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A INDISCIPLINA ESCOLAR E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO ENSINO-

APRENDIZAGEM

Neusa Dias da Silva Guimarães – Autora1

Profª Drª Aparecida Meire Calegari Falco - Orientadora2

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo, pesquisar acerca das questões que envolvem o fenômeno da Indisciplina no ambiente escolar, por se tratar de uma temática contemporânea e cada vez mais recorrente que tem se destacado entre as principais queixas dos profissionais da educação, especialmente os professores pelo contato direto que estes mantêm com os sujeitos envolvidos nesta problemática, no caso, os alunos. A implementação da proposta pedagógica se deu no Colégio Estadual Almirante Tamandaré - EFMP, no município de Cruzeiro do Oeste-PR, por meio da utilização dos recursos fílmicos, uma vez que os alunos envolvidos são, em sua maioria, adolescentes que podem se apropriar de maneira mais real e produtiva frente ao estabelecimento de relações entre suas vivências e dos personagens dos filmes que foram criteriosamente selecionados para a realização desta etapa do trabalho. Podemos afirmar que os resultados foram satisfatórios, pois proporcionou oportunidade de debates e reflexões sobre a problemática da Indisciplina, especialmente a Indisciplina no ambiente escolar e suas implicações no processo de desenvolvimento de um ambiente favorável para que a aprendizagem ocorra de maneira efetiva na escola.

Palavras-chave: Educação. Educação Escolar. Indisciplina na escola.

ABSTRACT

The present work had as objective to research about issues involving indiscipline in the school environment, cause it is a contemporary and always recurrent thematic which has been highlighted among the main complaints in education professionals, specially teachers due to direct contact with subjects involved in this problem, in this case, students. Implementation of the pedagogical propose took place at Tamandaré State High School, in the municipality of Cruzeiro do Oeste - PR, by means of using movies' resources, once that involved students are, in majority, teenagers who may acquire more realistically and productively the establishment of relations between their experiences and characters' films that were criteriously chosen to perform this stage of the work. We can state that results were satisfactory, because it provided debates and reflection opportunities about indiscipline issues, specially indiscipline in school environment and its implications in development process towards a favorable, conducive to learning environment so that such development may occur in an effective way in school.

Key-words: Education. School Education. Indiscipline at school.

1 Professora da Rede Estadual de Educação desde 1989, lotada no Colégio Estadual Almirante

Tamandaré, município de Cruzeiro do Oeste – PR, na disciplina de Língua Estrangeira Moderna (Inglês). Possui Especializações em Leitura, Interpretação e Produção de Textos. Curso de Proficiência para Professores da Rede Pública: Pre-Intermediate – Band 2. 2 Professora Doutora em Educação na UEM – Universidade Estadual de Maringá, atuando no

Departamento de Teoria e Prática da Educação, da Área de Políticas Públicas e Educação.

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Introdução

Sabemos que o cotidiano do professor é bastante comprometido pelas suas

atribuições diárias que são por demais estafantes e que a sobrecarga de trabalho

docente consome muito do seu tempo, não permitindo que este venha a se

aperfeiçoar, a se qualificar e atualizar seus conhecimentos fazendo uso da sua

principal ferramenta: o conhecimento. Por isso, a oportunidade da capacitação, a

exemplo do PDE, possibilita-nos um distanciamento das atividades cotidianas,

permitindo-nos adentrar em outra etapa de formação continuada, de modo a efetuar

leituras, pesquisas e estudos de temas pertinentes a diversas problemáticas que

envolvem o dia-a-dia da escola.

DALCOLLE e VOLSI (2005, p. 72), nos leva a refletir sobre isto quando

destaca:

[...] dos novos desafios postos à educação e à escola, requer-se a preparação e a conscientização dos professores que, nesta perspectiva, serão os principais agentes encarregados de conduzirem as mudanças necessárias ao atual momento. [...] Faz-se necessário, portanto, a capacitação docente, a revisão da situação atual do professor, a melhoria de sua remuneração, diminuição de sua carga de trabalho, adequação física e melhor aparelhamento da escola, salas menos numerosas, enfim, que sejam dadas ao professor melhores condições de trabalho e que este seja reconhecido e valorizado por toda a sociedade, tendo em vista a ênfase e a importância dada à educação atualmente.

Enquanto profissionais da educação, temos observado que um dos maiores

desafios enfrentados pelos professores, pedagogos e gestores em suas práticas

pedagógicas contemporâneas é a Indisciplina em sala de aula. Nosso estudo e

intervenção se pautou nesta temática, uma vez que tem se constituído em um dos

fatores que dificultam a aprendizagem e, consequentemente, coopera para a

promoção do fracasso escolar. Esta problemática tem sido objeto de discussão entre

estudiosos e pesquisadores da área da Educação na atualidade.

