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PREPARAR O EXAME NACIONAL Elevado número de textos analisados e atividades para a Oralidade, a Leitura, a Escrita e a Educação Literária, o que permite ao aluno um treino em quantidade adequada. Educação Literária - (textos analisados em 108 fichas) Bernardo Soares – teoria pp. 200-201 + prática pp. 202-210 Escrita Prática: p. 319 (apreciação crítica), Leitura Prática: pp. 316-317

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

Elevado número de textos analisados e atividades para a Oralidade, a Leitura, a Escrita e a Educação Literária, o que permite ao aluno um treino em quantidade adequada.

Educação Literária - (textos analisados em 108 fichas)

Bernardo Soares – teoria pp. 200-201 + prática pp. 202-210

Escrita

Prática:

p. 319 (apreciação crítica),

Leitura

Prática:

pp. 316-317

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

BERNARDO SOARES, LIVRO DO DESASSOSSEGO

CONTEXTUALIZAÇÃO

Bernardo Soares olhado por Richard Zenith1:• O primeiro nome deste «semi-heterónimo» era «Vicente

Guedes», mas foi alterado para «Bernardo Soares» em 1929, «ajudante de guarda-livros», que vive num 4.º andar da Rua dos Retroseiros, 17 – Lisboa.

• Bernardo Soares é um «semi-heterónimo»: é um desmem-bramento, um derivado do próprio Fernando Pessoa.

• O Livro do Desassossego é um conjunto de «fragmentos» unidos por uma mesma investigação, reflexão e caracte-rização da sensação, do pensamento, da consciência e inconsciência, da realidade e do sonho, enfim, de toda a humanidade, existência absoluta do ser humano.

• Bernardo Soares apresenta o ser humano no seu todo e nas suas partes: ser físico (criança, adulto, velho, morto), ser intelectual (pensador e sonhador), ser espiritual (alma), e todo o livro é o conjunto dessas partes ou fragmentos.

• O livro assenta na tese: «pode um homem, psicológica e espiritualmente, viver de um modo completamente autossuficiente, sem precisar de mais ninguém?». Esse homem deve «depender unicamente da sua imaginação e da sua arte literária para entreter os dias na estala-gem ou no interlúdio que é a nossa vida na Terra.» – vida física, vida sonhada e vida absoluta.

• O título inclui a ideia de «desassossego», pois é essa a natureza deste «semi-heterónimo»: sempre insatisfeito com a realidade física e social e querendo bastar-se a si mesmo, afastando-se do convívio com os outros e vivendo apenas com figuras e cenários fruto da sua imaginação e não da realidade. Tudo isto lhe causa, por-tanto, perturbação e sofrimento.

TÓPICOS DE ANÁLISE NO LIVRO DO DESASSOSSEGO

O im

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ário

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bano

Bernardo Soares olha para a realidade lisboeta e para as pessoas, sonhando a partir dela ou imaginando o seu passado povoado de entidades e referentes típicos da cidade.

O q

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dian

o

Todas as pessoas e coisas que vê, todas as reflexões que faz e pedaços de visões que imagina existem porque Soares contacta com elas no dia a dia da sociedade lisboeta dos princípios do século XX.

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ac

iden

tal Soares circula, a pé ou de transportes públicos, pela cidade de Lisboa e embrenha-se a sonhar

a partir do que observa acidentalmente, pontualmente, especificamente, ou seja, por acaso e à medida que se desloca.

1 Todas as citações seguem a edição Bernardo Soares, Livro do Desassossego (ed. de Ricardo Zénith), Lisboa, Assírio & Alvim, 2015.

Júlio Pomar, Fernando Pessoa, Desenho para a Estação de Metro Alto dos Moinhos,

Lisboa, 1983-84

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PORTUGUÊS 12.o ANO

201

TEORIAPe

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étic

a do

real Tal como Cesário Verde fazia [por exemplo, em «Num bairro moderno»], assim também Ber-

nardo Soares olha para as pessoas e objetos e transforma-os com o seu olhar em pedaços de outras entidades. Assim, o visível decompõe-se em entidades imaginadas pelo autor.

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Dada a natureza fragmentária da obra, pois os excertos vão tratando de assuntos vários, resul-tado das reflexões e transfigurações da realidade feitas por Bernardo Soares, podemos verifi-car os seguintes recursos expressivos:

– Paradoxo, comparação, metáfora: «Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sen-tir-me coevo de Cesário Verde (…). Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. (…) Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfân-dega, salvo elas serem ruas e eu ser alma (…).» (Fragmento «Amo, pelas tardes demoradas de verão»);

– Metáfora, anáfora, gradação: «Toda a vida é um sono. Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que sabe.» (Fragmento «Quando outra virtude não haja em mim»);

– Hipérbole: «Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida.» (Fragmento «Eu nunca vi senão sonhar.»);

– Fragmentação conseguida por meio de comparação, enumeração, metáfora: «e alinho na minha imaginação, confortavelmente, como quem no inverno se aquece a uma lareira, figu-ras que habitam, e são constantes e vivas, na minha vida interior. Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas. (Fragmento «Eu nunca vi senão sonhar.»);

– Hipérbole: «Tudo é absurdo. (…) Vivi a vida inteira.» (Fragmento «Tudo é absurdo.»);

– Antítese, uso expressivo do advérbio: «Um lê para saber, inutilmente. Outro goza para viver, inutilmente.» (Fragmento «Tudo é absurdo.»);

– Quotidiano, deambulação e sonho – observador acidental, perceção e transfiguração do real, fragmentação conseguidos através de enumeração, metáfora e pormenor descritivo, visua-lismo: «Para mim os pormenores são coisas, vozes, frases. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho com que o fizeram (…) e o bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retrós de seda, com que se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar.» (Fragmento «Tudo é absurdo.»);

– Quotidiano, imaginário urbano, perceção e transfiguração do real, introspeção e consequente exaustão e desequilíbrio inte-rior conseguidos através de enumeração, gradação, hipér-bole: «Entonteço. Os bancos de elétrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam--me a regiões distantes, mul-tiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo. Saio do carro exausto e sonâmbulo.» (Fragmento «Tudo é absurdo.»).

