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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - PUC-SP ANDRÉA TAFARELO USO DOS “READERS” NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL I ESPECIALIZAÇÃO EM PRÁTICAS REFLEXIVAS E ENSINO- APRENDIZAGEM DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA SÃO PAULO 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO -

PUC-SP

ANDRÉA TAFARELO

USO DOS “READERS” NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL I

ESPECIALIZAÇÃO EM PRÁTICAS REFLEXIVAS E ENSINO-

APRENDIZAGEM DE INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA

SÃO PAULO

2015

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ANDRÉA TAFARELO

USO DOS “READERS” NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL I

Monografia apresentada à Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência parcial para a

obtenção do título de Especialista em Práticas

Reflexivas e Ensino-Aprendizagem de Inglês na Escola

Pública, sob orientação da Professora Doutora Ana

Maria Affonso Cunha.

SÃO PAULO

2015

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo verificar a utilização do livro paradidático “Readers” com

alunos que estão em processo de alfabetização na Língua Portuguesa. Este estudo de caso

examinou a aplicação dos livros com os alunos de duas turmas do primeiro ano do Ensino

Fundamental I. Para a coleta de dados foram utilizados questionário e gravação das aulas em

áudio. A pesquisa desenvolvida com a utilização dos livros paradidáticos foi fundamentada no

conceito de Atividade Social proposta por Liberali (2009, 2012) que promove a interação

entre alunos e professor em situações reais de uso da Língua Inglesa, favorecendo a criação da

Zona de Desenvolvimento Proximal (Vigotski, 1998). Também houve a necessidade de

reconstruir o material paradidático para que o conhecimento prévio dos alunos contribuísse

para a aquisição de novos conhecimentos na Língua Inglesa e sendo assim foram consideradas

as orientações de Leffa (2003), Ramos (2009) e Tomlinson (2010). As estratégias de leitura

sugeridas por Clarke (2012) e Lajolo (2001) contribuíram na criatividade da aplicação de

atividades de pré, durante e pós-leitura. Os resultados mostraram que os participantes usaram

a Língua Inglesa na sala de aula com atividades contextualizadas e significativas no processo

de ensino-aprendizagem de acordo com a leitura dos títulos dos livros paradidáticos

“Readers”.

Palavras-chave: Atividade social. Zona de desenvolvimento proximal. Livro

paradidático. Língua inglesa.

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ABSTRACT

This paper has the objective to verify the use of paradidactic book Readers with students who

are in process of literacy in Portuguese. This study case examined the application of the books

with students of two classes of the elementary school first year. For the collection of the data

has been used questionnaires and audio recording of the classes. The research developed

using the paradidactic books was based on the concept of Social Activity proposed by Liberali

(2009, 2012) that promotes interaction between students and teacher in real situations of the

use of the English language, favoring the creation of the Zone of Proximal Development

(Vigotski, 1998). There was also the need to re-elaboration the paradidactic material for the

prior knowledge of the student contributes to the acquisition of new knowledge in English

language and therefore I considered the guidelines of Leffa (2003), Ramos (2009) and

Tomlinson (2010). The reading strategies suggested by Clarke (2012) and Lajolo (2001)

contributed to the creativity of the application of pre activities, during and post-reading. The

results showed that participants used the English language in the classroom with

contextualized and meaningful activities in the process of teaching-learning according to

reading the titles of paradidactic books Readers.

Key-words: Social activity. Zone of proximal development. Paradidactic books. English

language.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Participantes da pesquisa............................................................................... 27

Quadro 2 – Preferência dos alunos nas aulas de inglês.................................................... 34

Quadro 3 – Leitura de histórias na EMEI......................................................................... 35

Quadro 4 – Frequência anterior de leitura........................................................................ 35

Quadro 5 – Atividades pós-leitura já realizadas pelos alunos ......................................... 36

Quadro 6 – Experiências com leituras apontadas pelos alunos ....................................... 37

Quadro 7 – Experiências com livros................................................................................. 37

Quadro 8 – Histórias preferidas........................................................................................ 37

Quadro 9 – Experiências com livros de história em inglês.............................................. 38

Quadro 10 – Interesse para ver livro com história em inglês............................................. 38

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LISTA DE SIGLAS

CEFAI Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão

EMEI Escola Municipal de Educação Infantil

FUNAI Fundação Nacional do Índio

L1 Primeira Língua

L2 Segunda Língua

LE Língua Estrangeira

SAAI Sala de Apoio e Acompanhamento à Inclusão

TASHC Teoria da Atividade Sócio-Histórico-Cultural

TSHCA Teoria Sócio-Histórico-Cultural e da Atividade

TEG Transporte Escolar Gratuíto

UBS Unidade Básica de Saúde

ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 08

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................. 12

1.1 ATIVIDADE SOCIAL............................................................................................. 12

1.2 CONSTRUÇÃO E ANÁLISE DO MATERIAL DIDÁTICO................................. 15

1.3 ESTRATÉGIAS DE LEITURA............................................................................... 19

2 METODOLOGIA DE PESQUISA.......................................................................... 22

2.1 ESCOLHA DA METODOLOGIA.......................................................................... 22

2.2 TIPO DE PESQUISA............................................................................................... 22

2.3 CONTEXTO DE PESQUISA.................................................................................. 24

2.4 PARTICIPANTES................................................................................................... 26

2.5 INSTRUMENTOS DE PESQUISA PARA COLETA DE DADOS...................... 27

2.5.1 Questionário para levantamento de informações.................................................. 28

2.5.2 Gravação de aula................................................................................................... 28

2.5.3 A seleção do material paradidático “readers”........................................................ 29

2.6 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS....... 30

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS................................................................ 34

3.1 QUESTIONÁRIO SOBRE LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES............... 34

3.2 CONHECIMENTO PRÉVIO.................................................................................. 39

3.3 MOTIVAÇÃO........................................................................................................ 44

3.4 INTERAÇÃO......................................................................................................... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 58

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REFERÊNCIAS............................................................................................................. 62

ANEXOS......................................................................................................................... 65

ANEXO A Portaria n° 5.361 de 04/11/2011................................................................... 66

ANEXO B Questionário para levantamento de informações ........................................ 69

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INTRODUÇÃO

O interesse em realizar pesquisas sobre como crianças aprendem inglês surgiu da

minha prática docente, pois desde o ano de 2012 foi implantado na Rede Municipal de Ensino

da Cidade de São Paulo, o ensino da língua inglesa para os alunos dos anos iniciais do Ensino

Fundamental I.

Durante a minha licenciatura em Letras, estudei diferentes métodos de ensino, porém

todos focados para os alunos do Ensino Fundamental II e Médio. Naquela época, pouco se

falava sobre diferentes metodologias de ensino de língua estrangeira para crianças. Quando

comecei a lecionar para esse público, senti a carência tanto de materiais quanto de métodos

adequados para desenvolver as aulas para as crianças, que estivessem de acordo com Portaria

n° 5.361 de 04/11/2011 que institui o programa “Língua Inglesa no Ciclo I” nas escolas da

Rede Municipal de Ensino (São Paulo, 2011). O referido documento encontra-se na íntegra no

ANEXO A deste trabalho.

A partir da realidade em que me encontrava, senti a necessidade de me qualificar para

poder atender de forma satisfatória os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental I e

fazer o melhor uso possível dos materiais que foram enviados para a escola pela comissão

responsável pela implantação do ensino da língua inglesa, uma vez que um dos objetivos para

se ensinar uma língua estrangeira é proporcionar à criança a construção de seu próprio

conhecimento, integrando-a a sociedade por meio do conhecimento de outras culturas, para

poder agir como agente transformador e construtor de uma nova forma de interagir no mundo

globalizado em que vivemos.

Um dos grandes desafios com que me deparei foi:

Como motivar os alunos desse segmento a aprenderem a língua inglesa?

Partindo dessa inquietação e do material didático disponível que tenho para trabalhar

com as crianças, surgiram as perguntas de pesquisa que procuro responder com este trabalho:

1. Como utilizar de forma eficaz o material existente (paradidáticos “Readers” 1)

para desenvolver a autonomia linguística em inglês nos alunos que ainda estão em

fase de alfabetização na língua materna?

1 Readers – São pequenos livros de gêneros de ficção ou não ficção que são especialmente escritos ou adaptados

para pessoas que estão aprendendo uma língua estrangeira.

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2. Como despertar o interesse do aluno, motivá-lo a aprender uma língua

estrangeira, sendo que a proficiência nesse estágio de aprendizagem é

praticamente zero?

3. Quais são as estratégias de ensino-aprendizagem necessárias para envolver o

aluno?

Com o objetivo de responder a essas perguntas, elaborei este estudo de caso. O campo

de coleta de dados foi uma escola da rede pública do Município de São Paulo e teve como

participantes 33 alunos (19 alunos da turma A e 14 alunos da turma B) de duas turmas do

primeiro ano do Ensino Fundamental I. Para coletar os dados apliquei um questionário em

que as respostas dadas pelos alunos durante as aulas em que foram realizadas as atividades de

pré, durante e pós-leitura dos livros paradidáticos foram gravadas em áudio, uma vez que eles

estão em fase de alfabetização na língua materna.

Da mesma forma como é o caso deste estudo, outras pesquisas com ênfase no ensino

de leitura para crianças e adolescentes vêm sendo realizadas, porém com aqueles que já foram

alfabetizados na língua materna, como apontam os estudos de Liberali (2009) em que propõe

a leitura de histórias em quadrinhos na língua inglesa para os alunos dos 7° e 8° anos e

Shimoura (2012) que aconselha o trabalho com histórias infantis, também na língua inglesa,

para os alunos do 6° ano. Tanto Liberali (2009) quanto Shimoura (2012) abordam o conceito

de Atividade Social em seus estudos acima mencionados.

Neste trabalho, utilizo o conceito de Atividade Social (Liberali, 2009; 2012) com os

livros paradidáticos “Readers” propondo situações de ensino-aprendizagem que sejam

significativos para os alunos, ou seja, o uso real da língua inglesa, com os alunos do 1° ano do

Ensino Fundamental I.

A Atividade Social possibilita a criação de Zonas de Desenvolvimento Proximal

(Vigotski, 1998) favorecendo a interação entre pares, sendo que o mais experiente é o

mediador no processo de ensino-aprendizagem.

Sendo assim, o professor irá assumir o papel de par mais experiente, propondo as

Atividades Sociais para o ensino da língua inglesa, utilizando os livros paradidáticos

“Readers” como um “artefato cultural que permitirá a transformação e o desenvolvimento da

atividade”. (LIBERALI, 2009, p. 11).

Além do material didático, os jogos ou brinquedos também são uma fonte de

motivação para que as crianças iniciem a aprendizagem de uma língua estrangeira, pois irão

proporcionar “situações em que as crianças precisam e querem se comunicar para terem

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garantida a sua participação”. (SHIMOURA, 2012, p. 38).

Para que o material didático atenda às necessidades dos alunos e eles se sintam

motivados a aprenderem a língua inglesa, se faz necessário a construção e análise do material

para que o ensino-aprendizagem seja significativo para os aprendizes. Conforme Leffa (2003)

para se obter sucesso com o material, ele deve acionar o conhecimento prévio do aluno, para

servir de andaime para o quê o aluno ainda não sabe.

Ramos (2009) em suas contribuições sobre análise do livro didático orienta que o

professor deve considerar o público-alvo, se o material a ser utilizado condiz com esse

público e o contexto de atuação para que o professor não se prejudique com sua escolha e

perceba o que precisa ser feito para que o material atenda às necessidades dos alunos.

As estratégias de leitura se fazem necessárias para trabalhar com os “Readers” e para

tanto, sigo algumas das orientações de Clarke (2012) e as recomendações de Lajolo (2001)

para que o ato de ler não seja banalizado por meio das fichas de leitura encartadas nos

materiais paradidáticos.

Dessa forma, a pesquisa desenvolvida é: “Como utilizar os “Readers” no ensino da

língua inglesa nas séries iniciais do Ensino Fundamental I?”. A problemática pesquisada foi

observada por mim, pelo fato de trabalhar com turmas heterogêneas, com alunos que já têm a

experiência com livros de historinhas na língua materna e agora estão vivendo a experiência

de manusear um livro paradidático na língua inglesa, pela primeira vez. Será algo que para

mim, vai trazer segurança na utilização do material em sala de aula e talvez agregue alguma

utilidade para os demais professores que assim como eu, sentem a mesma dificuldade.

Para que o desenvolvimento desta pesquisa ocorresse de forma satisfatória, foi

necessário aplicar as teorias para fundamentar a prática com o objetivo de tornar significativo

o processo de ensino-aprendizagem. A seguir, apresento uma breve descrição dos capítulos

que compõem esta monografia:

No Capítulo 1, intitulado Fundamentação Teórica, são apresentadas as teorias que

ajudaram a embasar esta pesquisa: Atividade Social, Construção e Análise do Material

Didático e Estratégias de Leitura.

No Capítulo 2, chamado de Metodologia de Pesquisa, são apresentados a abordagem

metodológica utilizada para a realização deste trabalho, o tipo de pesquisa, o contexto em que

o estudo foi realizado, os participantes, os instrumentos para coleta de dados usados, bem

como os procedimento para análise e interpretação do material coletado.

No terceiro capítulo, denominado Análise e Discussão dos Dados, as três perguntas de

pesquisa que constam na Introdução deste trabalho são respondidas, assim como analiso e

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discuto o questionário sobre levantamento de informações e os resultados da coleta de dados

realizada em campo, que divido por seções. São elas: conhecimento prévio, motivação e

interação.

Por último, as Considerações Finais revelam se o propósito da pesquisa foi alcançado,

quais as suas contribuições que talvez despertem interesse para aprofundar futuras pesquisas,

seguidas das Referências e dos Anexos que encerram este trabalho.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Considerando que este trabalho tem por objetivo levar em conta a utilização do

material paradidático denominado “Readers” com as crianças que estão em fase de

alfabetização na língua materna para proporcionar o ensino da língua inglesa, este capítulo

apresenta subsídios teóricos desenvolvidos em três seções. Na primeira, são apresentados os

teóricos que desenvolvem a Atividade Social; na segunda intitulada Construção e análise do

material didático são abordados os conceitos sobre como construir e analisar tais materiais e

na terceira e última parte são discutidas as Estratégias de leitura.

1.1 Atividade social

Este trabalho fundamenta-se no conceito de Atividade Social a partir da proposta de

ensino de língua estrangeira desenvolvido pela Professora Doutora Fernanda Coelho Liberali

(2009) e seu grupo de pesquisa. A Atividade Social parte do princípio de que “precisamos

estabelecer laços entre a escola e a vida”! (LIBERALI, 2009, p. 8) proporcionado situações de

ensino-aprendizagem que contemplem a interação entre os envolvidos, considerando o

contexto em que se encontram. A Atividade Social apoia-se na teoria de Vigotski (1998)

sobre a criação da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) e na Teoria da Atividade Sócio-

Histórico-Cultural (TASHC), que propõe o uso de atividades em que os sujeitos envolvidos

estejam em interação para satisfazer as suas necessidades (Ferreira, 2012; Engeström, 1999).

Vigotski (1998) foi um grande observador do comportamento infantil e seus estudos

apontam como ocorre a aprendizagem e o desenvolvimento intelectual nas crianças em idade

escolar.

Para Vigotski (1998) as crianças já começam a aprender muito antes de frequentarem

a escola, pois em seu ambiente, ao ensaiarem as primeiras perguntas e quando assimilam

nomes de objetos, já estão aprendendo. Sendo assim, “Aprendizado e desenvolvimento estão

inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança”. (VIGOTSKI, 1998, p. 110).

Quando a criança está em idade escolar e se quer analisar o nível de aprendizado, há

de se considerar dois níveis de desenvolvimento “... se o que queremos é descobrir as relações

reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado”. (VIGOTSKI,

1998, p. 111). São eles: o nível de desenvolvimento real e a zona de desenvolvimento

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proximal.

O nível de desenvolvimento real é aquele em que o desenvolvimento mental da

criança a capacita para solucionar, por exemplo, um problema ou tarefa sozinha.

A zona de desenvolvimento proximal é aquela em que os problemas ainda não podem

ser resolvidos pela criança de forma independente, mas com a assistência de um adulto ou de

um par mais experiente.

Sendo assim, “o estado de desenvolvimento mental de uma criança só pode ser

determinado se forem revelados os seus dois níveis: o nível de desenvolvimento real e a zona

de desenvolvimento proximal”. (VIGOTSKI, 1998, p. 113).

A atividade imitativa é também um recurso válido para promover a aprendizagem nas

aulas de língua inglesa, pois o professor ao assumir o papel de mediador e por meio dos

artefatos que dispõe (músicas, livros, as mímicas, etc) cria situações que podem ser imitadas

pelas crianças favorecendo a interação entre pares. De acordo com Vigotski (1998, p. 115):

As crianças podem imitar uma variedade de ações que vão muito além dos limites de

suas próprias capacidades. Numa atividade coletiva ou sob a orientação de adultos,

usando a imitação, as crianças são capazes de fazer muito mais coisas.