Outro ponto de relevância que devemos considerar é o fenômeno da Violência

Escolar que nas últimas décadas tem despontado nos meios de comunicação de

massa, atraindo a atenção e a reflexão de pesquisadores, educadores e autoridades

políticas, sociais e econômicas, por se tratar de um problema essencialmente de

ordem social. Por esta razão, é importante a associação dos fenômenos

violência/indisciplina escolar por acreditarmos que estão entrelaçados.

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Após 20 anos atuando como professora de Escola Pública, com quarenta

horas semanais, ministrando aulas de Língua Estrangeira Moderna (Inglês), no

Ensino Fundamental e Médio e há três anos na Equipe Pedagógica, auxiliando a

Orientação Educacional no Colégio Estadual Almirante Tamandaré, em Cruzeiro do

Oeste, pudemos observar que a preocupação e a angústia comuns entre

professores, pedagogos, gestores e todos os profissionais que fazem parte do

cotidiano escolar, é a mesma: A INDISCIPLINA, a qual tem sido objeto de estudos e

apontada por vários pesquisadores, como um dos maiores obstáculos pedagógicos

da atualidade.

Enquanto profissionais integrantes, participantes e inseridos no contexto

escolar, não podemos nos omitir, nem fechar os olhos a esta problemática que vem

afligindo e intrigando os profissionais da área da Educação e tem se estendido a

outros campos de estudos como a Psicologia, a Psicopedagogia, a Filosofia, a

Sociologia e outras áreas afins.

Desenvolvimento

Por se tratar de uma temática bastante polêmica e complexa que envolve

questões intrínsecas do comportamento humano, este estudo reporta-se aos

seguintes questionamentos:

É possível resolver os problemas de indisciplina que ocorrem atualmente

dentro da escola?

Como tratar um assunto tão polêmico e melindroso?

Que fatores podem contribuir para que uma criança torne-se indisciplinada

e/ou agressiva?

O que fazer em relação a estes alunos (geralmente, três a cinco por turma)

que são considerados “indisciplinados” e até mesmo “ violentos”?

Que atitudes docentes poderiam contribuir para a melhoria da relação

professor-aluno?

O que é necessário para que as escolas enfrentem os problemas de

convivência cumprindo seu papel de educar sem discriminar o “aluno-

problema?”

Vale destacar que o momento em que estamos vivendo se caracteriza pela

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inversão de valores, até então estabelecidos. Momento de questionamentos e

contestações de autoridades, se vistas por um ângulo diferente do que foi observado

dentro do cotidiano. VOLSI (2009, p. 89) afirma que:

As transformações que estão ocorrendo na sociedade trazem desafios que, para serem enfrentadas, exigem um novo comportamento, uma nova visão do futuro dos homens. Essas transformações são frutos do avanço da ciência e da tecnologia às quais os homens recorreram para sanar diversas necessidades, especialmente a necessidade de acumular mais e mais capital. [...] as inovações pelas quais tem passado de forma mais intensiva nos últimos tempos, muitas das características que lhe dão sustentação, como por exemplo, o individualismo, a acumulação de capital, a exploração de uma classe em favor de outra, permanecem.

A realidade da Instituição Escolar, inserida neste contexto, não se difere da

Social, pois entendemos que a Escola é composta por pessoas que fazem parte

desta realidade e que trazem para a instituição as suas vivências como: fracassos,

frustrações, problemas financeiros, desemprego, degradação familiar, a proliferação

das drogas e outras, colocando a escola numa situação de constante embaraço e

desconforto, pois a mesma não se encontra preparada para enfrentar tais situações,

uma vez que os profissionais que a compõem, com raras exceções, não estão

capacitados para lidar com certos conflitos que, muitas vezes, exigem um tratamento

adequado e orientado por profissionais qualificados e especializados na área, no

caso: psicólogos, terapeutas familiar, assistentes social e outros. Segundo TIGRE,

(2009, p. 50):

O papel da escola está mais difícil hoje porque vivemos em uma sociedade que caminha acentuadamente para o individualismo, que vive uma profunda crise de valores e é por isso que a escola não pode se furtar de ensinar convivência, cooperação, solidariedade, generosidade, tolerância, complacência, amizade, valorização do outro. E para isso não há didática: o aprendizado se dá na forma como o professor se mostra, na sua postura.

Necessita-se, urgentemente, repensar a prática pedagógica para enfrentar

esta nova realidade social. É necessário também, adequar a escola a estes novos

sujeitos que surgem e que, a cada ano que passa, requer mais cuidados e atenção

por parte dos profissionais envolvidos, das autoridades governamentais, bem como

as políticas públicas relacionadas à Educação para que a mesma não se desvie do

seu foco principal que é a aprendizagem e a formação do cidadão por meio da

aquisição do conhecimento e da sistematização dos saberes adquiridos.

