projeto de pesquisa sobre o subciclo do cacau

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Universidade Estadual da Paraíba Centro de Humanidades Osmar de Aquino Campus III – Guarabira Departamento de Geo-História Curso de Licenciatura Plena em Geografia Turma: 2007.1 Turno: Diurno O papel do subciclo do Cacau na Organização do Espaço Brasileiro

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Page 1: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Universidade Estadual da ParaíbaCentro de Humanidades Osmar de Aquino

Campus III – GuarabiraDepartamento de Geo-História

Curso de Licenciatura Plena em GeografiaTurma: 2007.1 Turno: Diurno

O papel do subciclo do Cacau na Organização do Espaço Brasileiro

Guarabira – PBNovembro/2009

Page 2: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Jairo Alves FelipeSebastiana Santos do Nascimento

O papel do subciclo do Cacau na Organização do Espaço Brasileiro

Projeto de pesquisa apresentado no componente curricular de Organização do Espaço Brasileiro (2007.1-Tarde) como requisito parcial na avaliação do mesmo, sob a orientação do Professor Ms. Ernani Martins dos Santos Filho.

Guarabira – PBNovembro/2009

Page 3: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Sumário

1. Introdução................................................................................................04

2. Objetivos.................................................................................................06

3. Justificativa..............................................................................................07

4. Fundamentação Teórica...........................................................................08

5. Procedimentos Metodológicos................................................................13

6. Considerações Finais...............................................................................14

Referências..............................................................................................15

Page 4: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

1. INTRODUÇÃO

A análise da organização espacial se constitui no objeto principal da pesquisa

geográfica, sendo esta "a maneira pela qual uma determinada sociedade se estrutura e

funciona em um dado meio, como resultado de complexos processos sociais, econômicos,

culturais e políticos” (Silva & Souza, 1989).

Segundo Corrêa (2007) a organização do espaço se dá em função da produção e

reprodução das relações de trabalho, da ação coordenadora ou repressora do Estado, através

do capital das grandes corporações capitalistas, ou ainda pode ser um reflexo social,

consequência do trabalho e da divisão do trabalho. “Em uma sociedade de classes, a

organização espacial refletirá tanto a natureza classista da produção e do consumo de bens,

com o controle exercido sobre as relações entre as classes sociais que emergiram das relações

sociais ligadas à produção (CORRÊA, 199, p. 55).

Desde o período colonial até meados do século XX não existia uma organização do

espaço brasileiro propriamente dito, mas sim diversas áreas praticamente isoladas e não um

espaço nacionalmente consolidado e integrado, uma série de atividades econômicas que

estavam vinculadas ao setor primário (agricultura, pecuária, mineração e extração de recursos

naturais) visando sempre atender as necessidades do mercado internacional. Mas foram estas

relações de produção e reprodução das relações de trabalho as responsáveis por produzir e

organizar o espaço em torno dessas atividades, num primeiro momento.

De acordo com Becher & Egler (1993) neste momento, a estrutura espacial do Brasil

se apresentava como um arquipélago de regiões mercantis, com se fossem verdadeiras bacias

de drenagem, com centros em grandes cidades portuguesas, e esta configuração em

arquipélago refletia a inserção do Brasil como mero produtor de mercadorias para o mercado

mundial, fosse de açúcar, fumo, cacau, borracha, algodão ou café, utilizando-se das

vantagens comparativas naturais e históricas de cada porção do espaço nacional.

O império brasileiro poderia ser dividido em cinco grandes regiões mercantis: o Centro cafeeiro, com núcleo no Rio de Janeiro; o Nordeste açucareiro e algodoeiro, centrado em Recife; a Bahia – com sede em Salvador – que inicia o período como produtora de açúcar e fumo, mas que lentamente transforma-se em exportadora de cacau no final do século XIX; o Sul, orientado para a pecuária e para a fabricação de charque; e, por final, a Amazônia, que assume importância crescente no comércio exterior brasileiro, no último quartel do século XIX, através das exportações de borracha natural, centrada em Belém, secundada por Manaus. (BECHER & EGLER (1993) apud FURTADO (1959).