A Atividade Social favorece a criação de Zonas de Desenvolvimento Proximais

(ZDPs) a todos os envolvidos nos processos de aprendizagem e desenvolvimento, pois por

meio de ações propostas que promovam a interação e cooperação entre as crianças e adultos,

que sejam significativas e reais em seus contextos, são criadas as condições para que eles

possam agir futuramente com autonomia no mundo em que vivem.

Outra teoria que fundamenta a Atividade Social é a TASHC. De acordo com Liberali

(2009, p. 12):

A TASHC focaliza o estudo das atividades em que os sujeitos estão em interação

com outros em contextos culturais determinados e historicamente dependentes. Uma

atividade não é simplesmente um conjunto de ações. Para que esse conjunto de

ações possa ser compreendido como uma atividade, é preciso que os sujeitos nela

atuantes estejam dirigidos a um fim específico, definido a partir de uma necessidade

percebida. Em outras palavras, uma atividade é realizada por sujeitos que se

propõem a atuar coletivamente para o alcance de objetos compartilhados que

satisfaçam, mesmo que parcialmente, suas necessidades particulares. Na base de

toda atividade humana, está o desejo de alcançar meios de satisfação de suas

necessidades.

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Ferreira (2012) apresenta as contribuições da Teoria Sócio-Histórico-Cultural e da

Atividade (TSHCA) – advinda do pensamento de Vygotsky - “para promover

desenvolvimento na aula de LE (língua estrangeira²) e com a LE, ou seja, uma atividade de

aprendizagem transformadora/revolucionária”. (FERREIRA, 2012, p. 80). Para tanto,

considera-se “o uso de L1(primeira língua³), a comunicação na sala de aula de LE, tarefa e

motivo”, (FERREIRA, 2012, p. 80) reconceituando esses termos, que são comuns da área.

Sendo assim:

Essa reconceituação direciona-nos a conceber a aula de LE como uma atividade de

uso dessa língua (e tudo o que isso implica – erros, L1, reformulações, FP4–

reconhecendo portanto a relação dialética entre as funções reguladora e social

(comunicativa) da linguagem sem privilégio desta última) para o fazer sentido, para

o domínio de novas formas de mediação. (FERREIRA, 2012, p.80).

Conforme Engeström (1999, p. 29) o conceito de mediação por ferramentas e signos

não é meramente uma ideia psicológica. Parte-se do princípio de que os humanos podem

controlar seu próprio comportamento – “não de dentro”, com base em impulsos biológicos,

mas “de fora” usando e criando artefatos. Essa perspectiva não é apenas otimista a respeito da

autodeterminação humana, mas é um convite a sérios estudos sobre artefatos como

componentes integrais e inseparáveis do funcionamento humano.

Engeström (1999, p. 29) salienta que, quando Vygotsky formulou sua ideia de

mediação, ele estava muito consciente das implicações revolucionarias em matéria de

controle. Vygotsky (1978 apud ENGESTRÖN, 1999, p. 29) chama a mediação de artefato de

estímulo auxiliar.

Para concluir, Engeström (1999, p. 29) esclarece que, a Teoria da Atividade tem seu

potencial conceitual e metodológico para ser um pioneiro em estudos que ajudam os humanos

a ganharem controle sobre seus próprios artefatos e consequentemente, sobre seu futuro.

A partir dos princípios da Atividade Social que embasam o material analisado neste

trabalho procurei colocar em prática, novas maneiras de utilizar o referido material que tenho

para desenvolver as aulas de inglês no 1° ano do Ensino Fundamental. Para tanto, busquei

respaldo teórico sobre a construção de material didático que é desenvolvida na seção a seguir 2 Grifos da pesquisadora

3 Grifos da pesquisadora

4 FP - Fala Privada. "O termo fala privada (FP) foi criado por Flavel (1966) para designar a fala

intencionalmente direcionada para si mesmo”. (FERREIRA, 2012, p. 66).

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1.2 Construção e análise do material didático

Nesta seção, apresento orientações para a construção de material didático, objetivando

o ensino-aprendizagem de inglês para crianças. Inicio descrevendo as etapas necessárias na

produção de materiais de ensino trazendo em seguida uma lista de critérios fundamentais para

análise do material didático e encerrando esta parte com o uso dos recursos mentais na

construção de materiais para o ensino de uma segunda língua.

Leffa (2003) aponta pelo menos quatro etapas necessárias para a produção de

materiais de ensino da língua inglesa. São elas:

1- Análise. É o momento em que se deve considerar as necessidades dos aprendizes

como, por exemplo, as características pessoais, anseios, expectativas e a preferência por um

determinado estilo de aprendizagem. O questionário sobre análise de necessidades ajudará o

professor na produção de materiais que irão preencher possíveis lacunas no aprendizado dos

alunos.

2- Desenvolvimento. É a etapa posterior à análise das necessidades, na qual os

objetivos gerais e específicos são definidos. Essa definição contribui para direcionar a

atividade que está sendo desenvolvida com o uso do material, pois além de ajudar quem está

aprendendo, também ajudará o professor no momento de avaliar, pois terá meios de perceber

se o material está sendo eficiente na aprendizagem dos alunos.

Uma vez que os objetivos de aprendizagem estão definidos, torna-se necessário

“selecionar os conteúdos pelos quais os objetivos serão alcançados”. (LEFFA, 2003, p. 24).

Para a seleção dos conteúdos, o professor irá selecionar materiais de acordo com a abordagem

que ele tem mais afinidade, sendo que é quase impossível a utilização de apenas uma delas. A

própria prática de ensino do professor entrelaça mais de uma abordagem. São elas:

- Abordagem estrutural: considera apenas o ensino do léxico e da gramática da língua

estrangeira;

- Abordagem nocional/funcional: enfatiza o ensino das funções da língua, como por

exemplo, se apresentar, pedir desculpas, discordar, etc.

- Abordagem situacional: o ensino da língua foca situações em que sempre o mesmo

tipo de linguagem é usada, ou seja, quase não sofre alterações na maneira como se fala, por

exemplo: fazer uma abertura de reunião de negócios, fazer reserva em hotéis, etc.

- Abordagem baseada em competências: é aquela que o sujeito ativa o conhecimento

prévio para se comunicar em diferentes situações de uso da língua, mostrando o domínio

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(fonológico, lexical, sintático, discursivo, capacidade de detectar a ideia principal do texto,

fazer uma apresentação oral, etc.) que possui.

- Abordagem baseada em conteúdo: ensina aspectos da língua que o sujeito precisa

aprender. Parte do pressuposto de que ao prestar atenção no conteúdo, o aluno aprende de

forma incidental.

- Abordagem baseada em tarefa: o conteúdo linguístico a ser ensinado é baseado na

tarefa a ser executada, surgindo situações imprevisíveis durante a sua aplicação.

A concepção que o professor tem da língua estrangeira que irá ensinar ao aluno,

determinará a definição do conteúdo. Dessa forma, o ensino baseado na tarefa torna-se um

aliado na produção de materiais, pois irá aproximar o que se aprende na escola com o mundo

real, tornando a aprendizagem significativa para o aluno.

Segundo Leffa (2003), a produção do material de ensino é uma área totalmente

prática, pois a teoria irá apenas fornecer suporte para justificar as atividades propostas que

podem ser ousadas e inovadoras.

Os recursos a serem utilizados também precisam ser definidos, pois será o aporte pelo

qual a língua será apresentada ao aluno. Pode ser por meio de papel ou das novas tecnologias

da comunicação.

Há também de se considerar o ordenamento das atividades, começando pelo que é

mais fácil e ir aumentando o grau de dificuldade, além de não se descartar o critério da

necessidade, considerando o que é mais necessário e útil para o aluno. A união desses dois

critérios objetiva o alcance do ideal.

A motivação é também outro fator que deve ser considerado na produção de materiais.

“A atividade deve ser prazerosa para o aluno, despertar sua curiosidade e mantê-lo interessado

no assunto, mesmo depois que tenha terminado”. (LEFFA, 2003, p. 33).

3- Implementação. Nessa etapa, consideram-se três situações e as devidas estratégias

que devem ser usadas (Leffa, 2003):

a) Se o próprio professor irá aplicar o material desenvolvido: neste caso ele o faz de

modo intuitivo, complementando o que deve ser feito oralmente, pois se houver

algum tipo de erro ou mal-entendido, o professor os anota e reformula para uma

próxima aplicação do material;

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b) Se for aplicado por outro professor: sendo assim, tornam-se necessárias instruções

de como aplicá-lo para ser trabalhado com os alunos. O autor do material deve

explicar quais são os objetivos, qual é o conhecimento que será construído, como

conduzir a atividade, suas possíveis respostas, como trabalhar com as respostas

que os alunos dão etc.;

c) Se o aluno irá utilizar o material sem a presença do professor. Essa situação requer

maior cuidado e há dois desafios: dosar em medidas iguais o que o aluno precisa

aprender facilitando o acesso à informação, mas sem subestimar o saber que ele

precisa apreender, tentando prever as dúvidas do aluno pois, se ele for além do que

já está pré-construído, ficará sem retorno.

4- Avaliação. Pode ser realizada de diferentes formas, seja formal ou informal,

exigindo sempre a participação tanto do professor quanto do aluno.

O modelo de produção de materiais sugerido por Leffa (2003) se desenvolve centrado

na tarefa, ou seja, não está centrado nem no professor, nem no aluno.

Ramos (2009) aponta os processos de seleção e de implementação e/ou de adaptação

para selecionar e avaliar o material didático a ser utilizado em sala de aula. Material didático é

conceituado (TOMLINSON, 2001 apud RAMOS, 2009, p. 175) “como qualquer coisa que

pode facilitar a aprendizagem de língua”.

Em seu trabalho, Ramos (2009) propõe uma lista de critérios desenvolvida por ela para

auxiliar o professor a selecionar de forma sistemática o Livro Didático. Embora essa

monografia tenha o foco na utilização dos livros paradidáticos denominados “Readers” para o

ensino da língua inglesa direcionado às crianças, alguns critérios são perfeitamente úteis na

seleção do material paradidático que as escolas municipais de São Paulo receberam para

trabalhar com as elas.

Conforme Ramos (2009, p. 184; 185), alguns critérios são:

O público-alvo: a quem se dirige? (faixa etária, sexo, conhecimento prévio da

língua etc.).

O material selecionado contribui para a formação do cidadão?

O texto é adequado para a faixa etária?

Promovem interação? Colaboração? Cooperação? Autoestima?

Entretenimento? Geram solução de problemas? Promovem desenvolvimento

de habilidades cognitivas?

Há flexibilidade propiciando adaptações? Uso de outra sequência etc.?

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Focalizam ou promovem interdisciplinaridade? Transversalidade?

Ramos (2009) orienta ainda a considerar, em primeiro lugar, o público-alvo do

material didático, para verificar se o livro a ser utilizado condiz com esse público, para

descartar generalizações ou idealizações e considerar o grupo e contexto a quem se destina.

“Essa observação permite que o professor não seja prejudicado com sua escolha e também

perceba o que precisará ser feito para que o material atenda seu grupo de alunos e seu

contexto”. (RAMOS, 2009, p. 187).

Sendo assim, a seleção do material didático deve contemplar uma série de critérios de

análise considerando seu papel e função, pois “ele pode ser uma fonte de exemplos práticos e

ideias para que o professor dele se sirva”. (RAMOS, 2009, p. 195). Para que isso aconteça,

[...] é essencial que o professor saiba avaliar, modificar, complementar, levando em

conta os objetivos do curso, a realidade da escola em que trabalha (estrutura física,

recursos disponíveis etc.), as necessidades e desejos dos alunos, as necessidades

“locais” e, principalmente hoje, as novas concepções de ensino/aprendizagem e de

linguagem vigentes nos documentos oficiais. (RAMOS, 2009, p. 195).

Tomlinson (2010) sugere como princípio e procedimento para desenvolver materiais

para o ensino de línguas, o uso dos recursos mentais que os aprendizes usam quando

adquirem e usam a língua materna para beneficiá-los na aprendizagem da segunda língua. É

fato que fazemos uso da nossa fala interna para fazer planos, tomar decisões, entender e

controlar nosso ambiente e preparar declarações de voz exteriores antes de falar ou escrever

sobre assuntos do qual somos incitados a participar. Porém os aprendizes de uma segunda

língua não fazem uso dessa fala interna até atingir o nível avançado. Esse desempenho pode

ser facilitado com a interferência do professor e de materiais.

Sendo assim, Tomlinson (2010), no desenvolvimento de materiais usa como

princípios: fazer uso de materiais que levem os aprendizes a visualizarem e usarem a fala

interna antes, durante e depois da leitura ou escrita de um texto e antes, durante ou depois de

fazerem o uso da língua estrangeira. Ele ainda sugere o uso de atividades que ajudem os

aprendizes a refletirem em sua atividade mental durante a tarefa e tentarem fazer uso de mais

estratégias mentais em tarefas similares.

Tomlinson (2010) orienta na construção do material, propor atividades que

encorajem os alunos a visualizarem, usarem a fala interna e fazerem conexões com suas vidas.

Mas para se atingir esse objetivo, é importante saber o que os alunos querem e precisam e

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quanto ao desenvolvimento de materiais é preciso considerar que eles “precisam ser escritos

de tal forma que o professor possa fazer uso deles como um recurso e não como um roteiro a

ser seguido”. (TOMLINSON, 2010, p. 4).

A partir das considerações sobre construção e análise do material didático para o

ensino da língua inglesa para crianças com o uso dos livros paradidáticos, na seção a seguir,

discorro sobre estratégias de leitura apropriadas para o trabalho em sala de aula com crianças

que estão em fase de alfabetização na língua materna.

1.3 Estratégias de leitura

Nesta seção, escrevo sobre a forma tradicional de estratégias de leitura até então

trabalhadas por muitos professores, como as sugeridas por Clarke (2012) com as atividades de

pré, durante e pós-leitura e uma visão mais crítica para se trabalhar com leitura na sala de

aula, como é proposto por Lajolo (2001), que sugere aos professores que não se rendam as

fichas de leituras encartadas nos materiais didáticos e paradidáticos.

O uso de ilustrações, antecipação do vocabulário, introdução do tema e diferenças

culturais são atividades propostas por Clarke (2012) para preparar as crianças para a leitura.

As ilustrações utilizadas para introduzirem a história podem ser usadas na extração de

vocabulário, introdução de palavras difíceis e aguçar o interesse das crianças pelo o que vai

ser trabalhado. Fazer perguntas tais como: “Quem são as personagens?”, “O que estão

fazendo?”, “O que é isto?”, “Sobre o que é a história?” etc., facilitarão o entendimento do

texto e a introdução do vocabulário. Dessa forma, os alunos ficarão mais envolvidos na

leitura, pois terão interesse em confirmar suas previsões.

O ensino do vocabulário pode ser antecipado, uma vez que muitas das histórias estão

relacionadas a um tema lexical. Atividades com o vocabulário temático, assim como a

introdução do tema, podem ser antecipadas através de atividades relacionadas ao tópico a ser

trabalhado.

As diferenças culturais entre o país de origem da história e a cultura das crianças que

irão ler o texto constituem uma atividade de pré-leitura que pode ser explorada, pois elas

geralmente ficam interessadas em descobrir diferenças entre sua própria cultura e a das

crianças de outros países.

Algumas atividades que podem ser usadas durante a leitura, sugeridas por Clarke

(2012) são: diferentes formas de abordagem da história, estratégias de motivação, mímica e

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diferentes tons de voz.

Quanto as diferentes formas de abordagem da história, uma vez que as crianças

gostam de ouvir uma mesma história várias vezes, pode-se explorar o uso de “slides” para

trabalhar uma parte da história ou o texto completo, assim como se houver uma versão da

história disponível em filme.

Para manter os alunos motivados durante a leitura, principalmente se o texto for longo,

o uso da estratégia de parar o texto no momento do clímax e fazer a pergunta: “O que irá

acontecer?”, incentivará os alunos a usarem a habilidade de fazerem previsões e fará com que

eles queiram saber o final da história para confirmar se suas ideias estão corretas. Antes de

revelar o final da história, pode-se propor um jogo de adivinhações para que os alunos fiquem

interessados em saber o final da história.

O professor pode usar mímicas para demonstrar as ações das personagens enquanto lê.

É uma estratégia que facilita o entendimento do vocabulário e pode também ser trabalhada

com os alunos pequenos.

Tons alterados de voz - engraçados e até sem sentido - podem ser usados para

diferenciar os diferentes personagens da história, durante a leitura do texto.

Para as atividades de pós-leitura, Clarke (2012) propõe que sejam feitas algumas

perguntas sobre o ponto principal do texto para verificar se houve a compreensão da história;

fazer um pôster ou ilustrar a história é uma boa oportunidade para as crianças fazerem

desenhos criativos ou até atuarem em uma peça teatral usando como modelo uma historia

simples para encenar uma história própria.

