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Jornal-Laboratório da Universidade Católica de Brasília, ano 15, n. 1

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Artefato

• Gastronomia: Coma chegada daCopa doMundo, restaurantes investemempratosinusitadosp.24

• Quemdámais?AeroportodeBrasíliasetornapalcodeprimeiroleilãodemalasabandonadasdoDFp.8

• Fichalimpa:Aplicaçãodaleiprometevarrerpolíticoscorruptosnaspróximaseleiçõesp.9

Crédito: Isabela Vargas

DE BRAÇOS ABERTOS,DE PORTAS ABERTAS

Sem creches públicas, mães da Estrutural contam com cuidado solidário para crianças p.4 e 5

DE BRAÇOS ABERTOS,DE PORTAS ABERTAS

Sem creches públicas, mães da Estrutural contam com cuidado solidário para crianças p.4 e 5

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Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da

Universidade Católica de Brasília

Ano 15, n. 1, março de 2014

Reitor: Dr. Afonso Tanus GalvãoDiretor da Escola de Negócios: Dr. Alexandre KielingCoordenador do Curso de Comunicação Social: Dr. Luiz Carlos Assis Iasbeck

Professoras responsáveis: Me. Karina Gomes Barbosa e Me. Fernanda VasquesOrientação de fotografia: Me. Bernadete BrasilienseMonitor: Shizuo Alves

Editor-chefe: Guilherme PesqueiraEditora de arte: Jéssica PaulinoEditora de fotografia: Jéssica LiliaSubeditores de fotografia: Susanne Melo, Pedro Grigori, Aline Tavares, Filipe CardosoEditores de texto: Marcelo Rosa e Amanda GonzagaEditora web: Ramíla MouraProjeto gráfico: Jéssica Paulino, Joyce Oliveira e Vinícius RemerDiagramadores: Joyce Oliveira, Narayane Loreno e Vinícius RemerRepórteres: Ana Karolina Lustosa, Rayssa Oliveira, Paulo Melo, Guilherme Azevedo, Narayane Loreno, Priscila Suares, Adriana Braga, Gabrielle XimenesChecadores: Paulo Melo e Priscila SuaresFotógrafos: Marcela Luiza, Susanne Mello, Luis Martins, Faiara Assis, Thiago Baracho, Anna Lourenço, Isabela Vargas, Kamila Braga, Natalia Roncador, Gabriela Alves, Aline Tavares, Renata Albuquerque, Leonardo Rezende, Sabrina PessoaFilipe Cardoso

Tiragem: 2 mil exemplaresImpressão: Gráfica

Universidade Católica de BrasíliaEPCT QS 7 Lote 1, Bloco K, sala 212Laboratório DigitalÁguas Claras, DFFone: 3356-9098/9237

Email: [email protected]: www.pulsatil.com.brFacebook: facebook.com/artefatoucbAcervo: issuu.com/jornalartefato

Artefato

Carta do editor

Somos debutantes: já faz 15 anos que a todo semestre novos alunos vêm para o Artefato não somente cursar mais uma disciplina ao longo do curso de jornalismo da UCB, mas buscar histórias. E são essas histórias que movem o jornal e vão nos mover novamente ao relembrá-las nas edições do semestre que se inicia.

Vamos em busca do passado, vamos vagar, vasculhar e conquistar até encontrar antigos personagens de histórias que merecem serem recontadas, a ponto de encontrar antigos repórteres que há 15 anos iniciaram os trabalhos do jornal e que hoje são nossas

referências profissionais.Não é somente do passado

que iremos viver, muito pelo contrário, viveremos o presente. Oferecendo atenção desde ao pequeno beco de produção de artigos culturais, passando pela inclusão social, não deixando de explorar a varredura que irá ocorrer no Congresso Nacional devido à Ficha Limpa e finalizando pelo não inevitável turistas que estão presentes na cidade

para a Copa do Mundo.Assim como o então

professor Marcus Alves no primeiro editorial do Artefato, lá em 1998, descrevia o nome do jornal como ambíguo, nós, atuais repórteres, fazemos jus ao nome. Vamos da arte ao cotidiano. Vamos da política à opinião. Mas sem deixar o factual, sem deixar o fato, sem deixar de ser o bom e já velho Artefato.

Guilherme Pesqueira

Bafafá

Walter Sucata, professor bugiganga ou homem de ferro. Esses são os apelidos dados pelos amigos e familiares de Walter de Souza, 55 anos, que transforma o ferro descartado em artigo de arte. ‘’O meu trabalho é transformar lixo em luxo’’, conta. Preocupado com o meio ambiente e a fim de aumentar a renda familiar, o morador de Samambaia que trabalha com reciclagem há 18 anos montou em casa uma oficina onde guarda diversas peças velhas de ferro.

Vigilante em uma escola técnica de enfermagem do DF e com o dom para marcenaria, Walter procura nas ruas materiais que sirvam para serem reutilizados. Ele já encontrou de tudo, de panelas a portões. Para completar as obras de arte, utiliza outros objetos, como plásticos, rodas de carros e até partes de motocicletas. “Só preciso olhar para a peça e sei onde posso usá-la e o que pode se tornar”, garante.

Um toque aqui, uma solda ali e pronto, as

peças estão prontas para serem reutilizadas. “Algumas delas são úteis para enfeites de casa”, afirma. As especialidades do bugiganga são relógios para sala e abajures para os quartos. Segundo Walter, tudo depende do que a imaginação permite. “É só falar o que deseja e eu tento fazer.”

O Homem de Ferro já sofreu discriminação e humilhação por trabalhar com lixo, mas não se envergonha, afinal é desse trabalho que sai parte da renda familiar. “Eu ajudo minha mulher com as sucatas que, para outras pessoas, são lixos inúteis”, desabafa.

Além de ajudar o meio ambiente, Walter também oferece ajuda para dependentes químicos. Oficinas de reciclagem são dadas gratuitamente em seu próprio ateliê para que pessoas com dificuldade em encontrar trabalho façam as peças e revendam em qualquer local. Érica Fernanda dos Santos, auxiliar de serviços gerais, conheceu Walter em uma oficina

de reciclagem ministrada no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Samambaia. A mulher, de 35 anos, recebeu ajuda do “sucateiro” quando era dependente química. “Walter conseguiu reestruturar minha vida e ocupar o meu tempo, sem sobrar espaço para pensar em outras coisas”, afirma. Érica aprendeu a reutilizar a sucata e agora comercializa os trabalhos feitos por ela na Torre de TV. “Os objetos que eu utilizava para me drogar, hoje reutilizo e vendo para ajudar nas despesas da minha casa.”

As encomendas das sucatas são feitas em casa. Lá ele planeja com o cliente o que deve ser feito. “Tudo depende do gosto da pessoa”, afirma Walter. O “sucateiro” recebe dois pedidos por semana, e chega a ganhar R$900 por mês.

Walter conta os dias para viver só da reciclagem, pois se aposenta neste ano. Seu sonho é passar o talento adiante. “O que adianta saber fazer as coisas e não passar para frente?” E pergunta: “Tem sucata aí?”

Paulo Melo

O valor da sucataCatador de Samambaia transforma ferro em arte

Crédito: Leonardo Rezende

A conquista do passado

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Águas Claras, cidade dos caminhões

Cidades

Trânsito

Por falta de espaço ou organização da obra, motoristas param seus veículos interditando faixas e causando transtorno

nas avenidas Castanheiras e Araucárias

Crédito: Luís Augusto

legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda

Guilherme Azevedo

Águas Claras é hoje o maior canteiro de obras do Brasil, totalizando 590 edifícios já construídos, 201 em andamento e 289 lotes livres, segundo dados da administração regional. Por

isso, a falta de espaço para a realização de tantas obras ao mesmo tempo se tornou um problema para os moradores.

O que chama a atenção de quem anda especialmente nas principais avenidas,

Castanheiras e Araucárias, e nas vias arteriais é a quantidade de caminhões de obras que por falta de espaço ou organização interditam parte de uma das faixas das vias, causando transtorno aos

motoristas e pedestres.De acordo com a Diretoria

de Obras da Administração de Águas Claras, há grande quan-tidade de caminhões que não estão autorizados a obstruir as ruas. Estando irregulares, con-

sequentemente cometem in-fração. “Toda obra precisa de planejamento. Então, quando ela vai utilizar a via, precisa ir ao Detran solicitar a interdição do local. Nesse caso o caminhão

está autorizado, mas geralmente o pessoal aqui faz do jeito que quer”, esclarece Pedro Cardoso, assessor do diretor de obras. A diretoria também informou re-ceber várias denúncias por dia. Como não há poder de multar,

ao flagrar veículos irregulares, a empresa é notificada e a Agência de Fiscalização do Distrito Fede-ral (Agefis) é enviada ao local.

A Assessoria de Comuni-cação do Detran-DF esclarece

que ao não possuir autorização e estacionar em desacordo com as normas do Código de Trânsito Brasileiro, a infração é média e a multa é de R$ 85,13 e quatro pontos na carteira do infrator. Caso esses veículos estejam pa-

rados sem respeitar as posições estabelecidas no CTB, a infração é leve, penalidade de R$ 53,20 e 3 pontos na CNH.

Entre os moradores da região, as opiniões sobre o assunto estão divididas. A professora Adeni-zia Maria de Medeiros diz estar incomodada, mas entende que o desconforto às vezes é preciso. “Estava passando pela Avenida Araucárias e vi um caminhão parado e até pensei que real-mente atrapalha, mas se não for dessa forma como eles irão fazer a obra? Poderia haver um horá-rio que não fosse a hora do rush”, esclarece.

Já David Araújo, servidor pú-blico, 32 anos, não está feliz com o que vê. “As construtoras acham que podem chegar e colocar os caminhões onde bem devem, atrapalhando o trânsito e, às ve-zes, causam acidentes. Não tem um dia que eu não veja um cami-nhão atrapalhando o trânsito. De-viam ter regras estipuladas pela administração para a utilização das vias, até mesmo pra melhor circulação”, afirma.