Page 5: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Com a expansão do processo de ocupação do território brasileiro durante o período

colonial a Coroa Portuguesa a ação das missões no vale do Amazonas, que se tornaram as

maiores exportadoras das “drogas do sertão” (canela, cravo, salsa-parrilha, cacau nativo),

além de produzirem alimentos para a subsistência e deterem o monopólio sobre a mão-de-

obra indígena. É nesse período que a produção e exportação do cacau ganha o primeiro

destaque e chegou a representar durante o período colonial, a maior fonte de riqueza do vale

amazônico, mesmo que em termos absolutos, contudo, a importância comercial do produto

foi então sempre pequena. Em seguida a cultura difundiu-se para outras regiões do país.

Mesmo tendo sido plantado no sul da Bahia desde meados do século XVIII, onde

encontrará excelentes condições naturais favoráveis, o cultivo do cacau não obteve grande

progresso, mas a partir de 1825 à produção e exportação do cacau vai crescer paulatinamente

e regularmente até atingir números consideráveis devido à demanda internacional pelo

produto, principalmente dos EUA e da Europa. A produção do cacau estabeleceu e organizou

uma nova base econômica, a monocultura cacaueira, possibilitou a formação de uma

sociedade e criou outra dinâmica regional.

A cacauicultura transformou-se numa economia organizada, de forma capitalista, de conteúdo mercantilista, porque permitiu, através do comercio exportador, todo um processo de acumulação. Organizou-se, naquela época, à custa de terra e de mão-de-obra abundantes e baratas, elementos para seu crescimento. Daí ter-se processado naquelas trinta anos toda uma corrida para desbravar terras, atraindo mão-de-obra do interior da Bahia e do Nordeste em geral. Uns, com esperanças de se transformarem em proprietários; outros, para venderem sua força de trabalho (DINIZ & DUARTE, 1983, p. 39).

Apesar de não ser o único produtor de cacau e de está disputando o mercado

internacional com outros países, sobretudo as regiões produtoras da África, as lavouras da

Bahia crescem num ritmo acelerado, trazendo bem-estar e prosperidade para a região, e

consequentemente para o Estado, tornando-se o principal produto de exportação. Mas em

princípios do século atual surgem às primeiras dificuldades através de crises muito graves.

Então levando em consideração os fatores que contribuíram para o crescimento e o

apogeu dessa atividade e os fatores que influenciaram no seu declínio, é de extrema

importância procurar entender como essa atividade econômica influenciou no processo de

produção e organização do espaço brasileiro, levando-se em consideração qual sua

contribuição para nossa economia durante seu período de progresso e prosperidade.

Page 6: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

2. OBJETIVOS

2.1. Geral

Analisar a importância do subciclo do cacau para organização do espaço brasileiro.

2.2. Específicos

Elaborar uma retrospectiva histórica do cacau;

Conhecer quais os fatores que influenciaram para seu apogeu e declínio;

Analisar a importância do subciclo para o desenvolvimento da economia brasileira.

Page 7: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

3. JUSTIFICATIVA

Partindo-se do pressuposto de que a produção do espaço brasileiro deu-se a partir de

ciclos econômicos, caracterizados pela produção de grandes produtos de exportação, que

tiveram uma fase intensa e rápida de prosperidade, seguida de uma estagnação e decadência

(cana de açúcar, mineração e o café), e que conseguiram organizar o espaço em larga escala

em função da sua produção; e de subciclos, caracterizados pelas atividades acessórias cujo fim

era manter em funcionamento aquela atividade econômica de principal, e que também tiveram

as mesmas características dos ciclos, com uma fase de prosperidade e outra de decadência

(pecuária, algodão, borracha, cacau, etc.), mas por outro lado só conseguiram organizar o

espaço numa escala menor, apenas regionalmente. Devemos procurar entender como se deu essas

atividades econômicas e como elas de certa forma organizaram o espaço que produziram.

Sendo-se que o cacau já existia em estado nativo na Floresta Amazônica e era

considerada uma das “drogas do sertão”, foi cultivado nessa região em pequena escala, mas

logo em seguida difundiu para outras regiões do Brasil. Em meados do século XVIII começa a

ser plantado no sul da Bahia onde encontrará excelentes condições naturais favoráveis.

