artefato - 08/2012

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a rtefato Ler pode ser um barato De sebos a lojas on-line, existem alternativas para quem quer comprar livros por preços menores. Se engana quem pensa que as opções de menor custo servem só para livros usados e em mau estado. p.12 e 13 O blefe agora é esporte O pôquer, antes visto nas telas de cinemas e torneios com altas apostas, caiu no gosto popular e foi reconhecido pelo Ministério do Esporte como modalidade este ano. Enquanto muitas práticas esportivas trabalham com os músculos, o jogo é considerado esporte da mente. p. 20 O inimigo mora ao lado Personagens como a Carminha, de Avenida Brasil, não são exclusividade da ficção. Pessoas com características semelhantes às dos vilões das novelas existem na vida real e são mais comuns do que se pensa. Os psicopatas e sociopatas estão à solta. p. 16 e 17 Ao pegar os óculos 3D na entrada das salas de cinema, o consumidor não faz ideia de como é feita a higienização do material, em máquinas como a da foto. Óculos devidamente limpos evitam doenças contagiosas. p. 21 Um olhar limpo Ano 13, nº 5 Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Distribuição gratuita Brasília, agosto/setembro de 2012 Foto: Marla Marçal Foto: Karinne Rodrigues

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Jornal laboratório da Universidade Católica de Brasília

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Page 1: Artefato - 08/2012

artefato

Ler pode ser um barato

De sebos a lojas on-line, existem alternativas para quem quer comprar livros por preços menores. Se engana quem pensa que as opções de menor custo servem só para livros usados e em mau estado. p.12 e 13

O blefe agora é esporteO pôquer, antes visto nas telas de cinemas e torneios com altas

apostas, caiu no gosto popular e foi reconhecido pelo Ministério do Esporte como modalidade este ano. Enquanto muitas práticas esportivas trabalham com os músculos, o jogo é considerado esporte da mente. p. 20

O inimigo mora ao ladoPersonagens como a Carminha, de Avenida Brasil, não são

exclusividade da ficção. Pessoas com características semelhantes às dos vilões das novelas existem na vida real e são mais comuns do que se pensa. Os psicopatas e sociopatas estão à solta. p. 16 e 17

Ao pegar os óculos 3D na entrada das salas de cinema, o consumidor não faz ideia de como é feita a higienização do material, em máquinas como a da foto. Óculos devidamente limpos evitam doenças contagiosas. p. 21

Um olhar limpo

Ano 13, nº 5

Jornal-laboratório do Curso de Comunicação

Social da Universidade Católica de Brasília

Distribuição gratuita

Brasília, agosto/setembro de 2012

Foto: Marla Marçal

Foto: Karinne Rodrigues

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José Antônio Dias Toffoli, o mais novo – em idade – ministro do

Supremo Ttribunal Federal, após abdicar de seu voto óbvio no julga-mento do Mensalão, notou que seu iPhone apitava. Recebera um sms de Zé Dirceu e, homem pudico que é, ficou estupefato com o linguajar do companheiro e ex-chefe. Em res-posta, disparou dedilhares em prol de sua defesa venial. Após o ocor-rido, divulgou nota em seu twitter pessoal, fazendo menção indireta ao ex-ministro. Educadamente, ci-tou súmulas de sua jurisprudência moral e versos de Renato Russo:

Depois de vinte anos na escolaNão é difícil aprenderTodas as manhas do seu jogo sujoNão é assim que deve ser?

Em entrevista à revista Mundo Estranho, Toffoli se diz ofendido com o ex-parceiro, ex-partidário, ex-patrão e excomungado minis-tro. “Nunca imaginei algo do tipo.

Everton Lagares e Suélen Emerick

Ouvimos falar sobre hábitos que devemos ad-quirir para uma vida saudável. Em meio às

recomendações sobre prática de exercícios físicos e alimentação, muitas vezes deixamos de citar os cuidados com a mente. Pois o hábito de ler é um exercício tão necessário quanto os cuidados com o organismo fisiológico. Nesta edição, a primeira do semestre, mostramos que a leitura pode ser acessível ao bolso e deve, sim, ser um costume de todos. No Distrito Federal há alternativas para comprar títulos por preços menores ou, até mesmo, para ler gratui-tamente no tempo livre, em algumas paradas de ôni-bus, por exemplo. Que tal praticar a leitura agora mesmo, lendo o Artefato?

OPINIÃO EDITORIAL

artefato

DIRCEU AGORA É ACUSADO

DE BULLYING VIRTUAL

COLUNA DO HERALDO

EXPEDIENTEJornal-Laboratório do Curso de

Comunicação Social daUniversidade Católica de Brasília

Ano 13 nº 5, agosto/setembro de 2012

Reitor: Dr. Cicero Ivan GontijoDiretora do Curso de Comunicação Social: Prof.ª Angélica Córdova MilettoEditores-chefe: Everton Lagares e Suélen EmerickEditores de arte: Bruno Bandeira e Giullia ChavesEditores web: Natália Alves e Silvia GuerreiroEditores de fotografia: Fernanda Xavier e Guilherme AssisSubeditores de fotografia: Carolline Paixão, Flávia Fonseca, Marla Marçal e Lucimar BentoEditores de Texto: Arthur Scotti, Bárbara Nascimento, Bianca Lima, Gabriela Costa, Gabriella Ávila, Marília LafetáDiagramadores: Carolina Meneses e Sheylla AlvesChecadores: Kleyton AlmeidaRepórteres: Alana Araújo, Alessandro Alves, Alexandre Magno, Aline Baeza, Aline Marcozzi, Francisco Daniarle, George Santos Magalhães, Jéssica Paulino, Jussara Rodrigues, Lorena Vale, Paula Morais, Rafael Alves, Rosália Almeida, Samanta de Lima, Silvânia Sousa, Thiago Baracho, Vinicius RochaFotógrafos: Alex Santos, Amanda Vilas Boas, Anna Cristina de Araújo Rodrigues, Flávia Fonseca, Flávia Simone, Heloise Meneses, Karinne Rodrigues, Luiz Fernando, Marla Marçal, Murilo Lins Ramos e Sousa, Narla Bianca, Nikelly Moura, Rayane Larissa, Renato Gomes, Simone Sampaio, Thalyne Carneiro, Walkiria ReisProfessoras Resposáveis: Karina Gomes Barbosa e Fernanda VasquesOrientação Gráfica: Prof. Moacir MacedoOrientação de Fotografia: Prof. Bernadete Brasiliense

Tiragem: 2 mil exemplares Impressão: Gráfica Athalaia

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

EPCT QS 07 LOTE 1 Águas Claras - DFCEP: 71966-700

Tel: 3356-9237 - [email protected]

Eu e Dirça éramos unha e carne. Como Ruy Barbosa e a Vade Me-cum”, compara. “Mamãe, desde cedo, me ensinou a manter a no-tável vênia, que é, por direito, dos réus, desde meu primeiro julga-mento profissional. Tinha 12 anos na época”, relembra, saudoso, o su-premo ministro do Supremo.

Flagrado na saída de um rodízio de pizza em São Paulo com partidários e aliados, Zé Dirceu fugiu dos flashes da imprensa, tendo seu rosto coberto por seguranças

de Fernando Haddad, candidato a prefeito e muso de São Paulo. Aos gritos, uma estagiária do jornalista Ricardo Noblat interpelou o ex-ministro sobre seu futuro diante das acusações na AP470: “Ex-ministro, ex-ministro! Perguntinha sobre o Mensalão...”.

“Mensalão não! Caixa Dois”, cor-rigiu Dirça e disparou seu Voyage em direção à Rua Augusta.

*Qualquer relação com fatos reais é mera coincidência.

SOBRE O QUE VOCÊ QUER LER?Nós somos um jornal que trabalha em busca do

contato com as comunidades vizinhas à universida-de. Cada edição do Artefato propõe assuntos diver-sos, em editorias fixas ou não, e espera estabelecer um diálogo com os leitores. Respeitamos as divisões de classe social, gênero e instrução, o que aumenta ainda mais a responsabilidade da equipe que produz o jornal. Trabalhado de forma colegiada, pensamos em nossos leitores. Seja nas reportagens, fotografias ou nos gráficos, tudo é construído de maneira tal que a comunicação entre repórteres, fotógrafos e leitores seja estabelecida. O desejo do Artefato, durante os próximos meses, é que todos sejam representados aqui, nestas páginas.

Boa leitura.

Fotomontagem

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3SATÉLITES

A DF-001 é considerada a maior via do Distrito Fede-

ral: com 130 quilômetros, é di-fícil até de saber onde começa e termina. Com o fluxo intenso e a grande extensão, não dá para ig-norar a discussão sobre seguran-ça na hora da travessia. Faixas de pedestre, semáforos e passarelas são opções que moradores e co-merciantes deveriam exigir para uma passagem segura. O trecho da rodovia que sai de Santa Ma-ria no sentido Recanto das Emas, Riacho Fundo II e Samambaia merece uma atenção especial.

Do Balão do Periquito, no Gama, até o viaduto que abre para Samambaia, só é possível atravessar com segurança após o balão do Recanto das Emas, onde finalmente há uma passarela. O resto da via fica por conta das faixas de pedestre e dos semáforos, que muitas vezes não suprem a necessidade da região. Débora

Vias perigosas, como a DF-001, começam a receber passarelas depois de pedidos da população

CUIDADO AO ATRAVESSAR

Sheylla Alves

TRÂNSITO

VANTAGENS DAS PASSARELAS

I. Segurança do pedestre;

II. Redução em 100% dos índices de atropelamento;

III. Evita engarrafamento, pois os motoristas não precisam

aguardar a travessia do pedestre na rua;

IV. Vantagem de tempo para o pedestre, já que esperar o tráfego diminuir para cruzar a pista pode

demorar;

V. Ligação de comércios separados por vias muito

movimentadas. Isso contribui para o fluxo econômico e auxilia a

comunidade ao redor.

Fonte: DER

Rodrigues, estudante, cruza a DF-001 todos os dias. “A sensação é de medo. A situação da passarela é péssima, enferrujada e balança muito”, descreve. Mesmo com esses inconvenientes, Débora ainda prefere a passarela a arriscar a vida em vias complicadas. “Muitos pedestres ficam passando pela rua entre os carros, as motos e os ônibus todos em alta velocidade, quase causando um acidente”, conta.

O pedidoApós reclamação da população,

o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) autorizou na en-trada de Samambaia, no sentido Taguatinga e Núcleo Bandeirante, a construção de uma nova passarela. As obras começaram em agosto e a entrega é prometida para 90 dias. Fernando Wanoli, funcionário do DER, responsável por fiscalizar a obra, comenta o que é necessário para iniciar o processo: “Tudo co-meça a partir da população, uma passarela só vai ser construída se

a população pedir”. O pe-dido pode ser feito direto no DER ou encaminhado à administração responsável pela via.

Travessia seguraA distância entre pas-

sarelas também é alvo de reclamações. Na EPTG, por exemplo, existem distâncias de até 1,5 km entre uma passarela e outra, o que desmotiva o pedestre a caminhar para atravessar com se-gurança. Ela pode ser compensada com faixas de pedestre e semáforos.

João Antônio Bastos Ferreira, estudante, alega que o uso de faixas não impede 100% os aciden-tes, como a passarela faz, por ser uma passagem se-parada da via: “Apesar de o DF ser um lugar onde as pessoas respeitam muito a faixa de pedestre, uma passarela ainda é muito mais segura”.

Fídias Mota, mestre de obras da construção, explica os cálcu-los que devem ser feitos: “As pas-sarelas são projetadas com muita segurança. Antes de tudo é preci-so fazer a sondagem do terreno. Também é feito um cálculo de carga da área e é preciso saber se ali não existe nenhum lençol freá-tico para que as obras possam co-meçar”. Mas a segurança vai além dos cálculos realizados antes e du-rante a obra.

A falta de passarelasO engenheiro urbanístico deve

vivenciar a região antes de realizar

o projeto. Ou seja, ir ao local e saber se por ali existem escolas, hospitais, comércio e outros. Conhecer essas informações muda o projeto de vias e causa impacto positivo na comunidade beneficiada. A existência de hospitais ou escolas pode interferir na estrutura da passarela que teria de ser construída com rampas e não com escadas. Fídias Mota esclarece que todas as passarelas são moduladas e pré-moldadas. “Na que estamos construindo, o projeto inclui rampas de metal e escadas de concreto”, acrescenta. As passarelas são alternativas seguras para os pedestres

Foto: Thalyne Carneiro

Fotomontagem

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ir trabalhar”, declara o vendedor Francisco Teixeira, 48 anos.

