os impactos da indisciplina sobre o trabalho · objetivo entender como a questão da indisciplina...
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
IRENE LOPES SALVI
Londrina 2017
OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E
PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO
PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ
IRENE LOPES SALVI
Cidade ano
Londrina
2017
OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E
PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ
Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientadora: Profa. Dra. Okçana Battini
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná
Biblioteca Unidade Piza
Salvi, Irene Lopes S175i Os impactos da disciplina sobre o trabalho docente:
perspectivas dos discentes e professores universitários de uma instituição privada do norte do Paraná / Irene Lopes Salvi. Londrina: [s.n], 2017.
163f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em
Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias). Univer- sidade Norte do Paraná.
Orientadora: Profª. Drª. Okçana Battini 1 - Ensino - Dissertação de mestrado - UNOPAR
2- Indisciplina 3- Trabalho docente 4- Alunos 5 - Professores I- Battini, Okçana; orient. II- Universidade Norte do Paraná.
CDU 371.5
IRENE LOPES SALVI
OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA SOBRE O TRABALHO DOCENTE: PERSPECTIVAS DOS DISCENTES E
PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS DE UMA INSTITUIÇÃO PRIVADA DO NORTE DO PARANÁ
Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Mestrado em Metodologias
para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área e concentração em Formação
de Professores e ação docente em situações de ensino como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos
professores:
_________________________________________ Profa. Dra. Okçana Battini
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR
_________________________________________ Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR
_________________________________________ Profa. Dra. Ana Cristina da Silva Amado
Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP
Londrina, 09 de março de 2017.
Dedico esse trabalho a minha amada mãe Doralina (in memorian) com todo meu amor e gratidão, por tudo que fez por mim ao longo da minha vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de sabedoria.
Essa dissertação é fruto de um trabalho que exigiu muito trabalho,
mas que foi edificante. Durante todo o percurso fui acompanhada e auxiliada por
diversas pessoas que contribuíram cada um à sua maneira, para a realização deste
trabalho. A todas serei eternamente grata.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao apoio de Minha Família.
Ao meu esposo Luiz Carlos Salvi e filhos, Vinicius, Gustavo e Luyne, pela
compreensão quando o dever e o estudo me chamaram, pelo incentivo nos momentos
difíceis, carinho e compreensão, meus sinceros agradecimentos.
A minha querida orientadora Dra. Okçana Battini, pelos seus
valiosos ensinamentos que não se limitaram ao universo teórico metodológico,
mostrou-se durante esta jornada uma grande amiga e educadora e também por ser a
principal “culpada” pelo meu ingresso no Programa de Pós-Graduação, obrigada por
ter acreditado em mim. Tenha certeza que me contribuiu sobremaneira para o meu
crescimento profissional.
Aos professores Dr. Fábio Luiz da Silva e Profa. Dra. Ana Cristina
da Silva Amado, pela leitura criteriosa no momento da qualificação e pelas sugestivas
contribuições incorporadas a este texto final.
A minha querida amiga Juliana Moraes, pelo incentivo e leitura
criteriosa do trabalho.
Aos amigos da turma de mestrado, Claudir, Regiolli, Karina e
Vinícius, pelo apoio e pelas trocas nos momentos de aula e nos cafés.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação pelos ensinamentos
tão valiosos.
Aos funcionários da Pós-Graduação em especial a Natalia pelos
serviços e orientações prestados.
Finalizo, partilhando com todos o sentimento de realização que me
envolve ao concluir este trabalho e com o reconhecimento de que esta dissertação é
também de todos aqueles que, de alguma forma, colaboraram com sua elaboração.
“Educar uma pessoa apenas no intelecto, mas não na
moral, é criar uma ameaça à sociedade”
Theodore Roosevelt
SALVI, Irene Lopes. Os impactos da indisciplina sobre o trabalho docente: perspectivas dos discentes e professores universitários de uma instituição privada do Norte do Paraná. 2017.158p. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) – Universidade Pitágoras Unopar, Londrina, 2017.
RESUMO O aumento da incidência da indisciplina no ensino superior apresenta-se como um grande desafio a ser enfrentado pelos docentes do Curso de Administração, tanto pela ausência de formação pedagógica por parte dos professores, quanto pela alteração no perfil dos acadêmicos. Sob esse enfoque, o presente estudo tem como objetivo entender como a questão da indisciplina é percebida pelos professores e alunos de uma universidade privada do Norte do Paraná e seus impactos no trabalho do professor universitário. Neste sentido buscou-se primeiramente, por meio da literatura, conhecer os conceitos, as abordagens, fatores impactantes e as consequências da indisciplina para alunos e professores. Entre as pesquisas, tomamos como base conceitual os estudos de Estrela (1996 e 2002), Aquino (1996), Vasconcellos (1998), Silva (2010). Nesta trajetória verificamos que as discussões em torno do tema estão muito aquém da consensualidade. Através de um estudo de caso, que tem como proposta investigar o fenômeno da indisciplina no contexto em que este ocorre, a pesquisa foi realizada em uma Instituição de Ensino Superior Privada, por meio de questionários e entrevistas com 51% dos alunos e 100% dos professores do Curso de Administração. O intuito era compreender como os alunos e professores percebem a indisciplina em sala de aula e sua relação de causalidade com a qualidade do trabalho docente. Após análise dos dados conclui-se que os alunos não relacionam os impactos da indisciplina ao trabalho do professor, mas tão somente aos prejuízos que esta traz para o seu próprio processo de aprendizagem. Já nos dados levantados junto aos professores foi possível evidenciar os efeitos negativos que esta traz para o trabalho docente, influenciando inclusive na sua motivação laboral e saúde.
Palavras Chaves: Indisciplina; Universidade; Trabalho docente; Alunos, Professores
SALVI, Irene Lopes. The impacts of indiscipline on the teaching work: perspectives of the students and teachers university of a private institution in the North of Paraná. 2017. 158p. Dissertation (Masters in Methodologies for the Teaching of Languages and their Technologies) - Pitágoras Unopar University, Londrina, 2017.
ABSTRACT The increase in the incidence of indiscipline in higher education presents a great challenge to be faced by the teachers of the Administration Course, due to the lack of pedagogical training by the teachers, as well as the change in the profile of the students. Under this approach, the present study aims to understand how the issue of indiscipline is perceived by teachers and students of a private university in the North of Paraná and its impact on the work of the university professor. In this sense, we first sought, through the literature, to know the concepts, the approaches, the impact factors and the consequences of the indiscipline for students and teachers. Among the researches, we take as conceptual basis the studies of Estrela (1996 and 2002), Aquino (1996), Vasconcellos (1998), Silva (2010). In this trajectory we find that the discussions around the theme are far from consensual. Through a case study, which aims to investigate the phenomenon of indiscipline in the context in which it occurs, the research was conducted in a Private Higher Education Institution, through questionnaires and interviews with 51% of the students and 100% of the teachers Administration Course. The aim was to understand how the students and teachers perceive the indiscipline in the classroom and its relation of causality with the quality of the teaching work. After analyzing the data it is concluded that the students do not relate the impacts of indiscipline to the work of the teacher, but only to the damages that this brings to their own learning process. Already in the data collected with the teachers it was possible to show the negative effects that this brings to the teaching work, influencing even in its labor motivation and health. Keywords: Indiscipline; University; Teaching work; Students, Teachers
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto ao gênero ................ 76
GRÁFICO 2 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto à faixa etária e gênero ................................................................................................ 77
GRÁFICO 3 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a atual situação profissional......................................................................................... 78
GRÁFICO 4 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a frequência com que os mesmos apresentaram comportamento de indisciplina em sala de aula ................................................................................. 81
GRÁFICO 5 - Gestão de sala de aula, segundo a percepção dos docentes entrevistados ................................................................................... 118
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ........ 83
TABELA 2 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS MOTIVOS QUE CONDUZEM A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ........................... 86
TABELA 3 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE QUEM É RESPONSÁVEL POR RESOLVER A QUESTÃO DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ...................................................................................................... 90
TABELA 4 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS PROFESSORES FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ..................................................... 93
TABELA 5 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS ALUNOS FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA............................................................................... 97
TABELA 6 - SUGESTÕES DOS ALUNOS PARA REDUZIR AS AÇÕES DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ..................................................... 99
TABELA 7 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA ................................................... 106
TABELA 8 - PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – 2016-1 DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADO DO NORTE DO PARANÁ .................................. 114
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................... 14
1 - ENFOQUE DA INDISCIPLINA NO AMBIENTE EDUCATIVO ......................... 19
1.1 - DISCIPLINA E INDISCIPLINA: ETIMOLOGIA E DEFINIÇÕES .......................................... 23 1.2 - A QUESTÃO DA INDISCIPLINA SOB O ENFOQUE DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO ......... 29 1.2.1 - A questão da indisciplina sob o enfoque das competências do
professor ......................................................................................................... 33 1.2.2 - A questão da indisciplina sobre o enfoque das relações entre professor
e aluno............................................................................................................. 35 1.3 – ELEMENTOS QUE DESENCADEIAM A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL ........ 40
2 - A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL E SEU IMPACTO NO TRABALHO DO PROFESSOR ........................................................................... 47
2.1 – O ENSINO SUPERIOR NO BRASIL E O PAPEL DO PROFESSOR: ALGUMAS
APROXIMAÇÕES ................................................................................................... 47 2.2 – A QUESTÃO DA GESTÃO DOS CONFLITOS: ENTRE A DISCIPLINA, INDISCIPLINA E
AUTORIDADE DOCENTE ........................................................................................ 53 2.3 - A QUESTÃO DA INDISCIPLINA NO ENSINO SUPERIOR ............................................. 58
3 - A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E SEUS IMPACTOS NO TRABALHO DOCENTE ....................................................................................... 69
3.1 - MÉTODO E TÉCNICAS DE PESQUISA...................................................................... 69
3.2 - QUESTÃO DA INDISCIPLINA NA UNIVERSIDADE SOB A ÓTICA DO DISCENTE .............. 73 3.2.1 - Perfil do aluno entrevistado .......................................................................... 75 3.2.2 – Questão da indisciplina em sala de aula sob o olhar dos acadêmicos ..... 82 3.2.3 - Percepção do aluno quanto aos motivos da indisciplina ....................................... 86
3.2.4 - Percepção do aluno sobre a pessoa responsável pela solução das questões da indisciplina em sala de aula....................................................................... 90
3.2.5 - Percepção do aluno sobre as ações dos professores universitários frente a indisciplina...................................................................................................................... 92
3.2.6 - Percepção do aluno sobre o que fazer frente a situações de indisciplinas gerada pelos alunos em sala de aula .................................................. 97
3.2.7 - Percepção do aluno sobre o que o professor pode fazer sobre a indisciplina ........................................................................................................................................ 98
3.2.8 - Percepção do aluno sobre os impactos da indisciplina na sala de aula ......106
3.3 - Questão da indisciplina sobre o enfoque dos professores universitários.... 113 3.3.1 - Perfil dos Professores do Curso de Administração ...................................................113
3.3.2 – Estilo de autoridade exercida pelo professor do Curso de Administração segundo sua percepção .........................................................................117
3.3.3 – Conceito de indisciplina na percepção dos professores universitários ........121
3.3.4 – Fatores que corroboram para indisciplina em sala de aula na percepção dos professores universitários ....................................................................123
3.3.5 – Estratégias utilizadas pelos professores do Curso de Administração para prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula ..................................127
3.3.6 – Percepção dos professores do Curso de Administração sobre os impactos da indisciplina no trabalho docente .............................................................129
3.3.7 – Percepção dos impactos da indisciplina na vida do professor universitário ....................................................................................................................................131
3.3.8 – Sugestões para controlar a indisciplina em sala de aula ......................................133
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 137
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 144
INTRODUÇÃO
Esta dissertação apresenta um estudo sobre a percepção de
docentes e discentes de uma universidade privada do Paraná sobre a questão da
indisciplina e seus impactos no trabalho do professor do ensino superior. O interesse
pela pesquisa surgiu no intuito de compreender a indisciplina no ensino superior e de
que forma ela afeta o trabalho do professor. Enquanto professora e Coordenadora de
Curso evidenciamos diferentes manifestações de indisciplina que nos levaram a
procurar entender como os agentes, professores e alunos, as percebem no contexto
em sala de aula e principalmente as formas como esta afeta o trabalho do professor.
O ingresso no Mestrado em Metodologias para o Ensino de
Linguagens e suas Tecnologias nos incitou à pesquisa, no início pretendíamos
investigar a formação docente, mas, no entanto, no decorrer do avanço das
disciplinas, orientações e a participação do projeto de pesquisa “Professor seu lugar
é aqui”, possibilitou-nos a leitura de vários teóricos que discutem as atividades
docentes e embasaram as primeiras aproximações com o tema de estudo.
Outro fator que colaborou sobremaneira para a escolha do objeto foi
nossa experiência na coordenação do curso. Os problemas, que outrora eram apenas
relatos dos professores universitários e queixas de alunos, passaram a ter evidência.
Isso porque enquanto apenas docente, atuava como mera expectadora, ou quando
muito, a questão da indisciplina em nossas aulas era resolvida de forma pontual, sem
a interferência de outros agentes.
Dessa forma, à medida que realizávamos os atendimentos aos alunos
e por meio de diálogos com os professores, foi possível constatar a existência de
expressivos conflitos gerados pelos comportamentos de indisciplina no espaço de
aprendizagem, bem como seu reflexo nas relações entre professores e alunos, tanto
na aprendizagem quanto na gestão do curso. Ainda neste contexto, pudemos
constatar que os docentes do Curso de Administração se sentem angustiados,
15
desmotivados e desorientados para solução do problema.
Assim a preocupação com a temática da indisciplina no ensino
superior culminou para o desenvolvimento deste estudo. Partindo destas inquietações
e, na perspectiva de compreender como os alunos percebem a questão da indisciplina
em sala de aula, partimos do pressuposto que a mesma não deveria ocorrer. Isto
porque, no ensino superior espera-se que o aluno exerça autonomia para escolher o
curso que irá subsidiar sua carreira, estando consequentemente interessado em
aprender os conteúdos propostos pela instituição.
Partindo destas inquietações, e na perspectiva de compreender como
os professores e alunos do ensino superior concebem a indisciplina em sala de aula,
preparei meu projeto de Dissertação de Mestrado. No decorrer do Curso, no
desenvolvimento das disciplinas, fui me aproximando do objeto de estudo e, assim
escolhemos como proposta entender como esta questão é percebida e tratada pelos
professores e alunos de uma universidade privada do Norte do Paraná.
Após a decisão do tema que passou a ser objeto de estudo teórico,
buscamos, por meio da literatura, conhecer os conceitos, as abordagens, fatores
impactantes e as consequências da indisciplina para alunos e professores. Nesta
trajetória verificamos que as discussões em torno do tema estão muito aquém da
consensualidade.
Cabe destacar que, ao realizar o levantamento bibliográfico,
encontramos vários estudos relevantes sobre a questão da indisciplina em sala de
aula. No entanto, estas pesquisas são direcionadas à Educação Básica. A dificuldade
para obtermos estudos sobre a questão da indisciplina no ensino superior e a ausência
de investigação específica sobre a questão da indisciplina e as consequências desta
no trabalho do professor universitário enfatiza a importância deste estudo. Ao
realizarmos o levantamento bibliográfico encontramos apenas dois estudos que
tratam a indisciplina no Ensino Superior como tema central, sendo estes os de Oliveira
(2009) e Torres (2008), os demais estudos tangenciam o problema da indisciplina no
ensino superior.
Entre as pesquisas realizadas na Educação Básica, tomamos como
base conceitual as pesquisas de Estrela (1996 e 2002), Aquino (1996), Vasconcellos
16
(1998) e Silva (2010). A medida que aprofundávamos os estudos sobre a temática,
percebíamos a sua complexidade, pois o conceito de indisciplina possibilita múltiplas
interpretações. Essas várias abordagens apresentam discussões correlatas sobre os
fatores propícios a fomentar os comportamentos de indisciplina em sala de aula, entre
as quais destacam-se as metodologias utilizadas pelos professores em sala de aula,
as relações interpessoais dos sujeitos e a ausência no estabelecimento de regras
consensuais.
De posse dessas informações, e no intuito de delinear o percurso
deste estudo, o presente trabalho estruturou-se em três seções. Na primeira, o
enfoque da indisciplina no espaço escolar apresentará o percurso pedagógico ao
longo da história brasileira, motivado pelas disposições educacionais de cada período.
Na sequência discutiremos a indisciplina no contexto escolar, analisando seu
conceito, o papel das regras e seus reflexos na conduta dos alunos.
Neste sentido as regras exercem um papel educacional ao possibilitar
que o trabalho do professor seja devidamente realizado. Fato que, segundo Silva
(2010) cabe ao professor estabelecer as regras norteadoras do processo de ensino-
aprendizagem, bem como as sanções que serão aplicadas aos alunos que infringirem
as regras.
Discutimos ainda a questão da indisciplina sobre o enfoque das
instituições de ensino. Para Aquino (1996), o processo de aprendizagem proporciona
aos alunos contato com a cultura das instituições de ensino e assim influenciam e são
influenciados pelos valores e normas que cada um traz em sua cultura. A disciplina
no contexto escolar ocorre pelas diferenças entre a cultura dos alunos e a cultura
organizacional. E assim nesta seção abordaremos ainda os fatores que levam a
comportamentos de indisciplina em sala de aula. Os estudos de abordagem
pedagógica destacam metodologias utilizadas para o processo de ensino-
aprendizagem como as práticas de ensino, a programação dos conteúdos, a interação
entre professor e aluno, as metodologias, as formas de avaliação entre ouros
processos como responsáveis pela indisciplina em sala de aula. Aquino (1996, 1998,
2003), Boarini (1998), Bocchi (2002; 2007), Garcia (1999), Machado(2007), Yasumaru
(2006), Vasconcelos (1998), Xavier (2002), entre outros, apresentaram subsídios
teóricos importantes sobre a indisciplina no espaço escolar.
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Na segunda seção, apresentaremos as discussões sobre a
indisciplina e sua relação de causa e consequência no trabalho do professor
universitário. Salientando que os estudos evidenciam que os comportamentos
indisciplinares no ambiente de aprendizagem trazem em seu bojo angustia entre os
docentes e alunos a medida interfere no processo de ensino-aprendizagem, bem
como constituem-se fontes de stress em decorrência da ineficácia no controle da
disciplina.
Já existem muitos estudos abordando a questão da indisciplina na
educação básica, dentre ele apontamos as pesquisas realizadas por Estrela (2002),
Garcia (2013), Vasconcelos (2000) Pontes e Aquino (2010), no entanto são escassos
os estudos com uma abordagem no ensino superior. Sendo assim, tornou-se
essencial abordarmos a questão e a relação com o trabalho do professor.
Iniciamos essa seção com a apresentação de um breve histórico de
como o ensino superior se iniciou no Brasil. Posteriormente discutimos a gestão dos
conflitos com base na autoridade do professor. Neste sentido Snyders (1978) ressalta
que o professor tem o papel de conduzir os alunos por meio da autoridade que lhe é
atribuída, indo muito além da confirmação de erros e acertos dos alunos e as
assertivas respostas aos acadêmicos.
Concluímos com as discussões das questões da indisciplina no
ensino superior e a importância de o professor rever suas práticas como forma
identificar os fatores que ocasionam a sua incidência, na mesma medida em que
busca estratégias de ação preventiva e solução. De acordo com Garcia (2006) é
preciso conhecer a dinâmica destes problemas com maior profundidade e
principalmente rever o modo como os professores compreendem o fenômeno e o
enfrentam no ensino superior. Percebemos que é preciso conceber novas formas de
combater as questões de indisciplina no ambiente acadêmico, mostrando-se
necessária uma mudança de paradigma em torno do assunto.
Por fim, na terceira seção serão expostas as etapas do estudo de caso
e o caminho percorrido para atingir os objetivos propostos. Apresentamos os dados
obtidos com a pesquisa de campo e as discussões embasadas nas teorias discorridas
nas seções anteriores no intuito de entender como os alunos e professores
18
universitários entendem a questão da indisciplina em sala de aula e seus efeitos no
trabalho do professor. Apontamos, no final, algumas ponderações que não devem ser
compreendidas como conclusivas, mas como reflexões formatadas a partir das
análises realizadas no decorrer do estudo e que poderão contribuir para outras
pesquisas voltadas a discutir a temática no contexto ensino.
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1 - ENFOQUE DA INDISCIPLINA NO AMBIENTE EDUCATIVO
Nesta seção faremos uma revisão da literatura em torno do tema
indisciplina, sob o enfoque dos professores e alunos, ainda que ela não ocorra
somente nas escolas, mas também se faz presente em diversos contextos sociais,
aqui trataremos da questão somente no ambiente de ensino.
Neste sentido, se faz necessário destacar que os modelos e formas
de lidar com a indisciplina na educação se apresentam no discurso pedagógico ao
longo da história brasileira, motivadas pelas disposições educacionais de cada
período.
Podemos apontar a concepção humanista como o início do processo
de discussão das questões pedagógicas, no Brasil, sendo que a mesma perdurou até
1930. Uma das suas vertentes, a religiosa, com raízes na Idade Média foi pela
Companhia de Jesus, criada por Inácio de Loyola. A Ordem dos Jesuítas, trazia, além
de objetivos educacionais, a evangelização do “povo indígena”. Na sequência,
instituíram as escolas elementares também aos filhos dos colonos (SAVIANI, 1983).
Essa concepção era regida pela Ratio Studiorum, ou Pedagogia
Tradicional (SAVIANI, 2001), com planos de estudos elitista e universalista. Diz-se um
plano elitista, pois priorizava a educação dos colonos e universalista, porque todos os
jesuítas seguiam as mesmas instruções em qualquer lugar que fossem. A Ratio
Studiorum direcionava as escolas da época. As aulas ocorriam em colégios, dirigidos
por um reitor, assessorados pelo prefeito de estudos que se encarregava de
supervisionar os professores (SZENCKU, 2004).
O método utilizado era a memorização e para atingir o objetivo
fomentavam a competição entre as salas. As classes eram divididas em dois grupos,
os quais passam a partir de então a serem adversários. Esses grupos eram
monitorados constantemente, sendo requerida a obediência e a submissão. Os atos
de indisciplina eram delatados pelos próprios alunos que passam a fazer espionagens
impróprias da equipe adversária (LUZUARIGA, 1987).
A disciplina neste período era imposta, o professor estava no centro
20
do processo de aprendizagem. A autoridade do professor era pautada na palavra,
este no decorrer das aulas exigia dos alunos respeito, obediência, submissão e o mais
pleno silêncio. Os castigos para os indisciplinados eram concretizados pelas varas de
marmelo e nas palmatórias de sucupira, com intuito de intimidar qualquer iniciativa de
indisciplina em sala de aula (ROMANELLI, 1984).
Ribeiro (1998) aponta que um dos fatores que acarretaram na
expulsão da Companhia, foi de cunho pessoal, uma rusga entre o ministro Sebastião
José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal e os padres da
Companhia de Jesus. A expulsão da Companhia de Jesus ocorrida em Portugal,
aconteceu também no Brasil, mas de forma gradativa, o sistema educacional passou
a ser responsabilidade do Governo cerca de trinta anos depois da expulsão ocorrida
em Portugal. A educação esteve voltada aos interesses do Estado, contudo a
metodologia continuava pautada na autoridade do professor e total submissão,
obediência dos alunos que eram considerados vazios e sem senso crítico.
Com a reforma pombalina, os colégios da Companhia de Jesus foram
substituídos pelas aulas régias ou avulsas, de Latim, Grego e Retórica. Essas aulas
instituídas pelo Marques de Pombal foram a primeira experiência de ensino promovido
pelo Estado no Brasil. Neste período, o ensino servia à elite e aos interesses do
Governo. O cargo de diretor geral dos estudos foi criado por meio de um alvará em 28
de junho de 1759, o qual determinava entre as funções do diretor geral era a de
determinar a aplicação de exames a todos os professores, conceder licença para
instituições públicas ou privadas, também designava comissários para investigarem o
estado das escolas e dos professores (RIBEIRO, 1998).
No século XVIII, os castigos físicos eram utilizados para punir
comportamentos inadequados e a dificuldade de aprendizagem dos alunos. Os
professores utilizavam para este fim o chicote, férulas e palmatórias, no intuito de
manter a ordem e a disciplina em sala de aula. Segundo Castro (2010) os castigos
físicos eram legitimados pela sociedade e produziam sentimentos de raiva ou
vingança. O autor apresenta um exemplo de um professor que quebrou a mão do
aluno pela incidência de palmatória aplicada e alega que o fez pela indignação pela
falta de respeito apresentada pelo aluno.
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Em decorrência da Reforma Pombalina, as concepções pedagógicas
religiosas e leigas, traços dos elementos trabalhados pela Companhia de Jesus, e a
crítica centrada no Iluminismo, coexistiam entre os anos de 1759 a 1932, (SAVIANI,
2001). Com a aprovação da lei de escolas primárias1 de 15 de outubro de 1827, que
regulamentou a escola primária elementar no Brasil e propôs outro método de ensino,
o Lancasteriano2, ou seja, alunos mais adiantados eram “auxiliares” dos professores
e a avaliação era baseada no comportamento dos estudantes, as regras eram pré-
determinadas, com disciplina rígida e alunos organizados de forma hierarquizada em
sala de aula, a posição dos bancos determinava as séries dos alunos.
Esta Lei, de 15 de outubro de 1827, substitui a partir de então os
castigos físicos pelos de cunho moral, tendo como base o método lancasteriano, os
quais segundo Graça (2002) eram pautados na privação de alimentos, proibição de
sair durante os intervalos de recreios e até mesmo eram tolhidos de gozar as férias
escolares. Alguns espaços eram criados no intuito de castigar moralmente os
comportamentos de indisciplina e o déficit de aprendizagem, como exemplificado por
Graça (2002) o estabelecimento da mesa de penitência para as refeições, um banco
de preguiça, o canto do castigo, e também as tarefas suplementares.
Gradativamente o método lancasteriano ou mútuo (SAVIANI, 2001),
foi sendo excluído, por se apresentar inadequado às exigências sociais advindas da
Revolução Industrial, no final do século XVIII e meados do século XIX, e pela falta
de materiais didáticos, espaços adequados e intuições formadoras de professores. A
partir de 1870passa a vigorar o método intuitivo (SCHELBAUER, 2003), que consistia
em um método racional, que segue diretrizes metodológicas claras direcionadas a
professores e material didático a ser utilizado por alunos e professores.
O método intuitivo esteve dominante na Primeira República e em
meados de 1920. Nesse contexto, a Escola Nova começou a ser difundida no Brasil
1 A Lei das Escolas Primárias constituiu um marco na história nacional, considerada a primeira Lei de Diretrizes e Base da Educação do país, foi instituída em 15 de outubro de 1827 e serviu de referência para definição da data comemorativa do dia do professor (BRASIL, 1887). 2O método Lancasteriano, pouco utilizado no Brasil, também conhecido por oferecer ensino mútuo e monitorado, teve como objetivo educar com qualidade o maior número de alunos em curto espaço de tempo com o mínimo recurso. Foi criado pelo, o Inglês Joseph Lancaster, que fundamentou seu método de ensino por meio da memorização (FARIA FILHO, 2000).
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que se apresenta como um movimento de renovação, ou Pedagogia Renovadora
(SAVIANI, 2001). Na Escola Nova, os conceitos de disciplina se alteram à medida que
o aluno passa de mero expectador ao centro do processo de ensino. (SZENCZUK,
2004). Neste contexto, as discussões em torno da indisciplina perpassam pelo
desenvolvimento comportamental do aluno, habilidade de trabalhar em equipe e se
planejar nas atividades escolares.
Entre 1954 a 1960, observa-se a predominância de tendências
humanistas com respeito ao desenvolvimento dos alunos. O humanismo tinha como
premissa levar em consideração os aspectos humanos de cada pessoa, reconhece
assim seus valores, seus limites, sua capacidade de agir com autonomia, bem como
seus interesses e todos os aspectos a ele relacionados. (SAVIANI, 1983). Neste
período toma-se consciência dos limites do grupo, aluno disciplinado é aquele que
coopera, participa, respeita as normas do grupo (LUCKESI 1994).
No final dos anos 60, a Pedagogia Tecnicista principia a racionalidade
técnica, eficiência e produtividade. Nessa ótica, as escolas treinavam os alunos para
o desenvolvimento de atitudes desejáveis que juntamente com os conteúdos e
habilidades dos alunos culminariam em notas. (SAVIANI,1983). A educação, neste
período, é tida como uma forma de promover o desenvolvimento econômico do país
por meio da qualificação da mão-de-obra.
Na sequência, meado dos anos 80 nasce a tendência progressista
com a proposta de elaborar uma análise crítica da realidade social sustentada pelas
finalidades sociopolítica da educação brasileira. A escola passa a ser mediadora, por
intermédio do professor, entre o indivíduo e a sociedade, à medida que garante aos
alunos adquirirem os conteúdos necessários ao desenvolvimento profissional e
análise dos modelos sociais vigentes no intuito de fornecer a estes cidadãos
instrumentos que viabilizem sua plena participação democrática tanto no ensino como
na sociedade. Neste sentido, a disciplina é consequência dos encaminhamentos
utilizados pelo professor, no intuito de estimular e motivar os alunos para atingir os
objetivos propostos. (LUCKESI,1994).
A partir dos anos de 1990, várias críticas são tecidas pela forma como
a escola trata os problemas de indisciplina em sala de aula. Garcia (2006) indaga-se
23
que o ensino estaria em crise, passando por momentos de instabilidade no projeto
pedagógico e normativo. Assim, a partir desta breve releitura do contexto educacional
brasileiro abordaremos os conceitos de disciplina, e posteriormente, o de indisciplina,
à medida que estes estão associados entre si.
Nesse sentido, podemos perceber que, durante o processo das
propostas de políticas educacionais do país, a questão da disciplina/indisciplina sofre
os impactos dos modelos educacionais, sendo que a disciplina é almejada pelos
professores e mantida por meio da coerção, repressão e punições que levam o aluno,
muitas vezes, a situações do constrangimento. Tais práticas vêm sendo questionadas
na contemporaneidade e o discurso humanista vem ganhando força e rompendo a
relação autoritária entre professores e alunos.
Entretanto, não se pode olvidar que as iniciativas de combate ao
autoritarismo em sala de aula acabam, em alguns casos, dando lastro também à
indisciplina, com consequências no trabalho do professor, que age sob o intuito de
estimular a liberdade de expressão do aluno e o seu autogerenciamento.
1.1 - Disciplina e Indisciplina: etimologia e definições
Para entendermos a discussão sobre a indisciplina no contexto
escolar é essencial analisar o conceito de disciplina e o papel das regras e seus
reflexos na conduta dos alunos.
O termo disciplina, segundo Estrela (1992) tem origem latina e tem a
mesma raiz que “discípulo”. Garcia (2006) explica de forma literal que o significado se
refere a uma pessoa que se apropria dos conhecimentos a ele ensinados. Assim, o
termo disciplina se refere a algo a ser seguido e está relacionado às palavras
aprender, ensinar e conhecer. Para Carvalho (1996) o discípulo se submete à
autoridade dos professores e às regras preestabelecidas pela instituição de ensino
para adquirir o conhecimento de uma área do conhecimento.
A palavra disciplina, segundo Ferreira (2008) tem características
24
polissêmicas3, pela diversidade de significados, entre eles, se refere a regime de
ordem imposta ou livremente aceito, ordem instituída para o funcionamento de uma
organização/instituição, relação de subordinação do aluno ao professor, obediência
aos princípios norteadores ou as normas ou ainda submissão a um regulamento ou
ramo do conhecimento.
Ainda segundo Ferreira (2008) o regime disciplinar normalmente é
utilizado em organizações do primeiro setor, órgãos públicos: academias militares,
escolas públicas municipais e estaduais, bem como nas universidades. Nestas
instituições de ensino, se fazem presente as relações de subordinação dos alunos aos
professores, pautadas na submissão a alguns regulamentos que têm como intuito
nortear comportamentos.
Assim, a palavra disciplina em seu sentido mais corrente tende a
indicar o conjunto de regras e de comportamentos desejáveis que regulam a
convivência e garantem que estas sejam cumpridas em instituições sindicais,
militares, esportivas, educacionais e na vida pessoal e profissional do indivíduo num
contexto geral.
Como exemplo podemos citar a atividade de professor. Nela é
possível identificar a presença de um conjunto de regras que estabelecem horário
para preparação dos conteúdos, para iniciar as aulas, posturas adequadas que são
requeridas ao professor, competência para atuar na disciplina, entre tantas outras
regras que este precisa se atentar para atuar na docência. O não cumprimento destas
regras implicaria em sanções pela instituição de ensino que vão deste a advertência
da coordenação até a demissão do profissional de ensino e também pelos alunos que
veem o professor como figura de proa, exemplo em sala de aula.