Cabe ainda ressaltar que a descoberta das drogas do sertão, e consequentemente a

exportação do cacau que representava durante o período colonial a maior fonte de riqueza do

vale amazônico, ocorreu em um período em que a busca por especiarias no Mundo Oriental

estava em franco processo de decadência. Dessa maneira, a exploração da região norte teve

grande desenvolvimento no momento em que assumiu o papel econômico outrora

desempenhado por outras nações. Além disso, a busca e o comércio das drogas do sertão

tiveram fundamental importância para a ocupação da região norte do Brasil.

Com a difusão do cacau pelo mundo, sendo que no Brasil, a maior região produtora não

será mais o vale amazônico, que ficará em plano modesto e insignificante, mas o sul da Bahia. É

aí que se localiza o grande centro moderno da produção brasileira de cacau, tendo se desenvolvido

mesmo a partir de meados do século XIX e acabou trazendo progresso e o adensamento da

populacional da região, devido à vinda de um grande fluxo de migrantes que fugiam da seca.

Então apesar da cultura do cacau ser considerada apenas uma atividade acessório é de

extrema importância entender qual a contribuição dessa atividade para a economia brasileira e

consequentemente para a organização do espaço, analisando como se deu o seu apogeu e

decadência, principalmente na Bahia que vai se tornar no final do século XIX a maior região

produtora de cacau do país.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Page 8: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Para Prado Júnior (2006) numa economia como a brasileira é preciso distinguir dois

setores bem diferentes da produção. O primeiro é dos grandes produtos de exportação, como o

açúcar e do café, que conseguiram se organizar o espaço em função da e para produção de

exportação; o outro é das atividades acessórias cujo fim é manter em funcionamento aquela

economia de exportação, sendo que elas só conseguiram organizar o espaço regionalmente.

Sendo assim podemos caracterizar os ciclos econômicos pela grande produção de produtos

destinados a exportação que tiveram uma fase intensa e rápida de prosperidade, seguida de

uma estagnação e decadência, mas que conseguiram organizar o espaço de forma mais ampla; e

um subciclo como as atividades acessórias que surgiram em função das primeiras e apresentaram

características parecidas as dos ciclos, só que sua abrangência se deu de forma mais regional.

De acordo com Morais e Franco (2005) foi Fernão Cortez, a mando da coroa

espanhola que noticiou na Europa a existência do cacau, só que os astecas que habitavam o

México davam grande importância a uma árvore, que chamavam “Cacahuatal”. O fruto dessa

árvore era utilizado por eles como alimento e como base para o preparo de uma infusão que

era muito semelhante ao chocolate atual. Só que a introdução do cacau, na Espanha, deu-se

no final do século XVI, e a partir de lá se propagou por toda e Europa. “Na França, por

exemplo, tomar chocolate era um ato de nobreza” (MORAIS & FRANCO, 2005, p. 52).

No Brasil, o cacau já existia em estado nativo na Floresta Amazônica e era

considerada uma das “drogas do sertão”. Além do cacau as chamadas drogas do sertão

abarcavam uma série de produtos como o guaraná, o anil, a salsa, o urucum, a noz de

pixurim, pau-cravo, gergelim, baunilha e castanha-do-pará. Todas essas especiarias tinham

alto valor de revenda na Europa e, com isso, logo o contrabando apareceu nessas áreas. Para

controlar a exploração das drogas do sertão, Portugal optou por deixar a exploração desses

gêneros a cargo das missões jesuíticas, que iniciaram a formação de lavouras regulares, e já

em 1730 havia 1.5 milhões de pés de cacau plantados no Pará. A mão de obra indígena foi

primordial, pois os índios eram excelentes coletores das drogas do sertão.

Na primeira metade do século XVII a região paraense progressivamente se transforma em centro exportador de produtos florestais: cacau, baunilha, canela, cravo, etc. A colheita desses produtos, entretanto, dependia de uma utilização intensiva da mão-de-obra indígena, a qual, trabalhando dispersa na floresta, dificilmente poderia submeter-se às formas correntes de organização do trabalho escravo. Coube aos jesuítas encontrar a solução adequada para esse problema. Conservando os índios em suas próprias estruturas comunitárias, tratavam eles de conseguir a cooperação voluntária dos mesmos.” (FURTADO, 2003, p. 53).

FIGURA 1: Mapa econômico do Brasil – Século XVII

Page 9: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Fonte: revistaescola. abril.com. br/geografia/pratica-..

