revista abranet 09

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01 abranet.org.br agosto . 2014 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INTERNET abranet.org.br ano III . edição 09 . agosto . 2014 Fora da CAIXA Fugir do básico com diferentes serviços é receita de ouro para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo ENTREVISTA Presidente da Telebras, FRANCISCO ZIOBER, diz que é hora de retomar as conversas com os provedores para ampliar os negócios

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A revista da Abranet - Associação Brasileira de Internet - está de cara nova. Saiba quais são os temas de destaque para o setor.

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associação brasileira de internet abranet.org.br ano III . edição 09 . agosto . 2014

Fora da caixaFugir do básico com diferentes serviços é receita de ouro para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo

entrevistaPresidente da Telebras, Francisco Ziober, diz que é hora de retomar as conversas com os provedores para ampliar os negócios

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editorialEduardo NegerPresidente da Abranet

O que vOcê nãO viu durante a cOpa

Ficar mais próximo do associado é uma meta cru-cial para nós, da Abranet. E uma de nossas recentes ações foi reformular a nossa comunicação. Uma das novidades é o portal da associação (www.abranet.org.br). De cara nova, ele está mais dinâmico, com notícias diárias sobre o mercado de Internet, reunindo as informações que você precisa saber para ajudar no dia a dia de sua empresa.

Mais que isso. O portal tem a missão de ser um canal estreito de relacionamento. Queremos ficar mais próximos de você, associado. Estamos criando uma série de servi-ços, que serão lançados em breve. Um deles é o Abranet Responde. Tem dúvidas sobre como agir no seu negócio? Sobre que tecnologia adotar? Sobre como agir numa fis-calização? Procure-nos. O canal está aberto. Mande suas perguntas para [email protected]. As res-postas serão dadas no portal Abranet e também aqui, na Revista Abranet, igualmente alvo de uma reformulação.

Nesta edição vamos tratar de temas pertinentes a nossa rotina de trabalho. No dia em que a seleção brasileira de futebol disputava a partida contra Camarões pela Copa do Mundo no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, entra-va em vigor o Marco Civil da Internet. Pouca atenção foi dispensada ao tema pelos noticiários em função do gran-de destaque dado ao evento esportivo. O dia 23 de junho de 2014 marcou o início da vigência da lei, que funciona como uma Constituição para o uso da rede no Brasil.

Qual o impacto efetivo do Marco Civil, agora Lei 12.965/14, para as empresas que atuam na cadeia de valor da Internet brasileira? Nem todas as questões podem ser res-pondidas de imediato, já que importantes pontos da lei ainda precisam de regulamentação, como é o caso da neutralidade de rede e da guarda de registros de acesso. Fica a recomen-

dação aos empreendedores do setor: uma cuidadosa leitura e compreensão dos pontos consolidados da nova legislação.

Ainda durante a Copa, no dia em que Argélia e Rússia empatavam pelo Grupo H, o CETIC.br divulgava a Pes-quisa TIC Domicílios 2013, apontando resultados bastan-te interessantes. As áreas rurais, a região Norte e os domi-cílios pertencentes às classes C, D e E continuam sendo nichos de mercado quase inexplorados. Outros números impressionam: mais de 24 milhões de domicílios com ren-da até dois salários mínimos, mais de 7 milhões de domi-cílios na área rural e mais de 13 milhões de domicílios na região Sudeste simplesmente não têm acesso à Internet.

São oportunidades nos dois segmentos. Para os operado-res de telecomunicações, ainda existem mercados carentes de infraestrutura de redes e, consequentemente, dos serviços de valor adicionado trazidos por essas implementações. Para os provedores de conteúdo e aplicações, o uso da Internet no celular ganha cada vez mais maior relevância e demanda conteúdos adaptados aos novos dispositivos. E, com o apito final da Copa, vamos lembrar de outro encerramento. Para os provedores de Internet de grande porte, os endereços IPv4 acabaram. É hora de pensar na migração para o IPv6, sem adiamentos, sem paliativos. Já existem casos de sucesso de provedores tomando a dianteira neste processo.

Os debates trazidos no site e na revista prosseguem em nossos eventos. Nos dias 26 e 27 de agosto, teremos a edição mineira do “Desafios e Oportunidades para os Profissionais de Internet”, a ser realizado em Belo Ho-rizonte. Em outubro, estaremos no Futurecom 2014, em São Paulo, participando do congresso internacional e com um estande de 176 m² na área de exposições. Você é nosso convidado. Boa leitura!

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[email protected]

ÍNdiCe

ConselHo editorialEduardo Neger

[email protected]

José Janone [email protected]

Eduardo [email protected]

gerÊnCia eXeCutivaRoseli Ruiz Vasquez

[email protected]

ProJeto, Produção e ediçãoEditora Convergência Digital

[email protected]: 011-3045-3481

direção editorial

Ana Paula [email protected]

Luiz [email protected]

editora-CHefe

Ana Paula [email protected]

edição

Bia [email protected]

rePortagem / redação

Roberta [email protected]

Luís Osvaldo [email protected]

edição de arte e diagramação

Pedro [email protected]

Rua da Quitanda, 96 / Cj.31 - Centro - São Paulo / SP CEP: 01012-010 Fone: (11) 3078-3866

www.abranet.org.br

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Provedores incrementam portfólio com ofertas que vão de ferramentas de segurança, e-commerce e educação a distância a soluções corporativas. Ir além do básico é a melhor estratégia para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo.

Presidente da Telebras, Francisco Ziober, diz que é hora de retomar as conversas com os provedores para ampliar os negócios.

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12 | eNtreViSta

06 | CaPa

A hora do IPv6 é agora. Não há razões para os provedores de Internet postergarem a implantação da nova versão do protocolo.Provedor do município paulista de Cerquilho troca rádio por Metro Ethernet e leva IPv6 para a casa do cliente.

16 | teNdÊNCiaS

A entrada em vigor do Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações impõe ajustes às empresas do setor.

20 | MerCado

Com aproximadamente 30 provedores de Internet já atuando como parceiros, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) quer muito mais e planeja chegar, num curto prazo, a 100.

23 | eCoSSiSteMa

À espera do Marco Civil. Fibra estagnada. Oportunidade à vista. Os próximos passos do NetMundial.

24 | CoNeXÃo

Governança da Internet em tempos de mudança, por Carlos Aff onso Pereira de Souza.

30 | oPiNiÃo

ABRANET RESPONDEVocê tem dúvidas sobre o seu modelo de negócio? não sabe qual legislação seguir? Quer orientação para migrar para o iPv6? esCreva-nos e tire as suas dÚvidas.

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aUmenTar o TÍQUeTe mÉdio e reter os clientes estão entre as prioridades dos pro-vedores de Internet (ISPs, na sigla em inglês). Para isto, eles apostam na ampliação do portfólio, de modo a incorporar serviços que vão além do trivial. Pode parecer uma receita simples, mas não é. O leque de novos produtos precisa fazer sentido den-tro da estrutura da empresa e ser capaz de gerar novas receitas, fidelizar os clientes e representar um fortalecimento frente à concorrência.

Os provedores de Internet não podem mais ficar focados apenas na oferta do aces-so – é imperativo que expandam seus negócios. E a orientação não é apenas para as

Roberta PrescottCaPa

aUmenTar o TÍQUeTe mÉdio

vedores de Internet (ISPs, na sigla em inglês). Para isto, eles apostam na ampliação do portfólio, de modo a incorporar serviços que vão além do trivial. Pode parecer uma receita simples, mas não é. O leque de novos produtos precisa fazer sentido den-tro da estrutura da empresa e ser capaz de gerar novas receitas, fidelizar os clientes e representar um fortalecimento frente à concorrência.

Os provedores de Internet não podem mais ficar focados apenas na oferta do aces-so – é imperativo que expandam seus negócios. E a orientação não é apenas para as

E cRiE NOVOS

SERViÇOS

Pense fora da caixa

Provedores incrementam portfólio com ofertas que vão de ferramentas de segurança, e-commerce e educação a distância

a soluções corporativas. ir além do básico é a melhor estratégia para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo

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empresas de maior porte. Os ISPs menores e localizados fora dos grandes centros ur-banos também precisam avaliar constantemente os serviços que vêm prestando e o real motivo pelo qual os clientes permanecem. Basicamente, a pergunta a ser feita é se os clientes são fiéis porque eles, provedores, têm qualidade ou porque são a única opção.