Lajolo (2001) nos leva a refletir sobre o tratamento didático que dispensamos à leitura

de livros infantis e juvenis, como a antiga prática (anos cinquenta/sessenta) de utilizar textos

literários para a prática de exercícios gramaticais e posteriormente responder a um

questionário sobre as personagens principais e secundárias, identificar tempo e espaço

danarrativa e examinar a estrutura do texto. Trata-se de um modelo que ainda persiste, mas

com pequenas alterações.

O professor na ânsia “[...] de fazer alguma coisa com o que seus alunos efetivamente

leram!” (LAJOLO, 2001, p. 71) se rende às fichas de leitura encartadas nos materiais

didáticos, que reproduzem estratégias de leitura que não oferecem nenhuma novidade. São

elas: a encenação de uma peça teatral, reprodução em cartazes ou desenhos do tema ou

personagens do livro, usar sucatas, objetos ou colagens para criar algo relacionado à história,

pesquisas de aprofundamento de algum tópico abordado pelo livro, reescrever sob outro ponto

de vista; entrevista real ou imaginária do autor ou personagens do livro; no caso de poemas

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fazer um jogral ou recitar em coro, entre outras sugestões dadas por quem tem a rotina de

trabalhar com a literatura infantil.

O escritor João Carlos Marinho (apud LAJOLO, 2001, p. 71) em seu livro O gênio do

crime não permitiu que a editora acrescentasse ao seu trabalho a ficha de leitura ou ficha de

interpretação, por achar que “tais fichas delimitam a apreciação do livro e a uniformizam”.

(MARINHO apud LAJOLO, 2001, p. 71). E ele ainda acrescenta: “O método ideal de

exercício surge sempre da conjunção do modo de ser do professor com o modo de ser da

classe, coisa personalíssima e que uma ficha de leitura não pode prever”. (MARINHO apud

LAJOLO, 2001, p. 71).

Ainda de acordo com Lalojo (2001) há de se tomar cuidado com a uniformização da

leitura patrocinada pela escola, pois o que se acredita ser uma leitura lúdica e criativa na

verdade é apenas a simulação de criação e fantasia. Para que isso não aconteça, é

responsabilidade do professor manter o diálogo com seus alunos e também com suas leituras,

pois dessa forma, se capacita para planejar as atividades de leitura se comprometendo com sua

turma.

Para finalizar a proposta de trabalho com leitura apresentada no parágrafo acima

Lajolo (2001) nos mostra um caminho a ser seguido:

É nesse diálogo que as atividades de leitura adquirem sentido e podem, agora sim,

tornar-se práticas significantes. Libertado da imposição delas, o professor pode,

voluntariamente, retornar a elas para – senhor de sua disciplina e de seu curso –

selecionar aquelas em que mais acredita, descartar outras nas quais não aposta,

reformular todas, balizando-as pelo que conhece de seus alunos e da leitura deles,

pelo que conhece de língua, linguagem e de literatura, pelo que entende por ensino,

por leitura e por escrita, e, particularmente, pelo que entende por ensinar no Brasil

de hoje. (LAJOLO, 2001, p. 73).

Uma vez apontadas as teorias da Atividade Social, Construção e análise do material

didático e Estratégias de leitura que embasam esta monografia, apresento a seguir, os

procedimentos metodológicos utilizados neste trabalho.

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2 METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo descrevo os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho. A

motivação para desenvolver uma pesquisa social é compartilhada com a visão de Minayo

(2007, p. 11), pois se trata de “uma possibilidade concreta de tratarmos de uma realidade da

qual nós próprios, enquanto seres humanos, somos agentes”.

O tipo de pesquisa adotada neste trabalho é o estudo de caso. Inicio a primeira seção

apresentando a escolha da metodologia para em seguida trazer considerações nas demais

seções sobre o tipo, o contexto, os participantes, os instrumentos para coleta de dados e por

fim, descrevo os procedimentos para análise e interpretação de dados.

2.1 Escolha da metodologia

Para o desenvolvimento metodológico deste trabalho, são adotados o método

qualitativo e a pesquisa bibliográfica.

O método qualitativo é de fundamental importância, pois de acordo com Lakatos e

Marconi (2011, p. 272) é por meio desse método, que “o investigador entra em contato direto

e prolongado com o indivíduo ou grupos humanos, com o ambiente e a situação que está

sendo investigada, permitindo um contato de perto com os informantes”.

O método qualitativo torna-se adequado ao estudo de caso (tipo de metodologia

adotada neste trabalho), pois permite ao pesquisador quando vai a campo para a coleta de

dados, selecionar o contexto e os participantes que são apropriados para fornecer as respostas

às perguntas de pesquisa.

A pesquisa bibliográfica tem por objetivo fundamentar o estudo de caso. A teoria será

abordada na análise e interpretação de dados com a intenção de comparar a literatura existente

– ver capítulo 1 Fundamentação Teórica - com a essência dos achados. Será nessa fase deste

trabalho, que “o domínio dos autores pode ajudar muito a criatividade do cientista, porque

através deles chega, a saber, o que dá certo, o que não deu certo, o que poderia dar certo, e

assim por diante”. (DEMO, 2013, p. 22).

2.2 Tipo de pesquisa

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O tipo de pesquisa desenvolvida neste trabalho é o estudo de caso, pois está restrita a

um grupo em particular, que são os alunos do 1° ano do Ensino Fundamental I, que estão em

fase de alfabetização na língua materna.

As técnicas utilizadas no estudo de caso que são favoráveis ao desenvolvimento desta

pesquisa são a “observação direta dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas

das pessoas neles envolvidas”. (YIN, 2005, p. 26).

Yin (2005) esclarece quando o estudo de caso é o tipo de pesquisa a ser adotado, o

objetivo é desenvolver uma pesquisa social de abordagem qualitativa:

Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam

questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle

sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos

contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2005, p. 19).

Assim, de acordo com Yin (2005), a definição do problema para desenvolver este

estudo na questão “Como utilizar de forma eficaz o material existente (paradidáticos

“Readers”) para desenvolver a autonomia linguística em inglês nos alunos que ainda estão em

fase de alfabetização língua materna?” norteou a metodologia de pesquisa deste trabalho para

o estudo de caso.

Também os propósitos defendidos por Gil (2008, p.58) para a utilização do estudo de

caso em um projeto de pesquisa e abaixo exemplificados, caracterizam este trabalho dentro

dessa metodologia:

a) Explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos;

b) Preservar o caráter unitário do objeto estudado;

c) Descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada

investigação;

d) Formular hipóteses ou desenvolver teorias; e

e) Explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito

complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.

Além disso, de acordo com Gil (2010), pode o presente trabalho ainda ser definido

como um estudo de caso único, pois se refere a um grupo. Dessa forma, identifica-se na

modalidade de estudo de caso único como um “caso decisivo, utilizado quando se deseja

confirmar, contestar ou estender uma teoria”. (GIL, 2010, p. 118).

Trata-se de um caso único instrumental, conforme Stake (1995) apud Gil (2010), pois

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24

“é selecionado com o propósito de aprimorar o conhecimento de determinado fenômeno ou

mesmo do desenvolvimento de teorias”. (GIL, 2010, p. 118).

Outro indício de que o método de pesquisa é o estudo de caso, é devido o mesmo

envolver “procedimentos de planejamento, coleta, análise e interpretação de dados”. (GIL,

2009, p. 4). São itens que compõem esta metodologia e que serão detalhados a seguir.

2.3 Contexto de pesquisa

Inicio esta seção tecendo comentários a respeito do contexto em que esta pesquisa está

inserida.

Trata-se de uma escola de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino da

Cidade de São Paulo, localizada na Zona Oeste da cidade, no Distrito do Jaraguá. A escola

possui 653 alunos matriculados divididos em dois períodos: manhã e tarde. O período da

manhã atende aos alunos dos 2°s, 3°s, 4°s e 5°s anos e o período da tarde atende aos alunos

dos 1°s, 6°s, 7°s, 8°s e 9°s anos. A escola possui 14 salas de aulas, 1 sala de leitura , 1

laboratório de informática, 1 parque , 2 quadras de esporte e 1 sala de SAAI (sala de apoio e

acompanhamento à inclusão). Há também equipamentos multimídia, como computadores,

data show, televisores, aparelhos de DVD e caixas acústicas à disposição dos professores para

utilizarem durante as aulas e todo o acervo do material paradidático em inglês “Readers” em

perfeito estado de conservação e de fácil acesso aos professores que se interessam na

utilização dos livros.

A escola foi inaugurada em 18/02/1991 e atualmente é composta por:

02 Agentes de Apoio – Nível I;

03 Agentes Escolares;

02 Assistentes de Diretor de Escola;

06 Auxiliares Técnicos de Educação;

02 Coordenadores Pedagógicos;

01 Diretor de Escola;

22 Professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental I;

24 Professores de Ensino Fundamental II e Médio

01 Secretário de Escola;

01 Auxiliar de Vida Escolar

03 Estagiários de pedagogia que acompanham alunos de inclusão sob orientação do

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CEFAI (Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão).

02 Estagiários de pedagogia que acompanham os 1°s anos no processo de

alfabetização.

Do total de 46 professores, 45 possuem Licenciatura Plena e 01 possui o Magistério

correspondente ao Ensino Médio. 42 são professores efetivos da Rede Municipal de Ensino e

04 são professores contratados, sendo 02 professores de Ensino Fundamental I e 02

professores de Ensino Fundamental II.

Atualmente a escola trabalha com diversos projetos que fazem parte do “Projeto Mais

Educação São Paulo”, atendendo os alunos no contraturno. São eles: Banda, Artes, Práticas

Esportivas em diferentes modalidades e Clube de Leitores. No período da tarde há o projeto

de Atividade de Orientação de Estudos, que tem por objetivo proporcionar aos alunos aulas de

reforço e alfabetização. A escola tem parceria com a Unidade Básica de Saúde (UBS) do

bairro com o projeto “Saúde Bucal” e também, providencia o encaminhamento para os alunos

da escola aos programas de atendimento Fonoaudiológico, Psicológico e Psiquiátrico.

Os alunos são moradores do bairro, que enfrentam problemas sociais comumente

associados aos residentes das periferias da Cidade de São Paulo: problemas de moradia (há

uma comunidade no entorno da escola), drogas e violência doméstica. Devido ao fato de os

pais trabalharem durante o dia, os alunos frequentam espaços de convivência para jovens e

crianças no período da manhã e à tarde vão para escola e vice-versa ou ficam com

parentes/responsáveis. Os alunos que não moram no bairro são atendidos pela TEG

(Transporte Escolar Gratuito), mas são apenas os alunos do Ensino Fundamental I que são

contemplados por esse tipo de serviço disponibilizado pela Prefeitura de São Paulo. Alguns

usam o transporte escolar particular ou transporte público (ônibus).

A escola atende também alunos índios de uma tribo que está localizada na entrada do

Parque do Pico do Jaraguá. Trata-se de uma aldeia carente, que tem como fonte de renda o

artesanato e recebe assistência da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).

A escola é considerada de difícil acesso: não há transporte público perto da escola

(ponto/terminal de ônibus) e a localização é em cima de um morro, que exige uma longa

caminhada de subida. Devido a essa questão geográfica, a procura tem diminuído muito e há

sempre vagas disponíveis em todas as séries. O aspecto negativo dessa situação é que a

escola, por ter vagas disponíveis, acaba atendendo os alunos com problemas disciplinares de

outras escolas da região que estão sendo transferidos, por descumprimento do Regimento

Escolar.

O bairro em que a escola está localizada é residencial e o comércio atende apenas as

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necessidades locais como minimercados, padaria, casas de materiais de construção e oficinas

de conserto de automóveis. Há presença de igrejas católicas e evangélicas no local. A região

está se desenvolvendo e crescendo lentamente, principalmente por estar nas imediações de

duas grandes rodovias – Anhanguera e a Bandeirantes. O ponto turístico da região é o Pico do

Jaraguá, com acesso ao Parque Estadual do Jaraguá. O parque oferece lazer para os moradores

da região, como playground, trilha para caminhada, quadra de esportes e pista de skate. Não

há cobrança de ingresso.

Outro atrativo do bairro são as atividades culturais oferecidas por uma unidade do

CEU (Centros Educacionais Unificados da cidade de São Paulo) com programação esportiva,

sessões de cinema, peças de teatro e oficinas culturais. Esses eventos são gratuitos e atendem

aos pais, alunos e comunidade.

2.4 Participantes

Os alunos que são os “sujeitos” que fazem parte desta pesquisa são os alunos

matriculados no Ensino Fundamental I no período da tarde. As idades variam entre 6, 7 e 8

anos. Eles frequentam as salas dos 1°s anos A e B. São atualmente 45 alunos, sendo 27

meninas e 18 meninos. Apenas 1 aluno do total geral das duas turmas não frequentou a EMEI.

Há apenas um aluno em situação de abandono por parte da família e a escola tem tomado às

devidas providências quanto a isso.

Não houve nenhum critério específico para a seleção dos participantes. Foi entregue

para todos os alunos tanto da turma A, quanto da turma B, o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido Para Participação em Pesquisa e estão participando apenas os alunos que

trouxeram o termo devidamente preenchido e assinado pelo responsável. Dentro desse

critério, foram selecionadas como participantes 33 alunos, sendo 19 alunos da turma A e 14

alunos da turma B.

Quanto à frequência dos alunos, uma grande parte costuma ausentar-se durante o ano

letivo por diversos motivos: viagens, consultas e tratamentos médicos. Essas faltas costumam

ser justificadas pelos próprios pais dos alunos através de bilhetes e atestados.

As duas turmas são heterogêneas e apesar dos diferentes níveis de aprendizagem,

apresentam um bom rendimento. São constituídas por alunos participativos, interessados nas

atividades propostas e a grande maioria se expressa bem oralmente.

Cada uma das turmas, tanto o 1° ano A quanto o 1° ano B têm atribuídas 2 aulas de

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inglês por semanas, sendo o 1° ano A com uma aula às segundas e sextas e o 1° ano B com

uma aula às terças e quartas. Cada aula tem a duração de 45 minutos e é acompanhada pelo

professor regente da classe, de acordo com a portaria n° 5.361de 04/11/2011 que institui o

programa “Língua Inglesa no Ciclo I” nas escolas da Rede Municipal de Ensino.

No Quadro 1 abaixo, apresento os alunos que são participantes desta pesquisa usando

nomes fictícios para preservar-lhes a identidade:

Quadro 1 - Participantes da pesquisa

Turmas

Nomes e Idade dos Participantes

6 anos 7 anos 8 anos

Meninos Meninas Meninos Meninas Meninos Meninas

A Fernando Aline

João

Mateus

Paulo

Pedro

Rafael

Beatriz

Jéssica

Lara

Luana

Raquel

Rebeca

Vanessa

Yasmin

Gabriel

Alice

Gabriela

Jaqueline

B - Vitória

Davi

Guilherme

Maurício

Renan

Robson

Helena

Isadora

Lívia

Lorena

Luiza

Nicole

Rafaela

Sabrina

- -

Semitotais 01 02 10 16 01 03

03 26 04

Total 33 participantes

Fonte: Próprio autor.

Conforme pode ser observado no Quadro 1, a maioria dos participantes está com 7

anos, sendo o público-alvo predominantemente feminino.

2.5 Instrumentos de pesquisa para coleta de dados

Nesta seção, apresento os instrumentos de coleta selecionados para o desenvolvimento

desta pesquisa. São eles: questionário de levantamento de informações, gravação de aula e o

material paradidático “Readers”.

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2.5.1 Questionário de levantamento de informações

O questionário de levantamento de informações (ANEXO B) foi o primeiro

instrumento utilizado com o objetivo de saber sobre o que os alunos gostam das aulas de

inglês, a experiência deles com a leitura de histórias na EMEI (Escola Municipal de Ensino

Infantil) e em casa, o contato com livros, que tipos de história preferem e se já haviam tido

contato com livros escritos na língua inglesa.

Para a elaboração deste questionário, segui algumas regras práticas sugeridas por Gil

(2012, p. 104), considerando a faixa etária dos participantes desta pesquisa:

- Devem ser incluídas apenas as perguntas relacionadas ao problema proposto;

- As perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa;

- Deve-se levar em consideração o sistema de referência do entrevistado, bem como

seu nível de informação;

- A pergunta deve possibilitar uma única interpretação;

- A pergunta não deve sugerir respostas e

- As perguntas devem referir-se a uma única ideia de cada vez.

Durante a aplicação do questionário, as perguntas foram realizadas oralmente aos

participantes, pois os alunos estão em processo de alfabetização na língua materna. Os dados

foram colhidos por meio de gravação da aula, utilizando ora um “tablet” e ora um aparelho

celular para captar a voz da professora-pesquisadora e a dos alunos.

O questionário de levantamento de informações foi um instrumento que revelou dados

importantes sobre algumas atividades de pós-leitura realizadas nas escolas de educação

infantil e o contato que os alunos têm com livros fora do ambiente escolar. Há nesse

instrumento confirmações de informações sobre estratégias de leitura que foram tratadas na

seção de Fundamentação Teórica e que motivaram a professora-pesquisadora na (re)

construção do material didático denominado “Readers”.