Rosângela Dutra, morado-ra do P-Sul, diz que sente falta de fiscalização e reclama que os motoristas não respeitam a velo-cidade da via, o que pode causar acidentes graves ou até mesmo mortes. Ela acha que uma maior fiscalização é o necessário na DF-459.

De acordo com o diretor do DER-DF, desde a inauguração só

SATÉLITES

Depois de cinco anos em obra, a nova pista que liga Samambaia

a Ceilândia (DF - 459), inaugurada dia 22 de junho deste ano, trouxe muitos benefícios para a sociedade, que enfrentava diversos problemas no caminho entre essas duas ci-dades do Distrito Federal. “Todos os dias, aproximadamente 40 mil usuários fazem esse trajeto. A pista foi encurtada em 12 km para que o tempo de viagem seja reduzido em cerca de 10 minutos em horários normais e de 15 a 20 minutos em horário de pico”, afirma o diretor do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (DER-DF), Fauzi Nacfur Júnior.

O governo investiu quase R$ 40 milhões nas obras. Foi realizada a pavimentação da via com exten-são de 2,6 km; construída uma ponte sobre o Ribeirão Taguatin-ga, com 110 metros de extensão, além de obras de drenagem plu-vial e uma ciclofaixa em toda ex-tensão da rodovia.

Motorista de ônibus há 19 anos, Getúlio Pereira passou a dirigir no trajeto Samambaia/Taguatinga há 9 e acredita que a nova pista melho-rou – e muito – o trânsito na cida-de. “Antes eu gastava até uma hora para chegar a Taguatinga, mas ago-ra levo, no máximo, 40 minutos. A obra acabou com os congestiona-mentos e acho uma maravilha.” A passageira Divina Cavalcante, 30 anos, que utiliza a linha 367, ficou muito animada com a via. Foi uma das melhores obras realizadas em Samambaia. Agora não fico mais tanto tempo dentro de um ônibus; ganhei uns minutinhos a mais para ficar em casa.”

Contudo, também existe o ou-tro lado da moeda. Algumas pes-soas não gostaram das mudanças feitas na via, pois ainda existem muitos problemas a serem resol-vidos. Dois exemplos são a falta de ônibus e de fiscalização eletrô-nica e quebra-molas no trajeto. “Além da demora para conclusão dessa obra, ainda lidamos com a falta de ônibus. Tem dias que es-pero quase uma hora na parada para conseguir pegar o ônibus e

OBRAS

OS DOIS LADOS DA DF-459O que mudou com a construção da nova pista

que liga Samambaia a Ceilândia?Bianca Lima e Rosália Almeida

foi registrado um único acidente na via envolvendo um caminhão, carregado de limões, e um carro de passeio. Não houve vítimas e a causa do acidente não está rela-cionada a nada que envolva a via propriamente dita, e sim a uma falha do motorista do caminhão.

Ainda segundo o DER-DF, os problemas que a população está denunciando com relação à fis-calização e a sinalização da via serão sanados ainda este ano.

Foto: Murilo Lins Ramos Sousa

DF-459 reduz tempo de viagem em até 15 minutos

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Ainda jovem, aos 24 anos, Mo-acir Anastácio chegou a Bra-

sília. Não era alfabetizado e sentiu o desejo de ir para o seminário. Hoje, aos 50 anos, consegue reunir em um evento – conhecido como a maior festa paroquial do mun-do – cerca de 3 milhões de pessoas em três noites. Padre Moacir pos-sui um programa diário de rádio chamado “Caminhando com Jesus Cristo”, transmitido por 150 rádios em todo o Brasil e em uma rádio no Japão. Assim se tornou um dos maiores fenômenos da Igreja Cató-lica em Brasília.

Pentecostes é uma das celebra-ções importantes do  calendário católico, na qual se comemora a descida do  Espírito Santo  sobre os apóstolos de Jesus Cristo. A festa ocorre 50 dias após o domingo de Páscoa e é anualmente celebrada na Paróquia São Pedro, em Tagua-tinga, onde costuma atrair milhões de fiéis, que buscam milagres du-rante a Missa de Cura, celebrada há 13 anos pelo padre Moacir.

A primeira vez que foi realizada, em 1999, a Semana de Pentecostes na Paróquia São Pedro contou com cerca de 300 pessoas. Devido ao su-cesso das celebrações e da consoli-dação em Brasília, o público ficou maior a cada edição, obrigando os organizadores a migrar para outros pontos da cidade: Pistão Park Show, Facita e o Parque Leão também se tornaram insuficientes. Em 2011, o evento passou a ser realizado no Taguaparque. Este ano bateu recor-de de público, com 3 milhões de pessoas, de acordo com Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Admi-

nistração Regional de Taguatinga.A professora aposentada Dalva

Helena, 65 anos, há 4 anos partici-pa das celebrações de Pentecostes. Ela conta que a missa rezada pelo padre é diferente e que várias pes-soas dão o testemunho de curas e milagres. “É algo que não dá pra explicar, ele fecha os olhos e anun-cia o milagre, na missa seguinte dão o testemunho que comprova que é verdade. Conheço pessoas que já alcançaram muitas graças. Estou em busca da minha.” O milagre vem de Deus ou do padre? A per-gunta intriga Dalva. Após alguns segundos ela responde categorica-mente: “O milagre vem de Deus, mas o padre ajuda”, diz.

Para um diácono da Arquidio-cese de Brasília (que prefere não ter o nome divulgado), o sucesso dos eventos do padre Moacir se dá sim-plesmente pelo carisma. Ressalta que não existe diferença do Pentecostes organizado por ele para o de outra paróquia qualquer. “É o mesmo, o que muda são os padres. É cultural o brasileiro ter simpatia por algo e se apegar àquilo. É uma questão de fé, o padre nada influencia”, afirma.

Não é tão fácil como pareceSegundo o administrador de Ta-

guatinga, Carlos Jales, a maior difi-culdade de organizar um evento des-ta magnitude é a questão da logística, ou seja, a organização e a estrutura segura para um público como esse, que envolve desde a segurança física dos fieis ao trânsito de veículos nas vias vizinhas. “Em todos os dias, ti-vemos um grande fluxo de veículos (mais de 2 milhões), mas o encerra-mento teve o recorde, com cerca de 3,5 milhões de carros”, relata.

No estilo Canção NovaEm 2009, o padre Moacir fun-

dou a Comunidade Renascidos em Pentecostes, nos moldes da Comunidade Canção Nova de Ca-choeira Paulista (SP). Membros da Paróquia São Pedro afirmam que o centro de evangelização será um dos maiores espaços cobertos para a realização de eventos católicos do DF. Serão cerca de 20.000 m², com capacidade para 10 mil fieis senta-dos, e restaurante para acomodar 4 mil pessoas, três prédios de cinco andares para 500 fiéis se hospeda-rem, uma capela, um estaciona-mentos para 5 mil carros, uma casa paroquial, banheiros, uma livraria e uma praça com jardim para des-canso. O centro de evangelização está sendo construído na BR-070.

Em vídeo de 2008, o pároco afirma que Deus anunciou a ele a construção de um novo templo no local, uma terra prometida. “Viver na efusão do Espírito Santo aman-do a caridade todos os segundos. Deus me chamou para isso, eu não queria trabalhar com essa multidão, mas foi um chamado”, diz, no vídeo. Atualmente as missas, palestras e mensagens são transmitidas ao vivo pelo site da Comunidade, por um sistema de rádio e TV web.

Na políticaMostrando força, a comunida-

de conseguiu eleger um deputado distrital 100% católico, Washing-ton Mesquita (PSD), com mais de 21 mil votos. Durante 11 anos, ele foi o coordenador da Festa de Pen-tecostes da Paróquia São Pedro. Na opinião de Carlos Jales, ex-chefe de gabinete de Washington, a comuni-dade católica não é o fator decisivo em uma eleição, “afinal para se ele-ger e ser um deputado bem votado é necessário atingir todos os setores da comunidade”, mas concorda que atualmente os católicos se torna-ram o principal eleitorado.

Por meio de sua assessoria, Washington Mesquita afirmou defender os princípios cristãos como forma de construir uma sociedade justa e que, durante 11 anos, foi ministro da eucaristia, vicentino, colaborador da Pasto-ral da Sopa em várias comunida-des e que sempre esteve à frente da arrecadação de donativos para a Paróquia São Pedro, por isso o significante número de votos. Procurado pelo Artefato, o padre Moacir preferiu não conceder en-trevista, mas reforçou que a gran-de meta das ações promovidas por ele é a evangelização.

O PADRE DAS MULTIDÕES

Vinícius Rocha

SATÉLITES

O pároco Moacir comanda, em Taguatinga, o Pentecostes conhecido como a maior festa paroquial do mundo

IGREJA

Foto: Simone Sampaio

Missa rezada pelo padre atrai grande número de fieis

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da Escola, mas diz que o governo distrital já tem um programa que fornece o transporte escolar para os alunos de escola pública, prin-cipalmente aqueles que moram em zona rural.

O programa funciona por meio de terceirização e por meio da aquisição de ônibus. O assistente relata que o dinheiro é repassado para o Estado via governo federal

SATÉLITES

Que o governo não garantia transporte escolar para os

alunos de escola pública que mo-ram em zona rural há um bom tempo não é novidade. Mas em 2007 foi criado o programa Cami-nho da Escola, com o objetivo de renovar a frota de ônibus escolares e reduzir o nível de evasão. O go-verno federal, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em parceria com o Instituto de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inme-tro), disponibilizou veículos nas devidas condições para o trans-porte dos estudantes.

Contudo, no dia 20 de julho deste ano, o Departamento de Trânsito (Detran), em operação com a Polícia Militar do Distrito Federal, apreendeu 17 ônibus es-colares que estavam com irregu-laridades para a circulação. Por essa razão, nos dias 23, 24 e 25 do mesmo mês, em que haveria repo-sição das aulas do período em que os professores estiveram de greve, os ônibus não circularam e os es-tudantes enfrentaram dificuldades para chegar às aulas.

O executor do transporte escolar de Brazlândia, Deleir Inácio, relata que muitos estudantes não compa-receram nesses três dias. “Aqueles que tiveram como vir ainda vie-ram, mas foi uma quantidade bem reduzida”, declara. Ele afirma tam-bém que Brazlândia é a segunda ci-dade com maior número de alunos que precisam de transporte escolar da zona rural. “No CEF Incra 08, é quase a totalidade de alunos que utiliza o transporte no período no-turno”, assegura.

Emergência A partir do dia 26 de julho, ou-

tra empresa de ônibus – a Rodoes-te – começou a fazer o transporte dos estudantes em contrato emer-gencial, pois não havia ônibus su-ficientes em outras empresas para atender a demanda de alunos. Jair Braga, assistente da Regional de Ensino de Brazlândia, afirma des-conhecer o programa Caminho

ÔNIBUS

QUANDO O CAMINHO DA ESCOLA TEM OBSTÁCULOSAlunos de zona rural nem sempre podem contar com transporte

coletivo que deveria ser oferecido pelo governoJéssica Paulino

e fica a critério do estado definir se o investimento será feito com aquisição do ônibus ou com o Pas-se Livre. No momento, a Regional de Ensino está tomando as devidas providências para cumprir o novo prazo que o Detran deu para uma nova vistoria. Jair acredita que em breve tudo estará normalizado e os ônibus apreendidos voltarão ao trajeto normal.

Foto: Alex Souza

Alunos da zona rural de Brazlândia embarcam em ônibus contratado em sistema de urgência: os veículos regulares foram apreendidos

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7ECONOMIA

Estudos apontam que os locais vizinhos às estações do me-

trô, no Distrito Federal, encare-cem os preços do comércio. Lojas de varejo, atacado, conveniência, postos de gasolina, transporte e alimentação são os eixos que mais atingem o bolso do consumidor. Por incrível que pareça, as cidades consideradas nobres podem ter preços menores por não possuí-rem a linha do trem.

Almoçar no DF hoje é uma ques-tão social. Seja fast-food, self-servi-ce, quiosque, marmitex ou qualquer outro local onde você for comer, o preço depende de fatores regionais.

Em Samambaia Norte, existem duas estações de metrô num es-paço de 1,5km. Já na Asa Norte, aquele pedaço de Brasília onde o metro – não o metrô – quadrado, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), chega a custar R$ 13.000, não tem nenhuma estação.

