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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS IRENE LOPES SALVI Londrina 2017 OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ

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Page 1: OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO · objetivo entender como a questão da indisciplina é percebida pelos professores e alunos de uma universidade privada do Norte do Paraná

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS

IRENE LOPES SALVI

Londrina 2017

OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E

PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO

PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ

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IRENE LOPES SALVI

Cidade ano

Londrina

2017

OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E

PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientadora: Profa. Dra. Okçana Battini

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná

Biblioteca Unidade Piza

Salvi, Irene Lopes S175i Os impactos da disciplina sobre o trabalho docente:

perspectivas dos discentes e professores universitários de uma instituição privada do norte do Paraná / Irene Lopes Salvi. Londrina: [s.n], 2017.

163f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em

Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias). Univer- sidade Norte do Paraná.

Orientadora: Profª. Drª. Okçana Battini 1 - Ensino - Dissertação de mestrado - UNOPAR

2- Indisciplina 3- Trabalho docente 4- Alunos 5 - Professores I- Battini, Okçana; orient. II- Universidade Norte do Paraná.

CDU 371.5

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IRENE LOPES SALVI

OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E

PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Mestrado em Metodologias

para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área e concentração em Formação

de Professores e ação docente em situações de ensino como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos

professores:

_________________________________________ Profa. Dra. Okçana Battini

Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

_________________________________________ Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva

Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

_________________________________________ Profa. Dra. Ana Cristina da Silva Amado

Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP

Londrina, 09 de março de 2017.

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Dedico esse trabalho a minha amada mãe Doralina (in memorian) com todo meu amor e gratidão, por tudo que fez por mim ao longo da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte de sabedoria.

Essa dissertação é fruto de um trabalho que exigiu muito trabalho,

mas que foi edificante. Durante todo o percurso fui acompanhada e auxiliada por

diversas pessoas que contribuíram cada um à sua maneira, para a realização deste

trabalho. A todas serei eternamente grata.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao apoio de Minha Família.

Ao meu esposo Luiz Carlos Salvi e filhos, Vinicius, Gustavo e Luyne, pela

compreensão quando o dever e o estudo me chamaram, pelo incentivo nos momentos

difíceis, carinho e compreensão, meus sinceros agradecimentos.

A minha querida orientadora Dra. Okçana Battini, pelos seus

valiosos ensinamentos que não se limitaram ao universo teórico metodológico,

mostrou-se durante esta jornada uma grande amiga e educadora e também por ser a

principal “culpada” pelo meu ingresso no Programa de Pós-Graduação, obrigada por

ter acreditado em mim. Tenha certeza que me contribuiu sobremaneira para o meu

crescimento profissional.

Aos professores Dr. Fábio Luiz da Silva e Profa. Dra. Ana Cristina

da Silva Amado, pela leitura criteriosa no momento da qualificação e pelas sugestivas

contribuições incorporadas a este texto final.

A minha querida amiga Juliana Moraes, pelo incentivo e leitura

criteriosa do trabalho.

Aos amigos da turma de mestrado, Claudir, Regiolli, Karina e

Vinícius, pelo apoio e pelas trocas nos momentos de aula e nos cafés.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação pelos ensinamentos

tão valiosos.

Aos funcionários da Pós-Graduação em especial a Natalia pelos

serviços e orientações prestados.

Finalizo, partilhando com todos o sentimento de realização que me

envolve ao concluir este trabalho e com o reconhecimento de que esta dissertação é

também de todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram com sua elaboração.

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“Educar uma pessoa apenas no intelecto, mas não na

moral, é criar uma ameaça à sociedade”

Theodore Roosevelt

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SALVI, Irene Lopes. Os impactos da indisciplina sobre o trabalho docente: perspectivas dos discentes e professores universitários de uma instituição privada do Norte do Paraná. 2017.158p. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Pitágoras Unopar, Londrina, 2017.

RESUMO O aumento da incidência da indisciplina no ensino superior apresenta-se como um grande desafio a ser enfrentado pelos docentes do Curso de Administração, tanto pela ausência de formação pedagógica por parte dos professores, quanto pela alteração no perfil dos acadêmicos. Sob esse enfoque, o presente estudo tem como objetivo entender como a questão da indisciplina é percebida pelos professores e alunos de uma universidade privada do Norte do Paraná e seus impactos no trabalho do professor universitário. Neste sentido buscou-se primeiramente, por meio da literatura, conhecer os conceitos, as abordagens, fatores impactantes e as consequências da indisciplina para alunos e professores. Entre as pesquisas, tomamos como base conceitual os estudos de Estrela (1996 e 2002), Aquino (1996), Vasconcellos (1998), Silva (2010). Nesta trajetória verificamos que as discussões em torno do tema estão muito aquém da consensualidade. Através de um estudo de caso, que tem como proposta investigar o fenômeno da indisciplina no contexto em que este ocorre, a pesquisa foi realizada em uma Instituição de Ensino Superior Privada, por meio de questionários e entrevistas com 51% dos alunos e 100% dos professores do Curso de Administração. O intuito era compreender como os alunos e professores percebem a indisciplina em sala de aula e sua relação de causalidade com a qualidade do trabalho docente. Após análise dos dados conclui-se que os alunos não relacionam os impactos da indisciplina ao trabalho do professor, mas tão somente aos prejuízos que esta traz para o seu próprio processo de aprendizagem. Já nos dados levantados junto aos professores foi possível evidenciar os efeitos negativos que esta traz para o trabalho docente, influenciando inclusive na sua motivação laboral e saúde.

Palavras Chaves: Indisciplina; Universidade; Trabalho docente; Alunos, Professores

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SALVI, Irene Lopes. The impacts of indiscipline on the teaching work: perspectives of the students and teachers university of a private institution in the North of Paraná. 2017. 158p. Dissertation (Masters in Methodologies for the Teaching of Languages and their Technologies) - Pitágoras Unopar University, Londrina, 2017.

ABSTRACT The increase in the incidence of indiscipline in higher education presents a great challenge to be faced by the teachers of the Administration Course, due to the lack of pedagogical training by the teachers, as well as the change in the profile of the students. Under this approach, the present study aims to understand how the issue of indiscipline is perceived by teachers and students of a private university in the North of Paraná and its impact on the work of the university professor. In this sense, we first sought, through the literature, to know the concepts, the approaches, the impact factors and the consequences of the indiscipline for students and teachers. Among the researches, we take as conceptual basis the studies of Estrela (1996 and 2002), Aquino (1996), Vasconcellos (1998), Silva (2010). In this trajectory we find that the discussions around the theme are far from consensual. Through a case study, which aims to investigate the phenomenon of indiscipline in the context in which it occurs, the research was conducted in a Private Higher Education Institution, through questionnaires and interviews with 51% of the students and 100% of the teachers Administration Course. The aim was to understand how the students and teachers perceive the indiscipline in the classroom and its relation of causality with the quality of the teaching work. After analyzing the data it is concluded that the students do not relate the impacts of indiscipline to the work of the teacher, but only to the damages that this brings to their own learning process. Already in the data collected with the teachers it was possible to show the negative effects that this brings to the teaching work, influencing even in its labor motivation and health. Keywords: Indiscipline; University; Teaching work; Students, Teachers

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto ao gênero ................ 76

GRÁFICO 2 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto à faixa etária e gênero ................................................................................................ 77

GRÁFICO 3 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a atual situação profissional......................................................................................... 78

GRÁFICO 4 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a frequência com que os mesmos apresentaram comportamento de indisciplina em sala de aula ................................................................................. 81

GRÁFICO 5 - Gestão de sala de aula, segundo a percepção dos docentes entrevistados ................................................................................... 118

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ........ 83

TABELA 2 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS MOTIVOS QUE CONDUZEM A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ........................... 86

TABELA 3 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE QUEM É RESPONSÁVEL POR RESOLVER A QUESTÃO DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ...................................................................................................... 90

TABELA 4 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS PROFESSORES FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ..................................................... 93

TABELA 5 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS ALUNOS FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA............................................................................... 97

TABELA 6 - SUGESTÕES DOS ALUNOS PARA REDUZIR AS AÇÕES DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ..................................................... 99

TABELA 7 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ................................................... 106

TABELA 8 - PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – 2016-1 DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADO DO NORTE DO PARANÁ .................................. 114

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 14

1 - ENFOQUE DA INDISCIPLINA NO AMBIENTE EDUCATIVO ......................... 19

1.1 - DISCIPLINA E INDISCIPLINA: ETIMOLOGIA E DEFINIÇÕES .......................................... 23 1.2 - A QUESTÃO DA INDISCIPLINA SOB O ENFOQUE DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO ......... 29 1.2.1 - A questão da indisciplina sob o enfoque das competências do

professor ......................................................................................................... 33 1.2.2 - A questão da indisciplina sobre o enfoque das relações entre professor

e aluno............................................................................................................. 35 1.3 – ELEMENTOS QUE DESENCADEIAM A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL ........ 40

2 - A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL E SEU IMPACTO NO TRABALHO DO PROFESSOR ........................................................................... 47

2.1 – O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E O PAPEL DO PROFESSOR: ALGUMAS

APROXIMAÇÕES ................................................................................................... 47 2.2 – A QUESTÃO DA GESTÃO DOS CONFLITOS: ENTRE A DISCIPLINA, INDISCIPLINA E

AUTORIDADE DOCENTE ........................................................................................ 53 2.3 - A QUESTÃO DA INDISCIPLINA NO ENSINO SUPERIOR ............................................. 58

3 - A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E SEUS IMPACTOS NO TRABALHO DOCENTE ....................................................................................... 69

3.1 - MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA...................................................................... 69

3.2 - QUESTÃO DA INDISCIPLINA NA UNIVERSIDADE SOB A ÓTICA DO DISCENTE .............. 73 3.2.1 - Perfil do aluno entrevistado .......................................................................... 75 3.2.2 – Questão da indisciplina em sala de aula sob o olhar dos acadêmicos ..... 82 3.2.3 - Percepção do aluno quanto aos motivos da indisciplina ....................................... 86

3.2.4 - Percepção do aluno sobre a pessoa responsável pela solução das questões da indisciplina em sala de aula....................................................................... 90

3.2.5 - Percepção do aluno sobre as ações dos professores universitários frente a indisciplina...................................................................................................................... 92

3.2.6 - Percepção do aluno sobre o que fazer frente a situações de indisciplinas gerada pelos alunos em sala de aula .................................................. 97

3.2.7 - Percepção do aluno sobre o que o professor pode fazer sobre a indisciplina ........................................................................................................................................ 98

3.2.8 - Percepção do aluno sobre os impactos da indisciplina na sala de aula ......106

3.3 - Questão da indisciplina sobre o enfoque dos professores universitários.... 113 3.3.1 - Perfil dos Professores do Curso de Administração ...................................................113

3.3.2 – Estilo de autoridade exercida pelo professor do Curso de Administração segundo sua percepção .........................................................................117

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3.3.3 – Conceito de indisciplina na percepção dos professores universitários ........121

3.3.4 – Fatores que corroboram para indisciplina em sala de aula na percepção dos professores universitários ....................................................................123

3.3.5 – Estratégias utilizadas pelos professores do Curso de Administração para prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula ..................................127

3.3.6 – Percepção dos professores do Curso de Administração sobre os impactos da indisciplina no trabalho docente .............................................................129

3.3.7 – Percepção dos impactos da indisciplina na vida do professor universitário ....................................................................................................................................131

3.3.8 – Sugestões para controlar a indisciplina em sala de aula ......................................133

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 137

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 144

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação apresenta um estudo sobre a percepção de

docentes e discentes de uma universidade privada do Paraná sobre a questão da

indisciplina e seus impactos no trabalho do professor do ensino superior. O interesse

pela pesquisa surgiu no intuito de compreender a indisciplina no ensino superior e de

que forma ela afeta o trabalho do professor. Enquanto professora e Coordenadora de

Curso evidenciamos diferentes manifestações de indisciplina que nos levaram a

procurar entender como os agentes, professores e alunos, as percebem no contexto

em sala de aula e principalmente as formas como esta afeta o trabalho do professor.

O ingresso no Mestrado em Metodologias para o Ensino de

Linguagens e suas Tecnologias nos incitou à pesquisa, no início pretendíamos

investigar a formação docente, mas, no entanto, no decorrer do avanço das

disciplinas, orientações e a participação do projeto de pesquisa “Professor seu lugar

é aqui”, possibilitou-nos a leitura de vários teóricos que discutem as atividades

docentes e embasaram as primeiras aproximações com o tema de estudo.

Outro fator que colaborou sobremaneira para a escolha do objeto foi

nossa experiência na coordenação do curso. Os problemas, que outrora eram apenas

relatos dos professores universitários e queixas de alunos, passaram a ter evidência.

Isso porque enquanto apenas docente, atuava como mera expectadora, ou quando

muito, a questão da indisciplina em nossas aulas era resolvida de forma pontual, sem

a interferência de outros agentes.

Dessa forma, à medida que realizávamos os atendimentos aos alunos

e por meio de diálogos com os professores, foi possível constatar a existência de

expressivos conflitos gerados pelos comportamentos de indisciplina no espaço de

aprendizagem, bem como seu reflexo nas relações entre professores e alunos, tanto

na aprendizagem quanto na gestão do curso. Ainda neste contexto, pudemos

constatar que os docentes do Curso de Administração se sentem angustiados,

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desmotivados e desorientados para solução do problema.

Assim a preocupação com a temática da indisciplina no ensino

superior culminou para o desenvolvimento deste estudo. Partindo destas inquietações

e, na perspectiva de compreender como os alunos percebem a questão da indisciplina

em sala de aula, partimos do pressuposto que a mesma não deveria ocorrer. Isto

porque, no ensino superior espera-se que o aluno exerça autonomia para escolher o

curso que irá subsidiar sua carreira, estando consequentemente interessado em

aprender os conteúdos propostos pela instituição.

Partindo destas inquietações, e na perspectiva de compreender como

os professores e alunos do ensino superior concebem a indisciplina em sala de aula,

preparei meu projeto de Dissertação de Mestrado. No decorrer do Curso, no

desenvolvimento das disciplinas, fui me aproximando do objeto de estudo e, assim

escolhemos como proposta entender como esta questão é percebida e tratada pelos

professores e alunos de uma universidade privada do Norte do Paraná.

Após a decisão do tema que passou a ser objeto de estudo teórico,

buscamos, por meio da literatura, conhecer os conceitos, as abordagens, fatores

impactantes e as consequências da indisciplina para alunos e professores. Nesta

trajetória verificamos que as discussões em torno do tema estão muito aquém da

consensualidade.

Cabe destacar que, ao realizar o levantamento bibliográfico,

encontramos vários estudos relevantes sobre a questão da indisciplina em sala de

aula. No entanto, estas pesquisas são direcionadas à Educação Básica. A dificuldade

para obtermos estudos sobre a questão da indisciplina no ensino superior e a ausência

de investigação específica sobre a questão da indisciplina e as consequências desta

no trabalho do professor universitário enfatiza a importância deste estudo. Ao

realizarmos o levantamento bibliográfico encontramos apenas dois estudos que

tratam a indisciplina no Ensino Superior como tema central, sendo estes os de Oliveira

(2009) e Torres (2008), os demais estudos tangenciam o problema da indisciplina no

ensino superior.

Entre as pesquisas realizadas na Educação Básica, tomamos como

base conceitual as pesquisas de Estrela (1996 e 2002), Aquino (1996), Vasconcellos

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(1998) e Silva (2010). A medida que aprofundávamos os estudos sobre a temática,

percebíamos a sua complexidade, pois o conceito de indisciplina possibilita múltiplas

interpretações. Essas várias abordagens apresentam discussões correlatas sobre os

fatores propícios a fomentar os comportamentos de indisciplina em sala de aula, entre

as quais destacam-se as metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula,

as relações interpessoais dos sujeitos e a ausência no estabelecimento de regras

consensuais.

De posse dessas informações, e no intuito de delinear o percurso

deste estudo, o presente trabalho estruturou-se em três seções. Na primeira, o

enfoque da indisciplina no espaço escolar apresentará o percurso pedagógico ao

longo da história brasileira, motivado pelas disposições educacionais de cada período.

Na sequência discutiremos a indisciplina no contexto escolar, analisando seu

conceito, o papel das regras e seus reflexos na conduta dos alunos.

Neste sentido as regras exercem um papel educacional ao possibilitar

que o trabalho do professor seja devidamente realizado. Fato que, segundo Silva

(2010) cabe ao professor estabelecer as regras norteadoras do processo de ensino-

aprendizagem, bem como as sanções que serão aplicadas aos alunos que infringirem

as regras.

Discutimos ainda a questão da indisciplina sobre o enfoque das

instituições de ensino. Para Aquino (1996), o processo de aprendizagem proporciona

aos alunos contato com a cultura das instituições de ensino e assim influenciam e são

influenciados pelos valores e normas que cada um traz em sua cultura. A disciplina

no contexto escolar ocorre pelas diferenças entre a cultura dos alunos e a cultura

organizacional. E assim nesta seção abordaremos ainda os fatores que levam a

comportamentos de indisciplina em sala de aula. Os estudos de abordagem

pedagógica destacam metodologias utilizadas para o processo de ensino-

aprendizagem como as práticas de ensino, a programação dos conteúdos, a interação

entre professor e aluno, as metodologias, as formas de avaliação entre ouros

processos como responsáveis pela indisciplina em sala de aula. Aquino (1996, 1998,

2003), Boarini (1998), Bocchi (2002; 2007), Garcia (1999), Machado(2007), Yasumaru

(2006), Vasconcelos (1998), Xavier (2002), entre outros, apresentaram subsídios

teóricos importantes sobre a indisciplina no espaço escolar.

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17

Na segunda seção, apresentaremos as discussões sobre a

indisciplina e sua relação de causa e consequência no trabalho do professor

universitário. Salientando que os estudos evidenciam que os comportamentos

indisciplinares no ambiente de aprendizagem trazem em seu bojo angustia entre os

docentes e alunos a medida interfere no processo de ensino-aprendizagem, bem

como constituem-se fontes de stress em decorrência da ineficácia no controle da

disciplina.

Já existem muitos estudos abordando a questão da indisciplina na

educação básica, dentre ele apontamos as pesquisas realizadas por Estrela (2002),

Garcia (2013), Vasconcelos (2000) Pontes e Aquino (2010), no entanto são escassos

os estudos com uma abordagem no ensino superior. Sendo assim, tornou-se

essencial abordarmos a questão e a relação com o trabalho do professor.

Iniciamos essa seção com a apresentação de um breve histórico de

como o ensino superior se iniciou no Brasil. Posteriormente discutimos a gestão dos

conflitos com base na autoridade do professor. Neste sentido Snyders (1978) ressalta

que o professor tem o papel de conduzir os alunos por meio da autoridade que lhe é

atribuída, indo muito além da confirmação de erros e acertos dos alunos e as

assertivas respostas aos acadêmicos.

Concluímos com as discussões das questões da indisciplina no

ensino superior e a importância de o professor rever suas práticas como forma

identificar os fatores que ocasionam a sua incidência, na mesma medida em que

busca estratégias de ação preventiva e solução. De acordo com Garcia (2006) é

preciso conhecer a dinâmica destes problemas com maior profundidade e

principalmente rever o modo como os professores compreendem o fenômeno e o

enfrentam no ensino superior. Percebemos que é preciso conceber novas formas de

combater as questões de indisciplina no ambiente acadêmico, mostrando-se

necessária uma mudança de paradigma em torno do assunto.

Por fim, na terceira seção serão expostas as etapas do estudo de caso

e o caminho percorrido para atingir os objetivos propostos. Apresentamos os dados

obtidos com a pesquisa de campo e as discussões embasadas nas teorias discorridas

nas seções anteriores no intuito de entender como os alunos e professores

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universitários entendem a questão da indisciplina em sala de aula e seus efeitos no

trabalho do professor. Apontamos, no final, algumas ponderações que não devem ser

compreendidas como conclusivas, mas como reflexões formatadas a partir das

análises realizadas no decorrer do estudo e que poderão contribuir para outras

pesquisas voltadas a discutir a temática no contexto ensino.

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1 - ENFOQUE DA INDISCIPLINA NO AMBIENTE EDUCATIVO

Nesta seção faremos uma revisão da literatura em torno do tema

indisciplina, sob o enfoque dos professores e alunos, ainda que ela não ocorra

somente nas escolas, mas também se faz presente em diversos contextos sociais,

aqui trataremos da questão somente no ambiente de ensino.

Neste sentido, se faz necessário destacar que os modelos e formas

de lidar com a indisciplina na educação se apresentam no discurso pedagógico ao

longo da história brasileira, motivadas pelas disposições educacionais de cada

período.

Podemos apontar a concepção humanista como o início do processo

de discussão das questões pedagógicas, no Brasil, sendo que a mesma perdurou até

1930. Uma das suas vertentes, a religiosa, com raízes na Idade Média foi pela

Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola. A Ordem dos Jesuítas, trazia, além

de objetivos educacionais, a evangelização do “povo indígena”. Na sequência,

instituíram as escolas elementares também aos filhos dos colonos (SAVIANI, 1983).

Essa concepção era regida pela Ratio Studiorum, ou Pedagogia

Tradicional (SAVIANI, 2001), com planos de estudos elitista e universalista. Diz-se um

plano elitista, pois priorizava a educação dos colonos e universalista, porque todos os

jesuítas seguiam as mesmas instruções em qualquer lugar que fossem. A Ratio

Studiorum direcionava as escolas da época. As aulas ocorriam em colégios, dirigidos

por um reitor, assessorados pelo prefeito de estudos que se encarregava de

supervisionar os professores (SZENCKU, 2004).

O método utilizado era a memorização e para atingir o objetivo

fomentavam a competição entre as salas. As classes eram divididas em dois grupos,

os quais passam a partir de então a serem adversários. Esses grupos eram

monitorados constantemente, sendo requerida a obediência e a submissão. Os atos

de indisciplina eram delatados pelos próprios alunos que passam a fazer espionagens

impróprias da equipe adversária (LUZUARIGA, 1987).

A disciplina neste período era imposta, o professor estava no centro

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do processo de aprendizagem. A autoridade do professor era pautada na palavra,

este no decorrer das aulas exigia dos alunos respeito, obediência, submissão e o mais

pleno silêncio. Os castigos para os indisciplinados eram concretizados pelas varas de

marmelo e nas palmatórias de sucupira, com intuito de intimidar qualquer iniciativa de

indisciplina em sala de aula (ROMANELLI, 1984).

Ribeiro (1998) aponta que um dos fatores que acarretaram na

expulsão da Companhia, foi de cunho pessoal, uma rusga entre o ministro Sebastião

José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal e os padres da

Companhia de Jesus. A expulsão da Companhia de Jesus ocorrida em Portugal,

aconteceu também no Brasil, mas de forma gradativa, o sistema educacional passou

a ser responsabilidade do Governo cerca de trinta anos depois da expulsão ocorrida

em Portugal. A educação esteve voltada aos interesses do Estado, contudo a

metodologia continuava pautada na autoridade do professor e total submissão,

obediência dos alunos que eram considerados vazios e sem senso crítico.

Com a reforma pombalina, os colégios da Companhia de Jesus foram

substituídos pelas aulas régias ou avulsas, de Latim, Grego e Retórica. Essas aulas

instituídas pelo Marques de Pombal foram a primeira experiência de ensino promovido

pelo Estado no Brasil. Neste período, o ensino servia à elite e aos interesses do

Governo. O cargo de diretor geral dos estudos foi criado por meio de um alvará em 28

de junho de 1759, o qual determinava entre as funções do diretor geral era a de

determinar a aplicação de exames a todos os professores, conceder licença para

instituições públicas ou privadas, também designava comissários para investigarem o

estado das escolas e dos professores (RIBEIRO, 1998).

No século XVIII, os castigos físicos eram utilizados para punir

comportamentos inadequados e a dificuldade de aprendizagem dos alunos. Os

professores utilizavam para este fim o chicote, férulas e palmatórias, no intuito de

manter a ordem e a disciplina em sala de aula. Segundo Castro (2010) os castigos

físicos eram legitimados pela sociedade e produziam sentimentos de raiva ou

vingança. O autor apresenta um exemplo de um professor que quebrou a mão do

aluno pela incidência de palmatória aplicada e alega que o fez pela indignação pela

falta de respeito apresentada pelo aluno.

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Em decorrência da Reforma Pombalina, as concepções pedagógicas

religiosas e leigas, traços dos elementos trabalhados pela Companhia de Jesus, e a

crítica centrada no Iluminismo, coexistiam entre os anos de 1759 a 1932, (SAVIANI,

2001). Com a aprovação da lei de escolas primárias1 de 15 de outubro de 1827, que

regulamentou a escola primária elementar no Brasil e propôs outro método de ensino,

o Lancasteriano2, ou seja, alunos mais adiantados eram “auxiliares” dos professores

e a avaliação era baseada no comportamento dos estudantes, as regras eram pré-

determinadas, com disciplina rígida e alunos organizados de forma hierarquizada em

sala de aula, a posição dos bancos determinava as séries dos alunos.

Esta Lei, de 15 de outubro de 1827, substitui a partir de então os

castigos físicos pelos de cunho moral, tendo como base o método lancasteriano, os

quais segundo Graça (2002) eram pautados na privação de alimentos, proibição de

sair durante os intervalos de recreios e até mesmo eram tolhidos de gozar as férias

escolares. Alguns espaços eram criados no intuito de castigar moralmente os

comportamentos de indisciplina e o déficit de aprendizagem, como exemplificado por

Graça (2002) o estabelecimento da mesa de penitência para as refeições, um banco

de preguiça, o canto do castigo, e também as tarefas suplementares.

Gradativamente o método lancasteriano ou mútuo (SAVIANI, 2001),

foi sendo excluído, por se apresentar inadequado às exigências sociais advindas da

Revolução Industrial, no final do século XVIII e meados do século XIX, e pela falta

de materiais didáticos, espaços adequados e intuições formadoras de professores. A

partir de 1870passa a vigorar o método intuitivo (SCHELBAUER, 2003), que consistia

em um método racional, que segue diretrizes metodológicas claras direcionadas a

professores e material didático a ser utilizado por alunos e professores.

O método intuitivo esteve dominante na Primeira República e em

meados de 1920. Nesse contexto, a Escola Nova começou a ser difundida no Brasil

1 A Lei das Escolas Primárias constituiu um marco na história nacional, considerada a primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação do país, foi instituída em 15 de outubro de 1827 e serviu de referência para definição da data comemorativa do dia do professor (BRASIL, 1887). 2O método Lancasteriano, pouco utilizado no Brasil, também conhecido por oferecer ensino mútuo e monitorado, teve como objetivo educar com qualidade o maior número de alunos em curto espaço de tempo com o mínimo recurso. Foi criado pelo, o Inglês Joseph Lancaster, que fundamentou seu método de ensino por meio da memorização (FARIA FILHO, 2000).

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que se apresenta como um movimento de renovação, ou Pedagogia Renovadora

(SAVIANI, 2001). Na Escola Nova, os conceitos de disciplina se alteram à medida que

o aluno passa de mero expectador ao centro do processo de ensino. (SZENCZUK,

2004). Neste contexto, as discussões em torno da indisciplina perpassam pelo

desenvolvimento comportamental do aluno, habilidade de trabalhar em equipe e se

planejar nas atividades escolares.

Entre 1954 a 1960, observa-se a predominância de tendências

humanistas com respeito ao desenvolvimento dos alunos. O humanismo tinha como

premissa levar em consideração os aspectos humanos de cada pessoa, reconhece

assim seus valores, seus limites, sua capacidade de agir com autonomia, bem como

seus interesses e todos os aspectos a ele relacionados. (SAVIANI, 1983). Neste

período toma-se consciência dos limites do grupo, aluno disciplinado é aquele que

coopera, participa, respeita as normas do grupo (LUCKESI 1994).

No final dos anos 60, a Pedagogia Tecnicista principia a racionalidade

técnica, eficiência e produtividade. Nessa ótica, as escolas treinavam os alunos para

o desenvolvimento de atitudes desejáveis que juntamente com os conteúdos e

habilidades dos alunos culminariam em notas. (SAVIANI,1983). A educação, neste

período, é tida como uma forma de promover o desenvolvimento econômico do país

por meio da qualificação da mão-de-obra.

Na sequência, meado dos anos 80 nasce a tendência progressista

com a proposta de elaborar uma análise crítica da realidade social sustentada pelas

finalidades sociopolítica da educação brasileira. A escola passa a ser mediadora, por

intermédio do professor, entre o indivíduo e a sociedade, à medida que garante aos

alunos adquirirem os conteúdos necessários ao desenvolvimento profissional e

análise dos modelos sociais vigentes no intuito de fornecer a estes cidadãos

instrumentos que viabilizem sua plena participação democrática tanto no ensino como

na sociedade. Neste sentido, a disciplina é consequência dos encaminhamentos

utilizados pelo professor, no intuito de estimular e motivar os alunos para atingir os

objetivos propostos. (LUCKESI,1994).

A partir dos anos de 1990, várias críticas são tecidas pela forma como

a escola trata os problemas de indisciplina em sala de aula. Garcia (2006) indaga-se

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que o ensino estaria em crise, passando por momentos de instabilidade no projeto

pedagógico e normativo. Assim, a partir desta breve releitura do contexto educacional

brasileiro abordaremos os conceitos de disciplina, e posteriormente, o de indisciplina,

à medida que estes estão associados entre si.

Nesse sentido, podemos perceber que, durante o processo das

propostas de políticas educacionais do país, a questão da disciplina/indisciplina sofre

os impactos dos modelos educacionais, sendo que a disciplina é almejada pelos

professores e mantida por meio da coerção, repressão e punições que levam o aluno,

muitas vezes, a situações do constrangimento. Tais práticas vêm sendo questionadas

na contemporaneidade e o discurso humanista vem ganhando força e rompendo a

relação autoritária entre professores e alunos.

Entretanto, não se pode olvidar que as iniciativas de combate ao

autoritarismo em sala de aula acabam, em alguns casos, dando lastro também à

indisciplina, com consequências no trabalho do professor, que age sob o intuito de

estimular a liberdade de expressão do aluno e o seu autogerenciamento.

1.1 - Disciplina e Indisciplina: etimologia e definições

Para entendermos a discussão sobre a indisciplina no contexto

escolar é essencial analisar o conceito de disciplina e o papel das regras e seus

reflexos na conduta dos alunos.

O termo disciplina, segundo Estrela (1992) tem origem latina e tem a

mesma raiz que “discípulo”. Garcia (2006) explica de forma literal que o significado se

refere a uma pessoa que se apropria dos conhecimentos a ele ensinados. Assim, o

termo disciplina se refere a algo a ser seguido e está relacionado às palavras

aprender, ensinar e conhecer. Para Carvalho (1996) o discípulo se submete à

autoridade dos professores e às regras preestabelecidas pela instituição de ensino

para adquirir o conhecimento de uma área do conhecimento.

A palavra disciplina, segundo Ferreira (2008) tem características

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polissêmicas3, pela diversidade de significados, entre eles, se refere a regime de

ordem imposta ou livremente aceito, ordem instituída para o funcionamento de uma

organização/instituição, relação de subordinação do aluno ao professor, obediência

aos princípios norteadores ou as normas ou ainda submissão a um regulamento ou

ramo do conhecimento.

Ainda segundo Ferreira (2008) o regime disciplinar normalmente é

utilizado em organizações do primeiro setor, órgãos públicos: academias militares,

escolas públicas municipais e estaduais, bem como nas universidades. Nestas

instituições de ensino, se fazem presente as relações de subordinação dos alunos aos

professores, pautadas na submissão a alguns regulamentos que têm como intuito

nortear comportamentos.

Assim, a palavra disciplina em seu sentido mais corrente tende a

indicar o conjunto de regras e de comportamentos desejáveis que regulam a

convivência e garantem que estas sejam cumpridas em instituições sindicais,

militares, esportivas, educacionais e na vida pessoal e profissional do indivíduo num

contexto geral.

Como exemplo podemos citar a atividade de professor. Nela é

possível identificar a presença de um conjunto de regras que estabelecem horário

para preparação dos conteúdos, para iniciar as aulas, posturas adequadas que são

requeridas ao professor, competência para atuar na disciplina, entre tantas outras

regras que este precisa se atentar para atuar na docência. O não cumprimento destas

regras implicaria em sanções pela instituição de ensino que vão deste a advertência

da coordenação até a demissão do profissional de ensino e também pelos alunos que

veem o professor como figura de proa, exemplo em sala de aula.

Todavia, a instituição de ensino necessita também controlar o trabalho

do professor, tanto quanto estabelecer regras que disciplinem as formas de convívio

e os trabalhos dos alunos no ambiente escolar. A universidade é uma organização

social composta por atores de diferentes culturas e valores, as normas se fazem

necessária para o bom convívio e aprimoramento do processo ensino-aprendizagem.