2.5.2 Gravação de aula

A opção pela gravação de aula foi o instrumento adequado para a coleta de dados com

o grupo de estudo, visto serem alunos do 1° ano do Ensino Fundamental I que estão em

processo de alfabetização na língua materna. Os questionamentos realizados por esta

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professora-pesquisadora referente ao “Questionário de levantamento de informações” e

quanto à participação/parecer dos alunos durante o uso do material paradidático “Readers”

foram gravados por meio de voz, visto a impossibilidade dos alunos participarem através da

escrita.

Para a gravação das aulas, como já dito anteriormente, utilizei ora um “tablet” e ora

um aparelho celular para a captação de voz da professora-pesquidora e dos alunos. Os

aparelhos ficaram posicionados na mesa da professora e dessa forma, foi feita a captação tanto

da voz do professor quanto dos alunos, de forma clara e precisa.

O objetivo principal dessa coleta de dados foi analisar primeiramente através do

“Questionário de levantamento de informações” sobre qual o momento da aula de inglês é

mais significativo para o aluno, a experiência prévia do grupo sobre leitura e se eles já tinham

tido contato com algum livro de histórias em inglês. As perguntas desse questionário foram

elaboradas de acordo com o contexto desta pesquisa.

Em um segundo momento, conforme o trabalho com o material paradidático

“Readers” foi realizado, a gravação de voz foi um instrumento muito importante para a coleta

de dados sobre como o grupo de estudo se comportava mediante as atividades propostas

durante a leitura do material. Foram registrados dados que permitem analisar o ensino-

aprendizagem da língua inglesa de forma significativa para o grupo, além dos momentos de

concentração, dispersão e empolgação dos alunos durante as atividades propostas.

2.5.3 A seleção do material paradidático “Readers”

O material selecionado por esta professora-pesquisadora para instrumentalizar a coleta

de dados para o desenvolvimento desta pesquisa foi feito de acordo com o material didático

enviado para as unidades escolares na ocasião da implantação do programa de ensino da

língua inglesa no ciclo I.

Os títulos selecionados para o 1° ano do Ensino Fundamental I estão de acordo com a

Atual Matriz de Referência para o Ensino de Língua Inglesa nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, conforme Portaria n° 5.361 de 04/11/2011 que institui o programa. São eles:

“Chimp and Zee” e “A day at the Amusement Park”.

De um total de oito títulos recomendados para utilizar com o 1° ano do Ensino

Fundamental I, selecionei dois: “Chimp and Zee” e “A day at the Amusement Park” porque

me identifiquei com o material, ou seja, foi uma escolha pessoal. Também levei em

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consideração o vocabulário em inglês, a quantidade de páginas e se os alunos pudessem de

alguma forma “interagir”, trazendo experiências pessoais que pudessem relacionar com as

histórias.

O livro “Chimp and Zee” conta a história de dois macaquinhos, que são irmãos

gêmeos e estão sempre juntos. A história bem simples abrange o universo infantil, pois há

rima sobre a amizade, dividir o doce, brincar de esconde-esconde e a hora de dormir. As

crianças conseguem relacionar as situações apresentadas na história com suas experiências de

vida.

O livro “A day at the Amusement Park” conta a história de uma família que vai fazer

um passeio ao parque de diversões. O livro ilustra a família utilizando um meio de transporte

para ir até o parque, a parada no supermercado para comprar alimentos para levar no passeio,

como é a entrada no parque de diversões, algumas atrações do parque que a família pode se

divertir junto e o término do passeio. São experiências que, se ainda não foram vividas de

acordo com a história, de alguma forma as crianças já tiveram a experiência de utilizar algum

meio de transporte para irem a algum passeio com a família, pararem em um supermercado

para fazer compras para o passeio, comprarem ingressos e já terem se divertido em algum

brinquedo de parque de diversões, no Shopping Center, por exemplo.

2.6 Procedimentos para análise e interpretação de dados

Uma vez que o tipo de pesquisa desenvolvida neste trabalho é o estudo de caso, a

conceituação de análise e interpretação é relevante para a fundamentação desta seção. De

acordo com Gil (2008, p. 156):

A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de tal forma que

possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para a investigação.

A interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o

que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos.

Após a coleta dos dados, se fez necessário realizar a transcrição, uma vez que o

instrumento utilizado foi a gravação de voz. “Só assim os dados podem ser categorizados,

comparados e ganhar significado ao longo do processo analítico”. (GIL, 2010, p. 122).

Após a transcrição dos dados, Gil (2010) recomenda que a exibição dos dados sejam

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organizados, sumarizados e relacionados por meio da elaboração de um texto discursivo.

Dessa forma, o pesquisador terá meios para buscar significados mediante o trabalho realizado.

Um dos modelos analíticos sugeridos por Gil (2009) que pode contribuir para o

trabalho de análise no estudo de caso é a análise do conteúdo, “desde que devidamente

transcritos”. (GIL, 2009, p. 98). Sendo assim, “é uma técnica para estudar a comunicação

humana de maneira sistemática e objetiva”. (GIL, 2009, p. 98).

Outra importante recomendação de Gil (2009) é verificar a qualidade dos dados. Após

a coleta, o pesquisador identifica uma quantidade grande de dados, porém nem tudo deve ser

considerado na análise, pois se percebe que alguns dados são melhores que outros. Sendo

assim “convém, pois, que a análise seja feita com base nos dados de mais alta qualidade, com

vistas a tornar mais robustas as conclusões”. (GIL, 2009, p. 113).

De acordo com Gil (2009) a disposição do entrevistado para participar da pesquisa

pode garantir a qualidade das respostas dada às perguntas. “Assim, dados obtidos de

informantes bem articulados, reflexivos, interessados e que fornecem as informações com

satisfação tendem a ser mais ricos e, consequentemente, conduzir a melhores resultados”.

(GIL, 2009, p. 113).

Devido ao fato de os alunos participantes desta pesquisa estarem em processo de

alfabetização, todo o material para análise e coleta de dados foi gravado em áudio e sendo

assim, houve a necessidade da transcrição dos dados. Os recursos tecnológicos atuais

facilitaram muito na organização do material, pois os aparelhos utilizados para a gravação

(um “tablet” e um celular) organizam por ordem decrescente de data e minutos de gravação,

facilitando o acesso aos dados. Conforme fui realizando as transcrições dos áudios das aulas

gravadas, salvei cada aula em uma pasta no computador e nomeei cada uma delas com a data

da aula e turma. Durante o processo de transcrições, utilizei um fone de ouvido que ajuda a

captação de falas e detalhes que passam despercebidas sem o uso desse recurso, pois o fone

permite que o som seja captado com maior nitidez e naturalidade.

Os critérios utilizados nas transcrições dos dados gravados em áudio estão de acordo

com Gibbs (2009, p. 30):

A convenção é colocar o nome da pessoa entrevistada, em maiúsculas, no início de

cada fala (ou seja, cada resposta às perguntas do entrevistador). A seguir, digite dois

pontos e pressione espaço antes do texto propriamente dito, ou comece o texto em

uma nova linha.

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Quanto às pausas, elas devem “ser cortadas ou simplesmente representadas por

reticências ( ... ).”. (GIBBS, 2009, p. 31).

O processo de escuta e transcrição das falas favoreceu a reflexão da prática exercida

na sala de aula por esta professora-pesquisadora, nos momentos de orientar os alunos quanto

ao que esperava que fosse compreendido por eles, a troca de turnos entre professor e aluno e

até a pronúncia da língua inglesa, uma vez que o professor deve ser o melhor modelo para o

aluno.

Durante a transcrição das aulas fui refletindo sobre qual seria a melhor forma de

apresentar os dados e optei por ir intercalando a participação das turmas A e B durante a

aplicação do questionário de levantamento de informações e na experiência com a aplicação

dos livros paradidáticos. Sendo assim, foi possível organizar a apresentação dos dados de

forma que seja possível compreender a aplicação da teoria na prática e responder às perguntas

de pesquisa. Quanto à divisão dos dados em categorias, conforme fui realizando as

transcrições é que surgiram as ideias de como eu poderia organizar toda a informação

coletada em categorias. São elas: o conhecimento prévio, motivação e interação. Conforme as

transcrições eram digitadas fui incluindo comentários sobre as categorias definidas, pois desta

forma, os dados já estavam sendo analisados e interpretados de acordo com a teoria

apresentada no capítulo da Fundamentação Teórica. Sendo assim, dispensei a impressão em

papel, pois a organização do material em meio digital/eletrônico facilita o acesso às

informações por meio da ferramenta de busca ao digitar a palavra chave, ou seja, cada uma

das categorias.

Na categoria conhecimento prévio, o quê os alunos já sabem da língua inglesa permite

que eles possam também fazer uso da língua, praticando o inglês durante as aulas, uma vez

que esse é o objetivo do trabalho com o material “Readers”. Há situações em que os alunos

ativam o conhecimento prévio na L1 para realizar a leitura na L2.

A categoria motivação dos alunos na utilização do material apresenta momentos da

gravação das aulas em que eles riem, batem palmas, fazem silêncio prestando atenção e

também fazem barulho quando querem comentar entre eles um jogo ou brincadeira que está

presente na “reconstrução” do material ou até mesmo alguma página do livro que eles

gostaram.

Já na categoria interação a Atividade Social cria a ZDP promovendo situações em que

ora a professora-pesquisadora é a mediadora no ensino-aprendizagem da Língua Inglesa e ora

os alunos assumem o papel de mediadores.

Após descrever os procedimentos para análise e interpretação de dados finalizo este

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capítulo da metodologia, ressaltando que este trabalho seguiu as normas referentes às

pesquisas com seres humanos da Plataforma Brasil, recebendo o protocolo CAAE número

40945814.6.0000.5482.

No próximo capítulo, realizo a análise e discussão dos dados de acordo com a

aplicação dos livros paradidáticos “Readers”.

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3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este capítulo tem por objetivo analisar e discutir dos dados colhidos em campo. É o

momento em que a fundamentação teórica apresentada no capítulo 1 deste trabalho se

entrelaça com as perguntas de pesquisa e com a prática realizada em sala de aula.

As perguntas de pesquisa que nortearam o desenvolvimento deste trabalho foram:

1- Como utilizar de forma eficaz o material existente (paradidáticos “readers”) para

desenvolver a autonomia linguística em inglês nos alunos que ainda estão em fase

de alfabetização na língua materna?

2- Como despertar o interesse do aluno, motivá-lo a aprender uma língua

estrangeira, sendo que a proficiência nesse estágio de aprendizagem é

praticamente zero?

3- Quais são as estratégias de ensino-aprendizagem necessárias para envolver o

aluno?

Divido este capítulo em quatro seções nas quais discuto e analiso os dados sobre a

aplicação do questionário de levantamento de informações e as categorias apontadas na seção

de metodologia: procedimentos para análise e interpretação de dados. São elas: conhecimento

prévio, motivação e interação.

3.1 Questionário sobre levantamento de informações

A aplicação deste questionário foi um instrumento muito importante para iniciar este

estudo de caso, pois as perguntas elaboradas por mim foram norteadoras para a elaboração de

todo o trabalho que foi desenvolvido com os livros paradidáticos.

As respostas dadas à pergunta 1 feita pela pesquisadora "Qual é a parte da aula de

inglês que você mais gosta?" possibilitou conhecer as preferências dos alunos, resumidas no

Quadro 2 a seguir:

Quadro 2 - Preferência dos alunos nas aulas de inglês

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Cantar as músicas 6 alunos 6 alunos

"Games" 4 alunos 3 alunos

Atividades 9 alunos 5 alunos Fonte: Próprio autor

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Analisando as respostas dos alunos apresentadas nesse quadro, observo que eles

sempre se mostraram engajados para cantar as músicas, pois para motivá-los, faço uso de

ações em que os alunos por meio de mímicas associam o movimento à palavra em inglês que

escutam. Quanto aos “games”, percebo que ao aplicar a dinâmica, os alunos não gostam de

perder, então talvez por isso, neste momento não seja o que eles mais gostam. Quanto às

atividades, procuro aplicá-las contextualizadas ao tema que estamos trabalhando e de acordo

com os interesses dos alunos. Por exemplo, quando fui ensinar cores a eles, trouxe a

personagem “Minions” do filme Meu Malvado Favorito, para trabalhar com a cores “yellow,

blue and black”. Dessa forma os alunos ficam mais interessados em participar da aula, pois a

ilustração além de ser atual, todos conhecem, gostam e procuram interagir aplicando o

conhecimento prévio.

De acordo com o que pode ser visto no Quadro 3, ao perguntar aos alunos "Quando

você estudou na Escola Municipal de Educação Infantil - EMEI - a professora lia histórias?"

todos responderam que sim.

Quadro 3 - Leitura de Histórias na EMEI

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Sim. Sim.

Fonte: Próprio autor

Essa afirmação dos alunos nos mostra que, de alguma forma, a leitura está sendo

trabalhada com os alunos na Educação Infantil, ou seja, eles têm acesso a livros, já conhecem

o material e sabem manuseá-los.

Ao responderem à pergunta 3 " A professora lia as histórias todos os dias ou de vez

em quando?" trouxeram as informações relacionadas no Quadro 4 abaixo:

Quadro 4 - Frequência anterior de leitura

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Todos os dias 6 alunos 12 alunos

De vez em quando 10 alunos 0 aluno

Não responderam 3 alunos 2 alunos Fonte: Próprio autor

Ao se comparar as respostas dos alunos, de acordo com o Quadro 4, percebe-se que há

divergência nas respostas das turmas A em que o maior número de alunos respondeu que a

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professora lia as histórias “de vez em quando”, enquanto que na turma B, a maioria dos

alunos respondeu que a professora lia as histórias “todo dia”. Isso provavelmente se deve ao

fato de que os alunos vieram de diferentes EMEIs.

Ao procurar saber que atividades pós-leitura os alunos já haviam feito por meio da

pergunta "Quando terminava a história, a professora costumava fazer alguma atividade da

história que ela contou?" obtive as respostas que sumarizo no Quadro 5:

Quadro 5 - Atividades pós-leitura já realizadas pelos alunos

Turmas Alguns depoimentos dos participantes

A

- A professora dava uma folha para pintar uma parte da história;

- Jogos, mas não tinha nada a ver com a história;

- Às vezes encenavam uma peça de teatro, de acordo com a leitura da

história;

- A professora não pedia para os alunos recontarem a história.

B

- Escreviam um pouco sobre a história e pintavam desenhos;

- A professora dava uma atividade da história para fazer;

- Ouviam várias histórias, escolhiam uma e desenhavam sobre ela;

- Faziam teatro da história lida;

- Iam ao teatro, havia palhaços e brincavam; Fonte: Próprio autor

Observando os depoimentos dos alunos, conforme Quadro 5, percebe-se que eles

trazem algum tipo de experiência com atividades de pós-leitura propostas pelas professoras.

Desde as mais tradicionais como desenhar ou pintar uma parte da história e encenar uma peça

de teatro até aquela que exige um grau além do desenvolvimento dos alunos, como escrever

um pouco sobre a história. Há também aquelas que desprezam o trabalho realizado com a

leitura, como propor um jogo descontextualizado e a que inova como ir ao teatro e lá há a

presença de palhaços que propõem brincadeiras para as crianças.

Procurando saber das crianças se tinham experiências com leituras fora da escola,

formulei no questionário a pergunta 5 nos seguintes moldes: "Na sua casa, o papai, a mamãe,

irmão... costumam ler histórias para vocês? As respostas dadas estão demonstradas no

Quadro 6 abaixo:

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Quadro 6 - Experiências com leituras apontadas pelos alunos

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Responderam sim: 13 alunos 9 alunos

Não se manifestaram: 6 alunos 6 alunos Fonte: Próprio autor

Observa-se nesse quadro que mais da metade dos alunos participantes da pesquisa,

tanto da turma A, quanto da turma B, são privilegiados, pois algum familiar se dispõe a contar

histórias para eles. Vejo que de fato isso aconteça, pois muitos deles trazem na oralidade um

vocabulário diversificado, mostrando que já têm certa vivência, experiência e conhecimento

de mundo adquirido tanto na escola como no ambiente doméstico.

As respostas dadas à pergunta 6 "Você tem livros em sua casa? São histórias de adulto

ou de criança?" podem ser visualizadas no seguinte quadro:

Quadro 7 - Experiências com livros

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Possuem livros de crianças: 12 alunos Todos os participantes responderam que

possuem livros em casa. Possuem livros de adultos: 4 alunos

Não responderam: 3 alunos Fonte: Próprio autor

Conforme pode ser visto no Quadro 7 a maior parte dos alunos da turma A possuem

livros em casa e da turma B, todos disseram ter livros em casa. Quanto à turma B, não foi

possível classificar se possuem livros de crianças ou de adultos, conforme o detalhe

acrescentado na coluna da turma A nos mostra, pois a gravação da aula foi interrompida, por

problemas no aparelho que estava sendo utilizado, e desta forma, não foi possível acrescentar

essa informação. Quando os alunos afirmam que possuem livros em casa, reforçam as

respostas dadas por eles na pergunta 5 e quebra um pouco com o paradigma de que os

brasileiros não leem, principalmente os moradores da periferia. Se eles estão lendo, não há

como saber, mas pelo menos tem livros em casa.