Todavia, a instituição de ensino necessita também controlar o trabalho
do professor, tanto quanto estabelecer regras que disciplinem as formas de convívio
e os trabalhos dos alunos no ambiente escolar. A universidade é uma organização
social composta por atores de diferentes culturas e valores, as normas se fazem
necessária para o bom convívio e aprimoramento do processo ensino-aprendizagem.
3Polissemia é um conceito da área da linguística com origem no termo grego polysemos, que significa "algo que tem muitos significados". Uma palavra polissêmica é uma palavra que reúne vários significados (FERREIRA, 2008).
25
Ademais, este processo requer a realização de diversas atividades que culminarão
para o sucesso da aprendizagem dos acadêmicos, por isto é importante que as regras
sejam estabelecidas de tal forma a impedir atrasos, conversas paralelas,
absenteísmo, ausência de produtividade, entre outros.
Nesse viés, La Taille (2006) salienta a importância de se estabelecer
os limites e as obrigações das partes em um processo de ensino-aprendizagem.
Podemos elencar as formulações verbais e ou escritas que norteiam os direitos e os
deveres que cada um tem neste processo para se atingir o objetivo proposto.
Coadunando com esse pensamento, entendemos que as regras
exercem um papel educacional ao possibilitar que o trabalho do professor seja
devidamente realizado, o que segundo Silva (2010), cabe ao professor estabelecer as
regras norteadoras do processo de ensino-aprendizagem, bem como as sanções que
serão aplicadas aos alunos que infringirem às regras.
Ao professor não é conferido apenas o direito de educar, mas também à autoridade de decidir sobre os meios mais adequados para que esse trabalho educativo se realize, o que pressupõe algum nível de controle sobre as condutas dos estudantes, inclusive por meio da aplicação de sanções socialmente aceitas. Vigiar, emitir ordens, estabelecer limites e, até mesmo, punir, embora possam parecer ações demasiadamente autoritárias, constituem tarefas intrínsecas ao trabalho desenvolvido por todo educador. (SILVA, 2010, pg. 2)
De encontro a esse entendimento, Gomes (2009) reforça que a
conduta dos alunos não se dá de forma espontânea e sim por meio do trabalho árduo,
dever a ser cumprido, empenho, ordem e disciplina do discente para alcançar o
objetivo educacional. Deste modo, segundo o autor, a disciplina é necessária na
educação escolar e para o bom convívio deste aluno em sociedade.
Deste modo, se pode subentender que a disciplina é muito importante
para a formação do ser e, para que ela ocorra é indispensável a presença de uma
autoridade. Ao professor, no uso de suas atribuições e autoridade inerentes ao cargo
que ocupa, cabe o papel de além da transmissão dos conteúdos programadas para
cada disciplina da grade, também utilizar ações disciplinares a fim de contribuir para
a formação cidadãos íntegros, instruídos e capazes de conviverem com os demais
com respeito, para por fim, contribuir de forma efetiva para a construção de uma
26
sociedade melhor como preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
Médio (BRASIL, 1999). Entendemos que os objetivos da educação brasileira na
formação de pessoas éticas que tenham pensamento autônomo e crítico também
devem ser estendidos a educação superior.
Rego (1996) complementa que é papel do professor manter a
disciplina, ao docente enquanto educador cabe determinar os parâmetros e limites
dos alunos. O autor ainda salienta que o convívio social implica na definição e
cumprimento de normas e leis necessárias ao direcionamento das relações, do
diálogo, da cooperação intra e entre os grupos sociais. As instituições de ensino, do
mesmo modo, precisam estabelecer regras que orientem a forma de funcionamento e
convivência entre as partes envolvidas, assim a criação e o cumprimento das regras
constituem-se condição necessária para o convívio social dos diferentes atores
envolvidos no contexto educacional.
Já Silva (2010) enfatiza que a disciplina no contexto educacional
possui duplo sentido, apresenta-se como meio e fim educacionais. Isso porque as
instituições de ensino procuraram disciplinar o aluno para que convivam em uma
sociedade regida por normas e padrões de condutas pré-estabelecidos, mas também
com a finalidade de estabelecer regras mínimas e necessárias para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico. O autor atribui este caráter de dubiedade
do ato disciplinar ao fato de que, nas instituições de ensino, encontramos diversos
perfis de alunos, desde os disciplinados, comprometidos com estudo e com o seu
desempenho acadêmico, até aqueles instáveis e com baixo desempenho, o que na
grande maioria das vezes interfere no processo de ensino-aprendizagem.
Em razão dessa heterogenia, Aquino (1996) entende que manter a
disciplina em sala de aula passou a ser um grande desafio dos professores e das
instituições de ensino. Deste modo, as ações de indisciplina se fazem presente no
cotidiano educacional brasileiro e tornou-se um dos maiores empecilhos pedagógicos
da contemporaneidade. Assim, após uma breve conceituação da disciplina e sua
importância na vida dos indivíduos abordaremos a indisciplina e seus enfoques.
O termo indisciplina pode ser conceituado como uma expressão ou
ação contrária à disciplina, desobediência as normas pré-estabelecidas. O aluno
27
indisciplinado é aquele se rebela contra a disciplina e é percebido pelos pares como
um indivíduo que apresenta comportamentos inadequados (FERREIRA, 2008).
A disciplina compreende comportamentos e condutas, vinculada ao
controle sobre as condutas e às formas utilizadas para coibir a indisciplina, utilizando-
se de castigos como forma de atrelar a disciplina ao comprimento de regras, no intuito
de estabelecer a ordem por meio do controle sobre a conduta dos alunos (GARCIA,
2006).
A construção de comportamentos de obediência se transformou ao
longo dos tempos. Ela está diretamente ligada às regras e às punições a serem
aplicadas pela ação de não obediência, as quais podem ter como preceitos o medo
de sanções. Esse receio faz com que os membros dessas instituições obedeçam ou
cedam, sujeitem-se ou se corrijam. Já o termo indisciplina refere-se ao ato contrário
à disciplina, ou seja, desobediência, contravenção, desordem. Assim sendo,
indisciplinado é aquele que contraria as ordens, se rebela contra a disciplina.
Para Rego (1996) o conceito de indisciplina é mutável e regionalizado.
Ela está relacionada aos valores e expectativas dos indivíduos que se alteram ao
longo dos tempos entre as diversas culturas existentes em uma sociedade: nas
diferentes classes sociais, nas mais distintas instituições e ainda dentro da própria
camada social. A indisciplina também se apresenta da seguinte forma, pode ter
diferentes conotações no plano individual, uma vez que estão vinculadas às
experiências das pessoas e conjuntura em que forem aplicadas.
Assim, os padrões de disciplina que norteiam a educação, bem como
os critérios utilizados para conotar um comportamento indisciplinado, se
transformaram ao longo dos anos e se distinguem no cerne da dinâmica social. Deste
modo, o conceito de indisciplina está diretamente relacionado aos diferentes valores
e expectativas aos quais os sujeitos estão inseridos.
Corroborando também para esta noção de polissemia, Garcia (1999)
defende que a indisciplina em sala de aula apresenta várias configurações, os
conceitos são plurais, bem como as expressões e implicações no contexto escolar. As
causas são oriundas de diferentes fatores, os quais são agrupados em fatores internos
e externos à instituição de ensino. As condições estruturais, a relação professor-aluno,
28
o perfil do acadêmico, os relacionamentos interpessoais dos alunos e climas
organizacionais são alguns dos fatores internos. São considerados fatores externos o
convívio familiar, os problemas sociais e a influência dos meios de comunicação.
Neste sentido se faz necessário destacar que os fatores internos e externos interagem
de tal forma que é preciso discutir a indisciplina pelas suas múltiplas facetas ou
agentes (GARCIA, 1999).
Dialogando com essa ideia, Jusviack (2009) se posiciona como Rego
(1996), assegurando que o conceito de indisciplina possibilita múltiplas interpretações.
Ele parte do pressuposto que um aluno indisciplinado é uma pessoa que apresenta
um comportamento divergente das normas explicitas e implícitas sancionadas no
contexto de ensino e social. À essas ideias também podemos aproximar Amado
(2001), para quem a indisciplina implica em contravenção dos princípios que norteiam
o convívio em sociedade, regras, contratos, ordens. Neste sentido evidencia a clara
discordância dos objetivos dos membros envolvidos, professores, alunos e a própria
instituição de ensino, provocando da ordem e quebra dos relacionamentos sociais.
Já Oliveira (2009) apresenta uma abordagem segundo a qual a
indisciplina caminha por várias direções, não sendo estática e unidirecional. O nível
de satisfação dos alunos pode ser sinalizado por meio de comportamentos
indisciplinados, os quais podem ser individualizados ou coletivos. A indisciplina em
sala de aula conduz a desmotivação dos agentes do processo de aprendizagem,
professores e alunos. O autor salienta ainda que esta interfere negativamente na
socialização e absorção dos conhecimentos pelos alunos, mas principalmente pelos
problemas causados ao professor que encontra dificuldades para cumprir os
conteúdos. O tempo dispendido pelo docente na manutenção da disciplina acarreta
desgaste físico e mental, como a frente será demonstrado na análise dos dados
coletados.
Ainda sob a ótica da relação professor-aluno, Estrela (1992) reafirma
que a indisciplina interfere no processo de socialização destes, bem como no
aproveitamento escolar dos discentes e ao desenvolvimento do trabalho do professor.
O professor demanda grande parte do tempo da sua aula para coibir a indisciplina, o
que acarreta desgaste, por trabalhar num ambiente onde paira a desordem e a tensão
provocada pela forma ofensiva dos alunos, muitas vezes descabida.
29
Entendemos que a indisciplina no ensino superior não é estática e
tampouco relacionada somente a índole do aluno. O comportamento indisciplinado
pode estar vinculado a motivação do aluno para o processo de aprendizagem, as
metodologias utilizadas pelo docente, e a ausência de interesse no conteúdo
abordado.
Em meio aos distintos conceitos de indisciplina no ensino
apresentaremos a seguir o termo indisciplina sobre diferentes enfoques: pelas
instituições de ensino, comportamento dos alunos, metodologias utilizadas em sala
de aula e sobre a relação de poder e autoridade.
1.2 - A questão da indisciplina sob o enfoque das instituições de ensino
Na contemporaneidade, as pessoas deixaram de ser submissas e as
escolas de serem jaulas de aulas e o diálogo passa a ser um fator primordial para uma
boa gestão da aula pelo professor (AQUINO, 1996). Para o autor, o convívio escolar
faz com que os alunos entrem em contato com a cultura das instituições de ensino e
assim influenciando e sendo influenciados pelos valores e normas que cada um traz
em sua cultura. A indisciplina no contexto escolar ocorre pelas diferenças entre a
cultura dos alunos e a cultura organizacional.
Assim, segundo Estrela (1992) é papel das instituições de ensino a
transmissão da cultura, ou seja, os valores que norteiam o contexto social, bem como
tem a função política, de preparar os alunos para serem cidadãos democráticos, a
função econômica, de prepará-los para o mercado de trabalho e a função social de
igualdade, com a promoção de oportunidade para todos.
Nessa linha, pensando a universidade como espaço plural, Rodrigues
(1993) afirma que a educação é uma atividade sistêmica pensada e organizada para
incutir no ingressante no universo social, o aluno, os valores culturais, políticos e
profissionais requeridos pela sociedade. Assim, o saber disseminado na escola é
organizado, sistematizado de acordo com a herança cultural, o qual não se adquire
de forma espontânea, bem como sua transmissão deve ser organizada e
sistematizada.
30
Nesta perspectiva, Marques (2001) salienta que esta organização e
sistematização do saber se refere à organização dos conteúdos e a forma que o
professor trabalha os em sala de aula. À medida que a escola tem como objetivo
formar indivíduos conscientes do seu papel na sociedade, capacitá-los para o
mercado de trabalho e desenvolver no aluno a educação continuada fora do espaço
escolar. Argumenta ainda que o desenvolvimento mental, moral, emocional e físico
são papeis das instituições de ensino.
Referendando os argumentos de Marques (2001), a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação – LDB nº. 9394/96 em seu artigo segundo traz como objetivo
da Educação, que o aluno tenha seu desenvolvimento integral, sendo preparado para
ser um cidadão de direito e com as qualificações necessárias ao mundo do trabalho.
Assim, o processo de ensino intencional, contribuiria de forma significativa para o
desenvolvimento deste cidadão. Para Carneiro (1998) a educação é um direito do
cidadão e fonte para o exercício da cidadania. Outro objetivo da educação é
capacitação profissional, que poderia ser fonte geradora de dinâmica escolar.
Ainda que o espaço acadêmico seja pensando de forma a abarcar a
diversidade e pluralidade de cultura, a indisciplina é observada nas instituições de
ensino, pois estas têm dificuldade de aceitar os acadêmicos com comportamento que
contrariam as normas, razão pela qual o problema da indisciplina seja percebido com
maior intensidade no contexto de ensino (AQUINO, 1996). Neste sentido, mesmo
existindo outros elementos que colaboram para que os comportamentos de
indisciplina se façam presentes no cotidiano das instituições de ensino, Aquino (1996,
p.45) defende que a origem da indisciplina não está pautada no aluno, e sim nos
gestores das instituições de ensino, incapazes de administrar esse novo perfil de
aluno. Para este autor a indisciplina não é estática e padronizada, mas tem relação
direta com a cultura, à medida que está relacionada a um conjunto de valores e
perspectivas que mudaram ao longo dos tempos.
No entanto, para Amado (2001) os alunos tentam impedir o
aculturamento a ser realizado pela escola, isso é visto como uma forma de resistência,
ou seja, de indisciplina. Para esses alunos, as instituições de ensino representam um
local de confronto, os alunos combatem os valores que não estejam em conformidade
com os seus e do grupo ao qual se veem inseridos. De forma coletiva ou individual, a
31
contracultura é entendida como resgate da dignidade do acadêmico.
Amado (2001) afirma que o conceito de disciplina está diretamente
associado à ideia de regras e obediência que estão atreladas a conjuntura social, ou
seja, disciplina familiar, religiosa, militar, escolar, entre outros. Cada uma com
características próprias e formatadas por meio do conjunto de valores a qual pertence.
Assim, a indisciplina é a desobediência ao conjunto de regras estabelecidas, na
maioria das vezes, demonstram a obstrução da ordem (AMADO, 2001).
Apesar disto, no contexto escolar, se o aluno se identificar com a
prática docente, com a motivação e valores que comungam com os da instituição,
poderão apresentar-se como alunos disciplinados.
Vasconcelos (1998) salienta a importância da clareza na definição das
normas, como: o que, para quem, quem, quando, como e qual a consequência do não
cumprimento das mesmas. Devem ser formalizadas no intuito de tornar às regras bem
objetivas e periodicamente devem ser revistas, analisadas, avaliadas e caso seja
necessário alteradas ou canceladas.
Em síntese, os atos de indisciplina poderão ocorrer por falta de regras
impostas pelo professor ou pela ausência de valores norteadores dos alunos em sala
de aula. Amado (2001) aponta ainda, que a indisciplina ocorre em diferentes níveis:
não cumprir às regras de produção, o que acarreta problemas no andamento das
aulas; conflitos entre os colegas de sala, que ocasionam dificuldades de
relacionamento entre os alunos, que consequentemente geram problemas para o
desenvolvimento de atividades em grupos e conflitos com o professor, os quais
colocam em xeque a autoridade, retratados por meio de comportamentos agressivos,
deboches, conversas paralelas entre outros.
Em contraponto a esses pensamentos, Connell (1994) afirma que, ao
estabelecer a disciplina pautada em regras que cerceiam a liberdade do aluno, o
professor impede a sua participação ativa no processo de ensino-aprendizagem, uma
vez que é pautada pelo autoritarismo. O autor argumenta ainda que a punição como
meio de manter a disciplina afeta negativamente os alunos e que pode levá-lo a
aversão à aprendizagem.
32
Ainda nessa linha, para Oliveira (2002) se faz necessário o fim do
autoritarismo, do uso de métodos coercitivos que levem o aluno a submissão por medo
em detrimento do respeito. O processo de ensino deve ocorrer com liberdade,
desenvolvendo no aluno a consciência de sua responsabilidade social, senso crítico,
promovendo autodisciplina em sala de aula.
Sob o olhar da construção do espaço acadêmico de forma dialética,
Garcia (1999) aponta que o uso democrático das regras norteadoras das relações
interpessoais entre professores e alunos em sala de aula evita retaliações e futuras
contestações pelos estudantes. Isso porque envolvê-los no processo decisório faz
com estes se comprometam com o resultado final, uma vez que à medida que
participam da deliberação das regras que nortearão o processo de ensino-
aprendizagem são corresponsáveis para que as mesmas sejam cumpridas.
Nesta linha, Vallejo (2004) destaca que nas relações no espaço de
aprendizagem estão presentes regras implícitas e as explícitas, que têm como objetivo
determinar as responsabilidades dos sujeitos envolvidos no processo, ou seja, aluno
e professor. Esse processo surge como uma oportunidade de negociação,
oportunizando aos alunos discordarem e proporem argumentos plausíveis que
conduzam a acordos das regras a serem adotadas. Neste cenário, o campo interativo
criado passa a ser a peça fundamental do processo interativo e não a figura do
professor ou do aluno.
O processo decisório por meio da ampla participação desenvolve a
potencialidade cognitiva, afetivas e de socialização no decorrer do trabalho, bem como
melhoria na relação dos professores com os alunos.
Estrela (2002) explica que, opondo-se a esta sistemática de diálogo e
democracia, muitas vezes, o professor, inconscientemente, no uso de sua autoridade
dita normas, fiscaliza e estabelece os critérios a serem adotados durante e pós-aula.
Esta ação, mesmo que involuntária, torna sua pessoa autoritária e o aluno em
condição de submissão. Ela salienta ainda que este modelo está ultrapassado e o
docente pode ser criticado pelo posicionamento frente aos alunos.
Parrat-Dayan, (2008) diz que outrora a autoridade e o respeito do
professor estavam vinculados a submissão e obediência, medo e castigo. No entanto
33
hoje, o docente não pode exigir que os alunos cumpram as normas, repreendendo
quem as transgredi, pelo contrário, faz-se necessário que um docente desenvolva
múltiplas e novas competências para tratar do problema.
Assim esperamos que o professor estabeleça um bom
relacionamento com o aluno, que as regras sejam disseminadas, e forma que o aluno
compreenda suas obrigações enquanto aluno, bem como as consequências dos atos
que contrariam as regras. Importante ainda que os acordos de boa convivência em
sala de aula sejam estabelecidos consensualmente, com responsabilidade,
cooperação, ou seja, que o aluno participe do processo decisório. Entendemos que
seja importante que o professor estabeleça em conjunto com os alunos, regras de
trabalho pautadas nas necessidades dos acadêmicos e da instituição de ensino a qual
estão inseridos.
1.2.1 - A questão da indisciplina sob o enfoque das competências do professor
Após a análise da indisciplina sob o enfoque das instituições de ensino
passaremos a discussão com abordagem sobre a atuação docente, ou seja, as
relações entre as práticas do professor e o comportamento dos alunos.
No que se refere às as competências necessárias para um professor,
Gallardo (2004) aponta que estas estão pautadas em quatro elementos:
1)Competência científica que está diretamente relacionada ao saber relacionado a
área de atuação, a aprendizagem contínua e a disseminação deste conhecimento
como difusão de novos conhecimentos; 2) competência técnica que diz respeito a
forma como o professor contextualiza o saber a realidade e constrói processos
interativos de investigação; 3) Competência pessoal se configura com a sua
predisposição para aprender e compreender as pessoas ao seu redor; 4)
Competência social que constitui a forma como o professor trabalha a aprendizagem
de forma social, desenvolvendo a aprendizagem.
Já Saviani (1996) atribui à competência do professor a quatro
saberes: 1) Atitudinal – que está vinculado a postura do professor e suas atitudes em
sala de aula, dentre elas disciplina, pontualidade, coerência, clareza, justiça e
34
equidade, diálogo, respeito ao educando; 2) Saber crítico contextual – representado
pelo conhecimento do professor sobre a sociedade a qual está inserido o aluno, de
forma a ministrar o conteúdo de acordo com a realidade do acadêmico; 3) Saber
específico – relacionado ao conhecimento inerente a disciplina e 4) Saber pedagógico
– pertinente as metodologias educacionais, as ciência da educação e a didática
curricular.
Estudos de Viera (2009) indicaram que as principais competências
dos professores, na percepção dos alunos, estão pautadas na didática e
comunicação, relacionamento interpessoal, valores pessoais, compromisso com os
resultados e conhecimento teórico e prático. Assim, a capacidade de transmitir os
conteúdos de forma clara e contextualizada utilizando recursos metodológicos que
facilitem a aprendizagem e consequentemente motivem o aluno, bem como empatia,
amizade e predisposição para compreender as necessidades e o ritmo do aluno
associada a equidade nas avaliações, flexibilidade constituem as competências
necessárias ao professor universitário.
Neste sentido, o trabalho do professor universitário é complexo e
desafiador, pois se faz necessário o inventar e reinventar o seu fazer diariamente.
Isso porque o desenvolvimento acelerado das tecnologias e das mudanças culturais
movidas pelos fatores internos e externos que assolam o país, se fazem presentes
também nas universidades e influenciam diretamente no trabalho do professor de
ensino superior. Estas transformações trazem consigo novos paradigmas que exigem
um novo perfil de professor, que estimule o desenvolvimento de um novo perfil de
aluno (RODRIGUES, 2006).
Esse pensamento é coadunado por Estrela (2002), o autor salienta
que as mudanças educacionais trouxeram consigo uma mudança no papel que o
professor desempenha em sala de aula para além das competências inerentes ao
conteúdo a ser abordado pelo professor. Por essa razão, é preciso repensar as
competências do professor do ensino superior, pois o processo de ensino-
aprendizagem está diretamente ligado às competências dos docentes, à medida que
estas possibilitam o desenvolvimento de novos métodos de trabalho e de lidar com
situações presentes no contexto de ensino. Ainda possibilitam orientar o discente
sobre as responsabilidades existentes no processo de ensino-aprendizagem
35
(VASCONCELOS, 2010).
Considerando ainda que, para que ocorram as interações sociais em
sala de aula, e no intuito de melhoria na construção do conhecimento e reconhecendo
o papel do professor enquanto mediador das interações, se faz necessário que o
professor apresente um repertório de competências interpessoais imprescindíveis à
percepção das demandas emergentes no espaço escolar, flexibilidade para se
adequar a novos paradigmas, bem como habilidade para gerir conflitos (DEL PRETTE
E DEL PRETTE, 1998).
A multiplicidade de competência também é apontada por Shulman
(2005) como pressuposto para a realização do processo de ensino-aprendizagem de
qualidade, aliadas ainda às ações integradas com à instituição de ensino. Dentre os
conteúdos necessários, o autor elenca os seguintes conhecimentos: conteúdo a
serem aplicados, os objetivos do ensino e os valores, as metodologias, estrutura
curricular, conhecer os alunos e os processos de aprendizagem, o contexto
educacional, assim como os embasamentos filosóficos e históricos envolvidos no
conteúdo a ser abordado.
Assim, acreditamos que o processo de ensino-aprendizagem exige do
profissional de ensino dedicação e aptidões necessárias a uma boa gestão de sala de
aula. Espera-se que o docente seja capaz de lidar com os conflitos no ambiente de
ensino, estabelecer um processo de comunicação eficiente e principalmente ouvir
seus alunos de forma a tornar as aulas mais participativas e motivadoras, uma vez
que acreditamos na dualidade o processo de ensino, que é imprescindível a
participação do aluno para o seu sucesso.
1.2.2 - A questão da indisciplina sobre o enfoque das relações entre professor e
aluno
Neste sentido abordaremos a linha teórica que busca compreender a
indisciplina como sendo originária das relações entre o professor e aluno, nesta linha
cabe destaque os teóricos Carita e Fernandes (1997), Estrela (1992) e Amado (2001).
Segundo Carita e Fernandes (1997) a indisciplina ocorre devido à ausência ou ruptura
36
da relação entre o professor e o aluno, pois é esta relação que conduz ao sucesso
pedagógico. Os autores salientam ainda, a necessidade do professor perceber a
forma com que este relacionamento está sendo formatado junto ao aluno e promover
aprendizagens bem sucedidas desenvolvendo junto aos acadêmicos uma relação
pautada no respeito, confiança, autonomia, segurança e aceitação das diferenças
(CARITA E FERNANDES, 1997).
Amado (2001) afirma que, devido à complexidade de fatores que
envolvem a indisciplina no contexto escolar, se faz necessário a reflexão profunda
sobre a natureza das diversas relações e interações sociais no escopo escolar. Para
o autor, a indisciplina é acontecimento fruto da interação que é construído na própria
sala de aula entre os professores e alunos, onde ambos possuem perspectivas,
percepções e pontos de vistas divergentes.
Para Amado (2001) se faz necessário que os professores conheçam
as diferentes realidades vivenciadas por seus alunos e assim possam diferenciá-los
de tal forma que contribuam sobremaneira para organização e dinamicidade das
aulas. Diferentes realidades podem trazer novos olhares sobre um mesmo prisma e
proporcionar uma maior interação de todos os alunos e consequentemente uma
melhoria no nível de aprendizagem (AMADO, 2001). No entanto essa diferenciação
deve ter um enfoque positivo na estratégia do professor, de forma que as
diferenciações possibilitem que, ao tratar com iguais e desiguais, o docente
potencialize os resultados dos alunos.
O mau uso desta estratégia pode, no entanto, trazer resultados
diferente do esperado. Estrela (1992) explica que em várias situações os professores
dispensam tratamento diferenciado em relação aos alunos, considerando-os bons e
exemplares ou maus. Em ambos os casos, o aluno percebe o conceito que o professor
tem dele e a partir de então, na medida do possível, tenta reforçar este conceito junto
ao professor. Cita-se como exemplo, uma situação na qual o professor tece mais
elogios aos alunos que apresentam bom comportamento e critica o aluno
indisciplinado. Neste exemplo, o aluno indisciplinado capta a imagem que o professor
tem dele e tende a não alterar seu comportamento.
Segundo Estrela (1992) este aluno se sente como se recebesse uma
37
marca do professor de aluno mau ou indisciplinado, assim este reforça a imagem que
a sua situação não se alterará. E nas relações de professor e aluno que as expressões
de indisciplina ocorrem como forma de negar a disciplina, onde ocorre a quebra das
normas pré-estabelecidas e se estabelece a desordem (ESTRELA, 1992).
Uma outra via para as relações docente-discente é apontada por
Jesus (2000), segundo o qual, o processo de ensino-aprendizagem deve ser pautado
na autonomia, envolvimento, indicando formas de negociações e adequação das
partes envolvidas. Assim, o professor democrático é aquele que dá autonomia para
os alunos participam do processo decisório das atividades a serem desenvolvidas, o
que traz benefícios ao professor e alunos. Por isto entendemos a necessidade de que
os princípios norteadores sejam o diálogo e a negociação.
Para que isso ocorra Araújo (1996) argumenta que é preciso uma
transformação das relações interpessoais em todas as dimensões: nas escolas,
famílias e sociedade como um todo, pois à medida que às regras sejam estabelecidas
pautadas em princípios democráticos de justiça e igualdade, o problema da
indisciplina será encarado sob uma diferente perspectiva, pelo respeito aos princípios
e não à obediência.
Para que o diálogo ocorra se faz necessário que, num primeiro
momento, o professor aceite o aluno da forma como é, sem preconceito para
posteriormente, por meio de uma interação, ter subsídios para estabelecer uma
comunicação. A conquista da confiança e o respeito dos alunos se torna de suma
importância para organização do seu trabalho (VASCONCELOS, 1998). O autor
salienta ainda a importância do aluno perceber o conteúdo a ser aprendido como algo
que traga sentido a sua vida, ou seja, o aluno deve perceber o quanto o conteúdo e a
mudança no comportamento irão impactar em sua vida profissional e social.
Neste contexto, a relação estabelecida entre professor e aluno é tida
como base fundamental para prevenir a indisciplina em sala de aula. Faz-se
necessário que os professores tomem ciência da importância dos relacionamentos
interpessoais, pois à medida que são melhorados consequentemente existe um ganho
de eficiência no desempenho do professor e dos alunos, elevando o nível de
satisfação dos envolvidos (AMADO et.al., 2009).
38
Deste modo, o aluno pode expressar suas opiniões, percepções e
suplantar suas expectativas em relação ao conteúdo a ser aprendido. Assim, todos
podem aprender de formas distintas, evitando-se frustrar as expectativas de alguns
(AMADO, 2001). Nesse sentido, para Placco (2002) é necessário que se busque
compreender os pormenores da relação professor-aluno no espaço escolar, uma vez
que um interfere no desenvolvimento do outro, com diferentes expectativa e
interpretações da realidade.
O primeiro passo para a compreensão das múltiplas realidades
segundo Bentes (2003) é que o professor não pode idealizar uma sala de aula com
comportamentos harmoniosos. À medida que estes são idealizados e frustrados a
atuação docente se pauta na coação e em sanções punitivas, as quais fazem que à
autoridade do professor seja sucumbida. Assim Bentes sugere que o docente busque
a interação e participação coletiva para a melhor absorção do conhecimento e
formação dos indivíduos.
Na visão de Vasconcelos (1997), a indisciplina está relacionada com
ausência de cumprimento das normas, assim o processo de ensino-aprendizagem
necessita de regras para que transcorra de forma eficaz e tranquila. Portanto, se faz
necessário que o professor tenha autoridade para orientar e ou para se opor ao aluno.
Faz ainda, uma crítica ao autoritarismo, “que é a negação da verdadeira autoridade,
pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro” (p. 248).
Evidencia-se assim que a indisciplina sob o enfoque do aluno está
diretamente relacionada com a relação professor-aluno e não se atem somente à sala
de aula, mas também a comportamentos externos como: “faltar às aulas” e “dizer
asneira” (SEBASTIÃO, ALVES E CAMPOS, 2003).
Neste sentido, Saviani (2003) defende a pedagogia crítico-social dos
conteúdos, por meio de uma relação de ensino, pela qual professor e alunos se
encontram com objetivo de ensinar e aprender os conhecimentos históricos, no intuito
de edificar e aperfeiçoar as concepções do conhecimento. O ato de ensinar e aprender
não estariam centrados no professor (Pedagogia Tradicional), tão pouco na iniciativa
dos próprios alunos como preconiza a Pedagogia Nova, mas sim no cotidiano, ou seja,
nas relações entre o professor e alunos, levando em consideração as diferenças entre
39
ambos, bem como os níveis diferentes de conhecimento e experiências da prática
social.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001), os processos
de ensino-aprendizagem trazem uma discussão sobre como devem ser entendidas as
relações interpessoais neste processo, ou seja, compreender as relações entre a
educação e a cultura do indivíduo e a cultura organizacional e o papel da educação
ajustada às situações aos processos de aprendizagem. E assim, se faz necessário
uma adequação pedagógica às características de um aluno reflexivo, de um professor
com conteúdo, valor social e formativo.
Pensando ainda a indisciplina como consequência das interações
sociais, Garcia (1999) propõe a superação do fenômeno da indisciplina atrelado
apenas ao comportamento do aluno, mas também pela existência de outros aspectos
psicossociais que precisam ser considerados, como “situar a indisciplina no contexto
das condutas dos alunos nas diversas atividades pedagógicas, dentro ou fora da sala
de aula”. Outro aspecto a ser considerado é a rede de relacionamentos do aluno
dentro e fora da escola e seus processos de socialização, assim a disciplina passa a
ser uma das vertentes a ser desenvolvida no aluno. Nesta perspectiva o autor define
a indisciplina como uma forma do aluno divergir da forma como a disciplina é
ministrada por não atender as suas expectativas
Neri (1992) aponta que o nível de motivação para o processo de
aprendizagem constitui-se um dos primeiros caminhos para prevenção de situações
de indisciplina em sala de aula. A medida que o aluno se interesse pelos conteúdos e
participe ativamente das discussões, das atividades, ouvindo os diferentes pontos de
vistas dos colegas e professores, defendendo seu ponto de vista ele estará adquirindo
novos saberes. A participação ativa do acadêmico demonstra seu nível de motivação,
produto de uma aprendizagem que lhe trouxe significado. A disciplina, pode ser
percebida equivocadamente por muito professores como silêncio em sala de aula e
submissão. No conceito apontado por Neri, a disciplina está relacionada à participação
ativa.
Concordando com essa abordagem Aquino (1996) afirma que a
disciplina se transformou em ação de oposição, onde os alunos são questionadores e
40
de inconformismo com o contexto social a qual estão inseridos, características
essenciais do trabalho humano para o aprendizado.
Outra forma que contradiz os conceitos apresentados por Garcia
(2006) Dewey (1936), Aquino (1996), Passos (1996) faz uma conexão entre a
disciplina e o interesse dos alunos pelos conteúdos a serem aprendidos. Nesta
concepção os alunos participam do processo de ensino-aprendizagem, deixam de ser
meros expectadores e passam a ser sujeitos do processo à medida que compreendem
a importância do conteúdo a ser aprendido para seu futuro profissional.
