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2017 QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL Prof.ª Cristiana Montibeller

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2017

Questão social eserviço social

Prof.ª Cristiana Montibeller

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Copyright © UNIASSELV 2017

Elaboração:

Prof.ª Cristiana Montibeller

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

360M791q Montibeller, Cristiana

Questão social e serviço social /Cristiana Montibeller. Indaial: UNIASSELVI, 2017.280 p. : il.

ISBN 978-85-515-0077-4

1.Serviço social.I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

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III

apresentação

Caro(a) acadêmico(a)!

Seja muito bem-vindo a esta nova disciplina!

Estamos iniciando os estudos da disciplina Questão Social e Serviço Social. A partir deste momento você irá conhecer e compreender vários aspectos relacionados à profissão de assistente social no que diz respeito ao surgimento da Questão Social e o contexto sócio-histórico no modo de produção capitalista, suas múltiplas e complexas expressões contemporâneas e as implicações na realidade brasileira.

Este Caderno de Estudos também abordará as possibilidades e alternativas de reversão do agravamento das manifestações e os desafios no enfrentamento das expressões multifacetadas da Questão Social na construção de uma nova ordem societária.

Esta disciplina pretende fornecer subsídios teórico-metodológicos para prepará-lo profissionalmente no sentido da compreensão e análise crítica da “questão social” em sua gênese e contemporaneidade, bem como na identificação das várias formas em que se manifestam as expressões da “questão social“ na sociedade, a fim de que possa construir estratégias diversas de enfrentamento das desigualdades sociais e propor a conquista, efetivação, garantia e ampliação dos direitos sociais através das políticas sociais de inclusão social.

Os conteúdos desta disciplina serão abordados em três unidades, sendo que cada uma está subdividida em quatro tópicos de estudos.

Na primeira unidade estudaremos a proteção e a assistência na história da humanidade, as primeiras formas de proteção e assistência, bem como a contribuição da filosofia e a influência da religião no contexto social e na profissão; o surgimento da questão social e seu contexto histórico, os fatores históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais que contribuíram para o surgimento da questão social; significado dos termos: “social” e “questão social”, a amplitude da palavra “questão”, o conceito de “questão social” para o serviço social, bem como a abrangência da questão social e de suas expressões e sobre o termo “a nova questão social”.

Na segunda unidade iremos estudar e aprofundar o termo neodesenvolvimento no capitalismo e o acirramento das expressões da questão social, o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, liberalismo e neoliberalismo, a nova institucionalidade brasileira frente às expressões sociais, a tipificação nacional de serviços socioassistenciais e a questão social como objeto do trabalho profissional do assistente social.

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IV

Na última e terceira unidade iremos rediscutir as questões sociais e suas expressões na construção de uma nova ordem societária, as situações de vulnerabilidade social e de risco social enfatizando as expressões sociais da questão social no Brasil, as novas configurações das expressões sociais da questão social na realidade brasileira, reconstrução da sociedade pela reconstrução e desenvolvimento da cultura e da condição humana do sujeito, bem como novos sentidos para a cidadania, a democracia e a educação em direitos humanos.

Prontos para começar a estudar, pesquisar, analisar e a compreender o significado e a amplitude da questão social?

Então, mãos à obra!

Confie em você! Dedique-se com afinco e amor! Acredite na profissão!

Bons estudos e sucesso!

Profª. Cristiana Montibeller

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

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sumário

UNIDADE 1 – A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL ................................ 1

TÓPICO 1 – A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIANA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ................................................................................................. 31 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 32 AS PRIMEIRAS FORMAS DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA .................................................. 33 A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA E A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO .............................. 6

3.1 A ENCÍCLICA “RERUM NOVARUM” FRENTE À QUESTÃO SOCIAL ............................. 12LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 14RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 18

TÓPICO 2 – SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIALE SEU CONTEXTO HISTÓRICO ........................................................................................................ 191 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 192 FATORES HISTÓRICOS ECONÔMICOS, POLÍTICOS, SOCIAIS E CULTURAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL ....................................................................................... 19LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 35RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 38AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 39

TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL”E “QUESTÃO SOCIAL” ........................................................................................................................ 411 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 412 REFLEXÕES SOBRE A AMPLITUDE DA PALAVRA “QUESTÃO” ........................................ 413 SIGNIFICADO DOS TERMOS: “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL” ..................................... 444 O CONCEITO DE “QUESTÃO SOCIAL” PARA O SERVIÇO SOCIAL ................................. 48LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 50RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 54AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 55

TÓPICO 4 – A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIALE SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES ................................................................................................... 571 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 572 ALGUMAS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES SOCIAIS ...................................... 573 REFLEXÕES SOBRE O TERMO “A NOVA QUESTÃO SOCIAL” ............................................ 64RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 68AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 69

UNIDADE 2 – O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMOE O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL .......................................... 71

TÓPICO 1 – O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DOCAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO .............................................................. 73

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1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 732 A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS ........................................................................................................... 733 A ESTRATÉGIA NEODESENVOLVIMENTISTA FRENTE À QUESTÃO SOCIAL ....................................................................................................... 82LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 95RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 98AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 99

TÓPICO 2 – A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRAFRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS ................................................................................................. 1011 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1012 ORIGEM, SIGNIFICADO E ABRANGÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS POLÍTICAS SOCIAIS ..................................................................................... 1013 A NOVA INSTITUCIONALIDADE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL ......................... 114LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 116RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 120AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 121

TÓPICO 3 – A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICASSOCIAIS BRASILEIRAS ....................................................................................................................... 1231 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1232 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURIDADE SOCIAL ............................................................. 1233 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................................... 132RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 142AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 143

TÓPICO 4 – A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOSSOCIOASSISTENCIAIS ....................................................................................................................... 1451 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1452 CARACTERIZAÇÃO DA TIPIFICAÇÃO ...................................................................................... 145LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 154RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 158AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 159

UNIDADE 3 – REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA ........................................................... 161

TÓPICO 1 – POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DOAGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL ................................................. 1631 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 1632 OS DESAFIOS DAS EXPRESSÕES MULTIFACETADAS DA QUESTÃO SOCIAL ..................................................................................................................... 1633 REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS NO PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETOR ........................ 191RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 205AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 206

TÓPICO 2 – REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMANOVAORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZANDO O SERVIÇOSOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE .......................................................................................... 2071 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 207

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2 AS ESTRATÉGIAS E O PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇOSOCIAL NO ENFRENTANDO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS ..................................................... 207LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 219RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 222AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 223

TÓPICO 3 – A DESIGUALDADE SOCIAL E AS CONCEPÇÕESDOS SISTEMAS DE INDICADORES ............................................................................................... 2251 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 2252 REFLEXÕES SOBRE A DIVERSIDADE E A DESIGUALDADE SOCIAL .............................. 2253 TIPOS E SIGNIFICADOS DOS SISTEMAS DE INDICADORES UTILIZADOS ........................................................................................................ 229LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 238RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 243AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 244

TÓPICO 4 – RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES E REFORÇO À RESILIÊNCIA HUMANA ............................................ 2471 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 2472 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO MILÊNIOPARA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES ............................................................................. 2473 DESENVOLVIMENTO DA CONDIÇÃO E EXISTÊNCIA HUMANAPARA REFORÇAR A RESILIÊNCIA HUMANA ............................................................................. 252LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................. 254RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 257AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................ 258REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 259

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UNIDADE 1

A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• compreender e analisar de forma crítica a gênese da Questão Social e da Assistência do ponto de vista histórico, tendo uma noção do desenvolvi-mento do sistema de proteção e de seguridade social;

• analisar o cenário contemporâneo, econômico, político, cultural e social no sentido de possibilitar o conhecimento sobre as expressões da “questão social“, provenientes do sistema capitalista, e assim perceber a “questão social“ como resultado das contradições do desenvolvimento do capitalis-mo;

• verificar e analisar a abrangência da questão social e de suas inúmeras e novas expressões sociais.

A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as atividades propostas.

TÓPICO 1 – A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

TÓPICO 2 – SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

TÓPICO 4 – A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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TÓPICO 1UNIDADE 1

A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA

HUMANIDADE

1 INTRODUÇÃO

Para compreender a Questão Social e seus desdobramentos na sociedade e no Serviço Social, se faz necessário conhecer sua gênese, sua história, os marcos sociais, suas formas de manifestações ao longo da história, que são diferenciadas, conforme os meios de sobrevivência dos povos, civilizações, os modos de vida social e cultural, de produção, de economia, de administração política, visto que toda ação social consequentemente leva a uma reação, isso tanto na Antiguidade quanto até nos dias de hoje.

Assim como as principais leis da física – como, por exemplo, na dinâmica dos fluidos –, fazendo uma analogia, na área social também não deixa de ser, pois assim como o comportamento de um fluido se move ao longo de um tubo ou conduto, o comportamento humano também fluiu e continua fluindo através dos sistemas sociopolíticos e econômicos (condutos sociais) que foram instituídos pelos próprios homens ao longo da história e continuam sendo alterados, transformados, construídos na atualidade.

2 AS PRIMEIRAS FORMAS DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA

Antes do desenvolvimento do capitalismo foram desenvolvidas diversas práticas de “ajuda”, “proteção” e/ou “assistência” ao próximo, designados na época como “necessitados”, “viajantes”, “indigentes”, “doentes”, “desvalidos”, “abandonados”, “órfãos”, “carentes”, “pobres”. Assim eram conceituados os que estavam em situação diferente e de desvantagem dos demais, e que precisavam de alguma forma de ajuda, proteção, apoio ou cura.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

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Entende-se por ajuda qualquer tipo de subsídio ou auxílio do ponto de vista mais material do que qualquer outro. Nessa perspectiva, o assistencialismo e o clientelismo vigoraram por muito tempo e ainda em alguns momentos se fazem valer nas ações de pessoas que querem se prevalecer, ou serem bem vistas, que esperam um retorno ou vantagem pessoal ou política.

FIGURA 1 – PRÁTICA CLIENTELISTA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br search?q= figuras+de+ajuda+ao+proximo&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Na história do Serviço Social era comum encontrar as primeiras damas (esposas de prefeitos) na administração e à frente de Secretarias, Departamentos de Assistência Social, chamados de “Damismo”.

IMPORTANTE

IMPORTANTE

Percebe-se que a prática da proteção e da assistência ao outro sempre existiu na história da humanidade. Vigorava nas pessoas “mais fortes” um princípio humano de ajuda e altruísmo. Assim, sob a ótica da solidariedade caritativa, os “pobres e desvalidos” eram alvo de olhares, intenções e ações que foram desenvolvidas e assumindo diversas formas nas diferentes sociedades que existiram.

Necessário se faz que a categoria profissional continue na luta pela democracia e justiça social, fortalecendo e priorizando as políticas públicas que garantem os direitos sociais à população que deles necessitem, direitos necessários a uma vida com dignidade, liberdade, respeito e autonomia.

A busca dessa organização política exige a recusa pelo profissional do conservadorismo, do assistencialismo e das práticas funcionalistas, como parte de uma construção histórica, humana, intencional e criativa, capaz de possibilitar uma reflexão crítica, voltada para a construção do pacto democrático no Brasil, com a ampliação da cidadania por meio da implementação de políticas sociais de direito (PIANA, 2009, p. 55).

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TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

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Porém, na história da humanidade, até se chegar na discussão e implementação de políticas sociais de direito, muitas coisas ocorreram. Assim, quando enfatizamos a existência das diferentes sociedades, vamos recorrer à sociologia, visto que na Antiguidade a primeira forma de sociedade que se formou pelo contexto da luta pela sobrevivência foi a sociedade de caçadores-coletores, onde as pessoas viviam em pequenos bandos espalhados, eram nômades em busca de alimentos e água para a própria sobrevivência do grupo. Toda ação era de ajuda mútua coletiva em favor do próprio grupo no sentido de manutenção e perpetuação.

Aproximadamente por volta do ano 7.000 a. C, surge a sociedade de horticultura e de pastoreio. Assim começam a surgir os primeiros produtores de alimentos e criadores de animais domésticos. Este tipo de sociedade também era chamado de sociedade hortelã ou sociedade pastoril. Como resultado, as sociedades hortelãs criaram povoados com populações numerosas e foram se adaptando e crescendo, com produção de barcos, cerâmicas, têxteis, entre outros diversos produtos (OLIVEIRA, 2002).

Isso na civilização babilônica aproximadamente 2.000 a. C., onde um dos primeiros reis babilônicos, Hamurábi (1728-1686 a. C.), cria o primeiro Código de Leis – o Código de Hamurábi; na Índia, o Código de Manu estabelecia normas morais para regular a conduta e prestar proteção aos necessitados; bem como a Lei das XII Tábuas que instituiu a legislação na origem do Direito Romano e na constituição da República Romana.

Na Antiguidade, os primeiros registros na história da proteção social surgiram no Oriente Médio com o Código de Hamurábi, na Babilônia, século XVIII a. C., e com o Código de Manu, na Índia, século II a. C., que continham preceitos de proteção aos trabalhadores e carentes. Porém, apesar de se afirmar a existência de direitos aos indivíduos, não existiam garantias contra o poder dos governantes. Assim, cabia ao cidadão apenas observar as leis (DEZOTTI; MARTA, 2011, p. 433).

Nesse sentido, também existem muitos relatos bíblicos enfatizando no Antigo Testamento, em especial no Egito, situações diversas de miséria, pobreza, doenças, pestes, entre outras situações de escravidão dos povos, inclusive do povo hebreu. Os Dez Mandamentos da Lei de Deus, bem como diversos livros e textos sagrados para os povos, tais com a Lei Torá do Judaísmo, a Bíblia do Cristianismo, o Alcorão ou Corão do Islamismo, o Dhammapada do Budismo, entre outros,

UNI

No Oriente Médio, sabe-se que em função de se tentar garantir a ordem e instituir regras e normas para serem seguidas por todos, pois não eram mais alguns e tampouco pequenos grupos, mas sim, populações numerosas, tem-se registros de códigos em forma de leis sociais, que foram criados e instituídos em algumas regiões.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

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também foram criados e tinham como propósito instituir leis, códigos, regras de conduta, proteção, libertação, salvação, cura, perdão, caridade, sendo que até os dias atuais se fazem valer sob o ponto de vista religioso ou como filosofia de vida (GAARDER, 2000).

No Egito, Grécia e Roma, no período da Antiguidade já havia registros de ações assistenciais de ajuda e auxílio, com distribuição de alimentos, em especial trigo, aos necessitados.

3 A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA E A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO

Sabe-se também que, para o mundo ocidental, as primeiras tentativas de estudo, questionamento, análise e compreensão a respeito da sociedade, das relações sociais, das formas de interação humana (ser, pensar e fazer a sociedade) foram influenciadas na antiguidade pela filosofia grega.

A base das ciências do mundo ocidental emergiu a partir do mundo greco-romano com a observação dos primeiros filósofos sociais – Sócrates, Platão e Aristóteles –, que começaram a questionar e refletir temas primordiais, tais como conceitos de ética, moral, verdade, direito, governo, justiça, política, democracia, felicidade, melancolia, entre outros diversos assuntos de interesse da polis, das cidades-estados.

Sócrates (470-399 a.C) de Atenas foi considerado o homem mais sábio e o filósofo mais importante da sua época. Para ele, o saber fundamental é o saber a respeito do homem, por isso até hoje conhecemos sua frase máxima: Conhece-te a ti mesmo. Assim, a maior virtude que o homem pode ter é o conhecimento (é necessário conhecer para agir retamente) e o maior vício é a ignorância. Sócrates dedicou-se à reflexão e discussão da Filosofia Humanista.

IMPORTANTE

Interessante saber é que, desde a Antiguidade, os filósofos se preocupavam também com temas, tópicos de estudo, análise e discussões referente à sociedade em que viviam. Temas eram discutidos, tais como democracia, política, justiça, verdade, pois existiam na polis daquela época situações antidemocráticas, de corrupção, de injustiças, de mentiras, ou seja, manifestações ruins ou erradas que estavam merecendo ser discutidas na sociedade, no sentido de propiciar mudanças, transformações.

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TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

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FIGURA 2 – FILÓSOFO SÓCRATES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagem+do+filosofo+socrates>. Acesso em: 7 jan. 2015.

O termo democracia era muito discutido na época pelos filósofos. Sócrates, crítico da democracia de sua época, questionava de forma aguda como poderia numa democracia não existir a participação plena de todos, como poderiam existir escravos, por que estrangeiros e mulheres não podiam participar da vida política? Assim, era contra a democracia ateniense e não acreditava na mitologia grega. Dessa forma, foi condenado à morte por sua racionalidade, criticidade e por defender suas ideias. Preferiu a morte do que a recusa pelos seus princípios.

Segundo Kim (2011, p.14),

O tipo de pergunta que Sócrates fez aos cidadãos de Atenas buscou chegar ao cerne do que eles realmente acreditavam que eram certos conceitos. Sócrates fazia perguntas aparentemente simples – como “O que é justiça?” ou “O que é beleza?” [...] Em discussão desse gênero, Sócrates desafiou preceitos sobre a maneira como vivemos e sobre as coisas que consideramos importantes.

Na filosofia grega existia uma preocupação com a essência das coisas, sair da superficialidade era necessário para uma mente autêntica e crítica. Assim, vamos perceber a necessidade da filosofia na profissão, pois precisamos ir além das aparências e considerar o que realmente é importante.

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Assim, na antiguidade podemos perceber que a escravidão, a exclusão, a discriminação, a desvalorização da mulher e estrangeiros eram consideradas

pelos filósofos consequências da falta de uma autêntica democracia, ou seja, traduzindo: eram formas de manifestações da Questão Social = Política da época, o que demonstrava certa irracionalidade e incoerência por parte dos legisladores, governantes.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

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No caso atual, exemplos de manifestações sociais da Questão Social Política, ou até mesmo da economia, podem ser visualizados. Assim podemos identificar a corrupção, a pobreza. Seguindo a análise de pensamento de Montaño (2012), a pobreza é uma expressão da “questão social”, é uma manifestação atual no capitalismo, da relação de exploração entre capital e trabalho; o pauperismo é atualmente resultado, manifestação, expressão do capitalismo em sua forma de exploração e acumulação privada de capital.

Aqui a Questão Social discutida está relacionada ao tema ECONOMIA

ou até conjuntamente ao tópico POLÍTICA, pois ambos contribuem para a disseminação e aumento da desigualdade e pobreza. E assim, poderíamos prosseguir com inúmeras e outras reflexões que abordam a questão social e suas expressivas manifestações. Por analogia e comparações da antiguidade e da sociedade contemporânea, poderíamos descrever e citar diversas situações que nos serviriam como base de fundamentação e raciocínio.

Retornando ao pensar a filosofia, os filósofos tinham como compromisso propor normas para que o ser humano vivesse numa sociedade ideal. As bases para as ciências sociais foram dadas através dos séculos, desde a Antiguidade, por pensadores que estiveram ligados à máquina administrativa da cidade-estado ou que estudaram sua constituição e funcionamento.

Os séculos V e IV a. C. foram os séculos em que Atenas viveu seu apogeu econômico, político e cultural. Nas palavras do historiador grego Heródoto, “O Século de Ouro” do governante Péricles, que após a vitória nas Guerras Médicas contra os Persas de Dario I e Xerxes, investiu todos os recursos adquiridos de outras cidades (com a Liga de Delos) na valorização de sua cultura. Aconteceu nesse período a exaltação dos valores dos atenienses através de construções de palácios e monumentos; no incentivo de produções artísticas, literárias, históricas e filosóficas tentando demonstrar o auge de sua cultura e civilização alcançada com a consolidação do regime democrático. Do ponto de vista da produção do conhecimento desse período, destacam-se três filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos eles viveram em Atenas, pelo menos durante o período central de sua produção, e todos eles têm uma obra que influenciou não apenas o momento histórico que viveram, mas também o próprio desenvolvimento da Filosofia e da Ciência. A preocupação desses filósofos era trazer para o centro de suas indagações o HOMEM, como ser capaz de produzir conhecimento através do desenvolvimento de sua Moral. Acreditavam, portanto, que o Conhecimento – a Filosofia – tinha uma função social, e por isso, consistia na formação de cidadãos como tarefa indispensável para a transformação da sociedade (RODRIGUES, 2014).

Porém, além da filosofia, também as religiões foram sendo criadas e influenciaram e muito o comportamento humano nas diversas sociedades.

A necessidade de orientar a vida é fundamental para os seres humanos e era uma preocupação dos povos antigos, que percebiam que não precisavam apenas de comida e bebida, de calor, compreensão e contatos físicos, mas, essencialmente, descobrir a origem da humanidade.

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TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

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Referente ao pensamento cristão, as relações sociais ocupavam um lugar considerável no ensinamento dos profetas do Antigo Testamento. E por incrível que pareça, é na amplitude da temática da justiça que foi elaborado o pensamento religioso e social dos profetas. Assim, era a justiça um assunto (tema, objeto, tópico, contexto, matéria), ou melhor dizendo, uma “questão social” de grande importância. “É em torno do tema da justiça que está elaborado o pensamento religioso e social dos profetas. [...] É um tema religioso, mas é também, e indissoluvelmente, um tema social.” (BIGO, 1969, p. 21).

O termo justiça era considerado no sentido do direito, fazer justiça, ser justo. Assim, a noção de justiça e de direito era foco de interesse, análise e discussão, pois se percebia, já naquela época, as manifestações da falta de justiça principalmente aos pequenos, órfãos, viúvas, estrangeiros, indigentes, doentes, que eram excluídos pelos que possuíam além de suas necessidades e não faziam justiça, melhor enfatizando, não dividiam, mas sim acumulavam mais e mais para si.

Exemplos podem ser descritos, conforme diversos relatos bíblicos, pois os ricos tinham mesa abundante, roupas finas e luxuosas, ouro, prata e honras não merecidas, propriedades diversas, não pagavam seus assalariados justamente, o lucro dos impostos, acumulação e uso dos bens além das necessidades, riquezas injustas advindas de administrações desleais, entre outras diversas descrições nos textos do Antigo e do Novo Testamento.

Sobre essa postura e visão dos profetas, Bigo (1969, p. 24) descreve claramente:

Assim, os profetas já atribuem à justiça uma dimensão que nós não mais lhe ousamos dar. A justiça, para eles, não é primeiramente o direito daqueles que têm, é, antes de tudo, o direito daqueles que não têm, o direito do membro da comunidade quando se encontra em necessidade. É nessa perspectiva que se situam as numerosas advertências dos profetas àqueles que vivem em demasia fartura. O luxo é, literalmente, uma injúria à pobreza, porque retira àquele que nada tem para dar àquele que já tem. Há um ensinamento dos profetas sobre o supérfluo, [...]. A avidez dos açambarcadores, daqueles que juntam “casa sobre casa, campo sobre campo”, é impiedosamente fustigada.

Podemos chegar claramente à conclusão de que, se não existia justiça, com certeza existiam inúmeras manifestações, expressões desta “questão social”, sendo uma delas a pobreza, outras, a desigualdade, a miséria, a doença e assim

UNI

Quem somos? Para onde vamos? Por que estamos vivos e como melhorar a vida no grupo, no povoado, na cidade, na polis, na metrópole? Assim, muitos questionamentos surgiram sobre a existência de tudo, inclusive da vida e da morte. Essas indagações existenciais formaram a base de todas as religiões no mundo.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

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consequentemente. Conforme Bigo (1969, p. 36), “Os sermões dos profetas aos ricos giravam sempre em torno do tema da justiça, os de Cristo giravam em torno do tema da pobreza.” Interessante perceber que os sermões de Cristo se baseavam não na “questão social”, mas nas consequências da falta da justiça, ou seja, no conjunto das diversas expressões da sociedade injusta da época, proveniente da avareza, ganância e soberba dos ricos.

A religião se expandiu por toda a Europa com a queda do Império Romano no ano 400, aproximadamente. A Igreja Católica Apostólica Romana foi o grande poder que emergiu das cinzas do Império Romano, em torno do qual se ergueu o mundo medieval, que foi caracterizado como a Idade das Trevas. A Santa Inquisição, criada em 1232, espalhou medo e terror por toda a Europa, através do Tribunal do Santo Ofício (que era uma paranoica luta contra o demônio e as heresias), como também as Cruzadas, guerras santas em que a Europa cristã combateu os “mouros infiéis”: os islâmicos (COSTA, 1997).

A partir da Idade Média, na Europa, foram criadas as confrarias, que eram caracterizadas como grupos, irmandades, congregações ou associações religiosas, formadas por leigos do catolicismo que desenvolviam ações com caráter caritativo, filantrópico e cultos religiosos.

FIGURA 3 - IRMANDADES, CONGREGAÇÕES DE AJUDA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=igreja +na+idade+media+e+os+pobres&tbm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Nessa época eram comuns ações assistencialistas ou clientelistas, como doações, práticas em forma de favor, boa vontade com fundamento em princípios cristãos. “A ética cristã – como a filosofia cristã em geral – parte de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu Criador e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação no outro mundo.” (VÁZQUEZ,1996, p. 243).

Sob a perspectiva da ética cristã, a ideologia religiosa da época priorizava que toda ação pessoal deveria estar voltada para e com Deus, sob uma nova forma

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de participação social onde o teocentrismo fazia valer uma ação transcendental, direcionada a favor da própria salvação.

Contudo, a ética cristã tende a regular o comportamento dos homens com vistas a outro mundo (a uma ordem sobrenatural), colocando o seu fim ou valor supremo fora do homem, isto é, em Deus. Disto decorre que, para ela, a vida moral alcança a sua plena realização somente quando o homem se eleva a esta ordem sobrenatural. (VÁZQUEZ, 1996, p. 245).

Segundo a ética cristã, Deus exigia obediência sem precedentes, bem como sujeição a seus mandamentos. Assim, no cristianismo, o ser humano é e o que deve fazer, antes de tudo em relação a Deus, tendo como valores a fé, a esperança e a caridade para a obtenção da salvação eterna. Assim, também os “Dez Mandamentos” e a própria Bíblia foram uma forma de tentar garantir a ordem e instituir regras e normas para todos, no sentido de mando e doutrina indiscutível, vindo a se tornar uma constituição que está presente, de uma forma ou outra, até hoje nas mentes e nas ações das pessoas no mundo ocidental.

Segundo Carvalho (2006, p. 15), “Na Idade Média, a forte influência do Cristianismo, através da doutrina da fraternidade, incentivou a prática assistencial, com a difusão das confrarias que apoiavam as viúvas, os órfãos, os velhos e os doentes”. Esta concepção medieval pensava que a causa da miséria era um problema do pecado da humanidade, de desobediência a Deus, castigo individual, e em muitos casos visto como castigo coletivo, se falando em pragas e pestes.

Nessa época, a Ásia foi atormentada por secas, enchentes e terremotos que provocaram uma fome sem precedentes, a Europa sofreu com as mudanças climáticas com perdas irreparáveis de sucessivas colheitas, tendo como consequência a fome generalizada que espalhou doenças e o desespero nas comunidades superpovoadas. Não bastando, uma epidemia entre 1346 e 1352 assolou todo o continente e chegou a matar mais de um terço da população europeia, conhecida como a peste negra, que provocou a maior onda de mortandade no mundo (GUSMÃO JR., 2014).

Durante a Idade Média começaram a surgir, a partir dos mosteiros e conventos, instituições asilares, destinadas mais a cuidar dos doentes e proporcionar-lhes conforto e ajuda, sobretudo no período de doença em fase terminal, pois não se sabia como curá-los.

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No século XIV, de 1301 ao ano de 1400, a única explicação possível para a série de golpes devastadores que abalaram todo o mundo era vista como ira de Deus frente à desobediência e aos pecados dos homens.

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Com o aparato e influência da civilização judaico-cristã, a ajuda toma a expressão de caridade e a filantropia ao próximo. Assim, com a intenção de juntar práticas de auxílio e apoio aos aflitos, doentes e pobres, diversos grupos filantrópicos e religiosos começaram a se organizar, dando origem às diversas instituições de caridade sob ordem e fundamento da Igreja Católica (SPOSATI et al., 2007).

O doente, o inválido, o indigente, o pobre, na visão cristã, passou a ser um indivíduo digno de compaixão e auxílio. A prática da caridade era de conforto e acolhimento. Assim, com o passar dos tempos, a concepção de doença, pobreza, miséria, castigo, entre outros termos, típicos da Europa nos séculos XVI a XIX – aproximadamente entre 1501 a 1801 –, inicia e desenvolve-se fundamentalmente a partir da organização de ações filantrópicas.

Assim, a miséria, a pobreza e todas as manifestações delas não eram consideradas como resultado da dominação e exploração absolutista do clero da época, no período feudal, mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos.

Começa‑se a se pensar então a “questão social”, a miséria, a pobreza, e todas as manifestações delas, não como resultado da exploração econômica, mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos. A “questão social”, portanto, passa a ser concebida como “questões” isoladas, e ainda como fenômenos naturais ou produzidos pelo comportamento dos sujeitos que os padecem (MONTAÑO, 2012, p. 272).

Durante longo período da história, especificamente durante a Idade Média, não se discutia a “questão social”, muito menos suas expressões na sociedade da época, e a assistência ficava relegada ao campo da filantropia e da caridade. Dessa forma, as iniciativas de apoio e amparo aos chamados “pobres” eram realizadas de forma caridosa e piedosa pela Igreja, por paróquias, pelos grupos religiosos ancorados nos postulados da fé cristã.

3.1 A ENCÍCLICA “RERUM NOVARUM” FRENTE À QUESTÃO SOCIAL

Na Idade Média houve pouca evolução nas declarações de direitos humanos e sociais, as que surgiram não eram universais e se restringiam a determinados grupos. Encontramos o Decreto de Afonso IX, nas Cortes de Leon, de 1188, e a Magna Carta de João II, em 1215, na Inglaterra. Foi um período histórico muito complexo e difícil, frente a muitos interesses, conflitos, guerras, revoluções, doenças, sofrimentos. Assim, através do fortalecimento do cristianismo, nasceu a ideia de solidariedade que fez surgir sistemas de mútua ajuda e seguridade. Porém, foi com o Estado Absolutista que houve a primeira lei que versou sobre a assistência social, que ficou conhecida como Law of Poor (Lei dos Pobres) ou Poor

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Relief Act (ação de assistência aos pobres) em 1601, na Inglaterra, durante o reinado da rainha Isabel (DEZOTTI; MARTA, 2011).

A partir daí as autoridades começaram, a passos lentos, a se preocupar com a proteção social, procurando dar auxílio nos casos de enfermidades, invalidez e desemprego, tendo como princípio a responsabilidade do Estado pela assistência pública, surgindo a obrigatoriedade de contribuições para fins sociais.

Diante de toda essa realidade, consequentemente a Igreja se viu na obrigatoriedade de pensar com afinco a “questão social”. Então, em 1891, a Igreja Católica oficializou, por meio do Papa Leão XIII, a publicação da Encíclica "Rerum Novarum", apresentando ao mundo católico os fundamentos e as diretrizes da Doutrina Social da Igreja, enfatizando sua postura frente aos graves problemas sociais que dominavam as sociedades europeias naquele período.

A Igreja Católica, a partir da Encíclica, priorizou um discurso e intervenção doutrinária na ação política, com a elaboração de diretrizes gerais de compreensão dos problemas sociais da época, que estavam eclodindo por efeito do fenômeno industrial na Europa. No entanto, suas diretrizes oscilavam entre a influência marxista a favor do socialismo e a proposta liberal do sistema capitalista com amplitude de reforma social.

Foi aproximadamente nesse período, quando o Serviço Social transitava para sua profissionalização, que surgiram duas encíclicas papais, uma que foi a Rerum Novarum, divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891, e a outra, chamada Quadragésimo Anno, divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931, diante do fervor do capitalismo e da crise econômica no mundo.

Sabemos que, no Brasil, o Serviço Social foi criado em 1936, a partir das iniciativas dos grandes líderes da Igreja Católica, inspirados na Doutrina Social da Igreja então enriquecida por uma nova Encíclica Social: a "Quadragésimo Ano", redigida pelo Papa Pio XI e publicada no dia 15 de maio de 1931, em comemoração aos 40 anos da Rerum Novarum.

Assim, a profissão do Serviço Social foi se desenvolvendo e crescendo permeada pela prática da "Ação Social Católica", sob a liderança da Igreja, sendo que até o início dos anos 60 recebeu forte influência que está permeada até os dias atuais (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL – CRESS/SC – 12ª REGIÃO, 2014).

Mas o fato de sabermos que o dia "15 de maio" é uma homenagem à publicação da "Rerum Novarum" – documento que embalou a profissão em berço e lhe sustentou a vida – não esgota o assunto em pauta. Quem determinou que assim o fosse? É uma data comemorada apenas por assistentes sociais brasileiros? Essas são algumas perguntas que na literatura encontrada, bem como nos contatos estabelecidos na fase preparatória desse artigo, não responderam a estas indagações. Cabe, portanto, aos assistentes sociais interessados na história profissional, que se embrenhem pelos caminhos da pesquisa em busca dessas respostas

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e de outras relativas ao tema. Cabe a nós, assistentes sociais, conhecer o passado e construir a memória da nossa profissão (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL – CRESS/SC – 12ª REGIÃO, 2014).

Interessante averiguarmos o quanto a profissão teve a influência do catolicismo, por isso é um grande desafio mudar aspectos culturais. No entanto, com qualificação e competência podemos mostrar que trabalhar na área social não é algo tão simples assim, ter boa vontade ou espírito solidário não é profissão.

Utilizam-se ainda muitos termos ligados à história e à religião, como ajuda, caridade, auxílio, doação, entre outros, assim confundem-se muito os termos ligados ao Serviço Social, aos Serviços Sociais, à Assistência Social. Para esclarecer, vejamos o quadro a seguir, que enfatiza com teor e objetividade diversas especificações referentes à abrangência e compreensão da profissão.

LEITURA COMPLEMENTAR

Myrian Veras Baptista

A QUESTÃO SOCIAL COMO UM DESAFIO HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL

Assumo como ponto de partida para essa minha reflexão a ideia de que, na estrutura do serviço social brasileiro como profissão, sempre esteve presente o desafio do enfrentamento das expressões da questão social gestadas pelo capitalismo, o que fez com que seus profissionais parametrassem suas intervenções na relação capital-trabalho.

Evaldo A. Vieira tem sobre esse aspecto uma posição assemelhada à que eu expresso aqui. É dele a consideração seguinte: a questão social foi uma base sólida na constituição e consolidação do serviço social, uma vez que tem sido sempre seu eixo de reflexão e a expressão de sua particularidade2. Helena Iraci Junqueira, uma das pioneiras da profissão, esclarece em depoimento (1983:16) que o serviço social originou-se de um movimento dentro da Igreja [Católica] […] de uma prática concreta, de uma posição de vanguarda […] voltando-se para a formação de profissionais para a

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O Serviço Social tem sua história vinculada com ações de caridade e benevolência, por isso ainda nos dias de hoje a profissão passa pelo desafio de esclarecer as interpretações equivocadas, que ainda não abrangem a clareza do real significado contemporâneo da terminologia ligada à profissão.

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atuação sobre os problemas sociais que se colocavam na época. Ele começou com ímpeto de renovação, de estudo, de posicionamento avançado para a época. Em outro momento, em depoimento (LIMA, 1982:75), H. I. Junqueira situa as razões de sua escolha do serviço social como profissão: […] eu estava engajada no movimento de Ação Católica. Esse movimento, em São Paulo, despertara, desde o início, um sentido profundamente social nos seus membros […] Tínhamos uma grande preocupação pela justiça social. […] quando tive conhecimento da fundação da Escola de Serviço Social, me empolguei com a ideia de que poderia ter uma profissão que iria servir à implantação da justiça social.

O serviço social brasileiro foi gestado na esteira de um movimento internacional, articulado e comandado pela Igreja Católica, que tinha por objetivo sedimentar uma proposta política que se configurara através de encíclicas papais as quais estruturaram uma doutrina social que se tornou conhecida como a Doutrina Social da Igreja.

A Doutrina Social da Igreja estabelecia as bases para a operacionalização de uma alternativa para o enfrentamento da questão social – “nem o liberalismo, nem o individualismo, nem o comunismo, o humanismo cristão”, Rerum Novarum de Leão XIII, publicada em 15 de maio de 1891, e Quadragésimo Ano de Pio XI, de 15 de maio de 1931.

Hoje, o espaço privilegiado da ação profissional continua sendo o do enfrentamento das manifestações da questão social – naturalmente, a partir de outros paradigmas –, principalmente aquelas que expressam a relação pobreza-sociedade, na medida em que essa pobreza se gesta, se nutre e se amplia nas defasagens sofridas pelos polos menos favorecidos da relação capital/trabalho.

[…] Esse quadro, posto por H. I. Junqueira, expressa uma realidade na qual se pode depreender processos econômicos e sociopolíticos que compõem as condições objetivas para que o serviço social se constitua como profissão: a sociedade e o Estado viam-se cada vez mais desafiados a enfrentar as questões sociais construindo respostas ao nível de políticas sociais e de serviços, a uma crescente gama de situações que exigiam profissionais preparados para seu planejamento e execução, e os assistentes sociais foram investidos como um dos agentes executores das políticas sociais (NETTO, 2001:74-75).

[...] Em São Paulo, o movimento que tinha por proposta a expansão política da Doutrina Social da Igreja se apoiou estrategicamente em um tripé cujas bases eram configuradas por:

1) um partido político, o Partido Democrata Cristão, cuja presidência foi assumida, via eleição, pelos integrantes do movimento. Nesse partido, muitos assistentes sociais militaram politicamente, aceitando e disputando cargos políticos. O PDC teve, por muitos anos, como secretário geral, José Pinheiro Cortez; e Helena Iracy Junqueira foi, pelo partido, a primeira vereadora mulher da cidade de São Paulo e foi também Secretária da Educação no município, nos anos 50, na administração PDC.

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2) a mobilização do laicato católico através da organização da Ação Social Católica, cuja responsabilidade de implantação em São Paulo fora assumida pelo CEAS – Centro de Estudos e Ação Social – a partir de 1934. A Ação Social Católica destacava a responsabilidade social do cristão, superando a vivência religiosa mais individual (VICINI, 1990:24) e atuava através de grupos organizados como a Liga Feminina de Ação Católica, a Juventude Operária Católica-JOC, a Juventude Agrícola Católica – JAC, a Juventude Estudantil Católica (secundarista) – JEC, a Juventude Independente Católica – JIC, a Juventude Universitária Católica – JUC.

3) e a implementação de espaços de formação e de disseminação de ideias e da doutrina, de preparação de uma elite intelectual católica, configurados principalmente pelas Universidades Católicas. Não por acaso, em São Paulo, foi o CEAS a entidade fundadora e mantenedora da primeira Escola de Serviço Social.

Consonante com as propostas da Doutrina Social da Igreja, o objeto da formação e da intervenção profissional dos assistentes sociais nesse período era também o objeto que preocupava a Igreja e a Ação Social Católica: a questão social, tal como vinha se expressando na sociedade brasileira e, no caso de São Paulo, paulista. Em decorrência, a profissão de serviço social se constituiria num dos aspectos concretos da ação social (Albertina Ferreira Ramos – 1940 - apud Yasbek, 1980:40) e o curso de serviço social, além de se voltar para a disseminação de conhecimentos e de técnicas para uma ação mais eficaz no enfrentamento dos problemas sociais, dedicava-se também à formação social de dirigentes, integrantes da ação política do laicato católico (LIMA, 1982:45).

FONTE: BAPTISTA, Myrian Veras. A questão social como um desafio histórico do serviço social. 2009. Disponível em: <http://www.jurassicos.com.br/leao_XIII/arquivos/surgimento_servico_social.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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Neste primeiro tópico ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um pouco mais sobre a gênese da questão social, assim enfatizamos vários itens:

• Verificamos as características da proteção e da assistência na história da humanidade e percebemos que mesmo antes do desenvolvimento do capitalismo foram desenvolvidas diversas práticas de “ajuda”, “proteção” e/ou “assistência” ao próximo.

• Analisamos a influência da filosofia para o mundo ocidental, sendo que as primeiras tentativas de estudo, questionamento, análise e compreensão a respeito da sociedade, das relações sociais, foram influenciadas na Antiguidade pela filosofia, especificamente pela filosofia grega.

• Verificamos que durante longo período da história, especificamente durante a Idade Média, não se discutia a “questão social”, muito menos suas expressões na sociedade, e a assistência ficava relegada ao campo da filantropia e da caridade.

• Constatamos a influência da religião católica na sociedade e especificamente no serviço social, como, por exemplo no Brasil, o Serviço Social foi criado em 1936, a partir das iniciativas dos grandes líderes da Igreja Católica, inspirados na Doutrina Social da Igreja.

• Analisamos que a profissão do Serviço Social foi se desenvolvendo e crescendo permeada pela prática da “Ação Social Católica”, sendo que até o início dos anos 60 recebeu forte influência no sentido de ter caráter caritativo e assistencialista, práticas severamente combatidas na atualidade.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Conforme o estudo desta primeira unidade, descreva como foram desenvolvidas na Antiguidade as práticas de assistência ao outro.

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2 Que influência teve a religião na consolidação da prática da assistência no contexto social, especificamente na Europa e América Latina?

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AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO

HISTÓRICO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Iremos aprofundar nesta unidade os fatores históricos econômicos, políticos, sociais e culturais que contribuíram para o surgimento da questão social, especificamente, durante o período de transição da Idade Média para a Idade Moderna, tais como, movimentos intelectuais como o Renascimento e o Iluminismo, que contribuíram para a concretização da Revolução Francesa.

Abordaremos também o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, bem como os significados do liberalismo e do neoliberalismo enquanto doutrinas de política econômica a favor das ideias e avanços industriais e capitalistas.

2 FATORES HISTÓRICOS ECONÔMICOS, POLÍTICOS, SOCIAIS E CULTURAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL

A questão social está intrinsecamente vinculada com a história do surgimento e desenvolvimento do capitalismo, visto o desenrolar dos acontecimentos que mudaram o curso da história da humanidade. Por isso precisamos conhecer o passado para compreender e refletir sobre aspectos do cenário contemporâneo mundial e da nossa própria realidade.

A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi um período muito conturbado e difícil em todos os sentidos, pois foi um período de transição entre a mentalidade medieval para a mentalidade moderna racional, com profundas transformações sob o ponto de vista histórico econômico, político, social e cultural.

Ao invés de termos o mundo explicado pela fé (por verdades reveladas), passa-se a ter um mundo explicado pela razão, pela ciência experimental; do teocentrismo passa-se para a perspectiva do antropocentrismo, focando não mais na fundamentação da teologia e do poder do absolutismo, mas essencialmente na racionalidade científica, onde o homem dotado de certeza e razão torna-se o centro do mundo.

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Nesse período de transição obtivemos a primeira noção de movimento social, o RENASCIMENTO – desenvolvimento do Humanismo nos séculos XV e XVI, que foi caracterizado como um movimento intelectual de desenvolvimento artístico, literário e científico. Desse modo, renasce novamente a filosofia e há um grande passo às pesquisas científicas, até então proibidas na Idade Média. As manifestações deste movimento tiveram maior repercussão na França, contra as injustiças sociais, intolerância religiosa e privilégios do absolutismo.

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DO PERÍODO MODERNO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=antropocentrismo&bi w=>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Assim também surgiu o ILUMINISMO, que significou uma corrente de pensamento dominante no período aproximado de 1700 a 1800, período caracterizado como Século das Luzes. Era um movimento que representava uma visão de mundo da burguesia intelectual da época na Europa, que estimulava a luta da razão e do progresso contra a superstição e a teologia. Essa corrente de pensamento inspirou os ideais da Revolução Francesa em 1789, que teve como lema: Liberdade, Fraternidade e Igualdade, pois denunciava erros e vícios do Antigo Regime feudal e absoluto, efetivando a derrubada da monarquia absoluta.

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O teocentrismo é uma concepção que enfatiza Deus no centro de todas as coisas, desse modo, o homem e o que deve fazer definem-se essencialmente em

relação a Deus (VÁZQUEZ, 2000).

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Hampson (1996, p. 375) descreve que:

Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. Falando de maneira geral, foi uma consequência da “revolução científica” no final do século XVII, que havia transformado a concepção que a maior parte das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo por elas habitado. [...] A compreensão, pelo Homem, de si mesmo e da sociedade só podia ser alcançada pelos métodos científicos da observação e dedução, que lhe permitiam captar princípios que governavam o comportamento da matéria.

O francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) tornou-se o iluminista mais radical, precursor do socialismo, defendia um Estado democrático, voltado para o bem comum e a vontade geral.

Surge na época uma doutrina política e econômica designada como Liberalismo. Seu principal teórico foi o economista escocês Adam Smith (1723-1790), que criticava a intervenção estatal na economia e idealizava uma economia dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura, chamado de laissez-faire (deixai fazer), como se existisse algo invisível que iria conduzir da melhor forma a economia e a sociedade. O trabalho nesta concepção era considerado como a verdadeira riqueza das nações e o sistema econômico deveria ser dirigido pela livre iniciativa dos empreendedores, burgueses, capitalistas.

A ação racional, portanto, significava conformidade a um sistema que era moralmente autolegitimado. A “mão invisível” da Providência garantia que a busca individual de um autointeresse iluminista conduziria sempre ao bem-estar da sociedade como um todo. [...] Durante a segunda metade do século XVIII, o Iluminismo foi contestado por uma repulsa ao que era visto como uma concepção mecanicista do universo, uma negação das verdades da percepção e da emoção e uma fuga ao conflito entre inclinação e dever. Jean-Jacques Rousseau, em particular, embora partilhasse alguns dos pressupostos do Iluminismo, baseou sua teoria na soberania popular e um conceito de regeneração moral do indivíduo pela sociedade que tirava o seu dinamismo da consciência e de uma moralidade intuitiva. [...] Os homens que se viram no controle da França em 1789, em sua esmagadora maioria, partilhavam dos seus pressupostos (HAMPSON, 1996, p. 376).

Interessante ressaltar que a sociedade racional dos iluministas revelou na sociedade burguesa uma profunda irracionalidade, pois começava a germinar um tipo de dominação e exploração por parte dos burgos da época. Assim, foi

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Surge na época uma sociedade racional, porém com uma sociedade burguesa ambiciosa, onde a exploração e dominação eram cada vez mais evidentes,

transparecendo novamente a desigualdade e a exclusão social. Assim, com o novo sistema econômico desenvolveu-se também uma nova sociedade, urbana e industrial, com suas consequências inevitáveis.

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se consolidando e crescendo um tipo de grupo social que estava enriquecendo, a burguesia, grupo que foi se consolidando com o crescimento do capitalismo, sendo considerada mais tarde como classe social burguesa.

A Europa passava por imensas transformações, a começar pela Revolução Francesa, e depois pela Revolução Industrial, que mudaram o curso da história, principalmente para o absolutismo e poderio da Igreja, visto que os princípios iluministas se proliferavam pela luta da razão e do progresso contra a superstição e a teologia, bem como com o fim do feudalismo.

A Revolução Francesa, ao romper com um sistema político de privilégios e protagonizar a instauração de uma sociedade de indivíduos, assume, desde o século XVIII, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a tarefa de encaminhamento de uma política social, que foi tornando a caridade e a assistência clerical cada vez mais aleatória. A esta época, o frágil equilíbrio necessário para tornar a solidariedade eficaz, entre a riqueza e a pobreza, entre a generosidade e o sofrimento, se torna a cada dia mais difícil e ilusório (IVO, 2012, p. 72).

FIGURA 5 – IMAGEM DA REVOLUÇÃO FRANCESA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SOCIAL>. Acesso em: 6 jan. 2015.

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No século XVIII ocorreram duas grandes revoluções na Europa, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Influenciadas pelos princípios iluministas

e da substituição das ferramentas pelas máquinas, ajudaram a consolidar a globalização do capitalismo, bem como as teorias econômicas liberalistas (RAMALHO, 2012).

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Segundo Carlebach (1996, p. 405), “A Revolução Francesa visava reestruturar toda a sociedade, em todos os níveis, no espírito das novas noções de igualdade social defendidas pelo Iluminismo”.

A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, emergindo aproximadamente em 1775 e se espalhando por toda a Europa. Concomitantemente com o crescimento econômico, crescia também um número exorbitante de homens, mulheres e crianças em situações desumanas e degradantes.

Era um retrocesso social, tendo em vista as condições desumanas a que os trabalhadores eram submetidos em toda a Europa, assim foi se caracterizando o Estado Liberal com intervenção mínima do poder político e estatal na sociedade da época.

Desenvolviam-se as teorias econômicas liberalistas que ajudaram a consolidar o progresso capitalista e, consequentemente, fizeram emergir os problemas sociais (atualmente designados como expressões da questão social) oriundos destas profundas transformações, tais como pauperismo, carências, mendicância, desvios de conduta, desemprego, péssimas condições de trabalho, entre outras consequentes manifestações.

FIGURA 6 – TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS INGLESAS

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=revolução+industrial&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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A REVOLUÇÃO FRANCESA (chamada de Revolução Gloriosa) se caracterizou como um movimento social revolucionário de caráter liberal e burguês a favor do liberalismo, nacionalismo e socialismo, provocando a derrubada da monarquia absoluta.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

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Em 1848, na Europa, ocorreram diversas revoluções, manifestações populares, revoltas diversas em vários países. Vários movimentos de trabalhadores começaram a eclodir, pois começaram a negar a manutenção do poder burguês, a criticar a crise econômica, a exigir melhores condições sociais, econômicas e políticas a favor da democracia e cidadania.

Originalmente, o termo “primavera dos povos” está associado às revoluções ocorridas na Europa central e oriental em 1848. A grande onda de reivindicações iniciada nesse ano, que tinha em sua agenda política a extensão do direito de voto e a ampliação de direitos das minorias nacionais, foi uma resposta à política continental de restauração que conduziu as decisões internas dos Estados europeus após a derrota napoleônica. Incapazes de absorver as mudanças propostas pelo ideário liberal/burguês e mesmo de processar a incorporação dos novos grupos sociais surgidos das transformações sociais da industrialização crescente, os Estados monárquicos europeus viram eclodir diversas revoluções (PARADA, 2011).

Esse conjunto de revoluções foi chamado de Primavera dos Povos, tinha caráter liberal, democrático, nacionalista e, apesar de sua breve duração, recebe importância significativa no estudo da questão social, por ter sido a primeira revolução do proletariado.

Na França, com intuito de apaziguar o contexto de revoltas, o governo

francês procura remediar como podia. Referindo-se aos debates de 1848, Rosanvallon (1998, p. 120) descreve:

Em 26 de fevereiro de 1848, um cartaz com um novo decreto foi exposto nos muros da capital: “O governo provisório da República Francesa se compromete a prover a existência do trabalhador pelo trabalho, que será garantido a todos os cidadãos” [...] Reunindo inicialmente alguns milhares de homens, chegavam a quase 100.000 beneficiados [...] A experiência foi um insucesso monstruoso, [...].

Protestos e reivindicações emergiram na França e se proliferaram por toda a Europa. Resultado consequente da transformação de uma sociedade agrária para uma industrial, fez emergir um contingente de operários sem garantias de trabalho e direitos sociais, bem como milhares de desempregados em situação de miséria.

Com o desenvolvimento ocorre a passagem da manufatura para mecanização, criação de duas novas classes sociais antagônicas: burguesia e proletariado, ou empresários e trabalhadores. Surgem as primeiras manifestações

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Interessante ressaltar que as revoluções estão associadas ao termo radicalismo, as mudanças radicais fundamentais geralmente estão interligadas com o sistema social e suas conjunturas, sistemas de poder da política, da economia.

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de revolta na Europa, dando origem aos sindicatos a partir de 1833. Começa-se a produção de consumo.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL se caracterizou como um processo histórico de transformação econômica e social, através do qual um novo modo de produção capitalista passa a dominar a sociedade: produção em escala para o mercado mundial, uso intensivo de máquinas, concentração de operários – trabalhadores – e a divisão social do trabalho.

FIGURA 7 – CONFIGURAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=revolução+industrial &biw=1366&bih~>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Surge então efetivamente o capitalismo, um novo sistema econômico e social de mercado, um tipo de economia e de sociedade que se caracteriza pela propriedade privada (individual ou coletiva) dos meios de produção, trabalho assalariado e acumulação de capital (riqueza), se baseando no controle, previsão e exploração de oportunidades de mercado para efeito do lucro, bem como de recursos técnicos e naturais disponíveis.

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Podemos analisar o capitalismo sob duas perspectivas, uma sob a análise do perspectivismo liberal e a outra sob a análise do perspectivismo marxista, duas

concepções totalmente distintas referentes à concepção do capital, do sistema de produção e reprodução capitalista, da sociedade e de suas manifestações presenciais e futuras.

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Para os liberais da época, a propriedade privada assegurava a melhor distribuição possível dos recursos. Assim, o mercado assegurava uma satisfação em função de sua dotação e criação de bens e serviços, e a distribuição dos recursos podia resultar pelo simples jogo do mercado, que, por si só, beneficiava a todos e sem interferência do Estado na economia, mas com uma intervenção flexível ou mínima através de suas políticas de bem-estar.

O lucro é justificado no capitalismo pela sua própria natureza, assim como a justa remuneração e iniciativa dos empresários, que se empenham em melhorar o capital técnico, investem seus recursos em novos recursos e na produção, descobrem novas ideias e procuram pô-las em prática para que o desenvolvimento e o crescimento econômico se efetivem cada vez mais em sua plenitude (GÉLÉDAN; BRÉMOND, 1988).

Sabe-se que o processo de industrialização e o avanço desenfreado do capitalismo desencadearam inúmeras consequências na área social, evidências e expressões negligenciadas e omitidas pelos liberalistas, visto apenas visualizarem o bem-estar econômico da sociedade – seu crescimento e desenvolvimento do ponto de vista da economia –, deixando à deriva o desenvolvimento social e as consequências desastrosas do sistema capitalista.

A questão social e suas expressões, na época designada como problemas ou disfunções sociais, para os liberais estavam dissociadas da questão econômica. Assim, percebiam e consideravam todos os problemas sociais como desvios de conduta que estavam vinculados e relacionados com a cultura, a moral, a religião, a família, a própria pessoa. Dessa forma, a pobreza era relacionada a causas individuais e psicológicas, pensava-se o pauperismo como mendicância e como crime, e assim a repressão se instituía como forma de tentar harmonizar a sociedade da época.

[...] a partir de 1834, existem algumas características e problemas dessa concepção de “questão social”, pobreza e tratamentos:a. A “questão social” é separada dos seus fundamentos econômicos (a contradição capital/trabalho, baseada na relação de exploração do trabalho pelo capital, que encontra na indústria moderna seu ápice) e políticos (as lutas de classes). É considerada a “questão social” durkheimianamente como problemas sociais, cujas causas estariam vinculadas a questões culturais, morais e comportamentais dos próprios indivíduos que os padecem.b. A pobreza é atribuída a causas individuais e psicológicas, jamais a aspectos estruturais do sistema social.c. O enfrentamento, seja a pobreza considerada como carência ou déficit (onde a resposta são ações filantrópicas e beneficência social). Ou seja, ela entendida como mendicância e vadiagem (onde a resposta é a criminalização da pobreza, enfrentada com repressão/reclusão), sempre remete à consideração de que as causas da “questão social” e da pobreza encontram-se no próprio indivíduo. Trata-se das manifestações da “questão social” no espaço de quem os padece, no interior dos limites do indivíduo, e não como questão do sistema social. Essa é a perspectiva pós-1835, século XIX — que, a partir da constituição do proletariado como sujeito e de suas lutas desenvolvidas particularmente entre 1830-48, pensa o pauperismo como mendicância

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e como crime, tratando assim dela com repressão (MONTÃNO, 2012, p. 274).

As inúmeras consequências se evidenciavam com o aumento da pobreza e da exclusão social, das desigualdades sociais, da expansão de situações de risco social, aumento de situações de vulnerabilidade social, precarização do trabalho, baixo salário, diminuição de postos de trabalho, trabalho infantil, crescimento excessivo de imigrações e migrações, explorações diversas.

Bottomore (1996, p. 59) especificou o capitalismo como um:

Tipo de economia e de sociedade que, em sua forma desenvolvida, surgiu a partir da Revolução Industrial do século XVIII na Europa Ocidental, o capitalismo foi posteriormente conceituado de variadas maneiras por economistas, historiadores e sociólogos (a palavra em si mesma só veio a ser amplamente utilizada no final do século XIX, particularmente por pensadores marxistas). Marx (O Capital, 1867, vol. 1) definiu-a como uma “sociedade produtora de mercadorias”, na qual os principais meios de produção estão nas mãos de uma classe particular, a BURGUESIA, e a força de trabalho também se torna uma mercadoria que é comprada e vendida. Essa concepção foi elaborada no quadro da teoria de Marx sobre a história – sua “interpretação econômica” – e o capitalismo encarado como o mais recente estágio em um novo processo de evolução dos modos de produção e formas de sociedade humanos. Seus aspectos característicos, segundo Marx, eram a capacidade de autoexpansão através da acumulação incessante (a centralização e a concentração de capital), a revolução contínua dos métodos de produção (fortemente enfatizada em O manifesto comunista), intimamente ligada ao avanço da ciência e da tecnologia como uma força produtiva de importância maior, e ainda o caráter cíclico de seu processo de desenvolvimento, marcado por fases de prosperidade e depressão, e também uma divisão mais claramente articulada, ao lado de crescente conflito entre as duas classes mais importantes (ver CLASSE) – a burguesia e o proletariado (ver CLASSE OPERÁRIA).

