educaÇÃo literÁria -...

24
EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Upload: truongduong

Post on 10-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

132

JOSÉ SARAMAGO – O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

Visão global da obra

IAo fim de dezasseis anos no Brasil, Ricardo Reis desembarca em Lisboa e hospeda-se no Hotel Bragança, onde vê, pela primeira vez, Marcenda, figura que lhe desperta interesse por ter a mão esquerda paralisada.

II

Ricardo Reis lê jornais para se inteirar das notícias sobre a morte de Fernando Pessoa e, posteriormente, visita o túmulo do poeta no Cemitério dos Prazeres.Já no Bragança, contacta pela primeira vez com Lídia, criada do hotel, cujo nome o deixa surpreso.

III

Ricardo Reis presencia o “bodo do Século”, onde foram distribuídos dez escudos a cada um de mais de mil necessitados.Na noite da passagem de ano, depois de regressar do Rossio, Reis depara-se no quarto com a visita de Fernando Pessoa, que o informa de que tem ainda oito meses para circular à vontade no mundo dos vivos.

IV

Ricardo Reis tem o primeiro contacto físico com Lídia – põe-lhe a mão no braço – e diz-lhe que a acha bonita. No entanto, estes atos fazem-no sentir-se ridículo.Fernando Pessoa volta a encontrar-se com Ricardo Reis, na esquina da rua de Santa Justa, e os dois conversam sobre a multiplicidade de eus e sobre a vida e a morte.Ricardo Reis envolve-se com a criada, que entra no seu quarto, durante a noite, deitando-se com ele.

VRicardo Reis vai ao Teatro D. Maria com a intenção de travar conhecimento com o doutor Sampaio e com Marcenda. À noite, recebe a visita de Fernando Pessoa no seu quarto e os dois falam sobre Lídia e sobre o fingimento. Lídia volta a dormir com Ricardo Reis.

VIRicardo Reis e Marcenda conversam na sala de estar do hotel sobre a sua debilidade física e a jovem pede-lhe a sua opinião profissional. Nessa noite, Ricardo Reis janta com o doutor Sampaio e com Marcenda e Lídia não o visita porque está com ciúmes.

VII

Ricardo Reis lê a Conspiração, obra que lhe foi recomendada pelo doutor Sampaio e que relata a lealdade da jovem Marília ao sistema.Lídia volta a dormir com Ricardo Reis ao fim de cinco dias.Ricardo Reis encontra Fernando Pessoa num café do bairro e, a propósito da vitória da esquerda em Espanha, falam sobre o comunismo e o regresso de Reis a Portugal.

VIII

Ricardo Reis fica doente, com febre, e Lídia dispensa-lhe todos os cuidados. Dias depois, ele recebe uma intimação para se apresentar na PVDE − Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, situação que desperta a desconfiança entre o pessoal e entre os hóspedes do hotel.Lídia fica preocupada e tenta prevenir Reis das práticas dessa instituição.Marcenda marca um encontro com Ricardo Reis, no Alto de Santa Catarina. Enquanto aguarda por ela, Reis é “visitado” por Fernando Pessoa, que o questiona sobre as suas relações amorosas. Durante o encontro, a filha do doutor Sampaio pede a Ricardo Reis que lhe escreva a dar notícias da entrevista para que fora intimado.

IX

Ricardo Reis vai à polícia e é interrogado num clima de suspeição. Regressado ao hotel, diz a Lídia que tudo correu bem e escreve a Marcenda tranquilizando-a. Mais tarde, informa a criada de que vai deixar o Bragança, e esta prontifica-se a ir visitá-lo nos seus dias de folga. Ricardo Reis aluga casa no Alto de Santa Catarina, defronte à estátua do Adamastor.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 132 03/10/17 20:55

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

133

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

XRicardo Reis escreve a Marcenda para a informar da nova morada. Dias depois deixa o hotel. Na sua primeira noite na casa alugada, recebe a visita de Fernando Pessoa e falam sobre solidão.

XILídia vai visitar Ricardo Reis para verificar se está bem instalado e ele acaba por beijá-la na boca.Dias depois, recebe a visita de Marcenda, que, pela primeira vez na vida, é beijada por um homem.

XII

Lídia prontifica-se a cuidar da limpeza da nova casa e os dois acabam por se envolver.Ricardo Reis escreve uma carta confusa a Marcenda. Começa, entretanto, a trabalhar, substi-tuindo temporariamente um colega especialista em coração e pulmões. Esta situação leva-o a escrever novamente a Marcenda. Entretanto, quase ao fim de um mês, recebe uma carta da jovem, de Coimbra, anunciando que o visitará no consultório.

XIII

Ricardo Reis encontra-se com Fernando Pessoa junto à estátua do Adamastor e os dois conver-sam acerca da relação de Reis com Lídia e com Marcenda e sobre a vida e a morte.Ao chegar a casa, Ricardo Reis depara-se com Victor e, a propósito disso, falam da ida de Ricardo Reis à polícia, de Salazar e de Hitler.Lídia, enquanto faz limpeza, é seduzida por Reis. Contudo, percebendo que está com um problema de impotência, o médico repele-a, o que a deixa tristíssima e sem perceber o que se passava. Marcenda aparece no consultório e Ricardo propõe que se casem. Ela recusa, alegando que não seriam felizes.

XIV

Reis recebe uma carta de Marcenda a assegurar que nunca mais se voltarão a ver, a pedir-lhe para nunca mais lhe escrever e a informá-lo de que irá a Fátima.Restabelece-se, entretanto, a relação de Reis com Lídia, mas o médico vai a Fátima, com o intuito de ver Marcenda. No entanto, não consegue encontrá-la.

XV

Ricardo Reis fica a saber que o colega que está a substituir vai retomar o seu lugar e isso leva-o a começar a pensar em regressar ao Brasil.Fernando Pessoa visita novamente Ricardo Reis e os dois falam sobre o facto de Reis continuar a ser vigiado por Victor, sobre as relações amorosas de ambos e sobre o destino e a ordem.

XVI

Ricardo Reis escreve um poema dedicado a Marcenda.Lídia comunica-lhe que está grávida e que não tenciona abortar.Fernando Pessoa faz nova visita a Ricardo Reis e os dois falam sobre a perspetiva do regime em relação a diferentes personalidades e sobre o seu obscurantismo. Durante a conversa, Ricardo Reis confessa-lhe que vai ser pai e que ainda não decidiu se vai ou não perfilhar a criança.

XVIIRicardo Reis vai visitar Fernando Pessoa ao Cemitério dos Prazeres e dialogam sobre o golpe militar ocorrido em Espanha.

XVIII

Enquanto lava a loiça na cozinha de Ricardo Reis, Lídia questiona-se sobre o seu papel naquela casa e chega a pensar em não voltar mais.Ricardo Reis vai assistir a um comício em defesa do Estado Novo e de Salazar. Dias depois, envia para Marcenda o poema que lhe dedicou.