Entendemos assim que a disciplina pode ser compreendida além dos
limites comportamentais do aluno. A motivação para o alcance dos objetivos, ou seja,
o interesse dos alunos pelo conteúdo ministrado conduz o aluno a prestar atenção na
explanação do professor, a questionar e consequentemente o maior aporte de
conhecimento.
1.3 – Elementos que desencadeiam a indisciplina no espaço educacional
Os estudos de abordagem pedagógica destacam métodos utilizados
no processo de ensino-aprendizagem como responsáveis pela indisciplina em sala de
aula. Entre as quais podemos destacar a programação dos conteúdos, a interação
entre professor e aluno, as metodologias, as formas de avaliação entre outros
processos. Aquino (1996, 1998, 2003), Boarini (1998), Bocchi (2002; 2007), Garcia
(1999), Machado (2007), Yasumaru (2006), Vasconcelos (1998), Xavier (2002), entre
outros, apresentaram subsídios teóricos importantes sobre a indisciplina no espaço
escolar.
Segundo Amado (2001) para os alunos a indisciplina emerge de
metodologias de ensino inadequadas e da ausência de interação entre professor e
aluno. Assim sob o olhar do aluno para compreender os comportamentos dos alunos
em sala de aula se faz necessário entender primeiramente a forma do professor
ensinar. Em resumo, a melhoria no clima da sala de aula e a redução da indisciplina
estão diretamente relacionadas à metodologia de ensino utilizada pelo professor.
41
Amado (2001) aponta algumas práticas utilizadas pelos profissionais
de ensino que colaboram para o desinteresse pelas aulas e consequentemente
aumentam os casos de indisciplinas em sala de aula:
a) Abuso de métodos expositivos;
b) Aulas monótonas e repetitivas, com atividades que possibilitem a dispersão do
aluno.
c) Conteúdo que não tenham sentido para o aluno;
d) Postura do professor na condução do conteúdo e da sala; e
e) Gerenciamento inadequado do espaço de ensino; do tempo para o
desenvolvimento das atividades.
Para esse autor as aulas expositivas, por exemplo, são apontadas
pelos alunos como desinteressantes, o professor transmite o conteúdo de forma
maçante sem a participação dos alunos. Neste método, o aluno tem pouca, ou
nenhuma possibilidade de fazer questionamentos e manifestar sua opinião, assim o
aluno acaba utilizando de algumas táticas indisciplinares para fazer com que a aula
transcorra com uma maior velocidade (AMADO, 2001).
Para opor-se a este cenário Aquino (1996) aponta que o professor
deve criar metodologias de trabalho que mantenham a disciplina, uma vez que cabe
ao professor desenvolver estratégias de ação para motivar os alunos ao aprendizado
e assim atingir seus objetivos.
A motivação, segundo Pozo (2002) deve ser considerada essencial
ao processo de ensino-aprendizagem, uma vez que sua ausência a torna inviável.
Bzuneck (2001) referenda a ideia apresentada por Pozo (2002) por considerar a
motivação a principal determinante do êxito e da qualidade da aprendizagem. À
medida que se intensifique o envolvimento do aluno no processo, o qual está
diretamente relacionado a sua motivação, eleva-se proporcionalmente a qualidade do
aprendizado.
Vasconcelos (1998), argumenta que como não existem alunos ideais,
42
os professores devem desenvolver estratégias de ação para lidar com o novo perfil do
aluno, rompendo com antigos paradigmas segundos os quais os professores são
detentores do poder e utilizam o autoritarismo para conter os atos de indisciplina em
sala de aula. Nesta perspectiva se faz necessário que o professor transmita uma
postura firme, sem usar de autoritarismo, que esteja aberto ao diálogo para que a
processo de ensino-aprendizagem se efetive.
A indisciplina no contexto escolar, para Parrat-Dayan (2008), Fortuna
(2002), Rego (1996), Jesus (2001), Passos (1996), e Roure (2001) está ligada a
alguns comportamentos, como: oposição, intolerância, negação e ausência de
respeito ao professor e colegas de sala.
Segundo Jesus (2001) a indisciplina está vinculada aos
comportamentos e atitudes dos alunos, que prejudicam e interferem o trabalho do
professor. Para o autor os atos de indisciplinas estão vinculados a traços de
personalidade do aluno que precisam ser controladas pelo professor. Deste modo,
para o autor, cabe ao professor tecer estratégias para conter a indisciplina do aluno,
ou seja, tomar providências no sentido de promover a mudança no comportamento
deste aluno.
Para os professores, na maioria das vezes, a indisciplina é entendida
como um comportamento impróprio que demonstra falta de respeito, rebeldia, tais
como: conversas paralelas, manuseio do celular, não desenvolvem as atividades
solicitadas pelos professores, se recusam a responder a questionamentos e quando
respondem o fazem ironicamente, falta de interesse, chegam atrasados e querem sair
mais cedo (VASCONCELOS, 1998).
Nessa mesma linha Sebastião, Alves & Campos (2003) entendem que
a indisciplina está relacionada a perturbações ao funcionamento das aulas, onde os
alunos apresentam comportamentos de inquietação, como: cochichar com os demais
colegas de sala, mandar calar a boca e não se sujeitar às regras pré-estabelecidas.
Segundo Parrat-Dayan (2008) a indisciplina apresenta-se de várias formas: conversas
paralelas, não fazer as atividades que o professor preparou para o desenvolvimento
do aluno, não estudar, sair da sala durante a explanação do professor, não respeitar
o colega que está falando, etc.
43
Para Amado (2001) os atos de indisciplina cometidos pelos alunos,
desde as fraudes nas avaliações até a ausência de atenção, ao humor irônico e
comentários inapropriados em sala de aula demonstram a cultura de resistência, que
tem como finalidade, constranger o professor, impedindo o avanço do conteúdo a ser
ministrado e assim tornar a aula mais agradável ao aluno que nesta perspectiva
mantêm o controle da situação.
Rego (1996), afirma que a forma de interpretação pelos professores
da indisciplina em sala de aula conduz ao comprometimento das práticas
pedagógicas, uma vez que interferem na relação professor-aluno bem como nos
critérios de avaliação e objetivos a serem alcançados. Na maioria das vezes o
docente atribui as causas da indisciplina ao próprio aluno ou a família, ou ainda ao
meio sociocultural em que o aluno está inserido.
A indisciplina, para Rego (1996) se apresenta por meio dos
comportamentos inadequados dos acadêmicos, o qual pode ser apresentado por um
indivíduo ou pelo grupo, como forma de oposição, de intolerância, de desacato, de
ausência de educação e respeito ao professor.
Corroborando com os autores, Roure (2001) afirma que a indisciplina
é gerada pelo comportamento dos alunos em sala de aula. Salienta ainda que na
visão dos professores a indisciplina é um ato de rebeldia, oposição às regras
estabelecidas pelos professores, as normas institucionais e contratos sociais.
Para Passos (1996) a indisciplina representa para os acadêmicos:
ousadia, oposição e não conformidade com a situação. Salienta que o ato pedagógico
é a ocasião onde se efetiva a construção do conhecimento, por meio da ampla
participação dos alunos, é o momento de insurgir falas, movimentos, rebeldia,
oposição e desejo de descobrir e construir juntos: professores e alunos. A autora ainda
tece um olhar positivo sobre a indisciplina compreendendo-a como a forma dos
acadêmicos ousarem, expressarem sua criatividade e/ou resistência e inconformismo
como a forma como o ensino vem se apresentando. Neste sentido, Passos (1996)
percebe a indisciplina como sinal de que o processo de ensino-aprendizagem precisa
ser analisado, revisto e refeito. Salienta a importância da análise dos múltiplos
aspectos que permeiam a indisciplina no espaço escolar, dentre eles destaca as
44
formas de poder das instituições de ensino, a forma como os professores concebem
a construção do conhecimento, entre outros.
Para Fortuna (2002) a indisciplina relaciona-se a um ato de oposição
às regras estabelecidas, desrespeito aos acordos de convívio sem uma justificativa
plausível, ausência de capacidade de seguir e de se relacionar conforme às regras
estabelecidas entre as partes.
Já para Garcia (1999; 2002) a indisciplina representa é a negação
pelos alunos das orientações dos professores. Ela vinculada a condutas, atitudes e
forma como o aluno se socializa, interações sociais advindas de comportamentos
aversivos no intuito de chamar a atenção dos demais colegas de sala, assim estes
divergem ou negam as orientações dos professores.
A indisciplina sugere a transgressão de princípios, regras, contratos e
ordens que provocam problemas sociais e encontra-se em desacordo com os
objetivos traçados pelo grupo de alunos e professores ou pela instituição (AMADO,
2001).
Para os autores acima a indisciplina é o resultado do comportamento
do aluno, no entanto a outros aspectos que conduzem o aluno a atos de indisciplina
em sala de aula que serão apresentados na sequência.
Para falar de indisciplina se faz necessário falar de autoridade. É
percebido na contemporaneidade uma crise da autoridade, em todas as organizações,
desde as mais simples como a família até organizações mais complexas do primeiro,
segundo e terceiros setores.
A capacidade de usar a autoridade em sala de aula é uma grande
dificuldade encontrada pelos professores. Definir os limites entre a autoridade e
autoritarismo é primordial para o sucesso da gestão da sala de aula. Para entender
melhor as relações de poder entre professor e aluno, Weber (2001) classifica a
autoridade de três maneiras, segundo a forma de controle que se exerce: a primeira
com base legal, ou poder legítimo, a segunda, a dominação tradicional, que requer
obediência sem contestação e a terceira, a dominação carismática, onde a pessoa é
dominada voluntariamente. A dominação no espaço escolar se estabelecer de acordo
45
com os três tipos de dominação apresentados por Weber (2001). Assim, o estilo de
relação entre o professor e aluno pode encontrar resistências e consequentemente
conflitos em sala de aula.
A gestão do poder em sala de aula, segundo Villas Boas (1999), é
fundamental para evitar conflitos interpessoais e manter a disciplina em sala de aula.
O aluno aprecia o docente que faz uma boa gestão da sala, impõe regras ao
desenvolvimento do trabalho e as boas condutas em sala de aula, cuja ordem seja
firme e necessária, sem, contudo, utilizar-se do autoritarismo para fazê-lo. O aluno
aprecia ainda o docente que impede situações de injustiça na interação.
Para Rego (1996) alerta sobre o grave problema da indisciplina em
sala de aula e a importância do professor enquanto mediador do processo de ensino
aprendizagem e que é primordial que as instituições de ensino busquem soluções
rápidas que auxiliam os professores a combater e ou minimizar a incidência da
indisciplina no espaço de aprendizagem.
A postura autoritária do professor culminará para a manifestação de
conflitos, uma vez que pelo seu posicionamento o professor perde sua autoridade e,
consequentemente não será bem-sucedido em suas ações, mesmo que utilize
ferramentas de controle para coibir os atos de indisciplina. E sim, por meio da
autoridade que apoia e orienta os meios pelos quais os alunos atingiram os objetivos
proposto que consegue a disciplina e se conquista à autoridade do gestor de sala de
aula (VASCONCELOS, 2009).
Yasumaru (2006) ressalta que o professor é o responsável por
estabelecer a disciplina em sala de aula à medida que apresenta os objetivos e valores
pré-estabelecidos pelo sistema educacional. A partir desta premissa, o professor
apresenta-se, segundo o autor, como um dos causadores da indisciplina em sala de
aula. Neste contexto, o professor se preocupa com as exigências inerentes ao aluno,
ao conteúdo a ser ministrado e se esquece de dar significado e envolver o aluno no
processo de ensino-aprendizagem.
Torres (2008) aponta o professor como responsável pela indisciplina
em sala de aulas atrelada ao seu posicionamento frente aos alunos, à medida que
não muda sua prática pedagógica. O professor pode enfocar o planejado para aulas,
46
ou seja, passar o conteúdo ignorando os atos indisciplinares, bem como resolver o
problema da indisciplina castigando o aluno indisciplinado com notas baixas. Ainda
segundo o autor, esta visão prática sobre o ensino pode levá-lo a estabelecer
pequenas punições na busca de mudanças rápidas.
Welch (2007) afirma que o processo ensino-aprendizagem se efetiva
à medida que o professor, por meio de atitudes firmes e participativas, fixa as regras
norteadoras do ensino. De forma a valorizar as interações sociais, tratando o aluno
com respeito, sem incorrer em injustiças e sem ser autoritário. O gestor da sala é o
professor e cabe a ele a responsabilidade de fazer com que os alunos adquiram o
conhecimento, bem como desenvolvam senso crítico e aprimorem seus
relacionamentos interpessoais.
Aquino (1996) e Oliveira (2004) apontam de forma interessante que a
percepção que um professor tem do seu aluno pode não ser a mesma de outro
professor. Nesse mesmo sentido para Curto (1998) o fenômeno da indisciplina é um
evento subjetivo, onde professores lidam de formas diferentes com a mesma situação.
Compreendemos que a concepção de indisciplina é algo socialmente
estabelecido nas instituições de ensino, bem como o perfil e comportamento dos
alunos indisciplinados à medida que estão ligados a cultura, ou seja, ao conjunto de
valores, atitudes e crenças das instituições de educacionais e estas afetam o trabalho
do professor. Assim, buscaremos na próxima seção a partir das concepções do
trabalho do professor, discutir os impactos da indisciplina sobre o trabalho do docente.
47
2 - A INDISCIPLINA NO ESPAÇO EDUCACIONAL E SEU IMPACTO
NO TRABALHO DO PROFESSOR
Estudos evidenciam que os comportamentos indisciplinares no
ambiente de aprendizagem apresenta-se como um grande problema da sociedade
contemporânea. Trazem em seu bojo angústia entre os docentes e alunos a medida
que interferem no processo de ensino-aprendizagem e constituem-se fontes de stress
pela impotência no controle da disciplina, dentre eles apontamos as pesquisas
realizadas por Estrela (2002), Garcia (2013), Vasconcelos (2000) Pontes e Aquino
(2010), mas poucos estudos da mesma no ensino superior entre eles os de Oliveira
(2009) e Torres (2008).
Sendo assim, torna-se essencial abordarmos a questão da
indisciplina no ensino superior e o trabalho do professor. Por essa razão,
começaremos apresentando um breve apanhado de como o ensino superior se iniciou
no Brasil, de forma a situar essa questão no contexto histórico, para depois
avançarmos sobre as questões específicas da indisciplina no espaço acadêmico.
2.1 – O ensino superior no Brasil e o papel do professor: algumas aproximações
O ensino superior no Brasil surgiu tardiamente, em 1808, quando a
Corte Portuguesa se instalou no Brasil. As primeiras universidades foram criadas mais
tarde ainda, em 1930, após a proclamação da república, até então só existiam cursos
a nível superior profissionalizantes (TEIXEIRA, 1989).
Assim, em 1930 surge a profissão de professor universitário,
ocupação que se difere de outras categorias pela ação de formar profissionais, uma
vez que abarcam sob sua responsabilidade questões mais complexas do que as até
então exploradas na educação básica, como a produção de conhecimento, construção
de pensamento crítico, articulação do saber, além da formação de cidadãos,
profissionais, pesquisadores, ou seja, pessoas que se tornarão novos produtores de
conhecimento. Ação que representa um grande desafio para os profissionais de
ensino, à medida que aumenta o nível de responsabilidade destes profissionais frente
48
ao fluxo de informações que estão em constantes mudanças. Assim, é importante
repensar o papel do professor e da universidade, bem como seus objetivos.
A reflexão acerca dessa mudança de paradigmas se faz necessária,
na medida em que as instituições de ensino se dedicam à transmissão de cultura e
conhecimento, e estes são constantemente afetados pela passagem do tempo, que
por sua vez são reflexos das mudanças sociais e avanços científicos.
Morgado (2006) afirma que as instituições de ensino superior vem
enfrentando uma série de desafios, a saber: a) mudanças políticas, econômicas
sociais e culturais e seus impactos nas pessoas e na sociedade como um todo; b) o
aumento no nível de exigência educacional e formação profissional com vista a
melhoria da sua empregabilidade; c) o novo perfil dos alunos que estão cursando o
ensino superior; e d) a necessidade de melhorar o rol de disciplinas formativas, de
maneira que estas possam atender as demandas do mundo do trabalho, bem como
desenvolver novas metodologias de pesquisa e ensino que possibilitem o
desenvolvimento dos acadêmicos para atuarem nos diversos ambientes sociais e
profissionais.
A declaração Mundial sobre o Ensino Superior (UNESCO, 2000)
preconiza que a educação superior tem como objetivo a formação de cidadãos com
alta qualificação. Assim, para que os objetivos sejam alcançados é indiscutível que o
professor universitário tenha conhecimentos consistentes da área de atuação bem
como, competências pedagógicas que oportunizem a absorção do conhecimento de
forma eficaz (GIL, 2006).
No entanto, Pimenta e Anastasiou (2005) apresentam um cenário do
ensino superior que adota práticas ultrapassadas e que influenciam diretamente na
qualidade do ensino. Apontam a necessidade de formação específica para o exercício
da docência como caminho para melhoria na qualidade dos profissionais que são
capacitados para o mercado de trabalho. E, partindo dessa premissa, afirmam que,
exceto os formados em curso de licenciatura, os professores que atuam no ensino
superior não possuem capacitação específica para ensinar. A formação para o
exercício do ensino superior de professores barachareis se restringe à disciplina de
Metodologia do Ensino Superior, que são oferecidas nos cursos de pós-graduação
49
Lato sensu. Ademais, as iniciativas formativas, são realizadas pelo próprio professor
no intuito de obter a base de conhecimento para exercer a profissão de docente.
A ausência dos saberes pedagógicos, segundo Soares e Cunha
(2010) restringe a atuação do professor universitário e traz como consequências no
processo de ensino-aprendizagem. As práticas metodológicas muitas vezes são
reproduções da forma de atuação dos demais colegas de profissão ou, ainda, por
experiências advindas de outras profissões. É inegável que a reprodução de
experiências é importante, quer sejam as próprias, que sejam baseadas em modelos
dos demais professores. No entanto, essa repetição ocorre, muitas vezes, pela
ausência de formação pedagógica, ou seja, o professor criar seu próprio modelo para
ensinar. Deste modo, a falta de uma formação direcionada ao ensino superior faz com
que cada professor busque a formação e transformação de diferentes formas.
Deveras, ensinar vai muito além da transmissão de conhecimento.
Para Nóvoa (2007), se faz necessário que o docente seja inovador, criativo, saia do
senso comum e desenvolva novas metodologias de ensino que despertem no aluno o
interesse pela sua disciplina.
Não se pode olvidar que a realidade do ensino superior é por demais
diversa. Pimenta e Anastasiou (2005) apontam que nesse tipo de ensino, além das
diferenças estruturais encontradas nas diversas Instituições de Ensino Superior – IES,
os cursos também são compostos por professores, na sua maioria, com formação em
áreas específicas como Direito, Administração, Contabilidade, sendo a atividade
laborativa desenvolvida de forma individualizada, o direcionamento dos conteúdos é
subsidiado pela ementa da disciplina e assim não recebe dos pares e/ou das
instituições de ensino auxílio para realização do trabalho.
Ser professor no ensino superior, em cursos de bacharelado, não
requer formação inicial pedagógica e muitas vezes, nem formação continuada, o
código de ética da profissão é desconhecido por parte dos professores e, ainda em
alguns casos a sua atuação como professor, constitui-se como uma segunda
ocupação, uma vez que sua formação o direciona para outras profissões e a de
professor surge apenas enquanto um “complemento” de renda. No entanto, o aluno,
os professores, as instituições de ensino e a sociedade não podem compreender a
50
função do professor do ensino superior como solitária no ato de ensinar, uma vez que
esta ideia distorce a profissão docente e a forma que ele deve agir no contexto de
ensino.
É notória a significativa experiência profissional e o tempo de estudo
nas áreas específicas, porém evidenciamos a ausência de formação e conhecimento
científico sobre o processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido é importante que
o profissional, ao ingressar na sala de aula, tenha consciência de que neste espaço
seu papel principal é o de professor (PIMENTA E ANASTASIOU, 2005).
Soares e Cunha (2010) corroboram com Pimenta e Anastasiou (2005)
que salientam às experiências advindas do campo de atuação, em empresas,
consultorias, organizações governamentais contribuem sobremaneira para o
desenvolvimento dos alunos. No entanto, salientam a no entanto, salientam a
necessidade de formação específica para o professor universitário.
Nesse sentido, Pimenta e Anastasiou (2005) apontam ser necessária
a construção de novas competências e métodos de ensino aos professores
universitários, e para isto é preciso que assumam a formação continuada, como forma
de obter a profissionalização para atuar enquanto docente, bem como a auto formação
que deve ser resultante da constante reflexão de suas práticas.
O conhecimento de forma integrada, onde o aluno além do aporte de
conhecimento desenvolva senso crítico e responsabilidade para atuar no mercado de
trabalho e enquanto cidadão, exige dos professores novas metodologias de ensino,
onde a relação professor-aluno seja proativa e que o acadêmico perceba o significado
dos conteúdos a serem estudados. Nesta perspectiva o professor, passa de mero
transmissor de conhecimento a mediador na construção do saber, facilitador do
processo de ensino-aprendizagem. Para isso é preciso que esses profissionais
redesenhem suas práticas pedagógicas, uma vez que neste contexto, o docente é a
pessoa que exerce um papel fundamental para a qualidade dos processos de ensino.
As práticas pedagógicas influenciam diretamente no comportamento
do aluno e em seu nível motivacional, desta forma à utilização de estratégias
diferenciadas devem ser estabelecidas de acordo com o perfil e nível de maturidade
do aluno. Para Masseto (2003) o professor tradicional, que tem como objetivo somente
51
repassar as informações, está com os dias contados. As tecnologias de informação
possibilitam o fácil acesso a vários conhecimentos, desta forma é preciso que
estratégias de ensino tenham como foco a transformação da informação em
conhecimento.
Para Garcia (2013) as práticas pedagógicas devem ser repensadas e
alteradas no sentido de oportunizar aos participantes do processo de ensino-
aprendizagem um ambiente agradável que proporcione uma aprendizagem de ser
professor no ensino superior não requer formação inicial e muitas vezes, nem
formação continuada de qualidade e que atenda os anseios da sociedade. O autor
salienta ainda que o currículo atual por si só não consegue obter o engajamento do
aluno e preciso que os docentes utilizem novas práticas pedagógicas para promover
a aprendizagem.
Neste sentido, é importante que os professores universitários tomem
consciência da importância da sua profissão para a sociedade e está exige dele
continua reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem e as metodologias
adotadas em sala de aula (MASSETO, 1998).
A função do professor universitário que durante muitas décadas
estava relegada a transmissão do conhecimento, ao desenvolvimento de
competências técnicas e a pesquisa, hoje se soma as estas, o desenvolvimento da
reflexão crítica, ética e social (BEHRENDS, 1998). Neste contexto, exige-se dos
professores universitários competências pedagógicas exequíveis, bem como a
formação destes profissionais seja valorizada pelas instituições de ensino (PINTO,
2001).
Assim, evidencia-se que o professor universitário deva ter
competências específicas vinculadas ao ensino superior. Para Machado (2007), as
funções do professor universitário requerem dedicação e grande responsabilidade a
medida que tem a missão de contribuir para a formação de profissionais que atuarão
no mercado de trabalho com alta competitividade e exigirão destes futuros
profissionais uma alta performance. No entanto, somente em 1990 iniciaram os
estudos sobre o trabalho do professor, até então os estudos eram realizados sobre as
atividades de produtivas e de bens de consumo.
52
Para Puentes e Aquino (2010) o professor que atua no ensino superior
tem a função de fornecer aos alunos novos saberes, categorizando e organizando de
tal forma que este possa se transformar em um profissional de talento no mercado,
assim contribuindo para a formação do caráter intelectual e acadêmico do aluno.
Cabe ainda, segundo os autores o desenvolvimento do caráter dos acadêmicos que
impacta diretamente na formação de sua cidadania.
Para Vasconcelos (2000) ao desenvolver as competências
pedagógicas, o profissional de ensino adquire o comprometimento com ato de ensinar
e com a educação do aluno. A capacidade pedagógica do professor universitário
representará em sua carreira o diferencial na qualidade do seu trabalho, à medida que
por meio das competências desempenha seu trabalho com versatilidade no intuito de
tornar os alunos atuantes e socialmente responsáveis.
Para Aquino (1998) a ação docente deve ser direcionada de tal forma
a utilizar o espaço de ensino como um local de transformação dos conhecimentos. O
professor tem o papel de impulsionar os discentes a adquirirem novos conhecimentos,
colaborando para que estes compreendam e descubram o mundo no qual estão
inseridos. Neste sentido, é necessário que as aulas sejam ricas de novos saberes,
que façam com que os alunos se interessem, se envolvam e apresentem
comportamentos desejáveis em sala de aula.
Oliveira (2009) destaca que o professor deve ter ciência da
responsabilidade do seu papel enquanto docente, pois a função traz em seu bojo
responsabilidades em relação a solidez dos conteúdos a serem disseminados, as
metodologias de ensino aplicadas em sala de aula devem ser adequadas e
diversificadas no intuito de trazer uma maior dinamicidade à aula. Outra competência
de suma importância está relacionada à gestão dos conflitos interpessoais e da sua
capacidade de motivar os alunos por meio do aporte dos conteúdos técnicos e
científicos.
53
2.2 – A questão da gestão dos conflitos: entre a disciplina, indisciplina e
autoridade docente
A capacidade de refletir, criticar e intervir nos ambientes educativos,
segundo Vasconcellos (2003) se faz necessário na ação docente para que ocorram
mudanças nos mecanismos educacionais. Neste sentido, Caritas e Fernandes (1997)
sugere que a intervenção para resolução do conflito professor-aluno seja conjunta e
obtida por meio de consenso entre as partes envolvidas.
Parrot Dayan (2008), apresenta dois tipos de intervenções plausíveis:
a primeira está relaciona ao contexto institucional, ou seja, às regras preestabelecidas
pela instituição de ensino. A prática pedagógica de intervir no contexto é primordial
para que a equipe pedagógica e professores discutam e encontrem formas de reduzir
ou solucionar os problemas de indisciplina em sala de aula. A segunda está
relacionada ao aluno e a sua conduta em sala de aula, sendo o foco motivar o aluno
e não tolher sua capacidade de argumentação e expressão. Se faz necessário
desenvolver no aluno competências intelectuais e comportamento sociais. As
definições de regras claras para uma boa convivência em grupo ajudarão os
acadêmicos a tomarem consciência das implicações pessoais e sociais dos seus atos
no espaço escolar e na sociedade na qual está inserido. (PARRAT DAYAN, 2008, p.
85).
Neste sentido Snyders (1978) ressalta que o professor tem o papel de
conduzir os alunos por meio dá autoridade que lhe é atribuída vai muito além da
confirmação de erros e acertos dos alunos e as assertivas respostas aos acadêmicos.
Freire (1989) referenda que à autoridade na relação professor e aluno
e assertiva é necessária, no entanto deve ocorrer para que os objetivos, aquisição dos
conhecimentos, sejam alcançados. Assim o professor deve conduzir o aluno para que
estes adquiram hábitos disciplinares adequando seus comportamentos às regras pré-
estabelecidas, quer seja pela instituição ou somente pelo professor. À autoridade do
professor não pode ser percebida como tolhimento da autonomia do acadêmico, muito
menos com a perda de liberdade para não ser confundida com autoritarismo.
Entretanto, à autoridade exige prática de liderança, e está se
apresenta com uma das grandes dificuldades entre os profissionais de ensino. Se faz
54
necessário dimensionar o limiar entre autoridade e autoritarismo nas relações com os
acadêmicos para se alcançar o objetivo educacionais. Furlani (1997) relaciona à
autoridade a forma de controle e que estes apresentam três configurações: primeira
legitimada pelo cargo; segunda fruto das relações estabelecidas entre professores e
aluno e a terceira liberal onde o professor dá autonomia para os alunos decidirem às
regras que nortearam o processo de ensino-aprendizagem.
A primeira em que à autoridade está vinculada a posição hierárquica,
ou seja, o professor é autoridade máxima em sala de aula devido a posição que ocupa
e não à competência deste profissional. As normas e regulamento são elaborados por
superiores que muitas vezes desconhecem o contexto escolar e de forma impositivas.
O professor no uso do poder legitimo, do cargo, apresenta-se como uma pessoa
detentora de todo o saber, controladora e não aceita questionamentos. Do aluno
espera obediência, submissão numa relação de total dependência. Neste estilo de
autoridade pautada no medo, não existe diálogo, o temor evita a afrontamento e a
construção de críticas.
Para Garcia (1999) autoridade legitimada no cargo pode proporcionar
um comportamento indisciplinado no aluno. A indisciplina do aluno pode representa
resistência à metodologia utilizada pelo professor tradicionalista e aos conteúdos
descontextualizados com a realidade do aluno. Para Amado (1999, p.68) é preciso
que o professor reflita e inclua entre as causas as práticas utilizadas no processo de
ensino-aprendizagem, pois estão ligadas ao sistema educacional e precisam ser
analisadas com enfoque nas práticas pedagógicas utilizadas pelo professor.
Lobrot (1977) referenda que à autoridade está diretamente
relacionada com imposição, indução de comportamento para se conseguir atingir os
objetivos.
Um trabalho de Furlani (1997) detectou queixas dos professores que
atribuíram comportamentos de confronto ou contestação dá autoridade a alunos de
condições econômicas superiores à do docente. Isso evidencia, o quanto
preconceitos relacionados à classe socioeconômica influenciam no respeito do aluno
pelo professor. Os alunos podem não aceitar conhecimentos transmitidos por um
professor que consideram “inferiores” à sua classe. Assim, desprezam qualquer
55
autoridade que o professor possa exercer.
Segundo Foucault (2012) o poder se apresenta em todas os locais,
pois ele advém de todas as partes. Nas relações entre as pessoas está implícito ou
explicito o poder, uma vez que ele ocorre na existência de uma relação de
dependência e exercido sobre pessoas livres, ao contrário se configura violência.
Neste sentido, ninguém detém o poder e sim se vive relações de poder, e no contexto
escolar não é diferente professores e alunos vivenciam relações de poder.
Todavia Amado e Freire (2009) salientam a dificuldade do
estabelecimento de normas e regras consensuais, frequentemente elas são vistas
pelos alunos como descontextualizadas, inoportunas, descabidas e impraticáveis.
A segunda forma de exercer autoridade, segundo Furlani (1997) está
pautada no relacionamento entre professor e aluno. Neste contexto à autoridade é
constituída por meio do consenso entre professor e aluno. O poder é estabelecido
por meio da competência, quer seja pelo aluno ou pelo professor. O aluno é valorizado
por suas atitudes, responsabilidades, questionamentos.
À autoridade se sustenta da relação professor-aluno, onde a
construção ocorre pelas partes envolvidas, aluno e professor. Neste processo são
avaliados a capacidade do aluno e professor para que se efetive a relação de poder.
À autoridade ocorre sem tolir a liberdade de expressão e os sentimentos do
acadêmico, mesmo com a presença das normas. Valoriza-se o conhecimento de
ambas as partes, na qual o aluno é ressaltado por comportamento adequados como,
por exemplo, cumprir prazos, participar nas aulas se colocando de forma assertiva. A
responsabilidade é concedida ao acadêmico tornando-o mais autônomo e
independente das ações do docente. Neste contexto, onde à autoridade está pautada
nas relações entre o professor e aluno, estreitam-se os relacionamentos, melhora o
diálogo, dá abertura para questionamentos, sugestões de regras com base no
consenso e também de novas metodologias de ensino.
Antão (1993) diz que o bom relacionamento entre o professor e aluno
faz com que estes aceitem com maior facilidade as exigências e responsabilidades
requeridas em sala de aula. Assim à competência do professor no processo de ensino-
aprendizagem não está vinculada somente aos conhecimentos científicos, mas
56
também as relações interpessoais.
E terceira forma de exercer autoridade, para Furlani (1997) é à
autoridade não sustentada, ou seja, onde o professor abandona o exercício do poder.
Neste estilo, o professor se exime de qualquer responsabilidade, permite que os
acadêmicos definam às regras de forma autônoma, sem orientação. O professor
atribui toda a responsabilidade pela indisciplina aos alunos, não corrige as posturas
inadequadas e apresenta pouca importância ao processo de aprendizagem.
Entretanto, ainda segundo o autor, ao abandonar à autoridade
inerente ao professor em sala de aula não quer dizer que estes deixaram os costumes,
preconceitos, leis, crenças e assim continua exercendo poder sobre os participantes,
porém o professor não os assume. A disciplina sob o enfoque dá autoridade não se
sustenta pelo professor, o papel disciplinador é disputado pelos acadêmicos. Neste
caso os alunos é que definem às regras disciplinares em sala de aula. A relação entre
professor e aluno é inexistente, demonstra assim o total descaso com o processo de
ensino-aprendizagem.