A questão é pertinente em um cenário no qual os provedores maiores ampliam a sua área de cobertura, rumando para o interior, e surgem novas empresas, aumentando a competição. Com o acirramento da concorrência, oferecer multisserviços se torna um dos diferenciais e até mesmo uma questão de sobrevivência. Muitas vezes, serviços de

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em inglês)”, explica Otto Stoeterau, ge-rente de vendas da Norton para o mer-cado de OEM na América Latina. O próximo passo é entender as demandas da cartela de clientes e incorporar ao portfólio soluções de armazenamento, backup e recuperação de desastres (di-saster recovery). “Para quem não tiver um data center, há a possibilidade de terceirizá-lo”, sinaliza o gerente.

Segundo Stoeterau, para começar a ofertar soluções de segurança, os provedores de Internet devem pro-curar as revendas regionais e avaliar quais modelos de compra mais se adequam à realidade delas. Há quem prefira fazer a aquisição do software e incorporá-lo a outros para vender uma solução personalizada, passando a atuar como um integrador de tecno-logia. Neste caso, as empresas preci-sam avaliar a qualificação da equipe e, se necessário, investir em capacita-ção de mão de obra. “Segurança pro-porciona um alto valor agregado e tem o poder de retenção do cliente. Os pro-vedores de Internet podem começar por algo mais simples e depois evoluir para soluções mais complexas.”

Indo além na oferta de valor agre-gado, o caminho para os provedores que tiverem uma infraestrutura mais robusta passa pela incorporação ao portfólio de produtos de gestão em-

“Os provedores de Internet não podem

perder de vista qual é o seu negócio principal”

Bruno tasCoanalista de indústria Sênior

da Frost & Sullivan

voz e de TV por assinatura não bas-tam, sendo apenas um requisito míni-mo para permanecer no mercado.

Para se diferenciar, os provedores de Internet precisam não apenas pensar em novos serviços, como também em me-lhorar e personalizar o atendimento aos clientes e, por que não, criar produtos de nichos, como serviços de armazenamen-to de dados e sistemas de gestão hospe-dados na nuvem para pequenas e médias empresas (PMEs). Soluções focadas no mercado corporativo têm sido, inclusi-ve, uma saída estratégica para muitos provedores. Entre as que mais se des-tacam estão segurança da informação, câmera IP, concepção e hospedagem de loja de aplicativos corporativos, serviços de data center, de armazenamento e de nota fiscal eletrônica.

De acordo com Bruno Tasco, ana-lista de Indústria Sênior da Frost & Sullivan, provedores de Internet têm alcançado vantagens competitivas por meio de ofertas de gerenciamento de in-fraestrutura com segurança, aplicações corporativas e soluções de mobilidade. Mas o especialista lembra: os prove-dores de Internet não podem perder de vista qual é o seu negócio principal.

“Há um movimento interessante no mercado, de as empresas passando

de somente acesso à Internet para um modelo de suporte à missão crítica de seus clientes”, aponta Tasco. Enquan-to os provedores maiores conseguem ter uma infraestrutura robusta e ofer-tar soluções mais parrudas, os meno-res podem começar, por exemplo, fa-zendo parcerias tanto com empresas que os apoiem com estrutura quanto com fornecedores de software, para que possam incorporar sistemas ao portfólio e vendê-los como serviços.

A porta de entrada para o provedor que busca expandir sua atuação tem sido o segmento de segurança da informa-ção. “Os provedores de Internet podem oferecer softwares de segurança dos mais básicos, como antivírus ao usuário doméstico, até produtos voltados para o mercado corporativo e que possam ser faturados mensalmente, no modelo de software como serviço (SaaS, na sigla

“É muito difícil sobreviver apenas de

acesso; até porque fica-se vulnerável à chegada

das operadoras”

sergio sÁdiretor de Serviços aos associados da abranet

divulgação

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De prestadora de serviços de digitação a empresa es-pecializada em Tecnologia da Informação para o mercado corporativo, a jornada da CTI começou em 1992. Desde então, seu foco vem sendo ajustado às necessidades dos clientes, mantendo sempre a preocupação de estar perto deles para prover soluções personalizadas. A aposta na proximidade está diretamente ligada a mais agilidade no atendimento. “A ordem é pegar o carro e ir resolver in loco, se for preciso”, ressalta Carlos Bernardi, diretor da CTI.

A ligação com o mundo de TI remonta à época do surgimento da Internet, quando a empresa incorporou ao portfólio ofertas de acesso discado, desenvolvimento de websites e hospedagem. Deu tão certo que os servi-ços de digitação foram interrompidos e a CTI se viu cada vez mais especializada. “Mas achávamos que prover so-mente o acesso não era sufi ciente, porque alguém mais forte poderia aparecer, como ocorreu com a chegada do IG com o acesso grátis”, conta Bernardi.

Naquela época, a CTI começou a desenvolver solu-ções de compartilhamento de ADSL, além de e-mail, ferramentas de segurança, entre outras. “Sempre foi nossa preocupação não depender apenas de um ser-viço que poderia ser abocanhado.” Assim, a CTI defi -niu que teria grande especialização em segurança, com ofertas de acesso dedicado, gerenciamento de políti-ca de acesso, hospedagem, e-mail e backup online. “É preciso ter um nicho, porque, se fi zer de tudo, corre-se o risco de não fazer nada.”

Hoje, com 45 funcionários, a CTI tem perto de 800 clientes ativos, 60% deles de médio porte (cerca de cem funcionários e receitas entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões), com área de atuação focada na região do ABC paulista – Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C). “Pense global e aja local”, resume Bernardi.

presarial, que podem ser vendidos no modelo de computação em nuvem. “Ao oferecer cloud, a empresa sai na frente, criando soluções corporativas”, destaca Sandra Vaz, vice-presidente de vendas para ecossistemas e canais da SAP América Latina. Há também a opção de subcontratar o data center. O mais importante, destaca a executiva, é definir o segmento de atuação e ela-borar um plano de negócios.

De acordo com ela, a partir de US$ 200 mil é possível montar uma oferta no modelo de OEM e a partir de US$ 500 mil no modelo de managed cloud as a service da SAP. Além da parte monetária, a vice-presidente ressalta a importância da qualificação profissio-nal do time. “Hoje a grande tendência é oferecer os produtos na nuvem”, aponta Sandra, completando que é importante ter fôlego financeiro e se preparar para atuar como provedor nesses formatos.

É PreCiso se reinventar“A cada dois anos, aproximada-

mente, os provedores de Internet pre-cisam se reinventar”, destaca Sergio Sá, diretor de Serviços aos Associa-dos da Abranet. Para ele, ainda que sempre existam pessoas prevendo a ‘morte’ dos provedores de Internet, eles são abertos a novas tecnologias e buscam na inovação uma maneira de se transformar. Foi assim, por exem-plo, quando surgiu o acesso grátis.

Muitos provedores começam pe-quenos, como empresas familiares que nascem para atender pequenas cida-des, mas, conforme crescem, precisam se profissionalizar e investir em novas frentes. “É muito difícil sobreviver apenas de acesso; até porque fica-se vulnerável à chegada das operadoras.

PROxiMiDaDE como diferencial

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Por isto, os provedores buscam servi-ços de valor agregado.”

Atualmente, observa-se que muitas empresas estão investindo em redes de fibra óptica como forma de preparar a infraestrutura para serviços como os de vídeo sob demanda, de TV por as-sinatura e ofertas para o mercado cor-porativo. “Antes, quando o acesso era discado, conseguia crescer o provedor com muitas linhas telefônicas. Depois, vários migraram para rádio e agora ve-mos a interação com a rede de fibra. Um dos maiores problemas dos prove-dores de Internet sempre foi resolver o custo da banda”, lembra Sá.

Aumentar o número de ofertas é chave para os provedores. No entanto, há dificuldades na jornada para incre-mentar o portfólio. De acordo com Sá, adicionar serviço de TV por assinatura pode não dar lucro inicialmente, mas permite que o provedor seja mais com-petitivo e fidelize o cliente. Também é preciso oferecer telefonia, principalmen-te, para o mercado corporativo. Sá tam-bém destaca soluções de e-commerce e de segurança como boas alternativas. “Conheço antigos provedores de acesso que se transformaram em empresas de soluções de segurança na Internet.”

