pfi mba 10 jorge bilichenko dyrjawoj
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This work is the final project for my MBA on Business Management. A new concept was coined in this work: duality. Along with this concept, a second one was also introduced, dealing with complexity (cynefin) and business evolutionary spiral.TRANSCRIPT
0
Jorge Bilichenko Dyrjawoj
MBA Executivo em Gestão Empresarial – TURMA MBAGE10
BENEFÍCIOS QUE A DUALIDADE E A
ESPIRAL EVOLUTIVA EMPRESARIAL
TRAZEM PARA AS EMPRESAS E A
COMUNIDADE
Projeto Final apresentado à Diretoria Acadêmica da Business School
São Paulo em cumprimento parcial às exigências para a obtenção do
certificado de conclusão do MBA Executivo.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Mário Rodrigues Marques
São Paulo
2012
i
Este projeto final de MBA/MBA Executivo está aprovado.
______________________________________________
Prof. Armando Dal Colletto
Diretor Acadêmico
______________________________________________
Prof. Dr. Fernando Mário Rodrigues Marques
Orientador
ii
Pode parecer assustadora a idéia de que o esforço e o
acaso, tanto quanto o talento inato são o que
realmente importa. No entanto eu a considero
estimulante, pois, enquanto a nossa constituição
genética está fora do nosso controle, o grau de
esforço depende de nós mesmos. E os efeitos do
acaso também podem ser controlados, na medida em
que, dedicando-nos a tentativas repetidas podemos
aumentar a nossa chance de êxito. (MLODINOW,
2009, p.172)
iii
RESUMO
Este trabalho avalia o ambiente tanto interno quanto externo das indústrias que o gestor
empresarial encontra e quais opções que ele tem para produzir resultados positivos para dois
clientes: o comprador dos produtos e serviços e o acionista ou proprietário. Basicamente, o
gestor deve trabalhar em duas frentes: aumento de receitas e redução de custos, visando lucros
para os acionistas. Esta abordagem não é mais suficiente para garantir o sucesso da empresa e
a permanência no mercado. Ao lado desta linha básica de ação, o gestor encontra pressões de
toda a sorte: desdobrar a missão da empresa em direcionadores estratégicos, alinhar os
esforços da empresa com a estratégia, evolução do contexto do negócio, e assim adiante. As
pressões sempre crescentes do meio externo forçam a busca por inovação e/ou pesquisa e
desenvolvimento, com alocação de recursos sempre caros e escassos visando construir a
capacidade necessária para desempenhar com sucesso no mercado. Além disso, o gestor deve
estar em sintonia com as incertezas do futuro (por exemplo, agitação dos mercados
financeiros globais, desacelerações da economia, desempenho do mercado de ações global, e
assim por diante). O gestor também deve considerar opções em tecnologia e equipamentos
para iniciar um trabalho de reformulação do ambiente de TI da empresa, buscando aplicar as
boas práticas da onda verde em TI e ao mesmo tempo atualizar o parque tecnológico; avaliar
vantagens e desvantagens da terceirização e migração de aplicativos; medir e estabelecer
metas sustentáveis para a redução contínua do equivalente em emissão de CO2 em função do
consumo energético (pegada carbônica); avaliação de problemas e soluções em um ambiente
complexo. O sucesso do gestor na escolha e implantação apropriada de estratégias tem como
base ferramentas de Inteligência de Negócios e Análise de Dados, e é neste contexto que este
trabalho se aplica ao avaliar uma série de conceitos, como o da complexidade, espaço de
informação, comunicação e dualidade dos efeitos das ações do gestor, espiral evolutiva
empresarial e as condições nas quais esta evolução ocorre. A partir daí, são discutidos os
passos para a implantação das práticas da sustentabilidade, e como a dualidade pode se
manifestar produzindo efeitos internos e externos, contribuindo para a comunidade e
mudanças de posicionamento no mercado.
Palavras-chave: Onda Verde em TI; créditos de carbono; sustentabilidade; dualidade; espiral
evolucionária empresarial.
iv
ABSTRACT
In this work we will evaluate both the internal and external environments of the industries
for the manager, and the options he or she has to produce positive outcomes for two main
customers: the one who buys the products and services, and the owner or stockholder.
Basically, the manager shall work on two fronts: increase income and reduce costs, aimed at
increasing profits for the shareholders. This approach today is not more enough to ensure
neither the success of the enterprise nor its survival in the market. Besides this very basic line
of action, the manager is under all kinds of pressure: deploying the businesses mission into
strategic drivers, aligning business efforts with strategy, evolution of the business context, and
so on. The ever increasing pressures from the outside urges the quest for innovation and/or
research and development, managing resources which are always expensive and scarce aimed
at building up the required capability to perform successfully in the market; in addition the
manager must be in tune with uncertainties of the future (e.g., turmoil on the global markets,
economic downturns, stock market global performance, and so on). In addition to this, some
actions that the manager shall consider include technology options and the actual equipment
base to start the reevaluation of the business IT environment, considering the green IT wave;
how to measure CO2 footprint versus energy consumption; an analysis of outsourcing and
pros and cons of the applicative migration. Another course of action will give glimpses as to
how the manager could take advantage of the database and analysis tools to extract strategic
information, which does not show up at the first moment – a set known as Business
Intelligence. A series of concepts shall be evaluated in this work, such as the one on
complexity, a dual effect that the manager’s actions create, developing the concept of the
evolutionary business spiral and the conditions where this evolution takes place. And, from
this point on, the implementation steps of the sustainability practices will be evaluated, the
conditions for the duality occur producing the internal and external effect, ending up with
contributions to the society and market positioning.
Keywords: Green TI; Carbon Trade; Sustainability; Evolutionary Corporate Spiral
v
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
2. CAPÍTULO I – AMBIENTE EMPRESARIAL E COMPLEXIDADE ........................... 11
3. CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE GESTÃO EMPRESARIAL ................................. 19
4. CAPÍTULO III – SUSTENTABILIDADE ....................................................................... 27
5. CAPÍTULO IV – MODELO DA DUALIDADE E ESPIRAL EVOLUTIVA
EMPRESARIAL ...................................................................................................................... 31
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 36
WEBGRAFIA .......................................................................................................................... 37
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1-1 O Ciclo de Aprendizado Social no Espaço-I ............................................................ 2 Figura 2-1 Matrix SWOT ......................................................................................................... 12 Figura 2-2 As Cinco Forças que Moldam a Competitividade na Indústria. ............................. 13
Figura 2-3 Modelo Cynefin mostrando os vários domínios (adaptada pelo autor) .................. 14 Figura 2-4 Escada do Conhecimento e Espaço-I ...................................................................... 17 Figura 3-1 A Cultura Corporativa no modelo de Camadas. ..................................................... 24 Figura 3-2 Diagrama de atratividades percebidas e impactos no processo .............................. 25 Figura 5-1 Evolução do Conhecimento X Expansão da Empresa em função do tempo. ......... 33
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1-1 As Seis Fases do Ciclo de Aprendizado Social. ....................................................... 3 Tabela 3-1 Categorias de usuários em função da sua capacidade de adoção de novas
tecnologias. ............................................................................................................................... 21
1
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta dois novos conceitos: dualidade e espiral evolutiva
empresarial. O desenvolvimento deste trabalho começa pela conceituação do termo
complexidade e como se aplica ao ambiente de uma empresa. Vamos avaliar as opções que o
gestor1 estratégico tem para conduzir a empresa alinhada com a estratégia definida, e explorar
em mais profundidade alguns contextos de uma empresa, tais como a área de tecnologia e
fusões e aquisições, e as linhas de ações para aumento de receita e redução custos. Explora o
conceito da dualidade de efeitos criado pelas ações implantadas (visando em especial aumento
de receitas e diminuição de custos), de como a dualidade se manifesta (fio condutor) e
introduz o conceito da Espiral Evolucionaria Empresarial e alguns de seus desdobramentos
para a sociedade.
O administrador deve possuir diversos conhecimentos sobre a empresa para promover
a combinação dos diversos elementos formando as capacidades necessárias para produzir os
resultados planejados. Elementos como pessoas, processos, conhecimento e tecnologia, os
quais combinados geram produtos inovadores, geram descobertas de novos produtos,
processos e serviços. Existem também vários fatores externos à empresa, tais como pressões
de concorrentes, novidades tecnológicas, desenvolvimento tecnológico e pressão de clientes.
Contudo a soma destes conhecimentos não é mais suficiente para desenvolver e
implantar soluções únicas para os problemas que surgem no dia a dia da empresa.
―Imaginemos uma tapeçaria contemporânea. Ela comporta fios de
linho, seda, algodão, lã, de cores variadas. Para conhecê-la, seria
interessante conhecer as leis e princípios relativos a cada uma dessas
espécies de fio. Contudo, a soma dos conhecimentos sobre cada tipo
de fio que compõe a tapeçaria é insuficiente para conhecer essa nova
realidade que é o tecido (ou seja, as qualidades e propriedades dessa
tessitura). É também incapaz de nos auxiliar no conhecimento de sua
forma e configuração.‖ Edgar Morin2
Neste sentido, o conceito de ambiente complexo mostra algumas características
típicas: não existe uma resposta certa, aplicar melhores práticas não necessariamente traz os
1 No âmbito deste trabalho, o termo gestor significa tanto um indivíduo de nível executivo quanto um grupo de
executivos (por exemplo, o Comitê Gestor, Board Of Directors, etc.), com a responsabilidade pela condução das
estratégias de uma dada empresa. 2 MORIN, E. A Complexidade e a Empresa. Disponível em: < http://www.comitepaz.org.br/Morin5.htm>.
Acessado em 08 ago. 2011.
2
resultados esperados e a empresa se encontra em um fluxo constante de mudanças, ou seja,
padrões de consumo se alteram, aparecem novos produtos com serviços embutidos trazendo
inovações ao mercado, choques econômicos, escassez de recursos, produtos são obsoletados;
etc. E é neste ambiente que várias empresas se situam atualmente, podendo ser ilustrado pela
Matriz Cynefin3, tema que será desenvolvido no capítulo 2.
A dualidade ocorre quando ações planejadas são implantadas e o fio condutor é a
comunicação. É através desta energia que a dualidade se expande tanto internamente quanto
externamente. Como base, podemos fazer uso do conceito do Espaço-I4 (I-Space –
Information-Space - termo cunhado por Max Boisot) e as Curvas de Aprendizado Social
(Social Learning Curve – SLC). Como podemos ver no diagrama abaixo, a informação flui
em um padrão circular, passando por seis estágios: Rastreamento (ou Pesquisa), Resolução de
Problemas, Abstração, Difusão, Absorção e Impacto. A fase da Difusão cria as condições para
que a Dualidade apareça, enquanto que as fases de Absorção e Impacto freqüentemente
trabalham em conjunto, e alimentam a Espiral Evolucionária da Empresa.