A Lopes Inteligência de Mer-cado elaborou estudo recente que mostra a Asa Norte entre os dez bairros considerados mais caros do país. Já os últimos dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) feita em Samambaia apontam a área ur-bana do setor norte da satélite como uma das menores rendas per capita do DF.

Voltando a falar de comida, Robson Ribeiro, técnico de infor-mática na VipNet Lan House, na quadra 410 de Samambaia Norte, costuma comer em um restauran-te onde o quilo custa R$ 23,90 – “caríssimo”, comenta. “Acho isso um absurdo porque conheço ou-tros locais mais baratos. Aqui é uma cidade periférica, mas tem preços de centro”, afirma.

Proximidade do metrô pode aumentar preço de alimentosem cidades do DF

ACESSIBILIDADE

Guilherme Assis e Rayna Fernandes

COMIDA É MAIS CARA ONDE PASSA O TREM

Saiba maiS...SAIBA MAIS

Para colaborar é simples e fácil, não precisa de cadastro. Para mais informações acesse a página:

www.custodevida.com.br

Do outro lado da cidade, Carlos Henrique trabalha na InfoLink Lan House e diz que em sua região os preços dos restaurantes são, em mé-dia, R$ 19,90 por quilo. A diferen-ça é que ele almoça na quadra 410 da Asa Norte. “Acho o preço justo. Aqui também o custo de vida não é tão caro”, complementa.

Tarcísio Barreto Celestino, dou-tor em engenharia pela USP, con-textualiza o assunto: “A expansão do metrô em algumas localidades promove a valorização do local. Por fatores simples como, por exemplo, melhoria do tráfego de veículos e velocidade de acesso às residências, as pessoas preferem imóveis nestes locais. Isso aumenta a procura, con-sequentemente o custo de vida”.

Celso Vila Nova, doutorando em Economia, aponta o aumento dos preços como consequência positiva. “O real motivo do aumento dos pre-ços nessas áreas é a localização que é sempre uma característica que as pessoas procuram na hora de com-prar ou alugar imóveis residenciais ou comerciais. Isso significa uma maior demanda, consequentemen-te, aumenta a disposição a pagar das pessoas para imóveis com essas ca-racterísticas. A facilidade de acesso é o grande ponto.”

Imagine a dificuldade de chegar a uma cidade e não ter ideia de

quanto vão custar suas necessida-des básicas, como se alimentar? Pensando nisso, Lucas Franco, 24 anos, formado em Sistemas de In-formação, criou um site que conta-biliza o preço médio de itens como transporte, bares, restaurantes e supermercados do país.

O site recebeu o nome de “custo de vida” e é inteiramente colabora-tivo. O internauta acessa a página e dá sua colaboração por item. Ou seja, ele pode preencher os valores por componente.

Para que os preços não fujam da realidade é feita uma média de todas as colaborações. Na pá-gina é exibida uma classificação de cidades, sendo que, quanto mais alta a nota, maior é o custo de vida da cidade.

Brasília está com a nota de 7,5, atrás somente das cidades do Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Ocupa a 3° posição da cidade com o custo mais alto. Para a categoria dos melhores restaurantes, a média de preço da capital chega a R$ 52,33, já o cafezinho, básico, chega a custar R$ 2,61, nas áreas mais nobres.

O objetivo de Lucas, ao criar a página, é que as pessoas não se surpreendam ao se mudar ou até ao visitar outras cidades. A secre-tária Iêda Maria, 42 anos, mora na capital há 10 anos e lembra a situ-ação em que ficou por não existir esse tipo de recurso. “Mudei-me para Brasília em 2002 e fui pega fi-nanceiramente desprevenida, pois os preços da minha cidade eram diferentes”, diz.

CUSTODEVIDA.COM

Ilustração: Maykon Yamamoto

Page 8: Artefato - 08/2012

8

Uma pesquisa de campo com vários jovens e adultos sobre intercâmbio revela: quando alguém pensa em ter essa experiência, as principais cidades que surgem na cabeça são Nova York (para os que curtem mais os Estados Unidos) e Londres (para os que preferem a Europa).

fizemos uma pequena comparação para saber

quanto custa viver tempo-rariamente nesses lugares.

VIDA DE INTERCAMBI$TA

Com base nessa escolha e nas informações encontradas

em blogs de pessoas que já foram ou ainda estão nessas

cidades,

NOVA YORK

BRASÍLIA

LONDRES

Giullia Chaves e Marília Lafetá

*Todos os valores foram convertidos para o real.

ECONOMIA VIAGEM

Brasília X Nova York X Londres: qual pesa mais no bolso?

Cré

dito

: Lea

ndro

Via

na

Page 9: Artefato - 08/2012

9CIDADANIA

A Lei n.º 12.527, que regulamen-ta o direito constitucional de

acesso à informação pública, en-trou em vigor no dia 16 de maio de 2012. Desde então, todos os ór-gãos e entidades da Administração Pública foram obrigados a dispo-nibilizar, fornecer e garantir acesso à informação a todos os cidadãos. Nesses quase quatro meses a im-prensa acompanhou o desempe-nho dos órgãos quanto à implanta-ção da lei e a agilidade na prestação do serviço. E os cidadãos, como a têm utilizado?

De acordo com a lei, o cidadão tem direito a acompanhar e solici-tar quaisquer dados do poder pú-blico, exceto os pessoais e sigilosos. As informações de interesse geral e coletivo devem ser, obrigatoria-mente, divulgadas em sítios ofi-ciais. Outras informações devem ser prestadas imediatamente ou em até, no máximo, 20 dias, pror-rogáveis por mais 10, desde que justificado pelo órgão.

No caso do Poder Executivo, o pedido pode ser feito pessoal-mente, em formulário padrão, ou por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Ci-dadão (e-SIC), desenvolvido e su-pervisionado pela Controladoria Geral da União (CGU). O sistema permite que qualquer pessoa, fí-sica ou jurídica, encaminhe pedi-dos para os órgãos e entidades do Executivo Federal. Ao fazer o pe-dido, o cidadão recebe um núme-ro de protocolo para acompanhar a tramitação. O sistema permite que o cidadão receba resposta da solicitação por e-mail, entre com recursos, apresente reclamações e consulte as respostas recebidas. Os poderes Legislativo e Judiciário e o Governo do Distrito Federal têm seus próprios canais de contato com o cidadão.

Pesquisa realizada pela Petro-bras sobre a utilidade da lei para os cidadãos revela que, para 66% das pessoas, ela é útil e farão uso dela. Outros 12%, apesar de a con-siderarem a lei importante, não a

utilizaram. Cerca de 9% acreditam que não é útil e 13% não sabem ao que a lei se refere.

Sucessos e fracassosA jornalista Fabiana Al-

buquerque faz parte dos 66%. Já realizou seis pedi-dos de informação, como dados profissionais de su-perintendentes de uma de-terminada empresa, cópia de processos e licitações e plano de trabalho de em-presas contratadas por ór-gãos específicos. Todos os pedidos foram respondidos no prazo.

“Hoje em dia nem per-

co meu tempo para ligar nos órgãos. Tenho uma lei que me ampara e é meu direito ter acesso às infor-mações. Em 30 dias, no máxi-mo, tenho a res-posta que pre-ciso. Mas essa é uma ferramenta que precisamos utilizar cons-tantemente. As-sim exercemos nosso direito e mostramos ao governo que estamos de olho em suas ações”, alerta Fabiana.

Aline Gouvêa não teve o mes-mo êxito. Ela fez um pedido para o Ministério da Justiça no dia 21 de maio, sobre dados de campa-nhas realizadas contra o Tráfico de Pessoas, por meio do sistema e-SIC. No dia 11 de junho o minis-tério pediu mais 20 dias de prazo. “Depois não entraram mais em contato. Quando fui reclamar, já não havia mais a possibilidade de recurso, pois eles consideram que o pedido do prazo já foi uma res-posta! É uma absurdo o próprio Ministério da Justiça desrespeitar assim o cidadão.” Casos como o de Aline podem ser esclarecidos pelo suporte da CGU, email [email protected].

Para Renato Capanema, da Di-retoria de Prevenção da Corrup-ção/CGU, apesar de a lei ser recen-te, os cidadãos têm se mostrado familiarizados com ela: “Ainda estamos em fase de adaptação. Al-guns países levaram anos para se adequar, mas é nítido que a popu-lação tem contribuído ativamente

LEGISLAÇÃO

OS PROTAGONISTAS DA TRANSPARÊNCIAEm três meses de vigência da Lei de Acesso à Informação, cidadãos fizeram 25 mil

solicitações de informações no ExecutivoAline Baeza

DEZ ÓRGÃOS MAIS PROCURADOS

ÓRGÃO %

SUSEP - Superintendência de Seguros Privados

11,08%

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

7,13%

BACEN - Banco Central do Brasil 4,26%

CEF - Caixa Econômica Federal 3,57%

ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

3,51%

MP - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

2,97%

MF - Ministério da Fazenda 2,90%

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

2,21%

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego 2,20%

CGU - Controladoria-Geral da União 2,08%

*Os dados referem-se aos órgãos do Poder Executivo Federal

Foto: Flávia Fonseca

para sua funcionalidade.” Até as 17h do dia 16 de agosto, o

sistema registrou 25.065 pedidos. Deste total, 22.552 (89,97%) já foram respondidos. Entre os res-pondidos, 1.980 (8,78%) tiveram a resposta negada por se tratarem de dados pessoais e documentos sigilosos; pedido que exige tra-tamento de dados; pedido gené-rico ou pedido incompreensível. Outros 1.613 (7,15%) não foram atendidos, por não tratarem de matéria da competência legal do órgão solicitado (831) ou por ine-xistência da informação (782).

Perfil dos solicitantes Do total de requerentes que in-

formaram o grau de escolaridade e a profissão – dados não obrigató-rios – 8.741 tinham curso superior; 3.749, ensino médio; e 518, ensino fundamental. Quanto à profissão, 2.730 solicitantes são empregados do setor privado. Os jornalistas realizaram 1.005 pedidos. Os pedi-dos mais comuns foram de infor-mações que impactam diretamen-te a vida dos cidadãos.

VIDA DE INTERCAMBI$TA

O sistema e-SIC controla pedidos feitos ao Executivo Federal

Page 10: Artefato - 08/2012

10

EDUCAÇÃO

Ceilândia possui a maior quan-tidade de estudantes da rede

de ensino público do DF: cerca de 89 mil, segundo a Secretaria de Educação do DF. Desses, apenas 8.978 conseguirão terminar o ensi-no médio. Isso sem contar com os problemas de defasagem em algu-mas disciplinas, como português e matemática. Outra questão é a falta de professores e a constante amea-ça de greve por melhores salários e condições de trabalho.

Em meio a esse cenário, projeto em uma pequena escola do P Nor-te tem modificado a vida de vários alunos no contexto social, familiar e educacional. Após anos enfren-tando realidade pessimista como a violência, defasagem de alunos e es-trutura desestimulante, uma equipe de professores do Centro de Ensino Médio 12 de Ceilândia percebeu que era preciso agir para mudar a realidade da escola. E conseguiu.

IniciativaDesde 2004 o modelo de ensino

começou a ser discutido e leva-do para sala de aula. Pelo modelo, alunos, pais e professores puderam construir juntos a proposta peda-gógica da escola. Os resultados fo-ram animadores. Dos 1600 alunos distribuídos nos três turnos, com idades de 14 a 21 anos, apenas 10% abandonam a sala de aula; de 40 alunos, apenas quatro desistem de estudar. O maior motivo dessas de-sistências é a incapacidade de con-ciliar o trabalho com os estudos.

Outro resultado também enche os olhos: a cada ano cresce o núme-ro de alunos do CEM 12 aprovados em vestibulares em cursos concor-

VOLUNTÁRIOS

ESCOLA PÚBLICA NOTA 10Centro de Ensino Médio 12 de Ceilândia tem bons resultados

após reinventar proposta pedagógica

Kleyton Almeida ridos da UnB, como Engenharia e Ciências da Computação. Vá-rios estudantes da escola também conseguem acesso à universidade pública por meio do Programa de Avaliação Seriada (PAS).

O diretor da escola, Nelson Bor-ges, está na gestão desde o come-ço do ano e ressalta que o sucesso do ensino é reflexo dos cerca de 12 projetos que existem na esco-la, como, por exemplo, oficinas pedagógicas e tutorias de aperfei-çoamento de professores, que ofe-recem formação contínua aos do-centes. Isso busca elaborar projetos interdisciplinares envolvendo vá-rios setores do conhecimento, com foco em áreas fundamentais, como português e matemática, além das olimpíadas de matemática e ofici-na de redação. “Nosso trabalho é baseado na coletividade. Tentamos elaborar uma proposta pedagógica baseada não em um sistema tradi-cional, mas tentando construir um aprendizado que desperte o inte-resse do aluno”, comenta.