Outra alternativa é o provimento de infraestrutura para banda larga sem fio. Um nicho apontado por Sergio Sá é o das prefeituras que estão instalando pontos públicos de acesso a Wi-Fi. Os provedores podem não só montar as re-des, como também fazer a manutenção e o gerenciamento.

Existem muitas oportunidades de ne-gócio para os provedores que estiverem dispostos a pensar fora da caixa. E isto independe se estão em uma grande me-trópole ou em um pequeno município.

Em 1995, nascia o provedor de acesso à Internet ISAT. Quase duas décadas depois, o perfil da empresa é completamente diferente do daquela época. A co-nexão à Internet configura apenas um dos elementos do extenso portfólio, que inclui diferentes atividades e serviços técnicos associados à Tecnologia da Infor-mação e da Comunicação, como o uso e aquisição de equipamentos, licenciamento e desenvolvimento de aplicativos, bancos de dados e plataformas, além de armazenamento de mídias.

“Entendemos como poderíamos criar serviços basea-dos na Internet para os clientes”, relata Dorian Lacerda Guimarães, diretor-presidente da ISAT. “É preciso olhar o mercado com outros olhos e ver demandas que exis-tem, mas não são supridas.”

Com foco 100% voltado para o mercado corporativo, a ISAT oferece aplicativos baseados na gestão de con-teúdos na web (CMS - Content Management System), na gestão de processos de aprendizagem e comunica-ção (LMS - Learning Management System), na gestão de processos e de atendimento, além de soluções de e--commerce. Mas o maior conhecimento está nas solu-ções de ensino a distância.

“Toda empresa tem a demanda de manter os colabo-radores atualizados. Antes, faziam isto presencialmen-te, agora, pode ser on-line”, explica Guimarães. Entre os clientes estão a Vale, Gol Linhas Aéreas e a Petrobras.

Guimarães conta que a mudança no rumo da empre-sa se deu com a evolução da Internet discada para banda larga. “Resolvemos nos diferenciar sendo um prestador de serviços baseado na Internet”, diz.

Atualmente, a ISAT conta com cerca de cem funcio-nários, tem sede na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, e filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília.

Um olhar para O FUTURO

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Luís Osvaldo Grossmann

eNtreViStaFrancisco ZioberPresidente da Telebras

teLeBraS quer Ficar MaiS pertO dOS prOvedOreS

REVISTA ABRANET – Quem são e onde estão os provedores atendidos pela Telebras?FRANCISCO ZIOBER – Tem muita negociação, mas provedores fechados são cerca de 200. Eles estão princi-palmente no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde fica o grosso dos contratos que temos. E que, no fundo, é a verdadeira missão da Telebras.

Quanto isso significa de clientes?Ninguém abre sua carteira de clientes, eles não abrem para nós. O que a gente percebe é se o tráfego deles está cres-cendo, se está estagnado.

E de que tráfego estamos falando, então? Hoje estamos na faixa de 17 Gbps ativados. Em termos de Gbps vendidos, pode ser mais, mas ainda não utilizados. Ativados, é isso. É o que tem de uso na rede. Às vezes, um

Reestruturada há quatro anos para tocar o Plano Nacional de Banda Larga, a Telebras fes-teja 28 mil km de rede instalada e alcance em todos os estados brasileiros, com exceção de Roraima. Mas a carteira de clientes continua modesta – cerca de 200 provedores de Internet (ISPs, na sigla em inglês). Em entrevista à Re-vista Abranet, Francisco Ziober, que assumiu a presidência da estatal em janeiro, depois de atuar como diretor Comercial, admite que esse

número é um sinal claro de que é preciso reto-mar os contatos com os provedores, prejudica-dos pela dedicação, primeiro à Copa das Confe-derações, em 2013, e em 2014, à Copa do Mundo.

O “cobertor curto” dificulta a tarefa. “A equi-pe é pequena, venho de uma empresa onde esse problema não existe”, diz ele, que estava nos Correios antes de ser indicado pelo mi-nistro das Comunicações, Paulo Bernardo, para a diretoria da Telebras, em setembro de

provedor compra 1 Gbps e usa 600 Mbps. É um número que muda semana a semana, depende do que está sendo usado. Tive encontros com entidades ligadas aos provedores de Internet e tenho dito que precisamos retomar as conversas.

Há menos ‘captação’ de novos contratos? Não tinha jeito, temos uma equipe pequena e fazemos muita coisa. A partir de abril e maio, a equipe técnica teve que se espalhar pelo Brasil; houve um esforço relacionado à Copa do Mundo. E mesmo assim avançamos com nosso backlog, o que já estava pedido. Retornamos ao trabalho normal e, ao mesmo tempo, temos que atender o que está previsto no Decreto 8.135. E esse, a partir de agora, é o nosso mote.

Já foi possível avançar nisso? Sim, em Brasília, principalmente, onde já tínhamos um back-bone pronto. Temos uma estrutura de rede própria, indepen-

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2012. Passada a Copa, porém, impõe-se outra tarefa governamental, a de assumir as redes de comunicação da administração pública federal. Previsto em Decreto presidencial, o movimento vai ocupar a estatal ao longo dos próximos cinco anos, pelo menos.

Mesmo assim, segundo Ziober, pelo fato de concentrar a clientela no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a empresa cumpre sua missão, chegando a cidades onde a rede pública ain-da faz diferença nos preços. “Há três semanas, conversava com um provedor na região Norte que ainda pagava R$ 5 mil o megabit”, sustenta.

Nesse mesmo sentido, dá suporte a empre-endedores até então desatendidos, uma sur-presa para a própria empresa, conta. “A reali-dade é diferente. Onde a gente achou que não teria muita coisa, estamos descobrindo um mercado que estava latente. Em Russas, no Ceará, tem um provedor indo para 3 Gbps.”

dente da Infovia [do Serpro]. A Portaria, que veio a partir do Decreto, nos dá dois anos para atender, pelo menos, às capitais. Temos que esperar os contratos irem vencendo, e à medida que eles vencerem nós vamos entrando. Isso nas capitais. No restante, temos cinco anos. Estamos negociando com vários ministérios. Por enquanto, um a um. Mas o Mi-nistério do Planejamento deve fazer uma regra geral. Ainda não há nenhum contrato, mas isso vai iniciar neste segundo semestre, até para começar a contar aqueles dois anos.

E os provedores? Eles ainda vêm bater à porta da Telebras? Voltam para negociar mais capacidade? Estão em localidades grandes, médias ou pequenas? Varia muito. Temos provedores que começaram com um 1 Gbps e já foi feito um incremento para 2 Gbps. Temos também o ISP que abriu com 200 Mbps, mas, em função

divulgação

da sua demanda, pediu a redução para 100 Mbps. Depen-de da região que esse provedor está atendendo. Depende do negócio. Percebemos, a partir do planejamento de rede que fazemos, que a realidade é diferente. Onde a gente achou que não teria muita demanda, estamos descobrindo um mercado que estava latente. Ou que era atendido com um preço muito alto, o que não era satisfatório.

Significava pagar quanto?Em junho, conversava com um provedor na região

Norte que ainda estava pagando R$ 5 mil o megabit. O que acontecia era que o cara vendia pouco. Na hora em que a gente entra com R$ 230, muda o cenário. Foi o que aconteceu em Imperatriz, no Maranhão. Entramos lá com um radinho de 200 Mbps, porque avaliamos os provedores e, somando a demanda deles, dava menos de 200 Mbps. Resultado: estamos levando fibra porque

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a demanda disparou. E dá-lhe contratos. Já estamos com 700 Mbps, quase 1 Gbps.

Era uma demanda inesperada...Em Russas, no Ceará, a rede era dimensionada para 1

Gbps. O que, para aquele praticamente deserto, parecia uma reserva imensa. Nada disso. Já temos um ISP lá que está indo para 3 Gbps. A gente descobre um mercado po-tencial que estava escondido. É oferta e qualidade. Isso acaba induzindo um mercado latente. Todo mundo precisa de comunicações. Mas é preciso ter valores razoáveis. Em Porto Velho (RO), quando chegamos, o preço estava cerca de cinco vezes maior do que estávamos oferecendo. Che-gamos, e o preço baixou no mercado inteiro. Ano passado, quando chegamos com a fibra a Porto Velho, o preço caiu. Talvez a diferença é que antes a gente anunciava que ia, o preço já baixava. Agora precisamos chegar de verdade.

