ragazzi della scuola “Francesca Morvillo” di Brindisi ci ricorda che gli anticorpi contro que-sto pericolo risiedono proprio lì, dentro le mura delle nostre scuole.

“La mafia - diceva il giudice siciliano Antonino Caponnetto, che potremmo considerare il “padre spirituale” di Falco-ne e Borsellino – teme più la scuola della giustizia; la mafia prospera sull’ignoranza della gente, sulla quale può svolgere opera di intimidazione e soggezione psicologi-ca: solo così la mafia può prosperare”.

Dalla scuola, ovvero dalle giovani generazioni italiane, può partire il ri-scatto di un Paese provato dalla crisi economica e spaventato dal possibile ritorno della violenza del terrorismo e della delinquenza organizzata. Una ri-scossa civile della quale abbiamo tutti bisogno, a partire dai politici.

La mafia teme più la scuola della giustizia,

diceva il giudice Antonino Caponnetto

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Italia minoreVerdi, Stradivari, culatello e lambrusco: fiori di un dolce territorio

Non posso biasimare il neo-turista che decide di visitare l´Italia e compra quel pac-chetto che gli permette di

vedere, con la palpebra e il piede pesanti per il sonno e la fatica, Roma, Firenze, Venezia e altre 10 città europee in 21 giorni compreso il viaggio. Probabilmen-te questo signore, per ragioni di tempo, cultura e disponibilità finanziarie, non può fare altrimenti. E non si può onesta-mente pensare che questo signore, che per la prima volta pesta il suolo italico, compri un pacchetto che lo trattenga alcuni giorni in quel fantastico bed and breakfast della stupenda Ascoli Piceno che conobbi qualche anno fa. A Roma, Firenze e Venezia bisognerebbe dedicare alcuni giorni solo per vedere l’essenzia-le, senza pretendere di capire qualcosa della città. Restare 12 ore a Venezia è come andare a Disneyland o allo shop-ping center. Chi ha più tempo e più soldi ha una grande scelta: Torino, Padova, Verona, Mantova, Perugia, Napoli, Bolo-gna e tante altre stupende città e, dopo aver vissuto qualche giorno in alcune di esse, può cominciare a dire di aver vi-sto qualcosa dell’Italia. È l’Italia minore, che minore non è. Ma c’è un’Italia vera-mente minore: quella dei piccoli centri.

e un altrettanto favoloso vinello pia-centino a un prezzo al quale a San Paolo non ti darebbero neppure una pizza. È l’Italia più vera, la più bel-la e meno costosa. E come Cremona con i suoi dintorni, cento altri sono i territori italiani in grado di offrirti soggiorni deliziosi che il turismo di massa, purtroppo o per fortuna, non sfrutterà mai. Sono essi la grande ricchezza dell’Italia turistica: cento territori profondamente diversi fra di loro, ricchi di tradizione, di mo-numenti antichi, di musei nascosti, di cucina fantastica, che spesso, pur-troppo non sempre, ti accolgono col sorriso. Questo è il turismo di qua-lità. Un turismo però che non paga, non attrae le masse. Non ho visto cinesi o americani nella piazzetta di Castellarquato. Eravamo in pochi, seduti al sole ai tavoli dell’enoteca del paesello ad ammirare castello e cattedrale medioevali davanti ad un delizioso vino trebbiano delle colline piacentine. Un peccato per le casse italiane; una gioia per noi che ap-prezziamo queste cose. Al turismo di massa si offre Orlando con Disney-land e la traversata rapida di Venezia: stazione di Santa Lucia – San Marco e ritorno in quatto ore. E Venezia è vista e archiviata.

L’Italia possiede il patrimonio artistico e paesaggistico più impor-tante nel mondo. Lo dice l’Unesco. Anni fa era il paese più visitato dal turismo mondiale; oggi è al quinto posto. Il turista esigente va dove si spende meno, si è meglio trattati e la natura è conservata meglio. E prefe-risce la Croazia alla Versilia. Il turista grossolano non ama le Dolomiti o i musei Vaticani. Che gli italiani si dia-no da fare per valorizzare la loro, che è anche nostra, offerta turistica, farla conoscere e fruttare quattrini per le casse italiche. Ci perdoni però il mini-stro del turismo, ma una Italia invasa dai cinesi non piacerebbe a chi, come me, ama la quiete dei boschi, i pae-saggi naturali e il buio delle cattedrali meno note. Fare a pugni per entrare agli Uffizi o per prendere il vaporetto per Rialto non mi diverte più. Molto meglio ascoltare Miriam, la proprie-taria della Buca, che racconta la lunga storia della sua cantina, decorata dai culatelli appesi al soffitto come le stelle nel cielo e dalle scure botti di lambrusco; quelle due fette di cula-tello e quel lambrusco delizioso che colorano il nostro tavolo valgono si-curamente il viaggio.

Cento osterie ti offrono i favolosi piatti del

territorio e un altrettanto favoloso vinello

piacentino a un prezzo al quale a San Paolo

non ti darebbero neppure una pizza

Sono a Cremona, bella e tranquilla cit-tadina della bassa padana. Monumenti medioevali, violini antichi e buona cucina. In pochi chilometri si è a Castel-larquato, Parma, Sirmione, Montisola, Salsomaggiore, ai castelli del piacenti-no, Colorno,Soragna, Varzi nell’Oltrepo pavese e tanti altri paeselli d’incanto. La Buca di Zibello, patria mondialmente nota del culatello e osteria monumento nazionale, è a pochi chilometri. Ver-di, Stradivari, Monteverdi sono nati in queste terre e li possiamo ancora sen-tire nel cuore della gente. Cento osterie ti offrono i favolosi piatti del territorio

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Poucos dias antes da Rio+20, Brasil e Itália entraram em cena com acordos firmados no

campo da aplicação de tecnologias inovadoras italianas sustentáveis no setor bioenergético brasileiro. O objetivo é reduzir a poluição at-mosférica e o impacto ambiental na gestão energética nos próximos 20 anos. Esse é o conteúdo de um dos principais acordos assinados entre as empresas e as instituições dos dois países, durante o fórum empresarial ítalo-brasileiro de cin-co dias, realizado no final de maio. A missão teve seu percurso traça-do para cerca de 250 pequenos e médios empresários dos 770 que aderiram ao projeto em 16 regi-ões italianas, em uma operação coordenada pela Região Marche. Cobriu 12 grandes setores econô-micos — incluindo agroindústria; mecânica; automotivo; energético; marcenaria; habitação; construção sustentável; aeroespacial; logísti-co e náutico; moda e decoração — distribuídos em 48 subsetores

diversificados, com mais de quatro mil contatos bilaterais realizados nas localidades de São Paulo, San-tos, São José dos Campos, Curitiba e Belo Horizonte.

Os presidentes das regiões de Emília-Romanha, Toscana, Ligú-ria, Lombardia, Marche, Sicília, Calábria, Molise, Lombardia, Pu-glia, Úmbria, Campânia, Vêneto e

Piemonte, além da Província Au-tônoma de Trento, organizaram todo o programa de encontros e conferências, em colaboração com as Câmaras Ítalo-brasileiras de Comércio de São Paulo, Curiti-ba e Belo Horizonte, acelerando a busca de alternativas de mercado para garantir a vida das pequenas e médias empresas face ao cená-rio crítico da economia italiana e europeia. Para eles, o mercado brasileiro representa também uma plataforma de lançamento para mais negócios em países como Pe-ru, Colômbia, Chile e México, sem perder de vista as perspectivas existentes no âmbito do Mercosul e do grupo dos Brics.

A missão comercial teve o apoio do governo italiano com a participação de Marta Dassù, subsecretária do Ministério do Exterior; do Ministro do Meio Ambiente, Corrado Clini; e de Riccardo Monti, presidente da Agência para a Promoção e a In-ternacionalização das Empresas Italianas no Exterior (ex-ICE, o Instituto para o Comércio Exterior). Eles sublinharam a im-portância e as vantagens de se

Missão cumprida

Governantes paulistas e mineiros fecham acordos com empresários italianos nos setores bioenergético, portuário e de cooperação técnica durante missão que percorreu quatro estados em maio

Lisomar Silva e Renê Arruda *De São Paulo

A missão comercial teve o apoio do governo italiano com a participação da subsecretária do Ministério italiano do Exterior Marta Dassù

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fundir a experiência e a tecnologia italianas com as potencialidades do mercado brasileiro.

Os grupos bancários UBI, Uni-credit, Intesa San Paolo e BNDES, além das agências italianas de ava-liação de mercado Sace e Simest, controladas pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico e criadas para dar suporte técnico e financeiro a projetos de empresas italianas no exterior, apresenta-ram aos empresários italianos as peculiaridades do mercado bra-sileiro em suas diferentes áreas geográficas, assim como as políti-cas fiscal, cambial e alfandegária. Indicaram também as facilidades e os programas de financiamento destinados a quem quiser encon-trar novos parceiros comerciais brasileiros ou criar empresas no território nacional.

As parcerias iniciadas há al-guns anos pela Região Marche nos estados de Pará e Amazo-nas, através de acordos para a inovação tecnológica, pesqui-sa, design no setor madeireiro e arredamento — com apoio fi-nanceiro do BID e colaboração do Sebrae — serviram de exem-plo como modelo de parceria criada fora das áreas geográfi-cas tradicionalmente focalizadas para negócios pelos pequenos e médios empresários italianos no território brasileiro. A Re-gião Marche, presidida por Gian Mario Spacca, organizou o site informativo www.missionebrasile.internazionalizzazione.marche.it  com um perfil das atuais relações comerciais ítalo-brasileiras, o que atraiu a atenção de muitos dos pequenos e médios empresários italianos sobre o evento de maio.

Protocolo prevê construção de usina de etanol em AlagoasA partir de dezembro próximo, a bioenergia brasileira ganha uma nova fase de desenvolvimen-to no estado de Alagoas, com tecnologia italiana aplicada na construção da primeira usina destinada a produzir etanol de segunda geração (celulósico) no Hemisfério Sul, a partir da biomassa da cana-de-açúcar. O BNDES destinou R$ 3,1 bilhões ao projeto, lançado em março 2011. O acordo assinado entre a empresa brasileira GraalBio

Investimentos S.A. (que participa com R$ 300 milhões), em parceria com a Beta Renewables, socieda-de italiana do grupo piemontês Mossi & Ghisolfi — o terceiro maior do setor químico na Itália, com sede em Tortona — inclui a construção de 12 plantas-piloto e sete plantas industriais. As obras estão a cargo da empresa italiana de engenharia Chemtex, também do Mossi &Ghisolfi, e começam ainda este ano na periferia de Maceió. A usina desenvolve sua produção a partir de dezembro 2013, começando a usar o baga-ço de cana-de-açúcar e a palha de arroz até converter qualquer tipo de biomassa em etanol.

A GraalBio também elabora es-tudos em parceria com a Unicamp, na obtenção de uma nova varieda-de de planta (Cana Energia), com produtividade equivalente ao tri-plo da cana comum, tornando a biomassa economicamente mais competitiva. Até o final deste ano, 100 mil sementes da Cana Ener-gia devem ser plantadas para uma seleção de 40 mil delas, destina-das à primeira colheita industrial, prevista em 2015. As previsões indicam uma produção anual que poderá chegar a 65 mil tonela-das de bioetanol, equivalentes a cerca de 82 milhões de litros de etanol celulósico. É prevista ain-da a construção de um centro de pesquisas em Campinas para o de-senvolvimento de leveduras, além de uma planta-piloto onde serão desenvolvidas e aperfeiçoadas as tecnologias de etanol celulósi-co e alternativas bioquímicas. O projeto busca reduzir o déficit no

setor e as importações brasileiras, além de fomentar a exportação do etanol celulósico para os Estados Unidos a preços vantajosos. Mas a meta principal é respeitar o uso obrigatório de combustíveis bio-lógicos na Europa em 2020.

Para o ministro italiano do Meio Ambiente Corrado Clini, esta atividade não rouba espa-ço à agricultura na produção de alimentos e reduz a poluição em modo significativo.

— A produção do bioetanol de segunda geração requer somente o processamento de vegetais descar-tados e permite a redução de CO2 em 85%. Além disso, não podemos desperdiçar nosso patrimônio ad-quirido no campo de pesquisas em biotecnologia — afirmou.

Enquanto isso, o fundador e presidente da GraalBio, Ber-nardo Gradin, avisa que quer

A produção do bioetanol de segunda geração requer somente o processamento de vegetais descartados e permite a redução de CO2 em 85%. Além disso, não podemos desperdiçar nosso patrimônio adquirido no campo de pesquisas em biotecnologia,Corrado Clini, ministro italiano do Meio Ambiente

O presidente da Região Marche, Gian Mario Spacca, e o presidente do ICE, Riccardo Monti, ressaltaram a importância de levar para o mercado brasileiro o know-how e a tecnologia da Itália

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obter a biomassa mais competi-tiva do mundo e assinala que sua empresa pode investir até R$ 1 bilhão na criação de outras qua-tro usinas.

O setor da náutica e ativida-des portuárias abre espaço para um memorando de entendimen-to e um acordo de cooperação, indicando a via marítima como um dos percursos vitais rumo à internacionalização e no combate à crise econômica mundial. O di-retor de planificação da Codesp, Renato Barco, e o presidente do porto da Ligúria, Luigi Merlo, assinaram um memorando de entendimentos entre o porto de Santos e a Ligurian Portos, a as-sociação dos portos da região, para a cooperação nas áreas de portos, transporte marítimo e lo-gística, em bases igualitárias para benefício mútuo.

— Queremos intensificar o transporte de mercadorias e o tu-rismo entre os portos de Santos e Gênova — destaca Merlo, lem-brando que os portos da Ligúria são estratégicos na exportação

de bens e produtos do Norte da Itália.

Renato Barco assinou ain-da um acordo de cooperação entre as autoridades portuárias de Santos e Veneza com Antonio Revedin, gerente de planejamen-to estratégico e desenvolvimento do porto veneziano. Mais de 20 empresários nos setores da logís-tica, náutica, óleo e gás também estiveram em Santos para novos negócios.

Gian Mario Spacca, presidente da Região Marche, e Luiz Barre-to, presidente do Sebrae nacional, assinaram uma carta de inten-ções para consolidar ainda mais a parceria em prol das micro e pequenas empresas por meio de novas abordagens metodológicas e o fortalecimento do conceito de integração produtiva. O acordo se-rá uma extensão do projeto Rede

de Serviços Metodológicos, desen-volvida no âmbito do projeto de cooperação Sebrae, Banco Intera-mericano de Desenvolvimento e região Marche. Spacca, juntamen-te com a vice-ministra de Relações Exteriores Marta Dassù, assinou ainda uma carta de intenções entre a Fiesp e a região Marche, para dar continuidade às colaborações ins-titucional e econômica existentes, fomentando os encontros entre empresas dos recíprocos sistemas empresariais por desenvolvimento de novos canais econômicos.

Em São José dos Campos, 22 dirigentes pequenos e médios mantiveram mais de 200 encon-tros para abrir colaborações no setor aeroespacial. No Paraná, cerca de 15 empresários buscaram parcerias nos setores da agroin-dústria, da alta tecnologia e das ciências para a vida. Na ocasião, foi assinado um acordo de coope-ração no setor da alta tecnologia entre o Pólo Tecnológico de Na-vacchio e a Agência Curitiba de Desenvolvimento. A parceria vai possibilitar ações conjuntas e troca de experiências nas áreas de desenvolvimento econômico, produção e tecnologia.

Minas recebe 40 empresas e governo fecha acordo de cooperação técnicaEm Belo Horizonte, 40 empresas no campo automotivo e mecânico participaram de vários encontros business to business, palestras e fóruns econômicos que duraram dois dias, eventos que foram uma espécie de desdobramento da missão empresarial liderada pe-lo governador mineiro Antonio Anastasia à Itália em março. A se-cretária de Desenvolvimento de Minas Gerais, Dorothea Werne-ck, vê a missão italiana como uma oportunidade de consolidação do trabalho iniciado na Itália:

— Estivemos em Turim, Roma e Nápoles, e criamos parcerias do Estado com várias regiões e em-presários. Fiquei impressionada com a facilidade de contato entre empresários mineiros e italianos.

Na abertura, o governador Antonio Anastasia destacou a im-portância do papel da indústria italiana em Minas e ressaltou as potencialidades do estado para receber outras empresas. Olavo Machado Junior, presidente da

Marta Dassù, Gian Mario Spacca e o presidente da

Fiesp Paulo Skaf assinam acordo

de cooperação nas áreas de portos

e transportes marítimos

A missão teve seu percurso traçado para

250 pequenos e médios empresários dos 770 que

aderiram ao projeto em 16 regiões italianas, em uma operação coordenada pela

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Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), com Maria Pia Calisti, consulesa da Itália de Mi-nas Gerais; Giacomo Regaldo, presidente da Câmara Italiana de Minas Gerais; além de Gianni Lo-reti, vice-diretor do ICE.

Giuseppe Donato, presidente do Centro Estero Internazionali-zzazione Piemonte e membro do conselho diretor da Associazio-ne Nazionale Filiera Industria Automobilistica, e Fabrizio Al-visi, responsável pela direção operacional da área de promo-ção e marketing internacional da Veneto Promozine, também participaram da abertura. Para o presidente da Câmara Ítalo-bra-sileira, Giacomo Regaldo, “a iniciativa é de suma importância para a consolidação do estado de Minas Gerais como principal par-ceiro da Itália, principalmente no setor automotivo e mecânico”.

Dorothea Werneck anun-ciou a assinatura do acordo de cooperação técnica entre o go-verno mineiro, através do Indi, o Instituto de Desenvolvimento Integrado, e a italiana Simest. O acordo fomenta as possibilidades de transação comercial a serem geradas na rodada de negócios em Minas. Cerca de 180 empresas italianas instaladas no estado po-derão contar com o financiamento da instituição para investirem em seus negócios. Dorothea Werneck ressaltou que não há um limite de valor para o financiamento, mas que já existe um volume de R$ 2 bilhões disponibilizados pela Si-mest. Pelo acordo, cabe à entidade italiana disponibilizar linhas de crédito e serviços financeiros às

empresas da Itália ou joint-ven-tures entre empresas italianas e brasileiras em Minas. Já ao gover-no mineiro cabe o mapeamento das empresas aqui instaladas que pretendem se expandir, bem como identificar as que têm inte-resse em vir para Minas.

Para ela, Minas tem carac-terísticas atraentes para os investidores, como o tratamento fiscal vantajoso, a desburocrati-zação, a localização geográfica e a maior rede rodoviária do país e as ferrovias, que contribuem para a variedade de modais, apre-sentando boas oportunidades de investimento e comércio no setor automobilístico e no segmento de metalmecânica, com o segun-do maior parque automobilístico do Brasil e a presença de várias montadoras do Grupo Fiat — a exemplo da Iveco, Fiat Defesa e New Rolland — além das fábricas de caminhões Mercedez Benz.

— Temos também a única planta de helicópteros da Amé-rica Latina, a Helibras, além de duas grandes indústrias de loco-motivas, únicas do Brasil. Este é um grande conjunto de fornece-dores de autopeças, com enorme espaço para investimentos em Minas Gerais — acrescenta. O padrão educacional, com 14 uni-versidades públicas e 64 cursos de mestrado e doutorado acom-panhados de programas de treinamento profissional — tam-bém constitui um pólo de grande interesse.

O estado do Mato Grosso do Sul também se colocou na vitrine. O governador André Puccinelli apresentou aos empresários

italianos as condições geopolíticas do estado, detalhando incentivos destinados ao desenvolvimento econômico e à industrialização. De acordo com ele, são crescentes as oportunidades de investimen-tos nas indústrias de celulose, setor sucroalcooleiro, mineração, logística, transportes, turismo e no agronegócio voltado para a produção animal e de soja. Puc-cinelli destacou também que o estado oferece, através do projeto Mato Grosso do Sul Empreen-dedor, importantes vantagens para indústrias que decidirem se instalar em território brasileiro, como a isenção de ISS e a suspen-são do pagamento de IPTU por até duas décadas. Explicou que, dependendo do aporte do proje-to a ser realizado, haverá também descontos de até 90% no paga-mento do ICMS. Ao término da apresentação do painel que par-ticipou, convidou investidores a visitarem regiões do estado por até 30 dias.

Esta foi a primeira vez que a missão empresarial italiana te-ve um perfil orientado a dar às regiões italianas e às câmaras de comércio o papel de coorde-nadoras de contatos, colocando em primeiro plano a alta espe-cialização e a longa experiência das pequenas e médias empresas italianas. As empresas que não puderam participar da iniciati-va vão receber o balanço final do evento com avaliações dos empre-sários, em reuniões e encontros programados ainda este ano, jun-to às sedes das regiões italianas e das câmaras de comércio.

*Colaborou daniela Campos

Estivemos em Turim, Roma e Nápoles, e criamos parcerias do Estado com várias regiões e empresários. Fiquei impressionada com a facilidade de contato entre empresários mineiros e italianos,Secretária de Desenvolvimento de Minas Gerais, Dorothea Werneck

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As empresas italianas pequenas e médias querem parceiros bra-sileiros para realizar

projetos industriais com transfe-rência de know-how e formação de profissionais qualificados, se-gundo os padrões internacionais de alto nível. Mas, para isso, de-vem conhecer as peculiaridades e a complexidade do mercado bra-sileiro. Quem faz estas e outras avaliações de mercado é Gian Ma-rio Spacca, presidente da região italiana de Marche, que coorde-nou as conferências, os encontros e as rodadas de negócios durante os cinco dias de atividades da mis-são empresarial Brasil –Itália em

maio. Spacca, que já desenvolveu parcerias no Pará e no Amazonas, acredita que o futuro da economia está na pequena e média empresa como verdadeiras plataformas de apoio no plano internacio-nal, especialmente em períodos de crise. Em entrevista à Comu-nitàItaliana, afirma que “está cada vez mais claro, na Europa, que temos de sair do contexto da economia baseada na alta finan-ça e retornar à economia real de empresa”. Se quiserem sair da cri-se, os italianos devem recorrer às parcerias através de colaborações nas maiores áreas geográficas do mundo, ressalta. E explica que a Itália não pensa em exportar produtos acabados para o Brasil, e sim, em desenvolver parcerias com projetos e programas de

colaboração econômica recíproca de perfil estrutural e em transmi-tir conhecimento, de modo que a produção local possa alcançar patamares qualitativos com alto grau de especialização.

ComunitàItaliana - Que ex-periências foram feitas para se chegar a essa reflexão?Gian Mario Spacca - Uma dessas experiências é a colabora-ção desenvolvida entre a região Marche e os estados do Ama-zonas e do Pará com a criação de um distrito industrial no se-tor de produção de móveis e decoração. Em sete anos, criou-se uma rede que envolveu 600 empresas brasileiras e outras 50 italianas de nossa região, com o apoio do Sebrae. O projeto hoje

Confiança nas pequenas e médias

O presidente da região Marche, Gian Mario Spacca, esteve no Brasil para acompanhar a missão econômica em maio. Em entrevista exclusiva, ele diz que

é preciso apostar nas parcerias com outros países para sair da crise

Lisomar SilvaDe São Paulo

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representa uma metodologia de trabalho porque inclui universi-dades e centros de pesquisa sobre uso limitado de matérias-primas e mais extenso de madeiras de descarte, para reduzir ao máximo o impacto ambiental, criando em-pregos e formando profissionais qualificados. Outra experiência importante é desenvolvida na região do ABC paulista no setor metalmecânico, mecânico e me-talúrgico, mas que deu resultados menos animadores por ser uma área com um perfil completamen-te diverso de desenvolvimento urbano, social e industrial, na qual a colaboração com grandes conglomerados tem espaço pri-vilegiado e já consolidado, sem deixar margem de ação para as pequenas e médias empresas.

CI - Outras experiências fo-ram desenvolvidas dando prioridade a setores dife-rentes?GMS - Sim. Foram muito bem sucedidas, principalmente nos setores da eletrônica automotiva e da náutica, que podem servir de modelo para novas parcerias no futuro. A primeira foi realiza-da com a empresa mineira ASK de Belo Horizonte, hoje com mil empregados. A segunda se desen-volve com a CRN de São Paulo, que tem 600 empregados, para a realização de iates, em colabo-ração com os canteiros navais da cidade portuária de Ancona,

a capital de nossa região. Há dois iates em fase de constru-ção na cidade, sob encomenda de clientes brasileiros, que geraram empregos para 130 profissionais contratados por dois anos. Esse é um exemplo eficaz de troca de know-how com formação de pro-fissionais, que garante trabalho e empregos para os parceiros dos dois países. Na zona industrial do ABC existe também a empresa italiana Mondolfo Ferro, especia-lizada na produção de linhas de montagem destinadas a testes de resistência para automóveis, que hoje conta com 80 profissionais contratados.

Está cada vez mais claro, na Europa, que temos de sair do contexto da economia baseada na alta finança e retornar à economia real de empresa

CI - A crise econômica eu-ropeia provocou situações trágicas até, com episódios de empresários pequenos e médios que acabaram se suicidando...GMS - Temos que lembrar que falamos de proprietários de em-presas familiares, que sofreram o peso da pressão fiscal italiana. Muitos deles ficaram desorien-tados, não dispunham sequer de liquidez para enfrentar o pa-gamento de impostos, salários, contribuições sociais e outras despesas de gestão, mesmo tendo dinheiro para receber até mesmo de instituições italianas. Outros acabaram por ter pouca esperan-ça quanto ao futuro da economia e de sua própria empresa. Infeliz-mente, isso aconteceu também com outras categorias em conse-quência de uma situação em que houve a perda de confiança geral. O governo do primeiro-ministro Mario Monti também está im-pondo sacrifícios econômicos às empresas e aos cidadãos italia-nos, para recuperar um mínimo de equilíbrio na evolução do PIB italiano. Por isso, temos que aju-dá-los a resgatarem a confiança no mercado e a divulgarem, no futuro, a força e a energia das pequenas e médias empresas no mundo.

CI - Mais de 200 empresas vieram para esta missão comercial. E as outras?GMS - As outras 500 empresas que não puderam participar desta missão estão observando a evo-lução do mercado, bem como o andamento das parcerias criadas e dos acordos assinados. Rece-berão informações de modo que também possam se preparar pa-ra as missões comerciais futuras. Queremos que todas as empresas se saiam bem, especialmente em períodos críticos como o que es-tamos vivendo agora.

Indústria e pesca

A economia da região Marche é caracterizada por indústrias de pequeno e médio porte, concentradas no litoral e nos va-

les. Os setores em destaque são os de produtos em couro, de calçados, de móveis e as vinícolas que produzem o Verdicchio, além da grande indústria naval de Fano, Ancona e San Benedet-to del Tronto. Marche é também a terceira maior zona pesqueira da Itália, perdendo apenas para a Sicília e a Puglia.

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No mês de junho, em que é celebrado o ani-versário da República italiana a comunida-

de presente em todo o mundo foi surpreendida com a notícia do terceiro adiamento das eleições para a renovação dos Comites (Comitês dos Italianos no Exte-rior) e do CGIE (Conselho Geral dos Italianos no Exterior). O governo chefiado por Mario Monti justifica a decisão com a crise econômica e alega que, para realizar as eleições, seriam ne-cessários 20 milhões de euros, enquanto o valor em caixa é de apenas 6,7 milhões. O montan-te seria destinado à divulgação da língua, da cultura italiana e à manutenção dos próprios órgãos, que atravessam dificul-dades e estão quase inativos. Em um decreto lei datado de 30 de maio, o governo italiano anuncia ainda que as próximas eleições, por medida de economia, serão realizadas de forma eletrônica e não mais através dos correios por carta registrada.

No Brasil, os Comites do Rio de Janeiro e Porto Alegre lide-ram o ranking dos problemas. A entidade situada na capital gaú-cha não possui mais local para

reuniões, teve a única funcionária demitida e, segundo o presidente Adriano Bonaspetti, vive de favo-res. Já o presidente do Comites do Rio de Janeiro, Franco Perrotta, afirma que a situação da cidade fluminense está insustentável.

— A situação do Comites do Rio de Janeiro é alarmante. Fal-ta verba desde outubro de 2011, e os empregados estão sem rece-ber seus salários. Normalmente, a gente recebia do governo a quantia de 40 mil euros para a manutenção. Com os cortes que tem sido feitos nos últimos tem-pos, estamos recebendo apenas 25 mil euros. O telefone já foi cor-tado e estamos com problemas para pagar condomínio e outros serviços — conta Perrotta.

A última eleição para os Co-mites aconteceu em 2004, onde o eleito deveria permanecer no cargo por cinco anos. Com o adiamento das eleições, os con-selheiros vão se perpetuar na função durante dez anos até a próxima votação, prevista para 2014. A presidente do Comites de São Paulo, Rita Blasioli Costa, res-salta que é um desrespeito com a democracia não haver mudanças de gestão. Acima de tudo, afirma que a medida cria um certo mo-nopólio do poder administrativo.

— Há uma necessidade de re-novação dos órgãos consultivos.

As eleições dão oportunidade para os jovens participarem das decisões e dos Comites, normal-mente geridos por pessoas mais velhas, que estão no cargo há mui-to tempo. A situação dos Comites brasileiros é delicada. Falta finan-ciamento por parte do Ministério italiano das Relações Exteriores, que reduziu as verbas devido à crise financeira europeia. Os Co-mites são intermediários junto aos órgãos competentes para a resolução de problemas múlti-plos da comunidade italiana, que se sente desprotegida com esse adiamento — enfatiza Blasioli.

A reação dos integrantes dos Comites do exterior  foi imedia-ta. “É grave a decisão de adiar por mais dois anos a renovação do Comites e do CGIE” — escreve-ram os deputados Gino Bucchino, Gianni Farina, Marco Fedi, Laura Garavini, Franco Narducci e Fa-bio Porta, em nota conjunta na qual rebatem os fundamentos alegados pelo governo. Segundo eles, é falsa a afirmação de que houve consultas aos órgãos de representação, assim como tam-bém não seria verdadeiro falar em consenso quanto ao adiamen-to das eleições. Os parlamentares afirmam, inclusive, que os inte-grantes do Partido Democrático (PD) são contrários às eleições postergadas.

Crise nos órgãosGoverno italiano adia pela terceira vez as eleições dos Comites e do CGIE, agravando a crise das instituições que sofrem com falta de verbas

O deputado Fábio Porta, a presidente do Comites de São Paulo, Rita Blasioli,

e o presidente do Comites do Rio

de Janeiro Franco Perrotta acreditam

que o adiamento das eleições agrava

ainda mais a situação dos órgãos

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Patrimônio por terraOs tremores que atingiram a Emília-Romanha em maio deixaram 26 mortos, mais de 300

mil feridos, milhares de desabrigados e um rastro de detruição no patrimônio histórico de cidades como Rocca e Finale Emilia. A província mais atingida foi Modena, onde os especialistas detectaram uma elevação de 12 centímetros no solo. Tudo indica que falha que provocou o terremoto sentido em toda a Pianura Padana está se movendo em direção ao oeste.

A Torre dei Modenesi, conhecida como torre do relógio, foi reduzida a pedaços. Construída em 1213 com 32 metros, carregava um sino de

bronze e era um dos símbolos da cidade de Finale-Emilia

O palácio de 1744 que sediava o município em Finale Emilia teve a torre e o sino atingidos.

Já as torres do castelo Rocca Estense, cujas origens remontam ao ano 1000, desabaram

parcialmente. O local sediava algumas atividades da prefeitura de San Felice sul Panaro. Ambas as

cidades ficam na província de ModenaDEPOIS

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VatileaksA guarda do Vaticano prendeu Paolo Gabriele, o

mordomo do Papa, por esconder documentos con-fidenciais em sua casa. O livro Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI, do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, cita um grande número de documentos confidenciais. As in-formações teriam sido vazadas pelo mordo-mo, revelando disputas entre cardeais e autori-dades, os quais depois recorrem ao papa para dirimir os conflitos. Para o vaticanista Marco Politi, o escândalo dos vazamentos, que ficou conhecido como Vatileaks, tem o objetivo de derrubar o número dois do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone. Os analistas acre-ditam que, por trás dos vazamentos, esconde-se um confronto entre a corrente ligada a Bertone e a velha-guarda, saudosa de João Paulo II.