3Polissemia é um conceito da área da linguística com origem no termo grego polysemos, que significa "algo que tem muitos significados". Uma palavra polissêmica é uma palavra que reúne vários significados (FERREIRA, 2008).

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Ademais, este processo requer a realização de diversas atividades que culminarão

para o sucesso da aprendizagem dos acadêmicos, por isto é importante que as regras

sejam estabelecidas de tal forma a impedir atrasos, conversas paralelas,

absenteísmo, ausência de produtividade, entre outros.

Nesse viés, La Taille (2006) salienta a importância de se estabelecer

os limites e as obrigações das partes em um processo de ensino-aprendizagem.

Podemos elencar as formulações verbais e ou escritas que norteiam os direitos e os

deveres que cada um tem neste processo para se atingir o objetivo proposto.

Coadunando com esse pensamento, entendemos que as regras

exercem um papel educacional ao possibilitar que o trabalho do professor seja

devidamente realizado, o que segundo Silva (2010), cabe ao professor estabelecer as

regras norteadoras do processo de ensino-aprendizagem, bem como as sanções que

serão aplicadas aos alunos que infringirem às regras.

Ao professor não é conferido apenas o direito de educar, mas também à autoridade de decidir sobre os meios mais adequados para que esse trabalho educativo se realize, o que pressupõe algum nível de controle sobre as condutas dos estudantes, inclusive por meio da aplicação de sanções socialmente aceitas. Vigiar, emitir ordens, estabelecer limites e, até mesmo, punir, embora possam parecer ações demasiadamente autoritárias, constituem tarefas intrínsecas ao trabalho desenvolvido por todo educador. (SILVA, 2010, pg. 2)

De encontro a esse entendimento, Gomes (2009) reforça que a

conduta dos alunos não se dá de forma espontânea e sim por meio do trabalho árduo,

dever a ser cumprido, empenho, ordem e disciplina do discente para alcançar o

objetivo educacional. Deste modo, segundo o autor, a disciplina é necessária na

educação escolar e para o bom convívio deste aluno em sociedade.

Deste modo, se pode subentender que a disciplina é muito importante

para a formação do ser e, para que ela ocorra é indispensável a presença de uma

autoridade. Ao professor, no uso de suas atribuições e autoridade inerentes ao cargo

que ocupa, cabe o papel de além da transmissão dos conteúdos programadas para

cada disciplina da grade, também utilizar ações disciplinares a fim de contribuir para

a formação cidadãos íntegros, instruídos e capazes de conviverem com os demais

com respeito, para por fim, contribuir de forma efetiva para a construção de uma

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sociedade melhor como preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio (BRASIL, 1999). Entendemos que os objetivos da educação brasileira na

formação de pessoas éticas que tenham pensamento autônomo e crítico também

devem ser estendidos a educação superior.

Rego (1996) complementa que é papel do professor manter a

disciplina, ao docente enquanto educador cabe determinar os parâmetros e limites

dos alunos. O autor ainda salienta que o convívio social implica na definição e

cumprimento de normas e leis necessárias ao direcionamento das relações, do

diálogo, da cooperação intra e entre os grupos sociais. As instituições de ensino, do

mesmo modo, precisam estabelecer regras que orientem a forma de funcionamento e

convivência entre as partes envolvidas, assim a criação e o cumprimento das regras

constituem-se condição necessária para o convívio social dos diferentes atores

envolvidos no contexto educacional.

Já Silva (2010) enfatiza que a disciplina no contexto educacional

possui duplo sentido, apresenta-se como meio e fim educacionais. Isso porque as

instituições de ensino procuraram disciplinar o aluno para que convivam em uma

sociedade regida por normas e padrões de condutas pré-estabelecidos, mas também

com a finalidade de estabelecer regras mínimas e necessárias para o

desenvolvimento do trabalho pedagógico. O autor atribui este caráter de dubiedade

do ato disciplinar ao fato de que, nas instituições de ensino, encontramos diversos

perfis de alunos, desde os disciplinados, comprometidos com estudo e com o seu

desempenho acadêmico, até aqueles instáveis e com baixo desempenho, o que na

grande maioria das vezes interfere no processo de ensino-aprendizagem.

Em razão dessa heterogenia, Aquino (1996) entende que manter a

disciplina em sala de aula passou a ser um grande desafio dos professores e das

instituições de ensino. Deste modo, as ações de indisciplina se fazem presente no

cotidiano educacional brasileiro e tornou-se um dos maiores empecilhos pedagógicos

da contemporaneidade. Assim, após uma breve conceituação da disciplina e sua

importância na vida dos indivíduos abordaremos a indisciplina e seus enfoques.

O termo indisciplina pode ser conceituado como uma expressão ou

ação contrária à disciplina, desobediência as normas pré-estabelecidas. O aluno

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indisciplinado é aquele se rebela contra a disciplina e é percebido pelos pares como

um indivíduo que apresenta comportamentos inadequados (FERREIRA, 2008).

A disciplina compreende comportamentos e condutas, vinculada ao

controle sobre as condutas e às formas utilizadas para coibir a indisciplina, utilizando-

se de castigos como forma de atrelar a disciplina ao comprimento de regras, no intuito

de estabelecer a ordem por meio do controle sobre a conduta dos alunos (GARCIA,

2006).

A construção de comportamentos de obediência se transformou ao

longo dos tempos. Ela está diretamente ligada às regras e às punições a serem

aplicadas pela ação de não obediência, as quais podem ter como preceitos o medo

de sanções. Esse receio faz com que os membros dessas instituições obedeçam ou

cedam, sujeitem-se ou se corrijam. Já o termo indisciplina refere-se ao ato contrário

à disciplina, ou seja, desobediência, contravenção, desordem. Assim sendo,

indisciplinado é aquele que contraria as ordens, se rebela contra a disciplina.

Para Rego (1996) o conceito de indisciplina é mutável e regionalizado.

Ela está relacionada aos valores e expectativas dos indivíduos que se alteram ao

longo dos tempos entre as diversas culturas existentes em uma sociedade: nas

diferentes classes sociais, nas mais distintas instituições e ainda dentro da própria

camada social. A indisciplina também se apresenta da seguinte forma, pode ter

diferentes conotações no plano individual, uma vez que estão vinculadas às

experiências das pessoas e conjuntura em que forem aplicadas.

Assim, os padrões de disciplina que norteiam a educação, bem como

os critérios utilizados para conotar um comportamento indisciplinado, se

transformaram ao longo dos anos e se distinguem no cerne da dinâmica social. Deste

modo, o conceito de indisciplina está diretamente relacionado aos diferentes valores

e expectativas aos quais os sujeitos estão inseridos.

Corroborando também para esta noção de polissemia, Garcia (1999)

defende que a indisciplina em sala de aula apresenta várias configurações, os

conceitos são plurais, bem como as expressões e implicações no contexto escolar. As

causas são oriundas de diferentes fatores, os quais são agrupados em fatores internos

e externos à instituição de ensino. As condições estruturais, a relação professor-aluno,

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o perfil do acadêmico, os relacionamentos interpessoais dos alunos e climas

organizacionais são alguns dos fatores internos. São considerados fatores externos o

convívio familiar, os problemas sociais e a influência dos meios de comunicação.

Neste sentido se faz necessário destacar que os fatores internos e externos interagem

de tal forma que é preciso discutir a indisciplina pelas suas múltiplas facetas ou

agentes (GARCIA, 1999).

Dialogando com essa ideia, Jusviack (2009) se posiciona como Rego

(1996), assegurando que o conceito de indisciplina possibilita múltiplas interpretações.

Ele parte do pressuposto que um aluno indisciplinado é uma pessoa que apresenta

um comportamento divergente das normas explicitas e implícitas sancionadas no

contexto de ensino e social. À essas ideias também podemos aproximar Amado

(2001), para quem a indisciplina implica em contravenção dos princípios que norteiam

o convívio em sociedade, regras, contratos, ordens. Neste sentido evidencia a clara

discordância dos objetivos dos membros envolvidos, professores, alunos e a própria

instituição de ensino, provocando da ordem e quebra dos relacionamentos sociais.

Já Oliveira (2009) apresenta uma abordagem segundo a qual a

indisciplina caminha por várias direções, não sendo estática e unidirecional. O nível

de satisfação dos alunos pode ser sinalizado por meio de comportamentos

indisciplinados, os quais podem ser individualizados ou coletivos. A indisciplina em

sala de aula conduz a desmotivação dos agentes do processo de aprendizagem,

professores e alunos. O autor salienta ainda que esta interfere negativamente na

socialização e absorção dos conhecimentos pelos alunos, mas principalmente pelos

problemas causados ao professor que encontra dificuldades para cumprir os

conteúdos. O tempo dispendido pelo docente na manutenção da disciplina acarreta

desgaste físico e mental, como a frente será demonstrado na análise dos dados

coletados.

Ainda sob a ótica da relação professor-aluno, Estrela (1992) reafirma

que a indisciplina interfere no processo de socialização destes, bem como no

aproveitamento escolar dos discentes e ao desenvolvimento do trabalho do professor.

O professor demanda grande parte do tempo da sua aula para coibir a indisciplina, o

que acarreta desgaste, por trabalhar num ambiente onde paira a desordem e a tensão

provocada pela forma ofensiva dos alunos, muitas vezes descabida.

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Entendemos que a indisciplina no ensino superior não é estática e

tampouco relacionada somente a índole do aluno. O comportamento indisciplinado

pode estar vinculado a motivação do aluno para o processo de aprendizagem, as

metodologias utilizadas pelo docente, e a ausência de interesse no conteúdo

abordado.

Em meio aos distintos conceitos de indisciplina no ensino

apresentaremos a seguir o termo indisciplina sobre diferentes enfoques: pelas

instituições de ensino, comportamento dos alunos, metodologias utilizadas em sala

de aula e sobre a relação de poder e autoridade.

1.2 - A questão da indisciplina sob o enfoque das instituições de ensino

Na contemporaneidade, as pessoas deixaram de ser submissas e as

escolas de serem jaulas de aulas e o diálogo passa a ser um fator primordial para uma

boa gestão da aula pelo professor (AQUINO, 1996). Para o autor, o convívio escolar

faz com que os alunos entrem em contato com a cultura das instituições de ensino e

assim influenciando e sendo influenciados pelos valores e normas que cada um traz

em sua cultura. A indisciplina no contexto escolar ocorre pelas diferenças entre a

cultura dos alunos e a cultura organizacional.

Assim, segundo Estrela (1992) é papel das instituições de ensino a

transmissão da cultura, ou seja, os valores que norteiam o contexto social, bem como

tem a função política, de preparar os alunos para serem cidadãos democráticos, a

função econômica, de prepará-los para o mercado de trabalho e a função social de

igualdade, com a promoção de oportunidade para todos.

Nessa linha, pensando a universidade como espaço plural, Rodrigues

(1993) afirma que a educação é uma atividade sistêmica pensada e organizada para

incutir no ingressante no universo social, o aluno, os valores culturais, políticos e

profissionais requeridos pela sociedade. Assim, o saber disseminado na escola é

organizado, sistematizado de acordo com a herança cultural, o qual não se adquire

de forma espontânea, bem como sua transmissão deve ser organizada e

sistematizada.

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Nesta perspectiva, Marques (2001) salienta que esta organização e

sistematização do saber se refere à organização dos conteúdos e a forma que o

professor trabalha os em sala de aula. À medida que a escola tem como objetivo

formar indivíduos conscientes do seu papel na sociedade, capacitá-los para o

mercado de trabalho e desenvolver no aluno a educação continuada fora do espaço

escolar. Argumenta ainda que o desenvolvimento mental, moral, emocional e físico

são papeis das instituições de ensino.

Referendando os argumentos de Marques (2001), a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação – LDB nº. 9394/96 em seu artigo segundo traz como objetivo

da Educação, que o aluno tenha seu desenvolvimento integral, sendo preparado para

ser um cidadão de direito e com as qualificações necessárias ao mundo do trabalho.

Assim, o processo de ensino intencional, contribuiria de forma significativa para o

desenvolvimento deste cidadão. Para Carneiro (1998) a educação é um direito do

cidadão e fonte para o exercício da cidadania. Outro objetivo da educação é

capacitação profissional, que poderia ser fonte geradora de dinâmica escolar.

Ainda que o espaço acadêmico seja pensando de forma a abarcar a

diversidade e pluralidade de cultura, a indisciplina é observada nas instituições de

ensino, pois estas têm dificuldade de aceitar os acadêmicos com comportamento que

contrariam as normas, razão pela qual o problema da indisciplina seja percebido com

maior intensidade no contexto de ensino (AQUINO, 1996). Neste sentido, mesmo

existindo outros elementos que colaboram para que os comportamentos de

indisciplina se façam presentes no cotidiano das instituições de ensino, Aquino (1996,

p.45) defende que a origem da indisciplina não está pautada no aluno, e sim nos

gestores das instituições de ensino, incapazes de administrar esse novo perfil de

aluno. Para este autor a indisciplina não é estática e padronizada, mas tem relação

direta com a cultura, à medida que está relacionada a um conjunto de valores e

perspectivas que mudaram ao longo dos tempos.

No entanto, para Amado (2001) os alunos tentam impedir o

aculturamento a ser realizado pela escola, isso é visto como uma forma de resistência,

ou seja, de indisciplina. Para esses alunos, as instituições de ensino representam um

local de confronto, os alunos combatem os valores que não estejam em conformidade

com os seus e do grupo ao qual se veem inseridos. De forma coletiva ou individual, a

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contracultura é entendida como resgate da dignidade do acadêmico.

Amado (2001) afirma que o conceito de disciplina está diretamente

associado à ideia de regras e obediência que estão atreladas a conjuntura social, ou

seja, disciplina familiar, religiosa, militar, escolar, entre outros. Cada uma com

características próprias e formatadas por meio do conjunto de valores a qual pertence.

Assim, a indisciplina é a desobediência ao conjunto de regras estabelecidas, na

maioria das vezes, demonstram a obstrução da ordem (AMADO, 2001).

Apesar disto, no contexto escolar, se o aluno se identificar com a

prática docente, com a motivação e valores que comungam com os da instituição,

poderão apresentar-se como alunos disciplinados.

Vasconcelos (1998) salienta a importância da clareza na definição das

normas, como: o que, para quem, quem, quando, como e qual a consequência do não

cumprimento das mesmas. Devem ser formalizadas no intuito de tornar às regras bem

objetivas e periodicamente devem ser revistas, analisadas, avaliadas e caso seja

necessário alteradas ou canceladas.

Em síntese, os atos de indisciplina poderão ocorrer por falta de regras

impostas pelo professor ou pela ausência de valores norteadores dos alunos em sala

de aula. Amado (2001) aponta ainda, que a indisciplina ocorre em diferentes níveis:

não cumprir às regras de produção, o que acarreta problemas no andamento das

aulas; conflitos entre os colegas de sala, que ocasionam dificuldades de

relacionamento entre os alunos, que consequentemente geram problemas para o

desenvolvimento de atividades em grupos e conflitos com o professor, os quais

colocam em xeque a autoridade, retratados por meio de comportamentos agressivos,

deboches, conversas paralelas entre outros.

Em contraponto a esses pensamentos, Connell (1994) afirma que, ao

estabelecer a disciplina pautada em regras que cerceiam a liberdade do aluno, o

professor impede a sua participação ativa no processo de ensino-aprendizagem, uma

vez que é pautada pelo autoritarismo. O autor argumenta ainda que a punição como

meio de manter a disciplina afeta negativamente os alunos e que pode levá-lo a

aversão à aprendizagem.

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Ainda nessa linha, para Oliveira (2002) se faz necessário o fim do

autoritarismo, do uso de métodos coercitivos que levem o aluno a submissão por medo

em detrimento do respeito. O processo de ensino deve ocorrer com liberdade,

desenvolvendo no aluno a consciência de sua responsabilidade social, senso crítico,

promovendo autodisciplina em sala de aula.

Sob o olhar da construção do espaço acadêmico de forma dialética,

Garcia (1999) aponta que o uso democrático das regras norteadoras das relações

interpessoais entre professores e alunos em sala de aula evita retaliações e futuras

contestações pelos estudantes. Isso porque envolvê-los no processo decisório faz

com estes se comprometam com o resultado final, uma vez que à medida que

participam da deliberação das regras que nortearão o processo de ensino-

aprendizagem são corresponsáveis para que as mesmas sejam cumpridas.

Nesta linha, Vallejo (2004) destaca que nas relações no espaço de

aprendizagem estão presentes regras implícitas e as explícitas, que têm como objetivo

determinar as responsabilidades dos sujeitos envolvidos no processo, ou seja, aluno

e professor. Esse processo surge como uma oportunidade de negociação,

oportunizando aos alunos discordarem e proporem argumentos plausíveis que

conduzam a acordos das regras a serem adotadas. Neste cenário, o campo interativo

criado passa a ser a peça fundamental do processo interativo e não a figura do

professor ou do aluno.

O processo decisório por meio da ampla participação desenvolve a

potencialidade cognitiva, afetivas e de socialização no decorrer do trabalho, bem como

melhoria na relação dos professores com os alunos.

Estrela (2002) explica que, opondo-se a esta sistemática de diálogo e

democracia, muitas vezes, o professor, inconscientemente, no uso de sua autoridade

dita normas, fiscaliza e estabelece os critérios a serem adotados durante e pós-aula.

Esta ação, mesmo que involuntária, torna sua pessoa autoritária e o aluno em

condição de submissão. Ela salienta ainda que este modelo está ultrapassado e o

docente pode ser criticado pelo posicionamento frente aos alunos.

Parrat-Dayan, (2008) diz que outrora a autoridade e o respeito do

professor estavam vinculados a submissão e obediência, medo e castigo. No entanto

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hoje, o docente não pode exigir que os alunos cumpram as normas, repreendendo

quem as transgredi, pelo contrário, faz-se necessário que um docente desenvolva

múltiplas e novas competências para tratar do problema.

Assim esperamos que o professor estabeleça um bom

relacionamento com o aluno, que as regras sejam disseminadas, e forma que o aluno

compreenda suas obrigações enquanto aluno, bem como as consequências dos atos

que contrariam as regras. Importante ainda que os acordos de boa convivência em

sala de aula sejam estabelecidos consensualmente, com responsabilidade,

cooperação, ou seja, que o aluno participe do processo decisório. Entendemos que

seja importante que o professor estabeleça em conjunto com os alunos, regras de

trabalho pautadas nas necessidades dos acadêmicos e da instituição de ensino a qual

estão inseridos.

1.2.1 - A questão da indisciplina sob o enfoque das competências do professor

Após a análise da indisciplina sob o enfoque das instituições de ensino

passaremos a discussão com abordagem sobre a atuação docente, ou seja, as

relações entre as práticas do professor e o comportamento dos alunos.

No que se refere às as competências necessárias para um professor,

Gallardo (2004) aponta que estas estão pautadas em quatro elementos:

1)Competência científica que está diretamente relacionada ao saber relacionado a

área de atuação, a aprendizagem contínua e a disseminação deste conhecimento

como difusão de novos conhecimentos; 2) competência técnica que diz respeito a

forma como o professor contextualiza o saber a realidade e constrói processos

interativos de investigação; 3) Competência pessoal se configura com a sua

predisposição para aprender e compreender as pessoas ao seu redor; 4)

Competência social que constitui a forma como o professor trabalha a aprendizagem

de forma social, desenvolvendo a aprendizagem.

Já Saviani (1996) atribui à competência do professor a quatro

saberes: 1) Atitudinal – que está vinculado a postura do professor e suas atitudes em

sala de aula, dentre elas disciplina, pontualidade, coerência, clareza, justiça e

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equidade, diálogo, respeito ao educando; 2) Saber crítico contextual – representado

pelo conhecimento do professor sobre a sociedade a qual está inserido o aluno, de

forma a ministrar o conteúdo de acordo com a realidade do acadêmico; 3) Saber

específico – relacionado ao conhecimento inerente a disciplina e 4) Saber pedagógico

– pertinente as metodologias educacionais, as ciência da educação e a didática

curricular.

Estudos de Viera (2009) indicaram que as principais competências

dos professores, na percepção dos alunos, estão pautadas na didática e

comunicação, relacionamento interpessoal, valores pessoais, compromisso com os

resultados e conhecimento teórico e prático. Assim, a capacidade de transmitir os

conteúdos de forma clara e contextualizada utilizando recursos metodológicos que

facilitem a aprendizagem e consequentemente motivem o aluno, bem como empatia,

amizade e predisposição para compreender as necessidades e o ritmo do aluno

associada a equidade nas avaliações, flexibilidade constituem as competências

necessárias ao professor universitário.

Neste sentido, o trabalho do professor universitário é complexo e

desafiador, pois se faz necessário o inventar e reinventar o seu fazer diariamente.

Isso porque o desenvolvimento acelerado das tecnologias e das mudanças culturais

movidas pelos fatores internos e externos que assolam o país, se fazem presentes

também nas universidades e influenciam diretamente no trabalho do professor de

ensino superior. Estas transformações trazem consigo novos paradigmas que exigem

um novo perfil de professor, que estimule o desenvolvimento de um novo perfil de

aluno (RODRIGUES, 2006).

Esse pensamento é coadunado por Estrela (2002), o autor salienta

que as mudanças educacionais trouxeram consigo uma mudança no papel que o

professor desempenha em sala de aula para além das competências inerentes ao

conteúdo a ser abordado pelo professor. Por essa razão, é preciso repensar as

competências do professor do ensino superior, pois o processo de ensino-

aprendizagem está diretamente ligado às competências dos docentes, à medida que

estas possibilitam o desenvolvimento de novos métodos de trabalho e de lidar com

situações presentes no contexto de ensino. Ainda possibilitam orientar o discente

sobre as responsabilidades existentes no processo de ensino-aprendizagem

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(VASCONCELOS, 2010).

Considerando ainda que, para que ocorram as interações sociais em

sala de aula, e no intuito de melhoria na construção do conhecimento e reconhecendo

o papel do professor enquanto mediador das interações, se faz necessário que o

professor apresente um repertório de competências interpessoais imprescindíveis à

percepção das demandas emergentes no espaço escolar, flexibilidade para se

adequar a novos paradigmas, bem como habilidade para gerir conflitos (DEL PRETTE

E DEL PRETTE, 1998).

A multiplicidade de competência também é apontada por Shulman

(2005) como pressuposto para a realização do processo de ensino-aprendizagem de

qualidade, aliadas ainda às ações integradas com à instituição de ensino. Dentre os

conteúdos necessários, o autor elenca os seguintes conhecimentos: conteúdo a

serem aplicados, os objetivos do ensino e os valores, as metodologias, estrutura

curricular, conhecer os alunos e os processos de aprendizagem, o contexto

educacional, assim como os embasamentos filosóficos e históricos envolvidos no

conteúdo a ser abordado.

Assim, acreditamos que o processo de ensino-aprendizagem exige do

profissional de ensino dedicação e aptidões necessárias a uma boa gestão de sala de

aula. Espera-se que o docente seja capaz de lidar com os conflitos no ambiente de

ensino, estabelecer um processo de comunicação eficiente e principalmente ouvir

seus alunos de forma a tornar as aulas mais participativas e motivadoras, uma vez

que acreditamos na dualidade o processo de ensino, que é imprescindível a

participação do aluno para o seu sucesso.

1.2.2 - A questão da indisciplina sobre o enfoque das relações entre professor e

aluno

Neste sentido abordaremos a linha teórica que busca compreender a

indisciplina como sendo originária das relações entre o professor e aluno, nesta linha

cabe destaque os teóricos Carita e Fernandes (1997), Estrela (1992) e Amado (2001).

Segundo Carita e Fernandes (1997) a indisciplina ocorre devido à ausência ou ruptura

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da relação entre o professor e o aluno, pois é esta relação que conduz ao sucesso

pedagógico. Os autores salientam ainda, a necessidade do professor perceber a

forma com que este relacionamento está sendo formatado junto ao aluno e promover

aprendizagens bem sucedidas desenvolvendo junto aos acadêmicos uma relação

pautada no respeito, confiança, autonomia, segurança e aceitação das diferenças

(CARITA E FERNANDES, 1997).

Amado (2001) afirma que, devido à complexidade de fatores que

envolvem a indisciplina no contexto escolar, se faz necessário a reflexão profunda

sobre a natureza das diversas relações e interações sociais no escopo escolar. Para

o autor, a indisciplina é acontecimento fruto da interação que é construído na própria

sala de aula entre os professores e alunos, onde ambos possuem perspectivas,

percepções e pontos de vistas divergentes.

Para Amado (2001) se faz necessário que os professores conheçam

as diferentes realidades vivenciadas por seus alunos e assim possam diferenciá-los

de tal forma que contribuam sobremaneira para organização e dinamicidade das

aulas. Diferentes realidades podem trazer novos olhares sobre um mesmo prisma e

proporcionar uma maior interação de todos os alunos e consequentemente uma

melhoria no nível de aprendizagem (AMADO, 2001). No entanto essa diferenciação

deve ter um enfoque positivo na estratégia do professor, de forma que as

diferenciações possibilitem que, ao tratar com iguais e desiguais, o docente

potencialize os resultados dos alunos.

O mau uso desta estratégia pode, no entanto, trazer resultados

diferente do esperado. Estrela (1992) explica que em várias situações os professores

dispensam tratamento diferenciado em relação aos alunos, considerando-os bons e

exemplares ou maus. Em ambos os casos, o aluno percebe o conceito que o professor

tem dele e a partir de então, na medida do possível, tenta reforçar este conceito junto

ao professor. Cita-se como exemplo, uma situação na qual o professor tece mais

elogios aos alunos que apresentam bom comportamento e critica o aluno

indisciplinado. Neste exemplo, o aluno indisciplinado capta a imagem que o professor

tem dele e tende a não alterar seu comportamento.

Segundo Estrela (1992) este aluno se sente como se recebesse uma

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marca do professor de aluno mau ou indisciplinado, assim este reforça a imagem que

a sua situação não se alterará. E nas relações de professor e aluno que as expressões

de indisciplina ocorrem como forma de negar a disciplina, onde ocorre a quebra das

normas pré-estabelecidas e se estabelece a desordem (ESTRELA, 1992).

Uma outra via para as relações docente-discente é apontada por

Jesus (2000), segundo o qual, o processo de ensino-aprendizagem deve ser pautado

na autonomia, envolvimento, indicando formas de negociações e adequação das

partes envolvidas. Assim, o professor democrático é aquele que dá autonomia para

os alunos participam do processo decisório das atividades a serem desenvolvidas, o

que traz benefícios ao professor e alunos. Por isto entendemos a necessidade de que

os princípios norteadores sejam o diálogo e a negociação.

Para que isso ocorra Araújo (1996) argumenta que é preciso uma

transformação das relações interpessoais em todas as dimensões: nas escolas,

famílias e sociedade como um todo, pois à medida que às regras sejam estabelecidas

pautadas em princípios democráticos de justiça e igualdade, o problema da

indisciplina será encarado sob uma diferente perspectiva, pelo respeito aos princípios

e não à obediência.

Para que o diálogo ocorra se faz necessário que, num primeiro

momento, o professor aceite o aluno da forma como é, sem preconceito para

posteriormente, por meio de uma interação, ter subsídios para estabelecer uma

comunicação. A conquista da confiança e o respeito dos alunos se torna de suma

importância para organização do seu trabalho (VASCONCELOS, 1998). O autor

salienta ainda a importância do aluno perceber o conteúdo a ser aprendido como algo

que traga sentido a sua vida, ou seja, o aluno deve perceber o quanto o conteúdo e a

mudança no comportamento irão impactar em sua vida profissional e social.

Neste contexto, a relação estabelecida entre professor e aluno é tida

como base fundamental para prevenir a indisciplina em sala de aula. Faz-se

necessário que os professores tomem ciência da importância dos relacionamentos

interpessoais, pois à medida que são melhorados consequentemente existe um ganho

de eficiência no desempenho do professor e dos alunos, elevando o nível de

satisfação dos envolvidos (AMADO et.al., 2009).

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Deste modo, o aluno pode expressar suas opiniões, percepções e

suplantar suas expectativas em relação ao conteúdo a ser aprendido. Assim, todos

podem aprender de formas distintas, evitando-se frustrar as expectativas de alguns

(AMADO, 2001). Nesse sentido, para Placco (2002) é necessário que se busque

compreender os pormenores da relação professor-aluno no espaço escolar, uma vez

que um interfere no desenvolvimento do outro, com diferentes expectativa e

interpretações da realidade.

O primeiro passo para a compreensão das múltiplas realidades

segundo Bentes (2003) é que o professor não pode idealizar uma sala de aula com

comportamentos harmoniosos. À medida que estes são idealizados e frustrados a

atuação docente se pauta na coação e em sanções punitivas, as quais fazem que à

autoridade do professor seja sucumbida. Assim Bentes sugere que o docente busque

a interação e participação coletiva para a melhor absorção do conhecimento e

formação dos indivíduos.

Na visão de Vasconcelos (1997), a indisciplina está relacionada com

ausência de cumprimento das normas, assim o processo de ensino-aprendizagem

necessita de regras para que transcorra de forma eficaz e tranquila. Portanto, se faz

necessário que o professor tenha autoridade para orientar e ou para se opor ao aluno.

Faz ainda, uma crítica ao autoritarismo, “que é a negação da verdadeira autoridade,

pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro” (p. 248).

Evidencia-se assim que a indisciplina sob o enfoque do aluno está

diretamente relacionada com a relação professor-aluno e não se atem somente à sala

de aula, mas também a comportamentos externos como: “faltar às aulas” e “dizer

asneira” (SEBASTIÃO, ALVES E CAMPOS, 2003).

Neste sentido, Saviani (2003) defende a pedagogia crítico-social dos

conteúdos, por meio de uma relação de ensino, pela qual professor e alunos se

encontram com objetivo de ensinar e aprender os conhecimentos históricos, no intuito

de edificar e aperfeiçoar as concepções do conhecimento. O ato de ensinar e aprender

não estariam centrados no professor (Pedagogia Tradicional), tão pouco na iniciativa

dos próprios alunos como preconiza a Pedagogia Nova, mas sim no cotidiano, ou seja,

nas relações entre o professor e alunos, levando em consideração as diferenças entre

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ambos, bem como os níveis diferentes de conhecimento e experiências da prática

social.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), os processos

de ensino-aprendizagem trazem uma discussão sobre como devem ser entendidas as

relações interpessoais neste processo, ou seja, compreender as relações entre a

educação e a cultura do indivíduo e a cultura organizacional e o papel da educação

ajustada às situações aos processos de aprendizagem. E assim, se faz necessário

uma adequação pedagógica às características de um aluno reflexivo, de um professor

com conteúdo, valor social e formativo.

Pensando ainda a indisciplina como consequência das interações

sociais, Garcia (1999) propõe a superação do fenômeno da indisciplina atrelado

apenas ao comportamento do aluno, mas também pela existência de outros aspectos

psicossociais que precisam ser considerados, como “situar a indisciplina no contexto

das condutas dos alunos nas diversas atividades pedagógicas, dentro ou fora da sala

de aula”. Outro aspecto a ser considerado é a rede de relacionamentos do aluno

dentro e fora da escola e seus processos de socialização, assim a disciplina passa a

ser uma das vertentes a ser desenvolvida no aluno. Nesta perspectiva o autor define

a indisciplina como uma forma do aluno divergir da forma como a disciplina é

ministrada por não atender as suas expectativas

Neri (1992) aponta que o nível de motivação para o processo de

aprendizagem constitui-se um dos primeiros caminhos para prevenção de situações

de indisciplina em sala de aula. A medida que o aluno se interesse pelos conteúdos e

participe ativamente das discussões, das atividades, ouvindo os diferentes pontos de

vistas dos colegas e professores, defendendo seu ponto de vista ele estará adquirindo

novos saberes. A participação ativa do acadêmico demonstra seu nível de motivação,

produto de uma aprendizagem que lhe trouxe significado. A disciplina, pode ser

percebida equivocadamente por muito professores como silêncio em sala de aula e

submissão. No conceito apontado por Neri, a disciplina está relacionada à participação

ativa.

Concordando com essa abordagem Aquino (1996) afirma que a

disciplina se transformou em ação de oposição, onde os alunos são questionadores e

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de inconformismo com o contexto social a qual estão inseridos, características

essenciais do trabalho humano para o aprendizado.

Outra forma que contradiz os conceitos apresentados por Garcia

(2006) Dewey (1936), Aquino (1996), Passos (1996) faz uma conexão entre a

disciplina e o interesse dos alunos pelos conteúdos a serem aprendidos. Nesta

concepção os alunos participam do processo de ensino-aprendizagem, deixam de ser

meros expectadores e passam a ser sujeitos do processo à medida que compreendem

a importância do conteúdo a ser aprendido para seu futuro profissional.