XIX

Lídia chega a casa de Ricardo Reis, chorosa, e anuncia que o seu irmão e outros marinheiros se vão revoltar. No dia seguinte, Ricardo Reis assiste ao bombardeamento do Afonso de Albuquerque, barco onde seguia o irmão de Lídia, e do Dão.Ricardo Reis vai ao Hotel Bragança à procura de Lídia, mas não a encontra. Mais tarde fica a saber que Daniel morreu.Fernando Pessoa visita pela última vez Ricardo Reis e este decide acompanhá-lo em direção à morte.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 133 03/10/17 20:55

Representações do século XX: o espaço da cidade, o tempo histórico e os acontecimentos políticos

Em 1936, assiste-se a uma Europa politicamente conturbada entre as ditaduras de índole fascista e os movimentos de esquerda que tentavam triunfar. Foi o que aconteceu em França e em Espanha. Neste último caso, a eleição de um governo republicano democrático de esquerda, em coligação com o Partido Socialista (e com aliança com comunistas e anarquis-tas), conduziu a um golpe de Estado levado a cabo pelas forças nacionalistas (falangistas) e encabeçado pelo general Franco, culminando numa sangrenta guerra civil. A Alemanha e a Itália afirmavam-se, em contrapartida, como grandes potências económicas e tentavam alargar o seu domínio territorial: ocupando a Renânia (no caso alemão) e anexando a Etiópia (no caso italiano). A tudo isto assistia indiferente a Sociedade das Nações, e a Inglaterra, que, ao mesmo tempo que se escusava a tomar uma posição sancionatória em relação à Alemanha e à Itália, reivindicava a redistribuição de colónias portuguesas.

Em Portugal, vivia-se um regime ditatorial, liderado por Salazar, fortemente enraizado através de uma intensa propaganda política, que pretendia fomentar a ideia da prosperidade e da grandeza do império, da conivência da Igreja, assente na visão de Salazar como o salva-dor da moralidade cristã, e da criação de movimentos, como o da Mocidade Portuguesa, que desde cedo incutiam na população os valores e a ideologia do regime. A censura, a repres-são policial, a tortura ou a prisão eram as armas usadas contra quem se opunha à ordem vigente, tendo sido para o efeito criada a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado. De uma forma geral, o povo vivia na miséria e o país estava mergulhado num estado de estagnação.

É para estas realidades que o narrador, velada e indiretamente, pretende chamar a aten-ção. A cidade de Lisboa, palco da ação, apresenta-se como um labirinto, monótona, pobre, sombria, silenciosa, chuvosa, de águas turvas, metáforas que contribuem para evidenciar a opressão e a repressão exercidas pelo regime sobre o povo.

Desta forma se percebe a afirmação final: a terra aguarda pela mudança.

Deambulação geográfica e viagem literária

Ao fim de dezasseis anos, Ricardo Reis regressa à pátria e revisita a cidade de Lisboa, constatando que pouco mudou – sinal da estagnação do país. No entanto, o percurso pelas ruas (desde a rua do Comércio ao Terreiro do Paço, do Chiado à praça da Figueira ou da rua do Alecrim ao Alto de Santa Catarina) permite deambulações de natureza literária. Assiste--se, assim, a pretexto do que Reis vai observando e captando da realidade, à evocação de diversos textos, entre os quais a Bíblia, e de autores como Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Camões, Eça de Queirós, Cesário Verde, Almeida Garrett, Jorge Luís Borges, Dante, Cervantes ou Virgílio.

134

MARCENDA LÍDIA

Mulher passiva, sem vontade e sem convicções, deficiente – representa a inércia, a apatia, a desistência de Ricardo Reis.

Mulher ativa, perspicaz e questionadora, preocupada com o mundo que a rodeia – representa a possibilidade de Ricardo Reis vingar e viver sem o seu criador, transformando-se num agente ativo e não num mero espetador.

Aquela que murcha, que não é eterna – contrasta com as musas das odes.

Contrasta com a Lídia das odes – platónica, tranquila, quieta.

Representações do amor

JOSÉ SARAMAGO – O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 134 03/10/17 20:55

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Linguagem, estilo e estrutura

135

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Luís de Camões

• Paródia do verso de Os Lusíadas “Onde a terra se acaba e o mar começa” no início e no fecho da obra.• Citação de versos de Os Lusíadas, como “esta apagada e vil tristeza”, com vista a ridicularizar a tão

propagada prosperidade do país.• Presença constante da estátua de Camões e do Adamastor, como forma de realçar a produção ca-

moniana enquanto marco de fundamental importância na literatura portuguesa (“todos os caminhos portugueses vão dar a Camões”).

• Denúncia da subversão e do aproveitamento das palavras e da figura de Camões por parte do regime.

Cesário Verde

• Configuração do espaço da cidade de Lisboa como uma realidade confinadora e destrutiva (“Ricardo Reis atravessou o Bairro Alto, descendo pela Rua do Norte chegou ao Camões, era como se estivesse dentro de um labirinto que o conduzisse sempre ao mesmo lugar”).

• Deambulação geográfica como ponto de partida para outras evasões (viagem literária).• Comiseração e identificação do narrador com certas figuras do povo observadas.• Remissão para a evocação de um passado glorioso contrastante com a estagnação de um presente

moribundo.• Visualismo de pendor impressionista e convergência dos sentidos.

Fernando Pessoa

• Construção da personagem Ricardo Reis à luz das características físicas, psicológicas e literárias fixadas pelo seu criador, patentes, por exemplo, nas conversas entre o heterónimo e o ortónimo.

• Citações, alusões, paródia e paráfrases de versos do ortónimo e dos principais heterónimos.

Citação “Mestre, são plácidas todas as horas que nós perdemos” (cap. I)

Discurso direto “é Fernando Pessoa quem primeiro fala, Soube que me foi visitar” (cap. III)

Discurso indireto

“os espanhóis descruzavam a perna impaciente, mas o doutor Sampaio retinha-os, garantia-lhes que em Portugal poderiam viver em paz pelo tempo que quisessem” (cap. VIII)

Discurso indireto livre

“Já todo o pessoal do hotel sabe que o hóspede do duzentos e um, o doutor Reis, aquele que veio do Brasil há dois meses, foi chamado à polícia, alguma ele teria feito por lá” (cap. VIII)

Intertextualidade: José Saramago, leitor de Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa

REPRODUÇÃO DO DISCURSO NO DISCURSO

Estrutura da obraTom oralizante Estilo/pontuação

Externa Interna

19 capítulos

Estrutura circular:• Uso paródico do verso

de Camões “Onde a terra se acaba e o mar começa”.

• Viagem de Reis para Lisboa e, depois, em direção ao cemitério dos Prazeres.

• Marcas de coloquialidade.• Diálogo com o narratário. • Comentários do narrador.• Estruturas morfossintáticas simples.• Provérbios e expressões populares com

ou sem variações.• Mistura de vários modos de relato do discurso.• Coexistência de segmentos narrativos

e descritivos sem delimitação clara.

• Uso exclusivo do ponto final e da vírgula.

• Uso da vírgula e da maiúscula para marcar as falas em discurso direto (é o contexto que ajuda o leitor a perceber quando se trata de uma declaração, de uma exclamação ou de uma interrogação).

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 135 03/10/17 20:55

136

JOSÉ SARAMAGO – O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

Leia os excertos de O ano da morte de Ricardo Reis e, de seguida, a análise "passo a passo" efetuada.