Ao procurar saber "Que tipo de história você prefere?" tive as seguintes informações:

Quadro 8 - Histórias preferidas

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Não gostam de contos de fadas: 9 alunos Sem dados, pois a gravação foi

interrompida, devido aos problemas no

aparelho que estava gravando a aula. Gostam de histórias de heróis: 7 alunos

Fonte: Próprio autor

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Na verdade, as informações que são apontadas no Quadro 8, quanto ao que os alunos

gostam, não iriam interferir na escolha dos livros paradidáticos selecionados para realizar esta

pesquisa, pois no acervo disponível na escola e de acordo com a Atual Matriz de Referência

para o Ensino de Língua Inglesa nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, conforme

Portaria n° 5.361 de 04/11/2011 que institui o programa, no material indicado para ser

trabalhado com os 1° anos, não há nenhum título de livro sobre contos de fadas e super-

heróis. A pergunta foi formulada com a intenção de conhecer um pouco mais sobre as

preferências dos alunos com a aplicação do questionário.

Com a pergunta 8 "Você já viu algum livro de histórias em inglês?" pouco soube da

experiência prévia dos alunos, conforme pode ser observado no Quadro 9:

Quadro 9 - Experiências com livros de história em inglês

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Alunos responderam:

Sim

e

Não

Sem dados, pois a gravação foi

interrompida, devido aos problemas no

aparelho que estava gravando a aula. Fonte: Próprio autor

Neste momento, conforme demonstrado no Quadro 9, os alunos da turma A já estavam

dispersos, pois demonstravam cansaço de tantas perguntas e contagens da professora-

pesquisadora; por isso eu mesma optei por encerrar essa pergunta, sem um número exato de

alunos que já tinham visto um livro de histórias em inglês. Quanto a turma B, não foi possível

o levantamento de informações, pois houve um problema com o aparelho que estava sendo

usado para realizar a gravação em áudio da aula.

À pergunta 9 feita:"Vocês gostariam de ver o livro que a "teacher" trouxe de histórias

em inglês?" a turma A deu a resposta mostrada no Quadro 10 abaixo:

Quadro 10 - Interesse para ver livro com história em inglês

Turma A – 19 participantes Turma B – 14 participantes

Alunos responderam em coro: Sim

Sem dados, pois a gravação foi

interrompida, devido aos problemas no

aparelho que estava gravando a aula. Fonte: Próprio autor

Conforme apontado, os alunos da turma A demonstraram empolgação para ver o livro

em inglês, mesmo sem saber do que se tratava, pois a professora-pesquisadora ainda não

havia mostrado o material. Quanto à turma B, devido ao problema com o aparelho que estava

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sendo usado para realizar as gravações, o áudio não está disponível, mas me lembro com

muita clareza de uma aluna dessa turma, a Lívia, que havia pedido para ir ao banheiro durante

o período que a pesquisa estava sendo realizada e a professora regente da turma perguntou se

ela podia esperar, pois o pátio estava sendo limpo e ela corria o risco de escorregar na água e

ela não foi ao banheiro naquele momento. Logo após o encerramento da entrevista, entreguei

os livros para os alunos e fiquei observando a aluna, pois sempre há o receio do aluno ficar

sem ir ao banheiro e acontecer alguma situação constrangedora. Fui perguntar para a

professora regente da sala que estava acompanhando a aula se a aluna já tinha ido ao banheiro

e ela comentou que não, pois a Lívia estava tão envolvida com o livro, que parecia ter

esquecido que precisava ir ao banheiro. Essa experiência que relatei, mostra que os alunos

têm interesses por livros, mesmo que ainda não estejam habilitados a lerem, seja na língua

materna, seja na língua estrangeira.

Após os comentários sobre as nove perguntas do questionário, encerro esta seção. A

seguir, analiso e discuto os dados referentes ao conhecimento prévio dos alunos.

3.2 Conhecimento prévio

Nesta seção, analiso e discuto o conhecimento prévio dos alunos na língua inglesa que

foram utilizados por eles durante a leitura e atividades propostas com os livros paradidáticos.

Vigotski (1998) se referia ao conhecimento prévio como ao nível de desenvolvimento real, ou

seja, os problemas que a criança pode solucionar com independência.

O conhecimento prévio ou o nível de desenvolvimento real é importante ser

apresentado nesta seção, pois é o momento em que os alunos colocam em prática o que eles já

sabem da língua inglesa. Outra situação que não pode ser desprezada é a rápida transformação

do nível de desenvolvimento potencial (a ZDP) em desenvolvimento real. É o momento que o

aluno involuntariamente usa de sua autoestima para participar das aulas de inglês e assume o

papel de agente transformador na sociedade em que vive.

Os relatos abaixo se referem ao trabalho realizado com o livro paradidático “Monkey

About with Chimp and Zee”:

A professora-pesquisadora questiona os alunos da turma A, aula 04.08.2014, sobre a

cor do pirulito que está na ilustração. Trata-se do uso espontâneo do que já sabem, a cor

“purple” em inglês para responderem a pergunta e o conhecimento de mundo que já possuem

para relacionar a uva à cor mencionada:

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ANDRÉA: “Qual é a cor deste “lollipop”?”.

MATEUS: É de uva.

ALUNOS: “Purple”.

ANDRÉA: “Purple”, muito bem. Se é “purple”, qual deve ser o sabor?

ALUNOS: Uva.

Na aula do dia 12.08.2014, ensinei aos alunos da turma B o significado da palavra

“friend”, pois faz parte do contexto da história do livro. A palavra “friend” foi trabalhada

novamente na aula de 19.08.2014 para o desenvolvimento da Atividade Social e quando

retomei o significado de “friend” na aula de 26.08.2014, ao questionar sobre como é que se

fala amigo em inglês, obtive o retorno do aluno que foi além do esperado por mim, pois

introduziu o início do “rhyme” que trabalhamos. Houve a transformação do nível de

conhecimento potencial em conhecimento real:

ANDRÉA: Amigos... como é que fala amigo em inglês?

GUILHERME: “Friend”.

ANDRÉA: Hã? Ái teve gente que quase acertou. Fala de novo.

GUILHERME: “We are friend”.

Durante a atividade proposta de pós-leitura, os alunos receberam uma folha com a

ilustração das personagens do livro para colorir de acordo com os pijamas que eles estão

vestindo na história. A aluna da turma B na aula de 19.08.2014 usa o conhecimento prévio

para a resolução do problema proposto pela professora-pesquisadora:

ANDRÉA: (...) E que cor que eles são? Os “monkeys”? Com que cor eu posso colorir?

RAFAELA: Marrom.

ANDRÉA: Não conheço essa cor, marrom (alunos falam ao mesmo tempo)... Escuta a...

Isadora ou Luana?

ISADORA: Isadora.

ANDRÉA: Escuta a Isadora falar:

ISADORA: “Brown”.

E ainda, na mesma aula durante a mesma atividade proposta, os alunos precisaram

utilizar as cores pré-determinadas, de acordo com a ilustração do livro para realizarem a

tarefa. A professora-pesquisadora se propõe a emprestar as cores que os alunos não têm para

que possam concluir atividade e eles fazem uso do conhecimento prévio para pedirem o

material:

RENAN: “Teacher” eu não tenho o outro...

ANDRÉA: Você precisa do “blue”...

RENAN: E do “red”.

ANDRÉA: E do “red”, né?

GUILHERME: Eu preciso do “black”, do “blue” e do “red”.

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Os relatos abaixo se referem ao trabalho realizado com o livro paradidático “A day at

the Amusement Park”:

Vou detalhar a situação em que na mesma aula em que é ensinado o vocabulário novo,

os alunos já transformam o conhecimento potencial em real. Trata-se da aula do dia

21.10.2014 com a turma B. Antes da leitura do livro, fizemos atividades de pré-leitura e

trabalhamos com os significados das palavras “sunny” e “hot” e que depois foram retomadas

durante a leitura do livro, no qual aponto o resultado:

ANDRÉA: Isso... boné em inglês, nós falamos “cap”.

ALUNOS: “Cap”.

ANDRÉA: Por que?

NICOLE: “Sunny”.

ANDRÉA: “Sunny”, muito bem, Nicole. Porque está sol... está o quê?

ALUNOS: Calor... “sunny”...

ANDRÉA: Fala alto para mim...

GUILHERME: “Hot”.

Há outro momento em que os alunos da turma B, durante a aula de 21.10.2014, fazem

o uso do conhecimento prévio quando a professora-pesquisadora os questiona sobre os balões

que a personagem do livro está segurando (nesta situação eles usam em inglês a palavra

“ballon”, que já haviam aprendido em outro momento, que não estava relacionado com o uso

dos “Readers”):

ANDRÉA: (...) e o papai está segurando um objeto que vocês já sabem o nome em inglês...

ALUNOS: “Balloon” (respondem com empolgação)

Ainda na aula do dia 21.10.2014 com a turma B, na atividade de pós-leitura do livro

paradidático, uso três músicas para trabalhar meios de transporte que depois serão retomados

para o desenvolvimento da Atividade Social. No vídeo da música “Freight Train” aparecem

dois animais (vaca e ovelha) que também já foram trabalhados nas aulas de língua inglesa,

sem relação com a leitura dos “Readers”. Novamente os alunos usam o que já sabem para

responderem em inglês quando questionados pela professora-pesquisadora:

ANDRÉA: Quem é que está lá no “box car?”...

ALUNOS: Vaca!

ANDRÉA: Ah, como é que fala em inglês?

ALUNOS: “Cow”.

ANDRÉA: E quem mais?

ALUNOS: “Sheep”.

Outro exemplo da aula do dia 21.10.2014, com a turma B, ao exibir o vídeo da música

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“The wheels on the bus”, a professora-pesquisadora pergunta o nome do meio de transporte e

os alunos respondem corretamente. Há três hipóteses nesta situação: ou usam o conhecimento

prévio ou leram na abertura do vídeo, pois aparece por escrito, ou prestaram atenção na

apresentação da abertura do vídeo, que além de aparecer o nome da música por escrito, um

narrador apresenta o nome da música em inglês:

ANDRÉA:(...) tem mais... (começa outra música “The wheels on the bus”, professora

interrompe o vídeo e pergunta:) que meio de transporte é esse?

ALUNOS: “Bus”.

ANDRÉA: “Bus”... O que é um “bus?”.

ALUNOS: Ônibus.

Na aula do dia 04.11.2014 da turma B, o aluno transforma o conhecimento potencial

em real, com o auxílio do vídeo da música “The wheels on the bus”:

ANDRÉA: (...) (Início da música: “The wheels on the bus”, alunos dão risadas…quando

termina o vídeo a professora pergunta: ) Como é o nome desse último meio

de transporte?

ALUNOS: “Bus”.

ANDRÉA: O Davi ergueu o braço... vamos escutar o Davi falar?

DAVI: Em inglês?

ANDRÉA: Em inglês “of course”. Como é que fala?

DAVI: “Bus”.

ANDRÉA: Muito bem! “Bus”, excelente! (...)

O aluno da turma B, na aula de 21.10.2014, usa o conhecimento prévio da L1 para

realizar a leitura em L2. A expressão “let’s go” citada pelo aluno é uma das falas da

personagem e está escrita na última página do livro paradidático:

RENAN: Olha... “let’s go”.

Com a turma A, na aula de 27.10.2014, o aluno também faz uso do conhecimento

prévio e mostra o potencial adquirido na L1 para realizar a leitura em L2, pois a palavra

“ticket” aparece escrita em duas ilustrações do livro, com a personagem segurando nas mãos o

ingresso:

ANDRÉA: Como é que eles vão para o parque de diversões?

JOÃO: De carro e com as coisas preparadas para ir do que eles precisam... câmera,

“tickets”, água... pente...

A leitura não verbal da ilustração de uma das atrações do parque de diversões, também

aciona o conhecimento prévio do aluno da turma A, aula de 27.10.2014:

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ANDRÉA: Tem mais um que vocês não viram...

FERNANDO: Montanha russa.

JOÃO: “Monsters”.

ANDRÉA:Isso, João! “Monsters”... é uma casa de quê?

GABRIEL: De monstro.

Na aula de 03.11.2014, os alunos da turma A, usam o que já sabem de leitura em L1

para a resolução de problemas na L2:

ANDRÉA:... bom, qual foi o terceiro meio de transporte que eles usaram?

ALUNOS: “Bus”.

ANDRÉA: “Yes” Gabriel, muito bem!

JOÃO: Prô!

LARA: Eu falei primeiro.

JOÃO: Eu li ali.

ANDRÉA: Você leu lá... (o vídeo traz a legenda com a letra da música em inglês).

JOÃO: Estava escrito “bus”.

ANDRÉA: O João, o Gabriel, a Lara, a Beatriz... falaram “bus”.

Na aula de 28.11.2014, com a turma A, retomo com eles uma revisão da leitura do

livro, para mais adiante propor outra atividade contextualizada. Seguem alguns momentos que

os alunos fizeram uso do conhecimento prévio para solucionar problemas propostos pela

professora-pesquisadora:

ANDRÉA: Eles iam para o parque e precisaram de um meio de transporte... qual foi que

eles usaram?

GABRIEL: “Car”.

ANDRÉA: Isso! Aí assim eles chegaram no....

ALUNOS: Parque!

ANDRÉA: Para entrar no parque, eu preciso entregar uma coisa... o que é Gabriel?

GABRIEL: “Tickets”.

ANDRÉA: Como é que estavam a mamãe e a filhinha no carrinho bate-bate?

GABRIEL: Se divertindo.

ANDRÉA: As duas estavam o quê?

RAFAEL: Felizes.

MATEUS: “Happy”.

Os breves relatos acima são momentos que ilustram o engajamento dos alunos em

participarem das aulas de inglês, usando o conhecimento prévio por meio da mediação

proposta pela professora-pesquisadora para a resolução de problemas. Conforme Leffa (2003,

p. 16) “a capacidade de acionar o conhecimento prévio do aluno é uma condição necessária

para o sucesso de um determinado material”.

De acordo com a análise e discussão dos dados sobre conhecimento prévio a terceira

pergunta de pesquisa: “Quais são as estratégias necessárias para envolver o aluno?” já pode

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ser respondida:

O professor deve propor situações em que o conhecimento prévio do aluno seja

acionado tornando-as em uma estratégia necessária, pois são momentos em que o aluno

interage na aula de Língua Inglesa, elevando sua autoestima ao resgatar o nível de

desenvolvimento real para auxiliá-lo na resolução do problema proposto. Dessa forma o aluno

se sente encorajado para verbalizar o que já sabe e se motiva para aprender o que ainda não

sabe, empenhando-se nas atividades propostas.

Sendo assim, após as considerações sobre conhecimento prévio e ter respondido a

terceira pergunta de pesquisa, encerro a segunda parte desta seção e apresento a seguir as

considerações que envolvem a motivação dos alunos durante as aulas de Língua Inglesa.

3.3 Motivação

Na terceira seção deste capítulo apresento situações em que os alunos ficaram

motivados durante o trabalho realizado com os livros paradidáticos. Atribuo esses momentos

à reconstrução do material que permitiu a essa professora-pesquisadora refletir sobre o que os

alunos já sabem e precisam saber, o contexto de atuação e os recursos utilizados. Os materiais

que foram selecionados encorajam os alunos a se comunicarem e o meio utilizado é a L1 para

atingir a L2, pois dessa forma, os alunos conseguem garantir a sua participação, pois de

acordo com Ferreira (2012, p. 69) a L1 é o caminho para “promover sentidos” na L2.

Os relatos abaixo se referem ao trabalho realizado com o livro paradidático “Monkey

About with Chimp and Zee”.

Na aula do dia 04.08.2014 com a turma A, ao finalizar a leitura do livro os alunos

demonstraram empolgação e interagiram, conforme participação da aluna que associa sua

experiência de brincar com o irmão de esconde-esconde, assim como as personagens do livro:

RAQUEL: Hoje eu fui brincar com meu irmão de pega-pega, quando eu fui... quando ele

foi me procurar nem deu mais vontade da gente brincar mais...

ANDRÉA: De tão quente que estava, Raquel?...

E quando chegamos na leitura da última página, que as personagens vão dormir após

um dia repleto de brincadeiras, eles bateram palmas, para celebrarem o encerramento das

experiências das personagens, com as quais muitos deles conseguem se identificar dentro do

universo infantil:

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AN DRÉA: (...) alguém aqui já brincou de esconde-esconde na árvore, assim?

ALUNOS: Eu.

ANDRÉA: Mas em cima da árvore?

ALUNOS: Não.

ANDRÉA: Ah, bom! (alunos conversam e dão risadas). E agora... (professora vira a

página do livro)

LARA: Eles vão dormir.