Figura 1-1 O Ciclo de Aprendizado Social no Espaço-I
Fonte: Simulating I-Space (SIS): An Agent-based Approach to Modeling Knowledge Flows (obra citada).
3 A MATRIZ CYNEFIN: UM ARCABOUÇO PARA BALIZAR DECISÕES David J. Snowden e Mary E.
Boone http://www.revistaharvard.com.br//index.php?option=com_content&task=view&id=169&Itemid=21
Novembro, 2007 (consultado em Junho/2011). O termo cynefin é uma palavra de origem galesa, que significa,
literalmente, habitat; no entanto este termo, quando aplicado aos conceitos como complexidade, se mantém no
idioma original. 4 Boisot, M; Canals, A; MacMillan, I; “Simulating I-Space (SIS): An Agent-based Approach to Modeling
Knowledge Flows”; disponível em http://wep.wharton.upenn.edu/research/SimISpace3_200405.pdf; acessado
em 08-08-2011.
Codificado
Não-codificado
Difuso
Contido
Concreto Abstrato
3
A tabela 1-1 a seguir detalha cada uma dos estágios acima, e relaciona com os
conceitos da dualidade e espiral evolucionária empresarial.
Tabela 1-1 As Seis Fases do Ciclo de Aprendizado Social.
As Seis Fases do Ciclo de Aprendizado Social no Espaço-I
1. Rastreamento (ou Pesquisa)
É a identificação de Ameaças e Oportunidades, em geral a partir de dados disponíveis,
porém muito vagos ou sem estrutura. Nesta fase a disponibilidade de ferramentas para
organizar os dados é fundamental para o sucesso de qualquer estratégia. Identificação de
padrões na massa de dados.
2. Resolução de Problemas
Este processo dá estrutura aos padrões que emergiram da fase anterior; codifica os padrões.
Há uma redução da incerteza inicialmente associada com os grandes volumes de dados.
Iniciando esta fase na região da Não-codificação é ao mesmo tempo arriscado e é fonte de
conflitos. Nesta fase, as ferramentas agrupam dados (por exemplo em cubos), para mostrar
ou evidenciar padrões emergentes.
3. Abstração
Nesta fase, a codificação obtida na fase anterior generaliza os insights obtidos para uma
gama de aplicação mais ampla; envolve conceituação. Resolução de Problemas e Abstração
trabalham normalmente em conjunto.
4. Difusão
Nesta fase os insights recém-criados, ou a informação gerada, é compartilhado com a
população-alvo. A informação flui de várias maneiras, afetando tanto o ambiente interno
quanto o externo da empresa. É nesta fase que iniciam os efeitos da dualidade. A informação
está codificada e contextualizada.
5. Absorção
Nesta fase os novos insights gerados passam a ser aplicados em diferentes situações. Aqui
começa a experiência com o produto, serviço ou marca pelas diversas populações que foram
atingidas pela informação gerada.
6. Impacto
4
As Seis Fases do Ciclo de Aprendizado Social no Espaço-I
É a aplicação do conhecimento abstrato em situações concretas. Esta aplicação pode originar
produtos e serviços, regras organizacionais e técnicas ou alteração de comportamentos.
Tanto a Absorção quanto o Impacto agem em conjunto, e alimentam a Espiral Evolucionária
da Empresa. Todas as fases expostas são muito favorecidas por um conjunto de ferramentas
de Inteligência de Negócio (Business Intelligence ou BI).
Fonte: elaborado pelo autor.
A sustentação física do espaço-I se dá através de imensos bancos de dados
corporativos, e os ciclos de aprendizado somente são possíveis com poderosas ferramentas
analíticas, cujos algoritmos, em parte, independem de interação humana devido à inerente
complexidade e incapacidade de visualizar padrões escondidos na massa de dados.
―A quantidade de dados no nosso mundo tem crescido
explosivamente. Empresas capturam trilhões de bytes de informações
sobre seus clientes, fornecedores e operações, e milhões de sensores
em rede são inseridos no mundo físico em dispositivos como telefones
celulares e automóveis, medindo, criando e enviando dados.
Multimídia e indivíduos com smartphones e em redes sociais irão
continuar a alimentar este crescimento exponencial. Imensos bancos
de dados (Big Data) – grandes repositórios de dados que podem ser
capturados, comunicados, reunidos, armazenados e analisados – são
agora partes de cada setor e funções da economia global. Tal como
outros fatores de produção tais como ativos tangíveis e capital
humano, é cada vez mais o caso de que grande parte da atividade
econômica, inovação e crescimento simplesmente não são possíveis
sem dados. A questão é o que este fenômeno significa‖.(McKinsey
Global Institute, 2011)5
Podemos ter ações visando o meio externo (por exemplo, de marketing, lançando um
produto novo, ou um serviço novo, apresentando uma inovação, etc.) buscando aumento de
5 McKinsey Global Institute; “Big data: The next frontier for innovation, competition, and productivity”.
Informação disponível em:
<http://www.mckinsey.com/Insights/MGI/Research/Technology_and_Innovation/Big_data_The_next_frontier_f
or_innovation>. Acesso em 08 ago. 2011 (“The amount of data in our world has been exploding. Companies capture
trillions of bytes of information about their customers, suppliers, and operations, and millions of networked sensors
are being embedded in the physical world in devices such as mobile phones and automobiles, sensing, creating, and
communicating data. Multimedia and individuals with smartphones and on social network sites will continue to fuel
exponential growth. Big data—large pools of data that can be captured, communicated, aggregated, stored, and
analyzed—is now part of every sector and function of the global economy. Like other essential factors of production
such as hard assets and human capital, it is increasingly the case that much of modern economic activity, innovation,
and growth simply couldn’t take place without data.
The question is what this phenomenon means.”).
5
receitas. Podemos ter também ações visando o ambiente interno (por exemplo, redução de
custos, ampliação do parque fabril, expansão de serviços, etc.). Estas ações irão produzir
efeitos dentro da empresa, forçando o desenvolvimento dos recursos e aumento da
capacidade, visando corte de custos, etc. Ao mesmo tempo ou com pouca diferença de tempo,
produzirá efeitos no ambiente externo, seja criando novos nichos de mercado, aumentando a
fatia de participação no mercado, diferenciando-se na mente dos consumidores, etc. Algumas
vezes, esta dualidade nem é prevista. Vamos tomar como exemplo (simples) a redução de
custos com ações que visem à redução da pegada carbônica. Dentro da empresa, os gestores
podem estar buscando a redução de custos (menos desperdícios, menor consumo de energia,
alternativas energéticas, etc.), porém o mercado poderá reagir entendendo que a empresa tem
uma legítima preocupação com o meio ambiente. E podemos considerar que este efeito não
foi planejando pelos gestores, porém é bem vindo pois tanto aumenta a pressão expansionista,
abarcando novos mercados, quanto reduz a pressão externa (podemos, por exemplo, usar o
diagrama de forças de Porter (vide Capítulo I, figura 2-1) para analisar como se dá esta
mudança no equilíbrio de pressões). Os gestores podem usar este modelo de dualidade para
orquestrar novas ações, onde uma ação ao ser implantada cria um efeito dual. Estes efeitos
cumulativos podem produzir uma espiral evolutiva da indústria, trazendo valores novos,
mudando estratégias, etc.
Podemos trazer um exemplo de como esta dualidade aparece. Existe um movimento
em vários setores da indústria em adotar práticas de sustentabilidade visando se tornarem
empresas amigas do meio ambiente. A indústria em questão é: logística, transportes, cadeia de
suprimentos e portos. De acordo com uma avaliação destas iniciativas a partir de uma
publicação especializada nesta indústria: Logistics Management6, ações visando
sustentabilidade não formam o eixo principal dos negócios, porém esta indústria está
investindo nesta implantação. O que se busca internamente é o aumento de receita com mais
clientes preferindo empresas que estão alinhadas com a preservação do meio ambiente, e a
forma que os clientes descobrem isto é pela comunicação (neste caso através da publicação
supracitada). Isto evidencia o aparecimento do efeito dual, onde uma ação interna (aumento
de receita) provoca um efeito externo (aumento da base de clientes) através de um canal de
comunicação.
6 Tópico Critico: Sustentabilidade. Disponível em http://www.logisticsmgmt.com/criticaltopic/sustainability.
Acessado em Julho/2011.
6
Porém, a dualidade pode potencializar um efeito inverso, onde um efeito é positivo
(lado interno), porém o dual (lado externo) é negativo. Um exemplo deste tipo poderia ser um
produto que foi lançado no mercado, porém havia um problema no projeto (design) do mesmo
que não foi detectado a tempo. Alguns clientes que perceberam o problema começaram a
reclamar. O defeito do produto foi localizado e solucionado na linha de produção. Para evitar
custos de recall, a empresa decidiu relançar o produto, com um folheto avisando aos clientes
do problema que pode ocorrer devido ao mau uso. Neste caso, tivemos um efeito positivo nas
contas da empresa (pelo menos inicialmente), porém um efeito negativo (podendo ser de
longo prazo) no mercado, danificando a imagem da empresa.
As tradicionais ferramentas de análise de negócios baseadas em dados financeiros não
são mais suficientes para o gestor estratégico, pois as informações obtidas mostram o que já
passou. São necessários dados de tendências de mercado, para que se tenha um vislumbre do
que está por vir para afinar o plano tático, e avaliar a estratégia. Porém isto também já não é
mais suficiente. O gestor sente a necessidade de olhar continuamente o presente. Para tal, ele
deve contar com ferramentas de tecnologia para orientar o plano tático em períodos cada vez
mais curtos, praticamente instantâneos (on-line). Esta tecnologia é denominada genericamente
como Inteligência de Negócios, a qual permite extrair informações e gerar análises a partir
dos bancos de dados da empresa. Os resultados que esta tecnologia traz podem ser agrupados
em Medição (métricas de desempenho e benchmarking que servem para informar aos gestores
do negócio o progresso em direção às metas estratégicas), Analítico (envolve garimpo de
dados, garimpo de processos, análises estatísticas, análises preditivas, modelagem preditiva e
modelagem de processos de negócios), Reportes / Reportes Empresariais (organiza os dados
em relatórios estratégicos para servirem ao gerenciamento estratégico da organização
visualização de dados, sistema de informação executivo, processamento analítico online),
Colaboração / Plataforma de Colaboração (facilita com que diversas áreas trabalhem juntas
através do compartilhamento de dados e troca eletrônica de informação) e Gerenciamento de
Conhecimento (usa o conhecimento acumulado para produzir insights e experiências que
formam o genuíno conhecimento dos negócios).