Para conseguir a autorização de interdição da via, o responsá-vel pela obra deve fazer requeri-mento ao Núcleo de Segurança e Prevenção de Acidentes do De-tran-DF e pagar uma taxa de R$ 51,47 por dia de interdição. Caso algum morador queira checar se há ou não a autorização, basta solicitá-la ao diretor da obra.

Nenhum representante das empresas flagradas pela repor-tagem do Artefato aceitou falar sobre o assunto até o fechamento desta edição. As denúncias po-dem ser feitas no link “ouvido-ria” no site www.detran.df.gov.br. A ouvidoria atende ainda no telefone 162.

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Trabalho voluntário a favor da empregabilidade

Cidades

Iniciativa

Na Estrutural, Maria de Jesus mantém creche gratuita; taxa de desemprego entre mulheres pode diminuir com a construção de instituições públicas

Crédito: Anna Lourenço

Associação Alecrim acolhe 120 crianças; local sobrevive de doações e está em situações precárias

Vinícius Remer

Desde 2005, Maria de Jesus mantém uma espé-cie de creche pública vo-luntária na Cidade Estru-tural ou como ela mesma diz "maternagem solidá-ria". A Associação Ale-crim recebe 120 crianças

de 0 a 17 anos, e outras 100 estão na lista de es-pera. Maria afirma que o local surgiu da carência que a cidade tem de es-paços voltados para esse tipo de acolhimento. "Se tivéssemos a possibilida-

de de termos creches pú-blicas, seria muito bom. Como não temos, toma-mos a iniciativa”, conta.

Não é cobrado nada das mães que querem deixar seus filhos na as-sociação, apenas que

comprovem estarem tra-balhando e que as crian-ças estejam vacinadas. O local conta com o acompa-nhamento de pediatras e psicólogos, que atuam de forma voluntária, e sobre-vive basicamente de doa-

ções e do apoio de ONGs. "Pessoas se sensibilizam com a situação, ajudam e colaboram o mês inteiro", revela Maria.

O espaço tem o apoio de 17 voluntárias que tra-balham no que for preci-

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so e principalmente no cuidado com as crianças. Uma delas é Rosana San-tos Ferreira. Ela trabalha meio período na creche e acredita que o lugar é ide-al para quem não tem con-dições de pagar por uma creche particular. "Para mim foi ótimo, pois tenho dois filhos na associação e não tinha como arcar com as despesas deles em ou-tro lugar. Enquanto estão aqui, posso procurar em-prego fora", esclarece.

Paula Galdino, 25 anos, viu na creche a oportunidade para sair do desemprego. "O pai do meu filho está preso, en-tão ultimamente não tenho tido tempo para procurar trabalho, pois não tenho com quem deixar o meu fi-lho. Enquanto ele está na creche, posso buscar em-prego", conta. Maria de Jesus diz que existe outro tipo de estrutura familiar na cidade. "A grande re-alidade da nossa comuni-dade é que as famílias são chefiadas pelas mulheres. A ausência paterna acaba implicando no desempre-go", afirma.

DESEMPREGOSegundo a Pesquisa

de Emprego e Desempre-go (PED-DF), realizada entre 2012 e 2013, nos meses de janeiro a setem-bro, enquanto a taxa de desemprego dos homens do Distrito Federal no ano passado foi de 10,2%, a

das mulheres foi de 14,8 pontos percentuais. A pesquisa revela ainda que o desemprego entre as mulheres diminuiu 1,2% de 2012 para 2013. Mas elas continuam sendo a maioria sem emprego: 57,4% estão desemprega-das. O estudo Mulheres do Distrito Federal e o Mercado de Trabalho, de março de 2013, feito pela

Companhia de Planeja-mento do Distrito Federal (Codeplan), sugere que al-gumas mulheres desistem de procurar trabalho para se dedicarem ao lar, evitar despesas com empregadas domésticas ou por falta de creches públicas para os filhos.

CRECHES NO DF

Dos 112 Centros de Educação da Primeira Infância (Cepi) previstos para serem construídas durante o governo Agne-lo Queiroz, apenas um foi concluída em quatro anos de mandato, a de Sobra-dinho II. Na Estrutural está prevista a constru-ção de duas Cepis, onde existe demanda de dez creches públicas para

atender crianças de 0 a 3 anos, segundo pesqui-sa socioecônomica sobre educação básica reali-zada pela Codeplan. O subsecretário de Planeja-mento, Acompanhamento e Avaliação Educacional da Secretaria de Educa-ção do Distrito Federal, Fábio Pereira, diz que o governo está ciente da

importância das creches públicas para as famílias do DF. "As 112 creches terão atendimento de 10 horas, o que possibilita que as mães trabalhem. Além disso, a Secretaria de Educação firmou par-ceria com 64 entidades filantrópicas para aten-dimento dessa demanda, inclusive na Estrutural", afirma.

O Censo Escolar de 2010 realizado pelo Ins-tituto Brasileiro e Esta-tística (IBGE), mesmo ano em que Agnelo Quei-roz se tornou governador do DF, afirma que de 149.876 crianças de 0 a 3 anos na capital, apenas 5.530 (3,6%), estão ma-triculadas em instituições públicas, menor índice do

país. Quatro anos depois, o cenário é de apenas um Cepi construído e 6 mil crianças que no início do ano letivo de 2014 não conseguiram vagas para creches públicas, segun-do dados da Secretaria de Educação.

Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), até 2020, é preci-so oferecer creches para 50% das crianças de até 3 anos. Das 31 Regi-ões Administrativas do DF, mais da metade, 17, não tem nenhum tipo de creche pública, ou seja, existe lacuna para pre-encher. O subsecretário acredita que a construção de todos os Cepis até o fim deste ano supre a ne-cessidade atual. “A cons-trução dessas creches atende a demanda hoje existente de crianças de 0 a 5 anos até dezembro de 2014, e já firmamos parcerias com o governo federal para construção de novas creches”, diz o subsecretário.

Mesmo todas as cons-truções previstas forem realizadas até o fim do ano, a carência ainda é grande. O total de crian-ças em cada creche é de 120. Multiplicando esse valor pelo número de Ce-pis previstos (112), ob-temos 13.440 crianças atendidas. Número que não chega nem a 10% da população total de crian-ças de 0 a 3 anos do DF.

Maria de Jesus fundou a creche voluntária; enquanto ela cuida das crianças, mães trabalham

“ Se tivéssemos a possibilidade de termos creches públicas, seria muito bom. Como não temos, tomamos a iniciativa”, Maria de Jesus

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Aumenta o número de turistas

Cidades

Copa do Mundo

Aeroportos do país esperam receber mais de 600 mil pessoas em 2014

O número de turistas que chegam ao Brasil vem au-mentando. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (WTO, em inglês) em 2012 o turismo no país cresceu 5%, enquanto o in-cremento no mundo foi de 3%, ou seja, a média bra-sileira foi maior. Eventos importantes e de destaque internacional vêm trazendo novo olhar ao país.

De um ano para cá, o nú-mero de turistas estrangeiros aumentou com a realização de mega eventos no país. Só no ano passado, o Brasil recebeu a Jornada Mundial da Juventude e a Copa das Confederações. Agora em 2014 sediaremos a Copa do Mundo Fifa e, em 2016, a Olimpíada no Rio de Janeiro.

O maior evento de fute-bol do mundo será realizado em julho de 2014. Segundo a Embratur, cerca de 600 mil estrangeiros estarão visitan-do o país durante a Copa. Não só nas cidades que rece-berão os jogos esse aumento é esperado, mas em todo o país. Além dos turistas mui-tas vezes quererem conhecer cidades próximas às capitais, muitas delegações de sele-ções ficarão em locais que não receberão jogos e só irão se deslocar no dia da partida para as cidades-sede.

Mesmo no caso de se-leções que ficarão concen-tradas em alguma sede, os locais das partidas devem in-

centivar o turismo. É o caso da Itália, que ficará no Rio de Janeiro e seus três primei-ros jogos serão no norte e no nordeste do país.

ESTATÍSTICASO fato de recepcionar um

evento do porte da Copa é, sem dúvida, fator importante no aumento, porém, segun-do estatísticas divulgadas pelo Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Ku-bitscheck, houve aumento também no número de pas-sageiros vindos de vôos in-ternacionais em meses em que nenhum evento impor-tante estava ocorrendo. Com-parando dados de dezembro de 2012 e 2013, por exem-plo, o número de passageiros vindos de voos internacio-nais aumentou em quase 9 mil no espaço de um ano.

Em entrevista ao Artefa-to, a turista francesa Delphi-ne Gar, que viaja pelo país com a família, conta por que resolveu visitar o país antes dos eventos. “Primeiramente não somos exatamente fãs de futebol. Preferimos vir antes para também economizar com as passagens aéreas e com a hospedagem fora de época”, afirma.

Além da família france-sa, um grupo de australianos conversou com o fotógrafo do Artefato Filipe Cardo-so. Eles estão de passagem pelo país para uma missão de caridade. O grupo de tu-

Crédito: Filipe Cardoso

Delphine, o marido e as duas filhas: viajar pelo país antes da Copa para economizar

Marcelo Rosa

estrangeiros no Brasil

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ristas composto por Aaron Sloper, Scott Bevis, Julia Jo-hns e Geoffrey Cake foi su-per solícito com o fotógrafo e decidiu, após um convite, passear com ele pela cida-de e conhecer um pouco dos pontos turísticos e culturais da capital. Filipe narra que o grupo era muito entusiasma-do e extremamente cordial. “Eles eram bem animados, perguntaram muito sobre minha vida e sobre Brasília, chegaram a oferecer dinheiro por termos passado o dia jun-tos”, conta.

Segundo o presidente da Embratur, Flávio Dino, a previsão é de que em 2014 o Brasil receba sete milhões de turistas, um milhão a mais que em 2013. Flávio disse

ainda que a previsão é que em 2017 10 milhões de tu-ristas estrangeiros venham visitar o país e desfrutar dos encantos brasileiros.

