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Primeira Comissão da Assembléia Geral das Nações Unidas: Desarmamento e Segurança Internacional (DSI) Tópico: Educação para o desarmamento e não-proliferação em situação de pós-conflito no continente africano: desafios para a implementação

Autores: Nayara Frutuoso Furtado Bruno Theodoro Luciano

Giuliana Biaggini Diniz Barbosa Lucas Augusto Santos Batista

Introdução A situação de pós-conflito, realidade de muitos países do continente africano, impõe grandes desafios às sociedades que a enfrenta, demandando atenção especial da comunidade internacional. Dentre estes desafios, um dos mais importantes são as ameaças à paz. Em situação de pós-conflito, a paz tem caráter instável e qualquer abalo pode reconduzir a região ao reinício dos conflitos armados, que trazem enormes prejuízos à região em questão e também constituem uma ameaça à segurança internacional. O desarmamento se mostra, neste contexto, uma ferramenta fundamental para a promoção de uma paz sustentável e duradoura, à medida que cria um ambiente mais favorável às relações de confiança entre os grupos, tornando-os mais propensos à paz. Uma alternativa para a promoção do desarmamento nessas regiões é a educação para o desarmamento e não-proliferação, que constitui resposta sustentável e duradoura, de aplicabilidade no longo prazo, ao desafio da promoção do desarmamento no continente africano. É concebida como uma iniciativa que envolve a sociedade como um todo, abrangendo inclusive os grupos mais afetados e fragilizados pelos conflitos armados, como mulheres, crianças, ex-combatentes e refugiados. Os desafios para a implementação de projetos nesse sentido são, contudo, numerosos. A falta de condições financeiras, estruturais, políticas e sociais para a execução dos projetos, características da situação de pós-conflito, são empecilhos para a adoção da educação para o desarmamento e não-proliferação no continente. A falta de empenho dos Estados, tanto africanos quanto os demais, com os projetos também dificulta a adoção efetiva de medidas que visem a educação para o desarmamento e não-proliferação no continente. A ação dos países, de organizações internacionais e da sociedade civil na busca por superar esses desafios e promover a educação para o desarmamento e não-proliferação no continente se mostra fundamental se considerados os benefícios que projetos neste sentido podem trazer ao continente africano.

Histórico e Mandato do Comitê De acordo com a Carta das Nações Unidas, cabe à Assembléia Geral e ao

Conselho de Segurança a discussão de temas relativos à paz e à segurança internacional, incluindo o desarmamento.1 Criada em 1978, a Primeira Comissão da 1 Veja: http://www.un.org/ga/about/background.shtml

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Assembléia Geral das Nações Unidas – a Comissão para Desarmamento e Segurança Internacional (CDSI) – é uma das seis comissões da Assembléia Geral das Nações Unidas, e tem por finalidade executar trabalhos na área de desarmamento e segurança internacional.

É um fórum multilateral e suas ações se dão no sentido de encorajar acordos e outras medidas que visem ao desarmamento, de promover a cooperação, de promover estudos e pesquisas acerca dos temas debatidos, de estabelecer princípios, e ainda de buscar novas soluções para as questões analisadas, tendo por objetivo sempre o estabelecimento e o fortalecimento da paz. A CDSI trata de temas nacionais ou internacionais que ameacem a segurança internacional. Esta Comissão é formada por todos os Estados membros das Nações Unidas, e as resoluções propostas na Comissão precisam de maioria simples para aprovação.2

Assim como as demais comissões da Assembléia Geral, a CDSI não tem poder para aprovar resoluções de aplicação obrigatória – detendo este status apenas o apenas o Conselho de Segurança. As resoluções da CDSI têm, então, caráter recomendatório, e os países buscam acatar as sugestões propostas. Sua relação com o Conselho de Segurança é estreita, cabendo a CDSI fazer recomendações acerca dos temas discutidos pelo órgão, examinar os relatórios anuais enviados pelo Conselho de Segurança, além de receber e considerar as declarações do Conselho de Segurança em suas deliberações. A Comissão não se manifestará, contudo, assim como o restante da Assembléia Geral, sobre temas que estiverem sendo debatidos no Conselho de Segurança, a menos que lhe seja solicitado.3

Um dos maiores desafios da CDSI na atualidade é a adequação às novas demandas da comunidade internacional. As questões enfrentadas sofreram modificações significativas nos últimos anos, em especial após o fim da Guerra Fria, gerando novas abordagens sobre questões de segurança e tornando mais amplo o escopo destas discussões, que passaram a abranger novos temas, como meio ambiente ou questões de gênero. A própria extensão e o impacto dos problemas sofreram alterações, aumentando a necessidade de atuação conjunta dos países para a obtenção de soluções eficientes.

O desarmamento continua a ser uma questão fundamental para a obtenção de uma paz sustentável, visto que armamentos podem fomentar conflitos mais intensos e destrutivos, além de facilitarem o reinício de conflitos armados em áreas de pós-conflito. As maneiras de promover esse desarmamento, contudo, sofreram modificações e novas alternativas se apresentaram. É função da Comissão para Desarmamento e Segurança Internacional obter respostas eficazes aos novos desafios apresentados, de modo a promover sustentável e efetivamente a paz e a segurança internacional.

Apresentação da Questão

Os desafios do Pós-Conflito na África

De modo geral, uma situação de pós-conflito representa um desafio tão grande

para o Estado em questão e para a comunidade internacional quanto a própria 2 SIPRI-UNESCO. SIPRI-UNESCO Handbook: Peace, Security and Conflict Prevention, pp 145-147

3 Carta das Nações Unidas. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/doc1.php

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resolução do conflito. É um momento extremamente delicado em que toda ação política deve ter em consideração a estabilidade do acordo de paz ou de cessar-fogo e a reestruturação econômica, política e social do país. Na África, os inúmeros conflitos armados das últimas décadas demonstraram a fragilidade que pode caracterizar estes acordos, com freqüentes retomadas da violência nos anos ou mesmo meses posteriores ao fim das hostilidades. Para entender esta dinâmica de fim e posterior retomada dos confrontos, é preciso analisar as condições do pós-conflito, especialmente pós-conflitos internos, ou seja, a situação em que se encontra a sociedade neste momento e os principais desafios que se impõem a ela.

O pós-conflito representa um desafio humanitário, ou seja, relacionado à segurança e à sobrevivência da população direta e indiretamente afetada que, em muitos casos, é privada de alimentos e abrigo, deslocada de seu lugar de origem e exposta a epidemias e doenças diversas. Por outro lado, o pós-conflito representa também um desafio político, caracterizado pela necessidade de se formar um novo arranjo político que possibilite a governabilidade e a manutenção da paz. O programa da União Africana intitulado New Partnership for Africa’s Development (NEPAD) – Nova Parceria Para o Desenvolvimento da África – publicou em 2005 um relatório definindo sua política em matéria de reconstrução pós-conflito4. O relatório apontava aquelas que considera como as cinco dimensões da reconstrução pós-conflito: (1) segurança; (2) transição política, governança e participação; (3) desenvolvimento econômico e social; (4) Direitos Humanos, justiça e reconciliação; (5) coordenação, gerenciamento e mobilização de recursos. Cada uma destas dimensões está vinculada aos aspectos humanitários ou políticos discutidos anteriormente. Segurança: a segurança da população é sem dúvida uma questão prioritária na fase que se segue imediatamente ao conflito. Neste primeiro momento, é fundamental criar condições de segurança mínimas para o processo de reconstrução, ou seja, para que se retomem as atividades econômicas e se restabeleça a ordem civil e o respeito às leis. A própria atuação das agências humanitárias, organizações não-governamentais (ONGs) e outras organizações internacionais que participam da reconstrução só é possível em um ambiente com certo grau de segurança para seus agentes. A princípio, a segurança diz respeito à garantia de preservação da vida e da integridade física dos indivíduos, mas pode-se considerar também a noção mais ampla de segurança humana, incluindo a atenção a necessidades básicas do indivíduo, como alimentação e abrigo. A segurança humana é, portanto, o ponto de partida para a retomada do desenvolvimento5.

No caso dos conflitos internos, há a necessidade de se reintegrar socialmente os ex-combatentes. Isso significa que, aqueles que compuseram os grupos militarizados durante o conflito devem encontrar um novo meio de vida e espaço na sociedade. Este processo de reintegração inicia-se pelo desarmamento desses ex-combatentes, seguido de sua retirada de grupos ou forças armadas, conforme será enfocado em sessões posteriores6. Essas três dimensões compõem o que se 4 New Partnership for Africa`s Development. African Post-Conflict Reconstruction Framework, NEPAD`s

Secretariat Governance, Peace and Security Programme, June 2005. Disponível em: http://www.nepad.org/2005/aprmforum/PCRPolicyFramework_en.pdf 5 MARCHAL, Roland. De nouveaux Modes de Règlement des Conflits, Questions Internationales, N.33

Septembre- Octobre 2008, La Documentation Française. 6 United Nations Disarmament Demobilization and Reintagration Resource Centre. What is DDR?

Disponível em http://www.unddr.org/whatisddr.php Último acesso em 04 de novembro de 2008.

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convencionou chamar de DDR (Desarmamento, Desmobilização e Reintegração). Esse processo é fundamental para que se configure de fato o cessar-fogo e se obtenha as condições mínimas de segurança para dar início à reconstrução.

Transição política, governança e Participação: um traço marcante do pós-conflito na África é a instabilidade que se verifica nos acordos de paz e de cessar-fogo. Inúmeros acordos são assinados e abandonados dentro de pouco tempo, resultando na retomada das hostilidades. Em alguns casos, acordos são feitos sem a adesão de todos os grupos envolvidos no conflito, o que significa que os grupos não participantes dão continuidade às hostilidades. Após a assinatura de um acordo de paz, é, portanto, uma questão delicada obter o reconhecimento da legitimidade do arranjo político que este acordo estabelece. Este reconhecimento depende da adesão dos grupos combatentes ao acordo, mas também da sua legitimação pela comunidade internacional, por isso o apoio e a participação de outros países e de organizações internacionais é de extrema importância.

Também neste caso a reintegração é fortemente necessária. Os grupos em conflito dentro de um Estado têm, em geral, uma dimensão militar para a ação, baseada em uma dimensão política, com projetos, objetivos e propostas. Assim, após o fim do conflito, estes grupos devem ser integrados ao novo arranjo político, seja pela participação direta no governo, seja pela incorporação legítima à oposição ou por outros mecanismos de participação. Essa é uma pré-condição para que o acordo seja visto por todos como legítimo e possa de fato ser implementado, levando a uma paz duradoura e evitando o recomeço da violência.