O preço segue caindo? Varia com a região, com o volume, o prazo. Contratos

mais longos, ou de volume maior, podem ficar mais baixos. Onde a gente chega, o preço cai. Agora estamos chegando ao Amazonas. Ali o provedor nos falou que ainda tem pre-ços de R$ 5 mil. Então vamos entrar ofertando. [A Telebras chegou a Manaus no fim de abril, graças às fibras do li-nhão de Tucuruí, numa parceria com a TIM]. Também te-mos um acordo com a Prodam [empresa de processamento de dados do Amazonas] para sete cidades do estado.

No Amazonas, há pelo menos um projeto sobre a implantação de fibras no fundo ou ao longo das margens dos rios. Esse é o caminho?

Avaliamos essa ideia, mas entendemos que ainda não temos fôlego para isso. E tem que ser viável, tem que ser sustentável. É uma ideia, mas para o momento que esta-mos passando não é hora de abrir mais uma frente.

E o que é possível atender na Região Norte?No Norte, chegamos também, por ‘baixo’ [via Mato

Grosso], a Porto Velho e Rio Branco (AC). Uma rota pos-sível é Porto Velho – Coari ou Porto Velho – Manaus, de-pendendo da rota. Está nos planos neste momento? Não, porque não temos dinheiro agora, mas pode ser interessan-te para fechar esse anel. No Amapá, vamos chegar também

com o linhão [de Tucuruí]. Já Roraima é ainda isolado e, a princípio, olhamos o atendimento pelo satélite.

E como está o andamento do satélite?O projeto está bem, já está construindo. Já tem pedaços

prontos do artefato, já tem as placas de suporte, de transfe-rência de calor, o cabeamento. E são várias etapas de busca de know-how. No primeiro lote foram engenheiros do Brasil – da Visiona, do INPE, da Aeronáutica. Um grupo de mais de 30 engenheiros passou alguns meses fazendo cursos, enten-dendo a montagem. De janeiro, fevereiro de 2015 em diante, vamos entrar com o nosso grupo, da própria Telebras, para aprender a operação, porque a operação será nossa.

Teremos conteúdo nacional no próximo satélite?Já temos, mesmo nessa primeira etapa, desenvolvi-

mento de empresa nacional, a fabricação de alguns com-ponentes. É muito? Não, mas já é um início.

Mas qual é a ambição de aprendizado?A intenção é aprender a desenvolver satélites. Exis-

tem algumas empresas no mundo que fazem integração de satélites. A Visiona está se candidatando a ser uma dessas. Agora, precisa ter um parque fabril em volta. E é justamente isso que interessa ao governo: trazer para o País, desenvolver esse parque fabril, e que ele seja sus-tentável. A previsão de lançamento é no final de 2016, e está tudo andando dentro desse cronograma. Até agora está indo tudo bem.

Todo mundo precisa de comunicações. Mas

é preciso ter valores razoáveis. Em Porto Velho

(RO), quando chegamos, o preço estava cerca de

cinco vezes maior do que estávamos oferecendo.

Chegamos, e o preço baixou

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a Hora do

iPv6 É agoraNão há razões para os prove-dores de Internet posterga-rem a implantação da nova versão do protocolo. O com-partilhamento de IP, o NAT, usado por muitas empresas para evitar a mudança, é uma medida paliativa, advertem especialistas. A inércia dos provedores já foi vencida, mas o ritmo de migração está aquém do desejado

o esGoTamenTo dos endereÇos IPv4 já é realidade. Resta apenas 1 /10 e, por isto, novas regras passaram a valer. Qualquer provedor poderá fazer requisições de IPs, mas respeitando o intervalo de seis meses entre cada soli-citação, e de um lote pequeno de até mil endereços. Quan-do chegar a /11, apenas novas empresas, as entrantes, po-derão fazer requisições de IPs.

Ainda não há previsão de quando isto vai acontecer. Estima-se que será dentro de um ano e meio a dois anos. Na prática, para os provedores de Internet de grande porte, os endereços IPv4 acabam agora, uma vez que os lotes restantes são insuficientes para a demanda. Para os prove-dores menores há ainda uma sobrevida, já que para muitos um lote de mil IPs é satisfatório.

Para contornar a falta de endereços IPs, e enquanto não migram para o protocolo mais atual, o IPv6, muitas opera-doras estão praticando o compartilhamento de IP por meio da CGNAT (sigla de Carrier-Grade Network Address Trans-lation). Não é o mais recomendável, segundo especialistas. Com muitos usuários usando o mesmo IP, fica difícil saber, por exemplo, quem cometeu algum crime pela Internet.

“Quando um provedor faz uso do compartilhamento de IPs, ele pode ter problemas com a Justiça se lhe for solici-tada a identificação do usuário. Um paliativo é a guarda da porta de origem para conseguir fazer esta identificação”, explica Antonio M. Moreiras, gerente de Projetos e De-senvolvimento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).

Além disto, a CGNAT quebra o modelo fim a fim da Internet, não permitindo conexões diretas entre dois hosts,

Roberta PrescottteNdÊNCiaS

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o que dificulta o funcionamento de uma série de aplicações, como P2P, VoIP e VPNs. As tecnologias de compartilha-mento como a CGNAT nasceram como uma técnica palia-tiva desenvolvida para resolver o problema do esgotamento dos endereços IPv4. A CGNAT tem como ideia básica per-mitir que, com um único endereço IP ou um pequeno núme-ro deles, vários hosts possam trafegar na Internet.

A migração para o IPv6 resolve esses tipos de problema, pois garante que seja alocado um IP para cada usuário. É por isto que os especialistas recomendam implantar a nova versão em vez de partir para técnicas de compartilhamento. Para os provedores de Internet de menor porte, a CGNAT pode ainda apresentar um alto custo, devido à necessidade de equipamentos com processadores poderosos.

melHor não adiar a imPlantaçãoA migração lenta não está ocorrendo apenas no Brasil. O

Google estima que no País apenas 0,06% dos dados que tra-

fegam na Internet usem IPv6. O percentual é bastante bai-xo, mas, mundialmente, este índice está na casa dos 3,5%. Uma das explicações é a dificuldade para fazer com que todos os elos da cadeia se adaptem ao IPv6.

Além de complexo e demorado, o processo de ter toda a cadeia usando IPv6 significa que a versão atualizada seja usada não apenas pelas operadoras que detêm a infraestrutu-ra de telecom e pelos provedores de conteúdo e aplicações, como também esteja nas máquinas e sistemas operacionais dos usuários finais (celulares, roteadores, computadores etc.).

Adiar a implantação do IPv6 pode gerar problemas para a rede e custos extras – no caso de o provedor investir em técnicas de compartilhamento e depois fazer a atualização. Somado a isto, existe o fato, inevitável, de que cedo ou tar-de o conteúdo passará a ser ofertado somente em IPv6.

Edwin Santos Cordeiro, analista de Projetos Sênior do Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologia de Redes e Operações (CEPTRO.br/NIC.br), explica que, antes, o

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“Quando um provedor faz uso do compartilhamento de IPs, ele pode ter

problemas com a Justiça se lhe for solicitada a identifi cação do usuário. Um paliativo é a guarda da porta de origem para conseguir fazer esta identifi cação”

antonio m. moreiras | Gerente de Projetos e desenvolvimento do NiC.br

divulgação

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2001:0DB8:00AD:000problema era cíclico. Os provedores de acesso não migra-vam para o IPv6 porque não havia conteúdo, e os prove-dores de conteúdo argumentavam que não adiantava mi-grar, justificando que o acesso não seria em IPv6.

Este cenário vai ter de mudar diante do esgotamento de endereços IPv4. Os equipamentos de rede e os siste-mas operacionais atuais possuem suporte nativo a IPv6 e o IPv6 tem preferência de uso sobre o IPv4. “Hoje, é mais uma questão de planejamento de troca de equipamento”, argumenta Cordeiro.

rumo à imPlantaçãoDurante algum tempo e até que toda a cadeia se ajuste

à nova versão, IPv4 e IPv6 irão coexistir, exigindo inte-roperabilidade entre eles. Para isto, é necessário o uso de tecnologias auxiliares, conhecidas como técnicas de tran-sição (leia box ao lado).