Os estudantes do 3o ano do en-sino médio Victor Cunha, 17 anos, e Roni Ramos, 16, participam das atividades desde que começaram a estudar na escola. Eles se sentem otimistas com relação ao acesso à universidade. São dois dos respon-sáveis pelo projeto de música na escola. Desenvolvem uma rádio experimental na hora dos interva-los, oferecendo aos alunos músi-ca, informação e entretenimento. Também integram a banda musi-cal, a Estação 12. Após participar dos projetos da escola, Victor se sente motivado a freqüentar as au-las - e ainda tira excelentes notas. “Aqui temos acompanhamento das disciplinas que nos ajudam a obter

resultado melhor no PAS”, diz.

ProjetoOutro projeto que faz toda dife-

rença na formação dos estudantes é o Geração 12, formado por ex--alunos que atualmente cursam o nível superior. A parceria vem ren-dendo frutos: voluntários, ajudam a desenvolver oficinas pedagógicas para os alunos, além de atuar em atividades do calendário escolar como a feira de ciências, o dia do estudante e a implementação de um jornal laboratorial. Executam também o projeto Cine Clube, em que a escola abre nos fins de se-mana para a veiculação de filmes para alunos e a comunidade.

Sidney Oliveira, estudante de His-tória, é um dos voluntários e se sente orgulhoso em poder ajudar a escola onde estudou. Ele entrou na faculda-de por meio do Pro-Uni. “Consegui uma bolsa tirando uma excelente nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Devo isso à escola e aos professores. Essa é uma forma de poder contribuir“, afirma.

Maria de Fátima, 33 anos, é mãe de Maria Lúcia, estudante do últi-mo ano do ensino médio. Partici-pante ativa na vida escolar da filha, Fátima se diz tranquila e confiante na qualidade do ensino que a esco-la oferece. Mas ressalta que é pouco o número de pais que se preocupa

com a vida escolar dos filhos. Mui-tos passam a responsabilidade de educar aos professores. “A escola não substitui a família. É lá que aprendemos os valores básicos de convivência. Aqui [na escola] eles só devem aprimorar”, declara.

A especialista em educação pela UnB Jesileide Soriano ressalta que as escolas que conseguem bons resultados são aquelas que procu-ram trabalhar conjuntamente entre grupos de professores, alunos e a comunidade. Para ela, o resgate da autoestima dos profissionais envol-vidos afeta diretamente a qualidade de ensino, sendo o aluno o princi-pal beneficiado. Por outro lado, ela comenta que a falta de capacitação permanente e inconstância de al-guns professores prejudica o pro-cesso pedagógico.

EscolaDesde a fundação, há 20 anos, a

escola nunca teve reforma geral. Há problemas elétricos e hidráulicos; os banheiros precisam de melhorias. A diretoria procura, com gincanas, arrecadar dinheiro para a compra de itens básicos, como papel. A Di-reção Regional de Ceilândia já se posicionou a favor da reforma, mas não tem data prevista para o come-ço das obras. A segurança fora dos portões é outro fator que preocupa professores e alunos.

O modelo de ensino começou a ser discutido e levado para a sala de aula

Foto: Amanda Vilas Boas

O TEATRO PÚBLICO

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11CULTURA

ARTE EM PERIGO

O FANTA$MA QUE A$$OMBRA

Das três regiões administrativas mais populosas do DF, Taguatinga é a única que

conta com espaços não privatizadosEverton Lagares

Teatro da Praça possui problemas na vara de iluminação, cadeiras velhas e salas ocu-padas pela Secretaria de Educação

Foto: Luiz Fernando

Que tal assistirmos a uma peça teatral em um teatro público

da região mais populosa do Dis-trito Federal? Taguatinga, Ceilân-dia e Samambaia somam o maior número de habitantes do DF. Entretanto, não oferecem muitas opções. As três cidades satélites contam com apenas dois teatros públicos, ambos taguatinguenses e com problemas.

O Teatro da Praça é a primei-ra opção. Aconchegante, tem 250 cadeiras histórias (com quase 40 anos de uso). Mas a instalação elé-trica é comprometida, algumas sa-las são ocupadas pela Secretaria de Educação. Só quatro seguranças se revezam para manter o local a sal-vo. Não há curadores.

A segunda opção é um lugar recém-construído. O Complexo Cultural do Taguaparque possui 411 cadeiras novas, porém mal alo-cadas, vara de iluminação a uma al-tura imprópria, a altura do palco é ruim, as saídas são mal planejadas e há vários problemas estruturais nos camarins e no teto. Se animou?

A péssima estrutura dos teatros públicos da região afasta a popula-ção e entristece os artistas. Alacir Neves trabalha com teatro desde 1976. Para ele, o governo deveria investir, de fato, no Teatro da Praça (lugar onde trabalha há 15 anos), pois é o teatro mais perto das pes-soas. “A falta de público assusta o artista. Sem público não tem espe-

táculo”, destaca. E o que fazer para encher os espaços? “As pessoas buscam lugares perto do centro da cidade. O Teatro da Praça está per-to, só falta boa divulgação e inves-timento na formação de atores e na estrutura do teatro”, completa.

Opção distanteO Taguaparque, embora seja su-

pervisionado pela administração da cidade, é um projeto coorde-nado pela Secretaria de Obras do DF (SO). De acordo com a Dire-toria Social, Cultural e Esportiva da cidade, qualquer alteração ou construção nas dependências do parque precisa ser liberada pela SO, que por sua vez diz que a res-ponsável é a Novacap. E assim vai: ninguém se responsabiliza pelo projeto tão criticado pelos artistas.

O Teatro da Praça, com tom-bamento provisório, não recebe reforma necessária. Os artistas re-clamam que nas trocas de governo, eles vão lá e passam uma tinta na

parede, e só. Recentemente, a Se-cretaria de Educação, detentora da pauta do local, tomou posse de uma sala e do saguão do teatro.

O presidente do Conselho de Cultura do DF, Marcos Antônio, ou Marcão, como é conhecido, destaca que o teatro do Taguaparque não está concluído, apesar de ter capa-cidade para a realização de eventos. Existem salas que deveriam ser usa-das para oficinas, ensaios e outras atividades que estão sem piso, rebo-co e têm fiação elétrica exposta. “O teatro do Taguaparque – que mais parece um galpão e não teatro – não possui um revestimento acústico de qualidade”, acrescenta.

Marcão ressalta que, recen-temente, a administração da ci-dade aceitou o pedido para uso do teatro às segundas-feiras para gravação do programa Ricardo Noronha Show, em troca de refor-mas pontuais. “Só vi reforma de algumas cadeiras. Até onde sei os equipamentos que estão sendo uti-lizados no local são dos próprios realizadores ou alugados”, o que entra em desacordo com a suposta promessa de Noronha.

Em Samambaia, um Complexo Cultural está em fase de licitação, como o Artefato já informou em abril deste ano. A área reservada

para o projeto é um terreno baldio, próxima à Estação Terminal do metrô em Samambaia, na quadra 102. Por enquanto é o que se sabe do projeto.

O dinheiroWellington Abreu é artista e há

15 anos trabalha em Ceilândia, na Cia. de Teatro Hierofante. Para ele as pessoas perderam o costume de ir ao teatro porque não têm ofer-ta nem espaços públicos para isso. “As pessoas não consumem o que não conhecem”, destaca. A falta de espaço público para apresentações reverte na vida do artista quando, sem trabalho, as contas começam a vencer e o dinheiro acabar.

Abner relembra que o artista é legitimo para buscar recursos, mas o nível de exigência para se prestar contas é tão alto que só empresas conseguem aprovar. “Não somos burocratas, somos artistas. Não devíamos ser obrigados a saber es-crever um projeto, precisamos sim apresentar espetáculos”, lamenta.

Assim, sem apoio financeiro e com salas públicas em péssimo es-tado, o artista fica em segundo pla-no. Sem ofertas populares, a socie-dade continua desanimada com os espaços públicos e vagam a procura de novas oportunidades culturais.

O TEATRO PÚBLICO

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12

CULTURA

Vender, comprar e trocar. Li-vros novos ou usados. Você

encontra de tudo nos sebos - es-tabelecimentos que fazem troca e venda de livros. O preço é o gran-de atrativo, por ser geralmente bem mais em conta do que nas li-vrarias dos shoppings e similares. Na Praça do Relógio, localizada no centro de Taguatinga, encon-tramos um comércio diversifica-do. No meio dele, está o Sebo Cul-tura Universal. De longe já chama atenção: uma Kombi entupida de livros. Ao chegar mais perto ve-mos o cuidado que Adriano Bran-dão (26) tem com o acervo. Todos os livros estão ensacados, prote-gidos da poeira que cerca o local. A todo momento alguém para e observa a seleção do sebo, que vai dos livros para concursos à litera-tura estrangeira.

À primeira vista, a Kombi de livros de Adriano não passa de mais uma que faz parte do grupo de ambulantes que lotam a Praça do Relógio, mas ele tem uma boa justificativa: “Quero disseminar a leitura e a cultura. As pessoas

LIVRO BARATO

QUANTO CUSTA LER?Dos sebos aos sites de grandes livrarias: como economizar na hora de comprar

Fernanda Xavier e Sheylla Alves que passam por aqui e que nunca tiveram contato com livros aca-bam se interessando”. Lá é possível encontrar livros que nas livrarias custariam R$ 40 por apenas R$18, e em estado de conservação im-pecável. Quanto à troca, todos contribuem. As pessoas levam os livros e Adriano observa para ver se não está sujo, se a capa está em bom estado e se não existem man-chas nas folhas internas. Depois de fazer uma pesquisa na internet, coloca preço e revende.

Qualidade a preços acessíveisPreços bons para o cliente,

que consegue fazer economia na hora de levar um título para casa. Adriano conta que, quando as vendas começaram - há cerca de três anos -, as pessoas chegavam com muitos livros velhos e com conservação ruim, mas com o tempo isso mudou. “Hoje as pes-soas sabem que o livro deve estar com a estrutura intacta para que eu o compre”, comenta. Se o públi-co vai ser jovem, adulto ou infan-til, vai depender dos livros que ele coloca em destaque. “Aqui o meu público procura mais os livros conservados, mais novos. Livros

para concurso, por exemplo, saem bas-tante”, argumenta.

No Distrito Federal existem poucos sebos. Podemos encontrá-los em Taguatinga e na Asa Sul, mas a maior concentração fica na Asa Norte. O maior deles é o Sebinho, na SCLN 406. Os livros são vendidos por pre-ço atrativo e os clientes

percebem que estão fazendo um bom negócio. Thaís Lino Coitinho de Oliveira (17) é uma leitora ávi-da, que está sempre procurando livros bons e com preços que ca-bem no bolso. Para ela, a compra e troca de livros em sebos é uma maneira de economizar, já que o preço de livros novos no Brasil é um absurdo. “Os livros estão em bom estado e algumas vezes res-taurados, mas nunca comprei um rasgado ou em estado ruim”, completa.

On-line também!A internet tem boas alternati-

vas para quem quer economizar na hora de encher as estantes. Achar pechinchas online não é das tarefas mais fáceis, pois exige paciência, mas vale a pena. Sites de livrarias como Saraiva, Fnac, Lojas Americanas e Submarino oferecem excelentes descontos na compra de títulos novos. Cupons e links de desconto fazem o valor da compra cair consideravelmen-

Foto

: Hel

oíse

Men

eses

Sites de descontos ajudam Lilian a encher a estante

O sebo Cultura Universal, na Praça do Relógio, traz uma grande variedade de títulos a preços acessíveis. É uma forma segura de fazer economia

Page 13: Artefato - 08/2012

13CULTURA

LIVRO BARATO

QUANTO CUSTA LER?Dos sebos aos sites de grandes livrarias: como economizar na hora de comprar

LIVRARIAS ON-LINEGrandes redes de livrarias têm ofertas exclusivas na internet

www.saraiva.com.br

www.submarino.com.br

www.estantevirtual.com.br

www.fnac.com.br

www.lojasamericanas.com.br

DESCONTO ON-LINEEncontre links e cupons de des-

conto para comprar livros on-line

www.pegadesconto.com.br

www.cupom.org

www.ciadosdescontos.com

www.cupomdesconto.com.br

www.loucospordesconto.com.br

www.boaspromocoes.com.br

TROCA ON-LINESites que promovem a troca

direta entre leitores

www.trocandolivros.com.br

www.trocadelivros.com.br

www.skoob.com.br

DE OLHO NA PECHINCHA

te e, para economizar no frete, é possível pedir que o livro seja entregue na livraria da rede mais próxima.