ESTRUTURAEstaria então o Brasil

preparado para recepcionar os turistas? Alguns proble-mas de infraestrutura e aco-modação são visíveis. Os aeroportos ainda estão em reforma e o transporte públi-co não parece ter melhorado. Segundo o portal UOL 93% das obras prometidas para a Copa do Mundo ainda não foram concluídas. Entretan-to, algum dinheiro foi inves-tido em outros setores para recepcionar o evento.

Em Brasília um novo

estádio com or-çamento astro-nômico foi levantado, substituin-do o anti-go Mané Garrincha. Estima-se que o valor do investi-mento tenha sido em torno de R$ 1,406 bilhão. Além disso, algumas obras de infraestrutura local, como asfaltamento de quase todas as principais vias da cidade, e a construção de novos viadutos, foram feitas para melhorar o trânsito. Os hotéis se dizem preparados para receberem os turistas e o aeroporto receberá no

total um investi-mento de quase

R$ 3 bilhões, Sendo R$ 750 milhões destinados a obras consi-deradas ur-

gentes e que serão feitas até

o início da Copa. O restante será in-

vestido após o evento.O aeroporto de Brasília

espera aumentar o estacio-namento para 3 mil lugares. Atualmente a capacidade é de 16 milhões de passagei-ros e na fase final das refor-mas suportará 41 milhões. Diariamente 30 mil passa-geiros passam pelo local. Entretenimento, lazer, gas-

Crédito: Sabrina Pessoa

tronomia e hotelaria estão sendo aprimorados nas re-dondezas, garante a conces-sionária Inframérica.

Os estádios em todo o país foram modernizados para se adequar ao famoso e rigoroso padrão de qualidade da en-tidade promotora da Copa, conhecido como padrão Fifa. Esse tal padrão é criticado por impor determinadas di-retrizes que as cidades sim-plesmente têm de acatar. Na Bahia, por exemplo, algumas festas típicas serão proibidas durante o evento. Todas as áreas próximas aos estádios só poderão receber restau-rantes credenciados. O ór-gão se justifica dizendo que o país sabia das exigências ao aceitar sediar o evento.

Turista mostra o passaporte após pedir informações no balcão do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek

R$ 3 bilhões É o valor do investimento

que o Aeroporto de Brasília vai receber

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Batalha das malas

Cidades

Viagem

Aeroporto JK tem sido lar de bagagens abandonadas sem identificação que irão a leilão popular inédito no DF

O Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Ku-bitschek recebe, diariamente, cerca de 30 mil passageiros, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportu-ária (Infraero). Juntamente com eles, milhares de malas que circulam nas esteiras, carrinhos e bancos do terminal. No ano passado, em todo o Brasil, a Infraero registrou quase dois milhões de malas perdidas, danificadas ou abandona-das. Cerca de 10 mil dessas ocorrências foram no aeroporto da capital. Os itens encontrados são encaminhados para os achados e perdidos e após 30 dias são relocados para um depósito onde aguardam para serem leiloados.

Os leilões acontecem nos aeroportos por todo o país, com os mais diversos itens e milhares de reais em jogo. Os lotes passam por inspeções via raio-X para detectar produtos pe-recíveis ou perigosos, como materiais químicos, por exem-plo. Depois são catalogados e armazenados. Os licitantes não podem abrir as malas que estão sendo leiloadas: preci-sam confiar nos instintos e apostar no que há dentro de cada uma, que vai desde jóias caras a roupa suja. Apenas ao final do leilão os ganhadores podem abrir a bagagem e descobrir se tiraram a sorte grande.

Crédito: Aline Tavares

Rayssa Oliveira

O aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, arrecadou R$100 mil em um único leilão realizado em dezembro de 2013. O empresário Cláudio Bientercourt que par-ticipou da audição pela primeira vez teve saldo positivo: arrematou quatro malas e lucrou quase R$3 mil. “Na maioria eram roupas mas em uma delas tinha produtos importados e em outra um saco com moe-das antigas que deram um bom lucro. Tive sorte”, comemora. Além das bagagens, se-rão colocadas a venda também itens singu-lares como jóias e eletrônicos que são dei-xados geralmente nos pontos de check-in e nas esteiras de raio-X.

João Carlos Pinhares, dire-tor de logística do Aeroporto de Brasília, responsável pelo reco-lhimento e manutenção de itens abandonados, afirma que o mo-tivo de tanto esquecimento é, na maioria das vezes, o descuido das pessoas que saem para com-prar alguma coisa ou comer em algum lugar e deixam sua baga-gem desacompanhada. “Eu ando pelo terminal o tempo todo e uma ou duas vezes por dia encontro uma mala sozinha,”, diz.

Mas não é só pelo esque-cimento que as malas lotam os quase 100 m² do depósito ae-roportuário. Funcionários con-tam que, em alguns casos, os pertences são abandonados de propósito. “Uma moça deixou duas malas de carrinho pra trás dizendo que terminou com o na-morado na viagem e não queria nada que o lembrasse, portanto,

toda a bagagem”, conta Luiz Cândido, se-gurança do aeroporto.

Não há dados oficiais de itens reavidos, já que para recuperar algum objeto perdi-do é necessário apresentar apenas o docu-mento de identidade do dono, mas segundo a funcionária dos achados e perdidos Luiza Moura, a procura é mínima: apenas 10% das bagagens, no máximo, são resgatadas.

“As pessoas abandonam, esquecem ou deliberadamente descartam todo tipo de coisa, e esse é o motivo pelo qual se vê toda essa bagagem. Nós temos muita coisa, e precisamos esvaziar, a perda de alguém é o ganho de outra pessoa” conta Pinheiros.

O primeiro leilão de bens do aeroporto JK estava previsto para abril desse ano, mas a administração informou que por decisão judicial a audição será adiada para após a Copa do Mundo. Com fluxo normal, o Aero-porto Juscelino Kubitschek recebe cerca de mil malas perdidas por mês, mas em even-tos como a Copa, por exemplo, esse número deve triplicar. Com isso, a administração vai esperar para fazer um só leilão e esva-ziar o depósito.

O Tribunal de Justiça do Distrito Fede-ral e Territórios (TJDFT) vai publicar edi-tal informando sobre o leilão à população dando prazo de até 60 dias para a retirada de objetos pelos donos. Após esse prazo, haverá perda total da propriedade dos bens remanescentes, que passarão a ser propriedade do Estado e serão vendidos no leilão público.

Segundo o TJDFT, para participar do leilão é preciso se cadastrar no site da In-framérica. Os formulários serão disponibi-lizados um mês antes. A verba arrecadada vai ser direcionada para melhorias gerais do aeroporto e os bens não arrematados se-rão doados para instituições de caridade de Brasília ainda a serem definidas. Segundo a Inframérica, a audição deverá acontecer em agosto. Até lá as malas aguardam o cha-mado de embarque para o destino de sua próxima viagem.

“A perda de alguém é o ganho de outra pessoa” João Carlos Pinhares

As malas têm trinta dias para serem reclamadas antes de ir a leilão

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Lei da Ficha Limpa promete varrer eleições

Política

Transparência

No primeiro ano em vigor, candidatos devem estar atentos a irregularidades em seu histórico político

A Lei da Ficha Limpa será aplicada nacional-mente em 2014. Por isso, pré-candidatos em todo o país deverão estar atentos. Sancionada em 2010, aten-dendo pedido da população diante de tantas irregula-ridades entre os políticos brasileiros, a lei pretende punir e afastar de cargos públicos não só políticos, como também servidores que tenham cometido atos contra a lei. Além disso, também faz parte do projeto a conscientização da socie-dade sobre o voto.

A Justiça Eleitoral bra-sileira está em alerta nas eleições deste ano. A Lei Complementar n° 135/2012, conhecida como Ficha Limpa, esteve vigente nas eleições municipais de 2012 e repre-sentou 43% de todos os pro-cessos recebidos contra can-didatos segundo o Superior Tribunal Federal (STF). Em 2014 a lei fiscalizará todo ter-ritório nacional. São 14 pon-tos (alíneas) que descrevem as situações em que os candida-tos poderão ser barrados.

As alíneas esclarecem detalhadamente como po-dem se tornar inelegíveis candidatos a cargos políticos e como podem ser punidos. Além disso, também especi-ficam a inelegibilidade para cargos como presidente da

República. Servidores pú-blicos também podem ser punidos pela Lei da Ficha Limpa. Em entrevista no site do Tribunal Superior Eleito-ral (TSE), o assessor especial da Presidência do tribunal, Murilo Salmito, afirmou que a lei foi pensada para o mau administrador de dinheiro público e para aqueles que abusam do poder econômico e político, tentando influen-ciar no resultado da eleição.

Para o servidor aposen-tado Luiz Alber dos Reis, 64 anos, a lei é uma ideia rele-vante, mas que precisa ser mais firme. “Enquanto existir recurso na Justiça, e juízes que não tomem decisão final condenando esses políticos corruptos, a lei será fraca. O Brasil ainda não tem estrutura para isso”, afirma. Seu filho Bruno Luiz dos Reis, 17 anos, acredita que a lei possui crité-rios suficientes para apresen-tar resultados positivos. “Sou menor de idade e já tenho tí-tulo de eleitor por acreditar na lei. A Ficha Limpa tem tudo para acabar com a sujeira no Brasil, por mais que existam tantas tentativas de burlar a punição”, conta.

O Movimento Contra Cor-rupção Eleitoral (MCCE), que contribuiu no processo de elaboração do projeto, acre-dita que a lei é imprescindí-vel para o futuro da política

brasileira. O comitê do Movi-mento, a Organização não Go-vernamental Adote um Distri-tal, pretende usar a lei como ferramenta de cobrança aos parlamentares. “A Ficha Lim-pa tem contribuído bastante para os parlamentares senti-rem que houve uma mudança na sociedade. É um marco na sociedade brasileira e na vida dos brasileiros”, afirma Jovita Rosa, presidente do MCCE e da Adote um Distrital.

NA PRÁTICANas eleições municipais

Crédito: Anderson Miranda

Ficha Limpa pode fechar o tempo nas eleições de 2014

Joyce Oliveira

Federal Beto Albuquerque (PSB-RS), ele se declarou a favor da lei e comentou sobre a participação da sociedade no projeto da ela-boração: “É assim que construímos a políti-ca vista pelos olhos do povo com grandeza e com respeito. Quando nos damos ao res-peito de entender a vontade da sociedade”.

