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Rio de Janeiro, fevereiro de 2008 Ano XIV – Nº 116 ISSN 1676-3220 R$ 10,90 A MAIOR MÍDIA DA COMUNIDADE ÍTALO-BRASILEIRA Entenda a crise que derrubou o governo Prodi www.comunitaitaliana.com Eu indico! Prática das recomendações é uma praga em instituições italianas herdada pelo Brasil

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Page 1: Eu indico! Nepotismo - Comunità Italiana · legislatura da República Italiana. E pensar que o estopim da queda de Prodi foi a re-núncia do seu ministro da Justiça, Clemente Mastella,

Rio de Janeiro, fevereiro de 2008 Ano XIV – Nº 116

ISS

N 1

676-

3220

R$

10,9

0

A m A i o r m í d i A d A c o m u n i d A d e í t A l o - b r A s i l e i r A

Entenda a crise que derrubou o governo Prodi

www.comunitaitaliana.com

Eu indico!Nepotismo

Nepotismo

Prática das recomendações é uma praga em instituições italianas herdada pelo Brasil

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EditorialEnfim, 2008! .................................................................................06

Cose NostreUm carro que pertenceu ao ditador Benito Mussolini será leiloado e seu preço pode chegar a mais de 1 milhão de euros ........07

NegóciosCouromoda: feira de calçados brasileira atrai, a atenção de compradores italianos ..........................................................20

AtualidadeCada vez mais jovens italianos optam por perder a virgindade somente após o casamento, como fez o craque Kaká, do Milan ......23

EntrevistaMusicólogo e ex-cônsul do Brasil em Nápoles, Vasco Mariz fala sobre a influência da música italiana na corte portuguesa que se instalou no Rio de Janeiro, há 200 anos, mudando a vida do Brasil ..................28

PersonalidadeO músico e produtor de TV, Renzo Arbore, critica a qualidade da atual programação das televisões, principalmente a italiana ......41

SaúdePouco conhecidas, frutas da região do cerrado brasileiro são cada vez mais exploradas com finalidades terapêuticas ..............42

GastronomiaDritte su posti, a Rio de Janeiro, per svagarsi all’aria aperta, ma con molta sofisticazione ..................................50

36 45Segurança AcordoGoverno do estado do Rio de Janeiro firma convênio técnico com a polícia italiana para troca de informações

Religião PolêmicaDevotos de Padre Pio, na Itália, se rebelam contra a idéia da exumação do corpo do santo e a denúncia de que suas chagas eram falsas

Carnaval Nella foliaL’omaggio della scuola di samba infantile della Viradouro all’Italia, paese di origine del suo presidente d’onore Francesco Conte

Moda QueridinhaEstilista brasileira faz sucesso no concorrido mundo da alta costura, em Milão

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CAPA País dos recomendados Cargos que passam de pais para filhos ou que são preenchidos graças a alguma indicação são tão comuns na Itália quanto um bom pedaço de pizza. Essa prática rotineira está na origem de escândalos que apa-recem todos os meses, na mídia, e emperra as instituições italianas.

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entretenimento com cultura e informaçãoeditorial

FUNDADA EM MARÇO DE 1994

Julio Vanni

COSE NOSTRE

O carro Alfa Romeo 6C 2300 Pescara Spider que pertenceu ao di-tador fascista italiano Benito Mussolini (1883-1945) irá a lei-

lão na Grã Bretanha, no final de fevereiro. Seu preço pode chegar a mais de 1 milhão de euros. Em 1936, o Alfa Romeo de Mussolini - construído a pedido do ditador em 1935 - correu na competição Mille Miglia (Mil Milhas Italianas), conduzido por Ercole Boratto, motorista de Benito e então piloto de testes da fábrica. O carro chegou na 13ª colocação. O Alfa Romeo roxo escuro, de dois luga-res, que atinge uma velocidade máxima de 140 km/h, pertenceu ao ditador fascista até 1939. Segundo o catálogo do leilão, somente outras três pessoas foram proprietárias do veículo. O último de-les solicitou uma restauração a Dino Cognolato, vencendo diversos prêmios pelo excelente acabamento.

Por um capricho do calendário, o Carnaval, este ano, aconteceu logo no início de fevereiro. Assim, 2008 não teve outra opção a não ser começar mais cedo. No Brasil é assim. O “Ano Novo” só começa, de fato, depois do Carnaval. Na Itália,

porém, começou bem antes e bastante tumultuado. Depois de dois anos de um governo sempre na corda bamba, o primeiro-ministro

Romano Prodi caiu e o presidente Giorgio Napolitano convocou eleições para os dias 13 e 14 de abril. Portanto, após dois anos do primeiro exercício de voto dos italianos no exterior, eles serão chamados novamente às urnas para elegerem 12 deputados e 6 senadores que, juntos, representam cerca de 55 milhões de italianos e descendentes fora do país.

Nesta edição, a revista explica em detalhes a crise política que derrubou a 15ª legislatura da República Italiana. E pensar que o estopim da queda de Prodi foi a re-núncia do seu ministro da Justiça, Clemente Mastella, acusa-do de corrupção envolvendo vários membros da sua família, além de tráfico de influência. Esse “detalhe”, porém, parece não ter chocado muito os italianos.

Como mostra a nossa reportagem de capa, as chama-das recomendações são uma prática enraizada na cultura italiana. Diga-se de passagem, não só lá. Essa “folia” que envolve nepotismo e corrupção, é uma praga também na so-ciedade brasileira e não é à toa. Foi uma “herança” que atra-vessou o mar e se tornou prática comum no Novo Mundo.

Aliás, é impressionante como Brasil e Itália estão em sintonia quando se fala de práticas públicas... ruins. No jo-go do “é dando que se recebe”, só interessa agrupar forças, constituir aliados, para a conquista ou a manutenção do po-der. Enquanto observa-se um mar de desperdício do dinhei-ro público, o direito à eficiência que o cidadão deveria ter garantido pelas altas taxas que paga é substituído pela arrogância de funcionários sob a tutela do Estado. É como dizem os italianos: “Che tutto cambi affinché non cambi nulla”.

Também dentro desse espírito, a revista aborda um assunto que é um verdadeiro barril de pólvora para os fervorosos italianos devotos de Padre Pio – e são milhares. Eles estão em pé de guerra tanto com autoridades eclesiásticas quanto com leigos. Com o clero porque existe a possibilidade do corpo ser exumado para ser exposto à visitação pública. Com estudiosos porque eles acusam Padre Pio de fraude. Contra o santo, foi feita a denúncia que os estigmas que apresentava pelo corpo seriam falsos. Essa polêmica vai longe.

Mas, afinal, trata-se da edição de fevereiro e o famoso Carnaval carioca não po-deria ficar de fora. Mostramos o melhor da nossa festa que contou com a presença de celebridades italianas como o estilista Valentino e a atriz Monica Belluci, que voltou à cidade depois de curtir o Reveillon no Rio.

Aliás, outras celebridades da Itália estão presentes nesta edição como o produ-tor de TV e músico Renzo Arbore e o fotógrafo Mimmo Cattarinich que estiveram no Brasil e falaram com a Comunità, além da cantora Carla Bruni, a nova primeira-dama da França. Quem também esteve por aqui foi o diretor da Polícia Criminal da Itália, Nicola Cavaliere, que assinou um acordo de cooperação técnica com a secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. No alto do Pão de Açúcar, ele nos deu uma entrevista e nos contou detalhes sobre o acordo.

Boa Leitura.

DIREtOR-PRESIDENtE / EDItOR:Pietro Domenico Petraglia

(RJ23820JP)

DIREtOR: Julio Cezar Vanni

PUBlICAÇãO MENSAl E PRODUÇãO:Editora Comunità ltda.

tIRAGEM: 30.000 exemplares

EStA EDIÇãO FOI CONClUíDA EM:12/02/2008 às 12:30h

DIStRIBUIÇãO: Brasil e Itália

REDAÇãO E ADMINIStRAÇãO:Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói,

Centro, RJ CEP: 24030-050tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2719-1468

E-MAIl: [email protected]

SUBEDItOR: Sônia Apoliná[email protected]

REDAtOR: Paula Máiran

REDAÇãO: Daniele Mengacci; Fábio lino; Guilherme Aquino; Nayra Garofle; Sarah Castro;

Sílvia Souza; tatiana Buff; Valquíria Rey

REVISãO / tRADUÇãO: Cristiana Cocco

PROJEtO GRáFICO E DIAGRAMAÇãO:Alberto Carvalho

[email protected]

CAPA: Grupo Keystone

COlABORADORES: Adroaldo Garani; Braz Maiolino; Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco lucchesi; Domenico De Masi; Franco Urani; Fernanda Maranesi; Giuseppe Fusco; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia

Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta

CORRESPONDENtES: Guilherme Aquino (Milão); Valquíria Rey (Roma);

Fábio lino (Brasília)

PUBlICIDADE:Rio de Janeiro - tel/Fax: (21) 2722-0181

[email protected]

REPRESENtANtES: RJ e SP - José Carlos Montichel

Cel: (21) 9200-9925tel: (21) 2220-4078 / (21) [email protected]

Brasília - Cláudia therezaC3 Comunicação & Marketing

tel: (61) 3347-5981 / (61) [email protected]

ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos

e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo

assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori e sprimono, nella massima libertà, personali

opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione.

ISSN 1676-3220

Pietro Petraglia Editor

FalecimentoO empresário Ernesto Illy, presidente honorário da torrefado-

ra italiana illycaffè, com sede em trieste, na Itália, faleceu aos 82 anos. A família não divulgou a causa da morte. Conhecido internacionalmente como “embaixador do café”, Illy foi um dos responsáveis pela mudança dos critérios de qualidade do produto no Brasil. “Não se pode falar em café de qualidade sem citá-lo”, diz Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP). A torrefadora italiana é sócia, junto com a família Carvalhaes, da exportadora de grãos Porto de Santos Comércio e Exportação ltda, sediada no litoral paulista.

Camorra desfalcadaA polícia italiana prendeu,

no mês passado, Vincen-zo licciardi, chefe de um im-portante clã da Camorra, a má-fia napolitana. Ele era um dos 30 criminosos mais procurados da Itália e estava foragido da justiça há vários anos. licciar-di foi detido na localidade de Cuma, na província de Nápo-les, após uma investigação que durou dois anos. Vincenzo era o chefe do clã dos licciar-di, um dos mais importantes da Camorra, que comandava a chamada aliança entre famílias da região de Secondigliano. A criação da aliança de Secondi-gliano para tomar o controle na região das “famílias” histó-ricas da Camorra provocou uma das mais longas e sangrentas guerras entre mafiosos.

Imposto pega CapelloA Procuradoria de turim, na Itália, intimou o técnico da sele-

ção da Inglaterra, Fabio Capello, a prestar depoimento por fraude fiscal, segundo o diário Il Giornale. O treinador italiano teria deixado de colocar no imposto de renda parte de seus ven-cimentos quando comandava a Juventus. O pagamento a Fabio Capello seria feito através de clubes de fora da Itália e, depois, repassado a ele. As investigações já duram cerca de sete meses. No ano passado, os promotores conseguiram um mandado para confiscar documentos do técnico.

Museu devolve vaso roubadoUm vaso de 2.500 anos, do artista grego Eufrônio, foi devolvi-

do pelo Museu Metropolitano de Nova Iorque às autoridades italianas. A Cratera de Eufrônio - um grande vaso pintado com ce-nas de poemas homéricos - é tido como um dos mais belos exem-plos do tipo. A peça era usada para a diluição de vinho com água. Segundo as investigações, o vaso foi roubado de um local próximo a Roma. O museu o comprara do marchand americano Robert He-cht por 1 milhão de dólares, em 1972. Hecht está sendo julgado na Itália por receptação de antiguidades roubadas.

Mísseis e laranjasA utoridades italianas descobriram no porto de Bari (sul) dois mís-

seis escondidos num caminhão carregado de laranjas proveniente da Grécia. Os mísseis, de médio alcance, se encontravam em caixotes cobertos pela fruta e foram descobertos durante uma inspeção da al-fândega. Os motoristas foram interrogados e as autoridades estão in-vestigando o caso.

Boa de bocaNuma época de luta contra a anorexia, a modelo brasileira Sha-

lana Santana, 24, venceu um concurso de culinária entre mode-los, realizado na Scuola della Cucina Italiana, em Milão. O evento foi promovido pela prefeitura de Milão com intuito de unir a alimentação saudável à beleza, os fogões às passarelas. Shalana venceu preparando um prato tipicamente italiano: bacalhau com creme de lentilhas.

MisturaUm estudo do Instituto Italia-

no de Estatísticas, o Istat, revelou que em cada sete casais que se formam, atualmente, na Itália, há um estrangeiro. O fe-nômeno é observado desde 1991, quando os casais mistos eram apenas 58 mil. Em 2006, o índice ultrapassou os 200 mil. As pro-víncias italianas nas quais mais acontecem casamentos formais de italianos com estrangeiros são as de fronteira, como Imperia (na fronteira com a França), trieste (Eslovênia) e Bolzano (áustria), e as que incluem grandes cida-des, como Bolonha e Milão. Os homens italianos, responsáveis por 59,1% dos casos, tendem a se casar com mulheres da Europa central e oriental, em média dez anos mais jovens. As mulheres, por sua vez, preferem os africa-nos do norte, sobretudo os marro-quinos, tunesinos e subsaarianos, com menor diferença de idade.

Barulho não podeNa segunda edição da Clericus Cup, um campeonato de futebol

que reúne seminaristas, padres e estudantes de teologia, a torcida que lota o campo, no Vaticano, está tendo de moderar a animação. Depois de muita reclamação na época da primeira edi-ção, no ano passado, os organizadores resolveram proibir o uso de tambores, apitos e até músicas em ritmo de reggae entoadas nos jogos. Os torcedores só podem usar as mãos e a própria voz para se manifestar. A competição começou em outubro do ano passa-do. A final acontece no dia 3 de maio.

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ImpressIone DIgItale (rs) - Aspec-tos urbanos, da arte e da cultura no dia-a-dia da Itália podem ser vistos nos registros fotográficos feitos pelo arquiteto Helvio Jo-sé Mello Junior. A exposição, que acontece no centro do município de Silveira Martins, é produto das andanças de Junior ao longo de cinco semanas. Ele passou por 24 cidades que renderam cerca de 1.500 fotos. Do total, 40 foram escolhidas para compor a mostra. Até 2 de março. local: No quios-que da Praça Garibaldi, no cen-tro da cidade. Informações com

o próprio arquiteto no e-mail: [email protected] herança (rJ) - É o nome da pe-ça do italiano Andrea Appetito que será encenada até o dia 30 de março. Com direção de Virgí-nia Corsisni, o texto gira em torno de uma tragédia doméstica, onde uma mulher revela aos pais, de forma dura e cruel, seus sentimen-tos de solidão e abandono. Essa catarse faz com que ela renegue sua herança genética. Em cartaz no Casarão Bambina, Rua Bambi-na, 141 – Botafogo. Quinta, sexta e sábado, às 21h, e domingo às

20h. Ingresso a R$ 15 (meia para estudantes).VI FestIVal Da músIca ItalIana (sc) - O Fest’Itália acontece em Palma Sola, nos dias 4 e 5 de abril. As dispu-tas são entre as categorias adulto e infantil; e as modalidades clássica/contemporânea e folclórica/popu-lar. O evento é organizado pelo Gru-po Folclórico “la terra Del Pin”, on-de serão distribuídos, no total, mais de 8 mil reais em prêmios. As ins-crições são gratuitas. Informações: pelos telefones (49) 3652-0150 / 3652-0488 / 9106-9928 ou no e-mail: [email protected].

na estante

agenda cultural

opinião serviço

frases

A Piazza Di San Marco, em Veneza, emoldura a foto “família unida”, na qual estamos minha filha Giovana, meu filho le-

andro e eu. A viagem foi feita em 2004, quando meu filho esta-va morando na Itália e estávamos há um ano sem nos encontrar. Aproveitamos para percorrer vários lugares de nossos antepassa-dos, o que nos trouxe lembranças históricas que muito nos orgu-lhamos de preservar aqui no Brasil.

Eliana Casagrande Lorenzini – Bento Gonçalves, RS – por e-mail

click do leitor

cartas

Mande sua foto comentada para esta coluna pelo e-mail: [email protected]

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“Adoro ler os artigos de “la gente, il posto”. A colunista aborda temas atuais e às vezes complicados, porém, retra-

ta sempre com uma dose de humor o dia-a-dia italiano. Parabéns pelas charges também!”

CáSSIa PaES, Rio de Janeiro - Rj — por e-mail

“Gostei de conhecer um pouco mais sobre Santa Catarina na última edição. O estado oferece um cenário paradisíaco e

um ótimo roteiro para quem aprecia a história da cultura italiana emoldurada pelas paisagens brasileiras”

MaRIa LúCIa GuIMaRãES, São Paulo – SP — por e-mail

Carlota Joaquina: Cartas iné-ditas. As contradições sobre a figura da princesa espanhola, mulher de D. João VI, refle-tem uma mulher de persona-lidade conflitante e determi-nada em suas relações tanto de poder como amorosas. O li-vro apresenta um estudo deta-lhado de parte das correspon-dências trocadas com amigos, políticos, governantes, fami-liares, num total de 145 car-tas. Casa da Palavra, 408 pá-ginas, 55 reais.

A Vinda da Família Real Portu-guesa para o Brasil. A obra de tho-mas O’Neil, publicada em londres, em 1810, é um relato detalhado do embarque no cais de Belém à che-gada e permanência no Rio de Ja-neiro. O texto não deixa de lado as descrições de paisagens e pessoas que recepcionaram D. João VI e sua corte. Explora todas as transforma-ções vivenciadas de 1815 a 1821, além da vinda e permanência da Corte portuguesa durante 13 anos em terras tropicais. José Olympio, 128 páginas, 29 reais.

enquete

Professora italiana é processada por colocar adesivo na boca do aluno. A posição é justa?

Sim – 66,7%

Sim. Ela cometeu um abuso de poder - 72,2%

Não. Ela precisava punir o aluno – 27,8%

Enquete apresentada no site www.comunitaitaliana.com entre os dias 23 a 25 de janeiro.

Enquete apresentada no site www.comunitaitaliana.com entre os dias 29 de janeiro a 1 de fevereiro.

Não – 33,3%

“Me remeto à Constituição para pedir a vós, deputados, e depois a vossos colegas senadores, com um voto de confiança, vosso juízo

sobre as declarações que acabais de escutar”,

Romano Prodi, chefe do Governo Italiano, após um discurso de vinte minutos na Câmara dos Deputados

“Se a Santa Sé representa a mãe, por que todos têm medo?”,

Emmanuel Melingo, arcebispo excomungado, em coletiva de imprensa em uma livraria romana para a apresentação de sua biografia, “Milingo, Confissões de um Excomungado”, escrita

pela jornalista Raffaella Rosa

“O coração é nosso código para demonstrar o amor quando não dá para falar! Então, o coração ainda vai durar muito tempo! Na primeira oportunidade, ele

será recompensado”,

Stephany Brito, atriz brasileira e namorada de Alexandre Pato, sobre a comemoração nos gols

do novo xodó do Milan

“Eu prefiro mãos grandes e fortes. As das mulheres, geralmente são muito pequenas e delicadas”,

Guido Daniele, artista conhecido por usar as mãos humanas como tela para pintar figuras de animais,

explicando a escolha de seus “materiais”

Crise na Itália: Berlusconi tem chances de voltar ao poder?

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opinione

Franco Urani

Considerazioni su cause e possibili soluzioni

Si profila una crisi alimentare mondiale

opinione

Ezio MaranEsi

Un disastro annunciato di cui non c’era bisogno

Ecoballe e altre balle

Rod

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Clix

Il pianeta e le moderne tec-nologie hanno fatto miraco-li ad alimentare una popola-zione mondiale che è esplosa

passando da circa 2,5 miliardi del 1950 a 6,6 miliardi del 2007 ed allevamenti di animali domestici che, nel periodo, devono essersi almeno triplicati.

le soluzioni sono finora consistite in ingenti disbosca-menti per convertire le foreste in terreni coltivabili e pasco-li, nell’uso sempre più genera-lizzato della meccanizzazione agricola e della chimica nelle coltivazioni (fertilizzanti, an-ticrittogamici), nella recente e contestata introduzione delle sementi geneticamente modifi-cate, nello sfruttamento inten-sivo della pesca.

Ne sono derivati notevoli pro-blemi, quali: accelerata erosione ed esaurimento di terre coltiva-te, inquinamenti generalizzati, drastica riduzione del patrimonio ittico.

Più recentemente sono inter-venuti fatti nuovi :

• lo sviluppo accelerato dei paesi del sud-est asiatico (Cina, India e paesi limitrofi) che pos-siedono circa il 40% della popo-lazione mondiale e si tratta di un fenomeno che dovrebbe aumen-tare in modo rapido ed irreversi-

bile ammesso che vi siano le ri-sorse per sostenerlo;

• la troppo rapida crescita del parco autoveicoli che ha portato ad aumenti record del petrolio, attualmente sui US$ 100 al bari-le, con preoccupazioni sia di or-dine economico, sia di graduale esaurimento delle riserve nono-stante la scoperta di vari nuovi giacimenti. Da qui, la determina-zione di generalizzare l’utilizzo complementare dei derivati del petrolio con carburanti di estra-zione vegetale (etanolo che il Brasile applica ormai da 30 anni e alcol di mais per la benzina - oli di leguminose per il diesel), prevedendosi così di destinare a questa finalità parte delle terre coltivabili;

• infine, l’eccesso consumi-stico alimentare proprio dei pae-si sviluppati con problemi ormai estesi di obesità, alcolismo, dro-ga, oltre a tutto immorali quan-do si pensa che circa la quarta parte della popolazione mondiale è affamata. Sgomenta poi il fatto che l’80% delle risorse mondiali sia consumato da una fascia di appena il 20% della popolazione di alto/medio reddito, specie in Nord America ed Europa.

Così, negli ultimi mesi del 2007, i prezzi dei prodotti ali-mentari vegetali e zootecnici

sono notevolmente aumentati, addirittura raddoppiati quelli del frumento e mais, con pre-visione di crescita – da parte dei competenti – del 10/15% all’anno almeno fino al 2015. Problema questo preoccupan-te specie per i paesi non au-tosufficienti come produzione alimentare quali l’Italia, meno o addirittura favorevole per i paesi produttori ed esportatori - tra cui spicca il Brasile - che peraltro dovranno aumentare adeguatamente i salari del loro proletariato per il maggior co-sto alimentare.

Posta la gravità del proble-ma, in questa sede è solo possi-bile menzionare una serie di ben conosciute misure cautelative di cui l’Umanità dovrebbe accelera-re l’applicazione:

• il contenimento delle na-scite considerando che le risor-se terrestri non sarebbero certa-mente sufficienti ad alimentare adeguatamente gli attuali 6,6 miliardi di abitanti che conti-nuano ad aumentare di quasi 100 milioni all’anno;

• energie alternative non inquinanti né di estrazione ve-getale per la locomozione (idro-geno, elettricità) e per la ge-nerazione elettrica (nucleare, solare, eolica);

• preservazione della terra a scopo alimentare, combattendo l’erosione e l’inquinamento, non-ché razionalizzando ed amplian-do le aree irrigate con sistemi di massima economia tipo goccia;

• diminuire sensibilmente gli allevamenti considerando che la trasformazione del prodotto agri-colo in animale risulta antieco-nomica potendo l’umanità assi-curare il suo fabbisogno proteico direttamente dai vegetali, non-ché il forte inquinamento con-nesso agli allevamenti e le vaste aree di pascoli così convertibili in coltivazioni;

• ricorrere quanto più pos-sibile ai prodotti geneticamen-te modificati con tutte le caute-le del caso, come già avviene in USA e Brasile;

• puntare sui trasporti collet-tivi a scapito dell’automobile, in-centivando treni ed idrovie;

• ridurre gli sprechi valutati ad addirittura il 20% dei prodot-ti commestibili, motivati da pro-blemi di conservazione, consumi eccessivi, cattive gestioni;

• razionalizzare i sistemi di distribuzione dal produttore al consumatore minimizzando le in-termediazioni;

• promuovere l’impianto di orti e frutteti famigliari laddove possibile.

Il Vesuvio ha sepolto Pompei di cenere. Bassolino ha se-polto Napoli di immondizia. Con il concorso dell’ex mi-

nistro Pecoraro Scanio, il nostro dottor No. No ai termovalorizza-tori, no alla tAV, no al ponte sul-lo Stretto, no all’energia nuclea-re, no a nuove strade, no a tutto. tutti noi sognamo un mondo di limpidi ruscelli, di alberi frondo-si, di caprioli gioiosi, di fresche brezze, ma Eva peccò e il para-diso terrestre ci fu tolto. Siamo condannati al progresso. tut-ti corrono, e cercano di correre sempre di più. Verso dove nessu-no sa. tutti vogliono, legittima-mente e in buona fede, una vita migliore. Oggi si campa e si man-gia più di ieri, ma i ruscelli sono meno limpidi e le brezze sono in-quinate. È il prezzo che dobbia-mo pagare. Esiste certamente un punto di equilibrio tra il progre-dire e il preservare la nostra ter-ra. Abbiamo il dovere di cercarlo, ma certamente non è quello che ha proposto il nostro Pecoraro. Quando ha impedito la costruzio-ne dei termovalorizzatori a Napo-li già si capiva che, prima o poi, l’immondizia avrebbe sepolto la città. E Bassolino, che da 14 an-ni finge di “amministrare” il pro-blema, non ha mosso un dito.

Il Parlamento ha ora caccia-to il disastroso ministro. Non per cattiva amministrazione, ma solo perché ha bocciato Prodi. Con il governatore le cose sono piú dif-ficili: la moglie ha il voto al Se-nato (almeno fintanto che que-sto Senato sopravvive) e il suo voto era, e può ancora essere, prezioso per qualche importante poltrona. Nessuna censura è sta-

ta e sarà proposta dal governo centrale. Ma non disperiamo: so-no giorni in cui tutto può acca-dere. l’unica cosa che non ci po-tevamo aspettare è che Pecoraro o Bassolino avessero la dignità di dimettersi.