Entre as dificuldades que os provedores de Internet po-dem enfrentar, algumas fogem à alçada deles, como a con-tratação junto às operadoras e os equipamentos dos usuários finais. Moreiras, do NIC.br, aponta que contratar a versão 6 do provedor de trânsito pode ser difícil, pois há operadoras, como a Oi, que ainda não oferecem IPv6 em muitas regiões do País. A dica do especialista é insistir com as operadoras para conseguirem acesso ao IPv6.

Com relação aos equipamentos na casa/empresa do cliente, os provedores de Internet precisam atentar em ro-teadores e modems que não tenham suporte ao IPv6 para atualizá-los quando tiverem oportunidade ou necessidade (por reivindicação do usuário, por exemplo). Como primei-ro passo, devem exigir, nas compras, o suporte ao IPv6 como requisito obrigatório.

Outra questão importante que poderia travar a maior adoção do IPv6 se refere à qualificação dos profissionais. Cordeiro afirma que foram treinadas cerca de três mil pes-soas no Brasil com relação à diferença entre os protocolos.

“A inércia inicial já foi vencida”, assegura o especialis-

ta. Neste momento, tanto provedores de acesso quanto de conteúdo precisam operar com as duas versões, mas tendo em mente que o IPv4 já é legado e que a rede terá de ser somente em IPv6.

Em que pesem as dificuldades para adotar o IPv6, a re-comendação para os provedores de Internet é começar o quanto antes, nem que seja com um simples passo, como a exigência do suporte ao IPv6 nas próximas compras. Os equipamentos de rede, contudo, não devem representar um grande obstáculo porque há anos são produzidos com su-porte às duas versões.

tÉCniCas de transiçãoA estrutura da Internet é, desde 1983, baseada no IPv4. O período de transição e de coexistência dos dois protocolos – IPv4 e IPv6 – exigiu o desenvolvimento de técnicas auxiliares. De acordo com o NIC.br, as técnicas de transição podem ser classificadas segundo suas funcionalidades. São elas:

PILHA DUPLA: consiste na convivência do IPv4 e do IPv6 nos mesmos equipamentos, de forma nativa, simultaneamente. Esta é a técnica padrão escolhida para a transição para IPv6 na Internet e deve ser usada sempre que possível.

TÚNEIS: a técnica permite que diferentes redes IPv4 se comuniquem através de uma rede IPv6, ou vice-versa.

TRADUÇÃO: Permite que equipamentos usando IPv6 se comuniquem com outros que usam IPv4, por meio da conversão dos pacotes.

http://ipv6.br/entenda/transicao/iPv6.br

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iNFraeStrUtUra

na dianteira Para não Pagar mais Caro dePoisProvedor do município paulista de Cerquilho troca rádio por Metro Ethernet e leva IPv6 para a casa do cliente. Um dos desafi os é fazer o assinante entender o porquê dessa mudança tecnológica

enQUanTo se discUTe a urgência de se adotar o novo protocolo IPv6, que substituirá o padrão IPv4, há prove-dores tomando a dianteira. Um exemplo vem do interior de São Paulo, mais precisamente de Cerquilho. Desde ja-neiro, a Fasternet, que, atualmente, cobre 20 municípios da região, trabalha para distribuir para seus clientes rotea-dores D-Link com suporte ao novo padrão.

A decisão de levar o IPv6 para a casa do cliente ocor-reu após o provedor ter migrado sua rede para o novo pro-tocolo. “Queríamos nos adiantar ao problema inevitável, que é a falta de endereços IPv4”, relata Eric Val, diretor de TI da Fasternet. Ele conta que os funcionários fizeram cursos no NIC.br para aprender os conceitos, boas práticas e como funciona o IPv6. “É como todo mundo fala: quem deixar para depois vai pagar caro.”

Até agora, cinco mil de seus 30 mil clientes residen-ciais e empresariais já contam com roteadores Wi-Fi com suporte ao IPv6. A migração está ocorrendo de forma gra-dativa e atendendo primeiro às novas ordens de instalação e à troca de equipamento de cliente antigo. Apesar de o provedor estar à frente da concorrência, Val afirma que o cliente final ainda não entendeu o problema da falta de en-dereços IPv4 e, por isto, a implantação de roteadores IPv6 não teve, por enquanto, impacto significativo.

Para a adoção dos novos roteadores, Eric Val relata que não houve investimentos adicionais, já que se tra-tou mais de uma adequação. Ou seja, a empresa teria de

comprar roteadores de qualquer maneira para entregá--los no modelo de comodato aos clientes.

mudança na infraestruturaLevar o IPv6 para o cliente final é consequência de um

trabalho iniciado em meados de 2012, quando o provedor começou a trocar a sua infraestrutura em rádio por redes Metro Ethernet. Nesse momento, a empresa identificou a necessidade de solicitar equipamentos com suporte ao IPv6 para deixar a rede preparada.

O passo seguinte foi levar a nova versão para os clien-tes e, assim, prevenir-se de futuros problemas decorrentes do esgotamento da versão 4 – no dia 10 de junho de 2014, três anos após a Ásia e quase dois anos depois da Europa, acabou o estoque de endereços IPv4 não alocados na re-gião do LACNIC – América Latina e Caribe.

A mudança da infraestrutura foi necessária para que o provedor de Internet conseguisse entregar velocidades mais altas. “Hoje, vendemos 15 mega a R$ 94, o que é bastante competitivo. Via rádio, nós não conseguiríamos entregar esta velocidade”, conta Val. A Fasternet ainda usa rádio para atender às áreas rurais, onde não consegue chegar por via terrestre.

O diretor de TI conta que o provedor está, neste mo-mento, começando a chegar com rede de fibra óptica à casa dos clientes, o que vai ocorrer de maneira gradativa e à medida que eles optarem pela nova tecnologia. Hoje, os clientes atendidos com a rede Metro Ethernet representam 60% da base. A Fasternet atua desde 2001 e possui licença de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM).

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Roberta Prescott

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A entrada em vigor do Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações impõe ajustes às empresas do setor

FicoU mais FÁciL canceLar servi-ços de telefonia fixa e móvel, Internet e TVs por assinatura. Com a entra-da em vigor do Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Ser-viços de Telecomunicações (RGC), o cancelamento poderá ser feito por telefone, terminais ou Internet, sem necessidade de falar com aten-dentes. O bloqueio das contas será automático, com prazo máximo de dois dias para conclusão.

A partir da implementação do RGC, a Agência Nacional de Teleco-municações (Anatel) visa a diminuir o número de reclamações feitas por consumidores à sua central de aten-dimento. Se as novas regras surgem como um alento para os consumido-res cansados de reclamar contra os serviços prestados, também deman-dam um grande esforço das empresas para se adequarem a elas.

As novas obrigações previstas no regulamento variam de acordo com o porte da operadora e, a depender da complexidade, há prazos diferen-tes, chegando a até 18 meses para implementá-las. Em alguns casos, as medidas vão exigir adaptações nos softwares, mudanças de processos e treinamento de pessoal.

Entre as novas regras está o can-celamento automático dos serviços, que pode ser feito pela Internet ou na central de atendimento; o retorno da ligação ao consumidor, caso a chama-da caia durante atendimento pelo call center; prazo de 30 dias para a empre-sa dar resposta a questionamento do consumidor sobre a fatura; validade de crédito de celular pré-pago; ofertas promocionais; disponibilidade de in-formações sobre os serviços; acesso

MerCado Roberta Prescott

o imPaCto do rgC Para os isPs

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Nas empresas que possuem grande volume de usuários, os processos são automatizados. Já naquelas muito pequenas, os processos são realizados por pessoas e são, muitas vezes, manuais. Outra diferença é o SAC: as operadoras com menor quantidade de usuários não possuem centros de atendimen-to, mas um número atendido por funcionários e às vezes até pelo dono ou sócio, e mais uma vez os procedimentos são manuais. Se para as grandes prestadoras há necessidade de profundas alterações em seus processos, para as pequenas há ainda o desafio de entender e identificar a melhor forma de implementá-las, lembrando que elas muitas vezes não podem contratar consultorias e assessoramentos para essa finalidade por limitação de sua capacidade financeira. Outro aspecto importante é que a regulamentação por si não foi suficiente, e foi elaborado um manual de implantação que muitas em-presas, em especial as pequenas, desconhecem.