Contudo, Vasconcellos (2009) ressalta que a educação se efetiva por
meio da autoridade, o discente necessita de direcionamento para construção de sua
personalidade. Para Antunes (2005) seguir às regras não tem relação com submissão
e sim com autocontrole.
Neste sentido, Morais (2001) salienta que à autoridade seja
estabelecida em sala de aula por meio da definição das regras de forma participativas
e não impositivas. O estabelecimento das normas e regras norteadoras do espaço
escolar sem a imposição tem relação direta com a definição de comportamentos que
são adequados ou inadequados para o grupo, à medida que estes participam do
processo decisório adquirem compromisso e senso de responsabilidade. Esta
corresponsabilidade motiva os alunos a cumprirem o que foi determinado pelas partes.
Oliveira (2005) coaduna com Morais a medida que expõe que as
normas e regras devem ser estabelecidas com o consentimento das partes
envolvidas. Fazem-se necessários que as partes interessadas compreendam a
finalidade das regras e assim colaboram para que o objetivo seja alcançado de forma
satisfatória a todos os envolvidos.
57
Assim, a medida que o professor do ensino superior define às regras
em consenso com os acadêmicos está transferindo parte do poder a ele atribuído aos
alunos. Para Gadotti (1996) a tomada de decisão democrática está pautada nos
direitos e deveres das partes envolvidas, professores e alunos.
À medida que a regras e normas sejam definidas de forma conjunta,
de acordo com Tognetta e Vinha (2007) estas são compreendidas pelos discentes
como algo necessário para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem
e não como arbitrariedade. Salientam ainda que a definição das regras com base na
necessidade dos envolvidos compromete a cada um e assim se constitui
responsabilidade de todos.
Machado (2007) salienta que para que ocorra a gestão democrática
se faz necessário atenta-se a duas dimensões. A primeira está relacionada a
definição dos atores e como estes irão participar no processo decisório. A segunda e
não menos importante está relacionada ao estabelecimento dos índices de qualidade
no processo de ensino-aprendizagem, das formas de como melhorar os
relacionamentos interpessoais, os quais representam indicadores de qualidade
social.
Para Durkheim (1978), no espaço de ensino se faz necessário
constituir regras, pois elas são indispensáveis para estabelecer a ética, cabe ao
professor impô-las, por meio de punições. Nesta concepção, às regras são
entendidas como autoridade utilizada com base no poder legítimo do cargo para fazer
com que os alunos façam o que for solicitado em sala de aula.
Contrapondo esta ideia, Camacho (2001) ressalta que o mundo vem
sofrendo uma alteração nos valores e normas sociais, de tal modo que a conceito de
submissão e obediência do aluno não se faz presente em sala de aula e que as
instituições de ensino não estão preparadas para receber estes novos perfis de alunos
com outras demandas e valores.
Certeau (2012) sustenta que os alunos não aceitam de forma passiva
o que é estabelecido como normas a serem seguidas. E ainda que as instituições de
ensino não percebam os acadêmicos como pessoas de poder e assim não dá a estas
condições de se potencializarem enquanto acadêmicos.
58
2.3 - A Questão da Indisciplina no Ensino Superior
O docente contemporâneo no exercício de suas atividades encontra
situações que vão além das competências formativas para atuação docente. A
capacidade de aprendizagem, motivação para aquisição de novos conhecimentos e
habilidade e cultura do estudo contínuo, não se bastam para esclarecer os motivos do
sucesso ou insucesso no processo de ensino-aprendizagem (GIL, 2006). A
indisciplina em sala de aula é apontada pelos professores como um dos principais
fatores que contribuem para o insucesso no processo de aprendizagem.
Neri (1992) aponta que o nível de motivação para o processo de
aprendizagem constitui-se um dos primeiros caminhos para prevenção de situações
de indisciplina em sala de aula. À medida que estes se interessem pelos conteúdos e
participem ativamente das discussões, das atividades, ouvindo os diferentes pontos
de vistas dos colegas e professores, defendendo seu ponto de vista ele estará
adquirindo novo saberes. A participação ativa do acadêmico demonstra seu nível de
motivação, produto de uma aprendizagem que lhe trouxe significado. A disciplina é
percebida por muitos professores evocada ao silêncio em sala de aula, submissão.
No conceito apontado por Neri, a disciplina está relacionada à participação ativa. Para
Aquino (1996) disciplina se transformou em ação de oposição, onde os alunos são
questionadores e de inconformismo com o contexto social a qual estão inseridos,
características essenciais do trabalho humano para o aprendizado.
O perfil dos alunos do ensino superior é específico deste grupo. Para
Zabalza (2004) os discentes são compostos por pessoas adultas, segundo a lei, com
capacidade de decisão, ou seja, sujeitos autônomos. Realidade que diverge do
contexto atual, uma vez que os jovens estão ingressando nas universidades,
apresentam alto grau de imaturidade, com dificuldades para se inserir no ensino
superior que requer do aluno um nível de maior comprometimento e responsabilidade.
Haja vista que, segundo Oliveira e Freitas (2008) os alunos ingressam
nas universidades sem embasamento, apresentam baixa capacidade de reflexão, com
dificuldades de linguagem e escrita, tanto da língua materna como estrangeira.
Aponta ainda a ausência de bagagem sociocultural, fator imprescindível e vinculado
aos campos das ciências, das humanidades, da cultura e das artes; habilidades para
59
o convívio social; hábitos de estudo; respeito ao outro; compromisso, disciplina e
autonomia (OLIVEIRA E FREITAS, 2008).
Rojas (1996) corrobora com os apontamentos de Oliveira e Freitas,
salienta que o ingresso dos alunos é precoce e estes são frios, sem entusiasmo, com
ausência de compromisso, apresentam um pessimismo e ceticismo diante das
situações encontradas. São ecléticos em suas condutas e opiniões, relativista a
medida que repudiam verdades ou valores absolutos. O modo de vida é orientado
pela crescente disposição ao consumo e pelo hedonismo, busca egoísta pelo prazer
efêmero e súbito. São também permissivos, não se posicionam frente aos vários
problemas existentes no contexto escolar.
Bauman (2001) apresenta como uma das características dos alunos,
o da sociedade pós-moderna, o individualismo, o consumismo, são volúveis em suas
relações e posicionamentos, estão em constante mudança e buscam a satisfação
momentânea em suas relações. Os relacionamentos são voláteis e que são
destinadas a serem consumidas como tantas outras coisas.
Vivaldi (2013) coaduna com a afirmação de Bauman, reafirma que as
mudanças sociais trouxeram em seu bojo transformações na cultura dos indivíduos e
estas se fazem presente no contexto das instituições de ensino que são compostas
por uma geração balizada pelo individualismo e imediatismo. São acadêmicos que,
espero querem tudo para ontem, não conseguem lidar com adiamento ou espera em
demasia, apresentam necessidade de informações imediatas. Neste contexto, Zechi
(2008) salienta que estes alunos apresentam pouca ou nenhuma civilidade.
O autor salienta que apesar destas características não contribuírem
para o processo de aprendizagem, estes alunos, estão inseridos em tempos de alta
tecnologia, onde a informação está disponível a todos, no entanto estes apresentam
insignificante formação. Os estudos são pragmáticos, servem para resolução dos
problemas imediatos, ou seja, objetivo é conseguir o diploma universitário e não se
capacitar para ser um profissional com diferencial no mercado de trabalho. Os
interesses são superficiais, as considerações são triviais, não apresentam colocações
diferenciadas e que agregam valor as discussões, são frívolas.
Aquino (1996) aponta que o acesso a fontes externas à instituição de
60
ensino afeta diretamente à autoridade do professor em sala de aula. Salienta que as
informações não podem ser somente as conceituais. Se o professor se limitar a
repassar as informações como se fosse uma enciclopédia, a internet será uma
concorrente, no entanto o diferencial está no sentido que o professor dá a informações
que está transmitindo ao aluno.
E sabido, que várias são as causas que contribuem para os problemas
de indisciplina em sala de aula, como fatores sociais, culturais, institucionais e do
comportamento dos alunos e professores. A falta de maturidade dos alunos que
ingressam cada vez mais cedo no ensino superior e contingente em sala de aula
constituem fatores que colaboram para a incidência da indisciplina em sala de aula.
Segundo Pimenta e Anastasiou (2005) as salas de aulas das séries inicias do ensino
superior são compostas por uma quantidade numerosa de jovens de dezessete anos
em média. Assim, sem se aperceber o professor os trata como adultos e espera que
tenha maturidade e disposição para estudar, interagir, se desenvolver e assim utiliza
metodologias inadequadas. Desta forma, a indisciplina pode advir das práticas
pedagógicas que não atendem ao perfil do aluno que ingressa no ensino superior.
Beraldo, Bridi e Lima (2001) comentam que o professor do Ensino
Superior acredita estar isento de problemas de indisciplina em sala de aula por estar
lidando com adultos, autônomos e que os alunos escolhem o curso por aptidão e
interesse. Entretanto, as turmas no Ensino Superior são compostas na sua grande
maioria por jovens de baixa faixa etária, nível de conhecimento variado e baixo
interesse e pouca ou nenhuma autonomia. Pimenta e Anastasiou (2005) dizem que
em alguns casos o aluno apresenta interesse e pouca autonomia. Em outros o aluno
é esforçado, mas apresenta pouco conhecimento básico para alavancar nos estudos.
Neste sentido os alunos não se aproximam dos discentes idealizados pelos
professores universitários e salienta a importância do professor realizar um
diagnóstico dos alunos no intuito de estabelecer estratégias de ação para sua prática.
Para Villibor et al. (2015) a falta de percepção pelo professor que o
aluno traz para o espaço de aprendizagem, sua experiência de vida, seus medos,
suas expectativas e sua cultura social faz com que ele tenha dificuldades para
controlar problemas indisciplinares. Desta maneira se faz necessário que o professor
que atua no ensino superior, sempre que iniciar uma nova turma realize um
61
diagnóstico prévio das aspirações, capacidade de compreensão e consiga equilibrar
as relações de poder. O autor aponta que a saída para combater comportamentos de
indisciplina no ensino superior está nas mãos do professor. É preciso que este
reconheça que o discente tem características próprias e goza de autonomia para
gerenciar seu aprendizado, no entanto se faz necessário motivá-lo na busca novos
conhecimentos de forma democrática e consciente.
Segundo Oliveira e Freitas (2008) os alunos ingressam no ensino
superior, na maioria das vezes, sem pressupostos básicos de disciplina e cabe ao
professor prepará-los para o mercado de trabalho que se apresenta extremamente
competitivo e com altos índices de desemprego. Esta é uma difícil tarefa que causa
desgaste emocional no professor pelo aumento da indisciplina em sala de aula e a
falta de comportamento dos alunos.
Anastasiou (2001) constatou por meio de um estudo realizado em
instituição de ensino superior que entre os principais problemas enfrentados pelos
professores universitários está à ausência de interesse nos conteúdos abordados,
falta de embasamento para cursar o ensino superior e ausência de condições de
estudo. A pesquisa aponta que os acadêmicos são pacíficos, individualistas e não
apresentam comprometimento com os estudos, os interesses se resumem a obtenção
da nota para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma, neste contexto
apresentam tal falta de compromisso e comportamentos de indisciplina em sala de
aula. A insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na
universidade desencadeia a falta de interesse e consequentemente ações de
indisciplina entre elas: falta de participação, desmotivação, descompromisso com o
estudo são interpretados como comportamentos de indisciplina.
Para Jusviack (2009) a indisciplina apresenta-se também por meio
das conversas paralelas no decorrer das explicações do professor, desrespeitar o
professor ao respondê-lo com grosserias, discutir com os colegas da sala, bagunça,
enfrentar o professor, bem como não realizar as atividades solicitada pelo professor
são comportamentos dos alunos que poder ser entendidos como indisciplinares.
Segundo Anastasiou (2001) é possível inferir que uma parcela das
expressões de indisciplina na Educação Superior é advinda da Educação Básica e
62
outra parcela advém do contexto peculiar ao ensino superior. Neste contexto,
apresentam se comportamentos inadequados como conversas paralelas, piadas
inapropriadas, uso do celular durante as explicações, ausências injustificadas, entre
outras.
A disciplina ou indisciplina não ocorre de forma linear e não estão
relacionadas exclusivamente a comportamentos mecânico pelo caráter do aluno.
Muitas vezes comportamentos indisciplinares são demonstrações de insatisfações do
aluno produzidas no ambiente de aprendizagem. É a medida que ela se apresenta em
sala de aula, o professor pode entender que o aluno ou o grupo de alunos estão
desmotivados. (BOARINI, 2013). Os comportamentos de indisciplina no contexto
escolar implicam de forma negativa nas relações e dificultam o processo de
socialização entre professores e alunos e consequentemente afetam o desempenho
do aluno, além do desgaste ao professor pelo tempo dispendido para manter e ou
solucionar os maus comportamentos em sala de aula. As interrupções constantes e
a dificuldade em cumprir os conteúdos programados acabam afetando a saúde do
professor pela tensão que se faz presente em cada aula e a dificuldade para
solucionar o problema. (OLIVEIRA, 2009). Neste sentido, o professor universitário
deve apresentar as competências necessárias para estabelecer a ordem e um
ambiente harmonioso em sala de aula, sem, entretanto, proporcionar discussões que
levem o acadêmico a desenvolver as competências profissionais necessárias ao
discente a ser formado. Desta forma, cabe ao professor a resolução de conflitos e ou
problemas comportamentais que emergem no espaço de aprendizagem.
No entanto, Siqueira (2003) salienta a importância da cordialidade,
empatia, respeito, confiança e afetividade entre o professor e seu aluno para o bom
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, por outro lado, ressalta que
os docentes não podem deixar que este sentimento lhe conduzisse a posturas
inadequadas frente aos acadêmicos, como por exemplo, permitir que um aluno que
tenha faltado as aula, sem uma justificativa plausível entregue as atividades em outra
data, ou ainda melhorar a nota de um ano que foi mal na prova somente para que este
não fique de exame, ou seja, o professor na posição de formador de opiniões deve se
pautar pelo princípio da justiça e não pela amizade e empatia.
Para Masseto (1998), o êxito no processo de aprendizagem está
63
diretamente ligado à sua estratégia metodológica. Aulas com dinamicidade, com uma
linguagem clara e objetiva em que facilite o entendimento do aluno, os temas devem
ser contextualizados com exemplos da atualidade e que fazem parte do cotidiano do
aluno, onde a exposição seja realizada na sua grande maioria utilizando a explanação
verbal e o quadro negro mais como suporte no registro dos tópicos principais e
algumas informações a serem salientadas. Segundo a autora os alunos apontam que
as aulas expositivas dinâmicas os motivam e despertam o interesse pela disciplina e
o aprendizado, desta forma os professores enquanto fonte de inspiração constituem
o caminho de transformação do contexto de sala de aula e conseguinte da
transformação social.
Siqueira (2003) salienta que ao contrário de práticas motivacionais
encontramos nos espaços de aprendizagem professores que gritam com os alunos,
ameaçam dizendo que a prova será em breve e eles não conseguirão realizá-la, que
o conteúdo será registrado como ministrado, ou ainda com cunho punitivo passam
exercícios valendo nota para serem entregues no final da aula. Outros professores
ainda ignoram os comportamentos de indisciplina e ministram todo o conteúdo
planejado para aquela aula, demonstrando indiferença quanto a se os alunos estão
compreendendo ou os motivos que os levam a demonstrarem ausência de interesse
e indisciplina na aula.
O autoritarismo é outra postura adotada pelos professores que na
maioria das vezes assumem por acreditar que agindo desta forma irão conquistar o
respeito dos alunos, no entanto ela proporciona um distanciamento entre eles. A
postura autoritária intimida os acadêmicos a voltarem sua atenção ao professor e
ministra suas aulas sem envolvimento, e assim não se importa se os alunos estão
acompanhando seu raciocínio ou não. Na maioria das vezes a atenção é direcionada
a um grupo pequeno de alunos, normalmente sentado nas primeiras carteiras e que
demonstram estar atentos aos conteúdos ministrados na aula e quando um dos alunos
que não estão inclusos neste grupo e que supostamente na percepção do professor
não estão interessados em sua aula fazem uma pergunta, são ignorados ou recebem
uma má resposta como “não estava desinteressado porque quer saber agora?”
(SIQUEIRA, 2003).
Para Libaneo (1994) os enfrentamentos em sala de aula não
64
contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor utiliza como
estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula e ou adicionar-lhe
trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno adquira respeito pelo
professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é conquistado por meio do
diálogo e não com ações impositivas e que o aluno entenda como punição pelas ações
indisciplinares.
O papel do professor vai muito além da transmissão de novo saber, a
capacidade de ouvir, interagir com os alunos. É dever do professor proporcionar
condições para que o acadêmico aprenda a expressar suas opiniões e não a reprimí-
las com atitudes autoritárias. O trabalho docente é uma via de mão dupla, e as
respostas e posicionamento do aluno são demonstrações positivas ou negativas a
práxis do professor, a identificação com o conteúdo ou as dificuldades que estão
encontrando para assimilar as informações (LIBANEO, 1994).
Para Isaías e Bolzan (2007) salientam a importância das interações
entre professores e alunos em suas relações no espaço escolar.
[...] o professor, à medida que ensina, aprende com seus alunos, denotando espírito de abertura e humildade ao não adotar uma posição autoritária, ao mesmo tempo em que está ciente de sua responsabilidade de conduzir o processo formativo dos alunos. (p. 175)
Assim a interação entre professor e alunos no processo de ensino
proporciona alterações nos envolvidos. Os agentes se modificam a medida que um
contribui para o desenvolvimento do outro. Vasconcelos (2006) reforça que no ensino
superior uma boa relação entre professor e aluno é essencial para o desenvolvimento
do trabalho docente. No entanto, as interações devem facilitar o diálogo, mas não se
tornarem íntimas a ponto de descaracterizar o papel do professor enquanto autoridade
em sala de aula.
A relação com o aluno é de suma importância para a efetivação do
trabalho docente. Nóvoa (2002) aponta que, diferente de outras profissões, o trabalho
docente depende da coparticipação do aluno, pois só é possível ensinar a quem quer
aprender. A formação dos alunos na graduação predispõe que este seja capacitado a
se tornarem profissionais autônomos e que para isto precisam ser motivados a
65
aprendizagem continua, assim se faz necessário que o processo de aprendizagem
seja baseado por confiança, predisposição e capacidade de adquirir novos
conhecimentos. Desta forma, se faz necessário investir na aprendizagem e
desenvolvimento de uma relação afetiva entre docente e discente. Os reflexos desta
relação serão evidenciados na identidade profissional do acadêmico que pode e deve,
no decorrer do curso, desenvolver disciplina para o exercício de suas atividades
enquanto futuros profissionais.
Vasconcelos (2006) detectou em pesquisa que existem semelhanças
e diferenças no entendimento dos alunos e professor sobre o que vem a ser
autoridade do professor. Para os professores suas atribuições enquanto docente lhe
confere à autoridade, mas no entendimento dos alunos a função de professor lhe
legitima à autoridade, no entanto se faz necessário que este assuma postura que a
legitime frente aos alunos. A ausência de legitimação desencadeia comportamentos
indisciplinares. E para o Vasconcelos à autoridade do professor se efetiva por meio
do diálogo e de posturas que demonstrem sua responsabilidade com o processo de
ensino-aprendizagem.
Para Torres (2006) a ausência de diálogo entre os agentes do
processo de ensino-aprendizagem é expressa como ações indisciplinares pelos
professores, entre elas, a redução do horário do aluno em sala de aula, chega
atrasado e sai mais cedo, e ainda entra e sai da sala no decorrer da aula, a agitação
e conversas paralelas e produzem o mínimo necessário para conseguir a média de
aprovação.
É muito importante que o professor tenha um olhar atento às questões
da indisciplina em sala de aula, pois ela impacta negativamente no desenvolvimento
da aula. Para Oliveira (2008) a indisciplina altera o andamento da aula, interfere na
programação do conteúdo a ser ministrado e ainda impede ou dificulta o trabalho
pedagógico do professor.
O aluno que se apresenta indiferente e sem comprometimento com o
estudo, o faz como forma de mostrar sua insatisfação às regras e as normas
estabelecidas em sala de aula, e estas manifestações são consideradas uma forma
de indisciplina pelos agentes do processo. Assim pode-se afirmar que são inúmeros
66
os comportamentos de indisciplina percebidos pelos professores universitários. No
entanto, de acordo com Damke; Gonçalves e Silva (2008) a indisciplina está
diretamente relacionada às práticas do professor em sala de aula, a sua formação
pedagógica, a experiência enquanto professor no ensino superior e principalmente a
sua postura frente a universidade e as questões sociais. Desta forma, ações do aluno
no contexto escolar podem ou não serem entendidas como indisciplina. Estas estão
diretamente relacionadas a percepção e a maneira como o docente entende a
indisciplina.
Segundo Vasconcelos (2006) não se limita a essa única perspectiva
como fonte de autoridade do professor universitário e também aos valores que o grupo
institui, à competência didática e relacional do professor para direcionar os alunos em
busca do principal objetivo que é a maximização da aprendizagem.
E ainda, o professor universitário deve estar constantemente se
capacitando para conseguir dimensionar a sua autoridade de forma moderada e
imparcial. Siqueira (2003) afirma que a disciplina em sala de aula está diretamente
relacionada ao estilo de prática docente, ou seja, à autoridade conquistada por meio
de sua postura profissional, comprometimento com moral e as metodologias
utilizadas. Siqueira (2003) reforça dizendo que:
Os professores que melhor conseguem este controle são aqueles que dominam o conteúdo que ensinam; não têm receio de dizer que não conhecem a resposta, mas que a irão pesquisar e depois a trarão (e cumprem a promessa); adaptam seus métodos e procedimentos de ensino em função da necessidade de sua clientela; possuem tato em lidar com as diferenças individuais em sala de aula; estão abertos ao diálogo; e demonstram dedicação profissional, senso de justiça, caráter, competência e hábitos pedagógico-
didáticos necessários à organização do processo de ensino (SIQUEIRA, 2003, p.123).
Assim pode inferir que à competência do professor tem relação com
sua capacidade de reflexão sobre os métodos de ensino adotados no espaço de
aprendizagem, a postura que adota frente aos alunos e sua predisposição a
relampejar suas metodologias, a fim de instigar e favorecer a aprendizagem e a
motivação de seus alunos não como seres apáticos e sim como agentes que
participam do processo de construção de novos conhecimentos e da realidade a qual
está inserido. O conhecimento deve servir aos propósitos de transformação do aluno
67
em cidadão e da sociedade na qual está inserido e assim o professor universitário
deve ser um facilitador no processo de ensino-aprendizagem, aquele que proporciona
e provoca o desejo de aprender e de buscar constantemente novos saberes.
(SIQUEIRA, 2003).
Neste sentido Anastasiou e Alves (2004) sinalizam a necessidade da
mudança metodologias no ensino superior, assistir aula deve ser substituído por fazer
aulas, onde a construção do conhecimento se efetive por meio da participação dos
alunos como massas pensantes e que a medida que estas operações mentais sejam
incentivadas os alunos se tornem mais críticos e participativos. Para as autoras a
participação ativa dos discentes é essencial para ampliar o seu desenvolvimento
cognitivo e principalmente por proporcionar nos alunos o sentimento de pertencimento
ao grupo da sala de aula, o que tem como consequência uma facilitação do processo
de aprendizagem.
Para Pimenta e Anastasiou (2005) o que promove o interesse dos
alunos pelas disciplinas é a aproximação da teoria a prática. Assim a experiência do
professor enquanto profissional que vivencia dos conteúdos abordados em sala de
aula constitui um dos elementos de suma importância na construção do
conhecimento. Segundo Aquino (1996), os discentes têm dificuldade de relacionar os
conteúdos ministrados em sala de aula com sua futura profissão e essa dissociação
proporciona a ausência de interesse, conduzem os alunos a manifestações
desrespeitosas para com seus professores, os quais trazem impactos negativos no
rendimento acadêmico.
Como vimos, são muitos os desafios e implicações da indisciplina nas
intuições de ensino, em específico nas universidades, onde pressupõe que o aluno já
tenha autonomia de escolha e que esteja preocupado em absorver conhecimentos
que lhe possibilitarão transformar-se em um profissional de talento no mercado de
trabalho. No entanto, de acordo com Garcia (2007) é preciso conhecer a dinâmica
destes problemas com maior profundidade e principalmente rever o modo como os
professores vem percebendo e enfrentando a indisciplina no ensino superior. É
preciso conceber novas formas de combater as questões de indisciplina em sala de
aula e assim se faz necessário uma mudança de paradigma em torno do assunto.
68
E para isto segundo Torres (2008) é preciso que os professores
reflitam sobre suas práticas no intuito de reduzir suas angústias e apontar diretrizes
que possibilitem encontrar uma solução para o problema.
Desta forma entendemos que o professor do ensino superior e as
instituições têm forte influência no processo de disciplina e indisciplina em sala de aula
e que está se apresenta como um grande desafio pelas implicações para o trabalho
docente, sendo que é preciso conhecer com maior profundidade como este problema
ocorre no ensino superior e principalmente refletir e revisar as formas como estamos
concebendo e interagindo com esta questão nas universidades.
Nesse sentido, torna-se necessário compreender esse processo por
meio de uma pesquisa que tem como objetivo analisar como os docentes e discentes
percebem a indisciplina no ensino superior e seus impactos no trabalho docente.
69
3 - A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA E SEUS IMPACTOS NO
TRABALHO DOCENTE
A terceira seção tem como objetivo analisar os resultados de uma
pesquisa empírica, por meio de um estudo de caso sobre como os docentes e
discentes percebem a indisciplina no ensino superior e seus impactos no trabalho do
professor. A pesquisa envolve professores e alunos do primeiro ao oitavo semestre
do Curso de Administração de uma universidade privada do norte do Paraná.
As questões metodológicas serão apresentadas na primeira parte
desta seção, onde serão expostas a delimitação da pesquisa, os métodos e as
técnicas utilizados para a coleta de dados. Na sequência, os dados qualitativos e
quantitativo serão apresentados, analisados e subsidiarão as respostas ao problema
de pesquisa: os impactos da indisciplina no trabalho do professor sob a ótica dos
professores e alunos universitários. A percepção dos alunos será apresentada num
primeiro momento e posteriormente a dos professores do ensino superior. Após a
apresentação e discussão dos dados serão realizadas as considerações finais.
3.1 - Método e técnicas de Pesquisa
Os procedimentos metodológicos são de suma importância para a
realização de uma pesquisa. A medida que estabelece um bom método de
investigação, o pesquisador minimiza os problemas, ainda que estes não garantam
segurança absoluta no transcorrer da pesquisa. Assim, iniciamos nosso estudo com
o momento exploratório, por meio de um levantamento bibliográfico em torno do tema
indisciplina e seus reflexos no trabalho docente, os quais serviram de apoio para
construção do embasamento teórico das seções 1 e 2.
Ao realizar o levantamento bibliográfico encontramos vários estudos
relevantes sobre indisciplina. No entanto, tais pesquisas são voltadas à Educação
Básica. A dificuldade para obtermos estudos sobre a questão da indisciplina no
ensino superior, e a ausência de investigação específica sobre a questão da
indisciplina e os impactos desta no trabalho do professor universitário enfatizam a
70
importância deste estudo.
O procedimento selecionado para realização do estudo foi a pesquisa
de campo. Para Gil (1999) este procedimento permite a coleta de dados de um
determinado grupo de indivíduos no intuito de aprofundar as questões que norteiam
a pesquisa. Assim, para atingir o objetivo proposto considerou-se a pesquisa de
campo o procedimento mais apropriado.
A pesquisa foi realizada por meio de um estudo de caso, em uma
universidade privada no norte do Paraná, que buscou como sujeitos os alunos do
cursos de graduação em Administração. Utilizou-se como abordagem a pesquisa
qualitativa e quantitativa. Para Malhotra (2001) apesar de constituírem-se dois tipos
de pesquisa distintas no que tange a profundidade dos dados coletados e analisados,
um não se opõem ao outro e sim se complementam. De forma sucinta, a pesquisa
quantitativa tem como finalidade quantificar os dados e posteriormente analisa-los e
a quantitativa tem enfoque buscar responder as causas.
Neste estudo a pesquisa quantitativa foi utilizada para traçar o perfil
do aluno e sua percepção da indisciplina em sala de aula. Já os impactos da
indisciplina no trabalho docente foram pautados em dados qualitativos.
Desta forma, a pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa,
acomodou-se à finalidade da pesquisa, uma vez que os dados qualitativos possuem
benefícios em detrimento dos dados quantitativos por possuir alusões menos
limitativas e maior possibilidade das informações subjetivas se manifestarem no
decorrer da pesquisa, e esta, adicionada à pesquisa quantitativa, oportuniza
esclarecer de forma mais adequada a realidade (PEREIRA, 2001).
Para Popper (1972) os estudos de campo quantitativos, norteiam por
padrão de pesquisa onde o pesquisador parte de dados ou informações que podem
ser convertidas em números que possibilitem verificar a ocorrência ou não das
consequências. Richardson (1989) aponta que o método quantitativo é
frequentemente aplicado em que descrevem os fenômenos no intuito de descobrir e
classificar a relação ou não entre as variáveis.
Já pesquisa de natureza qualitativa, segundo Minayo (2001) tem
71
enfoque em aspectos das relações sociais que não podem ser quantificados, tem
enfoque em responder os significados, motivos, anseios, crenças, valores e atitudes
que envolvem o contexto social, ou seja, buscam respostas nos espaços mais
profundos dos fenômenos os quais não podem ser somente quantificáveis.
Utilizamos como instrumento de coleta de dados a observação e
aplicação de questionários semiestruturados, com questões objetivas e subjetivas
que possibilitam aos respondentes expressarem com liberdade seu ponto de vista.
Para Bogdan e Biklen (1994) a observação é considerada um importante método
de pesquisa à medida que possibilita revelar com profundidade o fenômeno
estudado.
Assim, a partir do momento que definimos nosso objeto de estudo
iniciamos um processo de observação, o qual foi realizado de março a julho de 2016,
onde foi possível observar as questões de indisciplina se fazem presente no ensino
superior. Estas observações foram realizadas durante os atendimentos aos alunos
e professores que relatavam problemas de indisciplina em sala de aula, bem como
nas conversas com os professores em sua respectiva sala.
As observações foram realizadas a partir demeados de março a julho
de 2016. Neste período, foram realizados vários atendimentos a alunos que
apontavam os conflitos existentes em sala de aula advindos de ações de indisciplina
em sala de aula.
3.3.1 – Caminhos da coleta e análise de dados
A pesquisa de campo foi realizada em dois momentos. Primeiro
aplicamos os instrumentos de coleta de dados aos acadêmicos do curso de
graduação em Administração. O universo era composto por 278 alunos devidamente
matriculados do 1ª ao 8º semestre. Deste, apenas 142 alunos responderam o
questionaram, ou seja, 51,08% dos alunos que se encontravam devidamente
matriculados no primeiro semestre de 2016. O instrumento teve como o objetivo
identificar o perfil dos acadêmicos respondentes, a opinião dos alunos quanto as
atitudes dos colegas de sala que ele considera ações de indisciplina, os motivos que
72
desencadeiam os comportamentos de indisciplina em sala de aula, os responsáveis
por manter a disciplina no espaço escolar e sua percepção sobre o quanto a
indisciplina afeta o trabalho do professor.
Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado
(Apêndice A) composto por questões objetivas e subjetivas que, além dos dados
quantitativos, buscou identificar a opinião dos respondentes sobre o objeto em
estudo. A coleta de dados foi realizada no período de maio a agosto de 2016. A
coleta de dados foi programada para ser realizada em um mês, no entanto foi
necessário um trimestre para realização da pesquisa haja vista o pouco envolvimento
dos alunos com a pesquisa.
A pesquisa foi realizada por meio do diretório google drive. A lista de
e-mails atualizados foi disponibilizada pelo setor acadêmico da instituição em estudo,
o que nos possibilitou o envio do link do questionário aos 278 alunos do Curso de
Administração.
No intuito de atingirmos o maior número de respondentes se fez
necessário o envio de três e-mails com cobranças e também utilizamos como
estratégia para conseguir o maior número de sujeitos a abordagem pessoal, quando
fomos até as salas e explicamos a importância da pesquisa na construção do
conhecimento e que a mesma não era obrigatória, no entanto de suma importância
para o resultado do estudo. Nestes momentos também salientamos a importância da
veracidade das respostas e que a pesquisa tinha cunho acadêmico e que os dados
pessoais do aluno seriam resguardados.
Apesar do pouco envolvimento dos discentes em participar do estudo,
conseguimos o retorno de 142 (51,08%) dos alunos matriculados no primeiro
semestre de 2016.