ANDRÉA: Vão dormir (alunos batem palmas). E agora eles vão o quê?

ALUNOS: Dormir.

ANDRÉA: Na hora de dormir, o que a gente ganha? (alunos dão beijos).

ALUNOS: Beijos.

ANDRÉA: Como é que fala mesmo beijo em inglês? (sons de beijos)... A kiss.

PAULO: Beijo, beijo.

ALUNOS: A kiss.

Outro momento em que os alunos da turma A ficaram motivados foi na aula do dia

15.08.2014, na qual a professora-pesquisadora trouxe pirulitos para desenvolvimento da

Atividade Social (essa experiência será relatada com detalhes na seção interação), novamente

os alunos batem palmas:

ANDRÉA: Hoje a gente vai fazer um compromisso de que todo mundo tem que ser amigo

de todo mundo e daí eu trouxe... olha só o que eu trouxe para gente brindar a

nossa amizade.. Tcharammm... (professora mostra os pirulitos para os alunos e

eles batem palmas). “Lollipop”. Lembram lá da historinha que nós lemos do

livrinho que eles estavam... (professora simula lamber um pirulito).

Na aula de encerramento do trabalho de leitura do livro paradidático, em 29.08.2014,

com a turma A, ao relembrar que no final da história as personagens vão dormir, trabalhamos

a atividade de pós-leitura que é a música “Five little monkeys”. Essa música foi usada como

“warm-up” no início de cada aula, até o encerramento do terceiro bimestre e mesmo no quarto

bimestre, pois os alunos sempre pediam para cantá-la. Ao dominarem a letra da música, os

alunos ficam motivados, pois conseguem perceber o avanço no aprendizado da língua inglesa:

MATEUS: Eles foram dormir.

ANDRÉA: Eles foram dormir... mas será que eles se comportaram na hora de dormir?

ALUNOS: Sim.

ALUNOS: No...

ANDRÉA: Vamos cantar nossa música?... vamos lá?... “everybody”... “let´s go?”... “Five

little monkeys…. (alunos e professora cantam a música juntos)… Muito bem...

(alunos batem palmas).

JOÃO: De novo.

ANDRÉA: De novo? De novo? Coitadinha da “teacher”, ela não aguenta...

RAQUEL: É da hora, muito bonita essa música.

Uma brincadeira muito simples, espontânea, que não foi planejada, mas que a boa

atmosfera da aula permitiu que acontecesse, foi a experiência com a turma B na aula de

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26.08.2014. Pode ser percebido que, quando o professor e alunos se reúnem engajados no

propósito de transformar o espaço da sala de aula em aprendizagem significativa, o ensino-

aprendizagem torna-se prazeroso para ambos, pois de acordo com Shimoura (2012, p. 38)

“um dos fatores que influenciam a motivação para que a criança inicie a aprendizagem de

uma língua estrangeira é o jogo ou brinquedo”.

ANDRÉA: Quem aqui não gosta de “lollipop”? (silêncio)... Você não gosta? Ou gosta?...

Quem gosta faz assim... (risadas dos alunos)... Ah, todo mundo gosta... Quem

não gosta?... (professora propõe a brincadeira: quando os alunos ouvirem

“Yes” eles levantam, quando ouvirem “No”, os alunos sentam nas cadeiras).

“Yes... No... Yes... No... No... No...”.

RAFAELA: Rárárárá... (demais alunos riem também)

ANDRÉA: “Yes... No... Yes... Yes... Yes…”

RAFAELA: Opa! (alunos riem).

ANDRÉA: Esta brincadeira é de enganar... (alunos continuam rindo)....

Os relatos abaixo se referem ao trabalho realizado com o livro paradidático “A day at

the Amusement Park”.

Na aula de 21.10.2014, com a turma A, a professora-pesquisadora propôs que no faz

de conta, todos iriam ao parque de diversões e os questionava, ao receberem a notícia, como

se sentiam: “happy” ou “sad”. Os alunos ficaram tão empolgados em imaginar que iriam ao

parque de diversões, que até bateram palmas:

ANDRÉA: Então, tem que ser em inglês, uma dessas duas palavrinhas aqui... se fosse para

a gente ir agora lá para o parque de diversões, como é que vocês iam se

sentir?... “happy or sad?”.

(...)

ANDRÉA: Tá, como você se sente? (todos os alunos presentes na aula responderam

“happy”, um por um)... “happy”... então todos estão felizes para ir ao parque

de diversões... êêêê... (professora e alunos batem palmas)...

Outro momento que gerou motivação e interesse na turma A pela história do livro na

aula de 21.10.2014 foi a parte da história em que as personagens (pai e filho) vão na

montanha russa. Embora nesse momento a professora-pesquisadora não fizesse uso da L2

para interagir com os alunos, esse fato pode ser justificado por Ferreira (2012, p. 68) “impedir

o uso da L1 pelo aluno pode significar a interrupção de processos cognitivos necessários ao

seu processo de aprendizagem da LE”. Para Ferreira (2012) a L1 promove sentidos, deixando

o processo comunicativo mecânico de lado para tornar a aprendizagem/aquisição de LE

significativo para o aluno. Leffa (2003, p. 22) usa a expressão de domínio afetivo quando

durante a aula de leitura, o aluno “aponta para detalhes das ilustrações”. É exatamente o que

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acontece conforme pode ser observado abaixo:

ANDRÉA: É um lugar feliz, não é?... agora, vamos virar a página... e aonde é que eles vão

andar?

ALUNOS: Na montanha russa.

ANDRÉA: Na montanha russa... e aí, como o papai se sente na montanha russa? (alunos

começam a gargalhar, quando observam a expressão de medo do papai que está

acompanhando o filho na montanha russa).

LUIZA: Triste, triste!

ANDRÉA: Isso, ele fica triste, muito bem! Por que Luiza ele fica triste?

LUIZA: Porque está descendo muito rápido.

ANDRÉA: E o menininho, como ele está?

ALUNOS: Feliz.

RENAN: Até o de trás (aluno observa na ilustração, que há ocupantes no assento de trás

do carrinho da montanha russa).

ANDRÉA: Deixa eu ver... e o de trás, ó, como é que está a mamãe aqui atrás?

ISADORA: Gritando... (alunos começam a gargalhar novamente).

A utilização de vídeos é um recurso que além de chamar a atenção dos alunos para

algo novo, quando contextualizado, contribui para que eles também fiquem motivados para

compreenderem o sentido da música, relacionando as imagens com o som das palavras.

Quando há essa intenção, todos se concentram em busca da construção do conhecimento. O

exemplo abaixo é a experiência dos alunos da turma A, na aula de 27.10.2014:

ANDRÉA: (...). Agora o vídeo que a gente vai assistir, olha lá para trás, são três músicas...

ALINE: Parece legal!

(Alunos ficam em silêncio enquanto assistem o vídeo da música “Driving in my car”).

VANESSA: Engraçado, né?

(Alunos continuam em silêncio, pois começou o vídeo da música “Freight Train”).

A turma B, na aula de 21.10.2014, deu praticamente uma resposta unânime, quando

questionei se haviam gostado dos vídeos das músicas:

ANDRÉA: (...) Gostaram dos vídeos?

ALUNOS: Sim.

ANDRÉA: Quem gostou mais do primeiro vídeo do trem?... quem gostou mais do trem...

quem gostou mais do ônibus... eu gosto do ônibus... quem gostou mais do

carro... (alunos ficam em silêncio e só erguem o braço, mas a professora não

conta quantos alunos estão erguendo o braço)... a Luiza gostou de todos, né?

MAURÍCIO: Eu também gostei...

ALUNOS: Eu também... (vários comentários entre os alunos)...

ANDRÉA: Gostou de todos?... Então tá...

A aula com os vídeos foi retomada em 04.11.2014, com a turma B. A opinião deles a

respeito dos vídeos não mudou, mesmo não sendo mais novidade, como pode ser observado

abaixo:

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Aula iniciada com o vídeo “Driving in my car”. Alunos dão risadas enquanto acompanham

a exibição do vídeo.

GUILHERME: Nossa, eu gostei! (o vídeo acabou).

ANDRÉA: Legal, né? (...)

ANDRÉA: (...) Vamos ver o outro? Esse outro dá para a gente levantar, fazer

movimentos... vamos?

ALUNOS: Êêêê... (começa o vídeo da música “Freight train”).

ANDRÉA: Tem que fazer o movimento do trem... (alunos dão risadas, se divertem e se

arriscam a cantar a música em inglês).

ANDRÉA: Já andaram de trem? (continua a música... ao acabar a professora pergunta:)...

e agora, qual é a outra música, quem lembra?

ALUNOS: Ônibus... “bus”...

ANDRÉA: A do ônibus também dá para gente fazer movimentos, vamos? (...)

ANDRÉA: (...) Shiiii... começou! (Início da música: “The wheels on the bus”, alunos dão

risadas).

Uma aluna da turma B, na aula de 04.11.2014, questiona a professora-pesquisadora a

respeito do dado que foi personalizado com as atrações do parque de diversões. Como a

minha intenção era utilizar o material em diversas aulas para ensinar aos alunos o nome das

atrações do parque em inglês, depois de utilizarmos o material, eu o guardava comigo para

não correr o risco de estragá-lo. Os alunos aguardavam ansiosos o momento da brincadeira

com os dados:

LUIZA: “Teacher” e o nosso dadinho?

ANDRÉA: Calma. Primeiro a pergunta e já vou entregar os dados (trata-se de uma

atividade de pós-leitura). É rapidinho... se vocês ajudarem.(...).

Percebi durante a transcrição das aulas que em alguns momentos eu pedia para os

alunos repetirem o vocabulário que eu estava ensinando, mas na maioria das vezes, os alunos

repetiam sem que eu pedisse. Segundo Leffa (2003, p. 23) o aluno “imita sentenças que ouve

e repete adequadamente o modelo”. Vigotski (1998, p. 115-116) esclarece que a imitação

“parece ter pouco significado em si mesmo, é de fundamental importância na medida em que

demanda uma alteração radical de toda a doutrina que trata da relação entre aprendizado e

desenvolvimento em crianças”. Pode ser percebido que essa questão da imitação auxilia na

construção do conhecimento prévio, ou seja, é a criação da ZDP não planejada, invisível,

quase imperceptível mediante a tantas coisas acontecendo dentro de uma sala de aula.

Observa-se que se o aluno está fazendo o esforço de imitar e repetir com consciência o

modelo, ele está motivado a aprender a língua inglesa. Durante a transcrição das aulas há

inúmeros momentos de repetição das palavras em inglês pelos alunos, ora individualmente e

ora no coletivo.

Exemplo de repetição coletiva e individual quase que simultâneas durante a aula de

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21.10.2014, na turma B:

ANDRÉA: Então, quando está quente em inglês, nós usamos a palavra “hot”.

ALUNOS: “Hot”.

ANDRÉA: “Hot”... ó vou fazer um picolé aqui (professora desenha um picolé na lousa).

SABRINA: “Hot... hot...”.

A atividade de pós-leitura do livro paradidático aplicada na aula de 28.11.2014 com os

alunos da turma A, agradou tanto uma aluna, que ela fez o seguinte comentário:

JAQUELINE: Se bater o sinal, eu não vou querer fazer a fila... eu vou terminar tudo.

O comentário da aluna mostra que ela estava motivada a fazer a atividade proposta e

eu também me senti motivada com o comentário dela, a me engajar cada vez mais e propor

situações de ensino-aprendizagem que sejam significativas para os alunos.

De acordo com a análise e discussão dos dados apresentados nesta seção, procuro

responder à segunda pergunta de pesquisa: “Como despertar o interesse do aluno, motivá-lo a

aprender uma língua estrangeira, sendo que a proficiência nesse estágio de aprendizagem é

praticamente zero”?

O interesse do aluno em aprender a Língua Inglesa é despertado quando ele pode se

reconhecer nas ações das personagens dos livros paradidáticos utilizados nesta pesquisa. O

meio para garantir a participação do aluno é o uso da L1 pelo professor que faz a mediação,

promovendo sentido para atingir a L2.

Quanto à motivação, a escolha dos títulos dos livros paradidáticos de acordo com a

faixa etária, as músicas, brincadeiras e atividades contextualizadas “podem criar essas

oportunidades na sala de aula de língua estrangeira, proporcionando situações em que as

crianças precisam e querem se comunicar para terem garantida a sua participação”.

(SHIMOURA, 2012, p. 38).

Após a análise e discussão dos dados referente aos momentos de motivação nas aulas

de inglês e respondida a segunda pergunta de pesquisa, encerro a terceira parte desta seção. A

seguir, analiso e discuto os dados referentes à interação que ocorreu durante as aulas.

3.4 Interação

Na quarta seção deste capítulo, o foco da análise e discussão dos dados é a interação

entre a professora-pesquisadora e os alunos. Um dos objetivos do trabalho com os livros

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paradidáticos é criar situações de uso real da Língua Inglesa, que fossem significativas para os

alunos. A Atividade Social foi uma das teorias aplicadas neste trabalho como possibilidade de

criação da zona de desenvolvimento proximal. A ZDP é o momento na aula de língua inglesa

em que aquilo que o aluno não consegue fazer sozinho, realizará com a ajuda do par mais

experiente, atingindo seu processo de maturação quando conseguir realizá-lo com

independência. (Vigotski, 1998).

Para desenvolver os momentos em que a Atividade Social foi aplicada durante as

aulas, houve a necessidade de pesquisar sobre a reconstrução do material didático e

estratégias de leitura, pois, caso contrário, o trabalho de leitura com os paradidáticos ficaria

restrito a repetição mecânica de vocabulário sem privilegiar a aprendizagem significativa para

o aluno.

A seguir destaco os momentos das aulas em que a proposta de trabalho com Atividade

Social foi desenvolvida, referindo-se os relatos às atividades realizadas com o livro

paradidático “Monkey About with Chimp and Zee”.

Na aula de 15.08.2014 com a turma A, desenvolvi a Atividade Social com os alunos

utilizando um segmento da história do livro paradidático mencionado acima. Trata-se da parte

em que a personagem do livro está segurando um pirulito e diz: “Would you like a little

lick?”. Fiz uma pequena adaptação e modifiquei a frase para “Would you like a lollipop?”.

Entreguei um pirulito para cada aluno e sugeri que eles formassem duplas. Deixei livre a

formação dos pares tendo em vista que para acontecer a interação em uma língua que não seja

a materna do aluno, quando ele for inexperiente, é necessário que ele se apóie no par mais

experiente ou naquele com o qual possui afinidade, para não se sentir constrangido e bloquear

o processo de comunicação. Sendo assim, expliquei a dinâmica para os alunos e fomos

repetindo juntos, diversas vezes. Trata-se de uma situação de uso real em língua inglesa,

oferecer um pirulito para o colega, sem um alto grau de complexidade na pronúncia de acordo

com a faixa etária dos alunos, promovendo a interação entre pares com o auxílio do par mais

experiente, ou seja, oportunizando a ZDP. Dessa forma, todos tiveram a oportunidade de

experimentar a língua inglesa brincando. De acordo com Shimoura (2012) quando é feita a

escolha de se trabalhar por meio de Atividades Sociais, a criança se conscientiza de que é

possível agir conscientemente no mundo utilizando a linguagem, pois ao se apropriarem do

uso da língua própria da Atividade Social (oferecer um doce ao colega), os alunos a realizam

com segurança, pois se apoiam nas convenções sociais do que se pode (ou não pode) ser dito

de acordo com o contexto em que se encontram.

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ANDRÉA: Isso... (professora vai entregando um pirulito para cada aluno fazendo a

pergunta: “Would you like a lollipop?” Alunos permanecem em silêncio e só

responde “Yes” o aluno que está recebendo o pirulito). Todo mundo ganhou

um, sim?

ALUNOS: Sim.

ANDRÉA: Agora vocês vão... Cada um de vocês vai escolher um colega e fica do ladinho...

(barulho da movimentação dos alunos)... Agora vocês vão pegar o “lollipop”

de vocês e vão perguntar para o colega... todo mundo repete comigo... “Would

you like a lollipop?”

ALUNOS: “Would you like a lollipop?”

ANDRÉA: E vai oferecer para o colega. Entenderam? Sim... e aí vocês trocam o

“lollipop”... Vamos fazer de novo?... Peguem seus “lollipops” e eu vou fazer eu

e eu mesma... Repitam comigo: “Would you like a lollipop?”.

ALUNOS: ‘Would you like a lollipop?”.

ANDRÉA: De novo… repitam comigo palavrinha por palavrinha…”Would you”.

ALUNOS: “Would you”.

ANDRÉA: “Like”.

ALUNOS: “Like”.

ANDRÉA: “A lollipop?”.

ALUNOS: “A lollipop?”.

ANDRÉA: Muito bem e troca com o colega.

GABRIEL: De novo?

ANDRÉA: De novo. Repitam comigo: ‘Would you”.