Quando a classe proletária explorada começa a questionar a realidade social e o sistema econômico vigente, sua consciência crítica e de classe social faz surgir e proliferar inúmeros movimentos sociais, revoluções sociais. Dessa forma, os problemas sociais foram politizados, obrigando o Estado a efetivar e garantir os direitos sociais, ou seja, os problemas sociais foram transformados e considerados como expressões sociais da questão social e não mais como resultados do comportamento individual e das instituições sociais.

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Porém, a questão social, mesmo com o desenvolvimento e crescimento do capitalismo, era considerada alvo de preocupação, pois os “problemas sociais” não

deixavam de existir, mas cresciam em diferentes formas e números, sendo alvo de estudo por diversos pensadores.

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FIGURA 8 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=movimentos+sociais&b iw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Os problemas sociais ou disfunções sociais foram politizados pela classe trabalhadora, foram transformados em expressões sociais, em manifestações multifacetadas da questão social. Assim, constatamos que a questão social e suas expressões eram designadas, caracterizadas, conceituadas como: problemas ou disfunções sociais, pois não eram tratadas sob o ponto de vista estrutural da sociedade capitalista.

Porém, essa politização e questionamento da classe trabalhadora não ocorreram de forma pacífica, lenta e amigável durante a história, tanto é que as transformações que estavam ocorrendo impulsionaram muitos estudiosos a se debruçarem cientificamente sobre os estudos sociais e, através de pesquisas, mostrassem evidências comparadas e comprovadas da sociedade. Assim, por necessidade, é que a sociologia se caracterizou como uma ciência.

A partir da substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril, se iniciou o processo de industrialização em escala mundial. Consequentemente, o capitalismo começou a emergir e foi alvo de atenção de diversos economistas e sociólogos.

IMPORTANTE

Podemos entender o significado de expressões ou manifestações multifacetadas da questão social como aquelas que se apresentam na sociedade com várias facetas, muitas faces, múltiplas aparências, características ou atributos.

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Alguns teóricos e profissionais estavam preocupados em organizar o processo de produção para obtenção do crescimento do próprio capital, e outros, em analisar os resultados de tal sistema, seu modo de funcionamento e suas consequências. Assim, seguindo as descrições feitas por Oliveira (2002), podemos relatar alguns dos grandes mestres das ciências sociais, que analisaram a sociedade de sua época:

QUADRO 1 – OS PENSADORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

O francês Augusto Comte (1798-1857), filósofo e matemático, fundador da primeira forma de pensamento social, o positivismo (estado científico). Foi o primeiro teórico a definir a Sociologia como – física social: estática e dinâmica – que procura analisar e compreender a sociedade no sentido da organização (ordem) e da reformulação (progresso). O positivismo expressava uma confiança nos benefícios da industrialização, bem como um otimismo em relação ao progresso capitalista guiado pela técnica, pela ciência e pela racionalidade.

O alemão Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista, crítico idealizador do socialismo e do comunismo. A sociedade é vista como uma inevitável luta de classes sociais, por causa do sistema capitalista. Este conflito de poder terminaria se existisse igualdade social, se os meios de produção fossem de toda a coletividade. Segundo a visão marxista, a sociedade sempre estará em luta de classes, cada qual lutando por seus interesses, e jamais haverá equilíbrio ou harmonia onde existe dominação e/ou exploração.

O francês David Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo, considerado fundador da Sociologia Moderna, a partir de seus estudos a Sociologia passou a ser considerada como uma ciência independente das demais Ciências Sociais (Antropologia, Política, Economia) e da Filosofia. Para ele, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais, ou seja, de todos os processos de interação humana. Seu maior estudo foi sobre o suicídio, tipos e causas.

O alemão Max Weber (1864-1920), sociólogo, criou o método compreensivo através da análise dos processos históricos e sociais. Para ele, a pesquisa histórica é essencial para compreensão das sociedades. O objetivo maior da Sociologia é compreender a conduta social, que ele chegou a definir como ação social. Foi fundador da Sociologia da Religião.

FONTE: OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. São Paulo: Ática, 2002.

Entre estes teóricos clássicos, o que mais influenciou o serviço social foi o economista Marx, visto que começou a criticar severamente as práticas capitalistas e trouxe como solução as teorias que foram chamadas de socialistas, pois o principal objetivo desse novo processo e sistema social era socializar os bens de consumo e de produção.

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Assim, seguindo a análise marxista de pensamento e interpretação social, podemos compreender que a Questão Social está diretamente vinculada ao processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, aos conflitos advindos do capital versus trabalho, pois todas as manifestações expressivas na sociedade surgem das relações de exploração e dominação capitalista.

De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, apud PIERITZ, 2013a, p. 104):

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão.

Marx (1848), descrevendo sua percepção da exploração capitalista, enfatizou que na medida em que a relação de trabalho permite que a remuneração do trabalhador seja menor do que o valor que ele produz, o capitalista, que é o dono dos meios de produção, estará se apropriando da parcela não paga ao trabalhador. Este valor (lucro) apropriado pelo capitalista advém da diferença entre o valor produzido e o salário pago ao trabalhador, e a essa diferença dá-se o nome de mais-valia, ou seja, o excedente, o lucro, a exploração, é evidente no capitalismo, assim a desigualdade social se instaura na sociedade.

FIGURA 9 - O FILÓSOFO E ECONOMISTA KARL MARX

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=teoria+marxista +capital+e+trabalho&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Para Marx, o socialismo prega a igualdade social e não a desigualdade, a exploração, a alienação, a pobreza, entre outras situações de exclusão social que são geradas pelo capitalismo.

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No século XX o enfoque das necessidades humanas foi instigado por duas considerações: problemas na teoria marxista e questões nas políticas públicas. Os marxistas clássicos tinham que explicar a inesperada longevidade do capitalismo, previsto para desmoronar em consequência da superprodução e do subconsumo. Alguns revisionistas marxistas, casando noções freudianas de desejos instintivos com observações acerca do papel da mídia por teóricos da sociedade de massas, propuseram uma explicação em termos de “falsas necessidades”. Começando com Erich Fromm, que foi o primeiro a expor essa ideia nos anos 30, e incluindo Wilhelm Reich, Herbert Marcuse e membros da escola de Frankfurt, esses pensadores argumentaram que o capitalismo tem uma capacidade inigualável de introjetar na psique de seus súditos as necessidades que ele precisa que eles tenham a fim de que o sistema sobreviva. (SPRINGBORG, 1996, p. 519).

Nas palavras de Erich Fromm (1987, p. 82), enfatizado anteriormente na citação, podemos averiguar seu embasamento sobre as falsas necessidades produzidas no capitalismo a partir de uma ideologia dominante:

As normas pelas quais a sociedade funciona também moldam o caráter dos seus membros (caráter social). Numa sociedade industrial, esses caracteres são: desejo de adquirir propriedade; mantê-la; aumentá-la, isto é, obter lucro. Os que possuem propriedade são admirados e invejados como seres superiores. Mas a vasta maioria de pessoas não possui propriedade alguma no sentido real de capital e bens de capital. [...] E como os grandes proprietários, os pobres estão obcecados pelo desejo de manter o que têm e aumentá-lo, mesmo que seja em um mínimo (por exemplo, poupando um centavo aqui, um centavo ali).

Na visão marxista, o modo de desenvolvimento deste processo caracteriza a produção de coisas inúteis que não atendem às necessidades humanas em termos de qualidade de vida e através do processo de trabalho se concretiza uma desvalorização e alienação do ser humano; a força e a energia humanas se reduzem apenas ao fazer repetitivo e não ao pensar crítico; se produz o desnecessário como forma de priorizar o processo de valorização do capital através do consumo sem razão lógica e racional, exercício de uma ilusória e falsa cidadania com negação total dos direitos sociais, como também, consequentemente, degradação do meio ambiente através do próprio processo de trabalho e exploração da natureza.

Assim, o trabalho, ao invés de servir para o bem comum de todos, garantido à vida humana e à natureza, passou a ser utilizado para o enriquecimento de alguns. De realização pessoal e criatividade, foi transformado em processo de alienação, em esforço rotineiro e repetitivo e passividade crítica, com resultados de lucro, consumo e destruição, visto que a alienação é um processo que torna algo pertencente alheio a si próprio; assim, os atos de uma pessoa são governados por outros e se transformam em uma força estranha e contrária de si mesmo, obscuramente a alienação se produz para satisfazer as necessidades do mercado.

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Assim, procurando compreender o mundo contemporâneo, verificamos que, ao longo dos séculos XIX e XX, surge o desemprego nos países desenvolvidos, o mercado se globaliza, surge a concorrência, o capital produtivo ganha organização mais complexa, ocorre o movimento neocolonial pela necessidade de encontrar territórios ricos em matéria-prima que pudessem abastecer a economia para investimento de capitais excedentes, bem como atender aos problemas de crescimento populacional e de fornecimento de mão de obra numerosa e barata.

Os conflitos gerados pelos interesses colonialistas em choque com os mercados associados levaram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Assim, no contexto da expansão capitalista pós-guerra, o Estado assume tarefas e funções essenciais para a nova fase de acumulação capitalista e institucionalização dos conflitos sociais da classe trabalhadora; a “questão social” passa a ser como que internalizada na ordem social. Agora sendo considerada não mais como um problema do indivíduo, mas como consequência do desenvolvimento social e econômico – do subdesenvolvimento. De caso de polícia, a questão social passa a ser vista como caso de política, política pública (MONTAÑO, 2012).

No século XX surgem complexos industriais e empresas multinacionais, a indústria química e eletrônica se desenvolve, avanços da automação, da robótica e da engenharia genética são incorporados ao processo produtivo, que depende cada vez menos de mão de obra e cada vez mais de alta tecnologia. Os grandes complexos financeiros (bancos) passam a especular na bolsa de valores e financiar a dívida dos países emergentes, dando origem às privatizações e aberturas de mercados, enfraquecendo o poder do Estado e dando origem ao movimento neoliberal.

Segundo Ianni (1999, p. 55),

Desde que o capitalismo retomou sua expansão pelo mundo, em seguida à Segunda Guerra Mundial, muitos começaram a reconhecer que o mundo estava se tornando o cenário vasto de um vasto processo de internacionalização do capital. Algo jamais visto anteriormente em escala semelhante, por sua intensidade e generalidade.

Procurando compreender a evolução do liberalismo, doutrina político-econômica surgida na Europa, especificou-se um novo termo chamado neoliberalismo, sendo uma adaptação da doutrina às novas condições do capitalismo a partir de 1938, onde a liberdade econômica das empresas e as leis

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Podemos constatar que a concepção marxista se diferencia e muito da concepção liberal, sobre a concepção do capital, do sistema de produção e reprodução capitalista e da sociedade.

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de mercado se tornam indiscutíveis. A função do Estado foi manter o equilíbrio dos preços com políticas anti-inflacionárias e cambiais, bem como apaziguar os conflitos sociais por meio de políticas sociais de bem-estar social.

FIGURA 10 – A QUEBRA DO ESTADO DEVIDO ÀS PRIVATIZAÇÕES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=privatizações &biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Para os neoliberais, o Estado não deve desempenhar funções assistencialistas, o que resultaria numa sociedade completamente administrada e, portanto, antiliberal. Nesse sentido, é a afirmação da sociedade civil que deve buscar novas formas de resolver seus problemas, ao Estado cabe apenas a tarefa de garantir a lei comum, bem como a função de equilibrar e incentivar as iniciativas da sociedade civil. A posição neoliberal é reduzir ao máximo o poder ou intervenção do Estado, a ponto de ficar responsável apenas pela repressão de disfunções sociais ou ameaças à ordem pública.

No contexto e no pensamento neoliberal, o Estado deve estimular o capital a investir, garantindo e preservando o lucro frente às flutuações do mercado, particularmente em contexto de crise investindo o mínimo necessário na área social, através das políticas sociais.

De acordo com a visão de Montaño (2012), a estratégia neoliberal orienta-se numa tripla ação:

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Enquanto isso, a ação social se torna mínima no âmbito estatal, transferindo a responsabilidade para o terceiro setor com ação voluntária e solidária de indivíduos

e organizações da sociedade civil, bem como para as empresas no âmbito da responsabilidade social que procuram atingir a população consumidora.

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• políticas sociais do Estado para a população mais pobre (cidadão usuário) com ações precarizadas, regionalizadas e passíveis de clientelismo;

• a ação mercantil, desenvolvida pela empresa capitalista, dirigida à população consumidora (cidadão cliente); e,

• as ações do chamado “terceiro setor”, ou da chamada sociedade civil organizada para a população não atendida nos casos anteriores, desenvolvendo uma intervenção filantrópica.

Podemos analisar que o neoliberalismo possui estratégias de desenvolvimento, orienta-se de maneira manipulatória e congruente com o capitalismo, a fim de que o sistema capitalista cresça em abundância, dando continuidade ao processo de exploração e dominação, assim compactua com os outros setores da sociedade, como o público estatal e a sociedade civil organizada.

Assim, nesse sentido, para nos fundamentar temos alguns dicionários básicos, que precisamos ler e reler, até para adquirirmos um melhor conteúdo, vocabulário mais próprio da profissão e uma linguagem mais qualificada.

DICIONÁRIO DAS CRISES E DAS ALTERNATIVAS. Centro de Estudos Sociais Laboratório Associado – CES. Universidade de Coimbra. Coimbra: Almedina, 2012. 218 p.

DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX. Editado por William Outhwaite e Tom Bottomore. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 970 p.

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Com os avanços do capitalismo mundial e com a globalização, temos novamente uma discussão: quais são as novas formas de pobreza? Percebendo

que a burguesia e o proletariado não são mais caracterizados, quem são os dominados da contemporaneidade? Que grupos dominantes fazem parte dessa nova etapa do capitalismo, agora mundial? Digital? Que tipos de exclusão e exploração estão vigorando na atualidade? O que virá depois da globalização?

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LEITURA COMPLEMENTAR

PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO E PROBLEMAS EMERGENTES: IMPLICAÇÕES PARA O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Nélson Alves Ramalho

SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS: SOCIEDADES DE RISCO?

Como observámos, esta rede complexa de processos e interdependências ocorre da junção de vários fatores, níveis e dimensões (SCHOLTE, 2000; STEGER, 2006). É nesse conjunto de “globalizações” e de relações sociais diferentes que surgem conflitos e, com eles, vencedores e vencidos que podem, a longo prazo, ter impactos irreversíveis (SANTOS, 2005). Santos atribui à constelação desses conjuntos distintos de relações sociais, que originam diferentes fenômenos de globalização, a terminologia de “globalizações”, usada no plural. Segundo ele, “não existe uma entidade única chamada globalização” (2005, p. 62). Essa relação entre os processos de globalização e o surgimento e expansão de situações de risco social permite‑nos observar que a globalização pode contribuir para limitar os seus contributos para um desenvolvimento humano sustentável.

A supressão da pobreza é um desses limites. Após anos de liberalização e desregulação do mercado mundial, não foi possível observar o seu fim. Pelo contrário, tais políticas têm promovido a “globalização da pobreza” (CHOSSUDOVSKY, 1997). Associado a ela está, também, a questão do emprego. Segundo Amaro (2005), as atuais relações instáveis e precárias de trabalho, a expansão do desemprego e os baixos salários constituem uma limitação à acessibilidade dos consumos tradicionais, sendo difíceis ou impossíveis para uma parcela importante da população.

A junção da má qualidade de vida (em consequência da pobreza) e a falta de oportunidades conjugado com a difusão da “qualidade” nos países desenvolvidos, através da globalização dos meios de informação e comunicação, impulsionou o crescimento massivo do fenômeno das migrações. Segundo dados da International Organization for Migration (IOM) de 2010, o número de migrantes cresceu de 150 milhões, em 2000, para 215 milhões, em 2010. Estima‑se que em 2050 haja 405 milhões de migrantes como resultado do crescimento das disparidades demográficas, os efeitos das mudanças ambientais e a nova dinâmica política e econômica global, a revolução tecnológica e as redes sociais. Aliados a esses problemas estão, também, o crescimento populacional, os conflitos étnicos e o renascimento da intolerância, o terrorismo e a insegurança social.

Há, também, as questões ambientais (GIDDENS, 2006), cujas sociedades contemporâneas tendem a ter dificuldades na resolução de problemas relacionados com as mudanças climáticas, a camada de ozônio, a desertificação, a dependência do consumo de combustíveis não renováveis, a diminuição (com risco de perda) da diversidade biológica, a poluição transfronteiriça e a destruição dos recursos

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naturais. Há, ainda, as questões relacionadas com o progresso técnico moderno, nomeadamente, no nível das armas nucleares potencialmente destrutivas, dos organismos geneticamente modificados na agricultura e na alimentação e dos resíduos nucleares altamente radioativos (GARCIA, 2003; JERÓNIMO, 2006; MARTINS E GARCIA, 2006; WINNER, 2003).

Face a todas essas situações, confrontamo‑nos perante questões éticas e inquietações no decurso da globalização: Será que o progresso alcançado conseguiu gerar um não progresso? Que rumos tomamos? Que limites são impostos ao avanço da ciência e da tecnologia? Que responsabilidades estão inerentes a todos esses “avanços” para que o planeta e as gerações futuras não sejam comprometidos? Será o homem secundarizado e visto como um meio para incrementar e alimentar o sistema capitalista ou deverá ser, antes, a centralidade no progresso da humanidade com vistas à sua felicidade? Estamos perante a destituição de valores humanistas e de uma ética global?

Como abordam Hespanha e Carapinheiro (2001, p. 16), “muitos dos problemas não têm uma resposta organizada e é ainda o Estado nacional ou, na sua falta, as instituições locais quem se ocupa deles, mobilizando recursos e redes de solidariedade primárias”. Face a essa realidade, cresce a pressão sobre os Estados‑nação para que possam desenvolver políticas ativas perante esses “novos problemas” quando, na realidade, não se deveria reivindicar uma intervenção supranacional capaz de resolver, ou minimizar substancialmente, os problemas localizados, uma vez que foram originados, na sua génese, pelos processos da globalização?

É nesta análise que se introduz o conceito de “sociedade de risco” (BECK, 1992). O autor atribui riscos de perigosidade globalizada imputados às decisões humanas, relações sociais, institucionais e dinâmicas deliberadas produzidas no desenvolvimento das sociedades modernas e que atingem, de forma indiscriminada, todos os países, classes sociais e com repercussões geracionais. A expansão do conceito de risco fez‑se à custa de uma ausência de delimitação analítica clara entre “risco” e outras noções como “incerteza”, “perigo” ou “ameaça”. Abordar o conceito de risco é abordar, necessariamente, os restantes conceitos. Desta forma, o conceito de risco remete‑nos para cenários de probabilidade de ocorrência de eventos futuros (GIDDENS, 2006; GRANJO, 2006; JERÓNIMO, 2006), o que permite que autores como Areosa (2008), Martins (1998, citado em JERÓNIMO, 2006) queiram antes falar em “sociedades de incerteza”, na medida em que, não traduzindo uma visão errônea do conceito, transmitem a imprevisibilidade de o acontecimento ocorrer sabendo, no entanto, quais os potenciais efeitos que podem surgir.

De fato, para o autor, a “democratização dos riscos” não escolhe grupos específicos em termos de rendimento, prestígio ou poder para a difusão dos seus impactos. Esta falta de imunidade de todos, face às ameaças globais, fá‑lo designar o conceito de “efeito de boomerang”. Beck (1992) revela que estes novos riscos deixam, então, de poder ser pensados localmente e de forma circunscrita e ao, tendencialmente, democratizarem‑se passam a assumir um carácter global,

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estendendo‑se a todas as classes sociais, culturas, raças e nações. São, segundo ele, as ameaças ecológicas, sociais, políticas, económicas e individuais, anteriormente desconsideradas, que põem em risco a vida de todo o planeta.

Beck (1992) e Giddens (2006) argumentam que esses riscos são produtos humanamente fabricados no próprio conceito de desenvolvimento. É nesse contexto que ambos utilizam o conceito de “risco fabricado” que se diferencia do “risco externo” como sendo o risco proveniente da natureza externa, como as más colheitas, inundações, pragas ou fomes. O “risco fabricado” refere‑se ao risco causado pelo próprio impacto do desenvolvimento. Por um lado, o conhecimento técnico‑científico permitiu controlar e minimizar alguns riscos, por outro, permitiu gerar novos e desconhecidos riscos com consequências globais. No entanto, essas novas formas de risco tornam‑se de grande complexidade ao entendimento humano, pelo seu desconhecimento sobre eles e pela falta de experiência no seu trato (AREOSA, 2008).

FONTE: RAMALHO, Nélson Alves. Processos de globalização e problemas emergentes: implicações para o Serviço Social contemporâneo. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 110, p. 345-368, abr./jun. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n110/a07n110.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2014.

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RESUMO DO TÓPICO 2

No Tópico 2 ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um pouco mais sobre os fatores históricos econômicos, políticos, sociais e culturais que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da questão social no capitalismo, liberalismo e neoliberalismo, assim enfatizamos vários itens:

• Refletimos sobre o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, bem como os significados do liberalismo e do neoliberalismo enquanto doutrinas de política econômica a favor das ideias e avanços industriais e capitalistas.

• Analisamos o contexto da Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra, emergindo aproximadamente em 1775 e se espalhando por toda a Europa. Concomitantemente com o crescimento econômico, crescia também um número exorbitante de situações desumanas e degradantes a que os trabalhadores eram submetidos em toda a Europa.

• Verificamos que o capitalismo pode ser considerado sob duas perspectivas, uma sob a análise do perspectivismo liberal e a outra sob a análise do perspectivismo marxista, duas concepções totalmente distintas referentes à concepção do capital, do sistema de produção e reprodução capitalista, da sociedade e de suas manifestações presenciais e futuras.

• Constatamos que, dentre os teóricos clássicos, o que mais influenciou o serviço social foi o economista Marx, assim compreendemos que a Questão Social está diretamente vinculada ao processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, aos conflitos advindos do capital versus trabalho.

• Discutimos que o capitalismo intensificou-se enquanto sistema econômico do ponto de vista de integração e interação para obter maior e melhor exploração e dominação, através da economia mundial, fazendo emergir a globalização – mundialização da economia.

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1. Qual é a diferença entre os termos liberalismo e neoliberalismo econômico?

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Descreva algumas características do capitalismo, antes e depois da globalização.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO

SOCIAL”

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Este terceiro tópico tem por objetivo apresentar a amplitude e significado dos termos: questão, social e a questão social, demonstrando sua origem e sua relação com o resultado das contradições do surgimento e desenvolvimento do capitalismo.

É necessário que o profissional conheça e identifique as questões sociais e as inúmeras e multifacetadas expressões sociais que se apresentam na sociedade, visto que a questão social tem sido considerada objeto do Serviço Social, visto que o assistente social, enquanto profissão, procura responder às necessidades humanas na garantia e efetivação dos direitos sociais.

A Questão Social em si não é algo negativo, mas representa e requer uma perspectiva de análise, discussão e interpretação da sociedade, para o enfrentamento das suas expressões multifacetadas, pois estas é que emergem, se multiplicam e estão em evidência nas sociedades.

2 REFLEXÕES SOBRE A AMPLITUDE DA PALAVRA “QUESTÃO”

Deve-se levar em consideração a amplitude do conceito tanto da palavra questão, quanto questão social, visto que não é algo tão simples assim, como em muitos casos é considerado. Por isso é obrigatório refletirmos sobre o significado do termo e sua abrangência, como, por exemplo, o que é e o que não seria uma questão social? Como é expressa socialmente uma questão social? Quais são suas formas de manifestações na sociedade, suas formas de expressão?

UNI

Olhando para a figura a seguir, quais das interrogações você consegue de imediato responder?

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 11 REFLEXÕES SOBRE OS SIGNIFICADOS DOS TERMOS

FONTE: A autora (2015)

Existem mais de 70 sinônimos da palavra questão, ou, melhor dizendo, existem mais de 70 palavras parecidas e que por vezes são usadas equivocadamente ou de forma muito abstrata e subjetiva tanto no nosso vocabulário pessoal e profissional, quanto na escrita e em textos teóricos de âmbito profissional. Assim, temos que admitir que tal termo apresenta um problema semântico, de significado da palavra questão, visto o seu vasto campo conceitual.

Vejamos o quadro a seguir, que descreve 76 sinônimos da palavra questão enfatizando cinco sentidos que a palavra abrange, podendo ser de:

• Pergunta • Assunto • Problema • Desavença • Matéria debatida em juízo

UNI

Começamos então com a reflexão sobre: o que é uma questão?

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TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

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QUADRO 1 – SENTIDOS E SINÔNIMOS DA PALAVRA “QUESTÃO”

FONTE: Adaptado de Dicionário de sinônimos on-line. Sinônimo de questão. Disponível em: <http://www.sinonimos.com.br/questao/>. Acesso em: 6 jan. 2015.

E SINÔNIMOS DA PALAVRA “QUESTÃO”

1 SENTIDO DE PERGUNTA:• indagação, investigação, interrogação, especulação, pesquisa, exame, inquirição, inquisição, perquirição, perquisição, quesito, (questão).2 SENTIDO DE ASSUNTO:• argumento, assunto, contexto, capítulo, tópico, conteúdo, item, matéria, ponto, objeto, tema, tese, (questão).3 SENTIDO DE PROBLEMA:• dificuldade, aborrecimento, adversidade, aperto, atrapalhação, atribulação, contrariedade, contratempo, embaraço, empecilho, impedimento, inconveniente, incômodo, infortúnio, objeção, obstáculo, oposição, pepino, resistência, revés, transtorno, vicissitude, (questão).4 SENTIDO DE DESAVENÇA:• debate, desacordo, desarmonia, desavença,desentendimento, desinteligência, discórdia, altercação, atrito, briga, choque, cisão, cizânia, conflito, contenda, contestação, controvérsia, discussão, disputa, dissensão, dissentimento, dissidência, dissídio, impugnação, objeção, polêmica, querela, questiúncula, rixa, zanga, (questão).5 SENTIDO MATÉRIA DEBATIDA EM JUÍZO:• demanda, ação, processo, pendência, litígio, pleito, (questão).

Podemos constatar a amplitude e a complexidade do termo, isso que não é um termo específico somente da nossa profissão, termo próprio e único do Serviço Social, porém se tornou palavra-chave nos últimos tempos, até pela própria especificidade literária que a profissão requer e deve ter.

O Serviço Social, enquanto categoria profissional, se apropria e adapta termos que podem contribuir para uma análise, digamos, mais técnica e profissional, visto que é necessária uma contínua revisão teórica e prática dentro do contexto ético-político da profissão.

IMPORTANTE

Analisando o quadro acima, podemos perceber que dos cinco sentidos, os três primeiros podemos levar em consideração, para propiciar uma discussão maior sobre a Questão Social no âmbito e perspectiva do Serviço Social.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), a palavra questão é caracterizada como:

1. Ponto que deve ser discutido ou examinado.2. Tema, assunto, tese. Assim, trazendo essa perspectiva do sentido de pergunta (pesquisa,

investigação, questionamento), assunto (tema, objeto, tópico, contexto, matéria) ou até mesmo problema (adversidade, obstáculo, incômodo, contratempo), como também das características de ponto, tema, assunto e tese, que deve ser discutido, analisado, examinado, percebemos que devemos, sim, aprimorar nossos termos teóricos profissionais.

Vamos percebendo que tudo evolui e se desenvolve, assim como as

sociedades e os sistemas de produção, as instituições e as profissões, sendo um processo natural e inevitável. Assim, tudo surge, desenvolve-se, se adapta, vai se construindo e se refazendo, sempre na busca do melhor, do mais apropriado, adequado, conveniente e necessário.

De qualquer modo, é de referir que a palavra questão, para além de significar «pergunta, interrogação», tem outros sentidos, sendo usada para designar, também, algo que suscite discussão, dúvidas ou controvérsias: «assunto submetido à apreciação e decisão do tribunal»; «tema, assunto, teste sobre qualquer matéria científica»; «ponto de discussão»; «disputa, pendência, controvérsia»; «dissidência, perturbação de relações sociais ou familiares»; «ponto essencial num empreendimento ou assunto»; «assunto ou tema que é objecto de reflexão, de estudo ou debate»; «ponto que oferece dúvida, que suscita ou se presta a discussão; aquilo que necessita ser esclarecido = problema» (MARTA, 2011).

Nessa perspectiva, pode-se analisar que a palavra questão realmente tem

significado amplo, significa muito mais que uma breve pergunta ou interrogação, agora imagine o termo questão social!

3 SIGNIFICADO DOS TERMOS: “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

Em seu sentido mais amplo, o termo social congrega tudo o que diz respeito à sociedade, tudo o que se relaciona com os sistemas sociais, suas características, incluindo a política, a economia. No sentido mais restrito, o social condiz com as condições de vida dos indivíduos, com seus modos de vida e de todas as relações que estabelecem entre si, incluindo o desenvolvimento intelectual, moral, cultural e material.

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TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

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Do ponto de vista histórico, o pensar sobre o social está relacionado com o desenvolvimento do capitalismo, especificamente em meados do século XIX na França, assim especifica a assistente social e doutora em Sociologia Marilena Jamur (1997, p. 19-20), descrevendo e interpretando o sociólogo francês Jacques Donzelot:

O social, segundo Donzelot (1992), foi uma “invenção” do século XIX. Através de uma ampla e minuciosa análise, o autor faz a demonstração de que a “invenção do social” se impõe como uma necessidade política, no momento em que o ideal republicano – forjado no Século das Luzes – se vê confrontado à primeira forma democrática colocada em prática na França, após a Revolução de 1848. Naquela conjuntura, com a adoção do sufrágio universal, quando são retomados os princípios democráticos norteadores da “Revolução Gloriosa” de 1789, por um lado, reavivam-se as certezas e as promessas contidas no ideal republicano de liberdade e de igualdade; ao mesmo tempo, por outro lado, aparecem claramente as contradições e o conflito de interesses que obstaculizam a realização desse ideal. O autor defende o argumento de que a emergência do social com um domínio específico de preocupações e de intervenção está profundamente articulada ao surgimento da “questão social”.

Veremos mais à frente que as revoluções que se iniciaram na França foram surgindo e se espalhando por toda a Europa, consequentemente devido à transformação econômica e social da época, de uma sociedade feudal e agrária, para uma sociedade capitalista, industrial e urbana, com uma população operária sem direitos, grande parte sem postos de trabalho, outra grande parcela miserável. Assim, no confronto entre o povo e seus representantes, os termos: social e questão social se fazem aparecer e marcam a história.

Assim, desde os autores clássicos aos contemporâneos, o social tem sido motivo central, intenção categórica e primeira, sempre na busca de alternativas que possam pelo menos trazer esperanças no sentido de como vencer a pobreza, a desigualdade, as injustiças, as necessidades humanas, o sofrimento no mundo.

Segundo descreve W. Wanderley (2013, p. 207) sobre estudos acerca do social:

São conhecidas as extremas dificuldades e as divergentes interpretações que ele suscita na literatura clássica, constando os distanciamentos entre as concepções da economia e da política, da política e do social, da igualdade e da liberdade, da liberdade e da necessidade, do público e do privado, do trabalho e da realização, da utilidade e da instrumentalidade, das massas e do povo, do indivíduo e da classe, da reforma e da revolução, da propriedade privada e da propriedade social. E que perduram na contemporaneidade sem uma decifração

UNI

Refletindo sobre a constituição do termo “social”.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

que satisfaça. Como resolver a denominada questão social? E onde ele se situa na presente conjuntura mundial? Como vencer a pobreza, a desigualdade e as injustiças sociais?

Assim como o social, a questão social também está vinculada à história do desenvolvimento do capitalismo, ou mais especificamente, com as consequências do novo sistema econômico que estava surgindo na Europa, um déficit social de desencantamento, temor e pânico, pois o capitalismo para se instalar não foi de modo pacífico, harmonioso ou glorioso, mas de forma coercitiva, manipulatória, autoritária, exploratória e excludente.

Segundo Donzelot (1992, p. 33-34, apud JAMUR, 1997, p. 21),

A “questão social” – designação que aparecera por volta de 1830 – será definida principalmente neste sentido: como reduzir a distância entre o novo fundamento da ordem política e a realidade da ordem social, a fim de assegurar a credibilidade da primeira e a estabilidade da segunda, se não quiser “que o poder republicano seja de novo investido de esperanças desmedidas e, depois, vítima do desencantamento destruidor daqueles mesmos que a ele deveriam ser mais apegados”. A “questão social” aparece como a “constatação de um déficit da realidade social, com relação ao imaginário político da República. Um déficit gerador de desencantamento e de temor: desencantamento daqueles que esperavam dessa extensão da soberania política (a todo o povo) uma modificação imediata de sua condição civil; temor, e mesmo pânico, daqueles que receavam que esse poder através do povo servisse para instaurar o poder do povo de Paris sobre o resto da Nação”.

Nesse sentido, vamos entendendo que a “questão social” surge por volta de 1830, e emerge com questionamentos sobre como diminuir a relação entre o público e o privado, entre a política e a realidade social, com o intuito de efetivar a credibilidade e comprometimento político e a harmonia social. Assim é que a questão social surge, numa esfera de desencantamento e decepção de uma democracia disfarçada e numa esfera de medo do que estaria por vir.

Com o surgimento do capitalismo, a nova divisão do trabalho social trouxe aos trabalhadores e suas famílias diversos prejuízos e riscos. Além de evidenciar a desigualdade social e um contingente de miseráveis, os mesmos eram iludidos por um imaginário político ideológico de modernidade, progresso e riqueza para todos.

UNI

E a especificação do termo “questão social?”

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FIGURA 12 – PENSAR SOBRE A QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SOCIAL>. Acesso em: 6 jan. 2015.

Responder a esse questionamento – o que é uma questão social? – não é tão simples assim, pois temos que olhar para a história, para o passado e, ao mesmo tempo, vislumbrar a realidade atual, contemporânea. Assim, as respostas irão variar conforme a teoria que a fundamenta, visto que existem várias correntes de pensamento e teorização sobre a “questão social”, ou mais especificamente sobre suas expressões na sociedade, seja no mundo ou no Brasil.

Segundo Ianni (1989, p. 145), “A questão social é um tema básico e permanente na sociedade brasileira e influencia o pensamento e a prática de muitos. Em diferentes lugares procura-se conhecer, equacionar, controlar, resolver ou exorcizar suas condições e efeitos”.

Podemos enfatizar, sim, que a questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade, assim não há um consenso único de pensamento no fundamento básico que constitui a questão social, e nem poderia ter, pois olhamos de forma diferente para a mesma coisa, em tempos distintos, assim construímos saberes que por vezes podem se identificar ou divergir, inevitavelmente.

A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. [...] Nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que a questão social só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam

IMPORTANTE

Os problemas sociais ou disfunções sociais foram politizados pela classe trabalhadora, foram transformados em expressões sociais, em manifestações multifacetadas da questão social. Assim, constatamos que a questão social e suas expressões eram designadas, caracterizadas, conceituadas como: problemas ou disfunções sociais, pois não eram tratadas sob o ponto de vista estrutural da sociedade capitalista.

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as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população (MACHADO, 2014).

Assim vamos compreender então que a questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade, pois não vemos a questão social em si, mas sim suas expressões, ou seja, percebemos as inúmeras e incômodas manifestações e expressões sociais.

4 O CONCEITO DE “QUESTÃO SOCIAL” PARA O SERVIÇO SOCIAL

Mesmo sabendo da amplitude, a questão, dita agora social, vem sendo designada pela nossa profissão como Objeto do Serviço Social, como ponto essencial de reflexão, estudo e debate, visto a necessidade de esclarecimentos e compreensão para a própria intervenção social. Assim, a QUESTÃO SOCIAL passa a ser um assunto submetido à apreciação dos assistentes sociais, foco de interesse e intervenção profissional.

O Serviço Social enquanto profissão tem uma função fundamental, que é a de atuar nas variações e mudanças da sociedade. Assim sendo, para ver a questão social como objeto do Serviço Social é preciso estar nesse processo teórico e prático de desenvolvimento e percepção das mudanças sociais e transformações históricas.

Existem vários teóricos que abordam a “Questão Social”, porém aqui vamos citar agora a assistente social e doutora em Ciências Sociais, Maria Vilella Iamamoto, que neste tema também é referência no Brasil, visto que vem contribuindo significativamente para a teoria e prática da nossa profissão:

Como já foi referido, o Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho. Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista madura, [...]. Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. (IAMAMOTO, 2014, p. 27-28).

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A questão social não pode ser objeto de uma só profissão, neste caso do serviço social, do assistente social, pois percebemos que várias outras profissões estão diretamente ligadas à questão social, especificamente em suas diversas e inúmeras expressões sociais.

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Percebemos que na atualidade uma questão social é sobretudo uma questão político-social, visto que não é algo isolado do sistema no qual vivemos. Nesse sentido, podemos nos referir à reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, que pode ser compreendida em suas contradições de desigualdade econômica, visto que o crescimento do capital corresponde à crescente pauperização relativa da população, dependente do trabalho, do capital, do sistema.

Segundo Iamamoto, é nessa “lei geral da produção capitalista que se encontra a gênese da “questão social” nessa sociedade”. (IAMAMOTO, 2014). Assim, para a autora, a gênese da questão social está diretamente relacionada e intrínseca ao capitalismo e suas relações de produção, dominação e exploração e desigualdade social.

Na visão teórica de Iamamoto (2014), a Questão Social requer uma compreensão não apenas como manifestação da desigualdade social no capitalismo, mas como um elemento político e social mediador das ações das distintas realidades sociais no desenvolvimento e desdobramento do modo de produção capitalista.

DICIONÁRIO TEMÁTICO DESENVOLVIMENTO E QUESTÃO SOCIAL: 81 problemáticas. Anete B. L. Ivo (Coord.). São Paulo: Annablume; Brasília: CNPq; Salvador: Fapesb, 2013. 559 p.

IMPORTANTE

IMPORTANTE

Sobre a QUESTÃO SOCIAL como objeto do Serviço Social, assunto submetido à apreciação dos assistentes sociais, olhar e foco de interesse e intervenção profissional, vamos aprofundar mais adiante!

Procure aprofundar o tema da questão social, bem como melhorar o seu vocabulário, lendo e relendo o Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social: 81 problemáticas, lançado em 2013.

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LEITURA COMPLEMENTAR

QUESTÃO SOCIAL: OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL?

Maria Machado

O QUE É QUESTÃO SOCIAL?

A concepção de questão social está enraizada na contradição capital x trabalho. Em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção.

A concepção de questão social mais difundida no Serviço Social é a de Carvalho e Iamamoto (1983, p. 77):

“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”.

Não contraditória a esta concepção, temos a de Teles (1996, p. 85):

“... a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação”.

Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a contradição fundamental do modo capitalista de produção. Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas.

A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. Isto porque não há consenso de pensamento no fundamento básico que constitui a questão social. Em outros termos, nem todos analisam que existe uma contradição entre capital e trabalho. Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria questão social, estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que se encontra a maioria da população – aquela que só tem na venda de sua força de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. É ressaltar as diferenças entre trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida; é analisar as desigualdades e buscar forma de superá-las. É entender as causas das desigualdades, e o que essas desigualdades produzem, na sociedade e na subjetividade dos homens.

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TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

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E as consequências da apropriação desigual do produto social são as mais diversas: analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo político, etc.; criando “profissões” que são frutos da miséria produzida pelo capital: catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de drogas; minhoqueiros – vendedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros – entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – cuidando de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantêm uma irrisória renda familiar; pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros – vivem da venda de mercadorias contrabandeadas; vendedores ambulantes de frutas etc. Além de criar uma imensa massa populacional que frequenta igrejas, as mais diversas, na tentativa de sair da miserabilidade em que se encontram.

Como toda categoria arrancada do real, nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que a questão social só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a população.

Neste terreno contraditório entre a lógica do capital e a lógica do trabalho, a questão social representa não só as desigualdades, mas, também, o processo de resistência e luta dos trabalhadores. Por isto ela é uma categoria que reflete a luta dos trabalhadores, da população excluída e subalternizada, na luta pelos seus direitos econômicos, sociais, políticos, culturais. E é aí, também, que residem as transformações históricas da concepção de questão social.

O avanço das organizações dos trabalhadores e das populações subalternizadas coloca em novos patamares a concepção de questão social. Se, no período ditatorial brasileiro pós-64 a luta prioritária era romper com a dominação política, hoje a luta é pela consolidação da democracia e pelos direitos de cidadania. As transformações no mundo do trabalho, seja com a substituição do homem pela máquina, seja pela erosão dos direitos trabalhistas e previdenciários, exigem, também, que se reatualize a concepção de questão social.

Importa ressaltar que a questão social é uma categoria explicativa da totalidade social, da forma como os homens vivenciam a contradição capital–trabalho. Ela desvenda as desigualdades sociais, políticas, econômicas, culturais, bem como coloca a luta pelos direitos da maioria da população, ou como os homens resistem à subalternização, à exclusão e à dominação política e econômica.

Considerando a concepção de questão social aqui, minimamente debatida, resta-nos perguntar se é possível que ela se constitua em objeto do Serviço Social.

Questão Social: Objeto do Serviço Social?Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço Social nos seguintes

termos:

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”.

É indiscutível a inserção da intervenção do Serviço Social no âmbito das desigualdades sociais, ou, mais amplamente, da questão social. Entretanto, considerando a concepção de questão social, é de se perguntar se a mesma, ou suas expressões, podem se constituir em objeto de uma única profissão. Estamos partindo da concepção de que o objeto é o que demonstra, coloca, a especificidade profissional. Ora, entender a questão social como objeto específico do Serviço Social, das duas uma: ou se destitui a questão social de toda a abrangência conceitual, ou se retoma uma visão do Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/transformações da sociedade.

Se pensarmos na abrangência da concepção de questão social, concluiremos que as mais diversas profissões têm suas atuações determinadas por ela: o médico que atende problemas de saúde causados por fome, insegurança, acidentes de trabalho, etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; enfim, os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social.

Há, ainda, uma outra reflexão possível: em sendo a questão social uma categoria que explicita, expressa, as desigualdades geradas pelo modo de produção capitalista, ela se colocaria, também, como objeto de todos aqueles que apostam no capitalismo como a forma perfeita de produção da vida social. Assim, ela, também, se expressaria nas políticas econômicas, sociais, culturais, traçadas em âmbito governamental, para manter as classes que vivem do trabalho subordinadas e dominadas. Ou seja, se a manifestação da desigualdade, a luta pelos direitos sociais e de cidadania são uma expressão da questão social, não interessa às classes detentoras dos poderes políticos e econômicos que haja um acirramento da contradição, viabilizando, desta forma, espaços de organização da população. Neste sentido, a contradição capital–trabalho também é um objeto dos que buscam, na manutenção do capitalismo, a garantia de privilégios econômicos e políticos.

Segundo Faleiros (1997, p. 37):“... a expressão questão social é tomada de forma muito genérica, embora seja usada

para definir uma particularidade profissional. Se for entendida como sendo as contradições do processo de acumulação capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações impossíveis de

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TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

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serem tratadas profissionalmente, através de estratégias institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social”.

Portanto, definir como objeto profissional a questão social não estabelece a especificidade profissional. Podemos entender, na sugestão de Faleiros, que qualificar a questão social significa apreender o que compete ao Serviço Social no âmbito da questão social. Se falarmos, por exemplo, nas expressões sociais da questão social, estaremos, minimamente, definindo um espaço de atuação profissional.

Há que se ressaltar que, para Faleiros, entretanto, o objeto do Serviço Social se define pelo empowerment:

“A questão do objeto profissional deve ser inserida num quadro teórico-prático, não pode ser entendida de forma isolada. Penso que no contexto do paradigma da correlação de forças o objeto profissional do serviço social se define como empoderamento, fortalecimento, empowerment do sujeito, individual ou coletivo, na sua relação de cidadania (civil, política, social, incluindo políticas sociais), de identificação (contra as opressões e discriminações) e de autonomia (sobrevivência, vida social, condições de trabalho e vida ...)”. Fonte: correspondência pessoal, 15/10/1999).

Não estamos defendendo, aqui, a opção por um ou outro objeto. O fundamental é repensarmos como o objeto de Serviço Social tem sido colocado, e como poderemos revê-lo para darmos objetividade à atuação profissional.

Entendemos que, a cada situação, temos que reconstruir o objeto profissional. Entretanto, ele tem determinações mais amplas, e essa reconstrução tem por finalidade, apenas, garantir, no processo de intervenção, as particularidades de cada situação, inserida no contexto específico de onde atuamos.

FONTE: MACHADO, Ednéia Maria. Questão social: objeto do serviço social? Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v2n1_quest.htm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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RESUMO DO TÓPICO 3

No Tópico 3 estudamos a amplitude e significado dos termos: questão, social e a questão social, demonstrando sua origem, na qual foram abordados vários aspectos:

• Verificamos a amplitude do conceito tanto da palavra questão, do termo social e da questão social, visto que não é algo tão simples assim, como em muitos casos é considerado.

• Percebemos também a importância que o Serviço Social tem enquanto uma profissão que procura responder às necessidades humanas na garantia dos direitos sociais, e enquanto profissão tem uma função fundamental, que é a de atuar nas variações e mudanças da sociedade. Assim, para ver a questão social como objeto do Serviço Social, é preciso estar nesse processo teórico e prático de desenvolvimento e percepção das mudanças sociais e transformações históricas.

• Constatamos que na visão teórica de Iamamoto (2014), a Questão Social requer uma compreensão não apenas como manifestação da desigualdade social no capitalismo, mas como um elemento político e social mediador das ações das distintas realidades sociais no desenvolvimento e desdobramento do modo de produção capitalista.

• Compreendemos que a Questão Social em si não é algo negativo, mas representa e requer uma perspectiva de análise, discussão e interpretação da sociedade, como, por exemplo, o trabalho, a habitação, a educação, entre outras diversas questões sociais que foram descritas; o que perturba são as diversas manifestações negativas destas nas sociedades.

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1 De acordo com o estudo realizado, como surgiu a preocupação com o social?

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2 Descreva a amplitude do conceito da questão social.

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AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 4

A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E

SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Nesse tópico estudaremos a diversidade da questão social e iremos analisar que existem várias, com suas diversas e multifacetadas expressões, nas diversas sociedades.

Analisaremos a descrição de algumas novas expressões sociais e de várias questões sociais que se apresentam na sociedade, assim ampliaremos a nossa visão sobre a abrangência da questão social e suas expressões, que variam de acordo com cada conjuntura e contexto social.

Refletiremos também sobre o termo “nova questão social”, que vem sendo utilizado por alguns autores.

2 ALGUMAS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES SOCIAIS

Muitas vezes, a questão social é considerada de forma errônea como disfunções e problemáticas sociais, situações sociais problemas, tais como: a pobreza, desemprego, violência, mendicância, favelas, doenças, exploração infantojuvenil, discriminação, pedofilia, analfabetismo, dependência química, entre outras inúmeras situações, porém temos que ter noção de que todas essas situações são expressões, são manifestações da Questão Social, pois em si, a Questão Social é tema, objeto, tópico de estudo, análise e discussão, que pode ser um ou vários.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Por exemplo, quando questionamos uma das inúmeras questões sociais é porque algo nos impulsiona para isto, visto que estamos presenciando ou percebendo uma, duas ou mais de suas expressões ou manifestações na sociedade.

A Questão Social em si não é algo negativo, como, por exemplo, o trabalho,

a habitação, a educação, entre outras diversas questões sociais. O que perturba são as manifestações negativas destas, tais como: o desemprego ou o emprego informal, fragmentado, a falta de moradias, as favelas, a evasão escolar, a violência, entre outras inúmeras expressões sociais que poderíamos descrever.

Agora, falando sobre as expressões da questão social, o Serviço Social tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional deve estar pautada em uma proposta que vise ao enfrentamento das expressões da questão social.

Perceba nos quadros a seguir a descrição de algumas das inúmeras e multifacetadas expressões sociais e, de várias questões sociais, algumas expressões específicas de acordo com cada Questão Social apresentada.

UNI

UNI

Existe uma única questão social ou várias questões sociais?

Como as expressões são manifestadas ou, até mesmo, que expressões são estas sob o ponto de vista e olhar do Serviço Social?

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TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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QUADRO 2 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA ECONÔMICO

QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA

ECONÔMICOEXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO CAPITALISMO DIGITAL

A QUESTÃO DA SOCIEDADE

TECNOLÓGICA

A QUESTÃO GLOBALIZAÇÃO

A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO

SOCIAL

Aumento das desigualdades sociais, competitividade acirrada, marginalização social, falta de acesso a novas tecnologias, exclusão digital, mal-estar social e bem-estar econômico, novas expressões sociais, expansão de situações de risco social, aumento de situações de vulnerabilidade social, exploração de países periféricos e de mão de obra, marginalização da ética, detrimento de valores humanos e sociais, individualismo, intolerância, insegurança social.

A QUESTÃO DESENVOLVIMENTO

E CRESCIMENTO ECONÔMICO

A QUESTÃO ECONÔMICA

A QUESTÃO JUSTIÇA SOCIAL

Aumento da exploração, injustiça social, concentração de renda, desigualdades sociais, surgimento e aumento da pobreza, consumismo alienado, inconsciente e supérfluo, prostituição/turismo sexual/o tráfico de mulheres.

QUADRO 3 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA POLÍTICO

QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA POLÍTICO EXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO ESTADO

A QUESTÃO POLÍTICA

A QUESTÃO POLÍTICA SOCIAL

A QUESTÃO PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Corrupção, irresponsabilidade, clientelismo, paternalismo, alienação, banalização da política, privatizações, falta de participação social, descaso com o bem coletivo/público, enfraquecimento ou até erosão do estado-nação, minimização dos direitos sociais, passividade e conformismo coletivo, políticas sociais ineficientes, descentralizações fragilizadas e inoperantes, falta de controle e participação.

FONTE: A autora (2015)

FONTE: A autora (2015)

Sob o ponto de vista econômico têm se manifestado na sociedade inúmeras expressões sociais, algumas novas, outras antigas, porém permanentes. Muitas aumentaram significativamente na realidade brasileira e no mundo.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Sob o ponto de vista político, adentramos em um tema que vem sendo discutido já nas civilizações antigas, gregas, entre outras: a política e a organização e funcionamento do Estado é um entrave social, incapaz de promover o bem comum em sua plenitude. Visivelmente, no Brasil, os esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção em todas as escalas do poder público têm demonstrado o quanto o ser humano prioriza os interesses individuais em detrimento dos coletivos.

QUADRO 4 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA TRABALHO E RENDA

QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA

TRABALHOEXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO TRABALHO

A QUESTÃO SOCIEDADE

SALARIAL

A QUESTÃO CONDIÇÃO

HUMANA

A QUESTÃO SEGURIDADE

SOCIAL

Exploração, supranumerários (desempregados), precarização do trabalho, baixo salário, diminuição de postos de trabalho, desvalorização salarial, trabalho informal, trabalho escravo, trabalho infantil, imigrações, crescimento excessivo de imigrações e migrações,

exploração dos profissionais do sexo.

FONTE: A autora (2015)

O trabalho, a renda, o salário são questões que têm se destacado na agenda de discussão da população, onde é vivenciado por todos o caráter polissêmico e multifacetado do trabalho, onde a desvalorização profissional e os chamados “inúteis” estão se tornando comuns.

QUADRO 5 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA AMBIENTAL

QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA

AMBIENTAL

EXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

A QUESTÃO AMBIENTAL

Mudanças climáticas, aquecimento global, mercantilismo florestal, degradação ambiental, destruição dos recursos naturais, escassez e poluição das águas, desperdício de alimentos, alimentos geneticamente modificados, poluição de modo geral, desmatamento, produção demasiada de materiais não recicláveis, resíduos nucleares, má qualidade de vida, falta de educação ambiental,

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TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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A QUESTÃO SUPERPOPULAÇÃO

emigração/imigiração/migração, êxodo rural/êxodo urbano, falta de estrutura nos grandes centros (mobilidade urbana), falta de planejamento urbano, falta de alimentos, agua potável, poluição ambiental, produção excessiva de lixo, aglomerações habitacionais, aumento de favelas e condições sub-humanas de moradias,

A QUESTÃO TERRITÓRIO/HABITAÇÃO

A QUESTÃO REFORMA AGRÁRIA

favelas, cortiços, moradores de rua, grandes latifundiários, má distribuição da terra, falta de moradias dignas, falta de saneamento básico, falta de planejamento urbano, movimentos sociais (sem-terra, sem teto, barragens...), segregação urbana.

FONTE: A autora (2015)

A questão ambiental e todas as sequelas do não desenvolvimento sustentável estão mostrando quanto é necessária uma transformação social, de valores, de visão de mundo, de consumo, de tudo.

QUADRO 6 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA DO DIREITO, DA JUSTIÇA, DA LIBERDADE E PROTEÇÃO SOCIAL

QUESTÕES SOCIAIS EXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO SEGURIDADE SOCIAL

A QUESTÃO SAÚDE

A QUESTÃO PREVIDÊNCIA SOCIAL

A QUESTÃO ASSISTÊNCIA SOCIAL

A QUESTÃO DOS DIREITOS SOCIAIS A IMIGRANTES

Fome, desnutrição, mortalidade infantil, má alimentação, doenças diversas, drogadição, alcoolismo, tabagismo, depressão, anorexia, doença ocupacional, diversas psicopatologias (transtornos mentais), falta de leitos/medicamentos em hospitais, qualidade e eficiência do SUS, falta de medicina preventiva, desvalorização dos profissionais da saúde, falta de estrutura hospitalar, prostituição infantojuvenil, falta de direitos sociais a imigrantes (haitianos), estrangeiros, falta de planejamento e organização nas regiões fronteiriças.

A QUESTÃO EDUCAÇÃO

A QUESTÃO DA INCLUSÃO SOCIAL

Analfabetismo, baixa escolarização, evasão/exclusão escolar, falta de qualidade e investimentos, desvalorização dos profissionais, bullying, tráfico de drogas nas escolas, desvalorização e destruição das culturas e tradições locais/regionais.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

A QUESTÃO SEGURANÇA

A QUESTÃO PROTEÇÃO SOCIAL

A QUESTÃO LIBERDADE HUMANA

Violência urbana/doméstica, depredações do patrimônio público, delinquência juvenil, criminalidade, arrastões, homicídios, terrorismo, tráfico de pessoas, falta de policiamento, hackers, formação de novas formas de violência e crime, novas gangues de criminosos e traficantes, pedofilia, estupro, aversão homofóbica, Poder Judiciário lento/moroso/inoperante, leis ineficazes,.

A QUESTÃO DE GÊNERO

A QUESTÃO ORIENTAÇÃO/OPÇÃO SEXUAL

Violência do homem contra a mulher, diferença salarial, matriarcalidade, abandono de idosos, de mulheres, de crianças, homofobia, discriminação e preconceito frente a opção sexual, desrespeito ao livre-arbítrio sexual,

A QUESTÃO ÉTNICA E RACIAL

A QUESTÃO NACIONALIDADE

A QUESTÃO RELIGIÃO

A QUESTÃO CLASSE SOCIAL

A QUESTÃO CONDIÇÃO FÍSICA E DE IDADE

A QUESTÃO DA MAIORIDADE PENAL

(CRIMINAL)

A QUESTÃO INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE

USUÁRIOS DE DROGAS

Cultura coercitiva/mutilação genital feminina, xenofobia (aversão/ódio a estrangeiros), o racismo ou o preconceito racial levam à discriminação e à intolerância racial, assim a discriminação racial é toda ou qualquer quebra do princípio da igualdade: como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso, condição social de classe, condição física e mental, procedência nacional ou convicções políticas contra negros, pardos, brancos; índios, ciganos, judeus, americanos, árabes, alemães, haitianos; refugiados; católicos, evangélicos, muçulmanos, espíritas; nordestinos, cearenses, gaúchos; a idosos; a pessoas com deficiência; a pessoa/família em condição de pobreza; a profissionais do sexo; ativistas ou partidários; aumento do uso de usuários de drogas, especificamente de usuários de crack...

FONTE: A autora (2015)

Contextos discriminatórios referentes à composição étnica e racial e a opção sexual (manifestações homofóbicas) têm se tornado evidentes na sociedade, a multiplicidade de transtornos psíquicos sociais tem aumentado drasticamente, bem como as condições de desigualdade, pobreza absoluta e situações de pobreza relativa, aumento de desaparecimento e tráfico de pessoas, tráfico de drogas e prostituição, como também a abrangência da violência no mundo e na sociedade brasileira – são fatos que parecem não ter fim.

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TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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QUADRO 7 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA FAMILIAR

QUESTÕES SOCIAIS DO PONTO DE VISTA

FAMILIAR

EXPRESSÕES SOCIAIS

A QUESTÃO DA FAMÍLIA NUCLEAR, CONJUGAL OU ELEMENTAR (BIOLÓGICA)

Discórdias familiares, divórcio, negligência, violência doméstica, abandono infantojuvenil, valores distorcidos, relações frias/hostis/instáveis/frágeis, passageiras, descaso com o outro, deveres familiares inoperantes, fragilização dos vínculos, conflitos/irresponsabilidade na guarda compartilhada dos filhos, prostituição e trabalho infantojuvenil, prática do aborto,

A QUESTÃO DAS NOVAS CONFIGURAÇÕES

FAMILIARES

D esrespeito, preconceito e discriminação à família homoafetiva/homoparental (casais do mesmo sexo), desrespeito, preconceito e discriminação de adoção por homoafetivos, aumento das famílias recompostas/ampliadas/famílias reconstituídas (os meus, os teus e os nossos), família unipessoal, famílias mononucleares ou monoparentais (responsabilidade de um só dos progenitores), família composta (sociedades poligâmicas) famílias binucleares – guarda compartilhada (alienação parental), família extensa – incluindo três ou quatro gerações, grupos domésticos diversificados...