Abel Manta, Tejo, 1954

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F ICHA 74Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Deambulação e sonho: o observador acidental• O imaginário urbano

Leia atentamente o seguinte fragmento e responda às questões.

Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos – tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual, porque é abstrato, para os homens e para as coisas – uma designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.

Mas há mais alguma coisa… Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus pró-prios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o elétrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador noturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!

Passam casais futuros, passam os pares das costureiras, passam rapazes com pressa de pra-zer, fumam no seu passeio de sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em pouco os vadios parados que são donos das lojas. Lentos, fortes e fracos, os recrutas sonambulizam em molhos ora muito ruidosos ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os automóveis ali a esta hora não são muito frequentes; esses são musi-cais. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.

Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio ao meu destino, alheio, até, ao destino próprio – inconsciência, círculos de superfície quando o acaso deita pedras, ecos de vozes incógnitas – a salada coletiva da vida.

Bernardo Soares, op.cit., pp. 41-42

1. Identifique o assunto deste fragmento, justificando a sua resposta.

2. Retire do fragmento um exemplo que evidencie a deambulação do sujeito.

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PRÁTICA

3. Esclareça de que modo a hipálage presente em «ruas tristes» está ao serviço da caracte-rização do estado de espírito de Bernardo Soares.

4. Evidencie a relação que Bernardo Soares estabelece entre si e Cesário Verde, justificando a sua resposta com elementos textuais.

5. Explique o sentido da frase «Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu.» (linhas 10-11).

6. Explique, por palavras suas, a relação que Bernardo Soares estabelece entre si e «as ruas para o lado da Alfândega» (linha 11).

7. Prove que, entre as linhas 17 e 21, testemunhamos um exemplo de imaginário urbano, construído a partir da dicotomia realidade/sonho.

8. Entre as linhas 22 e 27, podemos ver em Bernardo Soares a sua faceta de observador aci-dental. Justifique esta afirmação.

9. Esclareça a crítica que o sujeito da enunciação faz a partir da menção aos «recrutas» (linhas 24-25), justificando a sua resposta com elementos textuais.

10. Prove que o último parágrafo justifica a natureza fragmentária de Bernardo Soares e da sua obra.

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F ICHA 75Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Deambulação e sonho: o observador acidental• Perceção e transfiguração poética do real

Leia atentamente o seguinte fragmento e responda às questões.

Quando outra virtude não haja em mim, há pelo menos a da perpétua novidade da sensação liberta.

Descendo hoje a Rua Nova do Almada, reparei de repente nas costas do homem que a descia adiante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, no ritmo de andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva na mão direita.

Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem. Senti nele a ter-nura que se sente pela comum vulgaridade humana, pelo banal quotidiano do chefe de família que vai para o trabalho, pelo lar humilde e alegre dele, pelas pequenas alegrias e tristezas de que forçosamente se compõe a sua vida, pela inocência de viver sem ana-lisar, pela naturalidade animal daquelas costas vestidas.

Desvio os olhos das costas do meu adiantado e, passando-os a todos mais, quantos vão andando nesta rua, a todos abarco nitidamente na mesma ternura absurda e fria que me veio dos ombros do inconsciente a quem sigo. Tudo isto é o mesmo que ele; todas estas raparigas que falam para o atelier, estes empregados jovens que riem para o escritório, estas criadas de seios que regressam das compras pesadas, estes moços dos primeiros fretes – tudo isto é uma mesma inconsciência diversificada por caras e corpos que se distinguem, como fantoches movidos pelas cordas que vão dar aos mesmos dedos da mão de quem é invisível. Passam com todas as atitudes com que se define a consciência, e não têm cons-ciência de nada, porque não têm consciência de ter consciência. Uns inteligentes, outros estúpidos, são todos igualmente estúpidos. Uns velhos, outros jovens, são da mesma idade. Uns homens, outros mulheres, são do mesmo sexo que não existe.

Volvi os olhos para as costas do homem, janela por onde vi estes pensamentos.A sensação era exatamente idêntica àquela que nos assalta perante alguém que dorme.

Tudo o que dorme é criança de novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais fechado egoísta, é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma criança não conheço diferença que se sinta.

Ora as costas deste homem dormem. Todo ele, que caminha adiante de mim com passada igual à minha, dorme. Vai inconsciente. Vive inconsciente. Dorme, porque todos dormimos. Toda a vida é um sono. Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que sabe. Dormimos a vida, eternas crianças do Destino. Por isso sinto, se penso com esta sensação, uma ternura informe e imensa por toda a humanida-de infantil, por toda a vida social dormente, por todos, por tudo.

É um humanitarismo direto, sem conclusões nem propósitos, o que me assalta neste momento. Sofro uma ternura como se um deus visse. Vejo-os a todos através de uma compaixão de único consciente, os pobres diabos homens, o pobre diabo humanidade. O que está tudo isto a fazer aqui?