MARCENDA

EXCERTO 1Ricardo Reis fez uma pausa, parecia refletir, depois, debruçando-se, estendeu as mãos para

Marcenda, perguntou, Posso, ela inclinou-se também um pouco para a frente e, continuando a segurar a mão esquerda com a mão direita, colocou-a entre as mãos dele, como uma ave doente, asa quebrada, chumbo cravado no peito. Devagar, aplicando uma pressão suave mas firme, ele percorreu com os dedos toda a mão dela, até ao pulso, sentindo pela primeira vez na vida o que é um abandono total, a ausência duma reação voluntária ou instintiva, uma entrega sem defesa, pior ainda, um corpo estranho que não pertencesse a este mundo.

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21.a ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, cap. VI.

EXCERTO 2A esta mesma hora, naquele segundo andar da Rua de Santa Catarina, Ricardo Reis tenta escre-

ver um poema a Marcenda, para que amanhã não se diga que Marcenda passou em vão, Saudoso já deste verão que vejo, lágrimas para as flores dele emprego na lembrança invertida de quando hei de perdê-las, esta ficará sendo a primeira parte da ode, até aqui ninguém adivinharia que de Marcenda se vai falar, embora se saiba que muitas vezes começamos por falar de horizonte porque é o mais curto caminho para chegar ao coração. Meia hora depois, ou uma hora, ou quantas, que o tempo, neste fazer de versos, se detém ou precipita, ganhou forma e sentido o corpo intermédio, não é sequer o lamento que parecera, apenas o sábio saber do que não tem remédio, Transpostos os portais irreparáveis de cada ano, me antecipo a sombra em que hei de errar, sem flores, no abismo rumoroso. Dorme toda a cidade na madrugada, […] e é neste momento que o poema se completa, difícil, […] E colho a rosa porque a sorte manda. Marcenda, guardo-a, murche-se comigo antes que com a curva diurna da ampla terra. Deitou-se Ricardo Reis vestido na cama, a mão es-querda pousada sobre a folha de papel, se adormecido passasse do sono para a morte, julgariam que é o seu testamento, a última vontade, a carta do adeus, e não poderiam saber o que seja, mesmo tendo-a lido, porque este nome de Marcenda não o usam mulheres, são palavras doutro mundo, doutro lugar, femininos mas de raça gerúndia, como Blimunda, por exemplo, que é nome à espera de mulher que o use, para Marcenda, ao menos, já se encontrou, mas vive longe.

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21.a ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, cap. XVI.

5

5

10

15

EXEMPLIFICANDO – ANÁLISE TEXTUAL

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 136 03/10/17 20:55

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

137

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Demonstre de que forma as palavras usadas pelo narrador relativamente à paralisia de Marcenda, no final do excerto 1, se coadunam com a personalidade de Reis.

Demonstrar significa provar, através de exemplos, que a afirmação é verdadeira. Assim, para responder à ques-tão, terá de atentar na caracterização do braço paralisado de Marcenda (“como uma ave doente, asa quebrada, chumbo cravado no peito”; “um abandono total, a ausência duma reação voluntária ou instintiva, uma entrega sem defesa”) e explicitar a relação existente entre essas características e os traços da personalidade de Ricardo Reis.

Da mesma forma que a mão paralisada de Marcenda não tem qualquer tipo de reação voluntária (é “um corpo estranho” e manifesta um “abandono total”), também Ricardo Reis inicialmente tenta adotar uma atitude passiva, escusando-se a tomar partido, decisões ou a defender determinada posi-ção, à boa maneira estoica. De facto, tal como Fernando Pessoa afirmava, Ricardo Reis começa por agir como se fosse um estrangeiro no mundo contemporâneo, tão distante da sua amada Grécia.

2. Caracterize a relação entre Ricardo Reis e Marcenda, considerando a ode escrita por Reis. Deve caracterizar por palavras suas a relação entre as duas personagens referidas, tendo em conta o conteúdo

da ode escrita por Reis, presente no início do excerto 2.

Apesar de a relação entre ambos ter assumido contornos físicos pouco tempo depois de se terem conhecido, já que se beijam sofregamente, Marcenda acaba por impor uma vivência platónica ao seu amor: recusa-se a casar com o médico e a voltar a vê-lo, ao mesmo tempo que lhe assegura que nunca o esquecerá; pede, em contrapartida, que Reis se lembre dela todos os dias. Ricardo Reis, por seu lado, pretende selar o fim da relação, deixando-a eternizada numa ode.

3. Analise os versos da ode à luz desse relacionamento. Analisar implica estabelecer relações entre diferentes partes/passagens, de modo a descodificar o sentido do

todo que é o texto. Assim, deverá inferir, analisando o conteúdo da ode, características da personalidade de Reis, e explicitar de que forma elas podem justificar o seu comportamento em relação a Marcenda.

Na ode que Ricardo Reis escreve transparece a autodisciplina do sujeito lírico, que, consciente da fuga-cidade e efemeridade da vida, se dispõe a aceitar serenamente a inevitabilidade da morte. Esta é, assim, uma maneira de Ricardo Reis assumir o fim da sua relação com a filha do doutor Sampaio, que murchou como uma flor, mas que ele está disposto a guardar sempre consigo. Esta é ainda uma forma de elevar Marcenda à categoria de musa inacessível e distante.

Análise passo a passo

1.o Primeira leitura para apreensão do sentido global do texto e do assunto: trata-se de um excerto que diz respeito à representação do amor na obra, nomeadamente à relação que se desenvolve entre Ricardo Reis e Marcenda.

2.o Segunda leitura para atentar nos pormenores e nas relações entre diferentes partes do texto:− atitude de Ricardo Reis ao segurar a mão de Marcenda, numa fase inicial do relacionamento entre

os dois;− estado de espírito de Reis ao escrever a ode a Marcenda, e objetivo da mesma;− considerações do narrador sobre o nome desta personagem feminina;− …

Interprete o sentido das questões, tendo em conta os verbos de comando de cada item.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 137 03/10/17 20:55

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

137

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

1. Demonstre de que forma as palavras usadas pelo narrador relativamente à paralisia de Marcenda, no final do excerto 1, se coadunam com a personalidade de Reis.

Demonstrar significa provar, através de exemplos, que a afirmação é verdadeira. Assim, para responder à ques-tão, terá de atentar na caracterização do braço paralisado de Marcenda (“como uma ave doente, asa quebrada, chumbo cravado no peito”; “um abandono total, a ausência duma reação voluntária ou instintiva, uma entrega sem defesa”) e explicitar a relação existente entre essas características e os traços da personalidade de Ricardo Reis.

Da mesma forma que a mão paralisada de Marcenda não tem qualquer tipo de reação voluntária (é “um corpo estranho” e manifesta um “abandono total”), também Ricardo Reis inicialmente tenta adotar uma atitude passiva, escusando-se a tomar partido, decisões ou a defender determinada posi-ção, à boa maneira estoica. De facto, tal como Fernando Pessoa afirmava, Ricardo Reis começa por agir como se fosse um estrangeiro no mundo contemporâneo, tão distante da sua amada Grécia.

2. Caracterize a relação entre Ricardo Reis e Marcenda, considerando a ode escrita por Reis. Deve caracterizar por palavras suas a relação entre as duas personagens referidas, tendo em conta o conteúdo

da ode escrita por Reis, presente no início do excerto 2.