FONTE: A autora (2015)

As metamorfoses das configurações familiares também configuram o cenário mundial, contextos estes diversificados e complexos, que precisam ser analisados, estudados, compreendidos, respeitados. Muitas leis estão sendo revistas e criadas para tentar abarcar esse leque de metamorfoses sociais de novas configurações e expressões sociais.

Analisando o quadro e as inúmeras expressões sociais das diversas questões sociais, quais expressões condizem com a realidade social da sua cidade? Ou melhor, você poderia especificar mais uma expressão social não descrita anteriormente?

UNI

Podemos entender o significado de expressões ou manifestações multifacetadas da questão social como aquelas que se apresentam na sociedade com várias facetas, muitas faces, múltiplas aparências, características ou atributos.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

3 REFLEXÕES SOBRE O TERMO “A NOVA QUESTÃO SOCIAL”

Alguns autores passaram a discutir e enfatizar o termo nova questão social, sustentam o surgimento do conceito "nova questão social", assim, referente a este tema, será que realmente floresceu ou não uma "nova questão social"? Ou será que o que emergiu foram novas e diversas expressões sociais? Diferentes e complexas manifestações? Novos dilemas e entraves sociais?

O termo nova questão social é aprofundado por Castel, em seu livro “A Insegurança Social: o que é ser protegido”, de 2005, o qual enfatiza, em termos gerais, que existem múltiplas manifestações da questão social, envolvendo segmentos para além de trabalhadores e desprotegidos, existem mais categorias sociais vulneráveis e à margem da ordem dominante. Assim, não podemos olhar para a sociedade sob a ótica da velha ordem social onde existiam duas classes antagônicas, como afirmava Marx: a burguesia e o proletariado. Na sociedade contemporânea existem novas configurações sociais que exigem novas interpretações e análises (BANDEIRA, 2013).

Iamamoto (2014, p. 174) descreve a questão social enfatizando a abordagem do sociólogo francês Castel sobre a sociedade salarial onde o trabalho é parcialmente desmercadorizado. Assim, “A desagregação desse sistema questiona a função integradora do trabalho, sendo a nova questão social fruto do enfraquecimento da sociedade salarial”. Com a precarização do trabalho a sociedade se torna conflituosa, desagregadora, não promovendo proteção e segurança social.

UNI

UNI

Procure pesquisar e discutir em grupo sobre as expressões sociais, procurando entendê-las melhor!

O que dizer sobre o termo que vem sendo utilizado = a nova questão social?

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TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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Porém, temos que refletir e ter em mente que a Questão Social é um termo novo, que exigiu novos pensares por causa das inúmeras expressões que eclodiram com o surgimento e avanço do capitalismo. Porém, do ponto de vista histórico, as preocupações com a vida social são um assunto antigo, pois desde a Antiguidade o ser humano procurou pensar sobre como viver e sobreviver em grupo, em sociedade.

O termo especificamente Questão Social é um termo novo, porém antes do capitalismo já se pensava e se discutia sobre temas, assuntos, matérias, itens, pontos, tópicos sociais que careciam de atenção e intervenção dos grupos, dos povos, das civilizações, das sociedades, mas eram abordados com outros nomes e características, pois também existiam outras formas de dominação, exploração e desigualdade social.

Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas formas. Formas estas que chamamos de expressões da questão social, ou seja, a questão social sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos da humanidade e independe de classe social. O que vem mudando são suas formas de apresentação, pois, de acordo com as transformações do modo de produção, vão surgindo contradições sociais, que se transformam nas diversas formas de expressão da questão social. (PIERITZ, 2013, p. 105).

Constata-se que o objeto do Serviço Social, especificamente no Brasil, tem sido delimitado, historicamente, em razão das próprias conjunturas políticas e socioeconômicas do país, não sendo diferente nas sociedades pré-capitalistas.

Assim, na profissão do Serviço Social, as perspectivas teóricas e ideológicas sempre foram orientadoras da intervenção profissional, conforme cada momento histórico da sociedade, sendo um processo contínuo, consequentemente.

Então, se a profissão surgiu com o capitalismo, é a partir do desenvolvimento e consolidação dele que o Serviço Social também se desenvolveu e se consolidou, construindo e desenvolvendo seu próprio universo profissional e conteúdo teórico na Europa, nas Américas e na realidade brasileira.

O cenário histórico-conjuntural atual da sociedade brasileira e suas incidências sob as diversas expressões da questão social demanda que

IMPORTANTE

Alguns autores irão enfatizar que não podemos adotar antigas interpretações e métodos para novos problemas contemporâneos, visto que o desenvolvimento do capitalismo globalizado fez emergir novas formas de vida, novos tipos de relações sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outros.

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UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

os profissionais estejam focados e atualizados no seu fazer profissional. Por conseguinte, o acompanhamento do desenvolvimento da sociedade brasileira, principalmente no que tange à realidade social e cotidiana, da práxis profissional do assistente social, demonstra-nos que os profissionais de Serviço Social necessitam estar constantemente atentos e vigilantes a toda e qualquer transformação da realidade social. (PIERITZ, 2013, p. 3).

Temos o dever de estarmos atentos às transformações sociais, tanto da realidade brasileira quanto do mundo. Enquanto profissionais éticos e comprometidos com o bem comum, também temos a responsabilidade de atualização, capacitação, visão de mundo, criticidade no fazer e refazer profissional.

Assim, entendo que os assistentes sociais trabalham com as expressões da questão social em seu cotidiano, trabalham também diretamente com os sujeitos que vivenciam as expressões da questão social, que requer um profissional criativo, competente, e que desvele as expressões da questão social, como também desvele quais as alternativas, opções e caminhos para revertê-la. (PIERITZ, 2013, p. 118).

Vamos perceber que o acirramento das expressões sociais exige do profissional qualificação, preparo, competência, pois para o enfrentamento de problemas complexos necessariamente precisamos efetivar programas, projetos, ações audaciosas que deem conta da demanda a ser enfrentada.

O assistente social pode e deve dispor de um discurso de compromisso ético-político com a população, bem como de uma prática crítica no sentido da garantia e efetivação dos direitos sociais, à emancipação humana e autonomia dos usuários, pois se não tiver uma análise e postura das condições concretas, pode reeditar programas e projetos alheios às necessidades da coletividade, de forma paternalista e clientelista, visto que a assistência social como política pública não perpassa essa via.

Historicamente, o enfrentamento da questão social, pelo Estado e também pelas organizações da sociedade civil, na área de assistência social, se deu de forma paternalista e clientelista, como ajuda, favor e caridade. Sendo este fator que influencia a prática do profissional de Serviço Social até a atualidade (PIERITZ, 2013, p. 104-105).

IMPORTANTE

A aproximação dos assistentes sociais com os usuários é uma das condições que permite impulsionar ações inovadoras no sentido de reconhecer e atender às reais necessidades dos segmentos subalternos, a partir de uma análise crítica, macro e conjuntural da questão social.

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TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

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O profissional precisa romper com a prática rotineira, acrítica e burocrática, procurando buscar a investigação da realidade a que estão submetidos os usuários dos serviços, tendo em vista as condições de vida dos mesmos e os referenciais teóricos e políticos hegemônicos na profissão, previstos na sua legislação (CFESS, 2010).

Desafio? Digamos que, em parte sim, e em parte, compromisso profissional!

Ficha técnica:Título Original: O Caminho das NuvensGênero: DramaDireção: Vicente AmorimRoteiro: David França MendesDuração: 85 min.Ano: 2003

DICAS

Como forma de ampliar a discussão e os conhecimentos sobre a questão social e suas expressões, assista ao filme O Caminho das Nuvens, baseado na história real de Cícero Ferreira Dias, que saiu do sertão da Paraíba e, depois de cinco meses e dois dias, chegou ao Rio de Janeiro. Descreve os dramas e enfrentamentos da família que decide buscar uma vida melhor.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste quarto tópico estudamos a abrangência da questão social e de suas expressões, no qual foram abordados:

• Que a questão social não é única, porém existem várias, com suas diversas e multifacetadas expressões.

• Analisamos a descrição de algumas expressões sociais e de várias questões sociais que se apresentam na sociedade.

• Pudemos ampliar a nossa visão sobre a abrangência da questão social e suas expressões, que variam de acordo com cada conjuntura e contexto social.

• Refletimos sobre o termo “nova questão social”, que vem sendo utilizado por alguns autores.

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AUTOATIVIDADE

1 Quais são as manifestações sociais – as expressões sociais – que podem ser percebidas, analisadas e descritas que se apresentam com maior evidência na sua localidade, região ou cidade?

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2 Por que se instituiu a chamada nova questão social?

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UNIDADE 2

O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS

EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender e analisar o surgimento do capitalismo e sua evolução na contemporaneidade, a mundialização da economia e o agravamento e acir-ramento das múltiplas expressões da questão social com o surgimento de novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos excluídos sociais, não se configurando apenas em trabalhadores ou desempregados, mas essencialmente uma marginalização e exclusão de pessoas, categorias e grupos diversos;

• verificar e analisar a estratégia neodesenvolvimentista frente à questão social, a estratégia atual da política nacional, a nova institucionalidade brasileira frente às expressões sociais e a tipificação nacional de serviços socioassistenciais;

• analisar e discutir as situações de vulnerabilidade social e de risco social, especificando as diferenças entre ambas.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as ativi-dades propostas.

TÓPICO 1 – O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

TÓPICO 2 – A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

TÓPICO 3 – A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRA SILEIRAS

TÓPICO 4 – A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

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TÓPICO 1

O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO,

LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Neste primeiro tópico estudaremos aspectos importantíssimos sobre o acirramento das expressões da questão social, os fatos contemporâneos que merecem ser discutidos sobre o desenvolvimento e crescimento desenfreado do capitalismo na contemporaneidade.

Vamos verificar que além da pobreza, da exclusão e da desigualdade social já existente, existem novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos excluídos sociais, novas expressões sociais contemporâneas.

Entenderemos que na sociedade global, o mercado é o fator principal, porém o Estado não é mais caracterizado como mínimo, mas desenvolve um papel estratégico da implementação de uma série de políticas sociais. Assim vamos compreender o novo termo neodesenvolvimentista.

2 A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS

A mundialização da economia, o processo de globalização para manutenção e desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão social são fatos evidentes e inevitáveis nas sociedades contemporâneas.

Percebemos que adentramos no século XXI por uma via rápida de mão única, marcada pelo crescimento da economia, pelo mercado de consumo, pelo aumento progressivo das expressões da questão social, inerentes e indissociáveis do sistema capitalista atual, onde o que prevalece é um projeto de inovação e competitividade internacional, que silenciosamente está gerando uma crise sistêmica que se acentua gradativamente.

Castel (apud TELLES, 1996, p. 85,) enfatiza que:

[...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação. Aporia que, nos tempos que correm, diz respeito também à disjunção entre as esperanças de um mundo que valha a pena ser vivido inscritas nas reivindicações por direitos e o bloqueio de perspectivas de futuro para maiorias atingidas por uma modernização selvagem que desestrutura formas de vida e faz da vulnerabilidade e da precariedade formas de existência que tendem a se cristalizar como único destino possível.

Essa epidemia ou pandemia é a aporia da sociedade com suas infinitas expressões, que se alastra rapidamente e faz com que as vulnerabilidades sociais e condições de risco social se acentuem na mesma proporção. Assim, vamos percebendo as mutações e refrações das expressões sociais da questão social na sociedade, bem como as desesperanças, desilusões, perspectivas frustradas de um contingente de pessoas que são inevitavelmente atingidas pela dinâmica e lógica capitalista e de mercado.

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), refração significa “Desvio de direção que os raios luminosos sofrem quando passam de um meio para outro”. Em outras palavras, podemos entender esse termo no âmbito social como as várias mudanças de direção e de significados que as expressões sociais sofrem ao receberem influências do modo como estão sendo produzidas e reproduzidas as formas de condição humana na atual conjuntura econômica mundial.

Atualmente, quando discutimos a questão social trabalho, verificamos as suas refrações sociais, ou seja, as expressões desviaram de direção quando passaram de um meio para o outro, ou seja, quando passaram de um capitalismo nacional para um capitalismo internacional, de um industrial local e regional para um capitalismo digital e globalizado.

O economista Dowbor (2014, p. 101) descreve de forma muito procedente sobre a própria mudança da dinâmica social das diversas sociedades, conforme as transformações econômicas que ocorrem, nos mais variados países, de forma globalizada.

A própria dinâmica social mudou profundamente. Não somos mais sociedades compostas por camponeses, operários e burguesias. As classes se desdobraram em segmentos variados e complexos, à medida em que as pirâmides econômicas se foram tornando mais diferenciadas,

UNI

Podemos discutir, como exemplo, a questão social trabalho. Quando essa questão social era debatida e pesquisada, as expressões sociais que se evidenciavam eram o desemprego, a falta de qualificação profissional, a falta de segurança no trabalho, a ausência de direitos trabalhistas, dentre outras.

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TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

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interdependentes e verticalizadas. Há uma classe assalariada milionária, e temos hoje numerosos estudos desta complexidade crescente, como a tecnoburocracia, a elitização operária, o complexo militar industrial, a classe dirigente transnacional e outros fenômenos de uma sociedade onde as técnicas, a globalização e os ritmos de transformação econômica avançam muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de criar as instituições e a regulação correspondentes. Isto sem falar do marco jurídico que constitui uma colcha de retalhos com cerca de 200 legislações nacionais diferenciadas segundo os países.

A partir do próprio desenvolvimento e crescimento desenfreado do capitalismo na contemporaneidade, têm surgido novas expressões sociais, novas demandas, novos entraves sociais, e é a partir desta perspectiva que alguns autores trazem à tona para discussão o termo “nova questão social”, pois aparecem novas configurações, perturbadoras, visto que anteriormente não existiam, no passado não apareciam.

Mas a característica mais perturbadora da nova questão social é o reaparecimento de trabalhadores sem trabalho: os inúteis para o mundo ou supranumerários, isto é, pessoas que não têm lugar na sociedade porque não são integradas e talvez nem sejam integráveis [...] (IAMAMOTO, 2014b, p. 175).

É perceptível, na atualidade mundial, essa nova questão social dos “suprassumários”, que compreende um número expressivo de pessoas que poderiam estar no mercado de trabalho, mas se encontram sem ocupação ou desestruturadas psiquicamente, que apresentam diferentes tipos de transtornos mentais e não conseguem se adequar ao sistema atual, que exige múltiplas funções e afazeres diversos.

Dando continuidade a essa linha de pensamento, Daniel (2007, p. 289) descreve que:

[...] no contexto de avanço da sociedade industrial, globalização e crise da sociedade salarial surge a nova pobreza e a nova questão social. Castel destaca justamente este fenômeno em sua análise, enfatizando a vulnerabilidade dos pobres, dos desempregados, que se expressa no aumento da “exclusão” do emprego e na precarização das relações contratuais.

A vulnerabilidade social aumentou significativamente, nessa perspectiva

identifica-se o acirramento da questão social com o aumento da pobreza em diferentes versões e aumento da exclusão social de várias pessoas não somente em situação de pobreza e nas relações no mundo do trabalho.

A mundialização da economia intensificou de maneira extraordinária o capitalismo, em pouco tempo houve o surgimento desenfreado de empresas multinacionais, interação intensa entre empresas transnacionais, a integração dos mercados financeiros e empresas multinacionais, desenvolvimento de novas tecnologias de informação, comunicação e telecomunicações, fortalecimento dos grandes centros financeiros, integração e aliança entre o capital bancário e o

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capital industrial, intensificação dos fluxos de investimento e de capital em escala planetária, entre outros processos intensos e complexos.

Wanderley (2013, p. 72-73) descreve sobre a globalização:

Trata-se de um conceito ao mesmo tempo complexo, ambíguo e ideológico. Comumente, ele é compreendido como um processo crescente de mudanças que mundializa os mercados, as finanças, informação, a comunicação, os valores culturais, criando um sistema de vasos comunicantes entre países e continentes. Parece consensual que o capitalismo, desde suas origens, desenvolveu um processo de internacionalização do capital, desigual e combinado, rompendo e integrando fronteiras geográficas. Nesse sentido, alguns sustentam que o movimento de mundialização ou globalização (termos para eles utilizados como sinônimos) é constante, adquirindo novas formas e conteúdos em consequência das transformações socioeconômicas-políticas-culturais em curso.

É em torno da noção de mundialização da economia e do processo de globalização que o capitalismo se intensificou enquanto sistema econômico do ponto de vista de integração e interação, para obter maior e melhor exploração e dominação, assim a tendência à integração entre vários países se tornou uma necessidade do capital ou, melhor dizendo, do processo de mundialização do capital.

Nas últimas décadas tem‑se tomado maior consciência do mundo como um sistema global e interdependente. Este fenômeno, denominado por “globalização”, constitui‑se, em si mesmo, como um acontecimento de uma nova e complexa história da humanidade. A globalização é um dos termos mais difundidos e discutidos para explicar as transformações das sociedades atuais. (RAMALHO, 2012, p. 346).

A globalização é um processo e uma nova etapa no desenvolvimento do capitalismo contemporâneo. Representa a mundialização da economia e uma nova configuração de exploração e dominação capitalista em escala global. No entanto, não podemos apenas caracterizá-la como um processo político-econômico, mas também sociocultural.

Assim, não tem como existir a globalização sem localização. Assim, sob o ponto de vista social, cultural, político e geográfico, para que a mundialização da economia seja alcançada é necessária a articulação ampliada dos territórios locais com a economia mundial, criação de uma cultura universal planetária e difusão entre outras, universalidade de valores e de conhecimentos. Nesse sentido, Ianni (1994b, p. 8) descreve que:

A originalidade e a complexidade da globalização, no seu todo ou em seus distintos aspectos, desafiam o cientista social a mobilizar sugestões e conquistas de várias ciências. Acontece que a globalização pode ser vista como um vasto processo não só político-econômico, mas também sociocultural, compreendendo problemas demográficos, ecológicos, de gênero, religiosos, linguísticos e outros.

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Podemos especificar a globalização como um processo e como uma nova etapa no desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, com suas vantagens e desvantagens. Não podemos negar que, por um lado, a globalização apresenta inúmeras vantagens, isto falando sob o ponto de vista econômico é um fenômeno extraordinário, eficiente, rápido, acumulativo e lucrativo.

FIGURA 13 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=globalização&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Não podemos negar os inúmeros benefícios que a globalização trouxe para a humanidade. No entanto, consequentemente promoveu inúmeros e desastrosos problemas sociais, ambientais, culturais, entre outros. Podemos considerar que essa nova sociedade contemporânea globalizada é complexa e excludente, acirrando cada vez mais as expressões da questão social.

Montaño (2012), numa perspectiva das lutas de classes do pensamento marxista, expõe uma caracterização histórico-crítica da pobreza e da questão social, enfatizando que a questão social é um fenômeno do modo de produção capitalista consequente da exploração e dominação; e a pobreza, enquanto expressão da “questão social”, é uma manifestação da relação de exploração entre capital e trabalho, assim o pauperismo é resultado da acumulação privada de capital, que historicamente se perpetua na realidade brasileira.

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O agravamento e acirramento das múltiplas expressões da questão social não proliferaram ao acaso, mas emergiram a partir do próprio desenvolvimento e crescimento capitalista, do processo de globalização, da concentração de renda, da acumulação de capital, do avanço desenfreado tecnológico e inúmeros outros aspectos relacionados ao poder de mercado e do setor econômico.

Nesse sentido, Iamamoto (2014a, p. 18) enfatiza:

Esses novos tempos reafirmam, pois, que a acumulação de capital não é parceira da equidade, não rima com igualdade. Verifica-se o agravamento das múltiplas expressões da questão social, base histórica da requisição social da profissão. A linguagem de exaltação do mercado e do consumo, que se presencia na mídia e no governo, ocorre paralela ao processo de crescente concentração de renda, de capital e de poder.

Assim, vamos constatando que a sociedade capitalista está promovendo e aumentando a desigualdade social, assim as novas expressões sociais são consequências inevitavelmente emergidas do sistema de produção e reprodução social em seu estágio mais avançado de exploração e dominação no mundo globalizado, onde a economia atua de forma integrada em diversas atividades e transações.

A concepção de trabalho alienado e explorado, conforme se tinha na visão

marxista, sofreu alterações; a lógica do proletário explorado, atualmente, está em desuso, não se adequa mais com a realidade contemporânea, visto que o trabalho está perdendo seu valor dentro da vida das pessoas, pelo próprio processo de mundialização da economia e pelo caráter polissêmico e multifacetado do trabalho, que demonstra as novas configurações além de trabalhadores, como também de grupos, de classe, de gênero, de raça ou etnia, de geração, entre outros.

[...], a classe trabalhadora também se reconfigura mundialmente. Portanto, este é o desenho compósito, diverso, heterogêneo, polissêmico e multifacetado que caracteriza a nova conformação da classe trabalhadora, a classe-que-vive-do-trabalho: além das clivagens entre trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos, nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, ‘incluídos’ e ‘excluídos’, entre outros, temos as estratificações e fragmentações que se acentuam em função do processo crescente de internacionalização do capital (ANTUNES, 2003, p. 59).

O mundo do trabalho se alterou de tal forma que não compactua com o número de pessoas que deveriam estar no mercado de trabalho, a população mundial aumentou, porém o emprego diminuiu em todas as áreas. O trabalho polissêmico e multifacetado caracteriza a nova conformação da classe trabalhadora que se sujeita a qualquer coisa para poder sobreviver, seja o trabalho informal, sem contrato, quaisquer funções, inúmeras tarefas, horários alterados, entre outras situações e condições.

Segundo descreve Iamamoto (2014a), a globalização nos fornece diversas possibilidades, da produção e dos mercados possibilita o acesso rápido, senão instantâneo a produtos de várias partes do mundo, cujos componentes são

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fabricados em países distintos, favorece uma enorme possibilidade do ser humano ter acesso à natureza, à cultura, à ciência, através da tecnologia rapidez de informação e acesso ao conhecimento, porém, por outo lado, na medida em cresce a concentração e acumulação de capital, concomitantemente também cresce a miséria, a pauperização que atinge a maioria da população nos vários países periféricos, onde existe um excedente de mão de obra, essencialmente mão de obra barata.

Porém, do ponto de vista social, não favorece a muitos, pois os interesses econômicos de mercado, além de obterem lucros extraordinariamente absurdos, modificam diversas culturas locais, desvalorizam tradições culturais e religiosas, alteram as sociedades tradicionais, promovem mais desemprego, transformam postos de trabalho, desvalorizam o trabalho, geram mais pobreza, aumentando a insegurança social de modo geral. Isso se retrata nas condições humanas atuais, onde percebemos que a pessoa não tem medo apenas da violência, mas tem medo de tudo e de todos.

FIGURA 14 – VANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=beneficios+da+globalização+no +mundo&biw>. Acesso em: 6 jan. 2015.

Sem dúvida que o mundo digital e os avanços da tecnologia são necessários e de vital importância, no entanto, percebe-se que o ser humano aparece como a primeira vítima de sua própria criação e manipulação, pois o encaminhamento do desenvolvimento tecnológico vem ameaçando a humanidade, descaracterizando também o meio ambiente, o ambiente local, a identidade cultural, os modos de vida das pessoas.

O sociólogo brasileiro Octavio Ianni focou seus estudos na crítica à nova ordem global do capitalismo, vindo a enfatizar que vivenciamos uma guerra civil mundial, uma revolução social permanente, sujeitos a diversas formas de integração e interação social, porém ao mesmo tempo sujeitos a diversas formas de fragmentação dentre outros entraves e dilemas sociais, onde grupos diversos ou classes diversas estão envolvidos e sendo negligenciados.

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Esses tempos são de luta de classes, em escala nacional e mundial. São tempos de uma guerra civil mundial permanente, endêmica e aberta, moderada e violenta, por dentro e por fora das guerras localizadas e mundiais. Sim, por todo o século XX, e entrando pelo século XXI, o que se verifica é uma revolução social permanente, subjacente às mais diversas formas de integração e fragmentação, acomodação e contradição, sempre envolvendo classes e facções de classes, grupos étnicos, de gênero, religiosos e outros; na maioria dos casos, transbordando das fronteiras nacionais, avançando além de fronteiras continentais (IANNI, 2004a, p. 16-17).

A globalização por meio da ideologia cria um processo de alienação, fazendo emergir uma crise de valores na sociedade, onde o dinheiro, o acúmulo de bens e o consumismo se tornam inevitáveis e necessários, bem como atitudes antiéticas e imorais se tornam naturais, como também o individualismo, a intolerância, o preconceito, discriminação e indiferença se tornam habituais.

O economista Dowbor (2014) enfatiza de forma crítica sobre o processo dramático de concentração de renda no planeta e de concentração da riqueza acumulada, que atinge níveis absolutamente escandalosos no planeta, decorrentes da financeirização geral da economia. Para ele, é uma característica fundamental da chamada globalização. Este duplo movimento de concentração de renda e de riqueza está, por sua vez, diretamente ligado à centralização do poder de controle empresarial, em um pequeno grupo de gigantes corporativos, especificamente de corporações financeiras que estão lucrando de forma abusiva e sem precedentes.

Nesta mesma perspectiva de um sistema totalitarista, o francês Thomas Piketty (2014), professor de Economia em Paris, em uma entrevista em outubro de 2014, na qual o tema abordado intitulava “Concentração de renda e riqueza pode comprometer a democracia”, enfatizou que:

Os ricos ficarão sempre cada vez mais rapidamente mais ricos, pois dispõem de um estoque de rendimentos de capital que traz significativamente mais rendimentos do que o trabalho. Para a maioria da população, em contrapartida, os rendimentos dos salários não são mais suficientes para que criem reservas.

Estamos vivenciando a barbárie da atual fase da expansão capitalista, um mundo e uma sociedade com muita riqueza e acumulação de renda e inúmeros conflitos. A crise que vem se estabelecendo está enraizada no capitalismo, tendo como fundamentalismo o consumismo desenfreado. Estamos sujeitos e encurralados em uma globalização da perversidade e da crise de valores, com uma ideologia perversa em um sistema global perverso, uma condição humana em condições desumanas.

Para Milton Santos (2000, p. 39),

O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. A contradição se faz e se refaz na impossibilidade de se produzir, de imediato, uma informação libertadora. A alienação é a face que brota aguda da globalização financeira, da globalização do dinheiro. Encanta-

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se o mundo. O princípio e o fim são o discurso e a retórica. Então o que fica para o ser comum é a farsa do consumo.

Realmente, o poder que o sistema de consumo tem em produzir informações e desejos com fins manipulatórios é impressionante, sendo que o objetivo é sim tornar a pessoa alienada, um objeto de manipulação, utilizá-la como meio e não como fim faz parte da lógica do capitalismo e da globalização financeira.

Ficha técnica:Título Original: Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá Gênero: Documentário Tempo de duração: 89 minutos Ano de lançamento (Brasil): 2007

O documentário O MundoGlobal Visto do Lado de

Cá revela a globalização apartir da visão do

professor Milton Santos,grande pensador,

considerado por muitos omaior geógrafo brasileiro,

que foi um crítico daglobalização perversa e oúnico estudioso, fora do

mundo anglo-saxão, areceber o Prêmio Vautrin

Lud, o equivalente aoNobel na geografia.

IMPORTANTE

Como forma de ampliar a discussão e os conhecimentos sobre a globalização, assista ao documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, “Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá”. No filme, o geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001) expõe sua concepção sobre o processo de globalização no mundo, relata vários aspectos sobre a sociedade globalizada e seus entraves.

Cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, historiadores, economistas, assistentes sociais, filósofos, teólogos, antropólogos, entre outros, enfim, diversos profissionais das áreas das ciências humanas e sociais com visões e posturas

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ideológicas diferentes, pesquisam a sociedade moderna, bem como assuntos e contextos relacionados a ela, como também os problemas, as adversidades, as complexidades sociais, as diversas e inúmeras manifestações da questão social que trazem desencantamentos, temores e aflições.

Ianni (1994b, p. 155) descreve:

A reflexão sobre a sociedade global, em suas configurações e movimentos, transborda os limites convencionais desta ou daquela ciência social. Ainda que haja ênfases e prioridades, quanto a este ou aquele aspecto da globalização, logo fica evidente que qualquer análise envolve necessariamente várias ciências. A economia da sociedade global envolve também aspectos políticos, históricos, geográficos, demográficos, culturais e outros. A cultura da globalização passa pela cultura de massa, indústria cultural, mídia impressa e eletrônica, religiões e línguas, além de outros aspectos que transbordam limites convencionais da antropologia e da sociologia.

Por isso temos que ter a compreensão de que a “Questão Social” não é tema unicamente objeto próprio e único do Serviço Social, mas na sociedade moderna abrange uma postura ética de diversos profissionais que almejam a qualidade de vida na sociedade, uma condição civil de direitos e dignidade humana, não somente para alguns, mas para toda coletividade que almeja uma nova ordem societária.

Nesse sentido, “A proposta da nossa atual ordem societária, o capitalismo, busca as diferenças apenas na lógica mercadológica e a desigualdade no motriz de sua existência” (MARTINS, 1998, p. 13). Visto que diferenças são apenas diferenças, porém a desigualdade tem uma amplitude maior, pois no capitalismo a diferença é apenas um detalhe, porém a desigualdade é consequência inevitável e necessária para a sobrevivência e ampliação do capitalismo e lógica de mercado.

3 A ESTRATÉGIA NEODESENVOLVIMENTISTA FRENTE À QUESTÃO SOCIAL

Como as sociedades nunca foram estáticas e nunca serão, o princípio da ação e reação também pode ser caracterizado por analogia, visto que, se para a física as forças atuam sempre em pares, assim, para toda força de ação existe uma força de reação. Assim, na sociedade contemporânea, com a mundialização da economia, não deixa de ser diferente, principalmente no que tange à relação do Estado com a sociedade civil e com a sociedade de mercado, entre a esfera pública e privada.

Dialeticamente agora falando, as forças existentes na sociedade capitalista também atuam em forma de ação e reação, reação e outra nova ação, e assim sucessivamente, fazendo emergir novas configurações e acirramentos, tanto da esfera econômica quanto na social.

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A política neoliberal, antes da mundialização da economia, baseava-se na desregulamentação, descompatibilização e privatização dos países em suas ações, ou seja, o Estado se retirava da economia e todo o processo de concorrência e formação de preços ficava a cargo do mercado. Com isso tínhamos um custo social altíssimo, pois, estando o Estado fora da economia, ele também deixava de ser um empregador e logo as inovações tecnológicas traziam consequências avassaladoras, evidenciando o acirramento evidente das questões sociais.

De acordo com Fraser (apud MELO, 2013, p. 415), “[...], também as desigualdades econômicas aumentaram no período em que forças neoliberais, características do processo de globalização, se acirraram”.

O neodesenvolvimento que, em tese, se estrutura em substituição ao neoliberalismo, forja um modelo híbrido de desenvolvimento que tenta conciliar diretrizes desenvolvimentistas e liberais e prega o crescimento econômico atrelado à expansão do social sob a fachada de um capitalismo humanizado (CASTRO, 2013, apud PRATES, 2014, p. 1).

A contemporânea economia mundializada possui meandros e aspectos de alta complexidade, importando em diferenciadas análises a depender das ideologias e dos projetos societários que as embasam. O projeto do novo desenvolvimentismo, numa economia dependente como a do Brasil, embora em tese, intente aproximar os índices de crescimentos econômicos e sociais, esbarra nos componentes estruturais de formação da sociedade brasileira, que acumula séculos de miséria e pobreza. (CASTRO, 2013, p. 364).

Nesse sentido vamos compreender como a mundialização da economia proporcionou o acirramento das expressões da questão social e, agora, como o Estado vem lidando com as multifacetadas e novas expressões sociais que aparecem no cenário contemporâneo.

O acirramento das expressões sociais diz respeito ao aumento de inúmeras e novas expressões, se refere ao incitamento das mesmas e seu consequente agravamento, constatamos que teve um aumento significativos das expressões e manifestações sociais, reforço considerável. Como, por exemplo, não temos apenas na nossa sociedade usuários de álcool, cocaína, mas essencialmente de novas drogas como o crack, assim novos tipos de violência, novas formas e tipos de pobreza, novos excluídos sociais, e assim por diante.

IMPORTANTE

Na atualidade surgiram novos conceitos, como, por exemplo, o neodesenvolvimentismo ou o novo desenvolvimentismo, como uma estratégia nacional – governamental – de um melhor e maior desenvolvimento do país, com a intenção de aumentar a renda nacional em todos os sentidos e diminuir a desigualdade social em todos os parâmetros.

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Nesse sentido, parece que o neoliberalismo progrediu, sofreu uma mutação, até porque se tornou evidente o fracasso das políticas neoliberais que priorizavam um Estado mínimo na área social, deixando o mercado se autorregular. Por isso que a estratégia e perspectiva neoliberal considerada até há pouco tempo não se adequa mais ao contexto contemporâneo, onde a economia se mundializou e o Estado precisou se “modernizar” desenvolvendo um papel estratégico para poder competir nos mercados mundiais, promovendo para isso o consumo e o crescimento econômico.

Na sociedade global, o mercado é o fator principal, porém o Estado não é mais mínimo, mas desenvolve um papel estratégico da implementação de uma série de políticas sociais. Na contemporaneidade, as atividades do setor moderno e integrado da economia se entrelaçam entre si, efetivam transações envolvendo diversos capitais: capital financeiro, capital bancário, capital tecnológico, capital digital, capital social, para poder competir e obter lucros e acúmulo de capital.

Analisando o neodesenvolvimentismo nós podemos considerar, em âmbitos gerais, que é um novo projeto do capital, visto que anteriormente, com o neoliberalismo, tinha-se o princípio categórico, o máximo de investimento e atenção para o setor econômico e o mínimo para a área social. Assim o Estado era chamado como Estado mínimo, porém essa fundamentação passa a configurar-se por uma outra lógica na atualidade, onde não se considera mais um capitalismo selvagem, mas um capitalismo voltado também para o desenvolvimento social concomitantemente.

A busca incansável do crescimento econômico flexiona a lógica de “máximo para o econômico e mínimo para o social”, base da ideologia neoliberal, para passar a assentar-se na ideia de um “capitalismo humanizado” sem, no entanto, romper com o conservadorismo, que é base da formação social, econômica e política brasileira. Trata-se de um novo projeto do capital, que busca equilibrar crescimento econômico e desenvolvimento social (CASTRO, 2013, p. 363).

O novo desenvolvimentismo emerge da nova face das políticas sociais compensatórias de inclusão social forjada, forçada e precária, com o intuito de estimular o sistema capitalista na garantia de que todas as necessidades serão saciadas pelo consumismo.

UNI

O Estado era chamado como Estado mínimo, porém essa fundamentação passa a configurar-se por uma outra lógica na atualidade, onde não se considera mais um capitalismo selvagem, mas um capitalismo voltado também para o desenvolvimento social concomitantemente. HOJE TEMOS UM ESTADO DE DIREITO! Ou, pelo menos é o que a população brasileira pretende ter, um Estado democrático de direito.

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Segundo Castro (2013, apud PRATES, 2014, p. 6),

Na perspectiva caracterizada como neodesenvolvimentista, o mercado ampliado onde transitam diferentes interesses, demandas e classes, é utilizado, ideologicamente, como lugar de referência onde as distâncias sociais são diminuídas pelo fetiche do direito ao consumo que dissimula uma “integração” social, que na verdade se configura como “inclusão forçada” e precária com fins de estimular o mercado.

O que percebemos é que o impulso das políticas sociais através de programas de transferência de renda, direcionados às camadas populacionais mais necessitadas, gera uma falsa e ilusória integração social. Não podemos negar os avanços consideráveis e conquistas no âmbito das políticas sociais, porém promoveu a precarização existencial.

Castro (2013, p. 363) especifica que “A inovação da transferência de recursos através do cartão em conta bancária imprime um certo status de cidadania aos pobres, historicamente identificados como os não cidadãos”.

De forma crítica, estamos aqui enfatizando as políticas sociais como

compensatórias, visto que não estamos seguindo a lógica de pensamento e perspectiva do neoliberalismo, que se transformou na atualidade em neodesenvolvimentismo, mas sim, tendo como fundamento e base a perspectiva crítico-dialética. Assim, sobre as políticas compensatórias, Castro (2013, p. 363) também esclarece que:

As políticas compensatórias, contemporaneamente, destacadas no âmbito das políticas sociais, são reflexos deste novo ciclo de reordenamento do capital, que tem no Estado uma intervenção mais atuante na extrema pobreza. Sob a ótica de equilibrar crescimento econômico e desenvolvimento social, o Brasil tem dado ênfase às políticas de transferência de renda, e segue no seu percurso de buscar o desenvolvimento econômico, desta feita, como país emergente que tem alcançado, nos últimos anos, patamares satisfatórios na economia mundializada.

A ideia de integralidade e universalidade, descentralização, participação e controle social, em âmbitos gerais, se passa uma visão da efetivação da cidadania plena teoricamente falando, no entanto, simultaneamente esse projeto de neodesenvolvimetismo produz fragmentos sociais. Podemos considerar esses fragmentos sociais, como, por exemplo a passividade humana, o conformismo, a indiferença, a neutralidade, a omissão, a apatia e a inércia coletiva, tanto é que os movimentos sociais organizados desapareceram do cenário nacional na contemporaneidade e as pessoas deixaram de expor suas ideias, interesses e reivindicações, evitam se expor e pouco protestam ou lutam por direitos ou valores em que acreditam, evitam qualquer tipo de conflito.

Martins (1998, p.16), sobre a neutralidade, enfatiza:

A neutralidade consideravelmente nos torna omisso da modificação dos fatos expostos e nos traz a marca que contrariamente poderíamos

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acreditar que não tivemos nada com o acontecido partimos do contrário. Que pela nossa neutralidade prejudicamos a possibilidade de uma transformação construtora de possibilitar igualdade ou reconhecer diferenças, estas diferenças são contrárias a lógica da desigualdade.

Podemos constatar que uma das estratégias do “neodesenvolvimentismo” é o incentivo ao consumo com o objetivo de estimular a economia para que o país venha a um patamar competitivo e imponente no processo da mundialização econômica, porém, para alcançar esse fim, utiliza como meio as políticas de transferência de renda, que são focadas na extrema pobreza.

Nesse sentido, a função do Estado "neodesenvolvimentista" é regular e impulsionar cada vez mais de forma eficiente o crescimento econômico, porém com inclusão social. É o estilo do capitalismo não mais selvagem, mas com a lógica de um sistema capitalista humanizado que garante a cidadania através das políticas sociais e, desse modo, melhorando ou aumentando, mesmo que seja no mínimo e aparente, o índice de indicadores sociais. Pressupõe uma retomada ou alavancada do crescimento e desenvolvimento do país.

FIGURA 15 – ESTRATÉGIAS NEOLIBERAIS E NEODESENVOLVIMENTISTAS

UNI

É antiga e bem conhecida essa história de utilização das políticas sociais pelo Estado como processo e forma de regulação, controle e determinação das relações econômicas. Nesse sentido, podemos alterar o ditado de que os fins justificam os meios, pois a lógica do neodesenvolvimentismo é que os meios justifiquem o fim, e não o contrário, pois o que mais importa é o consumo, o poder econômico.

FONTE: A autora (2015)

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E é nesse contexto atual, de um Estado neodesenvolvimentista, que o Serviço Social circula, adentrando nas políticas sociais, procurando responder às necessidades humanas conforme os ramos da ética, da ética profissional.

Por isso o assistente social não pode deixar de aprofundar cada vez mais o tema da complexidade, que também condiz com o tema da “questão social”, numa perspectiva de atitude crítica, reflexiva e interventiva no enfrentamento à pobreza e da desigualdade social em todos os âmbitos, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas na sociedade em todos os sentidos.

Pouco tempo atrás, a pobreza era entendida em termos de rendimento

ou de falta deste, significava não ter meios econômicos para pagar por uma boa alimentação, ter uma habitação adequada, ter recursos para pagar as contas mensais de água, energia, entre outros, para a sobrevivência necessária, e só. Mas a pobreza não consiste apenas em rendimentos ou numa alimentação insuficientes, ela tem a ver com a recusa de oportunidades e de escolhas que são, de um modo geral, consideradas essenciais para se ter uma existência longa, saudável e criativa e gozar de um nível de vida razoável, de liberdade, de dignidade, de autoestima, respeito, significado e valor (ANNAN, 2001).

Sobre a pobreza que aumentou na América Latina, bem como sobre a questão social e suas novas modalidades e expressões, Wanderley (2013, p. 68-69) descreve:

Pobreza que se ampliou nas últimas décadas na América Latina, ocasionada por causas internas e externas interligadas e que vem se acirrando com a maneira pela qual se desenvolve a “globalização”. A questão social, nessa perspectiva, vem adquirindo novas modalidades, nos últimos tempos, por força das mudanças profundas que estão acontecendo nas relações entre capital e trabalho, nos processos produtivos, na gestão do Estado, nas políticas sociais, e pelo chamado “princípio da exclusão”, que se concretiza tanto da parte dos excluídos do processo produtivo, do trabalho assalariado, quanto da parte dos excluídos pela origem étnica, pela identidade cultural, pelas relações de gênero.

Assim, vamos perceber que, além da pobreza, da exclusão e da desigualdade social já existentes, surgiram novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos excluídos sociais, não se configurando apenas em trabalhadores ou desempregados, mas essencialmente uma marginalização e exclusão de grupos específicos.

Grupos e classes sociais abrangendo homens, mulheres, adolescentes e crianças de todas as idades e localidades: negros, brancos, religiosos e não religiosos vítimas da violência e de ações terroristas, imigrantes e migrantes, usuários de drogas, portadores de alguma síndrome psíquica, judeus ou nordestinos, casais homoafetivos, assalariados fragmentados, trabalhadores informais, entre outros diversos excluídos socialmente.

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Com base no Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social: 81 Problemáticas (2013), podemos citar inúmeras e novas expressões sociais, conforme quadro a seguir:

QUADRO 8 – EXEMPLOS DE ALGUMAS NOVAS EXPRESSÕES SOCIAIS

NOVAS EXPRESSÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEASAumento da exploração e empobrecimento dos que trabalham.Aumento da desigualdade social em mais categorias ou classes.Aumento da massa de despossuídos de direitos fundamentais.Aumento da massa sem autonomia cultural.Aumento da corrupção e da massa sem poder político.Aumento da massa de novos excluídos e empobrecidos.Nova pobreza urbana: pessoas privadas de bens e serviços, instabilidade, flexibilidade e degradação das condições vigentes de trabalho urbano, falta de qualidade de vida, liberdade, lazer.Novos excluídos sociais chamados: “inúteis do mundo”.Aumento da massa de desocupados – mão de obra disponível ou não qualificada, os chamados “inúteis”.Precarização salarial.Baixos salários e subempregos.Aumento da massa de terceirizados.Diminuição do trabalho assalariado, estável e bem remunerado.Desproteção social – restrição de direitos.Desaparecimento de postos de trabalho.Diminuição da massa de trabalhadores.Cortes nos serviços públicos.Precariedade e informalidade do trabalho.Políticas públicas ineficazes.Aumento da insegurança social.Ascensão das taxas da criminalidade. Aumento da violência na sociedade.Aumento do número de encarceramentos.Aumento de usuários de crack.

UNI

Em outras palavras, evidenciou-se o acirramento das expressões da questão social em todos os níveis, por isso que as expressões são caracterizadas como multifacetadas.

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Facções criminais em territórios de favela.Facções corruptas e criminais na política.Facções corruptas e criminais na polícia.Aumento de ações terroristas.Aumento do fundamentalismo religioso e discriminação.Desrespeito e exclusão cultural.Aumento da imigração e de imigrantes ilegais.Desvalorização e destruição das culturas e tradições locais/regionais.A não garantia de direitos sociais aos imigrantes (haitianos).Aversão homofóbica. Desrespeito, preconceito e discriminação à família homoafetiva/homoparental e casamento entre casais do mesmo sexo.Desrespeito, preconceito e discriminação de adoção de crianças e adolescentes por homoafetivos.Conflitos/irresponsabilidade na guarda compartilhada dos filhos.Aumento da massa de: traficantes, presidiários, moradores de rua, usuários de drogas. Aumento do número de adolescentes soropositivos. A morosidade ou não efetivação da internação compulsória de usuários de drogas (crack – especificamente). A impunidade legal de adolescentes que cometem inúmeros crimes na sociedade.

FONTE: Adaptado de: Dicionário temático desenvolvimento e questão social: 81 problemáticas. Anete B. L. Ivo (Coord.). São Paulo: Annablume; Brasília: CNPq; Salvador: FAPESB, 2013.

IMPORTANTE

Como estudamos em tópicos anteriores do caderno, a palavra “questão” vai muito além de uma simples pergunta. Nesse sentido, podemos imaginar então a complexidade da referida “questão social” devido às suas perplexas expressões, por isso que não é à toa que muitos teóricos estão se debruçando sobre esta temática a fim de poder contribuir para o entendimento da mesma nesta sociedade complexa e globalizada.

Frente às transformações ocorridas no mundo, no sistema capitalista, na sociedade, o Serviço Social necessitou avançar rompendo com referenciais teórico-práticos conservadores, trazendo à tona uma nova proposta de criticidade, de inovação e acompanhamento teórico e prático de todo o processo. “Pensar o Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo contemporâneo para decifrá-lo e participar de sua recriação” (IAMAMOTO, 2014a, p. 19).

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FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=igreja+na+idade+m edia+e+os+pobres&tbm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

QUADRO 9 - ESPECIFICAÇÕES DA PROFISSÃO SEGUNDO O CFESS (2014)

A partir do movimento de reconceituação do Serviço Social, bem como reconhecimento da profissão, muitos termos foram alterados, por isso não devemos enfatizar “ajuda ao pobre, desvalido”, e sim assistência ou atendimento às pessoas em situação de pobreza ou em situação de vulnerabilidade social, ou em situação de risco social.

FIGURA 16 - MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO – POSTURA QUESTIONADORA SOBRE A QUESTÃO SOCIAL E A PROFISSÃO

IMPORTANTE

Atualmente, todas as pessoas atendidas pelo Serviço Social devem ser caracterizadas como usuários, sujeitos de direitos.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL

CONSELHOS REGIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL

Responsáveis em orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício profissional do/a assistente social no Brasil, em conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). O Conselho Federal e os Conselhos Regionais atuam na normatização e na defesa da categoria profissional.

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FONTE: Adaptado de: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS (2014). Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/perguntas-frequentes>. Acesso em: 12 nov. 2014.

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL – GRADUAÇÃO SUPERIOR

O Serviço Social é a profissão de nível superior regida pela Lei Federal nº 8.662/93 que estabelece suas competências e atribuições.Para esclarecer, não existe faculdade de assistência social, nem curso técnico de algumas horas, como alguns enfatizam erroneamente, existe sim a FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL, que dura no mínimo quatro anos ou oito semestres.

ASSISTENTE SOCIAL É UM PROFISSIONAL

O assistente social é o profissional com graduação em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC) e registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do estado em que trabalha. O assistente social não é dama de caridade, nem primeira dama que procura “dar coisas” e ter “pena” dos “pobres”, é um profissional formado por homens e mulheres com competência e atribuições profissionais.

ASSISTÊNCIA SOCIAL É UMA POLÍTICA PÚBLICA

A Assistência Social é entendida como uma política pública de direito de todo cidadão e dever do Estado, prevista na Constituição Federal. Essa política pública é regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Conforme a Constituição Federal, a Seguridade Social no Brasil é composta por três políticas sociais: a Previdência Social, a Saúde Pública e a Assistência Social.

SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

São serviços disponibilizados à população e atividades continuadas que visam à melhoria da qualidade de vida principalmente daquelas pessoas que de alguma forma não possuem seus direitos sociais garantidos e acesso à cidadania. A LOAS prevê a efetivação destes em rede, de acordo com os níveis de proteção social: básica e especial, de média e alta complexidade.

ASSISTENCIALISMO É UMA PRÁTICA A SER COMBATIDA

O assistencialismo surgiu nas práticas de ação social do passado, e por vezes persiste na atualidade, é uma forma de intervenção social assistencialista de oferta por meio de uma doação, favor, boa vontade ou interesse de alguém e não como um direito. É uma prática clientelista que não promove a autonomia da pessoa enquanto sujeito de direitos, bem como emancipação humana.

A ação profissional deve estar pautada por ações concretas, objetivas e reais, propostas críticas fundamentadas historicamente, por isso é necessário que o profissional tenha qualificação e ética profissional. Nesse aspecto, Morin (2007,

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p. 15) enfatiza que “A ética não pode escapar dos problemas da complexidade. Isso nos obriga a pensar a relação entre conhecimento e ética, ciência e ética, política e ética, economia e ética”.

A ação autoética é a mais individual possível, engajando a responsabilidade pessoal; ao mesmo tempo é um ato transcendental que nos liga às forças vivas de solidariedade, [...]. O prefixo de envolvimento com- encontra-se ao mesmo tempo na:- complexidade- compreensão- comunidadeO verbo complectere, do qual vem complexus, significa “abraçar”. O pensamento complexo é o pensamento que abraça a diversidade e reúne o separado. [...] A palavra “com-preensão” indica que há uma ação de envolvimento, algo que abraça, no sentido cognitivo do termo e no sentido afetivo. A palavra “comunidade”, ela mesma nos abraça. [...]. A autoética religa-nos à nossa humanidade: incita-nos a assumir a identidade humana no seu nível complexo e convida-nos para a dialógica razão/paixão, sabedoria/loucura. Reclama a nossa compreensão da condição humana, com seus desvios, ilusões, delírios. Estimula-nos à reforma, a que reformemos nossas vidas (MORIN, 2007, p. 142-143).

Sabe-se que efetivar uma atitude autoética de envolvimento, bem como construir um projeto profissional ético, crítico, criativo no âmbito da complexidade, compreensão e comunidade, ter um pensamento complexo no sentido de abraçar a diversidade, envolver-se, comprometer-se integralmente para o bem da humanidade e construção de uma nova ordem societária não é algo fácil e simples.

Martins (1998, p. 16) enfatiza que

A relação entre igualdade e diferenças traz em sua relação conjunta a diversidade humana e a possibilitar de se romper com os propósitos ingenuamente pacificadores entendendo que por sermos atores de uma construção societária estamos naturalmente dispostos ao conflito.

Como profissionais éticos, precisamos perceber, analisar, constatar e compreender a realidade social, para assim enfrentar as inúmeras e multifacetadas expressões da questão social, que estão em áreas de conflito e tensão com interesses antagônicos. Direcionar nossas intenções e esforços na preservação, defesa e ampliação dos direitos sociais e humanos, contribuindo assim para a construção de um projeto de igualdade e justiça social com plena inclusão social, plena cidadania e real participação social, significa comprometimento ético.

A ética pode ser compreendida como uma estruturação de valores que proporcionam qualidade à vida, ela nasce e desenvolve-se dentro dos sujeitos e das comunidades, vindo a responder às diversas necessidades humanas, por isso não se estrutura em normas fixas ou códigos preestabelecidos, mas se manifesta como um modo de vida, modo dinâmico de ser e viver. E, não é simples falar sobre ética, é uma dimensão muito complexa, visto que envolve pensamento e raciocínio, reflexão sobre regras, normas, valores, cultura, tabus, preconceitos, regras, formas, leis. Por isso que o pensador Morin (2007) enfatiza

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FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=ÉTICA&biw>. Acesso em: 6 jan. 2015.

O Código de Ética Profissional, Resolução do CFESS nº 273/93, aprovado em 15 de março de 1993, dia instituído como Dia do Assistente Social, especifica alguns princípios, gerais e abrangentes, considerados como fundamentais, conforme segue:

que essa atitude reflexiva faz repensar e a revisitar o bem, o possível, o necessário, o tangível, o mais apropriado, o mundo, a sociedade, a vida. “A ética não pode escapar dos problemas da complexidade. Isso nos obriga a pensar a relação entre conhecimento e ética, ciência e ética, política e ética, economia e ética” (MORIN, 2007, p. 15, apud MONTIBELLER, 2011, p. 76-77).

Teóricos de diversas áreas dedicam-se ao estudo das sociedades, de temas sociais diversos a fim de propiciarem um melhor entendimento das complexidades sociais. Assim, para propiciar alternativas teóricas e práticas, muitos se debruçam sobre os problemas da complexidade da sociedade moderna, das diversas formas, manifestações e multifacetadas expressões sociais, sem deixar de pensar e discutir a relação que deve existir entre a ética e as demais categorias que fazem parte do complexo social, como a economia, a política, a ciência, a cultura, a educação.

Assim, a questão social deve assumir um lugar de destaque junto às temáticas abordadas pela profissão, uma vez que esta se configura junto ao projeto profissional como sendo o objeto no qual o serviço social intervém, e estando descrita com grande relevância junto às Diretrizes Curriculares aprovadas em 1996, que sinalizam um dos pilares deste projeto, juntamente com a Lei de Regulamentação da Profissão e o Código de Ética Profissional, ambos aprovados ainda em 1993.

FIGURA 17 – A ÉTICA EM CONSTRUÇÃO

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QUADRO 10 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA PROFISSÃO

LIBERDADE como valor ético central...DIREITOS HUMANOS e recusa do arbítrio e do autoritarismo...CIDADANIA: sua ampliação e consolidação...DEMOCRACIA: defesa de seu aprofundamento...EQUIDADE e JUSTIÇA SOCIAL: posicionamento em favor...RESPEITO À DIVERDADE: eliminação de todas as formas de preconceito...PLURALISMO no sentido de garanti-lo...NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: construção de uma sociedade sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero...ARTICULAÇÃO com os movimentos de outras categorias profissionais...QUALIDADE DOS SERVIÇOS prestados à população...AUTONOMIA E RESPEITO: exercício do serviço social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física.

FONTE: Adaptado de: BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei nº 8.662/93 de regulamentação da profissão. 10ª ed. rev. e atual. Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, 2012.

Retroceder, estagnar ou avançar profissionalmente? Não acompanhar criticamente todo processo histórico? Deixar acontecer e se deixar levar, trabalhar por trabalhar, sem se atualizar, é retroceder, não assumir uma postura crítica é estagnar. Assim, precisamos avançar e isto significa estar neste processo histórico e realmente se sentir dentro dele, buscar algo a mais, buscar saídas e respostas, ser sujeito do processo e peça fundamental de ações concretas, tentar inovar e tentar construir uma nova ordem societária.

Para que possamos pensar em uma Nova Ordem Societária, a mesma indissociável da diversidade humana e da igualdade de condições traz a necessidade de uma concepção clara, predisposta a transformação e impassível da neutralidade. Para que iria servir a neutralidade se a mesma, além de não ser neutra, apenas consegue manter a desigualdade exposta entre sujeitos sociais na busca de uma possível desconstrução daqueles que querem mudar a ordem vigente? (MARTINS, 1998, p. 20).

É necessário avançar profissionalmente, pelo menos tentar avançar na luta e enfrentamento das múltiplas expressões sociais oriundas do capitalismo “humanizado”, economia mundializada, sociedade complexa e perversa.

IMPORTANTE

Para fundamentação da nossa profissão temos o DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, que precisamos ler e reler, até para adquirirmos cada vez mais o nosso vocabulário próprio profissional.

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DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL. Prefeitura Municipal/Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social. Belo Horizonte: ASCOM, 2007.

LEITURA COMPLEMENTAR

Erich Fromm

TER OU SER?

No sentido e com o objetivo em mente de abordar e ampliar temas humanísticos de caráter filosófico e holístico, vou fazer um resumo de uma obra sobre dois conceitos tão fundamentais que estamos em permanente imersão com eles diariamente. Tais conceitos expressam-se tão simplesmente por TER e SER.

O principal objetivo deste resumo é introduzir a análise de dois modos básicos de estar no mundo: o modo TER e o modo SER. “Somos uma sociedade de gente visivelmente infeliz: sós, ansiosos, deprimidos, destrutivos, dependentes – gente que se alegra quando matou o tempo que tão desesperadamente tentamos poupar”.

A nossa experiência social é a maior alguma vez feita no sentido de resolver a questão de se o prazer poderá ou não ser uma resposta satisfatória para o problema da existência humana. Pela primeira vez na História, a satisfação do prazer não constitui apenas o privilégio de uma minoria. Tornou-se acessível a mais de metade da população. Ser egoísta não se relaciona apenas com o meu comportamento, mas com o meu caráter. Ou seja: que quero tudo para mim; que me dá prazer possuir e não partilhar; que devo tornar-me ávido, porque, se o meu objetivo é ter, eu sou tanto mais quanto mais tiver; que devo sentir todos os outros como meus adversários: os meus clientes a quem devo iludir, os meus concorrentes a quem devo destruir, os meus trabalhadores que pretendo explorar.

Nunca poderei estar satisfeito, porque não existe fim para os meus desejos; devo sentir inveja daqueles que têm mais e receio daqueles que têm menos. Mas tenho de reprimir todos estes sentimentos para poder revelar-me (aos outros e a mim próprio) como o ser humano sorridente, racional, sincero e amável que toda a gente pretende ser. “A paixão pelo ter conduzirá a uma interminável luta de classes”. Na sociedade medieval, como em muitas outras altamente desenvolvidas

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e também nas sociedades primitivas, o comportamento econômico era determinado pelos princípios éticos.

O capitalismo do século XVIII foi sujeito a uma mudança radical: o comportamento econômico foi separado dos valores éticos e humanos. Com efeito, a máquina econômica devia ser uma entidade autônoma, independente das necessidades e desejos do Homem. Foi um sistema que decorreu naturalmente e de acordo com as suas próprias leis. O sofrimento dos trabalhadores, assim como a destruição de um número sempre crescente de pequenas empresas em nome do crescimento de corporações cada vez maiores, foi uma necessidade que, ainda que pudesse ser lamentada, havia que aceitar como o resultado de uma lei natural.