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PRÁTICA

Todos os movimentos e intenções da vida, desde a simples vida dos pulmões até à construção de cidades e a fronteiração de impérios, considero-os como uma sonolência, coisas como sonhos ou repousos, passadas involuntariamente no intervalo entre uma realidade e outra realidade, entre um dia e outro dia do Absoluto. E, como alguém abstratamente materno, debruço-me de noite sobre os filhos maus como sobre os bons, comuns no sono em que são meus. Enterneço-me com uma largueza de coisa infinita.

Bernardo Soares, op.cit., pp. 91-93

1. Esclareça o assunto deste fragmento.

2. Explique o sentido da primeira frase do fragmento.

3. Transcreva um exemplo textual que confirme a deambulação do sujeito da enunciação e a sua atitude de observador acidental.

4. Identifique um exemplo textual de imaginário urbano.

5. Identifique no fragmento uma sequência que integre a perceção e transfiguração do real.

6. Após a sequência «Toda a vida é um sono» (linha 32), Bernardo Soares justifica-o. Expli-que, por palavras suas, essa justificação, e comente a crítica social nela implícita.

7. Refira em quantas realidades é que Bernardo Soares divide a existência, justificando a sua resposta.

8. Explicite o conteúdo das duas últimas frases do fragmento.

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F ICHA 76Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Deambulação e sonho: o observador acidental• O imaginário urbano

Leia atentamente o seguinte excerto do fragmento e responda às questões.

Tudo é absurdo. Este empenha a vida em ganhar dinheiro que guarda, e nem tem filhos a quem o deixe nem esperança que um céu lhe reserve uma transcendência desse dinheiro. Aquele empenha o esforço em ganhar fama, para depois de morto, e não crê naquela sobrevivência que lhe dê o conhecimento da fama. Esse outro gasta-se na pro-cura de coisas de que realmente não gosta. (…)

Um lê para saber, inutilmente. Outro goza para viver, inutilmente. (…) Vou num carro elétrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu costume,

em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, vozes, frases. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente decompo-nho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho com que o fizeram – pois que o vejo vestido e não estofo – e o bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retrós da seda, com que se o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro primário de economia política, desdobram--se diante de mim as fábricas e os trabalhos – a fábrica onde se fez o tecido; a fábrica onde se fez o retrós, de um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas retorcidas o seu lugar junto ao pescoço; e vejo as secções das fábricas, as máquinas, os operários, as costureiras, meus olhos virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os gerentes procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo; mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos que vivem a sua vida social nessas fábricas e nesses escritórios… Toda a vida social jaz a meus olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem não sei que cara, um orlar irre-gular regular verde-escuro sobre um verde-claro de vestido.

Para além disto pressinto os amores, as secrecias, a alma, de todos quantos traba-lharam para que esta mulher que está diante de mim no elétrico use, em torno do seu pescoço mortal, a banalidade sinuosa de um retrós de seda verde-escura fazendo inuti-lidades pela orla de uma fazenda verde menos escura.

Entonteço. Os bancos de elétrico, de um entretecido de palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam-se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, realidades, tudo.

Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira.

Bernardo Soares, op.cit., pp. 253-254

1. Identifique o assunto deste fragmento.

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PRÁTICA

2. Comente a opinião do sujeito da enunciação sobre «Este» (linha 1), «Aquele» (linha 3) e «Esse outro» (linha 4), justificando a sua resposta.

3. Transcreva uma sequência textual que confirma Bernardo Soares como observador aci-dental, enquanto deambula.

4. Identifique a personagem a partir da qual Bernardo Soares vai dar continuidade à sua observação e reflexão, justificando a sua resposta com elementos textuais.

5. Mostre como o conteúdo das linhas 9 a 22 dá vida ao imaginário urbano.

6. Explicite o conteúdo dos dois últimos parágrafos, comentando a dicotomia realidade/ sonho.

7. Prove, socorrendo-se das suas próprias palavras, que a primeira frase do texto, «Tudo é absur-do.», assume o papel de introdução, e a última, «Vivi a vida inteira.», é a respetiva conclusão.

8. Esclareça o sentido da frase «Para mim os pormenores são coisas, vozes, frases.» (linhas 8-9).

9. Selecione os vocábulos que estão ao serviço da modernidade neste fragmento.

10. Caracterize a posição de Soares relativamente à sociedade e ao mundo, bem como essa sociedade e esse mundo, a partir da sequência «Toda a vida social jaz a meus olhos» (linha 20).

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F ICHA 77Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Verificação de leitura – Fragmento «Eu nunca fiz senão sonhar»

1. Leia atentamente as seguintes afirmações e classifique-as como V (Verdadeira) ou F (Falsa), corrigindo as falsas.

a) Bernardo Soares nada mais fez na vida do que sonhar e preocupar-se com a sua «vida interior».

b) O seu único objetivo era ser operador fabril, na secção naval.

c) As suas maiores dores são as vividas e não as sonhadas.

d) «Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser» integra uma hipálage.

e) Bernardo Soares detestava as suas «paisagens interiores» e as suas «paisagens sonhadas».

f) Aquilo que ele «alinha na imaginação» é um conjunto de «figuras» e «amigos» ape-nas sonhados por ele.

g) A sequência «Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas.» é uma referência velada (indireta) à heteronímia.

h) Dentro de si, há todo um Portugal, preenchido de «aldeias», «vilas», «países», «arquipélagos».

i) A nostalgia da infância é mais dolorosa do que a nostalgia daquilo que nunca acon-teceu na realidade.

j) Bernardo Soares também tem memórias do que foi real na sua infância, tais como «quadros» e «oleogravuras».

k) No dia em que escreve este fragmento é sábado.

l) Bernardo Soares escreve para obedecer impreterivelmente à «alma», mas gostava de se exprimir não pela palavra, mas pela escultura.