Segundo Morais e Franco (2005) embora tivesse propiciado a formação de riquezas

apreciáveis, o cacau foi relegado a um plano secundário na região amazônica, em benefício

das atividades extrativistas (borracha e castanha do Pará), que davam lucros mais fácies. Só

que em 1746, um colono francês, Luis Frederico Warneaux, levou três sementes de cacau

para a fazenda Cubículo, à margem direito do Rio Pardo (atual município de Canavieiras,

localizado no Estado da Bahia). Dali, a cultura estendeu-se para as regiões vizinhas. Mas só a

partir do final do século XIX é que a cultura cacaueira se expandiu definitivamente.

A exploração das reservas naturais da imensa floresta que se supunha esconder tesouros incalculáveis, não deu mais que uns miseráveis produtos de expressão comercial mínima e em quantidades restritas. E não foi possível ampliar as bases desta produção e dar-lhes pela agricultura mais estabilidade. A Amazônia ficará na pura colheita; e por isso vegetará, assistindo impotente aos arrebatamentos de suas maiores riquezas naturais por concorrentes melhor aparelhados. Deu-se isto com o cacau, antes seu monopólio no Brasil, e cuja hegemonia passará, entre nós, para a Bahia. (PRADO JÚNIOR, 2006, p. 53).

De acordo com Prado Júnior (2006) a cultura cacaueira se adaptou muito bem as

condições naturais do Sul da Bahia, favoráveis ao plantio, mas as culturas não tiveram

progresso apreciável até a primeira metade do século XIX. Alguns indícios datam que a

primeira exportação oficialmente registrada foi realizada para a Inglaterra em 1825,

consistindo de 26,8 modestas toneladas. Após essa primeira exportação vai ocorrer um

crescimento paulatino e regular que atinge em 1880, 1.668 toneladas. Daí por diante é uma

Page 10: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

ascensão brusca: 3.502 toneladas em 1890; 6.732 em 1895; 13.131 em 1900. Essa produção

estava fortemente orientada para o mercado externo, principalmente para os EUA e a Europa,

e mesmo o Brasil enfrentando a concorrência dos países da Costa do Ouro na África, a

produção crescia em ritmo acelerado, devido à grande demanda internacional.

FIGURA 2 - Mapa de localização da área de estudo.

BAHIA

Fonte: LOBÃO & VALE (2006), DINIZ & DUARTE (1983).

Mas diversamente da produção de borracha, o Brasil não estará só nos mercados internacionais. Muitos serão os concorrentes, e dentre eles pesam, sobretudo as regiões produtoras da África, cujo desenvolvimento ainda será mais rápido que o do Brasil. Assim a Ilha de São Tomé, que em 1870 não produz mais que 44 toneladas, e em 1900 vai além de 20.000. Mas apesar disto, o Brasil manterá o passo; o aumento do consumo mundial era vertiginoso e dava lugar para todo mundo. As lavouras da Bahia se estenderão em ritmo acelerado, e a época será de larga e ininterrupta prosperidade (PRADO JÚNIOR, 2006, p. 182).

Silva et al (1989) identificam o período compreendido entre 1890 e 1930, como o da

consolidação e apogeu da cacauicultura baiana, pois de fato, em 1903 o cacau conquista a

Page 11: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

posição de liderança na pauta de exportações do Estado, dantes ocupada sucessivamente pelo

açúcar, fumo e o café, eventualmente. É nesse período que acontece o “rush” do cacau, ou

seja, a grande procura internacional pelo produto, o que ocasionou um grande movimento e

agitação em torno da produção e comercialização do produto, atraindo uma numerosa

população durante o pico da expansão cacaueira, proveniente principalmente das regiões

pobres e secas do Nordeste, que serviu de mão-de-obra para a atividade cacaueira e

possibilitou o desenvolvimento dos primeiros centros urbanos e o surgimento de outros. A

quase inexistência de meios de transporte dificultava o escoamento da produção regional,

pois tanto os transportes, ferroviário e marítimo apresentavam-se em condições precárias.

Uma conjuntura internacional favorável ao consumo do cacau explica o ingresso de imigrantes para desbravar e plantar cacau nas terras da antiga Capitania de Ilhéus [...] no período compreendido entre 1989 e1920 que se o maior afluxo de pessoas para a região, resultando em um crescimento espetacular da população. Paralelamente ao aumento do fluxo migratório. Ocorreu também a apropriação legal e ilegal das terras (SILVA et al, 1989, p. 82).