Resteranno le ecoballe. Ce ne sono vari milioni. Allineate in vari siti nei dintorni di Napoli, in decomposizione, contengono l’immondizia napoletana di tem-pi passati, quando ancora si rac-coglieva. Rimarranno dove sono ancora a lungo, monumento alla incompetenza e alla imbecillità umana. la gente protesta, e ha ragione di protestare. Mi chiedo però: perché non ha protestato quando i rifiuti inquinanti sono stati portati nelle 1500 discari-che clandestine che circondano Napoli? Perché da 14 anni conti-nua a votare Bassolino?

Sono tempi difficili: sembra che i nodi siano giunti al pettine tutti insieme. Declino economi-co, insicurezza, peso internazio-nale sempre minore, zero riforme, sfiducia diffusa nelle istituzioni. Il comportamento degli ultimi governi ci ha portato a questa situazione. Prodi ci ha messo la ciliegina. I nostri politici, negli ultimi anni, ci hanno racconta-to balle. Ci hanno fatto crede-re che eravamo ricchi, e hanno speso, male, soldi che non ave-

vamo, indebitando assurdamen-te la nazione. Rimane il conto da pagare, debito e interessi. Ci hanno fatto credere che erava-mo i migliori ed ora sappia-mo che la nostra scuola è tra le peggiori d’Europa, che i nostri ricer-catori sono costretti ad em ig ra r e per poter fare il lo-ro mestie-re, che la nostra produttività industria-le non migliora, che in Ita-lia si muore di lavoro più che altrove, che la nostra classe politica si è compor-tata e si comporta in modo irresponsabile e vergogno-so. Confindustria valuta in 200 miliardi di euro, solo negli ultimi anni, il costo della incapacità dei politici di prendere le decisioni di cui la nazione ha bisogno. Dibattito sterile e strenua difesa della poltrona è l’im-pegno del politico italiano, mentre l’Italia ha bisogno di decisioni coraggiose e pur-troppo impopolari.

Bisogna allora disto-gliere l’attenzione dai problemi vitali, crea-re dei diversivi, e allo-

ra si inventa un dibattito politi-co sull’aborto o l’impegno per la moratoria mondiale della pena di morte. È ovvio che l’aborto pone gravi problemi morali, ma una leg-ge già esiste, e funziona. Era que-sto il momento di ridiscuterne? È evidente che l’impegno italiano nel dibattito mondiale sulla mora-toria della pena di morte ci ha fat-to onore, ma era il caso che Prodi ridesse tronfio a 42 denti il giorno dopo l’approvazione della mozio-ne all’ONU, proprio quando la Cina giustiziava 14 persone?

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opinione

Ensaios Literáriosmarco lucchesi / artigo

Fabio Porta

Ricordate il vecchio proverbio italiano? Per alcuni “euroburocrati” non soltanto è ancora valido ma addirittura può divenire legge…

Mogli e buoi dei paesi tuoi Mais ensaísta que crítico literário de estrita definição (na

mesma estante de Carpeaux, Antônio Cândido ou Augusto Meyer), Marco lucchesi destaca-se entre os intelectuais das gerações mais recentes pela amplitude de interesses, eru-

dição ecumênica e incomum afinidade com a coisa literária. (A me-mória de Ulisses. Rio: Civilização Brasileira, 2006). É um goethiano integrado na weltliteratur, cujo tipo de visão aplica nos seus próprios ensaios: Joaquim Cardozo (grande poeta sem a glória que merece), Villon, o padre Vieira e Cervantes, figuras epônimas não só da literatu-ra universal, mas também das suas épocas e das seguintes: “A filosofia de Kant, a Revolução Francesa e o Fausto de Goethe. Desses horizon-tes surgiram... os fundamentos do mundo moderno: a coisa em si e a representação, a figura do gênio e o complexo de Fausto, a igualdade e a fraternidade (...)”.

tudo isso se passa no plano ideal da literatura como idéia, para além das belas-letras que a representam: “Pode-se mesmo dizer, sob a chan-cela de uma história suspensa, que Goethe escreveu a Divina Comédia. E Dante o Fausto. Ou que Cervantes redigiu as Elegias romanas e Goe-the, o Dom Quixote (...). O problema da luz e da unidade, do silêncio e da palavra, da vida e da representação aproximam Dante, Goethe e Cer-vantes”. Uma razão profunda tornou contíguos, neste livro, os capítulos sobre Spengler e Gibbon: são dois espíritos dominados pelo sentimento trágico da existência. Os grandes monumentos da historiografia e da fi-losofia da história são construídos sobre as ruínas das civilizações: “As ruínas são como que células mortas de uma história viva”.

the decline and fall of the Roman empire é livro simétrico ao A decadência do Ocidente, este último escrito e publicado quando o processo degenerativo da civilização parecia irreversível, especialmente aos olhos de um alemão (1918-1922). Coloquem-se os dois livros nas perspectivas mentais em que foram escritos: “Onde estão? As glórias de assírios e romanos. O im-pério sassânida e mongol... o farol de Alexandria... os olhos de Cleópatra... o orgulho de Bonifácio VIII... onde estão as colunas e propileus, outrora soberbos, que fizeram da Acrópole o centro do mundo?”. Re-flexões de Marco lucchesi, que ainda transcre-ve as de Gibbon: “Enquanto este grande corpo (o Império Romano) foi invadido por violência aberta ou minado por uma vagarosa decadência, uma religião pura e humilde insinuou-se de modo sutil na mente dos homens, cresceu silenciosa e obscura, e finalmente erigiu a bandeira triunfante da cruz nas ruínas do Capitólio”.

Como se sabe, a idéia central de Spengler consistia em dis-tinguir entre Kultur e Zivilisation, da vida ao letargo. De Apolo a Fausto, no que, claro está reencontramos o mito goethiano: “Vejo na história universal”, escrevia ele, “a imagem de uma eterna forma-ção e deformação, de um maravilhoso advento e perecimento de for-mas orgânicas”. Assim voltamos, não apenas a Goethe, mas a Vico e a Niestzsche, e aos grandes mitos, conforme a cota de Marco lucchesi: “Apolo é a alma da cultura antiga, a linha clara e sutil, a expressão do equilíbrio... Fausto é o espaço puro, sem limites”, segundo as nota-ções de Spengler: “Fáusticos são a dinâmica de Galileu, a dogmática católico-protestante, as grandes dinastias da época barroca com sua

Wilson Martins

política de gabinete, o destino do rei lear e o ideal da Madona, desde e Beatriz de Dante até o fim do segundo Fausto”.

“Grandeza e decadência de Oswald Spengler” – eis o título de um livro possível: “terreno movediço”, conclui Marco lucchesi, deslocan-do-se “vertiginosamente de uma época para outra. Cria infundados paralelos. Impossíveis morfologias. (...) O sistema é arrogante. Auto-suficiente... todos cumprem... um papel predeterminado. Isso levou thomas Mann a criticar o descaso de Spengler com a humana liber-dade, e Karl Popper e Isaiah Berlin. Para Spengler, apenas as culturas são indivíduas, e boa parte do fascínio de Der Untergang parece ter nascido dessa condição inelutável”. Apesar de tudo, o livro “foi um best-seller nos anos 20 e 30”, assim como o de Arnold toynbee seria nas décadas seguintes, para receber posteriormente restrições idên-ticas, quase literais. É o destino inelutável a que estão condenados todos os filósofos da história, justamente por não serem simples his-toriadores factuais.

Conforme Benedetto Croce em livro recentemente traduzido (Rio: topbooks, 2006), A história é a história da liberdade, mas também uma história de tentativas e erros, são proporcionais às tentativas. Pode-se encarar tudo isso com um movimento em espiral, não o traje-to retilíneo e triunfalista em que acreditam os espíritos simples.

(Considerado como o último dos moicanos da crítica, segundo costumava dizer José

Paulo Paes, mestre Wilson Martins redigiu este ensaio sobre A memória de Ulisses no Idéias)

Mentre la ‘nostra’ Italia vive una crisi che non è soltanto economica, ma anche politica ed istitu-

zionale, il Brasile continua a cre-scere ad un ritmo magari lento se comparato ad altri Paesi emergen-ti, ma sicuramente più che soste-nuto se raffrontato a quello della maggior parte dei Paesi europei.

l’Italia e l’Europa, partner natu-rali ed anzi ‘preferenziali’ di questo gigante adagiato sull’altra sponda dell’oceano, dovrebbero vedere di buon’occhio la crescita e lo svilup-po brasiliani di questi ultimi an-ni, incentivandoli e promuovendoli non soltanto per evidenti ragioni di carattere politico o di ordine so-ciale, ma per la stessa natura di un rapporto commerciale destinato a rafforzarsi ed estendersi negli anni a venire, nell’interesse di tutte le parti in causa.

“Dovrebbero”, ho detto, per-ché – a quanto pare – una serie di episodi di queste ultime settima-ne dimostra il contrario, indicando quantomeno una forte resistenza ad una sincera ed effetti-va apertura del mercato di consumo dell’Unione Europea ai principali prodotti brasiliani.

Il 2008 era iniziato con l’annuncio della Commissio-ne Europea di rivedere la meta che prevedeva per il 2020 che almeno il 10% delle automobili dei Pae-si membri sarebbero state mosse ad etanolo; annun-cio che riecheggiava i temi di una campagna promos-sa in questi mesi da alcune ONG e mass-media europei sui presunti effetti inquinanti e sui danni provocati all’am-biente dalla produzione dei co-siddetti bio-combustibili.

A febbraio è stata la volta della carne: sì, la carne bovina della quale il Brasile è uno dei maggiori produttori al mondo (e, consentitemi di scriverlo a chiare lettere, non soltanto in quantità ma soprattutto in qualità!).

Ebbene, con una decisione sorprendente l’Unione Europea sanciva un ennesimo ‘blocco’ alla carne brasiliana, con un’attitudi-ne chiaramente e pacchianamen-te protezionistica.

Invece, infatti, di indicare quali delle 2.781 fazendas brasi-liane esportatrici di carne sareb-bero qualificate e certificate per tale operazione (sembra che al-meno 300 rientrino chiaramente nei parametri imposti dalla UE) gli “euroburocrati” hanno semplicemente proibito a ‘tut-te’ le fazen-das brasiliane

la possibilità di esportare la lo-ro carne prelibata nei Paesi del blocco commerciale UE.

Notizia accolta, suppongo, con grande gioia dai produttori di carne irlandesi e scozzesi; me-

no allegramen-te, immagino da alcune cen-tinaia di milio-ni di consuma-tori europei, ai

quali sarà im-pedito il consu-

mo della picanha o della maminha,

e comunque di quel-la che oggi è forse la

carne bovina più sana e saporita al mondo.

le considerazioni di cui sopra, e i suoi even-

tuali sviluppi (ovviamen-te la storia non si con-cluderà con un sempli-ce decreto dell’Unione Europea…) non devo-

no essere

considerate questioni limitate alle normali relazioni di import-export tra Paesi; le implicazioni ed il contesto nel quale tutto ciò succede devono infatti condurci ad operare una riflessione di ca-rattere più generale.

la prima riguarda il nostro Paese, l’Italia. Pochi mesi fa era in Brasile il Ministro dell’Agricol-tura, Paolo di Castro; uno dei te-mi al centro della visita (che non a caso, oltre a Brasilia, ha riguar-dato gli Stati di San Paolo e San-ta Catarina) era proprio lo svilup-po dell’interscambio commerciale in materia di prodotti alimentari, carne bovina in primo luogo.

Un anno fa la visita in Brasi-le del Capo del Governo italiano indicava come uno dei principali punti di interesse dello sviluppo delle relazioni economico-com-merciali tra l’Italia e il Brasile il settore dei bio-combustibili.

In che maniera tali interessi e tali dichiarazioni di intenti in-cidono – ci chiediamo – sulle de-cisioni dell’Unione Europea, della quale l’Italia è non soltanto “so-cio fondatore” ma anche membro di primissimo piano?

la seconda riflessione riguar-da la stessa UE. In quale maniera i “Paesi dell’Euro” vogliono con-trastare l’egemonia politica ed economica degli Stati Uniti, se proprio in America latina, ossia nel continente ‘naturalmente’ ben disposto ad avere un rapporto privilegiato con il vecchio conti-nente, l’UE continua ad esercita-re un protezionismo economico e commerciale sempre più dannoso quando non obsoleto?

Non sono domande retoriche, ossia alle quali è vano o inutile rispondere.

le risposte esistono e sono risposte centrali, nevralgiche: la soluzione di tali quesiti di-pende dal livello di compren-sione dell’importanza politica ed economica del rapporto tra Brasile ed Europa. Purtroppo, anche in questo settore, vec-chi e nuovi pregiudizi, miope visioni economicistiche e stu-

pide e grette spinte protezioni-stiche sembrano avere la meglio su una visione di lungo periodo, che vede in un rapporto privile-giato tra UE e Mercosul e – per quanto ci riguarda – tra Italia e Brasile, una delle chiavi per lo sviluppo dei due continenti in questo secolo.

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La fiNESTRaDaniele Mengacci

[email protected]

Prodi è morto, Marini è morto e Napolitano non si sente tanto

bene. Così si potrebbe descrivere in sintesi la situazione del cen-trosinistra e delle due Istituzioni più importanti della Repubblica.

Il giustiziere, che da mesi tra-mava per le elezioni anticipate, è l’asse Veltroni-Berlusconi. Il primo ha bisogno di sbarazzarsi di una nutrita schiera di nemici interni, come Rutelli, per salvare ciò che resta del PD e portarlo alla guida di un nuovo governo di centrosi-nistra; il secondo vuole consoli-dare al più presto quel consenso che i sondaggi gli danno, tra il 10 e il 16%, riconquistare il governo e porre una seria prelazione sulla candidatura a presidente della Re-pubblica, meta che manca al suo Cursus Honorum, a cui non ha mai rinunciato.

Chi dovrebbe sentirsi pro-prio bene è il popolo italiano. Quelle di aprile sono chiamate “election day”. Si voterà per rin-novare il Parlamento, ma anche per molte amministrazioni lo-cali. Ecco un’inattesa possibili-tà di rinnovare profondamente la Casta, tentando di scegliere politici meno litigiosi e più in-teressati al bene comune della Nazione.

Meno contenti siamo noi, abitanti delle “colonie”, che spe-ravamo nella riforma della leg-ge elettorale affinché vi fossero cambiamenti a quella che ci con-cede di votare, come noto forte-mente carente e criticata.

le liste elettorali sono già in preparazione, e presto vedremo chi, degli eletti nelle circoscri-zioni estere, ha saputo aggradare di più il loro partito e per questo conquistare la ricandidatura.

Ho parlato via e-mail con l’On. Mariza Bafile, del PD, che ha sot-tolineato come sia persa la possi-bilità di modificare la legge, so-prattutto per riscattare la purez-za morale del voto dato dai nostri emigrati, ovvero: “È mortificante per tutti che ancora ci sia chi, nel-le aule parlamentari e fuori, met-te in dubbio la serietà e corret-tezza del nostro voto, che abbia-mo esercitato dando una grande dimostrazione di partecipazione e democrazia.” l’onorevole sem-bra dimenticare che proprio nella sua città, Caracas, fu segnalato un broglio elettorale di spostamento

dei voti da un candidato all’altro, tutti e due della Unione.

lasciando però l’Empireo dell’impossibile, suggerisce al-cuni cambiamenti:

“l’obbligo della firma nel do-cumento che si restituisce dopo aver compilato la busta con il vo-to, la creazione di comitati elet-torali presso i Consolati e condi-zioni migliori per le operazioni di spoglio”. Suggerimenti belli e necessari, come quelli degli altri parlamentari dei collegi esteri, ma che l’impositivo NO di Berlusconi lascia per la nuova legislatura.

E il referendum di Mario Se-gni? Se ne parlerà, forse, nel 2009.

electIon Day

articolo / notizie

Prima, la carne...L’Unione Europea ha sospeso le importazioni di carne bovina

in natura brasiliana per tempo indeterminato. Gli europei non hanno accettato la lista delle proprietà abilitate all’espor-tazione, fatta dal governo brasiliano, e che avrebbe autorizzato l’acquisto del prodotto nazionale dal 1º febbraio. la misura dan-neggerà in circa 90 milioni di dollari al mese i produttori brasilia-ni. l’anno scorso, il Brasile ha esportato 1,4 miliardi di dollari in carne bovina in UE, dei quali 1 miliardo di carne in natura. Il mer-cato europeo è il principale importatore del prodotto nazionale. Per cercare di risolvere il problema, è prevista la venuta in Brasile di una commissione della UE entro la fine di febbraio.

Poi, il biocombustibileFino al 2012, l’Europa dovrà consumare 22 miliardi di litri di

biocombustibile. Ciò potrebbe rappresentare un ottimo mer-cato per il Brasile, ma il quadro non è cosí favorevole al prodot-to nazionale. l’Unione Europea ha annunciato che comprerà bio-combustibili solo di raccolte con certificato, una garanzia di che il prodotto non causa danni ambientali. l’esigenza di questo cer-tificato ambientale dovrà intralciare le esportazioni brasiliane di alcol in UE nei prossimi due anni.

CresceràQuest’anno, il Brasile dovrebbe crescere più della media

dell’America latina, secondo stime rese note dalla Cepal (Comissão Econômica para a América latina e o Caribe). Sara la prima volta che il paese presenterà un quadro come questo, dal 2002. Ancora secondo studi dell’entità, il PIl brasiliano aumen-terà 5%, mentre il resto del continente rimarrà a 4,9%. l’anno scorso, il quadro era al contrario. Il Brasile era cresciuto 3,8% e l’America latina, 5,6%.

Pubblica utilitàL’Associação de Cultura ítalo-Brasileira do Estado de Minas

Gerais (ACIBRA-MG) è stata dichiarata di pubblica utilità, a Belo Horizonte, dove rimane la sede dell’entità.

l’iniziativa è partita dalla deputata Silvia Helena, che ha pre-sentato un progetto di legge con la richiesta. Come giustificazio-ne, ha dichiarato che la ACIBRA è una ONG di diritto privato e non profit, “che mira il rafforzamento dell’integrazione della colonia italiana nel seno della nostra società”. Inoltre, l’entità “sviluppa lavori di riscatto di tradizioni, cultura e storia italiane, oltre ad attività di tipo sociale e sportivo”. Il progetto di legge è stato si-glato dallo stesso sindaco Fernando Pimentel, il mese scorso.

Senza aliLa Varig, compagnia ae-

rea brasiliana in pro-cesso di acquisto da parte della Gol, ha annunciato la fine dei suoi voli diretti per Roma, da marzo. Chi vuole andare nella capitale italia-na dovrà fare scalo a Parigi o Madrid.

Com asasMas pelo menos um dos pedidos do governador Sérgio Ca-

bral, no setor aéreo, foi atendido: a reforma do Galeão. Em janeiro, o presidente da Empresa Brasileira de Infra-estru-tura Aeroportuária (Infraero), Sérgio Gaudenzi, anunciou que o governo vai investir 400 milhões de reais para reformar o Ae-roporto Internacional tom Jobim. Ele estimou em três anos o tempo necessário para terminar a obra. Reformado, o Galeão au-mentará sua capacidade de 15 milhões para 20 milhões de pas-sageiros, por ano.

Máfia na cadeiaAutoridades da Itália e dos Estados Unidos prenderam, no

mês passado, 90 pessoas ligadas à Cosa Nostra, famosa fac-ção mafiosa italiana. Segundo o jornal italiano La Repubblica, 60 indivíduos foram presos em Nova Iorque, enquanto 30 foram pegos em Palermo, na Itália. Nos Estados Unidos, as ações fo-ram conduzidas pelo FBI.

Big Brother Itália tem brasileiroO enfermeiro gaúcho thiago, de 26 anos, é o novo queridi-

nho da Itália por conta da sua participação no programa. Junto com ele, estão um transexual de 29 anos, uma família in-teira de sicilianos e um engenheiro libanês. Como no Brasil, o reality show na Itália está na oitava edição. O cenário do progra-ma é um apartamento montado dentro dos estúdios Cinecittà, em Roma. Mas, na bota, os 18 participantes do programa dor-mem em barracas e trailers até que eles mesmos terminem de construir o apartamento.

Febre AmarelaNo final do ano passado, um surto de febre amarela assus-

tou os brasileiros, mas as autoridades da área de saúde negaram a existência de uma epidemia. Vamos aos números. De dezembro até o início de fevereiro, foram registradas 11 mor-tes por febre amarela. Até agora, os casos estão concentrados nos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. trata-se do dobro de ocorrências, em relação a todo o ano passado. O pior perí-odo da doença, no país, foi no ano de 2000, com 85 pessoas infectadas.

No caixa do Rio de JaneiroOs campos gigantes de petróleo e gás natural descobertos

pela Petrobrás, na Bacia de Santos, despertou a cobiça do estado de São Paulo, de olho nos gordos royalties. Mas es-se dinheiro vai encher o cofre é do Rio de Janeiro. Quem bateu o martelo foi a própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), a partir de um estudo preliminar, recentemente concluído. O es-tudo mostrou que os ricos poços estão todos dentro do estado fluminense. A estimativa é que gerem 3,6 bilhões de dólares em royalties. O estudo apontou os municípios que serão bene-ficiados: Rio de Janeiro, Niterói, Maricá, Saquarema, Araruama e Arraial do Cabo.

LavazzaLíder no segmento de café expresso no Brasil, a italiana la-

vazza incluiu o país nos seus planos de expansão. Serão 3 milhões de euros, pelos próximos três anos. O passo inicial será a aquisição da Café Grão Nobre (RJ), dona da marca Café Floren-ça, pela empresa italiana. Segundo o diretor de operações da la-vazza, Gaetano Mele, a empresa quer crescer fora da Itália e es-colheu, para isso, os mercados emergentes pelo menor custo de produção e fraca presença dos grandes concorrentes. A lavazza importa cerca de 50% da matéria-prima brasileira para produzir 2,3 milhões de sacas de café por ano.

Carro de ouroUm carro da Fiat modelo 500 Pepita, todo pintado de ouro, foi

a grande atração da exposição Scrigno tesori di Italia, em Roma, capital italiana, no mês passado. O carro é pintado com pó de ouro 24 quilates misturado com verniz. O veículo é avalia-do em 60 mil euros, cerca de 154 mil reais. O assento dos ban-cos é feito com pele de animais. O fabricante informa que, quem se interessar, pode adquirir o carro e ainda escolher a pele para estofá-lo. As opções são avestruz, crocodilo, lagarto, serpente, raia ou tubarão. O console é revestido com madrepérola austra-liana. Já o freio de mão, os pedais e o câmbio têm cristais Swa-rovski embutidos.

Sem asasO governador do Rio de

Janeiro, Sérgio Cabral, está pessoalmente empenha-do em ter a Alitália de vol-ta ao Aeroporto Internacio-nal tom Jobim. Ele quer que a companhia italiana retome o vôo direto para Roma, a par-tir do Rio de Janeiro. Atual-mente, os cariocas precisam fazer escala em São Paulo pa-ra chegar na capital italia-na. Segundo o governador, a companhia aérea tem lhe da-do sinais de que estaria disposta a atender o seu pedido. Mas queixa-se de burocracia.

— Um problema de falta de balcão no aeroporto está fa-zendo com que esse vôo direto, tão importante para nós, não saia. A incompetência da burocracia atrapalha. É o fim da pi-cada — protestou o governador, durante um evento no Palácio da Guanabara.

notas

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política

cional a realização de um plebiscito para que se faça uma modificação desta lei.

A reforma da lei eleitoral concentra todas as discussões da crise política. É um tema que tem adeptos tanto à esquerda quan-to à direita, embora não conte com o apoio da Força Itália, maior partido do país, fundado pelo centro-direitista Silvio Berlusconi.

No entanto, para concluir o processo de revisão da lei são necessários meses, o que exigiria um governo de transição. Essa hipótese de-sagrada Berlusconi, respon-sável por introduzir o novo sistema em 2005, para evi-tar uma derrota nas urnas — resultado que acabou se concretizando meses depois.

Foi justamente essa nova lei – conhecida nos corredores do Congresso como “a porcaria”, por prever um sistema de representa-ção proporcional e dar a partidos nanicos poderes gigantes, tor-nando a Itália ingovernável – a responsável pela atual crise go-vernamental.

Não por acaso, o atual sistema favorece o partido de Berlusconi, disposto a voltar ao centro da ce-na política do país. Ele defende a realização de eleições imediatas. Mas o ex-comunista Napolitano tentou não facilitar o retorno da centro-direita ao poder.

— A dissolução do Parlamen-to é uma opção grave. Desta vez,

aconteceria menos de dois anos de-pois das últimas eleições — pon-dera o presidente que trabalhou, até o último momento, em busca de uma solução mais estável.

Uma semana após receber sua missão, Marini sinalizou pa-ra o presidente que não havia clima para a composição de um governo temporário. Napolitano

viu-se, então, obrigado a dissolver as duas câ-maras do Parlamento e antecipar as elei-ções para os dias 13

e 14 de abril. Foi o fim da 15ª legislatura da República Italiana.

HistóricoA crise do governo de

centro-esquerda come-çou uma semana antes

da renúncia de Prodi, com a demissão do Ministro da Justiça, Clemente Mastella, e a retirada de apoio do seu partido – o cató-lico centrista Udeur – à coalizão governista.

Mastella renunciou após uma ordem judicial ter condenado à

prisão domiciliar sua esposa, seu sogro e mais de 20 di-

rigentes de seu parti-do por corrupção.

Em seguida, ele também rece-beu uma noti-ficação de que era investigado

por sete crimes de corrupção e tráfico de influência.

A retirada de apoio do peque-no partido fundado por Mastella – dos três senadores, dois votaram contra o governo e um a favor – da coalizão acabou contribuindo para a derrota de Prodi no Sena-do, que não conseguiu a maioria necessária para governar o país.

Como adota o regime parla-mentarista, apesar de ter sido eleito para um mandato de cinco anos, o governo sempre esteve à mercê da confiança do Parlamen-to. Prodi viu-se obrigado a soli-citar 33 moções de apoio desde que assumiu o governo.

No caso da Itália, a situação torna-se praticamente insusten-tável – ao contrário de outros países que adotam o parlamenta-rismo, como a Inglaterra – pela pulverização partidária, que obri-ga os governantes a realizarem verdadeiras obras de engenharia política para obter maioria.