Monti acredita no eurobônusO primeiro-ministro italiano, Mario Monti, acredita

que os eurobônus se tornarão realidade nas 17 nações da zona do euro e que a Grécia continuará a fazer parte da moeda comum. Monti afirmou que a emissão de eurobônus não é uma permissão para gastar e sobrecarregar outros países, ao contrário, é um es-forço para reconstruir a união econômica europeia numa ba-se mais segura e confiável.

O MIB na UerjA Universidade do Estado do Rio de Janeiro sediou, em

maio, o Seminário Internacional Momento Itália-Bra-sil, que contou com a presença de cientistas, intelectuais e docentes, brasileiros e italianos. O tema abordado foi a Uni-ficação, que completou 150 anos em 2011. Os palestrantes enveredaram pelos caminhos da imigração, contando a saga dos italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX e início do século XX. Entre os nomes lembrados, estava o de Guglielmo Marconi (foto), cientista que inventou o rádio. O professor da Universidade Tor Vergata de Roma, Aniello Angelo Avella, mesclou literatura com música, evidenciando a paixão de Machado de Assis pelas óperas e divas italianas.

Desaparecimento em navioA brasileira Laís Santiago, assistente de garçom do navio

italiano Costa Mágica, desapareceu no dia 1º de junho. Segundo o Itamaraty, a Capitania dos Portos de Catânia comunicou oficialmente ao Consulado brasileiro em Roma que as câmeras internas da embarcação regis-traram as imagens de Laís subindo ao convés e atirando-se ao mar. Segundo o governo italiano, dois aviões e oito lanchas da Guarda Costeira fizeram bus-cas pela jovem. O navio havia partido de Malta rumo a Catânia, e estava a 30 km da costa siciliana quan-do Laís desapareceu. O irmão da tripulante, Lucas Santiago, afirma que a brasileira andava insatisfeita com o trabalho e que pretendia pedir demissão e voltar para o Brasil.

IncontroA Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, por

meio da Pinacoteca Municipal, e o Sesc de São Paulo organizaram a exposição Incontro – Presença Italiana na Arte Brasileira, que retratou a marcante participação de italianos e ítalo-brasileiros na arte brasileira, em junho. A região do ABC paulista, que abrigou muitos imigrantes desde o século XIX, esteve em destaque. O público teve a oportunidade de apreciar obras de Maria Bonomi; as criações de Claudio Tozzi, que utiliza a linguagem de cartoon e quadrinhos; e a escultu-ra O Tempo, de Rubens Brunello. O módulo Italianos no ABC, aliado ao espaço dedicado a Pegoraro, restaurador 30 anos no Museu do Ipiranga, evidencia a fase figurativa do artista.

Atentado a bombaGiovanni Vantaggiato, de 68 anos, proprietá-

rio de um depósito de combustíveis e  morador de Cupertino, foi preso pela polícia italiana por ser o principal acusado pela explosão de uma bomba que matou a estudante Melis-sa Bassi, em uma escola de Brindisi, em um atentado que chocou a Itália no mês passado. Autoridades ori-ginalmente suspeitaram de terroristas ou da máfia, mas Vantaggiato, cujo carro foi identificado pelas câmeras de vigilância, teria confes-sado que seu objetivo era o Palácio da Justiça de Brindisi, em um ato de vingança por não ter conseguido indenização em uma ação de fraude. Ele teria desistido do alvo ao perceber que o lo-cal estava muito protegido, optando pelo centro escolar Francesca Morvillo Falcone.

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Agulhas do DuomoO Duomo foi construído com a

ajuda de famílias generosas e mecenas. Alguns por devoção à fé, outros como garantia de um lugar no paraíso, outros ainda para imortalizar o próprio so-brenome diante da eternidade. Pois bem, os séculos passaram e eis uma nova oportunidade para fazer o bem comum diante dos 5 milhões de visitantes anuais: os administradores da maior igreja gótica italiana lançam um apelo para a adoção privada das 135 agulhas, que custam 5 milhões de euros de manutenção por ano devido às intempéries naturais e econômicas. Os benfeitores te-rão direito ao nome gravado em mármore e visitas exclusivas às pessoas ou empresas que finan-ciarem o projeto de restauração permanente. A contribuição mí-nima é de cem mil euros.

Milão solidáriaA fundação Cariplo anuncia a reforma

de um antigo imóvel como símbo-lo de integração social. Ele fica na rua Padova, famosa pelo seu multicultura-lismo devido aos moradores dos quatro cantos do planeta, principalmente dos países da África do Norte, como Egito e Marrocos, e de Bangladesh. O velho pré-dio, caindo aos pedaços, vai ser recons-truído seguindo as normas do projeto de “social housing” Masoin du Monde. Ou seja, os 50 novos apartamentos de diferentes tamanhos vão ser oferecidos à população com aluguéis mais baixos do que os praticados pelo mercado. Es-tudantes universitários e idosos vão ter a preferência das chaves que irão ser en-tregues em março de 2014.

Polêmica milanesaUm dos bairros mais boêmios e  ar-

tísticos de Milão, o Navigli, está em pé de guerra. A exemplo do verão do ano passado, os meses de junho, julho e agosto representam uma revolução para os moradores que devem aturar os anônimos visitantes dos bares abertos até às três horas da madrugada por con-ta do horário especial, no caso de ativi-dades internas, e até às duas horas, no caso de mesas e cadeiras nas calçadas. Intelectuais e artistas plásticos, habi-tantes dali, denunciam que a confusão incide na queda das vendas das lojinhas “descoladas”, que sofrem com a invasão dos restaurantes e bares. Com a pala-vra, o prefeito Pisapia — como se não tivesse outras preocupações.

Ruínas italianasEm tempos de terremotos, as ru-

ínas também são outras, se ob-servadas sob o prisma social e de-mográfico. Segundo o relatório do Istat, apenas 12 % dos filhos da clas-se operária, contra 40% das classes mais elevadas, conseguem, através da instrução pública, uma ascenden-te mobilidade social. Em um país de velhos, os administradores delega-dos e presidentes dos bancos pos-suem 59 anos em média, com picos de 63 e 67 anos como média etária de professores universitários.

Os estaleiros navais italianos tentam estancar a hemorragia dos pedidos

apontando a proa dos iates para a cos-ta brasileira. Nos últimos três anos, a queda do faturamento das empresas do setor foi de 50%. A redução de 6,2 bilhões de euros para 3,4 obriga à ex-ploração de novos mercados. O Brasil e a China aparecem em primeiro lugar.

A vantagem brasileira é que a cultura do mar já existe, enquanto aquela chi-nesa deve ser criada. Recentemente, 200 empresários visitaram o país. Re-sultado: os construtores italianos reto-mam o caminho aberto pelo navegador Americo Vespúcio. E a melhor rota vai ser apresentada durante o Salão Náuti-co de Gênova, entre 6 e 14 de outubro.

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O Brasil cresceu, com a garra do seu povo, com a

esperança que está no ar e com a alegria de cada

brasileiro, com soluções originais que abrem caminho

para o futuro do planeta. Futuro onde produzir e preservar

se integram. Hoje, o Brasil é respeitado porque inclui e

melhora a vida das pessoas e protege o meio ambiente.

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O Brasil rea� rma, com orgulho, o compromisso com a sustentabilidade do seu desenvolvimento e defesa do meio ambiente. Rio+20: o grande encontro mundial do desenvolvimento sustentável, em busca de melhores caminhos para o crescimento econômico, com inclusão social e proteção ambiental. Rio+20: crescer, incluir, proteger. Para mais informações, acesse: www.rio20.gov.br. Participe.

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O Brasil rea� rma, com orgulho, o compromisso com a sustentabilidade do seu desenvolvimento e defesa do meio ambiente. Rio+20: o grande encontro mundial do desenvolvimento sustentável, em busca de melhores caminhos para o crescimento econômico, com inclusão social e proteção ambiental. Rio+20: crescer, incluir, proteger. Para mais informações, acesse: www.rio20.gov.br. Participe.

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e o mundona Rio+20

o Brasil,a Itália

Vinte anos após a ECO 92, questões econômicas entram em jogo na agenda ambiental, como desenvolvimento

sustentável, crise financeira, crescimento dos países emergentes e produção de energias renováveis

O contexto era diferente. A internet não existia, o Mu-ro havia acabado de cair e tsunami era uma palavra

quase desconhecida. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano realizada em 1992 no Rio de Janeiro teve o mérito de colocar em discussão no mundo o te-ma do meio ambiente, além de dar-lhe a importância devida e despertar a consci-ência ambiental das gerações seguintes. Naquela época, a recessão econômica batia à porta dos países em desenvolvi-mento e não incomodava as prósperas nações do Velho Continente. Hoje, a no-va conjuntura acende polêmicas entre os Estados em crise e os emergentes, onde correntes não acham justo frear o cres-cimento da produção justamente agora. Vinte anos depois, reunidos na mesma cidade, os chefes dos Estados signatá-rios da Agenda 21 deverão fazer um

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eco-92 é um marco na agenda ambiental globalA Eco-92, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, é realizada no Rio e termina com a assinatura de importantes documentos, como a declaração do Rio (carta de princípios) e a Agenda 21, plano de ações ambientais. Mais de 100 países passam a incorporar o tema ambiente em suas Constituições.19

92

Curitiba se torna ícone de cidade sustentávelCom a presença do oceanógrafo francês Jacques-Ives Costeau, é inaugurada a Universidade Livre de Meio Ambiente de Curitiba (PR). O município adota a Agenda 21 e se torna um ícone de cidade sustentável, com áreas verdes e investimentos em transportes públicos19

92

Ambientais

Econômicas

Duas décadas de transformaçõesVeja as principais mudanças pelas quais o mundo passou desde a Eco-92

Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, programação oficial da Rio+20. A Agenda 21 italiana conta com mais de 400 associados e dezenas de projetos de excelên-cia já realizados em cidades como Padova, Gênova e Bolonha, en-volvendo a malha de transportes, planejamento urbano, educação ambiental e um amplo sistema de coleta diferenciada de lixo. Deta-lhes sobre alguns dos programas ambientais Made in Italy você pode conhecer melhor em repor-tagens especiais nas páginas 68, 69, 70 e 71.

Em entrevista à ComunitàI-taliana, o ministro italiano do Meio Ambiente, Corrado Clini, afirmou que o objetivo do país é “dar um significado particular à Rio+20, sob o signo da cooperação bilateral entre Itália e Brasil”. Da Conferência, Clini espera o início de uma estação de cooperação in-ternacional “para enfrentarmos, juntos, o tema do crescimen-to econômico e da proteção dos recursos naturais, através do desenvolvimento de tecnologia nova, novas regras internacionais para o comércio e através, sobre-tudo, da criação de parcerias entre instituições públicas e empresas privadas de diversos países”. Nem mesmo a crise econômica euro-peia assusta o ministro:

— A chave para o desenvolvimen-to sustentável é essa. Se olharmos os investimentos mundiais dos úl-timos quatro anos, nesse período de grande crise financeira, ve-mos que os investimentos em

Da Rio+20, não esperamos a

assinatura de um tratado e, sim, o

início de um processo muito concreto,

de iniciativas que envolverão os

governos, as empresas e os consumidores

Corrado Clini, ministro italiano do Meio Ambiente

balanço do quanto se avançou, mas os especialistas são unânimes: mui-to menos do que deveria ser feito foi realizado.

Em 1992, falava-se em econo-mia, e no verde. Em 2012, diante de mais de 100 chefes de Estado, o evento deve definir o conceito de economia verde, tema polêmico — condenado publicamente pe-los organizadores da Cúpula dos Povos, para quem o termo mas-cara o intento de mercantilizar a natureza — e exaltado por impor-tantes empresários e autoridades de diversos países, os quais apre-sentarão seus ambiciosos projetos no ramo, a exemplo da Itália, que promete mostrar o seu peso no campo de tecnologias inovadoras para energia limpa e renovável.

O Belpaese reúne exemplos de sobra: a região da Lombardia lide-ra o ranking italiano da coleta de lixo de aparelhos elétricos e ele-trônicos, com mais de 50 milhões de quilos. Colaboram para esse recorde a quantidade de maquiná-rios especializados e os 807 locais de coleta. É italiana a primeira Embaixada Verde do mundo, em um projeto aplicado na sede di-plomática de Brasília com painéis fotovoltaicos e sistema de fito-depuração, possibilitando uma grande economia de recursos. O Slow Food, movimento pelo ali-mento limpo e justo que ganhou o mundo todo, oposto ao fast food, começou no país do fundador Car-lo Petrini: ele foi convidado para falar na mesa sobre segurança ali-mentar e nutricional durante os

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Satélites passam a mapear mata atlânticaA Fundação SOS Mata Atlântica, criada em 1986, divulga os primeiros dados de satélites sobre o ritmo de desmatamento para o período de 1985-1990. Os equipamentos mostram que só restaram 7% da cobertura original em todo o país.

real marca início da estabilidade econômicaLançado o Plano Real, que marca o início da estabilidade econômica e o controle da hiperinflação. Nas eleições do mesmo ano, o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, é eleito presidente, graças ao sucesso do plano para conter a inflação.19

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aprovada a Convenção sobre BiodiversidadeUm dos resultados das negociações da Eco-92, a Convenção sobre Biodiversidade estabeleceu normas e princípios para a conservação da fauna e flora para os 193 países signatários.

1993

energias tradicionais energéticas tiveram uma queda, enquanto que aqueles em energias renová-veis e alternativas, cresceram. A Rio+20 pode ser a ocasião para evidenciar e reforçar esse tren-ds. Portanto, não esperamos a assinatura de um tratado e, sim, o início de um processo mui-to concreto, de iniciativas que envolverão os governos, as em-presas e os consumidores.

Brasil, crescimento e polêmicas em torno do Código AmbientalEm um Brasil embalado pelas perspectivas oferecidas por gran-des eventos como as Olimpíadas de 2016, os especialistas des-tacam os setores fundamentais para expansão e sustentabilidade da economia brasileira: petróleo, etanol e gás; mercado habitacio-nal; consumo e varejo; energia; indústria e agroindústria. Pro-jeto recente da Ernst & Young Terco reuniu sete publicações com dados e projeções inéditos, desenvolvido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. A série, chamada Brasil Sustentável, con-tém um conjunto de informações estratégicas indispensáveis para o planejamento das empresas e seu crescimento sustentável.

Apesar da esperança de que possa se tornar um exemplo de economia verde, o país ain-da deixa a desejar. A difusão dos agrotóxicos atingiu dimensões preocupantes: o Brasil é o primei-ro no ranking mundial do uso de

evidente por causa do novo Códi-go Florestal. Apesar disso, a uma semana do início da conferência, o governo brasileiro anunciou que a taxa de desmatamento na Amazô-nia chegou em 2011 ao menor nível desde o começo da medição oficial (em 1988), uma taxa 8% menor do que a registrada em 2010.

A ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, dis-se que a questão econômica tem que estar na pauta de debates da Rio+20. Segundo ela, se isso não ocorrer, a questão ambien-tal não progride.

— Deve ser envolvida a ques-tão econômica, senão a questão do meio ambiente não avança — disse.

Segundo a ministra, nesse de-bate não se pode separar mais as áreas social, ambiental e econômi-ca. Ela também quer uma presença mais atuante dos países desenvol-vidos no debate ambiental.

Deve ser envolvida a questão econômica,

senão a questão do meio ambiente

não avançaIzabella Teixeira, ministra do Meio

Ambientepesticidas, assunto ao qual dedica-mos seis páginas em reportagem especial (página 46) que procurou abordar o aspecto social, agrário e mercadológico do assunto.

Embora seja ousado nas ques-tões sociais e diplomáticas e respeitado nas questões econômi-cas, o maior país da América do Sul coleciona críticas de ONGs à sua política verde, o que ficou mais

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Computadores ganham selo de energiaA Agência de Proteção Ambiental americana incentiva a iniciativa da Energy Star de lançar computadores eficientes no consumo de energia. O selo é uma forma de identificar, para os consumidores, os equipamentos mais econômicos.19

94

rodízio de veículos é aprovado em São PauloAssembleia paulista aprova o rodízio de veículos na cidade de São Paulo, com o objetivo de reduzir a poluição do ar e os congestionamentos na capital paulista. A medida é considerada polêmica por muitos motoristas, mas o rodízio persiste até hoje.

1996

aprovada a Convenção sobre o ClimaOs países desenvolvidos e em desenvolvimento se comprometeram a modificar o modelo de reprodução para reduzir os impactos ambientais e mitigar as mudanças climáticas. Para isso, os governos teriam de conter o desmatamento e investir em tecnologias mais limpas para substituir os combustíveis fósseis.19

94

— Está na hora de os países de-senvolvidos colocarem sobre a mesa seus projetos, e não só os países em desenvolvimento — ressalta.

Izabella Teixeira participou da solenidade de inauguração do Insti-tuto Global para Tecnologias Verdes e Emprego, que vai articular pes-quisas e estudos da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) sobre mudanças do clima.

O diretor da Coppe, Luiz Pin-guelli Rosa, disse que o instituto é um desdobramento de algo que vem

se desenvolvendo há muitos anos “e, agora, com o governo do estado e o Programa das Nações Unidas pa-ra o Meio Ambiente (Pnuma), nós demos esse caráter internacional”. Essa nova unidade da Coppe tem o apoio da Secretaria estadual do Am-biente do Rio e do Pnuma.

Para Pinguelli, a iniciativa con-tribuirá para tornar o Rio de Janeiro referência em pesquisas de tecnolo-gias voltadas para a economia verde.

— A gente quer isso como um le-gado da Rio+20. Um reconhecimento das coisas que já fazemos e possibili-dades de fazer outras — ressalta.

A conferência tem dois temas principais:

a economia verde no contexto do

desenvolvimento sustentável e da

erradicação da pobreza; e a estrutura institucional para o desenvolvimento

sustentável

Em comunicado enviado à Comunità, o Ministério

brasileiro do Meio Ambiente afirma que a Itália tem sido um tradicional parceiro do órgão no âmbito da cooperação bilateral e potencial parceiro no âmbito da cooperação trilateral, “mes-mo contando com pequeno volume de recursos”. Ao longo do período 2003-2010, algumas iniciativas e projetos se destacaram, como o Programa Biodiver-sidade Brasil-Itália (PPBI). Direcionado à redução da pobreza e à melhoria das condições de vida das comunidades locais, tradicionais e indígenas, é con-siderado de grande sucesso,

principalmente no que se re-fere aos resultados junto às comunidades locais. Trata-se de uma iniciativa da Coope-ração Italiana com o governo brasileiro, articulada pela Aca-demia Brasileira de Ciências e implementada pela Embrapa e pelo Ibama.

O Ministério brasileiro também destaca o Progra-ma de Prevenção e Controle dos Incêndios na Flo-resta Amazônica, o Amazônia sem fogo, finalizado em

2010. Diante de seus resulta-dos positivos, o projeto ganhou dimensões de cooperação trila-teral entre o Brasil, a Bolívia e a

Itália: foi assinado em julho de 2011 e tem a previsão de três anos de duração.

Outro projeto que une os dois países envolve o setor de biocombustível.

— O grupo italiano M&G aprontou uma nova tecnologia que permite usar o bagaço de cana-de-açúcar para produzir etanol. Ao usar estes resíduos de celulose, dá-se um incremen-to na produtividade de etanol de 40%. Idealizaram um novo tipo de cana que apresenta caracte-rísticas genéticas tão boas que tornam possível uma produção maior. Isso pode fazer com que a indústria brasileira de produção de etanol dê um salto — explica o embaixador italiano Gherardo La Francesca.

Cooperação Brasil-Itália

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China se abre para capital estrangeiroA China abandona o socialismo de mercado e abraça o capitalismo, com forte presença do Estado em setores estratégicos, como infraestrutura. A mudança fez da China a economia que mais cresce no mundo.

Países aderem ao Protocolo de KyotoO acordo internacional estabeleceu metas para redução dos gases causadores do efeito estufa. Entre as atribuições dos países ricos, uma delas era subsidiar programas de energia limpa nos países em desenvolvimento. O acordo instituiu ainda o mercado de créditos de carbono.

Surgem nos eua as construções verdesSurgem os primeiros empreendedores imobiliários preocupados com o impacto da construção civil no ambiente, nos EUA. Os novos prédios ecologicamente corretos passaram a ter sistemas de captar água da chuva e energia solar e áreas com solo permeável.19

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1997

A Itália, um dos 193 países-membros das Nações Unidas e par-ceiro tradicional do

Brasil em projetos no setor de meio ambiente, tem uma participação de peso na Rio+20, com a presen-ça do premier Mario Monti, do ministro do Meio Ambiente Cor-rado Clini e de CEOs e dirigentes das mais importantes empresas italianas — em uma delegação que deve reunir mais de 50 pesso-as. Com um pavilhão que ocupará mil metros quadrados no Parque dos Atletas de 13 a 23 de junho, o país pretende dar uma amostra ao mundo de sua competência

em matéria de sustentabilidade, apresentando demonstrações de projetos arquitetônicos e tecnolo-gias aeroespaciais.

A plataforma do espaço Casa Italia, organizado pelo Ministério italiano do Ambiente, Proteção do Território e do Mar, em par-ceria com a entidade Fórum das Américas, será apresentada em estilo living room, com um formato conveniente para en-trevistas, palestras, exposições e debates que serão acompanha-dos no local ou transmitidos pela TV e pela internet. As 30 empre-sas patrocinadoras — como Tim Brasil, Telespazio, Pirelli, Conai,

Illy, Powerone e Archimede So-lar Power — terão à disposição um espaço exclusivo para mos-trar nos telões um pouco de suas próprias tecnologias e iniciativas de sustentabilidade. Materiais ecologicamente corretos, como papel reciclado, foram usados na construção dos estandes.

Uma das empresas italianas que estará “na virtine” é a Teles-pazio. A companhia vai inovar, levando para o local um tapete com a reprodução de imagens da Amazônia feitas por satélite, es-pecialidade da companhia.

No local, também será exibido um vídeo que mostra como foi

Tecnologia italiana à mostraPavilhão no Parque dos Atletas reúne 30 empresas italianas que vão mostrar ao público da Rio+20 tecnologias e competências sustentáveis em diversos setores, como satélites, energia e gás

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Brasil ganha Lei de Crimes ambientaisA lei nº 9.605 impõe penalidades mais severas e multa de até R$ 50 milhões para crimes contra a natureza, como desmatamento, poluição, caça e maus tratos a animais e danos ao patrimônio público, entre outros. É considerada uma das leis ambientais mais avançadas do mundo.19

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Sustentabilidade chega à Bolsa de nova YorkA Bolsa de Valores de Nova York lança o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, com títulos de empresas engajadas em ações sociais e ambientais e com maior grau de transparência em seus relatórios. A iniciativa inspirou outros países como o Brasil. A Bovespa lançou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) em 2001.19

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Começa a produção de carros menos poluentesA montadora japonesa Toyota lança o primeiro carro híbrido do mercado, o Prius, movido a gasolina e eletricidade. Foi o primeiro híbrido produzido em série do mundo. Hoje está presente em mais de 70 países e é considerado um marco da indústria automobilística.19

97feito, através da constelação de satélites radar Cosmo Skymed, o monitoramento do mar onde ocorreu o vazamento de petróleo por parte da Chevron, na Bacia de Campos, além de imagens que mostram o desmatamento na floresta amazônica. Uma mesa com tela de plasma vai mostrar mais imagens para os visitantes do estande de modo interativo. Entre os clientes da Telespazio no Brasil, estão o governo e em-presas de petróleo.

— É uma demonstração do que o satélite já fez e pode ainda vir a fazer. A temática do meio ambiente é muito importante pa-ra nós. No âmbito da gestão de problemas ambientais, podemos responder a diversas exigências, como o monitoramento no caso de enchentes, terremotos, desaba-mentos e também na agricultura — ressalta o presidente da Teles-pazio no Brasil, Marzio Laurenti.

A empresa vai contribuir com seus serviços no projeto de re-qualificação urbana das favelas do Leme, um programa que conta com a parceria do Ministério ita-liano do Meio Ambiente e deverá ser anunciado com mais detalhes durante a Rio+20. O papel da Telespazio será o de fornecer ima-gens das comunidades, feitas com satélites, adianta o executivo.

Iniciativa do governo italiano e da Agência Espacial Italiana em sistemas de observação da Ter-ra, o conjunto de satélites Cosmo Skymed é usado com finalida-des civis e militares. O direito de

comercialização pertence à Teles-pazio, integrante do grupo italiano Finmeccanica, através de joint ven-ture que inclui a francesa Thales. Presente no Brasil há mais de dez anos, com sede em Roma, a Te-lespazio também oferece serviços para a navegação, a telecomunica-ção e a conectividade, integradas a programas espaciais científicos.

TIM faz coleta selecionada de baterias e celulares em suas lojasPresente pelo quarto ano conse-cutivo na carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa, o indica-dor composto de ações emitidas por empresas que apresentam al-to grau de comprometimento com sustentabilidade e governança

No âmbito da gestão de problemas

ambientais, podermos responder a diversas exigências, como o monitoramento no caso de enchentes,

terremotos, desabamentos e na agricultura

Marzio Laurenti, presidente da

Telespazio no Brasil

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Chineses passam a integrar a omCEm encontro em Doha, no Catar, os 142 países da OMC (Organização Mundial do Comércio) aceitam o pedido da China de entrar para o grupo. Isso causou uma verdadeira revolução no comércio global: produtos chineses invadiram o mundo.

união europeia adota moeda únicaEm 1º de janeiro de 2002, o euro entra em circulação em 12 países da UE (União Europeia). Antes, em 1999, a moeda única já vinha sendo empregada em transações comerciais e financeiras. Hoje 17 países utilizam o euro.

Johannesburgo marca os 10 anos da eco-92Realizada em Johannesburgo a Rio+10 teve o objetivo de fazer um balanço dos compromissos assumidos pelos países na Eco-92. O encontro, no entanto, apresentou poucos resultados. Por outro lado, surgiram mais compromissos do setor privado nas questões socioambientais.20

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2002

corporativa, a TIM Brasil é uma das principais patrocinadoras do pavilhão italiano na Rio+20. A companhia, que nos últimos anos tem consolidado sua posição no mercado brasileiro de telefonia móvel, desenvolve ações que vi-sam a eficiência energética, tanto em nível interno quanto em rela-ção aos clientes. Conta com uma política para redução no consumo de papel e em seus custos desde 2006, com a adesão de todas as filiais, o que resultou em eco-nomia de papel e toners. Desde 2009, emite faturas para os seus clientes em papel certificado FSC (Forest Stewardship Council), fa-bricado com matéria-prima de manejo florestal sustentável.

A gestão de resíduos faz parte da política ambiental da empresa, que busca minimizar a produção e incentivar a coleta diferencia-da, a recuperação e a reciclagem. Desde o início de sua operação no país, a operadora disponibiliza pontos de coleta de aparelhos, ba-terias e acessórios em suas lojas. Atualmente, possui dois progra-mas de recolhimento de baterias, aparelhos celulares, cabos USB, carregadores e pilhas: uma inicia-tiva própria (Projeto Recarregue o Planeta) e uma parceria com o Grupo Santander Brasil (Progra-ma Papa-Pilhas).

A operadora também foi incluída, pelo segundo ano con-secutivo, na Carteira do Índice Carbono Eficiente (ICO2), que ava-lia a transparência e eficiência das empresas em relação às emissões

de gases do efeito estufa, além de ser signatária do Pacto Global, e associada aos institutos Ethos e Akatu, ao Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e à Funda-ção Abrinq.

Eni participou da Rio 92Outra multinacional sediada em Roma, a Eni, empresa dedicada à energia, produção de petróleo e gás natural e presente em 85 países, marca presença no espa-ço italiano da Rio+20, vinte anos

depois de ter participado da ECO 92. Em 1991, a empresa criou o comitê Eni Eco 92, através do qual desenvolveu um papel de dissemi-nação e promoção da conferência que ocorreu no ano seguinte.

A direção da empresa ressalta que, desde então, tem prossegui-do o percurso traçado pela ECO 92, integrando aqueles princí-pios na própria estratégia de business, “amadurecendo um sistema único de capacidade, soluções e tecnologias para o desenvolvimento sustentável

O estande italiano na Rio+20 foi projetado pelo Studio Archea, empresa sediada em Florença com escritórios em Roma, Milão, Pequim e Dubai. As instalações contam com painéis fotovoltaicos, paredes transparentes e sala de conferência

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Protocolo de Kyoto entra em vigor, sem os euaO Protocolo de Kyoto, acordo global para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, entra em vigor. Os EUA se recusaram a ratificar o documento, apesar de o país ser, na época, o maior emissor de gases poluentes. O então presidente, George W. Bush alegou prejuízos para a economia americana, caso assinasse o acordo.20

05

Furacão Katrina devasta o litoral sudeste dos euaO furacão Katrina devasta a costa sudeste americana e chama a atenção do mundo para os eventos climáticos extremos. O Katrina causou prejuízos de mais de US$ 81 bilhões e matou quase duas mil pessoas.

2005

Cientistas protegem a mata atlânticaComunidade científica de São Paulo lança o programa Biota, para proteger a Mata Atlântica de acordo com as premissas da Convenção sobre Biodiversidade.

2002

em termos de produção e su-porte aos processos políticos internacionais e adoção de solu-ções inovadoras”.

“É esta a herança que a Eni coloca à disposição na Rio+20, que convida a comunidade in-ternacional a renovar o próprio empenho no desenvolvimento sustentável”, completa o comu-nicado da empresa enviado à Comunità.

A Eni acredita que a Rio+20 revoluciona o modo de com-preender o desenvolvimento sustentável, superando a ideia de equilíbrio entre tutela ambiental e crescimento econômico, dentro do conceito de economia verde, onde a sustentabilidade garante o bem-estar econômico e social. “Revoluciona, ainda, a estratégia para o desenvolvimento susten-tável, reconhecendo a função e a capacidade da indústria e da empresa de implementar a sua visão de sustentabilidade”, res-saltam os executivos da Eni, que atualmente desenvolve proje-tos de redução da queima de gás em países da África. Apesar de o continente africano ser rico em recursos energéticos, sofre com a falta de acesso a fontes limpas e confiáveis. Recentemente, a Re-pública do Congo firmou parceria com a Eni para elaborar um pro-jeto de construção e reabilitação das centrais e das redes de trans-missão e distribuição de energia, prevendo a eliminação do gas fla-ring, o que deve favorecer cerca de 700 mil pessoas.

Empresas participantes do Pavilhão italiano

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onu: ação humana causa aquecimentoO IPCC, painel de cientistas da ONU que estuda o clima, apresenta relatório que relaciona as atividades humanas como principal causa do aquecimento global. A queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, eleva a temperatura mundial.

Brasil passa a ter selo para prédios verdesChega ao Brasil a certificação americana Leed (Leadership in Energy and Environmental Design) para prédios sustentáveis. A ideia é estimular o mercado imobiliário a adotar tecnologias verdes de construção, como reuso da água. No ano seguinte, a Fundação Vanzolini desenvolve o selo Aqua, com o mesmo propósito.

Bancos dos eua causam crise internacionalCrise financeira internacional, deflagrada pela quebra de vários bancos americanos, como o Lehman Brothers, derruba Bolsas e leva vários países à recessão. Brasil sente efeitos da crise, mas em menor proporção que os países ricos.

2007

2007

2008

A Agenda 21 assim se chama por ser um plano de ação para o desenvolvimento

sustentável para o século XXI, instituído durante a Conferência da ONU de 1992 (a Rio 92), quan-do ainda imperava a sensação de “final de era” e início de novos e promissores tempos. Vinte anos depois, em meio a uma crise que faz tremer os alicerces econômi-cos do Ocidente e após muitas mudanças geopolíticas, o docu-mento, assinado na ocasião por mais de 170 nações, deverá ter seus resultados avaliados pelos organizadores da conferência.

Cada país ficou encarrega-do de desenvolver a sua própria Agenda 21, na qual todos os

setores da sociedade podem cooperar com o estudo de soluções para os problemas socioambientais. O texto contempla 41 capítulos, que incluem itens como a luta contra a pobreza, a pro-teção da saúde humana, a conservação da diversidade biológica e medidas mun-diais a favor das mulheres para atingir um desenvolvi-mento sustentável e equitativo.