No Distrito Federal já se pode contar com dois nomes que estão fora das eleições pelos critérios de avaliação da Ficha Limpa: o ex-governador Joaquim Roriz, que renun-ciou ao mandato de senador em 2007, sendo inelegível até 2023, e o ex-vice-governador Paulo Octávio, inelegível até 2018.

“A Ficha Limpa tem tudo para acabar com a sujeira no Brasil, por mais que existam tantas tentativas de burlar a punição” Bruno Luiz, 17 anos, eleitor

de 2012, o Partido Social Democracia Brasilei-ra (PSDB) foi o que obteve o maior número de candidatos barrados, somando ao todo 56, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o Partido Progressista (PP) seguiram em segundo e terceiro lugar, com 49 e 30 candi-datos barrados respectivamente. Ainda em 2012 um levantamento com os nomes dos candidatos barrados foi realizado, mas o Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Goiás não forneceu esses dados. Por isso, não há como saber quem foi bar-rado no Entorno do DF.

Uma lista divulgada pela Organização Ava-az apresenta o nome de 41 parlamentares que se posicionaram contra a formulação da lei. O Deputado Beto Mansur (PP-SP) que estava nes-sa lista, informou por meio da assessoria de im-prensa que não é favorável à Ficha Limpa como está atualmente. O deputado ainda levantou a questão que 25% dos casos condenados em pri-meira e segunda instância são inocentados em terceira e que, de acordo com ele, não deveriam ser considerados culpados até a decisão final.

Em matéria publicada no site do Deputado

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O fim do reinado de Marco Feliciano

Política

ANÁLISE

Deputado deixa a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias após críticas

Após um ano à frente da Comissão de Direitos Hu-manos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) termina sua gestão. Durante esse tempo, propôs projetos sobre segurança, levantou polêmica sobre projetos de saúde e causou indignação referente a projetos relacio-nados ao público homoafeti-vo. Diante disso, a questão é: qual é o legado do parla-mentar em três anos de Câ-mara dos Deputados?

Durante seu mandato como deputado foi autor de 33 projetos de lei (PLs) e à frente da CDHM foi autor de três propostas. Uma delas, a 6188/2013, propõe benefí-cio de prestação continuada ao indivíduo que comprove que ajuda por tempo inte-gral algum familiar com de-ficiência. O deputado alega que quem tem deficiência por lei já é amparado pela assistência social, porém o familiar que o auxilia não recebe nenhum tipo de be-neficio. “Não é justo que esse cuidador da família viva sem ter como prover o próprio sustento, ou tenha que fazê-lo com os limita-dos recursos da assistência social”, justificou o deputa-do no projeto.

Anterior à presidência da CDHM, o parlamentar propôs o PL 309/2011, que fala sobre a obrigatoriedade de haver no currículo es-colar do ensino fundamen-

tal das escolas públicas o ensino religioso, sendo de matrícula facultativa. A proposta é que haja respeito à diversidade cultural reli-giosa do Brasil. O aluno que não optar pela disciplina poderá cursar no lugar for-mação de ética e cidadania. “Precisamos redimir as dis-torções históricas do Ensino Religioso no Brasil, e este processo só será possível com a mudança de paradig-ma e relação à metodologia e epistemologia utilizada nas aulas de Ensino Reli-gioso”, alegou Feliciano em justificativa do projeto.

Durante os três anos de mandato na Câmara, o deputado apresentou 54 pedidos de requerimento (REC), 11 requerimento de informação (RIC), 4 proje-tos de decreto legislativo de sustação de atos normativos do Poder Executivo (PDC), fez oito indicações e um re-querimento de instituição de CPI (RCP) – a do Ecad. Dentre os 33 projetos que têm o nome de Feliciano, apenas dois deles não são de própria autoria – e ne-nhum deles é de grande im-pacto para o país. Nenhuma das propostas foi aprovada ainda; 11 PLs foram arqui-vados e nove estão em an-damento.

De acordo com levanta-mento da Revista Congresso em Foco, Marco Feliciano até que não foi um parla-mentar dos mais ausentes, mas passa longe da assidui-

dade de nomes como Regu-ffe (PDT-DF), que não fal-tou nenhum dia de trabalho. Das 113 seções da Câmara, esteve presente a 88. Das 25 faltas, 24 foram justifi-cadas.

POLÊMICASO cientista político e

sociólogo Rócio Barreto de-nomina o trabalho de Marco Feliciano à frente da CDHM como desigual e intolerante, devido à falta de imparcia-lidade do parlamentar e se-gregação de classes. “O que se viu foi ocupação apenas por uma determinada base e o aparelhamento dela com a ideologia ativa dessa base”, esclarece.

O advogado e especialis-

ta em causas LGBT Dimitri Sales é enfático ao dizer que o pastor envergonhou o país nos fóruns internacionais de direitos humanos.Para ele, Feliciano legitimou con-dutas de violência contra populações vulneráveis. “O trabalho realizado pelo par-lamentar representou um desserviço ao país. O de-putado buscou instituciona-lizar discursos que ferem a dignidade humana, dando--lhes áurea de legitimidade e oficialidade”, afirma.

De acordo com Dimitri, além da vergonha e descon-forto, os projetos propostos pelo pastor deputado tor-naram-se prejudiciais para o movimento LGBT. Pautas que já estavam programa-

das para serem debatidas pela comissão deixaram de avançar com a chegada de Feliciano. Segundo Dimitri, um dos projetos que mais prejudicou o público foi o PDC 234/2011, Projeto de Decreto Legislativo apeli-dado de “cura gay”. “Por ter sido objeto de análise da comissão um projeto que reconhecia a homossexuali-dade como doença, devol-vemos fôlego a superados estigmas. Retrocedemos num momento que requer avanços na conquista de di-reitos”, sentencia Dimitri.

Para o vigilante da Câ-mara dos Deputados Thiago Gomes, 28 anos, que é fre-qüentador da igreja evangé-lica, a atuação do deputado

Crédito: Renata Albuquerque

Para o cientista político Rócio Barreto, Feliciano conseguiu um dos objetivos: se popularizar

Guilherme Pesqueira e Priscila Suares

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Feliciano foi exemplar. Se-gundo Thiago, o deputado mostrou a ética do povo evangélico. Para ele, a pre-sença da bancada evangéli-ca no Congresso Nacional é importante para confrontar alguns projetos ou leis que possam prejudicar a socie-dade, como o “kit gay” nas escolas e leis sobre o abor-to, por exemplo. “Quando se trabalha limpo ninguém derruba, ninguém tira”, afirma Thiago, em defesa do parlamentar.

RELIGIÃOPastor da igreja Minis-

tério Tempo de Avivamen-to, Feliciano foi alvo de críticas direcionadas à sua postura diante de questões contrárias à religião. Com o crescimento constante da bancada evangélica, que hoje conta com 73 deputa-dos federais, existe preocu-pação de separar os dogmas religiosos do que é melhor para os direitos humanos sociais.

De acordo com Dimitri Sales, a atuação das ban-cadas fundamentalistas religiosas se volta contra a construção de um Estado laico e tenta de todos os mo-dos subjugar a razão públi-ca pelos valores religiosos. Dimitri acredita ainda que esse posicionamento causa influência negativa à socie-

dade, uma vez que o Estado nunca deve se pautar por questões morais, religiosas ou de qualquer ordem de cunho íntimo.

Apesar das duras críticas que Feliciano sofreu, Rócio Barreto é enfático ao dizer que o legado deixado por ele foi o aumento de sua popu-laridade. “Foi polêmico, deu o seu recado, convenceu e ampliou seus admiradores”, afirma. De acordo com Ró-cio, quanto mais havia opo-sição e mais as pessoas não apreciavam seu trabalho, declarações e ações, ele crescia, mais era visto, odiado e admirado.

No último dia 25 de fevereiro, o Partido dos Trabalhadores (PT) indi-cou o deputado Assis do Couto, do Paraná, para as-sumir a comissão e retomar o controle das discussões após a saída de Feliciano. Antes dele, a deputada Ma-nuela D’avila (PCdoB-RS) presidiu a CDMH em 2011. Já em 2012 foi substituída pelo petista Domingos Du-tra (PT-MA). Até o fechamento des-sa edição, o par-lamentar Marco Feliciano são retornou a repor-tagem do Ar-tefato.

Crédito: Shizuo Alves

2011foi quando o parlamentar sugeriu ensino religioso

nas escolas

211 mil

votos elegeram o pautlista em 2010

25

foi o número de sessões a que o deputado faltou em 2013

11 PLs

apresentados por Feliciano foram

arquivados

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Quem disse que Brasília não tem Carnaval?

Fotorreportagem

Joyce Oliveira

Diversidade é a palavra para sintetizar a comemoração na capital. Foliões puderam desfrutar de blocos de ruas, shows e desfiles de escolas de samba. Em 2014, eventos gratuitos fizeram referência aos carnavais famosos como de Olinda e Rio de Janeiro. A popularidade do evento foi confirmada na cidade, trazendo diversão para todas as idades e diferentes estilos.

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De artesãs a personagens de livro

15 AnosSolidariedade

Projeto de extensão da UCB dá vida à narrativa contada por moradoras do Areal. Iniciativas como essa se tornaram pauta do

Artefato em 1999

Assim como há 15 anos, as comunidades próximas à Universidade Católica de Brasília (UCB) ainda rece-bem projetos de extensão realizados pelos alunos e professores da instituição. Em uma das primeiras edi-ções do Artefato, em maio de 1999, a então estudante

de jornalismo Patrícia Mes-quita já levava ao leitor uma perspectiva de como seria o novo projeto a ser realizado no Areal, bairro localizado próximo à UCB.