Quando foi eleito, em maio de 2006, vencendo Berlusconi nas eleições mais disputadas do

Pela Constituição italiana e de acordo com o sistema parla-mentarista do país, é o presiden-te que deve encontrar uma solu-ção para momentos como esse em que o governo cai antes de terminar seu mandato. É ele tam-bém o único que tem o poder, no país, para dissolver o Congresso e convocar eleições antecipadas.

Napolitano optou por delegar ao presidente do Senado, Franco Marini, de 75 anos, a tarefa de verificar se havia condições de formar um governo de consenso capaz de reformar o sistema elei-toral do país antes de convocar eleições gerais.

O presidente justificou sua posição sob a alegação que sem as modificações eleitorais – con-sideradas por muitos como res-ponsáveis pela crônica instabi-lidade do país desde a Segunda Guerra Mundial – a Itália jamais conseguirá chegar a uma esta-bilidade real. Ele tem lembrado a seus interlocutores que já foi aprovado pelo tribunal Constitu-

O ano de 2008 começou po-liticamente confuso para os italianos. No dia 24 de janeiro, o primeiro-minis-

tro Romano Prodi perdeu o voto de confiança no Senado e viu-se obrigado a renunciar, após per-manecer 618 dias no poder, jo-gando o país em mais uma crise governamental.

trata-se da 61º crise italiana, desde o pós-guerra, e a 4º vivida pessoalmente por Prodi, em mo-mentos políticos diferentes. Por quatro vezes, ele viu-se obrigado a renunciar. Em 1997 e em 2007, conseguiu se salvar e retomar o posto. Mas em 1998 e neste ano, ao não atingir a maioria dos vo-tos no Parlamento, teve de reti-rar-se de cena.

Com a queda de Prodi e de seu governo de centro-esquerda, o pre-sidente da República, Giorgio Na-politano, encontrou-se em uma encruzilhada: contentar os partidos que pediam por reforma política ou aqueles que clamavam por eleições já? Venceu a segunda opção.

Que venha o próximo

Queda de Prodi antecipa eleições para os dias 13 e 14 de abril

ValqUíria rEy E nayra GaroFlE

Instabilidade. Assim o sena-dor Edoardo Pollasti definiu

o motivo que levou à queda de Romano Prodi gerando a crise política na Itália. Em entrevista à ComunitàItaliana, Pollastri avaliou como “bom” o compor-tamento do presidente Giorgio Napolitano ao tentar outras so-luções antes de recorrer à novas eleições.

Ele compartilha a opinião do presidente segundo a qual, somente uma grande mudança na atual lei italiana trará esta-bilidade ao governo.

— Há duas coisas funda-mentais que devem ser conside-radas numa nova lei: deve ha-ver, antes de tudo, um limite, como se tem na Alemanha e em outros países da Europa. Parti-do com menos do que 4% ou 5% dos votos não teriam repre-sentantes no Parlamento. Des-

sa forma, eliminamos mais de 50%, que são aqueles que, com poucos votos, impedem que se façam as reformas que a Itália precisa fazer. O outro ponto im-portante é que, na lei atual, os partidos ou a colisão não for-necem o nome de quem serão eleitos. São as secretarias dos partidos que decidem quem são os parlamentares, não é o povo — explica o senador eleito pe-los italianos no exterior.

Para o senador, o melhor se-ria ter novas eleições somente após a aprovação de uma no-va lei. Na opinião de Pollastri, Berlusconi tem muitas chances de voltar ao poder. Porém, o se-nador afirma que se isso acon-tecer, Berlusconi, provavelmen-te, terá os mesmos problemas de Prodi.

— Este governo saiu com um conjunto de partido cuja

ideologia era muito diferente porque vai do centro muito ca-tólico até a extrema esquerda. Eu diria que quando se formou esse governo, já se formou com uma dificuldade muito grande. E todas as vezes que se tentava fazer uma nova lei ou parava no senado porque não tinha maio-ria ou tinha lei que não era bem como se desejava — explica.

Senador prega por mudanças na lei

país, Prodi prometeu reformas li-berais, reunindo uma coalizão formada por nove partidos.

E o povo?Nas ruas, o povo se sente traído pelos políticos italianos diante do fracasso do país em lidar com a corrupção e o título que man-tém de ser considerado um dos piores governos da Europa.

A insatisfação com a coliga-ção de Prodi começou a dar sinais mais fortes nos últimos meses do ano passado. De acordo com uma pesquisa publicada pelo jornal Corriere della Sera, 68% dos entre-vistados declararam que estavam descontentes com o desempenho do governo de centro-esquerda.

Em setembro, o comediante Beppe Grillo atraiu 300 mil pes-soas para a campanha do V-Day (V é a inicial da ofensa italiana Va fanculo, Vai tomar no…), nu-ma série de eventos que promo-

viam a assinatura de uma peti-ção em apoio a uma causa que conta com a simpatia da maio-ria dos italianos: livrar o país dos políticos corruptos, que, na opinião de Grillo, inclui todos os partidos, a maior parte das insti-tuições e a mídia.

Apesar da frustração pública com a política, Silvio Berlusco-ni, de 71 anos, o homem mais rico da Itália, principal líder de centro-direita e inúmeras vezes investigado por corrupção, man-tém sua popularidade. De acor-do com as pesquisas de opinião, caso sejam convocadas eleições hoje, ele seria o vencedor. Ao mesmo tempo, 50% dos italia-nos se manifestaram contrários à proposta de Berlusconi de an-tecipar as eleições.

Romano Prodi, dois dias antes da quebra do seu governo e Marini, em

colóquio com Napolitano

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segurança

Rio e Itália se unem contra o crime

Ao mesmo tempo em que é firmado um acordo técnico entre as duas polícias, empresa italiana apresenta novidades para melhorias do sistema penitenciário

nayra GaroFlE E DaniElE MEnGacci

A exploração sexual de crianças e adolescentes, o turismo sexual e o trá-fico de seres humanos são

as principais questões envolvidas em um acordo na área de segu-rança firmado entre a Itália e o governo do Estado do Rio de Ja-neiro. O convênio significou uma quebra de protocolo – afinal, um estado do Brasil só poderia firmar convênios com um estado de ou-tro país e não diretamente com a sua representação nacional.

Pelo acordo firmado, as duas polícias deverão, basicamente, trocar informações. Por parte do governo do Rio de Janeiro, existe a expectativa de que a experiên-cia italiana em investigação aju-de no combate ao tráfico de dro-gas. Da parte italiana, o interesse é devolver para cá, de forma mais ágil, cidadãos brasileiros que co-meteram crimes por lá.

A proximidade entre as du-as polícias é fruto de uma ini-ciativa do governador fluminen-se Sérgio Cabral. Em setembro

do ano passado, ele liderou uma missão oficial à Itália, em bus-ca de acordos de cooperação em várias áreas. O convênio na área de segurança foi firmado entre a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio (José Mariano Beltrame) e o Departamento de Segurança Pública do Ministério do Interior da Itália (Nicola Ca-valiere), no dia 31 de janeiro, no Palácio Guanabara, a sede do go-verno fluminense.

Cabral se mostrou eufórico com a concretização do convê-nio, apesar da cerimônia da sua formalização ter acontecido em meio a maior crise no setor de segurança que já enfrentou. Na véspera do evento, Cabral exo-nerara o comandante-geral da Polícia Militar coronel Ubiratan Ângelo. Quem participou da ceri-mônia foi seu substituto, coronel Gilson Pitta lopes. Ele, porém, não se pronunciou a respeito do convênio. A crise foi causada quando um grupo de oficiais li-derou reivindicações por melho-

res salários e condições de tra-balho para a corporação. Após o afastamento de Ângelo, vários comandantes de batalhões pedi-ram exoneração em solidarieda-de ao antigo chefe.

— Em breve, vamos enviar à Itália um representante da Coor-denadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil e um re-presentante do Batalhão de Ope-rações Especiais (BOPE), a tropa de elite da Polícia Militar. Serão os primeiros a usufruir o acordo. Vamos facilitar a troca de infor-mações no combate à corrupção, à máfia, à criminalidade, ou seja, no combate àqueles que são ini-migos da sociedade. Este convê-nio será muito produtivo para as polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro – afirma o governador.

Para o secretário de Segu-rança Pública do Rio de Janei-ro, José Mariano Beltrame, o convênio representa um passo importante na política de tra-balho adotada pela Secretaria de Segurança que, segundo ele,

prestigia a inteligência no com-bate à criminalidade.

— A experiência italiana de combate à corrupção será mui-to importante para nós. A polí-cia civil tem como missão inves-tigar e precisa apresentar boas provas. É preciso ter uma inteli-gência sólida a serviço da segu-rança do estado do Rio — afirma Beltrame que logo após a missão oficial do governador à Itália, voltou àquele país para iniciar a “costura” do acordo com autori-dades policiais italianas.

Bem seguroApós a cerimônia de assinatura do convênio, o diretor central da Polícia Criminal da Itália, Nico-la Cavaliere, passeou pelo Rio de Janeiro. Escoltado por três segu-ranças, Cavaliere visitou o Pão de Açúcar. Foi justamente o aparato ao seu redor que atraiu a atenção de outros turistas para o policial italiano. Ele falou com exclusivi-dade à Comunità:

— O acordo será, na prática, uma troca de informações a nível investigativo. A Itália tem proble-ma de prostituição masculina, de travestis brasileiros e turismo se-xual. Para resolver isso, precisa-se de uma investigação conjunta. Então, só como uma atividade de inteligência e uma troca de in-formações que podemos atingir os objetivos. Outro objetivo será também o de devolver os cidadãos brasileiros que comentem crimes na Itália — explica Cavaliere.

Segundo ele, o governador Sérgio Cabral, em sua visita à Itá-lia, solicitou um estudo para que se formatasse um acordo técnico na área de segurança. Dessa for-ma, as questões que mais preo-cupam o governo italiano como exploração sexual de crianças e adolescentes, o turismo sexual e tráfico de seres humanos se tor-naram centrais.

Sobre a crise na área de se-gurança pela qual passava o Rio de Janeiro, Cavaliere demonstrou ter conhecimentos. Mas preferiu não falar sobre o assunto:

— Não vamos falar sobre um assunto interno de um estado amigo. Conheci, na Itália, o se-cretário de Segurança Beltrame que é profissionalmente muito correto e preparado. Assim como conheci o novo chefe da polícia que goza do apoio do governador e isso basta.

Ele acredita que a Itália po-de ensinar muito ao Rio, assim

como o estado também pode oferecer “muitas coisas boas” aos italianos. lá, em termos de crime organizado, é a máfia que preocupa, enquanto, no Rio, as atenções se voltam para o tráfi-co de drogas.

— Esse é um acordo de ni-cho. A Itália é famosa por ter uma equipe investigativa muito boa e, sem dúvida, isso pode aju-dar também a enfrentar o tráfico de drogas aqui no Rio de Janeiro, apesar de não ser esse o foco do convênio. A polícia italiana tem longa tradição no uso de técni-cas de inteligência na área de in-vestigação — diz.

“A Itália é famosa por ter

uma equipe investigativa

muito boa e, sem dúvida, isso pode

ajudar também a enfrentar o

tráfico de drogas aqui no Rio de

Janeiro” Nicola cavaliere,

vice-diretor geral de SeguraNça Pública e diretor

ceNtral da Polícia crimiNal da itália

“Em breve vamos enviar, um representante do CORE, da Polícia Civil, e um representante do BOPE, da Polícia Militar, à Itália” Sergio cabral, goverNador do rio de JaNeiro

Vice-diretor geral de Segurança Pública da Itália, Nicola Cavalieri.

Cabral depois de assinar o convênio ao lado direito de Beltrame

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Empresa italiana oferece bunkers para favelasHá vários anos, um indus-

trial italiano pesquisa a possibilidade de ampliar seus negócios no Brasil. Como re-sultado, a SIE, grupo especia-lizado em segurança carcerária de Conegliano, província de treviso, no Vêneto, está trans-ferindo sua sede para cá.

O representante da empresa, Mauro Velocci, esteve no país, em janeiro, e fez contatos com autoridades de vários estados brasileiros. A todos, apresentou um sistema de ampliação das penitenciárias e produtos de combate ao crime organizado.

Em sua passagem pelo Rio de Janeiro, Velocci falou à Co-munità um pouco sobre as ati-vidades da empresa e explicou porque pretende transferir a sede da SIE para o Brasil.

— Uma das motivações do abandono das atividades na Itá-lia é a instabilidade política do nosso país. O programa indus-trial do país está parado. Nosso sistema modular de segurança está pronto para ser utilizado pelo Estado italiano, que não pode, porém, introduzi-lo nas construções penitenciárias por causa da instabilidade do go-verno — explica Velocci.

Ao contrário do que pen-sa sobre as condições políticas da Itália, Velocci mostra uma opinião positiva com relação à política brasileira.

— A escolha do Brasil faz parte de uma visão industrial

que projeta um futuro com ga-rantias de investimento. Essa estratégia parte de estudos e pesquisas políticas e sociais que fizemos, no fim de 2001, com os países da América lati-na que buscam melhores con-dições de vida para os próprios detentos — conta.

O investimento da empresa a ser feito no Brasil, de acordo com Velocci, gira em torno de 25 milhões de reais, com criação de 5 mil postos de trabalho e cur-sos de especialização. Segundo ele o sistema modular para am-pliação de presídios que fabrica custa 60% menos que a constru-ção de uma nova penitenciária. Na opinião de Velocci, de todos os seus produtos, o que mais poderia interessar ao “estressa-do cidadão carioca” é o bunker, uma espécie de abrigo, que seria colocado dentro das favelas.

— Se trata de uma estrutu-ra de comando, localizada nos pontos nervosos, que permiti-rão a Polícia Militar e a Polí-cia Civil manterem com mais segurança um presídio ativo. Já estamos fabricando algu-mas unidades em Conegliano, que serão instalados em breve — informa ele, insinuando que esses primeiros modelos seriam destinados ao Rio de Janeiro.

A secretaria de Segurança do Rio de Janeiro informou po-rém, que não cogita a constru-ção de qualquer tipo de bunker em favelas.

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Elegância dos pés à cabeça

Em lojas reais e virtuais

negócios

Couromoda recebe representantes da Itália que elogiam a qualidade dos produtos nacionais

tatiana bUFFCorrespondente • são paulo

Calçados brasileiros na mira de italianos

Depois da Itália, o Brasil é o país que fabrica os me-lhores sapatos do mundo. Esse “veredicto” foi dado

por ninguém menos do que Vito Artioli, presidente da Associazio-ne Nazionale Calzaturifici Italiani (ANCI), a Associação Italiana da Indústria de Calçados e também da MICAM – a feira de calçados

de Milão. Ele esteve no Brasil para participar da 35ª edição da Couromoda, realizada mês passa-do, em São Paulo.

Convidado de honra do even-to, Artioli não foi o único italia-no ilustre do mundo dos calçados a participar da feira brasileira. Francesca Meucci e Monica Mo-

ruzzi representantes, respec-tivamente, da rede de lojas

la Rinascente e do grupo de e-commerce de alto luxo Yoox, mar-caram presença entre os stands. Em comum, olhos bem abertos em busca de oportunidades de negócios a ser desenvolvido com a indústria brasileira.

A Couromoda é a tercei-ra maior feira do setor em ní-vel mundial (após Milão e Düs-seldorf, na Alemanha), sendo a

maior da América latina. Pre-sidente e fundador do evento, Francisco Santos, informou que a edição deste ano obteve uma movimentação recorde tanto em volume de negócios quanto de público. Foram seis bilhões de reais em vendas, um acréscimo de 10% em relação a 2007, e 77 mil visitantes, ao longo dos seus quatro dias de realização.

A cadeia produtiva do cal-çado brasileiro faturou, no ano passado, 5,06 bilhões de dólares em exportações para mais de 100 países. Segundo Santos, o preço médio do sapato brasileiro vem aumentando e já são comerciali-zados modelos de até 60 dólares o par. O setor movimenta cerca de 35 bilhões de reais em vendas de calçados, bolsas, cintos, pastas, mochilas e acessórios femininos, masculinos e infantis no Brasil.

— Somos o terceiro maior produtor mundial, com aproxi-madamente 800 milhões de pa-res fabricados anualmente. Pa-ra a Itália foram vendidos 5.493 pares em 2007, o que é pouco. Nosso maior mercado é os Esta-dos Unidos — diz Santos.

Durante a feira, empresários italianos do setor de calçados identificaram na qualidade do sapato bra-sileiro o principal di-ferencial em relação aos fabricados na China, índia e todo o sudeste asiático, lugares também usados pelos italianos para fazer seus produtos.

— A qualidade do calçado brasileiro melhorou muito, tanto em relação à matéria-prima como tecnicamen-te — avalia Artioli.

Ironicamente, é exatamente para China e índia que um número cada vez maior de produtores bra-sileiros ameaçam levar suas produ-ções por conta do câmbio desfavo-rável às exportações e a alta carga tributária do país. Essa situação fez com que, em 2007, o número de embarques de pares de sapa-tos caísse 1,9% em relação ao ano anterior: de 180,4 milhões passou para 177 milhões de pares.

Para contornar o problema, há quase dois anos, a Strada Shoe terceiriza 70% da sua produção na China. lá, a empresa tem cin-co unidades, contra quatro es-tabelecidas no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul. Já o gru-po West Cost pretende, este ano, terceirizar parte da produção de calçados - entre 5 mil e 10 mil por mês - em uma fábrica na ín-dia. Há 20 anos em Ivoti (RS), será a primeira experiência da

George W. Bush e Sa-ddam Husseim já cal-

çaram seus sapatos. Vito Artioli, de 71 anos, atua há décadas no setor se-ja desenhando ou produ-zindo calçados. Começou “pequenino”, como gos-ta de dizer. Em entre-vista à Comunità conta que não visitava o país há 10 anos e se surpre-endeu com o “salto de qualidade” da indústria calçadista brasilei-ra. Segundo ele, para o produto brasileiro atingir o padrão ita-liano falta apenas “refinar sua base”:

— Os sapatos do Brasil po-

dem melhorar a forma, o

estilo, a moda, com uma certa sofisticação.

O empresário elogiou, prin-cipalmente, o couro brasileiro, segundo ele, “o melhor” por ser “perfumado, confortável, macio e leve”. Isso faz com que o pro-duto nacional supere a relação qualidade/preço exportada por chineses e vietnamitas.

Na presidência da ANCI des-de junho do ano passado, Artioli tem trabalhado pela implanta-ção de um Certificado de Ori-gem no mercado europeu para o calçado italiano, de modo que o consumidor possa diferenciá-lo do fabricado na China.

— Por enquanto, cabe à éti-ca de cada empresário deixar cla-ro se seu produto “made in Italy” vem ou não de solo asiático — observa ele que, em sua passa-gem por São Paulo, se reuniu com o governador José Serra.

Para Artioli, há muito o que fazer para estreitar a relação entre Brasil e Itália, no setor de calça-dos. Uma das possibilidades, se-gundo ele, seria firmar joint-ven-tures para a fabricação de sapatos de marcas italianas aqui, onde também há consumo de alto luxo, e exportá-los aos Estados Unidos.

Na sua opinião, o grande obs-táculo para a comercialização de sapatos italianos no Brasil são as taxas alfandegárias - de 35%. O preço alto do produto ele acre-dita que não seria um problema porque, “no Brasil há uma clas-se dirigente muito rica que não abre mão de alta qualidade”.

Perguntado como definiria um bom sapato, respondeu:

— O sapato é como a mu-lher. Se é bela, qualquer roupa lhe cai bem. Se não é bela, nem o vestido mais bonito lhe en-feita.

Calçados brasileiros estarão nas vitrines das lojas da re-

de la Rinascente até o ano que vem. Foi isso o que informou a representante da empresa, Fran-cesca Meucci. Em sua primeira visita ao Brasil, ela participou da Couromoda para conhecer e pesquisar os produtos que po-derão “viajar” para a Itália. Se-gundo ela, a idéia é produzir “private labels” da Rinascente junto a fabricantes brasileiros para venda exclusiva na Itália.

A la Rinascente é voltada para a faixa de consumo médio e alto, mas se prepara para en-trar no nicho do alto luxo. Na opinião de Francesca, os sa-patos brasileiros “estão muito acima da qualidade dos chine-ses e vietnamitas”.

— É possível sentir a gran-de paixão com que as empre-sas brasileiras fazem seus pro-dutos. Foi uma experiência absolutamente interessante participar desse evento, sob o ponto de vista humano inclusi-ve — avalia.

Francesca elogiou várias marcas de bolsas, cintos e cal-çados pela “criatividade, ma-turidade, identidade brasileira nos temas, materiais e cores”.

Pelo menos uma peça ela já le-vou para a Itália: uma elegan-te bolsa preta. O produto, porém, ainda não vai para uma loja da la Rinascente. Ficará, mesmo, é nos om-bros de Francesca, que comprou a bolsa pa-ra seu uso pessoal.

também em sua primeira visita ao Brasil, Mônica Moruzzi, do grupo Yoox, observou que os produtos nacio-nais, “ao refletir sua cultura em suas co-res”, farão a diferença no mercado europeu.

— São peças com referên-cias muito interessantes — afirma.

O site www.yoox.com, des-de 2000 tem como base as ci-dades de Milão e Bolonha. Vende cerca de 100 mil peças por ano das principais grifes italianas. Um brasileiro já fre-qüentou essa loja virtual: Ale-xandre Herchcovitch. O site está em fase de expansão na América do Sul, onde já opera na Argentina, Chile e Colôm-bia, além de Estados Unidos, Japão e outros 25 países.

empresa no exterior, onde espera cortar custos entre 15% e 20%.

O que também atraiu a aten-ção dos observadores italianos foi a moda “ecologicamente correta” feita com material reciclado como pneus, cintos de segurança, fibras de algodão orgânico naturalmen-te coloridas e sobras de tecidos reutilizados. Nessa 35ª edição, a sustentabilidade das empresas e o respeito ao meio ambiente se destacaram, com a instituição do Prêmio Couromoda de Bo-as Práticas Socioambien-tais.

TendênciasAs tendências apresentadas

na Couromoda para o pró-ximo outono/inverno podem ser resumidas em duas, para estilos diametralmente opostos. De um lado está o Ultra Black, o brilho do verniz preto, as tachas e pe-drarias. Do outro, as peças tech-nicolor em pink, amarelo e roxo em referência aos anos 80. Mini-botas e “ankle-boots” inspiradas em montaria prometem “subir à cabeça” das consumidoras. Nas bolsas, prevalecem o fazer arte-sanal com estampas étnicas, tri-côs e motivos andinos.

O presidente e fundador do evento Francisco Santos, a vice-presidente Walesca Santo e Vito Artioli

Francesca Miucci, representante da La Rinascente

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Guilherme Aquino

MiLãO atualidade

Os adeptos da “novidade” são, em grande maioria, jovens evangélicos. Mas também entre os cató-

licos o fenômeno da castidade pré-matrimonial está em cresci-mento. Quem assume seguir um “namoro à antiga” ainda é alvo de piadas, mas a questão vem se tornando cada vez mais recorren-te, ainda mais depois que o jo-gador Kaká admitiu fazer parte desse time.

Para a juventude casta ita-liana, o ídolo do Milan Ricardo Izecson dos Santos leite e a mulher dele, Caroline Celico, são os melhores exemplos de que vale a pena para os jovens espe-rar pelo parceiro ideal e dar iní-cio à vida sexual somente depois do casamento.

Evangélicos, Kaká e Caroline declararam terem se mantidos castos e fiéis durante todo o pe-ríodo de namoro, apesar da dis-tância – ele morando na Itália e ela no Brasil.

— Foi a vitória mais difícil da minha vida — costuma dizer o jogador brasileiro quando per-

guntado sobre o assunto. — ti-vemos de fazer muitos sacrifí-cios. Por exemplo, nunca fui a uma discoteca sem ela.

longe do mundo das celebri-dades, Alessandra Azzolini, estu-dante milanesa de 25 anos, diz que quando fala sobre virgindade com seus colegas é tratada como uma extraterrestre.

— Eu e meu noivo queremos chegar ao casamento inteiros — afirma Alessandra. — Namoramos há quatro anos e vamos nos casar em 2009, depois de terminarmos a universidade.

O noivo, que integra junto com ela um grupo de jovens ca-tólicos, tem a mesma opinião. Mas não pensou sempre assim.

— No início, não concor-dava e fiz de tudo para tentar mudar a opinião dela — admite Piero Giorgetti. — Mas amadu-reci, conversei com vários sacer-dotes e hoje vivo minha fé com coerência. Acho que vale a pena esperar.

Na Itália, a maioria dos jo-vens inicia sua vida sexual aos 17 anos. Segundo o teólogo Vi-to Mancuso, o comportamento “antiquado” e, ao mesmo tempo transgressor, dos adeptos da cas-tidade é fruto da confusão que a Igreja está atravessando nesse momento.

— De uma visão dogmática na qual o sexo extraconjugal era vetado, os católicos passaram a uma relação mais madura com Deus e com a moral — observa Mancuso. — Mas os jovens de-vem avaliar se a abstinência é funcional para o conhecimento recíproco. A resposta pode ser sim e eles podem chegar a con-clusão de que a castidade não é apenas um valor bíblico.

O escritor católico Camillo langone lembra, porém, que 99% das mensagens deixadas por Jesus Cristo não se refe-rem a questões sexuais. Autor de A Verdadeira Religião Explica-da aos Jovens, livro escrito com estilo completamente diferen-te do catequismo oficial, lan-gone diz que Jesus não tinha um comportamento perfeito do ponto de vista religioso, saía com mulheres, oferecia vinho e não era vegetariano.

Simone Peggiore, de 24 anos, e Cinzia Sarracino, de 22 anos, se conheceram numa igre-ja evangélica e se casaram vir-gens no ano passado.

— Mais forte que a atração sexual deve ser o poder do amor — diz Simone. — Além disso, entre nós há muito mais coisas que nos mantém unidos do que simplesmente sexo, sobretudo, a presença do Senhor, que não nos abandona nunca.