As empresas, na sua busca contínua pelo aumento de receitas, redução de custos e
aumento na participação no mercado, olham alternativas e opções, entre as quais destacamos a
área tecnológica (conhecida como TI – Tecnologia da Informação) e através de fusões e/ou
aquisições de outras empresas. Além do grande avanço tecnológico dos equipamentos
7
(processadores cada vez menores, com maior poder de processamento, menor exigência
energética e de infra-estrutura, equipamentos pessoais mais econômicos e menores, com
menor gasto de energia; disponibilidade de equipamentos de informática aderentes a várias
regulamentações – como exemplo: RoHS7,8, WEEE
9), o acesso à rede mundial de
computadores (usando diversos protocolos de comunicação, entre eles o mais popular –
TCP/IP10
) e a disponibilidade dos mais diversos programas, tivemos o nascimento de uma
indústria de serviços baseados em terceirização e hospedagem de aplicações de clientes em
centros de processamento remotos (conhecido nos meios como computação em nuvem, ou
Cloud Computing11
).
A computação em nuvem é um paradigma em constante evolução, e ainda há muito
para se entender, porém uma importante característica emerge deste conceito. A tecnologia
desenvolvida até o presente momento dá suporte a um conjunto de práticas que formam um
conceito mais abrangente denominado Onda Verde de TI (ou Green IT12
).
As práticas da Onda Verde, as quais incluem a computação em nuvem, reduzem em
mais da metade os custos com energia para utilizar o centro de processamento de dados13
,
com isto alavancando (e/ou reforçando) a adoção de políticas de sustentabilidade. Estas, por
sua vez, dependem de maturidade em vários conceitos, tais como: ética, responsabilidade
social, ambiental e financeira. É fundamental que estas práticas sejam incorporadas aos
valores, à missão e à visão do empreendimento. Estas atividades devem gerar de lucro. Em
adição a isto, boas práticas na redução do consumo de energia podem ser uma fonte extra de
recursos: a geração de créditos de carbono.
7 RoHS – Restriction of Certain Hazardous Substances, ou Restrição de Certas Substâncias Perigosas. É uma
diretiva (2002/95/EC) européia que entrou em vigor em 1º, Julho de 2006, onde os fabricantes não coloquem no
mercado nenhum produto eletro-eletrônico que contenha qualquer uma das seguintes substâncias banidas:
Chumbo, Mercúrio, Cromo hexavalente, Cádmio, Bifenila polibromatada (PBB) ou Éteres Difenílicos
Polibromatados (PBDE), em quantidades superiores autorizadas e tabeladas pela organização. Mais informações
no site: <http://www.rohs.eu/english/legislation/docs/launchers/launch-2002-95-EC.html> 8 Também podem ser encontradas informações em documentos de empresas que aderiram a esta e outras
regulações, como por exemplo, o documento no site da Embraco:
http://www.embraco.com.br/especificacao/PTGTPP2420_port_rev08.pdf. 9 WEEE – Waste Electrical and Electronic Equipments ou Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos.
Esta diretiva (2002/96/EC) deixa para os produtores de equipamentos eletro-eletrônicos a responsabilidade pela
reciclagem do equipamento completo no final de seu ciclo de vida. Mais informações nos sites:
<http://ec.europa.eu/environment/waste/weee_index.htm > ou
<http://www.rohs.eu/english/legislation/docs/launchers/launch-2002-95-EC.html> 10
Para mais informações, consulte: http://www.protocols.com/pbook/tcpip1.htm 11
Existem diversas referências sobre este conceito. Talvez a mais interessante sejam apresentações do NIST:
Effectively and Securely Using the Cloud Computing Paradigm. 12
Uma referência a este tema é o livro: Tebbutt, D; Atherton, M.; Lock, T.; Green IT for Dummies; publicado
pela John Wiley & Sons. Ltd. 13
Brodkin, J.”Number crunching: Stats about energy consumption, virtualization and cloud computing”.
Disponível em http://www.networkworld.com/news/2008/120308-gartner-energy-virtualization-cloud-
computing.html.
8
As pressões do mercado muitas vezes impõem barreiras a uma revisão de conceitos
tão fundamentais em uma empresa, porém esta atividade é essencial para a evolução do
empreendimento. Especialmente se considerarmos a tendência atual de fusões ou aquisições
de empresas, normalmente com diferenças nestes conceitos, percebemos que é cada vez mais
importante desenvolver capacidade (reunir recursos humanos, espaço e equipamentos) em
curto espaço de tempo para executar estas atividades.
O presente estudo pretende mostrar como um início de atividades voltadas para custos,
começando por uma parte que normalmente não é o foco da empresa, ou seja, a área de TI
pode disparar uma cadeia de ações que levem a empresa a contribuir de uma maneira
responsável com a sociedade e o meio ambiente, enquanto reforça a sua presença no mercado
e nas mentes dos consumidores como uma empresa que apóia a sustentabilidade.
O objetivo geral é mostrar que há sustentação para viabilizar a hipótese de que uma dada
empresa, em seus esforços para redução de custos (um dos principais direcionadores
estratégicos das organizações), iniciarem um trabalho em uma área específica de uma
empresa, a área da tecnologia da informática, e como este início pode disparar uma espiral
evolutiva visando o desenvolvimento sustentável, com o consequente impacto positivo para a
comunidade e a própria empresa.
O presente trabalho procura mostrar como uma empresa pode trilhar uma espiral de
desenvolvimento partindo de uma adoção de práticas de Onda Verde na sua área da TI. Um
início de projetos visando um uso inteligente de recursos e energia nesta área traz benefícios
de médio e longo prazo (por exemplo: redução de custos, geração de créditos de carbono,
acesso a linhas de crédito especiais14
, etc.).
Um motivador para a empresa direcionar recursos para a remodelação da área de TI são os
altos custos envolvidos para a manutenção e constante atualização de toda a infra-estrutura.
Somente custos com eletricidade para um centro de processamento de dados convencional
chegam a US$ 1 Mi em eletricidade nos EUA15
já mostram a importância do tema.
“Os equipamentos de TI são responsáveis por 2% das emissões de
CO2 em todo o mundo, o que corresponde à quantidade de CO2
emitida por todos os aviões existentes.” Simon Mingay, Gartner
Group16
14
Machado Fº, H.; “Aspectos Gerais do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”; palestra proferida no
simpósio “Mercado de Reduções e Emissões” no Rio de Janeiro de 26 a 27 de Março de 2007. 15
Brodkin, J.; (obra citada). 16
Lucas, A.; “O que é Green IT?”; Disponível no site http://www.greenitbrasil.com.br/textos/greenit.pdf;
acessado em 19/03/2010.
9
Ao iniciar os trabalhos de remodelação da área de TI, o gestor irá verificar que não
existem soluções simples para tal. Partindo das decisões mais básicas, como por exemplo,
centralizar toda a TI ou distribuir pela estrutura da organização. Outra decisão básica seria
arcar com os custos de propriedade dos equipamentos e dos programas, ou terceirizar; o que
pode e o que não deve ser terceirizado? Quais são os parâmetros? Estes questionamentos
colocam o gestor nos primeiros estágios do ciclo de aprendizado: pesquisa e resolução de
problemas. Neste estágio do processo os efeitos das decisões do gestor ainda estão, na sua
maioria, internos.
A evolução destes trabalhos irá generalizar os insights, ampliando a possível aplicação dos
métodos a outras áreas e processos da empresa. É o estágio da abstração. A partir deste ponto,
um plano de comunicação é necessário para ampliar o fluxo de informações, podendo afetar
tanto o ambiente interno quanto externo. O processo entra na fase de absorção, gerando novos
insights para aplicações em diferentes cenários. As capacidades criadas durante esta
caminhada levam a organização a um novo patamar evolutivo (considerando as três
dimensões básicas: recursos humanos, equipamentos e espaço). Uma avaliação dos impactos
da aplicação dos conhecimentos abstratos desenvolvidos pode originar outras decisões,
podendo uma delas ser a adoção das práticas da sustentabilidade. Neste panorama, o resultado
das decisões do gestor e de sua equipe poderão ser traduzir em benefícios para a comunidade
e para a própria empresa.
A natureza da proposta deste trabalho é exploratória. A hipótese está baseada no conceito
da espiral de desenvolvimento que uma empresa poderá seguir, usando algum ponto de início
em alguma área restrita da empresa e no trabalho iremos explorar como início um projeto de
redução de custos a partir da adoção da Onda Verde na área de TI, e progressivamente
aumentando os trabalhos até abranger toda a empresa, adotando uma série de práticas (por
exemplo, a sustentabilidade, a qual exige uma revisão dos conceitos mais fundamentais da
empresa como missão, visão e valores, para uma reformulação da Ética e das
responsabilidades: Social, Ambiental e Financeira).
Para a elaboração deste trabalho foram usados dados secundários, obtidos principalmente
em sites especializados no assunto tratado, em apresentações obtidas de seminários e em sites
de empresas regulamentadoras. Este trabalho se divide em quatro capítulos, sendo que o
primeiro avalia o ambiente empresarial e como a complexidade deve ser aplicada pelos
gestores para orientar a tomada de decisões. O segundo capítulo avalia estratégias de gestão
empresarial avaliando duas importantes áreas: gestão da tecnologia e fusões e aquisições. O
terceiro capítulo mostra dois conceitos novos: dualidade dos efeitos das decisões estratégicas
10
em uma empresa e a espiral evolutiva empresarial (ou EEE). No capítulo quatro expõe-se o
conceito da sustentabilidade aplicada aos negócios da empresa. Na conclusão avaliam-se
como estes conceitos influem tanto na empresa quanto na comunidade.
11
2. CAPÍTULO I – AMBIENTE EMPRESARIAL E
COMPLEXIDADE
As empresas se encontram em um ambiente composto por forças externas que dominam e
direcionam as escolhas estratégicas do gestor. Neste capítulo veremos o que são estas forças e
serão avaliados contextos dentro dos quais as decisões são tomadas, os ambientes complexos.
A complexidade será conceituada e veremos como ela contribui para o enriquecimento do
espaço-I. Finalmente será mostrado como o gestor pode se movimentar dentro da
complexidade e do espaço-I e verificaremos quais são as tendências da maioria das empresas
com relação à complexidade.