O então coordenador geral do movimento Desen-volvimento Integral Partici-pativo (Dipar) e morador do

Ana Karoline Lustosa

Areal, Manoel Fonseca de Souza, que juntamente com a docência levou à comuni-dade capacitação e inserção no mercado de trabalho, afir-mou durante entrevista, na época, esperar que a UCB continuasse contribuindo para o desenvolvimento da comunidade. E o desejo de

seu Manoel se concretizou.Entre os projetos que já

passaram pelo Areal está o “Deixa que minha histó-ria eu conto”, iniciado em 2013. Mulheres artesãs que participaram de oficinas de artesanato no projeto “Co-munidade Educativa do Are-al”, também realizado pela

UCB, foram ouvidas e suas histórias se tornarão um li-vro, com fotos feitas pelos alunos do grupo Captura da UCB. A expectativa é que seja lançado ainda este ano.

A coordenadora do pro-jeto, professora Maria do Amparo, explica que o en-volvimento com as artesãs

Crédito: Marcela Luiza

Dona Pedrelina aprendeu a fazer artesanato em um projeto da UCB. Hoje em dia a artesã produz e presenteia parentes e amigos.

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e suas histórias revela o quanto essas personagens têm clareza da injustiça ma-terial e simbólica que vivem. “Isso reforça a compreensão do papel da universidade na promoção da justiça, direitos humanos e inclusão”, afir-ma. Foram ouvidas ao longo do ano passado 17 mulheres.

A artesã mineira mora no Areal há 21 anos. Dona Pedrelina terá sua história contada em um livro.

Uma das artesãs é Pedre-lina Alves da Costa, 73 anos. Com cabelos grisalhos e um belo sorriso, a artesã diz que já conhecia outros projetos de extensão. “Frequentava a universidade há algum tem-po porque fazia musculação e participei de um projeto de alfabetização, onde aprendi

a ler e escrever também”, conta.

Quem a vê assim, sor-ridente e brincalhona, não imagina sua história. Nasci-da em Januária (MG), dona Pedrelina chegou ao Distri-to Federal em 1970. Foi nos primeiros anos na capital, quando morou no Paranoá,

Extensão para a Universidade

Memória

A matéria intitulada “Novo projeto no Areal” (foto) foi publicada no Arte-fato em maio de 1999 e es-crita pela estudante Patrícia Mesquita. Tratava-se de um novo projeto, ainda não inti-tulado na época, que levaria aos moradores do Areal cur-sos de informática, confecção de bijuterias, produção de doces e outros. A expectativa era de preparar ao menos 1600 pessoas só por meio da informática. Na reportagem ainda é ressaltado que em 1998 a UCB recebeu o prêmio Top Educacional, por conta do pro-jeto de Desenvolvimento Integral Participativo.

que perdeu a filha de um mês e meio. O barraco cons-truído com tábuas pegou fogo; até hoje não se sabe o que causou o incêndio. Nos braços, a artesã ainda car-rega marcas daquele trágico dia. Moradora do Areal há 12 anos, dona Pedrelina é viúva, tem 10 filhos e con-fessa que não esperava que sua história ganhasse divul-gação. Além disso, ela conta que o receio de conversar com pessoas “mais estuda-das” passou após frequentar mais a universidade. “Hoje eu consigo conversar com qualquer um sem medo que eles façam graça com minha cara”, desabafa.

Mas não são somente os moradores da região que

saem com novas experiên-cias. Voluntários dos proje-tos de extensão afirmam que a sensibilidade ao diferente se torna mais aguçada. Inês Campos, 32 anos e aluna de Letras, está no projeto “Deixa que minha história eu conto” desde o segundo semestre do ano passado. “Cada pedacinho da histó-ria delas é, de certa forma, um pedacinho da história da gente”, comenta.

Atualmente, a UCB ofe-rece 13 projetos de extensão nas regiões do Areal, Riacho Fundo II, Recanto das Emas e Samambaia. Entre eles es-tão o Alfabetização Cidadã, Centro de Convivência do Idoso, Projeto Ser+ e o Pro-jeto Rondon.

O diretor dos programas na UCB e professor de Peda-gogia Adriano José Hertzog explica que essas ações con-tribuem diretamente para o desenvolvimento econômico e social das regiões. O conhecimento ensinado na sala de aula chega até eles e, segundo o professor, provavelmente a comunidade não teria acesso a esse tipo de informação de outra forma. “Contribuem com a organização da co-munidade em vários aspectos, particularmente com tec-nologia educacional para educadores, artesanato, valori-zação da cultura, melhoria da auto-estima das mulheres e inserção das mesmas na vida social da comunidade”, ressalta. Para mais informações a respeito de cada proje-to, acesse www.ucb.br.

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Integração social pelo controle remoto

Inclusão

Projeto piloto

Brasil 4D possibilita acesso a serviços públicos por meio da interatividade da TV Digital

A televisão é o aparelho eletrônico mais popular do país. Segundo a Pesqui-sa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2012, divulgada pelo Ins-tituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), está presente em 97,2% dos lares brasileiros. Sua principal função ainda é a de transmitir conteúdos aos telespectadores que assistem a programações de entretenimento, infor-mação e outros. Mas, e se a televisão pudesse ultrapas-sar os limites da transmis-são e possibilitasse intera-tividade a quem a assiste? De acordo com Cristiana Freitas, coordenadora de interatividade do Projeto Brasil 4D, criado e desen-volvido pela Empresa Bra-sil de Comunicação (EBC), o telespectador participan-te do projeto pode com o controle remoto ter acesso a informações e programa-ções interativas de utilida-de pública e entretenimen-to por meio da TV digital.

SERVIÇOSMarcação de consultas,

endereços de delegacias mais próximas, novelas educativas, oferta de em-pregos e jogos interativos. Esses são alguns dos ser-viços ofertados aos parti-cipantes do projeto, que

começou a ser implantado em fevereiro deste ano em Samambaia. Segundo Co-sette Castro, pesquisadora em TV digital e consultora do projeto, um dos objeti-vos do projeto-piloto é pro-mover a inclusão social das pessoas de baixa renda, já que, segundo ela, a sele-ção dos contemplados se deu por categoria de ren-da e pela participação dos moradores em programas como o Bolsa Família e o Brasil sem Miséria.

O controle remoto é a ferramenta de intera-tividade do telespectador com a televisão. Ou seja, é por meio dele que o usu-ário dá os comandos para determinada atividade de que queira participar na TV. Ana Moreira, morado-ra contemplada pelo pro-jeto, conta que ainda não acessou tudo que é ofere-cido na programação. Ela costuma utilizar o quadro das vagas de emprego. Mas afirma que serviços de saúde, como marcação de consultas ainda não es-tão disponíveis. “De saú-de ainda não, só fala o dia que a carreta da mulher vai vir para cá”, afirma. Ela lembra que o aparelho responsável por transmitir o sinal digital, chamado set-top box, precisa estar sempre em funcionamento.

“Não pode desligar! Se não perco as vagas de serviço! Tenho que deixar ligado o tempo todo”, afirma Ana, referindo-se ao conversor digital. A moradora fala que a televisão é melhor que o computador, pois sente mais segurança em relação a oferta de vagas e tem mais intimidade com o aparelho.

O projeto conta com parcerias do governo fe-deral, Banco do Brasil, Instituto Nacional de Se-guro Social (INSS), Caixa Econômica Federal, banco de dados do Sistema Úni-

co de Saúde (Data SUS) e Instituto Nacional de Colo-nização e Reforma Agrária (INCRA).

IMPLANTAÇÃODesde 2006 a televisão

brasileira vem passando por processo de transfor-mação tecnológica. A ver-são digital foi introduzida no país pelo Decreto 5.820, e permite a multiprograma-ção nos canais públicos e o uso da interatividade em todos os canais. O processo de implantação de cobertu-ra do sinal digital não foi totalmente efetivado. Po-

rém, o pesquisador da TV digital Alexandre Kieling, da Universidade Católica de Brasília (UCB), explica que mais de 80% da po-pulação brasileira já têm cobertura de sinal digital, lembrando que esse per-centual está concentrado nos grandes centros. “A gente ainda tem áreas de sombra em algumas regi-ões,” enfatiza o pesquisa-dor.

Aqui no Distrito Fe-deral as emissoras com sinal digital funcionam bem, mas nas regiões ad-ministrativas como Águas

Crédito: Gabriela Alves

Adriana Braga e Ramíla Moura

Ana Moreira, contemplada pelo projeto Brasil 4D, acessando uma das programações.

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Claras, Taguatinga e Cei-lândia, dependendo da situação, o sinal pode funcionar ou não, pontua. Segundo ele, há dificulda-de de implantação no inte-rior do Brasil. “Para fazer com que o sinal chegue ao interior do país seria pre-ciso instalar repetidoras digitais, que servem para ampliar o sinal da rede, e isso significaria custos que nem todas emissoras têm dinheiro para pagar,” ex-plica Alexandre Kieling.

NOVELAUma das programações

diversificadas do projeto é uma novela educativa que traz em seus capítulos te-mas de interesse social da comunidade, como saúde, bem estar, leis, entre ou-tros. Raphael Irerê, rotei-rista do projeto, explica por que se trabalhar com o gênero. “A ideia de fazer um arco dramático no esti-lo de mini-novela tem tudo a ver com o hábito brasilei-ro de assistir a novelas. O projeto Brasil 4D por ser uma inovação precisa ser aceito e reconhecido pelo público como uma tecnolo-gia comum, a ponto de que cada telespectador possa se apropriar de maneira natural”, esclarece.

O roteirista completa que devido aos testes reali-zados em João Pessoa (PA) e à natureza dos serviços oferecidos, os elaborado-res do projeto entendem que seriam necessários dois formatos de conteúdo audiovisual: dramaturgia e tutoriais. “A dramatur-gia busca chamar atenção

para os serviços. Já o tuto-rial procura ensinar a usar o serviço, buscar informa-ções e realizar em muitos casos uma das primeiras aproximações das pessoas com a linguagem de nave-gação em telas, de pesqui-sa e busca de conteúdos em meios digitais,” explica o roteirista.