Apesar de a relação entre ambos ter assumido contornos físicos pouco tempo depois de se terem conhecido, já que se beijam sofregamente, Marcenda acaba por impor uma vivência platónica ao seu amor: recusa-se a casar com o médico e a voltar a vê-lo, ao mesmo tempo que lhe assegura que nunca o esquecerá; pede, em contrapartida, que Reis se lembre dela todos os dias. Ricardo Reis, por seu lado, pretende selar o fim da relação, deixando-a eternizada numa ode.

3. Analise os versos da ode à luz desse relacionamento. Analisar implica estabelecer relações entre diferentes partes/passagens, de modo a descodificar o sentido do

todo que é o texto. Assim, deverá inferir, analisando o conteúdo da ode, características da personalidade de Reis, e explicitar de que forma elas podem justificar o seu comportamento em relação a Marcenda.

Na ode que Ricardo Reis escreve transparece a autodisciplina do sujeito lírico, que, consciente da fuga-cidade e efemeridade da vida, se dispõe a aceitar serenamente a inevitabilidade da morte. Esta é, assim, uma maneira de Ricardo Reis assumir o fim da sua relação com a filha do doutor Sampaio, que murchou como uma flor, mas que ele está disposto a guardar sempre consigo. Esta é ainda uma forma de elevar Marcenda à categoria de musa inacessível e distante.

Análise passo a passo

1.o Primeira leitura para apreensão do sentido global do texto e do assunto: trata-se de um excerto que diz respeito à representação do amor na obra, nomeadamente à relação que se desenvolve entre Ricardo Reis e Marcenda.

2.o Segunda leitura para atentar nos pormenores e nas relações entre diferentes partes do texto:− atitude de Ricardo Reis ao segurar a mão de Marcenda, numa fase inicial do relacionamento entre

os dois;− estado de espírito de Reis ao escrever a ode a Marcenda, e objetivo da mesma;− considerações do narrador sobre o nome desta personagem feminina;− …

Interprete o sentido das questões, tendo em conta os verbos de comando de cada item.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 137 03/10/17 20:55

PRATICANDO AVALIANDO

138

JOSÉ SARAMAGO – O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS

1. Esclareça a importância da conversa de Ricardo Reis com Fernando Pessoa.

2. Comprove a conivência da Igreja com a atuação política.

3. Refira o(s) tópico(s) de conteúdo preconizado(s) no Programa (cf. pp. 134-135), presente(s) neste excerto, ilustrando-o(s) com passagens do texto.

Atente no excerto e nas questões apresentadas e responda de acordo com os passos já exer-citados.

Diga-me, Fernando, quem é que é este Salazar que nos calhou em sorte, É o ditador português, o protetor, o pai, o professor, o poder manso, um quarto de sacristão, um quarto de sibila, um quarto de Sebastião, um quarto de Sidónio, o mais apropriado possível aos nossos hábitos e índole […], mas, voltando ao Salazar, quem diz muito bem dele é a imprensa estrangeira, Ora, são artigos encomenda-dos pela propaganda, pagos com o dinheiro do contribuinte, lembro-me de ouvir dizer, Mas olhe que a imprensa de cá também se derrete em louvações, pega-se num jornal e fica-se logo a saber que este povo português é o mais próspero e feliz da terra, ou está para muito breve e que as outras nações só terão a ganhar se aprenderem connosco, O vento sopra desse lado, Pelo que lhe estou a ouvir, você não acredita muito nos jornais, Costumava lê-los […]. Segundo a declaração solene de um arcebispo, o de Mitilene1, Portugal é Cristo e Cristo é Portugal, Está aí escrito, Com todas as letras, Que Portugal é Cristo e Cristo é Portugal, Exatamente. Fernando Pessoa pensou alguns instantes, depois largou a rir, um riso seco, tossicado, nada bom de ouvir, Ai esta terra, ai esta gente, e não pôde continuar, havia agora lágrimas verdadeiras nos seus olhos, Ai esta terra, repetiu, e não parava de rir, Eu a julgar que tinha ido longe de mais no atrevimento quando na Mensagem chamei santo a Portugal, lá está, São Portugal, e vem um príncipe da Igreja, com a sua arquiepiscopal autoridade, e proclama que Portugal é Cristo, E Cristo é Portugal, não esqueça, Sendo assim, precisamos de saber, urgentemente, que virgem nos pariu, que diabo nos tentou, que judas nos traiu, que pregos nos crucificaram, que túmulo nos esconde, que ressurreição nos espera, Esqueceu-se dos milagres, Quer você milagre maior que este simples facto de existirmos, de continuarmos a existir, não falo por mim, claro, Pelo andar que levamos, não sei até quando e onde existiremos, Em todo o caso, você tem de reconhecer que estamos muito à frente da Alemanha, aqui é a própria palavra da Igreja a estabelecer, mais do que parentes-cos, identificações, nem sequer precisávamos de receber o Salazar de presente, somos nós o próprio Cristo, Você não devia ter morrido tão novo, meu caro Fernando, foi uma pena, agora é que Portugal vai cumprir-se […].

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, 21.a ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, cap. XIII.

5

10

15

20

1 título eclesiástico que desde o século XIX é geralmente concedido ao bispo-auxiliar que desempenha as funções de vigário-geral do patriarca de Lisboa.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 138 03/10/17 20:55

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

AVALIANDO

139

EDUCAÇÃO LITERÁRIA

Avalie os seus conhecimentos sobre a obra O ano da morte de Ricardo Reis.

1. Classifique as afirmações como verdadeiras (V) ou como falsas (F).

Afirmações V/F

a) A ação de O ano da morte de Ricardo Reis decorre em 1936, ano marcadamente estável a nível político em toda a Europa.

b) Nesse ano, vivia-se, em Portugal, um clima de prosperidade e de equilíbrio social.

c) A imagem de Salazar era muito positiva no plano externo, mas internamente ele era um político muito contestado pelos portugueses.

d) A caracterização da cidade de Lisboa tem o propósito de apresentar metaforicamente a situação histórica e política de Portugal em 1936.

e) Através da sua obra, José Saramago quis provar a máxima, atribuída a Ricardo Reis, de que sábio é aquele que se contenta com o espetáculo do mundo.

f) A personagem Ricardo Reis, de Saramago, é fidedignamente decalcada da concebida por Fernando Pessoa.

g) A deambulação de Ricardo Reis pela cidade de Lisboa assemelha-se, em muitos aspetos, à verificada em Cesário Verde.

h) A viagem literária a que se assiste na obra decorre do facto de o poeta Ricardo Reis ter regressado a Portugal, ao fim de dezasseis anos.

i) Camões é uma das figuras literárias mais relevantes em O ano da morte de Ricardo Reis.

j) A intertextualidade presente na obra concretiza-se sempre sob a forma de paródia.

k) Ricardo Reis estabelece uma relação simultânea com Lídia e Marcenda pelo facto de serem mulheres semelhantes.

l) De entre as duas mulheres, Lídia apresenta-se como a única capaz de resgatar Ricardo Reis da sua inércia.

m) O nome Marcenda, etimologicamente, espelha a sua personalidade.

n) A obra apresenta uma estrutura circular, uma vez que a ação começa com Ricardo Reis a regressar do Brasil.

o) O tom oralizante de Saramago é evidente sempre que as personagens falam em discurso direto.

p) Uma das marcas do estilo de Saramago é a proliferação e a mistura de diferentes modos de relato do discurso.

q) O estilo de Saramago distingue-se do de outros autores pelo facto de não usar nenhum sinal de pontuação.