Entendemos assim que a disciplina pode ser compreendida além dos

limites comportamentais do aluno. A motivação para o alcance dos objetivos, ou seja,

o interesse dos alunos pelo conteúdo ministrado conduz o aluno a prestar atenção na

explanação do professor, a questionar e consequentemente o maior aporte de

conhecimento.

1.3 – Elementos que desencadeiam a indisciplina no espaço educacional

Os estudos de abordagem pedagógica destacam métodos utilizados

no processo de ensino-aprendizagem como responsáveis pela indisciplina em sala de

aula. Entre as quais podemos destacar a programação dos conteúdos, a interação

entre professor e aluno, as metodologias, as formas de avaliação entre outros

processos. Aquino (1996, 1998, 2003), Boarini (1998), Bocchi (2002; 2007), Garcia

(1999), Machado (2007), Yasumaru (2006), Vasconcelos (1998), Xavier (2002), entre

outros, apresentaram subsídios teóricos importantes sobre a indisciplina no espaço

escolar.

Segundo Amado (2001) para os alunos a indisciplina emerge de

metodologias de ensino inadequadas e da ausência de interação entre professor e

aluno. Assim sob o olhar do aluno para compreender os comportamentos dos alunos

em sala de aula se faz necessário entender primeiramente a forma do professor

ensinar. Em resumo, a melhoria no clima da sala de aula e a redução da indisciplina

estão diretamente relacionadas à metodologia de ensino utilizada pelo professor.

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Amado (2001) aponta algumas práticas utilizadas pelos profissionais

de ensino que colaboram para o desinteresse pelas aulas e consequentemente

aumentam os casos de indisciplinas em sala de aula:

a) Abuso de métodos expositivos;

b) Aulas monótonas e repetitivas, com atividades que possibilitem a dispersão do

aluno.

c) Conteúdo que não tenham sentido para o aluno;

d) Postura do professor na condução do conteúdo e da sala; e

e) Gerenciamento inadequado do espaço de ensino; do tempo para o

desenvolvimento das atividades.

Para esse autor as aulas expositivas, por exemplo, são apontadas

pelos alunos como desinteressantes, o professor transmite o conteúdo de forma

maçante sem a participação dos alunos. Neste método, o aluno tem pouca, ou

nenhuma possibilidade de fazer questionamentos e manifestar sua opinião, assim o

aluno acaba utilizando de algumas táticas indisciplinares para fazer com que a aula

transcorra com uma maior velocidade (AMADO, 2001).

Para opor-se a este cenário Aquino (1996) aponta que o professor

deve criar metodologias de trabalho que mantenham a disciplina, uma vez que cabe

ao professor desenvolver estratégias de ação para motivar os alunos ao aprendizado

e assim atingir seus objetivos.

A motivação, segundo Pozo (2002) deve ser considerada essencial

ao processo de ensino-aprendizagem, uma vez que sua ausência a torna inviável.

Bzuneck (2001) referenda a ideia apresentada por Pozo (2002) por considerar a

motivação a principal determinante do êxito e da qualidade da aprendizagem. À

medida que se intensifique o envolvimento do aluno no processo, o qual está

diretamente relacionado a sua motivação, eleva-se proporcionalmente a qualidade do

aprendizado.

Vasconcelos (1998), argumenta que como não existem alunos ideais,

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os professores devem desenvolver estratégias de ação para lidar com o novo perfil do

aluno, rompendo com antigos paradigmas segundos os quais os professores são

detentores do poder e utilizam o autoritarismo para conter os atos de indisciplina em

sala de aula. Nesta perspectiva se faz necessário que o professor transmita uma

postura firme, sem usar de autoritarismo, que esteja aberto ao diálogo para que a

processo de ensino-aprendizagem se efetive.

A indisciplina no contexto escolar, para Parrat-Dayan (2008), Fortuna

(2002), Rego (1996), Jesus (2001), Passos (1996), e Roure (2001) está ligada a

alguns comportamentos, como: oposição, intolerância, negação e ausência de

respeito ao professor e colegas de sala.

Segundo Jesus (2001) a indisciplina está vinculada aos

comportamentos e atitudes dos alunos, que prejudicam e interferem o trabalho do

professor. Para o autor os atos de indisciplinas estão vinculados a traços de

personalidade do aluno que precisam ser controladas pelo professor. Deste modo,

para o autor, cabe ao professor tecer estratégias para conter a indisciplina do aluno,

ou seja, tomar providências no sentido de promover a mudança no comportamento

deste aluno.

Para os professores, na maioria das vezes, a indisciplina é entendida

como um comportamento impróprio que demonstra falta de respeito, rebeldia, tais

como: conversas paralelas, manuseio do celular, não desenvolvem as atividades

solicitadas pelos professores, se recusam a responder a questionamentos e quando

respondem o fazem ironicamente, falta de interesse, chegam atrasados e querem sair

mais cedo (VASCONCELOS, 1998).

Nessa mesma linha Sebastião, Alves & Campos (2003) entendem que

a indisciplina está relacionada a perturbações ao funcionamento das aulas, onde os

alunos apresentam comportamentos de inquietação, como: cochichar com os demais

colegas de sala, mandar calar a boca e não se sujeitar às regras pré-estabelecidas.

Segundo Parrat-Dayan (2008) a indisciplina apresenta-se de várias formas: conversas

paralelas, não fazer as atividades que o professor preparou para o desenvolvimento

do aluno, não estudar, sair da sala durante a explanação do professor, não respeitar

o colega que está falando, etc.

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Para Amado (2001) os atos de indisciplina cometidos pelos alunos,

desde as fraudes nas avaliações até a ausência de atenção, ao humor irônico e

comentários inapropriados em sala de aula demonstram a cultura de resistência, que

tem como finalidade, constranger o professor, impedindo o avanço do conteúdo a ser

ministrado e assim tornar a aula mais agradável ao aluno que nesta perspectiva

mantêm o controle da situação.

Rego (1996), afirma que a forma de interpretação pelos professores

da indisciplina em sala de aula conduz ao comprometimento das práticas

pedagógicas, uma vez que interferem na relação professor-aluno bem como nos

critérios de avaliação e objetivos a serem alcançados. Na maioria das vezes o

docente atribui as causas da indisciplina ao próprio aluno ou a família, ou ainda ao

meio sociocultural em que o aluno está inserido.

A indisciplina, para Rego (1996) se apresenta por meio dos

comportamentos inadequados dos acadêmicos, o qual pode ser apresentado por um

indivíduo ou pelo grupo, como forma de oposição, de intolerância, de desacato, de

ausência de educação e respeito ao professor.

Corroborando com os autores, Roure (2001) afirma que a indisciplina

é gerada pelo comportamento dos alunos em sala de aula. Salienta ainda que na

visão dos professores a indisciplina é um ato de rebeldia, oposição às regras

estabelecidas pelos professores, as normas institucionais e contratos sociais.

Para Passos (1996) a indisciplina representa para os acadêmicos:

ousadia, oposição e não conformidade com a situação. Salienta que o ato pedagógico

é a ocasião onde se efetiva a construção do conhecimento, por meio da ampla

participação dos alunos, é o momento de insurgir falas, movimentos, rebeldia,

oposição e desejo de descobrir e construir juntos: professores e alunos. A autora ainda

tece um olhar positivo sobre a indisciplina compreendendo-a como a forma dos

acadêmicos ousarem, expressarem sua criatividade e/ou resistência e inconformismo

como a forma como o ensino vem se apresentando. Neste sentido, Passos (1996)

percebe a indisciplina como sinal de que o processo de ensino-aprendizagem precisa

ser analisado, revisto e refeito. Salienta a importância da análise dos múltiplos

aspectos que permeiam a indisciplina no espaço escolar, dentre eles destaca as

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formas de poder das instituições de ensino, a forma como os professores concebem

a construção do conhecimento, entre outros.

Para Fortuna (2002) a indisciplina relaciona-se a um ato de oposição

às regras estabelecidas, desrespeito aos acordos de convívio sem uma justificativa

plausível, ausência de capacidade de seguir e de se relacionar conforme às regras

estabelecidas entre as partes.

Já para Garcia (1999; 2002) a indisciplina representa é a negação

pelos alunos das orientações dos professores. Ela vinculada a condutas, atitudes e

forma como o aluno se socializa, interações sociais advindas de comportamentos

aversivos no intuito de chamar a atenção dos demais colegas de sala, assim estes

divergem ou negam as orientações dos professores.

A indisciplina sugere a transgressão de princípios, regras, contratos e

ordens que provocam problemas sociais e encontra-se em desacordo com os

objetivos traçados pelo grupo de alunos e professores ou pela instituição (AMADO,

2001).

Para os autores acima a indisciplina é o resultado do comportamento

do aluno, no entanto a outros aspectos que conduzem o aluno a atos de indisciplina

em sala de aula que serão apresentados na sequência.

Para falar de indisciplina se faz necessário falar de autoridade. É

percebido na contemporaneidade uma crise da autoridade, em todas as organizações,

desde as mais simples como a família até organizações mais complexas do primeiro,

segundo e terceiros setores.

A capacidade de usar a autoridade em sala de aula é uma grande

dificuldade encontrada pelos professores. Definir os limites entre a autoridade e

autoritarismo é primordial para o sucesso da gestão da sala de aula. Para entender

melhor as relações de poder entre professor e aluno, Weber (2001) classifica a

autoridade de três maneiras, segundo a forma de controle que se exerce: a primeira

com base legal, ou poder legítimo, a segunda, a dominação tradicional, que requer

obediência sem contestação e a terceira, a dominação carismática, onde a pessoa é

dominada voluntariamente. A dominação no espaço escolar se estabelecer de acordo

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com os três tipos de dominação apresentados por Weber (2001). Assim, o estilo de

relação entre o professor e aluno pode encontrar resistências e consequentemente

conflitos em sala de aula.

A gestão do poder em sala de aula, segundo Villas Boas (1999), é

fundamental para evitar conflitos interpessoais e manter a disciplina em sala de aula.

O aluno aprecia o docente que faz uma boa gestão da sala, impõe regras ao

desenvolvimento do trabalho e as boas condutas em sala de aula, cuja ordem seja

firme e necessária, sem, contudo, utilizar-se do autoritarismo para fazê-lo. O aluno

aprecia ainda o docente que impede situações de injustiça na interação.

Para Rego (1996) alerta sobre o grave problema da indisciplina em

sala de aula e a importância do professor enquanto mediador do processo de ensino

aprendizagem e que é primordial que as instituições de ensino busquem soluções

rápidas que auxiliam os professores a combater e ou minimizar a incidência da

indisciplina no espaço de aprendizagem.

A postura autoritária do professor culminará para a manifestação de

conflitos, uma vez que pelo seu posicionamento o professor perde sua autoridade e,

consequentemente não será bem-sucedido em suas ações, mesmo que utilize

ferramentas de controle para coibir os atos de indisciplina. E sim, por meio da

autoridade que apoia e orienta os meios pelos quais os alunos atingiram os objetivos

proposto que consegue a disciplina e se conquista à autoridade do gestor de sala de

aula (VASCONCELOS, 2009).

Yasumaru (2006) ressalta que o professor é o responsável por

estabelecer a disciplina em sala de aula à medida que apresenta os objetivos e valores

pré-estabelecidos pelo sistema educacional. A partir desta premissa, o professor

apresenta-se, segundo o autor, como um dos causadores da indisciplina em sala de

aula. Neste contexto, o professor se preocupa com as exigências inerentes ao aluno,

ao conteúdo a ser ministrado e se esquece de dar significado e envolver o aluno no

processo de ensino-aprendizagem.

Torres (2008) aponta o professor como responsável pela indisciplina

em sala de aulas atrelada ao seu posicionamento frente aos alunos, à medida que

não muda sua prática pedagógica. O professor pode enfocar o planejado para aulas,

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ou seja, passar o conteúdo ignorando os atos indisciplinares, bem como resolver o

problema da indisciplina castigando o aluno indisciplinado com notas baixas. Ainda

segundo o autor, esta visão prática sobre o ensino pode levá-lo a estabelecer

pequenas punições na busca de mudanças rápidas.

Welch (2007) afirma que o processo ensino-aprendizagem se efetiva

à medida que o professor, por meio de atitudes firmes e participativas, fixa as regras

norteadoras do ensino. De forma a valorizar as interações sociais, tratando o aluno

com respeito, sem incorrer em injustiças e sem ser autoritário. O gestor da sala é o

professor e cabe a ele a responsabilidade de fazer com que os alunos adquiram o

conhecimento, bem como desenvolvam senso crítico e aprimorem seus

relacionamentos interpessoais.

Aquino (1996) e Oliveira (2004) apontam de forma interessante que a

percepção que um professor tem do seu aluno pode não ser a mesma de outro

professor. Nesse mesmo sentido para Curto (1998) o fenômeno da indisciplina é um

evento subjetivo, onde professores lidam de formas diferentes com a mesma situação.

Compreendemos que a concepção de indisciplina é algo socialmente

estabelecido nas instituições de ensino, bem como o perfil e comportamento dos

alunos indisciplinados à medida que estão ligados a cultura, ou seja, ao conjunto de

valores, atitudes e crenças das instituições de educacionais e estas afetam o trabalho

do professor. Assim, buscaremos na próxima seção a partir das concepções do

trabalho do professor, discutir os impactos da indisciplina sobre o trabalho do docente.

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2 - A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL E SEU IMPACTO

NO TRABALHO DO PROFESSOR

Estudos evidenciam que os comportamentos indisciplinares no

ambiente de aprendizagem apresenta-se como um grande problema da sociedade

contemporânea. Trazem em seu bojo angústia entre os docentes e alunos a medida

que interferem no processo de ensino-aprendizagem e constituem-se fontes de stress

pela impotência no controle da disciplina, dentre eles apontamos as pesquisas

realizadas por Estrela (2002), Garcia (2013), Vasconcelos (2000) Pontes e Aquino

(2010), mas poucos estudos da mesma no ensino superior entre eles os de Oliveira

(2009) e Torres (2008).

Sendo assim, torna-se essencial abordarmos a questão da

indisciplina no ensino superior e o trabalho do professor. Por essa razão,

começaremos apresentando um breve apanhado de como o ensino superior se iniciou

no Brasil, de forma a situar essa questão no contexto histórico, para depois

avançarmos sobre as questões específicas da indisciplina no espaço acadêmico.

2.1 – O ensino superior no Brasil e o papel do professor: algumas aproximações

O ensino superior no Brasil surgiu tardiamente, em 1808, quando a

Corte Portuguesa se instalou no Brasil. As primeiras universidades foram criadas mais

tarde ainda, em 1930, após a proclamação da república, até então só existiam cursos

a nível superior profissionalizantes (TEIXEIRA, 1989).

Assim, em 1930 surge a profissão de professor universitário,

ocupação que se difere de outras categorias pela ação de formar profissionais, uma

vez que abarcam sob sua responsabilidade questões mais complexas do que as até

então exploradas na educação básica, como a produção de conhecimento, construção

de pensamento crítico, articulação do saber, além da formação de cidadãos,

profissionais, pesquisadores, ou seja, pessoas que se tornarão novos produtores de

conhecimento. Ação que representa um grande desafio para os profissionais de

ensino, à medida que aumenta o nível de responsabilidade destes profissionais frente

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ao fluxo de informações que estão em constantes mudanças. Assim, é importante

repensar o papel do professor e da universidade, bem como seus objetivos.

A reflexão acerca dessa mudança de paradigmas se faz necessária,

na medida em que as instituições de ensino se dedicam à transmissão de cultura e

conhecimento, e estes são constantemente afetados pela passagem do tempo, que

por sua vez são reflexos das mudanças sociais e avanços científicos.

Morgado (2006) afirma que as instituições de ensino superior vem

enfrentando uma série de desafios, a saber: a) mudanças políticas, econômicas

sociais e culturais e seus impactos nas pessoas e na sociedade como um todo; b) o

aumento no nível de exigência educacional e formação profissional com vista a

melhoria da sua empregabilidade; c) o novo perfil dos alunos que estão cursando o

ensino superior; e d) a necessidade de melhorar o rol de disciplinas formativas, de

maneira que estas possam atender as demandas do mundo do trabalho, bem como

desenvolver novas metodologias de pesquisa e ensino que possibilitem o

desenvolvimento dos acadêmicos para atuarem nos diversos ambientes sociais e

profissionais.

A declaração Mundial sobre o Ensino Superior (UNESCO, 2000)

preconiza que a educação superior tem como objetivo a formação de cidadãos com

alta qualificação. Assim, para que os objetivos sejam alcançados é indiscutível que o

professor universitário tenha conhecimentos consistentes da área de atuação bem

como, competências pedagógicas que oportunizem a absorção do conhecimento de

forma eficaz (GIL, 2006).

No entanto, Pimenta e Anastasiou (2005) apresentam um cenário do

ensino superior que adota práticas ultrapassadas e que influenciam diretamente na

qualidade do ensino. Apontam a necessidade de formação específica para o exercício

da docência como caminho para melhoria na qualidade dos profissionais que são

capacitados para o mercado de trabalho. E, partindo dessa premissa, afirmam que,

exceto os formados em curso de licenciatura, os professores que atuam no ensino

superior não possuem capacitação específica para ensinar. A formação para o

exercício do ensino superior de professores barachareis se restringe à disciplina de

Metodologia do Ensino Superior, que são oferecidas nos cursos de pós-graduação

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Lato sensu. Ademais, as iniciativas formativas, são realizadas pelo próprio professor

no intuito de obter a base de conhecimento para exercer a profissão de docente.

A ausência dos saberes pedagógicos, segundo Soares e Cunha

(2010) restringe a atuação do professor universitário e traz como consequências no

processo de ensino-aprendizagem. As práticas metodológicas muitas vezes são

reproduções da forma de atuação dos demais colegas de profissão ou, ainda, por

experiências advindas de outras profissões. É inegável que a reprodução de

experiências é importante, quer sejam as próprias, que sejam baseadas em modelos

dos demais professores. No entanto, essa repetição ocorre, muitas vezes, pela

ausência de formação pedagógica, ou seja, o professor criar seu próprio modelo para

ensinar. Deste modo, a falta de uma formação direcionada ao ensino superior faz com

que cada professor busque a formação e transformação de diferentes formas.

Deveras, ensinar vai muito além da transmissão de conhecimento.

Para Nóvoa (2007), se faz necessário que o docente seja inovador, criativo, saia do

senso comum e desenvolva novas metodologias de ensino que despertem no aluno o

interesse pela sua disciplina.

Não se pode olvidar que a realidade do ensino superior é por demais

diversa. Pimenta e Anastasiou (2005) apontam que nesse tipo de ensino, além das

diferenças estruturais encontradas nas diversas Instituições de Ensino Superior – IES,

os cursos também são compostos por professores, na sua maioria, com formação em

áreas específicas como Direito, Administração, Contabilidade, sendo a atividade

laborativa desenvolvida de forma individualizada, o direcionamento dos conteúdos é

subsidiado pela ementa da disciplina e assim não recebe dos pares e/ou das

instituições de ensino auxílio para realização do trabalho.

Ser professor no ensino superior, em cursos de bacharelado, não

requer formação inicial pedagógica e muitas vezes, nem formação continuada, o

código de ética da profissão é desconhecido por parte dos professores e, ainda em

alguns casos a sua atuação como professor, constitui-se como uma segunda

ocupação, uma vez que sua formação o direciona para outras profissões e a de

professor surge apenas enquanto um “complemento” de renda. No entanto, o aluno,

os professores, as instituições de ensino e a sociedade não podem compreender a

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função do professor do ensino superior como solitária no ato de ensinar, uma vez que

esta ideia distorce a profissão docente e a forma que ele deve agir no contexto de

ensino.

É notória a significativa experiência profissional e o tempo de estudo

nas áreas específicas, porém evidenciamos a ausência de formação e conhecimento

científico sobre o processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido é importante que

o profissional, ao ingressar na sala de aula, tenha consciência de que neste espaço

seu papel principal é o de professor (PIMENTA E ANASTASIOU, 2005).

Soares e Cunha (2010) corroboram com Pimenta e Anastasiou (2005)

que salientam às experiências advindas do campo de atuação, em empresas,

consultorias, organizações governamentais contribuem sobremaneira para o

desenvolvimento dos alunos. No entanto, salientam a no entanto, salientam a

necessidade de formação específica para o professor universitário.

Nesse sentido, Pimenta e Anastasiou (2005) apontam ser necessária

a construção de novas competências e métodos de ensino aos professores

universitários, e para isto é preciso que assumam a formação continuada, como forma

de obter a profissionalização para atuar enquanto docente, bem como a auto formação

que deve ser resultante da constante reflexão de suas práticas.

O conhecimento de forma integrada, onde o aluno além do aporte de

conhecimento desenvolva senso crítico e responsabilidade para atuar no mercado de

trabalho e enquanto cidadão, exige dos professores novas metodologias de ensino,

onde a relação professor-aluno seja proativa e que o acadêmico perceba o significado

dos conteúdos a serem estudados. Nesta perspectiva o professor, passa de mero

transmissor de conhecimento a mediador na construção do saber, facilitador do

processo de ensino-aprendizagem. Para isso é preciso que esses profissionais

redesenhem suas práticas pedagógicas, uma vez que neste contexto, o docente é a

pessoa que exerce um papel fundamental para a qualidade dos processos de ensino.

As práticas pedagógicas influenciam diretamente no comportamento

do aluno e em seu nível motivacional, desta forma à utilização de estratégias

diferenciadas devem ser estabelecidas de acordo com o perfil e nível de maturidade

do aluno. Para Masseto (2003) o professor tradicional, que tem como objetivo somente

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repassar as informações, está com os dias contados. As tecnologias de informação

possibilitam o fácil acesso a vários conhecimentos, desta forma é preciso que

estratégias de ensino tenham como foco a transformação da informação em

conhecimento.

Para Garcia (2013) as práticas pedagógicas devem ser repensadas e

alteradas no sentido de oportunizar aos participantes do processo de ensino-

aprendizagem um ambiente agradável que proporcione uma aprendizagem de ser

professor no ensino superior não requer formação inicial e muitas vezes, nem

formação continuada de qualidade e que atenda os anseios da sociedade. O autor

salienta ainda que o currículo atual por si só não consegue obter o engajamento do

aluno e preciso que os docentes utilizem novas práticas pedagógicas para promover

a aprendizagem.

Neste sentido, é importante que os professores universitários tomem

consciência da importância da sua profissão para a sociedade e está exige dele

continua reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem e as metodologias

adotadas em sala de aula (MASSETO, 1998).

A função do professor universitário que durante muitas décadas

estava relegada a transmissão do conhecimento, ao desenvolvimento de

competências técnicas e a pesquisa, hoje se soma as estas, o desenvolvimento da

reflexão crítica, ética e social (BEHRENDS, 1998). Neste contexto, exige-se dos

professores universitários competências pedagógicas exequíveis, bem como a

formação destes profissionais seja valorizada pelas instituições de ensino (PINTO,

2001).

Assim, evidencia-se que o professor universitário deva ter

competências específicas vinculadas ao ensino superior. Para Machado (2007), as

funções do professor universitário requerem dedicação e grande responsabilidade a

medida que tem a missão de contribuir para a formação de profissionais que atuarão

no mercado de trabalho com alta competitividade e exigirão destes futuros

profissionais uma alta performance. No entanto, somente em 1990 iniciaram os

estudos sobre o trabalho do professor, até então os estudos eram realizados sobre as

atividades de produtivas e de bens de consumo.

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Para Puentes e Aquino (2010) o professor que atua no ensino superior

tem a função de fornecer aos alunos novos saberes, categorizando e organizando de

tal forma que este possa se transformar em um profissional de talento no mercado,

assim contribuindo para a formação do caráter intelectual e acadêmico do aluno.

Cabe ainda, segundo os autores o desenvolvimento do caráter dos acadêmicos que

impacta diretamente na formação de sua cidadania.

Para Vasconcelos (2000) ao desenvolver as competências

pedagógicas, o profissional de ensino adquire o comprometimento com ato de ensinar

e com a educação do aluno. A capacidade pedagógica do professor universitário

representará em sua carreira o diferencial na qualidade do seu trabalho, à medida que

por meio das competências desempenha seu trabalho com versatilidade no intuito de

tornar os alunos atuantes e socialmente responsáveis.

Para Aquino (1998) a ação docente deve ser direcionada de tal forma

a utilizar o espaço de ensino como um local de transformação dos conhecimentos. O

professor tem o papel de impulsionar os discentes a adquirirem novos conhecimentos,

colaborando para que estes compreendam e descubram o mundo no qual estão

inseridos. Neste sentido, é necessário que as aulas sejam ricas de novos saberes,

que façam com que os alunos se interessem, se envolvam e apresentem

comportamentos desejáveis em sala de aula.

Oliveira (2009) destaca que o professor deve ter ciência da

responsabilidade do seu papel enquanto docente, pois a função traz em seu bojo

responsabilidades em relação a solidez dos conteúdos a serem disseminados, as

metodologias de ensino aplicadas em sala de aula devem ser adequadas e

diversificadas no intuito de trazer uma maior dinamicidade à aula. Outra competência

de suma importância está relacionada à gestão dos conflitos interpessoais e da sua

capacidade de motivar os alunos por meio do aporte dos conteúdos técnicos e

científicos.

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2.2 – A questão da gestão dos conflitos: entre a disciplina, indisciplina e

autoridade docente

A capacidade de refletir, criticar e intervir nos ambientes educativos,

segundo Vasconcellos (2003) se faz necessário na ação docente para que ocorram

mudanças nos mecanismos educacionais. Neste sentido, Caritas e Fernandes (1997)

sugere que a intervenção para resolução do conflito professor-aluno seja conjunta e

obtida por meio de consenso entre as partes envolvidas.

Parrot Dayan (2008), apresenta dois tipos de intervenções plausíveis:

a primeira está relaciona ao contexto institucional, ou seja, às regras preestabelecidas

pela instituição de ensino. A prática pedagógica de intervir no contexto é primordial

para que a equipe pedagógica e professores discutam e encontrem formas de reduzir

ou solucionar os problemas de indisciplina em sala de aula. A segunda está

relacionada ao aluno e a sua conduta em sala de aula, sendo o foco motivar o aluno

e não tolher sua capacidade de argumentação e expressão. Se faz necessário

desenvolver no aluno competências intelectuais e comportamento sociais. As

definições de regras claras para uma boa convivência em grupo ajudarão os

acadêmicos a tomarem consciência das implicações pessoais e sociais dos seus atos

no espaço escolar e na sociedade na qual está inserido. (PARRAT DAYAN, 2008, p.

85).

Neste sentido Snyders (1978) ressalta que o professor tem o papel de

conduzir os alunos por meio dá autoridade que lhe é atribuída vai muito além da

confirmação de erros e acertos dos alunos e as assertivas respostas aos acadêmicos.

Freire (1989) referenda que à autoridade na relação professor e aluno

e assertiva é necessária, no entanto deve ocorrer para que os objetivos, aquisição dos

conhecimentos, sejam alcançados. Assim o professor deve conduzir o aluno para que

estes adquiram hábitos disciplinares adequando seus comportamentos às regras pré-

estabelecidas, quer seja pela instituição ou somente pelo professor. À autoridade do

professor não pode ser percebida como tolhimento da autonomia do acadêmico, muito

menos com a perda de liberdade para não ser confundida com autoritarismo.

Entretanto, à autoridade exige prática de liderança, e está se

apresenta com uma das grandes dificuldades entre os profissionais de ensino. Se faz

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necessário dimensionar o limiar entre autoridade e autoritarismo nas relações com os

acadêmicos para se alcançar o objetivo educacionais. Furlani (1997) relaciona à

autoridade a forma de controle e que estes apresentam três configurações: primeira

legitimada pelo cargo; segunda fruto das relações estabelecidas entre professores e

aluno e a terceira liberal onde o professor dá autonomia para os alunos decidirem às

regras que nortearam o processo de ensino-aprendizagem.

A primeira em que à autoridade está vinculada a posição hierárquica,

ou seja, o professor é autoridade máxima em sala de aula devido a posição que ocupa

e não à competência deste profissional. As normas e regulamento são elaborados por

superiores que muitas vezes desconhecem o contexto escolar e de forma impositivas.

O professor no uso do poder legitimo, do cargo, apresenta-se como uma pessoa

detentora de todo o saber, controladora e não aceita questionamentos. Do aluno

espera obediência, submissão numa relação de total dependência. Neste estilo de

autoridade pautada no medo, não existe diálogo, o temor evita a afrontamento e a

construção de críticas.

Para Garcia (1999) autoridade legitimada no cargo pode proporcionar

um comportamento indisciplinado no aluno. A indisciplina do aluno pode representa

resistência à metodologia utilizada pelo professor tradicionalista e aos conteúdos

descontextualizados com a realidade do aluno. Para Amado (1999, p.68) é preciso

que o professor reflita e inclua entre as causas as práticas utilizadas no processo de

ensino-aprendizagem, pois estão ligadas ao sistema educacional e precisam ser

analisadas com enfoque nas práticas pedagógicas utilizadas pelo professor.

Lobrot (1977) referenda que à autoridade está diretamente

relacionada com imposição, indução de comportamento para se conseguir atingir os

objetivos.

Um trabalho de Furlani (1997) detectou queixas dos professores que

atribuíram comportamentos de confronto ou contestação dá autoridade a alunos de

condições econômicas superiores à do docente. Isso evidencia, o quanto

preconceitos relacionados à classe socioeconômica influenciam no respeito do aluno

pelo professor. Os alunos podem não aceitar conhecimentos transmitidos por um

professor que consideram “inferiores” à sua classe. Assim, desprezam qualquer

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autoridade que o professor possa exercer.

Segundo Foucault (2012) o poder se apresenta em todas os locais,

pois ele advém de todas as partes. Nas relações entre as pessoas está implícito ou

explicito o poder, uma vez que ele ocorre na existência de uma relação de

dependência e exercido sobre pessoas livres, ao contrário se configura violência.

Neste sentido, ninguém detém o poder e sim se vive relações de poder, e no contexto

escolar não é diferente professores e alunos vivenciam relações de poder.

Todavia Amado e Freire (2009) salientam a dificuldade do

estabelecimento de normas e regras consensuais, frequentemente elas são vistas

pelos alunos como descontextualizadas, inoportunas, descabidas e impraticáveis.

A segunda forma de exercer autoridade, segundo Furlani (1997) está

pautada no relacionamento entre professor e aluno. Neste contexto à autoridade é

constituída por meio do consenso entre professor e aluno. O poder é estabelecido

por meio da competência, quer seja pelo aluno ou pelo professor. O aluno é valorizado

por suas atitudes, responsabilidades, questionamentos.

À autoridade se sustenta da relação professor-aluno, onde a

construção ocorre pelas partes envolvidas, aluno e professor. Neste processo são

avaliados a capacidade do aluno e professor para que se efetive a relação de poder.

À autoridade ocorre sem tolir a liberdade de expressão e os sentimentos do

acadêmico, mesmo com a presença das normas. Valoriza-se o conhecimento de

ambas as partes, na qual o aluno é ressaltado por comportamento adequados como,

por exemplo, cumprir prazos, participar nas aulas se colocando de forma assertiva. A

responsabilidade é concedida ao acadêmico tornando-o mais autônomo e

independente das ações do docente. Neste contexto, onde à autoridade está pautada

nas relações entre o professor e aluno, estreitam-se os relacionamentos, melhora o

diálogo, dá abertura para questionamentos, sugestões de regras com base no

consenso e também de novas metodologias de ensino.

Antão (1993) diz que o bom relacionamento entre o professor e aluno

faz com que estes aceitem com maior facilidade as exigências e responsabilidades

requeridas em sala de aula. Assim à competência do professor no processo de ensino-

aprendizagem não está vinculada somente aos conhecimentos científicos, mas

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também as relações interpessoais.

E terceira forma de exercer autoridade, para Furlani (1997) é à

autoridade não sustentada, ou seja, onde o professor abandona o exercício do poder.

Neste estilo, o professor se exime de qualquer responsabilidade, permite que os

acadêmicos definam às regras de forma autônoma, sem orientação. O professor

atribui toda a responsabilidade pela indisciplina aos alunos, não corrige as posturas

inadequadas e apresenta pouca importância ao processo de aprendizagem.

Entretanto, ainda segundo o autor, ao abandonar à autoridade

inerente ao professor em sala de aula não quer dizer que estes deixaram os costumes,

preconceitos, leis, crenças e assim continua exercendo poder sobre os participantes,

porém o professor não os assume. A disciplina sob o enfoque dá autoridade não se

sustenta pelo professor, o papel disciplinador é disputado pelos acadêmicos. Neste

caso os alunos é que definem às regras disciplinares em sala de aula. A relação entre

professor e aluno é inexistente, demonstra assim o total descaso com o processo de

ensino-aprendizagem.