2.1. AMBIENTE EMPRESARIAL
O ambiente empresarial apresenta situações ao executivo onde não se consegue encontrar
uma única solução que se implante e resolva qualquer dos problemas, seja de aumento de
receitas, seja de redução de custos. Para um início de discussão, não se encontra uma causa
raiz, que pode ser facilmente identificada, podendo ser criado um plano para eliminar esta
causa raiz, e simplesmente executar. O executivo necessita cada vez mais de ferramentas de
apoio à decisão que auxilie na análise de uma massa de informações, buscando identificar
tendências de mercado, e assim adiante. O conhecimento do passado já não é mais suficiente
ao executivo. É necessário avaliar as tendências do mercado, um olhar no futuro, para
elaborar um plano estratégico. Não raro o executivo tem que reformular a missão da empresa,
para encontrar novos direcionadores de negócio. Um exemplo de reformulação17
bem
conhecido é o da Hewlett Packard (ex-Compaq), onde em 1990, como uma das 400 empresas
mais bem sucedidas do mundo, teve um faturamento de US$ 3,6 Bi e lucro de US$ 455 Mi.
No segundo trimestre do ano seguinte viu seus lucros caírem 80 por cento, e no terceiro
trimestre teve prejuízo. Todo o negócio foi construído em torno de uma sólida reputação em
qualidade (a própria marca, COMPAQ é a junção de duas palavras em inglês: compatibility e
quality, formando COMPA + Q), enquanto o preço estava em sétimo na lista de critérios de
compra. Desta forma, enquanto os padrões de qualidade (em alinhamento com a missão)
estavam plenamente cumpridos, os preços finais aos consumidores estavam superiores aos
17
Beckford, J.; “Quality: a critical introduction”;(1998)Routledge, Londres. Pg. 24.
12
dos competidores. Assim que as condições de mercado mudaram tornando preços em um item
prioritário para os clientes, a empresa teve que reavaliar a estratégia para poder reverter o
quadro, e voltar à lucratividade. Uma ferramenta que pode ser usada para reavaliação das
estratégias é conhecida como matriz SWOT18
. A matriz é organizada em quadrantes, com dois
quadrantes referem-se a características de caráter endógeno (forças e fraquezas) e os outros
dois são de caráter exógeno (ameaças e oportunidades), mostrada na figura abaixo.
Figura 2-1 Matrix SWOT
Fonte: Equipe UNIVALI – Projetos Especiais, “RELATÓRIO ANÁLISE SWOT”.
Junto com as necessidades de avaliar o passado, o presente deve também estar no campo
de visão de quem tem a missão de conduzir os planos táticos. Toda esta complexidade exige
um suporte tecnológico baseado em um conjunto de ferramentas que constituem a Inteligência
do Negócio (Business Intelligence – BI).
―No ambiente atual de rápidas mudanças nos negócios, a necessidade
por informações de oportunas e efetivas é reconhecidamente essencial
para organizações, não somente para prosperar, como até mesmo
para a sua sobrevivência.‖ (Em tradução livre) Antti Lönnqvist,
pesquisador sênior; Virpi Pirttimäki, gerente de projetos e
pesquisador, ambos da Universidade Tampere de Tecnologia da
Finlândia19
18
Existem diversas fontes mostrando a matriz SWOT; um exemplo pode ser retirado de
http://www.spg.sc.gov.br/Acorde%20Sao%20Joaquim/CD%20Acorde%20Sao%20Joaquim/Estudos%20e%20A
nalise%20de%20Oferta%20e%20Demanda/RELATORIO%20ANALISE%20SWOT%20ACORDE/Relatorio%
20Analise%20de%20Swot%20e%20Matriz%20de%20Hierarq.pdf. Acessado em Outubro, 2011. 19
Lönnqvist, A.; Pirttimäki, V. “The Measurement Of Business Intelligence”; Disponível no site
http://cjou.im.tku.edu.tw/bi2008/MeasurementOfBI.pdf; acessado em 07/08/2011.
Ambiente Interno
Am
bie
nte
Exte
rno
Ameaças ou
Riscos
Oportunidades
Forças Fraquezas
Estratégias de
Desenvolvimento
Estratégias de
Diferenciação
Estratégias de
Correção / Melhorias
Estratégias de
Reestruturação
13
São vários os termos relacionados ao conceito de BI: Inteligência Competitiva,
Inteligência de Mercado, Inteligência de Clientes, Inteligência de Competidores, Inteligência
Estratégica e Tecnológica. Não por acaso, estes termos estão fortemente relacionados com o
diagrama das cinco forças de Porter20
.
Figura 2-2 As Cinco Forças que Moldam a Competitividade na Indústria.
Fonte: The Five Forces That Shape Industry Competition (obra citada)
Todos estes termos conduzem ao mesmo foco: análise de dados e informações. As
ferramentas disponíveis no mercado apenas ajudam no controle dos estoques de dados e fluxo
de informações de mercado, porém não trazem a resposta para os problemas de aumento de
receita. Analogamente, para o controle de custos, encontramos também uma miríade de
práticas e ferramentas de suporte.
Este ambiente pode ser avaliado sob a ótica da complexidade, situando-o em um dos
contextos da matriz Cynefin21
, o contexto Complexo. Neste contexto, não se encontra uma
resposta certa e há grandes mudanças (resultados fracos, erosão da base de clientes,
20
Extraído e adaptado pelo autor de “The Five Forces That Shape Industry Competition”, por Michael E. Porter,
Harvard Business Review, Janeiro 2008. (disponível em:
http://www.mktgsensei.com/AMAE/Strategy/HBR%20on%20Strategy.pdf#page=25; acessado em Julho-2011) 21
Obra citada.
Ameaças de Novos
Entrantes
Poder de
Barganha dos
Fornecedores
Poder de
Barganha dos
Clientes
Ameaças de Produtos ou
Serviços Substitutos
Rivalidade
entre
Competidores
Existentes
14
globalização, uma fusão ou aquisição, etc.). Somente se consegue entender algo neste
contexto analisando dados do passado. O erro que acompanha as decisões, deve ser tolerado
pois permite o surgimento de padrões instrutivos. O gestor deve evitar a imposição de uma
linha de ação, permitindo que um caminho apareça por si só (intuição e insight).
2.2. CIÊNCIA DA COMPLEXIDADE
A complexidade é um fenômeno natural, composta de vários sistemas em rede (ou malha)
que interagem dinamicamente entre si. No estudo realizado por David J. Snowden e Mary E.
Boone, o mundo real foi classificado em cinco contextos: Simples, Complicado, Complexo,
Caótico e Desordem. Os ambientes simples e complicado são considerados lineares: existe
uma resposta, porém nem sempre pode ser facilmente identificada. O gestor se vale da
opinião de especialistas. Os dois contextos seguintes, complexo e caótico, são classificados
como não-lineares. Normalmente não há uma resposta simples e decisões tomadas no passado
não podem ser aplicadas nos problemas presentes. Não há uma unanimidade entre
especialistas; devendo o gestor criar um ambiente que permita erros para possibilitar um
aprendizado. O último contexto ocorre quando não se pode identificar com clareza em qual
dos quatro contextos anteriores se está. O gestor busca se mover dos contextos não-lineares
para os contextos lineares. Em muitas situações o gestor poderá estar nos quatro contextos
simultaneamente. Em alguns setores, como por exemplo operações de Logística, as relações
entre causa e efeito são, na maioria das vezes, conhecidas e soluções de otimização podem ser
obtidas, por exemplo, através de trabalhos de melhoria contínua, e tornar operações enxutas
(técnicas conhecidas como Lean & Six Sigma).
Figura 2-3 Modelo Cynefin mostrando os vários domínios (adaptada pelo autor)
Fonte: Elaboração própria.
Porém existem áreas, que devido aos inter-relacionamentos entre as mesmas, não há uma
clara relação de causa e efeito, e as decisões envolvem riscos, em especial devido a
Complexo Complicado
Caótico Simples
Desordem Contextos
lineares
Contextos
não-
lineares
15
interferências externas. Um exemplo é identificar em qual ponto da curva de maturidade se
localiza um determinado produto, como será o desempenho no mercado, e qual a estratégia de
logística e cadeia de suprimentos que deve ser escolhida. O gestor se encontra em um domínio
não-linear, não aparecendo uma solução clara, necessitando incentivar experimentos e
conviver com riscos e erros diversos. Podem surgir padrões a partir de dados existentes (uso
de ferramentas de buscas de relações nos bancos de dados da empresa, uso de dados de
inteligência de marketing, e outras técnicas, como trazer o cliente para dentro da empresa,
registrando opiniões e sugestões dos mesmos, etc.). Tudo isto configura o contexto complexo.
Já o contexto caótico ocorre quando o ambiente fica turbulento, com mudanças rápidas e sem
padrões controláveis.
No ambiente complexo, o gestor encontra as condições para explorar novas formas
para conduzir a empresa. Na sua fase inicial de trabalhos, o gestor se encontra na fase de
pesquisa no Espaço-I. Em função da qualidade e quantidade de informações, além das
ferramentas de análise usadas, o gestor pode encontrar padrões, iniciando a fase de resolução
de problemas, fazendo um movimento de contexto não linear para contextos lineares (modelo
Cynefin), e simultaneamente se movimentando no Espaço-I em direção à fase de abstração.
Neste movimento ocorrem alguns ganhos rápidos, fator importante para a motivação das
equipes em continuar no processo de melhoria da empresa, caminhando para a próxima fase
no Espaço-I, difusão. O conhecimento acumulado, na percepção das equipes, pode ser usado
em outras áreas da empresa, criando um reforço auto-sustentado neste processo de melhoria.
As equipes podem decidir por diversas metodologias e ferramentas à disposição para difundir
o conhecimento e motivar a construção de outras equipes. Nesta etapa temos o movimento da
fase de difusão para absorção, e deste, através da comunicação, as equipes entram na fase de
comunicação no Espaço-I. É importante destacar que nestas caminhadas, ficam diversas
situações onde não foi possível o movimento do contexto complexo para os contextos
lineares.
―A complexidade não é um conceito teórico e sim um fato. Manifesta-
se na multiplicidade, no entrelaçamento e na contínua interação da
infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural e
as sociedades humanas. Os sistemas complexos estão dentro de nós e
a recíproca é verdadeira. Não é possível reduzir a complexidade a
explicações simplistas, regras rígidas, fórmulas simplificadas e
sistemas fechados‖. Mariotti, H, Zauhy, C.; 200022
.
22
Mariotti, H., Zauhy, C.. GESTÃO DA COMPLEXIDADE - Ferramentas Conceituais e Práticas. Exemplos.