No segundo momento foram realizadas as pesquisas direcionadas
aos professores que ministram disciplinas no Curso de Administração. Os
procedimentos foram semelhantes, a pesquisa foi realizada de agosto a setembro de
2016, o link de acesso ao questionário foi encaminhado via e-mail aos dez
professores do curso de Administração. Apesar de conseguirmos coletar
informações de todo os professores que ministram aulas no curso pôde-se constatar,
73
após a análise, que alguns professores não deram a devida importância aos
instrumentos de coleta de dados e responderam de forma objetiva aos
questionamentos, por exemplo, um dos respondentes quando questionados sobre
qual seu entendimento sobre indisciplina ele respondeu “básico”. Ao identificar tal
subjetividade realizamos, além do questionário, uma entrevista pessoal com alguns
professores no intuito de aprofundar as respostas obtidas por meio do questionário.
Ambos os instrumentos foram elaborados no diretório Google Drive e
os links encaminhados via e-mail para os sujeitos da pesquisa. Neste e-mail,
explicamos os objetivos da pesquisa, a relevância do estudo e a importância das
respostas. À medida que os alunos e ou professores respondiam o instrumento de
coleta de dados as informações, em tempo real, abasteciam uma planilha eletrônica
que facilitou a tabulação e análise dos dados.
Cabe salientar que os instrumentos, antes de serem aplicados, foram
validados por três sujeitos, no intuito de identificar problemas de linguagem e falta de
objetividade nas questões formuladas.
Assim, esta pesquisa oportunizou constatar a incidência do problema
levantado. Importante destacar que na universidade pressupõe-se que atos e ou
ações de indisciplina não mais deveriam existir pelo próprio caráter autônomo dos
alunos e professores. No entanto, pôde-se constatar com a pesquisa que a
indisciplina se faz presente na universidade.
Desta forma, a partir de então, apresentaremos os resultados dos
dados obtidos na pesquisa e sua análise. Primeiramente apresentaremos o olhar dos
discentes sobre a indisciplina para depois nos debruçarmos sobre a visão dos
docentes, além de estabelecer a relação entre esses dois grupos no que diz respeito
a percepção dos sujeitos sobre os impactos da indisciplina no trabalho do professor
universitário.
3.2 - Questão da indisciplina na universidade sob a ótica do discente
Um dos objetivos presentes na pesquisa era compreender a
percepção dos alunos de uma instituição de ensino superior frente à indisciplina no
74
ambiente educacional, assim iniciaremos com uma breve apresentação das
principais características do curso de Administração no intuito de aproximar o leitor
das atividades desenvolvidas pelo aluno no decorrer da graduação e na sequência
apresentar o perfil dos alunos que participaram da pesquisa e posteriormente sua
percepção das questões de indisciplina em sala de aula.
O curso de Administração da universidade em estudo tem a duração
mínima de quatro anos, sendo as disciplinas serializadas do primeiro ao oitavo
semestre. A formação tem caráter generalista, o aluno adquire saberes em diversas
áreas do conhecimento, como: finanças, estatísticas, matemática, psicologia, direito,
contabilidade, gerenciamento de pessoas entre outras. A diversidade de
conhecimentos adquiridos no decorrer do curso oportuniza ao futuro profissional
especializar em diferentes áreas, bem como a atuação em diversas frentes, como,
por exemplo, marketing, finanças, produção, gestão de pessoas e na prestação de
serviço de consultoria.
As disciplinas são oferecidas de três formas: A primeira, são
chamadas de Aulas Modelo Institucional-AMI, que, onde à instituição elabora todo o
conteúdo e material de apoio para alunos e professores. Essas aulas são compostas
de atividades de pré-aula e pós-aula, onde os alunos devem realizar os trabalhos
disponibilizados no Portal do Aluno em dias e horários que sejam convenientes para
eles, respeitando o período de aula entre uma aula e outra. O professor deve seguir
o material de apoio, livro texto, elaborado para cada disciplina, o qual traz os
conteúdos a serem trabalhos pelos professores e sugestões de atividades a serem
desenvolvidas em sala de aula, como case, temas para discussão, entre outros.
O segundo formato são as disciplinas Aula Modelo Professor- AMP,
são preparadas pelo professor responsável pela disciplina. O sistema de acesso é
realizado por meio do Portal do Aluno, o mesmo das disciplinas AMI.
E a terceira modalidade são as disciplinas interativas ou estudo a
distância – EAD, onde todas as atividades são realizadas pelo aluno on-line, sobre a
mediação de um tutor.
Para conclusão do curso também é necessário que o aluno
desenvolva 600 horas de atividades complementares de ensino, das quais 480 são
75
realizadas por meio dos Estudos Dirigidos – ED, que têm como formato o mesmo
das disciplinas interativa, onde o aluno desenvolve 100% das atividades on-line. As
demais 120 horas podem ser realizadas por meio de projetos de pesquisa, extensão,
monitoria, cursos realizados na área e estágio voluntário.
O estágio não obrigatório é uma atividade de suma importância para
o desenvolvimento profissional dos alunos. Já as monitorias consistem na inserção
dos acadêmicos em atividades universitárias que possam pôr em evidencia sua
capacidade técnica e didática nas áreas de conhecimento.
3.2.1 - Perfil do aluno entrevistado
Investigar o perfil dos respondentes nos ajudou na análise e
discussão sobre o tema, bem como analisando especificamente para a instituição de
Ensino Superior onde a pesquisa foi realizada, permitiu a identificação das
peculiaridades de uma determinada população, o que facilitará uma melhor
orientação aos professores no processo decisório para elaboração das metodologias
e postura a ser adotada em sala de aula (PEREIRA EBAZZO, 2009).
Nesta seção apresentar-se-á o perfil dos acadêmicos que fizeram
parte da amostra de acordo com os dados obtidos na primeira parte do instrumento
de coleta de dados. Assim, descrevem-se aqui os principais resultados que foram
evidenciados com a pesquisa e que representam as características pessoais dos
acadêmicos do curso de Administração, entre elas: gênero, faixa etária, semestre
que está cursando, e a incidência de alunos que afirmaram ter sido chamados a
atenção por comportamentos indisciplinares pelos menos uma vez no decorrer do
semestre.
Os dados foram apresentados por meio de gráficos e tabelas no
intuito de proporcionar uma melhor visualização dos resultados quantitativos.
76
GRÁFICO 1 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto ao gênero Fonte: Pesquisa da autora
Quando perguntado sobre o gênero dos acadêmicos que
participaram da amostra pode-se constatar que a maioria (55%) dos respondentes é
do gênero feminino. No entanto, observa-se que a amostra foi composta por uma
distribuição quase igualitária dos discentes do gênero masculino (45%) e feminino
(55%).
Constata-se a existência de consonância entre os dados, à medida
que estes são proporcionais ao percentual de alunos que ingressam no Curso de
Administração no Brasil, dos quais 55,67% dos alunos matriculados são do gênero
feminino e 44,35 são masculinos. (INEP, 2013)
O dado quanto ao gênero aponta a expansão no número de
mulheres que adentram o ensino superior para constituírem futuras administradoras
de empresas e/ou gestoras de seu próprio negócio. Segundo Bruschini e Lombardi
(2000) a expansão da escolaridade das mulheres, advindo do seu ingresso maciço
em cursos de nível superior, provoca transformações nas profissões que doravante
era exercida única exclusivamente por homens.
MACULINO45%
FEMININO55%
77
GRÁFICO 2 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto à faixa etária e gênero
Fonte: Pesquisa da autora
Os dados apontam, Gráfico 2, que as salas de aula do Curso de
Administração são compostas em sua maioria, 95%, por alunos jovens de 17 a 32
anos, sendo deste 53% do gênero feminino e 42% do gênero masculino, sendo ainda
que a maioria82% tem menos de 25 anos de idades. Podemos observar, através da
nossa experiência enquanto professora e educadora, que os alunos que ingressam
na universidade, na maioria, acabaram de concluir o ensino médio e pela pouca idade
trazem incerteza quanto sua escolha profissional, fato este que contribui para a
ausência de interesse sobre os assuntos abordados em sala de aula.
0%
36%
6%
3%
0%1%
47%
5%
1% 1%
Menos de 18anos
18 a 25 anos 26 a 32 anos 33 a 40 anos Mais de 40 anos
MASCULINO
FEMININO
45%
55%
78
Rojas (1996) salienta que o ingresso precoce no ensino superior,
influencia os comportamentos dos alunos em sala de aula, uma vez que estes pela
imaturidade são insensíveis, sem entusiasmo e descompromissado com os estudos.
GRÁFICO 3 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a atual situação profissional
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Os dados apresentados no gráfico 3 nos levam a compreender que
72% dos alunos encontram-se inseridos no mercado de trabalho, destes 68% atuam
na área de Administração, quer seja como empregados em área administrativa
(35%), estagiários (19%) e ou empresário (14%) e apenas 4% ainda não atuam na
área, dentre os cargos ocupados em outros seguimentos foram listados o de
vendedor, auxiliar de produção, costureiro e babá. Constatamos que 11% dos alunos
estão desempregados e 17% se dedicam exclusivamente aos estudos.
OUTROS4%
Empresário14%
Estagiário19%
Estudante17%
Empregado na Área35%
Desempregado11%
79
Cabe destacar que este cenário, onde 68% atuam na área pode ser
considerado um ponto de extrema importância na vida profissional destes
acadêmicos, pois possibilita ao aluno fazer uma relação da teoria à prática.
Proporciona, também, um maior envolvimento do aluno no processo de ensino-
aprendizagem, à medida que este consegue relacionar e contextualizar os conteúdos
abordados em sala de aula com sua área de atuação. Neste sentido, Imbernon
(2001) ressalta a importância de o professor conhecer os acadêmicos, sua área de
atuação, assim poderá desenvolver estratégias metodológicas que se aproximem
das vivenciadas pelos alunos e consequente ser exitoso em seu trabalho docente.
No entanto, para os 72% que desempenham atividades laborais
durante o dia4consideram a possibilidade da obtenção do baixo desempenho em sala
de aula, advindas do cansaço da atividade laboral, pela indisponibilidade de tempo
para realizar as atividades solicitadas pelos professores, e institucionais emanadas
das disciplinas AMI, interativas e ED. Cardoso e Sampaio (1994) concluíram com a
pesquisa realizada junto aos alunos do Curso de Administração da Universidade de
São Paulo – USP, que os alunos que conciliam trabalho e estudo apresentam baixo
desempenho no curso.
Entretanto, o uso de metodologias adequadas podem despertar o
interesse do aluno a participar de forma ativa do processo de ensino aprendizagem,
interagindo nas discussões e compartilhando suas experiências profissionais de
forma a contextualizar o conteúdo abordado em sala de aula, proporcionando assim
uma maior absorção do conhecimento tanto para si como para os demais colegas de
sala. Logo, a gestão da sala de aula, em particular a metodologia utilizada, como uso
de slides carregados, com texto longo que podem causar sonolência no aluno,
contribuem para ausência de interesse do aluno pelo o assunto que está sendo
discutido em aula.
Outro dado apontado na pesquisa é que 14% dos alunos, os
empresários, apesar da pouca idade, administram seu próprio negócio. No entanto,
não foi possível por meio dos dados coletados aferir se as empresas são geridas
pelos alunos, ou se os mesmos são somente filhos de proprietários de empresas e
4O Curso de Administração é noturno, desta forma as atividades laborais são realizadas no período diurno.
80
não trabalham nestas organizações. A pesquisa aponta também 28% dos alunos
estão sem renda própria, 11% em situação de desemprego e 17% são estudantes
que dependem de terceiros para custear sua formação.
Após a apresentação do perfil dos alunos que participaram da
pesquisa iniciaremos com a exposição dos dados sobrea percepção dos alunos
sobre a questão da indisciplina em sala de aula e neste sentido a primeira questão
está relacionada se ele mesmo se percebe como aluno que apresenta
comportamentos de indisciplina em sala de aula.
Para Aquino (1998) o “aluno problema” que apresenta distúrbios
comportamentais é usualmente nominado como indisciplinado. Assim, os
respondentes foram separados em dois grupos: os alunos disciplinados são aqueles
que informaram que nunca lhes foi chamada a atenção durante as aulas no decorrer
do primeiro semestre de 2016 e indisciplinados os alunos que pelo menos uma vez
no decorrer do semestre já foi invocado pelo professor por comportamentos
inadequados em sala de aula.
Cabe destacar que não foi objeto do estudo confrontar a veracidade
das informações junto aos professores que ministram as disciplinas para este grupo
de alunos, assim levamos em consideração para a análise a real percepção do aluno
quanto a seu comportamento enquanto acadêmico do ensino superior.
Apresentamos por meio do gráfico 4 um panorama sobre a
percepção do aluno quanto ao seu comportamento em sala de aula.
81
GRÁFICO 4 - Distribuição dos alunos entrevistados quanto a frequência com
que os mesmos apresentaram comportamento de indisciplina em sala de aula
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
A pesquisa aponta que 39% (27% raramente, 11% algumas vezes e
1% várias vezes) dos alunos durante o semestre em curso, março a agosto/2016,
teve a sua atenção chamada por apresentar comportamentos indisciplinados em sala
e aula, dos quais 19% são do gênero feminino e 21% do gênero masculino.
Segundo Santos e Moreira (2002) as alunas apresentam
comportamento mais disciplinado do que os alunos, à medida que foram educadas
com maior rigidez para serem respeitosas, estudiosas e meigas. Reforçando o
MASCULINO
FEMININO
TOTAL
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
DISCIPLINADO Raramente Algumas vezes Várias vezes
24%
13%
7%1%
37%
15%
4%0%
61%
27%
11%
1%
DISCIPLINADO61%
39%
INDISCIPLINADO 39%
39%%
61%
19%
INDISCIPLINADO
21%
82
estereótipo de masculinidade, onde os comportamentos inadequados apresentados
pelos alunos têm maior aceitação social.
3.2.2 – Questão da indisciplina em sala de aula sob o olhar dos acadêmicos
Nesta sessão apresentaremos os dados da pesquisa que apontam a
percepção dos alunos do curso de Administração sobre a indisciplina em sala de
aula. Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa. Os dados
quantitativos foram apresentados em tabelas para uma melhor visualização das
informações. Os dados dos alunos que relataram que já foram chamados a atenção
por comportamentos de indisciplina serão doravante nominados, aluno
indisciplinado, e aqueles que, no decorrer do primeiro semestre de 2016, nunca
foram chamados à atenção por comportamentos de indisciplina em sala de aula
serão nominados disciplinado.
Como vimos nos dados exibidos no Gráfico 4, 39% dos alunos já
foram chamados a atenção no decorrer do semestre por comportamento
indisciplinares em sala de aula, desta forma observa-se que a indisciplina se faz
presente no ensino superior e está, segundo Estrela (1992), interfere no processo de
ensino-aprendizagem, na medida que afeta a aprendizagem do acadêmico, interfere
no planejamento da aula, compromete a performance do professor e induz a tomar
atitudes que não gostaria e que muitas vezes não foi preparado para enfrentar tais
atitudes. Nesse exemplo, podemos citar o caso dos docentes bacharéis, que não
foram preparados durante sua graduação para atuarem como educadores. Desta
forma, é importante compreender como os alunos percebem as questões de
indisciplina em sala de aula.
Segundo Carvalho (2001) os conceitos de indisciplina em sala de
aula são concebidos por meio das experiências trazidas de outros professores.
Assim, a primeira indagação que realizamos era sobre quais atitudes e ou
comportamentos eles consideravam ações de indisciplina em sala de aula. Assim,
iniciaremos a discussão da questão da indisciplina sob o prisma do acadêmico do
curso de Administração com sua percepção das ações e comportamentos dos alunos
em sala de aula que configuram atos indisciplinar.
83
TABELA 1 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE AS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
ATITUDES E COMPORTAMENTOS
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Desinteresse 1 1,1% 1 3,6% 3 2,1%
Bagunça/Algazarra 2 2,3% 12 21,8% 14 9,9%
Conversas paralelas 68 78,2% 24 43,6% 92 64,8%
Desrespeito ao Professor 6 6,9% 12 21,8% 18 12,7%
Outros 2 2,3% 2 3,6% 4 2,8%
Sem Opinião 8 9,2% 2 5,5% 11 7,7%
Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Pode-se observar por meio dos dados da Tabela 01 que as
conversas paralelas são consideras, pela maioria dos alunos, 64,8%, como
comportamento de indisciplina, sendo que deste, a maior incidência de opinião está
entre os alunos disciplinados, 47,9%. Outros fatores também considerados pelos
alunos como ações de indisciplina são as algazarras e bagunça (9,9%) e os
enfrentamentos ao professor, que são apontados pelos alunos como um ato de
desrespeito aos professores (12,7%) que totalizando 22,6% das opiniões. E possível
constatar 21,8% dos alunos indisciplinados consideram desrespeitar o professor uma
atitude ou comportamento de indisciplina e apenas 6,9% dos disciplinados tem esta
percepção.
Na revisão da literatura, Vasconcelos (1998) aponta que a
indisciplina é entendida pelos professores como um comportamento inadequado que
demonstra desrespeito à autoridade do docente, entre elas são apontadas as
conversas paralelas, manuseio do celular, ausência de interesse e atrasos.
No entanto pode-se constatar com a pesquisa que apenas um
84
pequeno percentual de alunos atribui as questões da indisciplina ao uso do celular e
aos atrasos, assim estes dois posicionamentos aparecem com 2,8% dos
entrevistados como outros. Sendo que o manuseio do celular em sala de aula é
percebido por apenas 1,4% dos alunos como comportamento indisciplinar.
Percentual que na nossa visão é insignificante diante amostra e o que nos remete a
entender que o uso do celular é compreendido pelos alunos como algo natural. No
entanto, pela observação em sala de aula, podemos constatar que o uso do celular
dispersa os alunos durante processo de ensino-aprendizagem o que pode conduzir
a uma dificuldade para compreender os conteúdos e, consequente, comportamento
de indisciplina. Os fracassos escolares, segundo Herbert (1991), conduzem o aluno
a apresentar comportamentos aversivos, indisciplinados, pois estes ajudam a reduzir
a ansiedade e resgata sua autoestima.
O telefone celular é uma ferramenta utilizada pela grande maioria
das pessoas e traz uma série de aplicativos que facilitam a vida de seus usuários,
como: calculadoras, pesquisa na internet, troca de informações, entre outros. No
entanto conforme relatos dos professores no decorrer das entrevistas pode-se
constatar, que o uso do celular, em sala de aula, é percebido pelos professores como
uma falta desrespeito e interesse do aluno pelos conteúdos que está ministrando. O
manuseio do celular em sala de aula desvia a atenção do usuário e dos colegas que
estão próximos.
Os atrasos em sala de aula também não foram considerados
significativos, pois representam apenas 1,4% (Outros) da amostra, pode-se
compreender que estes fazem parte da cultura do país e assim são vistos pelos
alunos como algo socialmente aceitável e não como comportamentos inadequados.
Entretanto, interferem diretamente no desenvolvimento do trabalho docente. Além
das constantes interrupções a cada aluno que adentra e solicita em alguns momentos
licença para entrar o recinto, outros ainda que entrem sem o consentimento do
professor e dos demais colegas. Em ambas as situações, os alunos infringiram às
regras de pontualidade, atrapalham o andamento da aula e consequentemente
prejudicam o processo de ensino-aprendizagem.
Segundo Amado e Freire (2009) a pontualidade é uma das regras
que deve ser observada e seguida pelos professores e alunos para o êxito no
85
aprendizado. Os atrasos, tanto na entrada como nos intervalos, extrapolando o limite
de tolerância definido entre os professores e os alunos, se configura como um
desrespeito aos colegas e ao professor.
Através da observação em sala de aula pode-se constatar que no
Curso de Administração da universidade em estudo é corriqueira a ausência de
pontualidade dos alunos e a falta de compromisso com as atividades a serem
desenvolvidas, por vezes, os professores relatam que o aluno não consegue concluir
a atividade planejada porque alguns alunos chegam atrasados em sala de aula. Para
exemplificar, no curso de administração, uma das atividades desenvolvida em sala
de aula é método do estudo de caso, uma atividade realizada em grupo, que requer
ampla discussão até o fechamento da melhor estratégia a ser utilizada, e que fica
comprometida com os frequentes atrasos.
Outro ponto destacado pelos acadêmicos é o excesso de
brincadeiras, conversas altas.
A51 - O aluno indisciplinado afeta os outros alunos que querem estudar, pois, o enorme barulho que acontece na sala de aula, atrapalha as pessoas que querem estudar e que tem dificuldade em pensar com barulho. O aluno que quer realmente estudar, poderia aproveitar mais as aulas, se empenhar mais, porém, fica difícil com a enorme bagunça, barulho que alguns colegas indisciplinados fazem.
A64 Conversas ou risadas, fazem com que o professor se desgaste chamando a atenção dos alunos, perdendo a linha de raciocínio e atrasando o conteúdo. Isso porque precisa explicar varias vezes a mesma coisa, porque alguns não prestam atenção na aula, saem da sala várias vezes ou chegam atrasados.
Neste sentido é importante salientar a importância das regras para
estabelecer uma boa conivência em sala de aula. Segundo Antunes (2006) o
professor não precisa ser autoritário, pode ser um professor que estabeleça um bom
relacionamento e limites aos alunos de forma a levá-los a construção do conhecimento
de forma prazerosa. Pode-se constatar que as conversas paralelas, a bagunça, gritos,
atrasos, são percebidas e se fazem presentes também no ensino superior.
86
3.2.3 - Percepção do aluno quanto aos motivos da indisciplina
Quando indagados sobre os motivos que levam aos comportamentos
indisciplinados em sala de aula, foram destacados três fatores de maior inferência:
ausência de interesse no processo de ensino-aprendizagem (33,1%), falta de
educação do aluno (19,7%) e a questão da autoridade do professor em sala de aula
(15,5), os quais representam 68,3% das opiniões.
TABELA 2 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS MOTIVOS QUE CONDUZEM A
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
MOTIVOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA PELA AUSÊNCIA DE:
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Falta de Autoridade do Professor
12 13,8% 10 18,2% 22
15,5%
Falta de Educação do Aluno 18 20,7% 10 18,2% 28 19,7%
Ausência de Interesse no ensino
33 37,9% 14 25,5% 47
33,1%
Maturidade 3 3,4% 1 1,8% 4 2,8%
Metodologias inadequadas 5 5,7% 4 7,3% 9 6,3%
Excesso de alunos em sala 5 5,7% 7 12,7% 12 8,5%
Outros 1 1,1% 1 1,8% 2 1,4%
Sem Opinião formada 10 11,5% 8 14,5% 18 12,7%
Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
A ausência de interesse no processo de ensino-aprendizagem e
percebida por, 33,1%, dos alunos entrevistados como o fator de maior impacto na
indisciplina. A motivação para o processo de aprendizagem, segundo Neri (1992) e
um dos fatores primordiais para prevenção da ocorrência da indisciplina em sala de
87
aula. O interesse pelos conteúdos ministrados proporciona envolvimento entre
professores e alunos, estabelece o diálogo e o processo de ensino-aprendizagem
ocorre de forma riquíssima sobre diferentes pontos de vistas. Para o autor, a disciplina
está relacionada à participação ativa.
Outro fator com menor impacto que tem relação direta com o
interesse e é apontado por 6,3% dos alunos é a utilização de metodologias
inadequadas. De acordo com Amado (2001) o abuso de metodologias expositivas,
aulas monótonas e repetitivas, conteúdos sem sentido, gerenciamento inadequado
da sala de aula e o tempo dispendido para o desenvolvimento das atividades
contribuem para desinteresse pelas aulas e consequentemente aumentam os casos
de indisciplinas em sala de aula. O excesso de conteúdo e forma como são
apresentados os slides é apontado como uma ferramenta de ensino que aversiva
pelos alunos.
A84 Só coloca slides e fala a aula toda isso se torna entediante para uma pessoa que trabalhou o dia todo.
A86 Talvez evitando fazer somente leituras extensas de slides, pois isso torna a aula cansativa.
A 102 “parar de dar slides e fazer copiar e fazer algo que os alunos participem mais ai não tem espaço para conversas paralelas”.
Tais dados permitem afirmar que a metodologia de ensino utilizada
por alguns professores se apresenta como fonte de indisciplina em sala de aula, uma
vez que proporciona dispersão dos alunos por serem monótonas e cansativas.
Importante salientar que conforme Gráfico 3 que 72% dos alunos
trabalham no decorrer do dia e estudam no período noturno. Outro dado importante,
obtido por meio dos relatórios institucionais é que 30% dos alunos residem em outros
municípios, como Mauá da Serra, Astorga, Apucarana, Rolândia e dependem de
transporte municipal para o translado, alguns chegam a sua residência próxima da
1h00 da manhã. E assim, a rotina trabalho, estudo e o translado acaba colaborado
para o cansaço diário.
Neste sentido, se faz necessário que o docente reflita sobre sua
prática em sala de aula, uma vez que este não pode atuar como mero transmissor de
conteúdos e sim promover metodologias que vão ao encontro às necessidades dos
88
alunos e do curso em que atua. Desta maneira, evidencia-se a necessidade de alguns
professores refletirem sobre práticas em sala de aula.
Para Siqueira (2003), a competência do professor perpassa pela
reflexão das metodologias utilizadas e sua postura em sala de aula. Se faz necessário
que o docente reflita sobre suas práticas e tenha um replanejamento, a fim de levar
os acadêmicos a se tornarem agentes do processo de ensino, de forma consciente e
autônomo, e assim possa ser um administrador crítico capaz de modificar sua
realidade.
Outro elemento levantado é a ausência de educação dos acadêmicos,
sendo assinalada por 19,7% dos entrevistados como fator de impacto nos
comportamentos de indisciplina. Dados que coadunam com Bauman (2001) que
defendem que a indisciplina não está relacionada com as práticas pedagógicas e sim
com a própria característica do aluno do ensino superior. Características estas
descritas por Bauman (2001) como individualismo, o consumismo. Os alunos que
ingressam no ensino superior são volúveis em suas relações e posicionamentos,
estão em constante mudança e buscam a satisfação momentânea em suas relações.
Compreende-se que a formação universitária não se restringe à
formação dos acadêmicos exclusivamente para a profissão, mas sim prepará-los de
forma integral. Desta forma, cabe à instituição de ensino superior o papel de aprimorar
valores e atitudes, além de preparar os acadêmicos para uma profissão. Na
universidade o aluno deve adquirir competências que o conduzam a ser um cidadão
que saiba analisar o contexto, planejar, expor suas ideias, bem como ser um bom
ouvinte e assim atuar ativamente na sociedade a qual está inserido.
Assim sendo as instituições de ensino, em especial as privadas,
devem se valer das regras e normativas para que os alunos adquiram os valores
necessários ao cidadão e ao futuro profissional. Como exemplo, se o aluno
desrespeita o professor e\ou colega de sala deve ser advertido, da mesma forma
outros comportamentos que comportamentos éticos, como atrasos, plágio, colar na
prova, também devem ser tratados pelo professor e pela instituição com o rigor
necessário para que o aluno não perceba que seu comportamento inadequado é
recompensado, pelo simples fato dele manter as mensalidades em dia. A primeira
89
preocupação da instituição deve ser a formação do ser pensante e crítico, socialmente
responsável e também preparado para a atuação profissional, da mesma forma que a
qualidade do ensino deve ser o fator determinante para que o aluno se mantenha em
uma instituição.
Outro elemento apontado é a ausência de autoridade do professor,
que foi apontada por 15,5% dos respondentes como responsáveis pelos
comportamentos indisciplinados. Como descrito na revisão da literatura ao professor
cabe o papel de educar e formatar estratégias e meios adequados para que o
processo de ensino-aprendizagem se efetive e para que este se realize se faz
necessário o controle sobre as condutas dos acadêmicos em sala de aula, mesmo
que para isto seja necessário uso de sanções socialmente aceitas (SILVA, 2010).
Desta forma cabe ao professor estabelecer estratégias disciplinares
que contribuam para formação profissional do acadêmico. De forma a educá-los
como cidadãos íntegros, respeitosos que possam contribuir de forma efetiva para
uma sociedade melhor conforme preconiza os Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Médio (BRASIL, 1999) e que precisa ser estendida ao ensino superior.
A responsabilidade por estabelecer a disciplina em sala de aula
como apresentado na revisão bibliográfica é do professor, entre os autores que
defendem este posicionamento destacamos Yasumaru, Torres (2008), Welch (2007).
Salientam a importância de se dar significado aos conteúdos, utilizar uma postura
correta frente aos alunos, atitudes firmes e participativas e o estabelecimento de
regras norteadoras do ensino sem, contudo, incorrer em injustiças e utilizar de
autoritarismo.
No entanto, antes do professor traçar estratégias para prevenir ou
coibir a indisciplina em sala de aula é preciso o apoio da instituição para se fazer
cumpri-las, pois o professor fica numa situação muito difícil quando não tem respaldo,
como exemplo o fato de não poder reprovar o aluno, pois a instituição não pode
perder alunos, e reafirmo que o aluno não pode ser “recompensando” diante de
comportamentos indisciplinados, tendo-os relevados, pelo fato de adimplir suas
obrigações financeiras para com a instituição em dia.
Logo, é importante uma ação conjunta, o professor usando sua
90
autoridade, estabelecendo regras com o respaldo da instituição de ensino. A
mudança de cultura deve começar dentro da instituição, para que esses valores
depois de incorporados possam ser repassados aos alunos.
3.2.4 - Percepção do aluno sobre a pessoa responsável pela solução das
questões da indisciplina em sala de aula
Uma questão importante refere-se a quais estratégias utilizar para
superar a questão da indisciplina. Para Rego (1996) esta responsabilidade é do
professor como docente e educador, desta forma, caberia a ele estabelecer os
parâmetros e limites aos seus alunos. Nesse sentido, torna-se importante entender
qual a percepção do aluno frente à superação da indisciplina dentro da universidade
e neste sentido buscou verificar a percepção do aluno sobre a pessoa que teria a
responsabilidade de resolver os comportamentos indisciplinados em sala de aula.
TABELA 3 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE QUEM É RESPONSÁVEL POR
RESOLVER A QUESTÃO DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
RESPONSÁVEL PELA INDISCIPLNA EM SALA DE AULA
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Alunos 28 32,2% 15 27,3% 43 30,3%
Coordenação 6 6,9% 7 12,7% 13 9,2%
Professor 31 35,6% 21 38,2% 52 36,6%
Professor e aluno 17 19,5% 7 12,7% 24 16,9%
Professor e coordenador
1 1,1% 2 3,6% 3 2,1%
Sem opinião formada 4 4,6% 3 5,5% 7 4,9%
Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Pode-se constatar pelos dados da tabela 3 que 55,6% dos
entrevistados (36,6% professor mais 16,9% que responsabilizam professores e
91
alunos e 2,1% que atribuem ao professor e a coordenação) concordam que a
responsabilidade é do professor.
No entanto, apesar de em menor percentual, mas não menos
relevante, para 11,3% (9,2% Coordenação, 2,1% que atribuem a reponsabilidade ao
Professor e a Coordenação) dos alunos a responsabilidade pela solução dos
problemas de indisciplina é da Coordenação do Curso. Estes dados nos chamaram
a atenção, pois na percepção destes alunos, o professor, autoridade máxima em sala
de aula, não é percebido com tal autoridade e sim a Coordenação do Curso. Logo,
se faz necessário ações para que conjuntas entre professores e gestor do curso no
intuito de reestabelecer a autoridade do professor em sala de aula.
Constata-se que 47,2% dos entrevistados atribuem a
responsabilidade aos próprios alunos (30,3% alunos mais 16,9% que responsabilizam
alunos e professores). Os alunos iniciam o ensino superior, na maioria das vezes, com
hábitos de estudos que requerem uma mudança de comportamento. No ensino
superior se faz necessário o desenvolver a capacidade de reflexão e o senso crítico.
Assim, partindo-se do princípio que estes adentram o ensino superior pela escolha de
sua carreira profissional, deveriam ser comprometidos com o estudo. No entanto, o
perfil dos alunos ingressantes, na contemporaneidade, favorece a indisciplina em sala
de aula, à medida que se apresentam descompromissados com o estudo e acabam
acarretando um desgaste emocional do professor. O aluno A32 diz que:
A32 “Os próprios alunos têm que se tornarem mais adultos e levar o curso mais a sério”.
Desta forma, atribui a responsabilidade aos próprios alunos que são
imaturos e levam os estudos na brincadeira. Salienta-se que a concorrência no
mercado de trabalho é acirrada e o resultado desta ausência de comprometimento
poderá afetar sua carreira profissional.
Outra fala que nos remete a constatar que no ensino superior a
responsabilidade é do aluno, uma vez que estes estão se preparando para se
tornarem futuros administradores:
A37 “Os alunos porque já somos grandes demais para os professores ficar chamando atenção”
92
A76 “O próprio aluno. “Nível superior, já foi a época em que tinha que chamar a ‘tia’ pra resolver”
O ensino superior constitui-se uma nova etapa acadêmica e que
requer comportamentos e atitudes em sala de aula que são exigências também do
mercado de trabalho, como conhecimento, convívio em equipe, respeito ao superior
imediato, entre outros e assim precisam integrar o comportamento do aluno não
somente após a conclusão do curso, mas também enquanto estiverem nos bancos
escolares.