Na Itália, a coordenação da Agenda 21 conta com mais de 400 associados, entre entida-des como regiões, províncias e prefeituras, além de uma série de empresas e organizações envol-vidas com o meio ambiente. Até 2005, trabalhou-se, sobretudo, para que as cidades aderissem a tratados internacionais e co-meçassem seus percursos

Agenda para ontemInstituída na Eco 92, a Agenda 21 deverá ser atualizada durante a Rio+20. Programa italiano conta com mais de 400 associados, mas sofre com a falta de fundos há dois anos

Cintia Salomão CastroDe Padova

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20 milhões de brasileiros deixam a linha da pobrezaDesde 2004, 20 milhões de brasileiros deixaram a linha da pobreza, aponta estudo da Fundação Getúlio Vargas. Esse grupo passa a integrar a chamada “nova classe C” e se torna uma grande força de consumo.

2009

Brasil passa a integrar grupo credor do FmIO Brasil aceita o convite do FMI (Fundo Monetário Internacional) para se tornar parte do grupo de 47 credores da instituição. O país se comprometeu a contribuir com até US$ 4,5 bilhões para ajudar países em desenvolvimento.

2009

marina Silva deixa a pasta meio ambienteApós sofrer desgaste político, Marina Silva renuncia ao Ministério do Meio Ambiente. Ela vinha sofrendo embates de outras áreas do governo, como a Casa Civil e a Agricultura. Sua demissão provoca repercussão internacional e em seu lugar assume Carlos Minc.20

08o número de associados aumen-tou. Transformou-se em uma verdadeira rede de cidades que realizaram, juntas, projetos eu-ropeus, colocando-se em contato com outras redes do continen-te. Contamos com 21 grupos de trabalho nas cidades, os quais trabalham temas específicos, como o turismo sustentável, a mobilidade e o tratamento do li-xo — conta Luise, que é também a responsável pela Agenda 21 da cidade de Padova, no Vêneto.  

O papel da coordenação é, sobretudo, aquele de facilitar o trabalho das cidades e a realização de seus projetos, dando suporte e colocando em evidência as ci-dades italianas. Uma assembleia

é realizada anualmente, quan-do os participantes apresentam documentos, com espécies de manuais gerais de conduta so-bre como as cidades devem se adaptar às mudanças climáticas. Na reunião deste ano, realizada no final de maio, em Florença, e com a participação do minis-tro italiano do Meio Ambiente, Corrado Clini, os participantes falaram sobre a Rio+20. Em nota oficial, o presidente da Coorde-nação das Agendas 21 italianas, Emanuele Burgin, afirma que um dos papéis da conferência é o de atualizar a Agenda 21 e promover uma reflexão sobre suas dificul-dades e sobre sua renovação. Mas é necessário que haja um “escla-recimento sobre quem faz o que, para evitar sobreposições”, além de “uma melhor definição do pa-pel das instituições e das agências técnicas”, completa Burgin.

Falta de financiamento impede projetosA maior parte das iniciativas se concentra no centro e no norte da Itália. Recentemente, Gênova ganhou destaque por ser a úni-ca cidade da Europa a obter três financiamentos para o projeto smart cities da União Europeia.

— Milão, Turim e Padova também contam com bons níveis de realização, além de Bolonha, Modena, Ancona, Bari e Reggio Emilia, entre outras. No sul, temos cidades que estão trabalhando bem, mas são como casos mais

Chegamos a uma fase em que todos entendemos

que precisamos da sustentabilidade, só que não temos fundos para

fazer isso. É um enorme desafio e precisamos

descobrir como resolvê-loDaniela Luise,

diretora da coordenação das Agendas 21 italianas

locais, realizando fóruns, cursos e encontros, e redigindo um plano de ações locais, conta à Comuni-tà a diretora da coordenação das Agendas 21  locais, Daniela Lui-se. Hoje, são diversas as cidades italianas que desenvolveram e concluíram projetos nos mais va-riados setores, como programas educativos nas escolas, incenti-vo ao uso de meios de transporte não poluentes, valorização de produtos agrícolas locais, requa-lificação de instalações elétricas, o aumento de áreas verdes e cole-ta diferenciada do lixo. A Agenda 21 é independente do governo italiano, que apoiou e financiou projetos até 2002, ano em que foi publicado o último edital.

— Mesmo sem termos mais financiamentos governamen-tais, a agenda seguiu adiante e

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desmate na amazônia tem queda recordeO governo anuncia uma queda de 45% no desmatamento da Amazônia entre 2008 e 2009. É a menor taxa desde 1998, quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a realizar o mapeamento via satélite.

Brasil leva metas para a Conferência do ClimaO Brasil anunciou metas voluntárias de redução dos gases-estufa, que foram levadas para as COP-15, conferência do clima em Copenhague, Dinamarca. O Brasil se propôs a reduzir as emissões entre 36% a 39% até 2020 e reduzir o desmate em 80%. Mas a conferência decepciona: líderes não conseguem fechar acordo global pelo clima.

Vazamento de petróleo afeta golfo do méxicoApós explosão em plataforma de petróleo operada pela britânica BP, o golfo do México foi a vítima do maior vazamento de petróleo da história: mais de 700 milhões de litros poluíram as águas e afetaram a vida marinha em cinco estados americanos.

2009

2009

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isolados e não em alta difusão, como no norte e no centro, onde várias cidades pequenas, médias e grandes têm belas experiências. Em Nápoles, onde a prefeitura mudou, estão acelerando mudan-ças, inclusive em relação ao lixo e à gestão da água, que tornou a ser pública, pois era privatizada — detalha a ambientalista.

Ao ser perguntada sobre os principais entraves enfrentados hoje pela Agenda 21, a diretora não tem dúvidas: a falta de di-nheiro. Muitas cidades poderiam estar prontas para realizar muitos projetos de sustentabilidade. Po-rém, não há mais fundos, alerta.

— O problema principal nes-te momento na Itália e também na Europa é econômico. Os finan-ciamentos da UE ainda existem, mas estão diminuindo. Faltam os financiamentos do Estado, que an-tes existiam. Não eram simples de se obter, mas, se uma cidade apre-sentava um projeto importante, encontrava um modo de financiá-lo. Hoje não. Chegamos a uma fase em que todos entendemos que pre-cisamos da sustentabilidade, só que não temos fundos para fazer isso. O que é um enorme desafio, e precisamos descobrir como resol-vê-lo — ressalta Daniela Luise.

Atualização e implementação brasileiraNo Brasil, em fevereiro de 1997, um decreto presidencial criou a Comissão de Políticas de De-senvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional — a CPDS

— uma comissão paritária, forma-da por representantes do governo, do setor produtivo e da sociedade civil, sob a coordenação do Minis-tério do Meio Ambiente. A CPDS definiu seis temas prioritários: cidades sustentáveis; agricultura sustentável, gestão de recursos naturais; redução das desigual-dades sociais; infra-estrutura e integração regional e ciência & tecnologia para o desenvolvimen-to sustentável. No início de 2002, a tempo de ser apresentada na Cúpula da ONU em Johannes-burgo, a Agenda 21 brasileira foi lançada. Anos mais tarde, o go-verno utilizou o texto para fazer o Plano Plurianual do Governo, o PPA 2004/2007, o que lhe con-fere maior alcance, capilaridade e importância como política públi-ca. O programa é composto por três ações estratégicas que estão

Daniela Luise (à direita), diretora da coordenação das Agendas 21 italianas, recebe mais um prêmio em reconhecimento pelos projetos ambientais realizados na cidade de Padova

sendo realizadas com a sociedade civil: implementar a Agenda 21 Brasileira; elaborar e implementar as agendas 21 locais e a formação continuada em Agenda 21.

A chefe da Divisão de Temas Emergentes do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, Kathleen Abdalla, des-taca que a Rio+20 será uma “boa oportunidade” para países ava-liarem seus esforços na aplicação do programa.

— Se olharmos para trás, para a Agenda 21, veremos que muita coisa foi feita, mas ainda temos grandes objetivos que ainda não foram alcançados. A conferência será uma boa oportunidade para os países membros negociarem, mas também para verem o que funcionou e o que não funcionou e o que vão fazer para avançar no assunto.

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euro entra em criseGrécia, Espanha Portugal e Irlanda acumulam déficit nas contas públicas, colocando a moeda única sob ameaça de colapso. UE (União Europeia) e FMI impõe um impopular plano de austeridade à Grécia.

2011

Brasil passa à sexta economia do mundoBrasil ultrapassa o PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido e se torna a sexta economia do mundo. Na frente do Brasil estão Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França. Debilitada pela crise financeira, a economia do Reino Unido ficou na sétima posição.20

11

mudança no novo Código Florestal causa polêmicaA proposta de alteração do Código Florestal, aprovada na Câmara dos Deputados, opõe ambientalistas e produtores rurais. ONGs consideram o texto um retrocesso, pois tende a flexibilizar as áreas de proteção ambiental nas propriedades rurais.

2010

Appartengo alla TerraAppartengo alla Terra. E

come me tutta l’umani-tà, e ogni forma di vita. Piante e foreste, frutti e

fiori, e ancora fiumi, monti, animali d’ogni specie e tutto ciò che il lavoro umano ha plasmato e trasformato nel tempo.

San Francesco la chiamava so-rella e madre, che ci governa e dà sostentamento. E per essa rendeva lode al creatore. La Terra non ap-partiene a nessuno o non dovrebbe appartenere a nessuno; i suoi frutti appartengono a tutti o dovrebbero appartenere a tutti.

Eppure l’avidità di pochi prende possesso di immensi spazi, estro-mette intere comunità, distrugge la bellezza del paesaggio e la fertilità dei suoli. Gli arroganti prevalgono sugli umili.

Umile da humus, colui che è vici-no alla Terra.

Da sempre amo quella parte di umanità che si prende cura della Terra, non ho mai capito perché vie-ne considerata come l’ultima ruota del carro.

Le alte gerarchie del sapere, della conoscenza e della politica non lasciano spazio ai contadini,

ai pastori, ai pescatori e alla parte più sensibile di essi: le donne, gli anziani e gli indigeni. Eppure grazie a loro condi-vidiamo il cibo, energia della vita; essi conoscono le cose intime della natura, le proprietà delle erbe, il cambiamen-to del tempo, i movimenti delle stelle, le fasi della luna, le buone pratiche di accudire l’orto e allevare gli animali. Fi-gli della Terra sanno governare il limite nelle loro azioni, con la natura e con la Terra praticano la vera economia.

I nostri conti non tornano. At-tenzione, però: non si tratta solo di contabilità finanziaria, dei movimenti di denaro che non producono più accu-mulo e ricchezza. E’ con la Terra, è con la natura che i nostri conti non torna-no. Da troppo tempo consumiamo e sprechiamo più di quanto produciamo. Prendiamo più di quanto diamo.

Riconciliarci con la Terra è l’unico modo per voler bene a noi stessi e agli altri, e forse è anche l’unico modo per uscire dalla crisi. Le buone pratiche della lotta allo spreco, della condivi-sione e del dono, del ritorno alla Terra si realizzano con lentezza, senza fre-nesia e ansia. La Terra ci ricorda il valore del tempo che sana le ferite; c’è più tempo che vita e denaro, dicevano i nostri vecchi.

Proprio perché abbiamo la sen-sazione di avere toccato il fondo e ci sentiamo con il culo a mollo sento che il nostro spirito deve essere più deter-minato e propenso a vivere con letizia il cambiamento.

La comunità terrestre che ha a cuo-re il cambiamento è chiamata a reagire ora, bando al magone e allo scoramento, siamo in tanti e in buona compagnia.

Forse è giunto il tempo di ascoltare i consigli del buono e saggio Gargantua, figlio di Gargamagna e Gargamella:

Qui si sta in letizia,qui non c’è malizia,qui non vi sono eccessi onde imbastir processi. Qui non entrate, pitocchi e avari,usurai, leccapiatti, mangia gatti,taccagni, lesinai,intenti solo ad ammucchiar denari,mai contenti di quelli già fatti;curvi e ricurvi sulle vostre ciotolecolme e ricolme a ricontar i millee mille e mille e a far rotoli e le pile. Sano il corpo,lieto il cuore,qui regna l’amicizia,lode ed onoreMeglio di riso che di pianto scriverePoiché è dell’uomo e di lui solo il ridere. Vivete lieti.

* Gastronomo, giornalista e scrittore italiano, fondatore del

movimento culturale slow Food

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opinioneCarloPetrini*

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ItalianStyle

A moda ecofriendlyArtigos de luxo, mas com consciência ecológica, traduzida nos materiais reutilizáveis e na preocupação com organizações beneficentes. É a nova onda ecofriendly das grifes italianas. Confira alguns dos últimos lançamentos, entre grifes famosas com coleções especiais ecológicas, e marcas exclusivas com linhas de produtos sustentáveis.

Ferragamo World

A linha de sapatos masculinos Ferragamo World apresenta

sola de borracha biodegradável, feita com materiais à base de

água. Parte da renda obtida com as vendas da coleção

foi destinada ao Acumen Fund, uma organização sem fins lucrativos que investe

em negócios que assistem populações carentes na Ásia

e na África. A coleção traz vários modelos de estilo

urbano e casual, desde botas e mocassins até sapatos esportivos. Preço: € 220

www.ferragamo.com

EcofriEndly

Sole A coleção de echarpes de luxo feitas com

tecidos orgânicos e ecológicos é da 2ADD, grife da cidade italiana de Como, que produz exclusivamente roupas com fibras naturais

selecionadas, tingidas e tratadas com métodos eco-sustentáveis. A coleção Sole é feita em seda tingida com corantes vegetais naturais e efeito enrugado. Disponível em

várias cores. Preço: € 60www.2add.it

Óculos em madeira líquida A Gucci, em parceria com a Safilo,

lançou, em 2012, os primeiros óculos escuros feitos em madeira líquida: trata-se de um material biodegradável inovador, nunca antes utilizado na produção de

óculos e substituto do plástico. Em sua formulação original, o material de madeira líquida é composto de

elementos naturais de plantas: fibra de madeira de florestas

controladas por reflorestamento, lignina derivado do papel e ceras naturais. Preço: Sob consulta

www.gucci.com

LP Bag A LP Bag é o modelo mais famoso

e exclusivo da grife de Bolonha Momaboma, que trabalha apenas com

materiais reciclados para produzir bolsas e acessórios que já se tornaram

clássicos na Itália. O modelo é realizado com quatro discos de vinil autênticos e

mede 30x30x12 cm. Preço: € 214shop.momaboma.it

Bolsas com pedaços de carros

A marca italiana de acessórios sustentáveis Carmina Campus desenvolveu uma edição

limitada de bolsas feitas com partes de carros, como telas de tetos conversíveis e estofados. O material utilizado para confecção das peças

é proveniente da produção dos automóveis Mini Roadster, da BMW, recém-lançados no mercado. Todos os materiais consistiam em retalhos e pedaços que não seriam utilizados pela fábrica e seriam descartados. A coleção

inclui diversos modelos de bolsas, entre femininas e masculinas. Carmina Campus é um projeto da designer Ilaria Venturini

Fendi que, desde 2006, desenvolve coleções de acessórios de moda feitos de materiais

reciclados. Preço: € 300 a 700www.carminacampus.com

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A Conferência de Cope-nhague sobre Mudanças Climáticas (2009) foi con-siderada, por muitos,

como um fracasso, de certa forma. Não chegou-se a um acordo global e no papel resta somente o obje-tivo genérico de conter em dois graus o aumento da temperatura média planetária. O que o senhor espera da Rio+20: um compromis-so global concreto, ou de palavras, como “os primeiros passos na es-trada das boas intenções”?Corrado Clini - A Conferência Rio+20 é muito importante, pois será a ocasião para repetir com força que estamos indo ao encontro do exaurimento dos recur-sos da Terra. Para evitar que se chegue a uma situação dramática de não poder

Novos parâmetros

Em entrevista exclusiva, o ministro italiano do Meio Ambiente, Corrado Clini, antecipa à Comunità que TIM e Telespazio vão participar do projeto de

requalificação urbana de uma favela carioca. Ele também dá detalhes sobre o pavilhão italiano, construído especialmente para a Rio+20, com painéis de energia solar, e revela suas expectavivas sobre a Conferência da ONU. Para Clini, trata-se

de uma “oportunidade para se reforçar a necessidade de medir o progresso com novos parâmetros, sem ter como base o simples bem-estar material”

garantir a todos a sobrevivência, deve-se entender que é necessário uma mudança de mentalidade, com convicção. As mu-danças climáticas que estão marcando esse período de maneira particular re-presentam um sinal de alarme preciso: o planeta já tem dificuldade para reciclar os restos que produzimos e, no Rio, de-vemos chamar a atenção de todos para a oportunidade de mudarmos o atual mo-delo econômico, que é baseado em um crescimento constante e no consumo sem freios. Tal comportamento está le-vando a uma pobreza persistente, e até a um crescimento da pobreza, além da de-gradação intolerável do meio ambiente. Diante desse estado de coisas, a Rio+20

Gina MarquesDe Roma

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A TIM vai implantar os cabos na comunidade, enquanto a Telespazio vai atuar na prospecção do desordenamento hidrogeológico da favela do Leme, um projeto que é fruto da parceria entre a Itália e a prefeitura do Rio

representa uma oportunidade única para lançar um processo de renovação total, renovação no modo de produzir e consumir, da energia à comida, passando pe-los objetos que usamos todos os dias, dentro do modelo da econo-mia verde.

A conferência nos dá ainda a oportunidade de reforçar a neces-sidade de medir o progresso com novos parâmetros, sem ter mais base no simples bem-estar ma-terial, mas atentos à integração social e à conservação do habitat que devemos entregar às novas ge-rações. Esse novo modo de pensar precisa de uma nova linguagem entre as nações, os grupos e as comunidades, reconhecendo que cada opinião é fundamental e que o crescimento sustentável — co-mo demonstra o desenvolvimento do Brasil que, de fato, superou até uma potência econômica do cali-bre da Grã-Bretanha — é a estrada que devemos seguir.

CI - A crise econômica po-de ser um obstáculo para os compromissos de aju-dar os países pobres (US$ 30 milhões para o triênio 2010-2012 e US$ 100 milhões por ano de 2020 em diante), e também para os investi-mentos na economia verde?CC - Sem dúvida, a crise econômi-ca está determinando uma série de dificuldades em nível global, que podem atingir também o res-peito aos empenhos financeiros voltados aos países pobres e os in-vestimentos na economia verde. Uma situação crítica que, porém, não apenas não nos deve desen-corajar, como nos deve empurrar com mais convicção em direção a projetos e ideias capazes de deter-minar uma mudança de passo.

Tenho certeza de que a eco-nomia verde é o instrumento certo para contrastar a crise, re-aquecer a economia e ao mesmo tempo garantir o desenvolvimen-to sustentável das nações, seja as industrializadas, seja as em de-senvolvimento.

Falei do importante cresci-mento econômico do Brasil, que soube se abrir às energias reno-váveis. É evidente que, entre os componentes vários que estão contribuindo com o crescimento brasileiro, está o papel exercido

pelos investimentos feitos na green economy, investimentos capazes de garantir desenvolvimento, bem-estar e respeito ao ambiente. A estrada ainda é longa para o Brasil, e para todos os outros países, mas vejo os sinais positivos.

CI - A Itália conta com um “pavilhão verde” durante a Rio+20, com a presença de mais de 20 empresas italianas. São empresas li-gadas à ecologia? CC - Certamente. A Itália tem a vantagem de reunir empresas ques estão na vanguarda no que diz respeito ao know-how e às tec-nologias em matéria de economia verde. O Brasil tem um grande potencial e estou certo de que os dois países podem colaborar profi-cuamente, assim como demonstra o acordo recente, assinado na mi-nha presença em São Paulo, entre a nossa Mossi-Ghisolfi e a Graal-Bio, para produzir biocarburantes.

Acolho a ocasião para ressaltar o empenho da Enel Green Power no campo das energias renováveis, graças a uma série de projetos, dis-tribuídos no mundo e no Brasil, que estão levando energia renová-vel aos ângulos mais remotos do planeta. Menciono particulamen-te o pavilhão italiano na Rio+20. Na projetação, na construção e nos móveis, privilegiou materiais reciclados e reutilizáveis, como simples caixotes de madeira e apoios para pallets, além da au-tonomia na produção energética através da instalação vertical de 1000 m² de painéis solares nas pa-redes externas do pavilhão.

CI - Pode dar mais detalhes do projeto de requalificação urbana em uma comunida-de do Leme que conta com a parceria entre a Itália e a prefeitura do Rio?CC - Sinto-me orgulhoso de como esteja tomando corpo o projeto de requalificação urbana da fave-la carioca do Leme. O programa nasceu de um encontro com o prefeito Eduardo Paes e se arti-cula por meio de uma série de contribuições de estudos italianos de arquitetura e engenharia, com o suporte dos arquitetos da pre-feitura do Rio, coordenados pelo arquiteto Marco Casamonti, do estúdio Archea.

A atividade de definição das in-tervenções para recuperar uma área degradada contou, durante a fase de estudo, com o suporte da TIM Brasil. Esse suporte vai continuar na fase de implementação, seja da parte da TIM, que vai implantar os cabos na comunidade, seja da par-te de Telespazio, que vai atuar na prospecção do desordenamento hi-drogeológico. Está prevista ainda a realização de pontos informativos, de divulgação e educação, que serão feitos pela Infobyte.

CI - Haverá acordos bilate-riais entre Brasil e Itália na área ambiental?CC - Estamos colocando em cam-po uma série de atividades voltadas para a melhoria dos sistemas pro-dutivos, visando a redução das emissões nos campos agrícola e in-dustrial, e a avaliação do cálculo das pegadas de carbono (carboon foot print), em parceria com empresas italianas presentes no Brasil. Além disso, estamos avaliando a possi-bilidade de valorizar produções e tecnologias na área de biocombustí-veis de segunda geração, na América Latina, com o uso de tecnologias, e na África, em áreas produtivas.

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na qual não poupa nenhum dos re-cursos naturais que estiverem em seu alcance. Não se pode pedir a uma pessoa em extrema pobreza e com fome que não derrube uma ár-vore para fazer carvão ou que não passe uma rede de arrasto na praia para pescar os peixes que ele neces-sita para comer — disse Graziano à ComunitàItaliana, durante um encontro na sede da FAO, em Roma.

Segundo Graziano, a paz está relacionada à erradicação da fo-me e ao desenvolvimento:

— Vemos na Rio+20 uma opor-tunidade de integrar duas grandes agendas importantes necessárias

Sustentável e sem fome

Agência da ONU, FAO traz à conferência relatório sobre a transição para agricultura sustentável e defende a integração de

duas agendas: a do desenvolvimento e da erradicação da fome

e sistemas de alimentação. Trata-se de um documento detalhado com 42 páginas que apresenta as possíveis linhas de conduta para acabar com a desnutrição, com a aplicação de recursos que preser-vem a saúde da Terra.

O documento sacode as cons-ciências por mostrar a que ponto a humanidade chegou, usurpan-do os recursos naturais. Afinal, alguns países adotam modelos de agricultura e de desenvolvimen-to enganosos, uns por ganância, outros por necessidade. Entre os vários problemas, o relató-rio aponta a exclusão social. Por consequência, a pobreza acaba sendo o inimigo da preservação do planeta.

— Nós não teremos o de-senvolvimento sustentável enquanto tivermos fo-me e pobreza extrema. A fome tem se revelado uma grande inimiga da natureza, pois um homem faminto não tem nenhuma racio-nalidade na sua busca pela sobrevivência. Pa-ra ele, a sobrevivência é uma luta desesperada,

O desenvolvimento sus-tentável não pode ser alcançado sem a erra-dicação da pobreza.

Esta é a visão da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Afinal, a alimenta-ção, o respeito, a inclusão social e o ambiente estão diretamen-te ligados. A FAO, agência das Nações Unidas, é um dos gran-des alicerces da Rio+20. Para o diretor-geral, o ítalo-brasileiro José Graziano Silva, este grande encontro mundial que trata da saúde do planeta no presente e no futuro não é uma apresentação de utopias. Segundo ele, trata-se de uma oportunidade de ouro pa-ra que o mundo se empenhe em terminar com a vergonhosa fome que ainda aflige mais de 900 mi-lhões de pessoas e faça a transição para uma agricultura sustentável. Identificados os problemas, é pre-ciso caminhar para a solução: um objetivo possível, mas que encon-tra muitos obstáculos.

A FAO elaborou o relatório pa-ra a Rio+20 intitulado Na direção do futuro que queremos – Termi-nando a fome e fazendo a transição para uma agricultura sustentável

Gina MarquesDe Roma

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para o futuro da humanidade: a do desenvolvimento e da erradicação da fome. Acreditamos que estas duas agendas são fundamentais para a sobrevivência e para e paz da humanidade no futuro, porque preserva os seus recursos para as gerações futuras e incorpora os excluídos da atual geração.

Graziano disse também que a entidade vai levar para a Rio+20 propostas com basicamente duas dimensões:

— A primeira é que a agricul-tura, a pesca e o reflorestamento não são apenas parte dos pro-blemas que nós temos hoje, mas podem ser parte da solução. No entanto, esta transição para uma agricultura sustentável tem um grande custo e é preciso saber quem financia.

Técnicas de agricultura sustentável predominam nos trópicosA segunda linha da FAO é mostrar que já existem, hoje, as tecno-logias disponíveis para aplicar esta agricultura sustentável. Tais tecnologias devem respeitar a di-versidade das áreas, por exemplo, os países tropicais devem apli-car suas próprias técnicas e não copiar dos países temperados por-que acabam por danificar a terra.

— As tecnologias de agricultura sustentável estão predominante-mente nos países de agricultura tropical, que são países em desen-volvimento, como os da América Latina e da África. Nós já temos práticas conservacionistas, como o cultivo direto em que não se revol-ve o solo. O revolvimento do solo em áreas tropicais é uma imitação muito perversa do que fazem os agricultores nas áreas temperadas, que usam o gradeamento do solo e essa aração superficial para acele-rar o degelo na primavera. Como os países tropicais não têm gelo e nem o congelamento do solo, não há sentido fazer esta escarificação do solo no início da primavera, o que só acelera a erosão – explicou o diretor geral.

Graziano cita outro exemplo característico de tecnologia do-minante nas culturas tropicais: os insetos.

— Os países tropicais têm grandes quantidades de inse-tos, enquanto os países de clima temperado procuram matar os

insetos para que eles não voltem a se reproduzir na primavera. No entanto, nos países tropicais, os insetos se reproduzem diariamen-te e todas as ações preventivas têm que ser repetidas em uma enorme quantidade que, além de encarecerem o produto, afetam significativamente o meio am-biente e as águas, que constituem o recurso mais escasso para a ex-pansão da agricultura no mundo. Nós temos desenvolvido práticas de controles biológicos na África e no Brasil, através da Embrapa, e em outros países tropicais, muito mais eficientes nos controles das pragas e outras enfermidades.

Esses tipos de tecnologias que a FAO está levando para a Rio+20 — publicadas no livro Save and Grow (Preservar e Crescer) — pro-põem um menor uso de insumos e maquinários para aumentar a pro-dutividade e manter a conservação dos recursos naturais. O modelo de produção preserva e reforça as re-servas naturais, graças a uma série de práticas agronômicas que per-mitem uma melhor gestão do solo, limitando os efeitos negativos na sua composição e contribuindo a reduzir a necessidade de água e os

custos energéticos. O rendimento dos agricultores que seguiram em via experimental a técnica, apli-cada em 57 países de baixa renda, aumentou cerca de 80%.

A FAO também pretende incentivar o cooperativismo. Se-gundo Graziano, a união entre os pequenos pode dar grandes resul-tados.

— A América Latina e a Áfri-ca são dois continentes onde a expansão do cooperativismo é necessária, pois nestas áreas a agricultura de subsistência ainda é predominante entre os pequenos

produtores. Portanto, promover a união entre os pequenos agricul-tores é muito importante.

Por trás do arroz, do feijão e do bife existe uma cadeia de pro-dução, distribuição e consumo com impacto direto nos recur-sos planetários. Por incrível que pareça, a causa principal das mudanças climáticas está liga-da à nossa comida. Segundo os estudos da FAO, estima-se que 30% dos gases poluentes estão relacionados ao modo com que produzimos, distribuímos e con-sumimos os alimentos. Já os

transportes que não estão ligados ao setor da alimentação provo-cam 17% de poluição. O papel da FAO é proporcionar conhecimen-to, através de estudos e análises, fornecer assistência técnica e rea-lizar projetos juntamente com os 192 países membros, de acordo as necessidades e com um pro-grama detalhado. O vasto campo de ação abrange pecuária, pesca, florestas, reservas hídricas, bio-diversidade e desenvolvimento sustentável, além de tratar de problemas como doenças, pragas e mudanças climáticas.

Não se pode pedir a uma pessoa em extrema pobreza e com fome que não derrube uma árvore para fazer carvão ou que não passe uma rede de arrasto na praia para pescarJosé Graziano, diretor-geral da FAO

A FAO acredita que o desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado sem a erradicação da pobreza e da fome

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contaminação com pesticidas são alarmantes. Em 2009, uma pes-quisa do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Ali-mentos, realizada em 26 estados brasileiros, alertou que substân-cias proibidas ou utilizadas acima do limite permitido tiveram seus resíduos encontrados em amos-tras de alimentos. E ainda, a maior parte das frutas, verduras e legumes em milhares de pon-tos de venda nacionais não tem a origem identificada, isto é, não é possível saber a sua procedência. A Organização Mundial da Saúde estima que, anualmente, entre 3 e 5 milhões de pessoas sejam into-xicadas no mundo. No Brasil, os agrotóxicos são a segunda maior causa de intoxicação depois de medicamentos, de acordo com o Ministério da Saúde.

A FAO, agência da ONU para Agricultura e Alimentação, sugere o cultivo de orgânicos em nível mun-dial como uma forma de ajudar no combate à fome e ao mesmo tempo

Orgânicos para matar a fome

Um dos temas da Rio+20, a segurança alimentar ganha cada vez mais importância para milhões de pessoas em todo o mundo e gera o aumento do mercado de alimentos orgânicos, na contramão da crise econômica europeia

A questão segurança alimen-tar e nutricional preocupa tanto os ambientalistas e instituições internacionais que virou tema de um debate específico durante os “Diálogos para o Desenvolvimen-to Sustentável  Rio+20”, no dia 17 de junho. Dez especialistas foram convidados para participar da me-sa, como Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, que nasceu na Itália e ganhou o mun-do em prol do alimento limpo e justo; Marco Marzano, diretor da Organização Mundial de Agricul-tores; Renato Maluf, do Centro de Referência em Segurança Alimen-tar da UFRRJ; Hortensia Hidalgo, da Rede de Mulheres Indígenas sobre Biodiversidade da América Latina; Luísa Dias Diogo, ex-pri-meira ministra do Moçambique; Maria Estrella Penunia, da As-sociação Agrícola Asiática para o Desenvolvimento Sustentável Rural; Mary Robinson, diretora do Instituto Internacional para o

Meio Ambiente e Desenvolvi-mento (IIED); e Vanda Shiva,

diretora da Fundação de Pesquisa para Ciência,

Tecnologia e Ecologia da Índia. De acordo com a organização da Rio+20, um documento final deverá ser assinado pe-los participantes e as reuniões serão trans-mitidas pela internet.

Apesar de não existir, ainda, um

consenso científico sobre as diferenças sig-

nificativas na composição nutricional dos alimentos

orgânicos comparados aos convencionais, os dados por

O quinto maior país do mundo e Estado se-de da Conferência das Nações Unidas sobre

Desenvolvimento Sustentável de 2012 lidera o ranking mundial no uso de agrotóxicos, com menos de 2% de seus estabelecimentos praticando o cultivo de alimentos orgânicos. Cerca de 30% dos quase 330 milhões de hectares produti-vos encontram-se ocupados pela criação de bovinos, apontam os resultados do mais recente censo agropecuário do IBGE, datado de 2006. Em 2008, o país ultrapas-sou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior consumidor mun-dial das substâncias.

Cintia Salomão Castro46

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como meio de aplacar as mudanças climáticas, além de evitar os male-fícios das substâncias químicas à saúde de produtores e consumido-res, e de não prejudicar os recursos naturais como a água, o solo e o ar. A organização considera que o alto uso de agrotóxicos colabora para dificultar o acesso aos alimen-tos. Para o pequeno agricultor com menos recursos, representa um sistema de produção mais justo e menos custoso, ressalta a respon-sável pelo grupo de trabalho da FAO dedicado à agricultura orgâni-ca, Nadia El-Hage Scialabba.