Desenvolvimento econômico e social: um dos grandes desafios do pós-conflito é a retomada das atividades e do crescimento econômico, em meio à desarticulação da economia, causada pelo conflito. Por um lado, as atividades econômicas cessam totalmente ou em parte durante o período de violência contínua. Especialmente quando há grande deslocamento da população, mas não só nestes casos, verifica-se a interrupção do cultivo agrícola, comércio e diversas outras atividades econômicas como as desenvolvidas por empresas estrangeiras, que se retiram então do país. Além disso, a infra-estrutura do Estado em conflito é seriamente debilitada, o que inclui comumente os sistemas de transporte, comunicação e abastecimento de água, por exemplo. Como resultado, verifica-se, em vários casos, a desarticulação entre porções do território que torna ainda mais difícil a atividade produtiva.

Neste contexto, busca-se a atração de investimentos, como um dos meios para reerguer a economia pós-conflito. Deve-se notar que há diversas oportunidades econômicas para empresas estrangeiras no processo de reconstrução e sua participação pode dar-se tanto por meio do investimento direto como em associação com organizações internacionais envolvidas na reconstrução pós-conflito. No entanto, este tipo de investimento deve respeitar a fragilidade comum a economias pós-conflito, evitando a geração de dependência excessiva dos Estados em relação a estas empresas. Esta dimensão do pós-conflito está ligada a projetos e objetivos de longo prazo, dependentes da estabilização inicial da situação política e de segurança.

Direitos Humanos, justiça e reconciliação: após o término de um conflito opondo diferentes grupos em um mesmo Estado, para que a sociedade possa readquirir coesão é necessária à reconciliação. Durante o conflito, cada ato de agressão gera como resposta mais violência e assim o conflito se auto-alimenta. Do mesmo modo, após o seu término, o ressentimento entre as partes com a lembrança

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das agressões sofridas pode fazer ressurgir o conflito, independentemente dos aspectos políticos ou econômicos que o geraram terem sido resolvidos. Assim, a reconciliação depende de uma resposta a estas agressões do período de conflito. Em alguns casos, a resposta vem por meio do julgamento daqueles considerados responsáveis por crimes durante a guerra, ou atentado aos Direitos Humanos. Em outros casos, no entanto, as partes podem decidir pela anistia, ou seja, o perdão oficial aos crimes cometidos durante o conflito.

No entanto, a relação entre anistia e Direitos Humanos é extremamente delicada. Por exemplo, após o cessar-fogo em Angola, em abril de 2002, o governo concedeu anistia a todos que houvessem cometido crimes contra o Estado Angolano durante a guerra. No entanto, a ONU declarou que não aprovaria uma anistia a crimes de guerra7. Neste caso, é delicado o equilíbrio entre respeito ao Direito Internacional, especialmente aos Direitos Humanos, e necessidade de reconciliação nacional. A necessidade de resposta, em situações de pós-conflito, à violação generalizada de Direitos Humanos deu origem ao que se conhece hoje como Justiça Transitória. Trata-se de um “conjunto de estratégias utilizadas pelas sociedades para ultrapassar as violações dos direitos humanos a que foram sujeitas num passado recente”. 8 Essas estratégias podem incluir a investigação judicial daqueles considerados como principais responsáveis pelas violações aos Direitos Humanos, a formação de comissões ligadas ao Estado para investigar os fatos e propor soluções para que essas violações não se repitam e a reparação de danos morais e materiais por meio da distribuição de compensações às vítimas, por exemplo.9

Coordenação, gerenciamento e mobilização de recursos: Outros desafios enfrentados no pós-conflito são a própria gestão dos projetos de reconstrução, a coordenação entre os vários atores estatais, organizações internacionais e não governamentais, entre outros, além da captação dos recursos necessários a todas as fases da reconstrução. É bastante comum que se verifique uma entrada expressiva de capitais provenientes de doações em um curto período de tempo imediatamente posterior ao fim do conflito. Esses capitais são direcionados por governos estrangeiros, por ONGs e organizações internacionais, sobretudo para o fornecimento de assistência humanitária imediata às vítimas do conflito. Não obstante a importância desse apoio imediato, como, por exemplo, sob a forma de alimentos e medicamentos, são necessários também recursos de médio e longo prazo, para que se invista em projetos contínuos de desenvolvimento. Uma possível resposta do Estado em pós-conflito a essa questão poderia ser, por exemplo, iniciar os projetos de desenvolvimento mais cedo, durante a fase em que ainda há grande entrada de recursos externos, ou

7 HARE, Paul; SOUSSAN, Michael. Construire la Paix, Géopolitique Africaine, N. 06, Printemps, Maio de

2002. 8 Parlamento Europeu. Justiça Transitória: construir um futuro mais justo e democrático.Direitos do

Homem, Parlamento Europeu, 30 de agosto de 2006. Disponível em:http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+IM-PRESS+20060830STO10183+0+DOC+XML+V0//PT 9 International Center for Transitional Justice. What is Transitional Justice? Disponível em:

http://ictj.org/en/tj/ Último acesso em 04 de novembro de 2008.

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estender as atividades de assistência humanitária, para prolongar o influxo de capitais10.

É de fundamental importância gerenciar os recursos existentes de forma a não aprofundar a dependência do Estado em relação ao capital externo. Do mesmo modo, é preciso aprofundar a participação dos atores locais na execução e coordenação dos projetos de reconstrução e desenvolvimento, para que estes não tenham uma dependência externa excessiva11.

A esses cinco aspectos mencionados, pode-se somar a questão dos recursos naturais, que merece também especial atenção no pós-conflito. De modo geral, os recursos naturais de um Estado são afetados pelos conflitos seja diretamente pela destruição de áreas de cultivo, flora ou solo, entre outros, ou pela sua exploração. Em diversos casos, os recursos naturais, especialmente os minerais e a madeira, financiam o conflito. Sua exploração e controle por determinados grupos permitem que estes continuem a comprar armamentos e financiar sua ação de modo geral. Em outros casos ainda, estes recursos estão entre as principais causas de conflitos armados, opondo grupos que disputam o controle destas fontes de riqueza ou simplesmente subsistência. Nos casos em que há uma ligação estreita entre os recursos naturais e os enfrentamentos, o gerenciamento destes recursos no pós-conflito se torna uma questão extremamente delicada politicamente. No caso do conflito entre Norte e Sul do Sudão, por exemplo, um dos motivos da rivalidade entre as partes são os recursos petrolíferos existentes no país. Atualmente, há um acordo de paz em vigência que colocou fim à guerra civil. No entanto, a situação destas reservas de petróleo não foi definida no acordo e, por isso, há o risco de que a disputa por elas possa reiniciar o confronto na região12.

Além disso, no pós-conflito, a degradação dos recursos naturais é um desafio também por tornar difícil a reestruturação de algumas atividades econômicas que deles dependem. Um exemplo especialmente significativo é a perda de campos de cultivo devido à utilização de minas antipessoal ou munições de fragmentação durante o conflito. Estas munições deixam fragmentos no terreno que, como as minas, provocam graves acidentes a quem entra em contato com elas. Assim, vastas porções de solos cultiváveis podem ser perdidas, dificultando a subsistência da população e a recuperação econômica do país.

A retomada do desenvolvimento econômico e social após um conflito armado, especialmente no caso de conflitos internos, apresenta, portanto, desafios multidimensionais. A solidez do novo arranjo político é fundamental para a reorganização da sociedade em todas as áreas. É preciso certo grau de coesão político-social além do envolvimento de atores internacionais para se fazer face aos desafios da reconstrução, que envolvem desde a resposta mais imediata à crise humanitária até a reorganização das atividades econômicas, a reparação da infra-estrutura e o auxílio ao retorno da população deslocada. Freqüentemente, a falta de coesão política, proveniente de acordos de paz ineficazes ou da falta de medidas de reconciliação e

10

New Partnership for Africa`s Development. African Post-Conflict Reconstruction Framework, NEPAD`s Secretariat Governance, Peace and Security Programme, June 2005. Disponível em: http://www.nepad.org/2005/aprmforum/PCRPolicyFramework_en.pdf 11

Ibid. 12

Veja: http://www.bbc.co.uk/portugueseafrica/news/story/2008/06/080604_sudantensionsm.shtml

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reintegração dos ex-combatentes, limita severamente a capacidade do Estado de responder aos desafios da reconstrução levando, por vezes, à retomada do conflito.

A Questão do Desarmamento

Algumas das características mais notáveis dos conflitos armados recentes são o

grande poder de destruição dos armamentos utilizados e a quantidade de civis atingidos direta ou indiretamente por esses conflitos. Os investimentos para o desenvolvimento de armamentos de maior impacto, no entanto, continuam muito grandes, chegando até a superar, em muitos casos, o montante de recursos empregados em áreas como saúde, educação e desenvolvimento. Os efeitos negativos dos conflitos armados e do uso indiscriminado de armamentos têm levado, contudo, a reflexões e críticas cada vez mais freqüentes sobre o assunto, gerando efeitos ainda nas discussões sobre a construção da paz.13

Neste sentido, o desarmamento se mostra uma importante ferramenta para a construção de uma paz efetiva e sustentável. O desarmamento pode ser conceituado, de acordo com a UNESCO, como “toda a forma de ação que vise limitar, controlar ou reduzir os armamentos, inclusive as iniciativas unilaterais de desarmamento, e também o geral e completo sob um controle internacional eficaz”, visando “transformar o atual sistema de Estados nacionais armados numa nova ordem mundial em que haja paz planificada sem armas e em que a guerra não seja mais um instrumento da política mundial – e também em que os povos determinem seu próprio futuro e vivam com segurança, baseada na justiça e na solidariedade”.14

Esse conceito se baseia no fato de que os armamentos são um dos principais motivadores das desconfianças, suspeitas e crises entre países e dos conflitos armados de uma forma geral. Desse modo, seu objetivo principal é impedir ou reduzir os conflitos armados, visto que as partes envolvidas teriam suas provisões militares diminuídas ou eliminadas. Medidas relativas ao desarmamento podem ser formalizadas por meio de sanções ou por meio de acordo entre países. Além dos desafios relativos a compra, emprego e armazenamento de armamentos por parte do Estados, a comunidade internacional enfrenta ainda o desafio de controlar o uso de armamentos por parte de grupos não-estatais, característica comum aos conflitos armados recentes.