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PRÁTICA

Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Verificação de leitura – Fragmento «Releio passivamente,

recebo o que sinto»F ICHA 78

1. Leia atentamente as seguintes afirmações e classifique-as como V (Verdadeira) ou F (Falsa), corrigindo as falsas.

a) Neste fragmento, Bernardo Soares traz à memória uns versos de Alberto Caeiro.

b) Bernardo Soares recorda-os porque os vê escritos numa vitrine.

c) Alberto Caeiro vê o mundo a partir da sua cidade e, por isso, a cidade é mais bela do que a aldeia.

d) A frase que mais se adensa na sua memória é «Sou do tamanho do que sinto!».

e) As «emoções profundas» são em Alberto Caeiro o reflexo do «Sol».

f) Bernardo Soares refere-se ao «luar», caracterizando-o como uma excelente influência para si.

g) A simplicidade do pensamento de Alberto Caeiro «limpa» Soares das suas preocu-pações metafísicas.

h) Depois da sua leitura, Bernardo Soares vai ao quintal e grita frases de uma «selva-jaria ignorada».

i) A sequência «E a frase fica-me sendo a alma inteira» inclui uma comparação e uma metáfora.

j) A mesma frase de Alberto Caeiro «caia» (pinta com cal) de paz o luar ao amanhecer.

k) Este fragmento inclui exemplos de deambulação pela memória e pelo sonho.

l) Este fragmento prova que a obra tem uma natureza fragmentada, mas obedece a uma mesma tendência para reflexões sobre a realidade.

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Livro do Desassossego, Bernardo Soares• Verificação de leitura – Fragmento «O único viajante com verdadeira alma

que conheci era um garoto»F ICHA 79

1. Leia atentamente as seguintes afirmações e classifique-as como V (Verdadeira) ou F (Falsa), corrigindo as falsas.

a) A figura central deste fragmento é um «garoto de escritório».

b) Bernardo Soares considerava-o um verdadeiro viajante.

c) O «rapazito» colecionava folhetos políticos.

d) O mesmo rapaz possuía mapas com gravuras de guerras e lutas navais.

e) Os países sobre os quais tinha muita informação eram Portugal, Itália, Índia e Aus-trália.

f) A Bernardo Soares, este «garoto» parecia-lhe «uma das pessoas mais felizes» que conhecia.

g) Cerca de dez anos passaram desde que Bernardo Soares o viu pela última vez.

h) Assola-o agora, não a sensação de pena por não saber «o que é feito dele», mas uma suposição de que deveria ter pena.

i) Este fragmento surte efeitos de crítica social, simbolizada no garoto agora adulto.

j) A sequência «É até capaz de ter viajado com o corpo, ele que tão bem viajava com a alma.» implica que as viagens desta figura da memória de Bernardo Soares eram imaginárias.

k) Bernardo Soares considera que as viagens feitas pela imaginação eram as piores.

l) A sequência «diferença hedionda entre a inteligência das crianças e a estupidez dos adultos» inclui um eufemismo.

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PRÁTICA

«Memorial do Convento», José Saramago• Caracterização de personagens e relação entre elas • Visão crítica

• Dimensão simbólica • Linguagem e estilo

FICHA 113 Escrita – Apreciação crítica

Escolha um filme do seu agrado e redija uma apreciação crítica (entre 200 e 300 palavras).

DICAS• Faça um esboço/plano que inclua a informação mais importante de

que se lembrar sobre o filme.

• Organize essa informação numa sequência que irá seguir, quando estiver a escrever.

• Pense e escreva dados pormenorizados sobre enredo, personagens, local onde viu o filme, com quem o viu, que explorará no Desenvol-vimento.

• Se precisar, faça uma pesquisa sobre o filme e retire a informação que lhe interessa.

• Pense em conectores discursivos e escreva-os no esboço.

• Use recursos expressivos.

• Não use calão, nem teça comentários ofensivos.

Recorra a um Título objetivo/sugestivo do tema.

Comece pela Introdução (apresentação do filme/contextualização e esclarecimento quanto à sua posição pessoal sobre ele).

Use linguagem corrente e clara e recursos expressivos. Use a 1.ª/3.ª pessoa.

No Desenvolvimento inclua: descrição detalhada do enredo, das personagens, do local onde o viu, da(s) pessoa(s) que o acompanhou/aram. Não revele o final.

Use mecanismos de coesão (conectores frásicos e interfrásicos, referenciais e tempos verbais correlativos).

Deve dedicar a parte final do texto à Conclusão (retoma do tema e reiteração da apreciação pessoal).

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FICHA 111 Leitura

Leia o texto [sobre o tema Caeiro].