Cinzia recorda que, na Bíblia, Deus aconselha os fiéis a che-garem puros ao matrimô-nio e eles consegui-ram seguir firmes nessa orienta-ção. De acor-do com ela, os dois passaram por momen-tos difíceis em que qua-se não resis-tiram à ten-tação. Mas, o fato de morarem em cidades dife-rentes, antes do casamento, acabou ajudan-do.

— A Bíblia diz que devemos esperar. Desse modo, é possível viver o matrimônio em toda a sua plenitude — afirma Cinzia.

Na avaliação do sexólogo Paolo Di Batista, a opção pe-la castidade pré-matrimonial só funciona se é motivada por prin-cípios morais. De acordo com ele, algumas pessoas mascaram a in-capacidade de se relacionar com uma suposta convicção religiosa. A conseqüência, observa o sexó-logo, é que muitos acabam che-gando aos 30 anos sem qualquer relação amorosa e a virgindade acaba sendo um peso.

O que a Itália faz é seguir uma tendência que se mostra cada vez mais forte, nos Esta-dos Unidos. lá, o movimento em favor da castidade conta com a participação de vários grupos organizados como o true love Waits (O verdadeiro Amor Espe-ra) e Silver Ring thing (A coi-sa do Anel de Prata). Inspirados na Bíblia, esses movimentos es-timulam os adolescentes a fazer uma promessa oficial de casti-dade até o casamento e a usar anéis e colares com a identifica-ção do grupo.

ValqUíria rEyCorrespondente • roma

A moda da castidade

Na Itália, cresce o número de jovens que optam por perder a virgindade apenas após o casamento

Kaká esperou o casamento para iniciar sua vida sexual

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Milão para criançasUma cidade ocupada quase 24 horas

por dia com o trabalho tem pouco tempo e espaço livres para se dedicar às crianças. Para os pais e visitantes acom-panhados dos filhos é sempre um proble-ma passear em busca de uma atração. Ou era. Pelo menos até o dia 30 de março, a mostra Proibido não tocar, promete dar diversão aos bambini. Em cartaz no Pala-zzo della triennale, a exposição é dedica-da ao pedagogo e artista milanês Bruno Munari, criador dos famosos mini-livros sem letras do alfabeto. No percurso da mostra, os “netinhos” de Munari, de 2 aos 6 anos, poderão entrar nas páginas grandes e se tornarem protagonistas das próprias estórias de suas fantasias. Maio-res informações no site www.triennale.it

Ela muitas vezes passa sem ser no-tada, no meio do transito caótico, na via Besana. A Rotonda della Be-

sana, uma construção circular com tijolos à vista e uma Igreja no meio, é um dos monumentos mais caros aos milaneses. lo-calizada a poucos passos do centro da ci-dade e erguida em meados do século 16, ela já foi cemitério, lazareto, lavanderia de hospital e fortificação militar. Mas parece

ter sido predestinada, mesmo, a se tornar um dos pontos culturais mais fortes de Mi-lão. A alta rotatividade das exposições e os seus jardins emoldurados pelo chiostro são atrações que garantem o prestígio e o carinho com os quais os habitantes de Mi-lão cuidam da Rotonda. Durante a semana e nos fins de semana, seus banquinhos nos jardins são ocupados por quem busca paz e tranqüilidade.

Rotonda della Besana

Prostituição 2Milão decretou guerra contra a prosti-

tuição nas ruas da cidade. As câmeras apontadas para identificar os carros autoriza-dos a entrar no centro, por conta do pagamento do “passe ecológico”, deverão ser espalhadas nas zonas ocupadas pelas prostitutas, como em corso Magenta e em viale Abbruzzi. O Comune estuda os meios legais para ativar o serviço o mais rápido possível. O motorista, ao parar o carro para contratar os serviços sexuais, seria fotografado e multado, a principio, por “esta-cionamento que interrompe a regular circulação do trânsito”. No ano passado, foram aplicadas 2.926 multas, um aumento de 45% em relação a 2006. Nenhum infrator contestou o flagrante feito por equipes de policiais a paisana.

Semana da ModaEm fevereiro, Milão vive a sua Sema-

na da Moda Feminina Outuno/Inverno 2008/09. Difícil achar vaga nos hotéis e nos desfiles das marcas mais famosas, os mais disputados. Mas o Comune, a exemplo de edi-ções passadas, planejou eventos públicos pa-ra aproximar ainda mais visitantes e morado-res da cidade. Passarelas montadas em locais abertos no centro da cidade, mostras e expo-sições, isso sem falar nas festas, garantem o agito nas ruas milanesas. E para quem acha que a Semana da Moda cumpre um rígido ca-lendário, não se preocupe. Ela sempre come-ça dias antes, com o burburinho e a chegada de modelos - se tropeça em enxames delas correndo de um lado para outro com mapas da cidade nas mãos - e jornalistas de todo o mundo. E somente termina depois das horas e dos dias marcados. Para maiores informações: www.camaramoda.it

Prostituição 1O tribunal de Justiça de Milão vai julgar,

no próximo dia 1º de abril, o caso de uma prostituta brasileira contra um cliente italiano. O juiz Giorgio Barbuto concedeu o rito abreviado, ou seja, sem direito a acordo entre as partes, para verificar se o empresário do ramo imobiliário Paolo Nessi, estuprou e espancou a garota de programa, de 25 anos. A violência sexual teria ocorrido na madrugada do dia 22 de junho de 2007, no luxuoso hotel Park Hyatt, no centro da cidade. Como ele não tinha dinheiro para pagar antecipadamente as prestações sexuais, a brasileira tentou ir em-bora, mas foi agredida e violentada várias ve-zes. A pena vai de 5 a 12 anos de cadeia, além de ressarcimento por danos morais.

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religião

Uma grande polêmica to-mou conta dos italianos quando a igreja anunciou planos para a exumação

do corpo de Padre Pio, um dos santos mais amados no país. A idéia é colocá-lo em exposição, durante vários meses, a partir de abril, como forma de celebrar o 40º aniversário de sua morte. liderados por parentes do mon-ge, devotos ameaçam processar o arcebispo Domenico Umberto D’Ambrosio, delegado do Vatica-no para o Santuário e a Obra de São Pio de Pietrelcina, se os des-pojos forem retirados da cripta, localizada na igreja de San Gio-vanni Rotondo, no Sul do país.

Não é apenas para preservar os restos mortais do santo den-tro da urna que os devotos estão se mobilizando. Mas também,

do lado de fora dela. Recen-temente, um livro colocou

em xeque a veracidade

das chagas que Padre Pio apre-sentava pelo corpo e um dos fa-tores que o “credenciou” à ca-nonização, em 2002, pelo papa João Paulo 2º.

De acordo com o livro Padre Pio, Milagres e Política na Itá-lia do Século 20, do historiador Sergio luzzatto, o sangramento nas mãos, nos pés e nas costas do religioso não eram estigmas. Eram ferimentos causados por ele intencionalmente. O livro revela que o padre capuchinho encomendou secretamente gar-rafas de ácido carbólico, que poderiam ter sido usadas para causar as feridas.

Para milhões de católicos, porém, a santidade do monge fazedor de milagres, e a veraci-dade das chagas de Cristo, que apresentou por 50 anos, são ir-refutáveis.

Para escrever seu livro, luzzato teve acesso aos

arquivos do Vaticano. Ele sus-tenta que as autoridades da San-

ta Sé desconfiavam, desde o início do século passado, que Padre Pio poderia ser uma fraude. tanto que várias investigações foram promovidas so-bre o monge italiano,

que por vários anos es-teve proibido de cele-

brar missas.Como a devoção pe-

lo padre foi se tornando grande demais – alguns fi-éis chegavam a chamá-lo de “crucifixo vivo” – ele acabou sendo reabilitado e, poste-

riormente, aclamado como santo.

Velhas acusaçõesResultado de um trabalho de pes-quisa de seis anos, o livro está sendo acusado, pelos fiéis, de ser uma “calúnia anticatólica”. Segundo o vaticanista Andrea tornielli, são acusações velhas,

que foram “muito bem analisa-das” durante o processo de be-atificação do religioso, mas per-maneciam inéditas nos arquivos da Santa Sé.

— No início dos anos 20, o padre Agostino Gemelli, fun-dador da Universidade Católica, disse que as feridas nos pés e nas mãos de Padre Pio não eram sobrenaturais, mas fruto de au-tolesão e histeria — recorda tornielli. — Gemelli nunca exa-minou o Padre Pio e este sempre refutou mostrar suas chagas sob a alegação de que nunca rece-beu uma ordem por escrito do Vaticano.

De acordo com tornielli, lu-zzatto consultou as “cartas se-cretas” dos arquivos do Vati-cano. Em uma delas consta o depoimento de um farmacêutico confirmando que o religioso teria adquirido o ácido secretamente.

— As acusações foram am-plamente desmentidas por su-cessivas análises — afirma o vaticanista. — luzzatto ba-seou suas afirmações em um documento impresso pelo anti-go Santo Ofício, a atual Congre-gação para a Doutrina da Fé, de março de 1921.

No livro, o historiador tam-bém apresenta algumas anota-ções do papa João 23, feitas em 1960. Nelas, o pontífice lamenta o fato de Padre Pio manter rela-ções íntimas com mulheres – com a desconfiança de que não seriam apenas espirituais – e o classifica como um “imenso engano e um desastre para as almas”. Segundo luzzato, João 23 também estava preocupado com o grande volu-me de dinheiro que circulava em San Giovanni em Rotondo, onde vivia Padre Pio.

— Ele era um homem e como tal não era infalível. Deve ter co-metido alguns erros — diz o es-critor católico Antonio Socci.

Para ele, na passagem de Pio 12 - que define o monge capuchi-nho como “salvação da Itália - a João 23 - hostil com os aconteci-mentos sobrenaturais - foi usado contra Padre Pio “a segregação e métodos da Inquisição”.

Humores papaisJá luzzatto sustenta que a im-portância de Padre Pio na his-tória religiosa do século passa-do é atestada pela mutação de sua sorte a cada morte de papa:

o cético Bento 15 decretou que o Santo Ofício procedesse ime-diatamente contra o capuchi-nho. Pio 11 foi mais duro ainda e quase o proibiu de exercer o magistério sacerdotal. Já Pio 12 encorajou o culto ao frade, en-quanto João 23 adotou pesadas medidas para conter a devoção dos fiéis. Paulo 6º, porém, dei-xou que Padre Pio exercesse seu magistério em plena liberdade. João Paulo 1º desencorajou a peregrinação de fiéis ao seu san-

ValqUíria rEyCorrespondente • roma

A revolta dos fiéis

Devotos de Padre Pio, além de defender o monge de acusações de fraudes lançadas, recentemente, estão em pé de guerra contra as próprias autoridades eclesiásticas da Itália

Padre Pio: planos de exumação geram polêmica

Celebridades

Estigmas e bilocação

O papa João Paulo 2º era um devoto do monge capuchi-nho. Em 1947, quando ainda era padre, o visitou em seu

monastério. Na ocasião, Padre Pio teria previsto que o polo-nês iria se tornar papa e sofreria um ato de violência física. As duas previsões aconteceram. João Paulo 2º foi eleito para comandar a Igreja Católica em 1978 e sofreu um atentado três anos depois.

Além do papa morto em 2005, os peregrinos e devotos de Padre Pio são numerosos. De pessoas comuns a uma legião de celebridades, como as atrizes Sophia loren e Gina lollobrigida, o tenor Andrea Bocelli, os cantores lucio Dalla e Pepino Di Ca-pri, o escritor Graham Greene, jornalistas, políticos e jogadores de futebol. Em um livro intitulado Vips devotos do Padre Pio inúmeras personalidades contam de que forma o religioso mu-dou suas vidas.

O santuário do monge atrai multidões de peregrinos e é um dos mais visitados do mundo católico. Estudo de uma revista católica, publicado em 2006, constatou que mais fiéis italianos rezam para ele do que para qualquer outro ícone da fé, incluindo a Virgem Maria e Jesus Cristo. Como toda celebridade do mun-do moderno, o santo também tem produtos licenciados com a marca Padre Pio como selos, embalagens, canetas, camisetas e calendários. Além disso, uma emissora de rádio e outra de tV italianas também utilizam o “nome santo”.

Padre Pio de Petrelcina nasceu em Pullas, no sul da Itália, em 1887. Ele viveu a maior parte de sua vida em um mo-

nastério em San Giovanni Rotondo, cidadezinha também loca-lizada no sul do país. Morreu em 1968, aos 81 anos, 50 anos depois de anunciar sua primeira experiência de estigmas. Ele foi canonizado 34 anos depois de sua morte e após o Vaticano ter reconhecido pelo menos dois milagres feitos por ele. Entre os sinais milagrosos que lhe são atribuídos encontram-se as es-tigmas e o dom da bilocação. Entre os muitos milagres, está a cura do pequeno Matteo Pio Colella, de San Giovanni Rotondo, sobre o qual se assentou todo processo canônico que fizeram do frade São Pio.

tuário. Em oposição, João Paulo 2º se mostrou sempre fascinado pela figura do monge a ponto de canonizá-lo.

O historiador também espe-cula sobre a construção do mi-to do frade di Pietrelcina e so-bre sua relação com a política e com a economia. “Um mito que nasce baixo o fascismo”, obser-va ele, no livro. Segundo luzzat-to, as duas primeiras biografias sobre Padre Pio foram publicadas pela editora oficial do partido de

Mussolini, a mesma que editava seus discursos.

Em defesa de Padre Pio, Pie-tro Siffi, líder da liga Católica Antidifamação, atacou luzzato. Em um comunicado publicado na Internet, fez referência às origens judias do escritor e his-toriador.

— Podemos sugerir que o professor luzzatto coloque suas energias no estudo de sua pró-pria religião, uma vez que, quan-do se trata de estudar o cris-

A devoção dos fiéis é

maior que as suspeitas de

que Padre Pio poderia ser uma fraude

tianismo, e o catolicismo em particular, parece que ele passa dos limites — afirma.

Em resposta, luzzatto disse que a história católica não pode ser objeto de estudo exclusivo de quem pertence a essa religião.

— Ninguém pergunta a um pesquisador da história grega se ele acredita em Júpiter. Não é re-levante para um historiador res-ponder a esse tipo de pergunta — afirma.

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Valquíria Rey

ROMa

GianicoloVisitar o Parque do Gianicolo repre-

senta conjugar um pouco de roman-tismo, beleza, lazer e história para quem se encontra de férias em Roma.

Além da possibilidade de admirar a capital italiana desde um ponto privile-giado, a uma altura de mais de 80 metros, passear pelo Gianicolo é fascinante.

Uma boa sugestão é começar pela Fon-tana dell’Acqua Paola - construída em 1612 por vontade do papa Paulo 5º para cele-brar a reabertura da primeira arquidiocese de Roma - atravessar todo o parque, passar pela Villa Farnesina, decorada com afrescos de Rafael, até chegar na Praça Garibaldi.

Em meio ao passeio, diversas vistas es-petaculares do centro de Roma. É possível admirar a Piazza Venezia, a cúpula do Pan-teão e de dezenas de igrejas da cidade.

No centro dos jardins, está a estátua eqüestre de Giuseppe Garibaldi.

É no Parque do Gianicolo que se en-contram também os restos mortais de Anita Garibaldi.

JogatinaA capital da Itália já tem um pedacinho

da cidade norte-americana las Vegas em seu território. Em janeiro, foi inaugurada a Blu King, na via Monteverde, 42, considerada a primeira slot house romana. Nos 1.500 me-tros quadrados do local, estão 160 máquinas de jogos, espalhadas pelos dois andares, que são divididos por um caminho luminoso.

Com decoração tropical, inspirada na ar-quitetura de Miami, com direito a algumas palmeiras luminosas em seu interior, a at-mosfera das salas da Blu King é noturna, com tendência para o azul.

Um bom programa para os amantes do mundo dos cassinos. A pequena las Vegas ro-mana está aberta das oito da manhã às duas da madrugada e tem acesso proibido aos me-nores de 18 anos.

Neve verdeAqui não costuma ter neve no inverno. Mas,

esquiar é possível! No Snowpark Roma, na via della Giustiniana, 959, você pode praticar o esporte tranqüilamente, numa pista sintética polivalente de três mil metros quadrados. Aber-to há pouco tempo, o parque, com sua “neve verde”, promete emoções similares às das mon-tanhas nevadas e as mesmas sensações de es-quiar no gelo. De um lado da pista, se pode fa-zer as descidas clássicas e, do outro, acrobacias e saltos. No meio, um piso semelhante às esca-das rolantes dos aeroportos, destinado a ma-nobras mais tranqüilas. No local, há ainda uma academia de ginástica e uma zona de lazer.

BonecasUma mostra nostálgica com bonecas italia-

nas produzidas entre 1919 e 1940 pode ser conferida na Sala Santa Rita de Roma. Mui-to distante da Barbie, coloridas e refinadas, as bonecas da empresa lenci, de torino, são consideradas hoje preciosidades por coleciona-dores de todo o mundo e, sobretudo, muito di-fíceis de serem encontradas. Em exposição, 60 exemplares selecionados da coleção privada de Grazia Caiani. Os modelos vão desde os primei-ros, feitos em feltro, até as bonecas Agnesina, todas confeccionadas por Elena Konig Scavini, fundadora da lenci. Destaque para os vestidos coloridos desenhados por Marcello Duvodich, Gigi Chessa e Mario Sturani.

Bonecas feitas num tempo em que não eram consideradas apenas diversão para as crianças.

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Arte contemporânea em meio aos extraordinários cenários arquite-tônicos de Roma é o que propõe

a primeira edição do the Road to Contem-porary Art, uma oportunidade única para quem estiver na cidade em março.

A grande manifestação artística pro-mete entrar no coração da capital italiana, envolvendo mais de 60 galerias. Algumas manterão as portas abertas durante toda a madrugada.

Entre os espaços escolhidos para as ex-posições estão o Complexo Monumental de

Santo Spirito in Sassia, o Palazzo Ferrajoli e o templo de Adriano.

Muitas das mostras têm temas defini-dos, como a que será apresentada no inte-rior do complexo das termas de Dioclezia-no: Coisas Nunca Vistas, com obras prove-nientes de coleções privadas das galerias que participam do evento e selecionadas pelo crítico de arte Achille Bonito Oliva.

Os organizadores da the Road to Con-temporary Art querem, com esse evento, que Roma passe a ser conhecida internacional-mente como capital da arte contemporânea.

Capital da arte contemporânea

restauração

Um dos monumentos mais importantes da capital italiana, encravado na Colina do Palatino, a Casa

de Augusto, exibirá tesouros iné-ditos, a partir de março. O local abrirá para visitação após um pe-ríodo de reformas. Construída no local onde nasceu a civilização romana, a Casa integra o monu-mento mais importante da Colina tanto por sua relevância históri-ca quanto arqueológica.

Os trabalhos de escavação e restauração duraram anos e cus-taram 1,4 milhão de euros, pa-gos com fundos do Estado e pri-vados, como o World Monument Found. tudo foi recuperado com técnica e muita paciência. São vermelhos intensos, verdes e ocres que decoram tetos e pare-des em desenhos de colunas, fi-guras geométricas, animais e re-presentações humanas.

— A abertura ao público des-ta zona arqueológica representa um grande serviço à Humanidade — diz o prefeito de Roma, Wal-ter Veltroni. — Estamos colocan-do diante dos olhos dos cidadãos um momento histórico e uma medida de beleza.

A casa foi construída há mais de dois mil anos, no final do sé-culo 1 a.C, antes que Octavio (63 a.C – 14 d.C) fosse proclamado “Augusto” pelo Senado de Roma,

no ano 27, tornando-se seu pri-meiro imperador.

Segundo Irene Giacoppi, di-retora do Palatino, das quatro sa-las recuperadas, três estão loca-lizadas no mesmo nível, no andar inferior. Já a menor delas está a uma altura superior. trata-se do “Estúdio do Imperador”, onde se descobrem restos de tetos com afrescos de figuras geométricas e paredes ricamente decoradas.

As demais são o “Grande Ecus”, cômodo dedicado a rece-ber visitas, com rica e majestosa decoração e pavimentos de már-more; o “Cubículo Inferior”, em

que se conserva grande parte dos afrescos das paredes, e a “Sala da Rampa”, que comunicava os dois andares da construção e cujos te-tos estão pintados também com figures geométricas.

De acordo com Giacoppi, o estado de conservação dos afres-

cos das salas é extraordinário. Uma raridade para obras daque-la época.

— A decoração pictórica dos quatro cômodos merece destaque — afirma Angelo Bottini, supe-rintendente arqueológico de Ro-ma. — O estado de conservação pode ser considerado um milagre. O mesmo não aconteceu com o resto do “domus”, da mesma zo-na, que foi submetido a um longo processo de restauração.

Bottini classifica os afrescos como de “altíssima qualidade”. Segundo ele, foram feitos com o máximo das possibilidades da época, constituindo-se num im-portante exemplo de pintura ro-mana do final do século 1.

— Uma verdadeira maravi-lha — comenta entusiastica-mente Andrea Carandini, um dos mais importantes estudiosos do Palatino.

Apesar de maravilhosos, os afrescos são, conforme Bottini, frágeis e delicados. Por isso, a entrada do público ao local se-rá limitada. Do contrário, a vi-sitação poderia representar um problema.

Ele lembra a respeito dos da-nos sofridos pela Casa de lívia, uma vila da época republicana também localizada no Palatino. De acordo com Bottini, devido ao excesso de visitas, o local foi fechado há 20 anos. Mas será re-aberto nos próximos meses, de-pois de finalizado os trabalhos de restauração.

— Na Casa de Augusto, ape-nas cinco pessoas, por vez, pode-rão visitar as salas e sempre com a supervisão de um guia — ex-plica Francesco Rutelli, ministro para os Bens Culturais durante o governo de Romano Prodi, escla-recendo que, além dos afrescos, merecem também cuidados espe-ciais, os pavimentos e o mosaico. — O Palatino é um dos lugares mais extraordinários do mundo, onde sempre surgem coisas ma-ravilhosas.

Até o momento, era possível ver apenas a ala norte da Casa de Augusto, onde estão a sa-la dos “Pinos” e a das “Másca-ras”, restauradas anteriormente. A “Domus”, no entanto, estava fechada ao público há dez anos. Os trabalhos de recuperação da luxuosa vila continuarão. Novas partes da casa poderão ser visi-tadas até 2009.

ValqUíria rEyCorrespondente • roma

Medida de beleza

A residência do criador do império e da potência de Roma ressurge com a restauração de quatro salas

Casa de Augusto: restauração custou 1,4 milhão de euros. Tesouros

inéditos exibidos a partir de março

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entrevista

ComunitàItaliana - Como eram as relações entre Portugal e Itália, na épo-ca em que a corte portu-

guesa deixou Lisboa para vir pa-ra o Brasil?Vasco Mariz – A Itália ainda não existia como um país. Era uma sé-rie de principados, além dos es-tados papais e o reino de Nápo-les. Eram comuns os casamentos entre reis e nobres de Portugal e Itália. Em Portugal, genoveses, florentinos e venezianos, desde o século 14, formaram importantes comunidades de mercadores. En-

quanto isso, a Itália sempre foi para os portugueses uma terra de peregrinações, estudo e de relações diplomáticas no seio da Igreja Católica. CI – Havia um grande intercâm-bio na área artística. Por quê?VM – A partir do século 16, mui-tos portugueses passaram a ir para a Itália para fazer estudos artísticos. Muitos, inclusive, com despesas pagas pela corte. Dessa época, até o século 19, inúme-ros artistas italianos trabalharam em Portugal, principalmente mú-sicos. Em meados do século 18,

a música italiana, sobre-tudo a música napolitana, praticamente dominava a Europa. Em todas as cortes havia uma grande aceita-ção dessa música barroca. Era uma música sobrecar-regada, pesada, mas era o gosto da época, o povo, reis e príncipes gostavam.CI – A corte portuguesa trou-xe para o Brasil a música ita-liana?VM – Havia uma forte tradição da música napolitana em lisboa. Vá-rios compositores napolitanos, no

fim do século 18, estiveram em Portugal. O mais importante deles foi Domenico Scarlatti, que che-gou à corte portuguesa a convite de D. João 5º. Domenico era filho de Alessandro Scarlatti, famoso compositor napolitano do século 18. Então, era natural que, com a vinda da corte para o Rio de Ja-neiro, essa moda musical se man-tivesse. Até porque, D. João 6º era muito entusiasmado pela música. Mas, ao chegar no Brasil, ficou de-cepcionado porque encontrou um ambiente musical muito modesto. CI - O que ele encontrou?VM - A capela que deveria ser Real era na igreja do Rosário. Ao de-sembarcar, em março de 1808, D. João foi em procissão à igreja do Rosário agradecer pela boa via-gem. Nessa cerimônia, ele ouviu o padre José Maurício, que era o mestre da Capela Real e que foi nosso primeiro grande composi-tor. Ele gostou muito desse padre, que era mulato, de grande cultura e habilidade. Mas ele tinha uma orquestra modesta, com seis mú-sicos apenas. Possivelmente, o padre tocou obras dele mesmo. Suas músicas eram clássicas, dis-cretas, elevadas, diferentes da

música rococó que estava na mo-da, na Europa. Isso fez com que D. João mandasse vir músicos italianos que já trabalhavam em lisboa. O padre José Maurício foi substituído por Marcos Portugal, um compositor português impor-tante da época que estudou em Nápoles e Roma. Ele fazia muito sucesso com suas óperas cômi-cas, tendo encenado suas peças no teatro Scala, de Milão. CI – Que artistas vieram para cá?VM – Os principais começaram a chegar em 1809. Nessa época, o destaque era para os Mazziotti,

uma família de cantores, músicos e compositores. Naquela época, mulher não cantava em público e os castrados faziam sucesso. Por tradição, começavam a ensinar canto a meninos de dez anos. Os melhores eram castrados. Assim, tornavam-se homens, mas com voz de menino. Era uma voz es-tranha, com um tom grave que impressionava muito o público. Em 1816, chegaram ao Brasil os principais castrati da época: Gio-vanni Francesco Faccioni e os ir-mãos Marcello e Pasquale tani.CI – Onde esses artistas famosos se apresentavam, no Brasil?VM – Quando chegou, D. João en-controu um teatrinho mambem-be que, evidentemente, não gos-tou. Então, ele mandou construir um teatro muito grande, no es-tilo do teatro São Carlos de lis-boa. Esse teatro levou dois anos e meio para ser construído e foi inaugurado em 1813, na praça do Rossio, que é nossa atual praça tiradentes. Onde hoje é o teatro João Caetano, foi o teatro que passou a se chamar teatro Dom

Festa em ritmo

napolitanoNo mar, navios ingleses prontos para atacar. Em terra, o exército francês de Napoleão perto de Lisboa. O ano de 1807 estava particularmente difícil para a corte portuguesa. A solução encontrada foi a transferência da sede do governo de Portugal para sua colônia na América, o Brasil. Assim, no ano seguinte, no dia 22 de janeiro, a nau Príncipe Real chegava a Salvador. Foi um desvio de rota causado pelo mau tempo. O destino da corte era o Rio de Janeiro, onde Dom João, ainda príncipe regente, desembarcou no dia 8 de março de 1808. A partir daquela data, estava transferida para o Brasil a capital de Portugal.