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De acordo com LIBÂNEO apud VOLSI (2005, p. 63):

[...] a escola tem um papel insubstituível quando se trata de preparação das novas gerações para enfrentamento das exigências postas pela sociedade moderna, ou pós-industrial... Tem, pois, o compromisso de reduzir a distância entre a ciência cada vez mais complexa e a cultura de base produzida no cotidiano, e a provida pela escolarização. [...] tem também, compromisso de ajudar os alunos a tornarem-se sujeitos pensantes, capazes de construir elementos categorias de compreensão e apropriação crítica da realidade. A escola de hoje precisa propor respostas educativas e metodológicas em relação às novas exigências de formação postas pelas realidades contemporâneas como a capacitação tecnológica , a diversidade cultural, a alfabetização tecnológica, a superinformação, o relativismo ético, a consciência ecológica.

Ressaltando a importância da escola no processo de formação do homem

contemporâneo, PARO (2005, p. 72) refere-se a ela como sendo um:[...] local onde se

busca, de forma sistemática e organizada, a apropriação do saber historicamente produzido,

[...] com o propósito de buscar racionalmente o objetivo pedagógico.

Observando este cenário no qual estamos inseridos, constatamos uma

realidade conflitante que tem atraído os olhares de estudiosos e pesquisadores que

é a Indisciplina Escolar e, conforme já mencionamos anteriormente, é difícil abordar

a questão da Indisciplina sem estabelecermos as relações que guardam entre si com

a do fenômeno da Violência Escolar, por entendermos que ambas estão intimamente

ligadas e caminham juntas.

Antes de discorrermos sobre estes fenômenos, é necessário conceituá-los.

Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, (FERREIRA, 2005, p. 497), indisciplina

é:

Procedimento, ato ou dito contrário à disciplina. E, disciplina: Regime de ordem imposta ou mesmo consentida; ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização; relação de subordinação do aluno ao mestre; submissão a um regulamento.

Já o conceito de violência, segundo o mesmo autor: “Qualidade de violento;

ato violento; ato de violentar”.

Todavia, consideramos que o conceito de violência mais apropriado por

apresentar as várias interfaces do fenômeno social em destaque é o apresentado

por CHAUÍ quando a autora pondera:

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Entendemos por violência uma realização determinada das relações de forças, tanto em termos de classes sociais, quanto em termos interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como violação e transgressão de normas, regras e leis, preferimos considerá-la sob dois outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de dominação, de exploração e opressão. Isto é, a conversão dos diferentes em desiguais e a desigualdade em relação entre superior e inferior. Em segundo lugar, como a ação que trata um ser humano não como sujeito, mas como coisa. Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio de modo que, quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência (1985, p. 35).

A díade indisciplina/violência passou a ser mais enfatizada e tornou-se

objeto de estudos, principalmente no que tange à esfera escolar, nas décadas de

1970 a 1990 pela adoção e implementação das políticas neoliberais, que no

Brasil se inicia com o governo Fernando Collor de Mello e se consolida no

governo Fernando Henrique Cardoso. As ideias neoliberais começam a ganhar

força a partir da década de 1990, com a grande crise do modelo econômico do

pós-guerra que repercute nas baixas taxas de crescimento e altas taxas de

inflação (TIGRE 2009).

Para HAYEK apud TIGRE (2009, p. 32-33):

[...] o motivo dessa crise era o excessivo poder dos sindicatos e dos movimentos operários, que por meio de suas pressões faziam com que o estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. O remédio proposto para essa crise era manter um estado forte em sua capacidade de romper com o poder dos sindicatos e controlar o dinheiro, e fraco em todos os gastos sociais e intervenções econômicas. A meta a ser atingida deveria ser a estabilidade financeira, cuja concretização implicaria disciplina orçamentária, com a contenção dos gastos com bem-estar; desemprego (exército de reserva de mão-de-obra para quebrar os sindicatos); reformas fiscais e redução de impostos para os altos rendimentos.

Nesta mesma lógica de análise, CALEGARI-FALCO (2010, p. 20) nos aponta

que:

A crise no modelo econômico pós-guerra lançou o mundo capitalista em uma recessão, que eclodiu na valorização das teorias neoliberais que pregavam a influência negativa dos sindicatos, o movimento operário que abalava as bases de acumulação de capitalistas, o controle estatal sobre o mercado e particularmente os gastos sociais do Estado, dentre eles a Educação.

A lei do estado-mínimo prevalece e ganha força com a privatização das

estatais, com o enxugamento da máquina administrativa e com a venda das

empresas que, segundo a visão neoliberal, faz crescer a geração de recursos e a

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estabilização da economia. Conforme nos afirma ANDERSON apud TIGRE (2009, p.

33):

As principais consequências da implantação de um programa neoliberal são a “deflação, a desmontagem de serviços públicos, as privatizações das empresas, o crescimento de capital corrupto e a polarização social”, seguidas da ampliação das diferenças sociais e da quebra do aparato

industrial.