Há dois Caeiros, o poeta e o pensador, sendo o primeiro que em teoria se desdobra no segundo. Os motivos fundamentais do poeta consistem na variedade inumerável da Natureza, nos estados de semiconsciência de panteísmo sensual, na aceitação calma do mundo como ele é. Os seus olhos azuis, infantis, se dermos fé ao testemunho de Cam-pos, demoravam-se extasiados em cada coisa, admirando o que a tornava diferente das outras e diferente dela própria noutro momento. Caeiro vive de impressões, sobretudo visuais, e goza em cada impressão o seu conteúdo original. Caeiro não admite a reali-dade dos números e não quer saber de passado nem de futuro, pois recordar é atraiçoar a Natureza e o futuro é o campo das conjeturas das miragens. Ora, Caeiro é um poeta do real objetivo. De pastor tem o deambulismo, o andar constantemente e sem destino, absorvido pelo espetáculo da inexaurível1 variedade das coisas. «Anda a seguir», passiva-mente, com o espírito concentrado numa atividade suprema: olhar. Os seus pensamentos não passam de sensações. Vive feliz como os rios e as plantas, gostosamente integrado nas leis do Universo. Caeiro limita-se a existir, tendo nos lábios o sorriso. Caeiro surge, pois, como lírico espontâneo, instintivo, inculto (não foi além da instrução primária, informa Campos), impessoal e forte como a voz da Terra, de candura, lhaneza2 , placidez ideais. O certo, porém, é que é autor de poemas e começa aqui o paradoxo da sua poesia. Às palavras procura transmitir Caeiro a inocência, a nudez da sua visão. Daí, algumas vezes, a simplicidade quase infantil do estilo.

Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa,

Editorial Verbo, 1985 (texto com supressões)

1. A sequência «se dermos fé» (linha 4) pode ser parafraseada, de acordo com o contexto, por

a) «se pusermos em causa».

b) «se tivermos em consideração».

c) «se considerarmos sagrado».

d) «se contrariarmos».

2. Entre as linhas 4 e 6, o autor apresenta a ideia de que

a) Caeiro contemplava a Natureza, analisando-se a si próprio, tanto de forma extrín-seca quanto intrínseca.

b) Caeiro contemplava a Natureza, analisando contrastivamente os seus elementos, tanto de forma extrínseca quanto intrínseca.

c) Caeiro contemplava a Natureza, avaliando contrastivamente semelhanças consigo.

d) Caeiro contemplava a Natureza, analisando contrastivamente a flora.

3. O adjetivo «original» (linha 7) é utilizado contextualmente com o sentido de

a) «criativo».

b) «antigo».

c) «artístico».

d) «primeiro».

5

10

1 5

1 Inexaurível: inesgotável.2 Lhaneza: simplicidade.

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PRÁTICA

4. Segundo o texto, o «futuro» é perspetivado por Caeiro como

a) «mágico».

b) «ilusório».

c) «paradisíaco».

d) «bíblico».

5. A sequência «o andar constantemente e sem destino» (linha 10) serve o propósito de

a) explicar o conceito de «deambulismo».

b) dar um exemplo de «deambulismo».

c) contrariar o conceito de «deambulismo».

d) explicar o conceito de «pastor».

6. A felicidade de Caeiro é comparada à

a) da fauna.

b) do meio aquático.

c) do meio aquático e da flora.

d) da fauna e da flora.

7. Na sequência «Às palavras procura transmitir Caeiro a inocência» (linhas 17-18), as expres-sões destacadas desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de

a) complemento indireto e complemento direto.

b) complemento direto e predicativo do complemento direto.

c) complemento direto e complemento indireto.

d) complemento oblíquo e complemento direto.

8. Identifique a função sintática de «o sorriso» (linha 14).

9. Indique as classes e subclasses de palavras dos elementos destacados na frase: «De pas-tor tem o deambulismo, o andar constantemente e sem destino, absorvido pelo espetácu-lo da inexaurível variedade das coisas.» (linhas 10-11).

10. Identifique o referente de «seu» (linha 7).

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

Inclui fichas específicas para treino dos itens gramaticais, depois da sistematização teórica gramatical, o que permite ao aluno o indispensável treino deste domínio. Funções sintáticas Teoria pp. 337-339 + prática p. 353 (ficha 121) Processos de formação de palavras Teoria pp. 332-333 + prática p. 350

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PORTUGUÊS 12.o ANO

TEORIA

ADVERBIAIS

CLASSIFICAÇÃO EXEMPLOS

Finais(que, para, para que, a fim de que)

Carlos da Maia fez a sua viagem para que obtivesse a sua paz.Teresa Albuquerque escreveu a Simão para se despedir dele.

Causais(porque, pois, como, porquanto, visto que, já que, uma vez que, dado que, tanto mais que e estruturas com gerúndio simples; particípio passado)

Salvador desconfiava de Ricardo Reis, visto que este era desconhecido e misterioso.Sofrendo de amor, Vasco Graça Moura refugiava ‑se na Música.

Condicionais(se, salvo se, exceto se, a não ser que, contanto que, desde que, a menos que, se bem que, caso e estruturas com preposição «a» + infinitivo; gerúndio simples)

Se bem que algumas questões gramaticais sejam densas, entendê ‑las é uma porta para o conhecimento explícito da nossa língua materna.A ser descoberto pela PIDE, o irmão de Lídia morrerá.Lendo calmamente o conto «Famílias desavindas», percebemos a rivalidade entre os galegos e os médicos portugueses.

Comparativas(como, segundo, conforme, mais… do que, assim como… assim também, tal… qual, bem como)

Maria Eduarda Maia viveu anos da sua vida de adulta conforme o havia vivido Maria Monforte.

Consecutivas(de tal modo que, tanto… que, tal/tão… que)

Gonçalo Mendes Ramires era tão bondoso que ajudava os mais desfavorecidos.