Em segurança no Rio de Janeiro, a Casa de Bragança manteve-se à frente do trono de Portugal e transformou a cidade, para sempre. Muito se falou sobre a vinda de artistas franceses para a nova corte. O que pouco se fala é sobre a influência exercida pela música e artistas italianos, convidados pessoalmente pelo agora rei Dom João 6º, para se estabelecer no Rio de Janeiro.

— Havia uma forte tradição da música napolitana em Lisboa. Então, era natural que, com a vinda da corte para o Rio de Janeiro, essa moda musical se mantivesse — explica o musicólogo carioca Vasco Mariz.

Membro da Academia Brasileira de Música e ex-cônsul do Brasil em Nápoles, Mariz, de 87 anos, prepara um livro sobre a música no Rio de Janeiro na época de Dom João 6º, a ser editado pela Casa da Palavra. A publicação faz parte de uma série que será lançada, ao longo do ano, por conta das comemorações pelos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil. Ele antecipou muito do que vai contar no seu livro nesta entrevista para a Comunità.

sônia aPolinário

João. logo depois da partida do rei de volta para Portugal, o te-atro pegou fogo. Ele foi recons-truído, mas em tamanho menor, e passou a se chamar teatro São Pedro de Alcântara, em homena-gem ao imperador Pedro 1º.CI – Que tipo de apresentações eram feitas?VM – Óperas e Rossini foi o com-positor favorito dos organizado-res. Ao todo, foram montadas 34 apresentações sendo que 16 com obras de Rossini. Sua peça mais encenada foi La Cenerento-la, mas também foram montadas O Barbeiro de Sevilla e A Italiana em Argel. tudo feito com músi-cos vindos da Itália e de lisboa. também vinham de lá cenários, partituras e figurinos. Foram montados uma orquestra com cem músicos e um coral de mais de cem pessoas para trabalhar no novo teatro. lá, também fo-ram montadas óperas de Antonio Salieri, o grande rival de Mozart; Vicenzo Pucitta, um napolita-no que fazia grande sucesso na época; além de Pietro Generali, Francesco Gnecco e Giuseppe Ni-coloni, um compositor hoje to-talmente esquecido. todo esse

fausto acabou com o regres-so de D. João para Portugal

porque com ele, foi embo-ra o dinheiro. A maioria dos artistas se transferiu

para Buenos Aires, mas Faccioni, que era o mais

importante, ficou aqui.

Rossini: o preferido da corte

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capa

ValqUíria rEy E sônia aPolinário

Paese dei raccomandati

País dos recomendados

Tanto na Itália quanto no Brasil, a prática das

indicações cria uma rotina de escândalos

Tanto in Italia, quanto in Brasile,

la pratica delle indicazioni crea una

routine di scandali

pai para filhos ou parentes que se perpetuam em determinado posto apenas em função do sobrenome.

Atualmente, de cada dez ita-lianos, quatro encontram traba-lho graças a recomendações de parentes, políticos e amigos.

Segundo comunicado anual do Instituto para a Formação e o trabalho (Isfol), centros e agên-cias de emprego não servem para nada no país. Em 2007, apenas 5% dos postos de trabalho foram encontrados nesses locais.

— As agências acabam se ocupando apenas com a parte mais desfavorecida do merca-do de trabalho: as pessoas com baixa qualificação, que pouco in-teressam às empresas — afirma Marinella Giovine, uma das res-ponsáveis pelo trabalho do Isfol.

Segundo ela, essa situação prejudica a todos, “já que as em-presas deveriam buscar trabalha-dores com capacidade, profissio-nalismo e competência, atributos que nem sempre chegam junto com os recomendados”.

O grande problema, segundo es-pecialistas na área trabalhista, é que não existe um mercado de trabalho aberto e transparente no país.

— Na Rai, todos são reco-mendados, começando pelo dire-tor geral — afirmou recentemen-te o homem mais rico da Itália, o ex-primeiro-ministro, Silvio Ber-lusconi. — todos sabem que só trabalha lá quem se prostitui ou é da esquerda.

Apesar das duras palavras de Berlusconi, a denúncia não pegou os italianos de surpresa. Há mui-tos anos, todos “sabem” a respei-to dos “critérios” de seleção para se trabalhar na televisão do es-tado. Antes, durante e depois do governo de Berlusconi.

Em outra estatal, a Poste Italiane – empresa de correios e, mais recentemente, também banco – a situação não é dife-rente. Há algum tempo, minis-tros, parlamentares, sindicalistas e até cardeais foram acusados de liderar um esquema de listas de indicados, feitas durante anos com a ajuda da direção de recur-sos humanos da empresa. Eram esses integrantes da elite italia-na que determinavam quem de-veria ser contratado, promovido, ou transferido de agência.

— A dimensão do fenômeno das recomendações é absurda-mente grande — diz o sociólogo

in figlio o parente, che si ripe-tono in un determinato posto in funzione appena del cognome.

Attualmente, dieci italiani su quattro trovano lavoro grazie a raccomandazioni di parenti, po-litici e amici.

Secondo il comunicato annua-le dell’Istituto per la Formazione dei lavoratori (Isfol), centri e agenzie di impiego non servono a niente in Italia. Nel 2007, solo il 5% dei posti di lavoro sono stati trovati presso questi luoghi.

— le agenzie alla fine si oc-cupano soltanto della parte me-no favorita del mercato di lavoro: le persone dalla bassa qualifica,

che interessano poco alle impre-se — afferma Marinella Giovine, una delle responsabili del lavoro dell’Isfol.

Secondo lei, questa situazione danneggia tutti, “visto che le im-prese dovrebbero cercare lavora-tori capaci, professionisti e com-petenti, attributi che non sempre sono presenti nei raccomandati”.

Il grande problema, secondo gli specialisti dell’area del lavoro, è che non esiste un mercato di lavo-ro aperto e trasparente nel paese.

— Alla RAI, sono tutti racco-mandati, a cominciare dal diret-tore generale — ha detto recen-temente l’uomo più ricco d’Italia,

“É um péssimo costume que se enraizou no país. Faz parte da nossa identidade nacional, desde a época dos heróis do Risorgimento até os nossos dias”mario cardoli, Sociólogo

“È una pessima abitudine che ha messo radici in Italia. Fa

parte della nostra identità nazionale, dall’epoca degli

eroi del Risorgimento fino ai nostri giorni”

mario cardoli, Sociologo

Trata-se de um verdadeiro elixir miraculoso. Serve pa-ra conseguir desde um me-lhor atendimento na hora

do parto, até para ajudar o filho a passar de ano na escola ou mesmo para obter um desconto especial na compra de um carro novo. tudo isso e muito mais se consegue se você for um recomendado.

Não por acaso, escândalos en-volvendo recomendações apare-cem todos os meses nas páginas dos jornais. Os casos mais recen-tes envolvem os correios italia-

S i tratta di un vero e pro-prio elisir miracoloso. Serve per ottenere dal mi-glior servizio nel momen-

to del parto, ad aiutare il figlio ad essere promosso o perfino ad assi-curarsi uno sconto speciale quan-do si compra una macchina nuova. tutto questo e molto di più si ot-tiene se sei un raccomandato.

Non è un caso che gli scanda-li che riguardano raccomandazioni appaiano tutti i mesi sulle pagine dei giornali. I casi più recenti che chiamano in causa le poste italia-

ne, la tV statale RAI, università, ospedali e gran parte delle imprese pubbliche. l’ex ministro della Giu-stizia, Clemente Mastella, ha rinun-ciato all’incarico dovuto ad un caso di corruzione che ha coinvolto tut-ta la sua famiglia e ha fatto fare la stessa fine al governo Prodi.

Dall’altro lato, è la rete dei familiari, degli amici e conoscen-ti che fanno girare informazioni riservate e favorisce l’accesso all’impiego – la questione più importante dei tempi attuali. So-no incarichi che passano di padre

nos, a tV estatal Rai, universida-des, hospitais e grande parte das empresas públicas. O ex-ministro da Justiça, Clemente Mastella, caiu por conta de um caso de cor-rupção que envolvia quase toda a sua família e acabou por levar junto o governo Prodi.

Em uma outra vertente, é a rede dos familiares, dos amigos, e conhecidos que faz girar in-formações reservadas e favorece o acesso ao emprego – a dispu-ta mais importante dos tempos atuais. São cargos que passam de

Escândalos também na TV estatal Scandali anche nella statale

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Mario Cardoli. — É um péssimo costume que se enraizou no país. Faz parte da nossa identidade nacional, desde a época dos he-róis do Risorgimento até os nos-sos dias.

Universidades em famíliaCardoli lembra de outro caso escandaloso que ganhou gran-de repercussão no país, envol-vendo a administração de im-portantes universidades como as de Bari, Bolonha e Florença, onde foram investigados cente-nas de professores, que se orga-nizavam para manter intacto o poder e, com isso, se perpetua-rem nos cargos.

Por conta das denúncias de abusos, a Justiça abriu investi-gações para o que foi considera-do como prática da Cosa Nostra – a máfia napolitana – na admi-nistração dos concursos dentro das universidades italianas.

— Os concursos universitá-rios tinham suas decisões toma-das muito antes de serem reali-zados — apontou o parecer do juiz Giuseppe De Benectis. — Atrás das decisões estavam co-missários que se assemelhavam a associados de uma associação delinqüente mafiosa.

Conforme informaram os pro-fessores Mariano Giaquinta e Angelo Guerraggio, o “sistema mafioso” era manipulado pelas cúpulas de administração das carreiras ou por falsos grupos de representação ou de pesquisa.

De acordo com as investi-gações, o mesmo jogo de poder também foi verificado em deze-nas e dezenas de postos de tra-balho nas universidades da Itá-lia, dos Alpes à Sicília.

Em Roma, a la Sapienza, maior universidade européia, também foi alvo de investigação recente da Procuradoria por ne-potismo e corrupção. Um grande esquema de privilégios e troca de favores foi descoberto justamen-te onde todos esperavam que a moral e a ética estavam acima de todas as coisas. O caso na uni-versidade romana ficou conheci-do como “parentópolis”.

— Para mim, é estranho que tantos parentes de professores encontrem trabalho na la Sa-pienza — ironiza o deputado do Partido dos Comunistas Italianos Alessandro longhi, primeiro a so-licitar investigação aos ministros

da Infra-estrutura, da Economia e da Universidade.

A lista dos parentes ilustres empregados na universidade ro-mana começa pelas duas filhas e o genro do reitor Renato Guarini.

Já o pró-reitor luigi Frati, ti-tular da Faculdade de Medicina, é acusado de tornar excessivamen-te familiar o ambiente de traba-lho. Entre cadeiras dadas a ami-gos e colegas de confiança, ele também emprega três professo-res de sua própria casa: a mulher e dois filhos.

A filha Paola Frati é formada em Jurisprudência, mas é profes-sora na Faculdade de Medicina e Cirurgia II. A esposa, luciana, que também não é médica, en-sina História da Medicina, é res-ponsável pelo Museu da Medicina e também professora efetiva de Medicina Experimental e Patolo-gia. Já o filho Giacomo Frati, é pesquisador de Medicina no cam-pus Biomédico de Roma.

Estacionamento suspeitoO esquema para a construção de um estacionamento subterrâneo na cidade universitária também é motivo de investigação.

tudo porque a empresa esco-lhida para levar a obra adiante – avaliada em 8,8 milhões de euros – tem como presidente o arqui-teto leonardo Di Paola, professor de Avaliação dos Bens Imóveis e Economia de Obras na Faculdade de Arquitetura da la Sapienza. Já o administrador geral da compa-nhia é o filho de Di Paola, o ad-vogado Mario, também professor na mesma faculdade.

Na opinião dos procuradores, há possibilidade de que os con-tratados tenham sido aprovados em concursos considerados sus-peitos. Isso porque, de acordo com eles, os processos seletivos foram coordenados por parentes e amigos dos aprovados.

A filha mais velha do reitor, a arquiteta Maria Rosaria Guari-ni, por exemplo, foi avaliada por Di Paola em seu escritório priva-do, na sede da empresa que es-tá construindo o estacionamento subterrâneo da universidade.

Candidata a uma vaga de pes-quisadora da área de Avaliação dos Bens Imóveis na Faculdade de Arquitetura, ela aparece sem concorrentes na última prova e é selecionada em apenas um mês.

A outra filha do reitor é pro-fessora de Arquitetura de In-teriores. Seu marido, geólogo, também presta serviços para la Sapienza.

No Policlínico Gemelli, hos-pital da Universidade Católica de Roma, famoso pelas inúme-ras hospitalizações do papa João Paulo 2º, o escândalo foi chama-do de “familiópolis”. Como em la Sapienza, o problema é o mesmo: os sobrenomes dos professores e médicos se repetem com muita freqüência.

Basta olhar o organograma do Gemelli, que, imediatamente, a realidade salta aos olhos. São pais, filhos, mulheres, tios, sobri-nhos trabalhando juntos, numa rede de nepotismo e interesses familiares, que mereceu investi-gação dos parlamentares.

O estranho, de acordo com os investigadores, é que todos ven-cem concursos nas mesmas dis-ciplinas administradas pelo pa-rente que está a mais tempo no Gemelli, favorecendo a manuten-

ção de “dinastias de médicos com o mesmo sobrenome” dentro da instituição, em detrimento de ou-tros, não aprovados, e, aparente-mente, muito mais capacitados.

Para os mais pessimistas, a Itália nunca mudará, porque a tradição das recomendações está radicada nos costumes e presen-te na vida política-econômica do país. Abrem-se e fecham-se investigações e processos sem que ninguém seja considerado culpado, porque é assim que o país se movimenta.

Entre os inúmeros livros pu-blicados que falam sobre a “epi-demia que paralisa a Itália” es-tá Mi Raccomando: l’Arte della Spintarella da Garibaldi a Ber-lusconi, do jornalista Daniele Martini.

— As recomendações são co-mo o ar: estão sempre presentes, mesmo que não se possa vê-las — afirma o autor.

Os exemplos de indicações citados por Martini, no livro, são baseadas em mais de dois mil documentos recolhidos, duran-te 20 anos, por um colecionador romano.

Na primeira parte, ele fala das recomendações como fato tipicamente italiano, que asso-la o país nos últimos 150 anos.

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l’ex primo ministro Silvio Berlu-sconi. — lo sanno tutti che là ci lavora o chi si prostituisce, o chi è di sinistra.

Malgrado le dure parole di Berlusconi, la denuncia non ha preso di sorpresa gli italiani. Da molti anni tutti “sanno” i “criteri” di selezione per lavorare nella te-levisione statale. Prima, durante e dopo il governo di Berlusconi.

In un’altra statale, le Poste Italiane – azienda postale e, più di recente, anche banca – la si-tuazione non è diversa. Qualche tempo fa, ministri, parlamenta-ri, sindacalisti e perfino cardina-li sono stati accusati di guidare uno schema di liste di indicati, fatte durante gli anni con l’aiuto della direzione di risorse umane dell’azienda. Erano questi membri dell’élite italiana a determinare chi doveva essere contrattato, promosso o trasferito di agenzia.

— la dimensione del feno-meno delle raccomandazioni è assurdamente grande — dice il sociologo Mario Cardoli. — È una pessima abitudine che ha messo radici nel paese. Fa parte

Correio e La Sapienza: casos recentes

Poste e La Sapienza: casi recenti

“Todos sabem que só trabalha lá quem se prostitui ou é da esquerda” Silvio berluScoNi, ex-Premier italiaNo

“Lo sanno tutti che là ci lavora

soltanto o chi si prostituisce, o

chi è di sinistra” Silvio berluScoNi, ex Premier italiaNo

della nostra identità nazionale, dall’epoca degli eroi del Risorgi-mento fino ai nostri giorni.

Università in famigliaCardoli ricorda un altro caso scandaloso che ha meritato una grande ripercussione in Italia, coinvolgendo l’amministrazione di importanti università come quelle di Bari, Bologna e Firenze, dove sono stati indagati centina-ia di professori, che si organizza-vano per mantenere intatto il po-tere e, con ciò, si perpetuavano negli incarichi.

Dovuto alle denunce di abusi, la Giustizia ha dato il via ad in-dagini su quella che è stata con-siderata pratica [come quella] di Cosa Nostra – la mafia napoletana – nell’amministrazione dei concorsi all’interno delle università italiane.

— I concorsi universitari era-no decisi molto prima che fossero realizzati — ha indicato il parere del giudice Giuseppe De Benedic-tis. — Alle spalle delle decisioni c’erano commissari che somiglia-vano a soci di un’associazione a delinquere mafiosa.

Da informazioni fornite dai professori Mariano Giaquinta e Angelo Guerraggio, il “sistema mafioso” era manipolato dai ver-tici amministrativi delle carriere o da falsi gruppi di rappresenta-zione o di ricerca.

Secondo le indagini, lo stes-so gioco di potere si verificava anche in decine e decine di posti di lavoro nelle università italia-ne, dalle Alpi alla Sicilia.

A Roma, anche la Sapienza, la maggior università europea, è stata bersaglio di indagini recen-ti della Procura per nepotismo e corruzione. Un grande schema di privilegi e scambi di favore è sta-to scoperto proprio dove tutti si aspettavano che la morale e l’etica fossero al di sopra di tutto. Il caso dell’università romana è rimasto conosciuto come “parentopolis”.

— Secondo me è strano che tanti parenti di professori trovi-no lavoro a la Sapienza — iro-nizza il deputato del Partito dei Comunisti Italiani, Alessandro longhi, primo fra tutti a solleci-tare indagini ai ministri dell’In-frastruttura, dell’Economia e dell’Università.

la lista dei parenti illustri im-piegati presso l’università romana comincia dalle due figlie e dal ge-nero del rettore Renato Guarini.

Invece il prorettore luigi Fra-ti, titolare della Facoltà di Medi-cina, viene accusato di aver fatto diventare eccessivamente familia-re l’ambiente di lavoro. tra posti dati ad amici e colleghi di fiducia, impiega anche tre professori della sua casa: la moglie e due figli.

la figlia Paola Frati è laure-ata in Giurisprudenza, ma è pro-fessore nella Facoltà di Medicina e Chirurgia II. la moglie, lucia-na, ne anche lei medico, insegna Storia della Medicina ed è respon-sabile del Museo della Medicina e inoltre è professore ordinario di Medicina Sperimentale e Patolo-gia. Invece il figlio Giacomo Frati è ricercatore di Medicina al cam-pus Biomedico di Roma.

Parcheggio sospettoAnche lo schema per la costru-zione di un parcheggio sotter-raneo nella città universitaria è motivo di indagini.

tutto perché la ditta scelta per portare avanti i lavori – va-lutati in 8,8 milioni di euro – ha come presidente l’architetto leo-nardo Di Paola, professore di Valu-tazione dei Beni Immobili ed Eco-nomia dei lavori presso la Facoltà di Architettura de la Sapienza. Invece l’amministratore generale della facoltà è il figlio di Di Paola, l’avvocato Mario, anche lui pro-fessore presso la stessa facoltà.

Secondo i procuratori, è pos-sibile che i contrattati siano stati approvati in concorsi conside-rati sospetti. Questo perché, secondo loro, i processi di se-lezione sono stati coordinati da parenti e amici degli ap-provati.

la figlia più grande del retto-re, l’architetto Maria Rosa Guari-ni, per esempio, è stata valutata da Di Paola nel suo ufficio pri-vato, nella sede dell’impresa che sta costruendo il parcheggio sot-terraneo dell’università.

Candidata ad un posto di ricercatrice dell’area di Valuta-zione dei Beni Immobili nella Facoltà di Architettura, appa-re senza concorrenti nell’ultimo esame e viene selezionata in ap-pena un mese.

l’altra figlia del rettore è pro-fessore di Architettura di Inter-ni. Anche suo marito, geologo, fa servizi per la Sapienza.

Al Policlinico Gemelli, l’ospe-dale dell’Università Cattolica di Roma famoso per i molti ricove-ri del papa Giovanni Paolo II, lo scandalo è stato chiamato “fami-liopolis”. Come a la Sapienza, il problema è lo stesso: i cognomi di professori e medici si ripetono molto spesso.

Basta guardare l’organogram-ma del Gemelli che, immediata-mente, la realtà salta agli occhi. Sono genitori, figli, mogli, zii, nipoti che lavorano insieme, in una rete di nepotismo e interessi familiari che ha meritato le inda-gini dei parlamentari.

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Page 18: Eu indico! Nepotismo - Comunità Italiana · legislatura da República Italiana. E pensar que o estopim da queda de Prodi foi a re-núncia do seu ministro da Justiça, Clemente Mastella,

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Depois, cita vários exemplos, acusando deputados, funcioná-rios, ministros, administradores, monsenhores, prefeitos e acadê-micos que foram favorecidos ou privilegiaram parentes, amigos ou conhecidos.

Os exemplos suscitam risos, mas também reflexões. Entre os citados estão sobrenomes famo-sos na Itália como Amato, Cos-siga, Craxi, Scalfaro, Spadolini, Veltroni e muitos outros.

Não vai acabarO ministro das Comunicações transfere a concessão de uma rádio para um assessor. Um se-nador é alçado a ministro de es-tado e seu filho assume sua ca-deira no Senado, mesmo estando sob investigação policial. todos os conselheiros que integram um tribunal de Contas empregam pa-rentes na instituição.

Poderia ser na Itália, mas esses casos são somente alguns

exemplos do que acontece no Brasil. O ministro em questão é Hélio Costa. O senador é o mara-nhense Edison lobão (novo mi-nistro de Minas e Energia) cujo herdeiro, Edison lobão Filho, teria usado laranjas para ocul-tar sua participação numa distri-buidora de bebidas no Maranhão. Foram os sete conselheiros do tribunal de Contas de São Paulo que contrataram parentes. Deta-lhe 1: os conselheiros têm cargos vitalícios. Detalhe 2: a função do tribunal é fiscalizar os gastos do Executivo.

O antropólogo brasileiro Ro-berto da Matta concorda com a análise do sociólogo italiano Ma-rio Cardol e vai além. Para da Matta, as recomendações nunca irão terminar:

— É como querer acabar com o canto na Itália e com o Carna-val no Brasil — compara ele que é professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de

lo strano è che, secondo gli investigatori, tutti vincono con-corsi nelle stesse discipline am-ministrate dal parente che sta da più tempo al Gemelli, favo-rendo la manutenzione di “di-nastie di medici dallo stesso cognome” all’interno dell’isti-tuzione, a danni degli altri, non approvati e, apparentemente, molto più capaci.

Secondo i più pessimisti, l’Italia non cambierà mai, per-ché la tradizione delle raccoman-dazioni è radicata nei costumi e presente nella vita politico eco-nomica del paese. Si aprono e concludono indagini e processi senza che nessuno venga consi-derato colpevole, perché è così che il paese si muove.

tra i molti libri pubblicati che parlano della “epidemia che paralizza l’Italia” c’è Mi Racco-mando: l’Arte della Spintarella da Garibaldi a Berlusconi, del gior-nalista Daniele Martini.

— le raccomandazioni sono come l’aria: sono sempre presen-ti, anche se non si possono vede-re — dice l’autore.

Gli esempi di indicazioni cita-te da Martini nel libro sono basa-ti su più di duemila documenti raccolti, per 20 anni, da un collezionatore romano.

Nella prima parte, si parla delle raccomandazioni come un fatto tipicamen-te italiano, che annienta il paese dagli ultimi 150 anni. Dopo, cita vari esempi, ac-cusando deputati, impiega-ti, ministri, amministratori, monsignori, sindaci e acca-demici che sono stati favo-riti o hanno privilegiato pa-renti, amici o conoscenti.

Gli esempi fanno ridere, ma anche riflettere. tra i citati ci sono cognomi famosi in Italia come Amato, Cossiga, Cra-xi, Scalfaro, Spado-lini, Veltroni e tanti altri.

Non finiràIl ministro delle Co-municazioni trasfe-risce la concessione di una radio ad un assessore. Il sena-tore è promosso ministro di stato e suo figlio assu-me la sua poltrona

al Senato, anche se coinvolto in indagini poliziesche. tutti i con-siglieri che integrano il tribunal das Contas danno impiego a pa-renti nell’istituzione.

Potrebbe essere in Italia, ma questi casi sono solo degli esempi di ciò che accade in Bra-sile. Il ministro in questione è Hélio Costa. Il senatore è il ma-ranhense Edison lobão (nuovo ministro di Minas e Energia) il cui erede, Edison lobão Filho, avrebbe usato prestanome per nascondere la loro partecipazio-ne ad una distributrice di be-vande nel Maranhão. Sono stati i sette consiglieri del tribunal de Contas di San Paolo che hanno contrattato parenti. Dettaglio 1: i consiglieri hanno cariche vi-talizie. Dettaglio 2: la funzione del tribunale è quella di control-lare le spese dell’Esecutivo.

l’antropologo brasiliano Ro-berto da Matta è d’accordo con l’analisi del sociologo italiano Mario Cardol e va oltre. Secon-do da Matta, le raccomandazioni non finiranno mai:

— È come volerla finire col canto in Italia e col Carnevale in Brasile — paragona lui che è professore titolare della Ponti-fícia Universidade Católica di Rio de Janeiro e professore emerito dell’Universidade de Notre Dame, in Indiana, negli Stati Uniti.