— O problema agrícola, no entanto, é mais complexo do que a qualidade de produção. A fome está aumentando e aumentará cada vez mais. Infelizmente, não espero muito avanço da Rio+20 sobre o assunto, mas torço para que a agenda dos movimentos ci-vis e sociais seja mais forte do que a agenda oficial, que não é “nem carne nem peixe”. Há 20 anos, existiam mais avanços do que hoje. E a atual crise econômica dificulta a questão da sustentabilidade – disse à ComunitàItaliana.

Mesmo com a falta de com-provação no que diz respeito maior concentração de vitami-nas, minerais ou fibras dietéticas, o presidente da Associação Brasi-leira de Nutrologia, Durval Ribas Filho, explica que a escolha pelo produto orgânico é já um ponto positivo na saúde do consumidor.

— As pessoas que aderem aos alimentos orgânicos estão mais preocupadas com sua saúde nu-tricional e certamente têm um direcionamento mais adequado na escolha dos alimentos con-siderados mais saudáveis. Esse fato  por si  já mostra que essas pessoas se alimentam melhor, de forma mais equilibrada, mais adequada e consequentemente possuem uma dieta mais saudá-vel. Em suma o beneficio maior está na escolha individual do ali-mento por parte do consumidor e não efetivamente na composição nutricional do produto orgânico.

Aumenta a demanda pelo biológico no Brasil e no mundoApesar do negócio colossal dos agrotóxicos, o  mercado de orgâ-nicos registrou um crescimento de 40% de 2009 para 2010, com

as vendas internas alcançando R$ 350 milhões em 2010 ao ano. Quanto às exportações, a curva também sobe: as empresas cadas-tradas no projeto Organics Brasil aumentaram suas vendas ao exte-rior em 30%. Na Itália, o mercado biologico, como é chamado, tam-bém cresce, vendo as setas da crise despencarem em relação aos produtos convencionais. Enquan-to a distribuição dos alimentos convencionais na Itália em 2011 teve crescimento zerado, os bio-lógicos continuam a crescer. No ano passado, a distribuição em supermercados aumentou em 9%, e em 11% nos anos anterio-res, revela um levantamento da Federação Italiana de Agricultura Biológica e Biodinâmica.

Se a demanda aumenta no Brasil e no mundo, por que a pre-sença orgânica é tão discreta em solo brasileiro? Herança históri-ca, timidez de políticas públicas, pouca educação alimentar junto à população. Um conjunto de fato-res explica essa palidez, explicam agrônomos e especialistas, co-mo o professor Renato Maluf, da UFRRJ, único brasileiro convidado para discutir o tema da seguran-ça alimentar durante a Rio+20. Preocupado com a qualidade da alimentação dos bilhões de habi-tantes do planeta, ele ressalta que “o mundo precisa urgentemente revisar a maneira com que pro-duz e consome alimentos, pois a dieta alimentar dos últimos anos tem gerado cada vez mais casos de obesidade e diabetes”.

O especialista destaca que o modelo dominante no Brasil é o agronegócio, que não colabora com o desenvolvimento dos orgânicos.

Pratica-se a agricultura orgânica em menos de 2% da área agrícola brasileira e em 8,6% da superfície italiana. O consumo de produtos livres de agrotóxicos cresce em ambos os países

— O Brasil patrocinou o agro-tóxico, um modelo que precisa ser revisto. A modernização da agricul-tura brasileira vem desde os anos 50, se intensificou nos anos 60 e 70, à medida que se expandiram a exportação e a pecuária. A maior parte do que é consumido na mesa do brasileiro vem da agricultura fa-miliar, cuja maioria usa agrotóxicos, mas o modelo principal é voltado para a exportação — explica Maluf à ComunitàItaliana.

A reforma agrária ainda por fazerO Brasil apresenta uma estrutura agrária pouco alterada nos últimos anos, aponta o censo do IBGE de

A responsável pelo tema agricultura orgânica da ONU, a ambientalista Nadia El-Hage Scialabba: cultivo sem agrotóxicos tem papel importante no combate à fome no mundo, pois gera menos custos para o agricultor com poucos recursos

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Câmara no mês passado, que pre-vê a expropriação de terras, sem indenização, destinando-os à reforma agrária, em caso de tra-balho escravo. Já a proposta de inconstitucionalidade do artigo 68 da Constituição que garante terras aos quilombolas, a ser exa-minada pelo Supremo Tribunal Federal, a preocupa.

Sobre a Rio+20, a presiden-te do Consea aposta suas fichas na Cúpula dos Povos, por ser um momento “muito interessante de diálogo e propostas”.

— A cúpula oficial se esvazia um pouco, pois não será o lugar de avaliação da Eco92, já que as discussões estão muito em torno da economia verde. E eu concor-do com o conceito de economia verde como sendo o próprio capi-tal encontrando novos caminhos para gerar mais lucro — define.

Renato Maluf também não es-pera muito da parte dos governos em relação à segurança alimentar durante a Rio+20.

— Os países desenvolvidos não estão muito dispostos a ações, mas a União Europeia tem dado mais sinais de aceitação à discus-são do assunto do que os Estados Unidos. O documento oficial da conferência não mostra avan-ços da parte dos governos, mas é importante que o debate seja rea-lizado na Rio+20, principalmente por causa das organizações que lá estarão reunidas.

O mercado de agrotóxi-cos movimenta cerca de R$ 11 bilhões por ano. E competir com ele significa investir sem

Mulheres com alto nível de escolaridade consomem mais orgânicos

Não é somente o perfil dos agricultores de alimentos

orgânicos que chama atenção pelo alto nível de instrução e presença feminina. Tais ca-racterísticas se repetem entre os consumidores de produtos certificados como biológicos. As sondagens italianas apon-tam a prevalência de mulheres com alto nível de instrução. No Brasil, não é diferente. Pesqui-sa da Organic Services e Vital Food mostra que nada menos que 69% de consumidores de orgânicos são mulheres, sendo 29% entre 31 e 45 anos de ida-de e 39% entre 46 a 60 anos.

A estrutura da propriedade agrária na Itália é

razoavelmente democrática, predominando a pequena

propriedade. Foi a base para um modelo baseado

em pequenas e médias indústrias e de semelhança

entre o padrão de vida na cidade e no campo. Tudo ao

contrário do BrasilJoão Stédile, do MST

2006. As propriedades com mais de mil hectares representam 43% da área total e aquelas com menos de 10 hectares ocupam 2,7% da extensão analisada, ou seja, a mes-ma situação detectada nos censos de 1985 e 1995. Perguntamos a alguns especialistas se a expansão dos orgânicos pode esbarrar nessa característica de concentração.

Para Renato Maluf, a dis-tribuição de terra atual causa desigualdade e favorece esse mo-delo agrícola que temos.

— A reforma agrária é impor-tante para o desenvolvimento e deve ser feita, desde que acom-panhada por um modelo agrícola sustentável, que os agricultores sejam assistidos e que não fiquem “ao sabor do mercado” — defende.

A presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimen-tar e Nutricional, Maria Emília Pacheco, acredita que a distri-buição fundiária brasileira não causa tantos entraves ao orgâ-nico, mas sim ao agroecológico, que não admite a monocultura. Ela defende a transição para o agroecológico, que contempla não apenas o cultivo livre de pes-ticidas, mas métodos familiares socialmente justos, economica-mente viáveis e ecologicamente sustentáveis. Enquanto o pri-meiro pode ser aplicado em uma monocultura de grandes di-mensões e único proprietário, o segundo método não admite ex-clusividades aplicadas na maior parte do solo brasileiro, explica.

— Para que haja expansão da agroecologia, precisamos da

reforma agrária. O orgânico po-de ter monocultura, mas não o agroecológico, que prevê diversi-dade na combinação de culturas. O resultado na colheita é a va-riedade. Continuamos com uma grande concentração de terras e não temos uma quantidade de as-sentamentos suficiente para dizer que houve reforma agrária no país — avalia.

Ao mesmo tempo, ela res-salta avanços como a criação do Programa de Aquisição de Alimentos e a Lei de Alimenta-ção Escolar, determinando que 30% dos alimentos devem vir da agricultura familiar, além da Proposta de Emenda à Constitui-ção (PEC) 438/01, aprovada pela 48

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ajuda significativa. Mas a maior parte dos incen-tivos vai para os grandes produtores, comenta o diretor do Instituto de Agronomia da UFRRJ, Antonio Carlos de Souza Abboud.

— Existe um paradoxo em relação à estrutura fundiária, com mais de 80% dos alimentos con-sumidos no Brasil provenientes da agricultura familiar e a maior parte da área nas mãos de gran-des proprietários. As grandes extensões de terra estão com cultivo de produtos de exportação: são as commodities, a soja, o açúcar. E os maiores incen-tivos do governo vão para os grandes produtores.

Além disso, a exploração pecuária é pouco ra-cional, afirma Abboud, “com pastagens de uso indevido e predatório, deixando um rastro de des-truição até na área florestal, como vemos no Pará, nas regiões vizinhas ao Pantanal e na Amazônia”.

O produto mais importante do Brasil é a soja, com o preço no mercado internacional sempre muito alto, o que garante um retorno imediato aos empresários, cujos maiores clientes são os asiáticos.

— Esse cultivo traz muita riqueza ao Brasil, na Bahia, no Piauí, nas beiradas do Pantanal, mas com prejuízos. Herbicidas foram detectados nos mananciais próximos ao Pantanal. O modelo agroalimentar é uma cadeia regida por um nú-mero pequeno de corporações, desde a produção da semente, transformação, máquinas, até a me-sa do consumidor — alerta.

A estrutura fundiária no Brasil e na Itália À ComunitàItaliana, João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem-Terra, afirma que a falta de garantia de acesso a terra dos camponeses prejudica a difusão de uma agricultura mais sadia e adequada.

— A grande propriedade, o latifúndio, pen-sa apenas em lucro, e destroem o meio ambiente para atingir seus objetivos. O Brasil tem uma eco-nomia cada vez mais dependente dos interesses dos capitalistas internacionais, que delegaram a nós apenas o papel de produzir matérias-primas agrícolas, as commodities, os minérios e a ener-gia barata para eles.

Perguntado sobre como anda a reforma agrá-ria no país, ele afirma que ela nunca existiu no Brasil, “no sentido de ser uma política ampla, do estado e do governo para garantir terra a todos camponeses e estar adequada a um projeto de in-dustrialização e de mercado interno”.

— Houve apenas alguns assentamentos, com a desapropriação de algumas fazendas, que não alteraram a estrutura de propriedade cada vez mais concentradora. Apenas 2% dos gran-des proprietários controlam metade de todas as terras. Temos fazendas com mais de um milhão de hectares e a maior lavoura de soja do mun-do, com 250 mil hectares de área contínua. Do outro lado, temos quatro milhões de famílias de camponeses sem terra. E a reforma agrária não consegue avançar, pois falta um projeto de desenvolvimento para o país, que combine democratização da propriedade com industriali-zação nacional e distribuição de renda.

Alimentos com resíduos de agrotóxicos no Brasil

91,8%

63,4%

57,4%

54,2%

49,6%

32,8%

32,6%

31,9%

30,4%

16,3%

12,2%

8,9%

7,4%

6,5%

6,3%

4,0%

3,1%

0%

Índice de alimentos com níveis de agrotóxicos acima do permitido. Os efeitos à saúde são cumulativos, a longo prazo, como problemas no sistema nervoso, câncer ou alterações fetais

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Fonte: Anvisa / 2010

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A dimensão média dos estabe-lecimentos agrícolas, na Itália, é de 10,6 hectares, aponta o censo agrícola do Istat, divulgado em 2011. Cerca de 19% da superfície agrícola italiana estão ocupadas por empresas com menos de cinco hectares, enquanto aquelas com pelo menos 20 hectares aboca-nham cerca de 55% da área total. Para João Stédile, do MST, a es-trutura da propriedade da terra na Itália é “razoavelmente demo-crática, predominando a pequena propriedade e os camponeses”.

— Isso é o fruto de muitas lutas e de processos de reforma agrária. E também foi a base para o desenvolvimento de um modelo industrial baseado em pequenas e médias indústrias, e também de maior semelhança entre o padrão

de vida da cidade e do campo. Tu-do ao contrário do Brasil. Por isso, certamente o modelo agrícola ita-liano baseado nos camponeses e na integração com a indústria e com as cooperativas representa um belo exemplo alternativo. Em-bora cada país deva construir seus próprios modelos de organização da produção agrícola – analisa.

Biológicos made in Italy exportados em toda a EuropaEnquanto o cultivo sem herbici-das existe em menos de 2% das terras cultivadas brasileiras, a Itália pratica a agricultura bioló-gica em 8,6% de sua superfície, revela o levantamento mais re-cente do Inea, o Instituto italiano de Economia Agrária, de 2010. O

processo de estabilização do se-tor de orgânicos segue adiante na Itália, consolidando a própria po-sição no sistema agroalimentar do país, com melhor desempenho na conjuntura econômica desfa-vorável do atual período, diz o relatório do órgão. O crescimen-to em relação ao ano anterior foi de 0,6% e hoje ocupa 1,1 milhão de hectares. Em números absolu-tos, o Brasil está na frente devido à sua maior extensão, com cerca de quatro milhões de hectares, embora proporcionalmente este-ja abaixo da performance italiana. Quase 60% dos produtores são do sul da Itália, embora dois terços dos exportadores se concentrem no centro e no norte. Segundo estatísticas de associações do se-tor, a Itália ocupa o quinto lugar

Grupos da atividade econômicadistribuição dos estabelecimentos

produtores orgânicos

Absoluta Percentual (%)

Total 90.497 100

Produção de lavouras temporárias 30.168 33,34

Horticultura e floricultura 8.900 9,83

Produção de lavouras permanentes 9.557 10,56

Produção de sementes, mudas e outras formas de propagação vegetal 52 0,06

Pecuária e criação de outros animais 38.014 42,01

Produção florestal – florestas plantadas 1.638 1,81

Produção florestal – florestas nativas 1.644 1,82

Pesca 153 0,17

Aquicultura 371 0,41

Distribuição dos estabelecimentos produtores de orgânicos, segundo os grupos da atividade econômica

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.

Giuseppe Pagano, proprietário da

vinícola biológica San Salvatore;

o professor Renato Maluf,

único brasileiro convidado a falar sobre segurança

alimentar em evento da Rio+20;

e João Pedro Stédile, do MST

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Distribuição das compras domésticas do setor orgânico por categorias de produtos em 2010 na Itália

no ranking mundial do consumo de orgânicos, liderado pelos Esta-dos Unidos, e os hipermercados são os principais pontos de venda. A maioria dos consumidores de biologici está nas cidades do nor-te, com destaque para as vendas nos supermercados do nordeste, a exemplo da região do Vêneto. Há uma forte tendência italiana para a comercialização e transformação de produtos primários, às vezes importados de outros países.

A empresa Abafoods pode ser considerada um exemplo dessa tendência do mercado italiano. Situada na província de Rovigo, no nordeste do país, ocupa 500 hectares e produz bebidas vege-tais orgânicas, derivadas de arroz, milho e soja. Exporta para toda a Europa, além da China, Austrá-lia e Canadá. A empresa acabou de fechar um acordo diretamen-te com a rede de supermercados Pão de Açúcar, explica o sócio e administrador delegado, o ítalo-brasileiro Andrea Tonelleri.

— Vamos vender 12 produtos para a rede em todo o Brasil. Não encontrei facilidade para expor-tar no Brasil e os impostos são um pouco altos. Nossos produtos são uma necessidade para quem tem intolerância ao glúten e à lactose. Deveria haver mais flexibilidade no pagamento de impostos. O re-sultado é que o consumidor que precisa desse alimento acaba pa-gando esse preço final.

A Abafoods é uma das poucas empresas italianas de orgânicos que conseguiu entrar no mercado brasileiro. O primeiro importador das marcas italianas é a Alema-nha, seguida de França e Áustria, acompanhadas pelos outros países europeus, além de Estados Unidos e Japão. Malásia, China, Austrália e Arábia Saudita também são clien-tes das empresas bio italianas.

O perfil dos produtores or-gânicos na Itália difere daquele convencional, explica à Comuni-tà o representante da FederBio.

— Um quarto das empresas é administrado por mulheres. Além disso, 65% têm menos de 50 anos, enquanto o típico agri-cultor italiano aproxima-se da aposentadoria, 17% são gra-duados e 60% usam a internet. Em geral, têm mais anos de es-tudo e experiência no exterior, sentem-se mais “cidadãos do

mundo”, mais sensíveis à inova-ção. Sabemos também que dessa diversidade depende a propensão ao mercado e também ao merca-do internacional — analisa.

Pinton conta que o proprie-tário de uma empresa italiana de massas e azeites orgânicos, formado em Astronomia, que batizou o seu empreendimento de Sotto le stelle (Sob as estrelas), acabou levando o prêmio de pro-duto mais inovador durante uma feira internacional realizada na Alemanha no ano passado.

Outro fator a ser levado em conta pelo produtor “bio” é a au-sência de um retorno imediato, conforme atesta o proprietário da San Salvatore, que produz vinho biológico na região do Cilento, em Salerno, lembrando que o custo é de cerca 50% a mais em relação ao convencional. Ele acha que vivemos apenas o início do mercado biológico.

— Uma empresa como a nos-sa não poderia competir em nível de preço com grandes fazendas

com 500 ou mil hectares. Em caso de dificuldade de mercado, temos aquele nicho que nos permite seguir adiante. A escolha pelo na-tural, para mim, é a obrigação do futuro das pequenas empresas. Apenas recentemente chegou-se a uma lei europeia que consente es-crever no rótulo “vinho biológico”. Antes, podíamos colocar apenas nas nossas etiquetas “produzido com uvas e agricultura biológica” – conta Giuseppe Pagano, que já exporta o aglianico biologico para vários países.

22%

18%

10%9%

8%

6%

5%

5%4%

10%3%

Frutas e hortaliças frescas e

transformadas

Produtos lácteos

Ovos

Bebidas alcóolicas

Biscoitos, doces confeccionados e salgadinhos

Produtos para crianças

Massas e arroz

Açúcar, café e chá

Azeite e óleos

Pães e substitutos

Outros

Fonte: Ismea/Nielsen

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Carlo Petrini para alguns é um revolucionário. Milhares de pessoas no mundo o consideram

como um mentor. Entre tantas definições, ele é um extraterres-tre, no sentido de extraordinário cidadão da Terra. Este cozinheiro italiano, escritor e jornalista em 1986 teve a ideia iluminada de fundar o movimento Slow Food e em pouco tempo conquistou o mundo. Hoje, o Slow Food re-úne mais de 100 mil associados espalhados em 150 países. A filo-sofia deste movimento é simples: o alimento tem que ser limpo, bom e justo. Princípios básicos e fundamentais para a saúde e preservação da vida, ou seja,

alimento tem que ser bom para quem consome, bom para quem produz e bom para o planeta.

Na Rio+20, a convite da ONU, Petrini vai participar do Diálogo sobre Segurança Alimentar e Nu-tricional, um dos dez Diálogos de Desenvolvimento Sustentável que serão realizados pouco an-tes da Conferência, de 16 a 19 de junho. Os resul-tados destas sessões serão apresentados durante as mesas redondas da Con-ferência do Rio de 20 a 22 de junho.

— A Con-ferência das Nações Unidas de 1992 no Rio de Janeiro foi

um momento histórico que conse-guiu finalmente chamar a atenção do mundo inteiro para o desenvol-vimento sustentável. Passaram-se 20 anos e ainda não progredimos o suficiente para enfrentar os desa-fios propostos. Minha esperança é que a Rio+20 passe uma men-sagem forte de unidade, na qual assumimos as nossas responsabi-

lidades de cidadãos do mundo e nos comprometemos a

participar ativamente da solução dos pro-blemas que afetam

a Terra e a comunida-de global como um todo

– disse Carlo Petrini, pre-sidente do Slow Food.

Carlo Petrini, conhe-cido na Itália também

pelo apelido de Carlin Pe-trin, conta com prestigiosos

Por umaalimentação

melhorO movimento Slow Food foi criado pelo cozinheiro e jornalista italiano Carlo Petrini em busca de simplicidade na mesa: alimento limpo, bom

e justo. A convite do governo brasileiro, ele vem à Rio+20

Giada MenichettiDe Roma

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reconhecimentos internacionais. O mais recente foi há um mês, quando falou no Fórum Perma-nente das Nações Unidas sobre questões indígenas. Foi a primeira vez que a ONU convidou uma pes-soa que não é indígena a participar de uma conferência como orador. Em 2004, ele foi inserido pela re-vista “Time Magazine” na lista dos “Heróis do nosso tempo” na cate-goria “Inovador”. Na sua carreira, recebeu vá-rios prêmios por ter promovido a cultura da paz e porque o Slow Food defende um novo modelo de agricultura susten-tável.

O Slow Food acre-dita que com as nossas escolhas, por exemplo preferindo a comida local e da atual esta-ção do ano, podemos incidir muito no futuro do planeta. Considere que uma nossa refeição percorre uma média de 1900 km antes de chegar nas nossas me-sas e que é preciso 15.500 litros de água para produzir um quilo de carne bovina e que 75% da ali-mentação mundial depende de 12 espécies vegetais e cinco animais.

A alimentação é a essên-cia da vida, portanto respeitar os mandamentos da natureza é fundamental para que a terra con-tinue nos dar seus frutos. O Slow Food defende a preservação das riquezas naturais trabalhando em pequena escala, considerando que a união de tantos pequenos acaba por ser grande. Nesta linha, em 2004, o movimento criou um importante evento bienal: Terra Madre. Trata-se da rede mundial de pequenos agricultores; pesca-dores; artesãos; estudantes; chefs e especialistas; presente em 150 países, demonstrando que a pro-dução de pequena escala pode representar uma alternativa viá-vel em escala global.

A Terra Madre reúne milhares de pequenos produtores para tro-car conhecimentos com debates e diálogos. Durante os encon-tros, por exemplo, um pequeno agricultor do Nepal pode compar-tilhar suas experiências com um pequeno produtor do Peru, afi-nal ambas são comunidades que vivem no alto das montanhas. A

próxima Terra Madre será de 25 a 29 de outubro de 2012 junto com o Salão do Gosto, em Turim.

O programa do Terra Madre inclui um encontro mundial bie-nal, encontros regionais/nacionais, um dia de ação global e uma rede de projetos internacionais que en-volve todos os setores do sistema alimentar. A rede representa a glo-

balização positiva, dando voz àqueles que se recusam a

aceitar uma abordagem industrial da agricultu-ra e a padronização das culturas alimentares.

Memorável foi o comentário do jorna-lista espanhol, Rossend

Domenech ao encon-trar um pequeno produtor da Cata-lunha que segue os

princípios Slow Food.— Preste atenção:

você está comendo uma re-volução! — exclamou.

Atividades para conscientizar sobre o papel do alimento no desenvolvimento sustentável Durante a Rio+20, o Slow Food participará ativamente para a conscientização sobre o impac-to da produção de alimentos na mudança climática e no desen-volvimento sustentável. O Slow Food acredita que o atual sistema alimentar desempenha um papel significativo na ameaça à saúde da Terra e de seus habitantes.

O programa de eventos pa-ralelos do Slow Food, durante os

A filosofia deste movimento é simples: o alimento tem que ser limpo, bom e justo. O alimento tem que ser bom para quem consome, bom para quem produz e bom para o planeta

preparos e na Conferência, convida moradores e visitantes a participar de atividades educativas – como oficinas e visitas a feiras de produ-tos orgânicos – de conscientização acerca do papel central do alimento no desenvolvimento sustentável.

O Slow Food também publicará um guia com 100 dicas sobre “ali-mentos bons, limpos e justos” que ajudará os moradores do Rio e mi-

lhares de visitantes da Conferência a descobrir alimentos, restaurantes e projetos locais. O guia dá sugestões de onde comer e comprar alimen-tos produzidos localmente e como descobrir os diversos projetos de agricultura urbana que estão cres-cendo na cidade maravilhosa.

O Slow Food está presente no Brasil desde 2002 e hoje conta com 32 convívios e mais de 40 mil produtores envolvidos na rede.

Saiba mais: www.slowfood.comwww.slowfoodfoundation.comwww.slowfood.com/sloweurope/eng/83/climate-change

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O economista e ambienta-lista Sergio Besserman Vianna, de 54 anos, é o encarregado da

prefeitura carioca de organizar a Rio+20. Além de ser pesquisador de questões relativas a mudanças climáticas e aos danos que elas causam às cidades, Bessermann é militante de causas ecológicas e ainda colabora com o Itamaraty e o Ministério do Meio Ambiente. Para ele, a vitória possível desse evento seria do ponto de vista histórico, com a apresentação dos problemas a serem enfrentados pelos países nos próximos anos.

— A Rio 92 ficou classificada como um sucesso por ter definido uma agenda ambiental. O papel da Rio+20 é de, mais uma vez, apontar a agenda de sustentabilidade para as próximas décadas — ressalta.

Sergio Bessermann acredita que o cenário atual é bem di-ferente daquela época e que o mundo vive “de forma instável e sem confiança no futuro”.

— Em 1992, éramos ingê-nuos, achávamos que a história estava no fim. Mas considero que, pelo menos hoje, há um consenso a respeito da seriedade dos pro-blemas climáticos.

De acordo com o ex-presidente do IBGE, as sociedades modernas “serão encaminhadas para uma

economia de baixo carbono”. Pa-ra o especialista, essa transição deverá impactar majoritariamen-te os pobres e pequenos negócios.

— A questão é se vamos fazer is-to de forma inteligente e rápida, ou de forma lenta e burra — salienta. 

Mudança de modelo econômico para baixo carbonoO economista colocou como ja-nela de ação o horizonte dos próximos 20 anos. Ainda segundo Sergio Bessermann Vianna, cada nação, entretanto, criará um mo-delo diferente.  Ele desconsiderou, por exemplo, a possibilidade de criação de imposto único sobre emissões de gás carbônico.

O desafio de organizar a

Rio+20À frente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da prefeitura do Rio, o economista Sergio Besserman ressalta a necessidade de se falar das desigualdades

econômicas do planeta durante a conferência

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Em 92, o que prevalecia era um sentimento, que se revelou falso depois, de que a humanidade havia deixado para trás a época das grandes crises econômicas

Bessermann afirmou que a mudança no modelo econômico para baixo carbono forçará o au-mento no preço de insumos como o petróleo. 

— Se quisermos que o plane-ta aqueça três graus, o retorno do petróleo extraído do pré-sal será uma coisa.  Se for para aquecer seis graus, vamos ganhar mais, mas vamos fritar — alertou.

O país, no entender de Bes-serman, vai precisar construir mais usinas hidrelétricas e nu-cleares para manter a segurança energética.  Ele defendeu ainda a declaração da presidente da Re-pública, Dilma Rousseff, de que os ambientalistas não devem se distanciar do processo que combinará desenvolvimento eco-nômico e sustentabilidade.

Segundo Sergio Bessermann, “o mandato da Rio + 20 é diferen-te daquele da Rio 92”.

— Não é uma cúpula de chefes de Estado, é uma conferência das Nações Unidas, está um degrau abaixo. Digamos assim, que quer discutir desenvolvimento susten-tável, economia verde e combate à pobreza — observou.

Processo de inclusão social é importante A Rio+20 não pode ser uma con-ferência ambiental, na opinião de Sergio Bessermann Vianna, “jus-tamente porque o problema que a humanidade enfrenta está in-timamente ligado com o modelo econômico que desenvolvemos ao longo dos últimos séculos”. 

— Temos hoje uma única ques-tão: como a economia global pode voltar a crescer sem esbarrar nos limites do planeta? – questiona. 

Ele compara a conferência da ONU a um jogo, e afirma que a “economia verde é toda inovação tecnológica ou modo de fazer que seja um pouco mais eficiente no uso dos recursos naturais”.

— O combate à pobreza fica parecendo uma coisa do tipo: cui-dado com essas coisas relacionadas ao meio ambiente para não atra-palharem o processo de inclusão social.  Mas o tema é exatamente esse: que tipo de economia po-de existir que não esbarre nos limites do planeta e consiga dar à civilização uma noção de avanço e progresso na sociabilidade.  Que tipo de economia pode existir que

não nos leve aos piores cenários de aquecimento global, à extinção de espécies, à acidificação dos oce-anos e mantenha a inclusão social. 

Esse modelo que está aí “não serve”, ressalta.

Segundo Bessermann, hoje há uma compreensão de que a dicotomia de colocar o ambiente de um lado e o projeto econômi-co e social do outro é uma balela.  Porém, não há possibilidade de alcançar o desenvolvimento eco-nômico se não encontrarmos uma forma de lidar com os pro-blemas que estamos vivenciando. 

— Isso passa por modificar o atual rumo de insustentabilidade da produção e do consumo.  E é muito difícil, porque, pela primeira vez, a humanidade estará lidan-do com tomar decisões de longo prazo. Estamos pedindo aos go-vernantes que se elegem olhando para quatro, oito anos no máximo, trazerem para si custos significati-vos em nome dos filhos dos nossos filhos.  E isso tem de ser feito por toda a humanidade. Porque o pro-blema é global — constata. 

Problema de clima e biodiversidadeAs chuvas fortes castigam muitas re-giões do planeta, todo ano. Esse é um problema que persiste, há tempos.

— E a gente sabe que deve chover mais, que o nível do mar vai subir.  Os problemas locais e os globais estão totalmente inter-conectados. Além disso, a situação hoje é outra. Em 92, o que preva-lecia era um sentimento, que se revelou falso pouco depois, de que a humanidade havia deixado pa-ra trás a época das grandes crises econômicas. Quando o conheci-mento científico apresentava que tínhamos um problemão, a rea-ção das autoridades era de que a humanidade seria capaz de en-frentá-los — lembra.

Bessermann lamenta que ha-via, em geral, um otimismo com relação a esses fatores climáticos e aborda a reunião ambiental, às vésperas do evento internacional:

— A Rio+20 se realiza em um contexto muito distinto. Por um lado, temos a crise econô-mica que começou em 2008, a maior desde 1929, com todos os seus desafios pela frente.  Não é apenas o fato de que a huma-nidade não foi capaz de realizar

nenhuma ação efetiva para en-frentar o problema do clima e da biodiversidade.  Também são 20 anos de muito mais pesquisa, e o quadro que o conhecimento nos apresenta hoje é de uma gravi-dade muito maior do que aquela que conhecíamos em 92. Não é o apocalipse, a humanidade não vai acabar, mas é muito, muito grave.

Irmão mais velho do falecido humorista Bussunda e ex-diretor do BNDES, Bessermann concor-da que não se deve tratar, apenas, dos problemas ecológicos na Rio+20.

— Temos mesmo de discutir a macroeconomia global, os preços que nela são praticados, a desi-gualdade. Repito: nem existe um problema de meio ambiente. Em seus bilhões de anos, ele sempre encontrará formas de se recupe-rar. O problema é que estamos estragando a natureza do nosso tempo. E nós dependemos dela para ter água, solo, clima, biodi-versidade. E a população continua crescendo e há necessidade de in-clusão social. Nossa única questão é: como a economia global pode voltar a crescer sem esbarrar nos limites do planeta?

No entanto, os governantes não têm claramente essa noção, avalia.

— O que fica claro é esse jo-go. Mas não há ainda maturidade na governança global ou no pro-cesso político. Não existe por trás uma massa crítica, muito mais ampla do que as ações dos gover-nos, que lhes permita enfrentar com coragem o problema dos li-mites do planeta. Ele nem sai de cima da mesa nem é abordado diretamente.  Mas essa ambigui-dade é normal em um processo político — finaliza.

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neta de italianos e minhas duas filhas. E o que mais emocionou, logo que cheguei a Roma, foi o cheiro do café expresso e a visão dos tramezzini (sanduíches típi-cos locais) que eu vivia comendo quando criança. As lágrimas es-corriam de meus olhos sem que minha família entendesse mi-nha reação. Naquele momento, me veio à mente minha queri-da mãe (falecida em 1998), que adorava tomar  o expresso, as-

sim como meu pai (morto em 1999) e minha irmã, que me

enchiam daqueles maravi-lhosos sanduíches.

Um italiano na luta pelos manguezais

do RioO biólogo Mario

Moscatelli afirma que os próximos quatro

anos são cruciais para a bela, mas poluída

bacia hidrográfica do Rio de Janeiro. “Temos

dinheiro, tecnologia e até vontade política”

Filho de pai nascido em Udine e mãe de Nápo-les, que chegaram ao Brasil em 1950, o bi-

ólogo Mario Moscatelli, de 47 anos, viveu praticamente toda  a infância, até os 11 anos, em Ro-ma, época em que visitava Óstia Antiga e tantos outros recantos arqueológicos de norte a sul do Belpaese.