Assim, é possível compreender que os alunos não estão preparados
para ingressar o ensino superior, não tem desejo de adquirir novos conhecimentos,
respeito pelos professores e muito menos postura para frequentar uma universidade.
Constatamos que o professor apresenta uma grande parcela de responsabilidade na
postura apresentada pelos discentes. Entretanto, não se pode isentar os próprios
alunos da responsabilidade pelas ações inadequadas apresentadas em sala de aula.
Como constatamos, a maioria dos alunos veem o professor como responsável pela
manutenção da disciplina, se eximindo assim da responsabilidade pelo seu
comportamento inadequado. Para Vasconcelos (1996) é importante que os alunos
compreendam sua responsabilidade frente ao seu processo de aprendizagem e dos
demais alunos da sala.
3.2.5 - Percepção do aluno sobre as ações dos professores universitários frente
a indisciplina
Os procedimentos utilizados pelos professores, segundo Amado
(2001) podem ser corretivos ou punitivos. As medidas corretivas objetivam corrigir
os desvios de comportamento e preservar a integridade da turma, sendo que estas
podem estão diretamente relacionadas a personalidade do professor e as interações
que este tem com seus alunos. A outra forma, segundo o autor, o professor utiliza
procedimentos com cunho punitivos que são amparados na lei e frequentemente
exigidos pelos próprios colegas de sala que apresentam comportamento disciplinado.
Amado (2001) salienta que estes métodos de coibir os
comportamentos de indisciplina em sala de aula transpõem a esfera da negociação,
93
cabe ao aluno acatar os direcionamentos do professor, uma vez que este encontra
amparo no regulamento disciplinar. No entanto, para Connell (1994) ao utilizar
procedimentos que cerceiam a liberdade do aluno, o professor impede a participação
ativa deste no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que a relação é pautada
pelo autoritarismo. O autor argumenta ainda que a punição como meio de manter a
disciplina afeta negativamente os alunos e que pode levá-lo a aversão à
aprendizagem. Logo, é importante que o professor reforce as regras institucionais
para que o aluno compreenda que as punições são provenientes de suas ações
inadequadas e não da postura do professor.
Assim, no intuito de compreender a percepção do aluno em relação
aos procedimentos que os professores do Curso de Administração de uma instituição
de ensino superior do norte do Paraná vêm adotando para resolver as questões de
indisciplina em sala de aula, podemos observar por meio da tabela 4 que:
TABELA 4 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS PROFESSORES FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
O QUE O PROFESSOR FAZEM PARA RESOLVER O PROBLEMA DE INDISCIPLINA
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Chama a atenção dos alunos 32 36,8% 21 38,2% 53 37,3%
Controla a disciplina 2 2,3% 1 1,8% 3 2,1%
Diálogo 15 17,2% 3 5,5% 18 12,7%
Para aula 7 8,0% 5 9,1% 12 8,5%
Perde controle 13 14,9% 12 21,8% 25 17,6%
Punição 8 9,2% 9 16,4% 17 12,0%
Ameaça 1 1,1% 0 0,0% 1 0,7%
Nada 1 1,1% 2 3,6% 3 2,1%
Sem opinião formada 8 9,2% 2 3,6% 10 7,0%
Total Geral 87 100,0% 55 100,0% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
94
Observa-se pelos dados da tabela 4 que, na percepção dos alunos,
71,2% dos professores do curso de administração utilizam estratégias como: chamar
a atenção dos alunos que estão conversando (37,3%), outros buscam dialogar
(12,7%) e ainda os que param a aula (8,5%) e os que ameaçam (0,7%) e 12% punem
os comportamentos indisciplinares, no entanto apenas 2,1% consegue manter a
disciplina em sala de aula.
Evidencia-se por meio dos resultados quantitativos e pelas falas dos
acadêmicos que a indisciplina está fora de controle, e professores universitários das
instituições privadas ainda precisam encontrar uma forma de lidar com essa questão,
que vem afetando seu trabalho em sala de aula.
A28 “pelo que presencio em sala raramente tomam alguma atitude a não ser chamar a atenção dos mesmos e dificilmente os colocam para fora da sala”,
A38 Fala... Fala 1, 2, 3 vezes e não resolve nada”.
A46 “Na experiencia que tive, o professor fica brigando e pedindo atenção”
A49 “Alguns se colocam de forma severa sem ser grosseiro e logo resolve o problema sem muito tumulto, já tem uns que faze o caso se estender mais e mais”, rebatendo e gerando tumultos de alguns minutos em sala enquanto os demais presenciam a discussão”
A53 “Grita, e faz ameças de provas”
Por meio dos dados podemos perceber que na percepção dos alunos
“chamar a atenção” não resolve o problema, se faz necessário punir os
comportamentos inadequados para os mesmos não voltem a acontecer.
Evidencia-se que os acadêmicos esperam que o professor tenha uma
atitude autoritária diante das ações de indisciplina. Logo, é importante que o docente
faça cumprir as regras institucionais e os contratos psicológicos estabelecidos em sala
de aula para que não seja necessário utilizar estratégias de punição para coibir a
indisciplina em sala de aula. Para isto é importante que o professor deixe claro as
regras institucionais e os acordos psicológicos logo nas primeiras aulas, bem como a
penalidade que serão adotadas aos alunos que apresentem comportamentos que
contrariam as regras.
Constata-se ainda pela tabela 4 que, na percepção dos
95
alunos,17,6%dos professores perdem o controle da situação, sendo que 0,7%
utilizam-se de ameaças e 12,6% utilizam-se de punição como estratégias para coibir
a indisciplina em sala de aula. Conforme relatos, abaixo, os docentes estão utilizando
estratégias coercitivas para controlar a indisciplina em sala de aula e que as
estratégias utilizadas vêm afetando diretamente a qualidade de vida do professor,
pois demonstram ausência de controle da situação.
A29 Somente chama a atenção do aluno, na minha opinião pediria para o aluno se retirar da sala, não ficar batendo boca com o aluno
A47 manda ficar quieto e bate a porta do quadro5
A90 Fala alto, bate no quadro, e desconta na prova.
A103 Na experiência que tive, o professor fica brigando e pedindo atenção.
A118 Quando acontece do professor "punir" o aluno indisciplinado, o restante da sala fica quieta.
Percebe-se também a existência de professores que utilizam
técnicas repressivas para obter a disciplina em sala de aula. O autoritarismo para
o cumprimento das regras pré-estabelecidas. Segundo Vasconcellos (1996) o
aluno muitas vezes se submete as normas por medo de serem punidos e assim a
ação pedagógica sofre desgaste a medida que a sala de aula passa a ser
comparada a um campo de guerra que culminam em ódio e revolta entre as partes
envolvidas.
Pode se constatar nas falas dos alunos A47, A90 e A103 que alguns
professores estão se desgastando e perdendo o controle da situação, na maioria das
vezes tomam atitudes que nem sabem por que os fazem. Para Oliveira (2009) o grau
de indisciplina que se faz presente em sala de aula conduz à desmotivação do aluno
e, consequentemente, do professor, na medida em que influenciam de forma
negativa o processo de interação entre professor e aluno e também na absorção dos
conhecimentos. No entanto, o principal prejuízo são os problemas causados ao
professor que se sente impotente para exercer sua atribuição, disseminação de
conhecimento, formação de profissionais que estejam preparados para assumir seu
5 O quadro negro, na instituição de ensino superior pesquisada, tem um compartimento para guardar giz e apagador, e que o mesmo tem uma porta.
96
papel na sociedade.
A84 Fica em silêncio e espera o aluno parar de falar para prosseguir.
A86 Para de explicar, isso atrapalha muito os demais que estão afim de aprender.
Percebe-se por meio das falas e dos dados da tabela 4, em que
8,5% utilizam como estratégia para solução do problema a de parar a aula até os
alunos fiquem em silêncio. Neste sentido, Oliveira (1999) aponta que o professor
não intervencionista não determina os objetivos nem os métodos a serem utilizados
no processo de ensino-aprendizagem, o que conduz ao desinteresse pela disciplina
por parte dos alunos e consequentemente baixo aproveitamento do conteúdo
ministrado.
A108 Ele não se importa com conversas paralelas e continua com a aula normalmente, porém, isso atrapalha os demais alunos.
A125 Nada conforme a correnteza, uns vão no embalo da sala, outros simplesmente vão empurrando a matéria e não estão nem ai com aqueles que querem aprender.
Esta prática, na qual professor dá liberdade de escolha aos alunos
demonstra segundo Vasconcellos (1996) a ausência de compromisso do professor e
dos alunos e, os professores por não estabelecerem limites, perdem à autoridade e
poder de intervir, reprimir e assim perder o controle em sala de aula. Percebe-se
neste posicionamento do professor a ausência de compromisso com o processo de
ensino-aprendizagem. A estratégia não resulta em transformação de comportamento
e ainda compromete o andamento da aula e consequentemente a formação
profissional deste acadêmico.
97
3.2.6 - Percepção do aluno sobre o que fazer frente a situações de indisciplinas gerada pelos alunos em sala de aula
Ao perguntarmos para os alunos sobre o que fazem para acabar com
a indisciplina dos outros alunos em sala de aula, podemos constatar que:
TABELA 5 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE O QUE OS ALUNOS FAZEM PARA
RESOLVER O PROBLEMA NA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
AÇÕES DOS ALUNOS PARA AJUDAR A RESOLVER SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Chamam a atenção dos demais alunos
21 24,1% 20 36,4% 41 28,9%
Grita cala boca 7 8,0% 6 10,9% 13 9,2%
Mandam calar a boca 3 3,4% 0 0,0% 3 2,1%
Colaboram ficando em silêncio
21 24,1% 14 25,5% 35 24,6%
Nada 32 36,8% 12 21,8% 44 31,0%
Sem opinião formada 3 3,4% 3 5,5% 6 4,2%
Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Ao analisar os dados da tabela 5, onde as ações responsáveis pelo
controle estão nas mãos dos alunos, pode-se constatar que 24,6% colaboram ficando
em silêncio e 31% responderam que não fazem nada, totalizando 55,6% dos alunos
que não participam do processo, simplesmente colaboram ficando em silêncio e não
fazem nada, denotando a condição de submissão assumida pelos alunos.
No entanto, pode-se constar também que 28,9% chamam a atenção
dos demais alunos, 9,2% grita cala boca e 2,1% manda calar a boca, totalizando
40,2% que tentam ajudar a coibir a indisciplina em sala de aula. Cabe destacar que
98
quase a metade dos 28,9% dos alunos que chamam a atenção dos alunos
indisciplinados, ou seja 53%, apresentou na pesquisa comportamento de indisciplina
no decorrer do semestre. Assim, pode se inferir que, mesmo integrando o grupo de
alunos que já apresentaram comportamentos de indisciplina em sala de aula, estes
se incomodam com as atitudes indisciplinares dos demais colegas.
A10 Alguns alunos tentam conversar com a sala, pedindo silêncio para que o problema possa ser resolvido, mas algumas vezes isso não funciona.
A 26 Alguns alunos tentam colaborar com o professor pedindo o silêncio e o respeito com os demais que querem prestar atenção, mais não adianta.
A83 Às vezes algum aluno diz para o colega mal educado, calar a boca.
Nas falas dos alunos denota-se que a estratégia de chamar a
atenção dos colegas de sala não tem efetividade e também se observa pelos dados
da tabela 5 que 9,2% grita para os colegas calarem a boca e 2,1% manda calar a
boca, totalizando 11,3% dos alunos que demonstrar a ausência de educação dos
alunos frente aos colegas de sala e ao professor, pois “mandam e gritam para os
colegas calarem a bota”. Pode se inferir que as ações do professor em sala de aula,
por sua vez, influenciam o comportamento dos alunos.
3.2.7 - Percepção do aluno sobre o que o professor pode fazer sobre a
indisciplina
Como vimos na revisão bibliográfica, não existem alunos e
professores ideais. Os docentes devem tecer novas estratégias para o bom
desenvolvimento de suas práxis no ensino superior, considerando que é preciso
romper com antigos paradigmas, nos quais os professores eram detentores do poder
e utilizavam o autoritarismo para conter os atos de indisciplina em sala de aula, no
entanto sem perder a autoridade. Para isto se faz necessário demonstrar claramente
qual o seu papel, transmitir uma postura profissional, agir com autoridade, e estar
aberto ao diálogo para que a processo de ensino-aprendizagem se efetive
(VASCONCELLOS, 1996).
99
As estratégias podem ser desenvolvidas a partir do diálogo, levando-
se em consideração as opiniões do aluno, não de forma a ditar o modo como o
professor trabalha em sala de aula, mas compreender as percepções do discente
como mais um subsídio para a escolha da melhor metodologia a ser adotada. Por
exemplo, quando o professor utiliza, demasiadamente, slides em sala de aula, os
alunos acabam apontando em suas atitudes (dispersões, sonolências) e ou
apontamentos verbais que a metodologia não vem sendo eficaz para a apropriação
do conteúdo. Desta forma, o professor tem a oportunidade de rever suas
metodologias e adotas procedimentos para realização de seu trabalho.
Nesse sentido, tabela a seguir apresenta os dados referentes à
sugestão dos alunos de ações para a redução da indisciplina em sala de aula.
TABELA 6 - SUGESTÕES DOS ALUNOS PARA REDUZIR AS AÇÕES DE
INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
SUGESTÕES PARA REDUZIR AS AÇÕES DE INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Nª de respostas %
Uso da Autoridade pelo professor
15 17,2% 16 29,1% 31 21,8%
Informar as regras institucionais
3 3,4%
0,0% 3 2,1%
Estabelecer Interação 6 6,9% 7 12,7% 13 9,2%
Metodologias inovadoras 29 33,3% 9 16,4% 38 26,8%
Punir 16 18,4% 11 20,0% 27 19,0%
Redução número de alunos
4 4,6%
0,0% 4 2,8%
Sem opinião formada 14 16,1% 12 21,8% 26 18,3%
Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
100
Observa-se pelos dados da Tabela 6, que 26,8% sugerem a inserção
de novas metodologias como estratégia para minimizar a incidência de
comportamento indisciplinar em sala de aula.
A53 Conteúdos mais interessantes e dinâmicos.
A61 Tornar a aula mais interessante, buscando uma maneira de colocar o aluno na matéria.
A68 Aulas mais animadas e interativas, para não dar espaço para distração.
A69 Aulas mais motivadoras, aproximar a relação com o aluno
A utilização de metodologias inovadoras, que introduzam o aluno no
centro do processo de aprendizagem, dentre elas podemos destacar discussão de
casos que levem ao aluno a refletir e encontrar uma solução para um determinado
problema, aulas práticas, visitas técnicas, elaboração de diagnósticos e propostas de
intervenção empresarial, bem como, do ambiente de estudos pode promover o
interesse do aluno pela disciplina bem como pelo curso.
A instituição oferece diferentes espaços, que podem ser utilizados
para realização das aulas, como: laboratórios, bibliotecas, auditórios e a própria sala
de aula que pode ser utilizada de diferentes formas. Para Siqueira (2003), as aulas
se tornam motivadoras quando o docente utiliza dinamicidade para expor os
conteúdos, objetividade, uma linguagem clara, onde os conteúdos abordados a
temas e situações atuais e assim os alunos conseguem contextualizá-lo.
Assim, pode-se constatar que uma das sugestões dos alunos estão
diretamente relacionadas ao uso das práticas que eles consideram inadequadas, e
são utilizadas pelos professores, como aulas expositivas, slides poluídos e com
excesso de informação, o que contribuem para ausência de interesse dos alunos
pelo conteúdo apresentado. Isso é sinalizado por 39% dos alunos, como observado
na Tabela2, que os alunos apontam entre os motivos causadores da indisciplina em
sala de aula à falta de interesse dos alunos pelo conteúdo que vem sendo abordado
(33,1%) e as metodologias inadequadas (6,3%) que vem sendo utilizada pelos
professores universitários. A literatura aponta que o professor deve constantemente
refletir sobre suas práticas cotidianas em sala de aula. No entanto, o aluno
101
universitário deveria apresentar interesse pelos conteúdos ministrado já que os
mesmos serão primordiais para sua futura atuação profissional.
Observa-se ainda por meio da Tabela 6 que, entre as sugestões para
reduzir a indisciplina em sala de aula, encontra-se a autoridade do professor (21,8%).
Já conforme apresentado na revisão da literatura, Silva (2010) confere ao professor
a autoridade em sala de aula, e com isto cabe a ele determinar os métodos a serem
utilizados para que seu trabalho de educador se realize e que dentre as atribuições
inerentes ao trabalho do professor, encontram-se “Vigiar, emitir ordens, estabelecer
limites e, até mesmo, punir, embora possam parecer ações demasiadamente
autoritárias, constituem tarefas a serem desenvolvido por todo educador” (SILVA,
2010).
Pôde-se evidenciar nas falas dos alunos que eles esperam que os
professores se posicionem com autoridade frente aos problemas de indisciplina em
sala de aula.
A8 Ter mais pulso firme
A17 Impor sua autoridade desde o começo e procurar trazer o aluno para "dentro" da matéria, fazer com que os alunos se interessem pela matéria como dois professores fizeram esse semestre.
A19 O professor não pode deixar com que os alunos se sintam em liberdade para falar e fazer o que quiser, precisa exercer o papel de superior a eles.
A22 Poderia ficar mais rígidos nas aulas, pois em aulas mais rigorosas os alunos procuram ficar mais atentos.
A27 Ser mais rígido, e ter métodos diferenciados de aula.
A29 Impor respeito e ter domínio total do conteúdo a ser repassado.
A35 Já chegar no primeiro dia de aula e já impondo regras e sendo rígido o professor sendo assim parece que até aprendemos mais.
Fica evidente nas falas dos alunos que esperam dos professores que
se posicionem enquanto autoridade em sala de aula e estabeleçam limites aos
alunos. A autonomia deve ser proporcionada à medida que desenvolvemos novas
metodologias que permitam interação, troca de ideia para construção de novos
conhecimentos, no entanto estes devem ser direcionados e sustentados por normas
norteadoras do ensino-aprendizagem.
102
Conforme Rego (1996) o professor é responsável pela manutenção
da disciplina e enquanto educador cabe a ele estabelecer os parâmetros e limites
aos seus alunos. Salienta ainda que o convívio social requer o estabelecimento de
regras que oriente a convivência entre os envolvidos no contexto educacional e que
estas constituem condição necessário para que aula transcorra de acordo com o
planejado. Assim cabe ao professor no uso de sua autoridade se posicionar
enquanto tal e coibir a indisciplina no ensino superior.
No entanto, percebe-se nas falas dos alunos, quando solicitado que
apontassem as características de um professor que no decorrer do semestre
conseguiu manter a disciplina, apontaram a rigidez no uso da autoridade.
A52 Ele é bravo, chama sempre a atenção de todos que estão fazendo barulhos, fala sempre com autoridade.
A60 Sua autoridade. Ele se impôs desde o começo do semestre, faz os alunos participar da aula e demonstra preocupação com o aluno em aprender. Transfere os seus conhecimentos e se importa com o aluno se ele aprendeu ou não a matéria
A91 Acho que não tem muito a ver com o que faz ou deixa de fazer, quando o professor tem a palavra mágica respeito, os alunos aprendem a fazer o mesmo por ele, passam a admira-lo. O professor tem de saber se impor sem espezinhar, afinal na sala de aula ele é autoridade, neste semestre mesmo tive professores que falando todo mundo fica quieto, todos questionam nas horas oportunas, participam até porque o professor dá a oportunidade de participar da aula, já outro quanto mais grita por silêncio menos atenção tem dos alunos, tem de haver uma troca constante e contínua em todos os aspectos sejam eles morais ou metodológicos. Qualquer método por melhor que seja é falível se não existir cooperação de ambas as partes, então o professor tem de trazer o aluno para perto de sí, quanto mais ele se isolar pior será o seu ensino.
Como vimos no Gráfico 2, 95% dos alunos do curso de
Administração são alunos com menos de 18 anos a 32 anos, ou seja, o curso é
composto por jovens, e este ingresso precoce no ensino superior influencia seu
comportamento em sala de aula pela pouca maturidade e assim buscam posturas
mais autoritárias dos professores, a imposição de limites.
Fica claro que os alunos querem alguém que lhes estabeleça limites,
mas uma questão que se revela é a necessidade de um adulto ter alguém o tempo
todo ditando o que ele deve fazer e orientando seus comandos. O curso que os
103
entrevistados escolheram os orienta para a chefia, liderança e comando das
organizações, no entanto esses jovens esperam que na universidade alguém lhes
diga o que fazer.
Importante salientar que a formação superior é direcionada à
capacitação profissional e se faz necessário que as instituições de ensino superior
estabeleçam regras de boa conduta pois estes alunos precisam adquirir a postura
profissional para aturem no mercado de trabalho e para conviver em uma sociedade
onde imperam normas e padrões. E, como pode-se constatar por meio dos relatos
dos alunos, atribuem esta responsabilidade ao docente não percebendo o papel da
instituição como órgão regulador e do próprio aluno que ingressou na universidade
de forma autônomo, ou seja, sem que alguém lhe pressionasse para fazer o curso
de graduação e que necessita adquirir os conhecimentos que o subsidiaram
enquanto futuro profissional em um mercado de trabalho extremamente acirrado.
A punição apresenta-se também é sugerida 19% dos entrevistados
como forma de resolução do problema, entre as punições a que aparece com maior
frequência é retirar o aluno de sala, descontar notas, passar listas de exercícios
extras e também mandar para Coordenação. Mais uma vez as falas demonstram
que os alunos demonstram imaturidade, as sugestões são reproduções de suas
vivências no ensino médio, não compreenderam que no ensino superior os
conhecimentos é que irão determinar o seu futuro profissional.
A12 Acredito de ter controle da sala, mandar sai quando estiverem causando baderna, ou , descontar nota dos aluno indisciplinados, pois muitos são movidos pela nota e não pelo ensino.
A92 Colocar os alunos para fora da sala, pois quem não quer estudar fica em casa
A94 Chamar mais a atenção, ter mais autonomia, tirar nota dos alunos, mandar para a direção, assinar advertências
A96 Mostrar mais a sua autonomia, e é de total apoio que o mesmo peça para que o aluno causador dos "tumultos, gritaria" se retire da sala de aula.
A104 Passar trabalhos complexos
A14 É complicado ter alguma coisa exata a se fazer, pois são muitas pessoas em uma mesma sala, com pensamentos diferentes, então é difícil não ocorrer a indisciplina, mas creio que o professor tem autoridade e o direito de pedir que o aluno que está dificultando o ensino aos demais, que o mesmo se retire para o bem de todos, pois se o aluno não está ali para aprender o restante está e estão pagando assim como ele, só que alguns alunos dão mais valor ao ensino do que outros.
104
Assim, constata-se que os alunos mencionam em suas falas a
necessidade de punição frente a comportamento de indisciplina. Entretanto, o ato
de punir o aluno ocorre na presença do comportamento indisciplinar e resolvendo
momentaneamente, ou criando outros problemas, onde o aluno procura a
Coordenação para se justificar e condenar a atitude do professor. As ações no intuito
de resolver o problema são importantes, mas se faz necessário identificar os fatores
que influenciam estes comportamentos e buscar uma solução, quer seja pelo
professor, Coordenação e/ou instituição de ensino superior.
Desta forma, salienta-se a importância de as partes envolvidas com
o processo ensino-aprendizagem desenvolverem estratégias evitando a indisciplina,
e não atuando quando esta se faz presente em sala de aula.
Os autores Amado (2000), Estrela (1992), Jesus (2000) e Bentes
(2003) salientam a importância da interação professor e alunos como um dos
principais fatores responsável pela disciplina em sala de aula. No entanto, a interação
foi apontada por apenas 9,2% dos discentes. Isso pode ser claramente observado
na fala dos alunos.
A42 Ter mais interação com os alunos e a matéria, muito mais fácil aprender às vezes elaborando um trabalho do que ficar ouvindo e ouvindo a explicação da matéria, fala demais e tem aluno que não absorve tudo o que fora explicado em sala. Muitas vezes o professor fala e lá no último dia de aula antes da prova diz isso vai cair na prova eu expliquei em sala no primeiro dia de aula... isso me deixa aflita porque mal.
A66 Acredito que quando o professor respeita o aluno, este também respeita o professor, então acho que um professor que tem boa relação com os alunos, e usa a metodologia de ensino de tentar envolver o aluno na matéria, tem uma maior chance de não passar por esses problemas de ter alunos indisciplinados.
A80 Que os alunos interajam nas aulas.
A143 Interage com os alunos, explicando a matéria de uma maneira clara, usando exemplos do cotidiano e facilitando o aprendizado do aluno.
A92 Tem um diálogo aberto com a turma, conquistando a confiança dos alunos. Entende que existem diferentes tipos de personalidades dentro de uma turma e tenta envolver todos alunos na aula.
Constata-se por meio das mensagens dos alunos que o excesso de
conteúdo pode atrapalhar a absorção do mesmo, e, a medida que o aluno não
compreende o seu real significado passa a se desinteressar pela matéria e a
105
consequência são comportamentos indisciplinares. Alguns alunos alegaram que, na
maioria das vezes, as conversas paralelas são para tentar buscar junto aos colegas
de sala o entendimento do assunto que está sendo explanado pelo professor.
A redução do número de alunos em sala de aula foi outra sugestão
dos alunos para evitar atos indisciplinares.
A116 Acredito que alguns professores já demonstram uma postura mais firme desde o início assim conseguem ter mais controle com a sala. Mas é muito difícil ter controle de uma sala tão numerosa. A Universidade deveria mudar e acomodar menos alunos em cada sala, isso iria melhorar até no desenvolvimento do mesmo com toda certeza.
A questão das junções de turmas de séries diferentes e a quantidade
de alunos apresentam-se como um dos fatores institucionais que contribuem para o
problema do aumento da indisciplina em sala de aula. Além dos fatores acima
listados, a quantidade de alunos em sala de aula exige que o professor tenha
posturas adequadas para não perder o controle da sala.
Importante destacar que evidenciou-se nas entrevistas realizadas
com os professores que o número excessivo de alunos em sala de aula dificulta seu
trabalho, os alunos ficam dispersos e incomodados com a situação. Percebe-se nas
falas dos professores o desanimo e o descrédito com a educação.
106
3.2.8 - Percepção do aluno sobre os impactos da indisciplina na sala de aula
Uma questão importante é olhar a perspectiva que os alunos têm
sobre como a indisciplina interfere em sala de aula. A partir dos dados apresentados
na tabela 7 poderemos nos debruçar melhor sobre essa questão.
TABELA 7 - PERCEPÇÃO DO ALUNO SOBRE OS IMPACTOS DA INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
EM QUE A INDISCIPLINA AFETA
Disciplinado(*) Indisciplinado(**) TOTAL
F % F % F %
Compromete a aula 28 32,2% 18 32,7% 46 32,4%
Desvia a atenção 14 16,1% 7 12,7% 21 14,8%
Dificulta o entendimento 36 41,4% 20 36,4% 56 39,4%
Outros 1 1,1% 1 1,8% 2 1,4%
Sem opinião formada 8 9,2% 9 16,4% 17 12,0%
Total Geral 87 62,7% 55 37,3% 142 100,0%
* Alunos que nunca foram chamados a atenção em sala de aula por indisciplina ** Alunos que já foram chamados a atenção em sala de aula por motivo de indisciplina
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Pôde-se constatar por meio dos dados da tabela 7 que os
comportamentos indisciplinados, na maioria advindos de conversas paralelas (67%),
conforme tabela 1, são percebidos pelo aluno como atitudes indesejáveis, poispara
32% a aula fica comprometida e o professor não consegue ministrar todo o conteúdo
planejado. Para 39% dificulta o entendimento dos demais alunos, pelo barulho
gerado e pelas constantes paradas do professor para chamar a atenção do aluno,
sendo que assim o aluno e professor perdem a linha do raciocínio e dificulta a
aprendizagem. A indisciplina também interfere na aprendizagem, pois desvia a
atenção do aluno, apontada por 15% dos acadêmicos, em situações de indisciplina
os alunos deixam de prestar atenção no conteúdo que está sendo explanado e passa
a observar as ações de indisciplina.
107
Outro ponto que chamou a atenção é que 12% dos alunos não tem
opinião formada sobre os impactos da indisciplina na sala de aula. Percebe-se a
necessidade do desenvolvimento de alunos com senso crítico, ativos e não apáticos,
sem opinião formada sobre um assunto que eles vivenciam em seu cotidiano.
A ausência de disciplina no ensino superior compromete o trabalho
do professor universitário e consequente influencia na qualidade do ensino. Neste
sentido a indisciplina interfere no aprendizado. O aluno indisciplinado, que procura
chamar a atenção dos colegas de sala e do professor, interfere no andamento da
aula, tumultua as atividades e tira o foco da aprendizagem, como podemos verificar
nas falas dos alunos.
A3 Atrapalhando a aula, o planejamento do professor e a atenção dos alunos.
A5 Muitas paradas. Professores estressados e descontam o mau humor em quem não merece. Falta de tempo para ser passado o conteúdo por completo
A8 Muitas conversas prejudicam o desenvolvimento da aula, atrasa matéria, alguns professores vão embora e não dão aula, outros ficam de saco cheio e param a aula, atrapalha entender a matéria, atrapalha prestar a atenção e etc
A42 Atrapalha o andamentos das aulas, faz que o professor não consiga aplicar os conteúdos todos da aula.
A114 Tudo, não consigo ouvir o professor, o próprio professor não consegue concluir a matéria.
Constata-se que na percepção dos alunos o maior impacto é no
desenvolvimento das aulas, à medida que o professor se defronta com
comportamento de indisciplina, interrompe a aula e a atenção dos alunos é desviada.
Os alunos sinalizam que são eventos frequentes e com isto o desenvolvimento da
aula e a aprendizagem dos alunos fica comprometida. O estresse gerado pelos
comportamentos de indisciplina faz com que o professor desvie a atenção dos
conteúdos a serem abordados e fique traçando estratégias para desviar a indisciplina
em sua aula, como é apontado pelo aluno A55 “a aula não rende o professor se
estressa e nós não tem uma certa atenção na aula e não tem rendimento da aula”.
Assim, tem-se que os dados qualitativos apontam o estresse como sendo um dos
fatores que afetam a trabalho do professor e refletem na sua estratégia de ação em
108
sala de aula.
A10 Fala alto, bate no quadro, e desconta na prova.
A46 Professor “X” é muito estressado.
Os entrevistados apontam também que pela frequência de
interferência e interrupções, é possível notar que os professores expressam em seu
comportamento o nível de estresse em detrimento da impossibilidade de cumprir com
o conteúdo planejado e assim acabam punindo os alunos como um todo. Percebe-
se que a relação entre professores e alunos está desgastada, o professor tem
dificuldade para realizar seu trabalho e, por conseguinte os, alunos apresentam baixo
aproveitamento em relação a aquisição de conhecimento pela ausência de
gerenciamento da indisciplina em sala de aula.
Evidencia-se nas falas dos alunos que a aprendizagem é
comprometida pelas ações de indisciplina. À medida que o professor interrompe sua
linha de raciocínio durante a explanação de um conteúdo dificulta ou quase torna
incompreensível o assunto abordado.
A16 O aluno indisciplinado atrasa o andamento da aula, por exemplo interrompendo o professor no meio de uma explicação a sala fica sem entender a matéria.
A27 Afeta no sentido se for conversas paralelas o professor precisa ficar a todo o momento parando a aula para pedir atenção cortando o raciocínio.
A24 A Atrapalha, pois o professor perde tempo de explicar para ficar chamando a atenção desses alunos indisciplinados.
Pode-se compreender que os comportamentos indisciplinados
impactam de forma negativa nas relações entre professor e aluno, bem como do
aluno com seus pares, pois são fonte geradoras de conflitos de interesses e estes se
não gerenciados dificultam a aprendizagem e trazem como consequência o desgaste
do professor pelo tempo dispendido na manutenção da disciplina e/ou no intuito de
resolver o problema. As interrupções frequentes, segundo Boarini (2013) afetam a
saúde do professor, pois geram tensão pelo sentimento de incapacidade de
solucionar o problema, pela falta de respeito dos alunos e principalmente por não
109
conseguir cumprir com o conteúdo programado.
E neste sentido Oliveira (2009) aponta como solução para o
professor universitário o desenvolvimento de competências necessárias para o
estabelecimento da ordem e harmonia no espaço de aprendizagem, pois cabe a ele
solucionar os conflitos em sala de aula.
Outro apontamento dos alunos é o desvio de atenção dos próprios
alunos quando a indisciplina se apresenta na aula.
A48 O aluno indisciplinado por sua vez acaba atraindo a atenção de alguns, as vezes da maioria, consequentemente, os alunos que estão interessados na aula acabam perdendo o foco.