Outro conceito importante é o controle de armas. Ele pode ser entendido como o conjunto de ações legais ou políticas que visam à restrição do emprego ou da disposição de armamentos pelo o exército nacional. Tal medida tem o objetivo de reduzir o risco de um conflito armado inadvertido por permitir que os demais países possam melhor avaliar as intenções militares de um dado Estado15. Exemplos deste tipo de ação são as sanções impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, tratado

13

VIEIRA, Gustavo Oliveira. “Educação para o Desarmamento: Caminhos e Perspectivas”, página 397. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/450/346 14

UNESCO. World Congress on Disarmament Education. Paris, 1980. Disponível em: http://disarmament.un.org/education-new/docs/uneco.pdf 15

SCHMALBERGER, Thomas; TULLIU, Steve.”Coming to terms with security:a lexicon for arms control, disarmament and confidence-building”. UNIDIR: Geneva, 2001. Páginas 7-9

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assinado ao fim da Primeira Guerra Mundial. Suas cláusulas regulavam a aquisição de armamentos e também a liberdade de formar um exército do país em questão.

Um conceito correlato importante é o de transarmamento, que se refere a uma maneira de realizar o desarmamento. O transarmamento consiste em promover a eliminação de todas as armas que sejam consideradas ofensivas (aquelas que realmente serviriam para um ataque massivo), mantendo aquelas que sejam consideradas defensivas16. O desarmamento e a restrição na produção bélica são temas que sempre estiveram presentes nas discussões internacionais. Desde as Conferências de Haia de 1899 e 1907 até os dias atuais, tenta-se regular como tal restrição acontecerá. Por vezes as tentativas falharam, como no caso do uso de gases tóxicos na Primeira Guerra Mundial, e no colapso da Conferência Mundial do Desarmamento em 1937. Existem, no entanto, algumas ações que foram eficientes, como o Processo de Oslo17, tratado assinado entre mais de cem nações, que postulou o banimento, fabricação e estocagem das chamadas bombas clusters (armamento que, disparado por terra ou ar, se abre espalhando dezenas ou até centenas de submunições explosivas sobre áreas extensas)18.

Na discussão atual sobre o tema, os esforços se concentram em promover a não-proliferação de armamentos de todas as espécies, estando em destaque neste sentido o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Esse tratado postula o desarmamento nuclear e a regulação dos armamentos existentes, ainda que trabalhos nesse sentido encontrem maior dificuldade para discussão e implementação. Segundo a resolução 137819 das Nações Unidas, o objetivo último da Organização seria o desarmamento geral e completo, alcançado por meio da criação de aparatos institucionais que facilitem as discussões e decisões sobre o tema.

Um destes aparatos foi criado durante a Primeira Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas dedicada ao Desarmamento, ocorrida em 1978. Nesta sessão, o governo da França sugeriu a criação de um instituto da ONU que fosse capaz de ajudar na promoção da participação de todos os Estados no controle de armas e de sua redução. A partir de 1980, o Instituto de Pesquisas das Nações Unidas para o Desarmamento, UNIDIR, (United Nations Institute for Disarmament Research) começou os seus trabalhos, juntamente com o Departamento das Nações Unidas para Questões de Desarmamento, UNDDA, (United Nations Department for Disarmament Affairs). Os trabalhos do UNIDIR abrangem diversas áreas, englobando ações junto a refugiados, programas de desarmamento como ação humanitária, estudo e uso de tecnologias de sensoriamento remoto a serviço da paz e do desarmamento, dentre outras.20

Apesar da reconhecida importância do desarmamento para a construção de uma paz consolidada e sustentável, muitas dificuldades ainda são enfrentadas. A

16

VIEIRA, Gustavo O. Op. Cit., página 401. 17

Veja: http://www.clusterconvention.org/downloadablefiles/draft-cluster-convention-english-version.pdf 18

Veja http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u374666.shtml 19

VIEIRA, Gustavo Oliveira. “Educação para o Desarmamento: Caminhos e Perspectivas”, página 405. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/450/346 20

Veja: http://www.unidir.org/html/en/background.html

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comunidade internacional busca obter respostas aos desafios postos por essa questão de modo a conseguir alcançar o objetivo do desarmamento completo.

A Educação para o Desarmamento e não-proliferação

Muitas vezes as tentativas de regular e estabelecer medidas para promover o desarmamento falharam ou enfrentaram dificuldades que diminuíram a eficácia das iniciativas. Pode ser apontada como um dos motivos desse problema a falta de um projeto de educação que proporcionasse uma base teórica propícia ao desarmamento e à paz.

Neste contexto, a necessidade da criação dessa base teórica se fez cada vez mais importante, com o surgimento de diversos estudos e propostas acerca do tema. Uma tentativa notável de promover e criar os conceitos mais importantes da educação para o desarmamento foi o Congresso Mundial da Educação para o Desarmamento, realizado pela UNESCO em 1980. Tal congresso teve como resultado dez importantes princípios:

1. A educação para o desarmamento como componente da educação para a paz implica uma educação acerca do desarmamento e uma educação para o desarmamento.

2. A formulação de um conceito de desarmamento. 3. O papel da informação sobre o tema e sua capacidade de difusão. 4. Relação do tema com realidades econômicas e políticas locais. 5. A importância da Pesquisa e da tomada de decisões. 6. A consideração de critérios fundamentais, como o respeito a preceitos do

direito internacional, como autodeterminação dos povos, visando à manutenção da paz.

7. Relação do tema com Direitos Humanos e Desenvolvimento. 8. Vínculo dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação

com objetivos pedagógicos, visando o ensino do pensamento acerca do tema. 9. O estabelecimento de aspectos como transmissão de valores da

compreensão internacional, tolerância relativa à diversidade ideológica e cultural, compromisso com a justiça social e solidariedade humana como base para a educação para o desarmamento e não-proliferação.

10. A importância da difusão desses princípios em todos os setores da sociedade.21

Além do trabalho realizado no âmbito da UNESCO, outras iniciativas importantes sobre o tema foram realizadas na ONU. Há várias resoluções da Assembléia Geral que tratam do assunto e que abordam aspectos como definição, forma de avaliação, promoção e caminhos para introdução da educação para o desarmamento. Podem ser citadas, por sua relevância, as resoluções “Educação para o Desarmamento”, de 198922, que requisita aos países que informem o Secretariado Geral sobre o seu desempenho em programas de desarmamento, e as resoluções

21

UNESCO. World Congress on Disarmament Education. Paris, 1980 Disponível em: http://disarmament.un.org/education-new/docs/uneco.pdf 22

A/RES/44/123. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/548/82/IMG/NR054882.pdf?OpenElement

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“Educação e Informação para o Desarmamento”, de 1991 e 1993.23 Estas resoluções sofreram muitas críticas por não explicarem a razão da necessidade dessa educação, além de omitirem o quesito militar nas discussões.

Mais recentemente, no ano de 2002, o relatório do Secretário Geral das Nações Unidas intitulado Estudo da Organização das Nações Unidas sobre Educação para o desarmamento e não-proliferação,24 derivado de um estudo detalhado feito por especialistas sobre a educação para o desarmamento e não-proliferação, definiu os principais conceitos e diretrizes relativos ao tema. O relatório define educação para o desarmamento e não-proliferação como “um processo longo e multifacetado, do qual família, escolas, universidades, mídia, comunidade, Organizações Não-Governamentais, governos, parlamentares e organizações internacionais participam. É a construção de uma base de conhecimento teórico e prático que permite aos indivíduos escolher por eles mesmos valores que rejeitam a violência, resolver conflitos pacificamente e sustentar uma cultura da paz”.25

Neste sentido, o estudo aponta que a educação para desarmamento se foca na necessidade de reduzir armamentos de modo a evitar conflitos armados, ou ainda de mitigar seus efeitos. A educação para não-proliferação seria um tópico importante dentro da educação para desarmamento, visto que teria como foco a prevenção de futura proliferação de armamentos.26 Esta definição se refere a todos os tipos de armamentos, incluindo armas pequenas e leves, armas químicas, biológicas e nucleares. Nas situações de pós-conflito no continente africano, contudo, o foco é dado a armas pequenas e leves, visto que, nestes casos, elas são as mais comuns e as de mais fácil acesso.

Mesmo com todas essas tentativas de regulação do desarmamento, questões como a possibilidade de o mundo estar preparado para se desarmar, a relevância e a aplicabilidade da educação para o desarmamento para a resolução mais pacífica de conflitos ou como promover a propagação eficiente da educação para o desarmamento, ainda estão em aberto. Há grandes preocupações acerca do tema, dada sua importância e sua influência nas relações entre os países e nas questões internas dos locais afetados. O tema também chama atenção pelos benefícios que essa educação pode trazer.

Muitos destes benefícios são medidas importantes para construir a paz e estabilizar as regiões de pós-conflito. A educação para o desarmamento e não-proliferação perpassa a questão bélica e influencia outras áreas, muitas vezes também problemáticas em situação de pós-conflito, podendo trazer conseqüências positivas a diversos setores da sociedade. Dentre estas conseqüências estão a construção de uma cultura de paz, maior facilidade para a resolução de conflitos, tolerância à diversidade, equidade de gênero, desmilitarização, respeito aos direitos humanos, preservação ambiental ou desenvolvimento econômico.27

23

A/RES/46/27. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/581/15/IMG/NR058115.pdf?OpenElement e A/RES/48/64. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N94/004/09/PDF/N9400409.pdf?OpenElement 24

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 25

Tradução livre 26

Veja: http://www.inesap.org/bulletin22/bul22art16.htm 27

Ibid.

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Grupos, agentes e alvos Os conflitos armados produzem efeitos negativos no curto e no longo prazo,

atingindo toda a população que se encontra na área em questão. Muitos destes efeitos negativos continuam a assolar a população mesmo após o fim dos conflitos, em muitos casos gerando instabilidade. Como já foi exposto, a transição do pós-conflito é um processo trabalhoso, lento, longo e de muitos e diferentes estágios, que depende de esforços conjuntos da sociedade e da comunidade internacional para ser bem sucedida28. Nesse sentido, a educação para o desarmamento e a não-proliferação se mostra uma alternativa viável e sustentável para a promoção do desarmamento e a obtenção de uma paz duradoura.

Para que se encontrem soluções eficientes e adequadas para a implementação da educação para o desarmamento é necessário ter em mente que, apesar de os efeitos negativos dos conflitos armados atingirem toda a população, a maneira como cada grupo ou parcela da população é afetado por esses conflitos é diferente. Desse modo, as necessidades e demandas de cada grupo, bem como as contribuições que cada grupo pode oferecer são diferentes, ainda que todas tenham papel fundamental para a implementação efetiva da educação para o desarmamento e a não-proliferação. Os programas devem ser, portanto adequados aos níveis sociais, econômicos e culturais de cada grupo ou cada região. Para isto, parcerias com organizações locais são fundamentais. Alguns grupos que merecem atenção especial por suas peculiaridades são: refugiados; mulheres; crianças e jovens e ex-combatentes.