— Voltei a Roma em 2010,  após 35 anos de au-sência,  com minha esposa

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Ao recordar sua viagem à capi-tal italiana, Mario Moscatelli diz ter caminhado vários dias por Ro-ma, encontrando praticamente todos os lugares que frequentava, apesar de ter tido uma decepção.

— A decepção diz respeito ao quase desaparecimento das lojas de brinquedo de minha infância. Apesar disso, consegui ainda en-contrar ao menos três, com aquele cheiro típico, com miniaturas de trens, automóveis e bonecos. Vol-tei em 2011 com minha esposa e continuo gostando de caminhar pelos monumentos do centro de Roma, onde encontro, a cada esquina, “pedaços” de minha in-fância. Outra coisa engraçada é que o intervalo de 35 anos fez a cidade encolher, pois, com 11 anos de ida-de, a cidade parecia muito maior do que ela me parece hoje — observa.

Manguezais e ecossistemas degradadosFormado em Biologia em 1987 e tendo trabalhado no município de Angra dos Reis como chefe do departamento de controle am-biental da prefeitura local  entre 1989 e 1991, Mario Moscatelli diz ter sofrido sérios problemas, inclusive ameaças de morte. Tu-do em decorrência de sua atuação contra empreendimentos imobi-liários licenciados irregularmente por outras esferas ambientais (es-tadual e federal), que degradavam manguezais e demais ecossiste-mas protegidos por legislação.

— Dentro de minhas atribui-ções municipais, mesmo licenciados por outros órgãos ambientais, im-pedi a ocupação dos ecossistemas protegidos, suspendendo e denun-ciando as licenças fraudulentas, além de ter funcionado como peri-to do Ministério Público estadual. É claro que não fiz muito sucesso! Acabei tendo de fugir do Brasil por 45 dias em 1990, quando fui rece-bido por ONGs alemãs e austríacas, que me abrigaram, enquanto a situ-ação em Angra dos Reis esfriava. A viagem foi financiada pela organi-zação alemã ASW.

Quando Moscatelli voltou, as ameaças continuaram, confor-me ele agia contra os poluidores. Ele alega que sua situação ficou insustentável em 1991, quando praticamente foi expulso de An-gra por cumprir a lei e denunciar quem a descumpria.

— Em 1992, iniciei meu mestrado em ecologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), tendo finalizado o mes-mo em 1995. Já em 1989, iniciava, paralelamente às batalhas de An-gra dos Reis, nos fins de semana, a recuperação dos manguezais da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio. Nos finais de semana, voltava ao Rio, na casa de meus pais, e aproveitava para recuperar o mangue que décadas atrás havia existido na Lagoa — diz.

Trabalho para recuperar a LagoaA partir da saída de Angra e do mestrado, Mario Moscatelli intensificou os trabalhos de recu-peração na Lagoa e iniciou uma briga com a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), “que usava a Lagoa como latrina”.

— Foi quase uma década de brigas, manifestações e representa-ções no Ministério Público contra a Cedae, até que, no início do atu-al século, após três mortandades consecutivas que totalizaram 400 toneladas de peixes, conseguimos que a companhia recuperasse o sistema de saneamento comple-tamente sucateado. Desde então, praticamente não ocorreram mais mortandades de peixes.

A partir de 1992, o biólogo, além de trabalhar intensamente na Lagoa, iniciou trabalhos no sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá (Zona Oeste) e em áreas de manguezais da Baía de Guanabara. São regiões como o entorno do aterro controlado de Gramacho, na foz do rio São João de Meriti, na Baixada Fluminen-se. E, mais recentemente, tem atuado recuperando os mangue-zais da entrada da cidade do Rio de Janeiro, no canal do Fundão (Zona Norte).

— Estimo que gerencio aproxi-madamente 2 milhões de metros quadrados de manguezais na cida-de do Rio de Janeiro, juntamente com minha equipe — calcula.

Luta de Moscatelli inclui recuperação de manguezais da Lagoa Rodrigo de Freitas e do canal do Fundão, uma área de 2 milhões m² do Rio

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Biodiversidade em áreas de lixõesAlém de ser professor de geren-ciamento de ecossistemas da universidade Gama Filho, o biólogo coordena e executa o projeto de mo-nitoramento ambiental aéreo — o projeto OlhoVerde. Mario Mosca-telli identifica, mensalmente, de helicóptero, causas e consequên-cias dos processos de degradação ambiental encontrados nas baías de Guanabara, de Sepetiba e Ilha Grande, além do sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá.

— Faço esporadicamente (com a Rede Globo, no telejornal RJ TV) assessoria do ponto de vis-ta ambiental, o quadro Eco Blitz, inspirado no projeto OlhoVerde, que acaba veiculando para milhões

de telespectadores os principais problemas ambientais da região metropolitana, pressionando os órgãos ambientais a funcionarem à altura das demandas ecológicas. As recuperações e o gerenciamento de manguezais que executo têm gera-do o incremento da biodiversidade em áreas até pouco tempo trans-formadas em verdadeiros lixões e cemitérios às margens da Baía de Guanabara e das lagoas — ressalta.

Bacia hidrográfica vira esgotoPraticamente toda a bacia hidro-gráfica da região metropolitana foi transformada em uma imen-sa vala de esgoto e lixo, que lança seus resíduos nas águas também contaminadas de lagoas e baías, de acordo com Mario Moscatelli.

— Gastou-se US$ 1 bilhão no Programa de Despoluição da Baía de Guanabara e os resultados am-bientais são pífios. A maior estação de tratamento, a estação da Alegria, só funciona pela metade, e a de São Gonçalo nunca viu um pingo sequer de esgoto, o mesmo que sobra nos rios e escoa para baías e lagoas da região. Agora vêm mais US$ 500 mi-lhões sob um novo nome, o Projeto de Saneamento Ambiental (PSAM). É para finalizar o que o US$ 1 bi não terminou — salientou.

Para ele, nesses próximos qua-tro anos, em virtude da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, se-rá a última chance de revertermos a degradação ecológica acumula-da nos últimos 40 anos.

Gastou-se US$ 1 bilhão no Programa de Despoluição

da Baía de Guanabara e os resultados ambientais

são pífios. Agora vêm mais US$ 500 milhões sob um novo nome, o

Projeto de Saneamento Ambiental (PSAM). É

para finalizar o que o US$ 1 bi não terminou

— Temos dinheiro, tecnologia e até vontade política, pois os políti-cos não querem “ficar mal na foto” com baías, lagoas e rios podres mostrados para todo o mundo. Mas, infelizmente, aqui no Brasil, tudo é possível e se não ficarmos alertas (a sociedade e a mídia). Não tenho dúvidas que muitos dos pés-simos administradores públicos e políticos que vicejam nas estrutu-ras do poder público podem colocar tudo a perder.

Sobrevoo ‘diplomático’O biólogo Mario Moscatelli, por conta do projeto OlhoVerde, so-brevoou, de helicóptero, a cidade do Rio de Janeiro em companhia do cônsul italiano Mario Panaro, em recente ocasião.

— Para mostrar-lhe a reali-dade nua, crua e mal cheirosa da degradação ambiental de minha cidade — salientou.

E Moscatelli conclui, com uma espécie de recado aos governantes:

— Podemos aproveitar esses quatro anos e mostrarmos que aprendemos algo em 400 anos de degradação ambiental. Ou, sim-plesmente, continuar a destruir o que sobrou da outrora fabulosa biodiversidade.

Mario Moscatelli tem um site, o Boca de Mangue, onde escreve artigos de fundo ambiental e apresenta rela-tórios fotográficos com os problemas ambientais da cidade “comentados de forma muito mal humorada”. O endereço da página é www.biologo.com.br/moscatelliindex.htm

O biólogo pressiona os órgãos

competentes e gerencia

manguezais para o incremento da

biodiversidade em áreas como lixões

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é o fenômeno da deslocalização da mão de obra, explica.

—Quando você deslocaliza de zonas ricas para pobres, cria po-breza na zona que era rica, porque tirou postos de trabalho.

Outra função da economia ver-de para Zan é democratizar o acesso dos cidadãos às fontes de energia renováveis, como o sol e o vento.

— A Rússia “fecha a torneira” do gás algumas vezes. O preço da gasolina continua a aumentar, pois as multinacionais controlam o mer-cado. As forças que estão no poder usam os combustíveis para condi-cionar a geopolítica internacional. Quanto mais os cidadãos se dota-rem de energias limpas, mais ficam independentes dos fortes poderes.

Zan espera que, durante a Rio+20, os países assinem um pro-tocolo de vínculos e não apenas uma carta de intenções.

— Que seja um documento no qual cada Estado se empenha em reduzir a emissão de gás carbônico e de promover políticas sustentá-veis e que tenha uma repercussão positiva junto aos trabalhadores em qualidade de vida e renda.

Preocupação com o clima e o empregoDois ambientalistas italianos, Nick Vendola e Alessandro Zan, contam à Comunità o que esperam da Rio+20

Gina Marques e Cintia Salomão Castro

Nick Vendola e Alessandro Zan defendem a economia sustentável através de

projetos em cidades italianas

Na política italiana, pou-cos partidos têm como prioridade a ecologia. Nichi Vendola, de 54

anos, presidente da região Puglia, também preside o partido Sinistra Ecologia Libertà. Famoso na Itá-lia por defender o meio ambiente com unhas e dentes, ele acredita não há mais tempo para promes-sas, pois, no ritmo em que estamos caminhando, se não agirmos, a destruição é certa.

— Passar das palavras aos fa-tos. É o que esperamos da Rio+20 — diz Nichi Vendola, relator sobre os problemas da Água do Comitê das Regiões da Europa.

Segundo ele, o grande desafio é não temer o novo:

— É preciso ter coragem para as inovações. Precisamos entender quem comanda neste “jogo” entre ambiente e economia: a ecologia deve ser o nome novo da economia e não uma correção de um termo. Nós iniciamos batalhas na Puglia que não pretendemos parar: dize-mos não às perfurações e não ao petróleo, e sim a uma nova lógica de negócios.

Atuante junto à União Euro-peia, ele explica que nos meses passados o seu grupo subscreveu quatro relatórios sobre decisões importantes que serão discutidas junto à Comissão, como as mudan-ças climáticas.

— Esta é a Europa que virá. Jun-to com uma minha ideia de realizar um tribunal ambiental internacio-nal pelos crimes contra a ecologia, além de um banco ecológico.

“Emprego estável é ecologia”Um dos fundadores do partido de Vendola, Sinistra Ecologia Libertà, o ativista Alessandro Zan assumiu, aos 36 anos, em 2009, o cargo de assessor para o meio ambiente da

prefeitura de Padova, no Vêneto. Ficou famoso no país por ter or-ganizado diversas manifestações em prol do reconhecimento civil dos casais homossexuais e tam-bém dos casais heterossexuais de fato, quesito no qual Padova se tornou, em 2006, pioneira em to-da a Itália. A poucas semanas da Rio+20, Zan recebeu Comuni-tà em seu gabinete para falar de questões ambientais. Enquanto os organizadores da Cúpula dos Povos rechaçam abertamente a chamada economia verde, o políti-co padovano ressalta o seu aspecto social. A conversão ecológica da economia “não significa somen-te energia limpa, mas quer dizer ecologia também nas relações de trabalho”, afirma, ao defender con-tratos estáveis de trabalho.

— Esse papel social se tor-na ainda mais relevante em um momento de crise como o atual. A economia verde deve ter como princípio a qualidade do trabalho, e é uma oportunidade para os pa-íses gerarem renda e emprego. Ou pensamos em um novo modelo de desenvolvimento e sociedade, e nesse sentido a economia verde tem o seu papel, onde as pessoas têm voz e não podem ficar sem ren-da, o que não é uma utopia, ou, se a política não consegue regular a si-tuação social, a massa vai se rebelar.

Um fator que colabora para o empobrecimento dos países euro-peus, antes exemplos do welfare,

O modelo de capitalismo que conhecemos até agora, tudo somado, está falido. Ou pensamos em um novo modelo de desenvolvimento com a economia verde ou a massa vai se rebelarAlessandro Zan, ecologista italiano e assessor da prefeitura de Padova

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O governo federal anun-ciou, no dia 25 de maio, vetos a 12 pon-tos do Código Florestal

aprovado em abril pelo Congresso e apresentou propostas para subs-tituir os trechos suprimidos. Esses vetos ao Código se aplicaram a tre-chos considerados tolerantes com o desmatamento. As explicações da presidente Dilma Rousseff para essa decisão foram divulgadas, três dias depois, no Diário Oficial da União. De acordo com a publica-ção, Dilma vetou alguns artigos da lei “por contrariedade ao interesse público e inconstitucionalidade”. O ex-ministro do Meio Ambien-te e atual secretário estadual do Ambiente do Rio, Carlos Minc,

comentou esse assunto, às véspe-ras da Conferência Rio+20.

Minc, em entrevista à Co-munità, observou que o estado do Rio mantém dois projetos em convênio com o governo italiano:

— Um é o de combate a in-cêndios e, o outro, de limpeza em rios; lagos e lagoas.

Ele ressaltou o bom relaciona-mento entre os dois governos, do Brasil e da Itália, que é “estreito e de longa data”.

Ele praticamente antecipou a decisão da presidente Dilma Roussef, com relação aos vetos de trechos do Código Florestal, al-guns dias antes do anúncio oficial.

— Com certeza, a presidenta vai vetar. Provavelmente entre 12 e 14 artigos ou incisos. Todos aqueles que se referem à anistia dos desmatadores; que reduzem

as Áreas de Preservação Perma-nente (APPs) ou que enfraquecem a proteção das margens dos rios e também as medidas contra a ero-são, que acabam assoreando os rios aqui embaixo, prejudicando os próprios agricultores, além do meio ambiente. Também estou convencido de que a presidenta Dilma e suas equipes vão produ-zir uma Medida Provisória (MP), para não permitir que se crie um vácuo legislativo. Se você veta e não põe alguma coisa no lugar, sobre vários pontos, ficaria sem nenhuma regra — ressaltou.

Ambientalistas defendiam o veto total O Código Florestal gerou polêmi-ca entre os defensores da ecologia no Brasil, ainda de acordo com Carlos Minc. Ele reclama que

O Código Florestal e a Rio+20

Secretário de Ambiente do Rio, Carlos Minc fala à Comunità sobre os vetos de Dilma ao novo Código Florestal, os novos projetos ambientais para o

estado, que terá a primeira “Bolsa Verde” do país e um distrito inteiramente voltado para empresas sustentáveis, e as parcerias com a Itália

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muitos ambientalistas falavam do veto total.

— Isso tem dois problemas. Primeiro que, quando você faz um veto total, entra em vigor a lei anterior, a lei atual, que também tem muitos problemas — afirma o secretário, lembrando que é am-bientalista e foi companheiro de governo de Dilma, tendo atuado junto com ela na época do presi-dente Lula.

— Sei que a Dilma es-tá preocupada em garantir as sustentabilidades ambiental e po-lítica. Não adianta ela fazer um “brilharete” e vetar tudo para, três meses depois, o veto ser derruba-do. Eleita com mais de 50 milhões de votos, não vai deixar de vetar esse novo Código Florestal, prin-cipalmente às vésperas da Rio+20. Estão muito enganados se acham que ela vai permitir isso acontecer ou irá se acovardar e não vai vetar a anistia e a descaracterização da legislação ambiental que os rura-listas aprovaram na Câmara dos Deputados — frisou Minc.

Momento importante para reflexão Sobre a Conferência da ONU (Rio+20), Carlos Minc destacou a forte expectativa para o even-to, que estava programado para poucos dias depois da entrevista, concedida na sede da Secretaria do Ambiente do Rio.

— Virão muitos chefes de Es-tado. É um momento importante de reflexão. O Brasil tem um pro-tagonismo e diminuiu para menos da metade (e ainda tem que dimi-nuir mais) o desmatamento da Amazônia. E foi o primeiro país em desenvolvimento a adotar me-tas de redução das emissões.

Minc também comentou a respeito da imagem do Rio de Janeiro diante dos estrangeiros, uma vez que a cidade seria a sede anfitriã do evento e, ainda, sobre suas expectativas e os projetos do governo.

— O Rio de Janeiro também não está “mal na fita”. Nós vamos dizer que é o estado que mais se desenvolve e menos desmata a Mata Atlântica, lançaremos vá-rias coisas na Rio+20. Uma delas é o Distrito Verde, o primeiro do Brasil, na Ilha de Bom Jesus, ao lado do Fundão, com empre-sas sustentáveis e tecnologia de

ponta, de baixo carbono. Vamos lançar a primeira Bolsa Verde do Brasil, a BV Rio: Bolsa Verde de Ativos Ambientais do Rio de Janeiro — revelou, ele que vai participar de várias mesas duran-te a conferência.

Rio vai ganhar rede de cooperativas de lixo recicladoO ex-ministro do Meio Ambien-te disse ainda que o novo centro global de pesquisa seria anuncia-do por Dilma durante a Semana do Meio Ambiente, no início de junho. Segundo Carlos Minc, o novo instituto deve abrigar pesquisadores brasileiros e es-trangeiros do setor tecnológico.

— Será uma parceria ou con-vênio do Pnuma com a Coppe e o estado do Rio — explicou Minc, durante evento realizado no Pa-lácio da Cidade para divulgar a conferência Rio Clima.

A previsão do governo é que, durante a Rio+20, a cidade do Rio de Janeiro ganhe a primei-ra cooperativa de catadores e recicladores focada na coleta e re-aproveitamento do chamado lixo eletrônico (e-lixo). Até o fim do ano, a cidade terá uma rede de 22 cooperativas, que devem coletar produtos eletroeletrônicos inutili-zados, como TVs, computadores, celulares e máquina de lavar. Os eletroeletrônicos serão separados por três segmentos para a venda: placas, plástico e metal.

Já a Rio Clima pretende simu-lar a discussão entre sociedade civil, ONGs, políticos, acadêmi-cos e economistas sobre os riscos

Virão muitos chefes de Estado. É um momento importante de reflexão. O Brasil tem um protagonismo e diminuiu bastante, para menos da metade (e ainda tem que diminuir mais), o desmatamento da Amazônia,Carlos Minc, secretário de Ambiente do Rio de Janeiro

do aquecimento global para o fu-turo do planeta. As previsões são de que a temperatura da Terra chegue ao fim do século de três a seis graus maiores que atual-mente, e a Rio Clima quer chegar a um documento que seja uma simulação de princípio de acor-do internacional. A abordagem das mudanças climáticas não es-tava na agenda da Rio+20. Para os organizadores do evento, não se pode falar em economia verde sem falar na redução das emis-sões de carbono.

Greenpeace, WWF, FMI e Ban-co Mundial confirmaram presença nas discussões sobre o aquecimen-to do planeta. Para o secretário do Meio Ambiente do Rio, a Rio+20 preenche uma lacuna.

— Apesar dos esforços, a temperatura do mundo segue aumentando, mas não podemos perder essa oportunidade — con-clui Minc.

Carlos Minc com a Guarda Florestal que opera no combate aos predadores em território nacional

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Não temos que pensar que, da Rio+20, co-mo de qualquer outra conferência, possa

sair a fórmula mágica para resol-ver todos os problemas. Alguns poderão ser resolvidos, mas não há varinha de condão”, ressalta o embaixador italiano Gherardo La Francesca. Ele afirma que a Itália estará presente em mais alto nível político, contando com a presença do premier Mario Monti, o minis-tro do Meio Ambiente Corrado Clini e com cerca de 30 empresas, entre as mais qualificadas.

ComunitàItaliana – Como o governo italiano se pre-parou para a Rio + 20?Gherardo La Francesca – Nos preparamos com todo o zelo que um compromisso dessa di-mensão requer. Naturalmente, o Ministério do Meio Ambiente fica na linha de frente. Já rece-bemos, nos últimos meses, duas visitas do ministro Clini. A pri-meira ocorreu no início de março, quando ele assistiu à segunda fase do Embaixada Verde. A se-gunda foi há algumas semanas, quando veio para comemorar o começo do grande projeto do bioetanol de segunda geração, derivado de refugos agrícolas ou cultivos não destinados à produ-ção alimentar.

CI – Poderia nos falar so-bre este projeto?GLF – Este projeto foi prepara-do por uma empresa italiana, a Mossi & Ghisolfi (M&G), um dos maiores produtores mundiais de PET, destinado ao empacotamen-to mecânico na Itália, no México, nos Estados Unidos e até aqui no Brasil, onde a produção cobre mais de 90% do mercado. O grupo M&G aprontou uma nova tecno-logia que permite usar o bagaço de cana-de-açúcar para produzir etanol. Ao usar estes resíduos de celulose, dá-se um incremen-to na produtividade de etanol de 40%. Eles também são muito ativos no campo da biotecnolo-gia. Idealizaram um novo tipo de cana-de-açúcar que apresenta ca-racterísticas genéticas tão boas que tornam possível uma produ-ção maior. A combinação destas duas tecnologias pode fazer com que a indústria brasileira de pro-dução de etanol dê um salto.

CI – Quais são os números em nível de produção? GLF – Este projeto foi apresenta-do pela GraalBio Investimentos, uma empresa brasileira asso-ciada à M&G, que fez projeções concluindo que o uso combina-do destas duas tecnologias, no futuro, poderia permitir, aos poucos, a substituição integral do petróleo como combustível de veículos. Eles calculam que o uso de 10% da superfície do planeta

para a produção de cana-de-açú-car geneticamente modificada, que, por sua vez, será usada pa-ra a produção de etanol com esta nova tecnologia, deveria permitir a total substituição do petróleo como combustível veicular.

CI – Não acha que o fato de produzir uma cana-de-açúcar geneticamente modificada possa gerar polêmicas?GLF – Muitas das coisas que agora fazem parte da nossa vi-da são fruto de uma modificação genética. Isto diz respeito à fru-ta, à verdura, como também aos animais de pasto, de corte, de leite. É evidente que qualquer coisa pode apresentar contra-in-dicações, mas é também evidente que o uso correto e controlado de novas tecnologias pode for-necer os instrumentos para enfrentar e resolver mitos dos grandes desafios do futuro e do presente, como alimentar uma população mundial em constante crescimento, sem destruir com-pletamente o meio ambiente.

A Rio+20 não tem varinha de condãoEmbaixador italiano conta à Comunità como a Itália se preparou para a Rio+20, onde apresenta os dados da iniciativa lançada pela sede diplomática de Brasília em prol da eficiência energética

Stefania PelusiDe Brasília

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CI – Como começou o “Em-baixada Verde”?GLF – Começou há dois anos, com um objetivo relativamen-te modesto: derrubar os custos das contas de energia elétrica da Embaixada. Em um primeiro momento, instalamos painéis fo-tovoltaicos. No início deste ano, inauguramos a fitodepuração, juntando economia energética e hídrica. Toda a água produzida no edifício, tanto as cinzas (quando são lavadas as mãos) quanto as negras (descargas de banheiros), são canalizadas em um jardim, fil-tradas e depuradas, na fase final, pelas plantas, que têm também uma função estética, sem ne-nhum aditivo químico e nenhum cheiro. Desta forma, reduzimos o consumo da água e poderíamos até fechar, fisicamente, o desa-guamento na rede de esgoto.

CI – Qual é a segunda fase desta iniciativa?GLF – Três interlocutores nos permitiram passar da fase “não-profissional” para uma profissional: a CEB, órgão da energia elétrica do Distrito Federal, a Caesb, responsá-vel pela água, e a Universidade de Brasília. Isto nos permitiu dar um grande salto de qualidade e dispor de instrumentos de monitoração muito mais depurados. Atualmen-te, graças aos painéis, consumimos 17% a menos de energia, mas este número poderia aumentar se apli-cássemos a troca de energia, pois cedemos energia e a recuperamos.

Os sistemas fotovoltaicos e de fi-todepuração podem ter tempos de amortização iguais, se não in-feriores, à metade da duração dos sistemas como um todo.

CI – Este projeto pode ser di-fundido em outros lugares?GLF – Neste momento, importar painéis ou comprá-los importados sai caro. As tarifas alfandegárias são altas. Mas há interesse, por parte de empresas italianas e es-trangeiras, de que seja iniciada uma produção no Brasil.

CI – De que forma os cida-dãos e os governos podem ajudar na resolução da questão ambiental?GLF – Acho que cada um pre-cisa dar sua contribuição. Nós, como Embaixada, uma entida-de médio pequena em termos de estrutura e número de usuários, achamos esta fórmula. Ficamos lisonjeados por sermos a pri-meira Embaixada no mundo que lança um projeto deste tipo. Cada um deve fazer sua parte. Os go-vernos devem realizar as medidas necessárias e cada pessoa precisa estar ciente do fato que o meio ambiente é um bem comum. To-dos somos coresponsáveis de uma série de soluções que preci-sam ser procuradas e adaptadas.

CI – O mês de junho, além de ser o mês da conferência Rio+20, é o mês de fechamen-to do Momento Itália Brasil (MIB). Qual é o balanço?GLF – Posso dizer que estamos nos grandes fogos de artifício

finais. Tivemos esta extraordiná-ria mostra de Caravaggio. Segundo os dados coletados pela Casa Fiat da Cultura, nos três primeiros dias, recebeu o triplo do número de visitantes do registrado nos três primeiros dias da mostra Roma imperial. O MIB acaba em junho somente em teoria, porque, na realidade, nos damos conta, com prazer, de termos estimula-do novas formas de colaboração. Confesso que estamos pensando numa fórmula “além do MIB”. Ou-tras ideias e possibilidades estão nascendo, portanto, certamente, haverá uma continuidade. Nossa função é a de sermos facilitadores, aqueles que criam o contexto ideal para que os interlocutores se en-contrem e discutam, como no caso da recente missão dos empresá-rios italianos no Brasil (em maio).

CI – Daqui a seis meses ter-mina seu mandato. Como se sente?GLF – Em agosto, completo três anos em Brasília e, no final de dezembro, vou me aposentar. Volto para Roma e estarei um pouco triste, pois o Brasil é um país onde eu e minha família vi-vemos muito bem. Não quero ser presunçoso, mas acho que esta tristeza vem junto de uma certa satisfação, pois acho que conse-gui fazer algo de positivo. Creio ter conseguido estabelecer rela-ções produtivas, de recíprocas posições, com vários interlocu-tores brasileiros. Acredito que a tarefa de um diplomata seja faci-litar as reações químicas de carga positiva e tentar conter aquelas de carga negativa. Ainda falta muito tempo, muitas coisas nas quais penso que poderão, e deve-rão acontecer, nestes meses.

Muitas das coisas que agora fazem parte da

nossa vida são fruto de modificação genética.

O uso controlado de novas tecnologias pode fornecer instrumentos

para enfrentar desafios, como o de

alimentar a população mundial sem destruir

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O Horto Florestal, como é conhecido o Parque Estadual Alberto Löf-gren, na zona norte de

São Paulo, completa 116 anos. Em comemoração, até agosto, o parque recebe o projeto Arte e Meio Am-biente: Rompendo Fronteiras, que faz parte do Momento Itália-Brasil. São duas exposições, uma no Palá-cio do Horto e outra nos jardins do Parque. As exposições têm como tema principal a salvaguarda do planeta, a proteção da natureza e das florestas nativas brasileiras.

Segundo Ana Cristina Car-valho, curadora do acervo artístico-cul tural dos palácios do governo do estado de São Paulo, o projeto tem múltiplos significa-dos. A primeira exposição, exibida dentro do Palácio do Horto, ilustra a forte presença de artistas de ori-gem italiana nas cole ções de arte dos palácios do governo paulista, com importantes obras em diver-sas técnicas de pintura, escul tura, desenho, aquarela e gravura.

As obras que participam da mostra foram selecionadas segun-do os critérios de origem italiana do autor ou mesmo pelo fato de serem artistas brasileiros que se

empenharam em questões típicas da tradição italiana, inspirados pela música e pelos costumes do país. Entre os trabalhos expostos, há pinturas de Fulvio Pennacchi, italiano que emigrou para o Brasil na década de 1920, radicou-se em São Paulo e participou ativamen-te do percurso dos artistas que se reuniam para pintar no ateliê do Edifício Santa Helena, no cen-tro da cidade, nos anos 1930/40, como Volpi, cujas obras também cons tam da exposição.

A coleção de gravuras de espé-cies de palmeiras, de João Barbosa Rodrigues, e a série de aquare-las sobre os tipos de bromélias e orquí deas brasileiras, de Marga-reth Mee, encantam o visitante. Apaixonados pela flora brasileira, ambos retra taram a exuberância das espécies tropicais, suas cores e formas. Percebe-se que os artis-tas sempre mostraram interesse pela preser vação da natureza.

— A mostra enriquece as come morações do Momento Itália-Brasil e chama a atenção para as diferentes linguagens ar-tísticas como formas de olhar a natureza, sinalizan do a neces-sidade de preservação do meio ambiente e visando um futuro melhor para a sociedade — co-menta a curadora Ana Cristina.

Painéis inspirados na Mata Atlântica Exibida nos jardins do Horto, a outra exposição, dentro do Arte e Meio Ambiente: Rompendo Fron-teiras, apresenta a instalação do painel da italiana Margherita Leo-ni e das esculturas de seu marido Mello Witkowski Pinto, que mos-tram a fauna e a flora brasileiras e a relação do homem com o meio am biente, transformando a at-mosfera do parque em um museu.

Há dez anos, a italiana Marghe-rita Leoni reproduz a vida vegetal da Mata Atlântica. Nesta exposi-ção, ela mostra ao público a obra Paradiso Terrestre, composta de 16 painéis de 24 metros, que repre-sentam as florestas brasileiras com suas plantas nativas, criando pai sagens imaginárias. A artista ainda expõe Bandeiras e o vídeo Parque das Emas.

Nos jardins, também estão as esculturas de Mello Witkowski Pinto, brasileiro que estudou em Milão. Sua obra explora a relação do homem com a natureza. Mello apre senta três esculturas em tama-nhos agigantados — entre elas, a peça Ín dio na canoa, com 4,5 metros.

O Projeto Arte e Meio Ambien-te: Rompendo Fronteiras é uma parceria do governo Italiano com o estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Meio Ambiente. Após o período no Horto, a expo-sição percorrerá, durante quatro anos, os parques do estado.

Arte sem fronteirasExposição em São Paulo mostra a natureza sob o ponto de vista de artistas italianos e brasileiros

Janaína PereiraDe São Paulo

As pinturas ítalo-brasileiras chamam atenção para a preservação da natureza

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A palavra da moda é sustentabilidade. O mercado de roupas, sapatos e acessórios

se reinventa para seguir a postu-ra do “ecologicamente correto”. Para apresentar novos materiais e divulgar modos de produção sustentáveis, o Fashion Rio e o Rio-à-Porter ganharam espaço no final de maio. No momento em que a ci-dade fluminense se preparava para ser palco da Rio+20, o Fashion Rio apresentou as novas tendências da eco-moda. Em sua 21ª edição, o evento aconteceu no Jockey Club e apresentou a coleção Verão 2013 com o tema Botânica. Com investimento de R$ 15 milhões, o Fashion Rio, ao lado da feira de ne-gócios Rio-à-Porter, que ocupou as dependências da Casa Firjan da In-dústria Criativa, receberam 90 mil visitantes ao longo de cinco dias. O ativismo verde no mundo fashion foi a ideia transmitida pelo evento,

ressaltou o seu diretor criativo Paulo Borges.

— O Fashion Rio fala do amor pela natureza e reforça particu-larmente o papel das plantas na humanização do mundo. Só elas são capazes de nos vestir com cores, texturas e humores, inspi-rados nas diferentes percepções e sensações que resultam desse con-vívio cotidiano, sempre renovado e mutante — comenta Borges.

Compradores internacionais visitaram os eventos à procura de biquínis, maiôs, shorts, vestidos e blusas leves. Entre os buyers, marcaram presença fashionis-tas da Itália, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos, Emirados Ára-bes, Espanha e Uruguai. A Itália tem adquirido muitos produtos da região fluminense, conforme mostram os dados da pesquisa do Sistema Firjan. Nos quatro pri-meiros meses de 2012, o Belpaese aparece como o quarto maior des-tino das exportações de moda do Rio, representando 8% das ven-das externas fluminenses. Dentre

os cinco maiores destinos da mo-da do estado, a Itália é aquele que compra o produto mais valoriza-do, com o preço médio mais alto, de US$ 183 por quilo de roupa.