Ainda segundo a visão de TIGRE (2009, p. 32):

Implantada quase globalmente, a política neoliberal enfraqueceu os Estados contemporâneos, que vêm reduzindo não só a sua capacidade de conter a violência como também os estímulos ao crescimento econômico, do mercado de trabalho e da garantia de um mínimo de qualidade de vida à população como um todo, procurando assegurar-lhe acesso universal à infra-estrutura de serviços públicos. Os cortes no orçamento impedem o atendimento da demanda de todo o sistema de justiça criminal (policiais, judiciário, prisões). Essa incapacidade do Estado não se restringe a essas áreas, mas atinge todas aquelas que dele dependem e, entre as mais afetadas, encontram-se a educação e a saúde. Além de deixar de investir nas áreas básicas, o Estado também não tem conseguido aplicar as leis e

garantir a segurança da população.

No Brasil, o que evidencia estes fatores relevantes para a história política,

econômica e social do país como um marco importante desse período, foi a Ditadura

Militar através do chamado “golpe militar” de 1964, que segundo CARVALHO (2012,

p. 175):

[...] podemos afirmar que a intervenção das Forças Armadas em 1964 foi um mecanismo para controlar a máquina estatal e preservar as relações fundamentais do sistema capitalista implantado no Brasil. [...] uma tentativa de restaurar a ordem, de reestruturar política e economicamente o país, racionalizar e ordenar a economia, favorecendo o processo de acumulação

e centralização do capital em um novo patamar.

Este movimento, o “golpe militar”, foi liderado por banqueiros, empresários,

Igreja Católica, militares e a classe média que temia uma rebelião por parte das

organizações sociais composta por estudantes, trabalhadores e a classe popular que

encontrava-se fortemente unida por seus ideais socialistas. Os militares tomam o

poder, depõem o então presidente João Goulart e o General Castelo Branco assume

a presidência do país. O regime militar, por meio da força e da violência, reprime

todos os movimentos de oposição. No setor econômico, colocou em prática um

projeto de desenvolvimento que causou contradições por inserir o país numa fase de

industrialização e crescimento acelerados sem trazer nenhum benefício para a

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grande maioria da população, mais precisamente, a classe trabalhadora. Em 1979, o

General João Baptista de Oliveira Figueiredo assume o governo e em 1985, o seu

último ano no poder, surge o movimento das “Diretas Já” que mobilizou toda a

população em defesa das eleições diretas para a escolha do próximo presidente da

República, porém, o governo conseguiu conter o movimento e vetar a Emenda

Dante de Oliveira que garantia eleições diretas para presidente naquele ano. Este

movimento, contudo, exercendo forte influência, leva o Colégio Eleitoral a escolher,

de forma indireta, Tancredo Neves para a presidência da República, mas este

adoece e morre antes de tomar posse, assumindo então seu vice José Sarney e o

regime militar chega ao seu final.

Entretanto, mesmo com o final da ditadura, o país ainda enfrentava momentos

delicados, pois sua economia encontrava-se abalada, sofrendo ainda os reflexos do

sistema anterior. A educação, por sua vez, também foi penalizada por estar

vinculada ao modelo econômico adotado pelo regime militar, ou seja, de

aceleramento autoritário do capitalismo. CARVALHO (2012, p. 179), afirma:

Essas alterações sociais e econômicas não deixaram de repercutir na educação. As novas condições históricas exigiam uma reformulação e uma adequação da política educacional. No período da ditadura militar, tal política ocorreu com base no binômio “segurança e desenvolvimento”, cujas estratégias giravam em torno dos seguintes eixos: 1) Controle político e ideológico da educação escolar, em todos os níveis, com a finalidade de eliminar as oposições ao regime político vigente, como também ao próprio capitalismo, e obter a adesão de segmentos sociais para seu projeto de dominação. O Estado, coerente com a ideologia da segurança nacional, atribuiu à educação a tarefa da propaganda anticomunista e da divulgação da moral e cívica. 2) Expansão do sistema educacional, de forma a democratizar o acesso à educação escolar, favorecer a inserção de amplos setores das classes de trabalhadores no mercado de trabalho e acelerar o processo de desenvolvimento econômico nacional.

As reformas educacionais que ocorreram durante a era militar foram advindas

de um contexto de transição de uma sociedade agrária para uma sociedade urbano-

industrial. Em 1968, foi implementada a Lei nº 5.540 que priorizava a reforma do

ensino universitário e em 1971, a Lei nº 5.691 que estabeleceu o sistema nacional

de 1º e 2º graus.

Em 1985 termina o regime militar e inicia-se a “Nova República”, cujo marco

principal foi a transição de um regime autoritário para um regime democrático. A

sociedade se mobiliza em busca de seus direitos de cidadãos e a necessidade de

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uma nova Constituição para o país é gritante. Em 1987 começam os trabalhos para

a elaboração da nova Constituição que contou com a contribuição de representantes

de vários segmentos da sociedade na defesa de seus interesses, havendo também

a mobilização dos educadores progressistas na defesa da escola pública. Em 1988

foi promulgada a nova Constituição Federal Brasileira.