Contudo, Vasconcellos (2009) ressalta que a educação se efetiva por

meio da autoridade, o discente necessita de direcionamento para construção de sua

personalidade. Para Antunes (2005) seguir às regras não tem relação com submissão

e sim com autocontrole.

Neste sentido, Morais (2001) salienta que à autoridade seja

estabelecida em sala de aula por meio da definição das regras de forma participativas

e não impositivas. O estabelecimento das normas e regras norteadoras do espaço

escolar sem a imposição tem relação direta com a definição de comportamentos que

são adequados ou inadequados para o grupo, à medida que estes participam do

processo decisório adquirem compromisso e senso de responsabilidade. Esta

corresponsabilidade motiva os alunos a cumprirem o que foi determinado pelas partes.

Oliveira (2005) coaduna com Morais a medida que expõe que as

normas e regras devem ser estabelecidas com o consentimento das partes

envolvidas. Fazem-se necessários que as partes interessadas compreendam a

finalidade das regras e assim colaboram para que o objetivo seja alcançado de forma

satisfatória a todos os envolvidos.

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Assim, a medida que o professor do ensino superior define às regras

em consenso com os acadêmicos está transferindo parte do poder a ele atribuído aos

alunos. Para Gadotti (1996) a tomada de decisão democrática está pautada nos

direitos e deveres das partes envolvidas, professores e alunos.

À medida que a regras e normas sejam definidas de forma conjunta,

de acordo com Tognetta e Vinha (2007) estas são compreendidas pelos discentes

como algo necessário para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem

e não como arbitrariedade. Salientam ainda que a definição das regras com base na

necessidade dos envolvidos compromete a cada um e assim se constitui

responsabilidade de todos.

Machado (2007) salienta que para que ocorra a gestão democrática

se faz necessário atenta-se a duas dimensões. A primeira está relacionada a

definição dos atores e como estes irão participar no processo decisório. A segunda e

não menos importante está relacionada ao estabelecimento dos índices de qualidade

no processo de ensino-aprendizagem, das formas de como melhorar os

relacionamentos interpessoais, os quais representam indicadores de qualidade

social.

Para Durkheim (1978), no espaço de ensino se faz necessário

constituir regras, pois elas são indispensáveis para estabelecer a ética, cabe ao

professor impô-las, por meio de punições. Nesta concepção, às regras são

entendidas como autoridade utilizada com base no poder legítimo do cargo para fazer

com que os alunos façam o que for solicitado em sala de aula.

Contrapondo esta ideia, Camacho (2001) ressalta que o mundo vem

sofrendo uma alteração nos valores e normas sociais, de tal modo que a conceito de

submissão e obediência do aluno não se faz presente em sala de aula e que as

instituições de ensino não estão preparadas para receber estes novos perfis de alunos

com outras demandas e valores.

Certeau (2012) sustenta que os alunos não aceitam de forma passiva

o que é estabelecido como normas a serem seguidas. E ainda que as instituições de

ensino não percebam os acadêmicos como pessoas de poder e assim não dá a estas

condições de se potencializarem enquanto acadêmicos.

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2.3 - A Questão da Indisciplina no Ensino Superior

O docente contemporâneo no exercício de suas atividades encontra

situações que vão além das competências formativas para atuação docente. A

capacidade de aprendizagem, motivação para aquisição de novos conhecimentos e

habilidade e cultura do estudo contínuo, não se bastam para esclarecer os motivos do

sucesso ou insucesso no processo de ensino-aprendizagem (GIL, 2006). A

indisciplina em sala de aula é apontada pelos professores como um dos principais

fatores que contribuem para o insucesso no processo de aprendizagem.

Neri (1992) aponta que o nível de motivação para o processo de

aprendizagem constitui-se um dos primeiros caminhos para prevenção de situações

de indisciplina em sala de aula. À medida que estes se interessem pelos conteúdos e

participem ativamente das discussões, das atividades, ouvindo os diferentes pontos

de vistas dos colegas e professores, defendendo seu ponto de vista ele estará

adquirindo novo saberes. A participação ativa do acadêmico demonstra seu nível de

motivação, produto de uma aprendizagem que lhe trouxe significado. A disciplina é

percebida por muitos professores evocada ao silêncio em sala de aula, submissão.

No conceito apontado por Neri, a disciplina está relacionada à participação ativa. Para

Aquino (1996) disciplina se transformou em ação de oposição, onde os alunos são

questionadores e de inconformismo com o contexto social a qual estão inseridos,

características essenciais do trabalho humano para o aprendizado.

O perfil dos alunos do ensino superior é específico deste grupo. Para

Zabalza (2004) os discentes são compostos por pessoas adultas, segundo a lei, com

capacidade de decisão, ou seja, sujeitos autônomos. Realidade que diverge do

contexto atual, uma vez que os jovens estão ingressando nas universidades,

apresentam alto grau de imaturidade, com dificuldades para se inserir no ensino

superior que requer do aluno um nível de maior comprometimento e responsabilidade.

Haja vista que, segundo Oliveira e Freitas (2008) os alunos ingressam

nas universidades sem embasamento, apresentam baixa capacidade de reflexão, com

dificuldades de linguagem e escrita, tanto da língua materna como estrangeira.

Aponta ainda a ausência de bagagem sociocultural, fator imprescindível e vinculado

aos campos das ciências, das humanidades, da cultura e das artes; habilidades para

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o convívio social; hábitos de estudo; respeito ao outro; compromisso, disciplina e

autonomia (OLIVEIRA E FREITAS, 2008).

Rojas (1996) corrobora com os apontamentos de Oliveira e Freitas,

salienta que o ingresso dos alunos é precoce e estes são frios, sem entusiasmo, com

ausência de compromisso, apresentam um pessimismo e ceticismo diante das

situações encontradas. São ecléticos em suas condutas e opiniões, relativista a

medida que repudiam verdades ou valores absolutos. O modo de vida é orientado

pela crescente disposição ao consumo e pelo hedonismo, busca egoísta pelo prazer

efêmero e súbito. São também permissivos, não se posicionam frente aos vários

problemas existentes no contexto escolar.

Bauman (2001) apresenta como uma das características dos alunos,

o da sociedade pós-moderna, o individualismo, o consumismo, são volúveis em suas

relações e posicionamentos, estão em constante mudança e buscam a satisfação

momentânea em suas relações. Os relacionamentos são voláteis e que são

destinadas a serem consumidas como tantas outras coisas.

Vivaldi (2013) coaduna com a afirmação de Bauman, reafirma que as

mudanças sociais trouxeram em seu bojo transformações na cultura dos indivíduos e

estas se fazem presente no contexto das instituições de ensino que são compostas

por uma geração balizada pelo individualismo e imediatismo. São acadêmicos que,

espero querem tudo para ontem, não conseguem lidar com adiamento ou espera em

demasia, apresentam necessidade de informações imediatas. Neste contexto, Zechi

(2008) salienta que estes alunos apresentam pouca ou nenhuma civilidade.

O autor salienta que apesar destas características não contribuírem

para o processo de aprendizagem, estes alunos, estão inseridos em tempos de alta

tecnologia, onde a informação está disponível a todos, no entanto estes apresentam

insignificante formação. Os estudos são pragmáticos, servem para resolução dos

problemas imediatos, ou seja, objetivo é conseguir o diploma universitário e não se

capacitar para ser um profissional com diferencial no mercado de trabalho. Os

interesses são superficiais, as considerações são triviais, não apresentam colocações

diferenciadas e que agregam valor as discussões, são frívolas.

Aquino (1996) aponta que o acesso a fontes externas à instituição de

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ensino afeta diretamente à autoridade do professor em sala de aula. Salienta que as

informações não podem ser somente as conceituais. Se o professor se limitar a

repassar as informações como se fosse uma enciclopédia, a internet será uma

concorrente, no entanto o diferencial está no sentido que o professor dá a informações

que está transmitindo ao aluno.

E sabido, que várias são as causas que contribuem para os problemas

de indisciplina em sala de aula, como fatores sociais, culturais, institucionais e do

comportamento dos alunos e professores. A falta de maturidade dos alunos que

ingressam cada vez mais cedo no ensino superior e contingente em sala de aula

constituem fatores que colaboram para a incidência da indisciplina em sala de aula.

Segundo Pimenta e Anastasiou (2005) as salas de aulas das séries inicias do ensino

superior são compostas por uma quantidade numerosa de jovens de dezessete anos

em média. Assim, sem se aperceber o professor os trata como adultos e espera que

tenha maturidade e disposição para estudar, interagir, se desenvolver e assim utiliza

metodologias inadequadas. Desta forma, a indisciplina pode advir das práticas

pedagógicas que não atendem ao perfil do aluno que ingressa no ensino superior.

Beraldo, Bridi e Lima (2001) comentam que o professor do Ensino

Superior acredita estar isento de problemas de indisciplina em sala de aula por estar

lidando com adultos, autônomos e que os alunos escolhem o curso por aptidão e

interesse. Entretanto, as turmas no Ensino Superior são compostas na sua grande

maioria por jovens de baixa faixa etária, nível de conhecimento variado e baixo

interesse e pouca ou nenhuma autonomia. Pimenta e Anastasiou (2005) dizem que

em alguns casos o aluno apresenta interesse e pouca autonomia. Em outros o aluno

é esforçado, mas apresenta pouco conhecimento básico para alavancar nos estudos.

Neste sentido os alunos não se aproximam dos discentes idealizados pelos

professores universitários e salienta a importância do professor realizar um

diagnóstico dos alunos no intuito de estabelecer estratégias de ação para sua prática.

Para Villibor et al. (2015) a falta de percepção pelo professor que o

aluno traz para o espaço de aprendizagem, sua experiência de vida, seus medos,

suas expectativas e sua cultura social faz com que ele tenha dificuldades para

controlar problemas indisciplinares. Desta maneira se faz necessário que o professor

que atua no ensino superior, sempre que iniciar uma nova turma realize um

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diagnóstico prévio das aspirações, capacidade de compreensão e consiga equilibrar

as relações de poder. O autor aponta que a saída para combater comportamentos de

indisciplina no ensino superior está nas mãos do professor. É preciso que este

reconheça que o discente tem características próprias e goza de autonomia para

gerenciar seu aprendizado, no entanto se faz necessário motivá-lo na busca novos

conhecimentos de forma democrática e consciente.

Segundo Oliveira e Freitas (2008) os alunos ingressam no ensino

superior, na maioria das vezes, sem pressupostos básicos de disciplina e cabe ao

professor prepará-los para o mercado de trabalho que se apresenta extremamente

competitivo e com altos índices de desemprego. Esta é uma difícil tarefa que causa

desgaste emocional no professor pelo aumento da indisciplina em sala de aula e a

falta de comportamento dos alunos.

Anastasiou (2001) constatou por meio de um estudo realizado em

instituição de ensino superior que entre os principais problemas enfrentados pelos

professores universitários está à ausência de interesse nos conteúdos abordados,

falta de embasamento para cursar o ensino superior e ausência de condições de

estudo. A pesquisa aponta que os acadêmicos são pacíficos, individualistas e não

apresentam comprometimento com os estudos, os interesses se resumem a obtenção

da nota para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma, neste contexto

apresentam tal falta de compromisso e comportamentos de indisciplina em sala de

aula. A insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na

universidade desencadeia a falta de interesse e consequentemente ações de

indisciplina entre elas: falta de participação, desmotivação, descompromisso com o

estudo são interpretados como comportamentos de indisciplina.

Para Jusviack (2009) a indisciplina apresenta-se também por meio

das conversas paralelas no decorrer das explicações do professor, desrespeitar o

professor ao respondê-lo com grosserias, discutir com os colegas da sala, bagunça,

enfrentar o professor, bem como não realizar as atividades solicitada pelo professor

são comportamentos dos alunos que poder ser entendidos como indisciplinares.

Segundo Anastasiou (2001) é possível inferir que uma parcela das

expressões de indisciplina na Educação Superior é advinda da Educação Básica e

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outra parcela advém do contexto peculiar ao ensino superior. Neste contexto,

apresentam se comportamentos inadequados como conversas paralelas, piadas

inapropriadas, uso do celular durante as explicações, ausências injustificadas, entre

outras.

A disciplina ou indisciplina não ocorre de forma linear e não estão

relacionadas exclusivamente a comportamentos mecânico pelo caráter do aluno.

Muitas vezes comportamentos indisciplinares são demonstrações de insatisfações do

aluno produzidas no ambiente de aprendizagem. É a medida que ela se apresenta em

sala de aula, o professor pode entender que o aluno ou o grupo de alunos estão

desmotivados. (BOARINI, 2013). Os comportamentos de indisciplina no contexto

escolar implicam de forma negativa nas relações e dificultam o processo de

socialização entre professores e alunos e consequentemente afetam o desempenho

do aluno, além do desgaste ao professor pelo tempo dispendido para manter e ou

solucionar os maus comportamentos em sala de aula. As interrupções constantes e

a dificuldade em cumprir os conteúdos programados acabam afetando a saúde do

professor pela tensão que se faz presente em cada aula e a dificuldade para

solucionar o problema. (OLIVEIRA, 2009). Neste sentido, o professor universitário

deve apresentar as competências necessárias para estabelecer a ordem e um

ambiente harmonioso em sala de aula, sem, entretanto, proporcionar discussões que

levem o acadêmico a desenvolver as competências profissionais necessárias ao

discente a ser formado. Desta forma, cabe ao professor a resolução de conflitos e ou

problemas comportamentais que emergem no espaço de aprendizagem.

No entanto, Siqueira (2003) salienta a importância da cordialidade,

empatia, respeito, confiança e afetividade entre o professor e seu aluno para o bom

desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, por outro lado, ressalta que

os docentes não podem deixar que este sentimento lhe conduzisse a posturas

inadequadas frente aos acadêmicos, como por exemplo, permitir que um aluno que

tenha faltado as aula, sem uma justificativa plausível entregue as atividades em outra

data, ou ainda melhorar a nota de um ano que foi mal na prova somente para que este

não fique de exame, ou seja, o professor na posição de formador de opiniões deve se

pautar pelo princípio da justiça e não pela amizade e empatia.

Para Masseto (1998), o êxito no processo de aprendizagem está

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diretamente ligado à sua estratégia metodológica. Aulas com dinamicidade, com uma

linguagem clara e objetiva em que facilite o entendimento do aluno, os temas devem

ser contextualizados com exemplos da atualidade e que fazem parte do cotidiano do

aluno, onde a exposição seja realizada na sua grande maioria utilizando a explanação

verbal e o quadro negro mais como suporte no registro dos tópicos principais e

algumas informações a serem salientadas. Segundo a autora os alunos apontam que

as aulas expositivas dinâmicas os motivam e despertam o interesse pela disciplina e

o aprendizado, desta forma os professores enquanto fonte de inspiração constituem

o caminho de transformação do contexto de sala de aula e conseguinte da

transformação social.

Siqueira (2003) salienta que ao contrário de práticas motivacionais

encontramos nos espaços de aprendizagem professores que gritam com os alunos,

ameaçam dizendo que a prova será em breve e eles não conseguirão realizá-la, que

o conteúdo será registrado como ministrado, ou ainda com cunho punitivo passam

exercícios valendo nota para serem entregues no final da aula. Outros professores

ainda ignoram os comportamentos de indisciplina e ministram todo o conteúdo

planejado para aquela aula, demonstrando indiferença quanto a se os alunos estão

compreendendo ou os motivos que os levam a demonstrarem ausência de interesse

e indisciplina na aula.

O autoritarismo é outra postura adotada pelos professores que na

maioria das vezes assumem por acreditar que agindo desta forma irão conquistar o

respeito dos alunos, no entanto ela proporciona um distanciamento entre eles. A

postura autoritária intimida os acadêmicos a voltarem sua atenção ao professor e

ministra suas aulas sem envolvimento, e assim não se importa se os alunos estão

acompanhando seu raciocínio ou não. Na maioria das vezes a atenção é direcionada

a um grupo pequeno de alunos, normalmente sentado nas primeiras carteiras e que

demonstram estar atentos aos conteúdos ministrados na aula e quando um dos alunos

que não estão inclusos neste grupo e que supostamente na percepção do professor

não estão interessados em sua aula fazem uma pergunta, são ignorados ou recebem

uma má resposta como “não estava desinteressado porque quer saber agora?”

(SIQUEIRA, 2003).

Para Libaneo (1994) os enfrentamentos em sala de aula não

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contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor utiliza como

estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula e ou adicionar-lhe

trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno adquira respeito pelo

professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é conquistado por meio do

diálogo e não com ações impositivas e que o aluno entenda como punição pelas ações

indisciplinares.

O papel do professor vai muito além da transmissão de novo saber, a

capacidade de ouvir, interagir com os alunos. É dever do professor proporcionar

condições para que o acadêmico aprenda a expressar suas opiniões e não a reprimí-

las com atitudes autoritárias. O trabalho docente é uma via de mão dupla, e as

respostas e posicionamento do aluno são demonstrações positivas ou negativas a

práxis do professor, a identificação com o conteúdo ou as dificuldades que estão

encontrando para assimilar as informações (LIBANEO, 1994).

Para Isaías e Bolzan (2007) salientam a importância das interações

entre professores e alunos em suas relações no espaço escolar.

[...] o professor, à medida que ensina, aprende com seus alunos, denotando espírito de abertura e humildade ao não adotar uma posição autoritária, ao mesmo tempo em que está ciente de sua responsabilidade de conduzir o processo formativo dos alunos. (p. 175)

Assim a interação entre professor e alunos no processo de ensino

proporciona alterações nos envolvidos. Os agentes se modificam a medida que um

contribui para o desenvolvimento do outro. Vasconcelos (2006) reforça que no ensino

superior uma boa relação entre professor e aluno é essencial para o desenvolvimento

do trabalho docente. No entanto, as interações devem facilitar o diálogo, mas não se

tornarem íntimas a ponto de descaracterizar o papel do professor enquanto autoridade

em sala de aula.

A relação com o aluno é de suma importância para a efetivação do

trabalho docente. Nóvoa (2002) aponta que, diferente de outras profissões, o trabalho

docente depende da coparticipação do aluno, pois só é possível ensinar a quem quer

aprender. A formação dos alunos na graduação predispõe que este seja capacitado a

se tornarem profissionais autônomos e que para isto precisam ser motivados a

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aprendizagem continua, assim se faz necessário que o processo de aprendizagem

seja baseado por confiança, predisposição e capacidade de adquirir novos

conhecimentos. Desta forma, se faz necessário investir na aprendizagem e

desenvolvimento de uma relação afetiva entre docente e discente. Os reflexos desta

relação serão evidenciados na identidade profissional do acadêmico que pode e deve,

no decorrer do curso, desenvolver disciplina para o exercício de suas atividades

enquanto futuros profissionais.

Vasconcelos (2006) detectou em pesquisa que existem semelhanças

e diferenças no entendimento dos alunos e professor sobre o que vem a ser

autoridade do professor. Para os professores suas atribuições enquanto docente lhe

confere à autoridade, mas no entendimento dos alunos a função de professor lhe

legitima à autoridade, no entanto se faz necessário que este assuma postura que a

legitime frente aos alunos. A ausência de legitimação desencadeia comportamentos

indisciplinares. E para o Vasconcelos à autoridade do professor se efetiva por meio

do diálogo e de posturas que demonstrem sua responsabilidade com o processo de

ensino-aprendizagem.

Para Torres (2006) a ausência de diálogo entre os agentes do

processo de ensino-aprendizagem é expressa como ações indisciplinares pelos

professores, entre elas, a redução do horário do aluno em sala de aula, chega

atrasado e sai mais cedo, e ainda entra e sai da sala no decorrer da aula, a agitação

e conversas paralelas e produzem o mínimo necessário para conseguir a média de

aprovação.

É muito importante que o professor tenha um olhar atento às questões

da indisciplina em sala de aula, pois ela impacta negativamente no desenvolvimento

da aula. Para Oliveira (2008) a indisciplina altera o andamento da aula, interfere na

programação do conteúdo a ser ministrado e ainda impede ou dificulta o trabalho

pedagógico do professor.

O aluno que se apresenta indiferente e sem comprometimento com o

estudo, o faz como forma de mostrar sua insatisfação às regras e as normas

estabelecidas em sala de aula, e estas manifestações são consideradas uma forma

de indisciplina pelos agentes do processo. Assim pode-se afirmar que são inúmeros

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os comportamentos de indisciplina percebidos pelos professores universitários. No

entanto, de acordo com Damke; Gonçalves e Silva (2008) a indisciplina está

diretamente relacionada às práticas do professor em sala de aula, a sua formação

pedagógica, a experiência enquanto professor no ensino superior e principalmente a

sua postura frente a universidade e as questões sociais. Desta forma, ações do aluno

no contexto escolar podem ou não serem entendidas como indisciplina. Estas estão

diretamente relacionadas a percepção e a maneira como o docente entende a

indisciplina.

Segundo Vasconcelos (2006) não se limita a essa única perspectiva

como fonte de autoridade do professor universitário e também aos valores que o grupo

institui, à competência didática e relacional do professor para direcionar os alunos em

busca do principal objetivo que é a maximização da aprendizagem.

E ainda, o professor universitário deve estar constantemente se

capacitando para conseguir dimensionar a sua autoridade de forma moderada e

imparcial. Siqueira (2003) afirma que a disciplina em sala de aula está diretamente

relacionada ao estilo de prática docente, ou seja, à autoridade conquistada por meio

de sua postura profissional, comprometimento com moral e as metodologias

utilizadas. Siqueira (2003) reforça dizendo que:

Os professores que melhor conseguem este controle são aqueles que dominam o conteúdo que ensinam; não têm receio de dizer que não conhecem a resposta, mas que a irão pesquisar e depois a trarão (e cumprem a promessa); adaptam seus métodos e procedimentos de ensino em função da necessidade de sua clientela; possuem tato em lidar com as diferenças individuais em sala de aula; estão abertos ao diálogo; e demonstram dedicação profissional, senso de justiça, caráter, competência e hábitos pedagógico-

didáticos necessários à organização do processo de ensino (SIQUEIRA, 2003, p.123).

Assim pode inferir que à competência do professor tem relação com

sua capacidade de reflexão sobre os métodos de ensino adotados no espaço de

aprendizagem, a postura que adota frente aos alunos e sua predisposição a

relampejar suas metodologias, a fim de instigar e favorecer a aprendizagem e a

motivação de seus alunos não como seres apáticos e sim como agentes que

participam do processo de construção de novos conhecimentos e da realidade a qual

está inserido. O conhecimento deve servir aos propósitos de transformação do aluno

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em cidadão e da sociedade na qual está inserido e assim o professor universitário

deve ser um facilitador no processo de ensino-aprendizagem, aquele que proporciona

e provoca o desejo de aprender e de buscar constantemente novos saberes.

(SIQUEIRA, 2003).

Neste sentido Anastasiou e Alves (2004) sinalizam a necessidade da

mudança metodologias no ensino superior, assistir aula deve ser substituído por fazer

aulas, onde a construção do conhecimento se efetive por meio da participação dos

alunos como massas pensantes e que a medida que estas operações mentais sejam

incentivadas os alunos se tornem mais críticos e participativos. Para as autoras a

participação ativa dos discentes é essencial para ampliar o seu desenvolvimento

cognitivo e principalmente por proporcionar nos alunos o sentimento de pertencimento

ao grupo da sala de aula, o que tem como consequência uma facilitação do processo

de aprendizagem.

Para Pimenta e Anastasiou (2005) o que promove o interesse dos

alunos pelas disciplinas é a aproximação da teoria a prática. Assim a experiência do

professor enquanto profissional que vivencia dos conteúdos abordados em sala de

aula constitui um dos elementos de suma importância na construção do

conhecimento. Segundo Aquino (1996), os discentes têm dificuldade de relacionar os

conteúdos ministrados em sala de aula com sua futura profissão e essa dissociação

proporciona a ausência de interesse, conduzem os alunos a manifestações

desrespeitosas para com seus professores, os quais trazem impactos negativos no

rendimento acadêmico.

Como vimos, são muitos os desafios e implicações da indisciplina nas

intuições de ensino, em específico nas universidades, onde pressupõe que o aluno já

tenha autonomia de escolha e que esteja preocupado em absorver conhecimentos

que lhe possibilitarão transformar-se em um profissional de talento no mercado de

trabalho. No entanto, de acordo com Garcia (2007) é preciso conhecer a dinâmica

destes problemas com maior profundidade e principalmente rever o modo como os

professores vem percebendo e enfrentando a indisciplina no ensino superior. É

preciso conceber novas formas de combater as questões de indisciplina em sala de

aula e assim se faz necessário uma mudança de paradigma em torno do assunto.

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E para isto segundo Torres (2008) é preciso que os professores

reflitam sobre suas práticas no intuito de reduzir suas angústias e apontar diretrizes

que possibilitem encontrar uma solução para o problema.

Desta forma entendemos que o professor do ensino superior e as

instituições têm forte influência no processo de disciplina e indisciplina em sala de aula

e que está se apresenta como um grande desafio pelas implicações para o trabalho

docente, sendo que é preciso conhecer com maior profundidade como este problema

ocorre no ensino superior e principalmente refletir e revisar as formas como estamos

concebendo e interagindo com esta questão nas universidades.

Nesse sentido, torna-se necessário compreender esse processo por

meio de uma pesquisa que tem como objetivo analisar como os docentes e discentes

percebem a indisciplina no ensino superior e seus impactos no trabalho docente.

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3 - A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E SEUS IMPACTOS NO

TRABALHO DOCENTE

A terceira seção tem como objetivo analisar os resultados de uma

pesquisa empírica, por meio de um estudo de caso sobre como os docentes e

discentes percebem a indisciplina no ensino superior e seus impactos no trabalho do

professor. A pesquisa envolve professores e alunos do primeiro ao oitavo semestre

do Curso de Administração de uma universidade privada do norte do Paraná.

As questões metodológicas serão apresentadas na primeira parte

desta seção, onde serão expostas a delimitação da pesquisa, os métodos e as

técnicas utilizados para a coleta de dados. Na sequência, os dados qualitativos e

quantitativo serão apresentados, analisados e subsidiarão as respostas ao problema

de pesquisa: os impactos da indisciplina no trabalho do professor sob a ótica dos

professores e alunos universitários. A percepção dos alunos será apresentada num

primeiro momento e posteriormente a dos professores do ensino superior. Após a

apresentação e discussão dos dados serão realizadas as considerações finais.

3.1 - Método e técnicas de Pesquisa

Os procedimentos metodológicos são de suma importância para a

realização de uma pesquisa. A medida que estabelece um bom método de

investigação, o pesquisador minimiza os problemas, ainda que estes não garantam

segurança absoluta no transcorrer da pesquisa. Assim, iniciamos nosso estudo com

o momento exploratório, por meio de um levantamento bibliográfico em torno do tema

indisciplina e seus reflexos no trabalho docente, os quais serviram de apoio para

construção do embasamento teórico das seções 1 e 2.

Ao realizar o levantamento bibliográfico encontramos vários estudos

relevantes sobre indisciplina. No entanto, tais pesquisas são voltadas à Educação

Básica. A dificuldade para obtermos estudos sobre a questão da indisciplina no

ensino superior, e a ausência de investigação específica sobre a questão da

indisciplina e os impactos desta no trabalho do professor universitário enfatizam a

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importância deste estudo.

O procedimento selecionado para realização do estudo foi a pesquisa

de campo. Para Gil (1999) este procedimento permite a coleta de dados de um

determinado grupo de indivíduos no intuito de aprofundar as questões que norteiam

a pesquisa. Assim, para atingir o objetivo proposto considerou-se a pesquisa de

campo o procedimento mais apropriado.

A pesquisa foi realizada por meio de um estudo de caso, em uma

universidade privada no norte do Paraná, que buscou como sujeitos os alunos do

cursos de graduação em Administração. Utilizou-se como abordagem a pesquisa

qualitativa e quantitativa. Para Malhotra (2001) apesar de constituírem-se dois tipos

de pesquisa distintas no que tange a profundidade dos dados coletados e analisados,

um não se opõem ao outro e sim se complementam. De forma sucinta, a pesquisa

quantitativa tem como finalidade quantificar os dados e posteriormente analisa-los e

a quantitativa tem enfoque buscar responder as causas.

Neste estudo a pesquisa quantitativa foi utilizada para traçar o perfil

do aluno e sua percepção da indisciplina em sala de aula. Já os impactos da

indisciplina no trabalho docente foram pautados em dados qualitativos.

Desta forma, a pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa,

acomodou-se à finalidade da pesquisa, uma vez que os dados qualitativos possuem

benefícios em detrimento dos dados quantitativos por possuir alusões menos

limitativas e maior possibilidade das informações subjetivas se manifestarem no

decorrer da pesquisa, e esta, adicionada à pesquisa quantitativa, oportuniza

esclarecer de forma mais adequada a realidade (PEREIRA, 2001).

Para Popper (1972) os estudos de campo quantitativos, norteiam por

padrão de pesquisa onde o pesquisador parte de dados ou informações que podem

ser convertidas em números que possibilitem verificar a ocorrência ou não das

consequências. Richardson (1989) aponta que o método quantitativo é

frequentemente aplicado em que descrevem os fenômenos no intuito de descobrir e

classificar a relação ou não entre as variáveis.

Já pesquisa de natureza qualitativa, segundo Minayo (2001) tem

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enfoque em aspectos das relações sociais que não podem ser quantificados, tem

enfoque em responder os significados, motivos, anseios, crenças, valores e atitudes

que envolvem o contexto social, ou seja, buscam respostas nos espaços mais

profundos dos fenômenos os quais não podem ser somente quantificáveis.

Utilizamos como instrumento de coleta de dados a observação e

aplicação de questionários semiestruturados, com questões objetivas e subjetivas

que possibilitam aos respondentes expressarem com liberdade seu ponto de vista.

Para Bogdan e Biklen (1994) a observação é considerada um importante método

de pesquisa à medida que possibilita revelar com profundidade o fenômeno

estudado.

Assim, a partir do momento que definimos nosso objeto de estudo

iniciamos um processo de observação, o qual foi realizado de março a julho de 2016,

onde foi possível observar as questões de indisciplina se fazem presente no ensino

superior. Estas observações foram realizadas durante os atendimentos aos alunos

e professores que relatavam problemas de indisciplina em sala de aula, bem como

nas conversas com os professores em sua respectiva sala.

As observações foram realizadas a partir demeados de março a julho

de 2016. Neste período, foram realizados vários atendimentos a alunos que

apontavam os conflitos existentes em sala de aula advindos de ações de indisciplina

em sala de aula.

3.3.1 – Caminhos da coleta e análise de dados

A pesquisa de campo foi realizada em dois momentos. Primeiro

aplicamos os instrumentos de coleta de dados aos acadêmicos do curso de

graduação em Administração. O universo era composto por 278 alunos devidamente

matriculados do 1ª ao 8º semestre. Deste, apenas 142 alunos responderam o

questionaram, ou seja, 51,08% dos alunos que se encontravam devidamente

matriculados no primeiro semestre de 2016. O instrumento teve como o objetivo

identificar o perfil dos acadêmicos respondentes, a opinião dos alunos quanto as

atitudes dos colegas de sala que ele considera ações de indisciplina, os motivos que

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desencadeiam os comportamentos de indisciplina em sala de aula, os responsáveis

por manter a disciplina no espaço escolar e sua percepção sobre o quanto a

indisciplina afeta o trabalho do professor.

Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado

(Apêndice A) composto por questões objetivas e subjetivas que, além dos dados

quantitativos, buscou identificar a opinião dos respondentes sobre o objeto em

estudo. A coleta de dados foi realizada no período de maio a agosto de 2016. A

coleta de dados foi programada para ser realizada em um mês, no entanto foi

necessário um trimestre para realização da pesquisa haja vista o pouco envolvimento

dos alunos com a pesquisa.

A pesquisa foi realizada por meio do diretório google drive. A lista de

e-mails atualizados foi disponibilizada pelo setor acadêmico da instituição em estudo,

o que nos possibilitou o envio do link do questionário aos 278 alunos do Curso de

Administração.

No intuito de atingirmos o maior número de respondentes se fez

necessário o envio de três e-mails com cobranças e também utilizamos como

estratégia para conseguir o maior número de sujeitos a abordagem pessoal, quando

fomos até as salas e explicamos a importância da pesquisa na construção do

conhecimento e que a mesma não era obrigatória, no entanto de suma importância

para o resultado do estudo. Nestes momentos também salientamos a importância da

veracidade das respostas e que a pesquisa tinha cunho acadêmico e que os dados

pessoais do aluno seriam resguardados.