Disponível em: <http://www.humbertomariotti.com.br/gestao.html>. Acessado em 10 ago. 2011.
16
Conforme os trabalhos evoluem, mais situações complexas são encontradas, ou mesmo
aparecem, fruto de intervenções externas (por exemplo, uma nova regulamentação fiscal,
obter certificação para uma nova norma técnica, abertura de uma filial no exterior e assim
adiante). Este ambiente exige do gestor uma conscientização para tomada de decisões em
ambientes não lineares, afetando em muito a estratégia de negócios, a liderança e a
sustentabilidade.
2.3. CAMINHANDO NA COMPLEXIDADE
Em um contexto linear, o gestor se vale de diversas ferramentas operacionais que
orientam os esforços mostrando como fazer. Após a ação, as equipes avaliam os resultados
(ou as conseqüências das ações tomadas), e usam este conhecimento para um novo ciclo,
oscilando entre aplicação de técnicas e verificação de resultados. Este ciclo cria conhecimento
e história, porém o alcance é limitado. Em muitos casos, estes esforços ficam internalizados,
afetando muito pouco as pressões externas. Em geral, empresas que ficam somente dentro
deste círculo, e não avaliam corretamente o ambiente de rápida transformação, não
conseguem avançar, e neste caso o futuro destas empresas é passar por uma aquisição por
outra empresa, ou mesmo sair do mercado.
Segundo a pesquisa Capitalizando na Complexidade23
, 79% dos respondentes esperam um
aumento da complexidade, e 51% se acham despreparados para atuar em ambientes
complexos (não lineares). Ainda de acordo com a pesquisa, os gestores concordam que a
criatividade é a ferramenta mais importante dos líderes. Os gestores devem se valer de
modelos mentais para poderem lidar melhor com a complexidade. Um modelo que pode ser
usado é o da escada do conhecimento24
. Normalmente os teóricos preferem os degraus mais
altos, e os técnicos preferem o degrau das técnicas e dos resultados. Este modelo também
mostra que as pessoas, dependendo das particulares habilidades, preferem um degrau (que
representa uma forma de ver o mundo), e não se comunicam entre si. Esta falta de
comunicação rompe o ciclo de aprendizado dentro do conceito do Espaço-I causando perdas
significativas. A massa de conhecimento não alcança os estágios necessários de abstração e a
conseqüente difusão dos conhecimentos. Cabe ao gestor estimular que todos andem pela
23
Pesquisa encomendada pela IBM, em 2009. Disponível em http://www-
935.ibm.com/services/us/ceo/ceostudy2010/; acessado em Agosto-2011. 24
Mariotti, H; “Pensamento Complexo e visão Estratégica: um Estudo de Caso”; disponível em
http://www.humbertomariotti.com.br/swatch.html; acessado em Agosto-2011.
17
escada, se questionando “porque fazer”, e o “como fazer”, para depois executar e avaliar o
resultado.
Figura 2-4 Escada do Conhecimento e Espaço-I
Fonte: Elaboração própria.
A figura acima mostra os degraus da escada do conhecimento, e os movimentos que o
gestor deve estimular nas equipes. Ao subir a equipe busca idéias, insights, criatividade; ao
descer a equipe desenvolve técnicas e traz resultados. Este movimento quebra de barreiras e é
essencial para a empresa buscar crescimento sustentável no mercado. De acordo com o
relatório Capitalizando na Complexidade, a criatividade é destacada como a mais importante
competência para as empresas buscarem soluções no meio da complexidade.
A abordagem acima não é única, existindo outras formas similares de se ver o mundo.
Outro exemplo é dado por Ron Person25
, citando os princípios essenciais: criar uma área livre
de influência pelas atividades dos negócios, identificar os objetivos críticos, definir iniciativas
e métricas críticas para acompanhar o desempenho e alinhamento. A seqüência é praticamente
um movimento de cima para baixo na escada do conhecimento. Em outro estudo conduzido
pela IBM, Herdando um Mundo Complexo26
, entre estudantes, ou seja, os futuros líderes,
houve concordância com alguns tópicos: Incorporar Liderança Criativa, Reinventar as
Relações com os Clientes e Construir Destreza Operacional. Uma diferença, porém
25
Person, R; “Balanced Socrecards & Painéis Operacionais com Microsoft Excel”;pg. XXII. 26
“ Inheriting a Complex World; future leaders envision sharing the planet”; disponível em
http://public.dhe.ibm.com/common/ssi/ecm/en/gbe03350usen/GBE03350USEN.PDF; acessado em Agosto,
2011.
Porque Fazer
O que Fazer
Como Fazer
Resultado
Filosofia
Conceitos
Técnicas
Resultados
Insight
Execução
Difusão;
Absorção
Abstração
Resolução;
Impacto
Pesquisa
Escada Espaço-I
18
surpreende: tanto os estudantes quanto os executivos (CEO) acham que o novo ambiente
econômico é mais complexo que antes. Entretanto, para estes estudantes, o ambiente é visto
como significativamente menos incerto e volátil que os CEOs. E o motivo alegado pelos
estudantes é a abundância de dados e informações que estarão disponíveis para o suporte ao
processo de tomada de decisões.
19
3. CAPÍTULO II – ESTRATÉGIAS DE GESTÃO
EMPRESARIAL
Algumas das decisões que o gestor deve tomar colocam a empresa (ou algumas áreas da
mesma) em um contexto complexo. Neste capítulo serão avaliadas duas decisões importantes
e como as mesmas podem ser vistas sob a ótica da complexidade. Será mostrado que tanto a
remodelação das estratégias da tecnologia da informação quanto a decisão de se unir ou
adquirir outra empresa podem ser visto como um ambiente complexo dentro da empresa.
3.1. GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Primeiro vamos conceituar alguns termos usados informalmente quando falamos de
tecnologia da informação (ou TI). A TI é um conceito que inclui todo o conjunto de hardware
e software que uma empresa necessita para atingir seus objetivos operacionais. Por conjunto
de hardware devemos incluir computadores, sistemas de armazenamento de informação (por
exemplo, discos rígidos locais, removíveis e remotos – ou em nuvem27
, pen drivers),
assistentes digitais pessoais (equipamentos móveis como aparelhos celulares, iPods, e outros,
se usados para fins organizacionais). Por conjunto de sofware, incluímos os sistemas
operacionais (Windows, Mac OS X, Linux, Android, entre outros), pacotes de aplicativos
(Microsoft Office, gerenciadores de Projetos, ERP, CRM, BI, etc.), além de, por vezes,
centenas de programas computacionais que são desenvolvidos na empresa por diversos
motivos (uma planilha Excel® usada para o controle de projetos de uma empresa, a qual
surgiu por uma necessidade devido ao aumento da quantidade de projetos oriundos de uma
expansão da empresa ou negócio).
Paralelo ao conceito acima, temos o conceito importante do Sistema de Informação (ou
SI). A TI cria toda a infra-estrutura para montar o conjunto de componentes que se inter-
relacionam para a coleta ou recuperação de dados, o processamento, armazenamento,
proteção e distribuição controlada, com o fim de dar apoio à tomada de decisões, à
coordenação e controle, e ao suporte às diversas atividades em uma empresa (por exemplo,
análise de problemas, visualização de assuntos complexos, inteligência do negócio, análise de
tendências, variações, etc.). Os sistemas de informação criam o Espaço-I, além de permitirem
os diversos Ciclos de Aprendizado. Os dois conceitos acima são cada vez mais relevantes nas
27
Computação em Nuvem ou Cloud Computing é uma modalidade de serviços acessível através da rede
mundial, onde não há necessidade de investir em hardware ou na compra e instalação de pacotes de software nos
computadores pessoais.
20
organizações, sendo fatores de diferencial competitivo entre as mesmas. A utilização de
recursos tecnológicos leva a inúmeros benefícios como redução de custos, ganhos
operacionais, racionalização de processos, suporte aos processos de decisão, etc.
Quais são as principais considerações o gestor deve levar em conta ao tomar decisões
relacionadas com os novos rumos da área da tecnologia de informática usada na empresa?
Como manter a harmonia com os direcionadores estratégicos da empresa? O primeiro passo é
obter um mapa da situação atual e consultar especialistas da área da informação.
Normalmente o gestor terá em mãos vários planos com sugestão de mudanças (não raro,
alguns serão conflitantes entre si). Qual o próximo passo do gestor? De posse de vários planos
equivalentes, o gestor irá se basear em critérios subjetivos como: a) nos próprios
conhecimentos nesta área; b) em informações do mercado ou de conhecidos atuando no
mercado; e c) em sua intuição (talvez somada a uma dose de curiosidade e autopromoção). A
realidade, contudo, é muito maior, e envolve muito mais fatores, os quais devem ser
cuidadosamente avaliados. O que parecia líquido e certo toma proporções inesperadas em face
da complexidade e das implicações nas operações da empresa.
Nada garante que as decisões do gestor estejam isentas de enganos, não apenas nos
detalhes envolvidos quanto no geral. Não raro o gestor tem que subir e descer várias vezes a
Escada do Conhecimento. Uma das primeiras decisões é por mudanças na tecnologia. Uma
dimensão que deve ser avaliada pelo gestor é a humana, ou seja, os usuários da nova
tecnologia. Um modelo interessante que divide os usuários em algumas categorias é o modelo
de Difusão de Inovações28
. Um projeto de inovação é composto por cinco estágios:
Conhecimento, Persuasão, Decisão, Implantação e Confirmação. Caso o projeto de
implantação de uma nova tecnologia seja bem sucedido, os usuários irão se dividir de acordo
com a capacidade para a adoção de novas tecnologias em relação à média. Esta categorização
pode ser visa na tabela a seguir. Por fim, existe também a taxa de adoção, que é a velocidade
relativa da adoção pelos usuários. Todas estas considerações são fundamentais para o gestor,
pois definem o sucesso ou fracasso na implantação de uma nova tecnologia.
28
Rogers, E.;”Diffusion of Innovations”; (1995); reviewed by Greg Orr. Disponível no site:
http://www.stanford.edu/class/symbsys205/Diffusion%20of%20Innovations.htm; acessado em Setembro, 2011.
21
Tabela 3-1 Categorias de usuários em função da sua capacidade de adoção de novas tecnologias.
Nome Descrição Quantidade (%)
Inovadores É um grupo seleto de pessoas que tem uma
tendência natural à experimentação de novas
tecnologias, dispostos a assumirem riscos.
Normalmente lançam tendências e são
formadores de opinião.
2,5%
Adotantes Possuem alguns traços de inovação, porém não
gostam de assumir riscos como o grupo dos
inovadores.