“O desenvolvimento deste sistema econômico não era já determinado pela pergunta: O que é bom para o Homem? Mas por uma outra: O que é bom para o crescimento do sistema?

Não é de considerar menos importante um outro fator: a relação das pessoas com a Natureza tornou-se profundamente hostil. Sendo, como somos, «fenômenos da Natureza», existindo dentro dela pelas próprias condições do nosso ser e transcendendo-a pela dádiva da razão, tentamos resolver o problema existencial desistindo da visão messiânica da harmonia entre a Natureza e a Humanidade, optando por conquistá-la, transformá-la, de acordo com os nossos interesses, até que essa conquista se tornou cada vez mais semelhante à destruição. O nosso espírito de conquista e a nossa hostilidade cegaram-nos para os fatos de que as fontes naturais têm os seus limites e podem eventualmente esgotar-se, e de que a Natureza pode voltar-se contra a violação humana.

A Sociedade Industrial despreza a natureza. Uma nova sociedade só é possível se ao longo do processo do seu desenvolvimento surgir um novo ser humano, ou, em termos mais simples, se uma mudança fundamental ocorrer na estrutura do caráter do Homem contemporâneo. Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da raça humana depende de uma alteração profunda do coração do Homem. Todavia, essa mudança terá de acompanhar a dimensão das alterações econômicas e sociais ocorridas, capazes de dar ao coração humano uma hipótese de mudar e coragem para o conseguir.”

O estilo do discurso mais recente indica o predominante grau de alienação. Ao afirmar «Eu tenho um problema» em vez de «Estou preocupado» a experiência subjetiva é eliminada: o eu ligado à experiência passa a ligar-se à posse. Transformei o meu sentimento em qualquer coisa que possuo: o problema. Mas «problema» é um termo abstrato para todos os tipos de dificuldades. Eu não posso ter um problema porque ele não é uma coisa que eu possua; todavia, ele pode possuir-me. Ou seja, eu transformei-me num «problema» e estou agora à mercê daquilo que criei. Este tipo de linguagem denuncia uma alienação inconsciente”.

[...] Consumir é uma forma de ter e talvez a mais importante de todas na atual sociedade industrial da abundância. Consumir tem características ambíguas: liberta a ansiedade, dado que aquilo que se tem não nos pode ser retirado; mas ao

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mesmo tempo exige que se consuma cada vez mais, porque tudo o que se consumiu depressa perde o seu caráter satisfatório. Os modernos consumidores podem identificar-se pela seguinte fórmula: Eu sou igual ao que tenho e ao que consumo”. [...]

Uma sociedade cujos princípios são a aquisição, o lucro e a propriedade, produz um caráter social orientado para o ter e, uma vez estabelecido o padrão dominante, ninguém quer um marginal ou um proscrito; a fim de evitar este risco, todos se adaptam à maioria, que tem apenas em comum o antagonismo mútuo.

Como consequência desta atitude preponderante de egoísmo, os dirigentes da nossa sociedade acreditam que as pessoas podem ser motivadas apenas pelo incentivo de vantagens materiais, ou seja, através de recompensas, e que não reagirão aos apelos da solidariedade e do sacrifício. Portanto, com exceções dos tempos de guerra, estes apelos raramente são feitos, e as hipóteses de observar os possíveis resultados perdem-se por completo.

Apenas uma estrutura socioeconômica e um quadro da natureza humana radicalmente diferentes poderiam mostrar outra maneira de influenciar positivamente as pessoas.

REFERÊNCIA:FROMM, Erich. Ter ou ser? Disponível em:<http://dhnet.org.br/direitos/filosofia/erich_fromm_ter_ser.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.

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RESUMO DO TÓPICO 1

No Tópico 1, da Unidade 2, do Caderno de Estudos, estudamos a mundialização da economia, o processo de globalização para a manutenção, o desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão social. Foram abordados os seguintes temas:

• Constatamos que o agravamento e acirramento das múltiplas expressões da questão social não proliferam ao acaso, mas emergem do processo de desenvolvimento e crescimento desenfreado do capitalismo na contemporaneidade e a mundialização da economia.

• Discutimos que a característica fundamental da chamada globalização tem duplo movimento, de concentração de renda e de riqueza, e está por sua vez diretamente ligado à centralização do poder de controle empresarial, de um pequeno grupo de gigantes corporativos, especificamente de corporações financeiras.

• Analisamos e percebemos que, além da pobreza, da exclusão e da desigualdade social já existente, existem novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos excluídos sociais, não se configurando apenas em trabalhadores ou desempregados, mas essencialmente uma marginalização e exclusão de pessoas e grupos específicos excluídos socialmente.

• Citamos inúmeras e novas expressões sociais contemporâneas e discutimos que o Serviço Social enquanto uma profissão atribuída de um conjunto teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político, não pode deixar de aprofundar cada vez mais o tema da complexidade, no atual contexto da mundialização da economia.

• Discutiu-se a necessidade de que os profissionais precisam ter o sentido de perceber, analisar, constatar e compreender a realidade social, para assim poder enfrentar as inúmeras e multifacetadas expressões da questão social, contribuindo assim para a construção de um projeto de igualdade e justiça social.

• Conhecemos a estratégia atual da política nacional frente à questão social no cenário contemporâneo, chamada de neodesenvolvimentista.

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AUTOATIVIDADE

A mundialização da economia, o processo de globalização para manutenção e desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão social são fatos evidentes e inevitáveis nas sociedades contemporâneas, inclusive na realidade brasileira. Nesse sentido:

1 O que você compreendeu sobre o acirramento das expressões da questão social? Que acirramento é esse?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Qual é a diferença entre os termos liberalismo e neoliberalismo?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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TÓPICO 2

A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS

EXPRESSÕES SOCIAIS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico estudaremos a nova institucionalidade brasileira frente às novas expressões sociais, ou seja, aprofundaremos o significado e a abrangência das políticas sociais e as políticas públicas do Estado brasileiro.

Abordaremos a história das políticas sociais de forma abrangente,

procurando demonstrar a evolução histórica da política social. Assim, devido a diversas mudanças e transformações ocorridas na sociedade, vamos analisar e compreender a relação entre o Estado e a sociedade frente à questão social no que diz respeito aos padrões de proteção social.

Analisaremos a necessidade e a função das políticas públicas, principalmente das políticas sociais e o desenvolvimento dos sistemas de proteção social no que diz respeito à ampliação das políticas sociais brasileiras em sua nova institucionalidade, especificamente, a de assistência social.

2 ORIGEM, SIGNIFICADO E ABRANGÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Podemos perceber que a evolução da política social é formada a partir dos momentos históricos nos diversos contextos socioculturais, sociopolíticos e econômicos, assim sempre existiram articulações, interações e relações entre o Estado e a sociedade, algumas vezes de forma amena e, muitas vezes, de forma antagônica e conflituosa.

Referindo-se à Antiguidade, com a queda do Império Romano, um novo modo de produção se instituiu e dominou a Europa no período medieval, que era caracterizado como feudalismo. Era o novo sistema oficial da época, tendo um novo império que se tornou absoluto e incontestável por um longo período sob o comando dogmático da Igreja Católica Apostólica Romana. Assim, no que diz respeito à proteção ou algo relevante no plano dos direitos humanos, pouco se efetivou, a não ser algumas ações filantrópicas e caritativas.

A ideia de direitos humanos há muito tempo já existia na Europa, porém costuma-se afirmar que foi com o Rei John Landless, da Inglaterra, e sua

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Magna Carta (Great Charter, 1215), que surgiu o embrião do que seriam os Direitos Humanos. Não que esse documento tratasse especificamente disso, mas havia menções à liberdade da Igreja em relação ao Estado (embora de maneira nenhuma consagrasse a tolerância religiosa) e à igualdade do cidadão perante a lei. Com efeito, o parágrafo 39 declarava: “Nenhum homem livre poderá ser preso, detido, privado de seus bens, posto fora da lei ou exilado sem julgamento de seus pares ou por disposição da lei”. (BRAYNER; LONGO; PEREIRA, 2014).

Podemos enfatizar que no decorrer da história, algumas declarações e

constituições foram instituídas no período de 1776 a 1789, com o intuito de garantir alguns direitos humanos essenciais, como, por exemplo, a Declaração de Direitos de Virgínia, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a Constituição Norte-Americana, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Constituição Francesa.

A Declaração de Virgínia, feita em 16/06/1776, proclamou o direito à vida, à liberdade e à propriedade. Outros direitos humanos foram expressos na declaração, como o princípio da legalidade, a liberdade de imprensa e a liberdade religiosa.

A Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 04/07/1776, teve como tônica preponderante a limitação do poder estatal e a valorização da liberdade individual, É um documento de inestimável valor histórico, que influenciou mesmo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789) e inspirou e serviu de exemplo às outras colônias do continente americano.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada em 26/08/1789 e a Constituição Francesa de 03/09/1791 foi a primeira a conter uma enumeração dos direitos individuais e suas garantias. Porém, a doutrina política contida nessas declarações achava-se estreitamente ligada ao processo econômico e às suas consequências sociais.

Não obstante, já estava em curso o processo inexorável de difusão das declarações de direitos pelo continente europeu, através das diversas constituições escritas que começaram a surgir a partir daquele momento, como a Constituição da República Germânica de Weimar (1919-1933) (BRAYNER; LONGO; PEREIRA, 2014).

Diante do fervor e desenvolvimento do capitalismo em sua fase inicial, cruel e desenfreada, e da crise econômica no mundo nos séculos XIII e XIX, a Igreja se sentiu na obrigação de fazer algo. Assim, foram criadas várias encíclicas papais, de caráter social. Uma foi a Encíclica Inscrutabili dei Consilio, sobre os males da sociedade moderna, divulgada em 21 de abril de 1878, a Rerum Novarum, divulgada em 15 de maio de 1891, a outra, chamada Quadragesimo Anno, divulgada em 15 de maio de 1931, a Mater et Magistra, publicada em 15 de maio de 1961, a Populorum Progressio (1967), que enfatizavam os problemas diversos e a exploração que os trabalhadores (homens, mulheres, adolescentes, crianças) enfrentavam em sua época.

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Essas encíclicas sociais, cartas sociais, procuravam sugerir algumas possíveis soluções para os diversos problemas sociais. Nesse intuito, várias outras encíclicas foram criadas, segundo o Instituto Sapientia de Filosofia (2015). Podemos citar:

QUADRO 11 – ENCÍCLICAS SOCIAIS DA IGREJA CATÓLICA

Carta encíclica Inscrutabili dei consilio, SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE MODERNA, 21 de abril de 1878, Papa Leão XIII.Carta Encíclica Rerum Novarum, SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS, 15 de maio de 1891, Papa Leão XIII.Quadragesimo Anno, 40º aniversário da Rerum Novarum, SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS, 15 de maio de 1931, Papa Pio XI.Carta Encíclica Quemadmodum, SOBRE A ASSISTÊNCIA ÀS CRIANÇAS INDIGENTES, 6 de novembro de 1946, Papa Pio XII.Encíclica Mater et Magister, SOBRE A QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA DOUTRINA CRISTÃ, 15 de maio de 1961, Papa João XXIII.Encíclica Populorum Progressio, SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS E A QUESTÃO SOCIAL, 26 de março de 1967, Papa Paulo VI.Encíclica Laborem Exercens, SOBRE O TRABALHO HUMANO no 90° aniversário da Rerum Novarum, 14 de setembro de 1981, João Paulo II.Encíclica Centesimus Annus, SOBRE O TRABALHO HUMANO – o centenário da Rerum Novarum, 1º de maio de 1991, João Paulo II.Encíclica CARITAS IN VERITATE, SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL NA CARIDADE E NA VERDADE, 29 de junho de 2009, Papa Bento XVI.

FONTE: Adaptado de: Instituto Sapientia de Filosofia. Encíclicas papais. 2015. Disponível em: <http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1279:enciclicas-papais&catid=98:geral>. Acesso em: 25 jan. 2015.

Interessante ressaltar que várias encíclicas papais – encíclicas sociais – possuem a mesma proposição e fundamento: de que as nações mais desenvolvidas auxiliem as outras menos desenvolvidas, assim elas se referem ao desenvolvimento dos povos e aos seus problemas sociais, focando a questão social e a preocupação com a solução dos problemas sociais na sociedade.

Assim, nas sociedades pré-capitalistas, as forças de mercado e da economia não eram privilegiadas, porém algumas responsabilidades sociais eram prioritárias, no sentido de manter a ordem social e punir ações de vagabundagem. Behring e Boschetti (2011, p. 47) enfatizam que: “Ao lado da caridade privada e de ações filantrópicas, algumas iniciativas pontuais com características assistenciais são identificadas como protoformas de políticas sociais”.

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Também podemos enfatizar que várias leis inglesas foram criadas, anteriormente à Revolução Industrial, porém não tinham caráter protetor e sim coercitivo e punitivo. Eram regulamentações para fazer com que o pobre aceitasse qualquer trabalho, o princípio categórico destas leis era obrigar todos a trabalharem, bem como proibir a mendicância daqueles que podiam fazer alguma atividade laborativa. Entre essas leis, Behring e Boschetti (2011, p. 48) citam:

Estatuto dos Trabalhadores, de 1349.Estatuto dos Artesãos (Artífices), de 1563.Leis dos pobres elisabetanas, que se sucederam entre 1531 e 1601.Lei de Domicílio (Settlement Act), de 1662.Speenhamland Act, de 1795.Lei Revisora das Leis dos Pobres, ou Nova Lei dos Pobres (Poor Law Amendment), de 1834.

Percebemos que algumas ações governamentais com objetivos voltados para a proteção social começaram a ser produzidas de acordo com a consolidação dos modernos Estados nacionais, no Ocidente Europeu, lá pelos séculos XVI e XVII.

Período este de contexto de transição para o capitalismo, de expansão do comércio e de valorização das cidades, onde a pobreza se tornava visível, incômoda, e passava a ser reconhecida como um risco social. Assim, a primeira fase da evolução da política social consistiu-se nas chamadas Leis dos Pobres, bastante disseminadas pelos países europeus.

As Leis dos Pobres eram ordenações de Estado que faziam compulsória a “caridade”, implicando a criação de um fundo público – o imposto dos pobres, em geral recolhido pelas municipalidades – e que tinham por finalidade tirar os pobres das ruas. Vigoraram em grande parte dos países europeus entre os séculos XVII e XIX, e a despeito de terem apresentado variações expressivas no decorrer deste período, se caracterizaram pela natureza caritativa, pela forma de assistência pública e pelo alvo a que se destinavam: a pobreza. A pobreza, nesta fase, é o risco social predominante. O Estado age para proteger a sociedade da ameaça representada pela pobreza (à qual se associam a indigência, a doença, o furto, a degradação dos costumes) e para proteger os pobres. (VIANNA, 2002, p. 3).

A primeira fase da evolução da política social consistiu-se nas chamadas Leis dos Pobres na Europa, assim a primeira concretização de proteção social foi instituída em 1601, na Inglaterra, com a edição da Lei dos pobres: “Poor Relief Act”.

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Assim, sobre as origens das políticas sociais, podemos enfatizar que algumas iniciativas pontuais com características assistenciais são identificadas como protoformas de políticas sociais. Podemos entender como protoformas as instituições sociais com origem confessional, de ajuda, caridade, solidariedade e práticas de filantropia segundo a ética cristã.

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Com o Estado Absolutista, no período da Idade Média, houve a primeira lei que versou sobre a assistência social, que ficou conhecida como Law of Poor (Lei dos Pobres), ação de assistência aos pobres em 1601, na Inglaterra, durante o reinado da rainha Isabel. Tratou da obrigação das autoridades locais proporcionarem auxílio no caso de enfermidade, invalidez e desemprego e teve como princípio a responsabilidade da comunidade pela assistência pública, surgindo a obrigatoriedade de contribuições para fins sociais (DEZOTTI; MARTA, 2011).

Então, na Inglaterra, com a promulgação da Lei dos Pobres, que instituía um aparato oficial centrado nas paróquias, destinava-se a amparar carentes, necessitados e trabalhadores pobres. Assim, a primeira concretização de proteção social foi instituída em 1601, na Inglaterra, com a edição da Lei “Poor Relief Act” (Ato de Auxílio aos Pobres), a qual prioriza a contribuição obrigatória para fins sociais.

Sobre a noção de proteção, bem como sobre os Direitos Humanos, Brayner, Longo e Pereira (2014) descrevem que,

Com a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e os ideais iluministas, o processo de formação dos Direitos Humanos tomaria novo fôlego e sua disseminação pelo mundo já não poderia mais ser contida. A noção de proteção a todos os cidadãos, com a Revolução Francesa, no século XVIII, especificamente a partir de 1789, influenciou e muito direitos essenciais ao ser humano, tais como a liberdade, nacionalidade e fraternidade, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Na Europa, até pelo início das diversas transformações e revoluções, pela própria transformação do mundo feudal para o industrial, em âmbitos muito gerais, vamos destacar algumas dimensões e aspectos históricos do Estado, e suas ações governamentais voltadas para a proteção social e posteriormente para a efetivação da seguridade social.

Em todo o continente europeu ocorreram inúmeras manifestações populares e diversas revoluções. Em vários países, muitos movimentos de trabalhadores começaram a eclodir, pois começaram a perceber a dominação e exploração e começaram a negar a manutenção do poder burguês, a criticar a crise econômica,

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A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, emergindo aproximadamente em 1775, se espalhou por toda a Europa. Assim, concomitantemente com o crescimento econômico, crescia também o pauperismo, um número exorbitante de situações desumanas e degradantes às quais os trabalhadores eram submetidos na época.

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a exigir melhores condições sociais, econômicas e políticas, a favor da democracia e cidadania.

Nessa época, o alemão Karl Marx (1818-1883) criticava severamente o modo de produção capitalista. Não publicou nenhuma carta nem encíclica, mas sim um manifesto, chegando a publicar uma obra chamada “O Manifesto Comunista”. Visto que era ateu, também criticava o poder institucionalizado da Igreja, enfatizava que a religião era o ópio do povo, pois as pessoas, ao invés de lutarem pelos seus direitos, acabavam se acomodando e se conformando pela doutrina da Igreja e seus mandamentos.

O Manifesto Comunista foi escrito em uma época em que o capitalismo desenfreado já fazia suas vítimas: homens, mulheres e mesmo crianças, que trabalhavam até 18 horas por dia em condições subumanas. Tal documento falava em liberdade e igualdade para o trabalhador, e na união da classe trabalhadora contra os abusos do capitalismo: “Trabalhadores do mundo, uni-vos”, clamava Marx. No manifesto, Marx afirma que não há liberdade sem igualdade econômica (BRAYNER; LONGO; PEREIRA, 2014).

Nesse interim, na Alemanha se implantou o primeiro regime de seguros sociais, isso em 1883, por Otto von Bismark, assim que o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State) foi originado, tendo como características setores sociais de grande importância na época, tais como a previdência, a assistência social e a educação. Assim, os cidadãos passaram a ter acesso a esses direitos sociais. “O primeiro seguro social de que se tem notícia foi instituído por Bismarck, na Alemanha, nos anos 1880”. (VIANNA, 2002, p. 4).

Historicamente, a questão social tem a ver com o surgimento da classe operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol de direitos trabalhistas. Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos (IAMAMOTO, 2001, p.17).

Já em 1889 foi criada uma lei que enfatizava o seguro invalidez e o seguro velhice, custeados pelos trabalhadores, empregadores e Estado. Assim, podemos perceber, em termos gerais, que o nascimento da previdência social se deu na Alemanha, onde se processava uma transição entre o Estado Liberal para o Estado do Bem-Estar Social. Também na Grã-Bretanha, em 1864, foram criadas algumas legislações trabalhistas, sendo adotado, posteriormente, entre 1905 e 1911, um sistema progressivo de proteção nacional (PEREIRA, 2001).

Foi assim que o sistema previdenciário alemão, implantado entre 1883 e 1889, pelo chanceler Otto von Bismarck, representou a primeira intervenção orgânica do Estado nas relações de trabalho industrial. Foi assim, também, que na Grã-Bretanha surgiu em, 1864, a legislação fabril e, entre 1905 e 1911, foi adotado um sistema de seguro nacional progressivo. (PEREIRA, 2001, p. 31).

Assim, em busca de uma alternativa para o liberalismo, nasceu o Estado capitalista regulador ou essencialmente intervencionista que, no século XX,

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recebeu o título de Estado de Bem-Estar ou Estado Social, garantindo, financiando e administrando seguros sociais, favorecendo gradativamente aos trabalhadores direitos sociais, rede previdenciária, saúde e educação públicas e outras atividades afins diversas.

Vamos perceber que a partir do modelo de Bismark, a maioria dos países ocidentais passou a adotar medidas de proteção social e de seguridade social, técnicas protetivas, aos que delas necessitavam, principalmente aos trabalhadores, atores sociais importantes para o desenvolvimento capitalista como um todo. De modo geral, o modelo de seguro social difundiu-se por toda a Europa, visto que na medida em que a democracia avançava, ampliavam-se também os direitos sociais, tais como o direito ao voto, a legalização das centrais sindicais, chegada dos partidos trabalhistas, participação política, entre outros.

Vianna (2002, p. 3) cita que “A pobreza, nesta fase, é o risco social predominante. O Estado age para proteger a sociedade da ameaça representada pela pobreza (à qual se associam a indigência, a doença, o furto, a degradação dos costumes) e para proteger os pobres”.

Como novo modelo dominante de proteção social, surgiram os seguros sociais, em fins do século XIX. É uma segunda fase da política social que se inicia, frente aos riscos sociais associados ao trabalho assalariado e aos direitos sociais não garantidos dos trabalhadores.

No novo cenário, de capitalismo industrial consolidado, aparecem novos atores – sindicatos, partidos políticos – e arranjos institucionais capazes de incluir, na agenda pública, demandas de setores emergentes no mundo do trabalho. Para a sociedade, mais que a pobreza, a ameaça agora está na recusa ao assalariamento. Recusa que se expressa passivamente no absenteísmo (em razão de doença, de acidente, de maternidade, ou sem razão nenhuma) e ativamente, de forma anárquica como nos ataques e quebradeiras promovidos por trabalhadores ingleses em várias ocasiões, ou de forma organizada pelos sindicatos operários, crescentemente contestadores do próprio sistema capitalista. (VIANNA, 2002, p. 3-4).

Muitas organizações surgiram e foram se mobilizando em torno da questão do trabalho no capitalismo industrial. Conforme as adversidades a que todos os assalariados eram submetidos, surgiam concomitantemente inúmeros protestos de novos atores, sujeitos sociais e instituições consolidadas a favor da classe proletariada.

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Caracteriza-se a segunda fase da evolução das políticas sociais no sentido da garantia, financiamento e administração de seguros sociais aos trabalhadores.

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Inúmeras transformações ocorreram ao longo da história, importantes acontecimentos econômicos e políticos contribuíram para a efetivação do Estado Social, crescimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, a vitória do socialismo na antiga União Soviética, conflitos econômicos, as duas guerras mundiais, a grande depressão de 1929, o aumento assustador do desemprego, dentre outros acontecimentos, se configuraram como um novo contexto sociopolítico. Assim surge a terceira fase da política social no Ocidente, onde a concepção de seguro é substituída pela de seguridade social, universalista, tendo como prioridade a cidadania (VIANNA, 2002).

A crise dos anos 20, transformações ocorridas no padrão de produção capitalista, a vitória do socialismo na URSS, a valorização do planejamento na própria teoria econômica, e duas guerras mundiais compõem o pano de fundo de um novo contexto, no qual emerge a terceira fase da política social no Ocidente desenvolvido. Nesta fase, a ideia de seguro é substituída pela de seguridade social, a natureza da política passa a ser universalista e seu alvo, a cidadania. Sistemas públicos, estatais ou estatalmente regulados, se tornam os produtores de políticas destinadas a garantir amplos direitos sociais a todos os cidadãos, [...]. (VIANNA, 2002, p. 5).

Configura-se a partir deste novo contexto a criação e efetivação de políticas destinadas a garantir os amplos direitos sociais a todos os cidadãos, tendo como princípio a universalidade, distanciando de intervenções caritativas ou repressoras, mas sim de políticas públicas visando à efetivação e garantia de direitos sociais.

Entendemos que a universalidade compreende os direitos e garantias fundamentais vinculados também ao princípio da liberdade e da dignidade da pessoa humana, que foram reivindicados pela classe operária a partir de sua imersão no cenário político da sociedade.

A ascensão da proteção social à condição de direito do cidadão e dever do Estado representou, inegavelmente, um aperfeiçoamento político-institucional de monta no âmbito da regulação estatal; mas tal ascensão não se deu por cima ou por fora dos conflitos de classe. Nesses conflitos, ganha proeminência a histórica participação dos trabalhadores em sua luta contra o despotismo do capital e o poder tendencialmente concentrador do Estado (PEREIRA, 2001, p. 33).

Compreende-se que a efetivação e ampliação da proteção social à condição de direito social não se efetivou de forma simples e pacífica, mas se consolidou pela postura crítica e política dos trabalhadores, do envolvimento dos mesmos em conflitos e lutas travadas contra o sistema capitalista opressor e explorador.

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Assim surge a terceira fase da política social no Ocidente, onde a concepção de seguro é substituída pela de seguridade social em âmbito universal, concedida a todos os cidadãos.

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Referindo-se às origens da política social e seu processo histórico, Vianna (2002) descreve que ocorreu uma evolução da política social, destacando o peso das dimensões histórica e política, assim podem ser identificadas três grandes fases da política social, sob o ponto de vista histórico:

QUADRO 12 – EVOLUÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL

1ª FASE – para os pobres

Essencialmente, de proteção frente à ameaça representada pela pobreza e suas consequências.

2ª FASE – para os trabalhadores

Especificamente, de seguros sociais relacionados ao trabalho assalariado.

3ª FASE – para todos os cidadãos

Racionalmente, a concepção de seguro é substituída pela de seguridade social de modo universalista, tendo prioridade a cidadania.

FONTE: Adaptado de: VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. Em torno do conceito de política social: notas introdutórias. 2002. Disponível em: <http://www.enap.gov.br/downloads/ec43ea4fMariaLucia1.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2014.

Cabe ressaltar que a questão social está intrinsecamente vinculada com a história do surgimento e desenvolvimento do capitalismo, bem como suas crises e chamadas depressões econômicas, visto o desenrolar dos acontecimentos que mudaram o curso da história da humanidade. Por isso precisamos conhecer o passado para compreender e refletir sobre aspectos do cenário contemporâneo mundial e da nossa própria realidade.

Embora se tenham criado e efetivado políticas destinadas a garantir os amplos direitos sociais a todos os cidadãos, vamos perceber que as primeiras ações de políticas sociais ocorreram na relação de continuidade entre o Estado liberal e o Estado social, assim ambos terão um ponto em comum, que é o reconhecimento de direitos sociais sem prejudicar a lógica do sistema capitalista, que é a de avançar em todas as direções na obtenção do lucro e de sua manutenção.

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Nesse sentido, podemos enfatizar que a questão social representa, simboliza, retrata o conjunto das expressões sociais, das desigualdades sociais da sociedade,

que se desenvolveram concomitantemente com o capitalismo, fazendo com que viesse a formular diversas políticas sociais.

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A preocupação com o termo questão social foi analisada e aprofundada ao redor das transformações econômicas, políticas e sociais que ocorreram nos séculos XIX e XX, provenientes do processo de industrialização diante das demandas do capitalismo. Verifica-se que não houve uma ruptura radical entre o Estado liberal (século XIX) e o Estado social capitalista (século XX), mas essencialmente uma metamorfose estatal, uma nova visão de Estado, pressionado por mudanças, movimentos diversos, pressões, revoluções, lutas das classes trabalhadoras devido à sua consciência política.

Nesse sentido, Behring e Boschetti (2011, p. 51-52) também descrevem que:

As políticas sociais e a formatação de padrões de proteção social são desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – geral, setorializadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo fundamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho. A questão social se expressa em suas refrações (NETTO, 1992) e, por outro lado, os sujeitos históricos engendram formas de seu enfrentamento.

Podemos enfatizar que o termo política é muito abrangente e não está dissociado da economia, do Estado, do poder, do controle, da cultura, da sociedade, do governo nacional, das autoridades locais, regionais e internacionais, das organizações ou instituições diversas, sejam elas, empresas, indústrias, igrejas, sindicatos, associações, partidos, família, dentre outras instituições sociais.

A política: “São guias para a ação, são regras estabelecidas para governar funções e assegurar que elas sejam desempenhadas de acordo com os objetivos desejados”. (CHIAVENATO, 2003 apud DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 84).

Etimologicamente falando, a origem da palavra político, conforme o Dicionário Etimológico (2014): “Numa sociedade como a grega, em que a vida pública interessava a todos os cidadãos, chamavam de politikos aquele que se dedicava ao governo da polis ("a cidade, o Estado"), colocando o bem comum acima de seus interesses individuais”.

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A política sendo uma questão social, um tema e uma perspectiva de sociedade que exige discussão, análise e interpretação, diz respeito ao desenvolvimento das sociedades, a um conjunto de aspectos que estão articulados ou deveriam estar direcionadas para promover a igualdade e a justiça social.

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A política, no sentido de colocar o bem comum coletivo acima dos interesses individuais, nos faz refletir sobre o quanto, nas sociedades atuais, o termo na prática está distorcido. Basta olhar para a nossa sociedade brasileira e perceber as inúmeras expressões sociais da política governamental. Como, por exemplo, uma delas, a corrupção, visível, aparentando ser um mal social quase intransponível, bem como dos inúmeros efeitos desastrosos, socialmente falando, das multifacetadas expressões sociais, que as políticas do capital financeiro com o processo de globalização promovem.

Não se pode refletir sobre o conceito de desenvolvimento em sociedades democráticas sem entender a dimensão necessariamente política da questão social. Portanto, assumimos que o processo de desenvolvimento confronta-se com a reprodução da questão social e as formas de luta e resistência da cidadania organizada. Essa é sua expressão mais crítica. Quer se trate dos mecanismos da redistribuição da renda, dos regimes de acumulação, das condições de inserção precarizadas dos trabalhadores no mercado de trabalho capitalista, dos níveis rebaixados de remuneração do valor do trabalho, das condições de proteção das famílias trabalhadoras, da seguridade alimentar, econômica, social e civil, ou do estatuto das políticas sociais de proteção e assistência, das dimensões da pobreza e das desigualdades de renda ou das desigualdades e diversidades socioculturais implícitas nas relações de gênero ou de geração e nas diversidades étnicas e raciais –, todos esses aspectos estão articulados com as opções de desenvolvimento e justiça social e expressam a dimensão eminentemente política e crítica das contradições do desenvolvimento entre as classes sociais, os direitos da cidadania sobre a reprodução e os bens públicos (IVO, 2013, p. 13).

É necessário compreendermos a dimensão política da questão social, visto a amplitude que proporciona. Diversos aspectos devem ser revisitados, analisados, discutidos, tais como os mecanismos utilizados pelo Estado na redistribuição da renda, da forma como o sistema capitalista se organiza para não deixar de acumular e explorar, das condições precárias que envolvem o mundo do trabalho, especificamente do assalariado e não assalariado, das condições de proteção social de pessoas e famílias em situações de vulnerabilidade social, das políticas sociais, das desigualdades, das diversidades, das condições de discriminação e exclusão social, dentre outras inúmeras feições.

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Tanto é necessário compreender a dimensão política da questão social, quanto entender a política social em si, enquanto categoria pública de interesse de todos os cidadãos.

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Podemos afirmar que a política pública é ampla e pode ser enfatizada de modo geral no âmbito das relações de poder, tanto na tomada de decisões quanto na resolução de conflitos na sociedade.

Segundo Teixeira (2002, p. 2): “Políticas públicas” são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.

Percebemos que as políticas públicas são todas as ações desencadeadas pelo Estado, dizem respeito a tudo o que o Estado já realizou, realiza ou deixa de realizar. Nessa perspectiva de análise de compreensão, podem oportunizar a melhoria da qualidade de vida na sociedade, garantindo universalmente os direitos sociais ou favorecer setores dominantes da sociedade capitalista, aumentando ainda mais as expressões da questão social, a desigualdade social e a pobreza, favorecendo a concentração de capital e renda, exploração e dominação pelos grandes monopólios.

No âmbito político, é imprescindível compreender o papel do Estado e sua relação com os interesses das classes sociais, sobretudo na condução das políticas econômicas e social, de maneira a identificar se dá mais ênfase aos investimentos sociais ou privilegia políticas econômicas; se atua na formulação, regulação e ampliação (ou não) de direitos sociais; se possui autonomia nacional na definição das modalidades e abrangência das políticas sociais ou segue imperativos dos organismos internacionais; se fortalece e respeita a autonomia dos movimentos sociais; se a formulação e implementação de direitos favorece os trabalhadores ou os empregadores. Enfim, deve-se avaliar o caráter e as tendências da ação estatal e identificar interesses que se beneficiam de suas decisões e ações (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 44).

Referente às políticas públicas, podemos analisar que todos os direitos sociais que estão descritos na Constituição Federal de 1988 (MDS, 2015) se configuraram como políticas públicas, amplas. Podemos analisar no artigo 6º os direitos sociais especificados na Carta Magna:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

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Existe diferença entre política pública e política social? Qual é o significado de cada uma?

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maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, 2010).

Assim, analisando os direitos sociais e as políticas públicas, podemos citar algumas políticas públicas tendo como base e fundamento os direitos descritos anteriormente, como por exemplo a:

Política Nacional de EducaçãoPolítica Nacional de CulturaPolítica Nacional de Direitos HumanosPolítica Nacional de Seguridade SocialPolítica Nacional de Saúde Política Nacional de Previdência SocialPolítica Nacional de Assistência SocialPolítica Nacional de Segurança Alimentar e NutricionalPolítica Nacional de Segurança e Saúde no TrabalhoPolítica Nacional de HabitaçãoPolítica Nacional de Esporte

Entre outras diversas políticas nacionais, conforme cada ministério e secretarias com status de ministério.

As políticas públicas são várias, conforme cada área de abrangência. Por exemplo, a política econômica se difere da política social, ambas são públicas, porém uma está focada nas finanças públicas, nos arranjos produtivos, nos setores do comércio e da indústria, no desenvolvimento da economia em si, e a outra focada nas áreas especificadas acima, tais como na assistência social, educação, saúde, habitação, dentre outras diversas voltadas para o social.

Agora, enfatizando as políticas sociais, Coelho (2012, p. 164) considera as políticas sociais como “Programas e ações do governo (central, regional, local) com repercussão na vida das populações em domínios como educação, saúde, proteção social, emprego, habitação, transportes, ambiente, entre outros”.

As políticas sociais, de modo geral, são modalidades da política pública, são necessárias para a concretização da cidadania. Assim, as políticas sociais no sentido direcionado à proteção social são criadas, formuladas, reguladas, ampliadas, revistas, renovadas, transformadas e se efetivam no seio da sociedade, garantindo a inclusão social e a diminuição da desigualdade social, assim percebemos que as políticas sociais de proteção emergiram das políticas públicas.

Ora, as Ciências Sociais – que estudam as políticas sociais – configuram um campo do conhecimento que incide sobre tal dinâmica e é por ela balizado. E que, portanto, se constroem e definem seus conceitos mediante mecanismos semelhantes. Assim, o entendimento de que política pública é ação governamental com objetivos específicos consiste numa convenção acadêmica. Assim, também, constitui convenção acadêmica, expressa pela literatura especializada, a ideia de que política social é ação governamental com objetivos específicos relacionados com a proteção social. (VIANNA, 2002, p. 2).

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Dessa forma, vamos compreendendo que tanto as políticas públicas quanto as políticas sociais são ações governamentais com objetivos específicos, porém podemos analisar que as políticas públicas são amplas e as políticas sociais são mais específicas (de proteção social), desenvolvidas a partir de projetos, programas e serviços institucionalizados, visto que em vários municípios no Brasil, muitas políticas sociais ainda não foram implementadas.

O Estado e suas instituições possuem um papel crucial na sociedade: atender a duas demandas, as econômicas e as sociais, por isso que não podemos dissociar a política pública fora da relação entre Estado e sociedade.

Assim, podemos entender as políticas públicas como planos e medidas governamentais tendo como objetivo a garantia dos direitos sociais, bem como, o enfrentamento das expressões da questão social por meio das políticas sociais de proteção social.

Sob uma perspectiva crítica, as políticas sociais e as políticas públicas no capitalismo monopolista têm como função administrar as expressões da “questão social” de forma a atender às demandas da ordem vigente e amenizar os conflitos sociais. Netto (1996, apud PIANA, 2009, p. 36-37) descreve sob esta ótica:

Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista procura administrar as expressões da “questão social” de forma a atender às demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso variáveis, mas operantes [...] a funcionalidade essencial da política social do Estado burguês no capitalismo monopolista se expressa nos processos referentes à preservação e ao controle da força de trabalho ocupada, mediante a regulamentação das relações capitalistas/trabalhadoras [...].

No sentido de consensualidade, conformação e administração das expressões da questão social, bem como do aumento e surgimento de novas expressões sociais, podemos contatar que a nova institucionalidade de proteção social no Brasil se efetivou após a Constituição Federal de 1988.

3 A NOVA INSTITUCIONALIDADE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL

Assim, a Carta Magna brasileira, no que diz respeito à cidadania, é uma nova ordem constitucional destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais como um de seus valores supremos, fazendo emergir a descentralização político-administrativa e a participação popular por meio dos diversos conselhos sociais.

Como efetivar plenamente, como promover o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social concomitantemente? Ou será que a proposta é desenvolver o desenvolvimento social para o crescimento econômico? Ou será o contrário? Como defender o meio ambiente nesse capitalismo acirrado

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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

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internacionalmente? Como melhorar a qualidade de vida? Como erradicar a pobreza no Brasil, sendo que ela é histórica e presente em suas diversificadas formas? Como promover a igualdade no capitalismo onde a desigualdade se prolifera de modos diferenciados, sendo a exploração o fator primordial para sua perpetuação? Estes são questionamentos que não são simples de responder frente à complexidade que vivemos na sociedade contemporânea.

Atualmente, no Brasil, para tentar organizar a forma de condução do Estado, conforme o Portal do Planalto (2014), existem inúmeros ministérios e secretarias com status de ministério, como podemos constatar atualmente o total somam 41 órgãos do governo (grifamos aqueles que estão mais relacionados com a área social). Que são:

Advocacia-Geral da União – AGUAgricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPABanco Central – BCCasa Civil – CC Cidades – Mcidades Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTIComunicações – MC Controladoria-Geral da União – CGUCultura – MinC Defesa – MD Desenvolvimento Agrário – MDA Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDSDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDICEducação – MECEsporte – MEFazenda – MFGabinete de Segurança Institucional – GSIIntegração Nacional – MIJustiça – MJMeio Ambiente – MMAMinas e Energia – MMEOrçamento da Presidência da República Orçamento total dos ministériosPesca e Aquicultura – MPAPlanejamento, Orçamento e Gestão – MPOGPrevidência Social – MPSRelações Exteriores – MRESaúde – MSSecretaria da Micro e Pequena Empresa – SMPESecretaria de Assuntos Estratégicos – SAESecretaria de Aviação Civil – ASCSecretaria de Comunicação Social – SeComSecretaria de Direitos Humanos – SDHSecretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIRSecretaria de Políticas para as Mulheres – SPM

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Secretaria de Portos – SEPSecretaria de Relações Institucionais – SRISecretaria Geral da Presidência – SG

Secretarias com status de ministério (ligadas à Presidência da República)Trabalho e Emprego – TEMTransportes – MTTurismo – MTur

Bem, com a intenção de alcançar objetivos, o governo cria e recria ministérios, cria novos ministérios e novas secretarias, cria e recria políticas públicas, cria e amplia novas políticas sociais, para problemas antigos e novas expressões da questão social.

CONTRADIÇÕES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO “NEODESENVOLVIMENTISTA” E SUAS FUNCIONALIDADES AO

CAPITAL

Sheyla Suely de Souza Silva

O “neodesenvolvimentismo” brasileiro: sua proposta e sua não concreçãoTem sido recorrente a interpretação de que, no Brasil, a partir do

segundo mandato do presidente Lula, emerge um novo modelo de governo, denominado “neodesenvolvimentista”. Castelo (2009) afirma que, para os seus proponentes, embora esse modelo tenha suas raízes fincadas na matriz nacional-desenvolvimentista, deve hoje adensar um “sentido conceitual inovador”, adequado às novas configurações do capitalismo contemporâneo, daí o prévio adjetivo de “neo” ou “novo” desenvolvimentismo.

Na concepção de Sicsú (2008), esse modelo deve promover crescimento com industrialização, por meio dos seguintes fundamentos: uma política monetária lastreada por juros baixos; uma política cambial que administre uma taxa de câmbio competitiva para a exportação de manufaturados e com regulação do fluxo de capitais financeiros; uma política fiscal que cumpra o papel de controlar gastos públicos com o objetivo de manter o pleno emprego, melhorar as condições de vida da população e realizar uma arrecadação progressiva.

Para Pochmann (2010), são pressupostos desse “social-desenvolvimentismo” um novo caminho que inclua justamente todos os brasileiros e que seja compatível com o avanço tecnológico da nação e a sustentabilidade ambiental. Sua concreção requer a “refundação do Estado”, através da constituição de novas institucionalidades na sua relação com o mercado, tendo em vista garantir a inovação, por meio da “concorrência combinada entre empreendedores e da maior regulação das grandes corporações empresariais” (p. 179) e a ampliação do fundo público, por via de uma maior tributação das grandes fortunas e propriedade intelectual e do avanço para

LEITURA COMPLEMENTAR

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um sistema tributário progressivo.

Na análise de Sallun Jr. (2009), o modelo de governo do segundo mandato Lula se diferencia do neoliberalismo porque propõe um Estado forte, que intervém em favor da economia; e se diferencia, também, do nacional-desenvolvimentismo porque não almeja o mercado interno, mas, constitui-se uma economia competitiva no plano internacional, por meio da atração das empresas transnacionais, do estímulo às inovações tecnológicas e dos investimentos em infraestrutura. O papel do Estado “neodesenvolvimentista” é regular e impulsionar de forma eficiente o crescimento econômico com inclusão social.

Na crítica de Castelo (2007 e 2009), a corrente “neodesenvolvimentista” nasceu na esteira da tradição nacional-desenvolvimentista que, malograda, foi suplantada pelo neoliberalismo e, assim, a emergência do atual modelo de governo se dá em meio a um quadro social adverso aos seus objetivos políticos, cobrando-lhe, constantemente, a prestar contas ao nacional-desenvolvimentismo – do qual é legatário – e enfrentar o neoliberalismo – com o qual é interlocutor. O autor adverte que o termo “novo desenvolvimentismo” remonta à produção teórica de Luiz Carlos Bresser Pereira, passando a compartilhar com os teóricos da atual proposta vários ideais, no sentido de torná-lo adequado às configurações do capitalismo contemporâneo.

Gonçalves (2011), outro crítico desse modelo “neodesenvolvimentista”, atribui ao governo Lula a responsabilidade de ter implementado um “nacional-desenvolvimentismo às avessas”, tendo em vista que operou, na esfera comercial, uma desindustrialização, dessubstituição de importações, reprimarização e perda de competitividade internacional; na esfera tecnológica, uma maior dependência aos setores externos; na esfera produtiva, uma desnacionalização e maior concentração do capital e, na financeira, teria estimulado um passivo externo crescente e a dominação financeira.

Acerca do “neodesenvolvimentismo” brasileiro, é necessário desprender nossas críticas em duas direções: primeiro à sua proposta original, encampada por ideólogos como Sicsú e Pochmann e, segundo, ao modelo que efetivamente se concretiza nas ações de governo. Em ambas as direções, esse modelo é caracterizado pelo que Castelo (2009) denominou como uma “terceira via” que, inspirada na ideologia social-liberalista das agências multilaterais, propõe conciliar, ao conjunto de medidas macroeconômicas acima descritas, um conjunto de medidas sociais que atuem sobre a questão social e promovam a equidade e a justiça social. Esta terceira via encontra amplo respaldo no atual modelo da política de Assistência Social brasileira.

Interlocuções da política de Assistência Social com o “neodesenvolvimentismo” brasileiro

Um dos avanços que se registram no governo “neodesenvolvimentista” é a expansão da política de Assistência Social e sua regulamentação, na perspectiva de instituir o Sistema Único de Assistência Social (Suas). Partindo daquele pressuposto

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já anunciado de que toda política social atende a demandas do trabalho, mas é, também, funcional às requisições da expansão do capital, apreendemos, na contraface dos recentes avanços da política de Assistência Social, as suas funcionalidades às requisições da dinâmica de expansão do capital no Brasil.

O próprio marco regulatório recente da Assistência Social – não sendo imune à dinâmica conflitiva capital/trabalho – incorpora conceitos sociais-liberalistas, os quais visam à (re)naturalização da questão social, despolitizando-a, para blindá-la de qualquer reflexão que permita o tensionamento de suas causas fundantes: a expropriação e a exploração dos trabalhadores.

Neste sentido, Castelo (2009) questiona a assunção do conceito de equidade na intervenção “neodesenvolvimentista”, posto que, herdado da tradição liberal clássica, abraçado pelo Banco Mundial (BM) e mediado pela perspectiva da inclusão, permite o corte da focalização na extrema pobreza. Na mesma direção, a propositura do conceito de vulnerabilidade social remete à estratégia da responsabilização dos indivíduos. Para Mendonça (2010), essa reconceituação é oportuna no sentido de propor que o próprio indivíduo pobre construa alternativas para a superação de sua condição, correspondendo às orientações sociais-liberalistas do Banco Mundial.

Se, no caráter estrito da recente regulamentação da Assistência Social brasileira, flagramos a sua impregnação pelo caldo político-ideológico social-liberalista, na perspectiva da inserção do país na totalidade do capital, a centralidade da Assistência Social é anunciada como uma das principais ações que comporiam o novo modelo de governo, cujo fundamento é a inédita articulação do binômio do crescimento econômico com a redução da pobreza. A adoção desse binômio é, a nosso ver, também um substrato da apropriação que esse modelo “neodesenvolvimentista” faz da matriz social-liberalista, sendo, inclusive, cunhado por alguns autores de “modelo social-desenvolvimentista” (POCHMAN, 2010) e que segue as recomendações das agências multilaterais. No caso do crescimento econômico, as principais estratégias “neodesenvolvimentistas” privilegiam a exportação de commodities e a atração das grandes empresas transnacionais e do capital financeiro, por meio dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs). Na outra ponta, o desenvolvimento social seria alcançado por meio do fortalecimento dos programas sociais, com destaque para os programas de transferência de renda da política de Assistência Social.

No tocante ao crescimento econômico, o Brasil retoma a velha opção de crescimento pela via das exportações de commodities, com base nas “vantagens comparativas” e marcada por baixa reinversão tecnológica, reprimarização da economia e superexploração do trabalho, a qual é típica da produtividade desse setor primário. No que diz respeito à atração de capitais, o estoque total dos IEDs no país atingiu 30,8% do PIB e aqueles relativos à participação no capital cresceram 256%, entre 2005 e 2010, atingindo um montante equivalente a 27% do PIB (Banco Central do Brasil, 2011). Segundo o Relatório de Inflação do Banco Central do Brasil (2008), a remessa de lucros e dividendos ao exterior acompanhou o crescimento de IEDs, tendo montantes comumente superiores aos

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dos investimentos, no período 2001-2007. Enfim, essas duas principais estratégias de crescimento econômico e de inserção no sistema internacional reincidem na condição de dependência e heteronomia e, em verdade, obliteram a proposta de desenvolvimento.

O “neodesenvolvimento” brasileiro promove um crescimento econômico cujas maiores fatias são apropriadas pelas transnacionais e, em verdade, dissimula o fenômeno do novo imperialismo, remetendo às sedes das empresas transnacionalizadas as maiores fatias do crescimento interno, alcançado pela via da dilapidação dos recursos naturais e da exploração do trabalho precário, sob um dissimulado “sucesso” da justiça social, expressa em termos de aumento de postos de trabalho e redução da desigualdade de renda, também entre o próprio trabalho.

Os organismos e as estatísticas oficiais afirmam que o Brasil gerou milhões de postos de trabalho, fez emergir uma nova classe média e criou uma sólida economia interna, resistente às crises internacionais. A reversão positiva de indicadores sociais compõe o principal sustentáculo ideopolítico para o colaboracionismo em torno do modelo “neodesenvolvimentista” e, com ele, da apropriação que o grande capital internacional opera sobre o crescimento econômico (aparentemente) brasileiro, e não é pequeno o papel da Assistência Social nesse processo.

Ainda quanto às transformações no âmbito do trabalho, cabe ressaltar, a partir dos dados do Ipea (ago. 2011, fev. 2012) e da Anfip (2011), que o saldo positivo do trabalho, desde 1995, se deu sempre nas faixas de rendimento mais baixas, com expressiva predominância de postos com rendimentos de até 1,5 salário, e esses saldos positivos se deram em virtude da eliminação de postos de trabalho em faixas salariais maiores. Em verdade, a geração de postos de trabalho é dada em função e à custa da degradação da renda do trabalho em seu conjunto. O fato é que, no atual momento histórico, o capital em crise distancia-se em marcha acelerada das prerrogativas fordistas-keynesianas do pleno emprego e do bem-estar e opta (por absoluta necessidade estrutural) por empregar mão de obra precária e descartável, encontrando no Brasil um manancial na oferta desse perfil de trabalho e amplos subsídios dos governos a essas subcontratações. Parte desses subsídios apresenta-se na forma dos programas de transferência de renda.

Segundo a Anfip (2011), a importância desses programas na conjugação das estatísticas positivas do trabalho não foi pequena e a Seguridade cumpriu um papel importante ao financiar as políticas de reajustes reais para o salário mínimo, de programas de benefícios assistenciais de prestação continuada, do Bolsa Família e de outros benefícios de natureza assistencial. (ANFIP, 2011, p. 10; grifos nossos). Vejamos, então melhor, como a preeminência dos programas de transferência de renda incide sobre o crescimento econômico e a justiça social do governo “neodesenvolvimentista”.

FONTE: SILVA, Sheyla Suely de Souza. Contradições da Assistência Social no governo “neodesenvolvimentista” e suas funcionalidades ao capital. Serv. Soc. Soc. São Paulo, n. 113, Mar.  2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 13 fev. 2015.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste segundo tópico estudamos a nova institucionalidade brasileira frente às expressões sociais, compreendendo os seguintes aspectos:

• Origem, significado e abrangência das políticas públicas e das políticas sociais, bem como suas interligações e diferenciações.

• Percebemos que a política pública é ampla e pode ser enfatizada de modo geral no âmbito das relações de poder tanto na tomada de decisões quanto na resolução de conflitos na sociedade.

• Identificamos três grandes fases da política social, sob o ponto de vista histórico, e vimos que as políticas sociais, de modo geral, são modalidades da política pública, são necessárias para a concretização da cidadania, assim as políticas sociais no sentido direcionado à proteção social são criadas, formuladas, reguladas, ampliadas, revistas, renovadas, transformadas e se efetivam no seio da sociedade, garantindo a inclusão social e a diminuição da desigualdade social.

• Discutimos a nova institucionalidade de proteção social no Brasil, que se efetivou após a Constituição Federal de 1988, é uma nova ordem constitucional destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social.

• Verificamos as diretrizes instituídas pelo governo atual e compreendemos efetivamente o projeto neodesenvolvimentista nacional, no sentido de fortalecer a democracia e ao mesmo tempo fortalecer a economia.

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AUTOATIVIDADE

1 Conforme estudo deste tópico, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Nova institucionalidade.II- Políticas públicasIII- Políticas sociaisIV- Fases históricas da política social

( ) São criadas, formuladas, reguladas, ampliadas, revistas, renovadas, transformadas e se efetivam no seio da sociedade, necessárias para a concretização da cidadania, no sentido direcionado à proteção social. ( ) Podemos citar a primeira como de proteção, a segunda como de seguro para os trabalhadores e a terceira como de seguridade social para todos os cidadãos.( ) Contata-se que se efetivou no Brasil após a Constituição Federal de 1988. ( ) São todas as ações do Estado, dizem respeito a tudo o que o Estado já realizou, realiza ou deixa de realizar, que podem oportunizar a melhoria da qualidade de vida na sociedade ou favorecer setores dominantes da sociedade capitalista.Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

( ) I – IV – III – II.( ) III – II – IV – I.( ) III – IV – I – II.( ) I – III – II – IV.

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TÓPICO 3

A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

BRASILEIRAS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico estudaremos a necessidade e a função das políticas públicas, das políticas sociais e o desenvolvimento dos sistemas de proteção social no que diz respeito à ampliação das políticas sociais brasileiras em sua nova institucionalidade, especificamente, a de assistência social.

Aprofundaremos a nova institucionalidade de proteção social no Brasil que se efetivou após a Constituição Federal de 1988, uma nova ordem constitucional destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social, conforme as diretrizes postas pelo atual governo, assim iremos compreender um pouco mais sobre a amplitude das políticas públicas, especificamente sobre a política de assistência social no Brasil.

2 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURIDADE SOCIAL

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) se originou de três estruturas governamentais que foram extintas: Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (MESA), Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família.

“Com a criação do MDS, em 2004, o Governo Federal centralizou as iniciativas e passou a executar sua estratégia de desenvolvimento social de forma mais robusta e articulada e com maiores investimentos nas políticas públicas, que atendem dezenas de milhões de pessoas”. (MDS, 2015).

Em 2004 foi criado o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), tendo função de promover a inclusão social, a segurança alimentar, a assistência integral e uma renda mínima de cidadania às famílias brasileiras que vivem em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, esse ministério

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implementou inúmeros programas e políticas públicas de desenvolvimento social, realizando a gestão do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e aprovando os orçamentos gerais do Serviço Social da Indústria (SESI), do Serviço Social do Comércio (SESC) e do Serviço Social do Transporte (SEST) (MDS, 2015).

Por meio de programas de transferência direta de renda, como o Bolsa Família, o MDS proporciona cidadania e inclusão social aos beneficiários, que são comprometidos com atividades de saúde e educação. O Ministério também realiza ações estruturantes, emergenciais e sustentáveis de combate à fome, através de ações de produção e distribuição de alimentos, de incentivo à agricultura familiar, de desenvolvimento regional e de educação alimentar, respeitando as diversidades culturais brasileiras. O órgão dedica-se, ainda, a consolidar o direito à assistência social em todo o território nacional e dar agilidade ao repasse de verbas do Governo Federal para os estados e municípios (MDS, 2015).

O MDS se originou de três estruturas governamentais que foram extintas: Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (Mesa), Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família. “Com a criação do MDS, em 2004, o Governo Federal centralizou as iniciativas e passou a executar sua estratégia de desenvolvimento social de forma mais robusta e articulada e com maiores investimentos nas políticas públicas, que atendem dezenas de milhões de pessoas”. (MDS, 2015).

Atualmente, todas as ações do MDS são realizadas nas três esferas de governo e em parceria articulada com a sociedade civil, com organismos internacionais e instituições de financiamento, procurando estabelecer uma sólida rede de proteção e promoção social que tenta destituir o ciclo de pobreza histórica no país e diminuição da desigualdade social.

A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 194, especifica que “A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2015b).

Verificamos que a concepção de Seguridade Social representa um dos maiores avanços da Constituição Federal de 1988, no que diz respeito à proteção social e no atendimento às necessidades e reivindicações da classe trabalhadora, da população brasileira, de grupos e pessoas que possuem interesses coletivos e comuns no que diz respeito à qualidade de vida e justiça social.

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TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

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FIGURA 18 – O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=tripé+da+seguridade+social&biw >. Acesso em: 6 jan. 2015.

A Política de Seguridade Social priorizou a prevenção, promoção, prevenção e redução de inúmeras situações de risco ou vulnerabilidade sociais da população brasileira, abrangendo uma tríplice aliança entre a saúde, previdência e assistência social na efetivação dos direitos sociais.

FIGURA 19 - SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS. Departamento de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015.

No que diz respeito à Previdência Social, também sistema integrado da Política de Seguridade Social, podemos compreendê-la, diferentemente da saúde e da assistência social, no que tange ao processo de contribuição de quem trabalha;

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A Previdência Social é o seguro social para a pessoa que contribui. É uma instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder direitos aos seus segurados. A renda transferida pela Previdência Social é utilizada para substituir a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho, seja pela doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário, ou mesmo a maternidade e a reclusão.

De acordo com o Ministério da Previdência Social (2015), podemos citar alguns benefícios oferecidos pela Previdência Social, através do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tais como:

Aposentadoria EspecialAposentadoria por Idade RuralAposentadoria por Idade UrbanaAposentadoria por Idade da Pessoa com DeficiênciaAposentadoria por Tempo de Contribuição PrevidenciáriaAposentadoria por Tempo de Contribuição da Pessoa com DeficiênciaAposentadoria por Tempo de Contribuição Previdenciária de ProfessorAposentadoria por InvalidezSalário-maternidadeSalário-famíliaAuxílio-acidenteAuxílio-reclusãoPensão por morte

Benefício de Prestação Continuada (que não pode ser acumulado com outro benefício no âmbito da Seguridade Social, como, por exemplo, aposentadoria e pensão).

UNI

A PREVIDÊNCIA SOCIAL é uma instituição pública que presta serviços à clientela previdenciária, é um seguro, SEGURO SOCIAL para o trabalhador que contribui, assim ela oferece vários benefícios que juntos garantem certa tranquilidade ao trabalhador, tanto no presente quanto ao futuro, assegurando um rendimento caso necessite.

em contrapartida, encontra-se segurado em caso de se tornar incapaz para o trabalho.