O site Estante Virtual é o maior acervo de livros semi-novos e usados do Brasil. Com aproximadamente nove milhões de títulos, ele reúne sebos de to-dos os cantos do país, que anun-ciam os livros para venda e tor-nam a pesquisa mais ampla para o leitor. O site avalia os livreiros

do portal e garante uma experiên-cia de compra positiva, mantendo a qualidade das vendas.

Economia para a estanteLilian Maia (30) lê em média

60 livros por ano. Para custear sua paixão, ela tem alguns truques que ajudam a economizar na hora da compra. Adepta das trocas e com-pras on-line, ela garante que, com boa pesquisa, cupons e links de desconto, é fácil fazer economia. Na internet, dá para comprar cin-co ou seis livros novos por R$ 120. Se comprados individualmente, custariam R$ 30.

Lilian frequenta sebos e leva os livros que não pretende reler para serem trocados, a fim de adquirir novos. Visitar lojas físicas é cada vez mais raro, a não ser para bus-car uma encomenda que fez pela internet. “Não compro mais em livraria porque não tem desconto”, reclama. Ela recomenda as trocas em sebos. A mais vantajosa que fez foi com o livro O Diabo Veste Prada da autora Lauren Weisberg. O preço sugerido é R$ 52, mas comprou o título novo por R$10. Depois de ler, levou para trocar. Resultado: crédito de R$15 e bô-nus para comprar um novo exemplar.

Incentivar a cultura, o hábi-to à leitura e aprimorar o co-nhecimento são algumas das vantagens que sebos e lojas on--line trazem. Segundo o estudo realizado pela Fundação Insti-tuto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o preço dos livros caiu cerca de 6% de 2010 para 2011 e eles estão mais baratos a cada ano. Na Kombi de Adriano, da Praça do Relógio, dá para com-prar um título com uma moe-da de R$ 1,00!

Os livros estão em bom estado

e algumas vezes restaurados,

mas nunca comprei um em um estado ruim

Thaís Lino

Foto: Karinne Rodrigues

O sebo Cultura Universal, na Praça do Relógio, traz uma grande variedade de títulos a preços acessíveis. É uma forma segura de fazer economia

Page 14: Artefato - 08/2012

14

O longo tempo de espera nos pontos de ônibus é a princi-

pal reclamação das pessoas que dependem do transporte público. Entretanto, quem passa pelas pa-radas da avenida W3 norte pode contar com uma boa companhia durante esse período: os livros. Além de lê-los enquanto a linha aguardada não passa, os leitores podem levar o livro para casa e devolver quando o finalizarem. Não existe um prazo delimita-do. A única recomendação é não demorar muito para entregar. Assim, constitui-se o projeto “Bi-blioteca Popular”, recentemente batizado de Estação Cultural.

Você pode estar se perguntan-do se esse sistema funciona na prática. A resposta vem de Luiz Amorim (47), proprietário do açougue T-Bone e fundador do projeto: “Tem dado certo há cinco anos. As pessoas respei-tam muito e admi-ram a iniciativa. Além de devolver o livro, acabam do-ando outros e é isso que nos mantém”. No total, são 37 pa-radas e mais de 24 mil títulos. Além das que estão locali-zadas na W3 norte, pode-se encontrar similares no Setor Bancário Sul. O açougueiro garante que a manutenção dos locais é feita diariamente e conta com dois funcio-nários específicos para essa função.

ESTANTES A CÉU ABERTOA iniciativa simples de instalar prateleiras com livros usados nas paradas de ônibus da W3 Norte já completou cinco anos. E, nesse tempo, o projeto colecionou estórias de

quem frequenta o local cotidianamente

ACERVO ITINERANTE

Bárbara Nascimento e Suélen Emerick

CULTURA

Pacato cidadãoBrasilmar Nascimento Araújo,

articulista e poeta, escreve ar-tigos de opinião e tem diversas publicações em jornais de todo o país, como no Diário da Ma-nhã (Goiânia) e na Gazeta do Sul (Rio Grande do Sul). Ele não re-vela sua idade exata, mas afirma ter passado dos 50. Brasilmar é um amante nato das letras e um verdadeiro incentivador do pro-jeto das estações culturais. “Ler é bom não só para você estudar para um concurso ou se formar em uma profissão. A leitura é a melhor forma de adquirir cultu-ra. É bom você ser uma pessoa interessante e saber sobre o que conversar”, analisa.

A estudante Renata Soares (20), que mora no Varjão e passa boa parte do dia nas paradas de

ônibus, considera as bibliotecas populares muito úteis para quem passa por situações semelhantes à dela. “É uma ideia tão simples e boa ao mesmo tempo, porque é uma maneira de aproveitar o tempo de espera. Só não lê quem não quer, não tem desculpa”, constata. Renata conta que algu-mas vezes já se distraiu enquan-to folheava os livros e chegou a perder o ônibus. “Na hora de es-colher qual livro me acompanha-ria durante a viagem para casa, acabei esquecendo que estava em uma parada de ônibus”, brinca a estudante.

Ideias em movimentoLuiz Amorim tem uma histó-

ria de vida peculiar que justifica a ligação tão forte com a leitu-ra. Alfabetizado aos 16 anos, o

açougueiro leu o primeiro livro aos 18. Era na verdade um gibi de filosofia. Começou a traba-lhar cedo, com 12 anos apenas. Antes de ser açougueiro, ele foi engraxate. Com muito esforço, Luiz comprou o açougue em 1994. O projeto começou tími-do, contava com uma prateleira com apenas dez livros e enfren-tou dificuldades no começo. O estabelecimento chegou até mesmo a ser fechado pela Vigi-lância Sanitária.

Apesar de tantas iniciativas cumpridas e encaminhadas, Luiz não se acomoda. Ele ainda tem muitos projetos e sonhos. “A leitura muda os paradigmas”, reflete. Em parceria com a Fun-dação Banco do Brasil, oito es-tações culturais já foram total-mente revitalizadas. A ideia é de

que todas elas sejam re-formadas e entregues para a população até a Copa do Mundo de 2014.

O açougue T-Bone também promove outros eventos culturais, como a Bienal de Poesia, rea-lizada anualmente, e as noites culturais, que não se limitam à leitura. Elas contam, inclusive, com nomes reconhecidos da música nacional. Além da Fundação Banco do Bra-sil, a Petrobras e a Secre-taria de Cultura também patrocinam o projeto.

Todas as paradas de ôni-bus da W3 Norte serão reformadas até 2014

Foto: Walkíria Reis

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15

É comum nas ruas de Brasília deparar com artistas que fazem de tudo para

chamar atenção de quem circula por ali. Jogam malabares para o alto, sobem em monociclos, fazem arte e se reinventam para ganhar um trocado a mais. Como funciona esse contato? Como nos relacionamos com essas pessoas que pedem nossa atenção por alguns instantes? Eles explicam que alguns espectadores gritam “vai trabalhar,

vagabundo”, fecham o vidro dos carros na cara deles ou simplesmente fingem que não os vê. Essa invisibilidade pública foi objeto de estudo do psicólogo Fernando Braga, que experimentou trabalhar nas ruas da Universidade de São Paulo (USP) durante oito anos, para entender como era o tratamento da população com garis. Chegou à conclusão de que as pessoas agem como se eles não existissem. Nas ruas da capital, segundo os próprios artistas, isso acontece, mas eles não ligam. Entre um carro e outro, não perdem a alegria e focam em quem aprecia seu trabalho.

Há cinco anos o sul--mato-grossense Ro-drigo Augusto Aleixo, 23 anos, nem sonhava com as apresentações. O contato com as pessoas é uma rotina, afinal são elas que vão dar algu-ma quantia para ele. A invisibilidade se aplica? Para uma parte da po-pulação pode até ser que sim. Contudo isso não é problema para o artista, que hoje se apresenta em um sinal do Pistão Sul em Taguatinga. “Diga-

mos que 60% das pes-soas gostam e 40% dis-criminam e gritam ‘vai trabalhar, vagabundo’, fazem gestos obscenos. Eles fingirem que não estamos ali é o de me-nos. Até fico incomoda-do, mas me faço de cego e surdo, porque se fizer igual ele, vou mandá-lo pra caixa prego. Essa não é a intenção, estamos ali para mostrar alegria, paz, o que aprendi na rua”, narra.

Rodrigo ainda destaca que seus “clientes” são afetados pela vida agitada de grandes centros. “Nas capitais todo dia tem apresentação e a pessoa já está saturada de trabalho. Você então tem que fazer mais ainda para chamar atenção. No interior, o que você fizer eles gostam porque não é comum. Por conta disso, as pessoas nas capitais são mais rudes”, compara. Nada a reclamar, entretanto, dos que supostamente seriam seus concorrentes. “Os que praticam na rua se tratam todos como irmãos. Um ensina o outro, um ajuda o outro. Cheguei aqui hoje e já tinha um malabarista. Ficamos revezando sem problema”, revela.

Mesmo ao admitir que pensa muito no hoje, Rodrigo apresenta uma surpre-endente consciência de futuro. “Eu pago FGTS pro meu futuro. Sei que hoje sou novo mas posso me machucar, ou que da-qui a alguns anos não vou mais fazer o que faço hoje. Tenho essa ideia”, analisa.

O ritmo de trabalho varia conforme o cansaço, entretanto segue uma média de 5 a 6 horas diárias quando trabalha “nas alturas”. No chão pode chegar a 9 horas. O ganho é relativo. “Varia muito, mas muito mesmo. Tem dia que dá pra tirar R$50, ou-tros dias R$30, R$80”, destaca.

O ESTRANGEIRO E O BRASILEIRO

No viaduto da EPTG próximo à entra-da da Vicente Pires e do Park Way, quem está jogando sua arte para o ar é o chile-no Pablo Ignácio, o Charlie. Com sotaque nativo característico e o portunhol facil-mente compreensível explica que, como os outros, não se importa se as pessoas estão de cara fechada ou não. Um dos proble-mas para o humor está relacionado ao dia. “Fim de semana tem mais família, crianças que gostam e elogiam mais. Todos tam-bém estão mais tranquilos e mais felizes. Segunda-feira é o pior dia. Já começam reclamando de que a semana começou. Isso influencia muito no tratamento com a gente e no quanto ganhamos”, explica.

Com 23 anos, ele já passou por vários países, como Equador, Bolívia, Peru e Uru-guai. No Brasil, nunca encontrou proble-mas por ser de fora, mas sim em países com rivalidades. “Quando cheguei na fronteira com a Bolívia descobriram que eu era chile-no e falaram ‘Não vai passar’”, lembra.

Outro que também está no sinal é Diego Andre Romero Oviedo. Nos seus 22 anos de idade o chileno já passou por Argenti-na Bolívia e Paraguai. Como veio para o Brasil? “Sei lá. Um dia pensei: ‘Vou para o Brasil’”, conta. Se depender dele o público pode fechar o vidro e fingir que não o vê. “O melhor é sair alegre. Se me ignora, que tenha um bom dia também. Não são obri-gados a me darem dinheiro. Eu não ligo”, pondera Diego.

ELES DEVOLVEM UM SORRISO E NEM LIGAM

Artistas de rua evidenciam a invisibilidade pública. As apresentações seguem entre

xingamentos e alguns sorrisos

George Santos Magalhães

SINAL VERMELHO COMPORTAMENTO

Artistas de rua guardam talentos muitas vezes despercebidos

Foto: Anna Cristina de Araújo Rodrigues

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COMPORTAMENTO

Foto: Lucas Ribeiro

MOCINHOS OU VILÕES?PERSONALIDADE PERIGOSA

Bárbara Nascimento e Lorena Vale

Você já deve ter ouvido falar da Car-minha, personagem da atriz Adriana

Esteves na novela Avenida Brasil, da TV Globo. Ela é uma típica vilã: mente, mani-pula e passa por cima de qualquer pessoa para conseguir o que quer. E o pior, não demonstra arrependimento pelos seus atos, por piores que sejam. Parece ficção, porém, vilãs como a Carminha retratam traços presentes em, pelo menos, 4% da população mundial. Carminha é sociopa-ta ou, ainda, psicopata.