Um tema apresentado na “novela social” é a Lei Maria da Penha, que trata das punições para agres-sões contra as mulheres. No enredo, o tema é trata-do em um núcleo familiar, mas tendo o cuidado para não ser exposto de forma brusca. Raphael explica, por exemplo, que eles ti-veram o cuidado de colocar no papel de agressor nunca o pai ou o irmão, mas um vizinho ou alguém não tão próximo da família.

A novela é uma aposta importante do projeto, já que o gênero faz parte da cultura brasileira, e nos últimos anos tem se torna-do objeto de um fenômeno conhecido como TV social, uma espécie de junção da transmissão da televisão com a interatividade da in-ternet. Um exemplo disso foi recentemente a popula-rização nas redes sociais de frases de Félix, personagem da última novela global das nove, Amor à Vida.

De acordo com Ale-xandre Kieling, a junção do conteúdo da televisão utilizado nas redes sociais causa o efeito da TV social, onde as pessoas assistem as programações dos con-teúdos e começam a falar deles nas redes sociais.

Roteirista do projeto, Rafael Irerê, explica que a dramaturgia presen-te nas programações busca chamar

atenção para os serviços.

Como funciona:

Existe uma oportunidade de emprego em um local próximo a Samambaia. O telespectador se interessa pela vaga, aperta a opção referente a seu interesse. Observa se está de acordo com o perfil ofertado no programa. Evita perder tem-po e dinheiro indo até o local da vaga, para só então saber se encaixa no perfil procurado. Liga para o Centro de Re-ferência de Assistência Social (CRAS). Candidata-se. Aguarda ser chamado.

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Ipea ratifica cotas para negros em concursos públicos

Política

Ação afirmativa

Instituto apresenta estudo que aprova a reserva de 20% das vagas para negros em concursos públicos

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou em fevereiro de 2014 uma análise a partir do Projeto de Lei 6.738/2013. O PL que tramita no Congresso Nacional foi aprovado na Câmara dos Deputados e prevê a reserva de 20% das vagas no serviço pú-blico para a população negra. A proposta segue no Senado.

A Nota Técnica (uma pu-blicação que apresenta resul-tados de projetos de pesquisa que ainda estão em andamen-to) é de autoria de Tatiana Dias Silva, bolsista do Ipea, e Josenilton Marques da Sil-va, gerente de pesquisa da Diretoria de Estudos e Políti-cas do Estado (Diest). O Ipea mostra no estudo que, de fato, a apresentação do PL oferece avanço na concepção e atua-ção do governo federal para a questão racial.

Em seus artigos o projeto de lei estabelece reserva de 20% das vagas sempre que o número de vagas oferecidas for igual ou maior que três; tra-ta dos critérios de arredonda-mento; estipula que a reserva de vagas constará nos editais; define como beneficiários os candidatos que se declararem negros ou pardos no ato da ins-crição. Determina que os can-didatos negros concorrerão em duas listas, as “reservadas” e as de “ampla concorrência”.

Para justificar o proje-to alega-se que mesmo com todos os esforços e políticas de inclusão promovidas pelo Brasil em diversos campos sociais, ainda persistem de-sigualdades entre negros e

brancos. E essas diferenças raciais se mantêm na compo-sição dos cargos públicos.

Entre os ocupados no Estado, a condição de servi-dor público e militar é mais frequente para a população branca – acima de 60%. Já a população negra ocupa 47% dos cargos, todavia em cargos de menor expressão e baixos salários.

Marcelo Neri, presidente do Ipea, acredita que questões históricas contribuem para a segregação da população ne-gra ate hoje. “O Brasil foi o ultimo país do mundo ociden-tal a abolir a escravatura e isso traz reflexos até hoje. A lei de cotas no serviço público é fun-damental para nivelar o cam-po e promover a igualdade de oportunidades”, defende.

Segundo a pesquisa, os negros não estão distribuídos de forma equânime nem entre as diferentes esferas de poder e, muito menos, entre as dife-rentes carreiras, posições ou níveis salariais. Tanto o Su-premo Tribunal Federal (STF) como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmaram posição favorável à adoção de ações afirmativas com cri-tério racial. O entendimento unânime dos ministros é que as ações afirmativas deveriam ter período determinado e ser desenvolvidas de forma pro-porcional e razoável.

ENTRE OS LADOS A E BMesmo existindo avalia-

ção positiva de ações afirma-tivas com critérios raciais, são recorrentes os questiona-

mentos referentes à merito-cracia ou que os beneficiados fossem indivíduos de baixa renda.

“Com a meritocracia, sur-ge à necessidade de colocar na máquina pública as pes-soas mais bem preparadas. Agora colocar na máquina pública pessoas que – em tese – não seriam mais bem qualificadas que as outras, por critério de cor. Isso, em minha opinião, é uma esqui-zofrenia institucional em nos-so país”, contesta Max Kolbe, advogado especialista em concursos públicos.

Os estudantes Henrique Moura, 31 anos, e Henrique Moreno, 25 anos, divergem sobre o projeto de lei. Ambos

estudam em escola prepara-tória para concursos de Bra-sília. Eles disputam uma vaga para entrar na Polícia Legis-lativa. A média de estudo dos dois é de oito horas diárias.

“Não tem como estimu-lar que cotas raciais cons-tituam complemento daqui-lo que quinhentos anos de manifestação contínua de desagrados a todas as raças sejam feitas por concursos públicos”, afirma Henrique Moura. A opinião de Moreno é diferente: “Por outro lado, é muito mais fácil para a maioria da população bran-ca ter acesso a escolas pre-paratórias e melhores for-mações no ensino médio”.

Para Luiza Bairros, soció-

loga e ministra da Secretaria de Igualdade Racial, o projeto não deixa margens para que pessoas sem a qualificação mínima ingressem na carreira pública. “Todo concurso pú-blico trabalha na base de uma nota de corte e o PL não prevê que pessoas negras com notas abaixo da mínima sejam con-templadas com acesso a car-gos federais”, explica.

Este também é o posicio-namento do Ipea. O estudo considera que os questiona-mentos sobre meritocracia serão resolvidos pelo fato de que os concursos públicos es-tabelecem pontos de cortes e percentuais de aproveitamen-to mínimo para habilitação em seus certames.

Crédito: Thiago Baracho

Os concurseiros Henrique Moreno e Henrique Moura divergem sobre o PL

Thiago Baracho

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Capacitação inclusiva

Inclusão

Educação

Estudantes da Universidade de Brasília criam programa de computador para estimular a aprendizagem de pessoas com síndrome de down

Em 21 de março foi comemorado o Dia Inter-nacional da Síndrome de Down. A data relembra a importância de estimular a inclusão das pessoas com síndrome de down. A sín-drome se caracteriza por ser um dos tipos de deficiência intelectual. Todo deficiente tem direito ao estudo, ao trabalho e à participação política, de acordo com o artigo 8º da Lei 7.853/89. Todas as instituições de ensino estão proibidas de recusar qualquer estudante por motivo de deficiência. Caso aconteça, as escolas precisarão pagar multas e os diretores poderão ser pu-nidos com reclusão de até quatro anos.

Há 23 anos, a professo-ra Maraísa Helena Borges atua como educadora e desde o início da carrei-ra identificou que a edu-cação inclusiva não era trabalhada corretamen-te. “Pude perceber que os métodos tradicionais de alfabetização não mo-tivavam ou despertavam interesse para esse públi-co, visto que eram muito infantilizados, ou ao con-trário, muito avançados”, explica. A docente garan-te que o fundamental para uma educação inclusiva é o uso de metodologia es-pecífica que seja voltada para a aprendizagem.

Para melhorar o proces-so de ensino, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) criaram o software gratuito chamado Participar para a alfabetização de pes-soas com síndrome de down.

O trabalho é o resultado da conclusão de curso de Ci-ência da Computação dos estudantes Renato Domin-gues Silva e Tiago Galvão Mascarenhas. O programa educacional utiliza imagens e vídeos didáticos para esti-mular a comunicação.

O trabalho iniciou em 2012 com gravações de ví-deos na UnB. A professora Maraísa é consultora peda-gógica do Participar e res-salta que desde o início o trabalho foi dedicado para as pessoas com deficiência intelectual. “Decidimos que o software deveria ser construído com eles, por eles e para eles”, explica.

Aos 34 anos, Antônio Araújo da Silva Filho, o Tonico, é um dos atores com síndrome de down que aparecem durante os exercícios de simulação do programa. Com orgu-lho, comentou sobre sua participação. “Eu adoro o projeto. O que mais gosto é da sala de bate papo”, conta. A mãe de Tonico, Maria Margarida Romero Araújo, acompanha o filho em todas as atividades e percebeu que a participa-ção no projeto estimulou a comunicação de Tonico. “A inclusão é um proces-so social. A família precisa participar de todas as fa-ses”, esclarece.

Para o professor coor-denador do projeto, Wil-son Henrique Veneziano, os estudantes precisam ter a sensação de reconhe-cimento ao assistir a um vídeo que é protagoniza-do por alguém que tenha

as mesmas necessidades. “Priorizamos a participa-ção de Tonico para que a integração de cada partici-pante no projeto fosse mais proveitosa”, afirma. Atu-almente, a segunda versão do software conta com 700 vídeos e está disponível gratuitamente para down-load no site.

O projeto foi testado em cinco escolas públicas do Distrito Federal e em uma unidade da Associação de Pais e Amigos dos Excep-cionais (Apae). Segundo a consultora Maraísa, o pro-jeto foi distribuído para todas as 654 unidades de ensino da Secretaria de Educação do DF. O re-sultado foi satisfatório e

o Ministério da Educação implantará o programa em 93 mil escolas públicas do país em abril deste ano.

Em maio, o grupo lança-rá o Somar, novo programa para auxiliar as pessoas com deficiência intelectual que possuem dificuldade em Ma-

Crédito: Natália Roncador

A inscrição no projeto Participar ajudou Tonico a se comunicar nas redes sociais

Amanda Gonzaga e Gabrielle Ximenes

temática. Serão oferecidas lições que envolvam contas em situações cotidianas, como pagar uma passagem de ônibus e calcular o tro-co do dinheiro, aprender a olhar as horas, controlar a medicação e uso de calcu-ladora, por exemplo.