Apesar do pouco envolvimento dos discentes em participar do estudo,

conseguimos o retorno de 142 (51,08%) dos alunos matriculados no primeiro

semestre de 2016.

No segundo momento foram realizadas as pesquisas direcionadas

aos professores que ministram disciplinas no Curso de Administração. Os

procedimentos foram semelhantes, a pesquisa foi realizada de agosto a setembro de

2016, o link de acesso ao questionário foi encaminhado via e-mail aos dez

professores do curso de Administração. Apesar de conseguirmos coletar

informações de todo os professores que ministram aulas no curso pôde-se constatar,

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após a análise, que alguns professores não deram a devida importância aos

instrumentos de coleta de dados e responderam de forma objetiva aos

questionamentos, por exemplo, um dos respondentes quando questionados sobre

qual seu entendimento sobre indisciplina ele respondeu “básico”. Ao identificar tal

subjetividade realizamos, além do questionário, uma entrevista pessoal com alguns

professores no intuito de aprofundar as respostas obtidas por meio do questionário.

Ambos os instrumentos foram elaborados no diretório Google Drive e

os links encaminhados via e-mail para os sujeitos da pesquisa. Neste e-mail,

explicamos os objetivos da pesquisa, a relevância do estudo e a importância das

respostas. À medida que os alunos e ou professores respondiam o instrumento de

coleta de dados as informações, em tempo real, abasteciam uma planilha eletrônica

que facilitou a tabulação e análise dos dados.

Cabe salientar que os instrumentos, antes de serem aplicados, foram

validados por três sujeitos, no intuito de identificar problemas de linguagem e falta de

objetividade nas questões formuladas.

Assim, esta pesquisa oportunizou constatar a incidência do problema

levantado. Importante destacar que na universidade pressupõe-se que atos e ou

ações de indisciplina não mais deveriam existir pelo próprio caráter autônomo dos

alunos e professores. No entanto, pôde-se constatar com a pesquisa que a

indisciplina se faz presente na universidade.

Desta forma, a partir de então, apresentaremos os resultados dos

dados obtidos na pesquisa e sua análise. Primeiramente apresentaremos o olhar dos

discentes sobre a indisciplina para depois nos debruçarmos sobre a visão dos

docentes, além de estabelecer a relação entre esses dois grupos no que diz respeito

a percepção dos sujeitos sobre os impactos da indisciplina no trabalho do professor

universitário.

3.2 - Questão da indisciplina na universidade sob a ótica do discente

Um dos objetivos presentes na pesquisa era compreender a

percepção dos alunos de uma instituição de ensino superior frente à indisciplina no

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ambiente educacional, assim iniciaremos com uma breve apresentação das

principais características do curso de Administração no intuito de aproximar o leitor

das atividades desenvolvidas pelo aluno no decorrer da graduação e na sequência

apresentar o perfil dos alunos que participaram da pesquisa e posteriormente sua

percepção das questões de indisciplina em sala de aula.

O curso de Administração da universidade em estudo tem a duração

mínima de quatro anos, sendo as disciplinas serializadas do primeiro ao oitavo

semestre. A formação tem caráter generalista, o aluno adquire saberes em diversas

áreas do conhecimento, como: finanças, estatísticas, matemática, psicologia, direito,

contabilidade, gerenciamento de pessoas entre outras. A diversidade de

conhecimentos adquiridos no decorrer do curso oportuniza ao futuro profissional

especializar em diferentes áreas, bem como a atuação em diversas frentes, como,

por exemplo, marketing, finanças, produção, gestão de pessoas e na prestação de

serviço de consultoria.

As disciplinas são oferecidas de três formas: A primeira, são

chamadas de Aulas Modelo Institucional-AMI, que, onde à instituição elabora todo o

conteúdo e material de apoio para alunos e professores. Essas aulas são compostas

de atividades de pré-aula e pós-aula, onde os alunos devem realizar os trabalhos

disponibilizados no Portal do Aluno em dias e horários que sejam convenientes para

eles, respeitando o período de aula entre uma aula e outra. O professor deve seguir

o material de apoio, livro texto, elaborado para cada disciplina, o qual traz os

conteúdos a serem trabalhos pelos professores e sugestões de atividades a serem

desenvolvidas em sala de aula, como case, temas para discussão, entre outros.

O segundo formato são as disciplinas Aula Modelo Professor- AMP,

são preparadas pelo professor responsável pela disciplina. O sistema de acesso é

realizado por meio do Portal do Aluno, o mesmo das disciplinas AMI.

E a terceira modalidade são as disciplinas interativas ou estudo a

distância – EAD, onde todas as atividades são realizadas pelo aluno on-line, sobre a

mediação de um tutor.

Para conclusão do curso também é necessário que o aluno

desenvolva 600 horas de atividades complementares de ensino, das quais 480 são

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realizadas por meio dos Estudos Dirigidos – ED, que têm como formato o mesmo

das disciplinas interativa, onde o aluno desenvolve 100% das atividades on-line. As

demais 120 horas podem ser realizadas por meio de projetos de pesquisa, extensão,

monitoria, cursos realizados na área e estágio voluntário.

O estágio não obrigatório é uma atividade de suma importância para

o desenvolvimento profissional dos alunos. Já as monitorias consistem na inserção

dos acadêmicos em atividades universitárias que possam pôr em evidencia sua

capacidade técnica e didática nas áreas de conhecimento.

3.2.1 - Perfil do aluno entrevistado

Investigar o perfil dos respondentes nos ajudou na análise e

discussão sobre o tema, bem como analisando especificamente para a instituição de

Ensino Superior onde a pesquisa foi realizada, permitiu a identificação das

peculiaridades de uma determinada população, o que facilitará uma melhor

orientação aos professores no processo decisório para elaboração das metodologias

e postura a ser adotada em sala de aula (PEREIRA EBAZZO, 2009).

Nesta seção apresentar-se-á o perfil dos acadêmicos que fizeram

parte da amostra de acordo com os dados obtidos na primeira parte do instrumento

de coleta de dados. Assim, descrevem-se aqui os principais resultados que foram

evidenciados com a pesquisa e que representam as características pessoais dos

acadêmicos do curso de Administração, entre elas: gênero, faixa etária, semestre

que está cursando, e a incidência de alunos que afirmaram ter sido chamados a

atenção por comportamentos indisciplinares pelos menos uma vez no decorrer do

semestre.

Os dados foram apresentados por meio de gráficos e tabelas no

intuito de proporcionar uma melhor visualização dos resultados quantitativos.

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GRÁFICO 1 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto ao gênero Fonte: Pesquisa da autora

Quando perguntado sobre o gênero dos acadêmicos que

participaram da amostra pode-se constatar que a maioria (55%) dos respondentes é

do gênero feminino. No entanto, observa-se que a amostra foi composta por uma

distribuição quase igualitária dos discentes do gênero masculino (45%) e feminino

(55%).

Constata-se a existência de consonância entre os dados, à medida

que estes são proporcionais ao percentual de alunos que ingressam no Curso de

Administração no Brasil, dos quais 55,67% dos alunos matriculados são do gênero

feminino e 44,35 são masculinos. (INEP, 2013)

O dado quanto ao gênero aponta a expansão no número de

mulheres que adentram o ensino superior para constituírem futuras administradoras

de empresas e/ou gestoras de seu próprio negócio. Segundo Bruschini e Lombardi

(2000) a expansão da escolaridade das mulheres, advindo do seu ingresso maciço

em cursos de nível superior, provoca transformações nas profissões que doravante

era exercida única exclusivamente por homens.

MACULINO45%

FEMININO55%

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77

GRÁFICO 2 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto à faixa etária e gênero

Fonte: Pesquisa da autora

Os dados apontam, Gráfico 2, que as salas de aula do Curso de

Administração são compostas em sua maioria, 95%, por alunos jovens de 17 a 32

anos, sendo deste 53% do gênero feminino e 42% do gênero masculino, sendo ainda

que a maioria82% tem menos de 25 anos de idades. Podemos observar, através da

nossa experiência enquanto professora e educadora, que os alunos que ingressam

na universidade, na maioria, acabaram de concluir o ensino médio e pela pouca idade

trazem incerteza quanto sua escolha profissional, fato este que contribui para a

ausência de interesse sobre os assuntos abordados em sala de aula.

0%

36%

6%

3%

0%1%

47%

5%

1% 1%

Menos de 18anos

18 a 25 anos 26 a 32 anos 33 a 40 anos Mais de 40 anos

MASCULINO

FEMININO

45%

55%

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78

Rojas (1996) salienta que o ingresso precoce no ensino superior,

influencia os comportamentos dos alunos em sala de aula, uma vez que estes pela

imaturidade são insensíveis, sem entusiasmo e descompromissado com os estudos.

GRÁFICO 3 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a atual situação profissional

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Os dados apresentados no gráfico 3 nos levam a compreender que

72% dos alunos encontram-se inseridos no mercado de trabalho, destes 68% atuam

na área de Administração, quer seja como empregados em área administrativa

(35%), estagiários (19%) e ou empresário (14%) e apenas 4% ainda não atuam na

área, dentre os cargos ocupados em outros seguimentos foram listados o de

vendedor, auxiliar de produção, costureiro e babá. Constatamos que 11% dos alunos

estão desempregados e 17% se dedicam exclusivamente aos estudos.

OUTROS4%

Empresário14%

Estagiário19%

Estudante17%

Empregado na Área35%

Desempregado11%

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Cabe destacar que este cenário, onde 68% atuam na área pode ser

considerado um ponto de extrema importância na vida profissional destes

acadêmicos, pois possibilita ao aluno fazer uma relação da teoria à prática.

Proporciona, também, um maior envolvimento do aluno no processo de ensino-

aprendizagem, à medida que este consegue relacionar e contextualizar os conteúdos

abordados em sala de aula com sua área de atuação. Neste sentido, Imbernon

(2001) ressalta a importância de o professor conhecer os acadêmicos, sua área de

atuação, assim poderá desenvolver estratégias metodológicas que se aproximem

das vivenciadas pelos alunos e consequente ser exitoso em seu trabalho docente.

No entanto, para os 72% que desempenham atividades laborais

durante o dia4consideram a possibilidade da obtenção do baixo desempenho em sala

de aula, advindas do cansaço da atividade laboral, pela indisponibilidade de tempo

para realizar as atividades solicitadas pelos professores, e institucionais emanadas

das disciplinas AMI, interativas e ED. Cardoso e Sampaio (1994) concluíram com a

pesquisa realizada junto aos alunos do Curso de Administração da Universidade de

São Paulo – USP, que os alunos que conciliam trabalho e estudo apresentam baixo

desempenho no curso.

Entretanto, o uso de metodologias adequadas podem despertar o

interesse do aluno a participar de forma ativa do processo de ensino aprendizagem,

interagindo nas discussões e compartilhando suas experiências profissionais de

forma a contextualizar o conteúdo abordado em sala de aula, proporcionando assim

uma maior absorção do conhecimento tanto para si como para os demais colegas de

sala. Logo, a gestão da sala de aula, em particular a metodologia utilizada, como uso

de slides carregados, com texto longo que podem causar sonolência no aluno,

contribuem para ausência de interesse do aluno pelo o assunto que está sendo

discutido em aula.

Outro dado apontado na pesquisa é que 14% dos alunos, os

empresários, apesar da pouca idade, administram seu próprio negócio. No entanto,

não foi possível por meio dos dados coletados aferir se as empresas são geridas

pelos alunos, ou se os mesmos são somente filhos de proprietários de empresas e

4O Curso de Administração é noturno, desta forma as atividades laborais são realizadas no período diurno.

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não trabalham nestas organizações. A pesquisa aponta também 28% dos alunos

estão sem renda própria, 11% em situação de desemprego e 17% são estudantes

que dependem de terceiros para custear sua formação.

Após a apresentação do perfil dos alunos que participaram da

pesquisa iniciaremos com a exposição dos dados sobrea percepção dos alunos

sobre a questão da indisciplina em sala de aula e neste sentido a primeira questão

está relacionada se ele mesmo se percebe como aluno que apresenta

comportamentos de indisciplina em sala de aula.

Para Aquino (1998) o “aluno problema” que apresenta distúrbios

comportamentais é usualmente nominado como indisciplinado. Assim, os

respondentes foram separados em dois grupos: os alunos disciplinados são aqueles

que informaram que nunca lhes foi chamada a atenção durante as aulas no decorrer

do primeiro semestre de 2016 e indisciplinados os alunos que pelo menos uma vez

no decorrer do semestre já foi invocado pelo professor por comportamentos

inadequados em sala de aula.

Cabe destacar que não foi objeto do estudo confrontar a veracidade

das informações junto aos professores que ministram as disciplinas para este grupo

de alunos, assim levamos em consideração para a análise a real percepção do aluno

quanto a seu comportamento enquanto acadêmico do ensino superior.

Apresentamos por meio do gráfico 4 um panorama sobre a

percepção do aluno quanto ao seu comportamento em sala de aula.

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GRÁFICO 4 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a frequência com

que os mesmos apresentaram comportamento de indisciplina em sala de aula

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

A pesquisa aponta que 39% (27% raramente, 11% algumas vezes e

1% várias vezes) dos alunos durante o semestre em curso, março a agosto/2016,

teve a sua atenção chamada por apresentar comportamentos indisciplinados em sala

e aula, dos quais 19% são do gênero feminino e 21% do gênero masculino.

Segundo Santos e Moreira (2002) as alunas apresentam

comportamento mais disciplinado do que os alunos, à medida que foram educadas

com maior rigidez para serem respeitosas, estudiosas e meigas. Reforçando o

MASCULINO

FEMININO

TOTAL

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

DISCIPLINADO Raramente Algumas vezes Várias vezes

24%

13%

7%1%

37%

15%

4%0%

61%

27%

11%

1%

DISCIPLINADO61%

39%

INDISCIPLINADO 39%

39%%

61%

19%

INDISCIPLINADO

21%

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estereótipo de masculinidade, onde os comportamentos inadequados apresentados

pelos alunos têm maior aceitação social.

3.2.2 – Questão da indisciplina em sala de aula sob o olhar dos acadêmicos

Nesta sessão apresentaremos os dados da pesquisa que apontam a

percepção dos alunos do curso de Administração sobre a indisciplina em sala de

aula. Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa. Os dados

quantitativos foram apresentados em tabelas para uma melhor visualização das

informações. Os dados dos alunos que relataram que já foram chamados a atenção

por comportamentos de indisciplina serão doravante nominados, aluno

indisciplinado, e aqueles que, no decorrer do primeiro semestre de 2016, nunca

foram chamados à atenção por comportamentos de indisciplina em sala de aula

serão nominados disciplinado.

Como vimos nos dados exibidos no Gráfico 4, 39% dos alunos já

foram chamados a atenção no decorrer do semestre por comportamento

indisciplinares em sala de aula, desta forma observa-se que a indisciplina se faz

presente no ensino superior e está, segundo Estrela (1992), interfere no processo de

ensino-aprendizagem, na medida que afeta a aprendizagem do acadêmico, interfere

no planejamento da aula, compromete a performance do professor e induz a tomar

atitudes que não gostaria e que muitas vezes não foi preparado para enfrentar tais

atitudes. Nesse exemplo, podemos citar o caso dos docentes bacharéis, que não

foram preparados durante sua graduação para atuarem como educadores. Desta

forma, é importante compreender como os alunos percebem as questões de

indisciplina em sala de aula.

Segundo Carvalho (2001) os conceitos de indisciplina em sala de

aula são concebidos por meio das experiências trazidas de outros professores.

Assim, a primeira indagação que realizamos era sobre quais atitudes e ou

comportamentos eles consideravam ações de indisciplina em sala de aula. Assim,

iniciaremos a discussão da questão da indisciplina sob o prisma do acadêmico do

curso de Administração com sua percepção das ações e comportamentos dos alunos

em sala de aula que configuram atos indisciplinar.

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TABELA 1 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

ATITUDES E COMPORTAMENTOS

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Desinteresse 1 1,1% 1 3,6% 3 2,1%

Bagunça/Algazarra 2 2,3% 12 21,8% 14 9,9%

Conversas paralelas 68 78,2% 24 43,6% 92 64,8%

Desrespeito ao Professor 6 6,9% 12 21,8% 18 12,7%

Outros 2 2,3% 2 3,6% 4 2,8%

Sem Opinião 8 9,2% 2 5,5% 11 7,7%

Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Pode-se observar por meio dos dados da Tabela 01 que as

conversas paralelas são consideras, pela maioria dos alunos, 64,8%, como

comportamento de indisciplina, sendo que deste, a maior incidência de opinião está

entre os alunos disciplinados, 47,9%. Outros fatores também considerados pelos

alunos como ações de indisciplina são as algazarras e bagunça (9,9%) e os

enfrentamentos ao professor, que são apontados pelos alunos como um ato de

desrespeito aos professores (12,7%) que totalizando 22,6% das opiniões. E possível

constatar 21,8% dos alunos indisciplinados consideram desrespeitar o professor uma

atitude ou comportamento de indisciplina e apenas 6,9% dos disciplinados tem esta

percepção.

Na revisão da literatura, Vasconcelos (1998) aponta que a

indisciplina é entendida pelos professores como um comportamento inadequado que

demonstra desrespeito à autoridade do docente, entre elas são apontadas as

conversas paralelas, manuseio do celular, ausência de interesse e atrasos.

No entanto pode-se constatar com a pesquisa que apenas um

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pequeno percentual de alunos atribui as questões da indisciplina ao uso do celular e

aos atrasos, assim estes dois posicionamentos aparecem com 2,8% dos

entrevistados como outros. Sendo que o manuseio do celular em sala de aula é

percebido por apenas 1,4% dos alunos como comportamento indisciplinar.

Percentual que na nossa visão é insignificante diante amostra e o que nos remete a

entender que o uso do celular é compreendido pelos alunos como algo natural. No

entanto, pela observação em sala de aula, podemos constatar que o uso do celular

dispersa os alunos durante processo de ensino-aprendizagem o que pode conduzir

a uma dificuldade para compreender os conteúdos e, consequente, comportamento

de indisciplina. Os fracassos escolares, segundo Herbert (1991), conduzem o aluno

a apresentar comportamentos aversivos, indisciplinados, pois estes ajudam a reduzir

a ansiedade e resgata sua autoestima.

O telefone celular é uma ferramenta utilizada pela grande maioria

das pessoas e traz uma série de aplicativos que facilitam a vida de seus usuários,

como: calculadoras, pesquisa na internet, troca de informações, entre outros. No

entanto conforme relatos dos professores no decorrer das entrevistas pode-se

constatar, que o uso do celular, em sala de aula, é percebido pelos professores como

uma falta desrespeito e interesse do aluno pelos conteúdos que está ministrando. O

manuseio do celular em sala de aula desvia a atenção do usuário e dos colegas que

estão próximos.

Os atrasos em sala de aula também não foram considerados

significativos, pois representam apenas 1,4% (Outros) da amostra, pode-se

compreender que estes fazem parte da cultura do país e assim são vistos pelos

alunos como algo socialmente aceitável e não como comportamentos inadequados.

Entretanto, interferem diretamente no desenvolvimento do trabalho docente. Além

das constantes interrupções a cada aluno que adentra e solicita em alguns momentos

licença para entrar o recinto, outros ainda que entrem sem o consentimento do

professor e dos demais colegas. Em ambas as situações, os alunos infringiram às

regras de pontualidade, atrapalham o andamento da aula e consequentemente

prejudicam o processo de ensino-aprendizagem.

Segundo Amado e Freire (2009) a pontualidade é uma das regras

que deve ser observada e seguida pelos professores e alunos para o êxito no

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aprendizado. Os atrasos, tanto na entrada como nos intervalos, extrapolando o limite

de tolerância definido entre os professores e os alunos, se configura como um

desrespeito aos colegas e ao professor.

Através da observação em sala de aula pode-se constatar que no

Curso de Administração da universidade em estudo é corriqueira a ausência de

pontualidade dos alunos e a falta de compromisso com as atividades a serem

desenvolvidas, por vezes, os professores relatam que o aluno não consegue concluir

a atividade planejada porque alguns alunos chegam atrasados em sala de aula. Para

exemplificar, no curso de administração, uma das atividades desenvolvida em sala

de aula é método do estudo de caso, uma atividade realizada em grupo, que requer

ampla discussão até o fechamento da melhor estratégia a ser utilizada, e que fica

comprometida com os frequentes atrasos.

Outro ponto destacado pelos acadêmicos é o excesso de

brincadeiras, conversas altas.

A51 - O aluno indisciplinado afeta os outros alunos que querem estudar, pois, o enorme barulho que acontece na sala de aula, atrapalha as pessoas que querem estudar e que tem dificuldade em pensar com barulho. O aluno que quer realmente estudar, poderia aproveitar mais as aulas, se empenhar mais, porém, fica difícil com a enorme bagunça, barulho que alguns colegas indisciplinados fazem.

A64 Conversas ou risadas, fazem com que o professor se desgaste chamando a atenção dos alunos, perdendo a linha de raciocínio e atrasando o conteúdo. Isso porque precisa explicar varias vezes a mesma coisa, porque alguns não prestam atenção na aula, saem da sala várias vezes ou chegam atrasados.

Neste sentido é importante salientar a importância das regras para

estabelecer uma boa conivência em sala de aula. Segundo Antunes (2006) o

professor não precisa ser autoritário, pode ser um professor que estabeleça um bom

relacionamento e limites aos alunos de forma a levá-los a construção do conhecimento

de forma prazerosa. Pode-se constatar que as conversas paralelas, a bagunça, gritos,

atrasos, são percebidas e se fazem presentes também no ensino superior.

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3.2.3 - Percepção do aluno quanto aos motivos da indisciplina

Quando indagados sobre os motivos que levam aos comportamentos

indisciplinados em sala de aula, foram destacados três fatores de maior inferência:

ausência de interesse no processo de ensino-aprendizagem (33,1%), falta de

educação do aluno (19,7%) e a questão da autoridade do professor em sala de aula

(15,5), os quais representam 68,3% das opiniões.

TABELA 2 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS MOTIVOS QUE CONDUZEM A

INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

MOTIVOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA PELA AUSÊNCIA DE:

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Falta de Autoridade do Professor

12 13,8% 10 18,2% 22

15,5%

Falta de Educação do Aluno 18 20,7% 10 18,2% 28 19,7%

Ausência de Interesse no ensino

33 37,9% 14 25,5% 47

33,1%

Maturidade 3 3,4% 1 1,8% 4 2,8%

Metodologias inadequadas 5 5,7% 4 7,3% 9 6,3%

Excesso de alunos em sala 5 5,7% 7 12,7% 12 8,5%

Outros 1 1,1% 1 1,8% 2 1,4%

Sem Opinião formada 10 11,5% 8 14,5% 18 12,7%

Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

A ausência de interesse no processo de ensino-aprendizagem e

percebida por, 33,1%, dos alunos entrevistados como o fator de maior impacto na

indisciplina. A motivação para o processo de aprendizagem, segundo Neri (1992) e

um dos fatores primordiais para prevenção da ocorrência da indisciplina em sala de

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aula. O interesse pelos conteúdos ministrados proporciona envolvimento entre

professores e alunos, estabelece o diálogo e o processo de ensino-aprendizagem

ocorre de forma riquíssima sobre diferentes pontos de vistas. Para o autor, a disciplina

está relacionada à participação ativa.

Outro fator com menor impacto que tem relação direta com o

interesse e é apontado por 6,3% dos alunos é a utilização de metodologias

inadequadas. De acordo com Amado (2001) o abuso de metodologias expositivas,

aulas monótonas e repetitivas, conteúdos sem sentido, gerenciamento inadequado

da sala de aula e o tempo dispendido para o desenvolvimento das atividades

contribuem para desinteresse pelas aulas e consequentemente aumentam os casos

de indisciplinas em sala de aula. O excesso de conteúdo e forma como são

apresentados os slides é apontado como uma ferramenta de ensino que aversiva

pelos alunos.

A84 Só coloca slides e fala a aula toda isso se torna entediante para uma pessoa que trabalhou o dia todo.

A86 Talvez evitando fazer somente leituras extensas de slides, pois isso torna a aula cansativa.

A 102 “parar de dar slides e fazer copiar e fazer algo que os alunos participem mais ai não tem espaço para conversas paralelas”.

Tais dados permitem afirmar que a metodologia de ensino utilizada

por alguns professores se apresenta como fonte de indisciplina em sala de aula, uma

vez que proporciona dispersão dos alunos por serem monótonas e cansativas.

Importante salientar que conforme Gráfico 3 que 72% dos alunos

trabalham no decorrer do dia e estudam no período noturno. Outro dado importante,

obtido por meio dos relatórios institucionais é que 30% dos alunos residem em outros

municípios, como Mauá da Serra, Astorga, Apucarana, Rolândia e dependem de

transporte municipal para o translado, alguns chegam a sua residência próxima da

1h00 da manhã. E assim, a rotina trabalho, estudo e o translado acaba colaborado

para o cansaço diário.

Neste sentido, se faz necessário que o docente reflita sobre sua

prática em sala de aula, uma vez que este não pode atuar como mero transmissor de

conteúdos e sim promover metodologias que vão ao encontro às necessidades dos

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alunos e do curso em que atua. Desta maneira, evidencia-se a necessidade de alguns

professores refletirem sobre práticas em sala de aula.

Para Siqueira (2003), a competência do professor perpassa pela

reflexão das metodologias utilizadas e sua postura em sala de aula. Se faz necessário

que o docente reflita sobre suas práticas e tenha um replanejamento, a fim de levar

os acadêmicos a se tornarem agentes do processo de ensino, de forma consciente e

autônomo, e assim possa ser um administrador crítico capaz de modificar sua

realidade.

Outro elemento levantado é a ausência de educação dos acadêmicos,

sendo assinalada por 19,7% dos entrevistados como fator de impacto nos

comportamentos de indisciplina. Dados que coadunam com Bauman (2001) que

defendem que a indisciplina não está relacionada com as práticas pedagógicas e sim

com a própria característica do aluno do ensino superior. Características estas

descritas por Bauman (2001) como individualismo, o consumismo. Os alunos que

ingressam no ensino superior são volúveis em suas relações e posicionamentos,

estão em constante mudança e buscam a satisfação momentânea em suas relações.

Compreende-se que a formação universitária não se restringe à

formação dos acadêmicos exclusivamente para a profissão, mas sim prepará-los de

forma integral. Desta forma, cabe à instituição de ensino superior o papel de aprimorar

valores e atitudes, além de preparar os acadêmicos para uma profissão. Na

universidade o aluno deve adquirir competências que o conduzam a ser um cidadão

que saiba analisar o contexto, planejar, expor suas ideias, bem como ser um bom

ouvinte e assim atuar ativamente na sociedade a qual está inserido.

Assim sendo as instituições de ensino, em especial as privadas,

devem se valer das regras e normativas para que os alunos adquiram os valores

necessários ao cidadão e ao futuro profissional. Como exemplo, se o aluno

desrespeita o professor e\ou colega de sala deve ser advertido, da mesma forma

outros comportamentos que comportamentos éticos, como atrasos, plágio, colar na

prova, também devem ser tratados pelo professor e pela instituição com o rigor

necessário para que o aluno não perceba que seu comportamento inadequado é

recompensado, pelo simples fato dele manter as mensalidades em dia. A primeira

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preocupação da instituição deve ser a formação do ser pensante e crítico, socialmente

responsável e também preparado para a atuação profissional, da mesma forma que a

qualidade do ensino deve ser o fator determinante para que o aluno se mantenha em

uma instituição.

Outro elemento apontado é a ausência de autoridade do professor,

que foi apontada por 15,5% dos respondentes como responsáveis pelos

comportamentos indisciplinados. Como descrito na revisão da literatura ao professor

cabe o papel de educar e formatar estratégias e meios adequados para que o

processo de ensino-aprendizagem se efetive e para que este se realize se faz

necessário o controle sobre as condutas dos acadêmicos em sala de aula, mesmo

que para isto seja necessário uso de sanções socialmente aceitas (SILVA, 2010).

Desta forma cabe ao professor estabelecer estratégias disciplinares

que contribuam para formação profissional do acadêmico. De forma a educá-los

como cidadãos íntegros, respeitosos que possam contribuir de forma efetiva para

uma sociedade melhor conforme preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Médio (BRASIL, 1999) e que precisa ser estendida ao ensino superior.

A responsabilidade por estabelecer a disciplina em sala de aula

como apresentado na revisão bibliográfica é do professor, entre os autores que

defendem este posicionamento destacamos Yasumaru, Torres (2008), Welch (2007).

Salientam a importância de se dar significado aos conteúdos, utilizar uma postura

correta frente aos alunos, atitudes firmes e participativas e o estabelecimento de

regras norteadoras do ensino sem, contudo, incorrer em injustiças e utilizar de

autoritarismo.

No entanto, antes do professor traçar estratégias para prevenir ou

coibir a indisciplina em sala de aula é preciso o apoio da instituição para se fazer

cumpri-las, pois o professor fica numa situação muito difícil quando não tem respaldo,

como exemplo o fato de não poder reprovar o aluno, pois a instituição não pode

perder alunos, e reafirmo que o aluno não pode ser “recompensando” diante de

comportamentos indisciplinados, tendo-os relevados, pelo fato de adimplir suas

obrigações financeiras para com a instituição em dia.

Logo, é importante uma ação conjunta, o professor usando sua

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autoridade, estabelecendo regras com o respaldo da instituição de ensino. A

mudança de cultura deve começar dentro da instituição, para que esses valores

depois de incorporados possam ser repassados aos alunos.

3.2.4 - Percepção do aluno sobre a pessoa responsável pela solução das

questões da indisciplina em sala de aula

Uma questão importante refere-se a quais estratégias utilizar para

superar a questão da indisciplina. Para Rego (1996) esta responsabilidade é do

professor como docente e educador, desta forma, caberia a ele estabelecer os

parâmetros e limites aos seus alunos. Nesse sentido, torna-se importante entender

qual a percepção do aluno frente à superação da indisciplina dentro da universidade

e neste sentido buscou verificar a percepção do aluno sobre a pessoa que teria a

responsabilidade de resolver os comportamentos indisciplinados em sala de aula.

TABELA 3 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE QUEM É RESPONSÁVEL POR

RESOLVER A QUESTÃO DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

RESPONSÁVEL PELA INDISCIPLNA EM SALA DE AULA

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Alunos 28 32,2% 15 27,3% 43 30,3%

Coordenação 6 6,9% 7 12,7% 13 9,2%

Professor 31 35,6% 21 38,2% 52 36,6%

Professor e aluno 17 19,5% 7 12,7% 24 16,9%

Professor e coordenador

1 1,1% 2 3,6% 3 2,1%

Sem opinião formada 4 4,6% 3 5,5% 7 4,9%

Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Pode-se constatar pelos dados da tabela 3 que 55,6% dos

entrevistados (36,6% professor mais 16,9% que responsabilizam professores e

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91

alunos e 2,1% que atribuem ao professor e a coordenação) concordam que a

responsabilidade é do professor.

No entanto, apesar de em menor percentual, mas não menos

relevante, para 11,3% (9,2% Coordenação, 2,1% que atribuem a reponsabilidade ao

Professor e a Coordenação) dos alunos a responsabilidade pela solução dos

problemas de indisciplina é da Coordenação do Curso. Estes dados nos chamaram

a atenção, pois na percepção destes alunos, o professor, autoridade máxima em sala

de aula, não é percebido com tal autoridade e sim a Coordenação do Curso. Logo,

se faz necessário ações para que conjuntas entre professores e gestor do curso no

intuito de reestabelecer a autoridade do professor em sala de aula.

Constata-se que 47,2% dos entrevistados atribuem a

responsabilidade aos próprios alunos (30,3% alunos mais 16,9% que responsabilizam

alunos e professores). Os alunos iniciam o ensino superior, na maioria das vezes, com

hábitos de estudos que requerem uma mudança de comportamento. No ensino

superior se faz necessário o desenvolver a capacidade de reflexão e o senso crítico.

Assim, partindo-se do princípio que estes adentram o ensino superior pela escolha de

sua carreira profissional, deveriam ser comprometidos com o estudo. No entanto, o

perfil dos alunos ingressantes, na contemporaneidade, favorece a indisciplina em sala

de aula, à medida que se apresentam descompromissados com o estudo e acabam

acarretando um desgaste emocional do professor. O aluno A32 diz que:

A32 “Os próprios alunos têm que se tornarem mais adultos e levar o curso mais a sério”.

Desta forma, atribui a responsabilidade aos próprios alunos que são

imaturos e levam os estudos na brincadeira. Salienta-se que a concorrência no

mercado de trabalho é acirrada e o resultado desta ausência de comprometimento

poderá afetar sua carreira profissional.