1.1. Corrija as afirmações que classificou como falsas.

TestesExames_Ed_lit_6pp.indd 139 03/10/17 20:55

LEITURA E ESCRITA

164

APRECIAÇÃO CRÍTICA

RECORDANDO

Características do género textual – apreciação crítica.

Definição e marcas

Texto de apreciação valorativa de um determinado objeto (livro, disco, exposi-ção, peça de teatro, filme…), observando--se, sob uma perspetiva crítica, as suas características, funcionalidades e inte-resse.

• Estrutura tripartida.

• Encadeamento lógico dos tópicos abordados.

• Recurso a mecanismos de coesão – conectores, deíticos…

• Linguagem valorativa.

• Utilização expressiva da pontuação e da linguagem.

• Predomínio dos nomes e dos adjetivos.

PRATICANDO

Leia o seguinte texto.

AS OITO MONTANHAS

Quando um livro traz uma aura de “grande sensação”, por ter sido disputado furiosamente por agentes e editoras na Feira de Frankfurt, o crítico desconfia. Na maior parte dos casos, chega-se depressa à conclusão de que foi muito barulho por nada. De futuros “clássicos” e livros “de que toda a gente fala”, mas que rapidamente são esquecidos, está o inferno da literatura cheio.

As oito montanhas, de Paolo Cognetti, um escritor milanês de 39 anos, até agora apenas relativamente conhecido em Itália, poderia ser um exemplo perfeito do que acabámos de referir, porque nos chega com o selo de grande “fenómeno” da Feira de Frankfurt em 2016, onde os seus direitos foram vendidos para mais de 30 países, ainda antes de a edição original ter visto a luz do dia. Mas cedo compreendemos que a desconfiança, neste caso, não se justifica.

Sem ser genial, longe disso, é um belo livro sobre a amizade masculina, a complexidade das rela-ções familiares e o espírito de montanha. Há dois eixos principais nesta história. O primeiro é vertical: a relação de Pietro, o protagonista e narrador, com o pai, um homem que se sentia mortificado pela vida citadina, em Milão, mas se libertava ao chegar à montanha, não resistindo ao apelo de subir sempre mais, até aos picos lá no alto. Seguindo atrás, o filho aprende a ler a Natureza, a conhecer os caminhos no bosque, a arte da escalada, as armadilhas da neve, o esplendor dos glaciares, mas recebe sobretudo lições intensivas de solidão.

5

10

15

20

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

TestesExames_leitura_6pp.indd 164 03/10/17 20:49

165

Cognetti mergulha-nos com infinita delicadeza nos meandros desse amor impalpável, quase sem-pre feito de silêncios, à semelhança do que fará depois com o segundo eixo, horizontal: o da amizade entre Pietro e Bruno, um rapaz da aldeia, incapaz de abandonar a montanha, de trocá-la pela incerteza da vida abaixo dos 2000 metros de altitude.

Pietro vai e vem, apaixona-se, desilude-se, parte em viagem, reflete sobre as perdas, regressa às origens. Bruno, pelo contrário, está sempre ali, primeiro a pastorear as vacas, depois trabalhando nas obras, ou investindo numa produção de queijos que corre mal. Ele é um verdadeiro “montanhês”.Entre os dois, o vínculo criado na infância nunca se dissolve. E é por isso que cumprem a vontade do pai de Pietro, que deixa em herança ao filho uma casa em ruínas, com a condição de serem os dois a pô-la de pé, reconstruindo-se a eles mesmos no processo.

A prosa de Cognetti é rica em pormenores, mostra-nos a montanha como lugar vivo, recupera a dimensão telúrica1 dos grandes escritores da Natureza, como Henry David Thoreau. Os dias lá em cima são por vezes duríssimos, de tão isolados e gélidos, mas não é difícil perceber o apego de Pietro àquelas paisagens. Quando chove água misturada com neve, sob um céu “indeciso entre o inverno e a primavera”, eis o que assinala o narrador: “As nuvens ocultavam as montanhas e roubavam volume às coisas, mas mesmo numa manhã deste género conseguia perceber a beleza daquele lugar. Uma beleza sombria, ácida, que não infundia paz mas essencialmente força e alguma angústia.”

É esta beleza difícil e agreste que as páginas de As oito montanhas exaltam, sem falsas nostalgias. Pietro, o nosso guia melancólico, conduz-nos pelas veredas de um mundo que sentimos ser verdadeiro e, por isso mesmo, fatalmente inapreensível.

José Mário Silva, in E, Expresso, edição n.o 2325, 20 de maio de 2017.

25

30

35

40

1 relativa à terra.

Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

1. A alusão ao aforismo popular (“De boas intenções está o inferno cheio”), no primeiro parágrafo, pretende

(A) aludir à aspereza do espaço onde se desenrola a ação da obra em apreço.

(B) sugerir que, por vezes, os livros mais publicitados e desejados não são os melhores.

(C) referir o clima de rivalidade entre autores e editores que se vive na Feira de Frankfurt.

(D) censurar a desconfiança dos críticos literários face às obras divulgadas em feiras literárias.

2. A grande distinção do livro As oito montanhas, na Feira de Frankfurt,

(A) ocorreu devido ao esforço do agente do autor para publicar a obra.

(B) deveu-se ao renome que o seu autor tinha no meio literário.

(C) foi o prenúncio de que se trata efetivamente de uma obra-prima.

(D) confirmou que, não sendo uma obra-prima, o livro não desmerece o destaque.

3. Nesta obra, cruzam-se dois eixos temáticos:

(A) a amizade a que se obrigam os montanhistas e as relações familiares.

(B) a complexidade das relações familiares, o amor paternal e o amor entre jovens de meios diferentes.

(C) a preparação para a vida, através do amor paternal, e a amizade e cooperação entre jovens de meios diferentes.

(D) a solidão da vida na montanha e as dificuldades invencíveis da vida citadina.

LEITURA

TestesExames_leitura_6pp.indd 165 03/10/17 20:49

166

4. As personagens Pietro e Bruno evidenciam

(A) as incertezas e mudanças da vida citadina por oposição às monótonas vivências na montanha.

(B) a dureza da vida na montanha por oposição à leveza da vida na cidade.

(C) os problemas da vida na cidade e o bucolismo da vida na montanha.

(D) que é possível viver na montanha, embora de forma infeliz.

5. A vida na montanha é dura,

(A) por isso, Pietro deambula entre o campo e a cidade, onde se fixa após uma viagem.

(B) no entanto, o rapaz da cidade reconstrói relutantemente a casa que o pai aí lhe deixara.

(C) logo, Pietro prefere a vida na cidade, apesar de manter a amizade com Bruno.

(D) constrastando com a sua beleza e com a força que este espaço transmite.