13,5%
Maioria Inicial È uma maioria, e o primeiro sinal de sucesso na
implantação de uma nova tecnologia (a massa
crítica foi atingida). Interromper o processo
neste estágio é tão custoso quanto iniciar o
mesmo – um ponto crítico que o gestor deve
considerar.
34%
Maioria Tardia Segmento que revela resistência às inovações, e
tende a retardar a implantação das mesmas.
34%
Retardatários Último grupo a adotar uma nova tecnologia. Os
dois últimos grupos devem ser cuidadosamente
gerenciados pelo gestor, em especial é um grupo
onde se encontram usuários de sistemas
anteriores, e que construíram reputação em
relação às suas habilidades no uso e
interpretação dos dados dos mesmos.
16%
Fonte: Rogers, E.; Diffusion of Innovations (1995).
O gestor deve avaliar as opções de tecnologia com vistas ao futuro, como por exemplo,
preparar o caminho para a adoção de práticas da sustentabilidade, explorado mais à frente
neste trabalho. Uma lista de itens que o gestor de Tecnologia (CIO) deve ter em mãos ao
buscar a adoção de novas tecnologias em informática, sem a pretensão de ser exaustiva, pode
ser vista a seguir:
i. Tecnologias Disruptivas
ii. Onda Verde (Green TI) 29
iii. Virtualização
iv. Computação em Nuvem
v. Centros de Processamento de Dados com TecnologiaVerde
vi. Tecnologias de Rede Inteligente (Smart Grid)
vii. Energia Limpa
29
Phelps, J. R.; “Green IT Initiatives Are Moving Beyond Power and Cooling Efficiencies”; Gartner
Research. Publicado em 08/02/2010
22
viii. Mercados de Serviços de TI
ix. Créditos de Carbono e Linhas Especiais de Incentivo
x. Sustentabilidade
xi. Produtos específicos para um dado setor da Indústria
Existem diversas opções de produtos e serviços de tecnologia dependendo do tamanho da
empresa, do faturamento, nível de maturidade dos processos e das pessoas. Um exemplo de
avaliação de ferramenta pode ser a avaliação de um sistema de um Sistema Integrado de
Gestão Empresarial (ou Enterprise Resouce Planning – ERP). Um sistema ERP é um dos
produtos mais importantes, e com a maior abrangência dentro de uma organização. É
demorado para implantar, demorado para mudar, requer adaptação tanto dos processos quanto
do próprio produto à organização e cria muita resistência, entre outros fatores. É fundamental
em um planejamento estratégico de longo prazo, pois prepara a empresa para a sua própria
evolução (podemos chamar de espiral evolutiva, um conceito ao qual voltaremos mais tarde),
permitindo processos de coleta e armazenamento de dados para outras aplicações mais
poderosas, como os sistemas de inteligência de negócios (BI) que demandam grandes
quantidades de dados, bem precisos e consistentes.
O que torna a tarefa de atualização do sistema ERP complexa é o conjunto de fatores que
o gestor deve avaliar. O primeiro ponto é a quantidade de fornecedores de sistemas ERP. Uma
rápida busca pela internet traz dezenas de fornecedores e opções, tais como instalar o produto
dentro da empresa ou partir para contratação de serviços e computação em nuvem. O segundo
ponto é o clima organizacional para trazer novas tecnologias – como iniciar com sucesso o
processo de difusão. O terceiro ponto diz respeito ao tempo e custos para a implantação em
que cada produto no mercado tem seu processo próprio de implantação. Um quarto ponto diz
respeito aos dados históricos da empresa, isto é, qual a estratégia para a migração dos mesmos
para o novo sistema. Os dados devem ser reavaliados quanto à consistência e precisão dos
registros? Os dados antigos deverão ser descartados (arquivados) – usando uma perigosa
abordagem “sistema novo – dados novos”? Um quinto ponto é referente às idiossincrasias de
processo criadas pelos usuários do sistema atual; os processos devem ser recriados para o
novo sistema, ou o novo sistema deve ser adaptado para incorporar os processos existentes? A
lista aumenta conforme o processo avança na empresa. Com isto podemos dizer que uma
mudança de tecnologia, mesmo circunscrita a uma decisão que parece simples a princípio, se
encaixa perfeitamente no contexto complexo. Não há uma resposta certa, pois o sistema inclui
23
pessoas, e consequentemente, a incerteza e o erro estarão presentes em um nível significativo
e o processo pode estar à beira do caos, podendo entrar em crise a qualquer momento.
3.2. FUSÕES E AQUISIÇÕES
De um ponto de vista enganadoramente simplista, uma fusão é a junção de duas empresas
em uma única e maior, enquanto que a aquisição é a compra de uma empresa pela outra. A
primeira normalmente é amigável, enquanto a segunda é hostil. Como vemos, existe aí um
componente humano importante, o qual pode colocar esta decisão (fusão ou aquisição) no
quadrante da complexidade (não raro as dificuldades desta operação fazem cair no quadrante
Caótico – situação esta que pode comprometer seriamente o sucesso da empreitada). Olhando
esta atividade de forma mais abrangente, podemos ter as seguintes transações30
: a) Aquisição
de participações controladoras – situação onde o comprador obtém o controle da empresa
conseguindo participação majoritária obtendo 50%, mais uma, ações; b) Compra de
participações não-controladoras – o controle da empresa não é transferido juntamente com as
ações; c) Joint venture – quando dois ou mais sócios caracterizam uma nova empresa, sendo
que os sócios continuam com suas operações independentes; d) Fusão – onde duas empresas
juntam as suas operações, deixando de existir e formando uma nova empresa; e) Incorporação
– quando uma empresa absorve a operações de outra, que deixa de existir, e f) Cisão – é caso
onde a empresa é dividida, surgindo uma nova empresa.
Um dos aspectos mais importantes para o gestor avaliar é a dimensão humana, tanto na
figura dos acionistas, que buscam aumentar o valor dos seus investimentos, quanto dos
colaboradores, que querem ter uma segurança para o futuro das respectivas contribuições. Um
dos aspectos fundamentais é a cultura corporativa, que pode ser sintetizada em uma frase: “o
jeito como fazemos as coisas por aqui”. No caso da aquisição é mais simples, onde
normalmente o comprador busca impor a sua própria cultura, e no melhor dos casos, anuncia
que irá estudar e incorporar as “melhores práticas”. Já no caso da fusão, a situação é bem mais
complexa; normalmente em uma fusão as empresas são de tamanhos comparáveis (e
normalmente surgem muitas suspeitas de avaliações de tamanho das empresas tendenciosas,
onde uma parte tenta se supervalorizar, por exemplo), e a busca pelas melhores práticas é de
suma importância, além de tomar tempo, um recurso precioso.
30
Estas definições podem ser encontradas no relatório: “Fusões e Aquisições no Brasil – Dezembro 2010”,
disponível no site: http://www.pwc.com/br/pt/estudos-pesquisas/assets/relatorio-ma-dez2010.pdf; acessado em
Setembro, 2011.
24
Para o caso das fusões, é fato amplamente reconhecido31
que uma das causas mais comuns
de fracasso reside nas diferenças culturais entre os parceiros. Falhar neste aspecto põe em
risco a exploração das sinergias que existem entre os colaboradores. A cultura corporativa é
uma composição de diferentes fatores, embutida profundamente na organização (muitas vezes
traz parte do universo dos próprios fundadores das respectivas empresas, não raro expressas
em “artefatos”, como por exemplo, o uso de gravata, uniformes, objetos com a logomarca nas
mesas dos colaboradores, etc.). A figura a seguir ilustra este tema.
Figura 3-1 A Cultura Corporativa no modelo de Camadas.
Fonte: “Mergers and Corporate Culture”.
A figura acima mostra como a cultura corporativa permeia toda a empresa, afetando a
estratégia. Não é a mesma imagem propagada nas brochuras e no website. Apesar da sua
importância, não existe uma cultura certa para uma dada organização, quanto mais no caso da
fusão de empresas. Porque este tema é tão importante? Por que influencia o desempenho da
organização, determina como a organização enfrenta problemas, a atitude das pessoas frente
às mudanças, como ocorre a interação entre as pessoas e os acionistas e o compromisso das
pessoas com a estratégia. Podemos analisar o choque cultural em um processo de fusão
avaliando a atratividade das mesmas e o impacto no processo de integração, na figura abaixo.
31
Vide: “Mergers and Corporate Culture”, disponível em
http://www.themanager.org/pdf/Merger_Culture.PDF; acessado em Setembro, 2011.
Clientes
Fornecedores
Estado
Sociedade
Competidores
Acionistas
Cultura
Artefatos
Suposições
Valores
Normas
Estilos
Crenças
Mecanismos
Recompensas
Sistemas
Estruturas
Aptidões
Com
port
am
ento
Estratégia
Produtos
Serviços
Competidores
Interessados
25
Figura 3-2 Diagrama de atratividades percebidas e impactos no processo
Fonte: Elaborada pelo autor.
A figura acima coloca em pauta um problema a mais que o gestor deve resolver: o tempo
gasto no processo da fusão. O processo pode ser separado em três grupos: a) atividades pré-
fusão; b) primeira onda do processo de fusão32
e c) segunda onda do processo ou atividades
pós-integração. As atividades pré-fusão normalmente são executadas por equipes menores de
ambas as empresas, visando preparar toda uma série de documentos que devem ser
apresentados em diversos órgãos reguladores (por exemplo, o CADE, BM&F, entre outros) e
pelos acionistas. Uma vez que o processo tenha sido aprovado, o processo entra na primeira
onda. Com isto as pressões sobre o gestor e a organização aumentam. Caso as empresas em
questão tenham ações na bolsa, a pressão é muito maior devido à potenciais perdas dos
acionistas pela instabilidade do valor das ações, pois quanto mais tempo demora para a
consolidação da fusão ou aquisição, maior a perda de valor das ações.
Tipicamente a primeira onda dura um ano, enquanto que a segunda onde dura entre dois e
três anos. A primeira onda realiza rapidamente economias para a nova empresa, em especial
na otimização dos principais departamentos corporativos e seleção de produtos e serviços que
32
Esta divisão do processo em duas ondas pode ser encontrado no documento “2nd-wave post-merger
integration”, disponível no site: http://www.oliverwyman.com/de/pdf-files/Persp03SecondWaveMA.pdf;
acessado em Setembro, 2011.