Outra fala que nos remete a constatar que no ensino superior a

responsabilidade é do aluno, uma vez que estes estão se preparando para se

tornarem futuros administradores:

A37 “Os alunos porque já somos grandes demais para os professores ficar chamando atenção”

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92

A76 “O próprio aluno. “Nível superior, já foi a época em que tinha que chamar a ‘tia’ pra resolver”

O ensino superior constitui-se uma nova etapa acadêmica e que

requer comportamentos e atitudes em sala de aula que são exigências também do

mercado de trabalho, como conhecimento, convívio em equipe, respeito ao superior

imediato, entre outros e assim precisam integrar o comportamento do aluno não

somente após a conclusão do curso, mas também enquanto estiverem nos bancos

escolares.

Assim, é possível compreender que os alunos não estão preparados

para ingressar o ensino superior, não tem desejo de adquirir novos conhecimentos,

respeito pelos professores e muito menos postura para frequentar uma universidade.

Constatamos que o professor apresenta uma grande parcela de responsabilidade na

postura apresentada pelos discentes. Entretanto, não se pode isentar os próprios

alunos da responsabilidade pelas ações inadequadas apresentadas em sala de aula.

Como constatamos, a maioria dos alunos veem o professor como responsável pela

manutenção da disciplina, se eximindo assim da responsabilidade pelo seu

comportamento inadequado. Para Vasconcelos (1996) é importante que os alunos

compreendam sua responsabilidade frente ao seu processo de aprendizagem e dos

demais alunos da sala.

3.2.5 - Percepção do aluno sobre as ações dos professores universitários frente

a indisciplina

Os procedimentos utilizados pelos professores, segundo Amado

(2001) podem ser corretivos ou punitivos. As medidas corretivas objetivam corrigir

os desvios de comportamento e preservar a integridade da turma, sendo que estas

podem estão diretamente relacionadas a personalidade do professor e as interações

que este tem com seus alunos. A outra forma, segundo o autor, o professor utiliza

procedimentos com cunho punitivos que são amparados na lei e frequentemente

exigidos pelos próprios colegas de sala que apresentam comportamento disciplinado.

Amado (2001) salienta que estes métodos de coibir os

comportamentos de indisciplina em sala de aula transpõem a esfera da negociação,

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93

cabe ao aluno acatar os direcionamentos do professor, uma vez que este encontra

amparo no regulamento disciplinar. No entanto, para Connell (1994) ao utilizar

procedimentos que cerceiam a liberdade do aluno, o professor impede a participação

ativa deste no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que a relação é pautada

pelo autoritarismo. O autor argumenta ainda que a punição como meio de manter a

disciplina afeta negativamente os alunos e que pode levá-lo a aversão à

aprendizagem. Logo, é importante que o professor reforce as regras institucionais

para que o aluno compreenda que as punições são provenientes de suas ações

inadequadas e não da postura do professor.

Assim, no intuito de compreender a percepção do aluno em relação

aos procedimentos que os professores do Curso de Administração de uma instituição

de ensino superior do norte do Paraná vêm adotando para resolver as questões de

indisciplina em sala de aula, podemos observar por meio da tabela 4 que:

TABELA 4 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS PROFESSORES FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

O QUE O PROFESSOR FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA DE INDISCIPLINA

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Chama a atenção dos alunos 32 36,8% 21 38,2% 53 37,3%

Controla a disciplina 2 2,3% 1 1,8% 3 2,1%

Diálogo 15 17,2% 3 5,5% 18 12,7%

Para aula 7 8,0% 5 9,1% 12 8,5%

Perde controle 13 14,9% 12 21,8% 25 17,6%

Punição 8 9,2% 9 16,4% 17 12,0%

Ameaça 1 1,1% 0 0,0% 1 0,7%

Nada 1 1,1% 2 3,6% 3 2,1%

Sem opinião formada 8 9,2% 2 3,6% 10 7,0%

Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

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Observa-se pelos dados da tabela 4 que, na percepção dos alunos,

71,2% dos professores do curso de administração utilizam estratégias como: chamar

a atenção dos alunos que estão conversando (37,3%), outros buscam dialogar

(12,7%) e ainda os que param a aula (8,5%) e os que ameaçam (0,7%) e 12% punem

os comportamentos indisciplinares, no entanto apenas 2,1% consegue manter a

disciplina em sala de aula.

Evidencia-se por meio dos resultados quantitativos e pelas falas dos

acadêmicos que a indisciplina está fora de controle, e professores universitários das

instituições privadas ainda precisam encontrar uma forma de lidar com essa questão,

que vem afetando seu trabalho em sala de aula.

A28 “pelo que presencio em sala raramente tomam alguma atitude a não ser chamar a atenção dos mesmos e dificilmente os colocam para fora da sala”,

A38 Fala... Fala 1, 2, 3 vezes e não resolve nada”.

A46 “Na experiencia que tive, o professor fica brigando e pedindo atenção”

A49 “Alguns se colocam de forma severa sem ser grosseiro e logo resolve o problema sem muito tumulto, já tem uns que faze o caso se estender mais e mais”, rebatendo e gerando tumultos de alguns minutos em sala enquanto os demais presenciam a discussão”

A53 “Grita, e faz ameças de provas”

Por meio dos dados podemos perceber que na percepção dos alunos

“chamar a atenção” não resolve o problema, se faz necessário punir os

comportamentos inadequados para os mesmos não voltem a acontecer.

Evidencia-se que os acadêmicos esperam que o professor tenha uma

atitude autoritária diante das ações de indisciplina. Logo, é importante que o docente

faça cumprir as regras institucionais e os contratos psicológicos estabelecidos em sala

de aula para que não seja necessário utilizar estratégias de punição para coibir a

indisciplina em sala de aula. Para isto é importante que o professor deixe claro as

regras institucionais e os acordos psicológicos logo nas primeiras aulas, bem como a

penalidade que serão adotadas aos alunos que apresentem comportamentos que

contrariam as regras.

Constata-se ainda pela tabela 4 que, na percepção dos

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alunos,17,6%dos professores perdem o controle da situação, sendo que 0,7%

utilizam-se de ameaças e 12,6% utilizam-se de punição como estratégias para coibir

a indisciplina em sala de aula. Conforme relatos, abaixo, os docentes estão utilizando

estratégias coercitivas para controlar a indisciplina em sala de aula e que as

estratégias utilizadas vêm afetando diretamente a qualidade de vida do professor,

pois demonstram ausência de controle da situação.

A29 Somente chama a atenção do aluno, na minha opinião pediria para o aluno se retirar da sala, não ficar batendo boca com o aluno

A47 manda ficar quieto e bate a porta do quadro5

A90 Fala alto, bate no quadro, e desconta na prova.

A103 Na experiência que tive, o professor fica brigando e pedindo atenção.

A118 Quando acontece do professor "punir" o aluno indisciplinado, o restante da sala fica quieta.

Percebe-se também a existência de professores que utilizam

técnicas repressivas para obter a disciplina em sala de aula. O autoritarismo para

o cumprimento das regras pré-estabelecidas. Segundo Vasconcellos (1996) o

aluno muitas vezes se submete as normas por medo de serem punidos e assim a

ação pedagógica sofre desgaste a medida que a sala de aula passa a ser

comparada a um campo de guerra que culminam em ódio e revolta entre as partes

envolvidas.

Pode se constatar nas falas dos alunos A47, A90 e A103 que alguns

professores estão se desgastando e perdendo o controle da situação, na maioria das

vezes tomam atitudes que nem sabem por que os fazem. Para Oliveira (2009) o grau

de indisciplina que se faz presente em sala de aula conduz à desmotivação do aluno

e, consequentemente, do professor, na medida em que influenciam de forma

negativa o processo de interação entre professor e aluno e também na absorção dos

conhecimentos. No entanto, o principal prejuízo são os problemas causados ao

professor que se sente impotente para exercer sua atribuição, disseminação de

conhecimento, formação de profissionais que estejam preparados para assumir seu

5 O quadro negro, na instituição de ensino superior pesquisada, tem um compartimento para guardar giz e apagador, e que o mesmo tem uma porta.

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papel na sociedade.

A84 Fica em silêncio e espera o aluno parar de falar para prosseguir.

A86 Para de explicar, isso atrapalha muito os demais que estão afim de aprender.

Percebe-se por meio das falas e dos dados da tabela 4, em que

8,5% utilizam como estratégia para solução do problema a de parar a aula até os

alunos fiquem em silêncio. Neste sentido, Oliveira (1999) aponta que o professor

não intervencionista não determina os objetivos nem os métodos a serem utilizados

no processo de ensino-aprendizagem, o que conduz ao desinteresse pela disciplina

por parte dos alunos e consequentemente baixo aproveitamento do conteúdo

ministrado.

A108 Ele não se importa com conversas paralelas e continua com a aula normalmente, porém, isso atrapalha os demais alunos.

A125 Nada conforme a correnteza, uns vão no embalo da sala, outros simplesmente vão empurrando a matéria e não estão nem ai com aqueles que querem aprender.

Esta prática, na qual professor dá liberdade de escolha aos alunos

demonstra segundo Vasconcellos (1996) a ausência de compromisso do professor e

dos alunos e, os professores por não estabelecerem limites, perdem à autoridade e

poder de intervir, reprimir e assim perder o controle em sala de aula. Percebe-se

neste posicionamento do professor a ausência de compromisso com o processo de

ensino-aprendizagem. A estratégia não resulta em transformação de comportamento

e ainda compromete o andamento da aula e consequentemente a formação

profissional deste acadêmico.

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3.2.6 - Percepção do aluno sobre o que fazer frente a situações de indisciplinas gerada pelos alunos em sala de aula

Ao perguntarmos para os alunos sobre o que fazem para acabar com

a indisciplina dos outros alunos em sala de aula, podemos constatar que:

TABELA 5 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS ALUNOS FAZEM PARA

RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

AÇÕES DOS ALUNOS PARA AJUDAR A RESOLVER SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Chamam a atenção dos demais alunos

21 24,1% 20 36,4% 41 28,9%

Grita cala boca 7 8,0% 6 10,9% 13 9,2%

Mandam calar a boca 3 3,4% 0 0,0% 3 2,1%

Colaboram ficando em silêncio

21 24,1% 14 25,5% 35 24,6%

Nada 32 36,8% 12 21,8% 44 31,0%

Sem opinião formada 3 3,4% 3 5,5% 6 4,2%

Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Ao analisar os dados da tabela 5, onde as ações responsáveis pelo

controle estão nas mãos dos alunos, pode-se constatar que 24,6% colaboram ficando

em silêncio e 31% responderam que não fazem nada, totalizando 55,6% dos alunos

que não participam do processo, simplesmente colaboram ficando em silêncio e não

fazem nada, denotando a condição de submissão assumida pelos alunos.

No entanto, pode-se constar também que 28,9% chamam a atenção

dos demais alunos, 9,2% grita cala boca e 2,1% manda calar a boca, totalizando

40,2% que tentam ajudar a coibir a indisciplina em sala de aula. Cabe destacar que

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quase a metade dos 28,9% dos alunos que chamam a atenção dos alunos

indisciplinados, ou seja 53%, apresentou na pesquisa comportamento de indisciplina

no decorrer do semestre. Assim, pode se inferir que, mesmo integrando o grupo de

alunos que já apresentaram comportamentos de indisciplina em sala de aula, estes

se incomodam com as atitudes indisciplinares dos demais colegas.

A10 Alguns alunos tentam conversar com a sala, pedindo silêncio para que o problema possa ser resolvido, mas algumas vezes isso não funciona.

A 26 Alguns alunos tentam colaborar com o professor pedindo o silêncio e o respeito com os demais que querem prestar atenção, mais não adianta.

A83 Às vezes algum aluno diz para o colega mal educado, calar a boca.

Nas falas dos alunos denota-se que a estratégia de chamar a

atenção dos colegas de sala não tem efetividade e também se observa pelos dados

da tabela 5 que 9,2% grita para os colegas calarem a boca e 2,1% manda calar a

boca, totalizando 11,3% dos alunos que demonstrar a ausência de educação dos

alunos frente aos colegas de sala e ao professor, pois “mandam e gritam para os

colegas calarem a bota”. Pode se inferir que as ações do professor em sala de aula,

por sua vez, influenciam o comportamento dos alunos.

3.2.7 - Percepção do aluno sobre o que o professor pode fazer sobre a

indisciplina

Como vimos na revisão bibliográfica, não existem alunos e

professores ideais. Os docentes devem tecer novas estratégias para o bom

desenvolvimento de suas práxis no ensino superior, considerando que é preciso

romper com antigos paradigmas, nos quais os professores eram detentores do poder

e utilizavam o autoritarismo para conter os atos de indisciplina em sala de aula, no

entanto sem perder a autoridade. Para isto se faz necessário demonstrar claramente

qual o seu papel, transmitir uma postura profissional, agir com autoridade, e estar

aberto ao diálogo para que a processo de ensino-aprendizagem se efetive

(VASCONCELLOS, 1996).

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As estratégias podem ser desenvolvidas a partir do diálogo, levando-

se em consideração as opiniões do aluno, não de forma a ditar o modo como o

professor trabalha em sala de aula, mas compreender as percepções do discente

como mais um subsídio para a escolha da melhor metodologia a ser adotada. Por

exemplo, quando o professor utiliza, demasiadamente, slides em sala de aula, os

alunos acabam apontando em suas atitudes (dispersões, sonolências) e ou

apontamentos verbais que a metodologia não vem sendo eficaz para a apropriação

do conteúdo. Desta forma, o professor tem a oportunidade de rever suas

metodologias e adotas procedimentos para realização de seu trabalho.

Nesse sentido, tabela a seguir apresenta os dados referentes à

sugestão dos alunos de ações para a redução da indisciplina em sala de aula.

TABELA 6 - SUGESTÕES DOS ALUNOS PARA REDUZIR AS AÇÕES DE

INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

SUGESTÕES PARA REDUZIR AS AÇÕES DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Nª de respostas %

Uso da Autoridade pelo professor

15 17,2% 16 29,1% 31 21,8%

Informar as regras institucionais

3 3,4%

0,0% 3 2,1%

Estabelecer Interação 6 6,9% 7 12,7% 13 9,2%

Metodologias inovadoras 29 33,3% 9 16,4% 38 26,8%

Punir 16 18,4% 11 20,0% 27 19,0%

Redução número de alunos

4 4,6%

0,0% 4 2,8%

Sem opinião formada 14 16,1% 12 21,8% 26 18,3%

Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

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Observa-se pelos dados da Tabela 6, que 26,8% sugerem a inserção

de novas metodologias como estratégia para minimizar a incidência de

comportamento indisciplinar em sala de aula.

A53 Conteúdos mais interessantes e dinâmicos.

A61 Tornar a aula mais interessante, buscando uma maneira de colocar o aluno na matéria.

A68 Aulas mais animadas e interativas, para não dar espaço para distração.

A69 Aulas mais motivadoras, aproximar a relação com o aluno

A utilização de metodologias inovadoras, que introduzam o aluno no

centro do processo de aprendizagem, dentre elas podemos destacar discussão de

casos que levem ao aluno a refletir e encontrar uma solução para um determinado

problema, aulas práticas, visitas técnicas, elaboração de diagnósticos e propostas de

intervenção empresarial, bem como, do ambiente de estudos pode promover o

interesse do aluno pela disciplina bem como pelo curso.

A instituição oferece diferentes espaços, que podem ser utilizados

para realização das aulas, como: laboratórios, bibliotecas, auditórios e a própria sala

de aula que pode ser utilizada de diferentes formas. Para Siqueira (2003), as aulas

se tornam motivadoras quando o docente utiliza dinamicidade para expor os

conteúdos, objetividade, uma linguagem clara, onde os conteúdos abordados a

temas e situações atuais e assim os alunos conseguem contextualizá-lo.

Assim, pode-se constatar que uma das sugestões dos alunos estão

diretamente relacionadas ao uso das práticas que eles consideram inadequadas, e

são utilizadas pelos professores, como aulas expositivas, slides poluídos e com

excesso de informação, o que contribuem para ausência de interesse dos alunos

pelo conteúdo apresentado. Isso é sinalizado por 39% dos alunos, como observado

na Tabela2, que os alunos apontam entre os motivos causadores da indisciplina em

sala de aula à falta de interesse dos alunos pelo conteúdo que vem sendo abordado

(33,1%) e as metodologias inadequadas (6,3%) que vem sendo utilizada pelos

professores universitários. A literatura aponta que o professor deve constantemente

refletir sobre suas práticas cotidianas em sala de aula. No entanto, o aluno

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universitário deveria apresentar interesse pelos conteúdos ministrado já que os

mesmos serão primordiais para sua futura atuação profissional.

Observa-se ainda por meio da Tabela 6 que, entre as sugestões para

reduzir a indisciplina em sala de aula, encontra-se a autoridade do professor (21,8%).

Já conforme apresentado na revisão da literatura, Silva (2010) confere ao professor

a autoridade em sala de aula, e com isto cabe a ele determinar os métodos a serem

utilizados para que seu trabalho de educador se realize e que dentre as atribuições

inerentes ao trabalho do professor, encontram-se “Vigiar, emitir ordens, estabelecer

limites e, até mesmo, punir, embora possam parecer ações demasiadamente

autoritárias, constituem tarefas a serem desenvolvido por todo educador” (SILVA,

2010).

Pôde-se evidenciar nas falas dos alunos que eles esperam que os

professores se posicionem com autoridade frente aos problemas de indisciplina em

sala de aula.

A8 Ter mais pulso firme

A17 Impor sua autoridade desde o começo e procurar trazer o aluno para "dentro" da matéria, fazer com que os alunos se interessem pela matéria como dois professores fizeram esse semestre.

A19 O professor não pode deixar com que os alunos se sintam em liberdade para falar e fazer o que quiser, precisa exercer o papel de superior a eles.

A22 Poderia ficar mais rígidos nas aulas, pois em aulas mais rigorosas os alunos procuram ficar mais atentos.

A27 Ser mais rígido, e ter métodos diferenciados de aula.

A29 Impor respeito e ter domínio total do conteúdo a ser repassado.

A35 Já chegar no primeiro dia de aula e já impondo regras e sendo rígido o professor sendo assim parece que até aprendemos mais.

Fica evidente nas falas dos alunos que esperam dos professores que

se posicionem enquanto autoridade em sala de aula e estabeleçam limites aos

alunos. A autonomia deve ser proporcionada à medida que desenvolvemos novas

metodologias que permitam interação, troca de ideia para construção de novos

conhecimentos, no entanto estes devem ser direcionados e sustentados por normas

norteadoras do ensino-aprendizagem.

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Conforme Rego (1996) o professor é responsável pela manutenção

da disciplina e enquanto educador cabe a ele estabelecer os parâmetros e limites

aos seus alunos. Salienta ainda que o convívio social requer o estabelecimento de

regras que oriente a convivência entre os envolvidos no contexto educacional e que

estas constituem condição necessário para que aula transcorra de acordo com o

planejado. Assim cabe ao professor no uso de sua autoridade se posicionar

enquanto tal e coibir a indisciplina no ensino superior.

No entanto, percebe-se nas falas dos alunos, quando solicitado que

apontassem as características de um professor que no decorrer do semestre

conseguiu manter a disciplina, apontaram a rigidez no uso da autoridade.

A52 Ele é bravo, chama sempre a atenção de todos que estão fazendo barulhos, fala sempre com autoridade.

A60 Sua autoridade. Ele se impôs desde o começo do semestre, faz os alunos participar da aula e demonstra preocupação com o aluno em aprender. Transfere os seus conhecimentos e se importa com o aluno se ele aprendeu ou não a matéria

A91 Acho que não tem muito a ver com o que faz ou deixa de fazer, quando o professor tem a palavra mágica respeito, os alunos aprendem a fazer o mesmo por ele, passam a admira-lo. O professor tem de saber se impor sem espezinhar, afinal na sala de aula ele é autoridade, neste semestre mesmo tive professores que falando todo mundo fica quieto, todos questionam nas horas oportunas, participam até porque o professor dá a oportunidade de participar da aula, já outro quanto mais grita por silêncio menos atenção tem dos alunos, tem de haver uma troca constante e contínua em todos os aspectos sejam eles morais ou metodológicos. Qualquer método por melhor que seja é falível se não existir cooperação de ambas as partes, então o professor tem de trazer o aluno para perto de sí, quanto mais ele se isolar pior será o seu ensino.

Como vimos no Gráfico 2, 95% dos alunos do curso de

Administração são alunos com menos de 18 anos a 32 anos, ou seja, o curso é

composto por jovens, e este ingresso precoce no ensino superior influencia seu

comportamento em sala de aula pela pouca maturidade e assim buscam posturas

mais autoritárias dos professores, a imposição de limites.

Fica claro que os alunos querem alguém que lhes estabeleça limites,

mas uma questão que se revela é a necessidade de um adulto ter alguém o tempo

todo ditando o que ele deve fazer e orientando seus comandos. O curso que os

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entrevistados escolheram os orienta para a chefia, liderança e comando das

organizações, no entanto esses jovens esperam que na universidade alguém lhes

diga o que fazer.

Importante salientar que a formação superior é direcionada à

capacitação profissional e se faz necessário que as instituições de ensino superior

estabeleçam regras de boa conduta pois estes alunos precisam adquirir a postura

profissional para aturem no mercado de trabalho e para conviver em uma sociedade

onde imperam normas e padrões. E, como pode-se constatar por meio dos relatos

dos alunos, atribuem esta responsabilidade ao docente não percebendo o papel da

instituição como órgão regulador e do próprio aluno que ingressou na universidade

de forma autônomo, ou seja, sem que alguém lhe pressionasse para fazer o curso

de graduação e que necessita adquirir os conhecimentos que o subsidiaram

enquanto futuro profissional em um mercado de trabalho extremamente acirrado.

A punição apresenta-se também é sugerida 19% dos entrevistados

como forma de resolução do problema, entre as punições a que aparece com maior

frequência é retirar o aluno de sala, descontar notas, passar listas de exercícios

extras e também mandar para Coordenação. Mais uma vez as falas demonstram

que os alunos demonstram imaturidade, as sugestões são reproduções de suas

vivências no ensino médio, não compreenderam que no ensino superior os

conhecimentos é que irão determinar o seu futuro profissional.

A12 Acredito de ter controle da sala, mandar sai quando estiverem causando baderna, ou , descontar nota dos aluno indisciplinados, pois muitos são movidos pela nota e não pelo ensino.

A92 Colocar os alunos para fora da sala, pois quem não quer estudar fica em casa

A94 Chamar mais a atenção, ter mais autonomia, tirar nota dos alunos, mandar para a direção, assinar advertências

A96 Mostrar mais a sua autonomia, e é de total apoio que o mesmo peça para que o aluno causador dos "tumultos, gritaria" se retire da sala de aula.

A104 Passar trabalhos complexos

A14 É complicado ter alguma coisa exata a se fazer, pois são muitas pessoas em uma mesma sala, com pensamentos diferentes, então é difícil não ocorrer a indisciplina, mas creio que o professor tem autoridade e o direito de pedir que o aluno que está dificultando o ensino aos demais, que o mesmo se retire para o bem de todos, pois se o aluno não está ali para aprender o restante está e estão pagando assim como ele, só que alguns alunos dão mais valor ao ensino do que outros.

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Assim, constata-se que os alunos mencionam em suas falas a

necessidade de punição frente a comportamento de indisciplina. Entretanto, o ato

de punir o aluno ocorre na presença do comportamento indisciplinar e resolvendo

momentaneamente, ou criando outros problemas, onde o aluno procura a

Coordenação para se justificar e condenar a atitude do professor. As ações no intuito

de resolver o problema são importantes, mas se faz necessário identificar os fatores

que influenciam estes comportamentos e buscar uma solução, quer seja pelo

professor, Coordenação e/ou instituição de ensino superior.

Desta forma, salienta-se a importância de as partes envolvidas com

o processo ensino-aprendizagem desenvolverem estratégias evitando a indisciplina,

e não atuando quando esta se faz presente em sala de aula.

Os autores Amado (2000), Estrela (1992), Jesus (2000) e Bentes

(2003) salientam a importância da interação professor e alunos como um dos

principais fatores responsável pela disciplina em sala de aula. No entanto, a interação

foi apontada por apenas 9,2% dos discentes. Isso pode ser claramente observado

na fala dos alunos.

A42 Ter mais interação com os alunos e a matéria, muito mais fácil aprender às vezes elaborando um trabalho do que ficar ouvindo e ouvindo a explicação da matéria, fala demais e tem aluno que não absorve tudo o que fora explicado em sala. Muitas vezes o professor fala e lá no último dia de aula antes da prova diz isso vai cair na prova eu expliquei em sala no primeiro dia de aula... isso me deixa aflita porque mal.

A66 Acredito que quando o professor respeita o aluno, este também respeita o professor, então acho que um professor que tem boa relação com os alunos, e usa a metodologia de ensino de tentar envolver o aluno na matéria, tem uma maior chance de não passar por esses problemas de ter alunos indisciplinados.

A80 Que os alunos interajam nas aulas.

A143 Interage com os alunos, explicando a matéria de uma maneira clara, usando exemplos do cotidiano e facilitando o aprendizado do aluno.

A92 Tem um diálogo aberto com a turma, conquistando a confiança dos alunos. Entende que existem diferentes tipos de personalidades dentro de uma turma e tenta envolver todos alunos na aula.

Constata-se por meio das mensagens dos alunos que o excesso de

conteúdo pode atrapalhar a absorção do mesmo, e, a medida que o aluno não

compreende o seu real significado passa a se desinteressar pela matéria e a

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consequência são comportamentos indisciplinares. Alguns alunos alegaram que, na

maioria das vezes, as conversas paralelas são para tentar buscar junto aos colegas

de sala o entendimento do assunto que está sendo explanado pelo professor.

A redução do número de alunos em sala de aula foi outra sugestão

dos alunos para evitar atos indisciplinares.

A116 Acredito que alguns professores já demonstram uma postura mais firme desde o início assim conseguem ter mais controle com a sala. Mas é muito difícil ter controle de uma sala tão numerosa. A Universidade deveria mudar e acomodar menos alunos em cada sala, isso iria melhorar até no desenvolvimento do mesmo com toda certeza.

A questão das junções de turmas de séries diferentes e a quantidade

de alunos apresentam-se como um dos fatores institucionais que contribuem para o

problema do aumento da indisciplina em sala de aula. Além dos fatores acima

listados, a quantidade de alunos em sala de aula exige que o professor tenha

posturas adequadas para não perder o controle da sala.

Importante destacar que evidenciou-se nas entrevistas realizadas

com os professores que o número excessivo de alunos em sala de aula dificulta seu

trabalho, os alunos ficam dispersos e incomodados com a situação. Percebe-se nas

falas dos professores o desanimo e o descrédito com a educação.

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3.2.8 - Percepção do aluno sobre os impactos da indisciplina na sala de aula

Uma questão importante é olhar a perspectiva que os alunos têm

sobre como a indisciplina interfere em sala de aula. A partir dos dados apresentados

na tabela 7 poderemos nos debruçar melhor sobre essa questão.

TABELA 7 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA

EM QUE A INDISCIPLINA AFETA

Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL

F % F % F %

Compromete a aula 28 32,2% 18 32,7% 46 32,4%

Desvia a atenção 14 16,1% 7 12,7% 21 14,8%

Dificulta o entendimento 36 41,4% 20 36,4% 56 39,4%

Outros 1 1,1% 1 1,8% 2 1,4%

Sem opinião formada 8 9,2% 9 16,4% 17 12,0%

Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%

* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Pôde-se constatar por meio dos dados da tabela 7 que os

comportamentos indisciplinados, na maioria advindos de conversas paralelas (67%),

conforme tabela 1, são percebidos pelo aluno como atitudes indesejáveis, poispara

32% a aula fica comprometida e o professor não consegue ministrar todo o conteúdo

planejado. Para 39% dificulta o entendimento dos demais alunos, pelo barulho

gerado e pelas constantes paradas do professor para chamar a atenção do aluno,

sendo que assim o aluno e professor perdem a linha do raciocínio e dificulta a

aprendizagem. A indisciplina também interfere na aprendizagem, pois desvia a

atenção do aluno, apontada por 15% dos acadêmicos, em situações de indisciplina

os alunos deixam de prestar atenção no conteúdo que está sendo explanado e passa

a observar as ações de indisciplina.

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Outro ponto que chamou a atenção é que 12% dos alunos não tem

opinião formada sobre os impactos da indisciplina na sala de aula. Percebe-se a

necessidade do desenvolvimento de alunos com senso crítico, ativos e não apáticos,

sem opinião formada sobre um assunto que eles vivenciam em seu cotidiano.

A ausência de disciplina no ensino superior compromete o trabalho

do professor universitário e consequente influencia na qualidade do ensino. Neste

sentido a indisciplina interfere no aprendizado. O aluno indisciplinado, que procura

chamar a atenção dos colegas de sala e do professor, interfere no andamento da

aula, tumultua as atividades e tira o foco da aprendizagem, como podemos verificar

nas falas dos alunos.

A3 Atrapalhando a aula, o planejamento do professor e a atenção dos alunos.

A5 Muitas paradas. Professores estressados e descontam o mau humor em quem não merece. Falta de tempo para ser passado o conteúdo por completo

A8 Muitas conversas prejudicam o desenvolvimento da aula, atrasa matéria, alguns professores vão embora e não dão aula, outros ficam de saco cheio e param a aula, atrapalha entender a matéria, atrapalha prestar a atenção e etc

A42 Atrapalha o andamentos das aulas, faz que o professor não consiga aplicar os conteúdos todos da aula.

A114 Tudo, não consigo ouvir o professor, o próprio professor não consegue concluir a matéria.

Constata-se que na percepção dos alunos o maior impacto é no

desenvolvimento das aulas, à medida que o professor se defronta com

comportamento de indisciplina, interrompe a aula e a atenção dos alunos é desviada.

Os alunos sinalizam que são eventos frequentes e com isto o desenvolvimento da

aula e a aprendizagem dos alunos fica comprometida. O estresse gerado pelos

comportamentos de indisciplina faz com que o professor desvie a atenção dos

conteúdos a serem abordados e fique traçando estratégias para desviar a indisciplina

em sua aula, como é apontado pelo aluno A55 “a aula não rende o professor se

estressa e nós não tem uma certa atenção na aula e não tem rendimento da aula”.

Assim, tem-se que os dados qualitativos apontam o estresse como sendo um dos

fatores que afetam a trabalho do professor e refletem na sua estratégia de ação em

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sala de aula.

A10 Fala alto, bate no quadro, e desconta na prova.

A46 Professor “X” é muito estressado.

Os entrevistados apontam também que pela frequência de

interferência e interrupções, é possível notar que os professores expressam em seu

comportamento o nível de estresse em detrimento da impossibilidade de cumprir com

o conteúdo planejado e assim acabam punindo os alunos como um todo. Percebe-

se que a relação entre professores e alunos está desgastada, o professor tem

dificuldade para realizar seu trabalho e, por conseguinte os, alunos apresentam baixo

aproveitamento em relação a aquisição de conhecimento pela ausência de

gerenciamento da indisciplina em sala de aula.

Evidencia-se nas falas dos alunos que a aprendizagem é

comprometida pelas ações de indisciplina. À medida que o professor interrompe sua

linha de raciocínio durante a explanação de um conteúdo dificulta ou quase torna

incompreensível o assunto abordado.

A16 O aluno indisciplinado atrasa o andamento da aula, por exemplo interrompendo o professor no meio de uma explicação a sala fica sem entender a matéria.

A27 Afeta no sentido se for conversas paralelas o professor precisa ficar a todo o momento parando a aula para pedir atenção cortando o raciocínio.

A24 A Atrapalha, pois o professor perde tempo de explicar para ficar chamando a atenção desses alunos indisciplinados.

Pode-se compreender que os comportamentos indisciplinados

impactam de forma negativa nas relações entre professor e aluno, bem como do

aluno com seus pares, pois são fonte geradoras de conflitos de interesses e estes se

não gerenciados dificultam a aprendizagem e trazem como consequência o desgaste

do professor pelo tempo dispendido na manutenção da disciplina e/ou no intuito de

resolver o problema. As interrupções frequentes, segundo Boarini (2013) afetam a

saúde do professor, pois geram tensão pelo sentimento de incapacidade de

solucionar o problema, pela falta de respeito dos alunos e principalmente por não

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conseguir cumprir com o conteúdo programado.

E neste sentido Oliveira (2009) aponta como solução para o

professor universitário o desenvolvimento de competências necessárias para o

estabelecimento da ordem e harmonia no espaço de aprendizagem, pois cabe a ele

solucionar os conflitos em sala de aula.

Outro apontamento dos alunos é o desvio de atenção dos próprios

alunos quando a indisciplina se apresenta na aula.