Pontos Positivos e negativos do rgC O fato de a Anatel buscar uma posição com relação a seu

papel no processo de defesa do consumidor é importante; afinal, existe um sistema estruturado e vinculado ao Minis-tério da Justiça. Entretanto, a Agência regula a prestação de serviços de telecomunicações e incluiu como parte dessa re-gulamentação a relação entre prestadoras e consumidor. Essa duplicidade confunde o usuário e acaba por gerar frustrações

difiCuldades que o novo regulamento imPõeQuanto mais específicas e detalhadas as regras, meno-

res as possibilidades de ajustes rápidos. Os consumidores precisam de mais informação para evitar as frustrações do consumo indesejado ou equivocado. Já as áreas de marke-ting precisam oferecer informações que evitem isso. Vale lembrar que atender à regulamentação implica investi-mentos que aumentam os custos dos serviços, efeito ainda mais nocivo do que as frustrações de consumo.

distinção entre emPresasO critério que vem sendo aplicado toma por base a quan-

tidade de acessos da operadora. Só que a distinção entre em-presas com menos de 50 mil acessos e as com mais de 50 mil acessos não é conhecida pelos consumidores e, como um de-les, me pergunto por que escolheria uma prestadora de servi-ços que não precisa cumprir várias das regras do regulamen-to. Como uma empresa com menos de 50 mil acessos explica a seus consumidores que ela é tão boa quanto as demais, só que não precisa garantir os seus direitos da mesma forma?

transformações Para se adequar às novas regras

As obrigações levam a alterações dos processos de cada empresa para determinadas interações com o consumidor.

a informações e período de cobrança.“A Anatel busca fortalecer o po-

der e o direito do consumidor”, des-taca Ana Carolina Moraes Navarro, do Moraes Navarro & Correa Gebara Advogados Associados. A advogada acredita que o objetivo de diminuir as reclamações deve ser alcançado.

Já Edmundo A. Matarazzo, sócio e diretor-geral do Matarazzo & As-sociados, considera que o novo regu-lamento não é necessariamente bom para o consumidor, pois já existem o Código de Defesa do Consumidor e

a legislação sobre o SAC, e nem por isto as dúvidas e reclamações dimi-nuíram ou as relações entre empre-sas e consumidor melhoraram.

Enquanto as grandes operadoras e os maiores provedores (ISPs, na si-gla em inglês) têm mais capital para investir e se adequar às novas leis, os de menor porte podem não ter fôlego financeiro para fazer os ajustes ne-cessários. A advogada Ana Carolina Moraes Navarro reconhece que, para as grandes companhias, o custo será diluído e que o fato delas já contarem

com uma estrutura de atendimento mais robusta facilita o processo de adequação. No entanto, independen-temente do tamanho, os provedores menores também terão de se pre-parar. “Eles têm de fazer isto, caso contrário podem ser punidos se não cumprirem o regulamento.”

Para explicar os principais pontos do RGC, a Revista Abranet pediu a Edmundo A. Matarazzo que co-mentasse algumas questões. Confira abaixo e compreenda melhor o novo regulamento.

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que historicamente acabam sendo tratadas pelos Procons, até porque eles têm conseguido promover ações mais efetivas e diretas em relação à expectativa do consumidor.

unifiCação de regrasA intenção de unificar as regras para os diferentes

serviços de telecomunicações pode ter algum sentido em matérias de engenharia, mas, nas relações de consumo, as diferenças residem na percepção e na complexidade dos produtos ofertados. Por exemplo: o SeAC, que é o servi-ço de telecomunicações que distribui a TV por assinatura, não é percebido como serviço pelo consumidor, que no fi-nal quer os canais de programação à sua disposição. Nes-tes serviços, não se realizam chamadas, não se considera a duração da conexão ou volume de dados transmitidos; a qualidade de imagem e som é dependente dos aparelhos dos assinantes. O serviço envolve a instalação de equi-pamentos decodificadores na casa do assinante, diferen-temente dos serviços de telefonia. Este serviço recebe o mesmo tratamento que o serviço móvel celular, campeão em número de usuários e reclamações.

Outra questão ainda pouco clara na regulamentação é que o fato de o regulamento ser único para todos os ser-viços levaria as sanções a serem aplicadas independen-temente do serviço envolvido. Com isto, os critérios de definição da sanção se tornam um grande risco a todos os prestadores e, em especial, às empresas com operações menores de qualquer modalidade de serviço, seja TV por assinatura ou banda larga.

orientação Para os ProvedoresNossa recomendação é sempre realizar o planejamento

da operação incluindo os custos regulatórios, a exemplo do que se faz com os tributos e outras obrigações acessó-rias. As empresas pequenas precisam conhecer os custos para atender à regulamentação e, mais ainda, entender os custos se houver descumprimento. O fato de muitas em-presas pequenas serem optantes do Simples não as deso-briga das obrigações regulatórias. Em que pese a Anatel isentar alguns itens para empresas com menos de 50 mil acessos, há necessidade de avaliar como a situação de di-ferentes obrigações será interpretada pelo consumidor, ou seja, se essa diferença não acabará sendo desfavorável no ambiente competitivo do setor.

CanCelamento do serviço O cancelamento sem intervenção de um atendente, ou

seja, via site da prestadora, exigirá procedimentos novos para evitar fraude, e tais procedimentos podem frustrar a expecta-tiva de consumidores. Um problema prático reside no fato de o mercado praticar a chamada ‘fidelização’, com multas em caso de cancelamento dos serviços antes de findo o prazo de fidelização. O cancelamento via site não eliminará eventuais dívidas e multas. Da mesma forma, as regras para cobrança de parcelamento de dívidas são claramente uma possibilida-de de aumento da inadimplência, o que pode levar as empre-sas a não realizarem o parcelamento, que não é obrigatório.

rgC e relação Com o ClienteAcho que haverá um aumento das reclamações incen-

tivado pelas novas regras e por profissionais que atuam no segmento de defesa do consumidor. Já se pode notar profis-sionais estimulando usuários a reclamar e até sugerindo que as empresas agem de má fé. Esse ambiente não difere muito do de reclamações trabalhistas, ou seja, há de se separar o que é efetivamente um desrespeito ao direito do consumidor de eventuais tentativas de ganho por reclamações improceden-tes. O regulamento é longo e de difícil entendimento. A Anatel publicou cartilhas para facilitar o entendimento. Se o consu-midor não entender a regra, certamente estará sujeito a frus-trações. O melhor caminho seria a educação de consumidores e empresas para que as relações pudessem se desenvolver em um ambiente de confiança mútua, lembrando que processos e procedimentos cada vez mais complexos resultam em custos e, consequentemente, em preços mais altos.

Nossa recomendação é sempre realizar o

planejamento da operação incluindo os custos

regulatórios. As empresas pequenas precisam

conhecer os custos para atender à regulamentação

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Ana Paula LoboeCoSSiSteMa

Com aproximadamente 30 provedores de Internet já atuando como parceiros, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) quer muito mais e planeja chegar, num curto prazo, a 100. Em entrevista à Revista Abranet, o diretor de Engenharia e Operações da instituição, Eduardo Grizendi, diz que com os ISPs a RNP encontrou agilidade, capilaridade e preços mais justos. “Quem já é parceiro, aceitou o nosso desafi o. Queremos mais.”

vamos faZer Bons negÓCios?

conHecimenTo mÚTUo. Assim o diretor de Engenharia e Operações da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Eduardo Grizendi, define o atu-al relacionamento da instituição com os provedores de Internet. Segundo ele, nos últimos dois anos, houve des-cobertas de ambas as partes. “Foi uma grata surpresa”, diz o executivo, citan-do, principalmente, o fato de os pro-vedores – no interior, onde não há a presença das operadoras tradicionais – estarem preparados para atender à de-manda exigida. “Eles nos ofereceram infraestrutura, qualidade de serviço, capacidade adequada e preços compe-titivos”, sustenta Grizendi.

Não à toa, a carteira de fornecedores passou de pouco mais de seis provedo-res para 30, até agora. E a expectativa é alcançar, o quanto antes, a marca de 100 ISPs como fornecedores de links e circuitos, com planos de ampliar esse montante nos próximos anos. Grizendi

andré Maceira

ções móveis, responsáveis pelo fatura-mento atual e do futuro”, afirma.