O cacau proporcionará a economia baiana uma nova perspectiva, chegando a

representar cerca de 20% das rendas públicas do Estado, em princípios do século atual, que

provinham de um imposto sobre a exportação do produto. De forma direta ou indiretamente,

quase toda a riqueza baiana e a vida dos habitantes passou a repousar nos cacauais, trazendo

efetivamente certo bem-estar e desafogo econômico. “Durante todo esse período, processou-

se uma acumulação de produção, de população e de poder no município de Ilhéus, onde se

estruturou uma sociedade que iria articular aquelas áreas, integrando-as ao seu espaço,

reestruturando-o, formando um espaço regional” (DINIZ & DUARTE, 1983, p. 51).

“Antes do ‘rush’ do cacau, os núcleos urbanos costeiros mantinham relacionamento intermitente entre si, ligando-se todos diretamente a Salvador. A necessidade de coletar a produção de cacau e concentrá-la em determinado ponto do espaço para permitir fácil escoamento do produto para o exterior, fez de Ilhéus o centro urbano da cacauicultura durante a primeira faze do apogeu. Esta preferência está indubitavelmente relacionada, de um lado, às facilidades portuárias desfrutadas por Ilhéus e, por outro, à localização, na sua periferia, da maior área produtora da região” (SILVA, SILVA & LEÃO, 1989, p 85).

Becher & Egler (1993) afirmam que o cacau plantado no sul da Bahia foi favorecido

inicialmente pelas condições climáticas da região que eram semelhantes às da Amazônia, só

que o seu desenvolvimento aconteceu lentamente durante todo o século XIX, atingindo

importância de fato no inicio do século XX. Ainda segundo eles a cultura do cacau era

modesta e era desenvolvida em conjunto com as atividades de subsistência, depois evoluiu

para uma monocultura que deveu ao processo de concentração da propriedade desencadeada

Page 12: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

pela burguesia comercial sediada em Ilhéus, que representou uma das mais nítidas formas de

região mercantil do território brasileiro, onde a mão-de-obra, necessária na abertura das

plantações e nos períodos da colheita, vegetava em pequenas cidades dispersas nos cacauais.

No final da década de 1920 à região cacaueira em formação passou por um profundo

abalo econômico, determinado pela dependência da lavoura dos mercados internacionais e a

pelos os efeitos da concorrência com a Costa do Ouro na África, onde a cultura do cacau se

iniciara em larga escala e com imensas inversões de capital, principalmente dos ingleses,

tendo um sucesso rápido e notável ultrapassando largamente todos seus concorrentes

alcançando pouco tempo depois uma produção que corresponde a cerca de 40% do total

mundial. “Porém essa crise econômica se transforma numa crise regional porque foi

acrescida de crise político-institucional e de perda de lideranças regionais” (DINIZ &

DUARTE, 1983, p. 42).

Nessa época os produtores e comerciantes que tinham interesses opostos viram que

era necessário unirem-se, numa luta comum para salvar a lavoura do cacau, que era a base

social da região. Eles conseguiram mobilizar todos os segmentos sociais da região e

procuram mobilizar tanto o poder estadual e federal para definirem uma solução, que viesse

por fim à crise. Nessa época foi criada então, a “Sociedade Cooperativa de responsabilidade

Limitada Instituto do Cacau da Bahia”, que ficaria responsável por organizar a política

econômica do cacau, mesmo assim os interesses antagônicos dos agentes da economia

cacaueira (comerciantes) acirraram os conflitos de interesse.

Estas, sempre que podiam, pressionavam o governo estadual para reformular as atribuições do Instituto e usavam seu poder para reverter as exportações diretas para Salvador, onde seu controle sobre os negócios seria mais fácil e direto. Antagonismos dentro das lideranças regionais e entre setores da classe dominante regional foram aproveitados em Salvador e na própria região para desmoralizar a ação do Instituto do Cacau da Bahia e diminuir seu prestigio entre os produtores, seus maiores beneficiários até aquela fase. (DINIZ & DUARTE, 1983, p. 43).