Secondo l’antropologo, l’origine delle raccomandazioni viene dalle famiglie potenti che, nel XVI se-colo, prima dell’unione, erano la stessa Italia. Questo si inserisce all’interno di valori culturali tipi-ci del Mediterraneo, dove la fa-miglia è l’istituzione basica della società, in opposizione ai paesi che privilegiano l’individuo.

— la raccomandazione è un modo di vivere. In realtà, esse-re raccomandato non è peccato. Il problema è fino a dove questo arriva per evitare l’abuso — af-ferma da Matta.

Secondo lui, il fatto che le raccomandazioni abbiano comin-ciato a dar fastidio al popolo ita-liano al punto di venire conside-rate “scandali” è già un “buon segno”. E sta dando fastidio, se-condo lui, perché la pratica, in qualche modo, comincia a intral-ciare la gente.

— Il capitalismo esige com-petizione, richiede razionalità, eserce pressioni all’interno di questa ditta familiare. Se que-sta ditta dà impiego solo ai suoi parenti e loro non sono quali-ficati, tende a perdere terreno perché non è più competitiva — afferma.

Secondo lui, il Brasile, aven-do ereditato le tradizioni me-diterranee, ripete gli schemi di raccomandazioni. Secondo lui, valorizzare le relazioni familia-ri a danno degli individui non è, in sé, un neo. Da Matta ricorda che, nelle “società individuali-

Janeiro e professor emérito da Universidade de Notre Dame, em Indiana, nos Estados Unidos.

Segundo o antropólogo, a ori-gem das recomendações italianas está nas famílias poderosas que, no século 16, antes da unifica-ção, eram a própria Itália. Isso se insere dentro de valores culturais típicos do mediterrâneo, onde a família é a instituição básica da sociedade, em oposição aos paí-ses que privilegiam o indivíduo.

— A recomendação é uma ma-neira de viver. Na verdade, ser reco-mendado não é pecado. O proble-ma é até onde isso vai para evitar o abuso — afirma da Matta.

Na sua opinião, o fato das recomendações começarem a in-comodar a população italiana a ponto de serem consideradas “es-cândalos” já é um “bom sinal”. E está incomodando, segundo ele, porque a prática, de alguma for-ma, começa a atrapalhar.

— O capitalismo exige com-petição, demanda racionalidade, exerce pressão dentro dessa firma familiar. Se essa firma só empre-ga seus parentes e eles não es-tão qualificados, ela tende a ficar para trás porque vai deixar de ser competitiva — afirma.

Para ele, o Brasil por ter herda-do as tradições mediterrâneas re-pete os esquemas de recomenda-ções. Na sua opinião, valorizar as relações familiares em detrimento do indivíduo não é, em si, um fa-to ruim. Da Matta lembra que, nas “sociedades individualistas” como os Estados Unidos, por exemplo, a questão da recomendação pode não ser forte. Em compensação, seus fundamentos levam à segre-gação, à formação de guetos.

O antropólogo afirma que so-mente com medidas “de dentro

No alto, Policlínico Gemelli; abaixo Tribunal de Contas de São Paulo:Brasil e Itália se parecem

In alto, Policlínico Gemelli; sotto, Tribunal de Contas di San Paolo: Italia e Brasile si somigliano

“O Brasil por ter herdado

as tradições mediterrâneas

repete os esquemas de

recomendações” roberto da matta,

aNtroPólogo

“Il Brasile, avendo ereditato le tradizioni mediterranee, ripete gli schemi di raccomandazioni” roberto da matta, aNtroPologo

para fora” poderão ser ameniza-dos os problemas causados pelo hábito da recomendação. E essas medidas passam pela educação.

— Não adianta querer fazer leis contra o nepotismo porque não serão cumpridas. O que é preciso fazer é domesticar a ins-tituição da recomendação, civili-zá-la. Para isso, é preciso que se coloquem limites para a sua prá-tica, da mesma forma que uma família precisa estabelecer limi-tes para os seus filhos — observa o antropólogo. — Esses limites podem começar a ser discutidos dentro das escolas. Por exemplo, dificilmente alguém vai deixar de pedir uma recomendação quando precisa escolher um médico. O problema é quando se recomen-da o parente ou amigo não pela competência, mas pelo mero fato de ser parente ou amigo.

ste” come quella statunitense, per esempio, la questione delle raccomandazioni può non essere forte. In compenso, i suoi fonda-menti portano alla segregazione, alla formazione di ghetti.

l’antropologo afferma che so-lo con misure “da dentro a fuori” potranno essere alleggeriti i pro-blemi causati dal [mal]costume della raccomandazione. E queste misure passano attraverso l’edu-cazione.

— È inutile voler fare leggi contro il nepotismo perché non saranno rispettate. Ciò che inve-ce bisogna fare è addomesticare l’istituzione della raccomanda-zione, renderla civile. Per questo bisogna mettere limiti ai propri figli — osserva l’antropologo. — Questi limiti possono comin-ciare ad essere discussi all’inter-no delle scuole. Per esempio, è difficile che qualcuno non chie-da una raccomandazione quan-do vuole scegliere un medico. Il problema sorge quando si racco-manda un parente o amico non per la sua competenza, ma per il solo fatto di essere parente o amico.

No Brasil, Lobão Filho assumiu a cadeira do pai (esquerda) no

Senado. O antropólogo Roberto da Matta (abaixo) está certo que as recomendações não vão acabar

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In Brasile, Lobão Filho viene insediato al posto del padre (sinistra)

al Senato. L’antropologo Roberto da Matta (sotto) è sicuro che le raccomandazioni non finiranno

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Dopo il Capodanno, il carnevale. In meno di un mese, Monica Bellucci è tornata a Rio de Janeiro. l’attrice italiana è figura-

ta tra le principali attrattive internazionali di due palchi nella Mar-quês de Sapucaí. Così come nelle notte di fine d’anno, la bella, che ha lavorato in film come la passione di Cristo e Malena, ha portato la figlia Deva, 2 anni, e il marito, anche lui attore, Vincent Cassel. Insieme alla famiglia, un gruppo di 15 amici sfruttava le comodi-tà offerte al gruppo speciale. Nei palchi, lei ha bevuto solo acqua e mangiato insalata, filetto grigliato e dolci tipici brasiliani, co-me quello di cocco e baba-de-moça. la batteria e le scuo-le infantili erano quelle che la colpi-vano di più duran-te il passaggio del-le scuole. Oltre al samba, l’attrice ha ballato il funk del gruppo Monobloco, in uno dei palchi. In tutto, sarebbe rimasta a Rio una settimana.

carnaval

Tutti i mercoledì, quando esce dal lavoro, al centro di Rio de Janeiro, il pro-curatore dello Stato Fran-

cesco Conte va a Niterói prima di tornare a casa, a Jacarepaguá, quartiere della zona Ovest cario-ca. È in questo giorno della set-timana che ci sono le prove del-la Virando Esperança, la scuola infantile della Viradouro, della quale Conte è presidente d’onore. In completo, il suo abbigliamen-

to da lavoro, si mescola ai 700 bambini in mezzo a strumenti quali repiques, tamborins, cho-calhos e requebros.

Nato a Castelluccio Superiore, in Basilicata, ha già imparato ciò che rappresenta la cultura carne-valesca per due decine di famiglie coinvolte nella routine giornalie-ra di una scuola. Conte partecipa attivamente alla vita della rossa e bianca di Niterói. Accompagna non solo i progetti sociali offerti

alla comunità, quanto sfila nella scuola degli adulti.

È stato in riconoscimen-to a questa dedicazione che quest’anno la scuola infantile ha deciso di festeggiare la terra natale di Conte.

Con il tema Em canto infan-til: a imigração italiana no Brasil, la Virando Esperança è stata una delle 18 scuole infantili incarica-te di aprire le sfilate, al Sambó-dromo, venerdì 1° febbraio.

— Questo omaggio mi ha emozionato. Sono arrivato in Brasile da piccolo e mi sento co-me se questo fosse il mio pae-se di origine. Nel tema, parliamo dell’antica Roma, portiamo ele-menti del Rinascimento, il gelato e anche il maggior personaggio dell’immaginario infantile quan-do si parla d’Italia, che è Pinoc-chio — spiega Conte.

Nel tema, la saga di difficoltà e vittorie degli italiani in Brasile è stata narrata dal Grillo Parlan-te, saggio compagno di Pinocchio nelle sue avventure. la storia ri-corda che, così come gli immigran-ti, il burattino ha dovuto vincere e superare barriere e difficoltà per raggiungere i suoi obiettivi.

Come una scuola di adulti, quella infantile della Viradou-ro, fondata nel 2006, presenta i suoi elementi significativi che non possono mancare nella sua presentazione: sono 16 alas tre carri allegorici, due coppie di mestre-sala e porta-bandeira, una comissão de frente compo-sta da 11 persone e prepara-ta dalla professoressa di danza della comunità. Per 50 minuti,

bambini e bambine, tra i 7 e i 13 anni, mostrano nell’avenida ciò che hanno imparato negli spazi della scuola.

È spettato ad un ragazzo di 17 il comando della batteria infanti-le. Victor Azevedo ha condotto i 120 ritmisti della Virando Espe-rança. È stato scoperto da mestre Ciça, da sette anni al comando della batteria della Viradouro.

— Mi vengono sempre i brivi-di dalla paura, ma affronto la re-sponsabilità di rappresentare la Viradouro — afferma il ragazzo.

È proprio questo impegno, condiviso con gli altri mem-bri, ad inorgoglire il presidente d’onore della scuola.

— Abbiamo sfilato per la pri-ma volta nella Sapucaí l’anno scorso. Molti rinunciano alla pro-pria vita per dedicarsi alla scuo-la. E non è solo per svago, visto che per partecipare alla sfilata e alla convivenza nella quadra tutti devono prendere buoni vo-ti a scuola ed essere vaccinati. I bambini contano anche sull’assi-stenza odontologica, hanno a di-sposizione psicologi e frequenta-no lezioni e officine — mette in

In omaggio al suo presidente d’onore, il procuratore di stato Francesco Conte, la scuola di samba infantile della Unidos do Viradouro, di

Niterói, ha esaltato la storia d’Italia nel suo tema di quest’anno e ha portato al Sambódromo personaggi famosi come quello di Pinocchio

silVia soUza

C’è un Pinocchio nel samba

Di ritorno

Console fortunato

Trofeo abacaxi, ossia antipatico

Malgrado sia della Portela fino al midollo, il console generale d’Italia a Rio, Massimo Bellelli, ha accettato l’invito della

presidenza della Império Serrano e ha sfilato con la direzione del-la scuola, accanto al direttore della tIM Brasil, Francesco locati. l’azienda italiana ha appoggiato l’associazione che ha presentato un tema in omaggio a Carmem Miranda. Bellelli aveva già sfilato con la sua scuola del cuore 20 anni fa, quando era console ag-giunto a San Paolo. la partecipazione nell’Império, in pieno tem-porale, sembra sia valsa la pena: la scuola ha vinto la disputa nel Grupo de Acesso e, nel 2009, ritorna al Grupo Especial.

Un’altra celebrità italiana venuta a Rio per divertirsi a carnevale è stato lo stilista Valentino. Ma, al con-

trario della conterranea Monica Bellucci, ha fatto venire il mal di testa a produttori ed organizzatori di balli e palchi. Nel tradizionale ballo del Copacabana Palace, Valen-tino, che l’anno scorso è entrato in pensione dalle passerelle dopo 45 anni di carriera, è rimasto soli 22 minuti – contati sull’orologio. Doveva essere lui la grande star della festa, ma ha trovato tutto “molto esagerato”, dalla decorazione ai modelli degli altri invitati, e si è ritirato. Ha preferito finire la nottata nel bar di un altro sofisticato albergo carioca, dove ha ballato moltissimo nella pista. Ma là, si suona-va rock e non samba, e lo stesso Valentino ha “lavora-to” come dj durante un buon periodo.

Invece, nel Sambódromo, l’agitazione è stata causata per-ché Valentino si sarebbe rifiutato, in nome dell’eleganza, ad usare la maglietta-invito del palco che l’ha invitato. Così, il fa-moso stilista ha dovuto contentarsi con il palco che aveva af-fittato, in un angoletto meno spazioso della Sapucaí ma, co-me secondo lui avrebbe detto, “aveva una vista adorabile”.

Pinocchi nella Comissão de frente della Virando Esperança

L’Impero Romano (sopra) ha sfilato sul carro e i pizzaioli (sotto) hanno sambato benissimo

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Consolato Generale d’ItaliaRio de Janeiro

Elezioni Politiche 2008

Opzione per voto in Italia

A seguito dello scioglimento anticipato delle Camere, la Presidenza della Repubblica ha indetto i comizi elettorali per la data del 13 e 14 aprile p.v.

Dalla data dell’indizione decorrono i termini per la comunicazione dell’opzione di voto in Italia che deve essere fatta pervenire agli Uffici consolari da parte degli interessati entro il 10° giorno

successivo all’ indizione stessa, e cioè non oltre il 16 febbraio p.v., secondo quanto stabilito dall’art. 4 del Regolamento esecutivo della legge 459/01

Nel confermare che la normativa vigente non ha modificato le procedure con cui tale operazione si e’ svolta in occasione delle scorse tornate elettorali, si rammenta che:

• per essere esercitata validamente, l’opzione deve contenere i seguenti elementi essenziali: nome, cognome, data e luogo di nascita, luogo di residenza, firma dell’ELETTORE; • gli elettori residenti all’estero che non hanno reso la comunicazione di opzione non possono votare in Italia; • l’opzione può essere revocata nei modi ed entro i termini previsti per il suo esercizio;• l’opzione può essere spedita al Consolato competente dall’interessato anche per fax;• non e’ previsto dalla normativa vigente sul voto all’estero che alla comunicazione dell’opzione debba essere allegata copia del documento di identità dell’elettore.

Per agevolare gli elettori che volessero esercitare tale diritto, e’ stato predisposto un facsimile di modello di opzione che sara’ messo a disposizione sul sito del Ministero e che si prega voler

diffondere, con i mezzi ritenuti più opportuni, tra gli elettori.

Il Console GeneraleErnesto Massimo Bellelli

risalto il procuratore, che si è av-vicinato al mondo del samba nel 2005, quando ha scelto gli spazi della Viradouro per festeggiare il suo compleanno.

Secondo Conte, che era già amico del presidente della scuo-la, Marco lira, la calorosa acco-glienza della comunità è stato un fattore decisivo per il nodo che mancava a questo legame.

— l’elemento umano è parte essenziale di questa istituzione, è la sua particolarità. Io qui mi sento in famiglia. È ottimo sape-re che sono entrato in un circo-lo in cui si cerca di trasmette-re buoni esempi ai ragazzini. In fondo, saranno il nostro futuro. Mi sento pieno di speranza ve-dendo che possiamo fare qualco-sa per migliorare la vita di ognu-no di loro. Qui non è solo una fabbrica di sogni, come di solito la descrivono, è una fabbrica di presa di coscienza della cittadi-nanza — afferma il procuratore.

Sogno di bambina Sorriso sulle labbra, samba-enredo imparato a memoria, trucco discre-to e molto samba no pé. Equili-brandosi su sandali degni delle più famose regine di batteria, la musa della batteria della Virando Espe-rança è esperiente. Dall’alto dei suoi 11 anni, Rênoah Carvalho de Brito occupa il posto per il secon-do anno di seguito e sfila da quan-do aveva 9 anni nella Viradouro.

Impegnata a presentare il me-glio possibile il cuore della scuo-la, la studentessa dà continuità al lavoro della madre, Rita de Cássia, ex passista dell’associazione. Ma la sua fonte d’ispirazione è un’al-

carnaval

tra: Juliana Paes. Il carisma e la simpatia della regina della Vira-douro incantano la ragazzina.

— È bellissima, vero? Io vor-rei essere avvocato da grande, ma amo il samba e voglio anche esse-re regina della Viradouro ed essere simpatica come Juliana — sogna la piccola regina che ha “cono-sciuto” gli spazi della Viradouro quando aveva tre giorni di vita.

— Mia sorella ce l’ha portata per presentarla alla comunità. E quando la Viradouro è stata cam-pionessa, nel 1997, è venuta con me a festeggiare. Non aveva ne-anche due anni. Sono molto or-gogliosa di lei e quest’anno avrà un grande successo con la fanta-sia fatta nell’atelier dello stilista di carnevale Carlinhos Barzellai. È stato un regalo di Juliana Paes — racconta la madre.

Rênoah respira samba. Quan-do il carnevale si avvicina, la ra-gazzina frequenta la comunità il martedì e il mercoledì, oltre al sa-bato e alla domenica. Non prote-sta se va a dormire tardi quando il motivo è il samba. Con semplici-tà, dice di sapere che la posizione che occupa “attrae gli sguardi”.

— Io cerco di non pensare alla competizione in atto per non innervosirmi. So che queste cose succedono — commenta.

Dell’Italia, Rênoah racconta che poco sapeva del paese pri-ma che fosse scelto come tema della scuola. Secondo lei, è co-minciato a cambiare tutto quan-do ha letto il libro “le avventure di Pinocchio”.

— Ho già detto a mia madre che, quando farò 18 anni, inve-ce della festa vorrò un viaggio in Europa. Da quello che ho sentito dire e ho saputo, ho molta voglia di conoscere l’Italia e la Spagna — dice la ragazzina, fan di una buona pizza.

Un’altra a cui piace la pasta è la grande musa Juliana Paes. Recentemente ha approfittato

dei 12 giorni di ferie in Europa e non ha voluto nemmeno pensare ai rischi che la culinaria italiana poteva offrire ai suoi preparativi per la folia de Momo.

— Sono stata a Parigi, Roma e Venezia. Mi sono divertita mol-to. Ho mangiato “sem medo de ser feliz”, come se il domani non ci fosse. In Italia, ho fatto come gli italiani. Ho chiesto il primo, il secondo, il dessert, tutto — racconta l’attrice, che ha viag-giato insieme al fidanzato.

Affettuosa con i membri del-la Viradouro, Juliana è cara an-che ai componenti della Virando Esperança. Secondo il presidente d’onore Francesco Conte, “l’attri-ce si preoccupa e vive un totale coinvolgimento con i ragazzini della scuola infantile”.

BiImpecccabile, la Beija-Flor di Nilópolis ha conquistato un altro

titolo per la sua galleria. Sono già cinque vittorie in sei anni. Con Macapaba: equinócio solar, viagens fantásticas do meio do mundo, la scuola della Baixada Fluminense ha raccontato la storia di Macapá, capitale dell’Amapá e unica città tagliata dalla linea dell’Equatore. la scuola ha ottenuto il primo posto nella gara, 1,3 punti davanti alla seconda, la Acadêmicos do Salgueiro. Al terzo posto è arrivata la Grande Rio.

Ha fatto venire i brividi

Durante le prove, l’incontro delle Regine: Renoah e Juliana (sopra)

e di Conte con la prima coppia di mestre-sala e porta-bandeira

Capace di far conge-lare e far ribrezzo.

Così è stata la sfilata del-la Unidos do Viradouro. Subito nel primo carro la scuola ha scommesso su di una allegoria che, con 33 metri di lunghezza, portava una pista da sci per la quale c’era biso-gno di 26 tonnellate di ghiaccio. Con nove me-tri di altezza, l’allegoria è stata una sfida per 20 sciatori e snowboarders professionisti che, per la prima volta, sfilavano nella Marquês de Sapucaí, a Rio. Inol-tre, nel tema che parlava dei brividi, il carnevalesco Paulo Barros ha destato orrore in molti con la drammatizzazione del carro Ban-quete, in cui integranti mascherati da blatte salivano e scendeva-no dal carro assalendo avanzi di golosità di tutti i tipi. Ma niente di tutto questo ha aiutato la scuola a vincere, visto che la Viradou-ro è arrivata, tra le altre 12, ad un amareggiante settimo posto.

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personalidade

Ex modella e cantante, Carla Bruni si sposa con il presidente Nicolas Sarkozy in pieno carnevale

De férias no Brasil, Renzo Arbore fala sobre a má qualidade da programação das TVs, em todo o mundo

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La première dame italiana della Francia

Turista maravilhao

La cerimonia è stata rapi-da e discreta. Solo 20 per-sone hanno partecipato al matrimonio, realizzato il 2

febbraio, al Palazzo dell’Eliseo. Ora i francesi dovranno abituar-si all’idea di avere l’italiana Car-la Bruni come première dame, un’idea che, apparentemente, non era accettata bene. tutto dovuto al polemico profilo della sposa.

Qualche giorno prima del ma-trimonio, ad esempio, sono cir-colate sulla stampa foto eroti-che fatte da Carla per una rivista maschile spagnola. le foto sono state fatte prima della relazione della cantante con il presidente. Ma questo non è stato preso in considerazione dall’opinione pub-blica. Allo stesso modo, si stanno riesumando dichiarazioni fatte da lei, circa un anno fa, sulla fedel-tà. la più esplosiva è anch’essa circolata sui media mondiali e fa parte di un’intervista ceduta da Carla alla rivista Figaro Madame:

— Sono monogamica, ogni tanto. Preferisco la poligamia — ha dichiarato.

Il matrimonio è stato cele-brato nella stessa epoca in cui la popolarità del presidente france-se crolla. Analisti politici france-si attribuiscono parte di questa

situazione al fatto che Sarkozy occupa molto del suo tempo in problemi d’amore, condotti in modo poco discreto. Subito do-po la sua elezione, nel maggio dell’anno scorso, si è separato dalla seconda moglie, Cécilia Ci-ganer Albéniz, in un rumoroso caso che includeva il tradimento. Così, Sarkozy è diventato il sin-gle più ambito di Parigi, vivendo da solo nel Palazzo dell’Eliseo.

la solitudine presidenziale è durata solo due mesi. Nel dicembre dell’anno scorso il suo cuore appar-teneva già a Carla Bruni. I francesi e il resto del mondo hanno saputo del rapporto della cantante con il presidente quando la coppia è sta-ta fotografata nel parco Disney, nelle vicinanze di Parigi. Specula-zioni sul matrimonio sono iniziate nel periodo delle feste di fine d’an-no, quando i due sono stati sorpre-si in viaggio in Egitto e Giordania. Allora sono corse le voci di che Car-la sarebbe stata già incinta.

Da quando si è fidanzata con Sarkozy, Carla occupa cuori e menti dei francesi. Non proprio nel ruolo di una donna che gli è cara. Oltre ad essere straniera, è molto più giovane: 40 anni con-tro i 53 di lui. Se non bastasse, si riscontrano nel suo vasto curri-culum amoroso nomi come quelli dei rock star Mick Jagger e Eric Clapton, oltre a quello del milio-nario Donald trump e dell’attore Kevin Costner. Durante una rela-

zione col giornalista ed intellet-tuale Jean-Paul Enthoven, la mo-della si è innamorata del figlio, il professore di filosofia Raphaël Enthoven, con cui si è sposata ed ha avuto il suo primo ed unico fi-glio. Sarkozy ha tre figli.

Carla è bellissima, ricca di fa-miglia e inoltre ha saputo guada-gnare molti soldi per conto suo. Ai francesi può pure non piacere l’idea di averla come première dame, ma dovranno prendere in considerazio-ne che è stata allevata in Francia.

Nata a torino, Carla ha vissu-to la maggior parte del tempo tra la Francia e la Svizzera. Il suo pa-dre biologico è l’imprenditore ita-liano Maurizio Remmert, che vive in Brasile. Ma chi l’ha allevata è stato l’industriale e compositore di musica classica Alberto Bruni te-deschi. la madre, Marysa Borini, è pianista. la famiglia ha legami con la CEAt (fabbrica italiana di pneumatici) e la ENI (azienda pe-trolifera italiana). la modella è fi-nita in Francia dopo essere fuggita con la famiglia dalle Brigate Rosse – organizzazione terrorista di base

marxista che aveva come obiettivo quello di instaurare il regime so-cialista in Italia. Carla è cresciuta a Parigi. Alla fine degli anni ’80, la cantante ha abbandonato gli studi per dedicarsi alla carriera di mo-della. È stata considerata una del-le più belle a quell’epoca, insieme a Claudia Schiffer e Naomi Cam-pbell. Guadagnava circa 7,5 milio-ni di dollari a stagione.

E pensare che la storia d’amo-re tra Carla e Sarkozy è comin-ciata proprio nel palazzo presi-denziale. Gli è stata presentata durante un ricevimento ufficia-le. Ora, l’Eliseo è la nuova casa dell’italiana e i francesi dovranno prepararsi per i prossimi capitoli di questa storia. In fondo, la ri-vista spagnola maschile, Dt, ha promesso di pubblicare, in breve, le foto nude di Carla, l’attuale première dame della Francia.

Foto sensuale di Carla Bruni è pubblicata su rivista spagnola

um anno dopo. A destra, la coppia in uno dei viaggi

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ção

O programa de tV que o público mais gosta de-veria ser mais importan-te para um anunciante

do que simplesmente a atração mais vista. É isso o que defen-de um dos maiores produtores italianos de tV e músico, Ren-zo Arbore. O (baixo) nível das programações de televisão pe-lo mundo foi um dos assuntos sobre os quais ele falou com a Comunità, no Rio de Janeiro, onde passou parte de suas fé-rias de 15 dias pelo Brasil.

Responsável por sucessos televisivos como Alto Gradi-mento (1970), L’Altra Domeni-ca (1976/79) e Indietro Tutta! (1988), Arbore não está nada satisfeito com o que a televisão italiana exibe atualmente. Diz que a qualidade da programação é “baixa”, o que afasta os jovens do veículo. Segundo ele, são os velhos que vêem tV, por lá, “e to-dos falam mal dos programas”.

— Na Itália, há uma propos-ta do ministério das Comunica-ções de fazer o “qualitel”, um índice para medir se a audiência gostou ou não de um programa. Afinal, um programa não é bom porque é muito visto. Os anun-ciantes, porém, buscam os mais vistos. É possível que anunciar seus produtos em um programa querido seja mais eficaz porque hoje, os mais vistos, são mal fa-lados pela audiência — observa Arbore.

No período em que passou no Brasil, ele praticamente não viu televisão, mas acha a tV daqui muito parecida com a italiana. Sabe que, por aqui, tem vários reality shows no ar, sendo o prin-cipal deles o Big Brother, um es-tilo que, acredita, começa a can-sar a audiência.