O Rio-à-Porter contou com a participação de 119 exposito-res da moda praia, provenientes de regiões fluminenses e de pó-los criativos de outros estados brasileiros. De acordo com os or-ganizadores da feira, as vendas aumentaram em 10% compara-das à edição de inverno, no mês de janeiro. E o número de compra-dores e lojistas no salão cresceu 40%. São Paulo e Minas foram os que levaram o maior número de representantes, com 21% e 13%, respectivamente. Em seguida vem o Paraná, com 10%. A região Nordeste, a maior interessada nas compras de verão, foi a responsá-vel por 28% dos compradores.

Materiais alternativos e produção sustentável Muitos expositores no Rio-à-Porter mostraram coleções desenvolvidas

O verde está na moda

Estimuladas pela Rio+20, marcas investem em atitudes sustentáveis em suas coleções de verão 2013, apresentadas no Fashion Rio e no Rio-à-Porter

Nathielle Hó

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a partir de materiais alternativos, como algodão orgânico, fibra de bambu e garrafas pet. O diretor de criação e marketing da Brasis, Ale-xandre Valentim, apresentou novas propostas para camisetas. Embora a produção seja mais custosa e exija mão de obra qualificada, um negó-cio com característica sustentável agrega mais valor comercial e com-portamental, afirma.

— Nós produzimos camisas em algodão orgânico, em ma-lha fértil e em fibra de bambu. Sempre em identidade com a cul-tura popular brasileira. Além de adotarmos a produção susten-tável, desenvolvemos padrões que lembram pinturas marajoa-ras. As propriedades do bambu são assimiladas pelo tecido que protege contra raios UV, não acu-mula suor e deixa a pele respirar — explica o empresário.

Para fazer a camisa de malha pet, a empresa utiliza duas gar-rafas de dois litros, e através da reciclagem acontece a retirada do plástico do meio ambiente, que demora vários anos para degradar. Em torno de 80% dos pet recicla-dos no Brasil vêm de catadores, lembra Valentim, ou seja, a produ-ção também contempla o aspecto social. Para o empresário, a “gran-de indústria deveria começar a se abrir mais para a produção e a di-vulgação de produtos sustentáveis para baratear a mercadoria e ser mais acessível ao grande público”.

A Brasis foi convidada pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico para participar da Rio+20 no estande de sustentabi-lidade do governo fluminense, no

Riocentro, onde será mostrada uma coleção com algodão orgâ-nico sobre a fauna e a flora da Mata Atlântica, enfatizando os animais em extinção. Além disso, a empresa vai fazer parte de um catálogo de moda da Rio+20. Du-rante a conferência, o Sebrae vai lançar uma cartilha digital com as empresas que tratam de sus-tentabilidade no estado.

Outra lojista que marcará pre-sença na Rio+20 é a designer de bolsas e joias que atua em Belém Celeste Heitmann. A artista plás-tica portuguesa produz bolsas a partir de coadores de café. Ela conta que o público europeu va-loriza iniciativas sustentáveis e é muito receptivo ao seu trabalho.

— Eu faço arte em bolsas atra-vés da decupagem em coador de café reciclável. Lavo os coadores, deixo-os secar, e depois preparo as mantas. De acordo com a co-leção, posso deixar ao natural ou fazer marmorização e desenhos no tecido do coador. Eu retra-to muito o Pará e a Amazônia. Minhas bolsas são muito bem recebidas na Europa. Já fui con-vidada para fazer uma exposição das minhas criações na França — conta Heitmann.

Outra ideia que chamou aten-ção durante a feira de negócios foi a da designer Silvia Blumberg. Ela transforma cimento, pó de tijolo, papel, borracha e até resíduos de canetas e sucos em joias. Silvia foi a única designer que expôs na Vila Sustentável da Feira Interna-cional de Tecnologia para o Meio Ambiente, a Fiema Brasil 2012. Silvia afirma que, cada vez mais,

Os dados do Sistema Firjan mostram que a Itália é o quarto maior destino das exportações de moda do Rio e o país que compra o produto mais valorizado

a produção sustentável tem trans-formado os hábitos da população, que passou a querer conhecer e praticar o vestir consciente.

— Em 2008, resolvi me en-gajar em uma campanha de reciclagem de camisetas para aju-dar desabrigados das enchentes de Santa Catarina. Ao descobrir que resíduos de canteiros de obras contribuíam para as inundações, decidi reutilizar restos de cimen-tos e concreto na fabricação de joias, misturando esses elementos até então descartáveis com ou-ro e prata. Ser sustentável é ter a consciência de que é necessário minimizar os efeitos nocivos da fa-bricação de alguns objetos, através de escolhas conscientes e respon-sáveis — conclui Blumberg.

Silvia Blumberg e Celeste Heitmann participaram do Sebrae da Rio+20, no estande de sustentabilidade do governo fluminense

Alexandre Valentim, da Brasis, defende a produção sustentável de camisas com bambu, pet e algodão orgânico

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Mãos à obraVoluntários, organizações não governamentais, universidades e entidades da sociedade civil atuam em diversos projetos na área ambiental entre Itália e Brasil, contando, ou não, com o apoio de instituições e governos, como prefeituras e ministérios. Por outro lado, órgãos governamentais, a exemplo da Embaixada italiana, também têm desenvolvido programas com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável. Conheça algumas dessas iniciativas.

A bicicleta elétrica da Ducati

A Ducati apresentou, em 2009, na cidade de Copenhague, durante a Conferência

da ONU sobre Mudanças Climáticas, uma nova bicicleta híbrida elétrica, desenvolvida conjuntamente com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O projeto faz parte do pro-grama Copenhague Green Wheel, que conta com o apoio do governo italiano. O sistema de funcionamento da bicicleta contempla uma bateria que é carregada enquanto se pedala, mas, diferentemente de outros mo-delos, a Copenhague Wheel concentra todos os seus componentes, bateria, freios e motor, em um pequeno dispositivo situado no cen-

tro da roda traseira. A bicicleta, além disso, é dotada de sensores externos que permi-tem obter informações em tempo real sobre a contaminação do ar, do volume de tráfego e dos tempos percorridos nas zonas urbanas. Estas informações ainda podem ser transmi-tidas para os responsáveis pela coordenação de tráfego para ajudar no desenvolvimento de vias menos poluentes. A bicicleta tem um dispositivo smartphone que se comuni-ca com a roda traseira, permitindo ao ciclista eleger entre sete modos diferentes em que poderá pedalar.

BrazilFoundation

A BrazilFoundation é uma organização não-governamental que apoia iniciati-

vas da sociedade civil brasileira que propõem soluções criativas e diferenciadas para os de-safios enfrentados por comunidades de todo o país. Em seus dez anos de atuação, con-quistou mais de sete mil doadores e amigos, além de mobilizar cerca de US$ 17 milhões. Os recursos angariados permitiram à funda-ção identificar, apoiar e monitorar mais de 300 iniciativas locais em todos os estados brasi-leiros, beneficiando diretamente mais de 50 mil pessoas. Este ano, foram selecio-nados 28 projetos para receberem o apoio da entidade.

Comunidade remodelada

A Itália e o Brasil planejam apresentar um projeto conjunto de remodelação de uma

favela carioca no bairro do Leme, durante a Conferência Rio+20. A iniciativa foi divulgada pelo ministro italiano do Meio Ambiente, Cor-rado Clini. O nome da comunidade beneficiada será divulgado após a concretização do acordo entre os dois países. O projeto arquitetônico pretende utilizar parte das construções que já existem, evitando simplesmente derrubá-las. O projeto prevê a melhoria no acesso à comunida-de. O objetivo principal é favorecer a circulação na favela e integrar o bairro ao resto da cida-de, em vez de condená-lo por ser um ‘gueto’. O projeto conta com o apoio da prefeitura do Rio.

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Projetos das comunidades

Representantes das comunidades da Ci-dade de Deus, do Pavão-Pavãozinho/

Cantagalo, do Chapéu Mangueira/Babilônia, do Vidigal, da Rocinha e do Alemão desenvolve-ram projetos que serão apresentados de 13 a 22 de junho, paralelamente à realização da Rio+20. Os eventos ocorrerão nas próprias comunida-des e os chefes de Estado serão convidados. No Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, os mo-radores farão uma feira de economia so-lidária. A Cidade de Deus promoverá os Jogos Abertos e da Jornada de Educa-ção Socioambiental. Já os moradores da Rocinha preten-dem entregar um documento sobre desenvolvimento sustentável, com um evento no parque ecológico da comu-nidade.

Embaixada Verde

Concebido há dois anos, o projeto Em-baixada Verde continua. A instalação

de 405 painéis fotovoltaicos no teto da sede diplomática italiana em Brasília, realizados pela Enel Green Power, soma-se à implan-tação de um sistema de fitodepuração de águas residuais do edifício realizado por várias empresas italianas, lideradas pela Ecomacchine. A economia energética obti-

da com os painéis solares é baseada na troca de energia com a Companhia Energética de Brasília (CEB). O sistema de depuração se apresenta como um jardim de aspecto esteticamente agradável, que não emite ne-nhum odor proveniente das águas residuais recicladas. Dessa forma, a Embaixada não é mais ligada à rede de esgotos de Brasília. Na Rio+20, serão apresentados os dados e mais detalhes sobre a iniciativa.

Slow Food

Para um verdadeiro gastrônomo é im-possível ignorar as fortes relações entre

o prato e o planeta, defende o Slow Food. Fundado por Carlo Petrini em 1986, como associação internacional sem fins lucrativos em 1989, o movimento conta atualmente com mais de 100 mil membros em todo o mundo e escritórios em vários países. O princípio básico é o direito ao prazer da alimentação através da utilização de alimentos artesanais de qualidade especial, produzidos com res-peito ao meio ambiente e aos seus próprios produtores. O Slow Food opõe-se à tendên-cia de padronização mundial do fast food. Petrini é um dos convidados do evento Di-álogos para o Desenvolvimento Sustentável para falar de segurança alimentar e nutricio-nal, na programação oficial da Rio+20.

As queimadas na Amazônia

Com índices de redução de queimadas que variam entre 50% e 98% nos esta-

dos da Amazônia, o Programa Amazônia sem Fogo segue para uma nova fase na América Latina. Fruto de parceria da Cooperação da Itália com o Ministério do Meio Ambiente, o programa começa os trabalhos na Bolívia. A Itália investiu US$ 2 milhões, e o Brasil, qua-se US$ 1 milhão na ampliação do projeto. A Corporação Andina de Fomento financiou com US$ 2,5 milhões o processo de levar as metodologias aplicadas no Brasil para outros países. Equador e Peru já solicitaram apoio. O projeto existe desde 1999, com o objetivo de reduzir o fenômeno dos incêndios florestais e de melhorar as condições de vida dos produ-tores das comunidades rurais.

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Floresta das Crianças

O projeto Floc, o Floresta das Crianças, foi premiado na categoria de Educação

Ambiental com o prêmio Chico Mendes, con-ferido pelo governo brasileiro. Seu objetivo é promover a proteção ambiental na região MAP: Madre de Dios, no Peru; Acre, no Bra-sil; e Pando, na Bolívia. O Floc é realizado pela Assis Brasil, Brasiléia e Epitaciolândia, com a ajuda da Associação dos Moradores e Produ-tores da Reserva Extrativista Chico Mendes, e em parceria com a Universidade Federal do Acre. A italiana Cesvi apoia o projeto, dentro do programa Promoção e uso sustentável dos

recursos naturais da Floresta Ama-zônica do Brasil, financiado pelo governo italiano. Os alunos fazem o mapeamento de áreas florestais com GPS, criam hortas comuni-tárias e fazem workshops. O Floc existe em 37 esco-las da zona rural.

Biocombustível

Desde janeiro de 2012, 20 ônibus de transporte público rodam pelas ruas da

capital fluminense com 30% de diesel obti-do a partir da cana-de-açúcar, acrescentados ao diesel fóssil. A utilização do biocombustí-vel não implica em alteração mecânica nos motores dos ônibus, o que elimina a necessi-

dade de investimentos adicionais para fazer a substituição do diesel fóssil. Os dados pre-liminares serão apresentados pela Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Rio de Janeiro durante a Rio+20. A pers-pectiva é diminuir a emissão de gases de efeito estufa em até 90%, já que o combus-tível é feito a partir de biomassa renovável. Testes vão determinar se haverá redução de custos para as empresas de ônibus.

Ecoa na Rio+20

O Ecoa — Educação Comunitária Am-biental — é fruto de parceria do Centro

Integrado de Estudos e Programas de De-senvolvimento Sustentável com diversos órgãos, fundações e empresas, entre elas a Alcoa, líder na produção de alumínio. O projeto busca encorajar comunidades de 18 municípios bra-sileiros para a construção de sociedades mais s u s t e n t á v e i s , promovendo ofi-cinas, cursos e atividades lú-dicas culturais, sociais e es-portivas. Todos os núcleos vão participar da atividade intitu-lada Xitiloio, que visa, através de cartas, fazer uma articulação conjunta de or-ganizações e pessoas para a mobilização da juventude na Rio+20, refletindo e diagnos-ticando problemas, demandas e soluções ambientais para as localidades onde o Pro-grama Ecoa atua.

O norte e o sul do mundo

O projeto CISS, sigla de Cooperazione In-ternazionale Sud Sud, enfrenta algumas

das questões cruciais para o desenvolvimen-to humano, como os direitos das mulheres; a proteção à infância; o abastecimento de água e o apoio aos refugiados. As ações baseiam-se na concepção de que as relações entre Norte e Sul devem ser equilibradas, daí a ne-cessidade de cooperação. As intervenções têm o apoio de fontes de recursos diferentes, através de parcerias com o governo italia-no, a União Europeia, a ONU e instituições locais, além dos doadores privados. A CISS realiza mais de 200 projetos, atuando em vá-rios países, como Brasil, Cuba, El Salvador, Costa do Marfim, Egito, Marrocos, Mauritâ-nia, Quênia, Tunísia e Sudão.

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Casa ecológica

A EkóHouse é inspirada na tradição dos índios tupi-guaranis. Ekó, na língua

indígena, significa maneira de viver. A cons-trução foi pensada com características que valorizam a harmonia entre homem e nature-za, e priorizam o sol como fonte de energia e vida. Toda a energia utilizada para o funcio-namento da casa é obtida através de painéis fotovoltaicos. Um dos módulos abriga os sis-temas elétricos e de automação, enquanto outros dois são constituídos pelos sistemas hidráulicos, de aquecimento de água e clima-tização. O mobiliário da cozinha foi planejado para ajudar na separação do lixo. A equipe brasileira é coordenada pela UFSC e USP, com a participação da UFRJ, Universidade Esta-dual de Campinas e UFRN.

De bici

O incentivo ao uso da bicicleta será de-batido na Rio+20. Os organizadores da

conferência prometem disponibilizar bicicle-tas e estacionamentos para os participantes. A prefeitura do Rio ampliou, nos últimos anos, em 120 km, a rede de ciclovias e ci-clofaixas do município que, de 150 km em 2008, já soma 270 km. A meta é ampliar pa-ra 300 km até o fim do ano e, até 2016, ano das Olimpíadas, chegar a 450 km. Mas ainda há poucos estacionamentos específicos para bicicletas. Segundo a prefeitura do Rio, exis-tem mais de três mil bicicletários públicos na cidade. Até a Copa do Mundo de 2014, a proposta é instalar mais mil. Para instalar bicicletários nas calçadas, os comerciantes devem solicitar a instalação, por e-mail, à Se-cretaria de Meio Ambiente. A iniciativa tem o apoio da ONG Transporte Ativo.

Ipê floresce

O Instituto de Pesquisa Ecológica (Ipê) tra-balha há 20 anos pela conservação da

biodiversidade, unindo educação ambien-tal e envolvimento comunitário. Ao longo dos anos, desenvolveu seu próprio mode-lo de conservação, com ações de pesquisas de espécies ameaçadas, educação ambien-tal, envolvimento comunitário e geração de renda. Na região do Baixo Rio Negro, no Ama-

zonas, indígenas e ribeirinhos mantêm uma relação direta com os recursos naturais e uma forte dependência dos mesmos para as suas atividades cotidianas. Os produtos da agricul-tura familiar da região alimentam o comércio local entre os moradores. Mas essa atividade não traz melhoria efetiva na renda e na qua-lidade de vida local por causa da dificuldade de escoamento da produção e de inserção dos produtos no mercado por um preço justo.

Kaiowá-Guarani

A Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul, é a mais populosa do país,

com cerca de 15 mil habitantes, sendo quase metade crianças e jovens. Cercada por fazen-das de soja e de cana-de-açúcar, teve suas águas represadas, o que ocasionou grande es-cassez. A pouca água que resta está poluída pelo veneno da soja produzida. A paisagem é

árida e as terras estão totalmente exauridas, com pouquíssimas pessoas vivendo de suas plantações, sendo necessária a evasão dos jo-vens em busca de sobrevivência. O Grupo de Apoio aos Jovens Indígenas nasceu da orga-nização dos próprios jovens e projeto busca minimizar problemas de saúde derivados da falta de alimentação e de acesso à água e à terra, além da carência de políticas e serviços públicos, como a coleta sistemática de lixo.

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Nos últimos 20 anos, a preocupação com o meio ambiente alcan-çou um nível mundial

relevante. Há registros, na mídia e nos filmes, da grande preocupa-ção ambiental que vai da erosão ao desaparecimento de espécies de animais e vegetais. Na maio-ria das vezes, no entanto, estes filmes são de ficção. Mas existem aqueles engajados na questão. Nestes casos, o cinema aposta nos documentários, que retratam a devastação do meio ambiente por meio de histórias reais. Na última década, o cinema italiano está presente com bastante força nestes tipos de produção.

No primeiro grupo de filmes de ficção que relacionam o ho-mem e a natureza, um dos mais aclamados é Bab Al Samah (2008), de Francesco Sperandeo, uma co-produção entre Itália e Tunísia, que trata do desejo de redenção para um passado de humilhação — simbolizada por uma pesada porta. A narrativa é toda pontu-ada por elementos da natureza. Sperandeo, que já trabalhou com Giuseppe Tornatore e Roberto

Benigni, conta por que motivo resolveu colocar a natureza como um personagem do filme.

— A Tunísia vive com suas histórias passadas e presentes. Lá, obscurecido por uma tem-pestade de areia, tudo se torna escuro e abafado. Ou seja, a na-tureza está presente. Amor e tristeza, raiva e alívio estão ali na noite do deserto, à mercê de uma poesia silenciosa que ecoa no mais profundo dos sentimentos humanos. As pessoas, assim, per-cebem que a natureza precisa ser preservada para fazer parte da vi-da delas — descreve o cineasta.

Bab al Samah é um dos mais premiados da história do cinema ambientalista. Finalista em 2008 do prêmio Nastri d’Argento, re-cebeu uma menção especial por sua narrativa e estrutura técnica. No mesmo ano, ganhou o prêmio Felice Laudadio de melhor curta-metragem italiano. Em 2009, levou o prêmio Michelangelo An-tonioni durante o Italia Film Fest.

Entre os filmes que relatam histórias reais, destaca-se Biùti-ful Cauntri (2008), de Esmeralda Calábria, Andrea D’ambrosio e Ruggiero Peppe. O documentário narra a crise do lixo e a polui-ção da região da Campânia. As

histórias, os relatos e os teste-munhos de pastores que veem suas ovelhas morrerem contami-nadas com dioxina, e as cenas de um professor ambientalista que luta contra crimes ambientais e agricultores que cultivam terras poluídas por depósitos de lixo existentes nas cercanias da re-gião, mostram que, na Campânia, existiam 1200 depósitos de lixo tóxico sem autorização. Por trás disso, usando caminhões e esca-vadoras em vez de pistolas, está uma Camorra de colarinho bran-co, que se desviou para atividades

O cinema italiano e o meio ambiente

Cineastas italianos produzem documentários e curtas-metragens para alertar o mundo da importância das causas ambientais

Janaína Pereira

O filme Bab al Samah é um dos mais premiados da história do cinema ambientalista por sua

narrativa e estrutura técnica

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empresariais. Uma denúncia feita por um juiz revela os mecanismos de uma atividade violenta que causava muitas mortes.

Biùtiful Cauntri ganhou uma menção especial no Festival de Turim de 2008 e foi indicado ao Oscar de melhor documentário. O diretor Andrea D’ambrosio conta que o projeto começou de forma complicada, em janeiro de 2007.

— No início, ninguém sabia se confiava ou não em nós para dar os depoimentos. A parte mais difícil foi contar os sofrimentos das pes-soas diretamente envolvidas no escândalo da dioxina. Eram pas-tores, agricultores e trabalhadores que já não têm um emprego e ar-riscam suas vidas todos os dias. Não é fácil chegar à privacidade das pessoas. Uma vez lá dentro, é ainda mais difícil, pois você vê de perto as dificuldades — revela.

Desperdício de água entre os temasAlguns filmes italianos também se destacam por mostrarem a situação ambientalista pelo mun-do. Em The Well: Water Voices from Ethiopia (2011), os cineastas ita-lianos Paolo Barberi e Riccardo Russo colocam o olhar no sul da Etiópia. O documentário mostra que todos os anos, quando a es-tação da seca chega em Oromia, os pastores Borana, após dias de caminhada, se reúnem com seus animais em torno de um dos tradi-cionais poços “cantantes”. O filme

Festivais de cinema e meio ambiente agitam o Rio

Durante o mês de junho, às vésperas da Rio+20, a capital flu-minense recebeu dois festivais de cinema voltados ao meio

ambiente. Entre 31 de maio e 7 de junho, aconteceu, na Quinta da Boa Vista, a primeira edição do Green Nation Fest, um festival in-terativo e sensorial que estimula o público visitante a agir por um mundo mais sustentável. O even-to trouxe as questões ambientais de maneira descontraída, usan-do cinema, educação, esporte e moda para abordar o assunto.

Já o EcoVision, o Festival In-ternacional de Meio Ambiente e Cinema, realizado em junho, exibiu filmes de temática ambiental no Rio. O Festival, que é o principal evento do gênero na Europa, surgiu na Itália.

Os filmes italianos Breeze (Vento nel Parco), de Daniele Ottobre; Clean Man, de Alessandro Palazzi; Io, Socrate e Linda, de Mario Bal-samo; e Guinea Pig, de Antonello De Leo, foram exibidos nos festivais.

Entre os filmes italianos que abordaram a temática ambiental, foram premiados Bab Al Samah, The Well: Water Voices from Ethiopia e Carpa Diem

segue o povo durante um período inteiro de seca, revelando o siste-ma tradicional de gestão da água que permite distribuir o pouco que há de acordo com as necessi-dades e os direitos de todos, sem nenhuma troca por dinheiro.

Segundo o crítico de cinema Giuseppe Nardelli, especialista

em cinema italiano, o filme é um alerta para todos os países sobre os gastos excessivos com a água.

— Ao mesmo tempo, mostra um povo que não tem quase nada e que divide o pouco que conse-gue — analisa.

Também com o tema água, Carpa Diem (2006), de Sergio Cannella, é um curta-metragem de apenas dois minutos que fala sobre o desperdício de água. O fil-me ganhou o prêmio de melhor curta-metragem no Visioni Italia-ne Film Festival 2006. Cannella é um dos cineastas italianos mais engajados na causa ambiental.

— Você prefere economizar tempo ou coisas? Carpa Diem examina o desequilíbrio e o des-perdício criado pelas obsessões modernas. O filme é uma metáfo-ra para as pessoas pensarem que um desperdício pode transfor-mar-se em tragédia — comenta o diretor.

De olho no BrasilOs cineastas italianos também estão atentos ao que acontece com o meio ambiente no Brasil. Nós Existimos, de Alessandro Roc-ca, é um documentário italiano de 2004 que mostra uma viagem da periferia para a floresta ama-zônica brasileira, onde índios e agricultores estão unindo forças para reivindicar o direto às terras.

O diretor e fotógrafo Ales-sandro Rocca foi além: produziu reportagens e documentários no Brasil e no Quênia sobre questões sociais. Com toda a sua experiên-cia, resume bem a importância do cinema ambientalista.

— O objetivo é conscientizar e sensibilizar para o problema de um lugar e mostrar a realidade que existe lá, além de promover e di-vulgar valores de uma cultura.

O documentário Biùtiful Cauntri narra a crise do lixo e a poluição na Campânia. Em The Well,

os cineastas Paolo Barberi e Riccardo Russo abordam a seca no sul da Etiópia

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“A Rio+20 deve ser considerada como o pontapé inicial para a economia verde, criando uma agenda para investir em energias renováveis, efici-

ência energética e redução do consumo de combustíveis fósseis. A economia verde é o caminho para superar a grave crise financeira enfrentada não só pela Itália, mas pela maioria dos países da Europa”

Corrado Clini, ministro do meio ambiente da Itália

“A Rio+20 será um fracasso. Não vai passar de acordos difusos que vão apenas repetir coisas já ditas em conferências anteriores”

eduardo Viola, especialista em negociações relacionadas ao clima e professor de relações

Internacionais da universidade de Brasília (unB)

“As mudanças que vão acontecer depois da Rio+20 serão muito mais por decisões do mercado do que compromissos de governo”

Carlos alfredo Joly, assessor do ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação

“A Rio+20 é fundamental para a sobrevivência e a paz da humanidade no futuro. Seja porque irão falar sobre a preservação dos recursos naturais

para as gerações futuras, seja porque irão contemplar os excluídos da atual ge-ração. A Rio+20 deve defender a erradicação da fome”

José Graziano da Silva, diretor-geral da organização das nações unidas para agricultura e alimentação, Fao

“Minha esperança é que a Rio+20 passe uma mensagem forte de unida-de, na qual assumimos as nossas responsabilidades de cidadãos do

mundo e nos comprometemos a participar ativamente da solução dos proble-mas que afetam a Terra e a comunidade global como um todo”

Carlo Petrini, presidente do movimento Slow Food

“A missão da Rio+20 é propor um novo paradigma de crescimento que não pareça absurdamente etéreo e fantasioso e que leve em conta que mi-

lhões de pessoas vivem sem as condições básicas de vida”

Presidente dilma rousseff

“Para o Rio de Janeiro é uma honra sediar a Rio+20. Ainda mais no atual momen-to que o nosso estado vive, de desenvolvimento econômico e de retomada da

paz. Agora o Rio é outro, bem diferente daquele que recebeu a Eco 92. Há 20 anos, as forças de segurança do Estado não eram capazes de garantir a tranquilidade aos mais de 100 chefes de estado que estiveram aqui. O Exército precisou ocupar as principais favelas e vias da cidade. Hoje, a imagem do Rio é de uma cidade que recuperou terri-tórios antes dominados por criminosos e que vive tempos de pacificação. Não tenho

dúvidas de que estamos mais preparados do que nunca para discutir o desenvolvimento sustentável, uma questão central para a qualidade de vida da população mundial de agora e para as gerações futuras”.

Sérgio Cabral, governador do rio de Janeiro

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“É a primeira vez na história do país que eu vejo tanto retrocesso. Em to-dos os governos, independente de quem fosse, sempre havia um ganho,

mesmo que pequeno. Estão revogando o esforço de mais de 20 anos de regu-lação da governança ambiental. O novo Código Florestal virou Código Agrário. Vamos ter um intervalo para a Rio+20 e, depois, será política de terra arrasada sobre a legislação ambiental brasileira. O Brasil perde a prerrogativa de liderar pelo exemplo”

marina Silva, ex-ministra brasileira do meio ambiente

“Na Rio+20 deve ser envolvida a questão econômica, senão a questão do meio ambiente não avança. Está na hora de os países desenvolvidos

colocarem sobre a mesa seus projetos, e não só os países em desenvolvimento”

Izabella Teixeira, ministra brasileira do meio ambiente

“Muitos políticos discutem de forma acadêmica, nos últimos 30 anos, co-mo sair de um modelo de desenvolvimento que não seja medido pelo

PIB. Nos próximos três anos, queremos uma solução acessível e simples para trabalhar. Isto é o que vai resultar da Rio+20”

Brice Lalonde, diretor da rio+20

“Não há possibilidade de desenvolvimento sustentável com fome, com es-tagnação da economia ou destruição ambiental. As três áreas têm que

estar juntas. Algo não está sendo feito de maneira correta. A Rio+20 é funda-mental para sabermos como fazer certo para responder a essas crises”

embaixador Luiz alberto Figueiredo, secretário-executivo da Comissão nacional para a rio+20

“Não temos de escolher entre justiça ambiental e social. A cúpula tem um lado de denúncia e crítica, mas também o de apresentar alternativas de

forma mais visível.”

moema miranda, membro do Ibase e do Grupo de reflexão e apoio ao Processo (Grap) do Fórum Social mundial

“Essa será a conferência da ONU com a maior participação de chefes de estado na história das Nações Unidas, portanto qualquer documento se-

rá muito forte, pela quantidade de endossos que vai ter. Há um esforço brasileiro de ser uma espécie de grande mediador entre interesses e visões diferentes, entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento”.

Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das nações unidas (onu)

“O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades do mundo e tem um pa-pel fundamental nesse processo de mudança, que deve ocorrer não só

no discurso, mas principalmente na prática”

maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral da WWF Brasil, e ex-secretária nacional de Biodiversidade e Florestas

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Coleta diferenciada de lixo urbano por macroárea geográfica italiana

Vamos desfazer um mito. Até os países escandinavos, que fre-quentemente servem

de modelo internacional devido à sua eco-eficiência, escondem al-gum esqueleto no armário.

Um exemplo? Enquanto na Europa os governos centrais e lo-cais recitam o mantra “reciclar”, a Dinamarca ganha o prêmio co-mo maior produtor per capita de detritos do Velho Continente. E mais: junto com a vizinha Suécia, é o país europeu onde os incene-radores são o instrumento mais usado para descartar o lixo.

A nação que mais contribuiu com o acúmulo dos 256 milhões de toneladas de detritos “euro-peus” foi o da chanceler Angela Merkel, com mais de 48 tonela-das de detritos. Seguem França, Reino Unido e Itália, com 32 to-neladas, enquanto nenhum dos quatro países escandinavos passa dos 4 milhões e meio.

O relatório Federambiente-Enea pôs em evidência como, nos últimos 15 anos, a produção de lixo na Bota cresceu constantemente,

passando de 26 milhões de tone-ladas em 1996, para 32 e meio em 2007, começando uma lenta dimi-nuição (1% ao ano) até os últimos valores registrados.

Os detritos mais produzidos pelos italianos são os “indiferen-ciados” (47,8% do total), enquanto os classificados “especiais”, como o lixo hospitalar, incidem nos núme-ros totais em 18%.

Falando de gestão e descarte de lixo, em 2009, 33,6% do lixo tricolor foi do tipo diferenciado, através de coleta porta-a-porta de orgânico, papel, vidro, plástico e metal, ou com a ajuda dos reci-pientes apropriados nas ruas.

Foram registradas grandes diferenças regionais. Se, no nor-te, o lixo diferenciado alcançou 48% nas centrais, no sul ficou em 19,1%. Para se livrar do lixo, os italianos continuam privilegiando o descarte em lixões e o tratamen-to em inceneradores: já são 53 os sistemas de termo-valorização le-vantados pela Enea no país, dos quais 50 em atividade, enquanto outros seis já estão na lista de es-pera para construção até 2014.

Estamos longe das 130 fornos da França e dos 70 em operação na Alemanha. Para entender o risco

que correm os italianos, é suficien-te observar um número: aquele das toneladas do lixo residual da incineração dos detritos. Em 2007, eram 797 mil; dois anos depois, 963 mil. Com a ativação de novos sistemas, este número certamen-te irá aumentar. Como também deve aumentar a quantidade de fumaças tóxicas disparadas pelas chaminés dos incineradores, que passou de 224.000 toneladas em 2007 para 306 mil em 2010.

O relatório ainda ressalta que, na Itália, os gerentes dos sistemas fazem amostragens e monitorações continuadas dos níveis de mercúrio e dioxinas. Po-rém, exemplos de transgressões não faltam, como em Vercelli e Pietrasanta, onde a multinacio-nal francesa Veolia está sendo processada por ter manipulado dados sobre as emissões.

Vale a pena continuar por es-te caminho e pôr em risco nossa saúde? Segundo Enea e Federam-biente, não, visto que, nas últimas páginas de seu relatório, convi-dam a privilegiar a modalidade de descarte do lixo “finalizadas para a reciclagem e a recuperação”. Seria interessante saber o que acham disso no Palazzo Chigi.