Refugiados29: em situações de pós-conflito, em especial no continente africano, que, no ano de 2007, abrigava quase metade de todos os refugiados sob proteção do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)30, a situação dos refugiados é delicada. Este é um grupo bastante vulnerável às conseqüências do conflito armado, visto que, freqüentemente, vive em locais sem infra-estrutura e segurança adequadas, além de serem vistos de forma hostil por muitos dos grupos locais, sofrendo toda sorte de violência.

Adicionalmente, seu acesso às condições básicas de sobrevivência é restrito, já que enfrentam dificuldades para praticar agricultura ou ter acesso aos recursos naturais como água, têm seus direitos humanos desrespeitados com freqüência e têm acesso bastante restrito à educação.

As condições difíceis impedem o desenvolvimento adequado destas pessoas, e podem fomentar mais violência dentro dos campos de refugiados ou mesmo mais instabilidade e incentivos para um possível reinício dos conflitos. Programas capazes

28

A/57/124, p 14. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 29

O ACNUR afirma sobre refugiados: “De acordo com a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados (de 1951), são refugiados as pessoas que se encontram fora de seu país por causa de fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa. Posteriormente, as definições mais amplas passaram a considerar como refugiados as pessoas obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos”. Disponível em: http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/perguntas-e-respostas-sobre-refugiados/ 30

Veja: http://www.acnur.org/t3/portugues/estatisticas/

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de promover educação para o desarmamento e não-proliferação nestas localidades são então fundamentais, uma vez que ajudam a promover a cultura da paz e mostram aos refugiados possibilidades concretas de crescimento e desenvolvimento fora dos conflitos armados. Além disso, possibilitam a formação de pessoas conscientes da importância do desarmamento para a formação de uma sociedade estável e para a obtenção da paz.

Alguns programas neste sentido são desenvolvidos pela ONU ou por ONGs por todo o continente. O Programa de Educação para a Paz (Peace Education Programme) é um bom exemplo. Coordenado pelo ACNUR, é desenvolvido em nove países31 do continente africano e tem alcançado bons resultados.32 Estes programas normalmente contam com projetos de educação formal e não-formal sempre buscando promover uma cultura de não-violência. Eles são, contudo, pouco numerosos diante da quantidade de campos de refugiados e das necessidades apresentadas por estes indivíduos. Discussões acerca da educação para o desarmamento e não-proliferação direcionada a refugiados ainda são pouco intensas dada sua relevância.

Mulheres: outro grupo fortemente atingido pelos conflitos e que tem papel importante a desempenhar na reconstrução dos países e na busca pelo desarmamento é o grupo das mulheres. Os traumas causados pelos conflitos, que incluem, em muitos casos, violência sexual, afetam as mulheres de modo intenso. As experiências que elas têm para partilhar podem ser bastante construtivas para a formulação de programas de educação para o desarmamento e não-proliferação na localidade em que vivem, em especial em localidades de pós-conflito. Resoluções da Comissão para Desarmamento e Segurança Internacional reconhecem a importância da mulher para a reconstrução no pós-conflito, bem como para a implementação efetiva de programas de educação para o desarmamento e não-proliferação. Alguns dos papeis que podem ser desempenhados pelas mulheres são a reconstrução das sociedades, a criação de condições para o fim dos conflitos armados, o monitoramento da paz, processos de reconciliação entre vítimas e agressores, desmobilização, reintegração, recolhimento e destruição de armamentos, dentre outros.33 Organizações não-governamentais geridas por mulheres têm feito trabalhos bastante relevantes no sentido de facilitar a reconstrução no pós-conflito e ainda de promover educação para paz no continente africano. Os bons resultados podem ser mais bem aproveitados se as ONGs se coordenarem, formando redes de contato para troca de experiências e ajuda mútua. Mobilizações desta natureza são, contudo, escassas na maior parte dos países africanos, ainda que esse fenômeno venha ganhando força nos últimos anos.34

Na maior parte do continente africano não há equidade de gênero, e as mulheres são freqüentemente isoladas dos processos decisórios e da formulação de políticas públicas. Em alguns casos, pode-se observar ganhos de posição estratégica das mulheres como tomadoras de decisão durante os conflitos, mas eles não são 31

São eles: Costa do Marfim, Eritréia, Etiópia, Guiné, Libéria, Quênia, República Democrática do Congo, Serra Leoa e Uganda. 32

Veja: http://www.unhcr.org/protect/40503b044.html 33

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement e MORE, Rodrigo F. Direito Internacional do Desarmamento: O Estado, a ONU e a Paz, pp 399-401 34

Veja: www.acronym.org.uk/dd/dd48/48gender.htm

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institucionalizados e se perdem no pós-conflito. Mulheres estão freqüentemente fora das negociações para a assinatura de tratados de paz, ainda que tenham papel fundamental na mediação de conflitos e nos processos de negociação para o fim das hostilidades. A não participação da mulher nos processos políticos representa um retrocesso na busca pela paz.35

Outra contribuição que a mulher pode dar para a educação para o desarmamento e não-proliferação é a educação inicial. Como primeira educadora na maior parte dos países, a mulher pode aumentar a abrangência e efetividade do processo de educação para o desarmamento e não-proliferação, atingindo crianças e jovens em todo o continente.

Para realizar tal função é necessário que a mulher tenha acesso à educação e a treinamentos. Não há, contudo, muitas pessoas capacitadas para passar esse conhecimento, o que torna o processo mais complicado. Este problema é mais intenso em localidades afastadas, rurais ou com altos índices de violência. Dificuldade no acesso à informação em grande parte do continente africano também representa grande empecilho para a formação de educadores e para que a promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação possa abarcar todos os grupos e todas as localidades.

Crianças e Jovens: a implementação efetiva da educação para o desarmamento e não-proliferação junto a crianças e jovens é uma das medidas mais eficazes para a formação de uma sociedade propensa à paz. Como futuros tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas, as crianças e jovens podem promover e perpetuar uma cultura de paz, além do desarmamento no longo prazo. Teriam ainda menos propensão a se tornarem combatentes ou a reiniciar conflitos.36 Crianças e jovens são as vítimas mais comuns dos conflitos armados por se tratar de um grupo bastante frágil e vulnerável. É comum durante conflitos em muitos países o recrutamento de crianças e jovens para os conflitos armados.37 A educação para o desarmamento e não-proliferação, em conjunto com ações de reintegração facilitariam a reinserção destes jovens na sociedade, possibilitando seu desenvolvimento por outros meios que não a violência. Esta reintegração, feita em conjunto com projetos de educação, também diminuiria a instabilidade e a violência de uma maneira geral, visto que muitos desses jovens e crianças continuam possuindo armamentos e causando problemas de segurança.38

Resoluções da Assembléia Geral apontam que a educação para o desarmamento e não-proliferação também deve estar presente no currículo escolar, de modo a promover a cultura para a paz, resoluções pacíficas para conflitos e a facilitar uma análise crítica da sociedade.39 As dificuldades de implementação de projetos deste tipo são diversas: falta de professores, infra-estrutura comprometida pelo conflito, falta de capital, dentre outras. Projetos no âmbito da ONU são realizados, em especial pela UNESCO e pela UNICEF, mas ainda são pouco numerosos.

35

Veja: www.peacewomen.org/resources/DDR/ddrrrindex.html 36

Veja: http://www.ppu.org.uk/peacematters/2004/pm2004_13.html 37

O recrutamento de crianças era comum em Angola, República Democrática do Congo, Serra Leoa e Guiné Bissau. 38

MORE, Rodrigo F. Direito Internacional do Desarmamento: O Estado, a ONU e a Paz, pp 399-401 39

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement

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Ex-combatentes: os ex-combatentes têm papel fundamental na construção de uma paz efetiva, visto que têm capacidade de aumentar ou diminuir as tensões e a instabilidade, bem como de facilitar a construção de um ambiente mais seguro e pacífico. A educação para o desarmamento e não-proliferação é ainda muito importante para a efetivação do chamado DDR (desarmamento, desmobilização e reintegração) junto aos ex-combatentes. De acordo com a ONU (United Nations Peacekeeping) o desarmamento inclui inspeção, coleta e destruição de armas leves e pesadas, de munição e de explosivos, tanto dos combatentes quanto dos civis. Já a desmobilização é um processo de diminuição ou completa extinção de tropas, de ambos os lados do conflito, como modo de facilitar a transição para a paz. Por fim, a reintegração é feita por meio de medidas de assistência – que incluem auxilio financeiro, treinamento vocacional e atividades de geração de renda – aos ex-combatentes e suas famílias, como forma de reintegrá-los social e economicamente e diminuir a atratividade do conflito armado.40

Esta tríade é necessária, visto que, uma vez desarmados, desmobilizados e reintegrados, os ex-combatentes têm menor probabilidade de fomentar novos conflitos, além de serem capazes, por meio da educação, de ajudar o processo de reconstrução do país. Estes programas devem se adequar às condições econômicas, culturais, sociais e emocionais dos indivíduos em questão de modo a garantir sua efetividade.41

Dificuldades Técnicas Enfrentadas Mesmo após o término dos conflitos, a população destas regiões ainda sofre

com os altos níveis de violência e criminalidade, que são associados ao mau-uso de armas, especialmente das pequenas e leves. Estes índices, muitas vezes, permanecem os mesmos ou até mais altos que os dos períodos de conflitos42

Antes de se implantar o programa de educação para o desarmamento nos países africanos, deve ser entendido o palco onde esse processo será aplicado. Uma série de reveses será encontrada na formação dessa iniciativa nos países africanos, tendo em vista, principalmente, a falta de infra-estrutura que esses países apresentam, a ausência ou a baixa disseminação dos mecanismos de comunicação (em especial a Internet) e a própria escassez de profissionais que possam fazer uso da tecnologia de informática. Essas características se agravam mais nas situações de pós-conflito em que, devido ao efeito destrutivo dos conflitos armados, grande parte da infra-estrutura anteriormente existente foi perdida.

Infra-estrutura: “a infra-estrutura econômica é constituída, essencialmente, pelos serviços básicos ou serviços públicos necessários aos setores produtivos de bens de certa nação.”43 O papel de fornecimento desta infra-estrutura fica muitas vezes atrelado ao Estado. Todavia, no caso de determinadas nações africanas em situação de

40

Veja: http://www.un.org/events/peacekeepers/2003/docs/ddr.htm 41

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 42

SALW Awareness Support Pack (2007) - SASP 3 (2007-08-31) (livre tradução dos autores), disponível em: http://www.seesac.org/. 43

KAMARCK, Andrew M. A Economia da África, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1970.