A54 Porque tira a concentração dos outros alunos e o tempo em que o professor tenta chamar a atenção do indisciplinado e manter a ordem em sala
A68 Não consegue prestar atenção no professor
A86 Atrapalha a aula com conversas e distrai a atenção dos alunos que querem prestar atenção na aula
Pode-se constatar que os comportamentos indisciplinarem
contribuem para falta de interesse dos alunos de um modo geral, pois ações
indisciplinares tiram a atenção dos alunos do conteúdo e assim tem dificuldade de
aprender o que o professor está explicando e consequentemente culmina para a
descontextualizado do conteúdo e consequente falta de interesse, o foco passa ser
observar a indisciplina dos colegas e não o que o professor está explicando.
No ensino, superior tem-se que vários fatores que podem contribuir
para o desvio de atenção, como, cansaço dos alunos, como apresentado no gráfico
4, 72% dos alunos que cursos Administração nesta instituição de ensino superior
desenvolvem atividades laborativas durante o dia e à noite estudam e, também como
salientado, vários moram em cidades distantes da universidade e pelo tempo de
translado têm poucas horas para o descanso e ainda que o curso requer a realização
de várias atividades extra classes, ou seja, as disciplina interativas, os Estudos
Dirigidos - EDs e as atividades das disciplinas AMI que são realizadas pelo sistema
Ensino a Distância - EAD.
110
A90 “Afeta no sentido se for conversas paralelas o professor precisa ficar a todo momento parando a aula para pedir atenção cortando o raciocínio. tira a atenção dos demais alunos, e o foco do professor.”
A139 “Atrapalha os que querem aprender, não dá para ouvir direito, e assim perde tempo de aprendizagem”.
A123 “Não compreende o que o professor está explicando, perde a atenção e foco e acaba se desinteressando pela matéria”.
A falta de interesse, até mesmo dos que estavam interessados no
início da disciplina acaba sendo comprometido pelas frequentes interrupções e
desvio de atenção com comportamento indisciplinares dos colegas que culminam na
incompreensão do conteúdo ministrado e consequente dispersão.
A ausência de interesse dos alunos do ensino superior é apontada
também no estudo Anastasiou (2001) são provenientes da falta de embasamento
para cursar o ensino superior e ausência de condições de estudo. A pesquisa aponta
que os acadêmicos são acomodados, individualistas e não apresentam
comprometimento com os estudos, os interesses se resumem a obtenção da nota
para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma, neste contexto
apresenta tal falta de compromisso e comportamentos de indisciplina em sala de
aula. A insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na
universidade desencadeia a falta de interesse e consequentemente ações de
indisciplina entre elas: falta de participação, motivação, compromisso com o estudo
são interpretados como comportamentos de indisciplina.
O processo seletivo vestibular, deveria ser um filtro, não entanto não
é. Quantos alunos são indisciplinados porque não compreendem os conteúdos, e,
não compreendem os conteúdos porque não apresentam habilidades básicas de
leitura de texto e compreensão do que leem? O uso da linguagem, essencial para a
compreensão de qualquer coisa na vida, não parece muito desenvolvido, pudemos
observar que quase todas as falas escritas pelos alunos apresentam erros de grafia
e concordância.
A dificuldade de ouvir o que está sendo explanado pelo professor
também contribuir para déficit de aprendizagem dos alunos.
111
A75 “Não dá para se ter uma boa aula, não dá para ouvir a matéria direito.”
A99 “O aluno indisciplinado afeta os outros alunos que querem estudar, pois, o enorme barulho que acontece na sala de aula, atrapalha as pessoas que querem estudar e que tem dificuldade em pensar com barulho. O aluno que quer realmente estudar, poderia aproveitar mais as aulas, se empenhar mais, porém, fica difícil com a enorme bagunça, barulho que alguns colegas indisciplinados fazem.”
Desta forma, pode se inferir que a indisciplina afeta o trabalho do
professor à medida que este não consegue cumprir com o conteúdo programado
pelas constantes interrupções e, também compromete a aprendizagem dos alunos
pela abordagem superficial dos temas a serem trabalhados pelos professores e ainda
pela dificuldade que os alunos tem de compreender o que está sendo explanado em
sala de aula.
E ainda que, os comportamentos de indisciplina constituem fontes de
conflitos que afetam a relação professor aluno e põe em cheque à autoridade do
professor. Neste sentido, uma vez que a disciplina é muito importante para a
formação da pessoa e para que ela ocorra é indispensável a presença de uma
autoridade.
O professor, no uso de suas atribuições e autoridade inerentes ao
cargo que ocupa, além da transmissão dos conteúdos programadas para cada
disciplina da grade, também respaldado pelas normativas da instituição deve fazer
cumprir as regras disciplinadoras a fim de contribuir para a formação de cidadãos
íntegros, instruídos e capazes de conviverem com os demais colegas de sala, com
respeito e que contribuam de forma efetiva para a construção de uma sociedade
melhor.
No entanto, é importante questionar até que ponto a família está
deixando a cargo, primeiro da escola primária e depois da universidade, o papel de
formar o caráter do cidadão. Muitas habilidades e características que compões o
caráter começam a ser desenvolvidas ainda na infância. Se são competências a
serem desenvolvidas na infância, não pode caber apenas ao professor a formação
do caráter dos alunos. O professor enquanto mediador do conhecimento, mesmo
usando de autoridade para a manutenção de ordem e para o bom desenvolvimento
112
das atividades curriculares, não pode ser o único responsável por incutir valores nos
alunos.
Avançando sobre outras questões, percebesse que tempo
dispendido para chamar a atenção do aluno, traçar estratégias e ações de cunho
punitivo ou até mesmo ignorar a presença da indisciplina em sala de aula traz em
seu bojo consequências negativas a saúde física e mental do professor, pois interfere
no trabalho docente como fica evidente nas falas dos discentes.
A46 O professor não consegue explicar todo o conteúdo pois perde muito tempo chamando a atenção, pedindo para ficarem quietos.
A103 Conversas ou risadas, fazem com que o professor se desgaste chamando a atenção dos alunos, perdendo a linha de raciocínio e atrasando o conteúdo. Isso porque precisa explicar várias vezes a mesma coisa, porque alguns não prestam atenção na aula, saem da sala várias vezes ou chegam atrasados.
A63 Ricardo é um ótimo professor, mas ultimamente nas aulas dele os alunos não o respeitam, não ficam quietos, não sei qual motivo mas acho que é pelo grande número de alunos dentro de uma sala tornando difícil o aprendizado do aluno principalmente nas aula de cálculos pois sempre tem aqueles que tem mais dificuldades de aprendizado e por ser uma quantidade muito grande o professor não consegue dar atenção para todos, gerando alguns atos de indisciplina.
Foi possível notar, por meio dos relatos dos alunos dos cursos de
Administração de uma instituição de ensino superior privada, que a indisciplina traz
sérios malefícios aos agentes do processo de ensino-aprendizagem. Ao aluno, pois
interfere em sua aprendizagem e, desta forma, a disciplina torna-se um pré-requisito
de suma importância para a aprendizagem e qualidade dos futuros administradores.
Ao professor pelo estresse gerado na competição com aluno pela atenção, o aluno
chamando atenção para si e o professor para a relevância do conteúdo abordado, e
assim as constantes interferências e tentativas de solucionar os problemas sem êxito
desgastam e desmotivam o professor universitário.
A partir da análise sobre a percepção dos alunos sobre a questão
da indisciplina em sala de aula pôde-se constatar que os acadêmicos do curso de
administração anseiam por uma solução do problema, no entanto não percebem o
quanto a indisciplina impacta no trabalho do professor. A percepção desses é
restrita aos prejuízos que a indisciplina traz para o aluno, à medida que atrapalha o
113
desenvolvimento da aula, desvia a atenção do aluno, estes sentem prejudicados
por não conseguirem acesso a todos os conteúdos e consequentemente
apresentam desempenho baixo nas avaliações. Desta forma, pôde-se constatar
que o aluno não estabelece relação entre a indisciplina e os impactos no trabalho
do professor, demonstrando assim uma visão individualista, fragmentada ao aluno
e não no contexto geral e em todos os agentes do processo de ensino-
aprendizagem.
A partir de então passaremos a análise dos dados obtidos por meio
da pesquisa realizada juntos aos professores o Cursos de Administração.
3.3 - Questão da indisciplina sobre o enfoque dos professores universitários
Com base nos dados coletados durante a pesquisa realizada junto
aos professores que atuaram em uma instituição privada no norte do Paraná como
docente do Curso de Administração no primeiro semestre de 2016 (Apêndice B). No
intuito de preservar a identidade dos profissionais da área de educação, os
professores entrevistados serão identificados pela letra “P” seguido de números, para
que não exista relação dos professores com seus respectivos nomes.
A análise sobre a percepção dos professores e seus impactos no
trabalho docente serão apresentados e sustentados a partir das falas dos próprios
professores que atuam no Curso de Administração.
3.3.1 - Perfil dos Professores do Curso de Administração
Nesta sessão apresentaremos os dados relativos ao perfil dos
docentes que atuam no curso de Administração. Os questionários foram aplicados
direcionados a dez professores no período de agosto a setembro de 2016 e assim
atingimos 100% do universo.
114
TABELA 8 - PERFIL DOS PROFESSORES DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO – 2016-1 DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADO DO NORTE DO PARANÁ
SUJEITO Contrato de Trabalho
TEMPO GRADUAÇÃO
PÓS-GRADUAÇÃO
ATUAÇÃO ALÉM DA DOCÊNCIA
P1 Horista 9 anos Administração Especialista Consultor
P2 Horista 6 anos Psicologia Mestre Empresário
P3 Horista 3 anos Economia Empresa privada
P4 Horista 7 anos Economia Mestre
-------
P5 Horista 04 anos Administração Especialista
-------
P6 Horista 2 anos Administração Mestre
Gerente comercial
P7 Horista 27 anos Filosofia e Teologia
Mestre
Empresa Privada
P8 Horista 2 anos Administração Especialista Empresa Privada
P9 Horista 20 anos Administração Especialista
Perito Judicial
P10 Horista 10 anos Direito Especialista Advogado
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Conforme Tabela 8 foram entrevistados dez professores destes 10%
do gênero feminino e 90% do gênero masculino, deflagrando a predominância do
gênero masculino entre o copo docente do Curso de Administração da instituição
pesquisada. Dados estes que se diferem do ensino básico, onde, segundo o
Ministério da Educação – MEC (2010), entre 80% e 81,5% dos professores da
Educação Básica é composta por mulheres. Logo, percebe-se que no curso de
graduação em administração da universidade em estudo, diferente do ensino básico,
a predominância e de professores do gênero masculino, a qual se justifica pela área
própria característica da área, onde os cargos de gestão eram ocupados que na sua
maioria por homens.
A pesquisa aponta que 40% dos professores possuem pouca
experiência na docência no ensino superior, sendo em média três anos de experiência
e os professores que atuam nos Cursos de Administração são formados em curso de
bacharelado, os quais não proporcionam formação pedagógica para o exercício da
docência.
115
Entendemos que as práticas pedagógicas, principalmente dos
docentes bacharéis, são construídas por meio de sua experiência em sala de aula.
Para Brito (2006, p.51) “o pensamento do professor constrói-se, pois, com base em
suas experiências individuais e nas trocas e interações com seus pares”. Assim por
meio do tempo de atuação em sala de aula os saberes docentes são incorporados à
prática pedagógica do professor e consequentemente melhor interação com alunos e
aos métodos de ensino a serem aplicados.
Pimenta e Anastasiou (2005) corroboram, salientando que o tempo de
atuação em sala de aula contribui sobremaneira para a qualidade no exercício da
docência. A experiência profissional exerce influência direta na performance do
profissional em qualquer área de atuação, e de forma especial nos profissionais que
atuam como docente no ensino superior pelo próprio contexto da profissão que requer
constantes reflexões.
Outro ponto que podemos observar na Tabela 8 sobre o perfil dos
professores é que o Curso de Administração é composto por professores capacitados
em diversas áreas, Economia, Direito, Psicologia e Filosofia, isto se deve a própria
características das disciplinas ofertadas na grade curricular, que contempla uma
diversidade de saberes. O curso de Administração tem caráter generalista, o acesso
amplo a uma diversidade de conhecimento requer uma estrutura de docente com
formações que emanam de diferentes áreas do saber.
A heterogeneidade de conhecimentos científicos ofertada ao
profissional de Administração constitui-se um diferencial deste profissional frente ao
mercado de trabalho, pois permite desenvolver competências que transitam em
diversas áreas do conhecimento e que perpassando por disciplinas com conteúdo
extremamente lógicas e outras de caráter totalmente subjetivos e assim oportunizam
ao profissional atuar em diversas áreas:
A titulação apresenta-se outro fator que pode influenciam no resultado
desta pesquisa. Apenas 40% dos professores entrevistados, são mestres e destes
somente 10% tem formação em Administração com mestrado na área, os demais são
mestres em outras áreas como: Economia, Teologia e Análise do Comportamento. A
melhoria na atuação docente tem relação direta com o nível de conhecimento, desta
116
forma, a formação do professor universitário enquanto mestre e\ou doutor influencia
diretamente nesse aporte de conhecimento, e, partindo da concepção que ensinar é
disseminar a informação, então o acumulo de conhecimento é fundamental para o
professor ensinar e incitar os alunos na construção de novos saberes. A melhoria na
formação do professor pode contribuir para a melhoria da sua atuação em sala de
aula.
Pode-se inferir também por meio dos dados do Tabela 8 que 80%
dos professores trabalham ou desenvolvem outras atividades, apenas dois atuam
somente na docência, os demais além da profissão de docente do ensino superior,
realizada no período noturno, atuam como profissionais liberais, em consultoria,
como locutores, peritos judiciais da Justiça do Trabalho e também com vínculo
empregatício em empresas de outras áreas. O contrato de trabalho é outro fator que
colabora para o atual quadro de professores que veem no ensino uma possibilidade
de complementar a renda, e não como atividade principal: o contrato de trabalho
como professores horista e não como professor parcial e/ou com dedicação
exclusiva.
A gestão das universidades privadas é baseada na racionalidade
técnica, o professor contratado por hora\aula fica vinculado à instituição somente
durante o período das aulas, sendo muitas vezes difícil até mesmo o agendamento
de reuniões estratégicas e tão importantes para a melhoria do curso.
E ainda, como o valor da hora\aula em uma instituição de ensino
superior privado na maioria das vezes não supri integralmente as suas necessidades
de sobrevivência, o docente se vê obrigado a assumir contratos como professor
horista em várias instituições de ensino e atuar aos finais de semana em cursos de
pós-graduação como forma de obter a renda mensal básica. Deste modo, o tempo
que poderia estar voltado a pesquisa, a formação continuada e a construção de
novos conhecimentos é empenhando apenas à atuação em sala de aula e ao
translado de uma instituição a outra. Logo, o contrato de trabalho ao qual o professor
universitário está vinculado às instituições de ensino contribui para a precarização do
trabalho docente e influenciam diretamente em sua saúde física e mental.
117
3.3.2 – Estilo de autoridade exercida pelo professor do Curso de Administração
segundo sua percepção
A maneira como o professor faz a gestão de sala tem relação direta
com a disciplina no contexto escolar. Assim, no intuito de entendermos como os
professores se veem como gestores em sala de aula, eles foram indagados sobre o
estilo de gestão que cada um julgava exercer. O professor é autoridade e tem
autoridade legitimada pelo cargo que exerce, no entanto cabe a ele decidir de que
forma irá utilizá-la para que seja estabelecida a disciplina no decorrer da aula.
Importante destacar que a gestão da sala de aula pode se processar
de três formas: primeira, legitimada pelo cargo; segunda, pelo fruto das relações
estabelecidas entre professores e aluno e a terceira, de forma liberal, na qual o
professor dá autonomia para os alunos decidirem às regras que nortearam o
processo de ensino-aprendizagem (FURLANI, 1997). Os estilos de gestão
apresentados na sequencia são bem conhecidos pelos professores que atuam no
curso de administração, haja vista que fazem parte da forma de administrar e são
amplamente trabalhados no decorrer do curso de Administração.
A primeira, legitimada pelo cargo, em que a autoridade está
vinculada a posição hierárquica, ou seja, o professor autocrático é a autoridade
máxima em sala de aula devido à posição que ocupa e não tem relação com sua
competência profissional. Ele é detentor do saber, controlador e não aceita
questionamentos. Do aluno espera obediência, submissão numa relação de total
dependência. Neste estilo de autoridade pautada no medo, não existe diálogo, evita
afrontamento e a construção de críticas.
A segunda, fruto das relações, forma de exercer autoridade está
pautada no relacionamento entre professor e aluno. Neste contexto a autoridade
democrática é constituída por meio do consenso entre professor e aluno. O poder é
estabelecido por meio da competência, quer seja pelo aluno ou pelo professor. O
aluno é valorizado por suas atitudes, responsabilidades, questionamentos.
A terceira forma de exercer autoridade é a autoridade não sustentada
ou liberal, onde o professor abandona o exercício do poder. Neste estilo, o professor
se exime de qualquer responsabilidade, permite que os acadêmicos definam às regras
118
de forma autônoma, sem orientação. O professor atribuir toda a responsabilidade pela
indisciplina aos alunos, não corrige as posturas inadequadas e apresenta pouca
importância ao processo de aprendizagem dos alunos.
A40 Ter um certo limite na relação com o aluno. O professor pode ser amigo do aluno, porem não expor isso em sala, pois ele perde credibilidade.
Neste sentido com tomando como base as definições de Furlani
(1997), procurou-se compreender como os professores se percebem enquanto
autoridade em sala de aula.
GRÁFICO 5 - Gestão de sala de aula, segundo a percepção dos docentes entrevistados
Fonte: Pesquisa da autora, 2016.
Pode-se observar por meio do Gráfico 5, que 80% dos docentes,
segundo sua percepção, exercem uma gestão democrática na sala de aula e os
demais, 20%, se consideram liberais. Conforme Villas Boas (1999) cabe ao
professor evitar que os conflitos interpessoais ocorram e sala de aula fazer uma boa
gestão da sala de aula, estabelecendo regras para o desenvolvimento do trabalho e
as boas condutas em sala de aula, cuja ordem seja firme e necessária, sem, contudo,
utilizar-se do autoritarismo para fazê-lo. O aluno aprecia ainda o docente que impede
DEMOCRÁTICO80%
LIBERAL20%
119
situações de injustiça na interação.
Constatamos por meio das inferências dos alunos que estes buscam
um posicionamento do professor e a opção pelo não uso da autoridade em sala de
aula, ou autoridade liberal, não é respaldado pelos acadêmicos.
No entanto, observamos nas falas dos professores que o conceito da
autoridade que o professor exerce em sala de aula não condiz com as definições que
estes apresentam em seus discursos, como podemos observar na sequência.
P2 Democrático. Busco sempre a participação dos alunos.
P3 Democrático. Em sala precisamos dar liberdade para o aluno interagir com o conteúdo ministrado, porém, precisamos impor um limite.
P4 Democrático a medida em que aceita a discussão, porém exigindo o cumprimento do acordado previamente, para que a ordem esteja sempre presente
P5 Professor democrático, onde procuro concentrar toda atenção sobre as atitudes e interesses dos alunos, não só para receberem informação, mas sim conhecimento. Procuro orientar a aula com cooperação, participação espontânea. respeito cada aluno. Procuro manter a turma motivada, trazendo para sala de aula vivências da disciplina para que ocorra a interação desse aluno. Eu exerço à autoridade, mas sem o autoritarismo.
A gestão do professor em sala de aula deve ser baseada nos
princípios democráticos que busquem a participação efetiva do aluno, tratando-os
com isonomia, ou seja não fazendo distinção entre um aluno e outro. A sala de aula
deve ser um espaço que possibilite a reflexão e a produção de novos conhecimentos,
onde os alunos sejam propiciados aos alunos. E sabido também, conforme La Taille
(2006) que cabe ao professor estabelecer limites e as obrigações das partes em um
processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido podemos observar que os
professores, P4 e P5, apresentam um discurso que mais se aproxima da gestão
democrática.
Cabe destacar que a democracia representa o poder do povo, que o
exerce de forma direta ou indireta por meio de seus representantes. A democracia
está ligada ao exercício do poder. Uma turma onde todos participam da aula
conforme determinado e planejado pelo professor não é uma turma democrática,
120
porque a autoridade e as regras vêm do professor e os alunos não buscam essa
democracia, pois não apresentam autonomia, nem tão pouco responsabilidade.
Podemos entender que a gestão da sala de aula com base na
autoridade se estabelece quando o professor permite aos alunos serem agentes
ativos no processo de ensino aprendizado sem, contudo, esquecer da sua função de
educador que precisa estabelecer limites no espaço de aprendizagem. Como
preconiza Silva (2010) que o papel do professor não se restringe a apenas a
transmissão do conhecimento, mas também a ele é conferido à autoridade para
controlar a conduta dos acadêmicos em sala de aula.
Como vimos 20% dos professores se jugam liberais. O professor
(P6) se percebe como liberal e democrático à medida que busca a mediação no
processo de ensino-aprendizagem. No entanto, pôde-se contatar que na percepção
dos alunos os professores liberais não utilizam a autoridade que lhe atribuída para
resolver as questões de indisciplina em sala de aula.
A 56 “Da muita liberdade e não pune”.
A 58 “Deixa todos conversarem em quanto explica a matéria, e muitos se sentem prejudicados por não ouvir a explicação.”
Desta forma a gestão liberal é vista pelos alunos como uma forma do
docente se eximir de sua responsabilidade enquanto docente. O professor P7
também apresenta uma percepção em que a gestão liberal é necessária para a
formação dos alunos, de forma que este desenvolva autonomia de ação.
P6 De tendência mais Liberal e Democrático, buscando sempre a Moderação, o que possibilita a mediação do Ensino/Aprendizagem.
P7 Liberal dentro do conceito de preparar o indivíduo para desempenhar seu papel junto à sociedade; democrático dentro do que o combinado seja cumprido, exercendo alto grau de controle; autocrático determinando os objetivos, as tarefas e o planejamento das aulas e projetos.
Importante destacar que de acordo com as falas dos alunos e com
dados do Gráfico 5 que apontam que 20% dos professores se julgam liberais, ou seja
ao se defrontarem com comportamentos indisciplinados em sala de aula se eximem
121
do problema e continuam dando sua aula, isto é relatado pelos alunos como um
posicionamento inadequado pelo professor à medida que ele é a autoridade em sala
de aula, e assim deveria utilizar procedimentos que coíbam estes comportamentos.
Entretanto, conforme relato dos alunos pôde-se constar a presença
da gestão autocrática em sala de aula. Os acadêmicos apontam a existência de
professores tradicionais que utilizam técnicas repressivas para obter a disciplina em
sala de aula. O autoritarismo para o cumprimento das regras pré-estabelecidas.
A40 O professor quer se impor com palavras e ameças aos alunos e isso vez ele ter inimizades e complicando sua aula, como se diz respeito se conquista com atitudes e não com palavras.
A48 Ele é antipático e grosseiro algumas vezes, fica dando indiretas aos alunos, por chegarem atrasados, sendo que ele não sabe onde o aluno mora, onde trabalha, por qual motivo chegou atrasado, no começo era pior, hoje ele está melhor do que era antes, mas não é o melhor.
A70 Não se impõe , deixa todos conversarem , etc...
A86 Não se importa com a bagunça na sala.
Desta forma entende-se que a percepção dos professores e diferente
da dos alunos em relação ao estilo de gestão.
Entendemos que os alunos não vislumbram com facilidade a
responsabilidade sobre seus atos, o que nos levanta dúvidas acerca da maturidade
para assumir o compromisso com um projeto educacional diferente, voltado para o
processo democrático. Percebemos através das falas dos alunos pesquisados uma
crise de valores, os alunos acreditam que só a repressão pode coibir a indisciplina
em sala de aula. Eles não conseguem vislumbrar uma saída por si mesmos, se
eximindo assim de toda a responsabilidade.
3.3.3 – Conceito de indisciplina na percepção dos professores universitários
É importante analisarmos a percepção dos professores do Curso de
Administração no intuito de compreender o que estes entendem por indisciplina no
espaço de aprendizagem, e os fatores que influenciam sua gênese.
122
P2 Desarranjo de contingências criado pelo professor
P4 Alunos que não correspondem com o solicitado e previamente acordado.
P5 Falta de respeito com o docente, no tocante a conversas paralelas e brincadeiras sem sentido com alunos que querem realmente aprender.
P6 Relacionada à desordem, ao desrespeito referente a normas de conduta e à falta de limites; a indisciplina é geralmente centralizada no aluno e nas suas relações durante o cotidiano escolar.
P7 É a falta de capacidade e vontade de seguir regras ou normas sistematizadas e estipuladas por uma instituição educacional.
P8 Eu entendo como desobediência, violação de certàs regras impostas pelo contexto escolar. Negação as normas pré estabelecidas entre docente e aluno. A indisciplina é uma resposta à autoridade do professor.
P9 Tudo aquilo que vá na direção contrária do estabelecido como plano de aula.
P10 Problema cultural crônico e fator de dificuldade para qualidade da aula.
Pode-se constatar pelas considerações que o professor P2 concebe
que a indisciplina está associada a falta de controle do professor das contingências
apresentada no cotidiano da sala de aula e este desarranjo no processo de
aprendizagem é entendido como uma situação de indisciplina. Já para o professor
P4 a indisciplina é efetivada a medida que o aluno se nega a atender ao que foi
solicitado e atender aos acordos pré-estabelecidos. Assim como o professor P6 a
relaciona a ausência da ordem ao desrespeito às normas de conduta e salienta ainda
a ausência de limites.
Constata-se a partir das respostas dos professores que o conceito
de indisciplina está relacionado a comportamentos inadequados e a violação das
regras, sendo que esta vai de encontro à conceituação de Amado (2001) em que a
indisciplina implica a contravenção dos princípios que norteiam o convívio em
sociedade, regras, contratos, ordens.
O professor P8, assim entende como violação das regras
impostassem sala de aula e ainda fala que vê a indisciplina como forma de resposta
123
à autoridade do professor. Importante analisar que forma esta autoridade está sendo
efetivada em sala de aula. Como já vimos na literatura, o autoritarismo e a imposição
criam aversão do aluno à disciplina e ao professor. Assim é importante que o
estabelecimento das regras ocorra de forma consensual.
Na maioria das vezes, as regras são definidas unilateralmente e
assim são vistas pelos alunos como descontextualizadas, inoportunas e
impraticáveis. Neste sentido, Morais (2001) e Oliveira (2005) chamam a atenção
para que as normas sejam estabelecidas de forma participativa e não impositivas. À
medida que existe o consenso entre as partes, os alunos compreendam a finalidade
das regras como norteadoras de condutas, e, principalmente que elas se fazem
necessárias para a melhoria dos relacionamentos e da qualidade do ensino. Nesse
processo, os alunos passam a ser corresponsáveis pelo processo de ensino-
aprendizagem, e assim a cumprir o que foi estabelecido pelas partes, e, ainda, que
a tomada de decisão democrática sustente os direitos e deveres das partes
envolvidas. Desta forma, as normas de bom relacionamento são entendidas como
algo necessário para o bom desenvolvimento da aula e não como uma arbitrariedade
do professor.
A questão cultura, apontada pelo professor P10, é percebida como
fonte geradora de indisciplina limita e dificulta o acesso ao conhecimento, pois
impede o desenvolvimento das atividades pedagógicas, dificultando o processo de
ensino-aprendizagem. Os alunos não sabem ouvir, não obedecem às regras, tem
dificuldades em conviver e respeitar seus pares e com isto transformam a práxis do
professor em uma tarefa árdua e desmotivadora.
3.3.4 – Fatores que corroboram para indisciplina em sala de aula na percepção
dos professores universitários
Torna-se importante compreender, na visão dos professores, quais
os fatores que auxiliam para que ocorra a indisciplina em sala de aula. Nesse sentido,
os professores responderam:
P1 Falha na educação do aluno por parte de seus pais, permissividade do professor e da própria instituição de ensino, excesso de alunos
124
em sala de aula, insatisfação do aluno com à instituição.
P2 Falta de preparo do professor, eventos específicos (novidade).
P3 Insatisfação profissional do aluno
P4 Falta de estrutura familiar.
P5 Excesso de alunos em sala, falta de conhecimento do professor sobre o assunto ministrado. Desvalorização do professor
P6 É uma questão de origem, da educação básica para as demais. Inversão de conceitos. Também a falta de comprometimento dos educadores, na maioria das vezes um número dentro da organização (falta de valorização e treinamento ).
P9 Desinteresse dos alunos - professores que permitem tal comportamento (por não serem comprometidos com a educação) - não cumprimento, por parte dos professores, das regras estabelecidas -
P10 Desde o convívio familiar muito permissivo, até falta de energia do Docente no controle da indisciplina.
As falas dos professores apresentam uma diversidade de noções
dos fatores que influenciam os comportamentos de indisciplina em sala de aula. Entre
os fatores apontados como causador da indisciplina no ensino superior está a família,
mais especificamente a atual maneira como os pais conduzem a educação de seus
filhos. O professor P7 relata que os alunos apresentam,
P7 Ausência de conhecimento e prática de princípios éticos como: O Bem, a Verdade, a Justiça e a Liberdade. Até mesmo os aspectos da ausência do aprendizado dos limites, desde o berço materno, influenciam no comportamento indisciplinar
Os professores compreendem que a desestruturação da família, na
contemporaneidade, contribui para que jovens universitários tenham dificuldades em
ter limites.
Carvalho et. al. (2006) em um estudo realizado com professores
sobre os fatores que contribuem para a indisciplina apontou que os comportamentos
indisciplinados estavam ligado diretamente à família, onde os professores apontaram
como a principal causa da indisciplina se fazer presente nas salas de aula.
Para os professores universitários, no intuito de protegê-los acabam
superprotegendo os jovens e não estabelecendo limites, comportamentos de boa
125
conduta e respeito ao próximo e assim tornam-se mais permissivos. Conforme se
evidencia na fala do professor
P8 Creio que os motivos dessa indisciplina podem não ter haver somente com a aula em si. Pode ser por problemas familiares, superproteção dos pais, carências sociais, influências de ídolos, imaturidade.
Desta forma fica evidente que na percepção dos professores a
ausência de valores e normas de conduta que deveriam ser adquiridos na família se
fazem presentes na universidade onde o aluno apresenta comportamentos que
denotam total desrespeito a si, aos colegas e principalmente ao professor. Neste
contexto de ausência de valores e limites dos alunos o professor tem seu trabalho
dificultado e comprometido.
Percebemos também que os professores inferiram que a instituição
de ensino também tem responsabilidade pela indisciplina à medida que no intuito de
maximizar os lucros faz junções de turmas e consequentemente o número de alunos
contribuir com o aparecimento de comportamentos aversivos os alunos ficam
inquietos, o professor tem dificuldades de controlar uma sala com mais de cem
alunos. O professor P1 aponta a
P1 ...permissividade do professor e da própria instituição de ensino, excesso de alunos em sala de aula, insatisfação do aluno com à instituição.
Decorrente da falta de estrutura para comportar todos os alunos de
forma adequada. Cabe destacar que as salas são compostas por cadeiras
perfiladas, onde o aluno senta ao lado do outro o que favorece o diálogo entre eles,
além disso, excesso de alunos não permite o professor desenvolver atividades que
requeiram outras disposições das carteiras, pois as mesmas estão aglomeradas na
sala, de tal forma, que sobra um pequeno espaço para o professor ministrar sua aula.
A estrutura é inadequada tanto quanto ao número de alunos como à
própria disposição das carteiras que colaboram para situações de indisciplina em
sala de aula. O professor, neste contexto, se sente desorientado e tem dificuldades
para desenvolver atividades que chamem a atenção do aluno.
126
Desta forma os professores também apontam a instituição de ensino
como responsável pelo problema de indisciplina no ensino superior e demonstram
sua insatisfação coma instituição e com a falta de valorização do professor, que
muitas vezes é visto como número e não como agentes de responsáveis pela
formação profissional dos acadêmicos. Nesse sentido o relata do professor
P6 (...) Inversão de conceitos. Também a falta de comprometimento dos educadores, na maioria das vezes um número dentro da organização (falta de valorização e treinamento).
Entendemos que é papel do professor ensinar e fazer com os
alunos estejam preparados para o mercado de trabalho, no entanto, as condições
de trabalho não contribuem para que desenvolvam suas atribuições de forma
eficaz, uma vez que o cenário é de total desolação, a estrutura é inadequada, os
alunos apresentam ausência de valores e falta de interesse na aquisição de novos
saberes, o seu descompromisso com o estudo por estarem custeando sua
universidade e com objetivo de tão somente adquirem o diploma de curso
universitário. Todos estes fatores contribuem para o nível de insatisfação dos
professores com a educação.
O estudo de Pappa (2004), ao realizar uma pesquisa com os
professores ensino básico, verificou que estes se sentiam agoniados e desnorteados
frente às questões da indisciplina e a ausência de interesse dos alunos em obter
novos conhecimentos. Como denota a fata do professor
P9 “Desinteresse dos alunos - professores que permitem tal comportamento (por não serem comprometidos com a educação) - não cumprimento, por parte dos professores, das regras estabelecidas,
que atribui a falta de interesse dos alunos e a permissividade dos colegas
professores, alguns por não estabelecer regras norteadoras e outros por não fazê-
las se cumprir.