— tecnicamente, gosto de Big Brother porque é tV pura. Mas do conteúdo, não gosto. São coisas pequenas, privadas, de pessoas baixas que são exi-bidas. Na Itália, a audiência des-ses programas está caindo. Em todo lugar, as tVs se parecem.

Exibem muita violência e fingem uma grande alegria — afirma ele cujo programa preferido da tV brasileira não está mais em exi-bição: o humorístico Escolinha do Professor Raimundo, protago-nizado por Chico Anysio.

Apesar das críticas à tV, Arbo-re pretende estrear um novo pro-grama na televisão italiana, no segundo semestre. Ele não quis adiantar detalhes sobre seu novo projeto. Disse apenas que vai ser um “misto de música e riso”.

Se a tradição for mantida, vem por aí uma leva de ótimos atores. Renzo tem no currículo o mérito de ter descoberto vá-rios talentos que participaram de seus programas como Roberto Benigni e Isabella Rossellini.

— Em 1976, Benigni partici-pou do meu programa Outro Do-mingo. Ele fazia um quadro de humor. Interpretava um crítico de cinema que não entendia na-da do filme sobre o qual iria fa-lar. Na mesma época, o programa revelou Isabella Rossellini. Ela interpretava uma correspon-dente de Nova York, toda perfeita. Ela era belíssi-ma — recorda.

Quando não está na tV, Renzo está em outro tipo de palco. Na maior parte do tempo, ele viaja pelo mundo cantando e tocan-do músicas napolitanas com sua Orquestra Italiana, que criou em 1991, e atualmente é formada por 16 músicos. Recentemente, eles se apresentaram na China.

Antes de viajar para o Brasil, ele e a orquestra se apresenta-ram para um público de 50 mil pessoas, sob um frio de menos 6ºC, em Milão, no dia 21 de de-zembro. Ele iniciou 2008 no ca-lor das cidades baianas de Arraial d’Ajuda e Porto Seguro. Depois, passou alguns dias em Búzios, principal balneário do estado do Rio de Janeiro, antes de chegar na Cidade Maravilhosa.

Na verdade, Arbore deveria receber um título de cidadão carioca. Afinal, sempre que po-de, ele passa suas férias no Rio. Descontraído e bem humorado, ele conta que já esteve por aqui “umas 20 vezes”. Em uma des-sas vezes, ele desfilou com sua orquestra e outros 5 mil italia-nos em uma escola de samba. Foi na abertura do carnaval de 1995, da cidade. Este ano, po-

rém, voltou para a Itália antes da festa de Momo.

— Gosto de vir ao Rio porque as pessoas são amigas dos italia-nos. Aqui é onde me sinto mui-to bem recebido. Há um feeling. tem futebol e mulher bonita, du-as coisas que nós italianos gos-tamos muito — diz ele, gaiato, que, inspirado no Rio, compôs a música Cacau Maravilhao, um de seus grandes sucessos.

Na cidade, o programa que mais gosta de fazer é ir à praia de Ipanema. Ele também procura lojinhas para comprar artesana-to – tem várias peças brasileiras na sua casa, em Roma. Como a maioria dos turistas, ele é fã de caipirinha. Mas já aprendeu que tem que “ir devagar” com essa tí-pica bebida carioca.

— A primeira vez que estive no Rio, tomei um porre de caipi-rinha. Foi terrível — conta ele, entre sonoras gargalhadas.

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Frutas tidas como exóticas são cada vez mais exploradas com finalidades terapêuticas graças a recentes pesquisas realizadas no Cerrado brasileiro

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Uma “farmácia” a céu abertoPequi, Cagaita, Araticum

e Mangaba. Estas são al-gumas frutas típicas do Cerrado, a segunda maior

formação vegetal brasileira. Com 200 milhões de hectares, ocupa toda a área do Brasil central e abriga cerca de 10 mil espécies vegetais. Mas a maioria dos bra-sileiros desconhece o valor des-sas frutas e o bem que podem fazer à saúde. E recorrer à “far-mácia natural” do Cerrado pode ser barato e saudável.

A região começa a ser des-coberta por pesquisadores. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se de-bruça sobre o Cerrado e já iden-tificou vários usos medicinais de frutos da região.

— O pequi pode ser degus-tado também na forma de licor e de compota. Seu óleo é utilizado como expectorante para comba-ter bronquites, gripes e resfria-dos — ensina a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ana Maria Costa.

todas as espécies desta fruta são encontradas em Goiás, mais precisamente entre os meses de setembro e fevereiro. Dela é ex-traído um azeite. Com sabor mar-cante, esta fruta pode ser con-sumida de diversas formas, entre as quais, cozida, pura ou, como de costume na região, com arroz e frango.

As frutas nativas brasileiras fazem parte da dieta tradicional de muitas comunidades interio-ranas. Em geral, são obtidas de forma extrativista e atendem, normalmente, a um mercado lo-cal. Muitos destes frutos e partes das plantas são comercializados também pelas propriedades me-

dicinais atribuídas pelo conhe-cimento popular, sendo, muitas vezes, considerados milagrosos pelos seus usuários.

Se o pequi parece estranho aos olhos de quem está acostu-mado com laranja, maçã e outras frutas mais comuns de cidade grande, o que dizer da cagai-ta? Encontrada em Goiás, Minas Gerais, tocantins, Bahia, Mato Grosso do Sul e São Paulo, esta fruta de polpa carnuda e suculen-ta é bastante apreciada inclusive pelos animais. Há até sorvetes e doces gelados de cagaita e, na medicina, o fruto é empregado para problemas de constipação, ou seja, infecção adquirida por vírus das mucosas do nariz e da garganta.

— Curiosamente, o efeito fi-siológico da cagaita só é obtido se a fruta ou a polpa for ingerida à temperatura ambiente, o que permite o seu consumo na forma de sorvetes e doces gelados sem maiores conseqüências físicas — explica Ana Maria.

Uma das frutas exóticas que aparecem de mansinho no mer-cado é o buriti. A fruta pertence à família das palmáceas e é pre-dominante numa extensa área que cobre todo o Brasil central e o sul da planície amazônica. De cor castanho-avermelhado, tem uma superfície revestida por escamas brilhantes e uma polpa amarela cobre uma se-mente oval dura e uma amêndoa comestível. São várias as utili-dades desta frutinha e de sua polpa é extraído um óleo co-mestível que possui altos teores de vitamina A. O óleo é utiliza-do contra queimaduras, já que possui um efeito de alívio e é

cicatrizante. Ainda com a pol-pa do buriti se faz sorvetes, cre-mes, geléias e licores com alta concentração de vitamina C.

Segundo a pesquisadora Ana Maria, o buriti é rico em pró-vi-tamina A. Seu uso medicinal es-tá associado ao óleo extraído da polpa dos frutos, utilizado como energético e como vermífugo.

— O óleo absorve também radiações no espectro ultraviole-ta, sendo um eficiente filtro so-lar. tem sido empregado recente-mente pela indústria cosmética entrando na composição de sa-bonetes, cremes e shampoos — diz a pesquisadora.

Segredos do caju...O caju não é desconhecido, po-rém, seu consumo mais comum é como suco ou doce. O que poucos sabem, é que ele é formado por duas partes: a fruta propriamen-te dita, que é a castanha e seu pedúnculo floral que, ge-ralmente, é confundido com o fruto. Ricas em vitamina C, as raízes do caju têm efeito purgante e tam-bém são utilizadas na terapêutica de avitaminoses.

— As cascas são utilizadas pa-ra fazer chás contra hemorragias, diarréia e úlcera. As proprie-dades terapêuticas atri-buídas pelo conhecimento popular são: antidiabética, vi-taminizante, depurativa, expec-torante, vermífuga e diurética — explica Ana Maria.

Segundo a pesquisadora, o caju possui teores de açúcares,

taninos e minerais, entre eles o ferro, cálcio e fósforo.

— Essa fruta tem uma impor-tância medicinal, principalmente para o sistema nervoso. É um tô-nico de primeira qualidade e ain-da antientérico, diurético e leve-mente depurador — revela.

DiversidadeA variedade de frutas exóticas existentes no Brasil permite um campo de pesquisa vasto para os biólogos. Segundo a pesquisado-ra Ana Maria, existem cataloga-das aproximadamente 125 espé-cies diferentes de maracujás, por exemplo.

— O Brasil é centro de di-versidade de muitas espécies, dentre elas, as dos maracujás (passifloras sp). No cerrado, são diferentes na cor, no tamanho, na casca, no perfume e no sabor.

Não fosse pelas sementinhas que lembram as do maracujá que co-nhecemos nos grandes centros urbanos, diríamos que era outra fruta — afirma Ana Maria.

De acordo com a pesquisado-ra da Embrapa Cerrados, a maio-ria das espécies de maracujá apresenta propriedades medici-nais atribuídas pelo conhecimen-to popular, que vão desde o tra-tamento de tremores de idosos e distúrbios neurológicos diversos até ao tratamento do câncer, ver-minoses, além dos efeitos antibi-ótico e antifúngico.

— A Embrapa Cerrados possui uma coleção com 150 acessos en-tre variedades melhoradas e nati-vas do maracujá. Destas, quatro foram selecionadas como mais promissoras para uso funcional e medicinal. No semestre que vem, esperamos lançar a primeira cul-tivada que apresenta o dobro de vitamina C em relação às comer-cializadas — afirma Ana Maria.

Mas não é só no maracujá que o bioma brasileiro apresen-ta tanta diversidade. Há ainda o araticum, o barú e a mangaba, por exemplo. O Barú é rico em óleos e fibras e utilizado como anti-reumático, tônico e regula-dor menstrual. E a mangaba é um fruto de sabor agradável, rico em vitamina C, consumido de forma natural ou na forma doce. O látex da mangaba é utilizado para fins medicinais para controlar doen-ças como tuberculose, úlceras e também sobre hematomas e fra-turas. Já o araticum oferece múl-tiplos efeitos.

— Os resultados preliminares das pesquisas com araticum, con-duzidas pela Universidade Estadu-al de Campinas e a Universidade Católica de Goiás revelaram que o fruto possui fatores antioxidan-tes que poderiam ajudar na pre-venção de doenças degenerativas. O araticum integra a medicina das populações tradicionais da região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que o utilizam como regula-dor da menstruação, para reumatismo, feridas, úlce-ras, câncer de pele, cólicas e contra diarréia — reve-la Ana Maria, sobre a fruta que, em Brasília e em Goiâ-nia, é sabor de famosos sor-vetes e picolés da região.

Araticum52 calorias

10,30 g de glicídios0,40 g de proteínas

1,60 g de lipídios

Barú616,7 calorias

25,46 g de glicídios26,29 g de proteínas

Buriti114,4 calorias

2,16 g de glicídios2,95 g de proteínas10,50 g de lipídios

Cagaita5,04 g de glicídios

0,50 g de proteínas421 mcg vitamina B272,0 mcg vitamina C

Caju36,5 calorias

8,40 g de glicídios0,80 g de proteínas

0,20 g de lipídios

Mangaba47,5 calorias10,50 g de glicídios0,70 g de proteína0,30 g de lipídios

Pequi89,0 calorias

21,60 g de glicídios1,20 g de proteínas0,90 g de lipídios

Em 100 gramas de polpa de...

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Wii para médicosBrincar com o videogame Wii, da Ninten-

do, antes de cirurgias, pode melhorar o desempenho dos médicos nas operações. Esta foi uma descoberta de uma equipe do hospital Banner Good Samaritan Medical Centre, nos Es-tados Unidos. O brinquedo tem a novidade de ser operado com um controle sem fio que traz sensor de movimento e facilita a experiência de jogar versões eletrônicas de esportes como bo-xe, tênis ou golfe. Apenas certos tipos de jogos de Wii são eficazes para os cirurgiões antes de operações. “A questão a respeito de cirurgia é executar pequenos movimentos com as mãos, controlados com precisão, e é isso que você tem com o Wii”, explica o pesquisador Kanav Kohel. A pesquisa foi publicada na revista es-pecializada New Scientist.

LipoNos Estados Unidos surgiu um novo tra-

tamento contra a gordura localizada. A lipodissolução consiste em uma série de in-jeções que são aplicadas no local onde está a camada de gordura que se quer eliminar. O paciente toma as injeções com um intervalo de algumas semanas e a gordura simplesmen-te desaparece. A injeção contém uma subs-tância química chamada PCDC, que é derivada da soja e aparentemente desmancha a gordu-ra. Porém, ninguém parece saber o que acon-tece com a gordura quando é dissolvida.

“Ainda existe muito estudo científico a ser feito. O risco é que o paciente pode sair com seqüelas ou incapacitado”, revela Brian

Kinney, da Sociedade Americana de Cirur-giões Plásticos. Por conta disso,

o novo tratamento ainda não foi aprovado pelas au-

toridades de saúde do país.

Comida fria, corpo frioNo verão brasileiro, com termômetro bei-

rando os 40º C, é difícil encarar um pra-to de comida. Uma alternativa são as refei-ções geladas, que, além de refrescantes e nutritivas, ajudam a baixar a temperatura do corpo. “No calor, é preciso sempre reduzir a temperatura corpórea. É por isso que se re-comenda usar roupas frescas e ventiladas, por exemplo. Comer alimentos frios também ajuda nesse resfriamento”, explica a cirurgiã gastroenterologista lígia Maria Vaz Guima-rães, do Hospital Professor Edmundo Vascon-celos, em São Paulo.

Depressão e menopausaJá é possível saber, de antemão, quais mu-

lheres correm mais riscos de ter depressão na menopausa. Segundo o professor psiquia-tra Claudio Mencacci, do Hospital Fatebene-fratelli di Milano, as mulheres sujeitas à de-pressão são aquelas que se demonstram mais sensíveis aos efeitos dos hormônios femini-nos do humor. Por exemplo, são aquelas que sofrem mais facilmente de tensão pré-mens-trual ou já tiveram depressão pós-parto.

Contra asma, dieta mediterrâneaFoi publicado no jornal britânico es-

pecializado, thorax, que mulheres grávidas seguidoras da dieta mediterrâ-nea podem, com o hábito, proteger seus filhos de desenvolverem doenças respi-ratórias como asma e alergia na infân-cia. O estudo contou com 507 mulheres que faziam pré-natal e que responderam a questionários a respeito de seus há-bitos alimentares. Mais de seis anos de-pois, a equipe analisou os filhos destas mães e verificou que a dieta alimentar das crianças tem menor impacto no de-senvolvimento destes problemas. O que realmente fazia diferença era o que as mães haviam comido durante a gravidez.

Pernas longasDe acordo com um estudo publicado na

revista britânica New Scientist, pernas longas despertam uma maior atração sexual. A universidade polonesa de Wroclaw reuniu 218 pessoas para que avaliassem as fotogra-fias de sete homens e sete mulheres. As fo-tos tinham sido retocadas de forma que as 14 pessoas parecessem ter a mesma altura. Po-rém, elas tinham pernas variando entre 5%, 10%, 15% da média polonesa. Os voluntários preferiram as pessoas com pernas 5% mais compridas, seguidas pelas que tinham exata-mente o tamanho médio e as que tinham per-nas 10% mais longas. Segundo o pesquisador Boguslaw Pawlowski, estas preferências es-condem uma razão genética: a de encontrar o melhor parceiro para se reproduzir.

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— trabalhei duro, mas tam-bém dei sorte. Conheci pessoas influentes aqui em Milão. Eu fa-zia dois desfiles por ano, em San Babila, e cultivei bons relaciona-mentos. Além disso, sempre fui muito correta e pontual. Desde o início, acreditei que, para me des-tacar, teria que fazer alta moda e eu sempre gostei de fazer vesti-dos sob medida — conta ela com sua voz tranqüila e fala calma, na cadência típica dos baianos.

Aos poucos, integrantes da Milano bene começaram a fazer suas encomendas a terezinha. De repente, seus vestidos figuraram como assíduos freqüentadores das aberturas da temporada lírica do teatro la Scala, homenagens ou casamentos luxuosos como os dos jogadores Ronaldo e Kaká. Hoje, na cidade, ter uma roupa assinada por ela é garantia de ter um produto único – um problema a menos para as chiques que sa-bem que não correrão o risco de encontrar, pelos salões, alguém com um traje igual ao seu.

— Quando uma cliente chega querendo um vestido igual ao que viu na revista, procuro mostrar que um modelo ainda mais bonito po-de ser feito. Assim, a idéia inicial de um vestido vai se transforman-do durante a elaboração dele mes-mo. E, ao final, nasce uma roupa única — explica ela que tem no chiffon, na seda e na organza suas principais matérias-primas.

No Brasil, uma cliente de te-rezinha é Zilú Camargo, mulher do cantor Zezé de Camargo. A estilis-ta conta que, no ano passado, ela foi a Milão em busca de uma rou-pa para o casamento da filha Wa-nessa. Bateu perna por todas as grifes, mas acabou no seu atelier. terezinha teve quatro dias para comprar o tecido, criar e execu-tar a roupa. Ela divide o sucesso dessa “proeza” com sua equipe formada por três brasileiros, to-dos conterrâneos, além do mari-do italiano, Renato. É ele quem cuida da organização doméstica e profissional de terezinha.

Amiga das mulheres dos joga-dores do Milan, a estilista costu-ma ser requisitada pelas grandes grifes para atender a encomendas especiais. Do irmão, ainda recebe ajuda. Ele agora trabalha na Guc-ci e, sempre que pode, indica te-rezinha para alguma cliente que não tenha encontrado a roupa dos seus sonhos na grife famosa.

Garra, simpatia, profissio-nalismo e criatividade. Foi esse o “material” usado pela baiana terezinha dos

Santos para costurar seu suces-so, em Milão. Em plena capital da moda italiana, essa administra-dora de empresas nascida no in-terior da Bahia decidiu se tornar estilista. E de alta costura, ainda por cima. O fato de que teria que concorrer com grifes como Gucci, Armani ou Dolce & Gabbana não a intimidou. Assim, 18 anos após chegar na cidade ela conquistou seu lugar no coração da fina so-ciedade milanesa - esposas de jo-gadores de futebol incluídas.

E pensar que seu primeiro trabalho foi como dançarina de lambada. Em 1989, ela chegou em Milão vinda diretamente de Conceição do Coité, sua cidade natal, distante 210 quilômetros de Salvador, a capital baiana. Veio tentar a sorte estimulada pelo irmão, que já estava por lá em busca de uma oportunidade no mundo da moda.

— Era o auge da lambada e formei uma dupla com meu irmão.

Naquela época, tinha vergonha de mostrar as minhas pernas porque, no Brasil, eu era considerada mui-to magra — lembra em meio a um sorriso cor da neve que enfeita os Alpes nesta época do ano.

A dança até ajudou terezinha a “segurar a barra”, no início. Mas nem por um minuto ela se satis-fez com a idéia de viver daquela maneira. Seus primeiros passos no mundo da moda foram como modelo de showroom. Essa ativi-dade também não lhe “encheu os olhos”. Assim, ao conhecer uma

brasileira dona de um atelier, não pensou duas vezes. trabalhou lá por quase um ano. “tomou gos-to” e entrou para uma escola de moda. Durante um bom tempo, sua rotina era o trabalho, duran-te o dia, e o estudo, à noite.

Do atelier, passou a costurar na sua própria casa. E não é que o lugar ficou pequeno para tan-tas encomendas? terezinha, ago-ra, trabalha em seu próprio es-túdio, um espaço de 130 metros quadrados, em um prédio históri-co, no centro de Milão.

As roupas de Terezinha conquistaram a fina sociedade milanesa

GUilhErME aqUinoCorrespondente • milão

Tempero baiano na alta costura

Estilista brasileira é a nova queridinha da Milano bene

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Trofeo in chiesaIl trofeo che Kaká ha ricevuto perché è stato scelto come mi-

glior giocatore di calcio del mondo, nel 2007, è in esposizione in Brasile. Il pezzo può essere ammirato nella sede della Igreja Apostólica Renascer em Cristo, a San Paolo, che è frequentata dal giocatore. È la stessa chiesa i cui fondatori sono stati arrestati negli Stati Uniti. la vescova Sônia Hernandes sconta uma pena di 140 giorni in regime chiuso. È stata condannata per contrabban-do di valute. la vescova ha già passato cinque mesi in prigione domiciliare. Suo marito, Estevam Hernandes, è uscito dalla prigio-ne americana il mese corso, dove si trovava dall’agosto 2007. la coppia è stata arrestata negli USA dopo aver tentato di passare alla dogana del paese com 56,5 milioni di dollari. Ne avevano di-chiarati solo diecimila.

Nella reteIl ministro della Cultura Gilberto Gil è diventato il primo arti-

sta brasiliano ad avere un canale esclusivo nello Youtube. Dal mese scorso, il cantante ha reso disponibili archivi, ciò che ac-cade dietro le quinte e materiale esclusivo sul sito www.youtu-be.com.br/gilbertogil. l’ultimo lavoro dell’artista Gil si chiama Banda larga. Il cd è stato lanciato recentemente ed è servito anche da tema per il camarote che l’artista organizza nel carna-vale di Salvador.

Molti tappi di sugheroRio Grande do Sul vive già il periodo della vendemmia. l’aspet-

tativa della Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) è che più di 30mila turisti visite-ranno la regione in questo periodo, il che rappresenta un aumen-to del 30% in confronto all’anno scorso. le vinicole che fanno parte dell’Aprovale processeranno più di 10,5 milioni di chili di uva vinifera fino a marzo. Cio rappresenta la lavorazione di circa 7,5 milioni di litri di vino fino e spumanti, ossia, circa 10 milio-ni di bottiglie.

Giorno dell’Immigrante ItalianoLa Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania della Câma-

ra dos Deputados ha approvato, alla fine dell’anno scorso, il 21 febbraio come il Dia Nacional do Imigrante Italiano. Ma la da-ta non è ancora ufficiale. Perché lo diventi, il progetto di legge dev’essere sottomesso a sanzione presidenziale. In Brasile vivono circa 30 milioni di discendenti di italiani.

Arte di Berlingeri a RioIn uma selezione speciale per il Brasile, 51 quadri dell’italia-

no Cesare Berlingeri possono essere visti per la prima volta in Brasile, fino al 23 marzo, al Museu de Arte Moderna di Rio de Janeiro. Punto di riferimento per ciò che riguarda il dialogo che l’arte brasiliana mantiene con la produzione contempora-nea italiana da più di 50 anni, questa collezione di Berlingeri presenta lavori fatti tra il 1967 e il 2007. la produzione discu-te questioni che sono tema delle ricerche dell’artista, come la rottura del supporto, i rapporti tra pittura e scultura, la mono-cromia, la memoria, l’erotismo, la sacralità, la metafisica e la storia dell’arte.

Fotógrafo italiano Mimmo Cattarinich ganha exposição em São Paulo

tatiana bUFF

O cinema da Itália vive, atu-almente, uma crise. Não que falte talentos. O que falta é “liberdade de pen-

samento” em um cenário onde sobram “condicionamentos po-líticos”. Esse quadro quem traça é o italiano Mimmo Cattarinich, um dos mais célebres fotógrafos europeus. Suas lentes registraram o trabalho dos principais cineas-tas e atores de todos os tempos como Federico Fellini, Píer Paolo Pasolini, Michelangelo Antonio-ni, luchino Visconti, Bernardo Bertolucci, Marcello Mastroianni, Anna Magnani e Catherine De-neuve – para citar apenas alguns de seus “colegas de trabalho”.

Uma parte dessa vida dedica-da ao cinema pode ser conferida na exposição de fotos O Mago da luz - Mimmo Cattarinich, até 30

de março, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.

— Nós trabalhávamos em um clã, não era só uma equipe, um team. Existia uma relação de amizade e cordialidade. todos eram pessoas fantásticas, extra-ordinárias, de cultura, que sa-biam e falavam de tudo. tive a sorte de estar entre elas — con-ta o fotógrafo a respeito do am-biente nos sets de filmagens, na maioria das vezes, montados nos estúdios da Cinecittà, na capital italiana, principalmente entre os anos 50 e 70.

Em sua passagem pelo Brasil, onde veio para a abertura da ex-posição, Cattarinich deixa no ar uma certa nostalgia, quando re-lembra aqueles tempos românti-cos do cinema, principalmente, o que era feito na Itália. Suas

fotos captam momentos de con-centração, descontração, expres-sões “geniais”, imagens de bele-za e poesia. Os amigos e colegas são as grandes personalidades de instantâneos singulares que, em enquadramento e luz, sublinham afetos nutridos em convivência e admiração mútuos. São imagens que deixam transparecer, tam-bém, uma quase veneração do fo-tógrafo pelos seus personagens.

Cattarinich se relacionou com o Olimpo cinematográfico. Começou por acaso, mas seguiu na carreira porque logo se apai-xonou por ela. Sua família pos-suía um bar freqüentado por ar-tistas e ele tornou-se amigo do fotógrafo Di Giovanni, que lhe introduziu àquele universo. Na década de 50, tornou-se assis-tente no laboratório de Aurelio De laurentiis, pai do famoso pro-dutor italiano Dino de laurentiis. Estreou como fotógrafo de cena (still, na linguagem cinemato-gráfica) em 1961, no filme Os In-vasores, de Mario Bava. Na épo-ca, as fotografias do elenco nos cenários eram essenciais para a divulgação da fita, como também os pôsteres. Assim, é de se es-perar que as fotos de Cattarinich tenham um aspecto narrativo.

— Naquela época, o cinema italiano era superior a todos os outros, era heróico. Seus filmes eram éticos e morais. As produ-ções tinham também uma função cultural — afirma ele a respeito

do cinema neo-realista que, acre-dita, continua fazendo escola.

Na sua opinião, para que a cinematografia atual recupere sua grandiosidade, será preciso que a nova geração “se liberte de entulhos mortais para retomar ares progressistas e livres”. Isso, segundo ele, vale também para cineastas italianos reconhecidos internacionalmente, como Nanni Moretti e o próprio Roberto Be-nigni, com quem o fotógrafo tra-balhou, entre outros, em A Voz da Lua – co-dirigido por Fellini, em 1990.

— Ninguém perguntava a Fellini ‘de que lado você está, qual é seu partido?’ porque seus filmes falavam por ele — sintetiza.