Nesse sentido, a Previdência Social assegura direitos aos seus segurados,

garante a proteção ao trabalhador e sua família, por meio de um sistema público que garante determinada renda para o contribuinte e de sua família, em casos de doença, acidente, invalidez, deficiência, gravidez, reclusão (prisão), morte ou velhice.

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Além de prestar diversos benefícios, a Previdência Social também oferece aos seus segurados e aos dependentes diversos serviços, tais como: serviços de assistência reeducativa e de readaptação profissional, em casos de incapacidade parcial ou total para o trabalho; orientação e apoio na melhoria de sua inter-relação com a Previdência Social e na solução de problemas pessoais e familiares; bem como são concedidos os auxílios materiais necessários, em caráter obrigatório, prótese e órtese para atenuar a perda ou a redução da capacidade funcional no sentido de assegurar a reinserção do segurado no mercado de trabalho (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2015).

Segundo o Ministério da Previdência Social (2015), conforme está citado no seu site datado em 02/12/2014, o Empreendedor Individual tem direito sim a cobertura da Previdência Social:

Para se tornar um empreendedor individual, o trabalhador por conta própria deve ter faturamento bruto por ano de até R$ 60 mil e exercer atividade da lista de ocupações permitidas ao empreendedor individual. São quase 500 ocupações permitidas, entre as quais estão o pipoqueiro, o cabeleireiro, a manicure, a doceira, o ambulante, o artesão, o borracheiro e outras. Estão fora da lista profissões regulamentadas como advogados, médicos, engenheiros etc.

Muitos direitos sociais foram ampliados e novas categorias foram beneficiadas pela Previdência Social no Brasil, pois existem muitos empreendedores que trabalham por conta própria, individualmente sustentam seus lares de forma honesta e com muito esforço. Muitas ocupações têm surgido pela própria necessidade de sobrevivência de muitas pessoas e famílias, motivadas pelo esfacelamento do trabalho assalariado.

UNI

Considerando o tripé da seguridade social, a saúde, então, também é um direito constitucional de caráter não contributivo e foi uma das áreas da seguridade social em que os avanços constitucionais também foram significativos, embora na prática verificamos que muito ainda deixa a desejar.

IMPORTANTE

Você sabia que o Empreendedor Individual contribuinte também tem direito a cobertura da Previdência Social? Também pode ser assegurado com benefícios e serviços?

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

O Sistema Único de Saúde (SUS), integrante da Seguridade Social, é uma das proposições do Projeto de Reforma Sanitária, foi regulamentado em 1990, pela Lei Orgânica da Saúde (LOS), assim entendendo que o SUS é um sistema de proteção social e dever do Estado, faz parte do Projeto de Reforma Sanitária. “Ao compreender o SUS como uma estratégia, o Projeto de Reforma Sanitária tem como base o Estado democrático de direito, responsável pelas políticas sociais e, consequentemente, pela saúde”. (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 19).

A principal proposta da Reforma Sanitária é a defesa da universalização das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais. Nessa direção, ressalta-se a concepção ampliada de saúde, considerada como melhores condições de vida e de trabalho, ou seja, com ênfase nos determinantes sociais; a nova organização do sistema de saúde por meio da construção do SUS, em consonância com os princípios da intersetorialidade, integralidade, descentralização, universalização, participação social e redefinição dos papéis institucionais das unidades políticas (União, Estado, municípios, territórios) na prestação dos serviços de saúde; e efetivo financiamento do Estado (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 19).

No que se refere ao serviço social, o projeto ético-político da profissão é uma construção contínua, tendo como fundamento e princípio a perspectiva da totalidade social, tendo na questão social sua análise, estudo, interpretação e significação, por isso alguns temas sociais são fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde.

Temas tais como o significado de saúde, visto que não pode ser considerada

como a simples ausência de doença, a concepção de integralidade e universalidade, de intersetorialidade e integração em rede, a importância da participação social, como também o envolvimento, comprometimento e interdisciplinaridade, vistos os diversos desafios e enfrentamentos na área da saúde, que não deixam de lado a complexidade da sociedade atual.

O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990 ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar como fatores determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º) (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 39).

Entendendo a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como a ausência de doença, a Organização Mundial da Saúde atualizou o princípio de promoção da saúde, incorporando a questão do desenvolvimento econômico, assim a saúde passou a ser descrita como um estado de bem-estar físico, psíquico e social, em consonância com as discussões sobre o

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TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

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meio e o contexto socioambiental na qual vivem e sobrevivem populações menos favorecidas, ou seja, a ênfase diz respeito à saúde como prioridade social enquanto política de proteção social.

A partir da reflexão de Gerber (2010), a Constituição Brasileira de 1988,

escrita e promulgada no período pós-ditatorial, expressou os anseios da intensa mobilização social que ocorreu no país, visando ampliar a concepção de cidadania e resgatar a dívida social de desigualdades acumuladas durante a ditadura militar. A saúde, a partir de então, foi definida como política de relevância pública, direito de todos os brasileiros, cabendo ao Estado a obrigação de garantir condições necessárias para seu atendimento. Assim, somente a partir da Carta Magna de 1988 é que a saúde foi definida como um direito de cidadania.

“A implementação do SUS – Sistema Único de Saúde, além de se direcionar para uma reorganização e redefinição dos serviços de saúde, objetivou, principalmente, oferecer serviços de saúde que atendessem todas as necessidades dos usuários” (GERBER, 2010, p. 27).

Para que a Constituição, no que diz respeito à saúde, consiga desenvolver todas as suas atribuições enquanto política de direito de todos os cidadãos, é necessário se efetivar ações participativas e integradas entre o Primeiro, Segundo e Terceiro Setor, promovendo a partir desta integração a efetivação de uma equipe profissional multidisciplinar capaz de desenvolver ações audaciosas que visem suprir as demandas e entraves relacionadas à saúde coletiva que se difundem e se manifestam nas comunidades e periferias, efetivar ações integradas que promovam o bem-estar e a conquista de direitos de todos os envolvidos e afetados.

Considerando a complexidade e a dimensão da realidade da saúde no Brasil vivida pela população, principalmente aquela de baixa renda residente nas periferias urbanas, maioria das vezes privada de seus direitos sociais, se faz necessário unir conhecimentos e esforços para que se possa garantir, pelo menos, o mínimo necessário no que diz respeito à vida e dignidade humana.

Salienta-se que tendo em vista que a saúde é uma política pública de direito constitucional, portanto, deve ser garantida não somente com a democratização do acesso do sujeito às políticas públicas de saúde, mas, sobretudo à melhoria da qualidade de vida das pessoas em todos os sentidos. Nesse contexto, cabe ao profissional de Serviço Social, por meio de sua prática, ampliar e contribuir para esta garantia.

Assim, o Serviço Social enquanto profissão atua no campo das políticas

sociais com o compromisso de defender e garantir os direitos sociais da população, usando o fortalecimento da democracia. O exercício profissional está fundamentado em legislação federal que protege e assegura os direitos sociais do cidadão. Entre elas podemos citar: a legislação previdenciária; a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS; o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; a Lei Orgânica de Saúde – LOS; a Política Nacional do Idoso – PNI; a política e os serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligências e

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maus tratos, exploração e abuso, crueldade e opressão; a política nacional para a integração da Pessoa Portadora de Doenças Especiais; a política sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; a legislação que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde – SUS, dentre outros (SCHAEDLER, 2005).

Sarreta (2008, p. 33) descreve que:

As proposições enunciadas no projeto ético-político do Serviço Social, materializadas no Código de Ética de 1993, convergem e refletem o movimento da Reforma Sanitária brasileira visando efetivar a universalidade do acesso à saúde, por meio de políticas públicas efetivas. Sua implementação destina-se a amenizar as diferenças e injustiças instaladas na sociedade e considerar mecanismos que permitam ampliar as possibilidades de acesso aos bens e serviços produzidos.

A atuação do assistente social na área da saúde nos remete a uma profunda reflexão de diversas teorias políticas, sociológicas, psicológicas, antropológicas e filosóficas, pois sua intervenção dependerá da corrente na qual o profissional embasará o seu rigor e agir profissional, bem como de sua habilidade em promover parcerias tanto institucionais como profissionais.

Seguindo a linha de pensamento de Shapiro (1999), a sociedade civil, as instituições de ensino, as empresas privadas, a população em geral estão representadas por ciências e saberes diversos, por culturas e manifestações variadas, responsabilidades multifuncionais que se manifestam na sociedade e se encontram num mesmo desafio de organização e participação social, e, portanto, interagem com os mesmos problemas sociais, com anseios e dificuldades dos mais variados, por isso possuem a corresponsabilidade de efetivar projetos audaciosos que estreitem o elo entre a teoria e a prática, bem como dos problemas proporcionarem soluções, de processos de exclusão, inclusão social.

A intervenção do profissional de Serviço Social nas políticas de saúde deve estar voltada para os aspectos sociais que envolvem as populações usuárias do sistema de saúde pública nas singularidades de seus processos de adoecimento, sendo que a atuação deve ocorrer na perspectiva do conceito ampliado de saúde de prevenção e promoção social (GERBER, 2010).

O assistente social é um profissional que está em contato direto e cotidiano com as questões da saúde pública e coletiva, da criança e adolescente, terceira idade, violência, habitação, educação etc., acompanhando como essas questões são vivenciadas pelos sujeitos e construindo um acervo privilegiado de dados e informações sobre as formas de manifestação das problemáticas cotidianas, tanto em nível individual como coletivo – sendo, portanto, um ator importante na produção do Cuidado em Saúde (IAMAMOTO, 2001, apud GERBER, 2010, p. 61).

Nesta direção existem iniciativas que buscam um olhar diferenciado de forma participativa, responsável e comprometido com o desenvolvimento integral dos envolvidos no cuidado à saúde e em espaços da política pública da saúde.

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Nesse sentido, Gerber (2010, p. 61) também descreve:

O cuidado em saúde compreende o atendimento humanizado, baseado no acolhimento, vínculo, escuta, na realidade social, garantindo o usuário como coprodutor do seu processo saúde-doença, estando relacionado com a experiência de todos os trabalhadores que constroem o dia a dia dos serviços de saúde.

Dentre tantas políticas sociais adotadas no Brasil, acredita-se que muita coisa há de ser revista, refeita e concretizada também na área da saúde, visto que ocupa uma posição de extrema importância, pois visa garantir uma vida de qualidade do povo enquanto seres humanos, cidadãos e sujeitos de deveres e de direitos, atores sociais críticos, transformadores e responsáveis pelo cuidado de sua vida e dos demais.

No cenário das políticas públicas dos estados brasileiros, pode-se afirmar que ainda há muito que fazer. Os estados brasileiros realmente carecem de um aceno do Governo Federal como motivador da expansão de sua plataforma de ciência e tecnologia, seja indicando os macroeixos estratégicos de desenvolvimento, seja disponibilizando recursos para fomentar os investimentos, seja com abertura e apoio no relacionamento com empresas, mercados e instituições de ensino e pesquisa internacionais (SOUZA, 2010, p. 49).

Embora o Brasil tenha se desenvolvido e avançado muito na área econômica, social e educacional nos últimos anos, ainda persistem muitos problemas e entraves que afetam a vida de milhares de pessoas no âmbito da relação saúde-doença. Percebe-se que a saúde pública apresenta e faz manifestar diversos problemas e dificuldades, bem como diversos desafios para os profissionais que atuam nas diversas áreas.

Nesse sentido Schaedler (2005, p. 2) enfatiza alguns aspectos interessantes:

A Organização Mundial de Saúde – OMS define saúde como "Completo bem-estar físico, mental e social do indivíduo". Este conceito ampliado traz novos desafios para a atuação dos serviços públicos de saúde e para os profissionais que atuam nas diversas áreas. Atualmente, vivenciamos uma transição demográfica com o envelhecimento progressivo da população e a mutação epidemiológica, onde problemas de saúde pública presumivelmente superados, tais como parasitoses, desnutrição, dengue, hanseníase, tuberculose, etc., persistem em aparecer juntamente com doenças da modernidade, como: neoplasias, doenças cardiovasculares, estresse, doenças ocupacionais, transtornos psiquiátricos, doenças psicossomáticas, etc.

Diante das tomadas de decisões de grandes organismos sociais, como é o caso da OMS, percebemos novas realidades sociais e nos deparamos com problemas inevitáveis e desafios que devem ser enfrentados e superados, como é o caso de diversas doenças que persistem em aparecer juntamente com as “novas” da sociedade moderna e inovadora.

Frente à dicotomia das metanarrativas da modernidade na qual a ciência

e a tecnologia não concretizam suas propostas de inclusão social, garantia de

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direitos e universalidade do bem comum, algumas reflexões e questionamentos são necessários.

Na visão de Dufour (2001), a quebra das tradições e dos costumes e valores socioculturais do passado evidencia, consequentemente, uma falta de cuidado de si e do outro, de sentido da vida, bem como de significados simbólicos, e questiona sobre o que está acontecendo com os quadros de referência, grandes sagas de legitimação que davam segurança às pessoas, tais como a economia, o trabalho, a religião, a política, a família estável, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social.

Relembrando sobre a expressão da questão social “inúteis do mundo”, que perspectiva idealista de libertação, de autonomia, de saúde e vida está se formando na consciência dos indivíduos ou já se formou na mente de pessoas que chegaram ao limite de perda de significado de suas próprias vidas, de desvalorização e exclusão de si mesmas? “Que fenômenos estão vinculados à transformação da condição do sujeito nas “democracias de mercado” e nas novas formas de alienação e desigualdade sociocultural?” (MONTIBELLER, 2011, p. 71). Essas são interrogações que nos fazem revisitar várias questões sociais, tais como: desenvolvimento social, qualidade de vida, condição humana, família, saúde, proteção, liberdade, entre outros.

3 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Agora, no que diz respeito à assistência social como política pública, o que poderemos abordar, conhecer, analisar, refletir, discutir e esclarecer?

A assistência social, enquanto política pública, foi reconhecida como direito social e dever do Estado. Assim verificamos, ao longo da história, que de medida filantrópica e caritativa, coercitiva e punitiva, assistencialista e clientelista, a assistência se efetivou como política social, direito social, a todo cidadão brasileiro que dela necessitar, independentemente de qualquer tipo de contribuição ou condição de trabalhar ou não.

A assistência social, reconhecida como política pública de seguridade social, vem passando por inúmeras e profundas transformações a partir da Constituição Federal de 1988, como, por exemplo, com a criação e efetivação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, criado em lei em 2011, com a aprovação da Lei nº 12.435, que alterou dispositivos da Lei nº 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e garantiu no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras conquistas efetivadas ao longo desses anos (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2015).

A política de Assistência Social, legalmente reconhecida como direito social e dever estatal pela Constituição de 1988 e pela Lei Orgânica de

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Assistência Social (LOAS), vem sendo regulamentada intensivamente pelo Governo Federal, com aprovação pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), por meio da Política Nacional de Assistência Social (2004) e do Sistema Único de Assistência Social (2005). O objetivo com esse processo é consolidar a Assistência Social como política de Estado; para estabelecer critérios objetivos de partilha de recursos entre os serviços socioassistenciais e entre estados, DF e municípios; para estabelecer uma relação sistemática e interdependente entre programas, projetos, serviços e benefícios, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família, para fortalecer a relação democrática entre planos, fundos, conselhos e órgão gestor; para garantir repasse automático e regular de recursos fundo a fundo e para instituir um sistema informatizado de acompanhamento e monitoramento, até então inexistente (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 6).

Nesse sentido, a Assistência Social é entendida como uma política pública de direito de todo cidadão e dever do Estado, por isso tem caráter de universalidade, política prevista na Constituição Federal, regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.

FIGURA 20 - MARCO LEGAL REFERENTE À ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS. Departame nto de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do Desen volvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015.

A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, segundo o MDS (2015), trata da organização da assistência social no Brasil, direcionada a todo cidadão em forma de benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais:

A Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, dispõe sobre a organização da Assistência Social, representando um marco para o reconhecimento da assistência social como direito a qualquer cidadão brasileiro aos benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais. Esta publicação traz, ainda, a legislação que regulamenta os aspectos essenciais da LOAS, incluindo:

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o Decreto nº 1.605, de 25 de agosto de 1995, que regulamenta o Fundo Nacional de Assistência Social. A Lei nº 9.604, de 5 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a prestação de contas de aplicação de recursos a que se refere a Lei nº 8.872, 7 de dezembro de 1993, e dá outras providências, o Decreto nº 5.085, de 19 de maio de 200, que define as ações continuadas de assistência social e, também, a Decisão nº 1.934-7, do Supremo Tribunal Federal. A LOAS Anotada se presta a agilizar e facilitar o trabalho de consulta às leis que regulamentam os serviços e benefícios articulados em torno do SUAS.

Refletindo sobre a política de assistência social, vamos verificar a sua importância na garantia de muitos direitos sociais que até então eram omitidos pelo Estado, sendo que muitos ainda continuam sendo omitidos na prática, visto que na teoria e nas legislações parece que todos os serviços e programas funcionam de maneira exemplar para o resto do mundo, fato este questionado e que é visivelmente percebido como ineficazes e fragmentados, senão por vezes inexistentes.

Segundo o Conselho Federal de Serviço Social (2011, p. 7),

[...] todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a mesma estrutural e histórica raiz na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradia, transporte, distribuição de renda, entre outras formas de expressão da questão social.

Com a criação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742, em 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da assistência social, especifica a assistência enquanto direito do cidadão e dever do Estado. Temos que ficar atentos, pois esta lei de 1993 foi consolidada com a Lei nº 12.435/2011, ou seja, alterada, ampliada.

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (BRASIL, 2014, p. 1-2).

Assim, percebemos que compete privativamente à União legislar sobre seguridade social, nela incluída também a assistência social, tendo como princípio da não contributivo ou da gratuidade, sem exigência de qualquer contrapartida ou contribuição por parte de seus usuários, pois a assistência social na contemporaneidade é direito de todo e qualquer cidadão brasileiro.

Conforme está descrito na LOAS de 1993, consolidada em 2011, podemos destacar os objetivos da assistência social:

Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente:

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a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais. (BRASIL, 2014, p. 1-2).

UNI

De acordo com o Conselho Nacional de Assistência Social (2014), podemos esclarecer que: • Os termos “carente, pobre, miserável, mendigo”, bem como “vagabundo, malandro, bandido, marginal”, encontram-se em desuso, tendo a administração pública utilizado na prática e nos documentos relacionados à política de assistência social, a expressão PESSOA OU FAMÍLIA EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL OU RISCO SOCIAL.• Sabendo que o alcoolismo é uma doença séria e grave, os termos “bebum, bêbado, fraco, alcóolatra” devem ser abolidos, assim as pessoas que possuem essa doença devem ser consideradas como alcoólicos que necessariamente precisariam de tratamento adequado.• Assim corresponde também ao termo “drogado, viciado”, o correto é afirmar dependente químico.• As palavras “ajuda”, “apoio”, “doação” também se encontram em desuso, tendo a administração pública empregado na rede de serviços socioassistenciais os termos BENEFÍCIOS, SERVIÇOS, PROGRAMAS E PROJETOS SOCIOASSISTENCIAIS, BENEFÍCIO OU SERVIÇO SOCIOASSISTENCIAL. A ação socioassistencial pode ser compreendida e considerada como atividade, programa, projeto, serviço e concessão de benefícios da assistência social.• Os termos “inválido, aleijado, defeituoso, incapacitado, pessoa portadora de deficiência ou pessoa com necessidades especiais” não são mais expressados e sim o termo PESSOA DEFICIENTE OU PESSOA COM DEFICIÊNCIA. “A palavra inválido significa sem valor, assim eram consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial, por isso que o termo correto é: PESSOA COM DEFICIÊNCIA.• Do mesmo modo correto é afirmar SURDO, PESSOA SURDA, PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA no lugar de “surdinho, mudinho ou surdo-mudo”; como também “ceguinho”, mas sim PESSOA CEGA, PESSOA COM DEFIÊNCIA VISUAL.• os termos pejorativos, tais como: “louco, maluco, doido, doente mental, debiloide, bêbado, fraco”, não devem ser expressados, pois as pessoas não possuem por culpa própria ou vontade, mas as pessoas possuem algum tipo de TRANSTORNO MENTAL, ALGUM TIPO DE SOFRIMENTO PSÍQUICO.• As palavras velhos ou velho, menor ou menores, moleque, delinquente, trombadinha, também devem ser eliminadas do vocabulário popular e profissional, os termos adequados

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FONTE: QUEIROZ, Antônio Carlos. Politicamente correto e direitos humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cartilhas/a_pdf_dht/cartilha_politicamente_correto.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2015.

são: IDOSO OU IDOSOS e CRIANÇA OU ADOLESCENTE.• Os termos “doente mental, retardado, mongol, excepcional” também estão em desuso, o correto é caracterizar PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. Excepcionais foi o termo utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas com deficiência intelectual.

UNI

Caso queira saber mais e se aprofundar nos termos corretos que devemos adotar, estude a cartilha “Politicamente correto e direitos humanos”, disponível na internet.

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Dando continuidade à questão da assistência social, as diretrizes da LOAS (BRASIL, 2015) são caracterizadas pelas diretrizes da descentralização, participação e controle das ações e responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social, conforme especifica o artigo quinto:

Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes:

I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo;II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo.

Muitas alterações foram realizadas na LOAS, pela Lei nº 12.435/2011, que tem mostrado vários avanços e conquistas no sentido de incorporar normativos necessários à organização da Assistência Social no Brasil, efetivados em um sistema descentralizado e participativo caracterizado como SUAS – Sistema Único de Assistência Social.

FIGURA 21 – SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SUAS&biw>. Acesso em: 6 jan. 2015.

UNI

Leia na íntegra a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial>.

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A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – NOB SUAS é que organiza o modelo da proteção social, normatizando e operacionalizando os princípios e diretrizes de descentralização da gestão e execução dos serviços, programas, projetos e benefícios referentes à assistência social na realidade brasileira.

Nesse sentido, sobre os avanços da Lei nº 12.435/2011 sobre a LOAS, no que diz respeito à Norma Operacional Básica do SUAS, Colin (2012) enfatiza que melhorou e qualificou a organização da assistência social, e descreve algumas conquistas:

QUADRO 13 – AVANÇOS DA LOAS A PARTIR DE 2011

Inclui entre os objetivos da Assistência Social a Proteção Social, a Vigilância Socioassistencial e Defesa de Direitos.

Estabelece os níveis de proteção social básica e especial.

Dispõe sobre os CRAS e CREAS como unidades de referência da Assistência Social.

Autoriza o pagamento de profissionais com recursos do cofinanciamento federal.

Institui o IGDSUAS e a obrigatoriedade de seu uso no fortalecimento dos Conselhos.

Estabelece que os Conselhos de Assistência Social são vinculados ao órgão gestor da política de assistência social.

Para efeitos do BPC, conceitua “família” e “pessoa com deficiência”.

Institui o Paif, Paefi e Peti.

Estabelece que cabe ao órgão gestor da Assistência Social gerir o Fundo de Assistência Social, nas esferas de governo.

Estabelece que o cofinanciamento da política no SUAS, nas esferas de governo, se efetua por meio de transferências automáticas entre os Fundos de Assistência Social.

Efetiva alguns decretos, sendo um deles o Decreto n.º 5.209/2004, que cria o Programa Bolsa Família, dentre outros e outras ações normativas.

FONTE: Adaptado de: COLIN, Denise. NOB SUAS 2012. Secretaria Nacional de Assistência Social. Out., 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/ACER/Downloads/SNAS_NOB%20SUAS%20-%20Denise%20Colin_06.11.2012%20(2).pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.

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O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS (2014) descreve que a LOAS, criada em 1993, foi alterada pela Lei nº 12.435, de 2011, que instituiu o Sistema Único da Assistência Social – SUAS. Assim especifica o artigo sexto da LOAS: “Art. 6º A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS), [...] (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)”. (BRASIL, 2015).

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e recursos dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente as estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do Distrito Federal (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2015).

Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o sistema SUAS é composto pelo poder público e sociedade civil, que participam diretamente do processo de gestão compartilhada. É um sistema público, não contributivo, descentralizado e participativo, destinado à gestão da assistência social, através da integração das ações dos entes públicos (União, Estados, Municípios e o Distrito Federal) responsáveis pela política socioassistencial e das entidades privadas de assistência social.

FIGURA 22 – ASSISTÊNCIA SOCIAL POLÍTICA SOCIAL PÚBLICA

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS. Departamento de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

O Sistema Único de Assistência Social – SUAS especifica em seu primeiro artigo a sua abrangência da função da política de assistência social:

Art. 1º A política de assistência social, que tem por funções a proteção social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos, organiza-se sob a forma de sistema público não contributivo, descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social – SUAS.Parágrafo único. A assistência social ocupa-se de prover proteção à vida, reduzir danos, prevenir a incidência de riscos sociais, independente de contribuição prévia, e deve ser financiada com recursos previstos no orçamento da Seguridade Social (BRASIL, 2012).

Assim, constatamos que a política de assistência social se rege de forma decentralizada via SUAS e participativa a partir da criação e efetivação dos diversos conselhos, se efetivando por um sistema público, não tendo caráter contributivo, assim as pessoas que necessitarem da assistência não pagarão nada por ela, ou seja, a assistência social independe de contribuição anterior.

Para concluir este assunto, indicamos como sugestão a leitura e estudo das Cartilhas efetivadas pelo CFESS, sobre os PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E NA POLÍTICA DE SAÚDE.

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Gestão Tempo de Luta e Resistência (2011-2014). Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. CFESS: Brasília (DF), 2011. Disponível em: <http://www.cfess .org.br/arquivos/Cartilha_CFESS_Final_Grafica.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.

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FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. LEI nº 8.662/1993 – Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.pdf>. Acesso em 15 jan. 2015.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico estudamos a nova institucionalidade brasileira frente às novas expressões sociais, o significado e a abrangência das políticas sociais e as políticas públicas do Estado brasileiro, a evolução histórica da política social e a relação entre o Estado e a sociedade frente à questão social no que diz respeito aos padrões de proteção social, em que foram abordados os seguintes temas:

• Analisamos a origem, significado e abrangência das políticas sociais e das políticas públicas, assim podemos perceber que a evolução da política social é formada a partir dos momentos históricos nos diversos contextos socioculturais, sociopolíticos e econômicos, assim sempre existiram articulações, interações e relações entre o Estado e a sociedade.

• Discutimos sobre a nova institucionalidade de proteção social no Brasil que se efetivou após a Constituição Federal de 1988, uma nova ordem constitucional destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social, conforme as diretrizes postas pelo atual governo.

• Compreendemos um pouco mais sobre a amplitude das políticas públicas, especificamente sobre a política de assistência social no Brasil, assim refletimos sobre a amplitude da política nacional de seguridade social.

• Analisamos a abrangência da política de assistência social, do Sistema Único de Assistência Social e da tipificação nacional de serviços socioassistenciais.

• Constatamos o conceito de vulnerabilidade social e a importância da ampliação das políticas sociais destinadas à população brasileira.

• Lembramos que devemos sempre recorrer às leis, estatutos, políticas, programas, normas, decretos, buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada, devido às diversas mudanças sociais e consequentemente legais que devem acompanhar o curso da história.

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1) Conforme estudo deste tópico, analise as alternativas e classifique (V) para as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas:

( ) MDS é a sigla do MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, responsável pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, de segurança alimentar e nutricional, de assistência social e de renda de cidadania. ( ) A LOAS é uma lei que trata sobre a organização da assistência social no Brasil, direcionada a todo cidadão em forma de benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais.( ) O Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família existem desde 2004, com a criação do MDS.( ) A seguridade social brasileira prioriza a prevenção, promoção, prevenção e redução de inúmeras situações de risco ou vulnerabilidade sociais da população brasileira, abrangendo uma tríplice aliança entre a saúde, previdência e assistência social.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.

( ) V – V – F – V.( ) V – F – V – F.( ) F – V – F – V.( ) V – V – F – F.

2) De acordo com o Conselho Nacional de Assistência Social, descreva no mínimo três palavras que se encontram em desuso no vocabulário dos profissionais que atuam na área social, ou que não deveriam mais serem pronunciadas pelas pessoas.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 4

A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS

SOCIOASSISTENCIAIS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Muitas alterações foram realizadas no âmbito das políticas sociais no Brasil, prevalecendo a ampliação e criação de serviços e programas de benefícios e transferência de renda, diante do aumento da pobreza, da exclusão social e da desigualdade social no país.

Cresceram e muito as demandas por ações estatais voltadas à proteção social. Assim, neste último tópico da Unidade 2 estaremos apresentando um novo modelo de estratégia política e de intervenção frente às expressões da questão social, que foi caracterizada como tipificação nacional de serviços socioassistenciais.

2 CARACTERIZAÇÃO DA TIPIFICAÇÃO

Os sistemas de proteção social são formas institucionais que as sociedades ditas democráticas procuram efetivar a fim de atender às demandas sociais decorrentes de diversas vulnerabilidades sociais que pessoas, grupos, famílias, segmentos enfrentam na conjuntura em que vivem.

FIGURA 23 – TIPIFICAÇÃO RESOLUÇÃO DE 2009

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=tipificação+ nacional+serviços+socioassistenciais&biw>. Acesso em: 6 jan. 2015.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Com o intuito de melhorar a qualidade e ampliar os serviços socioassistenciais, foi aprovada uma resolução que descreve todos os tipos de ações que devem ser desenvolvidas dentro de uma rede integrada. A Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, aprovou a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, mas o que isto significa?

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é uma forma de organizar a assistência social por níveis de complexidade do Sistema Único de Assistência Social – SUAS: no que diz respeito à Proteção Social Básica e em relação à Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

O quadro a seguir demonstra os tipos de proteção e os centros de referências específicos (BRASIL, 2009, p. 3-4), de acordo com cada tipo de proteção e serviços à população.

QUADRO 14 - TIPIFICAÇÃO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

PROTEÇÃO BÁSICA (CRAS)I - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICAa) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)

b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e idosas.

PROTEÇÃO ESPECIAL (CREAS) II - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE:a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI).b) Serviço Especializado em Abordagem Social.c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC).d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias.e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

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PROTEÇÃO ESPECIAL (CREAS)III - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE:a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades:- abrigo institucional.- Casa-Lar.- Casa de Passagem.- Residência Inclusiva.b) Serviço de Acolhimento em República.c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências.

FONTE: Adaptado de: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2009. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/servicos/protecao-e-atendimento-integral-a-familia-paif/arquivos/tipificacao-nacional.pdf/download>. Acesso em: 15 jan. 2015.

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, aprovada pelo CNAS por meio da Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, estabelece os serviços que devem ser prestados nos CRAS e CREAS e os que podem ser prestados pelas organizações e entidades de assistência social. Ao detalhar os objetivos de cada serviço e as aquisições de seus usuários, a Tipificação oferece parâmetros para que estados, municípios e Distrito Federal definam padrões de qualidade que podem ser exigidos.

O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) constitui-se na regularização e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Ações essas, baseadas nas orientações da nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Os serviços, programas e benefícios têm como objetivo atender às famílias, seus membros e indivíduos, estando as suas ações focadas no desenvolvimento das potencialidades de cada um e no fortalecimento dos vínculos familiares.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) promove o acesso à assistência social às famílias em situação de vulnerabilidade, como prevê o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Articulada nas três esferas de governo, a estratégia de atuação está hierarquizada em dois eixos: a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial.A Proteção Social Básica tem como objetivo a prevenção de situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de fragilidade decorrente da pobreza, ausência de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos ou fragilização de vínculos afetivos (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014).

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Podemos, assim, constatar que a partir da LOAS a assistência social foi tipificada, ou seja, foi organizada com dois tipos de proteção social – básica e especial, conforme o Conselho Nacional de Assistência Social descreve (BRASIL, 2014, p. 4-5):

Art. 6º- A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de proteção: (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; II - proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos. Parágrafo único. A vigilância socioassistencial é um dos instrumentos das proteções da assistência social que identifica e previne as situações de risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território.

Nesta nova concepção, o SUAS é a organização de uma rede de serviços, ações e benefícios de diferentes complexidades que se reorganizam por dois níveis de proteção social:

• Proteção Social Básica sob responsabilidade do CRAS – Centro de Referência de Assistência Social.

• Proteção Social Especial sob responsabilidade do CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social.

O CRAS é uma unidade pública estatal de Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), busca prevenir a ocorrência de situações de riscos sociais através do desenvolvimento das capacidades dos atendidos, fortalecendo os vínculos familiares e sociais, aumentando o acesso aos direitos da cidadania. É uma unidade pública de referência para o desenvolvimento de todos os serviços socioassistenciais de Proteção Básica do SUAS.

Pode-se dizer que básico é aquilo que é basilar, mais importante, fundamental, primordial, essencial, ou aquilo que é comum a diversas situações. Na PNAS (2004) e na NOB (2005), a Proteção Social Básica está referida a ações preventivas, que reforçam a convivência, socialização, acolhimento e inserção, e possuem um caráter mais genérico e voltado prioritariamente para a família; e visa desenvolver potencialidades, aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e se destina a populações em situação de vulnerabilidade social (PNAS, p. 27) (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 8).

Nesse sentido, o CRAS atende a programas de transferência de renda, tais como:

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TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

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• Programa Bolsa Família • Programa Renda Cidadã • Benefício de Prestação Continuada (BPC) • Programa de Capacitação para o Trabalho

Os programas de transferência de renda visam ao repasse direto de recursos dos fundos de assistência social aos beneficiários como forma de acesso à renda, visando ao combate à fome, à pobreza e a outras formas de privação de direitos que levem à situação de vulnerabilidade social, criando possibilidades para a emancipação, o exercício da autonomia das famílias e indivíduos atendidos e o desenvolvimento local.

Para aprofundar o tema da política social brasileira, indicamos o livro “A Política

Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda”, de autoria de Maria Ozanira da Silva e Silva, Geraldo Di Giovanni e Maria Carmelita Yazbek, São Paulo, Editor: Cortez, 2004. 225p.

FONTE: MARTINS, Valter. A política social brasileira no século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. Rev. Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. 1, June 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802007000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 jan. 2015.

[...] como o Brasil é um país com alto índice de desigualdade social, assistentes sociais no país, em sua maior parte, têm seu trabalho voltado para a população em situação de pobreza ou com ausência de renda. Trabalham também com pessoas que têm seus direitos violados ou que estão em situação de vulnerabilidade social. (CFESS, 2014).

A vulnerabilidade social apresenta-se como uma baixa capacidade material, simbólica e comportamental, de famílias e pessoas, para enfrentar e superar os desafios com os quais se defrontam, o que dificulta o acesso à estrutura de

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade. Refere-se a uma diversidade de “situações de risco” determinadas por fatores de ordem física, pelo ciclo de vida, pela etnia, por opção pessoal etc., que favorecem a exclusão e/ou que inabilitam e invalidam, de maneira imediata ou no futuro, os grupos afetados (indivíduos, famílias), na satisfação de seu bem-estar – tanto de subsistência quanto de qualidade de vida.

Uma situação de vulnerabilidade social significa:

[...] uma baixa capacidade material, simbólica e comportamental, de famílias e pessoas, para enfrentar e superar os desafios com os quais se defrontam, o que dificulta o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do mercado e da sociedade (DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 111).

Pessoas e grupos em situações de pobreza, de desigualdade social, desvantagem, de injustiça, de discriminação, de exclusão social são considerados em vulnerabilidade ou em risco e constituem objeto de intervenção do Serviço Social, público-alvo de redes de serviços socioassistenciais, de benefícios, programas e projetos. Assim, podemos constatar que existem diversas situações sociais que se caracterizam como de vulnerabilidade social ou de risco social, ou seja, situações essas consideradas expressões sociais.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (2007, p. 13), “Os estudos sobre vulnerabilidade social, especialmente os que se aplicam à realidade dos países menos desenvolvidos, estão associados também à ideia de risco frente ao desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção social”.

Situações de vulnerabilidade social são condições sociais de pobreza, desemprego, discriminação, fragilização dos laços afetivos e familiares, descaso de caráter étnico, etário, de gênero, de condição física, psíquica, entre outros casos. Situações de vulnerabilidade social são contextos de desproteção social, porém sem risco, sem sequelas de degradação humana. Referindo-se a uma diversidade de “situações de vulnerabilidade social”, elas são determinadas por diversos fatores de ordem cultural, pelo ciclo de vida, pela etnia, por opção pessoal, entre outros, que favorecem a exclusão de grupos afetados, indivíduos, famílias, na satisfação de seu bem-estar e de qualidade de vida.

Já as situações sociais de risco envolvem aspectos e condições mais extremas, no sentido de não ter condições dignas de vida, de sobrevivência, de

UNI

Você sabe a diferença entre vulnerabilidade e risco social?

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saúde física e psíquica, são casos extremos que inabilitam e invalidam, de maneira imediata ou no futuro, pessoas, grupos ou famílias, envolvendo violência, maus tratos, abandono, negligência, desnutrição, privação de bens, vivência na rua, dependência química, dentre outras situações desumanas (KAUCHAKJE, 2011).

A pobreza, por exemplo, é uma vulnerabilidade efetiva, mas a condição de vulnerabilidade, embora a inclua, não se esgota na pobreza. São consideradas em situações de vulnerabilidade social ou em condições de risco social pessoas e famílias nas seguintes condições:

QUADRO 15 – DIFERENÇA ENTRE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL

SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE SOCIAL

CONDIÇÕES DE RISCO SOCIAL

Fragilidade de vínculos de afetividade /relacionais; de pertencimento sociabilidade.

Perda total ou parcial dos bens – vítima de sinistros (desabamento / enchente/ incêndio).

Discriminação por: etnia, gênero, orientação sexual / opção pessoal, faixa etária, deficiências.

Exploração no trabalho;Trabalho infantil;Trabalho escravo.

Redução da capacidade pessoal / Desvantagem.

Violência doméstica (física e/ou psicológica), maus tratos.

Discriminação de deficiência (auditiva, física, mental, visual e múltiplas).

Em situação de rua / população de rua, situação de mendicância/ sem domicílio fixo/ sem moradia.

Assédio sexual. Problemas de subsistência, ausência de renda; desnutrição.

Desemprego de longa duração. Privação de condições dignas de sobrevivência.

Conflito com a lei (no caso dos adolescentes infratores).

Dependentes químicos/usuários de drogas.

Inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal. Violência física, abuso sexual, pedofilia.

Negligência; descaso; falta de cuidados. Abandono.FONTE: A autora, 2015 (adaptado)

É imprescindível que o Serviço Social intervenha na esfera das desigualdades sociais, no que diz respeito às mais diversas expressões da questão social, pois sua atuação se dá intrinsecamente na busca constante das transformações da sociedade, através da garantia dos direitos sociais e da cidadania, objetivando o equilíbrio e a mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho versus capital, por meio de diversas políticas sociais (PIERITZ, 2013).

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Agora, especificando sobre a abrangência do CREAS – Centro de Referência Especializada de Assistência Social, o mesmo tem como foco a Proteção Social Especial tendo por referência quando o risco já se instalou, e evidencia a ocorrência de situações de vulnerabilidade social ou violação de direitos.

A Política Nacional de Assistência Social (MDS, 2015)

É uma política que, junto com as políticas setoriais, considera as desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à sociedade e à universalização dos direitos sociais. O público dessa política são os cidadãos e grupos que se encontram em situações de risco. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem contribuição prévia, a provisão dessa proteção.

O CREAS é uma unidade pública estatal, faz parte da Proteção Social Especial do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), oferecendo apoio e orientação especializados a indivíduos e famílias vítimas de violência física, psíquica e sexual, negligência, abandono, ameaça, maus tratos e discriminações sociais.

A Proteção Social Especial deve garantir o acolhimento e desenvolver atenções socioassistenciais a famílias e indivíduos, para possibilitar a reconstrução de vínculos sociais e conquistar o maior grau de independência individual e social. Assim o trabalho do CREAS baseia-se em:

• Acolher vítimas de violência;• Acompanhar e reduzir a ocorrência de riscos, seu agravamento ou recorrência;• Desenvolver ações para diminuir o desrespeito aos direitos humanos e sociais.

Para aprofundar o tema e ampliar seus conhecimentos sobre a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, sugerimos a leitura e estudo da Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009:

UNI

Foi possível compreender a diferença entre o CRAS e o CREAS?

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FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução nº 109, de 11, de novembro de 2009, que aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília, 2009. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/servicos/protecao-e-atendimento-integral-a-familia-paif/arquivos/tipificacao-nacional.pdf/download>. Acesso em: 15 jan. 2015.

Para ampliar ainda mais seus conhecimentos, analise este parecer do Conselho Federal de Serviço Social (2011, p. 29-30):

O conhecimento da legislação social é um pré-requisito para o exercício do trabalho. No caso do Serviço Social, esta é uma matéria obrigatória prevista nas Diretrizes Curriculares. A atualização do conhecimento dos marcos legais, contudo, é uma necessidade contínua de todos/as/ os/as trabalhadores/as e deve ser buscada conjuntamente pelas equipes do SUAS. Entre as principais legislações que são instrumento de trabalho dos profissionais, destacam-se:Constituição Federal – CF, 1988;Lei Orgânica da Saúde – LOS/1991;Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS/1992;Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS / 1993;Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA/1990;Estatuto do Idoso – Lei 10741/2004;Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004;Política Nacional do Idoso – PNI/1995Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência – PNIPD/1999;Norma Operacional Básica de Assistência Social – NOBSUAS/2005;Novo Código Civil;Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – NOB-RH/ SUAS/2007;Decretos e Portarias do Ministério de Desenvolvimento Social;Programa Brasil sem Homofobia.

UNI

Foi possível compreender um pouco mais sobre a amplitude das políticas públicas, especificamente sobre a política de assistência social no Brasil?

Esperamos que sim!

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Thiago Bazi BrandãoAdriana Alves dos Reis Almeida

A partir da Lei 8.742/1993, que dispõe sobre a Assistência Social, é criado em 2004 o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pela união dos assistentes sociais, profissionais, militantes da assistência e usuários na participação nos Conselhos, Conferências, movimentos sociais e outros. Segundo o Conselho Federal de Serviço Social- CFESS e ABEPSS (2009, p. 468):

Esse é, certamente, um dos maiores desafios dos assistentes sociais em relação à tendência referida, considerando-se reafirmação da assistência como o espaço privilegiado da prática profissional a partir da Lei Orgânica da Assistência (LOAS) e agora do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), com o qual avançou entre os assistentes sociais a perspectiva da luta pela assistência como direito, cuja centralidade merece atenção em relação à luta pelo direito ao trabalho, fundamental na sociedade capitalista e à organização da classe trabalhadora.

Diante dessa nova modalidade de atendimento, pergunta-se: Quais são os desafios enfrentados pelos assistentes sociais na atuação com famílias, no âmbito da Política de Assistência Social? Depois do ano de 2004, com a criação do SUAS, o Serviço Social tem como desafio utilizar as competências dos profissionais assistentes sociais para contribuir na efetivação da Política de Assistência Social. De acordo com a Gestão do Trabalho do SUAS:

A Assistência Social é, nesse sentido, um campo fundamental e estratégico de mediações políticas para a conquista de garantias do trabalho na esfera pública dessa política pública e para o exercício cotidiano da leitura crítica da realidade brasileira, especialmente no contexto de centralização do combate à pobreza e de crise cíclica do capital, na afirmação da necessária ampliação dos direitos e da proteção social. (GESTÂO/SUAS, 2011, p. 36).

Para realizar trabalho em equipe, interligado com o Estado para articular as redes socioassistenciais. Assim, propor projetos e planos de trabalho, pois o serviço social trabalha o processo de reprodução das relações sociais tanto entre

UNI

Não esqueça de recorrer às leis, estatutos, políticas, programas, normas, decretos, buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada, principalmente

aqueles mais antigos, visto que muitos foram alterados no decorrer de sua data de criação, pela questão da própria necessidade de adequação com a realidade da sociedade atual.

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TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

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os usuários que buscam atendimento, e os profissionais que estão envolvidos no trabalho da Assistência Social: Iamamoto (2011) entende como competência profissional as estratégias e técnicas junto à capacidade de leitura da realidade conjuntural, na habilidade ao trato das relações humanas que o assistente social tem com a equipe de trabalho e outros.

O Programa de Atenção Integral à Família – PAIF instituiu o Centro de Referência em Assistência Social – CRAS para prestar atendimento às famílias em vulnerabilidade social. De forma que no mesmo ano, também pela edição da Política Nacional de Assistência Social/ PNAS-2004: o CRAS é vinculado ao Sistema Único de Assistência Social, o SUAS. Segundo a Revista A Melhoria da Estrutura Física para o Aprimoramento dos Serviços (MDS, 2011, p. 8):

O novo sistema procurou romper com a fragmentação de programas, estabelecer um padrão de racionalidade e organicidade e reordenar-se por categorias de serviços e níveis de complexidade. Nesse contexto, o CRAS passou a ser o lócus preferencial para a articulação e coordenação dos ‘serviços de proteção social básica’, uma das duas vertentes do sistema, fundamentado em dois pilares: o da centralidade das famílias e o da territorialidade.

De acordo com esta nova modalidade de atendimento ao usuário da Assistência Social, o Serviço Social, em atendimento interdisciplinar, desenvolve ações integradas que têm como propósito ampliar as perspectivas de abordagem profissional, permitindo aos profissionais realizarem o trabalho com visões diferentes e assim confrontar ideias, referentes ao que cada profissional defende como princípios éticos.

E por meio dessa nova modalidade no atendimento que é desenvolvido na Assistência Social, sendo de responsabilidade municipal; o MDS tem como proposta a implantação do CRAS em pontos estratégicos de todas as cidades, em todo o território brasileiro, na forma de proteção básica e inclusão social em níveis de diferentes complexidades. Pois é na unidade onde está presente o profissional do Serviço Social que faz-se a oportunidade desse profissional contribuir para a autonomia e o protagonismo das famílias que buscarem atendimento.

De forma que o assistente social, juntamente com a equipe multiprofissional, tem a oportunidade de maior acerto nas intervenções individuais, ao compartilharem o conhecimento profissional. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011, p. 65), “A interdisciplinaridade é um processo de trabalho recíproco, que proporciona um enriquecimento mútuo de diferentes saberes, que elege uma plataforma de trabalho conjunta, por meio da escolha de princípios e conceitos comuns”.

Porém, a práxis do assistente social tem um diferencial das demais profissões, pois sua estruturação é histórica, aconteceu pela luta nos movimentos sociais com a sociedade em busca da democratização do país. A qual está ancorada nos fundamentos históricos teórico-metodológicos, e na ação profissional vinculada ao Código de Ética que norteia a profissão. De acordo com a Gestão do trabalho no âmbito do SUAS:

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Convém lembrar que dos profissionais definidos na NOB RH/SUAS para compor as equipes de referência dos CRAS (Assistência Social e Psicólogo), CRES (Assistente Social, psicólogo e Advogado) e dos serviços de acolhimentos (Assistente Social e Psicólogo). (GESTÃO/SUAS, 2011, p. 96).

Sendo assim, o assistente social na Assistência Social, junto com a equipe interdisciplinar, tem como papel realizar suas ações, de forma coletiva; a exemplo deste trabalho profissional, os CRAS são instituições onde acontecem reuniões semanais, buscam contextualizar o trabalho, não de maneira individual, mas sim acontecem trocas de experiências profissionais, para a realização das atividades dentro da instituição.

Podemos definir algumas das atividades do assistente social, como: Assessoria aos movimentos sociais, realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre o acesso e implantação da Assistência Social, realizar estudos socioeconômicos, organizar os procedimentos e realizar atendimentos individuais ou coletivos nos CRAS, e exercer função de direção ou coordenação nos CRAS e CREAS e Secretarias. (CFEES, 2011, p. 22). O assistente social também realiza junto à equipe de referência outras atividades, conforme o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011, p. 40):

A partir da escolha da concepção de trabalho social com famílias do PAIF que será adotada, é importante que se desenhe a(s) metodologia(s) a serem implantada(s), de acordo com as características dos territórios, planeje a organização do espaço físico, defina os equipamentos necessários, os processos de trabalho, carga horária, e a rotina de planejamento das atividades semanais (acolhida, acompanhamento de famílias e de indivíduos, grupos/oficinas de convivência e atividades socioeducativas, visitas domiciliares, busca ativa, atividades coletivas-campanhas, palestras – e acompanhamento dos serviços prestados no território de abrangência do CRAS).

Essas atividades que são desenvolvidas pelo serviço social, de forma a proporcionar ao cidadão o acesso aos serviços socioassistenciais e benefícios de transferência de renda, com garantia de direitos a todas as famílias que estão incluídas no PAIF, são parte do trabalho do assistente social. E não somente na modalidade de matricialidade sociofamiliar, como foi analisado no artigo da autora Carloto, ‘No meio do caminho entre o privado e o público’. (CARLOTO; MARIANO, 2010).

Carloto e Mariano (2010) fazem uma crítica ao atendimento nos CRAS, onde as mulheres são quem recebem os benefícios de transferência de renda; são elas que participam das reuniões de grupos, de forma que os homens pais, ou outros responsáveis, não participam. Não há um envolvimento de toda a família, e muitos homens, mesmo sendo responsáveis, não têm acesso a essas políticas sociais, e sim as mulheres, os homens perdem a responsabilidade de provedor.

Mais recentemente, com a criação do SUAS, a família tornou-se o lócus privilegiado do conjunto das ações de enfrentamento da pobreza no país. Observa-se, no SUAS, a perspectiva da “matricialidade sociofamiliar”

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TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

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com papel de destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social. (ALENCAR, 2013, p. 133).

O assistente social pode encontrar neste contexto o diferencial no trabalho, não realizar ações somente para famílias com perfil de matricialidade, onde só a mulher é responsabilizada pela proteção da família, mas investir na participação de toda a família, independente do perfil familiar.

Com essa percepção, o assistente social tem a possibilidade de realizar um trabalho com mais envolvimento com os usuários, e não cair em uma prática alienada no desenvolvimento do seu trabalho profissional. Por isso é importante analisar o contexto social das famílias e indivíduos, que serão atendidas por meio da assistência social, buscando de forma crítica prestar esse atendimento. Esse é um diferencial no trabalho do assistente social, não tratar uma situação que necessita de uma intervenção apenas como mais um caso, sem uma análise contextualizada da realidade.

A pesquisa é ainda um recurso importante no acompanhamento da implementação e avaliação de políticas, subsidiando a (re)formulação de proposta de trabalho, capaz de ampliar o espaço ocupacional dos profissionais envolvidos. (IAMAMOTO, 2011, p. 146).

Outra questão que é importante ressaltar, presente na Política Nacional de Assistência Social que criou o SUAS: que a Assistência Social é literalmente para a classe subalterna, ou seja, para a família que está em situação de vulnerabilidade social. (PNAS/2004, NOB/SUAS, 2005, p. 33)

Porém, esse trabalho poderia ser diferente. Em vez de ser interventivo, ser de prevenção, como exemplo: promover atividades de esporte aos filhos das famílias atendidas e para toda a comunidade próxima aos CRAS, antes que os jovens se envolvam com drogas e com o crime organizado. Isso poderia acontecer se o Estado investisse mais nas demais políticas sociais para atender à necessidade da demanda de cada local. Essa conquista pode fazer parte de uma busca diária no exercício do trabalho do assistente.

FONTE: BRANDÃO, Thiago Bazi; ALMEIDA, Adriana Alves dos Reis. Os desafios da atuação do assistente social com família no campo socioassistencial, 2014. Trabalho de Conclusão de Curso. Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em (Serviço Social, Política Social e Família). Universidade Católica de Brasília. Disponível em: <http://repositorio.ucb.br/jspui/handle/10869/3346>. Acesso em: 15 fev. 2015.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste quarto tópico estudamos a tipificação nacional de serviços socioassistenciais, compreendendo os seguintes aspectos:

• Percebemos o crescimento das ações estatais voltadas à proteção social, como forma de erradicar a pobreza extrema e diminuir as desigualdades sociais.

• Compreendemos que a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é uma forma de organizar a assistência social por níveis de complexidade do Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

• Esclarecemos a diferença entre situação de vulnerabilidade social e de risco social, especificando vários exemplos.

• Especificamos a importância de recorrer às leis, estatutos, políticas, programas, normas, decretos, buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada.

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1. As ações estatais voltadas à proteção social foram ampliadas e consolidadas, assim também surgiram várias siglas, termos, programas sociais, leis, resoluções. Refletindo sobre a amplitude da política de seguridade social, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I – TIPIFICAÇÃO.II – CRAS.III – CREAS.IV – NOB SUAS.

( ) Organiza o modelo da proteção social, normatizando e operacionalizando os princípios e diretrizes de descentralização da assistência social na realidade brasileira. ( ) Proteção social de pessoas e famílias que ainda não estão em situação de risco social, mas precisam de proteção e promoção social.( ) É uma forma de organizar a assistência social por níveis de complexidade, compreendendo: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.( ) Prestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em situação de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam intervenções especializadas da proteção social especial.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – IV – III – II.b) ( ) IV – II – I – III.c) ( ) II – I – IV – III.d) ( ) I – III – II – IV.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA

CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer, analisar as possibilidades e alternativas de reversão do agrava-mento das expressões da questão social, especificamente, os desafios que deverão ser enfrentados no novo milênio pelos diversos setores da socie-dade;

• refletir sobre a construção de uma nova ordem societária, procurando sin-tonizar o serviço social na contemporaneidade brasileira;

• abordar o tema da desigualdade social, as concepções dos sistemas de in-dicadores e os objetivos do desenvolvimento social do milênio;

• analisar e discutir a reconstrução da sociedade pelo desenvolvimento da cultura, da liberdade e da condição humana do sujeito.

A Unidade 3 está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as ativi-dades propostas.

TÓPICO 1 – POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

TÓPICO 2 – REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SIN TONIZANDO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

TÓPICO 3 – A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

TÓPICO 4 – RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA HUMANA

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TÓPICO 1

POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO

AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Este primeiro tópico tem por objetivo apresentar algumas reflexões a respeito das possibilidades e alternativas de reversão do agravamento das expressões sociais da questão social no Brasil.

Você irá rever e rediscutir as novas expressões sociais consideradas como expressões sociais, que se mostram na realidade brasileira, bem como os dilemas que o Estado deverá resolver ou equacionar de fato.

Serão abordadas as implicações das expressões sociais que são rebatidas e enfrentadas pelo primeiro, segundo e terceiro setor, em alguns casos de forma paliativa e conformista, clientelista e não democrática e em outros de forma intencional, consciente e crítica, democrática e transformadora na construção de novos valores sociais e de uma nova realidade brasileira, mais humana, justa e participativa.

2 OS DESAFIOS DAS EXPRESSÕES MULTIFACETADAS DA QUESTÃO SOCIAL

Os desafios para melhorar a qualidade de vida no mundo e no Brasil são imensos e parecem infindáveis, visto o agravamento das expressões sociais que se multiplicaram, se transformaram e se configuraram em outras “roupagens”, problemas antigos e novos, porém em sua gênese questões sociais anteriormente e historicamente, não abordados, não prevenidos e não resolvidos.

Assim, como o capitalismo teve um acirramento em sua forma de se desenvolver e se constituir com a efetivação da chamada globalização e internacionalização da economia, consequentemente as expressões sociais também se proliferaram no cenário contemporâneo mundial e brasileiro.

Nesse sentido, o CFESS (2012, p. 50), especifica de forma bem clara:

Se a questão social é uma velha questão social, inscrita na própria natureza das relações sociais capitalistas, ela também tem novas

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roupagens, novas expressões em decorrência dos processos históricos que a redimensionam na atualidade, aprofundando suas contradições. Alteram-se as bases históricas que mediatizam sua produção/reprodução na periferia dos centros mundiais, em um contexto de globalização da produção e dos mercados, da política e da cultura, sob a égide do capital financeiro, acompanhadas de lutas surdas e abertas, nitidamente desiguais, que demarcam esse processo na cena contemporânea.

Assim, até por uma questão cultural fomentada pela ideologia capitalista, muitos possuem uma visão comum e distorcida sobre o termo qualidade de vida, como por exemplo, para algumas pessoas ter emprego e dinheiro é ter qualidade de vida, pois consideram que conseguem comprar o que precisam, assim, a felicidade está condicionada e associada ao valor e poder de compra e consumo.

Porém, percebemos que a qualidade de vida é muito mais do que a obtenção de dinheiro, bens materiais e de consumo, como prioriza o capitalismo.

A qualidade de vida envolve um mundo muito além do que ter bens e riquezas individualmente, trabalho e renda, poder de consumo de bens, serviços, produtos e artigos de marca e luxo.

A noção de qualidade de vida envolve duas grandes questões: a qualidade e a democratização dos acessos às condições de preservação do homem, da natureza e do meio ambiente. Sob essa dupla consideração, entendeu-se que a qualidade de vida é a possibilidade de melhor redistribuição – e usufruto – da riqueza social e tecnológica aos cidadãos de uma comunidade, a garantia de um ambiente de desenvolvimento ecológico e participativo de respeito ao homem e à natureza, com o menor grau de degradação e precariedade. Sabemos que existem questões prioritárias que devem ser enfrentadas em todos os sentidos, pelo Estado, pelas empresas, pelas instituições que congregam o terceiro setor, em fim por toda sociedade civil organizada e por cada cidadão brasileiro (DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 91).

Nesse sentido de amplitude, levando em consideração as melhores condições de vida que o ser humano necessita, todos devem ser corresponsáveis por uma natureza harmoniosa, um meio ambiente sadio e limpo, um mundo e uma sociedade melhor. Porém, percebemos que muitos dos problemas mais abrangentes e essenciais, melhor dizendo, prioritários, dependem do Estado em suas vertentes enquanto poder legislativo, executivo e judiciário.