6. Sintetize as características do género textual “apreciação crítica”, transcrevendo seg-mentos textuais que ilustrem as marcas registadas.

a) Descrição sucinta do objeto.

b) Comentários pessoais.

c) Linguagem valorativa.

d) Fundamentação da perspetiva em argumentos, exemplos e citações da obra.

RECORDANDO

PRATICANDO

APRECIAÇÃO CRÍTICA

TestesExames_leitura_6pp.indd 166 03/10/17 20:49

ESCRITA

186

A TORTO E A DIREITO

“Que farei quando tudo arde” é um verso de Sá de Miranda, antes de ser título de um romance de António Lobo Antunes. É também uma pergunta que ganha hoje um sentido literal. Sinistra-mente literal. Não há estetização que alivie do luto uma paisagem ardida (não há Benetton que a salve, se é que me faço entender). A morte fixada no negrume da terra. Aos cenários pós-apocalípti-cos, as televisões vêm preferindo, porém, a dança vermelha das chamas. Horas e horas de monótona pirotecnia. E chamam a isso reportagem. Mediação: zero. Reflexão: zero. “Boa tarde. Pode dizer--me o que está a sentir?” […] Descobre-se, entretanto, o “terro-rismo incendiário”, uma particularidade portuguesa que não nos deixa ficar atrás dos outros que lá têm os seus terrorismos e as suas supremacias. Até há pouco, dominava a figura solitária do pi-rómano retardado, versão “parvo da aldeia” aliciado as mais das vezes por madeireiros para atear a desgraça. Anos nisto. […] Este verão, passamos do “parvo da aldeia” à sofisticação organizada. “É uma cabala”, garantem-nos. […] Enquanto isso, a natureza, in-diferente aos estados de alma e à incúria dos humanos, continua a lavrar a sua obra. Valha-nos o ministro Capoulas Santos que já veio anunciar a maior revolução da floresta desde D. Dinis, o rei Lavrador e Poeta. Porém, escaldados pelos anos e anos de incên-dios e promessas, muitos são os que legitimamente perguntam se Capoulas Santos lhes estará a cantar a cantiga de amigo ou do bandido.

Ana Cristina Leonardo, in E, A revista do Expresso, edição n.o 2338, de 19 de agosto de 2017.

5

10

15

20

Marcas específicas

– Explicitação de um ponto de vista.

– Clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos.

– Discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

PRATICANDO

“A educação é a arma mais forte que se pode usar para mudar o mundo.”Nelson Mandela

Num texto de 150 a 200 palavras dê a sua opinião sobre o contributo da educação, nomeadamente da educação ambiental, para a sustentabilidade do planeta.

Fundamente o seu ponto de vista recorrendo a argumentos e a exemplos significativos.

TEXTO DE OPINIÃO

EXEMPLIFICANDO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

TestesExames_escrita_6pp.indd 186 03/10/17 20:53

GRAMÁTICA

ESCRITA

249

GRAMÁTICA

SEMÂNTICA

Valor temporal

A categoria Tempo serve para localizar as situações (eventos ou estados) expressas em diferentes enunciados.

É através dos tempos verbais que mais frequentemente se marca essa localização. Porém, os advérbios ou expressões adverbiais de tempo ou até certas construções podem também ter essa função.

Uma situação localiza-se temporalmente em relação a um outro tempo que pode ser mar-cado de diversas formas. Assim, conclui-se que o tempo linguístico é uma categoria relacional.

Os tempos gramaticais referem-se ao tempo entendido como ordenação linear orientada do passado para o futuro, levando a considerar-se que os tempos gramaticais se articulam em três domínios:

• passado, usado para referências a ações anteriores ao momento da enunciação;

• presente, que se reporta ao momento da enunciação e ao que lhe é simultâneo ou sobreposto;

• futuro, o que é posterior ao “agora” do enunciador.

Assim, estabelecem-se relações de anterioridade, simultaneidade e posterioridade, que podem expressar-se através dos tempos verbais e/ou de certos advérbios ou orações temporais. A título de exemplo, observe-se a tabela seguinte:

Relações temporais

Exemplos Formas de realização

Anterioridade

Antes de analisarmos a obra de Manuel da Fonseca, é necessário lermos a sua biografia.

A relação de anterioridade é dada pela utilização de uma oração subordinada adverbial temporal. Assim, a atividade de leitura da biografia de Manuel da Fonseca realizou-se num tempo anterior ao da análise da sua obra.

Ontem li um texto interessante sobre O fogo e as cinzas.

Quer o advérbio quer o tempo verbal se referem a uma situação que ocorreu no passado, num momento anterior ao da enunciação.

O aluno disse ao professor que tinha analisado o conto com o colega após ter chegado à biblioteca.

Todas as situações descritas são anteriores ao momento da enunciação. A situação descrita em que tinha analisado o conto com o colega após ter chegado à biblioteca ocorre antes da expressa na oração subordinante. Contudo, a oração temporal descreve uma situação que, por sua vez, também é anterior a tinha analisado o conto com o colega.

Simultaneidade

Manuel da Fonseca observava gravuras do Alentejo enquanto criava os contos.

Logo que comprei o livro, iniciei a sua leitura.

A simultaneidade resulta da utilização da oração subordinada adverbial temporal – enquanto criava os contos e Logo que comprei o livro.

PosterioridadeAnalisarei o poema depois de sair da escola.

A relação de posterioridade é dada pela utilização de uma oração subordi-nada adverbial temporal. Assim, a ação de analisar o poema realizar-se-á num tempo posterior ao de sair da escola.

TestesExames_gramatica_4pp.indd 249 03/10/17 21:25

250

Valor aspetual

O aspeto é a categoria gramatical que exprime a estrutura temporal interna de uma situação.

As categorias tempo e aspeto são distintas. Porém, há formas verbais que exprimem simultaneamente um valor temporal e aspetual.

Ex.: Ricardo Araújo Pereira faz críticas destrutivas.A forma verbal tem valor temporal de presente e um valor aspetual habitual, porque expressa uma situação repetida no tempo.

O valor aspetual de um enunciado é construído com base em informação lexical e gra-matical. A construção gramatical do valor aspetual relaciona-se com o valor dos tempos verbais, de verbos auxiliares, de estruturas de quantificação, de certos tipos de nomes, ou de modificadores. A combinação de elementos deste tipo permite representar uma situação como culminada/concluída (valor perfetivo), não culminada (valor imperfetivo), genérica, habitual ou iterativa.

SEMÂNTICA

Valores aspetuais

Caracterização Exemplificação

Perfetivo

Situação culminada, ou seja, a situação expressa no enunciado é considerada concluída, completa.

O tempo verbal normalmente associado a este aspeto é o pretérito perfeito do indicativo.

• Fernando Pessoa criou a teoria do fingimento artístico.

Imperfetivo

Situação não culminada, isto é, a situação expressa pelo enunciado está ainda em curso ou os limites não são indicados.

O tempo verbal normalmente associado a este aspeto é o pretérito imperfeito do indicativo.

• Os alunos escreviam sobre a poesia de Fernando Pessoa.

• Fernando Pessoa desdobrava-se em heterónimos para escrever.

Genérico

Situação que surge em enunciados relativos a situações intemporais e uni-versais.