Na década de 1990, aconteceram mudanças significativas no contexto social

mundial.

Destacam-se a globalização e a financeirização da economia, a reestruturação produtiva e organizacional em bases flexíveis e a crise da legitimidade do Estado, [...]. assumindo a perspectiva de Estado-mínimo, o aparelho estatal deixou de ser o grande promovedor da educação. Por isso, a política centralizadora que o caracterizava, foi substituída pela descentralização, o que implica a flexibilização e o compartilhamento da gestão, a qual passou a ser realizada com a participação de agentes externos de recursos. CARVALHO (2012, p. 208).

Desta forma, os rumos da educação no Brasil se renovam. As exigências do

mundo globalizado e altamente competitivo são impostas e o conhecimento cada

vez mais valorizado, torna-se objeto de disputa na sociedade capitalista. Por isso, é

necessário um olhar mais atento para a educação no país que, até então, em linhas

gerais, resistia às transformações e mantinha-se, em muitos aspectos, ainda

parecida com a escola tradicional. O livro impresso, modelo do século XVI, parecia

ainda ser uma das poucas inovações que chegavam à escola. Se mudanças mais

significativas não ocorriam, não era por má vontade ou por falta de ideias

inovadoras. Tais mudanças foram acontecendo de forma lenta, porém firmes na

imposição da abertura de novos caminhos para a educação escolar. Uma inovação

na esfera educacional era imprescindível, pois o contexto social exigia novos rumos

para a educação brasileira e a democratização da Escola Pública torna-se urgente e

necessária. CARVALHO (2012, p. 220) afirma que:

As mudanças parecem indicar o surgimento de uma nova civilização, baseada na alta tecnologia e na informação. [...] estamos vivendo a era do conhecimento, a sociedade do conhecimento ou sociedade da informação, ou seja, um momento em que a educação se torna uma questão crucial

tanto para trabalhadores quanto para empresários e nações.

A corrida desenfreada em busca do conhecimento que, segundo a visão

neoliberal, coloca o sujeito numa posição econômica-social mais privilegiada na

sociedade tem causado sérias consequências no que se refere ao comportamento

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do ser humano, pois a disputa de poder que o mundo globalizado e a sociedade

capitalista impõem, faz com que este indivíduo extrapole seus limites de percepção

de mundo, tornando-o, muitas vezes confuso diante de suas escolhas. Os caminhos

percorridos por este sujeito são muitos, porém uma das vias que se torna inevitável

é a ESCOLA até mesmo pela obrigatoriedade da própria lei, conforme o Estatuto da

Criança e do Adolescente, lei nº 8069/90, no art. 55 que prevê: “Os pais ou

responsáveis têm a obrigação, de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular

de ensino” e a lei vigente, LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96, no artigo 4º

((grifo nosso):

O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino

médio;

E no artigo 32:

O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública terá, por objetivo, a formação básica do cidadão;

(grifo nosso)

Conforme já mencionamos, este sujeito, o aluno, traz consigo para o

ambiente escolar, suas angústias, fracassos, frustrações, problemas financeiros,

desemprego, degradação familiar, proliferação das drogas, etc. Todos estes fatores,

certamente, irão repercutir no seu comportamento dentro da escola, mais

precisamente, na sala de aula que é o local onde as relações humanas tornam-se

mais estreitas e a aproximação uns dos outros é evidente pelo espaço físico e tempo

que esse sujeito permanece neste ambiente. Todos estes fatores aqui citados geram

um comportamento de inconformismo, rebeldia, inquietação e agressividade, os

quais podemos chamar de Indisciplina e é sobre este fenômeno que pautamos

nossa pesquisa por se tratar de uma temática que tem sido objeto de estudos de

renomados pesquisadores contemporâneos pela urgência que esta problemática

requer no contexto escolar. AQUINO (1998, p. 1), afirma que:

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Do ponto de vista dos temas tratados, configura-se inicialmente o baixo aproveitamento e a indisciplina escolar como os impasses fundamentais vividos no cotidiano escolar brasileiro, tomando como recorte a emergência dos “alunos-problema” como uma das principais justificativas empregadas pelos educadores na atribuição das causas de tal impasse. Em seguida, tenta-se rastrear e desconstruir as explicações mais comuns sobre as supostas causas da indisciplina escolar, tais como: a estruturação escolar no passado, problemas psicológicos e sociais, a permissividade da família, o desinteresse pela escola, o apelo e outros meios de informação etc. Por fim, fundamentam-se algumas propostas pedagógicas para uma compreensão mais autônoma da especificidade do trabalho escolar bem como algumas regras éticas de convivência em sala de aula, de tal sorte que se possa lançar um novo olhar sobre o ato indisciplinado, cujas interpretações mostram-se, na maioria das vezes, de maneira

estereotipada.