Para o melhor desenvolvimento de um país, o Estado é o principal alavancador de ações em termos de qualidade de vida no sentido de amplitude, descrito anteriormente, visto que existem inúmeros desafios maiores, expressões sociais mais abrangentes que se configuram no cenário brasileiro que cabem ao Estado enfrentá-los, diminuí-los ou saná-los.

Castel (2013a), em seu livro As Metamorfoses da Questão Social, enfatiza a importância da proteção social ao trabalhador, isso no contexto do neoliberalismo, procurando explicitar a necessidade da sociedade e do governo no sentido de

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encontrar respostas para uma questão emergente, que diz respeito à questão salarial na sociedade. Assim, o enfrentamento realizado pelo Estado deve ser direcionado para a constituição de um Estado Social, promotor de coesão social, ou melhor descrevendo, um Estado Democrático de Direito. “De um lado, em sua obra inicial, R. Castel aponta uma crítica ao Estado e sua capilaridade, de outro lado, em obras recentes, delineia uma defesa do Estado e clama justamente pela expansão desses canais longínquos de proteção social”. (SILVA, 2012, p. 67).

Descrevemos, no quadro a seguir, alguns desafios frente às questões sociais no Brasil, necessidades e prioridades que merecem estudo, análise, reflexão, discussão e enfrentamento, essencialmente enfrentamento, que deve ser realizado pelo chamado “primeiro” setor da sociedade, o Estado.

QUADRO 16 – DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS NO BRASIL PELO ESTADO

DESAFIOS FRENTE ÀS QUESTÕES SOCIAIS NO BRASIL NECESSIDADES E PRIORIDADES

EFETIVAR DE FATO A REFORMA POLÍTICA NO PAÍS

No sentido de uma profunda alteração política no país, ou seja, uma transformação sistêmica da engenharia política atual, e não apenas reformas pontuais ou de algumas situações ou casos do arcabouço institucional político.

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Distribuir renda não é dar benefícios para as pessoas, faz-se necessário diminuir a desigualdade social e melhorar, e muito, no país as condições para obtenção de renda, aumento da renda, investir “pesado” em educação e saúde, ou seja, enfrentar a pobreza como ela realmente deve ser enfrentada.

REFORMA AGRÁRIA

A distribuição de terras e produção de alimentos saudáveis são desafios ao país, a reforma agrária é proposta antiga no Brasil que não se resolve de fato.

MELHORAR A QUESTÃO HABITACIONAL

Para garantir moradia, governantes terão de enfrentar a especulação imobiliária e suprir o déficit habitacional, bem como melhorar a qualidade das construções das moradias que são oferecidas via aos programas sociais.

MOBILIDADE URBANA

Transporte público e planejamento urbano devem ser prioridades nos próximos anos, visto o caos de mobilidade nos centros urbanos no país.

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MELHORAR A QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA SAÚDE

Investimentos diversos de forma contínua e não esporádica são essenciais para a área da saúde, financiamento, gestão e formação profissional devem ser prioridades vitais.

DIMINUIR A VIOLÊNCIA E A CRIMINALIDADE

Redução de homicídios e presos também deve ser prioridade na área de segurança.

DEMOCRATIZAR A EDUCAÇÃO E MELHORAR A QUALIDADE

O país precisa aumentar investimentos significativos em educação e ampliar matrículas, além da inclusão social de pessoas com deficiência, qualificação dos professores e infraestrutura.

INVESTIR E AMPLIAR O ACESSO DA POPULAÇÃO À CULTURA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NAS REGIÕES

Há um número insuficiente de equipamentos e estruturas nas regiões mais pobres do Brasil, como centros culturais, teatros, museus, dentre outros, quando não, inexistentes. O descaso público com bens culturais, falta de investimentos, preservação e divulgação dos patrimônios culturais nas cidades são desafios a serem enfrentados na área da cultura.

REDISCUTIR A POLÍTICA INDÍGENA E VALORIZAR SUA IDENTIDADE

Conciliar interesses de índios e produtores rurais é um dos desafios para o país, bem como valorizar e conservar a cultura indígena. Percebe-se que é um desafio rediscutir a política indígena, porém não é vista como prioridade no Brasil.

EFETIVAR O PLANEJAMENTO URBANO E AMPLIAR O SANEAMENTO BÁSICO

Se não houver investimentos na questão urbana de forma efetiva, vamos continuar sofrendo as consequências no sentido de não termos qualidade de vida, bem-estar coletivo, saúde e um meio ambiente limpo.

PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Necessário alterar as formas de produção e interação com o meio ambiente em que vivemos. Talvez, nesse sentido, se possam diminuir os efeitos negativos que causamos a nós mesmos.

AUMENTAR AS PESQUISAS E OS INVESTIMENTOS EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Carência de recursos e burocracia são entraves para ciência e tecnologia no país, bem como financiamento contínuo, pois algumas pesquisas não podem ser feitas a curto prazo, pois os resultados dependem de tempo.

FONTE: Adaptado de ALMANAQUE ABRIL. 2015. Ano 41. São Paulo: Editora Abril. Disponível em: <https://almanaque.abril.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2015.

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Acredita-se que, a reforma de todas as reformas, ou seja, a começar por ela, é a reforma política, pois tudo depende dos poderes que congregam a função do Estado, no caso do Brasil, do Estado Democrático de Direito.

Assim, conforme José Afonso da Silva (1994, p. 110, apud MARQUES; NUNES, 2012), “a tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático que realize a justiça social”.

Nesta perspectiva de análise e reflexão, é necessário esclarecer que existem princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, essenciais para o bem-estar de toda coletividade, incluindo pessoas, natureza e meio ambiente, esses são mais gerais e abrangentes, que se caracterizam como princípio de lei de regras gerais, ou regras fundamentais tidas como base.

Alguns princípios fundamentais podem ser descritos, tais como o princípio da constitucionalidade, da democracia, da justiça social, da igualdade social, da divisão dos poderes, da legalidade, da segurança jurídica e o sistema de direitos fundamentais (SILVA, 1994, apud MARQUES; NUNES, 2012).

Os princípios fundamentais de um Estado Democrático são os fundamentos de uma sociedade, ou deveriam ser, tais como: a soberania, cidadania, dignidade, valores sociais e o pluralismo político que dependem de vários poderes, como do legislativo, executivo e judiciário, do poder que emana do povo que tem como representantes os políticos e do poder da união indissolúvel dos Estados, municípios e do Distrito Federal que devem efetivar a garantia dos direitos sociais.

Para explicar de forma mais objetiva e clara, segue uma visão geral e ampla dos princípios e poderes da República Federativa do Brasil, assim podem ser compreendidos na figura a seguir.

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FIGURA 24 – MAPA MENTAL DOS PRINCÍPIOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/h?q=significado+princ%C3%ADpios+fundamentais+do+Estado+Democr%C3%A1tico+de+Direito&espv>. Acesso em: 14 mar. 2015.

Referindo-se ao Estado Democrático de Direito no Brasil, percebemos uma limitação profunda em efetivar a igualdade e a justiça social de fato, visto que inúmeras reformas que foram realizadas não efetivaram as reformas políticas necessárias para que as demais reformas fossem então reformuladas, criadas e implementadas no país.

Assim, acredita-se que a reforma mais importante e que deveria impulsionar todas as outras a partir de então, seria a reforma política, que parece intocável pela sua própria institucionalização que favorece a todos aqueles que de início a implementaram.

Nesse sentido percebe-se o número de vantagens, salários, cargos comissionados, aposentadorias, benefícios, regalias, direitos absurdos daqueles que estão no poder e não almejam mudança, seja no executivo, legislativo ou judiciário.

Para alguns analistas, o comprometimento e os limites de várias reformas propostas e implementadas nos governos FHC e Lula podem ser esclarecidos pelo fato de a dimensão do sistema político não ter sido atingida (Abranches, 2005; Fleischer, 2005). Ou seja, os atores políticos atuantes nas instituições políticas estavam e estão inseridos na forma viciada da engenharia política instituída. Nessa perspectiva, somente com uma reforma política teria havido a possibilidade de outras reformas mais amplas. A ‘mãe’ de todas as reformas seria a reforma política, sendo a geradora de condições que resultariam em alterações estruturais no País.Cabe ainda esclarecer que o debate sobre a reforma política tem como preocupação garantir o bom funcionamento de um regime político democrático, baseado especialmente no desafio da construção da governabilidade, na eficácia decisória e na boa representação. (KRAUSE, 2008, p.125).

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Ainda sobre a reforma política, Krause (2008, p. 124), descreve que “[...] uma possível reforma política não irá instaurar a democracia, mas aperfeiçoá-la. Não se refere a uma mudança de natureza do regime, mas da sua qualidade”.

Seguindo a discussão, como efetivar a igualdade social, a justiça social, a distribuição de renda sem uma autêntica e profunda reforma política no Brasil?

Dando continuidade aos questionamentos, como é o perfil da distribuição de renda, ou seja, como a riqueza total que é produzida no país é distribuída entre a população?

Segundo Fonseca (2004, p. 1), “A relação entre desenvolvimento econômico e distribuição de renda é dos temas mais controversos da teoria econômica”, pois nem sempre desenvolvimento econômico é significado de desenvolvimento social e humano, visto que no Brasil a distribuição de renda sempre foi considerada uma das mais desiguais do mundo.

A questão social no Brasil é moldada de acordo com os interesses das elites políticas. A questão social, que com a questão trabalhista firma-se como proteção social (como direitos sociais e filantropia), assume característica paternalista, de política do favor, de patriarcalismo autoritário, ou seja, misérias transformam-se em instrumentos, armas de dominação, bem como a reprodução do sistema. Por isso, ainda hoje, direitos são vistos pela elite como privilégios, favores.Desde a sua origem, o nosso sistema de proteção social, em vez de existir para garantir a capacitação e inclusão dos cidadãos (desempregados, analfabetos, pessoas em situação de miséria) no mercado de trabalho, tem funcionado apenas para reproduzir o atual sistema de subalternidade, de subserviência, de apadrinhamento das classes assalariadas e do povo em geral frente àqueles detentores do poder econômico e político do país. Vivemos, na verdade, um sistema de desproteção social, e as múltiplas expressões da questão social atravessam o cotidiano da maior parte dos brasileiros, levando-os a uma vida de privações e não acesso aos bens sociais e à riqueza produzida socialmente. (GUIMARÃES; BELLINI, 2013, p. 13).

Pode-se fazer uma análise sob duas perspectivas sobre o enfrentamento da desigualdade social no Brasil, uma delas sob o ponto de vista crítico e outra sob o ponto de vista protecionista tendo como base aqueles que estão no poder e que efetivam as políticas públicas e sociais no país.

Seguindo uma linha de discussão crítica, o sistema de proteção social no país não tem proposta de emancipação humana, em vez de existir para garantir a capacitação e inclusão das pessoas no mercado de trabalho, para que assim, obtenham renda para terem autonomia e independência, bem como para garantir a melhoria das condições de renda daqueles que estão trabalhando, na realidade tem funcionado em forma de assistencialismo para àqueles que estão em situação de vulnerabilidade e risco social.

Assim, enquanto uns acham que estão vivendo melhor sendo beneficiados com várias vertentes de alguns míseros benefícios sociais, outros indivíduos vão

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migrando para outras situações e condições de pobreza, configurando novas formas de pobreza, mesmo tendo trabalho e sendo assalariadas, pouco ou nada o Estado faz de concreto em termos de prevenção ou promoção para que se tenha uma renda adequada e um trabalho não vulnerável.

Agora, sob o ponto de vista protecionista, tendo como base a visão daqueles que estão no poder e que efetivam as políticas públicas e sociais no Brasil, a miséria foi combatida no país, a desigualdade social diminuiu significativamente, a qualidade de vida das pessoas melhorou, e muito, os investimentos na área social estão garantindo todos os direitos sociais à população vulnerável no país. A democracia e a cidadania estão sendo efetivadas de fato no Brasil, a partir de todo esforço do Estado por meio das políticas públicas e sociais, onde a inclusão social de milhões de brasileiros está sendo efetivada e garantida pelo Estado Democrático de Direito conforme a Constituição Federal.

Bem, temos que analisar esses dois pontos de vista, pois ambos são, em parte, coerentes e, em parte, duvidosos!

A desigualdade social no Brasil, realmente é um fato antigo, histórico, enraizado que abrange a economia e a má distribuição de renda, desde o surgimento do sistema capitalista e seu desenvolvimento que continua avançando por meio do processo de exploração e dominação em todos os sentidos, não somente do ponto de vista econômico, mas político, social, cultural, ideológico, ambiental.

A libertação da polêmica envolvida na dicotomia entre crescimento e desenvolvimento de forma alguma apaga ou negligencia qualquer preocupação social do analista; ao contrário, contribui para explicitar, de forma cabal, que desenvolvimento e distribuição são processos diferenciados, não necessariamente coincidentes e que só coexistem se cumpridas algumas pré-condições de natureza extremamente complexa: institucionais, políticas e culturais. Assim, pode-se ter desenvolvimento com ou sem melhoria da distribuição de renda, com ou sem melhoria dos indicadores sociais, não havendo nenhuma “lei”, natural ou social, que obrigue um ou outro caminho em termos de economia. A distribuição pode ocorrer, mas não decorre da lógica do crescimento [...]. (FONSECA, 2004, p. 3).

Assim, analisando a discussão sobre a distribuição de renda, ela pode ou não ocorrer, mas realmente não irá depender do desenvolvimento econômico como alguns acreditam, pois seguindo a lógica do capitalismo, se instaura um modelo de vida e mundo não para o ser humano, mas essencialmente utilizando o homem como meio, a favor do capital, do lucro, do sistema, embora obscuramente se enfatize o contrário.

Segundo Oliveira (2006, p. 2)

Durante muito tempo, o pensamento dominante foi que desenvolvimento e crescimento econômico seriam a mesma coisa: bastava que uma comunidade produzisse riqueza, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), para ser considerada desenvolvida. Acreditava-se também que o crescimento econômico “transbordaria” dos ricos para os pobres e que,

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por isso, bastaria atrair e incentivar empresas – de preferência grandes – para desenvolver uma região. Os empregos seriam automaticamente criados, a arrecadação de impostos aumentaria, e todos ganhariam com isso. Os fatos e as pesquisas mostraram que o mundo real não é bem assim.

Nessa lógica ideológica do capitalismo e do Estado que é mínimo, mas se diz “máximo”, a miséria não desaparece, constatamos que ela apenas diminuiu e a pobreza, na realidade, também não desaparece, mas aumentou de forma diferenciada, sendo aliviada, camuflada e metamorfoseada.

FIGURA 25 – SITUAÇÃO DA POBREZA E DA FALTA DE MORADIA NA CIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Na realidade, há um aumento da pobreza, pois surgem outras formas de pobreza, além daquela em que as pessoas não possuem o básico para sobreviver, enfim, surgem novas configurações das expressões da questão social no Brasil, novos excluídos, seja na área rural ou urbana, campo ou cidade.

Num cenário de crescente pobreza, absoluta e relativa, cujo avanço da ofensiva neoliberal imprime um papel para o Estado, mínimo para o social e máximo para o capital (nos termos de NETTO, 1999), as agências multilaterais se consagraram como as mais apropriadas para promover ações e políticas de alívio à pobreza, ou seja: ajuda internacional mediante transferência de capitais e tecnologias. É diante desse contexto que o Banco Mundial vem assumindo a expressão do multilateralismo e se tornando o principal promotor das políticas de combate à pobreza, sobretudo nos países da periferia. (SIQUEIRA, 2012, p. 355).

Podemos compreender que, do ponto de vista normativo, existe a pobreza absoluta e a pobreza relativa, analisando essa visão normativa a pobreza absoluta é aquela em que as necessidades básicas de subsistência não são supridas, assim as pessoas carecem de materiais básicos para a sobrevivência, como por exemplo: falta de comida, de moradia, de vestuário, entre outros aspectos mínimos que possam garantir a vida.

Refletindo sobre a desigualdade social e a má distribuição de renda no país, até há pouco tempo, a pobreza era entendida em termos de rendimento ou de falta deste. Ser pobre significava que não se dispunha de meios econômicos para pagar uma dieta alimentar ou uma habitação adequada. (FREITAS, 2010, p. 7).

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Verifica-se a pobreza absoluta no contexto das condições sociais de vida das pessoas e das famílias no Brasil, onde os mesmos carecem de requisitos básicos a sobrevivência digna, como exemplo, podemos observar a figura a seguir, que demonstra essa realidade, aqui no caso da falta de moradia digna.

FIGURA 26 – UM DOS EXEMPLOS DE POBREZA ABSOLUTA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Podemos verificar que esta família carece de um dos requisitos básicos para a existência humana, no caso, a falta de abrigo, um abrigo com qualidade e dignidade, uma moradia, uma casa, um lar.

Freitas (2010, p. 7) descreve bem a caracterização da pobreza absoluta:

A concepção de pobreza absoluta entende a natureza da pobreza como associada a não satisfação de um conjunto de necessidades básicas e, portanto, na ideia base de subsistência. Estas necessidades são identificadas através de processos próprios, podendo estar relacionados com o contexto social. Para se viver numa situação de pobreza absoluta, diz-se que os indivíduos carecem de requisitos fundamentais para a existência humana: comida suficiente, abrigo e roupa. Um indivíduo que se encontre abaixo deste padrão universal é considerado vítima de pobreza absoluta.

Compreendendo a pobreza absoluta, iremos identificar melhor a concepção de pobreza relativa, como não sendo aquela extrema, mas sendo aquela que pode ser relacionada ou comparada com o padrão de vida das demais pessoas numa determinada sociedade. Na pobreza relativa existem necessidades, porém não básicas para a sobrevivência, sendo assim não comprometem a vida das pessoas, como no caso ocorrem nas situações de risco social que caracterizam a pobreza absoluta.

Assim, podemos enfatizar que na pobreza relativa, as pessoas estão em situação de vulnerabilidade social, porém não de risco, mas na pobreza absoluta o quadro é mais agravante, assim as pessoas se encontram em situação de risco social, situações ou condições que comprometem os meios mínimos de sobrevivência, de subsistência biológica para viver.

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Enquanto a concepção absoluta de pobreza considera primordial a incapacidade de subsistência biológica das necessidades, na concepção de pobreza relativa é o contexto social que determina as necessidades a satisfazer. Na pobreza absoluta trata-se de casos mais extremos, enquanto a relativa permite comparar com outros dentro da própria comunidade. (FREITAS, 2010, p. 8).

Assim, a pobreza não consiste apenas em rendimentos ou numa ração calórica insuficiente, especificamente tem a ver com a recusa de oportunidades e de escolhas que são de um modo geral consideradas essenciais para ter uma existência longa, saudável e criativa, bem como gozar de um nível de vida razoável, de liberdade, de lazer, de dignidade, de respeito com as pessoas, com os bens públicos, de cuidado de si e do outro.

Para Robert Chambers (2006 apud RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014, p. 15) “vulnerabilidade não é o mesmo que pobreza. Não significa estar carente ou necessitado, mas sim indefeso, inseguro e exposto a múltiplos riscos, choques e estresse”. Assim, vamos percebendo que a vulnerabilidade é muito mais complexa e ampla que a pobreza em si. Estar em situação de vulnerabilidade é estar em uma das diversas situações ou condições diversas de insegurança, riscos, pressão, estresse, entre outras inúmeras.

FIGURA 27 – VALORES DE RENDA NO BRASIL E POBREZA (2013)

FONTE: Datafolha/nov.2013. Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=má+distribuiçã o+de+renda&biw. Acesso em: 17 mar. 2015.

Analisando a pirâmide que demonstra a renda mensal das famílias no Brasil, tendo como fonte a Datafolha/nov.2013, vamos perceber que não tem como sobrar dinheiro para uma vida digna, de liberdade, com lazer, enfim, com qualidade de vida. Estamos vivendo em uma época que, a renda mensal está sendo direcionada apenas para o básico do básico ou seja, para as necessidades básicas de sobrevivência, isso quando a família consegue pagar os impostos e as contas em dia, como, por exemplo, a conta de energia elétrica que teve aumentos absurdos neste ano no país.

Constatamos que mesmo trabalhando, a pessoa não consegue ter qualidade de vida, especificamente um lazer digno, assim a TV se torna a única opção, um

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mal necessário que aliena e aprisiona as mentes humanas e a capacidade de crítica e reflexão.

Segundo Junho (2015, p. 49), “O sistema capitalista transformou o trabalhador num verdadeiro escravo do tempo, sem ter condições de lazer ou, em muitos casos, de receber um salário digno e proporcional a suas horas de dedicação ao emprego”.

Assim, nós percebemos que a falta de recursos e renda para as diversas satisfações do ser humano, por vezes, inexistem ou se existem, se fazem valer de forma fragmentada ou ineficiente, bem como a falta de participação e poder nas decisões do país de forma efetiva, da sociedade, da cidade, no seu bairro, assim, aqueles que deveriam representar os interesses da população, na maioria dos casos se preocupam em defender interesses que irão lhes garantir no poder.

Refletindo, vamos compreender então que, se faltam recursos e renda para as pessoas, se elas não participam e não decidem politicamente sobre seus destinos, da sua cidade e da sociedade, bem como, se sofrem com a falta de segurança em todos os níveis na sociedade e, percebem que não possuem capacidades e formas para o enfrentamento e para as resoluções dos problemas que os afligem, vamos constatar que estas pessoas se encontram em situação de pobreza e de injustiça social.

Relembrando o que foi discutido na Unidade 1 – Tópico 3, segundo Machado (2014), compreender a questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade, pois não vemos a questão social em si, mas sim suas expressões, ou seja, percebemos as inúmeras e incômodas manifestações e expressões sociais na sociedade.

FIGURA 28 – REFLEXÃO SOBRE A JUSTIÇA E A INJUSTIÇA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=má+distribuição+de+renda&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Agora, refletindo mais profundamente, quantos milhões de brasileiros não estão nessa situação de pobreza, nessas condições de vulnerabilidade social e de risco social? Se a miséria diminui no Brasil, segundo as estatísticas, de fato podemos concluir sem dados números que a pobreza aumentou e muito no nosso país.

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FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres?imgurl=https>. Acesso em: 19 mar. 2015.

Nesse sentido podemos enfatizar, de forma real e atual, que querendo ou não, sofremos pressão todos os instantes em nossa vida, sendo um problema crucial e está cada vez mais difícil recarregar as energias, forças, ânimos e motivações, bem como até tempo para refletir e decidir sobre o que seria melhor para nós mesmos.

Nessa lógica de se ter tempo apenas para ganhar dinheiro, mesmo que de forma multifacetada e informal, o lazer, o descanso, o happy hour estão se tornando

Sabemos que a pobreza não é uma questão somente vivenciada no Brasil, mas no mundo, visto que ela existe em muitos países industrializados e caracteriza regiões inteiras do mundo em desenvolvimento. As causas da pobreza residem numa complicada teia de situações locais conjugadas com circunstâncias nacionais e internacionais. É o produto de processos econômicos que se registram a diversos níveis, bem como de uma série de condições sociais e econômicas que parecem estruturar as possibilidades das pessoas (ANNAN, 2014).

Do mesmo modo, para ampliar ainda mais a discussão sobre a amplitude da pobreza em relação ao sistema capitalista na contemporaneidade, não apenas presenciamos, mas vivenciamos a falta de lazer e tempo para recarregar as energias e ter saúde em sua plenitude, principalmente aquela chamada saúde psíquica, que nos garante uma reflexão real, crítica e consciente sobre os fatos e a realidade na qual vivemos.

Somos forçados a sobreviver, diga-se de passagem, uma vivência pobre, nesse sentido, com uma qualidade de vida ilusória, sem dignidade, liberdade, autonomia e respeito, num ambiente hostil onde a falta de segurança é geral e em todos os sentidos. Estamos coagidos na sociedade atual e não temos medo apenas do ladrão, mas de tudo e de todos, pois o mapa da violência é bem maior do que imaginamos.

FIGURA 29 – AMPLITUDE DA PRESSÃO DA VIOLÊNCIA

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o prolongamento do trabalho, quando se tem. Segundo o sociólogo Junho (2015), que se baseia no pensador venezuelano Ludovico Silva, discute a questão da mais-valia no sentido de apropriação indevida de nosso tempo que deveria se ter para o lazer e bem-estar.

FIGURA 30 – TRABALHO EM DEMASIA: APROPRIAÇÃO DO TEMPO

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=correndo+atrás+do+temp o>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Essa chamada mais-valia se faz presente em tudo, não ocorre, somente, dentro das empresas, mas o roubo do tempo acontece, também, de forma simbólica, por meio da mais-valia ideológica, assim igualmente ocorre a exploração material e a exploração simbólica. O sistema capitalista nos aprisiona, tornando-nos servos de uma sociedade que somente tem “olhos” para a cultura do trabalho (JUNHO, 2015).

No entanto, como compreender e se “livrar” dessa mais-valia ideológica na qual estamos aprisionados?

Sobre a mais-valia ideológica, Silva (2013, p. 164, apud JUNHO, 2015, p. 52),

descreve que: “A mente do homem, tal como chega a configurá-la o capitalismo mediante suas armas de comunicação diária, está repleta de valores de troca: a força do trabalho espiritual se mercantilizou, se fez mercadoria; [...]”. Interessante ressaltar que o capitalismo procura explorar, por meio de uma indústria ideológica, aquilo que o ser humano tem de mais precioso, que é a sua consciência, o seu pensar.

Um dos exemplos mais comuns na atualidade é a preocupação excessiva com a beleza, com a estética física, com a aparência externa, com o visual, com o corpo ideal, com a perfeição do corpo, visto o imenso número de cirurgias plásticas no Brasil e no mundo, bem como a busca da atividade física por questões estéticas e não por razões relacionadas à promoção da saúde propriamente dita.

Assim vamos percebendo que, na realidade, o capitalismo cria e induz diversas necessidades no ser humano que não são necessidades essenciais e sim desejos inconscientes criados pela cultura ideológica do sistema.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 31 – PROCESSO DE ALIENAÇÃO E MANIPULAÇÃO

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=sujeito+manipulado&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Os processos de alienação no capitalismo são diversos e abrangem todas as esferas sociais. Assim, o termo alienação não é algo atual, mas já era enfatizado por Marx em seus estudos e análises críticas a respeito dos malefícios do sistema capitalista para a humanidade e para a natureza.

Sobre a alienação Kilminster (1996, p. 7), descreve que:

Nos textos de Marx, é o processo histórico por meio do qual os seres humanos vieram sucessivamente a se afastar da Natureza e dos produtos de sua atividade (bens e capital, instituições sociais e cultura), que a partir de então se impõem às gerações posteriores como uma força independente, coisificada, ou seja, como uma realidade alienada. [...], o termo refere-se a uma sensação de estranhamento da sociedade, grupo, cultura ou do eu individual, que as pessoas comumente experimentam quando vivem em sociedades industriais complexas, em particular nas grandes cidades.

Como se livrar dessa massa de informações e valores na qual estamos submetidos coercitivamente? Como não se deixar envolver por ações subliminares que nos moldam como seres mercadológicos e consumistas, produtos e produtores de alienação?

Como não sentir sensações de estranhamento? Como não gostar daquilo que realmente não gostamos e nem necessitamos, ou fazer coisas que realmente não queremos, mas fazemos, por uma questão de modismo, fanatismo, alienação, inconsciência?

Bem, acabar com o capitalismo e as instituições sociais parece ser um caminho utópico, irreal, impossível. Sair do capitalismo, talvez, bastaria, porém também é ilógico, pois ir para aonde? Pensando na globalização aonde que o capitalismo não está impregnado e impregnando pessoas, grupos, famílias, setores, culturas, vivências, mentes e corpos?

Parece que a única saída seria uma luta travada de pensamento, uma luta pedagógica, um esforço contínuo e diário do pensar crítico, vigilância da mente e do comportamento 24 horas por dia, não se submetendo à lógica da ideologia simbólica do capitalismo, que além de explorar nosso corpo, explora também nosso pensar, nosso gostar, nossa maneira autêntica de ser, nossa identidade, nossa cultura, nossos valores, nossas reais necessidades.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Seguindo o raciocínio do sociólogo Junho (2015, p. 53):

A principal luta a ser travada nesse ambiente é a luta pedagógica. Somente uma consciência revolucionária pode libertar-nos desse labirinto. Ser revolucionário é denunciar todo o aparato cultural em que vivemos. A nossa própria descolonização mental é uma das tarefas mais difíceis que somos chamados a realizar.

Nesse sentido, uma pedagogia individual libertária é que precisamos desenvolver, aquela que de alguma forma propicie a criticidade, a libertação ideológica, revolucionária no sentido de denunciar. Uma prática pedagógica de não aceitação dessa cultura que massifica e desagrega o ser humano, que inverte os valores, fragmenta o sujeito, desintegra as famílias e comunidades, desqualifica grupos, desvaloriza as culturas, provoca um comportamento coletivo acrítico, passivo, apático, desmotivado e desorganizado, ou seja, um comportamento de estranheza senão ainda, um comportamento indiferente, doentio e até mesmo, violento.

FIGURA 32 – EDUCAR A AÇÃO PARA A LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres?imgurl=http%3 A%2F%2F>. Acesso em: 18 mar. 2015.

O que se tem observando nos últimos tempos é um “esfriamento” dos movimentos sociais que faziam a diferença na sociedade e no cenário brasileiro, a organização dos movimentos sociais no Brasil, bem como a efetiva participação social e engajamento das pessoas parecem não ter mais sentido e razão.

Também se verifica que até as organizações reivindicatórias que eram efetivadas pelas instituições tradicionais na sociedade, tais como associações de moradores, partidos políticos, entidades sindicais, conselhos de profissionais e a própria igreja com os seus movimentos sociais de base, bem como teólogos que abordavam questões relacionadas a fé cristã de forma crítica tal como a teologia da libertação, entre outras, se esvaziaram, se dissiparam na sociedade brasileira.

Segundo Castro e Mota (2012, p. 2), “esta ausência de participação ativa em movimentos sociais organizados denota o caráter de passividade política e aponta para um refluxo dos movimentos sociais atualmente existentes e atuantes”.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Acredita-se que ocorreu uma despolitização das pessoas que agregavam os movimentos sociais, ou seja, a partir que alguns segmentos foram beneficiados com as diversas políticas sociais, passando a suprir algumas das suas necessidades básicas e complementares, bem como tendo acesso ao mínimo de conforto e outros bens materiais, passaram a não reivindicar mais por questões, que anteriormente eram importantes.

Segundo Gohn (2011, p. 7):

O tempo passou, surgiram novos campos temáticos de luta que geraram novas identidades aos próprios movimentos sociais, tais como na área do meio ambiente, direitos humanos, gênero, questões etnicorraciais, religiosas, movimentos culturais etc. Alguns movimentos transformaram-se em redes de atores sociais organizados, ou fundiram-se em ONGs, ou rearticularam-se com as novas formas de associativismo que surgiram dos anos de 1990; outros entraram em crise e desapareceram; outros, ainda, foram criados com novas agendas e pautas, como as recentes manifestações antiglobalização.

Como podemos lembrar, os movimentos sociais ligados a classe trabalhadora, que eram reivindicatórios e atuantes, como por exemplo, o movimento social da CUT, o Partido dos Trabalhadores, especificamente o MST no Brasil, tinham uma participação, adesão, luta e força política de forma avassaladora, tanto é que fizeram história e garantiram muitos direitos sociais, como também traziam à tona questões sociais fundamentais para discussão e enfrentamento na nossa realidade brasileira.

Após a inserção do partido dos trabalhadores ao poder, especificamente na presidência da república, ocorreu de fato um abafamento, passividade e conformismo dos movimentos sociais ligados à classe trabalhadora que hoje praticamente inexistem. Ou, será que estamos caminhando para o esgotamento ou mesmo fim do trabalho e da classe trabalhadora? Talvez num futuro bem próximo não tenhamos mais o “proletariado”, mas sim uma massa de excluídos, mesmo trabalhando de uma forma ou outra, mas desprotegidos, inseguros e sem valor.

No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge intensamente todos os setores e classes sociais, sendo constantemente ameaçada pelo pauperismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta dificulta a construção de uma sociedade coesa e articulada por meio de relações democráticas e interdependentes. O que se tem no país é uma desmontagem do sistema de proteção e garantias do emprego e, consequentemente, uma desestabilização e uma desordem do trabalho que atingem todas as áreas da vida social. (PIANA, 2009, p. 51-52).

Referente ao trabalho na contemporaneidade, ele é caracterizado como polissêmico e multifacetado, vivenciamos essas refrações, não temos mais uma classe especificamente de proletariados, mas sim de vários grupos, diversificados, excluídos socialmente que se configuram, não mais como “exército de reserva”, mas como “inúteis” ou “sobra” do sistema.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 33 – A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search>. Acesso em: 20 mar. 2015.

Os “efeitos colaterais” da industrialização e acirramento do capitalismo são inúmeros e a lógica da modernidade induz o ser humano ao campo de desvalorização social, que passa a ser uma mercadoria ou até um “sem valor”, um ser descartável como outro qualquer que, quando não funciona mais, ou melhor, deixa de dar lucro ao sistema, é jogado fora e, mesmo sem ter outra escolha acaba formando além do grande exército de reserva (desempregados que se sujeitam a qualquer emprego e salário), um grande exército de excluídos sociais que buscam o que podem do jeito que dá, nem que seja por meio de ações imorais e ilegais.

Assim, a transformação do processo de trabalho se evidencia historicamente em acumulação capitalista que crescente e consequentemente faz emergir uma intensa crise estrutural onde a força humana e a natureza são assolados gradativamente.

[...] trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos, nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados, ‘incluídos’ e ‘excluídos’, entre outros, temos as estratificações e fragmentações que se acentuam em função do processo crescente de internacionalização do capital. (ANTUNES, 2003, p.235).

Verificamos que, até por quase não existir mais a chamada “classe proletariada”, o que está ocorrendo na atualidade, pelo menos é o que se presencia, é que estão surgindo outras classes sociais e outros movimentos sociais, não mais ligados diretamente a classe trabalhadora, mas ligados a outros segmentos sociais, grupos mais específicos da sociedade brasileira, considerando os novos excluídos sociais, pessoas e grupos sem garantia de qualidade de vida, dignidade, igualdade e respeito, configurando no cenário brasileiro, novas expressões da questão social no Brasil.

Podemos enfatizar, como por exemplo, o que ocorreu no dia 15 de março de 2015 no Brasil, onde a população fez um manifesto popular através de inúmeros protestos em todas as cidades do país, contra a corrupção e contra o atual governo

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

do PT que tem como Presidente, Dilma Rousseff, sucessora de Luís Inácio Lula da Silva, que ficou no poder durante oito anos.

FIGURA 34 – MANIFESTO POLÍTICO DO DIA 15 MARÇO DE 2015

FONTE: Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=MANIFESTO+POLÍTICO +NO+DIA+15+MARÇO+DE+2015&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Esse ato político que ocorreu de forma pacífica em todo território nacional, mostrou dois novos movimentos sociais, não rurais como o MST, mas urbanos, caracterizados como apartidários, sendo um deles, o “Movimento Vem pra Rua” e o outro “Movimento Brasil Livre”. Também presenciamos a participação de um novo movimento social no Brasil que é o movimento dos trabalhadores sem teto, o MTST.

Agora, discutindo a distribuição de terras e a produção de alimentos saudáveis enquanto desafios ao país, propriamente falando sobre a reforma agrária no Brasil, tão exigida pelo MST no passado recente, passou a ser uma obrigação constitucional, porém está distante de ser concretizada na prática.

Além de um desafio, a reforma agrária é uma obrigação constitucional que deve ser efetivada por todos os governos, assim como políticas de saúde e educação, destaca o professor da Universidade de São Paulo (USP) Ariovaldo Umbelino. Segundo ele, ‘a reforma agrária é instrumento de política pública para que a terra cumpra sua função social e a renda seja melhor distribuída na sociedade brasileira’.Para ele, a distribuição de terras também é fundamental para acabar com conflitos. ‘A barbárie vivida no campo brasileiro é a melhor evidência da necessidade urgente de o país fazer, de fato, a reforma agrária’, diz Umbelino. Nos últimos 15 anos, segundo o especialista, 524 pessoas foram assassinadas no campo e foram registrados 19.548 conflitos envolvendo 10,5 milhões de habitantes. (BERALDO, 2014).

Atualmente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – não deixou de existir, mas parece que cedeu espaço ao MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que se configura no atual cenário brasileiro na luta pelo direito básico à moradia e habitação digna no âmbito urbano.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 35 - MST: PELA REFORMA AGRÁRIA E MTST: PELA REFORMA URBANA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que desde 1997, reivindicou a reforma agrária estava vinculado com as questões relacionadas ao campo, agora o MTST contesta e desafia a ordem política nos centros urbanos, nas grandes metrópoles, frente às dramáticas estatísticas do déficit habitacional.

As desapropriações de casas para dar lugar a obras de mobilidade urbana e as frequentes ocupações de imóveis vazios nos grandes centros trazem à tona o problema do acesso à moradia adequada. As manifestações de 2013 trouxeram o tema para o debate, [...]. O país tem um déficit de 5 milhões de habitações, segundo cálculos do Ministério das Cidades. Especialistas em urbanismo ouvidos pela Agência Brasil defendem que esse problema não será resolvido apenas com a construção de casas e que será preciso enfrentar a especulação do mercado imobiliário. (BERALDO, 2014).

Esses novos movimentos sociais que estão se mostrando no cenário brasileiro, representam a figuração das novas pobrezas sociais, novas expressões da questão social no Brasil, por isso que a pobreza não desaparece, mas além de aumentar também se transforma no decurso da história. Um exemplo bem claro disso é que evidenciamos na realidade brasileira, além dos sem-terra, os sem-teto, ou seja, além das pessoas no campo não terem terra, no meio urbano as pessoas também não possuem moradia.

FIGURA 36 - IMAGEM DE PESSOAS E FAMÍLIAS DO MTST

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=novas+formas+de+pobreza> . Acesso em: 18 mar. 2015.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Percebe-se que os desafios vão se multiplicando, pois pensando em resolver uma das inúmeras problemáticas sociais, outras vão surgindo consequentemente, como é o caso da especulação imobiliária que nada mais é, do que a esperteza daqueles que possuem imóveis, porém inutilizados. Os especuladores ficam aguardando para que a área abrangente seja valorizada, aumentando o valor ainda mais do imóvel na pretensão de maiores lucros. Seja no campo ou na cidade, a terra está intocável, não tem função social, e sim apenas especulativa para fins lucrativos no futuro.

Segundo Guilherme Boulous (apud BERALDO, 2014), da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a falta de moradia aumenta à medida que sobem os preços dos aluguéis, pois segundo ele, a construção de casas por governos, no ritmo atual, é insuficiente para atender a todas as famílias que precisam de um novo lar e pouco influencia na queda do valor dos aluguéis.

Enfatizando a vida urbana, outro desafio a ser enfrentado diz respeito à mobilidade urbana, pois quanto mais cresce uma cidade mais caótica ela se torna, em termos de ir e vir, vivenciamos um trânsito que em qualquer cidade no Brasil é um caos, um engodo, um estorvo, motivo de estresse e cansaço.

Quase 85% dos brasileiros vivem em ambiente urbano, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a taxa de urbanização do país deva chegar a 90% nos próximos cinco anos. Com tanta gente vivendo nas cidades, é preciso articular políticas públicas que possibilitem uma convivência harmônica e igualitária nesse espaço. Um dos desafios cotidianos das cidades é o de garantir o direito de ir e vir de tantas pessoas. (BERALDO, 2014).

Percebe-se que quando há um crescimento populacional acelerado, especificamente da população urbana, ou seja, nos centros metropolitanos das grandes cidades, sem planejamento necessário, vamos constatar que emergem demandas na mesma proporção, assim crescendo a população também crescem os inúmeros problemas tanto de infraestrutura, principalmente nas áreas mais essenciais tais como habitação, segurança, saúde, dentre outras, bem como de doenças diversas, tanto físicas quanto psíquicas, como por exemplo, o número de transtornos mentais aumentou significativamente no Brasil.

E, se falando em doença, no que diz respeito à falta de investimento na saúde, ocorreram diversas manifestações populares em face dos investimentos absurdos feitos pelo governo para a Copa do Mundo no Brasil, em 2013, setor não essencial e não necessário para a população mais vulnerável, que de modo geral no país, sofre com a falta de investimentos em áreas importantes como a da saúde, especificamente.

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FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=NÃO+QUERO+COPA+QUERO+ SAUDE+EDUCAÇÃO>. Acesso em: 18 mar. 2015.

A qualidade dos serviços públicos em saúde foi colocada em xeque pelos brasileiros durante as manifestações de junho de 2013. Às vésperas da Copa das Confederações, evento realizado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa), os brasileiros foram às ruas exibir cartazes pedindo “hospitais padrão Fifa” e mais recursos para o setor. As reivindicações em relação à saúde foram uma das principais bandeiras dos protestos populares que se estenderam até meados deste ano. (BERALDO, 2014).

Não podemos negar que algumas conquistas foram efetivadas no sistema universal de saúde no país a partir da Constituição Federal de 1988, porém, ainda há evidências de situações degradantes para serem resolvidas na área da saúde, entre elas, o financiamento adequado do Sistema Único de Saúde (SUS) para que não faltem equipamentos, medicamentos, profissionais qualificados e valorizados, estrutura adequada, entre outras inúmeras necessidades, principalmente, nos hospitais públicos do país.

Analisando o gráfico a seguir, não podemos deixar de refletir sobre o aumento do número dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPs no país, de 2008 a 2014, ou seja, em seis anos foram implementados mais 829 CAPs, assim, 138 novos centros por ano no Brasil. Agora, vamos nos questionar e discutir, por que a criação de tantos CAPs no Brasil? Se houve um crescimento significativo de centros de atendimento a pessoas com transtornos mentais é porque ocorreu o acirramento das expressões sociais da questão social saúde mental, saúde psíquica.

FIGURA 37 – MANIFESTAÇÃO POPULAR EM 2013 NO BRASIL

GRÁFICO 1 – ATENDIMENTO A PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS (2008-2014)

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Crédito - Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <https://almanaque.abril.com.br/graficos_e_tabelas#!lightbox/26/>. Acesso em: 13 mar. 2015.

EVOLUÇÃO – A estrutura desse serviço cresce em ritmo acelerado. Em 2002, havia 424 Centros de Atenção Psicossocial.

O governo se orgulha pelos investimentos realizados na área da saúde, porém são investimentos esporádicos que não abrangem a totalidade no país, são paliativos, pois não se efetiva a saúde preventiva antes que a doença ocorra, mas essencialmente voltados para a recuperação da saúde.

O descaso que se tem em programas de prevenção na área da saúde em todos os sentidos, especificamente em saúde mental, é evidente, percebe-se que a população de modo geral, está desenvolvendo inúmeros transtornos psíquicos, o maior deles é a depressão, devido à falta de ou a má qualidade de vida que se tem no país.

De acordo com Bock (2002), falar em doença implica não somente pensar na cura, mas essencialmente na prevenção. O processo curativo centra-se em medicamentos, hospitalização, psicoterapia etc. Já a prevenção significa criar estratégias para evitar o seu aparecimento, geralmente está ligada a ações desenvolvidas no meio social e por políticas públicas e sociais, educacionais, culturais, entre outras.

Os transtornos mentais podem ser definidos como alterações do funcionamento da mente, que prejudicam o desempenho da pessoa na vida social, familiar, pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter prazer na vida em geral.

É assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu, desde 1958, o conceito de saúde:

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[...] como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença [...] em 1991 atualizou o princípio de promoção de saúde, incorporando a questão do desenvolvimento econômico. Saúde passou a ser descrita como um estado de bem-estar físico, psíquico e social, em consonância com as discussões sobre meio ambiente, ou seja, saúde ambiental como prioridade social.

Porém, como ter saúde, onde não se propicia um cuidado com o meio ambiente? Como viver bem em grandes centros urbanos com tanta poluição, violência, barulho, pressão psicológica, congestionamento, enchentes, falta de água, de luz, de lazer, baixos salários, insegurança no emprego, na cidade, na rua, na praia, no trânsito, entre tantos outros problemas urbanos?

Beraldo (2014), enfatizando também sobre o aumento da violência e da falta de segurança, descreve sobre os desafios na área da segurança pública no Brasil:

O crescimento da violência e da sensação de insegurança por parte da população impõe ao país vários desafios na área de segurança pública, entre eles, a redução do número de homicídios que, desde 2008, ultrapassam os 50 mil por ano. Segundo o Ministério da Saúde, em 2012, o número de pessoas assassinadas chegou a 56,3 mil. Mais da metade das vítimas de homicídio no país (53%) têm entre 15 e 29 anos.

Segundo o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, organizador do Mapa da Violência, divulgado anualmente com informações sobre crimes violentos em todo o país (apud BERALDO, 2014), afirma:

Precisamos de uma política nacional de enfrentamento da violência. Cada estado tem uma política diferente. A violência virou problema nacional. Antigamente, as regiões eram restritas a algumas poucas regiões metropolitanas, como Rio, São Paulo e Recife. Na virada do século, a violência se espalhou para o interior dos estados e para outras regiões.

Agora, discutindo a respeito da educação no país, segundo Beraldo (2014), será necessário avançar nas metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE) que é um dos principais desafios para os próximos anos. O plano contém 20 metas para serem cumpridas, isso nos próximos dez anos, que abrangem do ensino básico ao ensino superior. O plano enfatiza questões como ampliação de matrículas, inclusão de pessoas com deficiência, melhorias na infraestrutura e valorização dos professores e trabalhadores que atuam na educação.

Outro desafio é investir e ampliar o acesso da população à cultura e à preservação do patrimônio cultural no Brasil, principalmente, em regiões mais vulneráveis. Somente a partir da Constituição Federal de 1988 que se começou a discutir aspectos relacionados à cultura, aos direitos culturais, ao patrimônio cultural propriamente dito:

Art. 215 O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do

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processo civilizatório nacional.§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)II produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)IV democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de 2005)

Compreendemos que o universo cultural é imenso e a cultura é dotada de vontade criativa, aprendida e acumulada pelos membros de determinado grupo, povo, e transmitida socialmente de uma geração a outra e perpetuada em sua forma original ou modificada. Assim os indivíduos aprendem a cultura ou os aspectos da cultura no transcurso de suas vidas, no processo de socialização e integração social.

O Patrimônio Cultural Brasileiro não se resume aos objetos históricos e artísticos, aos monumentos representativos da memória nacional ou aos centros históricos já consagrados e protegidos pelas instituições e agentes governamentais responsáveis por essa proteção, como o IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no âmbito federal, e os órgãos de patrimônio estaduais e municipais. Existem outras formas de expressão cultural que constituem o patrimônio vivo da sociedade brasileira: artesanatos, maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir moradias e fabricar objetos de uso, a culinária, as danças e músicas, os modos de vestir e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relações sociais e familiares, as canções, as histórias e lendas contadas de geração a geração, tudo isto revela os múltiplos aspectos que pode assumir a cultura viva e presente em uma comunidade. (HORTA, 2003, p. 8).

Interessante ressaltar, mas parecem ser objetivos distantes a serem concretizados na prática, visto que a educação patrimonial não é considerada como instrumento de cidadania. Na maioria das vezes o patrimônio cultural passa a ser considerado como algo vago para a construção do sujeito e da identidade social, distante das realidades periféricas e daquelas pessoas sem poder aquisitivo.

Pensando sobre a diversidade cultural em nosso país, Horta (2003, p. 8-9) descreve alguns exemplos de expressões culturais que precisam ser conhecidas, reconhecidas, valorizadas, incentivadas, preservadas, cuidadas, asseguradas:

O saber e a experiência da vida na floresta são partes fundamentais da herança cultural dos índios da Amazônia, ou de outras regiões do país, nas quais muitas vezes esse patrimônio cultural vem se perdendo na

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

memória dessas comunidades. O maracatu, tão popular no Nordeste e no Norte do país, é a expressão de elementos trazidos pela cultura africana, incorporando uma prática religiosa e uma manifestação popular, sendo assim, da mesma forma, um elemento significativo da cultura brasileira. O Carnaval de Olinda, as vaquejadas do Pantanal, as técnicas tradicionais da pesca no litoral de Santa Catarina, o trabalho das rendeiras nordestinas, as panelas fabricadas pelas mulheres do Vale do Jequitinhonha, a maneira de plantar, fiar e tecer o linho que ainda sobrevive no interior do Rio Grande do Sul, as rodas de samba cariocas, as festas do Divino em Parati, são exemplos da cultura viva que pode ser trabalhada e conhecida por meio da Educação Patrimonial.

E falando em diversidade cultural, agora especificamente na cultura indígena, constatamos a falta de reconhecimento, de valorização, incentivo e preservação dos valores culturais do povo indígena no Brasil, bem como o descaso e a morosidade da demarcação de terras indígenas.

Nesse sentido, Beraldo (2014), especifica que,

A Constituição Federal de 1988 reconhece o direito dos povos indígenas às terras que ocupavam no passado. Por terras tradicionais, os constituintes entendiam os territórios habitados por comunidades indígenas em caráter permanente, bem como as por elas utilizadas para suas atividades produtivas ou que sejam imprescindíveis à preservação dos recursos naturais necessários ao bem-estar comunitário e à reprodução física e cultural desses povos, segundo seus próprios costumes e tradições. Embora destinadas à posse permanente e usufruto indígena, essas terras pertencem à União, que deveria concluir a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação do texto constitucional – ou seja, até 5 de outubro de 1993.

Necessário se faz, de fato, efetivar o que estabelece a Constituição Federal de 1988, no que diz respeito ao direito dos povos indígenas, ao reconhecimento e à demarcação de seus territórios, sem grandes discursos ou empecilhos, se for ainda o caso, indenizar os agricultores ou fazendeiros que no passado ou atualmente usufruem daquilo que não é deles.

Outro desafio está relacionado ao meio ambiente, no que diz respeito à preservação, conservação e recuperação ambiental e ao desenvolvimento sustentável, realmente é necessário alterar as formas de produção e interação com o meio ambiente em que vivemos, talvez, nesse sentido, se possam diminuir os efeitos negativos que causamos, porém isso também não irá ocorrer ao acaso se não investirmos na mudança de valores e de comportamentos na sociedade, em educação ambiental e diferentes formas de interação com a natureza e em políticas ambientais eficientes e eficazes.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Analisando a figura exposta, o desenvolvimento sustentável procura atender às necessidades da população atual, porém com planejamento para as gerações futuras, propiciando da mesma forma o desenvolvimento econômico, o social e a preservação ambiental. Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável busca a qualidade de vida no planeta, uma realização humana e cultural, justa e equilibrada.

Nessa perspectiva de análise ambiental, o professor Adriano Prembida, doutor em Sociologia, em uma entrevista, enfatizou que:

A questão urbana, atualmente, é essencial para pensarmos o bem-estar coletivo e a articulação de políticas ambientais. Se pensarmos em alterações ecológicas drásticas, e que nos atingem cotidiana e cronicamente, devemos nos focar no que acontece nas cidades da região, com baixos índices de saneamento e planejamento urbano, áreas junto aos rios, que, necessariamente, são pontos logísticos vitais para a economia local e consequente impulso para as atividades que possam degradar o ambiente (PREMBIDA apud QUARESMA; NEVES; DUARTE, 2014, p. 8).

A degradação ambiental é um fato, e bem sabemos que o desenvolvimento econômico prevalece sobre o ambiental, o social, o cultural, de maneira bem explícita nas nossas sociedades, nossos bairros, onde as pessoas sofrem pela falta de saneamento básico, água potável e o meio ambiente limpo e conservado.

FIGURA 38 – DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 39 – FALTA DE CONDIÇÕES ADEQUADAS PARA SOBREVIVÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Muito é preciso fazer, os desafios não são “humildes”, mas estão revestidos de “soberba”, difíceis de serem alterados de fato, pois também precisamos de dados concretos e específicos, porém faltam estudos, pesquisas, pesquisas aplicadas no sentido de evidenciar a resolução de problemas diversos que são considerados como entraves para a qualidade de vida no planeta.

Referente à pesquisa, ciência e tecnologia, a falta de apoio, investimentos, recursos efetivos e contínuos, bem como além de todo um sistema burocrático excessivo para o desenvolvimento de pesquisas, são enfatizados como os maiores problemas e dificuldades a serem enfrentados pelo setor de ciência, tecnologia e inovação (CT&I), mesmo que os últimos dados de estudo apontavam para um crescimento do interesse pelo setor, ainda faltam muitos investimentos na área (BERALDO, 2014). Como fazer pesquisa, quando a bolsa que, às vezes, é proferida para alguns, mal paga ao transporte para realizá-la?

Segundo a AGÊNCIA BRASIL (2014), desenvolver o país melhorando a qualidade de vida é garantir muito mais do que moradia adequada à população brasileira, é desenvolver políticas públicas que garantam os direitos sociais, que diminuam a sensação de insegurança da população e que reduzam a violência nos centros urbanos, é necessário definir e efetivar metas prioritárias ao país.

Acredita-se que os próximos governantes terão inúmeros desafios, no sentido de enfrentamento para resolver questões históricas e problemas estruturais no Brasil, cuja população já soma mais de 202 milhões de habitantes.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

3 REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS NO PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETOR

Compreende-se, que o terceiro setor se originou para enfrentar e atender às demandas e necessidades sociais que não foram abarcadas pelo Estado.

A participação de pessoas e grupos sociais envolvidos com a questão social e suas expressões se constituiu realmente um fato no mundo e no Brasil, porém não podemos deixar de considerar a lógica do capitalismo e do neoliberalismo que proporciona uma pressão para que a sociedade resolva os “seus problemas”, diminuindo assim a intervenção e gastos estatais.

Percebeu-se um adensamento e envolvimento de interação entre os três setores da sociedade na questão de enfrentamento à pobreza e na efetivação e garantia dos direitos sociais no Brasil, visto o agravamento das expressões sociais.

Assim é comum anúncios, cartazes, propagandas e outras ações pressionando para que as pessoas assumam valores e posturas de solidariedade, de ajuda, de voluntariado, de engajamento social, assim o que as pessoas e as instituições sociais fazem, o Estado não precisa fazer.

Analisando de forma crítica essa perspectiva de função social, vamos percebendo que as empresas e as ONGs acabam assumindo funções sociais de dever do Estado.

A realidade social foi dividida em três esferas consideradas autônomas: o Estado, o mercado e as ONGs (instituições não estatais e não mercantis), porém essa divisão não deveria existir, mas surgiu e existe por questões ideológicas e necessárias ao desenvolvimento do projeto neoliberal para avanço do capitalismo.

Estaremos especificando a seguir cada setor, mas tendo como fundamento a criticidade e base teórica do assistente social, doutor em serviço social Carlos Montaño:

Temos aqui a conceituação corriqueira de “terceiro setor”: organizações e/ou ações da “sociedade civil” (não estatais e não mercantis). Porém, numa perspectiva crítica e de totalidade, este conceito resulta inteiramente ideológico e inadequado ao real. A realidade social não se divide em “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor – divisão que, [...], consiste num artifício positivista, institucionalista ou estruturalista. [...] No entanto, alguma está efetivamente ocorrendo na atualidade; a sociedade civil está desenvolvendo atividades atribuídas ao Estado. [...] A partir das mudanças da realidade contemporânea, promovidas pelo embate desigual entre o projeto neoliberal e as lutas dos trabalhadores, verdadeiras transformações estão se processando nas respostas da sociedade à chamada “questão social” e suas refrações. (MONTAÑO, 2010, p. 182-183, grifos do autor).

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

O “Primeiro” setor refere-se ao setor público, abrange a esfera estatal Estado/Governo, estão caracterizadas todas as instituições e órgãos públicos, designa o governo em si na sua responsabilidade em cumprir e efetivar o que emana da Constituição Federal.

Uma sociedade globalizada e tecnológica nos faz refletir sobre todas as questões sociais, bem como das políticas sociais adotadas pelo Estado no combate ao crescimento e agravamento das expressões sociais que são geradas pelo próprio desenvolvimento e crescimento acirrado do capitalismo.

A Política Social adotada pelo Estado, em suas diversas vertentes (educação, saúde, assistência, previdência, habitação, cultura...) guarda, em si, uma contradição. Destinada a garantir os direitos sociais e a proteção social, ela suscita o seguinte: é possível garantir o bem-estar a quem está em uma condição de desigualdade social ou esteja em situação de miséria e pobreza, isto é, é possível a um não privilegiado conseguir, com ou sem ajuda do Estado e da Sociedade, chegar ao bem-estar digno e humano sem sair de sua posição de inferioridade?

A questão fundamental não seria eliminar a situação de injustiça e desigualdade pela qual passa uma sociedade? Esta contradição faz com que a Política Social, seja sempre mais compensatória das injustiças e desigualdades do que um mecanismo eficaz para a sua correção.

Sabemos que é função do Estado, através das Políticas Públicas e Sociais, minimizar, diminuir, erradicar a situação de desigualdade social, pobreza e miséria, esse papel é dever do Estado que, quando não assumido com seriedade produz prejuízos incalculáveis, por muitas vezes, irreversíveis como hoje presenciamos nas grandes cidades brasileiras onde as expressões sociais se configuram e proliferam.

Atualmente o MDS, garante que o Brasil melhorou e muito na diminuição da desigualdade social a partir de seus programas, serviços e benefícios sociais.

FIGURA 40 – DEMONSTRAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS DO PLANO BRASIL SEM MISÉRIA – SM 2011-2014

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://inclusaoprodutiva.org/>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Os programas e serviços que o governo vem desenvolvendo são vários e abrangem três eixos, entre eles:• Garantia de Renda (Bolsa Família, Busca Ativa).• Inclusão Produtiva Urbana e Rural (Pronatec, Microempreendedor Individual,

Programa Crescer, Economia Solidária, Assistência Técnica e Fomento, Água para Todos, Agroamigo, Programa Bolsa Verde, Programa Luz para Todos).