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pós-conflito, os governos freqüentemente não têm fundos para prover esses serviços, ficando dependentes de investimentos externos. Apesar de que os países africanos recebem bilhões em doações e em investimentos, estas quantias ainda não proporcionam um crescimento sustentável dentro do continente44. No caso dos transportes, estes muitas vezes são voltados para determinados setores produtivos, como o setor de mineração e petrolífero. Os demais setores da sociedade são deixados em segundo plano, já que sua importância econômica para os governos é menor. Além disso, muitos países africanos caracterizam-se pela baixa densidade populacional, ou seja, os grupos populacionais, de maneira geral, se encontram dispersos no continente, especialmente no interior africano, demandando um elevado investimento no sistema de transportes, que freqüentemente se torna inviável para o Estado.

O setor energético também traz algumas dificuldades, especialmente quando se analisa a grande diversidade de potencial energético dos países africanos. Enquanto alguns países têm reservas de petróleo e gás, como Nigéria, Gabão e Angola, outros ficam dependentes do potencial hidrelétrico, recurso natural importante no continente africano. Porém, o custo de implantação das usinas hidrelétricas é muito maior que as termoelétricas, acarretando mais uma vez na dependência de investimentos externos. Conforme veremos abaixo, o setor de energia, principalmente elétrica, será fundamental para a implantação dos programas de desarmamento, visto a importância das fontes energéticas para que seja possível fazer uso de tecnologias como os meios de comunicação, em especial a Internet, como mecanismos de formação e expansão destes programas.

Educação: apesar de alguns autores considerarem a educação como um elemento da infra-estrutura, aqui esta será considerada a parte, tendo em vista a proposta educacional do controle e não-proliferação de armas. Com uma taxa de analfabetismo de 40%, a África situa-se como o continente em que o programa educacional proposto mais teria dificuldade em obter sucesso. E o mais grave é que em áreas como a África Subsaariana, onde atualmente cerca de 40% das crianças não recebem nenhuma instrução, há previsões de que esta proporção irá aumentar, chegando em 2015 a 60% de crianças fora das escolas45, demonstrando o insucesso e a insipiência de investimentos tanto do governo como dos organismos internacionais no setor.

Sem uma base educacional, tanto dos cidadãos quanto dos profissionais que dirigirão estes programas, especialmente nas situações pós-conflito, a iniciativa demandará tanto a educação para o desarmamento propriamente dita como a educação básica para a população, fazendo com que o investimento necessário a esses programas seja maior. Estes não só deverão abordar medidas que visem à desvalorização de artefatos militares, mas também medidas que incitem a promoção de valores como cidadania e direitos humanos, os quais seriam mais bem ensinados se houvesse instituições educacionais sólidas nestas regiões.

Além do desafio de prover educação, a África como um todo tem de lidar também com a migração das pessoas que já obtiveram essa formação educacional. Países africanos, principalmente aqueles que viveram conflitos internos, tiveram uma grande perda de profissionais qualificados, que foram para os países desenvolvidos em

44

Veja: http://www.africainfrastructure.org/intro.html. 45

Veja: http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/552724.stm.

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busca de melhores condições de vida e renda. Este conceito, denominado de “brain drain”, é entendido como a emigração de profissionais que possuem habilidades técnicas e conhecimento específico para outras regiões, devido fundamentalmente a conflitos, falta de oportunidade e instabilidade política.46 A saber, o recente conflito entre o norte e o sul do Sudão, acarretou na emigração da metade dos profissionais sudaneses. Esta classe média é fundamental nos países africanos, já que eles proporcionam uma maior arrecadação de impostos, que como já foi visto anteriormente é vital para o desenvolvimento atual da África. Além disso, essa classe gera uma demanda por processos democráticos, levando à troca das armas pelas urnas.47

Uma vez saído do país, estes profissionais dificilmente retornam, pois o salário e as condições de vida que eles encontram nos países desenvolvidos são melhores do que os encontrados em sua terra natal. Dessa forma, os indivíduos que tiveram sua formação nos países africanos, vão atuar em outros países, promovendo desenvolvimento para estes e não para seu país de origem. Eles seriam fundamentais para efetivar e participar do programa de educação para o desarmamento, na medida em que estes tomariam a frente e teriam capacidade de gerir este processo, muitas vezes, sem a necessidade de instruções estrangeiras.

Acesso digital: o continente africano é o que menos tem acesso à Internet. Mesmo possuindo 14% da população mundial, apenas 2% dela estão conectados à Internet.48 A região sofre pela falta de infra-estrutura nesta área e as empresas fornecedoras deste acesso não demonstram interesse na mesma, sendo que somente duas empresas oferecem acesso digital à África, entre as centenas no planeta.49 Isto se deve tanto pelo baixo nível de renda da população de certos países africanos para adquirir este serviço, quanto pela falta de programas de educação na área de informática para a população. Esta dificuldade impede que um dos veículos mais eficazes de promoção da educação para o desarmamento, a Internet, possa ser utilizado no continente, principalmente nas situações pós-conflito, quando a infra-estrutura está mais danificada ainda. O acesso digital permitiria a expansão tanto da educação para o desarmamento, quanto para programas educacionais nas demais áreas, incluindo meio ambiente, saúde e direitos humanos, proporcionando uma maior conscientização às populações locais.

A difusão destes meios de comunicações, especialmente na África e América Latina, inicia-se por meio da atuação das empresas transnacionais que, detentoras dessas tecnologias, podem expandi-las e buscar novos mercados no plano internacional. Dessa forma, é a partir destas empresas que os países africanos devem buscar uma modernização tecnológica. Entretanto, esta possibilidade deve ser explorada com um intenso planejamento, devido aos vultosos gastos que o desenvolvimento desta tecnologia demanda. Assim, se efetivamente implantado, esse desenvolvimento acarretaria em uma maior “democratização” da rede de computadores, o que seria a peça-chave para o programa de educação para o 46

COHEN, Robin; Brain Drain Migration, South African Commission on International Migration, 1996-7. Disponível em: http://www.queensu.ca/samp/transform/Cohen1.htm 47

Veja: http://emeagwali.com/interviews/brain-drain/educacao-na-africa-a-fuga-e-cerebros-worldnet-africa-journal.html 48

Veja: http://www.convergenciadigital.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=10959&sid=4 49

Veja: http://www.internetworldstats.com/stats1.htm

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desarmamento. Com um maior acesso aos computadores para a população carente, esta possuiria maior acesso ao programa de educação para o desarmamento, fazendo com que o mesmo aumente seu campo de atuação.

Principais atores

A implementação efetiva da educação para o desarmamento e não-

proliferação em situação de pós-conflito no continente africano depende essencialmente do empenho dos atores em se envolver com os projetos, além de sua capacidade de mitigar os efeitos negativos resultantes dos conflitos armados recém terminados. Os diferentes atores têm diferentes contribuições a oferecer aos projetos, e enfrentam dificuldades diversas para torná-los eficazes e abrangentes ou mesmo para se engajar nos projetos. Os atores mais relevantes nesse sentido são as Organizações Internacionais, os Estados, as ONGs, os grupos da sociedade civil, a mídia e a comunidade acadêmica.

Organizações Internacionais50: há inúmeras organizações internacionais, entre agências do sistema ONU, organismos regionais e outras, envolvidas em projetos de educação para o desarmamento e a não-proliferação. Estes projetos são desenvolvidos em linha com as recomendações do Estudo das Nações Unidas sobre Educação para o Desarmamento e Não-Proliferação51, de 2002, e listados nos relatórios bienais sobre a implementação das recomendações do estudo. O inventário de ações relativas à educação para o desarmamento contido nestes relatórios certamente não esgota todos os projetos e iniciativas realizados pelas organizações internacionais, mas apresenta um panorama das diversas organizações envolvidas e do tipo de projetos que elas vêm conduzindo. O último relatório, publicado em julho de 200852, evidencia as ações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW), da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), além de outros órgãos das Nações Unidas, como o Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, o Departamento de Informação Pública, o Instituto de Pesquisa para o Desarmamento e o Comitê Preparatório para a Organização do Tratado de Eliminação dos Testes Nucleares.

As ações desenvolvidas por essas organizações têm caráter diverso segundo seu escopo. Entre as iniciativas da Organização para a Proibição das Armas Químicas, por exemplo, está a publicação e distribuição de material informativo sobre a legislação de proibição de armas químicas, a veiculação de vídeos educativos na televisão e na Internet, a realização de workshops em diversas partes do mundo e de seminários educativos para parlamentares de diversos Estados sobre a necessidade de se legislar sobre a questão das armas químicas. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha atua na capacitação de educadores do nível secundário em relação ao

50

Essa sessão foi baseada em informações contidas no Terceiro Relatório do Secretário-Geral sobre Educação para o Desarmamento e Não-Proliferação. 51

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 52

A/63/158. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N08/433/92/PDF/N0843392.pdf?OpenElement

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conteúdo do Direito Internacional humanitário, envolvendo as restrições sobre uso de armamentos. As ações desenvolvidas por essas organizações, apesar de restritas a seu campo de atuação, são de grande importância também por revelar o consenso em torno da necessidade de promover a educação em todas as áreas ligadas ao desarmamento.

No que concerne à atuação da ONU, a AIEA possui publicações próprias relacionadas ao desarmamento, realiza seminários de esclarecimento e possui um programa de estágio para estudantes de graduação e pós-graduação. Ainda no âmbito da Organização, diversas ações têm sido conduzidas pelo Centro Regional das Nações Unidas para a Paz e o Desenvolvimento na África, como a criação do Fórum da Juventude para a Paz e o Desarmamento na África; a realização de uma série de palestras sobre os desafios do desarmamento na África, em maio de 2007; a realização de eventos de esclarecimento para jovens líderes políticos e para a mídia no Togo; e a criação do programa Promovendo a Segurança Humana: o papel do Jovem, que realiza programas de televisão voltados para a sensibilização em relação às questões da paz e não-violência.

Essas iniciativas demonstram que a atuação das Nações Unidas em termos de educação para o desarmamento é especialmente significativa no continente africano. Além disso, em outubro de 2007, a Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas e o Centro Regional das Nações Unidas para a Paz, o Desarmamento e o Desenvolvimento na América Latina e no Caribe participaram da realização do Segundo Seminário Internacional sobre a Educação para a Paz e o Desenvolvimento. Outras ações incluem o treinamento de mais de 65 estudantes pelo Escritório para Assuntos de Desarmamento, a criação do site sobre educação para o desarmamento “Disarmament Education, Resources for Learning”53 e o lançamento de um CD contendo entrevistas e gravações de laureados do Prêmio Nobel que contribuíram significativamente para o desarmamento.

Estados: apesar da importância da atuação das organizações internacionais, os Estados continuam a exercer um papel fundamental na educação para o desarmamento. Como gestores do sistema educacional, cabe aos Estados integrar o conteúdo ligado ao desarmamento e à não-proliferação ao currículo escolar em todos os níveis. A atuação do Estado também é essencial na condução de programas de informação e conscientização fora do sistema de educação formal. Dada a relevância do seu papel, o principal obstáculo à promoção da educação para o desarmamento é a falta de comprometimento dos Estados. Apesar da existência de um consenso teórico sobre a importância da formação de uma cultura de paz e desarmamento, não há vontade política de se investir em projetos que muitas vezes não têm resultados imediatos e contabilizáveis.