Concessivas(embora, conquanto, ainda que, apesar de que, posto que, se bem que, por mais que, mesmo que)

Embora Afonso o tivesse educado à inglesa, Carlos fraquejou. Apesar de gostar da fidalga, Lopo de Baião era inimigo mortal do pai dela, Tructesindo Ramires.

FUNÇÕES SINTÁTICAS

AO NÍVEL DA FRASE

FUNÇÕES EXEMPLOS

Sujeito(constituinte acerca do qual se faz uma predicação)

Os poetas escrevem de maneira interventiva. (sujeito simples realizado por meio de grupo nominal)

Mário de Carvalho e Maria Judite de Carvalho têm antologias de contos publicadas. (sujeito composto realizado por meio de grupos nominais em relação de adição)

Terminei hoje a minha leitura de Farsa de Inês Pereira. (sujeito subentendido)

Dizem que os exames são relativamente mais fáceis do que os testes. (sujeito indeterminado)

Quem resolver exercícios de gramática tem mais hipóteses de sucesso. (sujeito realizado como oração subordinada substantiva relativa sem antecedente)

Predicado(constituinte que dá vida a uma predicação; aquilo que se diz sobre o sujeito)

Padre Bartolomeu de Gusmão desapareceu. (realizado apenas por meio do verbo)

Cesário Verde deu uma ajuda à rapariga da «giga». (realizado por meio do verbo e dos complementos por ele selecionados)

Padre António Vieira sentiu que devia imitar fielmente o estilo de Santo António. (realizado por meio do verbo, dos seus complementos e modificadores, que podem ser orações)

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

AO NÍVEL DA FRASE (cont.)

FUNÇÕES EXEMPLOS

Vocativo(função sintática que é desempenhada por um constituinte que dá forma a um chamamento ou invocação)

O leitor de Eça de Queirós facilmente imagina que, pelo hipódromo de Lisboa, envolto em agitação violenta, se ouviriam frases do tipo «Meus senhores, sejamos cavalheiros!» da parte dos organizadores.

Modificador(função sintática desempenhada por um constituinte que não é necessário para o sentido do grupo frásico nem à frase que o contém. Existe para fornecer informações semânticas extra, e com vários valores, sendo que a frase ou o grupo frásico não precisa dele obrigatoriamente. Trata ‑se de um elemento acessório)

Infelizmente, o público oitocentista aborreceu ‑se com a erudição de Cruges. (realizado como advérbio)Para sua grande felicidade, os alunos obtiveram boas notas de exame.(realizado como grupo preposicional)Embora saibam a matéria, os alunos devem revê ‑la antes do exame. (realizado como oração subordinada adverbial concessiva)

AO NÍVEL DO GRUPO VERBAL

Complemento direto(função sintática desempenhada por um constituinte selecionado pelo verbo, completando ‑lhe o sentido; fornece informações acerca do sujeito)

Cesário Verde contemplava os calceteiros. (realizado como grupo nominal)As narrativas têm enredos. (realizado como grupo nominal/nome)Os poetas de expressão portuguesa sentem que a sua terra natal é explorada. (realizado como oração subordinada substantiva completiva)

Complemento indireto(função sintática desempenhada por um constituinte selecionado pelo verbo, completando ‑lhe o sentido; fornece informações sobre algo ou alguém a quem se dirige ou destina determinada característica pressuposta pelo verbo)

D. João V ofereceu dinheiro aos mafrenses. (realizado como grupo preposicional)Saramago escreveu Memorial do Convento. A Academia sueca concedeu ‑lhe o Prémio Nobel da Literatura. (realizado como pronome)Por vezes, a História Universal não dá importância a quem tem mérito. (realizado como oração subordinada substantiva relativa sem antecedente)

Complemento oblíquo(função sintática de um constituinte selecionado pelo verbo, completando ‑lhe o sentido; fornece informações sobre espaços, modos, circunstâncias, entre outros)

Camões foi ao palácio para receber a tença prometida. (realizado como grupo preposicional)Eusebiozinho foi colocado preciosamente ali. (realizado como advérbio)Simão Botelho precisava de quem o apoiasse. (realizado como oração subordinada substantiva relativa sem antecedente)

Complemento agente da passiva(função sintática desempenhada por um constituinte que surge em construções passivas e iniciada pela preposição por)

Segundo o Sermão, Tobias foi aconselhado pelo anjo. (realizado como grupo preposicional)O público do Sarau da Trindade era constituído por quem menos sabia apreciar música clássica. (realizado como oração subordinada substantiva relativa sem antecedente)

Predicativo do sujeito(função sintática desempenhada por constituintes que se encontram precedidos de um verbo copulativo; regra geral, atribui características ao sujeito. Alguns verbos copulativos: ser, estar, parecer, permanecer, ficar, continuar, andar, tornar ‑se, revelar ‑se.)

D. João de Portugal é o Romeiro. (realizado como nome/grupo nominal)Marcenda parecia infeliz. (realizado como adjetivo/grupo adjetival)No Sarau da Trindade, Cruges estava sem ânimo. (realizado como grupo preposicional)Carlos e Ega permaneciam ali. (realizado como advérbio)

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PORTUGUÊS 12.o ANO

TEORIA

AO NÍVEL DO GRUPO VERBAL (cont.)