Segundo Prado Júnior alguns fatores contribuíram para que o cacau brasileiro não se

tornasse uma grande riqueza semelhante à do café ou da borracha. O conflito de interesses, a

concorrência internacional e a dependência do temperamento dos mercados internacionais vão

provocar períodos de crise e afirmação da monocultura cacaueiro, e consequentemente vão

influenciar na sua organização.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Page 13: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

A pesquisa será desenvolvida a partir do estudo de gabinete, que será iniciado com

uma ampla coleta de referências bibliográficas sobre o tema central abordado e demais

tópicos correlacionados e também relevantes para o desenvolvimento do trabalho. Partindo

inicialmente de uma avaliação integrada, começando pela discussão do conceito de

Organização Espacial, com base nas discussões de Corrêa (2001) e Silva & Souza (1989); em

seguida com base em outros autores faremos uma retrospectiva histórica a respeito do

surgimento e desenvolvimento da atividade cacaueira no país, destacando principalmente a

região cacaueira da Bahia, e por fim iremos discorrer a respeito de essa atividade influenciou

na economia e consequentemente na produção e organização do espaço brasileiro.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Page 14: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

Apesar se ter sido um produto de menor expressão, quando comparado ao café, o

cacau juntamente com a borracha da Amazônia serviu como um reforço para economia

brasileira, que era dependente das atividades produtivas do país, sendo de fundamental

importância para produção e organização do espaço, mesmo que de forma singela.

O cacau no inicio quando ainda era considerado uma das drogas do sertão, teve uma

grande importância no processo de ocupação da região norte do país, tendo se tornado

durante algum tempo o principal produto exportador da região, mesmo que sua contribuição

para economia nacional fosse ínfima. Dessa forma pode-se perceber que o contexto histórico

do cacau é muito amplo, mas sua importância para economia só vai ser visível de fato a partir

do final do século XIX e inicio do XX, quando a atividade cacaueira torna-se uma das mais

importantes atividades econômicas do país, tendo nesse momento como destaque a sua

produção no sul do Estado da Bahia, que visava atender as necessidades do mercado

internacional pela procura do produto.

Nessa Região a produção e comercialização do cacau foram responsáveis por

produzir toda uma dinâmica regional em trono do produto, tendo como característica

dominante a monocultura cacaueira, determinada pelas condições favoráveis do clima quente

e úmido e a fertilidade dos solos da área, e que acabaram se refletindo nas relações

econômicas e sociais. Houve então, a formação de uma sociedade que definiu sua estrutura e

seus interesses, uma estrutura política que visava à manutenção daquela organização

econômica e uma estrutura para a reprodução da sociedade regional.

Então devemos considerar que o subciclo do cacau assim como os demais ciclos e

subciclos foram os responsáveis por produzir espaço e organizá-lo em função de algumas

atividades econômicas, sendo que o primeiro vai ter uma influência numa escala maior,

diferentemente do segundo que ser caracterizado pela sua atuação numa escala mais regional.

Dessa forma, entender os ciclos e subciclos da economia brasileira é de fundamental

importância para compreendemos como se deu a evolução da economia brasileira e, por

conseguinte sua organização.

REFERÊNCIAS

Page 15: Projeto de Pesquisa Sobre o Subciclo Do Cacau

CORRÊA, Roberto Lobato. Organização Espacial. In: Região e Organização Espacial. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 2007, pp. 51-84.

BECKER, Bertha K; EGLER, Claudio A. G. A Economia-Mundo e as Regiões Brasileiras. In: Brasil: uma potência regional na economia-mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993, pp. 89-122.

DINIZ, José Alexandre Felizola; DUARTE, Aluizio Capdeville. A Região Cacaueira da Bahia. Recife, SUDENE – CPR – Div. Pol. Especial, 1983, 289p.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 32ª Ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.

MORAES, Marcos Antonio de; FRANCO, Paulo Sérgio Silva. Geografia econômica: Brasil de Colônia a Colônia. Campinas, SP: Editora Átomo, 2005, p. 52.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006.

SILVA, Sylvio C. B. de Melo; SILVA, Barbara - Cristine M. N.; LEÃO, Sônia de Oliveira. O subsistema urbano-regional de Ilhéus-Itabuna. Recife, SUDENE – PSU – SRE, 1987.

SILVA, S.C.B. de M. e SOUZA, J.C. de. Uma medida da evolução recente da organização espacial do estado da Bahia.  Revista Brasileira de Geografia. V.51, nº 4, pp. -53-70. Rio de Janeiro, RJ, 1989.