Atr
ativ
idad
e P
erce
bid
a d
a O
utr
a C
ult
ura
Atratividade Percebida da Própria Cultura
Alta
Alta
Baixa
Baixa
Assimilação
(transação
potencialmente suave)
Integração
(colisão de culturas ou
integração satisfatória)
Perda da Cultura
(alienação)
Separação
(colisão de culturas ou
multiculturalismo)
26
estejam alinhados com os direcionadores estratégicos da nova empresa. A segunda onda é de
caráter complexo, onde ocorre a remoção final de restrições internas e externas de ordem
política, regulatória, contratual, cultural, etc. Em adição aos ganhos acima, ocorre também um
impulso no desempenho das equipes na nova organização originado pela transferência de
melhores práticas, fusão das áreas de tecnologia da informação e a consolidação dos
processos. O conjunto de todos estes fatores forma aqui um contexto complexo, exigindo
muito investimento pessoal dos gestores para buscar o sucesso da empreitada.
27
4. CAPÍTULO III – SUSTENTABILIDADE
Este capítulo conceitua e avalia a implantação da sustentabilidade em uma empresa no que
ela pode trazer de benefícios para evolução da empresa. A decisão pode ser tomada por um
processo repentino, ou pode vir de um processo gradativo fruto de implantações em áreas
selecionadas da empresa culminando com a implantação total da mesma. A possibilidade de
fracasso no primeiro caso é muito grande, em especial por falta de maturidade e conceituação,
podendo cair em armadilhas, onde algumas serão mostradas ao logo do desenvolvimento do
capítulo. A segunda abordagem, fruto de um melhor processo de evolução gradativa e
contínua, tem maior possibilidade de ser implantada com sucesso, trazendo benefícios tanto
para o ambiente interno quanto externo.
4.1. CONCEITUAÇÃO
O termo sustentabilidade pode ter significados diferentes, dependendo do contexto.
Muitos acham que sustentabilidade e onda verde estão vinculadas ao contexto da ecologia e
proteção ambiental. Outros vêem conexão com gestão financeira e de investimentos, como
por exemplo, os que usam o Índice de Sustentabilidade Dow Jones33
. Para os participantes do
Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente em Davos, Suíça, a sustentabilidade é um
arcabouço de desenvolvimento econômico global. Neste trabalho o conceito sustentabilidade
apresenta três34
principais: a) Viabilidade Econômica; b) Responsabilidade Social e c)
Responsabilidade com o Meio Ambiente. Embora conflitos de escolha (trade-offs) possam
existir, todas estas dimensões estão interconectadas de alguma maneira. Por exemplo, agir de
forma responsável socialmente e ambientalmente aumenta a confiança e, portanto faz sentido
como um bom negócio, porém não pode estar desvinculado da viabilidade econômica, pois é
necessário gerar lucros, crescimento e novos empregos para continuar fornecendo produtos e
serviços para a comunidade.
Um conceito chave é o do desenvolvimento sustentável, definido no documento
Brundtland Report35
. “Desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que atende às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atenderem
33
Este índice foi lançado em 1999, com o propósito de acompanhar o desempenho financeiro de empresas
líderes globais com direcionamento para a sustentabilidade. Para mais informações, visite o site:
http://www.sustainability-index.com/. Acessado em Ago-2011.
34 “Sustainability Framework 2.0; IFAC”; disponível no site:
http://www.accountability.org/images/content/4/3/435.pdf; acessado em Setembro 2011.
35 UN Documents (1987); Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common
Future. Disponível em http://www.un-documents.net/wced-ocf.htm. Acessado em 19-Ago-2011.
28
as suas próprias necessidades”. Nesta definição estão contidos dois conceitos: o conceito da
necessidade e a idéia das limitações impostas pelo estado da tecnologia e da organização
social sobre a capacidade do ambiente de atender as necessidades do presente e do futuro.
Estes conceitos permitiram importantes desenvolvimentos na área de padronizações
internacionais e sistemas de gerenciamento. Em 2004 a Organização Internacional para
Padronização (International Organization for Standardization – ISO36
) definiu a
sustentabilidade como sendo uma direção estratégica na qual serão desenvolvidos e
divulgados padrões para um mundo sustentável. A ISO declarou o intuito dos padrões
internacionais como sendo o suporte ao desenvolvimento sustentável em pelo menos três
domínios: crescimento econômico, integridade ambiental e equidade social. Em Novembro-
2009, a ISO publicou a norma ISO 9004:2009, Gestão do Sucesso Sustentável – Uma
abordagem da Gestão da Qualidade. O propósito desta norma é dar suporte a qualquer tipo de
organização alcançar o sucesso sustentável, independentemente do tipo, tamanho ou
atividade, pela abordagem do gerenciamento da qualidade, contudo esta norma não é o único
pré-requisito para a organização alcançar a sustentabilidade. Não é do escopo desta norma ser
usada para obter certificação, regulamentadora ou usada com propósitos contratuais, antes
fornece meios para a empresa verificar o seu estado de maturidade com respeito à
sustentabilidade.
4.2. PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO
O caminho para a sustentabilidade exige muito da empresa e do gestor; existem várias
armadilhas e tentações no caminho. Uma das tentações é a chamada Lavagem Verde (ou o
termo em Inglês greenwashing), onde a empresa, usando da comunicação através dos canais
de marketing como estratégia para criar uma imagem ao público de uma empresa reconhecida
pela adoção das melhores “práticas socioambientais” criando uma falsa percepção de que
estão realmente empenhadas no tema da sustentabilidade. O porquê do perigo de práticas que
visam iludir o potencial consumidor é que quando ocorrem transgressões de leis sociais e
ambientais, ficando na mente do público a pergunta: como isto foi possível? Neste momento
cai a máscara.
Um exemplo de lavagem verde seria uma campanha feita por uma empresa química para
reciclar o óleo de cozinha usado. Lança uma campanha alarmista elegendo o óleo de cozinha
36 Para mais informações visite o site: http://www.iso.org/iso/home.html.
29
como um dos grandes poluidores do planeta. A empresa disponibiliza um ponto de coleta para
o óleo de cozinha usado, e se põe como uma empresa preocupada com o meio ambiente e
ajudando as pessoas a serem mais conscientes destas questões. Agora os fatos: o óleo de
cozinha vegetal é obtido de sementes de vários tipos, e é totalmente biodegradável, e usado
como alimento. O processo de “reciclagem” irá transformar este óleo vegetal, com a adição de
insumos químicos (que podem ser danosos ao meio ambiente), e gerando resíduos químicos
(que podem ser altamente tóxicos) em substâncias que irão poluir o planeta como por
exemplos tintas e vernizes. O que esta indústria buscou, na verdade, é obter matéria prima
barata (praticamente gratuita) explorando a ingenuidade das pessoas. Ou seja, a dimensão real
é puramente econômica, não constituindo de forma nenhuma um comportamento ético
adequado para se postar como uma empresa preocupada com a sustentabilidade.
O conjunto de competências para uma empresa adotar a sustentabilidade é, por si,
complexo. Depende fortemente de pessoas, dos valores individuais (como ética, firmeza de
caráter, conhecimento, envolvimento, etc.), de ferramentas e das condições físicas da
empresa. É um conhecimento que depende de tempo para a maturação dos recursos, e de uma
adequada evolução dos conhecimentos requeridos para implantar os processos necessários e
montar as competências. Muitas vezes é necessário a todos subirem a escada do conhecimento
para responderem a perguntas básicas como: o que estamos fazendo? Quais os benefícios para
nós e o meio externo? Quais os frutos que iremos colher? As respostas não são imediatas; não
há linearidade (causa – efeito claramente estabelecido); não há uma resposta certa. Uma
rápida busca pela Internet e encontramos opiniões divergentes de especialistas no assunto, por
vezes polarizadas para a causa da ecologia, ignorando (e às vezes atacando) a dimensão
econômica da sustentabilidade.
Mesmo com todas as considerações, uma importante pesquisa conduzida pelas Nações
Unidas37
mostra a crescente preocupação com este tema. A pesquisa aponta que 93 por cento
dos CEOs vêem a sustentabilidade como algo importante para o sucesso futuro das suas
empresas. Este tema está em constante evolução, e os direcionadores e abordagens à
sustentabilidade estão mudando, e isto está afetando as maneiras como os CEOs estão
tratando as questões relacionadas à sustentabilidade. Alguns números apontados no estudo
mostram mudanças importantes. Por exemplo, 72 por cento dos CEOs citam “marca,
confiança e reputação” como os três principais fatores direcionando-os nas ações tomadas
para endereçar assuntos de sustentabilidade. Fatores como crescimento de receita e redução de
37
Lacy, P.; Cooper, T.; Hayward, R.; Neuberger, L.; “A New Era of Sustainability; UN Global Compact-
Accenture CEO Study 2010”; Junho, 2010.
30
custos ficaram em segundo lugar, com 44 por cento. Outro resultado importante (91 por
cento) diz respeito ao uso de novas tecnologias (energias renováveis, eficiência energética,
tecnologias de comunicação e informação) para tratar de assuntos ligados à sustentabilidade
nos próximos cinco anos. Este tema praticamente não pode mais ser visto como um
diferencial competitivo. Sem um engajamento firme e ético na sustentabilidade, a empresa irá
perder valor no mercado, e na melhor das hipóteses, ser adquirida por outra empresa ou grupo
de investidores.
O caminho para conseguir reconhecimento como empresa sustentável não é simples e não
há uma resposta para o problema. Este assunto não se restringe somente à empresa em si. É
necessário que toda a cadeia de suprimentos esteja também engajada em se tornar sustentável
e isto inclui tanto fornecedores quanto distribuidores. Se uma dada empresa usar insumos
produzidos por exploração do trabalho infantil na sua cadeia produtiva ou o transporte das
mercadorias polui o meio ambiente com equipamentos em más condições de conservação. No
primeiro caso a empresa não está em conformidade com as normas de responsabilidade social,
e no segundo caso é com a responsabilidade com o meio ambiente. Se estas não
conformidades persistirem, a certificação pode ser suspensa. O poder das comunicações, em
especial através das mídias sociais, fará a rápida disseminação de possíveis práticas
incompatíveis com a sustentabilidade, derrubando investimentos, e manchando a marca da
empresa. Por estas considerações, o processo de implantação da sustentabilidade se situa no
contexto complexo da matriz Cynefin.
31
5. CAPÍTULO IV – MODELO DA DUALIDADE E
ESPIRAL EVOLUTIVA EMPRESARIAL
Este capítulo conceitua o modelo da dualidade e da espiral evolutiva empresarial usando
os conceitos desenvolvidos ao longo dos capítulos anteriores. A espiral evolutiva empresarial
é alimentada pelas decisões do gestor, as quais têm um efeito dual, potencializado pela
energia da comunicação. Estes conceitos trazem à luz de uma forma explícita a dimensão do
tempo, algo que é implícito ou mesmo inexistente nos modelos conhecidos de gestão
empresarial.