O resultado do experimento acima foi avaliado na aula de 29.08.2014 quando fiz uma

breve pesquisa com os alunos sobre qual a parte do livro de que eles mais gostaram. A turma

A tem 19 participantes nesta pesquisa e 8 alunos apontaram que a parte do livro que mais

gostaram foi a página do “lollipop”, talvez por ter sido uma experiência significativa de uso

real da língua inglesa. Eles mesmos comemoram o resultado:

ANDRÉA: (...) quem mais gostou dessa parte aqui do “lollipop”?... “one, two, three, four,

five, six, seven, eight”...

ALUNOS: Êêêêê...

ANDRÉA: Oito alunos gostaram da parte do “lollipop”.

De acordo com Liberali (2012, p. 22), o brincar é uma Atividade Social, pois “brincar

é a base para que as crianças se apropriem de sua cultura e possam ultrapassar seus limites”.

Partindo dessa ideia do brincar e considerando a faixa etária dos alunos, o livro paradidático

traz a ilustração das personagens brincando de se esconderem em uma bananeira. A

brincadeira de esconder não impõe restrições, embora seja muito mais divertida em um

espaço aberto e grande, mas como no momento o que eu tinha era uma sala de aula e o desejo

de criar situações de uso real da língua inglesa, então aproveitei a oportunidade de propor aos

alunos a brincadeira de esconde-esconde.

Os alunos estavam dispostos a participarem da brincadeira e dessa forma, foi possível

acontecer a interação na língua inglesa, como se pode observar na aula de 29.08.2014 com a

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turma A. Trata-se de uma atividade desenvolvida durante a leitura do livro já citado:

ANDRÉA: (... ) E agora, o que eles estão fazendo aqui?

JÉSSICA: Brincando de esconde-esconde.

JOÃO: Comendo banana.

ANDRÉA: Jéssica... na árvore. Só que a gente não tem como subir na árvore, né?

MATEUS: É.

ANDRÉA: Então a gente vai fazer assim... esconde-esconde em inglês, prá falar esconde-

esconde em inglês, a gente tem que usar a palavra “hide”.

ALUNOS: “Hide”.

ANDRÉA: Repitam comigo: “hide”.

ALUNOS: “Hide”.

ANDRÉA: Então agora, ó, no nosso lugar mesmo, nós vamos fazer o quê? (silêncio)...

“hide”... eu vou contar... todo mundo no lugar... “one, two,three” cada um no

lugar, Aline, ainda não, no lugar... eu conto “one, two, three” quando eu falar

“hide... everybody”... todo mundo vai se esconder... entenderam? (barulho de

mesas/cadeiras sendo arrastada). “Let´s go?”... no lugar... não está valendo

ainda... não tá valendo ainda... não tá valendo ainda... agora vale, ó, “one”...

contem comigo: (alunos e professora contam juntos)... “one, two, three...”

(agora só a professora fala) “hide” (barulho dos alunos se movimentando e

silêncio)...

Ah! Muito bem, volta para o lugar... (barulho da movimentação dos alunos)...

Agora,cuidado viu?... Contem comigo... (alunos e professora contam juntos)...

“one, two, three” (agora só a professora conta sozinha) “four, five... hide”...

(barulho dos alunos se movimentando e risadas)... Muito bem! Volta para o

lugar (barulho e movimentação dos alunos voltando para o lugar)... De novo...

(alunos e professora contam juntos)... “one, two, three, four, five” (agora só a

professora fala) “six, seven, hide” (barulho dos alunos se movimentando e

risadas)... Volta para o lugar... (alunos batem palmas e professora começa a

contar)... “one” (alunos acompanham) “two, three, four, five, six, seven, eight,

nine, ten” (agora só a professora fala) “hide”… (movimentação dos alunos

para se esconderem e risadas)… Não escondeu?... porquê?... vai, esconde aí…

Muito, bem… volta para o lugar… (barulho dos alunos voltando para os

lugares)... Agora, na hora do intervalo, se vocês forem brincar de esconde-

esconde, fala para o amigo: “Let´s play hide?”... Vamos brincar de esconde-

esconde?... Tá bom?..

Ainda objetivando mostrar a proposta do trabalho com a Atividade Social, relato a

seguir o que foi realizado com o livro paradidático “A day at the Amusement Park”.

Procurando criar situações em que a língua inglesa fosse usada como um instrumento

para promover o ensino-aprendizagem de inglês e que todos os alunos tivessem a

oportunidade de participar, utilizei a Atividade Social como um meio para alcançar esse

objetivo e também a estratégia de leitura proposta por Tomlinson (2010). Para esse autor, na

construção de um material didático que auxilie na interação, é necessário que o professor

realize atividades que encorajem os alunos a visualizarem, a usarem a fala interna e a fazerem

conexões com as suas vidas. Nessa abordagem, exemplifico a seguir uma atividade de pós-

leitura feita com a turma A, na aula de 03.11.2014. Após trabalhar com os vídeos das músicas

“Driving in my car”, “Freight Train” e “The Wheels on the Bus” e relembrar o meio de

transporte que a família da história do livro paradidático usou para ir ao parque, questionei os

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alunos:

ANDRÉA: Quando vocês vão passear com a família de vocês, como vocês costumam ir?

GABRIEL: Vou de “bus”.

JOÃO: “Car”.

ANDRÉA: Isso! “By car, by train” ou “by bus?”.

JOÃO: “By car”.

ANDRÉA: Agora pensa, pensa em inglês... porque aqui, aonde vocês moram tem estação

de trem, tem ponto de ônibus e muitos moradores também tem...

ALUNOS: “Car”.

ANDRÉA: “Car”. Agora pensem e falem para mim em inglês... um dos três meios de

transporte que vocês usam para ir nos passeios com a família.

JOÃO: “Car”.

JÉSSICA: “Car”.

YASMIN: “Car”.

GABRIEL: “Bus”.

RAFAEL: “Car”.

VANESSA: “Car”.

GABRIELA: “Car”.

REBECA: “Car”.

PEDRO: “Car”.

ALICE: “Car”.

BEATRIZ: “Car”.

FERNANDO: “Car”.

MATEUS: “Bus”.

PAULO: “Car”.

ALINE: “Car”.

Percebe-se pelo exemplo acima, que os alunos têm autonomia para dar as respostas à

pergunta realizada pela professora-pesquisadora. Houve a interação e todos participaram.

Com a turma B, na aula de 04.11.2014, criou-se a ZDP, pois a professora-pesquisadora

precisou mediar à interação para garantir a participação dos alunos durante a atividade

proposta de uso da Língua Inglesa:

ANDRÉA: Para entrar no parque de diversões, o quê eu preciso ter?

ALUNOS: Ingressos.

ANDRÉA: Como é que fala mesmo ingressos em inglês?

ROBSON: Ingresso.

ANDRÉA: Quem lembra?

HELENA: “Tickets”.

ANDRÉA: Isso, Helena, muito bem! “Tickets” (...). Se vocês forem passear com a família

de vocês... não importa se vocês vão no cinema... no parque... no teatro... vai ter

que comprar os ingressos, não vai? Nicole, quantas pessoas são na sua família?

NICOLE: Cinco.

ANDRÉA: Como se fala cinco em inglês? (silêncio)... Vamos contar então? (professora só

mostra os dedos das mãos e os alunos contam em inglês).

ALUNOS: “One... two... three... four... five… six… seven… eight… nine… ten…”.

ANDRÉA: Muito bem! Todo mundo comigo de novo (professora e alunos contam juntos em

inglês) “one, two, three, four, five, six, seven, eight, nine, ten”. Por exemplo... se

eu for passear com a minha família... na minha família eu tenho: meu pai, a

minha mãe, eu, a minha irmã, a minha outra irmã e meu irmão... nós somos em?

LUIZA: Seis.

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ANDRÉA: “Six”.

ALUNOS: “Six”.

ANDRÉA: Aí eu vou chegar lá e pedir “six tickets”... é o quê a gente precisa para ir

passear.

RENAN: Eu tenho cinco.

ANDRÉA: Todo mundo pensa em inglês quantas pessoas tem na família e aí vai falar o

número de pessoas em inglês e a palavra “tickets... please”... “six tickets

please”... eu estou falando: Seis “tickets” por favor!... É o quê eu preciso

comprar para entrar lá no parque, no teatro, no cinema... ok? (alunos

conversam entre eles)... Então Nicole, começa com você...

NICOLE: “Five tickets”.

LORENA: “Five tickets”.

ANDRÉA: Gente… todo mundo aqui só tem cinco pessoas na família?

HELENA: Não, eu não tenho.

ANDRÉA: Não é para ir imitando o colega... é para pensar quantas pessoas tem... Lívia,

muda de lugar... que você não está prestando atenção na aula... (silêncio)...

atrás, lá na última mesa... você não quer prestar atenção, agora vai ter que ficar

aqui sozinha... (silêncio)... quantas pessoas na família, Sabrina?... Assim? Então

conta... “one, two, three”... fala...

SABRINA: “Three tickets”.

ANDRÉA: Quem não lembra o número, mostra assim na mãozinha quantas pessoas são,

assim a “teacher” ajuda.

VITÓRIA: “Six tickets”.

ANDRÉA:Helena… isso… tudo isso? E mais... assim ou assim... assim? Então, fala para a

“teacher... nine”.

HELENA: “Nine”

ANDRÉA: “Tickets”.

HELENA: “Tickets”.

ANDRÉA: Davi… quantos são?... Fala “seven”...

DAVI: “Seven”.

ANDRÉA: “Seven ticktes”.

DAVI: “Seven tickets”

GUILHERME: “Three tickets”.

RENAN: “Five tickets”.

ISADORA: “Five tickets”.

ANDRÉA: Luiza… tira a cola da boca… quanto é tudo isso, Luiza?... Fala “seven”.

LUIZA: “Seven tickets"

ANDRÉA: “Tickets”.

LUIZA: “Seven tickets”.

ANDRÉA: Pode falar Robson… fala alto, senão eu não ouço...

ROBSON: Eu sei contar em japonês.

ANDRÉA: Conta em japonês para a gente ouvir! (aluno conta em japonês os números de 1

a 10). Que legal! Quem te ensinou?

ROBSON: Meu professor de judô.

ANDRÉA: Ah! Ele luta judô... que legal! Eu também quero aprender a lutar judô para eu

saber contar em japonês...

O exemplo acima é muito interessante, pois a professora-pesquisadora foi a mediadora

na maior parte do tempo, até que surgiu o inesperado: o aluno Robson disse saber contar de

um a dez em japonês. Naquele momento, ele passou a ser o mediador, pois eu não sabia os

números em japonês. Essa situação encorajou o aluno a compartilhar a experiência de vida

dele, remetendo-me ao conceito de Atividade Social em que Liberali (2009, p. 15) lança a

seguinte pergunta: “Como delimitar e tratar com “a vida que se vive” (Marx e Engels, 2006,

p. 26) no espaço escolar? Como superar a separação entre a vida e a escola? De que maneira

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estabelecer uma relação dialética entre vida e ensino-aprendizagem?”.

Essa não foi a única experiência que tive com os alunos assumindo o papel de

mediadores durante o processo de ensino-aprendizagem, no período de coleta de dados para

este trabalho. Exponho abaixo, mais uma situação em que fui surpreendida pelos alunos.

Trata-se da aula de 21.10.2014, com a turma B. Os alunos passaram a ser os mediadores, pois

ajudaram a professora-pesquisadora a desenhar um picolé na lousa. A situação aconteceu

quando eu estava realizando o trabalho de pré-leitura do livro paradidático “A day at the

Amusement Park” e eu queria desenhar um picolé para contextualizar o que seria um “hot

day”:

ANDRÉA: Então, quando está quente em inglês, nós usamos a palavra “hot”.

ALUNOS: “Hot”.

ANDRÉA: “Hot”... ó vou fazer um picolé aqui (professora desenha um picolé na lousa).

SABRINA: “Hot... hot...”.

ANDRÉA: Íííí, mas ficou igual a um “lollipop”... não ficou um “ice cream”, ficou um

“lollipop” (alunos conversam entre eles)... vou deixar só mesmo o boné, porque

esse “ice cream” aqui não tá muito bom não!

RENAN: Parece um balão.

ANDRÉA: Parece um balão... (alunos fazem comentários)... parece um “balloon”, né?

RENAN: Você faz um palitinho assim quadrado...

ANDRÉA: Quadrado?

RENAN: É...

LUIZA: Depois você faz assim...

ANDRÉA: Vamos ver assim...

RENAN: Agora você sobe... (silêncio).

ISADORA: Ficou legal!

MAURÍCIO: Huuummm...

ALUNOS: Agora sim! (empolgados).

LUIZA: É assim!

Resgatando novamente o conceito de brincar, criei uma atividade de pós-leitura com

um dado personalizado em que há as atrações do parque de diversões. O objetivo dessa

brincadeira era que, em duplas, os alunos jogassem os dados e quando saísse a mesma

ilustração da atração do parque de diversões para os dois jogadores, eles deveriam usar a

expressão “let´s go”. Essa expressão consta no livro paradidático e resgatei essa frase para

desenvolver a Atividade Social, pois permite o uso da língua inglesa e a interação entre pares.

É uma atividade simples em que os alunos não precisavam do mediador, desde que

entendessem a dinâmica da brincadeira, mas o tempo todo eles sentiram a necessidade de vir

até a mim e compartilharem a experiência. Interpreto essa situação como um momento de

afetividade e de satisfação dos alunos por fazerem o uso significativo da Língua Inglesa.

Shimoura (2012) relata que o uso de histórias infantis em sala de aula oportuniza a formação

de futuros leitores em língua estrangeira, pois os textos estão repletos de exemplos de uso da

língua na vida real, alem de ampliar o conhecimento de mundo, a imaginação e a criatividade.

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A experiência aconteceu com a turma A na aula de 28.11.2014:

ANDRÉA: (...) E vocês se lembram o que foi que eles pediram para o papai e para mamãe?

ALUNOS: Para ficar mais.

ANDRÉA: Vocês se lembram... quando estava na hora de ir embora, eles falaram alguma

coisa para o papai e para a mamãe... O que foi?... Ninguém lembra?... Eles

queriam voltar lá para o parque... quais foram as palavras em inglês?... “Let´s

go!”... O que é o “let’s go”?

REBECA: Voltar.

ANDRÉA: Vamos?... Vamos?... O jogo que a gente vai fazer agora, é assim... a gente vai

ter que usar as palavras “let’s go”... vamos... prá que? Primeiro vamos escutar

e depois fazer... cada um de vocês vai escolher um colega... um (alunos

começam a conversar com os pares), mas antes de escolher o colega, presta

atenção! Vocês vão jogar o dado... vamos Vanessa? Eu e a Vanessa. Só de

exemplo... eu joguei o meu dado e parou no carrossel. Joga o seu... parou na

montanha russa. A gente pode ir junto no mesmo brinquedo?

ALUNOS: Não!

ANDRÉA: A gente vai jogar de novo, até acertar o brinquedo igual... eu acertei a casa

monstro e ela acertou o carrossel. A gente pode ir junto?

ALUNOS: Não!

ANDRÉA: De novo... vamos lá Vanessa... carrossel e você? Montanha russa. Ah, então não

dá para gente ir juntas... nós estamos juntas... não, é? Ah, eu vou no barco

viking... roda gigante... não tá dando certo... de novo... casa monstro... roda

gigante... ai,ai,ai... carrossel... carrossel! Quando sair o mesmo... pode vir aqui

ver... todo mundo... (barulho dos alunos se movimentando)... quando sair o

mesmo... só quando sair o mesmo brinquedo, nós duas junto vamos falar...

RAFAEL: Vamos.

ANDRÉA: “Let´s go!”… vamos?... Todos acharam um par?Rafael... está sem dupla?

Então pode jogar em trio... você, a Jaqueline e o Paulo junto... só pode falar

“let´s go” quando sair o mesmo brinquedo para o três... tá bom? Pode começar.

(Alunos começam o jogo).

ANDRÉA: Saiu? O que vocês tem que falar? (Duas alunas vem mostrar o resultado dos

dados para a professora).

VANESSA: “Let’s go”.

ANDRÉA: Muito bem. (Alunos vão ficando cada vez mais empolgados). E vai jogando...

vai jogando... (alunos procuram a professora para mostrar os resultados e

enquanto jogam escuta-se eles usarem as palavras “let´s go”.). Turma!...

“One... two... three.. four... five... six... seven... eight... nine... ten… stop!”. Cada

um em seu lugar!

ALUNOS: Aaaahhhh….

ANDRÉA: “Please”. (Barulho dos alunos se movimentando)... “Let´s go” quantas vezes?

MATEUS: “Eight”.

ANDRÉA: Turma... agora todo mundo no lugar... shiiii... agora todo mundo acalma,

vamos... Mateus, vira para a frente!

LARA: “Eight” vezes o meu.

ANDRÉA: Tá. Agora acalma... o dado vocês podem levar para a casa de vocês...

ALUNOS: Êêêêêê....