Além disso, em situações de pós-conflito, freqüentemente a limitação dos recursos do Estado acaba fazendo com que os projetos d educação não sejam priorizados, apesar de que seus efeitos sejam duradouros e essenciais para o sucesso da peacebuilding (construção da paz)

54 como um todo.

53

Veja: http://cyberschoolbus.un.org/dnp/ 54

Peacebuilding pode ser definido como “ações no pós-conflito para identificar e dar suporte a estruturas que a fortalecem e solidificam a paz para evitar a reincidência do conflito” Disponível em: http://www.un.org/peace/peacebuilding/Statements/ASG%20Carolyn%20McAskie/Shaw%20final.pdf

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A dificuldade de financiamento acaba levando, às vezes, à impossibilidade de formular projetos no longo prazo, levando à implementação de projetos menos eficientes. No exemplo da região de Karamoja, em Uganda, no projeto do Programa de Desarmamento e Desenvolvimento Integrado afirma-se que “as atividades de mobilização, sensibilização e educação nos projetos de desarmamento passados foram realizadas de maneira ad hoc, sem uma estratégia clara para atingir os diferentes públicos, bem como lidar com as formas de resistência incipientes entre certos setores da comunidade” 55. Assim, o novo programa de desarmamento de Karamoja possui uma estratégia contínua de educação e sensibilização. Como Uganda, outros Estados desenvolvem ações contínuas de educação para o desarmamento, e as informações por eles disponibilizadas foram publicadas no Relatório do Secretário-Geral das Nações Unidas sobre Educação para o Desarmamento56. Entre essas ações está, sobretudo, a manutenção de programas de educação superior voltados para o desarmamento, como no Sri Lanka, no Uzbequistão, na Polônia, no Japão e no Egito. Outras ações, como a realização de palestras e seminários, a publicação de material educativo e a inclusão de conteúdo ligado ao desarmamento em outros níveis curriculares também são citadas no relatório.

Sociedade Civil: a sociedade civil como um todo deve estar empenhada em participar dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, facilitando parceria e cooperação entre grupos como modo de facilitar e construção de uma paz sustentável no pós-conflito. A ação de grupos da sociedade civil é amplamente apoiada e requisitada pelas resoluções das Nações Unidas referentes à educação para o desarmamento e não-proliferação.57 A mobilização desses grupos nos países em situação de pós-conflito no continente africano, contudo, se mostra ainda pouco intensa.

Mídia e ONGs possuem grande capacidade de influência entre a população e os governos, além de, em muitos casos, obterem abertura para atuação internacional. Neste sentido, podem atuar em rede ou como grupos de pressão para chamar atenção aos problemas e buscar auxílio para sua resolução. Nos últimos anos, a participação de ONGs em atividades que são normalmente consideradas como de alçada diplomática vem mostrando que tal envolvimento é essencial para que haja mudança no cenário atual.

Estes grupos podem atuar também diretamente como atores disseminadores do conhecimento, promovendo programas de educação para o desarmamento e de treinamento de professores. A ação desses grupos é benéfica ainda por sua capacidade de agir em concordância com as características específicas de cada comunidade, realizando projetos adaptados às necessidades de cada local. Esse tipo de ação permite que os projetos sejam mais eficientes, aplicáveis e conseqüentemente sustentáveis, visto que podem ser incorporados de fato pela comunidade, que pode transmitir posteriormente os princípios adquiridos.

55

República de Uganda. Karamoja Integrated Disarmament and Development Programme, Creating Conditions for Promoting Human Security and Recovery in Karamoja, 2007/2008-2009/2010, janeiro de 2007. 56

A/63/158. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N08/433/92/PDF/N0843392.pdf?OpenElement 57

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement

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O relatório do Secretário Geral das Nações Unidas, de 2002, sobre educação para desarmamento, chama atenção para o papel da mídia em países em que a infra-estrutura foi muito comprometida, visto que ela pode atuar de modo a disseminar informação com maior facilidade, se referindo à educação para o desarmamento, à desmobilização e a outros tópicos relativos à segurança. Neste sentido, parcerias junto à ONU seriam bastante produtivas58.

A comunidade acadêmica, por sua vez, pode oferecer importantes contribuições com a realização de estudos que possam dar aos demais atores subsídios para o estabelecimento de planos de ação que permitam a implementação efetiva da educação para o desarmamento e não-proliferação. Neste sentido, tem destaque o já citado Estudo da Organização das Nações Unidas sobre Educação para o desarmamento e não-proliferação.

Soluções Propostas

Os projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação têm recebido pouca atenção de maneira geral. O comprometimento dos Estados com os projetos ainda é insuficiente para que os mesmos sejam implementados de forma efetiva e contínua. Se considerarmos o continente africano, as dificuldades relativas à cooperação, interesse dos governantes dentro e fora do continente, bem como as condições técnicas precárias características das nações em situação de pós-conflito tornam a efetivação dos projetos ainda mais custosa. Os programas de educação para o desarmamento devem ser fundados em diferentes níveis (internacional e local) e por diferentes atores, sejam eles organizações internacionais, sociedade civil ou Governos.

Neste sentido, a ação das Organizações Não-Governamentais (ONGs) se mostra fundamental. Elas têm o poder de pressionar os governos e de mobilizar a sociedade civil de modo a fazer os Estados se comprometerem com os projetos de educação para o desarmamento. Essa tendência é verificada especialmente em países europeus e nos Estados Unidos. Em países em que as ONGs não têm tanta capacidade de atuação, esse tipo de solução se mostra mais difícil de ser aplicada.59 As ONGs também têm papel fundamental como formuladoras de projetos e de estudos que facilitam a implementação de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação. Sua atuação junto às comunidades locais auxilia ainda na questão da implementação de projetos que sejam coerentes com as realidades locais, e que possam ser aplicados e sustentáveis no longo prazo.60 Ações que envolvam a sociedade como um todo são extremamente importantes, à medida que o envolvimento desses grupos melhora o conteúdo dos projetos e pressiona os respectivos governos a agir de modo mais efetivo com relação à questão.61A ação dessas organizações se mostra ainda mais relevante em situações de pós-conflito, visto

58

Ibid. 59

Veja: http://cns.miis.edu/stories/021007.htm 60

HAAVELSRUD, Magnus. Disarmanet Education. Disponível em: http://disarmament.un.org/education/docs/target.pdf e A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 61

A/57/124. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement

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que os governos têm capacidade comprometida de promover os projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação.

A ação das ONGs nos países em situação de pós-conflito ainda é pouco numerosa, se considerada a capacidade dessas organizações de ser articular. Os projetos de cooperação com organizações internacionais e com governos também são incipientes, sendo esse um grande potencial a ser explorado.

No que concerne aos Estados, sua associação com universidades, locais e internacionais, também pode trazer benefícios para a formulação das diretrizes dos projetos.62 É patente ainda a importância da cooperação entre Estados de modo a coordenar esforços e permitir que mesmo países que enfrentam dificuldades relativas à situação de pós-conflito possam se integrar e efetuar os esforços necessários para a realização dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação. Exemplo de iniciativa eficaz é o projeto de educação pública em armas e munição, que permitiu a destruição de um grande número de armamentos no Camboja. O projeto foi feito com o apoio do Japão e da União Européia, em uma colaboração entre Estados.63

O apoio financeiro se mostra fundamental, dadas as precárias condições de infra-estrutura encontradas nos países em situação de pós-conflito. Neste sentido, o financiamento se mostra importante em decorrência das questões de infra-estrutura, que são fundamentais para a realização de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, como exposto anteriormente. Ações com as empreendidas no Camboja são, contudo, pouco numerosas, e há pouco empenho dos países em geral na execução de projetos neste sentido, tanto interna quanto externamente. As Organizações Internacionais, por sua vez, também podem se coordenar entre si de modo a tornar os projetos mais completos e eficientes, além de facilitar a cooperação entre Estados. É necessário, neste sentido, incluir em suas agendas a temática de educação para o desarmamento e não-proliferação. O destaque dado ao tema nas discussões ainda é pequeno, se considerada a importância e os benefícios que a educação para o desarmamento e não-proliferação pode trazer a um país em situação de pós-conflito.

Ações no âmbito de foros nacionais e internacionais também se mostram eficazes no sentido de promover a cooperação entre Estados e demais atores. Ações como as empreendidas pelo Centro Regional das Nações Unidas para Paz e Desarmamento na África (United Nations Regional Centre for Peace and Disarmament in Africa)64, que incluem a associação entre Estados e universidades para a formação de educadores e ações com grupos jovens para a promoção de uma cultura para a paz, são exemplos de como a ação dessas organizações em conjunto com os Estados pode ser positiva para a implementação da educação para o desarmamento e não-proliferação.65 Dentro do escopo das Nações Unidas podem ser vistas ainda outras iniciativas, que têm como referencial o relatório do Secretário Geral A/57/124, que

62

A/63/158. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N08/433/92/PDF/N0843392.pdf?OpenElement 63

A/63/158. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N08/433/92/PDF/N0843392.pdf?OpenElement 64

Veja: www.unrec.org/ 65

United Nations Regional Centre for Peace and Disarmament in Africa. Disponível em: http://unrec.org/en/index.php?option=com_content&task=view&id=16&Itemid=35

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elucida as diretrizes, atores e passos para que se possam ser implantados os programas de educação para o desarmamento.

No que se refere a grupos vulneráveis, iniciativas como as realizadas pela UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher) são muito relevantes. A organização tem como um de seus campos centrais de estudo e atuação a situação das mulheres das regiões em situação de pós-conflitos. Iniciativas junto a países africanos que buscam a difusão da educação para a paz junto às mulheres, realizadas pela UNESCO, grupos de pesquisa e ONGs, também são muito relevantes para o sucesso dos programas de educação para o desarmamento e não-proliferação, visto que facilitam seu funcionamento, permitindo às mulheres maior participação nos programas e dando a esse grupo capacitação para que ele possa repassar o conhecimento para o restante da sociedade.66 Essas ações podem ser vistas como exemplos para criação de novos e mais completos projetos que possam tornar a educação para o desarmamento e não-proliferação uma prática comum.