O mesmo autor ainda considera:

O aluno-problema é tomado, em geral, como aquele que padece de certos supostos “distúrbios psico/pedagógicos”; distúrbios estes que podem ser de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de “indisciplinados”. Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam como duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais

obstáculos para o trabalho docente (1997, p. 2).

Ao observarmos as afirmações do autor, podemos perceber que o mesmo

está retratando com bastante propriedade o que vem ocorrendo, de fato, dentro das

escolas nos dias atuais. O tão comentado “aluno-problema” tem se tornado o foco

das atenções dos professores, pedagogos, gestores e todos os profissionais que

fazem parte da escola. Sem que percebamos, estamos dedicando o nosso tempo,

quase que na sua totalidade, a estes alunos que, rotineiramente, provocam

situações de conflitos dentro do ambiente escolar, exigindo uma atenção redobrada

por parte dos educadores em geral. AQUINO, (1996, p. 40) ainda assegura que:

O relato dos professores testemunham que a questão disciplinar é, atualmente, uma das dificuldades fundamentais quanto ao trabalho escolar. Segundo eles, o ensino teria como um dos seus obstáculos centrais a conduta desordenada dos alunos, traduzida em termos como: bagunça tumulto, falta de limite, maus comportamentos, desrespeito às figuras de autoridade etc. [...] A indisciplina seria, talvez, o inimigo número um do educador atual, cujo manejo as correntes teóricas não conseguiriam propor de imediato, uma vez que se trata de algo que ultrapassa o âmbito estritamente didático-pedagógico, imprevisto ou até insuspeito no ideário das diferentes correntes pedagógicas. É certo, pois, que a temática disciplinar passou a se configurar enquanto um problema interdisciplinar, transversal à Pedagogia, devendo ser tratado pelo maior número de áreas em torno das ciências da educação. Um novo problema que pede

passagem.

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Para GUIMARÃES (1996, p. 77):

A indisciplina aparece aqui sob todas as formas de conflito que incorporam uma capacidade de resistência dos pequenos grupos e expressam-se quer sob uma aparente submissão, quer através dos excessos de todos os tipos:

depredação, pichações, zombarias, riso, ironia, tagarelice.

O professor encontra-se impotente diante de tal impasse, recorrendo ao

auxílio e intervenção da equipe pedagógica que, por sua vez, desvirtua-se das

funções que lhe são pertinentes para exercer a função de inspetor de pátio e de

“bombeiro” onde grande parte dos seus afazeres pedagógicos restringe-se a apenas

a “apagar” os focos de “incêndio” que surgem cotidianamente dentro da escola, ou

seja, resolver as situações de conflitos como: brigas, agressões físicas e verbais

(bullying), furtos, desacatos, gazeamento de aulas, depredação do patrimônio

público, uso e tráfico de drogas, aluno que “foge” da escola durante o período de

aulas e fica nas redondezas ou pelas ruas da cidade etc. Nestas circunstâncias,

muitas vezes, a Patrulha Escolar e o Conselho Tutelar são acionados para auxiliar

no aconselhamento e na tomada de decisões que se restringem a: elaboração de

atas, convocação da família para tomar ciência dos fatos ou quando necessário,

ressarcir a instituição pelo prejuízo causado pelo filho (a), encaminhamento à

delegacia para a formulação do Boletim de Ocorrência, encaminhamento ao

Conselho Tutelar para as devidas providências e quando estes Órgãos julgam

necessário, se encarregam de fazer o encaminhamento à Promotoria Pública.

Infelizmente, a escola não se encontra preparada para lidar com as situações

de conflito mais sérias, pois sua autonomia é limitada e, em certos casos, não

consegue tomar decisões sozinha, necessitando das Redes de Apoio para resolver

os casos mais graves, porém, estas também têm seu “poder” restrito e estão

submissas à legislação vigente.

E, no entanto, em nossa escola ainda não temos nem mesmo autonomia no processo de gestão. A descentralização, nos moldes que foi implantada, significou apenas a transferência de tarefas das administrações centrais para os Estados e municípios, mas não a descentralização do poder da União. Para que a autonomia seja de fato uma realidade na área educacional é imprescindível a conquista da autonomia de gestão e administrativa para que a área educacional possa caminhar sem sofrer tanto

com os impactos políticos. CABREIRA e CABREIRA (2009, p. 141).