A psicopatia, ainda que tenha em sua morfologia o sufixo “patia” (pathos, em grego, significa doença), não se trata de uma enfermidade mental e sim de um desvio de personalidade. O sujeito não adquire o transtorno, mas nasce com ele. “Psicopatas são incapazes de sentir empa-tia, ou seja, não conseguem se colocar no lugar do outro”, explica a psiquiatra Ana Karina Reis, do Centro Estadual de Refe-rência em Saúde do Trabalhador (Cerest--DF). “Não é uma doença que se manifes-ta com o tempo e sim algo que faz parte da personalidade do indivíduo, que faz parte da natureza dele”, acrescenta.

Pode ser difícil imaginar alguém que não sinta qualquer emoção em relação aos demais, mas essa característica pode ser explicada biologicamente: o cérebro de um psicopata funciona de um jeito di-ferente. Os seres humanos podem sentir raiva, dor e medo, por exemplo, graças ao sistema límbico, que é a parte do cére-bro responsável pelas emoções. Já o lobo frontal é responsável pelo lado cognitivo, da lógica e da razão. Nos portadores des-se transtorno, há um déficit no sistema límbico que compromete a formação de laços afetivos, mas a lucidez e a consciên-

Os psicopatas podem estar em qualquer meio social, disfarçados de

bons vizinhos, colegas de trabalho, grandes amigos

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Eles se disfarçam de melhores amigos, vizinhos prestativos e líderes religiosos. Até que em algum momento... a máscara cai

Para saber mais:

Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado, Ana Beatriz Barbosa SilvaPrecisamos falar sobre o Kevin, Lionel ShriverMeu vizinho é um psicopata, Martha StoutPsicopatas do coração, Vanessa de Oliveira

Desconfie se...

- A pessoa sempre tem um elogio na ponta da língua. É o chamado “baba ovo” dos chefes ou pessoas mais influentes;

- não aparenta ter muito contato com parentes ou possuir amigos mais próximos;

- se autopromove contanto histórias fantásticas a seu res-peito;

- não aceita adversidades em seus planos.

cia não são afetadas. “Podemos dizer que eles sabem a letra, mas não sentem a música”, exempli-fica a Dra. Ana Beatriz Barbosa em seu livro Mentes Perigosas – O psicopata mora ao lado.

Apesar de não se solidariza-rem com o sofrimento alheio e não estabelecerem vínculos, os psicopatas são ótimos observa-dores e atores. São capazes de dissimular e de fingir sentimen-tos para ganhar a confiança das pessoas com as quais convivem. “Eles são verdadeiros atores da vida real, que mentem com a maior tranquilidade, como se estivessem contando a verdade mais cristalina”, afirma Ana Bea-triz em outro trecho de seu livro.

Psicopata de colarinho brancoDepois de alguns anos tentan-

do, Denise* conseguiu passar em um concurso público. Logo se destacou por ser organizada e por levar seu trabalho muito a sério. Tudo corria bem até que Lucia-na* foi deslocada para o seu setor.

Luciana, à primeira vista, parecia ser muito simpática e prestativa, ajudava Denise sem-pre que possível e promovia festi-nhas, alegando que isso alegraria o ambiente de trabalho. Em pou-co tempo, Luciana era amiga de todos os seus colegas, inclusive de Denise.

Por acreditar em Luciana e por achar que ela nunca seria capaz de trair sua confiança, De-nise contou algo pessoal e muito

delicado: Denise havia se envol-vido em um relacionamento com um colega de trabalho tempos atrás. Pronto. Essa confissão foi um prato cheio para Luciana, que, assim como Denise, dispu-tava o cargo de chefia do setor. A amiga, solidária e simpática, se transformou em uma mulher indiferente aos sentimentos de Denise e a expôs a fim de “eli-miná-la” de seu caminho para a promoção iminente.

A história acima relata acon-tecimentos reais. Luciana é, por incrível que pareça, uma psico-pata. A psicopatia pode ser divi-da em três diferentes graus: leve, moderada e grave. Nem todo psicopata chega a matar ou a praticar violência física. Na ver-dade, apenas uma pequena par-cela das pessoas com esse desvio comete homicídios, o que não significa que seus demais “cole-gas” sejam mais bondosos.

Os psicopatas de grau leve são especialistas em aplicar golpes,

cometer roubos, estelionatos e fraudes. Assim como Luciana e a vilã Carminha, eles são ótimos companheiros e amantes e po-dem até ser bons pais se isso for conveniente.

Estão disfarçados de políticos, executivos, líderes religiosos, amigos e vizinhos “gente fina” e usam de sua influência e simpa-tia para conseguir dinheiro ilici-tamente, status e poder. No am-biente de trabalho, eles podem ser ainda mais nocivos, passan-do por cima de quem quer que seja para poder chegar ao topo da maneira mais rápida.

“Eles são muito hedonistas e egoístas, focam somente no prazer pessoal e não se impor-tam com regras sociais”, afirma a psicóloga Kelly de Souza, do centro de psicologia Conviver: “Eles podem estar em qualquer área de trabalho, em qualquer círculo social”.

Há, entretanto, maior inci-dência de psicopatas no ambien-te corporativo, onde a competi-ção é maior. “Eles se destacam em grandes empresas, já que algumas de suas características são consideradas valiosas para se obter sucesso nos negócios”, pontua a psicóloga, que ainda complementa: “A sede de lide-rança, o raciocínio frio e estra-

tegista e a sedução do psicopata, muitas vezes, podem destacá-lo dos demais”.

Como se defender?Por não se tratar de uma do-

ença e sim de um transtorno de personalidade, a psicopatia não tem cura e o tratamento pode ser complicado. “A terapia, em alguns casos, não é aconselhá-vel, uma vez que o psicopata é altamente manipulador e pode chegar a enganar o terapeuta”, diz a psiquiatra Ana Karina.

É possível reconhecer algu-mas características suspeitas desde crianças, como prazer em maltratar animais ou crian-ças mais novas, não demonstrar afeto pela mãe ou pelo pai, ter resistência quanto às regras im-postas pelos progenitores ou pe-los professores.

“Não se pode diagnosticar uma criança ou adolescente como psicopata. A personalida-de, assim como todo o cérebro, está em formação durante esse estágio. É claro que podemos observar e recorrer a conversas e muita disciplina. É aí que entra a psicoterapia. Psicólogos, junto com pais e a escola fazem o tra-balho de reeducar a criança para mostrá-la os prós e os contras de seu comportamento”, explica a psicóloga Kelly.

Já quando adulto, o psicopa-ta tem toda a sua personalidade formada, portanto, se desconfiar de alguém, o melhor é se afas-tar. “Não há remédio para isso. O melhor a se fazer quando se deparar com alguém que possua esse desvio é se proteger”, con-clui a Dra. Ana Karina.

* Foram usados nomes fictícios

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ESPORTE

Há anos ele carrega o estigma de esporte elitizado, pratica-

do somente pela burguesia. Até o ex-presidente Lula deu uma de-claração informal anos atrás onde afirmava que “tênis é esporte de burguês”. Com o preconceito, o tênis não conquistou a simpatia dos brasileiros, sendo pouco ou nada tradicional em nosso país. Na década de 80, na Inglaterra e nas colônias, o esporte era ape-nas praticado pelas classes sociais mais altas e em clubes privados. No Brasil, o catarinense Gustavo Kuerten, o Guga, considerado o nº 1 no ranking da ATP (Associa-ção de Tenistas Profissionais), em 2000, ajudou a popularizar o es-porte, o que aumentou o número de adeptos.

A princípio, o conjunto de peculiaridades do tênis pode demandar um investimento considerado alto. Começa nos equipamentos: raquete, tênis, uniformes e bolas que preci-sam ser trocadas com frequên-cia (veja o preço mínimo desses objetos abaixo). A maioria das quadras adaptadas para a prática estão localizadas em clubes, nos quais é necessário ser associado. O espaço precisa ser silencioso, pois o esporte exige concentra-ção. As aulas devem ter poucos alunos para manter a qualidade, e os professores cobram caro por exclusividade.

Porém, existem outros meios para praticar a modalidade sem gastar tanto. Em Brasília há es-colas para todos os públicos.

NAS QUADRAS

Com custos mais altos do que outras modalidades e tachada como esporte de rico, a prática pode ser feita por outras classes sociais

TÊNIS ESTÁ MAIS ACESSÍVEL NO DF

Gabriella Avila e Natália Alves As mais caras estão localizadas no Plano Piloto, com os valores variando entre R$ 145 a R$ 430. A mensalidade de aulas parti-culares não sai por menos de R$ 500. Nas cidades satélites as opções são reduzidas, mas exis-tem. Exemplo disso é o Sesc, que oferece aulas de tênis num valor mais acessível nas unidades de Taguatinga Sul e Guará. Os pre-ços das mensalidades vão de R$ 77 a R$ 112, variando de acordo com o horário e quantidade de treinos por semana.

A intenção do Sesc é descen-tralizar o tênis dos grandes clubes do Plano Piloto, como forma de popularização. Lá os materiais são emprestados para a prática até o aluno se adaptar ao esporte e comprar seus próprios equipa-mentos. O treinador Francisco Ribeiro, conhecido como Kim, dá aulas no Sesc desde o início desse projeto, há 19 anos. Ele conta que a procura é grande e o público di-versificado. “Hoje temos cerca de 400 alunos, entre jovens e adul-tos. A procura tem motivações variadas. Uns buscam por saúde, outros por hobbie ou simples-mente por achar um esporte bo-nito. São poucos os que querem se profissionalizar. Hoje, desses 400 praticantes, somente 10 que-rem competir e crescer no espor-te”, pondera.

Falta investimentoA falta de tradição do esporte

no Brasil prejudica os que querem se profissionalizar. As empresas preferem patrocinar atletas de es-portes de maior repercussão. Essa é uma das grandes reclamações

Foto: Renato Gomes

Rebeca Medeiros treina no Sesc duas vezes por semana, e sonha em se profissionalizar

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Raquete: R$ 109,00

Antivibrador: R$ 11,90(diminui a vibração das cordas e impacto)

Uniformeshort-saia:R$ 44,90camiseta: R$ 35,90

Viseira/boné: R$ 21,90(protege do sol em quadras abertas)

Munhequeira: R$ 11,90(Absorve o suor)

Overgrip: R$ 11,90(dá firmeza para segurar ocabo da raquete)

Raqueteira: R$ 109,90(bolsa para carregar o equipamento)

Bola: R$ 13,90 (tubo com três unidades)

Tênis adaptado para o esporte: R$ 139,90

Veja o preço mínimo dos equipamentos de tênis*

*preços pesquisados na Racquet Store

Quanto custa?de quem pratica o tênis visando participar de campeonatos.

Rebeca Medeiros, estudante de admi-nistração, é uma das alunas do SESC que quer se profissionalizar, e acredita que poderia haver mais investimento para a projeção de outros atletas. “Acredito que o tênis tem chances de se tornar um esporte mais visto no Brasil. Para isso é necessário patrocínio para que os atletas participem de mais competições e ganhem visibilida-de. Mas ainda é muito difícil”, lamenta a tenista.

“Investir no esporte e na educação nunca foi prioridade em nosso país. O Brasil é o lugar dos esportes coletivos, faltando investimentos para os esportes individuais”, acredita o ex-tenista Edison Raw, hoje proprietário da Clínica e Esco-la Raw Tennis e detentor de mais de 78 títulos conquistados ao longo de sua car-reira de 16 anos.

Edison se preocupa com a democrati-zação do esporte e por isso investe há 21 anos em atletas de baixa renda. “O esporte transforma a vida das pessoas e além de proporcionar hábitos saudáveis, canaliza as emoções e melhora o convívio com o próximo. O esporte, em geral, oferece um futuro melhor independentemente da classe social”, frisa o ex-atleta e respon-sável pela formação de mais de 44 alunos nos Estados Unidos.

Benefícios Quando pratica tênis o atleta trabalha

diversos músculos do corpo, além de me-lhorar a capacidade cardiovascular e res-piratória, reduzindo os índices de ataques cardíacos. Os principais grupamentos musculares trabalhados no tênis são: bí-ceps, pernas, costas e abdômen. O esporte também é indicado para quem quer per-der peso, já que uma hora de treino pode queimar entre 200 e 500 calorias, depen-dendo da categoria do atleta.