A Telebras também é uma parceira, mas, como a infraestrutura da estatal não está presente no interior, ela aten-de pouco mais de 10% dos circuitos contratados. “Por isso, convocamos os provedores. Que eles se apresentem. Que nos deixem falar com eles. Não há razão para temer nosso processo de contratação. Não somos uma empresa regida pela Lei 8.666, que é, de fato, bastante complexa. Mas temos nossas regras para garantir a qualidade do ser-viço. Há muitos circuitos onde quere-mos ampliar a velocidade. No interior, estamos com 20 Mbps. Queremos che-gar a 100 Mbps”, ressalta Grizendi.

O custo dos links não parece ser um problema. A RNP lançou um desafio de preço máximo de R$ 12 mil para um circuito de 100 Mbps, e muitos pro-vedores acataram. “É um preço muito bom e os ISPs não ‘fugiram’ do propos-to”, ressalta Grizendi. O gerenciamen-to de tantos contratos é um fator de ris-co, assume o executivo da RNP, mas a diluição de fornecedores é considerada uma boa tática para garantir a oferta e o SLA (Service Level Agreement) exi-gido para o serviço. A preferência é por link de fibra óptica, mas há localidades onde o rádio é a única alternativa.

Se oficialmente o percentual de redes de fibras ópticas ainda é consi-derado pequeno – o país somou, em maio, 767.866 mil acessos desta na-tureza, o que significa 3,32% do mer-cado de banda larga fixa , de acordo com dados da Anatel –, a RNP diz que os provedores estão desbravando o interior. “Os ISPs não têm cabo me-tálico de legado. Eles vão direto para a fibra óptica”, constata.

EDUARDO GRIZENDIdiretor da rnP

conta que, hoje, dos 1.000 campi aten-didos pela infraestrutura de rede para a área de pesquisa e desenvolvimento, cerca de 900 circuitos vêm das teles tradicionais. “Mas é fato que as opera-doras, hoje, estão mais preocupadas em criar os backhauls para apoiar as opera-

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Luis Osvaldo Grossmann / Roberta PrescottCoNeXÃo

Entrou em vigor no dia 23/06 o Marco Civil,

ou Lei 12.965/14, que defi ne os direitos e deve-

res de usuários e provedores de serviços de

conexão e aplicativos na Internet. No entanto,

importantes pontos da lei ainda precisam de

regulamentação, como é o caso da neutralida-

de de rede – garantia de que o tráfego terá as

mesmas qualidade e velocidade, independen-

temente do tipo de navegação –, e da guarda

de registros de acesso.De acordo com a nova lei, informações pessoais e

registros de acesso só poderão ser vendidos se o usuário autorizar expressamente a operação comercial. Atual-mente, os dados são coletados e vendidos pelas empre-sas, que têm acesso a detalhes sobre as preferências e opções dos internautas.

Para o relator do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14), Alessandro Molon (PT-RJ), a regulamentação dará o roteiro sobre quais empresas que atuam na rede de-

à esPera da regulamentação

verão armazenar registros dos internautas – e, ainda, deta-lhar que registros são esses.

“A regulamentação vai tratar de quais dados serão ar-mazenados e quais empresas terão que armazená-los. Al-gumas já devem saber que vão continuar a guardar estas informações, como é o caso das redes sociais. Outras de-pendem da regulamentação”, avalia Molon.

O Marco Civil distingue os registros a serem guarda-dos. O artigo 13 diz que “na provisão de conexão à Inter-

“Há difi culdades quanto à interpretação pela Anatel, que regula a parte de telecom, e até pelo próprio mercado onde essa questão se dá, e, em última instância, pelo Judiciário, que às vezes tem decisões que não são aplicáveis tecnicamente ou não fazem sentido.”

eduardo ParaJo | Conselheiro da abranet

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net, cabe ao administrador de sistema autônomo respecti-vo o dever de manter os registros de conexão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 1 ano, nos termos do regulamento”.

Já o artigo 15 fala em “provedor de aplicações de In-ternet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos.” Este “deverá manter os respecti-vos registros de acesso a aplicações de Internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 meses, nos termos do regulamento”.

Os dois casos remetem ao “regulamento”. Vale lembrar, no entanto, que já existe uma regra vigente sobre esse tema. Ao revisar seu Regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia, a Anatel, no ano passado, definiu que “a presta-dora deve manter os dados cadastrais e os Registros de Co-nexão de seus Assinantes pelo prazo mínimo de um ano”.

Alessandro Molon sustenta, ainda, que um ponto im-portante para as empresas que atuam na rede é a liberda-de de expressão. “Não há necessidade de regulamentação para a liberdade de expressão, nem mesmo para o conceito

de neutralidade de rede. Já está em vigor. No caso da neu-tralidade, há uma regulamentação sobre as exceções. Mas a regra geral já está valendo.”

A liberdade de expressão é associada à premissa de inimputabilidade da rede. Ou seja, não cabe responsabili-zar o meio, o intermediário, o site, o blog, a rede social etc pelo que foi publicado por determinado internauta. Este princípio já deve ser levado em conta nas inúmeras deci-sões judiciais sobre o assunto.

Eduardo Parajo, conselheiro da Abranet, explicou que, quanto maior a clareza, menos espaço para leituras variá-veis da lei. “Há dificuldades quanto à interpretação pela Anatel, que regula a parte de telecom, e até pelo próprio mercado onde essa questão se dá, e, em última instância, pelo Judiciário, que às vezes tem decisões que não são aplicáveis tecnicamente ou não fazem sentido.”

Para a conselheira sobre assuntos legais da Abranet Carol Elizabeth Conway, há vários pontos que precisam ser escla-recidos, como, por exemplo, com relação à guarda de logs. “É preciso esclarecer como fica a questão para os provedores que não sejam administradores de sistema autônomo.”

“A regulamentação vai tratar de quais dados serão armazenados, quais empresas terão que armazená-los. Algumas já devem saber que vão continuar a guardar estas informações. Outras dependem da regulamentação”

alessandro molondeputado Federal (Pt/rJ)

agência Senado

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26abranet.org.bragosto . 2014 Veja a pesquisa “tiCs domicílios” completa em http://cetic.br/usuarios/tic/2013/

oPortunidades à vistaas Áreas rUrais, a região Norte e os lares pertencentes às classes C, D e E representam nichos de mercados que podem ser explorados por pro-vedores de Internet. A pesquisa TICs Domicílios, divulgada no fi m de ju-nho, revelou que o Norte é a região do Brasil com a menor proporção de domicílios com acesso à Internet.

Apenas 26% dos lares contam

com o serviço, atrás do Nordeste (30%), Centro-Oeste (44%), Sul (51%) e Sudeste (51%). O mesmo ocorre nas áreas rurais, onde 85% – ou 7,5 milhões de domicílios – não têm acesso à rede mundial de computadores.

Custo elevado e falta de con-dições de pagar foram apontados como motivos para os domicílios

com computador não terem aces-so à Internet.

São essas as razões que tam-bém inibem o crescimento da po-pulação com acesso à Internet das classes C, D e E. A classe A ainda é a que apresenta maior percentual de lares com acesso à Internet: são 98%. Na classe B, a penetração é igualmente alta: 80%. No entan-

ProPorção de domiCÍlios Com ComPutadorPorcentual sobre o total de domicílios

30,6milhões de

domicílios com computador

fiBra estagnadaa oFerTa de banda larga fixa por fibra óptica não tem crescido. De acordo com o relatório da Agên-cia Nacional de Telecomunicações (Anatel) referente ao mês de maio, o Brasil somava 23,11 milhões de assinantes, o que representa 35,39% dos domicílios. No entanto, a fibra

é a tecnologia usada em apenas 3,32% dos acessos, um percentual que mostra estagnação.

Em abril, a participação da fi-bra nos acessos era de 3,31% e, em março, de 3,22%. A tecnologia xDSL segue sendo a mais usada (57,88%), com cabo (cable mo-

dem) em segundo lugar (30,17%).As prestadoras que ganharam

market share nos primeiros cin-co meses do ano foram a Embra-tel/Net e a GVT em banda larga fixa (SCM).