FUNÇÕES EXEMPLOS

Predicativo do complemento direto(função sintática desempenhada por um constituinte que é selecionado por um verbo transitivo ‑predicativo; regra geral, atribui características ao complemento direto. Alguns verbos transitivo ‑predicativos: declarar, achar, designar, considerar, eleger, nomear)

D. João V designou aquele dia a data da sagração. (realizado como grupo nominal)Gonçalo Ramires considerava as conversas com o Administrador cansativas. (realizado como grupo adjetival/adjetivo)

Modificador(constituinte não necessário para o sentido do verbo mas que confere ao grupo verbal características variadas e específicas, como opiniões do falante)

Dâmaso Cândido de Salcede passeava pelo hipódromo pomposamente. (realizado como advérbio)Os fascistas assassinaram os marinheiros por causa de desconfiarem de conspiração. (realizado como oração subordinada adverbial causal)D. João V reinou como quis. (realizado como oração subordinada substantiva relativa sem antecedente)

AO NÍVEL DO GRUPO NOMINAL

Complemento do nome(função sintática desempenhada por um constituinte selecionado pelo nome, completando ‑lhe/restringindo ‑lhe o sentido)

A roupa francesa era imitada pelos oitocentistas contemporâneos de Carlos da Maia. (realizado como grupo adjetival/adjetivo)A injustiça de terem de abandonar o seu país adensa o ativismo de alguns escritores exilados. (realizado como oração substantiva completiva)

Modificador do nome(função sintática de um constituinte não necessário para o sentido do nome, mas que lhe atribui variadas características específicas)

• Restritivo(restringe imediatamente o sentido do referente e é imprescindível à sua compreensão total; não tem fronteiras de pontuação)

As belas ninfas seduziam os navegadores portugueses. (realizado como adjetivo)Os leques de veludo serviam para trocar olhares adúlteros. (realizado como grupo preposicional)As senhoras que iam às Corridas de Cavalos aborreciam ‑se constantemente. (realizado como oração subordinada adjetiva relativa restritiva

• Apositivo(não restringe imediatamente o sentido do referente, não é imprescindível à sua compreensão, portanto tem fronteiras de pontuação que o separa fisicamente do nome)

Bárbara, que era uma escrava, é uma das mulheres cantadas por Camões na sua lírica. (realizado como oração subordinada adjetiva relativa explicativa)D. João V, o Magnânimo, sempre fez justiça ao seu cognome. (realizado como grupo nominal)

AO NÍVEL DO GRUPO ADJETIVAL

Complemento do adjetivo(função sintática desempenhada por um constituinte selecionado pelo adjetivo, completando ‑lhe o sentido)

Vasco da Gama mostrou ‑se orgulhoso dos seus navegadores. (realizado como grupo preposicional não ‑oracional)Os carros de mão da obra mafrense eram difíceis de manusear. (realizado como grupo preposicional oracional)

AO NÍVEL DO GRUPO ADVERBIAL

Complemento do advérbio(função sintática desempenhada por um constituinte selecionado pelo advérbio, completando ‑lhe o sentido)

Depois da tempestade, veio a bonança. (realizado como grupo preposicional)Independentemente da sua pertença à aristocracia, Gonçalo Ramires fraquejava. (realizado como grupo preposicional)

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PRÁTICAF ICHA 122

Semântica• Valor temporal, valor aspetual e valor modal

1. Indique a relação de ordem cronológica que se estabelece entre os pontos de referência e as situações descritas.

a) Felizmente, a chuva virá acalmar pouco a pouca as pessoas.

b) Os bombeiros estão a combater os incêndios com muita coragem, força e amor aos outros.

c) Anteontem, havia fumo por toda a zona norte de Portugal.

2. Identifique o valor aspetual presente em cada enunciado e os elementos frásicos que con‑tribuem para esse valor.

a) Anteontem, havia fumo por toda a zona norte de Portugal.

b) Os bombeiros estão a combater os incêndios com muita coragem, força e amor aos outros.

c) Infelizmente, o fogo atinge habitualmente as zonas mais verdes do país.

d) A chegada da chuva trouxe alguma calma.

3. Refira o tipo de modalidade presente em cada enunciado e o recurso utilizado para expri‑mir o respetivo valor modal.

a) Eu confesso que tive medo.

b) Os bombeiros devem intervir imediatamente!

c) Felizmente, a chuva tem vindo a acalmar pouco a pouco as pessoas.

d) É possível que tenhamos um outono quente, lembrando o verão.

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PREPARAR O EXAME NACIONAL

MODO TEMPO EXEMPLOS

CONJUNTIVO

PresenteAme – beba – partaAmemos – bebamos – partamos

Pretérito perfeito compostoTenha amado – tenha bebido – tenha partidoTenhamos amado – tenhamos bebido – tenhamos partido

Pretérito imperfeitoAmasse – bebesse – partisseAmássemos – bebêssemos – partíssemos

Pretérito mais ‑que ‑perfeitoTivesse amado – tivesse bebido – tivesse partidoTivéssemos amado – tivéssemos bebido – tivéssemos partido

Futuro simples (igual ao infinitivo pessoal)

Amar – beber – partirAmarmos – bebermos – partirmos

Futuro compostoTiver amado – tiver bebido – tiver partidoTivermos amado – tivermos bebido – tivermos partido

CONDICIONAL

Presente simplesAmaria – beberia – partiriaAmaríamos – beberíamos – partiríamos

Pretérito compostoTeria amado – teria bebido – teria partidoTeríamos amado – teríamos bebido – teríamos partido

IMPERATIVO

Ama! – Bebe! – Parte!Amemos! – Bebamos! – Partamos!Amai! – Bebei! – Parti!Amem! – Bebam! – Partam!