O tênis é uma atividade que contribui para a saúde física e mental, segundo o educador físico Hidelbrando Souza: “O tênis é muito benéfico para saúde e pos-sibilita o desenvolvimento do senso de direção, da coordenação motora e do equilíbrio”.

IMPROVISANDO...

Há outras maneiras de praticar o tênis sem gastar tanto. O improviso é o melhor caminho para a economia. As roupas, por exemplo, não precisam ser as oficiais vendidas em lojas esportivas, podendo ser substituídas por roupas confortáveis que você já tem no guarda-roupa. O boné, ou viseira, também não precisa ser “de marca”, o importante é proteger o rosto do sol. Uma mochila grande pode ser usada no lugar da raquetei-ra. Essas substituições não prejudicam a prática do esporte, e podem fazer o custo do kit completo diminuir em aproxima-damente 41%.

Ilustração: Maykon Yamamoto

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Jogo de cartas, de azar ou espor-te da mente? O conhecido car-

teado das telas de cinema, em que até o espião inglês James Bond se aventurou e apostou todas as fi-chas em um dos filmes da série, vem crescendo no país do futebol. A Confederação Brasileira de Te-xas Hold’em (CBTH), principal organização de pôquer do país, é categórica: “A prática do pôquer como esporte, em suas mais varia-das formas, tem crescido signifi-cativamente pelo país desde 2006”.

O jogo tem conquistado os bra-sileiros a cada dia. Sites nacionais especializados no assunto regis-tram recordes diários de acessos.

São pessoas que apren-deram a jogar com os amigos ou na própria internet, ou até aqueles que por curiosidade es-tão em busca de novas atividades de lazer. Sites internacionais, como o PokerStars.net e o Full-TiltPoker.com, que for-necem jogos on-line com dinheiro fictício e apostas em dinheiro real, também apontam joga-dores brasileiros como os que mais têm procu-rado pelo jogo nos últi-mos anos. Esses sites, os mais populares da rede, estão quase sempre lota-dos e oferecem partidas para todos os níveis e ti-pos de jogadores.

Na capital do país, o esporte também começa a despontar. A estimati-

va é de que pelo menos duas mil pessoas joguem pôquer regular-mente em clubes espalhados pelo Distrito Federal. Os principais locais para a prática do esporte são os clubes Ace Texas Club, no Lago Norte, BSB Clube, em Águas Claras, DGH, na Asa Sul, Gama Poker, no Gama, e NL Texas Club, na Asa Norte.

CustoXbenefícioE o que boa parte dos jogadores

procura é a premiação que os torneios de pôquer oferece. É o caso do estudante de direito Thompson Calazans, 24 anos, que tem se dedicado ao jogo e à faculdade. Ele vê o esporte como uma nova forma de renda e custeia parte dos estudos com o dinheiro ganho

nas mesas. “Além da diversão e da adrenalina, ao colocar as fichas na mesa o pôquer proporciona um rendimento extra para os primeiros colocados do torneio. Aplicando as estratégias certas e fazendo uma boa leitura do jogo é possível estar sempre na faixa de premiação. Dedicação e estudo são fundamentais nesse esporte”, conta Thompson.

Uma das frases mais usadas do mundo do pôquer é que “trata-se de um jogo fácil de se aprender, mas muito difícil de se dominar”. Especialistas no assunto afirmam que não é um jogo de sorte, e sim de habilidade. O principal exem-plo é que quase sempre os mes-mo jogadores profissionais são os vencedores dos maiores torneios do jogo no mundo.

O diretor de torneios e sócio do BSB Clube, Rafael Rodrigues, enumera os atrativos do esporte. “O bom é a adrenalina de dar um blefe, estudar as ações e reações do adversário e entender por que ele está agindo de certa maneira, além da socialização que há em uma mesa de pôquer. Há um cli-ma muito bom em um torneio. É raro ver rixa entre jogadores. Ape-sar de envolver dinheiro e ego, os praticantes se respeitam e intera-gem de forma bastante positiva”, complementa. O Texas Hold’em, onde cada jogador recebe duas cartas e são abertas mais cinco cartas comunitárias na mesa, é a modalidade mais praticada no Brasil, mas o jogo possui pelo me-nos outras sete formas.

ReconhecimentoEm janeiro deste ano o Minis-

tério do Esporte reconheceu o

JOGO

CARTAS E FICHAS NA MESAPôquer, agora reconhecido pelo governo como esporte da mente,

cresce em Brasília. Para jogadores, é forma de renda e diversão

Rafael Alves

pôquer como modalidade espor-tiva. Segundo o órgão, trata-se de uma competição em que se exige do praticante inteligência, capa-cidade, habilidades intelectuais e comportamentais para se obter sucesso. A Confederação Brasilei-ra de Texas Hold’em é a principal responsável por difundir o espor-te e organizar competições e even-tos. De acordo com o texto divul-gado no site do Ministério, o novo esporte é divertido, exige concen-tração, treinamento e estudo e estimula a parte sensorial e inte-ligível, além de contribuir com a socialização das pessoas. Grupos de estudos têm discutido a moda-lidade e formas de encaixá-la no calendário de competições espor-tivas no país, a exemplo de outros países que adotam o jogo como esporte da mente.

Foto: Rayane Larissa

ALL-IN – Apostar tudoCHECK (MESA) – Passar a jogada e continuar com - a aposta atualCALL – Pagar a apostaRAISE – Subir a apostaBUY-IN – Valor de entrada de um torneioRE-BUY – Comprar mais fichasADD-ON – Acrescentar fichas no stackSTACK – Quantidade de fichas de um jogadorDEALER – Botão que determina as posições da mesa de jogoSMALL BLIND – Aposta obrigatória menorBIG BLING – Aposta obrigatória menor (Sempre o dobro do Small Blind)FLOP – Três primeiras cartas comunitárias abertas na mesaTURN – Quarta carta comunitária da mesaRIVER – Quinta e última carta comunitária da mesa

MINIDICIONÁRIO

ESPORTE

Pelo menos 2000 pessoas jogam pôquer em clubes do Distrito Federal

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21BEM ESTAR

Desde o sucesso de bilheteria Avatar, em 2009, os filmes em

três dimensões se tornaram popu-lares nos cinemas brasileiros. A di-versão, no entanto, pode ser perigo-sa. “Ao passar por diferentes rostos e mãos, os óculos utilizados para assistir aos filmes podem transmi-tir agentes viróticos e bacterianos se não forem higienizados corre-tamente”, alerta o oftalmologista Canrobert Oliveira, do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB).

A auditora Thayse Felipe não se preocupava com a questão até que, em julho, contraiu conjuntivite após assistir à versão tridimensional da animação Valente. A moça lembra que os óculos disponibilizados não foram entregues em embalagem e estavam manchados. Não é possível afirmar com certeza que o contágio ocorreu por meio da utilização dos óculos, mas Thayse assegura que não havia tido contato direto com nenhuma pessoa infectada.

Canrobert ressalta que é difícil saber quem foi contaminado no ci-nema ou não, visto que as possibi-lidades de se contrair uma infecção ocular no dia-a-dia são muitas. Po-rém é importante ter cuidado sem-pre. Thayse não deixou de assistir a filmes em 3D, mas desde então faz a higienização dos óculos que uti-liza, com seu próprio álcool em gel.

Foco no olho“Ao interagir com óculos

utilizados por outras pessoas, entramos em contato com todos os rostos que os receberam e todas as mãos que os tocaram, além de cílios que encostaram nas mesmas lentes e gordura de diferentes peles”,

INIMIGO INVISÍVEL

PARA ENXERGAR OS RISCOS

Filmes em 3D não fazem mal à visão, mas óculos mal higienizados podem causar doenças

Carolina Meneses

PROJETO DE LEI 3.505/12

Atualmente a Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 3.505/12, do deputado André Moura (PSC-SE), que obriga os cinemas a higienizarem os óculos utilizados na exibição de filmes em terceira dimensão. A limpeza de-verá obedecer às recomendações dos fabricantes e, depois de realizada, os óculos deverão ser entregues em embalagem plástica individual, este-rilizada e com fechamento a vácuo. Além disso, o espectador ficará isento de qualquer taxa extra pela utilização dos óculos quando de sua devolução após a sessão cinematográfica. O descumprimento da lei sujeitará o infrator às sanções previstas no Código de Defesa do Consumidor. O projeto está aguardando voto do relator, deputado Osmar Terra (PMDB-MS) na Comis-são de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. A matéria irá tramitar, ainda, pela Comissão de Seguridade Social e Família e pela Comis-são de Constituição, Justiça e Cidadania. Caso sejam aprovadas, as normas não se aplicarão a óculos descartáveis.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

explica o oftalmologista. Ainda que a pessoa não apresente nenhum sintoma, pode estar contaminada e transmitir infecções ao próximo usuário.

A conjuntivite virótica é apenas uma das infecções que podem ser transmitidas. É possível haver con-tágio até mesmo de doenças de pele, como as dermatites infeccio-sas. “Na pele do rosto de uma pes-soa pode haver bactérias às quais ela tem imunidade e não lhe cau-sam infecção, mas que podem de-senvolver doenças em outros que não possuam a mesma resistência”, afirma Canrobert.

O médico diz que o ideal seria cada pessoa ter seus próprios ócu-los 3D. Como não é possível, é fun-damental que o cinema ofereça ao usuário óculos devidamente higie-nizados e embalados. “Cada cinema deveria ter também uma série de dispensadores de álcool em gel para que as pessoas pudessem limpar suas mãos”, acrescenta. O oftalmologista lembra ainda a importância de dei-xar clara aos usuários a informação de que os óculos foram higienizados.

Higienização: como é feita?O Artefato entrou em contato

com duas grandes redes de cinema para saber como é realizada a limpeza. O Kinoplex garante que todos os seus óculos são submetidos a um processo rigoroso, realizado entre cada sessão. A lavagem é feita com uma máquina industrial que utiliza uma técnica de remoção mecânica de sujeira e desinfecção térmica por pasteurização em alta temperatura. “Em nenhum momento do procedimento há contato manual com os óculos. Os

funcionários usam luvas descartáveis em todas as etapas”, comentou a assessoria por e-mail.

Na rede Cinemark, a higieni-zação ocorre em máquinas de la-var louças. Os óculos são lavados com água quente e sabão neutro, além de serem submetidos a altas temperaturas. A rede informa que também é feita uma limpeza com álcool a 70% para retirar qualquer resíduo. Segundo eles, todos os óculos são embalados em plásticos completamente lacrados. Os pro-dutos são utilizados em média oito vezes antes de serem descartados.

FiscalizaçãoA Vigilância Sanitária aponta que

desde 2009 é feito um trabalho in-tensivo de fiscalização nos cinemas do Distrito Federal. Manoel Silva Neto, atual diretor do órgão, explica que quem define o procedimento de higienização é o próprio cinema. Se

for considerado adequado, é apro-vado e há uma equipe que observa regularmente se está sendo seguido.

O auditor de Vigilância Sanitária Gustavo de Lima conta que atual-mente dois tipos de procedimentos básicos são aceitos no país: a tripla lavagem e a esterilização iônica por vibração. “Caso uma rede de cine-mas não cumpra as normas, terá as sessões suspensas imediatamente até que o processo esteja adequa-do”, afirma. Em caso de reincidên-cia, pode ser obrigado a pagar mul-ta. Quanto à necessidade do uso de embalagens, Gustavo comenta que é importante para garantir que a limpeza foi feita, mas ainda não existe uma legislação brasileira que estipule a obrigatoriedade. Para en-caminhar reclamações à Vigilância Sanitária, disque 160.

Ilustração: Moacir Macedo

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BEM ESTAR

A pele é o órgão mais sensível e prejudicado na época da seca,

pois fica mais exposta aos fatores

climáticos e à baixa umidade. Se-gundo os dados do Instituto Na-cional de Meteorologia (Inmet), nos primeiros dias do inverno de Brasília em 2012, a umidade relati-va do ar chegou a 22%, limite entre os estados de atenção e de alerta, segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). De acor-do com especialistas, durante esse período é natural que sintomas como ressecamento, coceiras e ver-melhidão, entre outros, apareçam pelo corpo. Por isso é preciso ficar

PROTEJA A PELE DOS EFEITOS DAESTAÇÃO MAIS SECA DE BRASÍLIA

DERMATOLOGIA

Calor e baixa umidade são fatores responsáveis pelo aumento de problemas como ressecamento, coceiras e vermelhidão

Alana Letícia e Paula Morais atento e tomar algumas precau-ções para evitar que os sintomas se agravem. Ingerir bastante líqui-do e usar hidratantes adequados ajudam no processo de revitaliza-

ção da pele, mantendo-a sempre saudável. Não há, contudo, dados consolidados sobre o aumento da incidência de doenças de pele nesse período do ano.