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), assegura os direitos da

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criança e do adolescente, sendo este que regulamenta as questões concernentes

aos direitos infanto-juvenis. Este estatuto passou por uma recente revisão para se

ajustar às transformações sofridas pela sociedade em virtude da evolução dos

tempos. Porém, o que se espera deste é que não só priorize os “direitos” do

adolescente, mas que considere também os seus “deveres”. Que este seja

consciente de suas obrigações enquanto cidadão e que se torne conhecedor das

normas e regras a serem cumpridas e impostas pela sociedade, bem como as

punições para quem as infringe. Para isso, há a necessidade de um trabalho de

base, por meio das políticas públicas que contemple a prevenção, começando nas

séries iniciais onde a criança está mais aberta e receptiva e se encontra em um

contingente menor e mais propício. Um trabalho que seja voltado para a participação

ativa da comunidade em relação às decisões pertinentes à escola, bem como ao

chamamento da família às suas responsabilidades, pois o que observamos

constantemente no ambiente escolar é o descomprometimento da família em relação

à educação de seus filhos, atribuindo à escola toda esta responsabilidade,

sobrecarregando-a com tarefas e deveres que não lhe são pertinentes, provocando

o desvirtuamento do seu foco principal que é o ensino de qualidade, a aquisição do

conhecimento por meio da democratização do saber. PARO (2005, p. 40) enfoca:

[...] a democratização do saber [...] no âmbito da unidade escolar [...] aponta para a necessidade de a comunidade participar efetivamente da gestão da escola de modo a que esta ganhe autonomia em relação aos interesses dominantes representados pelo Estado. E isso só terá condições de acontecer “na medida em que aqueles que mais se beneficiarão de uma democratização da escola puderem participar ativamente das decisões que

dizem respeito a seus objetivos e às formas de alcançá-los”.

O ECA em seu artigo 4º prevê que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária.

Um exemplo de Programa de Políticas Públicas que realiza um trabalho de

prevenção às drogas e à violência nas séries iniciais é o PROERD (Programa

Educacional de Resistência às Drogas e à Violência). Um projeto do Governo

Federal em parceria com a Polícia Militar que foi criado em 1982 e no Estado do

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Paraná no ano 2000. Implantado nas escolas de 1º ao 5º ano, é considerado o

melhor programa da categoria por realizar o trabalho preventivo ainda nas séries

iniciais, mais especificamente no 5º ano. Os policiais chamados “proerdianos” são

devidamente treinados para desenvolverem atividades lúdicas voltadas à valorização

da vida e à importância de se manter longe dos grupos de risco, no caso, drogas e

violência. O referido programa ainda se encontra ativo, porém por falta de

investimentos, contingente e profissionais qualificados, tem fugido da sua essência e

tem deixado a desejar no que diz respeito à sua atuação nos últimos tempos.

Diante da problemática por nós aqui apontada, faz-se necessário que todos

os profissionais da educação sejam comprometidos com o trabalho que exercem

dentro da sua comunidade, que cada profissional execute a função que lhe é cabida

por direito, tendo a consciência de que esta é a profissão que escolheu e que não

adianta procurar culpados ou atribuir a responsabilidade às lideranças quando algo

dá errado ou quando se sentem frustrados. As dificuldades, os conflitos cotidianos

inerentes à profissão devem ser enfrentados e resolvidos de acordo com as

competências de cada função. Cabe a cada um de nós, enquanto educadores, a

mudança de postura diante da problemática apontada, pois acreditamos que ao

mudarmos a nossa maneira de agir, o nosso olhar em relação ao outro,

conseguiremos alcançar o sucesso em relação aos objetivos propostos, conforme

nos afirma TIGRE (2009, p. 57):

[...] é indispensável que o professor esteja consciente de que sua tarefa se inicia no trato com a realidade que tem em sala de aula, não adianta ficar reclamando e procurando encontrar culpados para as dificuldades que enfrenta. Ele tem alunos concretos e é com eles que deverá trabalhar, em uma determinada escola, em um determinado lugar. É a partir dessa realidade que deve iniciar seu trabalho. Não deve ficar sonhando com alunos ideais e diferentes, pois “só se pode transformar a realidade a partir do momento em que se assume a existente”, em que se passa a acreditar

que as coisas podem mudar.

Acreditamos na união de forças e interesses comuns, no propósito que cada

um dos envolvidos no processo educativo possui em relação à responsabilidade que

lhe é atribuída. No empenho e dedicação ao executar seu trabalho para que, assim,

encontremos um ponto de equilíbrio e o nosso cotidiano se torne menos estafante e

não seja um peso sobre os ombros de uma minoria que tem tentado, a duras penas,

resolver de forma utópica, os conflitos enfrentados no dia-a-dia escolar por nós aqui

já relatados.

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A implementação pedagógica ocorreu por meio da utilização das Artes

Fílmicas, enquanto recurso pedagógico, com alunos do 6º ao 8º ano do Ensino

Fundamental, nos períodos da manhã e tarde do Colégio Estadual Almirante

Tamandaré – EFMP, no município de Cruzeiro do Oeste – PR. Trata-se de um

recurso pedagógico de grande valia, uma vez que:

Além de fonte de prazer e entretenimento, os filmes e desenhos animados que o cinema produz podem ser valiosos instrumentos para facilitar a aprendizagem e o desenvolvimento, pessoal e profissional. Despertam nossos sentimentos e mexem com nossas emoções de forma eloqüente, duradoura e, por vezes, surpreendente. Assim como a vida que, em constante mutação, mostra-nos, a cada instante, novas lições. LUZ e

PETERNELA (.s/d, p. 1).