Os tempos verbais habitualmente associados a este aspeto são o presente do indicativo e o infinitivo impessoal, conjugado com grupos nominais de interpretação genérica.

• A poesia é imortal.

• Ler é alimentar o espírito.

Habitual

Situação que surge em enunciados que expressam uma pluralidade infinita de acontecimentos que se sucedem num período de tempo ilimitado.

Os tempos verbais mais associados a esta situação são o presente do indicativo e o pretérito imperfeito do indicativo, dependendo do ponto de referência da enunciação. São também recorrentes expressões como costumar, ser costume, ser habitual.

• Costumamos estudar Fernando Pessoa no 12.o ano.

• Estudavam Caeiro depois de Fernando Pessoa ortónimo.

Iterativo

Situação que surge em enunciados que apresentam eventos que se repetem num período de tempo, limitado ou não.

O pretérito perfeito composto produz um efeito iterativo do mesmo modo que construções como andar a…

• Os alunos têm estudado Fernando Pessoa ao fim de semana.

• Ele lia poemas sempre que arranjava tempo para isso.

TestesExames_gramatica_4pp.indd 250 03/10/17 21:25

ESCRITA

252

PRATICANDO

1. Leia as seguintes frases e resolva as atividades. a) Logo que cheguei a Paris, percebi que a cidade me atraía.

b) Farei o que me pedes depois de regressar de França.

c) Ontem, comecei a desenhar o percurso que me levará à Torre Eiffel.

d) Tomei a decisão de, no futuro, visitar uma cidade por ano.

e) Quando voltar a viajar, escolherei um país do norte da Europa.

f) Mal regresse, tratarei de distribuir os presentes pela família.

1.1. Indique a relação temporal que se estabelece entre a primeira e a segunda ação de cada enunciado, assim como as marcas que a evidenciam, preenchendo a tabela.

2. Indique o valor aspetual do verbo, de acordo com o conteúdo das frases, referindo as marcas. a) A leitura abre janelas sobre o mundo.

b) Fernando Pessoa publicou textos na revista Orpheu.

c) O autor de Mensagem frequentava o café Martinho da Arcada.

d) As manifestações artísticas, como o teatro, a música ou o cinema, são promotoras da cultura.

e) Na infância, o João lia autores portugueses do século XX durante o mês de junho.

f) A professora de Português lia habitualmente poemas de Ricardo Reis no fim de cada aula.

g) O João estava a ler a composição quando a campainha tocou.

h) Ultimamente, tenho lido muitos poemas de Alexander Search.

SEMÂNTICA

Relação temporal Marcas

a)

b)

c)

d)

e)

f)

TestesExames_gramatica_4pp.indd 252 03/10/17 21:25

ESCRITA

254

1. O autor mostra-se reconhecido (A) a Azio Corghi por este ter adaptado as suas obras Memorial, Evangelho

e in Nomine Dei ao teatro.

(B) a Madalena Crippa por esta ter ousado desafiar Jesus.

(C) por a sua obra ser interpretada na Igreja San Marco, de Milão.

(D) a Azio Corghi por este ter escolhido a sua obra e a ter adaptado ao canto lírico.

2. A intervenção de Don Marcandalli justifica-se pois (A) a obra de Saramago não é fiel às crenças católicas.

(B) a obra de Saramago é perpassada por um tom ateísta que causaria dissabores.

(C) trata-se da recitação de um conjunto de textos sagrados.

(D) não tinha sido ele a autorizar a utilização da igreja para a representação.

FICHA 5

Leia o seguinte texto e responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

12 de abril

Nunca agradecerei bastante a Azio Corghi as alegrias que me anda a dar. Agora foi a sua cantata A morte de Lázaro, interpretada em Milão, na Igreja de San Marco, pelo coro do Teatro alla Scala, sobre textos extraídos do Memorial, do Evangelho e de In Nomine Dei. Uma atriz, Madalena Crippa, foi uma magnífica “voz recitante”, encarnando Maria de Magdala, aquela que ousou dizer a Jesus: “Ninguém na vida teve tantos pecados que mereça morrer duas vezes.” Antes do concerto, que incluía também alguns Motteti per la Passione e Tre cori sacri de Petrassi, o pároco de San Marco, Don Marcandalli, botou fala. Já nos tinham chegado rumores de que assim iria ser: antes de que a heresia retumbasse sob as santas abóbadas haveria que tranquilizar os fiéis. Don Marcandalli começou por dizer que a decisão de permitir a execução da cantata naquela igreja havia sido tomada por quem, na Cúria, tinha competência e autoridade para tal (não foram exatamente estas palavras, mas o sen-tido, sim) após o que entrou no miolo do assunto: reconheceu que o texto evangélico do episódio era tratado “com uma certa fidelidade”, exceto, claro está, no seu final, ao ser negada a ressurreição. “Acho compreensível”, declarou o pároco, “que o autor, não sendo crente, não aceite o mistério da Ressurreição. Um teólogo ortodoxo vivo disse que ‘a morte é a evidência da História, a Ressurreição é o segredo da fé’. Ora, Saramago não tem o dom da fé.” O melhor, porém, vem agora: “Mas não poderá este concerto tornar-se numa espécie de ‘pré-evangelização’, quase como uma forma de Cátedra dos não crentes, iniciativa tão cara ao cardeal arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini?”

Esta Igreja Católica, realmente, sabe-a toda: há de arranjar sempre a maneira de levar a água ao seu moinho… Seja como for, se Don Marcandalli esperou ouvir balir indignadas as suas ovelhas contra os blasfemos autores, saiu frustrado: os aplausos foram muitos, as palmas e os bravos recompensaram o atrevimento. No final, deixei o Don Marcandalli completamente desconcertado: fui cumprimentá-lo e agradecer-lhe a hospitalidade da sua igreja…

José Saramago, Cadernos de Lanzarote III, 4.a ed., Fundação José Saramago e Porto Editora, 2016.

5

10

15

20

25

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

TestesExames_gramatica_4pp.indd 254 03/10/17 21:25

ESCRITA

262

Leia o seguinte texto e responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.

“E agora, José?[…] você marcha, José!José, para onde?”

Carlos Drummond de Andrade

Ainda hoje estou a ouvir aquele “é”. Espantoso como bruscamente o meu eu se transformou ali noutro alguém, noutro personagem menos imediato e menos con-creto.

Nesta introdução à perda de identidade que um transtorno do cérebro tinha aca-bado de desencadear, o que parece desde logo implacável e irreversível é a precisão com que em tão rápido espaço de tempo fui desapossado das minhas relações com o mundo e comigo próprio. Como se acabasse de dar início a um processo de despersonalização, eu tinha-me transferido para um sujeito na terceira pessoa (Ele, ou o meu nome, é) que ainda por cima se tornava mais alheio e mais abstrato pela imprecisão parece que. Além disso, a circunstância de ter respondido à Edite com o apelido e não com o meu primeiro nome, o mais cúmplice entre marido e mu-lher e o único que nos era natural, é outro indício do distanciamento provocado pelo golpe de azar que me destituíra de memória e de passado.

Ele, o Outro. O outro de mim. Em menos de nada, já a Edite falava ao telefone com os médicos sobre esse alguém impessoal que eu estava a começar a ser.