A48 O aluno indisciplinado por sua vez acaba atraindo a atenção de alguns, as vezes da maioria, consequentemente, os alunos que estão interessados na aula acabam perdendo o foco.

A54 Porque tira a concentração dos outros alunos e o tempo em que o professor tenta chamar a atenção do indisciplinado e manter a ordem em sala

A68 Não consegue prestar atenção no professor

A86 Atrapalha a aula com conversas e distrai a atenção dos alunos que querem prestar atenção na aula

Pode-se constatar que os comportamentos indisciplinarem

contribuem para falta de interesse dos alunos de um modo geral, pois ações

indisciplinares tiram a atenção dos alunos do conteúdo e assim tem dificuldade de

aprender o que o professor está explicando e consequentemente culmina para a

descontextualizado do conteúdo e consequente falta de interesse, o foco passa ser

observar a indisciplina dos colegas e não o que o professor está explicando.

No ensino, superior tem-se que vários fatores que podem contribuir

para o desvio de atenção, como, cansaço dos alunos, como apresentado no gráfico

4, 72% dos alunos que cursos Administração nesta instituição de ensino superior

desenvolvem atividades laborativas durante o dia e à noite estudam e, também como

salientado, vários moram em cidades distantes da universidade e pelo tempo de

translado têm poucas horas para o descanso e ainda que o curso requer a realização

de várias atividades extra classes, ou seja, as disciplina interativas, os Estudos

Dirigidos - EDs e as atividades das disciplinas AMI que são realizadas pelo sistema

Ensino a Distância - EAD.

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A90 “Afeta no sentido se for conversas paralelas o professor precisa ficar a todo momento parando a aula para pedir atenção cortando o raciocínio. tira a atenção dos demais alunos, e o foco do professor.”

A139 “Atrapalha os que querem aprender, não dá para ouvir direito, e assim perde tempo de aprendizagem”.

A123 “Não compreende o que o professor está explicando, perde a atenção e foco e acaba se desinteressando pela matéria”.

A falta de interesse, até mesmo dos que estavam interessados no

início da disciplina acaba sendo comprometido pelas frequentes interrupções e

desvio de atenção com comportamento indisciplinares dos colegas que culminam na

incompreensão do conteúdo ministrado e consequente dispersão.

A ausência de interesse dos alunos do ensino superior é apontada

também no estudo Anastasiou (2001) são provenientes da falta de embasamento

para cursar o ensino superior e ausência de condições de estudo. A pesquisa aponta

que os acadêmicos são acomodados, individualistas e não apresentam

comprometimento com os estudos, os interesses se resumem a obtenção da nota

para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma, neste contexto

apresenta tal falta de compromisso e comportamentos de indisciplina em sala de

aula. A insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na

universidade desencadeia a falta de interesse e consequentemente ações de

indisciplina entre elas: falta de participação, motivação, compromisso com o estudo

são interpretados como comportamentos de indisciplina.

O processo seletivo vestibular, deveria ser um filtro, não entanto não

é. Quantos alunos são indisciplinados porque não compreendem os conteúdos, e,

não compreendem os conteúdos porque não apresentam habilidades básicas de

leitura de texto e compreensão do que leem? O uso da linguagem, essencial para a

compreensão de qualquer coisa na vida, não parece muito desenvolvido, pudemos

observar que quase todas as falas escritas pelos alunos apresentam erros de grafia

e concordância.

A dificuldade de ouvir o que está sendo explanado pelo professor

também contribuir para déficit de aprendizagem dos alunos.

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A75 “Não dá para se ter uma boa aula, não dá para ouvir a matéria direito.”

A99 “O aluno indisciplinado afeta os outros alunos que querem estudar, pois, o enorme barulho que acontece na sala de aula, atrapalha as pessoas que querem estudar e que tem dificuldade em pensar com barulho. O aluno que quer realmente estudar, poderia aproveitar mais as aulas, se empenhar mais, porém, fica difícil com a enorme bagunça, barulho que alguns colegas indisciplinados fazem.”

Desta forma, pode se inferir que a indisciplina afeta o trabalho do

professor à medida que este não consegue cumprir com o conteúdo programado

pelas constantes interrupções e, também compromete a aprendizagem dos alunos

pela abordagem superficial dos temas a serem trabalhados pelos professores e ainda

pela dificuldade que os alunos tem de compreender o que está sendo explanado em

sala de aula.

E ainda que, os comportamentos de indisciplina constituem fontes de

conflitos que afetam a relação professor aluno e põe em cheque à autoridade do

professor. Neste sentido, uma vez que a disciplina é muito importante para a

formação da pessoa e para que ela ocorra é indispensável a presença de uma

autoridade.

O professor, no uso de suas atribuições e autoridade inerentes ao

cargo que ocupa, além da transmissão dos conteúdos programadas para cada

disciplina da grade, também respaldado pelas normativas da instituição deve fazer

cumprir as regras disciplinadoras a fim de contribuir para a formação de cidadãos

íntegros, instruídos e capazes de conviverem com os demais colegas de sala, com

respeito e que contribuam de forma efetiva para a construção de uma sociedade

melhor.

No entanto, é importante questionar até que ponto a família está

deixando a cargo, primeiro da escola primária e depois da universidade, o papel de

formar o caráter do cidadão. Muitas habilidades e características que compões o

caráter começam a ser desenvolvidas ainda na infância. Se são competências a

serem desenvolvidas na infância, não pode caber apenas ao professor a formação

do caráter dos alunos. O professor enquanto mediador do conhecimento, mesmo

usando de autoridade para a manutenção de ordem e para o bom desenvolvimento

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das atividades curriculares, não pode ser o único responsável por incutir valores nos

alunos.

Avançando sobre outras questões, percebesse que tempo

dispendido para chamar a atenção do aluno, traçar estratégias e ações de cunho

punitivo ou até mesmo ignorar a presença da indisciplina em sala de aula traz em

seu bojo consequências negativas a saúde física e mental do professor, pois interfere

no trabalho docente como fica evidente nas falas dos discentes.

A46 O professor não consegue explicar todo o conteúdo pois perde muito tempo chamando a atenção, pedindo para ficarem quietos.

A103 Conversas ou risadas, fazem com que o professor se desgaste chamando a atenção dos alunos, perdendo a linha de raciocínio e atrasando o conteúdo. Isso porque precisa explicar várias vezes a mesma coisa, porque alguns não prestam atenção na aula, saem da sala várias vezes ou chegam atrasados.

A63 Ricardo é um ótimo professor, mas ultimamente nas aulas dele os alunos não o respeitam, não ficam quietos, não sei qual motivo mas acho que é pelo grande número de alunos dentro de uma sala tornando difícil o aprendizado do aluno principalmente nas aula de cálculos pois sempre tem aqueles que tem mais dificuldades de aprendizado e por ser uma quantidade muito grande o professor não consegue dar atenção para todos, gerando alguns atos de indisciplina.

Foi possível notar, por meio dos relatos dos alunos dos cursos de

Administração de uma instituição de ensino superior privada, que a indisciplina traz

sérios malefícios aos agentes do processo de ensino-aprendizagem. Ao aluno, pois

interfere em sua aprendizagem e, desta forma, a disciplina torna-se um pré-requisito

de suma importância para a aprendizagem e qualidade dos futuros administradores.

Ao professor pelo estresse gerado na competição com aluno pela atenção, o aluno

chamando atenção para si e o professor para a relevância do conteúdo abordado, e

assim as constantes interferências e tentativas de solucionar os problemas sem êxito

desgastam e desmotivam o professor universitário.

A partir da análise sobre a percepção dos alunos sobre a questão

da indisciplina em sala de aula pôde-se constatar que os acadêmicos do curso de

administração anseiam por uma solução do problema, no entanto não percebem o

quanto a indisciplina impacta no trabalho do professor. A percepção desses é

restrita aos prejuízos que a indisciplina traz para o aluno, à medida que atrapalha o

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desenvolvimento da aula, desvia a atenção do aluno, estes sentem prejudicados

por não conseguirem acesso a todos os conteúdos e consequentemente

apresentam desempenho baixo nas avaliações. Desta forma, pôde-se constatar

que o aluno não estabelece relação entre a indisciplina e os impactos no trabalho

do professor, demonstrando assim uma visão individualista, fragmentada ao aluno

e não no contexto geral e em todos os agentes do processo de ensino-

aprendizagem.

A partir de então passaremos a análise dos dados obtidos por meio

da pesquisa realizada juntos aos professores o Cursos de Administração.

3.3 - Questão da indisciplina sobre o enfoque dos professores universitários

Com base nos dados coletados durante a pesquisa realizada junto

aos professores que atuaram em uma instituição privada no norte do Paraná como

docente do Curso de Administração no primeiro semestre de 2016 (Apêndice B). No

intuito de preservar a identidade dos profissionais da área de educação, os

professores entrevistados serão identificados pela letra “P” seguido de números, para

que não exista relação dos professores com seus respectivos nomes.

A análise sobre a percepção dos professores e seus impactos no

trabalho docente serão apresentados e sustentados a partir das falas dos próprios

professores que atuam no Curso de Administração.

3.3.1 - Perfil dos Professores do Curso de Administração

Nesta sessão apresentaremos os dados relativos ao perfil dos

docentes que atuam no curso de Administração. Os questionários foram aplicados

direcionados a dez professores no período de agosto a setembro de 2016 e assim

atingimos 100% do universo.

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TABELA 8 - PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – 2016-1 DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADO DO NORTE DO PARANÁ

SUJEITO Contrato de Trabalho

TEMPO GRADUAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO

ATUAÇÃO ALÉM DA DOCÊNCIA

P1 Horista 9 anos Administração Especialista Consultor

P2 Horista 6 anos Psicologia Mestre Empresário

P3 Horista 3 anos Economia Empresa privada

P4 Horista 7 anos Economia Mestre

-------

P5 Horista 04 anos Administração Especialista

-------

P6 Horista 2 anos Administração Mestre

Gerente comercial

P7 Horista 27 anos Filosofia e Teologia

Mestre

Empresa Privada

P8 Horista 2 anos Administração Especialista Empresa Privada

P9 Horista 20 anos Administração Especialista

Perito Judicial

P10 Horista 10 anos Direito Especialista Advogado

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Conforme Tabela 8 foram entrevistados dez professores destes 10%

do gênero feminino e 90% do gênero masculino, deflagrando a predominância do

gênero masculino entre o copo docente do Curso de Administração da instituição

pesquisada. Dados estes que se diferem do ensino básico, onde, segundo o

Ministério da Educação – MEC (2010), entre 80% e 81,5% dos professores da

Educação Básica é composta por mulheres. Logo, percebe-se que no curso de

graduação em administração da universidade em estudo, diferente do ensino básico,

a predominância e de professores do gênero masculino, a qual se justifica pela área

própria característica da área, onde os cargos de gestão eram ocupados que na sua

maioria por homens.

A pesquisa aponta que 40% dos professores possuem pouca

experiência na docência no ensino superior, sendo em média três anos de experiência

e os professores que atuam nos Cursos de Administração são formados em curso de

bacharelado, os quais não proporcionam formação pedagógica para o exercício da

docência.

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Entendemos que as práticas pedagógicas, principalmente dos

docentes bacharéis, são construídas por meio de sua experiência em sala de aula.

Para Brito (2006, p.51) “o pensamento do professor constrói-se, pois, com base em

suas experiências individuais e nas trocas e interações com seus pares”. Assim por

meio do tempo de atuação em sala de aula os saberes docentes são incorporados à

prática pedagógica do professor e consequentemente melhor interação com alunos e

aos métodos de ensino a serem aplicados.

Pimenta e Anastasiou (2005) corroboram, salientando que o tempo de

atuação em sala de aula contribui sobremaneira para a qualidade no exercício da

docência. A experiência profissional exerce influência direta na performance do

profissional em qualquer área de atuação, e de forma especial nos profissionais que

atuam como docente no ensino superior pelo próprio contexto da profissão que requer

constantes reflexões.

Outro ponto que podemos observar na Tabela 8 sobre o perfil dos

professores é que o Curso de Administração é composto por professores capacitados

em diversas áreas, Economia, Direito, Psicologia e Filosofia, isto se deve a própria

características das disciplinas ofertadas na grade curricular, que contempla uma

diversidade de saberes. O curso de Administração tem caráter generalista, o acesso

amplo a uma diversidade de conhecimento requer uma estrutura de docente com

formações que emanam de diferentes áreas do saber.

A heterogeneidade de conhecimentos científicos ofertada ao

profissional de Administração constitui-se um diferencial deste profissional frente ao

mercado de trabalho, pois permite desenvolver competências que transitam em

diversas áreas do conhecimento e que perpassando por disciplinas com conteúdo

extremamente lógicas e outras de caráter totalmente subjetivos e assim oportunizam

ao profissional atuar em diversas áreas:

A titulação apresenta-se outro fator que pode influenciam no resultado

desta pesquisa. Apenas 40% dos professores entrevistados, são mestres e destes

somente 10% tem formação em Administração com mestrado na área, os demais são

mestres em outras áreas como: Economia, Teologia e Análise do Comportamento. A

melhoria na atuação docente tem relação direta com o nível de conhecimento, desta

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forma, a formação do professor universitário enquanto mestre e\ou doutor influencia

diretamente nesse aporte de conhecimento, e, partindo da concepção que ensinar é

disseminar a informação, então o acumulo de conhecimento é fundamental para o

professor ensinar e incitar os alunos na construção de novos saberes. A melhoria na

formação do professor pode contribuir para a melhoria da sua atuação em sala de

aula.

Pode-se inferir também por meio dos dados do Tabela 8 que 80%

dos professores trabalham ou desenvolvem outras atividades, apenas dois atuam

somente na docência, os demais além da profissão de docente do ensino superior,

realizada no período noturno, atuam como profissionais liberais, em consultoria,

como locutores, peritos judiciais da Justiça do Trabalho e também com vínculo

empregatício em empresas de outras áreas. O contrato de trabalho é outro fator que

colabora para o atual quadro de professores que veem no ensino uma possibilidade

de complementar a renda, e não como atividade principal: o contrato de trabalho

como professores horista e não como professor parcial e/ou com dedicação

exclusiva.

A gestão das universidades privadas é baseada na racionalidade

técnica, o professor contratado por hora\aula fica vinculado à instituição somente

durante o período das aulas, sendo muitas vezes difícil até mesmo o agendamento

de reuniões estratégicas e tão importantes para a melhoria do curso.

E ainda, como o valor da hora\aula em uma instituição de ensino

superior privado na maioria das vezes não supri integralmente as suas necessidades

de sobrevivência, o docente se vê obrigado a assumir contratos como professor

horista em várias instituições de ensino e atuar aos finais de semana em cursos de

pós-graduação como forma de obter a renda mensal básica. Deste modo, o tempo

que poderia estar voltado a pesquisa, a formação continuada e a construção de

novos conhecimentos é empenhando apenas à atuação em sala de aula e ao

translado de uma instituição a outra. Logo, o contrato de trabalho ao qual o professor

universitário está vinculado às instituições de ensino contribui para a precarização do

trabalho docente e influenciam diretamente em sua saúde física e mental.

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3.3.2 – Estilo de autoridade exercida pelo professor do Curso de Administração

segundo sua percepção

A maneira como o professor faz a gestão de sala tem relação direta

com a disciplina no contexto escolar. Assim, no intuito de entendermos como os

professores se veem como gestores em sala de aula, eles foram indagados sobre o

estilo de gestão que cada um julgava exercer. O professor é autoridade e tem

autoridade legitimada pelo cargo que exerce, no entanto cabe a ele decidir de que

forma irá utilizá-la para que seja estabelecida a disciplina no decorrer da aula.

Importante destacar que a gestão da sala de aula pode se processar

de três formas: primeira, legitimada pelo cargo; segunda, pelo fruto das relações

estabelecidas entre professores e aluno e a terceira, de forma liberal, na qual o

professor dá autonomia para os alunos decidirem às regras que nortearam o

processo de ensino-aprendizagem (FURLANI, 1997). Os estilos de gestão

apresentados na sequencia são bem conhecidos pelos professores que atuam no

curso de administração, haja vista que fazem parte da forma de administrar e são

amplamente trabalhados no decorrer do curso de Administração.

A primeira, legitimada pelo cargo, em que a autoridade está

vinculada a posição hierárquica, ou seja, o professor autocrático é a autoridade

máxima em sala de aula devido à posição que ocupa e não tem relação com sua

competência profissional. Ele é detentor do saber, controlador e não aceita

questionamentos. Do aluno espera obediência, submissão numa relação de total

dependência. Neste estilo de autoridade pautada no medo, não existe diálogo, evita

afrontamento e a construção de críticas.

A segunda, fruto das relações, forma de exercer autoridade está

pautada no relacionamento entre professor e aluno. Neste contexto a autoridade

democrática é constituída por meio do consenso entre professor e aluno. O poder é

estabelecido por meio da competência, quer seja pelo aluno ou pelo professor. O

aluno é valorizado por suas atitudes, responsabilidades, questionamentos.

A terceira forma de exercer autoridade é a autoridade não sustentada

ou liberal, onde o professor abandona o exercício do poder. Neste estilo, o professor

se exime de qualquer responsabilidade, permite que os acadêmicos definam às regras

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de forma autônoma, sem orientação. O professor atribuir toda a responsabilidade pela

indisciplina aos alunos, não corrige as posturas inadequadas e apresenta pouca

importância ao processo de aprendizagem dos alunos.

A40 Ter um certo limite na relação com o aluno. O professor pode ser amigo do aluno, porem não expor isso em sala, pois ele perde credibilidade.

Neste sentido com tomando como base as definições de Furlani

(1997), procurou-se compreender como os professores se percebem enquanto

autoridade em sala de aula.

GRÁFICO 5 - Gestão de sala de aula, segundo a percepção dos docentes entrevistados

Fonte: Pesquisa da autora, 2016.

Pode-se observar por meio do Gráfico 5, que 80% dos docentes,

segundo sua percepção, exercem uma gestão democrática na sala de aula e os

demais, 20%, se consideram liberais. Conforme Villas Boas (1999) cabe ao

professor evitar que os conflitos interpessoais ocorram e sala de aula fazer uma boa

gestão da sala de aula, estabelecendo regras para o desenvolvimento do trabalho e

as boas condutas em sala de aula, cuja ordem seja firme e necessária, sem, contudo,

utilizar-se do autoritarismo para fazê-lo. O aluno aprecia ainda o docente que impede

DEMOCRÁTICO80%

LIBERAL20%

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situações de injustiça na interação.

Constatamos por meio das inferências dos alunos que estes buscam

um posicionamento do professor e a opção pelo não uso da autoridade em sala de

aula, ou autoridade liberal, não é respaldado pelos acadêmicos.

No entanto, observamos nas falas dos professores que o conceito da

autoridade que o professor exerce em sala de aula não condiz com as definições que

estes apresentam em seus discursos, como podemos observar na sequência.

P2 Democrático. Busco sempre a participação dos alunos.

P3 Democrático. Em sala precisamos dar liberdade para o aluno interagir com o conteúdo ministrado, porém, precisamos impor um limite.

P4 Democrático a medida em que aceita a discussão, porém exigindo o cumprimento do acordado previamente, para que a ordem esteja sempre presente

P5 Professor democrático, onde procuro concentrar toda atenção sobre as atitudes e interesses dos alunos, não só para receberem informação, mas sim conhecimento. Procuro orientar a aula com cooperação, participação espontânea. respeito cada aluno. Procuro manter a turma motivada, trazendo para sala de aula vivências da disciplina para que ocorra a interação desse aluno. Eu exerço à autoridade, mas sem o autoritarismo.

A gestão do professor em sala de aula deve ser baseada nos

princípios democráticos que busquem a participação efetiva do aluno, tratando-os

com isonomia, ou seja não fazendo distinção entre um aluno e outro. A sala de aula

deve ser um espaço que possibilite a reflexão e a produção de novos conhecimentos,

onde os alunos sejam propiciados aos alunos. E sabido também, conforme La Taille

(2006) que cabe ao professor estabelecer limites e as obrigações das partes em um

processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido podemos observar que os

professores, P4 e P5, apresentam um discurso que mais se aproxima da gestão

democrática.

Cabe destacar que a democracia representa o poder do povo, que o

exerce de forma direta ou indireta por meio de seus representantes. A democracia

está ligada ao exercício do poder. Uma turma onde todos participam da aula

conforme determinado e planejado pelo professor não é uma turma democrática,

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porque a autoridade e as regras vêm do professor e os alunos não buscam essa

democracia, pois não apresentam autonomia, nem tão pouco responsabilidade.

Podemos entender que a gestão da sala de aula com base na

autoridade se estabelece quando o professor permite aos alunos serem agentes

ativos no processo de ensino aprendizado sem, contudo, esquecer da sua função de

educador que precisa estabelecer limites no espaço de aprendizagem. Como

preconiza Silva (2010) que o papel do professor não se restringe a apenas a

transmissão do conhecimento, mas também a ele é conferido à autoridade para

controlar a conduta dos acadêmicos em sala de aula.

Como vimos 20% dos professores se jugam liberais. O professor

(P6) se percebe como liberal e democrático à medida que busca a mediação no

processo de ensino-aprendizagem. No entanto, pôde-se contatar que na percepção

dos alunos os professores liberais não utilizam a autoridade que lhe atribuída para

resolver as questões de indisciplina em sala de aula.

A 56 “Da muita liberdade e não pune”.

A 58 “Deixa todos conversarem em quanto explica a matéria, e muitos se sentem prejudicados por não ouvir a explicação.”

Desta forma a gestão liberal é vista pelos alunos como uma forma do

docente se eximir de sua responsabilidade enquanto docente. O professor P7

também apresenta uma percepção em que a gestão liberal é necessária para a

formação dos alunos, de forma que este desenvolva autonomia de ação.

P6 De tendência mais Liberal e Democrático, buscando sempre a Moderação, o que possibilita a mediação do Ensino/Aprendizagem.

P7 Liberal dentro do conceito de preparar o indivíduo para desempenhar seu papel junto à sociedade; democrático dentro do que o combinado seja cumprido, exercendo alto grau de controle; autocrático determinando os objetivos, as tarefas e o planejamento das aulas e projetos.

Importante destacar que de acordo com as falas dos alunos e com

dados do Gráfico 5 que apontam que 20% dos professores se julgam liberais, ou seja

ao se defrontarem com comportamentos indisciplinados em sala de aula se eximem

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do problema e continuam dando sua aula, isto é relatado pelos alunos como um

posicionamento inadequado pelo professor à medida que ele é a autoridade em sala

de aula, e assim deveria utilizar procedimentos que coíbam estes comportamentos.

Entretanto, conforme relato dos alunos pôde-se constar a presença

da gestão autocrática em sala de aula. Os acadêmicos apontam a existência de

professores tradicionais que utilizam técnicas repressivas para obter a disciplina em

sala de aula. O autoritarismo para o cumprimento das regras pré-estabelecidas.

A40 O professor quer se impor com palavras e ameças aos alunos e isso vez ele ter inimizades e complicando sua aula, como se diz respeito se conquista com atitudes e não com palavras.

A48 Ele é antipático e grosseiro algumas vezes, fica dando indiretas aos alunos, por chegarem atrasados, sendo que ele não sabe onde o aluno mora, onde trabalha, por qual motivo chegou atrasado, no começo era pior, hoje ele está melhor do que era antes, mas não é o melhor.

A70 Não se impõe , deixa todos conversarem , etc...

A86 Não se importa com a bagunça na sala.

Desta forma entende-se que a percepção dos professores e diferente

da dos alunos em relação ao estilo de gestão.

Entendemos que os alunos não vislumbram com facilidade a

responsabilidade sobre seus atos, o que nos levanta dúvidas acerca da maturidade

para assumir o compromisso com um projeto educacional diferente, voltado para o

processo democrático. Percebemos através das falas dos alunos pesquisados uma

crise de valores, os alunos acreditam que só a repressão pode coibir a indisciplina

em sala de aula. Eles não conseguem vislumbrar uma saída por si mesmos, se

eximindo assim de toda a responsabilidade.

3.3.3 – Conceito de indisciplina na percepção dos professores universitários

É importante analisarmos a percepção dos professores do Curso de

Administração no intuito de compreender o que estes entendem por indisciplina no

espaço de aprendizagem, e os fatores que influenciam sua gênese.

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P2 Desarranjo de contingências criado pelo professor

P4 Alunos que não correspondem com o solicitado e previamente acordado.

P5 Falta de respeito com o docente, no tocante a conversas paralelas e brincadeiras sem sentido com alunos que querem realmente aprender.

P6 Relacionada à desordem, ao desrespeito referente a normas de conduta e à falta de limites; a indisciplina é geralmente centralizada no aluno e nas suas relações durante o cotidiano escolar.

P7 É a falta de capacidade e vontade de seguir regras ou normas sistematizadas e estipuladas por uma instituição educacional.

P8 Eu entendo como desobediência, violação de certàs regras impostas pelo contexto escolar. Negação as normas pré estabelecidas entre docente e aluno. A indisciplina é uma resposta à autoridade do professor.

P9 Tudo aquilo que vá na direção contrária do estabelecido como plano de aula.

P10 Problema cultural crônico e fator de dificuldade para qualidade da aula.

Pode-se constatar pelas considerações que o professor P2 concebe

que a indisciplina está associada a falta de controle do professor das contingências

apresentada no cotidiano da sala de aula e este desarranjo no processo de

aprendizagem é entendido como uma situação de indisciplina. Já para o professor

P4 a indisciplina é efetivada a medida que o aluno se nega a atender ao que foi

solicitado e atender aos acordos pré-estabelecidos. Assim como o professor P6 a

relaciona a ausência da ordem ao desrespeito às normas de conduta e salienta ainda

a ausência de limites.

Constata-se a partir das respostas dos professores que o conceito

de indisciplina está relacionado a comportamentos inadequados e a violação das

regras, sendo que esta vai de encontro à conceituação de Amado (2001) em que a

indisciplina implica a contravenção dos princípios que norteiam o convívio em

sociedade, regras, contratos, ordens.

O professor P8, assim entende como violação das regras

impostassem sala de aula e ainda fala que vê a indisciplina como forma de resposta

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à autoridade do professor. Importante analisar que forma esta autoridade está sendo

efetivada em sala de aula. Como já vimos na literatura, o autoritarismo e a imposição

criam aversão do aluno à disciplina e ao professor. Assim é importante que o

estabelecimento das regras ocorra de forma consensual.

Na maioria das vezes, as regras são definidas unilateralmente e

assim são vistas pelos alunos como descontextualizadas, inoportunas e

impraticáveis. Neste sentido, Morais (2001) e Oliveira (2005) chamam a atenção

para que as normas sejam estabelecidas de forma participativa e não impositivas. À

medida que existe o consenso entre as partes, os alunos compreendam a finalidade

das regras como norteadoras de condutas, e, principalmente que elas se fazem

necessárias para a melhoria dos relacionamentos e da qualidade do ensino. Nesse

processo, os alunos passam a ser corresponsáveis pelo processo de ensino-

aprendizagem, e assim a cumprir o que foi estabelecido pelas partes, e, ainda, que

a tomada de decisão democrática sustente os direitos e deveres das partes

envolvidas. Desta forma, as normas de bom relacionamento são entendidas como

algo necessário para o bom desenvolvimento da aula e não como uma arbitrariedade

do professor.

A questão cultura, apontada pelo professor P10, é percebida como

fonte geradora de indisciplina limita e dificulta o acesso ao conhecimento, pois

impede o desenvolvimento das atividades pedagógicas, dificultando o processo de

ensino-aprendizagem. Os alunos não sabem ouvir, não obedecem às regras, tem

dificuldades em conviver e respeitar seus pares e com isto transformam a práxis do

professor em uma tarefa árdua e desmotivadora.

3.3.4 – Fatores que corroboram para indisciplina em sala de aula na percepção

dos professores universitários

Torna-se importante compreender, na visão dos professores, quais

os fatores que auxiliam para que ocorra a indisciplina em sala de aula. Nesse sentido,

os professores responderam:

P1 Falha na educação do aluno por parte de seus pais, permissividade do professor e da própria instituição de ensino, excesso de alunos

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em sala de aula, insatisfação do aluno com à instituição.

P2 Falta de preparo do professor, eventos específicos (novidade).

P3 Insatisfação profissional do aluno

P4 Falta de estrutura familiar.

P5 Excesso de alunos em sala, falta de conhecimento do professor sobre o assunto ministrado. Desvalorização do professor

P6 É uma questão de origem, da educação básica para as demais. Inversão de conceitos. Também a falta de comprometimento dos educadores, na maioria das vezes um número dentro da organização (falta de valorização e treinamento ).

P9 Desinteresse dos alunos - professores que permitem tal comportamento (por não serem comprometidos com a educação) - não cumprimento, por parte dos professores, das regras estabelecidas -

P10 Desde o convívio familiar muito permissivo, até falta de energia do Docente no controle da indisciplina.

As falas dos professores apresentam uma diversidade de noções

dos fatores que influenciam os comportamentos de indisciplina em sala de aula. Entre

os fatores apontados como causador da indisciplina no ensino superior está a família,

mais especificamente a atual maneira como os pais conduzem a educação de seus

filhos. O professor P7 relata que os alunos apresentam,

P7 Ausência de conhecimento e prática de princípios éticos como: O Bem, a Verdade, a Justiça e a Liberdade. Até mesmo os aspectos da ausência do aprendizado dos limites, desde o berço materno, influenciam no comportamento indisciplinar

Os professores compreendem que a desestruturação da família, na

contemporaneidade, contribui para que jovens universitários tenham dificuldades em

ter limites.

Carvalho et. al. (2006) em um estudo realizado com professores

sobre os fatores que contribuem para a indisciplina apontou que os comportamentos

indisciplinados estavam ligado diretamente à família, onde os professores apontaram

como a principal causa da indisciplina se fazer presente nas salas de aula.

Para os professores universitários, no intuito de protegê-los acabam

superprotegendo os jovens e não estabelecendo limites, comportamentos de boa

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conduta e respeito ao próximo e assim tornam-se mais permissivos. Conforme se

evidencia na fala do professor

P8 Creio que os motivos dessa indisciplina podem não ter haver somente com a aula em si. Pode ser por problemas familiares, superproteção dos pais, carências sociais, influências de ídolos, imaturidade.

Desta forma fica evidente que na percepção dos professores a

ausência de valores e normas de conduta que deveriam ser adquiridos na família se

fazem presentes na universidade onde o aluno apresenta comportamentos que

denotam total desrespeito a si, aos colegas e principalmente ao professor. Neste

contexto de ausência de valores e limites dos alunos o professor tem seu trabalho

dificultado e comprometido.

Percebemos também que os professores inferiram que a instituição

de ensino também tem responsabilidade pela indisciplina à medida que no intuito de

maximizar os lucros faz junções de turmas e consequentemente o número de alunos

contribuir com o aparecimento de comportamentos aversivos os alunos ficam

inquietos, o professor tem dificuldades de controlar uma sala com mais de cem

alunos. O professor P1 aponta a

P1 ...permissividade do professor e da própria instituição de ensino, excesso de alunos em sala de aula, insatisfação do aluno com à instituição.

Decorrente da falta de estrutura para comportar todos os alunos de

forma adequada. Cabe destacar que as salas são compostas por cadeiras

perfiladas, onde o aluno senta ao lado do outro o que favorece o diálogo entre eles,

além disso, excesso de alunos não permite o professor desenvolver atividades que

requeiram outras disposições das carteiras, pois as mesmas estão aglomeradas na

sala, de tal forma, que sobra um pequeno espaço para o professor ministrar sua aula.

A estrutura é inadequada tanto quanto ao número de alunos como à

própria disposição das carteiras que colaboram para situações de indisciplina em

sala de aula. O professor, neste contexto, se sente desorientado e tem dificuldades

para desenvolver atividades que chamem a atenção do aluno.

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Desta forma os professores também apontam a instituição de ensino

como responsável pelo problema de indisciplina no ensino superior e demonstram

sua insatisfação coma instituição e com a falta de valorização do professor, que

muitas vezes é visto como número e não como agentes de responsáveis pela

formação profissional dos acadêmicos. Nesse sentido o relata do professor

P6 (...) Inversão de conceitos. Também a falta de comprometimento dos educadores, na maioria das vezes um número dentro da organização (falta de valorização e treinamento).

Entendemos que é papel do professor ensinar e fazer com os

alunos estejam preparados para o mercado de trabalho, no entanto, as condições

de trabalho não contribuem para que desenvolvam suas atribuições de forma

eficaz, uma vez que o cenário é de total desolação, a estrutura é inadequada, os

alunos apresentam ausência de valores e falta de interesse na aquisição de novos

saberes, o seu descompromisso com o estudo por estarem custeando sua

universidade e com objetivo de tão somente adquirem o diploma de curso

universitário. Todos estes fatores contribuem para o nível de insatisfação dos

professores com a educação.