A escolha dos dois filmes (Um Sonho Possível e a Corrente do Bem), pautou-

se no quesito cuja temática do enredo remete à problemática levantada e

inicialmente citada. Os alunos foram indicados pela coordenação pedagógica, diante

da avaliação de suas condutas de indisciplina e por comportamento não colaborativo

dentro das rotinas escolares.

Houve um cuidado para que tais alunos não fossem estigmatizados, uma vez

que é comum serem discriminados dentro do próprio ambiente escolar por tais

comportamentos.

Durante todo o processo de implementação, especialmente na exibição dos

filmes, foram empreendidos análises e discussões dos mesmos. Foi possível avaliar

positivamente a participação dos alunos focando, entre outras questões, o

estabelecimento das relações abordadas nos filmes e a realidade destes, da escola

e como poderiam alterar a realidade posta.

Segundo CHRISTOFOLETTI (2009), ao “Usar filmes na sala de aula, [...]

contribui decisivamente para o alargamento das fronteiras da escola, e os do ensino

como um todo.” Neste sentido, foi possível constatar empiricamente, o envolvimento

dos alunos nas atividades propostas, assim como nas pequenas, mas significativas

mudanças em relação à interação dos mesmos ao ambiente escolar.

Sabemos da necessidade em dar continuidade à proposta e estabelecer, de

forma mais sistematizada e contínua, a utilização do Cinema Pedagógico, a fim de

proporcionar à comunidade escolar outras possibilidades de aprendizagens sociais e

culturais que os levem a refletir sobre seus problemas.

Ao finalizar esta etapa, culminamos com a visita ao cinema na cidade de

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Umuarama, no sentido de proporcionar aos alunos uma nova experiência, uma vez

que a grande maioria destes, não conhece este espaço, o que vem ampliar também

seu conhecimento cultural e maior amplitude social.

Considerações finais

Ao concluirmos este trabalho, esperamos ter contribuído com a nossa

comunidade escolar no sentido de apontar alguns caminhos para o trato com os

casos de indisciplina que ocorrem no cotidiano. Sabemos que é um trabalho árduo,

contínuo e persistente, mas que já começou a produzir frutos, pois estamos

contemplando a mudança de atitudes de alguns alunos que participaram deste

projeto, especialmente uma aluna do 6º ano que apresentava um comportamento

imperativo, arredio e agressivo. Por meio da afetividade e da parceria com alguns

professores que acreditaram no projeto e “abraçaram” a causa, já ouvimos relatos

destes colegas afirmando uma pequena, mas considerável mudança de

comportamento desta aluna em sala de aula.

Consideramos que a utilização dos recursos fílmicos enquanto estratégia

pedagógica para a implementação da proposta foi uma escolha acertada, pois

percebemos uma boa receptividade por parte dos alunos que demonstraram

interesse e participação ativa, tanto nas discussões e interações em grupo, quanto

na realização de todas as atividades propostas.

Desta forma, acreditamos na união de forças em prol de um objetivo comum,

no propósito que cada um dos envolvidos no processo educativo possui em relação

à responsabilidade que lhe é atribuída, no empenho e dedicação de cada um em

executar seu trabalho com excelência dentro do ambiente escolar, poderemos obter

êxito em nosso labor diário e alcançar os objetivos propostos.

Ressaltamos ainda a importância que este Programa (PDE) trouxe para a

nossa vida profissional e também pessoal, pois a oportunidade ímpar de poder nos

afastar das nossas rotinas diárias e nos dedicarmos à leitura, à pesquisa,

atualizando nossos conhecimentos por meio do entrosamento e da interação com

colegas de outras áreas de atuação, bem como, o retorno à Universidade e o

contato direto com os professores da IES, nos proporcionaram um novo olhar em

relação à nossa profissão. Afirmamos também que esta experiência nos

proporcionou um novo fôlego, um novo impulso para continuarmos a exercer o

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nosso trabalho com mais ênfase e excelência enquanto profissionais da educação.

Nossas expectativas em relação à implementação, a princípio, trouxe-nos uma certa

preocupação por conta do alunado com os quais estávamos lidando, porém, a partir

do desenvolvimento das ações planejadas, do contato frequente, das relações mais

estreitas, fomos adquirindo a confiança destes alunos e a conquista ocorreu de

forma natural e gradativa. Hoje, ao encontrar estes alunos seja no próprio ambiente

escolar ou em outro, constatamos que existe um vínculo afetivo pautado no respeito

mútuo e na confiança que estes passaram a depositar em nós após o

desenvolvimento desta proposta. Sabemos que o processo de mudança de

comportamento é longo, gradativo e requer ações contínuas para que surta os

efeitos esperados, porém diante de tudo o que vivenciamos e realizamos, podemos

concluir que nosso trabalho foi produtivo e que nossos objetivos foram alcançados.

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