Após analisar e discutir os dados desta seção respondo à primeira pergunta de

pesquisa: “Como utilizar de forma eficaz o material existente (paradidáticos “Readers”) para

desenvolver a autonomia linguística em inglês nos alunos que ainda estão em fase de

alfabetização na língua materna”?

Uma maneira de usar de forma eficaz os livros paradidáticos é propondo o uso da

Atividade Social na elaboração das estratégias de pré, durante e pós-leitura. A Atividade

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Social proporciona situações de uso real da Língua Inglesa e possibilita a criação da ZDP em

que a interação contempla todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

A Atividade Social desvincula o professor das fichas de leitura encartadas nos livros

paradidáticos que nem sempre atendem às necessidades dos alunos. Para tanto, a reconstrução

do material didático torna-se imprescindível no uso dos livros paradidáticos, pois o professor

tem a liberdade para criar atividades de acordo com o contexto em que atua.

Sendo assim, o que hoje os alunos não conseguem fazer sozinhos, pois estão em

processo de maturação (estão sendo alfabetizados na língua materna e ao mesmo tempo estão

em contato com a Língua Inglesa pela primeira vez) amanhã terão autonomia para a resolução

dos problemas. (Vigotski, 1998).

Após a análise e discussão dos dados referente aos momentos de interação nas aulas de

inglês e a respondida a terceira pergunta de pesquisa, encerro a quarta parte desta seção e

finalizo este capítulo. A seguir, apresento as considerações finais deste trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na última parte deste trabalho, retomo alguns autores já discutidos anteriormente e

faço considerações sobre como trabalhar com leitura na língua inglesa com alunos que estão

sendo alfabetizados na língua portuguesa. Além disso, ressalto algumas limitações e

contribuições deste estudo e sugiro alguns possíveis caminhos para pesquisas futuras.

Conforme descrito na introdução desta pesquisa, meu interesse em pesquisar sobre

como utilizar de forma eficaz o material paradidático “Readers” com os alunos do Ensino

Fundamental I surgiu da dificuldade em criar situações para envolver os alunos, motivá-los

durante as aulas de leitura e que a aprendizagem fosse significativa e não mera repetição

mecânica de vocabulário na língua inglesa, acreditando que dessa forma o aluno está

aprendendo o inglês.

Todas as fases da pesquisa trouxeram importantes contribuições para o meu

crescimento e amadurecimento. Uma das fases mais importantes foi entender como funciona

verdadeiramente a criação da zona de desenvolvimento proximal. Na minha prática docente

tenho observado que muitos professores acreditam que ao formar duplas já estão favorecendo

o processo de ensino-aprendizagem. Essa postura sempre foi algo que me incomodou, pois

percebia que ou os alunos conversavam sobre assuntos variados que não eram pertinentes ao

conteúdo que estava sendo trabalhado em sala de aula ou o par menos experiente só copiava

as respostas dos exercícios propostos do par mais experiente e a mediação só ficava na teoria.

Dessa forma, eu não acreditava que de fato os pares estavam se favorecendo para

compartilhar o conhecimento. Parecia-me uma transferência de responsabilidade, pois o

professor com salas de aulas superlotadas, com alunos em níveis de aprendizagem muito

distantes uns dos outros, ao propor que o aluno mais experiente desse conta de suprir todas as

necessidades do outro aluno que possuía uma série de lacunas na aprendizagem, configurava

para mim um equívoco, pois para que de fato a zona de desenvolvimento proximal aconteça

de forma que o ensino-aprendizagem seja privilegiado, faz-se necessário que haja a interação

e o par mais experiente tem que conduzir o processo de forma que o conteúdo trabalhado seja

significativo para o aprendiz e isso envolve todo um planejamento de ações, ou seja, deve ser

intencional.

Para trabalhar com os livros paradidáticos na língua inglesa com os alunos que estão

sendo alfabetizados na língua portuguesa (relembrando que os participantes desta pesquisa

são crianças na faixa etária entre 6 a 8 anos), procurei responder, com este trabalho, a

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perguntas de pesquisa:

1. Como utilizar de forma eficaz o material existente (paradidáticos “Readers”) para

desenvolver a autonomia linguística em inglês nos alunos que ainda estão em fase de

alfabetização na língua materna?

2. Como despertar o interesse do aluno, motivá-lo a aprender uma língua estrangeira,

sendo que a proficiência nesse estágio de aprendizagem é praticamente zero?

3. Quais são as estratégias de ensino-aprendizagem necessárias para envolver o aluno?

Como pode ser observado no terceiro capítulo deste trabalho, para que o uso dos livros

paradidáticos “Readers” contribuíssem para o ensino-aprendizagem e promovessem a

interação nas aulas de língua inglesa, baseei-me na Atividade Social (Liberali 2009;2012) que

propõe o uso da língua inglesa em situações reais de uso, favorecendo a criação da zona de

desenvolvimento proximal (Vigotski, 1998) e o princípio de Tomlinson (2010) que sugere o

uso de recursos mentais para beneficiar a aprendizagem da segunda língua.

Auxiliaram também no desenvolvimento desta pesquisa para manter os alunos

motivados e envolvidos durante as aulas em que os livros paradidáticos foram utilizados os

conceitos sobre Construção e Análise do Material Didático com as contribuições de Leffa

(2003), a lista de critérios desenvolvida por Ramos (2009) que auxiliam o professor a

selecionar o livro didático, assim como as Estratégias de Leitura sugeridas por Clarke (2012)

e Lajolo (2001).

A análise de dados desta pesquisa permitiu observar que as atividades de pré, durante

e pós-leitura, proporcionaram a interação na língua inglesa entre a professora-pesquisadora e

alunos, sendo que esse era um dos objetivos no desenvolvimento deste trabalho. Os alunos

ficaram motivados, pois os livros paradidáticos selecionados estavam de acordo com a faixa

etária deles. As músicas, brincadeiras e atividades contextualizadas garantiram a participação

de todos, além do uso do conhecimento prévio tanto na L1 quanto na L2 elevando a

autoestima dos alunos, pois puderam sentir que o que já sabiam não estava sendo desprezado.

Como já era esperado por mim e a própria pesquisa também releva, embora a língua

inglesa tenha sido utilizada na sala de aula, o uso da língua materna foi um grande recurso

para a orientação das atividades “e também de busca de entendimento da LE para se produzir

melhor nela”. (FERREIRA, 2012, p. 70). Esse resultado se deve ao fato de ainda os alunos

não serem proficientes na língua inglesa, mas a teoria de Vigotskii (1988) sobre a imitação me

faz acreditar que se trata de uma questão de tempo para que os alunos atinjam a proficiência

desejada para que a língua inglesa seja usada com mais intensidade nas aulas “Com o auxílio

da imitação na atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode fazer muito mais do que

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com a sua capacidade de compreensão de modo independente”. (VIGOTSKII, 1988, p. 112).

É importante considerar que todas as etapas deste trabalho enriqueceram muito minha

prática docente, pois pude refletir sobre como a teoria influencia a tomada de ações durante as

aulas. Considero que a fase de análise de dados e apresentação dos resultados foi o momento

de me autoavaliar e concluir que a aprendizagem dos alunos acontece quando o professor

deixa de ser o instrutor e se posiciona como o mediador, falando, mas também ouvindo. Os

alunos também têm anseios que precisam ser atendidos para garantir a sua participação na

vida social. A reconstrução do material e as estratégias de leitura, principalmente a visão

crítica de Lajolo (2001) sobre a importância da leitura na escola, pois é um momento que não

deve ser banalizado contribuíram para a minha criatividade em propor a Atividade Social,

contemplando situações de uso real da língua, as brincadeiras, músicas e atividades

contextualizadas que auxiliaram de forma satisfatória na utilização do material paradidático e

me fizeram acreditar que nem sempre as fichas de leitura que são encartadas nos livros

atendem as necessidades dos alunos.

Esta pesquisa é apenas uma contribuição no ensino de língua inglesa para crianças,

que aborda o uso de um tipo de material (os livros paradidáticos “Readers”) em que o aluno

ainda não tem autonomia para usá-lo sozinho, mas não pode ser um impedimento para que o

material seja desprezado. A Atividade Social é uma teoria que pode ser aplicada em todas as

áreas de ensino uma vez que ativa a zona de desenvolvimento proximal que é parte

constituinte do ensino-aprendizagem de outras disciplinas escolares.

Por todas as considerações aqui feitas, avalio que este estudo possa trazer mais

contribuições para a área de pesquisa em ensino da língua inglesa para crianças que ainda

estão em processo de alfabetização na língua materna por meio de mais atividades lúdicas que

favoreçam a interação entre pares com a mediação do mais experiente (sendo esse uma

criança da mesma faixa etária do par menos experiente) motivando o colega a se desenvolver

linguisticamente. Considero também que outra área que possa surgir interesse no

desenvolvimento de pesquisas, sejam as fichas de leitura encartadas nos livros paradidáticos,

que fazem parte da propaganda das editoras para influenciar os professores a adquirirem seus

produtos, pois oferecem atividades motivadoras para os alunos, que já vêm pronta para

facilitar o trabalho dos professores, sejam impressas ou através de meios eletrônicos. Essas

atividades são direcionadas, na maioria das vezes aos alunos de cursos de idiomas que fazem

parte de outro contexto de ensino que é completamente diferente dos alunos da rede pública.

Portanto, o professor deve estar consciente de que ao escolher o material para ser trabalhado,

deve considerar o seu contexto de trabalho e o que os alunos querem e precisam.

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Encerro este trabalho ciente que há ainda um longo caminho a ser percorrido no ensino

da língua inglesa seja para crianças ou adolescentes que estão matriculados na rede pública de

ensino que merecem aprender uma segunda língua, não como um privilégio, mas com o

direito que cabe a qualquer cidadão de ter acesso à cultura, de poder agir e transformar o meio

em que vive, ou seja, o “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao

desenvolvimento. (VIGOTSKI, 1998, p. 117).

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ANEXOS

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ANEXO A – PORTARIA N° 5.361 DE 04/11/2011

Portaria nº 5.361 (DOC de 05/11/2011, página 15) DE 04 DE NOVEMBRO DE 2011

INSTITUI O PROGRAMA “LÍNGUA INGLESA NO CICLO I” NAS ESCOLAS DA

REDE MUNICIPAL DE ENSINO QUE MANTÊM O ENSINO FUNDAMENTAL E

DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS

O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições legais e

CONSIDERANDO:

- as diretrizes da Política Educacional da Secretaria Municipal de Educação;

- o entendimento da escola como local que deve favorecer o desenvolvimento das

competências e habilidades para a inserção do cidadão no contexto globalizado;

- a importância de se promover ações inovadoras no sentido de acompanhar os avanços da

comunicação e da tecnologia mundiais;

- a possibilidade de se antecipar o contato com a língua inglesa, como instrumento de

ampliação do conhecimento;

- a decorrente aproximação com conteúdos culturais e sociais da língua inglesa como forma

de comunicação de vivências e experiências;

RESOLVE: Art. 1º - Fica instituído nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) e Escolas

Municipais de Ensino Fundamental e Médio (Emefms), a partir do ano de 2012, o

Programa “Língua Inglesa: brincar, estudar e aprender”, destinado aos alunos do 1º

ao 5º anos do ciclo I do ensino fundamental.

Parágrafo único – A implantação do Programa referido no caput deste artigo observará as

normas contidas na presente Portaria.

Art. 2º - O Programa ”Língua Inglesa no Ciclo I” constitui-se na oferta de 2 (duas) horas-aula

semanais do Componente Curricular “Língua Inglesa”, dentro do horário regular de

aulas dos alunos, a partir do 1º ano do ciclo I do ensino fundamental e será

estruturado em 4 (quatro) etapas, a saber:

1ª Etapa – constituição de comissão para análise e aquisição de materiais didáticos para

utilização no desenvolvimento do Programa;

2ª Etapa – definição e regulamentação do provimento de professores especialistas para

regência das aulas;

3ª Etapa – definição de conteúdos e documentos a serem utilizados nos momentos de

formação de professores;

4ª Etapa – criação de instrumentos que permitam o acompanhamento da implantação,

execução e avaliação do Programa.

Art. 3º - A organização dos conteúdos de Língua Inglesa para o Ciclo I observará as seguintes

diretrizes:

I – Para os 1ºs, 2ºs e 3ºs anos do Ciclo I: serão programadas atividades voltadas para a

iniciação da Língua Inglesa em situações sociais do cotidiano por meio de práticas de

escuta, leitura e produção oral com aprofundamento e oferta de novos desafios que

exijam maior complexidade, na medida do desenvolvimento dos alunos.

II – Para os 4ºs e 5ºs anos do Ciclo I: serão propostas situações de aprendizagem que

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envolvam práticas de escuta, leitura, produção oral e produção escrita.

§ 1º – Para o desenvolvimento das atividades previstas nos incisos I e II deste artigo, a equipe

gestora da unidade educacional deverá incluir o Programa no seu Projeto Pedagógico e

os Docentes do Ciclo I, no seu Plano de Trabalho visando ao desenvolvimento das

atividades de forma integrada.

§ 2º - A Secretaria Municipal de Educação oferecerá orientações curriculares próprias para

cada ano do ciclo, além de indicar a aquisição de títulos de livros paradidáticos, jogos,

CDs e brinquedos que favoreçam a aprendizagem da língua inglesa.

Art. 4º - A avaliação do rendimento dos alunos em Língua Inglesa em todos os anos do Ciclo

I será contínua, mediante te atribuição de conceitos semestrais, visando auferir o

seu aprendizado.

Parágrafo Único – A atribuição de conceitos não será considerada para fins de promoção ou

retenção do aluno.

Art. 5º - As aulas de Língua Inglesa serão ministradas por professores de ensino fundamental

II e médio, que titularizam o componente curricular de Inglês, e comporão a sua

jornada semanal de trabalho.

§ 1º – Os professores de que trata este artigo, poderão assumir aulas, além das de sua jornada

regular de trabalho, remunerados como Jornada Especial de Hora-aula Excedente (JEX),

respeitados os dispositivos constantes em portaria própria.

§ 2º - Na hipótese de não haver professores da titularidade específica, as aulas poderão ser

ofertadas a outros professores que possuam habilitação própria, independentemente da

área de sua titularidade, na forma estabelecida em portaria específica de escolha e

atribuição de classes/aulas em vigor.

§ 3º - Preferencialmente todas as aulas do componente no ciclo I deverão ser atribuídas a um

único professor.

§ 4º - As aulas de Língua Inglesa serão acompanhadas pelo professor regente da classe,

objetivando a articulação dos conteúdos nos componentes curriculares de Língua

Portuguesa e Arte.

Art. 6º - Caberá à Secretaria Municipal de Educação, por meio da Diretoria de Orientação

Técnica – DOT/SME em parceria com as Diretorias Regionais de Educação através

das Diretorias de Orientação Técnico-Pedagógica – DOT-P/DRE promover cursos

de formação para os professores envolvidos noPrograma, na forma a ser divulgada

por comunicado específico a ser publicado no Diário Oficial da Cidade (DOC).

Art. 7º - As Diretorias Regionais de Educação auxiliarão as unidades educacionais na

implantação e implementação do Programa, bem como disponibilizarão os recursos

necessários que apoiarão a sua execução.

Art. 8º - O acompanhamento do Projeto dar-se-á por meio de:

I – Disponibilização no Portal da Secretaria Municipal de Educação de:

a) sequências de atividades utilizando os recursos didáticos adquiridos a fim de orientar o

planejamento dos professores em cada um dos cinco anos do Ciclo I do Ensino

Fundamental.

b) espaço no link do Ensino Fundamental para os professores postarem suas dúvidas,

reflexões e necessidades a partir das práticas cotidianas:

II – Criação de grupo colaborativo para trocas de experiências, de modo a promover a

divulgação das práticas entre os professores envolvidos no projeto.

§ 1º - Cada unidade educacional receberá recursos didáticos para cada ano do Ciclo a serem

complementados anualmente pela SME.

§ 2º - Caberá ao diretor de cada unidade educacional zelar pela conservação dos materiais

enviados pela SME.

Art. 9º - Os casos omissos ou excepcionais serão resolvidos pela Diretoria Regional de

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Educação ouvida, se necessário, a Secretaria Municipal de Educação.

Art. 10 - Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir

de 01/01/2012, revogadas as disposições em contrário.

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ANEXO B – QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES

Pergunta 1 – Qual é a parte da aula de inglês que você mais gosta?

Pergunta 2 – Quando você estudou na EMEI, a professora lia histórias?

Pergunta 3 – A professora lia as histórias todos os dias ou de vez em quando?

Pergunta 4 – Quando terminava a história, a professora costumava fazer alguma atividade da

história que ela contou?

Pergunta 5 – Na sua casa, o papai, a mamãe, irmão... costumam ler histórias para vocês?

Pergunta 6 – Você tem livros em sua casa? São histórias de adulto ou de criança?

Pergunta 7 – Que tipo de história você prefere?

Pergunta 8 – Você já viu algum livro de histórias em inglês?

Pergunta 9 – Vocês gostariam de ver o livro que a “teacher” trouxe de história em inglês?