INFINITIVO

Impessoal (não tem pessoa gramatical) Amar – beber – partir

Pessoal (igual ao futuro simples do conjuntivo)

Amar – beber – partirAmarmos – bebermos – partirmos

CompostoTer amado – ter bebido – ter partidoTermos amado – termos bebido – termos partido

GERÚNDIOSimples Amando – bebendo – partindo

Composto Tendo amado – tendo bebido – tendo partido

PARTICÍPIO (PASSADO) Amado – bebido – partido

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

PROCESSOS REGULARES

PROCESSO FORMAÇÃO EXEMPLOS

Derivação afixal

Por prefixação A uma palavra inicial (de base) acrescenta ‑se um afixo à sua esquerda. [in] capaz

Por sufixação A uma palavra inicial (de base) acrescenta ‑se um afixo à sua direita. calma [mente]

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PORTUGUÊS 12.o ANO

TEORIA

Derivação afixal (cont.)

PROCESSO FORMAÇÃO EXEMPLOS

Por prefixação e sufixação

A uma palavra inicial (de base) acrescenta ‑se um afixo à sua esquerda e outro à sua direita.

[des] favorável [mente] > desfavoravelmente

Por parassínteseAcréscimo simultâneo de afixos à esquerda e à direita, sendo que a palavra não existe sem os dois.

[a] manh [ecer] [a] padrinh [ar][a] joelh [ar]

Derivação não ‑afixal

Imprópria ou conversão

As palavras veem a sua classe transformada consoante o contexto sintático ‑semântico em que são usadas.

Caeiro ficava muitas vezes suspenso a olhar [verbo] para os campos e caminhos. O olhar [nome] de Caeiro «é nítido como um girassol».

Derivação não ‑afixal

A partir de uma forma verbal formam‑‑se nomes, sendo que a vogal temática e o(s) morfema(s) de flexão são substituídos pelas vogais ‑a, ‑e, ‑o.

comprar > compraresgatar > resgateavisar > avisotrocar > troco

Composição

MorfológicaRadical + radical. psic[o] + logia > psicologia

Radical + palavra. luso + descendente > lusodescendente

Morfossintática

Composto de duas palavras em que o valor semântico, o género e o número afetam as duas palavras.

surdo/a(s) ‑mudo/a(s) via láctea

Composto de duas palavras formado pela 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo de uma forma verbal e um nome.

abre ‑latasguarda ‑chuva

Composto de duas palavras em que a palavra da esquerda é modificada pela da direita.

homem ‑rã

PROCESSOS IRREGULARES

PROCESSO EXEMPLOS

Acrónimo FIA (Federação Internacional de Automobilismo)

Truncaçãometro (metropolitano) Zé (José)

Sigla PT (Portugal Telecom)

Extensão semânticaLeitor:a) O leitor de Os Lusíadas deve dominar as características típicas de uma epopeia.b) O leitor de DVD é um instrumento contemporâneo.

Amálgamadiciopédia (dicionário + enciclopédia)cibernauta (cibernética + astronauta)

Empréstimo software / dossier (com adaptação ortográfica e de acentuação, «dossiê»)

Onomatopeia/palavra onomatopaica

«Rrrrrr!» (imitando, por exemplo, o som de uma engrenagem)«tonitroar» (com estatuto de forma verbal que descreve o som de trovões, por exemplo)

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F ICHA 119Morfologia e lexicologia• Processos de formação de palavras• Relações semânticas entre palavras

• Campo lexical e campo semântico

1. Identifique o processo de formação regular e irregular presente nas palavras destacadas.

a) A dança sempre fez parte de romarias populares medievais.

b) Quando saboreava o seu jantar, D. João V apreciava música ambiente.

c) A mulher de Batola mostrou total desinteresse pela telefonia.

d) Simão Botelho amou incondicional‑mente.

e) Com a candidatura, Gonçalo Ramires começou a emagrecer.

f) FENPROF procura, regra geral, aquilo que é melhor para a Educação.

g) Quem quisesse poderia ver Fernando Pessoa na Brasileira a tomar o seu café com a sua sandwich.

h) Se os trabalhadores forçados a par‑ticipar na construção do convento se reunissem em sindicatos, uma desig‑nação possível seria MRLT (Movimen‑to Revolucionário de Libertação dos Trabalhadores).

i) Obter uma nega no exame é a situação que todos os alunos devem evitar.

j) A cibernética pode ajudar o aluno do século XX a ter sucesso escolar.

2. Classifique cada palavra quanto ao seu processo de formação por composição.

a) Autocaravana

b) Sociocultural

c) Vaivém

d) Guarda ‑noturno

e) Passatempo

f) Omnívoro

g) Mesa ‑de ‑cabeceira

h) Girassol

i) Otorrinolaringologista

j) Bioética

3. Identifique as relações semânticas que se estabelecem entre os seguintes grupos de palavras.

a) Convento: claustros, basílica, colunas, portas, salas, tetos.

b) Textos: poemas, contos, romances, textos dramáticos.

c) Livro: lombada, páginas, capa.

d) Incompletude / plenitude.

e) Destreza / agilidade.

4. Refira a que campo (lexical ou semântico) pertence cada conjunto de palavras.

a) Praia: mar, areia, algas, búzios, chapéu ‑de ‑sol.

b) Cabeça: cabeça de cartaz, cabeça de lista.

c) Exame: manuais, fichas, exercícios, nota.

i) o.

j) A cibernética pode ajudar o aluno do século XX a ter sucesso escolar.

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