No entanto, segundo Rego (1996) o professor é responsável pela
manutenção da disciplina e enquanto educador cabe a ele estabelecer os parâmetros
e limites aos seus alunos. Salienta ainda que o convívio social requer o
127
estabelecimento de regras que oriente a convivência entre os envolvidos no contexto
educacional e que estas constituem condição necessária para que aula transcorra
de acordo com o planejado. Deste modo, cabe ao professor no uso de sua
autoridade se posicionar enquanto tal e coibir a indisciplina no ensino superior.
3.3.5 – Estratégias utilizadas pelos professores do Curso de Administração para
prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula
Uma questão da pesquisa foi levantar as estratégias que os
professores utilizam para prevenir ou combater a indisciplina em sala de aula. As
falas dos professores indicam que os professores utilizam estratégias diversificadas.
A postura firme frente à situação com estabelecimento de dialogo
onde levem ao aluno a reflexão dos impactos de seus comportamentos na
aprendizagem coletiva é uma das estratégias utilizadas. Para o professor
P1 a “Postura firme e séria, desenvolvimento de diálogo com os alunos, conscientização dos alunos sobre quem serão os reais prejudicados pela indisciplina em sala de aula, demonstrar real preocupação com o desenvolvimento do aluno”
é uma forma que utiliza para resolver as questões da indisciplina, no entanto segundo
relato do professor este procedimento resolve momentaneamente, assim no decorrer
da aula se faz necessário interpelar os alunos várias vezes por comportamentos
inadequados.
P3 Posicionar como autoridade
P8 Mostro-me séria nas aulas. Tento não confundir simpatia com outro sentimento. Cativar os alunos para a disciplina e não para a minha pessoa. Observar cada aluno para saber que postura tomar. Planejo a aula cuidadosamente para que seja eficaz e organizada.
P9 Diálogo - buscar sempre um ambiente que seja propício ao interesse do aluno para o desenvolvimento da educação
As interações sociais se fazem presentes nas falas dos professores
como uma estratégia para prevenir a ações indisciplinares, para o professor P7 à
medida que o docente P7,
128
P7 ...conhecer melhor o educando, incentivar o diálogo e o respeito, procurando o reconhecimento dos valores pessoais e sociais.
Verificar quais são os indisciplinados e por que realizam atitudes que demostram dificuldades no relacionamento social.
Desta forma é importante que o professor conheça o aluno, suas
expectativas, interesses e principalmente suas dificuldades. Assim o docente poderá
um relacionamento com acadêmico baseado no diálogo e ausência de conflitos.
Neste sentido, Estrela (2002) salienta que se faz necessário que o
professor estabeleça um bom relacionamento com o aluno, estabelecendo regras
consensuais, com responsabilidade, cooperação, ou seja, que o aluno seja colocado
no centro do processo de ensino-aprendizagem.
Outros professores utilizam procedimentos punitivos para estabelecer
a disciplina como para o professor P10,
P10 Chamo a atenção. Faço mais perguntas ao aluno que mais conversa.
Estas estratégias apontam a participação do aluno com cunho
punitivo, o que deveria ser uma prática que fomenta as interações sociais e não tolher
a liberdade de expressão do aluno. Welch (2007) afirma que o processo ensino-
aprendizagem se efetiva à medida que o professor, por meio de atitudes firmes e
participativa, fixa às regras norteadoras do ensino. De forma a valorizar as interações
sociais, tratando o aluno com respeito, sem incorrer em injustiças e sem ser autoritário.
O gestor da sala é o professor a responsabilidade de fazer com que os conhecimentos
adquiridos e que os alunos adquiram senso crítico e relacionamento interpessoais.
P2 Tentativa de reforço dos comportamentos aceitáveis apenas, colocando os inaceitáveis em extinção.
P5 Atividades práticas, proporcionando a correlação do conteúdo ministrado e as práticas vivenciadas pelos mesmos nas organizações.
P6 Sou um administrador, trabalho com prazos, números, metas. O combinado ou programado por mim será executado. Agir fora resulta em orientações, expulsão, trabalhos mais complexos, etc.
Evidencia-se na fala do professor P6acima que as questões das
indisciplinas são resolvidas com punições, e com incremento de trabalho mais
129
complexos ou até mesmo a expulsão do aluno da sala de aula. Pôde-se verificar por
meio do estudo de Libaneo (1994) que os enfrentamentos em sala de aula não
contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor utiliza como
estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula e/ou adicionar-lhe
trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno adquirira respeito pelo
professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é conquistado por meio do
diálogo e não com ações impositivas e que o aluno entenda como punição pelas ações
indisciplinares. No entanto, como já tratado nas análises anteriores os alunos esperam
uma postura mais rígida por parte dos professores.
Os professores, tanto os menos como os mais experientes,
apresentam dificuldade para lidar com os problemas de indisciplina no ensino
superior. Várias são as estratégias utilizadas para combater o problema em sala de
aula.
3.3.6 – Percepção dos professores do Curso de Administração sobre os
impactos da indisciplina no trabalho docente
Para o desenvolvimento das atividades da docência, torna-se
necessário entender quais os impactos da indisciplina da sala de aula e no
desenvolvimento do seu trabalho. Podemos perceber que os professores indicam
que a indisciplina atrapalha, e muito, o processo de desenvolvimento do seu trabalho.
Para o professor P1,
P1 Sim. Existe um mau aproveitamento do tempo, em decorrência de sucessivas interrupções em sala de aula. O professor passa a se desmotivar ao perceber desrespeito e desinteresse dos alunos.
O tempo dispendido pelos professores e também relatado pelos
alunos compromete o processo de ensino-aprendizagem a medida que o professor
precisa fazer constantes pausas para chamar a atenção dos alunos, ou estabelecer
estratégias punitivas para os alunos que estão apresentando mau comportamento.
E estas sucessivas interrupções fazem com que o professor fique desmotivado. No
entanto, para Pozo (2002) e Bzuneck (2001) a motivação é essencial ao processo de
130
ensino-aprendizagem, uma vez que sua ausência dificulta a aprendizagem.
Os professores consideram que além do impacto negativo no
trabalho docente, a indisciplina traz prejuízo também ao aluno, à medida que estes
não têm acesso a todo o conteúdo que deveriam estudar. Para Estrela (2002) o
tempo que o professor dispende durante sua aula para controlar a disciplina dos
acadêmicos, o desgaste advindo do trabalho desenvolvido, um ambiente de falta de
respeito e indisciplina, a tensão gerada pelos posicionamentos defensivos dos
alunos, a perda da performance do professor e a redução da sua autoestima levam
a sentimentos de desânimo e frustração.
Outro fator ainda a ser considerado: estas frequentes interrupções
refletem diretamente na saúde do professor. Conforme se observa na fala do
professor P4,
P4 Sim, pois atrasa o conteúdo e danifica a saúde do professor.
De tal modo, a indisciplina ao interferir no planejamento da aula
consequentemente influência negativamente o processo pedagógico, à medida que
tira o tempo útil do professor expor e explicar os conteúdos programados, desta forma
compromete o trabalho do professore e o leva a tomar atitudes que muitas vezes não
gostaria, como tirar o aluno da sala. Neste contexto o professor se sente impotente
frente ao problema e isto acarreta a saúde do professor.
Os professores apontaram em suas falas que além do impacto no
trabalho do professor a indisciplina interfere na aprendizagem do aluno, como
relatado pelos professores P8 e P10.
P8 “Sim dificulta. Desvio de atenção do aluno e do grupo dificultando o processo de aprendizado. Creio que a indisciplina acontece no momento em que atrapalha o desempenho de cada um. Tanto do aluno em aprender como do professor em conseguir transferir tudo o que precisa ao aluno”.
P10: “Totalmente. Impede o bom andamento da aula, desmotiva o Professor e o aluno interessado. Além, claro, de impedir o aluno que conversa de entender o conteúdo”.
Conforme já apontado na análise dos alunos, as conversas paralelas
acabam dificultando o entendimento dos alunos. Ainda no sentido de falta de
131
interesse dos alunos, são corriqueiras as vezes que o professor propõe uma
atividade ao final da aula para fixar os conteúdos, no entanto, os alunos desenvolvem
de qualquer maneira só para conseguir os pontos. Percebe-se um total desinteresse
do aluno na aquisição de conhecimento. A maioria deles é mediana e veem a
formação profissional apenas como uma certificação e não como um momento de
agregar conhecimentos que irão sustentá-los enquanto futuros profissionais.
Conforme apontam os relatos do professor que contextualiza toda uma questão
estrutural que influência na indisciplina.
P6 “Sou professor por questões ideológicas. Honestamente não vejo motivos para alguém viver de educação (na área privada). A remuneração é ínfima, não há treinamentos, atualização. Existe uma burocracia gigante, ao invés de focar em educação e resultados. O discurso é bonito, a realidade é outra. Os alunos sentem isto”.
P2 Sim, porque impede o processo ensino aprendizado.
P3 Sim, no desenvolvimento do conteúdo
P7 Poderá dificultar se, constatando ações indisciplinares, não abraçar essa dificuldade, pois "as normas e regras sobre disciplina e sua relação com o trabalho pedagógico, precisam ser pensadas para o grupo e não apenas para aqueles que apresentam conduta inadequada". Dificultará se não houver uma prevenção e mediação, imediatamente ao surgimento da ação indisciplinar.
P9 sim, na medida em que o mesmo precisa "parar" sua aula para contornar problemas fora de seu contexto inicial.
Deste modo pôde-se compreender que na visão dos professores
frente às questões da indisciplina e como está se faz presente no ensino superior.
Os docentes têm dificuldade para lidar com o problema e as constantes intervenções
para solucioná-los acabam impactando diretamente no trabalho docente e em sua
motivação.
3.3.7 – Percepção dos impactos da indisciplina na vida do professor
universitário
Uma questão importante é buscar entender qual a percepção do
impacto da indisciplina no dia a dia do professor, sendo que essa questão está
132
presente, cotidianamente em sala de aula. Nesse sentido, foi perguntado aos
professores qual o sentimento deles frente as dificuldades encontradas para a
realização do seu trabalho como professor:
P1 Desmotivação, irritação, desconcentração.
P2 Quando sou impedindo de dar uma aula me sinto frustrado.
P3 Incapacidade
P4 De motivação em mudar a situação de indisciplina.
P5 Preocupação. Que tipo de profissionais estamos formando
P9 Desafio
A qualidade de vida no trabalho do professor é visivelmente
comprometida pelas ações de indisciplina em sala de aula pelas constantes
interrupções durante a aula para chamar a atenção do aluno, colocar aluno para fora,
ou seja, um desgaste desnecessário se analisarmos que estamos lidando com
alunos universitário. Estas situações contribuem para a redução do nível
motivacional do professor em sala de aula, bem como para atuar na docência.
P8 “Sentimento de desmotivação. Porque toda aula é elaborada, planejada, e não conseguir repassar isso aos alunos por motivo de indisciplina me deixa frustrada”.
Outro aspecto apontado pelos ProfessoresP9 e P10, é que diante de
problemas de indisciplina se faz necessário que o docente busque alternativas de
melhoria.
P10 “Sentimento de que há necessidade de melhorias.
Torres (2008) aponta a necessidade de o professor refletirsobre suas
práticas no intuito de reduzir suas angustias e apontar diretrizes que possibilitem
encontrar uma solução para o problema. Ainda, para Siqueira (2003) a competência
do professor perpassa pela reflexão das metodologias utilizadas e sua postura em
sala de aula. É importante que o docente reflita sobre suas práticas e tenha um
133
replanejamento, a fim de levar os acadêmicos a se tornarem agentes do processo de
ensino, de forma consciente e autônomo, e assim possa ser um administrador crítico
capaz de modificar sua realidade.
3.3.8 – Sugestões para controlar a indisciplina em sala de aula
Podemos entender que a indisciplina impacta diretamente no
desenvolvimento do trabalho do professor em sala de aula. Nesse sentido,
perguntamos aos mesmos, quais sugestões e atitudes os professores (e as
instituições de ensino superior) deveriam realizar para controlar/diminuir as ações de
indisciplina em sala de aula.
As questões estruturais são apontadas novamente na fala dos
professores como uma das formas de amenizar a incidência da indisciplina em sala
de aula. Para o professor P1 seria
P1 “Evitar excesso de alunos em sala de aula; adoção de normas mais rígidas por parte da instituição; adoção de um padrão comportamental a ser seguido por todos os professores em caso de indisciplina do aluno”.
De fato, a quantidade excessiva de alunos em sala de aula é também
destacada pelos alunos como um fator que contribui para a indisciplina e dificulta o
trabalho do professor e dispersa a atenção dos alunos. As regras disciplinadoras
devem ser instituídas pelas instituições de ensino superior de forma clara para
professores e alunos, e, principalmente, que os docentes possam fazê-las cumprir.
Como apontado por Amado (2001) a indisciplina implica na
contravenção dos princípios que norteiam o convívio em sociedade, regras, contratos,
ordens. Neste sentido evidencia-se a clara discordância dos objetivos dos membros
envolvidos, professores, alunos e a própria instituição de ensino, provocando da
ordem e quebra dos relacionamentos sociais. Neste sentido os professores P8 e P9
apontam como sugestão o estabelecimento de regras claras no início do semestre.
P8. Estabelecer regras no primeiro dia de aula. A primeira impressão é a que fica. Isso traduz a postura do professor. Ter a certeza do que o aluno sabe/ou não sabe. Assumir às regras da instituição. Ser
134
educador e não somente um professor. Evitar comparações. Ser breve e objetivo nas explicações. Valorizar cada aluno na sua individualidade.
P9. Motivação do professor - estabelecimento de regras claras (cumprimento destas pelo professor) - Diálogo com o aluno - ajudar ao aluno a descobrir suas vocações.
Os professores apontam a clareza das regras logo no início do
semestre como um procedimento que possibilitará aos agentes do processo de
ensino-aprendizagem obter uma relação pedagógica saudável.
No entanto, conforme sugere Caritas e Fernandes (1997) a
intervenção para resolução do conflito professor-aluno deve ser conjunta e obtida por
meio de consenso entre as partes envolvidas. Desta forma é importante que as regras
sejam negociadas entre docentes e discentes. O papel do professor transcende a
transmissão de novo saber, se faz necessário que o professor ouça e interaja com
seus alunos. É dever do professor proporcionar condições para que o acadêmico
aprenda a expressar suas opiniões e não a reprimi-las com atitudes autoritárias. O
trabalho docente é uma via de mão dupla, e as respostas e posicionamento do aluno
são demonstrações positivas ou negativas a práxis do professor, a identificação com
o conteúdo ou as dificuldades que estão encontrando para assimilar as informações
(LIBANEO, 1994).
A metodologia e a postura ética do professor são apontadas na
pesquisa como formas de combate a indisciplina. Para o professor P5,
P5 Atividades práticas e comportamento ético em relação aos alunos.
Como apontado por Aquino (1996) o professor deve criar
metodologias de trabalho que mantenham a disciplina e não ter um discurso sobre
a indisciplina, uma vez que cabe ao professor desenvolver estratégias de ação para
motivar os alunos ao aprendizado e assim atingir seus objetivos, e não determinar
comportamentos pré-estabelecidos.
De fato, adotar metodologias que chamem a atenção dos alunos e
que os levem a reflexão e ao envolvimento com os conteúdos é muito difícil.
135
Entretanto é possível compreender que nesta questão na instituição de ensino
possui um paradoxo, uma vez que a estrutura inviabiliza o desenvolvimento de
novas estratégias metodológicas, devido ao espaço que professores e alunos têm
em sala de aula.
Outra sugestão dos professores para combater a indisciplina em
sala de aula relaciona-se à interação entre professore e alunos. A relação com o
aluno é de suma importância para a efetivação do trabalho docente. Nóvoa (2002)
destaca que o trabalho docente depende da coparticipação do acadêmico, pois só
é possível ensinar a quem quer aprender. A formação dos alunos na graduação
predispõe que estes sejam capacitados a se tornarem profissionais autônomos.
Para isto, precisam ser motivados à aprendizagem continua, o que faz com que o
processo de aprendizagem seja baseado na confiança, predisposição e
capacidade de adquirir novos conhecimentos. Desta forma, se faz necessário
investir na aprendizagem e desenvolvimento de uma relação afetiva entre docente
e discente. Os reflexos desta relação serão evidenciados na identidade profissional
do acadêmico que pode e deve no decorrer do curso desenvolver disciplina para o
exercício de suas atividades enquanto futuros profissionais.
P2 Estar bem preparado, relacionar-se bem com os alunos, valorizar comportamentos esperados e aceitáveis e não valorizar os inaceitáveis. Alunos muitas vezes querem chamar a atenção com a indisciplina, se damos atenção, aumentamos a probabilidade de ocorrência.
P7 Manter um diálogo constante, aberto e sincero, valorizando a presença de cada educando, e mostrar que "é na escola que passamos os melhores anos de nossas vidas, quando crianças e jovens. A escola é um lugar bonito, um lugar cheio de vida, seja ela uma escola com todas as condições de trabalho, seja ela uma escola onde falta tudo. Mesmo faltando tudo nela existe o essencial: gente, professores e alunos, funcionários, diretores. Todos tentando fazer o que lhes parece melhor. Nem sempre eles têm êxito, mas estão sempre tentando. Por isso, precisamos falar mais e melhor das nossas escolas, de nossa educação". (GADOTTI, 2008 p. 02)6
A partir das falas dos professores pôde-se verificar que eles
compreendem a importância das interações sociais saudáveis entre professores e
6 Citação do professor entrevistado.
136
alunos para o êxito do processo de ensino-aprendizagem. Esse relacionamento
deve ser pautado no diálogo aberto, com apresentação de feedback sincero que
levem o aluno à percepção do seu papel enquanto educando e futuro
administrador.
Somente um professor relaciona a solução da indisciplina em sala
de aula à autoridade e uso de procedimentos punitivos,
P10 “Formas de aplicar penalidades em nota, em avaliações comportamentais. Além do necessário controle do Professor em sala”.
De fato, conforme Libaneo (1994) os enfrentamentos em sala de
aula não contribuem para os objetivos educacionais, à medida que o professor
utiliza como estratégia de controle da indisciplina retirar o aluno da sala de aula
e/ou adicionar-lhe trabalhos extras com cunho punitivo, não fará com que o aluno
adquirira respeito pelo professor e/ou disciplina em sala de aula. O respeito é
conquistado por meio do diálogo e não com ações impositivas e que o aluno
entenda como punição pelas ações indisciplinares.
137
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento desta dissertação nos oportunizou uma reflexão
sobre a incidência da indisciplina em sala de aula e os problemas e desafios que os
professores, tanto do ensino básico quanto do superior, enfrentam na
contemporaneidade para o desenvolvimento de suas atividades laborais, bem como
o quanto este problema afeta o trabalho do professor. Esta análise profunda sobre o
tema foi possível por meio da leitura de diferentes autores que estudam o tema e por
meio dos resultados do estudo.
Partimos do princípio que no ensino superior, diferente do ensino
básico, os alunos escolhem a graduação de forma autônoma e que as disciplinas a
serem cursadas no decorrer do curso subsidiarão em sua carreira profissional. Nesse
raciocínio, a analise a indisciplina não deveria se fazer presente no ensino superior,
no entanto como vimos no estudo, ela se apresenta e com muita intensidade. Assim
pôde-se entender que sua existência sinaliza que há algo errado no processo de
ensino aprendizagem.
É sabido que a prática de ensino deve permitir o aporte de
competências e habilidades e a solidificação de atitudes no aluno que os prepare para
atuação profissional após sua formação. Neste sentido, a pesquisa apontou que na
percepção dos alunos os fatores preponderantes que culminam nos comportamentos
da indisciplina em sala de aula estão vinculados ao próprio aluno, pela ausência de
interesse em adquirir os conhecimentos tão necessários à sua formação.
O estudo aponta ainda a diversidade de noções dos fatores que
influenciam os comportamentos de indisciplina em sala de aula. Entre os fatores
apontados como causadores da indisciplina no ensino superior está a ausência de
educação do aluno, mais especificamente a atual maneira como os pais conduzem a
educação de seus filhos. A estruturação da família, na contemporaneidade, contribui
para que jovens universitários apresentem dificuldades diante da imposição de limites.
Desta forma, é veementemente necessário que a instituição de ensino
atue na formação ética do acadêmico, no entanto, para isto é preciso que as normas
138
institucionais que regulam o processo de ensino aprendizagem sejam amplamente
disseminadas junto a professores e alunos.
No intuito de que todos os professores universitários, de forma
isonômica, se coloquem como autoridade máxima em sala de aula e façam com que
as regras sejam seguidas por todos e para o bem de todos. Com o respaldo da
instituição o professor nem se coloca na posição de punidor ou perseguidor, mas sim
do orientador que estabelece a ordem em sala de aula. Cabe salientar que dentre
estas regras estão dez minutos de tolerância para o aluno ingressar na sala de aula,
frequência e nota mínima necessária para aprovação, desenvolvimento as atividades
propostas pelo professor, estudar os conteúdos que antecedem o início das aulas e
necessários para as discussões, realizar as atividades proposta em grupo de forma
ordeira e compartilhada, bem como os que são solicitadas após o termino das aulas
no intuito de fixar conteúdo.
Entendemos que os alunos não vislumbram com facilidade a
responsabilidade sobre seus atos, o que nos levanta dúvidas acerca da maturidade
para assumir o compromisso com um projeto educacional diferente, voltado para o
processo democrático. Percebemos pelas falas dos alunos pesquisados uma crise
de valores, os alunos acreditam que só a repressão pode coibir a indisciplina em sala
de aula. Eles não conseguem vislumbrar uma saída por si mesmos, se eximindo
assim de toda a responsabilidade.
Desta forma, a prática de ensino estaria priorizando a construção de
valores essenciais a formação do aluno que muitas vezes não foram desenvolvidos
na família, bem como o envolvimento dos alunos no processo, onde estes passam de
meros expectadores, a agentes do processo de ensino, participando assim das
discussões e atividades propostas de forma ativa, com responsabilidade, ética e
compromisso com sua formação profissional.
Partindo da proposta acima apresentada, é importante que se faça
reformas na estrutura pedagógica e planejamento dos gestores e professores
universitário no sentido de desenvolver estratégias como treinamento e reuniões
pedagógicas, estas últimas com intuito de unificar os procedimentos adotados em
termos das regras pré-estabelecidas, com a finalidade de não haja problema
139
relacionados à distinção de posicionamento entres os professores no tratamento de
situações semelhantes.
Desta forma as instituições de ensino, em especial as privadas,
devem se valer das regras e normativas para que os alunos adquiram os valores
necessários ao cidadão e ao futuro profissional. Como exemplo, se o aluno
desrespeita o professor e\ou colega de sala deve ser advertido, da mesma forma
outros comportamentos que infringem a ética, como atrasos, plágio, colar na prova,
também devem ser tratados pelo professor e pela instituição com o rigor necessário
para que o aluno não perceba que seu comportamento inadequado é recompensado,
pelo simples fato dele manter as mensalidades em dia. Entendemos que a primeira
preocupação da instituição deve ser a formação do ser pensante e crítico, socialmente
responsável e também preparado para a atuação profissional, da mesma forma que a
qualidade do ensino deve ser o fator determinante para que o aluno se mantenha em
uma instituição.
No entanto, é importante questionar até que ponto a família está
deixando a cargo, primeiro da escola primária e depois da universidade, o papel de
formar o caráter do cidadão. Muitas habilidades e características que compões o
caráter começam a ser desenvolvidas ainda na infância. Se são competências a
serem desenvolvidas na infância, não pode caber apenas ao professor universitário
formar o caráter. O professor enquanto mediador do conhecimento, mesmo usando
de autoridade para a manutenção de ordem para o bom desenvolvimento das
atividades curriculares, não pode ser o único responsável por incutir valores nos
alunos.
O abuso de metodologias expositivas, aulas monótonas e repetitivas,
conteúdos sem sentido, gerenciamento inadequado da sala de aula e o tempo
dispendido para o desenvolvimento das atividades contribuem para desinteresse são
apontados pelos alunos como causas que contribuem para aumento dos casos de
indisciplinas em sala de aula.
A pesquisa foi muito importante para identificar que dentre o quadro
de professores que atuam no Curso de Administração, há professores que precisam
de orientação em relação ao perfil do aluno. Isso porque constatou-se ainda o uso de
140
formas inadequadas de exposição do conteúdo para o perfil dos alunos do curso, por
exemplo, os slides podem contribuir para a dispersão dos alunos em sala de aula,
assim se faz necessário oficinas de trocas de experiências, a oferta de treinamentos
que contribuam com o professor para a programação e organização de aulas
dinâmicas, com discussão de casos, visitas técnicas e desenvolvimento de projetos
práticos.
No entanto, para que estas práticas se efetivem e preciso que o aluno
compreenda o seu papel social e profissional, que ao a adentrar o ensino superior,
precisa adquirir novos conhecimentos, respeitar os professores e se posicionarem
como agentes de construção do conhecimento. Constatamos que o professor
apresenta uma grande parcela de responsabilidade na postura apresentada pelos
discentes, ao não usar a autoridade que lhe é conferida pelo cargo que ocupa
enquanto educador e formador de profissionais que irão atuar na sociedade.
Entretanto, não se pode isentar os próprios alunos da responsabilidade pelas ações
inadequadas apresentadas em sala de aula. Como constatamos, a maioria dos
alunos veem o professor como responsável pela manutenção da disciplina, se
eximindo assim da responsabilidade pelo seu comportamento inadequado. E nesta
visão individualista não percebem o quanto sua ação afeta o trabalho e principalmente
a saúde do professor.
Percebemos pelas falas dos alunos que os professores estão
adotando estratégias para coibir a indisciplina que denotam seu alto grau de estresse,
como gritar com os alunos, bater na porta do quadro e ou ainda se colocar numa
posição de neutralidade, ou seja não fazer nada continuar a aula mesmo com
conversas paralelas, constantes interferências, e desrespeito a seu trabalho. O
estresse gerado pelos comportamentos de indisciplina faz com que o professor desvie
a atenção dos conteúdos a serem abordados e fique traçando estratégias para desviar
a indisciplina em sua aula, como é apontado pelo aluno. Logo, o sentimento de
impotência na resolução do problema se faz presente tanto na fala dos alunos que
percebem que o professor não está conseguindo controlar os comportamentos em
sala de aula e este posicionamento vem comprometendo a aula.
Na percepção dos alunos o maior impacto é no desenvolvimento das
aulas, à medida que o professor se defronta com comportamento de indisciplina,
141
interrompe a aula e a atenção dos alunos é desviada e este não consegue resolver os
demais alunos são prejudicados. Os alunos sinalizam que são eventos frequentes e
com isto o desenvolvimento da aula e a aprendizagem fica comprometida. Desta
forma a pesquisa aponta a ausência de valores em sala de aula, e que o aluno tem
uma visão individualista dos impactos da indisciplina em sala de aula. Não
conseguem perceber o quanto estes comportamentos afetam o trabalho do professor,
que se angustiam por não conseguirem cumprir o conteúdo e pelas constantes
interrupções em sua aula o que denota a ausência de compromisso e falta de respeito
para com o professor.
Entendemos que a gestão da instituição precisa intervir e construir por
meio do diálogo, sem ameaças ou punições, o esclarecimento do papel dos agentes,
professores e alunos, no processo de ensino. Desta forma, Coordenadores de Curso,
Coordenação Acadêmica e professores numa ação conjunta, precisam esclarecer o
papel do professor universitário, que antes de tudo, é uma pessoa com valores e que
é exerce uma função de sua importância para a instituição de ensino e principalmente
na vida do acadêmico, portanto é merecedor de respeito.
A estrutura para realização do trabalho do professor, em específico,
na instituição em estudo, contribuem para os comportamentos inadequados, a salas
são compostas por cadeiras perfiladas, nas quais o aluno senta a lado a lado
favorecendo e o diálogo entre os alunos durante a explanação do professor, além de
que as propostas de atividades inovadoras, que possibilitem a interação entre os
alunos, não é possível. Isso porque que o número de carteiras em sala de aula não
permite sua adequação para o desenvolvimento de atividades grupais e ainda não
há espaço para o professor se locomover durante sua explanação e muito menos
entre as carteiras. O professor só consegue atender de forma individualizada aos
alunos que estão sentados à frente da sala de aula. Fato este que dificulta o trabalho
do professor, além de ser percebido pelo aluno como falta de planejamento e
organização do professor e da instituição.
Entendemos que é papel do professor ensinar e fazer com os alunos
estejam preparados para o mercado de trabalho, no entanto, as condições de
trabalho não contribuem para que desenvolvam suas atribuições de forma eficaz,
uma vez que o cenário é de total desolação, a estrutura é inadequada, os alunos
142
apresentam ausência de valores e falta de interesse na aquisição de novos saberes,
o seu descompromisso com o estudo por estarem custeando sua universidade e com
objetivo de tão somente adquirem o diploma de curso universitário. Todos estes
fatores contribuem para o nível de insatisfação dos professores com a educação.
As interações sociais são apontadas pelos professore como uma
possível estratégia para prevenir os comportamentos indisciplinares. Consideramos
importante que o professor conheça o aluno, suas expectativas, interesses e
principalmente suas dificuldades. Assim o docente poderá estabelecer um
relacionamento com acadêmico baseado no diálogo e ausência de conflitos. No
entanto, como relado no parágrafo anterior, o número de alunos e a estrutura das
salas dificulta esta interação. Assim, se faz necessário que os gestores da instituição
revejam a organização e a estrutura disponibilizada para a formação dos alunos e o
trabalho do professor.
De fato, adotar metodologias que encantem os alunos e que os levem
a reflexão e ao envolvimento com os conteúdos é muito difícil. Entretanto é possível
compreender que nesta questão há na instituição de ensino possui um paradoxo, uma
vez que a estrutura inviabiliza o desenvolvimento de novas estratégias metodológicas,
devido ao espaço que professores e alunos tem em sala de aula.
Constatamos por meio do estudo que os professores consideram
que a indisciplina se faz presente na universidade, com grande intensidade, e há um
investimento de tempo de sua aula para controlá-la, o que acarreta grande desgaste,
tudo é agravado por um ambiente de falta de respeito e indisciplina, pela tensão
gerada pelos posicionamentos defensivos dos alunos, pela perda da performance do
professor e a redução da sua autoestima o que levam consequentemente aos
sentimentos de desânimo e impotência.
A indisciplina, na percepção do professor universitário traz prejuízo
também ao aluno, à medida que estes não têm acesso a todo o conteúdo que
deveriam estudar e causa ao educador sentimento de frustração. Logo a qualidade
de vida no trabalho do professor é visivelmente comprometida pelas ações de
indisciplina em sala de aula, que apresentam ao perderem a concentração e o foco
no conteúdo a ser ministrado, acabam se irritando e consequentemente ficam
143
desmotivados a atuar na docência.
Já o aluno tem uma visão individualista do problema da indisciplina,
só percebe os impactos e prejuízos para si próprio, sem perceber o quanto esta
interfere no trabalho do professor que se vê impedido de atuar. A pesquisa aponta
que os acadêmicos são pacíficos, tem uma percepção individualistas do problema e
não apresentam comprometimento com os estudos, seus interesses se resumem a
obtenção da nota para aprovação e consequentemente a obtenção do diploma.
Neste contexto apresentam falta de compromisso e comportamentos de indisciplina
em sala de aula. Percebemos ainda nos relatos dos professores que os alunos
apresentam insuficiência de conhecimentos prévios para acompanhar os estudos na
universidade desencadeiam a falta de interesse e consequentemente ações de
indisciplina entre elas: falta de participação, desmotivação, descompromisso com o
estudo são interpretados como comportamentos de indisciplina.
É importante destacar que o estudo nos possibilitou uma
compreensão sobre o fenômeno da indisciplina no ensino superior. Foi possível
compreender os múltiplos fatores que a influenciam e está constatação nos conduziu
a adotar mudanças estratégicas tanto como professora quanto como gestora. A
presença da indisciplina em sala não deve ser entendida como um problema em si,
mas sim como um indício de que existem causas mais profundas. Este entendimento
vem nos auxiliando a fazer uma leitura deste contexto bem como possibilitando traçar
estratégias para estabelecer a disciplina em sala de aula, pois com ações paliativas
e preventivas reduzir os prejuízos causados pelo problema.
Cabe ainda destacar que se faz necessário a disseminação de
estudos nesta área uma vez que há muitos desafios a serem enfrentados para
mudança da cultura de alunos e professores do ensino superior privado. É preciso
uma mudança de paradigmas em que privilegie a construção do conhecimento de
forma disciplinar.
144
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APÊNDICES
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APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS ALUNOS
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APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS DOS PROFESSORES
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