Estes projetos não são realizados apenas sob a liderança das Nações Unidas. No âmbito da OEA (Organização dos Estados Americanos), por exemplo, também são realizadas discussões sobre o tema. As resoluções elaboradas na Organização demonstram a busca por ações para o desenvolvimento da educação para o desarmamento e não-proliferação nas demais organizações internacionais e grupos regionais. Em muitos casos, as resoluções da ONU servem de referência para os trabalhos dessas organizações.67

A educação para o desarmamento e não-proliferação é, contudo, um tema ainda pouco explorado pelas organizações internacionais em geral. Os projetos empreendidos, como visto, normalmente não são exclusivamente destinados ao tema, a despeito de sua importância. A criação e a implementação de projetos específicos podem tornar a educação para o desarmamento e não-proliferação mais difundida e eficiente nos países em questão, apesar de o intercâmbio com outros projetos ser positivo.

É dada também pouca atenção à adaptação à realidade do pós-conflito. A maior parte dos projetos é planejada para o uso de recursos tecnológicos e demanda um montante financeiro aos quais os países não têm acesso. A falta de cooperação entre estados torna ainda mais difícil a superação desses entraves, atrasando ou mesmo impedindo a implementação desses projetos.

Conclusão

A educação para o desarmamento e não-proliferação é uma resposta eficiente e duradoura para a construção da paz, especialmente em países que sofrem com a situação de pós-conflito, visto que contribui para a diminuição da violência, diminui a probabilidade de reincidência de conflitos armados, além de contribuir para estabilização da região, para sua reconstrução e desenvolvimento.

Os prejuízos causados pelos conflitos armados dificultam a implementação efetiva dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, visto que os conflitos armados comprometem a infra-estrutura básica do país, além de tornar

66

Veja: http://portal.unesco.org/shs/en/ev.php-URL_ID=4276&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html 67

Veja: http://www.oas.org/csh/portuguese/armasnucleares.asp

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frágeis e instáveis a economia e as instituições políticas do Estado em questão. Questões como dificuldades para treinamento e acesso à tecnologia, falta de infra-estrutura básica para a realização dos projetos, bem como falta de profissionais capazes de promover os projetos são dificuldades normalmente enfrentadas pelos países em situação de pós-conflito no continente africano que buscam aplicar os projetos.

As condições dos grupos vulneráveis e da sociedade civil como um todo também são aspectos que devem ser considerados para a execução de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação. Eles demandam atenção especial, visto que a educação para o desarmamento e não-proliferação só se mostra eficiente se consideradas as peculiaridades de cada grupo envolvido nos projetos. Mulheres, crianças e jovens, refugiados e ex-combatentes são os grupos vulneráveis mais numerosos. São ao mesmo tempo alvos e agentes dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, visto que se desarmam e também perpetuam a cultura pela paz junto aos demais membros da comunidade, sendo fundamentais para a que o desarmamento e a não-proliferação sejam efetivos e duradouros.

Em vista da fragilidade das instituições governamentais nos países recém saídos de um conflito, iniciativas internas para a promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação são dificultadas, bem como a cooperação com outros atores, nacionais ou internacionais, a despeito de sua importância para a implementação efetiva dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação.

As ações de atores externos também se mostram fundamentais, à medida que podem facilitar a promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação por meio de apoio institucional ou financeiro, de modo a auxiliar o processo de estabilização dos países que vivem a situação de pós-conflito. Assim como os Estados, as organizações internacionais, as organizações não-governamentais e a sociedade civil têm um papel relevante a desempenhar, no sentido de facilitar e auxiliar a promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação na situação de pós-conflito no continente africano.

Apesar do aparente consenso acerca da importância da educação para o desarmamento e não-proliferação, as ações empreendidas para a efetivação de projetos no sentido de promover a educação para o desarmamento e não-proliferação ainda são pouco numerosas e recebem pouca atenção dos Estados de maneira geral, tanto por parte dos Estados afetados pela situação de pós-conflito quanto pelos demais Estados.

Os desafios postos para a adoção da educação para o desarmamento e não-proliferação são numerosos e demandam atenção especial da comunidade internacional. A implementação da educação para o desarmamento e não-proliferação se mostra, contudo, uma ferramenta fundamental para a construção de uma paz sustentável e duradoura.

Posicionamento de Blocos A importância da educação para o desarmamento e não-proliferação é

reconhecida pela grande maioria dos países, que identificam nela uma ferramenta importante para a construção da paz e para a criação de um mundo menos ameaçado

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pelos conflitos armados.68 As resoluções sobre o tema normalmente são adotadas por consenso, o que indica a inclinação dos países a concordar com a importância da educação para o desarmamento e não-proliferação. Contudo, como visto anteriormente, o tema ainda é problemático, em especial nas situações de pós-conflito, em decorrência da inabilidade e falta de vontade política dos Estados em conduzir os projetos, e também em decorrência das péssimas condições estruturais características dos países africanos em situação de pós-conflito. As dificuldades de cooperação entre os atores também dificultam o processo de implementação da educação para desarmamento em situação de pós-conflito no continente africano.

O financiamento de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação é custoso, e os resultados são mais bem vistos no longo prazo. Esses elementos constituem pontos de desestímulo à participação de países e à cooperação para a implementação de projetos nesse sentido.

O continente africano, tema central deste artigo, tem interesses centrais nos debates sobre educação para o desarmamento e não-proliferação. Após o insucesso das tentativas de integração por meio da cooperação econômica, ganhou força nas relações internacionais da África as vias da política e da segurança69. Esta mudança de foco nas relações entre os países africanos deve-se à importância que as elites dos países africanos passaram a dar às questões de segurança e política como forma de estabilização de suas nações. Iniciativas como a União Africana surgem como instrumentos para se consolidar este processo através da ação dos próprios Estados africanos, buscando a autonomia em relação aos demais Estados do globo.

Desta forma, o continente africano, em especial os países que estão em situação de pós-conflito, buscam na esfera de órgãos multilaterais como a Comissão para Desarmamento e Segurança Internacional (CDSI), maneiras de obter apoio das nações desenvolvidas com o objetivo de consolidar a estabilização destas regiões. Os países do continente enxergam na educação para o desarmamento e não-proliferação uma ferramenta muito importante nesse sentido. Todavia, dentro da perspectiva dessa nova postura africana, os países do continente reivindicarão o auxílio das demais nações, não mais apenas por meio do apoio e manutenção de tropas das Nações Unidas em território que ainda esteja em processo de estabilização, mas também com equipamentos, investimentos e treinamentos, além de buscarem o estabelecimento da cooperação em diversas áreas entre o continente e os demais países. Esse auxílio fomentaria outros projetos que pudessem consolidar a construção da paz em áreas não militares, como a educação para o desarmamento e não-proliferação.

Os países africanos, de maneira geral, entendem o programa de educação para o desarmamento e não-proliferação como de fundamental relevância para se obter uma consolidação da estabilização das regiões pós-conflito, especialmente em uma perspectiva de longo prazo. Neste sentido, o programa de educação tem sua importância tanto inserindo grupos vulneráveis e comumente excluídos, como ex-combatentes, mulheres, refugiados e jovens na sociedade e nos processos de formulação das políticas publicas, quanto evitando futuros conflitos, através da

68

A/57/124, p 14. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N02/456/87/PDF/N0245687.pdf?OpenElement 69

MOURÃO, F. A. A.; CARDOSO, J. C.; OLIVEIRA, H. A.; “As relações Brasil-África: de 1990 a 2005” Em: OLIVEIRA, Henrique & LESSA, Antonio C. (orgs), Relações Internacionais do Brasil: temas e agendas. São Paulo: Editora Saraiva, 2006. p. 216.

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conscientização da sociedade sobre os males que a posse ou o uso de armas proporcionam.

Portanto, os países africanos buscam dentro do CDSI auxílio à promoção deste programa junto aos demais países membros da ONU, em especial aos países que possuam desenvolvimento tecnológico e capacidade financeira suficientes para efetivar e consolidar esta implementação. As nações africanas também requerem a transferência das técnicas e metodologias do programa de educação para o desarmamento para os países que o necessitem, fazendo com que, em longo prazo, não haja a necessidade de dependência tecnológica ou metodológica com relação aos países desenvolvidos, criando um programa nacional, autônomo e sustentável de educação para o desarmamento e não-proliferação dentro do continente.

Na América Latina destacam-se, por suas relações com a África, a Argentina, o México e o Brasil.70 O México promoveu, em 2007, a “Feria de Cooperación Técnica y Científica México – África”, em que é visível a promoção de um intercâmbio tecnológico e científico entre a nação mexicana e o continente africano71.

Pode-se observar que a América Latina, e especialmente os países acima tratados, vem tendo uma aproximação com o continente africano, principalmente no âmbito econômico e tecnológico. No âmbito da cooperação sul-sul, os países latino-americanos, de maneira geral, apóiam a transferência de tecnologia e conhecimento para os países africanos como forma de cooperação, visando o desenvolvimento deste continente e buscando a estabilização da região, por meio da construção da paz. Documentos assinados entre a União Africana e países da América do Sul explicitam a necessidade de cooperação em diversas áreas, incluindo a educação.72 Um modo de realizar essa transferência seria o programa de educação para o desarmamento, iniciativa central em nossa discussão. Destarte, a América Latina buscará apoiar as necessidades e demandas dos países africanos em órgãos multilaterais como a CDSI, visando uma maior cooperação, em que se estreitam os laços entre as nações do Sul do globo, atualmente países em desenvolvimento.

Neste sentido o Brasil, juntamente com Nova Zelândia, África do Sul, Suécia, México, Egito e Irlanda constituiu o “Grupo da Nova Agenda”. Esse grupo, desde 1998, atua de forma intensa, sempre salientando que todos os países do hemisfério Sul não possuem armas nucleares e buscando o desarmamento. Dentro desta nova agenda de segurança, estes países dão importância ao aumento dos programas públicos de educação para o desarmamento e não-proliferação e defendem a cooperação entre países.73 Em relação à União Européia, suas parcerias estratégicas com o continente africano permitem uma relação amistosa e de ajuda com o continente, muito embora, como ator estratégico, a União Européia ainda possua baixo grau de cooperação com o continente africano no que se refere à educação para o desarmamento e não-proliferação.