BalançoNo Distrito Federal estão matriculados mais de

6.500 estudantes com deficiência intelectual em esco-las públicas. Segundo os dados da Secretária de Edu-cação do Distrito Federal, a região administrativa de Ceilândia se destaca com o maior número de estudantes inscritos. Ao todo, são mais de 1.200 jovens na educa-ção regular com deficiência intelectual. Conheça o pro-grama Participar em:

http://www.projetoparticipar.unb.br/

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Exercícios no zoológico

Esporte

Lazer

Servidores e comunidade praticam artes marciais em meio à natureza e aos animais

A ideia surgiu após es-tudo realizado pela Supe-rintendência de Educação e Lazer (Suel), do Zoológico de Brasília. O objetivo da avaliação comportamental foi observar aqueles que não tinham vivência com o esporte. A pesquisa foi re-alizada entre os servidores do Zoo DF e a comunidade. Depois dela, criou-se o Pro-jeto “Ginástica do Zoo”, em 02 de agosto de 2011.

Inicialmente, o projeto era realizado apenas entre servidores, mas devido ao fato de as aulas serem reali-zadas no meio do zoológico, a comunidade se interessou e a procura aumentou. A maioria das pessoas soube das aulas no próprio site do Zoológico DF, por meio de jornais impressos ou até mesmo visitando o local, então a Suel resolveu abrir as aulas esportivas também ao público.

Hoje o projeto é voltado para crianças a partir de 7 anos, adolescentes entre 13 e 17 anos e adultos. As ins-crições são realizadas anu-almente no mês de feverei-ro. As aulas são realizadas de segunda a sexta, das 17h às 18h. Os próprios alunos adquirem os uniformes, que são short e camisa para o karatê e para o muay thai e bandagem para o segundo. O custo é apenas a entrada para o Zoológico, R$ 2 por dia.

As aulas são realizadas na área verde do Zoo, en-

tre os bichos e a natureza. Alunos podem levar seus familiares e amigos para participarem das atividades esportivas.

José Vieira, 44 anos, é o professor voluntário, mas além desse hobby também é biólogo, professor do Ins-tituto Federal de Brasília (IFB), chefe do Núcleo de Projetos em Educação Am-biental, da Superintendên-cia de Educação e Lazer da Fundação Jardim Zoológico de Brasília. O professor diz o quanto é importante e faz bem aos alunos praticar as aulas. “Reduzir o estres-se do dia a dia e melhorar o condicionamento físico é um bem que ocorrerá auto-maticamente”, alerta.

Em poucos dias de aula, muitos alunos já notaram a redução do estresse e me-lhora no condicionamento físico. A aluna Andreane Silva, 34 anos, auxiliar de serviços, se inscreveu na modalidade de karatê com o objetivo de emagrecer e cumpriu sua finalidade com êxito. “Emagreci 2kg em um mês”, disse a nova atleta.

Rosimeire Oliveira, 31 anos, é uma das alunas mais experientes nas aulas de karatê. Praticante des-de 2011, diz que mudou de sensei e está muito satisfei-ta com as aulas do professor Vieira. “A turma está cres-cendo aos poucos e as aulas são bem ministradas pelo professor ”, diz aluna que também leva seu filho para

as aulas. Israel Oliveira, 10 anos, não aproveita muito do zoológico e fica insatis-feito, pois diz que a mãe tem o tempo corrido. “Gosto das aulas, mas minha mãe ainda não deu uma voltinha co-migo pra olhar os bichos”, reclama.

A educadora ambiental do Zoológico Maria Torres, 28 anos, também pratica as aulas esportivas. Está no primeiro mês de aula em busca de boa forma. “Estava muito sedentária, precisava fazer alguma atividade físi-ca e aproveitei essa oportu-nidade aqui no Zoo”, conta. Diz a funcionária que in-centivou as colegas de tra-balho Natalina Rodrigues, 36 anos, e Girlene Costa, 30 anos. “Estamos na nossa primeira semana e come-çamos as aulas em busca de boa forma”, assumem as meninas.

O QUE MAIS O ZOO

OFERECE?Além de muai thai e ka-

ratê, o Zoológico DF dispo-nibiliza o parque para cor-ridas. A atividade é feita a partir de acordo entre em-presas ou academias com a Administração do Zoológico DF. Não há data fixa e nem inscrições para as corridas, já que são marcadas com grupos fechados, porém a administração exige que as práticas ocorram das 7h às 9h, horário em que o parque está fechado e não há risco de atropelamento nas pistas.

Crédito: Nikelly Moura

Em dias de chuva, os esportes são realizados no Espaço Água, localizado no Zoológico de Brasília.

Nikelly Moura

Benefícios do esporte

MUAY TYHAI• Faz o aluno perder até 1.500Kcal por aula;• Os chutes e socos dilatam os vasos

sanguíneos e fazem com que as câmaras cardíacas fiquem fortes;

• Há aumento de tônus e da resistência muscular;

• Melhora a postura;• A coordenação motora e a flexibilidade

são primoradas até mesmo nas tarefas do dia a dia.

KARATÊ• É bom para o coração, fortalece os ossos e

musculação, cria resistência, desenvolve a coordenação motora e visual;

• Torna o organismo menos suscetível a ferimentos e doenças;

• Desenvolve a paciência, concentração e foco;

• Constrói confiança, desenvolve e aumenta o autocontrole, a serenidade e a paz.

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A orquestra está “fora de casa”

Cultura

Perambular

Devido às reformas do Teatro Nacional Cláudio Santoro, a itinerância da Orquestra Sinfônica entrou em ação

E quem diria que a Orques-tra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro um dia precisaria sair da Sala Villa-Lobos? O local onde a orquestra de Brasília rea-lizava suas apresentações passará por diversas reformas, mas que ainda não têm previsão de início nem fim. O motivo é que quando o projeto da sala foi feito, não houve preocupação com a manutenção, que logo passou a ser executada de forma inadequada. Essa obra é um dos componentes para me-lhoria do trabalho desenvolvido por cada um dos integrantes da Orquestra Sinfônica.

Nessa nova temporada, as apresentações são realizadas no Teatro Pedro Calmon, no Setor Mi-litar Urbano. A escolha veio pela facilidade e disponibilidade do Quartel General do Exército. O te-atro possui quase a mesma capaci-dade da Sala Villa-Lobos (1.407) - o Pedro Calmon tem 207 lugares a menos, mas o conforto, a segu-rança e principalmente a acústica são características que relevam a capacidade. É o que afirma o atu-al maestro regente da orquestra, Cláudio Cohen.

A itinerância da orquestra é um projeto antigo, mas que não deu certo até agora, por não con-seguirem locais apropriados para realizar as apresentações. Sob re-gência do maestro Cláudio Cohen, a sinfônica começou a mudar o estilo de se apresentar, deixando um pouco os clássicos tradicionais para também tocar ritmos diferen-tes. Passando de valsas, blues e jazz para ritmos incomuns como o frevo, pop rock e até temas de produções cinematográficas.

Para o maestro, a diversidade

de conteúdo que é apresentado no programa* alveja manter o in-teresse do público voltado para as apresentações. “Eu sigo o modelo tradicional, mas há necessidade de interação com o público. Isso não é constante, mas alguns repertórios nos dão essa possibilidade”, conta.

APRESENTAÇÕESDe acordo com Cláudio Cohen,

essa é uma proposta que objetiva criar novas experiências para sua plateia e também para pensar no público de amanhã, que não será o mesmo de hoje.

As apresentações não são re-alizadas apenas no teatro. O pro-jeto da itinerância propõe reali-zar apresentações ao ar livre nos principais parques da capital. A orquestra também tem parceria com os principais auditórios de universidades, como por exemplo, Universidade Católica de Brasí-lia (UCB), Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb). “Música você tem que levar a todo mundo! A gente faz boa mú-sica sem preconceitos”, exclama

PÚBLICOA primeira apresentação da

temporada, realizada em 25 de fevereiro, teve como tema os prin-cipais hits da história do cinema, como por exemplo, as músicas de Cantando na Chuva, Guerra nas Estrelas, Super-Homem, 007, en-tre outros. “O teatro lotou, o públi-co recebeu tão bem que é provável que até o fim dessa temporada re-pitamos essa apresentação”, conta Cláudio Cohen.

Na segunda apresentação o público foi muito variado, mas

Crédito: Hermínio Oliveira/EBC

Última apresentação da Orquestra Sinfônica na sala Villa-Lobos

Jéssica Paulino

ServiçoApresentações todas as

terças- feiras às 20h no Te-atro  Pedro  Calmon (Setor Militar Urbano). Entra-da franca. Informações: 3325-6232. Não reco-mendado para menores de 8 anos. Para a progra-maçao completa, acesse o site: http:/www.pulsatil.com.br/  

a quantidade de jovens era perceptível. Ju-nior Ikeda, 24 anos, estudante de economia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), compareceu ao espetáculo pela pri-meira vez e disse que queria se surpreender com a apresentação. “Não tenho o costume de assistir à orquestra. Estava visitando meus pais, fiquei sabendo e vim escutar algo diferente”, afirma.

E quem é de outro país também prestigiou o espetáculo da Orquestra. Ilya Khorkov, 25 anos, estudante russo, vive em Moscou e está visitando alguns amigos do Brasil. Quando soube que esta-va perto de uma apresentação gratuita de uma or-questra, não pensou duas vezes e foi ao teatro. “Em Moscou não tem apresentações de orquestras, e eu gosto muito desse estilo de música. Então decidi vir porque seria uma oportunidade única. Além disso, eles vão tocar uma das obras que eu mais gosto, de Ígor Stravinski e Chopin,” pontua.

Suyane Vasconcelos, 24 anos, já teve conta-to com a música clássica porque fazia balé, mas

confessa que nunca assistiu a uma apresentação de or-questra. Compareceu ao tea-tro para prestigiar um amigo que estaria tocando. “Eu gos-to desse tipo de música, mas vim esperando ser surpreen-dida”, relata.

Segundo informações da Assessoria da Orquestra, em abril algumas apresentações devem ser realizadas no Cine Brasília. Possivelmente o IV Festival de Ópera Nacional ocorrerá no Cine Brasília.