Ouvia-a do meio do hall em grande serenidade. Sabia, tenho essa ideia, que al-guma coisa se estava a passar comigo, uma coisa oculta, ativa, mas nessa altura já principiava a ouvir e a sentir só de passagem, sem registar. (Mesmo assim tinha algum conhecimento da ansiedade que me rodeava: Isto não vai ser nada, creio ter dito à Sylvie quando a descobri no corredor, atenta aos telefonemas da Edite.)

Lembro-me de que essa manhã foi invadida por um aguaceiro desalmado, ouvia--se uma chuva grossa e pesada lá fora mas deve ter sido passageira porque quando acabou a Edite ainda estava ao telefone. A partir de então tudo o que sei é que me pus ao espelho da casa de banho a barbear-me com a passividade de quem está a barbear um ausente – e foi ali.

Sim, foi ali. Tanto quanto é possível localizar-se uma fração mais que secreta de vida, foi naquele lugar e naquele instante que eu, frente a frente com a minha imagem no espelho mas já desligado dela, me transferi para um Outro sem nome e sem me-mória e por consequência incapaz da menor relação passado-presente, de imagem--objeto, do eu com outro alguém ou do real com a visão que o abstrato contém. Ele. O mesmo que a mulher (Edite, chama-se ela mas nada garante que esse homem ainda lhe conheça o nome, que não a considere apenas um facto, uma presença) exato, esse mesmo Ele, o tal que a Edite irá encontrar, não tarda muito, a pentear-se com uma escova de dentes antes de partirem de urgência para o Hospital de Santa Maria e o mesmo que, dias depois, uma enfermeira surpreenderá em igual operação ao espelho do lavatório do quarto.

Dias depois, quando?Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é passado morto.

Perde-se a vida anterior. E a interior, bem entendido, porque sem referência do pas-sado morrem os afetos e os laços sentimentais. E a noção do tempo que relaciona

5

10

15

20

25

30

35

40

FICHA GLOBAL 210.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

10.oANO

10.oANO

11.oANO11.oANO

12.oANO12.oANO

TestesExames_gramatica_4pp.indd 262 03/10/17 21:25

ESCRITA

255

3. O discurso de Don Marcandalli (A) surpreende Saramago porque o pároco aceita facilmente a ausência de fé do

autor.

(B) desagrada ao autor do texto, pois o padre considera-o um homem desprovido de fé.

(C) surpreende o autor pela forma como o pároco consegue entender a cantata como uma espécie de “pré-evangelização”.

(D) é totalmente baseado na ausência de fé do autor português.

4. A atitude final de Saramago (A) é uma provocação à Igreja Católica.

(B) é reveladora da sua gratidão à Igreja Católica.

(C) não faz sentido nenhum.

(D) causou estranheza ao pároco de San Marco.

5. O complexo verbal presente no primeiro período do texto tem um valor aspetual (A) habitual.

(B) iterativo.

(C) perfetivo.

(D) genérico.

6. O segmento “Mas não poderá este concerto tornar-se numa espécie de ‘pré-evan-gelização’” (ll. 19-20) configura a modalidade

(A) epistémica com valor de certeza.

(B) deôntica com valor de permissão.

(C) epistémica com valor de probabilidade.

(D) apreciativa.

7. O segmento compreendido entre “No final…” (l. 26) e “da sua igreja…” (l. 28) exem-plifica uma sequência textual dominantemente

(A) narrativa.

(B) dialogal.

(C) argumentativa.

(D) explicativa.

8. Transcreva o segmento correspondente ao complemento direto da oração subor-dinante do primeiro período do texto.

9. Classifique a oração “que o texto evangélico do episódio era tratado ‘com uma certa fidelidade’” (ll. 14-15).

10. Indique o mecanismo de coesão assegurado pela utilização dos pronomes no segmento “fui cumprimentá-lo e agradecer-lhe a hospitalidade da sua igreja…” (ll. 27-28).

GRAMÁTICA

TestesExames_gramatica_4pp.indd 255 03/10/17 21:25

ESCRITA

263

GRAMÁTICA

1. O narrador relata um acontecimento (A) visionário que o fez compreender melhor as suas relações com o mundo

e consigo próprio.

(B) ocorrido com a sua mulher, Edite.

(C) de que tem apenas vagas lembranças, dado o estado em que se encontrava.

(D) com uma enorme precisão, já que lhe ficou desde sempre gravado na me-mória.

2. A perda de identidade do sujeito de enunciação deve-se (A) a um problema de angústia existencial.

(B) a uma identificação total com Fernando Pessoa.

(C) a um distúrbio cerebral.

(D) a uma queda no Hospital de Santa Maria.

3. Este texto classifica-se como sendo (A) um diário.

(B) uma memória.

(C) uma apreciação crítica.

(D) uma exposição sobre um tema.

4. No segmento “Ainda hoje estou a ouvir aquele ‘é’” (l. 5) estão presentes deíticos (A) temporais, espaciais e pessoais.

(B) pessoais e temporais.

(C) pessoais e espaciais.

(D) temporais e espaciais.

5. Na frase “Espantoso como bruscamente o meu eu se transformou ali noutro al-guém” (ll. 5-6), evidencia-se a modalidade

(A) epistémica com valor de certeza.

(B) epistémica com valor de probabilidade.

(C) deôntica com valor de permissão.

(D) apreciativa.

as imagens do passado e que lhes dá a luz e o tom que as datam e as tornam significantes, também isso. Verdade, Também isso se perde porque a memória, aprendi por mim, é indispensável para que o tempo não possa ser medido como sentido. Assim, ao ver o meu Outro eu a pentear-se com uma escova de dentes num quarto de hospital (conforme me contaram depois) pergunto-me quantas vezes lhe aconteceu aquilo e logo de instante vejo uma enfermeira a aparecer-lhe por trás e a trocar-lhe a escova pelo pente, sem um comentário, sem uma palavra sequer, pura e simplesmente na prática de quem executa uma rotina. E ele a obedecer-lhe sem a menor resistência, ele como que a cumprir a parte que lhe compete nessa rotina.

José Cardoso Pires, DE PROFUNDIS, Valsa lenta, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997.

45

50

TestesExames_gramatica_4pp.indd 263 03/10/17 21:25

ESCRITA

264

6. O valor aspetual configurado em “fui desapossado” (l. 10) é (A) iterativo.

(B) perfetivo.

(C) imperfetivo.

(D) genérico.

7. O segmento “quantas vezes lhe aconteceu aquilo” (ll. 49-50) desempenha a função sintática de

(A) complemento direto.

(B) complemento indireto.

(C) complemento oblíquo.

(D) modificador.

8. Classifique o modo de relato do discurso presente na epígrafe que encabeça o texto (ll. 1-3).

9. Classifique as orações presentes em “Lembro-me de que essa manhã foi invadida por um aguaceiro desalmado” (l. 25).

10. Identifique o mecanismo de coesão presente em “e foi ali” / “Sim, foi ali” (ll. 29 e 30).

FICHA GLOBAL 2 – 10.o | 11.o | 12.o ANO

TestesExames_gramatica_4pp.indd 264 03/10/17 21:25