Além de ter ajudado a conso-lidar a estética do neo-realismo, um das mais marcantes de todos os tempos, Cattarinich trabalhou também como foto-jornalista pa-ra o jornal Corriere della Sera e outras publicações. Para fazer re-portagens especiais, esteve na áfrica, no leste europeu e duas vezes na Amazônia. Fotografou para publicidade e revistas, entre elas a Playboy.

Essa é a terceira vez que vi-sita o Brasil. Ele, que conhece o Rio de Janeiro, estranhou o cli-ma que encontrou em São Paulo. Se deparou com dias cinzentos e chuvosos, com uma “atmos-fera londrina”, como comparou. Muito diferente do verão tropi-cal que sonhava encontrar e fo-tografar.

— talvez faça essas fotos quando voltar, quem sabe, mais uma vez — diz ele que tem um estúdio na Via Veneto, em Roma, vizinho ao largo Federico Fellini, há 40 anos.

Imagens de um cinema heróico

exposição

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il lettore racconta

Mande sua história com material fotográfico para: [email protected]

A Festa da Uva faz parte da mi-nha vida desde a infância. Minhas irmãs e eu sempre assistíamos aos desfiles com a minha mãe ou com a minha tia. É uma forma de deixar viva a cultura italiana que se per-deu em minha família, com o passar dos anos. Não sei muito sobre os meus antepassados. Porém, o sangue italia-no corre nas minhas veias. Não por acaso, me identifico tanto com uma festa que faz parte da cultura dos meus antepassados.

Quando era pequena, meu gran-de sonho era tirar fotos com a rai-nha e as princesas. Alguns anos mais tarde, tive a oportunidade de des-filar na Festa da Uva à frente da Banda Escocesa do Colégio São Car-los, escola em que estudei por toda a vida. Vestida de italiana e com chapéu de palha, eu carregava uma cesta com uvas e me sentia uma ver-dadeira ragazza. A imaginação voava para o passado. Eu quase podia “recor-dar” como era a vida dos imigrantes. Cresci com esse encantamento em minha vida.

Assim, quando decidi concorrer ao posto de Rainha, toda minha família sempre me apoiou. Nestes meses que passaram desde a coroa-ção, no dia 1º de setembro de 2007, minha vida mudou em alguns as-pectos. Antes eu estudava jornalis-mo, trabalhava e fazia curso de ale-mão. Agora, me dedico totalmente à Festa. Representar um evento como este me deixa muito honra-da e com o coração muito feliz. Sei que represento, também, to-da uma geração que batalhou para que essa parte do Brasil fosse o que é hoje.

Caxias do Sul é a segunda maior cidade do estado do Rio Grande do Sul. Lá é o cenário da maior festa popular e comunitária do país, que é a Festa Nacional da

Uva, um símbolo deste lugar. A Festa da Uva é hoje a identidade cultural de Caxias do Sul. Foi com ela que esta cidade iniciou seu crescimento, de-vido ao seu povo pujante, trabalhador e empreendedor. Povo este do qual faço parte há muitos anos, por conta dos meus antepassados.

A primeira Festa da Uva acon-teceu em março de 1931. A época era apenas uma modesta exposição de uvas, onde os produtores mostravam o fruto do seu trabalho. A cada evento, ganhava um novo porte. Agora, em 2008, a Festa completa 77 anos com a realização da 27ª edição. Perce-bo que, a cada ano, o evento ganha maior visibilidade. Quando está ocor-rendo a festa aqui na cidade, não se fala em outra coisa. A comunidade inteira fica envolvida..

Ser descendente de imigran-tes italianos, colonizadores desta cidade, que se tornou o maior pólo metal mecânico do país, é fazer parte de uma história construída com luta, coragem e perseverança. Aqui os imigrantes refizeram suas vidas, construíram suas casas e ado-taram este país como novo lar. E foi com este espírito de fé, força e vontade de vencer que consegui-ram obter sucesso. Minha origem é italiana. Isso me orgulha muito, me deixa feliz porque é uma cultu-ra de raízes fortes, de um povo ba-talhador. Por isso, tenho admiração por estes guerreiros que ao longo dos anos foram se misturando com outras culturas e formando mais ou-tras e no fim chegando a grande nação brasileira.

Andressa Grillo Lovato, 21 anosCaxias do Sul, RS

O cultivo da uva e do vinho tor-nou-se a maior fonte de ri-quezas de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, colo-

nizada por imigrantes italianos. Eles, que vieram do Velho Mundo em busca de melhores condições de vida e de trabalho, encontraram um solo fértil, bom para o cultivo e aqui se fizeram brasileiros. Jun-to deles, mais tarde, vieram outros povos. Por isso há por aqui uma mis-cigenação de culturas, uma inte-gração que começou com a imigração italiana e hoje faz parte de uma mesma nação brasileira.

Ser rainha da FeSta da

Uva é, para andreSSa,

Uma Forma de reSgatar

a memória da cUltUra

italiana de SUa Família.

hiStória qUe Se perdeU

no tempo, maS qUe mantém

qUente o SangUe italiano

qUe corre em SUaS veiaS.

depoimento à repórter

Silvia SoUza

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gastronomia

Opzioni gastronomiche per gustarsi il paesaggio di Rio de Janeiro con sofisticazione

sônia aPolinário

Rilassante chicMangiare e bere all’aria

aperta, avendo il pa-esaggio di Rio de Ja-neiro come condimen-

to speciale nella degustazione, è uno dei programmi preferiti del carioca. Un’opzione rilas-sante, ma che non sempre ri-nuncia ad una buona dose di sofisticazione.

Bere una rinfrescante flûte di spumante in mezzo alla spiaggia di Copacabana, assaporare stuz-zichini e sangrie esotiche gu-standosi il tramonto sulla lagoa Rodrigo de Freitas, o cenare sul mare durante una passeggiata per la Baia da Guanabara, sono scelte che attraggono sempre più gli abitanti della città.

Sulla scia dell’onda dello spu-mante, Henrique lanzelotte ha scommesso che la bevanda pote-

va essere la particolarità del suo chiosco, sul lungomare di Copaca-bana, all’altezza del Posto 4. Ha scommesso e vinto. tanto è che inaugura un secondo chiosco, al Posto 5, nel secondo semestre.

— Il tenore alcolico del-lo spumante non è molto alto, il che lo aiuta ad essere bevuto in spiaggia, a qualsiasi ora della giornata. Abbiamo scommesso su una clientela che aumenta sem-pre di più, sulla scia del successo sempre maggiore degli spuman-ti brasiliani nel mondo — dice Henrique.

Nel Bar e Champanheria Co-pacabana, Henrique offre 42 marche tra spumanti e vini. Il prezzo della bottiglia di spuman-te spazia tra i 28 e i 220 reali – la marca più cara è la francese Veuve-Clicquot.

Secondo lui, se è bella gior-nata, le prime flûte vengono ser-vite alle 11.00. le più richeste sono quelle di rosé, l’onda del momento. Da mangiare insieme, ci sono 19 tipi di spuntini e 6

tipi di piatti caldi. tra i primi, ci sono quelli che, per tradizione, sono serviti in riva al mare, co-me sardine fritte e crocchette di baccalà, ma ci si trova anche la baguette mediterranea, un pani-no ispirato all’italiana bruschet-ta. tra i piatti, il campione di vendita è il tudo vale a penne, che usa questo tipo di pasta con salsa cremosa di gamberi.

le ultime flûte o drink a base di spumante sono serviti a not-te fonda. Della carta del chiosco fanno anche parte shows di bos-sa nova, lezioni di liscio brasi-liano e workshop sui vini, dalle 20.00 in poi. Ma, al contrario dello spumante, queste attratti-ve sono gratuite.

— Bere, mangiare e vivere è il mio motto. Voglio che il mio chiosco sia più che un luogo per degustare un drink. Voglio che sia un punto di incontro tanto per i carioca quanto per i turisti — dice Henrique.

Ecologicamente correttiDomandare ad un carioca da dove si vede il miglior tramon-to della città potrebbe causare grandi discussioni. Ognuno ha un suo angoletto preferito. Ma quasi tutti sono d’accordo che, alla lagoa Rodrigo de Freitas, quest’ora della giornata è molto speciale. Non è un caso che sia là, la domenica, dove ha luogo la Festa do Pôr do Sol. Più pre-cisamente al chiosco Palaphita Kitch, nel Parque da Catacumba. Il dj mette musica soave, vengo-no accese delle candele sui ta-volini e il clima intimo aiuta a contemplare il paesaggio.

là, tra palme da cocco, mobili fatti in legno di riforestazione e cuscini in fibre naturali, la carta offre squisitezze come la terrine de tambaqui com alfavaca su due salse: il nero chutney di açaí e il giallo chutney di cupuaçú.

— Vorrei che la gente si sen-tisse come se fosse ai margini di un igarapé — afferma Mário de Andrade Netto.

Nato in Amazônia, ha farcito il menu del Palaphita con i sapo-ri della sua regione con la tradi-zionale zuppa di pesce con erbe aromatiche. Ma non è solo que-sto. Accanto a lui, ha creato il Kantha Galo. In questo chiosco, la decorazione ecologicamente corretta si ispira alla nautica. Il bancone a forma di barca, davan-ti allo specchio della laguna, è il posto più disputato. I mobili sono fatti in materiale riciclato, come tubetti di dentifricio pres-sati o banconote avvolte in stri-sce di buste di plastica.

lì, il fascino è nelle sangrie esotiche come la Kantha Galo, fatta col succo di mais viola del-le Ande peruane, la Pedalinho, spumante con fiore di cactus, o

la Bigode che, invece di usare il vino come base, viene fatta con la birra, oltre all’acqua gassata e succo di limone.

— Rio combina con la san-gria perché è leggera e rin-frescante, ma ancora non c’è quest’abitudine qui in città — spiega Netto, la cui bevanda preferita è l’acqua.

Anzi, è stato proprio perché gli piaceva molto l’acqua e non il vino che ha avuto l’idea di fa-re sangrie. Netto racconta che i suoi amici amanti del vino chie-devano sempre che aumentasse la carta del Palaphita. là ci sono pure, sulla carta, ma la specialità della casa è un’altra.

Il chiosco offre bevande eso-tiche. Ci sono succhi come quello di graviola con cannella, cacao con rosmarino, cajá, cupuaçu o mandarino con mangarataia. tra le caipirinhas, i punti forti sono quella di jabuticaba, carambola o d’uva con basilico e menta, oltre alla Nêga, fatta con vodca scu-ra. Per ciò che riguarda i dolci, un’opzione è l’assenzio.

— Io scherzavo con i miei amici enologi dicendogli che avrei messo l’acqua nel loro vi-no. Con questo scherzo ho capi-to che la sangria poteva essere un’opzione buona e ideale per la città — racconta.

Al mareUna delle novità dell’estate cari-oca si trova attraccata alla Ma-rina da Glória. Con bar sui deck e ristorante, la barca Pink Fleet ottiene l’unanimità dei carioca. Con 54 metri di lunghezza e posti per 450 persone, l’imbarcazione è stata scelta per feste e da chi vuol fare un programma diverso.

In fondo, si tratta dell’unico luogo in città dove si può man-giare e bere facendo una gita intorno alla baia di Guanabara, benedetta da alcuni dei più bei biglietti da visita di Rio, come il Pan di Zucchero e l’insenatura di Botafogo.

A chi non piace molto il mo-vimento delle onde, può andare sulla Pink Fleet lo stesso. Fun-ziona tanto attraccata quanto in mare aperto.

— Durante la gita, la barca ondeggia poco perché la baia è molto calma. Non ci si sente ma-le — afferma Paulo Mattos, ge-store di alimenti e bevande della Pink Fleet.

Ai comandi della cucina, lo chef olandese Gabriel Fleijsman, che da quattro anni abita in Bra-sile, dà priorità alla gastronomia nazionale, ma con un pizzico di sofisticazione. tra le opzioni del-la carta ci sono risotto di vani-glia fredda con mango, maracu-ja e menta, purea di palmito con cocco o filetto di cinghiale con salsa di kiwi servito con cuscus di uva passa e broccoli. Ci sono anche gamberi alla salsa di fra-gole, insalata di cocomero con formaggio feta e coriandolo e la tradizionalissima feijoada.

Da bere, prodotti brasiliani sono la priorità sulla carta. Spe-cialmente le cachaças. Secondo Mattos, la caipirinha tradizionale è la bevanda più richiesta sulla Pink Fleet, seguita dalla caipirin-ha di arance lima e fragole.

— I turisti bevono caipirin-ha, ma fatta con altre bevande come la vodka perché non cono-scono la cachaça brasiliana. Per questo, raccomando sempre che provino la bevanda fatta con ca-chaça, che ha un sapore tutto speciale. E quando la cachaça è

Spumante rose: successo in spiaggia

Palaphita Kitch, alla Lagoa Rodrigo de Freitas

buona, come la nostra, che è ar-tigianale, a nessuno viene il mal di testa — dice Mattos.

lui ammette che, quando ha cominciato a mettere in pie-di il progetto della Pink Fleet, l’équipe immaginava che i turi-sti sarebbero stati i suoi princi-pali clienti. Mattos racconta che è stata una piacevole sorpresa imbattersi nell’accettazione dei carioca, che ha già incluso la barca nel suo itinerario, tanto para un happy hour, quanto per una cena.

la prova di che si tratta di un programma “locale” è l’esse-re scelta per piccole feste. Ed è stato così tanto con la barca, quanto con i chioschi di spu-mante, nel Palaphita o Kantha Galo. In nessuno dei posti tro-veranno strano se arrivi vestito con un paio di bermuda e in-fradito, la divisa ufficiale del carioca durante l’estate. Ma at-tenzione. Ci sono infradito e in-fradito.

In alto, le sangrie del Kantha Galo; sotto, festa sul Pink Fleet

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Sapori d’ItaliasilVia soUza

Curitiba – Brasileiro adora a culinária italiana. Gosta mais ainda quando se misturam os sabores de lá com toques típicos daqui. É nessa interação que investe o restaurante lellis trattoria, fun-dado em 1981. Com sede em São Paulo e filial em Curitiba, a

cantina do baiano João lellis, de ascendência italiana, tem no cardápio cerca de 300 pratos entre massas, assados, carnes e frutos do mar e tornou-se referência quando o assunto é a culinária napolitana.

Habituado a receber personalidades “de peso” como o apresen-tador Jô Soares, a cantora Zizi Possi ou pessoas do meio esportivo, o restaurante desenvolveu uma carinhosa relação de “parceria” com seus clientes. Eles têm toda liberdade para incrementar as opções do cardápio da casa.

— Oferecemos os famosos molhos brancos, vermelhos e rosados. Entre os pratos mais pedidos, sem duvida, estão a bisteca fiorentina e o rondelle aos quatro queijos. O ambiente tem um quê de informa-lidade e simplicidade capazes de reunir grupos de amigos, o que em momento algum atrapalha a qualidade no serviço. A idéia é deixar o cliente muito à vontade. tanto que, entre os freqüentadores mais assí-duos, virou rotina dar pitaco nas combinações do cardápio — comenta Fabio lellis, filho do chef João e responsável pela área de marketing do restaurante.

De acordo com Fabio, quem toda segunda-feira bate ponto na cantina é o locutor Galvão Bueno que, depois de apresentar o programa Bem ami-gos do canal SportV, não dispensa a conhecida salada à moda do lellis:

— O Galvão já é de casa e quando chega adora misturar as coisas. Na salada, por exemplo, ele gosta de adicionar frios como presunto, além de pimentão com berinjela.

Apesar de lellis ter ascendência italiana longínqua, a culinária do país europeu seduziu o patriarca de maneira insólita. O ano era 1964. Numa viagem a São Paulo, quando tinha 17 anos, o baiano João visi-

tou um amigo que tra-balhava no restauran-te Gigetto, point da culinária italiana no Bixiga e não pensou duas vezes. Conseguiu emprego como aju-dante de cozinha e, pouco depois, foi al-çado ao posto de co-zinheiro e copeiro do conceituado local.

— lá, meu pai fi-cou amigo de Giovan-ni Bruno, que era gar-çon. Mais tarde, ele abriu um restaurante e meu pai seguiu Bru-

Cantina especializada na culinária napolitana altera seu cardápio ao gosto dos clientes famosos

Salada à Moda do Lellis

Modo de fazer: aproximadamente seis folhas de cada, começando pela alface, depois escarola e agrião. Em seguida, salpique 100 gramas de salsão e erva doce, nessa ordem, picados. Coloque 4 talos de palmito cortados ao meio e 1 tomate caqui cortado em 5 ou 6 fatias e. por último, distribua sobre o prato 8 torradas. Para o molho, misture azeite, limão e mostarda a gosto.

Para o locutor Galvão Bueno, o prato fica mais saboroso e diferen-te ao se acrescentar presunto cru, mussarela de búfala, pimentão e berinjelas curtidos e temperados.

Galvão Bueno e o chef João: locutor é presença certa toda segunda-feira no restaurante

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Com o toque do freguês

Serviço: lelliS trattoria – rUa Bela cintra, 1849. JardinS. São paUlo Fone: (11) 3064-2727 e rUa gonçalveS diaS, 51, Batel. cUritiBa.

Fone: (41) 3242-9320

no nessa empreitada. Depois, passou por outros restaurantes, sempre com essa ligação com a Itália — conta Fabio.

Há oito anos, aproveitando o sucesso da casa em São Paulo, a lellis inaugurou uma filial em Curitiba. A escolha da cidade, segundo os donos, foi feita a partir de pesquisas informais e pelas caracterís-ticas do local, com ritmo de vida e clima ameno tal qual é a terra da garoa. Atualmente, está sendo estudada a possibilidade de abertura de um novo restaurante, dessa vez na cidade paulista de Campinas.

— A idéia é inaugurar até 2009. temos muitos clientes que moram lá e vêm passear na capital, visitar teatros e museus e, nessas ocasiões, aproveitam para comer aqui — explica o diretor de marketing.

Giordano Iapalucci

fiRENzE

A 50 anni dalla sua scomparsa, Firen-ze rende omaggio ad uno dei suoi pittori del Novecento: Ottone Rosai.

Nella grande mostra che si terrà nelle sale di Palazzo Medici Riccardi fino al 25 marzo sarà possibile ammirare circa 50 dipinti pro-venienti da raccolte pubbliche e private, che raccontano l’attività di Rosai dal 1910 fino

agli anni Cinquanta. Si tratta di una raccolta che dà una sintesi del linguaggio con cui raf-figurava il paesaggio e la cultura figurativa toscana della prima metà del Novecento. Si tratta per lo più di ritratti, monumenti, nudi e nature morte; ognuno di questi raffigurato con grande comunicatività e vigore espressi-vo. Orario 9.00-19.00. Prezzo 5 euro.

Un’altra bellezzaDopo vent’anni dall’esposizione di Palazzo

Strozzi in cui venne presentata al pubbli-co la civiltà figurativa del Seicento fiorenti-no, la mostra di oggi è imperniata proprio sul grande protagonista di quell’epoca, il pitto-re Francesco Furini. l’esposizione offre anche opere di pittori a lui affini come Bilvert, Ce-sare Dandini, Cecco Bravo, Volterrano; questo per far emergere l’animo segreto della pittura fiorentina seicentesca nel suo aspetto più af-fascinante e seducente. Saranno presenti di-pinti selezionati come l’Ila e le Ninfe della Galleria Furini, le tre Grazie dell’Hermitage, il loth e le Figlie del Prado. la mostra verrà ospitata nelle sale del Museo degli Argenti di Palazzo Pitti, cioè negli stessi luoghi dove il Furini stesso fra il 1639 e il 1642, per vole-re di Ferdinando II, affrescò un’intera parete del Salone principale. Fino al 26 aprile 2008. Orario 8.15-17.30. Biglietto 6 euro.

Le origini del Made in ItalyLa Fondazione Museo del tessu-

to di Prato ha inaugurato la mo-stra “thayaht, un artista alle origini del Made in Italy”. l’esposizione na-sce dall’acquisizione di materiali inedi-ti appartenuti al guardaroba persona-le dell’artista, come anche progetti per tessuti, figurini, abiti e materiale foto-grafico, alcuni dei quali completamente inediti e sconosciuti al grande pubbli-co e alla critica. Una documentazione sulla poetica e la creatività dell’arti-sta nella progettazione della moda, da molti considerato un vero precursore del Made in Italy. Fino al 14 aprile. In-gresso 6 euro. Dalle 10.00 alle 18.00. Info: www.museodeltessuto.it

De GregoriSabato 29 Marzo 2008 alle ore 20.45

sul palco del teatro Verdi di Firenze sarà in concerto uno dei grandi cantau-tori e interpreti della musica italiana an-cora in vita: Francesco De Gregori. Pre-senterà i suoi intramontabili successi del passato come anche il suo ultimo album “Calypso”. lo accompagneranno Ales-sandro Svampa alla batteria, Alessandro Arianti alle tastiere, Alessandro Valle alla chitarra e Guido Guglielminetti al basso. Biglietti da 23 a 46 euro. Info: www.bit-concerti.it

Ottone Rosai

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Claudia Monteiro de Castro

La gENTE, iL pOSTO

Castelo de DonnafugataQuem se encantou com o filme O Le-

opardo de luchino Visconti, base-ado no livro homônimo de Giuse-

ppe tomasi di lampedusa (1896-1957) vai adorar visitar o castelo de Donnafugata, mencionado no livro. No romance, o caste-lo era a casa de campo para onde se trans-feria a nobre família Salina durante o verão siciliano, um verdadeiro oásis de sombra e água fresca. O belíssimo castelo fica locali-zado na parte sudeste da Sicília, a 23 km da charmosa cidade barroca de Ragusa.

O elegante filme de Visconti permanece fiel ao livro, obra-prima do século XX que retrata a decadência e perda de poder da aristocracia siciliana. Mas além da história interessante, que tem como pano de fundo o Risorgimento, ou seja, a luta pela unifica-

ção da Itália na segunda metade do século XIX, o filme é uma festa para os olhos, com um elenco excepcional: Alain Delon, Clau-dia Cardinale e Burt lancaster, entre outros. Apesar de se mencionar o castelo de Donna-fugata no filme, na realidade outro local foi usado como set de filmagem.

Visitando o castelo, a fantasia corre sol-ta e é impossivel não imaginar os ilustres hóspedes que por aqui estiveram nos sécu-los passados, as damas, os cavalheiros e os bailes que animavam o castelo.

Sua construção tem origens no século XVII, quando o feudo de Donnafugata foi comprado por Vincenzo Arezzo la Rocca, mas várias mudanças foram incorporadas durante os séculos. Só pela belíssima fa-chada em estilo gótico-veneziano, que se encontra ao centro da fachada principal, já valeria a pena a visita.

Horário de funcionamento Terça a sábado 9h/14h, domingos 9h/14. 14h30/19h30. As bilheterias fecham uma hora antes do fechamento do castelo.

Existem muitas razões para aprender uma nova língua. Algumas pessoas aprendem por motivos de trabalho. Outras porque se apaixonam. Ainda há aqueles que o fazem por puro prazer.

A língua italiana é uma das mais belas e musicais do mundo. Cada palavra combina perfeitamente com seu significado. Muitas são ono-matopéicas. Por exemplo, ao pronunciar a palavra arrabbiato, ou seja “bravo”, parece que a pessoa está, de fato, brava, com raiva. Ao ouvir sbriciolare, “esmigalhar”, imagino todas as migalhas. Imbroglio (en-gano, emaranhamento) me remete a vários nós. Ronzare (o barulho que faz o motor), russare (roncar), todas as palavras parecem apro-priadas para o que querem dizer.

E o diminutivo, aumentativo, vezzeggiativo (que deixa a palavra mais bela, com graça) e o dispregiativo (pejorativo)? É pura poesia para meus ouvidos. Vamos à busca de um posticino per parcheggiare (um lugarzinho para estacionar). Comprei um libricino (livrinho). Mi dai un bacetto (uma beijoca), amore mio? No, furbacchione (espertalhão)! Até o dis-pregiativo tem seu charme, pois é car-regado de sentimento. Para dizer que a pessoa teve um dia de cão é só dizer: Ho avuto una giornataccia.

E leggiucchiare (ler meio por alto), sbaciucchiare (dar um beijinho atrás do ou-tro, de modo meio água com açúcar), sgranocchiare (belis-car algo para comer), scarabocchia-re (rabiscar, escrever sem atenção), piovigginare (chuviscar)? São verbos que me fazem sentir nas nuvens.

É incrível a quantidade de palavras em italiano que começa por “s”, principalmente os verbos, o que causa grande confusão para quem ain-da não tem intimidade com a língua. Sbrigarsi, (apressar-se) sbaglia-re (errar), sbottonare (desabotoar), sconvolgere (devastar, perturbar), scoppiare (estourar). Mesmo que você estiver na maior pindaíba na Itá-lia, é belo dizer sono una squattrinata (sou uma dura). Soa até bem.

A cada dia, coleciono uma nova palavra. Algumas me encantam: sfio-rare (roçar), sorseggiare (beber aos goles) sciogliere (derreter) e não sei porque chiodo di garofano, “cravo”, soa tão poético aos meus ouvidos.

Outra coisa que me intriga são as muitas expressões que começam com colpo, golpe. Existe o colpo di fortuna (um golpe de sorte), col-po di testa (uma decisão precipitada) colpo di scena (mudança im-prevista na situação), colpo di telefono (uma chamada rápida), colpo

della strega (um mal jeito nas costas) - a lista é longa. Mas a mais bela de

todas é colpo di fulmine, ou seja paixão à primeira vista.

São tantas as expressões que começam por colpo, que

certa vez, no início de minha es-tadia na Itália, fiz uma grande confu-

são. Fui ao cabeleireiro para fazer luzes e ao invés de dizer a expressão corre-

ta, colpi di sole (golpes de sol) distraída, perguntei: quanto custa um colpo di fulmi-

ne (uma paixão à primeira vista). O pobre cabe-leireiro me olhou meio surpreso, meio assusta-

do. Mas comecei a rir e me corrigi rapidinho, o que o deixou bem aliviado. Era somente

um erro de língua. Ou então, por trás disso, existiam outras razões que só Freud saberia interpretar.

A língua italiana

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