5.1. INTRODUÇÃO
De uma forma meramente ilustrativa, vamos considerar uma pessoa limpando o seu
quintal. Esta pessoa decide varrer o quintal ao invés de lavar. Com isto a pessoa está, para ela,
economizando ao não gastar água na limpeza – ou seja, dimensão econômica. Alguns
vizinhos, ao verem o que esta pessoa está fazendo, se impressionam com a atitude
ecologicamente correta ao não desperdiçar água, um recurso muito importante para todos. Ou
seja, entram em campo as dimensões ambientais e sociais, dimensões estas que a pessoa
limpando o quintal nem havia percebido. Continuando com o exemplo, ao ser abordado pelos
vizinhos, e ouvir comentários sobre o comportamento exemplar, poupando recursos valiosos
no meio ambiente, esta pessoa se dá conta que algo maior foi percebido pelo mundo exterior.
Ao reforçar a comunicação com os vizinhos, confirmando a sua atitude consciente, ocorrem
duas situações: a) internamente, esta pessoa irá buscar outras formas de agir de forma a
reforçar a imagem criada, porém cuidando do aspecto econômico, e b) externamente, o
número de pessoas que admiram o esforço em prol da sustentabilidade, forçando esta pessoa a
se interessar cada vez mais pelo assunto, e influenciando outros vizinhos a fazerem o mesmo.
Guardadas as devidas proporções, o que ocorre em uma empresa é bastante similar. As
ações dos gestores, por um lado, estão focadas na equação: Lucro = Faturamento – Custos,
isto é, em como aumentar o faturamento, reduzir custo e aumentar o lucro dos acionistas. Por
outro lado, os gestores estão buscando o reconhecimento junto ao público consumidor dos
investimentos feitos para trazer produtos oriundos de uma empresa alinhada com a
sustentabilidade, buscando ganhar a confiança, através de uma boa reputação, influenciando a
decisão de compra dos fornecedores oferecendo boas experiências com a marca.
32
Em uma pesquisa realizada pelo The Economist38
, os três principais motivadores para
decidir pela implantação da sustentabilidade na empresa são fortalecimento da marca,
crescimento das vendas e redução de custos. Estes motivadores, apontados entre os líderes em
sustentabilidade, têm relação direta com lucratividade. Na mesma pesquisa as demais
empresas apontaram como motivador principal a Proteção ao Meio Ambiente, sem relação
direta com a lucratividade. A mesma pesquisa mostra que empresas líderes em
sustentabilidade obtiveram resultados impressionantes. Um exemplo citado é o das vendas da
linha de produtos Ecomagination da General Electric que cresceram 21 por cento, para 17
bilhões de dólares americanos (comparado com o crescimento geral da empresa que foi de 5,8
por cento). No mesmo período, várias empresas estavam com baixo desempenho no mercado.
Resultados como este são um grande motivador em si para a adoção da sustentabilidade.
5.2. DUALIDADE E ESPIRAL EVOLUTIVA EMPRESARIAL
A seção anterior mostra a partir de um exemplo simples como a dualidade pode se
manifestar: a) internamente, através da dimensão econômica; b) externamente, como uma
empresa engajada socialmente. Como esta dualidade é potencializada? Através da
comunicação. Se olharmos o espaço-I, e os ciclos de aprendizado que ocorrem (a base para a
criação deste espaço é um sistema de armazenamento de dados eficiente, com agentes capazes
de realizar análises na massa de dados – etapa da pesquisa) vemos como pode ser criada uma
estratégia de comunicação explorando as diversas tecnologias de informação à disposição.
Este raciocínio pode ser repetido por indução às demais decisões tomadas pelos gestores.
Desta forma o crescimento da empresa de linear/vegetativo, entra em um processo não-linear,
onde o conhecimento adquirido cresce exponencialmente devido ao efeito da dualidade. A
empresa entra em um ciclo de expansão, exigindo movimentações cada vez mais freqüentes
pela escada do conhecimento, além de investimentos constantes em novas tecnologias para o
tratamento de grandes massas de dados, busca de talentos e disponibilidade de meios para a
inovação. O gestor deve com isto capacitar a empresa, sendo a capacitação um item de
diferenciação difícil de ser copiado, criando importante vantagem competitiva para a empresa.
38
The Economist; “Management magnified – Sustainability and Corporate Growth”. Disponível em
http://graphics.eiu.com/upload/eb/SAS_Sustainability_WEB.pdf; acessado em Outubro, 2011.
33
Figura 5-1 Evolução do Conhecimento X Expansão da Empresa em função do tempo.
Fonte: Elaboração própria.
Na figura acima temos dois gráficos mostrando a Evolução do Conhecimento em relação à
Expansão da Empresa ilustrando o conceito da Espiral Evolutiva Empresarial. O primeiro
mostra o ciclo de vida/evolução de uma empresa onde as decisões dos gestores criam saltos
modestos, por vezes afetados por uma série conveniente de coincidências, porém a dualidade
não é considerada. Os saltos podem acontecer devido a eventos desvinculados entre si como,
por exemplo, uma melhoria de processos através de investimentos no parque industrial e um
patrocínio em algum evento esportivo ou uma mudança na direção da empresa que acaba
criando uma publicidade positiva. A dualidade não foi explorada, e não há contribuições
significativas à espiral evolutiva da empresa.
O segundo gráfico mostra como o uso da dualidade afeta a expansão da empresa ao longo
do tempo. Como cada decisão após algum tempo passa a afetar tanto o ambiente externo
quanto o ambiente interno, a evolução da empresa é contínua, criando valor para si mesma e
para o ambiente externo. Os conceitos da dualidade e da espiral evolutiva passam a incluir o
tempo nas decisões dos gestores. Vários conceitos e modelos usados na administração são
estáticos (ou consideram o tempo de forma implícita), como por exemplo, as cinco forças de
Porter, matriz SWOT, Balanced Score Card (ou Painéis Operacionais), mesmo conceitos
Ciclo comum da Empresa Ciclo evolutivo considerando
o efeito da dualidade
34
fundamentais como a Missão da Empresa. Em todos estes modelos, o tempo não é
considerado explicitamente. Citando uma frase atribuída a Heráclito39
, “nada é permanente,
exceto a mudança”, vemos como o tempo é um fator importante a ser considerado nas
decisões do gestor. A empresa evolui, e, portanto as estratégias devem acompanhar estas
mudanças; sem isto, os modelos se tornam caducos em pouco tempo, se distanciando da
realidade da própria empresa.
A espiral evolucionária cria pressão expansiva dentro da esfera de atuação de uma dada
empresa, modificando a intensidade das forças do diagrama de Porter ao longo do tempo. Os
Painéis Operacionais, frutos do desdobramento da missão, devem evoluir, acompanhando os
efeitos das decisões dos gestores ao longo do tempo, incluindo, removendo ou modificando os
indicadores chaves e o comportamento dos mesmos ao longo do tempo. A Missão não pode
ser monolítica, deve ser como um organismo vivo, em constante evolução. O alimento deste
organismo vem da escada do conhecimento e o gestor deve se colocar no topo da escada para
refletir sobre todo o ambiente, formulado questões fundamentais como: O que estamos
realizando? Para onde queremos ir? Como queremos ser vistos e conhecidos pelo mundo
afora? As respostas, fundamentadas na geração de conhecimentos proporcionados pelo
espaço-I, devem reformular a Missão da empresa, e o conseqüente desdobramento em novas
estratégias, elaboração de novos conjuntos de táticas, criação de novos indicadores, busca pela
inovação ou em pesquisa e desenvolvimento. A prática deste exercício cria condições para
uma constante evolução da empresa, tanto internamente quanto externamente.
39
Heráclito foi um importante pensador e filósofo de Éfeso, atual Turquia.
35
6. CONCLUSÃO
O presente estudo apresenta um modelo de gestão baseado em ferramentas de TI trazendo
à tona dois conceitos novos a serem considerados nas decisões tomadas pelo gestor de
negócios na empresa: a dualidade e a espiral evolutiva empresarial (definidos no capítulo
cinco). O gestor encontra uma série de ferramentas de TI, isto é, um impressionante conjunto
de acrônimos (por exemplo, BI, BPI, BPM, ERP, CRM, etc.) que cada fornecedor cria e tenta
se diferenciar no mercado através da inclusão de um conceito novo, o qual é suportado por
determinada ferramenta de TI. Estas ferramentas escondem toda uma dimensão, a qual
somente se torna evidente ao utilizá-las – entram em jogo fatores humanos, fatores ligados ao
tempo, custos inesperados, etc. O que no início pareceu ser uma caminhada fácil, com metas
claras (por exemplo, implantar um sistema ERP estado-da-arte) torna-se uma jornada em um
labirinto, onde as metas desaparecem da visão. No mundo real o gestor incorre em custos,
tangíveis e intangíveis. E estes custos podem ser paralisantes, como a moral da equipe, danos
à marca, percepção dos clientes, entre outros (tanto internos quanto externos à empresa).
Ao executar os planos estratégicos necessários para implantar processos, como atualização
do parque tecnológico, fusões e aquisições, sustentabilidade, o gestor deve estar atento ao
efeito da dualidade que estará sempre presente, e de como ela atua ao longo do tempo através
do campo da comunicação (espaço-I). A dualidade alimenta e expande o espaço-I da empresa.
A expansão do espaço-I toma a forma de uma curva exponencial e dá o suporte à espiral
evolutiva empresarial. A empresa cresce em um ritmo mais acelerado, gerando um importante
diferencial competitivo. A empresa cria pressão expansionista ao abrir novos mercados
através da inovação e criação de novos produtos e serviços. Cria barreiras para novos
entrantes, provoca os fornecedores no sentido de também se desenvolverem, cria uma boa
experiência dos clientes com a marca, reduz a pressão da concorrência pela diferenciação. A
contínua evolução da empresa cria inovação, reduzindo a ameaça de produtos substitutos pela
antecipação das necessidades futuras do mercado.
Os benefícios para o gestor ao explorar a dualidade nas suas decisões estratégicas são
significativos. A dualidade alimenta a espiral evolutiva empresarial, e propicia um
desenvolvimento exponencial, criando um diferencial competitivo importante no mercado.
Este desenvolvimento irá afetar positivamente a equação do lucro da empresa, trazer
melhorias para a comunidade, criando desenvolvimento humano e contribuindo para a
preservação do meio ambiente
36
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