• Acesso a Serviços Públicos (Assistência Social, Ação Brasil Carinhoso – Creches, Educação em Tempo Integral, Minha Casa Minha Vida) (MDS, 2014).

A seguir, uma visão geral dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria – BSM.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 41 - ORGANOGRAMA DO PLANO BRASIL SEM MISÉRIA

FONTE: Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=organograma+dos+eixos+do +brasil+sem+miseria>. Acesso em: 20 mar. 2015.

Mesmo que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS divulgue os resultados de três anos do Plano Brasil Sem Miséria, dados de junho de 2011 a junho de 2014, com demonstrações de gráficos e relatórios diversos, dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria descritos anteriormente, vamos constatar que os desafios a serem enfrentados pelo Estado ainda são diversos e abrangem todo o contexto nacional, assim, muito ainda se tem por fazer frente a todas e inúmeras expressões sociais atuais e futuras que estão por vir da questão social no Brasil.

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 31):

A maioria dos países tem registrado progressos consideráveis em matéria de desenvolvimento humano ao longo das últimas décadas. Porém, face aos níveis de vulnerabilidade elevados e crescentes, aumenta a possibilidade de erosão dessas conquistas de desenvolvimento humano, a necessidade de verificar se essas conquistas são sólidas e sustentáveis, bem como a necessidade de identificar políticas destinadas a reduzir a vulnerabilidade e reformar a resiliência.

Tendo como base o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, os níveis de vulnerabilidade cresceram consideravelmente no sentido de que o desenvolvimento humano está fragilizado, não garantido plenamente, visto que as conquistas efetivadas até então por alguns países, parece não ser sólidas e concretas. Dessa forma, então, há a necessidade de reformar a resiliência, ou seja, qualificar as pessoas para o enfrentamento das adversidades. Sendo assim, desenvolver competências, habilidades e estratégias para o fortalecimento dos sujeitos resilientes na sociedade é um dos grandes desafios para os profissionais assistentes sociais.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Compreende-se por resiliência a capacidade de resposta ou adaptação das pessoas às situações adversas, sejam elas temporárias ou não. Assim há pessoas que apresentam maior resistência aos fatores agressores que perpassam pela vida, criando alternativas para controlar os desafios e responder às dificuldades, assim reagem e enfrentam às adversidades mostrando a capacidade de superação de situações e condições vulneráveis.

Mesmo que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS divulgue os resultados de três anos do Plano Brasil Sem Miséria, dados de junho de 2011 a junho de 2014, com demonstrações de gráficos e relatórios diversos, disponível em <http://pt.slideshare.net/mdscomunicacao/caderno-brasil-sem-misria-3-anos>, dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria descritos anteriormente, vamos constatar que os desafios a serem enfrentados pelo Estado ainda são imensos e abrangem todo o contexto nacional, assim muito ainda se tem por fazer frente a todas e inúmeras expressões sociais atuais e futuras que estão por vir da questão social no Brasil.

Assim, seguindo a perspectiva crítica com fundamentação das lutas de classes do pensamento marxista, da caracterização histórica e crítica da pobreza e da “questão social”, devem-se considerar alguns aspectos, conforme descreve Montaño (2012), a partir de suas reflexões:

• Um dos aspectos é que a “questão social” é um fenômeno próprio do modo de produção capitalista consequente da exploração e dominação.

• Outro aspecto é que a pobreza, enquanto expressão da “questão social” é uma manifestação da relação de exploração entre capital e trabalho; o pauperismo é resultado da acumulação privada de capital.

• E, por último aborda criticamente que, todo enfrentamento da pobreza direcionado ao fornecimento de bens e serviços é meramente paliativo, quanto mais desenvolvimento das forças produtivas, quanto maior o lucro, maior será a desigualdade e o pauperismo.

Então, analisando essa perspectiva e linha de pensamento, vamos verificar que, não necessariamente o desenvolvimento econômico com todo seu aparato, crescimento e internacionalização, irá propiciar o desenvolvimento social, como muitos acreditam e enfatizam e, que a questão social é indissociável do sistema capitalista, assim quanto maior for a dominação, a exploração e o lucro, maior será a pobreza, maior a desigualdade, maior o número das expressões multifacetadas da questão social.

UNI

Procure analisar os dados deste relatório do MDS, resultado de 3 anos de intervenção estatal no enfrentamento das expressões da questão social no Brasil. Vale a pena conferir, até para entender melhor os eixos do Plano Brasil Sem Miséria.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

O “Segundo” setor é caracterizado na sociedade pelas empresas que objetivam lucro, é o setor produtivo privado que segue a lógica do mercado, assim seus interesses se direcionam no reforço à competividade, pois possuem fins lucrativos.

Todas as empresas privadas com fins lucrativos estão enquadradas no chamado “segundo” setor, portanto, privado e que lucra, assim sob a dimensão econômica o objetivo da empresa está pautado no aumento da produtividade e do lucro, garantindo manutenção e desenvolvimento do capitalismo. Porém nos últimos tempos, em vez de desenvolver a filantropia, vem desenvolvendo ações sociais estratégicas e planejadas, investindo em capital humano e social numa perspectiva de gestão responsável socialmente.

Responsabilidade Social Expressão recentemente adotada para referir-se ao modo como o Estado, as empresas e a sociedade se comportam em suas relações recíprocas. Compõem o conceito de responsabilidade social os padrões de ética, moralidade, transparência e altruísmo que permeiam a conduta dos atores sociais.Fala-se muito em Responsabilidade Social Empresarial ou Corporativa, para se referir aos valores que permeiam o comportamento das empresas em suas relações com o Estado, com o meio-ambiente, com seus funcionários, consumidores e fornecedores, e com a comunidade em geral. É importante notar, portanto, que a responsabilidade social empresarial é intrínseca a toda e qualquer atividade da empresa (DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 94-95).

Os projetos e programas de Responsabilidade Social dizem respeito à gestão de ações sociais, tendo como foco as pessoas, grupos diversos, as comunidades, a cidade, o meio ambiente, a sociedade em geral.

Nesse sentido, “o exercício da cidadania empresarial pressupõe uma atuação eficaz da empresa em duas dimensões: a gestão da responsabilidade social interna e a gestão da responsabilidade social externa”. (MELO NETO; FROES, 1999, p. 85).

Segundo Kraychete, (2013, p. 475),

Com base na mobilização de noções como capital social e boa governança, vai-se conformando discurso no qual é cada vez mais presente o chamamento à participação de organizações da sociedade civil. Nesse contexto é que passa a ser valorizada a presença de empresas, sob a rubrica da responsabilidade social, [...].

Assim, a responsabilidade social passou a ser foco de atenção privilegiada das empresas, até porque na busca das certificações internacionais e nacionais, e publicação do balanço social, o marketing social se faz valer agregando valor ao produto e à imagem da empresa. No entanto, analisando de forma crítica, os ideais do neoliberalismo conduzem a um discurso e às práticas sociais pelas empresas, visto que subliminarmente se insere uma visão moderna de cidadania, com o slogan “empresa cidadã”. Assim, vem repassando uma ideia de não apenas preocupada com o lucro, mas, de inserção na lógica do desenvolvimento social, de solidariedade humana, social, ambiental, educacional, entre outras vertentes que agregam valor a sua imagem.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Nessa lógica neoliberal do capitalismo, a promoção da justiça social e da cidadania, é mistificada pela ideia da solidariedade empresarial a partir de um discurso ilusório de igualdade e inclusão social, bem como de desenvolvimento sustentável.

O “terceiro” setor é designado privado, porém sem fins lucrativos, com interesse e função totalmente pública e se tornou corresponsável pelas expressões da questão social diferenciando-se da lógica do mercado e do aspecto governamental, visto a autonomia institucional.

A crítica focada nesse termo, enfatizada por Montaño, citado anteriormente, é que este “setor”, não descreve o que realmente constitui e integra também a sociedade civil, como por exemplo, os movimentos sociais combativos, que denunciam a ordem, a dominação e a exploração do capitalismo desenfreado, estes sim possuem uma função social e valores de solidariedade (não local), mas de solidariedade social e, valores de universalidade e direitos dos serviços que devem ser prestados pelo Estado, dito Democrático de Direito. Estes valores é que deveriam fazer parte do projeto político de qualquer ONG, por isso temos que analisar criticamente o que está por trás do chamado “terceiro setor”.

Segundo Montaño (2010, p. 185), “O que na realidade está em jogo não é o âmbito das organizações, mas a modalidade, fundamentos e responsabilidades inerentes à intervenção e respostas para a ‘questão social’”.

Sem dúvida, o que preocupa realmente diz respeito ao que as organizações privadas de interesse público querem fazer, fazem efetivamente e como, quais valores fundamentam seu existir, planejar e intervir, suas responsabilidades reais e abrangentes, e não focais e específicas, por vezes ações de mediação ou conformação social. Como lidam com a questão social, como enfrentam as expressões sociais e qual propósito que possuem além do que demonstram?

Para esclarecer, o termo ONG – Organização Não Governamental, é uma sigla para especificar as organizações que atuam na sociedade, não são estatais e não visam a lucros, mas são organizações privadas de interesse público sem fins lucrativos.

A Lei do Terceiro Setor, Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, foi criada no sentido da qualificação das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos,

UNI

ANALISANDO O CHAMADO “TERCEIRO” SETOR!O Terceiro Setor se consolidou pela questão da participação social, segmento este

que engloba as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que defendem os interesses públicos, caracteriza-se pelo conjunto das entidades privadas, porém públicas.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

como as chamadas OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, que devem ter seus objetivos sociais findados realmente no interesse público:

Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:I - promoção da assistência social;II- promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;III- promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;IV- promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;V- promoção da segurança alimentar e nutricional;VI- defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;VI - promoção do voluntariado;VIII- promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;IX- experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;X- promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;XI- promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais;XII- estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.

Em relação a OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, foi estabelecida uma nova lei no Brasil sobre o terceiro setor, a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, que especificou novas regras e alterou as Leis de nº 8.429, de 2 de junho de 1992, e de nº 9.790, de 23 de março de 1999.

Esta nova lei estabelece o regime jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público; define diretrizes para a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo de colaboração e o termo de fomento, alterando também as leis anteriores que embasavam as organizações da sociedade civil.

Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se:

I- organização da sociedade civil: pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva. (BRASIL, 2014b).

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A sociedade se desenvolve e entra em crise e, é a mesma que se justifica criando formas de superação desta crise. Surge então a necessidade de superar os problemas que gradualmente emergem, de modificar e transformar o que precisa ser.

“A visão-missão do Terceiro Setor em sociedades de baixa participação: contribuir para a construção do projeto de nação”. (TORO, 2000, p. 35). É necessário que o Terceiro Setor tenha um real significado num projeto sociopolítico tanto em nível municipal, estadual, nacional, como mundial.

Que as ações desenvolvidas não se apresentem apenas para superar as necessidades momentâneas e garantir alguns direitos daquele ou outro segmento vulnerável, mas voltada para a construção e desenvolvimento de uma democracia além de participativa, mas sobretudo libertadora. “É função do Terceiro Setor, nos países de baixa participação, contribuir para a formação e o fortalecimento do comportamento de cidadão e da cultura democrática”. (TORO, 2000, p. 36). Formar e fortalecer as pessoas para a cidadania e autonomia, conscientização e liberdade, através de uma intervenção social democrática e acima de tudo educativa.

Assim já descrevia Paulo Freire (1980, p. 40): “O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência da realidade e de sua própria capacidade para transformá-la”. Para transformá-la e não remediá-la, ou confortá-la, pois muitas pessoas se engajam em ações participativas na sociedade, seja na empresa ou em ONGs, por questões não políticas de transformação social ou de denúncia, mas por obrigação, coerção, medo, modismo, culpa, ou porque viveu um problema e acaba tendo pena das pessoas que possuem o mesmo dilema, entre outros aspectos que não estão ligados a uma prática realmente pedagógica libertadora, mas sim de solidariedade e ajuda mútua de conforto e apaziguamento social.

As organizações que compõem o Terceiro Setor, na maioria das vezes, para não enfatizar sempre, buscam nas instituições públicas e privadas apoio e parceiras para se manter, por isso que um dos dilemas destas instituições é poder sobreviver.

As prioridades do Terceiro Setor dizem respeito a melhorar os níveis de vida da população, aumentar os investimentos, estimular a participação, bem como criar condições de igualdade cultural onde as pessoas, principalmente em situação de vulnerabilidade e risco social, possam ter igualdade de oportunidades e espaços de criação, produção, entendimento e amplitude de visão de mundo.

Muitas organizações sem fins lucrativos, não estão voltadas para uma democracia participativa e libertadora. Nesse sentido, percebe-se que existem ONGs que exercem sua real função, não assumindo ações do Estado, mas são efetivos motores de transformação social, uma nova forma de fazer política, visto que a ética política se faz valer, assim a questão social e suas expressões são reconhecidas e enfrentadas com o objetivo de transformação em demanda política e em responsabilidade pública e não ao contrário.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Porém, infelizmente, também existem ONGs que são campos propícios às ações do neoliberalismo e do moralismo em que o Estado procura repassar suas responsabilidades sociais para o campo da sociedade civil, assim as instituições sociais, acabam abafando os problemas sociais criando certa dependência, a partir do desenvolvendo de práticas sociais camufladas, clientelistas e assistencialistas.

Constatam-se muitos desafios que devem ser enfrentados e superados pelas organizações do Terceiro Setor, para que sejam consideradas verdadeiramente em sua totalidade como propulsores de uma sociedade igualitária e libertadora.

É necessário haver transparência e seriedade, não somente nas ações, mas principalmente nos recursos financeiros das organizações que devem ser direcionados de forma correta. “O desafio da legitimação é apenas um dos muitos com que se depara o Terceiro Setor no mundo inteiro. Igualmente grave é o desafio da eficiência, a necessidade de mostrar a capacidade e a competência do setor”. (SALAMON, 2000, p. 105). Sua real competência, no sentido de não ficar à mercê de práticas neoliberais ou de fazer o que o Estado não faz, em termos de garantia de direitos.

Frente a todo esse aparato de instituições sem fins lucrativos, que no fundo acabam acatando funções que são do Estado, foi criada uma lei específica sobre essa questão da legitimação das mesmas, a Lei nº 13.019/2014. Esta lei criada em 2014, trata do regime jurídico das parcerias do Estado com as instituições do Terceiro Setor, no sentido de fortalecer o controle interno e externo no que diz respeito às prestações de contas das instituições, pois muitas ONGs acabam sendo alvos fáceis de lavagem de dinheiro, desvios de verbas, irregularidades financeiras, apropriação indébita por seus dirigentes, entre outras falcatruas.

Segundo Castro (2014, p. 1),

No âmbito dos Tribunais de Contas e da Administração Pública, após inúmeros casos de desvios de dinheiros públicos no terceiro setor, a aludida lei significa uma resposta à sociedade. A lei, que entrará em vigor após 90 dias da sua edição, em 31 de julho de 2014, estabeleceu maior rigor ao controle interno e externo.Ao Terceiro Setor impõe-se um novo e vigoroso dever de zelo pelos recursos administradores, com transparência e publicidade (art. 87).Aguardemos os resultados.

Mesmo que, teoricamente, não deveríamos fazer essa separação “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor, porém realizamos pela questão existente na prática da realidade brasileira e mundial, esses segmentos se formaram e se fortaleceram em seus propósitos, e não tem como negarmos a função social de cada um.

O que se constata é que esses três setores se fortaleceram, interagem e se inter-relacionam formando parcerias diversas, em razão especificamente do agravamento das expressões sociais, da intensidade das expressões sociais que atinge a tudo e a todos no cenário contemporâneo.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Nesse sentido, Piana (2009, p. 52) enfatiza que,

Pensar a questão social na contemporaneidade é um desafio, pois esta é reproduzida pela mundialização da economia. No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge intensamente todos os setores e classes sociais, sendo constantemente ameaçada pelo pauperismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta dificulta a construção de uma sociedade coesa e articulada por meio de relações democráticas e interdependentes.

A triste realidade mostra-nos, explicitamente, a pobreza e a exclusão social, o pauperismo e as injustiças sociais, novas pobrezas e novos excluídos na sociedade contemporânea, pessoas de bem, muitas com estudo, com profissão, porém em situação de vulnerabilidade e de exclusão social.

FRENTE DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO

SOCIAL O QUE VOCÊ, ENQUANTO PESSOA, ENQUANTO CIDADÃO(Ã), ESTÁ FAZENDO DE FATO?

Algumas pessoas acreditam que apenas reclamar das situações e expressões ou fazer julgamentos diversos, sem sustentação, ou fazer críticas, até muitas vezes ofensivas frente a tudo e a todos, parece ser suficiente e racional, porém sabemos que isso não tem lógica e muito menos diminuição ou reversão do agravamento das expressões sociais. Assim, reflita sobre suas ações na sociedade, o que você, enquanto pessoa está fazendo de fato ou poderia fazer?

Para lhe auxiliar segue a lista de desafios a ser enfrentada em nível macro que pode nos dar base para reflexões de ações cotidianas.

TABELA 1 – REFLETINDO O ENFRENTAMENTO INDIVIDUAL DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

BASE DE REFLEXÃO PARA NOSSAS AÇÕES COTIDIANAS

POSSIBILIDADES COMPORTAMENTAIS DE ENFRENTAMENTOS

REFORMA POLÍTICA NO PAÍS

Podemos ter uma participação mais efetiva na sociedade, no sentido de denunciar, cobrar exigir as transformações necessárias. Precisamos ser mais políticos e politizar mais.

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Podemos parar de dar esmolas e fazer com que os que estão em situação de pobreza cobrem do Estado ações para que tenham condições para obtenção de sua própria renda, de aumento da sua renda por meio do trabalho, como também que invistam na educação e na saúde de fato.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E A QUESTÃO HABITACIONAL

Que possamos ter um conhecimento mais aprofundado sobre a reforma agrária, que possamos conhecer os reais objetivos do MST no Brasil, que possamos participar de conselhos, ONGs, movimentos que discutam essas questões referentes à distribuição de terras e produção de alimentos saudáveis e superação do déficit habitacional, bem como a qualidade das construções das moradias que são oferecidas via programas sociais.

SOBRE A MOBILIDADE URBANA, PLANEJAMENTO URBANO E AMPLIAR O SANEAMENTO BÁSICO

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam a superação dos problemas relacionados ao transporte público e de mobilidade urbana em sua cidade.

SOBRE A QUALIDADE DO ATENDIMENTO NA SAÚDE

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam investimentos na área da saúde no município em todos os sentidos.

SOBRE A VIOLÊNCIA E A CRIMINALIDADE

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam investimentos efetivos em segurança no município, bem como a redução de homicídios e presos no município.

SOBRE A DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E MELHORIA DA QUALIDADE

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam investimentos significativos em educação no município no sentido de ampliar matrículas, a inclusão social de pessoas com deficiência, qualificação dos professores, infraestrutura, entre outras ações.

SOBRE O ACESSO DA POPULAÇÃO A CULTURA E PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NAS REGIÕES

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam investimentos na área da cultura, equipamentos e estruturas como centros culturais, teatros, museus, bem como, preservação e divulgação dos patrimônios culturais na sua cidade, no seu Estado.

SOBRE A POLÍTICA INDÍGENA E VALORIZAÇÃO DA CULTURA

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais que se preocupam e reivindicam a valorização e conservação da cultura indígena, que rediscutam a política indígena como prioridade no Brasil e regiões onde vivem ou tentam sobreviver.

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TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Participar de conselhos, ONGs, movimentos sociais, programas municipais que se preocupam e reivindicam a alteração das formas de produção e interação com o meio ambiente, no sentido de diminuir os efeitos negativos no meio ambiente. Se preocupar com a reciclagem de materiais no âmbito familiar e exigir a coleta seletiva de lixo no município, bem como, destino adequado do lixo não reciclável, entre outras ações diárias que precisam ser reavaliadas.

SOBRE AS PESQUISAS E OS INVESTIMENTOS EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Se preocupar e efetivar pesquisas em seu município, que seus resultados provoquem mudanças sociais, efetivar pesquisas aplicadas, que possam modificar ações seja de programas e ações da prefeitura, de ONGS, de empresas etc. Solicitar e exigir bolsas de pesquisas na própria faculdade e no município onde reside.

FONTE: A autora

Essas ações, mesmo que aparentemente sendo consideradas tão insignificantes, também são alternativas de reversão do agravamento das expressões da questão social no seu meio, na sua família, na sua comunidade, no seu bairro, na sua escola, na sua cidade, no nosso país.

FIGURA 42 – A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL COMEÇA PELA INDIVIDUAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=8+objetivos+do+milênio+a+ser em+alcançados+para+2015>. Acesso em: 20 mar. 2015.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Podemos também esclarecer que quando não temos preconceito na sociedade também não iremos discriminar ou desvalorizar pessoas, grupos, setores, regiões, religiões, costumes, culturas, nos diversos âmbitos na sociedade, sejam de segmentos relacionados aos aspectos religiosos, raciais, condição social e de poder de renda, de saúde, gênero, etnia ou qualquer outro que compromete processos e valores democráticos de respeito, dignidade, equidade, igualdade e de justiça social.

A exemplo disso podemos constatar que algumas ações estão sendo efetivadas na sociedade civil, então cabe a cada um de nós revermos nossos valores e nossas atitudes cotidianamente.

Em um hotel em São Paulo constatou-se esta placa na entrada do elevador, não tem como não ver e não lê-la, é uma iniciativa para que as pessoas tomem consciência de que qualquer forma de preconceito e discriminação em virtude de raça, sexo, origem, condição social, idade, deficiência e doença não contagiosa, deve ser banida na sociedade, e se efetivada de fato, criminalizada.

UNI

UNI

Conseguiu refletir e rever suas ações na sociedade, o que você enquanto pessoa está fazendo ou poderia fazer para o enfrentamento do agravamento das expressões sociais no seu meio?

Discuta com seus familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, colegas de sala de aula, tutor e reveja ações possíveis, com certeza você se sentirá uma pessoa mais íntegra na sociedade, corresponsável pela melhoria da qualidade de vida das pessoas!

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Neste primeiro tópico, ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um pouco mais sobre as possibilidades e alternativas de reversão do agravamento das expressões sociais da questão social no Brasil.

Nesse sentido, enfatizamos vários itens:

• Revemos e rediscutimos as novas expressões sociais que se mostram na realidade brasileira, bem como os dilemas e desafios que o Estado enfrenta para resolução ou minimização das mesmas.

• Descrevemos e discutimos as prioridades e necessidades sociais, sob responsabilidade do Estado, considerado “primeiro” setor da sociedade.

• Analisamos as implicações das expressões sociais que são rebatidas e enfrentadas pelo “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor, em alguns casos de forma paliativa e conformista, clientelista e não democrática e, em outros de forma intencional, consciente e crítica, democrática e transformadora na construção de novos valores sociais e de uma nova realidade social.

• Discutimos de forma crítica sobre a responsabilidade e função do chamado “terceiro” setor, seguindo a linha de pensamento de Montaño, que nos faz refletir numa perspectiva crítica e de totalidade, sendo que este conceito, para ele, resulta inteiramente do aspecto ideológico do sistema neoliberal e é inadequado ao real.

• Vimos que, para Montaño, a realidade social não se divide em “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor, pois consiste num artifício positivista, institucionalista ou estruturalista, conforme o sistema capitalista almeja, uma sociedade fragmentada e funcional, visto que a sociedade civil está desenvolvendo atividades que deveriam ser atribuídas ao Estado.

• Refletimos também sobre o enfrentamento individual das expressões da questão social, enfatizando os tópicos de desafios do estado, como base de reflexão para nossas ações cotidianas, bem como possibilidades comportamentais de enfrentamentos.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Conforme estudo e análise da discussão sobre alguns conceitos, descreva sobre o significado do termo QUALIDADE DE VIDA, procurando demonstrar sua amplitude na dimensão necessária para o ser humano.

2 Conforme análise do estudo realizado sobre pobreza absoluta e pobreza relativa, você conseguiu entender a diferenciação entre ambas? Qual é o significado de cada uma?

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA

ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZANDO O SERVIÇO SOCIAL

NA CONTEMPORANEIDADE

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Iremos analisar e discutir, neste segundo tópico, a construção de uma nova ordem societária, procurando sintonizar o serviço social na contemporaneidade, enfatizando as estratégias e o projeto profissional do serviço social no enfrentando das expressões sociais.

Abordaremos também as competências e as atribuições profissionais do assistente social que estão especificadas no Código de Ética Profissional, lei que regulamenta a profissão do assistente social.

Bem como, analisaremos a necessidade do repensar a prática profissional, frente as transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas cotidianamente e as novas expressões da questão social que se configuram no cenário contemporâneo.

2 AS ESTRATÉGIAS E O PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NO ENFRENTANDO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS

Sintonizar o serviço social com os novos tempos não é algo tão simples assim, visto a dimensão e complexidade da sociedade atual na qual presenciamos e vivenciamos situações adversas, inconstantes, dispersas, multifacetadas, contraditórias, confusas que permeiam todas as relações sociais, inclusive as condições de trabalho dos profissionais.

Bem, diante das reflexões sobre a construção de uma nova ordem societária para o nosso país e população, muitos questionamentos e preocupações perpassam nossa consciência profissional, dentre elas podemos enfatizar:

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Assim como o Estado possui inúmeros desafios a serem enfrentados, com a nossa profissão não é diferente, no sentido do desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento das expressões da questão social.

O profissional se coloca frente a frente com as expressões sociais, não é algo distante e abrangente, mas essencialmente muito próximo e específico, pois os usuários do serviço social são aquelas pessoas e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e/ou risco social, desprovidos essencialmente de uma vida digna.

Percebemos que estivemos e ainda estamos inseridos num sistema que propicia a desigualdade social, pois o capitalismo não luta pela igualdade, mas essencialmente pela desintegração social e humana em detrimento do próprio sistema de produção, exploração, acumulação e lucro, por isso existem muitas situações de vulnerabilidade e risco social.

No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge intensamente todos os setores e classes sociais, sendo constantemente ameaçada pelo pauperismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta dificulta a construção de uma sociedade coesa e articulada por meio de relações democráticas e interdependentes. O que se tem no País é uma desmontagem do sistema de proteção e garantias do emprego e, consequentemente, uma desestabilização e uma desordem do trabalho que atingem todas as áreas da vida social (PIANA, 2009, p. 51-52).

Na sociedade brasileira, conforme descrevemos nas unidades anteriores, o acirramento das expressões sociais é evidente, tanto é que presenciamos visivelmente novas expressões sociais na atualidade, inclusive de forma bem acirrada na dimensão do trabalho, emprego e renda das pessoas na contemporaneidade, visto que a questão salarial tem sido foco de debates tanto no Brasil como no mundo.

• Como o Serviço Social pode contribuir para o enfrentamento das expressões sociais, visto que os desafios são estruturais e amplos, bem como envolvem um

processo abrangente de toda sociedade, prioritariamente do Estado?• Como o serviço social, enquanto profissão inserida no contexto capitalista, lida com o público e o privado nas relações contemporâneas, ou seja, nas novas relações entre Estado e sociedade civil? • Quais espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social no contexto contemporâneo de enfrentamento das expressões da questão social estão sendo ocupados com qualidade e autenticidade visando à ruptura com o conservadorismo e a falta de qualificação profissional?• Frente a tantos desafios, expressões sociais antigas, novas e diversas que envolvem a sociedade atual, quais são as estratégias mais adequadas de intervenção para o enfrentamento das expressões?• Como consolidar o projeto ético-político, por meio do exercício profissional dentro da divisão técnica do trabalho com vistas à construção de uma nova ordem societária?

ATENCAO

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Castel (2013a, p. 21), em seu livro, As Metamorfoses da questão social – uma crônica do salário, descreve a condição salarial enfatizando que,

[...] a situação atual é marcada por uma comoção que, recentemente, afetou a condição salarial: o desemprego em massa e a instabilidade das situações de trabalho, a inadequação dos sistemas clássicos de proteção para dar cobertura a essas condições, a multiplicação dos indivíduos que ocupam na sociedade uma posição de supranumerários, inempregáveis, inempregados ou empregados de modo precário, intermitente.

Não podemos negar que os assistentes sociais estão inseridos num terreno de incoerências, nesse sentido os profissionais buscam e priorizam o desenvolvimento social e não o desenvolvimento econômico, valorizam essencialmente o ser humano e não o capital. Os profissionais procuram defender a democracia, os direitos sociais, os valores éticos, uma sociedade justa e emancipada onde as pessoas possam ser libertas das diferentes formas de dominação, alienação, desigualdade, intolerância e desrespeito.

É tarefa inerente à profissão compreender a lógica de formação e o desenvolvimento da sociedade capitalista e os impasses colocados pelos conflitos sociais, tendo como campo de atuação as expressões da questão social. E nessa perspectiva, o assistente social defende a luta pela democracia econômica, política e social, busca a defesa de valores éticos para o coletivo em favor da equidade, defende o direito ao trabalho e o emprego para todos, a luta pela universalização da seguridade social, com garantia de saúde pública e previdência para todos os trabalhadores, uma educação laica, pública e universal em todos os níveis, enfim, luta pela garantia dos direitos como estratégia de fortalecimento da classe trabalhadora e mediação fundamental e urgente no processo de construção de uma sociedade emancipada. (PIANA, 2009, p. 56).

Assim, descrevendo por analogia, nadamos contra a maré e nesse mar imenso que parece não ter fim, procuramos sobreviver e salvar àqueles que se encontram nesse mar revolto e bravo, como também, orientar e esclarecer àqueles que já cansaram de nadar e estão à deriva, e quando possível, procuramos alertar aos que ainda não afundaram de vez. É triste dizer, mas muitos não sobrevivem e morrem na beira da praia mesmo, isso quando chegam lá.

Segundo Iamamoto (2012c, p. 48)

A questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políti-cas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características etnicorraciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela cidadania, (Ianni, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos. Esse pro cesso é denso de conformismos e rebeldias, forjados ante as desigualdades sociais, expressando a consciência e a luta pelo reconhecimento dos direitos sociais e políticos de todos os indivíduos sociais. É nesse terreno de disputas que trabalhamos.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

As disparidades sociais são imensas no sistema capitalista em que nos encontramos enquanto profissionais e cidadãos, assim frente à questão social constatamos uma realidade complexa, visto que essas disparidades são as expressões multifacetadas da questão social, que se deslocam de lugar e fragmentam qualquer consciência, qualquer sujeito, qualquer cultura, qualquer trabalho, qualquer campo de justiça, cidadania e igualdade social.

O serviço social no enfrentando das expressões da questão social na contemporaneidade, conforme o espaço ocupacional em que atua, seja no “primeiro”, “segundo” ou “terceiro setor”, possui inúmeras competências.

Nesse sentido o CFESS (2012, p. 10-14), especifica as competências da profissão em suas diversas dimensões, como está exposto a seguir:

As competências específicas são definidas com diversas dimensões interventi vas, complementares e indissociáveis. São elas:

1. Uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou gru-pais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos direitos, bens e equipamentos públicos. Essa dimensão não deve se orien-tar pelo atendimento psicoterapêutico a indivíduos e famílias (próprio da Psicologia), mas sim à potencialização da orientação social com vistas à ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais.

2. Uma dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na pers-pectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular, que tem como fundamento o reconhecimento e fortalecimento da classe trabalhadora como sujeito coletivo na luta pela ampliação dos direitos e responsabilização estatal.

3. Uma dimensão de intervenção profissional voltada para inserção nos es paços democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a participação, reivindicação e defesa dos direitos pelos(as) usuários(as) e Conselhos, Conferências e Fóruns da Assistência Social e de outras políticas públicas.

4. Uma dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade, na perspectiva de fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir, intersetorial e interdisciplinarmente, propostas que viabilizem e potenciali-zem a gestão em favor dos(as) cidadãos(ãs).

5. Uma dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe tra-balhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da política de Assistência Social.

6. Uma dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públi-cas, dirigida aos(às) diversos(as) atores(atrizes) e sujeitos da política: os(as) gestores(as) públicos(as), dirigentes de entidades prestadoras de serviços, trabalhadores(as), conselheiros(as) e usuários(as).

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Essas diversas dimensões interventivas podem se desdobrar em competências, es tratégias e procedimentos específicos, e são assim apresentadas nos Parâmetros:

• Realizar pesquisas para identificação das demandas e reconhecimento das situações de vida da população que subsidiem a formulação dos planos de Assistência Social.

• Formular e executar os programas, projetos, benefícios e serviços próprios da Assistência Social, em órgãos da Administração Pública, empresas e or-ganizações da sociedade civil.

• Elaborar, executar e avaliar os planos municipais, estaduais e nacional de Assistência Social, buscando interlocução com as diversas áreas e políticas públicas, com especial destaque para as políticas de Seguridade Social.

• Formular e defender a constituição de orçamento público necessário à im-plementação do plano de Assistência Social.

• Favorecer a participação dos(as) usuários(as) e movimentos sociais no pro-cesso de elaboração e avaliação do orçamento público.

• Planejar, organizar e administrar o acompanhamento dos recursos orça-mentários nos benefícios e serviços socioassistenciais nos Centro de Refe-rência em Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS).

• Realizar estudos sistemáticos com a equipe dos CRAS e CREAS, na perspec-tiva de análise conjunta da realidade e planejamento coletivo das ações, o que supõe assegurar espaços de reunião e reflexão no âmbito das equipes multiprofissionais.

• Contribuir para viabilizar a participação dos(as) usuários(as) no processo de elaboração e avaliação do plano de Assistência Social; prestar assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública, empresas privadas e mo-vimentos sociais em matéria relacionada à política de Assistência Social e acesso aos direitos civis, políticos e sociais da coletividade.

• Estimular a organização coletiva e orientar os(as) usuários(as) e trabalhadores(as) da política de Assistência Social a constituir entidades representativas.

• Instituir espaços coletivos de socialização de informação sobre os direitos socioassistenciais e sobre o dever do Estado de garantir sua implementação.

• Assessorar os movimentos sociais na perspectiva de identificação de de-mandas, fortalecimento do coletivo, formulação de estratégias para defesa e acesso aos direitos.

• Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre acesso e implementação da política de Assistência Social.

• Realizar estudos socioeconômicos para identificação de demandas e ne-cessidades sociais.

• Organizar os procedimentos e realizar atendimentos individuais e/ou cole-tivos nos CRAS.

• Exercer funções de direção e/ou coordenação nos CRAS, CREAS e Secreta-rias de Assistência Social.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

• Fortalecer a execução direta dos serviços socioassistenciais pelas prefei turas, governo do DF e governos estaduais, em suas áreas de abrangência.

• Realizar estudo e estabelecer cadastro atualizado de entidades e rede de atendimentos públicos e privados.

• Prestar assessoria e supervisão às entidades não governamentais que cons-tituem a rede socioassistencial.

• Participar nos Conselhos municipais, estaduais e nacional de Assistência So-cial na condição de conselheiro(a).

• Atuar nos Conselhos de Assistência Social na condição de secretário(a) executivo(a).

• Prestar assessoria aos conselhos, na perspectiva de fortalecimento do controle democrático e ampliação da participação de usuários(as) e trabalhadores(as).

• Organizar e coordenar seminários e eventos para debater e formular estra-tégias coletivas para materialização da política de Assistência Social.

• Participar na organização, coordenação e realização de conferências muni-cipais, estaduais e nacional de Assistência Social e afins.

• Elaborar projetos coletivos e individuais de fortalecimento do protagonis mo dos(as) usuários(as).

• Acionar os sistemas de garantia de direitos, com vistas a mediar seu acesso pelos(as) usuários(as).

• Supervisionar direta e sistematicamente os(as) estagiários(as) de Serviço Social.

O chamado trabalho interdisciplinar também é abordado neste documento so bre o Serviço Social no SUAS, preservando-se o resguardo das atribuições e do sigilo profissional, numa perspectiva ética, alertando-se sobre a necessidade de discernir sobre informações, atribuições e tarefas que estejam no campo de atuação de cada profissão.

No trabalho conjunto com outros/as profissionais, deve-se preservar o caráter confidencial das informações sob a guarda dos/as assistentes sociais, registrando-se nos documentos conjuntos aquilo que for necessário para o cumprimento dos objetivos do trabalho.

Por fim, afirma-se que o trabalho em equipe não pode negligenciar a responsabilidades individuais e competências, e deve buscar identificar papéis, atribuições, de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe multidisciplinar, encarrega-se de determinadas tarefas.

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Atribuições privativas do/a assistente social em questão. 1ª edição ampliada. 2012. Gestão “Tempo de Luta de Resistência” (2011-2014). CFESS: Brasília (DF), 2012. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/atribuicoes2012-completo.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2015.

Podemos perceber que as atribuições do profissional são diversas e em diversos setores e as competências específicas e singulares do assistente social são definidas em diversas dimensões interventi vas, que se complementam e que não podem ser consideradas indissociáveis.

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL E DEMAIS PROFISSIONAIS

1. Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares.

2. Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam de âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil.

3. Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população.

4. Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos.

5. Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais.6. Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise

da realidade social e para subsidiar ações profissionais.

Analisando especificamente esta Lei, que regulamenta a profissão a partir do Código de Ética Profissional, existe certa diferença entre os termos COMPETÊNCIAS e ATRIBUIÇÕES, que, muitas vezes, são consideradas como sinônimos no aparato profissional, porém analisando os artigos quarto e quinto do código, constatamos que se diferenciam.

As competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais de outras categorias, assim, dentro do item das competências, artigo 4º do Código de Ética Profissional (BRASIL, 2012 – grifos da autora), verificamos várias ações que não são exclusivas do assistente social, mas também podem ser executadas por outros profissionais, tais como:

Será que existe diferença entre COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES? Você saberia descrever qual é a diferença entre os dois termos no âmbito da profissão? O que diferencia um do outro?

ATENCAO

A Regulamentação da Profissão – Lei n° 8.662, 7 de junho de 1993, dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências, sendo que estabelece no seu Artigo 4º, dez competências da(o) assistente social, sendo que também estabelece no seu Artigo 5º treze atribuições privativas da(o) assistente social, sendo que também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, da formação profissional (BRASIL, 2012).

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

7. Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta, indireta, empresas privadas e outras entidades.

8. Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade.

9. Planejamento, organização e administração de serviço social e de unidade de serviço social.

10. Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS SOMENTE DO ASSISTENTE SOCIAL

1. Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social.

2. Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social.

3. Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social.

4. Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social.

5. Assumir, no magistério de Serviço Social tanto em nível de graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular.

6. Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social.

7. Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação.

8. Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social.

9. Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social.

10. Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social.

Agora no âmbito das atribuições, no Art. 5º do Código de Ética, especifica as ações que são privativas do Assistente Social, assim constatamos que as ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, da formação profissional em serviço social, assim não podem ser desenvolvidas por outros profissionais, mas somente por assistentes sociais.

De acordo com o artigo 5º do Código de Ética Profissional (BRASIL, 2012 –grifos da autora), são atribuições do assistente social:

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

11. Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais.

12. Dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas.

13. Ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

“Assim, as competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais de outras categorias”, segundo o Parecer Jurídico nº 27/98, de Sylvia Helena Terra, assessora jurídica do CFESS (CFESS, 2009, p. 18).

Diz respeito à capacidade decorrente de profundo conhecimento que tem sobre determinado assunto, especialista em determinado assunto; é formada por um conjunto de habilidade, atitude e conhecimento; conhecimento e capacidade em determinada área; aptidão designando qualidade de quem é capaz de desenvolver determinada função; qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver algum assunto.

E as atribuições privativas também são competências, porém exclusivas, decorrentes, especificamente, da formação profissional (CFESS, 2009), e dizem respeito ao preenchimento de um requisito qualitativo, um atributo específico, um encargo peculiar; responsabilidade de um cargo, ou função; envolve deveres e funções próprias da profissão.

Temos que admitir, que neste contexto de esclarecimento e discussão, no que diz respeito às competências e as atribuições profissionais, infelizmente, existem muitas práticas burocráticas, funcionais, alienadas e desprovidas de criticidade e visão política, destituídas de referencial histórico-crítico e teórico-prático, que vem sendo acompanhadas de falta de qualificação profissional.

Certamente, que um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos profissionais na sociedade brasileira na atualidade, designa em saber pesquisar, analisar, interpretar, refletir sobre as antigas e as novas configurações sociais que proliferam na sociedade, novas expressões sociais que se apresentam de forma multifacetada impondo aos assistentes sociais um repensar crítico sobre a teoria e a prática profissional, redefinir e construir propostas de trabalho criativas e diferenciadas, capazes de enfrentar as demandas emergentes que parecem se consolidar de fato de forma infindáveis.

A ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, vem desempenhando uma significativa função no direcionamento do ensino e da pesquisa em serviço social no Brasil, impulsionando profissionais para a discussão sobre a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 42 – ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=símbolo+da+ABEPSS>. Acesso

em: 24 mar. 2015.

É de extrema necessidade que o profissional analise, pesquise, decifre, reflita criticamente, atue de forma propositiva sobre as múltiplas expressões da questão social. Planeje de forma fundamentada a prática profissional, implemente e execute políticas, planos, programas e projetos sociais de forma qualificada e coerente, enfim, que seja um profissional comprometido com o projeto ético-político da profissão.

Que seu pensar e agir estejam fundamentados nos valores e princípios do Código de Ética do Assistente Social, pelas competências especificadas e pelas atribuições particulares e privativas do(a) assistente social, conforme regulamenta a Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, assim como também, tenha observância nas orientações da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS.

Ser um profissional propositivo, ou seja, ser um assistente social centrado na construção de propostas que possam superar demandas e expressões sociais, não sendo apenas um trabalhador funcional, burocrático e executivo ou, um profissional que não se atualiza e trabalha simplesmente por trabalhar no sentido do “faz de conta” é um dos maiores desafios a serem evitados, combatidos, enfrentados pela profissão (IAMAMOTO, 2014a).

A complexidade da sociedade atual exige um repensar contínuo do saber teórico e metodológico da profissão, da ampliação da pesquisa no conhecimento da realidade social, na produção do conhecimento sobre

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

a organização da vida social e na busca da consolidação do projeto ético-político, por meio do exercício profissional nas atividades diárias, na inserção e participação política nas entidades nacionais de Serviço Social (CFESS/Cress, ABEPSS, Enesso), na articulação com outros movimentos sociais em defesa dos interesses e necessidades da classe trabalhadora e em luta permanente contra as imposições do neoliberalismo, contra o predomínio do capital sobre o trabalho, da violência, do autoritarismo, da discriminação e de toda forma de opressão e de exploração humana. (PIANA, 2009, p.55).

Precisamos repensar nossa prática profissional, nossas competências e atribuições frente às transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas cotidianamente, as novas expressões da questão social que se configuram no cenário contemporâneo, pois toda essa complexidade exige uma postura dialética de ação e reflexão para uma nova ação. Repensar e redimensionar ações e espaços ocupacionais, bem como enfrentar os desafios, exigem maior qualificação profissional em todos os sentidos.

Requer considerar o redimensionamento dos espaços ocupacionais e das demandas profissionais que impõem novas competências a esse profissional. A reconfiguração dos espaços ocupacionais é resultante das profundas transformações sócio-históricas, com mudanças regressivas nas relações entre o Estado e sociedade em um quadro de recessão na economia internacional, submetida à ordem financeira do grande capital. As dificuldades para impulsionar o crescimento econômico, o aumento do desemprego e do subemprego e a radicalização das desigualdades de renda, propriedade e poder, das disparidades religiosas, raciais, de gênero e etnia comprometem processos e valores democráticos. Elas são marcas destes tempos adversos, como registra o poeta, um tempo de aflição e não de aplausos (CFESS, 2012, p. 33-34).

Visto que, as transformações sociais sempre irão ocorrer, mudanças são inevitáveis em todas as relações sociais, seja no âmbito do Estado com a economia, com a sociedade, com meio ambiente, com os movimentos sociais; da sociedade com os outros setores, instituições e grupos que se interagem e entram em acordos e desacordos, organizações, participações, conflitos, discriminações; dentre outras situações adversas e condições de vulnerabilidade na sociedade decorrentes das disparidades e desigualdades sociais provenientes do sistema capitalista.

Com tudo isso, tem-se que a questão social, que deve ser enfrentada enquanto expressão das desigualdades da sociedade capitalista brasileira, é construída na organização da sociedade e manifesta-se no espaço societário onde se encontram a nação, o Estado, a cidadania, o trabalho. (PIANA, 2009, p. 52).

De fato temos que enfrentar a questão social enquanto expressão das desigualdades sociais do sistema capitalista, enquanto manifestação das disparidades sociais, pois ela é construída na própria organização e desenvolvimento da sociedade, e se manifesta nos novos espaços sociais, espaços de atuação do profissional de serviço social, que se configuram em novos desafios e novas demandas, do “primeiro”, “segundo” ou “terceiro” setor da realidade social.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Para aprofundamento do estudo sobre os espaços ocupacionais indicamos a leitura do livro ESPAÇOS OCUPACIONAIS E SERVIÇO SOCIAL: ENSAIOS CRÍTICOS,

de autoria de Rose Mary Sousa Serra, de 2012.

A obra enfatiza as mudanças nas relações entre o Estado e a sociedade, assim como das metamorfoses operadas nas políticas sociais, que se materializam na expansão do chamado terceiro setor e do voluntariado, nos programas de responsabilidade social das empresas, nas fundações e institutos empresariais, nos programas de emprego, trabalho e renda, nas políticas de qualificação e de microcrédito, nas relações entre trabalho e educação e nos processos de assessorias, diversificando os espaços ocupacionais do Serviço Social.

Discutindo sobre novos espaços ocupacionais, podemos enfatizar aqueles que permeiam o meio ambiente, assim percebemos que a profissão tem, junto às questões ambientais, um espaço que vale a pena ser ocupado, atualmente não muito priorizado. Todavia, existem inúmeras possibilidades de estudos interdisciplinares que apresentam, não só frente às questões ligadas ao desenvolvimento urbano, à preservação do meio ambiente e à geração de renda, mas também pela importância da qual se revestem essas questões, que criam inúmeras oportunidades de intervenção ao serviço social, em ações de mobilização, organização das populações ameaçadas pela degradação do seu meio ambiente ou de educação dessa mesma população para sua preservação.

Segundo Colito e Pagani (1999, p. 247)

Devemos nos lembrar que ao colocarmos como objeto de intervenção a questão social, as questões ambientais estão ali contidas; são expressões dela. Se formos privilegiar as políticas sociais veremos que a política pública com vistas à geração de energia, gera sérias consequências que clamam por políticas sociais adequadas para o atendimento das populações que se veem atingidas. Como vemos não existem diferenças entre questões ambientais e questão social tida como alvo da intervenção do Serviço Social.

Nesse contexto, a educação ambiental pode ser compreendida como um dos processos mais importantes de construção de valores, conhecimentos, habilidades e atitudes, tendo como objetivo estimular e fortalecer para que se possa promover uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

DICAS

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

Braz Moraes dos Reis

O que é um projeto? Um projeto tem teleologia, indica a direção que uma sociedade, uma categoria constrói para concretizar o que idealizou, o que sonhou e sonha. E por isso podemos diferenciar os projetos societários dos projetos profissionais.

Segundo Netto (1999), os projetos societários aprestam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Constituem-se em projetos macroscópicos, para o conjunto da sociedade. São, portanto, projetos de classe.

Os projetos profissionais são coletivos; apresentam a autoimagem de uma profissão; elegem os valores que a legitimam; delimitam e priorizam seus objetivos e funções; formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício; prescrevem normas para o comportamento dos profissionais; estabelecem as balizas da sua relação com os usuários dos serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas; são construídos por um sujeito coletivo – a categoria profissional; e através da sua organização (que envolve os profissionais em atividades, as instituições formadoras, os pesquisadores, os docentes e estudantes da área, seus organismos corporativo e sindicais) que a categoria elabora o seu projeto profissional (NETTO,1999).

O QUE É O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL?

É o nosso projeto profissional que foi construído no contexto histórico de transição dos anos 1970 aos 1980, num processo de redemocratização da sociedade brasileira, recusando o conservadorismo profissional presente no Serviço Social brasileiro. Constata-se o seu amadurecimento na década de 1990, período de profundas transformações societárias que afetam a produção, a economia, a

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO – Serviço Social na ContemporaneidadeMúsica: “Cidadão” por Zé Ramalho (Google Play - iTunes)Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fCHlSe4VwZw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

política, o Estado, a cultura, o trabalho, marcadas pelo modelo de acumulação flexível (Harvey) e pelo neoliberalismo.

Condições necessárias para desenvolver e aprofundar o projeto ético-político:

Condição política, que teve na luta pela democracia seu principal rebatimento, onde as aspirações democráticas e populares foram incorporadas e intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social.

Espaço legitimado na academia, que permitiu a profissão estabelecer fecunda interlocução com as Ciências Sociais e criar e revelar quadros intelectuais respeitados no conjunto da categoria.

Debate sobre a formação profissional, cujo empenho foi dirigido no sentido de adequá-la às novas condições postas, em um marco democrático da questão social. Em suma, a construção de um novo perfil profissional.

No interior da categoria profissional, modalidades prático-interventivas tradicionais foram ressignificadas e novas áreas e campos de intervenção foram emergindo devido, sobretudo, às conquistas dos direitos cívicos e sociais que acompanharam a restauração democrática na sociedade brasileira (práticas interventivas junto a categorias sociais como criança, adolescente, mulheres, e outras).

ESTRUTURA BÁSICA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Núcleo: reconhecimento da liberdade como valor central.

Ø Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.

Ø Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social.

Dimensão política: se posiciona m favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização; a ampliação e consolidação da cidadania. Este projeto se reclama radicalmente democrático – socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida.

Do ponto de vista profissional: o projeto implica o compromisso com a competência, cuja base é o aprimoramento profissional – preocupação com a (auto) formação permanente e uma constante postura investigativa.

Usuários: o projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários dos serviços oferecidos – compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, a publicização dos recursos institucionais e sobretudo, abrir as decisões institucionais à participação dos usuários.

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TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Articulação com os segmentos de outras categorias profissionais que partilhem de propostas similares e com os movimentos que se solidarizam com a luta geral dos trabalhadores.

COMPONENTES QUE MATERIALIZAM O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social: é a esfera da sistematização das modalidades práticas da profissão, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional.

Dimensão político-organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as entidades representativas (conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e as demais associações político-profissionais, movimento estudantil representado pelo conjunto dos CAs e DAs e pela ENESSO). É aqui que são tecidos os traços gerais do projeto, quando são reafirmados (ou não) determinados compromissos e princípios.

Dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico estritamente profissional (Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão – Lei 8.662/93 e as novas Diretrizes Curriculares do MEC; aparato jurídico-político de caráter mais abrangente (conjunto das leis advindas do capítulo da Ordem Social da Constituição Federal de 1988).

Texto adaptado da Coletânea de Leis – CRESS 17ª Região/ES e do texto de Marcelo Braz Moraes dos Reis (professor da ESS/UFRJ. Conselheiro do CFESS – Gestão 2002-2005/2005-2008, ex-diretor CRESS 7ª Região), intitulado “Notas sobre o Projeto Ético Político do Serviço Social”.

FONTE: REIS, Braz Moraes dos. Projeto ético-político. CRESS 17ª Região/ES – Gestão 2008-2011. Disponível em: <http://cress-es.org.br/projetoetico.htm>. Acesso em: 29 mar. 2015.

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Neste segundo tópico, ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um pouco mais a construção de uma nova ordem societária, procurando sintonizar o serviço social na contemporaneidade, enfatizando as estratégias e o projeto profissional do serviço social no enfrentando das expressões sociais.

Nesse sentido abordamos algumas análises e discussões, onde percebemos que:

• O profissional se coloca frente a frente com as expressões sociais, assim não é algo distante e abrangente, mas essencialmente muito próximo e específico, que nos espaços ocupacionais o assistente social procura responder às demandas e garantir os direitos sociais.

• Estivemos e ainda estamos inseridos num sistema que propicia a desigualdade social, pois o capitalismo não luta pela igualdade, mas essencialmente pela desintegração social e humana em detrimento do próprio sistema de produção, exploração, acumulação e lucro, por isso existem muitas situações de vulnerabilidade e risco social.

• As competências e as atribuições profissionais estão especificadas no Código de Ética Profissional, lei que regulamenta a profissão do assistente social.

• É necessário repensar a prática profissional, as competências e atribuições frente às transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas cotidianamente e as novas expressões da questão social que se configuram no cenário contemporâneo.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 O Projeto Ético-Político, hegemônico no Serviço Social, identifica, nas expressões da questão social, o objeto ou a matéria-prima dos processos de trabalho do Assistente Social. Nesse sentido, sob essa ótica de análise, analise as afirmativas a seguir que condizem com o estudo realizado sobre a questão social:

I - Pode-se definir a questão social como uma política social, fragmentada e setorializada, voltada ao enfrentamento das complexas e multifacetadas expressões sociais do capitalismo. II - As expressões sociais da questão social são como ações pontuais do “primeiro” setor, que passaram a ser introduzidas a partir do capitalismo. III - A questão social se caracteriza pelo conjunto das expressões das desigualdades sociais da sociedade capitalista.IV - Historicamente a Questão Social tem a ver com o surgimento da classe operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol de direitos trabalhistas.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.b) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

2 Analisando o esclarecimento realizado a partir do estudo deste tópico com embasamento no Código de Ética Profissional, o que diferencia os termos COMPETÊNCIAS e ATRIBUIÇÕES no agir do assistente social?

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TÓPICO 3

A DESIGUALDADE SOCIAL E AS CONCEPÇÕES DOS

SISTEMAS DE INDICADORES

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Este terceiro tópico tem por objetivo apresentar algumas reflexões que envolvem a abrangência da desigualdade social na contemporaneidade, que abrangem muitas regiões do mundo e do Brasil, impondo a milhares de pessoas uma condição de injustiça social sem acesso à qualidade de vida e aos mesmos benefícios, serviços, renda, oportunidades que alguns poucos possuem.

Abordaremos algumas reflexões sobre a diversidade e a desigualdade social, bem como, os parâmetros utilizados para se saber os graus de desigualdade em um país, os sistemas de indicadores ou índices de mensuração.

2 REFLEXÕES SOBRE A DIVERSIDADE E A DESIGUALDADE SOCIAL

Todos nós somos diferentes, porém na sociedade na qual vivemos, essencialmente capitalista, somos tratados de forma desigual, assim, em muitos momentos, as diferenças podem se transformar em objeto de desigualdade social, preconceito, discriminação e racismo.

Há distinção entre os termos desigualdade e diferença, vamos esmiuçar esses termos para compreendermos melhor e não confundirmos no dia a dia. A diferença pode ser tanto natural quanto cultural, porém a própria natureza pode ajudar a esclarecer os conceitos e mostrar como a desigualdade não é natural, mas sim essencialmente social, assim não se discute que haja injustiças na natureza.

UNI

Você já pensou sobre a distinção entre os termos: “desigualdade” e “diferença”? Qual seria? Ou, quais as diferenças entre ser diferente e ser desigual na sociedade?

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Inevitavelmente, existem diferenças entre os humanos, não no todo, mas em aspectos particulares tais como força, altura, inteligência, sexo, cor etc. sendo que essas diferenças são naturais e não têm como eliminá-las e nem convém.

Refletindo um pouco mais, vamos perceber que a desigualdade não é natural, visto que em algumas circunstâncias uns são privilegiados, outros não. Em algumas circunstâncias, situações, condições de sistemas e forma de organização social são privilegiados em detrimento da maioria, que são construídas socialmente, sendo na maioria das vezes, caracterizada como formas injustas de relação social. Já que a desigualdade não é natural, é desejável assim a possibilidade de sua eliminação.

Não se pode dizer que haja uma desigualdade natural intrínseca, assim a “diferença” não é o mesmo que “desigualdade”, embora os dois termos até sejam usados como sinônimos.

Para esclarecer melhor, Barros (2005, p. 345, grifos do autor), focando sua análise entre igualdade e diferença e entre igualdade e desigualdade descreve:

Quando se considera o par «igualdade × diferença» (ou «igual» × «diferente»), tem-se em vista algo da ordem das essências: uma coisa ou é igual a outra (pelo menos em um determinado aspecto) ou então dela difere. Podemos, no âmbito de um certo número de indivíduos, considerar sua igualdade ou diferença em relação ao aspecto sexual, ao aspecto profissional, ao aspecto étnico, e assim por diante. A oposição entre igualdade e diferença, se colocarmos a questão dentro de uma perspectiva semiótica, é da ordem dos «contrários» (de duas essências que se opõem). Já o contraste entre igualdade e desigualdade refere-se quase sempre não a um aspecto «essencial», mas a uma «circunstância» associada a uma forma de tratamento (mesmo que esta circunstância aparentemente se eternize no interior de determinados sistemas políticos ou situações sociais específicas). Tratam-se dois ou mais indivíduos com igualdade ou desigualdade relativamente a algum aspecto ou direito, conforme sejam concedidos mais privilégios ou restrições a um e a outro (isto pode ocorrer independentemente de serem eles iguais ou diferentes no que se refere ao sexo, à etnia ou à profissão).

Temos que refletir e entender que existem diversas diferenças e desigualdades na sociedade, porém não são as mesmas, no entanto uma conduz às demais. A desigualdade social em âmbito mais geral propicia o surgimento de outras desigualdades correlacionadas com as diferenças que existem na sociedade, que deveriam ser consideradas como naturais intrínsecas ao aspecto biológico e cultural.