Reciclagem na ItáliaOs relatórios de Federambiente e Enea mostram grande diferença percentual entre a coleta no norte, no centro e no sul da Itália

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009Elaboração do ENEA. Fonte: ISPRA (7) e APAT-ONR (8)

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Giada MenichettiDe Roma

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evento Quando Tópicos orador

COQUETEL DE ABERTURA

APRESENTAÇÃO DO PROJETO EMBAIXADA

VERDE

13 de junho

16h30 Apresentação17h00 Coquetel

Abertura à imprensaApresentação do projeto

Embaixada Verde

CADEIA ALIMENTAR E SUSTENTABILIDADE

14 de junho

11h00 - 12h00

Workshop técnico

Cooperação entre a Secretaria de Agricultura

de São Paulo e o Ministério Italiano do Meio Ambiente e da Tutela do Território e do

Mar (IMELS)

Orlando Melo de Castro, Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo

Alessandro Bonfiglioli, CAABLuca Ruini, da Barilla

ENERGIA EÓLCIA EM ZONA COSTEIRA NO SUDESTE DA EUROPA: CAPACIDADE DE

CONSTRUÇÃO ATRAVÉS DO PROJETO DO IPA

14 de junho

14h00 - 15h00

Como desenvolver plantas eólicas costeiras no mar

Adriático

Roberto Binatti, do IMELSAntonio Sorgi, da Região Abruzzo

Renato Ricci, da Universidade Politécnica de Marche

Ercole Cauti, do Metron Mara Roncuzzi, membro da Província de

Ravenna

DESENVOLVIMENTO E RENOVAÇÃO URBANA

15 de junho

Sessão 1:11h00 - 13h00

Sessão 2:13h45 - 15h45

Arquitetura/urbanismo

Sessão 1Paisagens urbanas: cidades informais, alastramento de

cidades e cidades industriais padronizadas

Sessão 2 Construindo para o

desenvolvimento: estudos de caso

Albert Dubler, da UIA Massimiliano Giberti, Universidade de Gênova Valter Caldana, Universidade Mackenzie de São

Paulo Christiano Lepratti, Darmstadt University

Marco Casamonti, Archea Stefano Boeri, Universidade de MilãoAlfredo Brillembourg, da ETH Zurick

Emilio Ambasz, arquiteto Mario Occhiuto, Studio Occhiuto

AVSI

ECONOMIA CIRCULAR15 de junho

16h00 - 18h00

Reciclagem de lixo e embalagem

Regeneração de materiais

Saturnino Illomei, Conai Roberto De Santis, Conai

Julio Bueno, secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria

e Serviços do RioJosé Henrique Penido Monteiro, da Comlurb

Cezar Rogelio Vasquez, do Sebrae Stefano Gardi, Italcementi

Enel Green Power

SUSTENTABILIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR

17 de junho Organizado pela Expo 2015EXPO 2015Action Aid

ENERGIA SOLAR E DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

18 de junho

11h00 - 13h00

Tecnologias italianas para a Economia Verde

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

Maurizio Bezzeccheri, Enel Green Power Paolo Martini, Archimede Solar Energy

Averaldo Farri, Giuseppe Ricci, Power-One Carlo Mauri, Turbec

Enrico Giovannini, Genera Edison Lobão, Ministro de Minas e Energia

PROJETOS PÚBLICOS E PRIVADOS DE PEGADAS DE CARBONO (CARBON FOOT

PRINTING)

18 de junho

13h00 - 14h30Recepção stand-up

Projetos em parceria do IMELS com:

Osklen/Instituto-ePirelli

Illy

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo

Oskar Metsavaht, da Osklen⁄Instituto-e Martina Hauser, IMELS

Paolo Dal Pino, Pirelli do Brasil Filippo Bettini, Pirelli do Brasil

Andrea Illy, Illy Carlos Cerri, USP

Carlos Alberto Muniz, deputado estadual do RJ Mario Garnero, Fórum das Américas

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Page 78: Revista Comunità Italiana Edição 167

APRESENTAÇÃO DA COOPERAÇÃO AMBIENTAL

ITÁLIA-SÃO PAULO

18 de junho

16h30 - 17h30

Apresentação dos projetos em parceria:

IMELS e Secretaria de Agricultura e Abastecimento

de São Paulo

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

José Goldemberg, IEE⁄USP Monika Bergamaschi, secretária de Agricultura

e Abastecimento do estado de São PauloOrivaldo Brunini/Orlando Melo De Castro,

secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo

APRESENTAÇÃO DA COOPERAÇÃO AMBIENTAL

ENTRE ITÁLIA E RIO DE JANEIRO

WORKSHOP

19 de junho

11h00 - 13h00

Apresentação de programa em parceria com:

IMELS e INEAWorkshop técnico: mudanças

climáticas e economia de baixo carbono

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

Marilene Ramos, Luiz Firmino, Denise Rambaldi, INEA

Marco Cremonini, D’Appolonia

BIOENERGIA SUSTENTÁVEL PARA UMA ECONOMIA DE

BAIXO CARBONO

19 de junho

14h00 - 15h00

Coorganizada com a Global Bioenergy Partnership

(GBEP)

Mariangela Rebuá, Itamaraty José Goldemberg, IEE/USP

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

José Aníbal, secretária Energia do estado de São Paulo

Luiz Fernando do Amaral, UNICA José Raimundo Brandão Pereira

MONITORAMENTO E DETECÇÃO DE

DESMATAMENTO NA FLORESTA AMAZÔNICA

19 de junho

15h30 - 16h00

Monitoramento e detecção de desmatamento na Floresta

Amazônica

Ministro brasileiro do DesenvolvimentoTião Viana, governador do Acre

Omar Aziz, governador do Amazonas Camilo Capiberibe, governador doAmapá

Marzio Laurenti, Telespazio

MONITORAMENTO E DETECÇÃO DE VAZAMENTO

DE PETRÓLEO

19 de junho

16h00 - 16h30

Telespazio apresenta suas capacidades sobre o assunto

através de imagens dos satélites de radar COSMO

SkyMed

Marzio Laurenti, Telespazio

ENI20 de junho

11h00 - 12h00Acesso à energia sustentável

Corrado Clini, Giuseppe Recchi, Eni

PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO DA

FAVELA DO LEME

20 de junho

13h00 - 14h00

Apresentação dos projetos em parceria:

IMELS e Prefeitura do Rio de Janeiro

Corrado Clini, Ministro italiano do Meio Ambiente

Carlo Muniz, Prefeitura do RioSergio Magalhães, Instituto de Arquitetura do

Rio Massimiliano Giberti, Universidade de Gênova

Marco Casamonti, Archea Mario Occhiuto, Studio Occhiuto Sandro Favero, Favero & Milan Antonino Ruggiero, TIM Brasil

Marzio Laurenti, Telespazio

GOVERNANÇA GLOBAL E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

20 de junho

O horário será ajustado de acordo

com a disponibilidade dos convidados

Governança global e desenvolvimento sustentável

Mario Monti, Primeiro-ministro da ItáliaMichel Temer, Vice-presidente do BrasilCorrado Clini, Ministro italiano do Meio

AmbientePríncipe Alberto II de Mônaco

Bonian Golmohammadi, WFUNA

A TECNOLOGIA ITALIANA INOVADORA

20 de junho

18h30Coquetel

Apresentação da difusão de tecnologias

LABORATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

21 de junho

12h30 - 13h00

A utilidade do laboratório vivo

Conhecimento e boas práticas de transferência

Presidente da HungriaMarta Bonifert, REC

PREPARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO PARA GRANDES

EVENTOS21 de junho

Um panorama da EXPO 2015

Jornada Mundial da Juventude

Grandes eventos esportivos

Bispo Dom Orani TempestaArquidiocese do Rio de Janeiro

José Maria Marin, CBF

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Bagliori doratiDal 19 giugno fino al 4 no-

vembre nelle cosiddette sale del piano nobile della Galleria degli Uffizi sarà possibile visi-tare la mostra su un periodo estremamente proficuo per l’ar-te fiorentina che va dal 1375 al 1440 dal titolo Bagliori dorati, il gotico internazionale a Firen-ze. Per dare ancora più risalto a quella grande epoca, la scelta del Museo è stata quella di co-niugare dipinti estremamente celebri ad altri altrettanto pre-gevoli ma poco conosciuti al pubblico, come anche sculture e lavori di arte sacra e profana. Opere dei più illustri maestri d’arte come Lorenzo Ghiberti, Beato Angelico, Angiolo Gaddi e Antonio Veneziano. Il prezzo non è proprio popolare (8,50 euro) ma la mostra li vale fino all’ultimo centesimo.

Multiarte FestivalIl piccolo borgo medievale di Mon-

taione ospiterà per l’intera giorna-ta del 30 giugno una serie di eventi legati al mondo delle arti. L’associa-zione LiberArti, che si autofinanzia grazie ad eventi culturali organizza-ti lungo tutto l’arco dell’anno, porta nelle strade e nelle piazze del centro storico del piccolo paese toscano spettacoli teatrali, musica dal vivo, letture di poesie come anche spet-tacoli di danza e lezioni di pittura en plein air. Per chi ha la musica e il ballo nel sangue questo è il luogo giusto. Divertimento assicurato fino a tarda notte. Ingresso gratuito.

Estate FiesolanaPiù che una estate sotto le stelle sareb-

be meglio definirla accanto alle stelle. Le star che calcheranno il palco di Fiesole saranno veramente moltissime e tutte di livello internazionale: l’omaggio di Simo-ne Cristicchi e la sua orchestra all’amico Sergio Endrigo con i suoi indimenticabili e struggenti brani; Gilberto Gil e i suoi inconfondibili ritmi e fantasie baiane; le calde note jazz di Dave Holland e Richard Galliano. Fuori dalle sezioni del Festival sono in programma anche eventi legati al teatro e alla danza, come la messa in scena di 1478 La Congiura, la rappresen-tazione teatrale della congiura della fa-miglia fiorentina de’ Pazzi. Programma completo: www.estatefiesolana.it

Vedere contemporaneoLa Merlino Bottega d’Arte, invitando

ben dieci artisti italiani, rende omag-gio all’arte contemporanea con la ras-segna di pittura Vedere Contemporaneo che durerà un mese: dal 21 giugno al 21 luglio. Si tratta di artisti dal curriculum “pesante” che lavorano con l’arte figura-tiva. Ognuno ritrae aspetti della realtà dalla propria prospettiva utilizzando tec-niche e formazioni estetiche diverse con un unico, ma grande punto in comune: la ricerca continua del campo pittorico. Via delle Vecchie Carceri (zona ex Murate) a Firenze dal martedì al sabato, in orario 17.30 – 20.00. Ingresso gratuito.

Silvano Campeggi, in arte “nano” è considerato uno dei più grandi

cartellonisti cinematografici interna-zionali. Nasce a Firenze e frequenta la Scuola d’Arte. Nella sua lunga carrie-ra artistica ha già lavorato per le più grandi case di produzione cinemato-grafica del mondo. Sarà allievo di Ot-tone Rosai e Ardengo Soffici e mentre inizia la sua carriera creando illustra-zioni di libri e giornali per diverse

aziende grafiche si trasferisce a Roma. Nel secondo dopoguerra conosce il cartellonista Martinati e così rimane ammaliato dai suoi lavori. Tra i mani-festi più famosi di Campeggi si ricor-dano quelli di Via col Vento, Cantando sotto la Pioggia, Ben Hur, Quo Vadis e Madame Bovary. Varart presenta le sue opere fino al 13 ottobre 2012 con orario 10.00 - 12.30 / 16.00 - 19.30 . Chiuso lunedì e festivi.

Il “nano” Campeggi

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Considerado o maior mestre na arte de ma-nipular o jogo de luz e sombra que deixam

transparecer o realismo dramáti-co, a violência lírica e o gosto pela morbidez, Michelangelo Merisi de Caravaggio é um dos maiores pintores de todos os tempos. A mostra Caravaggio e Seus Segui-dores, em cartaz até 15 de julho, na Casa Fiat de Cultura, em Be-lo Horizonte, reúne um acervo de obras da Itália, de Malta e da Inglaterra, provenientes de cole-ções particulares e de três museus italianos — Galleria Borghese

e Palazzo Barberini, de Roma, e Galleria degli Uffizi, de Florença. Entre as telas da maior exposição já realizada na América do Sul de suas obras, estão Medusa Murtola e Ritratto di Cardinale, que saem do solo italiano pela primeira vez. De Minas Gerais, a exposição se-gue para o Museu de Arte de São Paulo (Masp), para uma mostra de 26 de julho a 30 de setembro.

Com um custo de R$ 5,5 milhões, obtidos por meio de incentivo e de recursos da Fiat Brasil e do Banco Bradesco, a exposição conta com o apoio da Embaixada e do Ministério brasileiro da Cultura. O governador de Minas, Antonio Anastasia, enfa-tiza que os brasileiros são felizardos por poderem apreciar grandes rari-dades do barroco.

Luz e sombra por Minas e

São PauloA maior exposição do

pintor italiano Caravaggio já realizada na América

do Sul traz ao público brasileiro todas as

minúcias do artista entre o sagrado e o profano

Nathielle Hó, da Redação e Geraldo Cocolo, de Belo Horizonte

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Caravaggio talvez seja aquele sobre o qual paira a mais densa aura de mistério, seja pelas peripécias de sua vida, seja pelo destino trágico da maior parte da sua obra desaparecidaJosé Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura

— É uma honra para Minas Gerais iniciar esta magnífica tur-nê de Caravaggio, esta exposição maravilhosa, até porque serão poucos os premiados. No Brasil, só Belo Horizonte e São Paulo. É uma grande oportunidade pa-ra que todos os mineiros possam conhecer a obra de um dos maio-res pintores da história, não só italiana, mas da humanidade — comentou Anastasia.

A mostra realizada pelo grupo Base7 Projetos Culturais conta com a organização do Ministé-rio italiano de Bens e Atividades Culturais, em parceria com a As-sociação Pró-Cultura e Promoção das Artes, a Appa. A idealização da exposição é de Rossella Vo-dret, especialista em Caravaggio e chefe da Superintendência para o Patrimônio Histórico, Ar-tístico e Etnoantropológico e do Pólo Museológico de Roma. Em exposição,  seis das 64 telas pro-duzidas por Caravaggio, além de outras 14 pinturas de artistas admiradores dele, datadas da se-gunda metade do século XVI e início do século XVII. A curado-ria da mostra tem participação de Giorgio Leone e de Fabio Maga-lhães. Para o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, expor obras de Ca-ravaggio no Brasil era um desejo pessoal e institucional.

— Para a Casa Fiat, é uma honra aproximar o público bra-sileiro da obra de um dos mais geniais e misteriosos artistas de todos os tempos. Caravaggio tal-vez seja aquele sobre o qual paira a mais densa aura de mistério, seja pelas peripécias de sua vida,

seja pelo destino trágico da maior parte da sua obra desaparecida — ressaltou José Eduardo.

A exposição ficou restrita aos estados de Minas Gerais e São Paulo devido aos custos elevados do transporte das peças. Além disso, existe uma grande dificul-dade no empréstimo de obras

O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda; a esposa Regina Lacerda; a secretária estadual de Cultura, Eliane Parreiras; o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia; o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira; e o vice-presidente da Fiat do Brasil, Valentino Rizzioli, visitaram a exposição

Na mostra, há obras de caravaggistas, como a pintura Madonna con Bambino, de Bartolomeo Cavarozzi, e Incoronazione di Spini, de Leonello Spada

pelos museus estrangeiros, lem-brou a diretora da Base7 Projetos Culturais, Maria Eugênia Saturni.

— Trabalhar com arte envolve conhecimento, planejamento e metodologia. A responsabilidade de organizar uma exposição des-se porte é muito grande. Afinal, obras de arte são bens culturais e patrimoniais insubstituíveis, que registram um momento único de criação do artista e as tradições de um povo. Por este motivo, a logística foi  fundamental, es-pecialmente no atendimento às normas nacionais e interna-cionais, que visam garantir a segurança e a integridade das co-leções em exposição — comentou Maria Eugênia.

Sagrado e profano reunidosNas seis telas de Caravaggio ex-postas, o público poderá conhecer a técnica do pintor que, como ninguém, retratava a realidade através da luz que empregava no primeiro plano da cena e da escuridão de fundo para desta-car os elementos. Tem-se uma visão das pinturas em “três dimensões” pela forma minu-ciosa e detalhista das telas do

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italiano, com as várias imperfei-ções do ser humano. Saltam aos olhos defeitos de pele, músculos e a expressão tensa. A impressão é de estar vendo alguém “ao vivo e a cores”, segundo o curador da mostra, Fábio Magalhães.

— Caravaggio incluía em suas pinturas personagens do povo, das ruas, de seu tempo. Essa característica reforça o rea-lismo em suas obras. Ele e seus seguidores são naturalistas. As obras de Caravaggio contêm um certo tenebrismo. Parece que você é envolto por uma atmos-fera de mistérios. Isso se deve à luz banhando os objetos, em contraste com o fundo escuro — ressalta o curador.

Fábio Magalhães lembra que os temas melancólicos e de morte são muito recorrentes. O pintor mesclava o sagrado e o profano, as virtudes e os vícios. Na ex-posição, “fica bastante evidente o terror mitológico e a questão mística”.

— O erotismo, influência de Caravaggio, também aparece nas obras de seus seguidores, como é o caso do quadro Maddalena Svenuta, de autoria de Artemisia Gentileschi — destaca Fábio.

A Medusa Murtola, a última descoberta em exposiçãoO artista nascido em Milão em 1571, e morto na Toscana em 1610, viveu o período da Con-tra-Reforma na Itália, tendo sido influenciado por Michelangelo Buonarroti e por Giorgione.

As seis pinturas em exibição na mostra foram feitas a óleo e retratam diversos períodos pictóricos e de vida do artista, dividindo-se em três blocos: tra-balhos consagrados e conhecidos do pintor; novas descobertas; e obras em estudo de autenticida-de, que estão sendo comparadas a outras telas do gênio por meio de pesquisas e publicações. As telas do pintor sobre as quais não pairam dúvidas são a San Girolamo che scrive, da coleção Galleria Borghese, e a San Fran-cesco d’Assisi in meditazione, da coleção Palazzo Barberini.

Ao caminhar pela mostra, o público vai poder apreciar a mais recente descoberta dos pesquisadores: a Medusa Mur-tola. Pertencente a uma família milanesa, a obra põe fim a uma polêmica que já dura 25 anos re-lacionada à autenticidade. Após vários testes com raios X, am-pliação fotográfica, estudo de pigmento e carbono, pôs fim à discussão o relato do poeta Ge-naro Murtola, contemporâneo de Caravaggio, que viu a versão menor da Medusa. A Medusa Murtola foi criada antes de sua “irmã gêmea”. Durante a vida, o artista realizou cópias de seus originais. San Francesco d’Assisi in meditazione pode ser contempla-da de duas maneiras: através da

original, ou da cópia devidamen-te autenticada.

Os caravaggistas também ganham destaque na mostra, a exemplo do francês Valentin de Boulogne e do pintor dos Países Baixos, Hendrick van Somer. De Giovanni Baglione (1566-1643), um dos mais importantes se-guidores do seu estilo e rival declarado do italiano, veio o Cris-to escarnecido Ecce Homo, um óleo sobre tela originário de Roma. Bartolomeo Cavarozzi apresenta a iconografia cristã da Madonna con Bambino, pintada no início do século XVII. Há tam-bém uma tela do italiano Mattia Preti (1613-1669), Negazione di Pietro, considerado o último in-térprete do mestre italiano.

A mostra conta com um ca-tálogo editado na Itália com 25 artigos inéditos no Brasil sobre a obra de Caravaggio e seus segui-dores, feito com a participação da Fundação Bracco.

Caravaggio incluía em suas pinturas personagens do povo,

das ruas, de seu tempo. Essa característica reforça o realismo

em suas obras. Ele e seus seguidores são naturalistas

Fábio Magalhães, curador da mostra

Melancolia, morte e terror mitológico são temas recorrentes, como mostram Medusa Murtola, de Caravaggio, Sacrifício di Isacco, de Orazio Riminaldi, e a pintura de Gall Barberini

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Fonte de integraçãoPresidido por Silvia Alciati desde 2006, Comites da capital mineira permanece como fonte de integração entre os dois países, mesmo com a crise e o corte de recursos

Promover a integração entre Itália e Brasil, e divulgar atividades culturais e sociais, man-

tendo viva a cultura italiana, são alguns dos objetivos do Comites em Minas Gerais, que tem como presidente Silvia Alciati, no cargo desde o ano de 2006.

— O Comites tem como um dos seus principais objetivos constituir uma ponte e um filtro entre a comunidade e o governo italiano, intermediando as rela-ções com o Consulado italiano, a Embaixada e o Ministério das Relações Exteriores — enfatiza a presidente. Cidadã honorária da capital mineira, nascida em Turim, Silvia Alciati veio para o Brasil aos dois anos de idade. Formada em arquitetura, ingres-sou no órgão em 2004, quando foi eleita conselheira.

No Brasil, existem seis Comi-tes, um para cada circunscrição consular: São Paulo, Rio de Ja-neiro, Recife, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

Dentre as ações realizadas pe-lo Comites mineiro, desde a sua Fundação, Silvia Alciati destaca a criação do Lo Stivale — periódico enviado gratuitamente aos italia-nos inscritos no AIRE, Anagrafe Italiani Residente all’Estero, cuja finalidade é divulgar informações e notícias importantes sobre a Itália para a comunidade, que no momento aguarda o apoio de empresas para manter a sua circulação; a realização anual da missa de Natal, celebrada em italiano, e a confraternização com pratos típicos. Além dis-so, ressalta a Tradicional Festa Italiana de Rua criada em 2007,

que começou com um público de quatro mil pessoas e alcançou a participação de 40 mil pessoas no ano passado, tornando-se a maior festa italiana de rua fora da Itália, incluída no calendário cultural de Belo Horizonte.

Apesar da crise econômica europeia, que provocou severos

cortes no orçamento do Comites devido à redu-ção do financiamento proveniente do Esta-do italiano, ao longo de 2011, o órgão minei-ro procurou manter os eventos, buscando con-servar a relação cultural e social com as regiões de origem e com a Itália.

— Se, por um lado, temos a total consciência

sobre a crise econômica europeia, por outro lado, mantemos viva a força e garra do imigrante italia-no — dessa maneira, em 2012, Silvia Alciati lamentava o retorno antecipado do responsável cul-tural do Consulado, Gianfranco Zavalloni, assim como o afasta-mento, por motivos de saúde, da secretária Silvana Sica, e o corte de 30% do orçamento em 2011 e de mais 30% em 2012. Fatos que tornaram inviáveis a manutenção das rotinas e do ritmo de traba-lho, dificultando a reedição das atividades anteriormente realiza-das que desempenham um papel ímpar para a promoção da cultura italiana em Minas.

Apesar da nova realidade, o Comites apoiou, em abril, mais uma edição dos Jogos da Ju-ventude, realizado pelo Comitê Olímpico Nacional Italiano. O

torneio selecionou alguns atletas para irem a Roma, em junho, para competir com outros atletas ita-lianos e ítalo-descendentes.

Diante desse quadro econômi-co, a presidente do Comites revela que a agenda dos eventos de 2012 inclui, pelo menos, a 6ª edição da festa tradicional realizada com grande sucesso em junho, a come-moração mundial da semana da língua e cultura italiana em outu-bro, e a Missa de Natal em italiano, que já se tornaram obrigatórios. Devem ocorrer também as festas italianas de Ouro Fino, de Goiânia, de Lavras e de outras cidades, além do projeto de realizar um curso bá-sico de italiano.

Daniela Camposde Belo Horizonte

O Comites funciona como uma ponte e um filtro entre a comunidade e o governo italiano, intermediando as relações com o Consulado, a Embaixada e o Ministério das Relações ExterioresSilvia Alciati, presidente do Comites MG Ju

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Stradelli e a AmazôniaA Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), com o apoio de seu Instituto

de Geografia, abrigou em maio a exposição O Filho da Serpente Encantada, de autoria do etnógrafo italiano Ermanno Stradelli. A mostra apresentou 28 fotografias de paisagens, povos indígenas e suas casas, além das imagens da equipe de Stradelli, que registrou os bastidores de suas andanças pela Amazônia.

Da esquerda para a direita, as fotos do final do século XIX

retratam: uma jovem índia da tribo Tuxáua Omerenti;

integrantes da tribo Ipurinã no Igarapé Azimã; a tribo Jauapery

fazendo escolta da equipe de Stradelli; índios do Rio Branco

– Uapichana e Maruxy; interior do vapor Macapá; e Catanba,

barraca da equipe de Stradelli ao lado do rio AcreJu

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Lugar de arte é na ruaO projeto Mural Itália-Brasil é uma ação conjunta

entre artistas italianos e brasileiros para promover a arte urbana em Brasília, Salvador e Rio de Janeiro. Eles produziram murais utilizando grafite, pôster arte, máscaras de estêncil e adesivos. A mostra contou com o coletivo italiano Eikonprojekt e a curadoria de Marco Antônio Teobaldo. A iniciativa quer incentivar a preservação do patrimônio público das cidades. No Rio de Janeiro, a partir de 2 de julho, na Caixa Cultural, uma exposição reúne o registro dos trabalhos realizados nas três capitais, quando também será lançado o catálogo do projeto.

Da esquerda para direita: mural Conic, exposto em Brasília; o artista italiano Lucamaleonte, na Caixa Cultural em Salvador; o mural no Viaduto do Canela, em Salvador;

o logo do Mural Itália-Brasil criado pelo Mr Klevra, do coletivo italiano Eikonprojekt; um retrato de Gilberto Gil em um mural de oito metros no respirador da estação

de metrô da Cinelândia, no Rio de Janeiro, assinado pelos artistas italianos Wally e Alita, do coletivo

Oticanoodles; e mais uma imagem do mural feito no Viaduto do Canela, em Salvador

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A julgar pelas decla-rações de atores e figurantes que partici-param das filmagens

do último filme de Woody Allen, uma comédia em quatro episódios ambientada em Roma intitula-da Para Roma com Amor, o diretor americano promoveu uma verda-deira ode à “cidade mais romântica do mundo”, como ele mesmo de-finiu, ao se divertir durante as filmagens nos mais clássicos pon-tos turísticos romanos — do Coliseu à Via Veneto, da Fontana di Trevi ao Campo dei Fiori, da Piazza Venezia ao Teatro Argenti-na, passando pelo americaníssimo bairro de Trastevere e entrando nos estúdios de um telejornal da

A dolce vita de Woody Allen

Saiba como foram os bastidores de Para Roma com Amor, que estreia no Brasil este mês, com paparazzi de verdade e mentira

atrás de Roberto Benigni pelas ruas da capital italiana

RAI, com um elenco de peso que inclui nomes como Penélope Cruz, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg e Judy Davis, além de nomes for-tes do cinema italiano como o galã Riccardo Scamarcio, Antonio Albanese, Ornella Muti e a jovem revelação Alessandra Mastronardi.

Faziam parte da cena concer-tos de jazz improvisados ainda na fase de pré-produção, a jovem esposa Sun-Yi, que acompanhava e fotografava cada passo no set, Roberto Benigni que corria pelas ruas de Roma fugindo de falsos e reais paparazzi e um guarda de trânsito convocado de improviso para interpretar ele mesmo e que acabou virando o protagonista de um dos episódios do filme. Certa-mente, uma homenagem a uma cidade eternizada por tantos fil-mes no passado, como o próprio

A Doce Vida (1960) de Federico Fellini, mas que, recentemente, abalada pela crise econômica e mo-ral europeia, andou esquecida dos grandes diretores internacionais.

Para Roma com Amor é uma comédia dividida em quatro epi-sódios baseados em Decameron, os contos libidinosos escritos por Giovanni Boccaccio no século XIV.

Paparazzi de verdade fazem parte do elencoA participação especial do ator, diretor e comediante italiano Ro-berto Benigni, famoso no Brasil pelo premiado A vida é bela (1997), atraiu ainda mais a atenção dos incansáveis paparazzi romanos. Benigni, na Itália, é aclamado pelo seu trabalho como cômico televi-sivo e diretor de teatro. Apenas a ideia de vê-lo junto a Woody Allen

Aline BuaesEspecial para Comunità

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já provocava risadas em todo o país. Risadas que aumentaram quando o povo italiano soube que, para gravar as cenas com Benigni — cujo personagem é um homem que se torna famoso da noite para o dia e passa a ser perseguido in-cansavelmente por fotógrafos da “velha escola romana” — foram chamados os paparazzi profissio-nais em pessoa. O resultado foi que um grupo de fotógrafos sor-tudos passou da difícil situação de caçar diariamente Woody Allen pelas ruas de Roma à comodidade de, dentro do set, entre Benigni e o diretor, interpretar eles mesmos, recebendo uma diária de figuran-tes e, ainda por cima, autorizados oficialmente a fotografarem tudo o que conseguissem.

— Acho que Woody Allen con-seguiu obter cenas muito realistas — afirma Vitaliano Napolitano, 42 anos. Ao lado da sua esposa, Letizia, forma um dos casais mais experientes na fotografia de cele-bridades na capital italiana.

Nos dias de filmagens dos quais participaram, quando per-correram praticamente todos os pontos turísticos de Roma correndo literalmente atrás de Benigni, os paparazzi figurantes não apenas suaram muito a ca-misa, mas também se divertiram com o ambiente tranquilo e rela-xado do set de Woody Allen. Nas cenas, o personagem de Benigni tentava deixar algum lugar públi-co, como um restaurante ou uma barbearia, e acabava sendo perse-guido pelos fotógrafos.

— Ele corria como uma lebre, bem alto e magro, e acabou com a gente — conta a fotógrafa Letizia Giambalvo, esposa de Napolitano.

A participação dos figuran-tes-reais confundiu muita gente que assistia às filmagens, como o proprietário de uma banca em Trastevere, Elio Ferdinando, que conhece muitos fotógrafos de celebridades e ficou confuso ao vê-los dentro do set.

No ambiente relaxado do set, entre uma cena e outra, os fotógrafos brincavam sobre a ve-locidade com que corria o ator, e o ator respondia irônico:

— Aprendi com os paparazzi!Woody Allen, segundo Leti-

zia, ainda pedia que os fotógrafos andassem mais devagar e ficas-sem menos agitados.

— Eu acho que o Woody não se deu conta que Roma é um pouco assim, nervosa, agitada — conta, lembrando que um dos colegas se machucou durante uma das “per-seguições” e todos começaram a rir, pois estão acostumados com estas situações.

As cenas trazem à lembrança os paparazzi históricos dos anos 60, os quais inspiraram Fellini em A Doce Vida. Uma das cenas de Be-nigni fugindo dos fotógrafos foi feita na famosa Via Veneto, imor-talizada no filme, confirmando as suspeitas sobre as influências de Woody Allen.

— Os jornais daqui exigem muita qualidade para este tipo de serviço e nós crescemos junto aos grandes profissionais dos anos 60, como Tazio Secchiaroli, que inspirou Fellini. Eles nos trans-mitiram esta mentalidade de que não existe outra possibilidade que não seja voltar para casa com uma foto — afirma Napolitano.

Quando ainda definia os locais das filmagens do seu filme em Ro-ma, Woody Allen passava de carro pela tumultuada e histórica Pia-zza Venezia, e ficou intrigado com o trabalho de um dos guardas de trânsito, que coordenava com ex-trema tranquilidade um dos pontos de tráfego mais caóticos da cidade. O jovem policial foi chamado pelo cineasta para participar como figu-rante de uma cena em que deveria, simplesmente, fazer o seu trabalho.

— Ele me chamou e me disse que tinha ficado impressionado com aquela cena que tinha visto e gostaria que eu o ajudasse em seu filme. Como eu poderia dizer não? — lembra Marchionne.

No final das filmagens, o casal de fotógrafos Leti-zia e Napolitano emocionou Woody Allen, quando o pre-sentearam com dois pôsteres em P&B de fotos que fizeram do diretor em 1995 no aero-porto de Roma, uma delas ao lado da esposa. Woody Allen:

homenagem a Roma e atores

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Dal punto di vista della sinergia poetica si può dire in essenza che dal portoghese si ar-

riva a Dante sempre e soltanto in compagnia dello stesso Dante. Il conto della ridondanza la faremo pagare al generoso endecasilla-bo della Commedia che ordina, stringe e fissa il decassillado di Camões. Ma è un fissare che muo-ve, uno stringere che scioglie. Un punto di partenza o appartenen-za. Eredità riconosciuta presso il Notaio dell’alta poesia. Con i bolli

e i francobolli d’obbligo. Camões comincia a spender subito quan-to gli spetta. E in procinto di iniziare è già un altro.