“Música você tem que levar a todo mundo! A gente faz boa música sem preconceitos”Claudio Cohen, maestro

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Arte singela com traços de papelão

Cultura

Sustentabilidade

Espaço Tempo Eco Arte mostra maneira de transformar materiais recicláveis em objetos de arte e decoração

Há quem diga que nunca viu o lugar ou não prestou atenção. Ma-deireiras, borracharias e oficinas ocupam boa parte do espaço cha-mado de Mercado Sul. Junto ao trânsito da Samdu Sul, a avenida possui ruas estreitas e paisagem urbana não muito atrativa. Contudo, o espaço Tempo Eco Arte consegue se tornar um lugar para se prestar

atenção por sua sutileza e a capacidade de transformação.Situado no Espaço Cultural Mercado Sul, entre as QSB 12 e 13

de Taguatinga Sul, o local é quase uma espécie de “caixa de sur-presas”. Lá são feitas peças artesanais com o uso de apenas dois materiais recicláveis: sacos de cimento e papelão. Móveis, artigos

Crédito: Susanne Melo

Jéssica Lilia

O Espaço Tempo Eco Arte tem arte e decoração feitas pelos próprios funcionários e amigos da casa

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utilitários, decorativos e até ins-trumentos musicais são confec-cionados na oficina. Os materiais são recolhidos em obras, doados por moradores e outros compra-dos. Chegam a receber também no próprio local, que possui área de coleta. O espaço oferece também oficinas de instrumentos musicais e objetos utilitários e decorativos, abertas para todo e qualquer pú-blico.

O Espaço Tempo Eco Arte exis-te há 15 anos, e Virgílio Mota, 62, idealizou o projeto. Conhecido pela comunidade como “mestre”, passou a dedicar-se ao artesanato

O local também é a casa do mestre Virgílio

O serviço colaborativo faz com que a confecção das peças flua de forma precisa. “Todos aqui tem shoppings, instituições e matêm um modo de pensar, um modo de vida distinto, então, to-dos aqui fazem a mesma coisa, mas de acordo com seu ponto de vista”, conta. O seu “trabalho”, como diz Virgílio, não é definido como profissão, mas sim, como a maneira livre de fazer o que gos-ta. “O Tempo Eco Arte é um es-paço livre de artes e ofícios, não nos profissionalizamos. A partir do momento que a gente se pro-fissionalizar, deixaremos de ser livres, perderemos nossa liber-dade”, afirma. O ponto não pos-sui o Cadastro Nacional da Pes-soa Jurídica (CNPJ), mas existe de fato. “Nós não somos ONG, auxílio cultura nem nada disso. Aqui nós resistimos a esse proto-colo da existência institucional. Muitos acreditam que existe uma empresa chamada “Tempo Eco Arte”, mas não existe. Aqui é só a gente mesmo”, relata Virgílio.

Segundo ele, o local precisa-ria ser mais bem cuidado pela cidade. “Já recebemos visitas da Administração de Taguatinga e eles olham e dizem que está tudo bem, tudo lindo. Nós queremos mais cuidado aqui, precisamos de gente para tomar conta da gente, se não tudo pode acabar”, relata ao contar que, à noite, o beco se torna ponto de boca de fumo de usuários de crack.

Ele alega que a catástrofe se dá por conta da falta de interesse em cuidar da situação. Procura-da pelo Artefato, a Administra-ção Regional de Taguatinga não tem informações de quando foi a última visita ao local e não tem conhecimento sobre as situações descritas. De acordo com a As-sessoria de Comunicação da ad-ministração, eles irão agendar uma visita ao local para averi-guar as denúncias. Caso seja constatada a insegurança e indí-cios da presença de usuários de drogas, o fato será comunicado

integralmente em 2004, quando largou a construção civil para se jogar na aventura que deno-minou como “sonho”. O local possui como característica a troca de conhecimento e intera-ção entre as pessoas. Por meio da educação com abordagem cultural, a ideia é “atravessar fronteiras entre a arte e o co-nhecimento livre para uma boa formação de valores”, como ele explica, e tem objetivo de pre-servar o meio ambiente e criar objetos com material reciclável.

Nove pessoas trabalham no ambiente, todas de vários luga-res e com histórias diferentes.

aos órgãos responsáveis. A Polí-cia Civil e a Secretaria de Esta-do de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) serão contatadas para que nor-malizem o caso.

Por outro lado, todos da vi-zinhança do beco são amigos e se conhecem há bastante tem-po, tornando o relacionamento e cuidado com o outro um aspecto importante para a convivência harmoniosa. Com aproximada-mente 300 exposições feitas no DF, algumas delas no Sistema Social da Indústria (Sesi) de Ta-guatinga Norte, o Sistema Nacio-nal de Aprendizagem Industrial (Senai), shoppings, instituições e ministérios, Virgílio conside-ra o currículo até “razoável”, já que toda a produção foi feita a ferro e fogo. Em sua programa-ção, há diversas exposições na qual eles colocam à vista todos os seus trabalhos.

ECO FEIRAA chamada Eco Feira é rea-

lizada com a presença de ofici-neiros e artistas locais, onde há troca de objetos artesanais e co-nhecimento em workshops. Este ano, a 3ª edição da Eco Feira foi realizada em 15 de março. Além de exposição e venda de pro-dutos artesanais, a feira trouxe como novidade três oficinas: a Oficina de Construção de Baús, ministrada por Virgílio Mota, Oficina de Grafite com Felipe Rdoze e Raíssa Miah e a Oficina de Coco, com o Mestre Ulisses Cangaia, de Olinda (PE).

Mais que sustentabilidade e preservação do meio ambiente, no Tempo Eco Arte não há pre-tensão de crescer e se tornar uma “Super Tempo Eco Arte”, pois esse não é ideal do movi-mento. Sem fins lucrativos, a “não-empresa” de Virgílio faz com que este espaço seja muito além de um local de produção de peças com visão na sustentabili-dade; trabalha-se com produção de cidadãos.

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Investimentos à lá Neymar

Gastronomia

Inovação

Mudanças em cardápios são algumas das novidades trazidas por empresários para a Copa do Mundo

A menos de 100 dias para a Copa do Mundo, muitos empreendedores estão se pre-parando com novidades para seus estabelecimentos. Os in-vestimentos vão de mudanças em cardápios, homenagens gastronômicas ao evento e a jogadores de futebol.

De acordo com o presi-dente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae), Luiz Barretto, em entrevista para o Portal da Copa, as empresas estão se preparando para o legado que vão deixar para a competitividade dos peque-nos negócios. “Quem mais vai faturar com a Copa são as empresas que se prepararam antes e que estão pensando no pós-evento”, afirma.

O Restaurante Oliver, lo-calizado no Clube de Golfe, homenageia um dos princi-pais jogadores da seleção brasileira com o prato “Po-lenta à Neymar”, novidade integrada ao prato da “Boa Lembrança” que o cliente adquire no ato da compra. Feito com polenta, mousse-line de mandioca, carne de sol desfiada com cebola roxa e crispy de alho poró, o pra-to sai por R$69. Junto com o pedido, o cliente ganha um prato exclusivo pintado à mão no ateliê Cerâmica Van Erven, em Petrópolis (RJ), comandado pela artista Olga Maria Sales. O Prato da Boa

Lembrança é feito em louça especialmente para ser usa-do como peça decorativa. Cada prato possui desenho distinto e exclusivo.

A associação da Boa Lembrança surgiu em 4 de março de 1994, na cidade de Petrópolis (RJ), com a ideia de representar restaurantes que focam na excelência e qualidade nos serviços. “Este ano, optamos por fa-zer uma pegada de Copa do Mundo já que estaremos nesse clima. O nome, claro, é uma homenagem a um dos nossos principais jogadores e o prato leva ingredientes ti-picamente brasileiros, além da carne de sol ser um dos pratos mais queridos da nos-sa cidade”, explica Rodrigo Freire, dono do restaurante.

Acompanhando a novi-dade, o restaurante também oferece espumante exclusivo com o rótulo da Boa Lem-brança, fabricado na viní-cola Casa Valduga, situada em Bento Gonçalves (RS), que possui a maior adega de espumantes da América La-tina. A garrafa sai por R$ 79, mas quem escolher degustar uma taça paga R$ 16.

TÍPICOOutro estabelecimento

que também está no clima da Copa é o Bar do Alemão, que apresenta pratos com receitas alemãs, adaptadas

ao estilo brasileiro. O res-taurante situado no Projeto Orla da Asa Norte aguça o paladar dos clientes com a patenteada receita alemã, o Kassler, destaque da casa para esta temporada. A igua-ria típica da culinária alemã é composta por costeletas de porco assadas, servidas com purê de ervilha, batatas cozi-das, chucrute, linguiça bran-ca e cebola tirolesa. Também serve duas pessoas e sai por R$ 102.

O bar também prepara seu ambiente para a chegada do evento com várias novi-dades como a cobertura da

Foto: Kamila Braga

Chef de cozinha do restaurante Oliver, Rosenilson Favacho, apresenta o prato “Polenta à Neymar”

Nara Loreno

ServiçoRestaurante Oliver Telefone: 61 3323-5961 Website: www.restauran-teoliver.com.br Endereço: Setor de Clu-bes Esportivos Sul, Tre-cho 02, Lote 02, Brasília Golf Center

Bar do Alemão Telefone: 61 2109-8700 E-mail: [email protected] Endereço: SHTN Polo 03 , Trecho 01, Lote 09, Projeto Orla - Asa Norte

área externa e a instalação de televisões de 51 polega-das nessa área para que os clientes possam assistir aos jogos. “O grande diferencial será a exibição dos jogos em telão na arena do estabele-cimento. O espaço também contará com vários shows para animar a torcida na copa”, comenta Fábio Cres-centi, gerente geral do local.

De acordo com o Sebrae, o evento esportivo já rendeu cerca de R$ 280 milhões em negócios para micro e pequenas empresas. A esti-mativa de faturamento com o evento é de R$ 500 milhões.