O estudo de Pappa (2004), ao realizar uma pesquisa com os

professores ensino básico, verificou que estes se sentiam agoniados e desnorteados

frente às questões da indisciplina e a ausência de interesse dos alunos em obter

novos conhecimentos. Como denota a fata do professor

P9 “Desinteresse dos alunos - professores que permitem tal comportamento (por não serem comprometidos com a educação) - não cumprimento, por parte dos professores, das regras estabelecidas,

que atribui a falta de interesse dos alunos e a permissividade dos colegas

professores, alguns por não estabelecer regras norteadoras e outros por não fazê-

las se cumprir.

No entanto, segundo Rego (1996) o professor é responsável pela

manutenção da disciplina e enquanto educador cabe a ele estabelecer os parâmetros

e limites aos seus alunos. Salienta ainda que o convívio social requer o

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estabelecimento de regras que oriente a convivência entre os envolvidos no contexto

educacional e que estas constituem condição necessária para que aula transcorra

de acordo com o planejado. Deste modo, cabe ao professor no uso de sua

autoridade se posicionar enquanto tal e coibir a indisciplina no ensino superior.

3.3.5 – Estratégias utilizadas pelos professores do Curso de Administração para

prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula

Uma questão da pesquisa foi levantar as estratégias que os

professores utilizam para prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula. As

falas dos professores indicam que os professores utilizam estratégias diversificadas.

A postura firme frente à situação com estabelecimento de dialogo

onde levem ao aluno a reflexão dos impactos de seus comportamentos na

aprendizagem coletiva é uma das estratégias utilizadas. Para o professor

P1 a “Postura firme e séria, desenvolvimento de diálogo com os alunos, conscientização dos alunos sobre quem serão os reais prejudicados pela indisciplina em sala de aula, demonstrar real preocupação com o desenvolvimento do aluno”

é uma forma que utiliza para resolver as questões da indisciplina, no entanto segundo

relato do professor este procedimento resolve momentaneamente, assim no decorrer

da aula se faz necessário interpelar os alunos várias vezes por comportamentos

inadequados.

P3 Posicionar como autoridade

P8 Mostro-me séria nas aulas. Tento não confundir simpatia com outro sentimento. Cativar os alunos para a disciplina e não para a minha pessoa. Observar cada aluno para saber que postura tomar. Planejo a aula cuidadosamente para que seja eficaz e organizada.

P9 Diálogo - buscar sempre um ambiente que seja propício ao interesse do aluno para o desenvolvimento da educação

As interações sociais se fazem presentes nas falas dos professores

como uma estratégia para prevenir a ações indisciplinares, para o professor P7 à

medida que o docente P7,

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P7 ...conhecer melhor o educando, incentivar o diálogo e o respeito, procurando o reconhecimento dos valores pessoais e sociais.

Verificar quais são os indisciplinados e por que realizam atitudes que demostram dificuldades no relacionamento social.

Desta forma é importante que o professor conheça o aluno, suas

expectativas, interesses e principalmente suas dificuldades. Assim o docente poderá

um relacionamento com acadêmico baseado no diálogo e ausência de conflitos.

Neste sentido, Estrela (2002) salienta que se faz necessário que o

professor estabeleça um bom relacionamento com o aluno, estabelecendo regras

consensuais, com responsabilidade, cooperação, ou seja, que o aluno seja colocado

no centro do processo de ensino-aprendizagem.

Outros professores utilizam procedimentos punitivos para estabelecer

a disciplina como para o professor P10,

P10 Chamo a atenção. Faço mais perguntas ao aluno que mais conversa.

Estas estratégias apontam a participação do aluno com cunho

punitivo, o que deveria ser uma prática que fomenta as interações sociais e não tolher

a liberdade de expressão do aluno. Welch (2007) afirma que o processo ensino-

aprendizagem se efetiva à medida que o professor, por meio de atitudes firmes e

participativa, fixa às regras norteadoras do ensino. De forma a valorizar as interações

sociais, tratando o aluno com respeito, sem incorrer em injustiças e sem ser autoritário.

O gestor da sala é o professor a responsabilidade de fazer com que os conhecimentos

adquiridos e que os alunos adquiram senso crítico e relacionamento interpessoais.

P2 Tentativa de reforço dos comportamentos aceitáveis apenas, colocando os inaceitáveis em extinção.

P5 Atividades práticas, proporcionando a correlação do conteúdo ministrado e as práticas vivenciadas pelos mesmos nas organizações.

P6 Sou um administrador, trabalho com prazos, números, metas. O combinado ou programado por mim será executado. Agir fora resulta em orientações, expulsão, trabalhos mais complexos, etc.

Evidencia-se na fala do professor P6acima que as questões das

indisciplinas são resolvidas com punições, e com incremento de trabalho mais

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complexos ou até mesmo a expulsão do aluno da sala de aula. Pôde-se verificar por

meio do estudo de Libaneo (1994) que os enfrentamentos em sala de aula não

contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor utiliza como

estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula e/ou adicionar-lhe

trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno adquirira respeito pelo

professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é conquistado por meio do

diálogo e não com ações impositivas e que o aluno entenda como punição pelas ações

indisciplinares. No entanto, como já tratado nas análises anteriores os alunos esperam

uma postura mais rígida por parte dos professores.

Os professores, tanto os menos como os mais experientes,

apresentam dificuldade para lidar com os problemas de indisciplina no ensino

superior. Várias são as estratégias utilizadas para combater o problema em sala de

aula.

3.3.6 – Percepção dos professores do Curso de Administração sobre os

impactos da indisciplina no trabalho docente

Para o desenvolvimento das atividades da docência, torna-se

necessário entender quais os impactos da indisciplina da sala de aula e no

desenvolvimento do seu trabalho. Podemos perceber que os professores indicam

que a indisciplina atrapalha, e muito, o processo de desenvolvimento do seu trabalho.

Para o professor P1,

P1 Sim. Existe um mau aproveitamento do tempo, em decorrência de sucessivas interrupções em sala de aula. O professor passa a se desmotivar ao perceber desrespeito e desinteresse dos alunos.

O tempo dispendido pelos professores e também relatado pelos

alunos compromete o processo de ensino-aprendizagem a medida que o professor

precisa fazer constantes pausas para chamar a atenção dos alunos, ou estabelecer

estratégias punitivas para os alunos que estão apresentando mau comportamento.

E estas sucessivas interrupções fazem com que o professor fique desmotivado. No

entanto, para Pozo (2002) e Bzuneck (2001) a motivação é essencial ao processo de

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ensino-aprendizagem, uma vez que sua ausência dificulta a aprendizagem.

Os professores consideram que além do impacto negativo no

trabalho docente, a indisciplina traz prejuízo também ao aluno, à medida que estes

não têm acesso a todo o conteúdo que deveriam estudar. Para Estrela (2002) o

tempo que o professor dispende durante sua aula para controlar a disciplina dos

acadêmicos, o desgaste advindo do trabalho desenvolvido, um ambiente de falta de

respeito e indisciplina, a tensão gerada pelos posicionamentos defensivos dos

alunos, a perda da performance do professor e a redução da sua autoestima levam

a sentimentos de desânimo e frustração.

Outro fator ainda a ser considerado: estas frequentes interrupções

refletem diretamente na saúde do professor. Conforme se observa na fala do

professor P4,

P4 Sim, pois atrasa o conteúdo e danifica a saúde do professor.

De tal modo, a indisciplina ao interferir no planejamento da aula

consequentemente influência negativamente o processo pedagógico, à medida que

tira o tempo útil do professor expor e explicar os conteúdos programados, desta forma

compromete o trabalho do professore e o leva a tomar atitudes que muitas vezes não

gostaria, como tirar o aluno da sala. Neste contexto o professor se sente impotente

frente ao problema e isto acarreta a saúde do professor.

Os professores apontaram em suas falas que além do impacto no

trabalho do professor a indisciplina interfere na aprendizagem do aluno, como

relatado pelos professores P8 e P10.

P8 “Sim dificulta. Desvio de atenção do aluno e do grupo dificultando o processo de aprendizado. Creio que a indisciplina acontece no momento em que atrapalha o desempenho de cada um. Tanto do aluno em aprender como do professor em conseguir transferir tudo o que precisa ao aluno”.

P10: “Totalmente. Impede o bom andamento da aula, desmotiva o Professor e o aluno interessado. Além, claro, de impedir o aluno que conversa de entender o conteúdo”.

Conforme já apontado na análise dos alunos, as conversas paralelas

acabam dificultando o entendimento dos alunos. Ainda no sentido de falta de

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interesse dos alunos, são corriqueiras as vezes que o professor propõe uma

atividade ao final da aula para fixar os conteúdos, no entanto, os alunos desenvolvem

de qualquer maneira só para conseguir os pontos. Percebe-se um total desinteresse

do aluno na aquisição de conhecimento. A maioria deles é mediana e veem a

formação profissional apenas como uma certificação e não como um momento de

agregar conhecimentos que irão sustentá-los enquanto futuros profissionais.

Conforme apontam os relatos do professor que contextualiza toda uma questão

estrutural que influência na indisciplina.

P6 “Sou professor por questões ideológicas. Honestamente não vejo motivos para alguém viver de educação (na área privada). A remuneração é ínfima, não há treinamentos, atualização. Existe uma burocracia gigante, ao invés de focar em educação e resultados. O discurso é bonito, a realidade é outra. Os alunos sentem isto”.

P2 Sim, porque impede o processo ensino aprendizado.

P3 Sim, no desenvolvimento do conteúdo

P7 Poderá dificultar se, constatando ações indisciplinares, não abraçar essa dificuldade, pois "as normas e regras sobre disciplina e sua relação com o trabalho pedagógico, precisam ser pensadas para o grupo e não apenas para aqueles que apresentam conduta inadequada". Dificultará se não houver uma prevenção e mediação, imediatamente ao surgimento da ação indisciplinar.

P9 sim, na medida em que o mesmo precisa "parar" sua aula para contornar problemas fora de seu contexto inicial.

Deste modo pôde-se compreender que na visão dos professores

frente às questões da indisciplina e como está se faz presente no ensino superior.

Os docentes têm dificuldade para lidar com o problema e as constantes intervenções

para solucioná-los acabam impactando diretamente no trabalho docente e em sua

motivação.

3.3.7 – Percepção dos impactos da indisciplina na vida do professor

universitário

Uma questão importante é buscar entender qual a percepção do

impacto da indisciplina no dia a dia do professor, sendo que essa questão está

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presente, cotidianamente em sala de aula. Nesse sentido, foi perguntado aos

professores qual o sentimento deles frente as dificuldades encontradas para a

realização do seu trabalho como professor:

P1 Desmotivação, irritação, desconcentração.

P2 Quando sou impedindo de dar uma aula me sinto frustrado.

P3 Incapacidade

P4 De motivação em mudar a situação de indisciplina.

P5 Preocupação. Que tipo de profissionais estamos formando

P9 Desafio

A qualidade de vida no trabalho do professor é visivelmente

comprometida pelas ações de indisciplina em sala de aula pelas constantes

interrupções durante a aula para chamar a atenção do aluno, colocar aluno para fora,

ou seja, um desgaste desnecessário se analisarmos que estamos lidando com

alunos universitário. Estas situações contribuem para a redução do nível

motivacional do professor em sala de aula, bem como para atuar na docência.

P8 “Sentimento de desmotivação. Porque toda aula é elaborada, planejada, e não conseguir repassar isso aos alunos por motivo de indisciplina me deixa frustrada”.

Outro aspecto apontado pelos ProfessoresP9 e P10, é que diante de

problemas de indisciplina se faz necessário que o docente busque alternativas de

melhoria.

P10 “Sentimento de que há necessidade de melhorias.

Torres (2008) aponta a necessidade de o professor refletirsobre suas

práticas no intuito de reduzir suas angustias e apontar diretrizes que possibilitem

encontrar uma solução para o problema. Ainda, para Siqueira (2003) a competência

do professor perpassa pela reflexão das metodologias utilizadas e sua postura em

sala de aula. É importante que o docente reflita sobre suas práticas e tenha um

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replanejamento, a fim de levar os acadêmicos a se tornarem agentes do processo de

ensino, de forma consciente e autônomo, e assim possa ser um administrador crítico

capaz de modificar sua realidade.

3.3.8 – Sugestões para controlar a indisciplina em sala de aula

Podemos entender que a indisciplina impacta diretamente no

desenvolvimento do trabalho do professor em sala de aula. Nesse sentido,

perguntamos aos mesmos, quais sugestões e atitudes os professores (e as

instituições de ensino superior) deveriam realizar para controlar/diminuir as ações de

indisciplina em sala de aula.

As questões estruturais são apontadas novamente na fala dos

professores como uma das formas de amenizar a incidência da indisciplina em sala

de aula. Para o professor P1 seria

P1 “Evitar excesso de alunos em sala de aula; adoção de normas mais rígidas por parte da instituição; adoção de um padrão comportamental a ser seguido por todos os professores em caso de indisciplina do aluno”.

De fato, a quantidade excessiva de alunos em sala de aula é também

destacada pelos alunos como um fator que contribui para a indisciplina e dificulta o

trabalho do professor e dispersa a atenção dos alunos. As regras disciplinadoras

devem ser instituídas pelas instituições de ensino superior de forma clara para

professores e alunos, e, principalmente, que os docentes possam fazê-las cumprir.

Como apontado por Amado (2001) a indisciplina implica na

contravenção dos princípios que norteiam o convívio em sociedade, regras, contratos,

ordens. Neste sentido evidencia-se a clara discordância dos objetivos dos membros

envolvidos, professores, alunos e a própria instituição de ensino, provocando da

ordem e quebra dos relacionamentos sociais. Neste sentido os professores P8 e P9

apontam como sugestão o estabelecimento de regras claras no início do semestre.

P8. Estabelecer regras no primeiro dia de aula. A primeira impressão é a que fica. Isso traduz a postura do professor. Ter a certeza do que o aluno sabe/ou não sabe. Assumir às regras da instituição. Ser

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educador e não somente um professor. Evitar comparações. Ser breve e objetivo nas explicações. Valorizar cada aluno na sua individualidade.

P9. Motivação do professor - estabelecimento de regras claras (cumprimento destas pelo professor) - Diálogo com o aluno - ajudar ao aluno a descobrir suas vocações.

Os professores apontam a clareza das regras logo no início do

semestre como um procedimento que possibilitará aos agentes do processo de

ensino-aprendizagem obter uma relação pedagógica saudável.

No entanto, conforme sugere Caritas e Fernandes (1997) a

intervenção para resolução do conflito professor-aluno deve ser conjunta e obtida por

meio de consenso entre as partes envolvidas. Desta forma é importante que as regras

sejam negociadas entre docentes e discentes. O papel do professor transcende a

transmissão de novo saber, se faz necessário que o professor ouça e interaja com

seus alunos. É dever do professor proporcionar condições para que o acadêmico

aprenda a expressar suas opiniões e não a reprimi-las com atitudes autoritárias. O

trabalho docente é uma via de mão dupla, e as respostas e posicionamento do aluno

são demonstrações positivas ou negativas a práxis do professor, a identificação com

o conteúdo ou as dificuldades que estão encontrando para assimilar as informações

(LIBANEO, 1994).

A metodologia e a postura ética do professor são apontadas na

pesquisa como formas de combate a indisciplina. Para o professor P5,

P5 Atividades práticas e comportamento ético em relação aos alunos.

Como apontado por Aquino (1996) o professor deve criar

metodologias de trabalho que mantenham a disciplina e não ter um discurso sobre

a indisciplina, uma vez que cabe ao professor desenvolver estratégias de ação para

motivar os alunos ao aprendizado e assim atingir seus objetivos, e não determinar

comportamentos pré-estabelecidos.

De fato, adotar metodologias que chamem a atenção dos alunos e

que os levem a reflexão e ao envolvimento com os conteúdos é muito difícil.

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Entretanto é possível compreender que nesta questão na instituição de ensino

possui um paradoxo, uma vez que a estrutura inviabiliza o desenvolvimento de

novas estratégias metodológicas, devido ao espaço que professores e alunos têm

em sala de aula.

Outra sugestão dos professores para combater a indisciplina em

sala de aula relaciona-se à interação entre professore e alunos. A relação com o

aluno é de suma importância para a efetivação do trabalho docente. Nóvoa (2002)

destaca que o trabalho docente depende da coparticipação do acadêmico, pois só

é possível ensinar a quem quer aprender. A formação dos alunos na graduação

predispõe que estes sejam capacitados a se tornarem profissionais autônomos.

Para isto, precisam ser motivados à aprendizagem continua, o que faz com que o

processo de aprendizagem seja baseado na confiança, predisposição e

capacidade de adquirir novos conhecimentos. Desta forma, se faz necessário

investir na aprendizagem e desenvolvimento de uma relação afetiva entre docente

e discente. Os reflexos desta relação serão evidenciados na identidade profissional

do acadêmico que pode e deve no decorrer do curso desenvolver disciplina para o

exercício de suas atividades enquanto futuros profissionais.

P2 Estar bem preparado, relacionar-se bem com os alunos, valorizar comportamentos esperados e aceitáveis e não valorizar os inaceitáveis. Alunos muitas vezes querem chamar a atenção com a indisciplina, se damos atenção, aumentamos a probabilidade de ocorrência.

P7 Manter um diálogo constante, aberto e sincero, valorizando a presença de cada educando, e mostrar que "é na escola que passamos os melhores anos de nossas vidas, quando crianças e jovens. A escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. Mesmo faltando tudo nela existe o essencial: gente, professores e alunos, funcionários, diretores. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por isso, precisamos falar mais e melhor das nossas escolas, de nossa educação". (GADOTTI, 2008 p. 02)6

A partir das falas dos professores pôde-se verificar que eles

compreendem a importância das interações sociais saudáveis entre professores e

6 Citação do professor entrevistado.

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alunos para o êxito do processo de ensino-aprendizagem. Esse relacionamento

deve ser pautado no diálogo aberto, com apresentação de feedback sincero que

levem o aluno à percepção do seu papel enquanto educando e futuro

administrador.

Somente um professor relaciona a solução da indisciplina em sala

de aula à autoridade e uso de procedimentos punitivos,

P10 “Formas de aplicar penalidades em nota, em avaliações comportamentais. Além do necessário controle do Professor em sala”.

De fato, conforme Libaneo (1994) os enfrentamentos em sala de

aula não contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor

utiliza como estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula

e/ou adicionar-lhe trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno

adquirira respeito pelo professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é

conquistado por meio do diálogo e não com ações impositivas e que o aluno

entenda como punição pelas ações indisciplinares.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento desta dissertação nos oportunizou uma reflexão

sobre a incidência da indisciplina em sala de aula e os problemas e desafios que os

professores, tanto do ensino básico quanto do superior, enfrentam na

contemporaneidade para o desenvolvimento de suas atividades laborais, bem como

o quanto este problema afeta o trabalho do professor. Esta análise profunda sobre o

tema foi possível por meio da leitura de diferentes autores que estudam o tema e por

meio dos resultados do estudo.

Partimos do princípio que no ensino superior, diferente do ensino

básico, os alunos escolhem a graduação de forma autônoma e que as disciplinas a

serem cursadas no decorrer do curso subsidiarão em sua carreira profissional. Nesse

raciocínio, a analise a indisciplina não deveria se fazer presente no ensino superior,

no entanto como vimos no estudo, ela se apresenta e com muita intensidade. Assim

pôde-se entender que sua existência sinaliza que há algo errado no processo de

ensino aprendizagem.

É sabido que a prática de ensino deve permitir o aporte de

competências e habilidades e a solidificação de atitudes no aluno que os prepare para

atuação profissional após sua formação. Neste sentido, a pesquisa apontou que na

percepção dos alunos os fatores preponderantes que culminam nos comportamentos

da indisciplina em sala de aula estão vinculados ao próprio aluno, pela ausência de

interesse em adquirir os conhecimentos tão necessários à sua formação.

O estudo aponta ainda a diversidade de noções dos fatores que

influenciam os comportamentos de indisciplina em sala de aula. Entre os fatores

apontados como causadores da indisciplina no ensino superior está a ausência de

educação do aluno, mais especificamente a atual maneira como os pais conduzem a

educação de seus filhos. A estruturação da família, na contemporaneidade, contribui

para que jovens universitários apresentem dificuldades diante da imposição de limites.

Desta forma, é veementemente necessário que a instituição de ensino

atue na formação ética do acadêmico, no entanto, para isto é preciso que as normas

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institucionais que regulam o processo de ensino aprendizagem sejam amplamente

disseminadas junto a professores e alunos.

No intuito de que todos os professores universitários, de forma

isonômica, se coloquem como autoridade máxima em sala de aula e façam com que

as regras sejam seguidas por todos e para o bem de todos. Com o respaldo da

instituição o professor nem se coloca na posição de punidor ou perseguidor, mas sim

do orientador que estabelece a ordem em sala de aula. Cabe salientar que dentre

estas regras estão dez minutos de tolerância para o aluno ingressar na sala de aula,

frequência e nota mínima necessária para aprovação, desenvolvimento as atividades

propostas pelo professor, estudar os conteúdos que antecedem o início das aulas e

necessários para as discussões, realizar as atividades proposta em grupo de forma

ordeira e compartilhada, bem como os que são solicitadas após o termino das aulas

no intuito de fixar conteúdo.

Entendemos que os alunos não vislumbram com facilidade a

responsabilidade sobre seus atos, o que nos levanta dúvidas acerca da maturidade

para assumir o compromisso com um projeto educacional diferente, voltado para o

processo democrático. Percebemos pelas falas dos alunos pesquisados uma crise

de valores, os alunos acreditam que só a repressão pode coibir a indisciplina em sala

de aula. Eles não conseguem vislumbrar uma saída por si mesmos, se eximindo

assim de toda a responsabilidade.

Desta forma, a prática de ensino estaria priorizando a construção de

valores essenciais a formação do aluno que muitas vezes não foram desenvolvidos

na família, bem como o envolvimento dos alunos no processo, onde estes passam de

meros expectadores, a agentes do processo de ensino, participando assim das

discussões e atividades propostas de forma ativa, com responsabilidade, ética e

compromisso com sua formação profissional.

Partindo da proposta acima apresentada, é importante que se faça

reformas na estrutura pedagógica e planejamento dos gestores e professores

universitário no sentido de desenvolver estratégias como treinamento e reuniões

pedagógicas, estas últimas com intuito de unificar os procedimentos adotados em

termos das regras pré-estabelecidas, com a finalidade de não haja problema

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relacionados à distinção de posicionamento entres os professores no tratamento de

situações semelhantes.

Desta forma as instituições de ensino, em especial as privadas,

devem se valer das regras e normativas para que os alunos adquiram os valores

necessários ao cidadão e ao futuro profissional. Como exemplo, se o aluno

desrespeita o professor e\ou colega de sala deve ser advertido, da mesma forma

outros comportamentos que infringem a ética, como atrasos, plágio, colar na prova,

também devem ser tratados pelo professor e pela instituição com o rigor necessário

para que o aluno não perceba que seu comportamento inadequado é recompensado,

pelo simples fato dele manter as mensalidades em dia. Entendemos que a primeira

preocupação da instituição deve ser a formação do ser pensante e crítico, socialmente

responsável e também preparado para a atuação profissional, da mesma forma que a

qualidade do ensino deve ser o fator determinante para que o aluno se mantenha em

uma instituição.

No entanto, é importante questionar até que ponto a família está

deixando a cargo, primeiro da escola primária e depois da universidade, o papel de

formar o caráter do cidadão. Muitas habilidades e características que compões o

caráter começam a ser desenvolvidas ainda na infância. Se são competências a

serem desenvolvidas na infância, não pode caber apenas ao professor universitário

formar o caráter. O professor enquanto mediador do conhecimento, mesmo usando

de autoridade para a manutenção de ordem para o bom desenvolvimento das

atividades curriculares, não pode ser o único responsável por incutir valores nos

alunos.

O abuso de metodologias expositivas, aulas monótonas e repetitivas,

conteúdos sem sentido, gerenciamento inadequado da sala de aula e o tempo

dispendido para o desenvolvimento das atividades contribuem para desinteresse são

apontados pelos alunos como causas que contribuem para aumento dos casos de

indisciplinas em sala de aula.

A pesquisa foi muito importante para identificar que dentre o quadro

de professores que atuam no Curso de Administração, há professores que precisam

de orientação em relação ao perfil do aluno. Isso porque constatou-se ainda o uso de

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formas inadequadas de exposição do conteúdo para o perfil dos alunos do curso, por

exemplo, os slides podem contribuir para a dispersão dos alunos em sala de aula,

assim se faz necessário oficinas de trocas de experiências, a oferta de treinamentos

que contribuam com o professor para a programação e organização de aulas

dinâmicas, com discussão de casos, visitas técnicas e desenvolvimento de projetos

práticos.

No entanto, para que estas práticas se efetivem e preciso que o aluno

compreenda o seu papel social e profissional, que ao a adentrar o ensino superior,

precisa adquirir novos conhecimentos, respeitar os professores e se posicionarem

como agentes de construção do conhecimento. Constatamos que o professor

apresenta uma grande parcela de responsabilidade na postura apresentada pelos

discentes, ao não usar a autoridade que lhe é conferida pelo cargo que ocupa

enquanto educador e formador de profissionais que irão atuar na sociedade.

Entretanto, não se pode isentar os próprios alunos da responsabilidade pelas ações

inadequadas apresentadas em sala de aula. Como constatamos, a maioria dos

alunos veem o professor como responsável pela manutenção da disciplina, se

eximindo assim da responsabilidade pelo seu comportamento inadequado. E nesta

visão individualista não percebem o quanto sua ação afeta o trabalho e principalmente

a saúde do professor.

Percebemos pelas falas dos alunos que os professores estão

adotando estratégias para coibir a indisciplina que denotam seu alto grau de estresse,

como gritar com os alunos, bater na porta do quadro e ou ainda se colocar numa

posição de neutralidade, ou seja não fazer nada continuar a aula mesmo com

conversas paralelas, constantes interferências, e desrespeito a seu trabalho. O

estresse gerado pelos comportamentos de indisciplina faz com que o professor desvie

a atenção dos conteúdos a serem abordados e fique traçando estratégias para desviar

a indisciplina em sua aula, como é apontado pelo aluno. Logo, o sentimento de

impotência na resolução do problema se faz presente tanto na fala dos alunos que

percebem que o professor não está conseguindo controlar os comportamentos em

sala de aula e este posicionamento vem comprometendo a aula.

Na percepção dos alunos o maior impacto é no desenvolvimento das

aulas, à medida que o professor se defronta com comportamento de indisciplina,

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interrompe a aula e a atenção dos alunos é desviada e este não consegue resolver os

demais alunos são prejudicados. Os alunos sinalizam que são eventos frequentes e

com isto o desenvolvimento da aula e a aprendizagem fica comprometida. Desta

forma a pesquisa aponta a ausência de valores em sala de aula, e que o aluno tem

uma visão individualista dos impactos da indisciplina em sala de aula. Não

conseguem perceber o quanto estes comportamentos afetam o trabalho do professor,

que se angustiam por não conseguirem cumprir o conteúdo e pelas constantes

interrupções em sua aula o que denota a ausência de compromisso e falta de respeito

para com o professor.

Entendemos que a gestão da instituição precisa intervir e construir por

meio do diálogo, sem ameaças ou punições, o esclarecimento do papel dos agentes,

professores e alunos, no processo de ensino. Desta forma, Coordenadores de Curso,

Coordenação Acadêmica e professores numa ação conjunta, precisam esclarecer o

papel do professor universitário, que antes de tudo, é uma pessoa com valores e que

é exerce uma função de sua importância para a instituição de ensino e principalmente

na vida do acadêmico, portanto é merecedor de respeito.

A estrutura para realização do trabalho do professor, em específico,

na instituição em estudo, contribuem para os comportamentos inadequados, a salas

são compostas por cadeiras perfiladas, nas quais o aluno senta a lado a lado

favorecendo e o diálogo entre os alunos durante a explanação do professor, além de

que as propostas de atividades inovadoras, que possibilitem a interação entre os

alunos, não é possível. Isso porque que o número de carteiras em sala de aula não

permite sua adequação para o desenvolvimento de atividades grupais e ainda não

há espaço para o professor se locomover durante sua explanação e muito menos

entre as carteiras. O professor só consegue atender de forma individualizada aos

alunos que estão sentados à frente da sala de aula. Fato este que dificulta o trabalho

do professor, além de ser percebido pelo aluno como falta de planejamento e

organização do professor e da instituição.

Entendemos que é papel do professor ensinar e fazer com os alunos

estejam preparados para o mercado de trabalho, no entanto, as condições de

trabalho não contribuem para que desenvolvam suas atribuições de forma eficaz,

uma vez que o cenário é de total desolação, a estrutura é inadequada, os alunos

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apresentam ausência de valores e falta de interesse na aquisição de novos saberes,

o seu descompromisso com o estudo por estarem custeando sua universidade e com

objetivo de tão somente adquirem o diploma de curso universitário. Todos estes

fatores contribuem para o nível de insatisfação dos professores com a educação.

As interações sociais são apontadas pelos professore como uma

possível estratégia para prevenir os comportamentos indisciplinares. Consideramos

importante que o professor conheça o aluno, suas expectativas, interesses e

principalmente suas dificuldades. Assim o docente poderá estabelecer um

relacionamento com acadêmico baseado no diálogo e ausência de conflitos. No

entanto, como relado no parágrafo anterior, o número de alunos e a estrutura das

salas dificulta esta interação. Assim, se faz necessário que os gestores da instituição

revejam a organização e a estrutura disponibilizada para a formação dos alunos e o

trabalho do professor.

De fato, adotar metodologias que encantem os alunos e que os levem

a reflexão e ao envolvimento com os conteúdos é muito difícil. Entretanto é possível

compreender que nesta questão há na instituição de ensino possui um paradoxo, uma

vez que a estrutura inviabiliza o desenvolvimento de novas estratégias metodológicas,

devido ao espaço que professores e alunos tem em sala de aula.

Constatamos por meio do estudo que os professores consideram

que a indisciplina se faz presente na universidade, com grande intensidade, e há um

investimento de tempo de sua aula para controlá-la, o que acarreta grande desgaste,

tudo é agravado por um ambiente de falta de respeito e indisciplina, pela tensão

gerada pelos posicionamentos defensivos dos alunos, pela perda da performance do

professor e a redução da sua autoestima o que levam consequentemente aos

sentimentos de desânimo e impotência.

A indisciplina, na percepção do professor universitário traz prejuízo

também ao aluno, à medida que estes não têm acesso a todo o conteúdo que

deveriam estudar e causa ao educador sentimento de frustração. Logo a qualidade

de vida no trabalho do professor é visivelmente comprometida pelas ações de

indisciplina em sala de aula, que apresentam ao perderem a concentração e o foco

no conteúdo a ser ministrado, acabam se irritando e consequentemente ficam

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desmotivados a atuar na docência.

Já o aluno tem uma visão individualista do problema da indisciplina,

só percebe os impactos e prejuízos para si próprio, sem perceber o quanto esta

interfere no trabalho do professor que se vê impedido de atuar. A pesquisa aponta

que os acadêmicos são pacíficos, tem uma percepção individualistas do problema e

não apresentam comprometimento com os estudos, seus interesses se resumem a

obtenção da nota para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma.

Neste contexto apresentam falta de compromisso e comportamentos de indisciplina

em sala de aula. Percebemos ainda nos relatos dos professores que os alunos

apresentam insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na

universidade desencadeiam a falta de interesse e consequentemente ações de

indisciplina entre elas: falta de participação, desmotivação, descompromisso com o

estudo são interpretados como comportamentos de indisciplina.

É importante destacar que o estudo nos possibilitou uma

compreensão sobre o fenômeno da indisciplina no ensino superior. Foi possível

compreender os múltiplos fatores que a influenciam e está constatação nos conduziu

a adotar mudanças estratégicas tanto como professora quanto como gestora. A

presença da indisciplina em sala não deve ser entendida como um problema em si,

mas sim como um indício de que existem causas mais profundas. Este entendimento

vem nos auxiliando a fazer uma leitura deste contexto bem como possibilitando traçar

estratégias para estabelecer a disciplina em sala de aula, pois com ações paliativas

e preventivas reduzir os prejuízos causados pelo problema.

Cabe ainda destacar que se faz necessário a disseminação de

estudos nesta área uma vez que há muitos desafios a serem enfrentados para

mudança da cultura de alunos e professores do ensino superior privado. É preciso

uma mudança de paradigmas em que privilegie a construção do conhecimento de

forma disciplinar.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS ALUNOS

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APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS PROFESSORES

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