Prima per il tenore di salini-tà: la sua poesia respira tutto il sale dell´Atlantico, la salsa via di Nettuno, e la limpidità dei cieli nei mesi di maggio a luglio a Rio de Janeiro. Trasparenza in sta-to di attesa, da parte del pilota e del poeta. Trasparenza dei versi anche se piove e tira vento, con l’improvvisa procella di stampo virgiliano. Un vento che fa più ve-loce quel decasillabo di cristallo, sia esso eroico o saffico, disteso

sull´ottava, prima o dopo la sosta delle rime baciate. Vasco da Gama sta sulla coperta della nave, i ca-pelli arruffati, il viso bruciato dal sole, con quella poetica diafaneità che rende il viaggio sì diverso dal folle volo di Ulisse. E quindi ci met-tiamo in alto mare aperto verso la desejada Índia, dove la sauda-de e la nostalgia usano piegarsi al futuro, piuttosto che al passato. Desio di forze imminenti.

Ma se parliamo dell´India, bi-sogna accrescere ai versi di Camões il profumo delle spezie, di cane-la, cravo, ardente especiaria, oltre quel vocabolario sconfinato donde emergono i tesori di tutte le parti del mondo – dovizia semantica a

Radio Rilke

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opinioneMarcoLucchesi*

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bizzeffe del re del Portogallo. Un decasillabo che si sdebita senza in-dugio della mirabile varietà rimica di Dante, che resta sempre una forza della natura.

Rinvemiano nei Lusiadas una sobrietà di rime tutte mosse dal ritmo del nuovo accento, con poche assonanze inattese, come quelle del battesimo dei frammen-ti geografici, scoperti appunto dai portoghesi e riportati da Camões.

I brasiliani leggono in manie-ra esatta quel decasillabo, poiché non soffrono di vocalofagia, di uno smodato appetito di fronte alle vocali, quasi un companati-co frequente della lingua aspra e forte del Portogallo. In tale senso possiamo dire, come altri disse, che il maggior poeta brasiliano è appunto Luis de Camões.

Da questa cerchia complessiva, dalla trasparenza e dalla sinte-si dell’opera del Camões dipende maggiormente la traduzione di Cristiano Martins. Forse la più sensibile e raffinata di quante apparse in Brasile. Non sono so-lo a pensarlo. Me lo ribadì, quasi trent’anni fa, Carlos Drummond de Andrade, fedele amico e di Dante e di Camões.

Il traduttore della Comme-dia, il cui centenario si festeggia nel 2012, è indubbiamente un poeta che sente sin da giovane la Radio Dante in onde corte o in onde tropicali. Martins è ami-co della trasparenza, del vento e delle spezie trasmesse dalla Radio Camões. E così cominciò il soda-lizio o il ponte tra quelle voci e la sensibile frequenza tra quelle lin-gue. Ma attenzione, perché vi è un terzo d-jay: la melopea di Rilke, il principio mozartiano che rende – ma solo in apparenza – più terso quanto era già cristallino.

Il senso del vago, il bel canto alla rovescia, era già sorto nella lirica di Camões, innalzato dalla melopea del Petrarca (tra la spi-ca e la man qual muro he messo), e serve da diapason a Cristiano Martins. Un disceplo di Mozart nella varietà del ritmo. Ma quel che conta è il suo lavoro con la terza rima per lo più asciutta e concentrata.

Quale nei plenilunii sereniTrivïa ride tra le ninfe etterneche dipingon lo ciel per tutti i seni

E qual Trivia, serena, a dardejar,nos plenilúnios sobre as ninfas ternas, o fulgor que na altura as faz brilhar

Tramite la rima e la fioritu-ra della erre in tutta la terzina, il Martins infonde un vago senti-mento del tempo, nella diffusione stessa dei raggi della luna, che qui appaiono come strali, che si pro-iettano lontani nel modo infinito di brilhar e dardejar.

La bella traduzione del Mar-tins soffre quando bisogna essere meno trasparenti o eleganti, ma arditi od ostinati, per raggiunge-re i livello delle rime aspre o del turpiloquio nelle viscere di Ma-lebolge. Oppure meno aspro, ma quasi duro, quando Dante inten-de sviluppare gli assi portanti della filosofia aristotelica o pla-toneggiante. Qui come sopra la radio Mozart e la radio Rilke non portanto aiutano al sampler di Cristiano Martins. Il programma va in onda, ma senza lo spessore del tartaro dantesco, sprovvisto dalle oscure parvenze, dalla filo-sofica precisazione, cauto come Mozart aldiquà dei limiti della dissonanza.

In essenza una grande tra-duzione, quella di Cristiano Martins. Con i limiti della sua qualità. Perché c’è sempre un

muro tra la spiga e la mano. Co-me l’esilio di una terza lingua, che resta da sempre non raggiungi-bile. Come la crisalide nel Fausto di Goethe, radicata nella poten-za stessa dell’avvenire, quel vime, che mai non si divima. Un zona di nessuno tra raggio ed ombra. Come chi guardasse nel vetro del decasillabo il diffondersi di un quantum di luce.

E come in vetro, in ambra o in cristalloraggio resplende sì,

como no âmbar, no vidro ou no cristal,incide a luz do sol

*Marco lucchesi, Membro dell’accademia

brasiliana di lettere

Il traduttore della Commedia, il cui centenario si festeggia nel 2012, è indubbiamente un poeta che sente sin da giovane la Radio Dante in onde corte o in onde tropicali

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Autora, cantora, atriz, produtora artística e compositora de vá-rias trilhas sonoras

e canções, a italiana Patrizia La-quidara, em turnê, apresentou na capital mineira —uma das ci-dades que receberam o Festival Palco Itália 2012 — o seu mais recente show.

Em formato de dueto, o con-certo mescla técnicas clássicas e jazzísticas, dando ênfase à voz da cantora italiana. Acompanhada pe-lo guitarrista Giancarlo Bianchetti, Patrizia Laquidara encantou os mineiros, com um repertório diver-sificado, composto por canções de seus últimos trabalhos e faixas do mais recente, O Canto dell’Anguana, vencedor do prêmio Targa Tenco 2011 como melhor álbum de mú-sica em dialeto.

Cantado em dialeto vêneto, o CD está mais próximo da música popular, especialmente da medi-terrânea.

— Estou feliz por trazer, pela primeira vez, essas canções para o Brasil. Na verdade, todas desse álbum foram escritas por mim e pelos arranjadores. Elas são mes-mo originais — enfatiza.

Segundo Patrizia, seu traba-lho buscou valorizar o dialeto vêneto, misturando-o com as vá-rias sonoridades da região. Os textos do álbum foram retirados de poemas escritos por Enio Sar-tori e as músicas falam de uma figura mitológica do Vêneto, a Anguana, uma mulher meta-de humana, metade animal, que adora cantar e lavar a roupa à bei-ra do rio, durante a noite

— É um disco mais próximo da música popular, mas que tem um olhar para o futuro — descreve.

Influências mediterrâneasNatural da Sicília e vêneta de ado-ção, Patricia revela sentir muito a influência do Mediterrâneo em sua música e sua formação cultu-ral. Antenada com as diferentes sonoridades que ecoam na Itália, conta que há muitos sons interes-santes no país.

— Mas eu acho que a música mais interessante atu-almente está no território da música independente que, com grande dificuldade, pode vir a ser conhecida pelo público em geral — enfatiza.

Considerada pelos críticos co-mo uma das mais belas vozes do cenário musical italiano, o traba-lho da jovem artista, sem perder as origens da terra natal, recebe influências de diferentes ritmos como, pop, folk, jazz, clássico ou experimental.

Admiradora da música bra-sileira, a jovem cantora italiana conta que, em 1999, veio ao Brasil conhecer os lugares que Caetano Veloso cantava e descre-via em suas músicas. — Estive na Bahia, no Rio, em São Paulo e em Aracaju. Foi a viagem mais linda da minha vida, cheia de desco-bertas, calor e música. Tem sido ótimo mergulhar na música bra-sileira e descobrir novos mundos musicais, como a música gaúcha, o frevo, a bossa nova, o samba e, por que não, os pagodes.

A voz que encantou os mineirosCantora Patrizia Laquidara encanta os mineiros ao cantar em dialeto vêneto durante turnê em Belo Horizonte

Daniela Camposde Belo Horizonte

Palco ItáliaEdição especial dedicada à dança, à

música, à memória da imigração italiana e ao diálogo multicultural, o Fes-tival Palco Italia 2012 aconteceu de 5 de maio a 3 de junho em Minas Gerais, Es-pírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná.

Com realização de atividades de for-mação e de intercâmbios entre artistas e grupos italianos e brasileiros, o even-to contou com espetáculos de dança da Cia Bodega Paracasoscia e da Cia Arte-mis Danza-Traviata e com apresentações teatrais da Cia ManiCômicos-Borgoban-doballo.

O evento fez parte do Momento Itá-lia-Brasil, promovido pela Embaixada para celebrar os laços com o Brasil.

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campagne europee di nerazzurri e ros-soneri, unitamente a quelle di ogni altra squadra italiana che abbia tentato l’avven-tura continentale negli ultimi anni, sono il rovescio di una medaglia che si vorrebbe guardare sempre e solo dal lato splenden-te. Non è quindi un caso che dalla prossi-ma edizione di Champions i posti riservati all’Italia saranno soltanto tre di cui uno, fra l’altro, dipenderà dall’esito dei preli-minari. Troppo evidente il divario con le superpotenze spagnole, ma anche con le altre rappresentative iberiche, che com-prendendo le portoghesi hanno portato a casa 11 delle ultime 20 coppe europee as-segnate tra Champions ed ex UEFA. Guar-

dando ai risultati, stesso divario ci separa dalle inglesi: negli ultimi otto anni hanno piazzato almeno una squadra in finale di Champions tutte le volte tranne una, sen-za considerare che in questa stagione per loro travagliata a vincere è stato il Chelsea.

Mentre l’Europa riservata alle Nazio-nali, per quanto sorprendentemente, po-trebbe anche essere conquistata nel giro di poche settimane, quella per club dovrà di certo attendere. Nel frattempo sarebbe bene gettare solide basi partendo dalle competizioni interne, che a detta di tutti gli osservatori continuano a essere carat-terizzate da grandi valori tattici e in se-cond’ordine tecnici, ma sono deficitarie in quanto a modernità. E’ come se il nostro movimento si fosse involuto, incapace di trovare alternative alle scarse possibili-tà di investimento che in verità, però, a turno tartassano tutti i paesi dell’Unione – compresi quelli calcisticamente all’avan-guardia. La cosa fa specie se si pensa ai successi che stanno raccogliendo molti

Alla ricerca dell’Italia perduta

L’Europa riservata alle Nazionali potrebbe anche essere conquistata nel giro di poche settimane ma quella per club dovrà di certo attendere

calcioAndreaCiprandiRatto

In attesa di scoprire se agli Eu-ropei l’unione farà la forza, il calcio italiano ha chiuso i bat-tenti della stagione per club

2011-12. E le indicazioni che si pos-sono trarre da quanto accaduto negli ultimi dieci mesi sono tanto numero-se quanto di segno spesso opposto.

A vincere scudetto e Coppa Italia sono stati rispettivamente Juventus e Napoli. Si tratta di due società che stando all’Albo d’Oro non facevano loro un trofeo da 9 anni, la prima, e addirittura 22 la seconda. Da allora, anche se per motivi diversi, entrambe hanno anche conosciuto le categorie inferiori. I loro ultimi trionfi sono quindi da considerarsi come il coro-namento di una lunghissima rincorsa alla ricerca dell’eccellenza perduta, una cavalcata, che pensando soprat-tutto alla serie C in cui era sprofonda-to il Napoli prima che De Laurentiis lo rilevasse, risulta anche commovente. 

Menzione obbligatoria, poi, per l’Udinese, che è il modello finanzia-rio e tecnico a cui dovrebbe ispirarsi il calcio italiano di questi tempi. Poten-do contare su limitate riscorse econo-miche e nonostante la scorsa estate avesse venduto i suoi gioielli, tenen-do fede a un progetto ha ottenuto la seconda partecipazione consecutiva ai preliminari di Champions League.

Tornando a Juventus e Napoli, hanno interrotto il dominio delle mi-lanesi a cui erano andati, fra tutt’e due, gli ultimi sette scudetti assegnati - sul campo o in tribunale che sia stato. E proprio Milan e Inter, con la Roma che di recente aveva sollevato un paio di Coppe Italia, sono lo specchio di un calcio italiano in piena rifondazione anche se a differenza dei nuovi padro-ni del pallone nostrano sono arrivati a questa fase per via di gestioni tecniche imperfette e non causa di forza mag-giore (non troppi soldi da investire) o in seguito a sentenze. 

Fatta eccezione per la Champions League conquistata dall’Inter ormai già due stagioni fa, le fallimentari

nostri rappresentanti all’estero. Tanto per citare le maggiori affermazioni, Spal-letti, Mancini e Di Canio hanno appena vinto i campionati in cui hanno allenato e Di Matteo addirittura ha conquistato la Champions League, questo mentre l’ac-coppiata Trapattoni-Tardelli portava la nazionale irlandese agli Europei. 

Memori anche di quanto fatto da Ca-pello e Ancelotti e con un occhio a Lippi, da un lato è giusto provare orgoglio, ma dall’altro non ci si può che rammaricare che siano soprattutto le fortune altrui ad essere fatte da noi. E’ positivo, ma è anche un peccato; e viene automatico dedurre che a non funzionare allora sia il nostro

sistema, visto che il talento non si discute. Insomma, volendo considerare il bicchiere mezzo pieno si può dire che il male è cir-coscritto ruotando innanzitutto intorno all’incapacità di credere in quei progetti che altrove, dove passo dopo passo arriva-no a dare i loro frutti spesso proprio grazie a nostri allenatori, ammiriamo. Confidia-mo allora che chi di dovere faccia quel piccolo passo costituito innanzitutto da volontà e pazienza, forse le uniche due vir-tù che ci mancano, ma in ogni caso quelle che più di qualsiasi altra possono tornare a farci grandi in assoluto.

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O festival de filme de montanha de Trento é um dos principais no mundo. O público pode

ver de perto as aventuras em pelícu-las ou vídeos rodados quase sempre em condições extremas, nas mais variadas altitudes, longitudes e la-titudes. O encontro de culturas, a superação dos próprios limites e os desafios contra a natureza sel-vagem são os fios condutores de uma semana de grandes emoções, dentro dos cinemas de Trento e de Bolzano. O festival completou 60 edições e mostrou que está em grande forma, com abertura para abraçar filmes de montanha que, em seu significado maior, espelha as formas física e metafórica.

Neste último caso, expli-ca-se a participação do diretor Matteo Scotton com o seu mé-dia-metragem Live@Brasile, um documentário que revela, atra-vés da música, o reencontro das novas gerações do Trentino com

os oriundi, descendentes dos imi-grantes que chegaram ao Brasil no fim do século XIX e começo do XX. O filme foi incluído na seção Horizontes Vizinhos, uma janela aberta no festival para contar his-tórias globais com uma lente, um olhar local e dedicada aos autores do Trentino-Alto Ádige.

O filme dura 60 minutos e é a concretização do projeto Live@Brasile, cujo objetivo é promover o intercâmbio cultural entre o Bra-sil e a Itália através dos trentinos, aqui e lá. O filme é quase um on the road intercontinental, pois conta a experiência vivida por seis gru-pos musicais que viajaram para um tour de sete apresentações em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. O repertório vai do rock ao reggae, passando pela eletrô-nica. A viagem, os bastidores dos shows, as conversas entre os musi-cistas em dialeto e as perfomances dos espetáculos são os ingredien-tes deste “musical” trentino, uma ponte musical entre dois povos que possuem uma origem em co-mum. Com o apoio da associação

Trentini nel Mondo e da socieda-de Cooperativa Mercurio, além do financiamento da Província de Trento, o diretor Matteo Scotton festeja os 130 anos de imigração italiana e os 136 anos de imigra-ção trentina no Brasil.

O relato a 24 quadros por se-gundo reúne cerca de 30 pessoas. Ele foi rodado ao longo de 2600 quilômetros, percorridos em du-as semanas. Ao invés de emergir um documentário provinciano, revelou-se um filme global e con-temporâneo, que nada tem a ver com a paisagem sonora do Trentino com a qual o mundo está acostuma-do a ouvir e a assistir, entre coros e

Os trentinos do Brasil

Festival de Cinema de Trento completa 60 edições e apresenta documentário que mostra o reencontro das novas e antigas

gerações de trentinos no sul do Brasil

O documentário Live@Brasile

registra os bastidores

de shows de grupos trentinos,

conversas entre músicos

em dialeto e performances

no palco

Guilherme AquinoDe Milão

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composições melódicas. Dando voz e instrumentos à nova geração, o diretor construiu um eficiente ca-nal de comunicação para veicular a mensagem de que a região italiana se espelha no passado de suas tradi-ções, mas também sabe elaborá-las em versão moderna.

Entre uma apresentação e outra, os músicos trentinos partici-pavam de palestras e conferências por onde passavam e tocavam. Tudo em nome da raiz trentina, fincada aos pés das dolomitas, mas com ramificações em todo o sul do Brasil. Eles visitaram Florianópo-lis, Porto Alegre, Bento Gonçalves, Sananduva, Luzerna, Curitiba e Presidente Getúlio.

Um dos pontos altos foi a via-gem de 300 quilômetros entre Bento Gonçalves e Sananduva, no coração do Rio Grande do Sul, uma etapa que não estava prevista ini-cialmente. Florestas e campos de plantações de trigo dão as boas-vindas aos trentinos on the road. Tomando distância das cidades maiores, ao entrar na realidade do interior gaúcho, os integrantes das bandas trentinas reconhecem o ar caseiro, mesmo a 12 mil quilô-metros do quintal de origem. Uma delegação de ítalo-brasileiros rece-be os viajantes com grande calor humano e simpatia a dar e vender. Ali, na porta do ônibus uma se-nhora “oriunda” pede coro para a canção. À capela, todos embarcam na famosa Trem das Onze, de Ado-niran Barbosa.

Momentos como estes se tornam inesquecíveis pela na-turalidade e espontaneidade da gente local. E revelam laços de afeto tão estreitos entre os dois mundos que fica difícil não pen-sar que seja um só.

— O ar que respiramos lembra aqueles vilarejos perdidos da Sicília, de onde vem a minha família que migrou para o Trentino. Notei tam-bém uma senhora que se debruçou na janela, talvez atraída pelo som familiar daquela língua, o italia-no — conta Anansi, ou melhor,

Stefano Bannò, nascido em Trento, em 1989, filho de sicilianos.

Entre um churrasco lá e um café colonial ali, ele carregou as energias e as detonou no palco para delírio da plateia, junto com os seus colegas de aventura musi-cal e cinematográfica.

— Estamos sempre acostuma-dos a ver a Itália, a nossa terra de origem, como um lugar onde a mu-sica coincide com aquela dos coros. Mas esta iniciativa nos permitiu mudar de ideia e nos ofereceu um mosaico da música jovem trentina. Os garotos são esplêndidos e nos deram um grande espetáculo. Es-pero só que eles tenham recebido tanta energia nossa em troca — dis-se o presidente do Círculo Trentino de Sananduva, Marino Lovato.

Tudo impresso em película, gravado através da sensibilidade do diretor Matteo Scotton, que soube transportar para a tela o objetivo maior da obra da sua sé-tima arte: Il Trentino per i Trentini nel Mondo. Dito e feito.

Durante as filmagens,

grupos musicais trentinos

viajaram para shows em Santa

Catarina, Rio Grande do Sul e

Paraná

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rancisco Righetti nasceu em Barga, na Toscana, e chegou ao Brasil em 1910. Foi notável a presença deste eclético pintor e escultor nos estados do Es-pírito Santo e Rio de Janeiro. Ele desembarcou na

capital fluminense como turista, para nunca mais regressar às suas raízes. Conta–se que, ao fazer o transbordo do navio para a terra em um pequeno escaler, seus documentos caíram no mar, não sendo possível resgatá-los.

Como artista plástico, viveu a efervescência da arquitetura no Rio de Janeiro. Encantava, com seus trabalhos, proprietários abastados que desejavam casarões ornamentados com esculturas e detalhes diferenciados. O registro arquitetônico desta época ainda persiste em alguns bairros, tais como Botafogo e Centro. Prova disso são os palácios Tiradentes e o do Catete, sede da presidên-cia da República até a construção de Brasília, e que hoje sedia o Museu da República — além de outras residências na cidade.

O primeiro trabalho realizado por Righetti foi a fachada do Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde deixou o seu “cartão de visitas”. Trabalhou, a seguir, na restauração do Teatro Muni-cipal. Comprovado o potencial artístico, foi convidado para ser professor da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, fato este relatado por ele à senhora Damaris Mattos, minha mãe. Entretanto, seu espírito aventureiro falou mais alto.

Righetti foi para a cidade de Demétrio Ribeiro, um dos pri-meiros núcleos italianos do Espírito Santo, onde, até os dias

atuais, vemos, no portal de entrada da vila, a seguinte inscrição: qui ha cominciato in questo municipio la sto-

ria degli immigranti italiani.

IlLettoreRacconta

Rio de Janeiro

Embora tenha morado em Demétrio, ele passou a maior parte da vida em João Neiva, também no Espírito Santo, onde seus dois filhos Bolívar e Agnaldo começaram a trabalhar na companhia Vale do Rio Doce.

A nave da igreja de Demétrio foi pintada com o quadro da San-ta Ceia, marca registrada de Francisco, até hoje em excelente estado de conservação. Na igreja de Pendanga, outro núcleo dos imigrantes, encontram-se as pinturas da Crucificação de Cristo e da Santa Ceia, ambas de autoria deste artista. As molduras dos quadros foram con-feccionadas e criadas também pelo notável pintor.

Sua filha, Petronila Righetti Baroni, que foi minha professora, em certa ocasião, mostrou-me uma obra de arte que iluminava a parede de sua residência, na qual quatro colunas em estilo greco-romano se destacavam. Righetti lhe confidenciou que, dentro destas colunas, es-tava a sua biografia. Porém, mesmo depois do seu falecimento, ninguém nunca ousou quebrar a moldura para verificar se lá havia algo. Acha-va Petronila que a história poderia ser fruto de pura diversão paterna e que nada acharia ao sacrificar a obra.

Quando ainda morava na Itália, Righetti comprou um violino cen-tenário, com algumas partes danificadas. Francisco o restaurou, fi-cando com o instrumento. Em suas noites insones, no refúgio do seu lar em João Neiva, bem afastado da rua principal, Righetti costumava to-car seu violino. Certa ocasião, em uma madrugada fria de inverno, eu, dois amigos e meu irmão Adilson resolvemos ouvir um destes concertos noturnos. Ele tocou o que parecia ser, para nós, as quatro estações do compositor Vivaldi. Porém, alguém do nosso grupo tossiu, e o violino

silenciou. Furtivamente, saímos para não mais voltar. Como semente de boa árvore que nunca cai longe do tronco, a sua neta Juliana Baroni, filha de Tadeu Righetti Baroni, é solista da Orquestra Sinfônica Camerata. Violinista como o avô, é bem provável que tenha herdado o violino antigo de Francisco.

Righetti faleceu aos 84 anos, no dia 26 de outubro de 1966, na cidade de João Neiva, exatamente como gostava de viver: no anonima-to. Tenho certeza absoluta de que está no limiar das estrelas, fazendo arte em outra dimensão.

Arilton SilvaRio de Janeiro - RJ

Mande sua história com material fotográfico para:

[email protected]

Barga

O artista plástico Francisco Righetti realizou pinturas sacras, como o quadro da Santa Ceia nas igrejas capixabas

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Serviço: Bottega BottaGallo - Rua Jesuíno Arruda, 520 Itaim Bibi - Tel: (11) 3078-2858

Às segundas, das 18h30 à meia-noite; de terça a quinta, das 18h30 à 1h; às sextas, das 12h às 15h30 e das 18h30 às 2h; aos

sábados, das 12h às 2h; e aos domingos, das 12h às 23h.

Tapas à italiana

Restaurante no bairro do Itaim inova ao servir porções reduzidas de pratos italianos, as

bottas, em meio a um clima informal de bar

São Paulo – A meio caminho entre os sofisticados res-taurantes italianos do bairro paulistano dos Jardins e as cantinas familiares do Bexiga, o Bottega BottaGallo surgiu com a proposta de oferecer culinária italiana des-

pretensiosa em um ambiente de bar com pratos de restaurante.— A ideia do BottaGallo é transformar o velho costu-

me do primo e secondo piatti em uma sequência de peque-nas porções da cozinha italiana em forma de tapas. De um simples molho de pomodoro a uma bella scarpetta ou a uma costela di bue al forno, são várias as possibilidades — expli-ca Edgard Bueno da Costa, um dos sócios da casa.

As maiores atrações são as chamadas bottas: pratos me-nores de massas e petiscos para serem saboreados como se fossem uma porção de bar.

Um dos campeões de pedidos é o Plin no guardanapo. Trata-se de pequenos agnolotti caseiros recheados de carne, servidos sem molho e postos à mesa envolvidos em um guar-danapo, para serem comidos com palito. A receita foi trazida do Guido, um dos restaurantes mais famosos do Piemonte.

Já as scarpettas — tigelas de molho de tomate, carne ou queijo de cabra acompanhadas de fatias de pão — são uma invenção inspirada no costume de “limpar” o prato com pão ao fim da refeição, um dos hábitos mais italianos à mesa.

Outro sucesso da casa leva o nome de Gnocchi Dourado. Nele, os inhoques são salteados em azeite e servidos com peda-ços de ricota fresca, cubos de tomate e folhas de rúcula. O pra-to pode ser pedido como “botta”, ou seja, em porção reduzida.

Crostini, polentas, risotos e carnes completam o menu, que inclui sobremesas como o tiramisù e a panacotta.

Aberto em 2010 no bairro do Itaim, o BottaGallo surgiu da vontade de seus donos de experimentar diversos pratos da culinária italiana entre uma taça de vinho e um copo de chope. A informalidade do ambiente é refletida no bem-humorado cardápio, que mistura português, italiano e palavras inventa-das, e adverte: “Grazie al perdono di Dante, questo menu não tem nessuna pretensione de parlare italiano perfetto”, frase compreendida com tranquilidade por quem não domina o

idioma do autor de A Divina Comédia.

Sobre o nome da casa, Edgard explica que BottaGallo é o nome do persona-gem que batiza o bar: um simpático, ins-pirado, inteligente e guloso galo italia-no, cuja bota é uma referência direta ao mapa do Belpaese.

Scarpetta de sugo verace com carne rústicaIngredientes: 1 lata e ½ grande de tomates pelati italianos; 80g de peito bovino; 3 folhas de louro; 2 talos de salsão; 1 colher de chá de azeite; 1 pitada de sal; 1 cenoura pequena; Uma pitada de pimenta do reino; Parmesão ralado a gosto. Modo de preparo: Em uma frigideira, doure a carne no azeite. Em uma panela grande, coloque o tomate e o restante dos ingredientes. Coloque o peito bovino já dourado e deixe cozinhar por 50 minutos em fogo baixo. Assim que a carne estiver macia, desligue o fogo. Separe a carne do molho e reserve. Retire a cenoura, o salsão e o louro do molho, e reserve também. Desfie a carne e sirva com pão italiano e parmesão ralado por cima.

E, assim como acontece em qualquer restaurante da Itália, o lugar oferece uma opção de vinho da casa, com preço mais em conta e servido em uma jarra. O Rosso di Montepulciano é fornecido pela vinícola Tenuta di Grac-ciano, da Toscana.

Também são servidas outras bebidas típicas, como o limoncello, e drinques presentes em qualquer bar de aperitivos do país, como o negroni e o spritz.

Em um ambiente de bar, Bottega BottaGallo oferece comida italiana em pequenas porções

saporid’italiaVanessaPi lz

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Uma fábrica de marron-glacé

Roma e Paris: paixão e amorAcabo de voltar de umas férias em Paris e Londres. Se Roma é meu grande amor, aquele que veio para ficar, Paris foi e

continua sendo minha paixão. Peço desculpas ao leitor se faço uma pausa na coluna deste mês e deixo de falar só da Itália. Na realidade, eu vim parar em Roma por acaso. Minha intenção, há dez anos, quando deixei o Brasil, era ir a Paris, e não

a Roma. Paris, onde eu tinha morado por meio ano quando tinha 23 anos. Paris, onde me descobri pela primeira vez. Mas apesar de ter uma possibilidade de emprego por lá como professora, eu queria mesmo era escrever um livro sobre a cidade e meu editor já tinha encarregado um jornalista de escrever um guia sobre Paris. Ora, mas teria outra cidade que você teria interesse em mapear? Ele me perguntou. Não titubeei: Roma. E Roma foi.

Mas a capital francesa sempre ficou no sonho e vira e mexe me pego sonhando em morar na Cidade-Luz. Morando em Roma, cidade com poucas opções de cozinhas de outros países, sinto saudades de tantas delícias francesas. Do croissant salgado que derrete na boca, para começar. Afinal, na Itália, o croissant é doce. Sonho acordada com os doces franceses, que parecem joias expostas nas vitrines. Sonho o Montblanc da Doceira Angelina na Rue de Rivoli. Sonho os macarons do Pierre Hermé, principalmente o de sabor jasmim e de chocolate com maracujá. Penso com nostalgia nos sanduíches deliciosos franceses, tanto os sanduíches na baguette quanto os eternos croque monsieur e croque madame. Ah, como morro de saudades de tarte tatin e de crème brulé, minhas sobremesas favoritas. E o que dizer dos inúmeros restaurantes árabes e vietnamitas... E dos azulejos do metrô com os cartazes imensos de propaganda. E das mostras de arte e fotografia grandiosas. Das plaquinhas nas ruas dizendo aqui morou fulano de tal. Dos museus desconhecidos e infinitos. Dos parques impecáveis. Das cadeiras de vime dos cafés. Dos concertos de música clássica em algumas igrejas.

Ah, tantas vezes, em sonho, vou à França. Toda vez que posso dar um pulinho neste amigo e rival da Itália (um pouco como paulistas e cariocas!) vou sem pensar duas vezes. Minhas idas a Paris são sempre compostas de duas partes: peregrinar e escavar. Peregrinar significa visitar os lugares amados e pra lá de conhecidos. Escavar significa descobrir lugares novos, desbravar caminhos por onde nunca passei antes, e Paris, por ser infinita, permite sempre isso. Nesta viagem foi assim também.

Penso em Paris e penso na primeira paixão da minha vida, que, é claro, aconteceu em Paris. Durou pouco, mas permaneceu a lembrança intensa no tempo, depois de todos esses anos. Talvez porque não tenha sido completamente concretizada, tornando-se convivência, o sentimento não tenha se exaurido. Permaneceu tão forte quanto meu amor por Paris. Ambos ficaram idealizados, parados no tempo, não consumados pelo dia a dia, quando podemos perceber defeitos por meio do cotidiano.

Talvez seja melhor assim. Paris, parada no tempo, de quando havia 23 anos e adorada para sempre. Roma, às vezes amada, às vezes detestada, como um amor real, com os altos e baixos do cotidiano.

Satisfeita com minha conclusão, perambulando pelas ruas da minha cidade idealizada, fui tomar um vinhozinho para comemorar esta constatação. Fui deixando meus passos escolherem o lugar mais propício e, quando me dei conta, parei na frente de uma brasserie, perto da Gare St Lazare que não poderia ter nome mais apropriado: Brasserie Paris Rome. Uma grande paixão e um grande amor. Que mais se pode querer na vida?

Tudo bem que em Roma não se encontra o famoso Montblanc da Doceira Angelina de Paris. Mesmo

sendo um doce muito apreciado em Roma, não é o forte da cidade. Mas quem é viciado em castanha, marron-glacé e afins, pode se consolar na Giuliani, uma antiga fábrica que existe desde meados do século passado. Eles realizam os doces de maneira completamente artesanal.

  E também criam diversos tipos de chocolate. Imperdível o marron-glacé coberto com chocolate. Fica na Via Paolo Emilio 67, no bairro Prati.

Diferentemente do que foi publicado na edição 166, nesta coluna, as imagens não referem-se aos textos. O erro se deu durante o fechamento.

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la gente, il postoClaudiaMonteiroDeCastro

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