A Telmex (Claro/Embratel/NET) segue na liderança, com 30,1% do mercado (6,903 milhões de aces-sos banda larga) em maio, segui-da de perto pela Oi, com 6,756 milhões de acessos e 28,67% de

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to, menos da metade das casas da classe C possuem acesso (39%) e apenas 8% dos domicílios das classes D/E têm Internet.

Para conseguir vender para este perfil de público, uma das ques-tões principais é acertar a oferta para o tipo de demanda específi-ca. Por exemplo, na região Norte, 27% dos domicílios destinam até R$ 30 para ter acesso à Internet e 13% pagam entre R$ 71 e R$ 80. Na área rural, 20% pagam entre R$ 41 e R$ 60 pela conexão, se-

guidos de 19% entre R$ 51 e R$ 60; e 13%, cada, entre R$ 31 e R$ 40 e entre R$ 61 e R$ 70.

Com relação ao tipo de conexão, atualmente, 60% dos domicílios da área rural contam com banda larga fixa (17% via cabo; 10% via DSL; 29% via rádio e 4% via satélite). Já na região Norte, o acesso disca-do ainda representa 17%. Daque-les que têm banda larga fixa, 15% usam cabo; 10%, rádio; 9%, DSL e 5%, satélite. Entre os usuários que ganham até três salários mínimos,

a maioria utiliza a banda larga fixa, com predominância da conexão via cabo (de 30% a 34%, dependendo da faixa salarial).

Além da região Norte e das áre-as rurais do País, também há opor-tunidade para a oferta de acesso à Internet em outras regiões. Apesar de ter uma alta proporção de do-micílios com acesso à Internet, o Sudeste ainda registra a marca de 13,3 milhões de lares sem o servi-ço. No Nordeste, são 11,5 milhões de casas na mesma situação.

participação. O grupo Telefônica/Vivo está na terceira colocação, com 4,349 milhões de acessos em alta velocidade e 18,96% de mer-cado. Na sequência vêm a GVT, com 2,69 milhões de acessos e 11,73% de mercado; Algar, 400,6 mil acessos (1,75%); Sercomtel/Pref. de Londrina/Copel, 131,3 mil acessos (0,57%); e TIM, com o TIM Live, com 108,3 mil aces-sos (0,47%).

Fonte: teleco NiC.br

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os PrÓXimos Passos do netmundialPassado o evento NetMundial, repre-

sentantes de grupos setoriais traba-

lham juntos visando a formar um co-

mitê que vai elaborar uma proposta

para nortear a migração dos trabalhos

da IANA, sigla em inglês de Autoridade

para Designação de Números da Inter-

net, para, ao que tudo indica, uma enti-

dade multissetorial.A IANA é um departamento da ICANN (em

português, Corporação da Internet para Atribuição de No-mes e Números), cujo controle, até agora, é exercido pela NTIA, agência dos EUA responsável por aconselhar o presidente nos assuntos relativos a políticas de telecomu-nicações e de informação.

O atual contrato do governo norte-americano com a ICANN para gerenciar as funções técnicas do DNS (sigla em inglês de Sistema de Nomes de Domínios) expira em 30 de setembro de 2015, podendo ser estendido por até quatro anos, se a comunidade precisar de mais tempo para desenvolver a proposta de transição. Desde que os Esta-dos Unidos anunciaram sua saída, entidades do mundo todo vêm se organizando para debater como será a feita a transição e quem ficará na coordenação.

Durante o NetMundial, realizado nos dias 23 e 24 de abril, em São Paulo, o governo de Obama se opôs a um modelo multilateral, apontando, entre as condicionan-tes para a transição, que apoiam o modelo multissetorial (multistakeholder). Os EUA também deixaram claro que não vão aceitar uma proposta de transição que substitua o papel da NTIA com uma solução conduzida por algum governo ou uma solução intergovernamental.

O NetMundial foi aclamado por seus participantes por

indicar uma série de princípios que devem reger a Internet, como a neutralidade de rede, a liberdade de expressão e o di-reito de acesso. A consolidação destes princípios foi o grande legado, como explicou à Revista Abranet Vanda Scartezini, representante para a América Latina da organização não go-vernamental Public Interest Registry (PRI).

Cada um dos grupos dos stakeholders, líderes dos prin-cipais setores da sociedade interessados no tema, elegerá os participantes que integrarão o comitê, sempre visando ao caráter técnico e não político. No total, cerca de 30 pessoas integrarão o comitê de trabalho, cujo objetivo é apresentar uma proposta do que poderia substituir o controle que hoje é da NTIA. Dois brasileiros fazem parte deste comitê: Demi Getschko, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), e Hartmut Richard Glaser, secretário-executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

A expectativa, explica Vanda Scartezini, é ter alguma proposta no próximo encontro da ICANN, em outubro, em Los Angeles. Depois disso, as ideias vão para consulta pública, para receber críticas e sugestões, que serão com-piladas e analisadas. “Esta é a primeira fase de trabalhos. Como é um grupo grande, imagino que eles devam se di-vidir em subgrupos”, comenta.

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GoVernanÇa e reGULaÇÃo da rede não são assuntos simples, mas a oportunidade para se ingressar no deba-te poucas vezes foi tão clara. Após revelações de que a Agência de Segurança Nacional, do governo dos EUA, implementou programas de espionagem sobre as comuni-cações realizadas pelo governo, empresas e cidadãos bra-sileiros, a Presidente Dilma Rousseff, em seu discurso na abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU, afirmou que o Brasil apresentaria “propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para a governança e o uso da Internet e de medidas que garantam uma efetiva proteção dos dados que por ela trafegam.”

No mesmo discurso, a Presidente, em linguagem apro-ximada daquela utilizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em seus Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil, adiantou que a posição do governo bra-sileiro sobre regulação da rede está baseada nos princípios (i) da liberdade de expressão, privacidade do indivíduo e respeito aos direitos humanos; (ii) da governança demo-crática, multilateral e aberta, exercida com transparência, estimulando a criação coletiva e a participação da socieda-de, dos governos e do setor privado; (iii) da universalidade que assegura o desenvolvimento social e humano; (iv) da diversidade cultural; e (v) da neutralidade da rede, ao res-peitar apenas critérios técnicos e éticos, tornando inadmis-síveis restrições por motivos políticos, comerciais, religio-sos ou de qualquer outra natureza.

Em seguida, o Presidente da ICANN, Fadi Chehadé, reuniu-se com a Presidente, e desse encontro surgiu a ini-ciativa de se realizar no País um evento global e multis-setorial para debater o futuro da governança da Internet, recebendo delegações de diversos países e incentivando a

oPiNiÃoCarlos Affonso Pereira de Souzadoutor em direito civil pela universidade do estado do rio de Janeiro (uerJ). diretor do instituto de tecnologia e Sociedade do rio de Janeiro (itS).

GOvernanÇa da internet eM teMpOS de MudanÇa

participação dos diversos setores interessados.A NetMundial (Conferência Multissetorial Global

sobre o futuro da governança da Internet), realizada em abril de 2014, em São Paulo, produziu um documento que aponta os princípios fundamentais para a regulação da rede e o caminho a se seguir nos diversos fóruns de governança global da Internet.

O presidente da ICANN, recentemente, anunciou a cria-ção de uma Aliança NetMundial para promover a imple-mentação dos princípios e o desenvolvimento dos processos conforme indicados no texto resultante do encontro. O termo em inglês blueprint pode ser traduzido como “planta”, para fins de arquitetura, ou mesmo “mapa” em termos figurativos. Dado o enorme esoterismo da discussão sobre governança da Internet, o texto resultante da NetMundial pode ser encarado como um verdadeiro mapa astral da governança da rede.

No futuro revelado por esse mapa, são várias as frentes que demandam atenção: do anúncio do governo dos EUA de que estaria disposto a transferir as funções técnicas desempenhadas pela IANA para a “comunidade multisse-torial global” às transformações demandadas no Internet Governance Forum, das Nações Unidas, passando ainda pelo impacto das decisões tomadas na União Internacional das Telecomunicações sobre questões ligadas à Internet.

Com novos processos em andamento, o debate sobre privacidade e monitoramento recebendo crescente desta-que na imprensa e ingressando assim na pauta prioritária das relações entre países, este é o melhor momento, em muitos anos, para se ingressar ou se aprofundar no de-bate sobre regulação e governança da rede. É tempo de se consolidar o posicionamento dos atores e torcer pelo alinhamento dos astros.

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