Hannah Arendt, em seu livro A Condição Humana, o mundo moderno é um grande ameaçador da existência humana, nesse sentido sua análise enfatiza que o capitalismo, no prisma de modernidade, o ser humano e tudo o que há no mundo se torna objeto de exploração, bens de consumo sendo tudo descartável, inclusive o homem. Assim uma das condições mais básicas da vida em sociedade é a pluralidade que consiste numa síntese entre igualdade e diferença, ou seja, cada

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TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

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pessoa é única no mundo, porém sua individualidade somente se constitui nas relações sociais entre os seres humanos (ARENDT, 2014).

Assim, analisando sob o ponto de vista individual, o termo desigual compreende o que não é igual, em um sentido mais restrito, as pessoas não são iguais, possuem diferenças diversas do ponto de vista biológico, físico, cultural, mental e psicológico, valores e costumes, defeitos e qualidades, habilidades e competências, entre outras.

Do ponto de vista não biológico, enfatizando agora o termo desigualdade social, em seu sentido amplo, estrutural e macro, percebe-se que a questão social expressa inúmeras situações, decorrentes de diversas desigualdades não só de classes sociais, mas de pessoas, grupos e famílias, de etnias, de culturas, de profissões, de renda, de saúde, de conhecimento, de gênero, de poder, crenças etc.

Assim, entende-se que a desigualdade social é um fenômeno mundial desencadeado pela má distribuição de renda na sociedade em suas devidas proporções e dimensões, promovendo diversas privações de liberdade, autonomia, respeito, valorização, bem-estar, saúde, qualidade de vida, bem como exclusões sejam elas sociais, políticas, econômicas, culturais, educacionais, laborais, habitacionais, entre outras.

Segundo a UNESCO (2002), a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, em seu Artigo 1º, que enfatiza a diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade, descreve que:

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras.

No Brasil, a diversidade cultural é bastante expressiva, porém as identidades que caracterizam grupos diversos no contexto nacional, por vezes, são ameaçadas pelas diversas formas de desigualdade social, preconceito, discriminação e racismo em virtude de raça, sexo, origem, condição social, idade, deficiência, doença não contagiosa, entre outras condições sociais, seja política, profissional, crença religiosa, etnia, cultura, entre outras que possam provocar exclusão social.

No sistema capitalista, os valores estão distorcidos, assim as diversidades culturais são confundidas como diferenças que devem ser banidas da sociedade, assim as pessoas acabam aprendendo a serem preconceituosas, discriminando, desvalorizando e excluindo pessoas, grupos e segmentos diversos que existem na sociedade.

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 43 – REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO NA SOCIEDADE

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=ser+desigual+e+ser+diferente>. Acesso em: 20 mar. 2015.

A discussão sobre a diversidade cultural e a desigualdade social nos tempos atuais, tem sido cada vez mais comum, pois estamos vivendo numa época muito adversa, com muitos conflitos em todas as áreas, principalmente no âmbito cultural e educacional. Investir em novos valores, em novas atitudes também é um desafio para os profissionais que lidam diretamente com expressões sociais advindas dos processos de exclusão e discriminação social.

Segundo Gomes (2012, p. 687)

A diversidade, entendida como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional. Não se pode negar, nesse debate, os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre toda a sociedade e, em especial, sobre os coletivos sociais considerados diversos. Portanto, a análise sobre a trama desigualdades e diversidade deverá ser realizada levando em consideração a sua inter-relação com alguns fatores, tais como: os desafios da articulação entre políticas de igualdade e políticas de identidade ou de reconhecimento da diferença no contexto nacional e internacional, a necessária reinvenção do Estado rumo à emancipação social, o acirramento da pobreza e a desigual distribuição de renda da população, os atuais avanços e desafios dos setores populares e dos movimentos sociais em relação ao acesso à educação, à moradia, ao trabalho, à saúde e aos bens culturais, bem como os impactos da relação entre igualdade, desigualdades e diversidade nas políticas públicas.

Vários são os fenômenos gerados pela desigualdade social, que acarreta outros inúmeros fenômenos igualmente preocupantes numa sociedade, trazendo malefícios diversos, além do acirramento da pobreza em sua amplitude, também fomenta o preconceito e a discriminação sobre os coletivos sociais considerados diversos nas sociedades, inclusive na realidade brasileira, ou seja, fomenta outras

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TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

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desigualdades sob o ponto de vista cultural, tais como as desigualdades raciais, étnicas, de gênero, entre outras.

Percebe-se, através de pesquisas, estudos e levantamentos feitos por órgãos competentes, que os países onde a desigualdade social é elevada, também registram índices igualmente elevados de outros fatores negativos, tais como: violência e criminalidade, desemprego, desigualdade racial, guerras, educação precária, falta de acesso a serviços públicos de qualidade, diferenciação de tratamento entre ricos e pobres, entre outros. (LÚCIO, 2011).

Constata-se, realmente, nos países onde a desigualdade social é acirrada, que se desencadeiam inúmeros outros problemas, como por exemplo, a pobreza em suas diversas dimensões, por isso que também há o acirramento das expressões sociais. Quanto maior a desigualdade social, maior a quantidade e diversidade de expressões sociais na sociedade, assim consequentemente maiores serão os desafios a serem enfrentados pelo Estado, pela sociedade e pelos profissionais.

3 TIPOS E SIGNIFICADOS DOS SISTEMAS DE INDICADORES UTILIZADOS

É necessário conhecermos e compreendermos alguns indicadores de avaliação da desigualdade social, indicadores de desenvolvimento humano, pois a distribuição de renda leva a mensurações da desigualdade existente e de dilemas preocupantes na sociedade.

Nos primeiros tempos da ONU, a pobreza era medida em termos da capacidade de obter um número mínimo de calorias ou de ter um nível mínimo de rendimentos para satisfazer as necessidades (pobreza em termos de rendimentos). O “limiar de pobreza” definia esse nível mínimo e os pobres eram aqueles cujos rendimentos ou ração calórica eram inferiores a esse mínimo.

Um indicador utilizado habitualmente para efeitos das comparações internacionais de pobreza de rendimentos é o de 1 ou 2 dólares por dia (poder de compra equivalente a 1 ou 2 dólares nos Estados Unidos em 1993). Houve mudanças ao nível das ideias sobre a forma de medir a pobreza, tendo havido tentativas de integrar no indicador algumas das suas diferentes dimensões, bem como as suas relações circulares de que falamos anteriormente (ANNAN, 2001).

Na década de 1970, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alargou o conceito e a pobreza passou a ser entendida como incapacidade de satisfazer as necessidades básicas. Nas décadas de 1980 e 1990, o conceito sofreu mais mudanças, ao serem considerados aspectos não monetários como o isolamento, a impotência, vulnerabilidade e falta de segurança, bem como a capacidade e a aptidão das pessoas para sentir bem-estar (ANNAN, 2001).

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Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 (2014, p. 3) publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD,

As pessoas em situação de pobreza e privação extremas integram o núcleo dos mais vulneráveis. Apesar dos recentes progressos na redução da pobreza, mais de 2,2 milhões de pessoas continuam a viver em situação de pobreza multidimensional ou quase. Isto significa que mais de 15 por cento da população mundial permanece vulnerável à pobreza multidimensional. Por outro lado, quase 80 por cento da população global não dispõe de proteção social alargada. Cerca de 12 por cento (842 milhões) padecem de fome crónica, 6 e quase metade dos trabalhadores – mais de 1,5 milhões – trabalha em regime de emprego precário ou informal. Em muitos casos, os pobres – a par, por exemplo, das mulheres, dos imigrantes, dos grupos indígenas e dos idosos – são estruturalmente vulneráveis. A sua insegurança, perpetuada por longos períodos, agravou-se e criou divisões – de gênero, étnicas, raciais, profissionais e de estatuto social – que não são fáceis de ultrapassar.

Sabemos que a vulnerabilidade humana, a pobreza em si, não é um fenômeno novo, é antigo e está se agravando em consequência do próprio processo do capitalismo e da globalização, bem como das diversas instabilidades sociais, sejam financeiras, de segurança, ambientais como as alterações climáticas, entre outras situações adversas que influenciam na qualidade e potencial de desenvolvimento humano das pessoas no mundo e no Brasil.

Sobre os diversos indicadores, existe o Coeficiente de Gini – o Índice de Gini, geralmente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda, como também, mensurar em pontos percentuais a desigualdade de riqueza em um país. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde mais próximo do 0 caracteriza igualdade de renda e riqueza, porém mais próximo do 1 corresponde a maior desigualdade social.

A desvantagem no Coeficiente de Gini é que ele mede a desigualdade de renda, mas não a desigualdade de oportunidades.

Lúcio (2011), da empresa Kerdna Produção Editorial, descreve alguns tipos de indicadores utilizados para mensurar fatores relacionados à desigualdade social, como enfatiza a seguir.

Índices Utilizados

Existem diversos tipos de indicadores para se medir o fator da desigualdade social em uma conjuntura global, nacional, estadual ou regional, sendo, porém, que nenhum desses índices é totalmente seguro, uma vez que uma população é constantemente mutável, não sendo possível estabelecer cálculos exatos nem definitivos sobre desigualdade social. São índices desenvolvidos através de teorias e pesquisas e que são refeitos de tempos em tempos para que sejam sempre atualizados, conforme as mudanças ocorridas em uma sociedade com o passar do tempo.

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TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

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Seguem alguns dos índices mais usados no Brasil e no mundo, para se medir o fenômeno da desigualdade social, índices estes que são agregados a outros aspectos da sociedade, não só o social, como também o econômico.

Produto Interno Bruto (PIB) – Índice utilizado para se obter a soma em valores monetários de todos os produtos, bens e serviços finais produzidos por uma região, que pode ser um país, um estado, uma cidade, um distrito, ou um município, durante um período de tempo (mês, trimestre, semestre, ano etc.). O PIB é o principal índice para se medir a atividade econômica de uma região.

Renda Per capita – Ou rendimento per capita (do latim = por cabeça, ou por pessoa), é um indicador que auxilia para saber o grau de desenvolvimento de uma determinada região, onde é extraído o resultado da soma de todos os salários da população e dividido pelo número de habitantes, quando, do resultado, se obtém o produto nacional bruto. Embora seja um índice muito válido, é paliativo para mensurar a desigualdade social, pois não leva em conta as disparidades entre as diferentes classes sociais decorrentes no processo de cálculo.

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) – É um índice criado pela ONU através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que, através de comparação, estabelece o grau de desenvolvimento humano de cada país, fazendo a separação entre os mais desenvolvidos (com elevado IDH), os países em desenvolvimento (com médio IDH) e os subdesenvolvidos (com IDH baixo). O índice de Desenvolvimento Humano é uma estatística composta através de dados levantados sobre um país em relação à expectativa de vida ao nascer, e em relação à educação e o PIB do país; esse último, como um indicador geral do padrão de vida da população.

Vale ressaltar que todos esses índices, aliados a dados levantados sobre uma determinada sociedade, promovem resultados mais precisos sobre a desigualdade social em uma região, e que se obtêm resultados através de estudos e levantamentos periódicos nessas determinadas localidades, países etc.

FONTE: LÚCIO, Charlyson Willian Freitas. Desigualdade social. 2011. In: KERDNA PRODUÇÃO EDITORIAL. Brasil e cidadania – desigualdade social. 2015. Disponível em: <http://www.kerdna.com.br/mos/view/Brasil_e_Cidadania/>. Acesso em: 30 mar. 2015.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), inspirado pela obra de Amartya Sen, economista indiano que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1999, introduziu indicadores de progresso e de carência que se centram na pobreza, sob uma perspectiva de desenvolvimento humano.

Nesse sentido, a pobreza é considerada a partir da negação de escolhas e oportunidades, de ter uma vida tolerável e com qualidade. Assim, foi elaborado outro indicador, o Índice da Pobreza Humana (IPH), elaborado em relação a cada

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UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

país, fornecendo uma imagem da carência em termos de longevidade, educação e de fatores econômicos (ANNAN, 2014, grifo da autora). O IPH serve como indicador da taxa de pobreza e desigualdade existentes em determinado país ou região, percentuais da duração da vida, população analfabeta e percentagem das pessoas que não possuem acesso a serviços de saúde, água potável, nutrição, entre outros.

O economista Sen enfatiza a condição de pobreza não somente da absoluta, mas além ainda da pobreza relativa, visto que considera a amplitude das privações que não garantem uma qualidade de vida digna a pessoa humana.

Amartya Sen pensa a pobreza não sendo mensurável apenas pelo nível de renda (ou pobreza absoluta), mas como a privação de capacidades básicas que envolve acessos a bens e serviços; inclusive por isso lhe é atribuída a formulação de pobreza na sua multidimensionalidade. Para ele, o analfabetismo, a doença, a miséria, a falta de acesso ao crédito, a falta de acesso aos serviços públicos e a exclusão da participação social e política, assim como outras, revelam-se como “privações de capacidades”, que impedem a superação da pobreza. (SIQUEIRA, 2012, p. 361-362).

Os índices auxiliam a analisar e compreender como os habitantes de um país se beneficiam (ou não) da riqueza produzida, assim como o IPH, o IDH, conforme especificado anteriormente, vem sendo utilizado pelo Pnud – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

O QUE É O IDHO objetivo da criação do Índice de Desenvolvimento Humano foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver". Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH. O IDH tem o grande mérito de sintetizar a compreensão do tema e ampliar e fomentar o debate.Desde 2010, quando o Relatório de Desenvolvimento Humano completou 20 anos, novas metodologias foram incorporadas para o cálculo do IDH. Atualmente, os três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e renda) são mensurados da seguinte forma:• Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida.• O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total

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de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança.• E o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência.Publicado pela primeira vez em 1990, o índice é calculado anualmente. Desde 2010, sua série histórica é recalculada devido ao movimento de entrada e saída de países e às adaptações metodológicas, o que possibilita uma análise de tendências. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações regionais através do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).O IDH-M é um ajuste metodológico ao IDH Global, e foi publicado em 1998 (a partir dos dados do Censo de 1970, 1980, 1991) e em 2003 (a partir dos dados do Censo de 2000). O indicador pode ser consultado nas respectivas edições do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, que compreende um banco de dados eletrônico com informações socioeconômicas sobre todos os municípios e estados do país e Distrito Federal. Uma nova versão do Atlas, com dados do Censo 2010, está sendo produzida pelo PNUD e deve ser lançada no início de 2013.Indicadores complementares de desenvolvimento humano (IDH – IDHAD, IPM e IDG)Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD)O IDH é uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico em um país. Como todas as médias, o IDH mascara a desigualdade na distribuição do desenvolvimento humano entre a população no nível de país. O IDH 2010 introduziu o IDH Ajustado à Desigualdade (IDHAD), que leva em consideração a desigualdade em todas as três dimensões do IDH “descontando” o valor médio de cada dimensão de acordo com seu nível de desigualdade.Com a introdução do IDHAD, o IDH tradicional pode ser visto como um índice de desenvolvimento humano “potencial” e o IDHAD como um índice do desenvolvimento humano “real”. A “perda” no desenvolvimento humano potencial devido à desigualdade é dada pela diferença entre o IDH e o IDHAD e pode ser expressa por um percentual.Índice de Desigualdade de Gênero (IDG)O Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) reflete desigualdades com base no gênero em três dimensões – saúde reprodutiva, autonomia e atividade econômica. A saúde reprodutiva é medida pelas taxas de mortalidade materna e de fertilidade entre as adolescentes; a autonomia é medida pela proporção de assentos parlamentares ocupados por cada gênero e a obtenção de educação secundária ou superior por cada gênero; e a atividade econômica é medida pela taxa de participação no mercado de trabalho para cada gênero.O IDG substitui os anteriores Índice de Desenvolvimento relacionado ao Gênero e Índice de Autonomia de Gênero. Ele mostra a perda no desenvolvimento humano devido à desigualdade entre as conquistas femininas e masculinas nas três dimensões do IDG.

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Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)O IDH 2010 introduziu o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), que identifica privações múltiplas em educação, saúde e padrão de vida nos mesmos domicílios. As dimensões de educação e saúde se baseiam em dois indicadores cada, enquanto a dimensão do padrão de vida se baseia em seis indicadores. Todos os indicadores necessários para elaborar o IPM para um domicílio são obtidos pela mesma pesquisa domiciliar.Os indicadores são ponderados e os níveis de privação são computados para cada domicílio na pesquisa. Um corte de 33,3%, que equivale a um terço dos indicadores ponderados, é usado para distinguir entre os pobres e os não pobres. Se o nível de privação domiciliar for 33,3% ou maior, esse domicílio (e todos nele) é multidimensionalmente pobre. Os domicílios com um nível de privação maior que ou igual a 20%, mas menor que 33,3%, são vulneráveis ou estão em risco de se tornarem multidimensionalmente pobres.O IPM é um indicador complementar de acompanhamento do desenvolvimento humano e tem como objetivo acompanhar a pobreza que vai além da pobreza de renda, medida pelo percentual da população que vive abaixo de PPP US$ 1,25 por dia. Ela mostra que a pobreza de renda relata apenas uma parte da história.

FONTE: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DEENVOLVIMENTO – PNUD. O que é IDH. 2015. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH>. Acesso em: 29 mar. 2015.

O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é calculado priorizando três indicadores sociais, um deles é a saúde, outro a educação e o outro a renda, sendo que todos possuem o mesmo peso, são analisados sob o mesmo enfoque e não apenas a falta de condições financeiras e aquisição de bens de consumo.

Milena (2012) descreve como o IDH é calculado enfatizando que:

O IDH é a média de três indicadores escolhidos para mensurar:1- Vida saudável, por meio de um indicador de saúde.2- Acesso ao conhecimento, por meio de um ou mais indicadores de educação.3- Situação material, por meio de um indicador de renda.Os três indicadores têm o mesmo peso para o índice final, ou seja, cada parte é calculada numa escala que vai de 0 a 1, e o resultado final é a média, após a soma e a divisão por três.

Para compreender melhor, a seguir demonstramos estes três indicadores, categorias de análise para o cálculo do índice do desenvolvimento humano, sendo que dependendo da condição de vida, o índice do país, da região, do município pode ser baixo, médio, alto ou muito alto.

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FIGURA 44 - COMPREENDENDO O CÁLCULO O IDH

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=CALCULANDO+O+IDH&biw>. Acesso em: 13 mar. 2015.

Interessante ressaltar que, no Brasil foi criado o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que é uma medida composta de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda, para analisar o desenvolvimento das cidades brasileiras, nesse sentido o IDHM brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH em nível mundial.

Se desejarmos conhecer os dados de cada município no Brasil, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2015), dispõe no seu site o Atlas Brasil 2013 que é um site de consulta ao IDHM onde consta de 200 indicadores de desenvolvimento humano dos municípios e estados brasileiros. Os indicadores são de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Segundo dados do Almanaque Abril (2015, web), “Apenas cinco capitais figuram entre os 20 municípios de IDHM mais elevado do país: Florianópolis, Vitória, Curitiba, Brasília e Belo Horizonte. O município com maior IDHM do país é São Caetano do Sul, em São Paulo (0,862) e o pior é Melgaço, no Pará (0,418)”.

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Para acessar os dados e os números do desenvolvimento humano em seu município nos últimos 20 anos basta acessar o site: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>.

Segundo Milena (2012)

O Brasil faz parte de um grupo relativamente pequeno de países que melhoraram seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2011, segundo o relatório anual divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Entre 187 nações avaliadas, 151 mantiveram ou perderam posição no ano, e o Brasil está entre as 36 nações restantes com um desempenho aceitável.Iniciado em 1990, esse indicador mostra uma série favorável de evolução média do Brasil em renda, educação e saúde. O país está no grupo de nações que possuem alto desenvolvimento humano, porém, ainda se encontra na 84ª posição, muito longe do grupo de 47 países com o indicador muito alto. O IDH mede a qualidade de vida de um grupo – cidade, estado, região ou país –, traduzindo em números o nível de bem-estar de uma população. Ele funciona como uma régua, em que o valor mínimo é zero e o máximo, 1. Lidera o ranking de 2011, com o melhor IDH mundial, a Noruega (0,943), seguida pela Austrália (0,929). Na pior situação encontram-se a República Democrática do Congo (0,286) e Níger (0,295), ambas nações da região mais pobre do planeta, a África Subsaariana.

Interessante ressaltar, conforme o relatório anual do Pnud, que o Brasil está no grupo de nações que possuem alto desenvolvimento humano, porém, ainda se encontra na 84ª posição, muito longe do grupo de 47 países com o indicador muito alto de desenvolvimento humano. Frente a todo processo de desigualdade social e má distribuição de renda no país, acoplada à corrupção no Estado brasileiro, na teoria diga-se que o país possui Alto IDH, porém na prática e na realidade social, e em muitos casos, situações e regiões, a de se convencer e afirmar que este índice não condiz com a realidade de todas as regiões do Brasil, inclusive não tem como generalizar dados do país frente à dimensão que se tem.

Em 2013, foi divulgada a última pesquisa, com dados de 2010. O IDHM do Brasil ficou em 0,727, considerado Alto Desenvolvimento Humano. Nas últimas décadas, o Brasil evoluiu de 0,493, em 1991, para 0,612, em 2000, até atingir o valor atual. Dessa forma, o país apresenta uma evolução de 0,119 pontos nessa escala entre 1991 e 2000, e de 0,115 entre 2000 e 2010. Em termos percentuais, seu desempenho foi 24,4% maior entre 1991 e 2000, e cresceu 18,8% entre 2000 e 2010, correspondendo a um aumento total de 47,5% no período (ALMANAQUE ABRIL, 2015).

Mesmo que o país tenha avançado nas últimas décadas, sendo considerado “Alto Desenvolvimento Humano”, no entanto, verificamos que as desigualdades sociais no Brasil persistem, e que este índice parece não condizer com a realidade social atual, no que diz respeito ao acirramento das expressões sociais no país.

Sendo que ainda, os dados de IDH dos municípios da região centro-sul do país divergem e muito dos municípios das regiões do Norte e Nordeste brasileiro, essa dicotomia e disparidade social brasileira entre sul e norte é antiga, real, visível e persiste.

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Cabe ressaltar também que no Brasil, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística constitui um dos principais provedores de dados e informações do país e vem oferecendo um panorama completo e atual de todos os dados brasileiros, principalmente de indicadores sociais, tais como: de mercado de trabalho, de saúde, mobilidade social, mortalidade infantil, educação, trabalho, indicadores culturais, indicadores sociais mínimos (dados gerais da população, sexo, cor, idade, emprego e desemprego, renda, pobreza, condições de vida, dentre outros aspectos).

Assim, nesse sentido, especificamos alguns dos índices mais usados no Brasil e no mundo, parâmetros utilizados para se saber os graus de desigualdade em um país. Como por exemplo, analisamos alguns dos sistemas de indicadores ou índices de mensuração, tais como:

• Índice de Gini• Índice do Produto Interno Bruto (PIB)• Renda Per capita• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) • Índice da Pobreza Humana (IPH)• Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), bem como os indicadores

complementares de desenvolvimento humano (IDH – IDHAD, IPM e IDG): oÍndice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD) oÍndice de Pobreza Multidimensional (IPM) oÍndice de Desigualdade de Gênero (IDG).

UNI

Para compreender melhor o assunto apresentado assista ao vídeo que apresenta de forma detalhada o conceito IDH e IDHM, ele está disponível no site do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil:<http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil é um site que traz o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e outros 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade dos municípios brasileiros.

É uma plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 5.565 municípios brasileiros, 27 Unidades da Federação (UF), 20 Regiões Metropolitanas (RM) e suas respectivas Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH). O Atlas traz, além do IDHM, mais de 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade, com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

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LEITURA COMPLEMENTAR

INCLUSÃO NO CADASTRO ÚNICO

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS

O que é o Cadastro Único para Programas Sociais?

O Cadastro Único para Programas Sociais é um instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, entendidas como aquelas com renda igual ou inferior a meio salário mínimo por pessoa (per capita) ou renda familiar mensal de até três salários mínimos. Suas informações podem ser utilizadas pelos governos federal, estaduais e municipais para obter diagnóstico socioeconômico das famílias cadastradas, para desta forma, possibilitar a análise das suas principais necessidades.

Qual é a importância do cadastramento?

O cadastramento das famílias no CADÚNICO permite identificar seu grau de vulnerabilidade. São consideradas questões como renda, condição de moradia, de acesso ao trabalho, à saúde e à educação.

Com isso pode-se ter uma visão mais aprofundada de alguns dos principais fatores que caracterizam a pobreza, o que permite delinear políticas públicas de proteção social voltadas para essa população.

Quem pode ser incluído no Cadastro Único?

Devem ser incluídas no Cadastro Único as famílias de baixa renda que são aquelas com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo e as que possuam renda familiar mensal de até três salários mínimos.

Além disso, famílias com renda superior a três salários mínimos poderão ser incluídas no Cadastro Único, desde que sua inclusão esteja vinculada à seleção ou ao acompanhamento de programas sociais implementados por quaisquer dos três entes da Federação.

Sendo assim, as famílias com renda mensal total superior a três salários mínimos só devem ser cadastradas por demanda para programas específicos, como os programas de habitação e saneamento que utilizem os registros do Cadastro Único para a seleção das famílias.

No cálculo da renda familiar, são considerados os rendimentos do trabalho, de aposentadoria, pensão, seguro-desemprego e do BPC. Não são considerados os benefícios de programas de transferência de renda federal, estadual e municipal.

O cadastramento não significa a inclusão no Programa Bolsa Família. O Programa Bolsa Família somente é concedido para as famílias com renda familiar por pessoa de até R$ 140,00 e a concessão, além de outros fatores, depende de

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previsão financeira e orçamentária. Enquanto não ocorre a concessão do benefício, as famílias devem manter seus cadastros sempre atualizados.

O que é a Renda Familiar Mensal?

Renda familiar mensal é a soma dos rendimentos brutos de todos os membros da família.

Entretanto, não devem ser incluídos no cálculo os rendimentos seguintes programas:

a) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil;b) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano;c) Programa Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados;d) Programa Nacional de Inclusão do Jovem – Pró-Jovem;e) Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de renda

destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em estado de calamidade pública ou situação de emergência; e

f) Demais programas de transferência condicionada de renda implementados por Estados, Distrito Federal ou Municípios;

Onde fazer o Cadastro?

O cadastramento é feito pelo setor responsável pelo Programa Bolsa Família no município. A inclusão de famílias no Cadastro Único é uma atividade permanente e de responsabilidade do gestor do Programa Bolsa Família.

Quais são os documentos obrigatórios para o cadastramento?

Para o Responsável Familiar: CPF ou título de eleitor; Para os demais membros da família: qualquer documento de identificação,

como a carteira de identidade, CPF, título de eleitor, certidão de casamento ou nascimento, carteira de trabalho.

Não é necessário fazer mais de um cadastro, porque o sistema identificará a duplicidade e isso pode prejudicar a família. Se o cadastro foi feito há muito tempo e a família ainda não foi beneficiada pelo Programa Bolsa Família, deve-se procurar o setor responsável pelo PBF no município para atualizar os dados sempre que houver qualquer alteração na família, como renda familiar, entrada ou saída de pessoas na família, mudança de endereço, mudança de município e mudança de escola.

Mesmo não havendo alteração na família, é necessário atualizar os dados cadastrais a cada 2 anos.

O cadastramento de cada família estará vinculado a um Responsável Familiar – RF, maior de dezesseis anos, preferencialmente mulher. O RF será o responsável pelo recebimento do benefício e cumprimento das condicionalidades de todos os membros da família.

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Quais são os documentos necessários para o cadastramento de Povos Indígenas e Comunidades Quilombolas?

O Responsável pela Unidade Familiar (RF) de famílias indígenas e famílias quilombolas pode ser cadastrado segundo os critérios definidos pelo MDS, sem a exigência de CPF ou Título de Eleitor. Nesses casos, o RF poderá ser cadastrado com a apresentação de qualquer documento de identificação (Certidão de Nascimento, Certidão de Casamento, Registro Geral de Identificação – RG, e/ou Carteira de Trabalho e Previdência Social).

No caso de povos indígenas, será aceita a Certidão Administrativa de Nascimento do Indígena (RANI), caso a pessoa não possua qualquer um dos documentos de identificação indicados.

Como localizar o Gestor Municipal do Programa Bolsa Família pela internet?

É possível localizar o Gestor do programa no município por meio do portal do MDS/Bolsa Família, pelo link: <www.mds.gov.br/sistemagestaobolsafamilia>. Na página inicial, é necessário clicar em Estados e Municípios e em seguida em Municípios > Informações dos Municípios. Em seguida basta selecionar a UF, digitar o nome do município e clicar em pesquisar.

Como é a agenda de cadastramento nos municípios?

As agendas de cadastramentos municipais podem ser vinculadas às necessidades e possibilidades administrativas e burocráticas dos municípios. Para cada município existe um tipo de cadastramento. Alguns trabalham com uma agenda cadastral, outros divulgam em rádios, e até municípios de menor porte que optam por cadastro diário. Essa será uma ação que o Gestor do Programa no município buscará para administrar da melhor maneira o cadastramento.

Se a família já fez o cadastro significa que receberá imediatamente o benefício do Programa Bolsa Família?

Não. O cadastramento não significa a inclusão imediata no Programa Bolsa Família.

Qual é o prazo para receber o benefício?

Não há prazo fixado para concessão do benefício do Bolsa Família para as famílias cadastradas. Para começar a receber o benefício, a família precisa aguardar que o sistema analise as informações do Cadastro Único para verificar se tem perfil do programa e se o município não atingiu ainda sua meta, ou seja, se ainda há espaço para outras famílias pobres serem beneficiadas.

A ordem de concessão de benefício é a de renda, identificada pelos dados inseridos no sistema pelo setor responsável no município. Não é por ordem de

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cadastramento. É possível haver famílias que fizeram cadastro juntas e uma receber primeiro. Isso ocorre porque o sistema identifica aquelas com menor renda para fazer a concessão primeiro.

É possível realizar o cadastramento de estrangeiros?

Sim, contudo somente é possível o cadastramento de estrangeiro que estejam legalmente no Brasil e tenham ao menos um documento previsto nos formulários do Cadastro Único (certidão de nascimento/casamento, RG, CPF, Título de Eleitor, Carteira de Trabalho).

O que ocorrerá em caso de prestação de informações falsas no cadastramento?

A comprovação de fraude ou prestação de informações incorretas no processo de cadastramento pela pessoa informante acarreta o cancelamento do benefício e também a obrigação da devolução da importância recebida indevidamente, além de outras sanções previstas.

Caso seja comprovada a participação da autoridade responsável pela organização e manutenção do cadastro na inserção de dados ou informações diversas das que deveriam ser inscritas, a fim de alterar a verdade sobre o fato ou contribuir para a concessão do benefício, este também será responsabilizado.

Em quais situações haverá a exclusão do cadastro da família?

O governo local efetuará a exclusão do cadastro da família da base local do Cadastro Único apenas e tão somente quando ocorrer:

I) falecimento de toda a família;II) recusa de família em prestar informações; ouIII) comprovação de omissão de informações ou prestação de informações falsas

pela família e que caracteriza má fé.

Nos casos em que passado o período de dois anos, caso os cadastros não tenham sido atualizados ou revalidados, o governo local poderá excluí-los se, no decorrer dos dois anos subsequentes a família não tiver sido encontrada para atualização ou revalidação do seu cadastro.

Nos casos relacionados aos itens II e III, a exclusão deverá ser realizada após a emissão de parecer social, elaborado e assinado por assistente social do governo local que ateste a ocorrência do motivo da exclusão. O documento elaborado, ou a cópia, será anexado ao formulário de cadastramento da família e arquivado.

Do que se trata a carta recebida pelas famílias contendo informações relativas à composição familiar no Cadastro Único?

O envio das cartas é uma iniciativa da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania cujo objetivo é informar às famílias sobre sua efetiva inclusão no

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Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, bem como orientá-las sobre a necessidade de atualização cadastral a cada dois anos ou sempre que houver alteração nos dados cadastrais.

As cartas contêm a relação de todas as pessoas da família que foram cadastradas e informam os NIS – Número de Identificação Social de cada uma delas. É importante que a família guarde bem esta carta, pois ela serve como comprovante de que a família foi incluída no Cadastro Único.

Por ter recebido esta carta significa que eu vou receber meu benefício?

Não. O fato de se ter recebido a carta apenas indica que a família foi incluída no Cadastro Único, e esse cadastramento não significa a inclusão automática da família no Programa Bolsa Família. Para começar a receber o benefício, a família precisa estar dentro dos critérios do Programa, aguardar que o sistema analise as informações do Cadastro Único e que haja disponibilidade no número de benefícios para o município.

A ordem de concessão de benefício à família é a de renda, identificada pelos dados inseridos no sistema pelo Setor Responsável, e não a ordem cronológica. É possível existirem famílias que fizeram cadastro juntas e uma receber antes da outra. Isto ocorre porque o sistema identifica aquelas com menor renda para fazer a concessão primeiro. Não se deve fazer mais de um cadastro, porque o sistema identificará a duplicidade, o que prejudicará a família.

Orientamos que o(a) senhor(a) entre em contato com o setor responsável pelo Programa Bolsa Família no município em que reside, para obter mais informações.

FONTE: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME (MDS). Inclusão no Cadastro Único. 2015. Disponível em: <www.mds.gov.br>. Acesso em: 28 mar. 2015.

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Neste terceiro tópico, apresentamos algumas reflexões da desigualdade social na contemporaneidade, bem como, os parâmetros utilizados para se saber os graus de desigualdade social em um país ou em regiões, assim foram abordados os seguintes aspectos:

• Verificamos a distinção entre os termos: “desigualdade” e “diferença”, abrangendo também a questão da diversidade cultural.

• Constatamos que desigualdade social é um fenômeno mundial desencadeado pela má distribuição de renda na sociedade em suas devidas proporções e dimensões, promovendo diversas privações de liberdade, autonomia, respeito, valorização, bem-estar, saúde, qualidade de vida, bem como exclusões sociais diversas.

• Verificamos e conhecemos alguns tipos e significados dos sistemas de indicadores utilizados para mensurar o desenvolvimento humano.

• Especificamos alguns dos índices mais usados no Brasil e no mundo: o IBGE, o Índice de Gini, o Índice do Produto Interno Bruto (PIB), o da Renda Per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice da Pobreza Humana (IPH), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

• Apresentamos também os Indicadores complementares de desenvolvimento humano (IDH – IDHAD, IPM e IDG): Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD), Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) e o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG).

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Refletindo sobre a desigualdade social na contemporaneidade, bem como, os parâmetros utilizados para se mensurar fatores decorrentes da desigualdade social, associe os indicadores a seguir, utilizando os seguintes códigos:

I - Índice do Produto Interno Bruto (PIB).II - Índice da Pobreza Humana (IPH).III - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).IV - Índice da Renda Per capita.V - Índice de Gini.

( ) Este índice fornece uma imagem da carência em termos de longevidade, educação e de fatores econômicos, servindo como indicador da taxa de pobreza e desigualdade existentes em determinada local.

( ) Este índice procura mensurar a desigualdade de renda, mas não a desigualdade de oportunidades.

( ) Este índice foi criado para oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado que é o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.

( ) Este índice é utilizado para se obter a soma em valores monetários de todos os produtos, bens e serviços finais produzidos por uma região, que pode ser um país, um estado, uma cidade, um distrito, ou um município.

( ) Índice por pessoa, é um indicador que auxilia para saber o grau de desenvolvimento de uma determinada região, onde é extraído o resultado da soma de todos os salários da população e dividido pelo número de habitantes, quando, do resultado se obtém o produto nacional bruto.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) II – V – III – I – IV.b) ( ) IV – V – II – I – III.c) ( ) V – II – I – IV – III.d) ( ) I – III – V – II – IV.e) ( ) III – I – IV – V – II.

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2 Faça uma pesquisa sobre o IDH da sua região (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste ou Sul) e sobre o IDHM do seu município, procure acessar os dados e os números do desenvolvimento humano, acessando o site: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>. Anote todos os aspectos relevantes e discuta em sala de aula com os demais colegas, averiguando se esses dados realmente estão condizentes com a realidade visível de sua região, bem como comparando com as expressões sociais visíveis em seu município.

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TÓPICO 4

RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS

VULNERABILIDADES E REFORÇO À RESILIÊNCIA HUMANA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Nesse tópico refletiremos sobre a reconstrução de uma sociedade emancipada no sentido de discutir a redução das vulnerabilidades e o reforço a resiliência, tema de destaque no último relatório de 2014, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

Serão abordados os objetivos do desenvolvimento social do milênio, bem como algumas considerações sobre o desenvolvimento da condição e existência humana, principalmente sobre o tema da segurança humana na contemporaneidade.

Iremos compreender e esclarecer o significado do termo resiliência e a importância de compreendermos essa capacidade humana, tão necessária na atualidade frente a tantos entraves, problemas, injustiças, discriminações e expressões sociais.

2 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO MILÊNIO PARA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 17), “A abordagem do desenvolvimento humano é incompleta se não incluir a vulnerabilidade e a resiliência na análise. O progresso sustentado no desenvolvimento humano implica alargar as escolhas das pessoas e manter essas escolhas seguras”.

O tema da segurança humana está sendo na atualidade uma questão social complexa, devido à fragilidade em que todos se encontram, não somente pela falta de segurança e acirramento da violência em todos os sentidos, mas nas impossibilidades de escolhas e na manutenção de opções tomadas que não possuem garantia nesta sociedade pós-moderna.

Transformações rápidas e repentinas em todas as áreas, avanços desenfreados no capitalismo vêm moldando uma nova sociedade considerada

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como pós-moderna, assim surge a chamada pós-modernidade, compreendida como uma nova condição sociocultural e estética do capitalismo contemporâneo que na realidade fragmenta os saberes, as identidades, as culturas, os valores, o sujeito.

O filósofo francês Lyotard procurou apresentar e discutir a questão da modernidade e da emancipação do sujeito, focando a “condição pós-moderna” como uma necessidade de superação humana, sobretudo superação de uma crença absoluta na ciência, no progresso, na industrialização, na razão como formas de emancipação humana. O que ele percebeu e também presenciamos é que na verdade essa nova condição humana capitalista é responsável pela continuação da subjugação do indivíduo, de deteriorização do sujeito, de descaso de sua condição e desenvolvimento humano.

Conforme o pensar de Lyotard (2002), a emancipação do ser humano, enquanto sujeito de sua própria história, deve ser alcançada através da valorização do seu ser, do intuitivo, do sentimento, do pensar e sentir, da arte, da cultura, daquilo que o homem possui de mais criativo e, portanto, de mais livre, que é a sua capacidade de pensar, escolher, optar, se responsabilizar, dar destino a si mesmo.

Em seu livro A Condição Pós-Moderna (1979), ele enfatizou a "condição pós-moderna" especificada pelo fim das metanarrativas, ou seja, pelo fim de grandes referenciais que serviam de segurança para todos, sendo assim não havendo mais garantias e certezas, posto que mesmo a ciência já não poderia ser considerada como a fonte da verdade e de emancipação humana.

Assim se constatam inúmeras características da pós-modernidade, sendo algumas delas, a fragmentação de centros de referência, a multiplicação de referenciais que davam certeza à complexidade das relações sociais dos sujeitos, bem como a desproteção e o desamparo do ser humano enquanto ser de linguagem, consciência e sentimento.

Nesse sentido, Lyotard fala das metanarrativas, ou grandes referenciais, que expressam os valores que caracterizam a modernidade, os quais são:

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO – Modernidade e Pós-modernidadePalestra do Prof. José Paulo Netto

Vídeo da palestra, realizada em início dos anos 2000, que lança algumas hipóteses de trabalho desenvolvidas pelo Prof. José Paulo Netto sobre o debate contemporâneo entre as correntes de pensamento modernas e pós-modernas.Evento organizado pelo Núcleo de Estudos em Sociologia do Trabalho – NEST da UERJ.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fHrZi1F7jd4>.

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a emancipação da razão e liberdade, o enriquecimento da humanidade, o progresso da sociedade capitalista e tecnocientífica, o estado burocrático moderno ou os grandes nomes da revolução comunista [...]. Segundo o autor, apesar da afirmação de legitimidade e de totalidade das metanarrativas da modernidade, a ciência e a tecnologia não concretizam as suas propostas (metanarrativas) de universalidade do bem-comum. Ao contrário, aceleram o processo de pulverização e de destruição. (WESTPHAL, 2006, p. 122-123).

Acreditava-se que as metanarrativas da modernidade, na qual a ciência e a tecnologia se fortaleceram, iriam concretizar as propostas de inclusão e universalidade do bem comum, porém justamente ocorreu o contrário.

Será que a quebra das tradições, costumes e valores não evidenciam consequentemente dessa forma uma falta de sentido da vida bem como, de significados simbólicos? O que está acontecendo com os quadros de referência, grandes sagas de legitimação, especialmente as da religião e da política, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social? Que perspectiva idealista de libertação e de autonomia está se formando na consciência dos indivíduos? Que fenômenos estão vinculados à transformação da condição do sujeito nas “democracias de mercado” e nas novas formas de alienação e desigualdade sociocultural? Será que a humanidade não está amparada por um vazio existencial, vinculados às paixões momentâneas e diversas, a crenças cegas à ciência, às tecnologias, às religiões, ao exagero ao consumo, ao prazer sem reservas, à liberdade sem limites? (MONTIBELLER, 2011, p.71).

Muitos questionamentos são realizados, porém muitos não terão respostas evidentes e concretas, pois o capitalismo cria ilusões e não referências de base e segurança, delimita uma condição humana paupérrima e degradante onde a ética, a justiça e a liberdade se configuram apenas na perspectiva do pensamento e muito pouco na prática.

Para aqueles/as teóricos/as que acreditam que as identidades modernas estão entrando em colapso, o argumento se desenvolve da seguinte forma. Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento – descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo. (HALL,1999, p. 9).

No sentido de priorizar o desenvolvimento humano, desde o ano 2000, algumas nações começaram a se mobilizar em função do futuro da humanidade, no combate à pobreza, redução da desigualdade social, melhoria da qualidade de vida no planeta. “Trata-se de um compromisso universal com a erradicação da pobreza e com a sustentabilidade do Planeta, traduzido em oito metas – os 8 Objetivos do Milênio (ODM), que no Brasil são chamadas também de 8 Jeitos de

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Mudar o Mundo – a serem alcançadas pelas nações até o ano de 2015”. (INSTITUTO GRPCOM, 2015).

Sobre a Declaração do Milênio, em setembro de 2000, 189 nações firmaram um compromisso para combater a extrema pobreza e outros males da sociedade. Esta promessa acabou se concretizando nos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que deverão ser alcançados até 2015. Em setembro de 2010, o mundo renovou o compromisso para acelerar o progresso em direção ao cumprimento desses objetivos (PNUD, 2015b).

FIGURA 45 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

FONTE: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: 8 Objetivos para 2015. 2015b. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/ODM.aspx>. Acesso em: 30 mar. 2015.

Nesse sentido, os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) possuem como metas:

• reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população com renda abaixo da linha da pobreza; e reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população que sofre de fome;

• garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, de todas as regiões do País, independentemente da cor, raça e sexo, terminem o ensino fundamental;

• eliminar a disparidade entre os sexos no ensino fundamental e médio;• reduzir em dois terços, até 2015, a mortalidade materna de crianças menores de

5 anos;

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• reduzir em três quartos, até 2015, a taxa de mortalidade materna;• até 2015, deter e começar a reverter a propagação do HIV/AIDS; até 2015, deter

e começar a reverter a propagação da malária e outras doenças;• integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas

nacionais e reverter a perda de recursos ambientais até 2015; reduzir à metade, até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável à água potável segura; até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados;

• em cooperação com os países em desenvolvimento, formular e executar estratégias que permitam trabalho digno e produtivo aos jovens; em cooperação com o setor privado, tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias, especialmente nos setores de informação e comunicação (INSTITUTO GRPCOM, 2015).

O Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD defende que, para a concretização do desenvolvimento humano é necessário abordar a questão da segurança humana em seu sentido mais amplo, onde não se reproduzam as fragmentações culturais, de classe, gênero, etnia, nacionalidade, entre outras diversas.

Assim, a prioridade é reforçar e proteger as escolhas e as capacidades individuais, considerando que as competências sociais são essenciais para o desenvolvimento humano, bem como as estratégias e as políticas de desenvolvimento devem visar à redução da vulnerabilidade e o reforço da resiliência.

Os grandes problemas, que se encontram na origem da vulnerabilidade de pessoas e comunidades, podem ser paliados por políticas e medidas conexas em três grandes áreas: prevenção, promoção e proteção. O interesse reside, neste caso, em políticas úteis nas três vertentes e que permitam aumentar a resiliência de indivíduos e sociedades. (RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2014, p. 26).

Acredita-se realmente que políticas de prevenção, promoção e proteção, poderão diminuir as vulnerabilidades na sociedade, visando garantir os direitos das pessoas e a qualidade de vida, centrando-se no desenvolvimento da condição e existência humana em plenitude.

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3 DESENVOLVIMENTO DA CONDIÇÃO E EXISTÊNCIA HUMANA PARA REFORÇAR A RESILIÊNCIA HUMANA

Como reforçar a resiliência humana? Ou melhor, o que é resiliência?

[...] entende-se por resiliência humana a capacidade de resposta ou adaptação das pessoas. A maioria das pessoas é resiliente até certo ponto, podendo, por exemplo, adaptar-se a choques de menor dimensão. Contudo, a capacidade de adaptação a choques maiores ou persistentes sem pesados sacrifícios e perda de desenvolvimento humano varia de acordo com as suas circunstâncias. O ajustamento necessário depende da natureza do choque e das condições de vida das pessoas afetadas. Os indivíduos que estão em melhores circunstâncias e têm mais facilidade de adaptação são mais resilientes. (RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2014, p. 16).

“A resiliência humana significa que as pessoas podem exercer as suas escolhas segura e livremente, incluindo a confiança de que as oportunidades que têm hoje não serão perdidas amanhã”, conforme está descrito no Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 17).

A resiliência representa uma capacidade do ser humano, no sentido de recuperar-se mesmo num ambiente desfavorável, construir-se positivamente, utilizando as forças que lhe advêm do enfrentamento dos problemas, das adversidades, das crises, do estresse, dos problemas que vivencia.

Segundo Fajardo, Minayo e Moreira (2010, p. 764)

O conceito de resiliência é mais rico e completo do que apenas o sentido que lhe é dado de capacidade de superar-se. Ele comporta duas dimensões: 1) a resistência à destruição, a capacidade de proteger sua integridade sob fortes pressões; 2) e também a capacidade de construir, de recriar uma vida digna a despeito das circunstâncias adversas e mesmo, por causa delas.

Agora, analisando o termo mais afinco, como a resiliência é expressa, quando sabemos que uma pessoa tem ou não a resiliência?

Em âmbitos gerais a manifestação da resiliência se caracteriza em algumas situações ou condições de vulnerabilidade ou risco social onde a pessoa, família ou grupo, desenvolve habilidades para o enfrentamento das mesmas sendo capaz de dar continuidade a sua vida.

Poletti e Dobbs (2007) descrevem três aspectos de manifestação da resiliência: (1) em situações onde exista um grande risco provocado por acumulação de fatores de estresse e de tensão; (2) quando a pessoa é capaz de conservar aptidões em face do perigo e seguir crescendo e se desenvolvendo; (3) quando há cura de um ou vários traumas seguidos de sucessos na vida. (apud FAJARDO; MINAYO; MOREIRA, 2010, p. 764).

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Situações adversas sempre existiram e sempre existirão, seja a nível macro ou micro, no mundo na sociedade, da comunidade, na família, com a pessoa, como a economia, política, meio ambiente etc. Conforme o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 53):

O mundo sempre esteve sujeito à incerteza e imprevisibilidade. Contudo, a crescente frequência e gravidade dos choques econômicos e ambientais ameaçam o desenvolvimento humano, o que torna fundamental a adoção de políticas nacionais e internacionais ousadas destinadas a reduzir a vulnerabilidade dos indivíduos, comunidades e países e a aumentar a sua resiliência.

Frente às adversidades, a maior preocupação ou o maior desafio seja o de diminuir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência na humanidade, no sentido de lutar e enfrentar ou até mesmo ultrapassar os limites impostos.

Tendo por base ideias que regem o desenvolvimento humano e a promoção da igualdade de oportunidades de vida, propomos quatro princípios orientadores para a concepção e execução de políticas que reduzam as vulnerabilidades e reforcem a resiliência: abraçar a universalidade, colocar as pessoas em primeiro lugar, o empenho na ação coletiva e a coordenação dos Estados e instituições sociais. Tendo em conta a necessidade de uma variedade de abordagens e perspectivas para a redução da vulnerabilidade, consoante o tipo de acontecimentos adversos que as pessoas enfrentam, estes princípios podem tornar o desenvolvimento mais sustentável e resiliente. (RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014, p. 27).

Os princípios que devem ser prioridades, conforme o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, condizem em abraçar a universalidade, colocar as pessoas em primeiro lugar, efetivar uma ação coletiva e viabilizar a coordenação dos Estados e instituições sociais, para que se possa promover a igualdade de oportunidade de vida para o ser humano.

Muitos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são suscetíveis de ser alcançados a nível nacional até 2015, mas o sucesso não é automático e os ganhos não são necessariamente permanentes. Ir mais longe no caminho do desenvolvimento implica proteger as conquistas feitas contra a vulnerabilidade e contra os choques, reforçando a resiliência e aprofundando o progresso. Identificar e orientar os grupos vulneráveis, reduzir a desigualdade e dar resposta à vulnerabilidade estrutural são ações essenciais para sustentar o desenvolvimento ao longo da vida do indivíduo e ao longo de gerações. (RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014, p. 134).

Sabemos que alcançar os objetivos e metas, priorizar princípios para o desenvolvimento humano no planeta e em nosso país é possível, porém não irá ocorrer ao acaso e de forma repentina.

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LEITURA COMPLEMENTAR

COLOCAR AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR NUM MUNDO GLOBALIZADO

Relatório do Desenvolvimento Humano 2014

Reforçar as capacidades e proteger as escolhas podem reduzir a vulnerabilidade às ameaças transnacionais, permitindo que as pessoas reajam melhor. O mesmo se pode dizer da redução da frequência, gravidade e extensão dos choques ou da sua prevenção total. Os meios para atingir esses objetivos são duplos.

Em primeiro lugar, o fornecimento de certos tipos de bens públicos, aqueles que poderiam ser considerados elementos de um contrato social global é passível de abrir espaço político nacional e ajudar as pessoas a enfrentar os acontecimentos adversos. Em segundo lugar, melhorar os sistemas de governação global pode facilitar a provisão de bens públicos e reduzir a probabilidade e o âmbito dos choques transnacionais.

Elementos de um contrato social global. As capacidades podem ser reforçadas e as escolhas protegidas em nível nacional através da prestação universal de serviços, como a educação, a saúde, a água e eletricidade, bem como por meio da proteção social universal, que dota os indivíduos de maiores recursos para resistir aos choques externos.

Esses bens públicos reduzem a pressão que recai sobre os indivíduos que têm de tomar decisões difíceis: as pessoas não deveriam ter de escolher qual dos seus filhos deve abandonar os estudos quando perdem o emprego e as propinas

Como profissionais, temos também como competência, proteger conquistas já efetivadas e direitos humanos já garantidos, identificar, conhecer e orientar grupos vulneráveis, reduzir a desigualdade e dar respostas às expressões sociais, diminuir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência, são ações essenciais, como está especificado no Relatório, para sustentar o desenvolvimento ao longo da vida das pessoas e ao longo de gerações.

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO: Resiliência – O que é?Clínica IMEB Dr. Renato Barra entrevista Eduardo Carmello, especialista no assunto, em evento da N Produções, para explicar um pouco sobre o que é resiliência.Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=4tdlLwgYOm0>.

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são demasiado elevadas, ou ter de optar por atividades humilhantes e perigosas, como a prostituição ou a catação de lixo, para conseguir pagar alimentos e abrigo.

As medidas nacionais são aplicadas mais facilmente quando existem compromissos em nível mundial e se encontra disponível apoio de caráter global. Por isso, a agenda pós-2015 deve incluir como metas essenciais para a comunidade mundial a prestação de serviços públicos nacionais universais, plataformas nacionais de proteção social e pleno emprego.

Estes elementos de um contrato social global podem equilibrar a maximização dos benefícios da integração mundial e minimizar os custos e inseguranças.

A existência de compromissos em nível mundial para a consecução destes objetivos poderá aumentar a margem de manobra política em nível nacional na definição de abordagens que favoreçam a criação de emprego e a disponibilização de serviços sociais e regimes de proteção que funcionem melhor nos respetivos contextos, contudo, são essenciais acordos globais, pois podem instigar a ação e os compromissos, bem como gerar apoio financeiro e institucional.

As opções políticas têm sido fortemente influenciadas por crenças arraigadas na eficiência dos mercados e no poder da privatização. Os governos de todo o mundo privatizaram empresas públicas, reduziram os controlos sobre o movimento de capitais, desregulamentaram os mercados de trabalho e introduziram novos regimes de propriedade intelectual.

Foram-se sedimentando ideologias semelhantes relativamente aos indivíduos. Espera-se das pessoas que exaltem o individualismo, a autossuficiência e o empreendedorismo; que equiparem a procura do interesse próprio à liberdade e que associem os governos à ineficiência e à corrupção. Essas crenças são predominantes, mesmo entre os grupos vulneráveis que mais precisam da proteção dos bens públicos e do apoio do governo.

Um espaço público mundial que consiga um maior equilíbrio entre interesses públicos e privados pode aumentar a margem de manobra política nacional. As opções políticas que retratem a disponibilização pública de proteção social como um instrumento positivo podem permitir aos Estados a adoção e aplicação de políticas e programas de proteção dos indivíduos nos respetivos territórios.

A inação em Estados frágeis pode ter repercussões para a segurança, a estabilidade e a prosperidade nacional, regional e internacional. Essas opções podem incentivar os Estados a comprometer-se com uma proteção universal do trabalho que reduza a probabilidade da exploração laboral ao incentivar à fixação de mínimos de proteção social tanto para os trabalhadores como para aqueles que estão afastados do mundo do trabalho, ou porque se encontram desempregados e procuram emprego, ou porque estão feridos, são deficientes, são idosos ou grávidas.

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Hoje, apenas 20 por cento das pessoas no mundo em idade ativa possuem uma cobertura adequada da segurança social, sendo que muitas não possuem qualquer tipo de segurança social. Uma visão mais positiva do domínio público promoveria a exigência de serviços públicos universais e de uma proteção social que melhorasse a capacidade de resposta dos indivíduos quando as crises ocorrem.

A necessidade de serviços sociais e de proteção social foi já consagrada em convenções e acordos internacionais, em particular na Declaração do Milénio. Os artigos 22, 25 e 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) reconhecem o direito à segurança social, o mesmo acontecendo com o artigo 9 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). No Tratado de Lisboa de 2007, a União Europeia identificou medidas para a coordenação das políticas de inclusão social e de proteção social.

Em 2009, a iniciativa Piso de Proteção Social reuniu 19 órgãos da ONU, várias instituições financeiras internacionais e 14 parceiros de desenvolvimento para promover o objetivo do acesso universal a serviços essenciais, a saber, a saúde, a educação, a habitação, a água e o saneamento, bem como transferências sociais destinadas a garantir rendimento e segurança alimentar e nutricional adequada.

O artigo 26 da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) reconhece o direito de toda criança a beneficiar da segurança social, incluindo seguro social. A Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) relativa à norma mínima de segurança social (1952) está entre as primeiras iniciativas a exigir que os Estados que a ratificaram garantam um leque de benefícios relacionados com a doença, o desemprego, a velhice, os acidentes, a invalidez e a maternidade.

Mais recentemente, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento sustentável no Rio de 2012 apelou a que se adotasse um conjunto de metas de desenvolvimento sustentável. Essas metas produziriam um domínio público mais estável, colocando a igualdade e a sustentabilidade no centro dos esforços do desenvolvimento mundial.

Juntamente com a preparação para a agenda pós 2015, a criação de metas de desenvolvimento sustentável representa uma oportunidade para que a comunidade internacional e os Estados-Membros promovam o princípio da universalidade da prestação pública de serviços sociais e do acesso universal aos cuidados de saúde, à educação, ao pleno emprego e à proteção social, elementos essenciais de um desenvolvimento humano mais sustentável e resiliente.

FONTE: RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014. Sustentar o Progresso Humano: Reduzir as Vulnerabilidades e Reforçar a Resiliência. USA: PNUD, 2014. Disponível em: <http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2014_pt_web.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2015. p.120-121.

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Neste quarto e último tópico do caderno, estudamos reconstrução da sociedade pela redução das vulnerabilidades e reforço a resiliência humana, bem como os objetivos do desenvolvimento social do milênio, na qual foram abordados os seguintes itens:

• Sobre o desenvolvimento da condição e existência humana, principalmente sobre o tema da segurança humana na contemporaneidade.

• Significado do termo resiliência e a importância de compreendermos essa capacidade humana, tão necessária na atualidade frente a tantos entraves, problemas, injustiças, discriminações, expressões sociais.

• Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

• Aprofundamento dos objetivos de desenvolvimento do milênio.

• Frente às adversidades, a maior preocupação ou o maior desafio seja o de diminuir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência na humanidade, no sentido de lutar e enfrentar ou até mesmo ultrapassar os limites.

RESUMO DO TÓPICO 4

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AUTOATIVIDADE

1 Após o estudo e reflexão sobre a reconstrução de uma sociedade emancipada, com perspectiva de redução das vulnerabilidades e reforço nas resiliências, procure descrever sobre a abrangência, significado e importância do termo RESILIÊNCIA, que vem sendo utilizado atualmente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD em seu Relatório 2014.

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