Ao falar sobre o assunto, Ricardo Fenelon, presidente da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, seccional Centro-Oes-te e dermatologista, ressalta que manchas, ressecamento e alergias são os sintomas mais comuns que aparecem durante o inverno. “O primeiro passo é ingerir bastante

líquido, isto é essencial para man-ter a pele hidratada e sempre sau-dável”, afirma.

Algumas outras precauções de-vem ser levadas em consideração. O uso excessivo de sabonete e ba-nho muito quente são fatores que prejudicam ainda mais a saúde da pele. Isso porque acabam retiran-do a oleosidade natural, deixando--a ressecada. Ricardo aconselha o uso moderado de sabonetes e, de preferência, banhos mais rápidos, em água morna. O uso constante do hidratante e do filtro solar tam-bém é importante.

Vale ressaltar que as precauções são as mesmas para todas as pesso-as. Porém, idosos e crianças, por terem a pele menos lubrificada, devem redobrar as maneiras de hi-dratação. Ricardo explica que a pele tem a função de proteger e re-gular a temperatura do corpo. “Funciona como uma barreira protetora à perda de líquidos, à pe-netração de microorganismos, aos efeitos do sol, além de ser sPor Narla Bianca ede de reações imuno-lógicas relacionadas com a defesa do organismo”, afirma. Por isso é tão importante cuidar dela.

Alternativas Uma alternativa para manter a

saúde da pele é buscar tratamentos que auxiliem na hidratação. Con-sultar regularmente uma esteticis-ta é uma delas.

Para a esteticista Mysleide Fer-reira, a alimentação é um fator ide-al para manter a pele hidratada. “É importante também a hidratação oral: tomar bastante líquido, água,

água de coco e ingerir frutas ricas em vitamina C, como morango, framboesa, laranja, mexerica, li-mão, cereja.” Essas frutas devem fazer parte do nosso cardápio no inverno.

Para evitar o ressecamento e o aparecimento de cravos e es-pinhas e estimular a circulação sanguínea é recomendado que se faça uma esfoliação no rosto e no corpo. Isso facilita a absor-ção. A melhor hora para cuidar da hidratação é antes de dormir, pois durante o dia a circulação é ativada, fazendo com que se per-cam as propriedades nutritivas do hidratante mais rapidamente. Mysleide recomenda que se faça a esfoliação apenas uma vez por semana, mas se a pele for muito seca, o mais indicado é que se faça a cada 15 dias.

PrevenidaConsciente dos riscos que cor-

re durante o período da seca, a jornalista Carolina Sales não dei-xa de lado os cremes hidratantes. Sempre tem algum em mãos para salvá-la na hora da necessidade.

“A minha hidratação começa de dentro para fora. Tento beber dois litros de água por dia e uso cremes todos os dias. Para cada parte do corpo tenho creme específico”, ex-plica.Carolina chega a gastar apro-ximadamente R$ 200 reais por mês com hidratantes para o rosto, corpo, pés e mãos. “Tenho excesso de cuidado com o meu rosto, por ser oleoso. Com isso, uso produtos específicos para combater a oleosi-dade facial”, conta.

Por N

arla Bianca

A ingestáo de líquidos e uso de hidratantes mantém a pele saudável

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O dr. Mário Fratine explica: “Muitos pacientes que internamos nesse período sofrem diversas le-sões por péssimo manuseio de fo-gos de artifícios. Alguns fogos não saem como o previsto e causam mutilações”, revela o especialista. Ele também lembra que muitos ca-sos de queimaduras são causados pelo tradicional pulo da fogueira

nas festas dos santos João, Pedro e Antô-nio. “Muitas pessoas ainda mantêm a tra-dição de pular fogueiras nas grandes festas juninas. Elas calculam mal a

distância e o tamanho das labare-das, e é aí que se queimam.”

Em casa Quem está dentro de casa

também não escapa de sofrer um grave acidente. Dados do HRAN revelam que 85% das queimaduras domésticas ocorrem por negligência e por pequenas distrações. As crianças ainda são as maiores vítimas. “Muitas mães ainda têm o hábito de cozinhar segurando os filhos, e isso é extremamente perigoso”, afirma Frattini.

Vela acesa perto de berço, tomadas elétricas e fósforos ao alcance das crianças são outros

CUIDADO COM O FOGO

Segundo dados do HRAN, casos de queimaduras aumentam

entre junho e setembroBruno Bandeira e Roberley Antonio

PREVENÇÃO

Ala de queimados do Hospital Regional da Asa Norte é referência em Brasília

Considerado referência no atendimento a queimados

de alta complexidade no Centro--Oeste, o HRAN realiza em média 22 internações por mês e cerca de 250 por ano. Esse número sobe entre os meses de junho e setem-bro, quando o hospital registra um aumento de 60% de casos, ocasionado principalmente pelas brincadeiras com fogos de artifício nas festas juninas.

“Queimaduras são lesões tecidu-ais decorrentes da exposição a agen-tes térmicos quí-micos, elétricos ou radioativos”, explica o diretor da Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e presidente da Socie-dade Brasileira de Queimados (SBQ) do Distrito Federal, dr. Má-rio Frattini Gonçalves Ramos.

Uma simples distração pode provocar sequelas graves, cicatrizes irreversíveis e até levar à morte. As lesões por queimaduras represen-tam a terceira maior causa de morte acidental em todas as faixas etárias e um grave problema de saúde pú-blica. Dados do Departamento de Informática do Sistema único de Saúde (Datasus) revelam que anu-almente são prestados cerca de 100 mil atendimentos, dos quais 2.500 acabam em mortes. E a situação pio-ra justamente nessa época do ano.

As pessoas passam as mais absurdas

substâncias no local da lesão, acreditando na superstição de que as dores possam ser

amenizadas

“ “

Major Eduardo Luís Gomes

agentes comuns provocadores de queimaduras. Do total de crianças entre um e cinco anos internadas no hospital, “35% são internadas justamente por terem sofrido graves lesões na pele por queimaduras”, acrescenta o médico.

A dona de casa Erenita Perei-ra, 65 anos, sofreu um acidente doméstico há quatro anos. Ela conta que estava fazendo o café da manhã. Colocou a garrafa na mesa e o coador de pó de café em cima da garrafa. Despejou a água quente no pó até que o recipiente se enchesse. Abaixou-se para pe-gar um objeto que estava no chão e, ao levantar, acabou batendo na garrafa, que virou e derramou o líquido quente no rosto, pescoço e braço direito. “Foi uma dor terrí-vel, um desespero. Não acreditava que aquilo estava acontecendo co-migo”, conta.

Erenita foi socorrida por fa-miliares, que ajudaram jogando água fria na região afetada. De-pois a levaram para a emergência de um pequeno hospital munici-pal. A gravidade e profundidade da queimadura foram classifica-das como de segundo grau, que é muito dolorosa, pois compro-mete as raízes nervosas da área atingida.

Depois do acidente, ela redo-brou os cuidados e, hoje, faz o café com a garrafa dentro da pia.

Como agirA Sociedade Brasileira de Ci-

rurgia Plástica afirma que o me-lhor a ser feito é cuidar imediata-mente do local. O primeiro passo é interromper o processo de quei-maduras e, em seguida, colocar no local água corrente fria até a dor diminuir.

Segundo dados do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Fe-deral (CBMDF), somente nesse primeiro semestre foram cerca de 100 chamadas decorrentes de aci-dentes com queimaduras. Para o chefe do departamento de comu-nicação social do CBMDF, major Eduardo Luís Gomes, muitas cha-madas são por conta de acidentes domésticos: “As pessoas sofrem graves lesões por queimaduras, às vezes, por pura distração”, afirma.

O major ainda alerta para os hábitos errados de muita gente quando sofre esse tipo de aciden-te: “As pessoas passam as mais absurdas substâncias no local da lesão, acreditando na superstição de que assim as dores possam ser amenizadas. São costumes erra-dos, como a tradição de passar pasta de dentes e manteiga. Essas substâncias podem, na verdade, aquecer ainda mais a superfí-cie queimada e aumentar o risco da lesão se agravar”, destaca. Em 2011, o CBMDF recebeu 136 cha-madas decorrentes de acidentes com queimaduras.

BEM ESTAR

Foto: Flávia Simone

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CARDÁPIO

Se alimentar de forma saudável para alguns é opção, para ou-

tros uma questão de saúde, pois alguns alimentos não são reco-mendados para diabéticos, obe-sos ou alérgicos. Com as substi-tuições de alguns deles é possível conciliar o bom ao agradável: cuidar da saúde e satisfazer um desejo. Uma dessas opções é a carne de soja, que surgiu há 500 anos e é um dos alimentos que substitui a carne vermelha. Mas até que ponto a carne de soja faz bem e a carne animal faz mal?

A carne de soja pertence ao grupo das fibras e é um alimento saudável, pois não possui gordura. Porém, em algumas fases da vida ela não e recomendável, princi-palmente para crianças, pois não contém os nutrientes encontrados na carne animal. Já para adultos e idosos ela é uma boa opção, pois possui proteínas facilmente ab-sorvidas pelo organismo.

De acordo com o nutricio-nista Marcus Cerqueira, di-retor do curso de nutrição da Universidade Católica de Bra-sília, a alimentação saudável é especifica para cada idade e de-pende da necessidade de cada pessoa. Assim, para pensar em uma dieta balanceada é impor-tante acrescentar alimentos de outros grupos da cadeia ali-mentar como fibras e frutas, pois em nenhum deles é possí-vel encontrar todos os nutrien-

CARNE ALTERNATIVA

STROGONOFF

A soja é uma opção saudável que pode ser adaptadaem diferentes pratos

Aline Marcozzi

tes necessários para o funcio-namento do nosso organismo.

Entre os consumidores mais fieis da carne de soja estão os vegetarianos. Para os eles não falta criatividade. Hoje é possível reproduzir todos os pratos feitos com carne animal, como lasanha, feijoada e stro-gonoff, preservando a essência e o sabor original.

Em busca desses pratos alter-nativos o Artefato encontrou um restaurante totalmente dedi-cado ao vegetarianismo em Ta-guatinga Sul. Sergio dos Santos, responsável pelo restaurante Boa Saúde, conta detalhes da produ-ção dessa carne. Segundo ele, o segredo do sabor está no modo como ela é preparada, e vai do tempero de cada um. Já no pre-paro, em comparação à carne comum, o que muda é o tempo: a carne de soja, por ser fibrosa, leva mais tempo para ser cozida. O quilo varia entre R$ 4,50 e 6.

Tudo começa a partir de um grão chamado de “proteína tex-turizada de soja”. Para transfor-má-lo em carne o processo é simples e pode ser feito em casa. O primeiro passo é colocar a pro-teína de soja em uma vasilha e cobri-la com água quente, acres-centando sal e molho shoyu. Em seguida deixe absorver por cerca de 20 minutos.

O segundo passo é espremer bastante até retirar todo o líqui-

do. Logo depois acrescente sal, alho, óleo e temperos a gosto e leve ao forno por 30 minutos ou até obter consistência. Feito isso está pronta a carne de soja.

Depois desse processo po-demos preparar os mais di-versos pratos. Um deles, co-nhecido mundialmente, é o strogonoff. De acordo com o Sergio, os únicos ingredientes que mudam são a carne e o cre-me de leite, que também é feito da proteína de soja.

Foto: Nikelly Moura

Strogonoff de soja

Ingredientes:(Porção para quatro pessoas)250 gramas de carne de soja200 ml de creme de leite de soja100 gramas de azeitona100 gramas de cogumelo 1 cabeça de cebola média3 dentes de alho amassado com sal2 colheres sopa de extrato de

tomate1 colher de cebolinha e pimentão

picado500 ml a um litro de água

Modo de fazer:Leve ao fogo o óleo, a cebola e o

alho para fritar por cinco minutos em fogo brando, logo depois acres-cente a carne, a água e deixe ferver. Após cozido adicione os demais in-gredientes e deixe criar consistência. Desligue e sirva a gosto.

Acompanhamentos:Sirva também com arroz, e batata

palha. SERVIÇO

Boa Saúde: área especial 10, setor B. Entre a Samdú Sul e a Comercial, próximo à Igreja de Cristo.Telefone: 3352-3240Funcionamento: sexta a domingo, das 11h às 15h.