70

ALVAREZ, Gladys Lechini. A política exterior Argentina para África no marco referencial da política africana do Brasil: o caso da África do Sul na década de 1990. 2003. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 71

Veja: http://dgctc.sre.gob.mx/feria_microsite/index.html 72

DECLARATION OF THE FIRST AFRICA-SOUTH AMERICA SUMMIT. Disponível em: http://www.africa-union.org/root/AU/Conferences/Past/2006/November/SummitASA/doc/en/DECLARATION.doc 73

Veja: http://www.mfat.govt.nz/Foreign-Relations/1-Global-Issues/Disarmament/0--Nuclear/0-nptgovtreport2.php

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Como bloco, ações conjuntas entre União Européia e governos locais foram empreendidas, com realização de projetos que visavam à promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação e cujos objetivos foram atingidos.74 Ações relativas a estudos e ações sobre desarmamento são realizadas na Suécia, que abriga centros de estudos sobre desarmamento, tendo bastante importância em sua promoção.75 Projetos de cooperação entre Estado e universidades também são encontrados na Itália, que tem uma série de projetos que visam informar e difundir informações acerca da importância do desarmamento. A Espanha também se destaca neste sentido, realizando campanhas e ministrando cursos, junto às forças armadas, que informam sobre a importância da educação para o desarmamento e não-proliferação. A Holanda, por sua vez, oferece bolsas de estudos para pesquisadores cuja área de estudos seja educação para o desarmamento e não-proliferação.76

Essas iniciativas estão, contudo, ainda muito restritas ao continente europeu, além de pouco numerosas, e operações que indicam cooperação entre esse bloco e países africanos ainda são poucas. Assim como a Europa, outros países desenvolvidos são acusados de concentrar os programas em seus países, sem trocar informações ou cooperar para o desenvolvimento de programas de educação para o desarmamento em outros países.

Na Ásia, o Japão merece grande destaque. O país é um dos principais atores na busca pela implementação efetiva de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação. Neste sentido, possui uma série de iniciativas para a promoção de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, além de possuir inúmeros projetos refletem a importância dada pelo país a esse tipo de iniciativa.77 O país é atuante nos foros multilaterais de desarmamento, buscando sempre salientar a importância da educação para o desarmamento e não-proliferação e incentivando, em seus discursos, a adoção por todos os países das resoluções da ONU elaboradas sobre o tema. O Japão é ainda grande incentivador da adoção das medidas apontadas pelo Estudo das Nações Unidas sobre Educação para o desarmamento e não-proliferação (A/57/124), que define as principais diretrizes da educação o para desarmamento e não-proliferação.78 Esse estudo contou com a participação de pesquisadores de dez países diferentes, sendo eles Egito, Hungria, Índia, Japão, México, Nova Zelândia, Peru, Polônia, Senegal e Suécia. Muitos autores afirmam que a participação desses países na formulação do estudo os tornou mais ativos e mais interessados na consolidação de projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação tanto internamente quanto fora dos países.79 Várias iniciativas foram realizadas em países que vivem em situação de pós-conflito no continente asiático, mas a integração desse tipo de ação com ações no

74

A/63/158. Disponível em: http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N08/433/92/PDF/N0843392.pdf?OpenElement 75

Ver: http://www.sipri.org/ 76

A/63/158. Disponível em: http://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A%2F63%2F158&Submit=Search&Lang=E 77

NPT/CONF.2010/PC.I/WP.3. Disponível em: http://www.reachingcriticalwill.org/legal/npt/prepcom07/workingpapers/japaneducation.pdf 78

Veja: http://www.reachingcriticalwill.org/political/dised/disedindex.html#1com 79

HAAVELSRUD, Magnus. Disarmament Education. Disponível em: http://disarmament.un.org/education/docs/target.pdf

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continente africano ainda é reduzida. A troca de informações e a cooperação em relação à educação para o desarmamento e não-proliferação ainda é restrita, e não há grandes destaques nesse sentido.

Ainda na Ásia, países que possuem relações estreitas com alguns países africanos, como a China, não têm atuação destacada no que se refere à educação para o desarmamento e não-proliferação. Críticas e acusações ao país no sentido de que a China não teria interesse nos projetos em decorrência do grande fluxo de armas que envia ao continente são freqüentes. Essas críticas também são estendidas aos grandes produtores e exportadores de armamentos, como Estados Unidos, Rússia e países da União Européia, e são feitas especialmente por ONGs que atuam na África.80

Na Oceania, por sua vez, projetos como o empreendido pela Nova Zelândia nas Ilhas Solomon ou em Bougainville, que focam na educação para construção da paz em situação de pós-conflito, são bem sucedidos e apresentam resultados positivos.81 O intercâmbio de informações ou a extensão desses projetos ao continente africano não é, contudo, comum, assim como ocorre na Ásia.

Os Estados Unidos também têm papel relevante na promoção da educação para o desarmamento e não-proliferação no continente africano. Apesar das ações tímidas dos Estados Unidos neste quesito, as relações entre o país e o continente africano são intensas, e incluem ajuda de várias formas ao continente. O auxilio financeiro, bem como a forte presença no continente por meio das operações de paz das Nações Unidas, tornam os Estados Unidos um dos mais importantes e estratégicos parceiros da África no século XXI. A agência USAID (United States Agency for International Development) é um exemplo de organização norte-americana que promove parcerias para o desenvolvimento, sendo destacados os projetos com o continente africano.82

A ajuda oferecida aos países africanos não é, contudo suficiente nem atinge todo o seu potencial. As maiores críticas feitas em relação aos Estados Unidos se referem ao pouco comprometimento do governo norte-americano com os projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação. Neste sentido, como anteriormente indicado, grupos da sociedade civil têm atuado de modo a pressionar o governo em direção inversa.83

Questões que uma Resolução deve responder

Como foi discutido, a situação de pós-conflito apresenta inúmeras dificuldades

específicas para a elaboração e implementação de programas de educação para o

80 Veja: http://www.pambazuka.org/en/category/features/32432 ;

http://www.nationmaster.com/graph/mil_con_arm_exp-military-conventional-arms-exports; HILTERMANN, Joost. Stemming the Flow of Arms into Africa: How African NGOs can Make a Difference. Disponível em:http://archive.lib.msu.edu/DMC/African%20Journals/pdfs/political%20science/volume3n1/ajps003001009.pdf 81

Veja: http://www.mfat.govt.nz/Foreign-Relations/1-Global-Issues/Disarmament/0--Nuclear/0-nptgovtreport2.php 82

USAID Africa. Disponível em: http://www.usaid.gov/locations/sub-saharan_africa/ 83

Veja: http://cns.miis.edu/stories/021007.htm

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desarmamento e não proliferação. Cabe à Comissão responder, em relação às situações de pós-conflito, quis metas devem ser estabelecidas para que projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação possam ser desenvolvidos adequadamente, contribuindo para que a construção da paz nesses países seja realizada de forma mais rápida e eficaz.84

Dentre as dificuldades apontadas, encontram-se questões técnicas, financeiras, políticas e sociais, muitas das quais dependem sobretudo do empenho político dos Estados diretamente implicados e da comunidade internacional como um todo. Um dos problemas fundamentais, como visto, está relacionado ao planejamento de longo prazo dos programas de educação. Para que se possa ter uma continuidade desses projetos é preciso contar com um financiamento também de longo prazo. No entanto, como abordado anteriormente, nas situações de pós-conflito tem-se freqüentemente um influxo de capital para a assistência humanitária imediata, ou seja, uma entrada de capital de curta duração. É necessário, então, buscar maneiras de garantir o financiamento dos projetos de educação para o desarmamento no longo prazo.

Por outro lado, além do financiamento, o planejamento dos programas também tem que levar em consideração essa necessidade de continuidade. Para tanto, é preciso responder a como engajar os Estados na condução de políticas permanentes de educação para o desarmamento e também a como evidenciar os resultados desses programas de modo que a relevância dessas políticas se torne mais clara, favorecendo sua continuidade. Neste sentido, a questão de como avaliar a educação para o desarmamento e não-proliferação nos níveis primários, secundários, universitários e de pós-graduação, em todas as partes do globo, se faz muito importante, já que é um meio eficaz de se verificar os resultados dos trabalhos realizados, bem como de facilitar a troca de informação entre Estados.

Além dessas questões, há diversos aspectos técnicos a serem considerados. Que maneiras poderiam ser utilizadas para promover a educação para o desarmamento e não-proliferação, visando à promoção também da paz e da não-violência, em todos os níveis de educação formal e informal, tendo em mente a formação de educadores, parlamentares, líderes municipais, militares e funcionários governamentais? Neste sentido, existem vários empecilhos. Um deles é a falta de capacitação dos professores ou instrutores, encarregados da educação para o desarmamento. Para que os projetos sejam implementados em larga escala é necessário pessoal capacitado para treinar educadores e outras pessoas encarregadas de difundir a informação. Outro empecilho é o acesso à tecnologia, que levanta a questão de como garantir o uso amplo de métodos pedagógicos, aproveitando os avanços tecnológicos recentes, para aumentar a eficácia dos projetos de educação para o desarmamento e não-proliferação, dadas as dificuldades da situação de pós-conflito.

Deve-se avaliar que parcerias são necessárias ao Estado para solucionar esses problemas técnicos. Qual o papel que os outros Estados, as organizações internacionais e as organizações da sociedade civil podem ter na solução dessa questão? E ainda, é preciso saber como atrair os cidadãos nacionais com grau mais elevado de instrução de volta ao país no pós-conflito e implicá-los nos programas educacionais.

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Existem ainda diversas questões relacionadas à participação dos grupos vulneráveis nos programas de educação para o desarmamento. É necessário traçar estratégias para incluir as mulheres em seu papel de primeiras educadoras nos programas de educação para o desarmamento, e também nos processos de elaboração desses programas e em outros aspectos de sua implementação. Mais uma vez pode-se perguntar que papéis podem ter as organizações da sociedade civil. Elas podem realizar ações pela igualdade de gênero, especialmente no sentido de contribuir para a elaboração de programas de educação que incluam a mulher em sua elaboração e implementação. Contudo, em países em que as mulheres são tradicionalmente excluídas dos processos decisórios, essa questão é complicada, e ações neste sentido ainda são pouco numerosas. Em relação aos refugiados e deslocados internos, devem-se encontrar maneiras de abrangê-los no público alvo dos projetos de educação, considerando-se que eles estão freqüentemente excluídos do sistema formal de educação. Dos 27 milhões de crianças e jovens afetados por conflitos que não têm acesso à educação, 90% são deslocados internos85. Por outro lado, deve-se buscar maneiras de valorizar e incluir os educadores refugiados, que pela sua experiência podem contribuir de maneira fundamental para a educação para o desarmamento dentro e fora dos campos de refugiados86.

Em relação à educação de crianças e jovens para o desarmamento, um dos modos mais simples de fazê-la é por meio do sistema educacional regular. Esses sistemas dificilmente deixam de funcionar completamente, mesmo durante os conflitos. Mas sua recuperação exige grandes investimentos e o envolvimento da sociedade como um todo. Nesse sentido, é necessário buscar formas de envolver sociedade civil e governo no apoio à educação e incentivar o Estado a investir em educação.

Muitas são as dificuldades envolvidas na implementação de programas de educação para o desarmamento, mas as tentativas de responder a essas e outras perguntas são um passo necessário para a superação dessas dificuldades.

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